A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as...

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18 | Junho | 2010

13AAAAActividadectividadectividadectividadectividade E E E E Económicaconómicaconómicaconómicaconómica

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J. L. Barros – uma empresa caldense com qua

Foi criada em 1918 como uma loja que vendia quase tudo e atravessou o século XX comvárias mudanças na sua estrutura social. Hoje é uma sociedade anónima parceira domaior grupo de materiais de construção do país e chama-se J. L. Barros & Cunha Gomes,SA.Facturou no ano passado 5 milhões de euros e a administração não esconde as dificul-dades de uma empresa que pertence a um dos sectores mais expostos à crise.Salette Saraiva, filha de um dos sócios iniciais é hoje uma das administradoras daempresa, perfazendo duas gerações à frente dos seus destinos.

O cartão de visita J. L. da Barros & Cunhas Gomes,SA ostenta no canto superior a expressão “Desde1918”. Um sinal de que a empresa se orgulha dosseus 92 anos de existência, apesar das atribulações da sua estrutura accionista.Tudo começou, pois, oito

anos depois de implantada a República e num período extremamente conturbadoda vida política portuguesa, quando Joaquim Luís de Barros Júnior abre uma lojana Rua Dr. Júlio Lopes que – tal como quase todos os estabelecimentos comerci-ais da época numa vila da província – vendia praticamente de tudo.Em 1944 ocomerciante dá sociedade ao seu irmão, José Luís de Barros, ao seu contabilistaSebastião Cunha e ao funcionário César Lourenço. O capital social foi de 150contos (750 euros) e os dois irmãos detinham duas quotas de 50 contos e os doisfuncionários entretanto promovidos a patrões 25 contos cada.Alguns anos de-pois, César Lourenço compra as quotas de José Luís de Barros e de SebastiãoCunha, ficando imediatamente com 75% do capital. Mas como o seu objectivo nãoera ser sócio maioritário, combina com o outro fundador um aumento do capitalsocial para mil contos (cerca de 5000 euros) divididos em duas quotas de 500contos cada um.”Eram duas pessoas que se davam muito bem””Eram duas pessoas que se davam muito bem””Eram duas pessoas que se davam muito bem””Eram duas pessoas que se davam muito bem””Eram duas pessoas que se davam muito bem”, contaSalette Saraiva, referindo-se ao seu pai, César Lourenço e ao seu sócioJoaquim.Este último tinha casa na Foz do Arelho o que dava azo a dedicar-se à suapaixão pela caça e pela pesca, actividade a que dedicava muito tempo, deixandogrande parte da gestão da empresa a César Lourenço, no qual confiava plena-mente. “Eram ambos muito sérios um com o outro e deram-se linda-“Eram ambos muito sérios um com o outro e deram-se linda-“Eram ambos muito sérios um com o outro e deram-se linda-“Eram ambos muito sérios um com o outro e deram-se linda-“Eram ambos muito sérios um com o outro e deram-se linda-mente”mente”mente”mente”mente”, sublinha a actual administradora.Nos finais dos anos setenta há umnovo aumento de capital, desta vez para 6000 contos (quase 30 mil euros), entrandoum novo sócio – Marcos Moreira de Barros – que fica com uma quota de 500 contos,equivalente a 8,3% por cento da sociedade.Com a morte de Joaquim Luís de BarrosJúnior, no início dos anos oitenta, sucede-lhe, por herança, a sua filha Carmen Barros(com quem Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas não conseguiu contactar para obter o seu depoi-mento para esta reportagem). A liderança da empresa sofre alguma instabilidade eem 1987 César Lourenço adquire os 8,3% de Marcos Moreira de Barros e fica com amaioria do capital. No ano seguinte compra a quota de Cármen Barros e torna-se oúnico proprietário da empresa. Mas, acto contínuo, procede a uma nova repartição docapital com quotas de 25% para ele próprio, para a sua mulher, Maria Raposo Louren-ço, para a filha Salette Saraiva e para o genro Luís Saraiva.César Lourenço, que foiatingido pela doença de Parkinsson, morre em 1998.

RECENTRAR O NEGÓCIORECENTRAR O NEGÓCIORECENTRAR O NEGÓCIORECENTRAR O NEGÓCIORECENTRAR O NEGÓCIO

A travessia dos anos oitenta tinha sido, porém,muito dolorosa e a empresa enfrenta dificulda-des. A nova administração resolve abandonaralgumas das áreas de negócio – artigos despor-tivos, caça e pesca, agricultura, etc. – e centrar-se nos materiais de construção.”Não podíamos”Não podíamos”Não podíamos”Não podíamos”Não podíamosser um centro comercial e continuar comser um centro comercial e continuar comser um centro comercial e continuar comser um centro comercial e continuar comser um centro comercial e continuar comtanta dispersão”tanta dispersão”tanta dispersão”tanta dispersão”tanta dispersão”, conta Luís Saraiva, tambémadministrador da empresa. “Chegámos a ter“Chegámos a ter“Chegámos a ter“Chegámos a ter“Chegámos a ter73 funcionários. Hoje temos 36”73 funcionários. Hoje temos 36”73 funcionários. Hoje temos 36”73 funcionários. Hoje temos 36”73 funcionários. Hoje temos 36”.À decisãoestratégica de assentar a actividade nos materi-ais de construção, segue-se a entrada do grupoCunha Gomes, do Porto, que é um gigante nestemercado. Em 1991 a empresa caldense eleva o seu capital para 1 milhão de eurose torna-se uma sociedade anónima, com a necessária mudança de nome: J. L.Barros & Cunha Gomes, SA.Como o negócio agora não exige uma presença nocentro da cidade, a empresa vende a sua sede na Rua Dr. Júlio Lopes, cuja receitavai ajudar a financiar um investimento de 1 milhão de euros em modernas insta-lações à saída da cidade, na Estrada da Foz. “O terreno já existia e tinha“O terreno já existia e tinha“O terreno já existia e tinha“O terreno já existia e tinha“O terreno já existia e tinhasido comprado no tempo do meu sogro, no fim dos anos setenta, porsido comprado no tempo do meu sogro, no fim dos anos setenta, porsido comprado no tempo do meu sogro, no fim dos anos setenta, porsido comprado no tempo do meu sogro, no fim dos anos setenta, porsido comprado no tempo do meu sogro, no fim dos anos setenta, por1100 contos1100 contos1100 contos1100 contos1100 contos [5487 euros]”””””, conta Luís Saraiva. São 10 mil metros quadrados,metade dos quais tem agora zona de vendas, salão de exposição e escritórios.Nem na altura da compra nem aquando da construção da nova sede, se sonhava

então que um dia ali passaria uma auto-estrada e muito menos que ficaria tãoperto de um nó do que viria a ser a A8.”Quando soubemos, é claro que”Quando soubemos, é claro que”Quando soubemos, é claro que”Quando soubemos, é claro que”Quando soubemos, é claro queficamos contentes porque isso aumentou o valor da empresa. Des-ficamos contentes porque isso aumentou o valor da empresa. Des-ficamos contentes porque isso aumentou o valor da empresa. Des-ficamos contentes porque isso aumentou o valor da empresa. Des-ficamos contentes porque isso aumentou o valor da empresa. Des-de então temos sido pressionados por inúmeras empresas de váriosde então temos sido pressionados por inúmeras empresas de váriosde então temos sido pressionados por inúmeras empresas de váriosde então temos sido pressionados por inúmeras empresas de váriosde então temos sido pressionados por inúmeras empresas de váriossectores, para vender porque gostariam de transformar isto numasectores, para vender porque gostariam de transformar isto numasectores, para vender porque gostariam de transformar isto numasectores, para vender porque gostariam de transformar isto numasectores, para vender porque gostariam de transformar isto numasuperfície comercial”superfície comercial”superfície comercial”superfície comercial”superfície comercial”. Mas o casal Saraiva não vende e o sócio Cunha Gomesestá de acordo.

O ACTO COMERCIAL ACABAVA NO MOMENTO DA VENDAO ACTO COMERCIAL ACABAVA NO MOMENTO DA VENDAO ACTO COMERCIAL ACABAVA NO MOMENTO DA VENDAO ACTO COMERCIAL ACABAVA NO MOMENTO DA VENDAO ACTO COMERCIAL ACABAVA NO MOMENTO DA VENDA

Toda a vida de Salette Saraiva está marcada pela J. L. Barros: “em“em“em“em“emmiúda brincava na empresa e lembro-me de estar ao balcãomiúda brincava na empresa e lembro-me de estar ao balcãomiúda brincava na empresa e lembro-me de estar ao balcãomiúda brincava na empresa e lembro-me de estar ao balcãomiúda brincava na empresa e lembro-me de estar ao balcãoa observar aquela actividade toda, lembro-me dos corredo-a observar aquela actividade toda, lembro-me dos corredo-a observar aquela actividade toda, lembro-me dos corredo-a observar aquela actividade toda, lembro-me dos corredo-a observar aquela actividade toda, lembro-me dos corredo-res, que na altura me pareciam enormes, onde se armazena-res, que na altura me pareciam enormes, onde se armazena-res, que na altura me pareciam enormes, onde se armazena-res, que na altura me pareciam enormes, onde se armazena-res, que na altura me pareciam enormes, onde se armazena-vam as mercadorias, e de andar por lá a ver e a mexer. Eravam as mercadorias, e de andar por lá a ver e a mexer. Eravam as mercadorias, e de andar por lá a ver e a mexer. Eravam as mercadorias, e de andar por lá a ver e a mexer. Eravam as mercadorias, e de andar por lá a ver e a mexer. Eraum fascínio. Aos sábados de manhã ia para o escritório doum fascínio. Aos sábados de manhã ia para o escritório doum fascínio. Aos sábados de manhã ia para o escritório doum fascínio. Aos sábados de manhã ia para o escritório doum fascínio. Aos sábados de manhã ia para o escritório dopai e sentava-me na secretáriapai e sentava-me na secretáriapai e sentava-me na secretáriapai e sentava-me na secretáriapai e sentava-me na secretária”.

Não pensava, contudo, vir um dia a administrar os destinos dafirma. Salette Saraiva estuda e licencia-se em Germânicas, é profes-

sora, dá aulas no Magistério nas Caldas e no ensino secundário noBombarral, até que um dia o pai, consumido pela doença, lhe pedepara vir para a J. L Barros. Convite irrecusável.O marido, Luís, que foitambém funcionário da empresa, conta como a forma de trabalharde uma casa comercial evoluiu nas últimas décadas. Os materiais deconstrução, que dantes eram muito padronizados, passaram a sermais específicos e tornaram-se mais diversificados e completos. Edepois vieram as normas, as certificações de qualidade, as nomen-

claturas complexas. Luís Saraiva diz quejá nada é como era e que a actividadeexige hoje mais conhecimento e maisformação.Já a mulher e sócia refere a evo-lução ao nível da relação com o cliente.“Antes o acto comercial acabava no“Antes o acto comercial acabava no“Antes o acto comercial acabava no“Antes o acto comercial acabava no“Antes o acto comercial acabava nomomento da venda, agora o serviçomomento da venda, agora o serviçomomento da venda, agora o serviçomomento da venda, agora o serviçomomento da venda, agora o serviçoque prestamos só termina depois doque prestamos só termina depois doque prestamos só termina depois doque prestamos só termina depois doque prestamos só termina depois domaterial estar montado e validado,material estar montado e validado,material estar montado e validado,material estar montado e validado,material estar montado e validado,mantendo-se, ainda assim, o acom-mantendo-se, ainda assim, o acom-mantendo-se, ainda assim, o acom-mantendo-se, ainda assim, o acom-mantendo-se, ainda assim, o acom-panhamento pós-venda”panhamento pós-venda”panhamento pós-venda”panhamento pós-venda”panhamento pós-venda”, conta. Poroutro lado, a própria relação comercialevoluiu e hoje conta muito o aconselha-

mento e o acompanhamento dos clientes, o que tem a ver com acomplexidade dos materiais.Desde os anos oitenta que a empresa,acompanhando os tempos, se abriu à comunidade. Costuma aceitarestágios profissionais de alunos das escolas Bordalo Pinheiro e Téc-nica Empresarial do Oeste, recebe visitas de estudo e, por vezes, ospróprios administradores são convidados a dar uma aula em escolasda cidade.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

O casal Luís e Salette Saraiva são os administradores da J. L. Barros e representam a segunda geração.O casal Luís e Salette Saraiva são os administradores da J. L. Barros e representam a segunda geração.O casal Luís e Salette Saraiva são os administradores da J. L. Barros e representam a segunda geração.O casal Luís e Salette Saraiva são os administradores da J. L. Barros e representam a segunda geração.O casal Luís e Salette Saraiva são os administradores da J. L. Barros e representam a segunda geração.

Imagem da secção Caça e Pesca e da secção de Ferramentas. O armazém da empresa na Estrada da Foz, antes da construção da nova sede.Imagem da secção Caça e Pesca e da secção de Ferramentas. O armazém da empresa na Estrada da Foz, antes da construção da nova sede.Imagem da secção Caça e Pesca e da secção de Ferramentas. O armazém da empresa na Estrada da Foz, antes da construção da nova sede.Imagem da secção Caça e Pesca e da secção de Ferramentas. O armazém da empresa na Estrada da Foz, antes da construção da nova sede.Imagem da secção Caça e Pesca e da secção de Ferramentas. O armazém da empresa na Estrada da Foz, antes da construção da nova sede.

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ase um século de existência

O que fazer quando seestá numa actividade que é das mais

fustigadas pela crise?Reduzircustos. A começar pelo pesso-al. No ano passado, entre res-cisões de contrato e reforma-dos que não foram substituídos,a empresa reduziu o seu qua-dro de 47 para 36 pessoas. E aspoupanças noutras áreas têmsido tantas que “estamos a“estamos a“estamos a“estamos a“estamos achegar a uma estrutura dechegar a uma estrutura dechegar a uma estrutura dechegar a uma estrutura dechegar a uma estrutura decustas igual à de há 10custas igual à de há 10custas igual à de há 10custas igual à de há 10custas igual à de há 10anos”anos”anos”anos”anos”, conta Luís Saraiva.Em2004 a empresa facturou umpico de 7,3 milhões de euros,mas desde então tem vindo adescer e fechou 2009 com 5 mi-lhões. As cobranças tambémestão difíceis e as próprias se-guradoras deixaram de seguraras vendas a crédito. Ainda as-sim, Luís e Salette Saraiva di-zem que não vendem nada parao Estado porque este paga tãotarde que não compensa alie-nar a mercadoria para um cli-ente assim.A J. L. Barros & Cu-

“Não vendemos nada que seja para o Estado”Tinha 11 anos o miúdo

que no dia 31 de Outu-bro de 1955 se apresen-tou na Rua Dr. Júlio Lo-pes para iniciar o seuprimeiro dia de trabalhona conhecida firmacaldense.Viera das Gaei-ras a pé e a pé continua-ria a deslocar-se entreaquela (então) aldeia eas Caldas da Rainha du-rante mais quatro anos, até que o seu pai lhe comprou umabicicleta. Um salto de gigante para a época, que encurtava asdistâncias, difíceis de vencer sobretudo nas madrugadas e tar-des frias e chuvosas de Inverno.João Augusto fizera a 4ª classe,o que também naquele tempo já era escolaridade quase acimada média, pois no Portugal dos anos cinquenta nem todos ti-nham instrução primária. O normal seria ir trabalhar para o cam-po ou arranjar alguma coisa na cidade.”O meu pai, que era”O meu pai, que era”O meu pai, que era”O meu pai, que era”O meu pai, que erafuncionário do Faustino Gama, aqui nas Gaeiras, como iafuncionário do Faustino Gama, aqui nas Gaeiras, como iafuncionário do Faustino Gama, aqui nas Gaeiras, como iafuncionário do Faustino Gama, aqui nas Gaeiras, como iafuncionário do Faustino Gama, aqui nas Gaeiras, como iamuitas vezes aviar-se ao J. L. Barros, conhecia o senhormuitas vezes aviar-se ao J. L. Barros, conhecia o senhormuitas vezes aviar-se ao J. L. Barros, conhecia o senhormuitas vezes aviar-se ao J. L. Barros, conhecia o senhormuitas vezes aviar-se ao J. L. Barros, conhecia o senhorCésar e fez-lhe o pedido”César e fez-lhe o pedido”César e fez-lhe o pedido”César e fez-lhe o pedido”César e fez-lhe o pedido”. Foi aceite. E começou por baixo,como seria de esperar – varrer a casa, fazer recados, levar enco-mendas a casa dos clientes, ir buscar materiais à estação da CPe aos Capristanos (rodoviária). Mais tarde passou a cortar papelpara embrulhos, a fazer massa para pôr nos vidros e, pouco apouco, saltou para o balcão onde pesava pregos e aviava osfregueses em produtos de menor responsabilidade.O primeiroordenado do aprendiz foram 60 escudos (30 cêntimos). JoãoAugusto diz que ainda se recorda das três notas de vinte (com aimagem do Sto. António) nas suas mãos. Ordenado, diga-se,apenas obtido ao segundo mês de trabalho porque no primeiro“era à experiência”“era à experiência”“era à experiência”“era à experiência”“era à experiência”.Nessa altura ainda não sabia que iria ba-ter um recorde de longevidade no seio da J. L. Barros. Foram 53anos de trabalho sempre na mesma empresa, até que se refor-mou em Abril de 2009.Nunca pensou em sair?”Houve fases da”Houve fases da”Houve fases da”Houve fases da”Houve fases daminha vida em que me abordaram para mudar de patrão,minha vida em que me abordaram para mudar de patrão,minha vida em que me abordaram para mudar de patrão,minha vida em que me abordaram para mudar de patrão,minha vida em que me abordaram para mudar de patrão,mas acabava sempre por chegar a entendimento e fuimas acabava sempre por chegar a entendimento e fuimas acabava sempre por chegar a entendimento e fuimas acabava sempre por chegar a entendimento e fuimas acabava sempre por chegar a entendimento e fuicontinuando. Na altura era fácil sair e entrar noutra firmacontinuando. Na altura era fácil sair e entrar noutra firmacontinuando. Na altura era fácil sair e entrar noutra firmacontinuando. Na altura era fácil sair e entrar noutra firmacontinuando. Na altura era fácil sair e entrar noutra firmaporque eu tinha conhecimento de ferragens e haviaporque eu tinha conhecimento de ferragens e haviaporque eu tinha conhecimento de ferragens e haviaporque eu tinha conhecimento de ferragens e haviaporque eu tinha conhecimento de ferragens e haviaempregos”empregos”empregos”empregos”empregos”.O horário era de segunda a sábado e já só na idadeadulta é que este funcionário passou a ter a “semana inglesa”,ficando livre a partir das 13h00 de sábado. “Mas para isso“Mas para isso“Mas para isso“Mas para isso“Mas para issotivemos ainda de fazer uma greve. Antes do 25 de Abril”tivemos ainda de fazer uma greve. Antes do 25 de Abril”tivemos ainda de fazer uma greve. Antes do 25 de Abril”tivemos ainda de fazer uma greve. Antes do 25 de Abril”tivemos ainda de fazer uma greve. Antes do 25 de Abril”,conta, explicando que foi uma greve de todo os empregados decomércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. JoãoAugusto nunca abandonou as Gaeiras e foi na sua aldeia quecasou e continuou a viver (hoje, paredes meios com filha, genroe netas). Mas depois da bicicleta seguiu-se uma motorizadapara ir para o emprego, mais tarde o inevitável carro e quandose reformou, o rapazinho que ia a pé para o trabalho, fazia-setransportar num Peugeot 206 (que hoje leva para a fazenda, comas alfaias na parte traseira). Do seu patrão, César Lourenço,guarda a imagem de um homem “muito apegado à casa e“muito apegado à casa e“muito apegado à casa e“muito apegado à casa e“muito apegado à casa emais próximo dos funcionários do que o sócio mais próximo dos funcionários do que o sócio mais próximo dos funcionários do que o sócio mais próximo dos funcionários do que o sócio mais próximo dos funcionários do que o sócio [Joaquim],,,,,que era assim um bocadinho mais desprendido e dedica-que era assim um bocadinho mais desprendido e dedica-que era assim um bocadinho mais desprendido e dedica-que era assim um bocadinho mais desprendido e dedica-que era assim um bocadinho mais desprendido e dedica-va-se mais à caça e à pesca”va-se mais à caça e à pesca”va-se mais à caça e à pesca”va-se mais à caça e à pesca”va-se mais à caça e à pesca”.E quanto à actividade em si,também a firma acompanhou a evolução dos tempos. Ao princí-pio, vendiam ferragens, pulverizadores, charruas, torpilhas, pren-sas para lagares e muitas miudezas como redes, cimentos, fer-ro, mais tarde azulejos. Hoje o universo da J. L. Barro é outro,bem mais complexo. Seja como for, o próprio João Augusto,deixaria, às tantas de aviar ao balcão e passou a ter outrasresponsabilidades. Quando se reformou, já não aviava ao públi-co e trabalhava na secção de compras da empresa.

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João Augusto -

o trabalhador mais

antigo

César Lourenço (àdireita) com oPresidente da Re-

pública, Ramalho Eanes, nofim dos anos setenta numadas feiras que então se rea-lizavam no parque.

O empresário esteve maisde meio século à frente dosdestinos da empresa e ocu-pou vários cargos nas Cal-das da Rainha. Foi vereador

César Lourenço - mais de 50 anos à frente da empresa

nha Gomes trabalha sobretudocom pequenas e médias em-presas ligada à construção, em-bora o segmento dos particula-res não seja displicente. Os re-sorts, como, por exemplo, o daSerra d’el Rey, são também um

mercado alvo.O futuro é incer-to. “Há sinais contraditóri-“Há sinais contraditóri-“Há sinais contraditóri-“Há sinais contraditóri-“Há sinais contraditóri-os de retoma: há mais con-os de retoma: há mais con-os de retoma: há mais con-os de retoma: há mais con-os de retoma: há mais con-fiança, há empresas comofiança, há empresas comofiança, há empresas comofiança, há empresas comofiança, há empresas comoa antiga Rol que está a con-a antiga Rol que está a con-a antiga Rol que está a con-a antiga Rol que está a con-a antiga Rol que está a con-tratar pessoal, o que é bom,tratar pessoal, o que é bom,tratar pessoal, o que é bom,tratar pessoal, o que é bom,tratar pessoal, o que é bom,mas no nosso sector as em-mas no nosso sector as em-mas no nosso sector as em-mas no nosso sector as em-mas no nosso sector as em-

presas que ainda tinhampresas que ainda tinhampresas que ainda tinhampresas que ainda tinhampresas que ainda tinhamobras no ano passado já asobras no ano passado já asobras no ano passado já asobras no ano passado já asobras no ano passado já asacabaram e ninguém está aacabaram e ninguém está aacabaram e ninguém está aacabaram e ninguém está aacabaram e ninguém está acomeçar nada. O sector estácomeçar nada. O sector estácomeçar nada. O sector estácomeçar nada. O sector estácomeçar nada. O sector estáparado.”parado.”parado.”parado.”parado.”

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da Câmara Municipal, presiden-te da Comissão de Turismo e doGrémio Literário caldense (quemais tarde daria origem à asso-ciação comercial) e foi dirigen-te dos bombeiros e da BandaComércio Indústria.

“Ele encarava a empresa“Ele encarava a empresa“Ele encarava a empresa“Ele encarava a empresa“Ele encarava a empresaquase como um sacerdócioquase como um sacerdócioquase como um sacerdócioquase como um sacerdócioquase como um sacerdócio- tinha uma extrema atenção- tinha uma extrema atenção- tinha uma extrema atenção- tinha uma extrema atenção- tinha uma extrema atençãopara com os funcionários epara com os funcionários epara com os funcionários epara com os funcionários epara com os funcionários etinha sobretudo uma gran-tinha sobretudo uma gran-tinha sobretudo uma gran-tinha sobretudo uma gran-tinha sobretudo uma gran-

de abertura de espírito, sem-de abertura de espírito, sem-de abertura de espírito, sem-de abertura de espírito, sem-de abertura de espírito, sem-pre disposto a aprender”pre disposto a aprender”pre disposto a aprender”pre disposto a aprender”pre disposto a aprender”,conta a filha, Salette Saraiva,que lhe sucedeu.

Nascido em Vale de Maceira,César Lourenço esteve empre-gado numa mercearia em S.Martinho do Porto e veio traba-lhar para as Caldas depois deter sido despedido por uma vezter chegado atrasado. A famíliaveio a descobrir, após a sua

morte, que nesse dia de 1939,César Lourenço iniciou um di-ário onde passou a assinalaros acontecimentos mais im-portantes que o marcaram,não só os pessoais – como adescoberta de que tinha Pa-rkinsson aos 47 anos – comoda vida social e política cal-dense e nacional.

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A sede da empresa na Rua Dr. Júlio Lopes. A carroça à direita era usada para ir buscarA sede da empresa na Rua Dr. Júlio Lopes. A carroça à direita era usada para ir buscarA sede da empresa na Rua Dr. Júlio Lopes. A carroça à direita era usada para ir buscarA sede da empresa na Rua Dr. Júlio Lopes. A carroça à direita era usada para ir buscarA sede da empresa na Rua Dr. Júlio Lopes. A carroça à direita era usada para ir buscarmercadorias à CP e aos Capristanos (mais tarde Claras e mais tarde Rodoviária Nacional).mercadorias à CP e aos Capristanos (mais tarde Claras e mais tarde Rodoviária Nacional).mercadorias à CP e aos Capristanos (mais tarde Claras e mais tarde Rodoviária Nacional).mercadorias à CP e aos Capristanos (mais tarde Claras e mais tarde Rodoviária Nacional).mercadorias à CP e aos Capristanos (mais tarde Claras e mais tarde Rodoviária Nacional).

César Lourenço esteve mais de 50 anos à frente dos destinos da empresaCésar Lourenço esteve mais de 50 anos à frente dos destinos da empresaCésar Lourenço esteve mais de 50 anos à frente dos destinos da empresaCésar Lourenço esteve mais de 50 anos à frente dos destinos da empresaCésar Lourenço esteve mais de 50 anos à frente dos destinos da empresa

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UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Ferreira & Santos, Lda. – uma só firma com duas áre

Durante 11 anos Ernesto Fer-reira de Sousa teve o prazer detrabalhar em conjunto com o seufilho, João Maria e as netas MariaJoão e Ana Ferreira. Quando mor-reu, em 2000, com 89 anos, estecomerciante caldense deixava as-sim em boas mãos o negócio daourivesaria e das duas ópticas(uma delas comprada meses an-tes) com que fizera nome na ci-dade.

Ernesto Sousa nasceu em 1911e começou cedo a trabalhar comoourives. Mas não quis ficar em-pregado toda a vida e em 1941estabelece-se por conta próprianuma loja no Largo Heróis de Nau-lila, ainda como comerciante emnome individual. Três anos depoismonta uma sociedade com Au-gusto Mendes dos Santos (1903-1994). Nasce assim a Ferreira &Santos, Lda. que é hoje uma dassociedades por quotas mais anti-gas das Caldas.

Durante a década de cinquen-ta a firma alarga a sua actividadeà óptica, com uma loja na Rua José

Malhoa. João Maria conta que adecisão do seu pai teve em contao facto de na ourivesaria Mourão(onde ele antes trabalhara) sevenderem também óculos e por,à data, haver apenas uma lojadesse ramo na cidade.

Durante meio século a firmacoexiste com os dois negócios,mas as novas tecnologias e omercado haveriam de ditar umpeso maior do ramo mais inova-dor, aquele que constitui hoje um“pelouro” das suas duas filhas.

João Maria prefere a ourivesa-ria, mas reconhece que é hojemais um coleccionador do que umourives. E conta que o seu esta-belecimento sempre teve um ele-mento distinto que é a joalhariaantiga. “É a área em que mais“É a área em que mais“É a área em que mais“É a área em que mais“É a área em que maisgosto de trabalhar, as pratas,gosto de trabalhar, as pratas,gosto de trabalhar, as pratas,gosto de trabalhar, as pratas,gosto de trabalhar, as pratas,as jóias, os objectos de arteas jóias, os objectos de arteas jóias, os objectos de arteas jóias, os objectos de arteas jóias, os objectos de artecom incorporação de joalha-com incorporação de joalha-com incorporação de joalha-com incorporação de joalha-com incorporação de joalha-ria, imagens de marfim comria, imagens de marfim comria, imagens de marfim comria, imagens de marfim comria, imagens de marfim comaplicação de pedras precio-aplicação de pedras precio-aplicação de pedras precio-aplicação de pedras precio-aplicação de pedras precio-sas e semi-preciosas... enfim,sas e semi-preciosas... enfim,sas e semi-preciosas... enfim,sas e semi-preciosas... enfim,sas e semi-preciosas... enfim,é esse mais o meu mundo”é esse mais o meu mundo”é esse mais o meu mundo”é esse mais o meu mundo”é esse mais o meu mundo”, diz.

Por isso, a sua loja não é hoje

um estabelecimento permanen-temente aberto ao público, comum corropio de clientes a entrar ea sair. Pelo contrário, a discretaloja aparece meio escondido em

plena Praça da Fruta, mantendono interior o mobiliário de origemdos anos quarenta.

Dir-se-ia que o tempo não pas-sou por ali, mantendo intactas asmadeiras e os expositores de vi-dro onde se guardam peças quepoderiam já lá ter estado há 50

anos. Também discretas, duas câ-maras de vídeo – que zelam pelasegurança - são os únicos sinaisde modernidade.

“Neste momento sou mais“Neste momento sou mais“Neste momento sou mais“Neste momento sou mais“Neste momento sou mais

um coleccionador do que umum coleccionador do que umum coleccionador do que umum coleccionador do que umum coleccionador do que umcomerciante”comerciante”comerciante”comerciante”comerciante”, diz João MariaFerreira, que se entretém com assuas peças e atende alguns clien-tes ocasionais. Em linguagemmoderna poderia dizer-se que asua actividade está a ser “des-continuada”.

Nem sempre foi assim, claro.Nos anos quarenta e cinquentaas ourivesarias respondiam a umaprocura de “ostentação”, sobre-tudo da burguesia endinheirada

que gostava de comprar jóias epeças de ouro muito trabalhado.E respondiam também à necessi-dade de entesouramento por par-te das classes mais baixas.

“As pessoas não tinham“As pessoas não tinham“As pessoas não tinham“As pessoas não tinham“As pessoas não tinhammuita apetência para os ban-muita apetência para os ban-muita apetência para os ban-muita apetência para os ban-muita apetência para os ban-cos e para os produtos finan-cos e para os produtos finan-cos e para os produtos finan-cos e para os produtos finan-cos e para os produtos finan-

“Sou mais um coleccionador do que um comerciante”. João Maria Ferreira na sua discreta ourivesaria. Herdou o“Sou mais um coleccionador do que um comerciante”. João Maria Ferreira na sua discreta ourivesaria. Herdou o“Sou mais um coleccionador do que um comerciante”. João Maria Ferreira na sua discreta ourivesaria. Herdou o“Sou mais um coleccionador do que um comerciante”. João Maria Ferreira na sua discreta ourivesaria. Herdou o“Sou mais um coleccionador do que um comerciante”. João Maria Ferreira na sua discreta ourivesaria. Herdou onegócio do seu pai e ainda mantém a firma Ferreira & Santos, Lda, que gere com as filhas, tendo alargado a actividade ànegócio do seu pai e ainda mantém a firma Ferreira & Santos, Lda, que gere com as filhas, tendo alargado a actividade ànegócio do seu pai e ainda mantém a firma Ferreira & Santos, Lda, que gere com as filhas, tendo alargado a actividade ànegócio do seu pai e ainda mantém a firma Ferreira & Santos, Lda, que gere com as filhas, tendo alargado a actividade ànegócio do seu pai e ainda mantém a firma Ferreira & Santos, Lda, que gere com as filhas, tendo alargado a actividade àópticaópticaópticaópticaóptica

O quotidiano caldense de 1947 a desfilar em frente à ourivesariaO quotidiano caldense de 1947 a desfilar em frente à ourivesariaO quotidiano caldense de 1947 a desfilar em frente à ourivesariaO quotidiano caldense de 1947 a desfilar em frente à ourivesariaO quotidiano caldense de 1947 a desfilar em frente à ourivesaria

Ernesto Ferreira. Se fosse vivo teria 99 anos. Foi ele queErnesto Ferreira. Se fosse vivo teria 99 anos. Foi ele queErnesto Ferreira. Se fosse vivo teria 99 anos. Foi ele queErnesto Ferreira. Se fosse vivo teria 99 anos. Foi ele queErnesto Ferreira. Se fosse vivo teria 99 anos. Foi ele quefundou a firma que já vai hoje na terceira geração.fundou a firma que já vai hoje na terceira geração.fundou a firma que já vai hoje na terceira geração.fundou a firma que já vai hoje na terceira geração.fundou a firma que já vai hoje na terceira geração.

A Ferreira & Santos, Lda. começou por ser uma ourivesaria em 1944, masalargou os seus negócios ao ramo da óptica. João Maria Ferreira, 77 anos,filho do fundador, reparte hoje com as duas filhas a gestão de uma firmaque inclui a ourivesaria e as lojas Novoptica e Óptica Ramiro.

ceiros e o aforro era o ouro”ceiros e o aforro era o ouro”ceiros e o aforro era o ouro”ceiros e o aforro era o ouro”ceiros e o aforro era o ouro”,conta João Maria. Os fios, pulsei-ras e colares deste metal podiamser usados no dia a dia, ou nasocasiões festivas e tinham a van-tagem de, a qualquer momento,serem vendidos (ou penhorados),transformando-se em dinheiro.

A clientela tradicional das ou-rivesarias eram “a gente do“a gente do“a gente do“a gente do“a gente domar”mar”mar”mar”mar” e “a gente do campo”“a gente do campo”“a gente do campo”“a gente do campo”“a gente do campo”,que usavam objectos de ouro maispesados, que valiam pelo seu pesoe valor facial, enquanto que osricos preferiam um ouro mais re-buscado, com incorporação demão-de-obra, ou seja, - outro ter-mo moderno – com valor acres-centado.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

Page 5: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

eas de actividade

Maria João Henriques PinheiroFerreira, de 54 anos e a irmã AnaFerreira Isaac, 41 anos, são, emconjunto com o pai, João MariaFerreira, os três sócios-gerentesdesta sociedade que é compostapor uma ourivesaria e duas ópti-cas.

Ainda crianças, as duas irmãsmoviam-se entre a tabacaria Ibé-rica, ali bem perto, onde traba-lhavam a mãe e a sua madrinha(mulher de Augusto Mendes dosSantos, sócio do pai).

Depois da escola primária e doExternato Ramalho Ortigão, Ma-ria João fez o Magistério Primário(nos Pavilhões do Parque) e che-gou ainda a leccionar em VilaFranca Xira e nos Mosteiros (Cal-das da Rainha). Mas já nessa al-tura os professores andavam coma casa às costas e quando se lhedeparou uma colocação demasi-ado longe das Caldas, Maria João,então com 29 anos e já casada,optou por ficar a trabalhar na ou-rivesaria do pai.

Não por muito tempo porqueem breve, em 1994, a firma decideabrir ali mesmo ao lado a Ópticada Praça. A sua mudança paraeste novo estabelecimento surgenaturalmente.

“Sempre tive a percepção de“Sempre tive a percepção de“Sempre tive a percepção de“Sempre tive a percepção de“Sempre tive a percepção deque o negócio das antiguida-que o negócio das antiguida-que o negócio das antiguida-que o negócio das antiguida-que o negócio das antiguida-des a que o meu pai se dedi-des a que o meu pai se dedi-des a que o meu pai se dedi-des a que o meu pai se dedi-des a que o meu pai se dedi-cava era muito específico ecava era muito específico ecava era muito específico ecava era muito específico ecava era muito específico eque ele é que era o especialis-que ele é que era o especialis-que ele é que era o especialis-que ele é que era o especialis-que ele é que era o especialis-ta da área. Na verdade, nãota da área. Na verdade, nãota da área. Na verdade, nãota da área. Na verdade, nãota da área. Na verdade, nãoera muito apelativo para mimera muito apelativo para mimera muito apelativo para mimera muito apelativo para mimera muito apelativo para mime por isso decide-me pela óp-e por isso decide-me pela óp-e por isso decide-me pela óp-e por isso decide-me pela óp-e por isso decide-me pela óp-

O negócio das ópticas em expansãotica”tica”tica”tica”tica”, conta a empresária.

A formação foi feita com a ex-periência adquirida e, mais recen-temente, devido à complexidadedesta área, com acções promovi-das pelos fornecedores e em via-gens de trabalho.

Hoje em dia uma óptica é mui-to mais do que uma loja que ven-de óculos. Existe a óptica médica(cujos artigos só se vendem comreceituário médico), e a venda deartigos como óculos de sol, binócu-los, termómetros, barómetros eobjectos afins. E há também os ser-viços, como os testes de visão, fei-tos hoje facilmente na loja, mas quehá 20 anos só podiam ser realiza-dos no oftalmologista porque ne-cessitavam de uma tecnologia queainda não estava massificada.

A responsável da Óptica Rami-ro refere ainda as especificida-des das lentes de contacto. “Dan-“Dan-“Dan-“Dan-“Dan-tes só havia as rígidas e astes só havia as rígidas e astes só havia as rígidas e astes só havia as rígidas e astes só havia as rígidas e assemi-rígidas, mas hoje há len-semi-rígidas, mas hoje há len-semi-rígidas, mas hoje há len-semi-rígidas, mas hoje há len-semi-rígidas, mas hoje há len-tes descartáveis que se usamtes descartáveis que se usamtes descartáveis que se usamtes descartáveis que se usamtes descartáveis que se usamdurante um mês ou até só pordurante um mês ou até só pordurante um mês ou até só pordurante um mês ou até só pordurante um mês ou até só porum dia”um dia”um dia”um dia”um dia”, conta.

Já a irmã, Ana, andou no “li-ceu”, no Parque, e foi inaugurar oedifício da Raul Proença onde con-cluiu o secundário. “Assim que“Assim que“Assim que“Assim que“Assim queacabei o 12º ano tomei logo aacabei o 12º ano tomei logo aacabei o 12º ano tomei logo aacabei o 12º ano tomei logo aacabei o 12º ano tomei logo adecisão de vir trabalhar comdecisão de vir trabalhar comdecisão de vir trabalhar comdecisão de vir trabalhar comdecisão de vir trabalhar como meu pai. Foi uma decisão deo meu pai. Foi uma decisão deo meu pai. Foi uma decisão deo meu pai. Foi uma decisão deo meu pai. Foi uma decisão demomento, não tinha pensadomomento, não tinha pensadomomento, não tinha pensadomomento, não tinha pensadomomento, não tinha pensadomuito nisso antes, mas a ver-muito nisso antes, mas a ver-muito nisso antes, mas a ver-muito nisso antes, mas a ver-muito nisso antes, mas a ver-dade é que era importante dardade é que era importante dardade é que era importante dardade é que era importante dardade é que era importante darcontinuidade ao negócio dacontinuidade ao negócio dacontinuidade ao negócio dacontinuidade ao negócio dacontinuidade ao negócio dafamília”família”família”família”família”. Estava-se em 1986 e Anatinha então 18 anos. Desde então

não mais largou esta actividade,partilhando a gestão com a irmãe o pai.

A CRISE, A CONCORRÊNCIA EA CRISE, A CONCORRÊNCIA EA CRISE, A CONCORRÊNCIA EA CRISE, A CONCORRÊNCIA EA CRISE, A CONCORRÊNCIA EO COMÉRCIO TRADICIONALO COMÉRCIO TRADICIONALO COMÉRCIO TRADICIONALO COMÉRCIO TRADICIONALO COMÉRCIO TRADICIONAL

As duas ópticas da Ferreira &Santos são praticamente vizinhas:Novoptica e Óptica Ramiro distamescassos 10 metros uma da ou-tra. Não fazem concorrência en-tre si?

As duas irmãs sócias dizem quenão. E explicam que - apesar dosclientes actualmente serem mui-to voláteis e não haver a mesmafidelização que havia antigamen-te - é possível distinguir um seg-mento de mercado mais urbanona Óptica Ramiro e outro, de pes-soas mais de fora da cidade, naNovóptica.

A Ferreira & Sousa é, assim,um pequeno grupo económico quedetém uma ourivesaria e duasópticas. Emprega dez pessoas (in-cluindo os gerentes) e conta ain-da com duas médicas oftalmolo-gistas e uma optometrista que alidão consultas várias vezes por se-mana. A sua facturação aproxi-ma-se de 1 milhão de euros.

A crise tem-se feito sentir, masa empresa, não estando pujante,está longe de sofrer dificuldades.

“Noto que há quem tenha“Noto que há quem tenha“Noto que há quem tenha“Noto que há quem tenha“Noto que há quem tenhadificuldade em fazer a consul-dificuldade em fazer a consul-dificuldade em fazer a consul-dificuldade em fazer a consul-dificuldade em fazer a consul-ta e comprar os óculos nota e comprar os óculos nota e comprar os óculos nota e comprar os óculos nota e comprar os óculos nomesmo mês. E quem peça paramesmo mês. E quem peça paramesmo mês. E quem peça paramesmo mês. E quem peça paramesmo mês. E quem peça parapagar a prestações”pagar a prestações”pagar a prestações”pagar a prestações”pagar a prestações”, diz MariaJoão. Estes são alguns dos sinais

da crise, mas também há as mu-danças de comportamento dosconsumidores. Por exemplo, osóculos de sol, que já foram umnegócio florescente, estão embaixa porque há-os em todo o tipode lojas, mais baratos e de menorqualidade. “É mais agradável“É mais agradável“É mais agradável“É mais agradável“É mais agradávelter quatro pares de óculos deter quatro pares de óculos deter quatro pares de óculos deter quatro pares de óculos deter quatro pares de óculos desol, um de cada cor, do quesol, um de cada cor, do quesol, um de cada cor, do quesol, um de cada cor, do quesol, um de cada cor, do queter um bom par de óculos deter um bom par de óculos deter um bom par de óculos deter um bom par de óculos deter um bom par de óculos dequalidade”qualidade”qualidade”qualidade”qualidade”, ironiza a empresá-ria.

Já a entrada em cena do Viva-ci, que possui a marca Multiópti-cas, não teve um impacto rele-vante. “É claro que ao princí-“É claro que ao princí-“É claro que ao princí-“É claro que ao princí-“É claro que ao princí-pio faz sempre mossa porquepio faz sempre mossa porquepio faz sempre mossa porquepio faz sempre mossa porquepio faz sempre mossa porqueos preços deles são muitoos preços deles são muitoos preços deles são muitoos preços deles são muitoos preços deles são muitocompetitivos e a sua publici-competitivos e a sua publici-competitivos e a sua publici-competitivos e a sua publici-competitivos e a sua publici-dade é muito agressiva, masdade é muito agressiva, masdade é muito agressiva, masdade é muito agressiva, masdade é muito agressiva, mas

depois do primeiro impactodepois do primeiro impactodepois do primeiro impactodepois do primeiro impactodepois do primeiro impactotudo volta ao normal”tudo volta ao normal”tudo volta ao normal”tudo volta ao normal”tudo volta ao normal”.

A irmã, Ana Isaac, acrescentaque a óptica ainda funciona comoum negócio de proximidade, con-fiança e de competência, onde aspessoas, sobretudo no caso daslentes, gostam de um acompa-nhamento mais personalizado emais familiar do que aquele queexiste em algumas marcas doscentros comerciais.

Com os três estabelecimentosda firma situadas em pleno cen-tro da cidade, as duas empresári-as têm uma visão muito própriado comércio tradicional: “faz“faz“faz“faz“fazsempre falta o comércio desempre falta o comércio desempre falta o comércio desempre falta o comércio desempre falta o comércio derua, até porque as pessoas serua, até porque as pessoas serua, até porque as pessoas serua, até porque as pessoas serua, até porque as pessoas sefartam também de estar nosfartam também de estar nosfartam também de estar nosfartam também de estar nosfartam também de estar nosespaços fechados dos cen-espaços fechados dos cen-espaços fechados dos cen-espaços fechados dos cen-espaços fechados dos cen-

Maria João e Ana Isaac. As duas irmãs e sócias partilham com o pai a gestão da firma.Maria João e Ana Isaac. As duas irmãs e sócias partilham com o pai a gestão da firma.Maria João e Ana Isaac. As duas irmãs e sócias partilham com o pai a gestão da firma.Maria João e Ana Isaac. As duas irmãs e sócias partilham com o pai a gestão da firma.Maria João e Ana Isaac. As duas irmãs e sócias partilham com o pai a gestão da firma.

João Maria Ferreira e o pai, Ernesto Ferreira, na ourivesaria em 1993João Maria Ferreira e o pai, Ernesto Ferreira, na ourivesaria em 1993João Maria Ferreira e o pai, Ernesto Ferreira, na ourivesaria em 1993João Maria Ferreira e o pai, Ernesto Ferreira, na ourivesaria em 1993João Maria Ferreira e o pai, Ernesto Ferreira, na ourivesaria em 1993

Augusto Santos (1903-1994) foi sócio de João MariaAugusto Santos (1903-1994) foi sócio de João MariaAugusto Santos (1903-1994) foi sócio de João MariaAugusto Santos (1903-1994) foi sócio de João MariaAugusto Santos (1903-1994) foi sócio de João MariaFerreira. Na foto, datada de 13/05/1960, está com a mulher,Ferreira. Na foto, datada de 13/05/1960, está com a mulher,Ferreira. Na foto, datada de 13/05/1960, está com a mulher,Ferreira. Na foto, datada de 13/05/1960, está com a mulher,Ferreira. Na foto, datada de 13/05/1960, está com a mulher,Amélia Santos, no quintal da ourivesaria.Amélia Santos, no quintal da ourivesaria.Amélia Santos, no quintal da ourivesaria.Amélia Santos, no quintal da ourivesaria.Amélia Santos, no quintal da ourivesaria.

tros comerciais. É agradáveltros comerciais. É agradáveltros comerciais. É agradáveltros comerciais. É agradáveltros comerciais. É agradávelandar na rua às compras.andar na rua às compras.andar na rua às compras.andar na rua às compras.andar na rua às compras.Mas temos que oferecer qua-Mas temos que oferecer qua-Mas temos que oferecer qua-Mas temos que oferecer qua-Mas temos que oferecer qua-lidade e produtos distintoslidade e produtos distintoslidade e produtos distintoslidade e produtos distintoslidade e produtos distintospara contrariar a massifica-para contrariar a massifica-para contrariar a massifica-para contrariar a massifica-para contrariar a massifica-ção dos produtos que estãoção dos produtos que estãoção dos produtos que estãoção dos produtos que estãoção dos produtos que estãoem todas as grandes superfí-em todas as grandes superfí-em todas as grandes superfí-em todas as grandes superfí-em todas as grandes superfí-cies comerciais”cies comerciais”cies comerciais”cies comerciais”cies comerciais”.

As duas irmãs dizem que nun-ca chegou a haver conflito de ge-rações na firma: “Deixámos“Deixámos“Deixámos“Deixámos“Deixámossempre a gestão das coisassempre a gestão das coisassempre a gestão das coisassempre a gestão das coisassempre a gestão das coisasmais importantes ao nossomais importantes ao nossomais importantes ao nossomais importantes ao nossomais importantes ao nossopai e ainda hoje é assim. Podepai e ainda hoje é assim. Podepai e ainda hoje é assim. Podepai e ainda hoje é assim. Podepai e ainda hoje é assim. Podehaver uma ou outra discor-haver uma ou outra discor-haver uma ou outra discor-haver uma ou outra discor-haver uma ou outra discor-dância, mas normalmente es-dância, mas normalmente es-dância, mas normalmente es-dância, mas normalmente es-dância, mas normalmente es-tamos de acordo”tamos de acordo”tamos de acordo”tamos de acordo”tamos de acordo”.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

CRONOLOGIA

1941 – Ernesto Ferreira deSousa estabelece-se comocomerciante em nome indi-vidual numa ourivesaria noLargo Heróis de Naulila

1944 – Forma sociedade

com Augusto Mendes dosSantos e criam a Ferreira &Santos, Lda. na Praça da Re-pública

1954 – A sociedade abre

uma óptica no Largo Heróisde Naulila

1974 – Abre a Novóptica, na

Rua José Malhoa 1994 - Abre a Óptica da Pra-

ça, na Praça da República, aolado da ourivesaria. E fechao estabelecimento no LargoHeróis de Naulila.

1999 – A firma compra a Óp-

tica Ramiro, na Rua José Ma-lhoa

2007 – Encerramento da

Óptica da Praça

Page 6: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Maratona – o café dos anos sessenta que é hoje um

Quem visita hoje o Maratona não dirá que este é um dos cafés mais antigos das Caldas. Data dosanos sessenta, mas a decoração é actual e o estabelecimento tem sido notícia devido a iniciativasinéditas e vanguardistas.A história de um café, hoje também restaurante, que transitou dos pais para o filho e a quem estesoube dar continuidade.

“Foi sem nada que ele foi“Foi sem nada que ele foi“Foi sem nada que ele foi“Foi sem nada que ele foi“Foi sem nada que ele foipara África e foi sem nada quepara África e foi sem nada quepara África e foi sem nada quepara África e foi sem nada quepara África e foi sem nada queele voltou de África”ele voltou de África”ele voltou de África”ele voltou de África”ele voltou de África”. É assimque José Elói, 36 anos, resumeuma boa parte da vida do seupai, Eloy Vale (1934-2005), quecriou uma importante empresacomercial em Moçambique, per-dida durante a descolonização.

Em 1975, ao regressar à ex-metrópole, o empresário nãoteve outro remédio a não ser co-meçar do nada e iniciar em S.Martinho uma fábrica que nãoteve êxito, acabando por vir paraas Caldas iniciar-se no negócioda restauração.

Mas comecemos pelo princí-pio. Eloy Nunes Varela Ramos doVale nasceu em Molelos (Ton-dela), em 1934, filho de gentepobre. Escapa à labuta do cam-po e parte para Moçambique “em“em“em“em“embusca do sonho africano”busca do sonho africano”busca do sonho africano”busca do sonho africano”busca do sonho africano”,como conta o seu filho, José Elói.“Começou do nada, mas lá“Começou do nada, mas lá“Começou do nada, mas lá“Começou do nada, mas lá“Começou do nada, mas ládeixou um pequeno impériodeixou um pequeno impériodeixou um pequeno impériodeixou um pequeno impériodeixou um pequeno impériode lojas, fábricas e armazénsde lojas, fábricas e armazénsde lojas, fábricas e armazénsde lojas, fábricas e armazénsde lojas, fábricas e armazénsque comercializavam, desdeque comercializavam, desdeque comercializavam, desdeque comercializavam, desdeque comercializavam, desdeum alfinete até toneladas deum alfinete até toneladas deum alfinete até toneladas deum alfinete até toneladas deum alfinete até toneladas decereais, exportando mesmocereais, exportando mesmocereais, exportando mesmocereais, exportando mesmocereais, exportando mesmopara a Europa e América dopara a Europa e América dopara a Europa e América dopara a Europa e América dopara a Europa e América doSul”Sul”Sul”Sul”Sul”.

O 25 de Abril de 1974 e a con-sequente independência de Mo-çambique e a guerra civil naque-le país, obriga-o a um regressoforçado, deixando para trás tudoo que possuía. Acompanha-o amulher, Antónia Filomena VelhoRamos do Vale (1945-2004), e JoséElói, então um bebé, nascido doisanos antes em Quelimane.

A família regressa às origens,a Molelos, enquanto não decideque rumo dar à nova vida. MasEloy Ramos do Vale tem espíritoempreendedor e pouco depoisestá em S. Martinho do Porto ainvestir numa fábrica de placasde cimento que, contudo, nãoteve sucesso e fecha em 1979.

O empresário vem para as Cal-das da Rainha onde, em 1978,toma de trespasse o Café Claras

(na Rodoviária) e em 1980 o CaféMaratona. Durante 12 anos ex-plorará os dois estabelecimen-tos, até que, em 1992, devido àdoença da mulher, renuncia ao

Claras.“Ele optou por ficar com o“Ele optou por ficar com o“Ele optou por ficar com o“Ele optou por ficar com o“Ele optou por ficar com o

Maratona porque o tipo deMaratona porque o tipo deMaratona porque o tipo deMaratona porque o tipo deMaratona porque o tipo deespaço era mais vantajoso eespaço era mais vantajoso eespaço era mais vantajoso eespaço era mais vantajoso eespaço era mais vantajoso epodia ser trespassado parapodia ser trespassado parapodia ser trespassado parapodia ser trespassado parapodia ser trespassado paraqualquer actividade, ao con-qualquer actividade, ao con-qualquer actividade, ao con-qualquer actividade, ao con-qualquer actividade, ao con-trário do Claras que teria detrário do Claras que teria detrário do Claras que teria detrário do Claras que teria detrário do Claras que teria deser sempre um café”ser sempre um café”ser sempre um café”ser sempre um café”ser sempre um café”, conta ofilho, que nessa altura já ajuda-va os pais nos dois estabeleci-mentos.

“Comecei a aprender a pro-“Comecei a aprender a pro-“Comecei a aprender a pro-“Comecei a aprender a pro-“Comecei a aprender a pro-fissão com 12 anos”fissão com 12 anos”fissão com 12 anos”fissão com 12 anos”fissão com 12 anos”, diz. Masnessa altura não contava seguiras pisadas dos pais. José Elói con-fessa que era um pouco rebelde

e que não foi fácil o relaciona-mento familiar durante a juven-tude. Saiu do “métier” que apren-dera, mas regressou mais tardequando viu que a saúde dos pais

não lhes permitia continuaremsozinhos com o negócio.

A mãe morreria em 2004 e opai, a quem tinha sido diagnosti-cada uma doença grave algunsanos antes, estava cada vez maisdebilitado. Pouco a pouco o jo-vem foi assumindo de forma cadavez mais séria a actividade dospais. E foi-se tornando um em-presário.

“Ao princípio não tinha as“Ao princípio não tinha as“Ao princípio não tinha as“Ao princípio não tinha as“Ao princípio não tinha ascoisas definidas. Vim para ocoisas definidas. Vim para ocoisas definidas. Vim para ocoisas definidas. Vim para ocoisas definidas. Vim para ocafé para responder a umacafé para responder a umacafé para responder a umacafé para responder a umacafé para responder a umanecessidade, para desenras-necessidade, para desenras-necessidade, para desenras-necessidade, para desenras-necessidade, para desenras-car. Não pensava então quecar. Não pensava então quecar. Não pensava então quecar. Não pensava então quecar. Não pensava então que

este seria o meu futuro. Sóeste seria o meu futuro. Sóeste seria o meu futuro. Sóeste seria o meu futuro. Sóeste seria o meu futuro. Sóem 2001 é que assumi o pro-em 2001 é que assumi o pro-em 2001 é que assumi o pro-em 2001 é que assumi o pro-em 2001 é que assumi o pro-jecto uma forma clara, o quejecto uma forma clara, o quejecto uma forma clara, o quejecto uma forma clara, o quejecto uma forma clara, o quelevou o meu pai a pôr o negó-levou o meu pai a pôr o negó-levou o meu pai a pôr o negó-levou o meu pai a pôr o negó-levou o meu pai a pôr o negó-cio no meu nome”cio no meu nome”cio no meu nome”cio no meu nome”cio no meu nome”.

José Elói passou assim a ser oúnico detentor da firma Vale &Costa, Lda. Tinha 27 anos.

Durante algum tempo não fezmuitas alterações ao funciona-mento do Maratona que, recor-de-se, era composto por umasala de jogos e por um café.

“O meu pai era um empre-“O meu pai era um empre-“O meu pai era um empre-“O meu pai era um empre-“O meu pai era um empre-sário à antiga, que fazia mui-sário à antiga, que fazia mui-sário à antiga, que fazia mui-sário à antiga, que fazia mui-sário à antiga, que fazia mui-tas contas e não avançavatas contas e não avançavatas contas e não avançavatas contas e não avançavatas contas e não avançavade imediato”de imediato”de imediato”de imediato”de imediato”, conta. Por isso ofilho também demorou algumtempo até se decidir por umaautêntica revolução no estabe-lecimento.

Em 2009 fecha quatro mesespara obras e reabre depois comum Maratona irreconhecível.Prescinde da sala de jogos, umespaço demasiado grande no

centro da cidade para estar tãodesaproveitado, e transforma-o num restaurante com bar ànoite. E o café reaparece comoutra decoração e um serviçocompletamente diferente. Umaassumida ruptura com o passa-do.

“Esta obra foi feita porque“Esta obra foi feita porque“Esta obra foi feita porque“Esta obra foi feita porque“Esta obra foi feita porqueachei que o conceito tinha deachei que o conceito tinha deachei que o conceito tinha deachei que o conceito tinha deachei que o conceito tinha deser alterado, mas teve qser alterado, mas teve qser alterado, mas teve qser alterado, mas teve qser alterado, mas teve queueueueueser primeiro pensado e tra-ser primeiro pensado e tra-ser primeiro pensado e tra-ser primeiro pensado e tra-ser primeiro pensado e tra-balhado. Não basta a obrabalhado. Não basta a obrabalhado. Não basta a obrabalhado. Não basta a obrabalhado. Não basta a obrafísica, era preciso ir mais lon-física, era preciso ir mais lon-física, era preciso ir mais lon-física, era preciso ir mais lon-física, era preciso ir mais lon-ge para haver retorno”ge para haver retorno”ge para haver retorno”ge para haver retorno”ge para haver retorno”.

A aposta foi ganha e hoje o

Maratona é uma referência nacidade em termos de qualidadede serviço. Nele trabalham 12pessoas a tempo inteiro e seteem part-time, sobretudo estu-dantes que ali fazem umas ho-ras.

“É um negócio muito de-“É um negócio muito de-“É um negócio muito de-“É um negócio muito de-“É um negócio muito de-pendente dos recursos huma-pendente dos recursos huma-pendente dos recursos huma-pendente dos recursos huma-pendente dos recursos huma-nos para a pouca rentabili-nos para a pouca rentabili-nos para a pouca rentabili-nos para a pouca rentabili-nos para a pouca rentabili-dade que tem”dade que tem”dade que tem”dade que tem”dade que tem”, diz José Elói. Sóna cozinha estão sete pessoas,“uma estrutura muito pesa-“uma estrutura muito pesa-“uma estrutura muito pesa-“uma estrutura muito pesa-“uma estrutura muito pesa-da e que é a menos visível”da e que é a menos visível”da e que é a menos visível”da e que é a menos visível”da e que é a menos visível”,mas decisiva para manter o pa-tamar de qualidade que impôs.

À noite o conceito muda e oMaratona transforma-se numbar. E vai surpreendendo com ini-ciativas arrojadas como a dosjantares com menus feitos comrecurso a técnicas de esferifica-ção, liofilização e gelificação.

“Hoje o meu pai teria orgu-“Hoje o meu pai teria orgu-“Hoje o meu pai teria orgu-“Hoje o meu pai teria orgu-“Hoje o meu pai teria orgu-lho no Maratona”lho no Maratona”lho no Maratona”lho no Maratona”lho no Maratona”, diz.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

Eloy Vale e Filomena Vale foram durante mais de 20 anosEloy Vale e Filomena Vale foram durante mais de 20 anosEloy Vale e Filomena Vale foram durante mais de 20 anosEloy Vale e Filomena Vale foram durante mais de 20 anosEloy Vale e Filomena Vale foram durante mais de 20 anoso rosto do Maratonao rosto do Maratonao rosto do Maratonao rosto do Maratonao rosto do Maratona

Jovens caldenses dos anos sessenta. Da esquerda para a direita, Ana Belo Nascimento,Jovens caldenses dos anos sessenta. Da esquerda para a direita, Ana Belo Nascimento,Jovens caldenses dos anos sessenta. Da esquerda para a direita, Ana Belo Nascimento,Jovens caldenses dos anos sessenta. Da esquerda para a direita, Ana Belo Nascimento,Jovens caldenses dos anos sessenta. Da esquerda para a direita, Ana Belo Nascimento,Helena Magalhães e Francisco Vieira LinoHelena Magalhães e Francisco Vieira LinoHelena Magalhães e Francisco Vieira LinoHelena Magalhães e Francisco Vieira LinoHelena Magalhães e Francisco Vieira Lino

O café pouco antes de ser remodeladoO café pouco antes de ser remodeladoO café pouco antes de ser remodeladoO café pouco antes de ser remodeladoO café pouco antes de ser remodelado

José Eloi, 36 anos, prossegue o negocio da família num Maratona renovadoJosé Eloi, 36 anos, prossegue o negocio da família num Maratona renovadoJosé Eloi, 36 anos, prossegue o negocio da família num Maratona renovadoJosé Eloi, 36 anos, prossegue o negocio da família num Maratona renovadoJosé Eloi, 36 anos, prossegue o negocio da família num Maratona renovado

Page 7: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

O Maratona terá sido inaugu-rado no Outono de 1966, de acor-do com José Elói, que recuperaagora a memória deste emble-mático café. Certo mesmo é queo alvará data de 15/02/1967 e quea primeira sociedade que explo-rava aquele espaço se chamavaMaratona Centro Ideal de Diver-sões, Lda.

O nome não era inocente. Osseus sócios, onde se incluíam al-guns dos mais destacados cida-dãos caldenses da época (AbílioFlores, Eng. Arroz, Bento Montei-ro, Hergildo Velhinho (autor domural ainda hoje existente naentrada do restaurante) eramapaixonados na época por umdesporto emergente que eram ascorridas de carros eléctricos tele-comandados. O Maratona tinha,por isso, como principal objectivocriar um espaço onde existisseuma pista de corridas. Ao queconsta esta terá sido uma dasmelhores do país.

O café surge como um comple-mento à pista de carros, e sendoeste um desporto um pouco eli-tista na altura, o estabelecimen-to transforma-se logo desde o seuinício num dos mais finos da cida-de, imagem que manteve duran-te longos anos.

Mas as modas passam e a doscarros de corrida também passou.Por outro lado, as sociedades commuitas pessoas envolvidas tor-nam-se difíceis de gerir e o Mara-tona fecha em fins de 1970 parareabrir pouco depois com umanova firma, datada de 4/02/1971 eintitulada Sociedade de Empre-endimentos Turísticos PrimaveraCaldense Lda, constituída porManuel Santos, José Vardasca,António Silvestre e António Vaz-quez.

Terá sido esta sociedade queviria a dar inicio ao Salão de Jo-gos Maratona, retirando a pistade carros e colocando cinco bi-lhares e um snooker grande.

Com estes proprietários o es-tabelecimento durou uma déca-da pois em finais de 1979, iníciosde 1980, o Maratona volta a fe-char portas, numa situação de

símbolo de modernidade das Caldas

Quando tinha 18 anos, João Paneiro foivárias vezes medalhado e ganhou taças porter conseguido cortar a meta à frente dosadversários nas corridas de carros que faziano Maratona. Apesar de se tratarem de mi-niaturas, nem por isso se poderia prescindirde uma boa dose de destreza, reflexos rápi-dos e até uma dose de coragem para arriscarfazer curvas em grande velocidade sem arriscar um despiste quedesse cabo de uma daqueles caríssimos modelos.

Era assim no Maratona dos anos sessenta. Nas Caldas daRainha havia um grupo de gente crescida que era fã das corridasde automóveis e o café era o ponto de encontro onde se assistiaàs provas, se discutia a tecnologia e os componentes do váriosmodelos e, naturalmente, se disputavam torneios.

“Havia um senhor chamado Fernando da Ponte e Sou-“Havia um senhor chamado Fernando da Ponte e Sou-“Havia um senhor chamado Fernando da Ponte e Sou-“Havia um senhor chamado Fernando da Ponte e Sou-“Havia um senhor chamado Fernando da Ponte e Sou-sa, proprietário da Secla, então já com mais de 60 anos,sa, proprietário da Secla, então já com mais de 60 anos,sa, proprietário da Secla, então já com mais de 60 anos,sa, proprietário da Secla, então já com mais de 60 anos,sa, proprietário da Secla, então já com mais de 60 anos,que tinha muitos e bons carros e pouca habilidade. Porque tinha muitos e bons carros e pouca habilidade. Porque tinha muitos e bons carros e pouca habilidade. Porque tinha muitos e bons carros e pouca habilidade. Porque tinha muitos e bons carros e pouca habilidade. Porisso emprestava a alguns jovens da sua confiança paraisso emprestava a alguns jovens da sua confiança paraisso emprestava a alguns jovens da sua confiança paraisso emprestava a alguns jovens da sua confiança paraisso emprestava a alguns jovens da sua confiança paraos conduzir. Eu era um desses felizes contemplados e deos conduzir. Eu era um desses felizes contemplados e deos conduzir. Eu era um desses felizes contemplados e deos conduzir. Eu era um desses felizes contemplados e deos conduzir. Eu era um desses felizes contemplados e derepetente passei a ter uma panóplia de carros high tec àrepetente passei a ter uma panóplia de carros high tec àrepetente passei a ter uma panóplia de carros high tec àrepetente passei a ter uma panóplia de carros high tec àrepetente passei a ter uma panóplia de carros high tec àminha disposição. Lembro-me de um super fórmula 1 comminha disposição. Lembro-me de um super fórmula 1 comminha disposição. Lembro-me de um super fórmula 1 comminha disposição. Lembro-me de um super fórmula 1 comminha disposição. Lembro-me de um super fórmula 1 comtracção às quatro rodas que utilizei”tracção às quatro rodas que utilizei”tracção às quatro rodas que utilizei”tracção às quatro rodas que utilizei”tracção às quatro rodas que utilizei”. João Paneiro contaque aquelas corridas lhe davam “um gozo enorme”“um gozo enorme”“um gozo enorme”“um gozo enorme”“um gozo enorme” e que sãomuito gratas as recordações que guarda daquele período.

A febre do modelismo ainda durou alguns anos, mas entretan-to a cursar engenharia para Lisboa e só aos fins-de-semanavinha às Caldas, muitos deles ocupados a estudar. As velozescorridas de automóveis acabou por ser apenas uma recordação.Mas hoje, com 63 anos e reformado, ainda guarda alguns dosgalardões que recebeu na altura.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

Tudo começou com uma pista de corridas

total falência com muitos dosseus bens penhorados pelas Fi-nanças.

Em 24 de Junho de 1980 é cria-da a empresa Vale e Costa Lda.constituída por Eloy Ramos doVale e Antónia Filomena CostaVelho Ramos do Vale, pais de JoséElói. O alvará de licença data de11/12/1980, mas o estabelecimen-to apenas virá a reabrir portas em4/03/1982, com a introdução nasala de jogos de umas inovaçõesabsolutamente fantásticas paraa época - máquinas de vídeo eflippers!

O café manteve sempre a suaactividade regular, sendo reco-nhecido pela sua qualidade e bomgosto. Na sala de jogos foi-se tro-cando alguns bilhares por sno-okers, surgindo em 1984 o grandeboom das máquinas de poker, si-tuação que durou até ao governode então voltar a proibir a explo-ração dos referidos jogos a di-

nheiro (algures em finais de 1985).Nos anos oitenta as Caldas da

Rainha estão inundadas de cafés,não pertencendo mais o Marato-na à meia dúzia de estabeleci-mentos desse tipo que tinhammarcado os últimos vintes anosna cidade.

Mas o casal Eloy e FilomenaVale aguenta-se no negócio. Afi-nal havia uma história, um nomefeito e uma localização central nacidade.

Em 30/09/2000 Filomena Valecessa funções como sócia geren-te, devido a doença, sendo subs-tituída três meses depois por JoséElói do Vale, seu filho.

“Nos anos seguintes e de“Nos anos seguintes e de“Nos anos seguintes e de“Nos anos seguintes e de“Nos anos seguintes e deuma forma natural o meu paiuma forma natural o meu paiuma forma natural o meu paiuma forma natural o meu paiuma forma natural o meu paifoi-se afastando por motivosfoi-se afastando por motivosfoi-se afastando por motivosfoi-se afastando por motivosfoi-se afastando por motivosde doença, vindo a falecer ade doença, vindo a falecer ade doença, vindo a falecer ade doença, vindo a falecer ade doença, vindo a falecer aminha mãe a em Abril de 2004,minha mãe a em Abril de 2004,minha mãe a em Abril de 2004,minha mãe a em Abril de 2004,minha mãe a em Abril de 2004,com 59 anos, e o meu pai emcom 59 anos, e o meu pai emcom 59 anos, e o meu pai emcom 59 anos, e o meu pai emcom 59 anos, e o meu pai emMaio do ano seguinte com 70Maio do ano seguinte com 70Maio do ano seguinte com 70Maio do ano seguinte com 70Maio do ano seguinte com 70anos. Fui introduzindo gradu-anos. Fui introduzindo gradu-anos. Fui introduzindo gradu-anos. Fui introduzindo gradu-anos. Fui introduzindo gradu-

almente novos conceitos dealmente novos conceitos dealmente novos conceitos dealmente novos conceitos dealmente novos conceitos decafetaria e refeições ligeirascafetaria e refeições ligeirascafetaria e refeições ligeirascafetaria e refeições ligeirascafetaria e refeições ligeirasque culminaram em 2009 comque culminaram em 2009 comque culminaram em 2009 comque culminaram em 2009 comque culminaram em 2009 comas obras de remodelação e al-as obras de remodelação e al-as obras de remodelação e al-as obras de remodelação e al-as obras de remodelação e al-teração da antiga sala de jo-teração da antiga sala de jo-teração da antiga sala de jo-teração da antiga sala de jo-teração da antiga sala de jo-gos em Restaurante Loungegos em Restaurante Loungegos em Restaurante Loungegos em Restaurante Loungegos em Restaurante LoungeBar. Fechei em 13 de FevereiroBar. Fechei em 13 de FevereiroBar. Fechei em 13 de FevereiroBar. Fechei em 13 de FevereiroBar. Fechei em 13 de Fevereirodesse ano e reabri com a ter-desse ano e reabri com a ter-desse ano e reabri com a ter-desse ano e reabri com a ter-desse ano e reabri com a ter-ceira geração Maratona emceira geração Maratona emceira geração Maratona emceira geração Maratona emceira geração Maratona em10 de Maio”10 de Maio”10 de Maio”10 de Maio”10 de Maio”, conta José Elói.

Na remodelação houve o cui-dado de recrear elementos doprojecto original, manter outrosdo intermédio, e ao mesmotempo criar uma estética moder-na e actual, com o propósito demanter viva a história do espaço.

O rosto dessa “terceira gera-ção Maratona” diz agora que sesente “totalmente compensa-“totalmente compensa-“totalmente compensa-“totalmente compensa-“totalmente compensa-do pelo resultado final dessado pelo resultado final dessado pelo resultado final dessado pelo resultado final dessado pelo resultado final dessaremodelação, ao qual nin-remodelação, ao qual nin-remodelação, ao qual nin-remodelação, ao qual nin-remodelação, ao qual nin-guém fica indiferente”guém fica indiferente”guém fica indiferente”guém fica indiferente”guém fica indiferente”.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

Uma café que marcou uma época“Aquela pista era um espectáculo”“Aquela pista era um espectáculo”“Aquela pista era um espectáculo”“Aquela pista era um espectáculo”“Aquela pista era um espectáculo”

O meu pai não foi sócio fundador daMaratona, mas esteve ligado ao projectodesde o início pois foram os Móveis Ser-rano que fizeram o mobiliário do café, naaltura muito moderno para a época e paraa cidade. Lembro-me perfeitamente delá estar antes da inauguração e depoisna pista dos carrinhos, que eu adoravaver, mas como era muito pequeno e nãotinha dinheiro para um dos super bólides, andava por vezes comos carros da casa, que se podiam alugar, ou algum amigo meemprestava um para dar umas voltas. Aquela pista era um es-pectáculo e quando foi retirada vi-a mais tarde desmontada numarmazém na quinta do meu tio Henrique Sales Henriques.

Depois da pista vieram os bilhares e uma mesa de snuker, aofundo, onde joguei muitas vezes com os meus amigos, especial-mente quando não tínhamos aulas na Escola Comercial e Indus-trial, e mais tarde quando vínhamos de Lisboa de férias. Nessaaltura o Maratona era um ponto de encontro para a rapaziadadas Caldas.

Carlos GouveiaCarlos GouveiaCarlos GouveiaCarlos GouveiaCarlos Gouveia

O campeão de Fórmula 1O campeão de Fórmula 1O campeão de Fórmula 1O campeão de Fórmula 1O campeão de Fórmula 1

Imagens dos anos oitenta. Mais do que um simples café, o Maratona esteve sempre associado ao recreio, primeiro com uma pista de automóveis e depois com as máquinas de jogos e bilhares Imagens dos anos oitenta. Mais do que um simples café, o Maratona esteve sempre associado ao recreio, primeiro com uma pista de automóveis e depois com as máquinas de jogos e bilhares Imagens dos anos oitenta. Mais do que um simples café, o Maratona esteve sempre associado ao recreio, primeiro com uma pista de automóveis e depois com as máquinas de jogos e bilhares Imagens dos anos oitenta. Mais do que um simples café, o Maratona esteve sempre associado ao recreio, primeiro com uma pista de automóveis e depois com as máquinas de jogos e bilhares Imagens dos anos oitenta. Mais do que um simples café, o Maratona esteve sempre associado ao recreio, primeiro com uma pista de automóveis e depois com as máquinas de jogos e bilhares

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UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Túnica – A primeira loja especializada em produtos d“Fomos a primeira casa es-“Fomos a primeira casa es-“Fomos a primeira casa es-“Fomos a primeira casa es-“Fomos a primeira casa es-

pecializada em artigos parapecializada em artigos parapecializada em artigos parapecializada em artigos parapecializada em artigos parabebé nas Caldas e na regiãobebé nas Caldas e na regiãobebé nas Caldas e na regiãobebé nas Caldas e na regiãobebé nas Caldas e na região”,conta Fernanda Tomás, explicandoque o seu marido, depois de terpassado pela Casa Tomás aindalaborou para a firma de SerafimMoreira - onde é hoje a Açoteia - epassou por uma loja–atelier naMarinha Grande.

Depois de fazer a tropa, e já ca-sado, Carlos Tomás iniciava o seupróprio negócio. “Arrendámos emArrendámos emArrendámos emArrendámos emArrendámos em1970 um espaço na Rua das1970 um espaço na Rua das1970 um espaço na Rua das1970 um espaço na Rua das1970 um espaço na Rua dasMontras numa época em queMontras numa época em queMontras numa época em queMontras numa época em queMontras numa época em quenão havia muitas lojas dispo-não havia muitas lojas dispo-não havia muitas lojas dispo-não havia muitas lojas dispo-não havia muitas lojas dispo-níveis e o aluguer era caríssi-níveis e o aluguer era caríssi-níveis e o aluguer era caríssi-níveis e o aluguer era caríssi-níveis e o aluguer era caríssi-momomomomo”, disse a empresária, que hojetoma um papel de relações públi-cas deixando a gestão aos dois fi-lhos.

A Túnica arrancou com a vendade tecidos a metro, atoalhados elingerie, tirando partido da sua ex-periência nas casas onde já traba-lhara. “Daquela geração, fomos “Daquela geração, fomos “Daquela geração, fomos “Daquela geração, fomos “Daquela geração, fomosdos primeiros a arrancar sozi-dos primeiros a arrancar sozi-dos primeiros a arrancar sozi-dos primeiros a arrancar sozi-dos primeiros a arrancar sozi-nhosnhosnhosnhosnhos”, disse Fernanda Tomás, re-cordando que antes de ser Túnica,a loja arrendada era a Pastelariado Sr. Martins, da qual “ainda te-“ainda te-“ainda te-“ainda te-“ainda te-nho alguns móveis dessa altu-nho alguns móveis dessa altu-nho alguns móveis dessa altu-nho alguns móveis dessa altu-nho alguns móveis dessa altu-rarararara”. Para a época, “o trespasseo trespasseo trespasseo trespasseo trespasseera razoável, mas muito caroera razoável, mas muito caroera razoável, mas muito caroera razoável, mas muito caroera razoável, mas muito caroera o valor do arrendamentoera o valor do arrendamentoera o valor do arrendamentoera o valor do arrendamentoera o valor do arrendamento”.

Para encetar um novo negócioCarlos Tomás teve de sair da casacomercial onde laborava enquantoFernanda Tomás - então funcioná-ria da Contabilidade no Hospital –nunca teve intenção de deixar o seuemprego.

No início era o seu salário quegarantia o pagamento da renda.Tomaram a decisão de arrendar aloja aproveitando o facto de Fer-nanda ter então sido aumentadade 2350$00 (11,72 euros) para 2450$00(12,22 euros). “Sobravam-nosSobravam-nosSobravam-nosSobravam-nosSobravam-nosapenas 50$00 apenas 50$00 apenas 50$00 apenas 50$00 apenas 50$00 [25 cêntimos] poispoispoispoispoisa renda era 2400$00 a renda era 2400$00 a renda era 2400$00 a renda era 2400$00 a renda era 2400$00 [12 euros],,,,,muito dinheiro naquela épocamuito dinheiro naquela épocamuito dinheiro naquela épocamuito dinheiro naquela épocamuito dinheiro naquela época”,recordou, acrescentando que o ma-rido, quando saiu da última casacomercial, já ganhava 3300$00 (16,46euros).

Nos anos 70 não era normal nasCaldas que as esposas dos comer-ciantes trabalhassem. “Desde que “Desde que “Desde que “Desde que “Desde quese abrisse uma loja, as senho-se abrisse uma loja, as senho-se abrisse uma loja, as senho-se abrisse uma loja, as senho-se abrisse uma loja, as senho-ras adquiriam o estatuto de nãoras adquiriam o estatuto de nãoras adquiriam o estatuto de nãoras adquiriam o estatuto de nãoras adquiriam o estatuto de não

trabalhartrabalhartrabalhartrabalhartrabalhar”, lembrou a fundadora.Devido a este facto, o seu lugar naContabilidade no Hospital Distritalcomeçou a ser cobiçado.

“Quando o meu chefe, o sr.Quando o meu chefe, o sr.Quando o meu chefe, o sr.Quando o meu chefe, o sr.Quando o meu chefe, o sr.Manuel Valente Sanches meManuel Valente Sanches meManuel Valente Sanches meManuel Valente Sanches meManuel Valente Sanches meveio informar que havia três ouveio informar que havia três ouveio informar que havia três ouveio informar que havia três ouveio informar que havia três ouquatro pequenas que já lhe ti-quatro pequenas que já lhe ti-quatro pequenas que já lhe ti-quatro pequenas que já lhe ti-quatro pequenas que já lhe ti-

nham pedido para ficar com onham pedido para ficar com onham pedido para ficar com onham pedido para ficar com onham pedido para ficar com omeu lugar, tive que lhe explicarmeu lugar, tive que lhe explicarmeu lugar, tive que lhe explicarmeu lugar, tive que lhe explicarmeu lugar, tive que lhe explicarque este não estava à disposi-que este não estava à disposi-que este não estava à disposi-que este não estava à disposi-que este não estava à disposi-ção” ção” ção” ção” ção” e que dependiam daquelesalário para assegurar o negócio.

A sua mãe também era funcio-nária pública e Fernanda Tomás fezo curso geral do Comércio na Esco-la Comercial e Industrial. “Para“Para“Para“Para“Paragrande desgosto do meu paigrande desgosto do meu paigrande desgosto do meu paigrande desgosto do meu paigrande desgosto do meu painão quis estudar mais, já na-não quis estudar mais, já na-não quis estudar mais, já na-não quis estudar mais, já na-não quis estudar mais, já na-morava o meu marido e querí-morava o meu marido e querí-morava o meu marido e querí-morava o meu marido e querí-morava o meu marido e querí-amos casar...amos casar...amos casar...amos casar...amos casar...”. Segundo a viúva,Carlos Tomás tinha alergia aos es-tudos “mas era um autodidacta“mas era um autodidacta“mas era um autodidacta“mas era um autodidacta“mas era um autodidactamaravilhosomaravilhosomaravilhosomaravilhosomaravilhoso”.

Quando abriram portas, a 15 deJunho de 1970 sabiam que podiam

contar com pais e sogros “mas,“mas,“mas,“mas,“mas,felizmente, nunca precisámos”felizmente, nunca precisámos”felizmente, nunca precisámos”felizmente, nunca precisámos”felizmente, nunca precisámos”,disse.

“Oh Fernanda, traz-me“Oh Fernanda, traz-me“Oh Fernanda, traz-me“Oh Fernanda, traz-me“Oh Fernanda, traz-meroupinhas de bebé de Lisboa”roupinhas de bebé de Lisboa”roupinhas de bebé de Lisboa”roupinhas de bebé de Lisboa”roupinhas de bebé de Lisboa”

Corria o primeiro ano da abertu-

ra da Túnica e Fernanda Tomás iacom muita frequência a Lisboa areuniões no Ministério da Saúde.Era habitual as suas colegas pedi-rem-lhe para trazer roupas debebé, cuja oferta quase não exis-tia nas Caldas.

“Nós também estávamosNós também estávamosNós também estávamosNós também estávamosNós também estávamosansiosos pelo primeiro filho eansiosos pelo primeiro filho eansiosos pelo primeiro filho eansiosos pelo primeiro filho eansiosos pelo primeiro filho eeu passei a comprar roupa e aeu passei a comprar roupa e aeu passei a comprar roupa e aeu passei a comprar roupa e aeu passei a comprar roupa e achamar a atenção do meu ma-chamar a atenção do meu ma-chamar a atenção do meu ma-chamar a atenção do meu ma-chamar a atenção do meu ma-rido para esta necessidade derido para esta necessidade derido para esta necessidade derido para esta necessidade derido para esta necessidade demercadomercadomercadomercadomercado”, recordou Fernanda To-más que diz que a vontade do ca-sal de ter um filho acabou por de-terminar a mudança de negóciode têxtil lar para produtos de bebé.

Carlos Tomás dizia à esposa que

nunca tinha trabalhado com pe-ças de roupa tão pequenas, masde um dia para o outro acabaramcom os tecidos e inovaram o co-mércio local apresentando umacasa comercial totalmente dedi-cada ao bebé. O carrinho do pri-meiro filho, Alexandre, “já foi“já foi“já foi“já foi“já foi

comprado a um dos nossoscomprado a um dos nossoscomprado a um dos nossoscomprado a um dos nossoscomprado a um dos nossosfornecedoresfornecedoresfornecedoresfornecedoresfornecedores”, contou a funda-dora.

O casal Carlos e Fernanda To-más acabava por servir de exem-plo e incentivar outros comercian-tes a tomar em mãos os seus ne-gócios. Ao fim do dia “juntáva-juntáva-juntáva-juntáva-juntáva-mo-nos aqui a conversar, àmo-nos aqui a conversar, àmo-nos aqui a conversar, àmo-nos aqui a conversar, àmo-nos aqui a conversar, àporta da lojaporta da lojaporta da lojaporta da lojaporta da loja”, recordou, dizen-do ainda que havia então inter-ajuda e aconselhamento sobre oque fazer em relação aos negóci-os.

A empresária sempre fez e con-tinua a fazer a escrita das suaslojas e recorda que já mesmo quan-do estava no Hospital, abdicava do

recebimento das horas extraordi-nárias, preferindo ser compensa-da em tempo livre para poderacompanhar o marido aos forne-cedores a fim de conhecer as no-vas colecções.

“Às vezes saíamos às qua-Às vezes saíamos às qua-Às vezes saíamos às qua-Às vezes saíamos às qua-Às vezes saíamos às qua-tro da manhã para estar àstro da manhã para estar àstro da manhã para estar àstro da manhã para estar àstro da manhã para estar às

oito na porta do Pimenta Ma-oito na porta do Pimenta Ma-oito na porta do Pimenta Ma-oito na porta do Pimenta Ma-oito na porta do Pimenta Ma-chado em Guimarãeschado em Guimarãeschado em Guimarãeschado em Guimarãeschado em Guimarães”, recor-da.

Hoje parece incrível a FernandaTomás como cabia tudo na loja daRua das Montras. “Chegámos aChegámos aChegámos aChegámos aChegámos ater expostas 10 camas de bebéter expostas 10 camas de bebéter expostas 10 camas de bebéter expostas 10 camas de bebéter expostas 10 camas de bebée várias banheiras, não mee várias banheiras, não mee várias banheiras, não mee várias banheiras, não mee várias banheiras, não mepergunte como, mas tínha-pergunte como, mas tínha-pergunte como, mas tínha-pergunte como, mas tínha-pergunte como, mas tínha-mosmosmosmosmos”. Passados alguns anos, co-meçaram a investir na especiali-zação dentro da mesma área e cri-aram mais dois espaços comerci-ais na cidade.

“Ao fim do dia ou do mês, oAo fim do dia ou do mês, oAo fim do dia ou do mês, oAo fim do dia ou do mês, oAo fim do dia ou do mês, odinheiro que entra na caixa nãodinheiro que entra na caixa nãodinheiro que entra na caixa nãodinheiro que entra na caixa nãodinheiro que entra na caixa nãoé nosso. Nunca em 40 anos ti-é nosso. Nunca em 40 anos ti-é nosso. Nunca em 40 anos ti-é nosso. Nunca em 40 anos ti-é nosso. Nunca em 40 anos ti-vemos um atraso de pagamen-vemos um atraso de pagamen-vemos um atraso de pagamen-vemos um atraso de pagamen-vemos um atraso de pagamen-

to de uma facturato de uma facturato de uma facturato de uma facturato de uma factura”, contou a fun-dadora que não gosta de trabalhara crédito e aproveita sempre todasas oportunidades de pronto paga-mento. “Não se dava o passo“Não se dava o passo“Não se dava o passo“Não se dava o passo“Não se dava o passomaior que a pernamaior que a pernamaior que a pernamaior que a pernamaior que a perna”, conta a ma-triarca, explicando que esse espíri-to foi passado aos filhos.

“Creio que houve sempreCreio que houve sempreCreio que houve sempreCreio que houve sempreCreio que houve sempreuma grande dedicação e muitouma grande dedicação e muitouma grande dedicação e muitouma grande dedicação e muitouma grande dedicação e muitotrabalhotrabalhotrabalhotrabalhotrabalho”, reforçou. A loja até po-deria fechar às sete da tarde, masera frequente saírem do estabele-cimento à uma e tal da manhã poisera àquela hora que ficavam pron-tas as montras. “Quando saía-Quando saía-Quando saía-Quando saía-Quando saía-mos era frequente encontrar-mos era frequente encontrar-mos era frequente encontrar-mos era frequente encontrar-mos era frequente encontrar-mos o casal da Zélu que tam-mos o casal da Zélu que tam-mos o casal da Zélu que tam-mos o casal da Zélu que tam-mos o casal da Zélu que tam-bém saía muito tarde da suabém saía muito tarde da suabém saía muito tarde da suabém saía muito tarde da suabém saía muito tarde da sualojalojalojalojaloja”.

São os próprios proprietáriosque fazem a decoração das lojas edas montras e mantêm como sím-bolo a mesma máquina registado-ra que já tinha vindo com o trespas-se da pastelaria. O máximo que davaera 9.999 escudos e havia comprasrelacionadas com o enxoval dos bap-tizados e que ultrapassavam os 10contos, logo tinha que se colocar adiferença num outro registo. Agora,com os euros, “já está tudo bem“já está tudo bem“já está tudo bem“já está tudo bem“já está tudo bemoutra vez pois não vendo a nin-outra vez pois não vendo a nin-outra vez pois não vendo a nin-outra vez pois não vendo a nin-outra vez pois não vendo a nin-guém 9.999 euros em roupa paraguém 9.999 euros em roupa paraguém 9.999 euros em roupa paraguém 9.999 euros em roupa paraguém 9.999 euros em roupa paracriançacriançacriançacriançacriança”, disse Fernanda Tomás.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Carlos Tomás (1942-2005) foi marçano da casa comercial do seu tio, na Casa Tomás, situada naPraça da Fruta e começou a trabalhar novo, aos 13 anos. Mal sabia então que com 28 anos e com aajuda da sua esposa, então com 24, iria começar o seu próprio negócio na principal rua comercialdas Caldas. “Não foi nada fácil…”“Não foi nada fácil…”“Não foi nada fácil…”“Não foi nada fácil…”“Não foi nada fácil…”, recorda a viúva Fernanda Tomás, mulher de força e coragem,que sempre apoiou o seu marido e o ajudou a tomar decisões.Juntos construíram as bases do grupo Túnica - hoje com três espaços comerciais nas Caldas exclu-sivamente dedicados aos produtos para bebé e criança – e no qual já participam na gestão os filhosdo casal, Alexandre e Dulce. As três lojas facturaram 734 mil euros em 2008.

Fernanda e Carlos Tomás, o casal fundador da TúnicaFernanda e Carlos Tomás, o casal fundador da TúnicaFernanda e Carlos Tomás, o casal fundador da TúnicaFernanda e Carlos Tomás, o casal fundador da TúnicaFernanda e Carlos Tomás, o casal fundador da Túnicano início dos anos setentano início dos anos setentano início dos anos setentano início dos anos setentano início dos anos setenta

Fernanda e os filhos, Alexandre e Dulce. A segunda geração gere a Túnica com osFernanda e os filhos, Alexandre e Dulce. A segunda geração gere a Túnica com osFernanda e os filhos, Alexandre e Dulce. A segunda geração gere a Túnica com osFernanda e os filhos, Alexandre e Dulce. A segunda geração gere a Túnica com osFernanda e os filhos, Alexandre e Dulce. A segunda geração gere a Túnica com osmesmos valores dos paismesmos valores dos paismesmos valores dos paismesmos valores dos paismesmos valores dos pais

A loja da Rua das Montras em 1971 quando ainda não se dedicava a produtos para bebé, o que viria a acontecer pouco tempo depoisA loja da Rua das Montras em 1971 quando ainda não se dedicava a produtos para bebé, o que viria a acontecer pouco tempo depoisA loja da Rua das Montras em 1971 quando ainda não se dedicava a produtos para bebé, o que viria a acontecer pouco tempo depoisA loja da Rua das Montras em 1971 quando ainda não se dedicava a produtos para bebé, o que viria a acontecer pouco tempo depoisA loja da Rua das Montras em 1971 quando ainda não se dedicava a produtos para bebé, o que viria a acontecer pouco tempo depois

Page 9: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

de bebé celebra o 40º aniversário“Nos anos setenta Caldas tinha uma grande

capacidade de atracção que hoje não tem”“Naquela época as Caldas“Naquela época as Caldas“Naquela época as Caldas“Naquela época as Caldas“Naquela época as Caldas

da Rainha tinha uma capaci-da Rainha tinha uma capaci-da Rainha tinha uma capaci-da Rainha tinha uma capaci-da Rainha tinha uma capaci-dade de atracção comercialdade de atracção comercialdade de atracção comercialdade de atracção comercialdade de atracção comercialmuito maior, não tem compa-muito maior, não tem compa-muito maior, não tem compa-muito maior, não tem compa-muito maior, não tem compa-ração com o que há hojeração com o que há hojeração com o que há hojeração com o que há hojeração com o que há hoje”, dis-seram Alexandre Tomás, de 38anos e Dulce Tomás, de 37, recor-dando que então não existia auto-estrada, internet, jornais nem re-vistas da sociedade que ajudam apromover a estimular o consumo.Este era incentivado pela formacomo os produtos eram apresen-tados pelas lojas e consoante anotoriedade dos estabelecimentose da cidade.

“Há algo que ninguém nos“Há algo que ninguém nos“Há algo que ninguém nos“Há algo que ninguém nos“Há algo que ninguém nostira - estamos cá há 40 anostira - estamos cá há 40 anostira - estamos cá há 40 anostira - estamos cá há 40 anostira - estamos cá há 40 anos”,dizem os responsáveis, que conti-nuam o negócio com mesmo em-penho dos seus pais.

“Logo nos anos 70 acreditá-“Logo nos anos 70 acreditá-“Logo nos anos 70 acreditá-“Logo nos anos 70 acreditá-“Logo nos anos 70 acreditá-mos que o caminho para omos que o caminho para omos que o caminho para omos que o caminho para omos que o caminho para osucesso era a especializaçãosucesso era a especializaçãosucesso era a especializaçãosucesso era a especializaçãosucesso era a especializaçãodentro da nossa áreadentro da nossa áreadentro da nossa áreadentro da nossa áreadentro da nossa área”, contam,explicando que a determinada al-tura foi necessário especializarmais e criar novos espaços comer-ciais.

Na família, a empresa Túnica“sempre foi a quinta pessoasempre foi a quinta pessoasempre foi a quinta pessoasempre foi a quinta pessoasempre foi a quinta pessoana mesa ao jantarna mesa ao jantarna mesa ao jantarna mesa ao jantarna mesa ao jantar”, contam osirmãos, referindo que nem sem-pre foi fácil, quando eram crian-ças, tirar apenas mini-férias de doisa três dias, ou ficar a ajudar amarcar babygrows enquanto osamigos brincavam.

“Hoje o comércio está comoHoje o comércio está comoHoje o comércio está comoHoje o comércio está comoHoje o comércio está comoos casamentos: hoje casa-seos casamentos: hoje casa-seos casamentos: hoje casa-seos casamentos: hoje casa-seos casamentos: hoje casa-see “descasa-se” enquanto quee “descasa-se” enquanto quee “descasa-se” enquanto quee “descasa-se” enquanto quee “descasa-se” enquanto quenos anos 70 era para toda anos anos 70 era para toda anos anos 70 era para toda anos anos 70 era para toda anos anos 70 era para toda avidavidavidavidavida”, disseram, fazendo um pa-ralelismo com o comércio actualem que se abrem e fecham lojasque duram apenas meses.

Em 1992, a loja da Rua das Mon-tras começou a tornar-se peque-na e por ideia de Alexandre To-más a família decide a aberturado segundo estabelecimento noBarro Azul, dedicado à puericultu-ra, mobiliário e brinquedos.

Hoje aquele espaço tem 700

metros quadrados de exposiçãodistribuídos por dois pisos. “NasNasNasNasNasCaldas não existia este concei-Caldas não existia este concei-Caldas não existia este concei-Caldas não existia este concei-Caldas não existia este concei-to, aplicámos um modelo queto, aplicámos um modelo queto, aplicámos um modelo queto, aplicámos um modelo queto, aplicámos um modelo quehavia noutros países, que é ohavia noutros países, que é ohavia noutros países, que é ohavia noutros países, que é ohavia noutros países, que é oda especialização das grandeda especialização das grandeda especialização das grandeda especialização das grandeda especialização das grandecadeias”cadeias”cadeias”cadeias”cadeias”, contaram.

Esta loja acabou por ter o mes-mo impacto que o estabelecimen-to da Rua das Montras quando seespecializou em produtos de bebé,em 1972. O problema é que 20 anosdepois a realidade comercial eradiferente. Havia agora uma novaforma de concorrência da grandedistribuição: abriam os hipermer-cados. “Convém lembrar queConvém lembrar queConvém lembrar queConvém lembrar queConvém lembrar quehavia excursões para ir aoshavia excursões para ir aoshavia excursões para ir aoshavia excursões para ir aoshavia excursões para ir aosprimeiros hipermercados àprimeiros hipermercados àprimeiros hipermercados àprimeiros hipermercados àprimeiros hipermercados àAmadora e mais tarde a LeiriaAmadora e mais tarde a LeiriaAmadora e mais tarde a LeiriaAmadora e mais tarde a LeiriaAmadora e mais tarde a Leiria”,disseram, recordando que esta for-ma de comercialização acabou porcontribuir para a que apanhou ocomércio tradicional desprevenidoe foram muitas as lojas em diver-sas localidades que tiveram queencerrar. Hoje, para combater asgrandes superfícies, “temos“temos“temos“temos“temos quequequequequeaplicar fórmulas e adoptar es-aplicar fórmulas e adoptar es-aplicar fórmulas e adoptar es-aplicar fórmulas e adoptar es-aplicar fórmulas e adoptar es-tratégias de competitividadetratégias de competitividadetratégias de competitividadetratégias de competitividadetratégias de competitividadeaguerridas que mantemos atéaguerridas que mantemos atéaguerridas que mantemos atéaguerridas que mantemos atéaguerridas que mantemos atéhojehojehojehojehoje”.

Quando abriram a Super Túnica,já existia no Bairro Azul o CentroComercial Barão, o que ajudou adinamizar aquela zona.

“Aqui não há a menina do“Aqui não há a menina do“Aqui não há a menina do“Aqui não há a menina do“Aqui não há a menina doshopping”shopping”shopping”shopping”shopping”

Já em 1996 decidem abrir a ter-ceira loja, esta na antiga Rua doJardim, para o segmento de roupados oito aos 16 anos.

Logo após a abertura da loja noBairro Azul, o pai Carlos Tomás, aos54 anos, foi vítima de um AVC, “o“o“o“o“oque me obrigou a assumir maisque me obrigou a assumir maisque me obrigou a assumir maisque me obrigou a assumir maisque me obrigou a assumir maisresponsabilidades e a crescerresponsabilidades e a crescerresponsabilidades e a crescerresponsabilidades e a crescerresponsabilidades e a crescerrapidamente naqueles mesesrapidamente naqueles mesesrapidamente naqueles mesesrapidamente naqueles mesesrapidamente naqueles meses”,conta Alexandre Tomás que, na al-tura, tinha 24 anos. O pai recupera-ria deste susto, mas em 2001 viria asofrer um segundo ataque que o

deixou incapacitado. Falecia qua-tro anos depois.

Nesses anos dramáticos para afamília, Fernanda passa a dedicar-se mais ao marido, remetendo onegócio da família para os filhos.Alexandre tinha frequentado o cur-so de Direito e Dulce terminara jáuma licenciatura em Economia e tra-balhava num banco.

Estes herdaram os valores dospais e é com orgulho que dizem que“nunca incumprimos uma fac-“nunca incumprimos uma fac-“nunca incumprimos uma fac-“nunca incumprimos uma fac-“nunca incumprimos uma fac-tura”tura”tura”tura”tura”. Se o negócio tem um segre-do, dizem, este será “a integrida-a integrida-a integrida-a integrida-a integrida-de, o ser sério e não enganar”de, o ser sério e não enganar”de, o ser sério e não enganar”de, o ser sério e não enganar”de, o ser sério e não enganar”.

A empresa labora com cincoempregadas, além dos responsá-veis, desde há muitos anos, nãosendo politica da casa a rotativida-de do pessoal. “Aqui não há a“Aqui não há a“Aqui não há a“Aqui não há a“Aqui não há amenina do shopping”menina do shopping”menina do shopping”menina do shopping”menina do shopping”, contamAlexandre e Dulce Tomás explican-do que valorizam a experiência.“Contamos com profissionaisContamos com profissionaisContamos com profissionaisContamos com profissionaisContamos com profissionaiscompetentes e empenhadascompetentes e empenhadascompetentes e empenhadascompetentes e empenhadascompetentes e empenhadasque vestem a camisolaque vestem a camisolaque vestem a camisolaque vestem a camisolaque vestem a camisola”, disse-ram, acrescentando que afinal “to-“to-“to-“to-“to-dos dependemos do sucessodos dependemos do sucessodos dependemos do sucessodos dependemos do sucessodos dependemos do sucessodas lojas e todos sentem a Tú-das lojas e todos sentem a Tú-das lojas e todos sentem a Tú-das lojas e todos sentem a Tú-das lojas e todos sentem a Tú-nica como delas”nica como delas”nica como delas”nica como delas”nica como delas”.

Na Túnica já se vendeu um carri-nho de bebé que seguiu para Timore um par de sapatos que seguiupara o Japão. Mais usual são osenvios de produtos para clientes noBrasil e em Angola, cada vez maishabituais.

“Temos uma cliente em Fran-“Temos uma cliente em Fran-“Temos uma cliente em Fran-“Temos uma cliente em Fran-“Temos uma cliente em Fran-ça que compra tudo por telefoneça que compra tudo por telefoneça que compra tudo por telefoneça que compra tudo por telefoneça que compra tudo por telefoneà Elizabeteà Elizabeteà Elizabeteà Elizabeteà Elizabete”, contam os responsá-veis, que apostam forte no serviçopós-venda, outros das linhas de tra-balho que mantém desde o início.

Também enviaram carrinhos debebé para a Suíça e vendiam muitaroupa para os emigrantes. Se hou-vesse algum problema com os ta-manhos, deixavam que as pessoastrocassem as peças quando regres-savam nas férias, “sem nuncasem nuncasem nuncasem nuncasem nuncavoltar com a palavra atrás, talvoltar com a palavra atrás, talvoltar com a palavra atrás, talvoltar com a palavra atrás, talvoltar com a palavra atrás, talcomo ainda hoje fazemoscomo ainda hoje fazemoscomo ainda hoje fazemoscomo ainda hoje fazemoscomo ainda hoje fazemos”.

Alexandre Tomás recorda tam-bém com foi estranho para os cli-

entes quando surgiram os “ovos”de transporte, com os pais a dizerque nunca iriam transportar os fi-lhos “numa coisa tortanuma coisa tortanuma coisa tortanuma coisa tortanuma coisa torta”. Hoje todaa gente possui aquele suporte, adap-tável até ao automóvel, provando“que tudo muda em tão pouco“que tudo muda em tão pouco“que tudo muda em tão pouco“que tudo muda em tão pouco“que tudo muda em tão poucotempotempotempotempotempo”, remataram.

Caldas deveria ter um planoCaldas deveria ter um planoCaldas deveria ter um planoCaldas deveria ter um planoCaldas deveria ter um planocomercial como tem uma lojacomercial como tem uma lojacomercial como tem uma lojacomercial como tem uma lojacomercial como tem uma loja

“A cidade das Caldas devia“A cidade das Caldas devia“A cidade das Caldas devia“A cidade das Caldas devia“A cidade das Caldas deviater um planeamento estratégi-ter um planeamento estratégi-ter um planeamento estratégi-ter um planeamento estratégi-ter um planeamento estratégi-co e uma perspectiva comerci-co e uma perspectiva comerci-co e uma perspectiva comerci-co e uma perspectiva comerci-co e uma perspectiva comerci-al como tem uma lojaal como tem uma lojaal como tem uma lojaal como tem uma lojaal como tem uma loja”. É o quedefende Alexandre Tomás, suge-rindo eventos programados com ummês de antecedência e “saber quesaber quesaber quesaber quesaber queprodutos vender, como se de-produtos vender, como se de-produtos vender, como se de-produtos vender, como se de-produtos vender, como se de-senvolve a sua imagem, comsenvolve a sua imagem, comsenvolve a sua imagem, comsenvolve a sua imagem, comsenvolve a sua imagem, comque preço e para que target seque preço e para que target seque preço e para que target seque preço e para que target seque preço e para que target sedirigem”dirigem”dirigem”dirigem”dirigem”.

Alexandre Tomás está preocu-pado com o futuro da sua cidade edo seu centro, que “está abando-está abando-está abando-está abando-está abando-nado e é crescente a falta denado e é crescente a falta denado e é crescente a falta denado e é crescente a falta denado e é crescente a falta degente a passear nas principi-gente a passear nas principi-gente a passear nas principi-gente a passear nas principi-gente a passear nas principi-ais artériasais artériasais artériasais artériasais artérias”.

Preocupa-se com as áreas doBairro Azul e da Rua do Jardim, ondetem as duas lojas “pois são som-pois são som-pois são som-pois são som-pois são som-bras daquilo que já foram”bras daquilo que já foram”bras daquilo que já foram”bras daquilo que já foram”bras daquilo que já foram”. Dizque a principal cruzeta - formadapela Rua Heróis da Grande Guerra,Rua das Montras e Miguel Bombar-da - ainda consegue algum dina-mismo, mas a preocupação desteempresário é grande. E isto porquevê o sucesso comercial como algocolectivo e não gosta que abramlojas para encerrar passadas algu-mas semanas.

“Há uma década as CaldasHá uma década as CaldasHá uma década as CaldasHá uma década as CaldasHá uma década as Caldasestava comercialmente a parestava comercialmente a parestava comercialmente a parestava comercialmente a parestava comercialmente a parcom Leiriacom Leiriacom Leiriacom Leiriacom Leiria”, disse o empresário,que considera que actualmente“está muito próxima de Torresestá muito próxima de Torresestá muito próxima de Torresestá muito próxima de Torresestá muito próxima de TorresVedras e de Alcobaça, quandoVedras e de Alcobaça, quandoVedras e de Alcobaça, quandoVedras e de Alcobaça, quandoVedras e de Alcobaça, quandoantes era muito superior. Esta-antes era muito superior. Esta-antes era muito superior. Esta-antes era muito superior. Esta-antes era muito superior. Esta-mos a perder terreno a olhosmos a perder terreno a olhosmos a perder terreno a olhosmos a perder terreno a olhosmos a perder terreno a olhosvistosvistosvistosvistosvistos”, rematou.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

“A nossa Natália

tem umas mãos de

ouro”

19701970197019701970 – Abre a Túnica na Rua das Montras para têxtil-lar19721972197219721972 – Passa a dedicar-se em exclusivo a produtos para bebé1992 –1992 –1992 –1992 –1992 – Abre a segunda loja no Bairro Azul dedicada à puericul-tura, mobiliário e brinquedos1996 1996 1996 1996 1996 – Abertura da terceira loja na Rua do Jardim dedicada àconfecção para crianças dos oito aos 16 anos19981998199819981998 – Alargamento da segunda loja para o dobro da área20042004200420042004 –Abertura do primeiro andar com showroom na loja doBairro Azul20052005200520052005 – Morte do fundador, Carlos Tomás2008 2008 2008 2008 2008 - Parque de estacionamento para clientes na loja doBairro Azul

CRONOLOGIA

A velha caixa registadora já passou dos escudos paraA velha caixa registadora já passou dos escudos paraA velha caixa registadora já passou dos escudos paraA velha caixa registadora já passou dos escudos paraA velha caixa registadora já passou dos escudos paraos euros e mantém-se operacionalos euros e mantém-se operacionalos euros e mantém-se operacionalos euros e mantém-se operacionalos euros e mantém-se operacional

O estabelecimento na Rua do Jardim é a terceira loja daO estabelecimento na Rua do Jardim é a terceira loja daO estabelecimento na Rua do Jardim é a terceira loja daO estabelecimento na Rua do Jardim é a terceira loja daO estabelecimento na Rua do Jardim é a terceira loja dafamília Tomásfamília Tomásfamília Tomásfamília Tomásfamília Tomás

“Trabalho nesta casa há 37 anos. Entrei para aqui eraTrabalho nesta casa há 37 anos. Entrei para aqui eraTrabalho nesta casa há 37 anos. Entrei para aqui eraTrabalho nesta casa há 37 anos. Entrei para aqui eraTrabalho nesta casa há 37 anos. Entrei para aqui erauma rapariga de 16 anos e hoje já sou avóuma rapariga de 16 anos e hoje já sou avóuma rapariga de 16 anos e hoje já sou avóuma rapariga de 16 anos e hoje já sou avóuma rapariga de 16 anos e hoje já sou avó”. Palavras deMaria Natália Jesus, que entrou no início da empresa e contacomo, em conjunto com Carlos e Fernanda Tomás, concretiza-ram muitas peças para bebé que então era muito difíceis deencontrar. “Fizemos muitas forras para colchões, saias,“Fizemos muitas forras para colchões, saias,“Fizemos muitas forras para colchões, saias,“Fizemos muitas forras para colchões, saias,“Fizemos muitas forras para colchões, saias,vestidos e até cobertas para vender, além das forras paravestidos e até cobertas para vender, além das forras paravestidos e até cobertas para vender, além das forras paravestidos e até cobertas para vender, além das forras paravestidos e até cobertas para vender, além das forras paraos cestos de verga para colocar a cosmética dos bebés”os cestos de verga para colocar a cosmética dos bebés”os cestos de verga para colocar a cosmética dos bebés”os cestos de verga para colocar a cosmética dos bebés”os cestos de verga para colocar a cosmética dos bebés”,lembrou a funcionária.

Os clientes da Túnica continuam a vir de Peniche, Nazaré,Torres Vedras, Alcobaça, ou Rio Maior. “Temos mantido aTemos mantido aTemos mantido aTemos mantido aTemos mantido amesma clientela, mesmo que agora não tenha a mesmamesma clientela, mesmo que agora não tenha a mesmamesma clientela, mesmo que agora não tenha a mesmamesma clientela, mesmo que agora não tenha a mesmamesma clientela, mesmo que agora não tenha a mesmadisponibilidade financeiradisponibilidade financeiradisponibilidade financeiradisponibilidade financeiradisponibilidade financeira”.

Conta também que as senhoras que vinham à Túnica comprarpara os seus filhos vêm agora buscar roupa para os netos.

“A nossa Natália tem umas mãos de ouro “A nossa Natália tem umas mãos de ouro “A nossa Natália tem umas mãos de ouro “A nossa Natália tem umas mãos de ouro “A nossa Natália tem umas mãos de ouro”, disse Fer-nanda Tomás, recordando como compravam espuma própriapara fazer os colchões de bebé, forrados à mão. Também porcausa do jeito para a costura, ajudou Alexandre Tomás a con-cretizar uma ideia original de decoração para a terceira loja dacadeia. Compraram vários tecidos e esferovite e forraram todoo tecto da loja da Rua do Jardim de forma original.

Maria Natália Jesus passou da loja da Rua das Montras paraa da Rua do Jardim e conta que alguns dos seus clientes, comidades entre os oito e os 15 anos, já vêm sozinhos escolher aspeças e depois regressam com pais ou avós para adquirir o quemais gostam.

Quando veio para a loja, Dulce teria seis ou sete meses eAlexandre mais um ano. “Eles são os meus patrões, mas naEles são os meus patrões, mas naEles são os meus patrões, mas naEles são os meus patrões, mas naEles são os meus patrões, mas naverdade é como se fossem da família pois andei com elesverdade é como se fossem da família pois andei com elesverdade é como se fossem da família pois andei com elesverdade é como se fossem da família pois andei com elesverdade é como se fossem da família pois andei com elesao coloao coloao coloao coloao colo”, rematou a empregada.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

Maria Natália Jesus trabalha na Túnica há 37 anosMaria Natália Jesus trabalha na Túnica há 37 anosMaria Natália Jesus trabalha na Túnica há 37 anosMaria Natália Jesus trabalha na Túnica há 37 anosMaria Natália Jesus trabalha na Túnica há 37 anos

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UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Casa Antero – A cultura de beber vinho a copo desde

Corria o ano de 1957. Da esta-ção dos comboios até ao “hos-pital dos banhos” existiam 58tabernas nas Caldas, mas o nú-mero não assustou Antero Feli-ciano, na altura com 27 anos e atropa feita, que procurava dar umrumo diferente à sua vida quenão o trabalho do campo queconhecia desde criança.

Era o seu tio Manuel Calistoquem explorava a taberna “Co-radinho” no Beco do Forno, e queo convidou para trabalhar comele. “Tinha um balcão de pou-“Tinha um balcão de pou-“Tinha um balcão de pou-“Tinha um balcão de pou-“Tinha um balcão de pou-co mais de um metro e unsco mais de um metro e unsco mais de um metro e unsco mais de um metro e unsco mais de um metro e unsbancos corridosbancos corridosbancos corridosbancos corridosbancos corridos”, lembra An-tero Feliciano, sentado agoranum banco de madeira e apoia-do numa mesa de tampo de pe-dra, que mantém fiel a rusticida-de da que tem sido a sua casanos últimos 53 anos.

Antero Feliciano lembra, orgu-lhoso, que começou a trabalharpor sua conta no dia 1 de Agostode 1957, altura em que comprouo espaço ao tio por 10 contos (50euros). Como não tinha dinheiropara efectuar a compra, foi pa-gando a prestações com o resul-tado do trabalho diário.

Como clientes tinha sobretu-do o pessoal da Fábrica de Mó-veis Serrano (que na altura davaemprego a 80 pessoas e se loca-lizava onde é actualmente o Cen-tro Comercial da Rua das Mon-tras), os cobradores e motoris-tas dos Capristanos (rodoviária),os vendedores da Praça da Fruta

e também os banhistas que fre-quentavam as termas.

A qualidade do vinho era o“chamariz” das pessoas. Esse foisempre uma aposta e o garanteda freguesia, muita dela fiel aoespaço até aos dias de hoje.

“Nessa altura trabalhava-“Nessa altura trabalhava-“Nessa altura trabalhava-“Nessa altura trabalhava-“Nessa altura trabalhava-se com o lápis na mãose com o lápis na mãose com o lápis na mãose com o lápis na mãose com o lápis na mão todos todos todos todos todosos dias”os dias”os dias”os dias”os dias”, a apontar o fiado, queera pago, normalmente, ao sá-bado. Era também usual que adespesa não fosse totalmente

saldada e, no seu livro de as-sentos, ficam registados alguns“calotes”.

Em Setembro de 1958 AnteroFeliciano casou com Olímpia Si-mão e levou-a para trabalhar naCasa Antero, começando a ven-der também comida. A segun-da-feira era o dia de maior mo-vimento pois era quando afluíaà cidade grande parte da popu-lação das freguesias rurais.Nesse dia tinham três pratosdisponíveis – dobrada, frangoassado no forno e vitela de jar-dineira – alguns deles que ain-

da hoje se mantêm.No resto da semana havia

também peixe e os tradicionaispetiscos que são uma das ima-gens de marca deste estabele-cimento. “Naquele tempo“Naquele tempo“Naquele tempo“Naquele tempo“Naquele tempohouve dias em que cozinhá-houve dias em que cozinhá-houve dias em que cozinhá-houve dias em que cozinhá-houve dias em que cozinhá-mos uma centena de pargosmos uma centena de pargosmos uma centena de pargosmos uma centena de pargosmos uma centena de pargosque, na altura, custavam aque, na altura, custavam aque, na altura, custavam aque, na altura, custavam aque, na altura, custavam a20 escudos 20 escudos 20 escudos 20 escudos 20 escudos [10 cêntimos] o o o o oquilo, ao passo que a carnequilo, ao passo que a carnequilo, ao passo que a carnequilo, ao passo que a carnequilo, ao passo que a carnedo talho custava 28 escudosdo talho custava 28 escudosdo talho custava 28 escudosdo talho custava 28 escudosdo talho custava 28 escudos[14 cêntimos]”””””, recorda Antero

Feliciano.Também nessa altura a sua

casa era muito procurada pelosmais de 30 funcionários dos Cor-reios, assim como de outrasempresas e serviços que funci-onavam no centro da cidade.“Era um corrupio de manhã“Era um corrupio de manhã“Era um corrupio de manhã“Era um corrupio de manhã“Era um corrupio de manhãà noite”à noite”à noite”à noite”à noite”, lembra Antero Felici-ano, assim como das multas queapanhou por também ali vendercomida, quando apenas lhe erapermitido vender bebidas.

Nos primeiros anos os seusclientes eram maioritariamen-te homens. Uma das excepções

era a esposa do Almirante Leo-nel Cardoso, que, indiferente àsua posição social, gostava defrequentar o estabelecimento eaté de ajudar a sua esposa nacozinha, chegando muitas vezesa almoçar com eles.

A taberna do Beco do Fornoera ponto de encontro dos ho-mens que, entre copos, jogavamàs cartas e ao dominó.

Foi também no ambiente fa-miliar, entre os proprietários e

clientes, que foram criados osdois filhos do casal, Paulo e Ana-bela Feliciano, que actualmen-te tomam conta do negócio, queinclui a Casa Antero, o restau-rante Pachá e a padaria PãoNosso Todos os Dias.

Paulo, actualmente com 44anos, sempre ajudou os pais nataberna. “Quando não conse-“Quando não conse-“Quando não conse-“Quando não conse-“Quando não conse-guia fugir... para ir viver aguia fugir... para ir viver aguia fugir... para ir viver aguia fugir... para ir viver aguia fugir... para ir viver avida”vida”vida”vida”vida”, recorda dos tempos dejuventude. Mas, mas “mais a“mais a“mais a“mais a“mais asério”sério”sério”sério”sério” começou a trabalharquando deixou a tropa.

Anabela Feliciano, de 51 anos,

também conhece bem os can-tos da casa onde nasceu. Sem-pre ajudou os pais, mesmo quan-do andava na escola. Contudo,e antes de vir dar continuidadeao negócio de família, ainda to-mou conta de crianças, numasala do mesmo prédio que al-berga a Casa Antero e que per-tence aos Feliciano.

Vinho de marca e regionalVinho de marca e regionalVinho de marca e regionalVinho de marca e regionalVinho de marca e regionalvendido a copovendido a copovendido a copovendido a copovendido a copo

Ainda hoje é a Casa Anteroque continua a ser o cerne donegócio. Os actuais proprietári-os tentaram manter as caracte-rísticas que tinha para continu-ar a agradar aos clientes maisantigos e cativar os mais novos.Continuam a vender vinho acopo, mas com a novidade deagora também comercializaremvinhos de marca de várias regi-ões. Ao todo têm 10 vinhos demarca a copo e mais três vinhosregionais. “Marca a diferen-“Marca a diferen-“Marca a diferen-“Marca a diferen-“Marca a diferen-ça e tem tido uma boa recep-ça e tem tido uma boa recep-ça e tem tido uma boa recep-ça e tem tido uma boa recep-ça e tem tido uma boa recep-tividade”tividade”tividade”tividade”tividade”, refere Paulo Felicia-no, embora hoje as quantidadesconsumidas fiquem aquém dasde antigamente.

O pai, Antero Feliciano, recor-da que “enquanto eu vendia “enquanto eu vendia “enquanto eu vendia “enquanto eu vendia “enquanto eu vendiaum barril de 180 litros porum barril de 180 litros porum barril de 180 litros porum barril de 180 litros porum barril de 180 litros pordia, havia casas em que umdia, havia casas em que umdia, havia casas em que umdia, havia casas em que umdia, havia casas em que umbarril de 50 litros dava parabarril de 50 litros dava parabarril de 50 litros dava parabarril de 50 litros dava parabarril de 50 litros dava parauma semana”uma semana”uma semana”uma semana”uma semana”. E houve mes-mo um dia em que chegou avender 200 litros de vinho ... acopo!

A segunda-feira era o dia demaior movimento e, “houve um“houve um“houve um“houve um“houve umdia em que contei o pão edia em que contei o pão edia em que contei o pão edia em que contei o pão edia em que contei o pão epassou de mil sandes de car-passou de mil sandes de car-passou de mil sandes de car-passou de mil sandes de car-passou de mil sandes de car-

A Casa Antero comemora no dia 1 de Agosto 53 anos de actividade. O negócio que começou com umataverna do Beco do Forno em finais da década de 50, alargou-se a uma empresa hoteleira que integratambém o restaurante Pachá e a padaria Pão Nosso de Todos os Dias.Paulo e Anabela Feliciano dão continuidade ao negócio iniciado pelos seus pais, Antero e OlímpiaFeliciano, modernizando a adaptando aos tempos actuais um local que continua a ser de convívio eponto de encontro obrigatório de muitos clientes.O vinho a copo, a par dos petiscos, continua a ser a referência deste espaço que, periodicamente,recebe exposições, tertúlias e jantares temáticos.

Copo de doisCopo de doisCopo de doisCopo de doisCopo de dois - copo mais

pequeno cheio de vinho

Copo de trêsCopo de trêsCopo de trêsCopo de trêsCopo de três – copo grande

cheio de vinho

CiganinhaCiganinhaCiganinhaCiganinhaCiganinha - garrafa de cer-

veja (3dl) cheia de vinho tin-

to tirado do barril

TraçadoTraçadoTraçadoTraçadoTraçado - vinho tinto com

gasosa

PenaltiPenaltiPenaltiPenaltiPenalti – copo de 0,25 de vi-

nho

Traçadinho de ginjaTraçadinho de ginjaTraçadinho de ginjaTraçadinho de ginjaTraçadinho de ginja – copo

de aguardente e ginja

CatembeCatembeCatembeCatembeCatembe – copo de coca-cola

com vinho tinto

O casal Olímpia e Antero Feliciano, os filhos Paulo e Anabela e a neta Filipa. TrêsO casal Olímpia e Antero Feliciano, os filhos Paulo e Anabela e a neta Filipa. TrêsO casal Olímpia e Antero Feliciano, os filhos Paulo e Anabela e a neta Filipa. TrêsO casal Olímpia e Antero Feliciano, os filhos Paulo e Anabela e a neta Filipa. TrêsO casal Olímpia e Antero Feliciano, os filhos Paulo e Anabela e a neta Filipa. Trêsgerações que contam a história da Casa Anterogerações que contam a história da Casa Anterogerações que contam a história da Casa Anterogerações que contam a história da Casa Anterogerações que contam a história da Casa Antero

A taverna continua a ser o ex-libris da empresaA taverna continua a ser o ex-libris da empresaA taverna continua a ser o ex-libris da empresaA taverna continua a ser o ex-libris da empresaA taverna continua a ser o ex-libris da empresa

Imagens antigas que mostram o convívio e camaradagem, característica desta casa comercialImagens antigas que mostram o convívio e camaradagem, característica desta casa comercialImagens antigas que mostram o convívio e camaradagem, característica desta casa comercialImagens antigas que mostram o convívio e camaradagem, característica desta casa comercialImagens antigas que mostram o convívio e camaradagem, característica desta casa comercial

ne assada, presunto, fiambrene assada, presunto, fiambrene assada, presunto, fiambrene assada, presunto, fiambrene assada, presunto, fiambree ovo”e ovo”e ovo”e ovo”e ovo”.

Agora a segunda-feira estácompletamente descaracteriza-da, constata o octagenário, querecorda o tempo em que as pes-soas escolhiam o início da se-mana para vir à cidade e fazi-am-no de transporte público.Chegavam de manhã e só re-gressavam às suas terras à tar-de, passando grande parte dotempo a conviver nestas casas.

Durante décadas Antero Feli-ciano caminhou diariamentepara a Praça da Fruta, onde com-prava os produtos para confec-cionar no estabelecimento quemanteve durante 23 anos semfechar um único dia. “Não ha-“Não ha-“Não ha-“Não ha-“Não ha-via festa da terra, não haviavia festa da terra, não haviavia festa da terra, não haviavia festa da terra, não haviavia festa da terra, não havianada...”nada...”nada...”nada...”nada...”, conta, recordando quenem quando fizeram as obrasde melhoramento para o restau-rante fecharam a porta.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

Glossário do

vinho a copo

Page 11: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

e 1957

Em 1972 Antero Feliciano comprou o prédio ondecontinua o estabelecimento e, em 1987, abriram o res-taurante Pachá. Foi nesse mesmo ano que Paulo e airmã, Anabela, tomaram as rédeas do negócio. A deci-são de o passar aos filhos foi tomada numa viagemque o casal Feliciano fez a Espanha, mas o patriarcaainda esteve mais dois anos a comandar o barco.“Têm feito um bom trabalho”“Têm feito um bom trabalho”“Têm feito um bom trabalho”“Têm feito um bom trabalho”“Têm feito um bom trabalho”, diz, satisfeito,Antero Feliciano.

Com capacidade para 45 lugares sentados, o res-taurante acabou por ser o desenvolvimento da taber-na que, na altura, já não tinha a capacidade para aco-lher os muitos clientes que ali se dirigiam. O nomesurgiu de umas férias em Benidorm (Espanha) ondeexistia uma cadeia hoteleira apelidada de Pachá, masque ia mudar. “Aproveitei, pois fazia lembrar-“Aproveitei, pois fazia lembrar-“Aproveitei, pois fazia lembrar-“Aproveitei, pois fazia lembrar-“Aproveitei, pois fazia lembrar-me esse tempo de férias”me esse tempo de férias”me esse tempo de férias”me esse tempo de férias”me esse tempo de férias”, brinca.

Inovadores no conceito de prato do dia, os empre-sários garantem também um serviço e produtos dequalidade, aliados a preços “simpáticos”“simpáticos”“simpáticos”“simpáticos”“simpáticos” para todaa gente.

Os petiscos, de onde se destaca a salada de povo,de orelha, rins, moela, ovas, mexilhão de escabeche,ovos mexidos ou alheira, continuam a ser o ex-librisda casa e têm tido uma grande aceitação por toda aregião. Têm clientes que vêm um pouco de todo o paíspara os provar.

A sandes de ovo mexido com chouriço, uma espe-cialidade que conta já com mais de três décadas, con-tinua a ser muito procurada. Começou por ser vendi-da a 12$50 (6 cêntimos) e agora, na era do euro, custa1,30 euros a unidade.

As paredes do Pachá convertem-se periodicamen-te em galeria de arte e a sala é muitas vezes anfitriãde eventos culturais, desde tertúlias, lançamentos delivros e jantares temáticos com animação musical.

O objectivo é simples: mudar para que o clientequando voltar sinta que há sempre algo de novo, reve-la Paulo Feliciano, que gosta de preservar um elo deligação com quem frequenta a sua casa. Uma carac-terística que herdou do seu pai que revela que “coisa“coisa“coisa“coisa“coisaque ainda me deixa muito satisfeito é anti-que ainda me deixa muito satisfeito é anti-que ainda me deixa muito satisfeito é anti-que ainda me deixa muito satisfeito é anti-que ainda me deixa muito satisfeito é anti-gos clientes virem à minha procura”gos clientes virem à minha procura”gos clientes virem à minha procura”gos clientes virem à minha procura”gos clientes virem à minha procura”.

Padaria é a aposta mais recentePadaria é a aposta mais recentePadaria é a aposta mais recentePadaria é a aposta mais recentePadaria é a aposta mais recente

O conhecimento do fabrico do pão e a existência deespaço físico disponível levou os empresários a apos-tar numa nova área. Em Fevereiro de 2009 inaugura-vam a padaria Pão Nosso Todos os Dias, defronte daCasa Antero, no Beco do Forno. O cheiro que emananão deixa esconder as iguarias que diariamente alisão preparadas, como o pão com azeitona, com man-jericão, com tomilho, com torresmos, leitão, bacalhau,ou o pão de diversos cereais.

As tranças de salmão são das mais procuradas ea última novidade ao dispor dos clientes é o pão com

Serviço e produtos de qualidade aliados a

preços “simpáticos”queijo da ilha. A inovação e a criatividade sãopalavras de ordem porque estão conscientesque as pessoas gostam de variar e a concor-rência é cada vez mais feroz.

Filipa Feliciano Rosário, de 25 anos, neta deAntero e filha de Anabela Feliciano continua onegócio da família. Tirou o curso de Contabili-dade e como não conseguia arranjar trabalhodecidiu fazer o estágio profissional no Pachá,a tratar principalmente da “papelada”. Um anodepois de fazer o estágio abriram a padaria eFilipa ficou responsável pelo negócio. A jovem,que mesmo antes de ali trabalhar, já ajudava afamília, pretende continuar com a actividadeque herda do avô. Tem muito pouco tempo li-vre, mas gosta do que faz. “É um ambiente“É um ambiente“É um ambiente“É um ambiente“É um ambientefamiliar”familiar”familiar”familiar”familiar”, diz.

Actualmente trabalham 12 pessoas nos trêsestabelecimentos da família Antero (quatro nacozinha, duas na padaria e mais três ao bal-cão). Nos últimos anos o Pachá teve uma fac-turação anual em torno dos 290 mil euros.

No próximo Verão o número de funcionári-os vai aumentar com a vinda de um estagiáriodo curso de turismo da Escola SecundáriaRafael Bordalo Pinheiro. As parcerias esten-dem-se a outros estabelecimentos, como como turismo rural Casal da Eira Branca (Salir deMatos).

Paulo Feliciano reconhece que os tempossão difíceis. “Tenta-se sobreviver a esta“Tenta-se sobreviver a esta“Tenta-se sobreviver a esta“Tenta-se sobreviver a esta“Tenta-se sobreviver a estacrise com dificuldade, tem que se fa-crise com dificuldade, tem que se fa-crise com dificuldade, tem que se fa-crise com dificuldade, tem que se fa-crise com dificuldade, tem que se fa-zer uma grande ginástica”zer uma grande ginástica”zer uma grande ginástica”zer uma grande ginástica”zer uma grande ginástica”, conta o em-presário, que se socorre da sua larga experi-ência no ramo para ter as coisas sempre maisou menos preparadas para o caso de conse-guir responder se houver uma enchente declientes, mas “não estarmos a inventar“não estarmos a inventar“não estarmos a inventar“não estarmos a inventar“não estarmos a inventarmuito”muito”muito”muito”muito”. Cada dia é uma incógnita e se antes aquinta-feira era o dia mais fraco, agora já nãose consegue definir. Paulo Feliciano continuaa ver as Caldas como uma cidade com gran-des características comerciais, mas que temvindo a perder muitas das valências que cria-ram o pólo de outros tempos.

Como projectos para o futuro, fixa o tentarmanter o negócio, “sem falhar nem baixar“sem falhar nem baixar“sem falhar nem baixar“sem falhar nem baixar“sem falhar nem baixara qualidade e manter os eventos”a qualidade e manter os eventos”a qualidade e manter os eventos”a qualidade e manter os eventos”a qualidade e manter os eventos”.

A família, essa continua unida e a trabalharna casa à qual dedicaram a sua vida. A D. Olím-pia continua a ajudar no estabelecimento e osr. Antero vai todos os dias de manhã às com-pras à Praça da Fruta....

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

“Foi sempre um local de encontro e convívio, que ainda

hoje se mantém”Guilherme Santos, hoje com 60 anos,

começou a frequentar a Casa Antero aos13. Tinha começado a trabalhar num es-critório na Rua do Jardim e ali ia buscarsandes de manhã e à tarde. “Era o“Era o“Era o“Era o“Era omelhor que havia aqui na zona”,melhor que havia aqui na zona”,melhor que havia aqui na zona”,melhor que havia aqui na zona”,melhor que havia aqui na zona”,diz, lembrando as sandes com dois pas-téis de bacalhau e um bocadinho demanteiga. “Uma maravilha!” “Uma maravilha!” “Uma maravilha!” “Uma maravilha!” “Uma maravilha!”, excla-ma.

Aos sábados era dia de jogo de domi-nó com os amigos. “Foi sempre um“Foi sempre um“Foi sempre um“Foi sempre um“Foi sempre umlocal de encontro e convívio, quelocal de encontro e convívio, quelocal de encontro e convívio, quelocal de encontro e convívio, quelocal de encontro e convívio, queainda hoje se mantém”ainda hoje se mantém”ainda hoje se mantém”ainda hoje se mantém”ainda hoje se mantém”, conta Gui-lherme Santos, que continua a ali ir qua-se todos os dias. “É o santuário aqui“É o santuário aqui“É o santuário aqui“É o santuário aqui“É o santuário aquida zona”da zona”da zona”da zona”da zona”, adianta, especificando que asua família já sabe que quando ele nãoestá em casa, só pode estar no Antero.

O local é o mesmo de antes, mas foimodernizado, revela o cliente que, da-quela altura, lembra-se de ver a D. Olím-pia a sair da cozinha, pela porta que ain-da hoje se mantém. “As mesas eram“As mesas eram“As mesas eram“As mesas eram“As mesas eramdiferentes, os bancos são outros,diferentes, os bancos são outros,diferentes, os bancos são outros,diferentes, os bancos são outros,diferentes, os bancos são outros,mas fazem lembrar os de antiga-mas fazem lembrar os de antiga-mas fazem lembrar os de antiga-mas fazem lembrar os de antiga-mas fazem lembrar os de antiga-mente”mente”mente”mente”mente”, diz, lembrando que a CasaAntero faz parte da vida de centenas depessoas.

Guilherme Santos não se lembra deassistir a uma zaragata naquela casa,realçando o espírito de amizade que rei-tera entre os donos e os clientes do es-paço. Realça que esta é, provavelmen-te, a casa de restauração dentro da ci-dade que “mais emprega e mais cli-“mais emprega e mais cli-“mais emprega e mais cli-“mais emprega e mais cli-“mais emprega e mais cli-

entes tem. “E tal é o am-entes tem. “E tal é o am-entes tem. “E tal é o am-entes tem. “E tal é o am-entes tem. “E tal é o am-biente que aqui se vivebiente que aqui se vivebiente que aqui se vivebiente que aqui se vivebiente que aqui se viveque os empregados seque os empregados seque os empregados seque os empregados seque os empregados semantêm, não se reno-mantêm, não se reno-mantêm, não se reno-mantêm, não se reno-mantêm, não se reno-vam semanalmente,vam semanalmente,vam semanalmente,vam semanalmente,vam semanalmente,nem de seis em seisnem de seis em seisnem de seis em seisnem de seis em seisnem de seis em seismeses”meses”meses”meses”meses”, disse.

O antigo cliente diz que osfilhos de Antero consegui-ram dinamizar e modernizara parte de restauração, quetem actualmente uma clien-tela muito eclética. Não per-de um jantar temático e con-sidera que “o Paulo está para futuro e“o Paulo está para futuro e“o Paulo está para futuro e“o Paulo está para futuro e“o Paulo está para futuro esegue as pisadas do pai, mantendosegue as pisadas do pai, mantendosegue as pisadas do pai, mantendosegue as pisadas do pai, mantendosegue as pisadas do pai, mantendomuita amizade com os clientes”muita amizade com os clientes”muita amizade com os clientes”muita amizade com os clientes”muita amizade com os clientes”.

“Coziam-me as batatas com“Coziam-me as batatas com“Coziam-me as batatas com“Coziam-me as batatas com“Coziam-me as batatas combacalhau que trazia de casa”bacalhau que trazia de casa”bacalhau que trazia de casa”bacalhau que trazia de casa”bacalhau que trazia de casa”

Sentado na antiga taverna a acompanharGuilherme Santos num prato de Bacalhau àBrás, estava o seu cunhado, Francisco Ribei-ro, 74 anos, também ele cheio de histórias.Frequenta a Casa Antero desde 1959, do tem-po em que o chão era de cimento, a mesa emmadeira com tampo de zinco, os bancos eramcorridos e o espaço era iluminado à noite comdois candeeiros a petróleo.

Acompanhou a vida dos responsáveis econhece os filhos desde que eram pequenos.“Foi uma grande família que aqui ad-“Foi uma grande família que aqui ad-“Foi uma grande família que aqui ad-“Foi uma grande família que aqui ad-“Foi uma grande família que aqui ad-quiri e que nunca mais deixei”quiri e que nunca mais deixei”quiri e que nunca mais deixei”quiri e que nunca mais deixei”quiri e que nunca mais deixei”, conta,acrescentando que lhes deve favores que nun-ca conseguirá pagar. “Ninguém me fazia“Ninguém me fazia“Ninguém me fazia“Ninguém me fazia“Ninguém me fazia

o que eleo que eleo que eleo que eleo que ele [Antero Feliciano] me fez”me fez”me fez”me fez”me fez”, disseFrancisco Ribeiro, lembrando que trazia decasa, da Serra d’el Rei, duas ou três batatascom uma postinha de bacalhau e eles coziam-nas para o seu almoço. “Bebíamos na altu-“Bebíamos na altu-“Bebíamos na altu-“Bebíamos na altu-“Bebíamos na altu-ra uma “ciganinha”, que era uma gar-ra uma “ciganinha”, que era uma gar-ra uma “ciganinha”, que era uma gar-ra uma “ciganinha”, que era uma gar-ra uma “ciganinha”, que era uma gar-rafa de cervejarafa de cervejarafa de cervejarafa de cervejarafa de cerveja ([2,5dl] cheia de vinhocheia de vinhocheia de vinhocheia de vinhocheia de vinhotinto tirado do barril e era apenas essatinto tirado do barril e era apenas essatinto tirado do barril e era apenas essatinto tirado do barril e era apenas essatinto tirado do barril e era apenas essaa despesa que eu fazia”a despesa que eu fazia”a despesa que eu fazia”a despesa que eu fazia”a despesa que eu fazia”, recorda o clien-te, que tinha na altura 23 anos e estava a esta-giar no Tribunal Judicial das Caldas.

Depois de estagiar foi colocado no Tribu-nal de Tomar onde esteve durante três anos,altura em que vinha aos fins-de-semana àsCaldas visitar a namorada e também a CasaAntero. Em 1963 casa e vem trabalhar para oTribunal do Trabalho das Caldas (onde esteveaté se reformar) e continua a ir aquele esta-belecimento duas a três vezes por semana.

“É uma casa do melhor”“É uma casa do melhor”“É uma casa do melhor”“É uma casa do melhor”“É uma casa do melhor”, remata Fran-cisco Ribeiro, que não se consegue decidirsobre qual dos petiscos prefere.

Natural da Vermelha, Herculano Fer-reira, 77 anos, trabalhou durante bastan-tes anos como cobrador e, mais tarde,motorista da empresa Claras (que su-cedeu aos Capristanos e precedeu a Ro-doviária Nacional). Começou a frequen-tar a Casa Antero há cerca de 50 anosdurante a hora de almoço. “Se trazía-“Se trazía-“Se trazía-“Se trazía-“Se trazía-mos almoço, a D. Olímpia aque-mos almoço, a D. Olímpia aque-mos almoço, a D. Olímpia aque-mos almoço, a D. Olímpia aque-mos almoço, a D. Olímpia aque-cia-o e comíamos, senão íamos àcia-o e comíamos, senão íamos àcia-o e comíamos, senão íamos àcia-o e comíamos, senão íamos àcia-o e comíamos, senão íamos àpraça e as peixeiras normalmen-praça e as peixeiras normalmen-praça e as peixeiras normalmen-praça e as peixeiras normalmen-praça e as peixeiras normalmen-te davam-nos peixe, que aqui gre-te davam-nos peixe, que aqui gre-te davam-nos peixe, que aqui gre-te davam-nos peixe, que aqui gre-te davam-nos peixe, que aqui gre-lhávamos e comíamos”lhávamos e comíamos”lhávamos e comíamos”lhávamos e comíamos”lhávamos e comíamos”, conta,acrescentando que o prato era sempreacompanhado de uma “ciganinha”.

Naquele tempo o peixe era transpor-

“O peixe saltava da camioneta e era levado para o

fogareiro do Sr. Antero”tado para as Caldas emcima das camionetas dacarreira, tanto de Penichecomo da Nazaré. “E às“E às“E às“E às“E àsvezes quando apareciavezes quando apareciavezes quando apareciavezes quando apareciavezes quando apareciaum peixe jeitoso, vinhaum peixe jeitoso, vinhaum peixe jeitoso, vinhaum peixe jeitoso, vinhaum peixe jeitoso, vinha“muito vivo” e saltava“muito vivo” e saltava“muito vivo” e saltava“muito vivo” e saltava“muito vivo” e saltavadas caixas para fora, edas caixas para fora, edas caixas para fora, edas caixas para fora, edas caixas para fora, eera levado para assarera levado para assarera levado para assarera levado para assarera levado para assarno fogareiro do Sr. An-no fogareiro do Sr. An-no fogareiro do Sr. An-no fogareiro do Sr. An-no fogareiro do Sr. An-tero”tero”tero”tero”tero”, recorda o funcioná-rio dos Claras que guardabastantes lembranças do convívio com o ca-sal Feliciano.

A esposa também frequenta a casa espora-dicamente, quando vai às Caldas, e o filho, que

trabalha nas Finanças, é cliente habitual.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

Tertúlias e eventos culturais têm lugar cativo no restaurante PacháTertúlias e eventos culturais têm lugar cativo no restaurante PacháTertúlias e eventos culturais têm lugar cativo no restaurante PacháTertúlias e eventos culturais têm lugar cativo no restaurante PacháTertúlias e eventos culturais têm lugar cativo no restaurante Pachá A padaria Pão Nosso Todos os Dias é a mais recente aposta desta sociedade hoteleiraA padaria Pão Nosso Todos os Dias é a mais recente aposta desta sociedade hoteleiraA padaria Pão Nosso Todos os Dias é a mais recente aposta desta sociedade hoteleiraA padaria Pão Nosso Todos os Dias é a mais recente aposta desta sociedade hoteleiraA padaria Pão Nosso Todos os Dias é a mais recente aposta desta sociedade hoteleira

Os cunhados Francisco Ribeiro eOs cunhados Francisco Ribeiro eOs cunhados Francisco Ribeiro eOs cunhados Francisco Ribeiro eOs cunhados Francisco Ribeiro eGuilherme Santos são clientes assíduos háGuilherme Santos são clientes assíduos háGuilherme Santos são clientes assíduos háGuilherme Santos são clientes assíduos háGuilherme Santos são clientes assíduos há

O casal Ferreira ainda hoje vem daO casal Ferreira ainda hoje vem daO casal Ferreira ainda hoje vem daO casal Ferreira ainda hoje vem daO casal Ferreira ainda hoje vem daVermelha matar saudades à Casa AnteroVermelha matar saudades à Casa AnteroVermelha matar saudades à Casa AnteroVermelha matar saudades à Casa AnteroVermelha matar saudades à Casa Antero

Page 12: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Manuela, Teresa, Paula e Veróni-ca cresceram a brincar entre mó-veis. Camas, roupeiros, cómodas ecolchões em tamanho real, não da-queles que as meninas tanto gos-tam de pôr e dispor nas suas casi-nhas de bonecas.

As quatro irmãs partilham o ape-lido Ferreira, que dá nome a umadas mais antigas casas de móveisdas Caldas da Rainha, e foi lá quepassaram grande parte da sua in-fância e juventude, ao final dos diasde escola, nos fins-de-semana, nasférias. Hoje, feitas mulheres, assu-mem as rédeas do legado que lhesfoi deixado pelo pai, que também jáo tinha herdado do seu pai. São aterceira geração à frente da FerreiraMobílias.

Há que recuar mais de meio sé-culo para contar a história destaempresa. Uma história feita de mui-tos sucessos, mas também de mui-tos momentos penosos, e que hojeapenas pode ser contada pelas ir-mãs. Guiados pelas memórias de Ma-nuela e Teresa, viajemos até 1955.

Manuel Ferreira vê numa peque-na loja junto à Praça da Fruta a opor-tunidade de criar o seu próprio ne-gócio e quem sabe fazer fortuna.Nascido em Lisboa, mas radicado nasCaldas, não deixa passar a oportu-nidade e decide alugar o espaço, pro-priedade do Sr. Ramalho. Foi ali queabriu a primeira loja da Ferreira Mo-bílias, que se manteve a funcionaraté ao início deste ano. Um peque-no estabelecimento, longe do gran-de prédio que ali existe actualmen-te.

O negócio depressa vingou e pou-co tempo depois da abertura da loja,um dos filhos de Manuel Ferreira, oAntónio, foi trabalhar para lá. Rapazdos seus 20 anos, ainda solteiro,António Ferreira não precisou demuito tempo para ganhar gosto pelonegócio das mobílias. E ainda bem,porque quando em 1960 morre o seupai, Manuel Ferreira, é o jovem quefica encarregue do negócio, a parcom o irmão, Fernando Lopes Fer-

Ferreira Mobílias - uma das mais antigas lojas de móve

Pai e filho. Manuel Ferreira fundou em 1955 a Ferreira Mobílias, numa pequena loja alugada na Praça da Fruta. O seu filho, António Ferreira (1935-2000) acabaria por expandir oPai e filho. Manuel Ferreira fundou em 1955 a Ferreira Mobílias, numa pequena loja alugada na Praça da Fruta. O seu filho, António Ferreira (1935-2000) acabaria por expandir oPai e filho. Manuel Ferreira fundou em 1955 a Ferreira Mobílias, numa pequena loja alugada na Praça da Fruta. O seu filho, António Ferreira (1935-2000) acabaria por expandir oPai e filho. Manuel Ferreira fundou em 1955 a Ferreira Mobílias, numa pequena loja alugada na Praça da Fruta. O seu filho, António Ferreira (1935-2000) acabaria por expandir oPai e filho. Manuel Ferreira fundou em 1955 a Ferreira Mobílias, numa pequena loja alugada na Praça da Fruta. O seu filho, António Ferreira (1935-2000) acabaria por expandir onegócio, que é hoje mantido pelas suas filhas, Teresa e Manuela Ferreira, que garantem a continuidade de uma empresa com 55 anos.negócio, que é hoje mantido pelas suas filhas, Teresa e Manuela Ferreira, que garantem a continuidade de uma empresa com 55 anos.negócio, que é hoje mantido pelas suas filhas, Teresa e Manuela Ferreira, que garantem a continuidade de uma empresa com 55 anos.negócio, que é hoje mantido pelas suas filhas, Teresa e Manuela Ferreira, que garantem a continuidade de uma empresa com 55 anos.negócio, que é hoje mantido pelas suas filhas, Teresa e Manuela Ferreira, que garantem a continuidade de uma empresa com 55 anos.

Imagens do prédio onde Manuel Ferreira começou a empresa de móveis e que o filho demoliu para nele construir doisImagens do prédio onde Manuel Ferreira começou a empresa de móveis e que o filho demoliu para nele construir doisImagens do prédio onde Manuel Ferreira começou a empresa de móveis e que o filho demoliu para nele construir doisImagens do prédio onde Manuel Ferreira começou a empresa de móveis e que o filho demoliu para nele construir doisImagens do prédio onde Manuel Ferreira começou a empresa de móveis e que o filho demoliu para nele construir doisprédios que foram durante décadas o ex libris da empresa.prédios que foram durante décadas o ex libris da empresa.prédios que foram durante décadas o ex libris da empresa.prédios que foram durante décadas o ex libris da empresa.prédios que foram durante décadas o ex libris da empresa.

reira.Mas dez anos depois António Fer-

reira voltaria a ficar sozinho, quan-do o irmão morre inesperadamen-te. Já casado com Maria Teresa, con-ta com o seu apoio, que, segundo asfilhas se revela “fundamental”“fundamental”“fundamental”“fundamental”“fundamental”para o sucesso da empresa.

É nesta altura que a Ferreira Mo-bílias começa a crescer e aos pou-cos a loja na Praça da Fruta ganha

novos espaços, para exposição demobília e para oficinas. Primeiro umataberna que havia ali ao lado. De-pois a cocheira, onde eram guarda-dos os burros dos vendedores daPraça da Fruta. “Ainda me lembro“Ainda me lembro“Ainda me lembro“Ainda me lembro“Ainda me lembrodas senhoras entrarem com osdas senhoras entrarem com osdas senhoras entrarem com osdas senhoras entrarem com osdas senhoras entrarem com osburros numa porta que ali ha-burros numa porta que ali ha-burros numa porta que ali ha-burros numa porta que ali ha-burros numa porta que ali ha-via e prenderem os animais nu-via e prenderem os animais nu-via e prenderem os animais nu-via e prenderem os animais nu-via e prenderem os animais nu-mas argolinhas que havia pelamas argolinhas que havia pelamas argolinhas que havia pelamas argolinhas que havia pelamas argolinhas que havia pelaparede”parede”parede”parede”parede”, recorda Manuela. Poucotempo depois, o dono do prédio ondeficava a loja, com alguns apartamen-tos por cima, quis vender o edifício,e António comprou.

Com mais espaço, a Ferreira Mo-bílias aumentou a sua oferta. Àsmobílias de quarto ou de sala e aoscolchões – feitos ali mesmo por umdos trabalhadores da empresa e comforras cosidas pela mulher de Antó-nio Ferreira – juntam-se então osarmários de cozinha, as tapeçariase os electrodomésticos, de fogões afrigoríficos e até televisões. “Era“Era“Era“Era“Eratudo para a casa, menos corti-tudo para a casa, menos corti-tudo para a casa, menos corti-tudo para a casa, menos corti-tudo para a casa, menos corti-nados”nados”nados”nados”nados”, recorda Manuela. “Mas“Mas“Mas“Mas“Maschegou a vender varões”chegou a vender varões”chegou a vender varões”chegou a vender varões”chegou a vender varões”, acres-centa a rir a irmã, Teresa.

UMA AZÁFAMAUMA AZÁFAMAUMA AZÁFAMAUMA AZÁFAMAUMA AZÁFAMACONSTANTECONSTANTECONSTANTECONSTANTECONSTANTE

A principal recordação que as ir-mãs guardam dessa altura é o movi-mento constante na loja do pai.“Comparado com o de hoje era“Comparado com o de hoje era“Comparado com o de hoje era“Comparado com o de hoje era“Comparado com o de hoje erauma azáfama completa. Umauma azáfama completa. Umauma azáfama completa. Umauma azáfama completa. Umauma azáfama completa. Umasérie de carros a carregarem,série de carros a carregarem,série de carros a carregarem,série de carros a carregarem,série de carros a carregarem,outra série a descarregar”outra série a descarregar”outra série a descarregar”outra série a descarregar”outra série a descarregar”.

O que também se lembram bem

é da forma como a mobília era ex-posta na loja, bem diferente da ex-posição cuidada dos dias de hoje.“Quase que se procurava o bu-“Quase que se procurava o bu-“Quase que se procurava o bu-“Quase que se procurava o bu-“Quase que se procurava o bu-raco que havia ainda para ocu-raco que havia ainda para ocu-raco que havia ainda para ocu-raco que havia ainda para ocu-raco que havia ainda para ocu-par. Na altura era o espelho e aspar. Na altura era o espelho e aspar. Na altura era o espelho e aspar. Na altura era o espelho e aspar. Na altura era o espelho e asmesas-de-cabeceira dentro domesas-de-cabeceira dentro domesas-de-cabeceira dentro domesas-de-cabeceira dentro domesas-de-cabeceira dentro doroupeiro, a cómoda ficava porroupeiro, a cómoda ficava porroupeiro, a cómoda ficava porroupeiro, a cómoda ficava porroupeiro, a cómoda ficava porcima do roupeiro e a cama fica-cima do roupeiro e a cama fica-cima do roupeiro e a cama fica-cima do roupeiro e a cama fica-cima do roupeiro e a cama fica-va encostada”va encostada”va encostada”va encostada”va encostada”. E por mais caóticaque seja a imagem que a descriçãosuscita, o certo é que “isso era o“isso era o“isso era o“isso era o“isso era osuficiente para o cliente com-suficiente para o cliente com-suficiente para o cliente com-suficiente para o cliente com-suficiente para o cliente com-

prar”prar”prar”prar”prar”. As pessoas vinham não só daregião, mas de vários pontos do paísà procura de mobílias que prima-vam pela qualidade.

“Há uma coisa que me mar-“Há uma coisa que me mar-“Há uma coisa que me mar-“Há uma coisa que me mar-“Há uma coisa que me mar-cou imenso, que foi uma mobí-cou imenso, que foi uma mobí-cou imenso, que foi uma mobí-cou imenso, que foi uma mobí-cou imenso, que foi uma mobí-lia, caríssima para a altura, es-lia, caríssima para a altura, es-lia, caríssima para a altura, es-lia, caríssima para a altura, es-lia, caríssima para a altura, es-tar a acabar de ser descarre-tar a acabar de ser descarre-tar a acabar de ser descarre-tar a acabar de ser descarre-tar a acabar de ser descarre-gada, sem costas, sem estargada, sem costas, sem estargada, sem costas, sem estargada, sem costas, sem estargada, sem costas, sem estarmontada, e eu vender essamontada, e eu vender essamontada, e eu vender essamontada, e eu vender essamontada, e eu vender essamobília ainda no corredor”mobília ainda no corredor”mobília ainda no corredor”mobília ainda no corredor”mobília ainda no corredor”, re-

corda Teresa.Entre o vaivém de carros com

móveis e de clientes, António Fer-reira torna a sua loja num estabe-lecimento inovador. É que naque-les tempos as mobílias chegavamàs lojas “em branco”“em branco”“em branco”“em branco”“em branco”, sem esta-rem polidas ou envernizadas. “Era“Era“Era“Era“Eranecessário acanecessário acanecessário acanecessário acanecessário acabá-los aqui. Ha-bá-los aqui. Ha-bá-los aqui. Ha-bá-los aqui. Ha-bá-los aqui. Ha-via um polidor, havia quemvia um polidor, havia quemvia um polidor, havia quemvia um polidor, havia quemvia um polidor, havia quemmetesse as ferragens, quemmetesse as ferragens, quemmetesse as ferragens, quemmetesse as ferragens, quemmetesse as ferragens, quemdesse cor.desse cor.desse cor.desse cor.desse cor. O nosso pai foi oO nosso pai foi oO nosso pai foi oO nosso pai foi oO nosso pai foi oprimeiro nas Caldas a apre-primeiro nas Caldas a apre-primeiro nas Caldas a apre-primeiro nas Caldas a apre-primeiro nas Caldas a apre-

sentar a mobília já acabadasentar a mobília já acabadasentar a mobília já acabadasentar a mobília já acabadasentar a mobília já acabadaaos clientes, que a podiam veraos clientes, que a podiam veraos clientes, que a podiam veraos clientes, que a podiam veraos clientes, que a podiam verassim que chegavam à loja”assim que chegavam à loja”assim que chegavam à loja”assim que chegavam à loja”assim que chegavam à loja”,lembram as irmãs.

Esta visão empreendedora levatambém António Ferreira a pro-curar uma segunda loja na cida-de, na Rua Raul Proença. Um es-paço que já há cerca de três dé-cadas foi pensado para expormobília de linhas mais moder-

nas, uma novidade numa loja dedimensões fora do habitual para acidade, e do qual a esposa “tomou“tomou“tomou“tomou“tomouconta durante muitos anos”conta durante muitos anos”conta durante muitos anos”conta durante muitos anos”conta durante muitos anos”.

Do edifício onde se instalou aprimeira loja restam apenas me-mórias fotográficas. Cerca dedez anos depois de ter compra-do o segundo estabelecimento,António Ferreira volta a aumen-tar o seu património e deita abai-xo as instalações que foi adqui-rindo na Praça da Fruta nos primei-

A história da Ferreira Mobílias faz-se das memórias das netas do seu fundador, Manuel Ferreira(falecido em1960), que já não está cá para as contar. António (1935-2000) e Fernando (1937-1970),os filhos que tomaram as rédeas à empresa a partir de 1960, também já partiram.Hoje é a Manuela e a Teresa Ferreira que cabe a gestão de uma empresa com 55 anos. Dos seusantecessores, as duas irmãs herdaram a aposta na novidade e na qualidade, mas principalmente o“querer servir bem quem entra”“querer servir bem quem entra”“querer servir bem quem entra”“querer servir bem quem entra”“querer servir bem quem entra”.Com a loja da Praça da Fruta encerrada há poucos meses, a Ferreira Mobílias conserva o estabeleci-mento na Rua Raul Proença. Mas as responsáveis pela empresa garantem que a diversidade dosprodutos que sempre caracterizou a loja se mantém.

ros anos da sua actividade. No seulugar fez nascer os dois prédios quese podem ver hoje e que durantemuitos anos albergaram a loja maisvoltada para o mobiliário clássico, aoficina da fábrica, alguns escritóriosalugados a terceiros e muito espaçode armazém. “Primeiro o prédio“Primeiro o prédio“Primeiro o prédio“Primeiro o prédio“Primeiro o prédiode trás, porque não o deixa-de trás, porque não o deixa-de trás, porque não o deixa-de trás, porque não o deixa-de trás, porque não o deixa-vam construir para a parte davam construir para a parte davam construir para a parte davam construir para a parte davam construir para a parte dafrente, por ser a zona históri-frente, por ser a zona históri-frente, por ser a zona históri-frente, por ser a zona históri-frente, por ser a zona históri-ca da cidade. Só quando teveca da cidade. Só quando teveca da cidade. Só quando teveca da cidade. Só quando teveca da cidade. Só quando teveautorização conseguiu cons-autorização conseguiu cons-autorização conseguiu cons-autorização conseguiu cons-autorização conseguiu cons-truir o prédio voltado para atruir o prédio voltado para atruir o prédio voltado para atruir o prédio voltado para atruir o prédio voltado para apraça”praça”praça”praça”praça”, contam as filhas.

Manuela e Teresa não estra-nham o sucesso que a empresa doseu pai teve. “Dantes era tudo“Dantes era tudo“Dantes era tudo“Dantes era tudo“Dantes era tudomuito mais fácil e também nmuito mais fácil e também nmuito mais fácil e também nmuito mais fácil e também nmuito mais fácil e também nãoãoãoãoãohavia muita oferta, agora é quehavia muita oferta, agora é quehavia muita oferta, agora é quehavia muita oferta, agora é quehavia muita oferta, agora é quetemos lojas por todo o lado”temos lojas por todo o lado”temos lojas por todo o lado”temos lojas por todo o lado”temos lojas por todo o lado”. Masas actuais responsáveis pela Ferrei-ra Mobílias não deixam passar emvão a importância que os valores ti-nham nessa altura. “O nosso pai e“O nosso pai e“O nosso pai e“O nosso pai e“O nosso pai eas pessoas das Caldas e todosas pessoas das Caldas e todosas pessoas das Caldas e todosas pessoas das Caldas e todosas pessoas das Caldas e todosos nosos nosos nosos nosos nossos clientes bem o sa-sos clientes bem o sa-sos clientes bem o sa-sos clientes bem o sa-sos clientes bem o sa-bem, sempre foi uma pessoabem, sempre foi uma pessoabem, sempre foi uma pessoabem, sempre foi uma pessoabem, sempre foi uma pessoaséria e correcta em termosséria e correcta em termosséria e correcta em termosséria e correcta em termosséria e correcta em termosprofissionais. As pessoas con-profissionais. As pessoas con-profissionais. As pessoas con-profissionais. As pessoas con-profissionais. As pessoas con-fiavam na casa e ainda confi-fiavam na casa e ainda confi-fiavam na casa e ainda confi-fiavam na casa e ainda confi-fiavam na casa e ainda confi-am. Ele empenhava-se, sempream. Ele empenhava-se, sempream. Ele empenhava-se, sempream. Ele empenhava-se, sempream. Ele empenhava-se, semprese empenhou, no ramo dele, ese empenhou, no ramo dele, ese empenhou, no ramo dele, ese empenhou, no ramo dele, ese empenhou, no ramo dele, eviveu praticamente para isso”viveu praticamente para isso”viveu praticamente para isso”viveu praticamente para isso”viveu praticamente para isso”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Page 13: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

eis da cidade mantém oferta do clássico ao moderno

A empresa cinge-se hoje à loja de dois pisos na Rua Raul ProençaA empresa cinge-se hoje à loja de dois pisos na Rua Raul ProençaA empresa cinge-se hoje à loja de dois pisos na Rua Raul ProençaA empresa cinge-se hoje à loja de dois pisos na Rua Raul ProençaA empresa cinge-se hoje à loja de dois pisos na Rua Raul Proença

A Ferreira Mobílias encaixa naperfeição na designação ‘Empre-sa Familiar’. Mesmo sem ter es-tado continuamente nas lojas domarido, a mãe de Manuela e Te-resa nunca esteve afastada donegócio das mobílias. “Em casa“Em casa“Em casa“Em casa“Em casasempre se falaram de assun-sempre se falaram de assun-sempre se falaram de assun-sempre se falaram de assun-sempre se falaram de assun-tos da loja, e o meu pai discu-tos da loja, e o meu pai discu-tos da loja, e o meu pai discu-tos da loja, e o meu pai discu-tos da loja, e o meu pai discu-tia com ela todos os assun-tia com ela todos os assun-tia com ela todos os assun-tia com ela todos os assun-tia com ela todos os assun-tos, tudo o que se passava,tos, tudo o que se passava,tos, tudo o que se passava,tos, tudo o que se passava,tos, tudo o que se passava,todas as decisões que ele foitodas as decisões que ele foitodas as decisões que ele foitodas as decisões que ele foitodas as decisões que ele foitomando”tomando”tomando”tomando”tomando”, contam as irmãs Fer-reira, recordando que foi assimaté à morte da mãe. Já as quatroirmãs também nunca passavammuito tempo sem estarem nas lo-jas, “mesmo pequenininhas, to-“mesmo pequenininhas, to-“mesmo pequenininhas, to-“mesmo pequenininhas, to-“mesmo pequenininhas, to-das nós temos recordaçõesdas nós temos recordaçõesdas nós temos recordaçõesdas nós temos recordaçõesdas nós temos recordaçõesdessa altura”dessa altura”dessa altura”dessa altura”dessa altura”.

E se no início as crianças ocupavam o seu tempo a brincar umas com as outras,não foi preciso muito tempo para que as filhas ajudassem os pais, a acartaralmofadas ou os cabides de roupa. “Era um trabalho entre aspas. Éramos“Era um trabalho entre aspas. Éramos“Era um trabalho entre aspas. Éramos“Era um trabalho entre aspas. Éramos“Era um trabalho entre aspas. Éramosarrastadas, mas acabávamos por nos divertir na mesma”arrastadas, mas acabávamos por nos divertir na mesma”arrastadas, mas acabávamos por nos divertir na mesma”arrastadas, mas acabávamos por nos divertir na mesma”arrastadas, mas acabávamos por nos divertir na mesma”, lembram asirmãs.

Manuela, Teresa, Paula e Verónica entraram para a sociedade da AntónioFerreira, Lda. em 1993, sete anos antes de o pai falecer. Entre 1960 e 2000, foisempre o pai “a tomar as decisões, pelo menos as mais importantes”“a tomar as decisões, pelo menos as mais importantes”“a tomar as decisões, pelo menos as mais importantes”“a tomar as decisões, pelo menos as mais importantes”“a tomar as decisões, pelo menos as mais importantes”. Apósa morte de António Ferreira as irmãs empenharam-se em manter o legado dosseus ascendentes, tanto ao nível da gestão da empresa, como da relação com osclientes e da aposta na qualidade dos artigos que comercializam.

“Hoje as coisas estão diferentes, há muitas grandes superfícies, que“Hoje as coisas estão diferentes, há muitas grandes superfícies, que“Hoje as coisas estão diferentes, há muitas grandes superfícies, que“Hoje as coisas estão diferentes, há muitas grandes superfícies, que“Hoje as coisas estão diferentes, há muitas grandes superfícies, quenão são uma grande ameaça para nós, porque não temos o mesmonão são uma grande ameaça para nós, porque não temos o mesmonão são uma grande ameaça para nós, porque não temos o mesmonão são uma grande ameaça para nós, porque não temos o mesmonão são uma grande ameaça para nós, porque não temos o mesmoartigo. Nós temos artigo de muita qualidade e não estou a dizer que oartigo. Nós temos artigo de muita qualidade e não estou a dizer que oartigo. Nós temos artigo de muita qualidade e não estou a dizer que oartigo. Nós temos artigo de muita qualidade e não estou a dizer que oartigo. Nós temos artigo de muita qualidade e não estou a dizer que oartigo de casas como estas não tem qualidade, mas é outro tipo de artigo,artigo de casas como estas não tem qualidade, mas é outro tipo de artigo,artigo de casas como estas não tem qualidade, mas é outro tipo de artigo,artigo de casas como estas não tem qualidade, mas é outro tipo de artigo,artigo de casas como estas não tem qualidade, mas é outro tipo de artigo,para outro tipo de clientes”para outro tipo de clientes”para outro tipo de clientes”para outro tipo de clientes”para outro tipo de clientes”, diz Manuela Ferreira.

Ao longo de 55 anos, a Ferreira Mobílias fidelizou muita clientela. “Muitos são“Muitos são“Muitos são“Muitos são“Muitos sãoda altura do nosso pai e muitos deles já trouxeram os filhos”da altura do nosso pai e muitos deles já trouxeram os filhos”da altura do nosso pai e muitos deles já trouxeram os filhos”da altura do nosso pai e muitos deles já trouxeram os filhos”da altura do nosso pai e muitos deles já trouxeram os filhos”, garantem. Oque os cativa, acreditam, é a oferta diversificada que ali podem encontrar.Acompanhando a evolução dos tempos e dos gostos, as duas irmãs não descuramas novidades e as tendências mais recentes. Mas também nunca abandonaram oestilo clássico. “Aqui nas Caldas praticamente não há lojas que vendam“Aqui nas Caldas praticamente não há lojas que vendam“Aqui nas Caldas praticamente não há lojas que vendam“Aqui nas Caldas praticamente não há lojas que vendam“Aqui nas Caldas praticamente não há lojas que vendameste tipo de clássico, como o estilo inglês por exemploeste tipo de clássico, como o estilo inglês por exemploeste tipo de clássico, como o estilo inglês por exemploeste tipo de clássico, como o estilo inglês por exemploeste tipo de clássico, como o estilo inglês por exemplo, que é uma linha, que é uma linha, que é uma linha, que é uma linha, que é uma linhaantiga, mas que as pessoas continuam a gostar e que procuram”antiga, mas que as pessoas continuam a gostar e que procuram”antiga, mas que as pessoas continuam a gostar e que procuram”antiga, mas que as pessoas continuam a gostar e que procuram”antiga, mas que as pessoas continuam a gostar e que procuram”.

Outra coisa que se mantém é a qualidade do mobiliário que ali se pode encon-trar, produtos na sua esmagadora maioria de origem portuguesa. “O artigo naci-“O artigo naci-“O artigo naci-“O artigo naci-“O artigo naci-onal a nível de mobiliário é bastante melhor que o espanhol ou que qual-onal a nível de mobiliário é bastante melhor que o espanhol ou que qual-onal a nível de mobiliário é bastante melhor que o espanhol ou que qual-onal a nível de mobiliário é bastante melhor que o espanhol ou que qual-onal a nível de mobiliário é bastante melhor que o espanhol ou que qual-quer outro, sem dúvida nenhuma”quer outro, sem dúvida nenhuma”quer outro, sem dúvida nenhuma”quer outro, sem dúvida nenhuma”quer outro, sem dúvida nenhuma”, garantem as responsáveis, que têm forne-cedores de vários pontos do país. Alguns destes são empresas que vendem para aloja desde o seu início e que entretanto também já são administradas pelos filhos

“Tenho orgulho em

pertencer a esta casa”

Gilberto MonteiroGilberto MonteiroGilberto MonteiroGilberto MonteiroGilberto Monteiro

Fez no passa-do dia 1 de Junho31 anos que Gil-berto José Mon-teiro começou atrabalhar na Fer-reira Mobílias.

Nascido naLourinhã, veio vi-ver para as Cal-das com oitoanos. Aos 13 estava mais interessado em jogar à bolae em ganhar o seu dinheiro, do que em “perder tempo”com os livros. Foi por isso que mentiu aos pais e lhesdisse que tinha chumbado na escola, quando na ver-dade tinha passado de ano. Foi assim que conseguiuir trabalhar para a loja de móveis durante três me-ses.

Quando a verdade se soube, a mãe repreendeu-o.“Queria que eu estudasse”“Queria que eu estudasse”“Queria que eu estudasse”“Queria que eu estudasse”“Queria que eu estudasse”, conta. Mas da cabe-ça de Gilberto não saíam as palavras de António Fer-reira. “Disse-me: quando quiseres voltar, tens“Disse-me: quando quiseres voltar, tens“Disse-me: quando quiseres voltar, tens“Disse-me: quando quiseres voltar, tens“Disse-me: quando quiseres voltar, tensa porta aberta”a porta aberta”a porta aberta”a porta aberta”a porta aberta”.

E Gilberto voltou, assim que em 1979 concluiu o 9ºano de escolaridade. Deixou a escola, “apesar de“apesar de“apesar de“apesar de“apesar denunca ter reprovado”nunca ter reprovado”nunca ter reprovado”nunca ter reprovado”nunca ter reprovado”, para trabalhar nos móveis,e hoje diz que não se arrepende. “É uma escola de“É uma escola de“É uma escola de“É uma escola de“É uma escola devida, aprende-se muito”vida, aprende-se muito”vida, aprende-se muito”vida, aprende-se muito”vida, aprende-se muito”.

Dos primeiros anos guarda muitas e boas recorda-ções. Lembra-se das actuais patroas, de idades pró-ximas da sua, andarem na escola. Lembra-se sobre-tudo da imagem do patrão, um homem que “foi como“foi como“foi como“foi como“foi comoum pai” um pai” um pai” um pai” um pai” e que recorda muitas vezes. “Era um ho-“Era um ho-“Era um ho-“Era um ho-“Era um ho-mem que hoje fazia muita falta na nossa so-mem que hoje fazia muita falta na nossa so-mem que hoje fazia muita falta na nossa so-mem que hoje fazia muita falta na nossa so-mem que hoje fazia muita falta na nossa so-ciedade, um empresário de sucesso, bastan-ciedade, um empresário de sucesso, bastan-ciedade, um empresário de sucesso, bastan-ciedade, um empresário de sucesso, bastan-ciedade, um empresário de sucesso, bastan-te honesto e empreendedor, que me deixoute honesto e empreendedor, que me deixoute honesto e empreendedor, que me deixoute honesto e empreendedor, que me deixoute honesto e empreendedor, que me deixouuma boa recordação”uma boa recordação”uma boa recordação”uma boa recordação”uma boa recordação”, afiança.

O que Gilberto também se lembra bem é da azáfa-ma de outros tempos, que obrigava os trabalhadoresda empresa a fazerem muitas noitadas até à meia-noite. “Quase sempre, o meu patrão esperava“Quase sempre, o meu patrão esperava“Quase sempre, o meu patrão esperava“Quase sempre, o meu patrão esperava“Quase sempre, o meu patrão esperavapor nós e pagava-nos o jantar no antigo res-por nós e pagava-nos o jantar no antigo res-por nós e pagava-nos o jantar no antigo res-por nós e pagava-nos o jantar no antigo res-por nós e pagava-nos o jantar no antigo res-taurante Convívio que havia na Praça da Fru-taurante Convívio que havia na Praça da Fru-taurante Convívio que havia na Praça da Fru-taurante Convívio que havia na Praça da Fru-taurante Convívio que havia na Praça da Fru-ta, outras vezes no Camaroeiro”ta, outras vezes no Camaroeiro”ta, outras vezes no Camaroeiro”ta, outras vezes no Camaroeiro”ta, outras vezes no Camaroeiro”.

Hoje as coisas são muito diferentes. “Somos só “Somos só “Somos só “Somos só “Somos sódois, mas na altura chegámos a ser 14 em-dois, mas na altura chegámos a ser 14 em-dois, mas na altura chegámos a ser 14 em-dois, mas na altura chegámos a ser 14 em-dois, mas na altura chegámos a ser 14 em-pregados. Hoje há máquinas para tudo, anti-pregados. Hoje há máquinas para tudo, anti-pregados. Hoje há máquinas para tudo, anti-pregados. Hoje há máquinas para tudo, anti-pregados. Hoje há máquinas para tudo, anti-gamente não, e o cliente antes compravagamente não, e o cliente antes compravagamente não, e o cliente antes compravagamente não, e o cliente antes compravagamente não, e o cliente antes compravamuito mais. Lembro-me que os imigrantesmuito mais. Lembro-me que os imigrantesmuito mais. Lembro-me que os imigrantesmuito mais. Lembro-me que os imigrantesmuito mais. Lembro-me que os imigrantesentravam aqui e compravam um carrão deentravam aqui e compravam um carrão deentravam aqui e compravam um carrão deentravam aqui e compravam um carrão deentravam aqui e compravam um carrão demobília, uma camioneta cheia”mobília, uma camioneta cheia”mobília, uma camioneta cheia”mobília, uma camioneta cheia”mobília, uma camioneta cheia”, conta, desfilan-do as suas memórias, o trabalhador que tem bempresentes os tempos em que as cadeiras eram esto-fadas, os móveis envernizados e as ferragens colo-cadas na oficina da Ferreira Mobílias.

Na loja e na oficina, Gilberto Monteiro dá uma mãoem tudo o que pode. “Faço tudo o que é preciso,“Faço tudo o que é preciso,“Faço tudo o que é preciso,“Faço tudo o que é preciso,“Faço tudo o que é preciso,tenho prazer no que faço”tenho prazer no que faço”tenho prazer no que faço”tenho prazer no que faço”tenho prazer no que faço”, garante. E ao contrá-rio do que tanta gente se queixa, Gilberto congratula-se por ter um trabalho que “não tem nada de stres-“não tem nada de stres-“não tem nada de stres-“não tem nada de stres-“não tem nada de stres-sante”sante”sante”sante”sante” e que o faz correr o país a distribuir móveis.Confessadamente “dedicado à família”“dedicado à família”“dedicado à família”“dedicado à família”“dedicado à família”, Gilbertoafirma que os Ferreira são a sua segunda família. La-mentando ver a loja da Praça da Fruta de portas fe-chadas, Gilberto Monteiro diz que “tinha pena se “tinha pena se “tinha pena se “tinha pena se “tinha pena seum dia isto acabasse. Ando nisto desde miú-um dia isto acabasse. Ando nisto desde miú-um dia isto acabasse. Ando nisto desde miú-um dia isto acabasse. Ando nisto desde miú-um dia isto acabasse. Ando nisto desde miú-do, era difícil fazer outra coisa”do, era difícil fazer outra coisa”do, era difícil fazer outra coisa”do, era difícil fazer outra coisa”do, era difícil fazer outra coisa”.

E com alguma timidez acrescenta: “sinto orgulho“sinto orgulho“sinto orgulho“sinto orgulho“sinto orgulhoem pertencer a esta casa. Como um indivíduoem pertencer a esta casa. Como um indivíduoem pertencer a esta casa. Como um indivíduoem pertencer a esta casa. Como um indivíduoem pertencer a esta casa. Como um indivíduoque joga futebol e está num clube, apesar deque joga futebol e está num clube, apesar deque joga futebol e está num clube, apesar deque joga futebol e está num clube, apesar deque joga futebol e está num clube, apesar deser profissional, tenho amor à camisola”ser profissional, tenho amor à camisola”ser profissional, tenho amor à camisola”ser profissional, tenho amor à camisola”ser profissional, tenho amor à camisola”.

J .F.J .F.J .F.J .F.J .F.

ou netos dos fundadores. “Vai-se criando uma ligação e acaba por haver“Vai-se criando uma ligação e acaba por haver“Vai-se criando uma ligação e acaba por haver“Vai-se criando uma ligação e acaba por haver“Vai-se criando uma ligação e acaba por haveruma confiança mútua que é muito importante. Há mais sinceridade euma confiança mútua que é muito importante. Há mais sinceridade euma confiança mútua que é muito importante. Há mais sinceridade euma confiança mútua que é muito importante. Há mais sinceridade euma confiança mútua que é muito importante. Há mais sinceridade etrabalha-se de maneira diferente e eles também se vão actualizando”trabalha-se de maneira diferente e eles também se vão actualizando”trabalha-se de maneira diferente e eles também se vão actualizando”trabalha-se de maneira diferente e eles também se vão actualizando”trabalha-se de maneira diferente e eles também se vão actualizando”.

De vários pontos do país chegam também os clientes, que têm os artigosentregues e montados nas suas casas sem qualquer custo adicional, sendo otransporte assegurado pelos funcionários da empresa, em veículos próprios. “É“É“É“É“Éum miminho para os clientes que nós tentamos manter”um miminho para os clientes que nós tentamos manter”um miminho para os clientes que nós tentamos manter”um miminho para os clientes que nós tentamos manter”um miminho para os clientes que nós tentamos manter”, afirma Manu-ela Ferreira, salientando que os tempos difíceis que correm levam muitasempresas a cobrarem montagem e deslocação. Mas os móveis da loja caldenseestão também já noutros países, como França e Holanda, procurados não tantopor emigrantes, mas sobretudo por estrangeiros que têm uma segunda habita-ção na região e que gostaram da mobília.

No início deste ano as duas irmãs mais novas, Paula e Verónica, decidiramsair da sociedade e neste momento a Ferreira Mobílias está apenas a funcionarna loja da Rua Raul Proença. “Como ficámos só as duas, entendemos que“Como ficámos só as duas, entendemos que“Como ficámos só as duas, entendemos que“Como ficámos só as duas, entendemos que“Como ficámos só as duas, entendemos quenão precisávamos de duas lojas, que bastava uma”não precisávamos de duas lojas, que bastava uma”não precisávamos de duas lojas, que bastava uma”não precisávamos de duas lojas, que bastava uma”não precisávamos de duas lojas, que bastava uma”, conta Teresa, expli-cando que dois pisos da loja da Praça da Fruta foram alugados. “Apareceu“Apareceu“Apareceu“Apareceu“Apareceuuma boa proposta, uma boa oportunidade de negócio sem ninguémuma boa proposta, uma boa oportunidade de negócio sem ninguémuma boa proposta, uma boa oportunidade de negócio sem ninguémuma boa proposta, uma boa oportunidade de negócio sem ninguémuma boa proposta, uma boa oportunidade de negócio sem ninguémesperar”esperar”esperar”esperar”esperar”, acrescenta Manuela, salientando que o funcionamento logísticodaquele espaço era dificultado pelo facto das camionetas grandes que trans-portam as mobílias não poderem ir ao centro da cidade. No edifício da Praça daFruta mantém-se algum espaço de armazenamento e a oficina da empresa.

Alguns dos artigos da loja com quatro pisos estão disponíveis no estabeleci-mento que se mantém. Para escoar o restante está a decorrer uma exposiçãocom descontos que podem ir até aos 80%, à qual se pode aceder pela Travessado Parque.

A loja da Rua Raul Proença tem 1.200 metros quadrados de exposição e,garantem as irmãs, a mesma oferta diversificada que sempre caracterizou aempresa. “Temos o clássico, temos o contemporâneo e na cave temos“Temos o clássico, temos o contemporâneo e na cave temos“Temos o clássico, temos o contemporâneo e na cave temos“Temos o clássico, temos o contemporâneo e na cave temos“Temos o clássico, temos o contemporâneo e na cave temosa secção económica, com quartos e sofás baratíssimos, um económi-a secção económica, com quartos e sofás baratíssimos, um económi-a secção económica, com quartos e sofás baratíssimos, um económi-a secção económica, com quartos e sofás baratíssimos, um económi-a secção económica, com quartos e sofás baratíssimos, um económi-co que nos deixa à vontade porque tem qualidade”co que nos deixa à vontade porque tem qualidade”co que nos deixa à vontade porque tem qualidade”co que nos deixa à vontade porque tem qualidade”co que nos deixa à vontade porque tem qualidade”.

Sem medo da concorrência das grandes superfícies, Manuela e Teresa acre-ditam nas vantagens do comércio tradicional. “Aqui o cliente está connos-“Aqui o cliente está connos-“Aqui o cliente está connos-“Aqui o cliente está connos-“Aqui o cliente está connos-co, podem estar uma hora, duas horas, as pessoas conversam e têmco, podem estar uma hora, duas horas, as pessoas conversam e têmco, podem estar uma hora, duas horas, as pessoas conversam e têmco, podem estar uma hora, duas horas, as pessoas conversam e têmco, podem estar uma hora, duas horas, as pessoas conversam e têmtempo. É sem dúvida algo único do comércio tradicional, não se encon-tempo. É sem dúvida algo único do comércio tradicional, não se encon-tempo. É sem dúvida algo único do comércio tradicional, não se encon-tempo. É sem dúvida algo único do comércio tradicional, não se encon-tempo. É sem dúvida algo único do comércio tradicional, não se encon-tra este tipo de relacionamento nas grandes superfícies”tra este tipo de relacionamento nas grandes superfícies”tra este tipo de relacionamento nas grandes superfícies”tra este tipo de relacionamento nas grandes superfícies”tra este tipo de relacionamento nas grandes superfícies”. Além disso,“as pessoas sabem que quando vão à Ferreira Mobílias compram“as pessoas sabem que quando vão à Ferreira Mobílias compram“as pessoas sabem que quando vão à Ferreira Mobílias compram“as pessoas sabem que quando vão à Ferreira Mobílias compram“as pessoas sabem que quando vão à Ferreira Mobílias compramartigo bom”artigo bom”artigo bom”artigo bom”artigo bom”.

Longe dos tempos de azáfama em que o reboliço nas lojas era uma constan-te, a Ferreira Mobílias “continua a ter a mesma variedade, a apostar nas“continua a ter a mesma variedade, a apostar nas“continua a ter a mesma variedade, a apostar nas“continua a ter a mesma variedade, a apostar nas“continua a ter a mesma variedade, a apostar nasnovidades e a querer servir bem quem entra”novidades e a querer servir bem quem entra”novidades e a querer servir bem quem entra”novidades e a querer servir bem quem entra”novidades e a querer servir bem quem entra”. Para isso contribuem tam-bém os trabalhadores da empresa – Santos, Gilberto e Idália, que ali trabalhamhá várias décadas. Pessoas cujos anos de experiência lhes permite “fazerem“fazerem“fazerem“fazerem“fazeremum bocadinho de tudo”um bocadinho de tudo”um bocadinho de tudo”um bocadinho de tudo”um bocadinho de tudo”.

Quando perguntamos a Manuela e Teresa se alguma vez pensaram deixar onegócio a resposta é imediata. “Não! Gostamos do que fazemos. Gosta-“Não! Gostamos do que fazemos. Gosta-“Não! Gostamos do que fazemos. Gosta-“Não! Gostamos do que fazemos. Gosta-“Não! Gostamos do que fazemos. Gosta-mos mesmo!mos mesmo!mos mesmo!mos mesmo!mos mesmo! O que quer dizer que as vezes que estivemos cá emO que quer dizer que as vezes que estivemos cá emO que quer dizer que as vezes que estivemos cá emO que quer dizer que as vezes que estivemos cá emO que quer dizer que as vezes que estivemos cá empequeninas não foi castigopequeninas não foi castigopequeninas não foi castigopequeninas não foi castigopequeninas não foi castigo”.

J.F.J.F.J.F.J.F.J.F.

Terceira geração mantém aposta na qualidade

Sempre a par de tudo o que se passava naSempre a par de tudo o que se passava naSempre a par de tudo o que se passava naSempre a par de tudo o que se passava naSempre a par de tudo o que se passava naempresa, Maria Teresa foi uma empresa, Maria Teresa foi uma empresa, Maria Teresa foi uma empresa, Maria Teresa foi uma empresa, Maria Teresa foi uma “peçafundamental” para o sucesso do negóciopara o sucesso do negóciopara o sucesso do negóciopara o sucesso do negóciopara o sucesso do negócio

Hoje, é a Teresa e Manuela que cabeHoje, é a Teresa e Manuela que cabeHoje, é a Teresa e Manuela que cabeHoje, é a Teresa e Manuela que cabeHoje, é a Teresa e Manuela que cabea gestão da Ferreira Mobíliasa gestão da Ferreira Mobíliasa gestão da Ferreira Mobíliasa gestão da Ferreira Mobíliasa gestão da Ferreira Mobílias

Page 14: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Monteiro – a primeira casa comercial das Caldas a 13 de Maio de 1949. O até então

vendedor-viajante, António Mon-teiro, começa uma nova etapa nasua vida. Recém-casado e à pro-cura de uma situação mais está-vel, inicia uma sociedade com oseu amigo Carlos Arroja paravender tecido a metro.

A loja Nobela, situada na RuaAlmirante Cândido dos Reis (Ruadas Montras) foi-lhes trespassa-da à data por 100 mil escudos (cer-ca de 500 euros), uma “quantia“quantia“quantia“quantia“quantiaastronómica para a época”astronómica para a época”astronómica para a época”astronómica para a época”astronómica para a época”,conta hoje o seu filho António JoséMonteiro, que juntamente com oirmão, Paulo, continuam a geriros negócios iniciados pelo pai.

Para poder efectuar o trespas-se, pediram algum dinheiro em-prestado e começaram a socie-dade, que duraria três anos, atéque António Monteiro vende a suaquota e toma de trespasse umaloja na Praça da República e co-meça a vender tecidos.

A pequena loja “transformou-se” na primeira da cidade a termontras grandes, rasgadas, quepermitiam aos transeuntes ver osmodelos da agora casa de modasexpostos no seu interior.

Mas a ambição não ficou poraqui. Em 1959 António Monteiroinicia a expansão do negócio to-mando de trespasse, por 50 milescudos (cerca de 250 euros) oestabelecimento nº 45 da Rua dasMontras, onde actualmente per-manece a loja de tecidos de de-coração Monteiro. Depois de fei-tas as devidas obras de remode-lação, abre a primeira loja da ci-dade dedicada apenas a artigosde bebé, e que apelidou de Ni-nho. Três anos mais tarde adqui-re uma antiga casa de loiças, jun-to ao seu estabelecimento, ondecomercializa apenas linhas e fiospara tricot, e que apelidou de Lãsli.

Considerado por muitos umaventureiro, as suas lojas de es-

pecialidade tornaram-se um su-cesso, especialmente a das lãs,recordam os seus filhos.

Em inícios da década de 60 An-tónio Monteiro adquiriu uma má-quina para fazer saias plissadas,

que estavam na altura muito namoda. O filho mais velho, AntónioJosé, lembra que parecia umaestufa, em que o tecido era colo-cado em cima de cartões, ia aoforno e o pano ficava plissado. “AAAAAideia era gira porque uma saiaideia era gira porque uma saiaideia era gira porque uma saiaideia era gira porque uma saiaideia era gira porque uma saiaque normalmente gastava umque normalmente gastava umque normalmente gastava umque normalmente gastava umque normalmente gastava ummetro de tecido para aquelemetro de tecido para aquelemetro de tecido para aquelemetro de tecido para aquelemetro de tecido para aqueleefeito necessitava de três ouefeito necessitava de três ouefeito necessitava de três ouefeito necessitava de três ouefeito necessitava de três ouquatro metros, mais mão-de-quatro metros, mais mão-de-quatro metros, mais mão-de-quatro metros, mais mão-de-quatro metros, mais mão-de-obra, que tinha que ser paga”obra, que tinha que ser paga”obra, que tinha que ser paga”obra, que tinha que ser paga”obra, que tinha que ser paga”,explicou.

Além do que comercializa nasua loja, António Monteiro ven-dia também para outros estabe-lecimentos do sector. “Aquilo“Aquilo“Aquilo“Aquilo“Aquilotrabalhava dia e noite, lem-trabalhava dia e noite, lem-trabalhava dia e noite, lem-trabalhava dia e noite, lem-trabalhava dia e noite, lem-bro-me de passar na rua e osbro-me de passar na rua e osbro-me de passar na rua e osbro-me de passar na rua e osbro-me de passar na rua e os

vidros da casa estarem todosvidros da casa estarem todosvidros da casa estarem todosvidros da casa estarem todosvidros da casa estarem todosembaciados do calor da má-embaciados do calor da má-embaciados do calor da má-embaciados do calor da má-embaciados do calor da má-quina de plissar as saias”quina de plissar as saias”quina de plissar as saias”quina de plissar as saias”quina de plissar as saias”, re-corda o filho, destacando a visãodo pai ao correr o risco de inves-tir numa máquina que acaboupor se revelar um êxito do pon-to de vista da rentabilidade.

A 1 de Abril de 1964 AntónioMonteiro dá sociedade a doisempregados - Vasco Teodoro Bi-cho (já falecido) e Joaquim Cor-deiro, seu sobrinho – no estabe-

lecimento da Praça da Fruta,formando a firma Monteiro Lda.Entretanto dedica-se às suas lo-jas situadas na Rua das Mon-tras.

Empresa líder naEmpresa líder naEmpresa líder naEmpresa líder naEmpresa líder nadistribuição de alcatifas edistribuição de alcatifas edistribuição de alcatifas edistribuição de alcatifas edistribuição de alcatifas e

transformação de carpetestransformação de carpetestransformação de carpetestransformação de carpetestransformação de carpetes

Três anos mais tarde (1967) for-mou com mais cinco amigos, aSantos Monteiro & Cª Lda, umasociedade grossista de fios, ma-lhas e miudezas, que funcionavanas traseiras da loja das lãs. Emfinais da década de 70, AntónioMonteiro comprou aos sócios asrespectivas quotas e aproveitou

Natural da Foz do Arelho, António Monteiro (1918-2006) é uma das grandes referências comerciais das Caldas da Rainha. Umempreendedor nato, que cedo deixou a vida de caixeiro-viajante para, juntamente com um sócio, se estabelecer no ramo dostecidos. Dessa primeira experiência, rapidamente passou para uma loja sua, na Praça da República, onde inovou o conceitocomercial ao abrir rasgadas montras que deixavam mostrar todo o seu interior.

