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A educação ambiental como ferramenta de mobilização social no processo de implementação do Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena (Mato Grosso do Sul, Brasil) Elionete de Castro Garzoni <[email protected]> Angela Pellin ( USP ) <[email protected]> Resumo: A Educação Ambiental propõe o estímulo a uma consciência crítica, visando um resgate da postura ética e modificações de nossas atitudes em relação ao meio. Configura-se como um processo transformador que pode contribuir na implementação de um Corredor de Biodiversidade, já que o mesmo só se efetiva à medida que os moradores da região tomam parte no processo. Este artigo relata as ações de Educação Ambiental do Projeto Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena/MS, as quais ocorreram em cinco municípios. Foram realizadas diversas oficinas, totalizando 84 horas de atividades e com a participação de 166 pessoas. Entre os resultados está a construção coletiva de um Plano de Ação em Educação Ambiental – PAEA para cada município, a partir da utilização da metodologia da Oficina de Futuro – Agenda 21 do Pedaço e demais práticas participativas de dinâmicas de grupo. O envolvimento ativo dos sujeitos, estimulado por atividades lúdicas, viabilizou o respeito às leituras da comunidade local sobre as experiências, prioridades, disponibilidades e dificuldades pertinentes a cada realidade municipal, bem como conferiu veracidade ao PAEA. Desta forma, a Educação Ambiental mostrou-se como mais uma ferramenta na implementação deste Corredor, funcionando como estratégia de mobilização e estímulo ao empoderamento dos sujeitos locais. Palavras-chave: Conservação ambiental, Metodologias participativas, Oficina de Futuro, Participação comunitária. 1. A Educação Ambiental e a participação comunitária A conservação do meio ambiente é uma preocupação bastante antiga e que, nas últimas décadas, vem sendo discutida em diversas esferas da sociedade, em diferentes escalas, e por motivos igualmente distintos, perpassando cada vez mais pelas questões econômicas e suas derivadas, como, por exemplo, o consumo desenfreado da sociedade capitalista. Para muitos a manutenção da biodiversidade do planeta e a conservação dos chamados recursos naturais não configuram motivo suficiente para qualquer engajamento efetivo em prol do ambiente natural. Entretanto, a condição atual nos impõe novos dilemas, quando a destruição da natureza já tem resultado na criação de condições inadequadas para a própria espécie humana. Proporcionar mudanças neste cenário implica na necessidade de uma estratégia, ferramenta ou instrumento capaz de, senão reverter, frear esse processo: é onde a Educação Ambiental (EA) vem contribuir. De caráter absolutamente transformador, ela procura modificar as atitudes individuais em relação ao meio, resgatando uma postura ética e uma visão holística, que certamente contribuirão na construção de uma melhor qualidade de vida aos habitantes do planeta Terra. Para Dias (1998, p. 27), um conceito bastante antigo, mas válido até os dias atuais foi o formulado durante a Conferência Intergovernamental de Tbilisi, na Geórgia, em 1977: 69 INGEPRO Inovação, Gestão e Produção Junho de 2010, vol. 02, n o . 06 ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br

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A educação ambiental como ferramenta de mobilização social no processo de implementação do Corredor de Biodiversidade Miranda –

Serra da Bodoquena (Mato Grosso do Sul, Brasil)

Elionete de Castro Garzoni <[email protected]>Angela Pellin ( USP ) <[email protected]>

Resumo: A Educação Ambiental propõe o estímulo a uma consciência crítica, visando um resgate da postura ética e modificações de nossas atitudes em relação ao meio. Configura-se como um processo transformador que pode contribuir na implementação de um Corredor de Biodiversidade, já que o mesmo só se efetiva à medida que os moradores da região tomam parte no processo. Este artigo relata as ações de Educação Ambiental do Projeto Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena/MS, as quais ocorreram em cinco municípios. Foram realizadas diversas oficinas, totalizando 84 horas de atividades e com a participação de 166 pessoas. Entre os resultados está a construção coletiva de um Plano de Ação em Educação Ambiental – PAEA para cada município, a partir da utilização da metodologia da Oficina de Futuro – Agenda 21 do Pedaço e demais práticas participativas de dinâmicas de grupo. O envolvimento ativo dos sujeitos, estimulado por atividades lúdicas, viabilizou o respeito às leituras da comunidade local sobre as experiências, prioridades, disponibilidades e dificuldades pertinentes a cada realidade municipal, bem como conferiu veracidade ao PAEA. Desta forma, a Educação Ambiental mostrou-se como mais uma ferramenta na implementação deste Corredor, funcionando como estratégia de mobilização e estímulo ao empoderamento dos sujeitos locais.Palavras-chave: Conservação ambiental, Metodologias participativas, Oficina de Futuro, Participação comunitária.

