A Direçao Do Tratamento
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Nome-d o-Pai - isto e, do significante que, no Outr o como lugar
d o significante, e 0 significante do Outro c omo lugar d a lei.
Deixar emos neste ponto, por or a, essa questao pr eliminar a
tod o tr atamento p ossfvel das psicoses, que intr oduz, como vemos,
a conce p~ao a s er f ormad a d o m an ejo, nesse tratamento, da
transferenci a.
Dizer 0 q ue pod emos faze r nesse ten'eno s er ia p rematur o,
por que ser ia i r, a gor a, " par a-alem d e Fr eud", e nao se trata de
su perar Fr eud q uand o a psicamilise segund o Fr eud , como disse-
mos, voltou it eta pa anterior .
Pelo menos, e isso que nos afasta d e q ualq uer outr o objetivo
senao 0de restaurar 0aces so it ex per ie nc ia q ue Freud descobriu.
Pois usar a tecnica que ele instituiu fora da exper iencia a q ue
ela se aplica e tao estu pido quanto esfalfar-se nos remos quando
o bar c o e sta encalhado na ar eia.
A direr;iio do tratamento
e os princfpios de seu poder
RELATORlO DO COLOQUIO DE ROYAUMONT
10-13 DE JULHO DE 19581
I. Q ue uma analise traga consigo os tr a~os da pessoa d o a nalisad o,
fala-se d isso c omo se Fosse 6bvio. Mas acr ed ita- se d ar mostras
de aud acia ao manifestar interesse pelos efeitos q ue nela sur tir ia
a pessoa d o analista. E isso, pelo menos, q ue justifica 0 fremito
q ue nos percorre ante as express6es em yoga so br e a contra-
transfer encia, 0q ue sem duvida contr ibui para lhes mascarar a
im pro priedad e conceitual: pensem na altivez d e espf r ito de que
damos testemunho ao nos m ostrar mo s f ei to s, em nossa ar gila,
d a mesma daq ueles q ue moldamos.
a que escr evi af e uma impropr iedade. E pouco para aqueles
a q uem visa, quand o hoje em dia ja nem se faz cerimonia em
d eclarar q ue, so b 0 n om e d e p sicamilis e, e st a-se empenhad o
numa "r eed uca~ao emocional do paciente" [22].2
Situar nesse nfvel a a~ao do analista im plica uma posi~ao d e
princf pio d iante da q ual tudo 0 que se possa d izer da contra-
tr ansferencia; me smo n ao send o inutil, funcionar a como uma
mano bra diver sionista. Pois e par a-alem disso que se situa, a
par tir d af , a im postur a que aq ui q uer emos d esalo jar .3
I. Primeir o r elat6rio d o Col6q uio lnter nacional r eunid o nessa d at a, a c onvite
da Socied ad e Fr anc es a d e Psicamilise, pll blicad o em La P s ychanalyse, vol.6.
2. Os numer os enlr e colchetes remetem as r ef er encias colocadas no final deste
r elat6rio.
3 . P ara voltar contr a 0es pf rito de uma socied ad e uma ex pressao pOl' cujo valor
pod emo s a valia-Ia, quand o a f r ase em que Fr eud se iguala aos pre-socraticos -
Wo es war , soU lch ; ,ver d en.- traduz-se nela, muito simplesmente, para uso
france s, p Ol': 0 Eu d eve d esalo jar 0 lsso.
"d esencadeoll-se". R eser vamos 0 termo "d esencad eamento" par a d iclenche-
menl, essencial ao tratar -se d e psicose. ( N.E.) ,
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·Nem pOl' i ssei estamos denunciando 0 que a psicamili se t em
hOJe de antifr eudiano. Pois, nesse aspecto, deve-se reconhecer
que. tir ou a m.a,sc~ra, uma vez que ela se vangloria de ultrapassar
aquIl? ~ue alias 1 9nora, gUaI'dando da doutrina de Fr eud apenas
o suf 'JClente par ~ sentiI' 0 quanta Ihe e dissonante 0 que ela I II!I
acabou d e enunclar de sua experiencia.
Pr etend emos mostrar como a impotencia em sustentar auten-ticamente uma pr axis r eduz-se, como e comum na historia dos
homens, ao exer cfci o de u m poder .
2 .. 0, psicanalista certamente dir ige 0 tratamento. 0 primeiro
pnnclplO desse tr atamento, 0 que Ihe e soletr ado logo d e safda,
~.ue ele encontr a pOl' tod a parte e m s ua f orma ~a o, a pon to d e
hcar . por cle. impr egnad o, e 0 d e qu e n a o d eve de mod o algum
drnglr 0 paclcnte. A dire~ao d e consciencia, no sentid o d o guia
mor al quc um f iel d o catolicismo pode encon tr ar neste acha-se
aq ui r adical mente e xclufd a. Se a psicanalise levanta pl:o blemas
par a ~A tc?logia ~nor al, nao sc tr ata d aqueles d a dir e~ao de
conSClenCI<l, a cUJo r es peito lembr a mo s q ue a d ir e~ao dc cons-
ciencia tambcm os suscita.
A dir c~~o d o tratamento c outr a coisa. Consiste, em primeiro
',ugar , c.m l~zcr com que 0 su jeito aplique a r egra analftica, isto
e, as d lrctnzcs cuja pr escn~a nao se pod e d esconhecer como
princfpio doq .uc e chal;tad? "a situa~ao analftica" , so b pr etexto
d e que 0 sUJelto a s a pllcan a m el hor sem pensar nelas.
Essas dir etrizes, numa comunica~ao inicial r evestem-se da
forma d c i nstru~6es, as q uais, pOl' menos q~e 0 analista as
comente, pod emos consid er ar que, ate nas inflex6es d e seu
enun~ia?o, veicular ao a doutr ina com as quais 0 analista se
cOnStl~Ul, no ponto d e conseq uencia que ela atingi u p ar a ele. 0
que nao 0 ~orna menos soli da ri o d a pr ofusao de pr econceitos
que, no paclente, es per am n esse mesmo lugar , conforme a ideiaque a dif usao cultur al Ihe tenha perm itido fOl'mar acer ca do
pr ocedimento e da finalidad e da empreitad a.
Isso ja basta par a nos m ostrar que 0 problema d a dire~ao
r~vela, desd e as dir etrizes iniciais, nao poder formular-se numa
lI~ha de comunica~ao unfvoca, 0 q ue nos obriga a permanecer
a i, n ? momento, para esclarece-Io pelo q ue 0 segue .
. Dlgam.os a penas q ue, ao red uzi-Io a sua verdade, esse tempo con-
slste em ~azer 0 paciente esq ue ce r q ue s e tr ata apenas d e pa lavras,
mas q ue ISSOnao justifica q ue 0 proprio a na lista 0esque~a [16].
3. Alias, havf amos anunciad o que e pelo lad o d o analista que
tencionamos intr oduzir nosso assunto.
Digamos que, no investimento de ca pital da empr esa comum, [587]
o paciente nao e 0 unic o c om d ificuldades a entrar com su a
q uota. Tambem 0analista tem que pagar:
_ pagar com palavr as, sem d uvid a , se a transmuta~ao que
elas soh'e m pe la o per a~ao analftica as e leva a seu ef ei to d e
interpreta~ao;
_ m as pagar tambem com sua pessoa, na medida em que,
ha ja 0que houver , ele a em pr esta como suporte aos f enomenos
singular es que a analise d esco briu na tr ansfer encia;
_ e haver emos de esquecer q ue ele tem que pagar com 0
que ha' de essencial em seu j uf zo mais f ntimo, par a intervir numa
a~ao que vai ao cerne d o ser (Kern unseres W esens , escreveu
Freud [6]): seria ele 0unico a f icar for a d o jogo?
Que n ao se pr eocu pem comigo aqueles cujos votos se dir igem
a nossas a rmas, ante a id eia d e que eu me este ja expondo aqui,
mais uma vez, a adversarios sempr e f elizes pOl' me devolverema minha metaff sica,
Pois e no seio d a pr etensao d eles de se b astar em com a eficacia
q ue se eleva uma afirma ~a o como esta: a d e que 0analista cura
menos pelo que diz e faz d o que pOl' aquilo que e [22]. Sem
q ue, aparentemente, ni ngue m p e~a explica~6es dessa afirma~ao
a seu autor, nem 0lembre d o pud or , q uand o, dirigindo um son'iso
de enfado ao ridf culo a q ue se exp6e, e a bondad e, a sua ( e
pr eciso ser bom , nao hi transcend encia nesse contexto) , q ue e le
apela para pOl' f im a um debate sem safda sobre a neurose de
tr ansferencia.4 Mas, quem teria a cr ueldade de interrogar aquele
q u e s e v er g a s ob 0 f ardo da bagagem , quando seu porte leva
c1aram ente a supor que ela esti cheia de tijolos?
No entanto, 0 s er e 0 ser , seja quem for que 0 invoque, e
temos 0direito de perguntar 0que el e v em f azer aqui.
4. Colocarei novamente 0 anali st a n a b er lind a, p or ta nt o, n a
med id a em que eu mesmo 0 sou, para observar que el e e tao
4. "Comment ter miner Ie tr aitemenl analytiq ue", Revue Franr;. d e Psychana L yse,
1954, IV, p.519 e passim. Par a avaliar a inf luencia de tal formas:iio, leia-se C.-H.
Nodet, "Le psychanalyste", L'EvoLut ion Ps ychiat rique , 1957, IV, p.689-91.
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menos segur o de sua a~ao q uanta m ais esui inter essado em seu
ser .
Interprete do que m e e apresentado em coloca~6es ou atos,
decido acerca de meu oraculo e 0articulo a meu gosto, unico
mestre/senhor em meu barco, depois de Deus, e, claro, longe de
poder avaliar todo 0efeito de minhas palavras, mas justamente
advertido e procurando prevenir -me contra isso, ou, dito de outra
maneira, sempre livre quanto ao momento, ao numero e tambem
a escolha de minhas interven~6es, a tal ponto que a regra parece
ter sido inteiramente ordenada para nao atrapalhar em nada meu
trabalho de executante, ao que e correlato 0aspecto de "material"
sob 0 qual minha a~ao aborda aqui 0 que ela produziu.
De f ato, tod o analista (nem q ue se ja os que assim se extravi,a:n)
sempr e experimenta a transferencia, n.odeslum~ramento do et~lt~
menos esperado de uma rela~ao a dOiS que sena como as out~as.
Ele diz a si mesmo que, nesse aspecto, tem que contemponzar
com um fenomeno pelo qual nao e responsavel, e sabemos com
que insistencia Freud enfatizou sua espontaneidade no paci~~te.
Faz algum tempo que os analistas, nas dilacerant~s :e~lso.es
com que nos brindam, preferem insinuar que essa mSI~t~ncla,
da qual se fizeram baluartes por m uito tempo, traduz.Irl/~ em
Freud uma certa fuga do compromisso pressuposto pela ldela de
situa~ao. Como voces veem, estamos em dia. .
Mas e sobretudo a exalta~ao facil de seu gesto de atlrar os
sentimentos - imputado a contratransferencia - no prato de
uma balan~a em que a situa~ao se equilibraria por seu peso que
atesta, para nos, uma consciencia pesada que se correlaclO~a
com a renuncia em conceber a verdadeira natureza da transfe-
r encia. Nao e possfvel raciocinar com 0que 0analisado leva a pessoa
do analista a suportar de suas fantasias com o com 0 que urn jogador ideal avalia das inten~6es de seu adversario. Sem duvida,
ha tam bem uma estrategia ali, m as nao nos enganem os com a
metafora do cspelho, por mais que ela convenha a superffcie
una que 0analista apresenta ao paciente. Cara fech~da e boca
cosida nao tem aqui a m esma finalidade que no bndge. Com
isso, antes, 0 analista convoca a ajuda do que n~sse jogo e
chamado de morto, mas para fazer surgir 0quarto Jogador que
do analisado sera parceiro, e cuja mao, atraves de seus lances,
o analista sc esfor~ar a p or f az e-Io adivinhar: e esse 0 vf nculo,
digamos, de abnega~ao, imposto ao analista pelo cacife da partida
na analise.
Poderfamos pr osseguir nessa metafora, daf deduzindo se~ jogo
conforme ele se coloque " a direita" ou " a esquerda" do paclente,
ou seja, na posi~a o d e j ogar antes ou depois do quarto jogador,
isto e de jogar antes ou depois deste c om 0morto.
M~s 0 q ue ha d e c er to e q ue os sentim entos do analista so
tern ur n lugar posslvel nesse jogo: 0 d o mor to; e que, ao
r essuscita-Io, 0 jogo pros segue sem q ue se saiba quem 0cond uz.
Eis por que 0analista e menos livre em sua estr ategia d o que
em sua tatica.
5. Quanto ao m anejo da transferencia, m inha li berdade, ao
contnirio, ve-se alienada pelo desdobram ento que nela sofr e
minha pessoa, e ninguem ignora que e al que se deve buscar 0
segredo da analise. 0 que nao im pede que se cr eia estar progre-
d indo nesta douta afirma~ao: que a psicanalise deve ser estudad a
como uma situa~ao a dois. Decerto se introduzem nela condi~6esq ue Ihe restringem os movimentos, no entanto disso resulta que
a situa~ao assim concebida serve para articular (e sem m aior es
artif f cios do que a ja citada reeduca~ao emocional) os princfpios
de um adestram ento do chamado E u fraco, e por um Eu 0qual
h ;i q ue m g os te d e c onsider a r ca paz de r ealizar esse pro jeto,
pOl'que c forte. Que nao se enuncie isso sem constrangimento e
o que atestam certos arrependimentos de uma inabilida de im-
pr cssionante, como aq uele que esclarece nao ceder a exigencia
d e u ma " cura por dentro" [22].5 Mas so e mais significativo
constatar que 0assentimento do sujeito, por sua evoca~ao nesse
trecho, vem apenas no segund o t em po d e ur n efeito inicialmente
imposto. Nao e por nosso pr azer que expom os esses desvios, mas,
antes, para, com seus escolhos, fazer balizas para nosso caminho.
5. Prometemos a nossos leitor es nao mais f atiga-los, no que se segue, com
formulas tao estupidas, que na verdade nao tem outra utilid ade aqui senao mostrar
a que ponto chegou 0discurso analftico. J a nos desculpamos pOI'elas junto a
nossos ouvintes estrangeiros, que sem duvid a d ispunhaT)1de outras tantas a seu
servic;:oem sua lingua, mas talvez nao exatamente dessa mesma banalidade.
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6. Vamos ad iante. 0 analista e aind a m enos livr e n aq ui lo q ue
domina a estrategia e a tMica, ou seja, em sua polftica, ond e ele
Faria melhor situando-se em sua f alta-a-ser do que em seu ser .
Dizendo as coisas d e outra maneir a: sua ar ,;ao sobre 0 paciente
Ihe esca pa, juntamente com a id eia que possa f azer d eIa, quando
e le nao retoma seu comer ,;o naquilo pelo qual ela e possfvel,q uand o nao retem 0 par ad oxo do que ela tem de retalhad a, para I~'Ilil
revisar no prinCfpio a estrutura por on de qualquer ar ,;ao intervem
na r ealid ade.
Par a os psicanalistas de hoj e, essa r elar ,;ao com a r ealid ade e
evid ente. Eles Ihe medem as def ecr ,;6es por part e d o p aciente
com base no princlpio autoritario d os educador es de sem pre. S6
que se fiam na analise didMica par a gar antir sua manutenr ,;ao
num teorsuf iciente nos analistas, so br e os quais nao d eixamos
d e sentir que, par a enfrentar os pr o blemas d a humanidad e q ue
se d irige a el es, suas vis6es as vezes sao um pouco locais. Isso
equivale apenas a I"azer recuar 0 pr o blema a um nfvel individual.
E n ao <5muito tranqliilizador ve-los trar ,;ar 0 percurso da analise
na r edur ,;ao, no su jeito, d os desvios imputados a sua tr ansf er encia
e a suas r esistencias, mas situados em relac,;ao a realid ade, nem
ouvi-Ios exclamar so br e a "situac,;ao simplfssima" que a analise
ol"er eceria para comensurar isso. Homessa! 0ed ucador nao esta
ncm perto de ser educado, se pode julgar com t anta leviandade
uma cxperiencia q uc, no cntanto, ele pr 6 prio teve de atr avessar.
Presume-se em tal aprcciac,;ao que ess es analistas teriam dad o
a essa cxperiencia outr as f ac etas, sc tivessem tido que se f iar
cm s cu sen so d c rcalidade para inventa-Ia elcs pr 6prios: priori-
dade escabrosa dc imaginar . E Ies tem cer t as d uvidas, por isso
sao tao meticulosos na pr eservac,;ao de sua s For mas.
E compreensfvel que, par a a licerc,;ar esteio a um a concepc,;ao
tao v isivelmente pr ecar ia, alguns ultramar inos tenha m se nti do
necessidade de introduzir nela um valor estavel, urn padrao d e
med id a d o re al: e 0ego autonomo. Trata-se do con junto su pos-
tament e o rg aniz ad o d as m ai s df spares f unc,;6es que presta seu
apoio ao sentimento de inatismo do sujeito. E consider ad o
autono mo p or q ue e st ar ia ao a brigo dos conf lito s d a p es so a
(non-conflict ual sphere) [14].
Af se r econhece uma miragem sur r ad a q ue a mais academica
psicologia d a intr ospecc,;ao ja havia re jeitad o com o insustentavel.
Essa regressao, no entanto, e c elebrada como urn retorno ao redil
da "psicologia geral" .
Seja como for , ela r esolve a questao do ser do analista.6 Uma
equipe de egos , decerto menos iguais7 do que autonomos (mas,
por qual selo de origem se r econhecem eles na suficiencia de [591\
sua autonomia?), se of er ece aos norte-americanos para guia-Ios
em direc,;ao a happiness , sem perturbar as autonomias, egof stas
ou nao, que pavimentam 0 American way de chegar 1£1.
7. Resumamo-nos. Se 0 analista s6 Iidasse com resistencias,
pensaria duas vezes antes de fazer uma interpretac,;ao, como
efetivamente Ihe acontece, mas ele ficaria quite com essa pr u-
d encia.
S6 que essa interpr etac,;ao, quando ele a faz, e recebida com o
proveniente d a pessoa que a transferencia Ihe imputa ser . Aceitara
eIe beneficiar -se d esse erro de pessoa? A m or al da a nalise nao
contr adiz isso, desde que ele interprete tal efeito, sem 0q ue a
analise se r eduziria a uma sugest ao gr osseira.
Posic,;ao incontestavel, exceto pel o f at o d e q ue e c omo p ro-veniente d o Outro da transf er encia que a fala do analista continua
a ser ouvid a, e de que c om isso 0momenta de 0sujeito sair da
transferencia e adiado ad infinitum.
E, poi s, pelo que 0su jeito imputa ao analista ser (ser q ue esta
alhures) q ue e possfvel uma interpr etac,;ao voltar ao Jugar de onde
po d e t er peso na distribuic,;ao das respostas.
AIi, pOl'em, quem dira 0q ue ele e, 0analista, e 0que r esta dele,
ao ser encostado contra a parede na tarefa de interpretar? Que ele
mesmo ouse dize-Io se, caso se ja um homem, isso for tudo 0que
ele tem a nos responder . Que ele tenha ou nao tenha, seria pois
toda a q ue st ao : ma s e a f q ue ele volta atras, nao somente pel a
impudencia do mister io, m as pOl'q ue, nesse ter , e d o s e r q ue se
tr ata, e como. Veremos mais ad iante que esse como nao e comodo.
Por isso ele prefer e se restringir a seu E u e a realidade, da
q ual conhece um pedac,;o. Mas, nesse caso, ei-Io no [eu] e no eu
com seu paciente. Como f azer, se eles estao de espada em r iste?
6. Na F r anya, 0 ja citado doutrinar io do ser mostrou-se d ir eto nessa soluyao: 0
ser do psicanalista e inato (cf . La PDA , I, p.136).
7 . Ond e Lacan explora a hom ofonia f r ancesa entre egos e egau x. (N.E.)
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E af que, astutamente, conta-se com as conivencias que se deve
ter nesse lugar , d enominad o, no caso, a parte sadia d o eu , aquela
q ue pensa c omo nos.
C.Q.N.R.P.D., podemos concluir, 0q ue nos leva d e volta ao
pr o blema inicial, ou seja, a r einventar a am ilise.
Ou a refaze-Ia: tratando a tr ansferencia como uma f orma
particular d a resistencia.
Muitos 0 pr ofessam. E a eles que f or mulamos a per gunta que
da tftulo a esta sec;:ao: Quem e 0analista? Aq uele que inter preta,
tir and o proveito da t ransferencia? Aquele que a analisa como
r esistencia? Ou aq uele q ue impoe sua i d eia d a re alidade?
Pergunta q ue pode incomod ar muito d e perto aqueles a quem
se dirige, e ser menos faci I de evitar do q ue a pergunta "quem
fala?", com a q ual um de meus alunos Ihes azucrinou os ouvidos
por conta do paciente. Pois sua resposta de impacientes - um
animal de nossa especie - ser ia pa ra a p er gunt a mod if icada
mais deploravelme nte t autologica, por ter que d izer : eu.
Nu ecr u.
Sao comoventes os esf or c;:os d e um autor na tentativa d e f orc;:ar
a t eor ia d a f orma para nela encontr ar a m etafora q ue Ihe permita
ex primir 0 que a interpretac;:ao intr od uz de r esoluvao numa
am bigtiid ad e inteneional, de fechamento a uma incompletud e [593]
q ue, no entanto, so se realiza a poster iori [2].
