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Lenir Maria Roque Bichara Pereira A DOR DA PERDA NA FAMÍLIA Rio de Janeiro Julho / 2003

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Lenir Maria Roque Bichara Pereira

A DOR DA PERDA NA FAMÍLIA

Rio de Janeiro

Julho / 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A DOR DA PERDA NA FAMÍLIA

Monografia apresentada como requisito

parcial para a conclusão do curso de Pós-

Graduação Lato Sensu em Terapia de

Família.

Professora Orientadora: Maria Poppe

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de perceber minha força

interior; aos meus filhos (Rafael e Daniel), por serem meus companheiros e

aceitarem com paciência a minha distância me dando força em todos os

momentos;

Ao meu companheiro Carlos, em agradecimento pela fé que tens em Deus e

pelo apoio e estímulo que sempre me proporcionou, acreditando em mim.

Aos meus pais, Nelson e Lenir, minha gratidão por me ensinarem a ter ideais

e a solucionar problemas da vida com muito amor e garra.

À minha irmã Cláudia por acreditar no curso de especialização e seguir tal

caminho, com a mesma determinação e luta que temos;

À minha tia Suely pela mensagem de otimismo e incentivo que sempre me

proporcionava;

Aos meus colegas com os quais aprendi tanto do ponto de vista profissional

quanto do pessoal, e aos meus pacientes, que não só demonstraram confiar

em mim, como também deram sempre boas idéias e ensinaram-me a

compaixão.

À minha professora e orientadora Maria Poppe pela atenção, paciência que

me foi transmitida para que esse trabalho se tornasse possível, cujo apoio

possibilitou-me alcançar minhas metas.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as famílias

enlutadas, independente de seus modelos, que

lutam por suprir suas necessidades de amor,

respeito e proteção.

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RESUMO

Entender que a família é o vínculo maior que o ser humano pode participar,

é um dos destaques desta pesquisa. Por este motivo abordar situações familiares

conflitantes pode ser de grande ajuda para que muitas famílias entendam o

momento pelo qual estão passando. As situações do dia-a-dia não resolvidas e as

dificuldades individuais podem gerar também conflitos. E geralmente essa família

não consegue resolver sozinha e então recorre a terapia, pois o terapeuta de

família pode levá-la a sentir-se melhor, direcionando-a a uma nova forma de

comunicação e uma interação mais adequada ao bem-estar de todos e de cada

um. Esta terapia tem como objetivo o conflito grupal e a família passa ter condição

de estabelecer novos padrões de comportamento. Cabe ao profissional da área de

família buscar um funcionamento mais adequado de todo o grupo.

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METODOLOGIA

Este trabalho está baseado na qualificação científica em termo teórico com

a intenção de melhoramento como qualidade de vida, buscando métodos que

favoreçam a singularidade de conteúdo mais consciente e coerente na concepção

de vida.

Trata-se de um tema que ainda não é muito explorado na bibliografia

brasileira, o que dificulta o trabalho no campo da psicologia.

O trabalho de pesquisa revelou obras de grande qualidade com tratamento

aprofundado do tema em diferentes abordagens.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O LUTO 11

CAPÍTULO II

A CRIANÇA ENLUTADA 16

CAPÍTULO III

A PERDA DE UM FILHO 20

CAPÍTULO IV

A PERDA DO COMPANHEIRO 29

CAPÍTULO V

ATITUDES DIANTE DA MORTE 32

CAPÍTULO VI

A FAMÍLIA DO PACIENTE TERMINAL 37

CAPÍTULO VII

A FAMÍLIA ENLUTADA 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 45

ANEXOS 46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho irá discutir sobre a morte, assunto sobre o qual

ninguém gosta de falar. Só é retratado quando chega o momento de se enfrentar

realmente a perda de um ente querido. Demonstrar a dor para muitos significa

sinal de fraqueza.

A morte é uma parte natural da vida e algo que todos temos em comum. Na

escala filogenética, o homem é único animal que se sabe mortal. A consciência da

morte faz parte das conquistas constitutivas dos homens. “Já não é mais uma

questão de instinto, e sim a aurora do pensamento humano, que se traduz por

uma espécie de revolta contra a morte” (MORIN; 1997; pág. 23). A consciência da

morte e o horror que ela provoca são marcas da humanidade.

Engana-se, no entanto, quem pensa que a morte sempre foi compreendida

da mesma maneira pelos homens. As diversidades marcam essa compreensão

em tempos e lugares diferentes.

Há sempre a busca de uma razão para a morte: doença, velhice, azar,

acidentes. O que não se aceita é que seja uma necessidade (da espécie?)

A morte fantasmática vai apresentar duas faces: a do futuro sempre adiado

e a do presente não efetuado. Ao se negar o tempo da morte, disseminado nas

coisas da vida, a diferença entre a morte e a vida se desmancha no ar. Talvez o

modo dominante e naturalizado da subjetivação da morte atualmente seja o da

morte fantasmática. Tanto frente ao futuro sempre adiado, como no presente não

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efetivado, a vida vai sendo seqüestrada pela morte como fantasma. (BRASIL,

1995)

“Encarando ou aceitando a realidade de nossa própria morte, poderemos,

alcançar a paz, tanto a paz interior, como a paz entre as nações” (KUBLER-

ROSS, 1998, pág. 22)

Desta forma serão revistos durante o trabalho o processo de luto que é

bastante variável e com freqüência dura muito mais do que as próprias pessoas

esperam. Cada nova estação, aniversário podem evocar a perda.

Assim como será pensado o luto das crianças, como que elas reagem a

perda de um dos pais, podendo sofrer conseqüências profundas a curto e longo

prazos incluindo doenças, depressão e outros transtornos emocionais na vida

adulta. Elas podem experimentar dificuldades em formar laços e podem carregar

medos de separação e abandono.

Também será abordado como a morte de um filho tende a ser

profundamente perturbadora para a família toda. O sofrimento tende a persistir por

anos e ode até mesmo se agravar com o passar dos anos. O efeito pode ser

devastador para o casamento e a saúde dos pais.

Não se deve esquecer como a perda do companheiro é para o cônjuge

sobrevivente complicada, até mesmo pelas obrigações financeiras e de cuidados

para com os filhos, que podem vir interferir nas tarefas do luto.

Será abordado também as atitudes diante da morte. Quando uma família

enfrenta uma perda a comunicação aberta facilita o processo de recuperação.

Quando a comunicação é bloqueada, o indizível tem mais chance de ser expresso

por meio de sintomas disfuncionais ou comportamentos destrutivos.