Precursor das lojas de especialidade, António Monteiro acabou por se dedicar à decoração de interiores, com uma loja dedecoração no centro da cidade e uma empresa líder a nível nacional na distribuição de alcatifas e transformação de carpetes.

“O meu pai foi o precursor da modernização do comércio nas Caldas da Rainha, naquela época”“O meu pai foi o precursor da modernização do comércio nas Caldas da Rainha, naquela época”“O meu pai foi o precursor da modernização do comércio nas Caldas da Rainha, naquela época”“O meu pai foi o precursor da modernização do comércio nas Caldas da Rainha, naquela época”“O meu pai foi o precursor da modernização do comércio nas Caldas da Rainha, naquela época”, contam os filhos,António José e Paulo Monteiro, actualmente sócios-gerentes da Casa Monteiro.

a firma, tendo feito uma socieda-de com o seu filho António JoséMonteiro, então com 23 anos.

Actualmente a Santos Montei-ro & Cª Lda é gerida pelo seu filhomais velho. Está sediada na Es-

trada do Campo (em frente aoModelo) e é actualmente umaempresa líder, a nível nacional,na distribuição de alcatifas etransformação de carpetes. A fir-ma confecciona carpetes por me-dida, uma actividade cada vezmais procurada pelos clientes.“Damos ao cliente um artigo“Damos ao cliente um artigo“Damos ao cliente um artigo“Damos ao cliente um artigo“Damos ao cliente um artigopróprio, não o obrigamos apróprio, não o obrigamos apróprio, não o obrigamos apróprio, não o obrigamos apróprio, não o obrigamos acomprar o produto standar-comprar o produto standar-comprar o produto standar-comprar o produto standar-comprar o produto standar-tizado”tizado”tizado”tizado”tizado”, diz António José Mon-teiro, destacando que o mercado

actual está ávido por coisas dife-rentes.

António José Monteiro recordaque a firma Santos Monteiro & CªLda começou como distribuidorde uma fábrica de alcatifas naci-onal , a CUF Texteis. Passaram acomprar em fábricas no estran-geiro, sobretudo na Bélgica e Ho-landa que são os maiores produ-tores mundiais do sector, mastambém da China e da Índia. Aalcatifa é comprada em rolo edepois transformada nas Caldas.

A empresa trabalha tambémpara a hotelaria, vendendo e apli-cando os seus materiais por todoo país, tendo como clientes gru-pos como o Vila Galé, Pestana, ouos hotéis Rio, no Algarve.

O negócio das alcatifas nasceuna loja da Praça da Fruta quando,com as primeiras obras da déca-da de 60, foi montada uma sec-ção de decoração onde, junta-mente com as cortinas e tecidosdecorativos, começou a comerci-alização de carpetes e alcatifas.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

António Monteiro fundou um negócio que foi seguido pelos seus filhos, Paulo e António. Hoje as suas empresas empregam 50 pessoas e facturamAntónio Monteiro fundou um negócio que foi seguido pelos seus filhos, Paulo e António. Hoje as suas empresas empregam 50 pessoas e facturamAntónio Monteiro fundou um negócio que foi seguido pelos seus filhos, Paulo e António. Hoje as suas empresas empregam 50 pessoas e facturamAntónio Monteiro fundou um negócio que foi seguido pelos seus filhos, Paulo e António. Hoje as suas empresas empregam 50 pessoas e facturamAntónio Monteiro fundou um negócio que foi seguido pelos seus filhos, Paulo e António. Hoje as suas empresas empregam 50 pessoas e facturamcerca de 5 milhões de euros.cerca de 5 milhões de euros.cerca de 5 milhões de euros.cerca de 5 milhões de euros.cerca de 5 milhões de euros.

Fotos de 1963 que mostram a loja das lãs, situada no nº 51 da Rua Almirante Cândido dos ReisFotos de 1963 que mostram a loja das lãs, situada no nº 51 da Rua Almirante Cândido dos ReisFotos de 1963 que mostram a loja das lãs, situada no nº 51 da Rua Almirante Cândido dos ReisFotos de 1963 que mostram a loja das lãs, situada no nº 51 da Rua Almirante Cândido dos ReisFotos de 1963 que mostram a loja das lãs, situada no nº 51 da Rua Almirante Cândido dos Reis

Page 15: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

dedicar-se à decoração

A firma Monteiro, proprieda-de dos quatro irmãos, conta com10 funcionários. Alguns deles,como é o caso de Graciete Car-valho, trabalham ali há mais de40 anos.

Natural de Alfeizerão, come-çou a trabalhar na loja junto àPraça da Fruta com apenas 15anos e, até à data não conhe-ceu outro patrão. “Foi o meu“Foi o meu“Foi o meu“Foi o meu“Foi o meuprimeiro e único emprego”primeiro e único emprego”primeiro e único emprego”primeiro e único emprego”primeiro e único emprego”,conta, orgulhosa da empresaque acompanhou nas suas di-versas fases. “O objectivo foi“O objectivo foi“O objectivo foi“O objectivo foi“O objectivo foisempre rentabilizar cada vezsempre rentabilizar cada vezsempre rentabilizar cada vezsempre rentabilizar cada vezsempre rentabilizar cada vezmais a empresa, o que feliz-mais a empresa, o que feliz-mais a empresa, o que feliz-mais a empresa, o que feliz-mais a empresa, o que feliz-mente se tem vindo a conse-mente se tem vindo a conse-mente se tem vindo a conse-mente se tem vindo a conse-mente se tem vindo a conse-guir”guir”guir”guir”guir”, conta.

Graciete Carvalho começoupor trabalhar na caixa, onde es-teve durante dois anos, passan-do depois para o escritório,onde está há 39 anos. Diz gostarbastante do ramo da decoração,principalmente de tapeçaria,destacando que “se tivesse“se tivesse“se tivesse“se tivesse“se tivesseque estar na parte comerci-que estar na parte comerci-que estar na parte comerci-que estar na parte comerci-que estar na parte comerci-al e pudesse optar, trabalha-al e pudesse optar, trabalha-al e pudesse optar, trabalha-al e pudesse optar, trabalha-al e pudesse optar, trabalha-ria nesse ramo”ria nesse ramo”ria nesse ramo”ria nesse ramo”ria nesse ramo”.

A funcionária lembra quequando começou a trabalhar naCasa Monteiro foi numa tarefade grande responsabilidade. Era

António José Monteiro (54anos) começou a trabalhar como seu pai em 1975, altura em quedeixou de estudar. Tinha 20 anose, até o pai deixar a gestão daempresa, não conheceu outropatrão.

A firma Monteiro Lda. tem osquatro irmãos como sócios, masas duas irmãs, Amélia e Natér-cia Monteiro, não trabalham naempresa. “Tiraram cursos di-“Tiraram cursos di-“Tiraram cursos di-“Tiraram cursos di-“Tiraram cursos di-ferentes e seguiram as suasferentes e seguiram as suasferentes e seguiram as suasferentes e seguiram as suasferentes e seguiram as suasvidas profissionais”vidas profissionais”vidas profissionais”vidas profissionais”vidas profissionais”, revelaAntónio José. A trabalhar consi-go tem o irmão, Paulo (43 anos),que ali começou a trabalhar aos18 anos. Mas já antes conheciabem os tapetes e os tecidos,pois as férias de verão erampassadas a trabalhar ao lado dopai.

Gerem a empresa há uma dé-cada, mas o pai continuava aacompanhar os negócios, fre-quentando diariamente a loja.Deixou de o fazer quando a do-ença o impossibilitou, cerca deseis meses antes de vir a fale-cer, em 8 de Agosto de 2006.

Os filhos não escondem o or-gulho da coragem empresarialdo pai. “Foi muito inovador à“Foi muito inovador à“Foi muito inovador à“Foi muito inovador à“Foi muito inovador àépoca”época”época”época”época”, conta António JoséMonteiro, adiantando que estafoi a primeira loja nas Caldas adedicar-se à decoração, que erauma secção da loja de moda.“Começou com uma simplesComeçou com uma simplesComeçou com uma simplesComeçou com uma simplesComeçou com uma simplessecção, foi ganhando pesosecção, foi ganhando pesosecção, foi ganhando pesosecção, foi ganhando pesosecção, foi ganhando pesoaté se tornar o único neócioaté se tornar o único neócioaté se tornar o único neócioaté se tornar o único neócioaté se tornar o único neócioque ficou”que ficou”que ficou”que ficou”que ficou”, refere, adiantandoque a aposta foi feita porqueencontraram um “nicho de“nicho de“nicho de“nicho de“nicho demercado em expansão”mercado em expansão”mercado em expansão”mercado em expansão”mercado em expansão”.

O filho mais velho lembra ain-da o arrojo do pai em apostarnas novidades. Da memória re-tira a história do Sr. Edgar, cai-xeiro-viajante de uma empresaque fabricava tecidos de deco-ração, que convenceu o seu pai

Filhos expandem o negócio iniciado pelo pai há 61 anosa comprar peças de tecido parafazer cortinas. Embora descon-fiado da falta de lucidez do ven-dedor, António Monteiro com-prou as quatro peças de corti-nas que lhe propôs e colocou-asem exposição na prateleira.Meses mais tarde, quando o ven-dedor voltou às Caldas as peçasde tecido mantinham-se nomesmo sítio. Não se tinha ven-dido nada. “O meu pai quei-O meu pai quei-O meu pai quei-O meu pai quei-O meu pai quei-xou-se, mas o Sr. Edgar res-xou-se, mas o Sr. Edgar res-xou-se, mas o Sr. Edgar res-xou-se, mas o Sr. Edgar res-xou-se, mas o Sr. Edgar res-pondeu que o defeito era dapondeu que o defeito era dapondeu que o defeito era dapondeu que o defeito era dapondeu que o defeito era dafalta de sortido de cores, efalta de sortido de cores, efalta de sortido de cores, efalta de sortido de cores, efalta de sortido de cores, eque devia comprar mais. Oque devia comprar mais. Oque devia comprar mais. Oque devia comprar mais. Oque devia comprar mais. Omeu pai torceu o nariz, masmeu pai torceu o nariz, masmeu pai torceu o nariz, masmeu pai torceu o nariz, masmeu pai torceu o nariz, mascomprou mais peças e ascomprou mais peças e ascomprou mais peças e ascomprou mais peças e ascomprou mais peças e ascoisas começaram a funcio-coisas começaram a funcio-coisas começaram a funcio-coisas começaram a funcio-coisas começaram a funcio-nar”nar”nar”nar”nar”, recorda.

“Todas as casas das“Todas as casas das“Todas as casas das“Todas as casas das“Todas as casas dasCaldas ainda devem ter umCaldas ainda devem ter umCaldas ainda devem ter umCaldas ainda devem ter umCaldas ainda devem ter umcortinado ou uma carpetecortinado ou uma carpetecortinado ou uma carpetecortinado ou uma carpetecortinado ou uma carpete

do Monteiro”do Monteiro”do Monteiro”do Monteiro”do Monteiro”

Actualmente a Monteiro De-corações trabalha com algunsfornecedores nacionais, embo-ra a mercadoria provenha do es-trangeiro. “A produção nesta“A produção nesta“A produção nesta“A produção nesta“A produção nestaárea em Portugal pratica-área em Portugal pratica-área em Portugal pratica-área em Portugal pratica-área em Portugal pratica-mente desapareceu e a quemente desapareceu e a quemente desapareceu e a quemente desapareceu e a quemente desapareceu e a queexiste é residual”existe é residual”existe é residual”existe é residual”existe é residual”, conta, re-cordando que chegou a haverdemasiada produção têxtil, masas fábricas têm fechado, man-tendo-se apenas duas ou trêsespecializadas em alcatifas alaborar.

As mulheres são as principaisclientes na área da decoração,ao passo que os homens procu-ram mais a instalação de pavi-mentos. Têm uma clientela ba-sicamente regional, embora ha-jam pessoas de Lisboa, ou mes-mo do Algarve, que se deslocamàs Caldas e acabam por fazeras compras nesta loja.

E se agora a concorrência égrande, sobretudo devido às

grandes superfícies, noutrostempos a Monteiro era a únicacasa de decoração da região.“Todas as casas das CaldasTodas as casas das CaldasTodas as casas das CaldasTodas as casas das CaldasTodas as casas das Caldasainda devem ter um cortina-ainda devem ter um cortina-ainda devem ter um cortina-ainda devem ter um cortina-ainda devem ter um cortina-do ou uma carpete do Mon-do ou uma carpete do Mon-do ou uma carpete do Mon-do ou uma carpete do Mon-do ou uma carpete do Mon-teiro”teiro”teiro”teiro”teiro”, conta António José Mon-teiro, destacando que a boaqualidade dos seus produtosacaba por ser “má” para o ne-gócio, pois aparecem clientes adizer que têm uma carpete alicomprada há mais de 30 anos eque continua em bom estado deconservação.

Paulo, lembra também queainda há dias uma família deTorres Vedras foi à sua loja per-guntar pela loja de roupa queali havia com o mesmo nome.“Expliquei-lhes que existiu,“Expliquei-lhes que existiu,“Expliquei-lhes que existiu,“Expliquei-lhes que existiu,“Expliquei-lhes que existiu,mas que já fechou há cercamas que já fechou há cercamas que já fechou há cercamas que já fechou há cercamas que já fechou há cercade 20 anos. Temos consciên-de 20 anos. Temos consciên-de 20 anos. Temos consciên-de 20 anos. Temos consciên-de 20 anos. Temos consciên-cia que foi uma loja de refe-cia que foi uma loja de refe-cia que foi uma loja de refe-cia que foi uma loja de refe-cia que foi uma loja de refe-rência”rência”rência”rência”rência”, disse.

Nessa altura era normal aspessoas deslocarem-se de Lei-ria, Torres Vedras, Santarém eoutras cidades para fazer assuas compras nas Caldas. En-tretanto, “essas cidades fo-“essas cidades fo-“essas cidades fo-“essas cidades fo-“essas cidades fo-ram-se desenvolvendo e asram-se desenvolvendo e asram-se desenvolvendo e asram-se desenvolvendo e asram-se desenvolvendo e asCaldas perdeu esse estatutoCaldas perdeu esse estatutoCaldas perdeu esse estatutoCaldas perdeu esse estatutoCaldas perdeu esse estatutoaglutinador do comércio”aglutinador do comércio”aglutinador do comércio”aglutinador do comércio”aglutinador do comércio”,revela António José Monteiro,que não consegue definir comclareza uma actividade princi-pal neste concelho.

Referindo-se ao comércio é daopinião que este precisava demais abertura, melhoramentosnas ruas e melhores estaciona-mentos e mais perto dos locaiscomerciais. Tudo isto aliado auma maior animação.

Optimista por natureza, real-ça que mais importante que di-zer o que está mal, é preciso“olhar em frente, modernizar“olhar em frente, modernizar“olhar em frente, modernizar“olhar em frente, modernizar“olhar em frente, modernizaros nossos estabelecimentos,os nossos estabelecimentos,os nossos estabelecimentos,os nossos estabelecimentos,os nossos estabelecimentos,sempre teimosos nas nossassempre teimosos nas nossassempre teimosos nas nossassempre teimosos nas nossassempre teimosos nas nossasambições e nunca desistir”ambições e nunca desistir”ambições e nunca desistir”ambições e nunca desistir”ambições e nunca desistir”.

Aposta no mercadoAposta no mercadoAposta no mercadoAposta no mercadoAposta no mercadoespanholespanholespanholespanholespanhol

Os filhos herdaram o arrojo dopai em relação aos negócios. Afirma Santos Monteiro está numafase de expansão para Espanhae tem um projecto para fazer umnovo armazém na Zona Industri-al, com quatro mil metros qua-drados, continuando assim a au-mentar a gama de produtos quetem para oferecer aos clientes.

“O mercado espanhol estáO mercado espanhol estáO mercado espanhol estáO mercado espanhol estáO mercado espanhol estáem crise, tal como o nosso,em crise, tal como o nosso,em crise, tal como o nosso,em crise, tal como o nosso,em crise, tal como o nosso,mas estamos a tentar insta-mas estamos a tentar insta-mas estamos a tentar insta-mas estamos a tentar insta-mas estamos a tentar insta-lar-nos nas zonas mais pró-lar-nos nas zonas mais pró-lar-nos nas zonas mais pró-lar-nos nas zonas mais pró-lar-nos nas zonas mais pró-ximas, como é o caso da Ga-ximas, como é o caso da Ga-ximas, como é o caso da Ga-ximas, como é o caso da Ga-ximas, como é o caso da Ga-liza”liza”liza”liza”liza”, conta António José Mon-teiro, ciente que neste momentode crise “não se venderá mui-“não se venderá mui-“não se venderá mui-“não se venderá mui-“não se venderá mui-to mas, quando as coisas me-to mas, quando as coisas me-to mas, quando as coisas me-to mas, quando as coisas me-to mas, quando as coisas me-lhorarem, já estamos insta-lhorarem, já estamos insta-lhorarem, já estamos insta-lhorarem, já estamos insta-lhorarem, já estamos insta-lados”lados”lados”lados”lados”.

Ao nível da Monteiro Lda. foifeita uma grande remodelaçãoem 2008 e o objectivo actual é“tentar que as vendas, se não“tentar que as vendas, se não“tentar que as vendas, se não“tentar que as vendas, se não“tentar que as vendas, se nãosubirem, pelo menos que sesubirem, pelo menos que sesubirem, pelo menos que sesubirem, pelo menos que sesubirem, pelo menos que semantenham”mantenham”mantenham”mantenham”mantenham”, conta AntónioJosé Monteiro.

“A perspectiva geral emA perspectiva geral emA perspectiva geral emA perspectiva geral emA perspectiva geral emtermos de comércio não étermos de comércio não étermos de comércio não étermos de comércio não étermos de comércio não énada famosa, mas acreditonada famosa, mas acreditonada famosa, mas acreditonada famosa, mas acreditonada famosa, mas acreditoque somos nós que temosque somos nós que temosque somos nós que temosque somos nós que temosque somos nós que temosque ter uma atitude activa eque ter uma atitude activa eque ter uma atitude activa eque ter uma atitude activa eque ter uma atitude activa eque o mercado tem que serque o mercado tem que serque o mercado tem que serque o mercado tem que serque o mercado tem que serabanado. Se viermos para oabanado. Se viermos para oabanado. Se viermos para oabanado. Se viermos para oabanado. Se viermos para omercado com produtos no-mercado com produtos no-mercado com produtos no-mercado com produtos no-mercado com produtos no-vos, pelo menos nós devemosvos, pelo menos nós devemosvos, pelo menos nós devemosvos, pelo menos nós devemosvos, pelo menos nós devemosconseguir vender”, conseguir vender”, conseguir vender”, conseguir vender”, conseguir vender”, refere,destacando que estão a investir“com força”“com força”“com força”“com força”“com força” numa altura difí-cil.

Prova disso é a facturação dascasas que gerem. Em 2009 a casaMonteiro Lda rondou os 700 mileuros e a empresa Santos Mon-teiro & Cª Lda, 4,250 milhões.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

O primeiro e único emprego de

Graciete Carvalho

caixa, mas frisa que o trabalhoera muito diferente de actual-mente, destacando o grandemovimento que havia na alturaao ponto de não poder abando-nar o local nem que fosse porinstantes, tendo que pedir a al-guém que a substituísse. Lem-brando os tempos idos contaque no auge da confecção pormedida a casa empregava maisde 20 mulheres na secção demodas, e 18 na alfaiataria.

Já a empresa Santos Montei-ro & Cª Lda possui 40 funcioná-rios, distribuídos pelo armazém,logística de corte e transforma-ção em carpete, comerciais, es-critórios e atendimento.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

A Monteiro Decorações, situada no coração da cidade, teve grandesA Monteiro Decorações, situada no coração da cidade, teve grandesA Monteiro Decorações, situada no coração da cidade, teve grandesA Monteiro Decorações, situada no coração da cidade, teve grandesA Monteiro Decorações, situada no coração da cidade, teve grandesobras de remodelação e actualmente possui 500 metros de área comercialobras de remodelação e actualmente possui 500 metros de área comercialobras de remodelação e actualmente possui 500 metros de área comercialobras de remodelação e actualmente possui 500 metros de área comercialobras de remodelação e actualmente possui 500 metros de área comercial

O casal António e Amélia Rita Barros Monteiro.O casal António e Amélia Rita Barros Monteiro.O casal António e Amélia Rita Barros Monteiro.O casal António e Amélia Rita Barros Monteiro.O casal António e Amélia Rita Barros Monteiro.O empresário foi vereador do Turismo na CâmaraO empresário foi vereador do Turismo na CâmaraO empresário foi vereador do Turismo na CâmaraO empresário foi vereador do Turismo na CâmaraO empresário foi vereador do Turismo na Câmaradas Caldas durante o primeiro mandato de Lalandadas Caldas durante o primeiro mandato de Lalandadas Caldas durante o primeiro mandato de Lalandadas Caldas durante o primeiro mandato de Lalandadas Caldas durante o primeiro mandato de LalandaRibeiro e era um dos mais antigos membros doRibeiro e era um dos mais antigos membros doRibeiro e era um dos mais antigos membros doRibeiro e era um dos mais antigos membros doRibeiro e era um dos mais antigos membros doRotary Club das Caldas. Após o seu falecimento,Rotary Club das Caldas. Após o seu falecimento,Rotary Club das Caldas. Após o seu falecimento,Rotary Club das Caldas. Após o seu falecimento,Rotary Club das Caldas. Após o seu falecimento,em 2006, a autarquia deliberou atribuir-lhe o nomeem 2006, a autarquia deliberou atribuir-lhe o nomeem 2006, a autarquia deliberou atribuir-lhe o nomeem 2006, a autarquia deliberou atribuir-lhe o nomeem 2006, a autarquia deliberou atribuir-lhe o nomede uma rua, mas esta ainda não foi efectivada.de uma rua, mas esta ainda não foi efectivada.de uma rua, mas esta ainda não foi efectivada.de uma rua, mas esta ainda não foi efectivada.de uma rua, mas esta ainda não foi efectivada.

Graciete CarvalhoGraciete CarvalhoGraciete CarvalhoGraciete CarvalhoGraciete Carvalhotrabalha na casa desde ostrabalha na casa desde ostrabalha na casa desde ostrabalha na casa desde ostrabalha na casa desde os15 anos15 anos15 anos15 anos15 anos

1949 –1949 –1949 –1949 –1949 – António Monteiro inicia a sua actividade comercial em soci-edade com Carlos Arroja

1952 -1952 -1952 -1952 -1952 - António Monteiro vende a quota na sociedade e toma detrespasse um estabelecimento de tecidos na Praça da República

1959 –1959 –1959 –1959 –1959 – Toma de trespasse um estabelecimento na Rua das Montrasonde dá início à venda de artigos para bebé (Ninho)

1963 –1963 –1963 –1963 –1963 – O mesmo empresário toma de trespasse uma antiga casa deloiças, também na Rua das Montras, para comercializar exclusiva-mente linhas e fios para tricot, com a insígnia Lãsli

1964 – 1964 – 1964 – 1964 – 1964 – Dá sociedade a dois empregados no estabelecimento daPraça da República, que adopta a denominação social de MonteiroLda.

1967 –1967 –1967 –1967 –1967 – Entra com 25% do capital social na criação de uma sociedadegrossista de fios, malhas e miudezas, denominada Santos, Montei-ro e Cª Lda

1983 –1983 –1983 –1983 –1983 – Compra as quotas aos seus sócios da Monteiro Lda. e entrapara a sociedade a sua esposa, Amélia. Ao mesmo tempo muda asede social para a Rua Almirante Cândido dos Reis.

1991 –1991 –1991 –1991 –1991 – Cede aos filhos a sua posição da firma Santos, Monteiro e CªLda.

1992 –1992 –1992 –1992 –1992 – Os filhos entram para sócios da Monteiro Lda.

1993 –1993 –1993 –1993 –1993 – Integra a sua firma em nome individual, LãsLi na firmaMonteiro Lda. e fez uma redistribuição de quotas entre ele, suamulher e filhos.

1998 –1998 –1998 –1998 –1998 – Realização de obras de remodelação na Loja Monteiro Deco-rações, situada na Rua Almirante Cândido dos Reis

2006 – 2006 – 2006 – 2006 – 2006 – António Monteiro morre a 8 de Agosto

Cronologia

Page 16: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

E o frango de estaleca do Xaneca cresceu e multiplicOs proprietários do café no

Avenal, que veio dar origem àchurrasqueira Xaneca, actual-mente com três estabelecimen-tos geridos por pais e filhas, nuncavão saber quem foi o primeiro cli-ente. Foi no Carnaval de 1987 e essaprimeira venda, de um maço de ta-baco, foi a um mascarado.

Vinte e três anos depois a frase“tens razão ou Conceição, frango deestaleca só no Xaneca” virou quaseum mito nas ondas hertzianas lo-cais. Esse foi o slogan criado por Fer-nando Irra para a então Rádio Clubedas Caldas (entretanto adquiridapela TSF) para um anúncio. Infeliz-mente a cassete com a gravaçãooriginal perdeu-se.

Ao longo dos anos a empresaXaneca Snack-Bar, Lda foi crescen-do e a família abriu mais dois es-tabelecimentos comerciais, au-mentando e diversificando tam-bém a quantidade de produtos quevendem - o Xaneca II na rua Pro-fessor Manuel José António, e oXaneca III, na rua José Pedro Fer-reira (em frente ao CCC), onde têmagora mais clientes e maior factu-ração (embora a família tenhaoptado por não divulgar números).

No total são 11 pessoas a traba-lhar nos três locais, incluindo oscinco membros da família. Ao ní-vel da gestão, para além de seremresponsáveis pelo dia-a-dia dos es-tabelecimentos onde estão a tra-balhar, dividem tarefas.

A mãe e a filha mais nova ge-rem tudo o que tem a ver com acozinha, e o pai e a outra filha sãoresponsáveis pela parte adminis-trativa.

A empresa foi fundada por JoséJoão Eugénio e Maria Isabel Eugé-nio, numa altura em que as suasfilhas eram adolescentes. O nomeXaneca surge depois de uma con-versa até às três da manhã com oresponsável da empresa que fez oprimeiro reclamo luminoso. “A mi-A mi-A mi-A mi-A mi-nha filha mais nova, Alexan-nha filha mais nova, Alexan-nha filha mais nova, Alexan-nha filha mais nova, Alexan-nha filha mais nova, Alexan-dra, era tratada por Xaneca edra, era tratada por Xaneca edra, era tratada por Xaneca edra, era tratada por Xaneca edra, era tratada por Xaneca eficou esse nomeficou esse nomeficou esse nomeficou esse nomeficou esse nome”.

José João Eugénio nasceu a 6de Março de 1945 nas Trabalhias(Salir de Matos) e veio morar paraas Caldas da Rainha quando se

casou com Maria Isabel Eugénio.Até aos 17 anos, José Eugénio

trabalhou na agricultura. Depoisesteve embarcado e durante al-gum tempo teve uma sociedadenuma pecuária nas Trabalhias.Até abrir o café no Avenal quedaria origem à Churrasqueira Xa-neca, ainda trabalhou em outrasáreas como a construção civil e acerâmica.

Isabel Eugénio, nascida a 28 deNovembro de 1945, foi funcioná-ria da Euroaudio durante todosos anos em que a fábrica funcio-nou. A falência dessa empresalevou-a para o desemprego e foimais uma das razões para o casaldecidir investir num negócio pró-prio. “A mãe do meu maridoA mãe do meu maridoA mãe do meu maridoA mãe do meu maridoA mãe do meu maridoera cozinheira e ele teve sem-era cozinheira e ele teve sem-era cozinheira e ele teve sem-era cozinheira e ele teve sem-era cozinheira e ele teve sem-pre vontade de ter uma casapre vontade de ter uma casapre vontade de ter uma casapre vontade de ter uma casapre vontade de ter uma casade pastode pastode pastode pastode pasto“, explicou.

“Começámos com umComeçámos com umComeçámos com umComeçámos com umComeçámos com umcafécafécafécafécafé”, conta José João Eugénio,que a princípio ainda continuou atrabalhar nos fornos da indústriacerâmica (passou pela Secla e A.Santos). “Tivemos muito traba-Tivemos muito traba-Tivemos muito traba-Tivemos muito traba-Tivemos muito traba-

lho e foi preciso fazer muitoslho e foi preciso fazer muitoslho e foi preciso fazer muitoslho e foi preciso fazer muitoslho e foi preciso fazer muitossacrifíciossacrifíciossacrifíciossacrifíciossacrifícios”, refere o comercian-te.

A mulher e as filhas tomavamconta do estabelecimento, en-quanto José Eugénio mantinhaainda outro emprego.

Os petiscos e doces acabarampor surgir devido à procura. Ven-diam pão com chouriço e tartescaseiras, mas o berbigão, vindoda Lagoa de Óbidos, era a iguariamais famosa daquela casa.

Os problemas que começarama surgir com o berbigão da Lagoafizeram com que decidissem apos-tar no frango assado cerca de trêsanos depois de terem aberto a

casa. “A venda de berbigão foiA venda de berbigão foiA venda de berbigão foiA venda de berbigão foiA venda de berbigão foiproibida. Começou-se a falarproibida. Começou-se a falarproibida. Começou-se a falarproibida. Começou-se a falarproibida. Começou-se a falarmuito mal dos bivalves e asmuito mal dos bivalves e asmuito mal dos bivalves e asmuito mal dos bivalves e asmuito mal dos bivalves e aspessoas deixaram de apare-pessoas deixaram de apare-pessoas deixaram de apare-pessoas deixaram de apare-pessoas deixaram de apare-cercercercercer”, contou.

Como não havia muita oferta aonível dos frangos assados nas Cal-das, o casal entendeu que seria uminvestimento a ter em conta.

“Nessa altura os supermer-Nessa altura os supermer-Nessa altura os supermer-Nessa altura os supermer-Nessa altura os supermer-cados ainda não tinham má-cados ainda não tinham má-cados ainda não tinham má-cados ainda não tinham má-cados ainda não tinham má-quinas de assar frango, quequinas de assar frango, quequinas de assar frango, quequinas de assar frango, quequinas de assar frango, quesão a nossa maior concorrên-são a nossa maior concorrên-são a nossa maior concorrên-são a nossa maior concorrên-são a nossa maior concorrên-ciaciaciaciacia”, explicou José Eugénio.

Apesar disso, o comercianteconsidera que nada substitui o sa-bor apurado que conseguem darao seu produto. “Ainda hoje seAinda hoje seAinda hoje seAinda hoje seAinda hoje seouve dizer sobre a qualidadeouve dizer sobre a qualidadeouve dizer sobre a qualidadeouve dizer sobre a qualidadeouve dizer sobre a qualidadedo nosso frango assado. É dado nosso frango assado. É dado nosso frango assado. É dado nosso frango assado. É dado nosso frango assado. É damaneira de cozinhar. Até te-maneira de cozinhar. Até te-maneira de cozinhar. Até te-maneira de cozinhar. Até te-maneira de cozinhar. Até te-mos emigrantes que apare-mos emigrantes que apare-mos emigrantes que apare-mos emigrantes que apare-mos emigrantes que apare-cem aqui porque têm sauda-cem aqui porque têm sauda-cem aqui porque têm sauda-cem aqui porque têm sauda-cem aqui porque têm sauda-de de comer o nosso frangui-de de comer o nosso frangui-de de comer o nosso frangui-de de comer o nosso frangui-de de comer o nosso frangui-nhonhonhonhonho”, referiu.

O segredo tem sido sempre omolho e a qualidade dos frangos.Apesar de terem experimentadooutros fornecedores, há vários

anos que apenas adquirem os ani-mais às empresas Avibom e Inte-raves.

Chegaram a ser notícia numapublicação da Avibom, numa re-portagem que enaltece os sabo-res que a família dá aos seus pro-dutos. Para além do frango assa-do, a notícia referia então “o su-o su-o su-o su-o su-culento pão com chouriçoculento pão com chouriçoculento pão com chouriçoculento pão com chouriçoculento pão com chouriço”, asbatatas fritas caseiras, o pão ca-seiro e a tarte de frango.

O responsável da empresa quelhes instalou o equipamento paraassar também lhes prognosticousucesso depois de ter provado oprimeiro frango. “A princípio foiA princípio foiA princípio foiA princípio foiA princípio foidifícil, mas depois correu tudodifícil, mas depois correu tudodifícil, mas depois correu tudodifícil, mas depois correu tudodifícil, mas depois correu tudobem. Tínhamos sempre umabem. Tínhamos sempre umabem. Tínhamos sempre umabem. Tínhamos sempre umabem. Tínhamos sempre umafila para vender frangosfila para vender frangosfila para vender frangosfila para vender frangosfila para vender frangos”, re-corda Isabel Eugénio. Em poucotempo tiveram que comprar equi-pamento com mais capacidade.

Sempre que os frangos chegamàs instalações do Xaneca preci-sam de fazer a sua limpeza e tra-tamento (retirar as penas, os se-los e as gorduras).

Os clientes e artistas doOs clientes e artistas doOs clientes e artistas doOs clientes e artistas doOs clientes e artistas doFerro VelhoFerro VelhoFerro VelhoFerro VelhoFerro Velho

Para além de estarem situa-dos num bairro residencial, havia

muita gente de outros locaisque se deslocava até ao Avenalpara comprar frango assado. Ostempos eram outros e fora doscentros urbanos havia poucaoferta deste produto. O factode serem vizinhos da antiga dis-coteca Ferro Velho fez com que

nessa altura alargassem o ho-rário e estivessem a funcionaraté de madrugada.

“Tínhamos sempre gente atéTínhamos sempre gente atéTínhamos sempre gente atéTínhamos sempre gente atéTínhamos sempre gente atéàs taàs taàs taàs taàs tantas da manhã. As pes-ntas da manhã. As pes-ntas da manhã. As pes-ntas da manhã. As pes-ntas da manhã. As pes-soas vinham sempre aquisoas vinham sempre aquisoas vinham sempre aquisoas vinham sempre aquisoas vinham sempre aquibeber uma cervejinha ou co-beber uma cervejinha ou co-beber uma cervejinha ou co-beber uma cervejinha ou co-beber uma cervejinha ou co-mer uma bifanamer uma bifanamer uma bifanamer uma bifanamer uma bifana”, recordouJosé Eugénio. “Às vezes tra-Às vezes tra-Às vezes tra-Às vezes tra-Às vezes tra-balhávamos até às sete dabalhávamos até às sete dabalhávamos até às sete dabalhávamos até às sete dabalhávamos até às sete damanhã e depois era só ir to-manhã e depois era só ir to-manhã e depois era só ir to-manhã e depois era só ir to-manhã e depois era só ir to-mar banho a casa para vol-mar banho a casa para vol-mar banho a casa para vol-mar banho a casa para vol-mar banho a casa para vol-tar para aqui . Tínhamostar para aqui . Tínhamostar para aqui . Tínhamostar para aqui . Tínhamostar para aqui . Tínhamosque aproveitar tudoque aproveitar tudoque aproveitar tudoque aproveitar tudoque aproveitar tudo”.

Nessa altura, o Ferro Velhoera local de passagem de can-tores como Rui Veloso, Zé Praia,Nelo e Jorge Loução, entre ou-tros. Os artistas iam sempre co-mer antes ao Xaneca e às ve-zes até dedicavam alguns ver-sos ao frango assado nas suasactuações. “Às vezes aindaÀs vezes aindaÀs vezes aindaÀs vezes aindaÀs vezes aindaíamos ass is t i r a a lgunsíamos ass is t i r a a lgunsíamos ass is t i r a a lgunsíamos ass is t i r a a lgunsíamos ass is t i r a a lgunsconcertosconcertosconcertosconcertosconcertos”, conta..

Agora o maior movimentoacontece no Xaneca II e III, queestão localizados no centro dacidade. “Só temos é queSó temos é queSó temos é queSó temos é queSó temos é queagradecer a todos os clien-agradecer a todos os clien-agradecer a todos os clien-agradecer a todos os clien-agradecer a todos os clien-testestestestes que confiaram em nós e que confiaram em nós e que confiaram em nós e que confiaram em nós e que confiaram em nós enos a judaram a chegarnos a judaram a chegarnos a judaram a chegarnos a judaram a chegarnos a judaram a chegaraqui, apesar das dificulda-aqui, apesar das dificulda-aqui, apesar das dificulda-aqui, apesar das dificulda-aqui, apesar das dificulda-desdesdesdesdes”, salienta Isabel Eugénio.

Dos nitrofuranos àDos nitrofuranos àDos nitrofuranos àDos nitrofuranos àDos nitrofuranos àconcorrência dosconcorrência dosconcorrência dosconcorrência dosconcorrência dos

hipermercadoshipermercadoshipermercadoshipermercadoshipermercados

A crise económica tem afec-tado todos os sectores e a ven-da de frango não é excepção,mas foi com a polémica do ni-

trofurano (um anti-bacterianopotencialmente cancerígenoque foi utilizado ilegalmente poralgumas empresas na alimenta-ção das aves) que o negócio maisse ressentiu.

“As pessoas tiveram mui-As pessoas tiveram mui-As pessoas tiveram mui-As pessoas tiveram mui-As pessoas tiveram mui-to mto mto mto mto medo. Já tínhamos o segun-edo. Já tínhamos o segun-edo. Já tínhamos o segun-edo. Já tínhamos o segun-edo. Já tínhamos o segun-do estabelecimento e tínhamosdo estabelecimento e tínhamosdo estabelecimento e tínhamosdo estabelecimento e tínhamosdo estabelecimento e tínhamosdias em que nem um frango as-dias em que nem um frango as-dias em que nem um frango as-dias em que nem um frango as-dias em que nem um frango as-sado se vendiasado se vendiasado se vendiasado se vendiasado se vendia”, lembrou MariaIsabel Eugénio.

Desde essa altura, o sector dofrango continua a não ter melhoriase cada vez vendem menos. Tal deve-se também à concorrência dos hipere supermercados que começaram afornecer o mesmo produto.

Só que a família sempre soubeadaptar-se às necessidades dos cli-entes.

A abertura do segundo esta-belecimento, a 1 de Abril de1997, foi o primeiro passo paraessa diversificação. “Durante oDurante oDurante oDurante oDurante ofim-de-semana tínhamosfim-de-semana tínhamosfim-de-semana tínhamosfim-de-semana tínhamosfim-de-semana tínhamosmuitos clientes no Avenal,muitos clientes no Avenal,muitos clientes no Avenal,muitos clientes no Avenal,muitos clientes no Avenal,mas durante a semana asmas durante a semana asmas durante a semana asmas durante a semana asmas durante a semana aspessoas não apareciampessoas não apareciampessoas não apareciampessoas não apareciampessoas não apareciam” epor isso Isabel Eugénio conven-ceu o marido a abrirem umanova casa no centro da cidade.

Chegaram a comprar primei-ro o local onde actualmente fun-

ciona a Xaneca III, mas acaba-ram por abrir primeiro as insta-lações na rua Professor ManuelJosé António. Com uma sala derefeições e melhores condições,o sucesso foi imediato. Volta-ram as filas para comprar fran-go assado e grelhados.

Entretanto, tiveram que seadequar mais uma vez à procu-ra e começaram a investir tam-bém na cozinha tradicional por-tuguesa e não apenas nos gre-lhados.

O Xaneca III começou por servocacionado apenas para otake-away (comida para fora) equando abriu nem sequer ti-nham mesas, mas os clientes co-meçaram a querer mais e aca-baram por fazer obras para po-der colocar lugares sentados.

Em pouco tempo começarama servir pequenos-almoços e re-feições com prato, com preçosconvidativos. À hora de almoçohá sempre muita procura pelospratos económicos e pela comi-da a peso, “com um equilíbriocom um equilíbriocom um equilíbriocom um equilíbriocom um equilíbrioentre o preço e a qualidadeentre o preço e a qualidadeentre o preço e a qualidadeentre o preço e a qualidadeentre o preço e a qualidade”,como explica Alexandra Bastos.

A família acaba por se dedi-car totalmente a este negócio eaté as reuniões semanais fami-liares acabam por se tornar tam-bém encontros profissionais. Amatriarca faz questão de juntarfilhos e netos na sua casa, queconstruíram no Avenal, todas assegundas-feiras.

Mas José Eugénio teria pre-ferido que as filhas tivessem se-guido outro ramo profissional.“Esta vida exige muito traba-Esta vida exige muito traba-Esta vida exige muito traba-Esta vida exige muito traba-Esta vida exige muito traba-lho e tem muitas dificulda-lho e tem muitas dificulda-lho e tem muitas dificulda-lho e tem muitas dificulda-lho e tem muitas dificulda-des. Cada vez está mais difí-des. Cada vez está mais difí-des. Cada vez está mais difí-des. Cada vez está mais difí-des. Cada vez está mais difí-cilcilcilcilcil”, afirmou.

A mãe gosta que elas traba-lhem consigo, mas sabe que avida das suas filhas é muito di-fícil e cheia de trabalho.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

Pais, filhas, genros e netos. Três gerações fotografadas no Xaneca I, o café onde tudoPais, filhas, genros e netos. Três gerações fotografadas no Xaneca I, o café onde tudoPais, filhas, genros e netos. Três gerações fotografadas no Xaneca I, o café onde tudoPais, filhas, genros e netos. Três gerações fotografadas no Xaneca I, o café onde tudoPais, filhas, genros e netos. Três gerações fotografadas no Xaneca I, o café onde tudocomeçoucomeçoucomeçoucomeçoucomeçou

Uma reportagem numa publicação da empresa AvibomUma reportagem numa publicação da empresa AvibomUma reportagem numa publicação da empresa AvibomUma reportagem numa publicação da empresa AvibomUma reportagem numa publicação da empresa Avibom(ainda hoje fornecedora dos frangos) elogiava os(ainda hoje fornecedora dos frangos) elogiava os(ainda hoje fornecedora dos frangos) elogiava os(ainda hoje fornecedora dos frangos) elogiava os(ainda hoje fornecedora dos frangos) elogiava oscozinhados desta empresa caldensecozinhados desta empresa caldensecozinhados desta empresa caldensecozinhados desta empresa caldensecozinhados desta empresa caldense

O Xaneca começou por ser apenas um café, que abriu na rua do Avenal em 1987, mas ao longo dos anos transformou-se numaempresa familiar com três estabelecimentos comerciais em vários locais da cidade e longe vão os tempos da dedicação quaseexclusiva ao frango assado.

Comida para fora, petiscos e doces fazem dos três Xanecas local de romaria para muitos caldenses, e não só.Actualmente, pais e filhas (e um dos genros) dividem-se pelos três estabelecimentos, trabalhando em conjunto e mantendo

uma ligação estreita. Os jantares semanais à segunda-feira servem para conviver em família, mas também para falar denegócios.

Depois de alguns anos a trabalhar em nome individual, José João Eugénio criou a Xaneca Snack-Bar, Lda, numa sociedade coma mulher, Isabel, e as suas duas filhas, Alexandra e Carla.

Para além dos fundadores e das filhas, trabalham nos estabelecimentos sete pessoas.

Page 17: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

cou-se

Alexandra Eugénio Barros tem35 anos e recorda-se de comogostava de uma máquina regis-tadora antiga que os pais ti-nham. “Eu só queria era mexerEu só queria era mexerEu só queria era mexerEu só queria era mexerEu só queria era mexerna máquina. Para mim aquilo erana máquina. Para mim aquilo erana máquina. Para mim aquilo erana máquina. Para mim aquilo erana máquina. Para mim aquilo eraum brinquedoum brinquedoum brinquedoum brinquedoum brinquedo”.

Com 12 anos, os pais estavamsempre a dizer-lhe para não fi-car dentro do balcão porque eraainda muito nova. Mesmo quan-do começou a ajudar, optarampor a colocar na cozinha “por-por-por-por-por-que eu era mais rebeldeque eu era mais rebeldeque eu era mais rebeldeque eu era mais rebeldeque eu era mais rebelde”. Ale-xandra Barros não se importounada “porque sempre gostei deporque sempre gostei deporque sempre gostei deporque sempre gostei deporque sempre gostei deexperimentar o que se cozinha-experimentar o que se cozinha-experimentar o que se cozinha-experimentar o que se cozinha-experimentar o que se cozinha-vavavavava”.

A jovem lembra-se como noprimeiro Xaneca compunha comfrango assado, batatas fritas euma salada bem temperada,tudo servido em travessas dasFaianças Bordalo Pinheiro. Issodeixou de ser feito porque haviaclientes que não gostavam queo frango quente viesse mistura-do com a salada.

“A minha mãe foi muito luta-A minha mãe foi muito luta-A minha mãe foi muito luta-A minha mãe foi muito luta-A minha mãe foi muito luta-dora. Sempre que havia menosdora. Sempre que havia menosdora. Sempre que havia menosdora. Sempre que havia menosdora. Sempre que havia menosafluência de clientes, inventa-afluência de clientes, inventa-afluência de clientes, inventa-afluência de clientes, inventa-afluência de clientes, inventa-va sempre alguma coisa novava sempre alguma coisa novava sempre alguma coisa novava sempre alguma coisa novava sempre alguma coisa nova”,

Um verdadeiro negócio de famíliarecorda.

A irmã Carla Eugénio, maisvelha quatro anos, começou logoa trabalhar ao balcão para aju-dar os pais. Dividia o atendi-mento com o seu primo Fernan-do Marques, que só podia estarno café aos fins-de-semana.

“Eu lembro-me de vir do li-Eu lembro-me de vir do li-Eu lembro-me de vir do li-Eu lembro-me de vir do li-Eu lembro-me de vir do li-ceu a correr, toda contente porceu a correr, toda contente porceu a correr, toda contente porceu a correr, toda contente porceu a correr, toda contente porvir trabalhar para aquivir trabalhar para aquivir trabalhar para aquivir trabalhar para aquivir trabalhar para aqui”, recor-dou Carla Eugénio. Depois o paicomprou-lhes uma “acelera”(pequena motorizada) e em 10minutos faziam a viagem entrea escola e o café. A primeiramota foi roubada, mas acaba-ram por ter de comprar outraporque facilitava muito a vidaàs duas irmãs.

O primo tinha casado na altu-ra em que o primeiro Xanecaabriu e fazia um part-time nocafé. Uma ligação que ficou atéaos dias de hoje, acompanhan-do a evolução do negócio.

“Lembro-me bem dos almo-Lembro-me bem dos almo-Lembro-me bem dos almo-Lembro-me bem dos almo-Lembro-me bem dos almo-ços de peixe-espada grelhadoços de peixe-espada grelhadoços de peixe-espada grelhadoços de peixe-espada grelhadoços de peixe-espada grelhadoque fazíamos ao sábadoque fazíamos ao sábadoque fazíamos ao sábadoque fazíamos ao sábadoque fazíamos ao sábado”, recor-da, sublinhando o facto de sem-pre se terem dado bem. Actual-mente fica sempre na caixa re-

gistadora do Xaneca II aos fins-de-semana e feriados.

Alexandra Bastos frequentouo curso de Psicologia Organiza-cional até ao 4º ano na Univer-sidade Lusófona, mas como nãopôde seguir a vertente que pre-tendia, acabou por desistir.

Foi nessa altura, em 2001, queabriram o Xaneca III pelo qual afilha mais nova ficou responsá-vel. Antes disso, Alexandra Bas-tos esteve a trabalhar no Algar-ve, onde conheceu o seu mari-do, Ricardo Barros.

Como era do Algarve já tinhamuita experiência na restaura-ção, sector onde trabalhava to-dos os verões, mas tinha pro-metido a si próprio que nuncamais trabalhava num restauran-te. No entanto, acabou por setornar o responsável de sala doXaneca II.

Embora tenha custado umpouco habituar-se às Caldas daRainha, porque era tudo muitodiferente de Albufeira, ondemorava, acabou por se adaptarbem e fazer novas amizades.

“As pessoas ganham confian-As pessoas ganham confian-As pessoas ganham confian-As pessoas ganham confian-As pessoas ganham confian-ça comigo e eu às vezes atéça comigo e eu às vezes atéça comigo e eu às vezes atéça comigo e eu às vezes atéça comigo e eu às vezes até

decido o que eles vão comerdecido o que eles vão comerdecido o que eles vão comerdecido o que eles vão comerdecido o que eles vão comerporque pedem-me sempre opi-porque pedem-me sempre opi-porque pedem-me sempre opi-porque pedem-me sempre opi-porque pedem-me sempre opi-niãoniãoniãoniãonião”, contou.

A descendência está assegu-rada. Carla Eugénio tem um fi-lho com 11 anos e AlexandraBarros tem dois filhos, uma me-nina de cinco e um rapaz comoito anos. As três crianças gos-tam de estar nos estabeleci-mentos, até porque é uma for-ma de estarem mais perto dafamília.

Para Isabel Eugénio trabalharcom a família tem vantagens edesvantagens. Se por um lado ébom poder sempre contar comtodos, sem que se reclamem osdireitos como trabalhadores, poroutro lado esse convívio laboraldesgasta o ambiente familiar.“Mas tem mais vantagens doMas tem mais vantagens doMas tem mais vantagens doMas tem mais vantagens doMas tem mais vantagens doque desvantagensque desvantagensque desvantagensque desvantagensque desvantagens”, sublinha.

Continuar a investir e aContinuar a investir e aContinuar a investir e aContinuar a investir e aContinuar a investir e acrescercrescercrescercrescercrescer

Apesar da crise, a famíliapretende investir nos seus es-tabelecimentos. O pior é a bu-rocracia que tem vindo a atra-sar os projectos. “Andamos háAndamos háAndamos háAndamos háAndamos há

1987 –1987 –1987 –1987 –1987 – abertura do Xaneca

I, na rua do Avenal, por José

João Eugénio, à data como es-

tabelecimento em nome indi-

vidual

1993 –1993 –1993 –1993 –1993 – constituição da so-

ciedade Xaneca Snack-Bar,

Lda (sociedade com os pais e

filhas) com um capital social

de 100 mil euros

1997 – 1997 – 1997 – 1997 – 1997 – abertura do Xaneca

II, na rua Professor Manuel

José António

2001 – 2001 – 2001 – 2001 – 2001 – Abertura do Xaneca

III, na rua José Pedro Ferreira

muito tempo para conseguir fa-muito tempo para conseguir fa-muito tempo para conseguir fa-muito tempo para conseguir fa-muito tempo para conseguir fa-zer obraszer obraszer obraszer obraszer obras”, referiu José Eugé-nio.

O objectivo é voltar a remo-delar o Xaneca II e fazer obrasde ampliação e melhoramentosno Xaneca III. “Queremos darQueremos darQueremos darQueremos darQueremos darmelhores condições aos clien-melhores condições aos clien-melhores condições aos clien-melhores condições aos clien-melhores condições aos clien-tes e para isso vamos fazertes e para isso vamos fazertes e para isso vamos fazertes e para isso vamos fazertes e para isso vamos fazerobras, fazendo ao mesmo tem-obras, fazendo ao mesmo tem-obras, fazendo ao mesmo tem-obras, fazendo ao mesmo tem-obras, fazendo ao mesmo tem-po melhorias nas cozinhaspo melhorias nas cozinhaspo melhorias nas cozinhaspo melhorias nas cozinhaspo melhorias nas cozinhas”, re-feriu Isabel Eugénio.

Já adquiriram uma loja ao ladodo Xaneca III para poderem cri-ar ali uma sala de refeições, masainda esperam que o projectoesteja concluído para avançarcom o processo e as obras.

“Temos que fazer obras pe-Temos que fazer obras pe-Temos que fazer obras pe-Temos que fazer obras pe-Temos que fazer obras pe-riodicamente porque estas ca-riodicamente porque estas ca-riodicamente porque estas ca-riodicamente porque estas ca-riodicamente porque estas ca-sas precisam de ser remodela-sas precisam de ser remodela-sas precisam de ser remodela-sas precisam de ser remodela-sas precisam de ser remodela-dasdasdasdasdas”, considera a empresária.Embora façam limpeza geral dasmáquinas todas as semanas,acham que também é importan-te fazerem intervenções de fun-do para melhorar as condiçõesdos seus espaços.

A família não quer subsídiosou outras benesses, mas gosta-va que fosse mais fácil investir.“Tudo o que temos foi conse-Tudo o que temos foi conse-Tudo o que temos foi conse-Tudo o que temos foi conse-Tudo o que temos foi conse-

guido com o nosso esforço. Nin-guido com o nosso esforço. Nin-guido com o nosso esforço. Nin-guido com o nosso esforço. Nin-guido com o nosso esforço. Nin-guém nos deu nada. Nem sequerguém nos deu nada. Nem sequerguém nos deu nada. Nem sequerguém nos deu nada. Nem sequerguém nos deu nada. Nem sequertivemos ajuda dos paistivemos ajuda dos paistivemos ajuda dos paistivemos ajuda dos paistivemos ajuda dos pais”, con-cluiu Isabel Eugénio, salientan-do que para se ter um negóciopróprio é preciso fazer muitossacrifícios.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

CRONOLOGIA

O casal José João e Isabel Eugénio. Vinte anos separam estas duas imagens no estabelecimento onde se venderam os primeiros frangos.O casal José João e Isabel Eugénio. Vinte anos separam estas duas imagens no estabelecimento onde se venderam os primeiros frangos.O casal José João e Isabel Eugénio. Vinte anos separam estas duas imagens no estabelecimento onde se venderam os primeiros frangos.O casal José João e Isabel Eugénio. Vinte anos separam estas duas imagens no estabelecimento onde se venderam os primeiros frangos.O casal José João e Isabel Eugénio. Vinte anos separam estas duas imagens no estabelecimento onde se venderam os primeiros frangos.

Mãe e filha mais velha. Isabel e Carla estão à frente do Xaneca II. O take-away e osMãe e filha mais velha. Isabel e Carla estão à frente do Xaneca II. O take-away e osMãe e filha mais velha. Isabel e Carla estão à frente do Xaneca II. O take-away e osMãe e filha mais velha. Isabel e Carla estão à frente do Xaneca II. O take-away e osMãe e filha mais velha. Isabel e Carla estão à frente do Xaneca II. O take-away e ospetiscos são uma alternativa à redução do consumo de frangopetiscos são uma alternativa à redução do consumo de frangopetiscos são uma alternativa à redução do consumo de frangopetiscos são uma alternativa à redução do consumo de frangopetiscos são uma alternativa à redução do consumo de frango

A Xaneca 3 abriu em 2001. Alexandra Barros, filha dos fundadores (terceira a contar daA Xaneca 3 abriu em 2001. Alexandra Barros, filha dos fundadores (terceira a contar daA Xaneca 3 abriu em 2001. Alexandra Barros, filha dos fundadores (terceira a contar daA Xaneca 3 abriu em 2001. Alexandra Barros, filha dos fundadores (terceira a contar daA Xaneca 3 abriu em 2001. Alexandra Barros, filha dos fundadores (terceira a contar daesquerda) com as funcionários do terceiro estabelecimento.esquerda) com as funcionários do terceiro estabelecimento.esquerda) com as funcionários do terceiro estabelecimento.esquerda) com as funcionários do terceiro estabelecimento.esquerda) com as funcionários do terceiro estabelecimento.

Page 18: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Casa Zelu veste noivas há mais de 40 anosMaria de Lourdes Ferreira

nasceu em 1937 e teria 15 anosquando começou a trabalhar nocomércio caldense. Primeiro foifuncionária da Casa Antão, ondechegou a ganhar 150$00 (75 cên-timos) por mês. Este estabele-cimento situava-se no local ondeestá hoje a loja Ornatus e naépoca vendia tecidos e tinhaserviço de alfaiataria.

Mais tarde passou para a CasaMonteiro, mantendo-se pratica-mente no mesmo ramo de ne-gócio, também dedicado a teci-dos, lingerie e retrosaria.

Nessa altura já namorava oseu futuro marido, José MariaAgostinho (1932-1972) que tra-balhava na Casa Campos, tam-bém do mesmo ramo e que fica-va na Praça da Fruta.

Maria de Lourdes conta quefoi então que lhe ofereceram umoutro emprego também no co-mércio, a ganhar mil escudos(cinco euros) por mês em vezdos 700 escudos (3,5 euros) queauferia na Casa Monteiro. Ain-da ponderou a oferta, mas aca-bou por desistir em nome daconfiança que tinha no seu em-pregador. Acabou por ficar erapidamente se tornou encarre-gada de balcão. “Quando saí“Quando saí“Quando saí“Quando saí“Quando saída Casa Monteiro já ganha-da Casa Monteiro já ganha-da Casa Monteiro já ganha-da Casa Monteiro já ganha-da Casa Monteiro já ganha-va esse valorva esse valorva esse valorva esse valorva esse valor”, recordou a co-merciante, que sublinhou vári-as vezes a amizade que a ligavaao ex-patrão.

A Zelu, um projecto do casal,abriu portas ao público a 15 deMaio de 1968 no nº 48 da RuaHeróis da Grande Guerra (ondeé a For Men). Vendia lãs, teci-dos, atoalhados e têxteis-lar,como as lojas onde ambos ti-nham trabalhado.

“Naquele tempo o comér-“Naquele tempo o comér-“Naquele tempo o comér-“Naquele tempo o comér-“Naquele tempo o comér-cio estava aberto nesse diacio estava aberto nesse diacio estava aberto nesse diacio estava aberto nesse diacio estava aberto nesse dia”,recordou a comerciante. JoséMaria Ferreira era uma pessoaatenta, sempre à procura de ino-

José Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaJosé Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaJosé Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaJosé Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaJosé Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaAgostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.Agostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.Agostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.Agostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.Agostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.

A Casa Zelu abriu no Dia da Cidade em 1968 a vender tecidos a metro. Mal sabia ainda o casalfundador que iria especializar-se e tornar-se numa das primeiras casas do país especializada emnoivas. Quarenta e dois anos passados a casa cresceu e a matriarca Maria de Lourdes Ferreira jáconta com os dois filhos na gestão deste grupo empresarial caldense que possui quatro lojas(duas nas Caldas e duas em Lisboa). Em 2008 facturaram mais de meio milhão de euros.

vação e ia com frequência a Lis-boa ver o que as casas da capi-tal faziam nas suas montraspara poder inovar nas Caldas.

Chegava até a escrever propo-sitadamente com erros para aspessoas pararem, nem que fos-se para corrigir o que estavaerrado. “Interessava era atra-Interessava era atra-Interessava era atra-Interessava era atra-Interessava era atra-ir gente à lojair gente à lojair gente à lojair gente à lojair gente à loja”, contou a co-merciante.

A primeira localização da Zeludurou 12 anos, já com uma pe-quena área dedicada às noivas.Durante este tempo nasceriamos dois filhos do casal – Paulo eSusana Agostinho.

Em 1972 José Maria Agostinhofaleceu, vitima de doença pro-

longada. Paulo tinha oito anose Susana, quatro. A viúva nãose deixou abater e pegou emmãos o negócio que tinha inici-

ado com o seu marido.As necessidades de mais es-

paço eram óbvias e por isso amatriarca decidiu mudar para aloja actual, situada um poucomais à frente. “Só que tinhaSó que tinhaSó que tinhaSó que tinhaSó que tinhaum problema. Tinha umaum problema. Tinha umaum problema. Tinha umaum problema. Tinha umaum problema. Tinha umarenda de mil escudos e pas-renda de mil escudos e pas-renda de mil escudos e pas-renda de mil escudos e pas-renda de mil escudos e pas-sei a pagar 20 contossei a pagar 20 contossei a pagar 20 contossei a pagar 20 contossei a pagar 20 contos!”.

Mas mudou-se. Na altura játinha duas empregadas e conti-nuava a vender tecidos, linge-rie, atoalhados, bordados, cam-braias, missangas e retrosaria.Mas aumentou a área especi-

alizada em vestidos de noivas.“Era um sucesso. As pes-Era um sucesso. As pes-Era um sucesso. As pes-Era um sucesso. As pes-Era um sucesso. As pes-

soas gostavam de ver assoas gostavam de ver assoas gostavam de ver assoas gostavam de ver assoas gostavam de ver asprovas e até cheguei a pen-provas e até cheguei a pen-provas e até cheguei a pen-provas e até cheguei a pen-provas e até cheguei a pen-

sar que em vez de ter dedi-sar que em vez de ter dedi-sar que em vez de ter dedi-sar que em vez de ter dedi-sar que em vez de ter dedi-cado uma pequena parte,cado uma pequena parte,cado uma pequena parte,cado uma pequena parte,cado uma pequena parte,deveria ter concedido maisdeveria ter concedido maisdeveria ter concedido maisdeveria ter concedido maisdeveria ter concedido maisespaço para as noivas”espaço para as noivas”espaço para as noivas”espaço para as noivas”espaço para as noivas”. Essadecisão só a tomaria, porém,mais tarde.

Nos anos oitenta a Zelu dedi-ca-se também à confecção echegou a ter 14 funcionárias, dasquais cinco a trabalhar no ateli-er e nove no balcão.

Pouco a pouco começa a ha-ver algum desinteresse pelaárea dos tecidos e chega a horade apostar na especialização dos

vestidos para noivas. Maria deLourdes Ferreira recorda-se deviajar aos armazéns do Nortepara fazer compras. “Eu saíaEu saíaEu saíaEu saíaEu saía

às cinco da manhã, levavaàs cinco da manhã, levavaàs cinco da manhã, levavaàs cinco da manhã, levavaàs cinco da manhã, levavaos meus dois filhos atrás.os meus dois filhos atrás.os meus dois filhos atrás.os meus dois filhos atrás.os meus dois filhos atrás.Tinha o melhor Fiat da altu-Tinha o melhor Fiat da altu-Tinha o melhor Fiat da altu-Tinha o melhor Fiat da altu-Tinha o melhor Fiat da altu-ra, um 1500, que andou qui-ra, um 1500, que andou qui-ra, um 1500, que andou qui-ra, um 1500, que andou qui-ra, um 1500, que andou qui-lómetros e quilómetros...lómetros e quilómetros...lómetros e quilómetros...lómetros e quilómetros...lómetros e quilómetros...”,recordou a comerciante.

A EXPANSÃOA EXPANSÃOA EXPANSÃOA EXPANSÃOA EXPANSÃO

“Chegámos a vestir du-“Chegámos a vestir du-“Chegámos a vestir du-“Chegámos a vestir du-“Chegámos a vestir du-rante os meses de verão 20 arante os meses de verão 20 arante os meses de verão 20 arante os meses de verão 20 arante os meses de verão 20 a30 noivas por semana”30 noivas por semana”30 noivas por semana”30 noivas por semana”30 noivas por semana”, con-tou Maria de Lourdes Ferreira,referindo-se às décadas de 80 e90. Na sua opinião, o forte doseu negócio é o serviço pós-ven-da e não foram raras as vezesque iam vestir a noiva a casa,fosse ela de Ferreira do Alente-jo ou de Braga. ”Ninguém pa-Ninguém pa-Ninguém pa-Ninguém pa-Ninguém pa-gava mais por issogava mais por issogava mais por issogava mais por issogava mais por isso”, contou aempresária, explicando que éraro, mas ainda o fazem. “Fo-Fo-Fo-Fo-Fo-mos há dias à Nazaré poismos há dias à Nazaré poismos há dias à Nazaré poismos há dias à Nazaré poismos há dias à Nazaré poiscomo vestimos a mãe, ago-como vestimos a mãe, ago-como vestimos a mãe, ago-como vestimos a mãe, ago-como vestimos a mãe, ago-ra tivemos que vestir a filhara tivemos que vestir a filhara tivemos que vestir a filhara tivemos que vestir a filhara tivemos que vestir a filha”,contou.

A casa Zelu veste noivas detodo o país e também quem estáemigrado. “Temos clientes daTemos clientes daTemos clientes daTemos clientes daTemos clientes daSuíça, Inglaterra e FrançaSuíça, Inglaterra e FrançaSuíça, Inglaterra e FrançaSuíça, Inglaterra e FrançaSuíça, Inglaterra e Françaque compram os vestidosque compram os vestidosque compram os vestidosque compram os vestidosque compram os vestidoscom um ano de antecedên-com um ano de antecedên-com um ano de antecedên-com um ano de antecedên-com um ano de antecedên-ciaciaciaciacia”, contou a empresária.

Por sugestão dos fornecedo-res, mãe e filhos começaram afrequentar as feiras internacio-nais. E em 1989 Maria de Lour-

des Ferreira toma a decisão deabrir uma loja em Lisboa.

“TínhamosTínhamosTínhamosTínhamosTínhamos duas ou trêsduas ou trêsduas ou trêsduas ou trêsduas ou trêscolecções que não se ven-colecções que não se ven-colecções que não se ven-colecções que não se ven-colecções que não se ven-diam nas Caldas porquediam nas Caldas porquediam nas Caldas porquediam nas Caldas porquediam nas Caldas porqueeram demasiado inovado-eram demasiado inovado-eram demasiado inovado-eram demasiado inovado-eram demasiado inovado-ras e precisavam de ou-ras e precisavam de ou-ras e precisavam de ou-ras e precisavam de ou-ras e precisavam de ou-tros mercadostros mercadostros mercadostros mercadostros mercados”, disse a em-presária. Foi assim que abri-ram a loja Rebecca Noivas, nazona do Marquês de Pombal.Como fica na Rua CamiloCastelo Branco, escolheramaquele nome pois há umaobra deste autor onde há umapersonagem que é uma noivahomónima.

A continuação da expansãodo negócio dá-se em 1994,através da abertura da ter-ceira casa do grupo, tambémperto do Marquês – a lojaCymbeline, uma marca fran-cesa que tinha os proprietá-rios da Zelu como seus repre-sentantes em Portugal.

Em 1998 abre a quarta lojada família (e a segunda dasCaldas). Também se chamaCymbeline e fica na Rua Hen-rique Sales. Os três sócios ti-veram de convencer a marcafrancesa que a cidade erauma boa aposta porque osseus fornecedores preferiamoutra localidade de maior di-mensão.

Ao todo na estrutura tra-balham 10 pessoas, cinco nasCaldas e as restantes nas lo-jas em Lisboa. Há vários tra-balhos que são pedidos emoutsourcing como, por exem-plo, bordados específicos queas noivas queiram nos seusvestidos.

Apesar da crise, a expan-são do grupo não parou, es-tando prevista para breveuma nova abertura.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Imagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidosImagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidosImagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidosImagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidosImagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidos

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Um gestor e uma estilista para

continuar o negócio da família“Somos uma das primei-Somos uma das primei-Somos uma das primei-Somos uma das primei-Somos uma das primei-

ras lojas da especialidaderas lojas da especialidaderas lojas da especialidaderas lojas da especialidaderas lojas da especialidadedo país”do país”do país”do país”do país”, disse Paulo Agosti-nho, 45 anos, que tirou o cursode Gestão e desde os 24 que tra-balha para a empresa familiar.É o responsável pela vertenteadministrativa e financeira, en-quanto que a sua irmã, SusanaAgostinho, é a criativa (ver cai-xa) da casa, hoje com sua pró-pria marca.

Paulo Agostinho tinha quatroanos quando a Zelu abriu e re-corda a capacidade inovadora dasua mãe que sempre apostouem acções de marketing. Brin-cava com os amigos no Beco doBorralho enquanto a sua mãemandava fazer flyers de divul-gação da sua casa comercial,que ao fim de semana espalha-vam pelas aldeias da região du-rante os passeios em família.

Lembra-se também de quan-do a mãe mandou fazer um fil-me sobre a Zelu que passavaantes dos filmes no cinema e quechegou a ser exibido no EstúdioUm. Também fez anúncios naRádio Renascença e páginas in-teiras de publicidade nos jornaisda época para dar a conhecer aespecificidade do seu negócio.“Eram acções muito bem fei-Eram acções muito bem fei-Eram acções muito bem fei-Eram acções muito bem fei-Eram acções muito bem fei-tas que marcaram a diferen-tas que marcaram a diferen-tas que marcaram a diferen-tas que marcaram a diferen-tas que marcaram a diferen-çaçaçaçaça”, contou o gestor.

“Nós continuámos a mar-“Nós continuámos a mar-“Nós continuámos a mar-“Nós continuámos a mar-“Nós continuámos a mar-ca que as pessoas sabem queca que as pessoas sabem queca que as pessoas sabem queca que as pessoas sabem queca que as pessoas sabem queé rigorosa e cumpridoraé rigorosa e cumpridoraé rigorosa e cumpridoraé rigorosa e cumpridoraé rigorosa e cumpridora”, dis-se o empresário, que divide o ne-gócio com a mãe e a irmã.

O segredo para manter umnegócio há 42 anos é apenas“trabalho, rigor, espírito detrabalho, rigor, espírito detrabalho, rigor, espírito detrabalho, rigor, espírito detrabalho, rigor, espírito desacrifico, muita dedicação esacrifico, muita dedicação esacrifico, muita dedicação esacrifico, muita dedicação esacrifico, muita dedicação etambém algum talento”também algum talento”também algum talento”também algum talento”também algum talento”, dis-se o empresário. Na sua opinião,a mãe, Lourdes Ferreira, “é“é“é“é“é ooooonosso melhor balcãonosso melhor balcãonosso melhor balcãonosso melhor balcãonosso melhor balcão”.

Segundo dados do INE, em re-lação à última década dos anos90 “houve um decréscimo dehouve um decréscimo dehouve um decréscimo dehouve um decréscimo dehouve um decréscimo de

50% nos casamentos, ao50% nos casamentos, ao50% nos casamentos, ao50% nos casamentos, ao50% nos casamentos, aopasso que a oferta aumen-passo que a oferta aumen-passo que a oferta aumen-passo que a oferta aumen-passo que a oferta aumen-toutoutoutoutou”, disse Paulo Agostinho. Sónas Caldas há cinco lojas. Hojeem dia é difícil saber como sechega às 40 mil pessoas que ain-da casam em Portugal.

As noivas que escolhem a Zelucontinuam a chegar de todo opaís. Cerca de 70% são de fora doconcelho das Caldas. Vêm de Bra-ga, Sintra, Cascais, Montijo e “éééééuma pena que a cidade nãouma pena que a cidade nãouma pena que a cidade nãouma pena que a cidade nãouma pena que a cidade nãotenha uma sinalética em con-tenha uma sinalética em con-tenha uma sinalética em con-tenha uma sinalética em con-tenha uma sinalética em con-diçõesdiçõesdiçõesdiçõesdições”, disse o empresário.

O próprio cartão de visita daloja tem no verso a localizaçãodos parques de estacionamen-to da cidade. Paulo Agostinhodiz que as Caldas “tem bom co-tem bom co-tem bom co-tem bom co-tem bom co-mércio e lojas que não a dei-mércio e lojas que não a dei-mércio e lojas que não a dei-mércio e lojas que não a dei-mércio e lojas que não a dei-xam ficar nada malxam ficar nada malxam ficar nada malxam ficar nada malxam ficar nada mal”. Masapesar dos bons espaços, “ooooomeio envolvente não evoluiumeio envolvente não evoluiumeio envolvente não evoluiumeio envolvente não evoluiumeio envolvente não evoluiutanto como deveria e não setanto como deveria e não setanto como deveria e não setanto como deveria e não setanto como deveria e não seadequa aos novos temposadequa aos novos temposadequa aos novos temposadequa aos novos temposadequa aos novos tempos”.

A festa não pode pararA festa não pode pararA festa não pode pararA festa não pode pararA festa não pode parar

Ainda a Zelu funcionava nonº 48 quando Susana Agostinhoassistiu a uma venda que lhemarcou o futuro - um vestido denoiva vermelho. “É mesmo istoque quero fazer!”, pensou paraconsigo e de facto todo o seupercurso foi nesse sentido. “Até“Até“Até“Até“Atéporque sair todos os dias doporque sair todos os dias doporque sair todos os dias doporque sair todos os dias doporque sair todos os dias doColégio Colégio Colégio Colégio Colégio [Ramalho Ortigão] e e e e ever diariamente vestir prin-ver diariamente vestir prin-ver diariamente vestir prin-ver diariamente vestir prin-ver diariamente vestir prin-cesas é algo que nos mar-cesas é algo que nos mar-cesas é algo que nos mar-cesas é algo que nos mar-cesas é algo que nos mar-ca”ca”ca”ca”ca”, recorda.

Hoje a caldense, de 41 anos,tem a sua marca própria e é es-tilista de noivas. Foi estudar Es-tilismo no Citex para o Porto du-rante quatro anos com o objec-tivo específico de apoiar a Zelu.Durante muito tempo SusanaAgostinho fui a única estilistaportuguesa especializada emnoivas e por isso muito “assedi-ada” por várias marcas interna-

cionais para ser consultora.“Criar um vestido de noi-Criar um vestido de noi-Criar um vestido de noi-Criar um vestido de noi-Criar um vestido de noi-

va é construir um sonho. Po-va é construir um sonho. Po-va é construir um sonho. Po-va é construir um sonho. Po-va é construir um sonho. Po-demosdemosdemosdemosdemos casar 10 vezes com ocasar 10 vezes com ocasar 10 vezes com ocasar 10 vezes com ocasar 10 vezes com omesmo empenho, mas ne-mesmo empenho, mas ne-mesmo empenho, mas ne-mesmo empenho, mas ne-mesmo empenho, mas ne-nhum é como o primeironhum é como o primeironhum é como o primeironhum é como o primeironhum é como o primeiro”,conta.

Segundo a criadora de moda,cada vestido e cada noiva sãoúnicos. Logo tem que ser dese-nhado com emoções.

Susana Agostinho diz que àmedida que se vai aproximandoa data, a cliente vai diminuindoa confiança e ficando mais ner-vosa. “É pois preciso manter“É pois preciso manter“É pois preciso manter“É pois preciso manter“É pois preciso mantera nossa qualidade e a nossaa nossa qualidade e a nossaa nossa qualidade e a nossaa nossa qualidade e a nossaa nossa qualidade e a nossainovação”, inovação”, inovação”, inovação”, inovação”, explicou a estilis-ta, que respeita o sonho dassuas clientes para aquele dia es-pecial, sem esquecer as carac-terísticas do seu corpo e as ten-dências da moda.

“O nosso vestido não temO nosso vestido não temO nosso vestido não temO nosso vestido não temO nosso vestido não temnada a ver com o da nossanada a ver com o da nossanada a ver com o da nossanada a ver com o da nossanada a ver com o da nossamãe”, mãe”, mãe”, mãe”, mãe”, disse a criadora de moda,explicando que hoje uma noivanão aceita vestir algo que nãopermita mexer-se. Hoje em diaa noiva quer dançar e estar àvontade, “mesmo que queira“mesmo que queira“mesmo que queira“mesmo que queira“mesmo que queiraestar fantástica e ser o focoestar fantástica e ser o focoestar fantástica e ser o focoestar fantástica e ser o focoestar fantástica e ser o focoda atenção das 150 pessoasda atenção das 150 pessoasda atenção das 150 pessoasda atenção das 150 pessoasda atenção das 150 pessoasque convidouque convidouque convidouque convidouque convidou”.

Susana Agostinho possui asua própria marca, faz as suaspróprias colecções e frequentaas feiras internacionais. Actu-almente diz que estamos a vol-tar aos grandes românticos.“Em épocas de grandes cri-Em épocas de grandes cri-Em épocas de grandes cri-Em épocas de grandes cri-Em épocas de grandes cri-ses, as estruturas dos cria-ses, as estruturas dos cria-ses, as estruturas dos cria-ses, as estruturas dos cria-ses, as estruturas dos cria-dores não podem parar,dores não podem parar,dores não podem parar,dores não podem parar,dores não podem parar,caso contrário o resto dacaso contrário o resto dacaso contrário o resto dacaso contrário o resto dacaso contrário o resto dasociedade entra em depres-sociedade entra em depres-sociedade entra em depres-sociedade entra em depres-sociedade entra em depres-são”são”são”são”são”, disse. Na sua opinião, afesta também tem que continu-ar e “se não se faz com 200 “se não se faz com 200 “se não se faz com 200 “se não se faz com 200 “se não se faz com 200pessoas, faz-se com 100. Maspessoas, faz-se com 100. Maspessoas, faz-se com 100. Maspessoas, faz-se com 100. Maspessoas, faz-se com 100. Masa rainha está lá na mesma”a rainha está lá na mesma”a rainha está lá na mesma”a rainha está lá na mesma”a rainha está lá na mesma”.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

1968 –1968 –1968 –1968 –1968 – Inauguração da Zelu no nº 48 da R. Heróis da GrandeGuerra1979 –1979 –1979 –1979 –1979 – Mudança para as actuais instalações no nº 56 da mesmarua1989 –1989 –1989 –1989 –1989 – Inauguração da Rebecca-Noivas em Lisboa1994 –1994 –1994 –1994 –1994 – Inauguração da Cymbeline em Lisboa1998 –1998 –1998 –1998 –1998 – Inauguração da Cymbeline-Caldas na Rua HenriqueSales

Cronologia

O grupo é composto por duas sociedades por quotas - a Géno-va, Lda. (detentora das lojas Rebecca-Noivas e Susana Agosti-nho) e a Virtual, Lda. (que detém as lojas de marca Cymbeline).Ambas têm um capital social de 100 mil euros, repartido empartes iguais pelos três sócios. A primeira loja Zelu pertenceintegralmente à empresária em nome individual Maria de Lour-des Ferreira.

O cor do vestido deve ser aquela

que a noiva sonhar

Sócia-gerente, estilista resi-dente, conselheira da marca,responsável por eventos. Susa-na Agostinho é tudo isto e temainda a sua própria marca quevende nas suas lojas.

“Estamos cá há 42 anos e“Estamos cá há 42 anos e“Estamos cá há 42 anos e“Estamos cá há 42 anos e“Estamos cá há 42 anos eas pessoas procuram-nosas pessoas procuram-nosas pessoas procuram-nosas pessoas procuram-nosas pessoas procuram-nospela credibilidade e porquepela credibilidade e porquepela credibilidade e porquepela credibilidade e porquepela credibilidade e porquesabem que são bem servi-sabem que são bem servi-sabem que são bem servi-sabem que são bem servi-sabem que são bem servi-dasdasdasdasdas”, disse a criadora. A lojafaz provas aos sábados e até aosdomingos pois sabem que há cli-entes que não podem vir a ou-tros dias. “Estamos muitoEstamos muitoEstamos muitoEstamos muitoEstamos muitoatentos às necessidades dosatentos às necessidades dosatentos às necessidades dosatentos às necessidades dosatentos às necessidades dosnossos clientesnossos clientesnossos clientesnossos clientesnossos clientes”, disse a cria-dora.

Este ano instituíram o Desig-ner Day, algo que se faz inter-nacionalmente. Nesse dia Susa-na Agostinho vem às Caldas(normalmente está em Lisboa)e apresenta as suas ideias aos

clientes, com horas marcadas.“É uma inovação a que nosÉ uma inovação a que nosÉ uma inovação a que nosÉ uma inovação a que nosÉ uma inovação a que nospropusemos e que é feitapropusemos e que é feitapropusemos e que é feitapropusemos e que é feitapropusemos e que é feitapelas grandes marcas”pelas grandes marcas”pelas grandes marcas”pelas grandes marcas”pelas grandes marcas”, con-tou.

Hoje em dia um vestido denoiva pode custar entre 300 e os3.000 euros e tudo o resto é es-colhido em função do tipo devestido. Este pode incluir saio-te, que se usa ou não consoantea sua dinâmica. A lingerie tam-bém é escolhida de acordo como corte do vestido “pois traba-pois traba-pois traba-pois traba-pois traba-lhamos sobre uma formalhamos sobre uma formalhamos sobre uma formalhamos sobre uma formalhamos sobre uma formaque é o corpo da noiva, logoque é o corpo da noiva, logoque é o corpo da noiva, logoque é o corpo da noiva, logoque é o corpo da noiva, logoé um pormenor muita impor-é um pormenor muita impor-é um pormenor muita impor-é um pormenor muita impor-é um pormenor muita impor-tantetantetantetantetante”, disse a criadora.

Segue-se a escolha dos sa-patos e dos acessórios como osanéis, pulseiras, apliques de ca-belo e os brincos. Este últimospodem ser de família ou a noivapode preferir peças contempo-

râneas. Há quem queira seguira tradição inglesa e usar umapeça de roupa emprestado, ou-tra oferecida, uma antiga e umade cor azul (há quem diga quetambém se deve levar uma peçaroubada).

Indispensável é o bouquet ouuma estrutura que a noiva levena mão e que deve ser estuda-do por quem cria o vestido.

O uso do branco é uma ideiavitoriana pois antes as noivasvestiam-se segundo as cores dassuas cortes ou das épocas. “AAAAAcor do vestido de noiva devecor do vestido de noiva devecor do vestido de noiva devecor do vestido de noiva devecor do vestido de noiva deveser aquele com que ela so-ser aquele com que ela so-ser aquele com que ela so-ser aquele com que ela so-ser aquele com que ela so-nhar”nhar”nhar”nhar”nhar”, disse a criadora.

E quais foram os vestidosmais invulgares que já vende-ram? Maria de Lourdes Ferreiracontou que há 30 anos vendeupara uma jovem do Chão da Pa-rada um vestido todo vermelho,plissado com um corte imperiale saia em soleil.

Susana tinha 20 anos quandocriou o seu primeiro vestido co-lorido, neste caso, roxo. “O ves-“O ves-“O ves-“O ves-“O ves-tido de noiva é algo mágicotido de noiva é algo mágicotido de noiva é algo mágicotido de noiva é algo mágicotido de noiva é algo mágicoe tem esse dom - pode-se es-e tem esse dom - pode-se es-e tem esse dom - pode-se es-e tem esse dom - pode-se es-e tem esse dom - pode-se es-colher naquele dia a imagemcolher naquele dia a imagemcolher naquele dia a imagemcolher naquele dia a imagemcolher naquele dia a imagemque se quer recordar paraque se quer recordar paraque se quer recordar paraque se quer recordar paraque se quer recordar paratoda vidatoda vidatoda vidatoda vidatoda vida”, concluiu.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Sofia Sousa, 49 anos, casouem Julho de 1979 e comprou oseu vestido na Zelu. “Já naque-“Já naque-“Já naque-“Já naque-“Já naque-le tempo esta era uma casale tempo esta era uma casale tempo esta era uma casale tempo esta era uma casale tempo esta era uma casade referênciade referênciade referênciade referênciade referência”, conta esta cli-ente, cuja filha, Patrícia Sousa,comprou recentemente o seuvestido na mesma casa.

A arquitecta de 30 anos esco-lheu um vestido contemporâneoapós ter experimentado 18 mo-delos e teve o aconselhamentode Lourdes Ferreira, que com elaconversou sobre o que preten-dia para a festa que está mar-cada para uma quinta da regiãono próximo Outono.

“As pessoas que dizem“As pessoas que dizem“As pessoas que dizem“As pessoas que dizem“As pessoas que dizemque não se querem casar éque não se querem casar éque não se querem casar éque não se querem casar éque não se querem casar éporque nunca experimenta-porque nunca experimenta-porque nunca experimenta-porque nunca experimenta-porque nunca experimenta-ram um vestido de noiva. Éram um vestido de noiva. Éram um vestido de noiva. Éram um vestido de noiva. Éram um vestido de noiva. Éuma verdadeira emoção,uma verdadeira emoção,uma verdadeira emoção,uma verdadeira emoção,uma verdadeira emoção,chorei logo quando experi-chorei logo quando experi-chorei logo quando experi-chorei logo quando experi-chorei logo quando experi-mentei o primeiro modelomentei o primeiro modelomentei o primeiro modelomentei o primeiro modelomentei o primeiro modelo”,contou a noiva.

“Quero um vestido que asQuero um vestido que asQuero um vestido que asQuero um vestido que asQuero um vestido que aspessoas falem e que recordempessoas falem e que recordempessoas falem e que recordempessoas falem e que recordempessoas falem e que recordemdurante muitos anos”durante muitos anos”durante muitos anos”durante muitos anos”durante muitos anos”, disse

Mãe e filha compraram os

vestidos na Zelu

Patrícia Sousa. Antes de ter ido àZelu foi a outras lojas e chegou alevar catálogos para experimen-tar os modelos que achava quelhe assentariam melhor.

A mãe, Sofia Sousa, celebrana próxima quarta-feira, 21 deJulho, 31 anos de casada. “Foi“Foi“Foi“Foi“Foium casamentão, tinha 250um casamentão, tinha 250um casamentão, tinha 250um casamentão, tinha 250um casamentão, tinha 250convidados e durou trêsconvidados e durou trêsconvidados e durou trêsconvidados e durou trêsconvidados e durou trêsdias”dias”dias”dias”dias”, disse. Recorda que já naaltura gostou do atendimento

da Zelu e acrescentou que elese repetiu passadas três déca-das com a sua filha.

O seu vestido era um cai-caique em 1979 custou 30 contos(150 euros) e agradou aos 250convidados que assistiram à ce-rimónia religiosa na Igreja doSenhor da Pedra.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

Susana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emSusana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emSusana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emSusana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emSusana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noivaPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noivaPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noivaPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noivaPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noiva

Patrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido dePatrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido dePatrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido dePatrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido dePatrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido denoiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.noiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.noiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.noiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.noiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.

José Maria Agostinho e MariaJosé Maria Agostinho e MariaJosé Maria Agostinho e MariaJosé Maria Agostinho e MariaJosé Maria Agostinho e Mariade Lourdes Ferreira com o filho,de Lourdes Ferreira com o filho,de Lourdes Ferreira com o filho,de Lourdes Ferreira com o filho,de Lourdes Ferreira com o filho,Paulo, no ano em que o casalPaulo, no ano em que o casalPaulo, no ano em que o casalPaulo, no ano em que o casalPaulo, no ano em que o casaldecidiu investir na lojadecidiu investir na lojadecidiu investir na lojadecidiu investir na lojadecidiu investir na loja

Page 20: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Braz Mendonça da Conceição, Lda. – da venda de pr

É em Agosto de 1965 que Braz Mendonça da Conceição abre na Rua Dr. Miguel Bombarda uma casaque vende essencialmente atomizadores e motores de rega. Um passo de gigante para um empre-sário que até então se dedicara a várias actividades comerciais, artesanais e industriais, mas quereceara avançar para que, à época, representava algum fôlego – um trespasse de 8000 escudos (40euros) para instalar a sua firma.Hoje esta casa é uma das mais conhecidas das Caldas e é gerida pela viúva do fundador e pelosdois filhos, ambos engenheiros, que souberam olhar para o futuro e criar ofertas para responder anovas necessidades.

Para se conhecer a históriadesta firma é preciso recuar aoseu fundador, Braz Mendonçada Conceição (1923-1982), umescalabitano que veio fazer atropa às Caldas da Rainha nosanos quarenta e por cá ficou,tendo começado por trabalharno Thomaz dos Santos e em-pregando-se mais tarde naCasa Caldeano.

É nessa altura que se apai-xona. O romance começounuma data e num local bemcaldenses: 15 de Maio de 1947,dia das Festas da Cidade, jun-to ao antigo casino (mais tar-de Casa da Cultura). Ângela Ri-beiro Marques, então com 26anos, trabalhava nos Correioscomo telefonista e recordabem o dia em que conheceu ohomem que viria a ser o seumarido.

Casaram-se em 1949 e du-rante mais de uma década, BrazConceição continuaria empre-gado da Casa Caldeano, atéque em 1960 resolve trabalharpor conta própria num arma-zém que aluga na Rua da Elec-tricidade (hoje Rua Dr. Sauda-de e Silva). A actividade cen-tra-se no fabrico de cera parasoalho e em ganchos para te-lha (um artigo feito em arameque segurava as telhas burro,muito em uso na época). Fa-brica também, ele próprio (nãotinha empregados), os pacotesde papel pardo para o emba-lamento e faz também filtrospara automóveis, chegandomesmo a importar feltro de In-glaterra para integrar na suaprodução caseira.

“Era muito habilidoso e ti-“Era muito habilidoso e ti-“Era muito habilidoso e ti-“Era muito habilidoso e ti-“Era muito habilidoso e ti-nha muitas ideias. E era umnha muitas ideias. E era umnha muitas ideias. E era umnha muitas ideias. E era umnha muitas ideias. E era umperfeccionista. Com condi-perfeccionista. Com condi-perfeccionista. Com condi-perfeccionista. Com condi-perfeccionista. Com condi-ções apropr iadas , ter iações apropr iadas , ter iações apropr iadas , ter iações apropr iadas , ter iações apropr iadas , ter iadado um bom engenheirodado um bom engenheirodado um bom engenheirodado um bom engenheirodado um bom engenheirode produção ou um projec-de produção ou um projec-de produção ou um projec-de produção ou um projec-de produção ou um projec-tista”tista”tista”tista”tista”, diz o filho mais velhoJosé Mendonça, ele próprio en-genheiro, acerca do seu pai.

Graças à sua habilidade ecapacidade de trabalho, o ne-gócio corria de feição. Ângelacontinuava como telefonistanos Correios e entretanto ocasal tivera já dois filhos: Joséem 1950, e Carlos em 1954.

Mas às vezes a desgraçabate à porta e esta tomou aforma de um grande incêndio.“Avistava-se até na Foz da“Avistava-se até na Foz da“Avistava-se até na Foz da“Avistava-se até na Foz da“Avistava-se até na Foz daArelho”Arelho”Arelho”Arelho”Arelho”, conta Ângela Concei-ção, que ainda hoje, 40 anosvolvidos, fala com emoção da-quele dia de 1962 em que o fa-brico de cera descambou numfogo que queimou a cara e asmãos ao seu marido e o obri-gou a recomeçar do zero.

Braz Conceição manteve o

armazém, mas desistiu de fa-bricar cera. E continuou nos ne-gócios: foi vendedor de aglo-merados de madeira e artigosde drogaria, lâmpadas, pilhas,fechaduras e - com o apareci-

mento dos plásticos - tambémde baldes e alguidares. Embreve está também numa acti-vidade própria da época, queconsistia em zincar pregos. Efaz mesmo uma incursão narecauchutagem de pneus decamiões.

Outros produtos emergemno mercado: os motores derega e os atomizadores, quevêm substituir os velhos pul-verizadores de cobre. É comestes que irá abrir em 1965 a

loja que ainda hoje existe naRua Dr. Miguel Bombarda, ge-rida pela sua mulher e os doisfilhos.

“Ele soube que o espa-“Ele soube que o espa-“Ele soube que o espa-“Ele soube que o espa-“Ele soube que o espa-nhol ia trespassar a casa enhol ia trespassar a casa enhol ia trespassar a casa enhol ia trespassar a casa enhol ia trespassar a casa eandou muito indeciso. Oandou muito indeciso. Oandou muito indeciso. Oandou muito indeciso. Oandou muito indeciso. Omeu marido era muito tra-meu marido era muito tra-meu marido era muito tra-meu marido era muito tra-meu marido era muito tra-

balhador, mas dizia quebalhador, mas dizia quebalhador, mas dizia quebalhador, mas dizia quebalhador, mas dizia quegostava de dormir descan-gostava de dormir descan-gostava de dormir descan-gostava de dormir descan-gostava de dormir descan-sado. Tinha medo de tomarsado. Tinha medo de tomarsado. Tinha medo de tomarsado. Tinha medo de tomarsado. Tinha medo de tomarc o m p r o m i s s o s q u e n ã oc o m p r o m i s s o s q u e n ã oc o m p r o m i s s o s q u e n ã oc o m p r o m i s s o s q u e n ã oc o m p r o m i s s o s q u e n ã ofosse capaz de cumprir. Eufosse capaz de cumprir. Eufosse capaz de cumprir. Eufosse capaz de cumprir. Eufosse capaz de cumprir. Eué que lhe dei força. Disse-é que lhe dei força. Disse-é que lhe dei força. Disse-é que lhe dei força. Disse-é que lhe dei força. Disse-

lhe que a loja ficava mesmolhe que a loja ficava mesmolhe que a loja ficava mesmolhe que a loja ficava mesmolhe que a loja ficava mesmono caminho da estação”no caminho da estação”no caminho da estação”no caminho da estação”no caminho da estação”.Ângela Conceição conta quenaquele tempo a feira das se-gundas-feiras decorria no es-paço que é hoje a Av. da Inde-pendência Nacional e queaquela rua era das mais fre-

quentadas da cidade. “Esta“Esta“Esta“Esta“Estarua era um corrupio derua era um corrupio derua era um corrupio derua era um corrupio derua era um corrupio deg e n t e q u e c h e g a v a d o sg e n t e q u e c h e g a v a d o sg e n t e q u e c h e g a v a d o sg e n t e q u e c h e g a v a d o sg e n t e q u e c h e g a v a d o scomboios.. . vinham à pi-comboios.. . vinham à pi-comboios.. . vinham à pi-comboios.. . vinham à pi-comboios.. . vinham à pi-nha”nha”nha”nha”nha”, recorda a viúva, hojecom 89 anos.

O trespasse é formalizadonum documento que faria hojearrepiar qualquer notário oucausídico – um pedaço de pa-pel pardo onde o “espanhol”Avelino Cendor Portela cede asua loja de chapéus de chuvaàs actividades de Braz Concei-

ção por oito contos (40 euros).A Braz Mendonça da Concei-

ção, Lda. abre ao público a 15de Agosto de 1965. “Sem fes-“Sem fes-“Sem fes-“Sem fes-“Sem fes-tas nem inaugurações, quetas nem inaugurações, quetas nem inaugurações, quetas nem inaugurações, quetas nem inaugurações, quen e s s e t e m p o n ã o h a v i an e s s e t e m p o n ã o h a v i an e s s e t e m p o n ã o h a v i an e s s e t e m p o n ã o h a v i an e s s e t e m p o n ã o h a v i anada disse”nada disse”nada disse”nada disse”nada disse”, conta Ângela.

A aposta do comerciante re-vela-se acertada: atomizado-res, motores de rega e aces-sórios são um mercado emer-gente para o sector agrícolanos anos sessenta.

Sempre cauteloso, BrazMendonça não arriscou pôrlogo um empregado e traba-lhou sempre sozinho à frenteda loja. Só poucos meses de-pois da morte do seu funda-dor, em 1982, a firma viria ater um empregado – Paulo Sér-gio, então com 14 anos que ain-da hoje nela se mantém (vercaixa).

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

Braz Mendonça da Conceição (1923-1982) fundou a firma homónima em 1965 na Rua Dr. Miguel Bombarda, que é hoje gerida pela viúva e pelos dois filhos.Braz Mendonça da Conceição (1923-1982) fundou a firma homónima em 1965 na Rua Dr. Miguel Bombarda, que é hoje gerida pela viúva e pelos dois filhos.Braz Mendonça da Conceição (1923-1982) fundou a firma homónima em 1965 na Rua Dr. Miguel Bombarda, que é hoje gerida pela viúva e pelos dois filhos.Braz Mendonça da Conceição (1923-1982) fundou a firma homónima em 1965 na Rua Dr. Miguel Bombarda, que é hoje gerida pela viúva e pelos dois filhos.Braz Mendonça da Conceição (1923-1982) fundou a firma homónima em 1965 na Rua Dr. Miguel Bombarda, que é hoje gerida pela viúva e pelos dois filhos.

Nelson, Neves, Rui, José Mendonça e Paulo Sérgio. Funcionários e patrão em 1988 duranteNelson, Neves, Rui, José Mendonça e Paulo Sérgio. Funcionários e patrão em 1988 duranteNelson, Neves, Rui, José Mendonça e Paulo Sérgio. Funcionários e patrão em 1988 duranteNelson, Neves, Rui, José Mendonça e Paulo Sérgio. Funcionários e patrão em 1988 duranteNelson, Neves, Rui, José Mendonça e Paulo Sérgio. Funcionários e patrão em 1988 duranteuma mudança provisória de instalações para fazer obras na loja.uma mudança provisória de instalações para fazer obras na loja.uma mudança provisória de instalações para fazer obras na loja.uma mudança provisória de instalações para fazer obras na loja.uma mudança provisória de instalações para fazer obras na loja.

Braz Mendonça da Conceição e Braz Mendonça da Conceição e Braz Mendonça da Conceição e Braz Mendonça da Conceição e Braz Mendonça da Conceição e Ângela Ribeiro MarquesÂngela Ribeiro MarquesÂngela Ribeiro MarquesÂngela Ribeiro MarquesÂngela Ribeiro Marquesnuma fotografia de 1948numa fotografia de 1948numa fotografia de 1948numa fotografia de 1948numa fotografia de 1948

Page 21: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

rodutos agrícolas às energias renováveisA importância da engenharia

“Somos uma empresa lí-“Somos uma empresa lí-“Somos uma empresa lí-“Somos uma empresa lí-“Somos uma empresa lí-der em sistemas de rega,der em sistemas de rega,der em sistemas de rega,der em sistemas de rega,der em sistemas de rega,somos especia l is tas emsomos especia l is tas emsomos especia l is tas emsomos especia l is tas emsomos especia l is tas embombagem, temos alvará debombagem, temos alvará debombagem, temos alvará debombagem, temos alvará debombagem, temos alvará deinstalação de sistemas foto-instalação de sistemas foto-instalação de sistemas foto-instalação de sistemas foto-instalação de sistemas foto-voltaicos voltaicos voltaicos voltaicos voltaicos [produção de ener-gia eléctrica para uso próprio evenda à EDP através de painéissolares], e entramos no mer-, e entramos no mer-, e entramos no mer-, e entramos no mer-, e entramos no mer-cado do t ratamento decado do t ratamento decado do t ratamento decado do t ratamento decado do t ratamento deáguas por via da nossa afi-águas por via da nossa afi-águas por via da nossa afi-águas por via da nossa afi-águas por via da nossa afi-nidade com a preservaçãonidade com a preservaçãonidade com a preservaçãonidade com a preservaçãonidade com a preservaçãodo ambiente”do ambiente”do ambiente”do ambiente”do ambiente”. É assim queCarlos Mendonça, 56 anos, ca-racteriza a empresa que o seupai criou e cuja gestão partilhahoje com o seu irmão e a suamãe.

Em paralelo a loja vende ain-da produtos como os que haviahá quatro décadas, mas hoje acomponente agrícola da firmarepresenta 40% da sua factura-ção, quando noutros temposchegou aos 60%.

Uma das etapas mais mar-cantes desta empresa data dosanos setenta, com o boom dossistemas de rega. A firma apos-ta forte neste mercado e chegaa ter cinco empregados dedi-cados a esta actividade (actu-almente só tem dois trabalha-dores). Hoje este é um merca-do maduro, mas Carlos Men-donça diz que sempre tiverama preocupação de perscrutarnovas actividades e daí a apos-ta nos tratamentos de águas,bombagens e agora nas ener-gias renováveis. Aliás, a mon-tra da loja que em tempos ti-nha produtos para a agricultu-ra, conta hoje com jogos didác-ticos para crianças baseadosem energia solar, alguns delesnascidos na Faculdade de Ci-ências de Lisboa.

Durante estes anos, a em-presa foi também uma espéciede escola que formou especia-listas em sistemas de rega poisalguns dos funcionários que porlá passaram, acabaram por selançar também nos seus negó-cios nesta área.

E como foi que a loja que ven-dia atomizadores é hoje líderem modernos sistemas derega? A história das empresasé, também, a história das pes-soas que nelas trabalham.

Carlos, o filho mais novo deBraz Mendonça, tinha 20 anosem 25 de Abril de 1974 e abra-çou a revolução. Na altura es-tudava no ISEL (Instituto Supe-rior de Engenharia de Lisboa) ànoite e trabalhava de dia nasOGMA (Oficinas Gerais de Ma-terial Aeronáutico) em Alver-ca, uma forma de então esca-par à guerra colonial. “A alter-“A alter-“A alter-“A alter-“A alter-nativa era desertar”nativa era desertar”nativa era desertar”nativa era desertar”nativa era desertar”, contaCarlos Mendonça, que à datadetinha já uma postura activade oposição à ditadura.

O seu empenho revolucioná-rio leva-o a interromper os es-tudos e a dedicar-se à políticaa tempo inteiro. Esta experiên-cia durará até 1980, quando opai o convida para trabalharcom ele, aproveitando aindapara concluir o curso de enge-nheiro electromecânico à noi-te. No fim de contas, um enge-nheiro viria a ser muito útil àfirma, como mais tarde se viriaa provar.

“Somos o típico comércio“Somos o típico comércio“Somos o típico comércio“Somos o típico comércio“Somos o típico comérciotradicional”tradicional”tradicional”tradicional”tradicional”

E se um engenheiro já erauma mais-valia, dois engenhei-ros eram-no muito mais. JoséMendonça, o irmão mais velho,tem um percurso parcialmentecoincidente: também estudavano ISEL e trabalhava nas OGMA.E pela mesma razão de nãoquerer ir para uma guerra queconsiderava injusta.

Termina o bacharelato em1976, mas antes disso já davaaulas. Trabalhos Manuais, maistarde Educação Visual e Tec-nológica. O professor Mendon-ça andou por escolas de Lisboa,Azambuja, Caldas da Rainha eÓbidos onde se pré-reformou

em 2007, antes de fazer 60 anos.“Não me estava a agradar“Não me estava a agradar“Não me estava a agradar“Não me estava a agradar“Não me estava a agradarentrar como avaliador noentrar como avaliador noentrar como avaliador noentrar como avaliador noentrar como avaliador noprocesso de avaliação dosprocesso de avaliação dosprocesso de avaliação dosprocesso de avaliação dosprocesso de avaliação dosmeus colegas”meus colegas”meus colegas”meus colegas”meus colegas”, conta, quei-xando-se das políticas que ge-raram “um clima de concor-“um clima de concor-“um clima de concor-“um clima de concor-“um clima de concor-rência e competição poucorência e competição poucorência e competição poucorência e competição poucorência e competição poucosolidária”solidária”solidária”solidária”solidária” entre os professo-res.

A reforma colocou-o a tem-po inteiro na gestão da BrazMendonça da Conceição, Lda.à qual, de resto, sempre esti-vera ligado. Em menino era paraa loja do pai que vinha depoisdas aulas e era ali que passavaparte das férias escolares.

Naquela idade não pensavavir um dia para a firma, masreconhece que foram as activi-dades que ali desenvolveu, li-gadas aos motores, às máqui-nas e a variados equipamentos,que influenciaram a sua voca-ção e formação em engenha-ria.

A mãe, Ângela, não é umafigura decorativa. Aos 89 anoscabe-lhe a parte administrati-va da firma e é vê-la, ao telefo-ne, rodeada de papéis e dossi-ers.

Carlos Mendonça diz que éprestação de serviços, mais doque a venda ao balcão, que re-presenta o grosso da sua fac-turação. “Somos o típico co-“Somos o típico co-“Somos o típico co-“Somos o típico co-“Somos o típico co-mércio tradicional. É raromércio tradicional. É raromércio tradicional. É raromércio tradicional. É raromércio tradicional. É rarovendermos uma coisa semvendermos uma coisa semvendermos uma coisa semvendermos uma coisa semvendermos uma coisa semter que explicar o que é eter que explicar o que é eter que explicar o que é eter que explicar o que é eter que explicar o que é ecomo funciona. E é isso quecomo funciona. E é isso quecomo funciona. E é isso quecomo funciona. E é isso quecomo funciona. E é isso quecaracteriza a relação decaracteriza a relação decaracteriza a relação decaracteriza a relação decaracteriza a relação de

proximidade deste tipo deproximidade deste tipo deproximidade deste tipo deproximidade deste tipo deproximidade deste tipo decomércio”comércio”comércio”comércio”comércio”.

A crise também se tem feitosentir neste sector e as vendasao balcão diminuíram. São osparticulares que se retraem nacompra de pequenos artigospara jardinagem e rega. E sãoos construtores civis que estãoparados e não lhes adjudicamalgumas subempreitadas (aempresa tem alvará para ins-talação de equipamentos me-cânicos e costuma montar sis-temas de bombagem).Masonde a crise mais se nota é nospagamentos atrasados. “Te-“Te-“Te-“Te-“Te-mos clientes que dizem quemos clientes que dizem quemos clientes que dizem quemos clientes que dizem quemos clientes que dizem quenão nos pagam porquenão nos pagam porquenão nos pagam porquenão nos pagam porquenão nos pagam porquetambém não lhes pagam atambém não lhes pagam atambém não lhes pagam atambém não lhes pagam atambém não lhes pagam aeles.. .”eles.. .”eles.. .”eles.. .”eles.. .”, lamenta-se CarlosMendonça.

A boa notícia é que desde háum ano a Braz Mendonça daConceição Lda. conseguiu serdistribuidora da prestigiada ITTque vende bombas Lowara eFlygt. Quem percebe deste sec-tor, diz que é material topo degama e que só o facto de o re-presentarem abona a favor daimagem.

Para o futuro, dizem os ir-mãos, a estratégia passa por“consolidar as franjas de“consolidar as franjas de“consolidar as franjas de“consolidar as franjas de“consolidar as franjas demercado em que estamosmercado em que estamosmercado em que estamosmercado em que estamosmercado em que estamosimplantados e pugnar pelaimplantados e pugnar pelaimplantados e pugnar pelaimplantados e pugnar pelaimplantados e pugnar pelaassistência pós-venda que éassistência pós-venda que éassistência pós-venda que éassistência pós-venda que éassistência pós-venda que éuma coisa que nos tem dis-uma coisa que nos tem dis-uma coisa que nos tem dis-uma coisa que nos tem dis-uma coisa que nos tem dis-tinguido”tinguido”tinguido”tinguido”tinguido”.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

“Não gosto muito de mudanças”Paulo Sérgio tinha 14 anos

quando veio para o balcão des-ta casa comercial. Natural daNazaré, vivia então em Salir doPorto e é um amigo da família,Joaquim Godinho, que lhe falada possibilidade deste empre-go. Estava-se em Março de 1982,Braz Mendonça tinha morridotrês meses anos e a contrata-ção do jovem Paulo é um dosprimeiros actos de gestão deCarlos Mendonça.

“Naquela altura havia um“Naquela altura havia um“Naquela altura havia um“Naquela altura havia um“Naquela altura havia ummovimento contínuo ao bal-movimento contínuo ao bal-movimento contínuo ao bal-movimento contínuo ao bal-movimento contínuo ao bal-cão de gente a comprar pe-cão de gente a comprar pe-cão de gente a comprar pe-cão de gente a comprar pe-cão de gente a comprar pe-ças para atomizadores eças para atomizadores eças para atomizadores eças para atomizadores eças para atomizadores emotores de rega”motores de rega”motores de rega”motores de rega”motores de rega”, conta o em-pregado, que ganhava entãoquatro contos por mês (20 eu-ros), mas foi em poucos mesesaumentado para 4500 escudos.

Do balcão, Paulo passa a as-sumir actividades administrati-vas e técnicas. Acompanha aevolução da empresa e hoje par-te do seu tempo é passado emtrabalho exterior em tarefas deinstalação, montagem e assis-tência a clientes. Admite que é

agradável trabalhar-se fora,mas tem o inconveniente de nãoter horários certos. Afinal nãose pode deixar um cliente pen-durado e – se tiver que ser – odia de trabalho prolonga-se atétarde.

Entretanto, casou, estudou ànoite na Bordalo Pinheiro parafazer o 10º ano (antes só tinha oantigo 2º ano do ciclo) e vivehoje no Chão da Parada. Mas há28 anos que trabalha no mesmosítio (com uma curta experiên-cia de três meses de trabalhona Suíça que não o entusias-mou).

Porquê esta fidelidade a umaempresa numa época em que éfrequente mudar de emprego?

“Tem a ver, por um lado,“Tem a ver, por um lado,“Tem a ver, por um lado,“Tem a ver, por um lado,“Tem a ver, por um lado,com a minha maneira de sercom a minha maneira de sercom a minha maneira de sercom a minha maneira de sercom a minha maneira de ser– não gosto muito de mudan-– não gosto muito de mudan-– não gosto muito de mudan-– não gosto muito de mudan-– não gosto muito de mudan-ças -, e por outro, com a en-ças -, e por outro, com a en-ças -, e por outro, com a en-ças -, e por outro, com a en-ças -, e por outro, com a en-tidade patronal pois sempretidade patronal pois sempretidade patronal pois sempretidade patronal pois sempretidade patronal pois semprenos demos bem e são pesso-nos demos bem e são pesso-nos demos bem e são pesso-nos demos bem e são pesso-nos demos bem e são pesso-as que eu considero”as que eu considero”as que eu considero”as que eu considero”as que eu considero”.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

CRONOLOGIA19621962196219621962 – – – – – Braz Mendonça da Conceição regista-se como empre-sário em nome individual

19651965196519651965 – – – – – Abre a loja na Rua Dr. Miguel Bombarda.

19811981198119811981 – – – – – Muda a firma para sociedade por quotas (Braz Men-donça da Conceição Lda.) com um capital social de 150 contos(750 euros), dos quais um terço são da sua mulher, ÂngelaRibeiro Marques Mendonça da Conceição

19821982198219821982 – – – – – Braz Mendonça da Conceição morre num acidente deviação

19911991199119911991 – – – – – Aumento do capital social da firma para 10 mil contos(50 mil euros) distribuídos entre a viúva e os filhos.

Volume de negócios(em milhares de euros)

O documento do trespasse da loja, escrito numa folha deO documento do trespasse da loja, escrito numa folha deO documento do trespasse da loja, escrito numa folha deO documento do trespasse da loja, escrito numa folha deO documento do trespasse da loja, escrito numa folha depapel pardo. À época a palavra e honra dos homens contavapapel pardo. À época a palavra e honra dos homens contavapapel pardo. À época a palavra e honra dos homens contavapapel pardo. À época a palavra e honra dos homens contavapapel pardo. À época a palavra e honra dos homens contavamais do que a burocraciamais do que a burocraciamais do que a burocraciamais do que a burocraciamais do que a burocracia

No edifício da loja (que depois do trespasse acabariaNo edifício da loja (que depois do trespasse acabariaNo edifício da loja (que depois do trespasse acabariaNo edifício da loja (que depois do trespasse acabariaNo edifício da loja (que depois do trespasse acabariapor ser adquirida pelo fundador da empresa) funcionoupor ser adquirida pelo fundador da empresa) funcionoupor ser adquirida pelo fundador da empresa) funcionoupor ser adquirida pelo fundador da empresa) funcionoupor ser adquirida pelo fundador da empresa) funcionouentre 1936 e 1952 o Colégio Ramalho Ortigão. Recentementeentre 1936 e 1952 o Colégio Ramalho Ortigão. Recentementeentre 1936 e 1952 o Colégio Ramalho Ortigão. Recentementeentre 1936 e 1952 o Colégio Ramalho Ortigão. Recentementeentre 1936 e 1952 o Colégio Ramalho Ortigão. Recentementea montra do estabelecimento foi decorada com umaa montra do estabelecimento foi decorada com umaa montra do estabelecimento foi decorada com umaa montra do estabelecimento foi decorada com umaa montra do estabelecimento foi decorada com umaexposição que contava essa história.exposição que contava essa história.exposição que contava essa história.exposição que contava essa história.exposição que contava essa história.

O funcionário mais antigo da casa num dos poucosO funcionário mais antigo da casa num dos poucosO funcionário mais antigo da casa num dos poucosO funcionário mais antigo da casa num dos poucosO funcionário mais antigo da casa num dos poucosmomentos ao balcão. A maior parte do tempo está emmomentos ao balcão. A maior parte do tempo está emmomentos ao balcão. A maior parte do tempo está emmomentos ao balcão. A maior parte do tempo está emmomentos ao balcão. A maior parte do tempo está emtrabalho exterior.trabalho exterior.trabalho exterior.trabalho exterior.trabalho exterior.

Page 22: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Jaime Neves organizou o pri-meiro funeral aos 14 anos. Ocalendário marcava o ano de 1963e o jovem ficara encarregadodos negócios da empresa fami-liar na ausência dos pais.

“Apareceram os familiares“Apareceram os familiares“Apareceram os familiares“Apareceram os familiares“Apareceram os familiaresde uma pessoa que tinha fa-de uma pessoa que tinha fa-de uma pessoa que tinha fa-de uma pessoa que tinha fa-de uma pessoa que tinha fa-lecido e eu consegui orien-lecido e eu consegui orien-lecido e eu consegui orien-lecido e eu consegui orien-lecido e eu consegui orien-tar as coisas, juntamentetar as coisas, juntamentetar as coisas, juntamentetar as coisas, juntamentetar as coisas, juntamentecom um colaborador”com um colaborador”com um colaborador”com um colaborador”com um colaborador”, contao empresário, destacando quequando os pais chegaram, no diaseguinte, estava tudo tratado,à excepção da documentaçãoporque não tinha os 18 anos ne-cessários para fazer a declara-ção do óbito no Registo Civil.

Esta foi a sua primeira “pro-va de fogo”, mas Jaime Nevessempre se lembra de ajudar ospais na agência, fundada emJunho de 1955. Nessa altura sóhavia nas Caldas a Agência Ra-mos, da firma João Ramos eCompanhia, que já fechou assuas portas.

O seu pais, Jaime dos SantosNeves (hoje com 88 anos), eraentão funcionário bancário eabriu a casa de móveis e agên-cia funerária Neves, juntamen-te com o sócio Manuel Soares.Esta sociedade viria a durar ape-nas um ano, ficando Jaime dosSantos Neves com a agência quese foi especializando na activi-dade funerária.

Filho único de Laurinda Si-mões (1925-2003) e de Jaime dosSantos Neves, Jaime Neves her-dou do pai, além do nome, aúnica actividade que viria a co-nhecer durante toda a sua vidaprofissional. Nasceu em Leiria,mas foi criado na Rua do Jardim(hoje rua Alexandre Herculano),onde os pais residem e a agên-cia sempre se manteve. “Eu“Eu“Eu“Eu“Eupassei a ser um habitante dapassei a ser um habitante dapassei a ser um habitante dapassei a ser um habitante dapassei a ser um habitante darua e também um poucorua e também um poucorua e também um poucorua e também um poucorua e também um pouco“dono” dela”“dono” dela”“dono” dela”“dono” dela”“dono” dela”, brinca, lembran-do a sua vivência naquele espa-

Agência Funerária Neves foi criada nas Caldas da Ra

O empresário Jaime dos Santos Neves (hoje com 88 anos) e a esposa Laurinda Simões (1925-2003) fundaram a maior e mais antiga funerária caldense, negócio que o filho, JaimeO empresário Jaime dos Santos Neves (hoje com 88 anos) e a esposa Laurinda Simões (1925-2003) fundaram a maior e mais antiga funerária caldense, negócio que o filho, JaimeO empresário Jaime dos Santos Neves (hoje com 88 anos) e a esposa Laurinda Simões (1925-2003) fundaram a maior e mais antiga funerária caldense, negócio que o filho, JaimeO empresário Jaime dos Santos Neves (hoje com 88 anos) e a esposa Laurinda Simões (1925-2003) fundaram a maior e mais antiga funerária caldense, negócio que o filho, JaimeO empresário Jaime dos Santos Neves (hoje com 88 anos) e a esposa Laurinda Simões (1925-2003) fundaram a maior e mais antiga funerária caldense, negócio que o filho, JaimeNeves, prosseguiu a partir de 1975Neves, prosseguiu a partir de 1975Neves, prosseguiu a partir de 1975Neves, prosseguiu a partir de 1975Neves, prosseguiu a partir de 1975

A Agência Neves abriu portas em Junho de 1955 como casa de móveis e agência funerária, tendopor sócios Jaime dos Santos Neves e Manuel Soares. A sociedade acabaria foi terminar um anodepois ficando apenas Jaime dos Santos Neves, então com 34 anos, com o negócio que acabariapor especializar no ramo funerário e transformá-lo na agência mais conhecida das Caldas.O filho único de Laurinda Simões e Jaime dos Santos Neves, Jaime Neves herdou do pai, além donome, a única actividade que viria a conhecer durante toda a sua vida profissional. Uma profissãoque, apesar da sua especificidade, não deixou de sofrer também grandes alterações ao longo dotempo.

ço há mais de meio século.Naquela altura, e também

mais interessado nas brincadei-ras da rua, Jaime Neves nem seapercebia do trabalho dos pais.Só mais tarde viria a compreen-der que é uma vida “relativa-relativa-relativa-relativa-relativa-

mente presa porque os setemente presa porque os setemente presa porque os setemente presa porque os setemente presa porque os setedias da semana estão sem-dias da semana estão sem-dias da semana estão sem-dias da semana estão sem-dias da semana estão sem-pre incluídos em qualquerpre incluídos em qualquerpre incluídos em qualquerpre incluídos em qualquerpre incluídos em qualquerserviço fúnebre que venha aserviço fúnebre que venha aserviço fúnebre que venha aserviço fúnebre que venha aserviço fúnebre que venha aacontecer”acontecer”acontecer”acontecer”acontecer”.

Ainda assim, o pequeno Jai-me sempre ajudou a família notrabalho da funerária. A sua mãecostumava estofar o interior dasurnas - uma prática que já nãose faz porque agora as urnas vêmprontas de fábrica – que vinhamem tosco, sem acabamento in-terior. Aliás, como o pai traba-lhava na sucursal do Banco dePortugal das Caldas, era a suamãe, Laurinda Simões Neves, queficava na agência durante o dia.

Com os seus sete, oito anosjá se entretinha a “pregar as“pregar as“pregar as“pregar as“pregar asrendas no cetim e a dar caborendas no cetim e a dar caborendas no cetim e a dar caborendas no cetim e a dar caborendas no cetim e a dar caboda ponta dos dedos”da ponta dos dedos”da ponta dos dedos”da ponta dos dedos”da ponta dos dedos”, lembra,adiantando que cresceu prati-camente no meio das urnas quese encontravam dispostas pelaloja, até que passaram a ter umarmazém e na Rua do Jardim fi-cou apenas o escritório e servi-ço de atendimento do público.

Com o serviço militar cumpri-do, em 1973, chegou a hora paraJaime Neves de escolher umaprofissão. “Naquele tempo era“Naquele tempo era“Naquele tempo era“Naquele tempo era“Naquele tempo eradepois da tropa que as pes-depois da tropa que as pes-depois da tropa que as pes-depois da tropa que as pes-depois da tropa que as pes-

soas decidiam o que queri-soas decidiam o que queri-soas decidiam o que queri-soas decidiam o que queri-soas decidiam o que queri-am ser”am ser”am ser”am ser”am ser”, conta. No seu caso foifácil. “Esta é uma das activi-“Esta é uma das activi-“Esta é uma das activi-“Esta é uma das activi-“Esta é uma das activi-dades em que ou se gosta oudades em que ou se gosta oudades em que ou se gosta oudades em que ou se gosta oudades em que ou se gosta ounão se gosta. E eu semprenão se gosta. E eu semprenão se gosta. E eu semprenão se gosta. E eu semprenão se gosta. E eu sempregostei”gostei”gostei”gostei”gostei”.

É assim que pega no negócio

familiar, sucedendo ao seu pai,mas agora assumindo uma pro-fissionalização que até entãonão existira.

Mais tarde a empresa passaa ter funcionários. Antes, quan-do havia funerais, recorria-seaos tarefeiros, normalmente osengraxadores da Praça da Fru-ta, conta Jaime Neves. Não eradifícil porque naquele tempohavia pelo menos uns 15 naque-la zona da cidade.

José Felizardo, empregado nacasa há 15 anos (ver caixa) con-ta que aprendeu o ofício com osseus colegas e o patrão, mashoje em dia já há formação pro-fissional nesta actividade, a car-go da ANEL (Associação Nacio-nal das Empresas Lutuosas), daqual Jaime Neves, sócio nº 28, éactualmente o presidente daAssembleia Geral.

DO CAIXÃO À URNADO CAIXÃO À URNADO CAIXÃO À URNADO CAIXÃO À URNADO CAIXÃO À URNA

Nesta área também têm-seregistado muitas alterações. Aprimeira delas – com especialagrado do empresário – é a al-teração do termo caixão paraurna, pois trata-se do termo cor-recto. É que antigamente utili-

zava-se o nome caixão para de-signar a caixa de madeira tos-ca, forrada a pano exteriormen-te, com que se faziam os enter-ramentos.

Existem urnas de vários tipos,modelos e categorias, mas as

funerárias não conseguemabranger toda essa diversidade,acabando por ter meia dúzia demodelos com os quais traba-lham. Jaime Neves explica mes-mo que a zona Norte tem umtipo de urna diferente da deCoimbra ou Lisboa.

Nas Caldas é o modelo Lis-boa o mais utilizado. Trata-sede uma urna rectangular, comlargura igual à cabeça e aos pés,enquanto que o modelo do Por-to tem à cabeceira uma largurasuperior aos pés.

A acrescentar a estes forma-

tos, existem ainda as de tampaou os baús, consoante a prefe-rência do cliente.

“De vez em quando sur-De vez em quando sur-De vez em quando sur-De vez em quando sur-De vez em quando sur-gem algumas excentricida-gem algumas excentricida-gem algumas excentricida-gem algumas excentricida-gem algumas excentricida-des, como o caso de quere-des, como o caso de quere-des, como o caso de quere-des, como o caso de quere-des, como o caso de quere-rem uma urna de amarelo”rem uma urna de amarelo”rem uma urna de amarelo”rem uma urna de amarelo”rem uma urna de amarelo”,

conta Jaime Neves, que nãopode satisfazer estes pedidosporque prefere trabalhar ape-nas com os modelos tradicio-nais. “Mas há fábricas que“Mas há fábricas que“Mas há fábricas que“Mas há fábricas que“Mas há fábricas quetêm vermelhas ou verdes,têm vermelhas ou verdes,têm vermelhas ou verdes,têm vermelhas ou verdes,têm vermelhas ou verdes,para os adeptos clubísticospara os adeptos clubísticospara os adeptos clubísticospara os adeptos clubísticospara os adeptos clubísticosmais fervorosos”mais fervorosos”mais fervorosos”mais fervorosos”mais fervorosos”, conta oempresário, explicando que essa“tradição” passou para os po-tes de cinza, que os há de váriascores e formatos, como é possí-vel ver na exposição que tem nasua loja.

Um funeral pode custar entreos 300 euros estipulados pelo

Governo como “funeral social”até aos 2000 euros ou muitomais. Depende em grande par-te da urna, que pode variar dos325 aos 800 euros, embora ashaja também muito mais caras.Por exemplo, uma urna de mog-no para jazigo pode custar 1100euros, em madeira munete já vaiaos 2500 euros e depois há ur-nas em pau santo que atingemquantias astronómicos.

Seja como for, os funerais emjazigos estão fora de moda, peloque não é nesta segmento queJaime Neves faz o grosso do seunegócio. De resto, a actividadefunerária tem-se mantido maisou menos constante, residindoas principais diferenças numamaior opção pela cremação euma menor procura pelo servi-ço de jazigo.

Apesar do aumento do núme-ro de pedidos de cremação, oempresário não vê necessidadeda criação de um crematório nasCaldas, nem forma de o man-ter, explicando que, pela proxi-midade geográfica, estão a des-locar os corpos a Lisboa paraserem cremados.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

Um Chevrolet americano foi o primeiro carro da empresa. O veículo fez funerais atéUm Chevrolet americano foi o primeiro carro da empresa. O veículo fez funerais atéUm Chevrolet americano foi o primeiro carro da empresa. O veículo fez funerais atéUm Chevrolet americano foi o primeiro carro da empresa. O veículo fez funerais atéUm Chevrolet americano foi o primeiro carro da empresa. O veículo fez funerais atéfinais de 1976.finais de 1976.finais de 1976.finais de 1976.finais de 1976.

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ainha há 55 anos

Faz falta um centro funerário nas Caldas O primeiro carro que a agência teve

foi um Chevrolet americano, depoisadaptado a carro funerário, cuja foto-grafia ainda hoje a firma ostenta, orgu-lhosamente, na parede do escritório.Nela é possível ver o carro estacionadona Rua Leão Azedo, junto às oficinas dosCapristanos (actual Rodoviária). “Na“Na“Na“Na“Naaltura podíamos escolher o lugaraltura podíamos escolher o lugaraltura podíamos escolher o lugaraltura podíamos escolher o lugaraltura podíamos escolher o lugarpara estacionar, à sombra ou aopara estacionar, à sombra ou aopara estacionar, à sombra ou aopara estacionar, à sombra ou aopara estacionar, à sombra ou aosol, porque poucos carros haviasol, porque poucos carros haviasol, porque poucos carros haviasol, porque poucos carros haviasol, porque poucos carros haviana rua”na rua”na rua”na rua”na rua”, lembra Jaime Neves, acrescen-tando que o veículo manteve-se ao ser-viço da empresa até Dezembro de 1976.

Mas quando a Agência Neves foi for-mada, o veículo de transporte nos fune-rais eram as célebres carretas, um géne-ro de carroça transformada em viaturafunerária para a época, puxada por doishomens.

Nessa altura os funerais eram a “pas-so”. Jaime Neves recorda-se, por exem-plo, de todas as ruas do Bairro dos Ar-neiros serem em terra e só começar ahaver alcatrão já perto da ponte. Todosos percursos passavam também pelocentro da cidade, registando o empresá-rio na memória a esquina da merceariaPena como um local de passagem obri-gatória de qualquer funeral, que se diri-gia ao cemitério antigo, junto à Secla.

“Havia um respeito pelo per-“Havia um respeito pelo per-“Havia um respeito pelo per-“Havia um respeito pelo per-“Havia um respeito pelo per-curso em que se dava sempre acurso em que se dava sempre acurso em que se dava sempre acurso em que se dava sempre acurso em que se dava sempre ault ima passagem pela c idade”ult ima passagem pela c idade”ult ima passagem pela c idade”ult ima passagem pela c idade”ult ima passagem pela c idade”,conta, acrescentando que os funeraiseram feitos a pé e o sacerdote acompa-nhava-o, desde o domicílio até ao cemi-tério. “Hoje em dia todas essas prá-Hoje em dia todas essas prá-Hoje em dia todas essas prá-Hoje em dia todas essas prá-Hoje em dia todas essas prá-t icas estão alteradas porque ot icas estão alteradas porque ot icas estão alteradas porque ot icas estão alteradas porque ot icas estão alteradas porque osacerdote faz as cer imónias esacerdote faz as cer imónias esacerdote faz as cer imónias esacerdote faz as cer imónias esacerdote faz as cer imónias eaguarda a chegada do corpo aoaguarda a chegada do corpo aoaguarda a chegada do corpo aoaguarda a chegada do corpo aoaguarda a chegada do corpo aocemitério”cemitério”cemitério”cemitério”cemitério”, explica, acrescentando que90% dos funerais são feitos pela IgrejaCatólica.

Dessa altura Jaime Neves lembra umahistória engraçada. Os cortejos, a pé,abrangiam toda a largura da rua e cor-tavam o trânsito da Rua Heróis da Gran-de Guerra até ao Largo Conde José deFontalva, em direcção ao cemitério.Quando se passava em frente á SantaCasa da Misericórdia e ao Hotel Lisbo-nense começavam as tentativas dos au-tomóveis para ultrapassar o cortejo. Háum dia em que um individuo ultrapassao cortejo e não repara que vem um carrode frente, batendo. “Dá-se um gran-Dá-se um gran-Dá-se um gran-Dá-se um gran-Dá-se um gran-de estardalhaço e toda a gentede estardalhaço e toda a gentede estardalhaço e toda a gentede estardalhaço e toda a gentede estardalhaço e toda a genteparou para ver o que era, mas oparou para ver o que era, mas oparou para ver o que era, mas oparou para ver o que era, mas oparou para ver o que era, mas ocortejo seguiu para o cemitériocortejo seguiu para o cemitériocortejo seguiu para o cemitériocortejo seguiu para o cemitériocortejo seguiu para o cemitériode Nossa Senhora do Pópulo”de Nossa Senhora do Pópulo”de Nossa Senhora do Pópulo”de Nossa Senhora do Pópulo”de Nossa Senhora do Pópulo”, con-tou, acrescentando que quando chega-ram ao cemitério “só estavam presen-“só estavam presen-“só estavam presen-“só estavam presen-“só estavam presen-tes meia dúzia de pessoas quetes meia dúzia de pessoas quetes meia dúzia de pessoas quetes meia dúzia de pessoas quetes meia dúzia de pessoas quevinham atrás do carro funerário,vinham atrás do carro funerário,vinham atrás do carro funerário,vinham atrás do carro funerário,vinham atrás do carro funerário,o padre e o sacristão. O restanteo padre e o sacristão. O restanteo padre e o sacristão. O restanteo padre e o sacristão. O restanteo padre e o sacristão. O restanteacompanhamento ficou a ver o aci-acompanhamento ficou a ver o aci-acompanhamento ficou a ver o aci-acompanhamento ficou a ver o aci-acompanhamento ficou a ver o aci-dente”dente”dente”dente”dente”.

A Agência Neves também faz trasla-dações, perdão, “repatriamento de ca-dáveres”, que é a expressão mais correc-

ta. E tanto os faz de portugueses quefaleceram no estrangeiro, como com osféretros de estrangeiros que pereceramem Portugal. É, contudo, uma fatia donegócio muito pouco significativa, diz oempresário, até porque hoje em dia é maiseconómico proceder-se à cremação e en-viar apenas a urna com as cinzas para opaís de destino.

Relativamente às Caldas da Rainha,Jaime Neves diz que “há falta de res-“há falta de res-“há falta de res-“há falta de res-“há falta de res-peito e de dignidade” peito e de dignidade” peito e de dignidade” peito e de dignidade” peito e de dignidade” da parte dasentidades competentes por não haver umcentro funerário em condições onde pos-sam ser velados os corpos. A Igreja deNossa Senhora da Conceição não temcapela mortuária e a capela de S. Sebas-tião, que foi utilizada como local de ve-lamento, deixou de o ser quando foi trans-formada em museu.

“Os velamentos são feitos no Mon-“Os velamentos são feitos no Mon-“Os velamentos são feitos no Mon-“Os velamentos são feitos no Mon-“Os velamentos são feitos no Mon-tepio ou nas capelas dos própriostepio ou nas capelas dos própriostepio ou nas capelas dos própriostepio ou nas capelas dos própriostepio ou nas capelas dos próprioscemitérios, que não têm dignidadecemitérios, que não têm dignidadecemitérios, que não têm dignidadecemitérios, que não têm dignidadecemitérios, que não têm dignidadenem condições”nem condições”nem condições”nem condições”nem condições”, diz, realçando que umacidade com a dimensão das Caldas “devia“devia“devia“devia“deviade ter um local com dignidade e es-de ter um local com dignidade e es-de ter um local com dignidade e es-de ter um local com dignidade e es-de ter um local com dignidade e es-paço”paço”paço”paço”paço” para esta prática.

Actualmente a agência possui duasviaturas funerárias e dentro de algunsdias terá mais uma. Em rigor, não exis-tem carros funerários originais. Estes ve-ículos são carros normais que são pos-teriormente transformados para este fim.Hoje em dia, porém, utilizam-se furgõese carrinhas para se transformarem emcarros funerários.

O empresário escusou-se a divulgaro volume de facturação da sua empresa,que actualmente conta com quatro fun-cionários.

Trata-se uma profissão marcadamen-te masculina, muito devido ao esforço fí-sico que implica, mas Jaime Neves afirmaque também há mulheres, por quem dizter muito respeito e amizade, que sãoóptimas profissionais na actividade.

E como será o futuro? O empresáriodiz que ideias há muitas, só que não sepodem concretizar, dada a conjunturado país.

Actualmente com 61 anos, Jaime Ne-ves diz querer aguentar a firma mais qua-tro anos. “Aos 65 anos quero ir fa-Aos 65 anos quero ir fa-Aos 65 anos quero ir fa-Aos 65 anos quero ir fa-Aos 65 anos quero ir fa-zer aquilo que nunca fiz em to-zer aquilo que nunca fiz em to-zer aquilo que nunca fiz em to-zer aquilo que nunca fiz em to-zer aquilo que nunca fiz em to-dos estes anos: ter férias, des-dos estes anos: ter férias, des-dos estes anos: ter férias, des-dos estes anos: ter férias, des-dos estes anos: ter férias, des-canso e não ter que estar preso acanso e não ter que estar preso acanso e não ter que estar preso acanso e não ter que estar preso acanso e não ter que estar preso anada”nada”nada”nada”nada”. É que, como realça, “são 365“são 365“são 365“são 365“são 365dias dedicados à actividade”dias dedicados à actividade”dias dedicados à actividade”dias dedicados à actividade”dias dedicados à actividade”, sem

ter direito a férias. “De vez em quan-De vez em quan-De vez em quan-De vez em quan-De vez em quan-do lá consigo fugir dois ou trêsdo lá consigo fugir dois ou trêsdo lá consigo fugir dois ou trêsdo lá consigo fugir dois ou trêsdo lá consigo fugir dois ou trêsdias, mas mesmo assim o telefo-dias, mas mesmo assim o telefo-dias, mas mesmo assim o telefo-dias, mas mesmo assim o telefo-dias, mas mesmo assim o telefo-ne não pára de tocar”ne não pára de tocar”ne não pára de tocar”ne não pára de tocar”ne não pára de tocar”, conta, acres-centando que têm que estar sempreprontos para dar apoio aos familiaressete dias por semana.

O telefone sempre foi o meio de con-tacto privilegiado da empresa, mas an-tes os familiares dos falecidos chegavama ir-lhe a casa bater à porta. Quando iaao cinema, Jaime Neves escolhia sempreo lugar da ponta porque, como aconte-ceu várias vezes, antes do filme terminar,“vinha o porteiro chamar-me por-“vinha o porteiro chamar-me por-“vinha o porteiro chamar-me por-“vinha o porteiro chamar-me por-“vinha o porteiro chamar-me por-que estavam pessoas à minha pro-que estavam pessoas à minha pro-que estavam pessoas à minha pro-que estavam pessoas à minha pro-que estavam pessoas à minha pro-cura”cura”cura”cura”cura”. Outras vezes são jantares e almo-ços que ficam a meio porque a emergên-cia assim o obriga. “A família habituou-“A família habituou-“A família habituou-“A família habituou-“A família habituou-se a isso”se a isso”se a isso”se a isso”se a isso”, conclui o empresário.

Hoje há telemóveis, a empresa temquatro empregados – três agentes fune-rários e uma administrativa -, mas a pro-fissão exige uma disponibilidade total 24horas por dia. Jaime Neves não conse-gue distinguir uma época do ano commais funerais. É totalmente aleatório.

Por exemplo, este mês de Julho de 2009tem-se revelado o mais fraco em termosde negócio, coisa que aconteceu o anopassado em Abril.

É, pois, normal viverem-se muitos diasseguidos de tédio numa agencia funerá-ria. Mas também há picos de stress poisacontece realizarem-se cinco ou seis fu-nerais no mesmo dia.

Já este é um sector imune à recessãoeconómica. Ou quase. “É óbvio que“É óbvio que“É óbvio que“É óbvio que“É óbvio queem tempos de d i f icu ldades asem tempos de d i f icu ldades asem tempos de d i f icu ldades asem tempos de d i f icu ldades asem tempos de d i f icu ldades aspessoas não querem um funeralpessoas não querem um funeralpessoas não querem um funeralpessoas não querem um funeralpessoas não querem um funeralmais caro e optam pelo mais ba-mais caro e optam pelo mais ba-mais caro e optam pelo mais ba-mais caro e optam pelo mais ba-mais caro e optam pelo mais ba-rato”rato”rato”rato”rato”, constata o empresário, que reali-za uma média de 250 funerais por ano.Já o volume de negócios não o quis di-vulgar.

Com duas filhas, ambas adultas ecom actividade profissional, o casal Jai-me e Anabela não espera que estas algu-ma vez venham a interessar-se pelo ne-gocio da família. As áreas de interessesão outras: uma é licenciada em Mate-máticas Aplicadas e a outra em Inglês eAlemão.

Para comemorar os 55 anos da em-presa, Jaime Neves criou um boletim in-formativo e obituário, de distribuiçãogratuita. O primeiro número saiu em Ju-nho e tem como tema principal “Os es-paços sagrados”, onde o empresáriofala sobre os cemitérios primitivos e asalterações que estes têm tido ao longodos tempos.

O boletim dá ainda informações so-bre o que fazer quando ocorre um óbitoe o obituário de Maio.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

Anabela Neves e Jaime Neves. O casal detém desde 2002Anabela Neves e Jaime Neves. O casal detém desde 2002Anabela Neves e Jaime Neves. O casal detém desde 2002Anabela Neves e Jaime Neves. O casal detém desde 2002Anabela Neves e Jaime Neves. O casal detém desde 2002a sociedade por quotas proprietária da agênciaa sociedade por quotas proprietária da agênciaa sociedade por quotas proprietária da agênciaa sociedade por quotas proprietária da agênciaa sociedade por quotas proprietária da agência

O espírito curioso e atento de Jaime Neves levou-o a interessar-se pelo jorna-lismo e investigação da história local.

Foi colaborador da Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas na década de 60 do século passado,altura em que era chefe de redacção deste semanário Domingos del Rio. Entre asdiversas peças que fez, é o autor da rubrica “Sabe quem foi”, sobre personalidades,e do suplemento O Gazetário, que fazia juntamente com Micael Faria e cujos textosforam várias vezes cortados pela censura.

Mais tarde, a partir de meados da década de 70, fez parte do Notícias das Caldas,onde era cooperador e o paginador do próprio jornal. “Era o trabalho que euEra o trabalho que euEra o trabalho que euEra o trabalho que euEra o trabalho que eutinha todos os domingos à noite”tinha todos os domingos à noite”tinha todos os domingos à noite”tinha todos os domingos à noite”tinha todos os domingos à noite”, lembra.

Jaime Neves é também autor de um livro sobre a toponímia caldense e já possuiapontamentos sobre o roteiro das Caldas, que pretende vir a publicar. Está tam-bém a fazer um levantamento sobre os cemitérios desde a fundação da vila dasCaldas, no qual julga poder publicar todos os cemitérios que existiram na cidade.

A pintura foi um hobby que se prolongou durante dois ou três anos e que teve queabandonar por falta de tempo. “Comecei a fazer retrato e pintura sem darComecei a fazer retrato e pintura sem darComecei a fazer retrato e pintura sem darComecei a fazer retrato e pintura sem darComecei a fazer retrato e pintura sem darpor isso”por isso”por isso”por isso”por isso”, lembra, acrescentando que a dada altura também se dedicou à pinturade brasões.

Mas a pintura exige alguma disponibilidade e, “nas alturas em que eu“nas alturas em que eu“nas alturas em que eu“nas alturas em que eu“nas alturas em que eumenos esperava”menos esperava”menos esperava”menos esperava”menos esperava”, surgia sempre um telefonema ou um pedido e Jaime Nevestinha que abandonar o que estava a fazer para ir tratar do assunto. “Estraguei“Estraguei“Estraguei“Estraguei“Estragueimuitos pincéis e tinta porque não havia tempo para limpar e arrumarmuitos pincéis e tinta porque não havia tempo para limpar e arrumarmuitos pincéis e tinta porque não havia tempo para limpar e arrumarmuitos pincéis e tinta porque não havia tempo para limpar e arrumarmuitos pincéis e tinta porque não havia tempo para limpar e arrumardevidamente”devidamente”devidamente”devidamente”devidamente”, conta, acrescentando que ainda mantém em casa todo o equipa-mento à espera do dia em que venha a reforma.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

1955 -1955 -1955 -1955 -1955 - Jaime dos Santos Neves e Manuel Soares fundamuma casa de móveis e agencia funerária

1957 –1957 –1957 –1957 –1957 – Com a saída de Manuel Soares, Jaime Neves ficacom a empresa em nome individual.

1975 –1975 –1975 –1975 –1975 – Jaime Neves (filho) sucede ao pai, mantendo a em-presa em nome individual

2002 –2002 –2002 –2002 –2002 – Por obrigação legal, é constituída uma sociedadepor quotas, com um capital social de 10 mil euros entre JaimeNeves e a esposa, Anabela Neves.

Tintas e pincéis à espera da

reforma

“Quando são crianças eQuando são crianças eQuando são crianças eQuando são crianças eQuando são crianças e

jovens marca muito”jovens marca muito”jovens marca muito”jovens marca muito”jovens marca muito”

José Felizardo, tem 51 anos etrabalha há 15 anos na AgênciaNeves como agente funerário emotorista. Residente em Torna-da, começou a trabalhar aos 12anos no ramo automóvel e aípermaneceu durante mais deduas décadas, mas o encerra-mento das várias empresasonde esteve levaram-no ao de-semprego.

“Estou aqui há 15 anos eEstou aqui há 15 anos eEstou aqui há 15 anos eEstou aqui há 15 anos eEstou aqui há 15 anos egosto do que faço”gosto do que faço”gosto do que faço”gosto do que faço”gosto do que faço”, diz, em-bora reconheça que no início “ééééésempre um pouco difícil por-sempre um pouco difícil por-sempre um pouco difícil por-sempre um pouco difícil por-sempre um pouco difícil por-que é um serviço diferenteque é um serviço diferenteque é um serviço diferenteque é um serviço diferenteque é um serviço diferentedo que estava habituado”.do que estava habituado”.do que estava habituado”.do que estava habituado”.do que estava habituado”.

José Felizardo conta que tam-bém têm que ser um bocadopsicólogos, ajudando as famíli-as naquelas horas tão difíceis.Aprendeu o ofício com os funci-onários mais velhos e rapida-mente começou a tratar do ca-dáver, vestindo-o e preparando-o.

Também nesta área vão ha-vendo inovações e, por exem-plo, agora existem produtos di-ferentes e mais modernos paraa preparação dos cadáveres.

José Felizardo lembra que ao

O funcionário mais antigo, José Felizardo, ladeadoO funcionário mais antigo, José Felizardo, ladeadoO funcionário mais antigo, José Felizardo, ladeadoO funcionário mais antigo, José Felizardo, ladeadoO funcionário mais antigo, José Felizardo, ladeadopelos colegas Isidro Fiandeiro e Moisés Sousapelos colegas Isidro Fiandeiro e Moisés Sousapelos colegas Isidro Fiandeiro e Moisés Sousapelos colegas Isidro Fiandeiro e Moisés Sousapelos colegas Isidro Fiandeiro e Moisés Sousa

longo da sua actividade profis-sional teve duas situações queforam particularmente difíceisde suportar. Há cinco ou seisanos, a uma terça-feira, teveque ir buscar uma bebé de 23meses ao Hospital de SantaMaria. Depois, na sexta-feiraseguinte, fez o funeral de umajovem de 19 anos. “Quando sãoQuando sãoQuando sãoQuando sãoQuando sãocrianças e jovens marcacrianças e jovens marcacrianças e jovens marcacrianças e jovens marcacrianças e jovens marcamuito”muito”muito”muito”muito”, conta, acrescentandoque qualquer uma das situaçõesmarca porque “somos huma-somos huma-somos huma-somos huma-somos huma-nos”nos”nos”nos”nos”.

Apesar de não ser um traba-lho stressante, “marca em“marca em“marca em“marca em“marca emcertas situações”certas situações”certas situações”certas situações”certas situações”, conta o fun-cionário.

A família vê bem a sua pro-fissão. “Não vou para casaNão vou para casaNão vou para casaNão vou para casaNão vou para casafalar do trabalho, mas não éfalar do trabalho, mas não éfalar do trabalho, mas não éfalar do trabalho, mas não éfalar do trabalho, mas não étabu”tabu”tabu”tabu”tabu”, refere José Felizardo,adiantando que tem uma filhacom 12 anos, que não tem qual-quer complexo com isso. “Mes-“Mes-“Mes-“Mes-“Mes-mo na escola os colegas sa-mo na escola os colegas sa-mo na escola os colegas sa-mo na escola os colegas sa-mo na escola os colegas sa-bem o que o pai faz e isso ébem o que o pai faz e isso ébem o que o pai faz e isso ébem o que o pai faz e isso ébem o que o pai faz e isso évisto com naturalidade”visto com naturalidade”visto com naturalidade”visto com naturalidade”visto com naturalidade”, dis-se.

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CURIOSIDADESGato Pingado Gato Pingado Gato Pingado Gato Pingado Gato Pingado - Nome que na gíria é dado ao agente fune-

rário. A expressão advém do facto de, há séculos atrás, oindivíduo que acompanhava o funeral levar um archote ou umavela acesa que, durante o percurso, ia pingando. Como ficavatodo sujo de cera, era-lhe dado o nome de gato pingado.

Auto-fúnebreAuto-fúnebreAuto-fúnebreAuto-fúnebreAuto-fúnebre – nome do carro funerárioServiço de archoteServiço de archoteServiço de archoteServiço de archoteServiço de archote – serviço da movimentação da urna

CRONOLOGIA

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UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Curel alia inovação e tradição num ofício secularLuís Matias nasceu a 11 de Setem-

bro de 1940 no lugar de Cabeço doBoieiro, no Pego, para os lados de Al-vorninha. Filho de gente humilde, quetrabalhava a terra, estudou até à 4ªclasse, com grande sacrifício dospais. Aos 12 anos, ainda gaiato e coma continuação dos estudos bem longedos seus horizontes, Luís foi obriga-do a fazer-se homem e a ajudar emcasa com o fruto do seu trabalho. Va-leu-lhe a “inspiração” “inspiração” “inspiração” “inspiração” “inspiração” do pai, queapós algum tempo a trabalhar com ofilho nas suas terras decidiu que, sehouvesse saída da pobreza, teria queser noutro ofício.

“Nascido na aldeia, mal sa-“Nascido na aldeia, mal sa-“Nascido na aldeia, mal sa-“Nascido na aldeia, mal sa-“Nascido na aldeia, mal sa-bia ler e escrever, mas era inte-bia ler e escrever, mas era inte-bia ler e escrever, mas era inte-bia ler e escrever, mas era inte-bia ler e escrever, mas era inte-ligente e marcava um bocado aligente e marcava um bocado aligente e marcava um bocado aligente e marcava um bocado aligente e marcava um bocado adiferença em relação às outrasdiferença em relação às outrasdiferença em relação às outrasdiferença em relação às outrasdiferença em relação às outraspessoas dali. Disse-me: ‘vaispessoas dali. Disse-me: ‘vaispessoas dali. Disse-me: ‘vaispessoas dali. Disse-me: ‘vaispessoas dali. Disse-me: ‘vaispara a escola”para a escola”para a escola”para a escola”para a escola”, conta agora LuísMatias, prestes a completar os 70anos de idade. “Quando a escola“Quando a escola“Quando a escola“Quando a escola“Quando a escolaacabou, fui trabalhar a terraacabou, fui trabalhar a terraacabou, fui trabalhar a terraacabou, fui trabalhar a terraacabou, fui trabalhar a terracom o meu pai, que teve, en-com o meu pai, que teve, en-com o meu pai, que teve, en-com o meu pai, que teve, en-com o meu pai, que teve, en-tão, esta ideia: o rapaz vaitão, esta ideia: o rapaz vaitão, esta ideia: o rapaz vaitão, esta ideia: o rapaz vaitão, esta ideia: o rapaz vaiaprender, vai para as navalhas,aprender, vai para as navalhas,aprender, vai para as navalhas,aprender, vai para as navalhas,aprender, vai para as navalhas,porque os navalheiros é tudoporque os navalheiros é tudoporque os navalheiros é tudoporque os navalheiros é tudoporque os navalheiros é tudouma pobreza muito grande, masuma pobreza muito grande, masuma pobreza muito grande, masuma pobreza muito grande, masuma pobreza muito grande, maspor ali pode haver uma saída.por ali pode haver uma saída.por ali pode haver uma saída.por ali pode haver uma saída.por ali pode haver uma saída.Agora isto da agricultura nuncaAgora isto da agricultura nuncaAgora isto da agricultura nuncaAgora isto da agricultura nuncaAgora isto da agricultura nuncadá nada. E o meu pai não se en-dá nada. E o meu pai não se en-dá nada. E o meu pai não se en-dá nada. E o meu pai não se en-dá nada. E o meu pai não se en-ganou”ganou”ganou”ganou”ganou”. Foi assim que Luís Matiasfoi “para as navalhas”.“para as navalhas”.“para as navalhas”.“para as navalhas”.“para as navalhas”.

O seu primeiro ‘mestre’ foi Fernan-do Policarpo, “um senhor que tra-“um senhor que tra-“um senhor que tra-“um senhor que tra-“um senhor que tra-balhava muito bem as navalhasbalhava muito bem as navalhasbalhava muito bem as navalhasbalhava muito bem as navalhasbalhava muito bem as navalhase era muito habilidoso”e era muito habilidoso”e era muito habilidoso”e era muito habilidoso”e era muito habilidoso”. Perto decasa, Luís Matias aprendeu os truquesde um ofício em que tudo era feito ma-nualmente. “Nesse tempo traba-“Nesse tempo traba-“Nesse tempo traba-“Nesse tempo traba-“Nesse tempo traba-lhava-se de manhã à noite, fazi-lhava-se de manhã à noite, fazi-lhava-se de manhã à noite, fazi-lhava-se de manhã à noite, fazi-lhava-se de manhã à noite, fazi-am-se muitos serões. Faziam-seam-se muitos serões. Faziam-seam-se muitos serões. Faziam-seam-se muitos serões. Faziam-seam-se muitos serões. Faziam-semuitas horas para ganhar sem-muitas horas para ganhar sem-muitas horas para ganhar sem-muitas horas para ganhar sem-muitas horas para ganhar sem-pre pouco”pre pouco”pre pouco”pre pouco”pre pouco”.

Dois anos depois de ter começadoa laborar na oficina de Policarpo, aganhar 10 escudos [5 cêntimos] pormês, surge uma lei que manda que osnavalheiros não trabalhem mais deoito horas por dia. “O meu patrão“O meu patrão“O meu patrão“O meu patrão“O meu patrãoficou muito atrapalhado. Então,ficou muito atrapalhado. Então,ficou muito atrapalhado. Então,ficou muito atrapalhado. Então,ficou muito atrapalhado. Então,se nós trabalhávamos todo o diase nós trabalhávamos todo o diase nós trabalhávamos todo o diase nós trabalhávamos todo o diase nós trabalhávamos todo o diae fazíamos serão para ganhare fazíamos serão para ganhare fazíamos serão para ganhare fazíamos serão para ganhare fazíamos serão para ganharum ordenadito… Depois haviaum ordenadito… Depois haviaum ordenadito… Depois haviaum ordenadito… Depois haviaum ordenadito… Depois haviaquem dissesse que ia haver fis-quem dissesse que ia haver fis-quem dissesse que ia haver fis-quem dissesse que ia haver fis-quem dissesse que ia haver fis-calizações”calizações”calizações”calizações”calizações”. Ora, numa zona onde

A Curel foi fundada em 1977 na localidade das Relvas, freguesia de Santa Catarina. Cinco anosdepois foi comprada por Luís Matias, que trabalhava a fazer navalhas desde os 12 anos de idade eque mais tarde passou a caixeiro-viajante de cutelarias, construindo uma pequena fortuna.Ainda que a história da empresa não tenha início com Luís Matias, foi com ele que a Curel se afirmouaquém e além fronteiras. Hoje, é o filho – Vasco Ivo Matias – que está ao comando da empresa, queproduz anualmente cerca de 2,5 milhões de facas e canivetes. Mas a história da fábrica de cutelariasde Santa Catarina faz-se das memórias de um homem ambicioso e é fruto da inspiração do seu pai,que quis um futuro melhor para o filho do que o trabalho na terra.

muitos tinham “uma barraquita”“uma barraquita”“uma barraquita”“uma barraquita”“uma barraquita”onde faziam as navalhas, “toda a“toda a“toda a“toda a“toda agente ficou com muito medo”gente ficou com muito medo”gente ficou com muito medo”gente ficou com muito medo”gente ficou com muito medo”.

Fernando Policarpo decidiu fechara sua oficina e ir trabalhar para a Ri-bafria, na Benedita, naquela que foi aoficina onde nasceu a Icel. Luís Mati-as decidiu então ir trabalhar para umaoficina, pertencente a Luís Gonzaga,na localidade de Casal Velho, perto daRamalhosa, “onde já havia algu-“onde já havia algu-“onde já havia algu-“onde já havia algu-“onde já havia algu-ma evoluçãozita, que já tinhama evoluçãozita, que já tinhama evoluçãozita, que já tinhama evoluçãozita, que já tinhama evoluçãozita, que já tinhaum motor para acabar as nava-um motor para acabar as nava-um motor para acabar as nava-um motor para acabar as nava-um motor para acabar as nava-lhas”lhas”lhas”lhas”lhas”. Luís Matias passou a ganhar12 escudos [6 cêntimos], “porque“porque“porque“porque“porqueeu já trabalhava muito bem”eu já trabalhava muito bem”eu já trabalhava muito bem”eu já trabalhava muito bem”eu já trabalhava muito bem”,afiança.

Contudo não ficou com este patrãomuito tempo porque esta foi uma dasdiversas oficinas da zona que seriamfundidas numa só emprea – a Sovi –propriedade de António Ivo Peralta.

É assim que Luís Matias passa aficar ao serviço deste seu terceiropatrão. No entanto, passa a trabalharmais longe de casa, tendo de deslo-car-se a pé desde o Pego para SantaCatarina, muitas vezes às escuras,em estradas de carros de bois.

“Viemos em Setembro, no fim“Viemos em Setembro, no fim“Viemos em Setembro, no fim“Viemos em Setembro, no fim“Viemos em Setembro, no fimdo Verão. Este caminho torto,do Verão. Este caminho torto,do Verão. Este caminho torto,do Verão. Este caminho torto,do Verão. Este caminho torto,com carreiros, lamas e ribeiras,com carreiros, lamas e ribeiras,com carreiros, lamas e ribeiras,com carreiros, lamas e ribeiras,com carreiros, lamas e ribeiras,nessa altura passava-se bem.nessa altura passava-se bem.nessa altura passava-se bem.nessa altura passava-se bem.nessa altura passava-se bem.Mas começou o Inverno e al-Mas começou o Inverno e al-Mas começou o Inverno e al-Mas começou o Inverno e al-Mas começou o Inverno e al-guns dos empregados, os queguns dos empregados, os queguns dos empregados, os queguns dos empregados, os queguns dos empregados, os queeram casados, ficaram a vivereram casados, ficaram a vivereram casados, ficaram a vivereram casados, ficaram a vivereram casados, ficaram a viverem Santa Catarina. Fiquei só euem Santa Catarina. Fiquei só euem Santa Catarina. Fiquei só euem Santa Catarina. Fiquei só euem Santa Catarina. Fiquei só eue um meu vizinho, o Avelino. Fi-e um meu vizinho, o Avelino. Fi-e um meu vizinho, o Avelino. Fi-e um meu vizinho, o Avelino. Fi-e um meu vizinho, o Avelino. Fi-cámos os novatos a fazer o ca-cámos os novatos a fazer o ca-cámos os novatos a fazer o ca-cámos os novatos a fazer o ca-cámos os novatos a fazer o ca-

minho, mas nós não tínhamosminho, mas nós não tínhamosminho, mas nós não tínhamosminho, mas nós não tínhamosminho, mas nós não tínhamosproblema”problema”problema”problema”problema”. Mas a companhia duroupouco mais de um ano porque o amigodesistiu. Só ficou Luís Matias, já com15 anos e a ganhar então 15 escudos[7,5 cêntimos] por mês.

“Dava a maior parte do di-“Dava a maior parte do di-“Dava a maior parte do di-“Dava a maior parte do di-“Dava a maior parte do di-

nheiro que ganhava aonheiro que ganhava aonheiro que ganhava aonheiro que ganhava aonheiro que ganhava aomeu pai. Era com o que ganha-meu pai. Era com o que ganha-meu pai. Era com o que ganha-meu pai. Era com o que ganha-meu pai. Era com o que ganha-va com as horas extraordinári-va com as horas extraordinári-va com as horas extraordinári-va com as horas extraordinári-va com as horas extraordinári-as que me vestia. Era feliz. Nãoas que me vestia. Era feliz. Nãoas que me vestia. Era feliz. Nãoas que me vestia. Era feliz. Nãoas que me vestia. Era feliz. Não

tinha dinheiro, mas sabia quetinha dinheiro, mas sabia quetinha dinheiro, mas sabia quetinha dinheiro, mas sabia quetinha dinheiro, mas sabia quegostavam de mim no trabalho egostavam de mim no trabalho egostavam de mim no trabalho egostavam de mim no trabalho egostavam de mim no trabalho eeu gostava do que fazia”eu gostava do que fazia”eu gostava do que fazia”eu gostava do que fazia”eu gostava do que fazia”. E seisso não bastasse para o fazer ficar atrabalhar em Santa Catarina, o jovemtinha-se já enamorado pela irmã dopatrão, Matilde do Carmo Ivo, que hoje

é a sua mulher.Em 1961, com 21 anos, Luís Matias

foi para a tropa. O serviço militar foicumprido em Chaves e em Angola.

Saiu de Portugal, onde ganhava já 620escudos [3,10 euros] por mês, para oUltramar onde era ‘caçador especial’e lhe pagavam 1.300 escudos [6,5 eu-ros]. Mandava para os pais tanto quan-to podia. E aproveitou para tirar a car-ta de condução e o curso de ‘GuardaLivros’, o nome que na altura se davaaos Técnicos Oficiais de Contas.

Quando regressou à Metrópole(como então se dizia), em 1964, com idei-as de voltar para África, o patrão con-venceu-o a “ir para a viagem”, isto é, aser caixeiro-viajante dos seus produtos.

“Foi um sucesso muito gran-“Foi um sucesso muito gran-“Foi um sucesso muito gran-“Foi um sucesso muito gran-“Foi um sucesso muito gran-de”de”de”de”de”, garante Luís Matias, e “na fá-“na fá-“na fá-“na fá-“na fá-brica não se falava noutra coi-brica não se falava noutra coi-brica não se falava noutra coi-brica não se falava noutra coi-brica não se falava noutra coi-sa que no meu sucesso, de to-sa que no meu sucesso, de to-sa que no meu sucesso, de to-sa que no meu sucesso, de to-sa que no meu sucesso, de to-das as coisas novas que eu tra-das as coisas novas que eu tra-das as coisas novas que eu tra-das as coisas novas que eu tra-das as coisas novas que eu tra-zia, na boa revolução que intro-zia, na boa revolução que intro-zia, na boa revolução que intro-zia, na boa revolução que intro-zia, na boa revolução que intro-duzi na fábrica”duzi na fábrica”duzi na fábrica”duzi na fábrica”duzi na fábrica”.

Entretanto já casado, Luís Matiasdecidiu estabelecer-se por conta pró-pria. De início vendia o artigo do anti-

go patrão à comissão, depois come-çou também a dedicar-se a outros pro-dutos, sobretudo aos que eram feitosna zona, como a marroquinaria. Foi ar-

mazenista durante 12 anos. “Ganhei“Ganhei“Ganhei“Ganhei“Ganheiimenso dinheiro”imenso dinheiro”imenso dinheiro”imenso dinheiro”imenso dinheiro”, afiança. E come-ça então a projectar a sua própria fá-brica de cutelarias.

É em 1982 que lhe propõem a com-pra da Curel, uma pequena cutelariamontada há cinco anos nas Relvas.Com 42 anos, Luís Matias fechou onegócio por 23 mil contos [114.863euros]. Da fábrica, ficou com tudomenos o edifício (onde só ficou duran-te cinco anos), mudando-se depoiscom os trabalhadores e o equipamen-to para a nova unidade construída emSanta Catarina.

“Uma fábrica construída a“Uma fábrica construída a“Uma fábrica construída a“Uma fábrica construída a“Uma fábrica construída apulso”pulso”pulso”pulso”pulso”

Quando Luís Matias comprou a fá-brica, Vasco Ivo Matias, um dos seusdois filhos, tinha 12 anos. Apesar datenra idade, aquele que hoje prosse-gue o negócio do pai lembra-se bem

de ser pequenito e já andar entre fa-cas e canivetes. “Eu costumo di-“Eu costumo di-“Eu costumo di-“Eu costumo di-“Eu costumo di-zer que nasci num cesto de li-zer que nasci num cesto de li-zer que nasci num cesto de li-zer que nasci num cesto de li-zer que nasci num cesto de li-malhas”malhas”malhas”malhas”malhas”, brinca.

Dos seus tempos de menino, lem-bra-se do aparecimento da electrici-dade na zona. “Um acontecimen-“Um acontecimen-“Um acontecimen-“Um acontecimen-“Um acontecimen-to extraordinário, foi quase umto extraordinário, foi quase umto extraordinário, foi quase umto extraordinário, foi quase umto extraordinário, foi quase ummilagre”milagre”milagre”milagre”milagre”. Também se recorda bemda construção das instalações ondeainda hoje se mantém a Curel. “Fo-“Fo-“Fo-“Fo-“Fo-ram feitas a pulso, praticamen-ram feitas a pulso, praticamen-ram feitas a pulso, praticamen-ram feitas a pulso, praticamen-ram feitas a pulso, praticamen-te por administração directa ete por administração directa ete por administração directa ete por administração directa ete por administração directa ecom as placas enchidas a bal-com as placas enchidas a bal-com as placas enchidas a bal-com as placas enchidas a bal-com as placas enchidas a bal-de. Aos sábados, convocavam-de. Aos sábados, convocavam-de. Aos sábados, convocavam-de. Aos sábados, convocavam-de. Aos sábados, convocavam-se os trabalhadores todos. To-se os trabalhadores todos. To-se os trabalhadores todos. To-se os trabalhadores todos. To-se os trabalhadores todos. To-dos os cantos da fábrica tive-dos os cantos da fábrica tive-dos os cantos da fábrica tive-dos os cantos da fábrica tive-dos os cantos da fábrica tive-ram pormenores de carinho”ram pormenores de carinho”ram pormenores de carinho”ram pormenores de carinho”ram pormenores de carinho”.

Com as novas instalações, come-ça aquela que Vasco Ivo Matias dizter sido “uma fase extraordiná-“uma fase extraordiná-“uma fase extraordiná-“uma fase extraordiná-“uma fase extraordiná-ria de investimento, principal-ria de investimento, principal-ria de investimento, principal-ria de investimento, principal-ria de investimento, principal-mente nas condições de traba-mente nas condições de traba-mente nas condições de traba-mente nas condições de traba-mente nas condições de traba-lho das pessoas, na melhoria dolho das pessoas, na melhoria dolho das pessoas, na melhoria dolho das pessoas, na melhoria dolho das pessoas, na melhoria doseu relacionamento com a tec-seu relacionamento com a tec-seu relacionamento com a tec-seu relacionamento com a tec-seu relacionamento com a tec-nologia”nologia”nologia”nologia”nologia”. As instalações de SantaCatarina foram feitas “com o que“com o que“com o que“com o que“com o quede mais moderno existia na al-de mais moderno existia na al-de mais moderno existia na al-de mais moderno existia na al-de mais moderno existia na al-tura, e que ainda hoje está bas-tura, e que ainda hoje está bas-tura, e que ainda hoje está bas-tura, e que ainda hoje está bas-tura, e que ainda hoje está bas-tante actualizado”tante actualizado”tante actualizado”tante actualizado”tante actualizado”.

Já reformado, o seu pai continua aacompanhar a fábrica de perto. Orgu-lhoso das certificações e credencia-ções que atestam a qualidade dosseus produtos, Luís Matias afirmaque “esta é uma fábrica que tem“esta é uma fábrica que tem“esta é uma fábrica que tem“esta é uma fábrica que tem“esta é uma fábrica que tempernas para andar”pernas para andar”pernas para andar”pernas para andar”pernas para andar”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Matilde do Carmo Ivo e Luís Matias emMatilde do Carmo Ivo e Luís Matias emMatilde do Carmo Ivo e Luís Matias emMatilde do Carmo Ivo e Luís Matias emMatilde do Carmo Ivo e Luís Matias emmeados da década de setentameados da década de setentameados da década de setentameados da década de setentameados da década de setenta

Pai e filho, as duas gerações que apesar de não terem fundado a CurelPai e filho, as duas gerações que apesar de não terem fundado a CurelPai e filho, as duas gerações que apesar de não terem fundado a CurelPai e filho, as duas gerações que apesar de não terem fundado a CurelPai e filho, as duas gerações que apesar de não terem fundado a Curela tornaram numa marca de prestígio aquém e além fronteirasa tornaram numa marca de prestígio aquém e além fronteirasa tornaram numa marca de prestígio aquém e além fronteirasa tornaram numa marca de prestígio aquém e além fronteirasa tornaram numa marca de prestígio aquém e além fronteiras

Métodos de fabrico quase artesanais eram ainda usuais na década de setentaMétodos de fabrico quase artesanais eram ainda usuais na década de setentaMétodos de fabrico quase artesanais eram ainda usuais na década de setentaMétodos de fabrico quase artesanais eram ainda usuais na década de setentaMétodos de fabrico quase artesanais eram ainda usuais na década de setenta

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Facas da Curel cortam pelo mundo inteiro

A Curel é hoje uma fábrica bem di-ferente daquela que Luís Matias com-prou em 1982 e os clientes espalham-se já por diversas zonas do globo. Ainternacionalização foi um processoque se fez, dizem os protagonistasdesta história, devagarinho.

“Fiz uma grande exportação“Fiz uma grande exportação“Fiz uma grande exportação“Fiz uma grande exportação“Fiz uma grande exportaçãopara Angola, na altura de dezpara Angola, na altura de dezpara Angola, na altura de dezpara Angola, na altura de dezpara Angola, na altura de dezmil e tal contos mil e tal contos mil e tal contos mil e tal contos mil e tal contos [mais de 50 mileuros], cerca de um ano depois, cerca de um ano depois, cerca de um ano depois, cerca de um ano depois, cerca de um ano depoisde comprar a fábrica. Vendide comprar a fábrica. Vendide comprar a fábrica. Vendide comprar a fábrica. Vendide comprar a fábrica. Venditambém alguma coisa para Mo-também alguma coisa para Mo-também alguma coisa para Mo-também alguma coisa para Mo-também alguma coisa para Mo-çambique”çambique”çambique”çambique”çambique”, recorda Luís Matias.As primeiras solicitações aparece-ram pelo correio, de países como aAlemanha e a Venezuela. Com o apa-recimento das firmas publicitáriase das páginas amarelas, a divulga-ção aumentou. Quando Vasco IvoMatias termina a tropa, em 1990, aempresa investe nos certames inter-nacionais. Uma das primeiras foi aFeira Ambiente, em Frankfurt, ondeainda hoje marcam presença.

As facas da Curel podem ser en-contradas em diversos países da

Europa, nos EUA, Canadá, Brasil,Venezuela, Argentina, PALOP, ArábiaSaudita e Líbano. “Tentamos não“Tentamos não“Tentamos não“Tentamos não“Tentamos nãoestar dependentes de um sóestar dependentes de um sóestar dependentes de um sóestar dependentes de um sóestar dependentes de um sómercado, pensamos que este émercado, pensamos que este émercado, pensamos que este émercado, pensamos que este émercado, pensamos que este éum dos segredos de sobrevivên-um dos segredos de sobrevivên-um dos segredos de sobrevivên-um dos segredos de sobrevivên-um dos segredos de sobrevivên-cia deste sector”cia deste sector”cia deste sector”cia deste sector”cia deste sector”, explica VascoMatias.

Para o mercado externo seguecerca de 50% da produção da fábri-ca, que ronda os 2,5 milhões de pe-ças por ano. Um indicador da evolu-ção dos processos de fabrico. “Há“Há“Há“Há“Há20 anos fazíamos, entre cani-20 anos fazíamos, entre cani-20 anos fazíamos, entre cani-20 anos fazíamos, entre cani-20 anos fazíamos, entre cani-vetes e facas, cerca de 50.000vetes e facas, cerca de 50.000vetes e facas, cerca de 50.000vetes e facas, cerca de 50.000vetes e facas, cerca de 50.000artigo por mês. Hoje fazemosartigo por mês. Hoje fazemosartigo por mês. Hoje fazemosartigo por mês. Hoje fazemosartigo por mês. Hoje fazemosuma média de 20.000 canive-uma média de 20.000 canive-uma média de 20.000 canive-uma média de 20.000 canive-uma média de 20.000 canive-tes por mês e 150.000 facas etes por mês e 150.000 facas etes por mês e 150.000 facas etes por mês e 150.000 facas etes por mês e 150.000 facas ecutelos. É uma coisa assusta-cutelos. É uma coisa assusta-cutelos. É uma coisa assusta-cutelos. É uma coisa assusta-cutelos. É uma coisa assusta-dora”dora”dora”dora”dora”, diz o filho de Luís Matias, quecifra a facturação anual na ordemdos 1,2 milhões de euros.

Para a afirmação da marca nosmercados nacionais e internacio-nais tem contribuído um investi-mento constante na melhoria dosprocessos de fabrico e na qualida-

de dos produtos. Mas as questõesambientais não têm sido esqueci-das. “Hoje em dia temos um“Hoje em dia temos um“Hoje em dia temos um“Hoje em dia temos um“Hoje em dia temos umaprovei tamento a 100% deaprovei tamento a 100% deaprovei tamento a 100% deaprovei tamento a 100% deaprovei tamento a 100% detodos os desperdícios”todos os desperdícios”todos os desperdícios”todos os desperdícios”todos os desperdícios”, com aságuas usadas na tempra e no arre-fecimento a funcionarem em circui-to fechado, com a reciclagem de tudoquanto é desperdício de aço e com oaproveitamento da exaustão de po-eiras para aquecimento. “Não há“Não há“Não há“Não há“Não háqualquer agressão ambiental”qualquer agressão ambiental”qualquer agressão ambiental”qualquer agressão ambiental”qualquer agressão ambiental”,assegura.

Ao investimento necessário a to-dos estes processos juntou-se aaposta forte em tecnologias de pon-ta, na informatização da adminis-tração e na computorização de mui-tos processos de fabrico e, comonão podia deixar de ser, no design,na criação de novas linhas com a co-laboração de designers internos eexternos à empresa. O objectivo:“tornar as facas da Curel bas-“tornar as facas da Curel bas-“tornar as facas da Curel bas-“tornar as facas da Curel bas-“tornar as facas da Curel bas-tante modernas e a acompa-tante modernas e a acompa-tante modernas e a acompa-tante modernas e a acompa-tante modernas e a acompa-n h a r e m a s t e n d ê n c i a s d an h a r e m a s t e n d ê n c i a s d an h a r e m a s t e n d ê n c i a s d an h a r e m a s t e n d ê n c i a s d an h a r e m a s t e n d ê n c i a s d amoda, dos novos padrões emoda, dos novos padrões emoda, dos novos padrões emoda, dos novos padrões emoda, dos novos padrões enovos estilos de vida e a en-novos estilos de vida e a en-novos estilos de vida e a en-novos estilos de vida e a en-novos estilos de vida e a en-caixarem-se perfeitamente nacaixarem-se perfeitamente nacaixarem-se perfeitamente nacaixarem-se perfeitamente nacaixarem-se perfeitamente navida moderna”vida moderna”vida moderna”vida moderna”vida moderna”. A publicidade temtambém sido uma preocupação doempresário, com diversas acçõesna imprensa nacional e com projec-tos para a divulgação na televisão.

Concorrência desleal eConcorrência desleal eConcorrência desleal eConcorrência desleal eConcorrência desleal efalta de apoios põemfalta de apoios põemfalta de apoios põemfalta de apoios põemfalta de apoios põem

indústria em riscoindústria em riscoindústria em riscoindústria em riscoindústria em risco

São investimentos como este quetêm feito com que a Curel sobreviva à“tentativa de destruição de al-“tentativa de destruição de al-“tentativa de destruição de al-“tentativa de destruição de al-“tentativa de destruição de al-guns distribuidores”guns distribuidores”guns distribuidores”guns distribuidores”guns distribuidores”, que importamsimilares da China, do Paquistão e deoutros países emergentes, mas cujafalta de qualidade é rapidamente de-tectada pelos consumidores.

Com cerca de 70 trabalhadores nasua empresa, Vasco Matias não he-sita em afirmar que “a pressão“a pressão“a pressão“a pressão“a pressãovem de todos os lados”vem de todos os lados”vem de todos os lados”vem de todos os lados”vem de todos os lados” e que dehá duas décadas para cá, a formacomo se vive a indústria mudoudrasticamente. Da pressão exercidapelas entidades públicas à falsifica-ção dos produtos, passando pelo en-carecimento das matérias-primas eenergia e pela situação económicainternacional, que não favorece a ex-

portação, muitas são as queixas doempresário.

Às autoridades locais e regio-nais, Vasco aponta a falta de apoio aum ofício com uma tradição seculare que foi implantada na zona pelosmonges de Cister que habitavam oMosteiro de Alcobaça. “É um pa-“É um pa-“É um pa-“É um pa-“É um pa-trimónio que espero que a cur-trimónio que espero que a cur-trimónio que espero que a cur-trimónio que espero que a cur-trimónio que espero que a cur-to prazo, com as promessasto prazo, com as promessasto prazo, com as promessasto prazo, com as promessasto prazo, com as promessasque temos dos políticos, sejaque temos dos políticos, sejaque temos dos políticos, sejaque temos dos políticos, sejaque temos dos políticos, sejamais aproveitado pelas autori-mais aproveitado pelas autori-mais aproveitado pelas autori-mais aproveitado pelas autori-mais aproveitado pelas autori-dades locais”dades locais”dades locais”dades locais”dades locais”, afirma.

Outra queixa feita pelo empresá-rio passa pela inexistência de forma-ção de futuros cuteleiros nas esco-las da região, e esta é uma das gran-des preocupações quanto ao futuroda cutelaria. Um futuro que, acredi-ta, passa pela manutenção e recupe-ração de alguns dos aspectos maistradicionais do ofício.

“A grande memória que guar-“A grande memória que guar-“A grande memória que guar-“A grande memória que guar-“A grande memória que guar-do dos meus tempos de crian-do dos meus tempos de crian-do dos meus tempos de crian-do dos meus tempos de crian-do dos meus tempos de crian-ça é o carinho que todas as pes-ça é o carinho que todas as pes-ça é o carinho que todas as pes-ça é o carinho que todas as pes-ça é o carinho que todas as pes-soas desta região tinham pelassoas desta região tinham pelassoas desta região tinham pelassoas desta região tinham pelassoas desta região tinham pelascutelarias. Todas, directa oucutelarias. Todas, directa oucutelarias. Todas, directa oucutelarias. Todas, directa oucutelarias. Todas, directa ouindirectamente, estão ligadasindirectamente, estão ligadasindirectamente, estão ligadasindirectamente, estão ligadasindirectamente, estão ligadasao fabrico de facas, e é issoao fabrico de facas, e é issoao fabrico de facas, e é issoao fabrico de facas, e é issoao fabrico de facas, e é issoque também nos faz avançar”que também nos faz avançar”que também nos faz avançar”que também nos faz avançar”que também nos faz avançar”,diz o empresário.

Vasco Ivo Matias quer manterviva a história da cutelaria em SantaCatarina e a memória colectiva.“Não queremos deixar que todo“Não queremos deixar que todo“Não queremos deixar que todo“Não queremos deixar que todo“Não queremos deixar que todoo trabalho que estas pessoaso trabalho que estas pessoaso trabalho que estas pessoaso trabalho que estas pessoaso trabalho que estas pessoastiveram, e em determinadas al-tiveram, e em determinadas al-tiveram, e em determinadas al-tiveram, e em determinadas al-tiveram, e em determinadas al-turas bastante duro, seja es-turas bastante duro, seja es-turas bastante duro, seja es-turas bastante duro, seja es-turas bastante duro, seja es-quecido e seja trocado por umquecido e seja trocado por umquecido e seja trocado por umquecido e seja trocado por umquecido e seja trocado por umqualquer interesse comercial equalquer interesse comercial equalquer interesse comercial equalquer interesse comercial equalquer interesse comercial eimediato de mandar fazer foraimediato de mandar fazer foraimediato de mandar fazer foraimediato de mandar fazer foraimediato de mandar fazer foraas coisas que toda a vida seas coisas que toda a vida seas coisas que toda a vida seas coisas que toda a vida seas coisas que toda a vida sefizeram na nossa terra a trocofizeram na nossa terra a trocofizeram na nossa terra a trocofizeram na nossa terra a trocofizeram na nossa terra a trocode lucro fácil”de lucro fácil”de lucro fácil”de lucro fácil”de lucro fácil”.

Uma das etapas de uma luta que,acredita, será longa, passa pelo re-lançamento da marca mais antigadas cutelarias santacatarinenses, aSovi, que trouxe o seu pai para a vila.“Muitas pessoas, quer em Por-“Muitas pessoas, quer em Por-“Muitas pessoas, quer em Por-“Muitas pessoas, quer em Por-“Muitas pessoas, quer em Por-tugal quer no estrangeiro, setugal quer no estrangeiro, setugal quer no estrangeiro, setugal quer no estrangeiro, setugal quer no estrangeiro, serecordam da boa qualidade dosrecordam da boa qualidade dosrecordam da boa qualidade dosrecordam da boa qualidade dosrecordam da boa qualidade dosseus produtos e até do design,seus produtos e até do design,seus produtos e até do design,seus produtos e até do design,seus produtos e até do design,e esta é também uma forma dee esta é também uma forma dee esta é também uma forma dee esta é também uma forma dee esta é também uma forma dehomenagear o seu fundador, ohomenagear o seu fundador, ohomenagear o seu fundador, ohomenagear o seu fundador, ohomenagear o seu fundador, omeu tio”meu tio”meu tio”meu tio”meu tio”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Trabalhador também seguiu as

pisadas do pai

1960 –1960 –1960 –1960 –1960 – Luís Matias começa a trabalhar para António Ivo Peralta

1968/69 –1968/69 –1968/69 –1968/69 –1968/69 – Instala-se por conta própria como vendedor

1977 –1977 –1977 –1977 –1977 – Compra a Curel e mantém-se nas Relvas

1982 –1982 –1982 –1982 –1982 – Muda a fábrica para Santa Catarina

1995 – 1995 – 1995 – 1995 – 1995 – Vasco Matias assume a gestão da Curel, através daempresa VCI – A Fábrica das Cutelarias, Lda, uma sociedadepor quotas com o capital social de 200.000 euros que ainda hojedetém a marca.

andar de Ferrari”andar de Ferrari”andar de Ferrari”andar de Ferrari”andar de Ferrari”.Mesmo assim, é com algum

saudosismo que recupera algu-mas das suas memórias. “Ape-“Ape-“Ape-“Ape-“Ape-sar de serem tempos difíceissar de serem tempos difíceissar de serem tempos difíceissar de serem tempos difíceissar de serem tempos difíceisem termos de produção, re-em termos de produção, re-em termos de produção, re-em termos de produção, re-em termos de produção, re-cordo-me dos tempos emcordo-me dos tempos emcordo-me dos tempos emcordo-me dos tempos emcordo-me dos tempos emque o meu pai agarravaque o meu pai agarravaque o meu pai agarravaque o meu pai agarravaque o meu pai agarravanuma mola de carroça, quenuma mola de carroça, quenuma mola de carroça, quenuma mola de carroça, quenuma mola de carroça, queera sobreaquecida numaera sobreaquecida numaera sobreaquecida numaera sobreaquecida numaera sobreaquecida numaforja com carvão de pedra.forja com carvão de pedra.forja com carvão de pedra.forja com carvão de pedra.forja com carvão de pedra.Forjado por duas pessoas,Forjado por duas pessoas,Forjado por duas pessoas,Forjado por duas pessoas,Forjado por duas pessoas,uma com o malho a outrauma com o malho a outrauma com o malho a outrauma com o malho a outrauma com o malho a outracom o martelo, o aço comcom o martelo, o aço comcom o martelo, o aço comcom o martelo, o aço comcom o martelo, o aço comespessura grossa era ma-espessura grossa era ma-espessura grossa era ma-espessura grossa era ma-espessura grossa era ma-lhado até ficar em pequenoslhado até ficar em pequenoslhado até ficar em pequenoslhado até ficar em pequenoslhado até ficar em pequenoslinguetes e a partir daí eralinguetes e a partir daí eralinguetes e a partir daí eralinguetes e a partir daí eralinguetes e a partir daí eracortado com corta frio, no-cortado com corta frio, no-cortado com corta frio, no-cortado com corta frio, no-cortado com corta frio, no-vamente aquecido, e assimvamente aquecido, e assimvamente aquecido, e assimvamente aquecido, e assimvamente aquecido, e assimse faziam os canivetes e asse faziam os canivetes e asse faziam os canivetes e asse faziam os canivetes e asse faziam os canivetes e asfacas”facas”facas”facas”facas”, conta.

Se hoje o mercado é muitomais exigente no que diz res-peito ao design, na altura os cli-entes eram bem mais práticos.“As facas que mais se fazi-“As facas que mais se fazi-“As facas que mais se fazi-“As facas que mais se fazi-“As facas que mais se fazi-am eram as de matar os por-am eram as de matar os por-am eram as de matar os por-am eram as de matar os por-am eram as de matar os por-cos e os canivetes”cos e os canivetes”cos e os canivetes”cos e os canivetes”cos e os canivetes”.

Com uma vida inteira a tra-balhar nas facas, António Gon-zaga garante que não se imagi-na a fazer outra coisa. “Há pes-“Há pes-“Há pes-“Há pes-“Há pes-soas para quem o trabalhosoas para quem o trabalhosoas para quem o trabalhosoas para quem o trabalhosoas para quem o trabalhoé um esforço. Eu não vejoé um esforço. Eu não vejoé um esforço. Eu não vejoé um esforço. Eu não vejoé um esforço. Eu não vejoisso assim. Nasci na cutela-isso assim. Nasci na cutela-isso assim. Nasci na cutela-isso assim. Nasci na cutela-isso assim. Nasci na cutela-ria, não aprendi a fazer ou-ria, não aprendi a fazer ou-ria, não aprendi a fazer ou-ria, não aprendi a fazer ou-ria, não aprendi a fazer ou-tra coisa, mas é disto que eutra coisa, mas é disto que eutra coisa, mas é disto que eutra coisa, mas é disto que eutra coisa, mas é disto que eugosto muito”gosto muito”gosto muito”gosto muito”gosto muito”.

E o que torna a cutelaria tãoapaixonante? “Esta é uma indús-“Esta é uma indús-“Esta é uma indús-“Esta é uma indús-“Esta é uma indús-tria que todos os dias se está atria que todos os dias se está atria que todos os dias se está atria que todos os dias se está atria que todos os dias se está ainovar e isso é um incentivoinovar e isso é um incentivoinovar e isso é um incentivoinovar e isso é um incentivoinovar e isso é um incentivopara o nosso trabalho”para o nosso trabalho”para o nosso trabalho”para o nosso trabalho”para o nosso trabalho”.

J.F.J.F.J.F.J.F.J.F.

CRONOLOGIA

António Gonzaga, 53 anos, éfilho de Luís Gonzaga (o segun-do patrão de Luís Matias) e tra-balha na Curel há 13 anos. Umnúmero pequeno que escondeuma vida inteira dedicada àsfacas.

“Na Ramalhosa, ainda“Na Ramalhosa, ainda“Na Ramalhosa, ainda“Na Ramalhosa, ainda“Na Ramalhosa, aindanão havia energia eléctricanão havia energia eléctricanão havia energia eléctricanão havia energia eléctricanão havia energia eléctricae já o meu pai tinha nove fun-e já o meu pai tinha nove fun-e já o meu pai tinha nove fun-e já o meu pai tinha nove fun-e já o meu pai tinha nove fun-cionários e usava um gera-cionários e usava um gera-cionários e usava um gera-cionários e usava um gera-cionários e usava um gera-dor grande para poder tra-dor grande para poder tra-dor grande para poder tra-dor grande para poder tra-dor grande para poder tra-balhar com as máquinas”balhar com as máquinas”balhar com as máquinas”balhar com as máquinas”balhar com as máquinas”,lembra o cuteleiro. Também oseu pai acabaria por se mudarpara Santa Catarina com todasas suas máquinas e todos osseus empregados, já lá vão 55anos. Por isso, António Gonza-ga considera que pertence auma das mais antigas famíliasde industriais da cutelaria dazona.

“Eu recordo-me de há 45“Eu recordo-me de há 45“Eu recordo-me de há 45“Eu recordo-me de há 45“Eu recordo-me de há 45anos, era eu menino e moço,anos, era eu menino e moço,anos, era eu menino e moço,anos, era eu menino e moço,anos, era eu menino e moço,havia pelo menos umas setehavia pelo menos umas setehavia pelo menos umas setehavia pelo menos umas setehavia pelo menos umas seteoficinas artesanais aqui emoficinas artesanais aqui emoficinas artesanais aqui emoficinas artesanais aqui emoficinas artesanais aqui emSanta Catarina”Santa Catarina”Santa Catarina”Santa Catarina”Santa Catarina”. Oficinas dediferentes dimensões e mais oumenos evoluídas, com os donosa “comprar os chifres dos“comprar os chifres dos“comprar os chifres dos“comprar os chifres dos“comprar os chifres dosbois , a trabalharem-nosbois , a trabalharem-nosbois , a trabalharem-nosbois , a trabalharem-nosbois , a trabalharem-nos[para fazerem os cabos], a fa-, a fa-, a fa-, a fa-, a fa-zerem tudo à mão”zerem tudo à mão”zerem tudo à mão”zerem tudo à mão”zerem tudo à mão”. Um ofícioque ocupava muitas pessoas,muitas das quais a acabarem pordesistir, por não conseguiremacompanhar a evolução da in-dústria.

Quando lhe pedimos que via-je no tempo e nos diga qual foia maior evolução no sector, dizque a mudança é drástica. “É“É“É“É“Écomo se nós andássemos decomo se nós andássemos decomo se nós andássemos decomo se nós andássemos decomo se nós andássemos decarroça e passássemos acarroça e passássemos acarroça e passássemos acarroça e passássemos acarroça e passássemos a

Vasco Matias tem guardada toda a documentaçãoVasco Matias tem guardada toda a documentaçãoVasco Matias tem guardada toda a documentaçãoVasco Matias tem guardada toda a documentaçãoVasco Matias tem guardada toda a documentaçãoatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadaatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadaatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadaatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadaatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadade 1970, já em edição bilinguede 1970, já em edição bilinguede 1970, já em edição bilinguede 1970, já em edição bilinguede 1970, já em edição bilingue

Na cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queNa cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queNa cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queNa cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queNa cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queos cuteleiros trabalhavam há 50 anosos cuteleiros trabalhavam há 50 anosos cuteleiros trabalhavam há 50 anosos cuteleiros trabalhavam há 50 anosos cuteleiros trabalhavam há 50 anos

Fundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doFundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doFundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doFundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doFundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doambiente, em que nada é desperdiçadoambiente, em que nada é desperdiçadoambiente, em que nada é desperdiçadoambiente, em que nada é desperdiçadoambiente, em que nada é desperdiçado

“Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa, “Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa, “Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa, “Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa, “Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa,mas é disto que eu gosto muito”mas é disto que eu gosto muito”mas é disto que eu gosto muito”mas é disto que eu gosto muito”mas é disto que eu gosto muito”, diz António Gonzaga

Page 26: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

PIROTECNIA BOMBARRALENSE – quatro gerações a dFoi um ribatejano da Moita

do Norte (Vila Nova da Barqui-nha) que em 1934 fundou nosarredores do Bombarral umafábrica de foguetes que vaihoje na terceira geração, masse se tiver em conta que o seupai também já era pirotécni-co, pode dizer-se que esta ac-tividade é assegurada por qua-tro gerações.

