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LAUDIÉLCIO FERREIRA MACIEL DA SILVA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979 a 1988) RECIFE/2013

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LAUDIÉLCIO FERREIRA MACIEL DA SILVA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO

(1979 a 1988)

RECIFE/2013

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LAUDIÉLCIO FERREIRA MACIEL DA SILVA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO

(1979 a 1988)

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado em Educação, do Programa de

Pós-Graduação em Educação, da

Universidade Federal de Pernambuco,

como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Edilson Fernandes

de Souza

RECIFE/2013

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Katia Tavares, CRB-4/1431

S586e Silva, Laudiélcio Ferreira Maciel da.

A educação ambiental de Pernambuco (1979 a 1988) / Laudiélcio

Ferreira Maciel da Silva. – Recife: O autor, 2013.

131 f.: il. ; 30 cm.

Orientador: Edilson Fernandes de Souza.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco,

CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2013.

Inclui anexos e apêndices.

1. Educação ambiental. 2. Ambientalismo. 3. Educação não-

formal. 4. UFPE - Pós-graduação. I. Souza, Edilson Fernandes de. II.

Título.

372.357 CDD (22. ed.) UFPE (CE2013-66)

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LAUDIELCIO FERREIRA MACIEL DA SILVA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979-1988)

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado em Educação, do Programa de

Pós-Graduação em Educação, da

Universidade Federal de Pernambuco,

como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre em Educação.

Aprovado em ______/______/______.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________

Profª. Drª. Maria da Conceição dos Reis (Titular Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________

Prof. Dr. José Luis Simões (Titular Interno)

Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________

Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva (Suplente Interno)

Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________

Prof. Drª.Liliane Maria Teixeira Lima de Carvalho (Suplente Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

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Esta obra é dedicada à minha mãe Laudicéa Ferreira da Silva e a meu pai Helcio

Maciel da Silva, pelas lições de vida que me deram e por estarem sempre me

guiando. Dedico ainda à minha esposa Márcia Nascimento da Silva, que

acompanhou cada momento desde antes de entrar no mestrado, aos meus irmãos

Helcio Maciel da Silva Júnior e Helder Ferreira Maciel da Silva, às minhas irmãs

Fátima Maria Ferreira Maciel de Andrade Lima e Ladjane Ferreira Maciel de Moura,

à minha avó Alda Ferreira da Silva e aos demais familiares aqui representados na

pessoa da minha tia Maria da Conceição Ferreira da Silva (Tia Lia), a quem sou

inteiramente grato por ter parte na minha formação escolar especialmente nas séries

iniciais no Educandário Branca de Neve. Dedico ainda àqueles que vivem na

periferia do mundo à espera de um ambiente que lhes ofereça melhores condições

de vida.

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AGRADECIMENTOS

Embora a tarefa de um pesquisador seja marcada pela solidão na realização

de sua pesquisa, há momentos em que ele pode e precisa contar com a colaboração

de outras pessoas.

Assim, reconhecendo que não seria possível a realização dessa tarefa

sozinho, agradeço:

Ao nosso Deus, uno e trino, de quem emana toda sabedoria, pelas graças

que tem me concedido;

A todos os que fizeram e aos que ainda fazem parte da minha formação

escolar desde os primeiros anos na escola;

À professora Heloisa F. B. N. Bastos e ao professor Argus Vasconcelos de

Almeida (UFRPE) que me ensinaram os primeiros passos na construção da

pesquisa científica;

Aos colegas de curso, aos docentes, coordenação, servidores e estagiárias

do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de

Pernambuco;

Aos colegas e professores dos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas

(UFRPE), Pedagogia (UFPE) e I Curso de Educação Ambiental na era da

Globalização, pelas experiências que vivemos juntos;

Aos Professores Dr. Petronildo Bezerra da Silva, pela motivação de sempre,

mesmo antes do acesso ao mestrado e Epitácio Fragoso Vieira, de quem herdei a

admiração pelo senso antropológico e na pessoa deles todos os demais professores

do Centro de Educação da UFPE, pela competência de sempre;

Ao Prof. Márcio Eustáquio Lopes Cavalcante, Diretor do Núcleo de Educação

Física e Desportos da UFPE, pelo acolhimento e incentivo que dele recebi. Ao

Professor Dr. Henrique Gerson Kohl, pela motivação de sempre, e aos demais

colegas de trabalho: Camila Claudino de Souza, Eduardo Franco e Silva, Leonardo

Luizines de França e Dr. João Alves, pela colaboração direta que eles tiveram nesta

pesquisa;

Aos primeiros ambientalistas de Pernambuco, especialmente os que fizeram e

fazem parte do Movimento Amigos da Mata do Engenho Uchôa, Sociedade

Nordestina de Ecologia e Associação de Proteção ao Ambiente Natural, aqui

representados, respectivamente, pelas Professoras Luci Machado Pinheiro,

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Elisabete Carneiro Batista Braga e Maria Adélia Borstelmann de Oliveira, que me

deram a honra de entrevistá-las, por terem construído conosco o memorial que

segue adiante;

À Fundação Joaquim Nabuco e todos os seus funcionários, por terem

concedido o acesso aos arquivos da instituição;

Às Professoras Ladjane Ferreira Maciel de Moura e Márcia Nascimento da

Silva, pela criteriosa revisão das normas cultas da língua portuguesa;

Ao acadêmico Filipe Galindo, pela ajuda nas transcrições das entrevistas;

Ao amigo Ítalo Rodrigo dos Santos Morais, pelo apoio tecnológico na

construção dos mapas;

Aos demais amigos e amigas, pela importância que tiveram mesmo antes do

acesso ao mestrado até a conclusão deste trabalho. Em especial àqueles com quem

dividi momentos difíceis, e ao Robério Daniel da Silva Coutinho, pelo amigo que é e

pela participação na construção desse trabalho;

Aos Professores Dr. Carlos Frederico Bernardo Loureiro e Gustavo Ferreira

da Costa Lima, pela disponibilidade de material teórico para análise;

Aos membros da banca examinadora (Qualificação e Defesa) por terem me

concedido a honra de participar da avaliação deste trabalho;

Ao Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza, por reconhecer a importância da

temática dessa pesquisa e, consequentemente, ter assumido este desafio, me

concedendo o prazer de sua orientação, que fluiu com tranquilidade,

comprometimento e responsabilidade de ambas as partes.

.

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“Não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que

ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte

de si mesma”. (Papa Francisco, 2013).

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RESUMO

Este trabalho está situado no campo da história da educação e teve o propósito de

estudar a história da Educação Ambiental do estado de Pernambuco entre os anos

de 1979 a 1988, procurando responder as seguintes questões: Que entidades

ambientalistas não-governamentais promoviam a Educação Ambiental de

Pernambuco no período? Como a Educação Ambiental acontecia nesses espaços

de educação não-formal? Que concepções de Educação Ambiental estavam em

debate e que tensões ambientais marcaram a época, partindo da história local? O

objetivo geral foi conhecer a História da Educação Ambiental de Pernambuco (1979-

1988). O principal marco teórico foi amparado em Loureiro (2004a, 2004b, 2006a,

2006b e 2011) e Gohn (2007, 2010 e 2012). A pesquisa, de natureza dialética, optou

pelas fontes orais como prioritária na obtenção dos dados, e recorreu à técnica de

análise de conteúdo como tratamento da informação. Os resultados evidenciaram

que a Educação Ambiental de Pernambuco era motivada por várias tensões da

época como o desmatamento, poluição dos rios e construção do porto de SUAPE.

Uma Educação Ambiental marcada pela dimensão práxica, dialética, concepção

crítica, pelo dinamismo, pela diversidade de ações, coletividade, complexidade,

liderança de seus agentes, autonomia, de caráter preservacionista e também

conservacionista e transformadora, gozando de relativa autonomia perante o Estado

e o capital.

Palavras chaves: Educação Ambiental. Movimentos Ambientalistas de

Pernambuco. Educação Não-Formal

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ABSTRACT

This work is in the field of history of education and had the purpose of studying the

history of environmental education in the state of Pernambuco between the years

1979 to 1988, seeking to answer the following questions: What non-governmental

environmental organizations promoted the Environmental Education in Pernambuco

in that period ? How the environmental education happened in these spaces of non-

formal education? What conceptions of environmental education were in debate,

and what environmental tensions marked the time, on that local history? The overall

objective was to know the history of Environmental Education of Pernambuco (1979-

1988). The main theoretical framework was supported in Loureiro (2004a, 2004b,

2006a, 2006b and 2011) and Gohn ( 2007, 2010 and 2012). The research, in a

dialectical nature, opted for oral sources as a priority way in obtaining the data, and

resorted to the technique of content analysis and information processing. The results

showed that the Environmental Education of Pernambuco was motivated by various

strains of that moment such as deforestation, pollution of rivers and construction of

the port of Suape. An environmental education stamped by dimension praxis,

dialectical, critical approach, the dynamism, the diversity of actions, collective,

complexity, leadership of its agents, autonomy, character preservationist and

conservationist and also transformative, enjoying relative autonomy to the state and

capital.

Keywords: Environmental Education. Environmentalists movements of Pernambuco.

Non-Formal Education.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Síntese das seis correntes da Educação Ambiental ......... 34

Figura 1 – O estado de Pernambuco no território brasileiro: que

Pernambuco é esse?..........................................................

40

Figura 2 – Logotipo da ASPAN............................................................ 50

Figura 3 – Vista aérea da área preservada da Mata do Engenho

Uchôa.................................................................................

52

Figura 4 – Logotipo da SNE................................................................. 54

Figura 5 – Boletim da ASPAN, 1979.................................................... 60

Figura 6 – Boletim informativo da ASPAN, junho de 1986................. 61

Fotografia 1 –

Mapa 1 –

Tabela 1 –

Tabela 2 –

Tabela 3 –

Tabela 4 –

Tabela 5 –

Tabela 6 –

Tabela 7 –

Tabela 8 –

Passeata do Vinhoto na Avenida Boa Viagem, 1983.........

Avanço da Educação Ambiental no Estado de

Pernambuco.......................................................................

Dados sobre as entrevistas................................................

As questões motivadoras da Educação Ambiental de

Pernambuco.......................................................................

Expansão Imobiliária e Desenvolvimento Regional............

A degradação dos ecossistemas e fenômenos ligados às

Mudanças Climáticas..........................................................

Elementos relacionados à preservação e conservação

da natureza.........................................................................

A atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem

como elemento indissociàvel da natureza).........................

A práxis pedagógica da Capital ao Sertão: A Educação

Ambiental de Pernambuco numa perspectiva

transformadora ..................................................................

A coletividade, as parcerias, as lutas e as conquistas.......

66

82

23

57

59

63

67

69

72

84

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT

AC

Associação Brasileira de Normas Técnicas

Acre

AGAPAN

AIDS

ASPAN

CEASA

CETEB

CNUDS

COP15

CPI

CPRH

DEF

FIDEM

FUNDAJ

FURG

GO

IBGE

LDB

OAB

ONG

ONU

PA

PE

PT

Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente

Sindrome da Imuno Deficiência Adquirida

Associação de Proteção Ambiente Natural

Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco

Centro de Ensino Tecnológico de Brasília

Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento

Sustentável

15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações

Unidas

Comissão Parlamentar de Inquérito

Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos e Preservação

Ambiental

Departamento de Educação Física

Fundação de Desenvolvimento Municipal

Fundação Joaquim Nabuco

Fundação Universidade Federal do Rio Grande

Goiania

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Ordem dos Advogados do Brasil

Organização Não Governamental

Organização das Nações Unidas

Pará

Pernambuco

Partido dos Trabalhadores

SNE

SUAPE

UFPE

Sociedade Nordestina de Ecologia

Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros

Universidade Federal de Pernambuco

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UFRPE

UNESCO

Universidade Federal Rural de Pernambuco

Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a

cultura

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 14

1 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: aspectos gerais................................... 27

1.1 MARCOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO

MUNDIAL NACIONAL E EM PARTICULAR NO ESTADO DE

PERNAMBUCO ...........................................................................................

27

1.2 O CARATER FORMAL E NÃO-FORMAL DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL ..........................................................................................

31

1.3 AS DIVERSAS VERTENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...............

1.4 A ÊNFASE NA VERTENTE CRÍTICA ...................................................

33

35

2 - OS PRIMEIROS ACHADOS: o estado de Pernambuco e as

entidades ambientalistas do período de 1979 a 1988........................

40

2.1 QUE PERNAMBUCO É ESSE? ............................................................

2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS ENTIDADES AMBIENTALISTAS

DE PERNAMBUCO (1979 A 1988) ......................................................

2.2.1 OS MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS ENQUANTO

MOVIMENTOS SOCIAIS ......................................................................

2.2.2 AS ENTIDADES AMBIENTALISTAS PIONEIRAS DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979-1988) ....................................

40

45

46

50

3 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979 – 1988) ........ 56

3.1 AS QUESTÕES MOTIVADORAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE

PERNAMBUCO ....................................................................................

56

3.2 A PRÁXIS PEDAGÓGICA DA CAPITAL AO SERTÃO: a Educação

Ambiental de Pernambuco numa perspectiva transformadora ............

3.3 A COLETIVIDADE, AS PARCERIAS, A COMPLEXIDADE DAS

LUTAS E AS CONQUISTAS ................................................................

71

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 92

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 96

ANEXO I – CONSULTA AO BANCO DE TESES E DISSERTAÇÕES DA

UFPE REALIZADA EM 12/08/2013 .....................................................

101

ANEXO II – RELAÇÃO DA FLORA E DA FAUNA DA MATA DO

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ENGENHO UCHÔA ............................................................................. 102

ANEXO III – RELATÓRIO DE VISTORIA FIDEM ....................................... 104

ANEXO IV – 1ª JORNADA SOBRE AGRICULTURA NATUREZA E

SAÚDE .................................................................................................

107

ANEXO V – CARTILHA VIDA AO CAPIBARIBE ........................................ 109

ANEXO VI – HOMENAGEM À ROUSINETE FALCÃO ............................... 113

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................. 114

APÊNDICE B – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA LUCI

MACHADO ...........................................................................................

115

APÊNDICE C – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA MARIA

ADÉLIA OLIVEIRA MONTEIRO DA CRUZ .........................................

116

APÊNDICE D – CONVITE PARA ENTREVISTA: COLETIVO DO

MOVIMENTO EM DEFESA DA MATA DO ENGENHO UCHÔA .........

117

APÊNDICE E – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA

ELISABETE CARNEIRO BATISTA BRAGA ........................................

118

APÊNDICE F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIMENTO: PROFESSORA MARIA ADÉLIA OLIVEIRA

MONTEIRO DA CRUZ .........................................................................

119

APÊNDICE G – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIMENTO: PROFESSORA ELISABETE CARNEIRO

BATISTA BRAGA .................................................................................

121

APÊNDICE H – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLAREICMENTO: PROFESSORA LUCI MACHADO ....................

123

APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIMENTO: COLETIVO DO MOVIMENTO EM DEFESA

DA MATA DO ENGENHO UCHÔA ......................................................

125

APÊNDICE J – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESSORA MARIA ADÉLIA OLIVEIRA MONTEIRO DA CRUZ....

127

APÊNDICE K – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESSORA ELISABETE CARNEIRO BATISTA BRAGA ..............

128

APÊNDICE L – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESSORA LUCI MACHADO ........................................................

129

APÊNDICE M – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA

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ENTREVISTA: COLETIVO DO MOVIMENTO EM DEFESA DA

MATA DO ENGENHO UCHÔA ............................................................

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INTRODUÇÃO

Amparado no Núcleo de Teoria e História da Educação do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), esta

pesquisa procurou responder as seguintes questões: Que entidades ambientalistas

não-governamentais promoviam a Educação Ambiental de Pernambuco no período

de 1979 a 1988? Como a Educação Ambiental acontecia nesses espaços de

educação não-formal? Que concepções de Educação Ambiental estavam em debate

e que tensões ambientais marcaram a época, partindo da história local?

O objetivo geral dessa pesquisa foi conhecer a História da Educação

Ambiental de Pernambuco (1979-1988), e os objetivos específicos foram: a)

Conceituar e caracterizar a Educação Ambiental de Pernambuco no período; b)

Contextualizar o estado de Pernambuco, com ênfase nos problemas ambientais da

época; c) Identificar as primeiras entidades ambientalistas no estado, suas

demandas, as tensões socioambientais e a promoção da Educação Ambiental

nesses espaços de educação não-formal.

A Educação Ambiental está ocupando espaço cada vez maior nas discussões

pelo mundo inteiro em decorrência das grandes catástrofes que estão ameaçando a

vida no planeta e também de pequenos problemas que comprometem a qualidade

de vida. Neste novo milênio as preocupações com o fenômeno das mudanças

climáticas, destinação final do lixo, escassez de recursos naturais, destruição da

camada de ozônio na atmosfera, uso da energia nuclear, poluição, fome, doença,

miséria, e tantas outras, tem sido objeto de preocupação de diversos organismos

internacionais que se reúnem com frequência para debater o futuro do planeta.

Para citar algumas dessas reuniões internacionais temos o caso da 15ª

Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas, realizada em

dezembro de 2009, na Dinamarca, também conhecida como COP 15 e também mais

recentemente a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

(CNUDS), também conhecida como Rio + 20, realizada em junho de 2012 no Brasil.

O discurso predominante é de que o somatório de indivíduos com atitudes

ecologicamente corretas levaria à superação da crise ambiental (LOUREIRO, 2004a;

QUINTAS, 2009). Esta ideologia é uma tentativa de ofuscar nossa visão, no sentido

de esconder as ações agressivas das indústrias as quais são responsáveis pelo

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lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera, pela produção exagerada de

lixo, muitas vezes, pela obsolescência das mercadorias e acúmulo de riquezas.

O nosso interesse pela Educação Ambiental ganhou reforço a partir da minha

participação no I Curso de Especialização em Educação Ambiental na Era da

Globalização, promovido pela UFPE em convênio com a Secretaria Estadual de

Educação do Governo do Estado de Pernambuco (2008/2009), onde discutimos

sobre uma nova forma de pensar a Educação Ambiental, qual seja a Educação

Ambiental Crítica. Essa tendência vem sendo apontada como um paradigma

influenciado pela teoria social crítica (abordagens crítico-dialética), e vem sendo

contemplada com frequência em várias pesquisas de mestrado e doutorado.

Não restam dúvidas de que a preocupação com o meio ambiente é um tema

atual e global, em virtude de inúmeras ocorrências naturais, e também em função

das ações agressivas ao meio ambiente, registrados no mundo, atingindo pessoas

de diferentes classes sociais ou grupos étnicos.

Atualmente, diversos setores como a economia, política, saúde, educação,

etc. têm demonstrado preocupações com o futuro do planeta e já faz parte do

cotidiano das pessoas falar sobre o tema. Nessa perspectiva, a Educação Ambiental

se apresenta como uma aliada na tentativa de despertar para uma consciência

crítica frente à problemática ambiental.

O estado de Pernambuco também tem sido palco dessas discussões. Ao

longo da história tornaram-se evidentes os problemas ambientais enfrentados no

estado como desertificação, seca, desmatamento, extinção de espécies da fauna e

da flora, poluição, contaminação, enchentes, fome, desemprego e falta de moradia

além de diversas doenças como filariose, dengue, cólera, câncer, dentre outras.

Em função disso, sentimo-nos impulsionados ainda mais a pesquisar a

História da Educação Ambiental de Pernambuco numa perspectiva crítica.

Várias pesquisas em Educação Ambiental se desenvolveram desde o debate

ambiental que se instaurou aqui no Brasil sob a égide do regime militar na década

de 1970 (LOUREIRO, 2006b). Em sua pesquisa Francalanza (2003) identificou um

número estimado de pelo menos 450 trabalhos entre dissertações e teses

produzidos no Brasil.

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No trabalho desenvolvido por Vasco, Zakrzevski e Valduga (2007), foi feita

uma pesquisa sobre a produção científica em Educação Ambiental no Brasil, junto

aos programas de pós-graduação stricto sensu. A conclusão foi que as pesquisas

“têm enfatizado uma perspectiva crítica da EA. (...) e buscam a produção de um

saber crítico, que pode catalisar um processo de mudança social”.(p. 2).

Na sua dissertação, Bigliardi (2012) objetivou compreender o processo sócio-

histórico de constituição do pesquisador mestre e doutor em Educação Ambiental

egresso do PPGEA/FURG. Ao analisar as produções científicas do Programa,

percebeu o impacto favorável aos objetivos transformadores da Educação

Ambiental, o que corrobora com as conclusões de Vasco, Zakrzevski e Valduga

(2007), no que diz respeito ao caráter transformador da Educação Ambiental crítica,

colocando ainda mais em evidência a relevância dessa vertente.

Em pesquisa realizada no Banco de Teses e Dissertações da Universidade

Federal de Pernambuco, datada de 05 de agosto de 2013, foram identificados 566

trabalhos entre teses e dissertações. Entretanto, analisamos uma amostragem de

100 desses trabalhos, tomados de forma aleatória, e chegamos à conclusão de que

apenas 6 deles discutem a Educação Ambiental em si, enquanto que a maioria se

volta para a questão de Gestão Ambiental (24 trabalhos), Desenvolvimento Sócio-

Ambiental (15 trabalhos) e Impactos Ambientais (13 trabalhos) e os demais para

Políticas Públicas (12), Gestão de Recursos Hídricos (10), Direito Ambiental (6),

Recursos Energéticos (4), Qualidade Ambiental (3), Desenvolvimento Sustentável

(3), Auditoria Ambiental (3) e Amazônia (1).

Em nova consulta realizada nesse mesmo espaço virtual, no dia 12 de agosto

de 2013 (ANEXO I), não identificamos nenhuma produção nos últimos 5 (cinco) anos

que traga em seu título o binômio Educação Ambiental, o que sinaliza para carência

de produção sobre o tema no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação

da Universidade Federal de Pernambuco, contrariando o crescente número de

dissertações e teses defendidas, tendo por objeto a Educação Ambiental, de acordo

com dados cadastrados na Capes (LOUREIRO, 2006a). De fato, para uma melhor

análise dessa questão seria importante novos filtros de pesquisa, como por exemplo,

a partir das palavras chaves, e até mesmo de uma análise da totalidade dos

trabalhos apresentados pelo sistema, mas limitamos essa nossa análise na forma

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como foi descrita acima por acreditarmos que essa pequena demonstração sinaliza

para a carência, mas que pode vir a ser objeto de investigação futuras.

Para esta pesquisa o espaço temporal escolhido inicia-se em 1979 e termina

em 1988. Este marco corresponde a um período em que o debate ambiental estava

se instaurando no Brasil sob a égide do regime militar na década de 1970

(LOUREIRO, 2006b). A opção pelo ano de 1979, como marco inicial para nossa

investigação, deve-se ao fato de que neste ano surgiu um pequeno grupo de

ambientalistas denominado Amigos da Mata do Engenho Uchôa e a Associação de

Proteção ao Ambiente Natural (ASPAN), respectivamente, o primeiro movimento e a

primeira instituição ambientalista em Pernambuco, ambas constituem fontes de

pesquisa em nosso estudo, juntamente com a Sociedade Nordestina de Ecologia –

SNE, fundada em 1986.

O marco final da pesquisa (1988) é referenciado em função da promulgação

da Constituição Federal do Brasil, que traz um capítulo sobre o Meio Ambiente, fruto

das lutas travadas pelos Movimentos e Entidades Ambientalistas. Trabalhos

posteriores a este podem periodizar a partir de 1988. Esta Constituição ficou

conhecida por Constituição Cidadã em função dos direitos que previa aos cidadãos;

um exemplo disso é o “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações” (BRASIL, 1988, art. 225), o que de fato representa uma conquista

comemorada pelos ambientalistas da época.