1. A Educação Ambiental e a participação comunitária

A conservação do meio ambiente é uma preocupação bastante antiga e que, nas últimas décadas, vem sendo discutida em diversas esferas da sociedade, em diferentes escalas, e por motivos igualmente distintos, perpassando cada vez mais pelas questões econômicas e suas derivadas, como, por exemplo, o consumo desenfreado da sociedade capitalista. Para muitos a manutenção da biodiversidade do planeta e a conservação dos chamados recursos naturais não configuram motivo suficiente para qualquer engajamento efetivo em prol do ambiente natural.

Entretanto, a condição atual nos impõe novos dilemas, quando a destruição da natureza já tem resultado na criação de condições inadequadas para a própria espécie humana. Proporcionar mudanças neste cenário implica na necessidade de uma estratégia, ferramenta ou instrumento capaz de, senão reverter, frear esse processo: é onde a Educação Ambiental (EA) vem contribuir. De caráter absolutamente transformador, ela procura modificar as atitudes individuais em relação ao meio, resgatando uma postura ética e uma visão holística, que certamente contribuirão na construção de uma melhor qualidade de vida aos habitantes do planeta Terra.

Para Dias (1998, p. 27), um conceito bastante antigo, mas válido até os dias atuais foi o formulado durante a Conferência Intergovernamental de Tbilisi, na Geórgia, em 1977:

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A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida.

Além de agregar diferentes dimensões, como: social, política, econômica, cultural e histórica, a EA se propõe a clarear e reforçar as relações de interdependência entre o homem e o meio ambiente, a valorizar a atitude cidadã e a vivenciar a holisticidade, com o intuito de ter sujeitos co-responsáveis e pró-ativos na construção de um mundo com melhor qualidade de vida para todos os seres vivos. Para tanto, faz-se imprescindível que se proporcione o acesso à informação e, especialmente, oportunidades para que as pessoas vivenciem tal experiência e, de fato, contribuam na construção desses novos valores, tão almejados.

Morin (1997, apud GUIMARÃES, 2003, p. 99) recorda que “nossa educação nos ensinou a separar e a isolar as coisas” e, neste momento histórico, o legado dessa fragmentação da sociedade gerou a atual crise, a qual Unger (1991) se refere como a dissociação de corpo e espírito, luz e mistério, ser humano e Cosmos. Mas, se a palavra “crise” vem do grego krinein: decidir, discernir; talvez todos esses questionamentos se façam necessários para reverter o processo vivido na contemporaneidade, quando a proposta é de uma profunda transformação da vivência dos seres humanos no planeta Terra, a partir de sua capacidade de maravilhar-se com o mundo (UNGER, 1991).

Faz-se necessário então o urgente trabalho de juntar todas os elementos e ligar todos os pontos dessa teia da vida, para termos a real dimensão do nosso papel enquanto peças dessa engrenagem maior, o próprio planeta Terra. É o chamado “re-encantamento do mundo”, que visa resgatar certa sacralidade em relação ao meio natural, garantindo um respeito mínimo que permitirá nos manter vivos no planeta, que é também o empenho do movimento ambientalista (UNGER, 1991).

Neste sentido a Educação Ambiental constitui grande aliada, e tenta suprir uma lacuna, pois, partindo da realidade local e das referências antropológicas e sociais da comunidade a ser trabalhada, ela visa agregar valor no processo de conservação ambiental, reforçando que somente ele será capaz de conservar a espécie humana no planeta. Todavia, esse exercício do cuidado está intrinsecamente ligado aos laços afetivos que são estabelecidos com os lugares onde vivemos. A tomada de consciência em relação ao ambiente e da postura pró ativa dela advinda somente poderão ser verificadas à medida que uma relação anteriormente estabelecida com o espaço geográfico onde se vive.

