A Direçao Do Tratamento

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 Nome-d o-Pai - isto   e,   do significante que,   no   Outr o como   lugar 

d o significante, e   0 significante do   Outro c omo   lugar    d a   lei.

Deixar emos   neste   ponto, por   or a, essa   questao pr eliminar a

tod o   tr atamento p ossfvel das psicoses,   que   intr oduz, como   vemos,

a conce p~ao a s er f ormad a d o m an ejo, nesse   tratamento,   da

transferenci a.

Dizer    0 q ue pod emos   faze r nesse ten'eno s er ia p rematur o,

 por que ser  ia i r, a gor a, " par a-alem d e Fr eud",   e   nao se   trata de

su perar    Fr eud q uand o   a psicamilise segund o Fr eud , como   disse-

mos,   voltou   it   eta pa   anterior .

Pelo   menos, e   isso   que nos afasta   d e q ualq uer    outr o objetivo

senao   0de restaurar    0aces so   it   ex per ie nc ia q  ue Freud descobriu.

Pois   usar    a   tecnica   que ele instituiu   fora da exper iencia a q  ue

ela   se aplica   e tao estu pido   quanto esfalfar-se nos remos quando

o bar c o e sta encalhado   na ar eia.

 A direr;iio do tratamento

e os princfpios de seu poder 

RELATORlO DO COLOQUIO DE ROYAUMONT

10-13 DE   JULHO DE   19581

I.  Q ue   uma analise traga consigo os tr a~os da pessoa   d o  a nalisad o,

fala-se   d isso c omo se Fosse 6bvio.   Mas acr ed ita- se d ar mostras

de aud acia ao  manifestar    interesse pelos efeitos   q ue   nela   sur tir ia

a   pessoa   d o analista.   E   isso, pelo menos,   q ue justifica   0 fremito

q ue   nos percorre ante as express6es em yoga so br e a contra-

transfer encia,   0q ue sem duvida contr ibui para   lhes   mascarar    a

im pro priedad e conceitual: pensem   na altivez   d e espf r ito   de   que

damos testemunho ao nos m ostrar mo s f ei to s, em nossa ar gila,

d a   mesma daq ueles q ue   moldamos.

a  que escr evi   af e   uma impropr iedade.   E   pouco   para aqueles

a   q uem   visa,   quand o hoje em   dia   ja   nem se faz   cerimonia em

d eclarar q ue, so b   0  n om e d e p sicamilis e, e st a-se empenhad o

numa "r eed uca~ao emocional   do paciente" [22].2

Situar    nesse   nfvel a a~ao do analista   im plica   uma   posi~ao   d e

 princf  pio d iante da q  ual tudo   0 que se possa   d izer    da   contra-

tr ansferencia;   me smo n ao send o inutil,   funcionar a como   uma

mano bra   diver sionista. Pois e par a-alem   disso   que   se situa, a

 par tir    d af ,   a   im postur a   que aq ui   q uer emos   d esalo jar .3

I.   Primeir o   r elat6rio   d o Col6q uio lnter nacional r eunid o   nessa d at a, a c onvite

da Socied ad e Fr anc es a d e Psicamilise,   pll blicad o em   La  P s ychanalyse,   vol.6.

2.   Os numer os enlr e colchetes remetem   as   r ef er encias   colocadas no final deste

r elat6rio.

3 . P ara   voltar contr a   0es pf rito de uma   socied ad e   uma ex pressao   pOl' cujo valor 

 pod emo s a valia-Ia, quand o a f r ase   em que Fr eud    se   iguala   aos   pre-socraticos -

Wo   es war  , soU lch ; ,ver d en.-   traduz-se   nela,   muito simplesmente,   para uso

france s, p Ol': 0 Eu d eve   d esalo jar    0 lsso.

"d esencadeoll-se".   R eser vamos   0 termo   "d esencad eamento"   par a   d iclenche-

menl,   essencial   ao   tratar -se   d e   psicose.   ( N.E.)   ,

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·Nem pOl'  i ssei estamos denunciando   0 que a psicamili se t em

hOJe de antifr eudiano. Pois, nesse aspecto, deve-se reconhecer 

que. tir ou   a   m.a,sc~ra, uma   vez   que ela se vangloria   de ultrapassar 

aquIl?   ~ue   alias 1 9nora, gUaI'dando da doutrina de Fr eud apenas

o   suf 'JClente   par ~ sentiI'   0   quanta Ihe   e   dissonante   0   que   ela   I  II!I

acabou d e enunclar    de sua   experiencia.

Pr etend emos   mostrar como a impotencia em   sustentar    auten-ticamente   uma   pr axis   r eduz-se, como   e   comum na historia   dos

homens, ao exer cfci o de u m poder .

2 ..  0, psicanalista certamente   dir ige   0 tratamento. 0   primeiro

 pnnclplO   desse tr atamento,   0 que Ihe   e   soletr ado logo   d e safda,

~.ue ele encontr a pOl'   tod a   parte e m s ua f  orma ~a o, a   pon to d e

hcar . por cle.   impr egnad o,   e   0 d e   qu e n a o d  eve   de mod o algum

drnglr    0 paclcnte. A dire~ao d e   consciencia, no   sentid o   d o   guia

mor al quc   um   f iel d o catolicismo   pode   encon tr ar neste   acha-se

aq ui r  adical mente e xclufd a.   Se   a psicanalise   levanta   pl:o blemas

 par a   ~A   tc?logia   ~nor al,   nao sc tr ata d aqueles   d a   dir e~ao   de

conSClenCI<l,  a cUJo   r es peito   lembr a mo s q ue a   d ir e~ao   dc cons-

ciencia   tambcm   os suscita.

A   dir c~~o   d o   tratamento c outr a   coisa. Consiste,   em primeiro

',ugar , c.m l~zcr com que   0 su jeito   aplique   a   r egra   analftica, isto

e,   as   d lrctnzcs cuja   pr escn~a   nao   se pod e   d esconhecer como

 princfpio   doq .uc e chal;tad?   "a situa~ao   analftica" ,  so b pr etexto

d e   que   0 sUJelto a s a pllcan a m el hor sem pensar nelas.

Essas   dir etrizes,   numa   comunica~ao   inicial r evestem-se   da

forma   d c i nstru~6es,   as   q uais,   pOl'   menos   q~e   0  analista   as

comente,   pod emos   consid er ar que, ate nas   inflex6es d  e   seu

enun~ia?o,   veicular ao a   doutr ina com as quais   0 analista   se

cOnStl~Ul, no   ponto   d e   conseq uencia   que ela atingi u p ar  a ele. 0

que   nao   0 ~orna menos   soli da ri o d a pr ofusao de pr econceitos

que,   no   paclente,   es per am n esse mesmo lugar ,   conforme   a ideiaque a   dif usao cultur al Ihe tenha perm itido fOl'mar    acer ca do

 pr ocedimento e   da finalidad e   da empreitad a.

Isso   ja   basta   par a   nos m ostrar que   0  problema   d a   dire~ao

r~vela, desd e as dir etrizes iniciais,   nao poder formular-se numa

lI~ha   de   comunica~ao unfvoca,   0 q ue nos obriga a permanecer 

a i, n ? momento,   para esclarece-Io pelo q ue   0 segue   .

.   Dlgam.os a penas q ue,   ao red uzi-Io   a   sua verdade, esse tempo con-

slste   em ~azer  0 paciente esq ue ce r q  ue s e tr ata apenas d e  pa lavras,

mas q ue ISSOnao justifica q  ue   0 proprio a na lista   0esque~a [16].

3.   Alias, havf amos   anunciad o   que   e   pelo   lad o   d o analista que

tencionamos intr oduzir nosso assunto.

Digamos que, no investimento de ca pital   da empr esa comum,   [587]

o paciente nao   e   0 unic o c om   d ificuldades a entrar com su a

q uota. Tambem   0analista tem que   pagar:

 _    pagar com palavr as,   sem   d uvid a , se a transmuta~ao   que

elas   soh'e m pe la o per a~ao analftica as e leva a   seu   ef ei to d e

interpreta~ao;

 _    m as pagar    tambem   com   sua   pessoa,   na medida   em que,

ha ja   0que   houver , ele a em pr esta como suporte aos f enomenos

singular es que a   analise   d esco briu na tr ansfer encia;

 _ e haver emos de   esquecer    q ue ele   tem que   pagar com   0

que   ha' de   essencial   em seu  j uf zo   mais   f ntimo,   par a   intervir numa

a~ao   que vai   ao   cerne   d o   ser    (Kern   unseres   W esens ,   escreveu

Freud [6]):   seria ele   0unico   a   f icar    for a   d o   jogo?

Que   n ao se   pr eocu pem   comigo   aqueles   cujos   votos   se dir igem

a nossas a rmas,   ante   a   id eia   d e   que eu me este ja   expondo   aqui,

mais   uma vez, a adversarios   sempr e   f elizes   pOl' me   devolverema   minha metaff sica,

Pois e no seio   d a   pr etensao   d eles   de   se  b astar em   com   a  eficacia

q ue   se   eleva uma   afirma ~a o como esta: a   d e   que   0analista cura

menos pelo que diz e   faz   d o   que   pOl'   aquilo que   e   [22].   Sem

q ue,   aparentemente, ni ngue m p e~a explica~6es   dessa afirma~ao

a seu   autor, nem   0lembre d o  pud or , q uand o,   dirigindo um son'iso

de   enfado ao ridf culo   a   q ue se exp6e,   e a   bondad e, a sua ( e

 pr eciso ser bom , nao   hi transcend encia   nesse contexto) , q ue e le

apela para pOl'   f im   a   um debate   sem safda sobre a neurose de

tr ansferencia.4 Mas,   quem teria   a cr ueldade de interrogar aquele

q u e s e v er g a s ob   0 f ardo da bagagem , quando seu porte leva

c1aram ente a supor que ela esti cheia de tijolos?

 No entanto,   0 s er e   0 ser ,   seja quem for que   0 invoque, e

temos   0direito de perguntar    0que   el e v em f  azer aqui.

4.   Colocarei novamente   0   anali st a n a b er  lind a, p or ta nt o, n a

med id a em que eu mesmo   0 sou, para observar que el e e tao

4.   "Comment ter miner   Ie tr aitemenl   analytiq ue",   Revue   Franr;.   d e  Psychana L yse,

1954, IV, p.519 e passim. Par a avaliar  a  inf luencia   de tal   formas:iio, leia-se C.-H.

 Nodet, "Le   psychanalyste",   L'EvoLut ion   Ps ychiat rique ,   1957, IV, p.689-91.

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menos   segur o de   sua   a~ao q uanta m ais esui inter essado em seu

ser .

Interprete do que m e e apresentado em coloca~6es ou atos,

decido acerca de meu oraculo e   0articulo a meu gosto, unico

mestre/senhor em meu barco, depois de Deus, e, claro, longe de

 poder avaliar todo   0efeito de minhas palavras, mas justamente

advertido e procurando prevenir -me contra isso, ou, dito de outra

maneira,   sempre livre quanto ao momento, ao numero e tambem

a   escolha de minhas interven~6es, a tal ponto que a regra parece

ter sido inteiramente ordenada para nao atrapalhar em nada meu

trabalho de executante, ao que e correlato   0aspecto de "material"

sob   0 qual minha a~ao aborda aqui   0 que ela produziu.

De f ato,   tod o analista   (nem q ue se ja os que assim se extravi,a:n)

sempr e experimenta a transferencia, n.odeslum~ramento do et~lt~

menos esperado de uma rela~ao a dOiS que sena como as out~as.

Ele diz a si mesmo que, nesse aspecto, tem que contemponzar 

com um fenomeno pelo qual nao e responsavel, e sabemos com

que insistencia Freud enfatizou sua espontaneidade no paci~~te.

Faz algum tempo que os analistas, nas dilacerant~s :e~lso.es

com que nos brindam, preferem insinuar que essa mSI~t~ncla,

da qual se fizeram baluartes por m uito tempo, traduz.Irl/~ em

Freud uma certa fuga do compromisso pressuposto pela ldela de

situa~ao. Como voces veem, estamos em dia. .

Mas e sobretudo a exalta~ao facil de seu gesto de atlrar os

sentimentos - imputado   a   contratransferencia - no prato de

uma balan~a em que a situa~ao se equilibraria por seu peso que

atesta, para nos, uma consciencia pesada que se correlaclO~a

com a renuncia em conceber a verdadeira natureza da transfe-

r encia. Nao e possfvel raciocinar com   0que   0analisado leva a pessoa

do analista a suportar de suas fantasias com o com   0 que urn jogador ideal avalia das inten~6es de seu adversario.   Sem duvida,

ha tam bem uma estrategia ali, m as nao nos enganem os com a

metafora do cspelho, por mais que ela convenha   a   superffcie

una que   0analista apresenta ao paciente. Cara fech~da e boca

cosida nao tem aqui a m esma finalidade que no bndge. Com

isso, antes,   0 analista convoca a ajuda do que n~sse jogo e

chamado de morto,   mas para fazer    surgir    0quarto Jogador que

do analisado sera parceiro, e cuja mao, atraves de seus lances,

o analista sc esfor~ar a p or f az e-Io adivinhar: e esse   0 vf nculo,

digamos, de abnega~ao,   imposto ao analista pelo cacife da partida

na analise.

Poderfamos pr osseguir nessa   metafora, daf deduzindo se~ jogo

conforme ele se coloque " a   direita"   ou   " a   esquerda" do paclente,

ou seja, na posi~a o d e j ogar antes   ou depois do quarto jogador,

isto   e   de   jogar antes ou depois deste c om   0morto.

M~s   0 q ue ha d e c er to   e   q ue os   sentim entos do analista so

tern ur n lugar posslvel   nesse   jogo:   0 d o mor to;   e   que, ao

r essuscita-Io,   0 jogo   pros segue   sem   q ue se   saiba quem   0cond uz.

Eis por   que   0analista   e   menos livre em   sua estr ategia d o que

em sua   tatica.

5.   Quanto ao m anejo da transferencia, m inha li berdade,   ao

contnirio, ve-se alienada pelo desdobram ento que nela sofr  e

minha pessoa, e ninguem ignora que e al que se deve buscar    0

segredo da analise.   0 que nao im pede que se cr eia estar progre-

d indo nesta douta afirma~ao:   que a psicanalise deve ser estudad a

como uma situa~ao a dois. Decerto se introduzem nela condi~6esq ue Ihe restringem os movimentos, no entanto disso resulta que

a situa~ao assim concebida serve para articular (e sem m aior es

artif f cios do que a ja citada reeduca~ao emocional) os princfpios

de um adestram ento do chamado E u fraco, e por   um Eu   0qual

h ;i q ue m g os te d e c onsider a r ca paz de r ealizar    esse pro jeto,

 pOl'que   c   forte.   Que nao se enuncie   isso sem constrangimento   e

o que atestam certos arrependimentos de uma inabilida de im-

 pr cssionante, como aq uele que esclarece nao ceder    a   exigencia

d e u ma " cura por dentro" [22].5 Mas so   e   mais significativo

constatar que   0assentimento do sujeito, por sua evoca~ao nesse

trecho,   vem apenas no segund o t em po d e ur  n   efeito inicialmente

imposto. Nao e por nosso pr azer    que expom os esses desvios, mas,

antes, para, com seus escolhos, fazer balizas para nosso caminho.

5.   Prometemos a   nossos   leitor es   nao mais f atiga-los, no que se   segue,   com

formulas tao estupidas, que na verdade  nao tem outra utilid ade aqui senao mostrar 

a que   ponto chegou   0discurso analftico.   J a   nos desculpamos pOI'elas junto a

nossos   ouvintes estrangeiros,   que   sem duvid a d ispunhaT)1de outras tantas a seu

servic;:oem sua lingua,   mas talvez   nao exatamente dessa mesma banalidade.

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6. Vamos ad iante. 0   analista   e   aind a   m enos livr e n aq ui lo q  ue

domina a estrategia   e a   tMica,   ou seja, em sua polftica, ond e   ele

Faria   melhor situando-se   em sua   f alta-a-ser do que   em   seu ser .

Dizendo as coisas d e outra maneir a:   sua ar ,;ao sobre   0 paciente

Ihe esca pa,   juntamente com   a   id eia   que possa f azer d eIa, quando

e le nao retoma seu   comer ,;o naquilo pelo   qual ela e   possfvel,q uand o   nao retem   0 par ad oxo do que ela   tem de retalhad a, para   I~'Ilil

revisar no   prinCfpio a estrutura por   on de   qualquer ar  ,;ao intervem

na r ealid ade.

Par a os psicanalistas de hoj e,   essa   r elar ,;ao com   a   r ealid ade e

evid ente. Eles Ihe   medem   as def ecr ,;6es por    part e d  o p aciente

com base   no princlpio autoritario   d os educador es de sem pre. S6

que se   fiam na analise didMica   par a gar antir    sua manutenr ,;ao

num teorsuf iciente   nos analistas,   so br e os   quais nao d  eixamos

d e sentir que,   par a enfrentar    os pr o blemas d a   humanidad e   q ue

se   d irige a el es, suas   vis6es as vezes sao   um pouco locais.   Isso

equivale   apenas a   I"azer recuar    0 pr o blema a   um nfvel individual.

E  n ao   <5muito   tranqliilizador ve-los   trar ,;ar 0 percurso   da   analise

na   r edur ,;ao, no   su jeito,   d os desvios imputados a   sua tr ansf er encia

e a suas   r esistencias,   mas situados em relac,;ao a realid ade,   nem

ouvi-Ios exclamar so br e a "situac,;ao   simplfssima" que   a analise

ol"er eceria   para   comensurar isso. Homessa!   0ed ucador nao esta

ncm perto   de   ser educado, se   pode julgar com t anta   leviandade

uma cxperiencia   q uc, no cntanto,   ele   pr 6 prio teve de atr avessar.

Presume-se   em tal   aprcciac,;ao que   ess es analistas teriam dad o

a   essa   cxperiencia outr as f ac etas, sc tivessem   tido que se f  iar 

cm s cu sen so d c rcalidade para   inventa-Ia   elcs pr 6prios: priori-

dade   escabrosa dc imaginar .   E Ies tem cer t as d uvidas, por   isso

sao tao meticulosos na pr eservac,;ao de sua s For mas.

E   compreensfvel que,   par a a licerc,;ar esteio a   um a concepc,;ao

tao v isivelmente pr ecar ia, alguns ultramar inos tenha m se nti do

necessidade de   introduzir nela um valor estavel,   urn padrao   d e

med id a d o re al: e   0ego   autonomo.   Trata-se do con junto su pos-

tament e o rg aniz ad o d as m ai s   df spares f  unc,;6es que presta   seu

apoio ao sentimento de inatismo do sujeito.   E   consider ad o

autono mo p or q  ue e st ar  ia ao a brigo dos conf lito s d a p es so a

(non-conflict ual   sphere)   [14].

Af se   r econhece uma miragem sur r ad a q  ue a   mais academica

 psicologia   d a   intr ospecc,;ao   ja   havia re jeitad o com o insustentavel.

Essa regressao, no entanto, e c elebrada como urn retorno ao redil

da "psicologia geral"   .

Seja como for ,   ela   r esolve   a   questao do ser do   analista.6 Uma

equipe de   egos ,   decerto menos iguais7 do que   autonomos (mas,

 por qual selo de origem se r  econhecem eles na suficiencia de   [591\

sua autonomia?),   se of er ece aos norte-americanos para guia-Ios

em direc,;ao   a   happiness ,   sem perturbar as autonomias, egof stas

ou   nao, que   pavimentam   0 American way   de chegar 1£1.

7.   Resumamo-nos.   Se   0 analista   s6   Iidasse com resistencias,

 pensaria duas vezes antes de fazer uma interpretac,;ao, como

efetivamente   Ihe   acontece, mas   ele ficaria quite com essa pr u-

d encia.

S6 que   essa interpr etac,;ao, quando ele a faz, e recebida com o

 proveniente d a   pessoa que a transferencia Ihe imputa ser .   Aceitara

eIe   beneficiar -se d esse erro de pessoa? A m or al da a nalise nao

contr adiz   isso, desde que ele   interprete tal efeito,   sem   0q ue a

analise se r  eduziria a uma sugest ao gr osseira.

Posic,;ao incontestavel,   exceto   pel o f at o d e q ue e c omo p ro-veniente d o Outro da transf er encia   que   a  fala do analista   continua

a   ser ouvid a, e de que c om isso   0momenta de   0sujeito sair da

transferencia   e   adiado   ad infinitum.

E,  poi s,   pelo que   0su jeito imputa   ao analista ser (ser q ue esta

alhures) q ue e   possfvel uma interpr etac,;ao voltar ao Jugar de onde

 po d e t er   peso na   distribuic,;ao das   respostas.

AIi, pOl'em, quem dira   0q ue   ele   e,   0analista, e  0que   r esta dele,

ao ser encostado contra a parede na tarefa de interpretar? Que ele

mesmo ouse dize-Io se, caso se ja   um homem, isso for tudo   0que

ele   tem   a   nos responder .   Que   ele tenha ou nao tenha, seria pois

toda a q  ue st ao : ma s e a f q ue ele volta atras,   nao somente   pel a

impudencia   do mister io, m as pOl'q ue,   nesse ter ,   e d o s e r q  ue se

tr ata, e como. Veremos   mais ad iante que esse como nao e comodo.

Por isso ele prefer e se restringir a seu   E u e a realidade, da

q ual conhece um pedac,;o. Mas, nesse caso, ei-Io no   [eu] e no   eu

com seu   paciente. Como f azer, se eles estao de espada em r  iste?

6.   Na  F r anya,   0 ja citado doutrinar io do ser mostrou-se d ir eto   nessa soluyao:   0

ser do psicanalista   e   inato (cf .   La PDA ,   I,  p.136).

7 .   Ond e Lacan explora   a  hom ofonia f r ancesa entre   egos   e  egau x.   (N.E.)

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E   af que, astutamente, conta-se com as conivencias   que se deve

ter nesse   lugar , d enominad o,   no caso, a parte   sadia   d o eu ,   aquela

q ue pensa c omo   nos.

C.Q.N.R.P.D., podemos concluir,   0q ue   nos   leva   d e   volta ao

 pr o blema   inicial,   ou   seja, a   r einventar a am ilise.

Ou   a refaze-Ia: tratando a   tr ansferencia como   uma f orma

 particular    d a resistencia.

Muitos   0 pr ofessam.   E   a eles   que   f or mulamos a per gunta   que

da   tftulo a esta sec;:ao: Quem   e   0analista? Aq  uele que   inter  preta,

tir and o   proveito da t ransferencia?   Aquele   que a analisa   como

r esistencia? Ou   aq uele q ue   impoe sua i d eia d a re alidade?

Pergunta q ue pode   incomod ar    muito   d e perto aqueles a   quem

se   dirige,   e ser menos faci I   de evitar    do q ue   a   pergunta "quem

fala?", com a q ual um de   meus alunos   Ihes azucrinou   os ouvidos

 por conta do paciente.   Pois sua resposta de impacientes   - um

animal   de nossa especie -   ser ia pa ra a p er  gunt a mod  if icada

mais deploravelme nte t autologica,   por ter que d izer :   eu.

 Nu   ecr u.

Sao comoventes os esf or c;:os  d e   um   autor   na tentativa   d e   f orc;:ar 

a  t eor ia d a   f orma para   nela encontr ar    a  m etafora q ue   Ihe permita

ex primir    0   que a interpretac;:ao intr od uz de r esoluvao numa

am bigtiid ad e   inteneional, de fechamento a   uma incompletud e   [593]

q ue,   no entanto,   so se realiza a poster iori   [2].

