A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O MÍNIMO … · emergir o modelo estatal criado e ... Apesar da...
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Anais Eletrocircnicos
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O MIacuteNIMO EXISTENCIAL A
AVALIACcedilAtildeO DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
SOB A PERSPECTIVA DO STF
THE DIGNITY OF THE HUMAN PERSON AND MINIMUM EXISTENCIAL
ASSESSING THE BENEFIT OF CONTINUING HEALTH CARE PROVISION
UNDER THE PERSPECTIVE OF STF
Ernani Joseacute Pera Junior
RESUMO O presente trabalho eacute o resultado de pesquisa doutrinaacuteria dotada de excertos
jurisprudenciais com a finalidade de analisar a questatildeo que envolve a o direito ao benefiacutecio
assistencial de prestaccedilatildeo continuada sob a perspectiva do entendimento perfilhado pelo STF
ante os julgamentos dos Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT Para tanto
revela-se pertinente a perscrutaccedilatildeo do conteuacutedo da dignidade da pessoa humana e do miacutenimo
existencial Somente apoacutes estabelecimento de tais pressupostos seraacute possiacutevel analisar a
Assistecircncia Social e especificamente o benefiacutecio de assistencial de prestaccedilatildeo continuada (Lei
874293) oportunidade em que os julgamentos realizados pelo STF seratildeo tratados e
avaliados em uma perspectiva criacutetica fundamentada na vedaccedilatildeo ao retrocesso social
PALAVRAS-CHAVE Dignidade Assistecircncia Social Miacutenimo Existencial
ABSTRACT This work is the result of doctrinal research provided excerpts of
jurisprudence in order to analyze the issue involving the right to benefit continuing care
provision from the perspective of understanding espoused by the Supreme Court against the
judgment of Extraordinary n 580963PR and 567985MT To this end proves to be relevant
to the content appreciation the dignity of the human person and the existential minimum
Only after the establishment of such assumptions will parse the Social Assistance and
specifically the benefit of continuing care provision (Law 874293) at which the judgments
made by the Supreme Court will be treated and evaluated from a critical perspective based on
sealing the social backlash
KEYWORDS Dignity Social Assistance Minimum Existential
Mestrando no programa de Mestrado do UNICESUMAR - Centro Universitaacuterio de Maringaacute Poacutes-graduado em
Direito Civil e Processo Civil e graduado pela UNICESUMAR professor na graduaccedilatildeo da UNICESUMAR e da
PUCPR ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Advogado
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Anais Eletrocircnicos
1 INTRODUCcedilAtildeO
A dignidade da pessoa humana traduz-se como fundamento e finalidade uacuteltima do
Estado Democraacutetico de Direito ao mesmo tempo em que legitima o Estado e a ordem poliacutetica
e juriacutedica dirige as accedilotildees de cada uma das funccedilotildees estatais
A partir do fundamento maacuteximo da ordem juriacutedica derivam direitos destinados agrave
concretizaccedilatildeo do fundamento da nossa sociedade Dentre os direitos destinados agrave preciacutepua
funccedilatildeo de outorgar dignidade aos cidadatildeos destacam-se os direitos fundamentais
Os direitos fundamentais variam de acordo com o momento histoacuterico de seu
reconhecimento a que se refere de geraccedilotildees ou dimensotildees dos direitos fundamentais Apoacutes a
afirmaccedilatildeo dos direitos fundamentais pautados na liberdade o advento do Estado Social
acarretou a admissatildeo de direitos positivos consubstanciados em prestaccedilotildees devidas pelo
Estado
A Assistecircncia Social acaba por ter seu desenvolvimento com o advento dos direitos
sociais tambeacutem denominados direitos de segunda geraccedilatildeo Da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a insuficiecircncia de recursos deriva o miacutenimo existencial
Os direitos assistenciais por seu turno concretizam em grande parte as exigecircncias
miacutenimas para a manutenccedilatildeo a dignidade do ser humano revelando-se direitos de grande valia
Dentre os direitos assistenciais previstos tem-se o benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo
continuada previsto no artigo 203 V da Constituiccedilatildeo Federal como um dos mais
importantes
A Lei 874293 disciplinou o referido benefiacutecio assistencial ao criar os criteacuterios que
definem a idade miacutenima deficiecircncia e miserabilidade Este uacuteltimo criteacuterio foi objeto de
inuacutemeras censuras pois ao estabelecer um criteacuterio objetivo de miserabilidade (14 do salaacuterio
miacutenimo) natildeo foi considerada as necessidades peculiares do assistido da regiatildeo e momento
histoacuterico
Soma-se a tal problemaacutetica a disposiccedilatildeo legal trazida pelo Estatuto do Idoso ao
possibilitar maior incidecircncia de hipoacuteteses ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
nos termos do artigo 34 paraacutegrafo uacutenico
Pelos julgamentos proferidos pelo RE n n 580963PR e 567985MT o STF acabou
por declarar a inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo criado e tambeacutem da previsatildeo indicada
no Estatuto do Idoso
Por isso haveraacute de se proceder ao estudo da nova perspectiva lanccedilada pelo STF
sobre o criteacuterio financeiro objetivo para concessatildeo do benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo
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continuada de modo que seja possiacutevel lanccedilar uma visatildeo criacutetica e os caminhos que seratildeo
traccedilados para a concessatildeo do referido benefiacutecio
2 TRANSPOSICcedilAtildeO DO ESTADO LIBERAL PARA O ESTADO SOCIAL DA
CONCEPCcedilAtildeO DOS DIREITOS SOCIAIS
Antes de tratar diretamente sobre os elementos que integram o presente estudo faz-
se mister tecer breve digressatildeo histoacuterica acerca do desenvolvimento do Estado em especial a
substancial alteraccedilatildeo decorrente do encerramento do Estado Liberal e a assunccedilatildeo do Estado
Social
A anaacutelise mostra-se de grande valia para a compreensatildeo da alteraccedilatildeo das obrigaccedilotildees
estatais antes relegadas a mera manutenccedilatildeo da ordem e da liberdade em uma perspectiva
formalmente igualitaacuteria hoje transformadas na busca pela promoccedilatildeo do ser humano
Porquanto a dignidade da pessoa humana enquanto valor supremo sob o qual repousa o
Estado Contemporacircneo exige o devido entendimento da transformaccedilatildeo sofrida pela
concepccedilatildeo de Estado
Far-se-aacute portanto necessaacuterio corte epistemoloacutegico de modo que a avaliaccedilatildeo envolva
somente noccedilotildees decorrentes a partir do Estado promovido pela Revoluccedilatildeo Francesa
Antes do Estado contemporacircneo denominado Estado Democraacutetico de Direito viu-se
emergir o modelo estatal criado e desejado pela Revoluccedilatildeo Francesa sob o qual repousaram a
ampla liberdade individual e econocircmica
Sabe-se que a tensatildeo entre o poder absolutista e concentrado e o poder econocircmico
alcanccedilou seu cume com o advento da Revoluccedilatildeo Francesa A igualdade e a liberdade foram
afirmados como fundamentos que sustentaram a bandeira do poder econocircmico contraacuterio ao
poder constituiacutedo e concentrado Como esperado a burguesia detentora do poder econocircmico
natildeo mais admitia a concentraccedilatildeo do poder poliacutetico nas matildeos da nobreza
Com a ldquoQueda da Bastilhardquo um novo regime foi instituiacutedo criado e forjado sob o
interesse direto daqueles que assumiram o poder Trata-se portanto que o encerramento do
antigo regime a ascensatildeo de um novo significou uma nova ordem social e natildeo apenas uma
adaptaccedilatildeo poliacutetico-social ou ajustamento prudencial da histoacuteria1
1 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 57
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Inicialmente a igualdade e liberdade serviram para permitir o desenvolvimento da
atividade econocircmica pela classe detentora do poder econocircmico e agora poliacutetico Tem-se o
iniacutecio do Estado Liberal que assegura os chamados direitos negativos (direitos fundamentais
de primeira geraccedilatildeo) de modo que a autonomia privada fosse garantida sem a intervenccedilatildeo
estatal Caberia ao Estado por conseguinte tatildeo-somente praticar as atribuiccedilotildees tiacutepicas da
esfera puacuteblica (organizaccedilatildeo e desenvolvimento de cada uma das esferas do poder ou funccedilatildeo)
As tarefas do Estado Miacutenimo poderiam ser definidas na liccedilatildeo de Lecircnio Streck como aquelas
relacionadas agrave proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo da seguranccedila social soluccedilatildeo de conflitos surgidos por
juiz isento e destituiacutedo de forccedila privada tutela das liberdades civis pessoal e econocircmicas2
Em contraposiccedilatildeo ao poder absoluto derivou-se um estado igualitaacuterio e preocupado
com os limites de atuaccedilatildeo e respeito agraves liberdades individuais negativas O poder poliacutetico
assim somente seria legiacutetimo pela participaccedilatildeo popular capaz de formar a vontade geral e
outorgar soberania ao Estado Vislumbra-se a formaccedilatildeo do Estado de Direito A legitimidade
do Estado e da ordem juriacutedica passa a repousar-se sobre a liberdade que iraacute consubstanciar
posteriormente a democracia3
Apesar da existecircncia de documento escrito fundamental a Constituiccedilatildeo Federal
tambeacutem do primado da lei como mecanismo de despersonificaccedilatildeo do poder e da existecircncia de
mecanismos de escolha dos representantes natildeo haveria de se falar ainda em democracia
tampouco a primazia do valor da dignidade da pessoa humana Faltava ao Estado a
participaccedilatildeo efetiva enquanto agente de transformaccedilatildeo dado o reconhecimento tatildeo-somente
de direitos de defesa
A marca fundamental do Estado Liberal neste aspecto foi a de afirmaccedilatildeo da
liberdade individual negativa agrave maneira de um status negativus em que o
Estado assumia um dever geral de abstenccedilatildeo na sociedade e assim
reconhecendo uma liberdade geral de acccedilatildeo dos cidadatildeos liberdade poliacutetica
e sobretudo liberdade econocircmica4
Saliente-se que a forma de eleiccedilatildeo encontrava inuacutemeros entraves agrave consubstanciaccedilatildeo
de real democracia dado o voto censitaacuterio e as restriccedilotildees agrave participaccedilatildeo efetiva do indiviacuteduo
nas esferas de poder O Estado Miacutenimo constituiu assim momento antecedente e preacutevio ao
Estado Democraacutetico Pode-se afirmar portanto que a legitimidade do Estado Liberal
encontrava-se na liberdade e igualdade em sua acepccedilatildeo formal
2 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 60
3 REALE Miguel Nova fase do Direito moderno 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1998 p 66
4 GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina 2011 v I p 208
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Neste momento ao Estado caberia tatildeo-somente a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e a
proteccedilatildeo agrave liberdade individual e agrave igualdade concebida em uma perspectiva formal Ao
Estado natildeo recaiacuteam obrigaccedilotildees positivas tampouco o desiderato de propiciar o
desenvolvimento ou promoccedilatildeo humanos
Sabidamente o modelo liberal de Estado foi superado em razatildeo dos proacuteprios
fundamentos que o embasaram A igualdade proposta passou a exigir paulatinamente a
participaccedilatildeo social mais intensa na vida poliacutetica dos indiviacuteduos Verificou-se maior
participaccedilatildeo popular no exerciacutecio do direito ao voto Com a maior participaccedilatildeo de outros
segmentos da sociedade na esfera poliacutetica pelos novos partidos poliacuteticos apurou-se a
existecircncia de novas demanda estatais
Somam-se fatores histoacutericos tais como Revoluccedilatildeo Industrial Primeira Guerra
Mundial Quebra da Bolsa de Nova Iorque e Segunda Guerra Mundial que acabaram por
encerrar o Estado Miacutenimo5 ao minar seus alicerces notadamente liberais As necessidades
sociais decorrentes dos acontecimentos citados passaram a exigir do Estado participaccedilatildeo
direta e efetiva na esfera social de modo que fossem criadas condiccedilotildees miacutenimas de existecircncia
aos seus integrantes
Os direitos sociais foram incorporados pelas Constituiccedilotildees Federais que deixaram de
prever tatildeo-somente a organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa e os direitos e liberdades
individuais
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais6
Migra-se do Estado Liberal para o Estado do Bem Estar Social com a assunccedilatildeo pelo
Estado de inuacutemeras obrigaccedilotildees antes relegadas a esfera particular mediante a inserccedilatildeo do
ideaacuterio de justiccedila social Passa-se a admitir direitos poliacuteticos e sociais ao cidadatildeo ao lado de
prerrogativas positivas em face do Estado (direitos fundamentais de segunda geraccedilatildeo) com a
concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para implementar as novas demandas sociais
Os direitos fundamentais a prestaccedilotildees enquadram-se como jaacute visto no
acircmbito dos direitos da segunda dimensatildeo correspondendo agrave evoluccedilatildeo do
Estado de Direito de matriz liberal-burguesa para o Estado democraacutetico e
5 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 70
6 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Anais Eletrocircnicos
Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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Anais Eletrocircnicos
No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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1 INTRODUCcedilAtildeO
A dignidade da pessoa humana traduz-se como fundamento e finalidade uacuteltima do
Estado Democraacutetico de Direito ao mesmo tempo em que legitima o Estado e a ordem poliacutetica
e juriacutedica dirige as accedilotildees de cada uma das funccedilotildees estatais
A partir do fundamento maacuteximo da ordem juriacutedica derivam direitos destinados agrave
concretizaccedilatildeo do fundamento da nossa sociedade Dentre os direitos destinados agrave preciacutepua
funccedilatildeo de outorgar dignidade aos cidadatildeos destacam-se os direitos fundamentais
Os direitos fundamentais variam de acordo com o momento histoacuterico de seu
reconhecimento a que se refere de geraccedilotildees ou dimensotildees dos direitos fundamentais Apoacutes a
afirmaccedilatildeo dos direitos fundamentais pautados na liberdade o advento do Estado Social
acarretou a admissatildeo de direitos positivos consubstanciados em prestaccedilotildees devidas pelo
Estado
A Assistecircncia Social acaba por ter seu desenvolvimento com o advento dos direitos
sociais tambeacutem denominados direitos de segunda geraccedilatildeo Da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a insuficiecircncia de recursos deriva o miacutenimo existencial
Os direitos assistenciais por seu turno concretizam em grande parte as exigecircncias
miacutenimas para a manutenccedilatildeo a dignidade do ser humano revelando-se direitos de grande valia
Dentre os direitos assistenciais previstos tem-se o benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo
continuada previsto no artigo 203 V da Constituiccedilatildeo Federal como um dos mais
importantes
A Lei 874293 disciplinou o referido benefiacutecio assistencial ao criar os criteacuterios que
definem a idade miacutenima deficiecircncia e miserabilidade Este uacuteltimo criteacuterio foi objeto de
inuacutemeras censuras pois ao estabelecer um criteacuterio objetivo de miserabilidade (14 do salaacuterio
miacutenimo) natildeo foi considerada as necessidades peculiares do assistido da regiatildeo e momento
histoacuterico
Soma-se a tal problemaacutetica a disposiccedilatildeo legal trazida pelo Estatuto do Idoso ao
possibilitar maior incidecircncia de hipoacuteteses ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
nos termos do artigo 34 paraacutegrafo uacutenico
Pelos julgamentos proferidos pelo RE n n 580963PR e 567985MT o STF acabou
por declarar a inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo criado e tambeacutem da previsatildeo indicada
no Estatuto do Idoso
Por isso haveraacute de se proceder ao estudo da nova perspectiva lanccedilada pelo STF
sobre o criteacuterio financeiro objetivo para concessatildeo do benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo
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continuada de modo que seja possiacutevel lanccedilar uma visatildeo criacutetica e os caminhos que seratildeo
traccedilados para a concessatildeo do referido benefiacutecio
2 TRANSPOSICcedilAtildeO DO ESTADO LIBERAL PARA O ESTADO SOCIAL DA
CONCEPCcedilAtildeO DOS DIREITOS SOCIAIS
Antes de tratar diretamente sobre os elementos que integram o presente estudo faz-