2. Percebe-se q ue 0 q ue aqui se f urta e a natureza de uma
transmutac;:ao no sujeito, e de um modo ainda mais dolor oso para
o pensament o, p or Ihe escapar no exato moment o e m qu e p assa
a a c;:ao. Nenhum indicador basta, com efeito, par a m ostr ar o nde
age a inter pretac;:ao, q uand o nao se ad mite radical mente um
conceito d a f unc;:ao d o signif icante que capte onde 0 suje it o se
su bord ina a ele, a ponto de p or ele ser su bor nado.
A interpretac;:ao, par a d ecif r ar a d iacr onia das repetic;:oes in-
conscientes, deve introduzir na sincr onia d os signif icantes que
nela se com poem algo que, de re pente, possibilit e a t ra d uc;:ao -
pr ecisamente aquilo q ue a f unc;:ao d o Gulr o p er mite no r ecepta-
cul o d o codigo, sendo a pr o posito dele q ue aparece 0elemento
faltante.
Essa im portancia do signif icante na localizac;:ao da verdad e
analftica apar e ce e m f iligr ana, tao logo um autor se atem finne-
mente as c onexoes da experiencia na def inic;:ao das apor ias. Basta
ler Ed ward Glover par a a valiar 0 prec;:o q ue ele pag a p ela f alta
desse termo, quand o, ao articular as opini6es mais per tinentes,
ele en contr a a interpretac;:ao por toda par te, na impossibilidade
d e rete-Ia em par te alguma, e ate mesmo na banalidad e da receita
medica, e aca ba d izend o, muito simplesmente, sem q ue s e saiba
se ele se escuta, q ue a f or mavao d o sintom a e uma inter pretac;:ao
inexata d o sujeito [13].
Assim conce bid a, a interpr etac;:ao tor na-se uma especie d e
Ilogf stico, manifesto em tudo 0 que se c om preende - com ou
sem razao, por menos q ue ele alimente a chama do imaginario
- d a pur a ostentavao que, so b 0 nome d e agr essivid ad e, tir a
proveito d a tecnic a d ess a e poca (I 93 I; 0 q ue alias e novo 0
bastante par a aind a ser atual. Cf . [13]).
Somente pOl' vir a i nter pr etac;:ao culminar no hie et nunc d esse
jogo e que ela se distingue da leitur a d a signatura rerum em
que Jung rivaliza com Boehme. Segui-Io nisso convir ia muito
pouco ao ser d e nossos analistas.
I. 0 que veio antes nao respond e a tudo 0q ue aq ui se pr omove
de q uestoes para 0 novato. Ma s, ao r eunir os pr oblemas que
atualmente se a gita m e m torno da direc;:ao da analise, na medida
em q ue essa atualida de renete seu uso presente, cremos ter
r es peitado suas pr oporc;:6es.
A sa ber , 0lugar f nfimo q ue a interpretac;:ao ocu pa na atualidade
psicanalftica - nao pOl"q ue se tenha per d ido seu sentido, mas
pOI'q ue a a bordagem desse senti d o sem pr e atesta um em barac;:o.
Nao ha autor q ue s e confr onte com ele sem proceder destacando
toda sor te d e intervenc;:oes ver bais q ue na o s ao a interpr etac;:ao:
explicac;:o es , gr atificac;:oes, respostas a demand a ... etc. 0 pr oce-
d imento tor na-se revelad or q uand o se aproxima do centro do
interesse. Ele im poe q ue ate uma for mula va o a rticulada para
levar 0 su jeito a ter uma visao (insight ) de uma d e suas cond utas,
sobretud o em sua signif icac;:ao de resistencia, possa r ece ber um
nome total mente d iferente, como conf r ontac;:ao, por exemplo,
nem que se ja a do sujeito com seu pro pr io diz er , sem merecer
o d e inter pr etac;:a o, sim ples mente pOl' ser um d izer esclarecedor .
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Mas estar na hor a d e Freud 8 d iz respeito a outra tablatur a 0
q ue s ignif ica na o s er super flu o s ab er d esmontar -lhe 0 r eI6gi~.
3. Nossa doutr ina do significante e, par a come~ar, disciplina na
qual aq uele s a qu em f or mamos se exercitam nos modos de efei-
to do significante no advento d o signif ic ad o, u ni ca v ia p ara
conceber q ue, ao se inscr ever af, a inter preta~ao possa produzir
algo novo.
. Pois. e.la na o s e f undamenta em nenhuma assun~ao dos ar que-
tlPOS d lVlnOS, mas no fato d e 0incor.sciente tel' a estrutura rad ical
d~ linguagem, q ue urn material f unciona nela segundo leis, q ue
sao as descobertas pelo estud o d as Ifnguas positivas, das Ifnguas
q ue sao ou foram efetivamente faladas.
- ! ' - metafora do f 1ogfstico q ue ha pouco nos inspirou Glover
rellra seu carateI' apropriado do er ro q ue evoca: a significa~ao
emana tao pouco da vid a quanto 0 flogfstico, na combustao,
escapa dos COI'POS, Ant es , s er ia pr eciso fala r d el a c om o d a
combina~ao .da vida com 0,llomo 0do signo,9 do signa no q ue,
antes de malS n a da , ele conota a presen~a ou a ausencia intro-d uzindo essencialmente 0 e q ue as lig a, p ois, ao c o~ot ar a
presen~ a o u a a use ncia, ele institui a p re se n~ a c om b as e na
auscncia , a ssim com o constitui a ausencia n a pr es en~a.
Havemos de estar lembr ad os de que, com a segur a n~ a d e sua
mar cha pOl' seu campo, Fr eud , buscand o 0modelo do automa-
tismo de repeti~ao, detem-se no cr uzamento de ur n jogo de
ocu~ta~ao_ e de uma e sc ansao alternad a de d ois f onemas cu ja
conJuga~ao, numa cr ian~a, 0 im pressiona,
E q ~le ~li t .a~nbem apar ece, ao mesmo tem po, 0valor do ob jeto
como 111s1g111f 'Jcante(aq uilo q ue a crian~a faz aparecer e d esa-
parecer), alem d o car ateI' acess6rio da per f ei~a o fonetica , com-
parad a a d istin~ ao f onematica, que ninguem contestar ia q ue Freud tern 0 direito d e tr ad uzir imediatamente pelos Fort! Da! do
alemao falado pOl' ele, ad ulto [9],
Ponto de insemina~ao de uma or dem simb61ica q ue pr eexiste
:to sujeito infantil e segundo a q ual sera preciso que ele se
0struture,
4. Poupar -nos-e mo s d e f or ne ce r a s r egras da interpreta~ao. Nao
que elas nao possam ser formuladas, mas suas f6rmulas pressu-
poem desenvolvimentos que nao podemos tomar como con he-cid os, na impossibilidade de condensa-Ios aqui.
Atenhamo-nos a o bservar que, ao IeI' os comentarios classicos
so bre a interpreta~ao, sem pre lamentamos vel' q uao pouco partid o
se sabe tirar dos pr6pr ios dad os q ue sao propostos.
Para dar urn exemplo d isso, cada q ual atesta a sua maneira que,
para confirmar a pertinencia de uma interpreta~ao, 0q ue im por ta
nao e a convic~ao qUt ela acarreta, ja q ue m elhor se reconhecera
seu criter io no mater ial que vier a surgir depois dela.
Mas tao poderosa e a supersti~ao psicologizante nas mentes,
q ue se continua a invocar 0 fenomeno no sentido d e ur n assen-
tim ento do sujeito, omitindo pOl' completo 0 q ue re sulta d as
coloca~oes de Freud s ob re a Verneinung como forma de conf is-
sa o, d a q ual 0 mf nimo q ue se p od e diz er e q ue nao se pod e
f aze-Ia equivaler a urn r esultado nulo.
E assi~ que a te or ia t ra d uz c om o a re si stencia e gerada na
pratica. E tam bem isso 0 q ue q ueremos deixar clar o, quand o
dizemos que na o h a outra r esistencia a analise senao a do pr6 pr io
analista.
5. 0gr ave e q ue , c om o s autores de hoje, a sequencia dos efeitos
analfticos parece toma da p elo avesso. A inter pr eta~ao, a seguir -
mo s suas coloca~oes, seria apenas urn bal bucio, comparada aabertur a de uma rela~ao maior onde, enf im, se e com pr eendido
("por dentro", sem duvid a).
A interpr e ta ~a o t or na-se aq ui uma exigencia d a fraqueza aq ua l e pr eciso acud ir . E tam bem uma c oisa muito d if f cil de
faze-Ia engolir sem q ue ela a re jeite. E ambas as coisas ao mesmo
tempo, ou seja, urn recurso bastante incomodo.
Mas isso e a penas efeito das paixoes do analista: d e seu receio,
q ue nao e d o erro, mas da ignoranc ia , d e su a pr ed ile~ao; que
nao e satisf azer , pOI'em nao decepcionar; de sua necessid ade,
que nao e d e gover n aI', m as d e h ca r p Ol' c ima. Nao se trata, em
absoluto, d a contratransferencia d e st e ou daq uele: trata-se d as
8 . A e x pr essao f r ancesa etr e a [' heur e d e ter n 0 senti d o d e "seguir 0 estilo
d e", "ser como". (N.E.)
9. 0 qll~. em vez d e ser vocalizado como a letr a simb61ica d o oxigenio. evocad a
pela metaf or a se~U1d a. pod e ler -se co mo" zero" , na m~did a em q ue esse numer o
slmbohz a a f un~ao essenclal d o lugar na e str utur a do signif icante.
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conseqiiencias da rela~ao dual, caso oter apeuta nao a supere -
e como haveria de supeni-la, se faz dela 0 ideal de sua a~ao?
Primum vivere , sem duvida: ha que evitar 0rompimento. Que
se classifique com 0nome de tecnica a civilidade pueril e honesta [wr I
que ensina com tal finalidade, ainda passa. Mas, quando se
confunde essa necessidade fisica da presen~a do paciente na hor a
marcada com a rela~ao analftica, comete-se urn e ng ano e sedesencaminha 0 novato por muito tempo.
Freud nem sem pre par ece haver -se m ui to b em c om isso, nos
casos que relata . E e p or i ss o q ue eles sao tao preciosos. [597]
Pois ele reconheceu prontamente que nisso estava 0 principio
lie seu poder, no que este nao se distinguia da sugestao, m as
lambem que esse poder so the dava a solu~ao do problem a na
cond i~ao de nao se servir dele, pois era entao que assumia todo
() seu desenvolvimento de transferencia.A partir desse momento, nao e mais aquele a quem mantinha
t;m sua proxim idade que ele se dir igiu, e foi por essa razao que
Ihe r ecusou 0 face a face.
A interpreta<;ao em Freud e tao audaciosa que, por have-la
vulgarizado, ja nao reconhecemos seu alcance de adivinha~ao.
Quando ele denuncia uma tendencia, aquilo a que chama Trieb,
coisa totalmenle diferente de urn instinto, 0frescor da descoberta
nos mascara 0 que 0 Trieb im plica em si de urn advento do
significante. Mas, quando Freud tr az a luz 0 que s6 podemos
d um ar de Iinhas de destino do sujeito, e pela figura de Tiresias
que nos interroga mo s d ia nt e d a am bigiiidade em que oper a seu
ver edito.Pois essas linhas adivinhadas concernem tao pouco ao Eu do
su jeito, ou a tudo 0 q ue ele pode presentificar hie e nunc na
rela~ao dual, que e ao topar na hora certa, no caso do Homem
dos Ratos, com 0 pacto que r egeu 0 casamento dos pais deste,
com 0 que se passou, pOitanto, muito antes do nascim ento dele,
que Freud reencontr a ali uma mistura d e cond i<;6es - honra
salva no ultimo minu to , tr ai~ao sentimental, com promisso social
c divida pr escrita - das q uais 0 gr ande r oteiro com pulsivo q ue
Ihe foi levado pelo paciente par ece ser 0decal q ue cr i ptogratico,
e no qual vem a motivar enf im os impasses on de s e d esgarram
sua vida m or al e seu desejo.
Porem 0mais i ncrivel e q ue 0 aces so a esse material so tenha
sid o aberto por uma interpreta<;ao em que Freud pr esumiu uma
interd i<;ao q ue 0 pai do H omem d os Ratos teria imposto com
r ela~ao a legitima<;ao do amor su blime a q ue s e d evotou, par a
cx plicar a mar ca d e im possf vel de que, so b tod as as suas
modalid ad es, esse la<;o the par ece ter 0 cunho. Inter preta~ao da
q ual 0 mfnimo q u e s e pode dizer e que ela e inexata, uma vez
que e d esmentida pela r ealidad e que presume, m as que mesmo
assim e verd ad eir a na medida em que Freud nela d a mostras de
um a i ntui~a o e m qu e e le antecipa 0 que intr oduzimos so bre a
6. A transferencia, nessa perspectiva, torna-s e a se gu ra n~ a d o
analista, e a rela~ao com 0 real, 0 terreno em que se decide 0
combate. A interpreta~ao, adiada ate a consolida~ao da transfe-
rencia, fica desde entao subordinada a redu~ao desta.
Dai resulta que ela e reabsorvida num working through q ue
podemos muito bem traduzir, simplesmente, por trabalho d a
transferencia, que serve de ali bi para uma especie de revanche
pela timidez inicial, ou seja, para uma insistencia que abre as
por tas a todas as for~agens, colocadas sob a bandeira do for ta-
lecim ento do E u [21-22].
7. Mas sera que se observou, ao cntlcar 0 procedimento d e
Freud , tal como ele se apresenta, por exemplo, no Homem dos
Ratos, q ue 0 que nos surpreende como uma doutrina~ao previa
decorre, simplesmente, de ele proceder exatamente na ord em
inversa? au seja, ele com e~a por introduzir 0 pac iente numa
primeir a localiza~ao de sua posi~ao no real, mesmo q ue este
a ca rr et e u ma p re ci pi ta ~a o - n ao h es it em os e m d iz er uma
sistematiza<; ao - d os si nt om as [ 8].
Outr o exemplo not6rio e quando ele obr i ga D or a a constatar
que, da grande desordem do m undo de seu pai, cu jo estrago
constitui 0 o b jet o de sua re clama~ao, ela f a z ma is d o q ue
participar; que ela se constituiu a cavilha dessa d esor dem, e que
nao poderia continuar sem sua complacencia [7].Ha muito tempo tenho enfatizado 0 processo hegeliano des sa
inversao das posi~6es da bela alma quanta a realid ad e q u e e la
denuncia. Nao se t ra ta d e ad apta-I a a es ta, mas d e the mostrar
que ela e st a m ais d o que bem adaptada nela, uma v ez q ue
concorre para sua fabrica~ao.
Mas aqui se detem 0 caminho a per corr er com 0 outro. Pois
a transf erencia ja f ez seu trabalho, mostrand o que se tr at a d e
algo bem diferente da s r ela~6es do Eu com,o mundo.
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f uns;ao do Outr o na neurose obsessiva, d emonstrando que essa
funs ;a o, n a n eurose obsessiva, admite ser sustentada pOl' um
morto, e q ue, nesse caso, nao poderia ser mais bem exercida do I I
que pelo pai, um a vez que, estando efetiv ame nt e m or to , ele
retornou a posis;ao que Fr eud reconheceu c omo se ndo a do P ai
absoIuto.
, q u e e e s pecialmente sensf veI, pOl' su a or igem, a dimensao d a
inler pretac;ao, Tr ata-s e d e Er ns t K ri s e d e um casu que ele nao
nos dissimula haver retomado de Melit ta S chmideberg [I5].
Tr ata-se de um su jeito inibido em sua vida intelectual e [599]
par ticularmente incapaz de conseguir publicaI' qualquer de suas
pcsq uisas - isso em razao de um impulso de plagi ar d o qu al
'Ie nao parece capaz de assenhorear -se. Esse e 0drama subjetivo.
Melitta Schmideberg 0havia compreend ido com o a recorren-
'ia d e u ma d elinqiiencia infantil; 0 su jeito costumava furtar
gulos ei ma s e alfarnibios, e pOl' esse vies e que ela empr eend eu
a analise do conflito inconsciente.
Ernst Kris vangloria-se de haver retomado 0casu de acordo
<.;omuma inter pretas;ao mais met6dica, a que procede da super -
rfcie a prof undidade, c om o ele d iz. Q ue e le a co lo qu e s ob a
6gid e da psicologia do ego segundo Hartm ann, da qual julgou
dcver ser seu propugnador, e secundario para apreciarmos 0que
vai acontecer . E rnst Kris m odifica a per s pectiva do casu e
pr etende dar ao sujeito 0 insight de um novo comes;o, a par tir
tie um f ato que nao passa de uma repetis;ao de sua compulsao,mas no qual K r is, muito louvavelmente, nao se contenta com os
d izer e s d o pa ciente; e, q uando este presume haver, a despeito
de si m esmo, colhido as ideias de um trabalho que acaba de
<.;oncluir num livro que, tend o-l he voltado a mem6ria, permitiu-
Ihe controlar isso a poster iori, Kr is examina as provas e descobre
q ue, aparentemente, nada nelas ultrapassa 0 q ue a comunid ade
do campo de pesquisas com porta. E m suma, haven do se cer ti-
f icad o de q ue seu paciente nao e plagiar io, em bor a acredite se-Io,
K ris tenciona demonstrar -lhe que ele quer se-lo para se im ped ir
de se-Io real mente - 0que se chama analisar a defesa antes da
pulsao, que aqui se evidencia na atr as;ao pelas ideias dos outr os.
Pode-se pr esum ir q ue e ss a inter venc;a o sej a e r r onea, pelo
simples fato de su por que d efesa e pulsao se jam concentr icas e,
pOl' assim dizer, moldadas uma pela outr a.
o que prova q ue ela efetivamente 0 e e aq uilo em que Kris
a ve confir mad a, ou seja, 0 fato d e que, no momenta em q ue
(:Ie acredita pod e r p er gu nt ar ao doente 0 q ue ele acha dessa
virad a d e ca sa ca , este, pensand o pOl' urn momento, retruca-lhe
q ue ha algum tem po, ao sail' da sessao, vagueia pOl' um a rua
r c pl et a d e r estaurantezinhos atraentes, para co bis;ar em seus
<.;ar d apios 0 anuncio de seu pr ato pred ileto: miolos frescos.
8. Que nos perdoem aqueles que nos leem e os q ue acompanham
nosso ensino, se eles encontram aqui exemplos um tanto re pi-
sados pOl' mim em seus ouvidos.
Nao e a penas q ue eu nao possa citar minhas pr6prias analises
par a demonstr ar 0 plano e m qu e incide a interpretac;ao, pOl' nao
poder a inter pretas;ao, revelando-se coextensiva a hist6ria, ser
comunicad a no meio comunicante em que se pass am muitas de
nossas analises sem risco de tr ail' 0 anonimato do caso. E que,
em certa ocasiao, consegui dizer 0 bastan te s em f alar demais,
ou seja, deixar claro meu exemplo sem que ninguem, a nao ser
o interessado, 0 reconhecesse.
Tampouco se tr a ta d e qu e e u consider e 0Homem dos Ratosum casu que Freud tenha curado, pois, se eu acrescentasse que
nao cr ei o que a analise nao tenha tido nada a vel' com a tragiea
conclusao de sua hist6ria com sua morte no campo de batalha,
o quanto nao estar ia eu contribuind o para infamar aqueles que
mal pensam nisso?
Digo que e numa d ires;ao do t r atam ento q ue s e or d en a, como
aca bo de demonstrar , segundo um processo q ue vai da retificac;ao
d as r elac;6e s do su jeito com 0 real, ao desenvolvimento d a
transferencia, e depois, a interpretas ;a o, q ue s e situa 0horizonte
e m q ue a Freud se revelaram as descobertas fundamentais q ue
ate ho je experimentamos, no tocante a d inamica e a estrutura d a
neurose obsessiva, Nada mais, pOl'em tambem nada menos.CoIoca-s e a gor a a questao de saber se nao foi porter invertido
essa ordem que perdemos esse horizonte.
9. 0 q ue s e pod e d izer e que as novas vias em q ue se pretend eu
legalizar a marcha a berta pelo desco brid or d em on st ra m uma
confusao nos termos, que requer a singular idade para se revelar .
Retomar e mo s, p ois, um exemplo q ue ja contri buiu para 0nosso
en sino; natur al mente, ele foi escolhid o de um'au to r q ualif icado
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Declar a<;ao q ue, em vez d e ser consider ad a como sancionad or a
d o caniter f eliz d a inter ven<;ao pelo material q ue tr az, par ece-nos,
antes, tel' 0 valor corretivo d o act ing out , no pro pr io r elato que 1 f t
e f eito d ele.
Essa mostarda d epois do jantar que 0 paciente res pir a10 mais
me parece dizer ao anf itriao q ue ela f altou no servi<;o. Por mais
compulsivo q ue ele se ja ao cheini-Ia, ela e urn hint 1 1 ; ' sendo
sintoma tr ansitorio, sem duvid a, ela adver te 0 a nalista: voce
passou ao largo.
