A DIMENSÃO DISCURIVA DO TRABALHO FILOSÓFICO
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TEXTO 2
Se o poder político tem por função primeira dar a sua força ao direito das liberdades a despeito dos
poderes, ele deve permanecer independente destes. Ele deve, exactamente, ter poder sobre os
outros poderes, sobre toda a força que tenda a exercer-se contra a liberdade dos fracos. Disso
resulta que não pode ser nenhum dos poderes. Nem o poder económico, nem poder ideológico,
nem o poder religioso. Também não pode identificar-se com o poder de mais prestígio e eficaz - o
da ciência e técnicas que ela engendra. Em particular e forçosamente, pois o seu poder afecta
directamente o espírito, a ciência médica. Por isso a medicina não deve tornar-se uma competência
do Estado.
Claude Bruaire, Une éthique pour Ia medicine, Fayard, 1978, pág. 132
1. Explicite o problema abordado no texto.
O problema tratado no texto é este: Deve a medicina tornar-se uma das competências
do Estado?
Observação: O problema central é obscurecido pelo facto de grande parte do texto
se dedicar a estabelecer uma premissa - O Estado não pode identificar-se com o po der
da ciência e das técnicas -, desejada para a conclusão, e pelo facto de a conclu são
aparecer subitamente deduzida de uma premissa muito mais geral.
2. O texto tem dois argumentos. Um primeiro é um subargumento destinado a justificar uma
tese sobre o poder político. O argumento principal usa a conclusão do anterior para justi-
ficar a sua primeira premissa.
- Explicite os dois argumentos.
O poder político deve ser independente dos outros poderes.
A ciência e as técnicas que ela engendra são poderes.
Logo, o Estado deve ser independente das ciências e das técnicas.
3.A tese ou conclusão principal pode parecer um pouco surpreendente. Há material
suficiente para a estabelecer? Há premissas omitidas que possam atenuar ou dissipar essa
surpresa?
O que pensa do argumento?
O argumento é muito pouco claro, o que, aliás, é frequente na argumentação polí -
tica. Não é claro, por exemplo, o alvo da argumentação: o que é abrangido pela ex -
pressão "medicina como competência do Estado"? Tudo - da investigação ao levan -
tamento dos problemas da saúde pública - o que se relaciona com medicina? Ou o
que habitualmente se designa por Saúde Pública?
Também não é claro que considerar a medicina uma competência do Estado seja
"identificar" o Estado com a ciência e as técnicas: a defesa da soberania é uma com -
petência do Estado, mas isso não significa identificação do Estado com a Física, a
Engenharia, a Geografia e outras ciências e técnicas necessárias à instituição militar.
A falta de clareza do argumento deve-se ao facto de o argumentador ter passado da
discussão de princípios muitos gerais para uma questão mais específica sem os ne -
cessários passos intermédios.
TEXTO: «Tenho vindo a dizê-lo repetidas vezes: trata-se de uma mera vingança da sociedade,
mas não traz qualquer solução para os problemas sociais e económicos que levam ao crime. Daí
que considere que é inaceitável a pena de morte. De facto, uma tal penalização em nada repara
o sofrimento da vida ou da família; em nada serve de castigo exemplar, pois, se o fosse, bastava
ter havido um só executado; em nada segue o exemplo dado pelos países civilizados, em que
tem sido transformada em prisão perpétua sem que isso represente um aumento das respetivas
taxas de criminalidade; em nada reduz um direito da sociedade, pois se não foi ela que deu a
vida ao criminoso, também não será ela que tem o direito de lha retirar; em nada simboliza um
gesto da humanidade, de amor ao próximo e de fraternidade, cuja carência está,
psicologicamente, na base de qualquer crime violento. Em nada se pode basear a defesa de tão
repugnante, vil, odioso e chocante procedimento como a pena de morte.»
Manifesto Anónimo (in “Teorias e Argumentos”, http://lrsr1.blogspot.com/2011/02/fichas-sobre-carcterizacao-da-filosofia.html)
Problema filosófico
Um problema filosófico é um problema para o qual não dispomos de meios empíricos de prova, acerca dos fundamentos da ciência, da religião, da arte, e até do nosso dia-a-dia.
1. Identifica o problema filosófico sobre o qual se toma posição.
Tese ou teoria filosófica
Uma tese ou teoria filosófica é uma proposição ou doutrina apresentada para consideração. É a posição ou resposta do autor ao problema.
2. Aponta a tese central defendida pelo autor.
Argumento
Um argumento é um conjunto de afirmações de tal modo estruturadas que se pretende que uma delas (a conclusão ou tese) seja apoiada pelas outras (as premissas). Procura persuadir alguém da razoabilidade do que está a ser defendido.
3. Expõe um argumento do autor a favor da tese defendida.
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Contra-argumento
Um contra-argumento é um argumento que procura refutar a tese defendida pelo autor.
4. Expõe um contra-argumento à tese/ argumentos apresentados.
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