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Também a família do paciente terminal é um ponto importante a ser visto

porque algumas famílias de bom funcionamento são capazes de se adaptar e falar

sobre a morte antes que ela ocorra. O uso de palavras diretas ajuda a abrir um

sistema emocional fechado que propicia uma dimensão diferente na qual se ajuda

a família a sentir confortável consigo mesma e com a sua dor.

Esta família, quando bem integrada, vivendo o luto pode demonstrar mais

abertamente suas reações no momento da mudança e se adaptar mais

rapidamente. Já a família menos integrada pode demonstrar pouca reação no

momento e responder mais tarde com sintomas de adoecimento físico, emocional

ou distúrbios de comportamento social. É preciso que ela experimente e viva todas

as etapas do luto.

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CAPÍTULO I

LUTO

“No princípio criou Deus os céus e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e havia

trevas sobre a face do abismo; e o Espírito

de Deus se movia sobre a face das águas”

Gênesis 1 versículo 1

O luto é acompanhado por uma série de emoções, desde tristeza extrema

até mesmo uma sensação de alívio quando uma vida cheia de dor e sofrimento

chega ao fim e com isso a pessoa deixa de sofrer.

Sentir dor e tristeza não são sinais de fraqueza e sim de ter uma

personalidade afetiva e carinhosa que foi afetada pela morte.

Aceitar a morte de outra pessoa nossa ajuda a diminuir os temores de

nossa própria mortalidade.

Segundo Kübler-Ross (1998):

“ o homem só será capaz de mudar as coisas quando começar a

refletir sobre a própria morte, o que não pode ser feito no nível de massa, o

que não pode ser feito por computadores, o que deve ser feito por todo ser

humano individualmente. Todos nós sentimos necessidade de fugir a esta

situação; contudo cada um de nós, mais cedo ou mais tarde deverá encará-

la. Se todos pudéssemos começar admitindo a possibilidade de nossa

própria morte, poderíamos concretizar muitas coisas, situando-se entre as

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mais importantes o bem-estar de nossos pacientes, de nossas famílias e

talvez até de nosso país.” (pág. 22)

A autora reforça a importância de pensar na própria morte para que nós

profissionais de saúde possamos acompanhara um paciente, possamos estar

mais inteiros e conscientes na dificuldade de lidar com a morte.

E remete a um exercício de vida para o profissional de saúde enfrentar a

própria condição de finitude.

“O homem não tende a encarar abertamente seu fim de vida na terra; só

ocasionalmente e com certo temor é que lançará um olhar sobre a possibilidade

de sua própria morte.” (Ibidem, 1998, pág. 33)

A seqüência mais comum da progressão emocional após uma morte é:

Tristeza – Há diferenças de profundidade da tristeza e do período de duração.

Algumas pessoas tem mais capacidade de demonstrar sua tristeza

abertamente do que outras o que não é ruim. Quando não se demonstra a

tristeza pode-se correr o risco de afetar a pressão sangüínea, o coração e

consequentemente a vontade de viver daquele que ficou. Não se pode

afirmar o tempo que esse período de tristeza dura e quando ele

desaparecerá. Realmente nem se sabe se um dia isso ocorrerá. Mas pode

mudar e torna-se suportável. Os seres humanos tem grande capacidade de

recuperação, desde que seja dado o tempo necessário para se viver o luto.

Para a maioria das pessoas o primeiro ano é o mais difícil, pois

muitas datas significativas (aniversários, Natal, dias das mães, etc.)

tornarão a pessoa mais consciente da falta daquele ser tão especial que se

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culmina na própria data de aniversário da morte. Vivenciando essas datas

uma vez elas nunca mais serão tão penosas.

Quando se estamos de luto, estamos é chorando é por nós, nos

sentindo sozinhos ou com medo. Portanto, quando o choro parar, é sinal de

que estamos ficando mais fortes e não de que já não se sente falta da

pessoa que morreu.

Raiva – Após uma perda sente-se uma grande raiva da pessoa que morreu, que te

abandonou deixando tudo para enfrentar sozinho. A raiva pode ser dirigida

para os que não sofreram como você.

Esse sentimento logo passará, basta reconhecê-lo sem deixá-los

manifestar-se. As vítimas de sua raiva jamais saberão e logo sua

racionalidade voltará. Esse sintoma logo passará e faz parte do processo

de luto.

Culpa – Pode surgir em virtude de palavras infelizes na qual não se pode retratar e

foram ditas no passado. Situações de acidentes- que não se pretendia

machucar alguém. É uma parte natural do luto e uma parte pela qual todos

temos de passar.

Medo – É natural sentir um pouco de medo quando tiver algum contato próximo

com a morte. No entanto, deve-se por esse medo de lado e viver cada um

dos dias de sua vida. Se tudo quanto você vai fazer é ficar sentado se

preocupando com o momento em que o fim virá, não faz diferença

nenhuma se desistir agora.

Alívio – Se a pessoa sofreu durante algum tempo ou se era óbvio que ia sofrer, se

tem a sensação de alívio por essa vida ter terminado.

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Se grande parte da carga de cuidar dessa pessoa recaiu sobre você, você

pode sentir alívio de uma existência fisicamente esgotante e

emocionalmente extenuante.

Imediatamente depois de uma morte:

Depois que o enterro termina, a família e os amigos vão embora, a pessoa

percebe que a vida tem que continuar, mas não sabe como. Ao enfrentar a morte

nos deparamos com uma quantidade enorme de tensão, e com isso pode-se ficar

mais vulnerável a pequenos problemas de saúde. É preciso que se estabeleça

uma rotina de cuidados tais como:

- alimentação: provavelmente sentirá uma inclinação a comer muito ou

então não querer comer nada;

- sono: as pessoas tendem a reagir de duas formas- ou acham

extremamente difícil dormir ou dormem o tempo todo como que tentando

se fechar para realidade do mundo;

- rotina: quanto antes voltar a rotina, melhor. As coisas que a pessoa

sempre faz logo vão traze-la de volta a sensação de viver no presente;

- equilíbrio: se acabou de perder alguém a que ama, é natural querer

pensar nesse alguém e se pensar fizer a pessoa chorar, também está

certo. Não seria saudável obrigá-la a pensar em outras coisas. Dê a

pessoa um certo tempo todos os dias para se sentar e pensar naquele

que morreu, mais de uma forma positiva, lembrando os momentos bons.

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É bom conversar sobre quem morreu, se a pessoa sentir que precisa, e a

maioria precisa. Familiares e amigos às vezes hesitam em tocar no assunto, com

medo que façam a pessoa sofrer.