De f ato voce passou ao lar go, r etor no eu, d irigind o-me a me-
mor ia d e Ernst K r is, tal como r ecord a 0Congr esso d e Marien bad ,
d o qual, no dia seguinte a minha comunica<;ao so br e 0estad io d o
es pelho, f ui em bor a, pr eocu pado que estava em ir r espirar 0ar d o
tem po, de ur n tempo carregad o de pr omessas, na Olim pf ada d e
Bed im. Ele me o b jetou gentilmente: "< ;a n e s e f ait pas!" (essa
locu<;ao, em fr ances), ja sed uzid o p or essa tendencia a o r es peitavel
q ue talvez aqui tenha inf letid o seu pr ocedimento.
Ser a isso q ue 0 f az extr aviar -se, Erns t K r is, ou a penas 0serem
retas as suas inten<;6es, pois seu julgamento tambem 0 e, semd uvida, enquanto as coisa s, p OI' sua ve z, estao em ziguezague?
Nao e 0 f ato d e seu paciente nao r ou bar q ue im por ta aq ui. E
q ue ele nao . .. Sem "nao": c q ue ele r ou ba nad a. E er a isso que
ter ia sid e pr ecise f az e-Io ouvir .
Muito ao contrar io d o q ue voce acred ita, na o e a d efesa d ele
contr a a id eia de r oubar que 0 f az cr er que r ou ba. Que ele possa
tel' uma i d eia pr o pr ia e q ue nao Ihe vem a id eia, ou que so 0
visita com dif iculd ad e.
Inutil, pois, enga ja-Io nesse pr ocesso d e d eterminar a parte,
ond e nem Deus pod er ia r econhecer -se, d aq uilo que seu colega
Ihe sur ru pia de mais ou men os original quand o 0 su jeito bate
pa po com ele.
Nao pod e essa ansia d e miolos fr escos r efr escar-Ihe seu.
pr o prios conceitos e fazer voce se lembr ar , nas f or mula<;6es d e
Roman Jakobson, d a f un<;ao d a metonf mia? - voltar emos a i sso
dentr o em pouco.
Voce fala d e Melitta Schmide ber g como se ela houvesse
conf undido a delinq i-iencia com 0 Isso. Na o e stou tao seguro
d isso, e, ao me r ef erir ao artigo em que ela cita esse caso, os
ter mo s d e seu tftulo me suger em uma metafor a.
Voce tr ata 0 paciente como urn o bsessivo, mas ele esta Ihe
estendend o a mao com sua f antasia d e comestf vel: para Ihe d ar
a o portunid ad e d e adiantar urn q ua rt o d e hor a so br e a nosologia
de sua epoca, d iagnosticando: anor exia mental. Ao mesmo tempo,
voce refrescaria, r estituindo-o a s eu sentid o pr opr io, esse par de
ter mos, cu jo uso comum 0 r ed uziu a qualid ad e d uvid o sa d e uma
ind ica<;ao etiologica.
Anorexia, no caso, quanto ao mental, quanto ao d ese jo d o
q ual vive a id eia, 0 que nos leva ao escorbuto que imper a na
jangada em que a embar co junto co m a s virgens magr as.
A recusa delas, sim bolicamente motivad a, par ece-me tel' muita
r ela<;iio com a aver sao d o paciente por a q uilo q ue ele cogita.
Tel' ideias er a ur n r ecur so d e q ue ja 0 pa pai d ele , c omo nos d iz
voce, nao dis punha. Ser a que 0 avo [gr and-per e], q ue nelas se
havia ilustr ad o, Ihe teria ins pir ad o essa aver sao? Como sa ber?
Voce por certo ter n r azao em fazer d o significante grand, inclufd o
no ter mo d e par ent es co , a origem pura e sim ples da r ivalid ad e
cxercida com 0 pai pelo peixe maior fisgad o na pescar ia. Mas
'sse desafio d e pur a f or ma inspir a-me, ant es , q ue ele queira
d izer : nada a f r itar .
Nada em comum, por tanto, entr e 0 mod o d e p ro ced er que
voee usa, d ito a partir d a su perffcie, e a r etifiea<;ao su bjetiva
posta em d estaque mais acima no metod a d e Fr eud , ond e e la
tambem nao e motiva da p OI' nenhuma priorid ad e to pica.
E que, ad emais, e ss a retif ica<;ao em Freud e dialetica e par te
das dizer es d o sujeito para voltar a eles, 0
q ue significa q ue umainter preta<;ao so pod e ser exata se f or . .. uma interpr eta<;ao.
Tomar 0 par tid o d o o b jetivo, aq ui, e ur n abuso, nem que se ja
peto fato d e 0 plagio ser r elativo aos costumes vigentes.12
12. Eis urn exemplo: nos EUA, o nd e a ca bou K ris. publica"ao ter n valor de titulo,
I' ur n ensino como 0 meu d everia, tod a semana, gar antir sua priorid ad e contr a
1 1 p ilhagem a que nao d eixar ia d e d ar ensejo. Na F ran"a, e a maneir a da inf iltra"ao
que minhas id eias penetr am num gr u po onde sao obed ecid as as or d ens q ue
10 . Metafor a a partir d o id iomatismo La moutar d e Lui mont e au nez - "elc
tornad o d e impaciencia, de c61era". (N.E.)
II.Uma pista, urn ind icio. ( N.E.)
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Mas a ideia de q ue a su per f f cie se ja 0 nfvel do superficial e
perigosa em si mesma.
a ut ra to pologia e necessaria para nao. haver engano quanto
ao lugar do desejo.
Apagar 0 d esejo do m apa, q ua nd o e le j a e st a r eco berto na J i l l
paisagem d o paciente, nao e 0melhor seguimento a dar a li~ao
d e Fr eud.
Nem 0meio d e aca bar com profund idade, pois e na superffcie
que ela e visfvel como h er pe s e m d ia d e f esta a tlorescer no
rosto.
luz so bre os seguintes as pectos, ond e no entanto eles pareceriam
t:xigf veis: ser a que e 0 mesmo ef eito da r ela~ao com 0 analista
que se manifesta no enamoramento pr imar io o bservad o no inf cio
do tr atamento e na tr ama de satisfa~6es que toma essa rela~ao
tao dif fcil de romper , quand o a neurose d e tr ansf erencia par ece
ultrapassar os m eios propriamente analfticos? E sera tambem
que sao a rela~ao c om 0 analista e sua fr ustra~ao fundamental
que, no segundo perf od o da analise, sustenta m a escansao frus-
lr a~ao-agressao-regressao, em que se inscr ever iam os efeitos
mais f ecundos da analise? Como havernos de conce ber a subor -
d ina~ao dos fen6menos, qua nd o sua esf er a e atr avessad a pelas [603]
fantasias que implicam a bertamente a figur a do analista?
Dessas' obscuridades persistentes, a r azao foi formulada n um
estud o excepciona l p or sua perspicacia: a cad a uma das etapas
em q u e se t en to u r ev isar os problemas da t r ansferencia, as
diver gencias tecnicas que motivavam sua ur gencia nao deram
margern a urna crftica verdad eir a de sua no~ao [20].
I. E ao lr a balho d e nos so colega Danie l L agache que convem
recor re r par a constituir uma historia exata dos tr a balhos que, em
tomo d e Fr eud, dand o seguimento a sua obr a e d es d e que ele a
legou a n os, f or am d edicados a transferencia, por ele descober ta.
a objelo d essc tr a balho vai muito alem disso, introduzindo na
fun~ao d o f enomeno as distin~6es de estrutura, essenciais a sua
crflica. Basta lembrar a alternati va muit o pertinente que e l
f ormula, quanto a sua natureza ultima, entr e necessidade d
r e peli~ao e r e peti~ao da necessidade.
Tal tr a balho, a acr cd itarmos haver sabido em n os so ensino
extr air as consequencias que ele acarreta, toma bem evidenlc,
pela ordena~ao que intr oduz, a que ponto saD f r equentemenl'
par ciais os as pectos em que se concentram os debates e, cm
es pecial, 0 quanto 0 emprego comum do t ermo, na pr oprill
analise, continua ad erido a sua abordagern rnais discutfvel, St'
bem que mais vulgar: fazer del a a sucessao ou a soma d O N
sentimentos positivos ou negativos que 0 paciente vo ta a sell
analista.
Par a avaliar a q ue ponto c he ga mo s e m n ossa comunidad '
cientff ica, pod emos d ize r q ue nao se f izeram nem acordo e nCI1\
2. E tao central par a a a~a o analftica a n o~ao q ue quer em os aqui
alcan~a r que ela pod e ser vi r d e medid a par a a par cialidad e das
lcorias em q ue ha quem se d etenha em pensa-la. au se ja, nao
cstar emos enganados em julga-Ias segund o 0 manejo d a trans-
f crencia que elas implicam. Esse pragmatismo e justificado. Eq ue esse mane jo d a transf er encia e identico a no~ao del a, e por
menos elabor ada que se ja esta na pr atica, ela so pod e incluir -se
nas parcial id ad es d a teoria.
Por outro lado, a existencia simultanea d essas parcialid ades
nem po r i ss o a s f az se completar ern. a que confirma que eJas
sof rem d e ur n de fe it o central.
Par a ja ir introduzindo nisso um pouco d e ord em, reduziremos
a tres essas particularidades d a teor ia, ainda que desse modo
lcnhamos, nos mes mo s, d e no s c onfor mar a alguma opiniao
pr econce bi da , men os g r ave por ser apenas de ex posi~ao.
3. Ligaremos 0 geneticismo, na medida em q ue ele te nd e a
fundamentar os fenomenos analf ticos nos rnomentos de desen-
volvimento implicados ease nutr ir d a chamad a observa~ao
d ireta da crian~a, a uma tecnica particular : a que f az a essencia
desse procedimento incidir sobre a analise d as defesas.
prolbem meu ensino. POl'serem malditas ali, as id eias s6 pod em ser vir de ad ol'l1t1
para alguns d iind is. Niio importa: 0vazio qu e elas fazem ressoar , quer me cil(''''
ou nao, faz o uvir uma outra voz.
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E sse la<;o e historicamente manifesto. Pode-se ate dizer que
nao tem outro fundamento, ja qu e so se constituiu pelo fracasso
d a solidaried ade que su p6e.
?od emos mostrar seu inf cio no credito legf timo d ado a no<;ao
de um eu inconsciente pela q ual Fr eud r eor ientou sua doutrina.
Daf passar a hi potese de que os m ecanismos d e d efesa q ue se
agr u pavam sob sua f un<;ao deviam poder , eles mesmos, trair umalei de m anifesta<;ao comparavel, ou ate mesmo cor r espondente
a sucessao de f ases pela qual Fr eud havia tentado ligar a
emer gencia pulsional a f isiologi a, e is 0 passo que Anna Freud ,
em seu livr o sobre Os mecanismos d e defesa , pr op6e transpor , III
para su bmete-Io a pr ova da exper iencia.
Is so poder ia ter sido a opor tunidade de uma crftica fecund a
das r ela<;6es d o desenvolvi me nt o c om as estruturas manifesta-
mente mais com plexas que Fr eud intr oduziu na psicologia. Mas
a oper a<;ao d eslizou mais abaixo, tao m ais tentador er a buscar
inserir nas etapas o bservaveis do d esenvolvimento sensorio-mo-
to r e d as capacidades pr ogr essivas d e um com por tamento inte-
ligente esses mecanismos, supostamente desvinculad os do pro-gr esso del as.
Pod e-se d izer que as e s per an<; as q ue Anna F reud d e positava
nessa explor a<;ao f or am f rustr adas: por essa via, nada se revelou
, d e esclar eced or par a a tecnica, embor a os detalhes q ue se pod e
discernir atr aves d a observa<;ao d a cr ian<;a, esclar ecida pela
analise, se jam as vezes muito sugestivos.
A no<;ao d e patt er n, que vem funcionar aq ui c omo u m alibi
da tipologia malogr ada, a padrinha u ma t ecnica que, por seguir
na detec<;ao d e um patt ern nao atual, se inclina d e bom grad o
a julga-Io p or seu desvio de um pattern que encontr a em seu
conf ormismo as garantias de sua conformid ad e. Nao e sem
constrangimento que evocamos os cr iter io s d e ex ito a que leva
esse tr a balho posti<;o: a passagem par a 0 patamar s up er io r d e
renda e a s af da d e e me rg en ci a d a liga<;ao com a secretaria,
r egulando 0 esca pe de for<;as rigorosamente subjugadas no ma-
trimonio, na pr ofissao e na comunidade polftica, nao nos parecem
de uma dignidade que requeira 0 apelo, ar ticulado no planning
do analista ou mesmo em sua interpreta<;ao, a Discordia entr e
os instintos de vida e de m orte - mesmo ornamentando seu
proposito com 0 pretensioso qualificativo de "econom ico", par a
leva-Io adiante, em completo contra-senso com 0 pensamento
<.IeFreud, como 0 jogo de um par d e for<;as homolo ga s e m su a
o posi<;ao.
4. M enos d egrad ada em seu r elevo analf tico par ece-nos a segunda
f ace em que sur ge aquilo q ue s e f urta d a transfer encia, ou se ja,
o eix o t om ado da rela<;ao de o bjeto.
E ssa teor ia, n ao impor ta a que ponto de aviltamento tenhachegado nestes liltimos tempos na Fr an<;a, tem, como 0geneti-
cismo, sua or igem nobr e. Foi A br aham q uem inau gu ro u seu
registro, e a no<;ao d e ob jeto parcial f oi uma contri bui<;ao or iginal
sua. Este nao e 0 lugar de Ihe demonstr ar 0 valor . Estamos mais
interessados em indicar sua liga<;ao com a parcialid ade do as pecto [605]
q ue Abraham d esvincula da transferencia, par a promove-lo em
sua opacid ad e como a ca pacid ade de amar , ou se ja, como se
esse fosse um dado constitucional do d oente em q ue se pudesse
ler 0gr au d e s ua cur abilid ade, e, em es pecial, 0 linico em q ue
f racassaria 0 tr atamento d a psicose.
Temos aq ui, na verdad e, duas equa<;6es. A transf er encia
q ualificad a d e sexual (Sexualiiber t ragung) acha-se no pr incfpio<.10amor a que, em fr ances, chamou-se o bjetal (em alemao,
Ob jekt liebe). A ca pacidad e d e transf er encia mede 0 acesso ao
r eal. E impossfvel enf atizar em demasia 0 q uanto ha n i ss o d e
peti<;ao de princfpio.
Ao contr ar io d os pressu postos d o geneticismo, que pretend e
se basear numa ordem das emergencias formais no sujeito, a
per spectiva d e Abr aham explica-se numa finalidade que se
autor iza p or s er instintual, na medida em que se f az im agem da
matura<;ao de um objeto inefavel, 0 O bjeto com mailiscula que
comanda a fase da objetalidade (significativamente distinguida
d a o bjetividade por sua substancia de afeto).
Essa concep<;ao ectoplasmica do objeto logo mostrou seus
riscos ao se d egr adar na d icot omi a gr osseira que se formula
o pondo 0 carater pre-genital ao caniter genital.
Essa tematica primar ia se desenvolve, de um modo sumario,
atr ibuindo-se ao carater pre-genital os tra<;os acumulados do
irr ealismo projetivo, do autismo mais ou menos comedido, da
r estr i<;ao das satisfa<;6es pela d efesa, e do condicionamento do
o b jeto por um isolamento duplamente protetor quanto a os ef eitos
de d estrui<;ao que 0 conotam, ou seja, um amalgama de todos
os d ef eitos da rela<;ao de objeto, para m ostrar os m otivos da
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extr ema depend encia que r esulta d ela para 0sujeit o. Quadro que
seria litil, a d es peito d e sua tend encia a conf usao, se nao parecesse
feito para ser vir de negativo d o e stilo agua-com-a~ucar "d a
passagem d a forma pr e-genital a forma genital", ond e as pulsoes
" ja nao assumem 0carateI' de necessid ade de posse incoercfvel,
ilimilad a, incond icional, que comporta urn as pecto d estrutivo.
Elas sao ver dadeir amente ternas, amorosa s, e , se 0 sujeito nem por isso se mostra oblati'/a, islo e, desinter essad o, e se esses
o bjetos" (neste ponto, 0 autor se lembr a d e meus comentarios)
"sao tao intrinsecamente objetos nar cf sicos quanta no caso
anterior, aqui ele e ca paz d e compr eensao e d e adapta~ao ao
outr o. Alias, a estrutur a fntima d essas r ela~oes objetais mo str a
que a participa~ao do o bjeto em seu pr o prio pr azer e indispen- II f
savel par a a f elicidad e d o sujeito. As conveniencias, os desejos
e as necessid ad es d o o bjeto (que salada!)13 sao levados e m
consid era~ao no mais alto gr au".
Isso nao im pede, contudo, que" 0Eu tenha aqui uma estabi-
lid a de q ue nao corr e 0risco d e ser compr ometid a pela perda d e
urn Ob jeto signif icativo. Ele permanece inde pend ente de seus
o bjetos" ."Sua organiz a~ao e tal q ue 0 mod o d e pensamento que ele
utiliza c essencialmente 16gico. Ele nao exi be es pontaneamente
uma r egr essao a urn mod o de a pr eensao da r ealid ad e que seja
arcaico, 0 pensamento af elivo e a cr en~a m agica d esempenham
nele apenas u rn pa pel a bsolutamente secund ar io, e a simboliza~ao
nao ultra passa, em extensao e im por tancia, 0q ue ela e na vid a
ha bitual ( !! ).13 0 estilo d as r ela~oes entr e 0sujeito e 0objeto edos mais evoluf dos (sic)." 1 3
Eis 0 que se pr omete aqueles que, "ao f im d e uma analise
bem sucedid a ( ... ), a per ce bem-se d a enorme dif eren~a entre 0
que eles outr ora acr editavam ser a alegr ia'sexual e aq uilo que
exper imentam agor a".
E compr eensfvel que, par a os que tern de safd a essa alegria,
"a r ela~ao genital seja, em suma, d es provid a d e hist6ria" [21].
S em outr a hist6ria senao a d e se conjugal' ir r esistivelmentc
no verba "bater com 0 tr aveseir o no lustr e", cujo lugar nos
par ece marcad o aq ui par a 0f utur o escoliasta, pOl' encontrar nissosua etema oportunidad e.
5. Se de f ato e preciso seguir Abraham quando ele nos a presenta
a rela~ao d e ob jeto como tipicamente demon strada na atividade
do colecionad or, t alvez sua regr a nao se d e nessa antinomia
cd ificante, mas d eva antes ser buscad a em algum impasse cons-
lilutivo do dese jo como tal.
o q ue f az 0o bjeto apr esentar-se como que br ado e d ecomposto
lalvez se ja algo d iferente d e urn fator patol6gico. E que tern avel' com 0 real esse hino a bsurd o a harmonia d o genital?
Convir a riscar d e nossa ex periencia 0drama do edipianismo,
quando pOl' Freud ele teve d e ser f Oljad o justame nt e par a ex plicar
as bar r eir as e as degrada~oes (Erniedrigungen) que sao 0 que [607]
ha de mais banal n a vi d a amorosa, mesmo a mais r ealizada?
Cabera an6s camuflar Er os, 0Deus negro, de camei ri nh o d o
Born Pastor?
A su blima~ao decer to e empregad a na obla~ao que se irr adia
do amor , mas d ediquemo-nos a ir urn p ouco mais longe na
estrutur a do sublime, e que nao 0 confund amos, coisa a que
Freud, sempr e acusa de f also, com 0orgasmo per feito.
o pior e que as almas que se der r amam na mais natur al t emura
aca bam se per guntando se satisf azem a normalid ad e d elirante
da rela~ao genital - fard o inedito q u e, a exemplo dos que 0
Evangelista amald i~oa, amarramos par a os ombros d os i nocentes.
M as ao nos ler em , s e algo d isso chegar a e pocas em que ja
nao s e saiba a que corres pondi am na pratica essas efervescentes
coloca~oes, pod erao imaginal' que nossa arte se d edicava a
reavivar a fome sexual em retard ad os da glandula - para cuja
fisiologia, no entant o, nao contribufmos em nada, e pOI' haver
fcito d e f ato, muito pouco para conhece-Ia.
6. E preci so q ue h aj a a o m en os t r es f aces em u ma piramid e,
ainda que de her esia. A que fecha 0 diedr o aqui descrito na
hiancia da conce p~ao da transferencia se esfor ~a, pOI' assim dizer , pOI' Ihe juntar as bordas.
Se a transfer encia retir a sua virtude d o ser r econduzid a arealid ad e da qual 0 anali st a e 0 r e presentante, e se se trata d e
f azer 0O bjeto amadurecer na estuf a de uma situa~ao confinad a,
j,l nao resta ao analisad o s en ao u rn o b jeto, se n os permitem a
cx pressao, em que fincar os dentes, e este e 0analista.
Daf a no~ao d e introje~ao intersubjetiva, que e nosso terceiro
C1TO,se instalar , lamentavelmente, num a r ela~ao dual.
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Pois tr ata-se mesmo d e uma via unitiva, d a qual os diver sos
molhos teoricos que a pr e param, de acordo com a to pica a q ue
se f az r ef er cnc ia , so pod em conser var a metafor a, variand o-a
confor me 0 nf v el d e o per a9ao consider ad o serio: intro je9ao, em
Fer enczi, identifica9ao com 0 Super eu d o analista, em Str achey,
e transe nar cfsico ter minal, em Balint.
Tencionamos chamar aten9a o par a a substancia dessa c onsu-ma9ao mfstic a, e se mais uma v ez temos que d enun ci ar 0 que
acontece a nossa por ta, e por sa bermos q ue a ex per iencia analftica
extr ai sua for 9 a d o par ticular .