Francisco Martins Júnior(1909-1982) tinha seguramentevisão para o marketing se talconceito já existisse nessa al-tura. À sua empresa chamou-lhe Alta Pirotecnia do Oeste.“Alta” para se distinguir dasdemais existentes no país, e“Oeste” porque, vindo de lon-ge e recém-chegado ao Bom-barral, terá intuído certamen-te que havia uma entidadeoestina. Ou, pelo menos, per-cebeu que o seu mercado eraregional e não meramente lo-cal.

O seu pai, Francisco Martins,fora um homem dos sete ofíci-os. Teve várias actividades,mas quedou-se pela pirotec-nia com quem trabalhava emsociedade com os seus setefilhos na Moita do Norte.

“Mas um dia zangaram-“Mas um dia zangaram-“Mas um dia zangaram-“Mas um dia zangaram-“Mas um dia zangaram-se todos e cada um foi parase todos e cada um foi parase todos e cada um foi parase todos e cada um foi parase todos e cada um foi paraseu lado. Um para o Porto,seu lado. Um para o Porto,seu lado. Um para o Porto,seu lado. Um para o Porto,seu lado. Um para o Porto,outro para Torres Novas,outro para Torres Novas,outro para Torres Novas,outro para Torres Novas,outro para Torres Novas,outro para o Entroncamen-outro para o Entroncamen-outro para o Entroncamen-outro para o Entroncamen-outro para o Entroncamen-to, outros ficaram na Moi-to, outros ficaram na Moi-to, outros ficaram na Moi-to, outros ficaram na Moi-to, outros ficaram na Moi-ta, e outro para o Bombar-ta, e outro para o Bombar-ta, e outro para o Bombar-ta, e outro para o Bombar-ta, e outro para o Bombar-ral... enfim foram espalharral... enfim foram espalharral... enfim foram espalharral... enfim foram espalharral... enfim foram espalhara arte da pirotecnia, da pól-a arte da pirotecnia, da pól-a arte da pirotecnia, da pól-a arte da pirotecnia, da pól-a arte da pirotecnia, da pól-vora e dos rastilhos pelovora e dos rastilhos pelovora e dos rastilhos pelovora e dos rastilhos pelovora e dos rastilhos pelopaís todo”país todo”país todo”país todo”país todo”. Quem o conta éAntónio Rabaça Martins, filhode Francisco Martins.

Do seu pai, conta que fezduas ou três visitas ao Bom-barral e achou que era um bomsítio para iniciar o negócio por-que não havia mais nenhuma

indústria desse tipo na região.“Comprou um terreno de“Comprou um terreno de“Comprou um terreno de“Comprou um terreno de“Comprou um terreno demil metros quadrados aquimil metros quadrados aquimil metros quadrados aquimil metros quadrados aquimil metros quadrados aquino Pinhal do Concelho eno Pinhal do Concelho eno Pinhal do Concelho eno Pinhal do Concelho eno Pinhal do Concelho ecom a madeira dos própri-com a madeira dos própri-com a madeira dos própri-com a madeira dos própri-com a madeira dos própri-os pinheiros construiu seisos pinheiros construiu seisos pinheiros construiu seisos pinheiros construiu seisos pinheiros construiu seiscasinhas onde começou acasinhas onde começou acasinhas onde começou acasinhas onde começou acasinhas onde começou afabricar foguetes”fabricar foguetes”fabricar foguetes”fabricar foguetes”fabricar foguetes”.

No início, a Alta Pirotecniado Oeste arrancou logo comtrês empregados e a coisa nãodeve ter corrido mal porquepassado poucos anos, as seisbarracas onde se fabricavamfoguetes deram lugar a noveedifícios em tijolo.

Deve dizer-se desde já queuma pirotécnica não é uma fá-brica qualquer. Não tem nadaa ver com a ideia de um pavi-lhão ou nave no interior do qualse realiza um processo produ-tivo onde entra matéria-primapor um lado e sai produto aca-bado pelo outro.

Neste “métier” as restriçõesao nível de segurança obrigam

a que pessoas e máquinas la-borem afastadas umas boasdezenas de metros entre sipara evitar a propagação de in-cêndio ou de explosões emcaso de acidente.

Por isso, a fábrica do “se-nhor Rabaça” - como é conhe-cido no Bombarral o empresá-rio António Rabaça Martins –mais parece um aldeamentoturístico, com muros e casaspintadas de branco, tanquescom água cristalina e muitasárvores e flores espalhadaspelos diversos pátios. Há tam-bém contrafortes para seguraros edifícios em caso de aciden-te e um ruído de fundo de má-quinas que não incomoda de-masiado. O pior ali é mesmo aestrada municipal de acesso àfábrica, que aguarda há anospor um pouco mais de alcatrão.

“CRESCI NO MEIO DA“CRESCI NO MEIO DA“CRESCI NO MEIO DA“CRESCI NO MEIO DA“CRESCI NO MEIO DAPÓLVORA”PÓLVORA”PÓLVORA”PÓLVORA”PÓLVORA”

António Rabaça Martinssenta-se num gabinete rodea-do de calendários e cartazesdo Sporting. Uma paixão quepassou para o filho e netos.Mas atenção. Também já fezespectáculos para o Benfica. Epara qualquer clube que lhoscompre. Negócios são negóci-os. Tendências clubísticas sãooutra coisa.

E conta a sua história:“O meu pai veio para cá já

homem, casado e com dois fi-lhos. Eu e a minha irmã maisnova já nascemos no Bombar-ral. Desde miúdo que me lem-bro da fábrica e com dez anosjá vinha para cá ajudar o meupai. Cresci no meio da pólvo-ra.”

E desde sempre teve a per-cepção de que iria suceder aopai à frente da pirotécnica?

“Sim. Excepto uma vez...“Sim. Excepto uma vez...“Sim. Excepto uma vez...“Sim. Excepto uma vez...“Sim. Excepto uma vez...Foi quando em 1959 acabeiFoi quando em 1959 acabeiFoi quando em 1959 acabeiFoi quando em 1959 acabeiFoi quando em 1959 acabeina Escola Industrial e Co-na Escola Industrial e Co-na Escola Industrial e Co-na Escola Industrial e Co-na Escola Industrial e Co-mercial das Caldas da Rai-mercial das Caldas da Rai-mercial das Caldas da Rai-mercial das Caldas da Rai-mercial das Caldas da Rai-nha nha nha nha nha [hoje Secundária RafaelBordalo Pinheiro] o quinto o quinto o quinto o quinto o quintoano do curso Industrial deano do curso Industrial deano do curso Industrial deano do curso Industrial deano do curso Industrial deCerâmica. Tive a melhorCerâmica. Tive a melhorCerâmica. Tive a melhorCerâmica. Tive a melhorCerâmica. Tive a melhornota do curso e o director,nota do curso e o director,nota do curso e o director,nota do curso e o director,nota do curso e o director,o Dr. Leonel Sotto Mayor,o Dr. Leonel Sotto Mayor,o Dr. Leonel Sotto Mayor,o Dr. Leonel Sotto Mayor,o Dr. Leonel Sotto Mayor,chamou-me e convidou-mechamou-me e convidou-mechamou-me e convidou-mechamou-me e convidou-mechamou-me e convidou-mepara ser professor de tra-para ser professor de tra-para ser professor de tra-para ser professor de tra-para ser professor de tra-balhos manuais em Vianabalhos manuais em Vianabalhos manuais em Vianabalhos manuais em Vianabalhos manuais em Vianado Alentejo. Só que o meudo Alentejo. Só que o meudo Alentejo. Só que o meudo Alentejo. Só que o meudo Alentejo. Só que o meupai e a minha mãe não mepai e a minha mãe não mepai e a minha mãe não mepai e a minha mãe não mepai e a minha mãe não medeixaram ir . Eu t inha 17deixaram ir . Eu t inha 17deixaram ir . Eu t inha 17deixaram ir . Eu t inha 17deixaram ir . Eu t inha 17anos e acharam que eu eraanos e acharam que eu eraanos e acharam que eu eraanos e acharam que eu eraanos e acharam que eu eramuito novo para ir para tãomuito novo para ir para tãomuito novo para ir para tãomuito novo para ir para tãomuito novo para ir para tãolonge”longe”longe”longe”longe”.

O seu futuro definitivo naactividade pirotécnica ficariaali traçado e progressivamen-te passa a envolver-se cada vezmais na empresa. Mas veioainda a tropa, em 1964, comuma comissão em Angola ondeesteve debaixo de fogo váriasvezes. A sua especialidade nãopodia ser outra – minas e ar-madilhas.

Em 1967 regressa de Áfricae no ano seguinte casa-se comMaria Rosete. Vem decidido amodernizar a empresa do paie em 1969 ele próprio inventauma máquina de carregar ca-nudos “que naquela altura já“que naquela altura já“que naquela altura já“que naquela altura já“que naquela altura jáfuncionava com três moto-funcionava com três moto-funcionava com três moto-funcionava com três moto-funcionava com três moto-res independentes”res independentes”res independentes”res independentes”res independentes”, conta.

Isto representava um gran-de salto qualitativo para umfábrica que apenas tinha umamáquina de cortar canas paraos foguetes. Num espaço deum ano, António Rabaça Mar-tins instala 32 motores na pi-

“Se isto avançar, não“Se isto avançar, não“Se isto avançar, não“Se isto avançar, não“Se isto avançar, nãoserá só a maior pirotécni-será só a maior pirotécni-será só a maior pirotécni-será só a maior pirotécni-será só a maior pirotécni-ca do país. Será uma dasca do país. Será uma dasca do país. Será uma dasca do país. Será uma dasca do país. Será uma dasmaiores da Europa e domaiores da Europa e domaiores da Europa e domaiores da Europa e domaiores da Europa e domundo”mundo”mundo”mundo”mundo”. António RabaçaMartins mostra uma plantacom o projecto da fábrica quepretende construir no Bom-barral e que aguarda há noveanos por uma autorização ca-marária.

A localização é precisamen-te ao lado das portagens daA8 no Bombarral (sentido sul-norte), num terreno compos-to por uma enorme clareiraverde no meio dos pinhais.Mede 435 metros quadrados etem uma zona de segurançatão grande que a fábrica pro-priamente dita só ocupará trêsmil metros quadrados.

O investimento previsto éde 5 milhões de euros e Antó-nio Rabaça diz que a ideia é

Um projecto de 5 milhões de

euroscriar novos postos de trabalhopois, de outra forma, não vale-ria a pena ampliar as instala-ções.

O empresário desespera coma burocracia e queixa-se da de-sigualdade entre Portugal e Es-panha na transposição das exi-gentes directivas comunitáriassobre segurança de fábricasdeste tipo. “Enquanto cá te-“Enquanto cá te-“Enquanto cá te-“Enquanto cá te-“Enquanto cá te-mos 200 metros de seguran-mos 200 metros de seguran-mos 200 metros de seguran-mos 200 metros de seguran-mos 200 metros de seguran-ça entre os paióis e a auto-ça entre os paióis e a auto-ça entre os paióis e a auto-ça entre os paióis e a auto-ça entre os paióis e a auto-estrada, em Espanha nemestrada, em Espanha nemestrada, em Espanha nemestrada, em Espanha nemestrada, em Espanha nemchega a 20 metros”chega a 20 metros”chega a 20 metros”chega a 20 metros”chega a 20 metros”, desaba-fa. E isto é apenas um exemploem como tudo é mais complica-do em Portugal do que no paisvizinho onde a legislação é mui-to menos rigorosa. Deste modo,conclui, “até é um milagre que“até é um milagre que“até é um milagre que“até é um milagre que“até é um milagre quea gente consiga competira gente consiga competira gente consiga competira gente consiga competira gente consiga competircom os espanhóis”com os espanhóis”com os espanhóis”com os espanhóis”com os espanhóis”.

C. C.C. C.C. C.C. C.C. C.

rotecnia, automatizando umprocesso produtivo que atéentão era integralmente ma-nual.

“Aquilo foi decisivo para“Aquilo foi decisivo para“Aquilo foi decisivo para“Aquilo foi decisivo para“Aquilo foi decisivo paraa expansão da empresaa expansão da empresaa expansão da empresaa expansão da empresaa expansão da empresapois mais ninguém tinhapois mais ninguém tinhapois mais ninguém tinhapois mais ninguém tinhapois mais ninguém tinhadisso em Portugal”disso em Portugal”disso em Portugal”disso em Portugal”disso em Portugal”, diz oempresário, recordando aque-las inovações. É que não erafácil conseguirem-se máqui-nas para trabalhar com pólvo-ra e explosivos porque o metalnão pode roçar no metal. Se-não, à mínima faísca seria umacatástrofe. António Rabaçaconseguiu a proeza de inven-tar um moinho de galgas sus-

pensas que ficavam a cinco mi-límetros do fundo da bacia.

Em 1979 o fundador da fá-brica adoece e deixa ao filho asua gestão. Francisco MartinsJúnior morre em 1982, orgulho-so da sua unidade fabril quecomeçara por ter mil metrosquadrados e tinha agora oitovezes mais de área. Na alturatalvez já adivinhasse que o seuneto João Martins (então comdez anos) seguiria o negócioda família, o que viria a acon-tecer dez anos depois.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

Francisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarFrancisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarFrancisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarFrancisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarFrancisco Martins Júnior (1909-1982) fundou a pirotecnia que o seu filho, António Rabaça e o seu neto, João Martins, viriam a ampliar e a transformarnuma empresa de referência no país no estrangeiro.numa empresa de referência no país no estrangeiro.numa empresa de referência no país no estrangeiro.numa empresa de referência no país no estrangeiro.numa empresa de referência no país no estrangeiro.

Uma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,Uma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,Uma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,Uma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,Uma situação impensável nos dias de hoje. Há 30 anos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,ainda sem o rigoroso controlo do transporte de explosivos,os foguetes eram assim transportados em carrinhas.os foguetes eram assim transportados em carrinhas.os foguetes eram assim transportados em carrinhas.os foguetes eram assim transportados em carrinhas.os foguetes eram assim transportados em carrinhas.

Page 27: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

deitar foguetes

João Adelino Henriques Martins nas-ceu em 1969 e ainda se lembra de ver opai e o avô juntos na empresa. Hoje essavisão tê-la-á o seu filho de nove anos,João Pedro Martins, ao ver também opai e o avô na fábrica dos foguetes.

João, bisneto do ribatejano que veiode Vila Nova da Barquinha para o Bom-barral construir seis barracas ondefazia foguetes, é a primeira geraçãoda família a tirar um curso superior.Um, não. Dois. “Licenciei-me em In-formática no Instituto Superior de En-genharia do Porto. Adorei o curso, masa verdade é que senti a necessidadede estudar Gestão e acabei por me ma-tricular na UAL em Lisboa e fazer emGestão de Empresas”, conta JoãoMartins. E explica porquê: “qualquer“qualquer“qualquer“qualquer“qualquerpessoa pode ter uma empresapessoa pode ter uma empresapessoa pode ter uma empresapessoa pode ter uma empresapessoa pode ter uma empresaou estar à frente de um negó-ou estar à frente de um negó-ou estar à frente de um negó-ou estar à frente de um negó-ou estar à frente de um negó-cio, mas a maior parte das pes-cio, mas a maior parte das pes-cio, mas a maior parte das pes-cio, mas a maior parte das pes-cio, mas a maior parte das pes-soas não tem a noção do que ésoas não tem a noção do que ésoas não tem a noção do que ésoas não tem a noção do que ésoas não tem a noção do que égerir uma empresa. Muitos têmgerir uma empresa. Muitos têmgerir uma empresa. Muitos têmgerir uma empresa. Muitos têmgerir uma empresa. Muitos têmsorte e porque são muito empe-sorte e porque são muito empe-sorte e porque são muito empe-sorte e porque são muito empe-sorte e porque são muito empe-nhados conseguem ter êxito,nhados conseguem ter êxito,nhados conseguem ter êxito,nhados conseguem ter êxito,nhados conseguem ter êxito,mas a verdade é que é precisomas a verdade é que é precisomas a verdade é que é precisomas a verdade é que é precisomas a verdade é que é precisoter formação em Gestão”ter formação em Gestão”ter formação em Gestão”ter formação em Gestão”ter formação em Gestão”.

O empresário sublinha que “esta-“esta-“esta-“esta-“esta-

João Martins – “A pirotécnia é um negócio incompreendido”mos num mercado global, commos num mercado global, commos num mercado global, commos num mercado global, commos num mercado global, comuma concorrência muito maisuma concorrência muito maisuma concorrência muito maisuma concorrência muito maisuma concorrência muito maiseficaz e bem organizada de ou-eficaz e bem organizada de ou-eficaz e bem organizada de ou-eficaz e bem organizada de ou-eficaz e bem organizada de ou-tros países”tros países”tros países”tros países”tros países”.

João Martins diz que cresceu napirotécnica do pai. “Os outros miú-“Os outros miú-“Os outros miú-“Os outros miú-“Os outros miú-dos iam para a praia no Verão edos iam para a praia no Verão edos iam para a praia no Verão edos iam para a praia no Verão edos iam para a praia no Verão eeu vinha para aqui ajudar o meueu vinha para aqui ajudar o meueu vinha para aqui ajudar o meueu vinha para aqui ajudar o meueu vinha para aqui ajudar o meupai. É claro que ele me obriga-pai. É claro que ele me obriga-pai. É claro que ele me obriga-pai. É claro que ele me obriga-pai. É claro que ele me obriga-va, mas na minha geração issova, mas na minha geração issova, mas na minha geração issova, mas na minha geração issova, mas na minha geração issoentendia-se como algo de na-entendia-se como algo de na-entendia-se como algo de na-entendia-se como algo de na-entendia-se como algo de na-tural, era normal um filho co-tural, era normal um filho co-tural, era normal um filho co-tural, era normal um filho co-tural, era normal um filho co-meçar a integrar-se na empre-meçar a integrar-se na empre-meçar a integrar-se na empre-meçar a integrar-se na empre-meçar a integrar-se na empre-sa do pai e eu lembro-me de virsa do pai e eu lembro-me de virsa do pai e eu lembro-me de virsa do pai e eu lembro-me de virsa do pai e eu lembro-me de virpara aqui com 12 e 13 anos…para aqui com 12 e 13 anos…para aqui com 12 e 13 anos…para aqui com 12 e 13 anos…para aqui com 12 e 13 anos…Hoje se calhar diriam que eraHoje se calhar diriam que eraHoje se calhar diriam que eraHoje se calhar diriam que eraHoje se calhar diriam que eraexploração de mão-de-obra in-exploração de mão-de-obra in-exploração de mão-de-obra in-exploração de mão-de-obra in-exploração de mão-de-obra in-fantil… Mas ainda hoje guardofantil… Mas ainda hoje guardofantil… Mas ainda hoje guardofantil… Mas ainda hoje guardofantil… Mas ainda hoje guardoa nota de 50 escudos a nota de 50 escudos a nota de 50 escudos a nota de 50 escudos a nota de 50 escudos [25 cênti-mos] que foi o meu primeiro di- que foi o meu primeiro di- que foi o meu primeiro di- que foi o meu primeiro di- que foi o meu primeiro di-nheiro que aqui ganhei.”nheiro que aqui ganhei.”nheiro que aqui ganhei.”nheiro que aqui ganhei.”nheiro que aqui ganhei.”

Conclusão: “era de esperar que“era de esperar que“era de esperar que“era de esperar que“era de esperar quemais tarde ou mais cedo eu aca-mais tarde ou mais cedo eu aca-mais tarde ou mais cedo eu aca-mais tarde ou mais cedo eu aca-mais tarde ou mais cedo eu aca-baria por vir para cá”baria por vir para cá”baria por vir para cá”baria por vir para cá”baria por vir para cá”.

E isso aconteceu em 1993 com ocurso de Gestão terminado. João Mar-tins regressa de Lisboa para o Bom-barral e instala-se, ao lado do pai, àfrente do negócio da família.

Negócio, diz ele, que é “comple-“comple-“comple-“comple-“comple-tamente incompreendido”tamente incompreendido”tamente incompreendido”tamente incompreendido”tamente incompreendido”. Nãohaverá muitas actividades económi-cas com uma imagem tão negativaquanta esta. “Sempre que chegava“Sempre que chegava“Sempre que chegava“Sempre que chegava“Sempre que chegavao Verão começámos a ter que vi-o Verão começámos a ter que vi-o Verão começámos a ter que vi-o Verão começámos a ter que vi-o Verão começámos a ter que vi-ver com o estigma de que nós éra-ver com o estigma de que nós éra-ver com o estigma de que nós éra-ver com o estigma de que nós éra-ver com o estigma de que nós éra-mos uns incendiários. E por muitomos uns incendiários. E por muitomos uns incendiários. E por muitomos uns incendiários. E por muitomos uns incendiários. E por muitoque inovássemos, que fizéssemosque inovássemos, que fizéssemosque inovássemos, que fizéssemosque inovássemos, que fizéssemosque inovássemos, que fizéssemosprocessos mais seguros, esta ima-processos mais seguros, esta ima-processos mais seguros, esta ima-processos mais seguros, esta ima-processos mais seguros, esta ima-gem não se apagava”gem não se apagava”gem não se apagava”gem não se apagava”gem não se apagava”.

É dentro deste contexto, e apósdois verões de muitos incêndios, quevem uma legislação particularmentedura: acaba-se com o lançamento defoguetes tradicionais durante toda aépoca estival.

Uma machadada para o negócio. Masque obrigou a empresa a diversificar asua actividade. Agora as alvoradas dasfestas e as procissões são festejadascom balonas de tiro, um substituto develho foguete de cana e canudo.

Em todo o caso, para a PirotecniaBombarralense longe vai o tempo emque este produto era o seu core busi-ness. Hoje em dia o que está a dar sãoos espectáculos de fogo de artifício eos clientes de outrora (associações

e comissões de festas das aldeias)deram lugar às autarquias que ganha-ram o gosto por celebrar explosiva-mente as comemorações dos feriadosmunicipais, as passagens de ano e osfestivais de Verão.

Pagam tarde e a más horas, é cer-to. E João Martins não revela nada quetoda a gente não saiba, mas é - para obem e para o mal - uma importantefatia do mercado desta empresa. Osfoguetes tradicionais – que ainda po-dem ir para o ar nos meses de Inverno– representam 20% da facturação e orestante é a venda de componentes pi-rotécnicos, muitos dos quais nem sãoproduzidos na própria fábrica, masimportados de Espanha, Itália ou daChina.

Alguns destes produtos servempara integrar cenários no teatro, nocinema e na televisão. “Não me sur-“Não me sur-“Não me sur-“Não me sur-“Não me sur-preenderia se houvesse em Ho-preenderia se houvesse em Ho-preenderia se houvesse em Ho-preenderia se houvesse em Ho-preenderia se houvesse em Ho-llywood algumas explosões re-llywood algumas explosões re-llywood algumas explosões re-llywood algumas explosões re-llywood algumas explosões re-alizadas com produtos vendidosalizadas com produtos vendidosalizadas com produtos vendidosalizadas com produtos vendidosalizadas com produtos vendidospor nós”por nós”por nós”por nós”por nós”, diz.

E há ainda nichos de mercado sur-preendentes, colaterais a esta activi-dade. Durante algum tempo a empre-sa vendeu componentes para a Sué-cia, destinados a integrar um compli-cado processo de fabrico de aço numasiderurgia daquele país.

Da produção da fábrica, cerca de15% a 20% é exportada e João Mar-tins jura que já viu artigos seus, fabri-cados no Bombarral, em certames in-ternacionais com a designação madein Spain. “Depois os alemães, que“Depois os alemães, que“Depois os alemães, que“Depois os alemães, que“Depois os alemães, queos compram, ainda acham queos compram, ainda acham queos compram, ainda acham queos compram, ainda acham queos compram, ainda acham quenós somos mentirosos quandonós somos mentirosos quandonós somos mentirosos quandonós somos mentirosos quandonós somos mentirosos quandotentamos expl icar- lhes quetentamos expl icar- lhes quetentamos expl icar- lhes quetentamos expl icar- lhes quetentamos expl icar- lhes queaqueles produtos são nossos.aqueles produtos são nossos.aqueles produtos são nossos.aqueles produtos são nossos.aqueles produtos são nossos.Dizem que aquilo é bom porqueDizem que aquilo é bom porqueDizem que aquilo é bom porqueDizem que aquilo é bom porqueDizem que aquilo é bom porqueé espanhol”é espanhol”é espanhol”é espanhol”é espanhol”, desabafa.

“Recusamos alienar este saber“Recusamos alienar este saber“Recusamos alienar este saber“Recusamos alienar este saber“Recusamos alienar este saberque já vem de três gerações”que já vem de três gerações”que já vem de três gerações”que já vem de três gerações”que já vem de três gerações”

Ao que parece há também outra

coisa em que os pirotécnicos portu-gueses são muitos bons – sabem con-ceber excelentes espectáculos defogo de artifício, misturando sabia-mente os materiais por forma a pro-porcionar imagens únicas.

“Utilizamos em cada espec-“Utilizamos em cada espec-“Utilizamos em cada espec-“Utilizamos em cada espec-“Utilizamos em cada espec-táculo apenas 20% de compo-táculo apenas 20% de compo-táculo apenas 20% de compo-táculo apenas 20% de compo-táculo apenas 20% de compo-nentes fabricados por nós. Onentes fabricados por nós. Onentes fabricados por nós. Onentes fabricados por nós. Onentes fabricados por nós. Oresto compramos fora. No futu-resto compramos fora. No futu-resto compramos fora. No futu-resto compramos fora. No futu-resto compramos fora. No futu-ro até poderíamos prescindir daro até poderíamos prescindir daro até poderíamos prescindir daro até poderíamos prescindir daro até poderíamos prescindir danossa fábrica e ser uma empre-nossa fábrica e ser uma empre-nossa fábrica e ser uma empre-nossa fábrica e ser uma empre-nossa fábrica e ser uma empre-sa de gestão de circuitos de dis-sa de gestão de circuitos de dis-sa de gestão de circuitos de dis-sa de gestão de circuitos de dis-sa de gestão de circuitos de dis-tribuição e de prestação de ser-tribuição e de prestação de ser-tribuição e de prestação de ser-tribuição e de prestação de ser-tribuição e de prestação de ser-viços. Mas recusamos alienarviços. Mas recusamos alienarviços. Mas recusamos alienarviços. Mas recusamos alienarviços. Mas recusamos alienareste saber que já vem de trêseste saber que já vem de trêseste saber que já vem de trêseste saber que já vem de trêseste saber que já vem de trêsgerações e queremos continu-gerações e queremos continu-gerações e queremos continu-gerações e queremos continu-gerações e queremos continu-ar a ser sempre uma fábrica.ar a ser sempre uma fábrica.ar a ser sempre uma fábrica.ar a ser sempre uma fábrica.ar a ser sempre uma fábrica.Nunca seremos uma empresa sóNunca seremos uma empresa sóNunca seremos uma empresa sóNunca seremos uma empresa sóNunca seremos uma empresa sóde import-export, embora eude import-export, embora eude import-export, embora eude import-export, embora eude import-export, embora eusaiba que esse até era um ca-saiba que esse até era um ca-saiba que esse até era um ca-saiba que esse até era um ca-saiba que esse até era um ca-minho que nos daria mais visi-minho que nos daria mais visi-minho que nos daria mais visi-minho que nos daria mais visi-minho que nos daria mais visi-bilidade e até mais dinheiro”bilidade e até mais dinheiro”bilidade e até mais dinheiro”bilidade e até mais dinheiro”bilidade e até mais dinheiro”.

De resto, o caminho a prosseguir éo oposto e passa por aumentar a pro-dução fabril numa unidade a construirde raiz (ver caixa). Dificuldades bu-rocráticas atrasaram o processo eagora os dois administradores quaseagradecem tais obstáculos porque arecessão fez-se sentir forte e feio enão é este o momento mais adequadopara grande aventuras. “Reconhe-“Reconhe-“Reconhe-“Reconhe-“Reconhe-ço que não fabricamos nem co-ço que não fabricamos nem co-ço que não fabricamos nem co-ço que não fabricamos nem co-ço que não fabricamos nem co-mercializamos um bem de pri-mercializamos um bem de pri-mercializamos um bem de pri-mercializamos um bem de pri-mercializamos um bem de pri-meira necessidade”meira necessidade”meira necessidade”meira necessidade”meira necessidade”, diz o empre-sário.

Em tempo de crise não há dinheironem ânimo para muitas festas e fo-gos de artifício, mas felizmente tememergido mais um nicho de mercado.Trata-se dos casamentos e baptiza-dos, que ultimamente têm sido ale-grados com um mini-espectáculo defogo preso. Nos tempos que corremqualquer segmento de mercado é bemvindo.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

Cronologia

19341934193419341934 – Francisco Martins Jú-nior (1909-1982) funda a AltaPirotecnia do Oeste

19771977197719771977 – A firma passa a soci-edade por quotas com um ca-pital social de 350 mil euros ecom a designação de Francis-co Martins Júnior, Lda. ,tendocomo sócios o pai e o filho.

19791979197919791979 – A empresa volta a seruma sociedade em nome indi-vidual designada António R.Martins (filho do fundador)

19941994199419941994 – Volta a sociedade porquotas, agora chamada Antó-nio R. Martins, Lda, tendocomo sócios o pai e o filho (res-pectivamente, filho e neto dofundador)

Volume de

negócios

A equipa da Fábrica de Fogos de Artifício do BombarralA equipa da Fábrica de Fogos de Artifício do BombarralA equipa da Fábrica de Fogos de Artifício do BombarralA equipa da Fábrica de Fogos de Artifício do BombarralA equipa da Fábrica de Fogos de Artifício do Bombarral

A fábrica nos anos 70 e vista aérea do complexo fabril na actualidadeA fábrica nos anos 70 e vista aérea do complexo fabril na actualidadeA fábrica nos anos 70 e vista aérea do complexo fabril na actualidadeA fábrica nos anos 70 e vista aérea do complexo fabril na actualidadeA fábrica nos anos 70 e vista aérea do complexo fabril na actualidade

(em milhões de euros)

AnoAnoAnoAnoAno Facturação Facturação Facturação Facturação Facturação

2001 1,22002 1,12003 1,02004 1,22005 1,12006 0,82007 0,92008 0,92009 0,8

A proibição de foguetesA proibição de foguetesA proibição de foguetesA proibição de foguetesA proibição de foguetesnas festas populares,nas festas populares,nas festas populares,nas festas populares,nas festas populares,em 2005, teve umem 2005, teve umem 2005, teve umem 2005, teve umem 2005, teve umimpacto negativo naimpacto negativo naimpacto negativo naimpacto negativo naimpacto negativo nafacturação da empresa,facturação da empresa,facturação da empresa,facturação da empresa,facturação da empresa,obrigando-a aobrigando-a aobrigando-a aobrigando-a aobrigando-a adiversificar os seusdiversificar os seusdiversificar os seusdiversificar os seusdiversificar os seusprodutos e serviços.produtos e serviços.produtos e serviços.produtos e serviços.produtos e serviços.

Page 28: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

A história da Mimosa tem iní-cio num dia de 1960 quando o agri-cultor João Francisco Machado(1913–2009), residente em Abuxa-nas (Rio Maior) visita as Caldas edepara-se com uma tabuleta detrespasse na então Casa de Pas-to Ferradora na Praça 5 de Outu-bro, à época também conhecidapor Praça do Peixe por aí se reali-zar o mercado diário de pescado.

A sua única filha tinha casadoe, como queria umfuturo melhorpara ela do que otrabalho na terra,achou que montarum negócio nasCaldas poderiaser a solução. “O“O“O“O“Omeu pai chegoumeu pai chegoumeu pai chegoumeu pai chegoumeu pai chegoua casa e dissea casa e dissea casa e dissea casa e dissea casa e disseque ficar comque ficar comque ficar comque ficar comque ficar comeste estabeleci-este estabeleci-este estabeleci-este estabeleci-este estabeleci-mento era uma oportunida-mento era uma oportunida-mento era uma oportunida-mento era uma oportunida-mento era uma oportunida-de”de”de”de”de”, lembra Deonilde Azenha, 71anos, que toma conta de um dosestabelecimentos mais emble-máticos da cidade, juntamentecom o marido, Francisco Almei-da, e a filha Maria Celeste Agos-tinho, carinhosamente tratadapor Letinha.

Deonilde Azenha veio para orestaurante a 28 de Janeiro de1961, juntamente com o marido,depois de ter pago um trespassede 40 contos (cerca de 200 euros).Na terra deixava a filha, com trêsanos e meio, ao cuidado dos avósque, na semana seguinte os vie-ram visitar às Caldas e tambémpor cá ficaram.

Na altura a Casa Ferradora re-sumia-se a um corredor, uma salapequena e um quarto. Uma outraparte da casa tinha as “casinhas”,que eram alugadas às vendedo-ras de peixe para ali guardaremas caixas, sal e demais utensíliosde apoio à venda. No quintal daentão casa de pasto tambémeram colocados uns fogareirosque permitia às pessoas ali assa-rem o peixe, que acompanhavamcom vinho tinto da casa.

“Eu era uma menina que“Eu era uma menina que“Eu era uma menina que“Eu era uma menina que“Eu era uma menina quenunca tinha feito quase nada,nunca tinha feito quase nada,nunca tinha feito quase nada,nunca tinha feito quase nada,nunca tinha feito quase nada,

Restaurante A Mimosa comemora meio século em J

Situada na Praça 5 de Outubro, o restaurante A Mimosa é uma referência na cidadecom a sua comida tradicional portuguesa. Os actuais proprietários, Deonilde Aze-nha e Francisco Almeida, adquiriram a casa de pasto que ali existia em 1961 e desdeentão têm ampliado o espaço que actualmente tem capacidade para 80 pessoas.

O nome – A Mimosa - deve-se ao tom verde-claro com que o restaurante foi pinta-do, há cerca de 35 anos, deixando assim para trás o letreiro de A Ferradora.

A história desta casa faz-se no feminino. Três gerações de mulheres (mãe, filha eneta) trabalham na Mimosa e garantem a sua manutenção.

Em Janeiro de 2011 haverá festa para assinalar os seus 50 anos.

era filha única, muito estima-era filha única, muito estima-era filha única, muito estima-era filha única, muito estima-era filha única, muito estima-da”da”da”da”da”, recorda Deonilde Azenha,adiantando que o seu pai nuncaquis que trabalhasse no campo.Aprendeu, durante uma semana,o ofício com os antigos proprie-tários e, com o chegar dos seuspais, ficaram os quatro a traba-lhar no restaurante. Deonilde e amãe, Isaura de Almeida (1913–2004), cuidavam da cozinha, en-quanto que o marido e o pai, João

em redor que vinham à cidade. Asegunda-feira era o dia de maiormovimento, até porque naquelaaltura havia também a praça dasgalinhas na rua ao lado da vendado peixe.

“Assim que entrámos nesta“Assim que entrámos nesta“Assim que entrámos nesta“Assim que entrámos nesta“Assim que entrámos nestacasa tivemos sempre muitacasa tivemos sempre muitacasa tivemos sempre muitacasa tivemos sempre muitacasa tivemos sempre muitagente”gente”gente”gente”gente”, conta Deonilde Azenha,recordando que a sua mãe, quan-do a veio visitar “viu tantos cli-viu tantos cli-viu tantos cli-viu tantos cli-viu tantos cli-entes, que percebeu que euentes, que percebeu que euentes, que percebeu que euentes, que percebeu que euentes, que percebeu que eu

Francisco Machado (1913–2009),eram responsáveis pela parte daadega e taberna.

A família morava no primeiroandar do prédio e o nome Ferra-dora - alusivo ao facto de ali tam-bém se ferrarem animais – aindase iria manter mais alguns anos,até à altura em que viriam a serfeitas obras de remodelação noespaço comercial para ampliar asala de refeições.

Nesses anos da década de 60os principais clientes eram as pei-xeiras que vendiam na praça etambém as pessoas das aldeias

sozinha não conseguia darsozinha não conseguia darsozinha não conseguia darsozinha não conseguia darsozinha não conseguia darresposta e nunca mais se foiresposta e nunca mais se foiresposta e nunca mais se foiresposta e nunca mais se foiresposta e nunca mais se foiembora”embora”embora”embora”embora”, tendo ali permaneci-do cerca de 30 anos a ajudar.

A elevada freguesia levou osproprietários a ampliar o espaço.Primeiro foi deitada uma paredeabaixo para ampliar a sala de re-feições. Anos mais tarde avança-ram para as traseiras, fazendooutra sala onde antes estava oquintal alugado às pessoas quevendiam na praça do peixe.

A adega, que em tempos al-bergou seis grandes tonéis de vi-nho para vender a copo durante

João Francisco Machado (1913-2009) e Isaura de Almeida João Francisco Machado (1913-2009) e Isaura de Almeida João Francisco Machado (1913-2009) e Isaura de Almeida João Francisco Machado (1913-2009) e Isaura de Almeida João Francisco Machado (1913-2009) e Isaura de Almeida(1913-2004) foram os patriarcas deste negócio(1913-2004) foram os patriarcas deste negócio(1913-2004) foram os patriarcas deste negócio(1913-2004) foram os patriarcas deste negócio(1913-2004) foram os patriarcas deste negócio

Francisco Almeida ladeado pela esposa, Deonilde Azenha, e a filha, Maria Celeste Agostinho Francisco Almeida ladeado pela esposa, Deonilde Azenha, e a filha, Maria Celeste Agostinho Francisco Almeida ladeado pela esposa, Deonilde Azenha, e a filha, Maria Celeste Agostinho Francisco Almeida ladeado pela esposa, Deonilde Azenha, e a filha, Maria Celeste Agostinho Francisco Almeida ladeado pela esposa, Deonilde Azenha, e a filha, Maria Celeste Agostinho(Letinha) deram continuidade à casa(Letinha) deram continuidade à casa(Letinha) deram continuidade à casa(Letinha) deram continuidade à casa(Letinha) deram continuidade à casa

Desde peque Desde peque Desde peque Desde peque Desde pequeMimosaMimosaMimosaMimosaMimosa

Isaura Almeida (1913-2004) à porta da Mimosa a olhar para os seus Isaura Almeida (1913-2004) à porta da Mimosa a olhar para os seus Isaura Almeida (1913-2004) à porta da Mimosa a olhar para os seus Isaura Almeida (1913-2004) à porta da Mimosa a olhar para os seus Isaura Almeida (1913-2004) à porta da Mimosa a olhar para os seusbisnetos João Francisco e Joana.bisnetos João Francisco e Joana.bisnetos João Francisco e Joana.bisnetos João Francisco e Joana.bisnetos João Francisco e Joana.

Aspecto do restaurante antes da última remodelação, há cerca de uma Aspecto do restaurante antes da última remodelação, há cerca de uma Aspecto do restaurante antes da última remodelação, há cerca de uma Aspecto do restaurante antes da última remodelação, há cerca de uma Aspecto do restaurante antes da última remodelação, há cerca de umadécada.década.década.década.década.

Uma casa familiarLetinha conhece cada canto da Mimosa de olhos fechados. Che-

gou ali aos três anos e meio, pela mão da avó, e ficou com a família.No entanto, a sua colaboração no restaurante só veio muito maistarde.

“Fui filha única e nunca fiz nada, tinha uma avó que meFui filha única e nunca fiz nada, tinha uma avó que meFui filha única e nunca fiz nada, tinha uma avó que meFui filha única e nunca fiz nada, tinha uma avó que meFui filha única e nunca fiz nada, tinha uma avó que mefazia tudo, estudei, depois casei-me com 19 anos e fui viverfazia tudo, estudei, depois casei-me com 19 anos e fui viverfazia tudo, estudei, depois casei-me com 19 anos e fui viverfazia tudo, estudei, depois casei-me com 19 anos e fui viverfazia tudo, estudei, depois casei-me com 19 anos e fui viverpara Lisboa”para Lisboa”para Lisboa”para Lisboa”para Lisboa”, conta. Esteve quatro anos a residir na capital, masdepois o marido, o médico Silvestre Agostinho, resolveu voltar paraas Caldas há cerca de 28 anos.

Nessa altura, Letinha começou por ajudar o marido no consultórioe tomava conta dos dois filhos pequenos. Depois começou a ajudarno restaurante e passou a gostar mais de trabalhar na Mimosa do queno consultório médico. “Passei a estar aqui a tempo inteiro há cerca“Passei a estar aqui a tempo inteiro há cerca“Passei a estar aqui a tempo inteiro há cerca“Passei a estar aqui a tempo inteiro há cerca“Passei a estar aqui a tempo inteiro há cercade 10 anos”de 10 anos”de 10 anos”de 10 anos”de 10 anos”, altura em que os filhos já estavam crescidos.

Agora é uma espécie de relações públicas da casa, ao mesmo tempoque faz os doces, serve à mesa e faz as compras diárias.

A grande maioria dos clientes tratam a Letinha pelo seu nome oudiminutivo. São pessoas das Caldas e arredores, mas também deLisboa (sobretudo ao sábado), os frequentadores do restaurante.“Gosto muito dos meus clientes e eles gostam de mim”Gosto muito dos meus clientes e eles gostam de mim”Gosto muito dos meus clientes e eles gostam de mim”Gosto muito dos meus clientes e eles gostam de mim”Gosto muito dos meus clientes e eles gostam de mim”, diz,chamando a atenção para o facto de agora já serem os “netos denetos denetos denetos denetos denossos clientes que adoram vir à Letinha”nossos clientes que adoram vir à Letinha”nossos clientes que adoram vir à Letinha”nossos clientes que adoram vir à Letinha”nossos clientes que adoram vir à Letinha”.

O cozido à portuguesa é o prato mais conhecido da Mimosa, a parcom as sardinhas assadas no carvão que, durante o verão, trazemmuitos clientes à casa. “Não comem em lado nenhum iguais às“Não comem em lado nenhum iguais às“Não comem em lado nenhum iguais às“Não comem em lado nenhum iguais às“Não comem em lado nenhum iguais àsminhas”minhas”minhas”minhas”minhas”, garante Letinha.

Há ainda outros pratos da cozinha tradicional portuguesa como obife com alho, feijoada ou dobrada, “que a minha mãe faz muito“que a minha mãe faz muito“que a minha mãe faz muito“que a minha mãe faz muito“que a minha mãe faz muitobem”bem”bem”bem”bem”, adianta.

Deonilde Azenha, apesar dos seus 71 anos, continua a cozinhar.Chega ao restaurante pelas 7h30 e começa logo a trabalhar na cozi-nha. As empregadas chegam duas horas depois e, nessa altura, vaiao talho. Nunca sai antes das 23h00 ou meia-noite. Já a sua filha vemtodos os dias a pé da Quinta da Boneca para o restaurante, na Praça5 de Outubro. Às 8h30 vai à Praça da Fruta fazer as compras dosenchidos, verduras e fruta e depois vai ao mercado do peixe compraro que falta. “Todo o peixe vem da praça, não é do supermerca-Todo o peixe vem da praça, não é do supermerca-Todo o peixe vem da praça, não é do supermerca-Todo o peixe vem da praça, não é do supermerca-Todo o peixe vem da praça, não é do supermerca-do. Pode ser mais caro, mas garantimos a qualidade”do. Pode ser mais caro, mas garantimos a qualidade”do. Pode ser mais caro, mas garantimos a qualidade”do. Pode ser mais caro, mas garantimos a qualidade”do. Pode ser mais caro, mas garantimos a qualidade”, realça

todo o ano, também se transfor-mou numa sala de refeições,dando assim origem ao espaçoactual, com capacidade para 80pessoas sentadas.

Todas estas obras foram sen-do feitas gradualmente, semnunca fecharem o restaurante.“Até a cozinha arranjámosAté a cozinha arranjámosAté a cozinha arranjámosAté a cozinha arranjámosAté a cozinha arranjámossem nunca fecharmos a por-sem nunca fecharmos a por-sem nunca fecharmos a por-sem nunca fecharmos a por-sem nunca fecharmos a por-ta”ta”ta”ta”ta”, conta Deonilde Azenha, ex-plicando que instalaram proviso-

riamente a co-zinha na ade-ga, onde tra-balhavam en-quanto decor-riam as obrasde melhora-mento.

“Só fechá-“Só fechá-“Só fechá-“Só fechá-“Só fechá-mos doismos doismos doismos doismos doisdias muitodias muitodias muitodias muitodias muitorecentemen-recentemen-recentemen-recentemen-recentemen-

te para pôr um chão novo nate para pôr um chão novo nate para pôr um chão novo nate para pôr um chão novo nate para pôr um chão novo nacozinha”cozinha”cozinha”cozinha”cozinha”, conclui.

O restaurante ganhou o nomeactual há cerca de 35 anos, porcausa das cores. Os proprietáriospintaram a casa de verde-claro eo pintor sugeriu o nome Mimosa,que foi aceite. Houve ainda a su-gestão de restaurante se chamarLetinha, mas a jovem na alturanão achou a mínima graça.

Os responsáveis não quiseramdar o valor da facturação.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

Page 29: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

aneiro

O professor João Evangelis-ta é um entusiasta da cozinhada “Mimosa”. Começou a fre-quentar o espaço há cerca de15 anos, altura em que veio di-rigir o pólo caldense da UAL eali se dirigia para almoçar comamigos. Em 2005 mudou-se,juntamente com a esposa, paraas Caldas e aquele restauran-te era parte do seu quotidia-no. “Tínhamos uma mesa“Tínhamos uma mesa“Tínhamos uma mesa“Tínhamos uma mesa“Tínhamos uma mesasempre guardada para nós.sempre guardada para nós.sempre guardada para nós.sempre guardada para nós.sempre guardada para nós.Depois passou a ser sóDepois passou a ser sóDepois passou a ser sóDepois passou a ser sóDepois passou a ser sópara mim, enquanto podiapara mim, enquanto podiapara mim, enquanto podiapara mim, enquanto podiapara mim, enquanto podialá ir”lá ir”lá ir”lá ir”lá ir”, recorda João Evangelis-ta, que depois, devido a difi-culdades físicas, deixou de irao restaurante, mas continua-va ali a comprar a sua comida.Actualmente, com 90 anos, en-contra-se internado no Monte-pio.

“Sentia-me lá muito bem,Sentia-me lá muito bem,Sentia-me lá muito bem,Sentia-me lá muito bem,Sentia-me lá muito bem,acabei por criar amizadeacabei por criar amizadeacabei por criar amizadeacabei por criar amizadeacabei por criar amizadecom os outros frequenta-com os outros frequenta-com os outros frequenta-com os outros frequenta-com os outros frequenta-dores, os nossos vizinhosdores, os nossos vizinhosdores, os nossos vizinhosdores, os nossos vizinhosdores, os nossos vizinhosde mesa e outros que lá iamde mesa e outros que lá iamde mesa e outros que lá iamde mesa e outros que lá iamde mesa e outros que lá iamfazer as refeições”fazer as refeições”fazer as refeições”fazer as refeições”fazer as refeições”, conta,lembrando que a certa altura“um senhor de certa idade“um senhor de certa idade“um senhor de certa idade“um senhor de certa idade“um senhor de certa idadelembrou-se de perguntar àlembrou-se de perguntar àlembrou-se de perguntar àlembrou-se de perguntar àlembrou-se de perguntar àLetinha o meu nome e des-Letinha o meu nome e des-Letinha o meu nome e des-Letinha o meu nome e des-Letinha o meu nome e des-cobriu que tinha sido meucobriu que tinha sido meucobriu que tinha sido meucobriu que tinha sido meucobriu que tinha sido meualuno aos 12 anos, num co-aluno aos 12 anos, num co-aluno aos 12 anos, num co-aluno aos 12 anos, num co-aluno aos 12 anos, num co-légio em Lisboa”légio em Lisboa”légio em Lisboa”légio em Lisboa”légio em Lisboa”.

Neste restaurante João Evan-gelista reencontrou tambémamigos de infância. “Encon-“Encon-“Encon-“Encon-“Encon-tramo-nos por ali, conver-tramo-nos por ali, conver-tramo-nos por ali, conver-tramo-nos por ali, conver-tramo-nos por ali, conver-samos, sabemos o quesamos, sabemos o quesamos, sabemos o quesamos, sabemos o quesamos, sabemos o quecada um gosta, por issocada um gosta, por issocada um gosta, por issocada um gosta, por issocada um gosta, por issoestes ambientes são muitoestes ambientes são muitoestes ambientes são muitoestes ambientes são muitoestes ambientes são muitoespeciais”especiais”especiais”especiais”especiais”, sintetiza.

Entre os pratos seus prefe-

JOÃO EVANGELISTA, CLIENTE DE LONGA DATA

ridos destaca as sardinhas assa-das. “A minha grande sauda-A minha grande sauda-A minha grande sauda-A minha grande sauda-A minha grande sauda-de é este ano não ter comidode é este ano não ter comidode é este ano não ter comidode é este ano não ter comidode é este ano não ter comidouma sardinha assada, mas àsuma sardinha assada, mas àsuma sardinha assada, mas àsuma sardinha assada, mas àsuma sardinha assada, mas àsvezes faço uma malandrice,vezes faço uma malandrice,vezes faço uma malandrice,vezes faço uma malandrice,vezes faço uma malandrice,peço e trazem-mas fritas”peço e trazem-mas fritas”peço e trazem-mas fritas”peço e trazem-mas fritas”peço e trazem-mas fritas”, con-ta, divertido.

O bom garfo destaca ainda quea Mimosa tem um bacalhau noforno que “é excelente”“é excelente”“é excelente”“é excelente”“é excelente”, assimcomo todo o peixe grelhado, comoé o caso do sargo, da sarda, ouda cavala, que “quando podia”gostava temperada com bastan-te sal. “Gosto muito da comi-“Gosto muito da comi-“Gosto muito da comi-“Gosto muito da comi-“Gosto muito da comi-da tradicional, não me douda tradicional, não me douda tradicional, não me douda tradicional, não me douda tradicional, não me doubem com as comidas esquisi-bem com as comidas esquisi-bem com as comidas esquisi-bem com as comidas esquisi-bem com as comidas esquisi-tas”tas”tas”tas”tas”, revela.

João Evangelista diz ter umaestima muito grande pela zonada antiga Praça do Peixe (Praça 5de Outubro) pois foi o primeirosítio onde morou nas Caldas.

CronologiaCronologiaCronologiaCronologiaCronologia1960 - 1960 - 1960 - 1960 - 1960 - João Francisco Machado (pai de Deonilde) sabe da intenção de trespasse da casa de pasto e informa a filha da possibilidade de

negócio

1961 –1961 –1961 –1961 –1961 – A sua filha Deonilde e o marido, Francisco Almeida, iniciam a exploração do estabelecimento. O resto da família junta-se ao negócio.

1975 –1975 –1975 –1975 –1975 – Após obras de remodelação, o estabelecimento passa a chamar-se restaurante A Mimosa

2000 -2000 -2000 -2000 -2000 - Maria Celeste Agostinho (Letinha), filha de Deonilde passa a colaborar no restaurante

ena que Joana Agostinho, de 23 anos, ajuda a mãe e a avó naena que Joana Agostinho, de 23 anos, ajuda a mãe e a avó naena que Joana Agostinho, de 23 anos, ajuda a mãe e a avó naena que Joana Agostinho, de 23 anos, ajuda a mãe e a avó naena que Joana Agostinho, de 23 anos, ajuda a mãe e a avó na

João Evangelista (à esquerda) e a esposa recentemente falecida (à direita). Ao centro: João Evangelista (à esquerda) e a esposa recentemente falecida (à direita). Ao centro: João Evangelista (à esquerda) e a esposa recentemente falecida (à direita). Ao centro: João Evangelista (à esquerda) e a esposa recentemente falecida (à direita). Ao centro: João Evangelista (à esquerda) e a esposa recentemente falecida (à direita). Ao centro:José Paulo (cliente), Letinha e o marido. A amizade e camaradagem são uma dasJosé Paulo (cliente), Letinha e o marido. A amizade e camaradagem são uma dasJosé Paulo (cliente), Letinha e o marido. A amizade e camaradagem são uma dasJosé Paulo (cliente), Letinha e o marido. A amizade e camaradagem são uma dasJosé Paulo (cliente), Letinha e o marido. A amizade e camaradagem são uma dascaracterísticas desta casa. A fotografia data dos anos 80características desta casa. A fotografia data dos anos 80características desta casa. A fotografia data dos anos 80características desta casa. A fotografia data dos anos 80características desta casa. A fotografia data dos anos 80

Deonilde Azenha.Referindo-se à aquisição do restaurante, a matriarca diz que “foifoifoifoifoi

a melhor escolha que fiz na vida”a melhor escolha que fiz na vida”a melhor escolha que fiz na vida”a melhor escolha que fiz na vida”a melhor escolha que fiz na vida”, destacando a presença dafilha, que garante a continuidade do negócio.

Também a vida de Joana Agostinho, 23 anos, está estreitamenteligada à do restaurante Mimosa. “Lembro-me desta casa desde“Lembro-me desta casa desde“Lembro-me desta casa desde“Lembro-me desta casa desde“Lembro-me desta casa desdesempre, mesmo que não estivesse a trabalhar, estava sem-sempre, mesmo que não estivesse a trabalhar, estava sem-sempre, mesmo que não estivesse a trabalhar, estava sem-sempre, mesmo que não estivesse a trabalhar, estava sem-sempre, mesmo que não estivesse a trabalhar, estava sem-pre aqui”,pre aqui”,pre aqui”,pre aqui”,pre aqui”, conta, recordando que quando eram mais pequenos (Jo-ana e o irmão) ainda iam jantar a casa, mas depois começaram atambém fazer as refeições no restaurante.

Joana lembra-se de começar por ajudar com tarefas simples, comoir buscar as bebidas ou fazer algum favor à mãe, adquirindo depoisa experiência que lhe permite ser responsável pelo atendimento dasmesas. Contudo, ainda hoje continuam a haver algumas coisas quesó a mãe é que faz: “as farófias continua a ser só a minha mãeas farófias continua a ser só a minha mãeas farófias continua a ser só a minha mãeas farófias continua a ser só a minha mãeas farófias continua a ser só a minha mãeque as tira, o melão é ela quem corta e o leite-creme é elaque as tira, o melão é ela quem corta e o leite-creme é elaque as tira, o melão é ela quem corta e o leite-creme é elaque as tira, o melão é ela quem corta e o leite-creme é elaque as tira, o melão é ela quem corta e o leite-creme é elaquem queima”quem queima”quem queima”quem queima”quem queima”.

Aspirante a uma carreira no ensino, como professora de Inglês eAlemão, Joana Agostinho diz que o seu coração balança quandopensa no trabalho do restaurante, de que também gosta bastante.“Não excluo as possibilidades de ficar, ainda por cima por-“Não excluo as possibilidades de ficar, ainda por cima por-“Não excluo as possibilidades de ficar, ainda por cima por-“Não excluo as possibilidades de ficar, ainda por cima por-“Não excluo as possibilidades de ficar, ainda por cima por-que nos tempos que vivemos é um bom negócio e temos mui-que nos tempos que vivemos é um bom negócio e temos mui-que nos tempos que vivemos é um bom negócio e temos mui-que nos tempos que vivemos é um bom negócio e temos mui-que nos tempos que vivemos é um bom negócio e temos mui-ta sorte em ter clientes fixos que gostam da nossa comida”ta sorte em ter clientes fixos que gostam da nossa comida”ta sorte em ter clientes fixos que gostam da nossa comida”ta sorte em ter clientes fixos que gostam da nossa comida”ta sorte em ter clientes fixos que gostam da nossa comida”,revela. A jovem diz que não exclui a hipótese de ajudar a mãe atémais tarde, mas ficar com o negócio “é complicado”“é complicado”“é complicado”“é complicado”“é complicado”.

“Penso muitas vezes que o meu irmão era capaz de ficar“Penso muitas vezes que o meu irmão era capaz de ficar“Penso muitas vezes que o meu irmão era capaz de ficar“Penso muitas vezes que o meu irmão era capaz de ficar“Penso muitas vezes que o meu irmão era capaz de ficarcom isto porque é muito bom cozinheiro, mas também tem acom isto porque é muito bom cozinheiro, mas também tem acom isto porque é muito bom cozinheiro, mas também tem acom isto porque é muito bom cozinheiro, mas também tem acom isto porque é muito bom cozinheiro, mas também tem asua profissão”sua profissão”sua profissão”sua profissão”sua profissão”, adianta, sobre o jovem formado em Bioquímica.

Sobre a Mimosa destaca o facto das pessoas serem todas amigase dá o exemplo das pessoas todas se cumprimentarem e conversa-rem entre elas.

Durante o tempo em que esteve a estudar na universidade, emLisboa, vinha sempre dar uma “mãozinha” no restaurante nos tem-pos livres que tinha e nas férias.

O cozido, feito pela avó, assim como todas as variedades de baca-lhau, estão no topo das suas preferências. “Para comer de forma“Para comer de forma“Para comer de forma“Para comer de forma“Para comer de formasaudável é sempre aqui”saudável é sempre aqui”saudável é sempre aqui”saudável é sempre aqui”saudável é sempre aqui”, deixa como sugestão.

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“Foi aqui que aprendi tudo o que sei hoje”Actualmente com 35 anos,

Elisabete Martins começou atrabalhar no restaurante Mi-mosa com 12, pouco tempodepois de ter terminado a es-cola primária. Foi pela mão dairmã, que também ali traba-lhava, que deixou a Serra doBouro e foi para o local ondeaprendeu “tudo que sei hoje“tudo que sei hoje“tudo que sei hoje“tudo que sei hoje“tudo que sei hojeporque nem um ovo sabiaporque nem um ovo sabiaporque nem um ovo sabiaporque nem um ovo sabiaporque nem um ovo sabiaestrelar”estrelar”estrelar”estrelar”estrelar”, recorda.

A Beta, como as patroas lhechamam, passou o primeirodia a varrer umas águas fur-

tadas, onde havia muita casca decebola, lembra, passando depoisa lavar a loiça, tarefa que aindahoje gosta particularmente de fa-zer.

Há quatro anos engravidou edeixou de trabalhar. Voltou há umano à casa onde tem passadogrande parte da sua vida e onde,além de patrões tem amigos.“Gosto de cá estar, a minha“Gosto de cá estar, a minha“Gosto de cá estar, a minha“Gosto de cá estar, a minha“Gosto de cá estar, a minhamãe é a Dona Deonilde, foi aquimãe é a Dona Deonilde, foi aquimãe é a Dona Deonilde, foi aquimãe é a Dona Deonilde, foi aquimãe é a Dona Deonilde, foi aquique acabei de ser criada”que acabei de ser criada”que acabei de ser criada”que acabei de ser criada”que acabei de ser criada”, re-vela.

Juntamente com Elisabete, tra- Elisabete Martins começou a trabalhar no restaurante Mimosa com 12 anos Elisabete Martins começou a trabalhar no restaurante Mimosa com 12 anos Elisabete Martins começou a trabalhar no restaurante Mimosa com 12 anos Elisabete Martins começou a trabalhar no restaurante Mimosa com 12 anos Elisabete Martins começou a trabalhar no restaurante Mimosa com 12 anos

balha Maria da Conceição Rodri-gues, empregada da Mimosa há15 anos. Faz as limpezas e tratada roupa, além de ajudar a com-por as mesas. “É um trabalho“É um trabalho“É um trabalho“É um trabalho“É um trabalhoque gosto de fazer porqueque gosto de fazer porqueque gosto de fazer porqueque gosto de fazer porqueque gosto de fazer porqueconvive-se com as pessoas”convive-se com as pessoas”convive-se com as pessoas”convive-se com as pessoas”convive-se com as pessoas”,disse.

António Vieira é o responsávelpor tratar do carvão. Começou porajudar Francisco Almeida nessatarefa e agora é ele quem garan-te o peixe assado, uma das espe-cialidades desta casa.

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Natural de A-dos-Negros, veioviver para as Caldas em 1926 (naaltura tinha seis anos) e por cáficou durante 11 anos. Lembraque a sua casa ficava do outrolado da praça e que a existênciado teatro Pinheiro Chagas o im-possibilitava de ver o restauran-te.

Daquele tempo recorda a ven-da de enguias da Lagoa enrola-das em areia, que o peixe miúdoera vendido às dúzias ou ao quar-teirão enquanto que o grosso éque era a peso. “E o chicharro“E o chicharro“E o chicharro“E o chicharro“E o chicharroou a cavala eram vendidos aou a cavala eram vendidos aou a cavala eram vendidos aou a cavala eram vendidos aou a cavala eram vendidos apares”pares”pares”pares”pares”, especifica.

“Ainda sou do tempo em que“Ainda sou do tempo em que“Ainda sou do tempo em que“Ainda sou do tempo em que“Ainda sou do tempo em queao sábado à noite começa-ao sábado à noite começa-ao sábado à noite começa-ao sábado à noite começa-ao sábado à noite começa-vam a chegar galeras com avam a chegar galeras com avam a chegar galeras com avam a chegar galeras com avam a chegar galeras com agente da venda do peixe, paragente da venda do peixe, paragente da venda do peixe, paragente da venda do peixe, paragente da venda do peixe, paravenderem ao domingo”venderem ao domingo”venderem ao domingo”venderem ao domingo”venderem ao domingo”, desfi-la entre as memórias, que inclu-

em também a primeira camio-neta que veio com peixe paraaquela praça e que era proprie-dade de um comerciante da Na-zaré.

As peixeiras também não es-tavam a salvo das travessurasdos miúdos daquela zona:“aproveitávamos quando“aproveitávamos quando“aproveitávamos quando“aproveitávamos quando“aproveitávamos quandoelas estavam a dormir e rou-elas estavam a dormir e rou-elas estavam a dormir e rou-elas estavam a dormir e rou-elas estavam a dormir e rou-bávamos caranguejos”bávamos caranguejos”bávamos caranguejos”bávamos caranguejos”bávamos caranguejos”.

Depois de já ter trabalhadona firma J.L. Barros (onde co-meçou antes dos 10 anos) JoãoEvangelista foi estudar no cur-so nocturno da Escola Comerci-al Rafael Bordalo Pinheiro (ondeobteve o primeiro prémio naci-onal do ensino técnico, em1938). Aos 18 anos partiu paraLisboa. Regressou 67 anos de-pois, com a esposa.

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“Ainda este ano não comi uma sardinha assada”

Page 30: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

Família Bernarda investe em negócios nas Caldas de

A família Bernarda está nas Caldas há quase meio século e desde então nãoparou de investir em negócios. Há 46 anos ficou com uma mercearia e taberna,depois com um café e actualmente possui uma casa de jogos da sorte (Pérolada Sorte) e a Mercearia Pena.Pais e filhos – Alberto e Noémia, e Luís e Rui - são os sócios gerentes da firmaCarvalho & Irmão, Lda. e têm alma de comerciantes sempre em busca do cres-cimento dos seus negócios. Ao todo empregam nove pessoas e em tudo o quefazem distinguem-se pela aposta na qualidade.

Alberto da Bernarda e Noé-mia do Canto, de 71 e 66 anos,são naturais de duas aldeias ri-batejanas e vieram para as Cal-das em Maio de 1964, já depoisde casados. O pai de Alberto daBernarda, António Lopes da Ber-narda (1913-2003) possuía na al-deia do Canal uma mercearia etaberna, que também era postode correios.

“Quando me casei o meu“Quando me casei o meu“Quando me casei o meu“Quando me casei o meu“Quando me casei o meupai não queria que eu ficas-pai não queria que eu ficas-pai não queria que eu ficas-pai não queria que eu ficas-pai não queria que eu ficas-se na aldeia achava melhorse na aldeia achava melhorse na aldeia achava melhorse na aldeia achava melhorse na aldeia achava melhorque eu fizesse a minha vidaque eu fizesse a minha vidaque eu fizesse a minha vidaque eu fizesse a minha vidaque eu fizesse a minha vidafora dali. Acabámos por es-fora dali. Acabámos por es-fora dali. Acabámos por es-fora dali. Acabámos por es-fora dali. Acabámos por es-colher as Caldascolher as Caldascolher as Caldascolher as Caldascolher as Caldas”, contou Al-berto da Bernarda, acrescentan-do que esta era então “uma ter-uma ter-uma ter-uma ter-uma ter-ra evoluídara evoluídara evoluídara evoluídara evoluída”, apesar de parase chegar ao Bairro dos Arneirosser ainda necessário atravessarterrenos de areia preta. A famí-lia instalou-se no Bairro de An-tónio Elias pois “negociáva-negociáva-negociáva-negociáva-negociáva-mos azeite com os Elias, ne-mos azeite com os Elias, ne-mos azeite com os Elias, ne-mos azeite com os Elias, ne-mos azeite com os Elias, ne-gócios que foram iniciadosgócios que foram iniciadosgócios que foram iniciadosgócios que foram iniciadosgócios que foram iniciadospelo meu paipelo meu paipelo meu paipelo meu paipelo meu pai”.

Pouco tempo depois surgiu aocasal a oportunidade de ficarcom a mercearia que existia naRua da Vassoureira (ou da Esco-veira), na Rua da Estação. Eraassim designada pois existia aliuma fábrica de vassouras.

A loja, que incluía taberna foitrespassada ao casal Bernarda emJulho de 1964 por 15 contos (74,82euros). “A minha mulher ficavaA minha mulher ficavaA minha mulher ficavaA minha mulher ficavaA minha mulher ficavamais na mercearia e eu na ta-mais na mercearia e eu na ta-mais na mercearia e eu na ta-mais na mercearia e eu na ta-mais na mercearia e eu na ta-bernicabernicabernicabernicabernica”, conta Alberto da Ber-narda, que entretanto começou anegociar em madeiras, actividadeque não prosperou.

Já mercearia ia de vento empopa “porque implementámos“porque implementámos“porque implementámos“porque implementámos“porque implementámoso conceito de mercearia de al-o conceito de mercearia de al-o conceito de mercearia de al-o conceito de mercearia de al-o conceito de mercearia de al-deia ali naquele bairro”deia ali naquele bairro”deia ali naquele bairro”deia ali naquele bairro”deia ali naquele bairro”. Ven-dia-se quase tudo avulso como eranormal naquele tempo - o azeite,o arroz, a farinha, o sabão, etc.Eram inclusivamente responsáveispor fazer produtos como a lixívia eAlberto da Bernarda recorda comoera comum “comprarmos 12comprarmos 12comprarmos 12comprarmos 12comprarmos 12quilos de hipoclorídrico e jun-quilos de hipoclorídrico e jun-quilos de hipoclorídrico e jun-quilos de hipoclorídrico e jun-quilos de hipoclorídrico e jun-tarmos água para fazer 50 li-tarmos água para fazer 50 li-tarmos água para fazer 50 li-tarmos água para fazer 50 li-tarmos água para fazer 50 li-tros de lixíviatros de lixíviatros de lixíviatros de lixíviatros de lixívia”.

Os clientes da Vassoreira eram,naturalmente, “os vizinhos, asos vizinhos, asos vizinhos, asos vizinhos, asos vizinhos, asfamílias que viviam na estaçãofamílias que viviam na estaçãofamílias que viviam na estaçãofamílias que viviam na estaçãofamílias que viviam na estação[à data um grande complexo fer-

roviário onde trabalhavam e vivi-am dezenas de pessoas] e muitas muitas muitas muitas muitaspessoas do Bairro dos Arnei-pessoas do Bairro dos Arnei-pessoas do Bairro dos Arnei-pessoas do Bairro dos Arnei-pessoas do Bairro dos Arnei-rosrosrosrosros”, contaram.

Aos empregados da estaçãovendiam-se muitas “ciganinhas”(vinho tinto vendido nas garrafasdas minis que iam encher à taber-na). Noémia da Bernarda conta queera o filho mais velho, Luís, nasci-do em 1965, que ia muitas vezesaté ao muro que dividia a área daestação da cidade e aviava os fer-roviários, trazendo e levando asgarrafas.

“Lembro-me que num sába-Lembro-me que num sába-Lembro-me que num sába-Lembro-me que num sába-Lembro-me que num sába-do de manhã, batemos o recor-do de manhã, batemos o recor-do de manhã, batemos o recor-do de manhã, batemos o recor-do de manhã, batemos o recor-de ao vender dois mil papo-se-de ao vender dois mil papo-se-de ao vender dois mil papo-se-de ao vender dois mil papo-se-de ao vender dois mil papo-se-cos. A fila de gente chegava àcos. A fila de gente chegava àcos. A fila de gente chegava àcos. A fila de gente chegava àcos. A fila de gente chegava àruaruaruaruarua”, disse a empresária. Outro dossegredos da Vassoureira era tersempre as coisas que as pessoasnecessitavam e evitar a todo o custoter produtos em falta.

Também a taberna prosperava.Alberto da Bernarda contou quechegaram a ter um vinho afamadonas Caldas e num só ano “chegá-chegá-chegá-chegá-chegá-mos a vender 30 mil litros demos a vender 30 mil litros demos a vender 30 mil litros demos a vender 30 mil litros demos a vender 30 mil litros devinho a copo”vinho a copo”vinho a copo”vinho a copo”vinho a copo”.

O casal recorda que tambémaviava os indigentes que possuí-am senhas entregues pela Políciaque podiam ser, uma vez por mês,trocadas por bens alimentares.

A mercearia abria às oito damanhã e o casal recorda que la-borava até de madrugada pararepor os produtos. “Trabalha-Trabalha-Trabalha-Trabalha-Trabalha-va-se sábados, feriados eva-se sábados, feriados eva-se sábados, feriados eva-se sábados, feriados eva-se sábados, feriados edias santos. Os dias vagos,dias santos. Os dias vagos,dias santos. Os dias vagos,dias santos. Os dias vagos,dias santos. Os dias vagos,Domingos, era para limpar eDomingos, era para limpar eDomingos, era para limpar eDomingos, era para limpar eDomingos, era para limpar eencher a mercearia, não eraencher a mercearia, não eraencher a mercearia, não eraencher a mercearia, não eraencher a mercearia, não erapara passearpara passearpara passearpara passearpara passear”.

Em 1970, Alberto e Noémia de-cidiram fazer obras e transfor-

maram a mercearia no primeirosupermercado da cidade, comuma caixa registadora e livreserviço. A “Vassoureira” foi aprimeira casa a modificar-se efomos “das primeiras a tdas primeiras a tdas primeiras a tdas primeiras a tdas primeiras a tirarirarirarirarirar15 dias de férias pois até essa15 dias de férias pois até essa15 dias de férias pois até essa15 dias de férias pois até essa15 dias de férias pois até essaaltura ninguém as tiravaaltura ninguém as tiravaaltura ninguém as tiravaaltura ninguém as tiravaaltura ninguém as tirava”.

“NUNCA SERVI UM GALÃO “NUNCA SERVI UM GALÃO “NUNCA SERVI UM GALÃO “NUNCA SERVI UM GALÃO “NUNCA SERVI UM GALÃOQUE NÃO FOSSE COM OQUE NÃO FOSSE COM OQUE NÃO FOSSE COM OQUE NÃO FOSSE COM OQUE NÃO FOSSE COM O

LEITE FERVIDO”LEITE FERVIDO”LEITE FERVIDO”LEITE FERVIDO”LEITE FERVIDO”

Entretanto surge a hipótesede ficarem com o trespasse doCafé Pérola junto à estação (que

de sucesso. A maioria da clien-tela eram passageiros da CP eferroviários, isto numa épocaem que nem toda a gente tinhacarro, não havia auto-estradase o caminho-de-ferro era o prin-cipal meio de transporte parase chegar e partir da cidade.

“Logo de manhã estavam“Logo de manhã estavam“Logo de manhã estavam“Logo de manhã estavam“Logo de manhã estavamtudo quentinho emtudo quentinho emtudo quentinho emtudo quentinho emtudo quentinho em cima do cima do cima do cima do cima dobalãobalãobalãobalãobalão”, recorda o casal. Era tudofeito na altura e com um cuidadopouco habitual. Veja-se por exem-plo o galão: “nunca servi leite aosnunca servi leite aosnunca servi leite aosnunca servi leite aosnunca servi leite aosmeus clientes que não fossemeus clientes que não fossemeus clientes que não fossemeus clientes que não fossemeus clientes que não fossefervido e ia ao Pena buscar caféfervido e ia ao Pena buscar caféfervido e ia ao Pena buscar caféfervido e ia ao Pena buscar caféfervido e ia ao Pena buscar café

tar com um empregado e toma-ram a iniciativa de pedir a má-quina do Totobola à Santa Casada Misericórdia e recordam queestiveram sete anos à espera daautorização para poder teraquele jogo.

Entretanto, Alberto da Ber-narda reparte o seu tempo comum outro projecto ao qual dedi-cou alguns anos da sua vida – aCoopercaldas, uma cooperativade retalhistas, da qual foi co-fundador em 1973.

Nos anos noventa, e acompa-nhando o declínio da linha do

pertencia a Joaquim Anastácio)o que veio a acontecer em 1978.Os Bernarda - então já com doisfilhos - passam assim a deter aVassoureira e o café Pérola. Esteúltimo era detido pela firma Car-valho & Irmão, Lda., que passaagora para as mãos do casal Ber-narda. Será através desta soci-edade por quotas que o casalfará os seus futuros negócios,nomeadamente a compra daMercearia Pena e a criação daPérola da Sorte.

Em 1980 os Bernarda trespas-sam a mercearia e investemmais forte no café Pérola, cujalocalização em frente à estaçãoera um dos principais motivos

d’Avó para lhe d’Avó para lhe d’Avó para lhe d’Avó para lhe d’Avó para lhe adicionaradicionaradicionaradicionaradicionar”,contaram.

Durante muitos anos o caféfuncionou entre as seis da ma-nhã e as duas da madrugada.Entre o público preferencial es-tavam os tropas e os estudan-tes e, para além do negócio,contam que praticavam estehorário “para que os seus cli-“para que os seus cli-“para que os seus cli-“para que os seus cli-“para que os seus cli-entes não ficassem na rua aentes não ficassem na rua aentes não ficassem na rua aentes não ficassem na rua aentes não ficassem na rua aaguardar pelos comboiosaguardar pelos comboiosaguardar pelos comboiosaguardar pelos comboiosaguardar pelos comboiospois só fechávamos quandopois só fechávamos quandopois só fechávamos quandopois só fechávamos quandopois só fechávamos quandotodos partiamtodos partiamtodos partiamtodos partiamtodos partiam”. Depois acha-ram que em nome do descansoera melhor praticar novo horá-rio e passaram a abrir às seteda manhã e a fechar à meia-noite. Passaram também a con-

ainda hoje possuem a Pérola daSorte, uma casa exclusivamentededicada ao jogo. Curiosamente,isso representava um regresso àmesma rua onde décadas antes ti-nham iniciado a sua actividade co-mercial com a Vassoureira.

Para Noémia, era tempo demudar de actividade porque esta-va saturada de 20 anos na mercea-ria Vassoureira e 24 anos no caféPérola. “Eu não gostava dos“Eu não gostava dos“Eu não gostava dos“Eu não gostava dos“Eu não gostava dosnovos clientes que nos anos 90novos clientes que nos anos 90novos clientes que nos anos 90novos clientes que nos anos 90novos clientes que nos anos 90passaram também a frequen-passaram também a frequen-passaram também a frequen-passaram também a frequen-passaram também a frequen-tartartartartar o café” o café” o café” o café” o café”, conta.

Contudo, ainda hoje há anti-gos clientes que “têm sauda-têm sauda-têm sauda-têm sauda-têm sauda-des dos nossos pastéis dedes dos nossos pastéis dedes dos nossos pastéis dedes dos nossos pastéis dedes dos nossos pastéis debacalhau e das nossas fati-bacalhau e das nossas fati-bacalhau e das nossas fati-bacalhau e das nossas fati-bacalhau e das nossas fati-as douradas”as douradas”as douradas”as douradas”as douradas”.

Do café Pérola para a novacasa trazem as máquinas de re-gisto dos jogos de Totobola, To-toloto, alem de venderem tam-bém a lotaria. Mais tarde passa-ram a ter também o Euromilhõese as raspadinhas.

Na Pérola da Sorte já foramvendidos os primeiro, segundo eterceiro prémios da lotaria naci-onal e seis vezes o primeiro pré-mio do Totoloto. “Temos clien-Temos clien-Temos clien-Temos clien-Temos clien-tes que jogam com a mesmates que jogam com a mesmates que jogam com a mesmates que jogam com a mesmates que jogam com a mesmachave há vários anos e hojechave há vários anos e hojechave há vários anos e hojechave há vários anos e hojechave há vários anos e hojejá atendemos os seus filhosjá atendemos os seus filhosjá atendemos os seus filhosjá atendemos os seus filhosjá atendemos os seus filhos”,disseram, explicando que sãoagentes da Santa Casa desde osanos oitenta.

Nesta altura o casal detinhajá um outro negócio – a mercea-ria Pena, que tinham compradoem 1997 e que dava trabalho atrês pessoas.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Oeste, o café passa a ter menosclientes. A zona vive então ummomento mal afamado. “Os to-Os to-Os to-Os to-Os to-xicodependentes trouxeramxicodependentes trouxeramxicodependentes trouxeramxicodependentes trouxeramxicodependentes trouxerammau ambiente a esta zona.mau ambiente a esta zona.mau ambiente a esta zona.mau ambiente a esta zona.mau ambiente a esta zona.Esperavam pela droga queEsperavam pela droga queEsperavam pela droga queEsperavam pela droga queEsperavam pela droga quevinha de comboiovinha de comboiovinha de comboiovinha de comboiovinha de comboio…”, contou ocasal, que pouco depois toma adecisão de fechar o café. Esta de-cisão coincidiu com a vontade daautarquia em demolir o próprioedifício para ali construir um par-que de estacionamento. Como nãoeram proprietários e só pagavamrenda, Alberto e Noémia chegarama acordo com a autarquia e o se-nhorio e mudaram-se para o céle-bre “mamarracho da estação” quefica na esquina em frente e onde

José Pena Júnior (falecido em José Pena Júnior (falecido em José Pena Júnior (falecido em José Pena Júnior (falecido em José Pena Júnior (falecido em1973), fundador da Mercearia1973), fundador da Mercearia1973), fundador da Mercearia1973), fundador da Mercearia1973), fundador da MerceariaPena numa foto de 1950.Pena numa foto de 1950.Pena numa foto de 1950.Pena numa foto de 1950.Pena numa foto de 1950.

O casal fundador, Alberto da Bernarda e Noémia do Canto, com os O casal fundador, Alberto da Bernarda e Noémia do Canto, com os O casal fundador, Alberto da Bernarda e Noémia do Canto, com os O casal fundador, Alberto da Bernarda e Noémia do Canto, com os O casal fundador, Alberto da Bernarda e Noémia do Canto, com osfilhos Rui e Luís (hoje com 35 e 45 anos). Ambos se mantiveram nafilhos Rui e Luís (hoje com 35 e 45 anos). Ambos se mantiveram nafilhos Rui e Luís (hoje com 35 e 45 anos). Ambos se mantiveram nafilhos Rui e Luís (hoje com 35 e 45 anos). Ambos se mantiveram nafilhos Rui e Luís (hoje com 35 e 45 anos). Ambos se mantiveram namesma área de negócio e cada um já tem o seu mestrado em Marketingmesma área de negócio e cada um já tem o seu mestrado em Marketingmesma área de negócio e cada um já tem o seu mestrado em Marketingmesma área de negócio e cada um já tem o seu mestrado em Marketingmesma área de negócio e cada um já tem o seu mestrado em Marketing

Rui da Bernarda atendendo os seus clientes na mercearia. O empresário Rui da Bernarda atendendo os seus clientes na mercearia. O empresário Rui da Bernarda atendendo os seus clientes na mercearia. O empresário Rui da Bernarda atendendo os seus clientes na mercearia. O empresário Rui da Bernarda atendendo os seus clientes na mercearia. O empresárioaposta forte nos produtos tradicionais portugueses.aposta forte nos produtos tradicionais portugueses.aposta forte nos produtos tradicionais portugueses.aposta forte nos produtos tradicionais portugueses.aposta forte nos produtos tradicionais portugueses.

O Café Pérola acabou por ser demolido pela O Café Pérola acabou por ser demolido pela O Café Pérola acabou por ser demolido pela O Café Pérola acabou por ser demolido pela O Café Pérola acabou por ser demolido pelaautarquia e hoje o local é um parque de estacionamentoautarquia e hoje o local é um parque de estacionamentoautarquia e hoje o local é um parque de estacionamentoautarquia e hoje o local é um parque de estacionamentoautarquia e hoje o local é um parque de estacionamento

A Mercearia Pena no passado e no presente. Este estabelecimento celebrou no ano passado A Mercearia Pena no passado e no presente. Este estabelecimento celebrou no ano passado A Mercearia Pena no passado e no presente. Este estabelecimento celebrou no ano passado A Mercearia Pena no passado e no presente. Este estabelecimento celebrou no ano passado A Mercearia Pena no passado e no presente. Este estabelecimento celebrou no ano passado100 anos.100 anos.100 anos.100 anos.100 anos.

Page 31: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

esde os anos 60

“Comprámos a Mercearia Pena para que

aquela casa centenária não fechasse”

“As primeiras dificuldades começaram

logo com a abertura do Modelo”

A história da Mercearia Pena(fundada em 1909) está intima-mente ligada ao Vítor Santos,hoje com 84 anos, que nela come-çou a trabalhar em 1938.

Em 1956 ascende a sócio-ge-rente por iniciativa do fundador eentão proprietário José Pena Jú-nior (falecido em 1972), naturalde Folques (Arganil).

Entre os anos cinquenta e 1997Vítor Santos é o principal rostodesta centenária mercearia.

Nascido em 1925, este calden-se recorda que morava na Ruado Hospício, com a sua mãe eirmãs (o seu pai falecera cedo).Vítor Santos começa a traba-lhar cedo:

“Nos anos trinta fui paraNos anos trinta fui paraNos anos trinta fui paraNos anos trinta fui paraNos anos trinta fui paraa Escola Comercial estudara Escola Comercial estudara Escola Comercial estudara Escola Comercial estudara Escola Comercial estudarde noite e trabalhar para ade noite e trabalhar para ade noite e trabalhar para ade noite e trabalhar para ade noite e trabalhar para aMercearia Pena durante oMercearia Pena durante oMercearia Pena durante oMercearia Pena durante oMercearia Pena durante odiadiadiadiadia. Trabalhei como marça-Trabalhei como marça-Trabalhei como marça-Trabalhei como marça-Trabalhei como marça-no, a fazer recados e a casano, a fazer recados e a casano, a fazer recados e a casano, a fazer recados e a casano, a fazer recados e a casateve sempre boa clientela so-teve sempre boa clientela so-teve sempre boa clientela so-teve sempre boa clientela so-teve sempre boa clientela so-bretudo de Óbidos”bretudo de Óbidos”bretudo de Óbidos”bretudo de Óbidos”bretudo de Óbidos”.

Porquê de Óbidos? A históriajá é lendária: conta-se que JoséPena tinha ido a uma feira em Ados Negros e encontrou uma car-teira com muito dinheiro que fezquestão de a entregar ao dono.

“Tinha muita pena queTinha muita pena queTinha muita pena queTinha muita pena queTinha muita pena queaquela casa fechasse, eraaquela casa fechasse, eraaquela casa fechasse, eraaquela casa fechasse, eraaquela casa fechasse, erauma referência nas Caldasuma referência nas Caldasuma referência nas Caldasuma referência nas Caldasuma referência nas Caldase o senhor Vítor dava-se aoe o senhor Vítor dava-se aoe o senhor Vítor dava-se aoe o senhor Vítor dava-se aoe o senhor Vítor dava-se aoluxo de atender os clientesluxo de atender os clientesluxo de atender os clientesluxo de atender os clientesluxo de atender os clientesque queriaque queriaque queriaque queriaque queria”. Alberto da Ber-narda diz que foi por essa razãoque comprou em 1997 a mercea-ria do seu amigo Vítor Santos,que na altura estava em dificul-dades.

Numa primeira fase a Merce-aria Pena não foi alvo de gran-des mudanças por parte dosnovos proprietários, mantendo-se como um estabelecimentotradicional no centro da cidade.

Será em 2001 que Rui da Ber-narda, filho mais novo do casal,enceta uma verdadeira revolu-ção naquela mercearia. Rui ti-nha 25 anos, uma licenciaturaem Gestão de Marketing e ex-periência como gestor em duascadeias de supermercados.

(Curiosamente, o seu irmão,Luís, 44 anos, também está nomesmo ramo, mas vive em Lis-boa, onde é gerente da cadeiaSpar, que possui 30 lojas em Por-tugal e 13 mil em todo o mun-do).

“Para viabilizar a Mercea-“Para viabilizar a Mercea-“Para viabilizar a Mercea-“Para viabilizar a Mercea-“Para viabilizar a Mercea-ria Pena deixámos em doisria Pena deixámos em doisria Pena deixámos em doisria Pena deixámos em doisria Pena deixámos em doisou três anos de vender pro-ou três anos de vender pro-ou três anos de vender pro-ou três anos de vender pro-ou três anos de vender pro-dutos de mercearia e de dro-dutos de mercearia e de dro-dutos de mercearia e de dro-dutos de mercearia e de dro-dutos de mercearia e de dro-garia”,garia”,garia”,garia”,garia”, disse Rui da Bernarda.

Nos anos 90 as pequenas uni-dades de retalho estavam a de-saparecer ao ritmo alucinantede cerca de 2000 por ano. Paraevitar que a Pena fosse maisuma, era preciso um grande in-vestimento para adaptar a lojaaos novos desafios.

Rui da Bernarda manteve osmesmos funcionários (cinco) eos fornecedores e dá o desen-volvimento devido a uma dasprincipais áreas: o café. Maisninguém vende Café d’Avó nacidade e desde que pegaram nonegócio já criaram novos lotes.Pena, Centenário, Bordalo e Óbi-dos são as últimas criações que

Cronologia:1948 - 1948 - 1948 - 1948 - 1948 - Constituição da firma Carvalho & Irmão Lda registada no nº 328 da Conservatório das Caldas (esta empresa era detentora do Café Pérolaque viria mais tarde a ser comprado por Alberto e Noémia)1964 – 1964 – 1964 – 1964 – 1964 – O casal Alberto da Bernarda e Noémia do Canto tomam de trespasse “A Vassoureira” (taberna e mercearia) na rua da Estação1970 –1970 –1970 –1970 –1970 – Transformação da mercearia no primeiro supermercado da cidade, com uma caixa registadora e livre serviço1978 –1978 –1978 –1978 –1978 – O casal toma de trespasse o Café Pérola, também junto à estação, passando assim a deter a totalidade do capital social da firma Carvalho& Irmão, Lda.1980 – 1980 – 1980 – 1980 – 1980 – O casal desiste da Vassoureira, trespassando o negócio, ficando ficam apenas com o café Pérola1996 - 1996 - 1996 - 1996 - 1996 - Dando cumprimento à legislação da época, Alberto da Bernarda aumenta o capital social da firma para 1500 contos (7482 euros).1997 – 1997 – 1997 – 1997 – 1997 – Aquisição da Mercearia Pena2002 –2002 –2002 –2002 –2002 – O café é demolido para dar lugar a um parque de estacionamento. O casal funda a Casa de Jogos Pérola da Sorte na Rua da Estação2006 -2006 -2006 -2006 -2006 - O capital social da empresa é aumentado para 50 mil euros2007 –2007 –2007 –2007 –2007 – Grande renovação da mercearia e criação de vários lotes de café e produtos com a marca Pena

ainda não conseguem concorrercom as vendas do centenário Caféd’Avó. Agora também já vendemapenas chicória pois há pessoasque, aconselhadas pelos médicos,estão a substituir o café por aque-le produto.

A Mercearia Pena ao longo dosúltimos anos tem apostado emprodutos com a marca da casa,como é o caso de um queijo daSerra e os bolos secos, que são fei-tos nas Caldas, bem como o licorde Café d’Avó que é também pro-duzido na região.

“Hoje 50% do negócio da“Hoje 50% do negócio da“Hoje 50% do negócio da“Hoje 50% do negócio da“Hoje 50% do negócio damercearia é dedicada à reven-mercearia é dedicada à reven-mercearia é dedicada à reven-mercearia é dedicada à reven-mercearia é dedicada à reven-dadadadada”, contou Rui da Bernarda, ex-plicando que vende café expressopara hotelaria e restauração. O em-presário renovou totalmente aque-le espaço comercial uma décadadepois de o ter adquirido. Actual-mente já está a preparar a segun-da página da internet da mercea-ria e orgulha-se de estar presentenas redes sociais e em páginas in-ternacionais de gastronomia queaté já lhe trouxeram clientes es-trangeiros.

“Temos que acompanhar osTemos que acompanhar osTemos que acompanhar osTemos que acompanhar osTemos que acompanhar ostempos e fazer com que os nos-tempos e fazer com que os nos-tempos e fazer com que os nos-tempos e fazer com que os nos-tempos e fazer com que os nos-sos negócios não sejam ultra-sos negócios não sejam ultra-sos negócios não sejam ultra-sos negócios não sejam ultra-sos negócios não sejam ultra-passadospassadospassadospassadospassados”, diz o empresário que,apesar de tudo, sabe que a épocaé contrária à evolução de peque-nos estabelecimentos como asmercearias, mas trabalha todos osdias para inverter esta tendência.Como? “Apostando forte nosApostando forte nosApostando forte nosApostando forte nosApostando forte nosprodutos tradicionais portu-produtos tradicionais portu-produtos tradicionais portu-produtos tradicionais portu-produtos tradicionais portu-gueses e estando atento àsgueses e estando atento àsgueses e estando atento àsgueses e estando atento àsgueses e estando atento àsnovas necessidades dos nos-novas necessidades dos nos-novas necessidades dos nos-novas necessidades dos nos-novas necessidades dos nos-sos clientessos clientessos clientessos clientessos clientes”.

A Mercearia Pena já foi agracia-da com uma medalha de ouro pelomunicípio das Caldas e foi uma dascinco lojas nacionais finalista nacategoria Lojas com História doPrémio Mercúrio – O melhor do Co-mércio 2008. Esta distinção é pro-movida pela Confederação do Co-mércio e Serviços de Portugal e pelaEscola de Comércio de Lisboa. Paie filho explicam:”é tudo apenasé tudo apenasé tudo apenasé tudo apenasé tudo apenas

fruto do trabalho e da dedi-fruto do trabalho e da dedi-fruto do trabalho e da dedi-fruto do trabalho e da dedi-fruto do trabalho e da dedi-caçãocaçãocaçãocaçãocação”.

“OS NOSSOS NEGÓCIOS“OS NOSSOS NEGÓCIOS“OS NOSSOS NEGÓCIOS“OS NOSSOS NEGÓCIOS“OS NOSSOS NEGÓCIOSPRIMAM PELAPRIMAM PELAPRIMAM PELAPRIMAM PELAPRIMAM PELA

EXCLUSIVIDADE”EXCLUSIVIDADE”EXCLUSIVIDADE”EXCLUSIVIDADE”EXCLUSIVIDADE”

“Os nossos negócios pri-Os nossos negócios pri-Os nossos negócios pri-Os nossos negócios pri-Os nossos negócios pri-mam pela exclusividade e cen-mam pela exclusividade e cen-mam pela exclusividade e cen-mam pela exclusividade e cen-mam pela exclusividade e cen-tram-se em si próprios paratram-se em si próprios paratram-se em si próprios paratram-se em si próprios paratram-se em si próprios paranão haver dispersão, factonão haver dispersão, factonão haver dispersão, factonão haver dispersão, factonão haver dispersão, factoque normalmente mata osque normalmente mata osque normalmente mata osque normalmente mata osque normalmente mata osnegóciosnegóciosnegóciosnegóciosnegócios”, disse Rui da Bernar-da.

A firma Carvalho & Irmão temnove funcionários, quatro na Pé-rola e cinco na Mercearia Pena.Em 2009, esta sociedade por quo-tas facturou 432 mil euros na Mer-cearia Pena e cerca de 71 mil eu-ros na Pérola da Sorte.

Questionado sobre se os seusnegócios estão consolidados, Al-berto da Bernarda diz que se fos-se questionado há uma década“diria que simdiria que simdiria que simdiria que simdiria que sim”, mas hoje con-sidera que nos negócios “nada énada énada énada énada épara sempre...”para sempre...”para sempre...”para sempre...”para sempre...”

Tanto a Mercearia Pena comoa Casa Pérola da Sorte não estãoimunes à crise generalizada.“Ambos tiveram um decrés-Ambos tiveram um decrés-Ambos tiveram um decrés-Ambos tiveram um decrés-Ambos tiveram um decrés-cimo de 10% a partir de Ja-cimo de 10% a partir de Ja-cimo de 10% a partir de Ja-cimo de 10% a partir de Ja-cimo de 10% a partir de Ja-neiro deste anoneiro deste anoneiro deste anoneiro deste anoneiro deste ano”, comentou Ruida Bernarda. No caso dos jogos,por estranho que possa parecer,até tem mais apostadores, mastem muito menos apostas. “Hoje“Hoje“Hoje“Hoje“Hojemuitas pessoas jogam ape-muitas pessoas jogam ape-muitas pessoas jogam ape-muitas pessoas jogam ape-muitas pessoas jogam ape-nas dois euros porque nãonas dois euros porque nãonas dois euros porque nãonas dois euros porque nãonas dois euros porque nãopodem jogar menospodem jogar menospodem jogar menospodem jogar menospodem jogar menos”, disse.

De qualquer modo a famílianão baixa os braços e o próximoprojecto pode passar pelo alar-gamento do conceito da Mercea-ria Pena a um espaço de restau-ração. A ideia está a ganhar raí-zes de modo a que os clientespossam degustar uma boa san-des de queijo da Serra ou de umpaio de qualidade que vão bus-car a tantas zonas do país.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Vítor Santos nos anos 50 na Mercearia Pena, quando ainda era apenas empregado Vítor Santos nos anos 50 na Mercearia Pena, quando ainda era apenas empregado Vítor Santos nos anos 50 na Mercearia Pena, quando ainda era apenas empregado Vítor Santos nos anos 50 na Mercearia Pena, quando ainda era apenas empregado Vítor Santos nos anos 50 na Mercearia Pena, quando ainda era apenas empregadoe em 1992, então já proprietário com a neta ao coloe em 1992, então já proprietário com a neta ao coloe em 1992, então já proprietário com a neta ao coloe em 1992, então já proprietário com a neta ao coloe em 1992, então já proprietário com a neta ao colo

“Toda aquela gente passou aToda aquela gente passou aToda aquela gente passou aToda aquela gente passou aToda aquela gente passou atê-lo em grande consideraçãotê-lo em grande consideraçãotê-lo em grande consideraçãotê-lo em grande consideraçãotê-lo em grande consideraçãoe estima por ter sido um ho-e estima por ter sido um ho-e estima por ter sido um ho-e estima por ter sido um ho-e estima por ter sido um ho-mem sériomem sériomem sériomem sériomem sério”, passando muitosobidenses a frequentar o seu esta-belecimento.

Quando Vítor Santos foi para atropa, no RI5, em 1946, deixou umcompadre a cumprir as suas fun-ções. O ainda empregado da mer-cearia, como era órfão de pai, pa-gou a praça, uma quantia de 2.500escudos (12,50 euros) e por isso “aoaoaoaoaofim de seis meses vim-me em-fim de seis meses vim-me em-fim de seis meses vim-me em-fim de seis meses vim-me em-fim de seis meses vim-me em-boraboraboraborabora”.

Regressa ao seu posto de traba-lho ainda com 18 anos e assim quevoltou, “o senhor Pena entre-o senhor Pena entre-o senhor Pena entre-o senhor Pena entre-o senhor Pena entre-gou-me a chave de sua casa,gou-me a chave de sua casa,gou-me a chave de sua casa,gou-me a chave de sua casa,gou-me a chave de sua casa,da loja e do cofreda loja e do cofreda loja e do cofreda loja e do cofreda loja e do cofre”, contou o fu-turo sócio-gerente.

Os principais produtos da casaforam sempre o café e o bacalhau.“O senhor “O senhor “O senhor “O senhor “O senhor Pena sempre foi umPena sempre foi umPena sempre foi umPena sempre foi umPena sempre foi umhomem que gostava de terhomem que gostava de terhomem que gostava de terhomem que gostava de terhomem que gostava de tertudo quanto era bom, fossetudo quanto era bom, fossetudo quanto era bom, fossetudo quanto era bom, fossetudo quanto era bom, fosseo queijo da Serra, as carneso queijo da Serra, as carneso queijo da Serra, as carneso queijo da Serra, as carneso queijo da Serra, as carnesou os enchidosou os enchidosou os enchidosou os enchidosou os enchidos”, recorda.

Dado o bom gosto e a inces-sante procura de qualidade nosprodutos que vendia, tornava-senuma das casas mais conheci-das das Caldas e região.

Nos anos 50 lembra-se de quefoi adquirida para a Merceriauma máquina para cortar fiam-bre, uma grande inovação quesó uma outra casa comercial pra-ticava nas Caldas. A MerceariaPena foi das primeiras a moer ocafé ao balcão e era também Ví-tor Santos o responsável por tor-rar os grãos. “A mistura do“A mistura do“A mistura do“A mistura do“A mistura doCafé d’Avó fui eu que a fiz. OCafé d’Avó fui eu que a fiz. OCafé d’Avó fui eu que a fiz. OCafé d’Avó fui eu que a fiz. OCafé d’Avó fui eu que a fiz. Olote que lá está ainda é meu:lote que lá está ainda é meu:lote que lá está ainda é meu:lote que lá está ainda é meu:lote que lá está ainda é meu:40% de café e 60% de chicó-40% de café e 60% de chicó-40% de café e 60% de chicó-40% de café e 60% de chicó-40% de café e 60% de chicó-ria, que ainda hoje é dos pro-ria, que ainda hoje é dos pro-ria, que ainda hoje é dos pro-ria, que ainda hoje é dos pro-ria, que ainda hoje é dos pro-dutos que mais se vendedutos que mais se vendedutos que mais se vendedutos que mais se vendedutos que mais se vende”,

contou.Foi em Março de 1956 que

José Pena decide oferecer so-ciedade ao seu funcionário. Eragrande a confiança que neledepositava pois partia descan-sado para as suas viagens pelaEuropa, deixando-o à frente detudo. A casa acabou por seralvo de remodelação nos anos60.

Antes de falecer, Pena Júni-or fez um pedido ao seu sócio:“que a casa não perdesse oque a casa não perdesse oque a casa não perdesse oque a casa não perdesse oque a casa não perdesse oseu nomeseu nomeseu nomeseu nomeseu nome”, conta Vítor San-tos. O mesmo pedido que, anosmais tarde, este viria a fazer aAlberto da Bernarda quando viuque a saúde e as dificuldadespor que a casa passava não lhepermitiam continuar o negocio,preferindo cedê-lo ao amigo.

“As primeiras dificulda-“As primeiras dificulda-“As primeiras dificulda-“As primeiras dificulda-“As primeiras dificulda-des começaram logo quan-des começaram logo quan-des começaram logo quan-des começaram logo quan-des começaram logo quan-do o Modelo abriu, na dé-do o Modelo abriu, na dé-do o Modelo abriu, na dé-do o Modelo abriu, na dé-do o Modelo abriu, na dé-cada de noventa. Mas eu lácada de noventa. Mas eu lácada de noventa. Mas eu lácada de noventa. Mas eu lácada de noventa. Mas eu láme fui aguentando poisme fui aguentando poisme fui aguentando poisme fui aguentando poisme fui aguentando poismesmo com a aberturasmesmo com a aberturasmesmo com a aberturasmesmo com a aberturasmesmo com a aberturasdos grandes supermerca-dos grandes supermerca-dos grandes supermerca-dos grandes supermerca-dos grandes supermerca-dos ainda tive alguns clien-dos ainda tive alguns clien-dos ainda tive alguns clien-dos ainda tive alguns clien-dos ainda tive alguns clien-tes que gastavam ao mêstes que gastavam ao mêstes que gastavam ao mêstes que gastavam ao mêstes que gastavam ao mêsna mercearia”na mercearia”na mercearia”na mercearia”na mercearia”, contou. Segui-ram-se problemas de saúde, queajudaram a determinar a deci-são de venda da Mercearia Pena.

Ao longo da história da mer-cearia foram vários os clientes aquem se levava as compras acasa. Actualmente há alguns aquem ainda se faz esse favor.Segundo Rui da Bernarda, prova-velmente o futuro poderá passarpelo retorno às entregas ao do-micílio “se calhar de uma for-se calhar de uma for-se calhar de uma for-se calhar de uma for-se calhar de uma for-ma mais internética”ma mais internética”ma mais internética”ma mais internética”ma mais internética”, rematou.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

Page 32: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESUMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕES

O filho do Joaquim da Lareira já segue as pisadas do

Joaquim Coito nunca teve fériase quando vai para fora das Caldasé em trabalho ou para conheceralgum estabelecimento para o qualé convidado.

A sua mulher, Maria Beatriz Coi-to, trabalhou sempre ao seu ladoaté recentemente, mas está agoraa tomar conta da mãe que ficouacamada.

Com 66 anos, Joaquim Coito nãose sente cansado e não pensa nareforma. “Ainda acho que souAinda acho que souAinda acho que souAinda acho que souAinda acho que sounecessário aquinecessário aquinecessário aquinecessário aquinecessário aqui”, afirmou.

Mas o filho, Sérgio Coito, de 39anos, está a assumir cada vez maisfunções na empresa. Na cozinha éo cozinheiro principal e ao nível dagestão é o responsável pelas com-pras, por grande parte dos orça-mentos para os caterings e por tudoo que são burocracias.

A filha do casal, Susana Coito, éarquitecta na Câmara das Caldas.“Até seria bom que ela traba-Até seria bom que ela traba-Até seria bom que ela traba-Até seria bom que ela traba-Até seria bom que ela traba-lhasse connosco, mas ela tiroulhasse connosco, mas ela tiroulhasse connosco, mas ela tiroulhasse connosco, mas ela tiroulhasse connosco, mas ela tirouo curso de Arquitectura e gos-o curso de Arquitectura e gos-o curso de Arquitectura e gos-o curso de Arquitectura e gos-o curso de Arquitectura e gos-ta muito do que fazta muito do que fazta muito do que fazta muito do que fazta muito do que faz”, diz o pai.

Para o empresário, a vantagemde ter uma empresa familiar é po-der trabalharem em conjunto, masé importante saber dar a autono-mia necessária a cada um.

Embora Sérgio Coito, filho dofundador do restaurante, não qui-sesse adiantar o volume de negó-cios anual, comentou que em 2009tiveram um decréscimo nas recei-tas, mas em 2010 a situação temmelhorado.

De África à Alemanha De África à Alemanha De África à Alemanha De África à Alemanha De África à Alemanha

Joaquim Coito nasceu em 1944,no Peso (Santa Catarina) e foi morar

para Salir de Matos quando casou,em 1970.

O seu primeiro emprego foi comoaprendiz de padeiro nas Caldas daRainha, aos 13 anos. Chegou a tra-balhar na Quinta do Sanguinhal, noBombarral, mas como não gostoumuito da agricultura voltou a serpadeiro, mas desta vez em Lisboa.Em pouco tempo, como o patrão

gostava muito dele, passou para acaixa na padaria.

“Mas a minha ambição eraMas a minha ambição eraMas a minha ambição eraMas a minha ambição eraMas a minha ambição eraembarcar porque aqui na zonaembarcar porque aqui na zonaembarcar porque aqui na zonaembarcar porque aqui na zonaembarcar porque aqui na zonaandava muita gente embarca-andava muita gente embarca-andava muita gente embarca-andava muita gente embarca-andava muita gente embarca-diçadiçadiçadiçadiça”, conta. Depois de tirar a cartamarítima, embarcou num barco depesca como ajudante de

motorista e foi até África.Chegada a altura de fazer a tro-

pa, em 1966, esteve primeiro colo-cado em Portugal e acabou por se-guir para a Guiné, onde esteve doisanos, durante a guerra colonial.

Quando regressou voltou a em-barcar, mas agora a sua nova ambi-ção era emigrar. “Consegui umConsegui umConsegui umConsegui umConsegui umpassaporte turístico e fui parapassaporte turístico e fui parapassaporte turístico e fui parapassaporte turístico e fui parapassaporte turístico e fui paraa Holanda, onde embarqueia Holanda, onde embarqueia Holanda, onde embarqueia Holanda, onde embarqueia Holanda, onde embarqueinum navio americanonum navio americanonum navio americanonum navio americanonum navio americano”, contou.

De 1968 a 1972 trabalhou nesse na-vio, até que decidiu deixar o marporque se casou com Maria Beatrize emigrou para Osnabrück, na Ale-manha.

Como no tempo da tropa apren-dera inglês, começou a trabalharcomo tradutor numa firma alemãde peças de automóvel que em 1973contratou cerca de 600 portugue-ses. “Eram quatro fábricas e euEram quatro fábricas e euEram quatro fábricas e euEram quatro fábricas e euEram quatro fábricas e eufazia de intérprete para os por-fazia de intérprete para os por-fazia de intérprete para os por-fazia de intérprete para os por-fazia de intérprete para os por-

tugueses que lá trabalhavamtugueses que lá trabalhavamtugueses que lá trabalhavamtugueses que lá trabalhavamtugueses que lá trabalhavam”.Esteve dez anos nestas funções,

mas ao mesmo tempo foi criandoos seus próprios negócios. Seis me-ses depois de ter chegado à Alema-nha, já tinha aberto uma merceariae ao fim de um ano investira numrestaurante. Entretanto trabalhavatambém como gerente numa agên-cia de viagens. E sobrou-lhe aindatempo para ajudar a fundar umacolectividade de portugueses - aAssociação Recreativa de Osnabrück.

Face aos bons resultados, deci-diu abrir mais um restaurante, deprimeira categoria, com a ajuda doseu irmão como cozinheiro. Comeste estabelecimento já teve maisdificuldades porque fazia questãode apresentar produtos de elevada

qualidade. Todas as segundas-fei-ras deslocava-se a Paris para com-prar os peixes, legumes e outros ar-tigos que usava no restaurante. Foitambém na capital francesa que Jo-aquim Coito frequentou um cursode molhos, no Instituto de Cozinha.

Regresso a PortugalRegresso a PortugalRegresso a PortugalRegresso a PortugalRegresso a Portugal

Ao fim de dez anos a famíliadecidiu voltar para Portugal por-

que o filho, Sérgio, tinha termina-do a quarta classe e a filha, Susa-na, ia iniciar o ensino primário, e ospais queriam que eles continuas-sem os estudos em Portugal. Paraalém disso, a sua mulher, que éfilha única, quis vir ter com os pais.

No final de 1982 vendeu os doisrestaurantes, Tamar e Alberman,a um português casado com umaalemã e regressou. Ainda hoje osdois restaurantes existem, com osmesmos nomes.

Já em Portugal, abriu uma espé-cie de mini-mercado gourmet – oCopacabana - junto à Praceta An-tónio Montez.

“Até em Lisboa não haviaAté em Lisboa não haviaAté em Lisboa não haviaAté em Lisboa não haviaAté em Lisboa não haviamuitos locais com os produtosmuitos locais com os produtosmuitos locais com os produtosmuitos locais com os produtosmuitos locais com os produtosque eu vendia, para uma cozi-que eu vendia, para uma cozi-que eu vendia, para uma cozi-que eu vendia, para uma cozi-que eu vendia, para uma cozi-

nha mais sofisticadanha mais sofisticadanha mais sofisticadanha mais sofisticadanha mais sofisticada”, referiuJoaquim Coito. Vinham pessoas devários lugares do país para se abas-tecerem. O segredo estava nosbons contactos que o empresáriotinha e que lhe traziam produtosde qualidade de vários países, no-meadamente os queijos e os patêsfranceses.

Manteve o mini-mercado duran-te cinco anos e em 1983, optou porinvestir de novo num restaurante.

A Lareira já existia desde a décadade 70, explorada por Fernando Ca-vaco, junto ao campo de tiro aospratos da empresa J. L. Barros, mastinha encerrado entretanto. Joa-quim Coito alugou então o espaçopor 11 contos ao mês (55 euros),em sociedade com José Saraiva (li-gação que durou apenas um ano).

Nessa altura não havia pratica-mente nada no Alto do Nobre anão ser aquele campo de tiro. “AsAsAsAsAspessoas diziam que nunca iriapessoas diziam que nunca iriapessoas diziam que nunca iriapessoas diziam que nunca iriapessoas diziam que nunca iriaconseguir singrar, mas emconseguir singrar, mas emconseguir singrar, mas emconseguir singrar, mas emconseguir singrar, mas empouco tempo começámos apouco tempo começámos apouco tempo começámos apouco tempo começámos apouco tempo começámos atrabalhar muito bemtrabalhar muito bemtrabalhar muito bemtrabalhar muito bemtrabalhar muito bem”, contou.

Começou com sete funcionári-os e uma aposta na cozinha inter-nacional, mas também com pratosde cozinha portuguesa. Joaquim

Há 26 anos que a família Coito explora aquele que é considerado um dos melhores restaurantes daregião. A Lareira, no Alto do Nobre, é uma referência no domínio gastronómico das Caldas da Rainha edo Oeste, e o seu nome é conhecido não só pelo restaurante, mas também pelos serviços exterioresde catering em diversos eventos.O restaurante tem representado a gastronomia do Oeste em muitos certames e tem sido alvo dereportagem em várias publicações nacionais e internacionais.Do quadro da empresa fazem parte 13 funcionários (incluindo os sócios-gerentes), um número queaumenta quando é necessário responder a picos de trabalho.Actualmente há duas gerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhogerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhogerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhogerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhogerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhoSérgioSérgioSérgioSérgioSérgio. A transição de gestão já começou a ser feita e Sérgio Coito tem vindo a assumir cada vezmais protagonismo na empresa Joaquim Bernado do Coito Lda.

O futuro dono da Lareira quando tinha sete anos emO futuro dono da Lareira quando tinha sete anos emO futuro dono da Lareira quando tinha sete anos emO futuro dono da Lareira quando tinha sete anos emO futuro dono da Lareira quando tinha sete anos em1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.

Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.

Coito acredita que o seu estabele-cimento serviu de inspiração paramuitos restaurantes que depoissurgiram na região. Até porquemuitos antigos funcionários esta-beleceram-se por conta própria.“Eu nunca escondi nada a nin-Eu nunca escondi nada a nin-Eu nunca escondi nada a nin-Eu nunca escondi nada a nin-Eu nunca escondi nada a nin-guém e ensinei muita gente.guém e ensinei muita gente.guém e ensinei muita gente.guém e ensinei muita gente.guém e ensinei muita gente.Muitos ex-funcionários estabe-Muitos ex-funcionários estabe-Muitos ex-funcionários estabe-Muitos ex-funcionários estabe-Muitos ex-funcionários estabe-leceram-se por si próprios eleceram-se por si próprios eleceram-se por si próprios eleceram-se por si próprios eleceram-se por si próprios eainda bemainda bemainda bemainda bemainda bem”, afirmou. A Lareiratornou-se assim uma “escola” paravárias gerações.

Em 1984, já a trabalhar sozinho,comprou o restaurante e há 15anos fez obras para alargar o edifí-cio, de modo a ter mais capacida-de e albergar eventos como casa-mentos e baptizados, entre outros.Antes disso já faziam serviço decatering em casamentos, mas sóno exterior.

“As pessoas já sabem queAs pessoas já sabem queAs pessoas já sabem queAs pessoas já sabem queAs pessoas já sabem quetudo irá correr bem, quandotudo irá correr bem, quandotudo irá correr bem, quandotudo irá correr bem, quandotudo irá correr bem, quandotrabalham connoscotrabalham connoscotrabalham connoscotrabalham connoscotrabalham connosco”, conside-ra Joaquim Coito.

O empresário e cozinheiro, deexcepcional simpatia e de elevadaqualidade de serviço, sempre tevemuito jeito para servir os clientescom aquilo que gostam, sem pre-cisarem de dizerem o que querem.“Até quando preparamos asAté quando preparamos asAté quando preparamos asAté quando preparamos asAté quando preparamos asementas para os casamentos,ementas para os casamentos,ementas para os casamentos,ementas para os casamentos,ementas para os casamentos,na maior parte das vezes osna maior parte das vezes osna maior parte das vezes osna maior parte das vezes osna maior parte das vezes osnoivos nem escolhem nada. Eunoivos nem escolhem nada. Eunoivos nem escolhem nada. Eunoivos nem escolhem nada. Eunoivos nem escolhem nada. Eufaço várias sugestões e aca-faço várias sugestões e aca-faço várias sugestões e aca-faço várias sugestões e aca-faço várias sugestões e aca-bam sempre por decidir pelobam sempre por decidir pelobam sempre por decidir pelobam sempre por decidir pelobam sempre por decidir peloque eu sugiroque eu sugiroque eu sugiroque eu sugiroque eu sugiro”, exemplificou.

Um dom que já vem do tempodos restaurantes na Alemanha,quando muitos empresários estran-geiros se colocavam nas suas mãospara as refeições.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

A Lareira – o restaurante que veio da AlemanhaA Lareira – o restaurante que veio da AlemanhaA Lareira – o restaurante que veio da AlemanhaA Lareira – o restaurante que veio da AlemanhaA Lareira – o restaurante que veio da Alemanha

Page 33: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

o pai

Sérgio Coito - entre a Alemanha e PortugalSérgio Coito nasceu em Salir de

Matos e foi ter com os pais a Ale-manha quando tinha seis anos.Toda a instrução primária foi feitanaquele país e ao regressar a Por-tugal sentiu um grande choquecultural. “Fui confrontado comFui confrontado comFui confrontado comFui confrontado comFui confrontado comuma cultura e hábitos comple-uma cultura e hábitos comple-uma cultura e hábitos comple-uma cultura e hábitos comple-uma cultura e hábitos comple-tamente diferentes, apesar detamente diferentes, apesar detamente diferentes, apesar detamente diferentes, apesar detamente diferentes, apesar depassar sempre as férias depassar sempre as férias depassar sempre as férias depassar sempre as férias depassar sempre as férias deVerão em PortugalVerão em PortugalVerão em PortugalVerão em PortugalVerão em Portugal”, contou.

Era um adolescente quando ospais abriram A Lareira e desde oinício se interessou pelo restauran-te. “Participava e achava en-. “Participava e achava en-. “Participava e achava en-. “Participava e achava en-. “Participava e achava en-graçado, mas naquela alturagraçado, mas naquela alturagraçado, mas naquela alturagraçado, mas naquela alturagraçado, mas naquela alturanem sequer pensava que aque-nem sequer pensava que aque-nem sequer pensava que aque-nem sequer pensava que aque-nem sequer pensava que aque-le iria ser o meu futuro”le iria ser o meu futuro”le iria ser o meu futuro”le iria ser o meu futuro”le iria ser o meu futuro”, disse.

Aos 16 anos já ajudava na Pen-são Cristina (um restaurante self-service), na travessa da Cova daOnça, e aos 18 ficou a gerir um res-taurante em Leiria, o Solar do Al-caide. Ambos negócios em que opai investiu, mas que foram vendi-dos porque Joaquim Coito decidiuapostar apenas na “Lareira” depoisdas obras de ampliação.

Pouco tempo depois voltou àAlemanha para trabalhar num res-taurante sem qualquer ligação àfamília. “Além da vontade deAlém da vontade deAlém da vontade deAlém da vontade deAlém da vontade devoltar a contactar com a cultu-voltar a contactar com a cultu-voltar a contactar com a cultu-voltar a contactar com a cultu-voltar a contactar com a cultu-ra profissional alemã e de que-ra profissional alemã e de que-ra profissional alemã e de que-ra profissional alemã e de que-ra profissional alemã e de que-rer ganhar experiência, fuirer ganhar experiência, fuirer ganhar experiência, fuirer ganhar experiência, fuirer ganhar experiência, fui

também para me auto-afir-também para me auto-afir-também para me auto-afir-também para me auto-afir-também para me auto-afir-marmarmarmarmar”, explicou.

Sérgio Coito quis provar que ti-nha as capacidades necessáriaspara gerir também o negócio defamília e que era mais do que serapenas o filho do dono. Ao fim dedois meses numa unidade hotelei-ra alemã já tinha funções de res-ponsabilidade e percebeu que ti-nha mérito.

O filho do fundador da empresaacredita que o facto de terem es-tado na Alemanha se reflecte naforma como trabalham, principal-mente ao nível da organização.

Em sua opinião, é mais fácil tra-balhar com portugueses lá foraporque os emigrantes são maisesforçados. “Há empresas ale-Há empresas ale-Há empresas ale-Há empresas ale-Há empresas ale-mãs instaladas em Portugalmãs instaladas em Portugalmãs instaladas em Portugalmãs instaladas em Portugalmãs instaladas em Portugalque acham que é diferente aque acham que é diferente aque acham que é diferente aque acham que é diferente aque acham que é diferente aforma como os portuguesesforma como os portuguesesforma como os portuguesesforma como os portuguesesforma como os portuguesestrabalham lá fora e como o fa-trabalham lá fora e como o fa-trabalham lá fora e como o fa-trabalham lá fora e como o fa-trabalham lá fora e como o fa-zem cázem cázem cázem cázem cá”, referiu.

“Se as pessoas emigram eSe as pessoas emigram eSe as pessoas emigram eSe as pessoas emigram eSe as pessoas emigram eregressam às suas origens, éregressam às suas origens, éregressam às suas origens, éregressam às suas origens, éregressam às suas origens, éporque só partiram porque re-porque só partiram porque re-porque só partiram porque re-porque só partiram porque re-porque só partiram porque re-almente tinham necessidade,almente tinham necessidade,almente tinham necessidade,almente tinham necessidade,almente tinham necessidade,mas, na verdade, gostam demas, na verdade, gostam demas, na verdade, gostam demas, na verdade, gostam demas, na verdade, gostam deestar cá em Portugalestar cá em Portugalestar cá em Portugalestar cá em Portugalestar cá em Portugal”, conside-ra.

Um ano depois de ter ido para aAlemanha, já na década de 90, opai desafiou-o a voltar a Portugal

para o ajudar, porque nessa alturaia fazer obras para abrir os salõespara eventos.

Quando voltou criaram em 1995a sociedade entre pai e filho, como nome Joaquim Bernado do CoitoLda, com um capital social de 5000euros que foi entretanto aumenta-do para 49.900 euros, devido à novalegislação.

Sérgio Coito, que é auto-didac-ta, deu formação na Escola Hote-leira do Estoril durante três anos ealguns dos seus formandos dãoagora formação na congénere des-ta escola nas Caldas da Rainha.

Recentemente investiu tambémnuma loja de fotografias no BairroAzul, Dimago Studio, que lhe dáapoio ao nível das reportagens fo-tográficas dos eventos no restau-rante.

Menos casamentosMenos casamentosMenos casamentosMenos casamentosMenos casamentos

A ampliação do restaurante de-veu-se à grande procura de umespaço para casamentos, porquehavia pouca oferta nesse ramonesta zona. A maioria dessas ceri-mónias realizava-se em associa-ções e outros espaços do género.“As pessoas queriam ter umAs pessoas queriam ter umAs pessoas queriam ter umAs pessoas queriam ter umAs pessoas queriam ter umlugar mais requintado, semlugar mais requintado, semlugar mais requintado, semlugar mais requintado, semlugar mais requintado, semmesas compridas e bancosmesas compridas e bancosmesas compridas e bancosmesas compridas e bancosmesas compridas e bancos

corridoscorridoscorridoscorridoscorridos”, comentou Sérgio Coi-to.

Agora, não só servem casamen-tos no restaurante, como tambémtrabalham com algumas quintas daregião no serviço de catering, comoa Quinta dos Loridos e do Sangui-nhal (ambas do Bombarral) e a daFerraria (Rio Maior). Actualmentesó servem dois casamentos forade portas por dia “para poder-para poder-para poder-para poder-para poder-mos continuar a garantir a nos-mos continuar a garantir a nos-mos continuar a garantir a nos-mos continuar a garantir a nos-mos continuar a garantir a nos-sa qualidade e o nosso nomesa qualidade e o nosso nomesa qualidade e o nosso nomesa qualidade e o nosso nomesa qualidade e o nosso nome”.

Nas instalações do restaurantepodem fazer até quatro serviços, omesmo número de salas disponí-veis. No mesmo dia podem-se jun-tar ali até mais de 700 pessoas.

Se antes conseguiam recebermais pessoas, a complexidade doscasamentos actuais faz com quetenham mais contenção no que acei-tam.

No entanto, Sérgio Coito lembraque o número de casamentos emPortugal reduziu-se drasticamen-te nos últimos anos. “As pessoasAs pessoasAs pessoasAs pessoasAs pessoastêm mais tendência a junta-têm mais tendência a junta-têm mais tendência a junta-têm mais tendência a junta-têm mais tendência a junta-rem-se do que em casaremrem-se do que em casaremrem-se do que em casaremrem-se do que em casaremrem-se do que em casarem”,referiu, embora a procura pelosseus serviços não tenha baixadoassim tanto, porque têm mais quin-tas a procurarem pelos seus cate-rings.

Começa também a ser raro fa-

zerem-se casamentos de dois dias,como era tradição em Portugal, ecada vez há menos convidados. Hámais de 20 anos, chegaram a fazerserviços de três e quatro dias.

As ementas começam a ser maispensadas tendo em conta os cus-tos. Uma das opções é reduzir otempo que as pessoas passam norestaurante e assim ter disponibi-lizar menos comida.

O orçamento mínimo por pes-soa para um casamento é de 40euros (mais IVA) e o máximo stan-dard é de 72 euros (mais IVA). Paraquem não olha a custos, não hálimites no que se gasta e há váriasopções desde os melhores vinhosaos pratos mais elaborados.

Aos domingos A Lareira recebetambém algumas centenas de ido-sos que vêm em excursões de todoo país para os seus famosos almo-ços regionais. Estes encontros nãoestão abertos ao público e aconte-cem através de organizadores quemarcam essas excursões até àsCaldas. “Isso também nos tor-Isso também nos tor-Isso também nos tor-Isso também nos tor-Isso também nos tor-na conhecidos em todo o paísna conhecidos em todo o paísna conhecidos em todo o paísna conhecidos em todo o paísna conhecidos em todo o paíse nos traz outros serviços dee nos traz outros serviços dee nos traz outros serviços dee nos traz outros serviços dee nos traz outros serviços depessoas de forapessoas de forapessoas de forapessoas de forapessoas de fora”, adiantou Sér-gio Coito.

Em 2006 e 2007 receberam o pré-mio de melhor restaurante dos pro-gramas Turismo e Termalismo Sé-

nior do Inatel. Ao longo dos anos ALareira tem recebido vários prémi-os a nível nacional.

Actualmente estão a fazer obrasde remodelação, mas de estruturae que são pouco visíveis aos clien-tes. Criaram também um “jardimfotográfico”, para que os noivos econvidados possam ter um lugaraprazível para fazerem as fotogra-fias da cerimónia.

Uma refeição no restaurantecusta à volta dos 20 euros, se nãofor acompanhada por um vinhomuito caro, e um casamento podeficar entre os 40 e os 72 euros porpessoa.

Segundo Sérgio Coito, os muni-cípios da região não são os clien-tes que mais demoram a pagar,mas o mesmo não pode dizer emrelação a outras entidades e em-presas, onde nota que há cada vezmais atrasos nos pagamentos.

“Não há mês nenhum queNão há mês nenhum queNão há mês nenhum queNão há mês nenhum queNão há mês nenhum quenão tenhamos 150 ou 200 milnão tenhamos 150 ou 200 milnão tenhamos 150 ou 200 milnão tenhamos 150 ou 200 milnão tenhamos 150 ou 200 mileuros para recebereuros para recebereuros para recebereuros para recebereuros para receber”, referiu oempresário.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

19741974197419741974 – Joaquim Coito abre orestaurante Tamar em Osna-brück (Alemanha)19761976197619761976 - Abertura do restau-rante Alberman na mesma ci-dade19781978197819781978 – Fernando Cavaco abreo restaurante A Lareira1982 – De regresso a Portugal,Joaquim Coito abre o mini-mercado Copacabana nas Cal-das da Rainha.19831983198319831983 – Joaquim Coito arren-da A Lareira, que estava en-cerrada há alguns anos, por 11contos (55 euros) ao mês.19841984198419841984 – Joaquim Coito com-pra o restaurante.19951995199519951995 – Obras de ampliaçãopara as salas de cerimónias.19951995199519951995 – Criação da sociedadeentre pai e filho “Joaquim Ber-nado do Coito Lda”.

CRONOLOGIA

A família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante.A família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante.A família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante.A família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante.A família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante. O recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraO recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraO recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraO recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraO recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraos noivos posaremos noivos posaremos noivos posaremos noivos posaremos noivos posarem

Joaquim Coito com a filha Susana às compras na PraçaJoaquim Coito com a filha Susana às compras na PraçaJoaquim Coito com a filha Susana às compras na PraçaJoaquim Coito com a filha Susana às compras na PraçaJoaquim Coito com a filha Susana às compras na Praçada Fruta numa foto dos anos 80da Fruta numa foto dos anos 80da Fruta numa foto dos anos 80da Fruta numa foto dos anos 80da Fruta numa foto dos anos 80

A equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçasA equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçasA equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçasA equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçasA equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçaspretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdapretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdapretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdapretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdapretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdae Joaquim Coito está à direita.e Joaquim Coito está à direita.e Joaquim Coito está à direita.e Joaquim Coito está à direita.e Joaquim Coito está à direita.

Page 34: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

10 | Setembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais24

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Nasceu na Guarda há 59 anos,veio para as Caldas com apenasquatro e até estabelecer a AutoJúlio teve que percorrer um lon-go caminho, mas nunca até hojevirou a cara à luta, naquela queé, porventura, uma das suasprincipais características.

Começou novo a trabalharcom o pai, na fábrica Júlio Do-mingos Sousa e Filhos, Lda (si-tuada em S. Cristóvão e quemais tarde seria vendida à Ru-betão), e apenas com 16 anosfez toda a instalação eléctricana casa dos pais. Completou osestudos à noite, para concluir ocurso de electricista no antigo5º ano, na Escola Industrial eComercial das Caldas da Rai-nha. Foi depois da tropa que saiuda fábrica, por divergências. Odestino foi Coruche, ainda noscimentos, como gerente de umafábrica de pré-esforçados, a Vi-gauto. Por lá ficou entre 1975 e1977, mas regressou às Caldaspara se estabelecer como fabri-cante de blocos de cimento.

“As coisas não me correram“As coisas não me correram“As coisas não me correram“As coisas não me correram“As coisas não me correramnada bem, acabei por vendernada bem, acabei por vendernada bem, acabei por vendernada bem, acabei por vendernada bem, acabei por vendertudo para pagar às pessoastudo para pagar às pessoastudo para pagar às pessoastudo para pagar às pessoastudo para pagar às pessoasa quem devia”a quem devia”a quem devia”a quem devia”a quem devia”, diz António Jú-lio. Foi então que um jornal lhemostrou outro caminho. “Vi um“Vi um“Vi um“Vi um“Vi umanúncio a pedir vendedor deanúncio a pedir vendedor deanúncio a pedir vendedor deanúncio a pedir vendedor deanúncio a pedir vendedor detractores e disse: nem é tardetractores e disse: nem é tardetractores e disse: nem é tardetractores e disse: nem é tardetractores e disse: nem é tardenem é cedo”nem é cedo”nem é cedo”nem é cedo”nem é cedo”. Viu o salário bai-xar de 25 contos para 11 (125 para55 euros), mas o passo atrás aca-baria por compensar.

O destino foi a Geopeças.Começou pelos tractores, depoiso patrão comprou a representa-ção da Mitsubishi, passando avender também os furgões damarca japonesa.

Foram as dificuldades finan-ceiras da Geopeças que o leva-ram a sair da empresa, primeiropara continuar como comissio-nista, depois para formar a suaprópria empresa. “Foi posto lá“Foi posto lá“Foi posto lá“Foi posto lá“Foi posto láum doutor formado em eco-um doutor formado em eco-um doutor formado em eco-um doutor formado em eco-um doutor formado em eco-nomia para resolver o proble-nomia para resolver o proble-nomia para resolver o proble-nomia para resolver o proble-nomia para resolver o proble-ma da gestão, mas o doutorma da gestão, mas o doutorma da gestão, mas o doutorma da gestão, mas o doutorma da gestão, mas o doutornão percebia nada de negó-não percebia nada de negó-não percebia nada de negó-não percebia nada de negó-não percebia nada de negó-cios, entrámos em ruptura ecios, entrámos em ruptura ecios, entrámos em ruptura ecios, entrámos em ruptura ecios, entrámos em ruptura esaí”saí”saí”saí”saí”, recorda o António Júlio.

A decisão de continuar nosautomóveis foi tão simples comoa tomada uns anos antes, quan-

do montou a fábrica de blocosde cimento. “Já vendia Mitsu-“Já vendia Mitsu-“Já vendia Mitsu-“Já vendia Mitsu-“Já vendia Mitsu-bishi, era um bom vendedorbishi, era um bom vendedorbishi, era um bom vendedorbishi, era um bom vendedorbishi, era um bom vendedorda marca e estava integra-da marca e estava integra-da marca e estava integra-da marca e estava integra-da marca e estava integra-do. Ou voltava para o cimen-do. Ou voltava para o cimen-do. Ou voltava para o cimen-do. Ou voltava para o cimen-do. Ou voltava para o cimen-to, que são coisas que euto, que são coisas que euto, que são coisas que euto, que são coisas que euto, que são coisas que eupercebo, ou seguia o sectorpercebo, ou seguia o sectorpercebo, ou seguia o sectorpercebo, ou seguia o sectorpercebo, ou seguia o sectordas camionetas e dos trac-das camionetas e dos trac-das camionetas e dos trac-das camionetas e dos trac-das camionetas e dos trac-tores, do qual já percebia al-tores, do qual já percebia al-tores, do qual já percebia al-tores, do qual já percebia al-tores, do qual já percebia al-guma coisa”guma coisa”guma coisa”guma coisa”guma coisa”.

É nesta altura, em 1987, quedecide ir ao Porto tentar a repre-sentação da Mazda, que não con-seguiu devido às exigências doimportador. No mesmo dia insis-tiu através da concessão de Lei-ria, que lhe ofereceu a represen-tação da Mitsubishi. Acabou poraceitar, após duras negociações.

Comprou a representação etudo o que estava associado àmarca ao antigo patrão pelovalor da dívida à Mitsubishi:10.500 contos na altura (cerca de52 mil euros) em 21 prestaçõesde 500 contos, tendo os paiscomo fiadores. A Auto Júlio fi-xava-se em São Cristóvão, jun-to às bombas da BP, numas ins-talações que pertenciam aospais. “Foi assim que as coi-“Foi assim que as coi-“Foi assim que as coi-“Foi assim que as coi-“Foi assim que as coi-

sas começaram”sas começaram”sas começaram”sas começaram”sas começaram”, relembra.No primeiro mês, todos os

antigos colegas na Mitsubishiforam trabalhar à experiênciapara a nova empresa, assimcomo o ex-patrão da Geopeças- que assegurou os salários des-se mês. “Eram 10, 12 pesso-“Eram 10, 12 pesso-“Eram 10, 12 pesso-“Eram 10, 12 pesso-“Eram 10, 12 pesso-as, depois escolhi os queas, depois escolhi os queas, depois escolhi os queas, depois escolhi os queas, depois escolhi os quequeria, ficaram quatro ouqueria, ficaram quatro ouqueria, ficaram quatro ouqueria, ficaram quatro ouqueria, ficaram quatro oucinco, dois deles ainda hojecinco, dois deles ainda hojecinco, dois deles ainda hojecinco, dois deles ainda hojecinco, dois deles ainda hojetrabalham comigo, os outrostrabalham comigo, os outrostrabalham comigo, os outrostrabalham comigo, os outrostrabalham comigo, os outrosvoltaram para a Geopeças”voltaram para a Geopeças”voltaram para a Geopeças”voltaram para a Geopeças”voltaram para a Geopeças”.

No início da vida da Auto-Jú-lio não havia cargos específicos,incluindo para o próprio empre-sário. “Vendia carros, fazia a“Vendia carros, fazia a“Vendia carros, fazia a“Vendia carros, fazia a“Vendia carros, fazia acontabilidade, íamos buscarcontabilidade, íamos buscarcontabilidade, íamos buscarcontabilidade, íamos buscarcontabilidade, íamos buscaros carros, lavávamo-los an-os carros, lavávamo-los an-os carros, lavávamo-los an-os carros, lavávamo-los an-os carros, lavávamo-los an-tes de os entregar ao clientetes de os entregar ao clientetes de os entregar ao clientetes de os entregar ao clientetes de os entregar ao cliente

e quando comprei o primei-e quando comprei o primei-e quando comprei o primei-e quando comprei o primei-e quando comprei o primei-ro computador tive que irro computador tive que irro computador tive que irro computador tive que irro computador tive que irfazer formação para traba-fazer formação para traba-fazer formação para traba-fazer formação para traba-fazer formação para traba-lhar com ele. . . fazíamoslhar com ele. . . fazíamoslhar com ele. . . fazíamoslhar com ele. . . fazíamoslhar com ele. . . fazíamostudo”tudo”tudo”tudo”tudo”.

EXPANSÃO ACONTECEUEXPANSÃO ACONTECEUEXPANSÃO ACONTECEUEXPANSÃO ACONTECEUEXPANSÃO ACONTECEUPOR NECESSIDADEPOR NECESSIDADEPOR NECESSIDADEPOR NECESSIDADEPOR NECESSIDADE

Quando lançou a empresa,António Júlio estava bem cons-ciente do risco que estava a to-mar, dados os valores elevadosem jogo. “Foi um risco doido”“Foi um risco doido”“Foi um risco doido”“Foi um risco doido”“Foi um risco doido”,sublinha. Os 500 contos mensais(2.500 euros) eram só para pa-gar a dívida ao importador, de-pois era preciso fazer face àsdespesas do dia-a-dia, mais ossalários e a aquisição das viatu-ras “que tinham que ser pa-“que tinham que ser pa-“que tinham que ser pa-“que tinham que ser pa-“que tinham que ser pa-gas em adiantado e tínha-gas em adiantado e tínha-gas em adiantado e tínha-gas em adiantado e tínha-gas em adiantado e tínha-mos que esperar uma oumos que esperar uma oumos que esperar uma oumos que esperar uma oumos que esperar uma ouduas semanas que o carroduas semanas que o carroduas semanas que o carroduas semanas que o carroduas semanas que o carrochegasse à concessão... nãochegasse à concessão... nãochegasse à concessão... nãochegasse à concessão... nãochegasse à concessão... nãoapareciam a crédito, ou àapareciam a crédito, ou àapareciam a crédito, ou àapareciam a crédito, ou àapareciam a crédito, ou àconsignação”consignação”consignação”consignação”consignação”.

António Júlio considera tertido alguma sorte porque osmodelos da Mitsubishi “come-“come-“come-“come-“come-çaram a vir com mais quali-çaram a vir com mais quali-çaram a vir com mais quali-çaram a vir com mais quali-çaram a vir com mais quali-

dade e tiveram sucesso”dade e tiveram sucesso”dade e tiveram sucesso”dade e tiveram sucesso”dade e tiveram sucesso”. Mes-mo assim as dificuldades erammuitas “e comecei a ver-me“e comecei a ver-me“e comecei a ver-me“e comecei a ver-me“e comecei a ver-meapertado, houve alturas queapertado, houve alturas queapertado, houve alturas queapertado, houve alturas queapertado, houve alturas quechorei, desesperado”chorei, desesperado”chorei, desesperado”chorei, desesperado”chorei, desesperado”. Desis-tir não era, contudo, opção e afuga foi sempre para a frente.

Comprou os armazéns doGama, em São Cristóvão - ondehoje funcionam as oficinas -, quecomercializavam gás e depoissoube que o posto Galp de SãoCristóvão, junto aos armazéns,estava disponível, adquirindo-otambém. É aqui que o negóciose alarga aos combustíveis.

No mesmo sector adquiriumais tarde a Garagem Caldas,que vivia problemas financeiros.“Fui pagando durante cinco“Fui pagando durante cinco“Fui pagando durante cinco“Fui pagando durante cinco“Fui pagando durante cinco

anos, fiquei com o negócio eanos, fiquei com o negócio eanos, fiquei com o negócio eanos, fiquei com o negócio eanos, fiquei com o negócio eos trabalhadores”os trabalhadores”os trabalhadores”os trabalhadores”os trabalhadores”, recorda. Acompra da Garagem Caldas per-mitiu a entrada no negócio dadistribuição dos combustíveis.Mais tarde, para reforçar a pre-sença no sector, o grupo foi tam-bém criando postos de combus-tíveis com imagem própria, ten-do actualmente seis, no Campo,

Santa Catarina, Usseira, Pombal,Sobral de Monte Agraço e Leiria.

CHEGADA A LEIRIA FOI OCHEGADA A LEIRIA FOI OCHEGADA A LEIRIA FOI OCHEGADA A LEIRIA FOI OCHEGADA A LEIRIA FOI OGRANDE IMPULSOGRANDE IMPULSOGRANDE IMPULSOGRANDE IMPULSOGRANDE IMPULSO

Também no mercado dos au-tomóveis a necessidade de ge-rar mais receita levou à expan-são, quer na representação denovas marcas, quer na coberturade uma maior área geográfica.

Quatro anos depois de fun-dada, a empresa estende-separa Peniche, onde foi criado umposto de venda Mitsubishi emsociedade com dois colaborado-res que lá tinha. António Júlio,porém, acabaria mais tarde porcomprar essa sociedade.

A empresa apostou numanova marca em 1994 “quando“quando“quando“quando“quandochegámos à conclusão quechegámos à conclusão quechegámos à conclusão quechegámos à conclusão quechegámos à conclusão quenão podíamos ter todos osnão podíamos ter todos osnão podíamos ter todos osnão podíamos ter todos osnão podíamos ter todos osovos no mesmo cesto”ovos no mesmo cesto”ovos no mesmo cesto”ovos no mesmo cesto”ovos no mesmo cesto”. AHyundai estava disponível e,apesar de não ser muito conhe-cida na altura, tinha produtosdiferentes e o risco inerenteacabou por ser controlado. Mais

recentemente, em 2006, o grupoadquiriu a representação de umaterceira marca, sempre para fa-zer face “aos custos muitos“aos custos muitos“aos custos muitos“aos custos muitos“aos custos muitosgrandes que tínhamos”grandes que tínhamos”grandes que tínhamos”grandes que tínhamos”grandes que tínhamos”. ANissan “foi muito importante“foi muito importante“foi muito importante“foi muito importante“foi muito importantepara a estratégia do grupo”para a estratégia do grupo”para a estratégia do grupo”para a estratégia do grupo”para a estratégia do grupo”,reconhece António Júlio.

Mas ainda antes da represen-tação da Nissan, o Grupo Auto-Júlio deu passos muito importan-tes. Em 1995, um ano depois deganhar a representação da Hyun-dai, surgiu uma oportunidade deouro que António Júlio agarroucom as duas mãos. “A Mitsubishi“A Mitsubishi“A Mitsubishi“A Mitsubishi“A Mitsubishiquis vender as instalações dequis vender as instalações dequis vender as instalações dequis vender as instalações dequis vender as instalações deLeiria, fez uma proposta a umLeiria, fez uma proposta a umLeiria, fez uma proposta a umLeiria, fez uma proposta a umLeiria, fez uma proposta a umconcorrente meu, mas nãoconcorrente meu, mas nãoconcorrente meu, mas nãoconcorrente meu, mas nãoconcorrente meu, mas nãochegaram a consenso, entãochegaram a consenso, entãochegaram a consenso, entãochegaram a consenso, entãochegaram a consenso, entãofizeram-me a proposta”fizeram-me a proposta”fizeram-me a proposta”fizeram-me a proposta”fizeram-me a proposta”. A ex-pansão para a capital do distritoabria grandes perspectivas de de-senvolvimento, aumentando deforma exponencial o número depossíveis clientes, justificando oforte investimento. A aquisiçãodas instalações foi feita por 350mil contos (cerca de 1,75 milhõesde euros).

“Nessa altura já tínhamos“Nessa altura já tínhamos“Nessa altura já tínhamos“Nessa altura já tínhamos“Nessa altura já tínhamosos combustíveis, mas trata-os combustíveis, mas trata-os combustíveis, mas trata-os combustíveis, mas trata-os combustíveis, mas trata-do como um segundo negó-do como um segundo negó-do como um segundo negó-do como um segundo negó-do como um segundo negó-cio, e a instalação de Leiriacio, e a instalação de Leiriacio, e a instalação de Leiriacio, e a instalação de Leiriacio, e a instalação de Leiriaveio-nos enriquecer muito”veio-nos enriquecer muito”veio-nos enriquecer muito”veio-nos enriquecer muito”veio-nos enriquecer muito”,considera Bruno Júlio, filho de

Começou a trabalhar no ramo dos cimentos ainda como adolescente, na fábrica do pai, e foi nessaactividade que deu os primeiros passos a solo, com uma empresa de fabrico de blocos que não resultou.Um anúncio num jornal levou-o a vender tractores na Geopeças, onde teve também o primeiro contactocom o sector automóvel. As dificuldades financeiras daquela empresa empurraram-no para uma novatentativa como empresário, agora no ramo automóvel, e assim nasceu a Auto Júlio. Foram a persistênciae espírito visionário que levaram António Júlio, hoje com 59 anos, a expandir o negócio e construir aquelaque é hoje uma das maiores empresas do distrito, que actualmente gere em conjunto com a esposa,Luísa, e os filhos Bruno e Catarina.

António Júlio e hoje administra-dor do Grupo Auto Júlio.

Três anos depois a Auto Júliochega ainda mais ao norte dodistrito, a Pombal, onde o repre-sentante local da Mitsubishi tam-bém estava mergulhado em difi-culdades financeiras. AntónioJúlio compra uma fábrica de alu-mínios que havia em Pombal,reconverte-a num complexo comas marcas que vendia e ficou as-sim com a parte norte do distri-to. “Foi também uma belíssi-“Foi também uma belíssi-“Foi também uma belíssi-“Foi também uma belíssi-“Foi também uma belíssi-ma oportunidade”ma oportunidade”ma oportunidade”ma oportunidade”ma oportunidade”, refere.

A presença no mercado auto-móvel foi ainda reforçada comuma empresa de comércio deusados e outra de rent a car,nascida da necessidade de ge-rir a frota interna. Hoje a AutoJúlio Rent tem uma parque de300 carros e marca presença nasCaldas, Ericeira, Torres Vedras,Pombal, Peniche e Leiria.

“As duas marcas de auto-“As duas marcas de auto-“As duas marcas de auto-“As duas marcas de auto-“As duas marcas de auto-móveis que se juntaram, amóveis que se juntaram, amóveis que se juntaram, amóveis que se juntaram, amóveis que se juntaram, aaposta forte nos combustí-aposta forte nos combustí-aposta forte nos combustí-aposta forte nos combustí-aposta forte nos combustí-veis, o desenvolvimento daveis, o desenvolvimento daveis, o desenvolvimento daveis, o desenvolvimento daveis, o desenvolvimento darent a carrent a carrent a carrent a carrent a car e a modificação da e a modificação da e a modificação da e a modificação da e a modificação dapolítica de usados fez-nospolítica de usados fez-nospolítica de usados fez-nospolítica de usados fez-nospolítica de usados fez-noscrescer bastante. Não foi sócrescer bastante. Não foi sócrescer bastante. Não foi sócrescer bastante. Não foi sócrescer bastante. Não foi sóir ao sabor dos picos de mer-ir ao sabor dos picos de mer-ir ao sabor dos picos de mer-ir ao sabor dos picos de mer-ir ao sabor dos picos de mer-cado”cado”cado”cado”cado”, sustenta Bruno Júlio. “Se“Se“Se“Se“Secalhar a Auto Júlio está hojecalhar a Auto Júlio está hojecalhar a Auto Júlio está hojecalhar a Auto Júlio está hojecalhar a Auto Júlio está hojebem apesar do contexto eco-bem apesar do contexto eco-bem apesar do contexto eco-bem apesar do contexto eco-bem apesar do contexto eco-nómico, devido ao que fize-nómico, devido ao que fize-nómico, devido ao que fize-nómico, devido ao que fize-nómico, devido ao que fize-mos no passado, optimizarmos no passado, optimizarmos no passado, optimizarmos no passado, optimizarmos no passado, optimizarao máximo cada negócio doao máximo cada negócio doao máximo cada negócio doao máximo cada negócio doao máximo cada negócio donosso grupo de empresas”nosso grupo de empresas”nosso grupo de empresas”nosso grupo de empresas”nosso grupo de empresas”.

Hoje o grupo representa umuniverso de 11 empresas queemprega cerca de 150 pessoasem todo o distrito, tendo factu-rado no ano passado 66 milhõesde euros. Bruno Júlio diz que tra-balhar no seio familiar por vezestem desvantagens: “às vezes“às vezes“às vezes“às vezes“às vezeseu quero ir para a direita e oeu quero ir para a direita e oeu quero ir para a direita e oeu quero ir para a direita e oeu quero ir para a direita e omeu pai para a esquerda,meu pai para a esquerda,meu pai para a esquerda,meu pai para a esquerda,meu pai para a esquerda,mas o que é certo é que quan-mas o que é certo é que quan-mas o que é certo é que quan-mas o que é certo é que quan-mas o que é certo é que quan-do paramos para pensar osdo paramos para pensar osdo paramos para pensar osdo paramos para pensar osdo paramos para pensar osresultados demonstram queresultados demonstram queresultados demonstram queresultados demonstram queresultados demonstram quefizemos uma boa dupla”fizemos uma boa dupla”fizemos uma boa dupla”fizemos uma boa dupla”fizemos uma boa dupla”.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected]

Bruno Júlio, 35 anos, António Júlio, 59 anos, Luísa Fonseca Sousa, 52 anos, e CatarinaBruno Júlio, 35 anos, António Júlio, 59 anos, Luísa Fonseca Sousa, 52 anos, e CatarinaBruno Júlio, 35 anos, António Júlio, 59 anos, Luísa Fonseca Sousa, 52 anos, e CatarinaBruno Júlio, 35 anos, António Júlio, 59 anos, Luísa Fonseca Sousa, 52 anos, e CatarinaBruno Júlio, 35 anos, António Júlio, 59 anos, Luísa Fonseca Sousa, 52 anos, e CatarinaSousa, 27 anos, sãos oa administradores os Grupo Auto JúlioSousa, 27 anos, sãos oa administradores os Grupo Auto JúlioSousa, 27 anos, sãos oa administradores os Grupo Auto JúlioSousa, 27 anos, sãos oa administradores os Grupo Auto JúlioSousa, 27 anos, sãos oa administradores os Grupo Auto Júlio

Auto Júlio, SA – o pequeno stand da Mitsubishi que se t

O posto da Rua Capitão Filipe de Sousa já foi extinto e a Garagem Caldas é hoje uma loja de produtos chinesesO posto da Rua Capitão Filipe de Sousa já foi extinto e a Garagem Caldas é hoje uma loja de produtos chinesesO posto da Rua Capitão Filipe de Sousa já foi extinto e a Garagem Caldas é hoje uma loja de produtos chinesesO posto da Rua Capitão Filipe de Sousa já foi extinto e a Garagem Caldas é hoje uma loja de produtos chinesesO posto da Rua Capitão Filipe de Sousa já foi extinto e a Garagem Caldas é hoje uma loja de produtos chineses

Page 35: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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25CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

"É uma pessoa de muita di-"É uma pessoa de muita di-"É uma pessoa de muita di-"É uma pessoa de muita di-"É uma pessoa de muita di-nâmica, o país precisava denâmica, o país precisava denâmica, o país precisava denâmica, o país precisava denâmica, o país precisava devários António Júlio"vários António Júlio"vários António Júlio"vários António Júlio"vários António Júlio". É assim queLuísa Fonseca de Sousa, de 52 anos,caracteriza o marido.

O empresário diz que há diversosaspectos que o conduziram pelos ca-minhos difíceis que teve que encon-trar: "acreditar no que estamos"acreditar no que estamos"acreditar no que estamos"acreditar no que estamos"acreditar no que estamosa fazer, fazer contas, planear,a fazer, fazer contas, planear,a fazer, fazer contas, planear,a fazer, fazer contas, planear,a fazer, fazer contas, planear,ser exigente principalmenteser exigente principalmenteser exigente principalmenteser exigente principalmenteser exigente principalmenteconsigo próprio, mas tambémconsigo próprio, mas tambémconsigo próprio, mas tambémconsigo próprio, mas tambémconsigo próprio, mas tambémcom os outros, e ser teimoso,com os outros, e ser teimoso,com os outros, e ser teimoso,com os outros, e ser teimoso,com os outros, e ser teimoso,nunca me fico pelo não, tenhonunca me fico pelo não, tenhonunca me fico pelo não, tenhonunca me fico pelo não, tenhonunca me fico pelo não, tenhoque saber como ultrapasso oque saber como ultrapasso oque saber como ultrapasso oque saber como ultrapasso oque saber como ultrapasso onão, isso tem sido a chave emnão, isso tem sido a chave emnão, isso tem sido a chave emnão, isso tem sido a chave emnão, isso tem sido a chave emtoda a minha vida"toda a minha vida"toda a minha vida"toda a minha vida"toda a minha vida".

Luísa Sousa acompanhou AntónioJúlio em todo o processo de incuba-ção, nascimento e crescimento daempresa e, apesar de só há 10 anoster saído da EDP - onde esteve 24 anos- para assumir um cargo efectivo naAuto Júlio, onde é responsável pelaárea financeira, desde sempre foi umapoio importante para o marido.

A ajuda recaía em todos os cam-pos onde era possível. "Quando"Quando"Quando"Quando"Quandoadquirimos o posto da Galp, poradquirimos o posto da Galp, poradquirimos o posto da Galp, poradquirimos o posto da Galp, poradquirimos o posto da Galp, porexemplo, aconteceu a todos terexemplo, aconteceu a todos terexemplo, aconteceu a todos terexemplo, aconteceu a todos terexemplo, aconteceu a todos terque fazer limpezas"que fazer limpezas"que fazer limpezas"que fazer limpezas"que fazer limpezas", recorda.

Luísa Sousa adianta que foramprecisos muitos sacrifícios e dácomo exemplo o nascimento da filhamais velha, Catarina. O tempo degestação estava no fim, mas era pre-ciso fazer um negócio e para não fi-car sozinha acompanhou o marido,ficando em casa do cliente com aesposa deste. Voltaram para casadepois da meia noite e Catarina nas-ceu logo poucas horas depois.

A decisão de largar um empregode longa duração para abraçar o pro-jecto do marido não foi fácil. "Esta-"Esta-"Esta-"Esta-"Esta-va na EDP há muitos anos, po-va na EDP há muitos anos, po-va na EDP há muitos anos, po-va na EDP há muitos anos, po-va na EDP há muitos anos, po-dia não me adaptar e por vezesdia não me adaptar e por vezesdia não me adaptar e por vezesdia não me adaptar e por vezesdia não me adaptar e por vezesnão é saudável para um casalnão é saudável para um casalnão é saudável para um casalnão é saudável para um casalnão é saudável para um casaltrabalhar junto, mas para mu-trabalhar junto, mas para mu-trabalhar junto, mas para mu-trabalhar junto, mas para mu-trabalhar junto, mas para mu-dar tinha que ser numa alturadar tinha que ser numa alturadar tinha que ser numa alturadar tinha que ser numa alturadar tinha que ser numa alturaem que ainda tinha alguma coi-em que ainda tinha alguma coi-em que ainda tinha alguma coi-em que ainda tinha alguma coi-em que ainda tinha alguma coi-sa para dar e não estou nadasa para dar e não estou nadasa para dar e não estou nadasa para dar e não estou nadasa para dar e não estou nadaarrependida"arrependida"arrependida"arrependida"arrependida".

A entrada dos filhos na Auto Júliofoi sendo gradual. Tanto Bruno Júliocomo Catarina Sousa foram crescen-do com a empresa, onde trabalhavamnas férias.

"Hoje é ilegal trabalhar com"Hoje é ilegal trabalhar com"Hoje é ilegal trabalhar com"Hoje é ilegal trabalhar com"Hoje é ilegal trabalhar com12, 13 anos, mas eu trabalhei12, 13 anos, mas eu trabalhei12, 13 anos, mas eu trabalhei12, 13 anos, mas eu trabalhei12, 13 anos, mas eu trabalhei

“O país precisava de vários António Júlio”nas férias e não me fez mal ne-nas férias e não me fez mal ne-nas férias e não me fez mal ne-nas férias e não me fez mal ne-nas férias e não me fez mal ne-nhum"nhum"nhum"nhum"nhum", diz Bruno Júlio, hoje com 35anos. "Aprendi o funcionamen-"Aprendi o funcionamen-"Aprendi o funcionamen-"Aprendi o funcionamen-"Aprendi o funcionamen-to de todas as secções e o queto de todas as secções e o queto de todas as secções e o queto de todas as secções e o queto de todas as secções e o quehoje me permite ter um conhe-hoje me permite ter um conhe-hoje me permite ter um conhe-hoje me permite ter um conhe-hoje me permite ter um conhe-cimento de cada área"cimento de cada área"cimento de cada área"cimento de cada área"cimento de cada área", conta.

Fez de tudo, desde estafeta, recep-cionista de oficina, a lavador de car-ros. Só em 1995, depois de cumprirserviço militar, assumiu um cargode chefia. A Auto Júlio tinha acabadode chegar a Leiria e era preciso ter àfrente uma pessoa de confiança. "Eu"Eu"Eu"Eu"Eutinha estado na Marinha e abra-tinha estado na Marinha e abra-tinha estado na Marinha e abra-tinha estado na Marinha e abra-tinha estado na Marinha e abra-cei o desafio, um pouco em-cei o desafio, um pouco em-cei o desafio, um pouco em-cei o desafio, um pouco em-cei o desafio, um pouco em-purrado, um pouco por inicia-purrado, um pouco por inicia-purrado, um pouco por inicia-purrado, um pouco por inicia-purrado, um pouco por inicia-tiva, porque gosto muito dotiva, porque gosto muito dotiva, porque gosto muito dotiva, porque gosto muito dotiva, porque gosto muito dosector automóvel e tive que mesector automóvel e tive que mesector automóvel e tive que mesector automóvel e tive que mesector automóvel e tive que medesenrascar"desenrascar"desenrascar"desenrascar"desenrascar", conta.

A irmã Catarina Sousa, hoje com 27anos, tinha quatro quando a Auto Júliofoi criada e ambas foram crescendolado a lado. Recorda ter aprendido aandar de bicicleta entre carros novos"lembro-me perfeitamente de o"lembro-me perfeitamente de o"lembro-me perfeitamente de o"lembro-me perfeitamente de o"lembro-me perfeitamente de omeu pai me largar e eu ir a pe-meu pai me largar e eu ir a pe-meu pai me largar e eu ir a pe-meu pai me largar e eu ir a pe-meu pai me largar e eu ir a pe-dalar e a olhar para os carrosdalar e a olhar para os carrosdalar e a olhar para os carrosdalar e a olhar para os carrosdalar e a olhar para os carroscom medo de os riscar, mascom medo de os riscar, mascom medo de os riscar, mascom medo de os riscar, mascom medo de os riscar, mascerto é que aprendi depressa"certo é que aprendi depressa"certo é que aprendi depressa"certo é que aprendi depressa"certo é que aprendi depressa".Aos 13 começou também a trabalharnas férias, como telefonista e recep-cionista, mas mais tarde mudou derumo. Licenciou-se em gestão e esta-giou na Sonae Sierra, depois de se for-mar foi para o Grupo PT. Mas há preci-samente um ano sentiu vontade devoltar. "Quando uma pessoa cres-"Quando uma pessoa cres-"Quando uma pessoa cres-"Quando uma pessoa cres-"Quando uma pessoa cres-ce num negócio de família umce num negócio de família umce num negócio de família umce num negócio de família umce num negócio de família umdia sente que tem que dar umadia sente que tem que dar umadia sente que tem que dar umadia sente que tem que dar umadia sente que tem que dar umacontinuidade a esse trabalho"continuidade a esse trabalho"continuidade a esse trabalho"continuidade a esse trabalho"continuidade a esse trabalho".

António Júlio sente "orgulho""orgulho""orgulho""orgulho""orgulho"por ter dois dos seus filhos já a lide-rar a empresa e acredita nas possi-bilidades de ambos. "Têm carac-"Têm carac-"Têm carac-"Têm carac-"Têm carac-terísticas diferentes, comple-terísticas diferentes, comple-terísticas diferentes, comple-terísticas diferentes, comple-terísticas diferentes, comple-tam-se um ao outro"tam-se um ao outro"tam-se um ao outro"tam-se um ao outro"tam-se um ao outro".

FUTURO PASSA PELOESTRANGEIRO

Mesmo com as contas elevadaspara pagar na fase inicial, AntónioJúlio diz que nunca sentiu a empresaem perigo. A resposta à pergunta dequando sentiu maiores dificuldades,é respondida de forma pragmática:"é agora, não pela minha em-"é agora, não pela minha em-"é agora, não pela minha em-"é agora, não pela minha em-"é agora, não pela minha em-presa, mas por este país e pe-presa, mas por este país e pe-presa, mas por este país e pe-presa, mas por este país e pe-presa, mas por este país e pe-las condições que estão a serlas condições que estão a serlas condições que estão a serlas condições que estão a serlas condições que estão a sercriadas, as coisas estão mal ecriadas, as coisas estão mal ecriadas, as coisas estão mal ecriadas, as coisas estão mal ecriadas, as coisas estão mal e

parece que vão piorar"parece que vão piorar"parece que vão piorar"parece que vão piorar"parece que vão piorar".A empresa atingiu em 2009 o pico

do endividamento, devido às reestru-turações que foram sendo feitas. "In-"In-"In-"In-"In-vestimos um milhão de euros emvestimos um milhão de euros emvestimos um milhão de euros emvestimos um milhão de euros emvestimos um milhão de euros emPombal e em Leiria, gastámosPombal e em Leiria, gastámosPombal e em Leiria, gastámosPombal e em Leiria, gastámosPombal e em Leiria, gastámosmuito dinheiro no pólo de Sãomuito dinheiro no pólo de Sãomuito dinheiro no pólo de Sãomuito dinheiro no pólo de Sãomuito dinheiro no pólo de SãoCristóvão, acabámos de pagarCristóvão, acabámos de pagarCristóvão, acabámos de pagarCristóvão, acabámos de pagarCristóvão, acabámos de pagarvários investimentos no anovários investimentos no anovários investimentos no anovários investimentos no anovários investimentos no anopassado e dentro de três anospassado e dentro de três anospassado e dentro de três anospassado e dentro de três anospassado e dentro de três anosnão teremos praticamente en-não teremos praticamente en-não teremos praticamente en-não teremos praticamente en-não teremos praticamente en-dividamento, o que nos tornadividamento, o que nos tornadividamento, o que nos tornadividamento, o que nos tornadividamento, o que nos tornaconfiantes"confiantes"confiantes"confiantes"confiantes", diz António Júlio.

Mesmo em termos de volume denegócios, 2010 está melhor que 2009e a perspectiva é que o grupo possaexpandir-se mas… não em Portugal."Sinto necessidade e estou dis-"Sinto necessidade e estou dis-"Sinto necessidade e estou dis-"Sinto necessidade e estou dis-"Sinto necessidade e estou dis-ponível para isso, mas não nes-ponível para isso, mas não nes-ponível para isso, mas não nes-ponível para isso, mas não nes-ponível para isso, mas não nes-te país, não vejo saída, foi cri-te país, não vejo saída, foi cri-te país, não vejo saída, foi cri-te país, não vejo saída, foi cri-te país, não vejo saída, foi cri-ada uma cultura de ver os em-ada uma cultura de ver os em-ada uma cultura de ver os em-ada uma cultura de ver os em-ada uma cultura de ver os em-presários como os maus da fitapresários como os maus da fitapresários como os maus da fitapresários como os maus da fitapresários como os maus da fitae que levaram o país ao quee que levaram o país ao quee que levaram o país ao quee que levaram o país ao quee que levaram o país ao queestá"está"está"está"está".

A presença no estrangeiro já exis-te desde há quatro anos, refere o fi-lho, Bruno Júlio, numa espécie detubo de ensaio do que poderá ser umaexpansão futura.

O administrador da Auto Júlio In-vestimentos corrobora com o pai navontade de continuar a crescer:"mesmo que queiramos parar já"mesmo que queiramos parar já"mesmo que queiramos parar já"mesmo que queiramos parar já"mesmo que queiramos parar jánão conseguimos, temos quenão conseguimos, temos quenão conseguimos, temos quenão conseguimos, temos quenão conseguimos, temos quecrescer e nessa óptica o mer-crescer e nessa óptica o mer-crescer e nessa óptica o mer-crescer e nessa óptica o mer-crescer e nessa óptica o mer-cado nacional é pequeno, maiscado nacional é pequeno, maiscado nacional é pequeno, maiscado nacional é pequeno, maiscado nacional é pequeno, maisano menos ano temos que sair"ano menos ano temos que sair"ano menos ano temos que sair"ano menos ano temos que sair"ano menos ano temos que sair".

A empresa marca presença comnegócios imobiliários na Gâmbia eno Brasil desde há quatro anos."Acreditamos que o futuro está"Acreditamos que o futuro está"Acreditamos que o futuro está"Acreditamos que o futuro está"Acreditamos que o futuro estáno Brasil, é um país enorme,no Brasil, é um país enorme,no Brasil, é um país enorme,no Brasil, é um país enorme,no Brasil, é um país enorme,dos maiores do mundo. En-dos maiores do mundo. En-dos maiores do mundo. En-dos maiores do mundo. En-dos maiores do mundo. En-quanto na Europa os cresci-quanto na Europa os cresci-quanto na Europa os cresci-quanto na Europa os cresci-quanto na Europa os cresci-mentos são da ordem de 1% oumentos são da ordem de 1% oumentos são da ordem de 1% oumentos são da ordem de 1% oumentos são da ordem de 1% ou1,5%, no Brasil tem sido, 7 a1,5%, no Brasil tem sido, 7 a1,5%, no Brasil tem sido, 7 a1,5%, no Brasil tem sido, 7 a1,5%, no Brasil tem sido, 7 a8%, e já chegou a ser de dois8%, e já chegou a ser de dois8%, e já chegou a ser de dois8%, e já chegou a ser de dois8%, e já chegou a ser de doisdígitos"dígitos"dígitos"dígitos"dígitos", diz Bruno Júlio.

Estes negócios funcionam comotubo de ensaio enquanto não é possí-vel uma estrutura permanente. "Um"Um"Um"Um"Umnegócio no exterior não podenegócio no exterior não podenegócio no exterior não podenegócio no exterior não podenegócio no exterior não podeser controlado à distância"ser controlado à distância"ser controlado à distância"ser controlado à distância"ser controlado à distância", dizo empresário, que compara as acti-vidades preliminares no estrangei-ro como um departamento de inves-tigação que mais tarde se transfor-ma numa empresa.

J.RJ.RJ.RJ.RJ.R

João Lourenço e Margarida Alexandre são

colaboradores desde o primeiro dia

A Auto Júlio arrancou há 23 anos com quatrotrabalhadores, para além do proprietário, e doisdeles continuam a fazer parte da empresa desde oprimeiro dia. A estabilidade da empresa e o ambi-ente foram fazendo que ficassem, e já nenhumacredita que o futuro passe por outras paragens.

João Lourenço, de 54 anos, era colega de An-tónio Júlio na Geopeças quando este lhe lançouo desafio. "Fui ficando sempre, sobretudo pelo"Fui ficando sempre, sobretudo pelo"Fui ficando sempre, sobretudo pelo"Fui ficando sempre, sobretudo pelo"Fui ficando sempre, sobretudo pelogrupo de trabalho pois há uma boa ligação en-grupo de trabalho pois há uma boa ligação en-grupo de trabalho pois há uma boa ligação en-grupo de trabalho pois há uma boa ligação en-grupo de trabalho pois há uma boa ligação en-tre patrões e funcionários"tre patrões e funcionários"tre patrões e funcionários"tre patrões e funcionários"tre patrões e funcionários", conta.

Na empresa fez de tudo. "Cheguei a ser con-"Cheguei a ser con-"Cheguei a ser con-"Cheguei a ser con-"Cheguei a ser con-siderado pela gerência um pronto-socorro"siderado pela gerência um pronto-socorro"siderado pela gerência um pronto-socorro"siderado pela gerência um pronto-socorro"siderado pela gerência um pronto-socorro", su-blinha. Para além das peças, passou pelas ven-das, pelos combustíveis e só passados sete anospassou a ter um cargo fixo, voltando à secçãodas peças, pelo qual é hoje responsável na AutoJúlio Caldas.

Um dos segredos do sucesso, acredita, é aforma familiar como todos vestem a camisola."A empresa sempre privilegiou pela estabilida-"A empresa sempre privilegiou pela estabilida-"A empresa sempre privilegiou pela estabilida-"A empresa sempre privilegiou pela estabilida-"A empresa sempre privilegiou pela estabilida-de, começámos com poucos e fomos sendo umade, começámos com poucos e fomos sendo umade, começámos com poucos e fomos sendo umade, começámos com poucos e fomos sendo umade, começámos com poucos e fomos sendo uma

família, sempre trabalhámos para ser uma em-família, sempre trabalhámos para ser uma em-família, sempre trabalhámos para ser uma em-família, sempre trabalhámos para ser uma em-família, sempre trabalhámos para ser uma em-presa de qualidade e forte"presa de qualidade e forte"presa de qualidade e forte"presa de qualidade e forte"presa de qualidade e forte".

Também colaboradora desde o primeiro dia éMargarida Alexandre, que quando começou a tra-balhar na Auto Júlio tinha 22 anos.

Hoje trabalha na parte comercial das viaturasnovas, mas no início, tinha que tratar de toda aburocracia inerente ao negócio: "fazia factura-"fazia factura-"fazia factura-"fazia factura-"fazia factura-ção da oficina, peças, documentação dos car-ção da oficina, peças, documentação dos car-ção da oficina, peças, documentação dos car-ção da oficina, peças, documentação dos car-ção da oficina, peças, documentação dos car-ros"ros"ros"ros"ros". Na altura não havia computadores, recorda,e tudo era mais complicado que hoje, "Fazíamos"Fazíamos"Fazíamos"Fazíamos"Fazíamosmuitos serões e sábados"muitos serões e sábados"muitos serões e sábados"muitos serões e sábados"muitos serões e sábados", mas foi tudo por umaboa causa, sustenta. "Para se criar o que se criou"Para se criar o que se criou"Para se criar o que se criou"Para se criar o que se criou"Para se criar o que se crioué preciso alguém se predispor, porque sem traba-é preciso alguém se predispor, porque sem traba-é preciso alguém se predispor, porque sem traba-é preciso alguém se predispor, porque sem traba-é preciso alguém se predispor, porque sem traba-lho não se consegue nada"lho não se consegue nada"lho não se consegue nada"lho não se consegue nada"lho não se consegue nada".

Acabada de completar 23 anos de casa, tal comoJoão Lourenço, diz que foi ficando "porque fui"porque fui"porque fui"porque fui"porque fuigostando, talvez devido à empresa ter vindo agostando, talvez devido à empresa ter vindo agostando, talvez devido à empresa ter vindo agostando, talvez devido à empresa ter vindo agostando, talvez devido à empresa ter vindo aevoluir e o ambiente de trabalho ser sempre agra-evoluir e o ambiente de trabalho ser sempre agra-evoluir e o ambiente de trabalho ser sempre agra-evoluir e o ambiente de trabalho ser sempre agra-evoluir e o ambiente de trabalho ser sempre agra-dável. Não é fácil estar 23 anos no mesmo em-dável. Não é fácil estar 23 anos no mesmo em-dável. Não é fácil estar 23 anos no mesmo em-dável. Não é fácil estar 23 anos no mesmo em-dável. Não é fácil estar 23 anos no mesmo em-prego, mas às vezes também não é difícil"prego, mas às vezes também não é difícil"prego, mas às vezes também não é difícil"prego, mas às vezes também não é difícil"prego, mas às vezes também não é difícil".

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

transformou num grande grupo económico regional

Cronologia1987 - 1987 - 1987 - 1987 - 1987 - António Júlio cria a Auto Júlio Lda nas Caldas destinada à venda de viaturas Mitsubishi1989 - 1989 - 1989 - 1989 - 1989 - A Auto Júlio Lda adquire o posto Galp em São Cristóvão1991 - 1991 - 1991 - 1991 - 1991 - É criada a Auto Júlio Peniche Lda, para comercializar viaturas Mitsubishi em Peniche1992 - 1992 - 1992 - 1992 - 1992 - Aquisição da Garagem Caldas, passando a comercializar combustível a granel e a fazer transporte

de combustíveis1994 - 1994 - 1994 - 1994 - 1994 - É criada a AJ Motor (Caldas Motor, SA) em Caldas da Rainha, representante da marca Hyundai1995 - 1995 - 1995 - 1995 - 1995 - É criada a Auto Júlio Leiria (Mitlei), representante da Mitsubishi em Leiria. O filho Bruno Sousa junta-

se ao pai na administração das empresas.1999 - 1999 - 1999 - 1999 - 1999 - Criação da Auto Júlio Rent, dedicada ao aluguer de viaturas. A administração das empresas passa

a ser feita por António Júlio, Bruno Sousa e Luísa Fonseca2000 - 2000 - 2000 - 2000 - 2000 - O grupo soma mais três empresas: a AJ Ocasião, para comércio de viaturas usadas; a Auto Júlio

Imobiliária, que faz a gestão de imóveis do grupo; e a AJ Investimentos SGPS, para a gestão das participaçõese administração do grupo

2003 - 2003 - 2003 - 2003 - 2003 - Surge a AJ Imobiliária para a construção do Pólo de Pombal. A empresa fica encarregue também dagestão dos imóveis do grupo e pelo arrendamento de lojas em Pombal

2004 - 2004 - 2004 - 2004 - 2004 - A Auto Júlio passa a sociedade anónima, passando a agregar os negócios Mitsubishi, Posto Galp,Venda de Combustiveis a Granel, Hyundai, Galp Frota, Nissan e Posto BP. É criada a Auto Júlio Pombal,representante Mitsubishi

2006 - 2006 - 2006 - 2006 - 2006 - A AJ Motor assume a representação da Nissan, enquanto a Auto Júlio Leiria passa a congregar as trêsmarcas do grupo, Mitsubishi, Hyundai e Nissan. A Garagem Caldas adere ao sistema Cartão Solrred

2007 - 2007 - 2007 - 2007 - 2007 - A Auto Júlio Imobiliária assume a construção do Pólo de São Cristóvão e fica responsável peloarrendamento das lojas. A AJ Ocasião abre a oficina Bosch Car Service em São Cristóvão

2008 - 2008 - 2008 - 2008 - 2008 - É criada a AJ Consulting para gerir a Exchange no Pólo de São Cristóvão2009 - 2009 - 2009 - 2009 - 2009 - A AJ Peniche abre uma oficina Bosch Car Service

As primeiras instalações da empresa e uma das oficinas iniciais. São Cristóvão foi o berço deste grupo económico e o local onde este está sedeado.As primeiras instalações da empresa e uma das oficinas iniciais. São Cristóvão foi o berço deste grupo económico e o local onde este está sedeado.As primeiras instalações da empresa e uma das oficinas iniciais. São Cristóvão foi o berço deste grupo económico e o local onde este está sedeado.As primeiras instalações da empresa e uma das oficinas iniciais. São Cristóvão foi o berço deste grupo económico e o local onde este está sedeado.As primeiras instalações da empresa e uma das oficinas iniciais. São Cristóvão foi o berço deste grupo económico e o local onde este está sedeado.

João Lourenço refere que João Lourenço refere que João Lourenço refere que João Lourenço refere que João Lourenço refere que “sempretrabalhámos para ser uma empresa dequalidade e forte”

Margarida Alexandre diz que Margarida Alexandre diz que Margarida Alexandre diz que Margarida Alexandre diz que Margarida Alexandre diz que “não é fácilestar 23 anos no mesmo emprego, mas porvezes também não é difícil”

Page 36: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

17 | Setembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais24

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Quando Manuel Marques do Coutonasceu, a 15 de Maio de 1935, já os sapa-tos eram o labor da família. Contar ahistória da empresa obriga, por issomesmo, a saltar até aos primeiros anosdo século XX.

O seu pai, Júlio do Couto (1903-1990),tinha herdado a profissão escolhida peloseu avô, António, que em 1903 deixou aagricultura para começar a fazer sapa-tos à mão, na freguesia vizinha de SantaCatarina. Nos finais dos anos 30, Júliodo Couto sai de Santa Catarina para ir paraa Ribafria, na Benedita, para trabalharcom um primo, Adelino Rafael Serralhei-ro, que tinha montado a primeira peque-na empresa das muitas que haviam devir a ser criadas naquela localidade.

Alguns anos depois, Júlio do Coutomontou a sua própria oficina, onde alémde vários sapateiros, trabalhava o seufilho Manuel. Quando Manuel regressada tropa, em finais dos anos 50, eramtema de conversa as vantagens de criarpequenas fábricas, com alguns automa-tismos, que fizessem crescer as ofici-nas manuais existentes. Jovem, dinâmi-co e empreendedor, Manuel queria queo pai arriscasse numa fábrica, mas Jú-lio do Couto não quis. “Estava bem,“Estava bem,“Estava bem,“Estava bem,“Estava bem,não queria confusões”não queria confusões”não queria confusões”não queria confusões”não queria confusões”, conta hoje oneto Luís.

Mesmo assim, Manuel não desistiue acabou por sair de negócio do pai parair trabalhar para outra oficina, a do Toi-no Funcheira, no lugar de Fonte Quente,onde foi encarregado. É nesta altura quese casa com Maria Celeste, uma jovemdo lugar de Taveiro (Benedita), e poucotempo depois junta-se a um outro sapa-teiro, o Joaquim Adelino, e cria o seupróprio negócio de calçado. O primeirofilho, Luís, nasce em 1960. Um ano de-pois, nasce o segundo filho, António. Afamília ficou completa com as meninas,Clara e Maria da Luz.

VONTADE DE CRESCER

A vontade de querer mais de que ‘pa-decia’ Manuel Couto, era um ‘mal’ de quesofriam muitos sapateiros da Benedita,que se uniram para criar aquela que

Trofal – a qualidade como trunfo da sobrevivência do

Os fundadores da Trofal, Manuel Marques do Couto e Maria Celeste. Ele faleceu em Os fundadores da Trofal, Manuel Marques do Couto e Maria Celeste. Ele faleceu em Os fundadores da Trofal, Manuel Marques do Couto e Maria Celeste. Ele faleceu em Os fundadores da Trofal, Manuel Marques do Couto e Maria Celeste. Ele faleceu em Os fundadores da Trofal, Manuel Marques do Couto e Maria Celeste. Ele faleceu em1983, deixando o filho mais velho à frente do negócio. Ela continua a fazer parte da1983, deixando o filho mais velho à frente do negócio. Ela continua a fazer parte da1983, deixando o filho mais velho à frente do negócio. Ela continua a fazer parte da1983, deixando o filho mais velho à frente do negócio. Ela continua a fazer parte da1983, deixando o filho mais velho à frente do negócio. Ela continua a fazer parte daadministração, mas não de forma executivaadministração, mas não de forma executivaadministração, mas não de forma executivaadministração, mas não de forma executivaadministração, mas não de forma executiva

Na década de 80 a Benedita era uma freguesia onde a mão-de-obra disponível não chegava para a

azáfama das mais de 50 fábricas de calçado e marroquinaria que ali existiam. Hoje, restam pouco mais

de uma dezena das empresas que na altura dela faziam uma das freguesias mais industrializadas do

país.

A Trofal – Fábrica de Calçado SA é uma das poucas que restam. Uma empresa que cedo percebeu que

não podia dedicar-se a um único produto e que tinha que ir de encontro às necessidades do mercado.

Fundada em 1978 por Manuel Marques do Couto e pela sua mulher, Maria Celeste, a empresa está hoje

a cargo de Luís Fialho do Couto e de Maria da Luz Caetano, dois dos quatro filhos do casal. Uma dupla

que tem sabido apostar na qualidade e nos artigos ecológicos como garante da continuidade da

fábrica onde se fizeram gente grande.

haveria de ser a segunda maior fábricade calçado do país, logo a seguir à Fábri-ca de Calçado Campeão Português, emGuimarães. Nos primeiros anos da dé-cada de 70 é criada a Fapocal, uma soci-edade anónima que junta seis oficinas,entre as quais a de Manuel do Couto, evários accionistas individuais. Bem nocentro da vila da Benedita, no local ondehoje estão o mercado e a Casa da Vila,começa a laborar uma fábrica cuja di-mensão é bem explanada pelo númerode trabalhadores, que chegou aos 400.

“O meu pai era um dos admi-“O meu pai era um dos admi-“O meu pai era um dos admi-“O meu pai era um dos admi-“O meu pai era um dos admi-nistradores e o responsável pornistradores e o responsável pornistradores e o responsável pornistradores e o responsável pornistradores e o responsável portoda a área de produção. Na altu-toda a área de produção. Na altu-toda a área de produção. Na altu-toda a área de produção. Na altu-toda a área de produção. Na altu-

ra ele até fez um empréstimo àra ele até fez um empréstimo àra ele até fez um empréstimo àra ele até fez um empréstimo àra ele até fez um empréstimo àbanca para investir mais e parabanca para investir mais e parabanca para investir mais e parabanca para investir mais e parabanca para investir mais e paraaumentar a percentagem dele,aumentar a percentagem dele,aumentar a percentagem dele,aumentar a percentagem dele,aumentar a percentagem dele,porque era uma empresa em queporque era uma empresa em queporque era uma empresa em queporque era uma empresa em queporque era uma empresa em queele apostava bastante”ele apostava bastante”ele apostava bastante”ele apostava bastante”ele apostava bastante”, conta LuísCouto, que começou a trabalhar nestaempresa com apenas 13 anos, quandoacabou o ciclo.

“Comecei no corte, a cortar os“Comecei no corte, a cortar os“Comecei no corte, a cortar os“Comecei no corte, a cortar os“Comecei no corte, a cortar osrestos dos desperdícios, passeirestos dos desperdícios, passeirestos dos desperdícios, passeirestos dos desperdícios, passeirestos dos desperdícios, passeipor todas as áreas. Aquilo erapor todas as áreas. Aquilo erapor todas as áreas. Aquilo erapor todas as áreas. Aquilo erapor todas as áreas. Aquilo erauma empresa grande, nem se-uma empresa grande, nem se-uma empresa grande, nem se-uma empresa grande, nem se-uma empresa grande, nem se-quer tinha contacto com o meuquer tinha contacto com o meuquer tinha contacto com o meuquer tinha contacto com o meuquer tinha contacto com o meupai lá dentro. O meu pai estavapai lá dentro. O meu pai estavapai lá dentro. O meu pai estavapai lá dentro. O meu pai estavapai lá dentro. O meu pai estavanum topo e eu no outro. No meionum topo e eu no outro. No meionum topo e eu no outro. No meionum topo e eu no outro. No meionum topo e eu no outro. No meioestavam os encarregados e to-estavam os encarregados e to-estavam os encarregados e to-estavam os encarregados e to-estavam os encarregados e to-dos os outros. Foi uma grandedos os outros. Foi uma grandedos os outros. Foi uma grandedos os outros. Foi uma grandedos os outros. Foi uma grandeescola para mim, essa empresa”escola para mim, essa empresa”escola para mim, essa empresa”escola para mim, essa empresa”escola para mim, essa empresa”,lembra. De dia trabalhava, à noite tiravao Curso Comercial no Externato Coope-

rativo da BeneditaMas a Fapocal foi apanhada no clima

da revolução, e o Verão Quente de 1975trouxe consigo tempos conturbados queacabariam por ditar o fim da empresa.Embora miúdo, Luís Couto lembra-sebem desses tempos. ”Houve um gru-”Houve um gru-”Houve um gru-”Houve um gru-”Houve um gru-po apoiado pelo Partido Comu-po apoiado pelo Partido Comu-po apoiado pelo Partido Comu-po apoiado pelo Partido Comu-po apoiado pelo Partido Comu-nista que quis tomar o controlonista que quis tomar o controlonista que quis tomar o controlonista que quis tomar o controlonista que quis tomar o controloda Fapocal e começou a despe-da Fapocal e começou a despe-da Fapocal e começou a despe-da Fapocal e começou a despe-da Fapocal e começou a despe-dir os administradores”dir os administradores”dir os administradores”dir os administradores”dir os administradores”, conta,acrescentando que o pai “dizia mui-“dizia mui-“dizia mui-“dizia mui-“dizia mui-tas vezes que tinha sido saneadotas vezes que tinha sido saneadotas vezes que tinha sido saneadotas vezes que tinha sido saneadotas vezes que tinha sido saneadopelos comunistas”pelos comunistas”pelos comunistas”pelos comunistas”pelos comunistas”. Os trabalhado-res também se deixaram contagiar peloespírito da época. “Paravam tudo a“Paravam tudo a“Paravam tudo a“Paravam tudo a“Paravam tudo a

meio da tarde, agarravam nosmeio da tarde, agarravam nosmeio da tarde, agarravam nosmeio da tarde, agarravam nosmeio da tarde, agarravam noscarros da empresa e iam para oscarros da empresa e iam para oscarros da empresa e iam para oscarros da empresa e iam para oscarros da empresa e iam para oscomícios para Alcobaça. Eu eracomícios para Alcobaça. Eu eracomícios para Alcobaça. Eu eracomícios para Alcobaça. Eu eracomícios para Alcobaça. Eu eramiúdo, achava piada e ia tam-miúdo, achava piada e ia tam-miúdo, achava piada e ia tam-miúdo, achava piada e ia tam-miúdo, achava piada e ia tam-bém, em vez de estar agarradobém, em vez de estar agarradobém, em vez de estar agarradobém, em vez de estar agarradobém, em vez de estar agarradoao balancé a trabalhar”ao balancé a trabalhar”ao balancé a trabalhar”ao balancé a trabalhar”ao balancé a trabalhar”. E aquelaque “era uma empresa com todas“era uma empresa com todas“era uma empresa com todas“era uma empresa com todas“era uma empresa com todasas condições”as condições”as condições”as condições”as condições”, acabou por não resis-tir a toda a instabilidade que se criou.

“O meu pai saiu, mas tudo o“O meu pai saiu, mas tudo o“O meu pai saiu, mas tudo o“O meu pai saiu, mas tudo o“O meu pai saiu, mas tudo oque tinha estava investido lá, eque tinha estava investido lá, eque tinha estava investido lá, eque tinha estava investido lá, eque tinha estava investido lá, etinha até pedido um empréstimotinha até pedido um empréstimotinha até pedido um empréstimotinha até pedido um empréstimotinha até pedido um empréstimopara poder investir mais. Estavapara poder investir mais. Estavapara poder investir mais. Estavapara poder investir mais. Estavapara poder investir mais. Estavanuma situação complicada e nãonuma situação complicada e nãonuma situação complicada e nãonuma situação complicada e nãonuma situação complicada e nãose vislumbrava saída para aque-se vislumbrava saída para aque-se vislumbrava saída para aque-se vislumbrava saída para aque-se vislumbrava saída para aque-la situação, até porque houve al-la situação, até porque houve al-la situação, até porque houve al-la situação, até porque houve al-la situação, até porque houve al-gumas pessoas que se aprovei-gumas pessoas que se aprovei-gumas pessoas que se aprovei-gumas pessoas que se aprovei-gumas pessoas que se aprovei-taram desta confusão”taram desta confusão”taram desta confusão”taram desta confusão”taram desta confusão”, recorda oempresário.

Saído da Fapocal o pai volta a meter-

se em novo negócio, desta feita a fazercalçado na Rosarte, uma marroquina-ria na Ribafria, pertencente a MartinhoGerardo. “Mas este senhor não ti-“Mas este senhor não ti-“Mas este senhor não ti-“Mas este senhor não ti-“Mas este senhor não ti-nha filhos e não tinha ambiçãonha filhos e não tinha ambiçãonha filhos e não tinha ambiçãonha filhos e não tinha ambiçãonha filhos e não tinha ambiçãode evoluir muito mais que aqui-de evoluir muito mais que aqui-de evoluir muito mais que aqui-de evoluir muito mais que aqui-de evoluir muito mais que aqui-lo”lo”lo”lo”lo”, enquanto Manuel Couto queria maispara a sua família. Já a ambição de Luís,na altura com 18 anos, era tirar um cur-so superior. “Então o meu pai pôs-“Então o meu pai pôs-“Então o meu pai pôs-“Então o meu pai pôs-“Então o meu pai pôs-me entre a espada e a parede eme entre a espada e a parede eme entre a espada e a parede eme entre a espada e a parede eme entre a espada e a parede edisse-me: se quiseres avançar,disse-me: se quiseres avançar,disse-me: se quiseres avançar,disse-me: se quiseres avançar,disse-me: se quiseres avançar,fazemos uma fábrica para a fa-fazemos uma fábrica para a fa-fazemos uma fábrica para a fa-fazemos uma fábrica para a fa-fazemos uma fábrica para a fa-mília. Se quiseres continuar a es-mília. Se quiseres continuar a es-mília. Se quiseres continuar a es-mília. Se quiseres continuar a es-mília. Se quiseres continuar a es-tudar vou criar porcos – que natudar vou criar porcos – que natudar vou criar porcos – que natudar vou criar porcos – que natudar vou criar porcos – que naaltura era o que dava dinheiro – ealtura era o que dava dinheiro – ealtura era o que dava dinheiro – ealtura era o que dava dinheiro – ealtura era o que dava dinheiro – e

hei-de dar-te condições e aoshei-de dar-te condições e aoshei-de dar-te condições e aoshei-de dar-te condições e aoshei-de dar-te condições e aosteus irmãos para continuarem ateus irmãos para continuarem ateus irmãos para continuarem ateus irmãos para continuarem ateus irmãos para continuarem aestudar”estudar”estudar”estudar”estudar”.

Sendo o mais velho de quatro irmãos,e habituado a ganhar o seu “ordena-“ordena-“ordena-“ordena-“ordena-dozinho”dozinho”dozinho”dozinho”dozinho” desde os 13 anos, Luís nãoquis ser um peso e respondeu ao pai:“vamos para a frente”“vamos para a frente”“vamos para a frente”“vamos para a frente”“vamos para a frente”.