2.   Percebe-se q ue   0 q ue aqui se f  urta   e   a   natureza de   uma

transmutac;:ao   no sujeito,   e de um modo ainda mais dolor oso   para

o   pensament o, p or    Ihe escapar no exato   moment o e m qu e p assa

a  a c;:ao. Nenhum   indicador    basta, com   efeito, par a m ostr ar o nde

age   a inter  pretac;:ao,   q uand o   nao se ad  mite radical   mente   um

conceito   d a f unc;:ao  d o   signif icante   que capte onde   0 suje it o se

su bord ina a ele,   a ponto de p or ele ser   su bor nado.

A interpretac;:ao, par a d ecif r ar    a   d iacr onia   das repetic;:oes   in-

conscientes, deve introduzir na   sincr onia   d os signif icantes   que

nela   se com poem algo que,   de re pente, possibilit e a t ra d  uc;:ao   -

 pr ecisamente aquilo q ue a f unc;:ao  d o Gulr o p er mite   no   r ecepta-

cul o d o codigo,   sendo a pr o posito dele q  ue aparece   0elemento

faltante.

Essa im portancia do signif icante   na   localizac;:ao da verdad e

analftica apar e ce e m f  iligr ana, tao   logo um   autor    se atem finne-

mente   as  c onexoes da experiencia   na def inic;:ao das apor ias.   Basta

ler   Ed ward    Glover par a a valiar    0 prec;:o q ue ele pag a p ela   f alta

desse termo,   quand o,   ao   articular    as   opini6es   mais per tinentes,

ele   en contr a a   interpretac;:ao por toda par te, na impossibilidade

d e   rete-Ia em   par te alguma, e ate   mesmo   na   banalidad e da receita

medica, e aca ba   d izend o,   muito simplesmente,   sem   q ue s e saiba

se   ele se escuta, q ue a f or  mavao   d o sintom a e   uma   inter  pretac;:ao

inexata d o sujeito   [13].

Assim conce bid a,   a interpr etac;:ao   tor na-se   uma especie   d e

Ilogf stico,   manifesto em   tudo   0 que se c om preende - com   ou

sem razao,   por    menos q ue ele alimente a chama do   imaginario

-   d a   pur a ostentavao   que, so b   0 nome   d e agr essivid ad e, tir  a

 proveito d  a   tecnic a d ess a e poca (I 93 I;   0 q ue alias e   novo   0

 bastante par a aind a ser   atual.   Cf .   [13]).

Somente pOl' vir   a  i nter  pr etac;:ao culminar no   hie et nunc   d esse

 jogo   e que   ela se   distingue   da leitur a   d a   signatura rerum   em

que   Jung rivaliza com   Boehme. Segui-Io   nisso convir ia   muito

 pouco ao ser   d e   nossos analistas.

I. 0   que   veio antes   nao respond e a tudo   0q ue aq ui   se pr omove

de q uestoes para   0 novato. Ma s, ao r eunir os pr oblemas   que

atualmente se a gita m e m   torno da direc;:ao da   analise, na   medida

em q ue essa atualida de renete seu   uso presente, cremos ter  

r es peitado suas pr oporc;:6es.

A sa ber ,   0lugar   f nfimo q ue a interpretac;:ao ocu pa   na atualidade

 psicanalftica - nao pOl"q ue se   tenha per d ido seu   sentido, mas

 pOI'q ue a a bordagem desse senti  d o sem pr e atesta   um   em barac;:o.

 Nao ha autor q ue s e confr onte com ele sem proceder    destacando

toda sor te   d e   intervenc;:oes ver  bais q ue   na o s ao a   interpr etac;:ao:

explicac;:o es , gr atificac;:oes,   respostas   a demand a ... etc.   0 pr oce-

d imento   tor na-se revelad or    q uand o   se aproxima do centro   do

interesse. Ele im poe q ue ate   uma for mula va o a rticulada   para

levar    0 su jeito a ter uma   visao   (insight )   de uma d e suas cond utas,

sobretud o em   sua signif icac;:ao   de   resistencia,   possa r ece ber um

nome total mente d iferente,   como   conf r ontac;:ao, por    exemplo,

nem que se ja a do sujeito com   seu pro pr io diz er , sem merecer 

o   d e inter  pr etac;:a o, sim ples   mente   pOl' ser   um d izer esclarecedor .

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Mas estar na   hor a   d e Freud 8 d iz respeito   a outra tablatur a   0

q ue s ignif ica   na o s er super flu o s ab er d esmontar -lhe   0 r eI6gi~.

3.   Nossa doutr ina do significante   e,   par a come~ar, disciplina   na

qual   aq uele s a qu em f or  mamos se exercitam   nos modos de efei-

to do significante no advento   d o signif ic ad o, u ni ca v ia p ara

conceber    q ue, ao se inscr ever    af, a   inter  preta~ao possa produzir 

algo novo.

. Pois. e.la na o s e f  undamenta em nenhuma assun~ao dos ar  que-

tlPOS d lVlnOS, mas   no fato   d e   0incor.sciente   tel'  a estrutura rad ical

d~   linguagem, q ue   urn   material   f unciona   nela segundo   leis,   q ue

sao as descobertas pelo estud o d as Ifnguas positivas, das Ifnguas

q ue sao ou foram efetivamente faladas.

- ! ' -   metafora do f  1ogfstico q ue ha pouco nos inspirou Glover 

rellra seu carateI' apropriado do er ro q ue evoca:   a significa~ao

emana tao pouco da vid a quanto   0 flogfstico, na combustao,

escapa dos COI'POS, Ant es , s er ia pr eciso fala r d el a c om o   d a

combina~ao .da vida com   0,llomo   0do signo,9 do signa no q  ue,

antes de malS n a da , ele conota a presen~a   ou   a ausencia intro-d uzindo essencialmente   0  e   q ue as   lig a, p ois, ao c o~ot ar a

 presen~ a o u a a use ncia, ele institui a p re se n~ a c om b as e   na

auscncia , a ssim com o constitui   a ausencia n a pr es en~a.

Havemos de estar    lembr ad os   de que, com a segur a n~ a d e sua

mar cha pOl' seu   campo, Fr eud ,   buscand o   0modelo do automa-

tismo de repeti~ao, detem-se   no cr uzamento de ur  n   jogo   de

ocu~ta~ao_ e de uma e sc ansao alternad a de   d ois   f onemas cu ja

conJuga~ao, numa cr ian~a,   0 im pressiona,

E  q ~le ~li  t .a~nbem apar ece, ao  mesmo tem po,   0valor    do ob jeto

como   111s1g111f 'Jcante(aq uilo   q ue a   crian~a faz aparecer    e   d esa-

 parecer), alem d o car ateI'   acess6rio da   per f ei~a o fonetica , com-

 parad a   a  d istin~ ao f onematica,   que   ninguem contestar ia q ue Freud tern   0  direito   d e tr ad uzir imediatamente   pelos   Fort! Da!   do

alemao falado pOl' ele,   ad ulto   [9],

Ponto   de   insemina~ao de   uma or dem simb61ica q ue   pr eexiste

:to   sujeito   infantil e segundo a   q ual sera preciso que ele se

0struture,

4.   Poupar -nos-e mo s d e f or ne ce r a s   r egras da interpreta~ao.   Nao

que   elas   nao possam ser formuladas, mas suas f6rmulas pressu-

 poem desenvolvimentos que nao podemos tomar como con he-cid os,   na impossibilidade de condensa-Ios aqui.

Atenhamo-nos a o bservar que,   ao IeI'  os comentarios classicos

so bre a interpreta~ao, sem pre   lamentamos vel' q uao pouco   partid o

se   sabe tirar dos pr6pr ios dad os q ue sao propostos.

Para dar urn   exemplo d isso,   cada q ual   atesta   a   sua maneira   que,

 para confirmar a pertinencia de   uma interpreta~ao,   0q ue   im por ta

nao e a convic~ao qUt ela acarreta,   ja q ue m elhor se reconhecera

seu criter io   no mater ial   que vier a surgir depois dela.

Mas tao poderosa e a supersti~ao psicologizante nas mentes,

q ue se continua a invocar    0 fenomeno no sentido   d e   ur n   assen-

tim ento do sujeito, omitindo pOl' completo   0 q ue re sulta   d as

coloca~oes de Freud s ob re a   Verneinung   como forma de conf is-

sa o, d a q  ual   0 mf nimo q  ue se p od e diz er e q  ue nao se   pod e

f aze-Ia equivaler a urn r esultado nulo.

E   assi~ que a te or  ia t ra d  uz c om o a re si stencia e gerada na

 pratica. E tam bem isso   0 q ue q ueremos deixar clar o,   quand o

dizemos   que   na o h a outra   r esistencia   a   analise senao a do pr6 pr io

analista.

5. 0gr ave   e q ue , c om o s autores de hoje, a sequencia dos efeitos

analfticos parece toma da p elo avesso. A inter  pr eta~ao, a   seguir -

mo s suas   coloca~oes, seria apenas   urn bal bucio, comparada   aabertur a   de uma rela~ao   maior    onde, enf im, se e com pr eendido

("por dentro", sem duvid a).

A interpr e ta ~a o t or  na-se aq  ui   uma exigencia   d a fraqueza   aq ua l e   pr eciso acud  ir .   E   tam bem   uma c oisa muito d if f cil   de

faze-Ia   engolir sem q ue ela a re jeite.   E   ambas as coisas ao mesmo

tempo, ou   seja,   urn recurso bastante incomodo.

Mas isso   e  a penas efeito das paixoes do analista:   d e seu   receio,

q ue nao   e d o erro,   mas da ignoranc ia , d e su a pr ed  ile~ao;   que

nao e satisf azer , pOI'em   nao decepcionar; de sua   necessid ade,

que   nao e d e   gover n aI',  m as   d e h ca r p Ol' c ima.   Nao se trata, em

absoluto,   d a contratransferencia   d e st e ou   daq uele: trata-se   d as

8 . A e x pr essao f r ancesa   etr e   a   [' heur e   d e   ter n   0 senti d o   d e "seguir    0 estilo

d e", "ser    como".   (N.E.)

9. 0   qll~. em  vez  d e ser vocalizado   como  a letr a simb61ica d o oxigenio.   evocad a

 pela metaf or a   se~U1d a. pod e   ler -se  co mo" zero" , na  m~did a em  q ue esse   numer o

slmbohz a a f  un~ao essenclal d o   lugar na  e str utur a do   signif icante.

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conseqiiencias da rela~ao dual, caso oter apeuta   nao a supere   -

e como haveria de supeni-la,   se faz dela   0 ideal de sua a~ao?

Primum vivere ,   sem duvida: ha que evitar    0rompimento.   Que

se classifique com   0nome de tecnica a civilidade pueril e honesta   [wr   I

que ensina com tal finalidade, ainda passa. Mas, quando   se

confunde essa necessidade fisica da presen~a do paciente na hor a

marcada com a rela~ao analftica, comete-se urn e ng ano e sedesencaminha   0 novato por muito tempo.

Freud    nem sem pre   par ece haver -se m ui to b em c om isso, nos

casos que relata . E e p or i ss o q  ue   eles   sao tao preciosos.   [597]

Pois ele reconheceu prontamente que nisso estava   0 principio

lie   seu poder, no que este nao se distinguia da sugestao, m as

lambem que esse poder so the dava a solu~ao do problem a na

cond i~ao de nao se servir dele, pois era entao que assumia todo

() seu desenvolvimento de transferencia.A   partir desse momento,   nao e mais aquele a quem mantinha

t;m   sua proxim idade que ele se dir igiu, e foi por essa razao que

Ihe r ecusou   0 face a face.

A   interpreta<;ao em Freud e tao audaciosa que, por have-la

vulgarizado,   ja nao reconhecemos seu alcance de adivinha~ao.

Quando ele denuncia uma tendencia, aquilo a que chama   Trieb,

coisa totalmenle diferente de urn instinto,   0frescor da descoberta

nos mascara   0 que   0   Trieb   im plica em si de urn advento do

significante. Mas, quando Freud tr az   a   luz   0 que s6 podemos

d um ar de Iinhas de destino do sujeito, e pela figura de Tiresias

que   nos interroga mo s d ia nt e d a am bigiiidade em que oper a   seu

ver edito.Pois essas linhas adivinhadas concernem tao pouco ao Eu do

su jeito, ou a tudo   0 q ue ele pode presentificar    hie   e   nunc   na

rela~ao dual, que e ao topar na hora certa,   no caso do Homem

dos Ratos,   com   0  pacto que   r egeu   0 casamento dos pais deste,

com   0 que se passou, pOitanto,   muito antes   do nascim ento dele,

que Freud reencontr a ali   uma   mistura d e   cond i<;6es   -   honra

salva   no ultimo   minu to , tr ai~ao   sentimental, com promisso social

c   divida pr escrita   -   das q uais   0 gr ande   r oteiro   com pulsivo q ue

Ihe   foi levado pelo paciente par ece ser    0decal q ue cr i ptogratico,

e   no qual vem   a motivar    enf im os impasses   on de s e   d esgarram

sua vida m or al e seu   desejo.

Porem   0mais i ncrivel   e q ue   0 aces so a esse   material so tenha

sid o aberto   por    uma   interpreta<;ao em que   Freud pr esumiu   uma

interd i<;ao q ue   0 pai do H omem d  os   Ratos   teria imposto com

r ela~ao a   legitima<;ao do amor    su blime   a q ue s e d  evotou,   par a

cx plicar a   mar ca   d e im possf vel de que, so b tod as as suas

modalid ad es, esse la<;o the par ece   ter    0 cunho.   Inter  preta~ao da

q ual   0 mfnimo   q u e s e pode   dizer    e   que ela   e   inexata, uma vez

que e   d esmentida   pela r ealidad e   que presume,   m as que mesmo

assim   e verd ad eir a na   medida em que Freud nela d a mostras   de

um a i ntui~a o e m qu e e le antecipa   0 que   intr oduzimos so bre a

6. A transferencia, nessa   perspectiva,   torna-s e a se gu ra n~ a d  o

analista, e a rela~ao com   0 real,   0 terreno em que se decide   0

combate.   A interpreta~ao, adiada ate a consolida~ao da transfe-

rencia, fica desde entao subordinada a redu~ao desta.

Dai resulta que ela e reabsorvida num   working through   q ue

 podemos muito bem traduzir, simplesmente, por trabalho d a

transferencia,   que serve de ali bi para uma especie de revanche

 pela timidez inicial, ou seja, para uma insistencia que abre as

 por tas a todas as for~agens, colocadas sob a bandeira do for ta-

lecim ento do E u [21-22].

7. Mas sera que se observou,   ao cntlcar    0   procedimento   d e

Freud ,   tal como ele se apresenta, por exemplo,   no Homem   dos

Ratos,   q ue   0 que nos surpreende como uma doutrina~ao previa

decorre,   simplesmente, de ele proceder exatamente na ord em

inversa? au seja, ele com e~a por   introduzir    0 pac iente   numa

 primeir a localiza~ao de sua posi~ao no real,   mesmo   q ue   este

a ca rr et e u ma p re ci pi ta ~a o - n ao h es it em os e m d iz er     uma

sistematiza<; ao - d os si nt om as [ 8].

Outr o exemplo not6rio e quando ele obr i ga D or a a   constatar 

que,   da grande desordem do m undo de   seu   pai, cu jo estrago

constitui   0   o b jet o de sua re clama~ao,   ela   f a z ma is   d o q ue

 participar; que ela se constituiu a cavilha dessa   d esor dem, e que

nao poderia continuar sem   sua   complacencia   [7].Ha muito tempo tenho enfatizado   0 processo   hegeliano   des sa

inversao das posi~6es da bela alma quanta a realid ad e q u e e la

denuncia. Nao   se t ra ta d e ad apta-I a a es ta,   mas d e   the mostrar 

que ela e st a m ais d o que bem   adaptada   nela, uma   v ez q ue

concorre para sua fabrica~ao.

Mas aqui se detem   0 caminho   a per corr er    com   0 outro.   Pois

a transf erencia   ja f ez   seu trabalho,   mostrand o que se tr at a d  e

algo   bem diferente da s   r ela~6es   do   Eu com,o   mundo.

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f uns;ao do Outr o na   neurose obsessiva, d emonstrando que essa

funs ;a o, n a n eurose obsessiva,   admite ser    sustentada pOl' um

morto, e q ue,   nesse caso,   nao poderia ser mais bem exercida do   I  I

que   pelo pai,   um a vez que, estando efetiv ame nt e m or to , ele

retornou   a   posis;ao que   Fr eud reconheceu c omo se ndo a do P ai

absoIuto.

,  q u e e e s pecialmente sensf veI,   pOl'  su a or igem,   a   dimensao d a

inler  pretac;ao,   Tr ata-s e d e Er ns t K ri s e   d e um   casu que ele nao

nos   dissimula haver retomado de Melit ta S chmideberg [I5].

Tr ata-se de um su jeito inibido em   sua vida intelectual e   [599]

 par ticularmente incapaz de conseguir publicaI'   qualquer de suas

 pcsq uisas   -   isso em razao de um impulso de plagi ar d o qu al

'Ie   nao parece capaz de assenhorear -se. Esse e  0drama subjetivo.

Melitta Schmideberg   0havia compreend ido com o a recorren-

'ia   d e u ma d elinqiiencia infantil;   0  su jeito costumava furtar 

gulos ei ma s e alfarnibios, e pOl' esse vies e que ela empr eend eu

a analise do conflito inconsciente.

Ernst Kris vangloria-se de   haver retomado   0casu de acordo

<.;omuma inter  pretas;ao mais met6dica,   a que procede da super -

rfcie   a   prof undidade,   c om o ele d iz.   Q ue e le a co lo qu e s ob a

6gid e da psicologia do   ego   segundo Hartm ann, da qual   julgou

dcver ser seu propugnador, e secundario para apreciarmos   0que

vai   acontecer .   E rnst Kris m odifica a per s pectiva do casu e

 pr etende dar ao sujeito   0 insight    de um novo comes;o, a par tir 

tie   um   f ato que nao passa de uma repetis;ao de sua compulsao,mas   no qual K r is, muito louvavelmente, nao se contenta com os

d izer e s d o pa ciente; e,   q uando este presume haver, a despeito

de   si   m esmo, colhido as ideias de um trabalho que acaba de

<.;oncluir num   livro que,   tend o-l he   voltado   a   mem6ria, permitiu-

Ihe controlar isso a poster iori,   Kr is examina as provas e descobre

q ue,   aparentemente,   nada nelas ultrapassa   0 q ue a comunid ade

do   campo de pesquisas com porta. E m   suma, haven do se   cer ti-

f icad o de q  ue seu paciente nao e plagiar io, em bor a acredite   se-Io,

K ris tenciona demonstrar -lhe que ele   quer    se-lo para se im ped ir 

de   se-Io real mente -   0que se chama analisar a defesa antes   da

 pulsao, que aqui se evidencia na atr as;ao pelas   ideias dos   outr os.

Pode-se pr esum ir q ue e ss a   inter venc;a o sej a e r  r onea,   pelo

simples fato de su por que d efesa   e pulsao se jam concentr icas e,

 pOl' assim dizer, moldadas uma pela outr a.

o   que prova q ue ela efetivamente   0 e   e   aq uilo em que Kris

a   ve   confir mad a, ou   seja,   0 fato d e que,   no momenta em q  ue

(:Ie   acredita   pod e r p er gu nt ar ao   doente   0 q ue   ele acha dessa

virad a d e ca sa ca , este, pensand o   pOl'  urn   momento, retruca-lhe

q ue   ha algum tem po,   ao sail'   da   sessao, vagueia   pOl'   um a rua

r c pl et a d e   r estaurantezinhos atraentes,   para co bis;ar em seus

<.;ar d apios   0 anuncio de   seu   pr ato   pred ileto: miolos   frescos.

8.   Que nos perdoem   aqueles que nos   leem e os q ue acompanham

nosso ensino,   se eles encontram aqui exemplos um tanto re pi-

sados pOl'   mim em seus ouvidos.

 Nao e a penas   q ue eu   nao possa citar minhas pr6prias analises

 par a   demonstr ar    0 plano e m qu e   incide a interpretac;ao,   pOl' nao

 poder    a   inter  pretas;ao,   revelando-se coextensiva   a   hist6ria, ser  

comunicad a   no meio comunicante   em que se pass am muitas   de

nossas analises sem risco de tr  ail'   0 anonimato do caso.   E   que,

em certa ocasiao, consegui dizer    0 bastan te s em   f alar demais,

ou seja,   deixar claro meu exemplo   sem que ninguem, a nao   ser 

o interessado,   0 reconhecesse.

Tampouco se   tr a ta d  e   qu e e u consider e   0Homem dos Ratosum casu que Freud tenha curado, pois, se eu acrescentasse   que

nao cr ei o que a   analise nao tenha tido nada a vel'   com a tragiea

conclusao de sua hist6ria com sua morte   no campo de batalha,

o   quanto nao estar ia   eu contribuind o   para infamar aqueles   que

mal pensam nisso?

Digo que e   numa   d ires;ao do t r  atam ento q ue s e or  d en a,   como

aca bo   de demonstrar ,   segundo um processo q  ue vai da retificac;ao

d as   r elac;6e s do su jeito   com   0   real,   ao desenvolvimento   d a

transferencia, e depois,   a   interpretas ;a o, q ue s e situa   0horizonte

e m q ue a   Freud se revelaram as descobertas fundamentais q ue

ate ho je experimentamos, no tocante   a   d inamica   e  a   estrutura d a

neurose obsessiva,   Nada mais,   pOl'em tambem nada menos.CoIoca-s e a gor a a questao de saber se nao foi   porter invertido

essa ordem que perdemos esse horizonte.

9. 0 q  ue s e pod e d izer    e que as novas vias em   q ue se pretend eu

legalizar a marcha   a berta pelo desco brid or d em on st ra m uma

confusao nos termos, que requer a singular idade para se revelar .

Retomar e mo s, p ois,   um exemplo   q ue   ja contri buiu   para   0nosso

en sino; natur al mente,   ele foi escolhid o de um'au to r q ualif icado

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Declar a<;ao   q ue, em   vez   d e   ser   consider ad a como   sancionad or a

d o caniter    f eliz   d a   inter ven<;ao   pelo   material   q ue   tr az,   par ece-nos,

antes,   tel'   0 valor    corretivo   d o   act ing out  ,   no pro pr io   r elato   que   1 f  t

e   f eito d ele.

Essa   mostarda   d epois do   jantar que   0 paciente res pir a10 mais

me   parece dizer    ao anf itriao   q ue ela f altou no servi<;o.   Por   mais

compulsivo q ue ele se ja   ao cheini-Ia, ela e   urn   hint 1 1 ; '   sendo

sintoma   tr ansitorio, sem duvid a, ela   adver te   0  a nalista:   voce

 passou   ao largo.