Assim c q ue a im por tancia dada no tratame~to a fantasia d e
devon19ao falica su prida pela imagem do analista parece-nos
d igna d e s er d estacad a, em sua coer encia com uma d ire9ao d a
amUis e q ue a f az c ab er i nteira na d isposi9ao da d istancia entr e
o paciente e 0 analis ta c om o o b je to d a rela 9a o d ual.
Pois, a despeito da debili da de d a teoria com que um autor
sistematize sua tecnica, ne m p Ol ' isso ele deixa de a naJisar
r eal mente, e a coer encia re velad a no er r o constitui aq ui 0 garante
de que efetivamente se toma 0 bond e en-ad o.
E a f un9ao privilegiada do significante fain no mod o d e
presen9a do su jeito no d es ej o q ue se ilustra aqui, mas numa
expericncia q ue pod emos chamar d e c eg a: i sso , p or f alta d e
qualq uer orienta9ao sobr e as verd adeiras rela90es d a situa9ao
analf tica, a qual, do mesmo modo que q ualq uer outr a situa9ao
em q ue se fale, so pod e , ao quer er inscreve-Io numa r ela9aodual, ser destr o9ada.
Sendo desconhecida, nao sem motivo, a natur ez a da incorpo-
ra9ao simbolica, e nao havendo possibilidad e de que se consuma
seja 0 que for de real na amilis e, e vid enc ia -s e, p elas balizas
elementar es de meu ensino, que nad a mais pod e ser reconhecid o
sena o de imaginar io naquilo que se pr oduz. Pois nao e necessario
conhecer a planta de um a cas a par a bater a cabe9a contr a as
paredes: para isso, alias, prescind e-se muito bem d ela.
Eu mesmo ind iq uei a esse autor , nu ma epoc a em que d e ba-
tfamos entre nos, q ue, em se f icando pr eso a uma r ela9ao
imaginaria entr e os o bjetos, r estava a penas a dimensao d a dis-
tancia par a pod er ord ena-Ia. Isso nao estava na visad a em que
ele a bund a em seus par ecer es.
Fazel' d a distancia a unica dimensao em que se ar ticulam as
r ela90es d o neur otico com 0 objeto gera contr adi90es insuper a-
Yl'is, que sao bastante discernfveis, tanto no interior d o sistema
quanto na d ire9ao o posta que auto re s d if er entes ext~'ae~m .da
Illcsm a m etafor a par a organizar suas im pr essoes. As dlstan~las
l,ycessiva ou insuficiente d o ob jeto parecem, as vezes, conlun-
dir -se a ponto d e se em bar alhar . E nao era a d istanc ia d o o b j.eto,
l11as sua intimid ade gr ande demais n o su jeit o, q ue p ar ec la a
F'ren cz i c ar acter i za r 0 ne ur otico.
o que decid e so br e 0 q ue cada ur n q uer .d i~er e s~a utiliza9~0
Il-cni ca e a tecnica d o rapprocher, pOl' mals Impagavel q ue seJa
n cf eit~ d esse termo, nao tr aduzido, numa ex posi9ao em ingles,
Il'vela na pr atica uma tend encia q ue confina na o bsessao.
E diffcil acr editar q ue 0 ideal pr escr ito na red u9ao dessa
distanc ia a 'zer o (nil, em ingle s) n ao d ei xe s eu autor perceber
que nisso se concentr a seu paradoxa teor ico.
Se ja como for , nao ha d uvida de que essa d istancia e tomada
por urn parametro univer sal, re gen do a s var ia90es da te~nica
( pOl' mais extravagante que s e af igure 0debate sobre a amplttude
d clas) em pr ol d o d esmantela men to da neur ose.
o que tal concep9ao deve as condi90es especiais d a neu.r ose
n bsessiva nao d eve ser colocad o p Ol ' i nteiro do la do d o o bJeto.
Nem sequel' par ece haver , no rol de suas r ealiza90es, urn
pr ivilegio a destacar d os resultados q ue e.l~ obt?ria na neu~-~se
nbsessiva. Pois, se como a Kris nos e penmtldo cltar uma analIse
I'ctomada na condi9 ao d e segundo analista, pod emos testemunhar
que tal tecnica, na qual 0talento nao deve ser contestado, acabou
pr ovocando, num caso clfnico de pura obsessao nu~ homem, a
irru p9ao d e urn enamor amento nao menos d esmed ldo pOl' ser
plat6nico, e que na o se r evelou menos irredutfvel pOl' ter -se
cxercido, d epois d o pr imeiro, so bre os o bjetos d o mesmo sexo
a seu alcance.
Fala r d e per ver sao tr ansit6ria pode s atisf azer aq ui ur n otim~s-
1110 ativo, mas ao pr e9 0 d e s e r ec onhecer , nessa r~staUl~a9ao
atf pica d o terceir o da rela9ao, excessivamente neglIg~n~tado,
que convem nao pux ar d emais par a 0 recur so da proxlmldade
Ila r ela9ao com 0 ob jeto.
7. Nao ha limite par a as desgastes da tecni ca p or sua d es~~n-
'eitua9ao. Ja fizemos r ef er enc ia a os achad os d e uma cer ta analtse
selvagem a respeito d os quais foi d olor oso nosso es panto que
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nenhuma su pervisao se alm'masse, Poder sentir l4 0 od or d o
analista apar eceu num tr a balho como uma realizac;ao a ser tomad a
ao pe da letra, para assinalar a safd a exitosa da tr ansferencia.
Pod emos d iscernir af uma es peci e d e hu mor involuntar io que
e 0 q ue da valo r a e sse e xemplo, El e t eria e nc antado lar ry.
Trata-se apenas, em sum a, da conseqiiencia previsf vel de tomar
ao real 0desenvolvimento d a situac;ao analftica: e e verdade que,afor a a gustac;ao, 0 olfativo e a unica d imensao q ue pe r mite
reduzir a zer o (nil) a distancia, d essa vez no r eal. 0 indfcio a
encontrar nele par a a dir ec; ao do tr atamento e os princfpios de
seu poder e m ais duvid oso.
Mas, que urn od o r d e gaiola vague ie p or uma tecnica que se
cond uz " pelo far o ", c omo s e co stuma dizer , na o e a penas ur n
tr ac;o de rid f culo. Os alunos de meu seminar io e st ao l em brados
do odor de urina q ue marcou 0 momento decisivo de ur n caso
de perversao transitoria, no q ual nos detivemos em prof da crftica
dessa tecnica. Na o s e pod e d iz er q ue ele nao tenha tido liga9ao
com 0 acidente q ue motivou a o bser vac;ao, ja q ue foi ao es piar
u ma mulher q ue urinava, atraves d o ta bique de ur n water que,
s(ibito, 0 paciente tr ansmud ou sua libid o, sem que nada, ao que
par ecia, 0 predestinasse a isso, pOl'quanto as emoc;6es infantis
ligadas a fantasia d a ma e f aIica haviam assumid o ate entao as
f eic;6es da f o bia [23].
Mas essa nao C uma ligac;a o d ir eta, assim como nao seria
cor r eto ver nesse voyeurismo uma inver sao da exibic;ao implicada
na ati pia da f o bia, no diagnostico muito pr ecisamente formulado:
so b a angustia do pa ciente de ser r idicular izad o por sua estatur a
demasiadamente grande.
Como d issemos, a analista a quem d evemo s e ss a notavel
pu bficac;a o deu mostras d e r ar a per s picacia, retornand o, ate a
exaustao, a interpr etac;ao que d er a d e uma certa ar madur a surgida
num sonho, em posic;ao d e perseguid or, e, ainda por cima, armada
com uma bomba d e Flit, como send o urn sfmbolo d a mae falica.
Nao d everia eu ter , antes, f alad o d o pai? - per gunta-se ela.
E justifica ter-se d esviad o d isso pela carencia d o pai real na
historia do paciente.
Meus alunos hao d e aqui d ep lo ra r q ue 0 ensino de m eu
semimirio nao tenh a p od ido ajuda-Ia na epoca, ja que eles sa~em
com base em q ue princfpios Ihes ensinei a disting.uir 0 obJeto
fo bico como significante par a todo uso, para supnr a falta. do
Outro, e 0 fetiche fundamental de toda perversao como obJeto
percebido no corte do significante.
Na falta d isso, por que nao se lembrou essa novata ~al~n,tosa
do dialogo das ar mad uras no Discours su~ Ie peu de realt te, de
Andre Breton? Isso a t er ia c olocado no tnlho.
Mas, como espera-Io, quand o essa analis e r ec eb ia n a su p~r -
visao uma orienta9ao que a f azia pender p ara uma pr essao
constante no sentido de reconduzir 0 paciente a situac;ao r eal?
Como nos espantarmos com 0 fato de, ao contrario da ra!n~a da
Es panha, a analista ter pernas, quando eIa mesma 0 enlatIzava
na rudeza de seus chamamentos a ordem d o presente?
E claro que tal pr ocedimento nao deixou de ter a vel' cor n 0
desfecho benigno do act ing out aqui examinad o, uma vez que
tambem a analista, alias consciente d is so , viu-se permanente-
mente numa intervenc;ao castradora.
Mas, send o assim, por q ue atri buir esse papel a mae, d a q ual
tudo indica, na anamnese d essa obser vac;ao, q ue ela sempre
f uncionou mai s como alcoviteira?
o Edi po f altoso foi com pensad o, mas sem p.re sob ~ f orma,
aq ui d e d esconcertante ingenuid ad e, pOl' uma I~vocac;ao t~tal-
mente forc;ad a, senao arbitr ar ia, da pessoa do mand o .da ~nalIsta,
no caso f avor ecida pelo fato d e, send o e le mesmo pSlq ulatra, ter
sido ele quem Ihe f or neceu esse paciente.
Essa nao e uma cir cunstancia comum. De q ualq uer m od o,
deve ser r ecusada como exterior a situac;ao analftica.
Os desvios imperd oaveis d o tr atamento na o s ao em si 0que
cr ia r eservas quanto a seu desf echo, e 0 humor , pr ovavelmente
n ao sem malfcia, d os honorarios surrupiad os d a ultima sessao
como prec;o pelo estupr o, nao e urn a u~urio na?a ~nau par a 0fu:u:o.
A questao que pod emos levantar e a d o lImIte entr e a analIse
e a reeducac;ao, quand o seu pr o prio processo e norteado p.or uma
solicitac;ao preponder ante de suas incid encias r eai~. COI~a que
se ve ao comparar, nessa o bservac;ao, os dad os d a bJOgrafla com
as formac;6es transferenciais: a contribuic;ao d o d ecif r amento do
inconsciente e real mente mfnima. A ponto de nos perguntarmos
se sua maior parte nao permanece intacta ~o, ~ nq~ista~ento do
enigma q ue, sob 0 rotulo de perversao tr ansltona, e obJeto dessa
instr utiva comunicac;ao.
14. Vale notar que sent ir ("eheirar " em franees) ter n tambem a aeeP9ao d e
"suportar " ou "toler ar " , eomo no eoloquialismo ne pas pouvoir sentir qu elqu ' £111.
~. ~ ,
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8. Que 0 leitor nao analista nao se engane: nada d isto e pam
d epr eciar um tr abalho que 0 e pfleto virgiliano im pr obus qualifi '11
com jusleza.
Nao Lemos oUlro d esfgnio s en ao 0 de adver tir os analislas
so bre 0deslizamento sof rido por sua lecnica, q uando se desco
nhece 0 ver d adeiro lugar em q ue se pr oduzem seus efeitos.
Incansaveis na tentativa de defini-Ia, nao podemos dizer q u ..
encer rando-se em posic;oes de modestia e ate mesmo guiand o-s .
por ficc;oes, a experiencia q ue eles d esenvolvem se ja sem pr '
infecund a.
As pesq ui sa s geneticas e a o bservac;ao direta longe estao d '
estar desvinculadas d e um animo propr iament e a nalftico. E, pOl'
havermos n6s mesmos r elomad o, n um a no d e n os so seminario,
os lemas d a relac;ao d e ob jelo, moslramos 0 va lor d e uma
concepc;ao em q ue a o bser vac;ao da crianc;a se nutre da mais
pr ecisa ref or mula<,:ao d a f unc;ao dos cuidados mater nos na gen es'
do objelo: referimo-nos a no<,:aode ob jelO lransicional intr oduzida
por D.W. Winnicoll, ponlo-chave para a explica<,:ao da genes
do f etichismo [27].
A verdade e que as f lagranles incertezas da leitura dos gran d es
conceilos freud ianos sao corr elalas as fraq ue zas q ue oneram 0
la bor pnHico.
Queremos deixar clar o q ue e na medida dos impasses expe-
r imenlados para caplar sua a<,:ao em sua autenticidad e que os
pesquisador es, assim como os gr u pos, acabam por forc;a-Ia no
senlido do exercfcio de um poder .
Esse poder , eles 0 Su bsliluem pela rela<,:ao com 0 ser em que
s e da e ss a a<,:ao, f azend o com q ue se us meios, nomead amenle
os d a fala, decaiam de sua emincncia verfdica. Eis por q ue cr eal mente uma especie de r elor no do recalcado, por mais estr anho
que se ja, q ue f az com q ue, das pr etensoe s menos inclinad as a
se pr eocu par com a d ignid ad e d esses meios, eleve-se a algaraviado r ecur so a o ser c omo a um d ado do real, q uand o 0discur so
q ue ali impera rejeita q ualquer inter rogac;ao q ue uma estupenda
mediocr idad e ja nao tenha reconhecido.
I. E muito ced o na hist6r ia d a analise q ue apar ece a qu estao d o
ser do analista. Que isso se de atraves d aq uele q u e f oi 0 mais
oIlormentado pelo problema d a a<,:ao analftica nao e d e nos
',lIrpr eender . Com ef eito, pode-se d izer q ue 0 ar tigo de Ferenczi [613]
Illtilulado "Intro jec;ao e transferencia", datado d e 1909 [3], e
Iliaugural nesse aspecto e se antecipa de longe a lodos os temas
posleriormente desenvolvidos da t6pica.
Se Ferenczi conce be a tr ansferencia como a introjec;ao da
p 'ssoa do med ico na economia su bjetiva, ja nao se trata aqui
d cssa pessoa c omo su porte de uma compulsao repetitiva, de uma
\'ond uta inad aptada, ou como f igura de uma fantasia. Ele entende
('om isso a absor c;ao, na economia do sujeito, d e tudo 0que 0
psicanalista presenlif ica no d uo como hic ef nunc de uma
pro blematica encar nada. Pois nilo chega esse autor ao extr ema
d e ar ticular q ue a conclusao da analise s6 pode ser atingida na
d cclara<,:ao q ue 0 med ico faz a o d oente d o abandono que ele
ll1esmo esta em vias d e sofrer?15
2. Ser a preciso pagar com esse prec;o em comicid ade para q ue
simplesmente se ve ja r econhecida a falta-a-ser do sujeito como
() cer ne da exper i cn ci a analf tica, como 0campo mesm o em q ue
se exibe a paixao do neur6tico?
Excet ua do e ss e nucle o d a es co la hungara, de archotes hoje
d is per sos e logo lr ansformados em cinzas, somente os i ngleses,
em sua fria ob jelividade, sou ber am ar ticular a hiancia q ue 0
neur 6tico atesta ao querer justif icar sua existencia, e, com isso,
sou ber am im plicilamente dislinguir d a r el ac;ao inter-human a, de
seu calor e seus engodos, a rela<,:ao com 0 Outr o o nd e 0 ser
cnconlra seu slalus.
Basla-nos citar E lla Sharpe e seus comentar ios per tinentes ao
acompanhar as verdad eiras pr eocupac; oe s d o neur 6tico [24]. A
forc;a d eles enconlr a-se numa especie d e ingenuidade que se
ref lete nas asperezas, justi f icad amente celebres, d e seu estilo de
lerapeula e e sc r itora. Nao e um trac;o cor r iqueir o que ela chegue
ate m esmo a o st entac;ao, na exigencia que i mp oe d e u ma onis-
ciencia ao analista para ler cor retamente as intenc;oes d os d is-
cursos d o analisado.
15. RetiFica~ao d o texto na ante penultima Fr ase e na pr imeira linha d o panigr aFo
seguinte (1966).
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Devemos reconhecer -Ihe 0 mer ito d e colocar em primeiro
lugar nas escolas d o praticante uma cultura liteniria, mesmo q ue
ela nao pare<;a perceber que, na lista d e leituras minimas que
Ihes propoe, predominam as obras da imaginaC; ao em q ue 0 1 6 1 - 1 1
significante do falo desempenha urn papel central, so b u rn v eu
tr ansparente. Isso apenas prova que a escolha e tao menos guiad a pela ex periencia quanto e feliz a indicaC;ao de princfpio.
mais nad a pOl"que a felicidad e, como d isse Saint-Just, tornou-se
um fator d a polftica.Se jamos justos: 0 pr ogresso human}sta, de Ar ist6te le s a S aG [6151
Francisco (d e Sales), nao satisf ez as a porias d a f elicidade ..
Perde-se tempo, como sa bemos, pr ocur and o a camisa d e urn
homem feliz, e aquilo a que se chama uma sombr a f eliz deve
ser evitad o, pelos males q ue pr opaga.
E real mente na r elaC;ao com 0ser q ue 0analista ter n de assumir
seu nivel o per at6rio, e as chances q ue para esse fim Ihe ofer ece
a analise d id itica nao devem ser calculad a s a pe na s em f unC;ao
do problema supostamente ja resolvid o pelo analista que 0 guia
nela.Ha desventul"as d o s e r q ue a prudencia d os colegios e 0falso
pu do r q ue gar ante as d ominac;oes nao ousam su pr imir deles
mesmos.Cabe for mular uma etica q ue integr e as conquistas freud ianas
so bre 0dese jo: par a colo ca r em seu ver tice a qu estao d o d ese jo
d o analista.
3. Aut6ctones ou nao, foi ainda pelos ingleses que 0 fim d a
analise foi mais categoricamente definido atraves da identificaC;ao
do sujeito com 0 analista. Certamente, varia a opiniao quanta a
ser de seu E u ou de seu Supereu que se tr ata. Nao se domina
com tanta facilidade a estrutura que Freud destacou no sujeito,
quando nela nao se distingue 0 simb6lico do imaginario e do
r eal.
Digamos apenas q ue nao se fOljam colocac;:oes tao apropriadas
para chocar sem que alguma coisa pressione aq ueles q ue as
formulam. A diaIetica dos ob jetos fantasisticos pr omovid a na
pnitica pOl' Melani e Kl ein t en de a s e tr ad uzir , na teoria, emterm os de identificaC;ao.
E que esses ob jetos, par ciais ou nao, mas segur amente signi-
ficantes - 0 seio, 0 excremento, 0 fa]o -, 0 su jeito d ecer to os
ganha ou o s per de, e d estruido por e les ou os preser va, mas,
acima de tudo, ele e esses ob jetos , c onfor me 0 lugar em que
eles f uncionem em sua fantasia f undamental, e esse mod o d e
identificaC;ao s6 faz m ostrar a patologia da pr opensao a que e
impelid o 0 su jeito num mund o em q ue suas necessid ad es SaG
reduzidas a valor e s d e t roc a, s 6 encontrando essa mesma pro-
pensao sua possibilid ade rad ical pela m or tificaC;ao que 0 signi-
ficant e im poe a sua vid a numer and o-a.
5. A decadencia q ue marca a especulaC;ao analitica, es pecialmente
nes sa or dem, nao ter n como nao causar impacto, sim plesmente
ao sermos sensiveis a r essonf mci a dos tr a balhos antigos.
De tanto compr eend er ur n monte d e coisas, os analistas em
ger al imaginam que com preend er e urn f im em si e que s6 pod e
ser um ha pp y end. 0 exem plo d a ciencia fisica, no entanto, po d e
mostrar -Ihes que os mais gr and iosos sucessos nao implicam que
se saiba aond e se esta indo.
Muitas vezes, mais vale na o c ompr eend er para pensar , e e
possivel percor rer leguas com preend end o sem que disso r esulte
o men or pensamento.Foi justamente esse 0 ponto d e partid a d os behavioristas:
renunciar a compr eend er . Mas, na falta d e qualquer outr o pen-
samento numa materia - a nossa, que e a antiph ysis - , eles
tenderam a se se r vir , s em com pr eend e-Io, d aquilo que com pr een-
dem os: ense jo , par a n6s, d e urn r es gate d e orgulho.
U ma amostr a d o que somo s c a pazes d e pr od uzir em materia
de moral e d ad a pel a n oC;ao d e o blatividad e. Essa e um a fantasia
de o bsessivo, em si incompreendid a: tudo par a 0 outro, meu
semelhante, e 0que se pr ofere, sem r econhecer nisso a angustia
q ue 0Outro (com maiuscula) inspir a por nao ser urn semelhante.
4. Ao que par ece, 0 psicanalista, simplesmente pa ra a judar 0
sujeito, d everia esta r a salvo d essa patologia, q ue, como vemos,
nao se inser e em nad a menos do q ue uma lei f errea.
E justamente por isso que se imagina que 0 psicanalista deva
ser ur n homem feliz. Nao e a felicid ad e, alias, que se v ai
ped ir-Ihe? E como the seria possivel d a-Ia se nao tivesse urn
pouco d el a, d iz 0 born senso?
E fato que nao nos recusamos a pr om eter a felicidade, numa
e poca em que a questao de sua med id a se compli'Cou: antes de
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6. Nao pr etend emos ensinar aos psicanalistas 0 que e pensar .