A ERA DO BOTIM DE PRATELEIRA

A 28 de Dezembro de 1978 é criada aTrofal, em nome de Manuel do Couto eMaria Celeste. A empresa começou a la-borar no dia 2 de Janeiro de 1979, ainda naRosarte. As instalações no Algarão, ondeainda hoje se mantém a fábrica, estavama ser construídas, de acordo com o quefoi planeado por Luís Couto.

A passagem para as novas instala-

ções, que mais não eram que um pavi-lhão, foi feita na Sexta-Feira Santa de1979. Maria da Luz, que na altura tinha10 anos, lembra-se bem desses dias, atéporque foram mais umas férias escola-res interrompidas pelo trabalho no ne-gócio dos pais. “Recordo-me da inau-“Recordo-me da inau-“Recordo-me da inau-“Recordo-me da inau-“Recordo-me da inau-guração da fábrica, de andarmosguração da fábrica, de andarmosguração da fábrica, de andarmosguração da fábrica, de andarmosguração da fábrica, de andarmosaqui a fazer a limpeza antes. Cres-aqui a fazer a limpeza antes. Cres-aqui a fazer a limpeza antes. Cres-aqui a fazer a limpeza antes. Cres-aqui a fazer a limpeza antes. Cres-cemos no meio de sapatos, nun-cemos no meio de sapatos, nun-cemos no meio de sapatos, nun-cemos no meio de sapatos, nun-cemos no meio de sapatos, nun-ca tínhamos férias pois quaisquerca tínhamos férias pois quaisquerca tínhamos férias pois quaisquerca tínhamos férias pois quaisquerca tínhamos férias pois quaisquerque elas fossem, assim que a es-que elas fossem, assim que a es-que elas fossem, assim que a es-que elas fossem, assim que a es-que elas fossem, assim que a es-cola acabava, vínhamos para aquicola acabava, vínhamos para aquicola acabava, vínhamos para aquicola acabava, vínhamos para aquicola acabava, vínhamos para aquiajudar. Só quando a fábrica fe-ajudar. Só quando a fábrica fe-ajudar. Só quando a fábrica fe-ajudar. Só quando a fábrica fe-ajudar. Só quando a fábrica fe-chava para férias é que estáva-chava para férias é que estáva-chava para férias é que estáva-chava para férias é que estáva-chava para férias é que estáva-mos mais livres, e mesmo assimmos mais livres, e mesmo assimmos mais livres, e mesmo assimmos mais livres, e mesmo assimmos mais livres, e mesmo assim

havia sempre qualquer coisa parahavia sempre qualquer coisa parahavia sempre qualquer coisa parahavia sempre qualquer coisa parahavia sempre qualquer coisa parafazer, todas as mãos eram preci-fazer, todas as mãos eram preci-fazer, todas as mãos eram preci-fazer, todas as mãos eram preci-fazer, todas as mãos eram preci-sas”,sas”,sas”,sas”,sas”, recorda.

E embora pequena, Maria da Luz aju-dava nas mesas da costura, a cortar aslinhas, entre outras pequenas tarefas.“Lembro-me de uma altura que à“Lembro-me de uma altura que à“Lembro-me de uma altura que à“Lembro-me de uma altura que à“Lembro-me de uma altura que àsexta-feira eu e a Clara vínha-sexta-feira eu e a Clara vínha-sexta-feira eu e a Clara vínha-sexta-feira eu e a Clara vínha-sexta-feira eu e a Clara vínha-mos varrer a fábrica. Primeiromos varrer a fábrica. Primeiromos varrer a fábrica. Primeiromos varrer a fábrica. Primeiromos varrer a fábrica. Primeirobrincávamos e depois, quandobrincávamos e depois, quandobrincávamos e depois, quandobrincávamos e depois, quandobrincávamos e depois, quandonos cansávamos, lá íamos var-nos cansávamos, lá íamos var-nos cansávamos, lá íamos var-nos cansávamos, lá íamos var-nos cansávamos, lá íamos var-rer”rer”rer”rer”rer”, conta entre risos.

Nos primeiros anos, apenas um pro-duto saía da Trofal – os botins de prate-leira, que levavam muita gente da re-gião à Benedita. De Verão, a produção iapara os armazéns de revenda. “De In-“De In-“De In-“De In-“De In-verno vendíamos para algumasverno vendíamos para algumasverno vendíamos para algumasverno vendíamos para algumasverno vendíamos para algumassapatarias e não dávamos vazãosapatarias e não dávamos vazãosapatarias e não dávamos vazãosapatarias e não dávamos vazãosapatarias e não dávamos vazãoporque toda a gente queria”porque toda a gente queria”porque toda a gente queria”porque toda a gente queria”porque toda a gente queria”, con-

Maria da Luz e Luís Couto garantem a continuidade de uma empresa que alia a Maria da Luz e Luís Couto garantem a continuidade de uma empresa que alia a Maria da Luz e Luís Couto garantem a continuidade de uma empresa que alia a Maria da Luz e Luís Couto garantem a continuidade de uma empresa que alia a Maria da Luz e Luís Couto garantem a continuidade de uma empresa que alia apreocupação com a qualidade às preocupações ambientaispreocupação com a qualidade às preocupações ambientaispreocupação com a qualidade às preocupações ambientaispreocupação com a qualidade às preocupações ambientaispreocupação com a qualidade às preocupações ambientais

ta Luís Couto. E se os botins da Trofaleram inicialmente vendidos apenas naregião, pouco depois chegavam aoNor-te, através de um agente da empresa.“Aí já se podia pôr uma margem“Aí já se podia pôr uma margem“Aí já se podia pôr uma margem“Aí já se podia pôr uma margem“Aí já se podia pôr uma margemcomercial um bocadinho maiorcomercial um bocadinho maiorcomercial um bocadinho maiorcomercial um bocadinho maiorcomercial um bocadinho maiorporque não havia concorrência”porque não havia concorrência”porque não havia concorrência”porque não havia concorrência”porque não havia concorrência”.

Em 1981, na altura em que a empresacomeçou a crescer, Manuel Couto ado-eceu e Maria Celeste, que era costurei-ra na Trofal, largou tudo para tratar domarido. Aos 20 anos, Luís ‘desunhava-se’ para prosseguir com o negócio, masgarante que hoje já não aguentava o es-forço que era preciso naquela altura,sobretudo para levar os botins a outrospontos do país.

“Carregava uma Ford Transit“Carregava uma Ford Transit“Carregava uma Ford Transit“Carregava uma Ford Transit“Carregava uma Ford Transitpequena, com os pares de cadapequena, com os pares de cadapequena, com os pares de cadapequena, com os pares de cadapequena, com os pares de cadacliente. A minha mãe alcançava-cliente. A minha mãe alcançava-cliente. A minha mãe alcançava-cliente. A minha mãe alcançava-cliente. A minha mãe alcançava-me os atados, muitas vezes ame os atados, muitas vezes ame os atados, muitas vezes ame os atados, muitas vezes ame os atados, muitas vezes achover, e púnhamos tudo por or-chover, e púnhamos tudo por or-chover, e púnhamos tudo por or-chover, e púnhamos tudo por or-chover, e púnhamos tudo por or-dem. Às vezes chegávamos a fa-dem. Às vezes chegávamos a fa-dem. Às vezes chegávamos a fa-dem. Às vezes chegávamos a fa-dem. Às vezes chegávamos a fa-zer pilhas de dois metros no teja-zer pilhas de dois metros no teja-zer pilhas de dois metros no teja-zer pilhas de dois metros no teja-zer pilhas de dois metros no teja-dilho da carrinha que cobríamosdilho da carrinha que cobríamosdilho da carrinha que cobríamosdilho da carrinha que cobríamosdilho da carrinha que cobríamoscom oleados”com oleados”com oleados”com oleados”com oleados”. Com a carga pronta, ofilho dos donos da empresa saía por voltadas 03h00 e só depois de uma viagem deseis horas chegava ao Norte e começa-va a dar a volta pelos clientes, acompa-nhado pelo agente da fábrica. “Chega-“Chega-“Chega-“Chega-“Chega-va normalmente às 03h00 do diava normalmente às 03h00 do diava normalmente às 03h00 do diava normalmente às 03h00 do diava normalmente às 03h00 do diaseguinte, porque só me despa-seguinte, porque só me despa-seguinte, porque só me despa-seguinte, porque só me despa-seguinte, porque só me despa-chava da volta pelas 19h00. Nochava da volta pelas 19h00. Nochava da volta pelas 19h00. Nochava da volta pelas 19h00. Nochava da volta pelas 19h00. NoInverno fazia isto uma vez porInverno fazia isto uma vez porInverno fazia isto uma vez porInverno fazia isto uma vez porInverno fazia isto uma vez porsemana. Deixava aqui o trabalhosemana. Deixava aqui o trabalhosemana. Deixava aqui o trabalhosemana. Deixava aqui o trabalhosemana. Deixava aqui o trabalhotodo organizado nos dias antes.todo organizado nos dias antes.todo organizado nos dias antes.todo organizado nos dias antes.todo organizado nos dias antes.Porque eu é que cosia, eu é quePorque eu é que cosia, eu é quePorque eu é que cosia, eu é quePorque eu é que cosia, eu é quePorque eu é que cosia, eu é quevergava, eu é que acertava. Dei-vergava, eu é que acertava. Dei-vergava, eu é que acertava. Dei-vergava, eu é que acertava. Dei-vergava, eu é que acertava. Dei-xava tudo preparado para poderxava tudo preparado para poderxava tudo preparado para poderxava tudo preparado para poderxava tudo preparado para poderir nestas viagens de 24 horas.ir nestas viagens de 24 horas.ir nestas viagens de 24 horas.ir nestas viagens de 24 horas.ir nestas viagens de 24 horas.Aguentava tudo”Aguentava tudo”Aguentava tudo”Aguentava tudo”Aguentava tudo”.

Entretanto, começam a surgir nazona de Felgueiras imitações dos bo-tins, mas coladas, o que implicava me-nos trabalho, menos tempo, um custoinferior. A Trofal deixou de conseguirvender o seu produto com tanta facili-dade e teve que encontrar alternativaspara vingar.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Page 37: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

17 | Setembro | 2010

25CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

o calçado artesanal

Na Trofal pode ver-se uma pintura com desenhos de Luís, Manuel e Júlio Couto a Na Trofal pode ver-se uma pintura com desenhos de Luís, Manuel e Júlio Couto a Na Trofal pode ver-se uma pintura com desenhos de Luís, Manuel e Júlio Couto a Na Trofal pode ver-se uma pintura com desenhos de Luís, Manuel e Júlio Couto a Na Trofal pode ver-se uma pintura com desenhos de Luís, Manuel e Júlio Couto atrabalharem na oficina deste último. Uma imagem imaginada, dado que os três nunca setrabalharem na oficina deste último. Uma imagem imaginada, dado que os três nunca setrabalharem na oficina deste último. Uma imagem imaginada, dado que os três nunca setrabalharem na oficina deste último. Uma imagem imaginada, dado que os três nunca setrabalharem na oficina deste último. Uma imagem imaginada, dado que os três nunca seencontraram a trabalhar no mesmo local.encontraram a trabalhar no mesmo local.encontraram a trabalhar no mesmo local.encontraram a trabalhar no mesmo local.encontraram a trabalhar no mesmo local.

A fábrica, construída no lugar de Algarão, está hoje bem diferente do pavilhão onde A fábrica, construída no lugar de Algarão, está hoje bem diferente do pavilhão onde A fábrica, construída no lugar de Algarão, está hoje bem diferente do pavilhão onde A fábrica, construída no lugar de Algarão, está hoje bem diferente do pavilhão onde A fábrica, construída no lugar de Algarão, está hoje bem diferente do pavilhão ondeem 1979 começaram a trabalhar quatro sapateirosem 1979 começaram a trabalhar quatro sapateirosem 1979 começaram a trabalhar quatro sapateirosem 1979 começaram a trabalhar quatro sapateirosem 1979 começaram a trabalhar quatro sapateiros

“Quando o meu pai adoeceu,“Quando o meu pai adoeceu,“Quando o meu pai adoeceu,“Quando o meu pai adoeceu,“Quando o meu pai adoeceu,estávamos a começar a desen-estávamos a começar a desen-estávamos a começar a desen-estávamos a começar a desen-estávamos a começar a desen-volver a empresa, ainda eravolver a empresa, ainda eravolver a empresa, ainda eravolver a empresa, ainda eravolver a empresa, ainda eratudo muito artesanal, apenastudo muito artesanal, apenastudo muito artesanal, apenastudo muito artesanal, apenastudo muito artesanal, apenascom umas maquinetas. Afinalcom umas maquinetas. Afinalcom umas maquinetas. Afinalcom umas maquinetas. Afinalcom umas maquinetas. Afinaltínhamos começado do zero etínhamos começado do zero etínhamos começado do zero etínhamos começado do zero etínhamos começado do zero esem capital”sem capital”sem capital”sem capital”sem capital”, aponta Luís Couto.A precisar de diversificar a sua ofer-ta, a Trofal acabou por aderir aoprojecto SIII – Sistema Integrado deIncentivos ao Investimento, quedava bonificações fiscais e nas ta-xas de juro dos créditos às empre-sas que quisessem investir e criarpostos de trabalho. “Aderimos ao“Aderimos ao“Aderimos ao“Aderimos ao“Aderimos aoprojecto e fizemos um investi-projecto e fizemos um investi-projecto e fizemos um investi-projecto e fizemos um investi-projecto e fizemos um investi-mento para comprar máquinamento para comprar máquinamento para comprar máquinamento para comprar máquinamento para comprar máquinassssse admitir mais trabalhadores,e admitir mais trabalhadores,e admitir mais trabalhadores,e admitir mais trabalhadores,e admitir mais trabalhadores,cerca de dez pessoas. Quería-cerca de dez pessoas. Quería-cerca de dez pessoas. Quería-cerca de dez pessoas. Quería-cerca de dez pessoas. Quería-mos organizar a empresa”mos organizar a empresa”mos organizar a empresa”mos organizar a empresa”mos organizar a empresa”, masa missão foi dificultada pela doen-ça prolongada do pai.

Olhando para trás, Luís e Mariada Luz vêem quão fatídico para asua família foi o ano de 1983. EmJaneiro, faleceu a irmã Clara, nasequência de um acidente de via-ção. Em Novembro é o pai que per-de a luta contra a doença. A juntaràs perdas, problemas com o bancofizeram com que as bonificaçõesdo SIII nunca chegassem. “Nessa“Nessa“Nessa“Nessa“Nessaaltura chegámos a pagar 40%altura chegámos a pagar 40%altura chegámos a pagar 40%altura chegámos a pagar 40%altura chegámos a pagar 40%de juros ao ano, pagos à cabe-de juros ao ano, pagos à cabe-de juros ao ano, pagos à cabe-de juros ao ano, pagos à cabe-de juros ao ano, pagos à cabe-ça, foi muito complicado”ça, foi muito complicado”ça, foi muito complicado”ça, foi muito complicado”ça, foi muito complicado”. Ape-nas com 21 anos, e com os irmãosainda na escola, Luís tinha que ser“pau para toda a obra, com-“pau para toda a obra, com-“pau para toda a obra, com-“pau para toda a obra, com-“pau para toda a obra, com-prava, vendia, entregava, rece-prava, vendia, entregava, rece-prava, vendia, entregava, rece-prava, vendia, entregava, rece-prava, vendia, entregava, rece-bia e geria a parte da fábrica”bia e geria a parte da fábrica”bia e geria a parte da fábrica”bia e geria a parte da fábrica”bia e geria a parte da fábrica”.

O produto escolhido para aumen-tar a oferta da Trofal foi o sapatode luva em chevraux e mustang,peles de cabra para sapatos maci-os. Para iniciar a produção, a Trofalcomprou uma grande quantidadede matéria-prima. Mas a 30 de Ou-tubro, uma semana antes de se co-meçarem a fazer os sapatos novos,a fábrica foi assaltada, e além de

Do botim ao calçado técnico vendido em todo o mundovário calçado acabado, desapare-ceram as peles. Mais um revés numano que Luís e Maria da Luz dizemter sido “mesmo muito compli-“mesmo muito compli-“mesmo muito compli-“mesmo muito compli-“mesmo muito compli-cado”cado”cado”cado”cado”.

CERTIFICAÇÃO NA DÉCADADE 90

Maria da Luz entrou para a em-presa em 1988, quando terminou o12º ano do curso Técnico-Profissio-nal de Contabilidade e Gestão. Aexportação dos produtos da Trofalera ainda muito residual. Para che-gar à internacionalização, a Trofalcomeçou a marcar presença naMOCAP – Mostra de Calçado Portu-guês. Hoje, cerca de 80% da produ-ção da fábrica destina-se a França,Alemanha, Itália, Inglaterra e ou-tros países, sobretudo da Europa.

Para a conquista do mercadoeuropeu concorreu a produção deartigos técnicos. A primeira apostafoi o calçado militar. “Estivemos“Estivemos“Estivemos“Estivemos“Estivemosalguns anos muito dedicadosalguns anos muito dedicadosalguns anos muito dedicadosalguns anos muito dedicadosalguns anos muito dedicadosa esta área, embora nunca ex-a esta área, embora nunca ex-a esta área, embora nunca ex-a esta área, embora nunca ex-a esta área, embora nunca ex-clusivamente, e daí fomos sem-clusivamente, e daí fomos sem-clusivamente, e daí fomos sem-clusivamente, e daí fomos sem-clusivamente, e daí fomos sem-pre evoluindo para artigos téc-pre evoluindo para artigos téc-pre evoluindo para artigos téc-pre evoluindo para artigos téc-pre evoluindo para artigos téc-nicos”nicos”nicos”nicos”nicos”, para as áreas de golfe,motard, equitação e calçado técni-co de bombeiro, “que temos vin-“que temos vin-“que temos vin-“que temos vin-“que temos vin-do a aperfeiçoar cada vez maisdo a aperfeiçoar cada vez maisdo a aperfeiçoar cada vez maisdo a aperfeiçoar cada vez maisdo a aperfeiçoar cada vez maise que continuamos a fazer mui-e que continuamos a fazer mui-e que continuamos a fazer mui-e que continuamos a fazer mui-e que continuamos a fazer mui-to, embora noutro calçado téc-to, embora noutro calçado téc-to, embora noutro calçado téc-to, embora noutro calçado téc-to, embora noutro calçado téc-nico já se tenha apostado mais,nico já se tenha apostado mais,nico já se tenha apostado mais,nico já se tenha apostado mais,nico já se tenha apostado mais,que isto agora com a concor-que isto agora com a concor-que isto agora com a concor-que isto agora com a concor-que isto agora com a concor-rência da Ásia é muito compli-rência da Ásia é muito compli-rência da Ásia é muito compli-rência da Ásia é muito compli-rência da Ásia é muito compli-cado”cado”cado”cado”cado”, explica Luís Couto.

Ao mesmo tempo que aposta-vam no calçado técnico, os admi-nistradores da Trofal perceberamque tinham que aperfeiçoar a com-ponente de qualidade e começa-ram a dar os passos necessários àcertificação da empresa. “Fomos“Fomos“Fomos“Fomos“Fomosa primeira empresa certificadaa primeira empresa certificadaa primeira empresa certificadaa primeira empresa certificadaa primeira empresa certificadado sector do calçado em 1995”do sector do calçado em 1995”do sector do calçado em 1995”do sector do calçado em 1995”do sector do calçado em 1995”,dizem orgulhosos. Mas para con-

seguirem a certificação, foram ne-cessários “cinco anos, muito pa-“cinco anos, muito pa-“cinco anos, muito pa-“cinco anos, muito pa-“cinco anos, muito pa-pel, muitos documentos, e mui-pel, muitos documentos, e mui-pel, muitos documentos, e mui-pel, muitos documentos, e mui-pel, muitos documentos, e mui-to, muito, dinheiro, para umato, muito, dinheiro, para umato, muito, dinheiro, para umato, muito, dinheiro, para umato, muito, dinheiro, para umacoisa que hoje se faz em pou-coisa que hoje se faz em pou-coisa que hoje se faz em pou-coisa que hoje se faz em pou-coisa que hoje se faz em pou-cos meses”cos meses”cos meses”cos meses”cos meses”.

A década de 90 foi de grandecrescimento na empresa. De talmaneira, que vinham trabalhado-res de fora para assegurar a produ-ção quando havia mais encomen-das. O recurso ao outsourcing é, deresto, uma política que se mantémna empresa, “uma maneira de“uma maneira de“uma maneira de“uma maneira de“uma maneira deconseguirmos controlar osconseguirmos controlar osconseguirmos controlar osconseguirmos controlar osconseguirmos controlar oscustos fixos, que também aju-custos fixos, que também aju-custos fixos, que também aju-custos fixos, que também aju-custos fixos, que também aju-da as empresas às quais recor-da as empresas às quais recor-da as empresas às quais recor-da as empresas às quais recor-da as empresas às quais recor-remos”remos”remos”remos”remos”. Por isso, a Trofal tem 30trabalhadores nos seus quadros, umnúmero que nunca foi ultrapassa-do, apesar da fábrica estar equipa-da para receber mais de uma cen-tena de operários.

A AMEAÇA DA ÁSIA E OPERIGO DOS QUÍMICOS

A Trofal mantém a certificação,e no ano passado foi distinguidacomo PME Líder. Na era da globali-zação, a aposta na qualidade é ago-ra o grande trunfo da empresa.

“Para indústrias como a“Para indústrias como a“Para indústrias como a“Para indústrias como a“Para indústrias como anossa, de mão-de-obra inten-nossa, de mão-de-obra inten-nossa, de mão-de-obra inten-nossa, de mão-de-obra inten-nossa, de mão-de-obra inten-siva, é muito difícil combatersiva, é muito difícil combatersiva, é muito difícil combatersiva, é muito difícil combatersiva, é muito difícil combatersalários escravos como os quesalários escravos como os quesalários escravos como os quesalários escravos como os quesalários escravos como os quese praticam na Ásia. Como todase praticam na Ásia. Como todase praticam na Ásia. Como todase praticam na Ásia. Como todase praticam na Ásia. Como todaa indústria da região, tambéma indústria da região, tambéma indústria da região, tambéma indústria da região, tambéma indústria da região, tambémnós sentimos essa pressão”nós sentimos essa pressão”nós sentimos essa pressão”nós sentimos essa pressão”nós sentimos essa pressão”, dizLuís Couto. Os empresários estãoconvencidos de que a China estáempenhada em ficar com o mono-pólio da produção do calçado. Pro-va disso, apontam, é o facto doschineses terem comprado no iníciodo ano “todo o couro que havia“todo o couro que havia“todo o couro que havia“todo o couro que havia“todo o couro que haviadisponível no mercado”disponível no mercado”disponível no mercado”disponível no mercado”disponível no mercado”.

Como se combate esta amea-ça? Apostando na qualidade, emsistemas de produção artesanais,

como o Goodyear, e em materiaisecológicos e naturais. Uma preocu-pação cada vez mais importante,numa altura em que se começam afazer ouvir alertas sobre os impac-tos que os couros tingidos com quí-micos têm na saúde. Actualmente,o químico usado é o Crómio 6, que“encurta muito o processo, mas“encurta muito o processo, mas“encurta muito o processo, mas“encurta muito o processo, mas“encurta muito o processo, mastem um senão - é altamentetem um senão - é altamentetem um senão - é altamentetem um senão - é altamentetem um senão - é altamentecancerígeno”cancerígeno”cancerígeno”cancerígeno”cancerígeno”, e começam já aaparecer problemas graves de saú-de por causa deste método de tin-gimento. É que não há nada maisnatural que o suor dos pés e pernasquando se usa calçado fechado, e éo suor que faz com que os químicosentrem na corrente sanguínea.

Quando as primeiras preocu-pações com o uso de químicoscomeçaram a surgir, a Trofal es-tava a tratar da sua certificaçãoe começou desde logo a exigirdos seus fornecedores courosisentos de químicos, pelo queteve que começar a importarmuita da matéria, sobretudo daItália. Um cuidado que, lançamo alerta, não está na ordem dodia para muitas marcas de cal-çado, que continuam a procurarartigos mais baratos na Ásia.

O FUTURO ESTÁ NOSPRODUTOS ECOLÓGICOS

“Estamos a tentar ser o“Estamos a tentar ser o“Estamos a tentar ser o“Estamos a tentar ser o“Estamos a tentar ser omais ecológicos possível emais ecológicos possível emais ecológicos possível emais ecológicos possível emais ecológicos possível eesse é o nesse é o nesse é o nesse é o nesse é o nosso trunfo”osso trunfo”osso trunfo”osso trunfo”osso trunfo”, diz LuísCouto. E é por aí que os dois ir-mãos acreditam que se faz o fu-turo da empresa.

É neste contexto que se enqua-dra a mais recente aposta da Tro-fal, o calçado Vegan, que respei-ta a filosofia de vida do veganis-mo – que rejeita qualquer produ-to de origem animal, alimentarou de outra natureza, produtosque tenham sido testados em

animais ou que nos seus ingre-dientes ou processos de manu-factura incluam qualquer formapossível de exploração animal.

Trata-se de um nicho de mer-cado para o qual a Trofal se co-meça agora a virar, com uma per-centagem de produção aindamuito reduzida e para a qual re-correm a microfibras de altaqualidade, principalmente itali-anas, feitas de cânhamo, aloévera, outras fibras vegetais, “que“que“que“que“queaté podem ser melhores doaté podem ser melhores doaté podem ser melhores doaté podem ser melhores doaté podem ser melhores doque as peles curtidas”que as peles curtidas”que as peles curtidas”que as peles curtidas”que as peles curtidas”. Parajá, a fábrica conta com um clien-te em Inglaterra e outro em Es-panha para a linha Vegan. Embreve espera lançar a sua pró-pria marca para vender online.

Ainda na área da ecologia, aTrofal adopta “comportamen- “comportamen- “comportamen- “comportamen- “comportamen-tos muito amigos do ambi-tos muito amigos do ambi-tos muito amigos do ambi-tos muito amigos do ambi-tos muito amigos do ambi-ente, investimos muito na re-ente, investimos muito na re-ente, investimos muito na re-ente, investimos muito na re-ente, investimos muito na re-ciclagem dos materiais. Istociclagem dos materiais. Istociclagem dos materiais. Istociclagem dos materiais. Istociclagem dos materiais. Istocria-nos só custos, aindacria-nos só custos, aindacria-nos só custos, aindacria-nos só custos, aindacria-nos só custos, aindanão nos trouxe nenhum pro-não nos trouxe nenhum pro-não nos trouxe nenhum pro-não nos trouxe nenhum pro-não nos trouxe nenhum pro-veito, mas pelo menos senti-veito, mas pelo menos senti-veito, mas pelo menos senti-veito, mas pelo menos senti-veito, mas pelo menos senti-mos que estamos a fazermos que estamos a fazermos que estamos a fazermos que estamos a fazermos que estamos a fazeralgo que deve ser feito”algo que deve ser feito”algo que deve ser feito”algo que deve ser feito”algo que deve ser feito”.

Além das inovações, a empre-sa - que factura anualmente cer-ca de um milhão de euros - man-tém a representação da marca Dod-ge em Portugal e Espanha e detémos direitos de francesa Elite em Por-tugal, uma marca de calçado de mon-tanhismo que até já tem um clube defãs no nosso país.

Cientes de que as questões eco-nómicas limitam muitas vezes a es-colha do calçado por parte das pes-soas, Luís Couto e Maria da Luz ga-rantem que um bom calçado é umautêntico investimento, e que ossapatos e botas que ali se produ-zem duram “uma vida inteira”“uma vida inteira”“uma vida inteira”“uma vida inteira”“uma vida inteira”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

19031903190319031903 – António Couto co-meça a fazer sapatos à mão,em Santa Catarina

Década de 30 Década de 30 Década de 30 Década de 30 Década de 30 – Júlio doCouto (1903-1990), filho de An-tónio, vai para a Ribafria tra-balhar no calçado

Década de 70 Década de 70 Década de 70 Década de 70 Década de 70 – ManuelMarques do Couto, filho deJúlio do Couto, é um dos acci-onistas da Fapocal, fábrica queresulta da fusão de várias ofi-cinas

19731973197319731973 – Luís Couto, filho deManuel do Couto (1935-1983),começa a trabalhar na Fapo-cal

19751975197519751975 – Manuel Marques doCouto sai da Fapocal e regres-sa à Ribafria, onde começa atrabalhar por conta própria nasinstalações da Rosarte

19781978197819781978 – É criada a Trofal –Fábrica de Calçado Lda., ten-do como sócios Manuel Mar-ques do Couto e Maria Celes-te. Em 2000 a Trofal passa asociedade anónima com umcapital social de 100 mil euros

19791979197919791979 – A Trofal inaugura afábrica no Algarão, onde a em-presa se mantém ainda hoje

19831983198319831983 – Morre o fundadorda empresa, Manuel Couto

19881988198819881988 – A filha, Maria daLuz, entra para a empresa. ATrofal começa a exportar.

Década de 90 Década de 90 Década de 90 Década de 90 Década de 90 – Fase degrande crescimento na empre-sa, que se vê frequentementeobrigada a subcontratar mão-de-obra para responder às en-comendas. Aposta no calçadotécnico e militar

19951995199519951995 – A Trofal torna-se aprimeira empresa do sector docalçado certificada

20102010201020102010 – A empresa preparao lançamento da sua própriamarca Vegan, para vender naloja online

Cronologia

Page 38: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

24 | Setembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Discoteca Green Hill – mãe e filho gerem uma casa q

O SONHO DE LUÍS ROMÃO

Filomena Félix nasceu em 1955na Foz do Arelho, onde continua aviver. Os seus pais (que já falece-ram) eram os proprietários do res-taurante Lagoa Bar, em frente ao Ina-tel, do qual fazia parte um posto decombustível.

“Toda a gente conhecia aToda a gente conhecia aToda a gente conhecia aToda a gente conhecia aToda a gente conhecia acasa do Zé Félix. De Julho a Se-casa do Zé Félix. De Julho a Se-casa do Zé Félix. De Julho a Se-casa do Zé Félix. De Julho a Se-casa do Zé Félix. De Julho a Se-tembro passavam diariamentetembro passavam diariamentetembro passavam diariamentetembro passavam diariamentetembro passavam diariamentemilhares de pessoas pelo res-milhares de pessoas pelo res-milhares de pessoas pelo res-milhares de pessoas pelo res-milhares de pessoas pelo res-taurantetaurantetaurantetaurantetaurante”, lembrou. Filomena Félixcomeçou a trabalhar no restaurantedos seus pais desde pequena, apesarde ter estudado até ao ensino superi-or. “Estive no ISLA e só não aca-Estive no ISLA e só não aca-Estive no ISLA e só não aca-Estive no ISLA e só não aca-Estive no ISLA e só não aca-bei o curso por um anobei o curso por um anobei o curso por um anobei o curso por um anobei o curso por um ano”, contou.

Filomena chegou a pensar sair dePortugal para trabalhar na área doseu curso (Secretariado), mas quan-do se casou com Luís Romão, em1975, abandonou os estudos e deci-diu ficar.

Luís Romão é natural de Rio Mai-or, onde nasceu em 1954. O casalresidia na Foz do Arelho e Luís in-sistia em concretizar o sonho deabrir uma discoteca. Chegaram apensar avançar com o projecto nagaragem da casa dos pais de Filo-mena Félix, mas como esta fica-va mesmo no centro da Foz, mu-daram de ideias.

O edifício onde agora funcionaa Green Hill era à época um peque-no armazém, que era utilizadopelo pai de Filomena para criaçãode galinhas e de porcos. A parteda frente tinha os frangos e naparte de trás funcionava a pecuá-ria.

Foi o próprio Luis Romão, comum pedreiro, quem fez as obras.Enquanto isso, Filomena Félixdedicava-se à parte burocrática.“Já naquela altura era muitoJá naquela altura era muitoJá naquela altura era muitoJá naquela altura era muitoJá naquela altura era muitocomplicado tratar dos papéiscomplicado tratar dos papéiscomplicado tratar dos papéiscomplicado tratar dos papéiscomplicado tratar dos papéise quem me ajudou muito foie quem me ajudou muito foie quem me ajudou muito foie quem me ajudou muito foie quem me ajudou muito foio João Santos, que agora é oo João Santos, que agora é oo João Santos, que agora é oo João Santos, que agora é oo João Santos, que agora é osecretário do presidente dasecretário do presidente dasecretário do presidente dasecretário do presidente dasecretário do presidente daCâmaraCâmaraCâmaraCâmaraCâmara”.

O investimento inicial na altura

foi de cerca de dois mil contos (10mil euros). “O meu irmão estavaO meu irmão estavaO meu irmão estavaO meu irmão estavaO meu irmão estavanos Estados Unidos e trouxe anos Estados Unidos e trouxe anos Estados Unidos e trouxe anos Estados Unidos e trouxe anos Estados Unidos e trouxe aaparelhagem de som de láaparelhagem de som de láaparelhagem de som de láaparelhagem de som de láaparelhagem de som de lá”, adi-antou Filomena Félix.

A empresária diz que deu voltas àcabeça antes de encontrar o nomecerto para a discoteca. “Como aqui-“Como aqui-“Como aqui-“Como aqui-“Como aqui-lo era uma zona verde e eu soulo era uma zona verde e eu soulo era uma zona verde e eu soulo era uma zona verde e eu soulo era uma zona verde e eu sousportinguista e como, ainda porsportinguista e como, ainda porsportinguista e como, ainda porsportinguista e como, ainda porsportinguista e como, ainda porcima, ficava numa colina, fuicima, ficava numa colina, fuicima, ficava numa colina, fuicima, ficava numa colina, fuicima, ficava numa colina, fuiao dicionário e achei piada aoao dicionário e achei piada aoao dicionário e achei piada aoao dicionário e achei piada aoao dicionário e achei piada aonome – Green Hill”nome – Green Hill”nome – Green Hill”nome – Green Hill”nome – Green Hill”.

Naquela altura a discoteca ficava“no meio das fazendas”, conta Mena.Ainda não havia a rotunda (hoje co-nhecida por rotunda do Green Hill)

nem o acesso à praia pelo lado do mare até a estrada Atlântica não estavatoda alcatroada.

O estabelecimento abre com adesignação oficial de “bar dan-cing” e foram muitas as dificul-dades para licenciar a casa. Trin-ta anos depois, Filomena continuaa queixar-se de ter que enfrentarmuita burocracia de cada vez quequer fazer alterações no edifício.

A empresária não percebe porque há tantas casas do género queabrem de qualquer maneira e paraa sua discoteca seja necessárioapresentar tantos projectos decada vez que precisa de fazerobras.

UMA INAUGURAÇÃOESTRONDOSA

Quando a Green Hill abriu portas,a 30 de Maio de 1980, tinha uma pe-quena pista de dança, uma cabine desom e um bar. De todo o edifício, obalcão do vestiário é o único elemen-to que se mantém desde a inaugura-ção.

Antes da abertura ao público, nanoite anterior, fizeram uma pré-inau-guração com alguns amigos, mas noprimeiro sábado tiveram logo casacheia. “Parecia haver uma ne-Parecia haver uma ne-Parecia haver uma ne-Parecia haver uma ne-Parecia haver uma ne-cessidade enorme de um espa-cessidade enorme de um espa-cessidade enorme de um espa-cessidade enorme de um espa-cessidade enorme de um espa-ço destes. Foi uma inaugura-ço destes. Foi uma inaugura-ço destes. Foi uma inaugura-ço destes. Foi uma inaugura-ço destes. Foi uma inaugura-

ção estrondosa e as pessoasção estrondosa e as pessoasção estrondosa e as pessoasção estrondosa e as pessoasção estrondosa e as pessoasnem cabianem cabianem cabianem cabianem cabiammmmm todas todas todas todas todas”, lembrou.

Apesar do início auspicioso, os pri-meiros anos foram difíceis. “SempreSempreSempreSempreSemprefui muito selectiva à porta, mes-fui muito selectiva à porta, mes-fui muito selectiva à porta, mes-fui muito selectiva à porta, mes-fui muito selectiva à porta, mes-mo quando tinha a casa vaziamo quando tinha a casa vaziamo quando tinha a casa vaziamo quando tinha a casa vaziamo quando tinha a casa vazia”,disse a empresária, que durante muitosanos fez questão de estar à porta, logo aseguir ao porteiro.

Com 25 anos, Mena continuava a tra-balhar no restaurante dos pais e manti-nha o negocio da discoteca aos fins-de-semana.

Na discoteca trabalhava com LuísRomão (que era o DJ), um segurança,dois barmen e poucos mais funcioná-rios. “Éramos meia dúzia e aten-Éramos meia dúzia e aten-Éramos meia dúzia e aten-Éramos meia dúzia e aten-Éramos meia dúzia e aten-díamos tanta gente quanto aten-díamos tanta gente quanto aten-díamos tanta gente quanto aten-díamos tanta gente quanto aten-díamos tanta gente quanto aten-

dem agora 45 funcionáriosdem agora 45 funcionáriosdem agora 45 funcionáriosdem agora 45 funcionáriosdem agora 45 funcionários”, re-feriu.

Entre 1991, quando se divorciou deLuís Romão, até 1997, Filomena Félixesteve afastada da Green Hill. Voltouum ano depois do assalto ao seu ex-marido, na sequência do qual Luís Ro-mão ficou incapacitado. O empresáriosofreu graves lesões neurológicas aoser agredido depois de oferecer resis-tência a um assalto, na madrugada de8 de Setembro.

Este foi o episódio mais negro dahistória da discoteca e que ainda hojeé difícil de abordar por parte da famí-lia.

Ricardo Romão tinha nessa altura

17 anos de idade e ficou a gerir a disco-teca com Paula Coito, que na altura eracasada com Luís Romão. “Foram unsForam unsForam unsForam unsForam unstempos muito complicadostempos muito complicadostempos muito complicadostempos muito complicadostempos muito complicados” e sócom a ajuda da família e de alguns for-necedores é que conseguiu continuaro negócio sem o seu pai.

Entretanto, Ricardo Romão come-çou a assumir mais responsabilidadese, para além de ser um dos principaisDJ da casa, trata também de outrasquestões da empresa.

AOS CINCO ANOS JÁ IA PARA ACABINE DE SOM

Nascido em 1976, Ricardo Romãotinha três anos quando a discoteca

foi inaugurada. Das primeiras recor-dações que guarda é de ter ido brin-car para a cabine de som. “Eu lem-Eu lem-Eu lem-Eu lem-Eu lem-bro-me de ter partido as agu-bro-me de ter partido as agu-bro-me de ter partido as agu-bro-me de ter partido as agu-bro-me de ter partido as agu-lhas todas dos pratos dos dis-lhas todas dos pratos dos dis-lhas todas dos pratos dos dis-lhas todas dos pratos dos dis-lhas todas dos pratos dos dis-cos de vinil e do meu pai andarcos de vinil e do meu pai andarcos de vinil e do meu pai andarcos de vinil e do meu pai andarcos de vinil e do meu pai andaratrás de mimatrás de mimatrás de mimatrás de mimatrás de mim”, recordou.

Aos 12 anos teve a sua primeiranoite como DJ da pista principal.“Faltou um DJ e o meu pai che-Faltou um DJ e o meu pai che-Faltou um DJ e o meu pai che-Faltou um DJ e o meu pai che-Faltou um DJ e o meu pai che-gou ao pé de mim e disse quegou ao pé de mim e disse quegou ao pé de mim e disse quegou ao pé de mim e disse quegou ao pé de mim e disse quetinha chegado a minha oportu-tinha chegado a minha oportu-tinha chegado a minha oportu-tinha chegado a minha oportu-tinha chegado a minha oportu-nidadenidadenidadenidadenidade”. Nessa noite, que nuncamais esqueceu, chorou numa alturaem que cerca de 10 pessoas saíramao mesmo tempo da pista. “FiqueiFiqueiFiqueiFiqueiFiqueimuito nervoso porque t ivemuito nervoso porque t ivemuito nervoso porque t ivemuito nervoso porque t ivemuito nervoso porque t ive

medo que a pista esvaziassemedo que a pista esvaziassemedo que a pista esvaziassemedo que a pista esvaziassemedo que a pista esvaziasse”,lembrou. Como era a sua primeiravez, temeu que as pessoas não esti-vessem a gostar da música e quetodos se fossem embora.

Para o DJ, a profissão que esco-lheu pode não ser apenas pelo factode ser filho dos proprietários de umadiscoteca. “A paixão que tenhoA paixão que tenhoA paixão que tenhoA paixão que tenhoA paixão que tenhodentro de mim pela música se-dentro de mim pela música se-dentro de mim pela música se-dentro de mim pela música se-dentro de mim pela música se-ria igualria igualria igualria igualria igual”, salientou. “Desde mui-Desde mui-Desde mui-Desde mui-Desde mui-to novo que quis ser DJto novo que quis ser DJto novo que quis ser DJto novo que quis ser DJto novo que quis ser DJ”, garan-te. Os pais queriam que fosse para auniversidade, mas acabou por sairda escola quando acabou o 9º ano.

Como DJ Romão, ou no projectoPhonic Lounge (com Ricardo Tempe-ro), tem alcançado sucesso interna-

cional. Suíça, Holanda, Espanha e Es-tados Unidos têm sido alguns dos pa-íses por onde tem actuado. Só nãoaceita convites para actuar individu-almente nas discotecas da região,por causa da associação do seu nomeà Green Hill.

Ao contrário do que acontece ago-ra, quando começou a ser DJ a pro-fissão não tinha nenhum “glamour”e os amigos perguntavam-lhe se nãopreferia estar do outro lado da cabi-ne de som. “Agora é que é modaAgora é que é modaAgora é que é modaAgora é que é modaAgora é que é modaser DJ, mas naqueles temposser DJ, mas naqueles temposser DJ, mas naqueles temposser DJ, mas naqueles temposser DJ, mas naqueles temposas pessoas não ligavam nenhu-as pessoas não ligavam nenhu-as pessoas não ligavam nenhu-as pessoas não ligavam nenhu-as pessoas não ligavam nenhu-mamamamama”.

Quando começou, os discos quepunha a tocar eram de rock, com su-cessos garantidos. Nessa altura asduas pistas tinham poucas diferen-ças na música que se tocava. “OsOsOsOsOsdiscos eram praticamente osdiscos eram praticamente osdiscos eram praticamente osdiscos eram praticamente osdiscos eram praticamente osmesmosmesmosmesmosmesmosmesmos”, recorda.

Um dia, no início da década de 90,Ricardo Romão convenceu o pai aapostar no som alternativo na pistadois, com bandas que não se ouviamem nenhuma discoteca do país, comoera o caso, por exemplo, dos Pixies.

O sucesso foi imediato e estaaposta marcou uma geração. Sãomuitos os que ainda se recordamcom nostalgia desses tempos, de talforma que recentemente começarama fazer festas de evocação dessasnoites.

Os tempos eram muito diferentestambém em termos musicais, e nofinal dos anos 90 começaram a fa-zer-se experiências com a músicaelectrónica. A partir das 4h30 damanhã era o som forte das batidasdo techno que invadiam a pista dois.

A partir de 2001 acabou-se o somalternativo e a música de dança rei-na na segunda pista, sendo que a pri-meira continua dedicada à músicamais comercial.

Inúmeras gerações já passarampelo Green Hill e hoje já há netos dosprimeiros frequentadores da casaque não falham um fim-de-semanana discoteca. A marca é conhecidaem todo o país como uma das mais

Trinta anos de actividade para uma discoteca como a Green Hill, na Foz do Arelho, representammilhares de histórias passadas ao som da música.Avós, pais e filhos já dançaram na mesma pista de dança, fosse ao som de um slow ou dasbatidas mais fortes da música electrónica.A Green Hill nasceu em 1980 na Foz do Arelho, numa aldeia que hoje é vila e tornou-se umadiscoteca de nível nacional. Nestes 30 anos só houve um único fim-de-semana, no ano 2000, emque não funcionou (devido a trabalhos de remodelação).Para além dos muitos encontros e desencontros que aconteceram naquele espaço, a Green Hill étambém a história de uma família.Luís Romão e Filomena Félix eram casados quando inauguraram a discoteca. Ricardo Romão, oúnico filho do casal, tinha três anos.Actualmente, e após várias vicissitudes e dramas familiares, mãe e filho gerem a discoteca emconjunto, tendo criado em 2005 a Félix & Romão Lda, com um capital social de cinco mil euros.

Luís Romão, fundador da discoteca, na cabine de som numa imagem dos anos 80 Luís Romão, fundador da discoteca, na cabine de som numa imagem dos anos 80 Luís Romão, fundador da discoteca, na cabine de som numa imagem dos anos 80 Luís Romão, fundador da discoteca, na cabine de som numa imagem dos anos 80 Luís Romão, fundador da discoteca, na cabine de som numa imagem dos anos 80 Filomena Félix com o filho, Ricardo Romão, e as netas, Lara e Carolina Filomena Félix com o filho, Ricardo Romão, e as netas, Lara e Carolina Filomena Félix com o filho, Ricardo Romão, e as netas, Lara e Carolina Filomena Félix com o filho, Ricardo Romão, e as netas, Lara e Carolina Filomena Félix com o filho, Ricardo Romão, e as netas, Lara e Carolina

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23CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

que é referência para várias gerações de clientes

antigas do género e já recebeu pro-gramas de rádio e de televisão, bemcomo festas de todos os tipos. Hámais de dez anos obteve um númerorecorde de visitantes – 4500 clien-tes numa festa da revista Caras.

DISCOTECA NUNCA PAROU DECRESCER

Ao longo destes 30 anos foram tan-tas as remodelações e ampliaçõesque os gerentes já nem sabem quan-tas foram.

A primeira terá sido em 1985, al-tura em que mudaram a cabine desom do lugar e criaram um novo es-paço. Foi nesse local que chegarama fazer uma noite de gala com She-gundo Galarza.

A segunda pista de dança foi cons-truída no final da década de 80, quan-do começaram a servir hambúrgue-res e outros petiscos. “O meu fãO meu fãO meu fãO meu fãO meu fãnúmero um era o engenheironúmero um era o engenheironúmero um era o engenheironúmero um era o engenheironúmero um era o engenheiroPaiva e Sousa Paiva e Sousa Paiva e Sousa Paiva e Sousa Paiva e Sousa (ex-presidente daCâmara das Caldas) que ia sem- que ia sem- que ia sem- que ia sem- que ia sem-pre lá com os amigos comer aspre lá com os amigos comer aspre lá com os amigos comer aspre lá com os amigos comer aspre lá com os amigos comer assandes que eu faziasandes que eu faziasandes que eu faziasandes que eu faziasandes que eu fazia”, recordaMena.

Outras das principais amplia-ções foi o primeiro andar, com vistapara a pista principal.

Em 2001 Filomena Félix avançoucom obras de remodelação e abriu adiscoteca com um “staff” completa-mente novo, que incluía alguns con-correntes de “reality shows” (comoo “Big Brother), músicos (Melão eGonzo) e actores (Diogo Morgado).Actualmente nenhum “famoso” fazparte do pessoal da casa. “AlgunsAlgunsAlgunsAlgunsAlgunsainda aparecem às vezes, masainda aparecem às vezes, masainda aparecem às vezes, masainda aparecem às vezes, masainda aparecem às vezes, mascomo amigoscomo amigoscomo amigoscomo amigoscomo amigos”, conta Mena.

A empresária conta que desde háquatro anos começou a notar-se quehá menos pessoas a sair à noite. Oconsumo de bebidas também desceumuito, principalmente desde 2007.“O ano de 2009 foi uma coisaO ano de 2009 foi uma coisaO ano de 2009 foi uma coisaO ano de 2009 foi uma coisaO ano de 2009 foi uma coisaterrível, mas em 2010 conse-terrível, mas em 2010 conse-terrível, mas em 2010 conse-terrível, mas em 2010 conse-terrível, mas em 2010 conse-guimos recuperar um pouco.guimos recuperar um pouco.guimos recuperar um pouco.guimos recuperar um pouco.guimos recuperar um pouco.Tenho feito tudo por tudoTenho feito tudo por tudoTenho feito tudo por tudoTenho feito tudo por tudoTenho feito tudo por tudo”, afir-mou a empresária.

Embora saiba que os outros esta-belecimentos comerciais desteramo não estão melhor, salienta quea sua casa tem maiores custos porcausa da sua dimensão.

Isto apesar de não aumentaremos preços há quase 10 anos. Uma im-perial continua a custar três euros,mas a bebida que se bebe mais actu-almente é o vodka.

O ano passado remodelaram com-pletamente o antigo pub, para criarum clube para pessoas mais velhase o investimento revelou-se ruinoso.“Ainda hoje estou à espera queAinda hoje estou à espera queAinda hoje estou à espera queAinda hoje estou à espera queAinda hoje estou à espera queas pessoas mais velhas apare-as pessoas mais velhas apare-as pessoas mais velhas apare-as pessoas mais velhas apare-as pessoas mais velhas apare-çamçamçamçamçam”, ironizou. Acabou por começara utilizar o espaço para festas priva-das e jantares para grupos.

Em breve o clube deverá voltar asofrer transformações. Para Ricar-do Romão, é importante que uma dis-coteca com uma dimensão tão gran-de crie espaços diferentes, para di-ferentes estilos.

TRABALHAR EM FAMÍLIA

Cada vez mais é o filho quem tra-ta das relações com os fornecedo-res, algo que a mãe nunca gostoumuito de ter a seu cargo. “Ele temEle temEle temEle temEle tem

muito mais à vontade do quemuito mais à vontade do quemuito mais à vontade do quemuito mais à vontade do quemuito mais à vontade do queeu para negociareu para negociareu para negociareu para negociareu para negociar”, afirma Filome-na Félix. O seu filho passou tambéma ser responsável por tudo o que dizrespeito à publicidade e ao pessoalda casa.

Filomena Félix gosta de trabalharcom o seu filho, embora às vezes sur-jam alguns conflitos que não aconte-ceriam se fosse com outra pessoa.“Temos muita à vontade umTemos muita à vontade umTemos muita à vontade umTemos muita à vontade umTemos muita à vontade umcom o outro e por vezes sur-com o outro e por vezes sur-com o outro e por vezes sur-com o outro e por vezes sur-com o outro e por vezes sur-gem aquelas discussões entregem aquelas discussões entregem aquelas discussões entregem aquelas discussões entregem aquelas discussões entremãe e filhomãe e filhomãe e filhomãe e filhomãe e filho”, revelou.

O facto de o seu filho ter passadoa adolescência com os pais a traba-lhar numa discoteca acabou por serpositivo. “Aquilo que os pais so-Aquilo que os pais so-Aquilo que os pais so-Aquilo que os pais so-Aquilo que os pais so-frem com os filhos durante ado-frem com os filhos durante ado-frem com os filhos durante ado-frem com os filhos durante ado-frem com os filhos durante ado-lescênlescênlescênlescênlescência, por não saberem porcia, por não saberem porcia, por não saberem porcia, por não saberem porcia, por não saberem poronde eles andam à noite, nãoonde eles andam à noite, nãoonde eles andam à noite, nãoonde eles andam à noite, nãoonde eles andam à noite, nãoaconteceu comigo. Ele saía da-aconteceu comigo. Ele saía da-aconteceu comigo. Ele saía da-aconteceu comigo. Ele saía da-aconteceu comigo. Ele saía da-qui e ia para casa da minha mãequi e ia para casa da minha mãequi e ia para casa da minha mãequi e ia para casa da minha mãequi e ia para casa da minha mãeao fim-de-semanaao fim-de-semanaao fim-de-semanaao fim-de-semanaao fim-de-semana”, salientou.

O único medo que tinha era rela-cionado com o consumo de qualquertipo de droga e por isso “sempre fizsempre fizsempre fizsempre fizsempre fiztudo o que pude para não ha-tudo o que pude para não ha-tudo o que pude para não ha-tudo o que pude para não ha-tudo o que pude para não ha-ver disso aqui na Green Hillver disso aqui na Green Hillver disso aqui na Green Hillver disso aqui na Green Hillver disso aqui na Green Hill”.

Para Ricardo Romão também foibom porque assim conquistou a con-fiança dos pais e quando precisava

Casa de encontros e desencontrosFundada em 1980 por Luís Romão e Filomena Félix, a discoteca atravessou

tempos conturbados, mas sobreviveu às maiores contrariedades. Actualmen-te, Filomena Félix (mais conhecida como Mena) e o seu filho, Ricardo Romão,comandam um “barco” que dá trabalho a 45 pessoas e que movimenta milha-res de clientes todos os fins-de-semana.

As épocas mais fortes na Green Hill foram sempre os verões e o Carnaval.No último fim-de-semana de Maio fazem a festa de aniversário, que é sempreum sucesso.

Desde há cinco anos deixaram de abrir todos os dias da semana em Agosto,como acontecia antes. Desde 2008 que só abrem à quinta, sexta e sábado,durante o Verão. No resto do ano a discoteca funciona às sextas-feiras e sába-dos.

“Somos uma casa única, onde mesmo as pessoas que vêm deSomos uma casa única, onde mesmo as pessoas que vêm deSomos uma casa única, onde mesmo as pessoas que vêm deSomos uma casa única, onde mesmo as pessoas que vêm deSomos uma casa única, onde mesmo as pessoas que vêm defora se sentem bem desde a primeira vezfora se sentem bem desde a primeira vezfora se sentem bem desde a primeira vezfora se sentem bem desde a primeira vezfora se sentem bem desde a primeira vez”, considera Filomena Félix,que exige que todo o seu pessoal seja sempre simpático para os clientes.

“Às vezes as pessoas não são muito justas e dizem muitas coi-Às vezes as pessoas não são muito justas e dizem muitas coi-Às vezes as pessoas não são muito justas e dizem muitas coi-Às vezes as pessoas não são muito justas e dizem muitas coi-Às vezes as pessoas não são muito justas e dizem muitas coi-sas da Green Hill, mas eu sempre fiz tudo para que os clientessas da Green Hill, mas eu sempre fiz tudo para que os clientessas da Green Hill, mas eu sempre fiz tudo para que os clientessas da Green Hill, mas eu sempre fiz tudo para que os clientessas da Green Hill, mas eu sempre fiz tudo para que os clientesfossem bem tratadosfossem bem tratadosfossem bem tratadosfossem bem tratadosfossem bem tratados”, comentou. Filomena Félix assume que muitas ve-zes é quase mãe de muitos jovens que frequentam a discoteca. “Há muitosHá muitosHá muitosHá muitosHá muitospais que quando os filhos começam a vir à Green Hill dizem-lhespais que quando os filhos começam a vir à Green Hill dizem-lhespais que quando os filhos começam a vir à Green Hill dizem-lhespais que quando os filhos começam a vir à Green Hill dizem-lhespais que quando os filhos começam a vir à Green Hill dizem-lhespara chamarem a Mena sempre que precisarempara chamarem a Mena sempre que precisarempara chamarem a Mena sempre que precisarempara chamarem a Mena sempre que precisarempara chamarem a Mena sempre que precisarem”, afirma orgulhosa.

Embora exista o “Foz Bus by Night” (autocarro que faz a ligação entre asCaldas da Rainha e a discoteca aos sábados), ainda há muitos pais que optampor ir levar e buscar os seus filhos. “Se calhar houve uma altura em queSe calhar houve uma altura em queSe calhar houve uma altura em queSe calhar houve uma altura em queSe calhar houve uma altura em queos pais davam demasiada liberdade aos filhos e agora voltaram aos pais davam demasiada liberdade aos filhos e agora voltaram aos pais davam demasiada liberdade aos filhos e agora voltaram aos pais davam demasiada liberdade aos filhos e agora voltaram aos pais davam demasiada liberdade aos filhos e agora voltaram apreocupar-se maispreocupar-se maispreocupar-se maispreocupar-se maispreocupar-se mais”, considera.

Filomena Félix tem sempre um carinho especial por alguns jovens das Cal-das de quem conhece as mães.

Apesar disso, a relação entre os caldenses e a discoteca foi sempre “dededededeamor e ódioamor e ódioamor e ódioamor e ódioamor e ódio” porque há quem prefira sair para fora em vez de sair à noitemais perto de casa. Há noites em que a maior parte dos clientes da Green Hillsão pessoas de fora.

Mas são muitos os caldenses (já pais de família) que ao regressarem àGreen Hill, depois de um jantar ou de uma festa, não conseguem evitar a nos-talgia. “Muitas vezes vêm ter comigo e dizem ter muitas saudadesMuitas vezes vêm ter comigo e dizem ter muitas saudadesMuitas vezes vêm ter comigo e dizem ter muitas saudadesMuitas vezes vêm ter comigo e dizem ter muitas saudadesMuitas vezes vêm ter comigo e dizem ter muitas saudadesdas noites que aqui passaramdas noites que aqui passaramdas noites que aqui passaramdas noites que aqui passaramdas noites que aqui passaram”, referiu Mena. Há casais que começarama namorar na Green Hill ou que deram ali seu primeiro beijo. Mas também jáhouve cenas de ciúme, que muitas vezes acabam mal.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

ia para outros locais divertir-se.“Nunca senti os holofotes emNunca senti os holofotes emNunca senti os holofotes emNunca senti os holofotes emNunca senti os holofotes emcima. Sempre fiz o meu traba-cima. Sempre fiz o meu traba-cima. Sempre fiz o meu traba-cima. Sempre fiz o meu traba-cima. Sempre fiz o meu traba-lho à vontadelho à vontadelho à vontadelho à vontadelho à vontade”, disse.

Ricardo Romão também já é pai deduas meninas - Lara (cinco anos) eCarolina (12 anos) - que só visitam adiscoteca durante o dia. “Um diaUm diaUm diaUm diaUm diaem que estejam à minha frenteem que estejam à minha frenteem que estejam à minha frenteem que estejam à minha frenteem que estejam à minha frentena pista e eu a passar músicana pista e eu a passar músicana pista e eu a passar músicana pista e eu a passar músicana pista e eu a passar músicavou achar um piadãovou achar um piadãovou achar um piadãovou achar um piadãovou achar um piadão”, comen-tou.

Embora não queira revelar o vo-lume de negócios da Félix & RomãoLda., Ricardo Romão referiu quenuma noite podem pagar 15 mil eu-ros para um DJ famoso actuar semque tenham prejuízo por isso.

A família também esteve por de-trás de outros negócios. FilomenaFélix explorou a loja de música “Ma-gic Som”, no centro comercial da Ruadas Montras, durante 20 anos. Ricar-do Romão também investiu numa lojade música e roupa entre 1996 e 2000.

O seu pai, Luís Romão, explorou orestaurante “Príncipe Perfeito” e osbares “Adega do Borlão” e “Frenéti-co”, na década de 90.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

Aspecto da discoteca nos anos 80 e na actualidade. A Green Hill continua a ser o mais importante espaço de diversão nocturna na região. Aspecto da discoteca nos anos 80 e na actualidade. A Green Hill continua a ser o mais importante espaço de diversão nocturna na região. Aspecto da discoteca nos anos 80 e na actualidade. A Green Hill continua a ser o mais importante espaço de diversão nocturna na região. Aspecto da discoteca nos anos 80 e na actualidade. A Green Hill continua a ser o mais importante espaço de diversão nocturna na região. Aspecto da discoteca nos anos 80 e na actualidade. A Green Hill continua a ser o mais importante espaço de diversão nocturna na região.

Ricardo Romão tem uma carreira própria como DJ Romão e no duo Phonic Lounge Ricardo Romão tem uma carreira própria como DJ Romão e no duo Phonic Lounge Ricardo Romão tem uma carreira própria como DJ Romão e no duo Phonic Lounge Ricardo Romão tem uma carreira própria como DJ Romão e no duo Phonic Lounge Ricardo Romão tem uma carreira própria como DJ Romão e no duo Phonic Lounge

1980 1980 1980 1980 1980 ––––– Luís Romão e FilomenaFélix abrem a discoteca GreenHill. A firma chama-se José Luísda Silva Romão e era um estabe-lecimento em nome individual.1991 1991 1991 1991 1991 ––––– Filomena Félix deixa agestão da Green Hill19961996199619961996 – Luís Romão é vítima deum assalto e sofre danos neuro-lógicos incapacitantes19961996199619961996 – O filho, Ricardo Romão,

CRONOLOGIA então com 17 anos, assume res-ponsabilidades na discoteca19971997199719971997 - Filomena Félix regressa àgestão do Green Hill que passa aser detido pela sociedade unipes-soal Maria Filomena Filipe Félix20002000200020002000 – Remodelação total dopessoal da discoteca20052005200520052005 – Criada a sociedade Félix& Romão Lda. (apelidos da mãe edo filho) com um capital social de5000 euros

Page 40: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

1| Outubro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais24

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Proximidade do comércio tradicional e assistência técnic

Quinze de Maio de 1971. A cida-de festejava o seu dia com concer-tos e cerimónias públicas. Quempassava pela Rua Engenheiro Du-arte Pacheco encontrava no nú-mero 23 uma montra engalanadacom candeeiros, pequenos elec-trodomésticos, frigoríficos e fo-gões, pronta para abrir as portaspela primeira vez no dia seguinte.

Tratava-se de uma loja de elec-trodomésticos e reparações eléc-tricas criada em sociedade porVasco Oliveira e Alfredo Cera. Vol-vidos seis meses, o segundo sóciodesiste e Vasco Oliveira adquire asua metade, que entrega à espo-sa, formando a empresa VascoOliveira Lda.

Mas a ligação de Vasco Oliveiracom o mundo da electricidade é“genética”. Nascido em Silves, vempara as Caldas da Rainha com 10anos, junto com a irmã (um anomais velha), a mãe e o pai, queveio exercer o cargo de chefe doselectricistas dos serviços munici-palizados.

Prosseguiu os estudos na Esco-la Técnica Industrial e Comercialdas Caldas da Rainha (hoje Secun-dária Bordalo Pinheiro) onde fez ocurso comercial e, mais tarde, ocurso nocturno de electricidade.

Nessa altura já passava os diasa trabalhar em electricidade na lojada mãe, Maria Paula Oliveira, noBairro da Ponte. Era uma casa deelectrodomésticos e instalações ereparações eléctricas, mas VascoOliveira lembra que electrodomés-ticos haviam muito poucos. “Pou-Pou-Pou-Pou-Pou-co mais era que um frigorco mais era que um frigorco mais era que um frigorco mais era que um frigorco mais era que um frigorííííífi-fi-fi-fi-fi-co”co”co”co”co”, lembra do tempo dos seus 14anos, quando aprendeu o ofíciocom o pai e os funcionários da loja.

Depois de completar o curso,Vasco Oliveira concorreu à Escolada Marinha Mercante. Tinha 18anos e vontade de conhecer omundo, o que veio a acontecerentre 1958 e 1963, como oficial elec-tricista da Marinha Mercante.

No entanto, não esteve todo

este tempo embarcado, até por-que o jovem era um jogador defutebol promissor (viria a ser cam-peão nacional da terceira divisão)e manteve sempre a sua paixãopelo desporto rei. O próprio Cal-das Sport Clube arranjou-lhe umemprego na Rol para o afastar domar e o manter perto de casa edos treinos.

Na fábrica de Tornada trabalha-va como rectificador, tendo por lápermanecido 18 meses. Entretan-to tinha casado e o primo José Fer-nando, que era desenhador, ha-via-lhe oferecido o projecto de umacasa como prenda. Para construira moradia, Vasco Oliveira precisa-

va de ganhar mais dinheiro e vol-tou a embarcar, estando na Mari-nha Mercante até 1969, altura emque regressou às Caldas para tra-balhar como electricista na loja deelectrodomésticos e instalaçõeseléctricas Inácio Abegão.

Dois anos depois, a 15 de Maiode 1971, estabelece-se por contaprópria, formando uma sociedadecom o amigo Alfredo Cera. O tres-passe da então loja de electrodo-mésticos José Verdasca e Verdia-no à sociedade Vasco e Cera Ldacustou na altura 150 contos (750euros) divididos pelos dois sóciose, passados seis meses, quando osócio desistiu do negócio, VascoOliveira pediu emprestado ao ban-co a metade necessária para ficarcom toda a empresa, que depois

dividiu com a mulher, Maria RosaOliveira.

O empresário recorda que o pri-meiro electrodoméstico que ven-deu foi uma varinha de triturar asopa, depois começou a venderfrigoríficos, fogões e muitos can-deeiros.

“IA FAZER A INSTALAÇÃOELÉCTRICA E APROVEITAVA

PARA OFERECER OFRIGORÍFICO”

Vasco Oliveira passou a andarpelas freguesias e aldeias a fazerinstalações eléctricas e “aprovei-“aprovei-“aprovei-“aprovei-“aprovei-tava para oferecer o frigorífi-tava para oferecer o frigorífi-tava para oferecer o frigorífi-tava para oferecer o frigorífi-tava para oferecer o frigorífi-

co, a máquina de lavar, oco, a máquina de lavar, oco, a máquina de lavar, oco, a máquina de lavar, oco, a máquina de lavar, oaquecimento, as varinhas e oaquecimento, as varinhas e oaquecimento, as varinhas e oaquecimento, as varinhas e oaquecimento, as varinhas e oferro eléctrico, e as pessoasferro eléctrico, e as pessoasferro eléctrico, e as pessoasferro eléctrico, e as pessoasferro eléctrico, e as pessoasreagiam muito bem”reagiam muito bem”reagiam muito bem”reagiam muito bem”reagiam muito bem”, lembra.Havia lugares que não tinham ain-da electricidade e quando a “luz”lá chegava, era uma festa e o res-ponsável da instalação era vistocomo um “herói”. Vasco Oliveiraaproveitava essa alegria e mos-trava as vantagens que se podiamter através da energia. “Normal-Normal-Normal-Normal-Normal-mente o ferro eléctrico ficavamente o ferro eléctrico ficavamente o ferro eléctrico ficavamente o ferro eléctrico ficavamente o ferro eléctrico ficavalogo, assim como o fogão alogo, assim como o fogão alogo, assim como o fogão alogo, assim como o fogão alogo, assim como o fogão agás”gás”gás”gás”gás”, conta, adiantando que nes-sa altura trabalhava muito com afirma Manuel J Monteiro, de Lis-boa, que lhe fornecia toda a mer-cadoria.

“Lembro-me de uma vez ter“Lembro-me de uma vez ter“Lembro-me de uma vez ter“Lembro-me de uma vez ter“Lembro-me de uma vez terficado com uma contraparti-ficado com uma contraparti-ficado com uma contraparti-ficado com uma contraparti-ficado com uma contraparti-

da de 40 frigoríficos do Superda de 40 frigoríficos do Superda de 40 frigoríficos do Superda de 40 frigoríficos do Superda de 40 frigoríficos do SuperSete e, em duas semanas, ven-Sete e, em duas semanas, ven-Sete e, em duas semanas, ven-Sete e, em duas semanas, ven-Sete e, em duas semanas, ven-di-os na totalidade”di-os na totalidade”di-os na totalidade”di-os na totalidade”di-os na totalidade”, diz. Nessetempo, conta, não tinha sábadosnem domingos pois passava-os avender e entregar frigoríficos.

Na cidade, como tinha conheci-mentos com os grandes emprei-teiros, começou a trabalhar comeles, fazendo a parte eléctrica demuitos dos edifícios caldenses,entre eles o do cinema Estúdio 1,recorda o empresário que chegoua ter 15 funcionários a trabalharcom ele.

Perdem-se as contas aos quiló-metros de fio eléctrico que utili-zou nas instalações feitas desde a

Foz do Arelho ao Landal. “Os ca-“Os ca-“Os ca-“Os ca-“Os ca-minhos eram difíceis e eu tinhaminhos eram difíceis e eu tinhaminhos eram difíceis e eu tinhaminhos eram difíceis e eu tinhaminhos eram difíceis e eu tinhauma carrinha Austin, onde le-uma carrinha Austin, onde le-uma carrinha Austin, onde le-uma carrinha Austin, onde le-uma carrinha Austin, onde le-vava um ou dois empregadosvava um ou dois empregadosvava um ou dois empregadosvava um ou dois empregadosvava um ou dois empregadose o material que precisávamose o material que precisávamose o material que precisávamose o material que precisávamose o material que precisávamospara trabalhar”para trabalhar”para trabalhar”para trabalhar”para trabalhar”, conta, lembran-do que entravam na loja às 8h00,depois seguiam para o local dedestino e voltavam às 18h00 por-que às 7h30 Vasco Oliveira tinhatreino de futebol.

“A vida naquele tempo era“A vida naquele tempo era“A vida naquele tempo era“A vida naquele tempo era“A vida naquele tempo eradiferente, não havia férias”,diferente, não havia férias”,diferente, não havia férias”,diferente, não havia férias”,diferente, não havia férias”,conta o empresário, que se repar-tia entre o negócio, o futebol e acolumbofilia (uma outra das suaspaixões que ainda hoje mantém).

O aparecimento das grandessuperfícies, na década de 80 doséculo passado, com preços muitomais baixos, levou Vasco Oliveira

a pensar numa alternativa para asua empresa. Necessitava de algode “consumo diário”“consumo diário”“consumo diário”“consumo diário”“consumo diário” para fazerface à quebra do negócio imobili-ário e das vendas dos electrodo-mésticos.

Passou a ser agente do gás Essonas Caldas da Rainha, há cerca de15 anos.

Desde então foram evoluindono gás e actualmente têm uma boarepresentação de gás de garrafa.

“Quando fiquei com o gás“Quando fiquei com o gás“Quando fiquei com o gás“Quando fiquei com o gás“Quando fiquei com o gásforam-me entregueforam-me entregueforam-me entregueforam-me entregueforam-me entreguesssss 16 bilhas 16 bilhas 16 bilhas 16 bilhas 16 bilhasde 13 quilos, seis de 11 e trêsde 13 quilos, seis de 11 e trêsde 13 quilos, seis de 11 e trêsde 13 quilos, seis de 11 e trêsde 13 quilos, seis de 11 e trêsou quatro de 45 quilos”ou quatro de 45 quilos”ou quatro de 45 quilos”ou quatro de 45 quilos”ou quatro de 45 quilos”. Passa-do um mês já tinha duplicado aquantidade e depois o volume au-

mentou muito mais. Depois, coma difusão do gás natural começa-ram a perder o mercado dos prédi-os, começando a expansão pelasfreguesias, onde este tipo de ins-talação ainda não chegou.

“É um nicho de mercado, te-“É um nicho de mercado, te-“É um nicho de mercado, te-“É um nicho de mercado, te-“É um nicho de mercado, te-mos representantes nas vári-mos representantes nas vári-mos representantes nas vári-mos representantes nas vári-mos representantes nas vári-as freguesias, que abastece-as freguesias, que abastece-as freguesias, que abastece-as freguesias, que abastece-as freguesias, que abastece-mos com os nossos veículos”mos com os nossos veículos”mos com os nossos veículos”mos com os nossos veículos”mos com os nossos veículos”,disse, falando na primeira pessoado plural, apesar de, tecnicamen-te, já não ser proprietário da casa.

De acordo com Vasco Oliveira,o gás tem sido lucrativo, mas é umtipo de negócio em que é “preci-“preci-“preci-“preci-“preci-so muito cuidado porque asso muito cuidado porque asso muito cuidado porque asso muito cuidado porque asso muito cuidado porque asmargens de lucro são peque-margens de lucro são peque-margens de lucro são peque-margens de lucro são peque-margens de lucro são peque-nas e é preciso ser muito bemnas e é preciso ser muito bemnas e é preciso ser muito bemnas e é preciso ser muito bemnas e é preciso ser muito bemgerido para dar rentabilidade”gerido para dar rentabilidade”gerido para dar rentabilidade”gerido para dar rentabilidade”gerido para dar rentabilidade”.

O empresário vê grandes dife-

renças no comércio nos últimos 40anos. “Caldas sempre foi uma“Caldas sempre foi uma“Caldas sempre foi uma“Caldas sempre foi uma“Caldas sempre foi umacidade comercial, mas as gran-cidade comercial, mas as gran-cidade comercial, mas as gran-cidade comercial, mas as gran-cidade comercial, mas as gran-des superfícies vieram abalardes superfícies vieram abalardes superfícies vieram abalardes superfícies vieram abalardes superfícies vieram abalarum pouco o pequeno comér-um pouco o pequeno comér-um pouco o pequeno comér-um pouco o pequeno comér-um pouco o pequeno comér-cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”, salientou, acres-centando que com o crescimentodas cidades em redor também per-deu alguma população aos fins-de-semana, que aqui vinham àscompras às Caldas.

“Mas ainda se nota que o“Mas ainda se nota que o“Mas ainda se nota que o“Mas ainda se nota que o“Mas ainda se nota que onosso comércio de fim-de-se-nosso comércio de fim-de-se-nosso comércio de fim-de-se-nosso comércio de fim-de-se-nosso comércio de fim-de-se-mana é bom”mana é bom”mana é bom”mana é bom”mana é bom”, expressou.

O electrodoméstico não é umproduto que se venda diariamen-te, mas continua a vender-se, so-bretudo o pequeno electrodomés-tico, explica, adiantando que agrande valia destas casas são aproximidade com o cliente e a ga-rantia pós venda. “A assistência“A assistência“A assistência“A assistência“A assistênciaé de grande importância paraé de grande importância paraé de grande importância paraé de grande importância paraé de grande importância parao ramo dos electrodomésticoso ramo dos electrodomésticoso ramo dos electrodomésticoso ramo dos electrodomésticoso ramo dos electrodomésticose foi isso que sempre tivemos.e foi isso que sempre tivemos.e foi isso que sempre tivemos.e foi isso que sempre tivemos.e foi isso que sempre tivemos.Damos assistência a tudo o queDamos assistência a tudo o queDamos assistência a tudo o queDamos assistência a tudo o queDamos assistência a tudo o quese vende”se vende”se vende”se vende”se vende”, garante Vasco Olivei-ra.

Além do futebol, da columbofi-lia e da vida empresarial, este cal-dense por adopção resolve tam-bém meter-se na política. Em 1985concorre pelo PSD à Junta de Fre-guesia de Nossa Senhora do Pó-pulo e é eleito. Nunca mais de lásaiu.

Nos primeiros tempos diz queera fácil conciliar as duas activida-des - autarca e comerciante – por-que a burocracia da Junta não eramuita.

Mas em 1996 deixou o estabele-cimento para estar a tempo intei-ro na Junta de Freguesia. Ficou aesposa a geri-lo e há quatro anosdeu o estabelecimento à filhamais velha, Elisa Oliveira (45 anos)para o gerir. O filho, Vasco Olivei-ra, também é electricista e resideem Inglaterra.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

Começou a fazer reparações eléctricas ainda menino na loja de electrodomésticos da mãe, no Bairro daPonte, e seguiu a sua vocação na Escola Rafael Bordalo Pinheiro. Embarcado como oficial de electricidade,correu mundo na Marinha Mercante até que se estabeleceu, por conta própria, em 1971 no centro da cidade.A história de Vasco Oliveira está ligada à electricidade, aos electrodomésticos e ao gás, até que passou, háquatro anos, o testemunho à filha, Elisa Oliveira, também advogada, que acumula a gestão da empresafamiliar com a prática da advogacia.Pelo caminho ficam décadas de histórias de quem calcorreou praticamente todo o concelho a “levar luz” àspessoas e depois gás.A Vasco Oliveira Lda celebra em 2011 quatro décadas. Já este mês terá início uma remodelação da loja, com oobjectivo de mostrar mais a parte eléctrica e não só os electrodomésticos.

Pai e filha. Elisa Oliveira detém hoje 90% da quota da firma e acumula a sua gestão Pai e filha. Elisa Oliveira detém hoje 90% da quota da firma e acumula a sua gestão Pai e filha. Elisa Oliveira detém hoje 90% da quota da firma e acumula a sua gestão Pai e filha. Elisa Oliveira detém hoje 90% da quota da firma e acumula a sua gestão Pai e filha. Elisa Oliveira detém hoje 90% da quota da firma e acumula a sua gestãocom a advocacia.com a advocacia.com a advocacia.com a advocacia.com a advocacia.

Vasco Oliveira e Maria Rosa Oliveira foram os proprietários da empresa durante 35 anos Vasco Oliveira e Maria Rosa Oliveira foram os proprietários da empresa durante 35 anos Vasco Oliveira e Maria Rosa Oliveira foram os proprietários da empresa durante 35 anos Vasco Oliveira e Maria Rosa Oliveira foram os proprietários da empresa durante 35 anos Vasco Oliveira e Maria Rosa Oliveira foram os proprietários da empresa durante 35 anos

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25CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

ca personalizada caracterizam a Vasco Oliveira Lda.

Remodelação para destacar mais

a componente eléctricaA Vasco Oliveira Lda. man-

tém a mesma firma, mas a res-ponsável é agora a filha do fun-dador, Elisa Oliveira, que de-tém 90% das quotas, e um fa-miliar.

Elisa acumula agora as fun-ções de mãe de família, advo-gada e empresária.

“Sempre me conheci aqui.“Sempre me conheci aqui.“Sempre me conheci aqui.“Sempre me conheci aqui.“Sempre me conheci aqui.Saía da escola primária e vi-Saía da escola primária e vi-Saía da escola primária e vi-Saía da escola primária e vi-Saía da escola primária e vi-nha para a loja onde era o lo-nha para a loja onde era o lo-nha para a loja onde era o lo-nha para a loja onde era o lo-nha para a loja onde era o lo-cal de encontro da família”cal de encontro da família”cal de encontro da família”cal de encontro da família”cal de encontro da família”,lembra, acrescentando queacompanhou de perto as qua-se quatro décadas da firma.

Nos seus tempos livres sem-pre colaborou com a empresae apreciava particularmente daparte do comércio. “GostavaGostavaGostavaGostavaGostavamuito do atendimento directomuito do atendimento directomuito do atendimento directomuito do atendimento directomuito do atendimento directoao público, do contacto com asao público, do contacto com asao público, do contacto com asao público, do contacto com asao público, do contacto com aspessoas”,pessoas”,pessoas”,pessoas”,pessoas”, recorda Elisa Olivei-ra. “E tinha jeito”“E tinha jeito”“E tinha jeito”“E tinha jeito”“E tinha jeito”, acrescenta opai, que diz não ter sido talha-do para o negócio, pelo que afilha “puxou à mãe”“puxou à mãe”“puxou à mãe”“puxou à mãe”“puxou à mãe”, conta.

A agora empresária já tinhauma experiência profunda doramo porque quando terminouo 12º ano entendeu que queriatrabalhar e foi para o escritó-rio da empresa. Passado algumtempo surgiu a UAL nas Cal-das e a jovem decidiu prosse-guir os seus estudos, licenci-ando-se em Direito.

A empresa continua a ven-der material eléctrico, mas jánão faz reparações. “Vende-Vende-Vende-Vende-Vende-mos os produtos de ilumina-mos os produtos de ilumina-mos os produtos de ilumina-mos os produtos de ilumina-mos os produtos de ilumina-ção, electrodomésticos e gás,ção, electrodomésticos e gás,ção, electrodomésticos e gás,ção, electrodomésticos e gás,ção, electrodomésticos e gás,sendo que o maior volume desendo que o maior volume desendo que o maior volume desendo que o maior volume desendo que o maior volume denegócios da sociedade é a dis-negócios da sociedade é a dis-negócios da sociedade é a dis-negócios da sociedade é a dis-negócios da sociedade é a dis-tribuição de gás”tribuição de gás”tribuição de gás”tribuição de gás”tribuição de gás”, conta ElisaOliveira.

Os clientes actuais continu-am a ser os da cidade. Ven-dem o electrodoméstico ao cli-ente fiel, muitas vezes até pelotelefone. “Ele telefona-nos e“Ele telefona-nos e“Ele telefona-nos e“Ele telefona-nos e“Ele telefona-nos epergunta se temos determina-pergunta se temos determina-pergunta se temos determina-pergunta se temos determina-pergunta se temos determina-do tipo de electrodoméstico edo tipo de electrodoméstico edo tipo de electrodoméstico edo tipo de electrodoméstico edo tipo de electrodoméstico edepois combinamos e hora edepois combinamos e hora edepois combinamos e hora edepois combinamos e hora edepois combinamos e hora evamos entregar”vamos entregar”vamos entregar”vamos entregar”vamos entregar”, conta, acres-

centando se trata de um tipode comércio baseado na confi-ança.

No resto do concelho têm es-sencialmente os clientes do co-mércio do gás, entre revende-dores e restaurantes.

Os empresários pretendemfazer uma remodelação da loja,que mantém em grande parteo aspecto inicial. “Vamos man-Vamos man-Vamos man-Vamos man-Vamos man-ter a estrutura de loja, recu-ter a estrutura de loja, recu-ter a estrutura de loja, recu-ter a estrutura de loja, recu-ter a estrutura de loja, recu-perando o que existe, mas ten-perando o que existe, mas ten-perando o que existe, mas ten-perando o que existe, mas ten-perando o que existe, mas ten-tar mostrar mais a parte eléc-tar mostrar mais a parte eléc-tar mostrar mais a parte eléc-tar mostrar mais a parte eléc-tar mostrar mais a parte eléc-trica – da iluminação e mate-trica – da iluminação e mate-trica – da iluminação e mate-trica – da iluminação e mate-trica – da iluminação e mate-rial eléctrico”rial eléctrico”rial eléctrico”rial eléctrico”rial eléctrico”, explica ElisaOliveira, que pretende mantertambém a linha branca doselectrodomésticos, mas nãotão expostos.

“Queremos apostar mais na“Queremos apostar mais na“Queremos apostar mais na“Queremos apostar mais na“Queremos apostar mais naárea que poderá rodar mais.área que poderá rodar mais.área que poderá rodar mais.área que poderá rodar mais.área que poderá rodar mais.Hoje em dia as pessoas mu-Hoje em dia as pessoas mu-Hoje em dia as pessoas mu-Hoje em dia as pessoas mu-Hoje em dia as pessoas mu-dam, com facilidade, a partedam, com facilidade, a partedam, com facilidade, a partedam, com facilidade, a partedam, com facilidade, a parteda instalação eléctrica na pró-da instalação eléctrica na pró-da instalação eléctrica na pró-da instalação eléctrica na pró-da instalação eléctrica na pró-pria casa, e materiais como ospria casa, e materiais como ospria casa, e materiais como ospria casa, e materiais como ospria casa, e materiais como osinterruptores e tomadas já fa-interruptores e tomadas já fa-interruptores e tomadas já fa-interruptores e tomadas já fa-interruptores e tomadas já fa-zem parte da própria decora-zem parte da própria decora-zem parte da própria decora-zem parte da própria decora-zem parte da própria decora-ção”ção”ção”ção”ção”, disse, acrescentando quevão também apostar na ilumi-nação.

O projecto está feito e oupgrade da loja deverá ter iní-cio durante este mês.

“Estamos na expectativa“Estamos na expectativa“Estamos na expectativa“Estamos na expectativa“Estamos na expectativapara ver como os clientes nospara ver como os clientes nospara ver como os clientes nospara ver como os clientes nospara ver como os clientes nosvão abordar e aceitar a mu-vão abordar e aceitar a mu-vão abordar e aceitar a mu-vão abordar e aceitar a mu-vão abordar e aceitar a mu-dança. Na prática vamos vol-dança. Na prática vamos vol-dança. Na prática vamos vol-dança. Na prática vamos vol-dança. Na prática vamos vol-tar ao início, ao retomar a par-tar ao início, ao retomar a par-tar ao início, ao retomar a par-tar ao início, ao retomar a par-tar ao início, ao retomar a par-

te da iluminação e do materialte da iluminação e do materialte da iluminação e do materialte da iluminação e do materialte da iluminação e do materialeléctricoeléctricoeléctricoeléctricoeléctrico”, conta, expectantea empresária, que aceitou agestão da empresa com o ob-jectivo de dar continuidade aonegócio da família.

“É uma empresa familiar,“É uma empresa familiar,“É uma empresa familiar,“É uma empresa familiar,“É uma empresa familiar,pequenina, que tem que ser ge-pequenina, que tem que ser ge-pequenina, que tem que ser ge-pequenina, que tem que ser ge-pequenina, que tem que ser ge-rida com muita cautela, quaserida com muita cautela, quaserida com muita cautela, quaserida com muita cautela, quaserida com muita cautela, quaseà pinça”à pinça”à pinça”à pinça”à pinça”, diz Elisa Oliveira,destacando a importância decumprir com os fornecedores,mantendo a “imagem de cre-“imagem de cre-“imagem de cre-“imagem de cre-“imagem de cre-dibilidade e confiança que osdibilidade e confiança que osdibilidade e confiança que osdibilidade e confiança que osdibilidade e confiança que osmeus pais sempre deram àmeus pais sempre deram àmeus pais sempre deram àmeus pais sempre deram àmeus pais sempre deram àcasa”.casa”.casa”.casa”.casa”.

Apesar da solidez desta so-ciedade por quotas, a empre-sária reconhece que o comér-cio tradicional em Portugalestá a passar por grandes difi-culdades. “A concorrência é“A concorrência é“A concorrência é“A concorrência é“A concorrência émuita e, por vezes, desleal”,muita e, por vezes, desleal”,muita e, por vezes, desleal”,muita e, por vezes, desleal”,muita e, por vezes, desleal”,diz, acrescentando que o pe-queno negócio sente tudo issona pele porque as despesas sãoas mesmas e as receitas é quevão sendo menores.

A empresa Vasco OliveiraLda. conta agora com quatrofuncionários, um deles aindado início. A outros, Vasco Oli-veira “deu-lhes a mão”, ensi-nando-lhe o ofício e actual-mente são electricistas cre-denciados.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

O casal Rodrigues trabalha na

firma há mais de 30 anos

António Rodrigues, de 56anos, começou a trabalharcomo aprendiz na Vasco Oli-veira Lda em 1971, três mesesdepois desta firma abrir. Na al-tura tinha 17 anos e há trêsque trabalhava na Fábrica deFaianças Belo, situada na Ruada Fé. Simultaneamente anda-va a tirar o curso de montadorelectricista na Escola Comer-cial e Industrial das Caldas ànoite.

“Gostava muito da parte“Gostava muito da parte“Gostava muito da parte“Gostava muito da parte“Gostava muito da parteeléctrica, não sei se era poreléctrica, não sei se era poreléctrica, não sei se era poreléctrica, não sei se era poreléctrica, não sei se era pormorar no Bairro da Pontemorar no Bairro da Pontemorar no Bairro da Pontemorar no Bairro da Pontemorar no Bairro da Pontejunto à Central Eléctrica ejunto à Central Eléctrica ejunto à Central Eléctrica ejunto à Central Eléctrica ejunto à Central Eléctrica eser influenciado pelos elec-ser influenciado pelos elec-ser influenciado pelos elec-ser influenciado pelos elec-ser influenciado pelos elec-tricistas que andavam portricistas que andavam portricistas que andavam portricistas que andavam portricistas que andavam porali de um lado para o outroali de um lado para o outroali de um lado para o outroali de um lado para o outroali de um lado para o outrode escadas às costas”de escadas às costas”de escadas às costas”de escadas às costas”de escadas às costas”, disseo montador electricista que viverealizado com a sua profissão.

Dos primeiros tempos lem-bra da azáfama do trabalho,pois eram poucos electricistas,e das distâncias que percorri-am na cidade, a pé e com omaterial às costas.

“Nós fizemos muita insta-“Nós fizemos muita insta-“Nós fizemos muita insta-“Nós fizemos muita insta-“Nós fizemos muita insta-lação de raiz em prédios.lação de raiz em prédios.lação de raiz em prédios.lação de raiz em prédios.lação de raiz em prédios.Nas Caldas praticamenteNas Caldas praticamenteNas Caldas praticamenteNas Caldas praticamenteNas Caldas praticamentetodos os prédios grandestodos os prédios grandestodos os prédios grandestodos os prédios grandestodos os prédios grandes

foram feitos por nós”foram feitos por nós”foram feitos por nós”foram feitos por nós”foram feitos por nós”, recordao funcionário, especificando queo primeiro foi um edifício de 10andares junto ao Largo do Vac-cum.

Os trabalhadores juntavam-sede manhã na loja e depois partiacada um para a sua obra, carre-gando os rolos de fita e o restodo equipamento. Já quando iamfazer serviço para as aldeias doconcelho, Vasco Oliveira trans-portava-os na carrinha.

“Foram tempos difíceis,Foram tempos difíceis,Foram tempos difíceis,Foram tempos difíceis,Foram tempos difíceis,mas foi bom. Se eu mudassemas foi bom. Se eu mudassemas foi bom. Se eu mudassemas foi bom. Se eu mudassemas foi bom. Se eu mudasseagora não sabia fazer outraagora não sabia fazer outraagora não sabia fazer outraagora não sabia fazer outraagora não sabia fazer outracoisa”coisa”coisa”coisa”coisa”, diz António Rodrigues,que actualmente também ajudao colega na distribuição do gás.“Há serviços que se justifica“Há serviços que se justifica“Há serviços que se justifica“Há serviços que se justifica“Há serviços que se justificair duas pessoas e quandoir duas pessoas e quandoir duas pessoas e quandoir duas pessoas e quandoir duas pessoas e quandoestou mais livre vou apoiar oestou mais livre vou apoiar oestou mais livre vou apoiar oestou mais livre vou apoiar oestou mais livre vou apoiar omeu colega pois há pessoasmeu colega pois há pessoasmeu colega pois há pessoasmeu colega pois há pessoasmeu colega pois há pessoasque pedem duas botijas paraque pedem duas botijas paraque pedem duas botijas paraque pedem duas botijas paraque pedem duas botijas paraum terceiro andar e, sendoum terceiro andar e, sendoum terceiro andar e, sendoum terceiro andar e, sendoum terceiro andar e, sendodois, reparte-se o trabalho”dois, reparte-se o trabalho”dois, reparte-se o trabalho”dois, reparte-se o trabalho”dois, reparte-se o trabalho”,explica o funcionário que ali tra-balha há 39 anos.

A Vasco Oliveira Lda além deser uma empresa familiar nagerência, é-o também ao níveldos funcionários. A esposa deAntónio, Conceição Rodrigues,

de 53 anos, também ali traba-lha, a atender ao balcão na loja.

Nestes últimos 30 anos mui-tas têm sido as mudanças nacasa e Conceição Rodrigues co-nheceu-as bem. “VendíamosVendíamosVendíamosVendíamosVendíamosmuito material eléctrico, fio,muito material eléctrico, fio,muito material eléctrico, fio,muito material eléctrico, fio,muito material eléctrico, fio,tubos, candeeiros, e a linhatubos, candeeiros, e a linhatubos, candeeiros, e a linhatubos, candeeiros, e a linhatubos, candeeiros, e a linhabranca, enquanto que ago-branca, enquanto que ago-branca, enquanto que ago-branca, enquanto que ago-branca, enquanto que ago-ra são mais pequenos elec-ra são mais pequenos elec-ra são mais pequenos elec-ra são mais pequenos elec-ra são mais pequenos elec-trodomésticos”trodomésticos”trodomésticos”trodomésticos”trodomésticos”, disse. A fun-cionária lembra mesmo um Na-tal em que “desapareceram”todos os frigoríficos e arcascongeladoras da loja.

Actualmente vendem tam-bém muito para as aldeias,nomeadamente para os “mais“mais“mais“mais“maisvelhotes, que não gostamvelhotes, que não gostamvelhotes, que não gostamvelhotes, que não gostamvelhotes, que não gostamde ir ao centro comercial”de ir ao centro comercial”de ir ao centro comercial”de ir ao centro comercial”de ir ao centro comercial”.Estes preferem ir à loja desempre, onde conhecem osproprietários e sabem que sãobem aconselhados. “AindaAindaAindaAindaAindahoje vendi um esquentadorhoje vendi um esquentadorhoje vendi um esquentadorhoje vendi um esquentadorhoje vendi um esquentadora um senhor que chegou ea um senhor que chegou ea um senhor que chegou ea um senhor que chegou ea um senhor que chegou eperguntou pelo senhorperguntou pelo senhorperguntou pelo senhorperguntou pelo senhorperguntou pelo senhorVasco”Vasco”Vasco”Vasco”Vasco”, exemplifica Concei-ção Rodrigues, que gosta mui-to do trabalho que faz, espe-cialmente do contacto com aspessoas.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

O casal António e Conceição Rodrigues trabalha na mesma firma. Ele é o O casal António e Conceição Rodrigues trabalha na mesma firma. Ele é o O casal António e Conceição Rodrigues trabalha na mesma firma. Ele é o O casal António e Conceição Rodrigues trabalha na mesma firma. Ele é o O casal António e Conceição Rodrigues trabalha na mesma firma. Ele é ofuncionário mais antigo da casafuncionário mais antigo da casafuncionário mais antigo da casafuncionário mais antigo da casafuncionário mais antigo da casa

19371937193719371937 – Vasco Oliveira nas-ce em Silves

19471947194719471947- Vem para as Caldascom a família porque o pai vemtrabalhar nos serviços munici-palizados

1955 1955 1955 1955 1955 - Ingressa na Escolada Marinha Mercante e tornou-se oficial electricista

19691969196919691969 – Começa a trabalharcomo electricista na loja de

CRONOLOGIA electrodomésticos e instalaçõeseléctricas Inácio Abegão.

1971 1971 1971 1971 1971 – Vasco Oliveira e Al-fredo Cera abrem uma loja deelectrodomésticos

19721972197219721972- Alteração da socie-dade para Vasco Oliveira, Lda.que passa a ter como sócios,com quotas iguais, o fundadore a esposa, Maria Rosa Oliveira

20062006200620062006 - Elisa Oliveira torna-se a sócia gerente da Vasco Oli-veira Lda.

Na década de noventa o pagamento da luz à EDP era feito na loja de Vasco Oliveira, oNa década de noventa o pagamento da luz à EDP era feito na loja de Vasco Oliveira, oNa década de noventa o pagamento da luz à EDP era feito na loja de Vasco Oliveira, oNa década de noventa o pagamento da luz à EDP era feito na loja de Vasco Oliveira, oNa década de noventa o pagamento da luz à EDP era feito na loja de Vasco Oliveira, oque explica estas filas de espera.que explica estas filas de espera.que explica estas filas de espera.que explica estas filas de espera.que explica estas filas de espera.

O interior do estabelecimento não mudou muito desde a sua inauguração. Por isso,O interior do estabelecimento não mudou muito desde a sua inauguração. Por isso,O interior do estabelecimento não mudou muito desde a sua inauguração. Por isso,O interior do estabelecimento não mudou muito desde a sua inauguração. Por isso,O interior do estabelecimento não mudou muito desde a sua inauguração. Por isso,Elisa Oliveira prevê remodelá-lo muito em breveElisa Oliveira prevê remodelá-lo muito em breveElisa Oliveira prevê remodelá-lo muito em breveElisa Oliveira prevê remodelá-lo muito em breveElisa Oliveira prevê remodelá-lo muito em breve

Page 42: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

8| Outubro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

O vinho une três gerações da fa-mília Sousa. José de Sousa Júnior(1915-1973), natural de SancheiraGrande (Óbidos), foi motorista e con-duzia grandes camionetas, carrega-das de vinho de um familiar que ovendia para o Norte, tendo feito mui-tas viagens sobretudo à zona do gran-de Porto.

“Lembro-me que ele saía da-Lembro-me que ele saía da-Lembro-me que ele saía da-Lembro-me que ele saía da-Lembro-me que ele saía da-qui à meia-noite e chegava lá àsqui à meia-noite e chegava lá àsqui à meia-noite e chegava lá àsqui à meia-noite e chegava lá àsqui à meia-noite e chegava lá àssete ou oito da manhãsete ou oito da manhãsete ou oito da manhãsete ou oito da manhãsete ou oito da manhã”, conta ofilho Alfredo Sousa, de 68 anos, acres-centado que só voltava a ver o pai nodia seguinte, quando ele regressa-va, por volta das cinco da tarde.

Ao transporte do vinho José deSousa Júnior conseguiu, nos anos 40,juntar o seu próprio negócio tendoaberto na sua terra natal e com aajuda da esposa, Maria Salomé Sa-bino (hoje com 89 anos) uma merce-aria, que incluía também uma bar-bearia e uma taberna.

“Vendíamos ali de tudo, até osVendíamos ali de tudo, até osVendíamos ali de tudo, até osVendíamos ali de tudo, até osVendíamos ali de tudo, até oscomprimidoscomprimidoscomprimidoscomprimidoscomprimidos”, recorda AlfredoSousa, acrescentando que enquan-to o pai andava no transporte do vi-nho, era a mãe que tomava conta donegócio.

Estabelecidos na Sancheira Gran-de, e tendo em conta a sua experiên-cia com o vinho, José de Sousa Júniore Maria Salomé Sabino decidem tor-nar-se também armazenistas e nosanos 60 compram nas Caldas umacasa com quintal na Rua Sebastiãode Lima. Mandam o edifício abaixo econstroem de raiz o armazém de vi-nho e dois apartamentos para a fa-mília no primeiro e segundo andar.

Em simultâneo o casal comprauma mercearia e taberna na esqui-na da Rua do Sacramento com a RuaSebastião de Lima, muito próximodo futuro armazém.

“Naquele tempo vendia-seNaquele tempo vendia-seNaquele tempo vendia-seNaquele tempo vendia-seNaquele tempo vendia-sebem o vinho e não havia tantabem o vinho e não havia tantabem o vinho e não havia tantabem o vinho e não havia tantabem o vinho e não havia tantaconcorrência como agoraconcorrência como agoraconcorrência como agoraconcorrência como agoraconcorrência como agora”, dis-

Família Sousa - do vinho a granel às garrafeiras Bag

se Alfredo Sousa. Na taberna, o tintoe o branco comercializava-se ao copoe ao garrafão. Os próprios clientesvinham aviar-se trazendo os garra-fões que enchiam a partir das carto-las (barris que levavam 200 litros)para os levar para casa. “Não havia“Não havia“Não havia“Não havia“Não havia

dias de descanso, trabalhava-dias de descanso, trabalhava-dias de descanso, trabalhava-dias de descanso, trabalhava-dias de descanso, trabalhava-se de segunda a segunda”se de segunda a segunda”se de segunda a segunda”se de segunda a segunda”se de segunda a segunda”, con-ta.

O armazém do vinho fica prontoem 1967 e possui uma capacidade dearmazenamento de 150 mil litros. Joséde Sousa Júnior dedicava-se agora à

venda do vinho a granel. Decide, en-tretanto vender a mercearia-taber-na-barbearia na Sancheira Grande,onde começara a sua vida de comer-ciante.

Finalizada a tropa em 1967, Alfre-do de Sousa vem ajudar o pai no

negocio até porque, durante o servi-ço militar, tirou a carta de pesados.Era pois vê-lo sair das Caldas, às seise meia da manhã, ao volante da ca-mioneta Bedford, de sete toneladas.“Íamos directamente aos produ-Íamos directamente aos produ-Íamos directamente aos produ-Íamos directamente aos produ-Íamos directamente aos produ-tores acartar o vinhotores acartar o vinhotores acartar o vinhotores acartar o vinhotores acartar o vinho”, lembra o

empresário, acrescentando que às nove jáestava de volta às Caldas para descarregaro vinho nos depósitos do seu armazém.

José de Sousa Júnior toma ainda a deci-são de começar a engarrafar o vinho queadquiria em Alcoentre, Cercal, Manique doIntendente, Mata de Porto Mouro e Relvas.

“Engarrafávamos tudo à mão, sob a“Engarrafávamos tudo à mão, sob a“Engarrafávamos tudo à mão, sob a“Engarrafávamos tudo à mão, sob a“Engarrafávamos tudo à mão, sob amarca Jotesse marca Jotesse marca Jotesse marca Jotesse marca Jotesse [JS de José de Sousa].” Al-fredo Sousa conta que vendia muito vinhopara a zona da Anadia e, em troca, come-çaram também a adquirir bebidas já en-garrafadas, num golpe de vista do patriar-ca que abria, no fundo, caminho para a

constituição futura de umagarrafeira.

JOTESSE FOI A MARCA DACASA

Entre 1967 e 1973 pai e filho

vendiam garrafões de cincolitros com a marca Jotesse enos final dos anos 70 tambémpassaram a engarrafar aguar-dente - a Cantomar (branca)e a Contente (amarela).

“Comprávamos no pro-“Comprávamos no pro-“Comprávamos no pro-“Comprávamos no pro-“Comprávamos no pro-dutor e engarrafava-se cá,dutor e engarrafava-se cá,dutor e engarrafava-se cá,dutor e engarrafava-se cá,dutor e engarrafava-se cá,tal como fazíamos com otal como fazíamos com otal como fazíamos com otal como fazíamos com otal como fazíamos com ovinho branco e tintovinho branco e tintovinho branco e tintovinho branco e tintovinho branco e tinto”, con-ta. Diz que a zona das Caldasera boa produtora de bran-cos, mas os tintos tinham quevir do Manique do Intendenteou de Alcoentre.

“A qualidade sempre foi“A qualidade sempre foi“A qualidade sempre foi“A qualidade sempre foi“A qualidade sempre foifundamental, é a verda-fundamental, é a verda-fundamental, é a verda-fundamental, é a verda-fundamental, é a verda-deira alma do negóciodeira alma do negóciodeira alma do negóciodeira alma do negóciodeira alma do negócio”,contou o empresário, que hoje,aos 68 anos, dá uma ajuda aofilho José de Sousa, que estáà frente desta empresa fami-liar.

Em 1973 o patriarca, Joséde Sousa Júnior, morre aos 58anos em consequência deuma trombose. Alfredo Sou-sa e a mãe prosseguem o ne-gócio, ficando agora a firmadesignada José de Sousa Jú-nior Herdeiros.

Estava-se nos anos 80 e aconcorrência era cada vezmaior pois havia empresascom o processo de engarra-

famento todo automatizado, con-tras as quais a firma caldense nãoconseguia lutar.

Alfredo Sousa deixa então devender a granel e de engarrafar epassa a apostar apenas na comer-cialização de vinhos engarrafados.

Em 1979 constitui-se uma novafirma, a Costa & Sousa, Lda. com aesposa e mãe, Maria Helena CostaSousa e Maria Salomé Sabino, res-pectivamente. A mulher de AlfredoSousa há muito que trabalhava como marido no negócio.

Em 1983 abrem a garrafeira Bagod’Ouro, aproveitando o facto do ar-mazém ter uma boa frente para aRua Sebastião de Lima.

“Esta é uma vida dedicada aoEsta é uma vida dedicada aoEsta é uma vida dedicada aoEsta é uma vida dedicada aoEsta é uma vida dedicada aovinho e tento estar por dentrovinho e tento estar por dentrovinho e tento estar por dentrovinho e tento estar por dentrovinho e tento estar por dentrodos vários assuntos relaciona-dos vários assuntos relaciona-dos vários assuntos relaciona-dos vários assuntos relaciona-dos vários assuntos relaciona-dos com o tema, seja a utiliza-dos com o tema, seja a utiliza-dos com o tema, seja a utiliza-dos com o tema, seja a utiliza-dos com o tema, seja a utiliza-ção das novas tecnologias, sejação das novas tecnologias, sejação das novas tecnologias, sejação das novas tecnologias, sejação das novas tecnologias, sejaas novas castas ou quais sãoas novas castas ou quais sãoas novas castas ou quais sãoas novas castas ou quais sãoas novas castas ou quais sãoos melhores anosos melhores anosos melhores anosos melhores anosos melhores anos”, disse este em-presário que agora dá uma ajudaao filho na empresa.

Alfredo Sousa acha que o sectorhoje “está mais parado pois asestá mais parado pois asestá mais parado pois asestá mais parado pois asestá mais parado pois asbebidas não são artigos de pri-bebidas não são artigos de pri-bebidas não são artigos de pri-bebidas não são artigos de pri-bebidas não são artigos de pri-meira necessidade e por isso asmeira necessidade e por isso asmeira necessidade e por isso asmeira necessidade e por isso asmeira necessidade e por isso aspessoas retraem-sepessoas retraem-sepessoas retraem-sepessoas retraem-sepessoas retraem-se”. Segundoeste responsável, as vendas deve-rão ter decrescido nos últimos anosna ordem dos 10%.

Na sua garrafeira Bago d’Ouroaposta numa grande variedade debebidas pois se não fosse essa diver-sidade “não conseguiríamos so-não conseguiríamos so-não conseguiríamos so-não conseguiríamos so-não conseguiríamos so-breviver”breviver”breviver”breviver”breviver”, acrescentou. Tentamtambém ter os melhores preços paraos seus clientes pois como compramtudo o que podem na origem (emherdades alentejanas, por exemplo)conseguem bons preços para o cli-ente final.

Qual é o segredo do negócio? “ÉÉÉÉÉtrabalhar com seriedade e nãotrabalhar com seriedade e nãotrabalhar com seriedade e nãotrabalhar com seriedade e nãotrabalhar com seriedade e nãoandar com trafulhicesandar com trafulhicesandar com trafulhicesandar com trafulhicesandar com trafulhices”, rematouAlfredo Sousa.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

A família Sousa possui duas garrafeiras nas Caldas da Rainha – Bago D’Ouro e Vinhos & Néctares. Sãoos únicos com casa aberta no centro da cidade a dedicarem-se à venda de bebidas alcoólicas. Quemvisita a Bago d’Ouro, na Rua Sebastião de Lima, não adivinha que aquele espaço já foi um local dearmazenamento e de engarrafamento de vinho onde trabalharam já três gerações da família.Os Sousa agora dedicam-se apenas à venda de garrafas e é através da grande diversidade de “nécta-res”, do atendimento personalizado e da entrega ao domicílio, nas Caldas e arredores, que fazemfrente à concorrência das grandes superfícies.

O fundador da empresa, José de Sousa Júnior, abriu o O fundador da empresa, José de Sousa Júnior, abriu o O fundador da empresa, José de Sousa Júnior, abriu o O fundador da empresa, José de Sousa Júnior, abriu o O fundador da empresa, José de Sousa Júnior, abriu oseu próprio negócio nos anos 40 quando ainda conduziaseu próprio negócio nos anos 40 quando ainda conduziaseu próprio negócio nos anos 40 quando ainda conduziaseu próprio negócio nos anos 40 quando ainda conduziaseu próprio negócio nos anos 40 quando ainda conduziacamionetas com vinhocamionetas com vinhocamionetas com vinhocamionetas com vinhocamionetas com vinho

José Manuel de Sousa, neto do fundador, com os pais, Alfredo de Sousa e Maria José Manuel de Sousa, neto do fundador, com os pais, Alfredo de Sousa e Maria José Manuel de Sousa, neto do fundador, com os pais, Alfredo de Sousa e Maria José Manuel de Sousa, neto do fundador, com os pais, Alfredo de Sousa e Maria José Manuel de Sousa, neto do fundador, com os pais, Alfredo de Sousa e MariaHelena da Costa SousaHelena da Costa SousaHelena da Costa SousaHelena da Costa SousaHelena da Costa Sousa

Alfredo Sousa e Maria Helena Costa no dia do seu casamento, em 7/02/1965, à porta do armazém onde realizaram Alfredo Sousa e Maria Helena Costa no dia do seu casamento, em 7/02/1965, à porta do armazém onde realizaram Alfredo Sousa e Maria Helena Costa no dia do seu casamento, em 7/02/1965, à porta do armazém onde realizaram Alfredo Sousa e Maria Helena Costa no dia do seu casamento, em 7/02/1965, à porta do armazém onde realizaram Alfredo Sousa e Maria Helena Costa no dia do seu casamento, em 7/02/1965, à porta do armazém onde realizarama boda e numa foto actual, no mesmo sítio, hoje garrafeira Bago d’Ouroa boda e numa foto actual, no mesmo sítio, hoje garrafeira Bago d’Ouroa boda e numa foto actual, no mesmo sítio, hoje garrafeira Bago d’Ouroa boda e numa foto actual, no mesmo sítio, hoje garrafeira Bago d’Ouroa boda e numa foto actual, no mesmo sítio, hoje garrafeira Bago d’Ouro

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8 | Outubro | 2010

23CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

go D’Ouro e Vinhos & NéctaresAtendimento personalizado e entregas

ao domicílio distinguem a casaJosé Manuel de Sousa tem 44 anos

e dirige o negócio iniciado pelo avô.Guarda na memória as idas com opai a localidades como Tagarro,Cercal e Manique do Intendentepara fazer negócio com os produto-res do vinho. Era aos domingos quefazia estas viagens, quando tinha10 anos e lembra-se quando as ade-gas não tinham bombas eléctricase era preciso usar uma bomba ma-nual para fazer a trasfega do vinhopara a camioneta. Feito o trabalho,“havia sempre um lanchinho dehavia sempre um lanchinho dehavia sempre um lanchinho dehavia sempre um lanchinho dehavia sempre um lanchinho depão com um bom chouriço quepão com um bom chouriço quepão com um bom chouriço quepão com um bom chouriço quepão com um bom chouriço quenos davam as pessoas das al-nos davam as pessoas das al-nos davam as pessoas das al-nos davam as pessoas das al-nos davam as pessoas das al-deiasdeiasdeiasdeiasdeias”, disse o empresário.

Tal como pai, os estudos tam-bém não eram o seu forte e, apesarde ter tentado concluir o ensino se-cundário à noite, acabou por desis-tir e por se agarrar ao negócio dafamília. Entre os 16 e os 18 anoscomeçou como ajudante na distri-buição na empresa que hoje dirige.

Ainda entre 1993 e 1997 teve, coma sua esposa, Alexandra Sousa, umbar no Painho (Cadaval), que fez naadega da casa que lhe deixou a avó.“Só trabalhávamos ao fim deSó trabalhávamos ao fim deSó trabalhávamos ao fim deSó trabalhávamos ao fim deSó trabalhávamos ao fim desemanasemanasemanasemanasemana”, contou sobre o Pipas Bar.José e Alexandra gostaram muitodesta experiência e dizem que nãoestá fora de questão regressaremum dia a um projecto deste tipo.

Na garrafeira Bago d’Ouro ven-dem aguardentes velhas, whiskys,licores (ginja sai bem) e vinhos en-garrafados do Douro, do Alentejo,do Ribatejo apesar dos Dãos e daregião Oeste estarem muito emvoga.

“Uma das áreas mais fortesUma das áreas mais fortesUma das áreas mais fortesUma das áreas mais fortesUma das áreas mais fortesé o vinho do Porto”é o vinho do Porto”é o vinho do Porto”é o vinho do Porto”é o vinho do Porto”, disse o em-presário, contando que a garrafamais antiga que possui é de 1890 e

custa cerca de 1300 euros.A revenda – para restaurantes e

cafés - é uma parte importante donegócio da empresa representan-do 70% do volume de negócios queJosé de Sousa prefere não revelar.

“Vejo hoje as coisas mais di-Vejo hoje as coisas mais di-Vejo hoje as coisas mais di-Vejo hoje as coisas mais di-Vejo hoje as coisas mais di-fíceis, não só por causa da mui-fíceis, não só por causa da mui-fíceis, não só por causa da mui-fíceis, não só por causa da mui-fíceis, não só por causa da mui-ta concorrência, como por cau-ta concorrência, como por cau-ta concorrência, como por cau-ta concorrência, como por cau-ta concorrência, como por cau-sa da própria situação do pais”,sa da própria situação do pais”,sa da própria situação do pais”,sa da própria situação do pais”,sa da própria situação do pais”,disse o empresário, que continua ater clientes de Peniche, Nazaré ouS. Martinho.

José de Sousa diz que têm bonspreços para os seus clientes e queaposta no atendimento personali-zado e nas entregas ao domicílionas Caldas e arredores como ele-mentos diferenciadores que lhespermite enfrentar a concorrênciadas grandes superfícies. “Somos“Somos“Somos“Somos“Somostambém muito procurados portambém muito procurados portambém muito procurados portambém muito procurados portambém muito procurados porcausa dos portos e das aguar-causa dos portos e das aguar-causa dos portos e das aguar-causa dos portos e das aguar-causa dos portos e das aguar-dentes. Aconselhamos os nos-dentes. Aconselhamos os nos-dentes. Aconselhamos os nos-dentes. Aconselhamos os nos-dentes. Aconselhamos os nos-sos clientes e temos sempre no-sos clientes e temos sempre no-sos clientes e temos sempre no-sos clientes e temos sempre no-sos clientes e temos sempre no-vidadesvidadesvidadesvidadesvidades”, contou José de Sousa.

“Temos clientes com quemTemos clientes com quemTemos clientes com quemTemos clientes com quemTemos clientes com quemtrabalhamos há mais de 20 anostrabalhamos há mais de 20 anostrabalhamos há mais de 20 anostrabalhamos há mais de 20 anostrabalhamos há mais de 20 anose já sabemos que lote de bebi-e já sabemos que lote de bebi-e já sabemos que lote de bebi-e já sabemos que lote de bebi-e já sabemos que lote de bebi-das pretendem quando orga-das pretendem quando orga-das pretendem quando orga-das pretendem quando orga-das pretendem quando orga-nizam uma festanizam uma festanizam uma festanizam uma festanizam uma festa”, contou o res-ponsável, acrescentando que tam-bém organizam com regularidadejantares vínicos em restaurantes dacidade.

O próximo projecto da Bagod’Ouro será a abertura de uma saladedicada à prova de vinhos, em co-laboração com os produtores, nolocal onde antes tinham os depósi-tos do vinho.

A empresa Costa & Sousa asse-gura neste momento cinco postosde trabalho entre os sócios-geren-tes, os vendedores e os distribuido-res.

“Vinhos & Néctares” é como se designa a segunda garrafeirada firma Costa & Sousa, que é gerida por Alexandra, esposa deJosé de Sousa. A loja fica na rua Heróis da Grande Guerra ondeanteriormente a empresária tinha uma loja de roupa. Além dosvinhos têm várias propostas gourmet como patés, massas ouazeites. A loja proporciona cabazes e ofertas em que o vinho éassociado a outros produtos.

“A comida sempre esteve associada ao vinho”“A comida sempre esteve associada ao vinho”“A comida sempre esteve associada ao vinho”“A comida sempre esteve associada ao vinho”“A comida sempre esteve associada ao vinho”, comen-tou a empresária, que já conta com a ajuda da sua filha maisvelha para realizar os presentes.

Há outro aspecto curioso. Alexandra Sousa tenta sempre terprodutos nacionais, desde os doces às conservas “até porque“até porque“até porque“até porque“até porqueo que cá se faz tem muita qualidade”o que cá se faz tem muita qualidade”o que cá se faz tem muita qualidade”o que cá se faz tem muita qualidade”o que cá se faz tem muita qualidade”.

A clientela é diversificada e no verão há muitos estrangeirosque gostam de conhecer os vinhos da região e também conso-mem produtos de gama média alta. “Há a ideia de que ven-Há a ideia de que ven-Há a ideia de que ven-Há a ideia de que ven-Há a ideia de que ven-demos sobretudo vinhos caros, mas esta não corres-demos sobretudo vinhos caros, mas esta não corres-demos sobretudo vinhos caros, mas esta não corres-demos sobretudo vinhos caros, mas esta não corres-demos sobretudo vinhos caros, mas esta não corres-ponde à realidade pois temos aqui de tudo dos váriosponde à realidade pois temos aqui de tudo dos váriosponde à realidade pois temos aqui de tudo dos váriosponde à realidade pois temos aqui de tudo dos váriosponde à realidade pois temos aqui de tudo dos váriossegmentossegmentossegmentossegmentossegmentos”, acrescentou a empresária. Tal como na Bagod’Ouro, esta garrafeira aposta forte na variedade dos vinhosdo Porto “que temos para todos os gostos e bolsas“que temos para todos os gostos e bolsas“que temos para todos os gostos e bolsas“que temos para todos os gostos e bolsas“que temos para todos os gostos e bolsas”, re-matou.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

Anos 40Anos 40Anos 40Anos 40Anos 40 - José de Sousa Júnior abre merce-aria, barbearia e taberna na sua terra natal.Como motorista, transporta vinho de um fa-miliar para o Grande Porto.

19601960196019601960 - Vendem o negócio na Sancheira etransferem-se para as Caldas, ficando commercearia e taberna. Em simultâneo apostana construção do armazém de vinho com ca-pacidade para 150 mil litros. Passam tambéma engarrafar o vinho com a marca Jotesse.

19731973197319731973 – Morre José de Sousa Júnior e a em-presa passa a chamar-se José de Sousa Júni-or Herdeiros

19791979197919791979 – Constitui-se a firma Costa & SousaLda. que tem como sócios Alfredo Sousa, amulher Maria Helena Rodrigues da Costa Sou-sa e a sua mãe Maria Salomé Sabino. Passamtambém a engarrafar as aguardentes Canto-mar e Contente.

19831983198319831983 – Abertura da garrafeira Bago d’Ouro.20052005200520052005 – Entra para a empresa o filho José

Manuel Rodrigues de Sousa que fica com aquota da avó. O capital social é de 5.486,77euros.

20062006200620062006- Abre a Vinhos & Néctares na Rua He-róis da Grande Guerra

CRONOLOGIA

Vinho e produtos gourmet no coração da cidade

A família deixou o negócio dos vinhos a granel e passou a dedicar-se à comercialização de bebidas engarrafadas A família deixou o negócio dos vinhos a granel e passou a dedicar-se à comercialização de bebidas engarrafadas A família deixou o negócio dos vinhos a granel e passou a dedicar-se à comercialização de bebidas engarrafadas A família deixou o negócio dos vinhos a granel e passou a dedicar-se à comercialização de bebidas engarrafadas A família deixou o negócio dos vinhos a granel e passou a dedicar-se à comercialização de bebidas engarrafadas

Uma das primeiras garrafas com a marca Jotesse Uma das primeiras garrafas com a marca Jotesse Uma das primeiras garrafas com a marca Jotesse Uma das primeiras garrafas com a marca Jotesse Uma das primeiras garrafas com a marca Jotessepirogravada, usada no tempo do pai de Alfredo Sousapirogravada, usada no tempo do pai de Alfredo Sousapirogravada, usada no tempo do pai de Alfredo Sousapirogravada, usada no tempo do pai de Alfredo Sousapirogravada, usada no tempo do pai de Alfredo Sousa

Além do vinho também a aguardente era engarrafada naquele espaçoAlém do vinho também a aguardente era engarrafada naquele espaçoAlém do vinho também a aguardente era engarrafada naquele espaçoAlém do vinho também a aguardente era engarrafada naquele espaçoAlém do vinho também a aguardente era engarrafada naquele espaçocom as marcas Cantomar e Contentecom as marcas Cantomar e Contentecom as marcas Cantomar e Contentecom as marcas Cantomar e Contentecom as marcas Cantomar e Contente

Alexandra Sousa e a filha mais velha na loja Alexandra Sousa e a filha mais velha na loja Alexandra Sousa e a filha mais velha na loja Alexandra Sousa e a filha mais velha na loja Alexandra Sousa e a filha mais velha na lojagourmet que fica na Rua Heróis da Grande Guerragourmet que fica na Rua Heróis da Grande Guerragourmet que fica na Rua Heróis da Grande Guerragourmet que fica na Rua Heróis da Grande Guerragourmet que fica na Rua Heróis da Grande Guerra

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Zé do Barrete – a história de uma família de AlvorninOs últimos clientes saem por

volta das 23h00. É nessa alturaque César Santos e a mulherabandonam a cozinham e sejuntam ao irmão, José Luis, e àcunhada, que andaram a serviràs mesas. É assim que repar-tem a tarefa: César procura darseguimento à cozinha tradicio-nal portuguesa que aprendeucom a mãe e José ocupa-se dosclientes.

Ao fim da noite a pausa durapouco. Uma garrafinha de água,um licor e ala que se faz tardeporque é preciso ainda arrumaro restaurante e deixá-lo prepa-rado para o dia seguinte.

Mas hoje o serão é para con-tar memórias. Os dois irmãosestão lado a lado e não enga-nam - são mesmo parecidos.Falam da Alvorninha onde nas-ceram, mas da qual guardampouca memória porque vieramainda crianças para as Caldas.

Alvorninha, ano de 1946. Gra-cinda Maria Correia tem 16 anose nunca tinha cozinhado paratanta gente. É o primeiro casa-mento que faz como cozinheira,tarefa que haveria de a arran-car ao trabalho do campo. Du-rante anos a fio, cozinha paracasamentos e baptizados, quenaquele tempo e naquele meiose realizavam sobretudo nascasas das pessoas, nas adegase nas garagens. Virá a casar játarde (sobretudo para os pa-drões da época) com quase 30anos, com um rapaz da sua ida-de, Raul dos Santos, tal comoela, nascido em 1930 e naturalda mesma terra.

Nos anos sessenta, em Alvor-ninha não havia muitas maisprofissões e Raul é, como quasetoda a gente, agricultor. Mas é-lhe detectada uma artrose, do-ença nada compatível com o tra-balho do campo.

O casal, já com três filhos (Cé-sar, José Luís e Armando),muda-se para a cidade. E Gra-cinda aproveita para concreti-zar um sonho antigo – ter umrestaurante onde possa cozi-nhar para os clientes, até por-que nunca largara essa activi-

Quem os conhece diz que se dão como irmãos. É uma redundância porque César e José são, de facto,irmãos. Mas mais do que isso, são amigos e sócios. Tomam conta de uma das mais antigas casas derestauração caldense, o mesmo negócio com que os pais ganharam o sustento para os criar e que elesagora mantém, adaptando-o a outros tempos. Esta é a história do Zé do Barrete, o restaurante quecomeçou por ser uma taberna nos anos quarenta, quando José Faustino Leal, vindo de Vila Nova(Alvorninha) comprou a antiga carvoaria que havia na Travessa Cova da Onça. O estabelecimentohaveria de sofrer vários trespasses até chegar às mãos de Raul dos Santos e Gracinda Correia, em 27de Dezembro de 1966, que por sua vez o legariam aos filhos em 1985.

dade e chegara até a montaruma tasquinha na feira da RioMaior.

Em 27 de Dezembro de 1966,por 40 contos (200 euros) Raul eGraciete tomam então de tres-passe o Zé do Barrete, a já fa-

mosa taberna e casa de pastoda Travessa Cova da Onça. Nãoperdem tempo e fazem obras.Ampliam espaços, constróemum forno e dão um cunho pes-soal ao projecto que abraçaram.

A mulher trata da cozinha e omarido serve os clientes. Mas éela a alma do negócio. Com 43anos completa a 4ª classe (numtempo em que não havia Novas

Oportunidades e era mesmonecessário estudar-se para sepassar no exame) e tira a cartade condução. Raul (que faleceuem 2003) apenas sabia assinar oseu nome, mas os clientes re-cordam-no como a face visível

do Zé Barrete, um homem cheiode boa vontade e simpatia, umautêntico relações públicas.

A par deste negócio, o casalaproveita tudo o que pode paraarredondar os rendimentos. Alu-ga quartos aos aquistas que de-mandam o Hospital Termal, Gra-ciete lava a roupa aos militaresdo RI 5 (hoje ESE) e Raul arranjaum ocupação diária curiosa – vai

numa motorizada ao quartelbuscar as refeições ali cozinha-das para os reclusos da cadeiadas Caldas.

No dia 16 de Março de 1974,com o país à beira de uma revo-lução que abortou, o quartel das

Caldas está cercado e não o dei-xam passar. Raul, que nada per-cebia de política, insistia em fu-rar o cerco para ir buscar a comi-da. Dizia que os presos tinhamde comer e teimava em dirigir-se ao quartel. Impedido de o fa-zer, voltou para trás, foi falar como director da cadeia e arranjou asolução. Naquele dia os reclusoscomeram ovos estrelados com

arroz e salsichas, tudo cozinha-do no Zé do Barrete.

“Ainda me lembro de ver“Ainda me lembro de ver“Ainda me lembro de ver“Ainda me lembro de ver“Ainda me lembro de veruns panelões enormes comuns panelões enormes comuns panelões enormes comuns panelões enormes comuns panelões enormes comessa comida nesse dia. Euessa comida nesse dia. Euessa comida nesse dia. Euessa comida nesse dia. Euessa comida nesse dia. Eutinha 11 anos…”tinha 11 anos…”tinha 11 anos…”tinha 11 anos…”tinha 11 anos…”, conta JoséLuís Santos.

Os três irmãos crescem entreo bulício do restaurante e asbrincadeiras na Travessa Covada Onça. E seguem diferentescaminhos. Armando, o maisnovo, partiu para os EstadosUnidos, onde vive e tem dois fi-lhos. César quer seguir a carrei-ra militar e vai para a tropa paraLisboa. José Luís dá por si a tra-balhar como mecânico-electri-cista na F.A. Caiado (a fábricade tomate e conservas, entre-tanto fechada, que tinha insta-lações na Estrada da Tornada eno centro das Caldas).

Em 1980 o casal, que até en-tão pagava renda pelo restau-rante, compra o edifício por 850contos (4.240 euros). A vida nãocorre mal, apesar do intenso tra-balho diário.

Há aqui um momento em queparece que ninguém vai pegarno negócio da família, mas vaiser José Luis – que na verdadesempre continuou ligado ao res-taurante a ajudar os pais – que O restaurante sofreu sucessivas modificações e hoje nada resta da antiga casa de pastoO restaurante sofreu sucessivas modificações e hoje nada resta da antiga casa de pastoO restaurante sofreu sucessivas modificações e hoje nada resta da antiga casa de pastoO restaurante sofreu sucessivas modificações e hoje nada resta da antiga casa de pastoO restaurante sofreu sucessivas modificações e hoje nada resta da antiga casa de pasto

Raul e Gracinda com os filhos José Luís, Armando JorgeRaul e Gracinda com os filhos José Luís, Armando JorgeRaul e Gracinda com os filhos José Luís, Armando JorgeRaul e Gracinda com os filhos José Luís, Armando JorgeRaul e Gracinda com os filhos José Luís, Armando Jorgee César Manuele César Manuele César Manuele César Manuele César Manuel

José Luís, Ana Paula, Gracinda Correia, César e Rymma TupchiyJosé Luís, Ana Paula, Gracinda Correia, César e Rymma TupchiyJosé Luís, Ana Paula, Gracinda Correia, César e Rymma TupchiyJosé Luís, Ana Paula, Gracinda Correia, César e Rymma TupchiyJosé Luís, Ana Paula, Gracinda Correia, César e Rymma Tupchiy

toma uma decisão importantelogo a seguir ao seu casamentocom Ana Paula Marques, em1984. Na fábrica ganhava poucoe resolve que seria no Zé doBarrete que iria buscar o sus-tento para a família.

O irmão César acompanha-ona aventura. Diz adeus à fardade furriel em Lisboa e regressaàs Caldas, iniciando uma socie-dade que, diz quem os conhece,parece abençoada, tal é o graude sintonia entre os dois irmãos.

Progressivamente os paisafastam-se e cedem-lhes o lu-gar, situação que é formalizadaem 1985 com a atribuição da ge-rência aos dois filhos (o maisnovo, Armando, emigrara paraos Estados Unidos onde aindahoje vive). A casa sofre remode-lações logo nesse ano. E tambémem 1989 e em 2005. Da antiga casade pasto já hoje nada resta e oestabelecimento é actualmenteum restaurante vulgar, que guar-da, contudo, um nome sonante ememórias que se cruzam com ahistória da cidade.

Os dois irmãos são sócio-ge-rentes da firma Restaurante Zédo Barrete, Lda., formalmentecriada em 1998 e que tem hojeum capital social de 5000 euros.A empresa, que tem um volumede negócios anual que ronda os200 mil euros, é composta pelosdois sócios-gerentes irmãos etrês empregados: as respectivasmulheres e mais uma funcioná-ria. A sociedade, porém, pagauma renda à Gracinda MariaCorreia – Sociedade Unipesso-al, esta sim, a verdadeira pro-prietária do imóvel.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

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23CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

nha que veio viver para a Travessa Cova da Onça

Qual o segredo do êxito?“A tradição e o nome”“A tradição e o nome”“A tradição e o nome”“A tradição e o nome”“A tradição e o nome”, responde

José Luis. “A cozinha tradicional, que“A cozinha tradicional, que“A cozinha tradicional, que“A cozinha tradicional, que“A cozinha tradicional, quesegue a linha da minha mãe”segue a linha da minha mãe”segue a linha da minha mãe”segue a linha da minha mãe”segue a linha da minha mãe”, res-ponde César Santos. A localização bemno centro da cidade também conta,apesar de alguns se queixarem da difi-culdade em estacionar. E também osclientes que frequentam a casa há maisde 30 anos.

As especialidades da casa passampelos peixes frescos grelhados, o cozi-do à portuguesa das quartas-feiras eos filetes de pescada fresca às quin-tas. A clientela não falta e a recessãonão parece afectar o negócio.

É claro que já houve tempos melho-res, mas isso não tem a ver com a criseeconómica mundial. Antes com a cida-de e com o que ela já foi. Nos verões dehá 15 anos os irmãos lembram-se de acasa encher por completo ao meio-dia,depois às 13h00 e depois às 14h00. Eramos aquistas que vinham mais cedo, osemigrantes, os turistas, os caldenses.Grande parte da clientela vinha do Alen-tejo, de Elvas, Évora, Alandroal, Mou-ra, e vinham aos banhos às Caldas. Issoagora acabou.

Acabou-se o pico do Verão e a fraca procura

no InvernoO restaurante esteve durante alguns

anos aconselhado no Guide du Routarde José Luís conta que, graças a isso,era raro o dia em que não apareciamclientes franceses. Ao ponto de ter de-corado a ementa da casa em francês.

“Agora estamos pior no Verão e“Agora estamos pior no Verão e“Agora estamos pior no Verão e“Agora estamos pior no Verão e“Agora estamos pior no Verão emelhor no Inverno. Antes trabalha-melhor no Inverno. Antes trabalha-melhor no Inverno. Antes trabalha-melhor no Inverno. Antes trabalha-melhor no Inverno. Antes trabalha-va-se três meses bons e procura-va-se três meses bons e procura-va-se três meses bons e procura-va-se três meses bons e procura-va-se três meses bons e procura-va-se aguentar isto durante o res-va-se aguentar isto durante o res-va-se aguentar isto durante o res-va-se aguentar isto durante o res-va-se aguentar isto durante o res-to do ano. Agora não há picos. Éto do ano. Agora não há picos. Éto do ano. Agora não há picos. Éto do ano. Agora não há picos. Éto do ano. Agora não há picos. Émais ou menos igual o ano intei-mais ou menos igual o ano intei-mais ou menos igual o ano intei-mais ou menos igual o ano intei-mais ou menos igual o ano intei-ro”ro”ro”ro”ro”. É isso que constata José Luís.

Raul dos Santos morreu em 2003. Gra-cinda Correia, hoje com 80 anos e do-ente, ainda há poucas semanas tenta-va descascar umas batatas e ajudar osfilhos, mas passa grande parte do temponum lar. Tem quatro netos em Portu-gal e dois nos Estados Unidos, com ida-des entre os três meses e os 22 anos.Alguns já trabalham. Mas mais do queum, particularmente sensibilizado coma história da família, já disse que “o“o“o“o“oZé do Barrete não pode morrer”Zé do Barrete não pode morrer”Zé do Barrete não pode morrer”Zé do Barrete não pode morrer”Zé do Barrete não pode morrer”.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

Maria Amélia Ramos Paulo (1928-2004) e César Mota Tempero (1928-2005) numa imagem do início da década de cinquenta. O casal esteveà frente do Zé do Barrete entre 1957 e 1960. César era empregado do café Zaira e a esposa assegurava o funcionamento, durante o dia, daentão taberna e casa de pasto. A filha, Ida Amélia, que hoje trabalha no Registo Civil das Caldas, nasceu em 1957 nessa mesma casa. Nas fotostem três meses e está à porta do estabelecimento ao colo do irmão, César Tempero, que então tinha seis anos e viria a ser muitos anos depoispresidente da Junta de Freguesia dos Vidais. A foto da direita, também com a bebé Ida, é uma das poucas imagens antigas onde se pode veruma parte do interior da casa do Zé do Barrete.

A família Tempero no Zé do Barrete

CRONOLOGIA

José Faustino Leal comprou nos anosquarenta a carvoaria que existia na Tra-vessa Cova da Onça, uma artéria dis-creta do centro da cidade que duranteanos concentrou tabernas e casas depasto, local também de muita circula-ção de burros e carroças de quem de-mandava a Praça da Fruta e guardavaas “viaturas” numa cocheira que aliexistia.

Deste homem, natural de Vila Nova,na freguesia de Alvorninha, sabe-seque durante uns tempos colocava umbarrete na cabeça, divertindo clientes

José Faustino Leal - o fundadore amigos. Fazia-o na brincadeira, masa alcunha pegou e deu nome ao esta-belecimento, atravessando todo o sé-culo XX e os sucessivos proprietáriosda então taberna com casa de pasto ehoje restaurante.

Não foi possível reconstituir os vári-os donos do Zé do Barrete. Maria Amé-lia Ramos Paulo e César Tempero já otomaram de trespasse a outro dono quenão o fundador da casa. E quando de-cidiram largar o negócio, deixaram-noa uma senhora, de nome Emília, de Al-cobaça, que em 1966 viria a trespassá-lo aos pais dos irmãos Santos.

“Eram pretos, compridos e tinham uma borla na ponta. Embora já não fossemusados pela maioria dos camponeses, constituíam um símbolo respeitado pormuitos, em especial os mais velhos. Punham-no de Verão e de Inverno e rara-mente o tiravam (para assistir à missa, passar junto a um cemitério ou acompa-nhar um funeral, cumprimentar pessoas de respeito, entrar em casa alheia).

Quase sempre quem os usava tinha direito ao epíteto de Ti, que denunciava aidade e o respeito que inspirava. De dentro podiam sair várias pequenas surpre-sas. Do do Ti João Franco ou do Ti João Seco saíam duas carecas completamentelisas e completamente alvas, em contraste violento com a cara tisnada pelo sole enrugada pelo tempo. Mas também podiam sair um maço de mortalhas e umpacotinho de tabaco, uma moeda e, mais raramente, uma nota, uma carta rece-bida de um parente longínquo ou de um organismo público, trazida para pedir aquem soubesse ler que decifrasse o que lá vinha escrito”

Parece que desde cedo o nome Zédo Barrete foi aceite como uma marcaque os seus quatro sucessivos proprie-tários quiseram manter. É um nomesaloio, ligado ao mundo rural, com ra-ízes num tempo em que os barreteseram usados pelos homens do campo,mas também associado a boa mesa, auma gastronomia caseira e a um servi-ço personalizado.

No seu livro “Continuação”, João Bo-nifácio Serra, descreve com grandeprecisão as suas memórias dos últimosBarretes nos anos cinquenta:

19301930193019301930 - Nascem Raul dos Santos e Gracinda Ferreira, futuros proprietáriosdo Zé do Barrete19661966196619661966 - O casal toma de trespasse a então taberna e casa de pasto19801980198019801980 - Raul e Gracinda compram o edifício por 850 contos (4240 euros)19851985198519851985 - Os irmãos César e José Luís entram formalmente na gerência dacasa, sucedendo aos pais19891989198919891989 - Remodelação interior do estabelecimento19981998199819981998 - Criação da firma Zé do Barrete, Lda. pelos irmãos César e José Luís20052005200520052005 - Última remodelação do estabelecimento

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Família Barosa – pais, filhos e um primo num negócioNascido nas Caldas a 1 de Ju-

nho de 1931, Manuel de Sousa Ba-rosa acabaria por ter que sair dasua terra natal aos 20 anos. A Se-gunda Guerra Mundial tinha aca-bado há pouco tempo e o empre-go não abundava. “Eu fiz parte“Eu fiz parte“Eu fiz parte“Eu fiz parte“Eu fiz parteda juventude que abandonouda juventude que abandonouda juventude que abandonouda juventude que abandonouda juventude que abandonouas suas raízes para ir à procu-as suas raízes para ir à procu-as suas raízes para ir à procu-as suas raízes para ir à procu-as suas raízes para ir à procu-ra de uma actividade”ra de uma actividade”ra de uma actividade”ra de uma actividade”ra de uma actividade”, contamais de meio século depois.

A busca de uma vida melhor le-vou-o a Moçambique. Durante 21anos, Manuel Barosa trabalhou naCaixa Económica e Postal e depoisno Banco de Crédito Comercial eIndustrial. Andou por Vila Gouveia(hoje Catandica), Beira e Louren-ço Marques (hoje Maputo), sem-pre acompanhado pela esposa,Cesaltina Rosário Filipe Barosa. Asnotícias da sua terra chega-vam-lhe pela Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-dasdasdasdasdas, que a sua mãe compravae lhe enviava pelo correio.

Duas décadas depois de ter par-tido, Manuel Barosa decidiu vol-tar. “Cheguei à conclusão que“Cheguei à conclusão que“Cheguei à conclusão que“Cheguei à conclusão que“Cheguei à conclusão queestava errado em estar lá”estava errado em estar lá”estava errado em estar lá”estava errado em estar lá”estava errado em estar lá”, eacabou por voltar a Portugal em1973. Na altura mal adivinhava que,dois anos depois, a maioria dosportugueses que viviam em Mo-çambique regressariam em condi-ções trágicas após a independên-cia. “Como resultado da minha“Como resultado da minha“Como resultado da minha“Como resultado da minha“Como resultado da minhaestadia por lá, a única riquezaestadia por lá, a única riquezaestadia por lá, a única riquezaestadia por lá, a única riquezaestadia por lá, a única riquezaque trouxe foram dois filhos”que trouxe foram dois filhos”que trouxe foram dois filhos”que trouxe foram dois filhos”que trouxe foram dois filhos” -Luíz, nascido em 1958, e Jorge, quenasceu em 1970.

“Eu lá era bancário, mas não“Eu lá era bancário, mas não“Eu lá era bancário, mas não“Eu lá era bancário, mas não“Eu lá era bancário, mas nãoqueria voltar para a banca,queria voltar para a banca,queria voltar para a banca,queria voltar para a banca,queria voltar para a banca,não era que alguém me tratas-não era que alguém me tratas-não era que alguém me tratas-não era que alguém me tratas-não era que alguém me tratas-se mal, mas eu entendia quese mal, mas eu entendia quese mal, mas eu entendia quese mal, mas eu entendia quese mal, mas eu entendia queaquilo para mim era pouco.aquilo para mim era pouco.aquilo para mim era pouco.aquilo para mim era pouco.aquilo para mim era pouco.Então acabei por abrir umaEntão acabei por abrir umaEntão acabei por abrir umaEntão acabei por abrir umaEntão acabei por abrir umaempresa em Lisboa, ligado aempresa em Lisboa, ligado aempresa em Lisboa, ligado aempresa em Lisboa, ligado aempresa em Lisboa, ligado aum empresário de Moçambi-um empresário de Moçambi-um empresário de Moçambi-um empresário de Moçambi-um empresário de Moçambi-que da pesca de camarão”que da pesca de camarão”que da pesca de camarão”que da pesca de camarão”que da pesca de camarão”.Manuel Barosa geria a delegaçãoportuguesa da empresa Produmar,que também estava representadaem Joanesburgo e que comerci-alizava a marca Seastar. Um anoapós ter voltado de Moçambique,o caldense já sabia o que era tersucesso nos negócios.

“Quando dei por mim era um“Quando dei por mim era um“Quando dei por mim era um“Quando dei por mim era um“Quando dei por mim era umdos três importadores de ca-dos três importadores de ca-dos três importadores de ca-dos três importadores de ca-dos três importadores de ca-marão deste país”marão deste país”marão deste país”marão deste país”marão deste país”, lembra. E na-quela altura a procura pelo maris-co era tanta que “quando che-“quando che-“quando che-“quando che-“quando che-gava o barco a Lisboa com asgava o barco a Lisboa com asgava o barco a Lisboa com asgava o barco a Lisboa com asgava o barco a Lisboa com as

10 ou 15 toneladas de cama-10 ou 15 toneladas de cama-10 ou 15 toneladas de cama-10 ou 15 toneladas de cama-10 ou 15 toneladas de cama-rão, estava tudo vendido. Erarão, estava tudo vendido. Erarão, estava tudo vendido. Erarão, estava tudo vendido. Erarão, estava tudo vendido. Erasó proceder à entrega, factu-só proceder à entrega, factu-só proceder à entrega, factu-só proceder à entrega, factu-só proceder à entrega, factu-rar e esperar pelos prazos derar e esperar pelos prazos derar e esperar pelos prazos derar e esperar pelos prazos derar e esperar pelos prazos depagamento”pagamento”pagamento”pagamento”pagamento”.

Ainda que a empresa fosse emLisboa, Manuel Barosa nunca per-deu a ligação às Caldas, onde vol-tava para fins-de-semana prolon-gados. Mas o 25 de Abril veio tro-car as voltas ao empresário. “Com“Com“Com“Com“Comtoda a trapalhada que houvetoda a trapalhada que houvetoda a trapalhada que houvetoda a trapalhada que houvetoda a trapalhada que houvenesta altura, os portuguesesnesta altura, os portuguesesnesta altura, os portuguesesnesta altura, os portuguesesnesta altura, os portuguesesque estavam em Moçambiqueque estavam em Moçambiqueque estavam em Moçambiqueque estavam em Moçambiqueque estavam em Moçambiquevieram-se embora e esta em-vieram-se embora e esta em-vieram-se embora e esta em-vieram-se embora e esta em-vieram-se embora e esta em-presa fechou. Na altura tinhapresa fechou. Na altura tinhapresa fechou. Na altura tinhapresa fechou. Na altura tinhapresa fechou. Na altura tinhaseis arrastões de pesca de ca-seis arrastões de pesca de ca-seis arrastões de pesca de ca-seis arrastões de pesca de ca-seis arrastões de pesca de ca-marão”marão”marão”marão”marão”.

Manuel ficou novamente sememprego. As portas da banca con-tinuavam abertas, mas esta erauma opção que continuava a nãolhe agradar. Decidiu então valer-se dos conhecimentos que tinhagranjeado no tempo que trabalhoupara a Produmar, “conhecimen-“conhecimen-“conhecimen-“conhecimen-“conhecimen-tos a nível internacional, dotos a nível internacional, dotos a nível internacional, dotos a nível internacional, dotos a nível internacional, domundo dos congelados. Foi aímundo dos congelados. Foi aímundo dos congelados. Foi aímundo dos congelados. Foi aímundo dos congelados. Foi aíque aprendi onde é que esta-que aprendi onde é que esta-que aprendi onde é que esta-que aprendi onde é que esta-que aprendi onde é que esta-vam os clientes, os produto-vam os clientes, os produto-vam os clientes, os produto-vam os clientes, os produto-vam os clientes, os produto-res”res”res”res”res”. Voltou de vez para as Cal-

das e lançou-se num negócio decongelados. “Não havia nada“Não havia nada“Não havia nada“Não havia nada“Não havia nadadisto aqui”disto aqui”disto aqui”disto aqui”disto aqui”, lembra.

Em Maio de 1975, Manuel deSousa Barosa regista-se como em-presário em nome individual. O ne-gócio começou na garagem dacasa do casal, um pequeno espa-ço onde o empresário tinha cincoarcas frigoríficas. Marido e mulhernão tinham mãos a medir. Da ven-da, à entrega, passando pela em-balagem e facturação, tudo era as-segurado pelos dois. E isto numaaltura em que “era tudo feito à“era tudo feito à“era tudo feito à“era tudo feito à“era tudo feito àmão”mão”mão”mão”mão”, lembra Cesaltina Barosa,que se recorda bem das noites emque chegava a casa “às duas ou“às duas ou“às duas ou“às duas ou“às duas outrês da manhã, quando o tra-três da manhã, quando o tra-três da manhã, quando o tra-três da manhã, quando o tra-três da manhã, quando o tra-balho estava todo feito”balho estava todo feito”balho estava todo feito”balho estava todo feito”balho estava todo feito”. Os fi-lhos ainda estudavam, e “a Dona“a Dona“a Dona“a Dona“a Dona

Cesaltina dava aqui no duro”Cesaltina dava aqui no duro”Cesaltina dava aqui no duro”Cesaltina dava aqui no duro”Cesaltina dava aqui no duro”,recorda o marido.

Não foi preciso muito para quea garagem se tornasse pequenademais para o negócio e ManuelBarosa decidiu fazer aquele queseria o primeiro armazém da gran-de empresa que hoje se pode verno nº10 da Rua São João de Deus.É também nessa altura que o filhomais velho decide ir trabalhar comos pais. “Eu queria estudar, mas“Eu queria estudar, mas“Eu queria estudar, mas“Eu queria estudar, mas“Eu queria estudar, mascomo não tinha conseguidocomo não tinha conseguidocomo não tinha conseguidocomo não tinha conseguidocomo não tinha conseguidoentrar na Faculdade de Direitoentrar na Faculdade de Direitoentrar na Faculdade de Direitoentrar na Faculdade de Direitoentrar na Faculdade de Direitodois anos seguidos… Durantedois anos seguidos… Durantedois anos seguidos… Durantedois anos seguidos… Durantedois anos seguidos… Durante

o Verão pintei o armazém todoo Verão pintei o armazém todoo Verão pintei o armazém todoo Verão pintei o armazém todoo Verão pintei o armazém todosozinho e disse ao meu pai sozinho e disse ao meu pai sozinho e disse ao meu pai sozinho e disse ao meu pai sozinho e disse ao meu pai “eu“eu“eu“eu“euvou trabalhar contigo”vou trabalhar contigo”vou trabalhar contigo”vou trabalhar contigo”vou trabalhar contigo”, contaLuíz Filipe de Sousa Barosa, quena altura tinha 20 anos.

“A partir daí as coisas mo-“A partir daí as coisas mo-“A partir daí as coisas mo-“A partir daí as coisas mo-“A partir daí as coisas mo-dificaram-se. O que eu tinhadificaram-se. O que eu tinhadificaram-se. O que eu tinhadificaram-se. O que eu tinhadificaram-se. O que eu tinhaera uma brincadeira. Então, fizera uma brincadeira. Então, fizera uma brincadeira. Então, fizera uma brincadeira. Então, fizera uma brincadeira. Então, fizuma câmara frigorífica com 30uma câmara frigorífica com 30uma câmara frigorífica com 30uma câmara frigorífica com 30uma câmara frigorífica com 30metros cúbicos de capacida-metros cúbicos de capacida-metros cúbicos de capacida-metros cúbicos de capacida-metros cúbicos de capacida-de e foi com essa câmara quede e foi com essa câmara quede e foi com essa câmara quede e foi com essa câmara quede e foi com essa câmara quearrancámos”arrancámos”arrancámos”arrancámos”arrancámos”. Uma câmara queainda hoje existe, mas que estáinactiva.

A CHEGADA DA OLÁ

Em 1979 surge um convite queiria definir o sucesso da empresa.A Manuel de Sousa Barosa foi de-safiada para ser a agente da mar-

ca Olá na zona das Caldas. Enquan-to os vendedores da marca vendi-am aos comerciantes que tinhamarcas da Olá, a família Barosa en-carregava-se dos que não tinham.“O meu maior fornecedor era,“O meu maior fornecedor era,“O meu maior fornecedor era,“O meu maior fornecedor era,“O meu maior fornecedor era,simultaneamente, o meu mai-simultaneamente, o meu mai-simultaneamente, o meu mai-simultaneamente, o meu mai-simultaneamente, o meu mai-or concorrente”or concorrente”or concorrente”or concorrente”or concorrente”, conta o pai Ma-nuel Barosa.

Foi também neste ano que a em-presa deu início à transformaçãode pescado congelado. “Fornecí-“Fornecí-“Fornecí-“Fornecí-“Fornecí-amos o comércio local e dasamos o comércio local e dasamos o comércio local e dasamos o comércio local e dasamos o comércio local e dasredondezas e já na altura comredondezas e já na altura comredondezas e já na altura comredondezas e já na altura comredondezas e já na altura comuma grande diversidade deuma grande diversidade deuma grande diversidade deuma grande diversidade deuma grande diversidade de

peixe que íamos buscar à Ga-peixe que íamos buscar à Ga-peixe que íamos buscar à Ga-peixe que íamos buscar à Ga-peixe que íamos buscar à Ga-fanha da Nazaré e a importa-fanha da Nazaré e a importa-fanha da Nazaré e a importa-fanha da Nazaré e a importa-fanha da Nazaré e a importa-dores de Lisboa”dores de Lisboa”dores de Lisboa”dores de Lisboa”dores de Lisboa”. Peixe captu-rado na pesca longínqua, com es-pecial destaque para a pescada.

Luíz Barosa explica como se pro-cessava a transformação, numprocesso que não difere muito dométodo dos dias de hoje: “o peixe“o peixe“o peixe“o peixe“o peixevinha em blocos, congeladovinha em blocos, congeladovinha em blocos, congeladovinha em blocos, congeladovinha em blocos, congeladoem alto mar em barcos-fábri-em alto mar em barcos-fábri-em alto mar em barcos-fábri-em alto mar em barcos-fábri-em alto mar em barcos-fábri-ca. Já aqui era desagregado,ca. Já aqui era desagregado,ca. Já aqui era desagregado,ca. Já aqui era desagregado,ca. Já aqui era desagregado,serrado, vidrado e embalado.serrado, vidrado e embalado.serrado, vidrado e embalado.serrado, vidrado e embalado.serrado, vidrado e embalado.Em 1979 o peixe vendia-se todoEm 1979 o peixe vendia-se todoEm 1979 o peixe vendia-se todoEm 1979 o peixe vendia-se todoEm 1979 o peixe vendia-se todoa granel”a granel”a granel”a granel”a granel”. E lembra-se do primei-ro carro da empresa: uma carrinhaMini Ima.

Quem também se recorda bemdestes tempos é Eugénio ViriatoPêgo (nascido em 1946), um primoafastado que veio trabalhar com

Manuel Barosa. “Quando che-“Quando che-“Quando che-“Quando che-“Quando che-guei o senhor Barosa disse-meguei o senhor Barosa disse-meguei o senhor Barosa disse-meguei o senhor Barosa disse-meguei o senhor Barosa disse-meassim: assim: assim: assim: assim: ‘Oh Pêgo, tens aqui um‘Oh Pêgo, tens aqui um‘Oh Pêgo, tens aqui um‘Oh Pêgo, tens aqui um‘Oh Pêgo, tens aqui umescritório’escritório’escritório’escritório’escritório’. E eu olhei e vi uma. E eu olhei e vi uma. E eu olhei e vi uma. E eu olhei e vi uma. E eu olhei e vi umasalinha pequenina com umsalinha pequenina com umsalinha pequenina com umsalinha pequenina com umsalinha pequenina com umsofá e pensei sofá e pensei sofá e pensei sofá e pensei sofá e pensei ‘ele todo orgu-‘ele todo orgu-‘ele todo orgu-‘ele todo orgu-‘ele todo orgu-lhoso com um escritório tãolhoso com um escritório tãolhoso com um escritório tãolhoso com um escritório tãolhoso com um escritório tãopequenino, mas tudo bem, istopequenino, mas tudo bem, istopequenino, mas tudo bem, istopequenino, mas tudo bem, istopequenino, mas tudo bem, istofuncionafuncionafuncionafuncionafunciona’”’”’”’”’”.

Numa zona litoral um dos prin-cipais obstáculos com que a em-presa se deparou foi a aceitaçãodos clientes. “Não temos nada“Não temos nada“Não temos nada“Não temos nada“Não temos nadaa ver com o peixe de Peniche ea ver com o peixe de Peniche ea ver com o peixe de Peniche ea ver com o peixe de Peniche ea ver com o peixe de Peniche eNazaré, nós recebemos o pei-Nazaré, nós recebemos o pei-Nazaré, nós recebemos o pei-Nazaré, nós recebemos o pei-Nazaré, nós recebemos o pei-

xe da pesca longínqua. Masxe da pesca longínqua. Masxe da pesca longínqua. Masxe da pesca longínqua. Masxe da pesca longínqua. Masquando íamos oferecer o nos-quando íamos oferecer o nos-quando íamos oferecer o nos-quando íamos oferecer o nos-quando íamos oferecer o nos-so peixe, os clientes diziam:so peixe, os clientes diziam:so peixe, os clientes diziam:so peixe, os clientes diziam:so peixe, os clientes diziam:não vale a pena que nós já re-não vale a pena que nós já re-não vale a pena que nós já re-não vale a pena que nós já re-não vale a pena que nós já re-cebemos peixe de Penichecebemos peixe de Penichecebemos peixe de Penichecebemos peixe de Penichecebemos peixe de Peniche”””””,lembra Manuel Barosa. “Demo-“Demo-“Demo-“Demo-“Demo-rou anos até que os nossos cli-rou anos até que os nossos cli-rou anos até que os nossos cli-rou anos até que os nossos cli-rou anos até que os nossos cli-entes percebessem que o pei-entes percebessem que o pei-entes percebessem que o pei-entes percebessem que o pei-entes percebessem que o pei-xe que os penicheiros lhes ven-xe que os penicheiros lhes ven-xe que os penicheiros lhes ven-xe que os penicheiros lhes ven-xe que os penicheiros lhes ven-diam não era de lá, vinha dodiam não era de lá, vinha dodiam não era de lá, vinha dodiam não era de lá, vinha dodiam não era de lá, vinha domesmo sítio que o nosso. É quemesmo sítio que o nosso. É quemesmo sítio que o nosso. É quemesmo sítio que o nosso. É quemesmo sítio que o nosso. É quetirando a sardinha e o cara-tirando a sardinha e o cara-tirando a sardinha e o cara-tirando a sardinha e o cara-tirando a sardinha e o cara-pau e algum safio, eles não têmpau e algum safio, eles não têmpau e algum safio, eles não têmpau e algum safio, eles não têmpau e algum safio, eles não têmmais nada”mais nada”mais nada”mais nada”mais nada”.

Num país que é o terceiro domundo com o maior consumo depeixe per capita (apenas precedi-do pelo Japão e pela Islândia), “e“e“e“e“eapesar de comermos maisapesar de comermos maisapesar de comermos maisapesar de comermos maisapesar de comermos maiscarne que peixe”carne que peixe”carne que peixe”carne que peixe”carne que peixe”, salienta Luíz,a qualidade dos produtos Barosa

Eugénio Pego, Luíz, Manuel, Cesaltina e Jorge Barosa no dia em que foi criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda. e Eugénio Pego, Luíz, Manuel, Cesaltina e Jorge Barosa no dia em que foi criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda. e Eugénio Pego, Luíz, Manuel, Cesaltina e Jorge Barosa no dia em que foi criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda. e Eugénio Pego, Luíz, Manuel, Cesaltina e Jorge Barosa no dia em que foi criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda. e Eugénio Pego, Luíz, Manuel, Cesaltina e Jorge Barosa no dia em que foi criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda. enuma imagem actual. Pais, filhos e um primo mantêm-se à frente de um negócio que ronda os 5 milhões de euros denuma imagem actual. Pais, filhos e um primo mantêm-se à frente de um negócio que ronda os 5 milhões de euros denuma imagem actual. Pais, filhos e um primo mantêm-se à frente de um negócio que ronda os 5 milhões de euros denuma imagem actual. Pais, filhos e um primo mantêm-se à frente de um negócio que ronda os 5 milhões de euros denuma imagem actual. Pais, filhos e um primo mantêm-se à frente de um negócio que ronda os 5 milhões de euros defacturaçãofacturaçãofacturaçãofacturaçãofacturação

Manuel Barosa com a esposa e os dois filhos, Jorge eManuel Barosa com a esposa e os dois filhos, Jorge eManuel Barosa com a esposa e os dois filhos, Jorge eManuel Barosa com a esposa e os dois filhos, Jorge eManuel Barosa com a esposa e os dois filhos, Jorge eLuíz, ainda em Lourenço Marques (hoje Maputo), de ondeLuíz, ainda em Lourenço Marques (hoje Maputo), de ondeLuíz, ainda em Lourenço Marques (hoje Maputo), de ondeLuíz, ainda em Lourenço Marques (hoje Maputo), de ondeLuíz, ainda em Lourenço Marques (hoje Maputo), de onderegressaram em 1973regressaram em 1973regressaram em 1973regressaram em 1973regressaram em 1973

É numa garagem com cinco arcas frigoríficas que começa em 1975 a história de sucesso dos negóci-os da família Barosa. Regressado de Moçambique e após ter orientado em Lisboa uma empresa deimportação e venda de camarão, o caldense Manuel de Sousa Barosa decide arriscar um negócio porconta própria, tendo sempre ao seu lado a esposa, Cesaltina Barosa.No comando dos negócios juntam-se ao casal, 35 anos depois, os filho Luíz e Jorge, e o primoEugénio Pêgo. E de uma pequena empresa em nome individual, o negócio dos Barosa transformou-se num grupo de quatro empresas que factura anualmente cerca de cinco milhões de euros.

Pescados foi fundamental para quea empresa fosse cada vez maisbem vista junto dos seus clientes.Paralelamente, a representação daOlá também corria sobre rodas.

“Esta empresa cresceu com“Esta empresa cresceu com“Esta empresa cresceu com“Esta empresa cresceu com“Esta empresa cresceu comestas duas actividades em con-estas duas actividades em con-estas duas actividades em con-estas duas actividades em con-estas duas actividades em con-junto”junto”junto”junto”junto” e à medida que o negócioexpandia, cresciam também asinstalações. Na altura, a Manuelde Sousa Barosa contava com setetrabalhadores. Era a D. Cesaltinaque orientava toda a parte de pro-dução e facturação, o que aconte-ceu até que a empresa sentiu ne-cessidade, em 1986, de implantarum sistema informático que agili-zasse todos os procedimentos.“Quando as vendas ultrapas-Quando as vendas ultrapas-Quando as vendas ultrapas-Quando as vendas ultrapas-Quando as vendas ultrapas-savam o que nós tínhamossavam o que nós tínhamossavam o que nós tínhamossavam o que nós tínhamossavam o que nós tínhamosembalado, tínhamos que fazerembalado, tínhamos que fazerembalado, tínhamos que fazerembalado, tínhamos que fazerembalado, tínhamos que fazerserão. Então eu ia para casaserão. Então eu ia para casaserão. Então eu ia para casaserão. Então eu ia para casaserão. Então eu ia para casafazer jantar para todos e sófazer jantar para todos e sófazer jantar para todos e sófazer jantar para todos e sófazer jantar para todos e sóquando se acabava o traba-quando se acabava o traba-quando se acabava o traba-quando se acabava o traba-quando se acabava o traba-lho é que o meu marido ia le-lho é que o meu marido ia le-lho é que o meu marido ia le-lho é que o meu marido ia le-lho é que o meu marido ia le-var as raparigas que trabalha-var as raparigas que trabalha-var as raparigas que trabalha-var as raparigas que trabalha-var as raparigas que trabalha-vam na embalagem a casa, àsvam na embalagem a casa, àsvam na embalagem a casa, àsvam na embalagem a casa, àsvam na embalagem a casa, àsvezes à meia-noite, uma ouvezes à meia-noite, uma ouvezes à meia-noite, uma ouvezes à meia-noite, uma ouvezes à meia-noite, uma ouduas da manhã”duas da manhã”duas da manhã”duas da manhã”duas da manhã”, lembra a mãe.

A década de 80 foi, de resto,marcada por diversas obras. Cons-truíram-se mais câmaras e maispavilhões. Em 1987, a Manuel deSousa Barosa torna-se concessio-nária oficial da Iglo/Olá “e dá-se“e dá-se“e dá-se“e dá-se“e dá-seum um um um um boom boom boom boom boom muito grande nasmuito grande nasmuito grande nasmuito grande nasmuito grande nasvendas”vendas”vendas”vendas”vendas”, de tal forma que o em-presário foi aconselhado a sepa-rar juridicamente as duas verten-tes do seu negócio, o que aconte-ce em 1988 com a entrada da mu-lher e dos filhos como sócios dosnegócios. Tinha início uma novaera na empresa.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

As instalações actuais da empresa familiar estão longe da pequena garagem onde tudo começou há 35 anos. AAs instalações actuais da empresa familiar estão longe da pequena garagem onde tudo começou há 35 anos. AAs instalações actuais da empresa familiar estão longe da pequena garagem onde tudo começou há 35 anos. AAs instalações actuais da empresa familiar estão longe da pequena garagem onde tudo começou há 35 anos. AAs instalações actuais da empresa familiar estão longe da pequena garagem onde tudo começou há 35 anos. Aexpansão obedeceu a um princípio fundamental: “primeiro criam-se as necessidades, depois investe-se”expansão obedeceu a um princípio fundamental: “primeiro criam-se as necessidades, depois investe-se”expansão obedeceu a um princípio fundamental: “primeiro criam-se as necessidades, depois investe-se”expansão obedeceu a um princípio fundamental: “primeiro criam-se as necessidades, depois investe-se”expansão obedeceu a um princípio fundamental: “primeiro criam-se as necessidades, depois investe-se”

Page 47: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

22 | Outubro | 2010

25CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

o de congelados que dura há 35 anosDe um pequeno negócio a um grupo com quatro empresas

Treze anos depois de ter começado o seu pró-prio negócio na garagem da sua casa, em 1988,Manuel Barosa é um empresário de sucesso. Oêxito é partilhado com a família, a mulher Cesal-tina e os filhos Luíz e Jorge, que a par com o em-presário se tornam sócios da Manuel Barosa Lda,criada especificamente para a comercializaçãode gelados. A transformação de pescado conti-nuava a cargo da empresa em nome individualManuel de Sousa Barosa.

Luíz já trabalhava com o pai há dez anos.Jorge, com 18 anos nesta altura, estava aconcluir o ensino secundário e só dois anosmais tarde viria a integrar os quadros daempresa. O pai brinca: “ainda não esta-“ainda não esta-“ainda não esta-“ainda não esta-“ainda não esta-va a trabalhar e já era sócio, isto nãova a trabalhar e já era sócio, isto nãova a trabalhar e já era sócio, isto nãova a trabalhar e já era sócio, isto nãova a trabalhar e já era sócio, isto nãoé para toda a gente”é para toda a gente”é para toda a gente”é para toda a gente”é para toda a gente”. Logo o filho repli-ca: “não trabalhava a tempo inteiro,“não trabalhava a tempo inteiro,“não trabalhava a tempo inteiro,“não trabalhava a tempo inteiro,“não trabalhava a tempo inteiro,mas vinha para cá nas férias desdemas vinha para cá nas férias desdemas vinha para cá nas férias desdemas vinha para cá nas férias desdemas vinha para cá nas férias desdeos 13 anos”os 13 anos”os 13 anos”os 13 anos”os 13 anos”.

As duas empresas não param de crescerem dimensão e em volume de negócios. Jácom Luíz e Jorge inteiramente dedicados aonegócio, surge uma nova empresa – a Manu-el de Sousa Barosa Lda, criada em 1994 paraa vertente de transformação e comerciali-zação de pescado, que conta com os quatromembros da família Barosa e com EugénioPêgo como sócios. O primo torna-se, tam-bém neste ano, sócio da Manuel Barosa Lda.

A Manuel de Sousa Barosa, com que tudocomeçou há 35 anos, nunca foi extinta. A em-presa mantém-se no activo, alugando as câ-maras frigoríficas às duas sociedades deresponsabilidade limitada que integram osnegócios da família. Em 2006 é criada umanova empresa – a Gelados e Mimos, que dánome à geladaria que a família tem em S.Martinho do Porto.

As obras nas instalações das empresasforam-se fazendo sempre que havia neces-sidade. Hoje o grupo tem oito câmaras, a úl-tima das quais construída em 2008, o que lhesgarante uma capacidade de 3.000 metros cú-bicos de frio negativo. “Não há nada aqui“Não há nada aqui“Não há nada aqui“Não há nada aqui“Não há nada aquià volta que se lhe compare”à volta que se lhe compare”à volta que se lhe compare”à volta que se lhe compare”à volta que se lhe compare”, afiançamos responsáveis. E foi precisamente esta ca-pacidade de frio que “permitiu que nos úl-“permitiu que nos úl-“permitiu que nos úl-“permitiu que nos úl-“permitiu que nos úl-timos anos se atingisse uma factura-timos anos se atingisse uma factura-timos anos se atingisse uma factura-timos anos se atingisse uma factura-timos anos se atingisse uma factura-ção anual que ronda os cinco milhõesção anual que ronda os cinco milhõesção anual que ronda os cinco milhõesção anual que ronda os cinco milhõesção anual que ronda os cinco milhõesde euros”de euros”de euros”de euros”de euros”, acrescenta Manuel Barosa.

O que também contribuiu para os bons re-sultados foi a criação de novas áreas de ne-gócio. Actualmente as empresas do grupo Ba-rosa têm muito mais para oferecer que gela-dos Olá e peixe congelado. Operando comcerca de mil referências, as empresas da fa-mília têm uma vasta gama de produtos do mar(pescados, cefalópodes e crustáceos), salga-dos, snacks (refeições prontas), pastelariapequena e grande e padaria, de marcas pró-prias – a Barosa Pescados e a Barosa FoodService. A estas junta-se um vasto leque deartigos de marcas tão conhecidas como Nes-tlé, Knorr, Calvé, Heinz, Kellog’s, Vaqueiro,Azeites Gallo, entre muitas outras.

O negócio estende-se por três canais: ocanal Horeca – Hotelaria, Restauração e Ca-fés, o canal tradicional (hiper e supermerca-dos) e o canal social (lares, cantinas, refeitó-rios escolares), em nove concelhos numa fai-xa que se estende da Lourinhã à Nazaré.

O grupo está a apostar na internacionali-zação das marcas próprias e já exporta al-guns produtos para Espanha.

No conjunto das empresas da família Ba-rosa conta-se um total de 42 trabalhadores.E aqui está já incluído um neto, Francisco Ba-rosa de 24 anos, que se vai inteirando dosnegócios ao mesmo tempo que se forma numcurso que tem tudo a ver com a actividade dafamília - Engenharia Alimentar.

DEDICAÇÃO E OPTIMIZAÇÃO DE CUSTOSE PROCESSOS NA BASE DO SUCESSO

Em tempos de crise, o negócio da famíliaBarosa tem-se mostrado resistente. “Con-“Con-“Con-“Con-“Con-tinuamos a honrar os nossos compro-tinuamos a honrar os nossos compro-tinuamos a honrar os nossos compro-tinuamos a honrar os nossos compro-tinuamos a honrar os nossos compro-missos, a pagar a trabalhadores e amissos, a pagar a trabalhadores e amissos, a pagar a trabalhadores e amissos, a pagar a trabalhadores e amissos, a pagar a trabalhadores e afornecedores a tempo e horas e nãofornecedores a tempo e horas e nãofornecedores a tempo e horas e nãofornecedores a tempo e horas e nãofornecedores a tempo e horas e nãoestamos dependentes dos bancos. Aestamos dependentes dos bancos. Aestamos dependentes dos bancos. Aestamos dependentes dos bancos. Aestamos dependentes dos bancos. Abanca é um parceiro nosso, mas nun-banca é um parceiro nosso, mas nun-banca é um parceiro nosso, mas nun-banca é um parceiro nosso, mas nun-banca é um parceiro nosso, mas nun-ca foi nosso sócio”ca foi nosso sócio”ca foi nosso sócio”ca foi nosso sócio”ca foi nosso sócio”, congratula-se Manu-el Barosa.

O sucesso das suas empresas é como umpuzzle, composto por várias peças. Uma de-las, a qualidade dos produtos. A outra, a re-ferida independência da banca (a empresacresceu quase sempre em auto-financia-mento). Mas há outro aspecto fundamental:“a empresa capitaliza, não distribui”“a empresa capitaliza, não distribui”“a empresa capitaliza, não distribui”“a empresa capitaliza, não distribui”“a empresa capitaliza, não distribui”,e os lucros foram-se acumulando, permitin-do enfrentar os tempos mais difíceis comalgum à vontade.

Outra preocupação foi “estrangular“estrangular“estrangular“estrangular“estrangulartudo o que eram custos - foi tudo re-tudo o que eram custos - foi tudo re-tudo o que eram custos - foi tudo re-tudo o que eram custos - foi tudo re-tudo o que eram custos - foi tudo re-negociado, da parte eléctrica aos ser-negociado, da parte eléctrica aos ser-negociado, da parte eléctrica aos ser-negociado, da parte eléctrica aos ser-negociado, da parte eléctrica aos ser-viços que contratamos, dos combus-viços que contratamos, dos combus-viços que contratamos, dos combus-viços que contratamos, dos combus-viços que contratamos, dos combus-tíveis às lâmpadas que temos nas ins-tíveis às lâmpadas que temos nas ins-tíveis às lâmpadas que temos nas ins-tíveis às lâmpadas que temos nas ins-tíveis às lâmpadas que temos nas ins-talações. E isto não acaba. É um es-talações. E isto não acaba. É um es-talações. E isto não acaba. É um es-talações. E isto não acaba. É um es-talações. E isto não acaba. É um es-quema que tem que estar sempre emquema que tem que estar sempre emquema que tem que estar sempre emquema que tem que estar sempre emquema que tem que estar sempre emcima da mesa”cima da mesa”cima da mesa”cima da mesa”cima da mesa”, salienta Jorge Barosa. Epara salvaguardar o seu stock, a empresa éhoje auto-suficiente durante três dias, comgeradores alimentados a combustível.

Não menos importante que tudo isto é adedicação e o empenho de todos os sócios“que servem a empresa, e não o con-“que servem a empresa, e não o con-“que servem a empresa, e não o con-“que servem a empresa, e não o con-“que servem a empresa, e não o con-trário”trário”trário”trário”trário”. Está sempre alguém da gerênciapresente e todos os processos são acompa-nhados de perto pelos responsáveis, quetodos os dias são os primeiros a chegar e osúltimos a sair. “Temos que ser muito“Temos que ser muito“Temos que ser muito“Temos que ser muito“Temos que ser muitobons e muito exigentes para não fa-bons e muito exigentes para não fa-bons e muito exigentes para não fa-bons e muito exigentes para não fa-bons e muito exigentes para não fa-lharmos na venda, na facturação, nalharmos na venda, na facturação, nalharmos na venda, na facturação, nalharmos na venda, na facturação, nalharmos na venda, na facturação, naentrega, nas encomendas, na gestãoentrega, nas encomendas, na gestãoentrega, nas encomendas, na gestãoentrega, nas encomendas, na gestãoentrega, nas encomendas, na gestãode stocks. Todos estes processos têmde stocks. Todos estes processos têmde stocks. Todos estes processos têmde stocks. Todos estes processos têmde stocks. Todos estes processos têmque estar muito bem optimizadosque estar muito bem optimizadosque estar muito bem optimizadosque estar muito bem optimizadosque estar muito bem optimizadospara que nada falhe. E uma das ra-para que nada falhe. E uma das ra-para que nada falhe. E uma das ra-para que nada falhe. E uma das ra-para que nada falhe. E uma das ra-zões do nosso sucesso é nós conse-zões do nosso sucesso é nós conse-zões do nosso sucesso é nós conse-zões do nosso sucesso é nós conse-zões do nosso sucesso é nós conse-guirmos e sabermos fazer isto” guirmos e sabermos fazer isto” guirmos e sabermos fazer isto” guirmos e sabermos fazer isto” guirmos e sabermos fazer isto” subli-nha Jorge, que orgulhoso acrescenta: “nós“nós“nós“nós“nóssomos peixeiros cinco estrelas”somos peixeiros cinco estrelas”somos peixeiros cinco estrelas”somos peixeiros cinco estrelas”somos peixeiros cinco estrelas”.

A eficiência é também salientada por

Luíz. “Nós vendemos num dia e entre-“Nós vendemos num dia e entre-“Nós vendemos num dia e entre-“Nós vendemos num dia e entre-“Nós vendemos num dia e entre-gamos no outro e isso faz com que osgamos no outro e isso faz com que osgamos no outro e isso faz com que osgamos no outro e isso faz com que osgamos no outro e isso faz com que osnossos clientes nos vejam como par-nossos clientes nos vejam como par-nossos clientes nos vejam como par-nossos clientes nos vejam como par-nossos clientes nos vejam como par-ceiros de negócio”ceiros de negócio”ceiros de negócio”ceiros de negócio”ceiros de negócio”.

E desde cedo perceberam que para queisto fosse possível, teriam que se apoiar nainformática. “Fomos os primeiros a apa-“Fomos os primeiros a apa-“Fomos os primeiros a apa-“Fomos os primeiros a apa-“Fomos os primeiros a apa-recer no mercado com recer no mercado com recer no mercado com recer no mercado com recer no mercado com pocket pcpocket pcpocket pcpocket pcpocket pc, na, na, na, na, naaltura eram uns tijolos muito gran-altura eram uns tijolos muito gran-altura eram uns tijolos muito gran-altura eram uns tijolos muito gran-altura eram uns tijolos muito gran-des, os vendedores não gostavamdes, os vendedores não gostavamdes, os vendedores não gostavamdes, os vendedores não gostavamdes, os vendedores não gostavamnada daquilo, mas nós ganhámosnada daquilo, mas nós ganhámosnada daquilo, mas nós ganhámosnada daquilo, mas nós ganhámosnada daquilo, mas nós ganhámosmuita rapidez e muitas horas de sono”muita rapidez e muitas horas de sono”muita rapidez e muitas horas de sono”muita rapidez e muitas horas de sono”muita rapidez e muitas horas de sono”,lembra o mais novo.

Os dois irmãos são unânimes quando di-zem que as empresas da família são muitobem vistas, tanto junto dos seus clientes comodos seus fornecedores, sobretudo no país vi-zinho, onde vão buscar muito do peixe que co-mercializam. “Em Espanha somos con-“Em Espanha somos con-“Em Espanha somos con-“Em Espanha somos con-“Em Espanha somos con-siderados, em termos de respeito,siderados, em termos de respeito,siderados, em termos de respeito,siderados, em termos de respeito,siderados, em termos de respeito,umas das três melhores empresas deumas das três melhores empresas deumas das três melhores empresas deumas das três melhores empresas deumas das três melhores empresas dePortugal, e isso é um motivo de orgu-Portugal, e isso é um motivo de orgu-Portugal, e isso é um motivo de orgu-Portugal, e isso é um motivo de orgu-Portugal, e isso é um motivo de orgu-lho muito grande. Não temos a dimen-lho muito grande. Não temos a dimen-lho muito grande. Não temos a dimen-lho muito grande. Não temos a dimen-lho muito grande. Não temos a dimen-são que outras têm, mas em termos desão que outras têm, mas em termos desão que outras têm, mas em termos desão que outras têm, mas em termos desão que outras têm, mas em termos derespeito estamos muito bem cotadas.respeito estamos muito bem cotadas.respeito estamos muito bem cotadas.respeito estamos muito bem cotadas.respeito estamos muito bem cotadas.Vamos buscar produtos e temos asVamos buscar produtos e temos asVamos buscar produtos e temos asVamos buscar produtos e temos asVamos buscar produtos e temos asportas todas abertas”portas todas abertas”portas todas abertas”portas todas abertas”portas todas abertas”, garante Jorge.

No seu próprio país, o reconhecimento dobom desempenho das empresas Manuel deSousa Barosa, Lda. e Manuel Barosa, Lda. re-flecte-se na distinção, pelo segundo ano con-secutivo, como empresas PME Líder.

“A verdade é que 40 famílias (al-“A verdade é que 40 famílias (al-“A verdade é que 40 famílias (al-“A verdade é que 40 famílias (al-“A verdade é que 40 famílias (al-guns casais) dependem desta empre-guns casais) dependem desta empre-guns casais) dependem desta empre-guns casais) dependem desta empre-guns casais) dependem desta empre-sa e sentem-se seguros, e nós temossa e sentem-se seguros, e nós temossa e sentem-se seguros, e nós temossa e sentem-se seguros, e nós temossa e sentem-se seguros, e nós temoso dever de lhes dar essa segurançao dever de lhes dar essa segurançao dever de lhes dar essa segurançao dever de lhes dar essa segurançao dever de lhes dar essa segurançacomo resposta”como resposta”como resposta”como resposta”como resposta”, diz Manuel Barosa. E ofilho mais novo acrescenta: “todos os tra-“todos os tra-“todos os tra-“todos os tra-“todos os tra-balhadores que respeitam esta em-balhadores que respeitam esta em-balhadores que respeitam esta em-balhadores que respeitam esta em-balhadores que respeitam esta em-presa são sempre muito bem respei-presa são sempre muito bem respei-presa são sempre muito bem respei-presa são sempre muito bem respei-presa são sempre muito bem respei-tados”tados”tados”tados”tados”. E é por isso que muitos colaborado-res atingiram ali a idade da reforma e ou-tros, que se mantêm, contam já com vinteanos ou mais de casa. . . . . Nas empresas da fa-mília Barosa “toda a gente trabalha“toda a gente trabalha“toda a gente trabalha“toda a gente trabalha“toda a gente trabalhapara o bem comum e ninguém traba-para o bem comum e ninguém traba-para o bem comum e ninguém traba-para o bem comum e ninguém traba-para o bem comum e ninguém traba-lha sozinho”lha sozinho”lha sozinho”lha sozinho”lha sozinho”, garante Luíz.

Confiantes no futuro, os membros maisnovos da família trilham novos caminhospara os negócios. A exportação, iniciada esteano, é um dos rumos a seguir. Outra apostaserá na imagem da empresa, pelo que é bemprovável que dentro de algum tempo as tãoconhecidas ondas em tons de azul que acom-panham o logótipo com um peixe e uma canade pesca, dêem lugar a uma nova imagem,mais virada para o século XXI.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

“Nós também contribuímos para o orgulho

que é esta empresa”

José Fernando Franco, de 54 anos,trabalha para a família Barosa há maisde 25. “Comecei há muitos anos, no“Comecei há muitos anos, no“Comecei há muitos anos, no“Comecei há muitos anos, no“Comecei há muitos anos, noprincípio era uma empresa peque-princípio era uma empresa peque-princípio era uma empresa peque-princípio era uma empresa peque-princípio era uma empresa peque-na. Hoje tem outros alicerces, masna. Hoje tem outros alicerces, masna. Hoje tem outros alicerces, masna. Hoje tem outros alicerces, masna. Hoje tem outros alicerces, mascontinua a ser uma família”continua a ser uma família”continua a ser uma família”continua a ser uma família”continua a ser uma família”, conta.

Inicialmente, vendia e entregava.“Isto foi assim ainda durante al-“Isto foi assim ainda durante al-“Isto foi assim ainda durante al-“Isto foi assim ainda durante al-“Isto foi assim ainda durante al-guns anos. Era eu e outro senhor.guns anos. Era eu e outro senhor.guns anos. Era eu e outro senhor.guns anos. Era eu e outro senhor.guns anos. Era eu e outro senhor.À segunda e terça vendíamos, àÀ segunda e terça vendíamos, àÀ segunda e terça vendíamos, àÀ segunda e terça vendíamos, àÀ segunda e terça vendíamos, àquarta ficávamos no armazém, àquarta ficávamos no armazém, àquarta ficávamos no armazém, àquarta ficávamos no armazém, àquarta ficávamos no armazém, àquinta e sexta íamos fazer a entre-quinta e sexta íamos fazer a entre-quinta e sexta íamos fazer a entre-quinta e sexta íamos fazer a entre-quinta e sexta íamos fazer a entre-ga”ga”ga”ga”ga”. Agora dedica-se apenas à vendae há outros colegas para fazerem o tra-balho que se segue. Uma prova doquanto a empresa cresceu, não só aonível do negócio e do número de traba-lhadores, mas também no que diz res-peito às instalações. “O local onde“O local onde“O local onde“O local onde“O local ondeestamos era um eucaliptal”estamos era um eucaliptal”estamos era um eucaliptal”estamos era um eucaliptal”estamos era um eucaliptal”, lembra.

E o que explica, na sua opinião, osucesso do negócio?

“É trabalharmos todos para o“É trabalharmos todos para o“É trabalharmos todos para o“É trabalharmos todos para o“É trabalharmos todos para omesmo. E a gente não falha, o pro-mesmo. E a gente não falha, o pro-mesmo. E a gente não falha, o pro-mesmo. E a gente não falha, o pro-mesmo. E a gente não falha, o pro-duto que se vende é entregue”duto que se vende é entregue”duto que se vende é entregue”duto que se vende é entregue”duto que se vende é entregue”. Alémdisso, “estamos sempre a evoluir, o“estamos sempre a evoluir, o“estamos sempre a evoluir, o“estamos sempre a evoluir, o“estamos sempre a evoluir, omercado não pára e nós temos quemercado não pára e nós temos quemercado não pára e nós temos quemercado não pára e nós temos quemercado não pára e nós temos queacompanhar sempre esta evolu-acompanhar sempre esta evolu-acompanhar sempre esta evolu-acompanhar sempre esta evolu-acompanhar sempre esta evolu-ção”ção”ção”ção”ção”

A mesma opinião é partilhada porJoão Pereira, 51 anos, a trabalhar há 18anos para os Barosa. O vendedor sabeque já começa a ser raro que os traba-lhadores se aguentem durante tanto

Cronologia

1952 – 1952 – 1952 – 1952 – 1952 – Manuel Barosa vai para Moçambique1973 – 1973 – 1973 – 1973 – 1973 – Regressa a Portugal com a mulher, Cesaltina, e os dois filhos Luíz eJorge1974 – 1974 – 1974 – 1974 – 1974 – É gerente na delegação de Lisboa da Produmar1975 – 1975 – 1975 – 1975 – 1975 – Estabeleceu-se como empresário em nome individual na garagem dasua casa nas Caldas1978 – 1978 – 1978 – 1978 – 1978 – Constrói o primeiro pavilhão da empresa e o filho Luíz começa atrabalhar com os pais1979 – 1979 – 1979 – 1979 – 1979 – A empresa é agente da Olá1983 e 1987 – 1983 e 1987 – 1983 e 1987 – 1983 e 1987 – 1983 e 1987 – Novas obras aumentam a capacidade de frio da empresa1988 –1988 –1988 –1988 –1988 – É criada a Manuel Barosa, Lda (400 mil euros de capital social) paracomércio de gelados com os sócios Manuel, Cesaltina, Luíz e Jorge Barosa. Aempresa Manuel de Sousa Barosa mantém a transformação e comercializa-ção de pescado1990 – 1990 – 1990 – 1990 – 1990 – Jorge termina os estudos e junta-se à família1994 – 1994 – 1994 – 1994 – 1994 – É criada a Manuel de Sousa Barosa, Lda (100 mil euros de capitalsocial). Junta-se, como sócio, Eugénio Pêgo, que também entra para a Manu-el Barosa, Lda.2005 – 2005 – 2005 – 2005 – 2005 – Aposta em novas áreas de negócio com a marca Barosa Food Service2006 – 2006 – 2006 – 2006 – 2006 – É criada a Gelados e Mimos, geladaria em S. Martinho do Porto2008 – 2008 – 2008 – 2008 – 2008 – Construída a mais recente câmara frigorífica da empresa, com capa-cidade superior a 3000 metros cúbicos de frio2010 – 2010 – 2010 – 2010 – 2010 – Início da internacionalização das marcas Barosa com exportaçõespara Espanha

José Franco e João Pereira são dois dos mais antigos José Franco e João Pereira são dois dos mais antigos José Franco e João Pereira são dois dos mais antigos José Franco e João Pereira são dois dos mais antigos José Franco e João Pereira são dois dos mais antigostrabalhadores das empresas. Dois membros de uma equipa de 42trabalhadores das empresas. Dois membros de uma equipa de 42trabalhadores das empresas. Dois membros de uma equipa de 42trabalhadores das empresas. Dois membros de uma equipa de 42trabalhadores das empresas. Dois membros de uma equipa de 42colaboradores que lutam por um só objectivocolaboradores que lutam por um só objectivocolaboradores que lutam por um só objectivocolaboradores que lutam por um só objectivocolaboradores que lutam por um só objectivo

tempo ao serviço da mesma empresa,e diz que isso é estranhado pelos maisnovos. Mas esta é “uma empresa fa-“uma empresa fa-“uma empresa fa-“uma empresa fa-“uma empresa fa-miliar que tem vindo a crescer commiliar que tem vindo a crescer commiliar que tem vindo a crescer commiliar que tem vindo a crescer commiliar que tem vindo a crescer como apoio de todos, nalguns casoso apoio de todos, nalguns casoso apoio de todos, nalguns casoso apoio de todos, nalguns casoso apoio de todos, nalguns casoscom sacrifício de todos, e princi-com sacrifício de todos, e princi-com sacrifício de todos, e princi-com sacrifício de todos, e princi-com sacrifício de todos, e princi-palmente com muita dedicação”palmente com muita dedicação”palmente com muita dedicação”palmente com muita dedicação”palmente com muita dedicação”.

Longe vai o tempo em que a famíliaBarosa vendia apenas pescado e gela-dos. E João Pereira acompanhou todaa transformação que se deu ao níveldos produtos que as empresas comer-cializam, que permitiu combater, porexemplo, a sazonalidade da venda degelados. “Neste momento somos“Neste momento somos“Neste momento somos“Neste momento somos“Neste momento somoscapazes de montar uma pastela-capazes de montar uma pastela-capazes de montar uma pastela-capazes de montar uma pastela-capazes de montar uma pastela-ria. Há uns anos apenas lá púnha-ria. Há uns anos apenas lá púnha-ria. Há uns anos apenas lá púnha-ria. Há uns anos apenas lá púnha-ria. Há uns anos apenas lá púnha-mos a arca de gelados e os gela-mos a arca de gelados e os gela-mos a arca de gelados e os gela-mos a arca de gelados e os gela-mos a arca de gelados e os gela-dos. Hoje, a nossa oferta vai do pãodos. Hoje, a nossa oferta vai do pãodos. Hoje, a nossa oferta vai do pãodos. Hoje, a nossa oferta vai do pãodos. Hoje, a nossa oferta vai do pãoaos salgados, e se for preciso atéaos salgados, e se for preciso atéaos salgados, e se for preciso atéaos salgados, e se for preciso atéaos salgados, e se for preciso atéos fornos lá pomos”os fornos lá pomos”os fornos lá pomos”os fornos lá pomos”os fornos lá pomos”, e acredita quese não fosse a crise, a evolução seriaainda maior.

Acreditando que o futuro não é pre-ocupante, João Pereira afirma que “é“é“é“é“éum motivo de orgulho trabalharum motivo de orgulho trabalharum motivo de orgulho trabalharum motivo de orgulho trabalharum motivo de orgulho trabalharnuma empresa tão bem vista, pornuma empresa tão bem vista, pornuma empresa tão bem vista, pornuma empresa tão bem vista, pornuma empresa tão bem vista, porque nós de alguma maneira faze-que nós de alguma maneira faze-que nós de alguma maneira faze-que nós de alguma maneira faze-que nós de alguma maneira faze-mos parte disto, contribuímosmos parte disto, contribuímosmos parte disto, contribuímosmos parte disto, contribuímosmos parte disto, contribuímospara o orgulho que é esta empre-para o orgulho que é esta empre-para o orgulho que é esta empre-para o orgulho que é esta empre-para o orgulho que é esta empre-sa”sa”sa”sa”sa”.

J.F.J.F.J.F.J.F.J.F.

Manuel Barosa mostra uma das oito câmaras frigoríficas da Manuel Barosa mostra uma das oito câmaras frigoríficas da Manuel Barosa mostra uma das oito câmaras frigoríficas da Manuel Barosa mostra uma das oito câmaras frigoríficas da Manuel Barosa mostra uma das oito câmaras frigoríficas daempresa. A temperatura no local é de 28 graus negativos.empresa. A temperatura no local é de 28 graus negativos.empresa. A temperatura no local é de 28 graus negativos.empresa. A temperatura no local é de 28 graus negativos.empresa. A temperatura no local é de 28 graus negativos.