Vale acrescentar que a década de 1980, marca a expansão e a consolidação

das entidades ambientalistas em função dessa democracia (CARVALHO, 2011).

Para se ter uma idéia, “os anos 80 foram marcados por uma profunda crise

econômica que afetou muitos países no mundo, agravando os problemas

ambientais” (CETEB, 2009 p. 28). Por isso a importância de trabalhar com as

entidades ambientalistas desse período.

A escolha dessas entidades (Amigos da Mata do Engenho Uchôa, Associação

de Proteção ao Ambiente Natural/ASPAN e Sociedade Nordestina de Ecologia/SNE,

como fonte de pesquisa para este estudo, deve-se ao fato delas possuírem os

seguintes pontos em comum: a) representam os pioneiros da Educação Ambiental

de Pernambuco, b) são entidades não-governamentais, portanto gozam de relativa

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autonomia com relação ao Estado, c) surgiram no interior das comunidades em

função de suas demandas, d) foram criadas dentro do marco temporal escolhidos

para esta pesquisa e e) permanecem ativas até os dias atuais, o que contribui para

levantamento de dados sobre a História da Educação Ambiental de Pernambuco no

período.

Trazer para o debate a História da Educação Ambiental de Pernambuco é

valorizar a história local, a história de vida das pessoas, porque diariamente elas

enfrentam alguns desses problemas e, atendendo a essa demanda, estamos

atendendo também à atualidade do debate e contribuindo para uma reflexão crítica

da nossa realidade ambiental.

É bom sempre ter em mente que Educação Ambiental é Educação

(LOUREIRO, 2004a). É comungando desse pensamento que acreditamos que

formação de banco de dados sobre a História da Educação Ambiental de

Pernambuco é uma questão imperiosa, considerando a carência de produção

científica sobre o tema, verificada no Banco de Teses e Dissertações da UFPE. Da

mesma forma, a demanda educacional para o novo milênio nessa área de

conhecimento, pede respostas para inúmeros problemas ambientais que estamos

vivenciando e, portanto, não podemos ficar alheios a essas questões sendo

necessário conhecermos o passado para compreendermos o presente.

Sob o enfoque historiográfico, a nossa intenção foi trabalhar o tema na

perspectiva da nova história rompendo com o paradigma tradicional em que a

história diz respeito essencialmente à política, que está preocupada com a narrativa

dos acontecimentos, que oferece uma visão das elites e que deve ser baseada em

documentos oficiais. A idéia foi contemplar a história voltada à análise das

estruturas, uma história que contemple as opiniões das pessoas comuns e com sua

experiência da mudança social (BURKE, 1992). Nesse sentido, as entidades

ambientalistas nas quais vamos concentrar nossos estudos nasceram a partir das

necessidades dessas pessoas comuns; elas foram criadas por grupos de jovens

estudantes, pessoas das próprias comunidades, professores, demais profissionais

liberais, que tinham o desejo de ver realizada alguma coisa em favor do meio

ambiente que estava sofrendo desgastes.

Considerando que a pesquisa concentrou seus estudos em um movimento

social de cunho ambientalista (Amigos da Mata do Engenho Uchôa) e em duas

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entidades ambientalistas não governamentais (Associação de Proteção ao Ambiente

Natural e Sociedade Nordestina de Ecologia), tomamos como marco teórico no

tocante às questões relativas aos movimentos sociais e entidades ambientalistas, as

idéias de Gohn (2007, 2010 e 2012), e Loureiro (2011).

Relativamente à Educação Ambiental enfatizamos a vertente crítica a partir de

Loureiro (2004a, 2006a, 2006b), relacionando-a com as categorias encontradas em

nossa pesquisa a partir da história da Educação Ambiental de Pernambuco

desvelada por estas entidades.

O Caminho da investigação: Percorrer por estradas seguras, capazes de

responder às críticas com fundamentos sólidos, foi uma preocupação nossa

enquanto pesquisadores, cientes de nossas limitações, dadas as características do

ser humano que está sujeito às falhas, mas nem por isso nos intimidamos.

Entendemos que, ao lançarmos os conhecimentos produzidos às críticas,

devemos estar prontos para as perguntas que não se calarão diante de um universo

infinito de conhecimentos que exigem rigor metodológico na sua investigação. Foi

com esse pensamento que iniciamos o caminho, mesmo cientes de que as críticas

sempre surgirão, pois, fazer ciência é lançar as idéias no mar onde as ondas vão e

voltam e, nessa dialética, essas idéias são reelaboradas cedendo espaço às novas.

Comungamos da mesma idéia de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999)

de que atualmente há uma necessidade em atender certos princípios básicos do

trabalho científico, ainda que não haja unanimidade na comunidade científica. E que

“a pesquisa nas ciências sociais hoje, se caracteriza por uma multiplicidade de

abordagens com pressupostos, metodologias e estilos narrativos diversos” (p. 128)”.

É com base nessa concepção de ciência e pesquisa que se sustenta este

trabalho.

Nossa pesquisa se enquadra nos parâmetros da abordagem qualitativa -

embora sejam levados em consideração dados quantitativos - e ainda descritiva,

uma vez que este tipo de pesquisa busca descrever, observar, registrar, analisar e

correlacionar fatos ou fenômenos do mundo físico e, especialmente, do mundo

humano, sem que haja a interferência do pesquisador (RAMPAZZO, 2004).

Na pesquisa qualitativa os dados recolhidos são em formas de palavras ou

imagens e os instrumentos de coleta de dados incluem documentos e entrevistas,

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cuja análise deve respeitar sua riqueza original estando a preocupação mais voltada

ao processo do que aos resultados. (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Le Goff (1994, p. 539) nos ensina que “em princípio, documento era

sobretudo um texto” mas que essa noção de documento foi ampliada pelos

fundadores da revista “Annales d’histoire économique et sociale” (1929). Para eles

não há dúvidas de que a história se faz com documentos escritos, quando eles

existem, mas que pode e deve ser feita quando eles não existem.

Nesse sentido, Le Goff (1994) defende que a palavra documento é concebida

sob o ponto de vista mais amplo, portanto algo escrito, ilustrado, transmitido pelo

som, a imagem, ou de qualquer outra maneira. Para ele, o interesse da memória

coletiva e da história é por todos os homens e não apenas pelos grandes homens,

ou pelos grandes acontecimentos. Isto implica no surgimento de novos documentos.

No caso específico dessa pesquisa os documentos analisados foram alguns

jornais, fotografias, materiais impressos da época e as entrevistas que, após as

transcrições, passaram a ser consideradas documentos igualmente válidos para

análise.

Na leitura desses documentos procuramo-nos manter o mais próximo

possível dos textos, preocupando-nos em tirar deles tudo o que eles contém e não

lhes acrescentar nada do que eles não contém, além de nos afastar de idéias pré-

concebidas, sem as quais essa leitura não serviria, e sempre buscamos questioná-

los, tudo como nos ensina Le Goff (1994). Para ele, é necessário que o documento

seja submetido a uma crítica mais radical. A crítica é essencialmente uma procura

pela autenticidade, e vem desde os renascentistas do século XVII até os positivistas

do século XIX.

O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, os

ensinamentos que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados,

desmestificando-lhes o seu significado aparente.

A entrevista, por sua vez, é a conversa a dois, feita por iniciativa do

entrevistador, destinada a fornecer informações pertinentes para um objeto de

pesquisa (KAHN & CANNELL, 1962, APUD MINAYO, 2000).

Mediante a entrevista podem ser obtidos dados de duas naturezas: a) os que

se referem a fatos que o pesquisador poderia conseguir através de outras fontes

como censo, estatísticas, registros civis, atestado de óbitos e outros, denominados

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de objetivos; e b) os que se referem diretamente ao indivíduo entrevistado, isto é,

suas atitudes, valores e opiniões. São informações ao nível mais profundo da

realidade que os cientistas sociais denominam subjetivo.

O tipo de entrevista escolhida foi a semi-estruturada, que de acordo com

Minayo (2000), combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o

entrevistado tem possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou

condições prefixadas pelo pesquisador.

Por ocasião das entrevistas nos preocupamos com a entrada do pesquisador

nos locais onde ocorreram as pesquisas. Assim, obedecendo às recomendações de

Minayo (2000), procuramos inicialmente uma pessoa para a mediação da entrevista.

Na sequência, esclarecemos o interesse da pesquisa, mencionando a instituição à

qual a pesquisa está vinculada, explicando de forma objetiva os seus motivos, e

justificando a escolha do entrevistado, sempre valorizando uma conversa inicial.

O caminho percorrido teve sequência com a revisão de literatura, coleta de

dados mediante pesquisa no jornal Diário de Pernambuco (jornal de maior circulação

na época), disponíveis para consulta nos arquivos da Fundação Joaquim

Nabuco/FUNDAJ. A pesquisa nos jornais teve a intenção de identificar algumas

entidades ambientalistas atuantes no estado durante o período (1979-1980) e que

eram destaques nos jornais.

Na pesquisa nos jornais identificamos o Movimento em Defesa da Mata do

Engenho Uchôa o que nos remeteu a uma busca na internet com o intuito de

verificar se este movimento ainda estava em atividade e obter dados sobre ele.

Através de um site de Busca (www.google.com.br) identificamos um blog do

Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa cujo endereço eletrônico é

http://mataengenhouchoa.blogspot.com.br/. Foi a partir daí que obtivemos o contato

com uma das coordenadoras e fundadoras do Movimento, a Professora Luci

Machado Pinheiro.

Feito o contato, procuramos de início saber se as informações contidas no

blog do movimento eram oficiais e se estavam atualizadas, ao que tivemos a

resposta afirmativa. Em seguida agendamos uma conversa inicial para falar sobre as

intenções da pesquisa e marcamos a primeira entrevista. No transcorrer da

entrevista verificamos que no início de suas atividades o movimento se chamava

Amigos da Mata do Engenho Uchôa. A partir da entrevista com a Professora Luci

Machado, identificamos outra entidade ambientalista que atuava no período em que

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se enquadra nossa pesquisa. Esta outra entidade foi a Associação Pernambucana

de Defesa da Natureza/ASPAN, que no transcorrer da entrevista concedida pela sua

sócia fundadora, verificamos que também houve mudança de nome passando a

denominar-se Associação de Proteção ao Ambiente Natural, mantendo a mesma

sigla (ASPAN) e a partir da entrevista com a ASPAN chegamos à uma terceira

entidade que foi a Sociedade Nordestina de Ecologia/SNE. Todas elas são

entidades ambientalistas, que atuavam na promoção da Educação Ambiental de

Pernambuco, fundadas dentro do nosso marco temporal que vai de 1979 a 1988, e

que ainda permanecem em atividade.

Uma vez identificadas estas primeiras entidades ambientalistas de

Pernambuco, contactamos um a um seus representantes e agendamos uma

conversa informal para exposição dos motivos que nos levaram a eles e, na

sequência, marcamos as entrevistas optando pelo uso das fontes orais por meio de

roteiro semi-estruturado1.

A opção pelas fontes orais como recurso metodológico, decorre de que

o trabalho da história oral junto aos segmentos populares resgata um nível de historicidade que comumente era conhecida através da versão produzida pelos meios oficiais. À medida que os depoimentos populares são gravados, transcritos e publicados, torna-se possível conhecer a própria visão que os segmentos populares têm de suas vidas e do mundo ao redor. (MONTENEGRO, 2010, p. 16).

Esta fala de Montenegro nos deixou bem à vontade e seguros no nosso

propósito de trabalhar com as fontes orais, por nos oferecer a convicção de que esta

metodologia seria a mais indicada, considerando que o foco da pesquisa era

exatamente os movimentos e entidades representativas dos segmentos populares.

Assim, nossa opção pelas fontes orais atende a intenção de registrar as

memórias trazidas pelos sujeitos de pesquisa ao contar como surgiu a Educação

Ambiental no estado de Pernambuco e de que maneira estas memórias atuam na

determinação da Educação Ambiental do ontem, do hoje e do amanhã.

O campo empírico em que se desenvolveu a pesquisa compreendeu o

movimento Amigos da Mata do Engenho Uchôa, a Associação de Proteção ao

1 No Apêndice A encontra-se o roteiro de entrevista.

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Ambiente Natural e a Sociedade Nordestina de Ecologia. No caso do movimento

Amigos da Mata do Engenho Uchôa, fizemos uma entrevista com a Professora Luci

Machado Pinheiro, uma das fundadoras do movimento. Por sugestão dela, fizemos

uma segunda entrevista, dessa vez com o coletivo do movimento Amigos da Mata

do Engenho Uchôa, momentos antes de uma reunião ordinária, onde estiveram

presentes 8 pessoas. A preocupação da Professora Luci Machado para que fosse

feita uma entrevista também com o coletivo, era para que fosse possível coletar o

máximo de informações sobre o tema. Na Associação de Proteção ao Ambiente

Natural/ASPAN, entrevistamos a Professora Maria Adélia Oliveira Monteiro da Cruz,

sócia fundadora. Ela, por sua vez, foi quem nos indicou a Professora Elizabete

Carneiro Batista Braga, presidenta da Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE, a

nossa última entrevistada. Para se chegar a essas pessoas contamos com a

simpatia delas e a disponibilidade em contribuir na construção deste trabalho.

As entrevistas foram realizadas entre os dias 29 de janeiro e 15 de abril de

2013. Foram duas entrevistas com o movimento Amigos da Mata do Engenho Uchôa

(entrevistas 01 e 03) uma com a Associação de Proteção ao Ambiente

Natural/ASPAN (entrevista 02) e uma com a Sociedade Nordestina de Ecologia/SNE

(entrevista nº 04). Na tabela a seguir reunimos dados sobre as entrevistas:

Tabela 1: Dados sobre as entrevistas Nº DATA ENTIDADE PESSOA

ENTREVISTADA LOCAL DA

ENTREVISTA

01 29/01/2013 Amigos da Mata do Engenho Uchôa

Profª. Luci Machado2 Coordenadora

Residência da entrevistada. Recife/PE

02 07/03/2013 ASPAN Profª. Maria Adélia3/ Sócia-Fundadora

Universidade Federal Rural de Pernambuco

03 1º/04/2013 Amigos da Mata do Engenho Uchôa

Membros4 do movimento presentes à reunião ordinária.

Biblioteca da Escola Pres. Humberto Castelo Branco, Barro, Recife/PE

04 15/04/2013 SNE Profª Elisabete Braga5/ Presidenta

Escritório da Entidade. Boa Vista, Recife/PE

Fonte: O autor.

2 No apêndice H encontra-se o termo de consentimento livre e esclarecimento da referida Professora.

3 No apêndice F encontra-se o termo de consentimento livre e esclarecimento da referida Professora.

4 No apêndice I encontra-se o termo de consentimento livre e esclarecimento dos referidos Membros.

5 No apêndice G encontra-se o termo de consentimento livre e esclarecimento da referida Professora.

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A nossa intenção com as entrevistas era obter relatos de como era vivenciada

a Educação Ambiental nessas entidades ambientalistas de Pernambuco no período

de 1979 a 1988; os motivos que os levaram a se preocupar com as questões

ambientais; que tensões ambientais estavam em voga na época no seio desses

espaços de educação não-formal - já que a Educação Ambiental ainda não era

instituída como tema transversal no currículo escolar e os problemas ambientais já

eram recorrentes na época - e também identificar quem foram os ambientalistas que

lutaram contra a degradação ambiental no período.

Após o processo de transcrição das entrevistas, imediatamente elas foram

submetidas aos entrevistados para que eles apontassem possíveis equívocos,

sugerindo as devidas correções, supressões ou acréscimos em suas falas, e

autorizassem a sua divulgação. Em seguida procedemos à análise cautelosa do

conteúdo cujas diferentes fases compreendem a pré-análise, a exploração do

material e o tratamento dos resultados: inferência e interpretação (BARDIN, 2007),

em busca de respostas às nossas indagações.

Por análise de conteúdo entende-se um conjunto de técnicas de análise das

comunicações na obtenção de indicadores, sejam eles quantitativos ou qualitativos,

que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de variáveis

inferidas destas mensagens, por procedimentos sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo das mensagens (BARDIN, 2007).

Na análise do conteúdo procuramos de inicio, identificar, nos relatos dos

entrevistados, os temas e as freqüências com que eles apareceram ao longo de

cada entrevista. À medida em que eles foram surgindo, nós os agrupamos em

diferentes categorias. Respeitadas as aproximações entre eles, identificamos 03

(três) grandes categorias: I-As questões motivadoras da Educação Ambiental de

Pernambuco; II-A práxis pedagógica da capital ao Sertão: A Educação Ambiental de

Pernambuco numa perspectiva transformadora e III-A coletividade, as parcerias, a

complexidade das lutas e as conquistas. Em cada categoria foram identificadas

diferentes subcategorias de análise.

Além das fontes orais, utilizamos como fonte de pesquisa alguns impressos

da época, fornecidos pelas pessoas que nos concederam as entrevistas. Estes

impressos nos ajudaram a identificar que conteúdos eram ensinados sobre a

temática e de que maneira e onde eram ensinados. Assim, fotografias, recortes de

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jornais e livretos, constituíram documentos valiosos para a coleta de dados. No caso

dos Jornais da época contamos com a colaboração da Fundação Joaquim Nabuco,

que nos concedeu acesso aos seus arquivos e forneceu cópia dos documentos

solicitados, importantes na identificação da nossa primeira entidade pesquisada e na

contextualização de Pernambuco no período.

Na sequência, todas as categorias e subcategorias foram analisadas à luz

dos referenciais teóricos, tendo sido observada a técnica de triangulação entre os

dados, que tem como objetivo básico

(...) abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo. Parte de princípios que sustentam que é impossível conceber a existência isolada de um fenômeno social, sem raízes históricas, sem significados culturais e sem vinculações estreitas e essenciais com uma macrorrealidade social. (TRIVIÑOS, 2008, p. 138).

Isso implica dizer que os dados obtidos a partir das entrevistas, ao serem

cruzados com os dados coletados em outros materiais analisados, inclusive com o

referencial teórico, ganhariam mais sustentação, mais significados e mais vinculação

com a realidade social, o que foi uma preocupação constante em nosso trabalho.

Após situar o leitor sobre o objeto da pesquisa e justificar a importância do

tema e do marco temporal bem como indicar o marco teórico, os objetivos e a

metodologia aplicada, cabe dizer que este trabalho está estruturado em 3 capítulos.

No capítulo 1 – A Educação Ambiental: Aspectos Gerais, procuramos trazer

para o debate alguns marcos históricos da Educação Ambiental no cenário mundial,

nacional e particular no estado de Pernambuco. O capítulo traz ainda o conceito de

Educação Ambiental previsto em Lei, seu caráter formal e não-formal, além das

diferentes vertentes, porém, com ênfase na vertente crítica. Aqui há um diálogo entre

vários teóricos, entretanto a ênfase está nas idéias Loureiro (2004a, 2004b, 2006a,

2006b), Lima (2009), Gohn (2010), Brandão (1995), Pinto (2010) e Freire (2006).

No capítulo 2 - Os Primeiros Achados: O estado de Pernambuco e as

entidades ambientalistas do período de 1979 a 1988. Neste capítulo as atenções se

voltam para o estado de Pernambuco e o contexto da época, com ênfase na

educação, economia, saúde e meio ambiente, cuja principal fonte de consulta foi a

página eletrônica do IBGE. Ainda neste capítulo as entidades ambientalistas (Os

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Movimentos Sociais e ONGs Ambientalistas de Pernambuco 1979 a 1988),

constituem também o debate, onde é feita uma reflexão teórica em torno dos

movimentos sociais de cunho ambientalistas procurando conceituá-los, identificá-los,

conhecer suas demandas, e o percurso histórico em que se deu o seu surgimento, e

apresentando os pioneiros da Educação Ambiental de Pernambuco. O

embasamento teórico encontrado para estas questões considera os estudos de

Gohn (2007, 2012), Loureiro (2004a, 2004b, 2011, 2006a, 2006b), Naves (2003) e

Rodrigues (1994).

O capítulo 3 – A Educação Ambiental de Pernambuco (1979-1988), discute as

categorias de análise encontradas em nossa pesquisa. Definir e detalhar cada uma

delas foi uma tarefa prazerosa e um verdadeiro mergulho num oceano rico em

detalhes, bastante característicos da Educação Ambiental de Pernambuco (1979-

1988).

Finalmente, a conclusão dá o fechamento a este memorial apresentando as

principais impressões a que chegamos com a realização deste trabalho, reafirmando

a sua contribuição para a História da Educação, inclusive pela formação de banco

de dados sobre a História e Memória da Educação Ambiental de Pernambuco.

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1 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ASPECTOS GERAIS

Neste capítulo apresentamos alguns marcos históricos da Educação

Ambiental no cenário mundial, nacional e particularmente no estado de Pernambuco.

O conceito de Educação Ambiental, previsto em Lei, e o seu caráter formal e não-

formal, além das diversas vertentes da Educação Ambiental são igualmente aqui

apresentados, com ênfase na vertente crítica.

De início, vale registrar que as preocupações com os recursos naturais e com

a qualidade de vida aparecem como questões motivadoras da Educação Ambiental

(CETEB, 2009).

Segundo Lima (1999), tais preocupações representam

situações marcadas pelo conflito, esgotamento e destrutividade que se expressam nos limites materiais ao crescimento econômico exponencial; na expansão urbana e demográfica; na tendência ao esgotamento de recursos naturais e energéticos não renováveis; no crescimento acentuado das desigualdades socio-econômicas intra e internacionais, que alimentam e tornam crônicos os processos de exclusão social, no avanço do desemprego estrutural; na perda da biodiversidade e na contaminação crescente dos ecossistemas terrestres, entre outros. São todas realidades que comprometem a qualidade da vida humana em particular e ameaçam a continuidade da vida global do planeta. (p. 135).

Acreditamos que estes aspectos são fundamentais para compreendermos, de

uma forma geral, como, quando e porque a Educação Ambiental se instaurou no

Brasil e em particular no estado de Pernambuco. No próximo tópico apresentaremos

alguns marcos da Educação Ambiental.

1.1 – MARCOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO

MUNDIAL, NACIONAL E, EM PARTICULAR, NO ESTADO DE PERNAMBUCO

Neste item serão discutidos alguns dos marcos históricos da Educação

Ambiental no Brasil e no mundo.

As preocupações relacionadas ao meio ambiente no cenário mundial, surgem

após o fenômeno da industrialização no final da década de 40 e na década de 50,

por um grupo de cientistas ligados às Nações Unidas.

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Inúmeros eventos relacionados à problemática ambiental aconteceram no

mundo. Em sua dissertação de mestrado Oscar (2006), a exemplo de Loureiro

(2004a, 2004b, 2006b), menciona alguns desses eventos. Dentre eles a publicação

do livro “Primavera Silenciosa” de autoria da jornalista Rachel Carson, na década de

60, denunciando a perda de qualidade de vida causada pelo uso indiscriminado de

pesticidas; a criação das primeiras Organizações Ambientais e a Fundação do

Greenpeace, em 1971.