Castells (1999, apud BERNARDES; FERREIRA, 2003, p. 31-32) define ambientalismo como “as formas de comportamento que, tanto em seu discurso como em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante”, entretanto, quando descreve a principal forma de ambientalismo entende-a como “a mobilização de comunidades em defesa de seu espaço geográfico e contrárias à devastação do meio natural em nível local [...]visando impedir a degradação de seus locais de moradia e trabalho”. Assim, a luta das comunidades por preservar o bem-estar de sua localidade pode ser entendida como manifestação ambientalista, e, conforme Orellana (1985), é a cultura de um povo, suas aspirações e desejos e seu modo de vida, ou seja, a noção de espaço e ambiente adquirida através das gerações, ditarão como ele se relaciona com o meio.

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Dessa forma, se a prática do ambientalismo pressupõe uma relação de pertencimento, de identidade com o local, podemos entender que as pessoas não se furtariam em tomar parte nos processos decisórios que ali ocorrem. Martins (2002) entende a participação comunitária como um desafio para que o desenvolvimento local aconteça, por estarmos distantes “da cidadania, da identificação sociocultural e territorial e do sentido de vizinhança”. Entretanto somente o exercício da participação poderá contrapor esta situação e transformá-la.

Conforme afirma Bordenave (1994), a participação faz crescer a consciência crítica dos cidadãos, fortalecendo seu poder em sociedade e viabilizando a solução de problemas que não seriam possíveis individualmente. Além disso, para o autor a participação seria o caminho mais adequado no enfrentamento dos complexos desafios dos países em desenvolvimento, bem como configura uma preparação para o exercício de cidadania na sociedade global.

Hermman e Costa (2000) entendem que a gestão participativa aparece como nova opção, permitindo à sociedade civil potencializar suas capacidades e seus conhecimentos, além de contribuir para a conservação dos recursos envolvidos. Contudo, apesar da premissa de que os processos que têm na sustentabilidade seu objetivo final não poderem desconsiderar a população envolvida e suas referências culturais, nem sempre a comunidade sente-se preparada para os processos participativos, quer porque estes implicam em compartilhamento de novas responsabilidades, quer pela falta de hábito em ter sua opinião considerada nos processos decisórios da sociedade. Martins (2002, p. 52) entende a participação comunitária como um desafio para que o desenvolvimento local aconteça, por estarmos distantes “da cidadania, da identificação sociocultural e territorial e do sentido de vizinhança”.

Entretanto somente o exercício da participação poderá contrapor esta situação e transformá-la. Conforme afirma Bordenave (1994), a participação fortalece o poder de reivindicação da população preparando-a para exercer mais poder social. E, para Toledo e Mitraud (2003) somente a participação da população local no processo decisório poderá assegurar a legitimidade, a representatividade e o sucesso do projeto.

Por partilhar dessa visão, a Fundação Neotrópica do Brasil, instituição parceira da Conservação Internacional do Brasil no processo de implementação do Corredor de Biodiversidade Miranda-Serra da Bodoquena (CBMSB), optou pela realização de oficinas de educação ambiental, com vistas à mobilização e capacitação dos sujeitos locais, além da integração entre os educadores ambientais de cada município, o esclarecimento de conceitos pertinentes ao tema e a construção coletiva de planos municipais de educação ambiental.

Tais oficinas são o tema do presente artigo que tem o objetivo de apresentar e discutir os resultados alcançados pelas oficinas de educação ambiental que configuraram uma primeira etapa do componente de mobilização e capacitação do Projeto CBMSB, assim como a importância dessa iniciativa no seu processo de implementação.

2. O Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena

Muitas são as alterações no ambiente natural decorrentes da intensa exploração dos recursos naturais pelos seres humanos, entre elas a perda de hábitat e o isolamento dos remanescentes de florestas, quer pelas atividades agrícolas, pela implantação de projetos de desenvolvimento ou pela expansão urbana (Pellin, 2006a). A criação de áreas naturais protegidas é uma das principais estratégias de conservação da biodiversidade in situ. Há, entretanto, alternativas que integram conservação e planejamento regional, destacando-se os Corredores de Biodiversidade.