Page 48: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

29 | Outubro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Sai farinha gourmet da moagem José Félix Quitério,

A empresa em nome individual José Félix Quitério – Farinha das Gaeiras foi criada em 1976, mas a suahistória é bastante mais antiga e traduz-se numa paixão que une já três gerações.No início do século XX o carpinteiro Joaquim Rebelo (1883-1960) constrói um moinho nas Gaeiras ecomeça a produzir farinha. O negócio prospera e em 1940 constrói uma fábrica de moagem no centroda aldeia, onde também começam a trabalhar os seus dois genros.Divergências após a morte do patriarca levaram a fábrica quase à falência, até que é adquirida em1976 por um dos genros, José Félix Quitério, que volta a dar-lhe um novo fôlego. Hoje é o neto maisnovo que está à sua frente e que pretende torná-la uma fábrica de futuro, mas assente nos valores dapalavra e do conhecimento, cimentados em muitos anos de relações comerciais transmitidos peloavô.A farinha das Gaeiras “feita 100% de trigo” “feita 100% de trigo” “feita 100% de trigo” “feita 100% de trigo” “feita 100% de trigo” tornou-se uma marca de qualidade e é comercializadapor toda a região.

A necessidade aguça o enge-nho. O ditado é antigo e era leva-do à prática por Joaquim Rebelo(1883-1960), um carpinteiro dasGaeiras que, numa tentativa demelhorar a vida nos anos durosdo início do séc. XX, construiu ummoinho de pedra, com a ajuda daesposa, e começou a moer trigopara fazer farinha.

A obra ficou pronta em 1920,altura em que houve um terra-moto em Benavente e JoaquimRebelo foi para lá trabalhar decarpinteiro, deixando a esposa,Luísa Rebelo (1889-1968) a tomarconta do moinho e da sua produ-ção.

“A minha mãe dormia lá com“A minha mãe dormia lá com“A minha mãe dormia lá com“A minha mãe dormia lá com“A minha mãe dormia lá coma minha irmã e trabalhava noa minha irmã e trabalhava noa minha irmã e trabalhava noa minha irmã e trabalhava noa minha irmã e trabalhava nomoinho toda a noite, fazendomoinho toda a noite, fazendomoinho toda a noite, fazendomoinho toda a noite, fazendomoinho toda a noite, fazendofarinha tal e qual como o meufarinha tal e qual como o meufarinha tal e qual como o meufarinha tal e qual como o meufarinha tal e qual como o meupai lhe ensinara”pai lhe ensinara”pai lhe ensinara”pai lhe ensinara”pai lhe ensinara”, recorda a fi-lha, Maria Luísa Rebelo Quitério,hoje com 84 anos.

Regressado de Benavente ocarpinteiro-moleiro Joaquim Re-belo continuou a produzir farinhae o negócio deve ter corrido bemporque, 20 anos depois, em 1940,constrói uma moagem no centrodas Gaeiras (deixando o moinhoarrendado ao seu fiel funcionárioManuel, a quem dera trabalhoquando este tinha 14 anos).

O casal Joaquim e Luísa Rebelotem, entretanto duas filhas: Ali-ce, nascida em 1921 (faleceu em2004), e Maria Luísa Rebelo, nas-cida em 1926. Esta recorda-se quea nova fábrica fazia sensação naaldeia das Gaeiras nos anos 40. Amoagem utilizava aquilo que paraa época eram novas tecnologias -mós francesas (uma novidade àépoca), seguindo-se a introduçãode pneumáticos e cilindros, per-mitindo o aumento da produçãoda farinha de trigo.

Alice e Maria Luísa casam, res-pectivamente, com Gil Palma eJosé Quitério (1924-2009), que aca-bariam por vir juntar-se à activi-dade da família.

A filha mais nova de JoaquimRebelo lembra-se que se casou

com 18 anos (1944) e que o maridoteve que ir assentar praça de se-guida, levando-a para o Lumiar,em Lisboa, durante um ano. “OOOOOmeu pai ia lá todos os domin-meu pai ia lá todos os domin-meu pai ia lá todos os domin-meu pai ia lá todos os domin-meu pai ia lá todos os domin-

gos ver-me e perguntar do quegos ver-me e perguntar do quegos ver-me e perguntar do quegos ver-me e perguntar do quegos ver-me e perguntar do queprecisava”precisava”precisava”precisava”precisava”, conta, acrescentan-do que logo que a tropa foi termi-nada regressaram às Gaeiras.Como José Quitério não tinha em-prego, o sogro empregou-o na fá-brica, junto com o cunhado.

“Trabalhavam lá os dois,Trabalhavam lá os dois,Trabalhavam lá os dois,Trabalhavam lá os dois,Trabalhavam lá os dois,mas o meu pai era a travemas o meu pai era a travemas o meu pai era a travemas o meu pai era a travemas o meu pai era a travemestra que orientava aquilomestra que orientava aquilomestra que orientava aquilomestra que orientava aquilomestra que orientava aquilotudo”tudo”tudo”tudo”tudo”, conta Maria Luísa Quité-rio, que desde pequena ajudavao pai com as contas.

Além do patriarca e dos gen-ros, trabalhavam na moagemmais quatro pessoas.

Em 1960 Joaquim Rebelo morree os dois genros herdam a fábri-ca, cuja administração passam aassumir, ficando Gil Palma res-ponsável pela contabilidade. A re-lação entre dois é difícil, acentu-ando-se com o tempo, chegandoao ponto de praticamente não sefalarem.

Por esse motivo, José Quitério co-meça a afastar-se da moagem pas-sando a dedicar-se à agricultura.

CRIAÇÃO DE LOTES ESPECIAISDÃO FAMA À FARINHA

Devido à falta de uma verda-deira gestão, e sem rumo estra-

tégico, em 1976 a fábrica encon-tra-se praticamente parada e comdívidas à EPAC (Empresa Públicade Abastecimento de Cereais).Maria Luísa descobre pelas folhas

de caixa que o montante em dívi-da teria que ser pago nos próxi-mos oito dias ou todo o patrimó-nio iria “à praça”.

O casal opta por lutar pela pos-se da fábrica, dado que não con-seguiu acordo com os familiares.

A operação de venda em hastapública decorre em 26 de Novem-bro de 1976. O preço base é de 10escudos (cinco cêntimos) e viriaatingir 2500 contos (25 mil euros).

Na noite em que se decidia ofuturo da empresa, Maria Luísapermanece dentro do carro, àporta do escritório de um advoga-do, até às cinco horas da manhã àespera de saber o desfecho.

“Chega o meu marido e diz“Chega o meu marido e diz“Chega o meu marido e diz“Chega o meu marido e diz“Chega o meu marido e diza fábrica é nossa!a fábrica é nossa!a fábrica é nossa!a fábrica é nossa!a fábrica é nossa! Começo de Começo de Começo de Começo de Começo dechorar e a dizer que ele noschorar e a dizer que ele noschorar e a dizer que ele noschorar e a dizer que ele noschorar e a dizer que ele nosdesgraçou porque não temosdesgraçou porque não temosdesgraçou porque não temosdesgraçou porque não temosdesgraçou porque não temosdinheiro”dinheiro”dinheiro”dinheiro”dinheiro”, recorda a octagená-ria, acrescentando que José Qui-tério logo a sossegou, dizendo queantes de ir para a licitação foi aobanco Totta & Açores (actual San-tander) para pedir um emprésti-mo, que foi desde logo concedido.

José Quitério entrega metadedos 2500 contos ao cunhado e fica,assim, senhor da empresa, apres-sando-se, também a pagar a dívi-da à EPAC.

“Ninguém tinha um tostão,“Ninguém tinha um tostão,“Ninguém tinha um tostão,“Ninguém tinha um tostão,“Ninguém tinha um tostão,não sei como sobrevivemos,não sei como sobrevivemos,não sei como sobrevivemos,não sei como sobrevivemos,não sei como sobrevivemos,foi duro”foi duro”foi duro”foi duro”foi duro”, recorda Luísa Quité-rio, que passou a tomar conta doescritório. Mas as dificuldades fo-

ram-se atenuando e “aquilo afi-“aquilo afi-“aquilo afi-“aquilo afi-“aquilo afi-nal correu bem”,nal correu bem”,nal correu bem”,nal correu bem”,nal correu bem”, conta, recor-dando que em dois apenas paga-ram a dívida ao banco.

Nos anos setenta, após a ex-tinção da EPAC (que asseguravaa distribuição de trigo pelas moa-gens do país) e com a liberaliza-ção do mercado dos cereais, hou-ve muitas empresas que faliram.“Antes éramos 70 e agora de-“Antes éramos 70 e agora de-“Antes éramos 70 e agora de-“Antes éramos 70 e agora de-“Antes éramos 70 e agora de-vemos ser umas 20 ou 30 mo-vemos ser umas 20 ou 30 mo-vemos ser umas 20 ou 30 mo-vemos ser umas 20 ou 30 mo-vemos ser umas 20 ou 30 mo-agens a funcionar”agens a funcionar”agens a funcionar”agens a funcionar”agens a funcionar”, revela,dando conta que a sua sempresobreviveu porque é pequena etem um carácter artesanal quehoje é uma mais-valia.

“Há ali um sistema muito“Há ali um sistema muito“Há ali um sistema muito“Há ali um sistema muito“Há ali um sistema muitomanual que faz a farinha tal emanual que faz a farinha tal emanual que faz a farinha tal emanual que faz a farinha tal emanual que faz a farinha tal equal como nós queremos,qual como nós queremos,qual como nós queremos,qual como nós queremos,qual como nós queremos,mais ou menos elástica, con-mais ou menos elástica, con-mais ou menos elástica, con-mais ou menos elástica, con-mais ou menos elástica, con-soante se destina a pastelari-soante se destina a pastelari-soante se destina a pastelari-soante se destina a pastelari-soante se destina a pastelari-as ou à transformação ali-as ou à transformação ali-as ou à transformação ali-as ou à transformação ali-as ou à transformação ali-mentar”mentar”mentar”mentar”mentar”, explica.

Pouco tempo depois de seremproprietários da fábrica, contra-taram um especialista que foi àsGaeiras alterar o processo produ-tivo, aumentado a produção parao triplo.

“Começámos a moer cada“Começámos a moer cada“Começámos a moer cada“Começámos a moer cada“Começámos a moer cadavez mais e a farinha começouvez mais e a farinha começouvez mais e a farinha começouvez mais e a farinha começouvez mais e a farinha começoua ter muita fama”a ter muita fama”a ter muita fama”a ter muita fama”a ter muita fama”, o que impli-cava que todos os dias, um dos

proprietários tivesse que ficar denoite a cuidar da fábrica.

José Quitério criou uns lotes es-peciais de farinha, que começa-ram a granjear fama na região,

vendendo não só para a as Cal-das e Óbidos, como para os con-celhos de Santarém, Peniche eAlcobaça.

Com a fábrica a produzir em ple-

no, o casal Quitério pode entãopassear e Maria Luísa recorda hojeas viagens que então fizeram aoBrasil e Japão porque, “até entãoaté entãoaté entãoaté entãoaté entãotinha sido só trabalhar”tinha sido só trabalhar”tinha sido só trabalhar”tinha sido só trabalhar”tinha sido só trabalhar”.

Ainda hoje Maria Luísa, apesardos seu 84 anos, continua a fazera contabilidade da fábrica e a aju-dar o novo gestor da moagem – oseu neto, Filipe Quitério.

O que acontecera entretanto?José Quitério e Maria Luísa tive-ram só um filho – Gil Quitério, nas-cido em 1945 - que acabaria porseguir um rumo diferente sendohoje professor universitário no Ins-tituto Superior de Engenharia deLisboa.

Aparentemente a família demoleiros estaria interrompidaaqui, mas o filho de Gil, Filipe Qui-tério (28 anos), acabaria por se-guir as pisadas dos avós e dosbisavós.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

Joaquim Rebelo (1883-1960) foi o precursorJoaquim Rebelo (1883-1960) foi o precursorJoaquim Rebelo (1883-1960) foi o precursorJoaquim Rebelo (1883-1960) foi o precursorJoaquim Rebelo (1883-1960) foi o precursorde uma actividade que já leva 70 anosde uma actividade que já leva 70 anosde uma actividade que já leva 70 anosde uma actividade que já leva 70 anosde uma actividade que já leva 70 anos

José Félix Quitério (1924-2009), genro de Joaquim Rebelo, pegou José Félix Quitério (1924-2009), genro de Joaquim Rebelo, pegou José Félix Quitério (1924-2009), genro de Joaquim Rebelo, pegou José Félix Quitério (1924-2009), genro de Joaquim Rebelo, pegou José Félix Quitério (1924-2009), genro de Joaquim Rebelo, pegounos destinos da fábrica de moagem em 1976nos destinos da fábrica de moagem em 1976nos destinos da fábrica de moagem em 1976nos destinos da fábrica de moagem em 1976nos destinos da fábrica de moagem em 1976

Filipe Quitério e a avó, Maria Luísa, são hoje a face visível de Filipe Quitério e a avó, Maria Luísa, são hoje a face visível de Filipe Quitério e a avó, Maria Luísa, são hoje a face visível de Filipe Quitério e a avó, Maria Luísa, são hoje a face visível de Filipe Quitério e a avó, Maria Luísa, são hoje a face visível deum negócio de várias geraçõesum negócio de várias geraçõesum negócio de várias geraçõesum negócio de várias geraçõesum negócio de várias gerações

José Félix Quitério numa mostra das actividades José Félix Quitério numa mostra das actividades José Félix Quitério numa mostra das actividades José Félix Quitério numa mostra das actividades José Félix Quitério numa mostra das actividadeseconómicas das Gaeiras em 2006económicas das Gaeiras em 2006económicas das Gaeiras em 2006económicas das Gaeiras em 2006económicas das Gaeiras em 2006

Page 49: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

29 | Outubro | 2010

19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

19201920192019201920 – Joaquim Rebelo constrói um moinho nas Gaeiras e co-

meça a moer trigo e a fazer farinha

19241924192419241924 – Nasce José Félix Quitério, futuro genro de Joaquim Re-

belo e futuro dono da fábrica de moagem de farinha denomina-

da José Félix Quitério

19401940194019401940 - Joaquim Rebelo constrói a fábrica de farinha nas Gaei-

ras

19601960196019601960- Morre Joaquim Rebelo, ficando os dois genros (José Félix

Quitério e Gil Palma) a gerir a moagem

19761976197619761976 – José Quitério e Maria Luísa compram a fábrica salvan-

do-a da falência

20042004200420042004 – Filipe Quitério começa a trabalhar na fábrica com o avô

20092009200920092009 – Morre José Félix Quitério e o neto, Filipe, assume a

gestão da fábrica

nas Gaeiras

Filipe Quitério nasceu em 1982,quase um século depois do seubisavô e está agora a comandaros destinos da moagem José Qui-tério, dando continuidade à pai-xão dos avós e mantendo umaactividade que conta com 70 anosde existência.

Criado em Lisboa com os pais(o professor universitário Gil Qui-tério e Maria Manuela Dias, ac-tualmente presidente da Juntade Freguesia da Portela), ondeestudou Gestão no ISEG, FilipeQuitério sempre andou pela fá-brica das Gaeiras, nas visitas quefazia aos avós, mas nunca tinhacolocado a hipótese de ali traba-lhar.

Mas quando já andava no se-gundo ano da faculdade, o avôQuitério procurou-o e incentivou-o a continuar-lhe os passos. “FuiFuiFuiFuiFuisendo motivado pela manei-sendo motivado pela manei-sendo motivado pela manei-sendo motivado pela manei-sendo motivado pela manei-ra dele, pelos seus valoresra dele, pelos seus valoresra dele, pelos seus valoresra dele, pelos seus valoresra dele, pelos seus valores”,conta o jovem, que começou aaprender os “segredos” da moa-gem do trigo há seis anos.

Começou nas tarefas do quo-tidiano, em redor dos trabalha-dores, a ver como faziam as fari-nhas, como funcionam as máqui-nas, e depois é que foi aprendera fazer as compras do cereal.“Em termos de trigo, porEm termos de trigo, porEm termos de trigo, porEm termos de trigo, porEm termos de trigo, porexemplo, não assino contra-exemplo, não assino contra-exemplo, não assino contra-exemplo, não assino contra-exemplo, não assino contra-tos com pessoas abaixo detos com pessoas abaixo detos com pessoas abaixo detos com pessoas abaixo detos com pessoas abaixo de60 anos, que também me en-60 anos, que também me en-60 anos, que também me en-60 anos, que também me en-60 anos, que também me en-sinam muito”sinam muito”sinam muito”sinam muito”sinam muito”, refere.

Filipe salienta que uma dascaracterísticas desta fábrica é asua maleabilidade e capacidadede adaptar-se aos tempos.

“O que se passa agora éO que se passa agora éO que se passa agora éO que se passa agora éO que se passa agora éque temos força a mais paraque temos força a mais paraque temos força a mais paraque temos força a mais paraque temos força a mais paraa necessidade do mercado”a necessidade do mercado”a necessidade do mercado”a necessidade do mercado”a necessidade do mercado”,explica, precisando que o avôsempre trabalhou num sistemade produção que, embora sendopequeno, “é muito afinadi-“é muito afinadi-“é muito afinadi-“é muito afinadi-“é muito afinadi-nho”nho”nho”nho”nho”. Actualmente estão comuma produção média de 15,5 to-neladas de farinha por dia, em10 horas de funcionamento.

Os clientes e a fidelidade àmarca nunca faltaram, mas oscostumes foram-se alterando.Esta é uma farinha tradicional e

Uma empresa flexível que aprendeu a viver num mercado global

os padeiros já conseguem com-prar uma farinha mais barata edepois retocá-la com conservan-tes. “A nossa é farinha 100%A nossa é farinha 100%A nossa é farinha 100%A nossa é farinha 100%A nossa é farinha 100%trigo e tem quatro espéciestrigo e tem quatro espéciestrigo e tem quatro espéciestrigo e tem quatro espéciestrigo e tem quatro espéciesdiferentes”diferentes”diferentes”diferentes”diferentes”, refere Filipe Quité-rio, acrescentando que o segre-do está em comprar bom trigo.Usam cereal do Alentejo, de Es-panha, França e Alemanha, quemisturam entre eles. O cereal deorigem alemã, por exemplo, é fa-moso por ser muito caro e me-lhorador dos outros mais fracos.

“A globalização afectou to-“A globalização afectou to-“A globalização afectou to-“A globalização afectou to-“A globalização afectou to-dos e os grandes grupos dos e os grandes grupos dos e os grandes grupos dos e os grandes grupos dos e os grandes grupos do-do-do-do-do-minaminaminaminaminam o mercado”m o mercado”m o mercado”m o mercado”m o mercado”, explica, re-alçando que as empresas mais pe-quenas, como é o caso da sua, têmque ter uma oferta diferenciada ereconhecida pelas pessoas.

“EU AINDA COMPRO TRIGO“EU AINDA COMPRO TRIGO“EU AINDA COMPRO TRIGO“EU AINDA COMPRO TRIGO“EU AINDA COMPRO TRIGOCOM UM APERTO DE MÃO”COM UM APERTO DE MÃO”COM UM APERTO DE MÃO”COM UM APERTO DE MÃO”COM UM APERTO DE MÃO”

A passagem de testemunho foirelativamente fácil porque a avóLuísa continuava a ser um pontode referência em termos de for-necedores e clientes. “TodosTodosTodosTodosTodosconhecem a voz dela ao tele-conhecem a voz dela ao tele-conhecem a voz dela ao tele-conhecem a voz dela ao tele-conhecem a voz dela ao tele-fone. É uma marca”fone. É uma marca”fone. É uma marca”fone. É uma marca”fone. É uma marca”, conta Fi-lipe Quitério, acrescentando queeste é um sector onde ainda édado valor à palavra e ao conhe-

cimento cimentado em muitosanos de relações comerciais. “EuEuEuEuEuainda compro trigo com umainda compro trigo com umainda compro trigo com umainda compro trigo com umainda compro trigo com umaperto de mão”aperto de mão”aperto de mão”aperto de mão”aperto de mão”, comenta o jo-vem empresário.

Filipe Quitério costuma até di-zer aos seus clientes que o seupapel é relativamente fácil por-que o avô deixou tão bom nome,que é bastante bem recebido nomeio. Na zona não há nenhumapanificação que não conheça amoagem das Gaeiras.

É o neto que define o avô comosendo “um homem bom”“um homem bom”“um homem bom”“um homem bom”“um homem bom”, des-tacando o seu envolvimento nosprojectos das Gaeiras, ondeapoiou a construção de algunsequipamentos e foi dirigente as-sociativo. Em sintonia com esseespírito solidários, a viúva, Ma-ria Luísa, doou à Junta de Fre-guesia o velho moinho construí-do pelo seu pai em 1920.

O actual gerente destaca quea empresa não possui créditospendentes. “O dinheiro é nos-“O dinheiro é nos-“O dinheiro é nos-“O dinheiro é nos-“O dinheiro é nos-so e está tudo pago”so e está tudo pago”so e está tudo pago”so e está tudo pago”so e está tudo pago”, diz, es-cusando-se a divulgar o volumede negócios da empresa.

Uma das preocupações para ofuturo é a falta de trigo. “Já di-Já di-Já di-Já di-Já di-zia o meu avô que é como ozia o meu avô que é como ozia o meu avô que é como ozia o meu avô que é como ozia o meu avô que é como ovinho: o trigo português évinho: o trigo português évinho: o trigo português évinho: o trigo português évinho: o trigo português émuito mais saboroso e estemuito mais saboroso e estemuito mais saboroso e estemuito mais saboroso e estemuito mais saboroso e esteano, por exemplo, há poucoano, por exemplo, há poucoano, por exemplo, há poucoano, por exemplo, há poucoano, por exemplo, há poucocerealcerealcerealcerealcereal”, explica o gestor da mo-agem das Gaeiras que armaze-na 600 toneladas de trigo porano, proveniente de terras lusas,a que junta o espanhol, alemãoe francês.

Contudo, a escassez de trigoque se tem registado nos paísesconsiderados celeiro da Europanão lhe tira o sono, pois há sem-pre alternativa, nomeadamentecom o fornecimento oriundo daAmérica.

“Isto acontece porque nãoIsto acontece porque nãoIsto acontece porque nãoIsto acontece porque nãoIsto acontece porque nãohá gente nova no trigo”há gente nova no trigo”há gente nova no trigo”há gente nova no trigo”há gente nova no trigo”, refe-

re, reconhecendo que esta pro-dução de trigo não é lucrativa, oque leva a que haja menos cere-al de origem nacional e, conse-quentemente, com menos quali-dade. O futuro deverá delinear-se ao nível da panificação, com oajustamento dos químicos e ou-tras formas artificiais de substi-tuição da farinha.

“Isto será a minha vida”“Isto será a minha vida”“Isto será a minha vida”“Isto será a minha vida”“Isto será a minha vida”,conta agora Filipe Quitério, queestá a gerir a moagem desde queo avô faleceu, há um ano e meio.Conta com a colaboração dosempregados, “que estão cá há“que estão cá há“que estão cá há“que estão cá há“que estão cá háuma vida”uma vida”uma vida”uma vida”uma vida”, e da avó, que conti-nua a fazer a contabilidade, ago-ra em sua casa. Esta, em jeito debrincadeira, remata: “passei apassei apassei apassei apassei avida inteira a contar dinhei-vida inteira a contar dinhei-vida inteira a contar dinhei-vida inteira a contar dinhei-vida inteira a contar dinhei-ro, mas nunca eraro, mas nunca eraro, mas nunca eraro, mas nunca eraro, mas nunca era meu” meu” meu” meu” meu”, lem-brando que tinha apenas 10 anosquando o pai lhe entregou os di-nheiros e uma caixa que elaaprendeu a gerir com o guarda-livros que apoiava a fábrica. “ Ia“ Ia“ Ia“ Ia“ Iaaos bancos das Caldas e to-aos bancos das Caldas e to-aos bancos das Caldas e to-aos bancos das Caldas e to-aos bancos das Caldas e to-dos me conheciam: lá vem ados me conheciam: lá vem ados me conheciam: lá vem ados me conheciam: lá vem ados me conheciam: lá vem amenina das Gaeiras, diziam”menina das Gaeiras, diziam”menina das Gaeiras, diziam”menina das Gaeiras, diziam”menina das Gaeiras, diziam”.

Há cerca de quatro mesescompraram um camião cisterna,para fazer as entregas aos clien-tes. “Vamos atrás do futuro”“Vamos atrás do futuro”“Vamos atrás do futuro”“Vamos atrás do futuro”“Vamos atrás do futuro”,conta o jovem gestor, que quercontinuar com a informatizaçãoda fábrica.

Por agora, Filipe mora em Sa-cavém e desloca-se às Gaeirastodos os dias. Faz parte dos seusplanos vir morar nas Gaeiras por-que dirigir uma empresa implicaestar mais presente.

Entretanto, gosta do tempoque despende no percurso:“para cá pensa-se no que separa cá pensa-se no que separa cá pensa-se no que separa cá pensa-se no que separa cá pensa-se no que sevai fazer e no regresso pen-vai fazer e no regresso pen-vai fazer e no regresso pen-vai fazer e no regresso pen-vai fazer e no regresso pen-sa-se no que se fez”sa-se no que se fez”sa-se no que se fez”sa-se no que se fez”sa-se no que se fez”.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

João Silva esteve 40 anos ao serviço

da fábrica

Natural das Gaeiras, onde nasceu em 1940, João Silva come-çou a trabalhar na moagem com 25 anos. Vivia-se o ano de 1965e tinha acabado de cumprir o serviço militar em Angola. Deregresso à terra natal começou a trabalhar à experiência por ummês e depois, “como era uma pessoa pacata, que respeita-“como era uma pessoa pacata, que respeita-“como era uma pessoa pacata, que respeita-“como era uma pessoa pacata, que respeita-“como era uma pessoa pacata, que respeita-va a casa, os patrões entenderam que eu era a pessoava a casa, os patrões entenderam que eu era a pessoava a casa, os patrões entenderam que eu era a pessoava a casa, os patrões entenderam que eu era a pessoava a casa, os patrões entenderam que eu era a pessoaindicada para lá trabalhar”indicada para lá trabalhar”indicada para lá trabalhar”indicada para lá trabalhar”indicada para lá trabalhar”. E foi o que fez toda a vida, atéque se reformou aos 65 anos e saiu, já lá vão quatro anos.

João Silva foi trabalhar para a fábrica como ajudante e dasfunções faziam parte o carregamento e descarga do trigo, ensa-car a farinha e carregá-la para os clientes. Depois começou aaprender como se fazia a farinha com José Quitério, que era omoleiro, e passou a tomar conta da fábrica na sua ausência,como encarregado.

“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal só“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal só“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal só“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal só“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal sópelo som que emitia”pelo som que emitia”pelo som que emitia”pelo som que emitia”pelo som que emitia”, diz. Foi ajudante de moleiro, mas faziao trabalho tão bem como se fosse moleiro e dá nota pública dosseus conhecimentos: via a água que o trigo tinha que levar,consoante o cereal era mais rijo ou mole, para que este ficassebem peneirado.

A boa farinha resulta de um bom trigo mas, segundo esteantigo empregado da fabrica, também deve ser bem peneirada,de modo a dar interesse ao patrão e ao freguês. O braço direitode José Quitério na laboração da fábrica conta que nunca preci-saram de um viajante para vender farinha pois são os própriosclientes que os procuram.

“A nossa farinha era e é falada por todo o lado. É feita“A nossa farinha era e é falada por todo o lado. É feita“A nossa farinha era e é falada por todo o lado. É feita“A nossa farinha era e é falada por todo o lado. É feita“A nossa farinha era e é falada por todo o lado. É feitaao natural, com o que o trigo dá”ao natural, com o que o trigo dá”ao natural, com o que o trigo dá”ao natural, com o que o trigo dá”ao natural, com o que o trigo dá”, diz, pondo em contrapon-to a produzida pelas grandes fábricas onde é colocado fermen-to. O especialista explica ainda que a farinha para ser boa “nãonãonãonãonãoprecisa ser muito branca, mas um bocadinho trigueira.precisa ser muito branca, mas um bocadinho trigueira.precisa ser muito branca, mas um bocadinho trigueira.precisa ser muito branca, mas um bocadinho trigueira.precisa ser muito branca, mas um bocadinho trigueira.Faz bom pão e não deixa que o pão enrije tão depressa”Faz bom pão e não deixa que o pão enrije tão depressa”Faz bom pão e não deixa que o pão enrije tão depressa”Faz bom pão e não deixa que o pão enrije tão depressa”Faz bom pão e não deixa que o pão enrije tão depressa”,afiança.

Ainda hoje a esposa cose pão caseiro com a farinha JoséQuitério. “Assim sabemos que estamos a comer pão natu-Assim sabemos que estamos a comer pão natu-Assim sabemos que estamos a comer pão natu-Assim sabemos que estamos a comer pão natu-Assim sabemos que estamos a comer pão natu-ral, enquanto que no padeiro a farinha já tem aditivos”ral, enquanto que no padeiro a farinha já tem aditivos”ral, enquanto que no padeiro a farinha já tem aditivos”ral, enquanto que no padeiro a farinha já tem aditivos”ral, enquanto que no padeiro a farinha já tem aditivos”,explica.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

CRONOLOGIA

“Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal “Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal “Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal “Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou mal “Sabia se a fábrica estava a trabalhar bem ou malsó pelo som que emitia”só pelo som que emitia”só pelo som que emitia”só pelo som que emitia”só pelo som que emitia”, recorda João Silva que “viveu”na fábrica entre 1965 e 2005.....

A velha fábrica de 1940 tem acompanhado o progresso tecnológico com A velha fábrica de 1940 tem acompanhado o progresso tecnológico com A velha fábrica de 1940 tem acompanhado o progresso tecnológico com A velha fábrica de 1940 tem acompanhado o progresso tecnológico com A velha fábrica de 1940 tem acompanhado o progresso tecnológico cominvestimentos sucessivos em maquinariainvestimentos sucessivos em maquinariainvestimentos sucessivos em maquinariainvestimentos sucessivos em maquinariainvestimentos sucessivos em maquinaria

A fábrica produz diariamente 15,5 toneladas de farinhade trigo

Page 50: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

5 | Novembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Gabinete de Contabilidade Rosa Barreto há 30 anos c

“Um gabinete de contabili-Um gabinete de contabili-Um gabinete de contabili-Um gabinete de contabili-Um gabinete de contabili-dade não deve fazer apenas adade não deve fazer apenas adade não deve fazer apenas adade não deve fazer apenas adade não deve fazer apenas acontabilidade. Deve estar aocontabilidade. Deve estar aocontabilidade. Deve estar aocontabilidade. Deve estar aocontabilidade. Deve estar aolado e ajudar o cliente porquelado e ajudar o cliente porquelado e ajudar o cliente porquelado e ajudar o cliente porquelado e ajudar o cliente porquecom o crescimento deles cres-com o crescimento deles cres-com o crescimento deles cres-com o crescimento deles cres-com o crescimento deles cres-cemos nós tambémcemos nós tambémcemos nós tambémcemos nós tambémcemos nós também”, afirma An-tónio Barreto, o patriarca da família.

Embora tenha nascido em Soure,desde bebé que António Barreto vivenas Caldas da Rainha, de onde osseus pais são naturais. Tem 59 anose é sobrinho do professor Abílio Mo-niz Barreto, que foi director da Esco-la Comercial e Industrial Rafael Bor-dalo Pinheiro na década de 20 do sé-culo XX.

Em 1968, com um meio irmão maisvelho, foi para França a salto porqueestavam contra a participação naguerra do Ultramar. Durante doisanos trabalhou em Saint-Maur numaempresa de montagem de compo-nentes electrónicos, mas começoua pensar no seu futuro e decidiu vol-tar para Portugal em finais de 1970.

“Fiquei doente por causa deFiquei doente por causa deFiquei doente por causa deFiquei doente por causa deFiquei doente por causa deum abcesso e comecei a pen-um abcesso e comecei a pen-um abcesso e comecei a pen-um abcesso e comecei a pen-um abcesso e comecei a pen-sar no que seria de mim se mesar no que seria de mim se mesar no que seria de mim se mesar no que seria de mim se mesar no que seria de mim se meacontecesse alguma coisaacontecesse alguma coisaacontecesse alguma coisaacontecesse alguma coisaacontecesse alguma coisa”, re-cordou.

Curiosamente, acabou por termais problemas para voltar a entrarem Portugal do que para sair.“Quando foi para sair a salto,Quando foi para sair a salto,Quando foi para sair a salto,Quando foi para sair a salto,Quando foi para sair a salto,pagamos a alguém, mas no re-pagamos a alguém, mas no re-pagamos a alguém, mas no re-pagamos a alguém, mas no re-pagamos a alguém, mas no re-gresso foi mais difícil porquegresso foi mais difícil porquegresso foi mais difícil porquegresso foi mais difícil porquegresso foi mais difícil porquenão tinha passaportenão tinha passaportenão tinha passaportenão tinha passaportenão tinha passaporte”, contou.

Ou seja, no Portugal de antes do 25de Abril era mais fácil fugir do paísdo que nele entrar voluntariamente.

António Barreto acabou por con-seguir o passaporte no consulado deBiarritz, depois de aconselhado pelapolícia francesa. “Ainda bem que“Ainda bem que“Ainda bem que“Ainda bem que“Ainda bem quetratei dos papéis porque notratei dos papéis porque notratei dos papéis porque notratei dos papéis porque notratei dos papéis porque nocomboio de regresso, e aindacomboio de regresso, e aindacomboio de regresso, e aindacomboio de regresso, e aindacomboio de regresso, e ainda

em Espanha, apareceu a Pideem Espanha, apareceu a Pideem Espanha, apareceu a Pideem Espanha, apareceu a Pideem Espanha, apareceu a Pide”.Já em Portugal apresentou-se

voluntariamente para fazer a tropaem atraso e não teve problemas por-que era considerado refractário enão desertor. Fez a recruta em SantaMargarida, a especialidade no Por-to e seguiu para Angola, onde esteve20 meses. “Vim mais cedo porVim mais cedo porVim mais cedo porVim mais cedo porVim mais cedo porcausa do 25 de Abril, em No-causa do 25 de Abril, em No-causa do 25 de Abril, em No-causa do 25 de Abril, em No-causa do 25 de Abril, em No-vembro de 1974vembro de 1974vembro de 1974vembro de 1974vembro de 1974”, referiu.

Entretanto António conheceraRosa. Estava-se em 1971 e ambostrabalhavam nas oficinas Bento, na

estrada de Tornada (onde hoje estãoas instalações do grupo Fonsecas).A sua futura mulher trabalhava no es-critório e António nas oficinas. Umemprego provisório antes de partirpara o Ultramar.

Poucos meses depois, em Ango-la, recebe notícia do nascimento dofilho, Eurico.

Na altura em que ficou grávida doprimeiro filho, Rosa Barreto sai dasoficinas Bento e começa a trabalharno escritório de contabilidade deMaria Efigénia e Abílio da Silva, narua Emídio de Jesus Coelho. “AindaAindaAindaAindaAindahoje lhes estamos gratos por-hoje lhes estamos gratos por-hoje lhes estamos gratos por-hoje lhes estamos gratos por-hoje lhes estamos gratos por-que lhe deram emprego mes-que lhe deram emprego mes-que lhe deram emprego mes-que lhe deram emprego mes-que lhe deram emprego mes-mo estando grávida e apoia-mo estando grávida e apoia-mo estando grávida e apoia-mo estando grávida e apoia-mo estando grávida e apoia-ram-na sempreram-na sempreram-na sempreram-na sempreram-na sempre”, salientou Antó-nio Barreto.

Quando regressou do Ultramar, ofuturo empresário começou por tra-balhar na Condaço “uma fábricauma fábricauma fábricauma fábricauma fábrica

que deu emprego a muita gen-que deu emprego a muita gen-que deu emprego a muita gen-que deu emprego a muita gen-que deu emprego a muita gen-te naquela alturate naquela alturate naquela alturate naquela alturate naquela altura”, comenta,acrescentando que ainda se lembrade colaborar na construção das ins-talações da empresa. “CarregámosCarregámosCarregámosCarregámosCarregámosmuitos baldes de cimento e le-muitos baldes de cimento e le-muitos baldes de cimento e le-muitos baldes de cimento e le-muitos baldes de cimento e le-vantámos muitos pilaresvantámos muitos pilaresvantámos muitos pilaresvantámos muitos pilaresvantámos muitos pilares”, dis-se.

Em 1978 António Barreto foi aju-

dar o negócio de sucata do sogro(junto ao local onde agora existe arotunda dos silos) e em 1980 juntou-se à sua mulher no gabinete de con-tabilidade.

“No dia que eu fiz 30 anos, aNo dia que eu fiz 30 anos, aNo dia que eu fiz 30 anos, aNo dia que eu fiz 30 anos, aNo dia que eu fiz 30 anos, a23 de Novembro, a dona Efigé-23 de Novembro, a dona Efigé-23 de Novembro, a dona Efigé-23 de Novembro, a dona Efigé-23 de Novembro, a dona Efigé-nia propôs-nos ficarmos com onia propôs-nos ficarmos com onia propôs-nos ficarmos com onia propôs-nos ficarmos com onia propôs-nos ficarmos com oescritório de contabilidadeescritório de contabilidadeescritório de contabilidadeescritório de contabilidadeescritório de contabilidade”,contou o empresário. Fizeram umcontrato vitalício, no qual passarama pagar uma renda mensal (que temvindo a ser actualizada) à antiga pro-prietária.

A designação “Gabinete Rosa Bar-reto” surge em 1980, mas ainda emnome individual. Há 30 anos atrás játinham cerca de 150 clientes, prati-camente o mesmo número que têmem 2010. Algum deles mantém-sedesde a criação da empresa. “HáHáHáHáHáclientes cujas famílias já vãoclientes cujas famílias já vãoclientes cujas famílias já vãoclientes cujas famílias já vãoclientes cujas famílias já vãona terceira geração e até hána terceira geração e até hána terceira geração e até hána terceira geração e até hána terceira geração e até há

alguns deles aos quais a alguns deles aos quais a alguns deles aos quais a alguns deles aos quais a alguns deles aos quais a Gaze-Gaze-Gaze-Gaze-Gaze-tatatatata já fez esta reportagem já fez esta reportagem já fez esta reportagem já fez esta reportagem já fez esta reportagem”, refe-riu António Barreto.

“O facto de sermos uma em-O facto de sermos uma em-O facto de sermos uma em-O facto de sermos uma em-O facto de sermos uma em-presa familiar é também por-presa familiar é também por-presa familiar é também por-presa familiar é também por-presa familiar é também por-que temos muita proximidadeque temos muita proximidadeque temos muita proximidadeque temos muita proximidadeque temos muita proximidadecom os clientescom os clientescom os clientescom os clientescom os clientes”, diz o empresá-rio. E daí a necessidade de manterum número estável de clientes.

Quatro anos depois de assumi-rem o gabinete, em 1984, mudam deinstalações para a rua Raul Proen-ça, ao lado do antigo edifício da Ga-Ga-Ga-Ga-Ga-zeta das Caldaszeta das Caldaszeta das Caldaszeta das Caldaszeta das Caldas.

“Estávamos numa sala mui-Estávamos numa sala mui-Estávamos numa sala mui-Estávamos numa sala mui-Estávamos numa sala mui-to pequena e precisávamos deto pequena e precisávamos deto pequena e precisávamos deto pequena e precisávamos deto pequena e precisávamos demais espaçomais espaçomais espaçomais espaçomais espaço”, explicou AntónioBarreto

No ano 2000 mudaram para insta-lações na rua Visconde de Sacavém,onde estiveram até 2005, quando seinstalaram definitivamente na rua doFunchal, 39-A. Remodelaram total-mente o espaço e criaram um escri-tório com condições para todos osfuncionários. “Temos investidoTemos investidoTemos investidoTemos investidoTemos investidosempre na empresa aquilo quesempre na empresa aquilo quesempre na empresa aquilo quesempre na empresa aquilo quesempre na empresa aquilo queganhamosganhamosganhamosganhamosganhamos”, adiantou António Bar-reto.

Ao longo dos anos o trabalho foisendo facilitado por novas ferramen-tas (principalmente os computado-res), mas complicado com as novasregras do Estado.

“Fomos o primeiro gabineteFomos o primeiro gabineteFomos o primeiro gabineteFomos o primeiro gabineteFomos o primeiro gabinetede contabilidade das Caldas ade contabilidade das Caldas ade contabilidade das Caldas ade contabilidade das Caldas ade contabilidade das Caldas ater um computador, em 1984.ter um computador, em 1984.ter um computador, em 1984.ter um computador, em 1984.ter um computador, em 1984.Houve colegas nossos que vie-Houve colegas nossos que vie-Houve colegas nossos que vie-Houve colegas nossos que vie-Houve colegas nossos que vie-ram cá verram cá verram cá verram cá verram cá ver”, contou Rosa Barreto.O computador Olivetti custou 700contos (3.500 euros), mas com as im-pressoras e o programa informáti-co, o investimento total foi de 1200contos (5.100 euros).

Se só havia nas Caldas um gabi-nete de contabilidade com computa-dor, tal raridade era-o também aonível das empresas pois dos mais de100 clientes, só havia também em1984 uma empresa com essa novaferramenta.

Duas fotos de família em diferentes contextos. Há 20 anos numa visita ao Cabo da Roca e na semana passada em frente à empresa. António e Rosa Barreto são responsáveis Duas fotos de família em diferentes contextos. Há 20 anos numa visita ao Cabo da Roca e na semana passada em frente à empresa. António e Rosa Barreto são responsáveis Duas fotos de família em diferentes contextos. Há 20 anos numa visita ao Cabo da Roca e na semana passada em frente à empresa. António e Rosa Barreto são responsáveis Duas fotos de família em diferentes contextos. Há 20 anos numa visita ao Cabo da Roca e na semana passada em frente à empresa. António e Rosa Barreto são responsáveis Duas fotos de família em diferentes contextos. Há 20 anos numa visita ao Cabo da Roca e na semana passada em frente à empresa. António e Rosa Barreto são responsáveispela área de Gestão Laboral, o filho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área dos Seguros.pela área de Gestão Laboral, o filho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área dos Seguros.pela área de Gestão Laboral, o filho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área dos Seguros.pela área de Gestão Laboral, o filho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área dos Seguros.pela área de Gestão Laboral, o filho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área dos Seguros.

Rosa Barreto em 1974 quando dava os primeiros passos na contabilidade, ainda no gabinete de Maria Efigénia e Abílio da Silva, e dez anos depois no seu próprio escritório na R. Rosa Barreto em 1974 quando dava os primeiros passos na contabilidade, ainda no gabinete de Maria Efigénia e Abílio da Silva, e dez anos depois no seu próprio escritório na R. Rosa Barreto em 1974 quando dava os primeiros passos na contabilidade, ainda no gabinete de Maria Efigénia e Abílio da Silva, e dez anos depois no seu próprio escritório na R. Rosa Barreto em 1974 quando dava os primeiros passos na contabilidade, ainda no gabinete de Maria Efigénia e Abílio da Silva, e dez anos depois no seu próprio escritório na R. Rosa Barreto em 1974 quando dava os primeiros passos na contabilidade, ainda no gabinete de Maria Efigénia e Abílio da Silva, e dez anos depois no seu próprio escritório na R.Raul Proença. À direita, a jovem Cidália a escrever à máquina.Raul Proença. À direita, a jovem Cidália a escrever à máquina.Raul Proença. À direita, a jovem Cidália a escrever à máquina.Raul Proença. À direita, a jovem Cidália a escrever à máquina.Raul Proença. À direita, a jovem Cidália a escrever à máquina.

A celebrar em 2010 o seu 30º aniversário, o Gabinete de Contabilidade Rosa Barreto é uma empresafamiliar que vai na segunda geração, no qual toda a família assume funções distintas.O casal fundador da empresa - António e Rosa Barreto - é responsável pela área de Gestão Laboral, ofilho mais velho, Eurico, pelo departamento de Contabilidade e o mais novo, Euládio, pela área deSeguros.Como os dois filhos têm uma diferença grande de idade (10 anos), é como se coexistissem nogabinete três gerações diferentes.O trabalho que fazem é completo, desde o processo de criação de uma empresa, à gestão dos recur-sos humanos, ou até a área dos seguros.

Page 51: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

5 | Novembro | 2010

19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

Cidália Ribeiro foi a primeirafuncionária desta casa e, 18 anosdepois, ainda lá continua. Duran-te este tempo, Cidália Ribeiro foiaprendendo as suas funções naempresa onde foi parar “um“um“um“um“umpouco por acasopouco por acasopouco por acasopouco por acasopouco por acaso”. A principaldiferença que nota no seu traba-lho prende-se com a utilização doscomputadores “que tornou tudoque tornou tudoque tornou tudoque tornou tudoque tornou tudo

com as contas em diaA aposta nos computadores sur-

giu pela necessidade de fazer osmapas salariais e recibos dos orde-nados, mas não para a contabilidadeem si. “Os programas que exis-Os programas que exis-Os programas que exis-Os programas que exis-Os programas que exis-tiam para contabilidade eramtiam para contabilidade eramtiam para contabilidade eramtiam para contabilidade eramtiam para contabilidade eramainda muito rudimentaresainda muito rudimentaresainda muito rudimentaresainda muito rudimentaresainda muito rudimentares”, ex-plicou António Barreto, que ainda serecorda das velhinhas disquetes de5 ¼ (discos amovíveis com capaci-dade até 500 kb).

Na década de 80 também aindaprecisavam de se deslocar a Leiriapor causa das questões relaciona-das com a Segurança Social, inclu-sivamente para fazer os pagamen-tos das empresas e particulares.

Rosa Barreto diz que hoje os cli-entes estão cada vez mais bem in-formados e exigentes quanto ao tra-balho de um gabinete de contabili-dade. “Antigamente não sabiamAntigamente não sabiamAntigamente não sabiamAntigamente não sabiamAntigamente não sabiamde nada e agora têm acesso ade nada e agora têm acesso ade nada e agora têm acesso ade nada e agora têm acesso ade nada e agora têm acesso atoda a informaçãotoda a informaçãotoda a informaçãotoda a informaçãotoda a informação”, explica a em-presária. “Às vezes acabam porÀs vezes acabam porÀs vezes acabam porÀs vezes acabam porÀs vezes acabam pordar menos valor ao nosso tra-dar menos valor ao nosso tra-dar menos valor ao nosso tra-dar menos valor ao nosso tra-dar menos valor ao nosso tra-balho porque pensam que asbalho porque pensam que asbalho porque pensam que asbalho porque pensam que asbalho porque pensam que ascoisas são simples, mas nãocoisas são simples, mas nãocoisas são simples, mas nãocoisas são simples, mas nãocoisas são simples, mas nãosãosãosãosãosão”, considera.

“PRINCIPAL CAPITAL SÃO OSFILHOS”

Em 1995 criaram a sociedadeRosa Barreto – Contabilidade e Ges-tão, Lda, com capital social de 120mil euros, passando pais e filhos aserem sócios.

Para António e Rosa Barreto, oseu principal “capital” são os filhos.Desde que eles eram adolescentesincentivaram-nos a seguir para auniversidade e a frequentarem licen-ciaturas no sector de actividade daempresa.

O casal está orgulhoso pelo factodos seus filhos se terem integradobem no gabinete e também por sedarem todos muito bem. O irmãomais velho chegou a dar de biberãoao mais novo e até a mudar-lhe afralda. “Era quase como paiEra quase como paiEra quase como paiEra quase como paiEra quase como paideledeledeledeledele”, referiu Rosa Barreto.

Como cada um se especializounuma área dentro do gabinete, con-tribuem todos de igual forma. “Tra-Tra-Tra-Tra-Tra-balhámos sempre todos juntosbalhámos sempre todos juntosbalhámos sempre todos juntosbalhámos sempre todos juntosbalhámos sempre todos juntose nunca tivemos problemase nunca tivemos problemase nunca tivemos problemase nunca tivemos problemase nunca tivemos problemas”,afirmou a matriarca.

No irmão mais velho, Eurico Bar-reto, desde cedo se notou que o seufuturo iria passar pelo gabinete decontabilidade e desde sempre pen-sou em trabalhar com a família.

Aos 11 anos já ajudava os seuspais. “Ele andava na escola eEle andava na escola eEle andava na escola eEle andava na escola eEle andava na escola edepois vinha para aqui traba-depois vinha para aqui traba-depois vinha para aqui traba-depois vinha para aqui traba-depois vinha para aqui traba-lhar na máquina de escreverlhar na máquina de escreverlhar na máquina de escreverlhar na máquina de escreverlhar na máquina de escrever”,contou António Barreto.

A primeira memória que EuricoBarreto tem é a de organizar o arqui-vo. “Recordo-me que nas fériasRecordo-me que nas fériasRecordo-me que nas fériasRecordo-me que nas fériasRecordo-me que nas fériasos meus amigos todos iam paraos meus amigos todos iam paraos meus amigos todos iam paraos meus amigos todos iam paraos meus amigos todos iam paraa praia e eu passava tardes aa praia e eu passava tardes aa praia e eu passava tardes aa praia e eu passava tardes aa praia e eu passava tardes aarquivar papéisarquivar papéisarquivar papéisarquivar papéisarquivar papéis”. Isto ainda no pri-meiro escritório, na rua Emídio deJesus Coelho. “Era do tamanhoEra do tamanhoEra do tamanhoEra do tamanhoEra do tamanho

desta sala em que estamosdesta sala em que estamosdesta sala em que estamosdesta sala em que estamosdesta sala em que estamosagora e as escadas rangiam poragora e as escadas rangiam poragora e as escadas rangiam poragora e as escadas rangiam poragora e as escadas rangiam portodo o ladotodo o ladotodo o ladotodo o ladotodo o lado”, recordou.

Depois os pais convenceram-notambém a trabalhar em part-time,sendo recompensado monetaria-mente por isso. “Essa parte sabiaEssa parte sabiaEssa parte sabiaEssa parte sabiaEssa parte sabiabem e comecei a perceber abem e comecei a perceber abem e comecei a perceber abem e comecei a perceber abem e comecei a perceber anoção do dinheiro. Comeceinoção do dinheiro. Comeceinoção do dinheiro. Comeceinoção do dinheiro. Comeceinoção do dinheiro. Comeceilogo a meter dinheiro de parte,logo a meter dinheiro de parte,logo a meter dinheiro de parte,logo a meter dinheiro de parte,logo a meter dinheiro de parte,talvez pela minha tendênciatalvez pela minha tendênciatalvez pela minha tendênciatalvez pela minha tendênciatalvez pela minha tendênciaeconomicistaeconomicistaeconomicistaeconomicistaeconomicista”, lembrou. Era numdos livros da colecção dos Três Mos-queteiros que guardava as notas,para ficarem direitas.

Aos 11 anos achava “uma secauma secauma secauma secauma seca”fazer aquele trabalho, mas ao entrarna adolescência começou a ler jor-nais e a interessar-se pela actuali-dade. Tinha 16 anos quando CavacoSilva, enquanto primeiro-ministro,foi para uma parte da sua geração“um mentorum mentorum mentorum mentorum mentor”.

Embora não se interesse pelavida partidária, assume que ter umprofessor de Economia como primei-ro-ministro numa conjuntura favorá-vel era fascinante para um jovem quese interessava pela área económi-ca. Mas hoje, em 2010, com 38 anos,já não dá muito crédito à política.

Eurico Barreto licenciou-se emEconomia na Universidade Autóno-ma de Lisboa, depois de ter iniciadoo curso no pólo das Caldas.

Embora admita que o curso deGestão poderia ter sido mais práti-co para o trabalho que faz, entendeque o facto de ser economista o aju-da a si e aos clientes. Até porqueoptou por especializações na áreada Contabilidade Analítica e Fisca-lidade.

Em 1995, com 21 anos e ainda sema licenciatura concluída, assume aresponsabilidade do departamentode contabilidade da empresa. Paratal, fez o exame de admissão à Or-

PME Líder há dois anosdem dos Técnicos Oficiais de Conta,à qual teria acesso directo mais tar-de, por causa da licenciatura.

Como responsável do departa-mento da contabilidade torna-secomo uma das faces mais visíveisda empresa.

Para Eurico Barreto a maior van-tagem de uma empresa familiar é aconfiança absoluta que existe entreos sócios. “Nós temos uma rela-Nós temos uma rela-Nós temos uma rela-Nós temos uma rela-Nós temos uma rela-ção muito próximação muito próximação muito próximação muito próximação muito próxima”, afirmou.Quase todos os dias almoçam juntos.Um hábito que mantiveram mesmodepois de Eurico Barreto se ter ca-sado, há sete anos (tem um filho dedois anos e uma filha de cinco anos).

Essa relação tem ajudado a queos papéis estejam bem definidosdentro da empresa.

“Hoje os meus filhos é queHoje os meus filhos é queHoje os meus filhos é queHoje os meus filhos é queHoje os meus filhos é quedecidem quase tudo, especial-decidem quase tudo, especial-decidem quase tudo, especial-decidem quase tudo, especial-decidem quase tudo, especial-mente o Euricomente o Euricomente o Euricomente o Euricomente o Eurico”, admite o pai. Ocasal continua a fazer o seu traba-lho, mas os filhos assumem um pa-pel cada vez mais preponderante.

FILHO MAIS NOVO APOSTANOS SEGUROS

Euládio Barreto, o filho mais novo,nasceu em 1984, já depois da cria-ção da empresa.

As primeiras memórias são dasbrincadeiras que fazia. “Lembro-Lembro-Lembro-Lembro-Lembro-me de chegar ao gabinete, to-me de chegar ao gabinete, to-me de chegar ao gabinete, to-me de chegar ao gabinete, to-me de chegar ao gabinete, to-car à campainha no rés-do-car à campainha no rés-do-car à campainha no rés-do-car à campainha no rés-do-car à campainha no rés-do-chão e subir até ao primeirochão e subir até ao primeirochão e subir até ao primeirochão e subir até ao primeirochão e subir até ao primeiroandar de gatas. Não viam nin-andar de gatas. Não viam nin-andar de gatas. Não viam nin-andar de gatas. Não viam nin-andar de gatas. Não viam nin-guém a subir e depois eu já apa-guém a subir e depois eu já apa-guém a subir e depois eu já apa-guém a subir e depois eu já apa-guém a subir e depois eu já apa-recia por detrás das pessoasrecia por detrás das pessoasrecia por detrás das pessoasrecia por detrás das pessoasrecia por detrás das pessoas”,recordou, divertido.

Aos 17 anos começou a trabalharmais a sério no escritório, a darapoio administrativo. Mais tardepassou também para a contabilida-de.

Embora o seu sonho fosse a área

do Desporto, os pais influencia-ram-no a seguir a área de Econo-mia no ensino secundário.

Euládio Barreto, com 26 anos,foi jogador das camadas jovens doCaldas Sport Clube, do Sport UniãoAlfeizerense e do Óbidos SportClube. “Os meus pais desmoti-Os meus pais desmoti-Os meus pais desmoti-Os meus pais desmoti-Os meus pais desmoti-varam-me sempre de seguirvaram-me sempre de seguirvaram-me sempre de seguirvaram-me sempre de seguirvaram-me sempre de seguira vida de futebolistaa vida de futebolistaa vida de futebolistaa vida de futebolistaa vida de futebolista”, referiu.

Concluído o 12º ano, EuládioBarreto foi para o Instituto Superi-or de Contabilidade e Administra-ção de Lisboa, mas nunca chegoua concluir a licenciatura. “NãoNãoNãoNãoNãome adaptei facilmente à ca-me adaptei facilmente à ca-me adaptei facilmente à ca-me adaptei facilmente à ca-me adaptei facilmente à ca-pital e achei que seria me-pital e achei que seria me-pital e achei que seria me-pital e achei que seria me-pital e achei que seria me-lhor vir trabalhar para o ga-lhor vir trabalhar para o ga-lhor vir trabalhar para o ga-lhor vir trabalhar para o ga-lhor vir trabalhar para o ga-binetebinetebinetebinetebinete”, explicou.

Ao mesmo tempo que trabalha-va na empresa nas Caldas, conti-nuou a licenciatura em Contabili-dade no Instituto Superior Politéc-nico do Oeste, em Torres Vedras.Mas ficou desiludido com o ensi-no superior, porque aquilo que seensinava não tinha a ver com a prá-tica do dia-a-dia.

Durante dois anos esteve liga-do ao sector da gestão financeirado gabinete, no qual teve um con-tacto directo com os bancos. Essaexperiência fez com que começas-se a interessar-se pela área dosseguros.

Esteve dois meses a tirar o cur-so de mediador de seguros e ago-ra assume este sector dentro daempresa. “É uma área do qualÉ uma área do qualÉ uma área do qualÉ uma área do qualÉ uma área do qualgosto muito, pelo contactogosto muito, pelo contactogosto muito, pelo contactogosto muito, pelo contactogosto muito, pelo contactocom as pessoas e pelos co-com as pessoas e pelos co-com as pessoas e pelos co-com as pessoas e pelos co-com as pessoas e pelos co-nhecimentos que se adqui-nhecimentos que se adqui-nhecimentos que se adqui-nhecimentos que se adqui-nhecimentos que se adqui-remremremremrem”.

Euládio Barreto quer que o ga-binete seja um dos maiores me-diadores da região e espera umdia ultrapassar em volume denegócios as outras áreas da em-presa. “Mais do que razõesMais do que razõesMais do que razõesMais do que razõesMais do que razõesmonetárias, é uma ambiçãomonetárias, é uma ambiçãomonetárias, é uma ambiçãomonetárias, é uma ambiçãomonetárias, é uma ambiçãode fazer crescer esta em-de fazer crescer esta em-de fazer crescer esta em-de fazer crescer esta em-de fazer crescer esta em-presapresapresapresapresa”, salienta, afastandoqualquer hipótese de sair do ne-gócio de família.

“Um dos p i lares para a“Um dos p i lares para a“Um dos p i lares para a“Um dos p i lares para a“Um dos p i lares para aminha formação como pes-minha formação como pes-minha formação como pes-minha formação como pes-minha formação como pes-soa e como empresário é osoa e como empresário é osoa e como empresário é osoa e como empresário é osoa e como empresário é omeu pai. É por ele que eumeu pai. É por ele que eumeu pai. É por ele que eumeu pai. É por ele que eumeu pai. É por ele que eutenho essa ambição de fa-tenho essa ambição de fa-tenho essa ambição de fa-tenho essa ambição de fa-tenho essa ambição de fa-zer crescer aquilo que elezer crescer aquilo que elezer crescer aquilo que elezer crescer aquilo que elezer crescer aquilo que elecomeçou com tantas di f i -começou com tantas di f i -começou com tantas di f i -começou com tantas di f i -começou com tantas di f i -culdadesculdadesculdadesculdadesculdades”, disse.

Isto apesar de achar queexistem mais desvantagens doque vantagens em trabalhar emfamília, por causa do desgasteque isso pode provocar na rela-ção entre todos. Como é o maisnovo, sente que precisa de es-tar sempre a provar o seu valor.Para já, tem tido bons resultadosporque a área dos seguros temcrescido bastante dentro do gabi-nete.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

Com um volume de negóciosde quase 460 mil euros e dandoemprego a 15 pessoas (incluindoos sócios), o Gabinete Rosa Bar-reto é a única empresa desteramo no distrito de Leiria distin-guida como PME Líder, que pre-meia as empresas com melho-res desempenhos e perfis de ris-co.

O estatuto é atribuído peloIAPMEI e Turismo de Portugal emconjunto com os bancos parcei-ros, com base em notações derating e em critérios económico-financeiros.

Segundo Eurico Barreto, a cri-se económica tem-se feito sen-tir nos seus clientes. “Nós per-Nós per-Nós per-Nós per-Nós per-cebemos bem as dificuldadescebemos bem as dificuldadescebemos bem as dificuldadescebemos bem as dificuldadescebemos bem as dificuldadesdos nossos clientes. Somosdos nossos clientes. Somosdos nossos clientes. Somosdos nossos clientes. Somosdos nossos clientes. Somosos primeiros a saber quandoos primeiros a saber quandoos primeiros a saber quandoos primeiros a saber quandoos primeiros a saber quandoas coisas estão malas coisas estão malas coisas estão malas coisas estão malas coisas estão mal”, revelou.

Apesar de tudo, entre os cli-entes têm sido poucas as insol-vências. “Podem não ser mui-Podem não ser mui-Podem não ser mui-Podem não ser mui-Podem não ser mui-tas, mas como antes nãotas, mas como antes nãotas, mas como antes nãotas, mas como antes nãotas, mas como antes nãoacontecia, para nós já é mui-acontecia, para nós já é mui-acontecia, para nós já é mui-acontecia, para nós já é mui-acontecia, para nós já é mui-tototototo”, comentou Eurico Barreto. Em

Eurico a dar de biberão ao seu irmão mais novo, Eurico a dar de biberão ao seu irmão mais novo, Eurico a dar de biberão ao seu irmão mais novo, Eurico a dar de biberão ao seu irmão mais novo, Eurico a dar de biberão ao seu irmão mais novo,Euládio.Euládio.Euládio.Euládio.Euládio.

De uma pequena sala a empresa cresceu para umas De uma pequena sala a empresa cresceu para umas De uma pequena sala a empresa cresceu para umas De uma pequena sala a empresa cresceu para umas De uma pequena sala a empresa cresceu para umasamplas instalaçõesamplas instalaçõesamplas instalaçõesamplas instalaçõesamplas instalações

2010 houve três empresas clien-tes que declararam insolvênciae em 2009 nenhuma. “Nós apoi-Nós apoi-Nós apoi-Nós apoi-Nós apoi-amos bastante os nossos cli-amos bastante os nossos cli-amos bastante os nossos cli-amos bastante os nossos cli-amos bastante os nossos cli-entes e ajudamos a ultrapas-entes e ajudamos a ultrapas-entes e ajudamos a ultrapas-entes e ajudamos a ultrapas-entes e ajudamos a ultrapas-sar determinados proble-sar determinados proble-sar determinados proble-sar determinados proble-sar determinados proble-masmasmasmasmas”.

Na sua opinião, o principalproblema passa agora pela difi-culdade de acesso ao crédito.“Há empresas que até têmHá empresas que até têmHá empresas que até têmHá empresas que até têmHá empresas que até têmnegócios bons e ideias paranegócios bons e ideias paranegócios bons e ideias paranegócios bons e ideias paranegócios bons e ideias paraimplementar, mas queremimplementar, mas queremimplementar, mas queremimplementar, mas queremimplementar, mas queremprogredir e não conseguemprogredir e não conseguemprogredir e não conseguemprogredir e não conseguemprogredir e não conseguempor causa dessas l imita-por causa dessas l imita-por causa dessas l imita-por causa dessas l imita-por causa dessas l imita-çõesçõesçõesçõesções”, considera, lembrandoque a Microsoft nasceu numagaragem.

Outra dificuldade nas micro epequenas empresas é o facto deos empresários poderem serbons na sua área, mas depoistêm limitações ao nível da ges-tão do quotidiano. Por isso, Eu-rico Barreto defende que osempresários devem saber apoi-ar-se devidamente.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

A primeira funcionária continua na

empresa

Cidália Ribeiro está no gabinete há 18 anos Cidália Ribeiro está no gabinete há 18 anos Cidália Ribeiro está no gabinete há 18 anos Cidália Ribeiro está no gabinete há 18 anos Cidália Ribeiro está no gabinete há 18 anos

mais fácilmais fácilmais fácilmais fácilmais fácil”.A funcionária mais antiga do

gabinete recorda-se de comocomeçaram numas instalaçõespequenas e foi com agrado queassistiu às sucessivas mudançase à evolução e consolidação daempresa.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

Page 52: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

12 | Novembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

A. Flores Lda. é uma das mais antigas empresas das

diversificação da sua actividade

Abílio Flores (1921-2004) iniciou a sua actividade Abílio Flores (1921-2004) iniciou a sua actividade Abílio Flores (1921-2004) iniciou a sua actividade Abílio Flores (1921-2004) iniciou a sua actividade Abílio Flores (1921-2004) iniciou a sua actividadeempresarial em 1945. O seu sucesso deveu-se, em grandeempresarial em 1945. O seu sucesso deveu-se, em grandeempresarial em 1945. O seu sucesso deveu-se, em grandeempresarial em 1945. O seu sucesso deveu-se, em grandeempresarial em 1945. O seu sucesso deveu-se, em grandeparte, à capacidade de aproveitar os produtos em fase departe, à capacidade de aproveitar os produtos em fase departe, à capacidade de aproveitar os produtos em fase departe, à capacidade de aproveitar os produtos em fase departe, à capacidade de aproveitar os produtos em fase decrescimento.crescimento.crescimento.crescimento.crescimento.

Orlando Flores (nascido em 1950) começou na empresa do pai como empregado e tem hoje a enorme Orlando Flores (nascido em 1950) começou na empresa do pai como empregado e tem hoje a enorme Orlando Flores (nascido em 1950) começou na empresa do pai como empregado e tem hoje a enorme Orlando Flores (nascido em 1950) começou na empresa do pai como empregado e tem hoje a enorme Orlando Flores (nascido em 1950) começou na empresa do pai como empregado e tem hoje a enormeresponsabilidade de a manter num tempo de profunda crise económicaresponsabilidade de a manter num tempo de profunda crise económicaresponsabilidade de a manter num tempo de profunda crise económicaresponsabilidade de a manter num tempo de profunda crise económicaresponsabilidade de a manter num tempo de profunda crise económica

Abílio Flores nasceu em San-tarém em 1921. Aos sete anosmudou-se para as Caldas da Ra-inha. Nesta altura, a residênciade Abílio Flores dependia deonde o pai, que era Sargento doExército, estava acantonado. Amudança de quartel foi o quetrouxe a família para as Caldas,de onde não mais sairia.

Abílio Flores fez o seu percur-so académico na Escola Comer-cial das Caldas da Rainha, ondese formou com o grau equivalen-te ao antigo quinto ano, em 1935.A aprendizagem seguiu nas Fi-nanças, onde esteve à experiên-cia, seguindo-se um emprego noThomaz dos Santos, que durouaté à altura de abrir o seu pró-prio negócio. Fê-lo à sociedadecom dois bons amigos: FranciscoPereira Brazão, filho de um en-tão reconhecido alfaiate calden-se, e José Filipe de Sousa Cam-pos. Estávamos em 1946.

O nome da empresa foi esco-lhido apelando ao coração. Jun-tava as iniciais das namoradasde cada um. Clotilde era a na-morada de Abílio Flores - profes-sora primária com quem viria acasar e constituir família - e em-prestou as três primeiras letrasdo nome para formar Clozaque.

O ramo abraçado pelos trêssócios foi o dos electrodomésti-cos - ao qual a empresa aindahoje se mantém fiel -, que co-nheceu um período de grandeexpansão em meados do séc. XX.

“Foi nessa altura que se“Foi nessa altura que se“Foi nessa altura que se“Foi nessa altura que se“Foi nessa altura que secomeçou a usar o gás emcomeçou a usar o gás emcomeçou a usar o gás emcomeçou a usar o gás emcomeçou a usar o gás emcasa e a empresa teve umcasa e a empresa teve umcasa e a empresa teve umcasa e a empresa teve umcasa e a empresa teve umpapel muito importante napapel muito importante napapel muito importante napapel muito importante napapel muito importante na

sua introdução nos lares cal-sua introdução nos lares cal-sua introdução nos lares cal-sua introdução nos lares cal-sua introdução nos lares cal-denses”denses”denses”denses”denses”, diz Orlando Flores. Osfogões, quem os tinha, eram alenha. A água era aquecida aolume. O gás representava entãouma grande simplificação do usodo fogo nos lares e apesar de teresquentador em casa ser privilé-gio de poucos, afigurou-se umaimportante alavanca para o ar-ranque do negócio.

A loja funcionava num peque-no escritório junto à Praça da Fru-ta, por cima do Pelicano, mas asociedade não se manteve pormuito tempo. Dos três sócios,Abílio Flores era o único que tra-balhava a tempo inteiro na em-presa e o único que dela depen-dia para gerar rendimentos eacabou por ficar sozinho. A soci-edade desfez-se sem trauma.

DIVERSIFICAÇÃO PERMITIUFAZER A EMPRESA CRESCER

Em 1948 a empresa muda deClozaque para Abílio Flores econhece uma grande evoluçãocom a diversificação da oferta. Asegunda aposta recaiu sobre

outra indústria que ganhavaenorme fôlego com o fim da IIGrande Guerra: o automóvel.

“Ele dizia-me muitas vezes“Ele dizia-me muitas vezes“Ele dizia-me muitas vezes“Ele dizia-me muitas vezes“Ele dizia-me muitas vezesque o pai dele deixou-lhe asque o pai dele deixou-lhe asque o pai dele deixou-lhe asque o pai dele deixou-lhe asque o pai dele deixou-lhe asruas para passear”ruas para passear”ruas para passear”ruas para passear”ruas para passear”, conta Or-lando Flores. “Era muito novo“Era muito novo“Era muito novo“Era muito novo“Era muito novoquando começou, mas tinhaquando começou, mas tinhaquando começou, mas tinhaquando começou, mas tinhaquando começou, mas tinhaaquele espírito de querer sin-aquele espírito de querer sin-aquele espírito de querer sin-aquele espírito de querer sin-aquele espírito de querer sin-grar na vida. Era inteligente,grar na vida. Era inteligente,grar na vida. Era inteligente,grar na vida. Era inteligente,grar na vida. Era inteligente,perspicaz e muito trabalha-perspicaz e muito trabalha-perspicaz e muito trabalha-perspicaz e muito trabalha-perspicaz e muito trabalha-

dor, apanhou as novidadesdor, apanhou as novidadesdor, apanhou as novidadesdor, apanhou as novidadesdor, apanhou as novidadestodas a aparecer e teve luci-todas a aparecer e teve luci-todas a aparecer e teve luci-todas a aparecer e teve luci-todas a aparecer e teve luci-dez para as aproveitar. Issodez para as aproveitar. Issodez para as aproveitar. Issodez para as aproveitar. Issodez para as aproveitar. Issopermitiu-se solidificar a em-permitiu-se solidificar a em-permitiu-se solidificar a em-permitiu-se solidificar a em-permitiu-se solidificar a em-presa e ganhar a dimensãopresa e ganhar a dimensãopresa e ganhar a dimensãopresa e ganhar a dimensãopresa e ganhar a dimensãoque atingiu”que atingiu”que atingiu”que atingiu”que atingiu”, acrescenta.

A mudança deu-se no nome ena localização. O stand de auto-móveis, que manteve o nomeClozaque, nasceu na esquina dasruas Leão Azedo e SangremanHenriques e conheceu a repre-sentação de várias marcas. Al-gumas chegaram aos dias dehoje, como a Mercedes, Peugeotou Alfa Romeu. Outras já só seencontram nos museus, como ainglesa Austin (responsável pelocélebre Mini) a Packard, a ame-ricana Studebaker, a alemã Bor-

gward, ou ainda os jipes Willys-Overland, entre outras.

Durante a década de 50 o ne-gócio conheceu várias ramifica-ções, embora sempre debaixo damesma denominação. “Umas“Umas“Umas“Umas“Umascoisas apareceram, outrascoisas apareceram, outrascoisas apareceram, outrascoisas apareceram, outrascoisas apareceram, outrasele foi à procura. Vieram ou-ele foi à procura. Vieram ou-ele foi à procura. Vieram ou-ele foi à procura. Vieram ou-ele foi à procura. Vieram ou-tras representações e as coi-tras representações e as coi-tras representações e as coi-tras representações e as coi-tras representações e as coi-sas evoluíram rapidamentesas evoluíram rapidamentesas evoluíram rapidamentesas evoluíram rapidamentesas evoluíram rapidamentenos anos 50 e por aí fora”nos anos 50 e por aí fora”nos anos 50 e por aí fora”nos anos 50 e por aí fora”nos anos 50 e por aí fora”,

sublinha Orlando Flores.Para além dos electrodomés-

ticos e dos automóveis, a AbílioFlores comercializava nesta fasecoisas tão distintas como máqui-nas de escrever, motorizadas,colchões e tractores agrícolas.

Estes últimos eram também umimportante suporte do negócio. Arepresentação foi conseguida atra-vés das boas relações com o im-portador da Mercedes, que tinharelações familiares com o impor-tador dos tractores Massey Fer-gusson. “Eram dos melhores“Eram dos melhores“Eram dos melhores“Eram dos melhores“Eram dos melhoresque existiam na altura e foi umque existiam na altura e foi umque existiam na altura e foi umque existiam na altura e foi umque existiam na altura e foi umnegócio bastante bom en-negócio bastante bom en-negócio bastante bom en-negócio bastante bom en-negócio bastante bom en-quanto a agricultura durou…”quanto a agricultura durou…”quanto a agricultura durou…”quanto a agricultura durou…”quanto a agricultura durou…”,diz Orlando Flores. A representa-ção durou cerca de 30 anos, até ao

início da década de 80.Em 1954 a empresa dava novo

passo importante, ao mudar-separa o edifício dos Capristanos(hoje estação rodoviária). O edi-fício sede da A. Flores, Lda. é pro-priedade da empresa desde 1995,mas na época fazia parte do pró-prio complexo dos Capristanos(mais tarde Claras, depois Ro-doviária Nacional e hoje Rodovi-

ária do Tejo).Ali se concentraram a loja de

electrodomésticos - onde aindase mantém -, o stand de auto-móveis e nasceriam ainda a lojade peças multimarca - que semudou para o Borlão em 1970 -, emais tarde a agência de segurosClozaque e uma papelaria.

“O MEU PAI FOI O MEU“O MEU PAI FOI O MEU“O MEU PAI FOI O MEU“O MEU PAI FOI O MEU“O MEU PAI FOI O MEUGRANDE PROFESSOR NESTAGRANDE PROFESSOR NESTAGRANDE PROFESSOR NESTAGRANDE PROFESSOR NESTAGRANDE PROFESSOR NESTA

ACTIVIDADE”ACTIVIDADE”ACTIVIDADE”ACTIVIDADE”ACTIVIDADE”

A década de 60 começa com achegada de um novo membro àfamília, com o nascimento deOrlando Flores.

Habituado a crescer lado alado com a empresa do pai, Or-

lando acompanhava-o muitasvezes nas deslocações de negó-cios, especialmente nas férias daescola. Passatempo de criançaera também acompanhar os fun-cionários da casa nos serviços.“Ia aos mais diversos sítios,“Ia aos mais diversos sítios,“Ia aos mais diversos sítios,“Ia aos mais diversos sítios,“Ia aos mais diversos sítios,na distribuição do gás, nana distribuição do gás, nana distribuição do gás, nana distribuição do gás, nana distribuição do gás, naassistência dos electrodo-assistência dos electrodo-assistência dos electrodo-assistência dos electrodo-assistência dos electrodo-mésticos, andava assim en-mésticos, andava assim en-mésticos, andava assim en-mésticos, andava assim en-mésticos, andava assim en-tretido”tretido”tretido”tretido”tretido”, recorda.

O gosto pelos automóveis foicrescendo com os anos. “Fui“Fui“Fui“Fui“Fuiganhando interesse, essasganhando interesse, essasganhando interesse, essasganhando interesse, essasganhando interesse, essascoisas solidificam, ganhamcoisas solidificam, ganhamcoisas solidificam, ganhamcoisas solidificam, ganhamcoisas solidificam, ganhamuma dimensão, e depois deuma dimensão, e depois deuma dimensão, e depois deuma dimensão, e depois deuma dimensão, e depois deser o gosto pelos carros, pas-ser o gosto pelos carros, pas-ser o gosto pelos carros, pas-ser o gosto pelos carros, pas-ser o gosto pelos carros, pas-sou a ser o gosto de ter o ne-sou a ser o gosto de ter o ne-sou a ser o gosto de ter o ne-sou a ser o gosto de ter o ne-sou a ser o gosto de ter o ne-gócio em si e transmitir estagócio em si e transmitir estagócio em si e transmitir estagócio em si e transmitir estagócio em si e transmitir estapaixão às pessoas”paixão às pessoas”paixão às pessoas”paixão às pessoas”paixão às pessoas”.

Orlando Flores estudou até ao12.º ano e chegou a frequentar ocurso de Direito, mas desistiu eabraçou o negócio do pai em 1981.

Começou por baixo, a traba-lhar nas peças, e passou por vá-rios sectores até chegar a asses-sor do pai. Seguiram-se algunsanos de gestão conjunta. “De-“De-“De-“De-“De-pois foi-me passando as pas-pois foi-me passando as pas-pois foi-me passando as pas-pois foi-me passando as pas-pois foi-me passando as pas-tas de forma gradual, deixou-tas de forma gradual, deixou-tas de forma gradual, deixou-tas de forma gradual, deixou-tas de forma gradual, deixou-me tomar as decisões maisme tomar as decisões maisme tomar as decisões maisme tomar as decisões maisme tomar as decisões maisimportantes e nos últimos 10importantes e nos últimos 10importantes e nos últimos 10importantes e nos últimos 10importantes e nos últimos 10anos de vida ele foi um con-anos de vida ele foi um con-anos de vida ele foi um con-anos de vida ele foi um con-anos de vida ele foi um con-selheiro”selheiro”selheiro”selheiro”selheiro”, diz Orlando Flores. Umpapel importantíssimo, sublinha,até porque ainda hoje tem emconta as ideias pelas quais Abí-lio Flores se regia. “No fundo“No fundo“No fundo“No fundo“No fundoele foi o meu grande profes-ele foi o meu grande profes-ele foi o meu grande profes-ele foi o meu grande profes-ele foi o meu grande profes-sor nesta actividade, foi vali-sor nesta actividade, foi vali-sor nesta actividade, foi vali-sor nesta actividade, foi vali-sor nesta actividade, foi vali-osíssimo”osíssimo”osíssimo”osíssimo”osíssimo”.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected]

Estávamos em meados dos anos 40, no após II Guerra Mundial. As economias restabeleciam-se devários anos de depressão, ao passo que novas tecnologias chegavam aos lares e o mercadoautomóvel afirmava-se como o mais importante do séc. XX. Janelas de oportunidade para umjovem de 25 anos, que aproveitou para lançar uma empresa que dura até aos dias de hoje.Clozaque pode não ser um nome familiar a muita gente, mas foi com esta designação que come-çou aquela que viria a tornar-se uma das mais bem sucedidas empresas caldenses - a A. Flores,Lda.Abílio Flores (1921–2004) foi o jovem empreendedor que a lançou, em 1946 (então com mais doissócios). Hoje é o filho Orlando Flores, de 50 anos, que dá continuidade a esta empresa.

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

s Caldas e com maior Com 25 anos na A. Flores,Lda não é o funcionário commais anos de casa, mas, paraalém de ter sido um dos bra-ços direitos de Abílio Floresnos últimos 20 anos de acti-vidade do empresário, Má-rio Freitas tem a particulari-dade de coleccionar artigosque se relacionam com a em-presa.

Chegou à A. Flores, Lda em1986, com 24 anos, para asvendas. Nessa altura já tinhao gosto pelas coisas antigase a curiosidade levou-o aperguntar as raízes da em-presa ao patrão. Abílio Flores não guardava arquivo de fotografias antigas, nemoutros documentos (no que constituiu uma dificuldade na feitura desta repor-tagem), mas acedeu a contar-lhe a sua história, desde a origem até à criação daempresa e o seu desenvolvimento. Depois, por iniciativa própria, Mário Freitaspesquisou nos arquivos e nos armazéns. “Guardava tudo o que encontrava de“Guardava tudo o que encontrava de“Guardava tudo o que encontrava de“Guardava tudo o que encontrava de“Guardava tudo o que encontrava deantigo, ele achava piada e passou a entregar-me também as coisas queantigo, ele achava piada e passou a entregar-me também as coisas queantigo, ele achava piada e passou a entregar-me também as coisas queantigo, ele achava piada e passou a entregar-me também as coisas queantigo, ele achava piada e passou a entregar-me também as coisas queencontrava”encontrava”encontrava”encontrava”encontrava”, conta.

Ao fim de quatro anos, Mário Freitas passou a chefiar o departamento comercialda empresa, mas foi em 1994 que viveu um dos maiores desafios. A A. Flores, Ldatinha acabado de rescindir com a Renault para passar a representar a Volkswagen,mas durante um ano teve que manter as duas marcas. Mário Freitas ficou com asegunda marca juntamente com um vendedor e um mecânico, num espaço comcondições limitadas na Rua Heróis da Grande Guerra, à espera que as instalaçõesda Renault ficassem livres.

Nessa altura Abílio Flores mostrava algum receio, devido aos preços mais eleva-dos praticados pela marca e pelo desconhecimento que havia, porque não haviarepresentação nas Caldas nessa altura. “Mas disse-lhe que íamos arrancar em“Mas disse-lhe que íamos arrancar em“Mas disse-lhe que íamos arrancar em“Mas disse-lhe que íamos arrancar em“Mas disse-lhe que íamos arrancar emforça e inundar as Caldas de Volkswagen e foi uma surpresa muito gran-força e inundar as Caldas de Volkswagen e foi uma surpresa muito gran-força e inundar as Caldas de Volkswagen e foi uma surpresa muito gran-força e inundar as Caldas de Volkswagen e foi uma surpresa muito gran-força e inundar as Caldas de Volkswagen e foi uma surpresa muito gran-de porque o volume de negócios foi muito superior ao da Renault com 40de porque o volume de negócios foi muito superior ao da Renault com 40de porque o volume de negócios foi muito superior ao da Renault com 40de porque o volume de negócios foi muito superior ao da Renault com 40de porque o volume de negócios foi muito superior ao da Renault com 40pessoas e um espaço muito maior”pessoas e um espaço muito maior”pessoas e um espaço muito maior”pessoas e um espaço muito maior”pessoas e um espaço muito maior”.

Mário Freitas diz que, enquanto patrão, Abílio Flores era uma pessoa de bom-senso. “Ao longo dos 20 anos nunca tivemos um atrito, o que é raro ou“Ao longo dos 20 anos nunca tivemos um atrito, o que é raro ou“Ao longo dos 20 anos nunca tivemos um atrito, o que é raro ou“Ao longo dos 20 anos nunca tivemos um atrito, o que é raro ou“Ao longo dos 20 anos nunca tivemos um atrito, o que é raro ouquase impossível numa relação patrão funcionário. Por vezes não con-quase impossível numa relação patrão funcionário. Por vezes não con-quase impossível numa relação patrão funcionário. Por vezes não con-quase impossível numa relação patrão funcionário. Por vezes não con-quase impossível numa relação patrão funcionário. Por vezes não con-cordávamos e manifestávamos opiniões contrárias, mas ele aceitava-ascordávamos e manifestávamos opiniões contrárias, mas ele aceitava-ascordávamos e manifestávamos opiniões contrárias, mas ele aceitava-ascordávamos e manifestávamos opiniões contrárias, mas ele aceitava-ascordávamos e manifestávamos opiniões contrárias, mas ele aceitava-asperfeitamente”perfeitamente”perfeitamente”perfeitamente”perfeitamente”.

Bom-senso que o ajudou nos negócios, acredita. “Todas as decisões que“Todas as decisões que“Todas as decisões que“Todas as decisões que“Todas as decisões quetomava batiam certo com o que ele dizia”tomava batiam certo com o que ele dizia”tomava batiam certo com o que ele dizia”tomava batiam certo com o que ele dizia”tomava batiam certo com o que ele dizia”, recorda. A esta característica MárioFreitas junta lucidez e coragem pois ele “enfrentava os desafios sem receios e“enfrentava os desafios sem receios e“enfrentava os desafios sem receios e“enfrentava os desafios sem receios e“enfrentava os desafios sem receios equando os tinha, ninguém notava”quando os tinha, ninguém notava”quando os tinha, ninguém notava”quando os tinha, ninguém notava”quando os tinha, ninguém notava”.

Enquanto cidadão, Mário Freitas sublinha o altruísmo de Abílio Flores, que inde-pendentemente de não ter nascido nas Caldas, sentia a cidade como sua terra natale não hesitava em participar na vida activa da cidade. Foi, de resto, dirigente de váriasassociações, como a ACCCRO, a ANECRA, o Caldas Sport Clube, e do Rotary Club dasCaldas - do qual foi sócio fundador e ao qual se juntaram, mais tarde, Orlando Florese o próprio Mário Freitas. “Estava ligado a tudo e tinha muita vontade de“Estava ligado a tudo e tinha muita vontade de“Estava ligado a tudo e tinha muita vontade de“Estava ligado a tudo e tinha muita vontade de“Estava ligado a tudo e tinha muita vontade departicipar nas coisas, era uma pessoa dinâmica”participar nas coisas, era uma pessoa dinâmica”participar nas coisas, era uma pessoa dinâmica”participar nas coisas, era uma pessoa dinâmica”participar nas coisas, era uma pessoa dinâmica”.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

Quando em 1948 se iniciou no merca-do automóvel, conseguindo a represen-tação da Peugeot e de outras marcasque estavam associadas ao mesmo im-portador, Abílio Flores construiu aque-la que seria a grande âncora da suaempresa.

Apesar de nunca ter abandonado aideia que deu origem à empresa comos seus dois associados, no ramo doselectrodomésticos, foi o mercado au-tomóvel que permitiu um considerávelcrescimento da A. Flores Lda.

“Na altura havia muito poucos“Na altura havia muito poucos“Na altura havia muito poucos“Na altura havia muito poucos“Na altura havia muito poucosautomóveis nas Caldas e quandoautomóveis nas Caldas e quandoautomóveis nas Caldas e quandoautomóveis nas Caldas e quandoautomóveis nas Caldas e quandoele passou a ter representação dasele passou a ter representação dasele passou a ter representação dasele passou a ter representação dasele passou a ter representação dasmarcas era novidade”marcas era novidade”marcas era novidade”marcas era novidade”marcas era novidade”, diz OrlandoFlores. Uma novidade bem aceite e queteve grande expansão. À Peugeot jun-taram-se várias marcas durante as dé-cadas de 50 e 60.

Com o desaparecimento de marcasmais efémeras, formou-se um núcleocom o qual a A. Flores, Lda. passou atrabalhar: a Peugeot e a Renault eramas principais, apoiadas por Alfa Romeue Honda.

Para além da venda de viaturas e res-pectiva assistência, o negócio expan-diu-se, ainda nos anos 60, com ao ramodas peças multimarca. “Durante mui-“Durante mui-“Durante mui-“Durante mui-“Durante mui-tos anos foi um negócio muito for-tos anos foi um negócio muito for-tos anos foi um negócio muito for-tos anos foi um negócio muito for-tos anos foi um negócio muito for-te, mas com a evolução técnica doste, mas com a evolução técnica doste, mas com a evolução técnica doste, mas com a evolução técnica doste, mas com a evolução técnica dosautomóveis o negócio das peque-automóveis o negócio das peque-automóveis o negócio das peque-automóveis o negócio das peque-automóveis o negócio das peque-nas oficinas começou a fraquejar enas oficinas começou a fraquejar enas oficinas começou a fraquejar enas oficinas começou a fraquejar enas oficinas começou a fraquejar ea partir dos anos 90 deixou de justi-a partir dos anos 90 deixou de justi-a partir dos anos 90 deixou de justi-a partir dos anos 90 deixou de justi-a partir dos anos 90 deixou de justi-ficar”ficar”ficar”ficar”ficar”, explica Orlando Flores.

Em 1978 foi também criada uma ofi-cina especializada no serviço de chapae pintura, com o nome Floresauto, quemais tarde viria a fundir-se com a em-presa A. Flores, Lda., ficando o nome

Panfletos publicitários da empresa e dos produtos que mais vendia. Desde os automóveis (num Panfletos publicitários da empresa e dos produtos que mais vendia. Desde os automóveis (num Panfletos publicitários da empresa e dos produtos que mais vendia. Desde os automóveis (num Panfletos publicitários da empresa e dos produtos que mais vendia. Desde os automóveis (num Panfletos publicitários da empresa e dos produtos que mais vendia. Desde os automóveis (numprospecto de 1954) aos colchões, aos esquentadores (que só se massificaram em meados do séc. XX) atéprospecto de 1954) aos colchões, aos esquentadores (que só se massificaram em meados do séc. XX) atéprospecto de 1954) aos colchões, aos esquentadores (que só se massificaram em meados do séc. XX) atéprospecto de 1954) aos colchões, aos esquentadores (que só se massificaram em meados do séc. XX) atéprospecto de 1954) aos colchões, aos esquentadores (que só se massificaram em meados do séc. XX) atéao material de escritórioao material de escritórioao material de escritórioao material de escritórioao material de escritório

Automóveis foram a âncora do negócioagregado ao negócio da Peugeot e daHonda.

Nos anos 80, a Renault assumia umadimensão tal que obrigava, em 1983, àcriação de uma empresa dedicada. AFlorescar teve direito a casa nova naestrada Tornada, onde hoje se man-tém, apesar de defender marcas dife-rentes. Em 1994 a intransigência daRenault em fundir os representantesnas Caldas e em Alcobaça resultou emruptura.

“Essa situação não nos agradou“Essa situação não nos agradou“Essa situação não nos agradou“Essa situação não nos agradou“Essa situação não nos agradoue como a Renault colocou as coi-e como a Renault colocou as coi-e como a Renault colocou as coi-e como a Renault colocou as coi-e como a Renault colocou as coi-sas, ou era assim ou não era, op-sas, ou era assim ou não era, op-sas, ou era assim ou não era, op-sas, ou era assim ou não era, op-sas, ou era assim ou não era, op-támos por dar o volte face à ques-támos por dar o volte face à ques-támos por dar o volte face à ques-támos por dar o volte face à ques-támos por dar o volte face à ques-tão: encontrámos a Volkswagen etão: encontrámos a Volkswagen etão: encontrámos a Volkswagen etão: encontrámos a Volkswagen etão: encontrámos a Volkswagen eentão dissemos não à Renault”então dissemos não à Renault”então dissemos não à Renault”então dissemos não à Renault”então dissemos não à Renault”,conta Orlando Flores.

A mudança aconteceu em boa hora,defende, porque apanhou a Renault emfase de quebra e a Volkswagen em as-censão. “O importador mudou, tinha“O importador mudou, tinha“O importador mudou, tinha“O importador mudou, tinha“O importador mudou, tinhauma ideia de grande desenvolvi-uma ideia de grande desenvolvi-uma ideia de grande desenvolvi-uma ideia de grande desenvolvi-uma ideia de grande desenvolvi-mento, e na Alemanha a marcamento, e na Alemanha a marcamento, e na Alemanha a marcamento, e na Alemanha a marcamento, e na Alemanha a marcatambém estava em reestruturação,também estava em reestruturação,também estava em reestruturação,também estava em reestruturação,também estava em reestruturação,com mais vitalidade, com umacom mais vitalidade, com umacom mais vitalidade, com umacom mais vitalidade, com umacom mais vitalidade, com umagama maior e com um reposicio-gama maior e com um reposicio-gama maior e com um reposicio-gama maior e com um reposicio-gama maior e com um reposicio-namento de preços. Foi na melhornamento de preços. Foi na melhornamento de preços. Foi na melhornamento de preços. Foi na melhornamento de preços. Foi na melhoraltura que fizemos a mudança”altura que fizemos a mudança”altura que fizemos a mudança”altura que fizemos a mudança”altura que fizemos a mudança”.

Agregada à Volkswagen veio a Audi,que era do mesmo importador, que co-meçou a ser comercializada com a de-nominação Lubriflores.

Cinco anos antes, a A. Flores, Ldatinha abandonado também a Peugeote a Alfa Romeu, mantendo a Honda.

CRISE OBRIGOU A REESTRUTURAÇÃOCRISE OBRIGOU A REESTRUTURAÇÃOCRISE OBRIGOU A REESTRUTURAÇÃOCRISE OBRIGOU A REESTRUTURAÇÃOCRISE OBRIGOU A REESTRUTURAÇÃO

A A. Flores, Lda chegou a dar em-prego a 100 pessoas, mas actualmen-

te, depois de uma profunda reestru-turação operada em 2007 para fazerface à crise, reduziu o seu quadro depessoal para 72 funcionários. “Fize-“Fize-“Fize-“Fize-“Fize-mos economias onde podíamosmos economias onde podíamosmos economias onde podíamosmos economias onde podíamosmos economias onde podíamosfazer, melhorámos performancesfazer, melhorámos performancesfazer, melhorámos performancesfazer, melhorámos performancesfazer, melhorámos performancesonde era possível, a empresa estáonde era possível, a empresa estáonde era possível, a empresa estáonde era possível, a empresa estáonde era possível, a empresa estáequilibrada e se as coisas melho-equilibrada e se as coisas melho-equilibrada e se as coisas melho-equilibrada e se as coisas melho-equilibrada e se as coisas melho-rarem podemos evoluir significa-rarem podemos evoluir significa-rarem podemos evoluir significa-rarem podemos evoluir significa-rarem podemos evoluir significa-tivamente”tivamente”tivamente”tivamente”tivamente”, diz Orlando Flores.

Em 2008 o grupo atingiu uma factu-ração de 12 milhões de euros, des-cendo em 2009 para 11 milhões. Paraeste ano estima-se um valor ligeira-mente superior ao de 2008.

Já quanto ao futuro, Orlando Flo-res está apreensivo. “A economia “A economia “A economia “A economia “A economiado país está doente e precisa dedo país está doente e precisa dedo país está doente e precisa dedo país está doente e precisa dedo país está doente e precisa deum período de cura que vai serum período de cura que vai serum período de cura que vai serum período de cura que vai serum período de cura que vai serdifícil”difícil”difícil”difícil”difícil”, afirma. Essa cura é um cená-rio do qual a A. Flores, Lda não seexclui, “mas se o contexto melho-“mas se o contexto melho-“mas se o contexto melho-“mas se o contexto melho-“mas se o contexto melho-rar e o país tomar as medidas querar e o país tomar as medidas querar e o país tomar as medidas querar e o país tomar as medidas querar e o país tomar as medidas queé preciso tomar, é possível sobre-é preciso tomar, é possível sobre-é preciso tomar, é possível sobre-é preciso tomar, é possível sobre-é preciso tomar, é possível sobre-viver com muito sacrifício e cau-viver com muito sacrifício e cau-viver com muito sacrifício e cau-viver com muito sacrifício e cau-viver com muito sacrifício e cau-tela”tela”tela”tela”tela”.

Entretanto, é possível que a em-presa possa chegar a uma terceirageração. O filho de Orlando Flores,Afonso Flores, de 20 anos, está a ti-rar a licenciatura em Gestão de Em-presas e apesar de não ser ainda cer-to que siga os passos do pai e do avô,Orlando Flores diz que vai fazer ospossíveis para que isso aconteça.

“Ainda é cedo para saber se isso“Ainda é cedo para saber se isso“Ainda é cedo para saber se isso“Ainda é cedo para saber se isso“Ainda é cedo para saber se issovai acontecer, mas era uma ter-vai acontecer, mas era uma ter-vai acontecer, mas era uma ter-vai acontecer, mas era uma ter-vai acontecer, mas era uma ter-ceira geração a trabalhar nestaceira geração a trabalhar nestaceira geração a trabalhar nestaceira geração a trabalhar nestaceira geração a trabalhar nestaempresa. A decisão será dele,empresa. A decisão será dele,empresa. A decisão será dele,empresa. A decisão será dele,empresa. A decisão será dele,mas farei tudo para o influenciarmas farei tudo para o influenciarmas farei tudo para o influenciarmas farei tudo para o influenciarmas farei tudo para o influenciarnesse sentido”.nesse sentido”.nesse sentido”.nesse sentido”.nesse sentido”.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

Mário Freitas trabalhou com Abílio Flores

durante 20 anos

1921 – Nasce Abílio Vicente Flores em Santarém1946 – Abílio Flores funda a Clozaque com os sócios Francisco Pereira Brazão e JoséFilipe Campos.1948 – Os dois sócios deixam o negócio que fica entregue a Abílio Flores, que passatambém a ser a designação da empresa.1954 – Mudança de instalações para o edifício dos Capristanos, na Rua Heróis daGrande Guerra1960 – Nasce Orlando Flores.1968 – Inaugurado o stand de Alcobaça, que ainda hoje existe1975 – A empresa muda o nome para A. Flores, Lda.1978 – É criada a Floresauto, empresa que gere uma oficina de chapa e pintura.1980 – O nome Clozaque é reabilitado para designar a nova agência de seguros1981 – Orlando Flores começa formalmente a trabalhar na empresa do pai1983 – É criada a Florescar, para gerir o negócio da Renault, que se instala naestrada Tornada1990 – As marcas Peugeot e Alfa Romeu deixam de ser comercializadas pela A.Flores, Lda1994 – A Florescar abandona a representação da Renault e passa a comercializar asmarcas Volkswagen e Audi1995 – Aquisição do prédio dos Capristanos à Rodoviária2004 – Morre Abílio Flores. A agência de seguros Clozaque encerra2006 – A loja de peças multimarca é transferida da Praça 25 de Abril, para a Estradada Tornada. É construída a nova área de exposição automóvel para a Volkswagene Audi

Cronologia

“““““Abílio Flores era um homem de bom-Abílio Flores era um homem de bom-Abílio Flores era um homem de bom-Abílio Flores era um homem de bom-Abílio Flores era um homem de bom-senso, todas as decisões que tomavasenso, todas as decisões que tomavasenso, todas as decisões que tomavasenso, todas as decisões que tomavasenso, todas as decisões que tomavabatiam certo com o que dizia”batiam certo com o que dizia”batiam certo com o que dizia”batiam certo com o que dizia”batiam certo com o que dizia”

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Empresa Sérgio Simões é uma das mais antigas e co

Sérgio Simões começou a vender selos em 1952 na loja do seu pai no centro das Caldas e mal podiaimaginar que iria construir uma das mais conceituadas e hoje das mais antigas empresas de filateliado país.Actualmente são as suas filhas, Margarida Roque e Vanda Morgado, que dirigem o negócio. O paiainda dá uma ajuda, mas se antes se dedicava a escrever cartas e a fazer catálogos para os seusclientes, hoje constata que é através da internet que o negócio prospera.A empresa caldense é a representante de algumas marcas europeias de material de coleccionismo,área que representa uma parte importante do negócio.

Vivia-se o início dos nos anos 50do século XX quando Sérgio Simõespediu autorização ao pai para ar-ranjar um cantinho filatélico, na lojade tecidos e confecções. O pai, AbelSimões, era um entusiasta da fila-telia e por isso Sérgio Simões, quenasceu em 1934, desde os 11 quetambém coleccionava selos, que porvezes vendia aos colegas da esco-la.

A loja dos Simões ficava no Lar-go Heróis de Naulila, em frente aoCafé Marinto e o cantinho filatélicosurgia junto a uma das janelas doestabelecimento comercial.

Tinha então 17 anos e ajudava opai no negócio, depois de ter tiradoo curso de Comércio na Escola Co-mercial e Industrial (hoje Escola Se-cundária Rafael Bordalo Pinheiro).

Sérgio Simões recorda que nãoera fácil arranjar selos naquela al-tura mas “eu“eu“eu“eu“eu conhecia váriasconhecia váriasconhecia váriasconhecia váriasconhecia váriaspessoas que coleccionavam epessoas que coleccionavam epessoas que coleccionavam epessoas que coleccionavam epessoas que coleccionavam eque se aproximavam de mimque se aproximavam de mimque se aproximavam de mimque se aproximavam de mimque se aproximavam de mimpois comecei a mandar vir ospois comecei a mandar vir ospois comecei a mandar vir ospois comecei a mandar vir ospois comecei a mandar vir osselos de fora selos de fora selos de fora selos de fora selos de fora “, disse.

A maioria vinha de Lisboa, pro-veniente de diversas casas da es-

pecialidade. O filatélico caldensecomeçou por ganhar três a cincotostões em cada venda o que lhepermitia, naqueles anos, “fazer um “fazer um “fazer um “fazer um “fazer um

figurão!figurão!figurão!figurão!figurão!”, recordou o especialis-ta.

Sérgio Simões conheceu a suaesposa, Maria Joana (nascida em1947) no Orfeão Caldense. Os en-saios realizavam-se na época naRua Leão Azedo.

“Um dia abri a porta do localUm dia abri a porta do localUm dia abri a porta do localUm dia abri a porta do localUm dia abri a porta do localdos ensaios e assim que a vi,dos ensaios e assim que a vi,dos ensaios e assim que a vi,dos ensaios e assim que a vi,dos ensaios e assim que a vi,engracei logo com ela, estavaengracei logo com ela, estavaengracei logo com ela, estavaengracei logo com ela, estavaengracei logo com ela, estavapois o encanto feitopois o encanto feitopois o encanto feitopois o encanto feitopois o encanto feito”, disse o co-leccionador, que tinha então 21anos. Era barítono e a sua futura

mulher, três anos mais nova, eracontralto.

Sérgio Simões foi inclusivamen-te um dos participantes da famosa

deslocação do Orfeão Caldense aAbrantes, onde várias entidadescaldenses foram calorosamente re-cebidas . “Fizeram-nos uma re-Fizeram-nos uma re-Fizeram-nos uma re-Fizeram-nos uma re-Fizeram-nos uma re-cepção tremenda e houve en-cepção tremenda e houve en-cepção tremenda e houve en-cepção tremenda e houve en-cepção tremenda e houve en-tre as pessoas das duas locali-tre as pessoas das duas locali-tre as pessoas das duas locali-tre as pessoas das duas locali-tre as pessoas das duas locali-dades uma confraternizaçãodades uma confraternizaçãodades uma confraternizaçãodades uma confraternizaçãodades uma confraternizaçãoexcelenteexcelenteexcelenteexcelenteexcelente”.

Este empresário cedo percebeuque a sua vida seria ligada ao co-leccionismo e começou então a alar-gar a sua rede de clientes. Passa-dos poucos anos do início da activi-

dade filatélica, já tinha colecciona-dores de vários ponto do país.

Em 1957 Sérgio Simões organizaa primeira grande exposição filaté-

lica nas Caldas, no Grémio do Co-mércio, onde hoje está instalado oMuseu do Ciclismo. A grande mos-tra serviu para assinalar o 30º ani-versário da elevação das Caldas daRainha a cidade.

“CASEI-ME COM ELE E COM OSSELOS”

Em 1962 Sérgio Simões e MariaJoana casaram, mas até a lua-de-mel, em Sevilha, decorreu com afilatelia sob pano de fundo. Alémde terem percorrido várias casa fi-latélicas à procura de selos aindavisitaram um coleccionador espa-nhol, a quem compravam e tam-bém vendiam exemplares.

“Casei-me com ele e com os“Casei-me com ele e com os“Casei-me com ele e com os“Casei-me com ele e com os“Casei-me com ele e com osselos”selos”selos”selos”selos”, conta Maria Joana Simões,recordando os idos tempos em quefoi ajudá-lo para a loja do seu so-gro. Colocavam-se os dois no cantoda loja a trabalhar nos selos: “eleeleeleeleeleescolhia-os e eu embrulhava-escolhia-os e eu embrulhava-escolhia-os e eu embrulhava-escolhia-os e eu embrulhava-escolhia-os e eu embrulhava-os para seguir para os Correi-os para seguir para os Correi-os para seguir para os Correi-os para seguir para os Correi-os para seguir para os Correi-os. Foi assim o início da nossaos. Foi assim o início da nossaos. Foi assim o início da nossaos. Foi assim o início da nossaos. Foi assim o início da nossaempresa”empresa”empresa”empresa”empresa”, disse a matriarca da fa-mília Simões, que instigava o mari-do a ter arrojo nas aquisições fila-télicas.

Durante vários anos Sérgio Si-mões foi o responsável pela Sec-ção Filatélica na Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-dasdasdasdasdas , iniciada em 1955 e que seestendeu ao longo dos anos 60 doséculo passado.

“Eu inicialmente brincavaEu inicialmente brincavaEu inicialmente brincavaEu inicialmente brincavaEu inicialmente brincava

com a filateliacom a filateliacom a filateliacom a filateliacom a filatelia”, conta hoje SérgioSimões pois no início da sua carrei-ra apareciam primeiro “os tais cli-os tais cli-os tais cli-os tais cli-os tais cli-entes de cinco e de dez escu-entes de cinco e de dez escu-entes de cinco e de dez escu-entes de cinco e de dez escu-entes de cinco e de dez escu-

dosdosdosdosdos”. Até que lhe apareceu JoãoVieira Pereira, conhecido médico dalocalidade que “fazia umas com-“fazia umas com-“fazia umas com-“fazia umas com-“fazia umas com-pras maiores”pras maiores”pras maiores”pras maiores”pras maiores”. Adquiriu-lhe umacolecção de valor superior a 200$00(cerca de um euro), um elevadomontante para a época. “Foi o nos-Foi o nos-Foi o nos-Foi o nos-Foi o nos-so primeiro cliente a sério queso primeiro cliente a sério queso primeiro cliente a sério queso primeiro cliente a sério queso primeiro cliente a sério quedepois se tornou também umdepois se tornou também umdepois se tornou também umdepois se tornou também umdepois se tornou também umamigoamigoamigoamigoamigo”, contou. Desde então, foiSérgio Simões que acabou por aju-dar o médico a constituir e a valori-zar a sua colecção filatélica.

O médico começou a frequentarexposições da especialidade e assuas colecções chegaram a ser ga-lardoadas com medalhas de prata.Sérgio Simões prometeu-lhe que oajudaria a adquirir a distinção má-xima (medalha de ouro). E assimfoi, não só conseguiu distinções paraas suas colecções em Portugal e noestrangeiro.

“Sempre tive gosto em aju-Sempre tive gosto em aju-Sempre tive gosto em aju-Sempre tive gosto em aju-Sempre tive gosto em aju-dar os meus clientes a adquirirdar os meus clientes a adquirirdar os meus clientes a adquirirdar os meus clientes a adquirirdar os meus clientes a adquirirboas coisas e por isso fiz mui-boas coisas e por isso fiz mui-boas coisas e por isso fiz mui-boas coisas e por isso fiz mui-boas coisas e por isso fiz mui-tos amigos ao longo da vidatos amigos ao longo da vidatos amigos ao longo da vidatos amigos ao longo da vidatos amigos ao longo da vida”,disse Sérgio Simões. Com a suaesposa viajava pelo país para parti-cipar nos eventos e até chegaram aconstituir o que designavam pelafamília filatélica. “No Dia do Selo,No Dia do Selo,No Dia do Selo,No Dia do Selo,No Dia do Selo,juntavam-se sempre muitos co-juntavam-se sempre muitos co-juntavam-se sempre muitos co-juntavam-se sempre muitos co-juntavam-se sempre muitos co-leccionadores e organizáva-leccionadores e organizáva-leccionadores e organizáva-leccionadores e organizáva-leccionadores e organizáva-mos grandes convívios”mos grandes convívios”mos grandes convívios”mos grandes convívios”mos grandes convívios”, contaMaria Joana Simões.

A venda de material para colec-cionismo é algo que vem desde oinício da empresa. Antes era Sér-

gio Simões que “ia à origem eia à origem eia à origem eia à origem eia à origem ecomprava no estrangeiro ocomprava no estrangeiro ocomprava no estrangeiro ocomprava no estrangeiro ocomprava no estrangeiro omaterial que lhe fazia faltamaterial que lhe fazia faltamaterial que lhe fazia faltamaterial que lhe fazia faltamaterial que lhe fazia falta”,enquanto que, na actualidade, sãoas marcas de material filatélico queseleccionam a empresa caldensepara os representar no país. O ma-terial de apoio ao coleccionismo re-presenta hoje cerca de 60% do ne-gócio. A empresa das Caldas ad-quire-o, importa-o e também o re-vende.

“ESTA CAUTELA TEM QUE SERPARA SI!”

Vinha Sérgio Simões pela rua,em 1966, quando o conhecido cau-teleiro Nunes o informou que tinhaali uma cautela e que esta “temque ser para si!”. Lá acedeu e aca-bou por adquirir o bilhete. E eis queera premiado! Valeu-lhe 500 contos(2500 euros), uma verdadeira fortu-na na altura e que era o preço deuma casa naquela época.

“Nós não tínhamos nada, vi-Nós não tínhamos nada, vi-Nós não tínhamos nada, vi-Nós não tínhamos nada, vi-Nós não tínhamos nada, vi-víamos apenas do nosso tra-víamos apenas do nosso tra-víamos apenas do nosso tra-víamos apenas do nosso tra-víamos apenas do nosso tra-balho!balho!balho!balho!balho!”, contou o casal, que nãopodia ter ficado mais satisfeito. Vi-viam então na Rua da Estação eapesar de Sérgio Simões preten-der fazer uma surpresa à esposa,já não foi a tempo. Segundo MariaJoana Simões, nesse dia, “estava “estava “estava “estava “estavaa comprar uns sapatos na Fé-a comprar uns sapatos na Fé-a comprar uns sapatos na Fé-a comprar uns sapatos na Fé-a comprar uns sapatos na Fé-lix lix lix lix lix [que ficava na Rua das Montras]e logo alguém me disse que tí-e logo alguém me disse que tí-e logo alguém me disse que tí-e logo alguém me disse que tí-e logo alguém me disse que tí-nhamos lotaria premiada”nhamos lotaria premiada”nhamos lotaria premiada”nhamos lotaria premiada”nhamos lotaria premiada”.

O casal apressou-se a compraruma máquina de costura, podendoa partir daí fazer roupinhas para assuas filhas.

Questionado sobre se pagou umalmoço ao cauteleiro Nunes, quetinha estabelecimento junto à Tá-lia (hoje Foto Franco), Sérgio Si-mões, diz que não. Fez melhor:“comprei-lhe um fato“comprei-lhe um fato“comprei-lhe um fato“comprei-lhe um fato“comprei-lhe um fato”, contou,agradecido pela insistência do cau-teleiro em querer vender-lhe aque-le bilhete de lotaria.

Com o dinheiro do prémio a fa-mília construiu a sua vivenda, pró-xima da Escola D. João II, que esta-va pronta em 1969. “MandámosMandámosMandámosMandámosMandámos

Sérgio Simões e Sérgio Simões e Sérgio Simões e Sérgio Simões e Sérgio Simões e a esposa Maria Joana Simões com as filhas, Vandaa esposa Maria Joana Simões com as filhas, Vandaa esposa Maria Joana Simões com as filhas, Vandaa esposa Maria Joana Simões com as filhas, Vandaa esposa Maria Joana Simões com as filhas, Vanda e Margaridae Margaridae Margaridae Margaridae Margarida fotografados em 1979 no cais da Foz do Arelho e hoje na sede da empresa de filateliafotografados em 1979 no cais da Foz do Arelho e hoje na sede da empresa de filateliafotografados em 1979 no cais da Foz do Arelho e hoje na sede da empresa de filateliafotografados em 1979 no cais da Foz do Arelho e hoje na sede da empresa de filateliafotografados em 1979 no cais da Foz do Arelho e hoje na sede da empresa de filatelia

As viagens sempre misturaram lazer e trabalho, já que tinham a filatelia como pano As viagens sempre misturaram lazer e trabalho, já que tinham a filatelia como pano As viagens sempre misturaram lazer e trabalho, já que tinham a filatelia como pano As viagens sempre misturaram lazer e trabalho, já que tinham a filatelia como pano As viagens sempre misturaram lazer e trabalho, já que tinham a filatelia como panode fundo. Actualmente Sérgio e Maria Joana estão semi-reformados.de fundo. Actualmente Sérgio e Maria Joana estão semi-reformados.de fundo. Actualmente Sérgio e Maria Joana estão semi-reformados.de fundo. Actualmente Sérgio e Maria Joana estão semi-reformados.de fundo. Actualmente Sérgio e Maria Joana estão semi-reformados.

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onceituadas empresas de filatelia de Portugal

“Ele sempre gostou de controlar“Ele sempre gostou de controlar“Ele sempre gostou de controlar“Ele sempre gostou de controlar“Ele sempre gostou de controlartudo, não foi fácil perceber que es-tudo, não foi fácil perceber que es-tudo, não foi fácil perceber que es-tudo, não foi fácil perceber que es-tudo, não foi fácil perceber que es-tava na hora de passar o negóciotava na hora de passar o negóciotava na hora de passar o negóciotava na hora de passar o negóciotava na hora de passar o negócio”,conta a esposa. Sérgio Simões foi sem-pre o chefe e queria saber tudo o que sepassava na sua empresa. Hoje ainda vemtrabalhar um pouco. Já o tentaram colo-car ao computador, mas ainda é o res-ponsável pela correspondência que é di-rigida à empresa por carta.

Há ainda uma outra vertente que Sér-gio Simões dominava - o marketing.Eram verdadeiras odes as que escreviaaos seus clientes. “São cartas deSão cartas deSão cartas deSão cartas deSão cartas deamor sobre selosamor sobre selosamor sobre selosamor sobre selosamor sobre selos”, conta a esposa,acrescentando que muitos clientes li-gavam a perguntar quando é que lheescreviam mais uma carta sobre o tema.Era também o responsável pelos bole-tins filatélicos. Hoje produzem-se con-teúdos para o site da firma, tentandoter sempre a informação actualizada.

E qual é o segredo do negócio e delongevidade da firma? “Sérgio Simões“Sérgio Simões“Sérgio Simões“Sérgio Simões“Sérgio Simõessempre foi impecável nas contas esempre foi impecável nas contas esempre foi impecável nas contas esempre foi impecável nas contas esempre foi impecável nas contas enos pagamentosnos pagamentosnos pagamentosnos pagamentosnos pagamentos”, contou a sua mu-lher. Além do mais é histórica a formacalorosa como recebe bem os seus cli-entes nas Caldas, tradição que aindahoje seguem. “Até pode levar um pou-“Até pode levar um pou-“Até pode levar um pou-“Até pode levar um pou-“Até pode levar um pou-co mais caro, mas serve bemco mais caro, mas serve bemco mais caro, mas serve bemco mais caro, mas serve bemco mais caro, mas serve bem”, disseMaria Joana Simões.

A fama de competência do patriar-ca, estende-se por todo o país e atéchega ao estrangeiro. Recentemente umresponsável dos CTT foi ao Reino Unidoe ao ter contactado com uma empresafilatélica inglesa, imediatamente lhe re-feriram o nome de Sérgio Simões e dasua firma nas Caldas da Rainha.

O casal Simões desde sempre esta-beleceu relações pessoais com os clien-tes, chegando a frequentar as suas ca-sas. Foram convidados para casamen-tos, sobretudo no Norte, onde o volumede negócios era maior. “TínhamosTínhamosTínhamosTínhamosTínhamosmais amigos fora das Caldas do quemais amigos fora das Caldas do quemais amigos fora das Caldas do quemais amigos fora das Caldas do quemais amigos fora das Caldas do quecá e ainda hoje é assim. Sabe, oscá e ainda hoje é assim. Sabe, oscá e ainda hoje é assim. Sabe, oscá e ainda hoje é assim. Sabe, oscá e ainda hoje é assim. Sabe, osselos aproximam as pessoasselos aproximam as pessoasselos aproximam as pessoasselos aproximam as pessoasselos aproximam as pessoas”, con-tam.

E se antes marido e mulher faziamcatálogos de selos para enviar por cor-reio aos seus clientes, as suas filhashoje enviam newsletters pela Internet.

Actualmente o negócio da filateliaestá bem entregue às suas filhas, Van-da Morgado e Margarida Roque, quecontinuam a vender selos, mas aposta-ram fortemente na diversificação dematerial de coleccionismo, algo que não

fazê-la pensando também na sede dafazê-la pensando também na sede dafazê-la pensando também na sede dafazê-la pensando também na sede dafazê-la pensando também na sede daempresaempresaempresaempresaempresa”, explicaram Sérgio e Maria Jo-ana Simões acerca do local que ainda hojeé a sede da firma.

ATÉ NO SERÃO DAS FÉRIAS SECONTAVAM SELOS

Nos primeiros anos da vida do casal Si-mões não era fácil tirar férias. “Eu ia comEu ia comEu ia comEu ia comEu ia comas filhas pequenas para S. Martinhoas filhas pequenas para S. Martinhoas filhas pequenas para S. Martinhoas filhas pequenas para S. Martinhoas filhas pequenas para S. Martinhodo Porto e o meu marido ia lá ter con-do Porto e o meu marido ia lá ter con-do Porto e o meu marido ia lá ter con-do Porto e o meu marido ia lá ter con-do Porto e o meu marido ia lá ter con-nosco à noitenosco à noitenosco à noitenosco à noitenosco à noite”, recordou Maria Joana Si-mões. Nessas alturas levava um ficheiropara trabalharem todos ao serão, colocan-do os selos nos respectivos catálogos. “HáHáHáHáHásempre muito trabalho para fazer,sempre muito trabalho para fazer,sempre muito trabalho para fazer,sempre muito trabalho para fazer,sempre muito trabalho para fazer,coisas para pôr em ordem, isto nuncacoisas para pôr em ordem, isto nuncacoisas para pôr em ordem, isto nuncacoisas para pôr em ordem, isto nuncacoisas para pôr em ordem, isto nuncapára...”pára...”pára...”pára...”pára...”, disse a esposa, acrescentando quehouve tempos em que o seu marido che-gou a ter um ano de correspondência atra-sada.

Numa primeira fase só a mãe é que la-borava na casa do casal pois Sérgio Simõescontinuava a trabalhar com o seu pai. “Cus-“Cus-“Cus-“Cus-“Cus-tava-lhe deixá-lo pois era muito ape-tava-lhe deixá-lo pois era muito ape-tava-lhe deixá-lo pois era muito ape-tava-lhe deixá-lo pois era muito ape-tava-lhe deixá-lo pois era muito ape-gado à família”gado à família”gado à família”gado à família”gado à família”, disse a esposa. Mais tar-de tomou as rédeas do seu negócio.

“Sou coleccionador na medida emSou coleccionador na medida emSou coleccionador na medida emSou coleccionador na medida emSou coleccionador na medida emque tenho selos para os meus clien-que tenho selos para os meus clien-que tenho selos para os meus clien-que tenho selos para os meus clien-que tenho selos para os meus clien-testestestestes”, ironiza o empresário, que afinal atétem duas colecções que não vende: umasobre as Ilhas Virgens e outra sobre osEstados da Igreja.

Tudo corria sobre rodas e a crescer, so-bretudo com os coleccionadores que a em-presa tinha nas ex-colónias. Sérgio Simõesrecorda que era considerável o volume denegócios nas antigas colónias, já que o co-leccionismo era um dos principais passa-tempos de pessoas, sobretudo profissio-nais liberais. A empresa caldense vendiapara lojas, mas a maioria dos selos eramenviados a coleccionadores privados.

“Tínhamos muitos clientes sobretu-“Tínhamos muitos clientes sobretu-“Tínhamos muitos clientes sobretu-“Tínhamos muitos clientes sobretu-“Tínhamos muitos clientes sobretu-do em Angola e Moçambique, era umado em Angola e Moçambique, era umado em Angola e Moçambique, era umado em Angola e Moçambique, era umado em Angola e Moçambique, era umacoisa louca”coisa louca”coisa louca”coisa louca”coisa louca”, recorda o empresário. Sóque o 25 de Abril de 1974 “foi como umafoi como umafoi como umafoi como umafoi como umabomba no nosso negócio… deitou-nosbomba no nosso negócio… deitou-nosbomba no nosso negócio… deitou-nosbomba no nosso negócio… deitou-nosbomba no nosso negócio… deitou-nostudo abaixotudo abaixotudo abaixotudo abaixotudo abaixo”. E o que para muitos foi“uma maravilha”“uma maravilha”“uma maravilha”“uma maravilha”“uma maravilha”, para esta empresa “fo-fo-fo-fo-fo-ram sobretudo maus momentosram sobretudo maus momentosram sobretudo maus momentosram sobretudo maus momentosram sobretudo maus momentos”, re-cordou.

Sérgio Simões teve que aguentar o bar-co e, devagar, “conseguimos reerguer-conseguimos reerguer-conseguimos reerguer-conseguimos reerguer-conseguimos reerguer-nosnosnosnosnos”. Depois as coisas melhoraram, atéporque muitos coleccionadores regressa-ram a Portugal.

Outro período menos feliz foi o que seviveu em 2002 com a introdução do euro,em que a família Simões começou a notarque durante a época de transição os colec-cionadores passaram a comprar menos.“As pessoas deixam-se influenciar“As pessoas deixam-se influenciar“As pessoas deixam-se influenciar“As pessoas deixam-se influenciar“As pessoas deixam-se influenciarpelo próprio número e acabam porpelo próprio número e acabam porpelo próprio número e acabam porpelo próprio número e acabam porpelo próprio número e acabam porfazer menos compras que antesfazer menos compras que antesfazer menos compras que antesfazer menos compras que antesfazer menos compras que antes”, con-tou Maria Joana Simões.

Também têm notado um decréscimo dointeresse dos jovens. Antes eram vários osque saíam da escola e se dirigiam à empre-sa para adquirir selos, mas vêem que ago-ra há novos interesses e muitas vezes tro-cam o coleccionismo pelas novas tecnolo-gias e electrónica.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

A importância da Internet e das feiras internacionais num negócio à escala global

foi difícil pois bastou continuar o traba-lho do seu pai.

Hoje são representantes das mais for-tes marcas de material filatélico a nívelmundial, assim como editores de catá-logos de vários pontos do globo. São,por exemplo, os únicos representantesnacionais da marca alemã Lindner.

A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL DECOLECCIONISMO

Vanda Morgado (44 anos é formadaem Gestão) e veio em 1994 de Lisboa,onde trabalhava numa grande empresade telecomunicações , para tomar con-ta do negócio da família. A sua irmã,Margarida Roque, de 46 anos, é advoga-da e trata das questões legais e conten-ciosas da firma.

Já vão longe os dias em que erammiúdas e vinham ajudar o pai a descolaros selos “e nós brincávamos com elese nós brincávamos com elese nós brincávamos com elese nós brincávamos com elese nós brincávamos com elesatirando-os ao ar”atirando-os ao ar”atirando-os ao ar”atirando-os ao ar”atirando-os ao ar”. Cresceram acom-panhadas pelos selos e mesmo quandoandavam na faculdade vinha ajudar noque era preciso recordando que, talcomo hoje, “trabalhamos muito por “trabalhamos muito por “trabalhamos muito por “trabalhamos muito por “trabalhamos muito porcorrespondência”correspondência”correspondência”correspondência”correspondência”.

Uma das tarefas era carimbar impres-sos do correio e, segundo Vanda Mor-gado, a continuidade da empresa estáassegurada pois as suas filhas hoje tam-bém ajudam naquela tarefa. A empre-sária tem cinco filhas com idades entreos cinco e os 23 anos.

Já os filhos da sua irmã, MargaridaRoque, dedicam-se às ciências. O filhoestuda no estrangeiro Engenharia Bio-médica e a filha quer seguir Genética.Mas o marido, Paulo Roque, 51 anos,professor de Biologia, dá uma ajuda na

empresa. Uma colaboração iniciada em1989, altura em que veio montar o siste-ma informático da firma.

Se em tempos o “core business” daempresa era a venda de selos, hoje é omaterial de coleccionismo que repre-senta cerca de 60% do negócio. Além davenda a particulares, também se dedi-cam à revenda e já exportam para oBrasil.

Neste tipo de material contam-se ro-lhas de garrafas, caixas para bolas degolfe, pinças, lupas, relógios, álbuns,classificadores e material filatélico e nu-mismático.

Os destinos mais distantes de clien-tes da filatélica caldense são Taiwan,China, Japão e Austrália.

No ano passado o volume de negóci-os de Sérgio Simões Filatelia rondou os200 mil euros. Além dos quatro sócios-gerentes trabalham nesta empresa, hácerca de 30 anos, duas funcionárias.

Vanda Morgado explica que hoje emdia “os coleccionadores de selos“os coleccionadores de selos“os coleccionadores de selos“os coleccionadores de selos“os coleccionadores de selosfrequentam os eventos, vendem ex-frequentam os eventos, vendem ex-frequentam os eventos, vendem ex-frequentam os eventos, vendem ex-frequentam os eventos, vendem ex-cedentes com preços baixos e é di-cedentes com preços baixos e é di-cedentes com preços baixos e é di-cedentes com preços baixos e é di-cedentes com preços baixos e é di-fícil a sustentabilidade das empre-fícil a sustentabilidade das empre-fícil a sustentabilidade das empre-fícil a sustentabilidade das empre-fícil a sustentabilidade das empre-sas que só se dediquem à filateliasas que só se dediquem à filateliasas que só se dediquem à filateliasas que só se dediquem à filateliasas que só se dediquem à filatelia”.

Apesar de várias vicissitudes - comoa que se viveu em 2005 e 2006 quandouma fraude com selos ao nível da Pe-nínsula Ibérica acabou por ter repercus-sões no negócio -, agora vivem-se diastranquilos.

O desenvolvimento do negócio estáligado à Internet e no futuro pensammesmo em abrir uma filial em Lisboa.Mas a sede da firma continuará nasCaldas.

PRESENTE EM EVENTOSINTERNACIONAIS E MUNDIAIS

A empresa caldense Sérgio Simõesesteve na Exposição Mundial de Filate-lia que se realizou na FIL, no Parque dasNações, em Lisboa. O certame decorreudurante 10 dias em Outubro e “foi um“foi um“foi um“foi um“foi umsucessosucessosucessosucessosucesso”, disse Vanda Morgado.

A empresa caldense esteve presentecom material filatélico, numismático eteve a visita dos directores das marcasfrancesas e alemãs que representam.

No seu stand distribuíram por colec-cionadores e interessados canetas, ré-guas, lupas ou mini classificadores o quefez com que muita gente se dirigisse àrepresentação da empresa das Caldas.

Já em 1998 realizou-se uma grandeexposição internacional na qual estaempresa também participou. “O mais“O mais“O mais“O mais“O maisimportante são os contactos direc-importante são os contactos direc-importante são os contactos direc-importante são os contactos direc-importante são os contactos direc-to com clientes e fornecedores e ain-to com clientes e fornecedores e ain-to com clientes e fornecedores e ain-to com clientes e fornecedores e ain-to com clientes e fornecedores e ain-da a publicidade que se faz à casada a publicidade que se faz à casada a publicidade que se faz à casada a publicidade que se faz à casada a publicidade que se faz à casa”,contou a gestora.

Na exposição mundial participaramrepresentações de Espanha, Iraque,Cabo Verde, Macau, Marrocos, NovaZelândia e entidades como a Casa daMoeda, a Biblioteca Nacional, o Metro,a Carris ou a Associação Portuguesa deFilatelia. Empresas portuguesas do ramoque não fossem de Lisboa, só esteve afilatelia de Sérgio Simões.

Foram também emitidos selos paraeste evento e houve um passaporte fila-télico que consistia na aquisição de umdocumento para colocação dos selos res-pectivos de cada administração postal pre-sente. No total estiveram no certame 32representações de países e empresas ecada uma poderia colocar também umcarimbo por cima do selo. O tema destepassatempo foi “Boa viagem através dosselos, coleccionar também é descobrir!” .

Do evento fez parte a colecção filaté-lica Real Inglesa com o primeiro selodenominado Penny Black, datado de1840. Esta colecção é considerada a me-lhor e mais abrangente do mundo. Tam-bém no mesmo stand estava a colecçãode SAS o Príncipe do Mónaco. Cerca de4000 quadros de exposição preencheramo pavilhão da FIL junto com comercian-tes portugueses e estrangeiros, adminis-trações postais e associações filatélicasnacionais e internacionais.

N.NN.NN.NN.NN.N

1952 –1952 –1952 –1952 –1952 – Sérgio Simões inicia o cantinhofilatélico na loja de tecidos do seu pai,Abel Simões, no Largo Heróis da Nauli-la1962 –1962 –1962 –1962 –1962 – Casa com Joana Simões e vãoem lua de mel para Sevilha por causados selos1969 –1969 –1969 –1969 –1969 – Estabelecem-se em casa pró-pria com área preparada para o negó-cio na Rua Dr. Artur Figueiroa Rego, 251974 –1974 –1974 –1974 –1974 – Perdem o importante mercadodas colónias e registam uma quebramuito acentuada1994 –1994 –1994 –1994 –1994 – Vanda Morgado, a filha mais

Cronologia

A empresa conta com duas funcionárias, Zulmira Duarte (atrás) e A empresa conta com duas funcionárias, Zulmira Duarte (atrás) e A empresa conta com duas funcionárias, Zulmira Duarte (atrás) e A empresa conta com duas funcionárias, Zulmira Duarte (atrás) e A empresa conta com duas funcionárias, Zulmira Duarte (atrás) eFlorbela Mendes, que nela trabalham há cerca de 30 anosFlorbela Mendes, que nela trabalham há cerca de 30 anosFlorbela Mendes, que nela trabalham há cerca de 30 anosFlorbela Mendes, que nela trabalham há cerca de 30 anosFlorbela Mendes, que nela trabalham há cerca de 30 anos

Na exposição mundial, em Outubro deste ano, a empresa caldense Na exposição mundial, em Outubro deste ano, a empresa caldense Na exposição mundial, em Outubro deste ano, a empresa caldense Na exposição mundial, em Outubro deste ano, a empresa caldense Na exposição mundial, em Outubro deste ano, a empresa caldensefoi uma das mais visitadasfoi uma das mais visitadasfoi uma das mais visitadasfoi uma das mais visitadasfoi uma das mais visitadas

nova, entra formalmente para a empre-sa para trabalhar na gestão e na partefinanceira1997 -1997 -1997 -1997 -1997 - Sérgio Simões foi eleito comerci-ante do ano pela Associação FilatélicaAlentejana2002 –2002 –2002 –2002 –2002 – A introdução do euro induz umaredução pontual no volume de vendas2005 –2005 –2005 –2005 –2005 – Constituição da sociedade porquotas Filatelia Sérgio Simões, Lda. ten-do como sócios-gerentes o casal funda-dor e as filhas Vanda e Margarida. O ca-pital social é de cinco mil euros.2006 –2006 –2006 –2006 –2006 – Passa a ser representante nacio-nal da marca alemã Lindner

Page 56: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

26 | Novembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Mercearia “O Ferreira” - O tradicional e o gourmet ju

Data de 1926 a fundação da mercearia “O Ferreira”, a mais antiga da Benedita e uma das poucas queresiste numa vila onde nos últimos anos se fixaram quatro supermercados e hipermercados. Hoje, apequena loja é gerida por Romeu Ferreira, neto do fundador, Luís Ferreira.Bem longe dos tempos em que ali tudo era vendido avulso, há um sem número de produtos paradescobrir pelas prateleiras, dos mais antigos e tradicionais aos mais sofisticados, sempre com umaelevada aposta na qualidade. Esta é uma das razões pelas quais a mercearia tem conseguido fideli-zar muitos clientes e enfrenta o futuro de cabeça erguida e sem medo.

Luís Ferreira (1896–1975) é re-cordado pelo neto Romeu como“um homem de pulso”“um homem de pulso”“um homem de pulso”“um homem de pulso”“um homem de pulso”. E foiesta firmeza do beneditense degema que ajudou ao sucesso dosdois negócios que abriu em 1926e que se traduziam num esta-belecimento muito normal naépoca - uma taberna e uma mer-cearia, divididas apenas por umaporta.

Do primeiro negócio restamapenas as memórias dos seusfilhos e netos, e dos muitos ho-mens que ao domingo, antes damissa, por lá passavam para be-ber os “pirolitos”, pequenos co-pos de aguardente a que cha-mavam de “mata-bicho”, dadasas suas comprovadíssimas pro-priedades na protecção contradoenças e maleitas diversas.

Já a mercearia ainda hoje éuma referência no comércio tra-dicional da vila, mantendo clien-tes que há décadas ali se abas-tecem. E há de tudo naquelasprateleiras.

Do casamento com Ana MariaBernardina Ferreira (1898–1987)nasceram quatro filhos: Maria,António, Joaquim e Ana. Os ra-pazes desde cedo acompanha-ram os negócios do pai, e quan-do António, o mais velho, inicioua sua própria família, ficou coma taberna a seu cargo, manten-do-a aberta até à década de 80.

A divisão dos negócios levoua uma mudança dos estabeleci-mentos, e na década de 60 amercearia “O Ferreira” muda-separa o local onde ainda hoje seencontra, na Rua da Serradinha.E foi na mercearia que JoaquimLuís Ferreira (nascido em 1929)trabalhou desde sempre. “O“O“O“O“Omeu pai trabalhou aqui todameu pai trabalhou aqui todameu pai trabalhou aqui todameu pai trabalhou aqui todameu pai trabalhou aqui todaa vida. A profissão dele éa vida. A profissão dele éa vida. A profissão dele éa vida. A profissão dele éa vida. A profissão dele émarceneiro, foi um dos mar-marceneiro, foi um dos mar-marceneiro, foi um dos mar-marceneiro, foi um dos mar-marceneiro, foi um dos mar-ceneiros da igreja daqui,ceneiros da igreja daqui,ceneiros da igreja daqui,ceneiros da igreja daqui,ceneiros da igreja daqui,mas com vinte e poucosmas com vinte e poucosmas com vinte e poucosmas com vinte e poucosmas com vinte e poucosanos começou a tomar con-anos começou a tomar con-anos começou a tomar con-anos começou a tomar con-anos começou a tomar con-ta do negócio, tal como de-ta do negócio, tal como de-ta do negócio, tal como de-ta do negócio, tal como de-ta do negócio, tal como de-pois aconteceu comigo”pois aconteceu comigo”pois aconteceu comigo”pois aconteceu comigo”pois aconteceu comigo”, con-ta Romeu Ferreira.

Em 1969 Joaquim Ferreira casacom Ana Rebelo Ferreira Luís(nascida em 1943) e, tal comotinha acontecido com o seu ir-mão António, assume o negóciodo pai. D. Ana, como todos osclientes a tratam, lembra-se bemdesses tempos. “Eu vim para“Eu vim para“Eu vim para“Eu vim para“Eu vim paraaqui trabalhar passados trêsaqui trabalhar passados trêsaqui trabalhar passados trêsaqui trabalhar passados trêsaqui trabalhar passados trêsmeses de me casar”meses de me casar”meses de me casar”meses de me casar”meses de me casar”, conta. Etudo era diferente. Se hoje sevende devidamente empacotado,na altura tudo era vendido avul-so. “Pesava-se o açúcar, a“Pesava-se o açúcar, a“Pesava-se o açúcar, a“Pesava-se o açúcar, a“Pesava-se o açúcar, amassa, o arroz em pacoti-massa, o arroz em pacoti-massa, o arroz em pacoti-massa, o arroz em pacoti-massa, o arroz em pacoti-nhos de papel, uns pacoti-nhos de papel, uns pacoti-nhos de papel, uns pacoti-nhos de papel, uns pacoti-nhos de papel, uns pacoti-nhos de bico”nhos de bico”nhos de bico”nhos de bico”nhos de bico” que se lembra depassar horas a fazer.

Além destes produtos, o azei-te, o petróleo para as lampari-nas - quando a electricidade paramuitos era ainda um privilégio -,

eram produtos que ali levavammuita gente. O bacalhau, sem-pre de boa qualidade e que osdonos da loja iam propositada-mente buscar à Figueira da Foz,é também uma das referênciasdo estabelecimento.

Do património da merceariaainda fazem parte a balança usa-da na altura, com uma tabela quedava logo o preço de cada pro-duto, as bombas que se usavampara retirar o petróleo dos bi-dões de 50 litros em que estes

chegavam à loja e uma máquinaregistadora que funcionava àmanivela quando a luz eléctricafalhava.

D. Ana lembra-se, quando “a“a“a“a“acasa era muito pequenina ecasa era muito pequenina ecasa era muito pequenina ecasa era muito pequenina ecasa era muito pequenina etinha um balcãozinho e astinha um balcãozinho e astinha um balcãozinho e astinha um balcãozinho e astinha um balcãozinho e aspessoas não passavam parapessoas não passavam parapessoas não passavam parapessoas não passavam parapessoas não passavam paradentro, pediam tudo do ladodentro, pediam tudo do ladodentro, pediam tudo do ladodentro, pediam tudo do ladodentro, pediam tudo do ladode fora. Não era como agora,de fora. Não era como agora,de fora. Não era como agora,de fora. Não era como agora,de fora. Não era como agora,que são as pessoas que seque são as pessoas que seque são as pessoas que seque são as pessoas que seque são as pessoas que seservem”servem”servem”servem”servem”. Lembra-se de quandolevava para junto de si os filhosainda bebés – Joaquim AntónioLuís Ferreira (nascido em 1970) eRomeu Luís Rebelo Ferreira (nas-cido em 1974). “Criei os meus“Criei os meus“Criei os meus“Criei os meus“Criei os meusfilhos aqui. Tinha ali uma co-filhos aqui. Tinha ali uma co-filhos aqui. Tinha ali uma co-filhos aqui. Tinha ali uma co-filhos aqui. Tinha ali uma co-zinha, trazia-os para lá, dei-zinha, trazia-os para lá, dei-zinha, trazia-os para lá, dei-zinha, trazia-os para lá, dei-zinha, trazia-os para lá, dei-tava-os, coitadinhos, punha-tava-os, coitadinhos, punha-tava-os, coitadinhos, punha-tava-os, coitadinhos, punha-tava-os, coitadinhos, punha-

lhes o biberão na boca, e eleslhes o biberão na boca, e eleslhes o biberão na boca, e eleslhes o biberão na boca, e eleslhes o biberão na boca, e elesbebiam sozinhos, que eu ti-bebiam sozinhos, que eu ti-bebiam sozinhos, que eu ti-bebiam sozinhos, que eu ti-bebiam sozinhos, que eu ti-nha que vir atender clientes”nha que vir atender clientes”nha que vir atender clientes”nha que vir atender clientes”nha que vir atender clientes”,conta.

Olhando para trás, Ana Ferrei-ra Luís garante que as diferen-ças entre aquela altura e os diasde hoje são abismais. “Traba-“Traba-“Traba-“Traba-“Traba-lhou-se muito naquele tempo,lhou-se muito naquele tempo,lhou-se muito naquele tempo,lhou-se muito naquele tempo,lhou-se muito naquele tempo,não tínhamos empregadosnão tínhamos empregadosnão tínhamos empregadosnão tínhamos empregadosnão tínhamos empregadospara nada. Era só eu e o meupara nada. Era só eu e o meupara nada. Era só eu e o meupara nada. Era só eu e o meupara nada. Era só eu e o meumarido”marido”marido”marido”marido”. O facto de viverem porcima da loja fazia com que a vidafamiliar e o trabalho se mistu-

rassem quase sempre. Depois osfilhos foram crescendo e come-çaram a ajudar. A mãe recordaque muitas vezes os filhos iamajudar a pesar os produtos aosábado.

NO TEMPO EM QUE SECOMPRAVA FIADO

Uma das principais diferen-ças era a forma como os clien-tes pagavam o que compravam.O fiado ditava a regra e “era“era“era“era“eratudo para o livro”tudo para o livro”tudo para o livro”tudo para o livro”tudo para o livro”. As pessoasiam aviar-se e o que levavam eraapontado num livro. As contaseram feitas à semana, ao mês,como se combinasse. Numa ter-ra onde as fábricas foram, so-

bretudo a partir da década de 80,garante de emprego, muitoseram os que pagavam as suascontas apenas quando recebiamo ordenado. “Quando por ve-“Quando por ve-“Quando por ve-“Quando por ve-“Quando por ve-zes não recebiam logo vi-zes não recebiam logo vi-zes não recebiam logo vi-zes não recebiam logo vi-zes não recebiam logo vi-nham cá e pediam ‘Oh senhornham cá e pediam ‘Oh senhornham cá e pediam ‘Oh senhornham cá e pediam ‘Oh senhornham cá e pediam ‘Oh senhorJoaquim, posso pagar daquiJoaquim, posso pagar daquiJoaquim, posso pagar daquiJoaquim, posso pagar daquiJoaquim, posso pagar daquipor mais oito dias ou quinzepor mais oito dias ou quinzepor mais oito dias ou quinzepor mais oito dias ou quinzepor mais oito dias ou quinzedias?’. Há outros que espeta-dias?’. Há outros que espeta-dias?’. Há outros que espeta-dias?’. Há outros que espeta-dias?’. Há outros que espeta-ram o calote, nunca mais pa-ram o calote, nunca mais pa-ram o calote, nunca mais pa-ram o calote, nunca mais pa-ram o calote, nunca mais pa-garam”garam”garam”garam”garam”, lembra D. Ana.

Hoje acabaram-se os livros eo hábito de vender fiado. Mas

por vezes, e sendo a proximida-de na relação entre vendedorese clientes uma característica úni-ca do comércio tradicional, porvezes ainda acontece que fiquena caixa um ou outro papelitoque é pago mais tarde.

Da altura, restam não só asrecordações mas também mui-tos clientes. Uns iam lá na alturae mantêm-se fiéis à casa. Outrosiam com os pais ‘ao Ferreira’ fa-zer as compras para casa e hoje,homens e mulheres feitos, con-tinuam a gostar de ali ir. Mas sehá umas décadas o merceeiro“era o segundo padre da fre-“era o segundo padre da fre-“era o segundo padre da fre-“era o segundo padre da fre-“era o segundo padre da fre-guesia”guesia”guesia”guesia”guesia” e tinha sempre umapalavra para dar aos seus clien-tes e um tempinho para ouvir as

suas queixas e desabafos, hojetudo é bem diferente. “Ninguém“Ninguém“Ninguém“Ninguém“Ninguémrefilava, as pessoas anda-refilava, as pessoas anda-refilava, as pessoas anda-refilava, as pessoas anda-refilava, as pessoas anda-vam mais calmas, tudo espe-vam mais calmas, tudo espe-vam mais calmas, tudo espe-vam mais calmas, tudo espe-vam mais calmas, tudo espe-rava na sua vez, ninguémrava na sua vez, ninguémrava na sua vez, ninguémrava na sua vez, ninguémrava na sua vez, ninguématropelava ninguém. Agoraatropelava ninguém. Agoraatropelava ninguém. Agoraatropelava ninguém. Agoraatropelava ninguém. Agoraos clientes vêm todos comos clientes vêm todos comos clientes vêm todos comos clientes vêm todos comos clientes vêm todos commuita pressa”muita pressa”muita pressa”muita pressa”muita pressa”, diz D. Ana.

Já o filho, Romeu, lembra-se“das sacas de açúcar louro“das sacas de açúcar louro“das sacas de açúcar louro“das sacas de açúcar louro“das sacas de açúcar louroque traziam uns grãos pre-que traziam uns grãos pre-que traziam uns grãos pre-que traziam uns grãos pre-que traziam uns grãos pre-tos, da humidade do açúcar.tos, da humidade do açúcar.tos, da humidade do açúcar.tos, da humidade do açúcar.tos, da humidade do açúcar.Davam-nos esses grãos eDavam-nos esses grãos eDavam-nos esses grãos eDavam-nos esses grãos eDavam-nos esses grãos eeram os nossos caramelos”eram os nossos caramelos”eram os nossos caramelos”eram os nossos caramelos”eram os nossos caramelos”.

DA VENDA AVULSO AOSPRODUTOS EMPACOTADOS

Na década de 80 foi proibida avenda avulso e dá-se uma enor-me mudança na oferta da mer-cearia “O Ferreira”, onde passoua vender-se tudo devidamenteembalado. Pouco a pouco fo-ram-se também introduzindonovos produtos, como o pão,feito pelos melhores padeirosda terra, ou os tão afamadossabonetes e águas de colóniada Ach Brito, artigos que hojese usam nas mais luxuosas ca-sas do país e da Europa (vendi-dos a peso de ouro em muitoslocais) e que ainda povoam as

prateleiras da loja.Os clientes, que habitualmen-

te aos fins-de-semana iam àpraça aviar-se de frutas e legu-mes, começaram a pedir que sevendessem estes artigos namercearia. E quantos jovensadultos não se lembram de, ain-da crianças, irem ‘ao Ferreira’comprar rebuçados? Aos produ-tos tradicionais foram-se jun-tando as novidades que iamaparecendo no mercado e amercearia encheu-se de produ-tos alimentares, artigos de hi-giene pessoal e de limpeza, co-mida para animais, ganchos eredes para os carrapitos dassenhoras, bilhas de gás.

Nos anos 80 e 90 a mercearialutou para sobreviver, quandocomeçaram a aparecer na vila ossupermercados. E a aposta, quese mostrou acertada, foi na qua-lidade dos produtos como factordiferenciador. É em 2002 que Ro-meu Ferreira se junta aos pais nonegócio da família. Formado emSistemas de Informação Geográ-fica o jovem, na altura com 28anos, não conseguiu trabalho nasua área e decide que é precisosangue novo para que o negócioiniciado pelo seu avô resista notempo. Dois anos depois, um aci-dente afasta o pai do trabalho naloja e foi nessa altura que o rapazse torna gerente da mercearia. Amãe diz que “é pena, porque“é pena, porque“é pena, porque“é pena, porque“é pena, porqueisto é muito cansativo, traba-isto é muito cansativo, traba-isto é muito cansativo, traba-isto é muito cansativo, traba-isto é muito cansativo, traba-lha-se muito e ganha-se pou-lha-se muito e ganha-se pou-lha-se muito e ganha-se pou-lha-se muito e ganha-se pou-lha-se muito e ganha-se pou-co e é muita chatice”co e é muita chatice”co e é muita chatice”co e é muita chatice”co e é muita chatice”. O filhogarante que “é um gosto”“é um gosto”“é um gosto”“é um gosto”“é um gosto”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Ana Maria Bernardina Ferreira e Luís Ferreira Ana Maria Bernardina Ferreira e Luís Ferreira Ana Maria Bernardina Ferreira e Luís Ferreira Ana Maria Bernardina Ferreira e Luís Ferreira Ana Maria Bernardina Ferreira e Luís Ferreiraem 1920, seis anos antes da abertura daem 1920, seis anos antes da abertura daem 1920, seis anos antes da abertura daem 1920, seis anos antes da abertura daem 1920, seis anos antes da abertura damercearia e da tabernamercearia e da tabernamercearia e da tabernamercearia e da tabernamercearia e da taberna

Pais e filho. Romeu Ferreira projecta para o futuro o negócio iniciado pelo avô e que os pais Pais e filho. Romeu Ferreira projecta para o futuro o negócio iniciado pelo avô e que os pais Pais e filho. Romeu Ferreira projecta para o futuro o negócio iniciado pelo avô e que os pais Pais e filho. Romeu Ferreira projecta para o futuro o negócio iniciado pelo avô e que os pais Pais e filho. Romeu Ferreira projecta para o futuro o negócio iniciado pelo avô e que os paisgeriram durante mais de três décadasgeriram durante mais de três décadasgeriram durante mais de três décadasgeriram durante mais de três décadasgeriram durante mais de três décadas

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

1896 1896 1896 1896 1896 – Nasce Luís Ferreira na Benedita

1926 – 1926 – 1926 – 1926 – 1926 – Luís Ferreira abre a mercearia, jun-

tamente com uma taberna

Década de 60 – Década de 60 – Década de 60 – Década de 60 – Década de 60 – Dá-se a divisão dos dois

negócios e a mercearia muda para as insta-

lações onde ainda hoje se encontra

1929 –1929 –1929 –1929 –1929 – Nasce o filho, Joaquim Ferreira

1969 – 1969 – 1969 – 1969 – 1969 – Joaquim Ferreira casa-se com Ana

Luís e fica com a mercearia

1970 –1970 –1970 –1970 –1970 – Nasce o filho mais velho, Joaquim

Ferreira, que optaria por ser professor

1974 –1974 –1974 –1974 –1974 – Nasce Romeu Ferreira, que viria a

ser o sucessor do negócio da família

2002 – 2002 – 2002 – 2002 – 2002 – Romeu Ferreira começa a trabalhar

com os pais a tempo inteiro

2004 – 2004 – 2004 – 2004 – 2004 – Romeu assume a gestão do negócio

untos num negócio com 84 anos na Benedita

Durante muitos anos, a mer-cearia “O Ferreira” não tevequalquer toldo ou placa que aidentificasse como estabeleci-mento comercial. A projecçãode uma imagem para o exteriorfoi uma das grandes diferen-ças introduzidas por RomeuFerreira no negócio dos pais edo avô, que escolheu como lema“Desde 1926 para o Bem Ser-vir”.

Mas quem não conhece amercearia por dentro, está lon-ge de imaginar que numa áreacom cerca de 80 metros qua-drados se pode encontrar umtotal de cerca de seis mil refe-rências, dos artigos mais tradi-cionais aos agora tão em vogaprodutos gourmet e biológicos.No mesmo espaço, onde sepode comprar granulado paracoelhos ou o sabão azul e bran-co tão conhecido das donas decasa, encontra-se também ca-viar, mel em cortiço, trufas eaté o molho de melaço com quese comem as panquecas norte-americanas e que muito dificil-mente se encontra até nos mai-ores hipermercados.

“Quando fazemos o ba-“Quando fazemos o ba-“Quando fazemos o ba-“Quando fazemos o ba-“Quando fazemos o ba-lanço anual é que percebe-lanço anual é que percebe-lanço anual é que percebe-lanço anual é que percebe-lanço anual é que percebe-mos a quantidade de produ-mos a quantidade de produ-mos a quantidade de produ-mos a quantidade de produ-mos a quantidade de produ-tos que temos aqui”tos que temos aqui”tos que temos aqui”tos que temos aqui”tos que temos aqui”, diz Ro-meu, que prefere não divulgaro volume de negócios da mer-cearia, cujo capital social é de10 mil euros. E o que torna oinventário exequível é a infor-matização do sistema, sinal damodernização que projecta aloja para o futuro. Um futuroque se faz também através daInternet e de uma loja onlineda mercearia (emwww.merceari aoferreira.c om),utilizada sobretudo por clien-tes de Lisboa e Algarve.

Mas como se consegue tertanta coisa num espaço tão pe-queno? “As nossas pratelei-“As nossas pratelei-“As nossas pratelei-“As nossas pratelei-“As nossas pratelei-ras só têm um produto deras só têm um produto deras só têm um produto deras só têm um produto deras só têm um produto de

cada e tem que estar tudocada e tem que estar tudocada e tem que estar tudocada e tem que estar tudocada e tem que estar tudomuito bem organizado”muito bem organizado”muito bem organizado”muito bem organizado”muito bem organizado” eisso implica uma selecção cui-dada dos produtos que ali sevendem. A aposta é, assim, fei-ta em “produtos de grande“produtos de grande“produtos de grande“produtos de grande“produtos de grandequalidade e principalmentequalidade e principalmentequalidade e principalmentequalidade e principalmentequalidade e principalmentemarcas nacionais”marcas nacionais”marcas nacionais”marcas nacionais”marcas nacionais”. E é istoque tem contribuído para man-ter os clientes ano após ano.

Os vinhos são um bom exem-plo. O gerente da mercearia ga-rante que na garrafeira da lojase podem encontrar 200 vinhosdiferentes, “entre os quais os“entre os quais os“entre os quais os“entre os quais os“entre os quais os50 melhores do país”50 melhores do país”50 melhores do país”50 melhores do país”50 melhores do país”. Às me-lhores marcas nacionais jun-tam-se artigos conhecidos in-ternacionalmente, como os chásda marca inglesa Twinings.Uma aposta recente, mas quecomeça já a dar que falar, umavez que se contam pelos dedosde uma mão os locais onde amarca está à venda no país.

“Quem conhece chá,“Quem conhece chá,“Quem conhece chá,“Quem conhece chá,“Quem conhece chá,quem gosta mesmo e quemquem gosta mesmo e quemquem gosta mesmo e quemquem gosta mesmo e quemquem gosta mesmo e quemse interessa um bocadinhose interessa um bocadinhose interessa um bocadinhose interessa um bocadinhose interessa um bocadinhopela sua história fica admpela sua história fica admpela sua história fica admpela sua história fica admpela sua história fica admi-i-i-i-i-rado por ver o Twinings àrado por ver o Twinings àrado por ver o Twinings àrado por ver o Twinings àrado por ver o Twinings àvenda aqui. Aconteceu nou-venda aqui. Aconteceu nou-venda aqui. Aconteceu nou-venda aqui. Aconteceu nou-venda aqui. Aconteceu nou-tro dia estarem umas senho-tro dia estarem umas senho-tro dia estarem umas senho-tro dia estarem umas senho-tro dia estarem umas senho-ras lá fora e quando viram oras lá fora e quando viram oras lá fora e quando viram oras lá fora e quando viram oras lá fora e quando viram ochá na montra ficaram ad-chá na montra ficaram ad-chá na montra ficaram ad-chá na montra ficaram ad-chá na montra ficaram ad-miradíssimas. Entraram,miradíssimas. Entraram,miradíssimas. Entraram,miradíssimas. Entraram,miradíssimas. Entraram,compraram logo umas latascompraram logo umas latascompraram logo umas latascompraram logo umas latascompraram logo umas latase acharam fascinante umae acharam fascinante umae acharam fascinante umae acharam fascinante umae acharam fascinante umaloja de província ter esteloja de província ter esteloja de província ter esteloja de província ter esteloja de província ter estechá”chá”chá”chá”chá”, conta.

Os chás são, de resto, um dosprodutos em que a merceariaaposta mais. À Twinings junta-se a marca Lipton e uma gran-de diversidade de chás mais es-pecíficos para bem-estar e saú-de, como problemas de fígadoou estômago, diabetes outranstorno do sono. “Neste mo-“Neste mo-“Neste mo-“Neste mo-“Neste mo-mento temos aí uns 30 chásmento temos aí uns 30 chásmento temos aí uns 30 chásmento temos aí uns 30 chásmento temos aí uns 30 chásdiferentes na nossa casa”diferentes na nossa casa”diferentes na nossa casa”diferentes na nossa casa”diferentes na nossa casa”,afiança o gerente.

Já nos produtos de pastela-ria, há um pasteleiro da zona aproduzir diariamente para a

mercearia, que só vende bolose doces frescos. “Sou o pri-“Sou o pri-“Sou o pri-“Sou o pri-“Sou o pri-meiro a dizer ao cliente quemeiro a dizer ao cliente quemeiro a dizer ao cliente quemeiro a dizer ao cliente quemeiro a dizer ao cliente queo bolo é do dia anterior, oo bolo é do dia anterior, oo bolo é do dia anterior, oo bolo é do dia anterior, oo bolo é do dia anterior, ocliente só o compra se qui-cliente só o compra se qui-cliente só o compra se qui-cliente só o compra se qui-cliente só o compra se qui-ser, mas fica avisado. Achoser, mas fica avisado. Achoser, mas fica avisado. Achoser, mas fica avisado. Achoser, mas fica avisado. Achoque a casa vence mais porque a casa vence mais porque a casa vence mais porque a casa vence mais porque a casa vence mais poresta honestidade e sinceri-esta honestidade e sinceri-esta honestidade e sinceri-esta honestidade e sinceri-esta honestidade e sinceri-dade com o cliente e pelodade com o cliente e pelodade com o cliente e pelodade com o cliente e pelodade com o cliente e peloatendimento personalizadoatendimento personalizadoatendimento personalizadoatendimento personalizadoatendimento personalizadoque mantemos já há muitosque mantemos já há muitosque mantemos já há muitosque mantemos já há muitosque mantemos já há muitosanos”anos”anos”anos”anos”, explica.

CLIENTES VOLTAM AOCOMÉRCIO TRADICIONAL

Quando perguntamos a RomeuFerreira se o futuro é encarado comoptimismo, o “sim”“sim”“sim”“sim”“sim” reforçado trêsvezes não deixa margens para dú-vidas. “O nosso mercado é mui-“O nosso mercado é mui-“O nosso mercado é mui-“O nosso mercado é mui-“O nosso mercado é mui-to específico e é muito peque-to específico e é muito peque-to específico e é muito peque-to específico e é muito peque-to específico e é muito peque-nininho, para termos medonininho, para termos medonininho, para termos medonininho, para termos medonininho, para termos medodas grandes superfícies. Elesdas grandes superfícies. Elesdas grandes superfícies. Elesdas grandes superfícies. Elesdas grandes superfícies. Elescomem-se uns aos outros, acomem-se uns aos outros, acomem-se uns aos outros, acomem-se uns aos outros, acomem-se uns aos outros, anós não nos fazem já mal. Jánós não nos fazem já mal. Jánós não nos fazem já mal. Jánós não nos fazem já mal. Jánós não nos fazem já mal. Jáfizeram, agora não”fizeram, agora não”fizeram, agora não”fizeram, agora não”fizeram, agora não”, diz.

Romeu sabe bem quais as

vantagens das grandes super-fícies e aponta três factorespara o seu sucesso. Em primei-ro lugar, “é porque é uma“é porque é uma“é porque é uma“é porque é uma“é porque é umamoda que surgiu em Portu-moda que surgiu em Portu-moda que surgiu em Portu-moda que surgiu em Portu-moda que surgiu em Portu-gal aí há 15 anos e foi im-gal aí há 15 anos e foi im-gal aí há 15 anos e foi im-gal aí há 15 anos e foi im-gal aí há 15 anos e foi im-portada de fora”portada de fora”portada de fora”portada de fora”portada de fora”, depois éinegável a mais-valia que é oparque de estacionamento doshipermercados. Por último,acredita que em espaços maio-res “as pessoas não se sen-“as pessoas não se sen-“as pessoas não se sen-“as pessoas não se sen-“as pessoas não se sen-tem tão vigiadas e não têmtem tão vigiadas e não têmtem tão vigiadas e não têmtem tão vigiadas e não têmtem tão vigiadas e não têmtanta vergonha de escolhertanta vergonha de escolhertanta vergonha de escolhertanta vergonha de escolhertanta vergonha de escolheros produtos mais baratos,os produtos mais baratos,os produtos mais baratos,os produtos mais baratos,os produtos mais baratos,ainda que piores”ainda que piores”ainda que piores”ainda que piores”ainda que piores”.

No extremo oposto estão asmercearias, locais onde toda agente se conhece. Um facto queé simultaneamente uma des-vantagem e uma vantagem daspequenas lojas. É que há quemnão troque o atendimento per-sonalizado por nada. “Aqui, se“Aqui, se“Aqui, se“Aqui, se“Aqui, seas pessoas têm alguma coi-as pessoas têm alguma coi-as pessoas têm alguma coi-as pessoas têm alguma coi-as pessoas têm alguma coi-sa a reclamar vêm falar di-sa a reclamar vêm falar di-sa a reclamar vêm falar di-sa a reclamar vêm falar di-sa a reclamar vêm falar di-rectamente com o dono darectamente com o dono darectamente com o dono darectamente com o dono darectamente com o dono daloja, enquanto nas grandesloja, enquanto nas grandesloja, enquanto nas grandesloja, enquanto nas grandesloja, enquanto nas grandes

“As grandes superfícies já não nos fazem mal”

Joaquim Ferreira e Ana Luís na sua mercearia em 1984 e na semana passada Joaquim Ferreira e Ana Luís na sua mercearia em 1984 e na semana passada Joaquim Ferreira e Ana Luís na sua mercearia em 1984 e na semana passada Joaquim Ferreira e Ana Luís na sua mercearia em 1984 e na semana passada Joaquim Ferreira e Ana Luís na sua mercearia em 1984 e na semana passada

O filho mais velho de Ana e Joaquim Ferreira, O filho mais velho de Ana e Joaquim Ferreira, O filho mais velho de Ana e Joaquim Ferreira, O filho mais velho de Ana e Joaquim Ferreira, O filho mais velho de Ana e Joaquim Ferreira,apanhado em 1985 com a mão dentro do boião dosapanhado em 1985 com a mão dentro do boião dosapanhado em 1985 com a mão dentro do boião dosapanhado em 1985 com a mão dentro do boião dosapanhado em 1985 com a mão dentro do boião dosrebuçadosrebuçadosrebuçadosrebuçadosrebuçados

superfícies nunca sabemsuperfícies nunca sabemsuperfícies nunca sabemsuperfícies nunca sabemsuperfícies nunca sabemquem é que os vai atender”quem é que os vai atender”quem é que os vai atender”quem é que os vai atender”quem é que os vai atender”,diz Romeu. Outra coisa que levaas pessoas a optarem pelo pe-queno comércio é “saberem“saberem“saberem“saberem“saberemque se tiverem algum pro-que se tiverem algum pro-que se tiverem algum pro-que se tiverem algum pro-que se tiverem algum pro-blema que seja, há alguémblema que seja, há alguémblema que seja, há alguémblema que seja, há alguémblema que seja, há alguémque os ouve, e nos outrosque os ouve, e nos outrosque os ouve, e nos outrosque os ouve, e nos outrosque os ouve, e nos outroslados não. O merceeiro é olados não. O merceeiro é olados não. O merceeiro é olados não. O merceeiro é olados não. O merceeiro é osegundo padre na terra”segundo padre na terra”segundo padre na terra”segundo padre na terra”segundo padre na terra”.

E quem acha que o comérciotradicional tem os dias conta-dos, desengane-se. Romeu Fer-reira diz que se há uns anos ti-veram que lutar contra as gran-des superfícies, hoje têm o seulugar bem definido e aos clien-tes fiéis juntam-se agora aque-les que começam a perceberque “nos supermercados“nos supermercados“nos supermercados“nos supermercados“nos supermercadosnem todos os produtos sãonem todos os produtos sãonem todos os produtos sãonem todos os produtos sãonem todos os produtos sãomais baratos que no comér-mais baratos que no comér-mais baratos que no comér-mais baratos que no comér-mais baratos que no comér-cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”cio tradicional”. E dá o exem-plo: “nos frescos e na fruta,“nos frescos e na fruta,“nos frescos e na fruta,“nos frescos e na fruta,“nos frescos e na fruta,os nossos preços são maisos nossos preços são maisos nossos preços são maisos nossos preços são maisos nossos preços são maisbaixos, além de que os pro-baixos, além de que os pro-baixos, além de que os pro-baixos, além de que os pro-baixos, além de que os pro-dutos são melhores”dutos são melhores”dutos são melhores”dutos são melhores”dutos são melhores”. Alémdisso, no pequeno comércio

“há menos tentação para se“há menos tentação para se“há menos tentação para se“há menos tentação para se“há menos tentação para secomprar o que não é preci-comprar o que não é preci-comprar o que não é preci-comprar o que não é preci-comprar o que não é preci-so em casa”so em casa”so em casa”so em casa”so em casa”, garante.

E mais uma vez a qualidade,sobretudo nos produtos ali-mentares, marca a diferença.Há quatro anos foi implemen-tado na mercearia o sistemaHACCP, que garante a seguran-ça dos alimentos, tanto ao ní-vel da sua produção como dasua comercialização. Um passo“fundamental” “fundamental” “fundamental” “fundamental” “fundamental” numa casa“aberta há 86 anos que nun-“aberta há 86 anos que nun-“aberta há 86 anos que nun-“aberta há 86 anos que nun-“aberta há 86 anos que nun-ca teve um problema alimen-ca teve um problema alimen-ca teve um problema alimen-ca teve um problema alimen-ca teve um problema alimen-tar”tar”tar”tar”tar”. E além de Romeu e damãe, o estabelecimento dá ain-da trabalho a uma engenheiraalimentar. Nesse aspecto, a fa-mília Ferreira foi sempre muitorigorosa: “preferimos perder“preferimos perder“preferimos perder“preferimos perder“preferimos perderdinheiro a vender algo quedinheiro a vender algo quedinheiro a vender algo quedinheiro a vender algo quedinheiro a vender algo quepossa já não estar nas me-possa já não estar nas me-possa já não estar nas me-possa já não estar nas me-possa já não estar nas me-lhores condições. Primeiro aslhores condições. Primeiro aslhores condições. Primeiro aslhores condições. Primeiro aslhores condições. Primeiro aspessoas, depois o dinheiro”pessoas, depois o dinheiro”pessoas, depois o dinheiro”pessoas, depois o dinheiro”pessoas, depois o dinheiro”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

A imagem externa da loja é uma das apostas de Romeu Ferreira, que A imagem externa da loja é uma das apostas de Romeu Ferreira, que A imagem externa da loja é uma das apostas de Romeu Ferreira, que A imagem externa da loja é uma das apostas de Romeu Ferreira, que A imagem externa da loja é uma das apostas de Romeu Ferreira, quetambém investiu numa loja onlinetambém investiu numa loja onlinetambém investiu numa loja onlinetambém investiu numa loja onlinetambém investiu numa loja online

Cronologia

Page 58: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

3 | Dezembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Gilberto Santos fundou a Ourivesaria Beto e legou a

Gilberto Santos e os filhos nas Caldas Gilberto Santos e os filhos nas Caldas Gilberto Santos e os filhos nas Caldas Gilberto Santos e os filhos nas Caldas Gilberto Santos e os filhos nas Caldasquando regressaram de Angolaquando regressaram de Angolaquando regressaram de Angolaquando regressaram de Angolaquando regressaram de Angola

A história da Ourivesaria Beto é mais do que a história de uma empresa que passou de uma geraçãopara outra. É a história de como a paixão pelos relógios moldou a vida de um homem, Gilberto Santos(Beto), desde os 12 anos de idade, e que contagiou os filhos. Foi em 1977 que Gilberto Santos fundoua Relojaria Beto, então com 38 anos, mas a história começa mais de 20 anos antes, quando, aindacriança, começou a arranjar relógios numa taberna em Ferrel. Hoje em dia a Ourivesaria Beto é geridapelos dois filhos, Gilberto e Paulo Santos, virando-se para um ramo onde há uma grande falta deespecialistas: os relógios antigos.

Gilberto Santos, mais conhe-cido por Beto, nasceu em 1939 noBairro da Ponte, nas Caldas daRainha, no seio de uma famíliahumilde. Estudou até aos 10 anos,cumprindo a antiga quarta clas-se na escola da Praça do Peixeantiga. Foi na escola que desco-briu que tinha capacidades de ar-tesão. Com apenas sete anos, an-dava na escola do Campo, tevecontacto com a olaria e impressi-onou o professor com o resulta-do de uma pequena peça. Mas ofuturo iria levá-lo para outro ofí-cio.

Quando saiu da escola, aindatrabalhou como polidor de móveis,na oficina do Ramalho, na Praçada Fruta - onde mais tarde se ins-talaram os Móveis Ferreira - e tam-bém trabalhou nos mármores.

Mas o gosto pelos relógios jáestava a nascer e começou a de-senvolver-se quando os pais semudaram das Caldas para a SerraD’el Rei. Começou a arranjar reló-gios para os vizinhos, numa ta-berna em Ferrel. “Levava as mi-“Levava as mi-“Levava as mi-“Levava as mi-“Levava as mi-nhas ferramentas e tinha quenhas ferramentas e tinha quenhas ferramentas e tinha quenhas ferramentas e tinha quenhas ferramentas e tinha que

esperar que os homens aca-esperar que os homens aca-esperar que os homens aca-esperar que os homens aca-esperar que os homens aca-bassem de jogar às cartasbassem de jogar às cartasbassem de jogar às cartasbassem de jogar às cartasbassem de jogar às cartaspara ter a mesa livre para fa-para ter a mesa livre para fa-para ter a mesa livre para fa-para ter a mesa livre para fa-para ter a mesa livre para fa-zer de bancada”zer de bancada”zer de bancada”zer de bancada”zer de bancada”, conta Beto.

Os consertos já lhe rendiam unstrocados, mas rendimentos muitopequenos, pelo que a AugustoSantos não agradava muito que ofilho seguisse aquele ofício. Foi porisso à sua revelia que, quando a

família regressou às Caldas, Betose dirigiu à oficina de conserto derelógios Agostinho, junto aos Ca-pristanos, para pedir emprego.

A resposta foi negativa, mas ainiciativa não foi em vão. “Disse-“Disse-“Disse-“Disse-“Disse-me que a loja era pequena, nãome que a loja era pequena, nãome que a loja era pequena, nãome que a loja era pequena, nãome que a loja era pequena, nãodava para ter empregados,dava para ter empregados,dava para ter empregados,dava para ter empregados,dava para ter empregados,mas garantiu que quandomas garantiu que quandomas garantiu que quandomas garantiu que quandomas garantiu que quando

soubesse de alguém que pre-soubesse de alguém que pre-soubesse de alguém que pre-soubesse de alguém que pre-soubesse de alguém que pre-cisasse, me indicava”,cisasse, me indicava”,cisasse, me indicava”,cisasse, me indicava”,cisasse, me indicava”, conta.

Augusto dos Santos era colcho-eiro na empresa de João Ramos,onde fazia colchões de palha - naaltura muito requisitados pelosmédicos para quem sofria da co-luna - e foi para lá que Agostinhotelefonou, cerca de seis meses de-pois, com uma proposta de traba-

lho para Gilberto. “Ele até se zan-“Ele até se zan-“Ele até se zan-“Ele até se zan-“Ele até se zan-gou, não sabia que eu tinhagou, não sabia que eu tinhagou, não sabia que eu tinhagou, não sabia que eu tinhagou, não sabia que eu tinhaido pedir trabalho”ido pedir trabalho”ido pedir trabalho”ido pedir trabalho”ido pedir trabalho”, relembraGilberto Santos.

A oferta era para a RelojoariaAlcino, que se situava na Rua LeãoAzedo, hoje Rua Montepio RainhaD. Leonor, naquele que, aos 17anos, seria para Beto o primeiro

passo a sério no mundo dos reló-gios. Estávamos em 1956.

“Ainda me lembro do pri-“Ainda me lembro do pri-“Ainda me lembro do pri-“Ainda me lembro do pri-“Ainda me lembro do pri-meiro dia - ele entregou-me ummeiro dia - ele entregou-me ummeiro dia - ele entregou-me ummeiro dia - ele entregou-me ummeiro dia - ele entregou-me umrelógio pequenino todo des-relógio pequenino todo des-relógio pequenino todo des-relógio pequenino todo des-relógio pequenino todo des-montado e o meu trabalho eramontado e o meu trabalho eramontado e o meu trabalho eramontado e o meu trabalho eramontado e o meu trabalho eramontá-lo… e consegui”montá-lo… e consegui”montá-lo… e consegui”montá-lo… e consegui”montá-lo… e consegui”, recor-da. O primeiro salário foi de 60escudos (30 cêntimos de euro).

Beto lembra Alcino Pereira de

Barros, aquele que considera o seugrande mestre, com enorme esti-ma. “Era uma pessoa extraor-“Era uma pessoa extraor-“Era uma pessoa extraor-“Era uma pessoa extraor-“Era uma pessoa extraor-dinária, com uma grande sen-dinária, com uma grande sen-dinária, com uma grande sen-dinária, com uma grande sen-dinária, com uma grande sen-sibilidade, escrevia e recitavasibilidade, escrevia e recitavasibilidade, escrevia e recitavasibilidade, escrevia e recitavasibilidade, escrevia e recitavapoesia, era uma pessoa muitopoesia, era uma pessoa muitopoesia, era uma pessoa muitopoesia, era uma pessoa muitopoesia, era uma pessoa muitoquerida nas Caldas e até che-querida nas Caldas e até che-querida nas Caldas e até che-querida nas Caldas e até che-querida nas Caldas e até che-gou a ser presidente dos Pim-gou a ser presidente dos Pim-gou a ser presidente dos Pim-gou a ser presidente dos Pim-gou a ser presidente dos Pim-pões, foi ele que me ensinoupões, foi ele que me ensinoupões, foi ele que me ensinoupões, foi ele que me ensinoupões, foi ele que me ensinou

tudo”tudo”tudo”tudo”tudo”.Esteve no Alcino até 1962. Mas

obteve da Ourivesaria Sebastiãouma oferta de emprego em queganhava mais 100 escudos (50 cên-timos) por mês, o que na alturaera muito dinheiro. Gilberto acei-tou e foi trabalhar com Sebastiãodo Coito Caramelo na Rua Henri-que Sales.

Em 1964 casou com Maria An-tonieta, mãe dos seus dois filhos,tendo Sebastião como padrinhode casamento. Mas a relação pa-trão funcionário não era das me-lhores e Beto resolveu voltar paraa Relojoaria Alcino, um ano de-pois.

LUANDA FOI TERRA DEOPORTUNIDADES

Foi no Alcino que conheceu Má-rio de Campos - que ainda hoje éproprietário de três ourivesariasem Leiria -, um agente dos relógi-os Tissot e dono de várias ourive-sarias, uma delas em Luanda, paraonde convenceu Beto a ir traba-lhar.

“Eu não tinha vontade de ir,“Eu não tinha vontade de ir,“Eu não tinha vontade de ir,“Eu não tinha vontade de ir,“Eu não tinha vontade de ir,nem precisava em termos fi-nem precisava em termos fi-nem precisava em termos fi-nem precisava em termos fi-nem precisava em termos fi-nanceiros. Disse ao meu pa-nanceiros. Disse ao meu pa-nanceiros. Disse ao meu pa-nanceiros. Disse ao meu pa-nanceiros. Disse ao meu pa-trão que se me desse mais 200trão que se me desse mais 200trão que se me desse mais 200trão que se me desse mais 200trão que se me desse mais 200escudos (1 euro) ficava, mas oescudos (1 euro) ficava, mas oescudos (1 euro) ficava, mas oescudos (1 euro) ficava, mas oescudos (1 euro) ficava, mas osenhor Alcino não me quis cor-senhor Alcino não me quis cor-senhor Alcino não me quis cor-senhor Alcino não me quis cor-senhor Alcino não me quis cor-tar a sorte e disse-me paratar a sorte e disse-me paratar a sorte e disse-me paratar a sorte e disse-me paratar a sorte e disse-me paraaproveitar porque era novo eaproveitar porque era novo eaproveitar porque era novo eaproveitar porque era novo eaproveitar porque era novo eera uma boa oportunidade”era uma boa oportunidade”era uma boa oportunidade”era uma boa oportunidade”era uma boa oportunidade”,conta Gilberto Santos, que antesjá tinha recusado ir trabalhar paraa Suíça.

Foi então para Luanda, em Ju-nho de 1970. Sozinho, de avião, dei-xando para trás a esposa e os doisfilhos, Gilberto, de seis anos, e Pau-lo, de dois anos, que só seguiriamviagem seis meses mais tarde.

Em Luanda conheceu vários em-pregos, até porque as solicitaçõeseram muitas. Começou na Ourive-saria Campos, mas depressa an-gariou outros clientes, arranjandoem casa relógios para várias ouri-vesarias. Uma delas, a OurivesariaBrasília, estava para fechar e odono referenciou-o para as ofici-nas da Omega e da Tissot. Era umagrande oportunidade para conhe-cer alguma maquinaria de desen-volvimento de relojoaria suíça, quesó lá podia encontrar.

Nas oficinas, geridas por um ita-liano, os processos de trabalhoeram bastante restritos. “Só se“Só se“Só se“Só se“Só sepodia arranjar dois relógiospodia arranjar dois relógiospodia arranjar dois relógiospodia arranjar dois relógiospodia arranjar dois relógiospor dia, se arranjássemos trêspor dia, se arranjássemos trêspor dia, se arranjássemos trêspor dia, se arranjássemos trêspor dia, se arranjássemos trêsera porque estavam mal arran-era porque estavam mal arran-era porque estavam mal arran-era porque estavam mal arran-era porque estavam mal arran-jados”jados”jados”jados”jados”, recorda. Mas o trabalhode Beto mereceu reconhecimentoe, apesar de só ter ficado cerca deseis meses nessa firma, foi sufici-ente para ser promovido.

Mas em 1973, três anos depoisde ter partido, regressa à entãoMetrópole (Portugal). Gaspar, um

A Relojoaria Alcino, na Rua Leão Azedo, onde Gilberto aprendeu o A Relojoaria Alcino, na Rua Leão Azedo, onde Gilberto aprendeu o A Relojoaria Alcino, na Rua Leão Azedo, onde Gilberto aprendeu o A Relojoaria Alcino, na Rua Leão Azedo, onde Gilberto aprendeu o A Relojoaria Alcino, na Rua Leão Azedo, onde Gilberto aprendeu oofícioofícioofícioofícioofício

Gilberto Santos na Ourivesaria Sebastião, onde trabalhou entre Gilberto Santos na Ourivesaria Sebastião, onde trabalhou entre Gilberto Santos na Ourivesaria Sebastião, onde trabalhou entre Gilberto Santos na Ourivesaria Sebastião, onde trabalhou entre Gilberto Santos na Ourivesaria Sebastião, onde trabalhou entre1962 e 19651962 e 19651962 e 19651962 e 19651962 e 1965

Gilberto filho, Gilberto pai e Paulo Santos. O mais velho está em Gilberto filho, Gilberto pai e Paulo Santos. O mais velho está em Gilberto filho, Gilberto pai e Paulo Santos. O mais velho está em Gilberto filho, Gilberto pai e Paulo Santos. O mais velho está em Gilberto filho, Gilberto pai e Paulo Santos. O mais velho está emInglaterra a trabalhar no mesmo ramoInglaterra a trabalhar no mesmo ramoInglaterra a trabalhar no mesmo ramoInglaterra a trabalhar no mesmo ramoInglaterra a trabalhar no mesmo ramo

O fundador da Ourivesaria Beto ao lado dos seus O fundador da Ourivesaria Beto ao lado dos seus O fundador da Ourivesaria Beto ao lado dos seus O fundador da Ourivesaria Beto ao lado dos seus O fundador da Ourivesaria Beto ao lado dos seussucessores: o filho Paulo e a nora, Fátima Santossucessores: o filho Paulo e a nora, Fátima Santossucessores: o filho Paulo e a nora, Fátima Santossucessores: o filho Paulo e a nora, Fátima Santossucessores: o filho Paulo e a nora, Fátima Santos

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

aos filhos uma profissão de que eles se orgulhamdos moços de recados da Omega,natural de Moçambique e comquem Gilberto mantinha uma rela-ção de amizade, avisou-o: “a re-“a re-“a re-“a re-“a re-volução vai rebentar em 73 ouvolução vai rebentar em 73 ouvolução vai rebentar em 73 ouvolução vai rebentar em 73 ouvolução vai rebentar em 73 ou74, vai-te embora”74, vai-te embora”74, vai-te embora”74, vai-te embora”74, vai-te embora”.

E sem avisar mais ninguém paraalém do amigo, regressou com afamília para as Caldas, em 1973, abordo do navio Pátria.

RELOJOARIA BETO NASCEUPOR IMPOSIÇÃO

Quando regressou às Caldas, aRelojoaria Alcino tinha as vagaspreenchidas, mas havia outro lo-cal para regressar. Um dos seusantigos patrões, Sebastião Cara-melo, tinha falecido em 1971. Aviúva, Maria da Luz, ficara com aloja, mas não tinha quem fizesseo trabalho de oficina, pelo que con-vidou Beto a voltar, para salva-guardar o concerto dos relógios.

Ao fim de quatro anos, em 1977,Maria da Luz ofereceu-lhe a ofici-na. Homem humilde, Beto nuncaencarou a sua profissão para láda bancada e o investimento numestabelecimento próprio não fa-zia parte dos seus planos. Mas aforma como a patroa colocou aquestão, ou aceitava ficar com aoficina, ou deixava de poder tra-balhar ali, foi o impulso necessá-rio para que nascesse a Relojoa-ria Beto.

A oficina ficava na Rua MiguelBombarda, nas traseiras da ouri-vesaria Sebastião e nem tinha por-ta, pelo que teve de se abrir umaatravés de uma janela.

O relojoeiro era proprietário eúnico funcionário da casa… até osseus filhos começarem a trabalhar.“O meu pai sempre teve a sua“O meu pai sempre teve a sua“O meu pai sempre teve a sua“O meu pai sempre teve a sua“O meu pai sempre teve a suabancada em casa e no nossobancada em casa e no nossobancada em casa e no nossobancada em casa e no nossobancada em casa e no nossodia-a-dia sempre lidámos comdia-a-dia sempre lidámos comdia-a-dia sempre lidámos comdia-a-dia sempre lidámos comdia-a-dia sempre lidámos comrelógios, estiveram sempre lárelógios, estiveram sempre lárelógios, estiveram sempre lárelógios, estiveram sempre lárelógios, estiveram sempre lána nossa infância e começá-na nossa infância e começá-na nossa infância e começá-na nossa infância e começá-na nossa infância e começá-mos desde muito cedo a me-mos desde muito cedo a me-mos desde muito cedo a me-mos desde muito cedo a me-mos desde muito cedo a me-xer, mesmo por iniciativa doxer, mesmo por iniciativa doxer, mesmo por iniciativa doxer, mesmo por iniciativa doxer, mesmo por iniciativa domeu pai”meu pai”meu pai”meu pai”meu pai”, conta Paulo Santos.

Foi aos 16 anos (Gilberto em 1980,Paulo em 1984) que os dois inicia-ram a actividade profissionalmen-te. Por opção, ambos passaram aestudar à noite - Gilberto na EscolaRaul Proença, Paulo na Rafael Bor-dalo Pinheiro - para poderem abra-çar o ofício do pai na Relojoaria Beto.

Gilberto, o filho, lembra-se de irmiúdo para a loja com o pai. “Não“Não“Não“Não“Nãobrinquei muito porque ia combrinquei muito porque ia combrinquei muito porque ia combrinquei muito porque ia combrinquei muito porque ia como meu pai para a loja, mas iao meu pai para a loja, mas iao meu pai para a loja, mas iao meu pai para a loja, mas iao meu pai para a loja, mas iacom gosto porque aquilo fas-com gosto porque aquilo fas-com gosto porque aquilo fas-com gosto porque aquilo fas-com gosto porque aquilo fas-cinava-me, queria ser comocinava-me, queria ser comocinava-me, queria ser comocinava-me, queria ser comocinava-me, queria ser comoele”ele”ele”ele”ele”.

Paulo comungava também davontade de seguir as pisadas dopai. “Reprovei de propósito um“Reprovei de propósito um“Reprovei de propósito um“Reprovei de propósito um“Reprovei de propósito umano porque o meu pai disse queano porque o meu pai disse queano porque o meu pai disse queano porque o meu pai disse queano porque o meu pai disse quese reprovasse ia estudar dese reprovasse ia estudar dese reprovasse ia estudar dese reprovasse ia estudar dese reprovasse ia estudar denoite e o que eu queria era irnoite e o que eu queria era irnoite e o que eu queria era irnoite e o que eu queria era irnoite e o que eu queria era irtrabalhar”trabalhar”trabalhar”trabalhar”trabalhar”, conta Paulo Santos.

Gilberto seguiu a especialidadedo pai - os relógios mecânicos tra-

dicionais. “Estive dois anos pra-“Estive dois anos pra-“Estive dois anos pra-“Estive dois anos pra-“Estive dois anos pra-ticamente só a ver como o meuticamente só a ver como o meuticamente só a ver como o meuticamente só a ver como o meuticamente só a ver como o meupai fazia porque é um proces-pai fazia porque é um proces-pai fazia porque é um proces-pai fazia porque é um proces-pai fazia porque é um proces-so muito demorado, estamosso muito demorado, estamosso muito demorado, estamosso muito demorado, estamosso muito demorado, estamossempre a aprender e ainda hojesempre a aprender e ainda hojesempre a aprender e ainda hojesempre a aprender e ainda hojesempre a aprender e ainda hojecontinuo”continuo”continuo”continuo”continuo”, sublinha.

Paulo também começou com osrelógios de corda, mas nessa altu-ra começaram a surgir os relógiosde pilha e foi para esses que direc-cionou a aprendizagem em formade autodidacta. “Foi por tentati-“Foi por tentati-“Foi por tentati-“Foi por tentati-“Foi por tentati-va erro, explorando relógiosva erro, explorando relógiosva erro, explorando relógiosva erro, explorando relógiosva erro, explorando relógiosestragados, fui perguntando aestragados, fui perguntando aestragados, fui perguntando aestragados, fui perguntando aestragados, fui perguntando aquem percebia de electrónicaquem percebia de electrónicaquem percebia de electrónicaquem percebia de electrónicaquem percebia de electrónicanoutras áreas, porque cursosnoutras áreas, porque cursosnoutras áreas, porque cursosnoutras áreas, porque cursosnoutras áreas, porque cursosnão havia…”não havia…”não havia…”não havia…”não havia…”, recorda.

PASSAGEM DE TESTEMUNHO

O negócio sofre, no entanto,uma grande mudança. Como a lojavivia essencialmente do conserto,a venda era muito pouco explora-da e foi-se tornando cada vez maisdifícil tirar dali rendimento paratrês pessoas.

Em 1990, Beto e Maria Antonietadivorciaram-se e relojoeiro aposen-tou-se, passando a loja aos filhos.Mas perante a impossibilidade detirar rendimento para duas famíli-as, Paulo deixa o irmão mais velhoficar com Relojoaria Beto e procu-ra outro emprego, até porque ti-nha casado nesse mesmo ano.

Apesar de mudar de ramo, Pau-lo Santos manteve-se no ofício.Em casa montou a sua própriabancada, onde, depois de um diade trabalho, aproveitava as últi-mas horas do dia para arranjar re-lógios para várias ourivesarias dacidade.

Só no Natal toda a família sevoltava a juntar na loja, altura demaior movimento, mas no acto daseparação os irmãos fizeram umpacto: “acordámos que um dia“acordámos que um dia“acordámos que um dia“acordámos que um dia“acordámos que um dianos voltaríamos a juntar na em-nos voltaríamos a juntar na em-nos voltaríamos a juntar na em-nos voltaríamos a juntar na em-nos voltaríamos a juntar na em-presa”presa”presa”presa”presa”, diz Paulo Santos.

E voltaram. Em 2000 os dois ir-mãos adquiriram as instalações daantiga Ramalho e Branco, passan-do a loja a denominar-se Ourivesa-ria Beto. Para além de manterem areparação, reforçam a componen-te da venda de artigos em ouro eprata e igualmente de relógios.Chegaram também a ter uma par-te de mediação imobiliária, que en-tretanto cessou actividade.

Hoje trabalham na loja PauloSantos e a esposa Fátima Santos -Gilberto está em Inglaterra desde2006 a fazer uma especialização emrelógios de gama alta. Beto, aos 71anos, continua em casa a fazer oque sempre fez: sentar-se à ban-cada para reparar relógios.