Em 1972, surge o Clube de Roma, com o objetivo de debater a crise

ambiental, mas se posicionando a serviço dos poderosos grupos hegemônicos,

numa tentativa de garantir o controle sobre o desenvolvimento com a idéia de que os

recursos naturais estariam atingindo a sua finitude e que era necessário impor

limites ao crescimento. Assim, os poderosos poderiam continuar usufruindo dos

benefícios resultantes do avanço industrial e tecnológico, enquanto a periferia do

mundo seria privada do acesso a esses bens. Nesse contexto, o movimento

ambientalista era apontado como sendo um artifício político-ideológico, usado a

favor daqueles grupos para conter os benefícios advindos do avanço da indústria e

da tecnologia a todos os povos, mantendo sob seu controle o processo de

desenvolvimento, sob o argumento de que a industrialização não deveria ser mais

vista como uma prioridade nos países subdesenvolvidos. (CARRASCO; COSTA;

LINO, 2005).

Ainda em 1972, a primeira Conferência sobre Meio Ambiente Humano,

convocada pela ONU, em Estocolmo, busca soluções conjuntas de combate aos

problemas ambientais, tendo como resultado a “Declaração sobre o meio ambiente

humano” acompanhada de um Programa de Educação Ambiental, ocasião em que a

expressão Educação Ambiental, aparece pela primeira vez com o objetivo de educar

o cidadão para lidar com os problemas ambientais.

O debate ambiental não ficou por aí. Em 1975, em Belgrado, a UNESCO

realizou um encontro internacional onde se propôs que a Educação Ambiental

deveria ser contínua, interdisciplinar, integrada a diferenças regionais e voltada para

os interesses nacionais. Deste encontro saiu a Carta de Belgrado (um marco

conceitual no tratamento das questões ambientais)

Em 1977, aconteceu a conferência de Tbilisi que constitui até hoje o ponto

culminante do Programa Internacional de Educação Ambiental.

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29

A década de 80 foi marcada por grandes desastres ambientais como o da

usina nuclear de Chernobyl. Nessa década foi criada pela ONU a Comissão sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento estreitando a relação entre a Educação

Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

Em 1992, aconteceu no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), resultando na elaboração da

Agenda 216. Uma segunda versão dessa conferência aconteceu após 10 anos

(Rio+10) e uma terceira após 20 anos daquela (Rio +20).

No Brasil, a Educação Ambiental começa a surgir a partir da década de 1970,

atendendo as demandas dos organismos internacionais (ONU e UNESCO), além de

instituições financeiras e esferas governamentais e não-governamentais como as

associações e ONGs ambientalistas; instituições científicas, educacionais ou

religiosas; e pela iniciativa privada de algumas empresas envolvidas no apoio a

ações educativas voltadas ao meio ambiente (LIMA, 2009).

O contexto nacional é de um Brasil no auge do regime militar (década de

1970) retomando o estado democrático de direito com as eleições indiretas em 1985,

com a eleição do presidente civil Tancredo Neves. Havia muita restrição à liberdade

e a própria questão ambiental sofria influências conservadoras. Ferreira, Farias e

Cirne (2011) retratam bem esta situação ao falar que

o regime ditatorial não admitia diálogo e nem liberdade de expressão ou reunião. O exercício da cidadania ambiental começou com passeatas e protestos na porta de sedes governamentais. O movimento ganhou apoio de intelectuais e professores universitários. A princípio, os líderes reuniam populares e simpatizantes. Depois começaram a ser fundadas entidades com personalidade jurídica e instituídas com a finalidade da defesa do meio ambiente e proteção dos direitos difusos (p. 19).

De acordo com Lopes e Galvão (2001), no período de 1964 a 1985, o Brasil

vivia a ditadura militar e a educação era “vista como um elemento importante na

formação de novas gerações e na sua inserção em uma ordem política e econômica

que se quer inconteste” (p. 23).

6 A Agenda 21 pode ser definida como sendo um instrumento de planejamento para a construção de sociedades

sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social, e

eficiência econômica. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21>,

Acesso em 06.08.2013.

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Lima (2009) nos diz que

uma das consequências do clima autoritário vigente à época sobre esse campo está na constatação de que a EA brasileira, em seus primórdios, foi orientada por uma visão hegemônica de perfil conservacionista, tecnicista, conservadora e apolítica, embora essa não fosse sua expressão exclusiva. (p. 149)

A energia nuclear era uma preocupação marcante no Brasil da década de

1970, em função da instalação de usinas nucleares no território nacional. Da mesma

forma a questão dos agrotóxicos também se apresentava como sendo uma

inquietação na época, uma vez que a política agrícola incentivava o seu uso, que

somente veio a ser regulamentado em função da interveniência da AGAPAN 7-

Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, por meio de seus

representantes Lutzenberger e Sebastião Pinheiro. (FERREIRA, FARIAS e CIRNE,

2011)

Ainda segundo Ferreira, Farias e Cirne (2011), o desmatamento também era

uma questão que despertava uma preocupação com o meio ambiente, chegando a

mobilizar professores da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais em torno do

assunto. Ainda em Minas Gerais, a fauna e a questão do bem-estar-animal eram

objetos de estudos científicos.

Em Goiânia/GO, o acidente com uma cápsula contendo material radioativo

(Césio 137) em 1987, reacendeu as discussões em torno da contaminação por

materiais radioativos.

Ainda no cenário nacional, a preocupação com a natureza resultou na trágica

morte do seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, no município de

Xapuri/AC, e da religiosa Dorothy Stang, também assassinada, em 2005, no

município de Anapú/PA.

No Estado de Pernambuco, o destaque vai para a fundação da ASPAN -

Associação de Proteção ao Ambiente Natural, em 05 de junho de 1979, criada com

vistas à preservação ambiental e à melhoria da qualidade de vida, particularmente a

mais desassistida. (FERREIRA, FARIAS e CIRNE, 2011).

Fatos marcantes entre as décadas de 1970 e 1980 foram as enchentes, a

seca, o desmatamento e a poluição dos rios. A comunicação veiculada pela matéria

7 Primeira ONG ambientalista no Brasil. Foi fundada em 27 de abril de 1971, no estado do Rio Grande do Sul.

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de capa no jornal Diário de Pernambuco, datada de 10 de fevereiro de 1979,

registrou a preocupação do renomado ecólogo Professor João de Vasconcelos

Sobrinho8, com a devastação das matas e a consequente cheia ao sertão. Segundo

a matéria, o professor afirma que “a grande cheia que vai atingir a faixa ribeirinha do

(rio) São Francisco, já é resultante da alteração ecológica da região, em virtude do

desmatamento de toda a floresta do litoral brasileiro” (SOBRINHO, 1979, p. 1).

Noutra matéria de capa veiculada pelo jornal Diário de Pernambuco no dia 25

de fevereiro de 1984, os governadores nordestinos reunidos na SUDENE, dentre

eles o então Governador de Pernambuco Roberto Magalhães, clamaram “por

imediatas providências do Governo federal devido ao agravamento da situação

social na área sertaneja, fustigada pela seca”. (MAGALHÃES, 1984, p. 1).

Somente em meados dos anos 1980 é que a Educação Ambiental no Brasil,

adquire caráter público abrangente, com a realização dos primeiros encontros

nacionais, a atuação dos movimentos sociais de cunho ambientalista e com o

aumento das pesquisas científicas com essa temática. Como conseqüência dessas

primeiras lutas, a Educação Ambiental aparece como garantia constitucional em

1988, incluída nos PCN’s, e contemplada com uma Política Nacional de Educação

Ambiental instituída por Lei Federal (Lei n. 9795/1999), além de outros instrumentos

legais e documentos governamentais, mesmo não estando consolidada

nacionalmente como política pública (LOUREIRO, 2004b).

Feita esta narrativa em torno dos aspectos históricos da Educação Ambiental

no cenário nacional e mundial iremos dar sequência, trazendo para discussão, o

caráter formal e não-formal da Educação Ambiental, conforme segue na próxima

sessão.

1.2 – O CARÁTER FORMAL E NÃO-FORMAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nesta sessão, partimos do pressuposto de que falar em Educação Ambiental

é falar em Educação. Diante disso, além de apresentar o conceito de Educação

8 Professor, engenheiro agrônomo e ecólogo conservacionista. Dedicou-se ao estudo na área de meio ambiente

no Brasil e tornou-se uma das maiores autoridades em ecologia na América Latina. Fonte:

<(http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=126&Itemid=1

> Acesso em 1º/09/2013.

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Ambiental previsto em Lei, será discutido aqui o caráter formal e não-formal da

educação.

Educação Ambiental é definida pelo Art. 1º da Lei nº 9795/99 como sendo

os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

De acordo com o artigo 2º dessa Lei, a Educação Ambiental “é um

componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,

de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em

caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999).

Sobre esse aspecto Brandão (1995) nos ensina que a educação, de uma

maneira geral, não acontece apenas na escola e que não é apenas o professor o

seu único agente. Muitos são os ambientes onde acontece a prática educativa e só

para citar alguns temos: a escola, obviamente, em se tratando da educação formal; a

família, que é o caso da educação informal; e os diversos movimentos sociais, onde

neste caso a educação é classificada como não-formal. Diversos são, também, os

agentes da educação: o professor e demais funcionários da escola; os pais, irmãos,

tios, e demais familiares, vizinhos e amigos; o educador social9 e outros.

A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) define, em

seu artigo 1º, educação como sendo “processos formativos que se desenvolvem na

vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais” (BRASIL, 1996). Percebe-se aí a estruturação do campo

educacional em três áreas: informal, formal e não-formal, respectivamente.

Entretanto, como vimos, a Lei que define a Educação Ambiental (Lei nº

9795/99) apenas menciona o caráter formal e não-formal nos quais a Educação

Ambiental deve estar presente.

Para Gohn (2010), a educação formal, é caracterizada, dentre outros fatores,

como sendo aquela que acontece em local específico, está sujeita às normas dos

9 Agente da prática educativa (GOHN, 2010).

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sistemas de ensino, traz um currículo, uma carga horária e um cronograma a cumprir

e tem o professor como principal agente da prática educativa.

Já a educação não-formal – que é o um dos nossos focos - valoriza a

formação para a cidadania, é permeada de práticas socioculturais de aprendizagens

e não se restringe à instituição escolar; ela envolve instituições sociais e os

principais agentes dessa prática são os educadores sociais. Para esta autora a

educação não-formal

é um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania (...). Ela designa um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que envolve organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como uma multiplicidade de programas e projetos sociais (GOHN, 2010. p. 33).

Em outras palavras, este tipo de educação tem campo próprio, também é

intencional, volta-se para as questões de emancipação social dos indivíduos, por

meio de um atributo crítico de leitura e interpretação do mundo. Não deve ser vista

como contraposição ou alternativa à educação formal. Ela pode e deve atuar em

conjunto com a escola. É um campo que vem se consolidando desde as últimas

décadas do século XX, especialmente em função do fenômeno da globalização, e

está no centro das atividades das ONGs e programas de inclusão social.

Assim, a Educação Ambiental também obedece a esta mesma lógica: pode

ser formal e não-formal. Se por um lado o seu caráter formal apresenta toda uma

estrutura organizada, diretiva, orientada nacionalmente pela legislação vigente e

pelos Parâmetros Nacionais Curriculares, o caráter não-formal está desvinculado

dessas questões, se aproxima das demandas apresentadas pelas comunidades, e é

caracterizado pela oferta de atividades bastante diversificadas e dentro do contexto.

Ao falarmos em Educação Ambiental, é importante lembrar que há várias

vertentes, as quais são classificadas de acordo com a natureza de sua ação. A

sessão seguinte trata dessa questão.

1.3 – AS DIVERSAS VERTENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nesta sessão veremos que as pesquisas sobre a Educação Ambiental no

Brasil e no mundo, apontam para a ocorrência de diferentes vertentes.

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Sauvé (2005), classifica a Educação Ambiental em quinze diferentes

vertentes: naturalista, conservacionista/recursista, resolutiva, sistêmica, científica,

humanista, moral/ética que são as mais antigas (década de 1970 e 1980); além das

vertentes mais recentes: holística, biorregionalista, práxica, crítica, feminista,

etnográfica, da ecoeducação, da sustentabilidade.

Sorrentino (1997), destaca quatro vertentes Conservacionista, Educação ao

ar livre, Gestão Ambiental e a Economia Ecológica.

Oscar (2006), reflete sobre as diversas correntes e tendências da Educação

Ambiental a partir dos escritos de Pelizzoli, Loureiro, Sauvé e Reigota, e percebe

que algumas dessas correntes podem ser condensadas sem perda do objetivo da

classificação pelas proximidades que elas têm entre si.

Ele seleciona seis correntes fazendo uma síntese delas com seus respectivos

princípios e argumentos, conforme quadro 1 abaixo:

Quadro 1: Síntese das seis correntes da Educação Ambiental.

CORRENTE PRINCÍPIOS/ARGUMENTOS

1 – Crítica Muito próxima dos Ecossocialistas, esta corrente é identificada na obra de importantes pesquisadores/ autores da educação ambiental brasileira como Loureiro (2004).

2 – Preservacionista / Conservacionista

Bastante presente nos países do norte, mas também no Brasil, organiza-se em torno da preocupação de preservar os recursos naturais, mantê-los intocados, protegendo a flora e a fauna do contato humano e da degradação.

3 – Holística Reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos cíclicos da natureza. Tem como seu principal ícone o ecólogo norte-americano Fritjof Capra.

4 – Socioambiental Destaca a estreita relação dos problemas sociais com o atual estado de degradação ambiental do Planeta.

5 – Ecosofia Pressupõe articulação éticopolítica entre as três ecologias: meio ambiente, relações sociais e subjetividade humana. (GUATTARI, 1993).

6 – Cartesiana Defende que todos os impactos ambientais serão minimizados ou bloqueados pelo desenvolvimento da ciência matemática e tecnológica e não pela educação.

Fonte: OSCAR (2006, p. 50).

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Cremos que tais correntes, constituindo a síntese das demais pelas

proximidades entre elas, tal como reflete Oscar (2006), contemplam as outras -

inclusive as destacadas por Sorrentino (1997) não citadas por ele.

Entretanto nosso trabalho está pautado na perspectiva de uma Educação

Ambiental Crítica, tal como apresentada por Loureiro (2004a), por entendermos ser

uma das maneiras mais apropriadas de pensar a Educação Ambiental nos dias de

hoje, que demanda uma educação transformadora, pautada no pensamento de

Freire (2006).

É importante frisar que a perspectiva crítica por nós escolhida não possui

caráter excludente das demais. Pelo contrário, aqui ela é vista numa relação de

complementação com as demais vertentes. Isso é o que discutiremos na sessão a

seguir.

1.4 – A ÊNFASE NA VERTENTE CRÍTICA: A educação como mecanismo de

mudança.

Neste item de discussão veremos que as vertentes tradicional e crítica

decorrem da consciência ingênua e crítica respectivamente. Veremos também o que

caracteriza cada uma delas.

Educação Ambiental é antes de tudo educação. Loureiro (2004a) reforça esse

pensamento ao dizer que “educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e

se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as

múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo” (p. 66).

Assim, necessário se faz registrar, ainda que de forma muito breve, que há no

campo da educação, diferentes tendências e, entre elas, a vertente tradicional e a

vertente crítica.

A concepção de educação pautada na vertente tradicional está centrada na

idéia de uma educação bancária, tal como denuncia Freire (2006), em que o

educador deposita no educando os conhecimentos e este armazena para depois

prestar conta do que sabe, tal como recebeu, sem qualquer aporte crítico. Uma

educação que não questiona o conhecimento, mas recebe tudo como uma verdade

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absoluta. Portanto uma educação centrada na concepção ingênua, a qual, na fala de

Pinto (2010)

é sempre nociva, pois engendra as mais equivocadas idéias, que se traduzem em ações e juízos que não coincidem com a essência do processo real, que não são pois verdadeiras. Não podem levar à completa e rápida solução dos problemas que considera, e somente se torna uma fonte de equívocos, de desperdício de recursos, de intentos frustrados (p. 63).

Ainda segundo este autor, o pensar pedagógico ingênuo vê o educando como

ignorante e puro objeto da educação. Vê a educação como transferência de um

conhecimento finito e a figura do professor como mero transmissor. Vê ainda a

educação como dever moral da fração adulta, educada e dirigente da sociedade.

É uma educação que favorece o despertar de uma consciência crítica, que

busca a emancipação do ser.

Essa consciência crítica, da qual emana a vertente crítica da educação, é a

antítese da ingênua. Pinto (2010) nos diz que “a concepção crítica (...) conduz à

mudança da situação do homem e da realidade à qual pertence” (p. 65). Isto

favorece uma educação mais eficaz para a instrução da criança e do adulto. Ainda

segundo este autor, o pensar pedagógico crítico vê o educando como sabedor e

desconhecedor, sujeito (e nunca objeto) da educação, e a educação como um

diálogo entre os dois sujeitos: educador e educando.

Freire (2006) é a favor dessa educação que favorece uma ação dialógica,

libertadora, revolucionária, transformadora.

Assim, também é possível pensar a Educação Ambiental centrada, tanto na

perspectiva ingênua - a qual Loureiro (2004a) vai chamar de convencional - quanto

na perspectiva crítica.

De acordo com Loureiro (2004a) há pontos de divergências entre as vertentes

convencional e crítica da Educação Ambiental:

A Educação Ambiental Convencional está focada nas ações individuais

enquanto mudança de comportamentos compatíveis a um determinado padrão de

relações corretas com a natureza. A espécie humana fica reduzida a um organismo

biológico, associal e a-histórico. Ou seja, a culpa pela crise ambiental é atribuída ao

indivíduo e sendo assim o somatório de indivíduos com atitudes ecologicamente

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corretas evitariam o colapso ambiental. É na verdade uma mera falácia; uma

tentativa de ofuscar nossa visão diante da realidade que tem nas indústrias os

grandes destruidores da natureza.

Corroborando com esse entendimento Guimarães (2009) vê as práticas em

Educação Ambiental nas escolas de hoje como reprodutoras de uma concepção

simplista e reducionista da problemática ambiental que deseja transferir para o

indivíduo a responsabilidade pelas agressões à natureza. Simplista por não articular

com outros campos do saber, observando a realidade de forma

compartimentalizada, fragmentada; reducionista porque só analisa o problema em si,

de forma superficial, sem aprofundar as verdadeiras origens que lhe deram causa.

De fato, somos levados a acreditar que a problemática da crise ambiental

decorre das más ações individuais e não das ações agressivas das indústrias as

quais são de fato as grandes poluidoras. Romper com esses e outros paradigmas da

sociedade moderna é uma necessidade urgente a fim de propiciar condições em

sala de aula (ou fora dela), capazes de incutir no educando uma reflexão crítica de

realidade ambiental, seja no estado de Pernambuco, no Brasil ou no Mundo.

A Vertente Crítica da Educação Ambiental, por sua vez, põe ênfase numa

educação enquanto processo permanente, cotidiano e coletivo onde todos nós

(portanto a coletividade e não apenas o indivíduo) agimos e refletimos,

transformando a realidade de vida. Está fundamentada na crítica e autocrítica e nas

ações políticas em função de uma demanda de transformação social.

Ela (a vertente crítica) vem preencher uma lacuna deixada pela educação

formal, uma vez que esta não dá conta da criticidade necessária à transformação e,

nesse sentido, os movimentos sociais e entidades ambientalistas são

imprescindíveis.

Segundo Loureiro (2007),

Concretamente, a Educação Ambiental Crítica se insere no mesmo “bloco” ou é vista como sinônimo de outras denominações que aparecem com freqüência em textos e discursos (transformadora, popular, emancipatória e dialógica), estando muito próxima também de certas abordagens da denominada ecopedagogia. A sua “marca” principal está em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se refere à criação humana na história, a Educação Ambiental necessita vincular os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir na realidade e de existir na

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natureza. Reconhece, portanto, que nos relacionamos na natureza por mediações que são sociais, ou seja, por meio de dimensões que criamos na própria dinâmica de nossa espécie e que nos formam ao longo da vida (cultura, educação, classe social, instituições, família, gênero, etnia, nacionalidade etc.). Somos sínteses singulares de relações, unidade complexa que envolve estrutura biológica, criação simbólica e ação transformadora da natureza. Com a perspectiva crítica entendemos que não há leis atemporais, verdades absolutas, conceitos sem história, educação fora da sociedade, mas relações em movimento no tempoespaço e características peculiares a cada formação social que devem ser permanentemente questionadas e superadas para que se construa uma nova sociedade vista como “sustentável (p. 66).

Para ele, a Educação Ambiental Crítica rompe com as tendências

reprodutivistas das relações de poder; não comporta separações entre cultura-

natureza; faz críticas ao padrão de sociedade vigente, à ciência e à filosofia

dominante; é bastante complexa em seu entendimento de natureza, sociedade, ser

humano e educação; é transdisciplinar; implica pensar em ações sobre os aspectos

micro (currículo, conteúdo, relação escola comunidade, projeto político

pedagógico...) e macro (política, economia, relação trabalho mercado, formação de

professores, diretrizes curriculares...) e a vinculação entre si. (LOUREIRO, 2007).

No seu entendimento,

o cerne da Educação Ambiental Crítica é a problematização da realidade, de nossos valores, atitudes e comportamentos em práticas dialógicas. Ou seja, aqui conscientizar só faz sentido se for no sentido posto por Paulo Freire de “conscientização”: de processo de mútua aprendizagem pelo diálogo, reflexão e ação no mundo. (LOUREIRO, 2007, p. 70).

Essa vertente propicia uma reflexão sobre a realidade de tal forma que

passamos a discutir o assunto de forma mais profunda, saindo da superficialidade e,

portanto, perceber que a origem das crises ambientais pode estar na sociedade

capitalista, ao ditar as normas de comportamento para a economia mundial, tendo

em mente exclusivamente o lucro, promovendo acúmulo de riqueza e gerando

pobreza; ignorando a capacidade de suporte dos ecossistemas e explorando ao

máximo suas riquezas até o desperdício, sem pensar nas gerações atuais e futuras

(FOLADORI, 2008).

Gadotti (2000) nos fala das grandes mudanças que marcaram as últimas

décadas do século XX. Segundo ele, ainda não dá pra dizer o que deverá

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representar a globalização; sabe-se que as transformações tecnológicas

favoreceram o surgimento da era da informação e que este tempo é de expectativas

e reflexões que exigem cautela não só pelo início do novo milênio, mas também por

ser um momento novo e rico de possibilidades.

Sua proposta é de examinar algumas das perspectivas atuais da teoria e da

prática da educação, por vislumbrar esperança no futuro, mesmo com a

possibilidade de destruição total da vida no planeta em função do descontrole da

produção industrial.

Disso decorre a importância de refletir sobre a Educação Ambiental crítica.

Entendemos que a educação como mecanismo de mudança requer essa

abordagem. E é pensando nessa forma de educação que podemos pensar em

ações transformadoras para um futuro sustentável. “A educação transformadora

busca redefinir o modo como nos relacionamos conosco, com as demais espécies e

com o planeta. Por isso é vista como um processo (...) por meio do qual o indivíduo,

em grupos sociais, se transforma e à realidade” (LOUREIRO, 2004a, p. 81).

Após esse argumento em torno da vertente crítica da educação, que vê nos

movimentos sociais possibilidades de transformação social, somos convidados a

conhecer as entidades ambientalistas de 1979 a 1988, a partir dos quais a Educação

a Ambiental ganhou espaço para discussão no Estado de Pernambuco. Mas é

importante contextualizar Pernambuco nesse período. É o que faremos na

sequência.