se mister tecer breve digressatildeo histoacuterica acerca do desenvolvimento do Estado em especial a
substancial alteraccedilatildeo decorrente do encerramento do Estado Liberal e a assunccedilatildeo do Estado
Social
A anaacutelise mostra-se de grande valia para a compreensatildeo da alteraccedilatildeo das obrigaccedilotildees
estatais antes relegadas a mera manutenccedilatildeo da ordem e da liberdade em uma perspectiva
formalmente igualitaacuteria hoje transformadas na busca pela promoccedilatildeo do ser humano
Porquanto a dignidade da pessoa humana enquanto valor supremo sob o qual repousa o
Estado Contemporacircneo exige o devido entendimento da transformaccedilatildeo sofrida pela
concepccedilatildeo de Estado
Far-se-aacute portanto necessaacuterio corte epistemoloacutegico de modo que a avaliaccedilatildeo envolva
somente noccedilotildees decorrentes a partir do Estado promovido pela Revoluccedilatildeo Francesa
Antes do Estado contemporacircneo denominado Estado Democraacutetico de Direito viu-se
emergir o modelo estatal criado e desejado pela Revoluccedilatildeo Francesa sob o qual repousaram a
ampla liberdade individual e econocircmica
Sabe-se que a tensatildeo entre o poder absolutista e concentrado e o poder econocircmico
alcanccedilou seu cume com o advento da Revoluccedilatildeo Francesa A igualdade e a liberdade foram
afirmados como fundamentos que sustentaram a bandeira do poder econocircmico contraacuterio ao
poder constituiacutedo e concentrado Como esperado a burguesia detentora do poder econocircmico
natildeo mais admitia a concentraccedilatildeo do poder poliacutetico nas matildeos da nobreza
Com a ldquoQueda da Bastilhardquo um novo regime foi instituiacutedo criado e forjado sob o
interesse direto daqueles que assumiram o poder Trata-se portanto que o encerramento do
antigo regime a ascensatildeo de um novo significou uma nova ordem social e natildeo apenas uma
adaptaccedilatildeo poliacutetico-social ou ajustamento prudencial da histoacuteria1
1 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 57
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Inicialmente a igualdade e liberdade serviram para permitir o desenvolvimento da
atividade econocircmica pela classe detentora do poder econocircmico e agora poliacutetico Tem-se o
iniacutecio do Estado Liberal que assegura os chamados direitos negativos (direitos fundamentais
de primeira geraccedilatildeo) de modo que a autonomia privada fosse garantida sem a intervenccedilatildeo
estatal Caberia ao Estado por conseguinte tatildeo-somente praticar as atribuiccedilotildees tiacutepicas da
esfera puacuteblica (organizaccedilatildeo e desenvolvimento de cada uma das esferas do poder ou funccedilatildeo)
As tarefas do Estado Miacutenimo poderiam ser definidas na liccedilatildeo de Lecircnio Streck como aquelas
relacionadas agrave proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo da seguranccedila social soluccedilatildeo de conflitos surgidos por
juiz isento e destituiacutedo de forccedila privada tutela das liberdades civis pessoal e econocircmicas2
Em contraposiccedilatildeo ao poder absoluto derivou-se um estado igualitaacuterio e preocupado
com os limites de atuaccedilatildeo e respeito agraves liberdades individuais negativas O poder poliacutetico
assim somente seria legiacutetimo pela participaccedilatildeo popular capaz de formar a vontade geral e
outorgar soberania ao Estado Vislumbra-se a formaccedilatildeo do Estado de Direito A legitimidade
do Estado e da ordem juriacutedica passa a repousar-se sobre a liberdade que iraacute consubstanciar
posteriormente a democracia3
Apesar da existecircncia de documento escrito fundamental a Constituiccedilatildeo Federal
tambeacutem do primado da lei como mecanismo de despersonificaccedilatildeo do poder e da existecircncia de
mecanismos de escolha dos representantes natildeo haveria de se falar ainda em democracia
tampouco a primazia do valor da dignidade da pessoa humana Faltava ao Estado a
participaccedilatildeo efetiva enquanto agente de transformaccedilatildeo dado o reconhecimento tatildeo-somente
de direitos de defesa
A marca fundamental do Estado Liberal neste aspecto foi a de afirmaccedilatildeo da
liberdade individual negativa agrave maneira de um status negativus em que o
Estado assumia um dever geral de abstenccedilatildeo na sociedade e assim
reconhecendo uma liberdade geral de acccedilatildeo dos cidadatildeos liberdade poliacutetica
e sobretudo liberdade econocircmica4
Saliente-se que a forma de eleiccedilatildeo encontrava inuacutemeros entraves agrave consubstanciaccedilatildeo
de real democracia dado o voto censitaacuterio e as restriccedilotildees agrave participaccedilatildeo efetiva do indiviacuteduo
nas esferas de poder O Estado Miacutenimo constituiu assim momento antecedente e preacutevio ao
Estado Democraacutetico Pode-se afirmar portanto que a legitimidade do Estado Liberal
encontrava-se na liberdade e igualdade em sua acepccedilatildeo formal
2 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 60
3 REALE Miguel Nova fase do Direito moderno 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1998 p 66
4 GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina 2011 v I p 208
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Neste momento ao Estado caberia tatildeo-somente a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e a
proteccedilatildeo agrave liberdade individual e agrave igualdade concebida em uma perspectiva formal Ao
Estado natildeo recaiacuteam obrigaccedilotildees positivas tampouco o desiderato de propiciar o
desenvolvimento ou promoccedilatildeo humanos
Sabidamente o modelo liberal de Estado foi superado em razatildeo dos proacuteprios
fundamentos que o embasaram A igualdade proposta passou a exigir paulatinamente a
participaccedilatildeo social mais intensa na vida poliacutetica dos indiviacuteduos Verificou-se maior
participaccedilatildeo popular no exerciacutecio do direito ao voto Com a maior participaccedilatildeo de outros
segmentos da sociedade na esfera poliacutetica pelos novos partidos poliacuteticos apurou-se a
existecircncia de novas demanda estatais
Somam-se fatores histoacutericos tais como Revoluccedilatildeo Industrial Primeira Guerra
Mundial Quebra da Bolsa de Nova Iorque e Segunda Guerra Mundial que acabaram por
encerrar o Estado Miacutenimo5 ao minar seus alicerces notadamente liberais As necessidades
sociais decorrentes dos acontecimentos citados passaram a exigir do Estado participaccedilatildeo
direta e efetiva na esfera social de modo que fossem criadas condiccedilotildees miacutenimas de existecircncia
aos seus integrantes
Os direitos sociais foram incorporados pelas Constituiccedilotildees Federais que deixaram de
prever tatildeo-somente a organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa e os direitos e liberdades
individuais
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais6
Migra-se do Estado Liberal para o Estado do Bem Estar Social com a assunccedilatildeo pelo
Estado de inuacutemeras obrigaccedilotildees antes relegadas a esfera particular mediante a inserccedilatildeo do
ideaacuterio de justiccedila social Passa-se a admitir direitos poliacuteticos e sociais ao cidadatildeo ao lado de
prerrogativas positivas em face do Estado (direitos fundamentais de segunda geraccedilatildeo) com a
concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para implementar as novas demandas sociais
Os direitos fundamentais a prestaccedilotildees enquadram-se como jaacute visto no
acircmbito dos direitos da segunda dimensatildeo correspondendo agrave evoluccedilatildeo do
Estado de Direito de matriz liberal-burguesa para o Estado democraacutetico e
5 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 70
6 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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continuada de modo que seja possiacutevel lanccedilar uma visatildeo criacutetica e os caminhos que seratildeo
traccedilados para a concessatildeo do referido benefiacutecio
2 TRANSPOSICcedilAtildeO DO ESTADO LIBERAL PARA O ESTADO SOCIAL DA
CONCEPCcedilAtildeO DOS DIREITOS SOCIAIS
Antes de tratar diretamente sobre os elementos que integram o presente estudo faz-
se mister tecer breve digressatildeo histoacuterica acerca do desenvolvimento do Estado em especial a
substancial alteraccedilatildeo decorrente do encerramento do Estado Liberal e a assunccedilatildeo do Estado
Social
A anaacutelise mostra-se de grande valia para a compreensatildeo da alteraccedilatildeo das obrigaccedilotildees
estatais antes relegadas a mera manutenccedilatildeo da ordem e da liberdade em uma perspectiva
formalmente igualitaacuteria hoje transformadas na busca pela promoccedilatildeo do ser humano
Porquanto a dignidade da pessoa humana enquanto valor supremo sob o qual repousa o
Estado Contemporacircneo exige o devido entendimento da transformaccedilatildeo sofrida pela
concepccedilatildeo de Estado
Far-se-aacute portanto necessaacuterio corte epistemoloacutegico de modo que a avaliaccedilatildeo envolva
somente noccedilotildees decorrentes a partir do Estado promovido pela Revoluccedilatildeo Francesa
Antes do Estado contemporacircneo denominado Estado Democraacutetico de Direito viu-se
emergir o modelo estatal criado e desejado pela Revoluccedilatildeo Francesa sob o qual repousaram a
ampla liberdade individual e econocircmica
Sabe-se que a tensatildeo entre o poder absolutista e concentrado e o poder econocircmico
alcanccedilou seu cume com o advento da Revoluccedilatildeo Francesa A igualdade e a liberdade foram
afirmados como fundamentos que sustentaram a bandeira do poder econocircmico contraacuterio ao
poder constituiacutedo e concentrado Como esperado a burguesia detentora do poder econocircmico
natildeo mais admitia a concentraccedilatildeo do poder poliacutetico nas matildeos da nobreza
Com a ldquoQueda da Bastilhardquo um novo regime foi instituiacutedo criado e forjado sob o
interesse direto daqueles que assumiram o poder Trata-se portanto que o encerramento do
antigo regime a ascensatildeo de um novo significou uma nova ordem social e natildeo apenas uma
adaptaccedilatildeo poliacutetico-social ou ajustamento prudencial da histoacuteria1
1 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 57
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Inicialmente a igualdade e liberdade serviram para permitir o desenvolvimento da
atividade econocircmica pela classe detentora do poder econocircmico e agora poliacutetico Tem-se o
iniacutecio do Estado Liberal que assegura os chamados direitos negativos (direitos fundamentais
de primeira geraccedilatildeo) de modo que a autonomia privada fosse garantida sem a intervenccedilatildeo
estatal Caberia ao Estado por conseguinte tatildeo-somente praticar as atribuiccedilotildees tiacutepicas da
esfera puacuteblica (organizaccedilatildeo e desenvolvimento de cada uma das esferas do poder ou funccedilatildeo)
As tarefas do Estado Miacutenimo poderiam ser definidas na liccedilatildeo de Lecircnio Streck como aquelas
relacionadas agrave proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo da seguranccedila social soluccedilatildeo de conflitos surgidos por
juiz isento e destituiacutedo de forccedila privada tutela das liberdades civis pessoal e econocircmicas2
Em contraposiccedilatildeo ao poder absoluto derivou-se um estado igualitaacuterio e preocupado
com os limites de atuaccedilatildeo e respeito agraves liberdades individuais negativas O poder poliacutetico
assim somente seria legiacutetimo pela participaccedilatildeo popular capaz de formar a vontade geral e
outorgar soberania ao Estado Vislumbra-se a formaccedilatildeo do Estado de Direito A legitimidade
do Estado e da ordem juriacutedica passa a repousar-se sobre a liberdade que iraacute consubstanciar
posteriormente a democracia3
Apesar da existecircncia de documento escrito fundamental a Constituiccedilatildeo Federal
tambeacutem do primado da lei como mecanismo de despersonificaccedilatildeo do poder e da existecircncia de
mecanismos de escolha dos representantes natildeo haveria de se falar ainda em democracia
tampouco a primazia do valor da dignidade da pessoa humana Faltava ao Estado a
participaccedilatildeo efetiva enquanto agente de transformaccedilatildeo dado o reconhecimento tatildeo-somente
de direitos de defesa
A marca fundamental do Estado Liberal neste aspecto foi a de afirmaccedilatildeo da
liberdade individual negativa agrave maneira de um status negativus em que o
Estado assumia um dever geral de abstenccedilatildeo na sociedade e assim
reconhecendo uma liberdade geral de acccedilatildeo dos cidadatildeos liberdade poliacutetica
e sobretudo liberdade econocircmica4
Saliente-se que a forma de eleiccedilatildeo encontrava inuacutemeros entraves agrave consubstanciaccedilatildeo
de real democracia dado o voto censitaacuterio e as restriccedilotildees agrave participaccedilatildeo efetiva do indiviacuteduo
nas esferas de poder O Estado Miacutenimo constituiu assim momento antecedente e preacutevio ao
Estado Democraacutetico Pode-se afirmar portanto que a legitimidade do Estado Liberal
encontrava-se na liberdade e igualdade em sua acepccedilatildeo formal
2 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 60
3 REALE Miguel Nova fase do Direito moderno 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1998 p 66
4 GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina 2011 v I p 208
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Neste momento ao Estado caberia tatildeo-somente a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e a
proteccedilatildeo agrave liberdade individual e agrave igualdade concebida em uma perspectiva formal Ao
Estado natildeo recaiacuteam obrigaccedilotildees positivas tampouco o desiderato de propiciar o
desenvolvimento ou promoccedilatildeo humanos
Sabidamente o modelo liberal de Estado foi superado em razatildeo dos proacuteprios
fundamentos que o embasaram A igualdade proposta passou a exigir paulatinamente a
participaccedilatildeo social mais intensa na vida poliacutetica dos indiviacuteduos Verificou-se maior
participaccedilatildeo popular no exerciacutecio do direito ao voto Com a maior participaccedilatildeo de outros
segmentos da sociedade na esfera poliacutetica pelos novos partidos poliacuteticos apurou-se a
existecircncia de novas demanda estatais
Somam-se fatores histoacutericos tais como Revoluccedilatildeo Industrial Primeira Guerra
Mundial Quebra da Bolsa de Nova Iorque e Segunda Guerra Mundial que acabaram por
encerrar o Estado Miacutenimo5 ao minar seus alicerces notadamente liberais As necessidades
sociais decorrentes dos acontecimentos citados passaram a exigir do Estado participaccedilatildeo
direta e efetiva na esfera social de modo que fossem criadas condiccedilotildees miacutenimas de existecircncia
aos seus integrantes
Os direitos sociais foram incorporados pelas Constituiccedilotildees Federais que deixaram de
prever tatildeo-somente a organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa e os direitos e liberdades
individuais
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais6
Migra-se do Estado Liberal para o Estado do Bem Estar Social com a assunccedilatildeo pelo
Estado de inuacutemeras obrigaccedilotildees antes relegadas a esfera particular mediante a inserccedilatildeo do
ideaacuterio de justiccedila social Passa-se a admitir direitos poliacuteticos e sociais ao cidadatildeo ao lado de
prerrogativas positivas em face do Estado (direitos fundamentais de segunda geraccedilatildeo) com a
concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para implementar as novas demandas sociais
Os direitos fundamentais a prestaccedilotildees enquadram-se como jaacute visto no
acircmbito dos direitos da segunda dimensatildeo correspondendo agrave evoluccedilatildeo do
Estado de Direito de matriz liberal-burguesa para o Estado democraacutetico e
5 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 70
6 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Inicialmente a igualdade e liberdade serviram para permitir o desenvolvimento da
atividade econocircmica pela classe detentora do poder econocircmico e agora poliacutetico Tem-se o
iniacutecio do Estado Liberal que assegura os chamados direitos negativos (direitos fundamentais
de primeira geraccedilatildeo) de modo que a autonomia privada fosse garantida sem a intervenccedilatildeo
estatal Caberia ao Estado por conseguinte tatildeo-somente praticar as atribuiccedilotildees tiacutepicas da
esfera puacuteblica (organizaccedilatildeo e desenvolvimento de cada uma das esferas do poder ou funccedilatildeo)
As tarefas do Estado Miacutenimo poderiam ser definidas na liccedilatildeo de Lecircnio Streck como aquelas
relacionadas agrave proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo da seguranccedila social soluccedilatildeo de conflitos surgidos por
juiz isento e destituiacutedo de forccedila privada tutela das liberdades civis pessoal e econocircmicas2
Em contraposiccedilatildeo ao poder absoluto derivou-se um estado igualitaacuterio e preocupado