A Ourivesaria Beto é uma socie-dade unipessoal e em tempos jáchegou a ter dois empregados. Osseus responsáveis não quiseram di-vulgar a sua facturação anual.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected]

19391939193919391939 – Nasce Gilberto Augusto Jorge dos Santos, “Beto”, noBairro da Ponte19521952195219521952 – Com 13 anos é admitido na Relojoaria Alcino19631963196319631963 – Gilberto Santos muda-se para a Ourivesaria Sebastião19641964196419641964 – Nasce Gilberto Santos, o primeiro filho19651965196519651965 – Regressa à Relojoaria Alcino19681968196819681968 – Nasce Paulo Santos, o segundo filho19701970197019701970 – Parte para Angola, onde chega a trabalhar para aOmega e a Tissot19731973197319731973 – Regressa às Caldas para a Ourivesaria Sebastião19771977197719771977 – Gilberto Santos funda a Relojoaria Beto, em nomeindividual19801980198019801980 – Gilberto Santos, filho, inicia a sua actividade na Relo-joaria Beto19841984198419841984 – O filho mais novo, Paulo Santos, inicia também a suaactividade na Relojoaria Beto20002000200020002000 – A Relojoaria Beto passa a Ourivesaria Beto pela mãodos irmãos Gilberto e Paulo Santos

Arranjar uma máquina é

uma satisfação enorme

Por muito simples que pareça, simplicidade é tudo o que ar-ranjar um relógio não tem. Primeiro são as características decada marca - e os fabricantes são incontáveis - e modelo, depoisa singularidade de cada avaria, o tamanho quase microscópicodas peças que é preciso substituir, por vezes com a espessura deum fio de cabelo, sendo que nos relógios antigos já nem existempeças para substituição e têm que ser feitas à mão.

Isto torna a relojoaria uma arte como tantas outras, emborasem o mesmo reconhecimento e visibilidade.

Mas, para quem arranja um relógio, ver uma peça antigadanificada voltar a ganhar vida é qualquer coisa que não tempreço. “Dá-me um prazer enorme arranjar um relógio,“Dá-me um prazer enorme arranjar um relógio,“Dá-me um prazer enorme arranjar um relógio,“Dá-me um prazer enorme arranjar um relógio,“Dá-me um prazer enorme arranjar um relógio,pela minúcia que exige, e quanto maior for a complexi-pela minúcia que exige, e quanto maior for a complexi-pela minúcia que exige, e quanto maior for a complexi-pela minúcia que exige, e quanto maior for a complexi-pela minúcia que exige, e quanto maior for a complexi-dade, maior é a vontade de abraçar o desafio”dade, maior é a vontade de abraçar o desafio”dade, maior é a vontade de abraçar o desafio”dade, maior é a vontade de abraçar o desafio”dade, maior é a vontade de abraçar o desafio”, diz Beto.

Aos 71 anos, continua a ter a mesma paixão que o levou acomeçar, há 54 anos atrás e ainda hoje é procurado pelas suasqualidades.

Arranjar um relógio requer uma grande tranquilidade, peloque, agora, é de madrugada que desenvolve a actividade. “Há“Há“Há“Há“Hámuito mais silêncio e é preciso ter um controlo muitomuito mais silêncio e é preciso ter um controlo muitomuito mais silêncio e é preciso ter um controlo muitomuito mais silêncio e é preciso ter um controlo muitomuito mais silêncio e é preciso ter um controlo muitogrande sobre os movimentos. Durante o dia basta pas-grande sobre os movimentos. Durante o dia basta pas-grande sobre os movimentos. Durante o dia basta pas-grande sobre os movimentos. Durante o dia basta pas-grande sobre os movimentos. Durante o dia basta pas-sar um carro na rua para perturbar a concentração”sar um carro na rua para perturbar a concentração”sar um carro na rua para perturbar a concentração”sar um carro na rua para perturbar a concentração”sar um carro na rua para perturbar a concentração”,explica.

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CRONOLOGIA

A relojaria é uma arte como as outras, embora sem A relojaria é uma arte como as outras, embora sem A relojaria é uma arte como as outras, embora sem A relojaria é uma arte como as outras, embora sem A relojaria é uma arte como as outras, embora semo mesmo reconhecimento e visibilidadeo mesmo reconhecimento e visibilidadeo mesmo reconhecimento e visibilidadeo mesmo reconhecimento e visibilidadeo mesmo reconhecimento e visibilidade

Ao longo de 54 anos de car-reira, Beto construiu importan-te legado como especialista derecuperação de máquinas de re-lógios. Uma arte que os filhosherdaram e que querem apro-veitar o melhor possível, atéporque hoje há muita falta deconhecimento na área e de gen-te que queira seguir a profis-são.

À Ourivesaria Beto vêm mui-tos coleccionadores arranjar osseus relógios antigos. Algunssão da região Oeste, mas tam-bém vêm clientes da zona deLisboa, onde, diz Paulo Santos,a mensagem tem passado so-bretudo no passe a palavra.

Apesar de ter criado umabase de sustentação com o co-mércio de artigos de ourivesa-ria, novos e usados, a apostana diferença faz-se pela espe-cialização no conserto de reló-gios, nomeadamente os anti-gos.

Com as marcas a chamaremcada vez mais a si o consertodos relógios, ora na fábrica, oranos agentes autorizados, “não“não“não“não“nãodão oportunidade de um re-dão oportunidade de um re-dão oportunidade de um re-dão oportunidade de um re-dão oportunidade de um re-lojoeiro como havia anteslojoeiro como havia anteslojoeiro como havia anteslojoeiro como havia anteslojoeiro como havia antesarranjar um relógio deles.arranjar um relógio deles.arranjar um relógio deles.arranjar um relógio deles.arranjar um relógio deles.Mas como existem muitosMas como existem muitosMas como existem muitosMas como existem muitosMas como existem muitosrelógios antigos, com 50, 100relógios antigos, com 50, 100relógios antigos, com 50, 100relógios antigos, com 50, 100relógios antigos, com 50, 100anos e mais, e o grande ob-anos e mais, e o grande ob-anos e mais, e o grande ob-anos e mais, e o grande ob-anos e mais, e o grande ob-jectivo desta casa é atrairjectivo desta casa é atrairjectivo desta casa é atrairjectivo desta casa é atrairjectivo desta casa é atraircoleccionadores e aprecia-coleccionadores e aprecia-coleccionadores e aprecia-coleccionadores e aprecia-coleccionadores e aprecia-dores destes relógios anti-dores destes relógios anti-dores destes relógios anti-dores destes relógios anti-dores destes relógios anti-gos para aqui consertaremgos para aqui consertaremgos para aqui consertaremgos para aqui consertaremgos para aqui consertaremas suas máquinas”as suas máquinas”as suas máquinas”as suas máquinas”as suas máquinas”, explicaPaulo Santos.

Outra especialidade é a relo-joaria de alta gama, que apesarde ser bastante rara no nossopaís, é um mercado a explorar.

Foi nesse sentido que Gilber-to tentou a sorte, em 2006. Apro-veitando a mudança da mãe,Maria Antonieta, para Londres,Gilberto teve hipótese de in-gressar numa empresa de refe-

O futuro está… no passado

Paulo Santos ainda adolescente na ourivesaria Paulo Santos ainda adolescente na ourivesaria Paulo Santos ainda adolescente na ourivesaria Paulo Santos ainda adolescente na ourivesaria Paulo Santos ainda adolescente na ourivesariado paido paido paido paido pai

rência de Inglaterra no ramoda relojoaria de alta gama,onde trabalha com “as melho-“as melho-“as melho-“as melho-“as melho-res marcas do mundo”res marcas do mundo”res marcas do mundo”res marcas do mundo”res marcas do mundo”, fri-sa. Para se ter uma ideia, Gil-berto conta que o primeiro re-lógio com que lidou foi umFrank Muller de valor superiora 210 mil euros.

Pelas suas mãos passam,igualmente, muitas outrasmarcas que em Portugal sãopraticamente desconhecidas,como a Hublot, Audemars-Pi-guet, Piaget, Rolex, Cartier,entre muitas outras. Na empre-sa inglesa, Gilberto é, aos 46anos, o funcionário mais novoreconhece a mais valia de tra-balhar e aprender com aque-les que considera os seus gran-des mestres, Eddy, de origemiraquiana, e o português JoelFerreira, referências de váriasdestas marcas.

“É uma especialização“É uma especialização“É uma especialização“É uma especialização“É uma especializaçãoque pode demorar 10 anos,que pode demorar 10 anos,que pode demorar 10 anos,que pode demorar 10 anos,que pode demorar 10 anos,todos os dias aparecem si-todos os dias aparecem si-todos os dias aparecem si-todos os dias aparecem si-todos os dias aparecem si-tuações novas”tuações novas”tuações novas”tuações novas”tuações novas”, sustenta. Naempresa, Gilberto tem forma-ção contínua com deslocaçõesfrequentes à Suíça, para apren-der mais sobre uma marca es-pecífica.

Esta é uma aprendizagemimportante para o futuro, tan-to a nível pessoal, como da em-presa. “Não existe muito este“Não existe muito este“Não existe muito este“Não existe muito este“Não existe muito estetipo de serviço em Portugal,tipo de serviço em Portugal,tipo de serviço em Portugal,tipo de serviço em Portugal,tipo de serviço em Portugal,mas um dia quando voltar,mas um dia quando voltar,mas um dia quando voltar,mas um dia quando voltar,mas um dia quando voltar,se me aparecer este tipo dese me aparecer este tipo dese me aparecer este tipo dese me aparecer este tipo dese me aparecer este tipo demarcas estarei preparado.marcas estarei preparado.marcas estarei preparado.marcas estarei preparado.marcas estarei preparado.E se não houver trabalho emE se não houver trabalho emE se não houver trabalho emE se não houver trabalho emE se não houver trabalho emPortugal, no estrangeiro háPortugal, no estrangeiro háPortugal, no estrangeiro háPortugal, no estrangeiro háPortugal, no estrangeiro hágrande solicitação porquegrande solicitação porquegrande solicitação porquegrande solicitação porquegrande solicitação porquehá uma falta enorme dehá uma falta enorme dehá uma falta enorme dehá uma falta enorme dehá uma falta enorme depessoal especializado”pessoal especializado”pessoal especializado”pessoal especializado”pessoal especializado”.

Quando Gilberto Santos ter-minar a sua formação, é von-tade do irmão, Paulo, seguirtambém esta especialização.

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Page 60: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Duas gerações transformaram a loja caldense Decor

Há 32 anos, quando ainda não se falava em empreendedorismo, Idalina Marques, nascida em 1947,ficou desempregada e resolveu transformar o seu talento para a costura para num negócio próprio.Em 1978 abriu a primeira loja na rua Henriques Sales, com o nome comercial Decorações Lina. Era umespaço pequeno, com cerca de 25 m2, onde Idalina Marques recebia os clientes. A maior parte dotrabalho de costura era feito em casa. Em 1984 mudou de instalações para a actual loja na rua MiguelBombarda.Em 2006 Idalina Marques deu lugar ao seu filho mais novo, Ricardo Marques, então com 30 anos, quealiou à sua formação nesta área uma vontade de fazer algo mais moderno criando a DL Ambientes.“Quisemos aproveitar o ‘know-how’ das Decorações Lina e criar algo de diferente, maisQuisemos aproveitar o ‘know-how’ das Decorações Lina e criar algo de diferente, maisQuisemos aproveitar o ‘know-how’ das Decorações Lina e criar algo de diferente, maisQuisemos aproveitar o ‘know-how’ das Decorações Lina e criar algo de diferente, maisQuisemos aproveitar o ‘know-how’ das Decorações Lina e criar algo de diferente, maisactual e ajustado às necessidades do mercadoactual e ajustado às necessidades do mercadoactual e ajustado às necessidades do mercadoactual e ajustado às necessidades do mercadoactual e ajustado às necessidades do mercado”, explicou Ricardo Marques.A DL Ambientes tem uma actividade mais abrangente do que apenas a decoração de interiores,realizando também serviços de decoração para eventos, virtual merchadising (dinamização deinteriores para espaços comerciais) e vitrinismo, entre outros.Na empresa, para além de Ricardo Marques, trabalham mais quatro funcionários no atendimento,costura e entregas. A sua mãe continua também a ajudá-lo, mas não é funcionária da empresa. A DLAmbiente conta ainda com um atelier de costura e armazém

DA COSTURA À DECORAÇÃO

Idalina Marques nasceu nafreguesia de Alvorninha em 1947,casou com Armindo Marques em1969 e está a viver nas Caldas daRainha há 38 anos. Já fazia tra-balhos em costura quando come-çou a trabalhar na fábrica Mat-tel em Cristovão. “A partir dosA partir dosA partir dosA partir dosA partir dos14 anos comecei a fazer tra-14 anos comecei a fazer tra-14 anos comecei a fazer tra-14 anos comecei a fazer tra-14 anos comecei a fazer tra-balhos de costura porque abalhos de costura porque abalhos de costura porque abalhos de costura porque abalhos de costura porque aminha mãe também faziaminha mãe também faziaminha mãe também faziaminha mãe também faziaminha mãe também fazia”,contou.

Como era costureira, a sua in-tenção era fazer bonecas naquelaempresa, mas entretanto a Mat-tel passou a ser Euroaudio, dedi-cando-se à produção de casse-tes pelo que Idalina Marquesacabou por trabalhar num ramoque não esperava.

Doze anos depois, em 1976,saiu da empresa quando foramnegociadas as indemnizaçõespara cessão de contratos. Comesse dinheiro decidiu abrir umaloja em 1978. “Sempre gosteiSempre gosteiSempre gosteiSempre gosteiSempre gosteide trabalhar em costura e foide trabalhar em costura e foide trabalhar em costura e foide trabalhar em costura e foide trabalhar em costura e foiuma boa oportunidadeuma boa oportunidadeuma boa oportunidadeuma boa oportunidadeuma boa oportunidade”, con-ta. O seu marido, que era empre-gado da Rol, incentivou-a nesseprojecto.

Uns anos antes, quando se ca-sara, Idalina Marques fez os cor-tinados para a sua casa, um tra-balho que terá sido tão perfeitoque suscitou o entusiasmo deamigas e familiares. Ainda an-tes de abrir a loja foi contratadapara fazer os cortinados e as col-chas da Pousada do Castelo emÓbidos. “Mas não gostava deMas não gostava deMas não gostava deMas não gostava deMas não gostava deficar em casa a trabalharficar em casa a trabalharficar em casa a trabalharficar em casa a trabalharficar em casa a trabalhar” epreferiu ter um estabelecimentocom porta aberta, o que viria aacontecer em 1978.

Foram anos e anos a costurare a trabalhar directamente comos seus clientes, muitos dos quaisainda se mantêm. “Já fiz corti-Já fiz corti-Já fiz corti-Já fiz corti-Já fiz corti-nados para os pais, para osnados para os pais, para osnados para os pais, para osnados para os pais, para osnados para os pais, para osfilhos e já estou a fazer parafilhos e já estou a fazer parafilhos e já estou a fazer parafilhos e já estou a fazer parafilhos e já estou a fazer paraos netosos netosos netosos netosos netos”, contou.

Através do seu trabalho acom-panhou muitos casamentos por-que, como diz o ditado popular,“quem casa quer casa”. Agorahá menos casamentos “e os jo-e os jo-e os jo-e os jo-e os jo-vens também não têm muitovens também não têm muitovens também não têm muitovens também não têm muitovens também não têm muitodinheiro para gastar na de-dinheiro para gastar na de-dinheiro para gastar na de-dinheiro para gastar na de-dinheiro para gastar na de-coraçãocoraçãocoraçãocoraçãocoração”.

Na década de 90 tiveram tam-bém durante alguns anos umaloja na rua Raul Proença, que en-tretanto encerrou.

Idalina Marques acha que mui-to mudou neste ramo nos últi-mos anos. “Eu tinha sempreEu tinha sempreEu tinha sempreEu tinha sempreEu tinha sempremuita variedade de produtosmuita variedade de produtosmuita variedade de produtosmuita variedade de produtosmuita variedade de produtospara as pessoas poderem es-para as pessoas poderem es-para as pessoas poderem es-para as pessoas poderem es-para as pessoas poderem es-colhercolhercolhercolhercolher” e actualmente utilizam-se mais os catálogos. Do que nãoprescinde é da qualidade da con-fecção pois “sempre tivemossempre tivemossempre tivemossempre tivemossempre tivemosuma confecção muito boa euma confecção muito boa euma confecção muito boa euma confecção muito boa euma confecção muito boa econtinuamos a mantê-lacontinuamos a mantê-lacontinuamos a mantê-lacontinuamos a mantê-lacontinuamos a mantê-la”, diz.

Os gostos dos clientes é quetambém mudaram. “Antiga-Antiga-Antiga-Antiga-Antiga-mente fazia-se aqueles folhi-mente fazia-se aqueles folhi-mente fazia-se aqueles folhi-mente fazia-se aqueles folhi-mente fazia-se aqueles folhi-nhos e pregas nos cortinados.nhos e pregas nos cortinados.nhos e pregas nos cortinados.nhos e pregas nos cortinados.nhos e pregas nos cortinados.Acabava por ser mais com-Acabava por ser mais com-Acabava por ser mais com-Acabava por ser mais com-Acabava por ser mais com-plicado porque era tudo mui-plicado porque era tudo mui-plicado porque era tudo mui-plicado porque era tudo mui-plicado porque era tudo mui-to mais trabalhadoto mais trabalhadoto mais trabalhadoto mais trabalhadoto mais trabalhado”, recorda.

Os tecidos mais escolhidos tam-bém eram outros, apesar daseda continuar a ter muita pro-cura “mas com padrões dife-mas com padrões dife-mas com padrões dife-mas com padrões dife-mas com padrões dife-rentesrentesrentesrentesrentes”.

Embora não tenha um vínculoprofissional à DL Ambientes “nonononono

fundo, faz tudo parte de mimfundo, faz tudo parte de mimfundo, faz tudo parte de mimfundo, faz tudo parte de mimfundo, faz tudo parte de mim”,disse Idalina Marques. A empre-sa é fruto do seu trabalho e dosseus filhos, por isso foi com sa-tisfação que viu o mais novo as-sumir o desafio de ficar à frentedo negócio de família. “É bomÉ bomÉ bomÉ bomÉ bom

vermos a continuação dovermos a continuação dovermos a continuação dovermos a continuação dovermos a continuação donosso trabalhonosso trabalhonosso trabalhonosso trabalhonosso trabalho”, afirmou.

DESDE PEQUENOA AJUDAR A MÃE

O filho mais velho, Nelson

Marques, tem 39 anos e desdecriança começou a ajudar a mãe.Até há um ano e meio manteve aligação com a empresa, emboratenha criado um negócio próprioem 2006, mas actualmente estáem Angola a trabalhar no mes-

mo ramo.“A primeira recordaçãoA primeira recordaçãoA primeira recordaçãoA primeira recordaçãoA primeira recordação

que tenho é da minha mãe terque tenho é da minha mãe terque tenho é da minha mãe terque tenho é da minha mãe terque tenho é da minha mãe terficado desempregada da an-ficado desempregada da an-ficado desempregada da an-ficado desempregada da an-ficado desempregada da an-tiga Mattel e ter começado atiga Mattel e ter começado atiga Mattel e ter começado atiga Mattel e ter começado atiga Mattel e ter começado afazer trabalhos de costurafazer trabalhos de costurafazer trabalhos de costurafazer trabalhos de costurafazer trabalhos de costurapara várias primas que ne-para várias primas que ne-para várias primas que ne-para várias primas que ne-para várias primas que ne-

cessitassavam de cortina-cessitassavam de cortina-cessitassavam de cortina-cessitassavam de cortina-cessitassavam de cortina-dos. Começou a fazer parados. Começou a fazer parados. Começou a fazer parados. Começou a fazer parados. Começou a fazer parauma depois para outra e foiuma depois para outra e foiuma depois para outra e foiuma depois para outra e foiuma depois para outra e foievoluindo para as vizinhas,evoluindo para as vizinhas,evoluindo para as vizinhas,evoluindo para as vizinhas,evoluindo para as vizinhas,amigas, tendo ganho umaamigas, tendo ganho umaamigas, tendo ganho umaamigas, tendo ganho umaamigas, tendo ganho umacarteiras de clientescarteiras de clientescarteiras de clientescarteiras de clientescarteiras de clientes”, contouNelson Marques por escrito, atra-

vés do correio electrónico.Ainda se recorda como os cor-

tinados eram confeccionados nasala e na mesa da cozinha decasa. “A máquina de costuraA máquina de costuraA máquina de costuraA máquina de costuraA máquina de costuraficava mesmo em frente à TVficava mesmo em frente à TVficava mesmo em frente à TVficava mesmo em frente à TVficava mesmo em frente à TVe fazia um barulho horrível ae fazia um barulho horrível ae fazia um barulho horrível ae fazia um barulho horrível ae fazia um barulho horrível a

incomodar os meus dese-incomodar os meus dese-incomodar os meus dese-incomodar os meus dese-incomodar os meus dese-nhos animadosnhos animadosnhos animadosnhos animadosnhos animados”, brinca.

Já quando a mãe trabalhavaem casa começou a ajudá-la.“Segurava nos tecidos paraSegurava nos tecidos paraSegurava nos tecidos paraSegurava nos tecidos paraSegurava nos tecidos paramedir, aturava o barulho damedir, aturava o barulho damedir, aturava o barulho damedir, aturava o barulho damedir, aturava o barulho damaquina e as pessoas emmaquina e as pessoas emmaquina e as pessoas emmaquina e as pessoas emmaquina e as pessoas emcasacasacasacasacasa”, escreveu.

Só a partir dos 16 anos, em1986, passou a ser funcionário atempo inteiro da empresa, masantes disso chegou a fazer al-guns serviços de montagem etambém tratava dos recados,como o seu irmão mais novo vi-ria a fazer.

Na loja fez de tudo, do atendi-mento ao público, à ajuda na es-colha dos tecidos, mas tambémencomendas, execução das mon-tras e consultoria, decoração earquitectura de interiores. Feztambém escolha de colecções ecolaborou na administração daloja.

Nelson Marques recorda-se daforma como o negócio foi pros-perarando ao longo dos anos.“De início as clientes compra-De início as clientes compra-De início as clientes compra-De início as clientes compra-De início as clientes compra-vam os tecidos e a minha mãevam os tecidos e a minha mãevam os tecidos e a minha mãevam os tecidos e a minha mãevam os tecidos e a minha mãeapenas fornecia a mão deapenas fornecia a mão deapenas fornecia a mão deapenas fornecia a mão deapenas fornecia a mão deobra o gosto e ideias, e pe-obra o gosto e ideias, e pe-obra o gosto e ideias, e pe-obra o gosto e ideias, e pe-obra o gosto e ideias, e pe-quenos materiaisquenos materiaisquenos materiaisquenos materiaisquenos materiais”.

Ainda se lembora do dia dainauguração da loja na rua Mi-guel Bombarda quando, depoisde trabalhar até de madrugada,deu por ele, descalço, a empur-rar o carro porque o automóvelficou sem combustível e não ha-via postos de abastecimentoabertos. “Recordo tambémRecordo tambémRecordo tambémRecordo tambémRecordo tambémque os materiais executadosque os materiais executadosque os materiais executadosque os materiais executadosque os materiais executadosde grande volume, cortina-de grande volume, cortina-de grande volume, cortina-de grande volume, cortina-de grande volume, cortina-dos, colchas e sanefas às ve-dos, colchas e sanefas às ve-dos, colchas e sanefas às ve-dos, colchas e sanefas às ve-dos, colchas e sanefas às ve-zes com três de comprimen-zes com três de comprimen-zes com três de comprimen-zes com três de comprimen-zes com três de comprimen-to, eram transportadas numto, eram transportadas numto, eram transportadas numto, eram transportadas numto, eram transportadas numFiat 127Fiat 127Fiat 127Fiat 127Fiat 127”, lembrou.

A mãe recorda-se também dosucesso obtido pelo trabalho queNelson Marques fez na decora-ção da albergaria Josefad’Óbidos.

“Ajudei a criar e crescer aAjudei a criar e crescer aAjudei a criar e crescer aAjudei a criar e crescer aAjudei a criar e crescer aloja, como braço direito daloja, como braço direito daloja, como braço direito daloja, como braço direito daloja, como braço direito daminha mãe, tendo uma gran-minha mãe, tendo uma gran-minha mãe, tendo uma gran-minha mãe, tendo uma gran-minha mãe, tendo uma gran-de parte do meu suor e dedi-de parte do meu suor e dedi-de parte do meu suor e dedi-de parte do meu suor e dedi-de parte do meu suor e dedi-cação, onde cresci como ho-cação, onde cresci como ho-cação, onde cresci como ho-cação, onde cresci como ho-cação, onde cresci como ho-memmemmemmemmem”, concluiu.

Em Angola, Nelson Marquestrabalha actualmente na empre-sa de produtos de interiores“Pêra Angola”, como técnico es-pecialista em fabricação e mon-tagem de estores de rolo e deco-ração de interiores.

FILHO MAIS NOVOCONTINUOU O NEGÓCIO

Nascido em 1976, o filho maisnovo, Ricardo Marques, ainda serecorda do primeiro estabeleci-mento comercial da mãe na ruaHenriques Sales. “Lembro-meLembro-meLembro-meLembro-meLembro-mede um banco que ainda temosde um banco que ainda temosde um banco que ainda temosde um banco que ainda temosde um banco que ainda temos

Armindo e Idalina Marques com os filhos, Nelson e Ricardo (ao colo) no Jardim Zoológico em 1977. Actualmente o Armindo e Idalina Marques com os filhos, Nelson e Ricardo (ao colo) no Jardim Zoológico em 1977. Actualmente o Armindo e Idalina Marques com os filhos, Nelson e Ricardo (ao colo) no Jardim Zoológico em 1977. Actualmente o Armindo e Idalina Marques com os filhos, Nelson e Ricardo (ao colo) no Jardim Zoológico em 1977. Actualmente o Armindo e Idalina Marques com os filhos, Nelson e Ricardo (ao colo) no Jardim Zoológico em 1977. Actualmente ofilho mais novo dirige a empresa fundada pela mãe em 1978.filho mais novo dirige a empresa fundada pela mãe em 1978.filho mais novo dirige a empresa fundada pela mãe em 1978.filho mais novo dirige a empresa fundada pela mãe em 1978.filho mais novo dirige a empresa fundada pela mãe em 1978.

Idalina Marques nos anos sessenta quando trabalhava na antiga Mattel e anos mais tarde quando já era Idalina Marques nos anos sessenta quando trabalhava na antiga Mattel e anos mais tarde quando já era Idalina Marques nos anos sessenta quando trabalhava na antiga Mattel e anos mais tarde quando já era Idalina Marques nos anos sessenta quando trabalhava na antiga Mattel e anos mais tarde quando já era Idalina Marques nos anos sessenta quando trabalhava na antiga Mattel e anos mais tarde quando já eraproprietária do seu próprio negócioproprietária do seu próprio negócioproprietária do seu próprio negócioproprietária do seu próprio negócioproprietária do seu próprio negócio

Page 61: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

rações Lina em DL Ambientes

e do balcão. No atelier eme do balcão. No atelier eme do balcão. No atelier eme do balcão. No atelier eme do balcão. No atelier emcasa eu brincava com os te-casa eu brincava com os te-casa eu brincava com os te-casa eu brincava com os te-casa eu brincava com os te-cidos e a minha mãe ralhavacidos e a minha mãe ralhavacidos e a minha mãe ralhavacidos e a minha mãe ralhavacidos e a minha mãe ralhavacomigocomigocomigocomigocomigo”, recordou.

Os primeiros trabalhos que fezpara a mãe, a partir dos 12 anos,foram recados, como ir ao bancoou buscar linhas. “Mesmo du-Mesmo du-Mesmo du-Mesmo du-Mesmo du-rante as aulas conseguiarante as aulas conseguiarante as aulas conseguiarante as aulas conseguiarante as aulas conseguiaconciliar os estudos e as brin-conciliar os estudos e as brin-conciliar os estudos e as brin-conciliar os estudos e as brin-conciliar os estudos e as brin-cadeiras com algum trabalhocadeiras com algum trabalhocadeiras com algum trabalhocadeiras com algum trabalhocadeiras com algum trabalhona lojana lojana lojana lojana loja”, contou Ricardo Mar-ques. “Os meus pais sempreOs meus pais sempreOs meus pais sempreOs meus pais sempreOs meus pais sempreme educaram que todos ti-me educaram que todos ti-me educaram que todos ti-me educaram que todos ti-me educaram que todos ti-nham de contribuir para onham de contribuir para onham de contribuir para onham de contribuir para onham de contribuir para obem-estar da famíliabem-estar da famíliabem-estar da famíliabem-estar da famíliabem-estar da família”.

Quando era mais novo Ricar-do Marques dizia sempre que oseu futuro não seria na loja dedecorações, mas alguns anosmais tarde descobriu que a suavocação estava nesta activida-de. “Eu dizia sempre que aEu dizia sempre que aEu dizia sempre que aEu dizia sempre que aEu dizia sempre que adecoração era para as mu-decoração era para as mu-decoração era para as mu-decoração era para as mu-decoração era para as mu-lheres e que não tinha nadalheres e que não tinha nadalheres e que não tinha nadalheres e que não tinha nadalheres e que não tinha nadaa ver comigo, mas depois co-a ver comigo, mas depois co-a ver comigo, mas depois co-a ver comigo, mas depois co-a ver comigo, mas depois co-mecei a descobrir que gosta-mecei a descobrir que gosta-mecei a descobrir que gosta-mecei a descobrir que gosta-mecei a descobrir que gosta-va desta áreava desta áreava desta áreava desta áreava desta área”, contou. Primei-ro interessou-se pelo vitrinismo,ao fazer a decoração da montrada loja. “Eram umas brinca-Eram umas brinca-Eram umas brinca-Eram umas brinca-Eram umas brinca-deiras, mas recebia elogiosdeiras, mas recebia elogiosdeiras, mas recebia elogiosdeiras, mas recebia elogiosdeiras, mas recebia elogiosdos clientesdos clientesdos clientesdos clientesdos clientes”, disse.

Acabou por seguir a área deArtes na Escola Secundária RaulProença e depois de concluído o12º ano, em 1996, cumpriu o ser-viço militar obrigatório e acaboupor ficar no Exército durante umano. “Fui para lá contrariado,Fui para lá contrariado,Fui para lá contrariado,Fui para lá contrariado,Fui para lá contrariado,mas depois cheguei à conclu-mas depois cheguei à conclu-mas depois cheguei à conclu-mas depois cheguei à conclu-mas depois cheguei à conclu-são de que até gostava da-são de que até gostava da-são de que até gostava da-são de que até gostava da-são de que até gostava da-quiloquiloquiloquiloquilo”, referiu. Como era o con-dutor de um oficial e estava emLisboa, confessa que gostou da-quela vida durante algum tem-po. “Foi uma altura da minhaFoi uma altura da minhaFoi uma altura da minhaFoi uma altura da minhaFoi uma altura da minhavida em que precisava mes-vida em que precisava mes-vida em que precisava mes-vida em que precisava mes-vida em que precisava mes-mo de sair das Caldas e demo de sair das Caldas e demo de sair das Caldas e demo de sair das Caldas e demo de sair das Caldas e deconhecer outras realidadesconhecer outras realidadesconhecer outras realidadesconhecer outras realidadesconhecer outras realidades”,disse.

“Já desde a minha adoles-Já desde a minha adoles-Já desde a minha adoles-Já desde a minha adoles-Já desde a minha adoles-cência gostava de ir com oscência gostava de ir com oscência gostava de ir com oscência gostava de ir com oscência gostava de ir com osmeus amigos a Lisboa. Apa-meus amigos a Lisboa. Apa-meus amigos a Lisboa. Apa-meus amigos a Lisboa. Apa-meus amigos a Lisboa. Apa-nhávamos o comboio até aonhávamos o comboio até aonhávamos o comboio até aonhávamos o comboio até aonhávamos o comboio até ao

Rossio e íamos até às Amo-Rossio e íamos até às Amo-Rossio e íamos até às Amo-Rossio e íamos até às Amo-Rossio e íamos até às Amo-reirasreirasreirasreirasreiras”, recordou.

O facto de ser motorista deum coronel do Exército tambémfoi vantajoso. “Era uma vidaEra uma vidaEra uma vidaEra uma vidaEra uma vidasanta. Ia buscá-lo a casa esanta. Ia buscá-lo a casa esanta. Ia buscá-lo a casa esanta. Ia buscá-lo a casa esanta. Ia buscá-lo a casa elevá-los às reuniões. Tinhalevá-los às reuniões. Tinhalevá-los às reuniões. Tinhalevá-los às reuniões. Tinhalevá-los às reuniões. Tinhaum horário e ordenado fixoum horário e ordenado fixoum horário e ordenado fixoum horário e ordenado fixoum horário e ordenado fixo”,comentou.

No entanto, rapidamente che-gou à conclusão de que não eraesta a vida que queria e decidiusair da vida militar para apostarna sua própria formação.

Em 2001 concluiu o curso deespecialização profissional de vi-trinismo e visual merchandisingna Escola de Comércio de Lisboae foi estagiar para o grupo ElCorte Inglés em Madrid.

No final desse ano regressoua Portugal para colaborar naabertura do El Corte Inglés deLisboa. “O estágio que fiz emO estágio que fiz emO estágio que fiz emO estágio que fiz emO estágio que fiz emEspanha era para fazer par-Espanha era para fazer par-Espanha era para fazer par-Espanha era para fazer par-Espanha era para fazer par-te da primeira equipa da lojate da primeira equipa da lojate da primeira equipa da lojate da primeira equipa da lojate da primeira equipa da lojaque viria a abrir em Portu-que viria a abrir em Portu-que viria a abrir em Portu-que viria a abrir em Portu-que viria a abrir em Portu-galgalgalgalgal”, explicou. Quando regres-sou a Portugal ficou a morar nasCaldas e fazia a viagem de ida evolta para Lisboa todos os dias.

Só trabalhou naquela empre-sa espanhola durante três me-ses, porque em 2002 teve umaproposta para abrir uma loja dedecoração de interiores em Lis-boa, perto da avenida de Roma.“Queria poder ter a possibili-Queria poder ter a possibili-Queria poder ter a possibili-Queria poder ter a possibili-Queria poder ter a possibili-dade de fazer um trabalhodade de fazer um trabalhodade de fazer um trabalhodade de fazer um trabalhodade de fazer um trabalhomais criativo e por isso acei-mais criativo e por isso acei-mais criativo e por isso acei-mais criativo e por isso acei-mais criativo e por isso acei-tei o desafiotei o desafiotei o desafiotei o desafiotei o desafio”, disse.

Na loja de decorações Inter-fusões (entretanto encerrada)acabou por ter a certeza de queo gosto pela decoração “está noestá noestá noestá noestá nosanguesanguesanguesanguesangue”.

DAS DECORAÇÕES LINA PARADL AMBIENTES

Em 2006 Ricardo Marques cor-responde a um pedido da mãe,que não queria continuar o ne-gócio, e aposta na reformulaçãoda empresa, que passou a ter a

designação de DL Ambientes (oDL é de Decorações Lina). “Qui-Qui-Qui-Qui-Qui-semos manter a identidade esemos manter a identidade esemos manter a identidade esemos manter a identidade esemos manter a identidade ecaracterísticas que tínhamoscaracterísticas que tínhamoscaracterísticas que tínhamoscaracterísticas que tínhamoscaracterísticas que tínhamosaté aquiaté aquiaté aquiaté aquiaté aqui”, explicou o empresá-rio.

Em substituição da Decora-ções Lina (que funcionava emnome individual) Ricardo Mar-ques criou a Mind.Room - Ambi-entes Personalizados, Unipesso-al Lda, com um capital social de5000 euros, do qual é o único só-cio. A mãe continua a apoiá-lo,mas é agora o filho mais novoquem assume a gestão da em-presa.

“A minha mãe estava can-A minha mãe estava can-A minha mãe estava can-A minha mãe estava can-A minha mãe estava can-sada de toda aquela activi-sada de toda aquela activi-sada de toda aquela activi-sada de toda aquela activi-sada de toda aquela activi-dade da loja, mas ainda con-dade da loja, mas ainda con-dade da loja, mas ainda con-dade da loja, mas ainda con-dade da loja, mas ainda con-tinua a ajudar-me muitotinua a ajudar-me muitotinua a ajudar-me muitotinua a ajudar-me muitotinua a ajudar-me muito”, ex-plicou. Idalina Marques disse-lheque gostaria que um dos filhosficasse à frente do negócio, por-que senão iria encerrar a loja eRicardo achou por bem voltarpara as Caldas.

Em 2006 Ricardo Marques ain-da era sócio da loja de decora-ção Interfusões, tendo acumula-do a gestão dos dois estabeleci-mentos durante seis meses.

Actualmente está apenas àfrente da loja das Caldas, mas étambém, desde há sete anos,formador de vitrinismo e visualmerchadising na Escola de Co-mércio de Lisboa.

“Eu sentia que a loja da mi-Eu sentia que a loja da mi-Eu sentia que a loja da mi-Eu sentia que a loja da mi-Eu sentia que a loja da mi-nha mãe estava a precisar denha mãe estava a precisar denha mãe estava a precisar denha mãe estava a precisar denha mãe estava a precisar deuma grande mudança por-uma grande mudança por-uma grande mudança por-uma grande mudança por-uma grande mudança por-que estava a ficar desajusta-que estava a ficar desajusta-que estava a ficar desajusta-que estava a ficar desajusta-que estava a ficar desajusta-da em relação ao que são asda em relação ao que são asda em relação ao que são asda em relação ao que são asda em relação ao que são asnecessidades do consumidornecessidades do consumidornecessidades do consumidornecessidades do consumidornecessidades do consumidoractual na decoração de inte-actual na decoração de inte-actual na decoração de inte-actual na decoração de inte-actual na decoração de inte-rioresrioresrioresrioresriores”, referiu Ricardo Marques.

Sempre que vinha de Lisboa evisitava a loja da mãe, achavaque era preciso fazer algo de di-ferente, porque senão o futuronão seria risonho.

Depois de obras de remodela-ção e já com nova imagem, dei-xaram de apenas ter vocaçãopara a área têxtil e passaram a

ter projectos de decoração inte-grais, englobando o mobiliário,papéis de parede, iluminação eoutros elementos.

“Nós fazemos um serviçoNós fazemos um serviçoNós fazemos um serviçoNós fazemos um serviçoNós fazemos um serviçode consultoria em que o cli-de consultoria em que o cli-de consultoria em que o cli-de consultoria em que o cli-de consultoria em que o cli-ente diz-nos o que quer e nósente diz-nos o que quer e nósente diz-nos o que quer e nósente diz-nos o que quer e nósente diz-nos o que quer e nósdesenvolvemos um projectodesenvolvemos um projectodesenvolvemos um projectodesenvolvemos um projectodesenvolvemos um projectointegral. No caso de o clienteintegral. No caso de o clienteintegral. No caso de o clienteintegral. No caso de o clienteintegral. No caso de o clientepreferir, esse projecto podepreferir, esse projecto podepreferir, esse projecto podepreferir, esse projecto podepreferir, esse projecto podeser feito por fases e não todoser feito por fases e não todoser feito por fases e não todoser feito por fases e não todoser feito por fases e não todode uma só vezde uma só vezde uma só vezde uma só vezde uma só vez”, explicou. Tudopode ser escolhido através de ca-tálogos, desde a mobília aosacessórios. Essa é a parte quemais gosta na sua actividade pro-fissional. “Eu gosto mesmo éEu gosto mesmo éEu gosto mesmo éEu gosto mesmo éEu gosto mesmo éde criarde criarde criarde criarde criar”, revelou.

OS AROMAS DA CASA

Recentemente criaram umanova marca, a Aroma Living, de-dicada aos aromas e fragrânciaspara a casa, desde as velas aosambientadores, mas também pa-pel de forro de gavetas com aro-ma e sabonetes da Saboaria Por-tuguesa. “Nós queremos queNós queremos queNós queremos queNós queremos queNós queremos quetudo o que esteja dentro datudo o que esteja dentro datudo o que esteja dentro datudo o que esteja dentro datudo o que esteja dentro dacasa tenha sempre um bomcasa tenha sempre um bomcasa tenha sempre um bomcasa tenha sempre um bomcasa tenha sempre um bomaromaaromaaromaaromaaroma”, adiantou Ricardo Mar-ques, que considera muito im-portante esta componente nãosó em residências, mas tambémem estabelecimentos comerci-ais. “É importante que ao en-É importante que ao en-É importante que ao en-É importante que ao en-É importante que ao en-trar num espaço, além dotrar num espaço, além dotrar num espaço, além dotrar num espaço, além dotrar num espaço, além docheiro a limpo, exista um aro-cheiro a limpo, exista um aro-cheiro a limpo, exista um aro-cheiro a limpo, exista um aro-cheiro a limpo, exista um aro-ma agradávelma agradávelma agradávelma agradávelma agradável”, disse.

O empresário tem procuradosempre inovar, tendo tambémsensibilidade ambiental. Porexemplo, os produtos mais pe-quenos que sejam adquiridos naslojas podem ser embrulhadoscom pequenos sacos confeccio-nados no atelier com sobras detecido. “Reutilizamos as so-“Reutilizamos as so-“Reutilizamos as so-“Reutilizamos as so-“Reutilizamos as so-bras que não serviriam parabras que não serviriam parabras que não serviriam parabras que não serviriam parabras que não serviriam paranada, aproveitando o nossonada, aproveitando o nossonada, aproveitando o nossonada, aproveitando o nossonada, aproveitando o nossoatelier de costura especializa-atelier de costura especializa-atelier de costura especializa-atelier de costura especializa-atelier de costura especializa-do”do”do”do”do”, explicou.

Ricardo Marques defende areciclagem de materiais, sempre

que com isso se consigam tam-bém bons resultados em termosestéticos. Também por isso re-centemente contribuíram com al-gumas peças de decoração parao projecto Olha-te, que tem comoobjectivo promover actividadespara doentes oncológicos. “Deu-Deu-Deu-Deu-Deu-me muito prazer saber queme muito prazer saber queme muito prazer saber queme muito prazer saber queme muito prazer saber queaqueles produtos que esta-aqueles produtos que esta-aqueles produtos que esta-aqueles produtos que esta-aqueles produtos que esta-vam arrumados a um cantovam arrumados a um cantovam arrumados a um cantovam arrumados a um cantovam arrumados a um cantono armazém vão ganharno armazém vão ganharno armazém vão ganharno armazém vão ganharno armazém vão ganharvidavidavidavidavida”.

Desde a reformulação realiza-da em 2006 o mercado da decora-ção de interiores tem tido tam-bém várias evoluções e RicardoMarques procura acompanhar asprincipais tendências. Começama existir cada vez mais produtosespecíficos e até os designers demoda começam a ter a sua pró-pria linha de decoração.

A carteira de clientes (cercade 2000) tem crescido também porcausa dos estrangeiros que com-pram casa na região. A firma dátrabalho a cinco pessoas, entreeles Ricardo Marques (que é ge-rente), duas costureiras, uma co-mercial e uma técnica de monta-gens. O responsável não divul-gou o volume de vendas da em-presa.

A DL Ambientes tem parceriascom empresas de materiais daconstrução para projectos “cha-

ve na mão” e imobiliárias. “Cri-Cri-Cri-Cri-Cri-ámos muitas sinergias e issoámos muitas sinergias e issoámos muitas sinergias e issoámos muitas sinergias e issoámos muitas sinergias e issotraz bons resultadostraz bons resultadostraz bons resultadostraz bons resultadostraz bons resultados”, defen-deu.

A crise económica trouxe tam-bém algumas condicionantes aonegócio, apesar do empresárionão se queixar de falta de tra-balhos. “As pessoas sentem-As pessoas sentem-As pessoas sentem-As pessoas sentem-As pessoas sentem-se um pouco retraídas por-se um pouco retraídas por-se um pouco retraídas por-se um pouco retraídas por-se um pouco retraídas por-que não são artigos de pri-que não são artigos de pri-que não são artigos de pri-que não são artigos de pri-que não são artigos de pri-meira necessidade, masmeira necessidade, masmeira necessidade, masmeira necessidade, masmeira necessidade, mascomo cada vez vivemos maiscomo cada vez vivemos maiscomo cada vez vivemos maiscomo cada vez vivemos maiscomo cada vez vivemos maistempo nas nossas casas,tempo nas nossas casas,tempo nas nossas casas,tempo nas nossas casas,tempo nas nossas casas,procuramos mais confortoprocuramos mais confortoprocuramos mais confortoprocuramos mais confortoprocuramos mais conforto”,referiu.

Por outro lado, teme o quepoderá acontecer com o aumen-to do IVA em 2011. “Até é visí-Até é visí-Até é visí-Até é visí-Até é visí-vel o facto de haver clientesvel o facto de haver clientesvel o facto de haver clientesvel o facto de haver clientesvel o facto de haver clientesque estão a comprar agoraque estão a comprar agoraque estão a comprar agoraque estão a comprar agoraque estão a comprar agorapor causa do aumento dopor causa do aumento dopor causa do aumento dopor causa do aumento dopor causa do aumento doIVAIVAIVAIVAIVA”, comentou.

Começaram também a teruma maior concorrência porparte das grandes superfícies,que vendem alguns dos produ-tos comercializados pela DLAmbientes. “Isso também nosIsso também nosIsso também nosIsso também nosIsso também nosobriga a apostar ainda maisobriga a apostar ainda maisobriga a apostar ainda maisobriga a apostar ainda maisobriga a apostar ainda maisna qualidadena qualidadena qualidadena qualidadena qualidade”, concluiu, sali-entando que encara sempre asua vida de forma positiva.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

Mãe e filhos numa exposição, em 2003, numa altura em que os três trabalhavam Mãe e filhos numa exposição, em 2003, numa altura em que os três trabalhavam Mãe e filhos numa exposição, em 2003, numa altura em que os três trabalhavam Mãe e filhos numa exposição, em 2003, numa altura em que os três trabalhavam Mãe e filhos numa exposição, em 2003, numa altura em que os três trabalhavamjuntosjuntosjuntosjuntosjuntos

Recentemente foi criada uma nova marca, a Aroma Living, dedicada aos aromas e Recentemente foi criada uma nova marca, a Aroma Living, dedicada aos aromas e Recentemente foi criada uma nova marca, a Aroma Living, dedicada aos aromas e Recentemente foi criada uma nova marca, a Aroma Living, dedicada aos aromas e Recentemente foi criada uma nova marca, a Aroma Living, dedicada aos aromas efragrâncias para a casafragrâncias para a casafragrâncias para a casafragrâncias para a casafragrâncias para a casa

19471947194719471947 – Nasce Idalina Marques1964 1964 1964 1964 1964 – Vai trabalhar na fábrica Mattel em S. Cristóvão19691969196919691969 – Casa com Armindo Marques19781978197819781978 – Abertura da loja Decorações Lina na rua Henriques Sales19841984198419841984 - Mudança de instalações para a actual loja na rua MiguelBombarda19861986198619861986 – O filho mais velho, Nelson Marques, torna-se funcionário daempresa19931993199319931993 – Ricardo Marques, o filho mais novo, torna-se também funcio-nárioDécada de 90Década de 90Década de 90Década de 90Década de 90 – Loja de cortinados na rua Raul Proença20062006200620062006 – Criação da DL Ambientes com a firma Mind.Room - AmbientesPersonalizados, Unipessoal Lda20082008200820082008 – Nelson Marques parte para Angola para trabalhar no mesmoramo2010 2010 2010 2010 2010 – É criada a marca Aroma Living

Cronologia

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

O café mais antigo da freguesia de Santo Onofre tem

À terceira foi de vez. No mun-do dos negócios nem sempre seacerta à primeira. DiamantinoCouto (1914-1978) instala-se em1935 no Bairro Além da Pontecom a mulher, Ema Pilar Leal(1923-2006) e arrenda uma casano Largo Frederico Ferreira Pin-to Bastos (à época Largo daMina) para montar a sua barbe-aria. A coisa não resultou e cin-co anos depois abre uma taber-ninha no mesmo espaço. Mas ta-bernas já havia muitas nas Cal-das e em 1945 Diamantino arris-ca transformar o seu estabele-cimento num café.

Para a época pareceu uma de-cisão um pouco arrojada, mas averdade é que não havia nadado género naquilo que é hoje afreguesia de Sto. Onofre e o CaféBordalo acabou por se revelarum sucesso. O próprio nome foiescolhido num tempo em queRafael Bordalo Pinheiro não eraa figura tão conhecida e estu-dada como hoje. Resultou deuma coincidência: Zé do Coito,

o pai do jovem barbeiro e agoradono de um café, tinha traba-lhado na fábrica de faianças deBordalo e de lá trouxera um bus-to do artista que ainda hoje fi-gura numa parede do café e queesteve na origem do seu nome.

O casal Diamantino e Ema

acabaram assim por se iniciarnuma actividade que hoje já vaina terceira geração. Ou na quar-ta, se considerarmos que os bis-netos João, de 13 anos, e a Joa-na, de sete, também já ajudama tirar uns cafés e a limpar asmesas no velho - mas já por

duas vezes remodelado - CaféBordalo.

Apesar do sucesso do café,Ema Pilar Leal, descendente deespanhóis e nascida justamen-te em S. Bartolomeu dos Gale-gos (Lourinhã), trabalha nos bal-neários do Hospital Termal e

ajuda o marido no negócio, subs-tituindo-o quando este vai paraos treinos. Diamantino joga fu-tebol. É jogador do SportingClub das Caldas e mais tarde doCaldas Sport Club, onde fez umacarreira que ainda hoje é recor-dada.

Em 1940 nasce o único filhodo casal. Aduíno Manuel Leal doCoito, hoje com 70 anos, cresceno café que era também a suacasa. Frequenta a escola primá-ria na antiga Delegação Escolar(perto do actual Vivaci) e ainda“inaugura”, como aluno, a es-

cola primária do Bairro da Pon-te. Emergindo de uma famíliaremediada, não se fica pela 4ªclasse e prossegue os estudos,à noite, na Escola Industrial eComercial das Caldas da Rai-nha, no edifício que é hoje o doConselho de Administração do

Centro Hospitalar, mas acabapor não concluir o curso Comer-cial.

“Por causa disso só fui“Por causa disso só fui“Por causa disso só fui“Por causa disso só fui“Por causa disso só fuicabo na tropa, quando po-cabo na tropa, quando po-cabo na tropa, quando po-cabo na tropa, quando po-cabo na tropa, quando po-dia ter sido furriel”dia ter sido furriel”dia ter sido furriel”dia ter sido furriel”dia ter sido furriel”, diz Aduí-no Coito. Mas na altura já tra-balhava, sentia-se na obrigação

de ajudar os pais no café e tam-bém começara a namorar cedo,aos 17 anos, com uma jovem cal-dense, Manuela Silvestre (1942-2002), com quem viria a casar. Ocomércio foi quase sempre a suaactividade: primeiro na loja deroupa de José Luís Campos (na

Praça 5 de Outubro), depois naNobela (Rua das Montras), a se-guir na Casa Ramiro e mais tar-de, como administrativo, noHospital Termal, onde tambémtrabalhava a sua mãe.

Até que em Janeiro de 1961 échamado para a tropa. Assentapraça em Castelo Branco e seismeses depois está a bordo doVera Cruz a caminho de Angola.“Andei debaixo de fogo, sim”“Andei debaixo de fogo, sim”“Andei debaixo de fogo, sim”“Andei debaixo de fogo, sim”“Andei debaixo de fogo, sim”,conta. Dezanove meses no matoem aquartelamentos frágeis,sujeitos a ataques e correndoriscos quando as colunas sofri-am emboscadas. De Portugal,perdão, da Metrópole, chegam-lhe cartas da família e da na-morada, muitas vezes acompa-nhadas de fotografias tiradasno Café Bordalo. Um conjuntode imagens que hoje constituium precioso espólio da família.

Sobrevive e regressa em No-vembro de 1963, fazendo o per-curso habitual ao de milharesde jovens que, regressados datropa e da guerra, casam. Tro-

E um dos cafés mais antigos das Caldas e foi o primeiro a abrir portas no Bairro Além da Ponte, em1945. O mesmo espaço já tinha sido barbearia e taberna, mas foi como café que chegou até ao séculoXXI ao longo de três gerações, ou até mesmo quatro, se considerarmos que os bisnetos do seufundador, Diamantino Couto, já ajudam as mães e o avô nas lides do balcão e das mesas.Aduíno Coito, filho de Diamantino tem hoje 70 anos e é o patriarca da família que nasceu e cresceuneste estabelecimento do Largo Frederico Ferreira Pinto Bastos. “Dantes só se vendiam copos de“Dantes só se vendiam copos de“Dantes só se vendiam copos de“Dantes só se vendiam copos de“Dantes só se vendiam copos deleite, garotos, pirolitos, gasosas e rebuçados. E meia dúzia de bolos. Hoje vendemos entreleite, garotos, pirolitos, gasosas e rebuçados. E meia dúzia de bolos. Hoje vendemos entreleite, garotos, pirolitos, gasosas e rebuçados. E meia dúzia de bolos. Hoje vendemos entreleite, garotos, pirolitos, gasosas e rebuçados. E meia dúzia de bolos. Hoje vendemos entreleite, garotos, pirolitos, gasosas e rebuçados. E meia dúzia de bolos. Hoje vendemos entre80 a 100 bolos por dia”80 a 100 bolos por dia”80 a 100 bolos por dia”80 a 100 bolos por dia”80 a 100 bolos por dia”, conta acerca dos hábitos de consumo de várias gerações de caldenses.

Aduíno Coito com o pai Diamantino Couto (1914-1978) em frente ao café nos anos Aduíno Coito com o pai Diamantino Couto (1914-1978) em frente ao café nos anos Aduíno Coito com o pai Diamantino Couto (1914-1978) em frente ao café nos anos Aduíno Coito com o pai Diamantino Couto (1914-1978) em frente ao café nos anos Aduíno Coito com o pai Diamantino Couto (1914-1978) em frente ao café nos anoscinquentacinquentacinquentacinquentacinquenta

Da esquerda para a direita: João, Aduíno Coito, Pilar Leal, Joana, Sandra Coito e Jorge Reis. Da esquerda para a direita: João, Aduíno Coito, Pilar Leal, Joana, Sandra Coito e Jorge Reis. Da esquerda para a direita: João, Aduíno Coito, Pilar Leal, Joana, Sandra Coito e Jorge Reis. Da esquerda para a direita: João, Aduíno Coito, Pilar Leal, Joana, Sandra Coito e Jorge Reis. Da esquerda para a direita: João, Aduíno Coito, Pilar Leal, Joana, Sandra Coito e Jorge Reis.Um avô, filhas, netos e genro representam três gerações que dão continuidade ao café Bordalo.Um avô, filhas, netos e genro representam três gerações que dão continuidade ao café Bordalo.Um avô, filhas, netos e genro representam três gerações que dão continuidade ao café Bordalo.Um avô, filhas, netos e genro representam três gerações que dão continuidade ao café Bordalo.Um avô, filhas, netos e genro representam três gerações que dão continuidade ao café Bordalo.

Meio século separam estas fotos, tiradas do mesmo ângulo do café. Em 1959 o Bordalo possui uma das primeiras televisões das Caldas e o café enchia-se, sobretudo quando Meio século separam estas fotos, tiradas do mesmo ângulo do café. Em 1959 o Bordalo possui uma das primeiras televisões das Caldas e o café enchia-se, sobretudo quando Meio século separam estas fotos, tiradas do mesmo ângulo do café. Em 1959 o Bordalo possui uma das primeiras televisões das Caldas e o café enchia-se, sobretudo quando Meio século separam estas fotos, tiradas do mesmo ângulo do café. Em 1959 o Bordalo possui uma das primeiras televisões das Caldas e o café enchia-se, sobretudo quando Meio século separam estas fotos, tiradas do mesmo ângulo do café. Em 1959 o Bordalo possui uma das primeiras televisões das Caldas e o café enchia-se, sobretudo quandohavia futebol, filmes portugueses, teatro, Natal dos Hospitais, Festival da Cancão e as Misses. Hoje o futebol ainda leva muitos convivas ao café.havia futebol, filmes portugueses, teatro, Natal dos Hospitais, Festival da Cancão e as Misses. Hoje o futebol ainda leva muitos convivas ao café.havia futebol, filmes portugueses, teatro, Natal dos Hospitais, Festival da Cancão e as Misses. Hoje o futebol ainda leva muitos convivas ao café.havia futebol, filmes portugueses, teatro, Natal dos Hospitais, Festival da Cancão e as Misses. Hoje o futebol ainda leva muitos convivas ao café.havia futebol, filmes portugueses, teatro, Natal dos Hospitais, Festival da Cancão e as Misses. Hoje o futebol ainda leva muitos convivas ao café.

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

m 65 anos e reúne três gerações ao balcãocou alianças em 1965, mas já unsmeses antes começara a traba-lhar com o futuro sogro, Antó-nio Verdiano Silvestre, que ti-nha uma loja de produtos ali-mentares (Vardasca & Veridia-no, Lda) na Rua da Electricida-de.

A primeira filha, Maria Pilardo Coito, nasce em 1966 e a se-gunda, Sandra Cristina, em 1970.Manuela Silvestre reparte ago-ra as atenções do café e dos cli-entes com as filhas, que, talcomo o pai, crescem no CaféBordalo, em torno do qual gira ahistória da família.

Em 1970 Aduíno muda de em-prego. O sogro embarca numa

aventura que consistiu em unirgrande parte dos armazéns deprodutos alimentares das Cal-das numa só empresa, a Unical,que para isso constrói um pavi-lhão na Estrada da Tornada (hojeparcialmente aproveitado peloPingo Doce). O genro acompa-nha-o como empregado de es-critório durante os 16 anos queo projecto dura.

“Fui dos últimos a sair, to-“Fui dos últimos a sair, to-“Fui dos últimos a sair, to-“Fui dos últimos a sair, to-“Fui dos últimos a sair, to-dos deram à sola quandodos deram à sola quandodos deram à sola quandodos deram à sola quandodos deram à sola quandoaquilo começou a correraquilo começou a correraquilo começou a correraquilo começou a correraquilo começou a corrermal”mal”mal”mal”mal”, conta. A falência da em-presa, em 1986, acaba por setransformar numa oportunida-de. “Comecei a pensar em re- “Comecei a pensar em re- “Comecei a pensar em re- “Comecei a pensar em re- “Comecei a pensar em re-modelar isto e ganhar aquimodelar isto e ganhar aquimodelar isto e ganhar aquimodelar isto e ganhar aquimodelar isto e ganhar aqui

a minha vida e em boa horaa minha vida e em boa horaa minha vida e em boa horaa minha vida e em boa horaa minha vida e em boa horao fiz. Só tenho pena de não oo fiz. Só tenho pena de não oo fiz. Só tenho pena de não oo fiz. Só tenho pena de não oo fiz. Só tenho pena de não oter feito antes. Na verdadeter feito antes. Na verdadeter feito antes. Na verdadeter feito antes. Na verdadeter feito antes. Na verdadeeu nunca tinha gostado deeu nunca tinha gostado deeu nunca tinha gostado deeu nunca tinha gostado deeu nunca tinha gostado deser empregado de escritório.ser empregado de escritório.ser empregado de escritório.ser empregado de escritório.ser empregado de escritório.Preferi sempre o contactoPreferi sempre o contactoPreferi sempre o contactoPreferi sempre o contactoPreferi sempre o contactocom as pessoas”com as pessoas”com as pessoas”com as pessoas”com as pessoas”.

NO CAFÉ A TEMPO INTEIRO

A primeira coisa que faz é umaremodelação total. O café dosanos quarenta dá origem a umestabelecimento moderno, comvitrines, mas mantendo, mesmoassim parte das mesas que o paide Aduíno tinha comprado aoCafé Nicola, em Lisboa. São me-sas pesadas, de ferro e mármo-

19351935193519351935 – Diamantino Couto abre uma barbearia no edifício que éhoje o nº 12 do Lg. Frederico Ferreira Bastos19401940194019401940 – Muda de ramo. Converte a barbearia em taberna.19451945194519451945 – Muda novamente de ramo e inaugura o Café Bordalo, oprimeiro da actual freguesia de Sto. Onofre19701970197019701970 – Assinatura do primeiro documento de arrendamento noqual o dono do Café Bordalo paga 500 escudos (2,5 euros) derenda por mês ao proprietário19861986198619861986 – O filho Aduino Coito pega formalmente no negócio dafamília19871987198719871987 – Morre Diamantino Couto19871987198719871987 – O Café Bordalo sofre uma remodelação20022002200220022002 - Sandra Coito, neta de Diamantino, entra formalmentepara o Café Bordalo - Sociedade Unipessoal20082008200820082008 - O marido Jorge Reis também entra para a empresa

“Mais do que uma profissão, trabalhar aqui é um modo de vida”

Sandra Coito (40 anos) e Pi-lar Leal (44 anos) são a ter-ceira geração atrás do balcãodo Café Bordalo. As duas fi-lhas de Aduíno e Manuela Sil-vestre cresceram e brincaramno estabelecimento dos avóse que posteriormente ficoupara os pais. Em frente, o Lar-go Frederico Ferreira PintoBastos ainda não tinha mui-tos carros. A vizinhança eraconhecida e o Bairro da Ponteera naquele tempo ainda qua-se como uma aldeia dentro dacidade. Mas à medida quecresciam as duas irmãs enca-raram com normalidade aajuda que era preciso dar aospais e cedo começaram a tra-balhar no café quando vinhamdas aulas e durante as férias.“É como o João e a Joana”“É como o João e a Joana”“É como o João e a Joana”“É como o João e a Joana”“É como o João e a Joana”,dizem, referindo-se aos fi-lhos, que são os bisnetos deDiamantino Coito e que tam-

bém já vêem o café como umaextensão das suas casas.

Em rigor só Sandra Coito e omarido, Jorge Reis, são actu-almente funcionários do CaféBordalo – Sociedade Unipesso-al. É lá que passam a maiorparte do seu tempo – de ma-nhã, à tarde e à noite – numnegócio familiar, cuja factura-ção preferiram não revelar, eque prescinde de empregados.A irmã Pilar pertenceu à gera-ção que aproveitou a vinda doensino superior para as Cal-das e foi no antigo pólo da UALque tirou Direito, exercendohoje advogacia. Mas nem porisso perdeu o vínculo ao caféda família e tem até uma es-cala de duas manhãs e duasnoites por semana, nas quaisdeixa no escritório as questõesjudiciais e vem para o cafémais antigo do Bairro da Pon-te servir bicas e galões, tos-

tas, sumos e bolos.A irmã mais nova, Sandra

Coito, não chegou a concluir alicenciatura em Gestão, foitrabalhar para a Futur Kids(uma escola de informáticacaldense já desaparecida),mas entendeu que se o CaféBordalo foi o ganha pão do seuavô e do seus pais, então tam-bém poderia ser o dela e dafamília.

“Mais do que uma profis-“Mais do que uma profis-“Mais do que uma profis-“Mais do que uma profis-“Mais do que uma profis-são, trabalhar aqui é umsão, trabalhar aqui é umsão, trabalhar aqui é umsão, trabalhar aqui é umsão, trabalhar aqui é ummodo de vida. Não há ho-modo de vida. Não há ho-modo de vida. Não há ho-modo de vida. Não há ho-modo de vida. Não há ho-rários, nem fins-de-semanarários, nem fins-de-semanarários, nem fins-de-semanarários, nem fins-de-semanarários, nem fins-de-semanacompletos nem tempo paracompletos nem tempo paracompletos nem tempo paracompletos nem tempo paracompletos nem tempo parair jantar fora. É vivermosir jantar fora. É vivermosir jantar fora. É vivermosir jantar fora. É vivermosir jantar fora. É vivermosaqui dentro”aqui dentro”aqui dentro”aqui dentro”aqui dentro”, diz Sandra. Ocafé só fecha ao domingo.

As filhas do senhor Aduínoassistiram também a algumastransformações nos hábitosdos clientes do café. Dantes asala enchia-se ao serão até àhora do fecho, mas agora as

CRONOLOGIA

re, seguramente com mais de90 anos de existência e que es-tão para durar outros tantos.

Diamantino só viu o princípioda remodelação. Morre em 1987.Mas dir-se-ia que tinha espera-do pela concretização de um ve-lho sonho – ver o filho a tempointeiro à frente do Café Borda-lo.

A remodelação revelou-seuma aposta certa e Aduíno deu-se conta que afinal aquele ne-gócio dava para viver sem pre-cisar de mais nenhuma empre-go. “Ultrapassou todas as“Ultrapassou todas as“Ultrapassou todas as“Ultrapassou todas as“Ultrapassou todas asexpectativas”expectativas”expectativas”expectativas”expectativas”, conta.

Nos finais da década de oi-tenta a cidade conhece um sur-

to de forte construção e cresce(também) para o Bairro da Pon-te. Durante algum tempo o Bor-dalo foi o único café do bairro.Hoje contam-se várias dezenasem toda aquela zona da cidade(bairros da Ponte e dos Arnei-ros), mas nada que afecte o cafémais antigo.

Também os hábitos de consu-mo mudaram. Aduíno diz que an-tigamente havia poucas coisaspara vender num café. “Vendi-“Vendi-“Vendi-“Vendi-“Vendi-am-se copos de leite, garo-am-se copos de leite, garo-am-se copos de leite, garo-am-se copos de leite, garo-am-se copos de leite, garo-tos, pirolitos, gasosas, rebu-tos, pirolitos, gasosas, rebu-tos, pirolitos, gasosas, rebu-tos, pirolitos, gasosas, rebu-tos, pirolitos, gasosas, rebu-çados. E meia dúzia de bo-çados. E meia dúzia de bo-çados. E meia dúzia de bo-çados. E meia dúzia de bo-çados. E meia dúzia de bo-los. Hoje vendemos entre 80los. Hoje vendemos entre 80los. Hoje vendemos entre 80los. Hoje vendemos entre 80los. Hoje vendemos entre 80a 100 bolos por dia”a 100 bolos por dia”a 100 bolos por dia”a 100 bolos por dia”a 100 bolos por dia”, conta.Durante décadas perdurou a ve-

lha máquina de café de saco,que viria a ser substituída poroutra que necessitava de umaalavanca para tirar as bicas.Hoje o café expresso sai, quen-te, de uma moderna máquinaMercury.

Fiel à tradição do que enten-de ser um café, o seu proprie-tário vai resistindo a nele ven-der pão e mini-refeições, comoo fazem tantos outros. “O café“O café“O café“O café“O cafédeve funcionar como umdeve funcionar como umdeve funcionar como umdeve funcionar como umdeve funcionar como umcafé”café”café”café”café”, resume.

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

pessoas já não passam tantotempo nestes espaços sociais.Tomam a bica, bebem umaágua ou uma cerveja e vão paracasa. Há alguns resistentes,que são quase da família. E hátambém as excepções – a te-levisão já não é uma novida-de, mas nas noites de futeboleste café de bairro enche-se.É que ver um jogo da selecçãoou um Sporting-Benfica emgrupo cria um ambiente maisfestivo e tem muito mais pia-da do que assistir à partida emcasa. “E as mulheres prefe-“E as mulheres prefe-“E as mulheres prefe-“E as mulheres prefe-“E as mulheres prefe-rem ver a telenovela”rem ver a telenovela”rem ver a telenovela”rem ver a telenovela”rem ver a telenovela”, acres-centa Aduíno Coito, que co-nhece os hábitos e motivaçõesdos clientes.

Curiosamente, o edifício nãoé pertença da família, tendo oentão jovem Diamantino acor-dado com o proprietário, seuamigo, o pagamento de umarenda mensal. Naquele tempo

bastava a palavra dada para sercumprida e só em 1970 é quehá um documento escrito noqual Diamantino se comprome-te a pagar 500$00 de renda pormês. Sim, na moeda de hoje só2,5 euros. Mas actualmente arenda é de 57 euros. Aduíno re-

conhece que é barato e insis-te que não perdeu a esperan-ça de comprar o rés-de-chãoonde nasceu e onde viveu todaa família.

C.C.C.C.C.C.C.C.C.C.

A imagem mais antiga do Café Bordalo nos A imagem mais antiga do Café Bordalo nos A imagem mais antiga do Café Bordalo nos A imagem mais antiga do Café Bordalo nos A imagem mais antiga do Café Bordalo nosanos 40anos 40anos 40anos 40anos 40

À esquerda À esquerda À esquerda À esquerda À esquerda Manuela Silvestre, Manuela Silvestre, Manuela Silvestre, Manuela Silvestre, Manuela Silvestre, então então então então então namorada de Aduíno, com os futuros sogros, Diamantino e Ema Pilar Leal. namorada de Aduíno, com os futuros sogros, Diamantino e Ema Pilar Leal. namorada de Aduíno, com os futuros sogros, Diamantino e Ema Pilar Leal. namorada de Aduíno, com os futuros sogros, Diamantino e Ema Pilar Leal. namorada de Aduíno, com os futuros sogros, Diamantino e Ema Pilar Leal. Na imagem daNa imagem daNa imagem daNa imagem daNa imagem dadireita Manuela está sentada e os proprietários do café estão atrás do balcão.direita Manuela está sentada e os proprietários do café estão atrás do balcão.direita Manuela está sentada e os proprietários do café estão atrás do balcão.direita Manuela está sentada e os proprietários do café estão atrás do balcão.direita Manuela está sentada e os proprietários do café estão atrás do balcão.

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Três gerações de luso-galegos fizeram da Pastelaria

A história da pastelaria Machado funde-se com a história da própria cidade. Ponto de referência nadoçaria regional, os seus bolos reis são presença habitual nas mesas de consoada.Aquela que é uma das casas mais antigas das Caldas ainda em actividade, remonta ao século XVIIIcom a Casa Fausta, cujas responsáveis, duas irmãs, contribuíram para a manutenção dois verdadei-ros ex-libris gastronômicos da cidade: as cavacas e as trouxas-de-ovos.José Fernandes Perez (1928 – 2000), um apaixonado pela doçaria, deu um impulso grande à casa,criando muitos dos mais de 60 bolos que diariamente são colocados nas prateleiras.A Pastelaria Machado é actualmente gerida por Peregrina Molares, viúva de José Fernando Perez, e osseus três filhos Santiago, Marina e Miguel.

A fundação da casa remonta aoséculo XVIII e as suas memóriassão agora contadas com sotaqueespanhol, da D. Peregrina Mola-res, a actual proprietária da casa,que gere com os seus filhos Mari-na (50 anos), Santiago (51 anos) eMiguel (49 anos).

As irmãs Fausta eram doceirase terão começado a sua activida-de ao lado do Hospital Termal, emmeados de 1800 mas depois mu-daram-se para a Rua de Camões,onde ocuparam uma cocheira aíexistente que viria a ser a actualpastelaria Machado, apelido de umempregado da casa (Joaquim Ma-chado) que viria a ser o proprietá-rio depois das irmãs terem decidi-do abandonar o negócio.

Joaquim Machado continuará aarte doceira tradicional caldense,sobretudo na primeira década doséc. XX, trabalhando na pastelariacom a sua família.

No início do anos 20 este co-merciante dá sociedade a JoséPerez, um galego natural de Vigo,que viera para Lisboa com o intui-to de emigrar para os Estados Uni-

dos, mas que se quedou por Lis-boa onde trabalhou na PastelariaBenard (Rua Garrett).

A aprendizagem da doçaria ser-lhe-ía depois muito útil quando,nas Caldas da Rainha, começa a

trabalhar com Joaquim Machado,de quem se tornou amigo, paraalém de sócio.

Em 1944 o neto de José Perez émais um dos muito imigrantes ga-

legos que fogem daquela provín-cia pobre de Espanha, tentando asorte em Portugal, neste caso, nasCaldas da Rainha, junto do avô quelhe dá protecção e emprego naPastelaria.

Nessa altura José Fernandez Pe-res (1928-2000) tem 16 anos e malimaginava o papel importante queviria a ter nesta casa, uma vez quevai suceder ao avô e ao sócio, que

morrem, respectivamente, em 1954e 1950.

Os galegos são como os portu-gueses. Sentimentais e nostálgi-cos. E por isso o jovem José Fer-nandes Perez nunca deixou de vi-sitar a sua terra natal. É numa des-sas visitas que conhece PeregrinaMolares (nascida em 1935), filhade um padeiro de Vigo.

O namoro tinha tudo para darcerto porque até as profissõeseram similares. Mas não foi fácil opasteleiro convencer a filha dopadeiro a partir para o sul, para adistante cidade das Caldas da Ra-inha.

“Criei-me num clima de“Criei-me num clima de“Criei-me num clima de“Criei-me num clima de“Criei-me num clima demedo por causa da guerra ci-medo por causa da guerra ci-medo por causa da guerra ci-medo por causa da guerra ci-medo por causa da guerra ci-vil”vil”vil”vil”vil”, recorda hoje Peregrina Mola-res, acrescentando que quandoJosé Fernandes Perez lhe propôsnamoro não sabia o que respon-der porque não queria ir deixar asua terra natal.

Acabaram por casar na Galizaem 1958, mas logo de seguida vie-ram para Portugal. No início Pere-grina ainda passava algumas tem-

poradas na sua terra natal, ondeviria a dar à luz os seus filhos maisvelhos, Santiago e Marina.

A primeira impressão que Pe-regrina Molares teve das Caldas

da Rainha, em Março de 1958, foi auma cidade bucólica em que as“árvores estavam nuas e achei“árvores estavam nuas e achei“árvores estavam nuas e achei“árvores estavam nuas e achei“árvores estavam nuas e acheia cidade um bocado tristonha”a cidade um bocado tristonha”a cidade um bocado tristonha”a cidade um bocado tristonha”a cidade um bocado tristonha”.

Meses depois, com o Verão, oburgo ganhou nova vida e Peregri-na passou a sentir-se melhor, atéporque, como referiu, o mar, omesmo Atlântico que banha a suaGaliza natal, também estava mutopróximo das Caldas.

MAIS DE 60 VARIEDADES DEBOLOS POR DIA

José Fernandes Perez aprende-ra com o avô a arte da pastelaria.Tinha uma verdadeira paixão pe-los doces, o que o levou, por váriasvezes, a França, Suíça e Alemanhaa fim de acompanhar as novida-des. Também comprava livros paraestar actualizado no seu métier.

“Antes a casa não fabrica- “Antes a casa não fabrica- “Antes a casa não fabrica- “Antes a casa não fabrica- “Antes a casa não fabrica-va muitas coisas, todos estesva muitas coisas, todos estesva muitas coisas, todos estesva muitas coisas, todos estesva muitas coisas, todos estesdoces que agora conhecemosdoces que agora conhecemosdoces que agora conhecemosdoces que agora conhecemosdoces que agora conhecemosforam pesquisas que o meuforam pesquisas que o meuforam pesquisas que o meuforam pesquisas que o meuforam pesquisas que o meumarido fez e pôs em prática”marido fez e pôs em prática”marido fez e pôs em prática”marido fez e pôs em prática”marido fez e pôs em prática”,conta hoje Peregrina Molares.

Na década de 60 trabalhavamcerca de 15 pessoas com o casalPerez - duas na copa e o resto nafábrica. E vendiam praticamentetudo o que produziam na loja, queatraía pessoas dos concelho vizi-nhos, onde poucas pastelarias exis-tiam.

“Quando vim para cá moía-“Quando vim para cá moía-“Quando vim para cá moía-“Quando vim para cá moía-“Quando vim para cá moía-mos a amêndoa à mão”mos a amêndoa à mão”mos a amêndoa à mão”mos a amêndoa à mão”mos a amêndoa à mão”, lem-bra a D. Peregrina. A massa paraas cavacas demoravam duas a trêshoras a amassar pois não existiamamassadoras e o trabalho tinhaque ser feito manualmente.

Ao longo dos anos foram sem-pre desenvolvendo a sua própriapastelaria. Fernando Perez come-çou a criar, fez coisas novas e deuum impulso muito grande porquea casa era pequena e estava a fi-car velha. Entre as novidades es-tão as “Florestas”, um doce comamêndoa, cuja receita descobriuna Alemanha e que originalmentetinha o nome de “Floresta Negra”.

Actualmente os clientes conti-nuam a procurar muito este doce,assim como o bolo russo, as lín-guas de gato e os ossos de roer.

A remodelação, que deu o as-pecto que a casa ainda mantémdata de 1962. Há cerca de uma dé-cada foram feitos alguns melho-ramentos, mas os clientes pedi-ram para não mexer na decora-ção, que inclui um painel de cobree as madeiras exóticas.

A casa ao longo dos anos foialcançando muito prestigio. Inici-almente fornecia a Casa Real deLisboa, no reinado de D. Carlos (osdoces iam para a capital pelo ca-minho de ferro). Por ali passaramtambém figuras públicas como osanteriores Presidentes da Repú-blica Américo Thomaz, Mário Soa-res, e personalidades ligadas à

A Cavacaria Machado em 1907, quando ainda era gerida por Joaquim Machado e A Cavacaria Machado em 1907, quando ainda era gerida por Joaquim Machado e A Cavacaria Machado em 1907, quando ainda era gerida por Joaquim Machado e A Cavacaria Machado em 1907, quando ainda era gerida por Joaquim Machado e A Cavacaria Machado em 1907, quando ainda era gerida por Joaquim Machado euma imagem actual do estabelecimento na Rua Luís de Camões (o centro históricouma imagem actual do estabelecimento na Rua Luís de Camões (o centro históricouma imagem actual do estabelecimento na Rua Luís de Camões (o centro históricouma imagem actual do estabelecimento na Rua Luís de Camões (o centro históricouma imagem actual do estabelecimento na Rua Luís de Camões (o centro históricoaguarda ainda por um plano que restrinja a circulação automóvel).aguarda ainda por um plano que restrinja a circulação automóvel).aguarda ainda por um plano que restrinja a circulação automóvel).aguarda ainda por um plano que restrinja a circulação automóvel).aguarda ainda por um plano que restrinja a circulação automóvel).

O Casal Perez em 1991 ladeado pelos empregados de então, António Maria, Patrícia Anjos e Fernando Vieira. À direita, Peregrina Molares à entrada da Pastelaria Machado na O Casal Perez em 1991 ladeado pelos empregados de então, António Maria, Patrícia Anjos e Fernando Vieira. À direita, Peregrina Molares à entrada da Pastelaria Machado na O Casal Perez em 1991 ladeado pelos empregados de então, António Maria, Patrícia Anjos e Fernando Vieira. À direita, Peregrina Molares à entrada da Pastelaria Machado na O Casal Perez em 1991 ladeado pelos empregados de então, António Maria, Patrícia Anjos e Fernando Vieira. À direita, Peregrina Molares à entrada da Pastelaria Machado na O Casal Perez em 1991 ladeado pelos empregados de então, António Maria, Patrícia Anjos e Fernando Vieira. À direita, Peregrina Molares à entrada da Pastelaria Machado napassada segunda-feira.passada segunda-feira.passada segunda-feira.passada segunda-feira.passada segunda-feira.

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

a Machado uma referência nas Caldas e no país

Era a antiga Casa Fausta (Rua de Camões – 41-47), cujas origens seperdem no século XVIII.

Gertrudes Fausta de Sousa citada em 1883 como moradora na rua Nova –foi, muito provavelmente, uma das célebres irmãs Fausta. Parece ter sidouma das conserveiras de maior fama em que mais contribuiu para a manu-tenção de uma actividade emblemática das Caldas: as cavacas.

A par das trouxas de ovos, as cavacas são (também) segredos doces quepassaram através de muitas gerações. A família real e as elites do final doséculo XIX e do início do século XX vinham no verão às Caldas mergulhar nummundo de canastras de cavacas, pastelinhos de Marvão, queijinhos do céu,castanhas de ovos, lampreias, pão-de-ló de nata, lagartos, raivas, suspiros,esquecidos, queijadas e trouxas.

Nesse tempo, eram ainda confeccionados alguns doces tradicionais, hojeignorados, tais como o “Manjar de Tornada” e os célebres “Cacos”.

As irmãs Fausta foram contemporâneas, no final do século XIX, da cavaca-ria das Mendricas (na actual Praça da República) onde se reuniam RafaelBordalo Pinheiro, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, Columbano, Lopes deMendonça, António de Andrade (então tenor em início de carreira), o PadreAntónio (de Almeida) de Óbidos (conhecido pela sua bela voz de barítono,bem como pelas pescarias e caçadas que organizava), Gomes de Avelar(editor dos Cavacos das Caldas e ceramista local), os maestros do Club deRecreio (Gaspar e depois Taborda), e Mariano Pina. Por vezes tambémcavaqueavam no café da Adelaidinha da rua Direita - onde mais tarde ficariaa pastelaria Gato Preto.

Nesta época, havia ainda as seguintes casas e ou conserveiras: a MariaCarolina de Albuquerque (Já existia em 1887), a Cavacaria Pires (abriu em1892) e a Cavacaria Central (abriu em 1897) - ambas no largo das Gralhas(actual largo Dr. José Barbosa); a Gertrudes e a Mariana Rodrigues Valada(também citada em 1883 por Silvano Lopes) ambas na rua Nova; a CecíliaSantos na rua Direita; a Viúva Nunes, a Cesária Coelho e a Mariana César játinha casa aberta em 1884) - todas na então praça Maria Pia; a Jesuína Garciana rua General Queirós; o Pedro Prudêncio (emblema do Gato Preto) na ruado jardim nº 52 - premiado na Exposição de Paris de 1900; e a CavacariaConde, situada primeiro na Praça Maria Pia e depois na rua Direita (actual-mente rua da Liberdade), que desde 1895 anunciava um doce que já não seprova nos dias de hoje - os Pastéis de D. Leonor.

As Irmãs Fausta influenciaram as gerações seguintes de doceiras quefizeram época sobretudo no 1º quartel do século XX, tais como: as Carneiri-nhas: a Jade: a Adelaide Augusta do Café Sport na praça da Republica; a Florde Liz na Rua Heróis da Grande Guerra - depois na Av. da IndependênciaNacional e, nos anos 30, na praça da República; O Africano de FranciscoAntónio dos Santos - na Rua Almirante Cândido dos Reis; a Maria ReginaGarcia Pereira - e mais tarde a sua filha Regina - no largo do Conselheiro JoséFilipe; e o Joaquim Machado, na rua Camões, que herdaria a tradição daantiga casa Fausta.

Joaquim Machado desenvolveu a sua arte da doçaria, sobretudo, na pri-meira década do século XX (vendia as suas famosas trouxas a meio tostãocada), sendo dessa altura o BPI.

A Cavacaria Machado, como ficou a denominar-se o estabelecimento, foitomada de trespasse, em Maio de 1927, pela sociedade de Tiago LeopoldoPerez, que em Maio de 1928 adquiriu a denominação Tiago e Perez Lda..Ainda hoje existe e é gerida por um neto deste último.

In Bilhete Postal Ilustrado das Caldas da Rainha, de Vasco Trancoso

“A pastelaria é uma soma de

pormenores que vão ditar se é uma

coisa excelente ou medíocre”

Santiago Molares, o filhomais velho do casal José ePeregrina, seguiu naturalmen-te as pisadas paternas na pas-telaria e é ele, com o seu ir-mão mais novo, Miguel, queconfeccionam diariamenteuma doçaria de excelência.

Com 51 anos, Santiago re-corda-se que fez o seu primei-ro bolo com cinco para come-morar o aniversário do pai.“Fui ao livro de receitas dele“Fui ao livro de receitas dele“Fui ao livro de receitas dele“Fui ao livro de receitas dele“Fui ao livro de receitas delee escolhi um pão-de-ló quee escolhi um pão-de-ló quee escolhi um pão-de-ló quee escolhi um pão-de-ló quee escolhi um pão-de-ló quequis amassar como sequis amassar como sequis amassar como sequis amassar como sequis amassar como seamassa massa folhada”amassa massa folhada”amassa massa folhada”amassa massa folhada”amassa massa folhada”,conta, adiantando que era as-sim que via o seu pai traba-lhar. Apesar da boa intenção,o resultado do seu primeirobolo não foi brilhante, recor-da, rindo-se.

Depois de ter feito o ensinosecundário, Santiago começoua trabalhar na pastelaria. Ti-nha 18 anos quando teve o seuprimeiro contrato de trabalhonesta casa. Depois foi tirandocursos em Portugal, Espanhae Itália e aprendendo tambémcom o seu pai e as pessoasque ali trabalhavam.

Considera que actualmen-te os pasteleiros são uns “lor-ds” porque muitos dos mate-riais que utilizam já estãotransformados, deixando-lhesmais tempo para a criação e afeitura de bolos mais refina-dos.

Esta facilidade também temum reverso, contribuindo emparte para a descaracteriza-

ção das pastelarias. “A fruta do“A fruta do“A fruta do“A fruta do“A fruta dobolo-rei é igual em todo obolo-rei é igual em todo obolo-rei é igual em todo obolo-rei é igual em todo obolo-rei é igual em todo olado”lado”lado”lado”lado”, exemplifica o pastelei-ro, que acha que as coisas terãoque mudar.

O futuro da pastelaria teráque passar por uma estratifica-ção maior entre o que é o fabri-co tradicional, com as casas atrabalhar com produtos clássi-cos, e o industrial, com gluta-matos de sódio e gorduras hi-drogenadas.

O pasteleiro, que diariamen-te começa a trabalhar pelas5h30, tem feito várias invenções,entre elas os bombons praline,que “as pessoas não vão en-“as pessoas não vão en-“as pessoas não vão en-“as pessoas não vão en-“as pessoas não vão en-contrar em mais lado ne-contrar em mais lado ne-contrar em mais lado ne-contrar em mais lado ne-contrar em mais lado ne-nhum”nhum”nhum”nhum”nhum”, garante. É que este pro-fissional teve em conta, e ten-tou colmatar, todas as falhasque encontrava nos bombonsexistentes, criando um de exce-lência.

“A pastelaria é uma somaA pastelaria é uma somaA pastelaria é uma somaA pastelaria é uma somaA pastelaria é uma somade pormenores que, no fim,de pormenores que, no fim,de pormenores que, no fim,de pormenores que, no fim,de pormenores que, no fim,vão ditar se é uma coisa ex-vão ditar se é uma coisa ex-vão ditar se é uma coisa ex-vão ditar se é uma coisa ex-vão ditar se é uma coisa ex-celente ou medíocre”celente ou medíocre”celente ou medíocre”celente ou medíocre”celente ou medíocre”, disse.Os seus segredos irão passarpara o filho, actualmente com10 anos, se este quiser seguir aspisadas do pai, ou então irão,um dia, ser publicados em livro.

Para Santiago, o paradigmado bolo continua a ser o pastelde nata de Belém. “Quando“Quando“Quando“Quando“Quandoconseguir fazer uma coisaconseguir fazer uma coisaconseguir fazer uma coisaconseguir fazer uma coisaconseguir fazer uma coisacomo aquela atingi a perfei-como aquela atingi a perfei-como aquela atingi a perfei-como aquela atingi a perfei-como aquela atingi a perfei-ção”ção”ção”ção”ção”, conta, garantindo queanda lá muito perto.

Dos tempos actuais, Santia-go diz que a casa atravessa os

problemas comuns a todos osestabelecimentos comerciais.Lembra que antes, quando aEstrada Nacional que ligavaLisboa ao Porto passava pelasCaldas, muitas pessoas para-vam na cidade para descansardas longas horas de viagem.“A história das Caldas e“A história das Caldas e“A história das Caldas e“A história das Caldas e“A história das Caldas edesta pastelaria modificou-desta pastelaria modificou-desta pastelaria modificou-desta pastelaria modificou-desta pastelaria modificou-se muito desde que foi cons-se muito desde que foi cons-se muito desde que foi cons-se muito desde que foi cons-se muito desde que foi cons-truída a A1 que fez com astruída a A1 que fez com astruída a A1 que fez com astruída a A1 que fez com astruída a A1 que fez com asCaldas deixasse de ser umaCaldas deixasse de ser umaCaldas deixasse de ser umaCaldas deixasse de ser umaCaldas deixasse de ser umapassagem obrigatória”passagem obrigatória”passagem obrigatória”passagem obrigatória”passagem obrigatória”, re-corda.

O pasteleiro diz mesmo quequando tinha 10 anos estavaconvencido que as “Caldas“Caldas“Caldas“Caldas“Caldasiria ultrapassar Leiria emiria ultrapassar Leiria emiria ultrapassar Leiria emiria ultrapassar Leiria emiria ultrapassar Leiria emnotoriedade, dado o seu de-notoriedade, dado o seu de-notoriedade, dado o seu de-notoriedade, dado o seu de-notoriedade, dado o seu de-senvolvimento”senvolvimento”senvolvimento”senvolvimento”senvolvimento”. Era uma ilu-são, porque entretanto deixoude ser um ponto de passageme “não foram feitas iniciati-“não foram feitas iniciati-“não foram feitas iniciati-“não foram feitas iniciati-“não foram feitas iniciati-vas que compensassem,vas que compensassem,vas que compensassem,vas que compensassem,vas que compensassem,tornando as Caldas comotornando as Caldas comotornando as Caldas comotornando as Caldas comotornando as Caldas comoum objectivo final, comoum objectivo final, comoum objectivo final, comoum objectivo final, comoum objectivo final, comopoderiam ser as termas”poderiam ser as termas”poderiam ser as termas”poderiam ser as termas”poderiam ser as termas”.Santiago Perez defende que adinamização do termalismo,assim como as faianças, po-deriam ajudar em muito o sec-tor comercial.

Os irmãos de Santiago - Ma-rina e José Miguel Molares –também trabalham na Paste-laria Machado, mas não qui-seram dar o seu testemunhopara esta reportagem.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

18401840184018401840 – As irmãs Fausta come-çam a trabalhar em doçaria jun-to ao Hospital Termal, transfe-rindo-se depois para a R. Luís deCamõesInícios do século XX - JoaquimMachado fica com a pastelaria,onde antes era empregado dasirmãs FaustaDécada de 20 – José Perez entrana sociedade da Pastelaria Ma-chado com uma quota de 30%19271927192719271927 – Nasce José Fernando Pe-rez em Gondomar (Galiza), netode José Perez, que viria a ser pro-prietário da Pastelaria Machado19351935193519351935 – Nasce Peregrina Mola-

Cavacaria Machado

Cronologiares em Vigo que viria a casar comJosé Fernando Perez19441944194419441944 – José Fernando Perez vemde Espanha para as Caldas e jun-ta-se ao avô na pastelaria19501950195019501950 – Morre Joaquim Machado19541954195419541954 – Morre José Perez, avô deJosé Fernando PerezDécada de 50 – José Fernando Pe-rez compra parte na sociedade19581958195819581958 - José Fernando Perez ePeregrina Molares casam19641964196419641964 – José Fernando Perez tor-na-se o único dono da pastelaria20002000200020002000 – Morre José Fernando Pe-rez. Viúva e filhos dividem entresi as quotas da sociedade.

Santiago Molares, 51 anos, com a empregada Fernanda Ribeiro. Santiago nasceu Santiago Molares, 51 anos, com a empregada Fernanda Ribeiro. Santiago nasceu Santiago Molares, 51 anos, com a empregada Fernanda Ribeiro. Santiago nasceu Santiago Molares, 51 anos, com a empregada Fernanda Ribeiro. Santiago nasceu Santiago Molares, 51 anos, com a empregada Fernanda Ribeiro. Santiago nasceuna Galiza, mas é caldense de toda a vida e é hoje o pasteleiro da casa. Os irmãosna Galiza, mas é caldense de toda a vida e é hoje o pasteleiro da casa. Os irmãosna Galiza, mas é caldense de toda a vida e é hoje o pasteleiro da casa. Os irmãosna Galiza, mas é caldense de toda a vida e é hoje o pasteleiro da casa. Os irmãosna Galiza, mas é caldense de toda a vida e é hoje o pasteleiro da casa. Os irmãosMiguel e Marina não estiveram disponíveis para colaborar neste trabalho.Miguel e Marina não estiveram disponíveis para colaborar neste trabalho.Miguel e Marina não estiveram disponíveis para colaborar neste trabalho.Miguel e Marina não estiveram disponíveis para colaborar neste trabalho.Miguel e Marina não estiveram disponíveis para colaborar neste trabalho.

cultura como Vasco Graça Mouraou Eduardo Prado Coelho. PauloRodrigues, um caldense (falecidoem 2010) que foi secretário de Sa-lazar, levava doces da PastelariaMachado para o velho ditador.

O atendimento e a qualidadedos produtos continuam a fazer onome da casa, que actualmentetem oito funcionários, além da fa-mília (mãe e três filhos), que alitrabalham diariamente.

Os fins-de-semana são os diasde maior movimento e a Páscoa eo Natal são épocas altas para apastelaria. O seu bolo rei é pre-sença em muitas consoadas, ePeregrina Molares garante queeste continua a ser feito da mes-ma maneira tradicional que o seusogro já fazia, embora reconheçaque desta forma o lucro é menor.

O segredo do bolo rei da paste-laria Machado é ser feito com“produtos tradicionais”“produtos tradicionais”“produtos tradicionais”“produtos tradicionais”“produtos tradicionais”, comoa manteiga, ovos (em vez de es-sência) e fermento de padeiro. “A“A“A“A“Amassa demora oito horas amassa demora oito horas amassa demora oito horas amassa demora oito horas amassa demora oito horas alevedar”levedar”levedar”levedar”levedar”, explica a responsável. Épor isso que às vezes o bolo reinão chega para a procura porque“não se pode fazer à “não se pode fazer à “não se pode fazer à “não se pode fazer à “não se pode fazer à la minu-la minu-la minu-la minu-la minu-tetetetete”””””.

No dia de Natal chegam a ven-der 600 quilos de bolo. “É a alturaÉ a alturaÉ a alturaÉ a alturaÉ a alturamais trabalhosa porque todamais trabalhosa porque todamais trabalhosa porque todamais trabalhosa porque todamais trabalhosa porque todaa gente gosta de levar paraa gente gosta de levar paraa gente gosta de levar paraa gente gosta de levar paraa gente gosta de levar paracasa um bolinho rei”casa um bolinho rei”casa um bolinho rei”casa um bolinho rei”casa um bolinho rei”, diz, acres-centando que na Páscoa, porexemplo, já não há tanta procura.

“Esta história de vender“Esta história de vender“Esta história de vender“Esta história de vender“Esta história de venderamêndoas baratas e de máamêndoas baratas e de máamêndoas baratas e de máamêndoas baratas e de máamêndoas baratas e de máqualidade já tirou a vontade àsqualidade já tirou a vontade àsqualidade já tirou a vontade àsqualidade já tirou a vontade àsqualidade já tirou a vontade àspessoas de comprar amêndo-pessoas de comprar amêndo-pessoas de comprar amêndo-pessoas de comprar amêndo-pessoas de comprar amêndo-as. As nossas são de chocola-as. As nossas são de chocola-as. As nossas são de chocola-as. As nossas são de chocola-as. As nossas são de chocola-te e torradas e são semprete e torradas e são semprete e torradas e são semprete e torradas e são semprete e torradas e são sempreboas”boas”boas”boas”boas”, garante.

Todos os dias a prateleira commais de 60 variedades de bolos éreposta, e ao fim-de-semana emmaior número. A azáfama come-ça cedo e acaba tarde, com os pas-teleiros a entrar às 5h30 da manhãpara começar a fazer os bolos. Apastelaria recebe encomendas debolos de aniversário, a maioriapara particulares, mas por vezes,também para restaurantes.

Actualmente trabalham naque-le estabelecimento - cuja firma éuma sociedade por quotas desig-nada Pastelaria Machado, Lda. -oito funcionários, juntamente comos quatro responsáveis (mãe e trêsfilhos), que não quiseram divulgarnenhuma ordem de grandeza acer-ca do volume de vendas.

À pergunta “o que é preciso paramanter o negócio tantos anos?”peregrina Molares só tem uma res-posta: perseverança e um bocadi-nho de dinamismo. E a fórmula temdado resultado.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

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31 | Dezembro | 2010

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Em Óbidos a família Martinho nunca deixou de ampliar a

A Albergaria Josefa d’Óbidos (situada na Rua D. João de Ornelas) soprou 26 velas a semana passada. Aempresa familiar, que nasceu em 1984 fruto da vontade de António Silvério Martinho, é actualmentegerida pelos filhos Carlos e Zélia Martinho, mas sempre com o apoio da mãe, Maria Emília Rebelo.Presentemente, os 1100 metros quadrados cobertos que compreendem o hotel, restaurante, bar e salade reuniões, fazem dela a maior unidade hoteleira da vila de Óbidos.Na década de 90 a discoteca D’Ayala, que funcionava no piso inferior, junto ao restaurante, fez furor naregião. Exemplo disso foram as passagens de ano que atraíram muita gente de fora, para se divertir aosom de disc-jockeys vindos de Lisboa.Os seus responsáveis continuam a adaptar o hotel às necessidades dos clientes, sendo disso exemploas recentes remodelações, e também estão a iniciar-se no sector imobiliário, tendo já iniciado junto àvila a construção de quatro apartamentos turísticos para alugar.

A 14 de Dezembro de 1984 erainaugurada a Albergaria Josefad’Óbidos. A primeira albergaria davila nasceu da visão e persistênciade António Silvério Martinho (1930-2000) que, por passar bastante tem-po em Óbidos, foi-se apercebendoque chegavam muitos autocarroscom turistas que ali não permane-ciam por não haver alojamento.

António Silvério Martinho nas-ceu na Usseira em 1930 e ficou ór-fão de pai aos nove anos, alturaem que teve que deixar a escolaprimária para começar a trabalharpara ajudar a mãe. Casou em 1954com Maria Emília Rebelo, naturalda Capeleira, e trabalhava comopadeiro, contando com a ajuda daesposa no seu ofício.

Entretanto abriu também umaloja de pesticidas junto à farmá-cia, à entrada de Óbidos, acumu-lando as duas funções. Mas comoera um homem muito aventureiro,lutador e muito pouco satisfeitocom a vida, António Silvério Marti-nho começou a pensar noutras for-mas de fazer negócio e tambémdar um futuro melhor aos seus doisfilhos, Carlos e Zélia Martinho,actualmente com 55 e 44 anos, res-pectivamente.

Depressa se apercebeu da po-tencialidade turística da vila. E serecusou uma primeira proposta desociedade para fazer um hotel na“casa assombrada”, à entrada deÓbidos, ficou-lhe o interesse pelapossibilidade de criação de umaunidade hoteleira.

Um terreno com um quintal, umacasa de madeira e uma adega an-tiga à entrada da vila, pareceu-lheo ideal para concretizar o sonho.Falou com a esposa e filhos sobreo projecto e foi contactar com oproprietário, o tenente-coronelJustino Moreira a propor-lhe acompra.

Justino Moreira viria a procurá-lo na sua loja de pesticidas ondelhe disse que “a sua atitude ti-“a sua atitude ti-“a sua atitude ti-“a sua atitude ti-“a sua atitude ti-nha sido louvável porque eranha sido louvável porque eranha sido louvável porque eranha sido louvável porque eranha sido louvável porque erauma obra que ia dignificar auma obra que ia dignificar auma obra que ia dignificar auma obra que ia dignificar auma obra que ia dignificar avila e, como tal, iria vender pelavila e, como tal, iria vender pelavila e, como tal, iria vender pelavila e, como tal, iria vender pelavila e, como tal, iria vender pelaprimeira vez na vida um terre-primeira vez na vida um terre-primeira vez na vida um terre-primeira vez na vida um terre-primeira vez na vida um terre-no”no”no”no”no”, recorda hoje Carlos Marti-nho.

As negociações começaram em1980 e seis meses depois é feita acompra. António Silvério Martinhoadquiriu o terreno por 400 contos(perto de dois mil euros) e emDezembro de 1984,abriram ao pú-blico as portas da albergaria.

Os dois filhos estão na casa des-de a sua abertura. Zélia, na alturacom 18 anos, deixara de estudar etinha ido trabalhar na recepção deum complexo de apartamentos emS. Martinho do Porto, para ganharexperiência no ramo, e viria a ser aprimeira recepcionista da casa.

Carlos Martinho tinha ido tra-balhar para a Suíça para um casi-no (onde esteve durante dois anos)mas o pai, em 1980, foi chamá-lopara integrar o projecto.

“Não fazia ideia nenhuma da“Não fazia ideia nenhuma da“Não fazia ideia nenhuma da“Não fazia ideia nenhuma da“Não fazia ideia nenhuma da

dimensão que iria ter, mas de-dimensão que iria ter, mas de-dimensão que iria ter, mas de-dimensão que iria ter, mas de-dimensão que iria ter, mas de-diquei-me a isto porque é nos-diquei-me a isto porque é nos-diquei-me a isto porque é nos-diquei-me a isto porque é nos-diquei-me a isto porque é nos-so e foi o meu pai que fundou”so e foi o meu pai que fundou”so e foi o meu pai que fundou”so e foi o meu pai que fundou”so e foi o meu pai que fundou”,conta agora Zélia Martinho, adian-tando que é importante dar conti-nuidade a este trabalho. Recordaque a hotelaria era uma área quedesconhecia, mas que mesmo as-sim foram logo às agências de via-gem dar a conhecer a albergaria.Zélia reconhece também que na-quela época tudo era mais fácil.“Ag“Ag“Ag“Ag“Agora não era possívelora não era possívelora não era possívelora não era possívelora não era possível”,conta, destacando as exigênciasque são necessárias para a aber-tura de uma unidade, como aexistência de um director hote-leiro.

Foram-se especializando como trabalho e agora conhecemmuita gente no meio. “Há, in-“Há, in-“Há, in-“Há, in-“Há, in-clusive, colegas que nos vêmclusive, colegas que nos vêmclusive, colegas que nos vêmclusive, colegas que nos vêmclusive, colegas que nos vêmpedirpedirpedirpedirpedir a opinião” a opinião” a opinião” a opinião” a opinião”, contam os ir-mãos.

A mãe, Maria Emília, (actual-mente com 74 anos) fazia o tra-balho de limpeza da casa e tam-bém ajudava na cozinha. “Tra-“Tra-“Tra-“Tra-“Tra-tei sempre desta albergariatei sempre desta albergariatei sempre desta albergariatei sempre desta albergariatei sempre desta albergariacomo cuidava da minhacomo cuidava da minhacomo cuidava da minhacomo cuidava da minhacomo cuidava da minhacasa”casa”casa”casa”casa”, diz a matriarca da famí-lia Martinho, adiantando queesta sempre foi a sua segundacasa e que isso mesmo é sentidopelos clientes, que ali se sentembem.

A DISCOTECADE “SAPATINHO DE VERNIZ”

A Albergaria abriu com 14 quar-tos e um bar de apoio. Mas depres-

sa os proprietários perceberam quea capacidade de oferta era peque-na para a procura por parte dasagências de viagem. “E não con-E não con-E não con-E não con-E não con-seguíamos, com este númeroseguíamos, com este númeroseguíamos, com este númeroseguíamos, com este númeroseguíamos, com este númerode quartos rentabilizar o inves-de quartos rentabilizar o inves-de quartos rentabilizar o inves-de quartos rentabilizar o inves-de quartos rentabilizar o inves-timento”timento”timento”timento”timento”, conta Carlos Martinho,adiantando que foi então que de-cidiram ampliar as instalações, demaneira a poderem ter no mínimocapacidade para alojar os passa-geiros de um autocarro.

Compraram então uma parcelade terreno ao lado da albergaria, a

João Rodrigues (proprietário daagência funerária Tarzan), ondeinvestiram em mais 22 quartos. Aalbergaria Josefa d’Óbidos ficavaassim com um total de 34 quartos e

com a sala de pequenos almoçosampliada.

Da parte de baixo do edifícioexistia uma garagem e, AntónioSilvério Martinho, como era umbom cozinheiro, transformou-a emrestaurante.

Zélia Martinho recorda que estecomeçou a funcionar de formamuito rudimentar. O piso ainda erade cimento e os pilares foram pin-tados com riscas amarelas e colo-cados vasos de flores, o tecto for-rado com corticite das câmaras fri-

gorificas e as mesas feitas com astábuas das cofragens da constru-ção do edifício.

“Durante alguns anos funci-“Durante alguns anos funci-“Durante alguns anos funci-“Durante alguns anos funci-“Durante alguns anos funci-onou assim até que foi melho-onou assim até que foi melho-onou assim até que foi melho-onou assim até que foi melho-onou assim até que foi melho-

rado”rado”rado”rado”rado”, recorda Zélia Martinho,acrescentando que as remodela-ções foram sendo feitas progressi-vamente, consoante as possibili-dades. O pai, que viria a falecer em2000, foi o primeiro cozinheiro daAdega da Josefa d’Óbidos e ali per-maneceu durante cerca de trêsanos. Mas depois, como o trabalhoera muito, optaram por contratarum cozinheiro e António SilvérioMartinho passou a ocupar-se, en-tre outras coisas, das compras paraa casa.

Mal a albergaria abriu as suasportas, Carlos Martinho começoua incutir no pai o “bichinho” queuma discoteca poderia ser umaboa aposta, porque a entrada de

dinheiro era imediata. A ideia co-meçou a ganhar forma e viria aconcretizar-se em 1985, com a aber-tura da D’Ayala. Esta viria a funci-onar, sempre aos fins-de-sema-na, durante 14 anos, até Maio de1999.

“Ajudou-nos substancial-“Ajudou-nos substancial-“Ajudou-nos substancial-“Ajudou-nos substancial-“Ajudou-nos substancial-mente do ponto de vista eco-mente do ponto de vista eco-mente do ponto de vista eco-mente do ponto de vista eco-mente do ponto de vista eco-nómico”nómico”nómico”nómico”nómico”, conta o responsávelacerca do espaço nocturno quefez furor durante a década de 90e que chegou a empregar 11 pes-soas.

A D’Ayala atraiu muita gentedurante o seu funcionamento.“Tivemos noites de rodarTivemos noites de rodarTivemos noites de rodarTivemos noites de rodarTivemos noites de rodarmais de mil pessoas”mais de mil pessoas”mais de mil pessoas”mais de mil pessoas”mais de mil pessoas”, recordaCarlos Martinho, destacando queeste espaço funcionava maiscomo uma discoteca de hotel.

Era a única na região que ti-nha raios laser e disc-jockeys,normalmente vindos de Lisboa,e com conhecimentos musicaisdiferenciados.

Era na discoteca que faziam apassagem de ano. Esta estavaligada ao restaurante e as pes-soas podiam escolher a forma debrindar ao novo ano - quem queriaas músicas mais calmas para dan-çar a dois, ficava no restaurante, equem queria “abanar o capacete”

António Silvério Martinho (1930-2000) foi António Silvério Martinho (1930-2000) foi António Silvério Martinho (1930-2000) foi António Silvério Martinho (1930-2000) foi António Silvério Martinho (1930-2000) foio fundador da Albergaria Josefa d’Óbidoso fundador da Albergaria Josefa d’Óbidoso fundador da Albergaria Josefa d’Óbidoso fundador da Albergaria Josefa d’Óbidoso fundador da Albergaria Josefa d’Óbidos

Maria Emília (viúva de António Martinho), e os filhos Carlos e Zélia, Maria Emília (viúva de António Martinho), e os filhos Carlos e Zélia, Maria Emília (viúva de António Martinho), e os filhos Carlos e Zélia, Maria Emília (viúva de António Martinho), e os filhos Carlos e Zélia, Maria Emília (viúva de António Martinho), e os filhos Carlos e Zélia,dão continuidade ao negócio iniciado há 26 anosdão continuidade ao negócio iniciado há 26 anosdão continuidade ao negócio iniciado há 26 anosdão continuidade ao negócio iniciado há 26 anosdão continuidade ao negócio iniciado há 26 anos

Óbidos no início do séc. XX. A Albergaria Josefa d’Óbidos seria erguida 80 anos depois no local assinalado. Óbidos no início do séc. XX. A Albergaria Josefa d’Óbidos seria erguida 80 anos depois no local assinalado. Óbidos no início do séc. XX. A Albergaria Josefa d’Óbidos seria erguida 80 anos depois no local assinalado. Óbidos no início do séc. XX. A Albergaria Josefa d’Óbidos seria erguida 80 anos depois no local assinalado. Óbidos no início do séc. XX. A Albergaria Josefa d’Óbidos seria erguida 80 anos depois no local assinalado.

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

albergaria criada por António Silvério

ia para a discoteca.A primeira noite de passagem

de ano foi feita em 1986 e conse-guiram encher o espaço com 340pessoas a divertirem-se ao som deum disc-jockey. “Foi um êxito”“Foi um êxito”“Foi um êxito”“Foi um êxito”“Foi um êxito”,recordam os irmãos Martinho, adi-antando que nos anos seguintes,entre outros convivas, atraírampessoas como José Mourinho, quedurante três anos seguidos ali pas-sou o reveillon com a família eamigos.

Carlos Martinho conta ainda quena última passagem de ano que oactual treinador do Real Madrid alipassou, veio propositadamente deum jogo que tivera em Coimbrapara se juntar aos familiares quejá lá estavam.

A discoteca ficou conhecida emtoda a região pelos eventos origi-nais que promovia, tais como aspassagens de modelos e noitesde gala. Carlos Martinho lembraque ali decorreu, pela primeiravez na região, um desfile de mo-delos em lingerie, “mas commas commas commas commas comum respeito e dignidade in-um respeito e dignidade in-um respeito e dignidade in-um respeito e dignidade in-um respeito e dignidade in-crível”crível”crível”crível”crível”, fez notar.

O mentor da discoteca temamigos que ainda hoje lhe dizemque traziam os sapatos engraxa-dos dentro do carro e só os cal-

Josefa é nome de bolo e bebida

da casaAs Josefas, pequenos bolos semelhantes a pasteis de fei-

jão, foram uma criação da casa, logo nos seus inícios. MariaEmília lembra que os clientes perguntavam porque não cria-vam um bolo e, com a ajuda de um antigo funcionário, ÁlvaroSilva (actualmente um dos proprietários do Restaurante Alcai-de) inventaram o doce. Durante alguns anos foi a marca dacasa que levavam para as feiras em caixas com o logótipo daAlbergaria. “Vendemos milhares de Josefas, mas depoisVendemos milhares de Josefas, mas depoisVendemos milhares de Josefas, mas depoisVendemos milhares de Josefas, mas depoisVendemos milhares de Josefas, mas depoisacabámos por desistir porque havia muito trabalho eacabámos por desistir porque havia muito trabalho eacabámos por desistir porque havia muito trabalho eacabámos por desistir porque havia muito trabalho eacabámos por desistir porque havia muito trabalho enão tínhamos disponibilidade para ir para as feiras”não tínhamos disponibilidade para ir para as feiras”não tínhamos disponibilidade para ir para as feiras”não tínhamos disponibilidade para ir para as feiras”não tínhamos disponibilidade para ir para as feiras”,lembra Carlos Martinho.

O empresário recorda ainda um certame de doçaria quedecorreu na FIL, em Lisboa, em que logo no primeiro dia ven-deram todo o stock que tinham previsto para os três dias etiveram que fazer mais.

Josefa, nome da pintora obidense dá o nome à albergaria,foi também utilizado para baptizar a bebida da casa, um co-cktail que ainda hoje “sai muito bem”“sai muito bem”“sai muito bem”“sai muito bem”“sai muito bem”, diz Zélia Martinho,escusando-se a revelar os segredos que o compõem.

A bebida foi também criada por Álvaro Silva, com a ajuda deCarlos Martinho. A dupla foi ainda responsável por uma outrabebida - a D’Ayala - feita de propósito para a discoteca.

Sobre o funcionário Álvaro Silva que esteve na base destascriações, Zélia Martinho lembra que este começou a trabalharna albergaria logo na sua construção, como servente de pe-dreiro porque depois queria ficar a trabalhar no espaço comobarman até inícios da década de 90. “Ele era um bom profis-“Ele era um bom profis-“Ele era um bom profis-“Ele era um bom profis-“Ele era um bom profis-sional”sional”sional”sional”sional”, acrescenta a mãe, Maria Emília.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

Cronologia

19301930193019301930 – Nasce António Silvério Martinho, que irá construir aAlbergaria Josefa d’Óbidos

1980 1980 1980 1980 1980 – Começam as negociações e é feita a aquisição doterreno à entrada de Óbidos, pertença do tenente-coronelJustino Moreira

1984 1984 1984 1984 1984 – A 14 de Dezembro é inaugurada a albergaria Josefad’Obidos

1985 1985 1985 1985 1985 – Abertura da discoteca D’Ayala, que funcionou aosfins-de-semana até Maio de 1999

1992 1992 1992 1992 1992 – Termina a construção da segunda fase da alberga-ria, dotando-a de um total de 34 quartos

19961996199619961996 – Os filhos Carlos e Zélia Martinho integram formal-mente a empresa, que passa a chamar-se Josefa d’ÓbidosEmpreendimentos Turísticos Lda

20082008200820082008 – Ultima remodelação do restaurante, na ordem dos75 mil euros

20102010201020102010 – Conclusão da mais recente remodelação da unidadehoteleira, com a redecoração da recepção e dez quartos numinvestimento de cerca de 20 mil euros

20102010201020102010 – Construção dos primeiros quatro apartamentos paraalugar junto à vila

çavam para entrar na discoteca.É que ali era condição entrar desapato e como não se podia en-trar de ténis, até lhe chamavama discoteca do “sapatinho de ver-niz”.

Só na sua recta final, e com aagressividade da concorrênciada GreenHill, é que começarama facilitar a entrada, de modo anão perder clientes.

APOSTA RECENTE NACONSTRUÇÃO DEAPARTAMENTOS

Em 1992, quando foi termina-da a segunda fase da albergaria,o edifício foi avaliado em 600 milcontos (cerca de três milhões deeuros). “Foi um grande inves-“Foi um grande inves-“Foi um grande inves-“Foi um grande inves-“Foi um grande inves-timento e muito dolorosotimento e muito dolorosotimento e muito dolorosotimento e muito dolorosotimento e muito dolorosopara nós”para nós”para nós”para nós”para nós”, disse Carlos Marti-nho, lembrando que na altura ojuro estava a 35%. A sua irmãlembra que o investimento foi fei-to no ano em que o FMI esteve emPortugal para dizer que foi um anode crise mas também de oportuni-dades.

António Silvério Martinho malsabia escrever o nome, mas eramuito bom nas contas, lembramos filhos, destacando a capacida-

de empreendedora do pai. Porexemplo, na altura em que foi ne-cessário ir ao Fundo de Turismopara pedir apoios para a alberga-ria, “ele acabou por arranjarele acabou por arranjarele acabou por arranjarele acabou por arranjarele acabou por arranjaramigos pois achavam curiosaamigos pois achavam curiosaamigos pois achavam curiosaamigos pois achavam curiosaamigos pois achavam curiosaa sua tenacidade e a persistên-a sua tenacidade e a persistên-a sua tenacidade e a persistên-a sua tenacidade e a persistên-a sua tenacidade e a persistên-cia de querer vingar”cia de querer vingar”cia de querer vingar”cia de querer vingar”cia de querer vingar”, destacam.

O patriarca da família, porquenão tivera oportunidade de estu-dar em pequeno, viria a fazer oexame da quarta classe à noite em1956 numa época em que não ha-via Novas Oportunidades. Tinhaentão 26 anos.

Há dois anos o restaurante daJosefa D’Óbidos, com capacida-de para 250 pessoas, sofreu a úl-tima remodelação e em Feverei-ro deste ano,foi a vez de dar umnovo ar à recepção e a 10 quar-tos. “Temos que inovar paraTemos que inovar paraTemos que inovar paraTemos que inovar paraTemos que inovar paranão saturarmos”não saturarmos”não saturarmos”não saturarmos”não saturarmos”, dizem.

Os clientes também gostaramda mudança e têm-no feito sen-tir aos proprietários. Recente-mente também alteraram a for-ma de confecção culinária, adop-tando a “nouvelle cuisine”, mascom mais quantidade.

No início, em 1984, trabalhavamna albergaria a família e mais trêsempregados. Actualmente são 18os trabalhadores, mas já chegaram

a ser 22. “A crise força-nos a“A crise força-nos a“A crise força-nos a“A crise força-nos a“A crise força-nos aisso”isso”isso”isso”isso”, dizem os irmãos, que pas-saram a ter um horário maior nacasa que começou por ser umaempresa em nome individual, de-nominada Albergaria Josefad’Óbidos de António Silvério Mar-tinho. Em 1996 formaram uma so-ciedade por quotas, entre os qua-tro familiares, que apelidaram Jo-sefa d’Óbidos EmpreendimentosTurísticos Lda. A mãe é actualmentea sócia maioritária e “nada se faz“nada se faz“nada se faz“nada se faz“nada se fazsem o consentimento dela”sem o consentimento dela”sem o consentimento dela”sem o consentimento dela”sem o consentimento dela”, di-zem os filhos, que preferiram nãorevelar qual o montante de factu-ração.

A sociedade aposta agora numaoutra vertente - a construção. Es-tão a construir quatro apartamen-tos para alugar junto a Óbidos.“Estamos a fazer devagar, sem“Estamos a fazer devagar, sem“Estamos a fazer devagar, sem“Estamos a fazer devagar, sem“Estamos a fazer devagar, semrecurso a empréstimos”recurso a empréstimos”recurso a empréstimos”recurso a empréstimos”recurso a empréstimos”, expli-ca Carlos Martinho, adiantando quecontinuam a aplicar os velhos prin-cípios do pai, isto é, investir sem-pre com capital próprio para nãoficar a dever nada a ninguém.

Na albergaria são recebidosclientes de todo o mundo e du-rante todo o ano. No entantodestacam que nos últimos tem-pos têm atraído muitos gruposde japoneses, russos e brasilei-ros, além dos portugueses. Nes-ta casa há várias épocas altas aolongo do ano, e o Natal é umadelas. Os eventos que se reali-zam em Óbidos também têm aju-dado na procura de alojamento.

O Festival do Chocolate e a VilaNatal “vieram trazer uma mais“vieram trazer uma mais“vieram trazer uma mais“vieram trazer uma mais“vieram trazer uma maisvalia à ocupação em Óbidos”valia à ocupação em Óbidos”valia à ocupação em Óbidos”valia à ocupação em Óbidos”valia à ocupação em Óbidos”,dizem, mas a crise também já secomeça a reflectir e agora nota-se mais a afluência ao fim-de-semana.

Cada um dos irmãos Martinhotem duas filhas. Ainda são peque-nas, mas Carlos diz que gostariaque estas dessem continuidade àcasa e que a família Martinho con-tinuasse na hotelaria.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

António Silvério Martinho foi durante muitos anos o dono da albergaria e o cozinheiro António Silvério Martinho foi durante muitos anos o dono da albergaria e o cozinheiro António Silvério Martinho foi durante muitos anos o dono da albergaria e o cozinheiro António Silvério Martinho foi durante muitos anos o dono da albergaria e o cozinheiro António Silvério Martinho foi durante muitos anos o dono da albergaria e o cozinheirodo restaurantedo restaurantedo restaurantedo restaurantedo restaurante

A discoteca D’Ayala foi uma referência nos anos 90 e era famosa também pelas suas A discoteca D’Ayala foi uma referência nos anos 90 e era famosa também pelas suas A discoteca D’Ayala foi uma referência nos anos 90 e era famosa também pelas suas A discoteca D’Ayala foi uma referência nos anos 90 e era famosa também pelas suas A discoteca D’Ayala foi uma referência nos anos 90 e era famosa também pelas suaspassagens de ano.passagens de ano.passagens de ano.passagens de ano.passagens de ano.

Aspecto do restaurante. Hoje a albergaria ocupa mais de mil metros quadrados Aspecto do restaurante. Hoje a albergaria ocupa mais de mil metros quadrados Aspecto do restaurante. Hoje a albergaria ocupa mais de mil metros quadrados Aspecto do restaurante. Hoje a albergaria ocupa mais de mil metros quadrados Aspecto do restaurante. Hoje a albergaria ocupa mais de mil metros quadradoscobertos e é composta por hotel, restaurante, bar e sala de reuniõescobertos e é composta por hotel, restaurante, bar e sala de reuniõescobertos e é composta por hotel, restaurante, bar e sala de reuniõescobertos e é composta por hotel, restaurante, bar e sala de reuniõescobertos e é composta por hotel, restaurante, bar e sala de reuniões

Page 68: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

7 | Janeiro | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

A. Marques, Lda – a carroça do António transformou-se n

Apesar da A. Marques, Ldaapenas ter sido oficialmente es-tabelecida como empresa em1990, a sua história confunde-secom a do seu próprio fundador,António Marques. Com apenas11 anos de idade, deixou o pe-queno lugar de Segade, no con-celho de Miranda do Corvo, ondenascera em 1937, para aprenderno Oeste a profissão de vende-dor ambulante de azeite e pe-tróleo.

José Dias, natural da mesmafreguesia, era distribuidor deazeite e estava há alguns anosestabelecido nas Caldas da Rai-nha e foi quem trouxe AntónioMarques, não para as Caldas,mas para o Bombarral.

Naquele tempo quase não ha-via automóveis e a venda era fei-ta numa carroça puxada por umamula. Nos primeiros meses An-tónio Marques andou acompa-nhado, ou por um colega, ou pelopróprio patrão, mas ao fim demenos de um ano ganhou a con-fiança de José Dias, passando aandar sozinho nas voltas.

A aprendizagem estava com-pleta, mas já não voltou para aterra. Os 13 anos de idade foramfeitos nas Caldas da Rainha onde,entretanto, passou a morar naRua 31 de Janeiro, tendo ali co-meçado o negócio da sua vida.

O dia começava às 5 horas damanhã para dar de comer à mulae preparar a carroça. Às 7 horasestava a caminho, quer o sol bri-lhasse, quer estivesse a chover.“Não me lembro de ter deixa-“Não me lembro de ter deixa-“Não me lembro de ter deixa-“Não me lembro de ter deixa-“Não me lembro de ter deixa-do uma volta por fazer pordo uma volta por fazer pordo uma volta por fazer pordo uma volta por fazer pordo uma volta por fazer porcausa do mau tempo”causa do mau tempo”causa do mau tempo”causa do mau tempo”causa do mau tempo”, recor-da António Marques. A carroçanão lhe dava protecção para achuva “e os Invernos eram“e os Invernos eram“e os Invernos eram“e os Invernos eram“e os Invernos erammuito maiores do que estes”muito maiores do que estes”muito maiores do que estes”muito maiores do que estes”muito maiores do que estes”,acrescenta.

Para o caminho levava uma bu-cha e ração para o animal, atéporque o dia era longo e haviamuitos quilómetros para percor-rer e clientes para visitar. O re-gresso era já noite dentro, por-que não deixava ninguém para

trás. “Se algum estivesse na “Se algum estivesse na “Se algum estivesse na “Se algum estivesse na “Se algum estivesse nafazenda eu continuava a vol-fazenda eu continuava a vol-fazenda eu continuava a vol-fazenda eu continuava a vol-fazenda eu continuava a vol-ta e regressava depois”ta e regressava depois”ta e regressava depois”ta e regressava depois”ta e regressava depois”, con-ta.

Cada dia tinha um percurso di-ferente. Para além dos clientesna cidade, havia voltas pelas di-versas aldeias do concelho dasCaldas da Rainha, mas também

nos concelhos vizinhos. Chegavaa ir à Delgada, Baraçais, OlhoMarinho, Atouguia da Baleia,Paínho.

Desses tempos guarda a con-fiança que havia entre as pesso-as: “as cozinhas estavam“as cozinhas estavam“as cozinhas estavam“as cozinhas estavam“as cozinhas estavamsempre abertas, eu entrava,sempre abertas, eu entrava,sempre abertas, eu entrava,sempre abertas, eu entrava,sempre abertas, eu entrava,recolhia o garrafão de petró-recolhia o garrafão de petró-recolhia o garrafão de petró-recolhia o garrafão de petró-recolhia o garrafão de petró-leo e a garrafa de azeite, dei-leo e a garrafa de azeite, dei-leo e a garrafa de azeite, dei-leo e a garrafa de azeite, dei-leo e a garrafa de azeite, dei-xava lá e sabia que depoisxava lá e sabia que depoisxava lá e sabia que depoisxava lá e sabia que depoisxava lá e sabia que depoiseles pagavam, criei uma con-eles pagavam, criei uma con-eles pagavam, criei uma con-eles pagavam, criei uma con-eles pagavam, criei uma con-fiança muito grande com asfiança muito grande com asfiança muito grande com asfiança muito grande com asfiança muito grande com aspessoas e hoje tenho gran-pessoas e hoje tenho gran-pessoas e hoje tenho gran-pessoas e hoje tenho gran-pessoas e hoje tenho gran-des amizades por isso”des amizades por isso”des amizades por isso”des amizades por isso”des amizades por isso”.

Dias de descanso também nãohavia. Os sábados, feriados edias santos eram iguais aos ou-tros. Ao domingo a única coisaque mudava era a volta: pegavanuma carroça diferente e ia ven-der azeitona.

POR CONTA PRÓPRIA EM1962, NA RUA HENRIQUE

SALES

Quando casou com Maria daNazaré, em 1961, António Mar-ques continuava a trabalhar paraJosé Dias, mas à comissão. Já ti-nha um armazém, ainda na Rua31 de Janeiro, em frente ao Tho-maz dos Santos. O espaço eradividido com um colega, Alfredo,que também trabalhava para omesmo patrão.

Depois de casar, António Mar-ques mudou-se para o Bairro dosArneiros, mais tarde para a RuaFormosa e em 1962 fixou-se naRua Henrique Sales.

Foi ali que começou o proces-so de separação do patrão paracomeçar a trabalhar por contaprópria. Arrendou uma casa - que

servia de habitação e armazém -em seu próprio nome, o que de-sagradou a José Dias. “Ele que-“Ele que-“Ele que-“Ele que-“Ele que-ria que eu tivesse arrendadoria que eu tivesse arrendadoria que eu tivesse arrendadoria que eu tivesse arrendadoria que eu tivesse arrendadoa casa em nome dele. Levavaa casa em nome dele. Levavaa casa em nome dele. Levavaa casa em nome dele. Levavaa casa em nome dele. Levavapor semana 200 a 300 contospor semana 200 a 300 contospor semana 200 a 300 contospor semana 200 a 300 contospor semana 200 a 300 contos[1.000 a 1.500 euros] do traba- do traba- do traba- do traba- do traba-lho que eu fazia, mas nuncalho que eu fazia, mas nuncalho que eu fazia, mas nuncalho que eu fazia, mas nuncalho que eu fazia, mas nuncachegava a altura de fazer aschegava a altura de fazer aschegava a altura de fazer aschegava a altura de fazer aschegava a altura de fazer ascontas da minha comissão”contas da minha comissão”contas da minha comissão”contas da minha comissão”contas da minha comissão”,conta António Marques.

Em início de vida de casado oatraso nos pagamentos era, nomínimo, desagradável para An-tónio Marques, até porque dasvárias voltas que fazia, apenasduas lhe foram dadas pelo pa-trão. “As voltas dos outros“As voltas dos outros“As voltas dos outros“As voltas dos outros“As voltas dos outrosdias fui eu que as arranjei, adias fui eu que as arranjei, adias fui eu que as arranjei, adias fui eu que as arranjei, adias fui eu que as arranjei, aclientela era minha”clientela era minha”clientela era minha”clientela era minha”clientela era minha”, sublinha.

Foi em conversa civilizada emvolta de uma mesa - depois deuma ida ao Campo da Mata paraassistir a um jogo de futebol -que as coisas se resolveram. Arelação de amizade e a gratidãode António Marques por José Dias- “devo-lhe muito, porque se“devo-lhe muito, porque se“devo-lhe muito, porque se“devo-lhe muito, porque se“devo-lhe muito, porque seforam os meus pais que meforam os meus pais que meforam os meus pais que meforam os meus pais que meforam os meus pais que mecriaram, foi ele que me ensi-criaram, foi ele que me ensi-criaram, foi ele que me ensi-criaram, foi ele que me ensi-criaram, foi ele que me ensi-nou a ser comerciante”nou a ser comerciante”nou a ser comerciante”nou a ser comerciante”nou a ser comerciante” - im-pediam-no de confrontar o pa-trão e por isso foi Maria da Na-zaré quem tomou a iniciativa.

As voltas que António Mar-ques tinha angariado foram ava-liadas em 75 contos [375 euros],

e foi esse o valor que José Diaspediu para se fazer o negócio.“Mais que isso tinha eu a re-“Mais que isso tinha eu a re-“Mais que isso tinha eu a re-“Mais que isso tinha eu a re-“Mais que isso tinha eu a re-ceber das comissões, masceber das comissões, masceber das comissões, masceber das comissões, masceber das comissões, masnão tinha coragem de lho di-não tinha coragem de lho di-não tinha coragem de lho di-não tinha coragem de lho di-não tinha coragem de lho di-zer e foi a minha mulher quezer e foi a minha mulher quezer e foi a minha mulher quezer e foi a minha mulher quezer e foi a minha mulher quelhe fez ver as coisas”lhe fez ver as coisas”lhe fez ver as coisas”lhe fez ver as coisas”lhe fez ver as coisas”, contaAntónio Marques.

Resolvido este assunto entre

empregado e patrão, é em 1962que António Marques começa oseu próprio negócio, em nomeindividual, contando com a aju-da da esposa, Maria da Nazaré.António continuava nas voltas avender porta a porta pelas aldei-as e pela cidade, agregando maisalguns produtos de mercearia aorol transportado na carroça. Aesposa ficava no armazém, apreparar as coisas da volta e avender ao público no lugar de fru-tas e hortaliças criado tambémno número 48 da Rua HenriqueSales. “A minha mulher farta-“A minha mulher farta-“A minha mulher farta-“A minha mulher farta-“A minha mulher farta-va-se de trabalhar, tinha umava-se de trabalhar, tinha umava-se de trabalhar, tinha umava-se de trabalhar, tinha umava-se de trabalhar, tinha umaclientela boa, se arranjámosclientela boa, se arranjámosclientela boa, se arranjámosclientela boa, se arranjámosclientela boa, se arranjámosalguma coisa na altura foialguma coisa na altura foialguma coisa na altura foialguma coisa na altura foialguma coisa na altura foigraças a ela”graças a ela”graças a ela”graças a ela”graças a ela”, realça AntónioMarques.

A presença na cidade tambémpermitiu alargar horizontes.Aproveitando a proliferação detabernas na altura, António Mar-ques começou a explorar essepotencial, para onde vendia nãosó bebidas espirituosas, comoprodutos de limpeza.

A volta na cidade começou comuma bicicleta pasteleira equipa-da com duas albardas onde con-seguia colocar 10 garrafões. “A“A“A“A“Aroda da frente até levantava”roda da frente até levantava”roda da frente até levantava”roda da frente até levantava”roda da frente até levantava”,recorda.

Com a evolução do negócio,em 1967 António Marques con-

seguia comprar a primeira mo-torizada, com um atrelado, quepermitia não só aumentar as dis-tâncias percorridas, como o vo-lume de produtos transportadoem relação à bicicleta.

Dos tempos em que utilizou amotorizada, conta que só teveum acidente mais grave, em Óbi-

dos, na curva dos Arrifes. “Vi-“Vi-“Vi-“Vi-“Vi-nha da volta, por isso trazianha da volta, por isso trazianha da volta, por isso trazianha da volta, por isso trazianha da volta, por isso traziaos garrafões vazios, o atre-os garrafões vazios, o atre-os garrafões vazios, o atre-os garrafões vazios, o atre-os garrafões vazios, o atre-lado soltou-se e foi bater numlado soltou-se e foi bater numlado soltou-se e foi bater numlado soltou-se e foi bater numlado soltou-se e foi bater numcarro. Partiu-se tudo, mas fe-carro. Partiu-se tudo, mas fe-carro. Partiu-se tudo, mas fe-carro. Partiu-se tudo, mas fe-carro. Partiu-se tudo, mas fe-lizmente ninguém se magooulizmente ninguém se magooulizmente ninguém se magooulizmente ninguém se magooulizmente ninguém se magooue os estragos foram pagose os estragos foram pagose os estragos foram pagose os estragos foram pagose os estragos foram pagospelo seguro”pelo seguro”pelo seguro”pelo seguro”pelo seguro”, conta.

PRIMEIRO AUTOMÓVELPERMITIU EXPANDIR O

NEGÓCIO

À moto seguiu-se a necessi-dade de comprar um carro… etirar a respectiva carta de con-dução.

Como era sozinho nas voltas,não podia parar de trabalharpara ter as aulas. “Quando an-“Quando an-“Quando an-“Quando an-“Quando an-dava nas aldeias pedia páti-dava nas aldeias pedia páti-dava nas aldeias pedia páti-dava nas aldeias pedia páti-dava nas aldeias pedia páti-

os emprestados para deixaros emprestados para deixaros emprestados para deixaros emprestados para deixaros emprestados para deixara carroça e uma bicicletaa carroça e uma bicicletaa carroça e uma bicicletaa carroça e uma bicicletaa carroça e uma bicicletapara ir ter a aula”para ir ter a aula”para ir ter a aula”para ir ter a aula”para ir ter a aula”, conta.

Conseguiu a carta à terceiratentativa e em 1970 comprou oprimeiro furgão, uma Volkswa-gen “pão de forma”, na qual pas-sou a fazer as voltas da vendaporta a porta, abandonando as-sim a carroça e a mula.

O automóvel permitiu aumen-tar as vendas, o que por sua vezaumentou o poder negocial comos fornecedores. Com preçosmais competitivos e um leque deprodutos cada vez mais abran-gente, passou não só a vender aretalho, no porta a porta, como afazer venda por grosso para ca-fés e mercearias.

António Marques recorda ain-da o primeiro negócio maior quefez: “foi uma camioneta de sal“foi uma camioneta de sal“foi uma camioneta de sal“foi uma camioneta de sal“foi uma camioneta de salem caixas de 30 quilos, foi umem caixas de 30 quilos, foi umem caixas de 30 quilos, foi umem caixas de 30 quilos, foi umem caixas de 30 quilos, foi uminstante enquanto as vendi”instante enquanto as vendi”instante enquanto as vendi”instante enquanto as vendi”instante enquanto as vendi”.

Para estes negócios de com-pras em grande quantidade, aesposa tinha um papel funda-mental, sublinha. “Ela sempre“Ela sempre“Ela sempre“Ela sempre“Ela semprefoi muito poupada, punha defoi muito poupada, punha defoi muito poupada, punha defoi muito poupada, punha defoi muito poupada, punha departe algum dinheiro como separte algum dinheiro como separte algum dinheiro como separte algum dinheiro como separte algum dinheiro como sefosse o ordenado dela efosse o ordenado dela efosse o ordenado dela efosse o ordenado dela efosse o ordenado dela equando precisava de com-quando precisava de com-quando precisava de com-quando precisava de com-quando precisava de com-prar quantidades grandesprar quantidades grandesprar quantidades grandesprar quantidades grandesprar quantidades grandespara ter bom preço, pergun-para ter bom preço, pergun-para ter bom preço, pergun-para ter bom preço, pergun-para ter bom preço, pergun-tava-lhe se ela tinha e ela ar-tava-lhe se ela tinha e ela ar-tava-lhe se ela tinha e ela ar-tava-lhe se ela tinha e ela ar-tava-lhe se ela tinha e ela ar-ranjava o dinheiro”ranjava o dinheiro”ranjava o dinheiro”ranjava o dinheiro”ranjava o dinheiro”.

Em 1973 António Marques eMaria da Nazaré então já com osdois filhos, Ana Marques e VítorMarques (na altura respectiva-

A A. Marques, Lda é uma das empresas de distribuição de bebidas de referência na região Oeste e é amaior distribuidora do país das bebidas do grupo Sumol + Compal, estando presente em 15 conce-lhos dos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém. Esta empresa conta com mais de 2.600 clientes e temum volume de negócios que ascende aos 6 milhões de euros. Mas tudo começou com uma carroça euma mula, há 52 anos atrás. António Marques, de 71 anos, foi o fundador e dá nome à empresa quehoje é gerida pelo filho, Vítor Marques, de 46 anos, e a esposa, Teresa Marques, de 47 anos.

Maria da Nazaré e o marido, António Marques foram os fundadores da firma Maria da Nazaré e o marido, António Marques foram os fundadores da firma Maria da Nazaré e o marido, António Marques foram os fundadores da firma Maria da Nazaré e o marido, António Marques foram os fundadores da firma Maria da Nazaré e o marido, António Marques foram os fundadores da firma Teresa Marques (nora dos fundadores) e Vítor Marques (filho) presidem agora aos Teresa Marques (nora dos fundadores) e Vítor Marques (filho) presidem agora aos Teresa Marques (nora dos fundadores) e Vítor Marques (filho) presidem agora aos Teresa Marques (nora dos fundadores) e Vítor Marques (filho) presidem agora aos Teresa Marques (nora dos fundadores) e Vítor Marques (filho) presidem agora aosdestinos da empresadestinos da empresadestinos da empresadestinos da empresadestinos da empresa

O stand da firma nas feiras da Expoeste no início dos O stand da firma nas feiras da Expoeste no início dos O stand da firma nas feiras da Expoeste no início dos O stand da firma nas feiras da Expoeste no início dos O stand da firma nas feiras da Expoeste no início dosanos noventaanos noventaanos noventaanos noventaanos noventa

Page 69: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

7 | Janeiro | 2011

21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

no maior distribuidor da Sumol + Compal em Portugalmente com 11 e 8 anos) e mu-dam-se para o Avenal. Tal comona Rua Henrique Sales, a novacasa serve de habitação, arma-zém e lugar de frutas e hortali-ças. Dois anos mais tarde, de-pois de adquirirem o lote em fren-te, abrem um café e melhoram amercearia, aproveitando o cres-cimento do bairro. Ambos os es-tabelecimentos ainda hoje exis-tem e estão na família.

À medida que os tempos fo-ram evoluindo, também o negó-cio foi mudando. O mercadogrossista começou a ganhar mai-or relevo face às vendas a reta-lho no sistema porta a porta, queforam decaindo com o surgimen-to de mercearias um pouco portodo o lado e também pela cres-cente facilidade de deslocaçãodas pessoas. Esta vertente aca-bou mesmo por ser abandonadaem 1989.

Também a família se foi inte-

grando cada vez mais no negó-cio, com o crescimento dos filhos.Ana e Vítor Marques sempre apro-veitaram todos os tempos livrespara ajudar os pais no negócio eintegraram-no em definitivoquando concluíram o 12.º ano deescolaridade. Quando Ana Mar-ques casou, Carlos Rebelo, o ma-rido, também integrou o negócio.

No que a produtos diz respei-to, a oferta continuou a alargar.“Comecei a negociar em tudo:“Comecei a negociar em tudo:“Comecei a negociar em tudo:“Comecei a negociar em tudo:“Comecei a negociar em tudo:papel higiénico, caixas depapel higiénico, caixas depapel higiénico, caixas depapel higiénico, caixas depapel higiénico, caixas deazeite, bebidas espirituosas,azeite, bebidas espirituosas,azeite, bebidas espirituosas,azeite, bebidas espirituosas,azeite, bebidas espirituosas,bacalhau, detergentes”bacalhau, detergentes”bacalhau, detergentes”bacalhau, detergentes”bacalhau, detergentes”, enu-mera António Marques.

CONCORRÊNCIA DASCOOPERATIVAS LEVOU À

ESPECIALIZAÇÃO

Foi na segunda metade da dé-cada de 80, com o surgimento dascooperativas, como a Coopercal-das, nas Caldas da Rainha, e a

Coopermonte, no Cadaval, quea família Marques teve que to-mar uma decisão: ou continuavacom o comércio por grosso, masnum local fixo montando umcash and carry; ou especializa-va-se numa área de negócio.

Foi esta segunda via a esco-lhida, até porque António Mar-ques já estava de olho na distri-buição dos produtos da Sumolis(as bebidas Sumol e 7 Up).

“Sabia que o distribuidor“Sabia que o distribuidor“Sabia que o distribuidor“Sabia que o distribuidor“Sabia que o distribuidorpara Caldas da Rainha e Óbi-para Caldas da Rainha e Óbi-para Caldas da Rainha e Óbi-para Caldas da Rainha e Óbi-para Caldas da Rainha e Óbi-dos estava a passar por difi-dos estava a passar por difi-dos estava a passar por difi-dos estava a passar por difi-dos estava a passar por difi-culdades e ia ter que fechar,culdades e ia ter que fechar,culdades e ia ter que fechar,culdades e ia ter que fechar,culdades e ia ter que fechar,contactei a Sumolis e eles en-contactei a Sumolis e eles en-contactei a Sumolis e eles en-contactei a Sumolis e eles en-contactei a Sumolis e eles en-tregaram-me a representa-tregaram-me a representa-tregaram-me a representa-tregaram-me a representa-tregaram-me a representa-ção em 1987”ção em 1987”ção em 1987”ção em 1987”ção em 1987”, conta AntónioMarques.

Este foi um grande ponto deviragem do negócio da A. Mar-ques. Apesar de continuar a tra-balhar em nome individual, An-tónio Marques chamou o filhoVítor Marques (então já com 22

Representação da Sumol foi enorme passo para a empresa

A sede da empresa tem dimensões modestas, mas a frota dá uma ideia da A sede da empresa tem dimensões modestas, mas a frota dá uma ideia da A sede da empresa tem dimensões modestas, mas a frota dá uma ideia da A sede da empresa tem dimensões modestas, mas a frota dá uma ideia da A sede da empresa tem dimensões modestas, mas a frota dá uma ideia daimportância da actividade distribuidora.importância da actividade distribuidora.importância da actividade distribuidora.importância da actividade distribuidora.importância da actividade distribuidora.

Quando em 1987 António Mar-ques conseguiu convencer a Su-molis a entregar-lhe a represen-tação, estava longe de imagi-nar a dimensão que o seu negó-cio viria a atingir no futuro.

É o próprio que o afirma:“nunca pensei que chegás-“nunca pensei que chegás-“nunca pensei que chegás-“nunca pensei que chegás-“nunca pensei que chegás-semos a ter o património esemos a ter o património esemos a ter o património esemos a ter o património esemos a ter o património eas representações que te-as representações que te-as representações que te-as representações que te-as representações que te-mos, é um orgulho muitomos, é um orgulho muitomos, é um orgulho muitomos, é um orgulho muitomos, é um orgulho muitogrande, tanto pela parte co-grande, tanto pela parte co-grande, tanto pela parte co-grande, tanto pela parte co-grande, tanto pela parte co-mercial, como por ter a fa-mercial, como por ter a fa-mercial, como por ter a fa-mercial, como por ter a fa-mercial, como por ter a fa-mília que tenho”mília que tenho”mília que tenho”mília que tenho”mília que tenho”.

Nestes 23 anos, tem havido umagrande evolução da empresa, emdiversos campos, tanto nos produ-tos, como na área de actuação eainda na forma de actuar.

A empresa começou a traba-lhar em regime de auto-venda,com três trabalhadores: VítorMarques, o cunhado Carlos Re-belo e um colaborador. “Levá-“Levá-“Levá-“Levá-“Levá-vamos as coisas no carro evamos as coisas no carro evamos as coisas no carro evamos as coisas no carro evamos as coisas no carro evendia-se o que estava navendia-se o que estava navendia-se o que estava navendia-se o que estava navendia-se o que estava nacarrinha, fomos os primei-carrinha, fomos os primei-carrinha, fomos os primei-carrinha, fomos os primei-carrinha, fomos os primei-ros na região nesta área deros na região nesta área deros na região nesta área deros na região nesta área deros na região nesta área denegócio a trabalhar em pré-negócio a trabalhar em pré-negócio a trabalhar em pré-negócio a trabalhar em pré-negócio a trabalhar em pré-venda, com pessoas especi-venda, com pessoas especi-venda, com pessoas especi-venda, com pessoas especi-venda, com pessoas especi-alizadas na venda e serviçoalizadas na venda e serviçoalizadas na venda e serviçoalizadas na venda e serviçoalizadas na venda e serviçode entrega”de entrega”de entrega”de entrega”de entrega”, conta Vítor Mar-ques. Foi em 1990 que este sis-tema foi introduzido, seguindo-se, dois anos depois, a introdu-ção de aparelhos PDA , no qualforam também pioneiros.

Também a gama de produtosassociados à Sumolis foi cres-cendo. Em 1987 a gama era ain-da reduzida. Além das garrafasde 25 centilitros e de 1 litro detara retornável de Sumol e 7 Up,começavam também a surgirestas bebidas em lata e tam-bém os primeiros néctares, daCompal e da Frami, em latas de6 oz (125 mililitros). “O consu-“O consu-“O consu-“O consu-“O consu-

mo destas bebidas estavamo destas bebidas estavamo destas bebidas estavamo destas bebidas estavamo destas bebidas estavaainda pouco desenvolvidaainda pouco desenvolvidaainda pouco desenvolvidaainda pouco desenvolvidaainda pouco desenvolvidaporque a oferta era muitoporque a oferta era muitoporque a oferta era muitoporque a oferta era muitoporque a oferta era muitopouca, mas foi-se desenvol-pouca, mas foi-se desenvol-pouca, mas foi-se desenvol-pouca, mas foi-se desenvol-pouca, mas foi-se desenvol-vendo com o tempo”vendo com o tempo”vendo com o tempo”vendo com o tempo”vendo com o tempo”, contaVítor Marques.

De forma gradual, a empresafoi também expandindo o seuterritório. Começou em 1987 nosconcelhos de Caldas e Óbidos emais tarde a Sumolis foi entre-gando à A. Marques, Lda a dis-tribuição noutros concelhos. Pri-meiro Peniche, depois Rio Mai-or, Bombarral, Lourinhã e Cada-val, mais tarde Cartaxo e Azam-buja. “Houve uma evolução“Houve uma evolução“Houve uma evolução“Houve uma evolução“Houve uma evoluçãonormal, foram-nos entregan-normal, foram-nos entregan-normal, foram-nos entregan-normal, foram-nos entregan-normal, foram-nos entregan-do mais território fruto dodo mais território fruto dodo mais território fruto dodo mais território fruto dodo mais território fruto dotrabalho que fomos desen-trabalho que fomos desen-trabalho que fomos desen-trabalho que fomos desen-trabalho que fomos desen-volvendo e também de coisasvolvendo e também de coisasvolvendo e também de coisasvolvendo e também de coisasvolvendo e também de coisasque correram menos bemque correram menos bemque correram menos bemque correram menos bemque correram menos bemcom outros distribuidorescom outros distribuidorescom outros distribuidorescom outros distribuidorescom outros distribuidoresque actuavam em territóriosque actuavam em territóriosque actuavam em territóriosque actuavam em territóriosque actuavam em territórioscontíguos ao nosso”contíguos ao nosso”contíguos ao nosso”contíguos ao nosso”contíguos ao nosso”, explicaVítor Marques.

É no final de 2008 que a em-presa sofre a maior transforma-ção, por força da fusão entre aSumol e a Compal. Curiosamen-te, na altura da fusão um estudoapontou como melhor estraté-gia uma abordagem directa aomercado, o que, a confirmar-se,

significaria para a A. Marques,Lda a perda de 50% do seu volu-me de facturação, mas o novogrupo decidiu manter, e mes-mo reforçar, a confiança na em-presa caldense.

“O estudo indicava que“O estudo indicava que“O estudo indicava que“O estudo indicava que“O estudo indicava quetodo o litoral e grandes cen-todo o litoral e grandes cen-todo o litoral e grandes cen-todo o litoral e grandes cen-todo o litoral e grandes cen-tros deveria ser feito direc-tros deveria ser feito direc-tros deveria ser feito direc-tros deveria ser feito direc-tros deveria ser feito direc-tamente por eles, mas o quetamente por eles, mas o quetamente por eles, mas o quetamente por eles, mas o quetamente por eles, mas o queé certo é que nos convida-é certo é que nos convida-é certo é que nos convida-é certo é que nos convida-é certo é que nos convida-ram para fazer parte desteram para fazer parte desteram para fazer parte desteram para fazer parte desteram para fazer parte desteprojecto novo e foi umaprojecto novo e foi umaprojecto novo e foi umaprojecto novo e foi umaprojecto novo e foi umagrande prova de confiançagrande prova de confiançagrande prova de confiançagrande prova de confiançagrande prova de confiançae também um grande desa-e também um grande desa-e também um grande desa-e também um grande desa-e também um grande desa-fio que temos vindo a agar-fio que temos vindo a agar-fio que temos vindo a agar-fio que temos vindo a agar-fio que temos vindo a agar-rar”rar”rar”rar”rar”, considera o empresário.

Não só a A. Marques, Lda é aúnica empresa do litoral e gran-des centros a ter a representa-ção da Sumol + Compal, comorecebeu mais território que an-tes era feito por estas empre-sas, nomeadamente Alcobaça,Nazaré, Santarém, Carregado,Alenquer e Torres Vedras.

O peso desta fusão na vidada A. Marques reflecte-se na di-ferença dos números de 2008 e2009. Os funcionários aumenta-ram de 27 para 38, passando a35 em 2010. A facturação aumen-tou de 3,55 milhões de eurospara 5,7 milhões, subindo para

anos) para gerir a representa-ção da Sumolis, passando a de-dicar-se a outros produtos, comoos vinhos e bebidas espirituosas.“E foi assim que a empresa“E foi assim que a empresa“E foi assim que a empresa“E foi assim que a empresa“E foi assim que a empresacresceu, com o nosso esfor-cresceu, com o nosso esfor-cresceu, com o nosso esfor-cresceu, com o nosso esfor-cresceu, com o nosso esfor-ço”ço”ço”ço”ço”, sustenta António Marques.

Para receber a Sumolis, foipreciso criar novas condições. Oarmazém que tinha em casa erademasiado pequeno e por issoforam compradas duas lojas noCasal da Cruz, no Avenal, quedepressa se revelavam igual-mente pequenas. Em 1988 alu-garam um armazém ao cimo daladeira dos Calços, na Lagoa Par-ceira, e dois anos depois, em1990, eram construídos armazénspróprios na Lagoa Parceira, ondeainda hoje a empresa se encon-tra, com uma área coberta de1.000 metros quadrados e 1.500metros quadrados de parque.

O ano de 1990 foi também o dacriação da empresa A. Marques,

Lda. como sociedade por quotas,com os sócios António Marques,a esposa Maria da Nazaré, o filhoVítor Marques e o genro CarlosRebelo. A empresa aglutinava to-dos os negócios da família: a re-presentação da Sumol, o minimercado e o café.

Até aos dias de hoje a socie-dade sofreu algumas alterações.Em 1997 fez-se a separação dasactividades. A A. Marques, Ldapassou a fazer apenas distribui-ção de bebidas, tendo por sóciosAntónio Marques, Maria da Na-zaré e Vítor Marques, sendo cria-da a empresa Calisto Marques,Lda, de António Marques, Mariada Nazaré e Ana Marques, paragerir o café, o mini mercado e adistribuição do café Nicola.

Em 2009, António Marques eMaria da Conceição cederam asquotas das respectivas empresasaos filhos e hoje a A. Marques,Lda tem como sócios Vítor Mar-

os 6 milhões em 2010.Apesar das vendas relaciona-

das com aquele grupo represen-tarem 80 por cento da factura-ção da A. Marques, a empresapreocupou-se em completar aoferta com outras bebidas. “Te-“Te-“Te-“Te-“Te-mos parceiros como a Car-mos parceiros como a Car-mos parceiros como a Car-mos parceiros como a Car-mos parceiros como a Car-valhelhos, com quem traba-valhelhos, com quem traba-valhelhos, com quem traba-valhelhos, com quem traba-valhelhos, com quem traba-lhamos há 20 anos, ou a Par-lhamos há 20 anos, ou a Par-lhamos há 20 anos, ou a Par-lhamos há 20 anos, ou a Par-lhamos há 20 anos, ou a Par-malat, e tivemos a preocupa-malat, e tivemos a preocupa-malat, e tivemos a preocupa-malat, e tivemos a preocupa-malat, e tivemos a preocupa-ção de criar um portfolioção de criar um portfolioção de criar um portfolioção de criar um portfolioção de criar um portfoliocom vinhos da cada regiãocom vinhos da cada regiãocom vinhos da cada regiãocom vinhos da cada regiãocom vinhos da cada regiãodemarcada para ter umademarcada para ter umademarcada para ter umademarcada para ter umademarcada para ter umaoferta mais completa paraoferta mais completa paraoferta mais completa paraoferta mais completa paraoferta mais completa paraos nossos clientes”os nossos clientes”os nossos clientes”os nossos clientes”os nossos clientes”.

Apesar do cenário de reces-são, as perspectivas de VítorMarques são que os resultadosde 2010 se possam manter,“através da consolidação de“através da consolidação de“através da consolidação de“através da consolidação de“através da consolidação declientes e referenciando maisclientes e referenciando maisclientes e referenciando maisclientes e referenciando maisclientes e referenciando maisartigos aos nossos clientes”artigos aos nossos clientes”artigos aos nossos clientes”artigos aos nossos clientes”artigos aos nossos clientes”.

Aproveitando as sinergiascriadas pela A. Marques, Lda,em 1998 Vítor Marques e Tere-sa Marques lançaram a empre-sa Xavier Marques, de explora-ção de máquinas de venda di-recta.

“Foi uma oportunidade de“Foi uma oportunidade de“Foi uma oportunidade de“Foi uma oportunidade de“Foi uma oportunidade denegócio que se ligava com anegócio que se ligava com anegócio que se ligava com anegócio que se ligava com anegócio que se ligava com anossa área e decid imosnossa área e decid imosnossa área e decid imosnossa área e decid imosnossa área e decid imosavançar”avançar”avançar”avançar”avançar”, conta Vítor Mar-

ques.A Xavier Marques foi-se de-

senvolvendo à mesma medidada A. Marques, no que a terri-tório diz respeito, contando jácom 230 máquinas espalhadaspelos mesmos concelhos, dan-do emprego a cinco pessoas.

Nesta área a empresa contacom a Nestlé como principalparceiro de negócio, tendo-seespecializado não só em máqui-nas de moedas, como em má-quinas de chocolate quente ecapuccino para pastelarias,área na qual tem representa-ção exclusiva da Nestlé na suaárea de actuação.

FILHOS PODEM DARCONTINUIDADE A UMNEGÓCIO DE FAMÍLIA

Com três filhos, João, Diogoe Mariana, todos ainda estu-dantes, Vítor Marques acreditaque o futuro desta empresa terácontinuidade na família.

“Haverá sempre uma pers-“Haverá sempre uma pers-“Haverá sempre uma pers-“Haverá sempre uma pers-“Haverá sempre uma pers-pectiva de algum deles vir apectiva de algum deles vir apectiva de algum deles vir apectiva de algum deles vir apectiva de algum deles vir afazer parte da empresa efazer parte da empresa efazer parte da empresa efazer parte da empresa efazer parte da empresa eagarrar os seus destinos,agarrar os seus destinos,agarrar os seus destinos,agarrar os seus destinos,agarrar os seus destinos,porque empresas familiaresporque empresas familiaresporque empresas familiaresporque empresas familiaresporque empresas familiaressão isso mesmo, mas com asão isso mesmo, mas com asão isso mesmo, mas com asão isso mesmo, mas com asão isso mesmo, mas com aconsciência que o caminhoconsciência que o caminhoconsciência que o caminhoconsciência que o caminhoconsciência que o caminhoterá que ser escolhido porterá que ser escolhido porterá que ser escolhido porterá que ser escolhido porterá que ser escolhido poreles e não eles e não eles e não eles e não eles e não imposto por nósimposto por nósimposto por nósimposto por nósimposto por nóspais”pais”pais”pais”pais”.

Dos três, Diogo Marques, de20 anos, que estuda Gestão, é oque está numa área que melhorse enquadra ao trabalho da em-presa. João, de 23 anos, estudaBioquímica e Mariana, com 12anos, está no 7º ano.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

ques, a esposa Teresa Marquese os filhos João, Diogo e Maria-na Marques.

Nos 23 anos de representaçãoda Sumol, a empresa aumentoude três trabalhadores para 40 etem uma frota de 30 carros. Fe-chou 2010 comercializando 350referências de bebidas, que sãoentregues em 24 horas a umalista de 2.600 clientes activos, eregistou uma facturação recor-de de 6 milhões de euros, quefaz da A. Marques, Lda o maiordistribuidor da Sumol + Compalno país.

Um estatuto que Vítor Mar-ques atribui “ao esforço e de-“ao esforço e de-“ao esforço e de-“ao esforço e de-“ao esforço e de-dicação de todas as pesso-dicação de todas as pesso-dicação de todas as pesso-dicação de todas as pesso-dicação de todas as pesso-as que colaboram connoscoas que colaboram connoscoas que colaboram connoscoas que colaboram connoscoas que colaboram connoscoe que contribuíram para quee que contribuíram para quee que contribuíram para quee que contribuíram para quee que contribuíram para quea empresa chegasse ondea empresa chegasse ondea empresa chegasse ondea empresa chegasse ondea empresa chegasse ondehoje está”hoje está”hoje está”hoje está”hoje está”.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected]

19371937193719371937 – Nasce António Mar-ques em Segade (Miranda doCorvo)

19481948194819481948- António Marquesvem para o Bombarral apren-der o ofício de vendedor am-bulante

19621962196219621962- Estabelece-se emnome individual como vende-dor porta a porta, com arma-zém e lugar de frutas na RuaHenrique Sales

19731973197319731973- Passa para o Avenal,também com armazém e lugarde frutas e hortícolas

19751975197519751975- O lugar de frutaspassa a mini-mercado e abreum café (actualmente desig-nado Café 2001)

19871987198719871987- António Marques ga-rante a representação da Su-molis. Aluga duas lojas no Ca-sal da Cruz, Avenal, como ar-mazém.

19881988198819881988- Aluga um armazémmaior na Ladeira dos Calços(Lagoa Parceira)

19891989198919891989- A venda porta a por-ta em retalho é abandonada

19901990199019901990- É criada a sociedadepor quotas A. Marques, Lda,tendo como sócios AntónioMarques, Maria da Nazaré, Ví-tor Marques e Carlos Rebelo.É construído um novo armazémna Lagoa Parceira

19971997199719971997- O café e o mini-mer-cado saem da gestão da A.Marques , Lda. e pasa a de-pender de nova sociedade for-mada por António Marques,Maria da Nazaré e Vítor Mar-ques

19981998199819981998- Vítor Marques e Te-resa Marques criam a XavierMarques, Lda

20092009200920092009- António Marques eMaria da Nazaré cedem as quo-tas ao filho Vítor Marques. AA. Marques, Lda passa a tercomo sócios Vítor Marques,Teresa Marques, João Mar-ques, Diogo Marques e Maria-na Marques

Cronologia

Page 70: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

14 | Janeiro | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

O advogado João Frade e a cabeleireira Maria do Na

que o pai e marido construiu

Em 2011 a ourivesaria e relo-joaria Frade celebra o seu 29ºaniversário, mas já não é o seufundador, João Jesus Frade, queestá à frente do negócio. De-pois da morte do relojoeiro eourives, em 2008, a família as-sumiu os destinos da loja, coma designação social João JesusFrade Herdeiros, mantendo as-sim viva a sua memória.

Desde 1991 que a relojoariae ourivesaria está no número 1do Largo Heróis de Laulila, masa primeira loja abriu em 1981, apoucos metros, na rua da Na-zaré. Durante algum tempo asduas lojas funcionaram lado alado, mas o primeiro estabele-cimento acabaria por fecharquando o relojoeiro morreu.

João Jesus Frade nasceu emMira (distrito de Coimbra) em1952. Depois de terminar o cur-

so de relojoaria, veio trabalharpara as Caldas da Rainha no fi-nal da década de 70, como re-lojoeiro. “Nessa altura hou-Nessa altura hou-Nessa altura hou-Nessa altura hou-Nessa altura hou-

ve uma grande migração deve uma grande migração deve uma grande migração deve uma grande migração deve uma grande migração derelojoeiros e ourives da zonarelojoeiros e ourives da zonarelojoeiros e ourives da zonarelojoeiros e ourives da zonarelojoeiros e ourives da zonaCentro para a nossa re-Centro para a nossa re-Centro para a nossa re-Centro para a nossa re-Centro para a nossa re-giãogiãogiãogiãogião”, recorda o filho, JoãoPedro Frade.

João Jesus e Maria do Nasci-

mento conheceram-se poucodepois do jovem técnico ter vin-do para as Caldas, através deamigos comuns. Casaram-se

em 1975 e em 1982 João JesusFrade decidiu abrir a sua pró-pria relojoaria na rua da Naza-ré, num local onde antes exis-tia uma barbearia de ManuelFaca. “Era o sonho dele ter aEra o sonho dele ter aEra o sonho dele ter aEra o sonho dele ter aEra o sonho dele ter a

sua própria casa, e por issosua própria casa, e por issosua própria casa, e por issosua própria casa, e por issosua própria casa, e por issoficou muito contenteficou muito contenteficou muito contenteficou muito contenteficou muito contente”, recor-dou a mulher, embora salien-tando que o seu marido era uma

pessoa muito reservada.Só quando decidiu mudar o

estabelecimento para o largoHeróis de Laulila, em 1991, éque a loja passou a ser tam-bém uma ourivesaria. “O esta-O esta-O esta-O esta-O esta-

belecimento onde estavabelecimento onde estavabelecimento onde estavabelecimento onde estavabelecimento onde estavaantes era pequeno e ele jáantes era pequeno e ele jáantes era pequeno e ele jáantes era pequeno e ele jáantes era pequeno e ele jáse sentia um pouco aperta-se sentia um pouco aperta-se sentia um pouco aperta-se sentia um pouco aperta-se sentia um pouco aperta-do, até porque começou ado, até porque começou ado, até porque começou ado, até porque começou ado, até porque começou a

vender também algumasvender também algumasvender também algumasvender também algumasvender também algumaspeças em prata e ouropeças em prata e ouropeças em prata e ouropeças em prata e ouropeças em prata e ouro”, con-tou Maria do Nascimento Fra-de.

A primeira loja esteve algumtempo fechada, até que João

Jesus acabou por contratar umafuncionária para a reabrir, pre-servando a memória da antigarelojoaria e a arte que era asua grande paixão. “VinhamVinhamVinhamVinhamVinhampessoas de toda a regiãopessoas de toda a regiãopessoas de toda a regiãopessoas de toda a regiãopessoas de toda a regiãoaqui porque a qualidade doaqui porque a qualidade doaqui porque a qualidade doaqui porque a qualidade doaqui porque a qualidade dotrabalho dele era reconhe-trabalho dele era reconhe-trabalho dele era reconhe-trabalho dele era reconhe-trabalho dele era reconhe-cidocidocidocidocido”, recorda Maria do Nasci-mento Frade.

A loja original fecharia defi-nitivamente com a morte deJoão Jesus Frade, mas o maisrecente estabelecimento co-mercial mantém essa maior vo-cação para a relojoaria do quepara a ourivesaria, apesar deterem também algumas peçaspreciosas à venda e de faze-rem também compra de objec-tos em ouro. “A nossa espe-A nossa espe-A nossa espe-A nossa espe-A nossa espe-cialidade é sem dúvida a re-cialidade é sem dúvida a re-cialidade é sem dúvida a re-cialidade é sem dúvida a re-cialidade é sem dúvida a re-lojoarialojoarialojoarialojoarialojoaria”, garante o herdeiro.

No entanto, com a abertura

Em 1981 João Jesus Frade, natural de Mira, abriu nas Caldas da Rainha, a sua primeira relojoaria narua da Nazaré. Dez anos depois abria a poucos metros, no largo Heróis de Naulila, a ourivesaria ejoalharia Frade, onde continuou a exercer a sua arte e passou também a vender peças em ouro eprata.Depois do seu falecimento, em 2008, seria o filho mais velho, João Pedro, e a sua mãe, Maria doNascimento, a assumirem o negócio, embora tenham contratado um funcionário para estar na loja.Apesar de ser advogado, João Pedro Frade foi quem sempre se interessou pela relojoaria e emcriança chegava a desmontar e montar relógios às escondidas. Mas a sua irmã, Ana Sofia, tambémsabe fazer algumas das tarefas mais simples.

João Jesus Frade (1952-2008) foi o relojoeiro que fundou a ourivesaria e joalharia Frade João Jesus Frade (1952-2008) foi o relojoeiro que fundou a ourivesaria e joalharia Frade João Jesus Frade (1952-2008) foi o relojoeiro que fundou a ourivesaria e joalharia Frade João Jesus Frade (1952-2008) foi o relojoeiro que fundou a ourivesaria e joalharia Frade João Jesus Frade (1952-2008) foi o relojoeiro que fundou a ourivesaria e joalharia Frade Maria do Nascimento e o seu filho João Pedro Frade asseguram a continuidade do Maria do Nascimento e o seu filho João Pedro Frade asseguram a continuidade do Maria do Nascimento e o seu filho João Pedro Frade asseguram a continuidade do Maria do Nascimento e o seu filho João Pedro Frade asseguram a continuidade do Maria do Nascimento e o seu filho João Pedro Frade asseguram a continuidade donegócio, embora não exerçam a actividadenegócio, embora não exerçam a actividadenegócio, embora não exerçam a actividadenegócio, embora não exerçam a actividadenegócio, embora não exerçam a actividade

A família depois da cerimónia da benção das fitas da filha mais nova em Faro e na foto ao lado num fim-de-semana em Peniche durante a década de 80 A família depois da cerimónia da benção das fitas da filha mais nova em Faro e na foto ao lado num fim-de-semana em Peniche durante a década de 80 A família depois da cerimónia da benção das fitas da filha mais nova em Faro e na foto ao lado num fim-de-semana em Peniche durante a década de 80 A família depois da cerimónia da benção das fitas da filha mais nova em Faro e na foto ao lado num fim-de-semana em Peniche durante a década de 80 A família depois da cerimónia da benção das fitas da filha mais nova em Faro e na foto ao lado num fim-de-semana em Peniche durante a década de 80

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

Há dois anos e meio João San-tos, que era proprietário de umasapataria que entretanto encer-rou, foi convidado por João Fra-de para trabalhar na ourivesa-ria e joalharia.

ascimento garantem a continuidade da relojoaria

de vários estabelecimentos de-dicados à compra de ouro, estaúltima vertente perdeu alguminteresse. “O preço do ouroO preço do ouroO preço do ouroO preço do ouroO preço do ouroestá tabelado, mas como fa-está tabelado, mas como fa-está tabelado, mas como fa-está tabelado, mas como fa-está tabelado, mas como fa-zem uma publicidade agres-zem uma publicidade agres-zem uma publicidade agres-zem uma publicidade agres-zem uma publicidade agres-siva as pessoas optam porsiva as pessoas optam porsiva as pessoas optam porsiva as pessoas optam porsiva as pessoas optam poresse tipo de casasesse tipo de casasesse tipo de casasesse tipo de casasesse tipo de casas”, comen-tou João Pedro Frade, que nãoacredita na viabilidade de to-dos estas casas dedicadas àcompra daquele metal.

Depois de terem feito publi-cidade na Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldasa anunciar que compravam ar-tigos em ouro e relógios anti-gos, foi em relação aos relógi-os que houve mais pessoas in-teressadas em vender. “NasNasNasNasNasCaldas há dois ou três co-Caldas há dois ou três co-Caldas há dois ou três co-Caldas há dois ou três co-Caldas há dois ou três co-leccionadores que dão va-leccionadores que dão va-leccionadores que dão va-leccionadores que dão va-leccionadores que dão va-lor a estas peças, mas esselor a estas peças, mas esselor a estas peças, mas esselor a estas peças, mas esselor a estas peças, mas esseé um mercado que tem esta-é um mercado que tem esta-é um mercado que tem esta-é um mercado que tem esta-é um mercado que tem esta-do parado devido à crisedo parado devido à crisedo parado devido à crisedo parado devido à crisedo parado devido à crise”,comentou o filho do fundadorda relojoaria. Também a vendade peças em ouro e prata tive-ram uma grande quebra nasvendas.

Quando João Jesus Frade fa-leceu, em 2008, a sua mulher efilhos decidiram continuar coma ourivesaria e relojoaria a fun-cionar. O filho mais velho, JoãoPedro Frade, chegou a estar al-gum tempo com a ourivesaria,mas como é advogado passouapenas a gerir o negócio emconjunto com a sua mãe. Con-trataram um funcionário, JoãoSantos, que tem vindo a apren-der os procedimentos necessá-rios, para além de recorrerema outras pessoas especializa-das. “Mas neste momentoMas neste momentoMas neste momentoMas neste momentoMas neste momento

grande parte dos trabalhosgrande parte dos trabalhosgrande parte dos trabalhosgrande parte dos trabalhosgrande parte dos trabalhosvoltaram a ser feitos aqui navoltaram a ser feitos aqui navoltaram a ser feitos aqui navoltaram a ser feitos aqui navoltaram a ser feitos aqui naourivesariaourivesariaourivesariaourivesariaourivesaria”, garantiu JoãoPedro Frade.

“Pegamos num relógio“Pegamos num relógio“Pegamos num relógio“Pegamos num relógio“Pegamos num relógioque não funciona, desmon-que não funciona, desmon-que não funciona, desmon-que não funciona, desmon-que não funciona, desmon-tamos e conseguimos quetamos e conseguimos quetamos e conseguimos quetamos e conseguimos quetamos e conseguimos queele comece a trabalhar ou-ele comece a trabalhar ou-ele comece a trabalhar ou-ele comece a trabalhar ou-ele comece a trabalhar ou-tra veztra veztra veztra veztra vez”

A mulher de João Jesus Fra-de, Maria do Nascimento, nas-ceu em Alvorninha em 1952 etem um salão de cabeleireiro.Depois de ter trabalhado nou-tros salões nas Caldas, abriu,com uma sócia, o seu próprioestabelecimento em 1983. OSalão Azul funciona desde a suaabertura na rua Heróis da Gran-de Guerra.

A mulher sempre ajudou oseu marido na ourivesaria, tra-tando do aspecto da montra eda limpeza da loja. Na alturado Natal também ajudava noatendimento ao público, comotoda a família.

Nascido em 1977, João PedroFrade desde pequeno que selembra do estabelecimento co-mercial do seu pai para onde iaquando regressava da escolaprimária da Encosta do Sol.

“Lembro-me de vir com osLembro-me de vir com osLembro-me de vir com osLembro-me de vir com osLembro-me de vir com osmeus amigos até cá abaixomeus amigos até cá abaixomeus amigos até cá abaixomeus amigos até cá abaixomeus amigos até cá abaixoe depois a seguir ia almoçare depois a seguir ia almoçare depois a seguir ia almoçare depois a seguir ia almoçare depois a seguir ia almoçara casa com os meus paisa casa com os meus paisa casa com os meus paisa casa com os meus paisa casa com os meus pais”,recordou.

Logo desde criança começoua achar curioso observar o paienquanto ele desmontava e ar-ranjava relógios. “Fiquei sem-Fiquei sem-Fiquei sem-Fiquei sem-Fiquei sem-pre com esse interesse pelapre com esse interesse pelapre com esse interesse pelapre com esse interesse pelapre com esse interesse pela

relojoaria. Acho piada à for-relojoaria. Acho piada à for-relojoaria. Acho piada à for-relojoaria. Acho piada à for-relojoaria. Acho piada à for-ma como pegamos num re-ma como pegamos num re-ma como pegamos num re-ma como pegamos num re-ma como pegamos num re-lógio que não funciona, des-lógio que não funciona, des-lógio que não funciona, des-lógio que não funciona, des-lógio que não funciona, des-montamos e conseguimosmontamos e conseguimosmontamos e conseguimosmontamos e conseguimosmontamos e conseguimosque ele comece a trabalharque ele comece a trabalharque ele comece a trabalharque ele comece a trabalharque ele comece a trabalharoutra vezoutra vezoutra vezoutra vezoutra vez”, referiu.

A sua mãe também se lem-bra da forma como João Pedrolevava para casa, às escondi-das, alguns relógios para des-montar e “fazer os seus ar-fazer os seus ar-fazer os seus ar-fazer os seus ar-fazer os seus ar-ranjosranjosranjosranjosranjos”.

João Pedro Frade começou aajudar o pai na ourivesaria du-rante umas férias de Verão,quando ainda estava na escolaprimária porque queria juntardinheiro para comprar um com-putador (numa altura em queesta ferramenta ainda não es-tava ao alcance de toda a gen-te). “Fiz um acordo com oFiz um acordo com oFiz um acordo com oFiz um acordo com oFiz um acordo com omeu pai, que me dava algummeu pai, que me dava algummeu pai, que me dava algummeu pai, que me dava algummeu pai, que me dava algumdinheiro por cada dia quedinheiro por cada dia quedinheiro por cada dia quedinheiro por cada dia quedinheiro por cada dia queestivesse na lojaestivesse na lojaestivesse na lojaestivesse na lojaestivesse na loja”, mas comoera criança, apenas fazia com-panhia e tratava de alguns re-cados.

A partir da adolescência pas-sou a trabalhar mais a sério naourivesaria ao fim-de-semanae nas férias da escola. Princi-palmente na altura no Natal,quando havia mais movimentona loja. Mesmo quando foi es-tudar Direito para Lisboa con-tinuou a ajudar o pai ao sába-do. “Ele sempre quis fazer-Ele sempre quis fazer-Ele sempre quis fazer-Ele sempre quis fazer-Ele sempre quis fazer-me ver como era ter de tra-me ver como era ter de tra-me ver como era ter de tra-me ver como era ter de tra-me ver como era ter de tra-balhar, mas também passeibalhar, mas também passeibalhar, mas também passeibalhar, mas também passeibalhar, mas também passeiaqui bons momentosaqui bons momentosaqui bons momentosaqui bons momentosaqui bons momentos”, disse.

Para além de ajudar no aten-dimento, João Pedro Fradeaprendeu a fazer pequenas ta-refas como trocar braceletes e

pilhas dos relógios. Ao fim dealgum tempo começou tambéma fazer trabalhos mais comple-xos nos relógios.

A relojoaria é uma paixão defamília e João Pedro Frade temuma colecção de relógios debolso antigos em casa, algunsdos quais recuperados pelo pai.

A filha de João Jesus e Mariado Nascimento Frade, Ana So-fia, nasceu no mesmo ano emque a o pai abriu a relojoaria eé educadora de infância no Al-garve. “O meu pai sempre meO meu pai sempre meO meu pai sempre meO meu pai sempre meO meu pai sempre mepuxou mais a mim para es-puxou mais a mim para es-puxou mais a mim para es-puxou mais a mim para es-puxou mais a mim para es-tar na ourivesaria, mas elatar na ourivesaria, mas elatar na ourivesaria, mas elatar na ourivesaria, mas elatar na ourivesaria, mas elatambém ajudavatambém ajudavatambém ajudavatambém ajudavatambém ajudava”, contouJoão Pedro Frade. “A minha fi-A minha fi-A minha fi-A minha fi-A minha fi-lha sempre teve mais jeitolha sempre teve mais jeitolha sempre teve mais jeitolha sempre teve mais jeitolha sempre teve mais jeitopara atender as pessoas.para atender as pessoas.para atender as pessoas.para atender as pessoas.para atender as pessoas.Vinha para aqui muitas ve-Vinha para aqui muitas ve-Vinha para aqui muitas ve-Vinha para aqui muitas ve-Vinha para aqui muitas ve-zes aos sábados e nas féri-zes aos sábados e nas féri-zes aos sábados e nas féri-zes aos sábados e nas féri-zes aos sábados e nas féri-asasasasas”, acrescentou a mãe, adi-antando que Ana Sofia tambémsabe executar algumas tarefassimples da actividade de relo-joeiro.

OURIVESARIA PRESIDE ÀASSOCIAÇÃO COMERCIAL

O filho do fundador da ouri-vesaria licenciou-se em Direitona Universidade Lusíada emLisboa e é actualmente advo-gado. Terminada a licenciaturaem 2003, estagiou em Coimbrae Lisboa, tendo trabalhado emduas sociedades de advogados.

João Pedro Frade nunca seinteressou pela possibilidadede se formar na área da relojo-aria e o próprio pai nunca o in-centivou a isso. No entanto,

com o falecimento do pai, aca-bou por se dedicar em parte aesta actividade e procuradotambém aprender mais sobre oofício, tendo até adquirido al-guns livros da especialidadepara serem consultados pelofuncionário da loja.

“Como não temos o co-Como não temos o co-Como não temos o co-Como não temos o co-Como não temos o co-nhecimento que o meu painhecimento que o meu painhecimento que o meu painhecimento que o meu painhecimento que o meu paitinha, tivemos de inovar etinha, tivemos de inovar etinha, tivemos de inovar etinha, tivemos de inovar etinha, tivemos de inovar eprocurar as técnicas maisprocurar as técnicas maisprocurar as técnicas maisprocurar as técnicas maisprocurar as técnicas maisrecentesrecentesrecentesrecentesrecentes”, disse. Têm aposta-do na modernização dos equi-pamentos. “Ainda esta sema-Ainda esta sema-Ainda esta sema-Ainda esta sema-Ainda esta sema-na comprámos uma novana comprámos uma novana comprámos uma novana comprámos uma novana comprámos uma novamáquina de limpeza por ul-máquina de limpeza por ul-máquina de limpeza por ul-máquina de limpeza por ul-máquina de limpeza por ul-tra-sonstra-sonstra-sonstra-sonstra-sons”.

É em representação da ouri-vesaria que João Pedro Fradeocupa actualmente o cargo depresidente da Associação Co-mercial dos Concelhos das Cal-das da Rainha e Óbidos (ACC-CRO), já no segundo mandato.“As ourivesarias e relojoa-As ourivesarias e relojoa-As ourivesarias e relojoa-As ourivesarias e relojoa-As ourivesarias e relojoa-rias são sectores que não fo-rias são sectores que não fo-rias são sectores que não fo-rias são sectores que não fo-rias são sectores que não fo-ram afectados pelas gran-ram afectados pelas gran-ram afectados pelas gran-ram afectados pelas gran-ram afectados pelas gran-des superfícies, embora jádes superfícies, embora jádes superfícies, embora jádes superfícies, embora jádes superfícies, embora jáexistam alguns centros co-existam alguns centros co-existam alguns centros co-existam alguns centros co-existam alguns centros co-merciais com lojas destasmerciais com lojas destasmerciais com lojas destasmerciais com lojas destasmerciais com lojas destas”,comentou.

A principal preocupação dosector acaba por ser a seguran-ça. Por causa do valor das pe-ças que comercializam, estaslojas têm sido um dos alvos pre-ferenciais dos ladrões e da cri-minalidade violenta. “É porÉ porÉ porÉ porÉ porisso que são dos estabeleci-isso que são dos estabeleci-isso que são dos estabeleci-isso que são dos estabeleci-isso que são dos estabeleci-mentos comerc ia is commentos comerc ia is commentos comerc ia is commentos comerc ia is commentos comerc ia is commais segurança, como a vi-mais segurança, como a vi-mais segurança, como a vi-mais segurança, como a vi-mais segurança, como a vi-deovigilância e as grades dedeovigilância e as grades dedeovigilância e as grades dedeovigilância e as grades dedeovigilância e as grades deprotecçãoprotecçãoprotecçãoprotecçãoprotecção”, referiu. Para JoãoPedro Frade, caso os assaltos

violentos continuem, as ourive-sarias terão que se adaptar efuncionar com ainda mais se-gurança, nomeadamente atra-vés de cofres de abertura re-tardada para objectos mais va-liosos e restrições no acesso aoseu interior. “Esperemos queEsperemos queEsperemos queEsperemos queEsperemos quenão seja preciso chegar tãonão seja preciso chegar tãonão seja preciso chegar tãonão seja preciso chegar tãonão seja preciso chegar tãolonge, mas caso seja neces-longe, mas caso seja neces-longe, mas caso seja neces-longe, mas caso seja neces-longe, mas caso seja neces-sário os próprios comerci-sário os próprios comerci-sário os próprios comerci-sário os próprios comerci-sário os próprios comerci-antes serão capazes de seantes serão capazes de seantes serão capazes de seantes serão capazes de seantes serão capazes de seadaptaradaptaradaptaradaptaradaptar”, defende.

No caso da ourivesaria Fradeessa preocupação não é tãogrande porque não têm objec-tos de muito valor, tendo emconta que estão especializadosna relojoaria.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

O mundo dos relógios

19521952195219521952 – Nascem João Jesus eMaria do Nascimento FradeInício da década de 70 – JoãoJesus Frade vem para as Cal-das para trabalhar como relo-joeiro19751975197519751975 - João Jesus e Maria doNascimento Frade casam-se19771977197719771977 – Nasce o filho do ca-sal, João Pedro19821982198219821982 – Abre a relojoaria Fra-de, na rua da Nazaré19821982198219821982 – Nasce a filha do ca-sal, Ana Sofia19911991199119911991 – A ourivesaria e relo-joaria Frade abre no largo He-róis de Naulila20082008200820082008 – Falecimento de JoãoJesus Frade

“Conhecia-o da direcçãoConhecia-o da direcçãoConhecia-o da direcçãoConhecia-o da direcçãoConhecia-o da direcçãoda Associação Comercial eda Associação Comercial eda Associação Comercial eda Associação Comercial eda Associação Comercial etinha confiança no senhortinha confiança no senhortinha confiança no senhortinha confiança no senhortinha confiança no senhorJoãoJoãoJoãoJoãoJoão”, explicou o filho mais ve-lho do fundador da loja.

A princípio João Santos, de 53

anos, só aprendeu a fazer tra-balhos mais simples, como co-locar uma pilha nova num reló-gio, mas a pouco e pouco foiaprendendo o ofício.

“Faço todo o tipo de arran-Faço todo o tipo de arran-Faço todo o tipo de arran-Faço todo o tipo de arran-Faço todo o tipo de arran-

jos nos relógios com meca-jos nos relógios com meca-jos nos relógios com meca-jos nos relógios com meca-jos nos relógios com meca-nismo quartz e também emnismo quartz e também emnismo quartz e também emnismo quartz e também emnismo quartz e também emalguns mecânicosalguns mecânicosalguns mecânicosalguns mecânicosalguns mecânicos”, explicou.Só nos casos dos relógios maisantigos é que recorrem a umserviço externo. “Há muitaHá muitaHá muitaHá muitaHá muita

gente que nos procura paragente que nos procura paragente que nos procura paragente que nos procura paragente que nos procura paraesse tipo de trabalho e queesse tipo de trabalho e queesse tipo de trabalho e queesse tipo de trabalho e queesse tipo de trabalho e quenos trazem relógios até comnos trazem relógios até comnos trazem relógios até comnos trazem relógios até comnos trazem relógios até com100 anos100 anos100 anos100 anos100 anos”, referiu o funcioná-rio.

Para João Santos a relojoaria

é uma área muito interessantee curiosamente há 25 anos ti-nha aprendido a mexer nos me-canismos.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

Cronologia

João Santos trabalha na joalharia há dois anos e meio João Santos trabalha na joalharia há dois anos e meio João Santos trabalha na joalharia há dois anos e meio João Santos trabalha na joalharia há dois anos e meio João Santos trabalha na joalharia há dois anos e meio Os relógios são a especialidade da empresa familiar Os relógios são a especialidade da empresa familiar Os relógios são a especialidade da empresa familiar Os relógios são a especialidade da empresa familiar Os relógios são a especialidade da empresa familiar

Page 72: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Nascido em 1925 na Amado-ra, foi por terras da capital queAmaro da Silva se afirmou comojogador de futebol. Mas nostempos da sua juventude as ha-bilidades com a bola não erampagas a peso de ouro, comohoje. “Se calhar nasci cedo“Se calhar nasci cedo“Se calhar nasci cedo“Se calhar nasci cedo“Se calhar nasci cedodemais”demais”demais”demais”demais”, diz. Por isso, Amaroda Silva começou a trabalharcedo numa empresa de frio, aÁrtico, Lda., que hoje já não exis-te.

Foi nesta altura que traba-lhou com um engenheiro alemãoque diz ter sido “um mestre no“um mestre no“um mestre no“um mestre no“um mestre notrabalho do frio”trabalho do frio”trabalho do frio”trabalho do frio”trabalho do frio”, não só parasi, mas para muitos outros quefizeram desta área a sua profis-são. É no frio e no futebol quese torna homem, aliando sem-pre o trabalho ao desporto. Efoi pelo desporto que há quase58 anos deixa Lisboa para trás eruma à cidade termal, para jo-gar no Caldas.

Amaro da Silva, Lda. – O resultado de “uma vida inte

Amaro da Silva, Fernanda, Maria dos Anjos, uma amiga da família e esposa Maria Luísa numa foto durante a década de cinquenta. Ao lado uma imagem do pai e das filhas Amaro da Silva, Fernanda, Maria dos Anjos, uma amiga da família e esposa Maria Luísa numa foto durante a década de cinquenta. Ao lado uma imagem do pai e das filhas Amaro da Silva, Fernanda, Maria dos Anjos, uma amiga da família e esposa Maria Luísa numa foto durante a década de cinquenta. Ao lado uma imagem do pai e das filhas Amaro da Silva, Fernanda, Maria dos Anjos, uma amiga da família e esposa Maria Luísa numa foto durante a década de cinquenta. Ao lado uma imagem do pai e das filhas Amaro da Silva, Fernanda, Maria dos Anjos, uma amiga da família e esposa Maria Luísa numa foto durante a década de cinquenta. Ao lado uma imagem do pai e das filhas(tirada na segunda-feira) que presidem hoje aos destinos da firma.(tirada na segunda-feira) que presidem hoje aos destinos da firma.(tirada na segunda-feira) que presidem hoje aos destinos da firma.(tirada na segunda-feira) que presidem hoje aos destinos da firma.(tirada na segunda-feira) que presidem hoje aos destinos da firma.

Foi pelo futebol que Amaro da Silva veio parar às Caldas, em 1953. Aos 28 anos, aceitou o convite deArtur Capristano, na altura director do Caldas e seu “segundo pai”“segundo pai”“segundo pai”“segundo pai”“segundo pai”, para vir para a cidade termal a fimde jogar à bola acompanhado pela família, a esposa Maria Luísa e as filhas Maria dos Anjos e Fernanda(a mais nova tinha apenas um mês de vida).Além das habilidades dentro das quatro linhas, Amaro da Silva trazia consigo a experiência de mais deuma década a trabalhar no frio. E assim que aqui chegou começou a trabalhar sozinho, dando inícioàquela que hoje é uma empresa com mais de meio século de existência, que é uma referência a nívelnacional no que ao frio industrial diz respeito, com obra espalhada por todo o país, – a Amaro da Silva,Lda.

Consigo trouxe a família,mulher e duas filhas que aindahoje acompanham o pai nas li-des do frio, à frente da Amaroda Silva, Lda.

Maria dos Anjos, a filha mais

velha (nascida em 1950), tinhatrês anos quando chegou àsCaldas. Fernanda nasceu em1953 e tinha apenas um mês. Foinas Caldas que cresceram, es-tudaram, constituíram família ese tornaram empresárias de su-cesso. Por isso mesmo hoje di-

zem que se sentem “comple-“comple-“comple-“comple-“comple-tamente caldenses”tamente caldenses”tamente caldenses”tamente caldenses”tamente caldenses”.