Eles 0 sa bem. Mas nao e q ue 0 ten ham compr eend id o por si.
Aprenderam essa lir ;ao com os psicologos. 0 pensamento e uma
tentativa de ar ;ao, re petem eles g entilment e. ( 0 p ropr io Fr eutl
cai nessa esparr ela, 0 q ue na o 0 im ped e d e ser um pensador
r igor oso e cuja ar;ao se consuma no pensamento.)
A bem d a ver dade, 0 pensamento d os analistas e uma ar;aoq ue se desfaz. 0 que deixa uma certa es peranr ;a de q ue , s e os
fizermos pensar nisso, eles, ao r etOlmi-la, aca bem r epensando-a.
Ouvir nao me f or r ;a a com preend er . 0 que our ;o nao d eixa d e
ser um discur so, mesmo q ue tao pouco d iscur sivo q uanto uma
intetjeir;ao. Pois uma intetjeir;ao e da ordem da linguagem, e
nao do gr ito expr essivo. E uma parte do d iscur s o que nao cede
a nenhuma outra no q ue tange aos ef eitos de sintaxe numa If ngua
deter minad a.
Naquilo que our ;o, sem d uvid a, nada tenho a replicar, se nad a [617]com preend o disso ou se, ao compreender algo, tenho ~erteza d e
estar enganad o. Isso na o m e im pedir ia de respond er . E 0que se
faz, f ora d a analise, em casos similares. Eu me calo. Tod os
concord am em que fr ustro 0 falante, e ele em pr imeir f ssimo
lugar, assim como eu. Por q ue?
Se eu 0 f r ustro, e q ue ele me demanda alguma coisa. Que eu
lhe responda, justamente. Ma s ele sabe muito be m que isso
seriam apenas palavras. Tais como as recebe de quem quiser .
Ele nem ter n certeza de q ue me seria gr ato pel as boas palavras,
muito menos pelas ruins. Essas palavras nao saD 0q ue ele me
pede. Ele me pede ... pelo fato de que fala: sua demand a e
intransitiva, nao implica nenhum objeto.
E claro que sua demand a s e ma nif es ta no c ampo de umademanda im plfcita, aquela pela qual ele esta ali: de ser curado,
de ser revel ado a si mesmo, de ser levado a conhecer a psicanalise,
de ser habilitado como analista. Mas essa demanda, ele sa be,
pode esper ar . Sua demand a atual nada tem a ver com isso, nem
seq uer e d ele, pois, afinal, fui eu que the fiz a ofetta d e falar .
(Somente 0 su jeito e transitivo aq ui.)
Consegui, em suma, aquilo que se gostaria, no cam po d o
comercio comum, de poder realizar com a mesma facilid ade:
com a ofer ta, criei a demanda.
7. 0 analista e 0 homem a q uem s e f ala e a quem se f ala
Iivremente . Es ta ali para isso. E 0que isso quer d izer ?
Tudo 0 q ue se pode dizer sobr e a associar ;ao de ideias nao
passa de urn f igurino psicologista. Os jogos de palavras ind uzidos
ja vao longe; alias, a julgar por seu protocolo, nada e menos
livre.
o su jeito convidado a falar na amilise nao mostra naquilo q ue
d iz, para dizer a verdade, uma liberdad e muito grande. Nao que
ele seja agrilhoado pelo rigor de suas associar;6es: elas decertoo oprimem, mas e que, antes, desem bocam numa fala livre, numa
fala plena que the seria penosa.
Nada e mais temfvel do q ue dizer algo q ue possa ser verda-
deiro. Pois logo se transformar ia nisso, se 0 fosse, e Deus sabe
o q ue acontece q uando alguma coisa, por ser verdadeira, ja nao
pode recair na d uvida.
Ser a esse 0 pr ocedimento da analise, um progresso da verdade?
Ja escuto os coxas-grossas a mur mur ar em so br e minhas analises
intelectualistas, q uand o sou 0 primeir o, ao q ue eu saiba, a
preservar nelas 0 indizfvel.
Que seja par a-alem do discurso que se acomoda nossa escuta,
sei disso melhor do que ninguem, quand o simplesmente tom o 0
caminho de ouvir, e nao de auscultar . Sim, isso mesmo, nao d e
auscultar a resistencia, a tensao, 0 opistotono, a pali dez , a
descarga de adrenalina (sic) em que se reconstituiria urn Eu mais
forte (resic): 0 que escuto e por ouvir .16
8. Mas trata-se d e uma d emanda, por assim d izer, r ad ical.
Sein duvi da a sr a. Macal pine tem razao em q uer er buscar na
simples regr a analf tica 0motor d a transferencia. Mas ainda assim
ela se extr avia, ao apontar na ausencia de qualquer ob jeto a por ta
a berta par a a regr essao infantil [24]. Isso mais seria urn obstaculo,
pois todos sabem, e o s p sicanalistas de cr ianr;as em primeiro
lugar , q ue e pr eciso um bocado de peq uenos ob jetos par a manter
uma relar ;ao com a crianr;a.
Por intermedio d a demanda, tod o 0 passado se entrea br e, ate
reconditos d a primeira infancia. Demandar : 0 su jeito nunca fez
outra coisa, so pode viver por isso, e nos entr amos na sequencia.
16 . lI nt end emenl , no original, que tern a ace p,<uo d e "forma d iscur siva d o
pensamento", alem de estar ligad o ao v erbo e /1/ end r e (usad o logo a seguir), q uesignif ica "ouvir " e tam bem "entender , ca ptar , reconhecer'" etc. ( N.E.)
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E pOl' essa via que a r egr e ss ao analftica pode se produzir e
q ue d e f ato se apr esenta. Fala-se d ela como se 0 suje it o s e
pusesse a banca r a cr ianc,:a. Sem duvid a i ss o a contece, e essa
momice nao e d o melhor augurio. De q ualq ue r m od o, ela sai do
q ue e cornu mente o bse rv ad o n o q ue e tid o p or r egressao. Pois [61HI
a regressao nao mostr a outr a coisa senao 0 retor no, no presente,
de signif icant es c om uns, em d emand as par a as q uais ha uma prescric,:ao.
As necessidad es su bor d inam-se as mesmas cond ic,:6es conven-
cionais que sao pr6pr ias do significante em seu duplo registro
- sincronico, de oposir;ao entre elementos irredutfveis, e dia-
cronico, de substituic,:ao e combinac,:ao -, pelas quais a lingua-
gem, se certamentenao preenche tudo, estrutura a totalidade da [619]
relac,:ao inter -humana.
Daf a oscilac,:ao que se obser va nas colocac,:6es de Freud sobreas relac,:6es entre 0 Supereu e a reali da de . 0 S up er eu n ao e,
evidentemente, a Fonte da realid ad e, c om o e le diz em algum
lugar, mas rastreia suas vias, antes de se encontrar no inconsciente
as primeiras marcas ideais em que as tendencias se constituem
como recalcadas, na substituic,:ao das necessidades pelo signifi-
cante.
9. Voltanto a o p on to d e par tida, essa situac,:ao explica a transfe-
rencia primaria e 0 amor em q ue ela as vezes se declar a.
Pois, se 0 amor e dar 0 q ue na o se ter n, e v erdade q ue 0
sujeito p od e e sp er ar q ue isso Ihe s e ja d ad o, u ma v ez q ue 0
psicanalista nada mais tern a Ihe dar . Mas nem mesmo esse nada
e le Ihe d a , e e b or n q ue s e ja assim: e e p or i ss o q u e s e pa ga a
ele por esse nada, e generosamente, de preferencia, para deixar
bem clar o q u e, d e outro modo, isso nao valeria grande coisa.
Mas, se na maioria das vezes a transferenc ia p ri maria man-
tem-se no estad o de sombra, nao e isso q ue impede essa sombr ade sonhar e de reproduzir sua demand a, q ua nd o n ao h a ma is
nada a d emandar . Essa demanda, por ser vazia, ser a ainda mais pura.
Obser va-se q ue 0 analista, no entanto, da sua pr esenc,:a, mas
creio q ue a pr incfpio ela e a penas a implicac,: ao d e sua escuta , e
que esta e apenas a condic,:ao da f ala. Alias, por que exigi ria a
lecnica q ue ele a f izesse tao discr eta, se assim nao Fosse? E mais
tar de que sua pr esenc,:a se faz notar .
Alem do mais, 0sentimento mais agud o de sua presenc,:a esta
ligad o a ur n momenta em q ue 0 su jeito s6 po de se calar, isto e,
em q ue r ecua a te m esm o a nte a som br a d a d emanda.
Assim, 0analista e aq uele q ue sustenta a demanda, nao, como
se costuma d izer, para frustrar 0sujeito, mas par a q ue reaparec,:am
os significantes em q ue sua f rustr ac,:ao est a retid a.
II. Nao ha qualq uer necessidade, portanto, de ir buscar mais
longe a mola da identificac,:ao com 0analista. Ela pode ser muito
var iada, mas sera sempre uma identif icac,:ao com significantes.
A medida que se desenvolve uma analise, 0 analista lida
alternadamente com todas as articulac,:6es da demand a do sujeito.
Mas s6 deve, como d iremos mais adiante, responder af a partir
da posic,:ao da transferencia.
Quem nao f risa, alem do mais, a impor tancia do que se pod er ia
chamar d e hi p6tese permissiva d a analise? Mas nao e preciso
ur n regime polf tic o p ar ticular par a q ue 0que nao e proibido se
tome obr igat6r io.
Os analistas que podemos chamaI' d e fascinad os pelas seq iielas
da fr ustrac,:ao atem-se t ao-somente a uma p ost ur a d e sugestao,
que reduz 0 sujeito a repassar sua d emanda. Sem duvida e isso
que se entende pOl' r eed ucac,:ao emocional.
A bondad e e decer to mais necessari a al i do q ue e m o utros
lugar es, mas nao ter n como curar 0mal que engend ra. 0 analista
que quer 0 bem do sujeito repete aq uilo em q ue ele foi for mad o,e a t e, ocasionalmente, d efor mado. A mais a berrante educac,:ao
nunca teve outro motivo senao 0 bem d o sujeito.
Concebe-se uma teor ia d a analise que, contr ar iand o a delicada
articulac,:ao da analise d e Fr eud , r ed uz ao med o a mola d os
sintomas. Ela engendr a uma pr citica ond e se im pr ime 0 que
alhur es chamei d e Figura o bscena e f er oz d o Su per eu, ond e nao
ha outr a saf d a para a neurose d e transferencia se nao faz er 0
doente sentar para Ihe mostrar pela janela os as pectos risonhos
10. Or a, convem lembrar q ue e na d emand a m ai s a ntiga q ue se
produz a identificac,:ao primar ia, aquel a que se efetua pela oni-
potencia materna, ou seja, a que nao a penas torna de pend ente
d o a parelho significante a satisfac,:ao das necessid ad es, mas que
as fragmenta, as f iltra e a s mold a nos desfilamentos da estrutura
d o significante.
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da natureza, dizendo-lhe: "Va em frente . Agora voce e u m
menino comportado" [22].
I. Vm sonho, afinal, 6 apenas um sonho, ouve-se dizer hoje emdia [22]. Nao significa nada que Freud nele tenha reconhecido
o desejo?
o desejo, nao as tendencias. Pois e preciso IeI' a Traumdeutung
para saber 0 que quer dizer 0 que Freud chama ali de desejo.
E preciso nos determos no vocabulo Wunsch e no Wish que
o traduz em ingles para distingui-los do desejo, quando 0 rufdo
de petardo molhado em que eles se fundem nao evoca nada
men os do que a concupiscencia. Sao votos.
Esses votos podem ser piedosos, nost<ilgicos, incomodos,
br incalh6es. Vma senhora pode tel' um sonho que nao e movido
pOl' outro desejo senao 0de dar a Freud, que Ihe expos a teoria
de que 0
sonho e um desejo, a prova de que nao e nada disso.o aspecto a reter em mente e que esse desejo se articula num
discurso muito ardiloso. Porem nao menos importante e perceber
as conseq iiencias de Freud se satisfazer em reconhecer ali 0
desejo do sonho e a confirmaC; ao d e sua lei pelo que q uer dizer
o desejo em seu pensamento.
Pois ele leva mais longe sua cxcentr icid ad e, u ma ve z q ue um
s on ho d e puniC;ao pode, e m s ua o pi ni ao , significar 0 desejo
daquilo que a puniC;ao reprime.
Nao nos detenhamos nas etiquetas das gavetas, embora muitos
os confundam com 0fruto da ciencia. Leiamos os textos; sigamos
o pensamento de Freud nos meandros q ue ele nos imp6e e aos
q uais, nao nos esquec;amos, deplorando-os ele pr6pr io f r e nt e a
um ideal do discurso cientff ico, Freud afirma tel' sido forc;ado
pOl' seu objeto.17
Vemos entao que tal objeto e identico a esses meandros, pois,
na pr imeira cur va de sua estrada, Freud desemboca, no que tange
17. Cf . a Carta 118 (11.09.1899) a Fliess, em A t/ s d en An fiingen, Lond r es, Imago.
[Cf . J.M. Masson (or g.), A corr espondenc ia complet a de S igmund Fr eud para
Wilhelm F liess , 1887-/904, R io d e Janeiro, Imago, 1986. (N.E.)]
ao sonho de uma hister ica, no fato de que nele s e sa tisfaz pOl'
deslocamento - aqui, pr ecisamente pOl' alusao ao dese jo de uma
o ut ra - u m d es e jo da vespera, q u e e sustentado em sua posiC;ao
cminente pOl' um desejo de ordem bem diversa, na medida em que
Freud 0 or den a como 0 desc jo de tel' um desejo insatisfeito [7].18
Contemos 0 numero de remiss6es exercidas aqui para elevar
o desejo a uma potencia geometricamente crescente. Vm unicofndice nao bastaria para caracterizar seu grau. E que seria preciso
distinguir duas dimens6es nessas remiss6es: um desejo de desejo,
ou s ej a, u m d es e jo significado pOl' um dese jo (0 desejo da
histerica de tel' um desejo insatisfeito e significado pOl'seu desejo
de caviar: 0desejo de caviar e seu signif icante), inscreve-se no
registro diferente de um d esejo que substitui um desejo (no
sonho, 0 desejo de salmao defumado pr6prio da amiga vem
substitur 0 desejo de caviar da paciente, 0 que constitui a
substituiC;ao de um signif icante pOl' um significante).19
2. 0 que assim encontramos nada tem de microsc6pico, tal como
nao ha necessidade de instrumentos especiais para reconhecer q ue a folha tem os trac;os de estrutura da planta de que e destacada.
Mesmo nunca tendo visto senao plantas desprovidas de folhas,
perccber -se-ia prontamente que e mais verossfmil que uma folha
seja uma parte da planta do que um pedac;o de pele.
o desejo do sonho da histerica, bem como qualquer coisinha
de nada no Jugal' dele nesse texto de Freud, resume 0que 0 livro
inteiro explica sobre os chamados mecanismos inconscientes,
cond ensaC;ao, deslizamento etc., atestando sua estrutura comum,
qual seja, a relaC;ao do desejo com essa marca da linguagem,
que especif ica 0 inconsciente freudiano e descentra nossa con-
cepC;ao do sujeito.
18. E is e ss e sonho, tal como e consignado, a par tir d o r elate que d ele faz a
paciente, na pagina 152 das GW , II-III: "Quer o of er ecer urn jantar . Mas s6 me
r esta ur n po uc o d e salma o d ef llmad o. Tenho a id eia de fazer com pras, mas me
lembr o que e domingo 1 1 tar de e q ue t od as a s lojas estao fechadas. Digo a m im
mesma que vou telefonar par a alguns fornecedor es. Mas 0 telefone e st a c om
d efeito. Assim, tenho que renunciar 1 1 minha vontad e d e of er e eel' urn jantar ."
19. No que Freud motiva a identif icayao histerica, esclar ecendo que 0 salmao
d ef umad o desempenha pa ra a am ig a 0mesmo papel que 0 caviar desempenha
par a a paciente.
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Creio que meus alunos apreciarao 0 acesso que propicio aqui
a oposic;ao fundamental entre 0 significante e 0 significado, na
q ual Ihes demonstro que comec;am os poderes da linguagem, nao
sem que, ao conceber 0exercfcio dela, ell Ihes de pano para manga.
Relembro 0 automatismo das leis pelas quais se articulam, na [62 I
cadeia significante:
a) a substituic;ao de um termo pOl' outro para produzir 0efeitode metafora;
b) a combinac;ao de um termo com outro para produzir 0
efeito de metonfmia [17].
Apliquemo-Ias aqui e veremos evidenciar-se que enquanto,
no sonho de nossa paciente, 0salmao defumado, objeto do desejo
de sua amiga, e tudo 0que ela tem a oferecer, Freud, ao afirmar
que 0salmao defumado e aqui um substituto do caviar, que alias
ele toma como 0significante do desejo da paciente, prop6e-nos
o sonho como metafora do desejo.
Mas, que e a metafora senao um efeito de sentido positivo,
isto e, uma certa passagem do sujeito ao senti do do desejo?
Sendo 0
desejo do sujeito apresentado aqui como aquilo queseu discurso (consciente) implica, isto e, como pre-consciente
- dado que e 6bvio, ja que 0marido esta disposto a Ihe satisfazer
J desejo, pOl·em a paciente, que 0convenceu da existencia desse
desejo, faz questao de que ele nao fac;a nada disso, mas dado
que tambem e preciso ser Freud para articular como 0 desejo
de tel' um desejo insatisfeito -, persiste 0 fato de que e preciso
ir mais alem para saber 0que tal desejo quer dizer no incons-
ciente.
Ora, 0sonho nao e 0inconsciente, e sim, como nos diz Freud,
sua via regia. 0 que nos confirma que e pelo efeito da metafora
que ele procede. E esse efeito que 0sonho desvenda. Para quem?
Voltaremos a isso dentro em pouco.
POl' ora, vejamos que, se 0desejo e expresso como insatisfeito,
ele 0 e pelo significante "caviar", na medida em que esse
significante 0 simboliza como inacessfvel; mas, a partir do
momenta em que ele desliza como desejo no caviar, 0 desejo
de caviar e sua metonfmia, tornada necessaria pela falta-a-ser a
que ele se atem.
A metonfmia, como Ihes ensino, e 0 efeito possibilitado pOl'
nao haver nenhuma significac;ao que nao remeta a outra signi-
ficac;ao, e no qual se produz 0denominador mais comum entre
elas, ou seja, 0 pouco de sentido (comumente confundido com
o insignificante), 0 pouco de senti do, digo eu, que se revela no
fundamento do desejo e Ihe confere 0 toque de perversao que e
tentador denunciar na histeria atual.
o verdadeiro dessa aparencia e que 0 desejo e a metonfmia [623]
da falta-a-ser .
3. Voltemos agora ao livro chamado A clencia dos sonhos
(Traumdeutung): sobretudo mantica, ou melhor, significancia.
Freud nao pretende ali, em absoluto, esgotar do sonho os
problemas psicol6gicos. Basta le-lo para con statal' que em pro-
blemas pouco explorados (continuam raras, senao pobres, as
pesquisas sobre 0espac;o e 0 tempo no sonho, sobre seu estofo
sensorial, sonho em cores ou atonal - e 0odorffero, 0saboroso
e a pitada tactil pOl·ventura en tram nele, se 0 vertiginoso, 0
turgido e 0 pesado ali estao?) Freud nao toca. Dizer que a doutrina
freudiana e uma psicologia e um grosseiro equfvoco.
Freud esta longe de alimental' esse equfvoco. Adverte-nos , ao
contrario, de que no sonho s6 Ihe interessa a elaborac;ao. Quequer dizer isso? Exatamente 0que traduzimos pOl' sua estrutura
de linguagem. Como teria Freud reparado nela, uma vez que
essa estrutura, pOl' Ferdinand de Saussure, s6 depois foi articu-
lada? Se ela recobre seus pr6prios termos, so faz ser mais
espantoso que Freud a tenha antecipado. Mas, onde foi que ele
a descobriu? Num fluxo significante cujo misterio consiste em
que 0 sujeito nao sabe sequel' fingir que e seu organizador .
Faze-Io reencontrar -se nele como desejante e 0 inverso de
faze-lo reconhecer -se ali c omo suj ei to, poi s e c omo que em
derivac;ao da cadeia significante que corre 0regato do desejo, e
o sujeito deve aproveitar uma via de confluencia para nela
surpreender seu proprio feedback.
o desejo s6 faz sujeitar 0 que a analise subjetiva.
4. '3 isso nos leva a pergunta deixada em suspenso mais acima:
a quem 0sonho desvenda seu sentido antes que chegue 0analista?
Esse senti do preexiste a leitura dele e a ciencia de sua decifrac;ao.
Ambos demonstram que 0 sonho e feito para 0 reconheci-
mento ... mas nos sa voz fraqueja em concluir: do desejo. Pois 0
desejo, se Freud diz a verdade sobre 0inconsciente e se a analise
e necessaria, so e captado na interpretac;ao.
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Mas, r etomemos: a ela bor a~ao d o sonho e alimentad a pelo
dese jo; p or q ue hesita nossa voz em concluir "d e r econhecimen-
to" , como se se extinguisse a se gund a palavr a, q ue, tendo sid o [6 2'1 1
ha pouco a primeir a, r ea bs or ve u a outr a em sua luz? E que,
af inal, nao e d ormindo que nos fazemos r econhecer . E 0 s onho,
diz-no s F reud, sem que pare~a ver nis so a m enor c ontr adi~ao,
serve antes de mais nad a ao desejo de dormir . E retr a~ao nar cf sica
da libido e desinvestiment o da realid ad e.