com os limites de atuaccedilatildeo e respeito agraves liberdades individuais negativas O poder poliacutetico
assim somente seria legiacutetimo pela participaccedilatildeo popular capaz de formar a vontade geral e
outorgar soberania ao Estado Vislumbra-se a formaccedilatildeo do Estado de Direito A legitimidade
do Estado e da ordem juriacutedica passa a repousar-se sobre a liberdade que iraacute consubstanciar
posteriormente a democracia3
Apesar da existecircncia de documento escrito fundamental a Constituiccedilatildeo Federal
tambeacutem do primado da lei como mecanismo de despersonificaccedilatildeo do poder e da existecircncia de
mecanismos de escolha dos representantes natildeo haveria de se falar ainda em democracia
tampouco a primazia do valor da dignidade da pessoa humana Faltava ao Estado a
participaccedilatildeo efetiva enquanto agente de transformaccedilatildeo dado o reconhecimento tatildeo-somente
de direitos de defesa
A marca fundamental do Estado Liberal neste aspecto foi a de afirmaccedilatildeo da
liberdade individual negativa agrave maneira de um status negativus em que o
Estado assumia um dever geral de abstenccedilatildeo na sociedade e assim
reconhecendo uma liberdade geral de acccedilatildeo dos cidadatildeos liberdade poliacutetica
e sobretudo liberdade econocircmica4
Saliente-se que a forma de eleiccedilatildeo encontrava inuacutemeros entraves agrave consubstanciaccedilatildeo
de real democracia dado o voto censitaacuterio e as restriccedilotildees agrave participaccedilatildeo efetiva do indiviacuteduo
nas esferas de poder O Estado Miacutenimo constituiu assim momento antecedente e preacutevio ao
Estado Democraacutetico Pode-se afirmar portanto que a legitimidade do Estado Liberal
encontrava-se na liberdade e igualdade em sua acepccedilatildeo formal
2 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 60
3 REALE Miguel Nova fase do Direito moderno 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1998 p 66
4 GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina 2011 v I p 208
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Neste momento ao Estado caberia tatildeo-somente a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e a
proteccedilatildeo agrave liberdade individual e agrave igualdade concebida em uma perspectiva formal Ao
Estado natildeo recaiacuteam obrigaccedilotildees positivas tampouco o desiderato de propiciar o
desenvolvimento ou promoccedilatildeo humanos
Sabidamente o modelo liberal de Estado foi superado em razatildeo dos proacuteprios
fundamentos que o embasaram A igualdade proposta passou a exigir paulatinamente a
participaccedilatildeo social mais intensa na vida poliacutetica dos indiviacuteduos Verificou-se maior
participaccedilatildeo popular no exerciacutecio do direito ao voto Com a maior participaccedilatildeo de outros
segmentos da sociedade na esfera poliacutetica pelos novos partidos poliacuteticos apurou-se a
existecircncia de novas demanda estatais
Somam-se fatores histoacutericos tais como Revoluccedilatildeo Industrial Primeira Guerra
Mundial Quebra da Bolsa de Nova Iorque e Segunda Guerra Mundial que acabaram por
encerrar o Estado Miacutenimo5 ao minar seus alicerces notadamente liberais As necessidades
sociais decorrentes dos acontecimentos citados passaram a exigir do Estado participaccedilatildeo
direta e efetiva na esfera social de modo que fossem criadas condiccedilotildees miacutenimas de existecircncia
aos seus integrantes
Os direitos sociais foram incorporados pelas Constituiccedilotildees Federais que deixaram de
prever tatildeo-somente a organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa e os direitos e liberdades
individuais
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais6
Migra-se do Estado Liberal para o Estado do Bem Estar Social com a assunccedilatildeo pelo
Estado de inuacutemeras obrigaccedilotildees antes relegadas a esfera particular mediante a inserccedilatildeo do
ideaacuterio de justiccedila social Passa-se a admitir direitos poliacuteticos e sociais ao cidadatildeo ao lado de
prerrogativas positivas em face do Estado (direitos fundamentais de segunda geraccedilatildeo) com a
concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para implementar as novas demandas sociais
Os direitos fundamentais a prestaccedilotildees enquadram-se como jaacute visto no
acircmbito dos direitos da segunda dimensatildeo correspondendo agrave evoluccedilatildeo do
Estado de Direito de matriz liberal-burguesa para o Estado democraacutetico e
5 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 70
6 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Neste momento ao Estado caberia tatildeo-somente a manutenccedilatildeo da ordem puacuteblica e a
proteccedilatildeo agrave liberdade individual e agrave igualdade concebida em uma perspectiva formal Ao
Estado natildeo recaiacuteam obrigaccedilotildees positivas tampouco o desiderato de propiciar o
desenvolvimento ou promoccedilatildeo humanos
Sabidamente o modelo liberal de Estado foi superado em razatildeo dos proacuteprios
fundamentos que o embasaram A igualdade proposta passou a exigir paulatinamente a
participaccedilatildeo social mais intensa na vida poliacutetica dos indiviacuteduos Verificou-se maior
participaccedilatildeo popular no exerciacutecio do direito ao voto Com a maior participaccedilatildeo de outros
segmentos da sociedade na esfera poliacutetica pelos novos partidos poliacuteticos apurou-se a
existecircncia de novas demanda estatais
Somam-se fatores histoacutericos tais como Revoluccedilatildeo Industrial Primeira Guerra
Mundial Quebra da Bolsa de Nova Iorque e Segunda Guerra Mundial que acabaram por
encerrar o Estado Miacutenimo5 ao minar seus alicerces notadamente liberais As necessidades
sociais decorrentes dos acontecimentos citados passaram a exigir do Estado participaccedilatildeo
direta e efetiva na esfera social de modo que fossem criadas condiccedilotildees miacutenimas de existecircncia
aos seus integrantes
Os direitos sociais foram incorporados pelas Constituiccedilotildees Federais que deixaram de
prever tatildeo-somente a organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa e os direitos e liberdades
individuais
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais6
Migra-se do Estado Liberal para o Estado do Bem Estar Social com a assunccedilatildeo pelo
Estado de inuacutemeras obrigaccedilotildees antes relegadas a esfera particular mediante a inserccedilatildeo do
ideaacuterio de justiccedila social Passa-se a admitir direitos poliacuteticos e sociais ao cidadatildeo ao lado de
prerrogativas positivas em face do Estado (direitos fundamentais de segunda geraccedilatildeo) com a
concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para implementar as novas demandas sociais
Os direitos fundamentais a prestaccedilotildees enquadram-se como jaacute visto no
acircmbito dos direitos da segunda dimensatildeo correspondendo agrave evoluccedilatildeo do
Estado de Direito de matriz liberal-burguesa para o Estado democraacutetico e
5 STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado 3 ed Porto
Alegre Livraria do Advogado 2003 p 70
6 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Anais Eletrocircnicos
Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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Anais Eletrocircnicos
6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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social de Direito incorporando-se agrave maior parte das Constituiccedilatildeo do segundo
poacutes-guerra7
Entendido como modelo avanccedilado do Estado Liberal e Estado Social tem-se o
Estado Democraacutetico de Direito comprometido natildeo somente com as liberdades negativas
tampouco com maneira de equalizar as discrepacircncias sociais mas sim com a funccedilatildeo de agente
promocional e transformador da sociedade
A democracia constitui elemento indispensaacutevel a noccedilatildeo do Estado Contemporacircneo
preocupado com a transformaccedilatildeo do cidadatildeo e da sociedade Por certo a democracia natildeo
constitui uma criaccedilatildeo deste Estado mas sim um desenvolvimento capaz de neste estaacutegio
elevar o ser humano ao elemento principal do Estado e do Direito Por democracia haacute que se
entender como a prerrogativa outorgada aos cidadatildeos de participar ativamente na direccedilatildeo da
sociedade nos termos do ensino de Norberto Bobbio
No entanto mesmo para uma definiccedilatildeo miacutenima de democracia como eacute a que
aceito natildeo bastam nem a atribuiccedilatildeo a um elevado nuacutemero de cidadatildeos do
direito de participar direta ou indiretamente da tomada de decisotildees coletivas
nem a existecircncia de regras de procedimento como a da maioria Eacute
indispensaacutevel uma terceira condiccedilatildeo eacute preciso que aqueles que satildeo
chamados a decidir ou a eleger os que deveratildeo decidir sejam colocados
diante de alternativas reais e postos em condiccedilatildeo de poder escolher entre
uma e outra8
O Estado democraacutetico assim pressupotildee o direito de participaccedilatildeo efetiva do cidadatildeo
no processo previamente estabelecido de eleiccedilatildeo dos rumos da sociedade seja pela
representaccedilatildeo direita ou pela representaccedilatildeo indireta
Obstante a primeira caracteriacutestica do Estado Democraacutetico faz-se mister ocupar-se da
outra caracteriacutestica fundante legalidade O mecanismo utilizado para atribuir igualdade de
tratamento repousou-se na lei Pela legalidade todos deveriam igualmente obedecer agraves leis
criadas a partir do exerciacutecio do poder soberano O poder pelo direito foi despersonalizado
tornando-se uma configuraccedilatildeo transpessoal anocircnima e obrigatoacuteria de certo tipo de conduta
ou competecircncia9
O princiacutepio da primazia da lei servia para a submissatildeo ao direito do poder
poliacutetico ldquosob um duplo ponto de vistardquo (1) os cidadatildeos tecircm a garantia de que
a lei soacute pode ser editada pelo oacutergatildeo legislativo isto eacute o oacutergatildeo representativo
7 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 185
8 BOBBIO Norberto O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por Marco
Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 20
9 REALE Miguel Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999 p 54
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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da vontade geral (2) em virtude da sua dignidade ndash obra dos representantes
da Naccedilatildeo ndash a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior e por
isso todas as medidas adoptadas pelo poder executivo a fim de lhe dar
execuccedilatildeo deviam estar em conformidade com ela Mas natildeo soacute isso como
produto da vontade geral as leis eram necessariamente gerais garantindo
desse modo a observacircncia do princiacutepio da igualdade perante a lei e
consequente repuacutedio das velhas leges privatae (privileacutegios) caracteriacutesticas do
Ancien Regime10
O racionalismo empregado agrave despersonalizaccedilatildeo do poder permitiu a incidecircncia do
positivismo no direito concluindo o divoacutercio do direito dos valores e axiomas cujo efeito
permitiu a primazia da teacutecnica e da ideia de sistema
De todo modo sob as premissas da igualdade e liberdade tornou-se possiacutevel a
concepccedilatildeo de Estado Democraacutetico de Direito Estado com uma ordem de domiacutenio legitimada
pelo povo11 e pautado em leis gerais e abstratas criadas pela vontade geral Nesse ponto a
legitimidade do poder neste Estado Democraacutetico de Direito decorre da efetiva participaccedilatildeo do
sujeito no processo democraacutetico
A legitimidade de um poder constituinte assentado sobre a vontade dos
governados e tendo por base o princiacutepio democraacutetico da participaccedilatildeo
apresenta uma extensatildeo tanto horizontal como vertical que permite
estabelecer a forccedila e intensidade com que ele escora e ampara o exerciacutecio da
autoridade12
As facetas que encerram o Estado Contemporacircneo revelam nuances que justificam o
poder Estatal em cada um dos estaacutegios avaliados A legitimidade do poder outorgado ao
Estado Liberal decorria da ampla liberdade a ser outorgada a todos de modo que natildeo
houvesse o desrespeito agrave igualdade concebida em sentido formal O Estado do Bem Estar
Social por seu turno buscou incrementar a igualdade com a tentativa de concretizar o
sentido da igualdade substancial Por derradeiro o Estado Democraacutetico de Direito tem como
fundamento de seu poder na premissa de que cada indiviacuteduo deveraacute transformar-se em
cidadatildeo
O caraacuteter transformador do Estado Democraacutetico de Direito acaba por outorgar ao ser
humano valor iacutempar e primordial para o Estado o ser humano passa a ser a origem e o fim do
10 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 96
11 Idem Ibidem p 98
12 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008 p 161
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Anais Eletrocircnicos
Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
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Estado e do Ordenamento Juriacutedico13 Incorpora-se como valor fundamental de cada Estado e
sociedade a dignidade da pessoa humana o que seraacute tratado no proacuteximo toacutepico
3 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana natildeo surge necessariamente como um direito conceito
juriacutedico tampouco como dever ou tipo penal mas sim como uma construccedilatildeo tiacutepica da
filosofia destinada agrave proacutepria identificaccedilatildeo e desenvolvimento da condiccedilatildeo humana14
A compreensatildeo da dignidade da pessoa humana exige o entendimento do
desenvolvimento da proacutepria histoacuteria da humanidade com os avanccedilos e os retrocessos que
definem cada momento histoacuterico A despeito da ideia defendida por inuacutemeros filoacutesofos a
exemplo de Kant tem-se que o processo histoacuterico e dialeacutetico revela-se de suma importacircncia
senatildeo para a descoberta de direitos relacionados agrave proacutepria dignidade ao menos para a mera
declaraccedilatildeo da promoccedilatildeo humana
Mesmo com a existecircncia de instrumentos de proteccedilatildeo da dignidade humana a Idade
Claacutessica deixou de considerar e valorizar individual e subjetivamente o proacuteprio sujeito O
homem era concebido como parte integrante de um todo a coletividade sobrepunha-se ao
indiviacuteduo eis que a poacutelis revelava-se como elemento de maior importacircncia Natildeo por acaso
Diogo Costa Gonccedilalves leciona a visatildeo do homem como peccedila do cosmos sacrificando a sua
individualidade ante a razatildeo da universalidade15 No mesmo sentido a concepccedilatildeo de Platatildeo
ou mesmo em Aristoacuteteles ao atribuir onipotecircncia ao Estado cuja consequecircncia principal seria
a negaccedilatildeo da proacutepria dignidade humana e autonomia individual16
A dignidade da pessoa humana em uma perspectiva subjetiva e individual somente
teve seu desenvolvimento a partir das concepccedilotildees cristatildes O fundamento para tanto se centrou
no postulado relacionado a semelhanccedila do homem a Deus razatildeo pela qual todos os seres
13 REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 199 p 208
14En su origen dignidad humana no es um concepto juriacutedico como puede serlo el derecho subjetivo el deber
juriacutedico o el delito ni tampouco poliacutetico como Democracia o Parlamento sino maacutes bien uma construccioacuten de la
filosofia para expresar el valor intriacutenseco de la persona derivado de uma seria de rasgos de identificacioacuten que
la hacen uacutenica e irrepetible que es el centro del mundo y que estaacute centrada em el mundo (MARTINEZ
Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
p 69)
15 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 23
16Platoacuten plantea un ideal de Estado cuya caracteriacutestica principal es su omnipotencia Este rasgo tiene dos
consecuencias que se estudiaraacuten a continuacioacuten la negacioacuten de la igual dignidad y la negacioacuten de la autonomiacutea
individual (PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson
2010 p 79)
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
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humanos seriam detentores da mesma centelha divina A todos por conseguinte haveria de
ser outorgado o mesmo respeito e deferecircncia ante a equivalecircncia relativa entre o homem e
Deus17 Destacam-se ainda os mandamentos cristatildeos que bem relevam a necessaacuteria
igualdade e respeito aos seres humanos entre si dos quais se poderia citar aquele que enuncia
o dever de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o outro como a ti mesmo
O Homem na visatildeo cristatilde do mundo era o uacutenico ser querido por Deus em si mesmo
A individualidade portanto natildeo era um problema ou uma dificuldade E natildeo o era natildeo soacute por