De f ato   voce   passou   ao   lar go,   r etor no eu, d irigind o-me   a   me-

mor ia   d e Ernst   K r is,   tal   como   r ecord a   0Congr esso   d e Marien bad ,

d o   qual,   no   dia seguinte   a   minha comunica<;ao   so br e   0estad io   d o

es pelho,   f ui   em bor a, pr eocu pado   que estava em ir r espirar    0ar   d o

tem po,   de   ur n   tempo carregad o de pr omessas,   na Olim pf ada   d e

Bed im. Ele me o b jetou   gentilmente:   "< ;a n e s e f ait pas!" (essa

locu<;ao, em   fr ances),   ja sed uzid o p or   essa   tendencia a o r es peitavel

q ue talvez aqui tenha   inf letid o seu pr ocedimento.

Ser a   isso   q ue   0 f az extr aviar -se,   Erns t K r  is, ou   a penas   0serem

retas as suas   inten<;6es,   pois seu   julgamento   tambem   0 e,   semd uvida,   enquanto as coisa s, p OI' sua ve z, estao em   ziguezague?

 Nao e   0 f ato   d e seu   paciente   nao   r ou bar q ue   im por ta aq ui.   E

q ue ele   nao . .. Sem   "nao":   c   q ue ele   r ou ba   nad a.   E er a   isso   que

ter ia sid e   pr ecise f az e-Io ouvir .

Muito ao contrar io   d o q ue   voce acred ita,   na o e a   d efesa   d ele

contr a a   id eia de r oubar que   0 f az cr er que   r ou ba. Que ele possa

tel' uma i d  eia   pr o pr ia e   q ue   nao   Ihe vem   a   id eia,   ou   que   so   0

visita   com dif iculd ad e.

Inutil,   pois, enga ja-Io   nesse pr ocesso   d e   d eterminar    a   parte,

ond e   nem   Deus   pod er ia   r econhecer -se, d aq uilo   que seu   colega

Ihe sur ru pia de mais ou   men os original quand o   0 su jeito   bate

 pa po   com   ele.

 Nao   pod e essa   ansia   d e   miolos fr  escos   r efr escar-Ihe   seu.

 pr o prios conceitos e fazer voce   se   lembr ar ,   nas   f or mula<;6es   d e

Roman   Jakobson, d a f un<;ao   d a   metonf mia?   -   voltar emos a  i sso

dentr o   em pouco.

Voce fala   d e Melitta   Schmide ber g como se ela houvesse

conf undido   a delinq i-iencia com   0 Isso.   Na o e stou tao seguro

d isso,   e,   ao me   r ef erir    ao artigo em que   ela cita esse caso,   os

ter mo s d  e seu   tftulo   me suger em   uma metafor a.

Voce   tr ata   0 paciente como   urn   o bsessivo,   mas ele esta   Ihe

estendend o   a mao com   sua   f antasia   d e   comestf vel:   para   Ihe   d ar 

a o portunid ad e   d e adiantar    urn q ua rt o d  e   hor a so br e a   nosologia

de  sua epoca, d iagnosticando: anor exia   mental.   Ao mesmo tempo,

voce   refrescaria,   r estituindo-o a  s eu   sentid o   pr opr io, esse par   de

ter mos,   cu jo   uso comum   0 r ed uziu   a   qualid ad e d uvid o sa d e  uma

ind ica<;ao etiologica.

Anorexia, no caso,   quanto ao   mental,   quanto ao   d ese jo   d o

q ual   vive   a id eia,   0 que   nos   leva   ao   escorbuto   que   imper a   na

 jangada   em que a embar co junto co m a s virgens   magr as.

A  recusa delas, sim bolicamente   motivad a,   par ece-me   tel' muita

r ela<;iio com   a aver sao   d o   paciente por a q  uilo q ue ele cogita.

Tel'   ideias er a   ur n   r ecur so   d e   q ue   ja   0 pa pai d ele , c omo   nos d iz

voce,   nao   dis punha. Ser a   que   0 avo   [gr and-per e],   q ue   nelas se

havia   ilustr ad o,   Ihe   teria ins pir ad o essa aver sao? Como sa ber?

Voce por certo   ter n   r azao em   fazer d o   significante   grand,   inclufd o

no   ter mo   d e par ent es co , a origem pura   e sim ples da r  ivalid ad e

cxercida   com   0 pai   pelo   peixe   maior fisgad o   na   pescar ia.   Mas

'sse   desafio d  e   pur a   f or ma   inspir a-me,   ant es , q  ue ele   queira

d izer :   nada   a f r itar .

 Nada em comum,   por tanto,   entr e   0  mod o d e p ro ced er que

voee usa,   d ito a   partir d a su perffcie, e a   r etifiea<;ao su bjetiva

 posta em   d estaque mais acima   no   metod a   d e Fr eud , ond e e la

tambem   nao e   motiva da p OI' nenhuma priorid ad e to pica.

E   que, ad emais, e ss a retif ica<;ao   em   Freud    e   dialetica e   par te

das   dizer es d o sujeito para   voltar    a   eles,  0

q ue significa   q ue umainter  preta<;ao   so   pod e ser   exata se   f or . ..   uma   interpr eta<;ao.

Tomar    0 par tid o   d o o b jetivo,   aq ui,   e   ur n   abuso,   nem que se ja

 peto   fato   d e   0   plagio ser r elativo aos costumes   vigentes.12

12.   Eis  urn exemplo:   nos EUA,  o nd e  a ca bou   K ris.   publica"ao   ter n valor de  titulo,

I'  ur n ensino como   0 meu   d everia,   tod a semana,   gar antir   sua priorid ad e contr a

1 1  p ilhagem a que nao d eixar ia d e d ar  ensejo.   Na F ran"a,   e a   maneir a  da  inf iltra"ao

que   minhas id eias penetr am   num   gr u po onde sao obed ecid as as or d ens   q ue

10 .   Metafor a   a   partir d o   id iomatismo   La moutar d e   Lui mont e   au nez -   "elc

tornad o   d e   impaciencia,   de   c61era".   (N.E.)

II.Uma   pista, urn ind icio. ( N.E.)

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Mas   a ideia de q ue a su per f f cie se ja   0 nfvel do superficial   e

 perigosa em si mesma.

a ut ra to pologia e   necessaria para nao. haver engano   quanto

ao lugar do desejo.

Apagar    0 d esejo   do m apa, q ua nd o e le j a e st a r eco berto   na   J i l l

 paisagem d o   paciente,   nao   e   0melhor seguimento   a   dar   a   li~ao

d e Fr eud.

 Nem   0meio   d e aca bar    com profund idade, pois   e na   superffcie

que   ela   e visfvel como h er pe s e m d  ia d e f  esta a tlorescer no

rosto.

luz   so bre os seguintes   as pectos,   ond e   no entanto   eles   pareceriam

t:xigf veis:   ser a que   e   0 mesmo ef eito da   r ela~ao com   0 analista

que   se   manifesta no   enamoramento pr imar io o bservad o   no inf cio

do   tr atamento e na   tr ama de   satisfa~6es que toma essa rela~ao

tao   dif fcil de romper ,   quand o a   neurose   d e tr ansf erencia   par ece

ultrapassar os m eios propriamente analfticos? E   sera   tambem

que   sao a rela~ao c om   0 analista e sua   fr ustra~ao   fundamental

que,   no segundo perf od o da   analise, sustenta m a   escansao frus-

lr a~ao-agressao-regressao,   em que se   inscr ever iam os   efeitos

mais f ecundos da analise? Como   havernos   de   conce ber a   subor -

d ina~ao dos fen6menos, qua nd  o sua   esf er a e atr avessad a   pelas   [603]

fantasias que implicam   a bertamente a   figur a   do   analista?

Dessas'   obscuridades persistentes,   a   r azao foi   formulada n um

estud o   excepciona l p or sua   perspicacia: a   cad a   uma das etapas

em q u e se t en to u r ev isar os   problemas   da t r  ansferencia, as

diver gencias tecnicas   que   motivavam   sua   ur gencia   nao deram

margern   a   urna crftica   verdad eir a de sua no~ao [20].

I.   E   ao   lr a balho   d e   nos so   colega Danie l L agache   que   convem

recor re r par a constituir uma   historia   exata dos tr a balhos que, em

tomo d e Fr eud, dand o seguimento   a   sua obr a e   d es d e   que ele a

legou   a  n os,   f or am d edicados   a   transferencia, por   ele   descober ta.

a objelo   d essc   tr a balho   vai muito   alem disso,   introduzindo na

fun~ao   d o   f enomeno as   distin~6es   de estrutura,   essenciais   a   sua

crflica.   Basta   lembrar    a   alternati va muit o pertinente que e l

f ormula,   quanto   a   sua   natureza   ultima, entr e   necessidade d 

r e peli~ao e   r e peti~ao   da necessidade.

Tal   tr a balho, a acr cd itarmos haver sabido   em n os so ensino

extr air    as   consequencias que ele acarreta,   toma   bem evidenlc,

 pela ordena~ao   que   intr oduz,   a   que ponto saD   f r equentemenl'

 par ciais os as pectos em que se   concentram os debates e, cm

es pecial,   0   quanto   0   emprego comum do t ermo, na pr oprill

analise, continua ad erido   a   sua   abordagern rnais   discutfvel,   St'

 bem que   mais   vulgar:   fazer    del a   a sucessao   ou a soma d  O N

sentimentos   positivos ou negativos que   0  paciente vo ta a   sell

analista.

Par a avaliar    a q ue   ponto c he ga mo s e m n ossa comunidad '

cientff ica, pod emos   d ize r q ue   nao se   f izeram nem acordo e nCI1\

2.  E   tao central par a   a  a~a o   analftica a  n o~ao q ue   quer em os aqui

alcan~a r que ela pod e ser vi r d e medid a par a a   par cialidad e   das

lcorias   em   q ue ha   quem   se d etenha em pensa-la.   au se ja,   nao

cstar emos enganados   em julga-Ias   segund o   0 manejo d a   trans-

f crencia que elas implicam.   Esse pragmatismo e justificado.   Eq ue esse mane jo d a transf er encia   e identico   a   no~ao   del a, e por 

menos elabor ada que se ja   esta   na   pr atica, ela so pod e incluir -se

nas   parcial id ad es d a teoria.

Por    outro lado,   a existencia simultanea   d essas   parcialid ades

nem po r i ss o a s f  az   se completar ern.   a que   confirma que eJas

sof rem d e ur n de fe it o central.

Par a ja ir introduzindo nisso   um pouco   d e ord em,   reduziremos

a   tres essas particularidades   d a   teor ia,   ainda que   desse modo

lcnhamos, nos mes mo s, d  e   no s c onfor mar    a alguma   opiniao

 pr econce bi da , men os g r  ave   por    ser   apenas de   ex posi~ao.

3.   Ligaremos   0 geneticismo,   na   medida em q ue   ele   te nd e a

fundamentar os fenomenos   analf ticos   nos   rnomentos de desen-

volvimento implicados ease   nutr ir d a   chamad a   observa~ao

d ireta   da crian~a, a uma tecnica particular :   a que   f az   a   essencia

desse   procedimento incidir    sobre   a   analise   d as   defesas.

 prolbem meu ensino.   POl'serem malditas ali,  as  id eias s6 pod em ser vir de ad ol'l1t1

 para   alguns   d iind is.   Niio importa:   0vazio  qu e elas fazem ressoar ,   quer me cil(''''

ou nao,   faz  o uvir uma outra voz.

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E sse la<;o e historicamente manifesto. Pode-se ate   dizer que

nao tem   outro fundamento, ja qu e   so se constituiu pelo   fracasso

d a solidaried ade que   su p6e.

?od emos   mostrar    seu   inf cio no credito   legf timo   d ado   a no<;ao

de um   eu inconsciente pela q  ual Fr eud    r eor ientou sua doutrina.

Daf passar a hi potese de que os m ecanismos d e   d efesa q ue se

agr u pavam sob sua f un<;ao deviam poder , eles   mesmos, trair umalei de m anifesta<;ao comparavel,   ou   ate   mesmo cor r espondente

a sucessao de   f ases pela qual Fr eud    havia   tentado   ligar a

emer gencia pulsional a f  isiologi a, e is   0 passo que Anna   Freud ,

em seu   livr o sobre   Os mecanismos   d e defesa ,   pr op6e transpor ,   III

 para su bmete-Io a pr ova da exper iencia.

Is so poder ia ter   sido a opor tunidade de   uma crftica fecund a

das   r ela<;6es   d o desenvolvi me nt o c om   as estruturas manifesta-

mente   mais com plexas que Fr eud intr oduziu na psicologia.   Mas

a   oper a<;ao   d eslizou mais abaixo,   tao m ais tentador    er a   buscar 

inserir nas   etapas o bservaveis do   d esenvolvimento sensorio-mo-

to r e d  as capacidades   pr ogr essivas   d e   um com por tamento inte-

ligente esses   mecanismos,   supostamente desvinculad os   do pro-gr esso del as.

Pod e-se d izer que as e s per an<; as q  ue   Anna F reud    d e positava

nessa explor a<;ao   f or am f rustr adas: por   essa   via, nada se revelou

, d e esclar eced or    par a a   tecnica,   embor a os   detalhes   q ue se pod e

discernir    atr aves   d a observa<;ao   d a   cr ian<;a,   esclar ecida pela

analise,   se jam   as vezes   muito sugestivos.

A no<;ao   d e   patt er n,   que   vem funcionar    aq ui c omo u m alibi

da   tipologia   malogr ada,   a padrinha   u ma t ecnica   que, por seguir 

na detec<;ao d e   um   patt ern   nao   atual, se inclina d e   bom grad o

a julga-Io   p or seu desvio   de um   pattern   que encontr a   em seu

conf ormismo   as garantias de   sua   conformid ad e. Nao e sem

constrangimento   que   evocamos   os cr iter io s d e ex ito   a que leva

esse   tr a balho   posti<;o: a passagem par a   0 patamar s up er io r d  e

renda   e   a s af da d e e me rg en ci a d  a   liga<;ao com a secretaria,

r egulando   0 esca pe   de for<;as rigorosamente   subjugadas no ma-

trimonio,   na pr ofissao   e  na   comunidade polftica, nao nos parecem

de uma dignidade que requeira   0 apelo, ar ticulado no   planning

do analista ou mesmo em sua interpreta<;ao,   a Discordia entr e

os instintos de vida e de m orte   -   mesmo ornamentando seu

 proposito com   0 pretensioso qualificativo de "econom ico", par a

leva-Io adiante, em completo contra-senso com   0  pensamento

<.IeFreud, como   0 jogo de um par d e   for<;as homolo ga s e m su a

o posi<;ao.

4.  M enos   d egrad ada em seu   r elevo   analf tico par ece-nos a segunda

f ace   em que sur ge   aquilo q ue s e f  urta   d a   transfer encia, ou se ja,

o   eix o t om ado da rela<;ao de o bjeto.

E ssa teor ia,   n ao impor ta   a que   ponto de aviltamento tenhachegado   nestes   liltimos tempos   na Fr an<;a,   tem,   como   0geneti-

cismo, sua or igem   nobr e. Foi A br aham   q uem inau gu ro u seu

registro, e a no<;ao d e   ob jeto parcial f oi uma contri bui<;ao or iginal

sua.   Este   nao   e   0 lugar    de   Ihe demonstr ar 0   valor .   Estamos mais

interessados   em indicar sua   liga<;ao  com a parcialid ade   do   as pecto   [605]

q ue   Abraham   d esvincula   da transferencia,   par a promove-lo em

sua   opacid ad e como a ca pacid ade de amar ,   ou   se ja,   como   se

esse fosse   um   dado constitucional do d  oente   em q ue   se   pudesse

ler    0gr au d e s ua cur abilid ade,   e, em   es pecial,   0 linico em q  ue

f racassaria   0 tr atamento   d a   psicose.

Temos aq ui, na verdad e,   duas equa<;6es.   A transf er encia

q ualificad a d e sexual   (Sexualiiber t ragung)   acha-se no pr  incfpio<.10amor    a   que, em fr ances, chamou-se o bjetal   (em   alemao,

Ob jekt liebe).   A   ca pacidad e   d e   transf er encia mede   0 acesso ao

r eal.   E   impossfvel   enf atizar    em   demasia   0 q uanto ha n i ss o d  e

 peti<;ao   de princfpio.

Ao contr ar io d  os   pressu postos   d o geneticismo, que   pretend e

se   basear numa ordem das emergencias formais   no sujeito, a

 per spectiva   d e   Abr aham   explica-se numa finalidade que se

autor iza p or s er    instintual,   na medida em que se   f az im agem da

matura<;ao de um objeto inefavel,   0 O bjeto   com mailiscula que

comanda a fase da objetalidade (significativamente distinguida

d a   o bjetividade por sua substancia de afeto).

Essa concep<;ao ectoplasmica do objeto logo mostrou seus

riscos ao se d egr  adar na d icot omi a gr osseira que se   formula

o pondo   0 carater pre-genital ao caniter genital.

Essa   tematica primar ia se desenvolve, de um modo sumario,

atr ibuindo-se ao carater pre-genital os   tra<;os acumulados do

irr ealismo projetivo,   do autismo mais   ou menos comedido,   da

r estr i<;ao das satisfa<;6es pela d efesa,   e   do condicionamento do

o b jeto por um isolamento duplamente protetor    quanto a os ef eitos

de   d estrui<;ao que   0 conotam, ou seja, um amalgama de todos

os   d ef eitos da rela<;ao de objeto, para m ostrar os m otivos da

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extr ema   depend encia   que   r esulta   d ela   para   0sujeit o. Quadro que

seria   litil,   a d es peito   d e sua tend encia a conf usao,   se  nao   parecesse

feito para   ser vir    de negativo   d o e stilo agua-com-a~ucar    "d a

 passagem d a forma pr e-genital   a forma genital", ond e as   pulsoes

" ja nao assumem   0carateI'   de necessid ade de posse   incoercfvel,

ilimilad a, incond icional,   que   comporta   urn   as pecto   d estrutivo.

Elas sao   ver dadeir amente   ternas, amorosa s, e ,   se   0 sujeito nem por isso se mostra   oblati'/a, islo e,   desinter essad o,   e se esses

o bjetos"   (neste   ponto,   0 autor    se   lembr a   d e   meus comentarios)

"sao   tao   intrinsecamente   objetos   nar cf sicos quanta   no caso

anterior, aqui   ele e   ca paz   d e   compr eensao e   d e adapta~ao ao

outr o.   Alias,   a estrutur a   fntima d essas r ela~oes objetais mo str a

que a participa~ao   do   o bjeto em   seu pr o prio pr azer    e indispen-   II f 

savel   par a   a f elicidad e   d o sujeito. As   conveniencias, os desejos

e as necessid ad es   d o o bjeto   (que salada!)13   sao   levados e m

consid era~ao no   mais alto gr au".

Isso   nao im pede,   contudo, que"   0Eu   tenha aqui uma   estabi-

lid a de q  ue   nao corr e   0risco   d e ser   compr ometid a   pela perda d e

urn   Ob jeto   signif icativo. Ele   permanece   inde pend ente   de seus

o bjetos" ."Sua organiz a~ao e tal   q ue   0 mod o   d e pensamento   que ele

utiliza   c   essencialmente 16gico. Ele   nao   exi be es pontaneamente

uma r egr essao a   urn mod o   de   a pr eensao da   r ealid ad e   que seja

arcaico,   0 pensamento af elivo   e a cr en~a m agica   d esempenham

nele   apenas u rn pa pel   a bsolutamente secund ar io, e a simboliza~ao

nao   ultra passa,   em extensao e   im por tancia,   0q ue   ela e   na vid a

ha bitual ( !! ).13 0 estilo   d as   r ela~oes entr e   0sujeito e   0objeto   edos mais evoluf dos   (sic)."   1 3

Eis   0 que   se pr omete aqueles   que, "ao f  im d e   uma analise

 bem   sucedid a   ( ... ), a per ce bem-se   d a enorme dif  eren~a   entre   0

que   eles outr ora acr editavam   ser    a alegr ia'sexual   e aq uilo que

exper imentam   agor a".

E   compr eensfvel que, par a os   que tern   de safd a essa   alegria,

"a   r ela~ao   genital   seja, em suma,   d es provid a   d e   hist6ria"   [21].

S em outr a   hist6ria   senao   a d e se   conjugal'   ir r esistivelmentc

no verba   "bater    com   0 tr aveseir o   no   lustr e",   cujo   lugar nos

 par ece marcad o aq ui par a   0f utur o escoliasta,   pOl' encontrar nissosua   etema   oportunidad e.

5.   Se de f  ato e preciso seguir Abraham quando   ele nos   a presenta

a   rela~ao d e ob jeto como   tipicamente demon strada na   atividade

do   colecionad or, t alvez sua regr a   nao se   d e   nessa antinomia

cd ificante,   mas d eva antes ser buscad a em algum impasse   cons-

lilutivo do   dese jo como   tal.

o  q ue   f az   0o bjeto   apr esentar-se   como   que br ado e d  ecomposto

lalvez se ja   algo d iferente   d e   urn   fator patol6gico. E   que   tern   avel'   com   0 real   esse   hino   a bsurd o a   harmonia   d o   genital?

Convir a   riscar d e   nossa ex periencia   0drama   do   edipianismo,

quando pOl' Freud    ele teve d e ser f Oljad o   justame nt e par a ex plicar 

as   bar r eir as e   as   degrada~oes   (Erniedrigungen)   que   sao   0 que   [607]

ha   de mais   banal n a vi d  a amorosa,   mesmo   a   mais r ealizada?

Cabera an6s camuflar    Er os,   0Deus negro, de camei ri nh o d  o

Born Pastor?

A su blima~ao   decer to   e empregad a   na obla~ao que se   irr adia

do   amor ,   mas   d ediquemo-nos a ir urn p ouco mais   longe na

estrutur a   do sublime,   e   que   nao   0 confund amos,   coisa   a que

Freud, sempr e acusa   de f also, com   0orgasmo per feito.

o pior   e que   as almas que se der r amam na   mais   natur al t emura

aca bam se   per guntando   se satisf azem a normalid ad e   d elirante

da   rela~ao   genital -   fard o   inedito q u e, a   exemplo   dos que   0

Evangelista   amald i~oa,   amarramos par a   os ombros d os i nocentes.

M as ao nos   ler em , s e   algo d isso chegar    a e pocas   em que ja

nao s e saiba a que   corres pondi am na   pratica essas efervescentes

coloca~oes,   pod erao imaginal' que   nossa arte se d  edicava   a

reavivar a   fome   sexual   em retard ad os da glandula   -   para cuja

fisiologia,   no entant o, nao contribufmos em   nada,   e   pOI'  haver 

fcito   d e f ato,   muito pouco para conhece-Ia.

6.   E   preci so q ue h aj a a o m en os t r  es f aces em u ma   piramid e,

ainda   que   de her esia.   A que fecha   0 diedr o   aqui descrito na

hiancia   da conce p~ao da transferencia   se esfor ~a, pOI' assim dizer , pOI' Ihe   juntar as   bordas.

Se a   transfer encia retir  a   sua virtude d o   ser    r econduzid a   arealid ad e   da qual   0 anali st a e   0 r e presentante, e se   se   trata d e

f azer    0O bjeto   amadurecer na   estuf a   de uma   situa~ao confinad a,

 j,l   nao   resta ao   analisad o s en ao u rn o b jeto,   se n os permitem   a

cx pressao,   em que fincar os dentes,   e   este   e   0analista.

Daf a no~ao d e   introje~ao intersubjetiva, que e nosso   terceiro

C1TO,se   instalar ,   lamentavelmente,   num a r  ela~ao dual.