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2 - OS PRIMEIROS ACHADOS: O ESTADO DE PERNAMBUCO E AS

ENTIDADES AMBIENTALISTAS DO PERÍODO DE 1979 A 1988.

Neste capítulo as atenções se voltam para o estado de Pernambuco e o

contexto da época, com ênfase na educação, economia, saúde e meio ambiente,

cuja principal fonte de consulta foi a página eletrônica do IBGE. Ainda neste capítulo

as entidades ambientalistas (Os Movimentos Sociais e ONGs Ambientalistas de

Pernambuco 1979 a 1988), constituem também o debate, onde é feita uma reflexão

teórica em torno dos movimentos sociais de cunho ambientalista procurando

conceituá-los, identificá-los, conhecer suas demandas, e o percurso histórico em que

se deu o seu surgimento, e apresentando os pioneiros da Educação Ambiental de

Pernambuco.

2.1 - QUE PERNAMBUCO É ESSE ?

Quando estávamos escrevendo as primeiras páginas desse trabalho, ainda

na sua gênese, uma pergunta que sempre nos inquietou era a seguinte: Que

Pernambuco é esse? Portanto, não havia como deixar de contextualizar

Pernambuco nesse período e esta é a tarefa desta sessão. A figura 1 abaixo localiza

no mapa o estado de Pernambuco no território brasileiro:

Figura 1: O estado de Pernambuco no território brasileiro: que Pernambuco é esse?

Fonte: O autor

Neste capítulo, recorremos ao senso do IBGE (1980) em busca de uma

resposta para essa inquietação, procurando destacar os aspectos político,

econômico, social e ambiental. A resposta veio na forma como segue.

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De acordo com o IBGE (1980), em 1º de setembro de 1980, o estado de

Pernambuco contava com 164 municípios, 360 distritos, 164 cidades e 196 vilas. A

população geral era de 6.141.993 sendo 2.968.083 homens e 3.173.910 mulheres.

As crianças com 0 a 4 anos de idade somavam 913.099 enquanto a população com

70 anos ou mais era de 163.134 pessoas. O Recife era região com maior população

com 1.203.899 pessoas, das quais 1.183.391 estavam concentradas em área

urbana e 20.508 em área rural.

Do total de 1.240.659 domicílios no estado, apenas 765.901 eram próprios, e

os demais eram alugados (272.497), cedidos (176.674), ou outra situação (25.187)

ou não declarado (400).

No tocante ao abastecimento de água, 432.929 domicílios eram abastecidos

com canalização interna, enquanto que para 806.086 domicílios não recebiam

canalização interna. Quanto às instalações sanitárias 466.435 domicílios não

possuíam. (IBGE, 1980).

A economia brasileira na década de 1980 passava por uma profunda crise

econômica De acordo com o IBGE (1980) a taxa média de inflação anual na década

chegou a 330%.

Num cenário de retração da economia, lembro-me perfeitamente que, a

exemplo dos demais estados brasileiros, o estado de Pernambuco sofria com a falta

de mercadorias nas prateleiras, e havia cobrança de ágio nas vendas de

determinados produtos. Nesse sentido Rodrigues (1994) reforça: “Alguns bens

duráveis, como automóveis, e até gêneros alimentícios, como a carne, passaram a

ser conseguidos apenas com “ágio” (...) “A carne, o leite e outros alimentos

começaram a escassear” (p. 47).

Na educação, estava em vigor a Lei Federal nº 5692/71, que fixava diretrizes

e bases para o ensino de 1º e 2º graus. O número de pessoas analfabetas (com 5

anos de idade ou mais) no início da década de 1980 no estado era correspondente à

2.604.503, num universo de 5.228.894. Na ocasião, o Mobral e o Ensino Supletivo

surgiram como alternativa aos que não tiveram acesso à escola.

No tocante ao aspecto social, o destaque vai para a área de saúde onde

longas filas se formavam nos postos de atendimento e as pessoas ficavam à espera

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da marcação de uma consulta médica; por várias vezes eu vivi esta experiência.

Aspecto que pouco mudou.

O Estado de Pernambuco refletia o cenário nacional onde era crescente a

privatização da medicina. Além de não construir novos hospitais públicos o governo

ainda acabava com os que já existiam e firmava convênio com hospitais particulares

para atendimento dos segurados. Assim, o sistema público de saúde além de

deficiente era um incentivo à corrupção (RODRIGUES, 1994).

As doenças que mais nos atingiram na época (apesar da AIDS com 4,8 mil

casos até outubro de 1988), foram as causadas pela fome aliadas à falta de

saneamento básico que contata apenas com 30 % dos domicílios brasileiros

servidos por rede de esgoto (IBGE, 1980). Eram absurdos os casos de doenças no

país como tuberculose, sarampo, lepra, doença de Chagas e malária.

(RODRIGUES, 1994).

Os problemas ambientais nacionais no final dos anos 1970 e década de 1980,

também eram preocupações locais: já havia a discussão em torno da exploração da

Amazônia pelos países do 1º mundo, interessados na extração de seus recursos

naturais. A Matéria intitulada “Freire: As multinacionais estão devastando Amazônia”

publicada no Diário de Pernambuco, no dia 07.01.1979, registra fatos dessa

natureza. Segundo a matéria, o Senador Marcos Freire denuncia que

(...) por trás de tudo isso movem-se os grandes interesses de grupos econômicos poderosos, inclusive de empresas multinacionais. (...) O Governo – prosseguiu – que até pouco tempo negava o intento de lotear a Amazônia, acaba de anunciar cerca de 15 lotes de arrendamento para os mais “sui generis” contratos de riscos. (...) Admite-se que mais de 20% de sua área florestal já foram devastadas. (...) numa situação como esta, em que se pretende facilitar novas investidas contra a luxuriante natureza amazônica, compromete-se o equilíbrio ecológico não só da região, mas também do Nordeste e até mesmo do Brasil e o do Continente.

(FREIRE, 1979, p. 1 e A-3).

Como se percebe o interesse econômico já ditava as normas de

comportamento do governo brasileiro perante a floresta amazônica e isso já se

configurava numa discussão em torno das questões ambientais no estado de

Pernambuco

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Em 1979, a poluição e a contaminação das águas dos rios e mares, poluição

atmosférica, acúmulo de lixo nas ruas, buracos nas vias públicas em função da falta

de calçamento, desmatamento, doenças, alto índice de desnutrição infantil, caça e

pesca predatória, seca e outros, representavam os principais problemas ambientais

do estado no período. Na matéria intitulada “Vasconcelos Sobrinho vê muitas

poluições ligadas ao dia-a-dia no Recife”, publicada na capa pelo Diário de

Pernambuco do dia 18 de janeiro de 1979, o professor Vasconcelos Sobrinho, fala

que

O Recife é uma das cidades mais poluídas do mundo. Sua poluição é intensa, profunda, perigosa, criminosa. Se não nos queixamos dela é porque ela já se incorporou ao nosso dia-a-dia. Já nos acostumamos. É a poluição das enfermidades endêmicas, a poluição atmosférica, poluição demográfica, poluição sonora e,

sobretudo, poluição da miséria. (SOBRINHO, 1979, p. 1)

Ainda no ano de 1979, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara,

também denunciava as poluições no estado, de acordo com a matéria publicada na

capa do Diário de Pernambuco do dia 15 de janeiro de 1979. A matéria traz o título

“Dom Hélder clama contra morte dos rios e dos peixes” e um trecho dela traz a

seguinte informação:

Ao falar ontem em Itapissuma (Igarassu), a mais de 20 mil pessoas o arcebispo dom Hélder Câmara criticou as indústrias que matam os rios e os peixes, “porque a poluição ameaça os pobre e desafia a Deus”. Aconselhou os empresários do município a instalarem equipamentos antipoluentes, que custam caro, mas que também aumentam os lucros. Em itapissuma, cinco mil pessoas e suas famílias, estão passando dificuldades porque os peixes estão morrendo devido a poluição. (CÂMARA, 1979, p. 1).

Como se vê, a poluição também se configurava num problema ambiental de

Pernambuco.

Além dessas questões havia bastante expectativa em relação à construção da

Avenida Boa Viagem. Ademais, o setor imobiliário não se cansava em lançar novos

empreendimentos, como era o caso do Privê Vermount, uma área de Mata Atlântica,

localizada em Camaragibe, distrito do município de São Lourenço da Mata, região

metropolitana do Recife. A Mata Atlântica, portanto, estava (e ainda está) sob

ameaça desses e de outros empreendimentos.

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Exemplos dessa natureza foram veiculados pela imprensa local e já

constituíam preocupações de alguns movimentos ecológicos que surgiram em

defesa do meio ambiente, mesmo num momento em que a situação ainda era de

repressão militar e o então presidente da República João Batista Figueiredo, teria

proibido as reuniões de ecólogos para debate sobre a Região Amazônica, conforme

veiculado na matéria intitulada “Proibida reunião de ecólogos para debate sobre a

Região Amazônica”, publicada no Diário de Pernambuco, do dia 10/01/1979, página

A-16, com um trecho que traz a seguinte informação:

SÃO PAULO - O ecólogo Gaúcho José Lutzemberger, que se encontra em São Paulo para participar de uma reunião da Comissão de Defesa do Patrimônio da Comunidade, denunciou ontem que o 5º Simpósio Internacional da Associação de Biologia Tropical, que deveria ser realizado em Manaus, no próximo mês, teve sua realização proibida pelo Governo brasileiro. (...) Segundo José Lutzemberger, a notícia da proibição não foi divulgada até hoje, “pois todos têm medo de falar” – Eu não era um dos inscritos no encontro – afirmou Lutzembeger – mas posso afirmar com certeza, que o Governo brasileiro não quis os cientistas entrangeiros reunidos aqui, pois eles poderiam constatar as barbaridades que estão sendo cometidas na Amazônia. (LUTZEMBERGER, 1979, p. A-16).

Como se vê, havia certa restrição da liberdade, mas ainda na década de

1970, as articulações nos movimentos sociais começaram a ganhar força e,

sobretudo na década de 1980, por meio das greves e dos protestos um grande

número de pessoas fizeram crescer as organizações em diversos setores da

sociedade. E assim, trilhando os caminhos das reivindicações trabalhistas até os da

preservação do meio ambiente, a sociedade organizada demonstrou o seu potencial

existente para a defesa e o exercício da cidadania. “Assumiram a luta pelo cotidiano

e pela livre expressão e organização, mantendo uma posição autônoma diante do

Estado, não o excluindo, porém, do diálogo na busca por soluções de problemas

vivenciados”. (LOUREIRO, 2011, p. 89)

Rodrigues (1994, p. 10) nos revela que “em seu constante movimento de

redescoberta, os homens dos anos 80 passaram a atuar contra alguns problemas

próximos”.

Enquanto isso, cenas de sexo e violência mantinham os cinemas lotados

(SEXO...1979, p. A-14), numa tentativa de diminuir nas pessoas o senso crítico, e

assim ofuscar suas visões para a realidade que os cercava, em obediência às

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orientações dos centros de poder da oligarquia anglo-americana que criara a seu

favor, já em meados da década de 1960, “a contracultura do rock, drogas, e

“liberação sexual”, fundamentada no irracionalismo e o anti-autoritarismo da Escola

de Frankfurt, que geraram o modus operandi das principais redes de comunicação

de massa”. (CARRASCO, COSTA e LINO, 2005, p. 13).

É nesse contexto que surgem as entidades ambientalistas, cuja preocupação

girava em torno das questões que envolviam a proteção aos rios, lagos, florestas,

matas, animais, etc., mas também iniciativas socioambientais, entendendo a

natureza como totalidade indissociável (LOUREIRO, 2006b), como as questões mais

amplas como a falta de moradia, fome, doenças, desemprego e miséria, as quais, na

perspectiva da Educação Ambiental Crítica, também figuram como problemas

ambientais, por representarem ameaças à qualidade de vida do homem - ser

integrante e indissociável da natureza.

Assim, ao falar nas entidades ambientalistas, eis que ressurgem as demais

inquietações já referenciadas na introdução deste trabalho:

Que entidades ambientalistas não-governamentais promoviam a Educação

Ambiental de Pernambuco no período de 1979 a 1988? Como a Educação

Ambiental acontecia nesses espaços de educação não-formal? Que concepções de

Educação Ambiental estavam em debate e que tensões ambientais marcaram a

época, partindo da história local?

2.2 - OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS ENTIDADES AMBIENTALISTAS DE

PERNAMBUCO (1979 a 1988).

Neste capítulo discorremos sobre a teoria dos movimentos sociais com

fundamento teórico a partir de Gohn (2007 e 2012) de modo especial, bem como de

Loureiro (2011) e Naves (2003) de forma complementar. Aqui serão discutidos de

forma sucinta itens como a identidade dos movimentos sociais, o seu caráter

coletivo, suas demandas, o interesse pelas questões ambientais e a caracterização

das entidades ambientalistas pioneiras no estado, objeto de nossos estudos.

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2.2.1 – OS MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS ENQUANTO MOVIMENTOS

SOCIAIS

Os Movimentos Sociais são aqui entendidos como sendo “ações sociais

coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da

população de se organizar e expressar suas demandas”. (GOHN, 2007, p. 13).

Loureiro (2011) também nos diz que os movimentos sociais constituem ações

coletivas, e acrescenta que estas ações acontecem por meio de diferentes

modalidades: por meio de denúncia, protesto e conflito; cooperação, parceria e

solidariedade; e construção de utopia societária ou civilizacional.

Em termos de coletividade, Naves reforça a idéia de que “os Movimentos

Sociais se fundamentam em questões de identidade coletiva” (2003, p. 568).

Assim, os movimentos sociais surgem em função das demandas de pequenos

ou grandes grupos representativos de classe, gênero, etnia, raça, etc., no sentido de

lutar pelo reconhecimento e garantia de seus direitos enquanto cidadãos, ou seja, a

garantia da cidadania10.

Ao final do século XX, as diferentes demandas expressas pelos movimentos

sociais se referem à luta por melhoria no atendimento à saúde e contra a

discriminação das pessoas que contraíram o vírus da AIDS; à luta contra a fome, o

racismo e o preconceito; à luta contra a falta de moradia, melhores condições de

trabalho, etc. No bojo desses movimentos destacavam-se os diversos movimentos

de classes trabalhadoras, o movimento das mulheres, o movimento estudantil,

movimentos étnico raciais. Gohn, reforça essa afirmativa ao dizer que

As mudanças na conjuntura política no início dos anos de 1980 vieram a alterar o cenário. (...). No campo das práticas não exclusivamente populares, iniciou-se o interesse, por parte dos pesquisadores, por outros tipos de movimentos sociais, tais como o das mulheres, os ecológicos, os dos negros, índios etc. Foram movimentos que ganharam expressão naquela década, embora fossem lutas já antigas que ressurgiram no Brasil ao final dos anos de 1970 (2012, p. 281).

10

Segundo Gohn (2005), o conceito de cidadania sofreu evolução ao longo da história de tal forma que na

década de 1970/1980, não é o mesmo que se tinha na Grécia, onde ele se origina, ou na Roma, onde foi

estabelecido um estatuto legal a esse conceito, baseado em direitos e deveres. Para esta autora, ao final do século

XX, surgem novas concepções e o conceito de cidadania coletiva passa a ser um exemplo disso. Este conceito

foge do tradicionalmente conhecido com foco no indivíduo e passa a considerar a coletividade que vive situações

similares de exclusão ou inclusão numa dada realidade

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Gohn (2007) destaca que esses movimentos sociais dos anos 70/80

contribuíram decisivamente para a conquista de vários direitos sociais novos,

previstos na Constituição Brasileira de 1988.

Ainda segundo Gohn (2007), a conjuntura política brasileira da época vitimou,

por meio de políticas neoliberais, esses movimentos, buscando desorganizar e

enfraquecer os setores organizados, o que os levou a atuarem em redes e em

parcerias com outros setores sociais institucionalizados, oportunidade em que as

Organizações Não-Governamentais - ONGs11 e os Movimentos Sociais redefiniram

seus laços e relações, fortalecendo-se aqueles com perfis de demandas mais

universais, mais plurais.

Os Movimentos Sociais e as Organizações Não-Governamentais (ONGs)

desempenham seus papéis na educação não-formal, contribuindo através de uma

diversidade de formas de aprendizagem, na capacitação dos sujeitos para o trabalho

e organização visando objetivos comunitários. Para se ter uma idéia, “os

movimentos sociais, especialmente os europeus, passaram a privilegiar temas como

a questão nuclear, a ecologia, as intervenções militares e econômicas em países de

Terceiro Mundo e o direito das “minorias” raciais e sexuais” (RODRIGUES, 1994, p.

10).

Num esboço da trajetória dos movimentos sociais no Brasil, Gohn (2012),

afirma que os movimentos das mulheres, ecológicos e outros tiveram suas análises

transplantadas de países “centrais” sem as devidas mediações, resultando em

alguns casos no fato de que os hábitos dos pobres foram apontados como

causadores de poluição e destruição da natureza. A transposição superficial,

baseada na cultura européia, das categorias de análises, ofuscou a visão sobre

nossa realidade.

Rodrigues nos diz que “no mundo de hoje – em que os objetos cada vez mais

rapidamente tornam-se obsoletos – quase tudo é considerado descartável, os

modismos se sucedem com a rapidez do tempo criado pela tecnologia e sustentam

um modelo consumista de vida” (1994, p. 11). Certamente este modelo consumista

11

As ONGs, são “entidades voltadas para questões de interesse público, capazes de formular projetos, monitorar

sua execução e prestar contas de suas finanças” (NAVES, 2003, p. 570).

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resultou na exploração desordenada dos recursos naturais, o que levou alguns

movimentos sociais e ONGs a priorizarem as questões ecológicas.

É graças à diversidade de demandas dos movimentos sociais que Naves

(2003), classifica as ONGs em “caritativas” (oferecem assistência ao menor, mulher

e idosos), “ambientalistas” (relacionadas às questões ambientais) e as “cidadãs”

(reivindicam outros direitos da cidadania).

O grupo “ambientalistas” tal como classificado por Naves, aparece neste

trabalho em função da temática da pesquisa.

Segundo Loureiro (2004b) o movimento ambientalista ganha caráter público e

social efetivo no Brasil apenas no início da década de oitenta, com um viés

conservacionista, sob a influência dos valores da classe média européia, e com um

tom político predominante nas organizações.

Vale lembrar que a preocupação girava majoritariamente em torno das

questões biologizantes, mas também iniciativas socioambientais, embora estas não

fossem tendências hegemônicas. (LOUREIRO, 2006b). Para ele

falar em ambiente era pensar em relações ecológicas deslocadas da totalidade social, em um assunto técnico voltado para a resolução dos problemas ambientais ou em algo que impedia o desenvolvimento do país (para grupos mais reacionários e desenvolvimentistas refratários às discussões ambientais). Nesse contexto, a Educação Ambiental se inseriu nos setores governamentais e científico vinculados à conservação dos bens naturais, com forte sentido comportamentalista, tecnicista, e voltada para o ensino da Ecologia. Havia iniciativas socioambientais, entendendo a natureza como totalidade indissociável, mesmo entre os setores de órgãos de meio ambiente (...) contudo, não eram tendências hegemônicas. (2006b, p. 50)

Assim, pode-se dizer que a Educação Ambiental naquele período, embora

fosse majoritariamente voltada para as questões biologizantes, esquecendo-se que

o homem também é parte integrante deste meio, outras questões de ordem social e

econômicas, por exemplo, também constituía preocupação na época, mas não eram

questões amplamente discutidas. O problema do caráter hegemônico da Educação

Ambiental era que não contribuía para pensamento crítico, pois concebia as

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questões ambientais de forma isolada dos demais problemas sociais, como se o

humano não fosse parte integrante e indissociável da natureza.

Loureiro (2004b) acrescenta que

a falta de percepção da Educação Ambiental como processo educativo, reflexo de um movimento histórico, produziu uma prática descontextualizada, voltada para a solução de problemas de ordem física do ambiente, incapaz de discutir questões sociais e categorias teóricas centrais da educação. E mais, a ausência de reflexões sobre o movimento ambientalista, seus propósitos e significados políticos, levou à incorporação acrítica por parte dos educadores ambientais, das tendências conservadoras e pragmáticas dominantes, estabelecendo ações educativas dualistas entre o social e o natural, fundamentadas em concepções abstratas de ser humano e generalistas e idealistas no modo como definem a responsabilidade

humana no processo de degradação ambiental.(p. 81)

Naves (2003) nos diz que os movimentos ecológicos (ambientalistas)

surgiram a partir de meados da década de 1980. Porém, vimos em nossas

pesquisas, que o movimento ambientalista no Brasil surge no ano de 1971, como é o

caso da AGAPAN, no estado do Rio Grande do Sul.

No estado de Pernambuco, dentre as entidades ambientalistas mais antigas

que conseguimos identificar temos o movimento Amigos da Mata do Engenho Uchôa

(que, como dissemos, passou a chamar-se Movimento em Defesa da Mata do

Engenho Uchôa) e a Associação de Proteção ao Ambiente Natural – ASPAN (que

passou a denominar-se Associação Pernambucana de Defesa da Natureza,

permanecendo a mesma sigla), que surgiram precisamente no ano de 1979, os

quais juntamente com a Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE (criada em 1986),

passam a constituir nosso campo empírico.

São entidades não-governamentais em defesa do meio ambiente, visando

protegê-lo do uso indiscriminado, o que poderia comprometer a qualidade de vida;

portanto uma demanda mais universal, mais plural, o que fez com que esses

movimentos se fortalecessem e permanecessem ativos até hoje.

Nesta sessão discutimos sobre os movimentos ambientalistas enquanto

movimentos sociais. No próximo item apresentaremos um breve histórico de cada

uma das entidades que foram investigadas nesta pesquisa.

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2.2.2 - AS ENTIDADES AMBIENTALISTAS PIONEIRAS DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979-1988).

No âmbito deste trabalho pesquisamos essas entidades pioneiras da

Educação Ambiental de Pernambuco que se mantém ativas nos dias atuais. Antes

de discutirmos as categorias de análise, vejamos um breve histórico de cada uma

delas:

A Associação de Proteção ao Ambiente Natural – ASPAN (1979)

A Associação de Proteção ao Ambiente Natural – ASPAN, foi fundada em

Recife, no dia 05 de junho de 1979, por um grupo de estudantes universitários. Os

cerca de 55 associados eram estudantes universitários, professores, profissionais

liberais e funcionários públicos. Sua sede inicial tinha endereço à rua de São Bento,

nº 225, Olinda, PE. Trata-se de uma entidade ambientalista, constituída por

cidadãos e cidadãs, autônoma, sem vinculação (dependência) político-partidária-

religiosa, com trabalho eminentemente voluntário e multidisciplinar. É a mais antiga

entidade ambientalista do Nordeste e uma das dez mais antigas do Brasil (ASPAN,

2013).

A ASPAN traz em sua marca o logotipo abaixo:

Figura 2: Logotipo da ASPAN

Fonte: ASPAN (2013).

Esse logotipo sugere uma flor, cujas pétalas em número de cinco, apresentam

formas de coração unidos entre si. A flor estaria representando o carinho com a

natureza, os corações representariam o amor por essa natureza, e a união entre

eles remete ao caráter coletivo que se configura no seio das entidades

ambientalistas. Obviamente que estas são interpretações próprias deste autor,

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entretanto, a Professora Maria Adélia, uma das fundadoras da entidade, explicou

que os cinco corações estariam representando os cinco continentes, uma vez que a

intenção da instituição era pensar localmente para agir globalmente.