se haver quebrado a visatildeo monista da realidade mas sobretudo porque a individualidade
aparecia como uma maacutexima perfeiccedilatildeo na proacutepria ordem do ser18
A obra de Giovanni Pico Della Mirandolla em seu claacutessico Discurso sobre a
dignidade do homem quando demonstra os elementos relacionados agrave liberdade e agrave razatildeo
outorgados ao ser humano como indissociaacuteveis a proacutepria dignidade19 acabou por representar
importante marco para o desenvolvimento da referida temaacutetica
Do mesmo modo Immanuel Kant defendeu a dignidade da pessoa humana como
valor insuscetiacutevel de qualquer ato de disposiccedilatildeo A dignidade humana enquanto valor proacuteprio
do ser humano natildeo poderia ser substituiacutedo trocado ou comprado pois a dignidade natildeo estaria
condicionada a qualquer preccedilo20
A despeito do desenvolvimento teoacuterico da dignidade da pessoa humana somente
com os traacutegicos acontecimentos do Seacuteculo XX verificou-se a admissatildeo estatal do valor
humano
Necessariamente apoacutes as duas Grandes Guerras Mundiais viu-se a falecircncia do
sistema juriacutedico positivista eis que destituiacutedo do conteuacutedo axioloacutegico justificou as
atrocidades praticadas pelo regime nazista Nas liccedilotildees de Antonio Pele En otras palabras la
17 SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2009 p 32
18 GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo ontoloacutegica da tutela
Coimbra Almeida 2008 p 29
19 Finalmente pareceu-me ter compreendido por que razatildeo eacute o homem o mais feliz de todos os seres animados e
digno por isso de toda a admiraccedilatildeo e qual enfim a condiccedilatildeo que natildeo lhe coube em sorte na ordem universal
invejaacutevel natildeo soacute pelas bestas mas tambeacutem pelos astros e ateacute pelos espiacuteritos supramundanos Coisa
inacreditaacutevel e maravilhosa E como natildeo Jaacute que precisamente por isso o homem eacute dito e considerado
justamente um grande milagre e um ser animado sem duacutevida digno de ser admirado [] Assim tomou o
homem como obra de natureza indefinida [] A natureza bem definida dos outros seres eacute refreada por leis por
noacutes prescritas Tu pelo contraacuterio natildeo constrangido por nenhuma limitaccedilatildeo determinaacute-la-aacutes para ti segundo
teu arbiacutetrio a cujo poder te entreguei [] Poderaacutes degenerar ateacute os seres que satildeo as bestas poderaacute regenerar-
te ateacute agraves realidades superiores que satildeo divinas por decisatildeo do teu acircnimo (MIRANDOLA Giovanni Pico Della
Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa Ediccedilotildees 70 2011 p 57)
20 KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70 p 77
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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dignidad humana se ha construido en la historia de la ideas pero su inclusioacuten en los distintos
ordenes juriacutedicos contemporacircneos deriva del holocausto de la segunda guerra mundial21
Como resposta a humanidade passou a preocupar-se com a necessaacuteria proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo do ser humano bem como pela primazia dos valores eacuteticos e morais embasados
pelo belo bom e justo Portanto a dignidade da pessoa humana avaliada a partir da sua uacuteltima
retomada constitui conteuacutedo novo passiacutevel de nova reconstruccedilatildeo e releitura O marco
representativo da (re)construccedilatildeo dos valores humanos foi a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
do Homem de 1948 pois se revela como o coacutedigo das nacionalidades a esperanccedila enfim de
promover sem distinccedilatildeo de raccedila sexo e religiatildeo o respeito agrave dignidade do ser humano22
A dignidade da pessoa humana nesta atual conjuntura soacutecio-poliacutetica constitui pedra
angular de todo Estado capaz de legitimar o poder constituiacutedo e dirigir os fins estatais e
sociais servindo ainda como guia para a atuaccedilatildeo concreta de cada uma das funccedilotildees
(legislativa executiva e judiciaacuteria) que decorre justamente do reconhecimento de que a
pessoa eacute o fim e o Estado natildeo mais do que um meio para a garantia e promoccedilatildeo de seus
direitos fundamentais23
Mesmo diante da notaacutevel importacircncia atribuiacuteda agrave dignidade da pessoa humana o
valor em questatildeo natildeo se esgota na funccedilatildeo legitimadora do poder pois pode se revelar em
inuacutemeras outras perspectivas ou dimensotildees Com efeito a dignidade da pessoa humana
poderia ser verificada em uma perspectiva ontoloacutegica como caracteriacutestica inerente a condiccedilatildeo
de pessoa intersubjetiva dada a alteridade constatada na natureza relacional do homem
histoacuterico-cultural em razatildeo da necessaacuteria (re)construccedilatildeo da personalidade humana ao longo
das eras por fim negativa e prestacional que confere as liberdades negativa e positiva
Ao estudar o conteuacutedo da dignidade da pessoa humana Gregoacuterio Pece-Barba
Martiacutenez relata a importacircncia em se considerar a perspectiva kantiana e aquela proveniente do
renascentismo Defende que cada uma das perspectivas defendidas ndash kantiana e renascentista -
se complementam A primeira delas possibilita a compreensatildeo da dignidade sob uma
perspectiva da autonomia que envolve a capacidade de escolha a liberdade moral e
responsabilidade pelas consequecircncias da eleiccedilatildeo ainda a busca pelo bem virtude e felicidade
Sob o prisma renascentista a dignidade envolve a razatildeo humana que nos diferencia dos
21 PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid Dykinson 2010 p 27
22 BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiro 2008 p 578
23 SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora Lumen Juris 2004
p 111
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Anais Eletrocircnicos
Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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Anais Eletrocircnicos
6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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Anais Eletrocircnicos
No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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animais ante a capacidade de reflexatildeo de expressatildeo dos sentimentos e afeto e de
comunicaccedilatildeo24
Diante de amplitude de tamanha complexidade a dignidade da pessoa humana
assume funccedilotildees multiformes tais como fundamento do sistema juriacutedico valor maacuteximo
instrumento de integraccedilatildeo diretriz para produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das normas25 Por
conseguinte inuacutemeros institutos consubstanciam diretamente o referido axioma superior
dentre os quais se vislumbram os direitos humanos os direitos fundamentais e os direitos de
personalidade26
A dignidade27 estaacute relacionada ao valor da pessoa valor esse de essencial
importacircncia para a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais dirigidos invariavelmente para o
desenvolvimento da pessoa humana
4 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS
Pelo que foi visto alhures os direitos sociais decorrem de eventos histoacutericos capazes
de afastar a neutralidade estatal na esfera social com o reconhecimento de prestaccedilotildees devidas
Estado perante o cidadatildeo Surgem da transposiccedilatildeo do Estado Liberal para o Estado Social
tendo como marco as Constituiccedilotildees de Weimar e do Meacutexico
Nos direitos sociais parte-se da verificaccedilatildeo da existecircncia de situaccedilotildees de
necessidade e de desigualdades de facto ndash umas derivadas das condiccedilotildees
fiacutesicas e mentais das proacuteprias pessoas outras derivadas de condicionalismos
exoacutegenos (econocircmicos sociais geograacuteficos etc) ndash e da vontade de as vencer
para estabelecer uma relaccedilatildeo solidaacuteria entre os membros da mesma
comunidade poliacutetica28
24 MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del derecho 2 ed Madrid
Dykinson 2003 p 70
25 TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro In
TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 p 49
26 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 520
27 O vocaacutebulo portuguecircs ldquodignidaderdquo tem origem hebraico ldquokavoacutehdhrdquo que tem o sentido de ldquopeso ou que daacute
pesordquo Eacute tambeacutem associada agrave ldquogloacuteriardquo ldquohonrardquo representa a pessoa honrada e importante Na liacutengua grega o
substantivo ldquotimerdquo transmite o sentido de ldquohonrardquo ldquoestimardquo ldquovalorrdquo ldquopreciosidaderdquo e o verbo ldquotimatildeordquo
significa ldquopor um preccedilo emrdquo ou ldquovalorar algueacutemrdquo e o adjetivo ldquotiacutemiosrdquo pode significar ldquoestimadordquo ou
ldquopreciosordquo [] Com relaccedilatildeo ao homem denota aquilo que o torna impressionante e que exige reconhecimento
quer em termos de bem materiais quer em notaacutevel (dignidade ou importacircncia)rdquoinrdquo KITTEL Gerhard and
FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament Vol II Grand Rapids (MI-USA) p 238
[traduccedilatildeo livre]
28 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 100
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Os direitos sociais portanto natildeo se confundem com os direitos negativos Enquanto
os direitos de liberdade satildeo direitos de agir os direitos sociais satildeo direitos de exigir Os
direitos de liberdade satildeo direitos determinados ou determinaacuteveis pela proacutepria norma
constitucional enquanto via de regra os direitos sociais exigem a intervenccedilatildeo do legislador
ordinaacuterio Por derradeiro os direitos de liberdade exigem condiccedilotildees culturais os direitos
sociais por seu turno exigem para sua implementaccedilatildeo condiccedilotildees econocircmicas e financeiras29
Natildeo se admite mais a mera igualdade formal tampouco a liberdade destituiacuteda de
instrumentos haacutebeis a outorgar o efetivo direito de escolha e autonomia ao indiviacuteduo Os
direitos sociais dirigem-se a viabilizaccedilatildeo da igualdade material ou faacutetica na liccedilatildeo de Alexy e
tambeacutem a essencial concretizaccedilatildeo da liberdade do que se conclui que a igualdade e liberdade
natildeo se referem a conteuacutedos totalmente contrapostos
O significado profundo da incorporaccedilatildeo dos direitos sociais ao
constitucionalismo foi o de uma redefiniccedilatildeo da liberdade e dos seus direitos
E eacute um favor dos direitos de liberdade redefinidos que aparecem os direitos
sociais formando assim um horizonte legitimador unitaacuterio em que satildeo
incindiacuteveis os direitos de liberdade e os direitos sociais30
Oportuno esclarecer que haacute discussatildeo acerca da natureza dos direitos sociais eis que
haacute quem defenda natildeo se tratarem de direitos fundamentais Os argumentos contraacuterios a
natureza de direitos fundamentais repousam-se sob duas alegaccedilotildees
i) formalmente a decisatildeo que envolve a implementaccedilatildeo de direitos sociais natildeo
constitui tarefa do Direito mas sim da poliacutetica dado seu caraacuteter vago Quando o Tribunal
decide questatildeo relacionada a eficaacutecia de direito social
ii) materialmente a concretizaccedilatildeo de um direito social acarretaria o sacrifiacutecio de um
direito constitucionalmente assegurado Especificamente no caso dos direitos sociais o
elevado custo de implementaccedilatildeo acabaria por trazer conflitos em razatildeo da necessaacuteria cobranccedila
de exaccedilotildees fiscais e do ultraja a prerrogativas individuais
Contra a postura apresentada Robert Alexy pondera
i) somente haacute liberdade se existir ao sujeito real liberdade de opccedilatildeo a primeira
sustenta que a liberdade juriacutedica isto eacute a permissatildeo juriacutedica de se fazer ou deixar de fazer
29 Idem Ibidem p 104-106
30 COSTA E SILVA Gustavo Just Os limites da reforma constitucional Satildeo Paulo Renova 2000 p 131
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Anais Eletrocircnicos
Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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algo natildeo tem valor sem uma liberdade fiacutesica (real) isto eacute a possibilidade faacutetica de escolher
entre as alternativas permitidas
ii) na sociedade moderna a liberdade faacutetica de um grande nuacutemero de titulares de
direitos fundamentais natildeo encontra seu substrato material em um ldquoespaccedilo vital por eles
controladordquo ela depende sobretudo de atividades estatais31
Como desdobramento das elucubraccedilotildees apresentadas a liberdade faacutetica somente
seria protegida pelos direitos fundamentais Tal conclusatildeo decorre da necessaacuteria afirmaccedilatildeo da
dignidade eis que natildeo seria criacutevel concebecirc-la sem que fossem outorgados ao seu detentor
meios necessaacuterios para que possa efetivamente desenvolver e promover sua personalidade32
A fortiori a dignidade da pessoa humana transpassa a busca pelo desenvolvimento pleno da
personalidade do sujeito sendo inconcebiacutevel a obtenccedilatildeo de tal valor sem a outorga de
liberdade efetiva concreta e real
Superada a discussatildeo acerca da natureza fundamental atribuiacuteda aos direitos sociais
haacute que se salientar que de acordo com as prestaccedilotildees devidas pelo Estado pode-se diferenciar
a espeacutecie de direito fundamental Natildeo por acaso Ingo Wolfgan Sarlet estabelece distinccedilatildeo
pautada no objeto da prestaccedilatildeo Diferencia os direitos agrave prestaccedilatildeo nos seguintes termos i)
direitos de proteccedilatildeo ii) direitos de participaccedilatildeo na organizaccedilatildeo e no procedimento iii) direitos
de prestaccedilatildeo em sentido estrito33
Por certo interessa ao presente estudo os direitos de prestaccedilatildeo em sentido estrito A
liccedilatildeo de JJ Canotilho bem representa os elementos caracterizadores dos direitos sociais
notadamente o direito a prestaccedilotildees
Com base na indiscutiacutevel dimensatildeo subjectiva dos direitos ldquosociaisrdquo afirma-
se a existecircncia de direitos originaacuterios a prestaccedilotildees quando (1) a partir da
garantia constitucional de certos direitos (2) se reconhece simultaneamente
o dever do Estado na criaccedilatildeo dos pressupostos materiais indispensaacuteveis ao
exerciacutecio efetivo desses direitos (3) e a faculdade de o cidadatildeo exigir de
forma imediata as prestaccedilotildees constitutivas desses direitos34
31 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 504
32 Idem ibidem p 506
33 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 187
34 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 476
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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A admissatildeo de direitos sociais acarreta em um plano juriacutedico a outorga ao cidadatildeo
de prerrogativa ndash direito subjetivo - em face do Estado cujo objeto traduz-se em prestaccedilotildees
positivas
Comparando-se com os direitos negativos tiacutepicos direitos fundamentais da primeira
geraccedilatildeo e relacionados a liberdade os direitos socais notadamente os direitos a prestaccedilotildees
acarretaram mudanccedila significativa na concepccedilatildeo da funccedilatildeo do Estado Enquanto os direitos
negativos envolviam em sua maior parte tatildeo-somente o reconhecimento e o dever de
abstenccedilatildeo do Estado os direitos sociais reclamam atuaccedilatildeo pronta e direta de prestaccedilotildees
Como consequecircncia do acolhimento dos direitos sociais pelo ente estatal inuacutemeras
problemaacuteticas passaram a surgir dentre as quais a necessaacuteria efetividade dos novos direitos
reconhecidos A atuaccedilatildeo positiva do Estado por conseguinte exige a presenccedila de
pressupostos necessaacuterios a consecuccedilatildeo dos fins desejados vg capacidade econocircmica do
Estado clima espiritual da sociedade estilo de vida distribuiccedilatildeo de bens niacutevel de ensino
desenvolvimento econocircmico criatividade cultural convenccedilotildees sociais eacutetica filosoacutefica ou
religiosa35
Natildeo por acaso inuacutemeras discussotildees surgiram a fim de dirigir a atuaccedilatildeo do Estado e
delimitar a atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio e a liberdade do legislador ordinaacuterio Tornaram-se
recorrentes as indagaccedilotildees sobre a efetivaccedilatildeo dos direitos sociais e o custo puacuteblico de
manutenccedilatildeo dos direitos sociais
A partir da assunccedilatildeo dos direitos sociais e da consideraacutevel dificuldade em
implementa-los aliado agraves inuacutemeras mudanccedilas sociais culturais e tecnoloacutegicas verificadas
atualmente tem-se que a liccedilatildeo de Norberto Bobbio se mostra cada vez mais oportuna
Com efeito o problema que temos diante de noacutes natildeo eacute filosoacutefico mas