Alias, sabe-se por experiencia que, quando meu sonho chega
a alcan~ar minha demanda (nao a r ealidade, como se d iz im pr o-
pr iamente, q ue pod e preser var meu sono), ou aq ui 10 q ue mostr a
aqui ser-Ihe eq uivaIent e, a d em and a d o o ut ro , eu desperto.
com pr eender 0 q uc ele entend e por d ese jo do neur6tic o, por
recalcad o, por inconsciente, por inter pretac; ao e p el a p r6 pr ia
analise, nem chegar per to d e se ja la 0 q ue for d e sua tecnica ou
de sua d outr in a. V er emos os recursos do pequeno so nh o q ue
pin~amos antes para nosso pr op6sito.
Pois 0 desejo de nos sa hister i ca e spirituosa (e Freud q ue a
qualif ica assim) - ref iro-me a seu desejo des perto, a seu desejode caviar - e um dese jo d e muIher satisfeita, e que justamente
nao 0 q uer estar . Pois seu marido a~ougueiro, em materia das
satisfa~6es de que todo 0 mund o precisa, e bastante competente
e m p or o s pingos nos is, e nao tem papas na If ngua para dizer
a um pintor que 0 bajula, sabe Deus com que o bscuros deslgnios,
a r esp ei to d e sua cara inter essante: "Que nad a! um naco do
traseiro de uma bela rameira, e d isso q ue voce pr ecisa, e se voce
esper a que eu Ihe va ofer ecer , voce pode pendur a-lo ondc cstou
pensando."
Al esta um h om em d e quem u ma mulher nao t em d o qu e s e
queixar, um carater genital e que, por ta nt o, d eve z elar como
convem para q ue a sua, quand o ele a possui, de pois ja nao precise
se mastur bar . Alias, Freud nao nos disfar~a que ela e m ui to
a paixonad a pel o marido e que 0 p ro vo ca incessantemente.
Mas, ve ja m, e la n ao q uer ser satisfeita apenas em suas ver -
dadeiras necessidades. Quer outras, gratuit as , e , p ar a t er t od a a
certeza de que 0 sao, nao q uer satisfaze-Ias. Por isso, a per gunta
"que deseja a espirituosa ac;ougueira?", podemos responder:
caviar . Mas essa resposta nao e promissora, porque caviar e
tambem 0 que e Ia n ao q uer .
5. Vm sonho, afinal de contas, e apenas um sonho. Os q ue hoje
desdenham de sua instrumentalidade para a analise descobriram,
como vimos, vias mais seguras e mais diretas para reconduzir
o paciente aos bons princfpios e aos desejos normais, aq ueles
q ue satisfazem necessidades ver dadeiras. Quais? Ora, as neces-
sidades de todo 0 mundo, meu caro! Se e isso q ue Ihe da medo,conf ie em seu psicanalista e suba na torre Eiffel para ver como
Paris e bonita. Pena que haja os q ue pulam da baIaustrad a logo
no pr imeiro andar, e justamente aqueles cujas necessidad es foram
tod a s r ec ond uzida s a s ua c xata medida. Rea~ao ter apeutica
negativa, dirao.
Gra~as a Deus, a r ecusa nao vai tao longe em todos! 0sintoma
sim plesmentc toma a brotar q ual er v a d anin ha , c ompuIsao d e
repeti~ao.
Mas isso, e claro, nao passa de um mal-entend ido. Nao se
fica curad o por q ue s e r ememora. Rememora-se pOl 'q ue se f ica
cUl·ado. Desde q ue se descobriu essa f ormula, a repr odu~ao dos
sintomas ja nao constitui problema, mas somente a r epr odu~ao
d os analistas; ados pacientes esta resolvida.
7. 0q ue nao e a t otaIid ad e de seu misterio. Longe de esse
impasse a prisiona-Ia, a m ulher encontra nele a l iber d ad e de a~ao,
a chave d o camp020 dos dese jos de todas as h istericas espirituosas,
a~ougueiras ou nao, q ue existe m no m undo.E isso q ue Fr eud apreend e num daq ueIes relances com que
surpr eende 0 ver dadeiro, desfazendo, de passagem, as abstra~6es
que os esplritos positivistas gostam de transf or mar na explica~ao
de todas as coisas: no caso, a imi ta~ao, tao car a a Tarde. Dev~-se
6. Vm sonho, pOltanto, e apenas um sonho. Pode-se ate ler , na
pena de u m p sicanalista q ue se met e a ensina r, q ue ele e uma
prod u~ao d o Eu. Isso prova q ue nao se corre gr and e perigo ao
quer er despertar os homens do sonho: ei-lo q ue prossegue a luz
d o d i a, e entre aq ueles que nem se compr azem em sonhar .
Mas, mesmo p or estes, caso se jam psicanalist,as, Fr eud , quanto
ao sonho , d ev e s er lid o, pois de outr o mod o nao e posslvel nem 1 6 . I
20. Lacan faz aqui urn jogo entr e f a clef d u champ e a ex pressao f igur ad a f a
clef de.v champs (a liberd ad e d e ir e vir , a li ber d ad e d e a~ao). ( N.E.)
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empregar no particular a cavilha essencial21 que ele fornece af
da identifica~ao histerica. Se nossa paciente se identifica com
sua amiga, e pOl'esta ser inimitavel no desejo insatisfeito daquelesalmao, que Deus mande para 0 inferno! se nao for Ele a [ 6 2 1 1 1
defuma-Io.
Assim,o sonho da paciente responde a demanda de sua amiga,
que e de ir jantar na casa dela. E nao se sabe 0
que realmentea impele a isso, salvo que ali se janta ber n, se nao e urn fatoque nao escapa a sensibilidade de nossa a~ougueira: e que seumarido sempre fala da amiga com louvor . Ora, magra do jeitoque e, ela nao e feita para agrada-Io, a ele que s6 gosta de carnesroli~as.
Nao teria tambem ele urn desejo que the fica atravessado,
quando tudo esta satisfeito? Essa e a mesma mola que, no sonho,do dese jo da amiga faz 0 insucesso de sua demanda.
Pois, pOl'mais precisamente simbolizada que seja a demanda,
atraves do acess6rio do telefone recem-surgido, nao adianta. 0
telefonema da paciente nao da resultado; tinha gra~a vel' a outraengordar para que seu marido se regalasse com ela.
Mas, como pode uma outra ser amada (nao basta, para que a paciente pense nisso, que seu marido a considere?) pOl' urnhornem que nao pode se satisfazer com ela (ele, 0homem donaco de traseiro)? Eis a questao esclarecida, que e, em tennosmuito gerais, a da identifica~ao histerica.
Assim interpelados, faz muito tempo q ue os psicanalistas naorespondem mais, havendo eles mesmos renunciado a se interrogar sobre os desejos de seus pacientes: eles os r eduzem as demandasdestes, 0 que simplifica a tarefa para conver te-los nos seus pr6prios. Pois se essa e a via do razoavel, ora, eles a adotaram.
Mas acontece que 0desejo nao se escamoteia com toda essafacilidade, por ser visfvel demais, plantado bem no meio do palco,na mesa dos agapes, como aqui, sob a aparencia de urn salmao - por sorte urn belo peixe, e que e s6 apresentar, como se faz nos [627]
restaurantes, sob uma tela fina, para que a suspensao desse veu seiguale aquela a que se procedia no fim dos antigos misterios.
Ser 0 falo, nem q ue se ja urn f alo meio magrelo. Nao esta af
a identifica~ao ultima com 0 significante do desejo?
Isso nao leva jeito de ser evidente no q ue concerne a umamulher, e ha entre nos quem prefira nao ter mais nada a vel'com esse logogrifo. Sera q ue vamos ter que soletrar 0 papel dosignificante, s6 para nos vermos as voltas com 0 complexo decastra~ao e com essa inveja do penis da qual oxa'1a Deus noslivre, quando Freud, havendo chegado a esse calvario, ja nao
sabia como se arranjar, nao divisando para-alem dele senao 0
deserto da analise?Sim, mas ele os levou ate ali, e era urn lugar menos infestado
do que a neurose de transferencia, que constrange voces a
expulsar 0 paciente enquanto the rogam que ande d evagar para
levar suas moscas.22
8. E nessa q~lestaoque se transforma 0sujeito aqui mesmo. Com
o que a mulher se identifica com 0homem, e a fatia de salmaodefumado surge no lugar do desejo do Outro.
Nao bastando esse desejo para nada (como receber , com essaunica fatia de salmao defumado, toda essa gente?), e precisomesmo, no fim dos fins (e do sonho), que eu renuncie a meu
desejo de ofereeel' urn jantar (isto e, a minha busca do dese jod o Outr o, q ue e 0 segr edo do meu). Deu tudo errado, e 0 senhor diz que 0 sonho e a realiza~ao de urn desejo. Como e q ue 0
senhor sai dessa, prof essor?
9. Articulemos, no entanto, 0 q ue estrutura 0 desejo.o dese jo e aq uilo q ue se manifesta no intervalo cavado pela
demanda aquem dela mesma, na medida em q ue 0 sujeito,articulando a cadeia significante, traz a luz a falta-a-ser com 0
apelo de receber seu complemento do Outro, se 0 Outro, lugar
da fala, e tambem 0 lugar dessa falta.
o que e assim dado ao Outro preencher, e que e propriamenteo que ele nao tern, pois tambem nele 0 ser falta, e aquilo a que
se chama amor , mas sao tambem 0 6dio e a ignorancia.E tam bem isso, paix6es do ser, 0 que toda demanda evoca
para-alem da necessidade que nela se articula, e e disso mesmo
21. Usando nesse trecho a formulac;:iio fair e jouer d ans Ie partieulier la eheville
essentielle ... , L acan alude ao idiomatismo pour un trou y avail' vingt eheville.~
(ter r esposla para tudo) e, aU'aves d ele, a Gabr iel Tarde, soci61ogo fr ances q ue
escr eveu em 1890 As leis da imitafiio. ( N.E.) f
22. M oueM e tambem 0 nome da pinta feita com lapis de maquilagem no rasto,
"sinal postic;:o". C hasse I' les mouehes: pedir para ir embora. ( N.E.)
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que 0 sujeito fica tao mais propr iamente privad o quanta ma is a
necessidade articul ad a n a d emanda e satisfeita. '
Mais aind a, a satisfa~ao da necessidade so aparece af como
o engodo em que a demand a de amor e esmagada, remetendo 0
sujeito ao sono em q u e ele freq i-ienta o s lim bos do ser , deixando
q ue este f ale nele. Pois 0 ser da linguagem e 0 nao-ser dos
ob jet os , e 0 f ato de 0 desejo tel' sido desco berto pOI' Fr eud, emseu lugar no sonho, d esde sem pre 0 escandalo d e tod os os
esfor~os d o pensamento de se situar na realidade, basta par a nos
instr uir .
Ser ou nao ser, dormir , son hal', talvez, os pr etensos sonhos mais
simples da cr ian~a (" simples" como a situa~ao analf tica, sem
duvida) mostr am, simplesmente, objetos mir aculosos ou interditos.
Isso visa a uma fun~ao totalmente d iversa daq uela da id enti-
f icac;:ao primaria anter iormente evocad a , p oi s nao se trata d a
assunc;:ao d as insf gnias d o outro pelo su jeito, ma s d a situa~ao d e
o su jei to tel' q ue encontr ar a est r utura constitutiva de seu desejo
na mesma hiancia aberta pelo efeit o dos significantes naq ueles
que par a ele repr esentam 0Outr o, na med ida em que sua demanda
Ihes esta su jeita.Talvez possamos vislum brar aqui, de passagem, a r aza o do
ef eit o d e oculta~ao q ue nos reteve no reconhecimento do desejo
d o sonho. 0dese jo d o sonho nao e assumid o pelo s u je it o q ue
diz [Eu] em sua fala. Articulad o, no entanto, no lugar do Outr o,
ele e di scurso, discurso cuja gr amatica Fr eud come~ou a enunciar
como tal. Assim e q ue o s votos que ele constitui nao tem f lexao
o ptativa para modif icar 0 ind icativo de sua for mula.
Com 0 que se veria, pOI'uma referencia lingiif stica , q ue a q uilo
a q ue s e chama aspecto verbal e, aq ui, 0 do consumad o (verda-
d eir o senti d o da Wunscher fiillung).
E essa ex-sistencia ( Entst ellung)23 do dese jo no s onho q ue
explica que a s ignificancia d o sonho mascare nele 0 dese jo,
enq uanto sua mola se esvaece, simplesmente pOI' ser pro blema-
tico.
10. Mas a cr ian~a nem sem pr e ad or mece assim no seio do ser,
sobr etud o quando 0 Outr o, q ue tambe m tem suas ideias so br e
as necessidades dela , s e intromete nisso e, no lugar daquilo que
ele nao tem, empantur r a-a com a papinha suf ocant e d aq uilo q ue
ele tem, ou seja, confunde seus cuidad os com 0 dom de seu
amor .E a crian~a alimentad a com mais amor que recusa 0 alimento
e usa sua recusa como um dese jo (anor exia mental).
Limites em que se a preend e, como em nenhum outr o lugar ,
que 0 odio retribui a moed a d o amor , mas ond e a ignor ancia
nao e p er d oada.
Afinal d ,' contas, a crian~a, ao se r ecusar a satisfazer a
d emanda d a mae, nao exige que a ma e tenha um desejo fora
d el a, pOl'quanto e essa a via que the falta rumo ao d ese jo?
II. Com efeilo, um d os princf pios decorr entes d essas premissas
e que:
- se 0 dese jo ef etivamente esta no sujeito pela condi~ao,
que fhe e im posta pe la existencia d o discur so, d e que ele f a9a.sua necessid ad e passar pelos d esfilamentos d o significante; e
- se, pOI' outr o lado, como d emos a entend er anteriormente,
abr ind o a dialeti ca d a transf er encia, e pr eciso fundal' a n09ao do
Outr o com maiuscula como send o 0 lugar d e manifesta9ao da
f ala (a outr a cena, eine and ere S chauplat z , d e que f ala Freud na
T r aumdeutung) ,
- d eve-se afirmar que, o br a d e um animal p resa d a linguagem,
o dese jo d o homem e 0 d ese jo do Outro.
12. 0 d esejo se pr oduz no par a-alem d a d emand a, na medida
em que, ao articular a vida do sujeito com suas condi9 0e s, ela
desbasta ali a necessidade, mas tam bem ele se cava em seu
par a-aquem, visto q ue, como d emand a incondicional d a presen~a
e d a ausencia, ela evoca a falta-a-ser so b as tres figuras d o nad a
que constitui a ba se d a demand a d e amor , d o od io que vem
negar 0 ser d o outro e d o indizfvel daquilo que e ignor ado em
seu pleito. Nessa a poria encarnad a - d a qual podemos dizer
em imagem que extrai sua alma pesad a d os r ebentos vivazes d a
23. So bre a qual nao convem esquecer : que esse t ermo e empregado pela primeir a
vez na Trawnd eu[ung a prop6sito do sonho, e que esse empr ego fornece 0
sentido dele e, ao mesmo tempo, 0do termo "diston;;ao" que 0 tr aduz, quando
os ingleses 0 aplicam ao Eu, Observayao que permite julgar 0 usa que se f az
na Fr anya do termo "distor ya o do Eu", pelo qu al os amantes d o r efor yo d o Eu ,
POLICO alertados a d esconf iar dos "falsos amigos" qlle sao as palavr as inglesas
(as palavras, nao e mesmo?, tern tao pOllcaimportancia), entendem simplesmen-
Ie... urn Eu lorcid o.
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tendencia ferida, e seu corpo sutil , d a m or te a tu ali za da na
seq Uencia significante -, 0 dese jo se af irma como condi~aoa bsoluta.
Menos ainda que 0nada que perpassa a ronda das significa~6es
que agitam os h omens, ele e 0 rastro inscrito do transcur so e
como que ,a marca do ferro d o significante no ombro do sujeito
que fala. E menos paixao pura do significado do que pura a~aodo significante, que para no momento em que 0vivente, trans-
formado em signo, a torna insignificante.
Esse momenta d e c orte e assombrado pela forma de urn farrapo
ensangi.ientado: a libra d e carne paga pela vida para faze r d ele [6301
o significante dos significantes, como t al i mp oss fv el d e s er
restituf do a o c or po i maginario; e 0 falo perdido de Osfris em-
balsamado.
13. A fun~ao desse significan te c om o t al , n a bu sc a d o desejo,
real me nt e e , c om o a s it uo u F reud , a c ha ve d o q ue e p re ci so
saber para terminar suas analises: e nenhum artiffcio suprira 0
que falta para alcan~ar esse fim.
Para dar uma ideia disso, descreveremos urn incid ente ocolTido
no fim da analise de urn obsessivo, ou seja, apos urn longo tr a balho
em q ue n ao s e f ic ou c ontente em "analisar a agressivid ade do
sujeito" (em out ra s palavr as, em se lixar par a suas agress6es
imagimirias), mas em que se 0 fez reconhecer 0lugar que ele havia
assumido no jogo da destr ui~ao exercida por urn de seus pais sobre
o dese jo d o ou tr o. Ele adivinha a impotencia em que se encontra
d e desejar sem destruir 0 Outr o e, com isso, destr uir seu propr io
d ese jo, na medid a em que ele e dese jo do Outr o.
Para chegar a isso, foi-Ihe r evelad a sua manobr a ininterrupta
no intuito de proteger 0 Outro, esgotando no tr abalho da trans-
fer encia (Durcharbeitung) todos os artiffcios de uma verbaliza-
~ao que distingue 0 outro do Outro (pequeno e grande) e que,do camarote reservado ao tedio do Outr o (grande), faz com q ue
ele organize os jogos circenses entre os dois outros (0 p equeno
a e 0Eu, sua sombra).
Seguramente, nao basta gir ar em c f r culos nesse canto bem
explor ado da neurose obsessiva para leva-Io a esse cr uzamento,
nem conhecer este ultimo para cond uzi-Io ate la, por urn caminho
que nunca sera 0mais direto. Para isso, nao e pr eciso a penas 0
tra~ad o d e ur n labirinto reconstr ufdo, nem tampouc o u rn l at e d e
mapas ja desenhados. E preciso, antes de mais nada, possuir a
combinator ia geral q ue Ihes rege a var iedade, sem duvida, mas
que, de maneira ainda mais sutil, nos da conta dos trompe-l'oeil ,
ou melhor, d as mudan~as a vista do labirinto. Pois nao faltam
nem uns nem outros nessa neurose obsessiva, arquitetura de
contrastes ainda nao muito acentuados, e que nao basta atribuir
a formas de fachada. No meio d e tantas atitudes sedutoras,insurretas e impassfveis, deve-se captar as angustias ligadas aos
desempenhos, os ressentimentos que nao impedem as generosi-
d ades (afirmar que f alta oblatividade aos obsessivos!), as incons- [631]
tancias mentais que sustentam fidelidad es inquebrantaveis. Tudo
isso se movimenta solidariamente numa analise, nao sem afrontas
pontuais; 0grande comboio prossegue, no entanto.
Eis portanto nosso sujeito, esgotados todos os seus recursos,
no momenta de tentar nos apanhar em uma rodada de bonneteau24
muito especial, pelo tanto que revela d e uma estrutura do desejo.
Digamos que, sendo de idade madura, como se diz comica-
mente, e de espfrito desiludido, ele nos lud ibriaria de born grado
com uma menopausa que seria sua para se justificar uma impo-
tencia ocorrida e denunciar a nossa.
De f ato, as redistribui~6es da libido nao se dao sem custar a
alguns objetos seu posto, mesmo q ue ele seja inamovfvel.
Em sf ntese, ele e impotente com a amante e, pensando em se
val er d e suas descobertas sobre a func;ao do terceiro potencial
no casal, prop6e-Ihe que ela durma com outro homem, para ver
no q ue da.
Ora, se ela fica no lugar em que a neurose a instalou e se a
analise the diz respeito nesse ponto, e pelo acordo que sem duvida
ela fez ha muito tempo com os desejos d o paciente, porem, mais
ainda, com os postulados inconscientes q ue eles sustentam.
Por isso, nao ha de surpreend er que, sem delongas, ou seja,
na mesm a noite, ela tenha 0 seguinte sonho, q ue relata inconti-nenti a nosso d es peitad o:
Ela tern ur n falo e sente-lhe a f or ma sob suas roupas, 0que
n ao a i m pede de ter tambem uma vagina e, acima de tudo, de
d esejar que esse falo a penetre.
24. Bonnet eau: jogo em que tr es car tas de baralho SaD m ovidas com muita r apidez
para q ue se adivinhe ond e esta a qu e foi pr eviamente mostrada. (N.E.)
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Nosso paciente, ao ouvir isso, r ecu per a no ato seus recur sos
e 0 demonstra brilhantemente a sua sagaz companheira:
Que interpretac;ao se indica aqui?
Adivinhamos, peia demanda que nosso paciente fez a sua
amante, que ele nos pede ha muito tempo para ratificar na
homossexualidade recalcada.
Efeito prontamente previsto pOl' Freud a partir de sua desco-
ber ta do inconsciente: dentre as demandas regressivas, uma de
fabulas estara saciada pelas verdades d ivulgadas pela analise.