Assim que chegou, Amaro daSilva começou a trabalhar sozi-nho, criando ‘A Reparadora deFrigoríficos das Caldas da Rai-

nha’. E lembra-se bem dessestempos em que, sem um carropara se deslocar, sempre que erapreciso “agarrava na mala da“agarrava na mala da“agarrava na mala da“agarrava na mala da“agarrava na mala daferramenta e ia à bilheteiraferramenta e ia à bilheteiraferramenta e ia à bilheteiraferramenta e ia à bilheteiraferramenta e ia à bilheteirados Capristanos buscar umdos Capristanos buscar umdos Capristanos buscar umdos Capristanos buscar umdos Capristanos buscar umbilhete branco para viajarbilhete branco para viajarbilhete branco para viajarbilhete branco para viajarbilhete branco para viajarnas camionetas”nas camionetas”nas camionetas”nas camionetas”nas camionetas” para onde o

serviço o chamava. Cerca de trêsanos depois, o então presiden-te do Caldas deu-lhe um carro.“Um Ford Anglia preto”“Um Ford Anglia preto”“Um Ford Anglia preto”“Um Ford Anglia preto”“Um Ford Anglia preto”, lem-bra. O trabalho ficou mais fácil,depois de alguns anos a deslo-

car-se em camionetas.Sozinho, Amaro da Silva per-

corria a zona Oeste, a repararfrigoríficos domésticos, balcõese vitrinas. “Depois comecei a“Depois comecei a“Depois comecei a“Depois comecei a“Depois comecei aser conhecido e conforme osser conhecido e conforme osser conhecido e conforme osser conhecido e conforme osser conhecido e conforme osanos foram passando fuianos foram passando fuianos foram passando fuianos foram passando fuianos foram passando fuiaumentando o serviço. Comoaumentando o serviço. Comoaumentando o serviço. Comoaumentando o serviço. Comoaumentando o serviço. Como

já não dava conta do recadojá não dava conta do recadojá não dava conta do recadojá não dava conta do recadojá não dava conta do recadosozinho, meti um emprega-sozinho, meti um emprega-sozinho, meti um emprega-sozinho, meti um emprega-sozinho, meti um emprega-do, depois dois”do, depois dois”do, depois dois”do, depois dois”do, depois dois”, conta o em-presário, enquanto recorda“uma vida inteira dedicada“uma vida inteira dedicada“uma vida inteira dedicada“uma vida inteira dedicada“uma vida inteira dedicadaa fazer frio”a fazer frio”a fazer frio”a fazer frio”a fazer frio”.

É na Rua do Cais, numa pe-quena oficina, que a empresa dáum passo importante. Às repara-ções que ocuparam os primeirosanos de actividade, vem então jun-tar-se a construção de armários,frigoríficos, balcões. Em 1967 Ama-ro da Silva muda o nome à sua

empresa, para Frimóvel.Aliada à sua vida profissional, o

empresário nunca deixou o mundodesportivo. Quando deixou de jo-gar, tornou-se treinador e não sótreinou o clube que o acolheu nasCaldas (onde também chegou amembro da direcção) como tam-bém alguns clubes da região, comoo Mirense ou o Marrazes. Mais doque da actividade profissional dopai, a que hoje dão continuidade, édesta vida ligada ao desporto queas filhas mais se recordam.

“Recordo-me perfeitamente“Recordo-me perfeitamente“Recordo-me perfeitamente“Recordo-me perfeitamente“Recordo-me perfeitamentede ver o meu pai jogar no Cal-de ver o meu pai jogar no Cal-de ver o meu pai jogar no Cal-de ver o meu pai jogar no Cal-de ver o meu pai jogar no Cal-das. Naquela altura as coisasdas. Naquela altura as coisasdas. Naquela altura as coisasdas. Naquela altura as coisasdas. Naquela altura as coisaseram vividas de maneira dife-eram vividas de maneira dife-eram vividas de maneira dife-eram vividas de maneira dife-eram vividas de maneira dife-rente, todas as pessoas se jun-rente, todas as pessoas se jun-rente, todas as pessoas se jun-rente, todas as pessoas se jun-rente, todas as pessoas se jun-tavam para puxar pela equipatavam para puxar pela equipatavam para puxar pela equipatavam para puxar pela equipatavam para puxar pela equipae ao domingo a minha mãe le-e ao domingo a minha mãe le-e ao domingo a minha mãe le-e ao domingo a minha mãe le-e ao domingo a minha mãe le-vava-me ao futebol”vava-me ao futebol”vava-me ao futebol”vava-me ao futebol”vava-me ao futebol”, lembraMaria dos Anjos. Embora maisnova, Fernanda também guardamuitas memórias dessa altura.“Lembro-me de irmos para o“Lembro-me de irmos para o“Lembro-me de irmos para o“Lembro-me de irmos para o“Lembro-me de irmos para o

Amaro da Silva quando era jogador do Amaro da Silva quando era jogador do Amaro da Silva quando era jogador do Amaro da Silva quando era jogador do Amaro da Silva quando era jogador doCaldas.Caldas.Caldas.Caldas.Caldas.

As filhas Fernanda e Maria dos Anjos em As filhas Fernanda e Maria dos Anjos em As filhas Fernanda e Maria dos Anjos em As filhas Fernanda e Maria dos Anjos em As filhas Fernanda e Maria dos Anjos emcriançascriançascriançascriançascrianças

Pavilhão da firma montado no Parque D. Carlos I quando a Feira da Fruta ali se Pavilhão da firma montado no Parque D. Carlos I quando a Feira da Fruta ali se Pavilhão da firma montado no Parque D. Carlos I quando a Feira da Fruta ali se Pavilhão da firma montado no Parque D. Carlos I quando a Feira da Fruta ali se Pavilhão da firma montado no Parque D. Carlos I quando a Feira da Fruta ali serealizava nos anos oitentarealizava nos anos oitentarealizava nos anos oitentarealizava nos anos oitentarealizava nos anos oitenta

Page 73: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

eira dedicada a fazer frio”café dos Capristanos ao do-café dos Capristanos ao do-café dos Capristanos ao do-café dos Capristanos ao do-café dos Capristanos ao do-mingo, depois da bola. E paramingo, depois da bola. E paramingo, depois da bola. E paramingo, depois da bola. E paramingo, depois da bola. E paraa ‘Caseta’, na Estrada de Tor-a ‘Caseta’, na Estrada de Tor-a ‘Caseta’, na Estrada de Tor-a ‘Caseta’, na Estrada de Tor-a ‘Caseta’, na Estrada de Tor-nada, íamos jantar, convivernada, íamos jantar, convivernada, íamos jantar, convivernada, íamos jantar, convivernada, íamos jantar, convivercom as famílias dos outros jo-com as famílias dos outros jo-com as famílias dos outros jo-com as famílias dos outros jo-com as famílias dos outros jo-gadores e dirigentes, e eu ador-gadores e dirigentes, e eu ador-gadores e dirigentes, e eu ador-gadores e dirigentes, e eu ador-gadores e dirigentes, e eu ador-mecia lá muitas vezes”mecia lá muitas vezes”mecia lá muitas vezes”mecia lá muitas vezes”mecia lá muitas vezes”.

Do trabalho do pai têm recorda-ções vagas, mas lembram-se “do“do“do“do“dopai a trabalhar numa divisãopai a trabalhar numa divisãopai a trabalhar numa divisãopai a trabalhar numa divisãopai a trabalhar numa divisãoda casa na Rua Fonte Pinheiro,da casa na Rua Fonte Pinheiro,da casa na Rua Fonte Pinheiro,da casa na Rua Fonte Pinheiro,da casa na Rua Fonte Pinheiro,numa oficina muito modesta,numa oficina muito modesta,numa oficina muito modesta,numa oficina muito modesta,numa oficina muito modesta,com o primeiro empregado, ocom o primeiro empregado, ocom o primeiro empregado, ocom o primeiro empregado, ocom o primeiro empregado, oZé, nos prédios do Viola”Zé, nos prédios do Viola”Zé, nos prédios do Viola”Zé, nos prédios do Viola”Zé, nos prédios do Viola”.

O ‘Zé’ foi o primeiro de muitosempregados que passaram pelaempresa. “Todos os que mexem“Todos os que mexem“Todos os que mexem“Todos os que mexem“Todos os que mexemno frio passaram por aqui. Istono frio passaram por aqui. Istono frio passaram por aqui. Istono frio passaram por aqui. Istono frio passaram por aqui. Istofoi a casa-mãe, uma escola. Efoi a casa-mãe, uma escola. Efoi a casa-mãe, uma escola. Efoi a casa-mãe, uma escola. Efoi a casa-mãe, uma escola. Epassou por aqui muita gente”passou por aqui muita gente”passou por aqui muita gente”passou por aqui muita gente”passou por aqui muita gente”,afiança o empresário, que diz ser“uma das pessoas mais velhas“uma das pessoas mais velhas“uma das pessoas mais velhas“uma das pessoas mais velhas“uma das pessoas mais velhasem Portugal a trabalhar noem Portugal a trabalhar noem Portugal a trabalhar noem Portugal a trabalhar noem Portugal a trabalhar nofrio”frio”frio”frio”frio”. Afinal já lá vão mais de 60anos desde que começou a traba-lhar em Lisboa. “Nunca conheci“Nunca conheci“Nunca conheci“Nunca conheci“Nunca conhecioutro ofício, dediquei-me sem-outro ofício, dediquei-me sem-outro ofício, dediquei-me sem-outro ofício, dediquei-me sem-outro ofício, dediquei-me sem-pre ao frio”pre ao frio”pre ao frio”pre ao frio”pre ao frio”, vinca.

FILHAS DEIXARAM SONHOS DELADO PARA AJUDAREM O PAI

É nos finais dos anos 60 que afilha mais velha, Maria dos Anjos,começa a trabalhar com o pai. “No“No“No“No“Noinício lá ia eu na camionetainício lá ia eu na camionetainício lá ia eu na camionetainício lá ia eu na camionetainício lá ia eu na camionetados Capristanos e não erados Capristanos e não erados Capristanos e não erados Capristanos e não erados Capristanos e não erapreciso ter um gestor de con-preciso ter um gestor de con-preciso ter um gestor de con-preciso ter um gestor de con-preciso ter um gestor de con-ta nem ninguém. Metia tudota nem ninguém. Metia tudota nem ninguém. Metia tudota nem ninguém. Metia tudota nem ninguém. Metia tudona cabecinha e pronto, nemna cabecinha e pronto, nemna cabecinha e pronto, nemna cabecinha e pronto, nemna cabecinha e pronto, nemhavia facturas naquele tem-havia facturas naquele tem-havia facturas naquele tem-havia facturas naquele tem-havia facturas naquele tem-po nem nada, nem tive gran-po nem nada, nem tive gran-po nem nada, nem tive gran-po nem nada, nem tive gran-po nem nada, nem tive gran-des problemas para rece-des problemas para rece-des problemas para rece-des problemas para rece-des problemas para rece-ber”ber”ber”ber”ber”, conta Amaro da Silva.

Quando Maria dos Anjos aca-ba o Curso Geral de Comércio naEscola Rafael Bordalo Pinheiro,o negócio do pai trabalhava jácom números maiores e a filha foiajudar com os papéis e as contas.“Vim, sempre na expectativa de“Vim, sempre na expectativa de“Vim, sempre na expectativa de“Vim, sempre na expectativa de“Vim, sempre na expectativa deque não era bem isto que que-que não era bem isto que que-que não era bem isto que que-que não era bem isto que que-que não era bem isto que que-ria”ria”ria”ria”ria”, lembra Maria dos Anjos, quena altura ainda alimentava o so-nho de ser assistente de bordo.“Acabei por pensar mais com“Acabei por pensar mais com“Acabei por pensar mais com“Acabei por pensar mais com“Acabei por pensar mais como coração do que com a cabe-o coração do que com a cabe-o coração do que com a cabe-o coração do que com a cabe-o coração do que com a cabe-ça e fiquei”ça e fiquei”ça e fiquei”ça e fiquei”ça e fiquei”, conta.

Uns anos depois de Maria dosAnjos, Fernanda torna-se o novoreforço da empresa de Amaro daSilva. “Quase vim por arrasto,“Quase vim por arrasto,“Quase vim por arrasto,“Quase vim por arrasto,“Quase vim por arrasto,

sempre ouvi dizer que quandosempre ouvi dizer que quandosempre ouvi dizer que quandosempre ouvi dizer que quandosempre ouvi dizer que quandoacabasse o curso comercialacabasse o curso comercialacabasse o curso comercialacabasse o curso comercialacabasse o curso comercialviria para a empresa”viria para a empresa”viria para a empresa”viria para a empresa”viria para a empresa”, conta afilha mais nova. Admite que a pro-fissão que gostaria de ter tido pas-sava pelo contacto com o público enão pelo trabalho à secretária, mas“ao vir para a empresa sabia“ao vir para a empresa sabia“ao vir para a empresa sabia“ao vir para a empresa sabia“ao vir para a empresa sabiaque os estava a ajudar e nuncaque os estava a ajudar e nuncaque os estava a ajudar e nuncaque os estava a ajudar e nuncaque os estava a ajudar e nuncapensei ir embora e deixá-los”pensei ir embora e deixá-los”pensei ir embora e deixá-los”pensei ir embora e deixá-los”pensei ir embora e deixá-los”.A sociedade da Amaro da Silva, Lda.fica completa com a mãe, MariaLuísa, embora esta nunca tenhaefectivamente trabalhado na em-presa.

Hoje, as filhas garantem que nãose arrependem da opção que to-maram já lá vão umas décadas.Maria dos Anjos diz que se entregaà empresa “de corpo e alma”“de corpo e alma”“de corpo e alma”“de corpo e alma”“de corpo e alma”. Elogo acrescenta: “aliás, temos“aliás, temos“aliás, temos“aliás, temos“aliás, temostodos dado o nosso melhor,todos dado o nosso melhor,todos dado o nosso melhor,todos dado o nosso melhor,todos dado o nosso melhor,uma empresa familiar não seuma empresa familiar não seuma empresa familiar não seuma empresa familiar não seuma empresa familiar não seaguenta se não puxarmos to-aguenta se não puxarmos to-aguenta se não puxarmos to-aguenta se não puxarmos to-aguenta se não puxarmos to-dos para o mesmo lado”dos para o mesmo lado”dos para o mesmo lado”dos para o mesmo lado”dos para o mesmo lado”.

À união junta-se um outro as-pecto importante: muito trabalhoe muita dedicação. “Toda a vida“Toda a vida“Toda a vida“Toda a vida“Toda a vidatrabalhei muito”trabalhei muito”trabalhei muito”trabalhei muito”trabalhei muito”, afirma Amaroda Silva, e o trabalho obrigou-omuitas vezes a levantar-se duran-te a noite para dar resposta aospedidos. Numa vida inteira de de-dicação só se recusou a fazer doisserviços. Um era trabalho que im-plicasse andar de barco. “Fui cha-“Fui cha-“Fui cha-“Fui cha-“Fui cha-mado duas vezes para ir àsmado duas vezes para ir àsmado duas vezes para ir àsmado duas vezes para ir àsmado duas vezes para ir àsBerlengas, mas jurei para nun-Berlengas, mas jurei para nun-Berlengas, mas jurei para nun-Berlengas, mas jurei para nun-Berlengas, mas jurei para nun-ca mais”ca mais”ca mais”ca mais”ca mais”, e enquanto se lembrada peripécia garante até seagoniar com a memória. “Es-“Es-“Es-“Es-“Es-tive mesmo perto, mas otive mesmo perto, mas otive mesmo perto, mas otive mesmo perto, mas otive mesmo perto, mas omar estava tão mau quemar estava tão mau quemar estava tão mau quemar estava tão mau quemar estava tão mau quenão consegui e voltei paranão consegui e voltei paranão consegui e voltei paranão consegui e voltei paranão consegui e voltei paratrás. Dizia muitas vezestrás. Dizia muitas vezestrás. Dizia muitas vezestrás. Dizia muitas vezestrás. Dizia muitas vezesque podia ser o melhor ne-que podia ser o melhor ne-que podia ser o melhor ne-que podia ser o melhor ne-que podia ser o melhor ne-gócio, e mesmo assim eugócio, e mesmo assim eugócio, e mesmo assim eugócio, e mesmo assim eugócio, e mesmo assim eunão queria”não queria”não queria”não queria”não queria”.

A segunda nega teve a vercom a manutenção das câma-ras de conservação das mor-gues. “Ainda estava em Lis-“Ainda estava em Lis-“Ainda estava em Lis-“Ainda estava em Lis-“Ainda estava em Lis-boa e fui chamado à boa e fui chamado à boa e fui chamado à boa e fui chamado à boa e fui chamado à mor-mor-mor-mor-mor-gue de um hospital, tambémgue de um hospital, tambémgue de um hospital, tambémgue de um hospital, tambémgue de um hospital, tambémjurei para nunca mais. Mes-jurei para nunca mais. Mes-jurei para nunca mais. Mes-jurei para nunca mais. Mes-jurei para nunca mais. Mes-mo agora, e com todo o de-mo agora, e com todo o de-mo agora, e com todo o de-mo agora, e com todo o de-mo agora, e com todo o de-vido respeito, ninguém aquivido respeito, ninguém aquivido respeito, ninguém aquivido respeito, ninguém aquivido respeito, ninguém aquise mostra disponível parase mostra disponível parase mostra disponível parase mostra disponível parase mostra disponível parafazer esse trabalho”fazer esse trabalho”fazer esse trabalho”fazer esse trabalho”fazer esse trabalho”.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

1953 – 1953 – 1953 – 1953 – 1953 – Amaro da Silva vem para as Caldas para jogar à bola ecria ‘A Reparadora de Frigoríficos das Caldas da Rainha’

1967 – 1967 – 1967 – 1967 – 1967 – A empresa inicial dá lugar à ‘Frimóvel’. Pouco tempodepois a filha mais velha, Maria dos Anjos, começa a trabalhar como pai

1970 – 1970 – 1970 – 1970 – 1970 – Empresa muda-se da Rua do Cais para a Rua da Caridade,onde se mantém durante 39 anos. Cerca de um ano mais tarde,Fernanda junta-se ao pai e à irmã

1976 – 1976 – 1976 – 1976 – 1976 – Amaro da Silva dá sociedade à esposa e filhas e é criadaa Amaro da Silva, Lda., capital social de 50 mil euros

2009 – 2009 – 2009 – 2009 – 2009 – A Amaro da Silva, Lda. muda as suas instalações para aZona Industrial das Caldas da Rainha

Crescimento sustentado, colaboradores e clientes na base do sucesso

Na década de 80 a empresachegou a ter 30 empregados.Eram tempos diferentes. Por umlado, os armários frigoríficoseram feitos em madeira, o queobrigava a ter trabalhadores decarpintaria. Por outro, estes fo-ram tempos áureos no sector daagricultura e fruticultura, sec-tor que foi sempre um impor-tante cliente de Amaro da Silva.“Só em 1982 a Amaro da Sil-“Só em 1982 a Amaro da Sil-“Só em 1982 a Amaro da Sil-“Só em 1982 a Amaro da Sil-“Só em 1982 a Amaro da Sil-va, Lda. montou 92 câmarasva, Lda. montou 92 câmarasva, Lda. montou 92 câmarasva, Lda. montou 92 câmarasva, Lda. montou 92 câmarasfrigoríficas para fruta”frigoríficas para fruta”frigoríficas para fruta”frigoríficas para fruta”frigoríficas para fruta”, ga-rante o empresário.

Com o passar dos anos, asexigências do mercado muda-ram, o que levou a alteraçõesna empresa. O fim dos traba-lhos em madeira tornou dispen-sável a colaboração de profissi-onais de carpintaria. Além dis-so, os pequenos produtores co-meçaram a agrupar-se em coo-perativas e associações e aAmaro da Silva, Lda. passou aapostar em grandes câmaras,em vez das tradicionais peque-nas câmaras frigoríficas.

A viragem para o frio indus-trial é um momento marcantena história da empresa. Hoje, aAmaro da Silva, Lda. trabalhasobretudo para grandes projec-tos, com “todo o género de“todo o género de“todo o género de“todo o género de“todo o género defrio e de grandes dimen-frio e de grandes dimen-frio e de grandes dimen-frio e de grandes dimen-frio e de grandes dimen-sões”sões”sões”sões”sões”, em todo o território na-cional, continente e regiões au-tónomas, e em África. Mas por-que os sectores da agricultura efruticultura são os seus maio-res clientes, o grosso do traba-lho da empresa realiza-se naregião Oeste e nas Beiras. Tra-balhos de maiores dimensõesobrigaram, também, a instala-ções maiores. Por isso a empre-sa está hoje num armazém daZona Industrial, para onde mu-dou em 2009, depois de 39 anosna Rua da Caridade, no centroda cidade.

Hoje, a Amaro da Silva contacom 14 colaboradores, uma“peça fundamental para o“peça fundamental para o“peça fundamental para o“peça fundamental para o“peça fundamental para osucesso da empresa”sucesso da empresa”sucesso da empresa”sucesso da empresa”sucesso da empresa”, garan-tem os gerentes. “Esta é uma“Esta é uma“Esta é uma“Esta é uma“Esta é uma

actividade de pessoal espe-actividade de pessoal espe-actividade de pessoal espe-actividade de pessoal espe-actividade de pessoal espe-cializado”cializado”cializado”cializado”cializado”, defende o fundador,acrescentando que a empresatem colaboradores que se man-têm na casa há muitos anos. “A“A“A“A“Aempresa está na vanguardaempresa está na vanguardaempresa está na vanguardaempresa está na vanguardaempresa está na vanguardado sector frio, mas este su-do sector frio, mas este su-do sector frio, mas este su-do sector frio, mas este su-do sector frio, mas este su-cesso não se deve apenas àcesso não se deve apenas àcesso não se deve apenas àcesso não se deve apenas àcesso não se deve apenas àgerência, mas também aosgerência, mas também aosgerência, mas também aosgerência, mas também aosgerência, mas também aosnossos colaboradores”nossos colaboradores”nossos colaboradores”nossos colaboradores”nossos colaboradores”,acrescenta Maria dos Anjos.“Sabemos que podemos con-“Sabemos que podemos con-“Sabemos que podemos con-“Sabemos que podemos con-“Sabemos que podemos con-tar com os nossos colabora-tar com os nossos colabora-tar com os nossos colabora-tar com os nossos colabora-tar com os nossos colabora-dores, e isso também nos aju-dores, e isso também nos aju-dores, e isso também nos aju-dores, e isso também nos aju-dores, e isso também nos aju-da a crescer”da a crescer”da a crescer”da a crescer”da a crescer”.

À competência e qualidade doserviço prestado junta-se, comoingrediente para o sucesso, “a“a“a“a“atransparência com que sem-transparência com que sem-transparência com que sem-transparência com que sem-transparência com que sem-pre lidámos com os nossospre lidámos com os nossospre lidámos com os nossospre lidámos com os nossospre lidámos com os nossosclientes ao longo de todosclientes ao longo de todosclientes ao longo de todosclientes ao longo de todosclientes ao longo de todosestes anos”estes anos”estes anos”estes anos”estes anos”. E depois, a apostana inovação. “Apostamos for-“Apostamos for-“Apostamos for-“Apostamos for-“Apostamos for-te na atmosfera controlada,te na atmosfera controlada,te na atmosfera controlada,te na atmosfera controlada,te na atmosfera controlada,em que o frio é rigorosamen-em que o frio é rigorosamen-em que o frio é rigorosamen-em que o frio é rigorosamen-em que o frio é rigorosamen-te igual mas na qual se retirate igual mas na qual se retirate igual mas na qual se retirate igual mas na qual se retirate igual mas na qual se retiratodo o oxigénio das câmarastodo o oxigénio das câmarastodo o oxigénio das câmarastodo o oxigénio das câmarastodo o oxigénio das câmarasfrigoríficas”frigoríficas”frigoríficas”frigoríficas”frigoríficas”. Uma vertente dofrio virada para a fruticultura,que permite que a fruta não res-pire e, por isso mesmo, se con-serve inalterada durante muitotempo.

Para esta aposta a Amaro daSilva conta com o apoio de umaempresa holandesa. “Quando“Quando“Quando“Quando“Quando

as coisas nos ultrapassamas coisas nos ultrapassamas coisas nos ultrapassamas coisas nos ultrapassamas coisas nos ultrapassamtemos que pedir ajuda e ro-temos que pedir ajuda e ro-temos que pedir ajuda e ro-temos que pedir ajuda e ro-temos que pedir ajuda e ro-dearmo-nos de pessoas com-dearmo-nos de pessoas com-dearmo-nos de pessoas com-dearmo-nos de pessoas com-dearmo-nos de pessoas com-petentes para poder vencerpetentes para poder vencerpetentes para poder vencerpetentes para poder vencerpetentes para poder vencerneste mercado que é bastan-neste mercado que é bastan-neste mercado que é bastan-neste mercado que é bastan-neste mercado que é bastan-te competitivo”te competitivo”te competitivo”te competitivo”te competitivo”, explica Mariados Anjos acrescentando que,além da empresa holandesa, aAmaro da Silva se apoia tambémnum gabinete de engenharia enum director financeiro.

Mas a inovação de pouco ser-ve se a empresa não contassecom um historial de sucesso ecom clientes que se mantêm hámuitos anos. “Um dos lemas da“Um dos lemas da“Um dos lemas da“Um dos lemas da“Um dos lemas daempresa é trabalhar com ho-empresa é trabalhar com ho-empresa é trabalhar com ho-empresa é trabalhar com ho-empresa é trabalhar com ho-nestidade e servir bem, aci-nestidade e servir bem, aci-nestidade e servir bem, aci-nestidade e servir bem, aci-nestidade e servir bem, aci-ma de tudo”ma de tudo”ma de tudo”ma de tudo”ma de tudo”, diz a filha maisvelha. “E nesta casa o cliente“E nesta casa o cliente“E nesta casa o cliente“E nesta casa o cliente“E nesta casa o clienteé rei”é rei”é rei”é rei”é rei”.

Manter os clientes é muitoimportante para os gerentes, quenão descuram, no entanto, aprocura de novos clientes. “A“A“A“A“Anossa maior publicidade temnossa maior publicidade temnossa maior publicidade temnossa maior publicidade temnossa maior publicidade temsido o ‘boca a boca’ e parasido o ‘boca a boca’ e parasido o ‘boca a boca’ e parasido o ‘boca a boca’ e parasido o ‘boca a boca’ e paranós essa é a melhor e maisnós essa é a melhor e maisnós essa é a melhor e maisnós essa é a melhor e maisnós essa é a melhor e maisbarata publicidade que pode-barata publicidade que pode-barata publicidade que pode-barata publicidade que pode-barata publicidade que pode-mos ter”mos ter”mos ter”mos ter”mos ter”.

Pai e filhas são unânimes aodefenderem que estes aspectostêm sido fundamentais para ven-cer a crise. Mas também reco-nhecem que “a grande sorte“a grande sorte“a grande sorte“a grande sorte“a grande sortedesta empresa é estar no sec-desta empresa é estar no sec-desta empresa é estar no sec-desta empresa é estar no sec-desta empresa é estar no sec-tor alimentar, que é de primei-tor alimentar, que é de primei-tor alimentar, que é de primei-tor alimentar, que é de primei-tor alimentar, que é de primei-ra necessidade, além de es-ra necessidade, além de es-ra necessidade, além de es-ra necessidade, além de es-ra necessidade, além de es-tar muito bem situada geo-tar muito bem situada geo-tar muito bem situada geo-tar muito bem situada geo-tar muito bem situada geo-graficamente”graficamente”graficamente”graficamente”graficamente”. Além disso,“também conta a nossa ho-“também conta a nossa ho-“também conta a nossa ho-“também conta a nossa ho-“também conta a nossa ho-nestidade e o historial denestidade e o historial denestidade e o historial denestidade e o historial denestidade e o historial deuma empresa que dá sempreuma empresa que dá sempreuma empresa que dá sempreuma empresa que dá sempreuma empresa que dá semprea cara, que sempre deu mui-a cara, que sempre deu mui-a cara, que sempre deu mui-a cara, que sempre deu mui-a cara, que sempre deu mui-ta atenção à proximidade aota atenção à proximidade aota atenção à proximidade aota atenção à proximidade aota atenção à proximidade aocliente e à maneira como estecliente e à maneira como estecliente e à maneira como estecliente e à maneira como estecliente e à maneira como esteé tratado”é tratado”é tratado”é tratado”é tratado”.

Numa altura em que tanto sefala da importância de revitali-zar a agricultura nacional, aAmaro da Silva espera que o anode 2011 seja um bom ano para osector. “Só esperamos que os“Só esperamos que os“Só esperamos que os“Só esperamos que os“Só esperamos que os

nossos governantes e a Ban-nossos governantes e a Ban-nossos governantes e a Ban-nossos governantes e a Ban-nossos governantes e a Ban-ca apoiem os projectos queca apoiem os projectos queca apoiem os projectos queca apoiem os projectos queca apoiem os projectos queestão em cima a mesa paraestão em cima a mesa paraestão em cima a mesa paraestão em cima a mesa paraestão em cima a mesa paraque possa haver desenvolvi-que possa haver desenvolvi-que possa haver desenvolvi-que possa haver desenvolvi-que possa haver desenvolvi-mento do sector”mento do sector”mento do sector”mento do sector”mento do sector”, diz Maria dosAnjos.

Em 2010 a facturação da em-presa rondou os 2 milhões deeuros, um valor ligeiramentemais baixo que o registado em2009. “Actualmente esta é uma“Actualmente esta é uma“Actualmente esta é uma“Actualmente esta é uma“Actualmente esta é umaempresa salutar, com algunsempresa salutar, com algunsempresa salutar, com algunsempresa salutar, com algunsempresa salutar, com algunsaltos e baixos, mas isto é qua-altos e baixos, mas isto é qua-altos e baixos, mas isto é qua-altos e baixos, mas isto é qua-altos e baixos, mas isto é qua-se como caminhar em cimase como caminhar em cimase como caminhar em cimase como caminhar em cimase como caminhar em cimade água, com cuidado, semde água, com cuidado, semde água, com cuidado, semde água, com cuidado, semde água, com cuidado, semcorrer grandes riscos”correr grandes riscos”correr grandes riscos”correr grandes riscos”correr grandes riscos”.

Prontos para encarar o futu-ro, os três gerentes da Amaro daSilva, Lda. dizem que o cresci-mento da empresa terá que con-tinuar a ser sustentado, como atéaqui, “tendo sempre em conta“tendo sempre em conta“tendo sempre em conta“tendo sempre em conta“tendo sempre em contaa nossa dimensão”a nossa dimensão”a nossa dimensão”a nossa dimensão”a nossa dimensão”. Um cuida-do que muitas vezes se traduzna subcontratação de serviços deoutras empresas quando o tra-balho aperta, o que depois per-mite à empresa manter todos ospostos de trabalho quando hámenos procura.

À frente da empresa já há al-guns anos, e sem ninguém dafamília a inclinar-se para dar con-tinuidade ao seu trabalho, asduas irmãs começam agora apensar em quem agarrará naempresa quando de quiseremreformar. O pai ri-se e diz: “eu“eu“eu“eu“eutambém dizia que aos 65também dizia que aos 65também dizia que aos 65também dizia que aos 65também dizia que aos 65anos já não fazia mais nada,anos já não fazia mais nada,anos já não fazia mais nada,anos já não fazia mais nada,anos já não fazia mais nada,mas cá vou andando”mas cá vou andando”mas cá vou andando”mas cá vou andando”mas cá vou andando”.

Mas Maria dos Anjos logo ata-lha: “eu gostaria de me refor-“eu gostaria de me refor-“eu gostaria de me refor-“eu gostaria de me refor-“eu gostaria de me refor-mar aos 65 anos, não memar aos 65 anos, não memar aos 65 anos, não memar aos 65 anos, não memar aos 65 anos, não meimagino a trabalhar aos 85imagino a trabalhar aos 85imagino a trabalhar aos 85imagino a trabalhar aos 85imagino a trabalhar aos 85anos, como o meu pai”anos, como o meu pai”anos, como o meu pai”anos, como o meu pai”anos, como o meu pai”. E de-pois? “Logo se há-de ver. Por“Logo se há-de ver. Por“Logo se há-de ver. Por“Logo se há-de ver. Por“Logo se há-de ver. Poragora estamos todos dispos-agora estamos todos dispos-agora estamos todos dispos-agora estamos todos dispos-agora estamos todos dispos-tos a dar continuidade à em-tos a dar continuidade à em-tos a dar continuidade à em-tos a dar continuidade à em-tos a dar continuidade à em-presa”presa”presa”presa”presa”, garante.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

A atmosfera controlada, em que é retirado da câmara A atmosfera controlada, em que é retirado da câmara A atmosfera controlada, em que é retirado da câmara A atmosfera controlada, em que é retirado da câmara A atmosfera controlada, em que é retirado da câmaratodo o oxigénio é a aposta recente da firma, que ajuda atodo o oxigénio é a aposta recente da firma, que ajuda atodo o oxigénio é a aposta recente da firma, que ajuda atodo o oxigénio é a aposta recente da firma, que ajuda atodo o oxigénio é a aposta recente da firma, que ajuda amanter a fruta inalteradamanter a fruta inalteradamanter a fruta inalteradamanter a fruta inalteradamanter a fruta inalterada

Uma das modernas instalações de frio que a Amaro da Silva, Lda. instalou. Uma das modernas instalações de frio que a Amaro da Silva, Lda. instalou. Uma das modernas instalações de frio que a Amaro da Silva, Lda. instalou. Uma das modernas instalações de frio que a Amaro da Silva, Lda. instalou. Uma das modernas instalações de frio que a Amaro da Silva, Lda. instalou.

CRONOLOGIACRONOLOGIACRONOLOGIACRONOLOGIACRONOLOGIA

Page 74: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

28 | Janeiro | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Já em 1898 Manuel Felizardo vendia máquinas de co

chegou com o seu bisneto ao século XXI

O caldense Mário Felizardo(nascido em 1965) é o herdeiroda Casa Felizardo, fundada em1898 pelo seu bisavô Manuel Fe-lizardo, que é actualmente arepresentante exclusiva da mar-ca de máquinas Bernina comer-cializadas em todo o territórionacional.

“Vendemos o top das má-“Vendemos o top das má-“Vendemos o top das má-“Vendemos o top das má-“Vendemos o top das má-quinas de costura e damosquinas de costura e damosquinas de costura e damosquinas de costura e damosquinas de costura e damoscursos sobre o seu funcio-cursos sobre o seu funcio-cursos sobre o seu funcio-cursos sobre o seu funcio-cursos sobre o seu funcio-namento em todo o país,namento em todo o país,namento em todo o país,namento em todo o país,namento em todo o país,apoiando assim os nossosapoiando assim os nossosapoiando assim os nossosapoiando assim os nossosapoiando assim os nossosclientes”clientes”clientes”clientes”clientes”, disse Mário Felizar-do, que vai guiar-nos pela his-tória da sua empresa, apesar depouco ou nada saber sobre o seubisavô fundador, pois não ficoupara a História qualquer registode como seria Manuel Felizardoe como afinal começou a histó-ria da ligação desta família àsmáquinas de costura. De qual-quer forma, Mário Felizardo crêque o seu familiar terá aberto aloja nas proximidades da actu-al, na Rua General Queirós. De-dicava-se à venda de máqui-nas de costura e, por facturasque ainda existem, pode ape-nas confirmar que a fundaçãoda empresa decorreu em 1898.Quem herdou o negócio foi o seuavô, Mário Felizardo (1912-1964),de quem também herdou onome. Apesar de não o ter co-nhecido, diz que “foi verdadei-foi verdadei-foi verdadei-foi verdadei-foi verdadei-ramente empreendedor eramente empreendedor eramente empreendedor eramente empreendedor eramente empreendedor ecreio que teve que dar umcreio que teve que dar umcreio que teve que dar umcreio que teve que dar umcreio que teve que dar umnovo arranque ao negócionovo arranque ao negócionovo arranque ao negócionovo arranque ao negócionovo arranque ao negócioque o seu pai (e meu bisavô)que o seu pai (e meu bisavô)que o seu pai (e meu bisavô)que o seu pai (e meu bisavô)que o seu pai (e meu bisavô)criou”criou”criou”criou”criou”.

O avô do actual responsávelmudou a instalação da loja em1937, para um pouco mais abai-xo da localização inicial da sedeactual da firma. Hoje estão nonº 35 e antes estiveram no nº 26da Rua General Queirós.

“O negócio que o pai lheO negócio que o pai lheO negócio que o pai lheO negócio que o pai lheO negócio que o pai lhedeixou, correu-lhe bem, ape-deixou, correu-lhe bem, ape-deixou, correu-lhe bem, ape-deixou, correu-lhe bem, ape-deixou, correu-lhe bem, ape-sar da concorrência apertarsar da concorrência apertarsar da concorrência apertarsar da concorrência apertarsar da concorrência apertarum pouco já na alturaum pouco já na alturaum pouco já na alturaum pouco já na alturaum pouco já na altura”, con-ta o neto Mário Felizardo, acres-centando que naquela época,nas Caldas, existia outro ven-dedor de máquinas alemãs, oJoão Valeriano, “que eram deque eram deque eram deque eram deque eram delonge tecnicamente superio-longe tecnicamente superio-longe tecnicamente superio-longe tecnicamente superio-longe tecnicamente superio-res às da Olivares às da Olivares às da Olivares às da Olivares às da Oliva” mas ainda

assim, “o meu avô Mário ven-o meu avô Mário ven-o meu avô Mário ven-o meu avô Mário ven-o meu avô Mário ven-deu milhares de máquinasdeu milhares de máquinasdeu milhares de máquinasdeu milhares de máquinasdeu milhares de máquinas”.

A avó, Sara Felizardo (1913-2010), era o braço direito domarido que, enquanto viajava deterra em terra para vender asmáquinas da marca Oliva, seocupava de dar os cursos debordados e também de corte ecostura, explicando assim como

se poderia usar as máquinasacabadas de vender. As forma-ções também decorriam nas al-deias um pouco por todo o con-celho e também nos concelhosvizinhos.

O trabalho do casal de comer-ciantes foi tal que a marca aca-bou por os reconhecer e, maistarde, “o avô acabou por fi-“o avô acabou por fi-“o avô acabou por fi-“o avô acabou por fi-“o avô acabou por fi-car com a concessão a nívelcar com a concessão a nívelcar com a concessão a nívelcar com a concessão a nívelcar com a concessão a nívelregional”regional”regional”regional”regional”. Trabalhava em ex-clusivo com a marca portugue-sa Oliva, que possuía fábrica emS. João da Madeira, após ter tidouma primeira experiência coma Singer, menos bem sucedida.

“O meu avô foi um grande“O meu avô foi um grande“O meu avô foi um grande“O meu avô foi um grande“O meu avô foi um grandehomem e também teve sem-homem e também teve sem-homem e também teve sem-homem e também teve sem-homem e também teve sem-pre uma grande mulher aopre uma grande mulher aopre uma grande mulher aopre uma grande mulher aopre uma grande mulher aoseu lado”seu lado”seu lado”seu lado”seu lado”, diz hoje o neto econtinuador do negócio famili-ar.

Para Mário Felizardo, a Foz doArelho “era tudoera tudoera tudoera tudoera tudo”, conta hojeo neto explicando que o seu avôpassava vários meses na locali-dade balnear. “Ficava em casaFicava em casaFicava em casaFicava em casaFicava em casados compadres e comadresdos compadres e comadresdos compadres e comadresdos compadres e comadresdos compadres e comadrese arranjava maneira de láe arranjava maneira de láe arranjava maneira de láe arranjava maneira de láe arranjava maneira de lápassar metade do anopassar metade do anopassar metade do anopassar metade do anopassar metade do ano”, dis-se o neto, que agora mora nalocalidade predilecta do avô.Este ainda fez alguns negóciosimobiliários tendo construídodois prédios nas Caldas, o últi-mo dos quais pouco antes defalecer, em 1964.

“O meu avô era um defen-“O meu avô era um defen-“O meu avô era um defen-“O meu avô era um defen-“O meu avô era um defen-sor de causas sociaissor de causas sociaissor de causas sociaissor de causas sociaissor de causas sociais”, disse

Mário Felizardo explicando queo seu familiar chegou a integrara Junta de Freguesia das Caldase colaborou no Montepio. “Foi“Foi“Foi“Foi“Foio primeiro radiologista quan-o primeiro radiologista quan-o primeiro radiologista quan-o primeiro radiologista quan-o primeiro radiologista quan-do a máquina veio para ado a máquina veio para ado a máquina veio para ado a máquina veio para ado a máquina veio para ainstituiçãoinstituiçãoinstituiçãoinstituiçãoinstituição”, contou o neto,acrescentando que o avô eratambém amigo do prestigiadomédico Vieira Pereira.

O casal teve um filho, Fran-cisco Felizardo (1942-2004) queacabou por ser o continuador donegócio da família. “O meu avôO meu avôO meu avôO meu avôO meu avômandou o meu pai durantemandou o meu pai durantemandou o meu pai durantemandou o meu pai durantemandou o meu pai durantetrês anos trabalhar para atrês anos trabalhar para atrês anos trabalhar para atrês anos trabalhar para atrês anos trabalhar para afábrica da Oliva em S. Joãofábrica da Oliva em S. Joãofábrica da Oliva em S. Joãofábrica da Oliva em S. Joãofábrica da Oliva em S. Joãoda Madeira, o que lhe permi-da Madeira, o que lhe permi-da Madeira, o que lhe permi-da Madeira, o que lhe permi-da Madeira, o que lhe permi-tiu ficar com um tiu ficar com um tiu ficar com um tiu ficar com um tiu ficar com um know howknow howknow howknow howknow howmuito bom ao nível da mecâ-muito bom ao nível da mecâ-muito bom ao nível da mecâ-muito bom ao nível da mecâ-muito bom ao nível da mecâ-nicanicanicanicanica”, contou Mário Felizardo,acrescentando que “nunca co-“nunca co-“nunca co-“nunca co-“nunca co-nheci tão bom mecânico denheci tão bom mecânico denheci tão bom mecânico denheci tão bom mecânico denheci tão bom mecânico demáquinas de costura comomáquinas de costura comomáquinas de costura comomáquinas de costura comomáquinas de costura como

o meu paio meu paio meu paio meu paio meu pai”.E enquanto o avô Mário era

sobretudo um comercial e a avódava formação profissional(para usar um termo de hoje),“o meu pai continuou o ne-“o meu pai continuou o ne-“o meu pai continuou o ne-“o meu pai continuou o ne-“o meu pai continuou o ne-gócio, vendeu muita máqui-gócio, vendeu muita máqui-gócio, vendeu muita máqui-gócio, vendeu muita máqui-gócio, vendeu muita máqui-na, mas apostou sobretudona, mas apostou sobretudona, mas apostou sobretudona, mas apostou sobretudona, mas apostou sobretudona reparações”na reparações”na reparações”na reparações”na reparações”, contou. Má-rio Felizardo acompanhava o seu

pai Francisco a eventos interna-cionais do sector, sobretudo naAlemanha e era ele que aferia aqualidade dos materiais. “EleEleEleEleEleera um mecânico formidá-era um mecânico formidá-era um mecânico formidá-era um mecânico formidá-era um mecânico formidá-velvelvelvelvel”, recorda.

Francisco Felizardo casou em1962 com Manuela Felizardo(1942-1965) e têm no ano seguin-te a primeira filha, Cristina Feli-zardo. Esta tem hoje 47 anos e éprofessora na Escola Secundá-ria Raul Proença não tendo en-veredado pelo “métier” famili-

ar. Dois anos depois nascia Má-rio Felizardo, o actual continua-dor do negócio familiar. A suamãe viria a falecer, vítima deacidente de viação, quando estetinha apenas 28 dias.

Não terão sido tempos fáceispara Francisco Felizardo os anosde 1964 e 1965 pois primeiromorre o seu pai e, no ano se-

guinte, a esposa. Sozinho, tomaas rédeas do negócio e contacom ajuda de Henrique Garcia,irmão da sua avó Sara, para ge-rir a empresa.

Entre 1965 e 1970 a casa che-ga a ter quatro funcionários,todos da região.

E se o avô Mário se dedicavaem exclusivo à Oliva o seu pai,mais tarde, acaba por expandiro negócio às marcas Bernina ePfaff. “Mais tarde“Mais tarde“Mais tarde“Mais tarde“Mais tarde acabámosacabámosacabámosacabámosacabámospor deixar a Oliva pois apor deixar a Oliva pois apor deixar a Oliva pois apor deixar a Oliva pois apor deixar a Oliva pois a

marca deixou de fabricar asmarca deixou de fabricar asmarca deixou de fabricar asmarca deixou de fabricar asmarca deixou de fabricar asmáquinas em Portugal, pre-máquinas em Portugal, pre-máquinas em Portugal, pre-máquinas em Portugal, pre-máquinas em Portugal, pre-ferindo começar a importá-ferindo começar a importá-ferindo começar a importá-ferindo começar a importá-ferindo começar a importá-las de outros países com im-las de outros países com im-las de outros países com im-las de outros países com im-las de outros países com im-plicações graves na qualida-plicações graves na qualida-plicações graves na qualida-plicações graves na qualida-plicações graves na qualida-de”de”de”de”de”, explicou Mário Felizardo.Começaram então a vender Pfaffe Bernina, mas neste momentoapenas trabalham com esta úl-tima, sendo os seus represen-tantes nacionais.

CASA FELIZARDOPARTICIPAVA NA FEIRA

DO 15 DE AGOSTO

Mário Felizardo vinha para aloja ajudar o pai e lembra-se depintar os pedais das máquinasde costura. Antes vendiam-se asmáquinas com as respectivassecretárias enquanto que hojeé um equipamento portátil. “NaNaNaNaNaaltura fazia parte das repa-altura fazia parte das repa-altura fazia parte das repa-altura fazia parte das repa-altura fazia parte das repa-rações tirar a ferrugem erações tirar a ferrugem erações tirar a ferrugem erações tirar a ferrugem erações tirar a ferrugem evoltar a pintar”voltar a pintar”voltar a pintar”voltar a pintar”voltar a pintar”, disse MárioFelizardo, contando que havianas instalações um tanque comsoda cáustica onde “eram mer-“eram mer-“eram mer-“eram mer-“eram mer-gulhadas as máquinas paragulhadas as máquinas paragulhadas as máquinas paragulhadas as máquinas paragulhadas as máquinas parase tirar as velhas tintas e ase tirar as velhas tintas e ase tirar as velhas tintas e ase tirar as velhas tintas e ase tirar as velhas tintas e aferrugemferrugemferrugemferrugemferrugem”. Um dia, claro está,e apesar dos múltiplos avisospara que tivesse muito cuidado“escorreguei e mergulhei oescorreguei e mergulhei oescorreguei e mergulhei oescorreguei e mergulhei oescorreguei e mergulhei o

Já são quatro as gerações da família Felizardo que se dedicam à venda de máquinas de costura. E seantes o bisavô Manuel e o avô Mário corriam as terras da região para vender as então inovadorasmáquinas de costurar, hoje Mário Felizardo patrocina eventos onde dá a conhecer a sua máquinaBernina que, com as coordenadas certas, até borda sozinha. É o admirável mundo da electrónicaaplicado a estes equipamentos que esta empresa caldense vende e dos quais é a única representanteno país.

Da esquerda para a direita: Mário Felizardo (1912-1964), filho de Manuel Felizardo (de quem não existem fotos) herdou o negócio do pai e era um entusiasta da Foz do Arelho, no Da esquerda para a direita: Mário Felizardo (1912-1964), filho de Manuel Felizardo (de quem não existem fotos) herdou o negócio do pai e era um entusiasta da Foz do Arelho, no Da esquerda para a direita: Mário Felizardo (1912-1964), filho de Manuel Felizardo (de quem não existem fotos) herdou o negócio do pai e era um entusiasta da Foz do Arelho, no Da esquerda para a direita: Mário Felizardo (1912-1964), filho de Manuel Felizardo (de quem não existem fotos) herdou o negócio do pai e era um entusiasta da Foz do Arelho, no Da esquerda para a direita: Mário Felizardo (1912-1964), filho de Manuel Felizardo (de quem não existem fotos) herdou o negócio do pai e era um entusiasta da Foz do Arelho, noqual se pode ver, na foto seguinte, acompanhado da mulher Sara (1913-2010) e do filho Francisco. Este último, que viveu entre 1942 e 2004) foi um continuador do ramo da família,qual se pode ver, na foto seguinte, acompanhado da mulher Sara (1913-2010) e do filho Francisco. Este último, que viveu entre 1942 e 2004) foi um continuador do ramo da família,qual se pode ver, na foto seguinte, acompanhado da mulher Sara (1913-2010) e do filho Francisco. Este último, que viveu entre 1942 e 2004) foi um continuador do ramo da família,qual se pode ver, na foto seguinte, acompanhado da mulher Sara (1913-2010) e do filho Francisco. Este último, que viveu entre 1942 e 2004) foi um continuador do ramo da família,qual se pode ver, na foto seguinte, acompanhado da mulher Sara (1913-2010) e do filho Francisco. Este último, que viveu entre 1942 e 2004) foi um continuador do ramo da família,tendo-se especializado na mecânica das máquinas de costura. A quarta foto mostra o mais novo membro do clãtendo-se especializado na mecânica das máquinas de costura. A quarta foto mostra o mais novo membro do clãtendo-se especializado na mecânica das máquinas de costura. A quarta foto mostra o mais novo membro do clãtendo-se especializado na mecânica das máquinas de costura. A quarta foto mostra o mais novo membro do clãtendo-se especializado na mecânica das máquinas de costura. A quarta foto mostra o mais novo membro do clã empresarial empresarial empresarial empresarial empresarial, Mário Felizardo (nascido em 1965), bisneto do, Mário Felizardo (nascido em 1965), bisneto do, Mário Felizardo (nascido em 1965), bisneto do, Mário Felizardo (nascido em 1965), bisneto do, Mário Felizardo (nascido em 1965), bisneto doprimeiro vendedor de máquinas de costura das Caldas.primeiro vendedor de máquinas de costura das Caldas.primeiro vendedor de máquinas de costura das Caldas.primeiro vendedor de máquinas de costura das Caldas.primeiro vendedor de máquinas de costura das Caldas.

O jovem Francisco com os pais (ambos à direita) O jovem Francisco com os pais (ambos à direita) O jovem Francisco com os pais (ambos à direita) O jovem Francisco com os pais (ambos à direita) O jovem Francisco com os pais (ambos à direita)acompanhado de três funcionárias da loja Olivaacompanhado de três funcionárias da loja Olivaacompanhado de três funcionárias da loja Olivaacompanhado de três funcionárias da loja Olivaacompanhado de três funcionárias da loja Oliva

Uma imagem dos anos cinquenta onde se vêem duasUma imagem dos anos cinquenta onde se vêem duasUma imagem dos anos cinquenta onde se vêem duasUma imagem dos anos cinquenta onde se vêem duasUma imagem dos anos cinquenta onde se vêem duasempregadas da firma e uma típica máquina de costura da épocaempregadas da firma e uma típica máquina de costura da épocaempregadas da firma e uma típica máquina de costura da épocaempregadas da firma e uma típica máquina de costura da épocaempregadas da firma e uma típica máquina de costura da época

Page 75: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

28 | Janeiro | 2011

21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

ostura num negócio que

pé no tanque, tendo ficadopé no tanque, tendo ficadopé no tanque, tendo ficadopé no tanque, tendo ficadopé no tanque, tendo ficadoaflito só que o ácido já esta-aflito só que o ácido já esta-aflito só que o ácido já esta-aflito só que o ácido já esta-aflito só que o ácido já esta-va pouco reactivo e nadava pouco reactivo e nadava pouco reactivo e nadava pouco reactivo e nadava pouco reactivo e nadaaconteceu, apesar do susto”aconteceu, apesar do susto”aconteceu, apesar do susto”aconteceu, apesar do susto”aconteceu, apesar do susto”.

Ainda hoje Mário Felizardoguarda muitos decalques que sedestinavam a colocar nas máqui-nas então reparadas, serviçoque ajudava o pai a fazer. O ac-tual empresário ainda se lem-bra de irem buscar as máquinasde costura que chegavam àsCaldas no comboio e de comoeram transportadas numa car-roça até à loja, na Rua GeneralQueirós.

Recorda-se igualmente da par-ticipação da empresa em feirascomo a do 15 de Agosto, quandoesta se fazia na mata.

A partir dos anos 70 a vendade máquinas de costura decres-ceu bastante, mas as repara-ções foram sempre algo constante e que se manteve atéhoje. De qualquer modo o decréscimo nas vendas fez comque as marcas apostassem na inovação.

Em 1990, Mário Felizardo vem para a empresa e o seu pai,Francisco, passa a dedicar-se mais às relações públicas, alémde se manter sempre ligado à assistência técnica.

O jovem Mário gostava principalmente de jogar à bola,ficando os estudos para segundo plano. Vai trabalhar a tem-po inteiro com o pai, sem ter terminado o ensino secundário,mas vai fazendo uma completa aprendizagem das máquinasque sempre deram o sustento à família. Mário Felizardotem-se deslocado à Suíça, à sede da marca Bernina, sempreque há novas máquinas para fazer cursos de aprendizagemao nível de mecânica.

Agora as máquinas que a Bernina cria já trazem softwa-re que permite às utilizadoras dar as medidas correctas –como se fosse um computador - e saírem os moldes perfei-tos ou, simplesmente, dadas as coordenadas certas, con-seguem bordar sozinhas. Se o meu avô hoje tivesse opor-Se o meu avô hoje tivesse opor-Se o meu avô hoje tivesse opor-Se o meu avô hoje tivesse opor-Se o meu avô hoje tivesse opor-tunidade de ver como as coisas evoluíram teria imen-tunidade de ver como as coisas evoluíram teria imen-tunidade de ver como as coisas evoluíram teria imen-tunidade de ver como as coisas evoluíram teria imen-tunidade de ver como as coisas evoluíram teria imen-sa curiosidade em perceber como é que hoje estassa curiosidade em perceber como é que hoje estassa curiosidade em perceber como é que hoje estassa curiosidade em perceber como é que hoje estassa curiosidade em perceber como é que hoje estasmáquinas trabalhammáquinas trabalhammáquinas trabalhammáquinas trabalhammáquinas trabalham”, disse o actual proprietário. Em 2004Francisco Felizardo faleceu, vítima de doença e fica o filhoMário Felizardo a tomar conta dos destinos da empresa.

“O FUTURO É MESMO A ELECTRÓNICA”

A Casa Felizardo possui inúmeras máquinas de costura. Aloja tem dois espaços de armazém, um para as máquinasnovas (electrónicas), e um outro onde estão as máqui-nas antigas de onde se extraem peças “que muitasque muitasque muitasque muitasque muitasvezes já não existem no mercadovezes já não existem no mercadovezes já não existem no mercadovezes já não existem no mercadovezes já não existem no mercado”, disse Mário Feli-zardo, que também colecciona estes equipamentos. Al-gumas estão em exposição na própria loja e outras nasua casa.

O empresário tem notado que há um novo interessepor esta área por parte de pessoas mais novas. “Como“Como“Como“Como“Comohoje a roupa é mais barata e anda quase tudo ves-hoje a roupa é mais barata e anda quase tudo ves-hoje a roupa é mais barata e anda quase tudo ves-hoje a roupa é mais barata e anda quase tudo ves-hoje a roupa é mais barata e anda quase tudo ves-tido de igual, há sempre quem se queira diferenci-tido de igual, há sempre quem se queira diferenci-tido de igual, há sempre quem se queira diferenci-tido de igual, há sempre quem se queira diferenci-tido de igual, há sempre quem se queira diferenci-ar e aposte por fazer alterações na própria rou-ar e aposte por fazer alterações na própria rou-ar e aposte por fazer alterações na própria rou-ar e aposte por fazer alterações na própria rou-ar e aposte por fazer alterações na própria rou-papapapapa”.

E se Francisco Felizardo apostava nas feiras a nívellocal, o seu filho Mário actualmente participa nos even-tos nacionais. “Este ano estivemos na FIL – FIA que“Este ano estivemos na FIL – FIA que“Este ano estivemos na FIL – FIA que“Este ano estivemos na FIL – FIA que“Este ano estivemos na FIL – FIA quese realizou na FIL em Lisboa e também na Fatacil,se realizou na FIL em Lisboa e também na Fatacil,se realizou na FIL em Lisboa e também na Fatacil,se realizou na FIL em Lisboa e também na Fatacil,se realizou na FIL em Lisboa e também na Fatacil,no Algarve”no Algarve”no Algarve”no Algarve”no Algarve”, contou explicando que são sempre ópti-mas oportunidade para contactos e sobretudo para di-vulgação dos serviços desta empresa caldense.

“Estamos a patrocinar em exclusivo a AcademiaEstamos a patrocinar em exclusivo a AcademiaEstamos a patrocinar em exclusivo a AcademiaEstamos a patrocinar em exclusivo a AcademiaEstamos a patrocinar em exclusivo a Academiada Costura, uma iniciativa da revista Burda ondeda Costura, uma iniciativa da revista Burda ondeda Costura, uma iniciativa da revista Burda ondeda Costura, uma iniciativa da revista Burda ondeda Costura, uma iniciativa da revista Burda ondese promovem cursos de corte e costurase promovem cursos de corte e costurase promovem cursos de corte e costurase promovem cursos de corte e costurase promovem cursos de corte e costura”, disse Má-rio Felizardo que assim tem um canal onde dá a conhe-cer a potenciais clientes todas as vantagens das suasmáquinas electrónicas Bernina.

”O futuro é mesmo a electrónicaO futuro é mesmo a electrónicaO futuro é mesmo a electrónicaO futuro é mesmo a electrónicaO futuro é mesmo a electrónica”, conta o empre-sário, que destacou também a garantia alargada (cincoanos a nível mecânico e dois anos na electrónica) des-tes equipamentos que fazem parte sobretudo do univer-so feminino. “Sabendo trabalhar com o software,“Sabendo trabalhar com o software,“Sabendo trabalhar com o software,“Sabendo trabalhar com o software,“Sabendo trabalhar com o software,

dá para fazer tudo, até bordados tradicionais”dá para fazer tudo, até bordados tradicionais”dá para fazer tudo, até bordados tradicionais”dá para fazer tudo, até bordados tradicionais”dá para fazer tudo, até bordados tradicionais”,acrescentou o responsável. Nos últimos cinco anos, aCasa Felizardo promove ainda workshops de pac-tchwork (técnica de produzir trabalhos com retalhosde tecido) e “só o fazemos com formadores des-só o fazemos com formadores des-só o fazemos com formadores des-só o fazemos com formadores des-só o fazemos com formadores des-ta área que possuem percurso internacional”ta área que possuem percurso internacional”ta área que possuem percurso internacional”ta área que possuem percurso internacional”ta área que possuem percurso internacional”,contou Mário Felizardo. Este ano, em Maio, regres-sará às Caldas a especialista australiana Jenny Bo-wker. A digressão desta formadora em patchworkcomeçará por Espanha e depois de Portugal aindapassará por cidades como Bruxelas, Amesterdão ouFrankfurt.

Estas máquinas podem custar entre os mil e osseis mil euros. E se tiverem a electrónica aplicadaaos sistemas de costura e de bordar, chegam a serdesignadas por computadores de costura. Este é umnegócio destinado a nichos de mercado. Além de umsegmento de mulheres interessadas em realizar assuas roupas ou os seus trabalhos manuais, neste mo-mento “já temos alguns designers de moda que“já temos alguns designers de moda que“já temos alguns designers de moda que“já temos alguns designers de moda que“já temos alguns designers de moda quejá estão a trabalhar com as nossas máquinasjá estão a trabalhar com as nossas máquinasjá estão a trabalhar com as nossas máquinasjá estão a trabalhar com as nossas máquinasjá estão a trabalhar com as nossas máquinas”,disse Mário Felizardo.

O empresário tem um colaborador a trabalhar con-sigo nas Caldas (ver caixa) e “cin“cin“cin“cin“cinco pessoas emco pessoas emco pessoas emco pessoas emco pessoas emvárias zonas do país que colaboram connosco emvárias zonas do país que colaboram connosco emvárias zonas do país que colaboram connosco emvárias zonas do país que colaboram connosco emvárias zonas do país que colaboram connosco emáreas como as vendas das máquinas ou na forma-áreas como as vendas das máquinas ou na forma-áreas como as vendas das máquinas ou na forma-áreas como as vendas das máquinas ou na forma-áreas como as vendas das máquinas ou na forma-ção”ção”ção”ção”ção”, contou o empresário.

Outra parte importante do negócio continua a ser areparação das máquinas e “damos assistência às vári-“damos assistência às vári-“damos assistência às vári-“damos assistência às vári-“damos assistência às vári-as marcas de máquinas de costuraas marcas de máquinas de costuraas marcas de máquinas de costuraas marcas de máquinas de costuraas marcas de máquinas de costura”, contou o empre-sário acrescentando que vendem igualmente os acessóri-os para estes equipamentos. Na verdade reparam máqui-nas desde o Porto ao Algarve e dão assistência técnica portodo o país, chegando inclusivamente a enviar peças paraos seus clientes. É através da publicidade que fazem emrevistas da especialidade e principalmente através do siteda empresa que os clientes chegam à Casa Felizardo.Cerca de 80% do negócio destina-se à revenda para lojasde todo o país. Negociam com estabelecimentos de Lis-boa, Cascais, Setúbal, Algarve, Porto Braga, Viseu e tam-bém nos Açores.

Segundo o empresário, a empresa sente necessidadede alterações. E isto porque a área da reparação necessi-ta de mais espaço e está a usurpar o espaço que se desti-na ao atendimento dos clientes. “Na verdade este esta-Na verdade este esta-Na verdade este esta-Na verdade este esta-Na verdade este esta-belecimento é mais uma oficina do que propriamen-belecimento é mais uma oficina do que propriamen-belecimento é mais uma oficina do que propriamen-belecimento é mais uma oficina do que propriamen-belecimento é mais uma oficina do que propriamen-te uma lojate uma lojate uma lojate uma lojate uma loja”, diz o empresário, que pretende passar aoficina para outras instalações que possui.

“Temos que reformular a nossa organização e“Temos que reformular a nossa organização e“Temos que reformular a nossa organização e“Temos que reformular a nossa organização e“Temos que reformular a nossa organização eprovavelmente colocar mais genteprovavelmente colocar mais genteprovavelmente colocar mais genteprovavelmente colocar mais genteprovavelmente colocar mais gente”, disse este res-ponsável, que prefere não revelar o volume de negóciosCasa Felizardo – Empresa em nome individual, cujo capi-tal social é de cinco mil euros.

E quanto ao futuro da Casa Felizardo? “Esse só aEsse só aEsse só aEsse só aEsse só aDeus pertence...”Deus pertence...”Deus pertence...”Deus pertence...”Deus pertence...”, rematou Mário Felizardo, pai de doisfilhos, a Mariana que tem 17 anos e o Gonçalo, com 12.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

“Enquanto houver roupa, haverá sempre

máquinas de costura”

18981898189818981898 – Manuel Felizardo, bisavô de MárioFelizardo, instala na Rua General Queirós umaloja de máquinas de costura

19371937193719371937 – O seu filho Mário Felizardo (1912-1964) continua no negócio na mesma rua com asua esposa Sara Felizardo (1913-2010)

19601960196019601960 –Mário Felizardo passa a coordenartambém uma loja da marca Oliva que primeiro seinstala na Praça da Fruta e mais tarde na Rua Capi-tão Filipe de Sousa. O seu filho, Francisco Felizar-do passa a trabalhar com o pai.

19641964196419641964 - Morre o avô Mário Felizardo, ficandoo filho Francisco a gerir a empresa com a ajuda doseu tio Henrique Garcia, irmão da avó Sara.

José Bernardino, de 26 anos, não se atra-palha neste mundo de agulhas, lançadei-ras ou caixas de bobine. A mecânica deuma máquina de costura não tem segre-dos para este funcionário que desde os 17trabalha na Casa Felizardo.

É natural do Barreiro, mas desde os seisanos que veio viver para as Caldas. “As “As “As “As “Asnotas na escola não eram grande coi-notas na escola não eram grande coi-notas na escola não eram grande coi-notas na escola não eram grande coi-notas na escola não eram grande coi-sa, começava a pesar na carteira dossa, começava a pesar na carteira dossa, começava a pesar na carteira dossa, começava a pesar na carteira dossa, começava a pesar na carteira dosmeus pais e por isso vim procurar tra-meus pais e por isso vim procurar tra-meus pais e por isso vim procurar tra-meus pais e por isso vim procurar tra-meus pais e por isso vim procurar tra-balho”, balho”, balho”, balho”, balho”, disse o único funcionário, alémdo proprietário Mário Felizardo, que tra-balha a tempo inteiro para esta firma.

“Disseram-me que o patrão da casa,Disseram-me que o patrão da casa,Disseram-me que o patrão da casa,Disseram-me que o patrão da casa,Disseram-me que o patrão da casa,que costumava estar à porta precisa-que costumava estar à porta precisa-que costumava estar à porta precisa-que costumava estar à porta precisa-que costumava estar à porta precisa-va de um funcionário. Vim cá, gostei eva de um funcionário. Vim cá, gostei eva de um funcionário. Vim cá, gostei eva de um funcionário. Vim cá, gostei eva de um funcionário. Vim cá, gostei efiquei até hoje...fiquei até hoje...fiquei até hoje...fiquei até hoje...fiquei até hoje...”, conta enquanto acabao conserto de uma máquina. Toca o tele-fone, era uma cliente para saber se a suamáquina já estava reparada. “Já sim, se-nhora, está pronta! Pode vir buscar quan-do puder”, responde José Bernardino dolado de cá da linha telefónica.

No próximo mês de Março completa 10anos de casa e não se vê para já a fazeroutra tarefa. “Gosto do que faço e como“Gosto do que faço e como“Gosto do que faço e como“Gosto do que faço e como“Gosto do que faço e comodizia o meu patrão Francisco trata-sedizia o meu patrão Francisco trata-sedizia o meu patrão Francisco trata-sedizia o meu patrão Francisco trata-sedizia o meu patrão Francisco trata-sede um trabalho de mecânica fina quede um trabalho de mecânica fina quede um trabalho de mecânica fina quede um trabalho de mecânica fina quede um trabalho de mecânica fina queé interessante e no final até é simples”é interessante e no final até é simples”é interessante e no final até é simples”é interessante e no final até é simples”é interessante e no final até é simples”,disse o funcionário, que é o braço direitode Mário Felizardo no que diz respeito àsreparações. “Ás vezes basta uma moli-“Ás vezes basta uma moli-“Ás vezes basta uma moli-“Ás vezes basta uma moli-“Ás vezes basta uma moli-nha estar fora do sítio para provocarnha estar fora do sítio para provocarnha estar fora do sítio para provocarnha estar fora do sítio para provocarnha estar fora do sítio para provocara avaria”a avaria”a avaria”a avaria”a avaria”, conta o jovem enquanto ter-mina a reparação de uma máquina.

Dependendo da avaria, consegue repa-rar entre três a quatro equipamentos du-rante uma manhã. “Esta, por exemplo,Esta, por exemplo,Esta, por exemplo,Esta, por exemplo,Esta, por exemplo,está quase reparada. Estava presa,está quase reparada. Estava presa,está quase reparada. Estava presa,está quase reparada. Estava presa,está quase reparada. Estava presa,agora é só preciso experimentar paraagora é só preciso experimentar paraagora é só preciso experimentar paraagora é só preciso experimentar paraagora é só preciso experimentar paraverificar que está tudo bem, uma prá-verificar que está tudo bem, uma prá-verificar que está tudo bem, uma prá-verificar que está tudo bem, uma prá-verificar que está tudo bem, uma prá-tica que se faz sempre no fim de repa-tica que se faz sempre no fim de repa-tica que se faz sempre no fim de repa-tica que se faz sempre no fim de repa-tica que se faz sempre no fim de repa-ração”ração”ração”ração”ração”, disse José Bernardino.

E o que faz uma máquina que sofre uma

avaria? “Geralmente parte a linha,Geralmente parte a linha,Geralmente parte a linha,Geralmente parte a linha,Geralmente parte a linha,faz ponto corrido, ou pontos fal-faz ponto corrido, ou pontos fal-faz ponto corrido, ou pontos fal-faz ponto corrido, ou pontos fal-faz ponto corrido, ou pontos fal-sos. É comum também fazer ro-sos. É comum também fazer ro-sos. É comum também fazer ro-sos. É comum também fazer ro-sos. É comum também fazer ro-lhões de linha ou dar lassadas porlhões de linha ou dar lassadas porlhões de linha ou dar lassadas porlhões de linha ou dar lassadas porlhões de linha ou dar lassadas porbaixo”baixo”baixo”baixo”baixo”, especificou o mecânico.

As máquinas que mais gosta de re-parar são as mais antigas, até porqueconsidera que as novas “se limitam a “se limitam a “se limitam a “se limitam a “se limitam acopiar as mais velhas e depoiscopiar as mais velhas e depoiscopiar as mais velhas e depoiscopiar as mais velhas e depoiscopiar as mais velhas e depoisacrescentam-lhes a electrónica”acrescentam-lhes a electrónica”acrescentam-lhes a electrónica”acrescentam-lhes a electrónica”acrescentam-lhes a electrónica”.Os equipamentos de antigamente nãotêm comparação sobretudo “pela qua-pela qua-pela qua-pela qua-pela qua-lidade dos materiais antes usa-lidade dos materiais antes usa-lidade dos materiais antes usa-lidade dos materiais antes usa-lidade dos materiais antes usa-dosdosdosdosdos”, acrescentou. As marcas que JoséBernardino mais gosta de trabalhar sãoa Oliva, uma marca portuguesa e tam-bém destacou a Pfaff e a Singer, refe-rindo-se sempre aos modelos mais an-tigos.

Sobre Francisco Felizardo, o pai deMário, não esconde palavras de admi-ração: “O senhor Francisco era al-“O senhor Francisco era al-“O senhor Francisco era al-“O senhor Francisco era al-“O senhor Francisco era al-guém muito amigo, gostava de aju-guém muito amigo, gostava de aju-guém muito amigo, gostava de aju-guém muito amigo, gostava de aju-guém muito amigo, gostava de aju-dar e era prestável. Dizia que o seudar e era prestável. Dizia que o seudar e era prestável. Dizia que o seudar e era prestável. Dizia que o seudar e era prestável. Dizia que o seuberço tinha sido um caixote cheioberço tinha sido um caixote cheioberço tinha sido um caixote cheioberço tinha sido um caixote cheioberço tinha sido um caixote cheiode máquinas de costura”de máquinas de costura”de máquinas de costura”de máquinas de costura”de máquinas de costura”.

“Além de patrão, Mário Felizar-“Além de patrão, Mário Felizar-“Além de patrão, Mário Felizar-“Além de patrão, Mário Felizar-“Além de patrão, Mário Felizar-do é também meu amigo e umado é também meu amigo e umado é também meu amigo e umado é também meu amigo e umado é também meu amigo e umapessoa muito acessível”pessoa muito acessível”pessoa muito acessível”pessoa muito acessível”pessoa muito acessível”, disse estefuncionário que tem notado que há al-gumas clientes que vêm à loja pedirpara reparar a máquinas que eram daavó, para poder confeccionar as suaspróprias roupas.

Atentos a este mercado, proporcio-nam na loja cursos de iniciação ao cor-te e costura. Para José Bernardino “en-“en-“en-“en-“en-quanto houver roupa haverá sem-quanto houver roupa haverá sem-quanto houver roupa haverá sem-quanto houver roupa haverá sem-quanto houver roupa haverá sem-pre máquinas de costura. Mesmopre máquinas de costura. Mesmopre máquinas de costura. Mesmopre máquinas de costura. Mesmopre máquinas de costura. Mesmoque de vez em quando o negócioque de vez em quando o negócioque de vez em quando o negócioque de vez em quando o negócioque de vez em quando o negóciofraqueje, enquanto houver umafraqueje, enquanto houver umafraqueje, enquanto houver umafraqueje, enquanto houver umafraqueje, enquanto houver umacoisa haverá sempre a outra”coisa haverá sempre a outra”coisa haverá sempre a outra”coisa haverá sempre a outra”coisa haverá sempre a outra”.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

Cronologia:19901990199019901990 – Mário Felizardo (bisneto do fun-

dador) vem para a empresa trabalhar com opai, Francisco Felizardo. Este último, alémda assistência técnica passa a dedicar-setambém às relações públicas da empresa

19951995199519951995 – A Casa Felizardo torna-se impor-tadora da marca Bernina ficando com o ex-clusivo da sua comercialização a norte doTejo.

20002000200020002000 – A empresa caldense torna-se re-presentante exclusiva da marca para Portu-gal.

20052005200520052005 – Mário inicia os workshops espe-cializados, investindo em nichos de mercado

José Bernardino, que aprendeu a profissão com Francisco José Bernardino, que aprendeu a profissão com Francisco José Bernardino, que aprendeu a profissão com Francisco José Bernardino, que aprendeu a profissão com Francisco José Bernardino, que aprendeu a profissão com FranciscoFelizardo, rodeado de centenas de máquinas de costuraFelizardo, rodeado de centenas de máquinas de costuraFelizardo, rodeado de centenas de máquinas de costuraFelizardo, rodeado de centenas de máquinas de costuraFelizardo, rodeado de centenas de máquinas de costura

Mário Felizardo é o actual responsável por uma empresa, cujas Mário Felizardo é o actual responsável por uma empresa, cujas Mário Felizardo é o actual responsável por uma empresa, cujas Mário Felizardo é o actual responsável por uma empresa, cujas Mário Felizardo é o actual responsável por uma empresa, cujasmáquinas de costura já são hoje autênticos computadoresmáquinas de costura já são hoje autênticos computadoresmáquinas de costura já são hoje autênticos computadoresmáquinas de costura já são hoje autênticos computadoresmáquinas de costura já são hoje autênticos computadores

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais16

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

José Soares de Oliveira & Filhos, Lda. – a arte do rest

Conhecida pelo mobiliário de linhas clássicas e pelo restauro de móveis e talhas douradas dediversas igrejas, a firma José Soares de Oliveira & Filhos, Lda. nasceu em 1927. Na loja da Rua MiguelBombarda, nas Caldas da Rainha, as cadeiras, mesas e desenhos, entre muitas outras peças, sãoelementos de um passado em que a história da família se mistura com a história da empresa, hojeorientada por dois filhos, Inácio e Vasco, e um neto do seu fundador, José Heitor.À arte de trabalhar madeiras exóticas e de dar nova vida a artigos envelhecidos, juntam-se as memó-rias daquela que foi “uma verdadeira escola de marceneiros”“uma verdadeira escola de marceneiros”“uma verdadeira escola de marceneiros”“uma verdadeira escola de marceneiros”“uma verdadeira escola de marceneiros”. Uma casa de onde saíram mobíli-as para vários pontos do mundo e que tem resistido à evolução dos tempos e dos gostos.

Foi na Escola Comercial e In-dustrial (hoje Secundária Rafa-el Bordalo Pinheiro), que JoséSoares de Oliveira aprendeu,ainda jovem, a desenhar e a ta-lhar a madeira. Mestre Elias foium dos professores do jovemcaldense que, com cerca de 21anos e regressado da tropa, de-cidiu que não queria seguir aspisadas do pai, que trabalhavana cerâmica.

Nascido em 1901, o rapaz co-meçou a trabalhar no mobiliá-rio com pouco mais de 20 anos.Pouco tempo depois junta-se aLuís Pardal e decide criar umasociedade e levar o negócio maisa sério. A José Oliveira o queinteressava mesmo era o mobi-liário de linhas antigas, clássi-co. O colega, por sua vez, queriadedicar-se aos móveis contem-porâneos. Os dois acabariam porse separar pouco tempo depois.

É assim que José Soares deOliveira decide, em 1927, aven-turar-se sozinho no mundo dosnegócios, com uma empresa emnome individual. Uma activida-

de desenvolvida na Rua MiguelBombarda, no edifício onde ain-da hoje se mantém a loja daempresa e onde, naquela altu-ra, se encontrava a oficina, a lojae a habitação da família. Inácio

Oliveira, que há anos desenhaos móveis fabricados pela em-presa, diz que “a maior pro-“a maior pro-“a maior pro-“a maior pro-“a maior pro-dução do Sr. José Soares dedução do Sr. José Soares dedução do Sr. José Soares dedução do Sr. José Soares dedução do Sr. José Soares deOliveira foi seis filhos”Oliveira foi seis filhos”Oliveira foi seis filhos”Oliveira foi seis filhos”Oliveira foi seis filhos”: Fre-derico, Adelino, Beatriz, Inácio,Vasco e José.

Todos, como ‘manda a lei’,com uma média de dois anosentre si. “Não havia televisão,“Não havia televisão,“Não havia televisão,“Não havia televisão,“Não havia televisão,não havia planeamento fa-não havia planeamento fa-não havia planeamento fa-não havia planeamento fa-não havia planeamento fa-miliar”miliar”miliar”miliar”miliar”, diz, a rir, Inácio, hoje

com 76 anos. E todos eles pas-saram pela empresa do pai.“Crescemos entre móveis”“Crescemos entre móveis”“Crescemos entre móveis”“Crescemos entre móveis”“Crescemos entre móveis”,conta. Com a habitação da fa-mília, onde chegou a nascer ofilho mais novo, mesmo em cima

da oficina, não havia como ospetizes escaparem ao labor.Além disso, o pai tinha um tratocom eles: todos iriam estudarpara a Escola Comercial de dia.Caso perdessem o ano, iriamtrabalhar na mobília e estudarà noite, o que acabou por acon-tecer com muitos deles.

Numa família de homens comuma actividade maioritariamen-te talhada para homens, Bea-

triz talvez se tenha esquivado àmadeira, mas garante não terficado “a dever nada” “a dever nada” “a dever nada” “a dever nada” “a dever nada” ao tra-balho. “Uma rapariga no meio “Uma rapariga no meio “Uma rapariga no meio “Uma rapariga no meio “Uma rapariga no meiode seis rapazes, o que é quede seis rapazes, o que é quede seis rapazes, o que é quede seis rapazes, o que é quede seis rapazes, o que é quese espera?”se espera?”se espera?”se espera?”se espera?”, lembra.

O mesmo aconteceu com amãe. Dona Laurinda passoumuitas horas a fazer os abat-jours dos candeeiros que ali sefabricavam, exemplares quedurante anos puderam ser apre-ciados, por exemplo, na Casa daCultura, ou nos antigos Paçosdo Concelho caldenses. Empa-lhar cadeiras era outra tarefada mãe. “Ninguém sabia“Ninguém sabia“Ninguém sabia“Ninguém sabia“Ninguém sabiacomo se fazia, mas apanhou-como se fazia, mas apanhou-como se fazia, mas apanhou-como se fazia, mas apanhou-como se fazia, mas apanhou-

se aí uma cadeira, deram-sese aí uma cadeira, deram-sese aí uma cadeira, deram-sese aí uma cadeira, deram-sese aí uma cadeira, deram-seao trabalho de a desman-ao trabalho de a desman-ao trabalho de a desman-ao trabalho de a desman-ao trabalho de a desman-char toda para ver como erachar toda para ver como erachar toda para ver como erachar toda para ver como erachar toda para ver como erafeita e depois começou ela afeita e depois começou ela afeita e depois começou ela afeita e depois começou ela afeita e depois começou ela aempalhar”empalhar”empalhar”empalhar”empalhar”, conta a filha.

Os trabalhadores, muitos dos

quais iam para ali trabalhar ain-da crianças eram também con-siderados verdadeiros membrosda família de José Soares de Oli-veira. Ainda hoje é conversa re-corrente o facto de um antigofuncionário da empresa, contarmuitas vezes que saiu da escolacom sete anos, poucos dias de-pois do pai o ter matriculado na1ª classe, e que foi naquela ofi-cina que aprendeu a ler e escre-

ver, ensinado pela única filha dopatrão.

Nas fotografias que testemu-nham o passado da empresa, oslaços que uniam o patrão aostrabalhadores são facilmentecomprovados. Muitos dos retra-tos são de convívios que junta-vam todos à mesa. O neto, JoséHeitor, que aparece ainda jovemem muitos deles, lembra-sebem que o 1º de Maio, Dia doTrabalhador, era sempre assina-lado (mesmo antes do 25 de Abril)“à beira da Lagoa, com uma“à beira da Lagoa, com uma“à beira da Lagoa, com uma“à beira da Lagoa, com uma“à beira da Lagoa, com umacaldeirada feita ali mesmo”caldeirada feita ali mesmo”caldeirada feita ali mesmo”caldeirada feita ali mesmo”caldeirada feita ali mesmo”.

E esta empresa de cariz ver-dadeiramente familiar deu tam-bém origem a novas famílias.Um exemplo é a filha do patrão,Beatriz, que acabaria por se ca-sar com um empregado do pai.

“UMA FUNDAÇÃO RICARDOESPÍRITO SANTO EM

MINIATURA”

É com memórias e com asautênticas relíquias que seamontoam na loja da Rua Mi-

José Soares de Oliveira (1901-1975), fundador da José Soares de Oliveira (1901-1975), fundador da José Soares de Oliveira (1901-1975), fundador da José Soares de Oliveira (1901-1975), fundador da José Soares de Oliveira (1901-1975), fundador daempresaempresaempresaempresaempresa

Da esquerda para a direita José Heitor, Inácio e Vasco, o neto e os dois filhos que dão continuidade à empresa Da esquerda para a direita José Heitor, Inácio e Vasco, o neto e os dois filhos que dão continuidade à empresa Da esquerda para a direita José Heitor, Inácio e Vasco, o neto e os dois filhos que dão continuidade à empresa Da esquerda para a direita José Heitor, Inácio e Vasco, o neto e os dois filhos que dão continuidade à empresa Da esquerda para a direita José Heitor, Inácio e Vasco, o neto e os dois filhos que dão continuidade à empresacriada em 1927criada em 1927criada em 1927criada em 1927criada em 1927

A família (José Soares de Oliveira é o terceiro a contar da esquerda) e os A família (José Soares de Oliveira é o terceiro a contar da esquerda) e os A família (José Soares de Oliveira é o terceiro a contar da esquerda) e os A família (José Soares de Oliveira é o terceiro a contar da esquerda) e os A família (José Soares de Oliveira é o terceiro a contar da esquerda) e ostrabalhadores da empresa, em 1942, nas instalações da Rua Miguel Bombarda, onde setrabalhadores da empresa, em 1942, nas instalações da Rua Miguel Bombarda, onde setrabalhadores da empresa, em 1942, nas instalações da Rua Miguel Bombarda, onde setrabalhadores da empresa, em 1942, nas instalações da Rua Miguel Bombarda, onde setrabalhadores da empresa, em 1942, nas instalações da Rua Miguel Bombarda, onde seencontrava a habitação, a oficina e a lojaencontrava a habitação, a oficina e a lojaencontrava a habitação, a oficina e a lojaencontrava a habitação, a oficina e a lojaencontrava a habitação, a oficina e a loja

José Soares de Oliveira (ao centro, de chapéu) no meio de toda a família (filhos e José Soares de Oliveira (ao centro, de chapéu) no meio de toda a família (filhos e José Soares de Oliveira (ao centro, de chapéu) no meio de toda a família (filhos e José Soares de Oliveira (ao centro, de chapéu) no meio de toda a família (filhos e José Soares de Oliveira (ao centro, de chapéu) no meio de toda a família (filhos enetos) em 1964netos) em 1964netos) em 1964netos) em 1964netos) em 1964

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tauro e do mobiliário antigo desde 1927guel Bombarda que se recuperaa história daquela que Inácio eJosé Heitor garantem ser umadas mais antigas empresas dasCaldas. Uma firma que “foi sem-“foi sem-“foi sem-“foi sem-“foi sem-pre uma escola, que formoupre uma escola, que formoupre uma escola, que formoupre uma escola, que formoupre uma escola, que formoucentenas de marceneiros ecentenas de marceneiros ecentenas de marceneiros ecentenas de marceneiros ecentenas de marceneiros eartistas, que vinham paraartistas, que vinham paraartistas, que vinham paraartistas, que vinham paraartistas, que vinham paraaqui aprender ainda miú-aqui aprender ainda miú-aqui aprender ainda miú-aqui aprender ainda miú-aqui aprender ainda miú-dos”dos”dos”dos”dos”.

O restauro foi sempre umaimportante vertente da empre-sa, responsável pela recupera-ção da talha dourada que aindahoje se vê em muitos altares devárias igrejas da região. JoséSoares de Oliveira dedicava-setambém à recuperação de mó-veis antigos. “Sem falsas mo-“Sem falsas mo-“Sem falsas mo-“Sem falsas mo-“Sem falsas mo-déstias, somos capazes dedéstias, somos capazes dedéstias, somos capazes dedéstias, somos capazes dedéstias, somos capazes deser uma Fundação Ricardoser uma Fundação Ricardoser uma Fundação Ricardoser uma Fundação Ricardoser uma Fundação RicardoEspírito Santo em miniatura.Espírito Santo em miniatura.Espírito Santo em miniatura.Espírito Santo em miniatura.Espírito Santo em miniatura.Somos capazes de fazer oSomos capazes de fazer oSomos capazes de fazer oSomos capazes de fazer oSomos capazes de fazer oque eles fazem, sem subsídi-que eles fazem, sem subsídi-que eles fazem, sem subsídi-que eles fazem, sem subsídi-que eles fazem, sem subsídi-os nenhuns, antes pelo con-os nenhuns, antes pelo con-os nenhuns, antes pelo con-os nenhuns, antes pelo con-os nenhuns, antes pelo con-trário”trário”trário”trário”trário”, diz, orgulhoso, JoséHeitor.

O trabalho de restauro trou-xe à empresa caldense algunsdos mais requintados exempla-res de mobiliário clássico. “O“O“O“O“Ogrande ensinamento destagrande ensinamento destagrande ensinamento destagrande ensinamento destagrande ensinamento destacasa foram as peças antigascasa foram as peças antigascasa foram as peças antigascasa foram as peças antigascasa foram as peças antigasque passaram por aqui paraque passaram por aqui paraque passaram por aqui paraque passaram por aqui paraque passaram por aqui paraserem recuperadas e queserem recuperadas e queserem recuperadas e queserem recuperadas e queserem recuperadas e quenos deram uma grande liçãonos deram uma grande liçãonos deram uma grande liçãonos deram uma grande liçãonos deram uma grande liçãode arte e de estilos”de arte e de estilos”de arte e de estilos”de arte e de estilos”de arte e de estilos”, afiançaInácio. Peças de pessoas liga-das à nobreza e às grandes fa-mílias que permitiram à empre-sa ficar com os modelos parareproduzir.

“Muitas das grandes ca-“Muitas das grandes ca-“Muitas das grandes ca-“Muitas das grandes ca-“Muitas das grandes ca-sas no Alentejo têm móveissas no Alentejo têm móveissas no Alentejo têm móveissas no Alentejo têm móveissas no Alentejo têm móveisnossos ou recuperados pornossos ou recuperados pornossos ou recuperados pornossos ou recuperados pornossos ou recuperados pornós”nós”nós”nós”nós”, dizem Inácio e José Hei-tor, acrescentando que a maiorparte dos clientes da empresa sesituavam, principalmente, em Lis-boa. Os descendentes de JoséSoares de Oliveira garantem que“esta firma era motivo de tra-esta firma era motivo de tra-esta firma era motivo de tra-esta firma era motivo de tra-esta firma era motivo de tra-zer muita gente às Caldas. Vi-zer muita gente às Caldas. Vi-zer muita gente às Caldas. Vi-zer muita gente às Caldas. Vi-zer muita gente às Caldas. Vi-nha muita gente de fora cá,nha muita gente de fora cá,nha muita gente de fora cá,nha muita gente de fora cá,nha muita gente de fora cá,que”que”que”que”que”, invariavelmente, “almoça-“almoça-“almoça-“almoça-“almoça-va por aí, ia ao mercado e de-va por aí, ia ao mercado e de-va por aí, ia ao mercado e de-va por aí, ia ao mercado e de-va por aí, ia ao mercado e de-pois à Pastelaria Machado”pois à Pastelaria Machado”pois à Pastelaria Machado”pois à Pastelaria Machado”pois à Pastelaria Machado”.

À medida que o passa pala-vra torna a empresa numa refe-rência e a procura aumenta, asinstalações da Miguel Bombar-da tornam-se pequenas e a ofi-cina é mudada para junto dosprédios do Viola, na Rua Fonte doPinheiro o que aconteceu em me-ados da década de 60. Na Rua Mi-guel Bombarda mantém-se a loja.Em 1969 foi dada sociedade aosfilhos, criando-se a José Soares deOliveira & Filhos, Lda. Seis anosdepois o fundador da empresa vi-ria a falecer e foram os seus des-cendentes que garantiram a con-tinuidade do seu legado.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Resistir na época do “mobiliário de plástico”

A José Soares de Oliveira &Filhos, Lda. sempre apostou emmobiliário “de qualidade”“de qualidade”“de qualidade”“de qualidade”“de qualidade”, fei-to com madeiras exóticas. Maisque simples peças de mobiliá-rio, dali saem verdadeiras obrasde arte, onde todos os porme-nores são cuidados. “Há aí uma“Há aí uma“Há aí uma“Há aí uma“Há aí umacama que fazemos que sócama que fazemos que sócama que fazemos que sócama que fazemos que sócama que fazemos que sópara embutir o painel sãopara embutir o painel sãopara embutir o painel sãopara embutir o painel sãopara embutir o painel sãoprecisos quatro meses”precisos quatro meses”precisos quatro meses”precisos quatro meses”precisos quatro meses”,aponta José Heitor, dando umexemplo da minúcia a que po-dem chegar os móveis da suaempresa.

Ora, os clientes da empresasempre foram “pessoas com“pessoas com“pessoas com“pessoas com“pessoas comalgum poder de compra ealgum poder de compra ealgum poder de compra ealgum poder de compra ealgum poder de compra egosto”gosto”gosto”gosto”gosto”, entre os quais o desta-que vai, nos tempos iniciais,para as famílias aristocráticas,depois para membros de dife-rentes governos, fosse em Por-tugal, fosse no Ultramar. Quan-do o país aderiu à CEE (agoraUnião Europeia), “muitos dos“muitos dos“muitos dos“muitos dos“muitos dosclientes foram trabalharclientes foram trabalharclientes foram trabalharclientes foram trabalharclientes foram trabalharpara Bruxelas e levaram da-para Bruxelas e levaram da-para Bruxelas e levaram da-para Bruxelas e levaram da-para Bruxelas e levaram da-qui muito mobiliário”qui muito mobiliário”qui muito mobiliário”qui muito mobiliário”qui muito mobiliário”, contaJosé Heitor, acrescentando queas peças da sua empresa podemainda ser encontradas em Fran-ça, Espanha, Inglaterra, Cana-dá, Estados Unidos, antigas co-lónias e até em Macau.

Por cá, eram muitas as vezesque José Soares de Oliveira, edepois os filhos, arrancavam demadrugada para Lisboa, “com“com“com“com“comuma garrafita de vinho e auma garrafita de vinho e auma garrafita de vinho e auma garrafita de vinho e auma garrafita de vinho e amerenda feita pela mãemerenda feita pela mãemerenda feita pela mãemerenda feita pela mãemerenda feita pela mãenuma caixa de madeira”numa caixa de madeira”numa caixa de madeira”numa caixa de madeira”numa caixa de madeira” e alipassavam o dia, a montar aspeças de mobiliário, regressan-do só à noite.

Nos tempos áureos da empre-

sa, contavam-se ali cerca de 60trabalhadores, muitos dos quaiscomeçavam a trabalhar aindamiúdos e por ali ficavam até àidade da reforma. As encomen-das eram mais que muitas.“Chegámos a ter uma lista“Chegámos a ter uma lista“Chegámos a ter uma lista“Chegámos a ter uma lista“Chegámos a ter uma listade espera de 12 e 13 meses”de espera de 12 e 13 meses”de espera de 12 e 13 meses”de espera de 12 e 13 meses”de espera de 12 e 13 meses”,diz o neto do fundador, recor-dando que os avós “correram“correram“correram“correram“correramo país a trabalhar, e sempreo país a trabalhar, e sempreo país a trabalhar, e sempreo país a trabalhar, e sempreo país a trabalhar, e semprena furgoneta da empresa”na furgoneta da empresa”na furgoneta da empresa”na furgoneta da empresa”na furgoneta da empresa”.

Em meados da década de 90a José Soares de Oliveira & Fi-lhos, Lda. viu-se mesmo obriga-da a mudar de novo de instala-ções, desta vez para a Zona In-dustrial.

“Hoje os jovens aderiram“Hoje os jovens aderiram“Hoje os jovens aderiram“Hoje os jovens aderiram“Hoje os jovens aderiramà comida de plástico e tam-à comida de plástico e tam-à comida de plástico e tam-à comida de plástico e tam-à comida de plástico e tam-bém aos móveis de plástico.bém aos móveis de plástico.bém aos móveis de plástico.bém aos móveis de plástico.bém aos móveis de plástico.Hoje não se pensa na quali-Hoje não se pensa na quali-Hoje não se pensa na quali-Hoje não se pensa na quali-Hoje não se pensa na quali-dade, é dois ou três anos edade, é dois ou três anos edade, é dois ou três anos edade, é dois ou três anos edade, é dois ou três anos e

deitar fora e é o IKEA que elesdeitar fora e é o IKEA que elesdeitar fora e é o IKEA que elesdeitar fora e é o IKEA que elesdeitar fora e é o IKEA que elesescolhem”escolhem”escolhem”escolhem”escolhem”, lamenta José Hei-tor, que diz que a empresa tem-se sentido em grande medidacom “a alteração de gostos e“a alteração de gostos e“a alteração de gostos e“a alteração de gostos e“a alteração de gostos ecomportamentos... são épo-comportamentos... são épo-comportamentos... são épo-comportamentos... são épo-comportamentos... são épo-cas!”cas!”cas!”cas!”cas!”.

Por isso mesmo, nos temposque correm a empresa é sobre-tudo procurada para o trabalhode restauro e recuperação. “Os“Os“Os“Os“Oschineses ainda não restau-chineses ainda não restau-chineses ainda não restau-chineses ainda não restau-chineses ainda não restau-ram móveis, o IKEA tambémram móveis, o IKEA tambémram móveis, o IKEA tambémram móveis, o IKEA tambémram móveis, o IKEA tambémnão, e ainda se vai recupe-não, e ainda se vai recupe-não, e ainda se vai recupe-não, e ainda se vai recupe-não, e ainda se vai recupe-rando”.rando”.rando”.rando”.rando”.

A ARTE DO TRABALHO FEITOÀ MÃO

Mas se os tempos são outros,há muita coisa que se mantéminalterada na empresa, como ofacto de grande parte do traba-

lho ser feito à mão. Há uma ser-ra eléctrica e mais algumas fer-ramentas que facilitam o labor,mas a atenção ao detalhe, aarte e o engenho necessáriosmantêm-se inalterados.

A qualidade das madeirascom que se trabalha, vindas so-bretudo do Brasil e de África,continua a ser uma garantiadada pela empresa. “Sempre“Sempre“Sempre“Sempre“Sempretivemos um stock muito bomtivemos um stock muito bomtivemos um stock muito bomtivemos um stock muito bomtivemos um stock muito bomde madeiras, nunca traba-de madeiras, nunca traba-de madeiras, nunca traba-de madeiras, nunca traba-de madeiras, nunca traba-lhámos a madeira no imedi-lhámos a madeira no imedi-lhámos a madeira no imedi-lhámos a madeira no imedi-lhámos a madeira no imedi-ato para não haver proble-ato para não haver proble-ato para não haver proble-ato para não haver proble-ato para não haver proble-mas. Nesta empresa a ma-mas. Nesta empresa a ma-mas. Nesta empresa a ma-mas. Nesta empresa a ma-mas. Nesta empresa a ma-deira sempre esteve à chuvadeira sempre esteve à chuvadeira sempre esteve à chuvadeira sempre esteve à chuvadeira sempre esteve à chuvae ao ar livre durante um anoe ao ar livre durante um anoe ao ar livre durante um anoe ao ar livre durante um anoe ao ar livre durante um anoe só depois era trabalhada,e só depois era trabalhada,e só depois era trabalhada,e só depois era trabalhada,e só depois era trabalhada,para podermos dar garanti-para podermos dar garanti-para podermos dar garanti-para podermos dar garanti-para podermos dar garanti-as”as”as”as”as”, e foi isso que permitiu quea José Soares de Oliveira & Fi-lhos, Lda. não sentisse grande

dificuldade em encontrar maté-rias primas quando alguns dosseus principais fornecedorescomeçaram a fechar. “Por en-“Por en-“Por en-“Por en-“Por en-quanto não sentimos escas-quanto não sentimos escas-quanto não sentimos escas-quanto não sentimos escas-quanto não sentimos escas-sez, também precisamos desez, também precisamos desez, também precisamos desez, também precisamos desez, também precisamos demuito menos madeira que amuito menos madeira que amuito menos madeira que amuito menos madeira que amuito menos madeira que aque precisávamos há unsque precisávamos há unsque precisávamos há unsque precisávamos há unsque precisávamos há unsanos”anos”anos”anos”anos”, aponta José Heitor.

A maioria dos clientes conti-nua a ser de Lisboa. “Filhos e“Filhos e“Filhos e“Filhos e“Filhos enetos de primeiros clientesnetos de primeiros clientesnetos de primeiros clientesnetos de primeiros clientesnetos de primeiros clientesque mantêm a ligação à casaque mantêm a ligação à casaque mantêm a ligação à casaque mantêm a ligação à casaque mantêm a ligação à casaou conhecidos destes queou conhecidos destes queou conhecidos destes queou conhecidos destes queou conhecidos destes quevêem as nossas peças”vêem as nossas peças”vêem as nossas peças”vêem as nossas peças”vêem as nossas peças”, ex-plica o neto do fundador.

A empresa, que nos últimosdois anos registou uma factura-ção média na ordem dos 120 mileuros, está hoje reduzida a setetrabalhadores, entre os quaisInácio, que se dedica especial-mente ao desenho das peças demobiliário, Vasco, “um verda-“um verda-“um verda-“um verda-“um verda-deiro artista” deiro artista” deiro artista” deiro artista” deiro artista” a trabalhar amadeira, e José Heitor. “Isto é“Isto é“Isto é“Isto é“Isto étudo muito bonito, sentir atudo muito bonito, sentir atudo muito bonito, sentir atudo muito bonito, sentir atudo muito bonito, sentir acamisola é muito agradável”camisola é muito agradável”camisola é muito agradável”camisola é muito agradável”camisola é muito agradável”,diz o mais novo. E chega? “Não“Não“Não“Não“Nãovai chegando. O mercadovai chegando. O mercadovai chegando. O mercadovai chegando. O mercadovai chegando. O mercadoestá diferente, as exigênciasestá diferente, as exigênciasestá diferente, as exigênciasestá diferente, as exigênciasestá diferente, as exigênciassão muitas”são muitas”são muitas”são muitas”são muitas”, lamenta.

À semelhança dos gerentes,muitos dos empregados que semantêm também ali estão hávários anos. Além disso, JoséHeitor foi o único neto a dar se-guimento às pisadas do avô.“Nas férias todos passavam“Nas férias todos passavam“Nas férias todos passavam“Nas férias todos passavam“Nas férias todos passavampor aqui, mas ninguém fezpor aqui, mas ninguém fezpor aqui, mas ninguém fezpor aqui, mas ninguém fezpor aqui, mas ninguém fezdisto vida profissional”disto vida profissional”disto vida profissional”disto vida profissional”disto vida profissional”.

Uma pergunta se impõe:quem vai dar continuidade àempresa? “Por enquanto não“Por enquanto não“Por enquanto não“Por enquanto não“Por enquanto nãose sabe”se sabe”se sabe”se sabe”se sabe”, diz, garantindo man-ter-se optimista quanto ao fu-turo.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

Desenhos originais de cadeiras clássicas, feitos por Inácio Oliveira a tinta da China, Desenhos originais de cadeiras clássicas, feitos por Inácio Oliveira a tinta da China, Desenhos originais de cadeiras clássicas, feitos por Inácio Oliveira a tinta da China, Desenhos originais de cadeiras clássicas, feitos por Inácio Oliveira a tinta da China, Desenhos originais de cadeiras clássicas, feitos por Inácio Oliveira a tinta da China,que ainda hoje se preservam com todos os cuidadosque ainda hoje se preservam com todos os cuidadosque ainda hoje se preservam com todos os cuidadosque ainda hoje se preservam com todos os cuidadosque ainda hoje se preservam com todos os cuidados

O edifício da Rua Miguel Bombarda resume-se hoje à loja da empresa, onde se multiplicam peças de mobiliário e O edifício da Rua Miguel Bombarda resume-se hoje à loja da empresa, onde se multiplicam peças de mobiliário e O edifício da Rua Miguel Bombarda resume-se hoje à loja da empresa, onde se multiplicam peças de mobiliário e O edifício da Rua Miguel Bombarda resume-se hoje à loja da empresa, onde se multiplicam peças de mobiliário e O edifício da Rua Miguel Bombarda resume-se hoje à loja da empresa, onde se multiplicam peças de mobiliário eferramentas a fazerem lembrar outros temposferramentas a fazerem lembrar outros temposferramentas a fazerem lembrar outros temposferramentas a fazerem lembrar outros temposferramentas a fazerem lembrar outros tempos

1901:1901:1901:1901:1901: Nasce José Soaresde Oliveira, fundador da em-presa

1927:1927:1927:1927:1927: José Soares de Oli-veira começa a trabalhar emnome individual

Década de 60:Década de 60:Década de 60:Década de 60:Década de 60: A pro-dução da empresa muda-separa um terreno da família,junto aos prédios do Viola

1969:1969:1969:1969:1969: O fundador dá so-ciedade aos filhos e é criadaa José Soares de Oliveira &Filhos, Lda. com um capitalsocial de 98.766 euros

1975:1975:1975:1975:1975: Morre José Soaresde Oliveira

1995:1995:1995:1995:1995: A oficina é trans-ferida para as actuais insta-lações na Zona Industrial

Cronologia

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Manuel Gama Lourenço nasceuem Óbidos em 1952. Estudou nasCaldas, no Externato Ramalho Or-tigão até ao terceiro ano, de ondeseguiu para Lisboa, onde concluiuo antigo sétimo ano, em 1972, noColégio Manuel Bernardes.

Filho de médico, sempre mos-trou apetência para as questõesda saúde, mas garante que nãosofreu influência de qualquer es-pécie para seguir medicina veteri-nária.

“Quando somos estudantes“Quando somos estudantes“Quando somos estudantes“Quando somos estudantes“Quando somos estudantesnão sabemos ao certo o quenão sabemos ao certo o quenão sabemos ao certo o quenão sabemos ao certo o quenão sabemos ao certo o quequeremos, pelo menos foi as-queremos, pelo menos foi as-queremos, pelo menos foi as-queremos, pelo menos foi as-queremos, pelo menos foi as-sim comigo e penso que é as-sim comigo e penso que é as-sim comigo e penso que é as-sim comigo e penso que é as-sim comigo e penso que é as-sim com a maioria”sim com a maioria”sim com a maioria”sim com a maioria”sim com a maioria”, considera.Por esse motivo, só na altura deescolher um curso superior é queoptou pela medicina veterinária.“Achava que era uma área“Achava que era uma área“Achava que era uma área“Achava que era uma área“Achava que era uma áreabastante curiosa e não estoubastante curiosa e não estoubastante curiosa e não estoubastante curiosa e não estoubastante curiosa e não estouarrependido”arrependido”arrependido”arrependido”arrependido”, conta.

Entrou em 1972 para a EscolaSuperior de Medicina Veterinária,a única no país que leccionava estecurso na altura. Em 1977 estavaformado.

O primeiro emprego foi comoprofessor na Escola SecundáriaRafael Bordalo Pinheiro, onde es-teve seis meses, mas em Abril de1978 foi convidado para exercer asua profissão na ProPinto, umaempresa de exploração avícola quefuncionava na Serra D’el Rei. Qua-tro anos depois mudou para a Co-operativa de Produtores de Leiteque existia então nas Caldas daRainha. Mas nas horas vagas já

Clínica Veterinária S. Francisco d’ Assis foi a primeir

já vai na segunda geração

O veterinário Manuel Gama Lourenço, hoje com 58 anos, abriu em 1984 a Clínica Veterinária S.Francisco d’ Assis. Trabalhava, na altura, em animais de grande porte na cooperativa leiteira dasCaldas, mas era a área dos animais de companhia que mais interesse lhe despertava. Por issoarriscou e abriu aquela que foi a primeira clínica veterinária nas Caldas da Rainha. Funcionava duashoras por dia, a seguir ao horário de trabalho na cooperativa, mas o projecto foi singrando e em1989 o volume de clientes justificou que abraçasse o projecto a tempo inteiro.Hoje, 27 anos passados, a sua clínica veterinária é também o local de trabalho da filha mais velha,Margarida Gama Lourenço, também veterinária de profissão, que desde pequena se habituou aajudar o pai e vê aquele projecto como sendo da família.

tratava animais de companhia.São dois universos bem distin-

tos, considera. “Num existe um“Num existe um“Num existe um“Num existe um“Num existe um

interesse puramente comerci-interesse puramente comerci-interesse puramente comerci-interesse puramente comerci-interesse puramente comerci-al, o objectivo é fazer com queal, o objectivo é fazer com queal, o objectivo é fazer com queal, o objectivo é fazer com queal, o objectivo é fazer com que

os animais sejam rentáveis àos animais sejam rentáveis àos animais sejam rentáveis àos animais sejam rentáveis àos animais sejam rentáveis àempresa; no outro existe umempresa; no outro existe umempresa; no outro existe umempresa; no outro existe umempresa; no outro existe umaspecto afectivo muito marca-aspecto afectivo muito marca-aspecto afectivo muito marca-aspecto afectivo muito marca-aspecto afectivo muito marca-

do, com o que isso tem de bomdo, com o que isso tem de bomdo, com o que isso tem de bomdo, com o que isso tem de bomdo, com o que isso tem de bome de mau”e de mau”e de mau”e de mau”e de mau”. Apesar de gostar e dever interesse técnico em ambas,acabou por optar pelos animais decompanhia pela mais simples dasrazões: “era a que gostava“era a que gostava“era a que gostava“era a que gostava“era a que gostavamais”mais”mais”mais”mais”.

Abriu a clínica para poder exer-cer a sua profissão porque até ali,na falta de instalações próprias,os animais eram tratados, unsnuma garagem na casa dos pais,em Óbidos, outros mesmo na rua,à porta das pessoas. “Por muita“Por muita“Por muita“Por muita“Por muitacompetência que se tenha, semcompetência que se tenha, semcompetência que se tenha, semcompetência que se tenha, semcompetência que se tenha, semmeios técnicos não é possívelmeios técnicos não é possívelmeios técnicos não é possívelmeios técnicos não é possívelmeios técnicos não é possívelprestar um bom serviço”prestar um bom serviço”prestar um bom serviço”prestar um bom serviço”prestar um bom serviço”, sus-tenta.

A criação de um estabelecimen-to era um passo fundamental paramelhorar a assistência aos animaisde companhia, dando-lhes maisatenção, mas principalmente pos-sibilitava um conjunto de meiostécnicos que permitiam tratar si-tuações mais complicadas, comocasos em que era necessário re-correr à cirurgia.

Assim, em 1984 resolveu arris-car a abertura daquela que seria aprimeira clínica veterinária nasCaldas da Rainha. Arrendou umaloja no número 27 da Rua Vitorino

Fróis por 20 contos (100 euros), “o“o“o“o“oque na altura era muito dinhei-que na altura era muito dinhei-que na altura era muito dinhei-que na altura era muito dinhei-que na altura era muito dinhei-ro... para se ter uma ideia re-ro... para se ter uma ideia re-ro... para se ter uma ideia re-ro... para se ter uma ideia re-ro... para se ter uma ideia re-

cebia 40 contos na cooperati-cebia 40 contos na cooperati-cebia 40 contos na cooperati-cebia 40 contos na cooperati-cebia 40 contos na cooperati-va e metade era para a ren-va e metade era para a ren-va e metade era para a ren-va e metade era para a ren-va e metade era para a ren-da…”da…”da…”da…”da…”, recorda Manuel Gama Lou-renço.

O espaço era grande, mas sótinha um consultório, uma casa debanho e uma sala de espera tãogrande como vazia. “Só tinha“Só tinha“Só tinha“Só tinha“Só tinhaumas cadeiras que trouxe deumas cadeiras que trouxe deumas cadeiras que trouxe deumas cadeiras que trouxe deumas cadeiras que trouxe decasa, porque os meios nãocasa, porque os meios nãocasa, porque os meios nãocasa, porque os meios nãocasa, porque os meios nãoeram muitos e não sabia se aeram muitos e não sabia se aeram muitos e não sabia se aeram muitos e não sabia se aeram muitos e não sabia se aclínica ia resultar”clínica ia resultar”clínica ia resultar”clínica ia resultar”clínica ia resultar”, diz.

Chamou-lhe S. Francisco d’ As-sis por ser este o santo protectordos animais, e a clínica ficava sobalçada da empresa com o mesmonome, Clínica Veterinária S. Fran-cisco D’ Assis, Lda., uma socieda-de por quotas cujos sócios são ain-da hoje Manuel Gama Lourenço ea esposa, Filomena Gama Louren-ço.

No arranque, o veterinário ti-nha que acumular os dois traba-lhos, na cooperativa e na clínica.Por isso, esta funcionava apenasduas horas por dia, quando Manu-el Gama Lourenço terminava o tra-balho na cooperativa.

Sem meios para ter funcionári-os, era a própria Filomena, profes-sora do ensino secundário, o gran-de apoio para o marido, quer na

parte do encorajamento, quer nopróprio trabalho, como o próprioveterinário faz questão de subli-

nhar: “ela foi uma grande dina-“ela foi uma grande dina-“ela foi uma grande dina-“ela foi uma grande dina-“ela foi uma grande dina-mizadora da clínica, ajudava-mizadora da clínica, ajudava-mizadora da clínica, ajudava-mizadora da clínica, ajudava-mizadora da clínica, ajudava-me em tudo, inclusivamenteme em tudo, inclusivamenteme em tudo, inclusivamenteme em tudo, inclusivamenteme em tudo, inclusivamentenas cirurgias, das mais fáceisnas cirurgias, das mais fáceisnas cirurgias, das mais fáceisnas cirurgias, das mais fáceisnas cirurgias, das mais fáceisàs mais complicadas”às mais complicadas”às mais complicadas”às mais complicadas”às mais complicadas”.

O arranque da clínica teve mo-mentos difíceis, em que o rendi-mento que tirava pouco mais davado que para pagar a renda. “Foi“Foi“Foi“Foi“Foicom muito empenho e vonta-com muito empenho e vonta-com muito empenho e vonta-com muito empenho e vonta-com muito empenho e vonta-de que conseguimos crescer,de que conseguimos crescer,de que conseguimos crescer,de que conseguimos crescer,de que conseguimos crescer,trabalhando aos sábados etrabalhando aos sábados etrabalhando aos sábados etrabalhando aos sábados etrabalhando aos sábados eaos domingos quando eraaos domingos quando eraaos domingos quando eraaos domingos quando eraaos domingos quando erapreciso, e de noite chegámospreciso, e de noite chegámospreciso, e de noite chegámospreciso, e de noite chegámospreciso, e de noite chegámosa deixar os filhos em casa aa deixar os filhos em casa aa deixar os filhos em casa aa deixar os filhos em casa aa deixar os filhos em casa adormir para vir fazer cirurgiasdormir para vir fazer cirurgiasdormir para vir fazer cirurgiasdormir para vir fazer cirurgiasdormir para vir fazer cirurgiascomplicadas, mas em tudo écomplicadas, mas em tudo écomplicadas, mas em tudo écomplicadas, mas em tudo écomplicadas, mas em tudo épreciso fazer sacrifícios por-preciso fazer sacrifícios por-preciso fazer sacrifícios por-preciso fazer sacrifícios por-preciso fazer sacrifícios por-que a vida não é fácil”que a vida não é fácil”que a vida não é fácil”que a vida não é fácil”que a vida não é fácil”, subli-nha.

Porém, ao fim de cinco anos omovimento justificava que aban-donasse em definitivo a coopera-tiva dos produtores de leite parase dedicar em exclusivo à clínica,que passa a funcionar todos osdias úteis em horário de expedi-ente.

Daí em diante a clínica sofreuvárias evoluções, tanto em termosfísicos, como em termos tecnoló-gicos. “Felizmente veio sempre“Felizmente veio sempre“Felizmente veio sempre“Felizmente veio sempre“Felizmente veio sempreevoluindo e crescendo. Adqui-evoluindo e crescendo. Adqui-evoluindo e crescendo. Adqui-evoluindo e crescendo. Adqui-evoluindo e crescendo. Adqui-

ri mais espaço, mas tambémri mais espaço, mas tambémri mais espaço, mas tambémri mais espaço, mas tambémri mais espaço, mas tambémequipamento tecnológico deequipamento tecnológico deequipamento tecnológico deequipamento tecnológico deequipamento tecnológico dediagnóstico que hoje é deter-diagnóstico que hoje é deter-diagnóstico que hoje é deter-diagnóstico que hoje é deter-diagnóstico que hoje é deter-minante para desempenhar ominante para desempenhar ominante para desempenhar ominante para desempenhar ominante para desempenhar otrabalho com mais qualidade”trabalho com mais qualidade”trabalho com mais qualidade”trabalho com mais qualidade”trabalho com mais qualidade”.

Numa primeira fase juntou maisum gabinete, mais tarde uma saladedicada em exclusivo à cirurgia.Em 1999 alargou o espaço com aaquisição da loja do lado, onde fezum escritório e uma sala para exa-mes com Raio X. Em 2005 adquiriua loja que até ali estava arrenda-da e em 2010 a clínica voltou a so-frer remodelações, para ser cria-da uma sala de recobro e um es-paço próprio para banho e tosqui-as.

A evolução da clínica acompa-nha também o desenvolvimento daprópria actividade, realça ManuelGama Lourenço. “Hoje é uma“Hoje é uma“Hoje é uma“Hoje é uma“Hoje é umaprofissão mais exigente doprofissão mais exigente doprofissão mais exigente doprofissão mais exigente doprofissão mais exigente doque era há 30 anos, mas comque era há 30 anos, mas comque era há 30 anos, mas comque era há 30 anos, mas comque era há 30 anos, mas commuito mais meios. Quando co-muito mais meios. Quando co-muito mais meios. Quando co-muito mais meios. Quando co-muito mais meios. Quando co-mecei era uma profissão difícilmecei era uma profissão difícilmecei era uma profissão difícilmecei era uma profissão difícilmecei era uma profissão difícildevido à falta de recursos edevido à falta de recursos edevido à falta de recursos edevido à falta de recursos edevido à falta de recursos etambém de colegas em quemtambém de colegas em quemtambém de colegas em quemtambém de colegas em quemtambém de colegas em quemnos apoiarmos, mas hoje fe-nos apoiarmos, mas hoje fe-nos apoiarmos, mas hoje fe-nos apoiarmos, mas hoje fe-nos apoiarmos, mas hoje fe-lizmente para nós e para oslizmente para nós e para oslizmente para nós e para oslizmente para nós e para oslizmente para nós e para osutentes evoluiu muito”utentes evoluiu muito”utentes evoluiu muito”utentes evoluiu muito”utentes evoluiu muito”.

Ao fim de 27 anos de Clínica Ve-terinária S. Francisco d’ Assis, oque dá mais gosto a Manuel GamaLourenço é ter muitos clientes fi-éis há muitos anos, que são já maisamigos do que clientes. “Fazem“Fazem“Fazem“Fazem“Fazemparte do nosso currículo essasparte do nosso currículo essasparte do nosso currículo essasparte do nosso currículo essasparte do nosso currículo essaspessoas com quem criamospessoas com quem criamospessoas com quem criamospessoas com quem criamospessoas com quem criamosuma ligação mais forte e é umauma ligação mais forte e é umauma ligação mais forte e é umauma ligação mais forte e é umauma ligação mais forte e é umasatisfação saber que acredi-satisfação saber que acredi-satisfação saber que acredi-satisfação saber que acredi-satisfação saber que acredi-tam em nós, pessoas que portam em nós, pessoas que portam em nós, pessoas que portam em nós, pessoas que portam em nós, pessoas que porvezes nem vivem cá, mas quevezes nem vivem cá, mas quevezes nem vivem cá, mas quevezes nem vivem cá, mas quevezes nem vivem cá, mas quenos procuram nem que sejanos procuram nem que sejanos procuram nem que sejanos procuram nem que sejanos procuram nem que sejapara perguntar se está tudopara perguntar se está tudopara perguntar se está tudopara perguntar se está tudopara perguntar se está tudobem”bem”bem”bem”bem”.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected] Manuel Lourenço há cerca de 20 anos com uma jovem Manuel Lourenço há cerca de 20 anos com uma jovem Manuel Lourenço há cerca de 20 anos com uma jovem Manuel Lourenço há cerca de 20 anos com uma jovem Manuel Lourenço há cerca de 20 anos com uma jovem

cliente cujo cachorro acabara de ser tratadocliente cujo cachorro acabara de ser tratadocliente cujo cachorro acabara de ser tratadocliente cujo cachorro acabara de ser tratadocliente cujo cachorro acabara de ser tratado

O casal Gama Lourenço com os dois filhos, Margarida e Manuel Maria, ainda pequenos, em 1987, e pai e filha, hoje, ambos colegas O casal Gama Lourenço com os dois filhos, Margarida e Manuel Maria, ainda pequenos, em 1987, e pai e filha, hoje, ambos colegas O casal Gama Lourenço com os dois filhos, Margarida e Manuel Maria, ainda pequenos, em 1987, e pai e filha, hoje, ambos colegas O casal Gama Lourenço com os dois filhos, Margarida e Manuel Maria, ainda pequenos, em 1987, e pai e filha, hoje, ambos colegas O casal Gama Lourenço com os dois filhos, Margarida e Manuel Maria, ainda pequenos, em 1987, e pai e filha, hoje, ambos colegas

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

ra a estabelecer-se nas Caldas e

Em 2007 Manuel Gama Lou-renço passou a ter na filha Mar-garida, hoje com 29 anos, umacolega de trabalho. O filho maisnovo, Manuel Maria Gama Lou-renço, de 26 anos, é gestor e porisso não integrou a clínica emtermos profissionais. Mas osdois irmãos foram presença as-sídua, ajudando no que podiamnas horas vagas, nos fins-de-semana, ou nas férias da esco-la.

Para o pai, ter a filha comocolega é uma satisfação, tantocomo progenitor, como em ter-mos profissionais. “Ela é uma“Ela é uma“Ela é uma“Ela é uma“Ela é umaóptima companhia e é muitoóptima companhia e é muitoóptima companhia e é muitoóptima companhia e é muitoóptima companhia e é muitoimportante introduzir genteimportante introduzir genteimportante introduzir genteimportante introduzir genteimportante introduzir gentenova com outras ideias, ou-nova com outras ideias, ou-nova com outras ideias, ou-nova com outras ideias, ou-nova com outras ideias, ou-tra formação e outra atitudetra formação e outra atitudetra formação e outra atitudetra formação e outra atitudetra formação e outra atitudeperante a vida e o trabalho,perante a vida e o trabalho,perante a vida e o trabalho,perante a vida e o trabalho,perante a vida e o trabalho,é uma lufada de ar frescoé uma lufada de ar frescoé uma lufada de ar frescoé uma lufada de ar frescoé uma lufada de ar frescoque renova a nossa mentali-que renova a nossa mentali-que renova a nossa mentali-que renova a nossa mentali-que renova a nossa mentali-dade”dade”dade”dade”dade”, considera.

“É uma profissão que exige uma grande dedicação”

Para Margarida Gama Louren-ço, integrar a clínica do pai foialgo que cresceu com ela pró-pria. “Eu cresci aqui, não vim“Eu cresci aqui, não vim“Eu cresci aqui, não vim“Eu cresci aqui, não vim“Eu cresci aqui, não vimpara cá enganada. É umapara cá enganada. É umapara cá enganada. É umapara cá enganada. É umapara cá enganada. É umaprofissão que exige umaprofissão que exige umaprofissão que exige umaprofissão que exige umaprofissão que exige umagrande dedicação e espíritogrande dedicação e espíritogrande dedicação e espíritogrande dedicação e espíritogrande dedicação e espíritode sacrifício pois em qual-de sacrifício pois em qual-de sacrifício pois em qual-de sacrifício pois em qual-de sacrifício pois em qual-quer altura podemos ter quequer altura podemos ter quequer altura podemos ter quequer altura podemos ter quequer altura podemos ter quelargar o que estamos a fa-largar o que estamos a fa-largar o que estamos a fa-largar o que estamos a fa-largar o que estamos a fa-zer para vir resolver um pro-zer para vir resolver um pro-zer para vir resolver um pro-zer para vir resolver um pro-zer para vir resolver um pro-blema, mas sabia para o queblema, mas sabia para o queblema, mas sabia para o queblema, mas sabia para o queblema, mas sabia para o quevinha e gosto muito do quevinha e gosto muito do quevinha e gosto muito do quevinha e gosto muito do quevinha e gosto muito do quefaço”faço”faço”faço”faço”, refere.

Ao contrário do pai, Margari-da sempre teve uma forte incli-nação para seguir medicina ve-terinária, “não que fosse uma“não que fosse uma“não que fosse uma“não que fosse uma“não que fosse umagrande paixão, como as pes-grande paixão, como as pes-grande paixão, como as pes-grande paixão, como as pes-grande paixão, como as pes-soas costumam dizer, massoas costumam dizer, massoas costumam dizer, massoas costumam dizer, massoas costumam dizer, masporque sabia que iria gostarporque sabia que iria gostarporque sabia que iria gostarporque sabia que iria gostarporque sabia que iria gostardisto”disto”disto”disto”disto”. Mas não foi fácil entrarna universidade. Chegou mes-mo a tentar outro curso: terapiada fala. “Gostava da profis-“Gostava da profis-“Gostava da profis-“Gostava da profis-“Gostava da profis-

são mas não do curso, nãosão mas não do curso, nãosão mas não do curso, nãosão mas não do curso, nãosão mas não do curso, nãohavia uma cadeira de quehavia uma cadeira de quehavia uma cadeira de quehavia uma cadeira de quehavia uma cadeira de quegostasse e desisti”gostasse e desisti”gostasse e desisti”gostasse e desisti”gostasse e desisti”.

Acabou por conseguir entrarem medicina veterinária emCoimbra, formou-se em 2007 ecomeçou a trabalhar na ClínicaS. Francisco d’ Assis.

Continuar o trabalho que o paicomeçou é algo que encaracomo uma grande responsabili-dade, até porque “não imagi-“não imagi-“não imagi-“não imagi-“não imagi-no esta clínica sem nós cáno esta clínica sem nós cáno esta clínica sem nós cáno esta clínica sem nós cáno esta clínica sem nós cáestarmos”estarmos”estarmos”estarmos”estarmos”, afirma.

Margarida tem consciênciaque existe hoje muita competi-tividade no meio e, tal como osseus pais fizeram, também elavai ter que fazer sacrifícios paramanter a clínica, mas com umavantagem: “não tive que co-“não tive que co-“não tive que co-“não tive que co-“não tive que co-meçar sozinha, ultrapassarmeçar sozinha, ultrapassarmeçar sozinha, ultrapassarmeçar sozinha, ultrapassarmeçar sozinha, ultrapassaraquelas dificuldades iniciais,aquelas dificuldades iniciais,aquelas dificuldades iniciais,aquelas dificuldades iniciais,aquelas dificuldades iniciais,eles já o fizeram por mim eeles já o fizeram por mim eeles já o fizeram por mim eeles já o fizeram por mim eeles já o fizeram por mim etenho que dar graças a Deustenho que dar graças a Deustenho que dar graças a Deustenho que dar graças a Deustenho que dar graças a Deus

Os cães e os gatos continu-am a ser os principais animaisde companhia, e também osque de forma mais comum con-tinuam a frequentar o veteri-nário. No entanto, os animaisexóticos começam também aaparecer, o que constitui umdesafio para os profissionais dasaúde veterinária.

Manuel Gama Lourenço adi-anta que já começam a apare-cer coelhos, aves, alguns rép-teis, mas ainda em número re-duzido. Mesmo assim, isso obri-ga a uma constante aprendiza-gem, “é um dos encantos da“é um dos encantos da“é um dos encantos da“é um dos encantos da“é um dos encantos daprofissão”profissão”profissão”profissão”profissão”.

Para Margarida Gama Lou-renço, estes animais são mes-mo um aliciante, “gosto imen-“gosto imen-“gosto imen-“gosto imen-“gosto imen-so”so”so”so”so”, afirma. Apesar de não ter

1984-1984-1984-1984-1984- Manuel Gama Lou-renço abre a Clínica Veteriná-ria S. Francisco D’ Assis na RuaVitorino Fróis sob o nome co-mercial de S. Francisco D’ As-sis, Lda. cujos sócios são ocasal Manuel e FilomenaGama Lourenço

1989- 1989- 1989- 1989- 1989- Manuel Gama Lou-renço assume a clínica a tem-po inteiro.

1999- 1999- 1999- 1999- 1999- A clínica expande-se para a loja do lado e passaa ter equipamento de Raio X

2005-2005-2005-2005-2005- É adquirida a lojaque estava arrendada, pas-sando as instalações da clíni-ca a pertencer por inteiro àempresa.

2007-2007-2007-2007-2007- Margarida GamaLourenço, filha do casal, jun-ta-se ao pai como veterináriada clínica

2010-2010-2010-2010-2010- É criada uma salade recobro para os animais re-cém-operados

por isso e esforçar-me parapor isso e esforçar-me parapor isso e esforçar-me parapor isso e esforçar-me parapor isso e esforçar-me parafazer andar este projectofazer andar este projectofazer andar este projectofazer andar este projectofazer andar este projectomais 25 anos”mais 25 anos”mais 25 anos”mais 25 anos”mais 25 anos”.

Dos três anos de experiênciaque Margarida Gama Lourençoleva na actividade, o que achamais complicado é lidar com aligação, por vezes demasiadoforte, que as pessoas criam como seu animal de estimação.

“O animal deve ser mais“O animal deve ser mais“O animal deve ser mais“O animal deve ser mais“O animal deve ser maisum membro da família, masum membro da família, masum membro da família, masum membro da família, masum membro da família, maspor vezes as pessoas esta-por vezes as pessoas esta-por vezes as pessoas esta-por vezes as pessoas esta-por vezes as pessoas esta-belecem com ele uma relaçãobelecem com ele uma relaçãobelecem com ele uma relaçãobelecem com ele uma relaçãobelecem com ele uma relaçãodemasiado forte”demasiado forte”demasiado forte”demasiado forte”demasiado forte”, o que porvezes condiciona quando é pre-ciso lidar com uma situação dedoença.

Difícil de lidar é tambémquando os problemas de saúdedos animais não são ultrapas-

sáveis e obrigam à eutanásia.“É difícil porque não há con-É difícil porque não há con-É difícil porque não há con-É difícil porque não há con-É difícil porque não há con-solo possível para o dono, esolo possível para o dono, esolo possível para o dono, esolo possível para o dono, esolo possível para o dono, eé difícil porque temos queé difícil porque temos queé difícil porque temos queé difícil porque temos queé difícil porque temos quereconhecer que não conse-reconhecer que não conse-reconhecer que não conse-reconhecer que não conse-reconhecer que não conse-guimos resolver aquele pro-guimos resolver aquele pro-guimos resolver aquele pro-guimos resolver aquele pro-guimos resolver aquele pro-blema, que até pode nem terblema, que até pode nem terblema, que até pode nem terblema, que até pode nem terblema, que até pode nem tersolução, mas é uma vida quesolução, mas é uma vida quesolução, mas é uma vida quesolução, mas é uma vida quesolução, mas é uma vida queestá em jogo e vai ser tiradaestá em jogo e vai ser tiradaestá em jogo e vai ser tiradaestá em jogo e vai ser tiradaestá em jogo e vai ser tiradapor nós”por nós”por nós”por nós”por nós”.

Tendo dirigido a sua forma-ção para os animais de compa-nhia, Margarida sente algumacuriosidade em trabalhar comgrandes animais, área onde opai começou e com a qual a ve-terinária tomou algum contactodurante o curso superior. “O“O“O“O“Otrabalho no campo, emboratrabalho no campo, emboratrabalho no campo, emboratrabalho no campo, emboratrabalho no campo, emboramuito duro, é muito bommuito duro, é muito bommuito duro, é muito bommuito duro, é muito bommuito duro, é muito bompara quem gosta”para quem gosta”para quem gosta”para quem gosta”para quem gosta”, refere,

Animais exóticos já vão aparecendotido ainda oportunidade de fa-zer uma formação aprofundadanesta área, procura partilhar co-nhecimentos com outros cole-gas que trabalham mais em ani-mais exóticos “para poder li-“para poder li-“para poder li-“para poder li-“para poder li-dar com o que aparece, por-dar com o que aparece, por-dar com o que aparece, por-dar com o que aparece, por-dar com o que aparece, por-que é difícil progredir em de-que é difícil progredir em de-que é difícil progredir em de-que é difícil progredir em de-que é difícil progredir em de-terminada área se o traba-terminada área se o traba-terminada área se o traba-terminada área se o traba-terminada área se o traba-lho que temos é pouco”lho que temos é pouco”lho que temos é pouco”lho que temos é pouco”lho que temos é pouco”.

A veterinária sublinha, noentanto, que os donos deste tipode animais têm cada mais inte-resse pelo bem-estar dos seusbichos. “Cada vez mais tra-“Cada vez mais tra-“Cada vez mais tra-“Cada vez mais tra-“Cada vez mais tra-zem o seu coelho, o seu por-zem o seu coelho, o seu por-zem o seu coelho, o seu por-zem o seu coelho, o seu por-zem o seu coelho, o seu por-quinho da Índia para vaci-quinho da Índia para vaci-quinho da Índia para vaci-quinho da Índia para vaci-quinho da Índia para vaci-nar, ou só para ver se estánar, ou só para ver se estánar, ou só para ver se estánar, ou só para ver se estánar, ou só para ver se estátudo bem, coisa que há unstudo bem, coisa que há unstudo bem, coisa que há unstudo bem, coisa que há unstudo bem, coisa que há unsanos era impensável”anos era impensável”anos era impensável”anos era impensável”anos era impensável”.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

Cronologia

Margarida Lourenço numa foto de quando andava a estudar veterinária e na passada terça-feira após uma operação cirúrgica a um “paciente”.Margarida Lourenço numa foto de quando andava a estudar veterinária e na passada terça-feira após uma operação cirúrgica a um “paciente”.Margarida Lourenço numa foto de quando andava a estudar veterinária e na passada terça-feira após uma operação cirúrgica a um “paciente”.Margarida Lourenço numa foto de quando andava a estudar veterinária e na passada terça-feira após uma operação cirúrgica a um “paciente”.Margarida Lourenço numa foto de quando andava a estudar veterinária e na passada terça-feira após uma operação cirúrgica a um “paciente”.

A Clínica Veterinária S. Francisco D’ Assis, Lda. começou por ser apenas a parte da A Clínica Veterinária S. Francisco D’ Assis, Lda. começou por ser apenas a parte da A Clínica Veterinária S. Francisco D’ Assis, Lda. começou por ser apenas a parte da A Clínica Veterinária S. Francisco D’ Assis, Lda. começou por ser apenas a parte da A Clínica Veterinária S. Francisco D’ Assis, Lda. começou por ser apenas a parte dadireita na Rua Vitorino Fróis e alargou-se em 1999 ao lado esquerdo.direita na Rua Vitorino Fróis e alargou-se em 1999 ao lado esquerdo.direita na Rua Vitorino Fróis e alargou-se em 1999 ao lado esquerdo.direita na Rua Vitorino Fróis e alargou-se em 1999 ao lado esquerdo.direita na Rua Vitorino Fróis e alargou-se em 1999 ao lado esquerdo.

acrescentando que se surgisseuma proposta “sentir-me-iasentir-me-iasentir-me-iasentir-me-iasentir-me-iatentada a dividir o meu tem-tentada a dividir o meu tem-tentada a dividir o meu tem-tentada a dividir o meu tem-tentada a dividir o meu tem-po entre uma coisa e outra,po entre uma coisa e outra,po entre uma coisa e outra,po entre uma coisa e outra,po entre uma coisa e outra,mas não é fácil porque namas não é fácil porque namas não é fácil porque namas não é fácil porque namas não é fácil porque nanossa zona não há muito tra-nossa zona não há muito tra-nossa zona não há muito tra-nossa zona não há muito tra-nossa zona não há muito tra-balho nessa área”balho nessa área”balho nessa área”balho nessa área”balho nessa área”.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

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18 | Fevereiro | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Henrique Querido, SA – o estucador que chegou a em

com o filho

“Andei a dar serventia na-“Andei a dar serventia na-“Andei a dar serventia na-“Andei a dar serventia na-“Andei a dar serventia na-quele prédio onde o Abílio Flo-quele prédio onde o Abílio Flo-quele prédio onde o Abílio Flo-quele prédio onde o Abílio Flo-quele prédio onde o Abílio Flo-res tinha a loja de peças res tinha a loja de peças res tinha a loja de peças res tinha a loja de peças res tinha a loja de peças [juntoà igreja] com uma lata de mas- com uma lata de mas- com uma lata de mas- com uma lata de mas- com uma lata de mas-sa às costas. Naquele temposa às costas. Naquele temposa às costas. Naquele temposa às costas. Naquele temposa às costas. Naquele tempoera muito duro”era muito duro”era muito duro”era muito duro”era muito duro”, conta Henri-que Querido. Depois, há cerca de40 anos atrás, o hoje empresáriofoi destacado para as obras noHospital das Caldas. As funçõescontinuavam a ser as de serven-te. Mas é aí que Henrique Queri-do recebe uma proposta irrecu-sável. “Quando acabaram as“Quando acabaram as“Quando acabaram as“Quando acabaram as“Quando acabaram asobras, o patrão convidou-meobras, o patrão convidou-meobras, o patrão convidou-meobras, o patrão convidou-meobras, o patrão convidou-mepara Lisboa a fim de tomarpara Lisboa a fim de tomarpara Lisboa a fim de tomarpara Lisboa a fim de tomarpara Lisboa a fim de tomarconta da construção de umconta da construção de umconta da construção de umconta da construção de umconta da construção de umprédio de seis andares. Euprédio de seis andares. Euprédio de seis andares. Euprédio de seis andares. Euprédio de seis andares. Eudisse: disse: disse: disse: disse: Oh senhor engenheiro,Oh senhor engenheiro,Oh senhor engenheiro,Oh senhor engenheiro,Oh senhor engenheiro,vou para lá tomar conta devou para lá tomar conta devou para lá tomar conta devou para lá tomar conta devou para lá tomar conta dehomens que têm idade parahomens que têm idade parahomens que têm idade parahomens que têm idade parahomens que têm idade paraser meus paisser meus paisser meus paisser meus paisser meus pais. E ele: . E ele: . E ele: . E ele: . E ele: Não te-Não te-Não te-Não te-Não te-nha medonha medonha medonha medonha medo”””””. Henrique Queridoaceitou, claro.

Mudou-se, então, de malas ebagagens para Lisboa. Finda aobra, como a experiência correrabem, o jovem empreendedor vai“comandar” mais uma pequenaconstrução para a Costa de Ca-parica. Mas decide voltar às Cal-das. “Estava fora da família e“Estava fora da família e“Estava fora da família e“Estava fora da família e“Estava fora da família etinha saudades”tinha saudades”tinha saudades”tinha saudades”tinha saudades”, explica. Hen-rique Querido tinha casado em1965 com Maria Filomena e optapor regressar, ainda que isso re-presentasse deixar de ser encar-regado de obra e voltar a traba-lhar apenas como estucador.

“Antigamente ganhava o “Antigamente ganhava o “Antigamente ganhava o “Antigamente ganhava o “Antigamente ganhava odinheiro que queria”dinheiro que queria”dinheiro que queria”dinheiro que queria”dinheiro que queria”, diz comsatisfação. “O ordenado nor-“O ordenado nor-“O ordenado nor-“O ordenado nor-“O ordenado nor-mal era de 50 escudos mal era de 50 escudos mal era de 50 escudos mal era de 50 escudos mal era de 50 escudos [25 cên-timos] e eu já ganhava três a e eu já ganhava três a e eu já ganhava três a e eu já ganhava três a e eu já ganhava três aquatro vezes mais. É certo quequatro vezes mais. É certo quequatro vezes mais. É certo quequatro vezes mais. É certo quequatro vezes mais. É certo quemuitas vezes não me deitavamuitas vezes não me deitavamuitas vezes não me deitavamuitas vezes não me deitavamuitas vezes não me deitavapor estar a trabalhar, mas fa-por estar a trabalhar, mas fa-por estar a trabalhar, mas fa-por estar a trabalhar, mas fa-por estar a trabalhar, mas fa-zia com gosto aquilo que pou-zia com gosto aquilo que pou-zia com gosto aquilo que pou-zia com gosto aquilo que pou-zia com gosto aquilo que pou-

cas pessoas sabiam fazer -cas pessoas sabiam fazer -cas pessoas sabiam fazer -cas pessoas sabiam fazer -cas pessoas sabiam fazer -aquelas flores todas no tectoaquelas flores todas no tectoaquelas flores todas no tectoaquelas flores todas no tectoaquelas flores todas no tectoem estuque, tudo ao porme-em estuque, tudo ao porme-em estuque, tudo ao porme-em estuque, tudo ao porme-em estuque, tudo ao porme-nor. Hoje já não sei fazer”nor. Hoje já não sei fazer”nor. Hoje já não sei fazer”nor. Hoje já não sei fazer”nor. Hoje já não sei fazer”, con-ta o empreiteiro.

No início da década de setentaforma uma empresa em nomeindividual – a Henrique Bernardi-no Querido – e torna-se empresá-rio. Chega a ter 35 homens a tra-balhar por sua conta, numa épo-ca em os meios tecnológicos nãoeram os mesmos de hoje e a for-ça humana era a “máquina” daconstrução.

“As pessoas tinham que“As pessoas tinham que“As pessoas tinham que“As pessoas tinham que“As pessoas tinham quedar ao cabedal. Não é comodar ao cabedal. Não é comodar ao cabedal. Não é comodar ao cabedal. Não é comodar ao cabedal. Não é como

agora em que a grua pode teragora em que a grua pode teragora em que a grua pode teragora em que a grua pode teragora em que a grua pode teruma lança de 30 a 60 metrosuma lança de 30 a 60 metrosuma lança de 30 a 60 metrosuma lança de 30 a 60 metrosuma lança de 30 a 60 metrosde comprimento e que chegade comprimento e que chegade comprimento e que chegade comprimento e que chegade comprimento e que chegaa todo o lado. O pessoal tinhaa todo o lado. O pessoal tinhaa todo o lado. O pessoal tinhaa todo o lado. O pessoal tinhaa todo o lado. O pessoal tinhade andar com o balde pelade andar com o balde pelade andar com o balde pelade andar com o balde pelade andar com o balde pelaescada acima. Demorava diasescada acima. Demorava diasescada acima. Demorava diasescada acima. Demorava diasescada acima. Demorava diasa encher uma laje”a encher uma laje”a encher uma laje”a encher uma laje”a encher uma laje”, afirma.

Com o 25 de Abril dá-se tam-bém uma revolução na empresade Henrique Querido. Durante ochamado PREC (Período Revolu-cionário em Curso) as coisas nãoestão de feição para quem é pa-trão e Henrique Querido resolve acoisa de forma pragmática – des-pede todos os trabalhadores. Em1978, em vez de empresário emnome individual, junta-se a JúlioFialho e forma a Querido & Fialho,Lda, a primeira das várias socie-dades por quotas que faria aolongo da sua vida empresarial.

“Quando parei de fazer es- “Quando parei de fazer es- “Quando parei de fazer es- “Quando parei de fazer es- “Quando parei de fazer es-tuque e pinturas, comecei atuque e pinturas, comecei atuque e pinturas, comecei atuque e pinturas, comecei atuque e pinturas, comecei a

comprar terrenos e a cons-comprar terrenos e a cons-comprar terrenos e a cons-comprar terrenos e a cons-comprar terrenos e a cons-truir apartamentos para ven-truir apartamentos para ven-truir apartamentos para ven-truir apartamentos para ven-truir apartamentos para ven-der. Foi aí que convidei o Júlioder. Foi aí que convidei o Júlioder. Foi aí que convidei o Júlioder. Foi aí que convidei o Júlioder. Foi aí que convidei o JúlioFialho para fazermos umaFialho para fazermos umaFialho para fazermos umaFialho para fazermos umaFialho para fazermos umasociedade”sociedade”sociedade”sociedade”sociedade”.

A empresa constituída pelosdois construtores chegou a daremprego a 50 pessoas. Já haviabetoneiras eléctricas que mistu-ravam areia, pedra e cimento parafazer betão. Uma novidade paraa época. “Amassavam um me-“Amassavam um me-“Amassavam um me-“Amassavam um me-“Amassavam um me-tro de betão de cada vez. Ago-tro de betão de cada vez. Ago-tro de betão de cada vez. Ago-tro de betão de cada vez. Ago-tro de betão de cada vez. Ago-ra já não trabalham com elas.ra já não trabalham com elas.ra já não trabalham com elas.ra já não trabalham com elas.ra já não trabalham com elas.Hoje faz-se um prédio muitoHoje faz-se um prédio muitoHoje faz-se um prédio muitoHoje faz-se um prédio muitoHoje faz-se um prédio muitomais rápido. Num dia enche-mais rápido. Num dia enche-mais rápido. Num dia enche-mais rápido. Num dia enche-mais rápido. Num dia enche-se os pilares todos”se os pilares todos”se os pilares todos”se os pilares todos”se os pilares todos”, declara

Henrique Querido. Como tudo temum fim, os dois sócios acabarampor separar-se, em 1986 e Henri-que Querido fica com a quota deJúlio Fialho. Mas um ano antes, oempresário já tinha constituído asua própria empresa - a HenriqueQuerido Lda. que começa agoralaborar. A empresa tem por sóci-os o casal Henrique e Maria Filo-mena e o filho Vítor Querido (en-tão com 20 anos e que faleceriaseis anos depois num acidente deviação).

O espírito empreededor deHenrique Querido não se fica poraqui. Nos anos 80, aventura-senuma nova sociedade - a Edifical-das, desta vez com mais seteempresários: António Vibaldo,Abílio Pedro, António Leitão, Jú-lio Fialho, Silvino Costa e José eLuís Norte (estes últimos pai e fi-lho).

O objectivo era criar uma gran-de empresa de construção civil nasCaldas. “Foi uma brincadeira.“Foi uma brincadeira.“Foi uma brincadeira.“Foi uma brincadeira.“Foi uma brincadeira.Almoçávamos todas as quar-Almoçávamos todas as quar-Almoçávamos todas as quar-Almoçávamos todas as quar-Almoçávamos todas as quar-tas-feiras juntos. Depois pen-tas-feiras juntos. Depois pen-tas-feiras juntos. Depois pen-tas-feiras juntos. Depois pen-tas-feiras juntos. Depois pen-sámos em comprar um terre-sámos em comprar um terre-sámos em comprar um terre-sámos em comprar um terre-sámos em comprar um terre-no na Foz do Arelho. Construi-no na Foz do Arelho. Construi-no na Foz do Arelho. Construi-no na Foz do Arelho. Construi-no na Foz do Arelho. Construi-se um prédio de 12 andares,se um prédio de 12 andares,se um prédio de 12 andares,se um prédio de 12 andares,se um prédio de 12 andares,cada um ficou com um apar-cada um ficou com um apar-cada um ficou com um apar-cada um ficou com um apar-cada um ficou com um apar-tamento e vendemos outrostamento e vendemos outrostamento e vendemos outrostamento e vendemos outrostamento e vendemos outrosquatro. De toda essa malta, oquatro. De toda essa malta, oquatro. De toda essa malta, oquatro. De toda essa malta, oquatro. De toda essa malta, oúnico que ainda tem lá umúnico que ainda tem lá umúnico que ainda tem lá umúnico que ainda tem lá umúnico que ainda tem lá umapartamento sou eu”apartamento sou eu”apartamento sou eu”apartamento sou eu”apartamento sou eu”, dá con-ta o empreiteiro.

Da Edificaldas sai um dos mai-ores empreendimentos da altu-ra: os prédios da Avenida 1º de

Maio que fazem confluência coma Rua Raul Proença. Contudo, ecom tantos construtores, come-çaram os conflitos, e HenriqueQuerido sai da mega-empresa emfinais dos anos 80 para se dedicarà Henrique Querido Lda. Curiosa-mente, a Edificaldas, que mudouvárias vezes de sócios, só seriaextinta em 2008.

PAI NA OBRA, FILHO NAPAI NA OBRA, FILHO NAPAI NA OBRA, FILHO NAPAI NA OBRA, FILHO NAPAI NA OBRA, FILHO NAIMAGEM DA EMPRESAIMAGEM DA EMPRESAIMAGEM DA EMPRESAIMAGEM DA EMPRESAIMAGEM DA EMPRESA

Ricardo Querido, filho maisnovo do empreiteiro (nasceu em1975) entra na empresa com 20anos. Tinha terminado o 12º anohá dois e o seu sonho era tornar-se arquitecto, mas, como o irmãofalecera três anos antes, decideajudar o pai na firma.

“Ao mesmo tempo, sempre“Ao mesmo tempo, sempre“Ao mesmo tempo, sempre“Ao mesmo tempo, sempre“Ao mesmo tempo, semprepensei que acabava os estu-pensei que acabava os estu-pensei que acabava os estu-pensei que acabava os estu-pensei que acabava os estu-

dos. Nunca o fiz. Embrenhei-dos. Nunca o fiz. Embrenhei-dos. Nunca o fiz. Embrenhei-dos. Nunca o fiz. Embrenhei-dos. Nunca o fiz. Embrenhei-me de tal forma no trabalhome de tal forma no trabalhome de tal forma no trabalhome de tal forma no trabalhome de tal forma no trabalhoque quando cheguei aos 22que quando cheguei aos 22que quando cheguei aos 22que quando cheguei aos 22que quando cheguei aos 22anos optei por agarrar com-anos optei por agarrar com-anos optei por agarrar com-anos optei por agarrar com-anos optei por agarrar com-pletamente a empresa”pletamente a empresa”pletamente a empresa”pletamente a empresa”pletamente a empresa”, conta.Três anos depois, Ricardo Queri-do fica a cem por centro na em-presa, deixando para trás o so-nho da Arquitectura e a música,(chegou a ser viola baixo na ban-da Declínios).

“““““Ao princípio trabalhavaAo princípio trabalhavaAo princípio trabalhavaAo princípio trabalhavaAo princípio trabalhavajunto dos clientes a escolherjunto dos clientes a escolherjunto dos clientes a escolherjunto dos clientes a escolherjunto dos clientes a escolhermateriais”materiais”materiais”materiais”materiais”. Daí à direcção deuma obra foi um passo. Começoupor substituir o pai nos seus perí-odos de férias. “Quando che-“Quando che-“Quando che-“Quando che-“Quando che-

guei, as pessoas já me conhe-guei, as pessoas já me conhe-guei, as pessoas já me conhe-guei, as pessoas já me conhe-guei, as pessoas já me conhe-ciam desde miúdo. Tal comociam desde miúdo. Tal comociam desde miúdo. Tal comociam desde miúdo. Tal comociam desde miúdo. Tal comoo meu pai, também tive algumo meu pai, também tive algumo meu pai, também tive algumo meu pai, também tive algumo meu pai, também tive algumreceio: receio: receio: receio: receio: Então agora tambémEntão agora tambémEntão agora tambémEntão agora tambémEntão agora tambémvou mandar nesta gente?vou mandar nesta gente?vou mandar nesta gente?vou mandar nesta gente?vou mandar nesta gente?”””””,questionava-se, pensando na suaidade perante pessoas mais ve-lhas.

A juventude e o dinamismo deRicardo Querido ajudou à moder-nização da construtora. Questõescomo o marketing, imagem em-presarial e sistema informáticonão estavam assim tão presen-tes na Henrique Querido Lda.“Em 1994 estavam a aparecer“Em 1994 estavam a aparecer“Em 1994 estavam a aparecer“Em 1994 estavam a aparecer“Em 1994 estavam a apareceros grandes softwares de ges-os grandes softwares de ges-os grandes softwares de ges-os grandes softwares de ges-os grandes softwares de ges-tão que foram necessáriostão que foram necessáriostão que foram necessáriostão que foram necessáriostão que foram necessáriosimplementar. Gastou-se al-implementar. Gastou-se al-implementar. Gastou-se al-implementar. Gastou-se al-implementar. Gastou-se al-gum dinheiro, mas criou-segum dinheiro, mas criou-segum dinheiro, mas criou-segum dinheiro, mas criou-segum dinheiro, mas criou-seuma imagem”uma imagem”uma imagem”uma imagem”uma imagem”, conta.

O pai admite que nunca estevetão vocacionado para a imagemda firma, mas permitiu que o fi-

lho pudesse trabalhar à vontade,pois também a construção civil temque saber atacar o mercado.

O filho explica as suas razões:“O mercado da construção“O mercado da construção“O mercado da construção“O mercado da construção“O mercado da construçãocivil se calhar ainda é consi-civil se calhar ainda é consi-civil se calhar ainda é consi-civil se calhar ainda é consi-civil se calhar ainda é consi-derado um mercado margi-derado um mercado margi-derado um mercado margi-derado um mercado margi-derado um mercado margi-nal. O construtor civil está es-nal. O construtor civil está es-nal. O construtor civil está es-nal. O construtor civil está es-nal. O construtor civil está es-tereotipado como o fulanotereotipado como o fulanotereotipado como o fulanotereotipado como o fulanotereotipado como o fulanoque vai enganar. Se nósque vai enganar. Se nósque vai enganar. Se nósque vai enganar. Se nósque vai enganar. Se nóstransmitirmos uma imagemtransmitirmos uma imagemtransmitirmos uma imagemtransmitirmos uma imagemtransmitirmos uma imagemséria, estável e organizada,séria, estável e organizada,séria, estável e organizada,séria, estável e organizada,séria, estável e organizada,dará certamente confiança aodará certamente confiança aodará certamente confiança aodará certamente confiança aodará certamente confiança aoconsumidor”consumidor”consumidor”consumidor”consumidor”.

Hoje, aos 35 anos, Ricardo Que-rido ocupa o lugar de director-geral de uma empresa que em2009 passou a sociedade anóni-ma (ver cronologia). Garante quenunca pensou em desistir, mes-mo quando se assustava com osvalores das compras dos terrenosdo pai.

O gosto de ver um prédio a er-guer-se deu-lhe coragem paracontinuar a sua missão. “Temos“Temos“Temos“Temos“Temosuma relação de trabalho mui-uma relação de trabalho mui-uma relação de trabalho mui-uma relação de trabalho mui-uma relação de trabalho mui-to boa. Contam-se pelos de-to boa. Contam-se pelos de-to boa. Contam-se pelos de-to boa. Contam-se pelos de-to boa. Contam-se pelos de-dos de uma mão as desaven-dos de uma mão as desaven-dos de uma mão as desaven-dos de uma mão as desaven-dos de uma mão as desaven-ças que tivemos. Há diferen-ças que tivemos. Há diferen-ças que tivemos. Há diferen-ças que tivemos. Há diferen-ças que tivemos. Há diferen-tes opiniões, mas a nossa es-tes opiniões, mas a nossa es-tes opiniões, mas a nossa es-tes opiniões, mas a nossa es-tes opiniões, mas a nossa es-tratégia enquadra-se na jun-tratégia enquadra-se na jun-tratégia enquadra-se na jun-tratégia enquadra-se na jun-tratégia enquadra-se na jun-ção de gerações. Mas se emção de gerações. Mas se emção de gerações. Mas se emção de gerações. Mas se emção de gerações. Mas se em1995 me perguntasse: 1995 me perguntasse: 1995 me perguntasse: 1995 me perguntasse: 1995 me perguntasse: Ricar-Ricar-Ricar-Ricar-Ricar-do esta é sua primeira opção?do esta é sua primeira opção?do esta é sua primeira opção?do esta é sua primeira opção?do esta é sua primeira opção?Eu diria claramente que não”Eu diria claramente que não”Eu diria claramente que não”Eu diria claramente que não”Eu diria claramente que não”,afirma. “Complementamo-“Complementamo-“Complementamo-“Complementamo-“Complementamo-nos”nos”nos”nos”nos”, acrescenta Henrique Que-rido, definindo assim obra cons-truída entre pai e filho.

A EXPANSÃO PARA OA EXPANSÃO PARA OA EXPANSÃO PARA OA EXPANSÃO PARA OA EXPANSÃO PARA OALGARVEALGARVEALGARVEALGARVEALGARVE

Já por si, o Algarve é sinónimode empreendimento. E foi isso quelevou Henrique Querido a expan-dir-se para sul, mais exactamen-

A família Querido numa foto de 1982 A família Querido numa foto de 1982 A família Querido numa foto de 1982 A família Querido numa foto de 1982 A família Querido numa foto de 1982 Ricardo Querido e o pai. O irmão Vítor, que chegou a participar na gestão da empresa, morreu em 1992 Ricardo Querido e o pai. O irmão Vítor, que chegou a participar na gestão da empresa, morreu em 1992 Ricardo Querido e o pai. O irmão Vítor, que chegou a participar na gestão da empresa, morreu em 1992 Ricardo Querido e o pai. O irmão Vítor, que chegou a participar na gestão da empresa, morreu em 1992 Ricardo Querido e o pai. O irmão Vítor, que chegou a participar na gestão da empresa, morreu em 1992

Foi no final da década de 50 que Henrique Querido entrou como empresário no ramo da construçãocivil. Quase sempre foi patrão. Mas antes de o ser, este empreiteiro, natural do Carvalhal Benfeito,passou pela árdua tarefa de ser servente, numa época em que o imobiliário nas Caldas despontou deforma galopante.

Page 81: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

mpresário e detém hoje uma sociedade anónima

te para a zona das Açoteias (con-celho de Albufeira). Em 1992 de-ram-se os primeiros passos.

“A escolha do Algarve em“A escolha do Algarve em“A escolha do Algarve em“A escolha do Algarve em“A escolha do Algarve emtermos económicos é quasetermos económicos é quasetermos económicos é quasetermos económicos é quasetermos económicos é quaseóbvia. O Algarve vendia muitoóbvia. O Algarve vendia muitoóbvia. O Algarve vendia muitoóbvia. O Algarve vendia muitoóbvia. O Algarve vendia muitoe bem. As margens de lucroe bem. As margens de lucroe bem. As margens de lucroe bem. As margens de lucroe bem. As margens de lucroeram muito grandes”eram muito grandes”eram muito grandes”eram muito grandes”eram muito grandes”, afirmaRicardo Querido.

Pai e filho ainda hoje falam comorgulho no prédio que construí-ram nos Olhos d’ Água (concelhode Albufeira). Está erguido a 15metros do mar, tem 50 aparta-mentos, com uma piscina no quar-to andar e com seis pisos debaixode terra. Contempla 555 lugaresde estacionamento. “Foi a obra“Foi a obra“Foi a obra“Foi a obra“Foi a obraque me deu mais gozo fazer.que me deu mais gozo fazer.que me deu mais gozo fazer.que me deu mais gozo fazer.que me deu mais gozo fazer.Custou dez milhões de euros.Custou dez milhões de euros.Custou dez milhões de euros.Custou dez milhões de euros.Custou dez milhões de euros.É a obra particular mais caraÉ a obra particular mais caraÉ a obra particular mais caraÉ a obra particular mais caraÉ a obra particular mais carade sempre desta empresa”de sempre desta empresa”de sempre desta empresa”de sempre desta empresa”de sempre desta empresa”, dizRicardo Querido.

Todavia a crise também che-gou ao Algarve. O director-geralda construtora declara que asvendas são esporádicas, emboragaranta que o mercado lá nãoparou. “O grande cliente do Al-“O grande cliente do Al-“O grande cliente do Al-“O grande cliente do Al-“O grande cliente do Al-garve era o inglês e o irlan-garve era o inglês e o irlan-garve era o inglês e o irlan-garve era o inglês e o irlan-garve era o inglês e o irlan-dês. A Irlanda está no estadodês. A Irlanda está no estadodês. A Irlanda está no estadodês. A Irlanda está no estadodês. A Irlanda está no estadoem que está. Neste momentoem que está. Neste momentoem que está. Neste momentoem que está. Neste momentoem que está. Neste momentoé muito difícil a um britânicoé muito difícil a um britânicoé muito difícil a um britânicoé muito difícil a um britânicoé muito difícil a um britânicoconseguir um financiamentoconseguir um financiamentoconseguir um financiamentoconseguir um financiamentoconseguir um financiamentoem Portugal. Assim sendo, oem Portugal. Assim sendo, oem Portugal. Assim sendo, oem Portugal. Assim sendo, oem Portugal. Assim sendo, omercado que volta a existirmercado que volta a existirmercado que volta a existirmercado que volta a existirmercado que volta a existircom força é o mercado de pri-com força é o mercado de pri-com força é o mercado de pri-com força é o mercado de pri-com força é o mercado de pri-meira habitação”meira habitação”meira habitação”meira habitação”meira habitação”, afirma.

A obra da Henrique QueridoS.A. mostra-se em empreendi-mentos na cidade das Caldas, naFoz do Arelho, em Salir de Ma-tos, Rio Maior e na Marinha Gran-de. Contudo, o empreiteiro dizpreferir a construção privada.“Embora estejam “Embora estejam “Embora estejam “Embora estejam “Embora estejam [para priva-dos] a vender mal, nas obrasa vender mal, nas obrasa vender mal, nas obrasa vender mal, nas obrasa vender mal, nas obraspúblicas ganha-se muito pou-públicas ganha-se muito pou-públicas ganha-se muito pou-públicas ganha-se muito pou-públicas ganha-se muito pou-co dinheiro e pagam tardia-co dinheiro e pagam tardia-co dinheiro e pagam tardia-co dinheiro e pagam tardia-co dinheiro e pagam tardia-mente”mente”mente”mente”mente”, afirma Henrique Queri-do. Uma queixa comum a muitosempresários acerca dos atrasosdos pagamentos do Estado.

“Mas somos muito fiéis às“Mas somos muito fiéis às“Mas somos muito fiéis às“Mas somos muito fiéis às“Mas somos muito fiéis àsCaldas”, Caldas”, Caldas”, Caldas”, Caldas”, acrescenta Ricardo Que-rido. “Somos das poucas em- “Somos das poucas em- “Somos das poucas em- “Somos das poucas em- “Somos das poucas em-presas que podemos dizer quepresas que podemos dizer quepresas que podemos dizer quepresas que podemos dizer quepresas que podemos dizer quetemos algumas coisas portemos algumas coisas portemos algumas coisas portemos algumas coisas portemos algumas coisas porvender, mas também nos sus-vender, mas também nos sus-vender, mas também nos sus-vender, mas também nos sus-vender, mas também nos sus-tentámos. Fomos fazendo àtentámos. Fomos fazendo àtentámos. Fomos fazendo àtentámos. Fomos fazendo àtentámos. Fomos fazendo àmedida que o cliente foi apa-medida que o cliente foi apa-medida que o cliente foi apa-medida que o cliente foi apa-medida que o cliente foi apa-recendo, apostando na quali-recendo, apostando na quali-recendo, apostando na quali-recendo, apostando na quali-recendo, apostando na quali-dade e em bons sítios”dade e em bons sítios”dade e em bons sítios”dade e em bons sítios”dade e em bons sítios”, rema-ta.

Hoje, a Henrique Querido S.A.já contempla cem prédios na ci-dade. É obra.

Tânia MarquesTânia MarquesTânia MarquesTânia MarquesTânia [email protected]

Carlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos CiprianoCarlos [email protected]

Se há 40 anos o trabalho duro daconstrução civil era o esforço hu-mano, hoje é duro tratar de toda adocumentação para se conseguir fa-zer um prédio. Desde o dia da com-pra de um terreno até ao dia da cons-trução dos apartamentos podempassar largos meses ou anos. A es-trutura burocrática é grande e mo-rosa e não há empresário da cons-trução civil que dela não se queixe.

“As aprovações nas Câma-“As aprovações nas Câma-“As aprovações nas Câma-“As aprovações nas Câma-“As aprovações nas Câma-ras são leras são leras são leras são leras são lentas. A nossa estrutu-ntas. A nossa estrutu-ntas. A nossa estrutu-ntas. A nossa estrutu-ntas. A nossa estrutu-ra é cega ao investimento e àra é cega ao investimento e àra é cega ao investimento e àra é cega ao investimento e àra é cega ao investimento e àboa saúde financeira da empre-boa saúde financeira da empre-boa saúde financeira da empre-boa saúde financeira da empre-boa saúde financeira da empre-sa. Por isso é que se vai criandosa. Por isso é que se vai criandosa. Por isso é que se vai criandosa. Por isso é que se vai criandosa. Por isso é que se vai criandomais documentos para tratar.mais documentos para tratar.mais documentos para tratar.mais documentos para tratar.mais documentos para tratar.Devia dar-se um passo atrásDevia dar-se um passo atrásDevia dar-se um passo atrásDevia dar-se um passo atrásDevia dar-se um passo atráspara que as obras e edifícios fos-para que as obras e edifícios fos-para que as obras e edifícios fos-para que as obras e edifícios fos-para que as obras e edifícios fos-sem seguidos por projectos quesem seguidos por projectos quesem seguidos por projectos quesem seguidos por projectos quesem seguidos por projectos quejá existem”já existem”já existem”já existem”já existem”, diz Ricardo Querido.

Aliada à burocracia das legali-zações dos empreendimentos, acrise teima em não largar o sectorimobiliário e para isso há que pro-curar novas estratégias para a soli-dez da Henrique Querido S.A.. So-lução? A empresa pretende expan-dir-se no mercado turístico, comér-cio e serviços. E a firma até estáconstituída desde 2002: H&Q, Em-preendimentos Turísticos, Lda. “É“É“É“É“Éum olhar para o futuro um bo-um olhar para o futuro um bo-um olhar para o futuro um bo-um olhar para o futuro um bo-um olhar para o futuro um bo-

Combate à crise passa pelo mercado turístico, comercial

e de serviçoscado cauteloso, mas conveni-cado cauteloso, mas conveni-cado cauteloso, mas conveni-cado cauteloso, mas conveni-cado cauteloso, mas conveni-ente.”ente.”ente.”ente.”ente.”, explica Ricardo Querido. Aempresa possui terrenos em Mor-tágua, perto da barragem da Agui-eira e no Alandroal, perto da barra-gem do Alqueva. Os motivos sãoóbvios: fazer ali alguma coisa rela-cionado com o turismo rural ou agro-turismo. Mas o momento actual éde pura expectativa.

A sociedade tem 22 funcionáriosincluindo encarregados, engenhei-ros, motoristas, pessoal de escritó-rio e operários. Mas ainda há ummês havia mais de 120 homens atrabalhar para a empresa, mas emregime de subempreitada. Pai e fi-lho dizem que hoje em dia, numprédio médio, 20 a 30% da obra éfeita em outsoursing.

Grande parte dos trabalhadorespor empreitada são do Leste Euro-peu e brasileiros. “Existem tam-“Existem tam-“Existem tam-“Existem tam-“Existem tam-bém alguns portugueses, masbém alguns portugueses, masbém alguns portugueses, masbém alguns portugueses, masbém alguns portugueses, maso trabalho da obra ninguém oo trabalho da obra ninguém oo trabalho da obra ninguém oo trabalho da obra ninguém oo trabalho da obra ninguém oquer”quer”quer”quer”quer”, afirma Ricardo Querido,dando a conhecer que no empre-endimento nos Olhos d’ Água con-tabilizaram homens de 24 naciona-lidades (desde paquistaneses, se-negaleses eaté indianos).( “Nin-“Nin-“Nin-“Nin-“Nin-guém o quer, mas qualquer diaguém o quer, mas qualquer diaguém o quer, mas qualquer diaguém o quer, mas qualquer diaguém o quer, mas qualquer diatambém têm que o gramar”também têm que o gramar”também têm que o gramar”também têm que o gramar”também têm que o gramar”,

persiste Henrique Querido. “Estão“Estão“Estão“Estão“Estãomilhares formados no desem-milhares formados no desem-milhares formados no desem-milhares formados no desem-milhares formados no desem-prego. Se nós continuamos aprego. Se nós continuamos aprego. Se nós continuamos aprego. Se nós continuamos aprego. Se nós continuamos aformar mais jovens... Para quê?formar mais jovens... Para quê?formar mais jovens... Para quê?formar mais jovens... Para quê?formar mais jovens... Para quê?Para irem para o Modelo avi-Para irem para o Modelo avi-Para irem para o Modelo avi-Para irem para o Modelo avi-Para irem para o Modelo avi-ar? Se não querem ir para aar? Se não querem ir para aar? Se não querem ir para aar? Se não querem ir para aar? Se não querem ir para aagricultura, nem para a cons-agricultura, nem para a cons-agricultura, nem para a cons-agricultura, nem para a cons-agricultura, nem para a cons-trução, o que vão fazer? Rou-trução, o que vão fazer? Rou-trução, o que vão fazer? Rou-trução, o que vão fazer? Rou-trução, o que vão fazer? Rou-

Para além da construção ci-vil, Henrique Querido dedicou-se também a outra paixão: oCaldas SC. Na época 1982-83 tor-nou-se director do clube. No anoseguinte foi para director dasinstalações desportivas e noterceiro ano chegou a presiden-te, cargo que ocupou – alterna-damente – durante oito anos,até à época 1999-2000. Tal comona construção civil, o filho tam-bém quis acompanhar o pai naslides desportivas. Ricardo Que-rido esteve ligado ao futssal e éainda vice-presidente do Caldas,mas saiu a meio da época pas-sada por falta de disponibilida-de para o clube. É sócio há 25anos. “Não fui um presidente“Não fui um presidente“Não fui um presidente“Não fui um presidente“Não fui um presidentedo Caldas, fui um emprega-do Caldas, fui um emprega-do Caldas, fui um emprega-do Caldas, fui um emprega-do Caldas, fui um emprega-do do Caldas quase a tempodo do Caldas quase a tempodo do Caldas quase a tempodo do Caldas quase a tempodo do Caldas quase a tempointeiro”inteiro”inteiro”inteiro”inteiro”, resume Henrique Que-rido. “Deixei lá muita obra fei-“Deixei lá muita obra fei-“Deixei lá muita obra fei-“Deixei lá muita obra fei-“Deixei lá muita obra fei-ta, por exemplo o arrelva-ta, por exemplo o arrelva-ta, por exemplo o arrelva-ta, por exemplo o arrelva-ta, por exemplo o arrelva-mento do campo da mata.mento do campo da mata.mento do campo da mata.mento do campo da mata.mento do campo da mata.Trabalhei muito nessa altu-Trabalhei muito nessa altu-Trabalhei muito nessa altu-Trabalhei muito nessa altu-Trabalhei muito nessa altu-ra porque o dinheiro nãora porque o dinheiro nãora porque o dinheiro nãora porque o dinheiro nãora porque o dinheiro não

Da construção civil para a presidência do

Caldas SC

abundava. Tínhamos um or-abundava. Tínhamos um or-abundava. Tínhamos um or-abundava. Tínhamos um or-abundava. Tínhamos um or-çamento de 5800 contos çamento de 5800 contos çamento de 5800 contos çamento de 5800 contos çamento de 5800 contos [28mil euros]. A Câmara tinha-. A Câmara tinha-. A Câmara tinha-. A Câmara tinha-. A Câmara tinha-nos prometido que davanos prometido que davanos prometido que davanos prometido que davanos prometido que davaquatro mil contos quatro mil contos quatro mil contos quatro mil contos quatro mil contos [20 mil eu-ros] e era preciso arranjar ose era preciso arranjar ose era preciso arranjar ose era preciso arranjar ose era preciso arranjar osoito mil, a pedra e centenasoito mil, a pedra e centenasoito mil, a pedra e centenasoito mil, a pedra e centenasoito mil, a pedra e centenasde camiões de areia. Passeide camiões de areia. Passeide camiões de areia. Passeide camiões de areia. Passeide camiões de areia. Passeinoites inteiras sem me dei-noites inteiras sem me dei-noites inteiras sem me dei-noites inteiras sem me dei-noites inteiras sem me dei-tar”tar”tar”tar”tar”, conta.

Questões financeiras aparte,o empreiteiro fala com orgulhoda boa equipa que o Caldas SCtinha. “Andávamos nos luga-“Andávamos nos luga-“Andávamos nos luga-“Andávamos nos luga-“Andávamos nos luga-res cimeiros”res cimeiros”res cimeiros”res cimeiros”res cimeiros”. E também dasactividades para angariar fun-dos para o clube. “Fazíamos“Fazíamos“Fazíamos“Fazíamos“Fazíamosnoites de fados, jantares enoites de fados, jantares enoites de fados, jantares enoites de fados, jantares enoites de fados, jantares eaté sorteios de carros, todosaté sorteios de carros, todosaté sorteios de carros, todosaté sorteios de carros, todosaté sorteios de carros, todosos meses”os meses”os meses”os meses”os meses”. Porém, quando re-

lembra esses anos, HenriqueQuerido não esquece a tristezade nunca ter sido agradecidopela “obra” que deixou ao clu-be. “Prejudiquei muito as mi-“Prejudiquei muito as mi-“Prejudiquei muito as mi-“Prejudiquei muito as mi-“Prejudiquei muito as mi-nhas empresas, a minha fa-nhas empresas, a minha fa-nhas empresas, a minha fa-nhas empresas, a minha fa-nhas empresas, a minha fa-mília, para dar o máximo demília, para dar o máximo demília, para dar o máximo demília, para dar o máximo demília, para dar o máximo deapoio ao Caldas. Nunca fuiapoio ao Caldas. Nunca fuiapoio ao Caldas. Nunca fuiapoio ao Caldas. Nunca fuiapoio ao Caldas. Nunca fuiagradecido. Gastei muito di-agradecido. Gastei muito di-agradecido. Gastei muito di-agradecido. Gastei muito di-agradecido. Gastei muito di-nheiro e quando vinha em-nheiro e quando vinha em-nheiro e quando vinha em-nheiro e quando vinha em-nheiro e quando vinha em-bora, passavam aquilo abora, passavam aquilo abora, passavam aquilo abora, passavam aquilo abora, passavam aquilo ameia dúzia de patacos”meia dúzia de patacos”meia dúzia de patacos”meia dúzia de patacos”meia dúzia de patacos”, diz.Quando saiu a última vez da pre-sidência, dois anos depois con-vidavam-no para retomar o car-go, mas já não aceitou.

Ainda assim, o empresárionão se arrepende do que fezpelo clube. “As pessoas mu-“As pessoas mu-“As pessoas mu-“As pessoas mu-“As pessoas mu-dam, mas a colectividade fica.dam, mas a colectividade fica.dam, mas a colectividade fica.dam, mas a colectividade fica.dam, mas a colectividade fica.O Caldas não tem nada paraO Caldas não tem nada paraO Caldas não tem nada paraO Caldas não tem nada paraO Caldas não tem nada paradar a ninguém, as pessoas édar a ninguém, as pessoas édar a ninguém, as pessoas édar a ninguém, as pessoas édar a ninguém, as pessoas éque têm de dar ao Caldas”que têm de dar ao Caldas”que têm de dar ao Caldas”que têm de dar ao Caldas”que têm de dar ao Caldas”,concluí.

T.M.T.M.T.M.T.M.T.M.

bar?”bar?”bar?”bar?”bar?”, questiona.Ambos concordam que forma-

ção na área da construção civil se-ria fundamental para incentivar osjovens a “construir” melhor o seufuturo.

T.M.T.M.T.M.T.M.T.M.

CRONOLOGIA

19411941194119411941 - Nasce Henrique Queri-do19651965196519651965 - Casa com Maria Filo-mena19661966196619661966 - Nasce o primeiro filho,Vítor Querido19751975197519751975 - Nasce Ricardo Querido19781978197819781978 – Henrique Querido criaa sua primeira sociedade - aQuerido & Fialho Lda.Início dos anos 80 Início dos anos 80 Início dos anos 80 Início dos anos 80 Início dos anos 80 – Henri-que Querido junta-se a maissete empresários caldenses ecriam a Edificaldas1985 1985 1985 1985 1985 – Constituição da Henri-que Querido, Lda. tendo comosócios o casal Herique e Filo-mena Querido19861986198619861986 – Júlio Fialho sai da so-ciedade Querido & Fialho eHenrique Querido fica com asua quota19921992199219921992 – Vítor Querido morrenum acidente de viação19951995199519951995 – O irmão, Ricardo, en-tra para a firma2002 2002 2002 2002 2002 – Nasce a H&Q, Empre-endimentos Turísticos20092009200920092009 – A empresa HenriqueQuerido passa a SociedadeAnónima com um capital soci-al de 1,3 milhões de euros.

2005 4,72006 10,72007 8,52008 11,52009 12,92010 7,74

(em milhões de euros)

Facturação Facturação Facturação Facturação FacturaçãoAnoAnoAnoAnoAno

Uma construção da firma no centro das Caldas na década de noventa.Uma construção da firma no centro das Caldas na década de noventa.Uma construção da firma no centro das Caldas na década de noventa.Uma construção da firma no centro das Caldas na década de noventa.Uma construção da firma no centro das Caldas na década de noventa.

Henrique Querido quando presidia ao Caldas Sport Henrique Querido quando presidia ao Caldas Sport Henrique Querido quando presidia ao Caldas Sport Henrique Querido quando presidia ao Caldas Sport Henrique Querido quando presidia ao Caldas SportClub entrega a chave de um carro sorteadoClub entrega a chave de um carro sorteadoClub entrega a chave de um carro sorteadoClub entrega a chave de um carro sorteadoClub entrega a chave de um carro sorteado

Page 82: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais20

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Sete anos depois, Maria JoséGalinha decidiu passar o negóciopara o seu irmão e sobrinha. A 19de Dezembro de 1997 foi constituí-da a sociedade irregular “Casa Ga-linha de José Maria Marques e Ma-ria Zita Marques Mateus Silva dosSantos”. Tio e sobrinha, que dedi-caram toda a sua vida profissionalà loja, passaram a ser os dois úni-cos sócios.

O ramo de actividade oficial é avenda de solas, cabedais, peles eartigos para manutenção e restau-ro de calçado e de peles, como agraxa e as tintas para mudar decor. Para além disso, vendem cin-tos, colas, coleiras de cães, calça-deiras e palminhas, entre outros ar-tigos.

Há produtos que ainda fazemsucesso, como os de tratamentopara sofás de couro, ou os utiliza-dos para impermeabilizar botas ecasacos ensebados.

Ao longo da sua existência sótrabalharam naquele estabeleci-

Casa Galinha há 55 anos na rua Leão Azedo a vender

mento os dois cunhados AntónioGalinha e José Marques, bem comoas respectivas sobrinhas de ambos,Zita Santos e Fernanda Raimundo.Esta última foi trabalhar para a Casa

Galinha aos 18 anos, mas emigrariapara os Estados Unidos algum tem-po depois, onde ainda reside.

DE CAIXEIRO-VIAJANTE ACOMERCIANTE

A loja foi fundada em 1955 porAntónio Ferreira Galinha, que

era caixeiro-viajante de uma lojaque vendia solas e cabedais emCoimbra - a Faria Oliveira & C.ª,Lda, que ainda hoje existe.

Na altura, um outro comerci-

ante de Coimbra convenceu An-tónio Galinha a investir na suaprópria loja de solas e cabedaisnas Caldas. A cidade tinha po-tencial devido à estação de com-boios, um transporte que pode-ria ser utilizado para recebermercadoria. Também não foi poracaso que se instalaram na rua

Leão Azedo, mesmo junto à cen-tral de camionagem dos Capris-tanos, que tinha sido inaugura-da seis anos antes.

O prédio, propriedade de Car-

los Tomaz (já falecido) e da suamulher, Adelina Tomaz (que ain-da hoje mora por cima da loja),tinha sido construído em 1950 eo espaço já fora arrendado pelaUnião Caldense, um armazémde mercearias, cujos sócioseram António Rego e EduardoCarvalho, e que deu origem à

UNICAL.Embora o primeiro contrato

da Casa Galinha com os senho-rios date de 1957, Zita Santosgarante que a loja abriu em 1955.

“Está tudo igual desdeEstá tudo igual desdeEstá tudo igual desdeEstá tudo igual desdeEstá tudo igual desdeessa altura, não se mexeu emessa altura, não se mexeu emessa altura, não se mexeu emessa altura, não se mexeu emessa altura, não se mexeu emnada. Nunca fizemos umanada. Nunca fizemos umanada. Nunca fizemos umanada. Nunca fizemos umanada. Nunca fizemos umaobraobraobraobraobra”, explicou Zita Santos. Hácerca de sete ou oito anos o tioquis fazer obras, mas a sobri-nha insistiu em manter tudocomo está. “Eu sou muito con-Eu sou muito con-Eu sou muito con-Eu sou muito con-Eu sou muito con-servadora e também acha-servadora e também acha-servadora e também acha-servadora e também acha-servadora e também acha-

va que não era por fazerva que não era por fazerva que não era por fazerva que não era por fazerva que não era por fazerobras que iríamos venderobras que iríamos venderobras que iríamos venderobras que iríamos venderobras que iríamos vendermaismaismaismaismais”, comentou.

A maior parte dos materiaisutilizados ainda são os mesmos- a balança que está no balcãopara as gramas ou as balançasdecimais (uma para grandesquantidades e outra para pesosmenores), mas também umaferramenta de corte de pelesque terá mais de 100 anos e quefoi comprada em segunda mão.

Em 2004 houve uma novidadena decoração da loja. Incentiva-dos pelo discurso do então se-leccionador nacional Scolari, co-locaram à frente do balcão umabandeira nacional, que ainda semantém no lugar.

DE SAPATEIRO ACOMERCIANTE

José Marques, nascido em1930, trabalha na Casa Galinhadesde que esta abriu. Cunhado

Fundada em 1955, a Casa Galinha é um dos estabelecimentos comerciais mais antigos das Caldas daRainha, com a particularidade de nunca ter sofrido qualquer remodelação. Instalada na rua LeãoAzedo, começou por ser um local de peregrinação das centenas de sapateiros que existiam naregião, que ali se abasteciam de cabedais, solas e outros artigos necessários para o seu ofício.O fundador, António Galinha, foi proprietário do estabelecimento até que morreu, a 10 de Fevereirode 1990, com 77 anos. Nessa altura a mulher, Maria José Marques Ferreira Galinha, herdou a loja quepassou a ser gerida pelo seu irmão, José Marques, e por uma sobrinha, Zita Santos. “Ela nemEla nemEla nemEla nemEla nemsequer precisava de vir aqui, porque confiava totalmente em nóssequer precisava de vir aqui, porque confiava totalmente em nóssequer precisava de vir aqui, porque confiava totalmente em nóssequer precisava de vir aqui, porque confiava totalmente em nóssequer precisava de vir aqui, porque confiava totalmente em nós”, refere hoje a sobrinha,que tem 55 anos.

José Marques e a sobrinha Zita Santos à porta da José Marques e a sobrinha Zita Santos à porta da José Marques e a sobrinha Zita Santos à porta da José Marques e a sobrinha Zita Santos à porta da José Marques e a sobrinha Zita Santos à porta daCasa Galinha, que se mantém inalterada durante 55 anos.Casa Galinha, que se mantém inalterada durante 55 anos.Casa Galinha, que se mantém inalterada durante 55 anos.Casa Galinha, que se mantém inalterada durante 55 anos.Casa Galinha, que se mantém inalterada durante 55 anos.

Na loja também se fazem Na loja também se fazem Na loja também se fazem Na loja também se fazem Na loja também se fazem furos nos cintos das calçasfuros nos cintos das calçasfuros nos cintos das calçasfuros nos cintos das calçasfuros nos cintos das calças José Marques na loja com dois clientes José Marques na loja com dois clientes José Marques na loja com dois clientes José Marques na loja com dois clientes José Marques na loja com dois clientes

António Galinha (1913-1990) foi o fundador da loja que leva António Galinha (1913-1990) foi o fundador da loja que leva António Galinha (1913-1990) foi o fundador da loja que leva António Galinha (1913-1990) foi o fundador da loja que leva António Galinha (1913-1990) foi o fundador da loja que levao seu apelidoo seu apelidoo seu apelidoo seu apelidoo seu apelido

Zita Santos ladeada pelos tios que a criaram no Zita Santos ladeada pelos tios que a criaram no Zita Santos ladeada pelos tios que a criaram no Zita Santos ladeada pelos tios que a criaram no Zita Santos ladeada pelos tios que a criaram nodia do seu casamento, em 1977dia do seu casamento, em 1977dia do seu casamento, em 1977dia do seu casamento, em 1977dia do seu casamento, em 1977

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21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

r peles e artigos para manutenção de calçado

de António Galinha, foi convi-dado a vir trabalhar para as Cal-das porque tinha experiênciacomo sapateiro em Freires (Be-nedita). Desde os 13 anos quese dedicava ao ofício de sapa-teiro e tinha por isso já algumaexperiência no ramo.

O pai de José Marques era po-lícia em Angola, a então colóniaportuguesa para onde a mãe docomerciante nunca quis ir. “ElaElaElaElaElatinha medo de ir para lá e portinha medo de ir para lá e portinha medo de ir para lá e portinha medo de ir para lá e portinha medo de ir para lá e porisso acabámos por nuncaisso acabámos por nuncaisso acabámos por nuncaisso acabámos por nuncaisso acabámos por nuncamais saber nada delemais saber nada delemais saber nada delemais saber nada delemais saber nada dele”, recor-dou José Marques.

Desde novo dedicou-se aossapatos, numa oficina em Frei-res, onde trabalhava com outrocunhado, acabando por se mu-dar para as Caldas para respon-der ao convite de António Gali-nha de quem ficou empregado.

Nos primeiros anos, quandohavia muitos sapateiros, a lojateve um grande sucesso pois,para além dos das Caldas, vi-nham abastecer-se à Casa Gali-nha pessoas de toda a regiãoOeste.

José Marques nessa altura de-dicava alguns dias para sair àestrada como caixeiro-viajante,visitando várias centenas deoficinas, não só na região, masaté na zona da Grande Lisboa.“Quando fazia essa zonaQuando fazia essa zonaQuando fazia essa zonaQuando fazia essa zonaQuando fazia essa zonacostumava pernoitar numacostumava pernoitar numacostumava pernoitar numacostumava pernoitar numacostumava pernoitar numapensão em Vila Franca depensão em Vila Franca depensão em Vila Franca depensão em Vila Franca depensão em Vila Franca deXiraXiraXiraXiraXira”, recordou. As primeirasviagens fazia-as num Austin A40e depois foi preciso compraruma carrinha, da mesma mar-ca, porque fazia entregas degrandes quantidades de mate-rial. “Eu chegava a ir duasEu chegava a ir duasEu chegava a ir duasEu chegava a ir duasEu chegava a ir duasvezes no mesmo dia à Bene-vezes no mesmo dia à Bene-vezes no mesmo dia à Bene-vezes no mesmo dia à Bene-vezes no mesmo dia à Bene-dita para entregar fardos dedita para entregar fardos dedita para entregar fardos dedita para entregar fardos dedita para entregar fardos decabedalcabedalcabedalcabedalcabedal”, salientou.

Esses foram os tempos áure-os da Casa Galinha, “apesar deapesar deapesar deapesar deapesar dehaver muito caloteirohaver muito caloteirohaver muito caloteirohaver muito caloteirohaver muito caloteiro”, masao longo dos anos os sapateirosforam desaparecendo. “Apare-Apare-Apare-Apare-Apare-ceram as fábricas e as pes-ceram as fábricas e as pes-ceram as fábricas e as pes-ceram as fábricas e as pes-ceram as fábricas e as pes-

soas deixaram de querersoas deixaram de querersoas deixaram de querersoas deixaram de querersoas deixaram de querermeter as mãos onde os ou-meter as mãos onde os ou-meter as mãos onde os ou-meter as mãos onde os ou-meter as mãos onde os ou-tros metiam os péstros metiam os péstros metiam os péstros metiam os péstros metiam os pés”, ironizaJosé Marques.

“Hoje são poucos os sapa-Hoje são poucos os sapa-Hoje são poucos os sapa-Hoje são poucos os sapa-Hoje são poucos os sapa-teiros que existem nas Cal-teiros que existem nas Cal-teiros que existem nas Cal-teiros que existem nas Cal-teiros que existem nas Cal-dasdasdasdasdas”, comentou Zita Santos,mas segundo o seu tio chega-ram a ser uma centena. Algunsdesses sapateiros caldenses,como José Domingos, são clien-tes desde sempre e mantêm-seem actividade. “O melhor sa-O melhor sa-O melhor sa-O melhor sa-O melhor sa-pateiro das Caldas é o se-pateiro das Caldas é o se-pateiro das Caldas é o se-pateiro das Caldas é o se-pateiro das Caldas é o se-nhor Abílio, um verdadeironhor Abílio, um verdadeironhor Abílio, um verdadeironhor Abílio, um verdadeironhor Abílio, um verdadeiroartista. Sabe restaurar tudoartista. Sabe restaurar tudoartista. Sabe restaurar tudoartista. Sabe restaurar tudoartista. Sabe restaurar tudoe faz artesanato em pelese faz artesanato em pelese faz artesanato em pelese faz artesanato em pelese faz artesanato em peles”,adiantou a comerciante.

Ao longo do tempo tiveramque se adaptar e começar a ven-der outro tipo de artigos.“Como quase não há sapa-Como quase não há sapa-Como quase não há sapa-Como quase não há sapa-Como quase não há sapa-teiros, os nossos principaisteiros, os nossos principaisteiros, os nossos principaisteiros, os nossos principaisteiros, os nossos principaisclientes são as senhoras queclientes são as senhoras queclientes são as senhoras queclientes são as senhoras queclientes são as senhoras queprocuram os nossos produ-procuram os nossos produ-procuram os nossos produ-procuram os nossos produ-procuram os nossos produ-tostostostostos”, adiantou Zita Santos.

Há até clientes da zona de Lis-boa que ao sábado de manhãaproveitam uma visita às Caldaspara comprar artigos que dizemnão encontrar em mais lado ne-nhum, ou então que são muitomais baratos na Casa Galinha.

PELO MEIO, UMA PECUÁRIA

Há cerca de 30 anos, José Mar-ques estava descontente com asua vida financeira e decidiu ar-riscar num outro negócio. “Ga-“Ga-“Ga-“Ga-“Ga-nhava pouco e comecei a ternhava pouco e comecei a ternhava pouco e comecei a ternhava pouco e comecei a ternhava pouco e comecei a termuitos filhos”muitos filhos”muitos filhos”muitos filhos”muitos filhos”, explicou. Diri-giu-se ao Banco de Portugal naPraça da República e pediu umempréstimo de 50 contos (250euros). Com um ordenado na al-tura de 800 escudos (quatro eu-ros) e sem nada em seu nome,teve de convencer o gerente earranjar dois fiadores para con-seguir o empréstimo. Montouentão uma pecuária e conseguiupagar o empréstimo.

Os dias de trabalho eram in-termináveis. Abria a porta da

Casa Galinha às nove da manhãe fechava às 19h00. À noite iatratar dos porcos e nunca che-gou a contratar nenhum funcio-nário para o ajudar.