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Os Corredores de Biodiversidade são grandes unidades de planejamento que têm como principal objetivo compatibilizar a conservação da natureza com um desenvolvimento econômico ambientalmente responsável e mais adequado às características sociais da região. Além disso, nesses espaços as atividades humanas devem ser desenvolvidas visando manter ou restaurar a ligação entre as áreas naturais e garantir a sobrevivência do maior número de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas em longo prazo (AYRES et al., 2005). Esse é um grande desafio, que exige uma base sólida de conhecimentos sobre a diversidade e distribuição de espécies, populações e comunidades biológicas da região, a qual deve ser analisada conjuntamente com as informações sobre a ocupação do território, características sociais e econômicas relevantes e políticas públicas à que a região está submetida (PELLIN, 2006).

A idéia de criação de um Corredor de Biodiversidade no Cerrado e Pantanal surgiu a partir das indicações do “Workshop Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e do Pantanal”, realizado no ano de 1998, devido à identificação da presença de ameaças, mas também oportunidades para a conservação da região. Assumindo esse desafio, a Conservação Internacional do Brasil iniciou os trabalhos para implantação de um Corredor de Biodiversidade que possibilitasse a conectividade desses dois ecossistemas (SEIXAS, 2005).

Por se tratar de uma área bastante extensa, o que dificultava as ações de implementação do mesmo, o Corredor Cerrado – Pantanal foi dividido em quatro corredores menores: Corredor Serra de Maracajú – Negro; Corredor Miranda – Serra da Bodoquena, Corredor Cuiabá – São Lourenço, Corredor Emas – Taquari. No ano de 2004, a Fundação Neotrópica do Brasil passou a ser parceira da Conservação Internacional na Implantação do Corredor Miranda – Serra da Bodoquena. As atividades desenvolvidas estão subdivididas em quatro linhas de ação: ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade e sócio-economia; incentivo à conservação da natureza em áreas naturais públicas e privadas; incentivo à gestão ambiental nos municípios do Corredor; e divulgação das ações do projeto e mobilização da sociedade (PELLIN, 2006).

O Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena (Figura 1) ocupa uma posição estratégica no continente sul-americano por estar em uma área de contato entre os biomas brasileiros Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e o Chaco úmido, o que lhe confere uma alta relevância quanto a padrões biogeográficos de fauna e flora. Além disso, características regionais também contribuem para sua relevância ambiental, como a presença da Serra da Bodoquena, uma importante zona de recarga de aqüífero e divisor de águas que abastece as principais bacias hidrográficas da região, e ainda abriga o maior remanescente de Floresta Estacional Decidual do Estado do Mato Grosso do Sul. Inserida na bacia hidrográfica do rio Paraguai, sub-bacias dos rios Nabileque, Miranda e Apa, a área denominada CBMSB compreende cerca de 4.254.776,20 ha, distribuídos em 06 (seis) municípios, quais sejam: Bodoquena, Bonito, Jardim, Miranda, Nioaque e Porto Murtinho, no Estado de Mato Grosso do Sul (PELLIN, 2006).

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FIGURA 1 – Mapa localizando o CBMSB na América do Sul, Brasil e Estado de Mato Grosso do Sul, apresentando seus limites e os municípios que o compõe.

2. Metodologia

Para realização de tais oficinas, inicialmente foram feitos contatos com as Secretarias Municipais das pastas de Educação e Meio Ambiente que apoiaram o projeto tanto mobilizando educadores ambientais, como providenciando espaço físico para a realização de oficinas de educação ambiental nos municípios. As oficinas não ocorreram no município de Porto Murtinho por incompatibilidade de agenda com a Secretaria de Educação local; nem no município de Corumbá, onde as atividades são desenvolvidas por outra instituição.