juriacutedico e num sentido mais amplo poliacutetico Natildeo se trata de saber quais e
quantos satildeo esses direitos qual eacute sua natureza e seu fundamento se satildeo
direitos naturais ou histoacutericos absolutos ou relativos mas sim qual eacute o modo
mais seguro para garanti-los para impedir que apesar das solenes
declaraccedilotildees eles sejam continuamente violados36
Sobre tais questotildees o toacutepico seguinte traraacute pontos relacionados especificamente ao
miacutenimo existencial e agrave reserva do possiacutevel
35 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra
Almedina 2003 p 473
36 BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduccedilatildeo de Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro Elsevier 2004
p 17
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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5 DA EQUALIZACcedilAtildeO ENTRE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A
RESERVA DO POSSIacuteVEL DO MIacuteNIMO EXISTENCIAL
Como jaacute visto alhures a dignidade da pessoa humana constitui fundamento
legitimador do poder valor que outorga ao ser humano papel de protagonismo e fim uacuteltimo
do proacuteprio Estado Ao Estado portanto cabe a tarefa de implementar as potenciais
dimensotildees de cada um dos cidadatildeos de modo que lhes sejam asseguradas as condiccedilotildees
necessaacuterias a vida digna a relaccedilatildeo interpessoal e tambeacutem ao desenvolvimento da
personalidade
De outro lado da perfunctoacuteria anaacutelise tecida sobre os direitos fundamentais sociais
pode-se concluir pelos entraves dirigidos agrave consecuccedilatildeo das prerrogativas sociais acolhidas e
normatizadas aos quais JJ Canotilho denominou de pressupostos de direitos fundamentais A
despeito dos inuacutemeros pressupostos lanccedilados certamente aquele que mais acarreta entraves a
concretizaccedilatildeo dos direitos eacute a capacidade econocircmica do Estado
Natildeo por acaso muito autores desenvolveram estudo sobre o custo dos direitos Muito
embora as prestaccedilotildees positivas sejam as que mais demandam custos certamente as liberdade
(direitos negativos) tambeacutem acabam por onerar o Estado a exemplo da necessaacuteria
manutenccedilatildeo do aparato militar37 Natildeo por acaso autores defendem a inexistecircncia de direitos
fundamentais negativos pois em uacuteltima anaacutelise todo o direito fundamental reclama uma
prestaccedilatildeo e por conseguinte um custo38
Vaacutelida a liccedilatildeo de Alexy ao ponderar sobre a necessaacuteria origem dos recursos estatais
(tributos) dirigido a concretizaccedilatildeo dos direitos e tambeacutem o possiacutevel desrespeito na obtenccedilatildeo
de tais recursos
Todos os direitos fundamentais sociais satildeo extremamente custosos Para a
realizaccedilatildeo dos direitos fundamentais sociais o Estado pode apenas distribuir
aquilo que recebe de outros por exemplo na forma de impostos e taxas Mas
isso significa que os frequentemente suscitados limites da capacidade da
realizaccedilatildeo do Estado natildeo decorrem apenas dos bens distribuiacuteveis existentes
mas sobretudo daquilo que o Estado para fins distributivos pode tomar dos
proprietaacuterios desses bens sem violar seus direitos fundamentais39
37 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 66
38 GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris 2005
39 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 510
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Anais Eletrocircnicos
Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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A atuaccedilatildeo do Estado na consecuccedilatildeo dos direitos fundamentais notadamente os
sociais exigiraacute prudecircncia pois dependeraacute basicamente dos recursos obtidos pela arrecadaccedilatildeo
de exaccedilotildees fiscais o que envolve praacutetica que exige respeito aos direitos do contribuinte
O instituto amplamente divulgado destinado agrave delimitaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do Poder
Judiciaacuterio nas questotildees relacionadas agrave efetivaccedilatildeo dos direitos sociais eacute denominado de reserva
do possiacutevel De origem alematilde o referido instituto foi utilizado pelo Tribunal Constitucional
em pleito cujo pedido era de vagas em universidade sob o argumento de que todos os
cidadatildeos alematildees teriam direito a escolher sua profissatildeo seu trabalho e sua formaccedilatildeo
O direito paacutetrio acolheu a teoria alematilde a despeito de criacuteticas relacionadas ao caraacuteter
tendencioso neoliberal destinado a esvaziar os direitos fundamentais sociais40 cuja aplicaccedilatildeo
envolve a incidecircncia de regras de sopesamento Primeiramente haveria que se avaliar (i) a
existecircncia de recursos para o efetivaccedilatildeo de dado direito social (ii) disponibilidade juriacutedica de
recursos materiais e de pessoal e (iii) avaliaccedilatildeo pautada na proporcionalidade e
razoabilidade41
Com efeito o controle da incidecircncia da reserva do possiacutevel envolve a avaliaccedilatildeo das
perspectivas relacionadas i) ao aspecto faacutetico (recursos financeiros materiais e pessoais) ii)
ao mandamento de que a lei orccedilamentaacuteria natildeo poderia sobrepor-se agrave concretizaccedilatildeo dos
direitos fundamentais pelo Poder Judiciaacuterio eis que ao legislador deveria o respeito agrave
Constituiccedilatildeo Federal aliado ao fato de que o orccedilamento constitui normas dirigidas ao Poder
Executivo42 iii) a necessaacuteria razoabilidade e proporcionalidade com o objetivo de que a
concretizaccedilatildeo de um direito fundamental social natildeo acarrete o aniquilamento e o desrespeito
ao nuacutecleo essencial de outro direito fundamental43
Evidentemente contra a costumeira alegaccedilatildeo de desrespeito a reserva do possiacutevel
pelos entes puacuteblicos acionados a jurisprudecircncia desenvolveu criteacuterios de controle dentre os
quais a atribuiccedilatildeo do ocircnus da prova para que o proacuteprio Estado demonstre a insuficiecircncia de
recursos Indiretamente passou-se a impor ao Estado o dever de gerir com excelecircncia a
Administraccedilatildeo Puacuteblica
40 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 73
41 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 574
42 KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no direito brasileiro
Porto Alegre Livraria do Advogado 2011 p 83
43 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 287
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Anais Eletrocircnicos
Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Por certo a reserva do possiacutevel natildeo fica imune a severas criacuteticas mesmo com a
criaccedilatildeo de criteacuterios para sua incidecircncia Sob a perspectiva da dignidade enquanto valor
inerente agrave condiccedilatildeo humana conforme a liccedilatildeo de Immanuel Kant natildeo seria possiacutevel admitir
qualquer ato que equiparasse o ser humano a condiccedilatildeo de objeto
Nestes termos a avaliaccedilatildeo do custo de um determinado direito que viesse impedir
sua concretizaccedilatildeo e por conseguinte ferisse a dignidade de um determinado cidadatildeo
acarretaria em uacuteltima anaacutelise a negativa do referido valor Mesmo diante das criacuteticas
lanccediladas tem-se que a reserva do possiacutevel foi devidamente incorporada e constitui elemento
plenamente utilizado nos Tribunais para ponderaccedilatildeo sobre a intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
na implementaccedilatildeo de medidas puacuteblicas
Estabelecida a premissa relacionada a concretizaccedilatildeo dos direitos fundamentais
sociais e a reserva do possiacutevel pode-se chegar agraves seguintes conclusotildees i) a concretizaccedilatildeo dos
direitos dar-se-aacute de forma limitada ante a ausecircncia de recursos ilimitados ii) a relatividade
dos direitos sociais exigiraacute a realizaccedilatildeo de constantes escolhas
Pouco haacute o que acrescentar acerca da primeira conclusatildeo Evidentemente a realidade
econocircmica revela escassez de recursos o que se agrava no caso paacutetrio pela maacute gestatildeo das
receitas disponiacuteveis A segunda conclusatildeo por seu turno demanda anaacutelise mais profunda
sobre os criteacuterios aplicaacuteveis para a realizaccedilatildeo das escolhas mais adequadas Para tanto tem-se
as concepccedilotildees naturalista que avalia as condiccedilotildees de mercado os desejos e preferecircncias
relativistaculturalista cuja escolha eacute variaacutevel de acordo com dada cultura e momento
histoacuterico e aquela defendida por Doyal e Goug sendo o criteacuterio utilizado o do ldquoseacuterio riscordquo44
A uacuteltima teoria lanccedilada exigiria a apuraccedilatildeo de quais as necessidades seriam
universalmente indispensaacuteveis aos seres humanos do que se conclui se tratar da sauacutede fiacutesica e
autonomia
A sauacutede fiacutesica eacute a necessidade natural mais oacutebvia e primaacuteria do homem e dos
demais animais dos quais ele se distingue pela intencionalidade da accedilatildeo
proacutepria da essecircncia humana A autonomia eacute a capacidade que o homem tem
de eleger objetivos e crenccedilas de valoraacute-los com discernimento e
responsabilidade e de concretizaacute-los sem opressotildees45
O criteacuterio do ldquoseacuterio riscordquo assim poderia ser utilizado em dois planos distintos
Primeiramente no plano legislativo durante a elaboraccedilatildeo da lei orccedilamentaacuteria e tambeacutem no
44 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 174
45 Idem Ibidem p 174
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
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plano jurisdicional caso natildeo tenha sido observado determinado direito tido como
indispensaacutevel a sauacutede e autonomia do cidadatildeo
Diante da impossibilidade de efetiva implementaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
em razatildeo da ausecircncia de escolhas corretas e concretizaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas adequadas
aliada agrave escassez de recursos restou o desenvolvimento de teoria destinada a garantir o
essencial necessaacuterio agrave existecircncia do ser humano Portanto da tensatildeo entre a dignidade da
pessoa humana e a omissatildeo poliacuteticolegislativa fez-se surgir o miacutenimo existencial Trata-se
portanto de uma equalizaccedilatildeo das tensotildees porque procura minimizar o problema dos custos e
superar a imprecisatildeo dos princiacutepios para que os direitos fundamentais sejam efetivamente
exigiacuteveis do Estado46
O miacutenimo existencial constitui uma gama de direitos e prerrogativas que representam
o nuacutecleo central e essencial do ser humano e de uma vida digna Nesse aspecto a tarefa de
definir o conteuacutedo do miacutenimo existencial natildeo se mostra faacutecil Os programas minimalista e
maximalista bem representam a divergecircncia relacionado a extensatildeo
Especialmente importante eacute a diferenccedila entre um conteuacutedo minimalista e um
maximalista O programa minimalista tem como objetivo garantir ao
indiviacuteduo o domiacutenio de um espaccedilo vital e de um status social miacutenios ou
seja aquilo que eacute chamado de direitos miacutenimos e pequenos direitos sociais
Jaacute um conteuacutedo maximalista pode ser percebido quando se fala de uma
realizaccedilatildeo completa dos direitos fundamentais ou quando se caracteriza o
direito agrave educaccedilatildeo como pretensatildeo a uma emancipaccedilatildeo intelectual e cultural
voltada agrave individualidade agrave autonomia e agrave plena capacidade poliacutetico-social47
Grandes satildeo as diferenccedilas entre o programa minimalista e o maximalista inclusive
quanto agrave apuraccedilatildeo das obrigaccedilotildees estatais e os entraves na implementaccedilatildeo de um e de outro
programa
A despeito das criacuteticas ao modelo minimalista eis que tolhe inuacutemeros direitos e
prerrogativas fundamentalmente outorgadas aos cidadatildeos tem-se que este eacute talvez melhor
represente o contexto histoacuterico e cultural presente
Veja-se que o miacutenimo existencial haacute que fazer frente a ponto de limitar a incidecircncia
da reserva legal a ponto de proteger nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana Por
oacutebvio a desmensurada ampliaccedilatildeo do cataacutelogo de conteuacutedo do miacutenimo existencial acabaria
por enfraquece-lo ante a necessidade maior de incidecircncia da reserva do possiacutevel
46 Idem Ibidem p 184
47 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo
Malheiros 2012 p 502
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Natildeo se quer dizer entretanto que o miacutenimo existencial seja programa pronto e
acabado porquanto representa a consecuccedilatildeo de um primeiro objetivo pois a dignidade da
pessoa humana e tambeacutem os direitos fundamentais natildeo se encerrariam pelo oferecimento das
condiccedilotildees miacutenimas O caminhar social deve representar a perene busca por avanccedilos humanos
e natildeo pela entrega miacutenima de dignidade
Observe-se que inuacutemeros direitos fundamentais sociais somente seriam exercidos
mediante a participaccedilatildeo do processo democraacutetico do exerciacutecio das prerrogativas poliacuteticas e
orccedilamentaacuterias
Os direitos sociais maacuteximos devem ser exercidos no processo democraacutetico
por meio da cidadania reivindicatoacuteria e da praacutetica orccedilamentaacuteria Dessa
forma acredita-se que haveraacute a superaccedilatildeo da tese do primado dos direitos
sociais prestacionais ndash que inviabilizou o Estado social ndash sobre os direitos de
liberdade bem como seraacute desfeita a confusatildeo entre direitos fundamentais e
direitos sociais confusatildeo que natildeo permite a eficaacutecia destes uacuteltimos na
dimensatildeo miacutenima 48
Aleacutem da discussatildeo relacionada ao conteuacutedo do programa tem-se que o miacutenimo
existencial possui dupla dimensatildeo uma negativa garantia de salaacuterio impenhorabilidade do
salaacuterio miacutenimo ou de parte do salaacuterio e da pensatildeo que afete a subsistecircncia natildeo sujeiccedilatildeo a
imposto sobre o rendimento pessoal de quem tenha rendimento miacutenimo e outra positiva
atribuiccedilatildeo de prestaccedilotildees pecuniaacuterias a quem esteja abaixo do miacutenimo de subsistecircncia49
Pode-se concluir agrave guisa do exposto que a dignidade da pessoa humana confere
pressuposto do proacuteprio Estado aleacutem que embasar os direitos fundamentais Todavia niacutetida eacute
a tensatildeo entre a implementaccedilatildeo da dignidade por meio de direitos fundamentais em especial
os sociais e os limites financeiros e de capacidade de gestatildeo Por conseguinte a maneira
encontrada para equalizaccedilatildeo da tensatildeo surgida decorre da incidecircncia do miacutenimo existencial
enquanto barreira destinada a restringir as escusas estatais e do abuso do manejo da reserva do
possiacutevel
Independentemente do programa assumido miacutenimo ou maacuteximo pode-se afirmar que
o direito a assistecircncia representa elemento inserido na dignidade e tambeacutem no miacutenimo
existencial o que seraacute trabalhado no toacutepico seguinte
48 SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de implementaccedilatildeo Curitiba
Juruaacute 2010 p 29
49 MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional 5 ed Coimbra Almedina tomo IV p 234
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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6 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA E DAS
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS DO STF
61 DA SEGURIDADE SOCIAL E ASSISTEcircNCIA SOCIAL DA NATUREZA JURIacuteDICA
DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS E DO REGIME JURIacuteDICO APLICAacuteVEL
A assistecircncia social constitui um conjunto de medidas promovidas pelo Estado a fim
de outorgar condiccedilotildees miacutenimas de vida agravequele que natildeo tenha condiccedilatildeo de prover sua
subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Cita-se como origem remota da Assistecircncia Social a Lei dos Pobres de 1601
promulgada na Inglaterra Tal ato normativo derivou do aumento populacional e tambeacutem da
influecircncia religiosa que defendia a necessidade de intervenccedilatildeo do Estado na esfera social
Destinava-se agravequeles que natildeo tinham condiccedilotildees de prover a proacutepria subsistecircncia sendo-lhes
outorgado o miacutenimo para que pudessem sobreviver50
O desenvolvimento e reconhecimento mundial da necessaacuteria intervenccedilatildeo estatal para
suprir as necessidades dos menos favorecidos ocorreu tempos depois de forma paulatina
especificamente em alguns tratados internacionais e Constituiccedilotildees Citam-se a tiacutetulo de
exemplo as Constituiccedilotildees Federais do Meacutexico e de Weimar (1917 e 1919 respectivamente)