De acordo com informações obtidas em sua página eletrônica, a ASPAN

promove a defesa dos recursos naturais e da qualidade de vida das populações de

um modo geral, em particular as mais pobres e desprotegidas. No curso de sua

história são evidentes a amplitude de temas, a diversidade de problemas e a

distribuição geográfica de sua atuação. Produziu dezenas de documentos técnicos,

pareceres e avaliações, e dentro de seus objetivos estatutários, promoveu diversos

cursos, seminários, oficinas, encontros e eventos públicos. (ASPAN, 2013)

Ainda de acordo com informações constantes de sua página eletrônica, a

ASPAN se fez representar em quase todos os encontros nordestinos e nacionais de

entidades ambientalistas, além dos Encontros Nacionais e Internacionais. Promoveu

inúmeras manifestações públicas e produziu diversos folhetos e histórias em

quadrinhos buscando sensibilizar a população para a questão ambiental. Além

disso, ela possui credenciamento da ONU para atuar junto aos secretariados das

principais convenções ambientalistas, e as suas respectivas conferências oficiais,

tendo acento, em New York, junto ao Conselho Econômico e Social e na Comissão

de Desenvolvimento Sustentável. (ASPAN, 2013)

Dados ali constantes ainda revelam que desde a sua fundação em 1979 até

1991, a ASPAN trabalhou com recursos exclusivamente do seu quadro de

associados e simpatizantes. A partir de 1992 aceitou o primeiro recurso externo que

veio do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social e depois contou com

recursos de outras instituições do Estados Unidos da América, Holanda, Brasil,

Canadá e Alemanha. Atualmente, conta com o apoio principal da Fundação Avina

(Suiça) e da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional; dentre outras,

sem deixar de ter a contribuição de seus associados e simpatizantes para o

desenvolvimento de suas atividades e projetos. (ASPAN, 2013)

Para falar sobre essa instituição foi entrevistada a Professora Maria Adélia

Oliveira Monteiro da Cruz (entrevista nº 02). Ela é sócia fundadora da ASPAN e na

época era estudante de Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de

Pernambuco/UFRPE.

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Os Amigos da Mata do Engenho Uchôa (1979)

Os Amigos da Mata do Engenho Uchôa, corresponde a um movimento

ambientalista que surgiu no ano de 1979. Era um pequeno grupo de amigos que

estava preocupado em defender a Mata do Engenho Uchôa, das ameaças a que

estava submetida, especialmente por parte do setor imobiliário que desejava

construir no local um privê de alto luxo. Mais tarde o grupo se ampliou, recebeu o

apoio de inúmeras instituições e passou a se chamar Movimento em Defesa da Mata

do Engenho Uchôa. Atualmente, as reuniões ordinárias do movimento acontecem na

primeira terça-feira de cada mês, na Biblioteca da Escola Estadual Presidente

Castello Branco, localizada na Avenida Dr. José Rufino, 2.993, Tejipió, Recife/PE.

A Mata do Engenho Uchôa está localizada na bacia do Rio Tejipió. É a única

área urbana em Pernambuco que mantém os três biomas – mangue, restinga e mata

atlântica. Abrange uma área de 192ha, o que representa quase 1% da cidade do

Recife. Em seu entorno há 11 bairros nos quais residem cerca de 19% da população

da Cidade do Recife. Essas informações encontram-se no blog do Movimento

(UCHÔA, 2012).

Na figura abaixo temos uma vista aérea da Mata do Engenho Uchôa

(contornada em amarelo), onde se percebe o contraste entre o verde da mata e a

ocupação do solo decorrente do desenvolvimento urbano:

Figura 3: Vista aérea da área preservada da Mata do Engenho Uchôa

Fonte: UCHÔA (2012).

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De acordo com informações constantes em seu blog, a Mata, patrimônio

ecológico da cidade do Recife, contribui com a melhoria da qualidade de vida da

população, regulando o clima, a temperatura, as chuvas, protegendo o solo, o

sistema hídrico, o relevo, a fauna e a flora. É um remanescente de Mata Atlântica

cuja preservação tem sua importância na manutenção do equilíbrio ecológico na

cidade. Constitui fonte de pesquisa e produção de conhecimento. É referência

paisagística para a capital Pernambucana.

Ainda de acordo com informações do Blog, a mata é considerada um dos

mais ricos conjuntos de ecossistemas da região, e a única área de mata no

perímetro urbano. É Reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU)

como sendo Reserva da Biosfera.

Dentre a riqueza da flora e da fauna foram catalogadas várias espécies que

podem ser conferidas no ANEXO I.

Na busca de dados sobre essa entidade realizamos uma primeira entrevista

(entrevista nº 01) com a Professora Luci Machado Pinheiro, uma das fundadoras do

movimento. Porém, a seu pedido, realizamos uma segunda entrevista (entrevista nº

03), complementar à primeira, desta vez com o coletivo do movimento reunido em

sessão ordinária.

A Sociedade Nordestina de Ecologia – SNE (1986)

A Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE) é uma Organização Não

Governamental de cunho ambientalista e caráter científico. Sua finalidade é agregar

pessoas e instituições ligadas ao meio ambiente, estimular reflexões da sociedade

em relação aos temas ambientais, promover e incentivar o estudo da ecologia e

intercâmbio de informações, desenvolver ferramentas pedagógicas e de

planejamento, além de implementar ações que visem o desenvolvimento

sustentável. (SNE, 2013).

Ela traz em sua marca o logotipo a seguir:

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Figura 4: Logotipo da SNE

Fonte: SNE, 2013.

O logotipo sugere uma tela na qual há a figura de um sol, uma figura humana,

dois peixes, um cacto (vegetação típica do sertão) e uns traçados que lembram as

águas e ao mesmo tempo a terra, a depender de sua posição próxima ao peixe ou

ao cacto. O sol estaria representando a energia de quem trabalha na entidade, ou

mesmo a luz necessária para iluminar as mentes que se voltam para as questões

ambientais, ou ainda a seca que castiga o sertão nordestino. Os peixes, ao mesmo

tempo que estariam indicando a riqueza natural que alimenta o homem, estariam

indicando também o alerta quanto à poluição hídrica, e o cacto estaria simbolizando

a resistência das entidades ambientalistas diante das adversidades que seriam

encontradas ao longo dos tempos. No mais, o traçado que lembram as águas e ao

mesmo tempo a terra, pode se configurar na ideia de uma educação ambiental que

se volta tanto para o homem do litoral quanto do sertão pernambucano. Obviamente

que estas também são interpretações próprias deste autor, podendo existir outras no

seio da entidade que o criou.

A SNE foi fundada em 1986, ela atua nos nove estados do nordeste brasileiro.

Sua sede fica localiza-se à Rua Barão de Itapissuma, s/n, CEP 53.700-000, Centro,

Itapissuma/PE. Inscrita no CNPJ sob nº 35.328.525/0001-35, possui escritório à Av.

Visconde de Suassuna, 923, sala 503, CEP 50.050-540, Boa Vista, Recife/PE.

Segundo informações constantes de sua página na internet, no

desenvolvimento de suas atividades a SNE aborda as mais diversas questões

ligadas à temática ambiental, tais como: as estratégias de desenvolvimento locais e

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regionais; as políticas municipais, estaduais e federais de meio ambiente; a proteção

dos ecossistemas nordestinos; o uso sustentável dos recursos naturais; a produção

de mudas de essências nativas; o reflorestamento e a recuperação de áreas

degradadas. (SNE, 2013).

Ainda de acordo com esta mesma fonte, a SNE promove congressos,

palestras, mesas redondas, seminários, workshops e cursos, contemplando uma

diversidade de temas como a Mata Atlântica, a Zona Costeira, as Bacias

Hidrográficas, o Semi-árido, o Vale do São Francisco, a Chapada do Araripe, as

Unidades de Conservação, a Poluição; as doenças causadas pela insalubridade

ambiental; e a miséria das populações urbanas e rurais.

Além de interagir com a sociedade civil organizada através das ONG’s

ambientalistas, científicas, de desenvolvimento e de comunidades de base, a SNE

busca apoiar e realizar trabalhos em conjunto com universidades, órgãos oficiais de

meio ambiente e organizações governamentais e não governamentais. Somando-se

a isso a SNE mantém intercâmbio institucional com diversas entidades do Brasil e do

exterior.

Vimos ainda, na mesma página eletrônica, que a SNE tem participação em

colegiados de diferentes instituições, promove a Educação Ambiental por meio de

diferentes projetos, realiza trabalhos técnicos como estudos, pesquisas e encontros

científicos, além da produção de material de divulgação (folders, panfletos, cartazes,

calendários e exposição fotográfica).

Na SNE entrevistamos a Professora Elizabete Carneiro Batista Braga

(entrevista nº 04), sócia fundadora e atual presidente da instituição.

Neste capítulo apresentamos as entidades ambientalistas pioneiras da

Educação Ambiental de Pernambuco, ainda ativas nos dias atuais. Aqui procuramos

registrar algumas características de cada uma delas.

No capítulo seguinte apresentaremos a Educação Ambiental de Pernambuco

(1979-1988), com base no conteúdo das entrevistas realizadas e dos demais

documentos da época conseguidos junto à FUNDAJ e entidades pesquisadas, a

partir de 3 categorias a seguir definidas.

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3 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO (1979-1988)

Neste capítulo apresentamos os dados obtidos a partir das entrevistas e dos

materiais coletados, submetendo-os à análise de conteúdo e procedendo à

triangulação de dados, inclusive com marco teórico.

Conforme já indicado, os dados obtidos foram agrupados em 3 (três) grandes

categorias assim estabelecidas: 1) As questões motivadoras da Educação Ambiental

de Pernambuco; 2) A Práxis Pedagógica da Capital ao Sertão: A Educação

Ambiental de Pernambuco numa perspectiva transformadora e 3) A coletividade, as

parcerias, a complexidade das lutas e as conquistas. Definir e detalhar cada uma

delas foi uma tarefa prazerosa e um verdadeiro mergulho num oceano rico em

detalhes, bastante característicos da Educação Ambiental de Pernambuco (1979-

1988). Vejamos:

3.1 - AS QUESTÕES MOTIVADORAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE

PERNAMBUCO

Enquadramos nesta categoria as razões que levaram as primeiras entidades

ambientalistas do estado de Pernambuco a se preocuparem com as questões

ambientais. Vale lembrar que apesar dos problemas ambientais serem recorrentes

na época, a educação ambiental ainda não havia sido instituída como tema

transversal no currículo escolar, mesmo assim ela já era uma realidade para aqueles

espaços não-formais de educação.

Conforme vimos no capítulo 1, a Educação Ambiental é motivada pelas

ameaças a que estão submetidos os recursos naturais e pela melhoria da qualidade

de vida (CETEB, 2009). São situações marcadas por conflitos, esgotamento e

destrutividade, expressos na expansão urbana, esgotamento dos recursos naturais,

desigualdades sócio-econômicas e a consequente exclusão social, avanço do

desemprego, perda de biodiversidade, contaminação dos ecossistemas e outros.

(LIMA, 1999). Com as entidades ambientalistas de Pernambuco daquele período

não foi diferente.

A tabela nº 02, a seguir, indica as questões motivadoras da Educação

Ambiental de Pernambuco e a frequência com que elas aparecem nas falas dos

entrevistados em cada entidade pesquisada. Tais questões aparecem na primeira

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coluna da esquerda na forma de subcategorias dessa primeira categoria de análise.

Elas foram construídas a partir da fala dos entrevistados e agrupadas de acordo com

a aproximação entre si.

Assim, na primeira subcategoria de análise, por exemplo, toda vez que

aparecia na entrevista uma fala que se enquadrava na temática expansão imobiliária

ou desenvolvimento regional nós as contabilizamos para registrar as frequências e o

respectivo percentual. Essa metodologia foi aplicada a todas as demais categorias e

subcategorias que se seguem. Vejamos então a tabela 2:

Tabela 2: As questões motivadoras da Educação Ambiental de Pernambuco. 1ª CATEGORIA DE ANÁLISE

AS QUESTÕES MOTIVADORAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO

Subcategorias

Amigos da Mata do Engenho

Uchôa

Entrevistas nº 01 e 03

ASPAN

Entrevista

nº 02

SNE

Entrevista

nº 04

TOTAL

FR % FR % FR % FR %

Expansão imobiliária e desenvolvimento regional (urbano, industrial e agrícola)

9 29,03 18 58,06 4 12,90 31 100

Degradação dos ecossistemas e fenômenos ligados às mudanças climáticas (desertificação e seca)

12 36,36 12 36,36 9 27,27 33 100

A preocupação com a preservação e conservação da natureza

16 44,44 14 38,89 6 16,66 36 100

A atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem como elemento indissociável da natureza)

7 21,88 24 75 1 3,12 32 100

Legenda: FR – Frequência. Fonte: O autor.

Pela tabela 2, percebe-se que todas as questões motivadoras da Educação

Ambiental de Pernambuco apresentam um total de frequência muito próximo um dos

outros (31%, 33%, 36% e 32%). Percebe-se ainda, que a preocupação com a

preservação e conservação da natureza é o tema mais frequente para os Amigos da

Mata do Engenho Uchôa (44,44%), enquanto para a ASPAN, o tema mais frequente

é a expansão imobiliária (58,06%) e para a SNE é a degradação dos ecossistemas

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(27,27%). Percebe-se ainda, que com um percentual de 75%, a ASPAN apresenta

como questões motivadoras a atenção à qualidade de vida do homem,

reconhecendo-o como elemento integrante e indissociável da natureza. Conclui-se,

que além das questões biologizantes (aquelas mais voltadas para a natureza

biológica, tais como os recursos naturais compreendidos a fauna e flora, por

exemplo), a preocupação com a qualidade de vida do homem também era motivo

para se pensar em Educação Ambiental.

Vejamos detalhadamente cada uma das questões que constituem esta

primeira categoria de análise.

Expansão imobiliária e desenvolvimento regional (urbano, industrial e

agrícola):

A expansão imobiliária e o desenvolvimento regional estão aqui

representados pela construção do metrô; pelo projeto de construção de um privê de

alto luxo; pelo crescimento da cidade do Recife (decorrente de construção de

edifícios, construção de casas populares e construção de avenidas); pela construção

do porto de SUAPE; pela agropecuária extensiva, uso de pesticidas e pelas

instalações de indústrias. Esses temas eram recorrentes no período e marcaram a

luta das entidades e movimentos ambientalistas, em defesa da natureza e da

qualidade de vida do homem.

Segundo a Professora Maria Adélia, a expansão imobiliária só traz benefícios

para a parcela mais bem assistida da população em detrimento dos mais

necessitados. Ela nos conta, que as pessoas eram expulsas de suas casas sem

nenhum direito e completa: “Estavam ali, né, de forma errada e eram postas pra fora.

Por exemplo, Brasília Teimosa foi assim. Quantas vezes se derrubaram aqueles

barracos sem nenhuma preocupação de onde iriam aquelas famílias? (Entrevista nº

02).

A tabela 3, a seguir, sintetiza esta subcategoria de análise, indicando a

frequência e o percentual com que cada tema aparece nas entrevistas das três

entidades pesquisadas:

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Tabela 3: Expansão imobiliária e desenvolvimento regional. Expansão imobiliária e

desenvolvimento regional (urbano,

industrial e agrícola)

Amigos da Mata do Engenho

Uchôa

Entrevistas nº 01 e 03

ASPAN

Entrevista

nº 02

SNE

Entrevista

nº 04

TOTAL

FR % FR % FR % FR %

Construção do porto de SUAPE

0 0 9 50 4 100 13 41,94

Crescimento da cidade do Recife (construção de edifícios, casas populares, avenidas)

5 55,56 4 22,22 0 0 9 29,03

Projetos de Privê de alto luxo 3 33,33 1 5,55 0 0 4 12,9

Agropecuária extensiva ou uso de pesticidas

0 0 2 11,11 0 0 2 6,45

Instalação de indústrias 0 0 2 11,11 0 0 2 6,45

Construção do metrô 1 11,11 0 0 0 0 1 3,22

LEGENDA: FR - Frequência Fonte: O autor

Pela leitura da tabela acima percebemos que o crescimento da Cidade do

Recife (55,56%), o projeto de Privê de alto luxo (33,33%) e a construção da estação

do metrô no bairro do Barro (11,11%) foram os motivos que levaram os Amigos da

Mata do Engenho Uchôa a se organizarem em defesa da Mata. Em trecho da

entrevista com o coletivo do Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, o

Sr. Augusto Semente, reforça essa informação ao dizer que a luta começou quando

...quiseram construir prive de luxo, não foi? Privê de luxos ali, certo? E depois teve proposta de casas populares, não foi? Então a mobilização era em cima de coisa concreta. (Entrevista nº 03).

A figura 5, a seguir, reforça essa afirmativa. Trata-se de um boletim

informativo produzido pela ASPAN, em setembro de 1979, em que a indústria da

construção civil, em função da expansão imobiliária, aparece como ameaça à mata

do Engenho Uchôa:

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Figura 5: Boletim da ASPAN, 1979

Fonte: Arquivo da ASPAN.

A Professora Luci Machado, ao recordar os problemas ambientais da época

nos lembra dos aterros dos manguezais para fazer as avenidas. Segundo ela “o

Recife cresceu muito desses anos pra cá! (...) A Avenida Domingos Ferreira, ali nos

anos 70, 72, 73... começou a construção da avenida, houve muito aterro. Os

manguezais do Recife sofreram aterros”. (Entrevista nº 01).

A construção do Porto de SUAPE, por sua vez, embora não apareça citada

pelos Amigos da Mata do Engenho Uchôa, enquanto uma questão motivadora da

Educação Ambiental de Pernambuco, foi a preocupação relativa ao desenvolvimento

regional que apareceu com o maior percentual de freqüência (41,94%) no total das

entrevistas sobre este quesito. Em entrevista a Professora Elizabete Braga, sócia

fundadora da SNE, falou que “nessa década de 1970 e 1980, se discute bastante já

o Porto de SUAPE” (Entrevista nº 04). Ela nos diz que

muitas pessoas que fazem a SNE são pessoas oriundas da ASPAN (...) e um dos focos de discussão era a questão do Porto de SUAPE. Uma preocupação com o futuro, que de certa forma a gente está vendo agora. Quer dizer, de uma degradação ambiental bastante

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séria, de destruição da mata, de mangue, destruição da cultura local também, da história das populações tradicionais... Então era e ainda é uma grande preocupação. (Entrevista nº 04).

A figura 6, abaixo, que serve apenas de ilustração, reforça essa afirmativa em

que o porto de SUAPE aparece como grande ameaça ao meio ambiente:

Figura 6: Boletim informativo da ASPAN, junho de 1986.

Fonte: Arquivo da ASPAN

Ainda reforçando esse argumento a Professora Maria Adélia, sócia fundadora

da ASPAN, nos conta que

entre as pessoas da ASPAN tinha o Armando Holanda, que hoje, o parque ali de SUAPE é chamado Parque Armando Holanda, que é um parque que abriga uma das estruturas antigas da época de Pizón. Então tem uma área bem próxima do Porto de SUAPE e uma das colocações do movimento é que o porto ali iria afetar essa área histórica, iria afetar uma das áreas que era mais bonita, a principal linha e a mais comprida, a mais longa linha contínua de corais e de arenitos dentro do estado de Pernambuco, porque o projeto já impactava essa área. (Entrevista nº 02).

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Sobre isso temos ainda a matéria publicada no Diário de Pernambuco, datada

de 1º/02/1979, página A-14, cujo título é “PAZ ECOLÓGICA” revelando em que

contexto o Parque Armando Holanda surgiu em SUAPE:

O Secretário do Planejamento, Luiz Otávio de Melo Cavalcanti, conseguiu o que para muitos era quase impossível: a paz ecológica em torno do projeto de Suape. Com a desapropriação de uma grande área de 270 hectares, foi criado o Parque Ecológico Regional de Suape, que reuniu no Recife arquitetos, ecólogos, sociólogos, escritores e defensores do patrimônio paisagístico, artístico e cultural do país (...) especialmente convidados para a inauguração do marco, um trabalho de Armando Holanda, que lembra os monumentos megalíticos, admiravelmente inserido na paisagem tropical do Cabo de Santo Agostinho. (CAVALCANTI, 1979, p. A-14).

Como se percebe na fala dos entrevistados e nos recortes de jornais a

questão do Porto de SUAPE era, de fato, uma das questões motivadoras da

Educação Ambiental de Pernambuco no período. Razão assiste às Professoras

Elizabete Braga (SNE) e Maria Adélia (ASPAN), ao colocarem essa questão como

uma tensão sócio-ambiental bastante significativa, em função da degradação

ambiental, destruição da cultura local e da história das populações tradicionais. Isto

sugere estudos mais aprofundados no sentido de ilustrar melhor esta situação, seus

impactos na comunidade local e reafirmar a promoção da Educação Ambiental como

mitigadora dos efeitos desses impactos.

Fechando essa primeira subcategoria de análise, a agropecuária extensiva ou

o uso de pesticidas e instalações de indústrias, enquanto desenvolvimento regional,

foram apontados apenas pela ASPAN, também como questões motivadoras da

Educação Ambiental de Pernambuco.

Mas não eram apenas estas questões que motivava a Educação Ambiental

de Pernambuco. Havia outras motivações como a degradação dos ecossistemas e

as questões ligadas às mudanças climáticas, como veremos a seguir.

A Degradação dos ecossistemas e fenômenos ligados às mudanças

climáticas.

Estas são uma das outras questões motivadoras. Esta subcategoria

compreende as questões como a degradação do solo (retiradas de areia, barro),

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desmatamentos, queimadas, aterros de manguezais, poluição dos rios e córregos

(pelos esgotos sanitários, residenciais e industriais), destruição dos recifes de corais,

e os fenômenos ligados às mudanças climáticas tais como desertificação e seca.

A tabela 4, abaixo, sintetiza esta subcategoria de análise, indicando a

frequência e o percentual com que cada tema aparece nas entrevistas das três

entidades pesquisadas:

Tabela 4: A Degradação dos ecossistemas e fenômenos ligados às mudanças climáticas. Degradação dos ecossistemas e

fenômenos ligados às mudanças climáticas

Amigos da Mata do Engenho

Uchôa

Entrevistas nº 01 e 03

ASPAN

Entrevista

nº 02

SNE

Entrevista

nº 04

TOTAL

FR % FR % FR % FR %

Desmatamento 4 33,33 1 8,33 4 44,44 9 27,27

Aterro de manguezais 3 25 3 25 1 11,11 7 21,21

Poluição dos rios e córregos (pelos esgotos sanitários, residenciais e industriais)

1 8,33 1 8,33 4 44,44 6 18,18

Fenômenos ligados às mudanças climáticas (Desertificação e seca)

0 0 5 41,67 0 0 5 15,15

Degradação do solo (retiradas de areia, barro)

2 16,67 0 0 0 0 2 6,06

Queimadas 2 16,67 0 0 0 0 2 6,06

Destruição dos recifes de corais

0 0 2 16,67 0 0 2 6,06

LEGENDA: FR – Frequência Fonte: O autor.

A tabela acima mostra que o desmatamento (27,27%), o aterro dos

manguezais (21,21%) e a poluição dos rios (18,18%), foram os temas que

apareceram com mais freqüência no total das entrevistas.

Segundo a Professora Luci Machado, o desmatamento foi uma das questões

que motivaram os Amigos da Mata do Engenho Uchôa a se organizarem. Ela fala

que

um grupo de moradores do Conjunto Nossa Senhora de Lourdes, tomou conhecimento da devastação da mata; na época não se tinha essa consciência ecológica, mas sentia-se que morava-se num lugar

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bonito e com clima muito bom, diferenciado do resto do bairro e mesmo da cidade! (Entrevista nº 01).