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Pois   tr ata-se   mesmo   d e   uma   via   unitiva,   d a   qual   os   diver sos

molhos   teoricos   que a   pr e param,   de acordo com   a   to pica a  q ue

se   f az   r ef er cnc ia , so pod em   conser var a   metafor a, variand o-a

confor me 0   nf v el d e o per a9ao consider ad o   serio: intro je9ao,   em

Fer enczi, identifica9ao com 0 Super eu d o analista, em Str achey,

e   transe   nar cfsico ter minal, em   Balint.

Tencionamos chamar    aten9a o par a a substancia dessa c onsu-ma9ao mfstic a, e se   mais   uma v ez   temos   que   d enun ci ar 0   que

acontece a nossa por ta, e por sa bermos q ue a ex per iencia analftica

extr ai   sua for 9 a d o par ticular .

Assim   c   q ue a   im por tancia dada   no tratame~to a fantasia   d e

devon19ao falica su prida pela   imagem   do analista parece-nos

d igna d e s er d estacad a, em sua coer encia com   uma d ire9ao   d a

amUis e q ue a f az c ab er i nteira   na d isposi9ao da d istancia entr e

o paciente e 0 analis ta c om o o b je to d a rela 9a o d  ual.

Pois, a despeito da debili da de d a   teoria com   que um autor 

sistematize sua   tecnica,   ne m p Ol ' isso ele deixa de a naJisar 

r eal  mente, e a coer encia re velad a   no er r o constitui   aq ui   0 garante

de que efetivamente se toma   0 bond e en-ad o.

E   a f un9ao privilegiada do significante fain no   mod o   d e

 presen9a do su jeito   no d es ej o q  ue se   ilustra aqui,   mas   numa

expericncia q  ue pod emos chamar d e c eg a: i sso , p or f alta   d e

qualq uer    orienta9ao sobr e as verd adeiras rela90es   d a situa9ao

analf tica, a   qual, do   mesmo   modo   que q ualq uer    outr a situa9ao

em   q ue se fale,   so pod e , ao   quer er    inscreve-Io   numa   r ela9aodual, ser   destr o9ada.

Sendo desconhecida,   nao sem   motivo,   a natur ez a da incorpo-

ra9ao simbolica, e   nao   havendo possibilidad e de   que se consuma

seja   0 que for    de real na amilis e, e vid enc ia -s e, p elas   balizas

elementar es de   meu ensino,   que   nad a mais   pod e ser   reconhecid o

sena o de imaginar io   naquilo   que se pr oduz. Pois   nao e  necessario

conhecer    a   planta de   um a cas a   par a bater    a cabe9a contr a as

 paredes:   para isso, alias, prescind e-se   muito bem d ela.

Eu   mesmo ind iq uei a esse autor , nu ma epoc a em que   d e ba-

tfamos entre   nos, q  ue,   em se   f icando pr  eso a   uma   r ela9ao

imaginaria entr e os o bjetos,   r estava a penas a   dimensao   d a   dis-

tancia par a pod er ord ena-Ia.   Isso nao   estava   na   visad a em que

ele a bund a em   seus par ecer es.

Fazel' d a distancia a   unica dimensao em que   se ar ticulam   as

r ela90es   d o   neur otico com   0 objeto gera   contr adi90es   insuper a-

Yl'is,   que sao bastante   discernfveis,   tanto   no   interior d o   sistema

quanto na d  ire9ao o posta   que auto re s d if er entes ext~'ae~m .da

Illcsm a m etafor a   par a organizar suas im pr essoes.   As dlstan~las

l,ycessiva ou insuficiente   d o ob jeto parecem,   as   vezes, conlun-

dir -se a ponto   d e   se em bar alhar .   E nao era a d istanc ia d o o b j.eto,

l11as sua   intimid ade gr ande demais n o su jeit o, q ue p ar ec la a

F'ren cz i c ar  acter i za r 0 ne ur otico.

o que decid e so br e 0  q ue cada   ur n q uer   .d i~er   e s~a   utiliza9~0

Il-cni ca e a tecnica   d o   rapprocher,   pOl' mals   Impagavel   q ue   seJa

n   cf eit~   d esse termo, nao tr aduzido,   numa ex posi9ao em ingles,

Il'vela na pr atica   uma   tend encia q ue confina   na o bsessao.

E   diffcil   acr editar    q ue   0 ideal   pr escr ito na red  u9ao dessa

distanc ia a 'zer o   (nil,   em ingle s) n ao d ei xe s eu   autor perceber 

que   nisso se concentr a seu   paradoxa teor ico.

Se ja como for ,   nao   ha d uvida de que essa d istancia e tomada

 por urn parametro   univer sal, re gen do a s var ia90es da te~nica

( pOl' mais extravagante   que s e af  igure   0debate sobre a amplttude

d clas) em pr ol d o   d esmantela men to da   neur ose.

o   que tal concep9ao deve as condi90es especiais   d a   neu.r ose

n bsessiva   nao   d eve ser   colocad o p Ol ' i nteiro do   la do d o o bJeto.

 Nem sequel' par ece haver ,   no rol de suas   r ealiza90es,   urn

 pr ivilegio a destacar    d os resultados q  ue e.l~ obt?ria   na   neu~-~se

nbsessiva.   Pois, se como a Kris   nos e penmtldo cltar   uma analIse

I'ctomada na condi9 ao d e  segundo analista, pod emos   testemunhar 

que   tal tecnica,   na   qual   0talento   nao deve ser   contestado, acabou

 pr ovocando,   num   caso clfnico de pura obsessao   nu~   homem, a

irru p9ao   d e   urn   enamor amento nao menos   d esmed ldo pOl' ser 

 plat6nico, e   que   na o se   r evelou   menos irredutfvel   pOl'   ter -se

cxercido, d epois   d o pr imeiro, so bre os o bjetos   d o   mesmo sexo

a seu alcance.

Fala r d e   per ver sao   tr ansit6ria pode s atisf azer    aq ui ur  n otim~s-

1110   ativo,   mas ao   pr e9 0 d e s e r ec onhecer , nessa r~staUl~a9ao

atf  pica   d o terceir o da rela9ao, excessivamente   neglIg~n~tado,

que convem nao pux ar d emais par a   0 recur so da proxlmldade

Ila   r ela9ao   com   0 ob jeto.

7.   Nao   ha limite   par a as desgastes da tecni ca p or sua   d es~~n-

'eitua9ao.   Ja fizemos   r ef er enc ia a os achad os   d e   uma cer ta analtse

selvagem a respeito   d os   quais foi d olor oso   nosso es panto   que

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nenhuma su pervisao se alm'masse,   Poder    sentir l4 0   od or    d o

analista apar eceu   num tr a balho como   uma   realizac;ao a ser tomad a

ao pe da letra, para assinalar    a safd a   exitosa da tr ansferencia.

Pod emos d iscernir    af   uma es peci e d e hu mor    involuntar io   que

e   0 q ue da valo r a e sse e xemplo,   El e t eria e nc antado   lar ry.

Trata-se apenas, em sum a, da conseqiiencia   previsf vel   de tomar 

ao real   0desenvolvimento   d a situac;ao analftica:   e e verdade   que,afor a a gustac;ao,   0 olfativo e a   unica   d imensao q  ue pe r  mite

reduzir    a zer o   (nil)   a   distancia,   d essa vez   no   r eal.   0   indfcio   a

encontrar    nele par a a   dir ec; ao do tr atamento e os princfpios   de

seu   poder e m ais   duvid oso.

Mas, que   urn   od o r d e gaiola vague ie p or uma   tecnica   que   se

cond uz " pelo far o ", c omo s e co stuma dizer , na o e a penas ur n

tr ac;o de   rid f culo. Os alunos de   meu   seminar io e st ao l em brados

do odor    de urina q ue marcou   0 momento decisivo de ur  n caso

de perversao transitoria,   no q ual   nos detivemos em prof da crftica

dessa tecnica.   Na o s e pod e d iz er q ue ele   nao tenha tido   liga9ao

com   0 acidente q ue   motivou   a o bser vac;ao,   ja q ue foi   ao es piar 

u ma mulher q ue   urinava, atraves   d o ta bique   de   ur n   water   que,

s(ibito,   0 paciente tr ansmud ou   sua   libid o, sem que   nada, ao   que

 par ecia,   0 predestinasse a   isso,   pOl'quanto as emoc;6es   infantis

ligadas   a   fantasia   d a   ma e f aIica   haviam   assumid o ate entao as

f eic;6es da   f o bia   [23].

Mas essa   nao   C   uma   ligac;a o d ir eta, assim   como   nao seria

cor r eto ver   nesse   voyeurismo uma inver sao da exibic;ao   implicada

na ati pia da   f o bia,   no diagnostico   muito pr ecisamente formulado:

so b a angustia do pa ciente de ser   r idicular izad o por   sua estatur a

demasiadamente grande.

Como d  issemos, a analista a   quem d evemo s e ss a   notavel

 pu bficac;a o deu mostras   d e   r ar a   per s picacia, retornand o, ate   a

exaustao,   a   interpr etac;ao   que   d er a   d e uma certa   ar madur a surgida

num   sonho, em   posic;ao   d e perseguid or,   e, ainda por   cima, armada

com uma bomba   d e Flit, como   send o   urn   sfmbolo   d a   mae falica.

 Nao   d everia eu   ter , antes,   f alad o   d o   pai? -   per gunta-se   ela.

E   justifica ter-se   d esviad o   d isso   pela carencia   d o pai   real na

historia do paciente.

Meus   alunos   hao   d e aqui d ep lo ra r q  ue   0 ensino de m eu

semimirio   nao tenh a p od ido ajuda-Ia na epoca, ja que eles sa~em

com base em q  ue princfpios   Ihes ensinei a disting.uir    0 obJeto

fo bico como   significante par a todo uso, para supnr a falta. do

Outro, e   0 fetiche fundamental   de toda perversao como obJeto

 percebido   no corte do significante.

 Na falta   d isso, por que nao se lembrou essa novata ~al~n,tosa

do   dialogo das ar mad uras no  Discours su~ Ie peu de realt te,   de

Andre Breton? Isso a t er ia c olocado no tnlho.

Mas, como espera-Io,   quand o essa analis e r ec eb ia n a su p~r -

visao   uma orienta9ao que a   f azia pender    p ara uma pr essao

constante   no sentido de reconduzir    0 paciente   a   situac;ao   r eal?

Como nos espantarmos com   0 fato de, ao contrario da ra!n~a da

Es panha,   a analista ter pernas,   quando eIa mesma   0 enlatIzava

na   rudeza de seus chamamentos   a   ordem   d o presente?

E claro   que tal   pr ocedimento nao deixou   de ter a   vel'   cor n   0

desfecho   benigno do   act ing out   aqui   examinad o,   uma vez   que

tambem a analista,   alias consciente d is so , viu-se permanente-

mente   numa   intervenc;ao castradora.

Mas, send o assim, por q  ue atri buir esse papel   a   mae,   d a q ual

tudo indica,   na anamnese   d essa obser vac;ao, q  ue ela sempre

f uncionou mai s   como alcoviteira?

o   Edi po   f altoso foi com pensad o, mas sem p.re sob   ~ f orma,

aq ui d e d  esconcertante   ingenuid ad e,   pOl'   uma   I~vocac;ao   t~tal-

mente forc;ad a,   senao arbitr ar ia, da pessoa do  mand o .da ~nalIsta,

no   caso   f avor ecida   pelo fato   d e, send o e le   mesmo pSlq ulatra, ter 

sido ele quem Ihe   f or neceu   esse   paciente.

Essa nao e uma   cir cunstancia   comum. De q  ualq uer m od o,

deve ser r ecusada   como exterior    a   situac;ao analftica.

Os   desvios imperd oaveis   d o   tr atamento   na o s ao em si   0que

cr ia r eservas quanto   a   seu   desf echo, e   0 humor , pr ovavelmente

n ao sem malfcia,   d os honorarios surrupiad os   d a   ultima sessao

como  prec;o pelo   estupr o, nao e urn  a u~urio   na?a   ~nau par a   0fu:u:o.

A   questao que pod emos   levantar    e a   d o   lImIte entr e a analIse

e  a reeducac;ao, quand o   seu pr o prio   processo e   norteado p.or uma

solicitac;ao preponder ante   de suas   incid encias   r eai~.   COI~a   que

se ve   ao comparar, nessa   o bservac;ao,   os dad os d a   bJOgrafla com

as   formac;6es transferenciais: a contribuic;ao   d o d ecif r amento do

inconsciente e real mente   mfnima.   A   ponto   de nos perguntarmos

se   sua maior parte nao   permanece   intacta   ~o, ~ nq~ista~ento   do

enigma q ue,   sob   0 rotulo de perversao   tr ansltona,   e obJeto dessa

instr utiva comunicac;ao.

14.   Vale   notar que   sent ir    ("eheirar "   em franees) ter n   tambem   a   aeeP9ao d e

"suportar " ou "toler ar " , eomo no eoloquialismo   ne pas pouvoir sentir  qu elqu   ' £111.

~.  ~   ,

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8.   Que   0   leitor    nao   analista   nao se engane:   nada   d isto   e   pam

d epr eciar um   tr abalho   que   0   e pfleto virgiliano   im pr obus   qualifi   '11

com   jusleza.

 Nao   Lemos oUlro   d esfgnio s en ao   0  de adver tir os analislas

so bre   0deslizamento sof  rido   por    sua lecnica,   q uando se  desco

nhece   0 ver d adeiro lugar    em   q ue se pr oduzem   seus efeitos.

Incansaveis na tentativa de defini-Ia,   nao podemos   dizer q u   ..

encer rando-se em posic;oes de modestia e ate mesmo guiand o-s .

 por ficc;oes, a experiencia q ue eles   d esenvolvem   se ja sem pr '

infecund a.

As pesq ui sa s geneticas   e   a o bservac;ao direta   longe estao d '

estar desvinculadas   d e   um animo propr iament e a nalftico. E, pOl'

havermos n6s mesmos   r elomad o, n um a no d e n os so seminario,

os lemas   d a relac;ao d e   ob jelo,   moslramos   0  va lor    d e uma

concepc;ao em q ue a o bser vac;ao da crianc;a se nutre da   mais

 pr ecisa ref or mula<,:ao   d a f unc;ao dos   cuidados mater nos na gen es'

do objelo: referimo-nos a no<,:aode ob jelO lransicional intr oduzida

 por   D.W. Winnicoll, ponlo-chave para a explica<,:ao da   genes

do f etichismo [27].

A verdade e que   as f lagranles incertezas da   leitura dos  gran d es

conceilos   freud ianos sao   corr elalas   as fraq ue zas q  ue oneram   0

la bor    pnHico.

Queremos deixar clar o q ue e   na medida dos impasses   expe-

r imenlados para caplar    sua a<,:ao em sua autenticidad e   que   os

 pesquisador es,   assim   como os gr  u pos, acabam por forc;a-Ia   no

senlido do exercfcio de   um poder .

Esse poder ,   eles   0 Su bsliluem   pela rela<,:ao com   0 ser   em que

s e da e ss a a<,:ao,  f azend o   com   q ue se us meios,   nomead amenle

os   d a fala,   decaiam de sua emincncia verfdica.   Eis por q ue   cr eal mente   uma especie de   r elor no do recalcado, por   mais estr anho

que se ja, q ue   f az com   q ue, das pr etensoe s menos   inclinad as a

se   pr eocu par com   a  d ignid ad e   d esses   meios,   eleve-se a algaraviado   r ecur so a o ser c omo a   um d ado do real, q uand o   0discur so

q ue ali impera rejeita   q ualquer inter rogac;ao q  ue uma estupenda

mediocr idad e ja   nao   tenha reconhecido.

I.  E   muito   ced o na   hist6r ia   d a   analise q ue apar ece a  qu estao d o

ser   do analista. Que   isso se   de   atraves   d aq uele   q u e f oi   0 mais

oIlormentado   pelo problema d a   a<,:ao analftica   nao e d e   nos

',lIrpr eender .   Com   ef eito,   pode-se d izer    q ue   0   ar tigo de Ferenczi   [613]

Illtilulado   "Intro jec;ao e transferencia",   datado   d e 1909 [3],   e

Iliaugural nesse aspecto e se antecipa de   longe a   lodos os temas

 posleriormente desenvolvidos da t6pica.

Se   Ferenczi conce be a tr ansferencia como a introjec;ao da

 p 'ssoa   do med ico na   economia su bjetiva, ja nao se trata aqui

d cssa   pessoa c omo su porte de   uma compulsao repetitiva, de uma

\'ond uta inad aptada, ou   como f igura de   uma fantasia.   Ele entende

('om   isso a absor c;ao, na economia do sujeito,   d e   tudo   0que   0

 psicanalista presenlif ica   no d uo como   hic   ef    nunc   de   uma

 pro blematica encar nada.   Pois   nilo chega esse autor    ao extr ema

d e   ar ticular q ue   a   conclusao da analise s6 pode   ser atingida na

d cclara<,:ao q ue   0 med ico faz a o d oente   d o abandono que ele

ll1esmo esta   em vias   d e sofrer?15

2.   Ser a   preciso pagar com esse prec;o em comicid ade para q  ue

simplesmente se   ve ja r econhecida a falta-a-ser do sujeito como

() cer ne   da exper i cn ci a analf tica, como   0campo   mesm o em q ue

se   exibe a paixao do   neur6tico?

Excet ua do e ss e nucle o d a es co la hungara, de archotes   hoje

d is per sos   e logo lr ansformados em cinzas, somente os i ngleses,

em   sua   fria ob jelividade, sou ber am ar ticular    a hiancia q ue   0

neur 6tico atesta ao   querer    justif icar sua existencia, e,   com   isso,

sou ber am im plicilamente dislinguir d a r el ac;ao inter-human   a, de

seu   calor e seus engodos, a rela<,:ao com   0 Outr o o nd e   0  ser 

cnconlra seu   slalus.

Basla-nos citar E lla Sharpe e seus comentar ios per tinentes ao

acompanhar    as verdad eiras pr  eocupac; oe s d o   neur 6tico   [24]. A

forc;a   d eles enconlr a-se   numa especie   d e ingenuidade   que se

ref lete nas asperezas,   justi   f icad amente   celebres, d e seu   estilo de

lerapeula e e sc r  itora.   Nao e   um   trac;o cor r iqueir o   que ela chegue

ate m esmo a o st entac;ao,   na exigencia   que i mp oe d e u ma onis-

ciencia ao   analista   para   ler   cor retamente as   intenc;oes   d os d is-

cursos   d o analisado.

15.   RetiFica~ao d o texto   na   ante penultima   Fr ase e   na pr imeira   linha   d o   panigr aFo

seguinte   (1966).

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Devemos   reconhecer -Ihe   0  mer ito   d e colocar em primeiro

lugar nas escolas d o   praticante uma cultura liteniria, mesmo   q ue

ela nao pare<;a perceber que, na   lista   d e leituras minimas que

Ihes propoe, predominam as obras da imaginaC; ao em q  ue   0   1 6 1 - 1 1

significante do falo   desempenha urn papel   central, so b u rn v eu

tr ansparente.   Isso apenas prova que a escolha e tao menos guiad a pela ex periencia quanto e feliz a indicaC;ao de princfpio.

mais   nad a   pOl"que a   felicidad e,   como   d isse Saint-Just, tornou-se

um fator d a   polftica.Se jamos   justos:   0   pr ogresso   human}sta,   de Ar ist6te le s a S aG   [6151

Francisco   (d e Sales),   nao   satisf ez as a porias   d a   f elicidade   ..

Perde-se tempo, como sa bemos,   pr ocur and o   a   camisa   d e   urn

homem feliz,   e aquilo a   que se chama   uma sombr a f eliz deve

ser evitad o, pelos   males q ue pr opaga.

E   real mente   na   r elaC;ao com   0ser q ue   0analista ter n   de assumir 

seu   nivel o per at6rio,   e   as chances q  ue para esse   fim Ihe ofer ece

a   analise d id itica   nao devem   ser   calculad a s a pe na s em   f unC;ao

do   problema supostamente   ja resolvid o pelo analista   que   0 guia

nela.Ha desventul"as   d o s e r q  ue a prudencia   d os   colegios e   0falso

 pu do r q  ue   gar ante as   d ominac;oes   nao ousam   su pr imir    deles

mesmos.Cabe for mular uma etica q ue integr e as conquistas freud ianas

so bre   0dese jo:   par a   colo ca r em   seu   ver tice a  qu estao   d o   d ese jo

d o   analista.

3. Aut6ctones ou   nao, foi ainda pelos ingleses que   0 fim   d a

analise foi   mais categoricamente definido atraves da identificaC;ao

do sujeito com   0 analista. Certamente, varia a opiniao quanta a

ser de seu E u ou de seu Supereu   que se tr  ata.   Nao se domina

com tanta facilidade a estrutura que Freud destacou no sujeito,

quando nela nao se distingue   0 simb6lico do imaginario e   do

r eal.

Digamos   apenas q ue nao se fOljam colocac;:oes tao apropriadas

 para chocar sem que alguma coisa pressione aq ueles q ue as

formulam.   A diaIetica dos ob jetos fantasisticos pr omovid a   na

 pnitica pOl' Melani e Kl ein   t en de a s e tr ad uzir ,   na teoria, emterm os de identificaC;ao.

E   que esses ob jetos, par ciais ou nao, mas segur amente signi-

ficantes   -   0 seio,   0 excremento,   0 fa]o -,   0 su jeito   d ecer to   os

ganha ou o s per de, e   d estruido por e les ou os preser va,   mas,

acima de tudo, ele   e   esses ob jetos , c onfor me   0 lugar em   que

eles f uncionem em sua fantasia f  undamental,   e esse   mod o d e

identificaC;ao s6 faz m ostrar a patologia da pr opensao a   que   e

impelid o   0 su jeito   num mund o em q  ue   suas necessid ad es   SaG

reduzidas a valor e s d e t roc a, s 6 encontrando essa mesma   pro-

 pensao sua possibilid ade rad ical   pela m or tificaC;ao   que   0 signi-

ficant e im poe   a   sua   vid a   numer and o-a.

5. A decadencia q ue marca a especulaC;ao analitica, es pecialmente

nes sa or dem,   nao   ter n   como   nao causar impacto, sim plesmente

ao   sermos sensiveis   a   r essonf mci a dos   tr a balhos antigos.

De tanto compr eend er ur n monte   d e coisas,   os   analistas em

ger al imaginam que com preend er e   urn   f im   em   si   e   que s6   pod e

ser   um   ha pp y end.   0 exem plo   d a ciencia fisica,   no entanto, po d e

mostrar -Ihes que os   mais gr and iosos sucessos   nao implicam   que

se   saiba aond e se esta   indo.

Muitas   vezes,   mais   vale   na o c ompr eend er para   pensar , e e

 possivel   percor rer leguas com preend end o sem que disso   r esulte

o   men or pensamento.Foi   justamente esse   0  ponto   d e   partid a   d os   behavioristas:

renunciar a compr eend er .   Mas,   na falta   d e   qualquer    outr o pen-

samento   numa   materia   - a nossa,   que e a   antiph ysis   - ,   eles

tenderam   a se  se r vir , s em   com pr eend e-Io,   d aquilo   que   com pr een-

dem os: ense jo , par a   n6s, d e   urn r es gate   d e orgulho.

U ma amostr a   d o   que   somo s c a pazes d e   pr od uzir    em materia

de   moral e d ad a   pel a  n oC;ao d e o blatividad e. Essa e  um a fantasia

de   o bsessivo,   em   si incompreendid a:   tudo par a   0 outro, meu

semelhante,   e   0que se pr ofere,   sem r econhecer nisso   a angustia

q ue   0Outro   (com maiuscula) inspir a   por nao   ser urn semelhante.