tambeacutem a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos dos Humanos51
No direito paacutetrio a Assistecircncia Social atualmente eacute prevista na Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 O constituinte originaacuterio criou um sistema de proteccedilatildeo social destinada aos
brasileiros e estrangeiros residentes no paiacutes denominado de Seguridade Social com o
objetivo de garantir direitos baacutesicos nas esferas da Sauacutede Assistecircncia Social e Previdecircncia
Social cuja previsatildeo encontra-se nos artigos 194 a 204
Enquanto conjunto integrado de accedilotildees a Seguridade Social ofereceu a todos
indistintamente serviccedilos puacuteblicos destinados agrave sauacutede com a entrega de poliacuteticas puacuteblicas
relacionadas agrave prevenccedilatildeo e tratamento das mazelas que atingem a populaccedilatildeo Tambeacutem
ofereceu um sistema previdenciaacuterio agravequele que desempenhe atividade laborativa ou deseje
participar (no caso do facultativo) como tambeacutem aos respectivos dependentes de modo que
50 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 38
51 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Artigo 25 Artigo XXV 1 Todo ser humano tem direito a um
padratildeo de vida capaz de assegurar-lhe e a sua famiacutelia sauacutede e bem-estar inclusive alimentaccedilatildeo vestuaacuterio
habitaccedilatildeo cuidados meacutedicos e os serviccedilos sociais indispensaacuteveis e direito agrave seguranccedila em caso de desemprego
doenccedila invalidez viuvez velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistecircncia em circunstacircncias fora de
seu controle
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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estejam protegidos contra os infortuacutenios sociais (morte invalidez idade avanccedilada prisatildeo
maternidade) Por fim outorgou proteccedilatildeo aos menos afortunados que natildeo tenham condiccedilotildees
de obter a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
Em uacuteltima anaacutelise a Seguridade Social revela-se como instrumento destinado a
proteccedilatildeo do nuacutecleo essencial da dignidade da pessoa humana ao zelar pela manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees miacutenimas de vida digna Indissociaacutevel do conteuacutedo da Seguridade Social a noccedilatildeo jaacute
reportada do miacutenimo existencial
[] a Constituiccedilatildeo Federal consolidou um regime constitucional para a
seguridade social formatado para atender a padrotildees adequados de bem-estar
social e acima de tudo com o niacutetido objetivo de assegurar a todos uma vida
digna e saudaacutevel52
A despeito da grande importacircncia das aacutereas da sauacutede e previdecircncia o foco do
presente estudo repousa-se na Assistecircncia Social regulada atualmente pelas Leis 874293 e
1074103 (Estatuto do Idoso)
A natureza juriacutedica dos direitos afetos agrave Seguridade Social e especialmente agrave
Assistecircncia Social eacute a de direitos fundamentais sociais Natildeo haveria como cindir os direitos
assistenciais da dignidade da pessoa humana pois se revelam como direitos indispensaacuteveis agrave
vida e dignidade do ser humano Oportuna a liccedilatildeo de Marcelo Leonardo Tavares ao asseverar
a natureza dos direitos assistenciais e os respectivos destinataacuterios
A assistecircncia social eacute um plano de prestaccedilotildees socais miacutenimas e gratuitas a
cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condiccedilotildees dignas de
vida Eacute um direito social fundamental e para o Estado um dever a ser
realizado atraveacutes de accedilotildees diversas que visem atender agraves necessidades
baacutesicas do indiviacuteduo em situaccedilotildees criacuteticas da existecircncia humana tais como a
maternidade infacircncia adolescecircncia velhice e para pessoas portadoras de
limitaccedilotildees fiacutesicas53
Enquanto direitos proacuteprios do ser humano os direitos da assistecircncia social devem
seguir todo regime juriacutedico aplicaacutevel aos direitos fundamentais do que se destaca as
restriccedilotildees agrave limitaccedilatildeo dos respectivos direitos o que exigiria o devido sopesamento em
relaccedilatildeo ao direito (princiacutepio) em conflito tambeacutem a proteccedilatildeo agrave reforma constitucional dado o
status de claacuteusula peacutetrea a possibilidade de concretizaccedilatildeo via accedilotildees constitucionais a perene
52 SARLET Ingo Wolfgang MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013 p 623
53 TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 15
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
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beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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busca pela concretizaccedilatildeo da dignidade da pessoa humana plena eficaacutecia dos direitos
constitucionalmente previstos
De outro lado em razatildeo da Assistecircncia Social estar inserida no cataacutelogo de serviccedilos
outorgados pela Seguridade Social tambeacutem acaba por sujeitar-se aos princiacutepios especiacuteficos
estabelecidos pela proacutepria Constituiccedilatildeo Federal (artigo 194 paraacutegrafo uacutenico) Por
conseguinte o acesso aos direitos assistenciais deve ocorrer de forma universal e seletiva
sendo oferecido a todos que cumprirem os requisitos legais estabelecidos
Estabelecidas as premissas acerca da Assistecircncia Social mister se faz partir ao
estudo relacionado ao benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada
62 DO BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Inuacutemeros satildeo os direitos previstos na esfera da Assistecircncia Social o que decorre da
assunccedilatildeo pelo Estado de deveres na ordem social como jaacute visto alhures Soma-se a tal
aspecto ponto peculiar do tratamento constitucional outorgado ao tema que consiste na
liberdade para que os Estados e Municiacutepios criem direitos assistenciais dentro da competecircncia
e recursos disponiacuteveis nos termos do artigo 204 da Constituiccedilatildeo Federal
Chama atenccedilatildeo entretanto a menccedilatildeo expressa a direito assistencial na proacutepria
Constituiccedilatildeo Federal que acabou inclusive por estabelecer os requisitos necessaacuterios para sua
concessatildeo54
A garantia de um salaacuterio miacutenimo mensal ao idoso ou agravequele que natildeo tenha meios de
prover a proacutepria subsistecircncia nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia constitui direito social
fundamental e envolve instrumento de grande valia para a concretizaccedilatildeo do miacutenimo
existencial
A redaccedilatildeo do dispositivo constitucional revela-se plenamente clara natildeo desafiando
maiores questionamentos Todavia a regulamentaccedilatildeo do referido direito assistecircncia haacute
tempos revela-se sujeita a inuacutemeras criacuteticas Explica-se
Saliente-se que o direito estabelecido pela Constituiccedilatildeo Federal estaacute sujeito
expressamente a regulamentaccedilatildeo legal o que natildeo significa dizer que a eficaacutecia da norma
constitucional estivesse sujeita a lei ordinaacuteria tampouco de que se tratasse de norma
54 Art 203 A assistecircncia social seraacute prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuiccedilatildeo agrave
seguridade social e tem por objetivos [] V - a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa
portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria manutenccedilatildeo ou de
tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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programaacutetica Inegaacutevel a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Federal e especialmente a eficaacutecia
imediata dos direitos fundamentais nos termos do artigo 5ordm sect 1ordm o que possibilitaria o gozo
do direito mesmo diante da omissatildeo legislativa
A Lei 874293 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Assistecircncia Social regulamentou
em seu artigo 20 o benefiacutecio acima indicado denominado de benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada55
Conforme se pode depreender do texto legal a regulamentaccedilatildeo do direito
constitucional previsto no artigo 203 V envolveu trecircs pontos em especial i) requisito etaacuterio
representado pelo termo ldquoidosordquo ii) requisito pessoal expresso pelo termo ldquodeficienterdquo iii)
requisito financeiro representado pela dicccedilatildeo natildeo possuir meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia
O requisito etaacuterio envolve o limite miacutenimo de idade para a concessatildeo do dito
benefiacutecio Tal requisito sofreu alteraccedilotildees ao longo dos anos Pela dicccedilatildeo do texto legal (Lei
617974) que anteriormente previu o benefiacutecio considerava-se idoso aquele com idade de 70
anos Atualmente em razatildeo da Lei 1074103 a idade foi reduzida para 65 anos nos termos
do artigo 34
Natildeo haacute registro de maiores discussotildees acerca do limite miacutenimo de idade para a
concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada Criacuteticas maiores recaem sobre os demais
requisitos
Enquanto a Constituiccedilatildeo Federal utiliza-se do termo ldquodeficienterdquo o artigo 20 da Lei
874293 em sua redaccedilatildeo original estabelecia que se considera deficiente a pessoa
incapacitada para a vida independente e para o trabalho A disposiccedilatildeo legal era alvo de
imensas criacuteticas pelo seu caraacuteter restritivo ao exigir cumulativamente incapacidade tanto
para vida independente como para o trabalho
Natildeo por acaso construccedilatildeo jurisprudencial estabeleceu que a deficiecircncia seria
verificada quando a pessoa natildeo fosse capaz para sua vida independente ou para o trabalho56
55 Art 20 O benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada eacute a garantia de um salaacuterio-miacutenimo mensal agrave pessoa com
deficiecircncia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem natildeo possuir meios de prover a
proacutepria manutenccedilatildeo nem de tecirc-la provida por sua famiacutelia
[]sect 2o Para efeito de concessatildeo deste benefiacutecio considera-se pessoa com deficiecircncia aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza fiacutesica mental intelectual ou sensorial os quais em interaccedilatildeo com
diversas barreiras podem obstruir sua participaccedilatildeo plena e efetiva na sociedade em igualdade de condiccedilotildees
com as demais pessoas sect 3o Considera-se incapaz de prover a manutenccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia
ou idosa a famiacutelia cuja renda mensal per capita seja inferior a 14 (um quarto) do salaacuterio-miacutenimo 56 A propoacutesito a Turma Nacional de Uniformizaccedilatildeo de Jurisprudecircncia editou a Suacutemula 29 Para os efeitos do art
20 sect 2ordm da Lei n 8742 de 1993 incapacidade para a vida independente natildeo eacute soacute aquela que impede as
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
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beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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A nova redaccedilatildeo do sect 2ordm do artigo 20 da Lei 874293 conferida pela Lei 1247001 afastou-se
da referida criacutetica e ofereceu tratamento mais adequado agravequele portador de necessidades
especiais
Natildeo fossem as criacuteticas jaacute apresentadas certamente o ponto em que haacute maior
divergecircncia refere-se agrave fixaccedilatildeo objetiva do criteacuterio de miserabilidade Enquanto a
Constituiccedilatildeo Federal outorga o direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada agravequeles que natildeo
tenham condiccedilatildeo de provar a proacutepria subsistecircncia e nem tecirc-la provida por sua famiacutelia a
previsatildeo legal estabelece que a miserabilidade seraacute aquela cuja a renda per capita natildeo supere
frac14 do salaacuterio miacutenimo
Verifica-se portanto norma infraconstitucional que restringe o direito
constitucionalmente previsto o que seraacute objeto de anaacutelise mais detida em razatildeo dos
julgamentos proferidos pelo STF a respeito do tema
Haacute que se salientar ainda que o Estado do Idoso (Lei 1074103) aleacutem de reduzir o
limite de idade criou norma ampliou a incidecircncia do direito ao benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada nos termos do paraacutegrafo uacutenico do artigo 3457 Com efeito caso um idoso receba
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada para a concessatildeo de um novo benefiacutecio para
outro integrante da mesma famiacutelia aquela renda natildeo seria considerada
Em que pese a louvaacutevel intenccedilatildeo em ampliar a incidecircncia do direito assistencial o
dispositivo legal natildeo esteve avesso agraves criacuteticas Talvez como decorrecircncia da proacutepria temaacutetica
da Lei 1074103 somente os benefiacutecios concedidos aos idosos natildeo comporiam a renda para a
concessatildeo de um novo benefiacutecio assistencial Por conseguinte fosse o benefiacutecio concedido a
um incapaz a renda seria considerada Do mesmo em se tratando de benefiacutecio previdenciaacuterio
no valor de um salaacuterio miacutenimo a renda decorrente seria admitida para a composiccedilatildeo da renda
para a concessatildeo de um benefiacutecio assistencial
A disposiccedilatildeo legal trouxe situaccedilotildees capazes de configurar latente desrespeito a
isonomia eis que natildeo haveria um discrimen justo haacutebil a amparar maior benefiacutecio ao idoso
em detrimento do incapaz Por isso os Tribunais passaram a admitir a incidecircncia analoacutegica
para que o incapaz e ateacute mesmo o aposentado no valor miacutenimo fossem beneficiados pela
norma prevista no paraacutegrafo uacutenico do artigo 34 do Estatuto do Idoso Transcreve-se
fragmento de decisatildeo que revela a conclusatildeo exposta
atividades mais elementares da pessoa mas tambeacutem a impossibilita de prover ao proacuteprio sustento In
httpswww2jfjusbrphpdocvirtussumulaphpnsul=29 acessado em 06021014 agraves 20 horas
57 Art 34 [] Paraacutegrafo uacutenico O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos
do caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas
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O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora
Lumen Juris 2004
SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para
Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
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Anais Eletrocircnicos
O paraacutegrafo uacutenico do art 34 do Estatuto do Idoso foi aleacutem estabelecendo
que O benefiacutecio jaacute concedido a qualquer membro da famiacutelia nos termos do
caput natildeo seraacute computado para os fins do caacutelculo da renda familiar per capita
a que se refere a Loas
Da leitura dos dispositivos mencionados extraio que o objetivo do legislador
ordinaacuterio foi justamente o de preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso
ou seja assegurar que o minguado benefiacutecio (de um salaacuterio miacutenimo) natildeo
seja considerado para efeito do caacutelculo da renda familiar per capita o que iraacute
garantir na praacutetica que ele natildeo precisaraacute ser dividido com os outros
membros do grupo
Tendo o legislador buscado preservar a renda miacutenima auferida pelo idoso e
com isso garantindo a sua dignidade deve tal regra ser estendida por
analogia aos demais benefiacutecios de renda miacutenima ainda que natildeo seja aquele
previsto na LOAS Isso porque qualquer benefiacutecio de renda miacutenima
percebido por pessoa idosa seja de natureza assistencial seja previdenciaacuteria
destina-se a garantir a sua sobrevivecircncia sendo iloacutegico fazer distinccedilatildeo
apenas porque concedidos com base em suportes faacuteticos distintos
Por uma linha de raciociacutenio similar deve ser excluiacutedo da renda familiar para
efeito de concessatildeo do benefiacutecio de prestaccedilatildeo continuada o valor do
benefiacutecio assistencial recebido em razatildeo de deficiecircncia de outro membro da
famiacutelia (e aqui independentemente da sua idade) pois se destina a garantir
exclusivamente a existecircncia digna do beneficiaacuterio58
Considerando as nefastas consequecircncias da regulamentaccedilatildeo realizada especialmente
quanto ao criteacuterio financeiro sem-nuacutemero de casos acabaram por buscar a tutela jurisdicional
exigindo do Corte Suprema pronunciamento o que ocorreu com o julgamento do RE
580963PR e do RE 567985MT Passa-se assim a anaacutelise do pronunciamento uacuteltimo do
STF
63 DO POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DO CRITEacuteRIO OBJETO PARA
CONCESSAtildeO DE BENEFIacuteCIO ASSISTENCIAL DE PRESTACcedilAtildeO CONTINUADA
Haacute muito se discute a constitucionalidade do criteacuterio objetivo para a concessatildeo de
benefiacutecio assistencial de prestaccedilatildeo continuada Veja-se por exemplo o pronunciamento feito