O desmatamento era, de fato, uma grande preocupação dos moradores do

entorno da Mata do Engenho Uchôa, e nesse sentido o relatório de vistoria datado

de 15 de março de 1985, emitido pela Fundação de Desenvolvimento

Municipal/FIDEM (Anexo III) sobre o desmatamento no local, constata essa

realidade.

Como vimos no capítulo 1 (páginas 32 e 33), o Professor Vasconcelos

Sobrinho já apresentava preocupação com o desmatamento de toda floresta do

litoral brasileiro que, segundo ele, já estava provocando alteração na região

(SOBRINHO, 1979, p. 1). E quase dez anos após, em 22/01/1988, a derrubada da

Mata do Engenho Uchôa ainda era notícia de capa no Diário de Pernambuco, cuja

matéria intitulada “Derrubadas as matas do Engenho Uchôa”, dizia:

Enquanto a Polícia não atende ao apelo da Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos e Preservação Ambiental – CPRH - para que fiscalize as terras do Engenho Uchôa, na Região Metropolitana do Recife, continua a destruição progressiva da Mata Atlântica do local. Trabalhadores contratados derrubam árvores e retiram o barro desordenadamente, o que é considerado uma violência à natureza... (DERRUBADAS..., 1988, p. 1)

O aterro dos manguezais, que constituía também outra motivação na época,

aparece na fala da Professora Maria Adélia ao comentar sobre os impactos sócio-

ambientais da construção do Porto de SUAPE, no município do Cabo de Santo

Agostinho. Ela nos diz que “os manguezais sofreram uma destruição enorme”

(Entrevista nº 02). Ademais o aterro de manguezais também era recorrente na

capital pernambucana. A Professora Luci Machado reforça isso ao dizer que “os

manguezais do Recife sofreram aterros (...) a natureza é muito depredada em nome

do progresso” (Entrevista nº 01).

Embora apareça em terceiro lugar na frequência total das entrevistas para

este quesito, a poluição dos rios foi citada como um dos problemas ambientais mais

evidentes na época. Segundo a Professora Elisabete Braga

a poluição provocada por vinhoto nos rios pernambucanos foi um marco (...) O entusiasmo dos professores em participar dos cursos e oficinas e a grande mobilização que houve na praia de Boa Viagem em protesto contra a poluição do Rio Capibaribe e do nosso mar,

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foram eventos que envolveram centenas de pessoas. (Entrevista nº 04).

De fato, este assunto despertou inclusive a atenção por parte da Igreja

Católica. Como vimos no capítulo 2 (página 45), o arcebispo de Olinda e Recife Dom

Helder Câmara, já denunciava a poluição dos rios que estava causando a morte dos

peixes e fazendo com que cerca de 5 mil pescadores estivessem passando

dificuldades.

Outra evidência desse fato vem de uma manhã do dia 25 de agosto de 1983,

onde cerca de dez mil pessoas saíram em passeata pela Avenida Boa Viagem. Era

a “passeata do vinhoto” organizada pela ASPAN, onde as pessoas carregavam um

“peixe” de 7,5m, confeccionado artesanalmente, representando o grito de

pescadores, políticos profissionais, artistas, religiosos, crianças, e o povo em geral

contra o abuso praticado por usineiros que lançavam milhões de metros cúbicos de

vinhoto nos rios da região, provocando a morte dos peixes, deixando centenas de

famílias sem alimento. (ASPAN, 1985, p. 03).

Foi realmente algo que merece registro para ficar na história. Afinal, o

exercício da cidadania manifestada ainda durante o regime militar, seria decisivo nos

rumos políticos, que o país tomaria dois anos mais tarde, com a derrubada daquele

regime e a instauração da democracia no país. Além disso, a voz do povo nas ruas

ressoou como uma espécie de força contrária às agressões ao meio ambiente

exigindo das indústrias repensar o seu modo de produção e dos órgãos de controle

ambiental uma tomada de decisão contra às práticas abusivas de agressão à

natureza.

A fotografia a seguir registrou o episódio em que a coletividade (caráter

bastante característico dos movimentos ambientalistas) vai às ruas:

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Fotografia 1 - Passeata do Vinhoto na Avenida Boa Viagem (1983)

Fonte: Arquivo da ASPAN

Pela fotografia acima percebemos que havia pessoas de diferentes gerações

(crianças, jovens, adultos) e de gênero (homens e mulheres) que traziam consigo a

preocupação de comunicar à massa popular sobre a poluição que ameaçava os rios

com impacto direto na vida das pessoas, especialmente dos pescadores que tiravam

daí o sustento familiar.

Outros temas também eram discutidos, e mesmo com baixa frequência

(15,15%), e tendo sido citados apenas pela ASPAN, os fenômenos relativos às

mudanças climáticas já constituíam preocupações no período e eram questões

motivadoras da Educação Ambiental de Pernambuco.

Sobre isso a Professora Maria Adélia afirma que “tinha se passado por uma

seca muito grande, então a questão também da desertificação era outra questão que

o grupo também já se preocupava” (Entrevista nº 02). Ainda segundo Adélia, o

Professor Vasconcelos Sobrinho ofereceu apoio total ao grupo de estudantes que

estava preocupado com estas questões. Ela lembra que

o Professor Vasconcelos Sobrinho, inclusive, disse até brincando para os meninos, assim: eu estava ansioso pra que surgisse entre a juventude, entre os estudantes, um movimento assim que pudesse ser o braço armado (...) que fosse o braço armado, braço ativo (...) e eu apoio vocês totalmente!. (Entrevista nº 02).

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Sobreleva dizer que se a seca naquele período foi bastante forte, ainda nos

dias atuais estamos vivendo esse mesmo dilema, sem que haja uma política pública

efetiva e satisfatória de combate ou mitigação dos efeitos causados por esse

fenômeno, tal como verificamos in loco numa pesquisa realizada em 2010 (SILVA, et

al, 2012).

E havia mais motivações. Na sequência, veremos de que forma a

preocupação com a preservação e conservação da natureza constituía mais uma

motivação para se pensar a Educação Ambiental de Pernambuco.

A preocupação com a preservação e conservação da natureza.

Cabe, desde já, diferenciar os termos preservação e conservação, para

melhor compreendermos esta subcategoria de análise. O termo preservação nos

remete à idéia de proteção da natureza por ela mesma não visando à utilização para

fins quaisquer que seja. Já no termo conservação, o amor pela natureza permite o

seu uso sustentável de forma que a mantenha salva para alguma finalidade ou

integração ao ser humano, cuja relação deve ser de caráter harmônico.

A preservação dos ecossistemas (mata atlântica, restinga, mangue, caatinga,

bacia do Tejipió, açude de Apipucos e de Dois Irmãos, a Amazônia), a qualidade do

ar, a preservação do Parque Estadual Dois Irmãos, a finitude dos recursos naturais,

e a preservação da diversidade biológica (aqui compreendida pela Fauna e Flora),

constituem elementos de análise desta subcategoria.

A tabela 5, a seguir sintetiza os dados obtidos nas entrevistas:

Tabela 5 - Elementos relacionados à preservação e conservação da natureza. ELEMENTOS IDENTIFICADOS NAS ENTREVISTAS PERCENTUAL DE

FREQUÊNCIA NO TOTAL DAS ENTREVISTAS

Preservação dos ecossistemas 69,44 %

Preservação da diversidade biológica 13,89 %

Qualidade do ar 5,55 %

Preservação do Parque Estadual de Dois Irmãos 5,55 %

Finitude dos recursos naturais 5,55 %

Fonte: o autor.

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Pela análise da tabela 5, a preservação dos ecossistemas, com um

percentual total de frequência da ordem de 69,44%, seguida da preservação da

diversidade biológica, com um percentual de 13,89%, representam os temas que

apareceram com mais frequência na fala dos entrevistados.

De fato a maior preocupação girava em torno dessas questões,

especialmente com relação à preservação dos diversos ecossistemas. Sobre isso a

Professora Elisabete Braga nos conta que a SNE surgiu num contexto em que se

discutia “as preocupações com questões de meio ambiente, tanto do bioma

caatinga, como do bioma mata atlântica (...) também com o movimento da

Amazônia, que era um movimento nacional” (Entrevista nº 04).

A Professora Maria Adélia, ao dizer que “A primeira luta que a ASPAN

oficialmente se engajou foi a luta pela preservação da Mata do Engenho Uchôa”

(Entrevista nº 02), reforça a idéia de que a preservação dos ecossistemas era uma

motivação da época, mas afirma que

a gente pode perfeitamente compatibilizar o desenvolvimento, e o bem estar das comunidades, a preservação dos recursos naturais sejam eles de fauna, de flora, das maravilhas geológicas que a gente tem, uma cidade lindíssima cheias de pontes, de ilhas... uma característica única! (Entrevista nº 02).

Como se percebe, não se tratava de querer preservar a natureza deixando ela

intocável. A idéia era conceber o seu uso de forma racional, portanto, relacionando-

se com ela de forma harmônica.

Percebe-se também que eram questões mais específicas da natureza

biológica, mas havia também questões voltadas à qualidade de vida do homem:

eram as iniciativas socioambientais, entendendo a natureza como totalidade

indissociável (LOUREIRO, 2006b). A próxima subcategoria discorre sobre este item.

A atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem como elemento

indissociável da natureza)

Nesta subcategoria de análise o homem é entendido como parte indissociável

na natureza. Se os principais motivos que levaram as entidades ambientalistas a se

dedicarem à Educação Ambiental de Pernambuco no período, dizem respeito às

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questões biologizantes, tal como vimos nos itens anteriores, podemos afirmar, com

segurança, que estes não foram os únicos motivos.

A tabela 6, abaixo, sintetiza esta subcategoria de análise, indicando a

frequência e o percentual com que cada tema aparece nas entrevistas das três

entidades pesquisadas:

Tabela 6: A atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem como elemento indissociável da natureza).

A atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem como elemento

indissociável da natureza)

Amigos da Mata do Engenho

Uchôa

Entrevistas nº 01 e 03

ASPAN

Entrevista

nº 02

SNE

Entrevista

nº 04

TOTAL

FR % FR % FR % FR %

A preocupação com a população desassistida (inclusive moradia e saneamento básico

3 42,86 13 54,16 0 0 16 50,01

Preservação dos espaços urbanos (praças e pontes)

0 0 8 33,33 0 0 8 25

A valorização do trabalhador (Garantia de 1/3 de férias e licença maternidade)

4 57,14 0 0 0 0 4 12,5

Destruição da cultura local (história das populações tradicionais)

0 0 3 12,5 1 100 4 12,5

LEGENDA: FR – Frequência Fonte: O autor.

Os itens constantes da tabela acima mostram que questões como a

preocupação com a população desassistida (inclusive falta de moradia e

saneamento básico), a valorização do trabalhador mediante a garantia de 1/3 de

férias e licença maternidade, a destruição da cultura local e da história das

populações tradicionais, bem como a preservação dos espaços urbanos (praças,

pontes...), são itens presentes nas entrevistas que conferem, àquelas entidades

ambientalistas, o caráter de atenção à qualidade de vida do ser humano,

reconhecendo o homem como elemento indissociável da natureza.

A preocupação com a população desassistida, que aparece com um

percentual de 50,01%, é a que apresenta a maior freqüência entre os itens desta

subcategoria.

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Várias passagens encontradas nas entrevistas atestam esses itens e a seguir

destacamos algumas:

Na fala da Professora Elisabete Braga, ela destaca a preocupação com a

destruição da cultura local e da história das populações locais. Ela afirma que isso

“era e ainda é uma grande preocupação!” (Entrevista nº 04).

A entrevista com o coletivo dos Amigos da Mata do Engenho Uchôa,

apresenta argumento contra a falta de moradia e saneamento básico. Vejamos a

fala do Sr. Augusto Semente, integrante do movimento: “...por conta de, no Brasil,

não existir uma política habitacional, não existir saneamento, então nossos rios,

nossos córregos, têm sido transformados em esgotos” (Entrevista nº 03). Augusto

Semente lembra também da lutas em favor dos dispositivos constitucionais que

garantiram o 1/3 de férias ao trabalhador e a licença maternidade, com impactos na

qualidade de vida das pessoas, configurando a atenção dada à pessoa humana.

A Professora Maria Adélia traz mais argumentos: Ela diz:

O ambiente cidade, passa a ser o foco de nossas preocupações: a qualidade da água do rio Capibaribe, o problema do esgotamento sanitário, o problema das populações que vivem na periferia, desassistidas, sem nenhuma qualidade de vida; porque o próprio estatuto da ASPAN sempre se preocupou muito com a qualidade de vida do homem. (Entrevista nº 02).

Noutra passagem de sua entrevista, referindo-se à expansão imobiliária e

expulsão da população da periferia, a Professora Adélia afirma que “na época da

criação da ASPAN esse problema social e ambiental andavam juntos (...) mas as

populações humanas eram mais desassistidas do que as próprias populações

vegetais ou animais”. (Entrevista nº 02).

Esta fala da Professora Adélia nos lembra o poema O Bicho, de Manuel

Bandeira, transcrito a seguir, onde o homem é reduzido a um lixo, vejamos:

O BICHO12 Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa,

12

O Bicho. BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1993. p. 222.

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Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.

Como se percebe, as situações de conflitos envolvendo a natureza biológica

componente dos diversos ecossistemas, e a preocupação com a qualidade de vida

no homem, representam os conflitos sócio-ambientais tal como marcadas por Lima

(1999) e Loureiro (2004b, 2006b). Segundo Loureiro (2004b, 2006b), esta

perspectiva crítica que vinculava o social ao ambiental não era uma tendência

hegemônica nem possuía grande capilaridade no tecido social na época, mas já

havia discussão nesse sentido.

A luta em defesa da natureza biológica e humana foi um marco importante na

implementação da Educação Ambiental de Pernambuco, uma vez que foi a partir

dessas lutas que se iniciou um interesse maior por esta questão, resultando na sua

expansão para o interior do estado.

Nesta primeira categoria de análise discutimos as questões que motivaram,

no seio das entidades pesquisadas, a Educação Ambiental de Pernambuco. Aqui

discorremos sobre a expansão imobiliária e desenvolvimento regional (urbano,

industrial e agrícola); degradação dos ecossistemas e fenômenos ligados às

mudanças climáticas (desertificação e seca); a preocupação com a preservação e

conservação da natureza e a atenção à qualidade de vida do ser humano (o homem

como elemento indissociável da natureza).

Na próxima categoria trouxemos para o debate a discussão em torno da

práxis pedagógica e da expansão da Educação Ambiental para o interior do estado.

3.2 - A PRÁXIS PEDAGÓGICA DA CAPITAL AO SERTÃO: A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL DE PERNAMBUCO NUMA PERSPECTIVA TRANSFORMADORA

Nesta categoria contemplamos a práxis pedagógica na perspectiva de uma

Educação Ambiental transformadora. A intenção aqui foi identificar as ações que os

primeiros educadores ambientais de Pernambuco empreendiam ao trabalhar os

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conteúdos de ensino nas suas comunidades e que conteúdos eram esses. Também

procuramos identificar o material didático utilizado; quem foram os primeiros

educadores ambientais de Pernambuco; e em que regiões no estado eles atuavam.

A práxis pedagógica nos remete à idéia de atividades concretas, modificação

da realidade por meio da reflexão, teoria e prática, tal como define Loureiro (2004a).

Para Loureiro (2004a) a práxis favorece uma educação transformadora em

que o conteúdo valoriza a emancipação do sujeito e as atividades humanas são

capazes de propiciar mudanças.

De fato, foi isso que vimos no seio das entidades ambientalistas pesquisadas:

uma variedade de atividades concretas, com foco nos problemas próximos da

realidade dos sujeitos envolvidos nos processos, numa tentativa de transformar a

realidade, transformando inclusive a si mesmos, por meio de uma abordagem crítica

refletindo sobre teoria e prática.

A tabela 7, abaixo, reúne as subcategorias desta categoria de análise. Aqui

fizemos opção apenas pelos dados qualitativos pela própria natureza também

qualitativa das informações. Vejamos:

Tabela 7: A práxis pedagógica da Capital ao Sertão: A Educação Ambiental de Pernambuco numa perspectiva transformadora.

2ª CATEGORIA DE ANÁLISE

A PRÁXIS PEDAGÓGICA DA CAPITAL AO SERTÃO: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAMBUCO NUMA PERSPECTIVA TRANSFORMADORA.

As ações concretas Movimentação junto aos parlamentares; denúncias junto ao poder público; integração com escolas e comunidade (por meio de capacitações, intervenções, seminários, recital, dança, construção de frases, poesias, textos, desenhos e oficinas); Debates com a iniciativa privada; Atividades diversificadas (coleta de lixo, passeios ciclísticos, caminhadas, abraço simbólico na mata, replantio de mudas, lançamento de livros, participação política, militantes dos Movimentos Sociais, caravanas em defesa da mata, participação em constituinte popular, oficinas de planejamento, visitas a zoológico, manifestação popular com bonecos de Olinda); apoio às ações dos movimentos ambientalistas; organização e participação em congressos; extensão universitária (minicursos, elaboração de projetos socioambientais); representação em foros de discussão; construção de políticas públicas de Educação Ambiental; difusão da Educação Ambiental por meio de formação de ouros grupos no estado; uso da mídia para denúncias.

Conteúdos de ensino Meio Ambiente e Educação Ambiental (conceito importância); Porto de SUAPE; os diferentes ecossistemas (caatinga, mata atlântica, manguezal, floresta amazônica); poluição industrial; poluição hídrica; elaboração de projetos socioambientais; a água;

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resíduos sólidos; ambiente urbano.

Material Didático Cartilhas; jornalzinho; panfletos; livro; livreto;manual; textos.

Os primeiros educadores ambientais de Pernambuco:

Profissionais e estudantes de diferentes áreas e leigos integrantes do movimento ou de outras instituições.

A interiorização da Educação Ambiental em Pernambuco

Recife, Cabo de Santo Agostinho, Itapissuma, Olinda, Tamandaré, Agreste Pernambucano, Sertão Pernambucano (município de Floresta).

Fonte: o autor.

Vejamos nas subcategorias que constituem esta categoria de análise, como a

práxis acontecia no interior das entidades ambientalistas.

As ações concretas:

As primeiras entidades ambientalistas de Pernambuco, nas suas tarefas de

promover a Educação Ambiental naquele período, agiam de diversas maneiras. Uma

delas de forma mais popular, como é o caso dos Amigos da Mata do Engenho

Uchôa, se aproximava mais dos problemas próprios da comunidade, embora agisse

também em favor de outras causas mais gerais. Outra, como é o caso da SNE,

atuava mais no campo acadêmico. No caso da ASPAN, suas ações eram voltadas

tanto ao apoio aos problemas próprios de determinada comunidade, como também

aos interesses mais gerais da população pernambucana, além de promover algumas

ações no meio acadêmico.

Tais ações era algo prático e não se restringia ao seu espaço interno,

acontecia fora dos muros das entidades, e sempre em torno de uma causa concreta.

Foram identificadas nas falas dos entrevistados várias ações, e era por meio delas

que se dava a práxis pedagógica. Vejamos detalhes sobre elas:

A movimentação junto aos parlamentares e as denúncias junto ao poder

público: Estas ações implicam nas denúncias que os integrantes faziam aos

Parlamentares e/ou ao Ministério Público, no sentido de sensibilizá-los a defender

suas demandas.

No tocante às denúncias aos Parlamentares a Professora Luci Machado diz

em sua entrevista, que “alguns parlamentares de esquerda deram apoio ao grupo

que não tinha nem filiação partidária” (Entrevista nº 01). E reforça dizendo que

A comunidade do entorno, moradores do Conjunto Residencial Nossa Senhora de Lourdes, teve conhecimento de um projeto da

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Odebrech, de construção de um privê de alto luxo, formou-se um grupo que foi à assembléia, contou com a ajuda de alguns parlamentares, e o grupo conseguiu barrar o projeto. (Entrevista nº 01).

As denúncias aos parlamentares resultaram na Primeira CPI ecológica do

Brasil, que aconteceu na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco.

No que concerne às denuncias junto ao Ministério Público, o Professor José

Semente reforça dizendo que

no Ministério Público existe um número suficiente de documentos, de denúncias no Ministério Público, e depois, no meio, veio o fortalecimento com o movimento - como já disse contendo mais de 100 entidades - e com isso houve uma audiência pública aqui na Escola Vila Sézano, audiência pública da Câmara dos Vereadores. (Entrevista nº 03).

Outra ação se constitui na articulação entre escola e comunidade, numa

relação de complementação, e correspondem às capacitações, palestras,

intervenções, seminários, recital, dança, construção de frases, poesias, textos,

desenhos e oficinas.

Na entrevista, a Professora Luci Machado revela como aconteciam várias

dessas ações:

...a gente envolvia o jovem porque a gente sempre trabalhou assim com a comunidade, com um grupinho de crianças e adolescentes sempre se fez um trabalho assim ligado a eles, eles participavam. Houve uma época em que se fez um balé, ali, na Beira Rio, ao lado da Mata, sempre envolvendo crianças, adolescentes... A companheira Dulce que participava do grupo, que ainda não era movimento; ela e as duas filhas Maria Betânia e Maria Antônia. Também, levou-se até a Mata um grupo de crianças e adolescentes para um replantio simbólico, como resgate da área depredada. Quer dizer, era um trabalho educativo. A gente foi várias vezes, o companheiro Semente, a companheira Rousi e eu também nas escolas pra fazer debates, pra conversar com as crianças e adolescentes sobre o Movimento, sobre meio ambiente! (Entrevista nº 03).

A Professora Maria Adélia completa:

Ah! tinha muita produção de folder, de panfletos, e também assim, de palestras em muitos locais, principalmente nas escolas. O Alexandre Araújo, inclusive uma das últimas atividades dele antes desse falecimento tão precoce que o levou - levou uma das melhores cabeças que a gente tinha na ASPAN, a gente pode dizer isso - foi justamente uma palestra numa escola. Ele tinha uma forma de falar

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para as crianças que era uma coisa impressionante! Eu me lembro de ter participado até com ele de algumas dessas palestras. (Entrevista nº 02).

Em todas essas falas percebe-se a práxis uma vez que o discurso

ambientalista não se limitava à teoria aliada à prática conservadora, pelo contrário,

eram ações centradas na idéia de mudança, de transformação da realidade. Se

formos organizar numa sequência lógica teremos ações que iniciavam por

conquistar as crianças pela arte, pelo lúdico e pelo atrativo da natureza; em seguida

havia uma formação nas escolas ou em outros espaços que levava à uma tomada

de consciência; na sequência eram realizadas campanhas de sensibilização e

mobilização da sociedade; e por fim a reivindicação juntos aos parlamentares,

órgãos públicos, etc.

Isto mostra a relação de complementação entre o ambiente formal (escola) e

não-formal (movimentos e instituições ambientalistas) tão importante no processo de

ensino e aprendizagem.

São ações que oferecem aos alunos a oportunidade de colocar em prática a

teoria discutida em sala de aula para, a partir daí, abandonar velhos paradigmas e

dar lugar ao novo, num processo dialético de transformação de si e da realidade,

onde se materializam os conceitos de educação transformadora e práxis segundo

Loureiro (2004a; 2006a)

Várias outras ações educativas eram desenvolvidas, com o sentido de

esclarecer sobre os problemas ambientais, ou motivar as pessoas a pensarem sobre

o tema e a participarem de movimentos em defesa do meio ambiente, pela melhoria

da qualidade de vida das pessoas e pela capacitação profissional.