É importante reconhecer e enfrentar emoções que o indivíduo sente quando

perde alguém de quem ele gostava.

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CAPÍTULO II

A CRIANÇA ENLUTADA

Enfrentar a morte de alguém que se ama é um processo difícil em qualquer

idade, principalmente quando se é criança. Muitas pessoas., poupam as crianças

do luto, com as maiores das boas intenções, embora isso seja devastador para

ela. As crianças sentem todas as emoções dos adultos. A morte é um conceito

inteiramente novo para elas. O mais perto que ela chega é nos filmes, jogos de

computador no qual os “maus” é que morrem, de modo que ninguém fica

realmente infeliz.

Perder um pai, uma mãe amorosa, um avô bondoso ou um irmão é muito

diferente, e elas precisam ser orientadas cuidadosa e carinhosamente ao longo de

toda experiência.

Quando alguém que ela ama morre, a criança fica infeliz e também muito

assustada. A morte passa a ser real e acontece com pessoas boas. Seu mundo

passa a não ser mais aquele lugar seguro que julgou ser.

A criança que perde um dos pais pode tornar-se muito temerosa de que o

outro também a deixe. É preciso muito amor e paciência para tranqüilizá-la.

Algumas crianças tornam-se extremamente apegadas, recusando-se a se soltar

do pai ou da mãe que sobreviveu com medo de que, se deixar que saia de sua

vista, eles possam desaparecer e nunca mais voltar.

Tem casos de crianças que reagem diferente se tornando distantes, às

vezes ser recusando até a ficar de mãos dadas ou a lhe dar um beijo de boa noite.

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A criança que age assim está se preparando sub-conscientemente para perda

desse pai/mãe como se estivesse afirmando que é possível viver sem eles.

Ambas as formas de comportamento são gritos de socorro e pedido de

compreensão. Tendo em mente as limitações da idade e o nível de entendimento,

quanto mais tiver condições de falar a verdade melhora para a criança.

De repente, ela percebe que a morte não acontece somente com os maus

ou com os velhos, mas também com crianças. Ela toma consciência da sua

própria mortalidade, o que pode ser muito assustador.

É muito difícil para as crianças expressarem seus sentimentos com

palavras, e muito fácil para os adultos as interpretarem mal. Por isso é importante

deixar a criança participar do que está acontecendo e conversar com elas a

respeito – mesmo que ainda não entendam tudo o que está sendo dito.

É necessário que se permita que a criança passe por todas as fases do

luto, exatamente como um adulto. Ela irá sentir tristeza, raiva, medo, solidão, falta

de compreensão e culpa. É preciso que seja incentivada a falar desses

sentimentos para que possa ser tranqüilizada.

É muito útil que os adultos busquem apoio e esclarecimento adicional para

compreender o seu próprio processo de luto e modelar uma reação sadia à perda,

expressando sem sentimentos e recebendo apoio. As crianças geralmente

aprendem sua resposta à perda com os adultos da família.

As crianças podem ficar assustadas e inseguras, porque sentem a tristeza e

o estresse dos outros, e se sentem impotentes para ajudar. Elas precisarão de

maior amor, apoio e estrutura em sua rotina diária.

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Quando alguém morre, as crianças geralmente ficam com medo de morrer

e de que outras pessoas morram. Elas precisam saber quem cuidaria delas no

caso improvável da morte de ambos os pais.

Elas precisam de uma explicação adequada sobre a causa da morte, com o

uso de termos corretos como morrer e morte. Termos vagos e tentar protegê-las

da verdade apenas aumentam a confusão.

As crianças apresentam pensamento mágico e podem acreditar que seu

comportamento ou pensamentos podem causar ou reverter a morte.

Não se deve excluir as crianças quando a família ou os amigos vierem

confortar os adultos enlutados. A evitação ou o silêncio ensinam às crianças que a

morte é um assunto tabu. As crianças precisam aprender a lidar com a perda, em

vez de serem protegidas da tristeza.

É preciso que se ajude a criança aprender a reconhecer, nomear, aceitar e

expressar sentimentos, para que não desenvolva defesas pouco sadias para

manejar emoções difíceis. Possibilitar atividades físicas e criativas e importante

fontes de liberação de energia.

Algumas crianças podem tentar proteger os adultos enlutados e tentam

assumir o papel de cuidador , mas elas precisam crescer normalmente sem a

sobrecarga de responsabilidades que cabe ao adulto.

É preciso que a criança aprenda a lidar também com outras perdas como a

de um bichinho de estimação que é uma perda muito significativa para criança. Os

padrões de manejo da perda e da tristeza começa no início da infância e,

geralmente, continuam até a idade adulta.

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É preciso que se compartilhe cuidadosamente as crenças religiosas, pois

existem crianças que podem ficar com medo ou ressentidas em relação a um

Deus que leva para o céu alguém amado e necessário.

A tristeza de uma criança pode não ser reconhecida, porque elas

expressam sentimentos de tristeza mais no comportamento do que em palavras.

Sentimentos de abandono, desamparo, desespero, ansiedade, apatia, raiva, culpa

e medo são comuns e, muitas vezes, atuados agressivamente, porque elas podem

ser incapazes de expressá-los verbalmente.

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CAPÍTULO III

A PERDA DE UM FILHO

Não há perda mais difícil de enfrentar do que a de um filho. Nunca

esperamos que nossos filhos morram antes de nós. E nenhuma perda gera tanto

sentimento de culpa nos pais.

A maioria das pessoas acha difícil encontrar as palavras certas depois que

qualquer tipo de morte, mas quando se perde um filho, parece que os outros

nunca sabem o que dizer. Parecem evitar por completo os pais enlutados e essa é

a atitude errada a tomar. É preciso falar da perda, e o amigo estará disposto a

sentar e ouvir, consolando se possível ou oferecendo o ombro para a pessoa

chorar. Os que parecem achar mais difícil falar do assunto são também

geralmente pais.

O “período agudo do luto” vivido por cada indivíduo antes de ter condições

de enfrentar o mundo de novo, varia de pessoa para pessoa.

O efeito pode ser devastador sobre o casamento e a saúde dos pais.