4. Ao   que par ece,   0  psicanalista,   simplesmente   pa ra a judar    0

sujeito,   d everia esta r a salvo d essa   patologia, q ue,   como vemos,

nao se   inser e em nad a   menos do q  ue   uma   lei f errea.

E justamente por   isso   que se   imagina   que   0 psicanalista   deva

ser    ur n   homem   feliz.   Nao   e a felicid ad e, alias, que se v ai

 ped ir-Ihe?   E como the seria   possivel d a-Ia se   nao tivesse   urn

 pouco   d el a, d iz   0 born   senso?

E   fato que   nao nos   recusamos   a pr om eter a felicidade, numa

e poca   em que   a   questao de   sua med id a   se   compli'Cou:   antes de

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6.   Nao pr etend emos ensinar    aos   psicanalistas   0 que e pensar .

Eles   0 sa bem. Mas   nao e q  ue   0 ten ham   compr eend id o por    si.

Aprenderam essa   lir ;ao com   os   psicologos.   0 pensamento e uma

tentativa de ar ;ao, re petem eles g entilment e. ( 0 p ropr io Fr eutl

cai nessa esparr ela,   0 q ue na o   0  im ped e   d e   ser um   pensador 

r igor oso e cuja ar;ao se consuma   no   pensamento.)

A   bem d a ver dade,   0 pensamento   d os analistas e   uma ar;aoq ue se desfaz. 0   que deixa   uma certa   es peranr ;a de q  ue , s e os

fizermos pensar nisso, eles,   ao   r etOlmi-la, aca bem r epensando-a.

Ouvir nao me f or r ;a a com preend er .   0   que our ;o   nao   d eixa   d e

ser   um discur so,   mesmo q ue   tao pouco d iscur sivo q  uanto   uma

intetjeir;ao.   Pois   uma   intetjeir;ao e da ordem   da   linguagem, e

nao   do gr ito expr essivo.   E   uma parte do d iscur s o que   nao cede

a nenhuma   outra   no q ue tange aos ef eitos de sintaxe numa If ngua

deter minad a.

 Naquilo   que our ;o, sem d uvid a,   nada tenho a replicar, se  nad a   [617]com preend o disso ou   se, ao compreender    algo, tenho ~erteza   d e

estar enganad o. Isso   na o m e im pedir ia de respond er .   E   0que se

faz,   f ora d a analise, em   casos similares.   Eu   me calo.   Tod os

concord am   em   que fr ustro   0  falante, e ele em pr imeir f ssimo

lugar, assim como eu.   Por   q ue?

Se eu   0 f r ustro, e   q ue ele   me demanda alguma coisa. Que eu

lhe responda, justamente.   Ma s ele sabe muito be m que   isso

seriam apenas palavras.   Tais como as recebe de quem   quiser .

Ele nem   ter n certeza de q ue me seria gr ato pel  as boas palavras,

muito menos pelas ruins. Essas palavras nao saD   0q ue ele me

 pede. Ele me pede ... pelo fato de que fala: sua demand a   e

intransitiva,   nao implica nenhum objeto.

E   claro que sua demand a s e ma nif es ta no c ampo de umademanda im plfcita, aquela pela qual ele esta ali: de ser curado,

de ser revel ado a si  mesmo, de ser   levado a conhecer a psicanalise,

de ser    habilitado como analista. Mas essa demanda, ele sa be,

 pode esper ar .   Sua demand a atual   nada tem   a ver com   isso, nem

seq uer e   d ele,   pois, afinal, fui   eu que   the fiz a ofetta   d e falar .

(Somente   0 su jeito e transitivo aq ui.)

Consegui, em   suma, aquilo que se gostaria, no cam po   d o

comercio comum, de poder realizar com a mesma facilid ade:

com a ofer ta, criei a demanda.

7. 0 analista e   0  homem a q  uem   s e f ala e a quem se f ala

Iivremente . Es ta ali para   isso. E   0que isso quer   d izer ?

Tudo   0 q ue se pode dizer sobr e a   associar ;ao de ideias nao

 passa de urn f igurino psicologista.   Os jogos de palavras ind uzidos

 ja vao longe; alias, a julgar por seu protocolo, nada e menos

livre.

o  su jeito convidado a falar   na amilise   nao mostra naquilo q ue

d iz, para dizer a verdade,   uma   liberdad e muito grande.   Nao que

ele seja agrilhoado pelo rigor de suas associar;6es: elas decertoo oprimem, mas e que, antes, desem bocam numa fala livre, numa

fala plena que the seria penosa.

 Nada e mais temfvel do q ue dizer    algo q ue possa ser verda-

deiro. Pois   logo se   transformar ia   nisso, se   0 fosse, e Deus sabe

o q ue acontece q  uando alguma coisa,   por   ser verdadeira, ja nao

 pode recair na d uvida.

Ser a esse   0 pr ocedimento da analise,   um progresso da verdade?

Ja   escuto os coxas-grossas a mur mur ar em   so br e minhas analises

intelectualistas, q  uand o sou   0  primeir o, ao q  ue eu saiba, a

 preservar nelas   0 indizfvel.

Que seja par a-alem   do discurso   que se   acomoda nossa escuta,

sei   disso melhor do que ninguem,   quand o simplesmente tom o   0

caminho de ouvir, e nao de auscultar .   Sim,   isso mesmo, nao   d e

auscultar a resistencia, a tensao,   0   opistotono, a pali dez , a

descarga de adrenalina   (sic)   em que   se   reconstituiria urn Eu mais

forte   (resic):   0   que escuto e por   ouvir .16

8. Mas trata-se   d e   uma   d emanda, por assim d izer,   r ad ical.

Sein duvi da a sr a. Macal pine tem   razao em q uer er    buscar    na

simples   regr a analf tica   0motor    d a transferencia. Mas ainda assim

ela se extr avia, ao apontar na ausencia de qualquer    ob jeto a por ta

a berta   par a a regr essao infantil [24]. Isso mais seria urn obstaculo,

 pois todos sabem,   e o s p sicanalistas de cr ianr;as em   primeiro

lugar , q ue   e  pr eciso   um   bocado de peq uenos ob jetos par a manter 

uma relar ;ao com   a crianr;a.

Por intermedio   d a demanda, tod o   0 passado se entrea br e, ate

reconditos d a primeira   infancia. Demandar :   0 su jeito   nunca   fez

outra coisa, so   pode viver por   isso,   e   nos entr amos   na sequencia.

16 .  lI nt end emenl ,   no original,   que tern   a ace p,<uo d e "forma   d iscur siva d o

 pensamento",   alem  de estar   ligad o ao v erbo   e /1/ end r e   (usad o   logo a seguir), q uesignif ica "ouvir " e tam bem   "entender , ca ptar ,   reconhecer'" etc. ( N.E.)

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E   pOl'   essa via   que a   r egr e ss ao analftica   pode se produzir    e

q ue   d e   f ato se apr esenta. Fala-se   d ela como se   0 suje it o s e

 pusesse   a banca r a cr  ianc,:a.   Sem duvid a i ss o a contece, e essa

momice   nao e d o   melhor augurio. De   q ualq ue r m od o, ela sai do

q ue e   cornu mente o bse rv ad o n o q  ue   e tid o p or    r egressao. Pois   [61HI

a regressao   nao mostr a outr a coisa senao   0 retor no, no presente,

de signif icant es c om uns, em d emand as   par a as   q uais   ha uma prescric,:ao.

As   necessidad es su bor d inam-se as   mesmas cond ic,:6es conven-

cionais que sao pr6pr ias do significante em seu duplo registro

- sincronico, de oposir;ao entre elementos irredutfveis, e dia-

cronico,   de substituic,:ao e combinac,:ao   -, pelas quais a lingua-

gem, se certamentenao preenche tudo, estrutura a totalidade da   [619]

relac,:ao inter -humana.

Daf a oscilac,:ao que se obser va nas colocac,:6es de Freud sobreas relac,:6es entre   0 Supereu e a reali da de . 0 S up er eu n ao e,

evidentemente, a Fonte da realid ad e, c om o e le diz em algum

lugar, mas rastreia suas vias,   antes de se encontrar no inconsciente

as primeiras marcas ideais em   que as tendencias se constituem

como recalcadas,   na substituic,:ao das necessidades pelo signifi-

cante.

9.   Voltanto a o p on to d e par tida, essa   situac,:ao explica a transfe-

rencia   primaria e   0 amor em   q ue ela as vezes se declar a.

Pois, se   0 amor e dar   0 q ue   na o se   ter n, e v erdade q  ue   0

sujeito p od e e sp er ar q ue   isso   Ihe s e ja d ad o, u ma v ez q ue   0

 psicanalista nada mais tern a Ihe dar .   Mas nem mesmo esse nada

e le Ihe   d a , e e b or n q ue s e ja assim:   e e p or i ss o q u e s e pa ga a

ele por   esse   nada, e generosamente, de preferencia, para deixar 

 bem clar o   q u e, d e outro modo, isso   nao valeria grande coisa.

Mas, se na maioria das vezes a   transferenc ia p ri maria man-

tem-se   no estad o de sombra, nao e isso q ue impede essa sombr ade sonhar e de reproduzir sua demand a, q ua nd o n ao h a ma is

nada a   d emandar .   Essa demanda, por   ser vazia, ser a ainda mais pura.

Obser va-se q ue   0 analista,   no entanto, da sua pr esenc,:a,   mas

creio q ue a pr  incfpio ela e a penas a   implicac,: ao d e sua escuta , e

que esta e apenas a condic,:ao da   f ala.   Alias, por   que exigi   ria a

lecnica q ue ele a f izesse tao discr eta, se assim   nao Fosse?   E   mais

tar de   que sua pr esenc,:a se faz   notar .

Alem   do   mais,   0sentimento   mais agud o de sua presenc,:a esta

ligad o a   ur n   momenta em q  ue   0 su jeito s6 po de se calar, isto e,

em q ue r ecua a te m esm o a nte a som br a d  a   d emanda.

Assim,   0analista e aq uele q ue sustenta a demanda,   nao, como

se costuma   d izer, para frustrar    0sujeito,   mas par a q ue reaparec,:am

os significantes em q  ue sua f  rustr ac,:ao est a retid a.

II.   Nao ha qualq uer necessidade, portanto, de ir buscar    mais

longe a mola da identificac,:ao com   0analista. Ela pode ser muito

var iada, mas sera sempre   uma identif icac,:ao com significantes.

A   medida que se desenvolve uma analise,   0   analista lida

alternadamente com todas as articulac,:6es da demand a do sujeito.

Mas s6 deve, como d iremos mais adiante, responder af a partir 

da posic,:ao da transferencia.

Quem nao   f risa, alem do   mais, a impor tancia do que se pod er ia

chamar    d e   hi p6tese permissiva d a analise? Mas nao e preciso

ur n   regime   polf tic o p ar  ticular par a q ue   0que nao e proibido se

tome obr igat6r io.

Os analistas   que podemos chamaI'   d e fascinad os pelas seq iielas

da fr  ustrac,:ao   atem-se t ao-somente a   uma p ost ur a d e sugestao,

que reduz   0 sujeito a repassar    sua   d emanda.   Sem duvida e isso

que se entende pOl'  r eed ucac,:ao emocional.

A   bondad e e decer to   mais   necessari a al i do q ue e m o utros

lugar es, mas nao   ter n   como curar    0mal que engend ra. 0 analista

que   quer    0 bem   do sujeito repete aq uilo em q ue ele foi   for mad o,e a t e, ocasionalmente,   d efor mado. A mais a berrante educac,:ao

nunca   teve outro   motivo senao   0 bem d o   sujeito.

Concebe-se   uma teor ia d a analise   que, contr ar iand o a delicada

articulac,:ao da   analise   d e Fr eud , r ed uz   ao   med o a   mola   d os

sintomas.   Ela engendr a   uma   pr citica ond e se   im pr ime   0  que

alhur es   chamei d e Figura o bscena e   f er oz   d o Su per eu, ond e   nao

ha outr a   saf d a para a   neurose   d e transferencia se nao faz er    0

doente   sentar    para   Ihe   mostrar    pela   janela   os   as pectos   risonhos

10. Or a,   convem   lembrar q ue e   na d emand a m ai s a ntiga q ue se

 produz a   identificac,:ao primar ia, aquel a que   se efetua pela oni-

 potencia   materna, ou   seja, a   que   nao   a penas   torna de pend ente

d o a parelho significante a satisfac,:ao   das   necessid ad es,   mas   que

as fragmenta,   as f iltra e a s  mold a   nos desfilamentos da estrutura

d o significante.

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da   natureza, dizendo-lhe:   "Va em   frente . Agora voce e u m

menino comportado" [22].

I.   Vm   sonho,   afinal, 6 apenas um sonho, ouve-se dizer hoje emdia [22]. Nao significa nada que Freud nele tenha reconhecido

o desejo?

o desejo, nao as tendencias. Pois e preciso IeI' a  Traumdeutung

 para saber    0 que quer dizer    0 que Freud chama ali de desejo.

E   preciso nos determos no vocabulo   Wunsch   e no   Wish   que

o traduz em ingles para distingui-los do desejo, quando   0 rufdo

de petardo molhado em que eles se fundem nao evoca nada

men os do que a concupiscencia. Sao votos.

Esses votos podem ser piedosos, nost<ilgicos, incomodos,

 br incalh6es. Vma senhora pode tel'   um sonho que nao e movido

 pOl' outro desejo senao   0de dar a Freud, que Ihe expos a teoria

de que  0

sonho e um desejo, a prova de que nao e nada disso.o   aspecto a reter em mente e que esse desejo se   articula num

discurso muito ardiloso.   Porem nao menos importante e perceber 

as conseq iiencias de Freud se satisfazer em reconhecer ali   0

desejo do sonho e a confirmaC; ao d e sua lei pelo que q uer dizer 

o desejo em seu pensamento.

Pois ele   leva mais longe sua cxcentr icid ad e, u ma ve z q  ue um

s on ho d e puniC;ao pode,   e m s ua o pi ni ao , significar    0 desejo

daquilo que a puniC;ao reprime.

 Nao nos detenhamos nas etiquetas das gavetas, embora muitos

os confundam com   0fruto da ciencia. Leiamos os textos; sigamos

o pensamento de Freud nos meandros q ue ele nos imp6e e aos

q uais,   nao nos esquec;amos, deplorando-os ele pr6pr io f r e nt e a

um ideal do discurso cientff ico, Freud afirma tel'   sido forc;ado

 pOl' seu objeto.17

Vemos entao que   tal objeto e   identico a esses meandros, pois,

na pr imeira   cur va de sua estrada, Freud desemboca, no que tange

17.   Cf .   a Carta   118 (11.09.1899) a Fliess, em  A t/ s d en An fiingen,   Lond r es,   Imago.

[Cf .   J.M.   Masson   (or g.),   A corr espondenc ia complet a de S  igmund Fr eud para

Wilhelm   F liess ,   1887-/904,   R io   d e   Janeiro,   Imago, 1986. (N.E.)]

ao sonho   de uma   hister ica,   no fato de   que nele s e sa tisfaz pOl'

deslocamento   -   aqui,   pr ecisamente pOl' alusao ao dese jo de   uma

o ut ra - u m d es e jo da vespera,   q u e e sustentado em sua posiC;ao

cminente pOl' um desejo de ordem bem diversa, na medida em que

Freud 0 or den a como 0 desc jo de tel' um desejo insatisfeito [7].18

Contemos   0 numero de remiss6es exercidas aqui para elevar 

o desejo a uma potencia geometricamente crescente.   Vm   unicofndice nao bastaria para caracterizar seu grau.   E   que seria preciso

distinguir duas dimens6es nessas remiss6es:   um desejo de desejo,

ou s ej a, u m d es e jo significado pOl' um dese jo   (0   desejo da

histerica de tel' um desejo insatisfeito e significado pOl'seu desejo

de caviar:   0desejo de caviar e seu signif icante),   inscreve-se no

registro diferente de um d esejo que substitui um desejo (no

sonho,   0 desejo de salmao defumado pr6prio da amiga vem

substitur    0   desejo de caviar da paciente,   0   que constitui a

substituiC;ao de um signif icante pOl' um significante).19

2.   0 que assim encontramos nada tem de microsc6pico, tal como

nao ha necessidade de instrumentos especiais para reconhecer q ue a folha tem os trac;os de estrutura da planta de que e destacada.

Mesmo nunca tendo visto senao plantas desprovidas de folhas,

 perccber -se-ia prontamente que e mais verossfmil que uma folha

seja uma parte da planta do que um pedac;o de pele.

o   desejo do sonho da histerica, bem como qualquer coisinha

de nada no Jugal' dele nesse texto de Freud, resume   0que   0 livro

inteiro explica sobre os chamados mecanismos inconscientes,

cond ensaC;ao, deslizamento etc., atestando sua estrutura comum,

qual seja, a relaC;ao do desejo com essa marca da linguagem,

que especif ica   0 inconsciente freudiano e descentra nossa con-

cepC;ao do sujeito.

18. E is e ss e sonho,   tal como e consignado, a par tir    d o r elate que   d ele faz a

 paciente,   na   pagina   152  das   GW  ,   II-III: "Quer o   of er ecer    urn   jantar .   Mas s6   me

r esta   ur n po uc o d  e salma o d ef  llmad o. Tenho   a id eia   de fazer    com pras, mas   me

lembr o   que   e   domingo   1 1   tar de e q  ue t od as a s lojas estao fechadas. Digo a  m im

mesma   que vou   telefonar    par a alguns fornecedor es.   Mas   0 telefone e st a c om

d efeito.   Assim,   tenho   que   renunciar    1 1   minha vontad e d e of er e eel'   urn   jantar ."

19.  No   que   Freud    motiva a   identif icayao   histerica,   esclar ecendo   que   0 salmao

d ef umad o   desempenha pa ra a am ig a   0mesmo papel que   0 caviar    desempenha

 par a a   paciente.

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Creio que meus alunos apreciarao   0 acesso que propicio aqui

a   oposic;ao fundamental entre   0 significante e   0 significado, na

q ual   Ihes demonstro que comec;am os poderes da linguagem, nao

sem que, ao conceber    0exercfcio dela, ell Ihes de pano para manga.

Relembro   0   automatismo das leis pelas quais se articulam, na   [62   I

cadeia significante:

a)   a substituic;ao de um termo pOl' outro para produzir    0efeitode metafora;

b)   a combinac;ao de um termo com outro para produzir    0

efeito de metonfmia   [17].

Apliquemo-Ias aqui e veremos evidenciar-se que enquanto,

no sonho de nossa paciente,   0salmao defumado, objeto do desejo

de sua amiga, e tudo   0que ela tem a oferecer, Freud, ao afirmar 

que   0salmao defumado e aqui um substituto do caviar, que alias

ele toma como   0significante do desejo da paciente, prop6e-nos

o sonho como metafora do desejo.

Mas, que e a metafora senao um efeito de sentido positivo,

isto e, uma certa passagem do sujeito ao senti do do desejo?

Sendo  0

desejo do sujeito apresentado aqui como aquilo queseu discurso (consciente) implica, isto e, como pre-consciente

- dado que e 6bvio, ja que   0marido esta disposto a Ihe satisfazer 

J desejo, pOl·em a paciente, que   0convenceu da existencia desse

desejo, faz questao de que ele nao fac;a nada disso, mas dado

que tambem e preciso ser Freud para articular como   0 desejo

de tel' um desejo insatisfeito -, persiste   0 fato de que e preciso

ir mais alem para saber    0que tal desejo quer dizer no incons-

ciente.

Ora,   0sonho nao e  0inconsciente, e sim, como nos diz Freud,

sua via regia. 0 que nos confirma que e pelo efeito da metafora

que ele procede.   E   esse efeito que   0sonho desvenda. Para quem?

Voltaremos a isso dentro em pouco.

POl' ora,   vejamos que, se   0desejo e expresso como insatisfeito,

ele   0   e pelo significante "caviar", na medida em que esse

significante   0   simboliza como inacessfvel; mas, a partir do

momenta em que ele desliza como desejo no caviar,   0 desejo

de caviar e sua metonfmia, tornada necessaria pela falta-a-ser a

que ele se atem.

A metonfmia, como Ihes ensino, e   0 efeito possibilitado pOl'

nao haver nenhuma significac;ao que nao remeta a outra signi-

ficac;ao, e no qual se produz   0denominador mais comum entre

elas, ou seja,   0 pouco de sentido (comumente confundido com

o insignificante),   0 pouco de senti do, digo eu, que se revela no

fundamento do desejo e Ihe confere   0 toque de perversao que e

tentador denunciar na histeria atual.

o   verdadeiro dessa aparencia e que   0   desejo e a metonfmia   [623]

da falta-a-ser .

3. Voltemos agora ao livro chamado   A clencia dos sonhos

(Traumdeutung):   sobretudo mantica, ou melhor, significancia.

Freud nao pretende ali, em absoluto, esgotar do sonho os

 problemas psicol6gicos. Basta le-lo para con statal' que em pro-

 blemas pouco explorados (continuam raras, senao pobres, as

 pesquisas sobre   0espac;o e   0 tempo no sonho, sobre seu estofo

sensorial, sonho em cores ou atonal   -   e   0odorffero,   0saboroso

e a pitada tactil pOl·ventura en tram nele, se   0 vertiginoso,   0

turgido e 0 pesado ali estao?) Freud nao toca. Dizer que a doutrina

freudiana e uma psicologia e um grosseiro equfvoco.

Freud esta longe de alimental' esse equfvoco. Adverte-nos , ao

contrario, de que no sonho s6 Ihe interessa a elaborac;ao. Quequer dizer isso? Exatamente   0que traduzimos pOl' sua estrutura

de linguagem. Como teria Freud reparado nela, uma vez que

essa estrutura, pOl' Ferdinand de Saussure, s6 depois foi articu-

lada? Se ela recobre seus pr6prios termos, so faz ser mais

espantoso que Freud a tenha antecipado. Mas, onde foi que ele

a descobriu? Num fluxo significante cujo misterio consiste em

que   0 sujeito nao sabe sequel' fingir que e seu organizador .

Faze-Io reencontrar -se nele como desejante e   0 inverso de

faze-lo reconhecer -se ali c omo suj ei to, poi s e c omo que em

derivac;ao da cadeia significante que corre   0regato do desejo, e

o sujeito deve aproveitar uma via de confluencia para nela

surpreender seu proprio   feedback.

o   desejo s6 faz sujeitar    0 que a analise subjetiva.

4.   '3   isso nos leva   a   pergunta deixada em suspenso mais acima:

a quem   0sonho desvenda seu sentido antes que chegue   0analista?

Esse senti do preexiste   a   leitura dele e a   ciencia de sua decifrac;ao.

Ambos demonstram que   0 sonho e feito para   0 reconheci-

mento ... mas nos sa voz fraqueja em concluir: do desejo. Pois   0

desejo, se Freud diz a verdade sobre   0inconsciente e se a analise

e necessaria, so e captado na interpretac;ao.