Assim aconteciam, além das ações acima referenciadas outras como:

debates com a iniciativa privada, reuniões sistemáticas dentro dos movimentos,

abraço simbólico na mata, replantio de mudas, lançamento de livros, participação

políticas, militância nos movimentos sociais, caravanas em defesa da mata,

constituinte popular, oficinas de planejamento, visitas a zoológico, manifestação

popular com bonecos de Olinda.

E ainda mais: apoio às ações dos movimentos ambientalistas, organização

e/ou participação em congressos, extensão universitária (minicursos de educação

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ambiental, elaboração de projetos socioambientais, etc), representação em foros de

discussão, construção de políticas públicas de Educação Ambiental, difusão da

Educação Ambiental por meio de formação de outros grupos no estado e uso da

mídia para denúncias.

Tais ações eram atividades características da educação não-formal (Gohn,

2010), por valorizar a formação para a cidadania, por ser permeada de práticas

socioculturais de aprendizagens, não se restringindo à instituição escolar; por ser

desenvolvidas por agentes de diferentes áreas do conhecimento. Aí havia questões

de emancipação social dos indivíduos, por meio de um atributo crítico de leitura e

interpretação do mundo e atuação em conjunto com a escola.

Nesta subcategoria de análise, vimos as ações empreendidas pelas entidades

pesquisadas em favor de uma práxis pedagógica na promoção de uma Educação

Ambiental transformadora. Estas ações eram permeadas de conteúdos que em geral

eram construídos pelas próprias entidades junto com a comunidade, embora em

alguns casos eram indicados pelas empresas que contratavam os serviços

daquelas. Na sequência discutiremos que conteúdos eram esses.

Conteúdos de Ensino.

Enquanto educação transformadora, a qual possui um conteúdo

emancipatório (Loureiro, 2004a), não havia uma imposição de conteúdos de ensino.

Em geral eles eram construídos com a própria comunidade a partir de suas

demandas.

A Mata do Engenho Uchôa, por exemplo, é apontada como um conteúdo de

ensino, onde era discutido o conceito de mata, sua importância, os benefícios que

ela trazia para a comunidade.

O conceito e a importância de meio ambiente e de Educação Ambiental,

assim como discussões sobre o Porto de SUAPE, também constituíam conteúdos de

ensino, assim como os diferentes ecossistemas (Caatinga, Mata Atlântica,

Manguezal, Floresta Amazônica), a poluição industrial, a poluição hídrica, água,

floresta, resíduos sólidos, ambiente urbano e a elaboração de projetos

socioambientais.

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Mas não se restringiam apenas a esses. Na 1ª Jornada Sobre Agricultura,

Natureza e Saúde, realizada no período de 5 a 9 de dezembro de 1984, promovida

pela ASPAN, juntamente com o Diretório Acadêmico de Agronomia da UFRPE, com

o Centro Josué de Castro e o Centro de Estudos do Município, o conteúdo

programático do encontro indicava debates envolvendo os seguintes temas: Toxidez

em alimentos comercializados na CEASA; agrotóxicos, qualidade dos alimentos e

saúde; movimento ecológico no Brasil; agricultura & sociedade. (ANEXO IV)

De acordo com a Professora Elisabete Braga, constituía conteúdo trabalhado

os seguintes temas:

Defesa dos ecossistemas, Mata Atlântica e manguezais, preocupações com a poluição hídrica nas suas diversas formas, suas causas e conseqüências. Em termos do Brasil a Mata Amazônica também era motivo de mobilizações. Outro tema recorrente e motivador para ações era Resíduos Sólidos. (Entrevista nº 04).

Como se percebe, esses temas estavam diretamente ligados aos problemas

ambientais locais e também nacionais, como é o caso da Amazônia, o que indica um

conteúdo flexível, dentro do contexto e, portanto, de fácil assimilação, o que

certamente contribui para uma educação transformadora, tal como Loureiro a define.

Nesta subcategoria vimos os conteúdos de ensino que eram objetos de

estudos na promoção da Educação Ambiental no âmbito das entidades. Esses

conteúdos eram discutidos com o auxílio de diferentes instrumentos didáticos. Na

subcategoria a seguir veremos que materiais eram esses.

Material didático.

Os pioneiros da Educação Ambiental de Pernambuco utilizavam como

instrumentos didáticos, algumas cartilhas, jornaizinhos, panfletos, livro, livreto,

manual e textos. Em geral eram materiais também produzidos para atender a uma

demanda específica, a partir dos interesses de determinada comunidade ou de

algumas empresas que contratavam os serviços daquelas instituições.

Um exemplo desses instrumentos didáticos é a cartilha “Vida ao Capibaribe”,

numa promoção conjunta da Secretaria de Educação da Prefeitura de Olinda,

Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Recife, e da ASPAN, cuja arte,

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datada de 1982, vem assinada por Cavani Rosas. Esta cartilha pode ser conferida

na íntegra no ANEXO V.

Ela traz para o debate a preocupação com a poluição do Rio Capibaribe.

Trata de uma história educativa em que aparecem dois garotos, pequenos

pescadores. Eles iniciam uma conversa entre si contando estórias de seus pais ao

saírem para pescar no rio onde antigamente era fácil encontrar peixes, a água era

limpa suficiente até para lavar pratos, tomar banho sem adoecer, e navegar à barco.

Mas que, ao passar do tempo, o rio foi ficando poluído e contaminado em função

das más ações das fábricas e usinas que lançam dejetos e das pessoas que jogam

lixo no rio. O texto sugere, como forma de combate à poluição, uma mobilização

popular onde todos os interessados devem se unir em torno de uma campanha para

“salvar” o rio, e indica a ASPAN como espaço para reuniões sobre o assunto.

A problemática da poluição era recorrente na época, e constituía um dos

motivos que levaram às primeiras entidades ambientalistas de Pernambuco a se

interessarem pela promoção da Educação Ambiental. Vimos no capítulo 2 (página

40) que o Ecólogo e Professor Vasconcelos Sobrinho e o Arcebispo de Olinda e

Recife Dom Hélder Câmara já denunciavam a poluição na década de 1970. A foto nº

01, também é uma ilustração dessa situação e evidencia a mobilização popular em

defesa dos rios e contra a poluição. Tudo isso se enquadra na modalidade de

educação não-formal que, como vimos no capítulo 1

é um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania (...). Ela designa um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que envolve organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como uma multiplicidade de programas e projetos sociais. (GOHN, 2010. p. 33).

Além da cartilha, havia outros instrumentos didáticos dentre eles os boletins

da ASPAN, como vimos nas figuras 05 e 06.

A construção de material próprio de trabalho é um diferencial para uma

educação transformadora. É uma prática construtivista que favorece a

aprendizagem, onde o aprendiz não é visto como um mero receptor de informação,

mas um ser ativo que participa na construção do conhecimento, questionando,

problematizando, não sendo, portanto, um agente passivo que tudo aceita como

uma verdade absoluta.

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Vimos nesta subcategoria que esses materiais didáticos eram utilizados como

valiosos instrumentos na promoção da Educação Ambiental por aqueles que Gohn

(2010) vai chamar de “educadores sociais” e que nós chamaremos de “educadores

ambientais”. Na subcategoria a seguir falaremos sobre esses educadores

ambientais.

Os primeiros educadores ambientais de Pernambuco: Profissionais e

estudantes de diferentes áreas e leigos integrantes do movimento ou de outras

instituições.

Vimos nas entidades ambientalistas que constituem os sujeitos de pesquisas

deste trabalho, que há uma relação de complementação entre a educação formal e

não-formal. Vimos também que a Educação Ambiental acontecia por meio de

diferentes ações, envolvendo diferentes sujeitos escolares ou não escolares. Da

mesma maneira vimos como se deu a construção do conteúdo de ensino e de que

forma se dava a produção do material didático. Mas surge uma pergunta: Quem

foram os primeiros educadores ambientais de Pernambuco ?

Esta pergunta não foi fácil de ser respondida. De fato temíamos em respondê-

la, para que não caíssemos no erro de deixar de fora alguns ícones da Educação

Ambiental de Pernambuco (1979-1988). Mas logo veio a lembrança de que nossa

investigação se limita à análise das entidades ambientalistas retromencionadas, e

que optou pelas fontes orais como principal recurso metodológico, logo não há como

esgotar todo o conteúdo em torno da Educação Ambiental de Pernambuco no

período – e nem tínhamos essa pretensão – de forma que apresentamos nesta

subcategoria de análise, apenas os educadores ambientais de Pernambuco daquele

período, citados nas entrevistas ou encontrados nos materiais cedidos pelos

entrevistados para análise.

A partir desses instrumentos de coleta de dados conseguimos identificar

alguns dos primeiros educadores ambientais de Pernambuco no período estudado.

Frisamos que foram relacionados apenas alguns dos quais encontramos em nossa

pesquisa, cientes de que outros, não menos importantes, também participavam

diretamente como promotores da Educação Ambiental no estado.

Esses educadores ambientais atuavam naqueles espaços de educação não-

formal (Amigos da Mata do Engenho Uchôa, ASPAN e SNE), eram - em sua maioria

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- estudantes universitários, mas dentre eles estavam professores de diferentes áreas

do conhecimento, profissionais liberais (contabilidade, agronomia) e ainda pessoas

da própria comunidade e de seu entorno.

Nas entrevistas e nos materiais analisados surgiram vários nomes, os quais

consideramos como alguns dos primeiros educadores ambientais de Pernambuco

por estarem atuando em alguma daquelas entidades, independente do tipo de

filiação ou ação desenvolvida por eles (palestras, representações em fóruns de

discussão, passeio pela mata, atividades diversas com alunos ou com os

moradores).

Reafirmando que são apenas alguns dos pioneiros da Educação Ambiental de

Pernambuco, sem desmerecer àqueles que porventura deram sua valiosa

contribuição e não constam dessa relação, temos os seguintes nomes:

Alexandre José Pereira de Araújo, Alexandre Ramos, Adelmo, Arlindo Costa

Lima, Armando Holanda, Ana Lúcia Carneiro Leão, Ana Maria Leite Moura, Ângela

Messel, Arthur Galileu, Augusto Semente, Bertrand Sampaio de Alencar, Dárdamo

de Andrade Lima, Cavani Rosas, Célia Marinho, Clóvis Cavalcanti, Débora Kouri,

Douglas Tabosa de Almeida, Eduardo de Vasconcelos, Elizabete Carneiro Batista

Braga, Enoque Gomes, Euná, Fred Navarro, Gemima Bohrn, Giuseppe Bacarro,

Hebe Gonçalves, Isabelle Meunier, Jacilda Nascimento, Jaime Gusmão, João

Vasconcelos Sobrinho, Jorge Tadeu, José Semente, Dulce Advincula, Liana

Mesquita, Lilian Villadinho, Lúcia Baccaro, Luis Aleixo, Luís Dário da Silva, Luis

Fernando Vasconcelos, Luiz Gonzaga de Lira, Maestro Menucci, Manuel Correira de

Andrade, Marcelo Messel, Marco Mendonça, Maria Adélia Borstelmann de Oliveira,

Maria Antônia Advincula, Maria Auxiliadora Porto Vasconcelos, Maria Betânia

Advincula, Maria Catarina Cavalcanti Cabral, Maria José de Lima, Maria Lúcia Costa

Lima, Maria de Pompéia, Maurício Laxe, Maurício Arouxa, Nathanael Valle, Osvaldo

Costa Lima Neto, Osvaldo Lira, Paulo Dantas, Pedro Ferrer, Renilda Correia,

Ricardo Braga, Rodolfo Aureliano, Rosa Guedes, Rossine Barreiras, Rousinete

Taveira Falcão, Rubens Bohrn, Sonja Cerne, Tânia Barza, Ulisses Pernambucano

de Melo Neto, Valdir Luna da Silva, Vera Lúcia Vieira Gomes, Verônica Leite,

Virgínia Pontual, Walmar Correa de Andrade.

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Na entrevista com a Professora Maria Adélia, vimos como a iniciativa do

Professor João de Vasconcelos Sobrinho foi tão decisiva na formação do grupo que

mais adiante iria constituir a ASPAN. Ela lembra que ele fez cartas

convocando as pessoas que mais tinham ligação com o tema, professores da Universidade Federal (de Pernambuco), pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, mas o movimento na realidade começou a ganhar força e atraiu pessoas de diferentes áreas. (Entrevista nº 02).

Ela também lembra, com muito apreço e saudades, a atuação do Alexandre

José Pereira de Araújo, na ASPAN, e de seu trabalho com as crianças: “Ele tinha

uma forma de falar para as crianças que era uma coisa assim, impressionante!”.

(Entrevista nº 02). O trabalho do Alexandre era visto como louvor entre os

educadores ambientais do período, pela aproximação com que ele tinha com as

crianças, pela forma como ele despertava a atenção delas ao falar sobre meio

ambiente.

Os Amigos da Mata do Engenho Uchôa, por sua vez, lembram daquela que

foi uma lutadora incansável em defesa do Meio Ambiente, especialmente da Mata do

Engenho Uchôa: Rousinete Taveira Falcão.

A Professora Luci Machado, numa homenagem feita à Rousinete Falcão,

afirma que “falar sobre Rousi, companheira de tantas lutas, é falar em capacidade de

luta, energia, determinação, perseverança, força, dinamismo, entusiasmo, otimismo

e alegria, suas características marcantes!” (ANEXO VI).

Nesta subcategoria procuramos relacionar alguns dos educadores ambientais

de Pernambuco naquele período, cientes de que outras pessoas certamente

contribuíram e foram verdadeiros ícones desse processo, mas que em função de

nosso recorte não foram citados e nem por isso deixam de ser menos importantes.

Todos são lembrados e homenageados em nome dos que aparecem na relação.

Na próxima subcategoria de análise, veremos o avanço da Educação

Ambiental para o interior do estado. Os educadores precisaram ganhar fôlego para

dar conta das demandas ambientais que vinham de outras regiões. Assim, a

Educação Ambiental de Pernambuco começou a ocupar territórios para além da

capital pernambucana, como veremos a seguir.

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A interiorização da Educação Ambiental de Pernambuco.

Nesta subcategoria de análise veremos como as ações ambientalistas de

Pernambuco avançaram pelo interior do estado.

Mapeamos o avanço da Educação Ambiental no Estado de Pernambuco, a

qual sai da capital em direção ao interior. Importante nesse processo foram as ações

da ASPAN, principalmente, no atendimento às demandas das cidades do interior

pernambucano. No mapa 1, os pontos em vermelho identificam as cidades por onde

as entidades ambientalistas atuavam:

Mapa 1: Avanço da Educação Ambiental no Estado de Pernambuco

Fonte: Santiago (2013)13

Observamos nesse mapa que a Educação Ambiental de Pernambuco (1979-

1988) já se fazia presente em várias regiões do estado naquele período.

Como vimos ao longo do capítulo 2, a Educação Ambiental de Pernambuco

surge em 1979 com os Amigos da Mata do Engenho Uchôa, no Bairro do Barro e

com a ASPAN, cujas reuniões aconteciam na Universidade Federal Rural de

Pernambuco/UFRPE, no Bairro de Dois Irmãos, ambos localizados na capital

pernambucana. Esta última, algum tempo depois de sua fundação, passou a ter

endereço no município de Olinda, portanto na região metropolitana do Recife,

exatamente na Rua São Bento, 225, Varadouro, conforme informação constante da

cartilha Vida ao Capibaribe (ANEXO V).

13

Disponível em: <http://www.santiago.pro.br/mapas/brasil/estados_municipios/pernambuco.JPG>

Acesso em 03/07/2013. Adaptado.

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Em 1986, surge a SNE inicialmente com as reuniões acontecendo na

Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE, tendo migrado para seu

escritório no Bairro da Boa Vista, no Recife e sediada no município de Itapissuma,

localizado na região metropolitana do recife.

Mas, em função dos problemas ambientais que estavam surgindo em outros

municípios pernambucanos, houve a expansão das atividades da ASPAN para

outras regiões do estado, de tal forma que esta instituição passou a atuar nos

municípios de Tamandaré (litoral sul), Floresta (Sertão Pernambucano) e na região

do Agreste.

Na fala da Professora Maria Adélia, encontramos o registro desses dados:

A ASPAN auxiliou a formação de vários outros grupos ambientalistas dentro de Pernambuco. A gente ia muito ao Sertão, ao Agreste, porque assim, é claro que as questões aqui do Recife já eram por demais numerosas pra que a gente tivesse a preocupação, mas a gente às vezes recebia convite, demandas, ou sabia de problemas ambientais. Então, por exemplo, quando se quis colocar aquele lixo, lembra do problema do Césio? lá de Goiania, né, que se quis fazer com que o lixo fosse depositado em Floresta, aqui município do Sertão daqui de Pernambuco? Então a ASPAN se organizou, se mobilizou, subiu no palanque, levou alguns bonecos gigantes de Olinda pra lá, pra uma manifestação... (Entrevista nº 02).

Considerando que ambas as entidades (Amigos da Mata do Engenho Uchôa,

ASPAN e SNE) tinham como preocupação o impacto ambiental decorrente da

instalação do Porto de SUAPE, é importante registrar que elas atuavam também no

município do Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana do Recife.

Já a Professora Elisabete Braga, ao falar dos locais das reuniões diz que “a

gente fazia as reuniões lá na Rural (bairro de Dois Irmãos, em Recife). Depois, então

quando a entidade mudou-se pra cá (escritório no Bairro da Boa Vista, em Recife);

porque na verdade aqui, isso aqui é um escritório, e nós temos a sede em

Itapissuma” (Entrevista nº 04).

Finalizando esta subcategoria de análise, concluímos que a geografia da

Educação Ambiental de Pernambuco no período, aponta ações desenvolvidas na

Cidade do Recife, municípios de Olinda, Itapissuma, e Cabo de Santo Agostinho

(Região Metropolitana do Recife), Tamandaré (litoral sul), Agreste e Sertão

Pernambucano (Município de Floresta), o que evidencia a interiorização da

educação ambiental no estado.

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Nesta categoria em que tratamos da práxis pedagógica na Educação

Ambiental, vimos quem foram os pioneiros da Educação Ambiental de Pernambuco

(1979-1988), que ações eles desempenhavam nas suas práticas educativas, os

conteúdos de ensino, o material didático utilizado por eles e como a Educação

Ambiental se expandiu para outras regiões do estado. É importante destacar que as

práticas em Educação Ambiental se fundamentavam em questões de coletividade,

parcerias, lutas e conquistas. Na próxima categoria reunimos essas questões e

discorremos sobre elas.

3.3 - A COLETIVIDADE, AS PARCERIAS, A COMPLEXIDADE DAS LUTAS E AS

CONQUISTAS.

Nesta categoria as subcategorias analisadas são a coletividade, as parcerias,

a complexidade das lutas e as conquistas. A tabela 8, a seguir, reúne as

subcategorias desta categoria de análise. Aqui também fizemos opção apenas pelos

dados qualitativos pela mesma razão que encontramos na categoria anterior:

Tabela 8: A coletividade, as parcerias, as lutas e as conquistas. 3ª CATEGORIA DE ANÁLISE

A COLETIVIDADE, AS PARCERIAS, AS LUTAS E AS CONQUISTAS.

O caráter coletivo das entidades ambientais.

Grupo de vizinhos; Moradores do Bairro; População do entorno; Associação dos moradores; Comunidade; Estudantes ou profissionais recém formados.

Parceria com outras entidades.

Sindicatos; escolas; Ministério Público; Brigada Ambiental; Polícia; Prefeitura; Amigos da Mata do Engenho Uchôa; ASPAN; Universidades; Conselhos Nacional e Estadual do Meio Ambiente;Ministério do Meio Ambiente; Ordem dos Advogados do Brasil; Clube de Engenharia; Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura; Comunidades; UNESCO.

A complexidade: Para além das questões ambientais

A política; a economia; a Ditadura Militar; a luta de classes.

Como prêmio: As conquistas

A CF/1988; A preservação da Mata do Engenho Uchôa; Classificação da Mata como Reserva da Biosfera (1987); 1ª CPI Ecológica do Brasil; Surgimento da ASPAN; 1ª Audiência Pública; Viveiro de mudas nativas da mata atlântica; Posto avançado da reserva da biosfera da mata atlântica; representações em foros de meio ambiente; construção identitária; oportunidade de conhecer a realidade de outros países; termos evitado situação pior para o Recife e Estado de Pernambuco; melhora do ambiente nos primeiros 10 anos de atuação da ASPAN; fortalecimento do grupo; identidade profissional; mudanças de paradigmas e atitudes.

Fonte: o autor.

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A intenção aqui foi mostrar o caráter coletivo bastante característico das

instituições pesquisadas, as parcerias que são firmadas com outras instituições no

sentido de viabilizar a práxis pedagógica, bem como a complexidade das lutas que

não se restringem às questões ambientais, mas perpassam outras demandas sociais

como melhores condições de trabalho, saúde, questões políticas e econômicas,

além das conquistas que as instituições alcançaram em decorrência de suas lutas.

Vejamos.

O caráter coletivo das entidades ambientalistas.

Esta subcategoria destaca como as entidades ambientalistas aqui analisadas

valorizavam o trabalho coletivo. Em suas ações era sempre um grupo de vizinhos,

moradores do bairro, a população do entorno, a associação de moradores, a

comunidade, os estudantes ou recém formados que agiam em conjunto.

Na verdade elas já nasceram com esse caráter coletivo. A Professora Maria

Adélia ao falar do surgimento da ASPAN, nos conta que o movimento começou “com

um grupo de estudantes” (Entrevista nº 02). A Professora Luci Machado ao falar do

surgimento dos Amigos da Mata do Engenho Uchôa confirma esse caráter de

coletividade ao dizer que “o grupo transformou-se, nos meados dos anos 80, em um

movimento, que hoje conta com mais de 100 entidades” (Entrevista nº 01). O

Professor José Semente, também integrante dos Amigos da Mata do Engenho

Uchôa, reforça essa fala dizendo que “A questão da Mata do Engenho Uchôa, que

começou em 79, começou com um grupo “Amigos da Mata do Engenho Uchôa”, se

reunia aqui perto, foi crescendo e com o tempo se transformou num movimento”

(Entrevista nº 03).

Como vimos no capítulo 2, era, e ainda é, típico dos Movimentos Sociais as

“ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas

formas da população de se organizar e expressar suas demandas”. (GOHN, 2007, p.

13).

Loureiro (2011) reforça esse caráter coletivo ao dizer que os movimentos

sociais constituem ações coletivas, e acrescenta que estas ações acontecem por

meio de diferentes modalidades: por meio de denúncia, protesto e conflito;

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cooperação, parceria e solidariedade; e construção de utopia societária ou

civilizacional.

Nesse nosso memorial, além das falas dos entrevistados e das referências

retromencionadas, encontramos vários exemplos que ilustram esse caráter coletivo,

seja nas reuniões de grupos, ou nas manifestações, a coletividade era uma marca.

Assim, percebe-se que sempre era um grupo que atuava, conferindo o caráter

coletivo que dá início à Educação Ambiental de Pernambuco.

Mas, além dessa coletividade havia parcerias com outras instituições e este

assunto é tratado na próxima subcategoria de análise.

Parceria com outras instituições/movimentos.

O caráter coletivo do grupo não se restringia apenas aos grupos de amigos.