Diversos estudos documentam a grande angústia dos pais em processo de luto

através de indicadores como depressão, ansiedade, sintomas somáticos, auto-

estima e senso de controle sobre a vida. A relação conjugal fica particularmente

vulnerável após a morte de um filho, com o risco de maior deterioração da

satisfação conjugal ao longo do tempo. (VIDEKA-SHERMAN & LIEBERMAN apud

WALSH, 1985)

Diz-se com freqüência: “Quando seus pais morrem, você perde seu

passado; quando seus filhos morrem você perde seu futuro”

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A morte de um filho envolve a perda dos sonhos e das esperanças dos

pais. Mais do que isso, a prematuridade e a injustiça da morte de uma criança

podem levar os membros da família ao mais profundo questionamento do sentido

da vida. De todas as perdas, o mais difícil é não idealizar uma criança morta.

Os fatores relativos à criança que morre vão ter efeitos diferenciais sobre a

reação da família.

Particularmente difícil pode ser a morte do primogênito, de um filho único,

do único filho de um dos sexos, de uma crianças superdotada, de uma criança

difícil, em relação à qual sentimentos dos pais eram particularmente ambivalentes,

ou de uma criança que morre em um acidente pelo qual os pais se culpam.

Como crianças pequenas são inteiramente dependentes dos pais para sua

segurança e sobrevivência a culpa parental tende a ser especialmente forte em

morte acidental ou por causas ambíguas, como na SIDS (DE FRAIN, TAYLOR &

ERNST apud WALSH, 1982). A culpa tende especialmente a recair sobre as

mães, das quais se espera que assumam as responsabilidades primárias pelo

bem-estar dos filhos, mesmo quando a negligência ou o abuso dos pais estão

implicados. As dificuldades parentais negligenciadas quando da morte de um filho

podem se apresentar pelo comportamento sintomático de um irmão.

É importante enfatizar que quando do membros da família se comunicam

abertamente sobre uma morte e participam juntos de rituais como ritos funerários,

visitas ao túmulo, a morte se torna mais fácil de integrar. As tentativas de proteger

as crianças, tendem a tornar o luto mais difícil. Tolerar às diferenças nas reações

à morte, incluindo os inevitáveis sentimentos ambivalentes em relação ao morto é

essencial.

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O processo de luto pode durar anos, durante os quais cada estação, feriado

e aniversário vão evocar novamente a antiga sensação de perda.

Tipos de morte

Aborto espontâneo :

Ainda que a mãe só tenha levado aquela nova vida dentro de si algumas

semanas, essa perda pode causar-lhe um sofrimento enorme, carregado de culpa,

como se tivesse feito alguma bobagem que tivesse provocado o aborto;

Medo de não mais engravidar ou de perder novamente; considerado

isoladamente, o aborto espontâneo é a complicação mais comum na gravidez e é

o motivo que leva mais freqüentemente mulheres jovens aos hospitais.

Natimortos :

A morte de um bebê transforma-se em um parto de natimorto depois da 24a

semana de gestação. Essa criança esteve crescendo e se mexendo, portanto a

mãe já pensa nela como se já estivesse nascido. A perda neste estágio é

naturalmente devastadora para os pais, mas o é em particular para a mãe que é

quem carregava o bebê dentro de si.

Neste estágio é possível que os pais queiram providenciar um funeral e um

culto religioso e algumas pessoas se sentem reconfortadas com essas medidas.

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Morte no berço :

Muitas teorias foram apresentadas, mais ninguém tem certeza das causas

para as mortes no berço.

As estatísticas demonstram que esse tipo de morte vem diminuindo, mais

ainda acontece a um número muito grande de pais todos os anos.

Um dos efeitos de passar por uma morte no berço é a probabilidade dos

pais ficarem ansiosos por demais em relação a qualquer outro filho que venha a

ter no futuro; e com isso sufocarem o próximo filho com excessos que não seriam

bons nem para a mãe nem para o bebê.

O que é preciso que seja feito é que se tome os cuidados necessários para

segurança do bebê e depois tratá-lo de forma mais normal possível.

Acidente :

É uma ocorrência súbita e por isso o choque é ainda maior. A morte pode

ser imediata ou se seguir por um período prolongado de sofrimento e ansiedade. A

dor é ampliada, numa hora seu filho estava ali, saudável e forte e na hora

seguinte, está morto.

O sentimento de culpa das pessoas enlutadas é enorme nesse momento.

Muitos pais que perderam seus filhos em acidentes encontram conforto

tentando fazer algo positivo para garantir que outros pais não sofram a mesma

perda que eles. Para muitos pais isso não traz os filhos de volta, mais ajuda a

acredita que ele não morreu em vão e que sua vida, teve grande sentido e

propósito e beneficiou outras pessoas.

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Crime :

Esse dado está aumentando, o que significa que um número crescente de

pais é obrigado a conviver com o fato de a morte de seu filho ter sido causada

pela ação deliberada de alguém.

Há muitos pais que tiveram suas vidas desintegradas depois da morte de

um filho em conseqüência de um crime, levando ao divórcio, violência ou doença

mental.

É preciso que os pais percebam a importância de transformar sua tragédia

pessoal num bem público, para que outras crianças e o mundo possam se

beneficiar com seu altruísmo e dedicação.

Suicídio :

Não existe perda que seja fácil enfrentar e toda morte é uma fonte de

sofrimento pessoal para alguém. No entanto, há certos casos em que essa dor é

aumentada e intensificada a num nível quase além do suportável como ocorre no

suicídio.

O próprio ato de acabar deliberadamente com a própria vida significa que o

equilíbrio mental da pessoa estava perturbado. O instinto humano é o da

sobrevivência.

O sentimento de culpa justificado ou não está presente na maioria dos

lutos, mais em nenhum caso é mais forte do que no luto pelo suicídio. Os que

choram essa morte ficam se perguntando por que não perceberam o desespero

da pessoa ou se poderiam ter feito algo para evitar tal desfecho. É preciso que se

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aceite que a pessoa que cometer o suicídio não estava pensando normalmente e

que acabaria achando um outro momento e um lugar para tentar de novo.

Por mais que amemos e queiramos o melhor para aqueles que nos cercam,

não podemos assumir responsabilidade pelos atos dos outros.

Outra emoção que acompanha o suicídio seria a raiva, pela pessoa ser tão

egoísta e ter pensado somente nos próprios sentimentos e não nos daquelas cuja

vida estava destruindo nesse processo. É outra emoção também que não faz

sentido.

Para tomar a decisão de morrer, a pessoa deve não acreditar mais que as

coisas podem mudar, que elas podem, de algum modo, melhorar.