A metodologia escolhida para o trabalho foi a Oficina de Futuro – Agenda 21 do Pedaço, criada pelo Instituto Ecoar para a Cidadania, considerada uma importante ferramenta de planejamento participativo, que visa, a partir da metodologia de pesquisa-ação, desenvolver um plano de ação (CI Brasil, 2004). A Oficina de Futuro é composta por quatro momentos:

a) Árvore dos Sonhos: o objetivo neste momento é responder à questão “como gostaríamos que este lugar fosse?”. Dessa forma, com cartelas em forma de folhas, flores e/ou frutos, cada participante da oficina expressa um sonho relativo à questão acima. Esses sonhos são colados em uma grande árvore, para ser construída a Árvore dos Sonhos, que congrega os desejos individuais. Após debate com o grupo, os sonhos são agrupados por similaridade,

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priorizados os sonhos coletivos. Os sonhos do grupo podem ser vistos como os objetivos de um projeto (CI Brasil, 2004).

b) Muro das Lamentações: a segunda atividade da oficina consiste na montagem de um Muro das Lamentações, cujo objetivo é responder à questão “o que nos incomoda no nosso pedaço?”. A partir de cartelas em forma de gotas, representando uma lágrima, são descritos os desafios que deverão ser enfrentados para que os sonhos da Árvore dos Sonhos sejam atingidos.

c) História do Pedaço: esta etapa convida aos participantes viajar no tempo e recuperar a memória do local, buscando compreender por quais processos de transformação aquela região passou. É o momento de discutir as ações e projetos já realizados, bem como os resultados alcançados e as dificuldades enfrentadas pelos mesmos. “A memória viva é trazida à tona para que se possa (re)construir um plano de ações que aprende com as lições do passado” (CI Brasil, 2004).

d) Plano de Ação: o último momento da Oficina de Futuro é a formulação participativa de um plano de ação, resultado de todo processo de discussão anterior com os participantes. Para a construção do plano de ação devem ser considerados, para cada objetivos, as ações a serem executadas, os responsáveis, o tempo de execução e os indicadores de avaliação.

Para o CI Brasil (2004), ao “longo de uma Oficina de Futuro os participantes são convidados a discutirem suas responsabilidades e papéis, de forma a, posteriormente, colocarem em prática aquilo que foi planejado”. Para tanto, todos os momentos são permeados por dinâmicas de grupo que visam exercitar a participação efetiva e pró-ativa dos presentes, além de trabalhar a integração e identidade do grupo, e sua postura cidadã.

As oficinas do CBMSB foram estruturadas em três encontros, assim definidos: 1) Primeiro Encontro, dividido em: 1a) Oficina de Apresentação, onde aconteceu a apresentação do projeto, além do esclarecimento de conceitos pertinentes ao tema; e 1b) Oficina de Futuro – Parte I, onde foram trabalhados a ‘Árvore dos Sonhos’ e o ‘Muro das Lamentações’; 2) Segundo Encontro: Oficina do Futuro – Parte II, que tratou da ‘História do Pedaço’ e do ‘Plano de Ação’; 3) Terceiro Encontro: Oficina de Tema Livre, onde cada grupo escolheu o tema a ser trabalhado. Importante ressaltar que em todos os encontros foram aplicadas dinâmicas de grupo e atividades lúdicas para integração e estímulo à participação dos presentes.

Como forma de avaliar os resultados alcançados durante a realização das oficinas e obter subsídios para o aprimoramento de trabalhos futuros, foi elaborada uma Ficha de Avaliação contendo questões abertas e fechadas relacionadas organização e logística das reuniões, didática das apresentações, conteúdo e dinâmica das atividades de grupo.

3. Resultados e discussões

Quando as oficinas de EA foram idealizadas, o público alvo eram os educadores ambientais dos municípios do CBMSB. Todavia, logo no primeiro encontro, foi verificado que eram poucas as pessoas que trabalhavam com a EA de forma estruturada nestes locais. Em vez disso, foi identificado um grande número de professores e alguns funcionários públicos de órgãos ambientais interessados no tema e com uma grande carência de informações sobre o assunto. Por esse motivo optou-se por trabalhar com esses ‘potenciais’ educadores ambientais, já que, em compensação à falta de embasamento teórico, eles

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demonstravam-se estimulados pela oportunidade e conscientes da relevância e urgência em interar-se e atualizar-se.