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Mas,   r etomemos: a ela bor a~ao   d o   sonho e alimentad a   pelo

dese jo; p or   q ue   hesita   nossa voz em concluir    "d e   r econhecimen-

to" , como se se extinguisse a se gund a   palavr a, q ue,   tendo   sid o   [6 2'1 1

ha   pouco a primeir a, r ea bs or ve u a outr a em sua   luz?   E   que,

af inal,   nao e   d ormindo   que   nos fazemos   r econhecer .   E 0 s onho,

diz-no s F reud, sem que pare~a ver nis so a m enor c ontr adi~ao,

serve antes de   mais   nad a ao desejo de dormir .   E   retr a~ao   nar cf sica

da libido e desinvestiment o da realid ad e.

Alias, sabe-se   por   experiencia   que,   quando   meu   sonho chega

a alcan~ar minha demanda (nao a   r ealidade, como se d  iz   im pr o-

 pr iamente,   q ue pod e preser var    meu   sono), ou   aq ui 10 q ue   mostr a

aqui ser-Ihe eq uivaIent e, a d em and a d o o ut ro , eu   desperto.

com pr eender    0 q uc ele   entend e por    d ese jo   do neur6tic o, por  

recalcad o, por inconsciente,   por inter  pretac; ao e p el a p r6 pr  ia

analise,   nem   chegar per to   d e se ja   la 0 q ue for d e sua tecnica ou

de sua d  outr in a. V er emos os recursos do pequeno so nh o q ue

 pin~amos antes para nosso pr op6sito.

Pois 0 desejo de nos sa   hister i ca e spirituosa (e Freud q  ue a

qualif ica assim) - ref  iro-me a seu desejo des perto, a seu desejode caviar    -   e um dese jo   d e muIher satisfeita,   e que justamente

nao 0   q uer estar .   Pois seu marido a~ougueiro, em materia das

satisfa~6es de que todo 0   mund o precisa, e   bastante competente

e m p or o s pingos nos   is, e nao tem papas   na If ngua para dizer 

a  um pintor que 0 bajula, sabe Deus com que o bscuros deslgnios,

a r esp ei to d e sua cara   inter essante: "Que   nad a! um naco do

traseiro de uma bela rameira,   e d isso q ue voce   pr ecisa, e se voce

esper a que eu Ihe va ofer ecer , voce pode pendur a-lo ondc cstou

 pensando."

Al esta   um h om em d e  quem   u ma mulher    nao t em d o qu e s e

queixar,   um carater genital   e que, por ta nt o, d  eve z elar como

convem para q ue a sua, quand o ele a possui, de pois   ja nao precise

se mastur  bar .   Alias, Freud nao nos disfar~a   que ela e m ui to

a paixonad a pel o marido e   que 0 p ro vo ca incessantemente.

Mas,   ve ja m, e la n ao q  uer ser satisfeita apenas em suas ver -

dadeiras   necessidades.   Quer outras, gratuit as , e , p ar a t er t od a a

certeza de   que 0 sao,   nao q uer    satisfaze-Ias. Por isso, a per gunta

"que deseja a espirituosa ac;ougueira?", podemos responder:

caviar .   Mas essa resposta   nao e promissora,   porque caviar e

tambem 0   que e Ia n ao q  uer .

5. Vm   sonho,   afinal   de contas, e apenas um sonho. Os q ue   hoje

desdenham de sua instrumentalidade para a analise descobriram,

como vimos,   vias mais seguras e mais diretas para reconduzir 

o paciente aos bons princfpios e aos desejos normais, aq ueles

q ue satisfazem necessidades ver dadeiras. Quais? Ora, as neces-

sidades de todo 0 mundo, meu caro! Se  e   isso q ue Ihe da medo,conf ie em seu psicanalista e suba na torre Eiffel para ver como

Paris e bonita. Pena que haja os q ue pulam da baIaustrad a logo

no pr imeiro andar, e justamente aqueles cujas necessidad es foram

tod a s r ec ond uzida s a s ua c xata   medida. Rea~ao ter apeutica

negativa, dirao.

Gra~as a Deus, a  r ecusa nao vai   tao   longe em todos!   0sintoma

sim plesmentc toma a   brotar q ual   er v a d anin ha , c ompuIsao   d e

repeti~ao.

Mas isso, e claro,   nao passa de um mal-entend ido. Nao se

fica curad o por q ue s e   r ememora. Rememora-se pOl 'q  ue se   f ica

cUl·ado. Desde q ue se descobriu   essa   f ormula,   a repr odu~ao dos

sintomas ja nao constitui   problema, mas somente a   r epr odu~ao

d os analistas; ados pacientes esta resolvida.

7.   0q ue nao e a t otaIid ad e de seu   misterio.   Longe de esse

impasse a prisiona-Ia, a  m ulher encontra   nele a  l iber d ad e de a~ao,

a chave d o   camp020   dos dese jos de todas as h istericas espirituosas,

a~ougueiras ou   nao, q ue existe m no m undo.E   isso q ue Fr eud apreend e   num daq ueIes relances com que

surpr eende   0 ver dadeiro, desfazendo, de passagem, as abstra~6es

que os esplritos   positivistas   gostam de transf or mar    na explica~ao

de todas as coisas:   no caso, a  imi ta~ao, tao car a a Tarde. Dev~-se

6. Vm   sonho, pOltanto,   e   apenas   um   sonho. Pode-se ate ler ,   na

 pena de u m p sicanalista q  ue se   met e a ensina r, q  ue ele   e uma

 prod u~ao   d o Eu. Isso   prova q ue   nao se   corre gr and e   perigo ao

quer er despertar    os   homens do sonho: ei-lo q ue prossegue a luz

d o   d i a, e entre aq ueles   que   nem   se compr azem   em   sonhar .

Mas,   mesmo p or    estes, caso se jam   psicanalist,as, Fr eud ,   quanto

ao sonho , d ev e s er   lid o, pois de outr o   mod o   nao e   posslvel   nem   1 6   .  I

20.   Lacan faz aqui urn jogo entr e   f a   clef   d u   champ   e   a ex pressao f igur ad a   f a

clef de.v champs   (a liberd ad e   d e  ir  e vir , a  li ber d ad e   d e   a~ao).  ( N.E.)

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empregar    no particular a cavilha essencial21 que ele fornece af 

da identifica~ao histerica.   Se nossa paciente se identifica com

sua amiga, e pOl'esta ser inimitavel no desejo insatisfeito daquelesalmao,   que Deus mande para   0   inferno! se nao for Ele a   [ 6 2 1 1 1

defuma-Io.

Assim,o sonho da paciente responde a demanda de sua amiga,

que e de ir  jantar na casa dela. E nao se sabe  0

que realmentea impele a isso,   salvo que ali se janta ber n, se nao e urn fatoque nao escapa a sensibilidade de nossa a~ougueira: e que seumarido sempre fala da   amiga com louvor .   Ora, magra do jeitoque e, ela nao e feita para agrada-Io, a ele que s6 gosta de carnesroli~as.

 Nao teria tambem ele urn desejo que the fica atravessado,

quando tudo esta satisfeito? Essa e a mesma mola que,   no sonho,do dese jo da amiga faz   0 insucesso de sua demanda.

Pois,   pOl'mais precisamente simbolizada que seja a demanda,

atraves do acess6rio do telefone recem-surgido, nao adianta.   0

telefonema da paciente nao da resultado; tinha gra~a vel' a outraengordar para que seu marido se regalasse com ela.

Mas, como pode uma outra ser amada (nao basta, para que a paciente pense nisso, que seu marido a considere?) pOl'  urnhornem que nao pode se satisfazer com ela   (ele,   0homem donaco de traseiro)? Eis a questao esclarecida,   que e, em tennosmuito gerais, a da identifica~ao histerica.

Assim interpelados, faz muito tempo q ue os psicanalistas naorespondem mais, havendo eles mesmos renunciado a se interrogar sobre os desejos de seus pacientes: eles os r eduzem as demandasdestes,   0   que simplifica a tarefa para conver te-los nos seus pr6prios.   Pois se essa e a via do razoavel, ora, eles a adotaram.

Mas acontece que   0desejo nao se escamoteia com toda essafacilidade, por ser visfvel demais, plantado bem no meio do palco,na mesa dos agapes,  como aqui, sob a aparencia de urn salmao   - por sorte urn belo peixe, e que e s6 apresentar, como se faz nos   [627]

restaurantes, sob uma tela fina, para que a suspensao desse veu seiguale aquela a que se procedia no fim dos antigos misterios.

Ser   0 falo, nem q ue se ja urn   f alo meio magrelo. Nao esta af 

a identifica~ao ultima com   0 significante do desejo?

Isso nao leva jeito de ser evidente no q ue concerne a umamulher, e ha entre nos quem prefira nao ter mais nada a vel'com esse logogrifo. Sera q ue vamos ter que soletrar    0 papel dosignificante, s6 para nos vermos as voltas com   0 complexo decastra~ao e com essa inveja do penis da qual oxa'1a Deus noslivre, quando Freud, havendo chegado a esse calvario, ja nao

sabia como se arranjar, nao divisando para-alem dele senao   0

deserto da analise?Sim,  mas ele os levou ate ali,  e era urn lugar menos infestado

do que a neurose de transferencia,   que   constrange voces a

expulsar   0 paciente enquanto the rogam que ande d evagar para

levar suas moscas.22

8. E  nessa q~lestaoque se transforma   0sujeito aqui mesmo. Com

o que a mulher se identifica com   0homem,   e a fatia de salmaodefumado surge no lugar do desejo do Outro.

 Nao bastando esse desejo para nada (como receber ,   com essaunica fatia de salmao defumado, toda essa   gente?),   e precisomesmo,   no fim dos fins (e do sonho), que eu renuncie a   meu

desejo de ofereeel'   urn jantar    (isto e, a minha busca do dese jod o Outr o, q ue e  0 segr edo do meu). Deu   tudo errado,   e  0 senhor diz que   0 sonho   e a   realiza~ao de   urn desejo. Como e   q ue   0

senhor sai   dessa,   prof essor?

9. Articulemos, no entanto,   0 q ue estrutura   0 desejo.o  dese jo e aq uilo   q ue se manifesta no intervalo cavado   pela

demanda aquem dela mesma, na medida em   q ue   0   sujeito,articulando a cadeia significante, traz a luz a falta-a-ser com   0

apelo de receber seu complemento do Outro,   se  0 Outro, lugar 

da fala, e tambem   0 lugar dessa falta.

o que e assim dado ao Outro preencher, e que e propriamenteo que ele nao tern, pois tambem nele   0 ser falta, e aquilo a que

se chama amor ,   mas sao tambem   0 6dio e a ignorancia.E   tam bem isso, paix6es do ser,   0 que   toda demanda evoca

 para-alem da necessidade que nela se articula, e e disso mesmo

21.   Usando nesse trecho a formulac;:iio fair e   jouer    d ans Ie partieulier    la eheville

essentielle ... ,  L acan   alude ao idiomatismo   pour un trou y   avail'   vingt eheville.~

(ter   r esposla para tudo) e, aU'aves d ele, a  Gabr iel Tarde, soci61ogo fr ances   q ue

escr eveu   em 1890  As leis da imitafiio.   ( N.E.)   f 

22.   M oueM    e  tambem   0 nome   da pinta   feita   com lapis  de  maquilagem   no rasto,

"sinal postic;:o". C hasse I' les mouehes:   pedir   para   ir  embora. ( N.E.)

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que   0 sujeito   fica tao   mais propr iamente   privad o   quanta   ma is a

necessidade articul ad a n a d emanda e satisfeita.   '

Mais aind a,   a   satisfa~ao da   necessidade   so aparece af como

o engodo em que a demand a   de amor e esmagada,   remetendo 0

sujeito   ao sono   em q u e ele freq i-ienta o s lim bos do ser ,   deixando

q ue   este f  ale nele.   Pois 0 ser da   linguagem   e   0 nao-ser dos

ob jet os , e 0 f ato   de 0 desejo tel'   sido desco berto pOI' Fr eud, emseu lugar no sonho, d esde sem pre   0 escandalo   d e tod os os

esfor~os   d o pensamento de se   situar    na realidade, basta par a nos

instr uir .

Ser   ou   nao ser, dormir , son hal',   talvez, os pr etensos sonhos   mais

simples da   cr ian~a (" simples" como a situa~ao analf tica, sem

duvida) mostr am,   simplesmente,   objetos mir aculosos ou interditos.

Isso   visa a uma fun~ao   totalmente d iversa   daq uela da   id enti-

f icac;:ao   primaria anter iormente evocad a , p oi s   nao se trata   d a

assunc;:ao  d as insf gnias   d o outro   pelo su jeito,   ma s d a situa~ao   d e

o   su jei to tel'   q ue encontr ar    a  est r utura constitutiva de seu desejo

na   mesma   hiancia   aberta pelo efeit o dos significantes naq ueles

que   par a ele repr esentam   0Outr o,   na   med ida em   que sua demanda

Ihes   esta su jeita.Talvez   possamos vislum brar aqui, de passagem, a r  aza o do

ef eit o d e oculta~ao q ue   nos   reteve   no reconhecimento do desejo

d o   sonho.   0dese jo d o sonho   nao e assumid o pelo s u je it o q  ue

diz   [Eu] em   sua   fala.   Articulad o, no entanto, no   lugar do Outr o,

ele   e di scurso,   discurso cuja   gr amatica Fr eud come~ou   a enunciar 

como   tal.   Assim   e q ue o s votos que ele constitui nao tem   f lexao

o ptativa para modif icar    0 ind icativo de   sua for mula.

Com   0  que se veria, pOI'uma   referencia lingiif stica , q ue a q  uilo

a   q ue s e chama aspecto verbal   e,   aq ui,   0 do consumad o (verda-

d eir o senti d o da   Wunscher  fiillung).

E   essa   ex-sistencia   ( Entst ellung)23   do dese jo no s onho q  ue

explica   que a s ignificancia d o sonho mascare   nele   0 dese jo,

enq uanto   sua mola se esvaece, simplesmente   pOI' ser pro blema-

tico.

10.   Mas   a   cr ian~a nem sem pr e   ad or mece assim   no seio do ser,

sobr etud o   quando 0 Outr o,   q ue tambe m tem suas ideias   so br e

as   necessidades   dela , s e intromete   nisso e,   no   lugar daquilo   que

ele   nao tem,   empantur r a-a com   a   papinha suf  ocant e d aq uilo q ue

ele tem, ou   seja, confunde seus cuidad os com   0 dom de seu

amor .E   a crian~a alimentad a com   mais amor que recusa   0 alimento

e   usa sua recusa como   um dese jo (anor exia mental).

Limites em   que se   a preend e, como   em   nenhum   outr o   lugar ,

que 0 odio retribui   a   moed a   d o amor ,   mas ond e   a ignor ancia

nao e p er  d oada.

Afinal   d ,'   contas, a crian~a, ao   se r ecusar a satisfazer    a

d emanda   d a   mae, nao exige   que a   ma e tenha   um desejo fora

d el a,   pOl'quanto e essa   a via   que   the   falta   rumo ao   d ese jo?

II.   Com   efeilo,   um d os princf  pios   decorr entes   d essas   premissas

e   que:

-   se 0 dese jo   ef etivamente esta   no   sujeito pela condi~ao,

que   fhe e   im posta pe la existencia   d o   discur so,   d e   que ele f  a9a.sua   necessid ad e   passar pelos d esfilamentos   d o significante;   e

- se,   pOI' outr o   lado, como   d emos a entend er anteriormente,

abr ind o a   dialeti ca d  a   transf er encia, e   pr eciso   fundal'   a   n09ao do

Outr o com maiuscula   como send o 0   lugar d e   manifesta9ao da

f ala   (a outr a cena,   eine and ere S chauplat  z ,   d e   que   f ala   Freud na

T r aumdeutung) ,

-   d eve-se afirmar que,   o br a   d e   um animal p resa   d a   linguagem,

o dese jo   d o   homem e 0 d  ese jo   do Outro.

12.  0 d esejo se   pr oduz   no   par a-alem d a   d emand a,   na   medida

em   que, ao articular a   vida do   sujeito com   suas condi9 0e s, ela

desbasta   ali   a   necessidade, mas   tam bem   ele   se cava em   seu

 par a-aquem,   visto q ue, como d emand a   incondicional d a   presen~a

e   d a ausencia,   ela evoca   a falta-a-ser    so b   as   tres figuras   d o   nad a

que constitui   a   ba se d a   demand a   d e amor , d o od io   que vem

negar    0  ser d o outro e   d o   indizfvel daquilo que e ignor ado   em

seu pleito. Nessa a poria   encarnad a   - d a   qual podemos   dizer 

em   imagem que extrai   sua alma   pesad a   d os   r ebentos vivazes d a

23. So bre a qual nao convem   esquecer :   que esse  t ermo e  empregado pela   primeir a

vez   na   Trawnd eu[ung   a   prop6sito do   sonho, e   que esse empr ego fornece   0

sentido dele e,   ao mesmo   tempo,   0do termo   "diston;;ao" que   0 tr aduz,   quando

os   ingleses   0 aplicam ao Eu,   Observayao que   permite   julgar    0 usa   que se  f az

na Fr anya do termo "distor ya o do Eu", pelo  qu al   os amantes   d o  r efor yo d o  Eu ,

POLICO   alertados   a d esconf iar dos   "falsos amigos"   qlle sao as palavr as   inglesas

(as palavras,   nao e   mesmo?,   tern tao pOllcaimportancia), entendem   simplesmen-

Ie...   urn Eu lorcid o.

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tendencia ferida,   e seu   corpo sutil , d a m or te a tu ali za da na

seq Uencia significante -,   0 dese jo se af  irma como condi~aoa bsoluta.

Menos ainda que   0nada que perpassa a ronda das significa~6es

que agitam os h omens,   ele   e   0 rastro   inscrito do transcur so e

como que ,a marca do ferro d o   significante no ombro do sujeito

que fala.   E menos paixao pura do significado do que pura a~aodo significante,   que para no momento em que   0vivente, trans-

formado em signo,   a   torna   insignificante.

Esse momenta d e  c orte   e assombrado pela forma de urn farrapo

ensangi.ientado:   a   libra d e   carne   paga pela vida para faze r d ele   [6301

o significante dos significantes,   como t al i mp oss fv el d e s er  

restituf do a o c or po i maginario; e   0 falo perdido de Osfris em-

 balsamado.

13.   A fun~ao desse significan te c om o t al , n a bu sc a d  o   desejo,

real me nt e e , c om o a s it uo u F reud , a c ha ve d o q ue e p re ci so

saber para terminar suas   analises: e nenhum   artiffcio   suprira   0

que falta para alcan~ar esse fim.

Para dar uma ideia disso, descreveremos urn incid ente   ocolTido

no fim da analise de urn obsessivo, ou seja, apos urn longo   tr a balho

em q ue n ao s e f ic ou c ontente em "analisar a   agressivid ade do

sujeito" (em   out ra s palavr as, em   se   lixar par a suas   agress6es

imagimirias), mas em que se  0 fez   reconhecer    0lugar que   ele   havia

assumido no jogo da destr ui~ao exercida por urn de seus pais sobre

o dese jo d o ou tr o.   Ele adivinha   a impotencia em que   se encontra

d e   desejar    sem destruir    0 Outr o e,   com isso, destr uir seu propr io

d ese jo, na medid a   em que ele   e   dese jo do Outr o.

Para chegar a isso, foi-Ihe   r evelad a   sua manobr a   ininterrupta

no intuito de proteger    0 Outro, esgotando no tr abalho da trans-

fer encia   (Durcharbeitung)   todos os artiffcios de uma verbaliza-

~ao que distingue   0 outro do Outro (pequeno   e grande) e que,do   camarote reservado ao tedio do Outr o (grande),   faz   com q ue

ele   organize os jogos circenses   entre os dois outros   (0  p equeno

a   e   0Eu,   sua sombra).

Seguramente, nao basta   gir ar em c f  r culos nesse canto bem

explor ado da neurose obsessiva para   leva-Io a esse cr  uzamento,

nem conhecer este ultimo para   cond uzi-Io ate la, por urn caminho

que nunca sera   0mais direto.   Para isso, nao e pr eciso   a penas   0

tra~ad o d e ur  n   labirinto reconstr ufdo, nem tampouc o u rn l at e d e

mapas ja desenhados.   E   preciso,   antes   de   mais nada, possuir a

combinator ia geral q  ue   Ihes rege a var iedade, sem duvida,   mas

que, de   maneira ainda mais sutil, nos da conta dos   trompe-l'oeil ,

ou melhor, d as mudan~as   a   vista do labirinto. Pois nao faltam

nem   uns   nem outros nessa neurose obsessiva, arquitetura de

contrastes   ainda nao muito acentuados, e que nao basta atribuir 

a   formas de fachada.   No meio   d e tantas atitudes sedutoras,insurretas e impassfveis, deve-se captar as angustias ligadas aos

desempenhos, os ressentimentos que nao impedem as generosi-

d ades   (afirmar que f alta oblatividade aos obsessivos!), as incons-   [631]

tancias mentais que sustentam fidelidad es inquebrantaveis. Tudo

isso se movimenta solidariamente numa analise,   nao sem afrontas

 pontuais;   0grande comboio prossegue,   no entanto.

Eis portanto nosso sujeito, esgotados   todos os seus recursos,

no momenta de tentar nos apanhar em uma rodada de bonneteau24

muito especial, pelo tanto que revela d e   uma estrutura do desejo.

Digamos que, sendo de idade madura,   como se diz comica-

mente, e de espfrito desiludido, ele nos   lud ibriaria de born grado

com uma menopausa que seria sua para se justificar uma impo-

tencia ocorrida e denunciar a nossa.

De f ato,   as redistribui~6es da   libido nao se dao sem custar a

alguns objetos seu posto, mesmo q ue ele seja inamovfvel.

Em sf ntese, ele e impotente com a amante e, pensando em se

val er d  e   suas descobertas sobre a func;ao do terceiro potencial

no casal, prop6e-Ihe que ela durma   com outro homem, para ver 

no q ue da.

Ora, se ela fica no   lugar em que a   neurose a instalou e se a

analise   the diz   respeito nesse ponto, e pelo acordo que sem duvida

ela   fez ha muito tempo com os desejos d o paciente, porem, mais

ainda, com os   postulados inconscientes q ue eles sustentam.

Por isso, nao ha de surpreend er que,   sem delongas, ou seja,

na mesm a noite,   ela tenha   0 seguinte sonho, q ue relata inconti-nenti a   nosso d es peitad o:

Ela   tern   ur n falo e sente-lhe a f or ma sob suas roupas,   0que

n ao a i m pede   de ter tambem uma   vagina e, acima de tudo, de

d esejar que   esse falo a penetre.

24. Bonnet eau:  jogo em que  tr es car tas de baralho   SaD  m ovidas com muita  r apidez

 para q ue se adivinhe   ond e esta a  qu e foi pr eviamente   mostrada.   (N.E.)

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 Nosso paciente, ao ouvir    isso,   r ecu per a   no   ato seus recur sos

e   0 demonstra brilhantemente   a   sua sagaz companheira:

Que interpretac;ao se indica aqui?

Adivinhamos, peia demanda que nosso paciente fez   a   sua

amante, que ele nos pede ha muito tempo para ratificar    na

homossexualidade recalcada.

Efeito prontamente previsto pOl' Freud a partir de sua desco-

 ber ta do inconsciente: dentre as demandas regressivas, uma de

fabulas estara saciada pelas verdades d ivulgadas pela analise.

De volta da America,   a analise su perou suas expectativas.

Mas n6s, penso eu, ficamos antes rabugentos em relac;ao a

esse ponto.