“O suicida chegou a conclusão de que, não importando o quão

irracional esta premissa possa ser, a vida não vale a pena ser vivida no

presente e que algo foi perdido ou alterado, tornando certo o fato de que a

vida nunca mais valerá a pena ser vivida.” (WALSH, FROMA, 1998,

pág. 263)

Suicídio de Adolescentes :

Quando nos referimos a adolescentes em boa saúde física, com “toda a

vida pela frente”, é difícil, se não impossível, entender as idéias que embasam um

ato tão extremo. Por que um suicídio haveria de se seguir à perda de um

namorado(a), a reprovação em um exame? Apesar dos estudos intensivos, o

suicídio de adolescentes permanece sendo um enigma perturbador.

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É evidente que muitos adolescentes atravessam severas e muitas crises e

perdas sem recorrerem ao suicídio. De acordo como as perdas são desenvolvidas

dentro do contexto familiar é que se determina se o ato suicida via ser a resposta

a uma perda percebida ou antecipada. A maneira como os membros da família

vinham lidando com as crises ao longo de diversas gerações refletia no

comportamento e soluções adotadas por jovens que constituíram essa família.

Aspectos como abusos, violência, divórcios, abandonos, conflitos duradouros e

rompimentos emocionais influenciam diretamente no comportamento

autodestrutivo dos adolescentes.

A adolescência constitui uma crise que ameaça a vida da família isolada.

Como nas transições evolutivas anteriores, ela é incapaz de aceitar as perdas

invevitáveis e as mudanças inerentes a chegada de uma criança à adolescência.

Como afirmou RICHMAN (1981):

“As demandas evolutivas da adolescência são uma ameaça

para algumas famílias. Elas vêem o mundo externo como um inimigo

e armam barreiras parra se protegerem dele. A adolescência implica

um reconhecimento das diferenças, de ser um outro separado, o que,

na família ”suicidogênica” é sentido como uma ameaça à simbiose e a

perda do parceiro simbiótico. “ (RICHMAN, pág. 137)

Dessa forma a família isolada reage de modo rígido as tentativas de

individuação do adolescente. Ele é percebido como desleal, a medida que

aumenta os relacionamentos fora da família.

Adolescentes de famílias isoladas tendem a buscar relacionamentos

externos de modo extremo e parecem dispostos a sacrificar sua lealdade a família

a qualquer momento. Estas crianças aprenderam que um relacionamento

simbiótico exclusivo é essencial para sobrevivência. A adolescência oferece a

oportunidade de que o jovem substitua as relações familiares percebidas como

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vazias por um novo relacionamento exclusivo. O desejo de formar uma relação

simbiótica pode ser transferido de um dos pais para um namorado (a).

Quando o adolescente ou os pais percebem uma rejeição, não existem

substitutos temporários, não há um lugar de refúgio para suavizar a sensação de

perda. Os mitos poderosos do sistema de afinidade a respeito do abandono e

exclusão, juntamente com a ausência de precedentes históricos de mediação de

conflitos e meios-termos, aumentam a crença na necessidade de reações

extremas de auto-proteção.

O adolescente de uma família isolada, na qual qualquer perda real ou

antecipada, seja pelo nascimento de um irmão, a perda de um relacionamento, ou

envolvimento de um dos pais em uma nova relação de intimidade, pode levar a um

comportamento suicida. As mudanças físicas e biológicas da adolescência, por si

mesmas, trazem a ameaça da perda da relação parental exclusiva, à medida que

os pais se distanciam fisica e emocionalmente em antecipação ao seu abandono e

perdas iminentes.

Para estes adolescentes, percebendo a necessidade de exclusividade e

acreditando na impossibilidade da substituição, a antecipação da perda de um

relacionamento exclusivo é experimentada como um desastre. A ameaça ou a

tentativa de suicídio pode ser feita em um esforço desesperado para impedir a

perda iminente.

O comportamento pode ser precipitado pelo rompimento real ou antecipado

do relacionamento por parte de um ente querido. Seu objetivo é influenciar o outro

a não tomar uma decisão excludente, ou reverter uma decisão excludente que ele

esteja sendo forçado a fazer. Quando o adolescente acredita que a perda já

aconteceu, o ato não é mais uma tentativa de modificar o outro, mas uma decisão

mais definitiva e fatal.

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Baseado na crença no papel crucial dos mitos familiares multigeracionais

no processo suicida foi desenvolvido o “Programa sistêmico de Intervenção de

Crise” (PSIC)

No PSIC reuni-se a família e os amigos para ritualizar a crise suicida como

uma importante transição evolutiva, semelhante ao nascimento, à morte ou ao

casamento. Tenta-se desenvolver uma cerimônia de reconciliação na qual os

membros da família possam experimentar sua força e unidade. A importância dos

pais e familiares reconhecerem que não podem lidar sozinhos com o problema.

Reaproximando-se em sua perda mútua, os membros da família tem a

oportunidade de se reconectarem pelo luto comum ao tipo de família com a qual

sonharam mas nunca tiveram.

Não se espera reparar todos os relacionamentos rompidos ou prejudicados.

“Espera-se que os membros da família emerjam da crise com

a crença de que pertencem ou podem pertencer a uma rede que pode

atender as suas necessidades de intimidade, bem como de

individuação. Trabalha-se no sentido de recontar histórias familiares e

criar experiências a partir das quais surjam novos mitos de força,

tolerância à pluraridade e apoio dentro da rede familiar.” (WALSH

FROMA, 1998, pág. 271)

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CAPÍTULO IV

A PERDA DO COMPANHEIRO :

Descobrir que se está sozinho, após anos juntos pode ser devastador. Além

do sentimento de tristeza, há coisas práticas a resolver. Para muitos idosos que

foram criados numa época em que o homem tomava conta das finanças e a

mulher do lar, era aterrorizante e muito estressante, já que elas se viam obrigadas

a lidar com decisões financeiras.

É preciso neste momento do pesar pela morte do companheiro que se

procure ajuda profissional de alguém que se possa confiar. A última coisa que se

precisa é de pressões extra num momento em que suas próprias emoções podem

estar dificultando mais do que de costume a sua capacidade de pensar

claramente.

Os problemas que surgem podem variar muitas vezes em função da faixa

etária do cônjuge que enviuvou, mais todos tem suas dificuldades.

Para os de uma geração mais antiga, surgem as realidades práticas de

enfrentar o dia-a-dia. As coisas mudam ao longo da vida, muitos idosos foram

criados numa época em que o homem tomava conta das finanças, e a mulher do

lar e dos filhos. Pode-se falar em situações simples como lidar com talões de

cheques, apólices de seguro parecem aterrorizante e muitíssimo estressante pelo

fato por exemplo de uma mulher na faixa etária dos 70 anos, nunca ter vivido

experiências como estas; sendo experimentada pela primeira vez. Como também

para o homem que não tem a menor idéia de como por a máquina de lavar roupa

para funcionar, nem como preparar refeições e não querendo parecer bobos,

hesitam em pedir ajuda.