Manteve a pecuária durante26 anos, até que o negócio co-meçou a dar prejuízo. Vendeu-ae com esse dinheiro comprou umbar na Cidade Nova que é geri-do por um dos seus filhos hácerca de 17 anos.

José Martins reformou-se aos65 anos, mas não quis deixar aloja e todos os dias às nove damanhã está a abrir-lhe a porta.É ele também quem encerra oestabelecimento todos os diasàs sete da tarde. Desde que foicriado o Toma a sua sobrinhaapanha o autocarro que passaem frente à Rodoviária às 18h20para ir para casa. “Ainda bemAinda bemAinda bemAinda bemAinda bemque o meu tio continua aqui,que o meu tio continua aqui,que o meu tio continua aqui,que o meu tio continua aqui,que o meu tio continua aqui,porque sempre vai estandoporque sempre vai estandoporque sempre vai estandoporque sempre vai estandoporque sempre vai estandoentretido. Os homens nãoentretido. Os homens nãoentretido. Os homens nãoentretido. Os homens nãoentretido. Os homens nãoservem para ficar em casaservem para ficar em casaservem para ficar em casaservem para ficar em casaservem para ficar em casa”,gracejou a sua sobrinha.

“Tenho amor a isto. Se fa-Tenho amor a isto. Se fa-Tenho amor a isto. Se fa-Tenho amor a isto. Se fa-Tenho amor a isto. Se fa-lho um dia em vir cá parecelho um dia em vir cá parecelho um dia em vir cá parecelho um dia em vir cá parecelho um dia em vir cá pareceque já não ando bemque já não ando bemque já não ando bemque já não ando bemque já não ando bem”, expli-ca o comerciante.

Recentemente José Marquesvoltou a fazer pequenos servi-ços como sapateiro. “HaviaHaviaHaviaHaviaHaviapessoas que pediam e come-pessoas que pediam e come-pessoas que pediam e come-pessoas que pediam e come-pessoas que pediam e come-cei a colocar capas nos sa-cei a colocar capas nos sa-cei a colocar capas nos sa-cei a colocar capas nos sa-cei a colocar capas nos sa-patospatospatospatospatos”, explicou. Pedem-lhetambém muitas vezes para fa-zer mais um ou dois furos noscintos das calças.

ZITA SANTOS TRABALHADESDE OS 13 ANOS NA LOJA

Zita Santos nasceu em 1953,na Benedita, dois anos antes daloja do seu tio António Galinhaabrir portas. Aos nove anos foimorar com os seus tios JoséMarques e António Galinha quea criaram. Antes disso, aindamorou com os seus pais em RioMaior, até terminar a quartaclasse.

“Vinha sempre aqui àsVinha sempre aqui àsVinha sempre aqui àsVinha sempre aqui àsVinha sempre aqui àsCaldas passar férias com osCaldas passar férias com osCaldas passar férias com osCaldas passar férias com osCaldas passar férias com osmeus quatro irmãos. Osmeus quatro irmãos. Osmeus quatro irmãos. Osmeus quatro irmãos. Osmeus quatro irmãos. Osmeus tios não tinham filhosmeus tios não tinham filhosmeus tios não tinham filhosmeus tios não tinham filhosmeus tios não tinham filhose a minha tia fez questão quee a minha tia fez questão quee a minha tia fez questão quee a minha tia fez questão quee a minha tia fez questão queeu, que era a mais velha, vi-eu, que era a mais velha, vi-eu, que era a mais velha, vi-eu, que era a mais velha, vi-eu, que era a mais velha, vi-esse morar com eles aosesse morar com eles aosesse morar com eles aosesse morar com eles aosesse morar com eles aosnove anos, mas continueinove anos, mas continueinove anos, mas continueinove anos, mas continueinove anos, mas continueisempre a relacionar-me bemsempre a relacionar-me bemsempre a relacionar-me bemsempre a relacionar-me bemsempre a relacionar-me bemcom os meus paiscom os meus paiscom os meus paiscom os meus paiscom os meus pais”, contouZita Santos.

Logo nessa altura começou afrequentar a loja, mas apenaspara passar tempo. “Tanto eu,Tanto eu,Tanto eu,Tanto eu,Tanto eu,como outras pessoas que vi-como outras pessoas que vi-como outras pessoas que vi-como outras pessoas que vi-como outras pessoas que vi-nham para aqui brincar ado-nham para aqui brincar ado-nham para aqui brincar ado-nham para aqui brincar ado-nham para aqui brincar ado-ravam mexer nas peles. Osravam mexer nas peles. Osravam mexer nas peles. Osravam mexer nas peles. Osravam mexer nas peles. Osnetos do meu tio tambémnetos do meu tio tambémnetos do meu tio tambémnetos do meu tio tambémnetos do meu tio tambémbrincaram todos aqui. As cri-brincaram todos aqui. As cri-brincaram todos aqui. As cri-brincaram todos aqui. As cri-brincaram todos aqui. As cri-anças rebolavam nos cou-anças rebolavam nos cou-anças rebolavam nos cou-anças rebolavam nos cou-anças rebolavam nos cou-rosrosrosrosros”, recordou.

Até ao dia do seu casamento,em 1977, Zita Santos morou sem-pre com os seus tios, junto aoTribunal das Caldas.

Os tempos eram outros e ZitaSantos lembra-se que oito diasantes de se casar, a tia não adeixou ir com o actual maridocomer uma caldeirada a Peni-che.

Quando andou a estudar ànoite para fazer o curso comer-cial, na Escola Secundária Rafa-el Bordalo Pinheiro, a sua tiatambém foi sempre muito rigo-rosa. “Eu saía daqui às sete eEu saía daqui às sete eEu saía daqui às sete eEu saía daqui às sete eEu saía daqui às sete eas aulas começavam às seteas aulas começavam às seteas aulas começavam às seteas aulas começavam às seteas aulas começavam às setee meia. Ia a correr para casa,e meia. Ia a correr para casa,e meia. Ia a correr para casa,e meia. Ia a correr para casa,e meia. Ia a correr para casa,jantava e depois ia para asjantava e depois ia para asjantava e depois ia para asjantava e depois ia para asjantava e depois ia para asaulas, que acabavam àsaulas, que acabavam àsaulas, que acabavam àsaulas, que acabavam àsaulas, que acabavam às22h50. Mas se eu não estives-22h50. Mas se eu não estives-22h50. Mas se eu não estives-22h50. Mas se eu não estives-22h50. Mas se eu não estives-se em casa às 11 horas, elase em casa às 11 horas, elase em casa às 11 horas, elase em casa às 11 horas, elase em casa às 11 horas, elaia à minha procuraia à minha procuraia à minha procuraia à minha procuraia à minha procura”, recor-da-se.

Ainda surgem algumas lágri-mas quando Zita Santos se re-corda como a tia tinha sempre ojantar na mesa quando regres-sava do trabalho e precisava dese despachar para a escola. “ElaElaElaElaElaé que me criou. Os meus tiosé que me criou. Os meus tiosé que me criou. Os meus tiosé que me criou. Os meus tiosé que me criou. Os meus tiostrataram sempre de mimtrataram sempre de mimtrataram sempre de mimtrataram sempre de mimtrataram sempre de mim”,conta, emocionada.

Zita Santos também recorda

19131913191319131913 – Nasce António Ga-linha, fundador da loja

19301930193019301930 - Nasce José MariaMarques

19531953195319531953 – Nasce Zita Santos19551955195519551955 – É fundada a Casa

Galinha na rua Leão Azedo19661966196619661966 – Zita Santos come-

ça a trabalhar na Casa Gali-nha

19901990199019901990 – Morre António Ga-linha, fundador da loja

19971997199719971997- Constituída a socie-dade irregular “Casa Galinhade José Maria Marques eMaria Zita Marques MateusSilva dos Santos”

que começou a trabalhar ofici-almente na loja a 1 de Outubrode 1966, tinha então 13 anos.“Ainda era pequenitaAinda era pequenitaAinda era pequenitaAinda era pequenitaAinda era pequenita”, co-mentou, agora mais bem-dis-posta.

A comerciante lembra-setambém quando os sapateirosfaziam fila à segunda-feira paracomprarem o material de queprecisavam para o seu ofício.“Tinha 13 anos e ficava mui-Tinha 13 anos e ficava mui-Tinha 13 anos e ficava mui-Tinha 13 anos e ficava mui-Tinha 13 anos e ficava mui-to irritada porque o meu tioto irritada porque o meu tioto irritada porque o meu tioto irritada porque o meu tioto irritada porque o meu tiopunha-me a pesar os peque-punha-me a pesar os peque-punha-me a pesar os peque-punha-me a pesar os peque-punha-me a pesar os peque-nos pregos e depois ralhavanos pregos e depois ralhavanos pregos e depois ralhavanos pregos e depois ralhavanos pregos e depois ralhavacomigo a dizer que eu nãocomigo a dizer que eu nãocomigo a dizer que eu nãocomigo a dizer que eu nãocomigo a dizer que eu nãosabia pesar. Mas tenho mui-sabia pesar. Mas tenho mui-sabia pesar. Mas tenho mui-sabia pesar. Mas tenho mui-sabia pesar. Mas tenho mui-tas saudades desses tem-tas saudades desses tem-tas saudades desses tem-tas saudades desses tem-tas saudades desses tem-pospospospospos”, disse.

A comerciante é casada comum empresário que tem uma fá-brica de sapatos na Benedita,lamentando-se que tambémesse negócio esteja a sofrermuito com a crise.

Quanto à Casa Galinha, “sósósósósóconseguimos manter a lojaconseguimos manter a lojaconseguimos manter a lojaconseguimos manter a lojaconseguimos manter a lojaaberta porque a renda é mui-aberta porque a renda é mui-aberta porque a renda é mui-aberta porque a renda é mui-aberta porque a renda é mui-to barata. Isto já nem sequerto barata. Isto já nem sequerto barata. Isto já nem sequerto barata. Isto já nem sequerto barata. Isto já nem sequerdá para tirarmos um orde-dá para tirarmos um orde-dá para tirarmos um orde-dá para tirarmos um orde-dá para tirarmos um orde-nado daquinado daquinado daquinado daquinado daqui”, lamenta.

A primeira renda foi de 450escudos [2,2 euros] e actual-mente pagam 150 euros. Semquererem adiantar números emrelação às vendas, vão dizendoque cada vez vendem menos. Éque, apesar de sempre irem ten-do vários clientes ao longo dodia, são sempre compras de bai-xo valor.

DESCENDENTES NÃOQUEREM CONTINUAR

NEGÓCIO

José Marques tem quatro fi-lhos e oito netos. Nenhum delesestá interessado em um dia con-tinuar o ofício que o ocupa hámais de meio século.

Zita Santos tem um filho com17 anos que está no 12º ano, mastambém não tem nenhum inte-

Cronologia

José Marques com uma ferramenta de corte de peles que terá mais de 100 anos e que José Marques com uma ferramenta de corte de peles que terá mais de 100 anos e que José Marques com uma ferramenta de corte de peles que terá mais de 100 anos e que José Marques com uma ferramenta de corte de peles que terá mais de 100 anos e que José Marques com uma ferramenta de corte de peles que terá mais de 100 anos e quefoi comprada em segunda mão.foi comprada em segunda mão.foi comprada em segunda mão.foi comprada em segunda mão.foi comprada em segunda mão.

Zita Santos continua a pesar pregos como o fazia há 40 anos Zita Santos continua a pesar pregos como o fazia há 40 anos Zita Santos continua a pesar pregos como o fazia há 40 anos Zita Santos continua a pesar pregos como o fazia há 40 anos Zita Santos continua a pesar pregos como o fazia há 40 anos

resse em poder vir a trabalharna Casa Galinha.

O projecto de regeneração ur-bana da Câmara das Caldas pre-vê que a rua Leão Azedo passea ser pedonal. Tio e sobrinhatêm opiniões diferentes sobre oque isso pode fazer pelo negó-cio deles.

Zita Santos teme que o cal-cetamento da rua afaste aindamais as pessoas. “Tenho mui-Tenho mui-Tenho mui-Tenho mui-Tenho mui-to receio, porque muitas ve-to receio, porque muitas ve-to receio, porque muitas ve-to receio, porque muitas ve-to receio, porque muitas ve-zes os clientes vêm aqui dezes os clientes vêm aqui dezes os clientes vêm aqui dezes os clientes vêm aqui dezes os clientes vêm aqui decarro de propósito. Ultima-carro de propósito. Ultima-carro de propósito. Ultima-carro de propósito. Ultima-carro de propósito. Ultima-mente nem pessoas se vêemmente nem pessoas se vêemmente nem pessoas se vêemmente nem pessoas se vêemmente nem pessoas se vêemna ruana ruana ruana ruana rua”, opinou. Na sua opinião,desde que construíram o CCC eo prédio ao lado, acabando como estacionamento à superfícieexistente, as pessoas deixaramde passar na rua do Jardim.

De qualquer forma, tem es-perança que as obras sejam be-néficas para o comércio.

Para José Marques será me-lhor que se encerre a rua ao trân-sito. “Isto agora é só carrosIsto agora é só carrosIsto agora é só carrosIsto agora é só carrosIsto agora é só carrospor todo o ladopor todo o ladopor todo o ladopor todo o ladopor todo o lado”, critica, es-perançado que a circulação depessoas venha a aumentar de-pois das obras feitas.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

Page 84: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

Falar das Carnes Moreira éfalar da vida de António Morei-ra, o jovem aprendiz de barbei-ro que se transformou em em-presário, chegando a ter ummilhar de animais nas suas her-dades do Alentejo, cuja carnedepois comercializa nos doistalhos das Caldas da Rainha.

António Moreira nasceu em1938 na aldeia de Salir do Porto.Ainda gaiato, com os seus 15, 16anos, veio para as Caldas apren-der o ofício de barbeiro, chegan-do a trabalhar na barbearia doQuintas, situada perto do Cha-fariz das Cinco Bicas. Entretan-to também aprendera a tocaracordeão e, sempre que podia,animava os bailes da região coma sua presença.

Mas a vida de barbeiro não oentusiasmou e, aos 20 anos,embarca no paquete Angola,onde permanece durante 12 anosa trabalhar como ajudante depasteleiro.

Em 1970 regressa à terra na-tal. Está então com 32 anos, al-tura em que começou a dedi-car-se à lavoura e aos animais. Odinheiro que trouxe da vida nomar, cerca de 105 contos (524 eu-ros), gastou-o na compra de umtractor, com o qual começou a tra-balhar para ter “dinheiro para“dinheiro para“dinheiro para“dinheiro para“dinheiro paracomer”comer”comer”comer”comer”, lembram hoje os filhos,António e Miguel Moreira.

António Moreira começouentão a trabalhar na agricultu-ra e prestar de serviços de la-

Carnes Moreira – produção própria garante 80% da

António Moreira a tocar acordeão numa imagem da década de cinquenta e noutra quando esteve embarcado no navio Angola. Com as suas poupanças comprou um tractor que António Moreira a tocar acordeão numa imagem da década de cinquenta e noutra quando esteve embarcado no navio Angola. Com as suas poupanças comprou um tractor que António Moreira a tocar acordeão numa imagem da década de cinquenta e noutra quando esteve embarcado no navio Angola. Com as suas poupanças comprou um tractor que António Moreira a tocar acordeão numa imagem da década de cinquenta e noutra quando esteve embarcado no navio Angola. Com as suas poupanças comprou um tractor que António Moreira a tocar acordeão numa imagem da década de cinquenta e noutra quando esteve embarcado no navio Angola. Com as suas poupanças comprou um tractor quemarcou o início da sua vida de empresário.marcou o início da sua vida de empresário.marcou o início da sua vida de empresário.marcou o início da sua vida de empresário.marcou o início da sua vida de empresário.

O casal António Moreira e Maria José Moreira partilharam uma vida de trabalho, cujoO casal António Moreira e Maria José Moreira partilharam uma vida de trabalho, cujoO casal António Moreira e Maria José Moreira partilharam uma vida de trabalho, cujoO casal António Moreira e Maria José Moreira partilharam uma vida de trabalho, cujoO casal António Moreira e Maria José Moreira partilharam uma vida de trabalho, cujolegado é mantido pelos filhos.legado é mantido pelos filhos.legado é mantido pelos filhos.legado é mantido pelos filhos.legado é mantido pelos filhos.

Miguel e António insistem na “produção natural” como garante da qualidade. A mãe, jáMiguel e António insistem na “produção natural” como garante da qualidade. A mãe, jáMiguel e António insistem na “produção natural” como garante da qualidade. A mãe, jáMiguel e António insistem na “produção natural” como garante da qualidade. A mãe, jáMiguel e António insistem na “produção natural” como garante da qualidade. A mãe, járeformada, ainda é uma boa conselheira no negócio da famíliareformada, ainda é uma boa conselheira no negócio da famíliareformada, ainda é uma boa conselheira no negócio da famíliareformada, ainda é uma boa conselheira no negócio da famíliareformada, ainda é uma boa conselheira no negócio da família

Caso único na região e um dos poucos a nível nacional, os talhos Moreira produzem 80% da carne quevendem aos clientes, na sua maioria de vaca.A história de sucesso das Carnes Moreira, que engloba dois talhos nas Caldas da Rainha e umaherdade de produção de carne no Alentejo, pode ser resumida na visão empreendedora de AntónioMoreira, um natural de Salir do Porto que se recusou a ser barbeiro, ofício para o qual o mandaramaprender em gaiato.“Começou com uma vaca em inícios da década de 70 e chegou a ter mais de mil”“Começou com uma vaca em inícios da década de 70 e chegou a ter mais de mil”“Começou com uma vaca em inícios da década de 70 e chegou a ter mais de mil”“Começou com uma vaca em inícios da década de 70 e chegou a ter mais de mil”“Começou com uma vaca em inícios da década de 70 e chegou a ter mais de mil”, contam,orgulhosos, os filhos, António e Miguel, sobre o percurso do progenitor.Actualmente são eles que dão continuidade ao negócio, dividindo-se entre os talhos nas Caldas eAlter do Chão, onde continuam a criar bovinos, suínos e borregos, sempre tendo por lema “produzir omais puro possível”.

voura com o tractor para outrosagricultores. Com o dinheiro quecomeçou a amealhar, comprouuma vaca, que na altura custa-va entre quatro a cinco contos(20 a 25 euros).

“O meu pai trabalhava“O meu pai trabalhava“O meu pai trabalhava“O meu pai trabalhava“O meu pai trabalhavauma semana e arranjava di-uma semana e arranjava di-uma semana e arranjava di-uma semana e arranjava di-uma semana e arranjava di-nheiro para comprar umanheiro para comprar umanheiro para comprar umanheiro para comprar umanheiro para comprar umavaca”vaca”vaca”vaca”vaca”, lembra o filho MiguelMoreira, actualmente com 37anos, que acompanhava o painas suas idas à segunda-feira

ao mercado das Caldas paracomprar animais.

O agora agricultor sempreque tinha algum dinheiro dispo-nível comprava vacas, às quaisdepois retirava o leite para ven-der. Nos anos 80 chegou a ter200 vacas a dar leite, em Salirdo Porto.

A ajudá-lo tinha a esposa,Maria José Moreira (com quemcasou em 1962), e os seus filhos,Isabel, António e Miguel, actu-almente com 47, 44 e 37 anos,

respectivamente.Maria José Moreira recorda

que até então não tinha tidogrande contacto com animaispois apenas tinha tratado de umou dois porcos que os pais ti-nham para consumo doméstico.Teve que se habituar à nova vidae não foi tarefa fácil. Levanta-va-se pelas 6h00 da manhã, ain-da o sol não era nascido, paracomeçar a ordenha. Depois, era“tratar, limpar, voltar a or-tratar, limpar, voltar a or-tratar, limpar, voltar a or-tratar, limpar, voltar a or-tratar, limpar, voltar a or-

denhar”denhar”denhar”denhar”denhar”, num ciclo que nuncatinha fim.

“Era muito o trabalho”“Era muito o trabalho”“Era muito o trabalho”“Era muito o trabalho”“Era muito o trabalho”, re-corda hoje Maria José, com 69anos, fazendo notar que naque-la altura pouca maquinaria exis-tia e o trabalho, desde a apa-nha da comida para o gado nocampo, à ordenha e limpeza dosestábulos, era todo feita manu-almente.

Em 1989 António Moreiracomprou o primeiro talho, naRua José Filipe Neto Rebelo,

onde ficou a trabalhar o filhoAntónio, enquanto que o Miguelajudava o pai e a mãe com acriação dos animais.

Nesta altura ia com frequên-cia ao Alentejo comprar palha etambém animais, e num almoçonum restaurante em Alter en-controu João Saraiva, das Cal-das, que lhe propôs vender aherdade que possuía em Chan-ça ou concelho de Alter do Chão.Foram de seguida visitá-la e o

negócio consumou-se, corria oano de 1993.

Inicialmente começaram porlevar para lá as vacas de carne quetinham em Salir do Porto, cerca deuma dezena, e foram aumentan-do o número, até que chegaram ater mil cabeças de gado.

Esta aquisição no Alentejo,juntamente com a crise que severificou ao nível do leite (emque o preço pago por litro eramuito baixo), levou os Moreiraa deixar de apostar nesta área,

para se dedicar em exclusivo aogado de carne para venda nostalhos.

Mas os primeiros tempos noAlentejo não foram fáceis. An-tónio Moreira tinha aplicado to-das as suas poupanças na aqui-sição da propriedade e, nos diasem que tinha de lá ficar, dormiadentro da camioneta.

Mais tarde, em 1998, comprouao Estado uma fábrica de trans-formação de tomate que tinha

falido – com uma área de setehectares, dos quais 30 mil me-tros eram cobertos - onde ins-talou a parte de engorda dosanimais.

Quatro anos mais tardeabrem um novo talho nas Cal-das, desta vez junto à praça detouros e, em 2005 compraramoutra herdade no Alentejo, jun-to à primeira, perfazendo umtotal de 500 hectares de terre-no. Este último investimento foide um milhão de euros.

António Moreira de pouco seviria a gozar deste seu patrimó-nio pois faleceu em 2006, com 68anos. São agora os dois filhos,António e Miguel, que continu-am o negócio do pai, sempreacompanhados pela mãe.

Junto dos filhos, Maria Josérecorda que a sua vida foi dedi-cada ao trabalho e que nuncateve férias. “Não conheço“Não conheço“Não conheço“Não conheço“Não conheçonada”nada”nada”nada”nada” conta, lembrando que, noinício não tinham empregados etinham que alimentar os animaise tirar-lhes o leite, e depois o tra-balho foi sempre adensando-se.

Na última década esteve, jun-tamente com o marido, grandeparte do tempo na herdade doAlentejo, onde este se dedicavaà criação dos animais e ela to-mava conta da casa, que entre-tanto lá construíram.

A família Moreira tem duasempresas. Os talhos, com onome António Gregório Morei-ra, são agora geridos pelos her-deiros (os três filhos e a espo-sa). Já a exploração do Alente-jo, denominada Sociedade Agrí-cola Moreiras, foi formada em1994 e é uma sociedade por co-tas, divididas entre os irmãosAntónio e Miguel e a mãe, Ma-ria José Moreira.

O ano passado o volume defacturação das duas empresasfoi de 1,157 milhões de euros.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

as vendas nos dois talhos que detém nas Caldas

A vida dos Moreira é agorapassada entre os talhos nasCaldas e o Alentejo. O filho An-tónio Moreira, actualmente com44 anos, é o responsável pelosdois talhos que têm na cidade,passando ali grande parte doseu tempo.

Lembra-se de em pequenoajudar os pais a tratar dos ani-mais e conta que toda a sua vidatem sido relacionada com estaactividade. Quando era miúdolevantava-se bastante cedo e,antes de ir para a escola, aindalimpava os estábulos dos ani-mais. Quando regressava dasaulas ia ajudar a tirar o leite aapanhar o pasto para o gado.

“Os meus colegas ficavam“Os meus colegas ficavam“Os meus colegas ficavam“Os meus colegas ficavam“Os meus colegas ficavamcontentes por ter férias, mascontentes por ter férias, mascontentes por ter férias, mascontentes por ter férias, mascontentes por ter férias, maseu não, pois era nessa altu-eu não, pois era nessa altu-eu não, pois era nessa altu-eu não, pois era nessa altu-eu não, pois era nessa altu-ra que ainda trabalhavara que ainda trabalhavara que ainda trabalhavara que ainda trabalhavara que ainda trabalhavamais”mais”mais”mais”mais”, recorda o empresário,dos tempos da Escola Secundá-ria Bordalo Pinheiro, que fre-quentou até ao 10º ano.

Em 1989 começa a trabalharno talho que o pai tinha com-prado. Nunca tirou qualquer cur-so de especialização e o quesabe aprendeu-o com um em-pregado que tinha na altura eque possuía experiência noramo. Actualmente são 14 os

“Produzimos como se produzia há 30 anos, com produtos naturais”

funcionários distribuídos entreas duas lojas e a herdade doAlentejo.

Já Miguel Moreira, actual-mente com 37 anos, deixou osestudos aos 14 para ir trabalhardirectamente com o pai. “Fui“Fui“Fui“Fui“Fuisempre mais agarrado àsempre mais agarrado àsempre mais agarrado àsempre mais agarrado àsempre mais agarrado àparte da criação de gado”parte da criação de gado”parte da criação de gado”parte da criação de gado”parte da criação de gado”,diz, recordando que quando saiuda escola foi trabalhar para avacaria do leite, na altura emque estava a produzir em pleno.“Sempre produzimos muito“Sempre produzimos muito“Sempre produzimos muito“Sempre produzimos muito“Sempre produzimos muitobem”bem”bem”bem”bem”, conta, destacando queforam os únicos produtores deleite da região a vender para aVigor. Os carros da empresa delacticínios vinham directamen-te de Sintra a Salir do Porto bus-car o leite, que era de bastantequalidade. “O meu pai sempre“O meu pai sempre“O meu pai sempre“O meu pai sempre“O meu pai semprefoi uma pessoa muito antigafoi uma pessoa muito antigafoi uma pessoa muito antigafoi uma pessoa muito antigafoi uma pessoa muito antigana forma de produzir as coi-na forma de produzir as coi-na forma de produzir as coi-na forma de produzir as coi-na forma de produzir as coi-sas”sas”sas”sas”sas”, salientou Miguel, adian-tando que nas carnes o proces-so continua a ser igual: “pro-“pro-“pro-“pro-“pro-duzimos como se produziaduzimos como se produziaduzimos como se produziaduzimos como se produziaduzimos como se produziahá 30 anos, com produtoshá 30 anos, com produtoshá 30 anos, com produtoshá 30 anos, com produtoshá 30 anos, com produtosnaturais”naturais”naturais”naturais”naturais”.

A qualidade é o garante dacontinuidade e sucesso destaempresa. António Moreira lem-bra que, há cerca de uma déca-da, quando “explodiu” o escân-

dalo das “vacas loucas” a esta-ção de televisão SIC entrou emcontacto com eles para saberporque é que as suas vendas nãocaíram, tal como aconteceu coma maioria dos outros talhos. Aresposta estava na confiançaque as pessoas tinham em com-prar carne de animais que eramcriados pelos próprios.

Foi também nessa altura queganharam novos clientes, mui-tos da região e alguns de fora.Entre eles uma senhora de Co-imbra que, depois de ver a re-portagem na televisão, dirigiu-se às Caldas para lhes comprarcarne. Desde então costumaaviar-se nos talhos Moreira duasvezes por ano.

“A carne que eu como é a“A carne que eu como é a“A carne que eu como é a“A carne que eu como é a“A carne que eu como é amesma que vendo aos meusmesma que vendo aos meusmesma que vendo aos meusmesma que vendo aos meusmesma que vendo aos meusclientes”clientes”clientes”clientes”clientes”, diz António Moreira,destacando que sempre se sãoconhecidos casos de problemascom animais, aumentam os cli-entes nos seus talhos.

“Não damos produtos ar-“Não damos produtos ar-“Não damos produtos ar-“Não damos produtos ar-“Não damos produtos ar-tificiais aos animais. Éramostificiais aos animais. Éramostificiais aos animais. Éramostificiais aos animais. Éramostificiais aos animais. Éramosnós que produzíamos a ra-nós que produzíamos a ra-nós que produzíamos a ra-nós que produzíamos a ra-nós que produzíamos a ra-ção, mas agora já não o fa-ção, mas agora já não o fa-ção, mas agora já não o fa-ção, mas agora já não o fa-ção, mas agora já não o fa-zemos porque não temoszemos porque não temoszemos porque não temoszemos porque não temoszemos porque não temospessoal”pessoal”pessoal”pessoal”pessoal”, adianta António, res-salvando que o lema da casa écomercializar o produto o mais

puro possível.A crise actual também se tem

feito notar “um bocadinho”“um bocadinho”“um bocadinho”“um bocadinho”“um bocadinho”nestes primeiros meses do ano,fazendo-se notar que as pesso-as estão sem dinheiro. “O ano“O ano“O ano“O ano“O anopassado foi espectacular, opassado foi espectacular, opassado foi espectacular, opassado foi espectacular, opassado foi espectacular, oNatal e Ano Novo possivel-Natal e Ano Novo possivel-Natal e Ano Novo possivel-Natal e Ano Novo possivel-Natal e Ano Novo possivel-mente até foi melhor que osmente até foi melhor que osmente até foi melhor que osmente até foi melhor que osmente até foi melhor que osanteriores”anteriores”anteriores”anteriores”anteriores”, referem, reconhe-cendo que este início de anoestá a ir mais devagar, mas osmeses de Janeiro e Fevereirosão sempre mais fracos.

Neste momento, na herdadedo Alentejo possuem cerca de1200 cabeças de gado, a maioriabovinos, mas também suínos eborregos. Produzem 80% da carneque vendem nas suas duas lojasque possuem nas Caldas, (com-prando apenas as aves, assimcomo alguma carne de porco). Porisso, as Carnes Moreira são umcaso único na região Oeste e umdos raros do país a produzir a car-ne que gastam nos talhos.

Há cerca de oito anos decidi-ram colocar uma caixa multi-banco no talho situado na RuaJosé Filipe Neto Rebelo, uma vezque não havia nenhuma naque-la zona. Os frutos fizeram-senotar na altura. “As pessoas“As pessoas“As pessoas“As pessoas“As pessoasvinham levantar dinheiro,vinham levantar dinheiro,vinham levantar dinheiro,vinham levantar dinheiro,vinham levantar dinheiro,

viam o talho e acabavamviam o talho e acabavamviam o talho e acabavamviam o talho e acabavamviam o talho e acabavampor entrar para comprar”por entrar para comprar”por entrar para comprar”por entrar para comprar”por entrar para comprar”,conta António, destacandoque, além de chamar clientespara a loja, o objectivo passoupor trazer um serviço que fa-zia falta aquela zona da cida-de.

Sobre o pai, António e Mi-guel, só tecem elogios. “EraEraEraEraErauma pessoa muito empre-uma pessoa muito empre-uma pessoa muito empre-uma pessoa muito empre-uma pessoa muito empre-endedora, que começou doendedora, que começou doendedora, que começou doendedora, que começou doendedora, que começou donada, mas também eranada, mas também eranada, mas também eranada, mas também eranada, mas também eramuito rigoroso e poupado”muito rigoroso e poupado”muito rigoroso e poupado”muito rigoroso e poupado”muito rigoroso e poupado”,dizem, acrescentando que que-rem continuar as suas pisadase tentar que as coisas andempara a frente.

“Todos os dias me levan-“Todos os dias me levan-“Todos os dias me levan-“Todos os dias me levan-“Todos os dias me levan-to a pensar que quero fa-to a pensar que quero fa-to a pensar que quero fa-to a pensar que quero fa-to a pensar que quero fa-zer mais e melhor, ou pelozer mais e melhor, ou pelozer mais e melhor, ou pelozer mais e melhor, ou pelozer mais e melhor, ou pelomenos manter o que ele nosmenos manter o que ele nosmenos manter o que ele nosmenos manter o que ele nosmenos manter o que ele nosdeixou”deixou”deixou”deixou”deixou”, diz António Moreira,destacando que essa é a “me- “me- “me- “me- “me-lhor homenagem que lhelhor homenagem que lhelhor homenagem que lhelhor homenagem que lhelhor homenagem que lhepodemos prestarpodemos prestarpodemos prestarpodemos prestarpodemos prestar”.

Entretanto, os filhos de am-bos, com idades compreendi-das entre os nove e os 11 anos,já começam a seguir as pisa-das da família e a ligação aocampo e aos animais.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

19381938193819381938 – Nasce António Moreira19551955195519551955 – Aprende o oficio de

barbeiro nas Caldas e tocaacordeão como nos bailes

19571957195719571957 – António Moreira em-barca no paquete Angola,onde permaneceu cerca deuma década

19671967196719671967 – Começa a dedicar-se à lavoura e compra o pri-meiro tractor agrícola

Inicio da década de 70Inicio da década de 70Inicio da década de 70Inicio da década de 70Inicio da década de 70– Compra os primeiros ani-mais e começa a vender leite

19891989198919891989 – Abre o primeiro ta-lho nas Caldas, situado na RuaJosé Filipe Neto Rebelo

19931993199319931993 – Compra a primeiraherdade no Alentejo, a Her-dade das Quintas, em Chan-ça, concelho de Alter do Chão.

19941994199419941994 - É formada a socie-dade Agrícola Moreiras, paragerir a exploração de produ-ção de carne

19961996199619961996 – Compra uma fábri-ca devoluta no Alentejo queadapta para engorda dos ani-mais

20022002200220022002 – Abre o segundo ta-lho nas Caldas da Rainha, naRua Praça de Touros

20052005200520052005 – Compra a segundaherdade, contígua à que jápossuíam, perfazendo um to-tal de 500 hectares

Cronologia

A carne que é vendida nos dois talhos é, na esmagadora maioria, de produção própria. Só compram aves e alguma carne de porcoA carne que é vendida nos dois talhos é, na esmagadora maioria, de produção própria. Só compram aves e alguma carne de porcoA carne que é vendida nos dois talhos é, na esmagadora maioria, de produção própria. Só compram aves e alguma carne de porcoA carne que é vendida nos dois talhos é, na esmagadora maioria, de produção própria. Só compram aves e alguma carne de porcoA carne que é vendida nos dois talhos é, na esmagadora maioria, de produção própria. Só compram aves e alguma carne de porco

António Moreira com familiares na Herdade das Quintas nos anos noventa. A empresa tem mais de mil cabeças de gado que faz questão de criar em ambiente natural.António Moreira com familiares na Herdade das Quintas nos anos noventa. A empresa tem mais de mil cabeças de gado que faz questão de criar em ambiente natural.António Moreira com familiares na Herdade das Quintas nos anos noventa. A empresa tem mais de mil cabeças de gado que faz questão de criar em ambiente natural.António Moreira com familiares na Herdade das Quintas nos anos noventa. A empresa tem mais de mil cabeças de gado que faz questão de criar em ambiente natural.António Moreira com familiares na Herdade das Quintas nos anos noventa. A empresa tem mais de mil cabeças de gado que faz questão de criar em ambiente natural.

Page 86: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

11 | Março | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

Farmácias Rosa, Caldense e de Sta. Catarina – a neta

expandir o negócio do avô

José Constantino Correia Rosa(1917-1999) nasceu em Alenquer, fi-lho do boticário Gregório da SilvaRosa (1881-1972) que já possuía asua farmácia Rosa naquela localida-de. Tirou o curso de Farmácia emLisboa e arranjou o seu primeiro em-prego nas Caldas, na Farmácia Bran-co Lisboa. Veio morar para a cidadetermal em Agosto de 1944, recém-casado com Maria dos Anjos CostaRosa (nascida em 1921). A sua cara-metade é de Tomar mas conhece-ram-se em Alenquer, localidade ondea jovem tinha familiares e ia passarférias. “E como não houve tem-“E como não houve tem-“E como não houve tem-“E como não houve tem-“E como não houve tem-po de arranjar casa, os nossospo de arranjar casa, os nossospo de arranjar casa, os nossospo de arranjar casa, os nossospo de arranjar casa, os nossospais instalaram-se no Hotel Lis-pais instalaram-se no Hotel Lis-pais instalaram-se no Hotel Lis-pais instalaram-se no Hotel Lis-pais instalaram-se no Hotel Lis-bonensebonensebonensebonensebonense”, recordam as duas filhasMargarida Rosa Tacanho (de 65anos) e Eduarda Rosa (62 anos),acrescentando que ali viveram du-rante seis meses.

Nessa altura tiveram a oportuni-dade de conviver com muitos refugi-ados estrangeiros, “gente muitogente muitogente muitogente muitogente muitochique com quem sobretudo achique com quem sobretudo achique com quem sobretudo achique com quem sobretudo achique com quem sobretudo anossa mãe acabou por privarnossa mãe acabou por privarnossa mãe acabou por privarnossa mãe acabou por privarnossa mãe acabou por privar”,recordam as filhas que actualmentevivem em Lisboa.

A vida correu bem a José CorreiaRosa pois cinco anos depois de es-tar trabalhar na Farmácia BrancoLisboa, estabelece-se por conta pró-pria, adquirindo a Farmácia Calden-se, na Praça 5 de Outubro, revelandodesde logo olho para o negocio poiso seu estabelecimento usufruía dogrande movimento da Praça do Pei-xe. “A aquisição não foi fácil, oA aquisição não foi fácil, oA aquisição não foi fácil, oA aquisição não foi fácil, oA aquisição não foi fácil, onosso pai teve que pedir ajudanosso pai teve que pedir ajudanosso pai teve que pedir ajudanosso pai teve que pedir ajudanosso pai teve que pedir ajudafinanceira a familiares de modofinanceira a familiares de modofinanceira a familiares de modofinanceira a familiares de modofinanceira a familiares de modoa concretizar o negócioa concretizar o negócioa concretizar o negócioa concretizar o negócioa concretizar o negócio”, disse-ram Margarida Rosa Tacanho eEduarda Rosa, recordando inclusiva-mente que eram os próprios novosproprietários que faziam os inven-tários, as análises e até a limpeza.

“Vendia-se de tudo na far-Vendia-se de tudo na far-Vendia-se de tudo na far-Vendia-se de tudo na far-Vendia-se de tudo na far-máciamáciamáciamáciamácia”, contam, recordando queeram vendidos até produtos deveterinário.”Quero cinco tostões”Quero cinco tostões”Quero cinco tostões”Quero cinco tostões”Quero cinco tostõesde pó de Maio”de pó de Maio”de pó de Maio”de pó de Maio”de pó de Maio”, diziam muitas ve-

zes as pessoas, que vinham de todoo concelho, sobretudo à segunda-fei-ra. Depois das compras na Praça doPeixe iam sempre aviar-se à farmá-cia.

A Farmácia Caldense, na Praça doPeixe, torna-se uma das principaisda cidade, em conjunto com a Farmá-cia Central (na Praça da Fruta), a Far-mácia Freitas (na Rua da Liberdade)

e a Branco Lisboa (Rua das Montras).Do Hotel Lisbonense decidiram

depois mudar-se para a primeiracasa nas Caldas, na Rua SangremanHenriques nº 9 -1º em frente à Far-mácia Maldonado. Vai ser neste novolar que já nascem as suas filhas, coma ajuda do médico Mário de Castro.

E que memórias guardam “as fi-lhas do Sr. doutor?”

“Recordo-me bem de v i r“Recordo-me bem de v i r“Recordo-me bem de v i r“Recordo-me bem de v i r“Recordo-me bem de v i rpara a Farmácia Caldense epara a Farmácia Caldense epara a Farmácia Caldense epara a Farmácia Caldense epara a Farmácia Caldense ebrincar com alguns dos funcio-brincar com alguns dos funcio-brincar com alguns dos funcio-brincar com alguns dos funcio-brincar com alguns dos funcio-nários mais novos. E isto por-nários mais novos. E isto por-nários mais novos. E isto por-nários mais novos. E isto por-nários mais novos. E isto por-que muitos começaram comoque muitos começaram comoque muitos começaram comoque muitos começaram comoque muitos começaram comomeninos dos recados aos 12meninos dos recados aos 12meninos dos recados aos 12meninos dos recados aos 12meninos dos recados aos 12anos e ainda hoje cá estão eanos e ainda hoje cá estão eanos e ainda hoje cá estão eanos e ainda hoje cá estão eanos e ainda hoje cá estão esão quase da família”são quase da família”são quase da família”são quase da família”são quase da família”, contaMargarida Rosa Tacanho. Lembra-se também de como o seu pai se abor-recia pois havia vendedeiras queocupavam os passeios laterais àPraça a vender galinhas e “quasequasequasequasequaseque não se conseguia entrar naque não se conseguia entrar naque não se conseguia entrar naque não se conseguia entrar naque não se conseguia entrar nafarmáciafarmáciafarmáciafarmáciafarmácia”, acrescentou. Achavamo máximo o facto da farmácia darpara a Praça do Peixe e do outro ladopara a Rua das Vacarias, onde o far-macêutico chegou também a ter umarmazém.

As irmãs Rosa ainda frequenta-ram o Teatro Pinheiro Chagas. Mar-

garida lembra-se de ir ao cinema, depassear no parque e de ir aos bailesdo Casino. A irmã Eduarda é maisnova e por isso não se lembra de taisvivências.

Como os negócios iam de feiçãona movimentada Praça do Peixe,José Correia Rosa decide expandir asua actividade. É em 1958 que vaiabrir a sua segunda farmácia, com o

seu sobrenome, tal como o seu pai ti-nha feito em Alenquer. Contam as fi-lhas que não foi fácil, não só devido àapertada legislação, como pela con-corrência que já existia na cidade.

“O nosso pai tinha olho paraO nosso pai tinha olho paraO nosso pai tinha olho paraO nosso pai tinha olho paraO nosso pai tinha olho parao negócio e queria ir sempreo negócio e queria ir sempreo negócio e queria ir sempreo negócio e queria ir sempreo negócio e queria ir sempremais alémmais alémmais alémmais alémmais além”, contam, acrescentan-do que José Rosa desde cedo tinhavontade de abrir um espaço na zonaonde hoje é a Avenida 1º de Maio eque nos anos 50 não era nada desen-volvida. Veio sozinho e “até o cri-até o cri-até o cri-até o cri-até o cri-

ticaram pois achavam que nãoticaram pois achavam que nãoticaram pois achavam que nãoticaram pois achavam que nãoticaram pois achavam que nãoiria ser bem sucedidoiria ser bem sucedidoiria ser bem sucedidoiria ser bem sucedidoiria ser bem sucedido”, contam.

Volvidos quase 60 anos, não po-deria ter feito melhor opção e hoje,ao contrário daqueles tempos, é aFarmácia Rosa que tem mais movi-mento.

Primeiro a farmácia Rosa estevena Rua Fonte do Pinheiro, num ex-ar-mazém de uma drogaria, onde era su-posto estar um ano, mas acabou porestar uma década. Depois passoupara a Rua Raul Proença e, em 1983,“é que passámos para a Av. 1ºé que passámos para a Av. 1ºé que passámos para a Av. 1ºé que passámos para a Av. 1ºé que passámos para a Av. 1ºde Maio, primeiro num localde Maio, primeiro num localde Maio, primeiro num localde Maio, primeiro num localde Maio, primeiro num localmuito mais pequenomuito mais pequenomuito mais pequenomuito mais pequenomuito mais pequeno”, contaramMargarida e Eduarda.

Desde cedo, José Rosa começa adar emprego e é conhecido por sergeneroso nos pagamento dos salári-os dos seus funcionários.

FAMÍLIA MUDA-SE PARALISBOA E ALUGA FARMÁCIAS

CALDENSES

As duas jovens acabam por ir es-tudar para Lisboa e os pais decidemacompanhá-las. “O nosso pai ar-“O nosso pai ar-“O nosso pai ar-“O nosso pai ar-“O nosso pai ar-ranjou emprego em Lisboa nosranjou emprego em Lisboa nosranjou emprego em Lisboa nosranjou emprego em Lisboa nosranjou emprego em Lisboa nosLLLLLaboratórios Azevedoaboratórios Azevedoaboratórios Azevedoaboratórios Azevedoaboratórios Azevedo”, contam as

irmãs, acrescentando que nessa altu-ra e até ao 25 de Abril as duas farmáci-as caldenses ficaram a ser adminis-tradas pela Sociedade Industrial Far-macêutica, uma empresa de Lisboa queficou encarregue da sua gestão.

As filhas contam que o pai gostoumuito de exercer o cargo Laborató-rios Azevedo pois era “uma pes-uma pes-uma pes-uma pes-uma pes-soa curiosa e muito interessa-soa curiosa e muito interessa-soa curiosa e muito interessa-soa curiosa e muito interessa-soa curiosa e muito interessa-da que acabou por ir aprenderda que acabou por ir aprenderda que acabou por ir aprenderda que acabou por ir aprenderda que acabou por ir aprendercoisas que não seriam possí-coisas que não seriam possí-coisas que não seriam possí-coisas que não seriam possí-coisas que não seriam possí-

veis nas Caldasveis nas Caldasveis nas Caldasveis nas Caldasveis nas Caldas”.Quando seguem rumo à capital

deixam para trás a frequência no Ve-rão de S. Martinho e da Foz do Arelho,estâncias que trocam pela Costa daCaparica.

Eduarda Rosa tira o curso de Far-mácia, apesar de nunca ter trabalha-do na sua profissão porque envere-dou pela carreira universitária - foiprofessora na Faculdade de Farmá-cia na área da Química Orgânica,depois de ter tirado o seu doutora-mento em Inglaterra. A sua irmã Mar-garida ainda tentou e frequentou oprimeiro ano do curso de Farmácia,mas acabou por desistir pois, na ver-dade, o que mais gostava era de Le-tras.

Além da sua profissão e dos seusnegócios, José Rosa era activo. Foirotário e chegou a ser governador detal grupo em 1966.

Enquanto trabalhou em Lisboa, du-rante algum tempo e quando preci-sava de vir às Caldas ficava em casade amigos, “até que se fartou,até que se fartou,até que se fartou,até que se fartou,até que se fartou,tendo por isso adquirido umtendo por isso adquirido umtendo por isso adquirido umtendo por isso adquirido umtendo por isso adquirido umandar no Largo da Vacuumandar no Largo da Vacuumandar no Largo da Vacuumandar no Largo da Vacuumandar no Largo da Vacuum”, re-lembram as filhas. José Rosa sofreum enfarte em 1971 mas graças aos

cuidados da esposa - que lhe impõerigores na alimentação e o faz darpasseios - que se manteve saudávelaté passar dos 80 anos.

José Rosa regressa às Caldas nopós-25 de Abril onde viverá até ao fi-nal da sua vida a tomar conta das suasfarmácias. Em Novembro de 1976passou a funcionar em Sta. Catarinaum posto de medicamentos, sob res-ponsabilidade da Farmácia Calden-se. A certa altura o governo mandou

fechar os postos de medicamentosque, ou passavam a ser farmácias -se cumprissem um certo numero deitens - ou teriam que encerrar. “Hoje“Hoje“Hoje“Hoje“Hojeé uma farmácia que é nossa queé uma farmácia que é nossa queé uma farmácia que é nossa queé uma farmácia que é nossa queé uma farmácia que é nossa queinaugurámos há um anoinaugurámos há um anoinaugurámos há um anoinaugurámos há um anoinaugurámos há um ano”, disse-ram as irmãs Margarida e Eduarda.

As herdeiras das três farmáciascontam que José Correia Rosa era“uma pessoa bem-disposta,uma pessoa bem-disposta,uma pessoa bem-disposta,uma pessoa bem-disposta,uma pessoa bem-disposta,conversadora , s impát ica econversadora , s impát ica econversadora , s impát ica econversadora , s impát ica econversadora , s impát ica emuito cavalheiro e bem edu-muito cavalheiro e bem edu-muito cavalheiro e bem edu-muito cavalheiro e bem edu-muito cavalheiro e bem edu-cado. Era um optimistacado. Era um optimistacado. Era um optimistacado. Era um optimistacado. Era um optimista”.

José Rosa era um homem de es-querda, membro do Partido Comunis-ta e a família “era um pouco dife-“era um pouco dife-“era um pouco dife-“era um pouco dife-“era um pouco dife-rente porque não éramos reli-rente porque não éramos reli-rente porque não éramos reli-rente porque não éramos reli-rente porque não éramos reli-giosos e não íamos à missagiosos e não íamos à missagiosos e não íamos à missagiosos e não íamos à missagiosos e não íamos à missa”,lembram as filhas. Era uma pessoamuito respeitada e que ajudava os ou-tros. São várias as clientes que ain-da hoje se emocionam ao recordarcomo em alturas mais difíceis dassuas vidas o Dr. Rosa as deixava le-var medicamentos para os filhospermitindo que pagassem mais tar-de.

Recordam-se também que os paisviajavam muito, aproveitando a rea-lização de conferências ligadas àfarmácia noutros países.

Já nos anos 90, José Correia tem80 anos e vai deixando aos poucos agestão das farmácia. O patriarca fa-leceu em 1999, aos 82 anos, passan-do o testemunho às suas filhas. “A“A“A“A“Anossa mãe ajudou-o muito, masnossa mãe ajudou-o muito, masnossa mãe ajudou-o muito, masnossa mãe ajudou-o muito, masnossa mãe ajudou-o muito, masele é que eraele é que eraele é que eraele é que eraele é que era o andarilho o andarilho o andarilho o andarilho o andarilho”. Tantoque apesar de se ter apercebido quejá não ia trabalhar com a informatiza-ção, foi dos primeiros a adquirir com-putadores e apressava-se a dizer aosseus empregados que para funcionar,bastava carregar no botão.

Hoje quando a responsável Cata-rina Rosa Tacanho fala aos seus fun-cionários em mudanças - robots ounovos programas - eles sorriem erelembram o fundador: “Já sabemos,é só carregar no botão!”.

“SE FORES PARA FARMÁCIADOU-TE UM CARRO!”

Catarina Rosa Tacanho (nascida

Há no concelho das Caldas três farmácias que pertencem à família Rosa: a farmácia Caldense, a Rosae a de Sta. Catarina. Foram fundadas por José Correia Rosa (1917-1999), farmacêutico empreendedorque deixou os estabelecimentos às filhas Margarida e Eduarda. Estes são geridos pela neta, a farma-cêutica Catarina Rosa Tacanho (filha de Margarida) desde 2003, que tem expandido o negócio paranovas áreas como a cosmética biológica e o espaço animal. As três farmácias empregam 25 pessoase, em dois anos, é a segunda vez que a Farmácia Rosa é alvo de obras de expansão. Reabre em brevecom mais 110 metros quadrados de área de atendimento com o objectivo de “servir melhor os“servir melhor os“servir melhor os“servir melhor os“servir melhor osnossos clientesnossos clientesnossos clientesnossos clientesnossos clientes”.

O fundador José Correia Rosa (1917-1999). Ao lado, a filha mais velha, Margarida RosaO fundador José Correia Rosa (1917-1999). Ao lado, a filha mais velha, Margarida RosaO fundador José Correia Rosa (1917-1999). Ao lado, a filha mais velha, Margarida RosaO fundador José Correia Rosa (1917-1999). Ao lado, a filha mais velha, Margarida RosaO fundador José Correia Rosa (1917-1999). Ao lado, a filha mais velha, Margarida RosaTacanho e a neta, Catarina Rosa Tacanho, que é a actual gestora das três farmáciasTacanho e a neta, Catarina Rosa Tacanho, que é a actual gestora das três farmáciasTacanho e a neta, Catarina Rosa Tacanho, que é a actual gestora das três farmáciasTacanho e a neta, Catarina Rosa Tacanho, que é a actual gestora das três farmáciasTacanho e a neta, Catarina Rosa Tacanho, que é a actual gestora das três farmácias

O casal fundador, José Constantino Correia Rosa O casal fundador, José Constantino Correia Rosa O casal fundador, José Constantino Correia Rosa O casal fundador, José Constantino Correia Rosa O casal fundador, José Constantino Correia Rosa (1917-1999)(1917-1999)(1917-1999)(1917-1999)(1917-1999) e Maria dos Anjos Costa Rosa (nascida em 1921) e Maria dos Anjos Costa Rosa (nascida em 1921) e Maria dos Anjos Costa Rosa (nascida em 1921) e Maria dos Anjos Costa Rosa (nascida em 1921) e Maria dos Anjos Costa Rosa (nascida em 1921)conheceram-se em Alenquer e viveram nas Caldas e em Lisboa.conheceram-se em Alenquer e viveram nas Caldas e em Lisboa.conheceram-se em Alenquer e viveram nas Caldas e em Lisboa.conheceram-se em Alenquer e viveram nas Caldas e em Lisboa.conheceram-se em Alenquer e viveram nas Caldas e em Lisboa.

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

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a do Dr. Rosa soube consolidar e

em 1976) é filha única de MargaridaTacanho e lembra-se em pequena deir às farmácias do avô e de o ver ven-der pasta medicinal Couto.

Apesar de quando era jovem di-zer que queria ser jornalista, na al-tura da Faculdade o avô José Rosadisse-lhe: “Se fores para Farmáciadou-te um carro!”. Foi algo que aju-dou a decidir-se a seguir o destinoda família e nem se importou poisaté tinha boas notas a Química.

Tirou o curso na Faculdade deFarmácia do Porto e dois anos de-pois de terminar a licenciatura, em2003, veio para as Caldas gerir onegócio familiar. Possui uma pós-graduação em Gestão Farmacêuti-ca e não descura acções de forma-ção na área da Gestão e dos Recur-sos Humanos. Tenta estar actuali-zada, até porque gerir pessoas nun-ca foi fácil “e nós já somos mui-“e nós já somos mui-“e nós já somos mui-“e nós já somos mui-“e nós já somos mui-tostostostostos”. Ao todo as três farmácias em-pregam 25 pessoas: 12 na Farmá-cia Rosa, 11 na Caldense e duas nade Sta. Catarina.

Uma das primeiras dificuldadesque enfrentou quando chegou foi agrande rivalidade entre as duasfarmácias Caldense e Rosa “quequequequequeeu tenho tentado amenizareu tenho tentado amenizareu tenho tentado amenizareu tenho tentado amenizareu tenho tentado amenizar”.A primeira perdeu movimento paraa segunda e “não fazia sentidonão fazia sentidonão fazia sentidonão fazia sentidonão fazia sentidoeste sentimento entre farmá-este sentimento entre farmá-este sentimento entre farmá-este sentimento entre farmá-este sentimento entre farmá-cias da mesma famíliacias da mesma famíliacias da mesma famíliacias da mesma famíliacias da mesma família”.

Catarina Tacanho reconheceque herdou - com o seu primo Ro-bin Rosa Burgess, filho único dasua tia Eduarda - uma empresa bemorganizada e como tal, segue à ris-

ca alguns dos ensinamentos do seuavô que são “o aprovisionamen-“o aprovisionamen-“o aprovisionamen-“o aprovisionamen-“o aprovisionamen-to racional e dimensionado eto racional e dimensionado eto racional e dimensionado eto racional e dimensionado eto racional e dimensionado enós ainda hoje damos muitanós ainda hoje damos muitanós ainda hoje damos muitanós ainda hoje damos muitanós ainda hoje damos muitaatenção ao nosso stock, ten-atenção ao nosso stock, ten-atenção ao nosso stock, ten-atenção ao nosso stock, ten-atenção ao nosso stock, ten-tando ter o que as pessoastando ter o que as pessoastando ter o que as pessoastando ter o que as pessoastando ter o que as pessoasprecisam precisam precisam precisam precisam ”. Acha que o seu avôfoi um excelente gestor e aprovei-tando a base decidiu também orga-nizar e inovar nas suas farmácias.Mantém também a norma de queum funcionário contente trabalhamuito melhor e paga acima da mé-dia, tal como o seu avô.

Alguns dos funcionários semprea viram como a “neta do senhor dou-tor” pois há gente que trabalha nastrês farmácias do grupo com 30 eaté com 40 anos de casa. “MetadeMetadeMetadeMetadeMetadeda equipa é antiga e a outrada equipa é antiga e a outrada equipa é antiga e a outrada equipa é antiga e a outrada equipa é antiga e a outrametade nova”metade nova”metade nova”metade nova”metade nova”, disse a farmacêu-tica e gestora, explicando que osmais velhos passam aos mais no-vos “o amor à camisolao amor à camisolao amor à camisolao amor à camisolao amor à camisola”.

APOSTAS EM COSMÉTICABIOLÓGICA E NO ESPAÇO

ANIMAL

Estabilizada a estrutura, Cata-rina Tacanho apostas noutras áre-as. Organiza caminhadas, distri-bui preservativos no dia 1 de De-zembro (Dia Mundial da Sida) edesde 2008 que faz distribuição demedicamentos ao domicilio paraaqueles que não se podem deslo-car às farmácias. Organiza tam-bém workshops de áreas como oaleitamento materno e está atentaaos novos produtos para públicos

específicos, em especial “porqueporqueporqueporqueporquetemos que ter uma consciên-temos que ter uma consciên-temos que ter uma consciên-temos que ter uma consciên-temos que ter uma consciên-cia ecológica”cia ecológica”cia ecológica”cia ecológica”cia ecológica”.

Nas suas farmácias vendem-selinhas de cosméticos biológicoscertificados, almofadas feitas detrigo para aliviar dores muscula-res, ou ainda produtos para lavar aroupa e a louça que são biológicose que quando usados permitem pou-pança de água. Recentemente foicriado o espaço animal onde ven-dem produtos de higiene e bem-es-tar para os animais, além de vári-as rações específicas para bichosque sofrem de alergias ou de pro-blemas de pele. “ProporcionamosProporcionamosProporcionamosProporcionamosProporcionamosaos clientes contacto com umaos clientes contacto com umaos clientes contacto com umaos clientes contacto com umaos clientes contacto com umveterinário 24 horas por diaveterinário 24 horas por diaveterinário 24 horas por diaveterinário 24 horas por diaveterinário 24 horas por dia”,disse a responsável, acrescentan-do que tem funcionário a ter forma-ção nesta área “para melhor res-para melhor res-para melhor res-para melhor res-para melhor res-ponder às pessoasponder às pessoasponder às pessoasponder às pessoasponder às pessoas”.

Foi também criado há pouco umcartão de pontos que permite aosclientes usar em qualquer das trêsfarmácias e que está a ter muito su-cesso, similiar àquele que se pra-tica nas gasolineiras.

Catarina Rosa Tacanho tem 34anos e consigo está assegurado ofuturo da empresa. “Apesar de jáApesar de jáApesar de jáApesar de jáApesar de jánão ter a mesma rentabilida-não ter a mesma rentabilida-não ter a mesma rentabilida-não ter a mesma rentabilida-não ter a mesma rentabilida-de que no tempo do meu avô,de que no tempo do meu avô,de que no tempo do meu avô,de que no tempo do meu avô,de que no tempo do meu avô,espero que possa prosseguirespero que possa prosseguirespero que possa prosseguirespero que possa prosseguirespero que possa prosseguire, se possível, continuar nae, se possível, continuar nae, se possível, continuar nae, se possível, continuar nae, se possível, continuar nafamíliafamíliafamíliafamíliafamília”, disse a gestora. Para aresponsável o facto de dar empre-go a 25 pessoas “vale muito e nósvale muito e nósvale muito e nósvale muito e nósvale muito e nósnão podemos olhar só para osnão podemos olhar só para osnão podemos olhar só para osnão podemos olhar só para osnão podemos olhar só para osnúmerosnúmerosnúmerosnúmerosnúmeros”.

José Faria, dedicou meio século à

Farmácia Rosa“Sou do tempo em que apa-“Sou do tempo em que apa-“Sou do tempo em que apa-“Sou do tempo em que apa-“Sou do tempo em que apa-

reciam coisas sensacionaisreciam coisas sensacionaisreciam coisas sensacionaisreciam coisas sensacionaisreciam coisas sensacionaiscomo as vitaminas ou as sulfa-como as vitaminas ou as sulfa-como as vitaminas ou as sulfa-como as vitaminas ou as sulfa-como as vitaminas ou as sulfa-midasmidasmidasmidasmidas”. São palavras de José Fer-reira Faria, 86 anos, que trabalhou emfarmácias desde os 14 anos e só sereformou aos 70.

Entrou para a Farmácia Caldenseem Dezembro de 1955 e dois anos emeio depois transitou para a Farmá-cia Rosa. Quando começou a suacarreira nas Caldas, sob as ordensde José Rosa, “ele deu-me um or-ele deu-me um or-ele deu-me um or-ele deu-me um or-ele deu-me um or-denado que inflacionou a mi-denado que inflacionou a mi-denado que inflacionou a mi-denado que inflacionou a mi-denado que inflacionou a mi-nha profissão aqui no distritonha profissão aqui no distritonha profissão aqui no distritonha profissão aqui no distritonha profissão aqui no distrito”,disse.

José Faria tem consciência que“não era um mau balcãonão era um mau balcãonão era um mau balcãonão era um mau balcãonão era um mau balcão”, masonde se sentia mais à vontade era nolaboratório a manipular substânci-as. Fez de tudo: supositórios, loçõese pomadas, mas também produtos debeleza. É famoso um leite de limpe-za que o José Faria criou e foi usadopor muitas clientes daquela farmá-cia.

É natural de Ferrel e antes de che-gar às Caldas iniciou o seu percursoprofissional em 1938, numa farmá-cia na Atouguia da Baleia pelo factode ser única extra-concelho de Peni-che. Ainda passou por outra farmá-cia no Bombarral.

“Sou o primeiro móvel destaSou o primeiro móvel destaSou o primeiro móvel destaSou o primeiro móvel destaSou o primeiro móvel destacasa. Estive cá 50 anos!”casa. Estive cá 50 anos!”casa. Estive cá 50 anos!”casa. Estive cá 50 anos!”casa. Estive cá 50 anos!”, dizsorrindo, o farmacêutico que come-çou a trabalhar em farmácias aos 14e só as deixou quando completou os70. Hoje ainda visita o seu local detrabalho e sente-lhe a falta. “Fazia“Fazia“Fazia“Fazia“Faziade tudode tudode tudode tudode tudo”, conta o experiente mani-pulador, com trabalho reconhecidopelos seus pares, médicos e uten-tes.

Foi também um braço direito doseu patrão e amigo e chega a emoci-onar-se quando o recorda. Tem umenorme apreço pela família deten-tora da farmácia que ajudou a cons-truir. É com carinho que lembra o quelhe disse José Rosa, quando aindaestava na Caldense: “Estamos aquidois homens a estorvar-nos um aooutro. Ou o senhor se vai embora oufica aqui para eu abrir outra farmá-cia”. Na verdade o que acabou poracontecer foi José Faria ter transi-tado para a Farmácia Rosa e o pro-prietário ter ficado na Caldense comoutro funcionário.

José Faria ali laborou durantemeio século e era um dos rostosmais conhecidos desta farmácia.

N.N.N.N.N.N.N.N.N.N.

19171917191719171917 – Nasce José Constantino Correia Rosa em Alenquer19441944194419441944 – O casal José e Maria dos Anjos Correia Rosa vêm morarpara as Caldas e instalam-se no Hotel Lisbonense19491949194919491949 – José Rosa adquire a Farmácia Caldense que pertencia aManuel Pontes.19581958195819581958 - Instala a sua segunda farmácia na Rua Fonte do Pinheiroe designa-a Farmácia Rosa. Mais tarde passa-a para a RaulProença e finalmente para a Avenida 1º de Maio1964-1975 1964-1975 1964-1975 1964-1975 1964-1975 – Farmácias são alugadas e administradas pela Soci-edade Industrial Farmacêutica SA19761976197619761976 - Em Novembro de 1976 passou a funcionar em Sta. Cata-rina um posto de medicamentos20032003200320032003 – Os três estabelecimentos passam a ser geridos por Cata-rina Tacanho2008 2008 2008 2008 2008 - Primeira ampliação da Farmácia Rosa2010 2010 2010 2010 2010 – Inaugura a farmácia de Sta. Catarina20112011201120112011 – A sociedade por quotas Correia Rosa Lda. (que anterior-mente possuía Sta. Catarina e Caldense) passa a agora a detertambém a Farmácia Rosa. Os sócios são Catarina Rosa Tacanhoe Robin Rosa Burgess, netos do fundador

CROLONOGIA

A empresa Correia Rosa Lda,uma sociedade por quotas, é a de-tentora das três farmácias e temum capital social de 15 mil euros.

Os sócios são Catarina RosaTacanho (sócia-gerente) e RobinRosa Burgess, ambos netos do fun-dador e filhos únicos das suasfilhas,respectivamente, Margari-da e Eduarda.

Em 2010 a empresa gerou um vo-lume de negócios de cerca de 5 mi-lhões de euros.

Em breve, a Farmácia Rosa rea-bre ao público ampliada pois foipossível alugar a loja ao lado do es-tabelecimento, que vai permitiraumentar de 110 para 191 metrosquadrados a área de atendimento.

Na prática aumentará sobretu-do a área subterrânea, que vai per-mitir a criação de novos serviçosligados por exemplo com a fisiote-rapia. Tal como na remodelação de2009, esta nova ampliação custou200 mil euros à empresa.

Catarina Tacanho - que tem umafilha, Beatriz, com 15 meses – acre-dita que as farmácias, tal como orestante comércio tradicional, de-vem tirar partido de saber o nomedos seus clientes e de inovar emáreas como o horário ou em novosprodutos. Até porque esta farma-cêutica-gestora acredita que asfarmácias têm um papel chave napromoção da saúde e prevenção dadoença.

Natacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha NarcisoNatacha [email protected]

A equipa que actualmente trabalha na Farmácia Rosa A equipa que actualmente trabalha na Farmácia Rosa A equipa que actualmente trabalha na Farmácia Rosa A equipa que actualmente trabalha na Farmácia Rosa A equipa que actualmente trabalha na Farmácia Rosa

São frequentes os convívios entre funcionários das três farmácias. À esquerda, uma imagem após um almoço nos São frequentes os convívios entre funcionários das três farmácias. À esquerda, uma imagem após um almoço nos São frequentes os convívios entre funcionários das três farmácias. À esquerda, uma imagem após um almoço nos São frequentes os convívios entre funcionários das três farmácias. À esquerda, uma imagem após um almoço nos São frequentes os convívios entre funcionários das três farmácias. À esquerda, uma imagem após um almoço nosanos oitenta no Guisado, local onde também se reuniram na foto mais recente (à direita) em Fevereiroanos oitenta no Guisado, local onde também se reuniram na foto mais recente (à direita) em Fevereiroanos oitenta no Guisado, local onde também se reuniram na foto mais recente (à direita) em Fevereiroanos oitenta no Guisado, local onde também se reuniram na foto mais recente (à direita) em Fevereiroanos oitenta no Guisado, local onde também se reuniram na foto mais recente (à direita) em Fevereiro

José Ferreira Faria trabalhou na Farmácia Rosa José Ferreira Faria trabalhou na Farmácia Rosa José Ferreira Faria trabalhou na Farmácia Rosa José Ferreira Faria trabalhou na Farmácia Rosa José Ferreira Faria trabalhou na Farmácia Rosadurante quase 50 anos e ainda hoje visita comdurante quase 50 anos e ainda hoje visita comdurante quase 50 anos e ainda hoje visita comdurante quase 50 anos e ainda hoje visita comdurante quase 50 anos e ainda hoje visita comfrequência o seu antigo local de trabalhofrequência o seu antigo local de trabalhofrequência o seu antigo local de trabalhofrequência o seu antigo local de trabalhofrequência o seu antigo local de trabalho

A farmacêutica-gestora Catarina Rosa Tacanho no A farmacêutica-gestora Catarina Rosa Tacanho no A farmacêutica-gestora Catarina Rosa Tacanho no A farmacêutica-gestora Catarina Rosa Tacanho no A farmacêutica-gestora Catarina Rosa Tacanho nocorredor de armazenamento de medicamentoscorredor de armazenamento de medicamentoscorredor de armazenamento de medicamentoscorredor de armazenamento de medicamentoscorredor de armazenamento de medicamentos

Page 88: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

18 | Março | 2011

21CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

irense que fez fortuna em Alfeizerão

do Norte e depois Coimbra eLousã, onde os esperavam osfamiliares com as carroças paralevarem os tios e os primos ri-cos para a Gestosa, terra nataldos avós de Graciete.

Os negócios corriam de fei-ção e os filhos foram crescen-do, à medida que Manuel Si-mões ia acumulando patrimóniopara a família. Ao mesmo tem-po, ia entrando em sociedadesmais ou menos bem sucedidas,como uma barbearia ou umafábrica de fiações.

O trabalho tornou-o num ho-mem de posses e Manuel Si-mões foi muitas vezes o recursode muita gente que se via emapertos. Mas Graciete diz que“era engraçado, que ele mes-“era engraçado, que ele mes-“era engraçado, que ele mes-“era engraçado, que ele mes-“era engraçado, que ele mes-mo tendo adquirido já algummo tendo adquirido já algummo tendo adquirido já algummo tendo adquirido já algummo tendo adquirido já algumestatuto, ainda mantinha oestatuto, ainda mantinha oestatuto, ainda mantinha oestatuto, ainda mantinha oestatuto, ainda mantinha oar de pobre beirão do interi-ar de pobre beirão do interi-ar de pobre beirão do interi-ar de pobre beirão do interi-ar de pobre beirão do interi-or, andando por vezes po-or, andando por vezes po-or, andando por vezes po-or, andando por vezes po-or, andando por vezes po-bremente vestido”bremente vestido”bremente vestido”bremente vestido”bremente vestido”. Relembraaté uma história conhecida nafamília de quando o avô se diri-giu a um banco nas Caldas daRainha para levantar dinheiro eo bancário de serviço, que não oconhecia, ficou na dúvida se ohomem era realmente um cli-ente abastado ou um ladrão commás intenções.

UMA LOJA PARA CADA FILHO

Quando os filhos chegavam àidade adulta e constituíam assuas próprias famílias, o patri-arca oferecia uma loja a cadaum. “O monopólio comercial“O monopólio comercial“O monopólio comercial“O monopólio comercial“O monopólio comercialde Alfeizerão estava pratica-de Alfeizerão estava pratica-de Alfeizerão estava pratica-de Alfeizerão estava pratica-de Alfeizerão estava pratica-mente instalado na famíliamente instalado na famíliamente instalado na famíliamente instalado na famíliamente instalado na famíliaSimões, com três lojas aquiSimões, com três lojas aquiSimões, com três lojas aquiSimões, com três lojas aquiSimões, com três lojas aquie outra em Vale de Maceira”e outra em Vale de Maceira”e outra em Vale de Maceira”e outra em Vale de Maceira”e outra em Vale de Maceira”.

Em plena Segunda GrandeGuerra, houve muitas famíliasque tiveram que se desfazer depatrimónio para ultrapassar asdificuldades que se viviam naaltura. “A família Polónia foi“A família Polónia foi“A família Polónia foi“A família Polónia foi“A família Polónia foiuma delas, pondo à vendauma delas, pondo à vendauma delas, pondo à vendauma delas, pondo à vendauma delas, pondo à vendaum prédio de estilo abrasi-um prédio de estilo abrasi-um prédio de estilo abrasi-um prédio de estilo abrasi-um prédio de estilo abrasi-leirado, construído no prin-leirado, construído no prin-leirado, construído no prin-leirado, construído no prin-leirado, construído no prin-cípio do século XX, de gran-cípio do século XX, de gran-cípio do século XX, de gran-cípio do século XX, de gran-cípio do século XX, de gran-

des dimensões para a épo-des dimensões para a épo-des dimensões para a épo-des dimensões para a épo-des dimensões para a épo-ca, estando bem situado eca, estando bem situado eca, estando bem situado eca, estando bem situado eca, estando bem situado epreparado para comércio”preparado para comércio”preparado para comércio”preparado para comércio”preparado para comércio”.Uma oportunidade de negócioque Manuel Simões não deixouescapar, pensando no futuro dofilho mais novo, José, que lan-çou no mundo dos negócios coma ajuda do filho Manuel. Surgeentão a Simões & Simões, Lda.,mas a sociedade não durou mui-to tempo. “Eram muito ami-“Eram muito ami-“Eram muito ami-“Eram muito ami-“Eram muito ami-gos como irmãos, mas nãogos como irmãos, mas nãogos como irmãos, mas nãogos como irmãos, mas nãogos como irmãos, mas nãose entendiam nos negócios”se entendiam nos negócios”se entendiam nos negócios”se entendiam nos negócios”se entendiam nos negócios”,diz Graciete, recordando que opai tinha um “feitio especial”“feitio especial”“feitio especial”“feitio especial”“feitio especial”,talvez devido ao facto de ser ofilho mais novo e ter sido muitomimado enquanto criança.

José Simões acabou por ficarsozinho nos negócios, mas pou-co tempo depois, em 1949, aca-baria por se casar com MariaRosa, filha de comerciantes doValado de Santa Quitéria, quetinha conhecido três anos antesdurante uma procissão de Nos-sa Senhora Peregrina que pas-sou por Alfeizerão. Um ano de-pois nascia a sua única filha,Graciete, na casa onde José eMaria Rosa viveram toda a vida,ali desenvolveram o negócio eonde ainda hoje se mantém afilha.

Em tempos em que não haviaprodutos embalados, Gracietelembra-se bem que tudo eravendido avulso. As pessoas tra-ziam as garrafitas ou frascospara levarem o azeite, o petró-leo. Compravam “uma lasqui-“uma lasqui-“uma lasqui-“uma lasqui-“uma lasqui-nha de sabão”nha de sabão”nha de sabão”nha de sabão”nha de sabão”, ou um bocadode brilhantina, tão usada paraos penteados da altura. A filhados donos da loja, que desdepequena ajudava os pais, lem-bra-se de alguns raspanetes damãe. “Eu, como graças a“Eu, como graças a“Eu, como graças a“Eu, como graças a“Eu, como graças aDeus nunca tinha tido faltaDeus nunca tinha tido faltaDeus nunca tinha tido faltaDeus nunca tinha tido faltaDeus nunca tinha tido faltade nada, ia ali e dava aos cli-de nada, ia ali e dava aos cli-de nada, ia ali e dava aos cli-de nada, ia ali e dava aos cli-de nada, ia ali e dava aos cli-entes uma garrafa ou umaentes uma garrafa ou umaentes uma garrafa ou umaentes uma garrafa ou umaentes uma garrafa ou umatigela cheia. Dava sempretigela cheia. Dava sempretigela cheia. Dava sempretigela cheia. Dava sempretigela cheia. Dava sempremais, e a minha mãe dizia:mais, e a minha mãe dizia:mais, e a minha mãe dizia:mais, e a minha mãe dizia:mais, e a minha mãe dizia:ah Graciete, não pode ser”ah Graciete, não pode ser”ah Graciete, não pode ser”ah Graciete, não pode ser”ah Graciete, não pode ser”,conta. E entre as memórias des-ses tempos, lembra-se também

“Esta casa chegou a ser uma“Esta casa chegou a ser uma“Esta casa chegou a ser uma“Esta casa chegou a ser uma“Esta casa chegou a ser umagrande loja de mercearias, eragrande loja de mercearias, eragrande loja de mercearias, eragrande loja de mercearias, eragrande loja de mercearias, eraconhecida na região”conhecida na região”conhecida na região”conhecida na região”conhecida na região”, diz Gra-ciete, acrescentando que ne-gócios como o do seu avô e doseu pai “eram os hipermerca-“eram os hipermerca-“eram os hipermerca-“eram os hipermerca-“eram os hipermerca-dos da altura”dos da altura”dos da altura”dos da altura”dos da altura”. A única filhados proprietários começou atrabalhar ali, a tempo inteiro,por volta dos 17 anos, quandoterminou o antigo 5º ano. “A“A“A“A“Aminha mãe adoeceu com umminha mãe adoeceu com umminha mãe adoeceu com umminha mãe adoeceu com umminha mãe adoeceu com umcancro, e sendo eu filha úni-cancro, e sendo eu filha úni-cancro, e sendo eu filha úni-cancro, e sendo eu filha úni-cancro, e sendo eu filha úni-ca, e como não era muito boaca, e como não era muito boaca, e como não era muito boaca, e como não era muito boaca, e como não era muito boaestudante, optei por vir aju-estudante, optei por vir aju-estudante, optei por vir aju-estudante, optei por vir aju-estudante, optei por vir aju-dar o meu pai”dar o meu pai”dar o meu pai”dar o meu pai”dar o meu pai”.

Com 23 anos, Graciete casoucom José Bernardino Machado,do Casal Pardo, que hoje aacompanha na gestão destecomércio. Menos de um anodepois nasce a primeira filhado casal, Luísa Margarida, ecinco anos depois a segunda,Catarina Isabel. “Nessa altura“Nessa altura“Nessa altura“Nessa altura“Nessa alturaele estava na tropa, nas ofici-ele estava na tropa, nas ofici-ele estava na tropa, nas ofici-ele estava na tropa, nas ofici-ele estava na tropa, nas ofici-nas de material aeronáuticonas de material aeronáuticonas de material aeronáuticonas de material aeronáuticonas de material aeronáuticoem Alverca”em Alverca”em Alverca”em Alverca”em Alverca”, lembra. Quandosaiu da vida militar, José foitrabalhar para uma firma ame-ricana de marketing. Só quan-do a sogra faleceu, em 1976,se juntou à esposa e ao sogrona loja de Alfeizerão.

“Na loja havia de tudo, mas“Na loja havia de tudo, mas“Na loja havia de tudo, mas“Na loja havia de tudo, mas“Na loja havia de tudo, masjá com algumas secções defi-já com algumas secções defi-já com algumas secções defi-já com algumas secções defi-já com algumas secções defi-nidas. Tínhamos um armazémnidas. Tínhamos um armazémnidas. Tínhamos um armazémnidas. Tínhamos um armazémnidas. Tínhamos um armazéme já estava um lado dedicadoe já estava um lado dedicadoe já estava um lado dedicadoe já estava um lado dedicadoe já estava um lado dedicadoà parte das ferragens, adubos,à parte das ferragens, adubos,à parte das ferragens, adubos,à parte das ferragens, adubos,à parte das ferragens, adubos,tintas. O outro lado era ape-tintas. O outro lado era ape-tintas. O outro lado era ape-tintas. O outro lado era ape-tintas. O outro lado era ape-nas para as mercearias”nas para as mercearias”nas para as mercearias”nas para as mercearias”nas para as mercearias”.

Em 1986, José Simões fale-ceu. Dois anos mais tarde, afilha e o genro decidem dar umnovo impulso aos negócios,abalados pelo aparecimentodos supermercados. “Deixá-“Deixá-“Deixá-“Deixá-“Deixá-mos de ter mercearias e divi-mos de ter mercearias e divi-mos de ter mercearias e divi-mos de ter mercearias e divi-mos de ter mercearias e divi-dimos os negócios, mas tudodimos os negócios, mas tudodimos os negócios, mas tudodimos os negócios, mas tudodimos os negócios, mas tudocomo Casa Simões”como Casa Simões”como Casa Simões”como Casa Simões”como Casa Simões”. Aprovei-tando não só o edifício onderesidem e têm a loja mais an-tiga, mas também o edifíciocontíguo, que tinha sido adqui-rido pelo avô, de um lado pu-seram as ferragens e artigosde drogaria, do outro, utilida-des domésticas e artigos dedecoração.

As duas lojas têm hoje no-mes diferentes – Casa Simõese Loja da Janela. O primeiro so-breviveu ao tempo mantendo

que havia na loja uma embala-gem grande de creme Nívea eque as pessoas compravam bo-cadinhos de creme em pedaçosde papel vegetal.

Desses tempos recorda ain-da a perspicácia da mãe, que,garante, era mais esperta paraos negócios e mais dada aoatendimento ao público do queo pai, que “sempre trabalhou“sempre trabalhou“sempre trabalhou“sempre trabalhou“sempre trabalhouno comércio, mas não foi porno comércio, mas não foi porno comércio, mas não foi porno comércio, mas não foi porno comércio, mas não foi poropção, foi quase por ser em-opção, foi quase por ser em-opção, foi quase por ser em-opção, foi quase por ser em-opção, foi quase por ser em-purrado”purrado”purrado”purrado”purrado”. O que fazia com que,por vezes, a disposição não fos-se a melhor.

“Antigamente as pessoas“Antigamente as pessoas“Antigamente as pessoas“Antigamente as pessoas“Antigamente as pessoasvinham com os burros dasvinham com os burros dasvinham com os burros dasvinham com os burros dasvinham com os burros daspraças e paravam aqui àpraças e paravam aqui àpraças e paravam aqui àpraças e paravam aqui àpraças e paravam aqui àporta para se aviarem. Hou-porta para se aviarem. Hou-porta para se aviarem. Hou-porta para se aviarem. Hou-porta para se aviarem. Hou-ve uma senhora que de cimave uma senhora que de cimave uma senhora que de cimave uma senhora que de cimave uma senhora que de cimado burro dizia: ‘oh senhor Zé,do burro dizia: ‘oh senhor Zé,do burro dizia: ‘oh senhor Zé,do burro dizia: ‘oh senhor Zé,do burro dizia: ‘oh senhor Zé,venda-me uma saca de fari-venda-me uma saca de fari-venda-me uma saca de fari-venda-me uma saca de fari-venda-me uma saca de fari-nha encosto’. E o meu painha encosto’. E o meu painha encosto’. E o meu painha encosto’. E o meu painha encosto’. E o meu pairespondeu: ‘não tenho cárespondeu: ‘não tenho cárespondeu: ‘não tenho cárespondeu: ‘não tenho cárespondeu: ‘não tenho cánenhuma farinha encosto’. Anenhuma farinha encosto’. Anenhuma farinha encosto’. Anenhuma farinha encosto’. Anenhuma farinha encosto’. Aminha mãe, que estava maisminha mãe, que estava maisminha mãe, que estava maisminha mãe, que estava maisminha mãe, que estava maiscá dentro disse-lhe: ‘oh Zé,cá dentro disse-lhe: ‘oh Zé,cá dentro disse-lhe: ‘oh Zé,cá dentro disse-lhe: ‘oh Zé,cá dentro disse-lhe: ‘oh Zé,vê lá se é uma farinha ampa-vê lá se é uma farinha ampa-vê lá se é uma farinha ampa-vê lá se é uma farinha ampa-vê lá se é uma farinha ampa-ro’. ‘Ah pois é, senhora Ma-ro’. ‘Ah pois é, senhora Ma-ro’. ‘Ah pois é, senhora Ma-ro’. ‘Ah pois é, senhora Ma-ro’. ‘Ah pois é, senhora Ma-ria’, respondeu a cliente. ‘Oria’, respondeu a cliente. ‘Oria’, respondeu a cliente. ‘Oria’, respondeu a cliente. ‘Oria’, respondeu a cliente. ‘Oseu marido tem cá um feitio”seu marido tem cá um feitio”seu marido tem cá um feitio”seu marido tem cá um feitio”seu marido tem cá um feitio”,lembra, a rir, Graciete.

Bem presente tem também avenda das especiarias e tempe-ros para a salga da carne e doschouriços das tradicionais ma-tanças de porco que as famíliasfaziam uma vez por ano. “As“As“As“As“Aspessoas vinham aqui aviar-pessoas vinham aqui aviar-pessoas vinham aqui aviar-pessoas vinham aqui aviar-pessoas vinham aqui aviar-se para a matança e eu sa-se para a matança e eu sa-se para a matança e eu sa-se para a matança e eu sa-se para a matança e eu sa-bia bem que quantidade debia bem que quantidade debia bem que quantidade debia bem que quantidade debia bem que quantidade decada especiaria ou temperocada especiaria ou temperocada especiaria ou temperocada especiaria ou temperocada especiaria ou temperoas pessoas precisavam. Umas pessoas precisavam. Umas pessoas precisavam. Umas pessoas precisavam. Umas pessoas precisavam. Umdia pensei matar um porco,dia pensei matar um porco,dia pensei matar um porco,dia pensei matar um porco,dia pensei matar um porco,mas não sabia temperar emas não sabia temperar emas não sabia temperar emas não sabia temperar emas não sabia temperar etive que pedir ajuda a umative que pedir ajuda a umative que pedir ajuda a umative que pedir ajuda a umative que pedir ajuda a umavizinha. Isso ficou quase devizinha. Isso ficou quase devizinha. Isso ficou quase devizinha. Isso ficou quase devizinha. Isso ficou quase deanedota… é que eu as quan-anedota… é que eu as quan-anedota… é que eu as quan-anedota… é que eu as quan-anedota… é que eu as quan-tidades de temperos sabia,tidades de temperos sabia,tidades de temperos sabia,tidades de temperos sabia,tidades de temperos sabia,não sabia era como asnão sabia era como asnão sabia era como asnão sabia era como asnão sabia era como asusar”usar”usar”usar”usar”, conta.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

A Casa Simões antes das obras feitas por Graciete e José Machado, A Casa Simões antes das obras feitas por Graciete e José Machado, A Casa Simões antes das obras feitas por Graciete e José Machado, A Casa Simões antes das obras feitas por Graciete e José Machado, A Casa Simões antes das obras feitas por Graciete e José Machado,que levaram à divisão do negócio em duas lojas distintasque levaram à divisão do negócio em duas lojas distintasque levaram à divisão do negócio em duas lojas distintasque levaram à divisão do negócio em duas lojas distintasque levaram à divisão do negócio em duas lojas distintas

Num das lojas Num das lojas Num das lojas Num das lojas Num das lojas, a aposta é nas ferragens, drogarias,, a aposta é nas ferragens, drogarias,, a aposta é nas ferragens, drogarias,, a aposta é nas ferragens, drogarias,, a aposta é nas ferragens, drogarias,tintas e ferramentas que já José Simões vendia tintas e ferramentas que já José Simões vendia tintas e ferramentas que já José Simões vendia tintas e ferramentas que já José Simões vendia tintas e ferramentas que já José Simões vendia no seu tempono seu tempono seu tempono seu tempono seu tempo

A janela tapada com tijolo que hoje dá nome à A janela tapada com tijolo que hoje dá nome à A janela tapada com tijolo que hoje dá nome à A janela tapada com tijolo que hoje dá nome à A janela tapada com tijolo que hoje dá nome àLoja da JanelaLoja da JanelaLoja da JanelaLoja da JanelaLoja da Janela

Das mercearias às utilidades domésticas, drogarias e ferragensviva a história da família. O se-gundo esconde uma históriaque Graciete gosta de contar.

Quando em 2001 o casal de-cidiu fazer obras nos edifícios,descobriram uma janela de queninguém tinha conhecimento,que estava escondida atrás dearmários e que o pai de Graci-ete tinha mandado tapar comtijolo de burro depois de terhavido por ali uma tentativa deassalto à mercearia. Hoje,além de dar nome ao estabe-lecimento, a janela está à vis-ta de todos os clientes, comose fosse um painel.

Quando perguntamos a Gra-ciete se alguma vez pensoulargar os negócios a respostaé pronta: “Já tenho pensado.“Já tenho pensado.“Já tenho pensado.“Já tenho pensado.“Já tenho pensado.Mas não sei o que haveria deMas não sei o que haveria deMas não sei o que haveria deMas não sei o que haveria deMas não sei o que haveria defazer”fazer”fazer”fazer”fazer”. Orgulhosa por ter dadocontinuidade à actividade ini-ciada pelo avô e pelo pai, comoaconteceu com muitos dosseus tios e tias e dos muitosprimos e primas noutras áreasde vendas, Graciete diz que searrepende é muitas vezes dofacto de o marido se ter de-sempregado e se ter juntado asi.

“Estamos a atravessar uma“Estamos a atravessar uma“Estamos a atravessar uma“Estamos a atravessar uma“Estamos a atravessar umafase muito má”fase muito má”fase muito má”fase muito má”fase muito má” afirma. “Eu ti-“Eu ti-“Eu ti-“Eu ti-“Eu ti-nha coisas diferentes, que ianha coisas diferentes, que ianha coisas diferentes, que ianha coisas diferentes, que ianha coisas diferentes, que iacomprar a feiras a Lisboa oucomprar a feiras a Lisboa oucomprar a feiras a Lisboa oucomprar a feiras a Lisboa oucomprar a feiras a Lisboa ouao Porto. Havia clientes queao Porto. Havia clientes queao Porto. Havia clientes queao Porto. Havia clientes queao Porto. Havia clientes queaté se admiravam de eu teraté se admiravam de eu teraté se admiravam de eu teraté se admiravam de eu teraté se admiravam de eu tercoisas tão diferentes numa al-coisas tão diferentes numa al-coisas tão diferentes numa al-coisas tão diferentes numa al-coisas tão diferentes numa al-deia. Agora as pessoas têm di-deia. Agora as pessoas têm di-deia. Agora as pessoas têm di-deia. Agora as pessoas têm di-deia. Agora as pessoas têm di-ficuldade, não nos procuram”ficuldade, não nos procuram”ficuldade, não nos procuram”ficuldade, não nos procuram”ficuldade, não nos procuram”,lamenta. E neste contexto tor-na-se difícil competir comgrandes superfícies ou com aslojas de chineses que abundampor todo o lado. “Estou con-“Estou con-“Estou con-“Estou con-“Estou con-vencida que ninguém vai com-vencida que ninguém vai com-vencida que ninguém vai com-vencida que ninguém vai com-vencida que ninguém vai com-prar coisas aos chineses porprar coisas aos chineses porprar coisas aos chineses porprar coisas aos chineses porprar coisas aos chineses porquerer, vai-se lá porque ser-querer, vai-se lá porque ser-querer, vai-se lá porque ser-querer, vai-se lá porque ser-querer, vai-se lá porque ser-ve”ve”ve”ve”ve”, afiança a negociante.

O futuro é incerto. As filhastêm as suas profissões e ne-nhuma delas pensa seguir o ne-gócio dos pais. A mais nova,formada na área de restauro econservação, ainda pondera terporta aberta ao público, masna sua área, não dando segui-mento aos artigos comerciali-zados pelos pais. Mas deixa,desde já, a ressalva: “nunca“nunca“nunca“nunca“nuncafazendo disso actividade prin-fazendo disso actividade prin-fazendo disso actividade prin-fazendo disso actividade prin-fazendo disso actividade prin-

cipal”cipal”cipal”cipal”cipal”.Empregados também não há.

“Somos nós dois e temos mui-“Somos nós dois e temos mui-“Somos nós dois e temos mui-“Somos nós dois e temos mui-“Somos nós dois e temos mui-to vagar, isto está muito fra-to vagar, isto está muito fra-to vagar, isto está muito fra-to vagar, isto está muito fra-to vagar, isto está muito fra-quito”quito”quito”quito”quito”, diz Graciete. De outrostempos, mais áureos, guardaas memórias da família quetem escritas, o orgulho de fa-zer parte de uma verdadeira“família de negociantes”“família de negociantes”“família de negociantes”“família de negociantes”“família de negociantes” e ogosto por Alfeizerão, a terraque há mais de 120 anos o seuavô escolheu para fugir à vidapobre do interior.

Joana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana FialhoJoana [email protected]

18711871187118711871 – Nasce Manuel Simões,em Castanheira de Pera18891889188918891889 – Manuel Simões vempara Alfeizerão, onde se dedicaà venda ambulante. No ano se-guinte casa com Maria da Con-ceição, da localidade de Gesto-sas19231923192319231923 – Nasce José Simões, emAlfeizerão19461946194619461946 – José Simões faz socie-dade com o irmão Manuel e es-treia-se como homem de negó-cios, com a Simões e Simões,Lda.19481948194819481948 – A sociedade entre Josée Manuel chega ao fim e o filhomais novo fica sozinho à frentedos negócios19491949194919491949 – José Simões casa comMaria Rosa19501950195019501950 – Nasce Graciete, a únicafilha do casal19561956195619561956 – Morre Manuel Simões19731973197319731973 – Graciete, que já traba-lhava com os pais, casa comJosé Bernardino Machado, dequem tem duas filhas – Luísa eCatarina19761976197619761976 – Morre Maria Rosa. JoséMachado junta-se ao negócio dosogro e da esposa19861986198619861986 – Morre José Simões19881988198819881988 – Graciete e José deci-dem dividir os negócios20042004200420042004 – É criada a Loja da Jane-la, mantendo-se a Casa Simõescom as ferragens, drogarias etintas

Cronologia

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25 | Março | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Nascido na Dagorda, conce-lho do Cadaval, em 1941, foi emÁfrica que Leandro Santos co-meçou a sua vida profissional.Esteve na tropa até 1966, os úl-timos dois anos na Guiné. Pas-sados três meses, a 1 de No-vembro, foi como tanta gentetentar a sorte em Angola, paratrabalhar como encarregadode um armazém.

Trabalhou em Malange e emHenrique Carvalho, mas foi emLuanda que se fixou por contaprópria, quando o patrão lhepassou uma loja que transfor-mou em supermercado.

Foi na capital angolana queconheceu Suzete Ferreira San-tos, com quem viria a casar em1971. Foi também lá que nas-ceram os três filhos do casal:Nuno em 1973, Cláudio em 1974e Marco em 1976.

Ao contrário de tantos por-tugueses que se viram força-dos a abandonar Angola nosanos quentes de 1974 e 1975,Leandro Santos conseguiumanter o negócio mesmo de-pois da independência do país.“O supermercado continuou a“O supermercado continuou a“O supermercado continuou a“O supermercado continuou a“O supermercado continuou atrabalhar bem”trabalhar bem”trabalhar bem”trabalhar bem”trabalhar bem”, conta LeandroSantos. Mas os revezes da des-colonização acabaram, porém,por apanhar igualmente estafamília, que em 1976, já depoisde Marco ter nascido, se viumesmo forçada a regressar aPortugal.

Voltaram para a Dagorda(Cadaval), onde compraramcasa e alguns terrenos, mas noano seguinte Leandro Santossentiu novamente o apelo afri-cano e regressou, mas agorapara a África do Sul. Foi sozi-nho e Suzete Santos ficou noCadaval com os filhos.

Na África do Sul, o empre-sário abriu, à sociedade comCésar Leça e Virgílio de Sou-sa, uma exploração agrícola. Asociedade possuía ainda umsupermercado. A exploraçãoainda hoje existe pela mão dosdois sócios, dado que 10 anosmais tarde, Leandro Santos re-solveu voltar para a família.“Já tinha a vida composta fi-“Já tinha a vida composta fi-“Já tinha a vida composta fi-“Já tinha a vida composta fi-“Já tinha a vida composta fi-nanceiramente e os meus fi-nanceiramente e os meus fi-nanceiramente e os meus fi-nanceiramente e os meus fi-nanceiramente e os meus fi-lhos estavam a entrar na ado-lhos estavam a entrar na ado-lhos estavam a entrar na ado-lhos estavam a entrar na ado-lhos estavam a entrar na ado-lescência, por isso vim dar-lescência, por isso vim dar-lescência, por isso vim dar-lescência, por isso vim dar-lescência, por isso vim dar-lhes mais apoio”lhes mais apoio”lhes mais apoio”lhes mais apoio”lhes mais apoio”.

Auto Leandro Santos, Lda. - o negócio de automóveiconsolidado negócio de família

Leandro Santos em Joanesburgo (África do Sul), em Leandro Santos em Joanesburgo (África do Sul), em Leandro Santos em Joanesburgo (África do Sul), em Leandro Santos em Joanesburgo (África do Sul), em Leandro Santos em Joanesburgo (África do Sul), em1981, antes de ter comprado a Auto Vasco1981, antes de ter comprado a Auto Vasco1981, antes de ter comprado a Auto Vasco1981, antes de ter comprado a Auto Vasco1981, antes de ter comprado a Auto Vasco

Os três irmãos, Marco, Cláudio e Nuno, junto ao Os três irmãos, Marco, Cláudio e Nuno, junto ao Os três irmãos, Marco, Cláudio e Nuno, junto ao Os três irmãos, Marco, Cláudio e Nuno, junto ao Os três irmãos, Marco, Cláudio e Nuno, junto aoprimeiro carro vendido pela Auto Leandro Santos, em 1987primeiro carro vendido pela Auto Leandro Santos, em 1987primeiro carro vendido pela Auto Leandro Santos, em 1987primeiro carro vendido pela Auto Leandro Santos, em 1987primeiro carro vendido pela Auto Leandro Santos, em 1987

O casal e os filhos numa foto tirada na semana O casal e os filhos numa foto tirada na semana O casal e os filhos numa foto tirada na semana O casal e os filhos numa foto tirada na semana O casal e os filhos numa foto tirada na semanapassadapassadapassadapassadapassada

DO CARRO AVARIADO ÀCOMPRA DO STAND

Quando voltou em definiti-vo já tinha adquirido o stand.De férias em Portugal, em 1986,deslocou-se às Caldas da Rai-

nha para comprar um automó-vel para a esposa, na Auto Vas-co, um pequeno stand de usa-dos no nº 105 da Rua Dr. ArturFigueiroa Rêgo, mais conheci-da por estrada da Tornada. Masa viatura tinha um problemaque precisou de reparação nasoficinas do stand. Foi enquan-to esperava pelo carro quemeteu conversa com o propri-etário, Vasco Almeida Júnior.“Perguntei-lhe como estava o“Perguntei-lhe como estava o“Perguntei-lhe como estava o“Perguntei-lhe como estava o“Perguntei-lhe como estava onegócio”negócio”negócio”negócio”negócio”, recorda, sublinhan-do que quando partiu do Ca-daval não tinha qualquer inten-ção de se lançar no mercadodos automóveis usados.

Mas a verdade é que a AutoVasco não vivia os seus me-lhores dias. Leandro Santosperguntou-lhe quanto queriapelo stand e o acordo fez-sepor 12 mil contos (60 mil eu-ros), mais o valor do trespas-se.

O stand passou a chamar-seAuto Santos e o negócio ficavaem nome individual de Lean-dro Ribeiro Santos.

O primeiro carro que vendeu,ainda se lembra, foi um BMW,que por sinal até era seu, “ti-“ti-“ti-“ti-“ti-nha-o comprado novo na Geo-nha-o comprado novo na Geo-nha-o comprado novo na Geo-nha-o comprado novo na Geo-nha-o comprado novo na Geo-peças e vendi-o a um amigopeças e vendi-o a um amigopeças e vendi-o a um amigopeças e vendi-o a um amigopeças e vendi-o a um amigomeu de Leiria que também ti-meu de Leiria que também ti-meu de Leiria que também ti-meu de Leiria que também ti-meu de Leiria que também ti-nha um stand”nha um stand”nha um stand”nha um stand”nha um stand”.

Apesar da experiência noramo do comércio, saber com-prar os carros era uma neces-

sidade que ainda não domina-va e por isso os primeiros me-ses não foram fáceis. “Não ti-“Não ti-“Não ti-“Não ti-“Não ti-nha conhecimento na área dosnha conhecimento na área dosnha conhecimento na área dosnha conhecimento na área dosnha conhecimento na área dosautomóveis”automóveis”automóveis”automóveis”automóveis”, reconhece. Foium dos funcionários que aca-bou por dar uma ajuda nesse

arranque. “Nos primeiros me-“Nos primeiros me-“Nos primeiros me-“Nos primeiros me-“Nos primeiros me-ses levava comigo um dos fun-ses levava comigo um dos fun-ses levava comigo um dos fun-ses levava comigo um dos fun-ses levava comigo um dos fun-cionários nas viagens paracionários nas viagens paracionários nas viagens paracionários nas viagens paracionários nas viagens paracomprar carros porque elecomprar carros porque elecomprar carros porque elecomprar carros porque elecomprar carros porque elepercebia dessa área, mas aopercebia dessa área, mas aopercebia dessa área, mas aopercebia dessa área, mas aopercebia dessa área, mas aofim de cinco seis meses co-fim de cinco seis meses co-fim de cinco seis meses co-fim de cinco seis meses co-fim de cinco seis meses co-mecei a ir sozinho”mecei a ir sozinho”mecei a ir sozinho”mecei a ir sozinho”mecei a ir sozinho”.

A relação com esses dois fun-cionários acabou, no entanto,por se deteriorar e passadosdois anos ficou sozinho nostand. A ajuda da esposa foientão importante, como, aliás,já tinha sido em Angola. “Ela“Ela“Ela“Ela“Elasó não trabalhou comigo en-só não trabalhou comigo en-só não trabalhou comigo en-só não trabalhou comigo en-só não trabalhou comigo en-

quanto estive em África do Sul,quanto estive em África do Sul,quanto estive em África do Sul,quanto estive em África do Sul,quanto estive em África do Sul,de resto foi sempre uma gran-de resto foi sempre uma gran-de resto foi sempre uma gran-de resto foi sempre uma gran-de resto foi sempre uma gran-de ajuda”de ajuda”de ajuda”de ajuda”de ajuda”, salienta LeandroSantos. Quem também ajudavaeram os filhos, que ainda estu-davam Escola Rafael BordaloPinheiro, mas no fim das aulas

já passavam pelo stand paradar uma ajuda ao pai.

A equipa ficava completacom um sobrinho do proprie-tário, de nome Luís Santos, queera o mecânico da oficina deapoio após venda e que aindahoje se mantém na empresa, eoutro rapaz que limpava oscarros.

Foi já na década de 90 queos filhos começaram a traba-lhar a tempo inteiro na AutoSantos. Em 1995, depois deconcluírem a ensino secundá-

rio, Nuno e Cláudio integrarama empresa.

A formação que tiveram naárea foi “a educação de tra-“a educação de tra-“a educação de tra-“a educação de tra-“a educação de tra-balhar com garra, honestamen-balhar com garra, honestamen-balhar com garra, honestamen-balhar com garra, honestamen-balhar com garra, honestamen-te e não vender nada a nin-te e não vender nada a nin-te e não vender nada a nin-te e não vender nada a nin-te e não vender nada a nin-guém que nós não comprásse-guém que nós não comprásse-guém que nós não comprásse-guém que nós não comprásse-guém que nós não comprásse-

mos”mos”mos”mos”mos”, diz Nuno Santos.Marco prosseguiu os estu-

dos, para se licenciar em Ges-tão no pólo das Caldas da UALe só em 2000, quando se licen-ciou, passou a trabalhar naAuto Santos.

Nesse mesmo ano, LeandroSantos passou o negócio paraos filhos. A empresa mudou dedenominação (mas mantendoo nome do progenitor) paraAuto Leandro Santos, Lda. Ostrês irmãos, Nuno, Cláudio eMarco, são os sócios desde

então.“Entreguei-lhes tudo em“Entreguei-lhes tudo em“Entreguei-lhes tudo em“Entreguei-lhes tudo em“Entreguei-lhes tudo em

boas condições, quer as con-boas condições, quer as con-boas condições, quer as con-boas condições, quer as con-boas condições, quer as con-tas com os clientes quer comtas com os clientes quer comtas com os clientes quer comtas com os clientes quer comtas com os clientes quer comos fornecedores, tinham oos fornecedores, tinham oos fornecedores, tinham oos fornecedores, tinham oos fornecedores, tinham otrampolim a jeito para saltar etrampolim a jeito para saltar etrampolim a jeito para saltar etrampolim a jeito para saltar etrampolim a jeito para saltar eo futuro está na mão deles,o futuro está na mão deles,o futuro está na mão deles,o futuro está na mão deles,o futuro está na mão deles,têm que levar o barco para atêm que levar o barco para atêm que levar o barco para atêm que levar o barco para atêm que levar o barco para afrente e estão bem encami-frente e estão bem encami-frente e estão bem encami-frente e estão bem encami-frente e estão bem encami-nhadosnhadosnhadosnhadosnhados”, sublinha LeandroSantos, que apesar de se terreformado em 2002 continua aser presença assídua no stand.

Nuno Santos refere que o ne-gócio é hoje muito diferente doque era no arranque. “Na altu-“Na altu-“Na altu-“Na altu-“Na altu-ra eram carros muito rodados -ra eram carros muito rodados -ra eram carros muito rodados -ra eram carros muito rodados -ra eram carros muito rodados -um carro usado tinha 9 ou 10um carro usado tinha 9 ou 10um carro usado tinha 9 ou 10um carro usado tinha 9 ou 10um carro usado tinha 9 ou 10anos e havia muito menos mo-anos e havia muito menos mo-anos e havia muito menos mo-anos e havia muito menos mo-anos e havia muito menos mo-delos. Hoje cada marca temdelos. Hoje cada marca temdelos. Hoje cada marca temdelos. Hoje cada marca temdelos. Hoje cada marca temdezenas de modelos e até a cordezenas de modelos e até a cordezenas de modelos e até a cordezenas de modelos e até a cordezenas de modelos e até a cortem influência no preço”tem influência no preço”tem influência no preço”tem influência no preço”tem influência no preço”.

Com o aumento da concor-rência, inclusivamente dos car-ros importados, o negócio foievoluindo e também as condi-ções de trabalho e de exposi-ção do próprio stand.

Em 2004 foi reconstruído oedifício que hoje alberga osserviços administrativos, de-pois expandiram o parque. Em2006 expandiu para o lado opos-to da estrada e em 2008 o ter-reno ao lado do stand. O par-que passou a ter capacidadepara mais de uma centena deviaturas.

Os três irmãos completam-

Foi numa casualidade que Leandro Santos adquiriu, em 1987, o stand onde tinha comprado um carropara a esposa, Suzete Santos. O automóvel teve uma avaria e enquanto aguardava pela reparação teveuma curta conversa com o proprietário do stand acerca do negócio. Ao fim de dois minutos decidiu-se a ficar com o stand. Desde então, primeiro como Auto Santos, e desde 2000 como Auto LeandroSantos, são já várias as gerações de famílias que depositam nas mãos de Nuno, Cláudio e MarcoSantos, filhos do casal que agora gerem a empresa, a responsabilidade de encontrarem automóvel àaltura das necessidades de cada membro. Apesar de manterem a tradição de qualidade, assistência ebom preço que herdaram do pai, os filhos também ajustaram a empresa aos novos dias e através dasnovas tecnologias a Auto Leandro Santos chega um pouco por todo o país, vendendo automóveis denorte a sul aproveitando as plataformas da Internet.

Luís Santos na oficina da empresa nos primeiros anos Luís Santos na oficina da empresa nos primeiros anos Luís Santos na oficina da empresa nos primeiros anos Luís Santos na oficina da empresa nos primeiros anos Luís Santos na oficina da empresa nos primeiros anosdo seu funcionamentodo seu funcionamentodo seu funcionamentodo seu funcionamentodo seu funcionamento

Desde muito novos que o ambiente familiar dos jovens Desde muito novos que o ambiente familiar dos jovens Desde muito novos que o ambiente familiar dos jovens Desde muito novos que o ambiente familiar dos jovens Desde muito novos que o ambiente familiar dos jovensSantos se entrosava com os automóveisSantos se entrosava com os automóveisSantos se entrosava com os automóveisSantos se entrosava com os automóveisSantos se entrosava com os automóveis

Page 90: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

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is usados que nasceu num acaso e se tornou um

Aspecto da “loja” de automóveis da firma, onde estão expostos dezenas de automóveis Aspecto da “loja” de automóveis da firma, onde estão expostos dezenas de automóveis Aspecto da “loja” de automóveis da firma, onde estão expostos dezenas de automóveis Aspecto da “loja” de automóveis da firma, onde estão expostos dezenas de automóveis Aspecto da “loja” de automóveis da firma, onde estão expostos dezenas de automóveis A “equipa” completa da Auto Leandro Santos, Lda. que dá emprego a 14 pessoas A “equipa” completa da Auto Leandro Santos, Lda. que dá emprego a 14 pessoas A “equipa” completa da Auto Leandro Santos, Lda. que dá emprego a 14 pessoas A “equipa” completa da Auto Leandro Santos, Lda. que dá emprego a 14 pessoas A “equipa” completa da Auto Leandro Santos, Lda. que dá emprego a 14 pessoas

se na administração da empresa.Nuno domina a vertente comercial,Marco trata da gestão e Cláudio tema cargo todo o serviço após venda epreparação das viaturas “porque é“porque é“porque é“porque é“porque éuma coisa muito específica”uma coisa muito específica”uma coisa muito específica”uma coisa muito específica”uma coisa muito específica”, explicaNuno Santos.

Actualmente a Auto Leandro San-tos, Lda, cujo volume de facturaçãoos responsáveis preferem não divul-gar, dá trabalho a 14 pessoas.

INTERNET DEU NOVO IMPULSO

O negócio de família cresceu no iní-cio deste milénio e um dos aliadosfoi a Internet. O desenvolvimento dastecnologias de informação permitiuexpor os produtos online através demotores de pesquisa e a Auto Lean-dro Santos foi uma das primeiras em-presas do ramo a lançar-se na rede,a partir de 2004.

Plataformas como o ABMotor,Stand Virtual ou o Autosapo foram“uma invenção que mudou a dimen-“uma invenção que mudou a dimen-“uma invenção que mudou a dimen-“uma invenção que mudou a dimen-“uma invenção que mudou a dimen-são do negócio”são do negócio”são do negócio”são do negócio”são do negócio”, classifica Nuno San-tos. É que, se anteriormente a expo-sição estava limitada a quem passas-se em frente ao stand, actualmenteas viaturas podem ser vistas em qual-quer lugar do mundo onde haja umaligação à Internet. “Isso para nós foi“Isso para nós foi“Isso para nós foi“Isso para nós foi“Isso para nós foiuma grande vantagem porque podía-uma grande vantagem porque podía-uma grande vantagem porque podía-uma grande vantagem porque podía-uma grande vantagem porque podía-mos ter um bom produto, mas em Lis-mos ter um bom produto, mas em Lis-mos ter um bom produto, mas em Lis-mos ter um bom produto, mas em Lis-mos ter um bom produto, mas em Lis-boa ninguém sabia”boa ninguém sabia”boa ninguém sabia”boa ninguém sabia”boa ninguém sabia”.

Com este novo meio de divulgação,as vendas passaram a ser feitas emgrande parte para fora da região. Háclientes de Lisboa, mas também donorte do país, para onde seguem, so-bretudo, modelos de gama alta. Deresto, mais de metade das vendas sãofeitas para fora da região.

Tanto no site da empresa, como nosdiversos stands virtuais, é possívelencontrar informação detalhada decada viatura e a fotografia correspon-dente. “Temos todos os carros dis-“Temos todos os carros dis-“Temos todos os carros dis-“Temos todos os carros dis-“Temos todos os carros dis-poníveis no site e a fotografia é sem-poníveis no site e a fotografia é sem-poníveis no site e a fotografia é sem-poníveis no site e a fotografia é sem-poníveis no site e a fotografia é sem-pre da viatura descrita e não de ou-pre da viatura descrita e não de ou-pre da viatura descrita e não de ou-pre da viatura descrita e não de ou-pre da viatura descrita e não de ou-tra parecida como por vezes aconte-tra parecida como por vezes aconte-tra parecida como por vezes aconte-tra parecida como por vezes aconte-tra parecida como por vezes aconte-ce. Somos rigorosos nesse aspecto”ce. Somos rigorosos nesse aspecto”ce. Somos rigorosos nesse aspecto”ce. Somos rigorosos nesse aspecto”ce. Somos rigorosos nesse aspecto”.

Joel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel RibeiroJoel [email protected]

Relação de confiança com o cliente é a chave do negócioNo arranque do negócio a concor-

rência não era ainda tão feroz comoé hoje. Já não é fácil imaginar a Es-trada da Tornada sem o rol de stan-ds de automóveis usados que proli-feram desde os anos 90, mas quan-do Leandro Santos pegou na AutoVasco só havia mais um vendedor:o antigo Reis e Sousa.

Foi a partir dos anos 90, com aabertura da banca de crédito ao con-sumo que a actividade se começoua espalhar e hoje em dia são às de-zenas os locais onde se pode com-prar automóveis em segunda mãona cidade e arredores.

Mas apesar do enorme incremen-to de concorrência, a Auto LeandroSantos tem sobrevivido, muito gra-ças à política de boa qualidade doproduto e do acompanhamento apósvenda e preços competitivos que es-

tabeleceu desde o início.O preço competitivo é garantido

pela ausência de intermediários:“compramos o carro na fonte, o que“compramos o carro na fonte, o que“compramos o carro na fonte, o que“compramos o carro na fonte, o que“compramos o carro na fonte, o quenos dá uma percentagem melhor donos dá uma percentagem melhor donos dá uma percentagem melhor donos dá uma percentagem melhor donos dá uma percentagem melhor doque se comprássemos a intermediá-que se comprássemos a intermediá-que se comprássemos a intermediá-que se comprássemos a intermediá-que se comprássemos a intermediá-rios e também nos permite ter me-rios e também nos permite ter me-rios e também nos permite ter me-rios e também nos permite ter me-rios e também nos permite ter me-lhores preços”lhores preços”lhores preços”lhores preços”lhores preços”.

Actualmente, a Auto Leandro San-tos compra os seus automóveis aempresas nacionais e com histórico.A razão é muito simples: “precisa-“precisa-“precisa-“precisa-“precisa-mos de garantias ao comprar paramos de garantias ao comprar paramos de garantias ao comprar paramos de garantias ao comprar paramos de garantias ao comprar paraas darmos também ao cliente”as darmos também ao cliente”as darmos também ao cliente”as darmos também ao cliente”as darmos também ao cliente”, dizNuno Santos. Ao trabalhar com es-tas empresas, “se as coisas corre-“se as coisas corre-“se as coisas corre-“se as coisas corre-“se as coisas corre-rem mal também podemos devolverrem mal também podemos devolverrem mal também podemos devolverrem mal também podemos devolverrem mal também podemos devolvero carro, o que não acontece, poro carro, o que não acontece, poro carro, o que não acontece, poro carro, o que não acontece, poro carro, o que não acontece, porexemplo, se trabalharmos com car-exemplo, se trabalharmos com car-exemplo, se trabalharmos com car-exemplo, se trabalharmos com car-exemplo, se trabalharmos com car-ros importados”ros importados”ros importados”ros importados”ros importados”, explica.

A questão da transparência em re-lação ao passado do automóvel é

mesmo ponto de honra. “Todos os“Todos os“Todos os“Todos os“Todos oscarros têm livro de revisões, o cli-carros têm livro de revisões, o cli-carros têm livro de revisões, o cli-carros têm livro de revisões, o cli-carros têm livro de revisões, o cli-ente sabe o que está a comprar eente sabe o que está a comprar eente sabe o que está a comprar eente sabe o que está a comprar eente sabe o que está a comprar eque se houver alguma coisa com oque se houver alguma coisa com oque se houver alguma coisa com oque se houver alguma coisa com oque se houver alguma coisa com ocarro nós tratamos, porque a garan-carro nós tratamos, porque a garan-carro nós tratamos, porque a garan-carro nós tratamos, porque a garan-carro nós tratamos, porque a garan-tia é total e não apenas do motor etia é total e não apenas do motor etia é total e não apenas do motor etia é total e não apenas do motor etia é total e não apenas do motor eda caixa”da caixa”da caixa”da caixa”da caixa”, prossegue Nuno Santos.

O fundador da empresa recordaaté um episódio dos primeiros anos,com um Mini que vendeu a um pei-xeiro da Foz do Arelho. Uma das ca-racterísticas desse carro era ter abateria na bagageira, o que um diaprovocou um incidente. “O senhor“O senhor“O senhor“O senhor“O senhortransportava o peixe numas caixastransportava o peixe numas caixastransportava o peixe numas caixastransportava o peixe numas caixastransportava o peixe numas caixasde metal, a caixa entrou em contac-de metal, a caixa entrou em contac-de metal, a caixa entrou em contac-de metal, a caixa entrou em contac-de metal, a caixa entrou em contac-to com os bornes da bateria e o car-to com os bornes da bateria e o car-to com os bornes da bateria e o car-to com os bornes da bateria e o car-to com os bornes da bateria e o car-ro ardeu”ro ardeu”ro ardeu”ro ardeu”ro ardeu”, conta. Leandro Santos foiinformado do que tinha acontecidoe também das dificuldades do pei-xeiro, que ainda não tinha acabadode pagar o automóvel… “Dei-lhe ou-“Dei-lhe ou-“Dei-lhe ou-“Dei-lhe ou-“Dei-lhe ou-

Apesar da crise, a Auto Leandro San-tos tem vindo a consolidar os númerosda sua facturação e para já não sentegrandes consequências ao nível dasvendas. No entanto, este é um cenárioque se pode alterar caso os númerosdo desemprego continuem a crescer.

A comercialização de viaturas novasestá a atingir novos mínimos no arran-que de 2011 e Nuno Santos diz que omercado dos usados também deverásentir quebras porque a oferta é muitogrande e maior que a actual procura, eo parque automóvel português estáacima das posses da população. Noentanto, acredita que isso deverá sercorrigido rapidamente, até porque “o“o“o“o“oautomóvel não é como uma casa,automóvel não é como uma casa,automóvel não é como uma casa,automóvel não é como uma casa,automóvel não é como uma casa,tem um desgaste relativamente rá-tem um desgaste relativamente rá-tem um desgaste relativamente rá-tem um desgaste relativamente rá-tem um desgaste relativamente rá-pido e é preciso trocar com algu-pido e é preciso trocar com algu-pido e é preciso trocar com algu-pido e é preciso trocar com algu-pido e é preciso trocar com algu-ma frequência”ma frequência”ma frequência”ma frequência”ma frequência”.

O sector tem também conseguidopassar ao lado das dificuldades da ban-ca em relação aos créditos para trocarde carro, ao contrário do que se vai

19411941194119411941- Nasce Leandro Santos, noCadaval, concelho do Cadaval

19871987198719871987- Leandro Santos compra aAuto Vasco e abre Auto Santos, tra-balhando em nome individual

19951995199519951995- Os dois filhos mais velhos,Nuno e Cláudio, integram efectiva-mente o negócio

20002000200020002000- Leandro Santos passa o ne-gócio aos três filhos, Nuno, Claúdio eMarco. A empresa passa a denomi-nar-se Auto Leandro Santos, Lda

20042004200420042004- A Auto Leandro Santos, Ldalança-se nas novas tecnologias, ex-pondo os seus carros através de por-tais da Internet e um site próprio

20062006200620062006- O parque de exposição ex-pande-se para um segundo espaçoem frente ao stand

20082008200820082008- É adquirido o terreno ane-xo ao original, aumentando a capaci-dade do parque para mais de 100 via-turas

Crise preocupa mas o pior é o desempregopassando em relação ao crédito ao con-sumo e ao crédito à habitação. No casoespecífico da Auto Leandro Santos,Nuno Santos explica isso pelo cuidadoque a própria empresa tem nesse as-pecto. “Temos um cuidado enorme“Temos um cuidado enorme“Temos um cuidado enorme“Temos um cuidado enorme“Temos um cuidado enormede não deixar criar crédito mal pa-de não deixar criar crédito mal pa-de não deixar criar crédito mal pa-de não deixar criar crédito mal pa-de não deixar criar crédito mal pa-rado, porque se assim for não serado, porque se assim for não serado, porque se assim for não serado, porque se assim for não serado, porque se assim for não sedegrada a relação entre o stand edegrada a relação entre o stand edegrada a relação entre o stand edegrada a relação entre o stand edegrada a relação entre o stand ea financeira”.a financeira”.a financeira”.a financeira”.a financeira”.

Marco Santos acrescenta que nasCaldas o comércio de usados não terácaído tanto porque as pessoas sabemque aqui podem encontrar bastantesopções em termos de comerciantes.

Mas caso os números do desempre-go não comecem a inverter, numa ci-dade como as Caldas que vive quaseem exclusivo do comércio, pode levar auma situação desastrosa. “As pesso-“As pesso-“As pesso-“As pesso-“As pesso-as precisam de emprego e se não oas precisam de emprego e se não oas precisam de emprego e se não oas precisam de emprego e se não oas precisam de emprego e se não oencontram aqui têm que ir paraencontram aqui têm que ir paraencontram aqui têm que ir paraencontram aqui têm que ir paraencontram aqui têm que ir parafora, e como as Caldas ao fim-de-fora, e como as Caldas ao fim-de-fora, e como as Caldas ao fim-de-fora, e como as Caldas ao fim-de-fora, e como as Caldas ao fim-de-semana é uma cidade praticamen-semana é uma cidade praticamen-semana é uma cidade praticamen-semana é uma cidade praticamen-semana é uma cidade praticamen-te sem vida, não consegue puxarte sem vida, não consegue puxarte sem vida, não consegue puxarte sem vida, não consegue puxarte sem vida, não consegue puxar

tro carro, acho que foi uma 4L, atétro carro, acho que foi uma 4L, atétro carro, acho que foi uma 4L, atétro carro, acho que foi uma 4L, atétro carro, acho que foi uma 4L, atéveio uma notícia na veio uma notícia na veio uma notícia na veio uma notícia na veio uma notícia na Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-Gazeta das Cal-dasdasdasdasdas”””””, recorda.

Esta forma de estar no negócio temgarantido a continuidade da empre-sa e o seu crescimento. O factor con-fiança é revelado não só pelo regres-so de clientes, que trocam semprede carro naquele stand, como confi-am à família Santos as viaturas quetransportam toda a família. “Temos“Temos“Temos“Temos“Temosfamílias com três gerações a com-famílias com três gerações a com-famílias com três gerações a com-famílias com três gerações a com-famílias com três gerações a com-prar carros aqui. Depositam em nósprar carros aqui. Depositam em nósprar carros aqui. Depositam em nósprar carros aqui. Depositam em nósprar carros aqui. Depositam em nósa responsabilidade de escolher aa responsabilidade de escolher aa responsabilidade de escolher aa responsabilidade de escolher aa responsabilidade de escolher amarca, o modelo adequado à vidamarca, o modelo adequado à vidamarca, o modelo adequado à vidamarca, o modelo adequado à vidamarca, o modelo adequado à vidadeles, reunimos famílias completas,deles, reunimos famílias completas,deles, reunimos famílias completas,deles, reunimos famílias completas,deles, reunimos famílias completas,com 10 a 12 carros”com 10 a 12 carros”com 10 a 12 carros”com 10 a 12 carros”com 10 a 12 carros”, aponta NunoSantos.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

as pessoas de fora a virem cá”as pessoas de fora a virem cá”as pessoas de fora a virem cá”as pessoas de fora a virem cá”as pessoas de fora a virem cá”.O empresário defende que é neces-

sário criar atractivos para a cidade.“Caldas da Rainha deve ser a úni-“Caldas da Rainha deve ser a úni-“Caldas da Rainha deve ser a úni-“Caldas da Rainha deve ser a úni-“Caldas da Rainha deve ser a úni-ca cidade que tem praia perto eca cidade que tem praia perto eca cidade que tem praia perto eca cidade que tem praia perto eca cidade que tem praia perto eestá de costas voltadas para ela,está de costas voltadas para ela,está de costas voltadas para ela,está de costas voltadas para ela,está de costas voltadas para ela,devia haver ligação permanentedevia haver ligação permanentedevia haver ligação permanentedevia haver ligação permanentedevia haver ligação permanentecom Foz Arelho e comércio ao fim-com Foz Arelho e comércio ao fim-com Foz Arelho e comércio ao fim-com Foz Arelho e comércio ao fim-com Foz Arelho e comércio ao fim-de-semana na cidade porque aode-semana na cidade porque aode-semana na cidade porque aode-semana na cidade porque aode-semana na cidade porque aodomingo está quase tudo fechado.domingo está quase tudo fechado.domingo está quase tudo fechado.domingo está quase tudo fechado.domingo está quase tudo fechado.Nós abrimos”,Nós abrimos”,Nós abrimos”,Nós abrimos”,Nós abrimos”, sustenta.

Marco Santos lamenta também oencerramento dos pólos da UAL e daUniversidade Católica, que traziam es-tudantes às Caldas. “Davam um mo-“Davam um mo-“Davam um mo-“Davam um mo-“Davam um mo-vimento diferente à cidade e aca-vimento diferente à cidade e aca-vimento diferente à cidade e aca-vimento diferente à cidade e aca-vimento diferente à cidade e aca-bavam por ajudar a fixar algunsbavam por ajudar a fixar algunsbavam por ajudar a fixar algunsbavam por ajudar a fixar algunsbavam por ajudar a fixar algunsdos alunos que para cá vinham es-dos alunos que para cá vinham es-dos alunos que para cá vinham es-dos alunos que para cá vinham es-dos alunos que para cá vinham es-tudar, porque mesmo a ESAD, comtudar, porque mesmo a ESAD, comtudar, porque mesmo a ESAD, comtudar, porque mesmo a ESAD, comtudar, porque mesmo a ESAD, como encerramento das fábricas deo encerramento das fábricas deo encerramento das fábricas deo encerramento das fábricas deo encerramento das fábricas decerâmica, não consegue f ixarcerâmica, não consegue f ixarcerâmica, não consegue f ixarcerâmica, não consegue f ixarcerâmica, não consegue f ixarquem vem de fora”quem vem de fora”quem vem de fora”quem vem de fora”quem vem de fora”.

J.R.J.R.J.R.J.R.J.R.

Cronologia

Page 91: A E 13 · 2016-02-24 · comércio e que se traduziu no encurtamento da semana de tra-balho para as 44 horas.É claro que a vida foi melhorando. João Augusto nunca abandonou as Gaeiras

1 | Abril | 2011

CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais22

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

Nesta reportagem da GazetaGazetaGazetaGazetaGazetadas Caldasdas Caldasdas Caldasdas Caldasdas Caldas Luís Serrenho con-ta pela primeira vez em públicoque no início da actividade dosLicores Malandrice uma entida-de estatal tentou evitar que asgarrafas em forma de falo fos-sem comercializadas por “ofen-ofen-ofen-ofen-ofen-sa à moral e bons costumessa à moral e bons costumessa à moral e bons costumessa à moral e bons costumessa à moral e bons costumes”.

De contrariedade em contra-riedade, que incluiu um incêndiona primeira fábrica, o casal con-seguiu fazer crescer os seus ne-gócios.

Na Bombondrice fazem atransformação do chocolate que,na sua maioria, vem de uma fá-brica na Bélgica, e os seus pro-dutos são vendidos em lojasgourmet e de produtos regionaisde todo o país.

A malandrice continua presen-te também em alguns chocola-tes, como os chupas em formade “garrafas das Caldas” e bom-bons, mas esse acaba por ser ummercado paralelo à actividadeprincipal.

Actualmente estão concentra-dos na produção das amêndoaspara a Páscoa, tendo recente-mente sido visitados por umaequipa de reportagem da RTP.

Durante o ano têm três épo-cas de pico de vendas: o Natal, aPáscoa e o Festival de Chocola-tes em Óbidos.

O JOVEM EMPRESÁRIO FILHODE AGRICULTORES

Luís Serrenho nasceu em San-ta Catarina em 1952. Os pais eram

Família Serrenho começou com licores Malandrice e

agricultores e foi na agriculturaque começou por trabalhar paraajudar os seus progenitores.

Aos 11 anos foi estudar paraum seminário em Ourém. “Nes-“Nes-“Nes-“Nes-“Nes-sa altura havia muitos jovenssa altura havia muitos jovenssa altura havia muitos jovenssa altura havia muitos jovenssa altura havia muitos jovenscom vocação, porque eracom vocação, porque eracom vocação, porque eracom vocação, porque eracom vocação, porque erauma possibilidade de pode-uma possibilidade de pode-uma possibilidade de pode-uma possibilidade de pode-uma possibilidade de pode-rem estudar e porque as fa-rem estudar e porque as fa-rem estudar e porque as fa-rem estudar e porque as fa-rem estudar e porque as fa-mílias nas aldeias eram mui-mílias nas aldeias eram mui-mílias nas aldeias eram mui-mílias nas aldeias eram mui-mílias nas aldeias eram mui-to religiosasto religiosasto religiosasto religiosasto religiosas”, contou. Dois anosdepois saiu do seminário e foiestudar para a Escola Comerciale Industrial das Caldas da Rai-nha, (actual Escola SecundáriaRafael Bordalo Pinheiro).

Luís Serrenho terminou o cur-so industrial e foi para Lisboa,para trabalhar como educador naCasa Pia.

Aos 20 anos foi para a tropa.Fez a recruta no quartel das Cal-das e a especialidade na Escolade Artilharia, em Vendas Novas.“Participei no 25 de Abril. EraParticipei no 25 de Abril. EraParticipei no 25 de Abril. EraParticipei no 25 de Abril. EraParticipei no 25 de Abril. Erasegundo furriel e viajei numasegundo furriel e viajei numasegundo furriel e viajei numasegundo furriel e viajei numasegundo furriel e viajei numacoluna militar que veio paracoluna militar que veio paracoluna militar que veio paracoluna militar que veio paracoluna militar que veio paraLisboaLisboaLisboaLisboaLisboa”.

Terminado o tempo de troparegressa às Caldas em 1975 e aju-da a sua irmã e o cunhado, jun-

tamente com o irmão, a criar acharcutaria Pitau, na rua Sebas-tião de Lima, que viria a tornar-se, anos mais tarde, uma pape-laria.

“Era uma espécie de lojaEra uma espécie de lojaEra uma espécie de lojaEra uma espécie de lojaEra uma espécie de lojagourmet. Vendíamos o me-gourmet. Vendíamos o me-gourmet. Vendíamos o me-gourmet. Vendíamos o me-gourmet. Vendíamos o me-lhor pão das Caldaslhor pão das Caldaslhor pão das Caldaslhor pão das Caldaslhor pão das Caldas”, salien-ta, acrescentando que faziamnaquele local matança de coe-lhos e galinhas caseiras.

Luís Serrenho conta que o fac-to de ele e o seu irmão, João,serem ainda jovens, com idadesentre os 21 e os 23 anos, “susci-susci-susci-susci-susci-tar muita simpatia por partetar muita simpatia por partetar muita simpatia por partetar muita simpatia por partetar muita simpatia por parte

da clientela, que respeitava oda clientela, que respeitava oda clientela, que respeitava oda clientela, que respeitava oda clientela, que respeitava onosso esforço e a boa vonta-nosso esforço e a boa vonta-nosso esforço e a boa vonta-nosso esforço e a boa vonta-nosso esforço e a boa vonta-de de ter coisas diferentesde de ter coisas diferentesde de ter coisas diferentesde de ter coisas diferentesde de ter coisas diferentes”.

Em 1985 os dois irmãos decidi-ram seguir cada um o seu cami-nho, e João Serrenho continuousozinho com a Pitau, já com vistaà alteração do negócio para pa-pelaria. “Mas ficámos sempreMas ficámos sempreMas ficámos sempreMas ficámos sempreMas ficámos sempreamigosamigosamigosamigosamigos”, sublinha Luís Serre-nho.

Nessa altura, decide apostarnuma outra área: a representa-ção de vinhos. Como armazenis-ta, revendia vinhos de SantaMarta de Penaguião, Ponte daBarca e Cantanhede, mas tam-bém o sumo Ika (Carregado).Durante três anos teve um ar-mazém na travessa da ÁguaQuente, mas começou a quererter um negócio em que vendes-se algo que fosse criado por si

.CASAL CONHECEU-SE AINDA

NA ESCOLA

Luís Serrenho conheceu a suafutura mulher, Maria Teresa,quando ambos estudavam na

mesma escola. “É namorico deÉ namorico deÉ namorico deÉ namorico deÉ namorico deescola, mas naquela alturaescola, mas naquela alturaescola, mas naquela alturaescola, mas naquela alturaescola, mas naquela alturaos namoros não eram comoos namoros não eram comoos namoros não eram comoos namoros não eram comoos namoros não eram comoagora, até os recreios eramagora, até os recreios eramagora, até os recreios eramagora, até os recreios eramagora, até os recreios eramseparados. Mas nunca tiveseparados. Mas nunca tiveseparados. Mas nunca tiveseparados. Mas nunca tiveseparados. Mas nunca tiveoutro namoradooutro namoradooutro namoradooutro namoradooutro namorado”, recorda Ma-ria Teresa Serrenho, que nasceuem 1956 em casa dos pais, na rua31 de Janeiro, nas Caldas da Ra-inha.

O pai era marceneiro, mas fa-leceu quando a sua filha tinha 28meses. A mãe de Maria Teresatrabalhou na Caixa de Previdên-cia das Caldas.

Maria Teresa Serrenho foi

uma das primeiras alunas doMagistério Primário da cidadee com 18 anos já era professo-ra primária (hoje diz-se “pro-fessora do ensino básico”). Du-rante 15 anos foi docente e che-gou a trabalhar com adultos, naalfabetização e na preparaçãopara o exame da então quartaclasse.

Nos anos 90 concluiu uma li-cenciatura em Direcção Peda-gógica e Administração Esco-lar, no Instituto Piaget, em Al-mada, e acabou por ser direc-tora do agrupamento de esco-las de Campelos (concelho deTorres Vedras), de onde se de-mitiu recentemente por discor-dar do rumo da educação dadopelo governo agora demissio-nário.

Antes disso esteve de licen-ça sem vencimento, de 1990 a1999, para poder dedicar-se aosnegócios da família, que esta-vam nessa altura em cresci-mento. “Fazer as coisas aFazer as coisas aFazer as coisas aFazer as coisas aFazer as coisas ameio-tempo para mim nãomeio-tempo para mim nãomeio-tempo para mim nãomeio-tempo para mim nãomeio-tempo para mim nãome servia. A educação me-me servia. A educação me-me servia. A educação me-me servia. A educação me-me servia. A educação me-

rece outra dedicaçãorece outra dedicaçãorece outra dedicaçãorece outra dedicaçãorece outra dedicação”, sali-entou.

LICORES MALANDRICENASCERAM EM CASA

Em 1987 Luís e Maria TeresaSerrenho começaram a produ-zir os licores de leite Malandri-ce, com a forma das “garrafasdas Caldas”, num anexo dacasa, onde instalaram todo oequipamento necessário.

Maria Teresa Serrenho já fa-zia habitualmente licores, quecostumava oferecer aos ami-

gos nas datas festivas. “Sem-Sem-Sem-Sem-Sem-pre gostei muito de coisaspre gostei muito de coisaspre gostei muito de coisaspre gostei muito de coisaspre gostei muito de coisasrelacionadas com cozinha,relacionadas com cozinha,relacionadas com cozinha,relacionadas com cozinha,relacionadas com cozinha,talvez porque o meu avô eratalvez porque o meu avô eratalvez porque o meu avô eratalvez porque o meu avô eratalvez porque o meu avô erapadeiro e também fazia ospadeiro e também fazia ospadeiro e também fazia ospadeiro e também fazia ospadeiro e também fazia osseus licoresseus licoresseus licoresseus licoresseus licores”, contou.

Para dar asas ao seu inte-resse, comprou livros paraaprender mais sobre a produ-ção de licores. Quando criaramos Licores Malandrice o rigorteve que ser outro, mas em pou-co tempo conseguiu dominartodas as técnicas necessárias.

Ao utilizarem garrafas embarro com a forma de um falo,surpreenderam toda a gente efizeram sucesso, mas ao mes-mo tempo atraíram as atençõesde algumas entidades mais“moralistas”.

“Quisemos utilizar umaQuisemos utilizar umaQuisemos utilizar umaQuisemos utilizar umaQuisemos utilizar umamarca associada às Caldasmarca associada às Caldasmarca associada às Caldasmarca associada às Caldasmarca associada às Caldase que mais rapidamente see que mais rapidamente see que mais rapidamente see que mais rapidamente see que mais rapidamente seimpusesse no mercadoimpusesse no mercadoimpusesse no mercadoimpusesse no mercadoimpusesse no mercado”, ex-plicou Luís Serrenho, sem adi-vinhar que viria a ter proble-mas com a sua ousadia.

Isto apesar das autoridadeslocais e regionais sempre te-

rem apoiado a ideia. Luís Ser-renho salientou os incentivosque na altura tiveram de JoséValente, então vereador daCâmara das Caldas, de PereiraJúnior, ex-presidente da Câma-ra de Óbidos, e de António Car-neiro, presidente da Região deTurismo do Oeste. “Não tive-Não tive-Não tive-Não tive-Não tive-mos apoios f inanceiros ,mos apoios f inanceiros ,mos apoios f inanceiros ,mos apoios f inanceiros ,mos apoios f inanceiros ,mas e les deram-nos ummas e les deram-nos ummas e les deram-nos ummas e les deram-nos ummas e les deram-nos umapoio moral importanteapoio moral importanteapoio moral importanteapoio moral importanteapoio moral importantequando apresentámos aquando apresentámos aquando apresentámos aquando apresentámos aquando apresentámos anossa ideianossa ideianossa ideianossa ideianossa ideia”, explicou.

A história dos licores Malan-drice foi também cheia de pe-ripécias, desde incêndios nasinstalações que construíram nazona industrial, à intervençãodas autoridades por causa doformato das garrafas.

A Administração-Geral doAçúcar e do Álcool, que primei-ro licenciou a actividade da em-presa, chegou a colocar proble-mas relacionados com “a mo-a mo-a mo-a mo-a mo-ral pública e os bons costu-ral pública e os bons costu-ral pública e os bons costu-ral pública e os bons costu-ral pública e os bons costu-mesmesmesmesmes”. Baseado numa lei de1927, alguém daquela entidadedecidiu deixar de fornecer osselos obrigatórios para as gar-rafas poderem ser vendidas aopúblico.

Maria Teresa Serrenho re-corda-se de estarem pela pri-meira vez a expor na Feira daFruta, no Parque D. Carlos I, eterem ficado sem garrafas paravender porque faltavam os se-los e já tinham vendido todo ostock inicial.

O caso seguiu para tribunal,mas seria resolvido depois deterem enviado uma exposiçãoao primeiro-ministro de então,Cavaco Silva. Na altura de umavisita oficial do governante àsCaldas, em 1987, foi comunica-do em primeira mão ao casalde empresários que a situaçãoestava resolvida. “Lembro-meLembro-meLembro-meLembro-meLembro-meda minha mulher vir a cor-da minha mulher vir a cor-da minha mulher vir a cor-da minha mulher vir a cor-da minha mulher vir a cor-rer pela rua de braços aber-rer pela rua de braços aber-rer pela rua de braços aber-rer pela rua de braços aber-rer pela rua de braços aber-tos quando soube a notícia.tos quando soube a notícia.tos quando soube a notícia.tos quando soube a notícia.tos quando soube a notícia.Eu até pensei que tinha gan-Eu até pensei que tinha gan-Eu até pensei que tinha gan-Eu até pensei que tinha gan-Eu até pensei que tinha gan-ho o totolotoho o totolotoho o totolotoho o totolotoho o totoloto”, recordou.“Nunca contámos a nin-Nunca contámos a nin-Nunca contámos a nin-Nunca contámos a nin-Nunca contámos a nin-guém a angústia que está-guém a angústia que está-guém a angústia que está-guém a angústia que está-guém a angústia que está-vamos a viver e é a primeiravamos a viver e é a primeiravamos a viver e é a primeiravamos a viver e é a primeiravamos a viver e é a primeiravez que esta história vem avez que esta história vem avez que esta história vem avez que esta história vem avez que esta história vem apúblicopúblicopúblicopúblicopúblico”, acrescentou Luís Ser-renho.

Também o incêndio trouxeproblemas, não só porque tive-ram que refazer muito do quejá estava feito, mas tambémporque houve uma entidadebancária que voltou atrás naconcessão de um crédito. “AtéAtéAtéAtéAtéacabou por ser bom paraacabou por ser bom paraacabou por ser bom paraacabou por ser bom paraacabou por ser bom paranós porque conseguimos onós porque conseguimos onós porque conseguimos onós porque conseguimos onós porque conseguimos odinheiro com ajuda de fami-dinheiro com ajuda de fami-dinheiro com ajuda de fami-dinheiro com ajuda de fami-dinheiro com ajuda de fami-liares e amigos. No final atéliares e amigos. No final atéliares e amigos. No final atéliares e amigos. No final atéliares e amigos. No final atéfui agradecer ao responsá-fui agradecer ao responsá-fui agradecer ao responsá-fui agradecer ao responsá-fui agradecer ao responsá-vel do banco porque assimvel do banco porque assimvel do banco porque assimvel do banco porque assimvel do banco porque assimpoupámos muito dinheiropoupámos muito dinheiropoupámos muito dinheiropoupámos muito dinheiropoupámos muito dinheiroem jurosem jurosem jurosem jurosem juros”, disse Luís Serrenho. O stand dos Licores Malandrice na altura em que as O stand dos Licores Malandrice na altura em que as O stand dos Licores Malandrice na altura em que as O stand dos Licores Malandrice na altura em que as O stand dos Licores Malandrice na altura em que as

feiras da fruta se realizavam no Parquefeiras da fruta se realizavam no Parquefeiras da fruta se realizavam no Parquefeiras da fruta se realizavam no Parquefeiras da fruta se realizavam no Parque

O casal com os três filhos em 1998 O casal com os três filhos em 1998 O casal com os três filhos em 1998 O casal com os três filhos em 1998 O casal com os três filhos em 1998 As duas Teresas (mãe e filha) e Luís Serrenho no interior da Bombondrice As duas Teresas (mãe e filha) e Luís Serrenho no interior da Bombondrice As duas Teresas (mãe e filha) e Luís Serrenho no interior da Bombondrice As duas Teresas (mãe e filha) e Luís Serrenho no interior da Bombondrice As duas Teresas (mãe e filha) e Luís Serrenho no interior da Bombondrice

Desde novos que Luís e Maria Teresa Serrenho foram um dos casais mais empreendedores dasCaldas da Rainha, criando empresas inspiradas em temas caldenses e com um cariz sempre artesa-nal.Primeiro foram os Licores Malandrice, que venderam em 1993 para se dedicaram aos chocolates. ABombondrice nasceu ainda no seio dos licores, mas tornou-se numa empresa independente queactualmente é gerida pela filha do casal, Teresa Serrenho.Antes da ginja de Óbidos se tornar um produto comercialmente muito procurado, ou do chocolateser tema de festival com milhares de visitantes, o casal Serrenho iniciou negócios à volta destes e deoutros produtos.

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23CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

e adoçou o negócio com a Bombondrice

Foram anos de sacrifícios e mui-tas vezes o ordenado como pro-fessora de Maria Teresa Serrenho“era empregue inteiramenteera empregue inteiramenteera empregue inteiramenteera empregue inteiramenteera empregue inteiramente”no negócio. “Nós éramos novosNós éramos novosNós éramos novosNós éramos novosNós éramos novose por isso tornava-se mais di-e por isso tornava-se mais di-e por isso tornava-se mais di-e por isso tornava-se mais di-e por isso tornava-se mais di-fícil conseguir créditofícil conseguir créditofícil conseguir créditofícil conseguir créditofícil conseguir crédito”, comen-tou a professora.

Houve também um problemacom um lote de garrafas comlicor de leite em que, por qual-quer motivo, as rolhas começa-ram a saltar para fora, como sefosse champanhe. Embora te-nham recolhido de imediato olote em causa, houve nessa al-tura uma fiscalização das Acti-vidades Económicas (actualASAE) e como tinham guarda-do três garrafas para tentarperceber o que se tinha passa-do, estas acabaram por serapreendidas e foi levantado umauto.

Apesar das contrariedades,a resposta dos clientes foi amelhor possível. “Tudo o queTudo o queTudo o queTudo o queTudo o queproduzíamos vendia-seproduzíamos vendia-seproduzíamos vendia-seproduzíamos vendia-seproduzíamos vendia-se”, re-feriu o empresário. Chegarama exportar para Espanha, Ho-landa e Bélgica.

As garrafas em barro eramfeitas artesanalmente por vá-rios ceramistas caldenses, osquais colaboraram também emgarrafas em forma de Zé Povi-nho e Maria da Paciência.

Foram aumentando tambéma variedade daquilo que produ-ziam e começaram a produzirlicores de ginja, pêssego, mo-rango, tangerina, amora, amên-doa, rosas e vinho, entre ou-tras. Para além das garrafas embarro, criaram também uma devidro (apenas com um pequenofalo em barro dentro de umacaixa atada ao gargalo).

Em 1989, quando Maria Tere-sa Serrenho era presidente daAssociação de Artesãos dasCaldas da Rainha, o jornal Cor-reio da Manhã publicou uma ex-tensa reportagem nas centrais,com chamada na primeira pá-gina, sobre o trabalho que es-tava a ser feito de divulgação

das “malandrices” das Caldas.O casal procurou sempre di-

vulgar os licores e as Caldas emvários certames. “ChegámosChegámosChegámosChegámosChegámosa fazer 15 feiras num ano ea fazer 15 feiras num ano ea fazer 15 feiras num ano ea fazer 15 feiras num ano ea fazer 15 feiras num ano esempre a promover as Cal-sempre a promover as Cal-sempre a promover as Cal-sempre a promover as Cal-sempre a promover as Cal-das porque somos bairris-das porque somos bairris-das porque somos bairris-das porque somos bairris-das porque somos bairris-tastastastastas”, adiantou Maria TeresaSerrenho.

A professora só lamenta quese tenha perdido a tradição dese realizarem as feiras da fru-ta no Parque D. Carlos I, comoacontecia há 20 anos. “Eu dis-Eu dis-Eu dis-Eu dis-Eu dis-se logo à senhora vereado-se logo à senhora vereado-se logo à senhora vereado-se logo à senhora vereado-se logo à senhora vereado-ra que a feira tinha morridora que a feira tinha morridora que a feira tinha morridora que a feira tinha morridora que a feira tinha morridonaquele dia e morreu mes-naquele dia e morreu mes-naquele dia e morreu mes-naquele dia e morreu mes-naquele dia e morreu mes-momomomomo”, comentou, salientando aimportância que aqueles certa-mes tinham para o turismo cal-dense. “Tínhamos sempreTínhamos sempreTínhamos sempreTínhamos sempreTínhamos sempreum grande volume de ven-um grande volume de ven-um grande volume de ven-um grande volume de ven-um grande volume de ven-das. Muita gente vinha dedas. Muita gente vinha dedas. Muita gente vinha dedas. Muita gente vinha dedas. Muita gente vinha defora e havia agricultores quefora e havia agricultores quefora e havia agricultores quefora e havia agricultores quefora e havia agricultores quevendiam a l i a produçãovendiam a l i a produçãovendiam a l i a produçãovendiam a l i a produçãovendiam a l i a produçãotodatodatodatodatoda”, recordou.

BOMBONDRICE TAMBÉMTEM CHOCOLATES COM

MALANDRICE

Durante sete anos mantive-ram a empresa, até que em 1993uma empresa concorrenteapresentou uma proposta (cujovalor o casal não quis revelar)para comprar os Licores Malan-drice, que foi aceite.

A Bombondrice começou ain-da no seio dos Licores Malan-drice. “Nós tínhamos muitaNós tínhamos muitaNós tínhamos muitaNós tínhamos muitaNós tínhamos muitafruta que sobrava da pro-fruta que sobrava da pro-fruta que sobrava da pro-fruta que sobrava da pro-fruta que sobrava da pro-dução do licor e começámosdução do licor e começámosdução do licor e começámosdução do licor e começámosdução do licor e começámosa pensar em formas de utili-a pensar em formas de utili-a pensar em formas de utili-a pensar em formas de utili-a pensar em formas de utili-zar aquilo que se deitavazar aquilo que se deitavazar aquilo que se deitavazar aquilo que se deitavazar aquilo que se deitavaforaforaforaforafora”, recorda-se Luís Serre-nho. Começaram então a fazerbombons com as frutas e aspêras bêbadas (tendo mais tar-de adoptado a designação depêras borrachonas para nãofazerem concorrência com a an-tiga empresa).

“Nessa altura fiz uma for-Nessa altura fiz uma for-Nessa altura fiz uma for-Nessa altura fiz uma for-Nessa altura fiz uma for-mação na área da transfor-mação na área da transfor-mação na área da transfor-mação na área da transfor-mação na área da transfor-mação do chocolate, commação do chocolate, commação do chocolate, commação do chocolate, commação do chocolate, comum pasteleiro que conhece-um pasteleiro que conhece-um pasteleiro que conhece-um pasteleiro que conhece-um pasteleiro que conhece-

mos numa feira na FIL e veiomos numa feira na FIL e veiomos numa feira na FIL e veiomos numa feira na FIL e veiomos numa feira na FIL e veioàs Caldas passar uma se-às Caldas passar uma se-às Caldas passar uma se-às Caldas passar uma se-às Caldas passar uma se-mana para nos ensinarmana para nos ensinarmana para nos ensinarmana para nos ensinarmana para nos ensinar”,contou Maria Teresa Serrenho,que tinha então 35 anos. Maistarde a empresária deslocou-se à Bélgica, de onde vem agrande parte da pasta de cho-colate que utilizam, para fazermais formação.

A 7 de Julho de 1994 é criadaa firma Bombondrice – Choco-lates e Bombons, Lda, tendocomo sócios únicos Maria Te-resa e Luís Serrenho, a desig-nação que ainda hoje se man-tém.

Para além dos bombons, aBombondrice passou a produ-zir compotas, doces, bolachas,tabletes de chocolate e outrosprodutos de confeitaria. “Fo-Fo-Fo-Fo-Fo-mos sempre adaptando-nosmos sempre adaptando-nosmos sempre adaptando-nosmos sempre adaptando-nosmos sempre adaptando-nosaos pedidos dos nossos cli-aos pedidos dos nossos cli-aos pedidos dos nossos cli-aos pedidos dos nossos cli-aos pedidos dos nossos cli-entes e criando novas ofer-entes e criando novas ofer-entes e criando novas ofer-entes e criando novas ofer-entes e criando novas ofer-tastastastastas”, referiu Luís Serrenho.

Alguns meses mais tarde de-cidem abrir uma loja ao públi-co na Praceta António Montez,onde já funcionava a unidadede produção. Em 1997, comoMaria Teresa Serrenho estavacom licença sem vencimento,apostou na abertura de umaloja na rua Raul Proença, com onome Chocolate, Doces e Doci-nhos. para poderem vender osprodutos da Bombondrice numlocal mais central.

Mas como entretanto preci-sava de voltar a dar aulas paranão perder o seu lugar, acaba-ram por trespassar a loja em2001. Desde 2002, quando assu-miu a direcção do Agrupamen-to de Escolas de Campelos, Te-resa Serrenho deixou a gestãoda Bombondrice, mas duranteos primeiros tempos era ques-tionada muitas vezes sobre si-tuações relacionadas com aprodução.

“Ao longo dos anos apos-Ao longo dos anos apos-Ao longo dos anos apos-Ao longo dos anos apos-Ao longo dos anos apos-támos sempre em produtostámos sempre em produtostámos sempre em produtostámos sempre em produtostámos sempre em produtostopo de gama, de elevadatopo de gama, de elevadatopo de gama, de elevadatopo de gama, de elevadatopo de gama, de elevadaqualidadequalidadequalidadequalidadequalidade”, tendo como baseas receitas tradicionais e fami-

Teresa Serrenho no Teresa Serrenho no Teresa Serrenho no Teresa Serrenho no Teresa Serrenho noCorreio da ManhãCorreio da ManhãCorreio da ManhãCorreio da ManhãCorreio da Manhã

Um aspecto da produção Um aspecto da produção Um aspecto da produção Um aspecto da produção Um aspecto da produçãofabrilfabrilfabrilfabrilfabril

Teresa Serrenho (filha) Teresa Serrenho (filha) Teresa Serrenho (filha) Teresa Serrenho (filha) Teresa Serrenho (filha)sucede aos pais no negóciosucede aos pais no negóciosucede aos pais no negóciosucede aos pais no negóciosucede aos pais no negócio

Bombondrice reabre ao público

19521952195219521952 – Nasce Luís Serrenho19561956195619561956 – Nasce Maria TeresaSerrenho19741974197419741974 – Maria Teresa e LuísSerrenho casam-se19751975197519751975 – É inaugurada a charcu-taria Pitau pelos irmãos Serre-nho, que viria a tornar-se umapapelaria19791979197919791979 – Nasce Teresa Serrenho,filha do casal19871987198719871987 – Começa a produção dosLicores Malandrice19931993199319931993 – O casal Serrenho ven-de a empresa Licores Malandri-ce19941994199419941994 – Registada a empresa

Vai reabrir ao público amanhã, 2 de Abril, a loja de venda ao público daBombondrice, na Praceta António Montez nº 8, que irá funcionar das 10h00às 19h00 durante os dias de semana e das 10h00 às 13h00 aos sábados.

Embora se dediquem principalmente à revenda, querem voltar a terum local nas Caldas onde possam vender directamente ao público osseus produtos. “Nós vendemos a nível nacional e começámos aNós vendemos a nível nacional e começámos aNós vendemos a nível nacional e começámos aNós vendemos a nível nacional e começámos aNós vendemos a nível nacional e começámos aperceber que localmente as pessoas não tinham oportunida-perceber que localmente as pessoas não tinham oportunida-perceber que localmente as pessoas não tinham oportunida-perceber que localmente as pessoas não tinham oportunida-perceber que localmente as pessoas não tinham oportunida-de de comprar os nossos produtosde de comprar os nossos produtosde de comprar os nossos produtosde de comprar os nossos produtosde de comprar os nossos produtos”, explicou Teresa Serrenho.

Há até pessoas da zona de Lisboa que vêm às Caldas e procuram aBombondrice para comprarem chocolates.

Toda a gama estará disponível para venda, o que acabará por servirtambém para testar novos produtos. Teresa Serrenho tem também planosde poder vir a criar lojas Bombondrice noutros pontos do país. “Para quePara quePara quePara quePara quepossamos ser conhecidos como uma marca de referência empossamos ser conhecidos como uma marca de referência empossamos ser conhecidos como uma marca de referência empossamos ser conhecidos como uma marca de referência empossamos ser conhecidos como uma marca de referência emtudo o que produzimos e não só em alguns produtostudo o que produzimos e não só em alguns produtostudo o que produzimos e não só em alguns produtostudo o que produzimos e não só em alguns produtostudo o que produzimos e não só em alguns produtos”, explicou.

No dia 15 de Maio vão também lançar um novo produto que ainda estáno segredo dos deuses. Será um bolo inspirado na história das Caldas,“que será vendido à unidade e que queremos que seja umque será vendido à unidade e que queremos que seja umque será vendido à unidade e que queremos que seja umque será vendido à unidade e que queremos que seja umque será vendido à unidade e que queremos que seja umsímbolo da nossa cidade, como acontece com outras locali-símbolo da nossa cidade, como acontece com outras locali-símbolo da nossa cidade, como acontece com outras locali-símbolo da nossa cidade, como acontece com outras locali-símbolo da nossa cidade, como acontece com outras locali-dadesdadesdadesdadesdades”, disse.

Esse doce será só vendido na loja da Bombondrice porque queremque seja consumido nas condições ideais.

Para além disso, continuam a apostar em parcerias, tendo recentementesido envolvidos num projecto de produção de chocolate biológico com a Her-dade de Carvalhoso (Montemor-o-Novo), e outro de exportação de doces.

PRESENÇA INDIRECTA NO FESTIVAL DE CHOCOLATE

Desde a primeira edição do Festival de Chocolate de Óbidos, em 2002,que os produtos da Bombondrice têm estado representados, de uma for-ma indirecta neste certame.

“Quando ouvimos falar pela primeira vez no festival fomosQuando ouvimos falar pela primeira vez no festival fomosQuando ouvimos falar pela primeira vez no festival fomosQuando ouvimos falar pela primeira vez no festival fomosQuando ouvimos falar pela primeira vez no festival fomosfalar com aquele senhor estrangeiro que iniciou a ideia parafalar com aquele senhor estrangeiro que iniciou a ideia parafalar com aquele senhor estrangeiro que iniciou a ideia parafalar com aquele senhor estrangeiro que iniciou a ideia parafalar com aquele senhor estrangeiro que iniciou a ideia paranos oferecermos para colaborar. Só que na altura a filosofianos oferecermos para colaborar. Só que na altura a filosofianos oferecermos para colaborar. Só que na altura a filosofianos oferecermos para colaborar. Só que na altura a filosofianos oferecermos para colaborar. Só que na altura a filosofiaera de algo muito técnico, com a presença de pasteleiros deera de algo muito técnico, com a presença de pasteleiros deera de algo muito técnico, com a presença de pasteleiros deera de algo muito técnico, com a presença de pasteleiros deera de algo muito técnico, com a presença de pasteleiros derenomerenomerenomerenomerenome”, lembra-se Maria Teresa Serrenho.

A venda dos produtos em chocolate da primeira edição do festival foientregue a um comerciante “que não sabia o que pôr na tenda queque não sabia o que pôr na tenda queque não sabia o que pôr na tenda queque não sabia o que pôr na tenda queque não sabia o que pôr na tenda quelhe destinaram e acabou por vir ter connosco para lhe forne-lhe destinaram e acabou por vir ter connosco para lhe forne-lhe destinaram e acabou por vir ter connosco para lhe forne-lhe destinaram e acabou por vir ter connosco para lhe forne-lhe destinaram e acabou por vir ter connosco para lhe forne-cermos os nossos produtoscermos os nossos produtoscermos os nossos produtoscermos os nossos produtoscermos os nossos produtos”. Foi um êxito.

Nas edições seguintes passaram a ser contactados por outros co-merciantes de Óbidos, que quiseram ter produtos em chocolate. Umadas ideias que lançaram, na segunda edição, foi a dos copos em choco-late para beber ginjinha.

O Festival do Chocolate acabou por dar um impulso nas vendas lo-cais. “Aqui nas Caldas praticamente pouco vendemosAqui nas Caldas praticamente pouco vendemosAqui nas Caldas praticamente pouco vendemosAqui nas Caldas praticamente pouco vendemosAqui nas Caldas praticamente pouco vendemos”, referiuMaria Teresa Serrenho.

A Bombondrice tem optado por não participar directamente no even-to a fim de não fazer concorrência aos seus clientes que são comerci-antes em Óbidos. Só chegaram a vender directamente as maçãs comchocolate, que tiveram muito sucesso. “Era também uma forma deEra também uma forma deEra também uma forma deEra também uma forma deEra também uma forma deescoar as nossas maçãs mais pequenas, fora de calibreescoar as nossas maçãs mais pequenas, fora de calibreescoar as nossas maçãs mais pequenas, fora de calibreescoar as nossas maçãs mais pequenas, fora de calibreescoar as nossas maçãs mais pequenas, fora de calibre”,referiu a empresária.

P.A.P.A.P.A.P.A.P.A.

CronologiaBombondrice, que nasceu an-teriormente no seio dos Lico-res Malandrice. Abre ao pú-blico a loja Bombondrice, naPraceta António Montez19971997199719971997 – Abre a loja Chocola-te, Doces e Docinhos, na ruaRaul Proença20012001200120012001 – Trespasse da lojaChocolate, Doces e Docinhos2010 2010 2010 2010 2010 – A filha Teresa Serre-nho passa a ser oficialmentegerente da Bombondrice20112011201120112011 – Está marcada para 2de Abril a reabertura da lojade venda ao público na Prace-ta António Montez

liares, não utilizando produtosquímicos artificiais, conservan-tes ou corantes.

TERESA SERRENHO SUCEDEUAOS PAIS

Em 2010 Luís Serrenho lan-çou o desafio à sua filha Tere-sa, que já trabalhava a tempointeiro na Bombondrice desde2002, para passar a gerir a em-presa. “Não quis continuarNão quis continuarNão quis continuarNão quis continuarNão quis continuarcom o ritmo de trabalho quecom o ritmo de trabalho quecom o ritmo de trabalho quecom o ritmo de trabalho quecom o ritmo de trabalho quetinhatinhatinhatinhatinha”, revelou o empresário,que continua a acompanhar ofuncionamento da sua “fábricade chocolates”, mas sem asresponsabilidades que assumiaaté ao ano passado. “SeriaSeriaSeriaSeriaSeriauma pena que depois deuma pena que depois deuma pena que depois deuma pena que depois deuma pena que depois detantos anos de esforço paratantos anos de esforço paratantos anos de esforço paratantos anos de esforço paratantos anos de esforço paracolocar este produto nocolocar este produto nocolocar este produto nocolocar este produto nocolocar este produto nomercado, não fosse dadamercado, não fosse dadamercado, não fosse dadamercado, não fosse dadamercado, não fosse dadacontinuidade à empresacontinuidade à empresacontinuidade à empresacontinuidade à empresacontinuidade à empresa”,disse.

Os outros dois filhos, Andréde 19 anos e Rita de 34 anos,sempre ajudaram o negócio defamília, mas decidiram seguiroutros caminhos. André Serre-nho está a frequentar uma li-cenciatura de Geografia na Uni-versidade Nova em Lisboa, eRita Serrenho é funcionáriabancária.

Teresa Serrenho (filha) nas-ceu em 1979 e desde sempre selembra de estar envolvida comos negócios dos pais. “Recor-Recor-Recor-Recor-Recor-do-me quando foi o incên-do-me quando foi o incên-do-me quando foi o incên-do-me quando foi o incên-do-me quando foi o incên-dio nos Licores... fiquei mui-dio nos Licores... fiquei mui-dio nos Licores... fiquei mui-dio nos Licores... fiquei mui-dio nos Licores... fiquei mui-to desgostosa porque ardeuto desgostosa porque ardeuto desgostosa porque ardeuto desgostosa porque ardeuto desgostosa porque ardeuum rádio com cassetes queum rádio com cassetes queum rádio com cassetes queum rádio com cassetes queum rádio com cassetes queera algo que ambicionavaera algo que ambicionavaera algo que ambicionavaera algo que ambicionavaera algo que ambicionavamuito ter e fiquei sem elemuito ter e fiquei sem elemuito ter e fiquei sem elemuito ter e fiquei sem elemuito ter e fiquei sem ele”,recordou.

Desde pequena que ela e osseus irmãos ajudaram os pais afazer os mais diversos traba-lhos. “Quando era a alturaQuando era a alturaQuando era a alturaQuando era a alturaQuando era a alturadas amoras , f icávamosdas amoras , f icávamosdas amoras , f icávamosdas amoras , f icávamosdas amoras , f icávamossempre com as mãos todassempre com as mãos todassempre com as mãos todassempre com as mãos todassempre com as mãos todasnegrasnegrasnegrasnegrasnegras”, lembra-se.

Teresa Serrenho chegou atrabalhar noutros locais, por-que queria ganhar algum di-nheiro para si e chegou a estu-dar na área da reabilitação fí-sica, mas acabou por voltar àempresa dos pais.

“Desde o ano passadoDesde o ano passadoDesde o ano passadoDesde o ano passadoDesde o ano passadoque tenho estado a pôr emque tenho estado a pôr emque tenho estado a pôr emque tenho estado a pôr emque tenho estado a pôr emprática aquilo que eu pensoprática aquilo que eu pensoprática aquilo que eu pensoprática aquilo que eu pensoprática aquilo que eu pensoque é melhor para a Bom-que é melhor para a Bom-que é melhor para a Bom-que é melhor para a Bom-que é melhor para a Bom-bondrice. Quero agarrarbondrice. Quero agarrarbondrice. Quero agarrarbondrice. Quero agarrarbondrice. Quero agarraresta oportunidade que tiveesta oportunidade que tiveesta oportunidade que tiveesta oportunidade que tiveesta oportunidade que tive”,referiu a nova gerente, que jáfez quase de tudo na empresa.

No total são cinco funcioná-rios, incluindo Teresa Serrenho,e a carteira de clientes tem cer-ca de mil contactos. A gerênciapreferiu não divulgar o volumede negócios em 2010, ano em quefizeram obras de remodelaçãonas instalações.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

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CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais18

UUUUUMAMAMAMAMA E E E E EMPRESAMPRESAMPRESAMPRESAMPRESA, V, V, V, V, VÁRIASÁRIASÁRIASÁRIASÁRIAS G G G G GERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕESERAÇÕES

A mercearia da Rua Direita que deu lugar a quatro lo

O fundador do negócio familiar, Ápio Matias Ribeiro O fundador do negócio familiar, Ápio Matias Ribeiro O fundador do negócio familiar, Ápio Matias Ribeiro O fundador do negócio familiar, Ápio Matias Ribeiro O fundador do negócio familiar, Ápio Matias Ribeiro(1921-2005) com a farda da Banda de Óbidos.(1921-2005) com a farda da Banda de Óbidos.(1921-2005) com a farda da Banda de Óbidos.(1921-2005) com a farda da Banda de Óbidos.(1921-2005) com a farda da Banda de Óbidos.

Rosa da Cunha Ferreira, à porta da mercearia, há dez Rosa da Cunha Ferreira, à porta da mercearia, há dez Rosa da Cunha Ferreira, à porta da mercearia, há dez Rosa da Cunha Ferreira, à porta da mercearia, há dez Rosa da Cunha Ferreira, à porta da mercearia, há dezanos com a única neta, Robyn, ao coloanos com a única neta, Robyn, ao coloanos com a única neta, Robyn, ao coloanos com a única neta, Robyn, ao coloanos com a única neta, Robyn, ao colo

Os irmãos Carlos e Isabel à porta da Loja do Vinho Os irmãos Carlos e Isabel à porta da Loja do Vinho Os irmãos Carlos e Isabel à porta da Loja do Vinho Os irmãos Carlos e Isabel à porta da Loja do Vinho Os irmãos Carlos e Isabel à porta da Loja do Vinho

Ápio Matias Ribeiro nasceu nodia de S. João (24 de Junho) de1921, na localidade de Amorei-ra, Óbidos. Filho de pessoas hu-mildes, ligadas ao campo, acom-panhou os pais até ir para a tro-pa, aos 18 anos, onde cumpriu oserviço militar na base aérea daOta.

Devido às poucas posses daaltura, vinha desde a base mili-tar até casa dos pais a pé, e re-gressava da mesma forma.

Depois de ter servido a Pá-tria, começou a aprender a pro-fissão de pedreiro com o tio,João Ribeiro, na altura um gran-de construtor civil, que tinhavárias obras espalhadas pelopaís. Ápio Ribeiro tornava-se,com o tempo, um mestre-de-obras à “antiga portuguesa”,que sabia trabalhar com o ci-mento, a pedra, a cantaria e amadeira, e que viria a construirdezenas de casas pelo conce-lho.

Aos 35 anos começa a traba-

lhar na construção civil por con-ta própria. É também nessa al-tura que deixa a localidade daAmoreira, pois adquirira umacasa em Óbidos, na Rua Direita.Trata-se de um prédio de pri-meiro andar, em que parte decima é para habitação e o rés-do-chão tem uma mercearia,que comprou a José Ferreira por“meia dúzia de contos de réis,“meia dúzia de contos de réis,“meia dúzia de contos de réis,“meia dúzia de contos de réis,“meia dúzia de contos de réis,num negócio conversado enum negócio conversado enum negócio conversado enum negócio conversado enum negócio conversado edepois fechado numa taver-depois fechado numa taver-depois fechado numa taver-depois fechado numa taver-depois fechado numa taver-na das Caldas da Rainha,na das Caldas da Rainha,na das Caldas da Rainha,na das Caldas da Rainha,na das Caldas da Rainha,debaixo de um vão de esca-debaixo de um vão de esca-debaixo de um vão de esca-debaixo de um vão de esca-debaixo de um vão de esca-da”, da”, da”, da”, da”, lembra o filho, Carlos Ri-beiro.

Ápio aplicar-se naquele ne-gócio e, além dos produtos demercearia, começa também avender gás. Foi nomeado agen-te da GazCidla (marca de distri-buição de gás butano) tendo in-troduzido o gás no concelho noconcelho de Óbidos.

De noite e de dia, o comerci-ante distribuía pelas várias lo-calidades as garrafas de gás

numa moto antiga com um car-rinho atrás.

Mais tarde, fruto do empenhoque tinha na distribuição de gáse venda dos equipamentos, foiconvidado pela empresa parafazer um curso de manutençãode aparelhos de queima de gás,em Lisboa, que lhe veio dar co-nhecimentos técnicos para fa-zer a assistência do equipamen-to que vendia. Ápio Ribeiro pas-sou também a reparar os fogõese esquentadores dos clientes, oque viria a dar um novo fôlegono desenvolvimento da merce-aria.

Nessa altura, e a par com amercearia, Ápio Ribeiro, conti-nuava a fazer trabalhos de cons-trução e manutenção de habi-tações e jardins. Foi numa des-sas casas para que trabalhava,a de Manuel de Melo Corrêa, queviria a conhecer a sua futuraesposa, Rosa da Cunha Ferrei-ra.

Nascida em 1922 no concelho

de Paredes de Coura (Minho),Rosa da Cunha Ferreira foi tra-balhar para Lisboa aos 14 anoscomo criada de servir da famíliaCorrêa. Óbidos começa a virar-se para o turismo e António Fer-ro (o homem da propaganda

durante o regime de Salazar,responsável pela Secretaria Re-gional do Turismo e Cultura)nomeia Manuel de Melo Corrêapara criar a rede de pousadasde Portugal. A família encanta-se por Óbidos, acaba por adqui-rir uma casa na vila e a empre-gada acompanha os patrões.

Ápio e Rosa casam-se em 1961e nessa altura passa a ser a es-posa a gerir a mercearia enquan-to o marido retoma a actividadeda construção civil, construindoedifícios um pouco por todo oconcelho.

A acção de Rosa foi marcan-te, revelam os filhos, destacan-do a organização que a proge-nitora imprimiu ao espaço, umamercearia típica portuguesaque vendia desde carvão, sapa-tos, petróleo, azeite, arroz, mas-

sas, açúcar e gás.“Era uma pessoa que es-“Era uma pessoa que es-“Era uma pessoa que es-“Era uma pessoa que es-“Era uma pessoa que es-

tava muito atenta e naqueletava muito atenta e naqueletava muito atenta e naqueletava muito atenta e naqueletava muito atenta e naqueletempo havia o problema dostempo havia o problema dostempo havia o problema dostempo havia o problema dostempo havia o problema doscréditos”créditos”créditos”créditos”créditos”, lembra Carlos Ribei-ro, especificando que a mãepossuía um pequeno livro ondeapontava o que as pessoas com-pravam (uma quarta de arroz,uma quarta de colorau ou umdecilitro de azeite, por exemplo)que normalmente só era pagono final do mês.

Carlos e Isabel Ribeiro recor-dam também que a mãe, umacozinheira exímia, chegou a aju-dar muitos soldados da GNR queestavam sediados em Óbidos,ensinando-lhes a cozinhar etambém oferecendo-lhes ali-mentos, pois estes recebiamsalários muito baixos.

“A mãe nunca deixou que“A mãe nunca deixou que“A mãe nunca deixou que“A mãe nunca deixou que“A mãe nunca deixou que

Há mais de meio século que a família Ribeiro é detentora de uma loja na Rua Direita, em Óbidos.Adquirida por Ápio Matias Ribeiro (1921- 2005) ao seu antigo proprietário num “negócio de vão de“negócio de vão de“negócio de vão de“negócio de vão de“negócio de vão deescada”escada”escada”escada”escada” a actividade prosperou e soube adaptar-se ao mudar dos tempos.Em finais da década de 50 do século passado, foi Ápio Ribeiro quem introduziu o gás no concelho,tornando-se o primeiro estabelecimento a representar a Gaz Cidla. De tradicional mercearia de rua,que vendia desde carvão a petróleo, passando pelos bens alimentícios, o espaço comercial viria atransformar-se no início da década de 90 na primeira garrafeira de Óbidos.Há cerca de três anos, os filhos do casal Ribeiro, Carlos e Isabel, deram um novo fôlego ao espaço, aocriar o conceito Grupo Loja. O rés-do-chão do espaço situado no coração da Rua Direita engloba agoraas Lojas da Cerâmica, do Vinho, da Ginja e do Chocolate.O objectivo passa por “adaptarmo-nos à realidade dos tempos actuais para que este negócio“adaptarmo-nos à realidade dos tempos actuais para que este negócio“adaptarmo-nos à realidade dos tempos actuais para que este negócio“adaptarmo-nos à realidade dos tempos actuais para que este negócio“adaptarmo-nos à realidade dos tempos actuais para que este negóciofamiliar se possa manter”familiar se possa manter”familiar se possa manter”familiar se possa manter”familiar se possa manter”, realça Carlos Ribeiro, que gere actualmente o espaço, juntamente com asua irmã, Isabel.

Os estabelecimentos comerciais da família Ribeiro fica situado no coração da Rua DireitaOs estabelecimentos comerciais da família Ribeiro fica situado no coração da Rua DireitaOs estabelecimentos comerciais da família Ribeiro fica situado no coração da Rua DireitaOs estabelecimentos comerciais da família Ribeiro fica situado no coração da Rua DireitaOs estabelecimentos comerciais da família Ribeiro fica situado no coração da Rua Direita

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19CentraisCentraisCentraisCentraisCentrais

ojas especializadas

A Loja do Chocolate e a Loja da Cerâmica foram os últimos espaços a ser criados no lugar da antiga mercearia. A Loja do Chocolate e a Loja da Cerâmica foram os últimos espaços a ser criados no lugar da antiga mercearia. A Loja do Chocolate e a Loja da Cerâmica foram os últimos espaços a ser criados no lugar da antiga mercearia. A Loja do Chocolate e a Loja da Cerâmica foram os últimos espaços a ser criados no lugar da antiga mercearia. A Loja do Chocolate e a Loja da Cerâmica foram os últimos espaços a ser criados no lugar da antiga mercearia.

houvesse fome na casa dashouvesse fome na casa dashouvesse fome na casa dashouvesse fome na casa dashouvesse fome na casa daspessoas por não haver di-pessoas por não haver di-pessoas por não haver di-pessoas por não haver di-pessoas por não haver di-nheiro para pagar”nheiro para pagar”nheiro para pagar”nheiro para pagar”nheiro para pagar”, conta afilha Isabel, realçando que esta“segurou as pontas” de muitasfamílias locais.

Mais tarde, e já após o 25 deAbril, no primeiro mandato deMário Soares como Presidenteda República (1986 a 1991), este-ve em Óbidos uma equipa paraproduzir um filme luso-brasilei-ro. Passado algum tempo, estescomeçam a demonstrar dificul-dades económicas e Rosa daCunha Ferreira, com pena de-les, não só os ensinou a cozi-nhar como lhes fiou a comida.

O problema foi quando seapercebeu que eles estavam departida e tinham uma dívida namercearia de cerca de 100 con-tos (500 euros). Teve então queir o filho, Carlos, falar com osresponsáveis da produtora, queacabaram por regularizar ascontas.

O casal viria a divorciar-se em1987. Rosa da Cunha Ferreira ficaproprietária da mercearia, eÁpio Ribeiro dedica-se exclusi-vamente à construção civil.

A APOSTA NOS PRODUTOSDA REGIÃO E A SUA

VALORIZAÇÃO

Os filhos, Carlos e Isabel, ac-tualmente com 49 e 46 anos, res-pectivamente, foram criados namercearia. Lembram-se de, empequenos, brincarem na loja e“meter o dedo na arca do“meter o dedo na arca do“meter o dedo na arca do“meter o dedo na arca do“meter o dedo na arca doaçúcar”açúcar”açúcar”açúcar”açúcar”.

A mãe, que também era umadoceira de mão cheia, criou os“bolinhos da D. Rosa” que inici-almente eram vendidos numapastelaria das Caldas junto àPraça da Fruta e, mais tarde,apenas na mercearia de Óbidos.

Isabel Ribeiro começa por tra-balhar numa loja na vila e, em1991, então com 26 anos, regres-sa à mercearia da família para

19211921192119211921 – Nasce Ápio MatiasRibeiro na localidade daAmoreira (Óbidos)

19561956195619561956 – Adquire uma mer-cearia na Rua Direita, quemantém, a par da activida-de na construção civil

19611961196119611961 – Ápio Matias e RosaFerreira casam, passando aesposa a ser responsávelpela mercearia

19621962196219621962 – Nasce o primeiro fi-lho, Carlos Ribeiro

19651965196519651965 – Nasce Isabel Ribei-ro

19871987198719871987 – O casal separa-se eo espaço comercial passa aser propriedade de RosaFerreira

19911991199119911991 – A filha, Isabel Ri-beiro, passa a exercer fun-ções de gestão no estabele-cimento

19941994199419941994 – Abre a Loja do Vi-nho, a primeira garrafeira deÓbidos

20082008200820082008- Carlos e Isabel cri-am o conceito Grupo Loja,transformando a merceariaem quatro espaços comer-ciais especializados

assumir as responsabilidades degestão do negócio. A mãe, en-tão com 68 anos, continuava aajudá-la.

Vivia-se uma altura um boca-do “dramática”“dramática”“dramática”“dramática”“dramática”, lembra, refe-rindo-se ao aparecimento dasgrandes superfícies na região.De repente, o que era até entãoum negócio sólido de merceariacomeça a perder os clientes fi-delizados - as pessoas de Óbi-dos - que começam a ir comprarmais barato e com maior esco-lha nesses espaços.

Para combater essa “concor-“concor-“concor-“concor-“concor-rência desleal”rência desleal”rência desleal”rência desleal”rência desleal” começam avender vinhos e algum artesa-nato, nomeadamente peças decerâmica da Bordalo Pinheiro,aos turistas que visitam Óbidos.

De quatro prateleiras comginja e vinhos de Óbidos, o es-paço transforma-se na Loja doVinho em Julho de 1994, ficandoos bens alimentares a ocupar umespaço mais diminuto. A deco-ração é feita pelos próprios ir-mãos, que pegam em algumasantiguidades que detinham e asdispõem pelas paredes, dandorelevo e importância às prate-leiras agora repletas de garra-fas.

“Foi assim que começou a“Foi assim que começou a“Foi assim que começou a“Foi assim que começou a“Foi assim que começou aprimeira garrafeira de Óbi-primeira garrafeira de Óbi-primeira garrafeira de Óbi-primeira garrafeira de Óbi-primeira garrafeira de Óbi-dos e foi esse negócio quedos e foi esse negócio quedos e foi esse negócio quedos e foi esse negócio quedos e foi esse negócio quesegurou a casa”,segurou a casa”,segurou a casa”,segurou a casa”,segurou a casa”, refere Isa-bel Ribeiro, destacando que alisempre houve uma aposta mui-to forte nos vinhos da região.Quando um cliente chega e pedeum vinho, “temos a preocupa-“temos a preocupa-“temos a preocupa-“temos a preocupa-“temos a preocupa-ção de indicar, em primeiroção de indicar, em primeiroção de indicar, em primeiroção de indicar, em primeiroção de indicar, em primeirolugar, os vinhos da região elugar, os vinhos da região elugar, os vinhos da região elugar, os vinhos da região elugar, os vinhos da região etambém as suas caracterís-também as suas caracterís-também as suas caracterís-também as suas caracterís-também as suas caracterís-ticas”ticas”ticas”ticas”ticas”, acrescenta, realçandoque os produzidos na Compa-nhia Agrícola do Sanguinhal têmum lugar de destaque.

Carlos Ribeiro, depois decumprir o serviço militar, crioua empresa de eventos ligada aosector automóvel Promóbidos, aque esteve ligado durante cer-

Uma vida dedicada ao voluntariadoÁpio Ribeiro era um homem

bastante ligado ao associativis-mo. Foi voluntário durante mui-tos anos nos Bombeiros de Óbi-dos, tendo chegado a ajudantede comando. “Foi uma figura“Foi uma figura“Foi uma figura“Foi uma figura“Foi uma figuramuito querida no concelhomuito querida no concelhomuito querida no concelhomuito querida no concelhomuito querida no concelhoporque foi condutor de mui-porque foi condutor de mui-porque foi condutor de mui-porque foi condutor de mui-porque foi condutor de mui-tas das pessoas que iamtas das pessoas que iamtas das pessoas que iamtas das pessoas que iamtas das pessoas que iampara o hospital de ambulân-para o hospital de ambulân-para o hospital de ambulân-para o hospital de ambulân-para o hospital de ambulân-cia”cia”cia”cia”cia”, recorda a filha.

Outra das suas paixões foi amúsica. Elemento da Socieda-

de Musical e Recreativa Obiden-se, teve um papel fundamentalno recomeçar desta colectivida-de, após um período mais con-turbado. Nessa altura, Ápio Ri-beiro e o seu amigo Aires deCastro foram a Lisboa “bater à“bater à“bater à“bater à“bater àporta”porta”porta”porta”porta” de diversas entidades econseguiram angariar fundospara reactivar a banda, comprarinstrumentos e fardamentos.

Ápio Ribeiro também perten-ceu à Santa Casa da Misericór-

dia de Óbidos e era assíduo par-ticipante, e organizador, dascerimónias da Semana Santa.

“Era uma pessoa que gos-“Era uma pessoa que gos-“Era uma pessoa que gos-“Era uma pessoa que gos-“Era uma pessoa que gos-tava de ajudar”tava de ajudar”tava de ajudar”tava de ajudar”tava de ajudar”, resumem osfilhos, lembrando que ainda hojeacontece chegarem a localida-des do concelho e as pessoasreconhecerem-nos: “Olha! OsOlha! OsOlha! OsOlha! OsOlha! Osfilhos do Ápio!”filhos do Ápio!”filhos do Ápio!”filhos do Ápio!”filhos do Ápio!”

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

Ápio Ribeiro Ápio Ribeiro Ápio Ribeiro Ápio Ribeiro Ápio Ribeiro

ca de 20 anos. Paralelamente,com a esposa, Jane Ribeiro,criou o English Centre, nas Cal-das da Rainha, há 24 anos.

Entretanto, há cerca de trêsanos, passou a dedicar-se à ges-tão e consultadoria e começoua reformular, juntamente com airmã, a mercearia, numa tenta-tiva de lhe dar mais eficácia econtinuidade. A mãe, actual-mente com 88 anos, encontra-se num lar de idosos.

A tradicional mercearia derua começa a dar lugar ao Gru-po Loja, um conceito que com-preende a existência de quatroespaços distintos, embora liga-dos entre si: a Loja do Vinho, aLoja da Ginja, a Loja da Cerâmi-ca e a Loja do Chocolate.

Nesta casa foram sempre ins-tigadores da venda da ginja deÓbidos, possuindo relações pri-vilegiadas com os dois produto-res deste licor existentes no con-celho, a Frutóbidos e Dário Pim-pão, que produz a marca Oppi-dum. Isabel Ribeiro foi a respon-sável pela promoção da ginja, hácerca de duas décadas, quandoaquele produto era normalmen-te consumido nos bares de Óbi-dos e não havia o hábito da suacompra em garrafa.

“Não era uma bebida va- “Não era uma bebida va- “Não era uma bebida va- “Não era uma bebida va- “Não era uma bebida va-lorizada, com a notoriedadelorizada, com a notoriedadelorizada, com a notoriedadelorizada, com a notoriedadelorizada, com a notoriedadeque agora tem”que agora tem”que agora tem”que agora tem”que agora tem”, conta a em-

presária, que para dar aindamais destaque à ginja e seusderivados, criou um espaço quelhe é exclusivamente dedicado.

Já a Loja do Chocolate, queabriu no final do ano passado,aposta forte neste produto ecriou, em parceria com o seufornecedor Bombondrice (Cal-das da Rainha), o chocolate deÓbidos com diversas variantes.Com esta inovação, os respon-sáveis procuraram dar respostaaos pedidos dos visitantes paraencontrar chocolate à vendadurante todo o ano e não ape-nas durante o Festival do Cho-colate.

Vende também a ginjad’Óbidos em copos de chocola-te. A tradição nasceu ali mesmono primeiro festival de chocola-te e, desde logo começaram a“sentir que o público queriasentir que o público queriasentir que o público queriasentir que o público queriasentir que o público queriaeste produto, pelo que o man-este produto, pelo que o man-este produto, pelo que o man-este produto, pelo que o man-este produto, pelo que o man-tivemos e tem sido tambémtivemos e tem sido tambémtivemos e tem sido tambémtivemos e tem sido tambémtivemos e tem sido tambémaproveitado por muitos ou-aproveitado por muitos ou-aproveitado por muitos ou-aproveitado por muitos ou-aproveitado por muitos ou-tros comerciantes por todotros comerciantes por todotros comerciantes por todotros comerciantes por todotros comerciantes por todoo país”o país”o país”o país”o país”, diz Isabel Ribeiro.

Outro dos novos espaços, é aLoja da Cerâmica, que se dedi-ca em exclusivo à venda de pe-ças produzidas na fábrica defaianças Bordalo Pinheiro.

Aos clientes, os gerentes dosespaços apresentam instalaçõesmais modernas e uma ofertamais variada de produtos que

permitam a subsistência do ne-gócio, “sobretudo neste perí-“sobretudo neste perí-“sobretudo neste perí-“sobretudo neste perí-“sobretudo neste perí-odo em que estamos a as-odo em que estamos a as-odo em que estamos a as-odo em que estamos a as-odo em que estamos a as-sistir a uma perda flagrantesistir a uma perda flagrantesistir a uma perda flagrantesistir a uma perda flagrantesistir a uma perda flagrantedo poder de compra por par-do poder de compra por par-do poder de compra por par-do poder de compra por par-do poder de compra por par-te dos clientes portugueses,te dos clientes portugueses,te dos clientes portugueses,te dos clientes portugueses,te dos clientes portugueses,a registar menos clientes es-a registar menos clientes es-a registar menos clientes es-a registar menos clientes es-a registar menos clientes es-trangeiros e que tambémtrangeiros e que tambémtrangeiros e que tambémtrangeiros e que tambémtrangeiros e que tambémcompram menos”compram menos”compram menos”compram menos”compram menos”, explicouCarlos Ribeiro.

Houve também uma apostana melhoria do atendimentopúblico para que as “pessoas“pessoas“pessoas“pessoas“pessoasse sintam ainda mais bemse sintam ainda mais bemse sintam ainda mais bemse sintam ainda mais bemse sintam ainda mais bemrecebidas dentro das nos-recebidas dentro das nos-recebidas dentro das nos-recebidas dentro das nos-recebidas dentro das nos-sas instalações”sas instalações”sas instalações”sas instalações”sas instalações”, acrescentaa irmã, Isabel.

Os responsáveis preferiramnão divulgar o volume de factu-ração obtido em 2010, referindoapenas que este foi “à justa“à justa“à justa“à justa“à justapara pagar os compromis-para pagar os compromis-para pagar os compromis-para pagar os compromis-para pagar os compromis-sos e não ficar a dever nadasos e não ficar a dever nadasos e não ficar a dever nadasos e não ficar a dever nadasos e não ficar a dever nadaa ninga ninga ninga ninga ninguém”uém”uém”uém”uém”.

Com a criação do conceitoGrupo Loja pretendem dar conti-nuidade a um “pequeno negó-“pequeno negó-“pequeno negó-“pequeno negó-“pequeno negó-cio de cariz familiar que estácio de cariz familiar que estácio de cariz familiar que estácio de cariz familiar que estácio de cariz familiar que estána segunda geração, manterna segunda geração, manterna segunda geração, manterna segunda geração, manterna segunda geração, manteros dois postos de trabalho e,os dois postos de trabalho e,os dois postos de trabalho e,os dois postos de trabalho e,os dois postos de trabalho e,com criatividade, imaginaçãocom criatividade, imaginaçãocom criatividade, imaginaçãocom criatividade, imaginaçãocom criatividade, imaginaçãoe sentido de oportunidade,e sentido de oportunidade,e sentido de oportunidade,e sentido de oportunidade,e sentido de oportunidade,permitir que o negócio sepermitir que o negócio sepermitir que o negócio sepermitir que o negócio sepermitir que o negócio semantenha para o futuro”mantenha para o futuro”mantenha para o futuro”mantenha para o futuro”mantenha para o futuro”, re-sume Carlos Ribeiro.

Fátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima FerreiraFátima [email protected]

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