O bservemos que a sonhadora ja nao e complacente, uma vez   [6321

que seu roteiro   afasta qualquer coad  juvante. 0 que guiaria ate

mesmo um novato a se fiar somente no texto, se ele se formou

em nossos princfpios.

 Nao a nalisamos seu sonho, contudo, mas   0 efeito dele em

nosso paciente.

Mudarfamos nossa conduta,   fazendo-o IeI'   nele a seguinte

verdade, menos difund ida pOl' ser, na hist6ria, uma contribuic;aonos sa: que a recusa da castrac;ao, se ha algo que com ela se

 parec;a, e, antes de mais   nada, uma recusa da castrac;ao do Outr o

(da mae,   em primeiro lugar ).

Opiniao verdadeira nao 6 ciencia, e consciencia sem ciencia

nao passa de cumplicidade de   ignorancia. Nossa ciencia s6 se

transmite ao articular opor tunamente   0  par ticular .

Aqui, 6 u ni ca a opor tunid ade par a mos tr ar a figura q ue

enunciamos   nestes ter mos:   q ue   0dese jo   inconsciente 6  0dese jo

do Outro - uma vez que   0 sonho 6 feito para satisfazer    0dese jo

do paciente para-al6m de sua demanda, como 6 sugerid o pelo

fato d e ele ter sucesso.   Nao 6 pOl' nao ser um sonho do paciente

que ele tem menos valor   para   n6s, se,   por nao se d  irigir a n6s,

como acontece com   0analisado, dirige-s e ta o bem   a ele quantoo poderia fazer    0 analista.

Essa 6 a ocasiao de fazer    0 paciente apreender a   f unc;ao de

significant e q ue   0 falo tem em seu dese jo. Pois 6 como tal q ue   0

falo oper a   no sonho, para faze-lo recupel~r    0 uso d o or  gao   que

ele   r epr esenta, com o ir emo s d emonstrar atrav6s do   lugar    visad o

 pelo sonho   na estr utur a em   que   seu desejo esta   a pr isionado.

AI6m de a mulher ter   sonhad o, ha  0far o de ela   Ihe f alar d isso.

Se   ness e d  iscurso ela s e a presenta   como   teneto   um   f alo, ser a s6

 por isso que   the   e   r estitufdo seu valor e r 6tico? Ter um falo, com

efeito, nao basta para   Ihe restituir uma posic;ao de objeto que a

aproprie a uma fantasia a partir da qual   nosso paciente, como

obsessivo, possa manter seu desejo num impossfvel   que preserve

suas condic;6es de metonfmia.   Estas regem,   em suas escolhas,

um jogo de evasao que a analise perturbou, mas que a mulher 

restaura, aqui, por uma astucia cu ja rudeza oculta um refinamento

que 6 a conta certa para ilustrar a ciencia inclusa no inconsciente.

Isso pOl'que, par a nosso paciente, de nada serve ter esse falo,

 ja que seu dese jo 6 se-Io.   Eo desejo da mulher, aq ui, cede-o ao

seu, mostrando-Ihe   0que ela nao tem.

A observac;ao de todo   0   mundo continuara dando grande   [633]

importancia ao anuncio de uma mae castradora, por menos que

a isso se pr este a anamnese. E ela se exi be aqui como convem.

Acredita-se, portanto, ter tudo completo. Mas nada temos a

fazer com   isso na interpretac;ao,   na qual invoca-Ia nao levaria

muito longe, mas recolocaria   0 paciente no exato ponto em que

ele s e i ns inua en tr e um des ej o e   0   seu desprezo por este:

certamente,   0menosprezo de sua mae recalcitrante, a depreciar 

o desejo demasiado ardente cuja imagem seu pai Ihe legou.

Mas isso Ihe ensinaria menos do que   0que Ihe  diz   sua amante:que, em seu sonho, ter esse falo nao fez com que   0 desejasse

menos.   Com   0que, 6 sua pr6pria falta-a-ser que 6 tocada.

Falta que prov6m de um exodo: seu ser esta sempre alhures.

Ele   0 " pas de lado"   , por assim dizer .   Acaso dizemos isso para

explicar a dificuldade do dese jo?   -   Ou melhor, que   0 desejo

seja de dificuldade.

 Nao nos deixemos   enganar, portanto, com a   garantia que   0

sujeito recebe, pelo fato de a sonhadora ter urn falo, de que ela

nao tera que toma-Io dele   -   nem q ue seja para apontar douta-

mente que essa 6 uma   gar antia forte demais para nao s e r f  r agil.

Pois isso 6 justamente desconhecer que essa   garantia nao

exigiria tanto peso se nao tivesse que se imprimir num signo,   e

que 6 ao mostrar esse signa como tal, ao faze-Io aparecer alionde ele nao pode estar ,   q ue ela adquire seu ef eito.

A condic;ao do dese jo que retem eminentemente   0obsessivo

6 a pr6pria marca pela qual   ele   0descobre estragado,   pela origem

d e   seu objeto:   0contr a bando.

Singular    modo da  gr ac;a   de   s6 se   re presentar pelo desmentido

da natur eza. Nele se esconde urn   benef lcio q ue,   em   nosso su jeito,

sempre faz antecamara. E   6   ao manda-Io   em bor a q  ue ur n d ia   ele

o   deixar a   entrar .

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14. A imporUincia de preservar    0 lugar do  d esejo na direvao do

tratamento requer que esse lugar seja orientado em relavao aos

efeitos da demanda,   os unicos atualmente concebidos como

 princfpio do poder da analise.

Que, com efeito,   0 ato genital tenha que encontrar seu lugar 

na articulavao inconsciente do desejo, e essa a descoberta da

analise,   e foi precisamente pOl' isso que nunca pensamos em   [ 6 3 1 1 1

ceder a ilusao do paciente de que facilitar sua demanda em prol

da satisfa<;:ao da necessidade de algum modo seu problema

resolveria. (E muito menos autoriza-lo com   0 classico   coitus

normalis dosim repetatur.)

POl' que ha quem pense de maneira diferente, julgando mais

essencial para   0 progresso da analise operar seja la como for 

com outras demandas, a pretexto de que estas seriam regressivas?

Tornemos a partir mais uma vez de que, antes de mais nada,

e para   0  sujeito que sua faIa e uma mensagem, pOl'que ela se

 produz no lugar do Outro. Que, em virtude disso,   sua pr6pria

demanda provenha dele e seja formulada como tal nao significa

apenas que ela esta submetida ao c6digo do Outro.   E   que e desselugar do Outro (ou mesmo de sua epoca) que ela data.

Coisa que se I e   com clareza na fala mais Iivremente proferida

 pelo sujeito. Sua mulher ou seu mestre, para que recebam sua

confianva, e com um "tu es .. . (uma ou   0  outr o)" que ele os

invoca, sem declarar    0 que ele pr6pr io e, a nao ser murmurando

contr a   si mesmo uma ordem de assassinato que   0equfvoco do

frances torna audfvel.

o   desejo, pOl' sempre transparecer na demanda, como se ve

aqui, nem pOl'   isso deixa de cstar para-ale m. E e st a t am be m

 para-aquem de uma outra demanda em que   0sujeito, repercutindo

no lugar do outro, menos apagaria sua dependencia pOl'   um

acordo de retorno do que fixaria   0 pr6prio ser q ue ele vem propor ali.

Isso quer dizer que e de uma fala que suspend a a ma rc a q ue

o sujeito recebe de seu dito, e apenas dela, q ue poderia ser  

recebida a absolvi<;:ao que   0devolveria a seu desejo.

Mas   0 desejo nada e senao a impossibilidade dessa fala, que,

 pOl' responder a primeira,   nao consegue fazer outra coisa senao

reduplicar sua marca, consumando a fenda   (Spaltung)   que   0

su jeito sofre par    s6 ser sujeito na medida e'in que fala.

(E   0 q ue simboliza a barra oblfqua, de nobre bastardia, com

que assinalamos   0  S d o s u jeito, para grafa-Io como sendo esse

sujeito:   $.)25

A regr e ss ao q ue s e coJoca em primeiro plano na analise   [635]

(regressao temporal, sem duvida, mas de&de que se esclare<;:a

tratar-se do tempo da rememora<;:ao) refere-se apenas aos signi-

ficantes (orais, anais etc.) da demanda e s6 concerne a pulsaocorrespondente atraves deles.

Reduzir essa demanda a seu lugar pode efetuar no desejo uma

aparencia de reduvao, atraves da atenua<;:ao da necessidade.

Mas isso nao pass a, antes, do efeito do peso do analista. Pois,

se os significantes da demanda sustentaram as frustrav6es em

que   0desejo se fixou (a  Fixierung   de Freud ), e somente no lugar 

deles que   0 desejo e sujeitador .

Quer se pretenda frustradora ou gratificante, toda resposta a

demanda na analise conduz a transferencia a sugestao.

Ha entre transferencia e sugestao - essa e a descoberta de

Freud    -   u ma r el av ao : e q  ue a transferencia tambem e uma

sugestao, porem uma sugestao que s6 se exerce a partir da

demanda de amor ,   que nao e demanda de nenhuma necessidade.o   fato de essa demanda s6 se constituir como tal na medida em

que   0sujeito e sujeito do significante,   eis   0que permite utiliza-Ia

mal, reduzindo-a as necessidades das quais esses significantes

sao tornados de emprestimo, coisa q ue os psicanalistas, como

vemos, nao deixam de fazer .

Mas nao se deve confundir a identificavao com   0significante

onipotente da demand a, do qual ja falamos, e a identificavao

com   0o bjeto da demanda de amor .   Esta tambem e uma regressao,

e Freud insiste nisso ao fazer dela a segunda modalidade da

identificavao, que ele distingue em sua segunda t6pica ao escrever 

a   Psicologia das massas e amilise do eu.   Mas trata-se d e um a

outra regressao.

 Nela e st a   0  exit    qu e p er mi te q ue s e s ai a d a s ug es ta o. A

identificavao com   0objeto como regressao, pOl'partir da demanda

25. Cf .   0 ($OD)   e   0  ($Oa)   de nosso grafo, aqui   retomado na "Subversao do

sujeito" , p.83! 0 sinal r egistra as rela~6es envo!vimento-desenvo!vimento-con-

 jlln~ao-dis jun~ao.   As  li ga~6es   que ele signif ica   nesses  d ois  p arenteses permitem

ler   0 S ban'ado: S como  fading   no cor te da demand a, S como fad ing   diante do

o bjeto do desejo. Ou se ja, nomina!mente, a pu!sao e a fantasia.

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d e amor ,   abre a   seqUencia   da tr  ansf er encia   (abr e-a, em vez   d e

f echa-la),   ou   se ja, a via em que   pod er ao ser    d enunciad as as

id entif ica<; 6es q  ue,   d etend o e ssa   r egres sa o, a escand em.

Mas essa regr e ss ao d e pende t ao   pouco   da necessid ad e na

d emanda   q uanto   0dese jo sadic o e ex plicado pela demand a anal,

 pois acr editar q ue   0cf  balo e um objeto nocivo em si e  somente

um   engod o corr  iqueir o de compreensao.   (En tend o com preensao,aqui,   no sentido nefasto cu jo   quinhao e extr afdo   d e Jaspers:   "Voce

com preend e ... " - exor d io   mediante   0 q ual   acredita impor-se a

quem nad  a com preende aquele   que   nad a tem   a Ihe   dar para

com preend er .)   Mas   a  d emand a d e s er    uma mer da,   eis   0q ue torna

 pr eferfvel   q ue nos coloquemos   meio   d e esguelha q uando   0sujeito

se   d escobre nela. Desgr a<;a   d o ser ,   evocada   mais acima.

Que m n ao sa be   levar suas analises didaticas ate   0 ponto de

vir agem   em   q ue se revela,   tr emulamente,   q ue tod as as demandas

q ue se articula ra m na a na lise   -   e, mais que   qualq uer    out ra , a

que esteve em   seu pr incf  pio, a   d e tor nar-se analista, q ue   entao

csgo ta s eu pr azo   -   nao passaram   d e   transferencias destinad as

a   manter instaurad o um dese jo instavel   ou duvidoso em   sua problematica, este nad a sa be d o   que e p re ci so o bter do   su jeito

 par a p od  er garantir a   d ire<;ao   d e   uma analise,   ou   par a sim ples-

mente f azer   nela   uma   inter  preta<;ao   com   conhecimento   de causa.

Essas   consid er a<;6es   nos   confirmam que e   natural analisar    a

transfer encia.   Pois   a  t r ansf er encia em   si ja e analise   d a sugestao,

na   medida em que   coloca   0sujeito,   com r es peito   it  sua   demand   a,

numa   posi<;ao   que ele deriva   unicamente   de   seu d ese jo.

E   somente em prol d  a   manutenvao d esse enquadr amento   d a

transf er encia   que   a frustravao   deve   pr evale ce r sobre   a gr atificavao.

A   resistencia   do sujeito, quando   se op6e   i t   sugestao, e apenas

d es ej o d e man te r s eu d  esejo. Como tal,   conviria   incluf -la   na

categor ia de tr  ansfer encia   positiva, ja   que   e 0

desejo   que mantema dir evao da analise,   for a   dos   ef ei to s d a d  emand a.

Estas proposiv6es, com o s e v e, a lt er am   alguma   coisa nas

opini6es   admitid as nessa   materia.   Basta que   levem   a   pensar que

em   algu m l ugar    as car tas f oram mal dadas e   ter emos   atingido

nossa   meta:

Freud, d esd e   seu   estud o   demonstrativo   d os fen6menos   subje-

tivos -   sonhos,   lapsos e chistes   -,   d os   quais nos   diz   f or mal-

mente   que Ihes saD   estruturalmente   id enticos   (mas e claro q ue

tud o   isso,   par a   nossos   d outos, esta   muito a baixo d a experie.ncia

que eles   adquiriram -   e por que caminhos! - par a   que seq uer 

 pensem   em   voltar    a esse assunto),   Fr eud , dizfamo s, f r  isou   cern

v ez es: o s sintomas   sao so br ed eter minad os. Para   0   bajulad or empenhado na pr o pagand a cotidiana q ue   nos   promete par a ama-

nha a reduvao   d a analise a   suas bases biologicas,   isso   nao   traz   [63il

nenhuma   dificuld ade;   Ihe e   ta o c omo do proferir    q ue ele nem

seq uer    0 escuta. Como   assim?

Deixemos d e   lad o   minhas   o bser vav6es de   que a so br ed eter -

minavao so e estr itamente   concebf vel   na estrutura da linguagem.

 Nos sintomas neur oticos,   que   q uer dizer    isso?

Quer dizer    que,   nos efeitos q ue   r espond em   num   sujeito   a  um a

determinad a demand a,   vem interferir    o s de   uma   posi<; ao em

relavao ao outr o (aqui,   0outr o,   seu   semelhante) que ele   sustenta

enquanto su jeito.

"Que ele sustenta enquanto sujeito"   significa   que a linguagem

lhe per mite consider ar-se como   0   maquinista ou   0  d iretor    d e

cena da   ca ptura   imaginar ia   d a   qual,   d e outr o   mod o, ele   seria

apenas   a   mar ionete viva.

 A   f antasia e a   pr o pr ia   ilustr avao   dessa p ossibilid ad e   or iginal.

Eis por que qualquer    tentavao de   r eduzi-la   i t   imagina<;ao,   na

impossibilidade   d e   admitir    0 pr o prio fracasso,   e um contra-senso

 per manente, um contr  a-senso do q ual a escola kleiniana,   que

nisso   lev ou a s coisas muito longe,   nao sai,   por nao   poder nem

mesmo   entrever    a   categoria   do   significante.

Entr etanto,   uma vez   d efinid a   como imagem utilizad a   na   es-

trutur a   signif icante,   a   id eia de f  antasia inconsciente nao mais

cr ia   d ificuldad e.

Digamos que a   f antasia, em seu uso fundamental,   e   aquilomediante   0 qual   0 sujeito se   sustenta no n lvel de seu d ese jo

evanescente, evanescente   porquanto   a propria satisfavao da d  e-

mand a   the subtr ai seu   o bjeto.

Oh! mas os neuroticos , e le s   sao   tao delicados,   e   como   agir?

Eles sao   incompreensfveis,   essa   gente, palavr a   de pai de famflia.

E justamente   0que   se   tem dito ha   muito tempo, desde   sempre,

e   os analistas continuam nessa.   0   pateta chama a isso d e   0

irracional , n ao h av en d o seq ue r percebid o   que a descoberta de

15. Aqui se colocam   alguns comentar ios so bre a formavao d os

sintomas.

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~r eu~   se   homologa ao  comec;ar   tomando pOl' certo,   0que d er r uba

1I11edJatamente   nosso exegeta, q ue   0real   e   r acional, e   d epois, ao

con statal' que   0 r acional   e   r eal.   Med iante   0q ue ele pod e articular 

q~l~  0 que se a pr esenta como   pouco razoavel   no desejo e   um

delto da   passagem do racional como   r eal, isto e, da   linguagem,

ao re~l, enq uanto   0 racional ja   tr ac;ou   af   sua circunvalac;ao.

POlS   0  parad oxo do dese jo   nao e   privilegio do neur 6tico,

tratando-sc,   antes,   de   que ele   leva em   conta a existencia do

 parad oxo em   sua   maneira   d e confr onta-Io.   Isso   nao   0classif ica   [63K I

nad a   mal na ord em   da   dignid ad e   humana   e nao   honr a o s analistas

med focr es   (isto nao e   uma a pr eciac;ao,   mas   ur n   id eal   formulado

n~m   ~oto   f or mal ~os   interessad os), que,   q uanto a esse aspecto,

I~a.oatll1gem essa   d lgnidad e: sur  pr eend ente d istanc ia , q  ue sempr e

1"01   notada em palavras enco ber tas   pelos analistas ... outros, sem

que se saiba como distinguir estes ultimos, ja q ue eles   nunca

ter iam   imaginado faze-I o p or s i pr 6 prios, se antes nao tivessem

tido q ue se opor    ao descaminho dos primeir os.

I?   E,   pois, a posic;ao do   neur 6tico   em   relac;ao ao dese jo -

d lgamos,   para encur t ar , a f antasia   -   que   vem marcar com   sua pr esenc;a a r esp ost a do s u jeito   a   d emand a, ou, d ito de outra

maneir a, a si gnif icac;ao de sua necessidad e.

.   Mas essa fant~sia   nad a tem   a   ver   com   a significac;ao em   que

II1terfere.   Essa slgnif icac; ao, com   efeito, pr ovem   do Outr o,   na

med ida em   q ue dele depende q ue   a d emand a   seja atend id a.   Mas

a fantasia s6 chega a isso pOl' se encontr ar na   via de retor no   d e

urn cir cuito   mais amplo, aq  uele   que, levando a demanda aos

limites do ser ,   faz com que   0sujeito se interr ogue   sobre a   f alta

em , que ele aparece a si   mesmo como dese jo.

E   i _ ncrfvel q ue, embor a   d esd e sempr e   gr itantes, alguns   tr ac;os

da , a~ao do   ,ho.mem   como   tal nao   tenham sido   esclar ecid os pela

anahse.   Ref -enmo-nos aq  uilo pelo   qual essa ac;ao   d o   homem   ea gesticulac;ao q ue se ap6ia em   sua hist6ria rotineir a. Essa   f ace

de proeza, de desem penho, de saf da estr angulada pelo sfm bolo

- 0q ue pOl'tanto a torna sim b6lica   (masnao   no sentido alienante

q ue esse termo vulgarmente denota)   -,   aq uilo,   enfim, pelo qual

se ~ala em passagem   ao ato, esse   R ubicao   cujo dese jo pr6pr io

esta sem pr e camuf lado na   hist6ria   em benef fcio de sell'  sucesso

tud o aquilo a   que a experiencia   d o   que   0  analista chama   d ~

act ing out   the da   ur n   acesso   quase   ex perimental,   ja   q ue   herd a

disso todo   0  artiffcio, tud  o   isso,   na   melhor d as hip6teses,   0

analista   0 rebaixa   a uma   r ecafd a   d o sujeito, e   na pior,   a uma

falha do ter apeuta.Ficamos   estupefatos   com   esse falso   pud or    do analista   diante

da ac;ao,  em que   por   certo se dissimula   uma   vergonha verd ad eira:

a   que   ele ter n   de   uma   ac;ao, a sua,   uma dentr e as   mais elevadas,

q uando ela   cai na   a bjec;ao.Pois,   afinal, que acontece s enao   isso, quand o   0   analista   se   [639]

interp6e de mod o a   d egr ad ar    a   mensagem   d e tr ansferencia,   que

ele esta ali par a   interpr etar ,   numa signif icac;ao f alaciosa   d o   real

q ue   nao   passa de   mistif icac;ao?

Porque   0 ponto em   q ue   0 analista de   ho je pretend e ca ptar a

transferencia   e   a   distancia   que ele def ine entre a fantasia e a

chamad a resposta ad a ptad a. Adaptada a q  ue, s enao   a   demanda

do Outr o,   e   em q ue teria   essa   d emanda maior ou men or   consis-

tencia   do que a resposta o btida, se ele nao se julgasse autor izado

a   d enegar qualquer    valor    a   f antasia pelo pa dr ao q  ue   retir a   de

sua   pr 6pria r ealid ade?Aqui,   0 pr 6pr io   caminho   pelo q ual   ele avanc;a   0 trai,   quando

Ihe e  preciso,   por   essa   via,   intr oduzir -se na fantasia e se oferecer 

como   h6stia   imaginar ia a f icc;6es em que pr olifer a urn desejo

embrutecido,   Uliss es inesperad o q ue se oferece como   pasto   para

q ue   prosper e   0chiqueir o de Cir ce.

E   nao venham   d izer que estou aq ui d if amand o q uem   quer   q ue

se ja,   pois esse   e   0 ponto exato em q ue aq ueles   mesmos   que   nao

conseguem ar ticular de   outr o   modQ sua pr atica se preocupam   e

se   interrogam:   as   fantasias,   nao sera   nelas   que f or  necemos ao

sujeito   a gratificac;ao   por   ond e soc;obra a analis e? Eis a p er gunta

q ue   eles se repetem, com   a insistenci a s em   saf d a de   urn tormento

do inconsciente.

17.   Assim e   q ue,   quand o   muito,   0 analista   d e   ho je deixa seu paciente no ponto   d e   identificac;ao pur amente   imaginario do  qual

o  histerico permanece cativo, pOl'quanto sua fantasia implica   seu

visgo.Isto e, no ponto   exato do  qual   Freud, em   toda a pr imeir a   parte

de sua carreira,   quis   arr anca-Io com   demasiad a pr essa, for c;ando

o a pelo do amor   no   o bjeto   da id entif icac;ao   (no tocante a E lisa beth

yon R.,   0 cunhado   [5];   quanto a Dora,   0 Sr .   K.;  no   tocante   it

 jovem homossexual d o   caso   d e   homossexualid ade feminina, ele

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enxergou   melhor, mas tropec;ou ao se considerar visado no real

 pela transferencia negativa).

Foi preciso   0capitulo da   Psicologia das massas e analise do

eu  sobre "a   identi ficac;ao" paJ'a que Freud distinguisse claramente

esse terceiro modo de identifieac;ao, eondicionado por sua func;ao

de sustentac;ao do desejo e   especificado, pOl·tanto,   pela indife-

renc;a de seu objeto.Mas nossos psicanalistas insistem:   esse objeto indiferente e

a substaneia do objeto, eomei meu eorpo, bebei meu sangue (a

evocac;ao profanatoria e da Iavra deles).   0misterio da redenc;ao

do analisado esta nessa efusao imaginaria, da qual   0 analista e   [64 01

a oferenda.