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Enfrentar a morte de um companheiro já é bem difícil sem todos esses

problemas adicionais, então é necessário membro de família, a um profissional,

que assim os problemas são separados mais rápido e mais facilmente.

Se o pesar da morte do seu companheiro for agravado pelas preocupações

relativas a casa, a finanças, a seus filhos, é importante procurar ajuda profissional

de alguém em quem possa confiar.

Outra pessoa que é extremamente afetada pelas preocupações financeiras

é a mulher que enviuva muito jovem, em função da instabilidade dos sistema. É

claro que as preocupações que viúvos e viúvas sentem não se relacionam todos

com finanças. Quaisquer que sejam sua idade e situação, tem de se perguntar se

passarão o resto da vida sozinhos.

Na época da morte do cônjuge, a maioria das pessoas insiste em dizer que

nunca mais vai se casar ou viver com alguém. Primeiro porque parece desleal

para com a pessoa que acabou de perder e depois porque o medo de passar pelo

mesmo tipo de sofrimento no futuro é insuportável.

À medida com que o tempo passa, é natural que seus pensamentos se

voltem ao futuro e para a possibilidade de ter outra pessoa.

Algumas pessoas chegam a conclusão que não desejam mais partilhar sua

vida com ninguém e preferem viver sozinhos. Desde que seja por opção e sintam-

se felizes assim. Outros se sentem incompletos sem um par amoroso. Na

verdade, as pessoas não estão substituindo aquele que se foi, mas tendo vivido

uma boa relação afetiva, gostariam de ter a oportunidade de viver isso outra vez.

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Grupos de pessoas enlutadas, como os que enviuvaram tendem a ser os

que mais sentem culpa na primeira vez em que se surpreendem rindo de novo,

beijando alguém de novo ou fazendo sexo. E quanto mais viveram com o cônjuge,

mais intensa parece ser a culpa.

Os viúvos de ambos os sexos costumam achar difícil voltar a ter uma vida

social depois que o luto imediato passa. Costurar ficar pouco à vontade para viajar

de férias sozinhos. Isso não precisa ser assim, pois as coisas não são como anos

atrás; tem muita gente sozinha hoje, até mesmo em conseqüência de uma divórcio

ou separação. Agora há mais gente vivendo e viajando sozinha do que jamais

houve.

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CAPÍTULO V

ATITUDES DIANTE DA MORTE

Ao tomar conhecimento da fase terminal de sua doença a maioria dos

pacientes moribundos que foram entrevistados reagiram com esta frase: “Não, eu

não, não pode ser verdade”.

Segundo a autora Kübler-Ross os estágios referentes à morte subdividem-

se em:

I Estágio – Negação

Esta negação inicial era palpável tanto nos pacientes que recebiam

diretamente a notícia no começo de suas doenças quanto naqueles a quem não

havia sido dita a verdade.

Esta negação ansiosa proveniente da comunicação de um diagnóstico é

muito comum em pacientes que são informados abrupta ou prematuramente por

quem não o conhece ou por quem informa sem levar em consideração o preparo

do paciente.

A negação é usada por quase todos os pacientes ou nos primeiros estágios

da doença ou logo após a constatação, ou às vezes numa fase posterior;

Ela funciona como um pára-choques para que o paciente se recupere com

o tempo, mobilizando outras medidas menos radicais. Isso não significa que mais

tarde, de acordo com a sua preparação para enfrentar a doença, ele volte a

assumir a posição anterior de negação.

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Adiar a conversa não beneficia o paciente, mas serve para nos pôr na

defensiva.

A negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída por uma

aceitação parcial.

II Estágio – Raiva

Quando não é mais possível manter firme o primeiro estágio de negação,

ele é substituído por sentimentos de raiva, de revolta, de inveja e de

ressentimento. Surge uma pergunta: “Por que eu?”

A raiva se propaga em todas as direções: os médicos não prestam, as

enfermeiras também não, as visitas dos familiares são recebidas com pouco

entusiasmo e sem expectativa. A reação dos parentes é de choro e pesar, culpa

ou humilhação; ou então, evitam visitas futuras, aumentando no paciente a mágoa

e a raiva.

O problema é que poucos se colocam no lugar do paciente e também

ficariam com raiva se fossem interrompidas tão prematuramente as atividades de

sua vida, se todas as suas construções ficassem inacabadas.

Só resta jogar a sua raiva nas pessoas que provavelmente desfrutarão de

tudo.

III Estágio – Barganha

É o menos conhecido, mais igualmente útil ao paciente, embora por um

tempo mais curto. Se no primeiro estágio, não conseguimos enfrentar os tristes

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acontecimentos e nos revoltamos contra Deus e as pessoas, talvez possamos ser

bem sucedidas na segunda fase entrando em algum tipo de acordo que adie o

desfecho inevitável " Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu a

meus apelos cheios de ira, talvez seja mais condescendente se eu apelar com

calma” (KUBLER-ROSS, 1998, pág. 87)

A barganha, na realidade, é uma tentativa de adiamento, tem de incluir um

prêmio oferecido “por bom comportamento”. A maioria das barganhas são feitas

com Deus, são mantidas em segredo. Psicologicamente, as promessas podem

estar associadas a uma culpa. É por esse motivo que é de grande valia uma

abordagem interdisciplinar no cuidado com o paciente.

IV Estágio – Depressão

Quando o paciente em fase terminal não pode mais negar sua doença,

quando é forçado a submeter-se a mais uma cirurgia, quando apresenta novos

sintomas e torna-se mais debilitado e mais magro, não pode mais esconder a

doença. Sua revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda.

Encargos financeiros vem juntar-se ao tratamento e hospitalização, o custo

elevado dos tratamentos e hospitalizações tem obrigado aos pacientes a

venderem suas únicas posses, a não realizarem seus sonhos. Todos esses

fatores de depressão são bastante conhecidos, o que não esquecemos e a aflição

que o paciente em fase terminal é obrigado a se submeter para se preparar para

quando tiver de deixar este mundo.

A primeira depressão pode ser classificada como reativa e a segunda como

preparatória.