Em cada um dos municípios de Nioaque, Jardim, Miranda e Bonito, foram ministradas 20 horas de oficina, e no município de Bodoquena foram ministradas 24 horas, perfazendo uma carga horária total 84 (oitenta e quatro) horas na soma dos municípios. Os participantes foram prioritariamente professores da rede pública de ensino, e 166 (cento e sessenta e seis) pessoas ao todo estiveram em pelo menos um dos quatro encontros realizados em cada município.

As Árvores do Sonho e os Muros das Lamentações renderam 47 (quarenta e sete) tópicos a serem trabalhados no CBMSB, divididos por municípios em seus Planos de Ação em Educação Ambiental – PAEA, estruturados da forma que segue: em Bodoquena foram catorze objetivos e trinta e três ações; em Nioaque dez objetivos e vinte e nove ações; em Jardim sete objetivos e vinte e cinco ações; em Miranda sete objetivos e dezenove ações; e em Bonito nove objetivos e dezenove ações. Os objetivos escolhidos como prioritários em cada município, podem ser vistos na Tabela 1.

Os resultados do presente trabalho vêm ao encontro dos pressupostos do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1992, uma vez que foram consideradas as proposições ali existentes e que as ações de Educação Ambiental do Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena, aqui relatadas, se baseiam em tais orientações.

O referido Tratado tem como premissa fundamental “que as comunidades planejem e implementem suas próprias alternativas às políticas vigentes”, como forma de respeito à realidade e às necessidades locais, valorizando diferentes saberes e fazendo com que as comunidades exercitem a condução de seu próprio destino.

Além disso, dentre seus Princípios, a EA deve valorizar as diferentes formas de conhecimento, o que foi feito na construção participativa dos PAEAs; bem como promover “a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições”; além de “integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações” e transformar “cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis”.

A grande distância física entre os municípios do CBMSB não configurou entrave à proposta das oficinas, tampouco as inviabilizou, já que a convicção a respeito da necessidade de mobilização de tais sujeitos era algo extremamente claro à equipe, que percorreu vários quilômetros para alcançar suas metas.

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O envolvimento de diferentes instâncias também foi necessário: a equipe da Fundação Neotrópica, organização do Terceiro Setor, que contribuiu tanto nos bastidores, como na linha de frente para a realização das oficinas; o Poder Público, que esteve sempre presente, em maior ou menor escala, e nos fez entender que estabelecer parcerias é fundamental para realização de trabalhos deste gênero; e especialmente os participantes, na vivência dos processos de Educação Ambiental (Figura 2), que participaram ativamente das atividades propostas e da construção dos PAEAs dos municípios e demonstraram interesse na busca de alternativas para sua implementação.

FIGURA 2 – Imagens das oficinas nos municípios, com a participação dos presentes nos trabalhos e nas vivências. Fonte: Garzoni, 2006.

Assim como Miller, Chang e Johnson (2001) relatam na experiência sobre o Corredor Biológico Mesoamericano, temos que “no será posible realizar la visión que entraña a menos que la mayoría de la gente de la región entienda su propósito y se comprometa con sus metas y objetivos”, afinal isso é que determinará a exeqüibilidade da proposta, tornando os corredores factíveis. Dessa forma, trabalhar a participação comunitária é ponto primordial na consolidação de tais corredores.

O interesse da maioria dos participantes em aprender, trocar experiências e contribuir para a construção de um plano de educação ambiental para o seu município ficou nítido nas oficinas. Durante o desenrolar das atividades a equipe observou que os participantes entenderam o objetivo dos encontros, comprometendo-se com os seus resultados e com a possibilidade de desdobramentos das propostas ali discutidas.

No entanto, apesar da visão da equipe de que as atividades haviam alcançados resultados bastante positivos, acreditou-se que seria importante verificar a opinião dos participantes sobre isso, sendo para isso utilizada uma Ficha de Avaliação. Entre as questões analisadas estavam: I) “A oficina de futuro aprofundou/ampliou seus conhecimentos sobre educação ambiental?”; II) “As dinâmicas utilizadas foram interessantes e pertinentes ao

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trabalho realizado?”; III) “A Oficina de Futuro atendeu suas expectativas?”; IV) “Você considera que o Plano de Ação formulado atende às características e necessidades de educação ambiental de seu município?”. A Oficina de Futuro foi avaliada por 70 participantes e os resultados desta avaliação podem ser acompanhados na Figura 3, onde estão apresentadas suas percepções quanto às questões efetuadas.