Como e que   0 Eu de que eles pretendem se valer aqui nao

sueumbiria,   de f ato,   it   alienac;ao   forc;ada a que   eles induzem   0

sujeito? Os psieologos sempr e   souberam, desde antes de Freud,

ainda que nao   0 tenham dito nesses termos, que, se   0desejo e

a metonimia   da falta-a-ser,   0Eu e a metonimia do desejo.

E   assim que se opera a identifieac;ao   f inal de que os analistas

se vangloriam.

S e e d o E u o u d o S u pe re u d o p ae ie nt e q ue se t ra ta , e le s

hesitam, ou antes, diriamos, nao estao pr eoeupados com isso,

mas aquilo com que   0 paeiente   se identifiea e com   0 Eu forte

deles.

Freud previu muito bem esse r  esultado no artigo citado ha

 poueo,   mostrando   0  papel d e   ideal q ue   0  ma is insignifieante

objeto pode assumir na genese do lider .

 Nao e   it   toa que a psieologia analftiea orienta-se c ada ve z

mais para   a   psicologia de grupo, ou ate para a psieoterapia do

mesmo nome.

Observemos os efeitos disso no proprio grupo analitico. Nao

e verdade que os analisados a titulo did <itieo se eonformem   itimagem de seus analistas, nao importa em que nivel se queira

apreende-Ia.   Antes, e entre si que os analisados de urn mesmo

analista se ligam, por urn trac;o que po de ser totalmente secun-

d ar io n a e eo no mi a d e e ad a u rn , m as n o q ua l se a ss in al a a

insuf ieieneia do analista com respeito a seu trabalho.

E   desse modo q ue aquele para quem   0 problema do   d esejo

reduz-se   a   suspensao   d o veu do med o deixa envoltos   nessa

mortalha todos a q ueles a quem eonduziu.   '

18.   Eis-nos, pois, no princf  pio malig~1026 desse poder sempre

 passive I  d e ur n direeionamento eego.   E   0 poder de fazer    0 bem

 _ nenhum poder tern outro fim, e e por isso que   0 poder nao

tern fim. Mas aqui, trata-se de outra coisa, trata-se da verdade,

da unica, da verdade sobre os efeitos da ver d a de . De sd e q  ue

Edipo enveredou por esse caminh o, e le j a r enunciou ao poder.

Para onde vai, pOitanto, a direc;ao do tratamento? Talvez basteinterrogar seus meios para defini-Ia em sua retidao.

Observe-se:   [641]

I. Que a fala tern aqui todos os poderes, os poderes especiais

do tratamento;2. Que estamos muito longe, pela regra, de dirigir    0 sujeito

 para a fala plena ou para   0diseurso coerente, mas que   0deixamos

livre para se experimentar nisso;

3. Que essa liberdade e   0 que ele tern mais dificuldade de

tolerar;4. Que a demanda e propriamente aquilo que se eoloca entre

 parenteses na analise,   estando excluida a hipotese de que   0

analista satisfac;a a qualquer uma;

5. Que, nao sendo colocado nenhum obstaculo   it   declaraC;ao

do   desejo, e para la que   0 sujeito e dirigido e ate canalizado;

6.   Que a resisteneia a essa declarac;ao, em ultima instancia,

nao pode ater-se   aqui a nada alem da ineompati bilidade do desejo

com a fala.

Proposic;6es com que talvez ainda haja alguns,   mesmo em minha

audiencia costumeira,   que se espantem por encontrar em meu

discurso.Percebe-s e a qu i a a rd en te t en ta c;ao que deve ser  ,   para   0

analista,   responder, nem q ue seja urn pouco   a   demanda.

Mais ainda, como impedir   0su jeito de the atri buir essa resposta,

so b a forma da demanda   d e eurar, e de conformidade com   0

horizonte de urn discurso que ele Ihe imputa com tao maior direito

q uanto nossa autoridade   0 ter n   assumido a tres por dois?

Quem   nos livrara, doravante,   desse manto de Nesso que para

nos mesmos tecemos: pOl'ventura a analise atende a todos os

26 .   Malin ,   que  t ambem pode signif icar   "malicioso" , "caustico" , "ardiloso" etc.

(N.E.)

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d esid er at a   d a   demand a,   e   pOl' nOl'mas   difundid as? Quem   varr en'i

esse estrume   d escomunaI d os esta buIos de Augias, a   literatura

analf tica?

A que siIencio   d eve agora o brigar -se   0analista   par a evid enciar ,

acima   d esse pf ll1tano,   0 d edo   er guid o do   Sao loao   de   Leonar d o,

 para q ue   a   interpr eta~ao   reencontre   0 horizonte   d esabitad o do

ser   em que   d eve se   d esd o br ar sua virtude alusiva?

19,   Ja   que se   tr ata   d e tomar    0 dese jo e que ele   so pod e ser 

tor nad o ao   pe   d a   letr a,   pOl'q uanto sac   as   r ed es   da   letr a   que

d eterminam,   q ue so br ed eterminam seu   lugar d  e   passar o celeste,

como   nao exigir d o   passarinheir o   que ele se ja, antes   d e   mais

nad a, ur n   letr ado?

Da par te"   literar ia"   da o br a   d e Freud ,   como   urn   pr ofessor    d e

liter atura em Zurique q ue come~ou   a  s oletra-la,   quem   dentre nos

tentou   ar ticular a   im por tancia?

Isso e apenas   uma   indica~ao.   Vamos adiante. Questionemos

o   que   d eve acontecer com   0 analista   (com   0 "ser "   d o analista)

q uanto a seu pro pr io   d ese jo.

Quem   ten'i ainda a  ingenuidad e   de se ater ,   no tocante a F reud ,a   imagem d e   bur gues   bem situad o de   Viena   que es pantou   seu

visitante Andr e Br eton,   por   nao se aureolar d e   nenhum   convf vio

com   as Menad es ? Agor a   q ue   ja   nao temos   senao   sua o bra, acaso

nao   r econheceremos   nela   ur n   r io   de   f ogo   que   nad a   d eve ao dacho

ar tif icial de Fr an~ois   Mauriac?

Quem sou be   melhor q ue ele,   declar and o   seus sonhos,   d esf iar 

a cor da em   q ue   d esliza   0 anel   q ue   nos   une ao ser,   e fazer    luzir 

entre as   maos   f echad as   que   0 pass am de u mas   as outras,   no

 jogo-d o-anel   da   paixao   humana, s eu   breve f ulgor ?

Quem tr ove jou   como esse   homem de gabinete   contr a   0a~am-

 bar camento   d o gozo   por aq ueles   que amontoam   sobr e os   ombr os

d os   outr os   os far dos   d a   necessid ad e?

Quem,   tao   intr e pid amente   q uanto   esse   clfnico   a pegad o aoterr a-a-terr a do sof  rimento, interrogou   a   vida em   seu sentid o, e

nao   par a d izer que ela   nao   0 tern   -   maneir a c omod a   d e   lavar 

as ma os -   mas par a   dizer q ue ter n a penas ur n, ond e   0 d esejo

e car regad o   pela   morte?

Homem   de   d ese jo,   de   urn   d ese jo que   ele acompanhou   a

contr agosto   pelos   caminhos   ond e   ele   se mira no sentir,   no

d ominar e no   sa ber ,   mas   d o q ual   soube   desvend ar ,   somente   ele,

q ual   urn iniciad o   nos antigos   misterios,   0  sighificante   fmpar :

esse   f alo   0 q ual r ece be-lo e da-lo s ac   iguaImente impossf veis

 para   0 neurotico, q  uer ele sai ba q ue   0 Outro nao   0 ter n o u q  ue

o   ter n, pois,   em ambos os casos,   seu   dese jo esta alhur es   -   em

se-lo   -,   e pOl'q ue e pr ecise que   0   homem, macho o u f emea,

aceite te-lo   e nao te-lo,   a par tir    d a descoberta de q ue nao   0e.

Aqui   se   inscreve a   Spaltung   derradeira pela q ual   0 sujeito s e

ar ticula com   0Logos, e sobre a q ual Fr eud come~ando a escr ever [12]  nos ia d ando,   na  ultima aur ora de  uma o br a com   as d imens6e~

d o s er , a solu~ao   d a analise"   inf inita",   quand o sua mor te   ah

veio a por   a   palavr a   Nad a.

Este relatorio e uma seleta d e   nosso ensino.   Nosso d iscur so   no Congr esso e as

respostas   q ue ele recebeu substituiram-no   em sua seq Uencia.

 Nessa   seqUencia articulamos   ur n graf o que   ar ticula   com pr ecisao   as d ire~6es

aqui   propostas para   0 campo d a analise e  par a sua   manobr a.

Damos   aqui, classif icad as   por   ord em   alfabetica d e autor es, as   referencias a

que   nosso te xto   r emete   atr aves   dos   numeros colocados entr e   colchetes.

Usamos as seguintes a br eviatur as:

GW : Ge.wl1unelt e  W ak e ,   d e  Freud,   edi~ao d a Imago Pu blishing   d e   Lond r es.

o  numer o   r omano su bseqUente   indica   0volume.

SE :  S tandard   E dition ,   tr adu~ao inglesa d essas o bras, editada pela Hogarth

Pr ess   de Lond r es.   Mesma   obser va~ao.   [ ESB   par a   a e d i~ao em   portugues.]

U P:   I nt ernational   Journal   o f  Psychoanal ysis.

T he PQ:  T he Ps ychoanal yt ic   Quart erl y.

 La P DA:   livro intitulad o   La ps ychanal yse   d' au jour d ' hui ,   pu blicad o   peta PUF,

ao   qual nos   r ef erimos   unicamente pela sim plicid ad e   ingenua   com   que   nele se

apr esenta   a tend encia a degrad ar ,   na   psicanalise, a   d ir e~ao   d a analis e e o s

 principios   d e   seu   pod er .   O br a   d e   dif usao   par a   0 exter ior,   sem duvid a,   mas

tam bem,   no interior,   de   obstr u~ao.   Assim,   nao c itar emos   seus  a utores, q ue   nao

inter vem   aq ui por nenhuma   contr i bui~ao propriamente cientif ica.

II]  A braham, Karl,   "Die psychosexuellen Dif fer enzen d er Hysterie   und d er 

Dementia praecox" (I Congr esso Internacional d e   Psicanalise, Salz bur go,   26 de

abril   de   1908),   Z entr alblall fiir   N er venheilkund e   und Psychiat rie,   2Q

cad ,   de

 julho   de   1908,   Neue   Folge,   vo1.l9,   p.521-33,   e   in   Klinische   Beitr dge   zur 

 I  J s ychoanal yse   (Int.   Psych,   Ver lag,   Lei pzig-Viena-Zurique,   1921):   "The   Psy-

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cho-sexual D if f er ences   between Hysteria and Dementia Praecox",   S elect ed 

Pa pers ,   Hogarth   Pr ess,   p.64-79.

[2]   Dever eux, Geor ges,   "Some Criter ia for the Timing of Confrontations   and 

Inter  pr etations",   a br il   d e   1950,  UP,   XXXII,   I  Uaneiro d e   1951),  p.19-24.

[3]   Fer cnczi,   Sandor ,   "Intr o jektion und Obertragung",   1909,  Ja r buch Iii I' ps y-

choanal ylische   For schungen ,   I, p.422-57; "Introjection and  T r ansfer ence",   S ex

in   Ps ychoanal ysis ,  Nova   York ,   Basic Book s,   p.35-93.

[4]   Fr eud ,   Anna, "Das   Ich und die A bwehrmechanismen",   1936,   in   ca p.lV,

"Die   A bwehrmechanismen".   Cf .   "Ver such   einer Chronologie",   p.60-3   ( Int ern.

 ps ychoanal.   Ver lag,   Viena,   1936).   [0 ego e os mecanismos   d e   d e f esa,   R io   d e

Janeir o, Civilizar ;:iio Br asileira,   6lled.,   1982.]

[5] F r eud , Sigmund ,   S lUdien i iber H  yst er ie,   1895,  G W,   I,  Fall   Elisabeth von R .,

 p.196-251, es pecialmente p.125-7;   S rudies on Hy.H er ia, S  E,   II, p.158-60   [ E sr udo. \ ·

sobr e   a hi.l" leria ,   E SB ,   II, 2lled .   rev., 1987].

[6]   Fr eud , Sigmund ,   Die   T r aumdeU lung,   GW  ,   IT-III. Cf .  c a p.IV, "Die Tr aument-

stellung" , p.152-6,  p.157 e  p.163-8. "Kern unser es  W esens",   p.609.   T he   hH e /  pr e-

t ationo f  Dr eams ,   S  E  ,   IV,ca p.IV, "Distortion in Dreams",   p.146-50, p.151, p.157-62

e  p .603   [A  int erpr ela fiio   d os sonhos, ESB ,   IV-V, 2ll ed. r ev.,   1987].

[7]   Fr eud ,   Sigmund ,   Bruchst iick    einer H ys t  er ie- Anal yse   (Dor a) ,   concluido em   [64 41

24 d e Janeir o   d e   1901 (cr .  ca rta   140 de  A us   d en   Anfiingen ,   corr es pond encia com

Fliess pu blicad a em   Lond res):   GW,   V,   p.194-5; A   C ase   () f H  yst eria, S  E,   vol.

VII,   p.35-6   ["Fragmento da amilise   d e ur n  c aso d e   histeria",   ES  B ,   VII, 2lled .

r ev.,   1987].

[8]   Fr eud ,   Sigmund ,   Bemerkungen iiber    einen F all   von   Zwangsneur ose ,   1909 ,

GW,   VII. Cf .   l.d)   Die Einf iihr ung   ins   Ver standnis d el'   K m   (Intr odur ;:iio ao

entend imento   d a   analise),   p.402-4,   e   nota   das   p.404-5;   vel'  t ambem   I  f )   Die

K r ankheitsveranlassung, ou   se ja,   a decisiva   inter  pr etar ;:iiod e Fr eud   sobr e   0que

tr aduzir iamos   pOI'"0sujeito da   d oenr ;:a", e   l.g)   Del'   Vater kom plex   und d ie

Losung   d el'  R attenid ee,   p.417-38.   Not es u po n   a C ase   of   Obsessional   N eur osis ,

SE,   X;   cf .   I.d)   Initiation into   the   Natur e of   the   Tr eatment, p. [78-81   e   nota   d a

 p.181;   d e pois,   II> The Pr ecipitating Cause  of the Illness, e  g)  The Father  Complex

and   the   Solution   of the R at Id ea, p.195-220   [" Notas   so br e   urn caso de   neuroseo bsessiva",   ESB ,   X,   IIIed.].

[9]   Fr eud ,   Sigmund ,   J enseits   des   Lustprin zi ps ,   1920,   GW,   XIII:   cf .,   se ainda

houver    necessidad e,   as   p.II-4 d  o   ca pitulo I I;   Beyond    the Pleasur e   Principle,

SE  ,   XVIII,   p.   14-6 ["Alem d o   principio de prazer",   ES  B ,   XVIII,   III ed.].

[10] F r eud, Sigmund ,   M assenps ychologie und fch- Anal yse ,   1921, GW,   XIII.  V el'

cap.VII,   "Die   Id entif izierung",   es p. p.116-8.   Group Ps ycholog y and the Anal ysis

() f  t he   E go , SE,   XVIII,   p.106-8   [" Psicologia de grupo e a analise   d o  ego" ,  ESB ,

XVIII,   IIIed .].

[II]   Freud ,   Sigmund ,   Die   end liche   ulld   d ie   unendliche   Anal yse,   1937,  G W  ,   XVI,

 p.59-99,   tr aduzido  com   0titulo   de " Analyse   terminee   (!) et  analyse   intermina ble

O!)"   -   nossos pontos de exclamar ;:ao visam   aos   padr oes   pr aticados na tr adur ;:iio

das o bras d e Freud para   0 frances.   A pontamos esta pot'q ue, par a a ed ir ;:iiod as  G W  ,

voI.XVI, publicad o em 1950, ela  niioexiste, cf .   p.280;  in  Rev.   I r anf·   Psychan.,   XI,

1939,  I ,  p .3-38 [" Analise terminavel   e  inter minavel",   ESB ,   XXIII,   Ia ed .].

[12]  Fr eud ,  Sigmund ,   Die   fchs paltung   im  Abw ehr vor gang, GW,   XVII, Schrif ten

aus dem Nachlass,   p.58-62. Data d o manuscrito:   2 d e Janeir o de   1938 (inacabado).S  plilling o f t he Ego in t  he   De f ensive   Pr ocess , C ollect ed    Pa per s ,   V, 32,  p .372-5

[" A d ivisao do  ego   no   processo   d e   d ef esa",   ESB ,   XXIII,   Ia ed.].

[13]   Glover ,   Ed ward ,   "The Ther apeutic Ef f ect   of   Inexact   Interpr etation:   A

Contr ibution to the   Theory   of Suggestion",   /JP,   XII, 4   (outubr o de   1931),

 p.399-411.

[14]   Har tmann, K r is e L oewenstein, suas   pu blicar ;:oes   em   eq uipe em   T he

Ps ychoanal ytic   Srud  y   (~ f the   C hild,   a  partir   d e   1946.

[15]  K ris, Ernst,  " Ego psychology and  inter  pr etation in psychoanalytic   therapy",

T he   PQ ,   XX,   I, Janeir o de   1951,  p .21-5.

[16]   Lacan,   Jacques, nosso relat6r io   d e Roma,   26-27   de setembr o   d e   1953:

Fonct ion et    cham p d e   la   par ole   et du   langage   en   ps ychanal yse ,   in   La   ps ycha-

na L yse ,   voU,   PUF.   Cf .,   neste volume,   p.238.

[17] Lacan, Jacques,   L'  f nslance   d e   la   lellr e   d ans   L' inconscient    ou   La r aison

de puis   F r eud  ,   9 de   maio de   1957,   in   La   ps ychanal yse,   voU , p.   47-81,   PUF.

Cr .,   neste  volume,   p.496.

[18] Lagache, Daniel,  " Le pr obleme d u tr ansf ert" (R elat6r io da XIV Conf erencia

dos   Psicanalistas d e Lingua Fr ancesa,   III d e   novembr o d e   1951),   Rev.   franr;.

Ps ychan.,   XVI,   1952, nlll-2,   p.5-115.

[19]   Leclair e, Ser ge,   " A   la recher che d es pr incipes   d 'une psychother a pie   d es

 psychoses"   (Congresso   d e Bonneval,   15 d e   a bril   de   1957),   L'E volut ion   Psy-

chiat rique ,   1958, f asc.   2,   p.377-419.

[20]   Macal pine,   Ida,   "The Development   of   the   Tr ansf er ence",   T he   PW  ,   XIX,

4,  outubro d e   1950, p.500-39,   es pecial mente   p.502-8   e 522-8.

[21] La  P DA,   p.51-2   (sobr e " pr e-genitais"   e"   genitais"),   passim   (so br e   0r eforr;:o

d o   Eu e   seu metod o),   p.102   (so br e a d istancia   d o ob jeto,   pr inci pio do   metoda

de   uma   analise).[22] La   P D A,   cf. sucessivamente   p.133   (r eed ucar ;:iioemocional), p.133   (o posir ;:ao

d a   PDA   a Freud quanto   1 1   importancia   pr imord ial d a   r elar ;:ao a d ois),   p.l32 (a

cura   " por dentro"), p.135   (0 impor tante  ... niio e   tanto   0q ue   0 analista   diz  ou

faz,  mas   0 q ue ele e),  e p.136 etc.,   passim, e aind a   p.162  ( so br e a des pedida do

r im d o tratamcnto)   e  p.149 (so bre   0 sonho).

123] R .L.,   "Per ver sion   sexuelle   tr ansitoir e au   coms   d 'un tr  aitement psychana-

Iytiq ue",   Bulletin d  '  Act ivit es d e   l'  Association d es   Ps ychana L yst es d e Belgique ,

25,   p.I-17;   118,  r ue Froissart, Bruxelas.

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[24]  Shar  pe,   Ella,  " Technique of  Ps ychoanalysis"   ,  Coli.  Papers ,   Hogar th   Press.

Cr .   p.81   (so br e a necessidad e   d e   justif icar    sua existencia ); p.12-4 (sobre os

conhecimentos e tecnicas   exigfveis   do analista).

[25] Schmid e ber g, Melitta,   "Intellektuelle H em mung und   Ess-sttirung",   Z eit-

schri jt  fiir psa. Piidagogik  ,   VIII, 1934.

[26]   Williams,   J.D.,   The Complet e   S tr at egist  ,   The Rand Ser ies,   McGr aw-Hill

Book Company,   Inc., Nova   York ,   Toronto, Lond r es.[27]   Winnicott, D.W., "Tr ansitional   O bjects   and   Transitional   Phenomena", 15

d e   junh o d e   1951,   in   UP,   XXXIV, 1953, p.l l, p .29-97.   Trad uzido   em   La

Psychanal yse,   vol.5,   p.2l-4l,   PUP.

Observac;iio sobre   0

relat6rio de Daniel Lagache:

"Psicanalise e estrutura da personalidade" 

 Est e  texto foi   redigido com base na grava~iio d e uma interven~iioque uma f alha no funcionamento inicial   do apar elho privou de

seu exor d i o. F oi d  esse acidente que tiramos proveito para

r e formular nosso discurso ,   de um modo que modifica sensivel-

mente   sua   improvisa~iio. Mas resta   ainda indicar a inten~iio

disso ,  que e cond ensar   em sua articula~iio da epoca uma posi~iio

que  permanece essencial para nos.

[sso nos   levou a suprimir   ainda mais do discurso: precisa-

ment e   aquilo que, no calor de uma at ualiza~iio, antecipa-se ao

que  so seria desenvolvido mais tarde.   Assim e que , d eixando de

lad o  nossa predile~iio de autor, niio retomamos   0 apologo do

 pot e   d e  mostarda, cu ja   lembr an~a, no entanto, niio e anedotica,

 ja   que  desde   entiio the   d emos pleno impulso. \ 

 Excet o por the garantirmos   aqui sua certidiio de nascimento,

com seu tema nos agapes que   no-lo forneceram ao menos

a par entemente, d eixamos a nosso aud it orio a tar e fa d e  r eencon-

trar  nas entrelinhas   0 pot e   d e   mostarda, em figuras mais aces-

s fveis ao leitor e menos submetidas aos significant es da presen~a.

 Alem do mais ,   um t exto que niio f oi comunicado ant es sob

nenhuma f orma documental   so e atestavel   a partir do momenta

de   sua reda~iio d e finitiva, ou seja, aqui ,   na Pascoa d e   1960.

o   Lermoestr utura,   que d ani ao relat6r io   de Daniel   Lagache2

sua palavra-chave,   e ,  com efeito, enunciad o como principio de muitas

I.   Es pecialmente em   nosso semimirio   d o ano de 1959-1960, so br e a etica   d a

 psicamllise.

.   "Hoje a   antropologia e estrutur alista. Urn d  e seus tr ayos   pr incipais e a

 pr omoyao   da categor ia de   conjunto,   d e  uni t as multiplex.   (.:.)  Pa r timos da  id eia

d c  q ue  n ao lidamos com  e lementos isolad os   nem com   somas de elementos, mas