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Quando a depressão é um instrumento na preparação da perda de todos os

objetos amados, para facilitar o estado de aceitação, o encorajamento e a

confiança não tem razão de ser. O paciente não deveria ser encorajado a olhar o

lado risonho das coisas, pois isto significaria que ele não deveria contemplar sua

morte iminente. Dizer para não ficar triste seria contraproducente, pois todos nós

ficamos quando perdemos um ser amado. Se deixarmos que exteriorize seu

pesar, aceitará mais facilmente a situação e ficará agradecido aos que puderem

estar com ele neste estado de depressão sem repetir constantemente que não

fique triste.

Este tipo de depressão é necessário e benéfico, se o paciente tiver de

morrer num estágio de aceitação e paz. Só os que conseguiram superar suas

angústias e ansiedades são capazes de alcançar este estágio. (KÜBLER-ROSS,

1998, pág. 94)

V Estágio – Aceitação

Um paciente que tiver todo tempo necessário e tiver recebido alguma ajuda

para superar tudo conforme descrito , atingirá um estágio em que não mais sentirá

depressão nem raiva quanto ao seu “destino”.

Terá podido externar seus sentimentos, sua inveja pelos vivos e sadios e

sua raiva por aqueles que não são obrigados a enfrentar a morte tão cedo.

Não confundir aceitação com um estágio de felicidade. É quase uma fuga

de sentimentos. É como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado e

fosse chegado o momento do “repouso derradeiro antes da longa viagem”.

É também o momento que a família precisa de ajuda compreensão apoio,

mais do que o próprio paciente; a medida que ela às vésperas da morte, encontra

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uma certa paz e aceitação, seu círculo de interesse diminui. Os visitantes quase

sempre são indesejados e o paciente não sente mais vontade de conversar com

eles. “É só uma questão de tempo até fechar os olhos para sempre”(Ibidem, 1998,

pág. 118)

VI Estágio – Esperança

Ouvindo pacientes em fase terminal, o que sempre impressiona até mesmo

os mais conformados, os mais realistas, deixavam abertas a possibilidade de

alguma cura, de que fosse descoberto um novo produto.

O que os sustenta através do dias de sofrimento é este tipo de “esperança”.

Isto proporciona aos doentes em fase terminal um senso de missão especial, que

os ajuda a erguer o ânimo e faz com que se submetam a exames e mais exames,

quando tudo se torna penoso.

“Quando um paciente não dá mais sinal de esperança, geralmente é

prenúncio de morte iminente”. (Ibidem, 1998, pág. 144)

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CAPÍTULO VI

A FAMÍLIA DO PACIENTE TERMINAL

No período da doença, os familiares desempenham papel preponderante, e

suas reações muito contribuem para a própria reação do paciente.

As necessidades da família variarão desde o princípio da doença, e

continuarão de formas diversas até muito tempo depois da morte. É por isso que

os membros da família devem dosar suas energias e não se esgotar a ponto de

entrar em colapso quando forem mais necessários. Um amigo compreensivo pode

contribuir mito para ajudá-los a manter o equilíbrio entre ser útil ao paciente e

respeitar suas próprias necessidades.

Os membros da família experimentam diferentes estágios de adaptação

semelhantes ao paciente. A princípio muitos não podem acreditar que seja

verdade. Pode ser que ninguém aceite o fato de que haja tal doença na família.

Portanto a família sofre certas mudanças, dependendo muita da atitude do

paciente, do conhecimento e da habilidade com que se comunica o fato. Se são

capazes de compartilhar suas preocupações comuns, podem logo tratar dos

assuntos importantes, sob menos pressões do tempo e emoções (conversar e

chorar juntos).

Saber enfrentar os dias ou semanas depende muito da estrutura e união da

família, da habilidade de se comunicar e da existência de verdadeiros amigos.

Uma pessoa fora do convívio familiar, sem maiores envolvimentos emocionais,

pode ser útil ouvindo s preocupações da família e suas necessidades.

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Os problemas do moribundo chegam ao final, mas começam o da família.

Muitos desses problemas podem se discutidos antes que o membro da família

venha a falecer. Infelizmente, a tendência é que se oculte ao paciente os nossos

sentimentos, com uma falsa alegria. Na verdade quando se trata de sentimentos

negativos, existe uma enorme barreira de se falar no assunto.

O moribundo também pode ajudar seus familiares, fazendo com que

encarem a sua morte. E pode ajudar de várias formas: uma delas é participar

naturalmente seus pensamentos e sentimentos aos membros da família, e

incentivando-os a proceder assim. Se ele for capaz de enfrentar a dor e mostrar

com seu próprio exemplo tranqüilizante, os familiares se lembrarão de sua força e

suportarão com mais dignidade a própria tristeza.

A culpa talvez seja a companheira mais dolorosa da morte. Quando se faz o

diagnóstico de uma doença como fatal, não é raro os familiares se perguntarem se

devem se culpar por isto.

Viúvos e viúvas examinados em clínicas, apresentam sintomas somáticos

resultantes da incapacidade de superar os sentimentos de culpa e pesar.

É compreensível, que as pessoas relutem em falar abertamente sobre a

morte e o morrer, sobretudo se de repente, a morte se torna algo pessoal que nos

atinge. As pessoas que experimentaram a crise da morte, descobriram que a

comunicação só é difícil na primeira vez, tornando-se mais simples a medida que

cresce a experiência.

Ao invés de aumentar a alienação e o isolamento, é preciso que haja a

comunicação de modo significativo e profundo, descobrindo uma aproximação e

compreensão que só o sofrimento pode propiciar.

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Se os membros da família podem juntos compartilhar estas emoções,

enfrentarão aos poucos a realidade de separação iminente e chegarão juntos a

aceitá-la. O período da fase final, quando o paciente se desprende paulatinamente

de seu mundo, inclusive da família, talvez seja o de desgosto mais profundo.

Não compreendem que o moribundo, que encontrou a paz e aceitação de

sua morte, tem de se separar, do seu ambiente, inclusive das pessoas que ama.

Como poderia estar preparado para morrer se continuasse a manter

relacionamentos cheios de sentido? Quando o paciente pede para ser visitado só

por poucos amigos, depois só pelos filhos e, finalmente só por sua esposa, deve

entender que esta é a maneira de ele se desapegar gradualmente. Durante esse

período, a família é que precisa de maior apoio, para que seja explicado o estágio

de aceitação/desligamento que vive o paciente.

Há uma grande diferença entre a morte lenta, ex.: câncer, de um ente

querido, com tempo suficiente para que ambos os lados se preparem para a dor

final, e um telefonema apreensivo ex.: morte do coração.

