A Difícil Linguagem

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    Adifícil linguagem utilizadaem alguns textos espíritas équestão recorrente em reu-niões e estudos em muitas casasespíritas. Muitos alegam não con-seguir ler os textos e livros devidoà complexidade do vocabulárioutilizado. Até mesmo em pales-tras ocorrem situações, nas quaisa audiência nitidamente não con-segue acompanhar o expositor,deixando-se levar pela irresistívelsensação de sono. Situações como

    esta, infelizmente, levam alguns ase declararem desmotivados peloestudo de nossa maravilhosa Dou-trina Espírita.

    Não precisamos nos apro-fundar em questões sociolite-rárias para perceber que os pri-meiros passos do Espiritismoocorreram em uma fase históri-ca na qual a expressão escrita eramuito mais formal que a empre-gada na atualidade. O primeirolivro da Codicação espírita, Olivro dos espíritos, foi publicadoem 1857. Seguindo-se a este, em1861, O livro dos médiuns; em1864, a obra O evangelho segun-do o espiritismo; em 1865, O céue o inferno; e, em 1868, A gênese.

    Todos lançados na segunda me-tade de século XIX.

    Naturalmente, os textos apre-sentados nos primeiros livros se-guiam, por parte dos encarnados,a expressão escrita vigente noreferido período. E no que tangeaos desencarnados, alguns Espí-ritos pertenciam àquela mesmafase histórica, conforme diversosrelatos descritos na obra O céu eo inferno, levando-os à mesmaverbalização dos encarnados.

    Outros, todavia, muito mais evo-luídos, precisavam lutar com ainsuciência e a imperfeição denossa linguagem para poderemexprimir todas as ideias intangí-veis aos nossos entendimentos esensações, conforme atesta AllanKardec no item XIV da Introdu-ção de O livro dos espíritos e emalgumas perguntas subsequentes.

    No alvorecer do século XXpoucas mudanças ocorreram nocenário literário espírita. Conti-nuávamos a receber psicograasde Espíritos contemporâneos oumais evoluídos, contando comtrabalhadores que viviam sob ainuência do pré-modernismoe do modernismo na sociedade.

    Mas ressalta-se que tais con-siderações, assim como hoje, nãoformulavam uma regra geral. Emmeio ao rigor da linguagem pau-tada e falada, já havia escritoresque conseguiam desdobrar, deforma clara, os ensinamentos daCodicação. Por exemplo, Cair-bar Schutel publicava trabalhosque atingiam com facilidade osleitores, desde a cidade de Matão,em São Paulo, com o jornal OClarim, até o exterior, com a Re-

    vista Internacional de Espiritismo.No capítulo 15 do livro Con-duta espírita , publicado em1960, André Luiz, pela psico-graa de Waldo Vieira, destacaa necessidade de os textos se-rem escritos com simplicidadee clareza, concisão e objetivida-de . Mas quem conhece a obradeste autor espiritual poderiaquestionar livros como Evolu-ção em dois mundos, psicogra-fado por Francisco CândidoXavier dois anos antes, cujalinguagem empregada é muitomais técnica e elaborada. Emverdade, o autor não se contra-disse ao escrever dois livros em-pregando estilos diferenciados.

    A difícil linguagemde alguns textos espíritas

    Márcio Martins da Silva Costa

    [email protected]

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    A Terra é também um pla-neta escola onde há uma diver-sidade de classes de Espíritos.Assim como uma boa bibliotecadeve possuir livros de maior e demenor complexidade para aten-der aos diversos gostos e níveisde intelectualidade, o mesmopode ser observado nas publi-cações espíritas. Cabe, todavia,àqueles que dispõem de maioresaptidões intelectuais auxiliar oprogresso dos menos favoreci-

    dos, buscando levar até eles oconhecimento adquirido de for-ma mais clara e compreensível.

    Com a chegada do séculoXXI, a evolução dos meios decomunicação, a simplicação dalinguagem e as novas tecnolo-gias criaram novo cenário paraos Espíritos que reencarnam.

    Muitos que retornam são con-temporâneos desta nova era e já nascem acelerando a marchado progresso, forçando seus paisa lidar mais cedo com as novaslinguagens e tecnologias. Essedinamismo das novas gerações,por vezes, impacta cultural-mente a sociedade que passa ase acostumar com os novos pa-drões linguísticos, aumentando,assim, as diculdades de aceita-ção dos modelos anteriores.

    Neste momento, podemossubstituir as expressões verbaisanteriores por outras mais acei-táveis à realidade atual, desde quemantenhamos elmente o cará-ter sublime e os fundamentos da

    Codicação do Espiritismo. Estaé a tarefa e a responsabilidade dosnovos evangelizadores, exposi-tores e escritores espíritas. De-vemos recorrer a eles, quando asfrases e palavras passarem pelosnossos olhos e ouvidos longe dabeleza da compreensão.

    Mas, se mesmo diante denossas dúvidas, alguns destesnossos irmãos não se mostra-rem pacientes ou tolerantes, se- jamos indulgentes e busquemos

    aqueles que possam nos ajudar.Que o posicionamento indesejá-vel de alguns não seja o impulsopara a nossa desmotivação, massim que alimente o nosso ânimopara buscarmos cada vez maisentender os conceitos do Con-solador Prometido.

    Lembremo-nos sempre de que

    quanto maior é o esforço, maiorserá o nosso mérito. E nunca serátarde para começar. O hábito daleitura e do entendimento asseme-lha-se a uma luz acesa sob véus.Quanto mais distantes estiver-mos desta luz, menor capacidadeteremos para perceber sua belezainnita. Aproximando-nos e re-tirando os véus, gradativamentesentiremos toda a sua luminosi-dade e envolvimento.

    Façamos isso com a DoutrinaEspírita. Se os véus de nossa in-compreensão não nos permitiremsentir a sua luz, nos esforcemos noseu estudo e entendimento.

    Busquemos as sublimes pa-lavras do divino Mestre Jesus

    em O evangelho segundo o es- piritismo, nas obras de CairbarSchutel, do Espírito Humbertode Campos e de tantos outrosautores, encarnados ou não,cuja clareza de seus textos nosauxilia o entendimento.

    Busquemos, ainda, a com-preensão dos conceitos espíritascom amigos, conhecedores daDoutrina, que estão dispostos anos ensinar sob a caridade de umsorriso e da contínua paciência.

    E se ainda assim persistiremnossas dúvidas, deixemos a eru-dição dos textos mais comple-xos, e busquemos apoio na le-veza de pequenas frases e textosclaros à nossa percepção. Nelesestará evidenciado que a maiorde todas as palavras é o Amor.

    Esforcemo-nos para progredir.

    Nascer, morrer, renascerainda e PROGREDIR SEMPRE,tal é a lei .

    REFERÊNCIAS:KARDEC, Allan.O livro dos espíritos .Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. imp.(Edição histórica bilíngue.) Brasília:FEB, 2014. Introdução ao estudo dadoutrina espírita, p. 60-61; q. 10-a,entre outras.

    ____. Obras p óstumas. Trad. GuillonRibeiro. 2. ed. bolso. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2011. pt. 1, cap.As aris- tocracias , p. 251.VIEIRA, Waldo.Conduta espírita . PeloEspírito André Luiz. 32. ed. 4. imp. Bra-sília: FEB, 2014. cap.Na tribuna e Naimprensa , respectivamente p. 49 e 51.XAVIER, Francisco C. Evolução em doismundos . Pelo Espírito André Luiz. 27. ed.2. imp. Brasília: FEB, 2014. Toda a obra.