De volta da America, a analise su perou suas expectativas.
Mas n6s, penso eu, ficamos antes rabugentos em relac;ao a
esse ponto.
O bservemos que a sonhadora ja nao e complacente, uma vez [6321
que seu roteiro afasta qualquer coad juvante. 0 que guiaria ate
mesmo um novato a se fiar somente no texto, se ele se formou
em nossos princfpios.
Nao a nalisamos seu sonho, contudo, mas 0 efeito dele em
nosso paciente.
Mudarfamos nossa conduta, fazendo-o IeI' nele a seguinte
verdade, menos difund ida pOl' ser, na hist6ria, uma contribuic;aonos sa: que a recusa da castrac;ao, se ha algo que com ela se
parec;a, e, antes de mais nada, uma recusa da castrac;ao do Outr o
(da mae, em primeiro lugar ).
Opiniao verdadeira nao 6 ciencia, e consciencia sem ciencia
nao passa de cumplicidade de ignorancia. Nossa ciencia s6 se
transmite ao articular opor tunamente 0 par ticular .
Aqui, 6 u ni ca a opor tunid ade par a mos tr ar a figura q ue
enunciamos nestes ter mos: q ue 0dese jo inconsciente 6 0dese jo
do Outro - uma vez que 0 sonho 6 feito para satisfazer 0dese jo
do paciente para-al6m de sua demanda, como 6 sugerid o pelo
fato d e ele ter sucesso. Nao 6 pOl' nao ser um sonho do paciente
que ele tem menos valor para n6s, se, por nao se d irigir a n6s,
como acontece com 0analisado, dirige-s e ta o bem a ele quantoo poderia fazer 0 analista.
Essa 6 a ocasiao de fazer 0 paciente apreender a f unc;ao de
significant e q ue 0 falo tem em seu dese jo. Pois 6 como tal q ue 0
falo oper a no sonho, para faze-lo recupel~r 0 uso d o or gao que
ele r epr esenta, com o ir emo s d emonstrar atrav6s do lugar visad o
pelo sonho na estr utur a em que seu desejo esta a pr isionado.
AI6m de a mulher ter sonhad o, ha 0far o de ela Ihe f alar d isso.
Se ness e d iscurso ela s e a presenta como teneto um f alo, ser a s6
por isso que the e r estitufdo seu valor e r 6tico? Ter um falo, com
efeito, nao basta para Ihe restituir uma posic;ao de objeto que a
aproprie a uma fantasia a partir da qual nosso paciente, como
obsessivo, possa manter seu desejo num impossfvel que preserve
suas condic;6es de metonfmia. Estas regem, em suas escolhas,
um jogo de evasao que a analise perturbou, mas que a mulher
restaura, aqui, por uma astucia cu ja rudeza oculta um refinamento
que 6 a conta certa para ilustrar a ciencia inclusa no inconsciente.
Isso pOl'que, par a nosso paciente, de nada serve ter esse falo,
ja que seu dese jo 6 se-Io. Eo desejo da mulher, aq ui, cede-o ao
seu, mostrando-Ihe 0que ela nao tem.
A observac;ao de todo 0 mundo continuara dando grande [633]
importancia ao anuncio de uma mae castradora, por menos que
a isso se pr este a anamnese. E ela se exi be aqui como convem.
Acredita-se, portanto, ter tudo completo. Mas nada temos a
fazer com isso na interpretac;ao, na qual invoca-Ia nao levaria
muito longe, mas recolocaria 0 paciente no exato ponto em que
ele s e i ns inua en tr e um des ej o e 0 seu desprezo por este:
certamente, 0menosprezo de sua mae recalcitrante, a depreciar
o desejo demasiado ardente cuja imagem seu pai Ihe legou.
Mas isso Ihe ensinaria menos do que 0que Ihe diz sua amante:que, em seu sonho, ter esse falo nao fez com que 0 desejasse
menos. Com 0que, 6 sua pr6pria falta-a-ser que 6 tocada.
Falta que prov6m de um exodo: seu ser esta sempre alhures.
Ele 0 " pas de lado" , por assim dizer . Acaso dizemos isso para
explicar a dificuldade do dese jo? - Ou melhor, que 0 desejo
seja de dificuldade.
Nao nos deixemos enganar, portanto, com a garantia que 0
sujeito recebe, pelo fato de a sonhadora ter urn falo, de que ela
nao tera que toma-Io dele - nem q ue seja para apontar douta-
mente que essa 6 uma gar antia forte demais para nao s e r f r agil.
Pois isso 6 justamente desconhecer que essa garantia nao
exigiria tanto peso se nao tivesse que se imprimir num signo, e
que 6 ao mostrar esse signa como tal, ao faze-Io aparecer alionde ele nao pode estar , q ue ela adquire seu ef eito.
A condic;ao do dese jo que retem eminentemente 0obsessivo
6 a pr6pria marca pela qual ele 0descobre estragado, pela origem
d e seu objeto: 0contr a bando.
Singular modo da gr ac;a de s6 se re presentar pelo desmentido
da natur eza. Nele se esconde urn benef lcio q ue, em nosso su jeito,
sempre faz antecamara. E 6 ao manda-Io em bor a q ue ur n d ia ele
o deixar a entrar .
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14. A imporUincia de preservar 0 lugar do d esejo na direvao do
tratamento requer que esse lugar seja orientado em relavao aos
efeitos da demanda, os unicos atualmente concebidos como
princfpio do poder da analise.
Que, com efeito, 0 ato genital tenha que encontrar seu lugar
na articulavao inconsciente do desejo, e essa a descoberta da
analise, e foi precisamente pOl' isso que nunca pensamos em [ 6 3 1 1 1
ceder a ilusao do paciente de que facilitar sua demanda em prol
da satisfa<;:ao da necessidade de algum modo seu problema
resolveria. (E muito menos autoriza-lo com 0 classico coitus
normalis dosim repetatur.)
POl' que ha quem pense de maneira diferente, julgando mais
essencial para 0 progresso da analise operar seja la como for
com outras demandas, a pretexto de que estas seriam regressivas?
Tornemos a partir mais uma vez de que, antes de mais nada,
e para 0 sujeito que sua faIa e uma mensagem, pOl'que ela se
produz no lugar do Outro. Que, em virtude disso, sua pr6pria
demanda provenha dele e seja formulada como tal nao significa
apenas que ela esta submetida ao c6digo do Outro. E que e desselugar do Outro (ou mesmo de sua epoca) que ela data.
Coisa que se I e com clareza na fala mais Iivremente proferida
pelo sujeito. Sua mulher ou seu mestre, para que recebam sua
confianva, e com um "tu es .. . (uma ou 0 outr o)" que ele os
invoca, sem declarar 0 que ele pr6pr io e, a nao ser murmurando
contr a si mesmo uma ordem de assassinato que 0equfvoco do
frances torna audfvel.
o desejo, pOl' sempre transparecer na demanda, como se ve
aqui, nem pOl' isso deixa de cstar para-ale m. E e st a t am be m
para-aquem de uma outra demanda em que 0sujeito, repercutindo
no lugar do outro, menos apagaria sua dependencia pOl' um
acordo de retorno do que fixaria 0 pr6prio ser q ue ele vem propor ali.
Isso quer dizer que e de uma fala que suspend a a ma rc a q ue
o sujeito recebe de seu dito, e apenas dela, q ue poderia ser
recebida a absolvi<;:ao que 0devolveria a seu desejo.
Mas 0 desejo nada e senao a impossibilidade dessa fala, que,
pOl' responder a primeira, nao consegue fazer outra coisa senao
reduplicar sua marca, consumando a fenda (Spaltung) que 0
su jeito sofre par s6 ser sujeito na medida e'in que fala.
(E 0 q ue simboliza a barra oblfqua, de nobre bastardia, com
que assinalamos 0 S d o s u jeito, para grafa-Io como sendo esse
sujeito: $.)25
A regr e ss ao q ue s e coJoca em primeiro plano na analise [635]
(regressao temporal, sem duvida, mas de&de que se esclare<;:a
tratar-se do tempo da rememora<;:ao) refere-se apenas aos signi-
ficantes (orais, anais etc.) da demanda e s6 concerne a pulsaocorrespondente atraves deles.
Reduzir essa demanda a seu lugar pode efetuar no desejo uma
aparencia de reduvao, atraves da atenua<;:ao da necessidade.
Mas isso nao pass a, antes, do efeito do peso do analista. Pois,
se os significantes da demanda sustentaram as frustrav6es em
que 0desejo se fixou (a Fixierung de Freud ), e somente no lugar
deles que 0 desejo e sujeitador .
Quer se pretenda frustradora ou gratificante, toda resposta a
demanda na analise conduz a transferencia a sugestao.
Ha entre transferencia e sugestao - essa e a descoberta de
Freud - u ma r el av ao : e q ue a transferencia tambem e uma
sugestao, porem uma sugestao que s6 se exerce a partir da
demanda de amor , que nao e demanda de nenhuma necessidade.o fato de essa demanda s6 se constituir como tal na medida em
que 0sujeito e sujeito do significante, eis 0que permite utiliza-Ia
mal, reduzindo-a as necessidades das quais esses significantes
sao tornados de emprestimo, coisa q ue os psicanalistas, como
vemos, nao deixam de fazer .
Mas nao se deve confundir a identificavao com 0significante
onipotente da demand a, do qual ja falamos, e a identificavao
com 0o bjeto da demanda de amor . Esta tambem e uma regressao,
e Freud insiste nisso ao fazer dela a segunda modalidade da
identificavao, que ele distingue em sua segunda t6pica ao escrever
a Psicologia das massas e amilise do eu. Mas trata-se d e um a
outra regressao.
Nela e st a 0 exit qu e p er mi te q ue s e s ai a d a s ug es ta o. A
identificavao com 0objeto como regressao, pOl'partir da demanda
25. Cf . 0 ($OD) e 0 ($Oa) de nosso grafo, aqui retomado na "Subversao do
sujeito" , p.83! 0 sinal r egistra as rela~6es envo!vimento-desenvo!vimento-con-
jlln~ao-dis jun~ao. As li ga~6es que ele signif ica nesses d ois p arenteses permitem
ler 0 S ban'ado: S como fading no cor te da demand a, S como fad ing diante do
o bjeto do desejo. Ou se ja, nomina!mente, a pu!sao e a fantasia.
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d e amor , abre a seqUencia da tr ansf er encia (abr e-a, em vez d e
f echa-la), ou se ja, a via em que pod er ao ser d enunciad as as
id entif ica<; 6es q ue, d etend o e ssa r egres sa o, a escand em.
Mas essa regr e ss ao d e pende t ao pouco da necessid ad e na
d emanda q uanto 0dese jo sadic o e ex plicado pela demand a anal,
pois acr editar q ue 0cf balo e um objeto nocivo em si e somente
um engod o corr iqueir o de compreensao. (En tend o com preensao,aqui, no sentido nefasto cu jo quinhao e extr afdo d e Jaspers: "Voce
com preend e ... " - exor d io mediante 0 q ual acredita impor-se a
quem nad a com preende aquele que nad a tem a Ihe dar para
com preend er .) Mas a d emand a d e s er uma mer da, eis 0q ue torna
pr eferfvel q ue nos coloquemos meio d e esguelha q uando 0sujeito
se d escobre nela. Desgr a<;a d o ser , evocada mais acima.
Que m n ao sa be levar suas analises didaticas ate 0 ponto de
vir agem em q ue se revela, tr emulamente, q ue tod as as demandas
q ue se articula ra m na a na lise - e, mais que qualq uer out ra , a
que esteve em seu pr incf pio, a d e tor nar-se analista, q ue entao
csgo ta s eu pr azo - nao passaram d e transferencias destinad as
a manter instaurad o um dese jo instavel ou duvidoso em sua problematica, este nad a sa be d o que e p re ci so o bter do su jeito
par a p od er garantir a d ire<;ao d e uma analise, ou par a sim ples-
mente f azer nela uma inter preta<;ao com conhecimento de causa.
Essas consid er a<;6es nos confirmam que e natural analisar a
transfer encia. Pois a t r ansf er encia em si ja e analise d a sugestao,
na medida em que coloca 0sujeito, com r es peito it sua demand a,
numa posi<;ao que ele deriva unicamente de seu d ese jo.
E somente em prol d a manutenvao d esse enquadr amento d a
transf er encia que a frustravao deve pr evale ce r sobre a gr atificavao.
A resistencia do sujeito, quando se op6e i t sugestao, e apenas
d es ej o d e man te r s eu d esejo. Como tal, conviria incluf -la na
categor ia de tr ansfer encia positiva, ja que e 0
desejo que mantema dir evao da analise, for a dos ef ei to s d a d emand a.
Estas proposiv6es, com o s e v e, a lt er am alguma coisa nas
opini6es admitid as nessa materia. Basta que levem a pensar que
em algu m l ugar as car tas f oram mal dadas e ter emos atingido
nossa meta:
Freud, d esd e seu estud o demonstrativo d os fen6menos subje-
tivos - sonhos, lapsos e chistes -, d os quais nos diz f or mal-
mente que Ihes saD estruturalmente id enticos (mas e claro q ue
tud o isso, par a nossos d outos, esta muito a baixo d a experie.ncia
que eles adquiriram - e por que caminhos! - par a que seq uer
pensem em voltar a esse assunto), Fr eud , dizfamo s, f r isou cern
v ez es: o s sintomas sao so br ed eter minad os. Para 0 bajulad or empenhado na pr o pagand a cotidiana q ue nos promete par a ama-
nha a reduvao d a analise a suas bases biologicas, isso nao traz [63il
nenhuma dificuld ade; Ihe e ta o c omo do proferir q ue ele nem
seq uer 0 escuta. Como assim?
Deixemos d e lad o minhas o bser vav6es de que a so br ed eter -
minavao so e estr itamente concebf vel na estrutura da linguagem.
Nos sintomas neur oticos, que q uer dizer isso?
Quer dizer que, nos efeitos q ue r espond em num sujeito a um a
determinad a demand a, vem interferir o s de uma posi<; ao em
relavao ao outr o (aqui, 0outr o, seu semelhante) que ele sustenta
enquanto su jeito.
"Que ele sustenta enquanto sujeito" significa que a linguagem
lhe per mite consider ar-se como 0 maquinista ou 0 d iretor d e
cena da ca ptura imaginar ia d a qual, d e outr o mod o, ele seria
apenas a mar ionete viva.
A f antasia e a pr o pr ia ilustr avao dessa p ossibilid ad e or iginal.
Eis por que qualquer tentavao de r eduzi-la i t imagina<;ao, na
impossibilidade d e admitir 0 pr o prio fracasso, e um contra-senso
per manente, um contr a-senso do q ual a escola kleiniana, que
nisso lev ou a s coisas muito longe, nao sai, por nao poder nem
mesmo entrever a categoria do significante.
Entr etanto, uma vez d efinid a como imagem utilizad a na es-
trutur a signif icante, a id eia de f antasia inconsciente nao mais
cr ia d ificuldad e.
Digamos que a f antasia, em seu uso fundamental, e aquilomediante 0 qual 0 sujeito se sustenta no n lvel de seu d ese jo
evanescente, evanescente porquanto a propria satisfavao da d e-
mand a the subtr ai seu o bjeto.
Oh! mas os neuroticos , e le s sao tao delicados, e como agir?
Eles sao incompreensfveis, essa gente, palavr a de pai de famflia.
E justamente 0que se tem dito ha muito tempo, desde sempre,
e os analistas continuam nessa. 0 pateta chama a isso d e 0
irracional , n ao h av en d o seq ue r percebid o que a descoberta de
15. Aqui se colocam alguns comentar ios so bre a formavao d os
sintomas.
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~r eu~ se homologa ao comec;ar tomando pOl' certo, 0que d er r uba
1I11edJatamente nosso exegeta, q ue 0real e r acional, e d epois, ao
con statal' que 0 r acional e r eal. Med iante 0q ue ele pod e articular
q~l~ 0 que se a pr esenta como pouco razoavel no desejo e um
delto da passagem do racional como r eal, isto e, da linguagem,
ao re~l, enq uanto 0 racional ja tr ac;ou af sua circunvalac;ao.
POlS 0 parad oxo do dese jo nao e privilegio do neur 6tico,
tratando-sc, antes, de que ele leva em conta a existencia do
parad oxo em sua maneira d e confr onta-Io. Isso nao 0classif ica [63K I
nad a mal na ord em da dignid ad e humana e nao honr a o s analistas
med focr es (isto nao e uma a pr eciac;ao, mas ur n id eal formulado
n~m ~oto f or mal ~os interessad os), que, q uanto a esse aspecto,
I~a.oatll1gem essa d lgnidad e: sur pr eend ente d istanc ia , q ue sempr e
1"01 notada em palavras enco ber tas pelos analistas ... outros, sem
que se saiba como distinguir estes ultimos, ja q ue eles nunca
ter iam imaginado faze-I o p or s i pr 6 prios, se antes nao tivessem
tido q ue se opor ao descaminho dos primeir os.
I? E, pois, a posic;ao do neur 6tico em relac;ao ao dese jo -
d lgamos, para encur t ar , a f antasia - que vem marcar com sua pr esenc;a a r esp ost a do s u jeito a d emand a, ou, d ito de outra
maneir a, a si gnif icac;ao de sua necessidad e.
. Mas essa fant~sia nad a tem a ver com a significac;ao em que
II1terfere. Essa slgnif icac; ao, com efeito, pr ovem do Outr o, na
med ida em q ue dele depende q ue a d emand a seja atend id a. Mas
a fantasia s6 chega a isso pOl' se encontr ar na via de retor no d e
urn cir cuito mais amplo, aq uele que, levando a demanda aos
limites do ser , faz com que 0sujeito se interr ogue sobre a f alta
em , que ele aparece a si mesmo como dese jo.
E i _ ncrfvel q ue, embor a d esd e sempr e gr itantes, alguns tr ac;os
da , a~ao do ,ho.mem como tal nao tenham sido esclar ecid os pela
anahse. Ref -enmo-nos aq uilo pelo qual essa ac;ao d o homem ea gesticulac;ao q ue se ap6ia em sua hist6ria rotineir a. Essa f ace
de proeza, de desem penho, de saf da estr angulada pelo sfm bolo
- 0q ue pOl'tanto a torna sim b6lica (masnao no sentido alienante
q ue esse termo vulgarmente denota) -, aq uilo, enfim, pelo qual
se ~ala em passagem ao ato, esse R ubicao cujo dese jo pr6pr io
esta sem pr e camuf lado na hist6ria em benef fcio de sell' sucesso
tud o aquilo a que a experiencia d o que 0 analista chama d ~
act ing out the da ur n acesso quase ex perimental, ja q ue herd a
disso todo 0 artiffcio, tud o isso, na melhor d as hip6teses, 0
analista 0 rebaixa a uma r ecafd a d o sujeito, e na pior, a uma
falha do ter apeuta.Ficamos estupefatos com esse falso pud or do analista diante
da ac;ao, em que por certo se dissimula uma vergonha verd ad eira:
a que ele ter n de uma ac;ao, a sua, uma dentr e as mais elevadas,
q uando ela cai na a bjec;ao.Pois, afinal, que acontece s enao isso, quand o 0 analista se [639]
interp6e de mod o a d egr ad ar a mensagem d e tr ansferencia, que
ele esta ali par a interpr etar , numa signif icac;ao f alaciosa d o real
q ue nao passa de mistif icac;ao?
Porque 0 ponto em q ue 0 analista de ho je pretend e ca ptar a
transferencia e a distancia que ele def ine entre a fantasia e a
chamad a resposta ad a ptad a. Adaptada a q ue, s enao a demanda
do Outr o, e em q ue teria essa d emanda maior ou men or consis-
tencia do que a resposta o btida, se ele nao se julgasse autor izado
a d enegar qualquer valor a f antasia pelo pa dr ao q ue retir a de
sua pr 6pria r ealid ade?Aqui, 0 pr 6pr io caminho pelo q ual ele avanc;a 0 trai, quando
Ihe e preciso, por essa via, intr oduzir -se na fantasia e se oferecer
como h6stia imaginar ia a f icc;6es em que pr olifer a urn desejo
embrutecido, Uliss es inesperad o q ue se oferece como pasto para
q ue prosper e 0chiqueir o de Cir ce.
E nao venham d izer que estou aq ui d if amand o q uem quer q ue
se ja, pois esse e 0 ponto exato em q ue aq ueles mesmos que nao
conseguem ar ticular de outr o modQ sua pr atica se preocupam e
se interrogam: as fantasias, nao sera nelas que f or necemos ao
sujeito a gratificac;ao por ond e soc;obra a analis e? Eis a p er gunta
q ue eles se repetem, com a insistenci a s em saf d a de urn tormento
do inconsciente.
17. Assim e q ue, quand o muito, 0 analista d e ho je deixa seu paciente no ponto d e identificac;ao pur amente imaginario do qual
o histerico permanece cativo, pOl'quanto sua fantasia implica seu
visgo.Isto e, no ponto exato do qual Freud, em toda a pr imeir a parte
de sua carreira, quis arr anca-Io com demasiad a pr essa, for c;ando
o a pelo do amor no o bjeto da id entif icac;ao (no tocante a E lisa beth
yon R., 0 cunhado [5]; quanto a Dora, 0 Sr . K.; no tocante it
jovem homossexual d o caso d e homossexualid ade feminina, ele
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enxergou melhor, mas tropec;ou ao se considerar visado no real
pela transferencia negativa).