pelo STF quando do julgamento da Accedilatildeo Direta de Constitucionalidade n 1232-1DF de
relatoria do Min Ilmar Galvatildeo publicada em 01062001 Concluiu o STF pela
constitucionalidade do criteacuterio objetivo lanccedilado pela Lei 874293 ao prever como limite
econocircmico a renda per capita de frac14 do salaacuterio miacutenimo
58 BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso Kipper julgado em
29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509amptermosPesquisados=
beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
REFEREcircNCIAS
ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da
Silva Satildeo Paulo Malheiros 2012
BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduzido por Carlos Nelson Coutinho Rio de
Janeiro Elieser 2004
________ O futuro da democracia uma defesa das regras do jogo 5 ed Traduzido por
Marco Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
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Anais Eletrocircnicos
Ementa Constitucional Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o
criteacuterio para receber o benefiacutecio do inciso v do art 203 da cf Inexiste a
restriccedilatildeo alegada em face ao proacuteprio dispositivo constitucional que reporta agrave
lei para fixar os criteacuterios de garantia do benefiacutecio de salaacuterio miacutenimo agrave pessoa
portadora de deficiecircncia fiacutesica e ao idoso Esta lei traz hipoacutetese objetiva de
prestaccedilatildeo assistencial do estado Accedilatildeo julgada improcedente
Segundo a teoria dos limites dos limites o crivo da constitucionalidade das restriccedilotildees
criadas pelo legislador ordinaacuterio pauta-se segundo Joseacute Joaquim Gomes Canotilho nos
seguintes criteacuterios
(1) Trata-se de uma lei formal e organicamente constitucional (2) Existe
autorizaccedilatildeo expressa da Constituiccedilatildeo para o estabelecimento de limites
atraveacutes da lei (3) A lei restritiva tem caraacuteter geral e abstrato (4) A lei
restritiva tem efeitos retroativos (5) A lei restritiva observa o princiacutepio da
proibiccedilatildeo do excesso estabelecendo restriccedilotildees necessaacuterias para a
salvaguarda de outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos
(6) A lei restritiva diminui a extensatildeo e alcance do conteuacutedo essencial dos
preceitos constitucionais59
Com efeito seria possiacutevel que a restriccedilatildeo imposta pelo legislador ordinaacuterio com a
criaccedilatildeo do criteacuterio objetivo fosse considerada como inconstitucional eis que a incidecircncia cega
e ilimitada do criteacuterio objetivo poderia desrespeitar a extensatildeo e o alcance do conteuacutedo
essencial do benefiacutecio assistencial eis que deixaria de outorgar o direito a grande parte dos
necessitados
Sem que fosse capaz de exigir eventual revisatildeo do julgamento proferido pelo STF os
Tribunais passaram a admitir a possibilidade de que a despeito da constitucionalidade do
criteacuterio objetivo fosse apurada no caso concreto a existecircncia de necessidade que justificasse a
concessatildeo do benefiacutecio assistencial Nestes termos transcreve-se liccedilatildeo de Gilmar Ferreira
Mendes
Os inuacutemeros casos concretos que satildeo objetos do conhecimento dos juiacutezes e
tribunais por todo o paiacutes e chegam ao Supremo Tribunal Federal pela via da
reclamaccedilatildeo ou do recurso extraordinaacuterio tecircm demonstrado que os criteacuterios
objetivos estabelecidos pela Lei n 874293 satildeo insuficientes para atestar
que o idoso ou o deficiente natildeo possuem meios de prover agrave proacutepria
manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia Constatada tal insuficiecircncia
os juiacutezes e tribunais nada mais tecircm feito do que comprovar a condiccedilatildeo de
miserabilidade do indiviacuteduo que pleiteia o benefiacutecio por outros meios de
prova Natildeo se declara a inconstitucionalidade do art 20 sect 3ordm da Lei n
874293 mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse paracircmetro
59 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 611
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objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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Anais Eletrocircnicos
objetivo seja conjugado no caso concreto com outros fatores indicativos do
estado de penuacuteria do cidadatildeo60
Natildeo fosse a demonstraccedilatildeo da insuficiecircncia do criteacuterio objetivo para apurar a
necessidade econocircmica razotildees outras se mostraram suficientes para a mudanccedila do
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 1231DF
Como de conhecimento notoacuterio inuacutemeros outros benefiacutecios assistenciais passaram a
ser implantados pelo Governo Federal a exemplo dos programas de Bolsa Escola (Lei
102192001) Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo - PNAA (Lei 10689 de 2003)
Programa Nacional de Renda Miacutenima Vinculado agrave Sauacutede - Bolsa Alimentaccedilatildeo (MP 2206-
12001) Programa Auxiacutelio-Gaacutes (Decreto nordm 41022002) Cadastramento Uacutenico do Governo
Federal (Decreto 38112001) Em todos os novos programas assistenciais lanccedilados o criteacuterio
objetivo utilizado foi de frac12 salaacuterio miacutenimo
A utilizaccedilatildeo de novo criteacuterio objetivo utilizado pelo Governo Federal para a
concessatildeo de benefiacutecios assistenciais posteriores somente poderia representar que segundo o
proacuteprio Estado a condiccedilatildeo de miserabilidade natildeo se justificava mais pelo criteacuterio lanccedilado pela
Lei 874293
A mudanccedila do criteacuterio objetivo assistencial pelo Governo Federal somente ratifica o
entendimento de que o miacutenimo existencial eacute variaacutevel de acordo com as questotildees histoacutericas
culturais econocircmicas e sociais
Que tambeacutem no acircmbito da proibiccedilatildeo de retrocesso importa que se tenha
sempre presente a circunstacircncia de que o conteuacutedo do miacutenimo existencial
para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstacircncias
histoacutericas geograacuteficas sociais econocircmicas e culturais em cada lugar e
momento em que estiver em causa resulta evidente e vai aqui assumido
como pressuposto de nossa anaacutelise61
Do mesmo modo que o entendimento firmado pelo Governo Federal em nova
oportunidade para avaliaccedilatildeo do criteacuterio objetivo do benefiacutecio assistencial o STF acabou por
admitir as consideraacuteveis mudanccedilas econocircmicas e sociais por ocasiatildeo do julgamento dos
Recursos Extraordinaacuterios n 580963PR e 567985MT
Como a lei permaneceu inalterada elaboraram-se maneiras de se contornar o
criteacuterio objetivo e uacutenico estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado
de miserabilidade social das famiacutelias com entes idosos ou deficientes
60 MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito Constitucional 7 ed Satildeo
Paulo Saraiva 2012 p 756
61 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 455
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
REFEREcircNCIAS
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3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
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Paralelamente foram editadas leis que estabeleceram criteacuterios mais elaacutesticos
para a concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais tais como a Lei
108362004 que criou o Bolsa Famiacutelia a Lei 106892003 que instituiu o
Programa Nacional de Acesso agrave Alimentaccedilatildeo a Lei 1021901 que criou o
Bolsa Escola a Lei 953397 que autoriza o Poder Executivo a conceder
apoio financeiro a Municiacutepios que instituiacuterem programas de garantia de
renda miacutenima associados a accedilotildees socioeducativas
O Supremo Tribunal Federal em decisotildees monocraacuteticas passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos criteacuterios
objetivos
Verificou-se a ocorrecircncia do processo de inconstitucionalizaccedilatildeo decorrente
de notoacuterias mudanccedilas faacuteticas (poliacuteticas econocircmicas e sociais) e juriacutedicas
(sucessivas modificaccedilotildees legislativas dos patamares econocircmicos utilizados
como criteacuterios de concessatildeo de outros benefiacutecios assistenciais por parte do
Estado brasileiro)62
Apoacutes a consideraccedilatildeo das significativas mudanccedilas concluiu o STF pela
inconstitucionalidade do criteacuterio objetivo de frac14 do salaacuterio miacutenimo fixado pela Lei 874293
em paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 O julgamento poreacutem foi realizado modulaccedilatildeo dos efeitos eis
que a inconstitucionalidade parcial foi declarada sem nulidade
Nos mesmos Recursos Extraordinaacuterios foi tambeacutem realizado julgamento sobre a
constitucionalidade do paraacutegrafo uacutenico artigo 34 do Estatuto do Idoso A Suprema Corte
concluiu pela inconstitucionalidade incidenter tantum somente naquele caso ante a
constataccedilatildeo da quebra isonomia por outorgar melhor tratamento somente ao integrante do
grupo familiar em que haacute assistido idoso
Segundo a liccedilatildeo de JJ Canotilho os efeitos de inconstitucionalidade da lei ndash
nulidade absoluta e efeitos retroativos ndash em determinadas situaccedilotildees tecircm sido substituiacutedos por
efeitos modulados mais restritos Algumas situaccedilotildees justificam a modulaccedilatildeo e restriccedilatildeo dos
efeitos da declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de determinada norma dentre as quais
(1) Violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade em que o Tribunal verifica a
violaccedilatildeo deste princiacutepio constitucional mas devido agrave insuficiente
densidade deste princiacutepio aplicado como norma-paracircmetro de controlo
natildeo eacute possiacutevel substituir o legislador
(2) A declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade de uma determinada norma com
os efeitos da nulidade originaacuteria uma situaccedilatildeo de vaacutecuo ou de caos
juriacutedico manifestamente incompatiacutevel com a ordem constitucional
(3) Inexistecircncia de regras ou disciplina transitoacuteria que ofereccedilam alternativa
crediacutevel agrave soluccedilatildeo consagrada na norma inconstitucional
(4) Existecircncia de omissatildeo legislativa inconstitucional pois nestes casos
natildeo eacute possiacutevel com a fixaccedilatildeo de nulidade criar uma situaccedilatildeo
constitucional63
62 BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013 Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso em 04 fev 2014
63 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional 6 ed Coimbra Livraria Almedina 1993 p 958
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
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premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
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7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
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de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
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implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
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3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
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No presente caso verifica-se que a violaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade eis que o
tratamento disciplinado pelo Estatuto do Idoso exclui situaccedilotildees semelhantes que exigiria igual
disciplina A presente situaccedilatildeo tambeacutem se verifica na hipoacutetese descrita no item 4 eis que a
nulidade da norma prevista no artigo 20 paraacutegrafo 3ordm da Lei 874293 acabaria por gerar um
vaacutecuo legislativo trazendo seacuterios problemas inclusive na esfera administrativa (perante o
INSS)
Por isso a despeito das severas criacuteticas tecidas contra o instituto da anulabilidade das
normas inconstitucionais por tolerar norma contraacuteria a Constituiccedilatildeo Federal em razatildeo dos
motivos apresentados mostra-se necessaacuteria sua manutenccedilatildeo
De todo modo nada impede que o magistrado diante da anaacutelise do caso concreto
venha utilizar de outros meios para constatar a necessidade econocircmica mesmo diante de
renda per capita superior ao limite estabelecido
64 DAS BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE OS JULGAMENTOS PROFERIDOS NOS
RECURSOS EXTRAORDINAacuteRIOS N 580963PR E 567985MT
Dos uacuteltimos julgamentos realizados pelo STF algumas indagaccedilotildees merecem atenccedilatildeo
Com a inconstitucionalidade do criteacuterio financeiro objetivo previsto no artigo 20 paraacutegrafo
3ordm da Lei 874293 restou consignado que a miserabilidade seria apurada no caso concreto
Seria criacutevel com efeito admitir um julgado no qual a constataccedilatildeo da renda per capita fosse
inferior a frac12 do salaacuterio miacutenimo
Inicialmente considerando que foi outorgada ao Juiacutezo a possibilidade de a avaliaccedilatildeo
da miserabilidade no caso concreto natildeo haveria qualquer vedaccedilatildeo para que a decisatildeo natildeo
admitisse a miserabilidade diante de uma renda per capita de frac12 salaacuterio miacutenimo
Entretanto tal possibilidade poderia desde jaacute ser evitada A julgar pelos
fundamentos trazidos pelo STF que admitiu inclusive o limite objetivo para os novos
programas assistenciais caberia ao magistrado singular diante do caso concreto concluir que
tal aspecto constitui o limite impliacutecito miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio assistencial
Interpretaccedilatildeo diversa inclusive poderia desafiar desrespeito a regra que veda o
retrocesso social
Que - situando a questatildeo no contexto da seguranccedila juriacutedica - resulta evidente
que a dignidade da pessoa humana natildeo exige apenas uma proteccedilatildeo em face
de atos de cunho retroativo (isto eacute claro quando estiver em causa uma
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efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
REFEREcircNCIAS
ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da
Silva Satildeo Paulo Malheiros 2012
BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduzido por Carlos Nelson Coutinho Rio de
Janeiro Elieser 2004
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Marco Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 22 ed Satildeo Paulo Malheiros 2008
BRASIL STF RE 567985MT Rel Ministro Marco Aureacutelio Julgamento em 18042013
Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso
em 04 fev 2014
BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso
Kipper julgado em 29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509ampt
ermosPesquisados=beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed
Coimbra Almedina 2003
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2000
GALDINO Flavio Introduccedilatildeo agrave Teoria dos custos dos direitos Rio de Janeiro Lumen Juris
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GONCcedilALVES Diogo Costa Pessoa e direitos da personalidade ndash fundamentaccedilatildeo
ontoloacutegica da tutela Coimbra Almeida 2008
GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina
2011 v I
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70
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KITTEL Gerhard and FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament
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MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del
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MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito
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MIRANDOLA Giovanni Pico Della Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa
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PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid
Dykinson 2010
REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 1999
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________ Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre
Livraria do Advogado 2009
_________ SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos
Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009
_________ MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013
SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora
Lumen Juris 2004
SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para
Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
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TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
efetiva ou potencial violaccedilatildeo da dignidade em algumas de suas
manifestaccedilotildees) mas tambeacutem natildeo dispensa - pelo menos eacute esta a tese que
estaremos a sustentar - uma proteccedilatildeo contra medidas retrocessivas mas que
natildeo podem ser tidas como propriamente retroativas jaacute que natildeo alcanccedilam as