Era algo mais abrangente de tal forma que chegava a firmar parcerias com outras

entidades para dar conta das demandas. Esta subcategoria mostra essa parceria.

Como vimos anteriormente em torno do movimento Amigos da Mata do

Engenho Uchôa, gira mais de 100 entidades.

Os Sindicatos, as Escolas, o Ministério Público, a Brigada Ambiental, a

Polícia, a Prefeitura, o próprio movimento Amigos da Mata do Engenho Uchôa, a

ASPAN, as Universidades Federais (UFPE, UFRPE), o Conselho Nacional do Meio

Ambiente, o Conselho Estadual do Meio Ambiente, o Ministério do Meio Ambiente, a

Ordem dos Advogados do Brasil/OAB, o Clube de Engenharia, o Conselho Regional

de Engenharia e Arquitetura/CREA, as Comunidades, a UNESCO, são exemplos de

entidades que firmavam parcerias com os pioneiros da Educação Ambiental de

Pernambuco em defesa da natureza.

Na fala da Professora Luci Machado, encontramos registro dessa informação.

Ela nos diz que o movimento conta com mais de 100 entidades entre as quais

participam Associações de Moradores, Confederação de Moradores, Sindicatos,

Universidades, Centrais Sindicais, ONG’s Ambientalistas, Escolas Estaduais,

Municipais e Parlamentares. (Entrevista nº 01).

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Na ASPAN, não foi diferente; a professora Maria Adélia lembra que o

Professor João de Vasconcelos Sobrinho, na sua constante preocupação com as

questões ambientais da época fez cartas

convocando as pessoas que mais tinham ligação com o tema, professores da Universidade Federal (de Pernambuco), pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, mas o movimento na realidade começou a ganhar força e atraiu pessoas de diferentes áreas. (Entrevista nº 02).

Essa parceria que atraía pessoas de diferentes áreas, além de favorecer a

amplitude do movimento ambientalista de Pernambuco no período, tornava a luta

mais complexa, de tal forma que essa luta rompeu os limites da Educação

Ambiental, e no seio desses movimentos havia discussões mais complexas.

No próximo tópico essa complexidade é citada, porém de forma sucinta, em

função das limitações desse nosso trabalho, mas sugerimos, desde já, que seja

aprofundada em outras pesquisas.

A complexidade: para além da Educação Ambiental.

Mesmo em se tratando de questões ambientais, outros temas como política,

economia, ditadura militar e a luta de classes, marcaram presença nas falas dos

entrevistados, conferindo o caráter de complexidade não apenas daquela temática,

mas também das ações desempenhadas pelas nossas primeiras entidades

ambientalistas.

Numa discussão que vai para além da Educação Ambiental, a política

apareceu nas entrevistas em vários momentos, o que nos leva a imaginar que a

Educação Ambiental de Pernambuco era permeada de questões políticas. Na

verdade esse assunto não aparece na entrevista com a SNE e quase não aparece

na ASPAN, portanto uma questão mais particular dos Amigos da Mata do Engenho

Uchôa.

Vale ressaltar, que este quesito trata apenas das questões para além da

Educação Ambiental, ou seja, as questões ambientais continuam sendo a prioridade

para as três instituições analisadas.

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Para ilustrar a incidência de questões políticas no âmbito do movimento

Amigos da Mata do Engenho Uchôa, vejamos a fala da Professora Luci Machado:

Não se pode falar do início da luta pela preservação da Mata do Engenho Uchôa, sem fazer referencia ao contexto político da época. A luta teve início em 1979; em 1980, funda-se o Partido dos Trabalhadores, o PT. E nos anos 80 já tínhamos alguns vereadores, deputados, que contribuíram. Alguns parlamentares de esquerda deram apoio ao grupo que não tinha nem filiação partidária. (Entrevista nº 01).

Como se vê a política contribuía para a complexidade das ações em algumas

instituições ambientalistas. Mas o interesse econômico também era pauta de

discussão e aparece quando o assunto é a especulação imobiliária, e nesse sentido

a Professora Luci Machado revela: “a devastação da Mata é de responsabilidade de

grandes grupos econômicos, setor imobiliário.” (Entrevista nº 01).

Da mesma forma o regime militar é evocado na fala dos entrevistados,

vejamos:

“Na época da ASPAN, o regime militar de certa forma buscou desorganizar os

movimentos sociais” (Professora Elizabete Braga, entrevista nº 04);

“... essa constituinte foi fruto das lutas que vieram logo após a derrubada do

regime militar... que hoje é 1º de abril né? Que 64 não aconteça nunca mais!” (Sr.

Augusto Semente, entrevista nº 03); e mais,

“...a gente precisa registrar o repúdio da gente aos que contribuíram com o

golpe e com o governo ditatorial!” (Professora Luci Machado, entrevista nº 03).

Como se vê, os movimentos sociais sentiram os efeitos da repressão militar

que chegou a proibir a reunião de ecólogos para tratar de assuntos relativos à

Amazônia, tal como vimos na matéria veiculada no jornal da época, transcrita na

página 46, deste trabalho.

Fechando essa discussão em torno do caráter de complexidade das ações no

interior das primeiras instituições ambientalistas de Pernambuco, ressaltamos que a

luta de classes também não ficava de fora do debate. Segundo a Professora Luci

Machado, a luta do movimento: “...é uma luta de classe e o poder econômico é bem

mais forte; e o poder econômico é quem domina. Em todos os governos!” (Entrevista

nº 01).

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Nesta subcategoria percebemos como as instituições ambientalistas não

detinham o olhar exclusivamente para as questões ambientais. Era um olhar para a

complexidade; onde a Educação Ambiental era debatida em meio às questões

sociais, políticas, econômicas, não sendo, portanto, uma questão isolada das

demais. Loureiro (2006a), destaca essa questão ao falar que

a complexidade do Homo sapiens, ser biológico-social (Morin, 2003 e 1999), não permite que se pense como material apenas o ente com massa e energia, mas sim a própria relação. Além disso, deve ser considerado na formação de nossa condição cultural, a organização econômica e “complexos ideológicos” como arte, educação, religião, política, entre outros, em processo de mutua constituição na existência (a totalidade social), indispensáveis à sobrevivência da espécie. (p. 45).

Assim a Educação Ambiental de Pernambuco (1979-1988), de certa forma,

superava a visão cartesiana em que o conhecimento é visto de forma fragmentada, e

isto certamente contribuiu para o acúmulo de algumas conquistas, como veremos na

categoria a seguir.

Como prêmio: As conquistas.

Esta subcategoria contempla as vitórias, ainda que provisórias, das

instituições ambientalistas. Nas falas dos entrevistados, podemos perceber algumas

conquistas que são concebidas como prêmios pelas suas lutas em defesa da

natureza.

A Constituição Federal de 1988, é lembrada como uma conquista pelo

reconhecimento de melhores condições ao trabalhador, tais como a garantia de 1/3

de férias e a licença maternidade. Além, claro, de dedicar um capítulo sobre a

Educação Ambiental.

Nesse sentido o Sr. Augusto Semente faz questão de frisar:

(...) a gente participou de várias caravanas, várias idas à Brasília para pressionar, para que os direitos da população fossem garantidos. Aí teve a Associação dos Moradores aqui do Barro que fazia parte também, faz parte também, desde àquele momento lá de traz, da luta em defesa da Mata do Engenho Uchôa, como teve também uma conquista na constituinte, que muitas vezes as pessoas não falam, certo? O 1/3 das férias né? que não existia isso! (...) essa questão da licença maternidade (...) essas conquistas é bom lembrar né? (Entrevista nº 03).

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Como se percebe as ações não se restringiam apenas às questões

ambientais, ia mais além e isso implicava em mais conquistas para o trabalhador e

consequentemente para o Movimento.

A preservação da Mata, a classificação da Mata como Reserva da Biosfera

(1987), a 1ª CPI Ecológica do Brasil que aconteceu na ALEPE (Assembléia

Legislativa de Pernambuco), também são apontados como conquistas, conforme

relata o Sr. Augusto Semente (Entrevista nº 03), para ele isso foi fruto da luta.

Outra conquista foi o reconhecimento de 20ha da Mata como Área de

Proteção Ambiental, que de acordo com a Lei Municipal nº 17.337/2007, publicada

no Diário Oficial do Município do Recife, em 13 de setembro de 2007, denominou-se

Rousinete Taveira Falcão, o que representa uma dupla conquista: pelo

reconhecimento da mata como Área de Proteção Ambiental e pelo reconhecimento

do trabalho ambiental desempenhado por Rousinete Taveira Falcão. .

Da mesma forma o surgimento da ASPAN, a 1ª Audiência Pública na Escola

Vila Sézano, o Viveiro de Mudas Nativas da Mata Atlântica, o Posto Avançado da

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, as Representações em Foros de Meio

Ambiente, são igualmente conquistas que merecem ser lembradas.

E ainda algumas conquistas pessoais como as oportunidades de conhecer a

realidade de outros países, o fortalecimento do grupo, e a mudança de paradigma,

atitudes e a construção da própria identidade, assim como o fato de terem evitado

situação pior para o Recife e para o Estado de Pernambuco, são também conquistas

que merecem registro. Sobre esses aspectos é importante destacar a fala da

Professora Maria Adélia que diz:

eu digo muito que grande parte do que eu sou hoje eu devo à ASPAN. (...) como professora aqui na instituição, eu tenho toda uma trajetória de mestrado, doutorado, já tive possibilidade de visitar muitos locais e países diferentes pela instituição, mas não na mesma proporção que a ASPAN me propiciou (...) viajei praticamente o mundo inteiro, conheci a realidade e pude ver com outros olhos o que é a nossa realidade, como é que poderia ser... eu fico imaginando hoje em dia o que seria Recife, todo o estado de Pernambuco se não fosse esses 30 anos de atuação da ASPAN. Nós não estamos numa situação boa, mas poderíamos estar muito pior se não fosse a ASPAN! (Entrevista nº 02).

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Ou seja, houve uma transformação na pessoa, no modo de ser, construção

de uma identidade. Isso é característico de uma Educação Ambiental crítica, que

possibilita ao sujeito a transformação de si e da realidade.

Como se percebe, em função das lutas travadas ao longo de suas histórias,

as entidades ambientalistas de Pernambuco receberam como prêmio as conquistas,

válidas tanto na esfera individual como na coletividade, deixando como legado

inclusive a construção da identidade ambientalista, caracterizada pela complexidade

de suas de lutas, e um ambiente menos degradado.

Tantas lutas, tantas derrotas e tantas conquistas, só poderiam resultar na

transformação da realidade e de si mesmo, como se percebe nessa última fala da

Professora Maria Adélia. É nesse movimento dialético que, superando paradigmas

antes intransponíveis, nasce a Educação Ambiental de Pernambuco, a partir das

primeiras entidades ambientalistas do estado que ainda permanecem ativas, porque

se as derrotas são definitivas, as conquistas são temporárias - como disse a

Professora Adélia, parafraseando o também ambientalista Lutzenberger - e exigem

uma constante luta.

Face à história que acabamos de conhecer, coloquemo-nos diante das

questões ambientais que hoje nos afetam, para que sejamos impulsionados a refletir

e agir em prol de um meio ambiente que ofereça condições minimamente dignas de

vida, tal como fizeram (e ainda fazem) os pioneiros da Educação Ambiental de

Pernambuco, para que não sejamos confundidos com um “Bicho Homem” ou mesmo

nem como bicho, e que este planeta possa vir a ser contemplado e vivido também

pelas gerações futuras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Núcleo de Teoria e História da Educação do Programa de Pós-Graduação

em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, por meio dos resultados

advindos desta pesquisa, tem a seu favor o registro historiográfico de que a

Educação Ambiental de Pernambuco (1979-1988), está no centro das atividades das

entidades ambientalistas aqui pesquisadas e representa uma herança da Educação

Ambiental daquele período, marcada pela dimensão práxica, concepção crítica, pelo

dinamismo, diversidade de ações, coletividade, descentralização, complexidade,

liderança de seus agentes, autonomia, de caráter preservacionista e também

conservacionista e transformadora. .

A história revela a intensidade e a riqueza com que essa temática foi

vivenciada pelas primeiras entidades ambientalistas que, mesmo com as limitações

da época, não se intimidaram, não se calaram e partiram com autoridade em defesa

do meio ambiente, pregando uma Educação Ambiental coletiva, participativa,

verdadeiramente genuína e gozando sempre de relativa autonomia perante o Estado

e o capital.

Respondendo às inquietações que motivaram esta pesquisa temos a dizer

que por meio dessa investigação identificamos entidades ambientalistas não-

governamentais que estavam atuando no estado de Pernambuco (1979-1988) e que

ainda permanecem ativas. Conhecemos também a como a Educação Ambiental

acontecia nesses espaços de formação não escolares e as concepções de

Educação Ambiental que estavam em debate na época e as tensões ambientais

marcaram o período, partindo da história local.

Assim a Educação Ambiental de Pernambuco estava representada, pelos

Amigos da Mata do Engenho Uchôa, pela Associação de Proteção ao Ambiente

Natural/ASPAN e pela Sociedade Nordestina de Ecologia/SNE (dentre outras

instituições possivelmente não mais ativas nos dias de hoje).

Com uma diversidade de ações práticas, as entidades pioneiras da Educação

Ambiental em Pernambuco, teve à sua frente algumas lideranças como o Professor

João Vasconcelos Sobrinho, a ambientalista Rousinete Falcão, e o biólogo

Alexandre Araújo que dedicaram suas vidas na promoção da Educação Ambiental,

num exemplo de dedicação à humanidade.

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Os nossos primeiros educadores ambientais, aqui homenageados nas

pessoas desses ícones da nossa Educação Ambiental, desenvolviam seus trabalhos

observando o zelo para com a natureza em especial à pessoa humana,

reconhecendo o caráter indissociável entre eles.

A Educação Ambiental de Pernambuco (1979-1988) se aproxima das

vertentes crítica, preservacionista/conservacionista, holística e socioambiental.

Crítica porque buscava as verdadeiras origens das tensões ambientais do

momento não se contentando com falácias advindas de outros setores na tentativa

de culpabilizar os indivíduos pelas agressões ao meio ambiente e sim de investigar e

denunciar as ações agressivas das indústrias, materializadas por meio de protocolos

junto ao Ministério Público do Estado de Pernambuco contra a derrubada da Mata

Atlântica e Passeata na Avenida Boa Viagem contra poluição dos rios. .

Preservacionista/conservacionista, porque ao tempo em que se preocupava

em proteger os recursos naturais, previa a possibilidade de sua utilização de forma

racional, por meio de uma relação harmônica entre homem e demais dimensões da

natureza, não dissociando um de outro, embora estas vertentes tenham sido

impostas ao Brasil, pelos países desenvolvidos, com o intuito de impor limites ao seu

crescimento. Holística, por contemplar outras dimensões que não apenas estas.

Socioambiental pelo fato de ter um olhar atento às populações desassistidas.

Acontecia mediante uma diversidade de ações dentre as quais destacamos

as denúncias de agressão à natureza e o bom relacionamento e articulação com as

escolas. Estas ações atribuíam à Educação Ambiental o caráter práxico, pois não se

limitava à teoria; ela envolvia os agentes na luta em defesa da natureza, buscando

na articulação com as escolas e comunidades o exercício da cidadania e o

desenvolvimento de um senso crítico, para fortalecimento das lutas que eram

constante, tudo em busca de uma transformação do real vivido que representava

uma ameaça ao meio ambiente a às comunidades carentes.

De modo geral a Educação Ambiental era motivada pelas ameaças a que

estavam submetidos os recursos naturais e também pela melhoria da qualidade de

vida das pessoas. Eram situações marcadas por conflitos, esgotamento e

destrutividade, expressos na expansão urbana, esgotamento dos recursos naturais,

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desigualdades sócio-econômicas e a consequente exclusão social, avanço do

desemprego, perda de biodiversidade, contaminação dos ecossistemas, e outros.

Com as entidades ambientalistas de Pernambuco daquele período não foi

diferente. Percebemos que as questões motivadoras da Educação Ambiental de

Pernambuco, compreendem a preocupação com a preservação e conservação da

natureza, a expansão imobiliária, a degradação dos ecossistemas e também a

atenção à qualidade de vida do homem.

A preocupação com a derrubada da Mata do Engenho Uchôa, a destruição

dos ecossistemas, a poluição dos rios em decorrência do vinhoto lançado pelas

indústrias, a destruição da cultura local e da população desassistida especialmente

as identificadas em torno da construção do porto de SUAPE. E mais: A ameaça das

construtoras com seus projetos de construção de privê de alto luxo, a expansão da

cidade do Recife e o consequente aterro de áreas de manguezal destinado à

construção de avenidas, a grande seca no estado, tudo representa as tensões

ambientais da época e ainda hoje continuam a nos preocupar.

Em meio a tantas tensões era imperiosa a promoção da Educação Ambiental

em Pernambuco. No seio das entidades ambientalistas pesquisadas, havia uma

variedade de atividades concretas, com foco nos problemas próximos da realidade

dos sujeitos envolvidos nos processos, numa tentativa de transformar a realidade,

transformando inclusive a si mesmo, por meio de uma abordagem crítica refletindo

sobre teoria e prática. Nesse sentido, essa práxis pedagógica nos remete à idéia de

atividades concretas, modificação da realidade por meio da reflexão, teoria e prática.

Na Educação Ambiental de Pernambuco, percebemos o caráter coletivo

bastante característico das entidades pesquisadas, as parcerias que são firmadas

com outras instituições no sentido de viabilizar a práxis pedagógica, bem como a

complexidade das lutas que não se restringem às questões ambientais, mas

perpassam outras demandas sociais como melhores condições de trabalho, saúde,

questões políticas e econômicas, além das conquistas que as instituições

alcançaram em decorrência de suas lutas.

Esta historiografia da Educação Ambiental de Pernambuco se revela

importante para a história da educação pela formação de banco de dados

destinados a subsidiar pesquisas na área. Como vimos é uma história de perdas e

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ganhos, dor e prazer, alegria e tristeza, mas movida pelo desejo de ter um ambiente

com as mínimas condições de sobrevivência e garantia de dignidade à pessoa

humana.

Diante da riqueza de informações que vimos e das limitações desta pesquisa

em levar a cabo a discussão, algumas questões merecem ser aprofundadas como é

o caso dos impactos causados pela instalação do porto de SUAPE, que precisam

ser melhor estudados no sentido de ilustrar mais detalhadamente esta situação, sua

interferência na comunidade local e reafirmar a promoção da Educação Ambiental

como mitigadora desses efeitos.

Entendemos que nossos objetivos com esta pesquisa foram satisfatoriamente

alcançados, pelo que concluímos que a Educação Ambiental de Pernambuco (1970-

1988) é um processo plural, de tomada de consciência de si e da realidade, em

busca de transformações que possam garantir a manutenção do meio ambiente

acessível a todos e condições mínimas para uma sadia qualidade de vida. É,

portanto, um processo dinâmico em que a multiplicidade de ações e de seus

agentes se voltam para questões complexas, portanto não fragmentadas, sendo

assim caracterizada pelo seu aporte crítico e emancipatório.

Mas algumas questões continuam nos inquietando, dentre elas as seguintes:

Que consequências a instalação do Porto de SUAPE trouxe para as comunidades

que ali viviam e que ainda hoje podem ser percebidas? Qual a relação entre os

aterros de mangues e derrubadas das matas com as enchentes ou seca no estado?

Que relações havia entre o uso de agrotóxicos e inseticidas, com o surgimento de

doenças na população do estado? Que contribuições para a Educação Ambiental de

Pernambuco foram deixadas pelos nossos primeiros educadores ambientais? Qual a

história de vida dos pioneiros da Educação Ambiental de Pernambuco ? A Educação

Ambiental que temos está servindo aos grandes centros econômicos do mundo ou à

periferia? Estas, e muitas outras questões, ainda esperam por respostas e podem

ser objetos de investigação em pesquisas futuras.

Ademais nos despedimos deste memorial acreditando que é possível

revolucionar agentes sócio-ambientais em suas subjetividades e práticas nas

estruturas sociais-naturais existentes, por meio de uma Educação Ambiental Crítica,

Transformadora, em favor daqueles que vivem na periferia do mundo à espera de

um ambiente que lhes ofereça melhores condições de vida.

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REFERÊNCIAS

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BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 2007.

BIGLIARDI, Rossane Vinhas. O processo de constituição dos Educadores

Ambientais no contexto da crise civilizatória: um estudo de caso com os Mestres-

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ANEXO I – CONSULTA AO BANCO DE TESES E DISSERTAÇÕES DA UFPE

REALIZADA EM 12/08/2013

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ANEXO II – RELAÇÃO DA FLORA E DA FAUNA DA MATA DO ENGENHO UCHÔA

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ANEXO III – RELATÓRIO DE VISTORIA FIDEM

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ANEXO IV – 1ª JORNADA SOBRE AGRICULTURA NATUREZA E SAÚDE

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ANEXO V – CARTILHA VIDA AO CAPIBARIBE

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ANEXO VI – HOMENAGEM À ROUSINETE FALCÃO

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Dados do Entrevistado

Nome:

Data de Nascimento:

Formação:

Profissão:

Instituição:

1) Que conteúdos de Educação Ambiental eram trabalhados neste período?

2) De que forma eram trabalhados estes conteúdos ?

3) Quem ministrava estes conteúdos ?

4) A quem se dirigiam ?

5) De onde vinham estes conteúdos ?

6) Em que ambientes aconteciam ?

7) Que materiais didáticos eram utilizados e por que ?

8) Havia alguma relação da instituição com as escolas ? Que tipo de relação ?

9) Conhece algumas pessoas que na época trabalhavam a Educação Ambiental

em Pernambuco e que podem ser indicadas para entrevista ?

10) O que é educação ambiental ?

11) Quais as principais lembranças sobre educação ambiental em Pernambuco

que você tem da época ?

12) Há algum material (livro, folder, cartaz, encartes, apostilas, etc) utilizados na

época, para trabalhar os conteúdos de Educação Ambiental ?

13) Existe um arquivo sobre o tema ?

14) Quais os problemas ambientais em Pernambuco mais evidentes na época ?

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APÊNDICE B – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA LUCI MACHADO

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APÊNDICE C – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA MARIA ADÉLIA

OLIVEIRA MONTEIRO DA CRUZ

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APÊNDICE D – CONVITE PARA ENTREVISTA: COLETIVO DO MOVIMENTO EM

DEFESA DA MATA DO ENGENHO UCHÔA

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APÊNDICE E – CONVITE PARA ENTREVISTA: PROFESSORA ELISABETE

CARNEIRO BATISTA BRAGA

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APÊNDICE F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO:

PROFESORA MARIA ADÉLIA OLIVEIRA MONTEIRO DA CRUZ

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APÊNDICE G – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO:

PROFESORA ELISABETE CARNEIRO BATISTA BRAGA

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APÊNDICE H – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO:

PROFESORA LUCI MACHADO

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APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO:

COLETIVO DO MOVIMENTO EM DEFESA DA MATA DO ENGENHO OCHÔA

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APÊNDICE J – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESORA MARIA ADÉLIA OLIVEIRA MONTEIRO DA CRUZ

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APÊNDICE K – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESORA ELISABETE CARNEIRO BATISTA BRAGA

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APÊNDICE L – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

PROFESORA LUCI MACHADO

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APÊNDICE M – AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA:

COLETIVO DO MOVIMENTO EM DEFESA DA MATA DO ENGENHO UCHÔA

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