Foi preciso 0capitulo da Psicologia das massas e analise do
eu sobre "a identi ficac;ao" paJ'a que Freud distinguisse claramente
esse terceiro modo de identifieac;ao, eondicionado por sua func;ao
de sustentac;ao do desejo e especificado, pOl·tanto, pela indife-
renc;a de seu objeto.Mas nossos psicanalistas insistem: esse objeto indiferente e
a substaneia do objeto, eomei meu eorpo, bebei meu sangue (a
evocac;ao profanatoria e da Iavra deles). 0misterio da redenc;ao
do analisado esta nessa efusao imaginaria, da qual 0 analista e [64 01
a oferenda.
Como e que 0 Eu de que eles pretendem se valer aqui nao
sueumbiria, de f ato, it alienac;ao forc;ada a que eles induzem 0
sujeito? Os psieologos sempr e souberam, desde antes de Freud,
ainda que nao 0 tenham dito nesses termos, que, se 0desejo e
a metonimia da falta-a-ser, 0Eu e a metonimia do desejo.
E assim que se opera a identifieac;ao f inal de que os analistas
se vangloriam.
S e e d o E u o u d o S u pe re u d o p ae ie nt e q ue se t ra ta , e le s
hesitam, ou antes, diriamos, nao estao pr eoeupados com isso,
mas aquilo com que 0 paeiente se identifiea e com 0 Eu forte
deles.
Freud previu muito bem esse r esultado no artigo citado ha
poueo, mostrando 0 papel d e ideal q ue 0 ma is insignifieante
objeto pode assumir na genese do lider .
Nao e it toa que a psieologia analftiea orienta-se c ada ve z
mais para a psicologia de grupo, ou ate para a psieoterapia do
mesmo nome.
Observemos os efeitos disso no proprio grupo analitico. Nao
e verdade que os analisados a titulo did <itieo se eonformem itimagem de seus analistas, nao importa em que nivel se queira
apreende-Ia. Antes, e entre si que os analisados de urn mesmo
analista se ligam, por urn trac;o que po de ser totalmente secun-
d ar io n a e eo no mi a d e e ad a u rn , m as n o q ua l se a ss in al a a
insuf ieieneia do analista com respeito a seu trabalho.
E desse modo q ue aquele para quem 0 problema do d esejo
reduz-se a suspensao d o veu do med o deixa envoltos nessa
mortalha todos a q ueles a quem eonduziu. '
18. Eis-nos, pois, no princf pio malig~1026 desse poder sempre
passive I d e ur n direeionamento eego. E 0 poder de fazer 0 bem
_ nenhum poder tern outro fim, e e por isso que 0 poder nao
tern fim. Mas aqui, trata-se de outra coisa, trata-se da verdade,
da unica, da verdade sobre os efeitos da ver d a de . De sd e q ue
Edipo enveredou por esse caminh o, e le j a r enunciou ao poder.
Para onde vai, pOitanto, a direc;ao do tratamento? Talvez basteinterrogar seus meios para defini-Ia em sua retidao.
Observe-se: [641]
I. Que a fala tern aqui todos os poderes, os poderes especiais
do tratamento;2. Que estamos muito longe, pela regra, de dirigir 0 sujeito
para a fala plena ou para 0diseurso coerente, mas que 0deixamos
livre para se experimentar nisso;
3. Que essa liberdade e 0 que ele tern mais dificuldade de
tolerar;4. Que a demanda e propriamente aquilo que se eoloca entre
parenteses na analise, estando excluida a hipotese de que 0
analista satisfac;a a qualquer uma;
5. Que, nao sendo colocado nenhum obstaculo it declaraC;ao
do desejo, e para la que 0 sujeito e dirigido e ate canalizado;
6. Que a resisteneia a essa declarac;ao, em ultima instancia,
nao pode ater-se aqui a nada alem da ineompati bilidade do desejo
com a fala.
Proposic;6es com que talvez ainda haja alguns, mesmo em minha
audiencia costumeira, que se espantem por encontrar em meu
discurso.Percebe-s e a qu i a a rd en te t en ta c;ao que deve ser , para 0
analista, responder, nem q ue seja urn pouco a demanda.
Mais ainda, como impedir 0su jeito de the atri buir essa resposta,
so b a forma da demanda d e eurar, e de conformidade com 0
horizonte de urn discurso que ele Ihe imputa com tao maior direito
q uanto nossa autoridade 0 ter n assumido a tres por dois?
Quem nos livrara, doravante, desse manto de Nesso que para
nos mesmos tecemos: pOl'ventura a analise atende a todos os
26 . Malin , que t ambem pode signif icar "malicioso" , "caustico" , "ardiloso" etc.
(N.E.)
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d esid er at a d a demand a, e pOl' nOl'mas difundid as? Quem varr en'i
esse estrume d escomunaI d os esta buIos de Augias, a literatura
analf tica?
A que siIencio d eve agora o brigar -se 0analista par a evid enciar ,
acima d esse pf ll1tano, 0 d edo er guid o do Sao loao de Leonar d o,
para q ue a interpr eta~ao reencontre 0 horizonte d esabitad o do
ser em que d eve se d esd o br ar sua virtude alusiva?
19, Ja que se tr ata d e tomar 0 dese jo e que ele so pod e ser
tor nad o ao pe d a letr a, pOl'q uanto sac as r ed es da letr a que
d eterminam, q ue so br ed eterminam seu lugar d e passar o celeste,
como nao exigir d o passarinheir o que ele se ja, antes d e mais
nad a, ur n letr ado?
Da par te" literar ia" da o br a d e Freud , como urn pr ofessor d e
liter atura em Zurique q ue come~ou a s oletra-la, quem dentre nos
tentou ar ticular a im por tancia?
Isso e apenas uma indica~ao. Vamos adiante. Questionemos
o que d eve acontecer com 0 analista (com 0 "ser " d o analista)
q uanto a seu pro pr io d ese jo.
Quem ten'i ainda a ingenuidad e de se ater , no tocante a F reud ,a imagem d e bur gues bem situad o de Viena que es pantou seu
visitante Andr e Br eton, por nao se aureolar d e nenhum convf vio
com as Menad es ? Agor a q ue ja nao temos senao sua o bra, acaso
nao r econheceremos nela ur n r io de f ogo que nad a d eve ao dacho
ar tif icial de Fr an~ois Mauriac?
Quem sou be melhor q ue ele, declar and o seus sonhos, d esf iar
a cor da em q ue d esliza 0 anel q ue nos une ao ser, e fazer luzir
entre as maos f echad as que 0 pass am de u mas as outras, no
jogo-d o-anel da paixao humana, s eu breve f ulgor ?
Quem tr ove jou como esse homem de gabinete contr a 0a~am-
bar camento d o gozo por aq ueles que amontoam sobr e os ombr os
d os outr os os far dos d a necessid ad e?
Quem, tao intr e pid amente q uanto esse clfnico a pegad o aoterr a-a-terr a do sof rimento, interrogou a vida em seu sentid o, e
nao par a d izer que ela nao 0 tern - maneir a c omod a d e lavar
as ma os - mas par a dizer q ue ter n a penas ur n, ond e 0 d esejo
e car regad o pela morte?
Homem de d ese jo, de urn d ese jo que ele acompanhou a
contr agosto pelos caminhos ond e ele se mira no sentir, no
d ominar e no sa ber , mas d o q ual soube desvend ar , somente ele,
q ual urn iniciad o nos antigos misterios, 0 sighificante fmpar :
esse f alo 0 q ual r ece be-lo e da-lo s ac iguaImente impossf veis
para 0 neurotico, q uer ele sai ba q ue 0 Outro nao 0 ter n o u q ue
o ter n, pois, em ambos os casos, seu dese jo esta alhur es - em
se-lo -, e pOl'q ue e pr ecise que 0 homem, macho o u f emea,
aceite te-lo e nao te-lo, a par tir d a descoberta de q ue nao 0e.
Aqui se inscreve a Spaltung derradeira pela q ual 0 sujeito s e
ar ticula com 0Logos, e sobre a q ual Fr eud come~ando a escr ever [12] nos ia d ando, na ultima aur ora de uma o br a com as d imens6e~
d o s er , a solu~ao d a analise" inf inita", quand o sua mor te ah
veio a por a palavr a Nad a.
Este relatorio e uma seleta d e nosso ensino. Nosso d iscur so no Congr esso e as
respostas q ue ele recebeu substituiram-no em sua seq Uencia.
Nessa seqUencia articulamos ur n graf o que ar ticula com pr ecisao as d ire~6es
aqui propostas para 0 campo d a analise e par a sua manobr a.
Damos aqui, classif icad as por ord em alfabetica d e autor es, as referencias a
que nosso te xto r emete atr aves dos numeros colocados entr e colchetes.
Usamos as seguintes a br eviatur as:
GW : Ge.wl1unelt e W ak e , d e Freud, edi~ao d a Imago Pu blishing d e Lond r es.
o numer o r omano su bseqUente indica 0volume.
SE : S tandard E dition , tr adu~ao inglesa d essas o bras, editada pela Hogarth
Pr ess de Lond r es. Mesma obser va~ao. [ ESB par a a e d i~ao em portugues.]
U P: I nt ernational Journal o f Psychoanal ysis.
T he PQ: T he Ps ychoanal yt ic Quart erl y.
La P DA: livro intitulad o La ps ychanal yse d' au jour d ' hui , pu blicad o peta PUF,
ao qual nos r ef erimos unicamente pela sim plicid ad e ingenua com que nele se
apr esenta a tend encia a degrad ar , na psicanalise, a d ir e~ao d a analis e e o s
principios d e seu pod er . O br a d e dif usao par a 0 exter ior, sem duvid a, mas
tam bem, no interior, de obstr u~ao. Assim, nao c itar emos seus a utores, q ue nao
inter vem aq ui por nenhuma contr i bui~ao propriamente cientif ica.
II] A braham, Karl, "Die psychosexuellen Dif fer enzen d er Hysterie und d er
Dementia praecox" (I Congr esso Internacional d e Psicanalise, Salz bur go, 26 de
abril de 1908), Z entr alblall fiir N er venheilkund e und Psychiat rie, 2Q
cad , de
julho de 1908, Neue Folge, vo1.l9, p.521-33, e in Klinische Beitr dge zur
I J s ychoanal yse (Int. Psych, Ver lag, Lei pzig-Viena-Zurique, 1921): "The Psy-
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cho-sexual D if f er ences between Hysteria and Dementia Praecox", S elect ed
Pa pers , Hogarth Pr ess, p.64-79.
[2] Dever eux, Geor ges, "Some Criter ia for the Timing of Confrontations and
Inter pr etations", a br il d e 1950, UP, XXXII, I Uaneiro d e 1951), p.19-24.
[3] Fer cnczi, Sandor , "Intr o jektion und Obertragung", 1909, Ja r buch Iii I' ps y-
choanal ylische For schungen , I, p.422-57; "Introjection and T r ansfer ence", S ex
in Ps ychoanal ysis , Nova York , Basic Book s, p.35-93.
[4] Fr eud , Anna, "Das Ich und die A bwehrmechanismen", 1936, in ca p.lV,
"Die A bwehrmechanismen". Cf . "Ver such einer Chronologie", p.60-3 ( Int ern.
ps ychoanal. Ver lag, Viena, 1936). [0 ego e os mecanismos d e d e f esa, R io d e
Janeir o, Civilizar ;:iio Br asileira, 6lled., 1982.]
[5] F r eud , Sigmund , S lUdien i iber H yst er ie, 1895, G W, I, Fall Elisabeth von R .,
p.196-251, es pecialmente p.125-7; S rudies on Hy.H er ia, S E, II, p.158-60 [ E sr udo. \ ·
sobr e a hi.l" leria , E SB , II, 2lled . rev., 1987].
[6] Fr eud , Sigmund , Die T r aumdeU lung, GW , IT-III. Cf . c a p.IV, "Die Tr aument-
stellung" , p.152-6, p.157 e p.163-8. "Kern unser es W esens", p.609. T he hH e / pr e-
t ationo f Dr eams , S E , IV,ca p.IV, "Distortion in Dreams", p.146-50, p.151, p.157-62
e p .603 [A int erpr ela fiio d os sonhos, ESB , IV-V, 2ll ed. r ev., 1987].
[7] Fr eud , Sigmund , Bruchst iick einer H ys t er ie- Anal yse (Dor a) , concluido em [64 41
24 d e Janeir o d e 1901 (cr . ca rta 140 de A us d en Anfiingen , corr es pond encia com
Fliess pu blicad a em Lond res): GW, V, p.194-5; A C ase () f H yst eria, S E, vol.
VII, p.35-6 ["Fragmento da amilise d e ur n c aso d e histeria", ES B , VII, 2lled .
r ev., 1987].
[8] Fr eud , Sigmund , Bemerkungen iiber einen F all von Zwangsneur ose , 1909 ,
GW, VII. Cf . l.d) Die Einf iihr ung ins Ver standnis d el' K m (Intr odur ;:iio ao
entend imento d a analise), p.402-4, e nota das p.404-5; vel' t ambem I f ) Die
K r ankheitsveranlassung, ou se ja, a decisiva inter pr etar ;:iiod e Fr eud sobr e 0que
tr aduzir iamos pOI'"0sujeito da d oenr ;:a", e l.g) Del' Vater kom plex und d ie
Losung d el' R attenid ee, p.417-38. Not es u po n a C ase of Obsessional N eur osis ,
SE, X; cf . I.d) Initiation into the Natur e of the Tr eatment, p. [78-81 e nota d a
p.181; d e pois, II> The Pr ecipitating Cause of the Illness, e g) The Father Complex
and the Solution of the R at Id ea, p.195-220 [" Notas so br e urn caso de neuroseo bsessiva", ESB , X, IIIed.].
[9] Fr eud , Sigmund , J enseits des Lustprin zi ps , 1920, GW, XIII: cf ., se ainda
houver necessidad e, as p.II-4 d o ca pitulo I I; Beyond the Pleasur e Principle,
SE , XVIII, p. 14-6 ["Alem d o principio de prazer", ES B , XVIII, III ed.].
[10] F r eud, Sigmund , M assenps ychologie und fch- Anal yse , 1921, GW, XIII. V el'
cap.VII, "Die Id entif izierung", es p. p.116-8. Group Ps ycholog y and the Anal ysis
() f t he E go , SE, XVIII, p.106-8 [" Psicologia de grupo e a analise d o ego" , ESB ,
XVIII, IIIed .].
[II] Freud , Sigmund , Die end liche ulld d ie unendliche Anal yse, 1937, G W , XVI,
p.59-99, tr aduzido com 0titulo de " Analyse terminee (!) et analyse intermina ble
O!)" - nossos pontos de exclamar ;:ao visam aos padr oes pr aticados na tr adur ;:iio
das o bras d e Freud para 0 frances. A pontamos esta pot'q ue, par a a ed ir ;:iiod as G W ,
voI.XVI, publicad o em 1950, ela niioexiste, cf . p.280; in Rev. I r anf· Psychan., XI,
1939, I , p .3-38 [" Analise terminavel e inter minavel", ESB , XXIII, Ia ed .].
[12] Fr eud , Sigmund , Die fchs paltung im Abw ehr vor gang, GW, XVII, Schrif ten
aus dem Nachlass, p.58-62. Data d o manuscrito: 2 d e Janeir o de 1938 (inacabado).S plilling o f t he Ego in t he De f ensive Pr ocess , C ollect ed Pa per s , V, 32, p .372-5
[" A d ivisao do ego no processo d e d ef esa", ESB , XXIII, Ia ed.].
[13] Glover , Ed ward , "The Ther apeutic Ef f ect of Inexact Interpr etation: A
Contr ibution to the Theory of Suggestion", /JP, XII, 4 (outubr o de 1931),
p.399-411.
[14] Har tmann, K r is e L oewenstein, suas pu blicar ;:oes em eq uipe em T he
Ps ychoanal ytic Srud y (~ f the C hild, a partir d e 1946.
[15] K ris, Ernst, " Ego psychology and inter pr etation in psychoanalytic therapy",
T he PQ , XX, I, Janeir o de 1951, p .21-5.
[16] Lacan, Jacques, nosso relat6r io d e Roma, 26-27 de setembr o d e 1953:
Fonct ion et cham p d e la par ole et du langage en ps ychanal yse , in La ps ycha-
na L yse , voU, PUF. Cf ., neste volume, p.238.
[17] Lacan, Jacques, L' f nslance d e la lellr e d ans L' inconscient ou La r aison
de puis F r eud , 9 de maio de 1957, in La ps ychanal yse, voU , p. 47-81, PUF.
Cr ., neste volume, p.496.
[18] Lagache, Daniel, " Le pr obleme d u tr ansf ert" (R elat6r io da XIV Conf erencia
dos Psicanalistas d e Lingua Fr ancesa, III d e novembr o d e 1951), Rev. franr;.
Ps ychan., XVI, 1952, nlll-2, p.5-115.
[19] Leclair e, Ser ge, " A la recher che d es pr incipes d 'une psychother a pie d es
psychoses" (Congresso d e Bonneval, 15 d e a bril de 1957), L'E volut ion Psy-
chiat rique , 1958, f asc. 2, p.377-419.
[20] Macal pine, Ida, "The Development of the Tr ansf er ence", T he PW , XIX,
4, outubro d e 1950, p.500-39, es pecial mente p.502-8 e 522-8.
[21] La P DA, p.51-2 (sobr e " pr e-genitais" e" genitais"), passim (so br e 0r eforr;:o
d o Eu e seu metod o), p.102 (so br e a d istancia d o ob jeto, pr inci pio do metoda
de uma analise).[22] La P D A, cf. sucessivamente p.133 (r eed ucar ;:iioemocional), p.133 (o posir ;:ao
d a PDA a Freud quanto 1 1 importancia pr imord ial d a r elar ;:ao a d ois), p.l32 (a
cura " por dentro"), p.135 (0 impor tante ... niio e tanto 0q ue 0 analista diz ou
faz, mas 0 q ue ele e), e p.136 etc., passim, e aind a p.162 ( so br e a des pedida do
r im d o tratamcnto) e p.149 (so bre 0 sonho).
123] R .L., "Per ver sion sexuelle tr ansitoir e au coms d 'un tr aitement psychana-
Iytiq ue", Bulletin d ' Act ivit es d e l' Association d es Ps ychana L yst es d e Belgique ,
25, p.I-17; 118, r ue Froissart, Bruxelas.
7/26/2019 A Direçao Do Tratamento
http://slidepdf.com/reader/full/a-direcao-do-tratamento 32/32
[24] Shar pe, Ella, " Technique of Ps ychoanalysis" , Coli. Papers , Hogar th Press.
Cr . p.81 (so br e a necessidad e d e justif icar sua existencia ); p.12-4 (sobre os
conhecimentos e tecnicas exigfveis do analista).
[25] Schmid e ber g, Melitta, "Intellektuelle H em mung und Ess-sttirung", Z eit-
schri jt fiir psa. Piidagogik , VIII, 1934.
[26] Williams, J.D., The Complet e S tr at egist , The Rand Ser ies, McGr aw-Hill
Book Company, Inc., Nova York , Toronto, Lond r es.[27] Winnicott, D.W., "Tr ansitional O bjects and Transitional Phenomena", 15
d e junh o d e 1951, in UP, XXXIV, 1953, p.l l, p .29-97. Trad uzido em La
Psychanal yse, vol.5, p.2l-4l, PUP.
Observac;iio sobre 0
relat6rio de Daniel Lagache:
"Psicanalise e estrutura da personalidade"
Est e texto foi redigido com base na grava~iio d e uma interven~iioque uma f alha no funcionamento inicial do apar elho privou de
seu exor d i o. F oi d esse acidente que tiramos proveito para
r e formular nosso discurso , de um modo que modifica sensivel-
mente sua improvisa~iio. Mas resta ainda indicar a inten~iio
disso , que e cond ensar em sua articula~iio da epoca uma posi~iio
que permanece essencial para nos.
[sso nos levou a suprimir ainda mais do discurso: precisa-
ment e aquilo que, no calor de uma at ualiza~iio, antecipa-se ao
que so seria desenvolvido mais tarde. Assim e que , d eixando de
lad o nossa predile~iio de autor, niio retomamos 0 apologo do
pot e d e mostarda, cu ja lembr an~a, no entanto, niio e anedotica,
ja que desde entiio the d emos pleno impulso. \
Excet o por the garantirmos aqui sua certidiio de nascimento,
com seu tema nos agapes que no-lo forneceram ao menos
a par entemente, d eixamos a nosso aud it orio a tar e fa d e r eencon-
trar nas entrelinhas 0 pot e d e mostarda, em figuras mais aces-
s fveis ao leitor e menos submetidas aos significant es da presen~a.
Alem do mais , um t exto que niio f oi comunicado ant es sob
nenhuma f orma documental so e atestavel a partir do momenta
de sua reda~iio d e finitiva, ou seja, aqui , na Pascoa d e 1960.
o Lermoestr utura, que d ani ao relat6r io de Daniel Lagache2
sua palavra-chave, e , com efeito, enunciad o como principio de muitas
I. Es pecialmente em nosso semimirio d o ano de 1959-1960, so br e a etica d a
psicamllise.
. "Hoje a antropologia e estrutur alista. Urn d e seus tr ayos pr incipais e a
pr omoyao da categor ia de conjunto, d e uni t as multiplex. (.:.) Pa r timos da id eia
d c q ue n ao lidamos com e lementos isolad os nem com somas de elementos, mas