Os parentes de um canceroso são mais maleáveis para discutir um

esperado fim do que a família de um doente de coração cujo o fim pode chegar a

qualquer momento.

Nosso objetivo como terapeutas deve ser sempre ajudar o paciente e sua

família a enfrentar juntos a crise,, de modo que aceitem simultaneamente a

realidade final.

Como poderia estar preparado para morrer se continuasse mantendo

relacionamentos cheios de sentido e que são tantos na vida de um homem?

(KÜBLER-ROSS, 1998)

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CAPÍTULO VII

A FAMÍLIA ENLUTADA

Quando perdemos alguém, principalmente quando tempos pouco tempo

para nos preparar, ficamos com sentimentos de raiva, desespero. Normalmente,

os familiares preferem ficar sozinhos.

O vazio se faz sentir após o funeral, quando as pessoas se retiram. E

nessas situações que os familiares gostariam de alguém para conversar,

especialmente se essa pessoa tiver tido contato recente com o falecido. Isto ajuda

o parente a superar o pesar, preparando-o para uma aceitação gradual.

É longo o período de luto que tem pela frente, e necessita de ajuda e

assistência desde a confirmação de um chamado “ mau diagnóstico”, até os

meses que se subseguem a morte de um membro da família.

Não se entende por ajuda apenas conselhos profissionais, mas necessitam

de um ser humano, de um amigo, médico. A assistente social talvez seja a mais

próxima se a família quiser discutir o problema da permanência do parente

naquele local, que pode gerar sentimentos de culpa, por não ter ficado com ele em

casa. Não importa a razão, o fato é que devemos ajudar os parentes numa

orientação construtiva para diminuir a culpa, a vergonha ou o medo do castigo. A

ajuda mais significativa que podemos dar a qualquer parente, é partilhar seus

sentimentos.

Não devemos pensar, como terapeutas, que somos o único recurso das

famílias. Os amigos, os grupos de auto-ajuda, a religião, a natureza, os livros, a

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música e os filmes podem ser fontes importantes de alívio e aproximação após

uma perda. Devemos validar outros recursos de consolo e busca de sentido.

É importante nos mantermos flexíveis em relação a atender os membros da

família individualmente, e em diferentes combinações, bem como ao ritmo da

terapia. Devemos respeitar o tempo da família ao lidar com estas questões.

Max Lerner (1990) descreveu o quanto o enfrentamento da morte pode ser

uma experiência profundamente modificadora em nossas vidas.

Durante o processo terapêutico devemos ajudar nossos pacientes a

superarem sua negação da morte e aquela de nossa cultura.

“A questão principal nesta abordagem da intervenção é

fortalecer as famílias para que expandam o contexto no qual vêem a si

mesmas e a sua perda – ver a continuidade de sua experiência desde

o passado e em direção ao futuro, e ver sua ligação uns com os

outros, com sua cultura e a morte, mas toda a vida, em uma

perspectiva melhor, fortalecendo-as para o futuro” (WASH E

McGOLDRICK, 1998, pág. 104)

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CONCLUSÃO

Durante o convívio com pacientes terminais, percebi que na hora da morte

a maioria das pessoas se arrependia de não ter dado um abraço carinhoso no filho

de não ter amado mais, de não ter arriscado.

Percebi que ser feliz é possível, sim, desde que exploremos todas as

nossas possibilidades e encontremos o que há de mais belo em cada um de nós.

O amor é eterno, a vida é eterna. O que acontece é uma transformação da

matéria, do corpo, mas o espírito, esse não morre nunca!

O luto pela perda de uma pessoa amada é a experiência mais universal e

ao mesmo tempo, mais desorganizadora e assustadora que vive o ser humano. O

sentido dado a vida é repensado, as relações são refeitas à partir de uma

avaliação de seu significado, a identidade pessoal se transforma. Nada mais é

como costumava ser. E ainda assim há vida no luto, há esperança de

transformação, de recomeço. Porque há um tempo de chegar e um tempo de

partir, a vida é feita de pequenos e grandes lutos e o ser humano se dá conta de

sua condição de ser mortal, porque é humano.

“Você não pode evitar que os pássaros da tristeza voem sobre sua cabeça,

mas pode evitar que eles construam ninhos em seus cabelos” (Provérbio Chinês)

Quando se fala em família, logo vem a mente o conjunto de pai, mãe, filhos

e lar, mas hoje em dia sabe-se que esta não tem sido a realidade de muitas

pessoas. A família sofreu mudanças com o passar do tempo, o que originou vários

modelos familiares. Para um profissional na área de família conhecer estes

modelos é imprescindível.

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Conflitos surgem no meio da família e não temos como evitá-los, porém não

podemos permitir que se instalem de uma maneira duradoura. As diferenças

individuais, são fortes razões para conflitos, porém muitos outros motivos podem

levar a tal situação, como: introdução de um novo membro na família, morte ou

separação, a entrada de um filho na adolescência, doença e etc.

Situações como estas, exigem reorganização na estrutura familiar afim de

que se estabeleça novo equilíbrio que garanta a sobrevivência da família.

A atuação do terapeuta junto a essas famílias é de grande importância.

Os trabalhos terapêuticos são aliados da família. Como terapeutas

precisamos abrir mão do estereótipo da família igualitária completa como sendo a

família perfeita que trará felicidade.

Atualmente o trabalho com família, vem sendo cada vez mais utilizado.

Trata-se de métodos bastante complexos. Os conhecimentos teóricos são o

alicerce, embora cada família exija um técnica específica.

Na terapia de família, o objetivo é as mudanças na interação do sistema

familiar e não as mudanças individuais. Estas ocorrerão como conseqüência das

mudanças do sistema.

O terapeuta ao atender uma família procura levá-la a se sentir melhor,

diminuir seu sofrimento, a partir de novas formas de comunicação e interação

mais adequadas ao bem-estar de todos e de cada um.

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Ajudar a família significa criar condições que lhe permitam descobrir-se e

ampliar seu espaço e só assim, partir em busca de novas alternativas que lhe

permitam usufruir de forma plena o desafio de viver a vida.

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há

tempo para todo o propósito debaixo do céu;

Há tempo de nascer e tempo de morrer;

tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar e tempo de curar;

tempo de derribar e tempo de edificar;

tempo de chorar e tempo de rir.”

Eclesiastes 3 versículos 1, 2, 3 e 4

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BIBLIOGRAFIA

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MARKHAM, Ursula. Luto: esclarecendo suas dúvidas. São Paulo: Ágora,

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