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FIGURA 3 – A. Sobre a ampliação dos conhecimentos sobre EA; B. Sobre as dinâmicas de grupo; C. Sobre o atendimento às expectativas dos participantes; D. Sobre a adequação do plano de ação às características e necessidades de EA do município.OBS. O termo ABS refere-se à ‘abstenção’, quando o participante não respondeu à indagação efetuada.

No que tange à primeira questão apontada, a maioria (75%) afirmou que as atividades ampliaram seus conhecimentos sobre educação ambiental (Figura 3A), e o fato de as oficinas terem contribuído com o acesso à informação e ao saber, remete diretamente às condição de empoderamento buscada pelas metodologias participativas. Com relação as dinâmicas de grupo e atividades lúdicas, a totalidade dos participantes demonstrou aceitação, quando 77% consideraram-nas ‘ótimas’ enquanto 23% avaliaram como ‘boas’ (Figura 3B). Considerando a afirmação de Del Cueto e Fernandes (1985 apud TOZONI-REIS, J. 2007, p. 104), de que a estruturação do grupo depende do surgimento do que elas chamam de “formações imaginárias grupais”, entendemos as dinâmicas como imprescindíveis para, além de proporcionar descontração e integração, colocar os sujeitos sociais em situações diferentes das convencionais, estimular os sentidos, habilidades e capacidades dos mesmos.

Quanto às expectativas, a maioria dos participantes (79%) afirmou que as mesmas foram completamente atendidas, e apenas 20% alegou atendimento parcial das expectativas iniciais (Figura 3C). Uma questão de grande interesse para a equipe era se os participantes das oficinas consideravam o resultado final, ou seja, os PAEAs, adequados às características e

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necessidades dos seus municípios. Nesse quesito, os resultados podem ser considerados bastante satisfatórios, pois 77% dos participantes consideraram que o plano de ação atendia a essas premissas (Figura 3D), demonstrando, com esta significativa opinião, que as oficinas constituíram uma ação extremamente profícua.

4. Considerações Finais e Recomendações

A metodologia escolhida para o trabalho – Oficina de Futuro – Agenda 21 do Pedaço mostrou-se adequada aos objetivos propostos e favoreceu a participação durante o processo de elaboração dos planos de ação de educação ambiental.

Ao todo, foram ministradas 84 horas de oficinas, com a participação de 166 pessoas, que estiveram em pelo menos um dos quatro encontros realizados em cada município. A participação ativa desses sujeitos, estimulada pelas dinâmicas propostas nas oficinas, destacou aspectos da realidade local e valorizou seus conhecimentos com relação à identificação das necessidades locais e busca de soluções, o que conferiu mais veracidade ao PAEA.

Tal participação, somada aos resultados obtidos através da construção dos planos de ação municipais indicam a potencialidade da educação ambiental como ferramenta de estímulo e participação social, e conseqüentemente, como instrumento de apoio para a implementação bem sucedida dos corredores de biodiversidade, pois a conservação e manutenção em longo prazo destas áreas dependem do envolvimento de todos os setores da sociedade.

Com base na experiência relatada neste artigo, foi possível estabelecer algumas recomendações para a continuidade dos trabalhos de educação ambiental e mobilização dos atores envolvidos com o tema nos municípios. Destacam-se entre elas:

• A continuidade das oficinas de E.A. nos municípios, como ferramenta de mobilização social e fortalecimento dos grupos, buscando sempre agregar valor e identificar novos ‘potenciais’ educadores;

• O incentivo à criação de um Programa de Formação Continuada em Educação Ambiental em cada município, uma vez diagnosticada a carência em capacitação em E.A., mesmo que por meio de parcerias com organismos afins;

• O acompanhamento da implementação dos Planos de Ação em E.A. nos municípios, orientando na execução das ações e propondo as adequações necessárias ao bom cumprimento do mesmo; e

• A promoção de capacitação dos atores locais na elaboração de projetos ambientais, uma vez que demonstram-se extremamente interessados em contribuir, mas não possuem conhecimento sobre esse tema.

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