figuras dos direitos adquiridos do ato juriacutedico perfeito e da coisa julgada
Basta lembrar aqui a possibilidade de o legislador seja por meio de uma
emenda constitucional (consoante jaacute analisado) seja por uma reforma no
plano legislativo suprimir determinados conteuacutedos da Constituiccedilatildeo ou
revogar normas legais destinadas agrave regulamentaccedilatildeo de dispositivos
constitucionais notadamente em mateacuteria de direitos sociais ainda que com
efeitos meramente prospectivos64
Em situaccedilotildees como a descrita haveria evidente retrocesso social pois a situaccedilatildeo
legalmente prevista (novos programas assistenciais) mostrar-se-ia mais favoraacutevel do que
outras que podem efetivamente ocorrer Para evitar tal situaccedilatildeo de clara inseguranccedila juriacutedica e
possiacutevel prejuiacutezo a dignidade da pessoa humana seria criacutevel que a Poder Legislativo
adequasse e uniformizasse os criteacuterios para a concessatildeo dos benefiacutecios assistenciais sendo
sempre outorgada a possibilidade de avaliaccedilatildeo no caso concreto de situaccedilotildees dotadas de
peculiaridades diferentes
A referida conclusatildeo inclusive consubstancia a disposiccedilatildeo constitucional que prevecirc
a dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democraacutetico de Direito
(artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo Federal) assim como o objetivo da Repuacuteblica Federativa do
Brasil ao buscar a promoccedilatildeo do bem de todos (artigo 3ordm IV da Constituiccedilatildeo Federal)
Por derradeiro cumpre ressaltar as inuacutemeras criacuteticas dirigidas agraves decisotildees proferidas
pelo STF acerca de questotildees que envolvam a Assistecircncia Social e Previdecircncia Social
principalmente apoacutes a deacutecada de 90
Merece especial relevo nesse aspecto o estudo realizado por Joseacute Antonio Savaris
em sua tese de doutoramento denominada Uma Teoria da Decisatildeo Judicial da Previdecircncia
Social Contributo para Superaccedilatildeo da Praacutetica Utilitarista Aborda inicialmente as
caracteriacutesticas que envolvem a eacutetica utilitarista que busca a maximizaccedilatildeo do bem e dos
resultados afastando-se da anaacutelise moral do agir humano Por conseguinte a eacutetica utilitarista
sobrepotildee a promoccedilatildeo de um agregado bem-estar geral mesmo que em detrimento de direitos
fundamentais65
Posteriormente o Autor apresenta a influecircncia histoacuterica social e econocircmica que
justificaram as reformas previdenciaacuterias ocorridas a partir da Lei 903295 Sob as mesmas
64 SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009 p 435
65 SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para Superaccedilatildeo da Eacutetica
Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011 p 35
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
decisotildees do STF sobre o benefiacutecio assistencial seguiram os fundamentos eacuteticos do
utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
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BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso
Kipper julgado em 29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509ampt
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2011 v I
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
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Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
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_________ MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013
SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora
Lumen Juris 2004
SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para
Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
premissas analisa os fundamentos das decisotildees proferidas pelo STF destacando-se a
necessidade em estabelecer o equiliacutebrio financeiro-atuarial com a maximizaccedilatildeo dos recursos
ao maior nuacutemero de beneficiaacuterios e a tentativa de manutenccedilatildeo da higidez do sistema
A despeito da demonstraccedilatildeo da falaciosa argumentaccedilatildeo do desequiliacutebrio financeiro-
atuarial do sistema defende Joseacute Antonio Savaris que
A adoccedilatildeo da anaacutelise econocircmica para resoluccedilatildeo judicial dos problemas
envolvendo a Previdecircncia Social implicaria um nefasto juiacutezo deliberativo
restritivo com vistas agrave reduccedilatildeo das despesas puacuteblicas e promoccedilatildeo da
eficiecircncia Os princiacutepios que estruturam os direitos sociais fundamentais se
curvariam agraves estrateacutegias para a oacutetima alocaccedilatildeo de recursos segundo a loacutegica
econocircmica66
Diante da proposiccedilatildeo oferecida pelo Autor referido seria admissiacutevel crer que as
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utilitarismo
Agrave primeira vista a reposta seria negativa eis que a decisatildeo afastou limites legais que
viessem restringir o direito ao benefiacutecio assistencial pois declarada foi a norma que regulava
a miserabilidade segundo criteacuterios objetivos ao outorgar a liberdade ao juiz no caso concreto
avaliar as condiccedilotildees pessoais para justificar o benefiacutecio
Entretanto haacute que se ponderar a decisatildeo que declarou a inconstitucionalidade a
disposiccedilatildeo prevista no artigo 34 paraacutegrafo uacutenico do Estatuto do Idoso A justificativa para
tanto foi a impossibilidade de manutenccedilatildeo de benefiacutecio (desconsideraccedilatildeo da renda mensal
recebida pelo idoso para concessatildeo de outro benefiacutecio assistencial) em razatildeo de a legislaccedilatildeo
natildeo contemplar situaccedilotildees semelhantes
Sabidamente natildeo existe razatildeo que justifique a eliminaccedilatildeo de um direito em razatildeo da
natildeo previsatildeo legislativa do mesmo direito a situaccedilotildees semelhantes Justamente para isso
pondera-se a necessidade de incidecircncia do instituto da analogia ou mesmo de remeacutedios
processuais e constitucionais
Especificamente neste ponto seria possiacutevel supor o fundamento utilitarista arraigado
nos vetores decisoacuterios do STF cujo objetivo preciacutepuo eacute a preservaccedilatildeo do sistema e tambeacutem a
maximizaccedilatildeo dos recursos Saliente-se por oportuno que a real causa de decidir muitas vezes
natildeo satildeo sequer conhecidas eou expressadas na proacutepria decisatildeo natildeo haacute como dissociar as
influecircncia do fluxo histoacuterico sobre a convicccedilatildeo do julgador
66 Idem Ibidem p 131
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
7 CONCLUSAtildeO
O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
julgamentos proferidos pelo STF ao avaliar a constitucionalidade do requisito financeiro para
sua concessatildeo
Apoacutes a devida constataccedilatildeo da importacircncia da dignidade da pessoa humana enquanto
valor que sustenta e legitima o Poder e dirige cada uma das funccedilotildees do Estado analisou-se a
formaccedilatildeo e definiccedilatildeo dos direitos sociais
Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
necessidades impostas pelos eventos catastroacuteficos especialmente a Segunda Grande Guerra
os direitos sociais tornaram-se elemento integrante das Constituiccedilotildees Federal e das poliacuteticas
puacuteblicas
Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
reclamam prestaccedilatildeo direta do Estado surgindo por conseguinte a problemaacutetica que envolve
sua efetivaccedilatildeo Natildeo por acaso a fim de estabelecer limites a exigecircncia relacionada aos
direitos sociais a reserva do possiacutevel foi desenvolvida para que a concretizaccedilatildeo pelo Poder
Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
Da tensatildeo entre a dignidade da pessoa humana e da reserva do possiacutevel pode-se
constatar a existecircncia de limites intransponiacuteveis relacionados ao denominado miacutenimo
existencial Neste vieacutes a Assistecircncia Social e em especial o benefiacutecio de prestaccedilatildeo
continuada acabam por implementar consideraacutevel conteuacutedo do miacutenimo existencial e com
efeito da dignidade da pessoa humana
Estabelecida a noacutevel importacircncia do benefiacutecio assistencial passou-se a analisar seu
fundamento constitucional aleacutem dos requisitos regulados pela Lei 874293 Inuacutemeras
controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
quais o limite miacutenimo de idade a caracterizaccedilatildeo da incapacidade haacutebil a justificar a
concessatildeo do benefiacutecio ainda o limite de renda per capita estabelecido em frac14 do salaacuterio
miacutenimo
Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
decisatildeo em que foi confirmada a constitucionalidade do paraacutegrafo 3ordm do artigo 20 da Lei
874293 ateacute a decisatildeo proferida nos REacutes n 580963PR e 567985MT que declararam
inconstitucional a norma Como visto a inconstitucionalidade poreacutem natildeo teve a declaraccedilatildeo
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
humano esperados e definidos na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal
REFEREcircNCIAS
ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da
Silva Satildeo Paulo Malheiros 2012
BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduzido por Carlos Nelson Coutinho Rio de
Janeiro Elieser 2004
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Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso
em 04 fev 2014
BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso
Kipper julgado em 29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509ampt
ermosPesquisados=beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
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Coimbra Almedina 2003
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2005
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ontoloacutegica da tutela Coimbra Almeida 2008
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2011 v I
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70
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SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre
Livraria do Advogado 2009
_________ SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos
Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
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_________ MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013
SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora
Lumen Juris 2004
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Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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O estudo realizado destinou-se agrave anaacutelise do benefiacutecio assistencial e tambeacutem dos
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Como fruto do Estado Social erigido em razatildeo da crise liberal e das novas
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Diferentemente dos direitos denominados de primeira geraccedilatildeo os direitos sociais
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Judiciaacuterio dos referidos direito fosse temperada pela razoabilidade e proporcionalidade
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controveacutersias podem ser destacadas quanto agrave regulamentaccedilatildeo do referido direito dentre as
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Sobre este uacuteltimo aspecto foram apresentados os posicionamentos a respeito desde a
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II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
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Disponiacutevel em
lthttpredirstfjusbrpaginadorpubpaginadorjspdocTP=TPampdocID=4614447gt Acesso
em 04 fev 2014
BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso
Kipper julgado em 29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509ampt
ermosPesquisados=beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed
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_________ MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
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Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
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TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
de nulidade o que permite a manutenccedilatildeo da incidecircncia da norma ateacute que o legislador preveja
outro criteacuterio para a apuraccedilatildeo da miserabilidade
Forte nas novas poliacuteticas assistenciais que estabelecem como condiccedilatildeo econocircmica a
renda per capita de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo inegavelmente as decisotildees proferidas nos casos
concretos haveria de admitir este novo patamar miacutenimo como suficiente para apuraccedilatildeo da
miserabilidade Isso sem afastar a possibilidade de admissatildeo do direito para os casos de renda
aleacutem daquele limite Tal conclusatildeo resta ratificada pelo necessaacuterio desenvolvimento social e
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ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais 2 ed Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da
Silva Satildeo Paulo Malheiros 2012
BOBBIO Norberto A era dos direitos Traduzido por Carlos Nelson Coutinho Rio de
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Marco Aurelio Nogueira Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
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Disponiacutevel em
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BRASIL TRF4 AC nordm 5000629-7620114047202 Rel Desembargador Federal Celso
Kipper julgado em 29-03-12 Disponiacutevel em
lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=6054509ampt
ermosPesquisados=beneficio|assistencial|34|analogiagt Acesso em 06 fev 2014
CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed
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GOUVEIA Jorge Bacelar Manual de Direito Constitucional 4 ed Coimbra Almedina
2011 v I
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Anais Eletrocircnicos
KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70
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II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
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Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
KANT Immanuel Fundamentaccedilatildeo da Metafiacutesica dos Costumes Lisboa Ediccedilotildees 70
KELBERT Fabiana Okchstein A reserva do possiacutevel e a efetividade dos direitos sociais no
direito brasileiro Porto Alegre Livraria do Advogado 2011
KITTEL Gerhard and FRIEDRICH Gerhard Theological Dictionary of the new testament
Vol II Grand Rapids (MI-USA)
MARTINEZ Gregorio Peces-Barba La dignidad de la persona desde la filosofia del
derecho 2 ed Madrid Dykinson 2003
MENDES Gilmar Ferreira BRANCO Paulo Gustavo Gonet Curso de Direito
Constitucional 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 2012
MIRANDA Jorge Manual de Direito Constitucional Tomo IV 5 ed Coimbra Almedina
MIRANDOLA Giovanni Pico Della Discurso sobre a dignidade do homem 6 ed Lisboa
Ediccedilotildees 70 2011
PELE Antonio La dignidad humana Sus oriacutegenes en el pensamiento claacutesico Madrid
Dykinson 2010
REALE Miguel Filosofia do Direito 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 1999
________ Nova fase do Direito moderno 2 ed Satildeo Paulo Saraiva 1998
________ Fontes e modelos do Direito Satildeo Paulo Saraiva 1999
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 10 ed Porto Alegre
Livraria do Advogado 2009
_________ SARLET Ingo Wolfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos
Fundamentais na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 7 ed Porto Alegre Livraria do Advogado
2009
_________ MARINONI Luiz Guilherme MITIDIERO Daniel Curso de Direito
Constitucional 2 ed Satildeo Paulo RT 2013
SARMENTO Daniel Direitos fundamentais e relaccedilotildees privada Rio de Janeiro Editora
Lumen Juris 2004
SAVARIS Joseacute Antonio Uma Decisatildeo Judicial da Previdecircncia Social Contributo para
Superaccedilatildeo da Eacutetica Utilitarista Florianoacutepolis Conceito Editorial 2011
SILVA Sandoval Alves Direitos Sociais Lei Orccedilamentaacuteria como instrumento de
implementaccedilatildeo Curitiba Juruaacute 2010
STRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiz Bolzan Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do Estado
3 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
2006
TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999
II CCoonnggrreessssoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddee DDiirreeiittooss ddaa PPeerrssoonnaalliiddaaddee
1144 1155 ee 1166 ddee aabbrriill 22001144-- MMaarriinnggaacuteaacute PPRR ISBN 978-85-8084-723-9
Anais Eletrocircnicos
TAVARES Marcelo Leonardo Direito Previdenciaacuterio 8 ed Rio de Janeiro Lumen Juris
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TEPEDINO Gustavo A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional
brasileiro In TEPEDINO Gustavo Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999