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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR ... ...como prática participativa. Débora Cinosi Silva Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR ...

...como prática participativa.

Débora Cinosi Silva

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR ...

...como prática participativa.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Candido Mendes como requisito de avaliação na disciplina Metodologia da Pesquisa, ministrada pelo professor Francisco Carrera.

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AGRADECIMENTOS

Ao corpo docente do Instituto A vez do Mestre. Aos colegas da Turma de Educação Ambiental, que contribuíram com as experiências de suas práticas, como educadores ambientais, para investigação deste trabalho acadêmico

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DEDICATÓRIA

Dedico este livro ao meu marido e grande companheiro Douglas, que tanto colaborou com a construção deste trabalho. E a minha querida tia Christina pelo incentivo incalculável.

.

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RESUMO

Esta pesquisa consiste em uma investigação a respeito da relevância da

Educação Ambiental para uma prática educativo-pedagógica participativa.

Neste sentido, a dimensão ambiental da educação, em sua esfera democrática

e dialógica; objetiva o desenvolvimento do pensamento sustentável como meio

de conscientização ambiental, na qual o conhecimento é produto de uma

construção participativa. Este entendimento, parte da premissa de que o ser

humano, dotado da capacidade de raciocínio, estabelece a sua relação com o

meio ambiente, a partir do desenvolvimento da cultura, ou seja, a mediação

homem-natureza se institui conforme a organização sócio-cultural de seu

contexto.

A Educação Ambiental se coloca como colaboradora de um

processo de gestão democrática, direcionada à autonomia, à participação e à

emancipação. Assim, a Educação Ambiental constitui um novo modo de olhar

as relações sócio-ambientais; necessário à sociedade atual, como meio de

conscientização dos educandos, através de uma práxis participativa norteada

pela reflexão e ação de um pensamento sustentável, colaborador de uma nova

hermenêutica social.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste Trabalho de Conclusão de Curso

observa as contribuições de diversos autores, entre eles Pedro Roberto Jacobi,

que aborda a construção de um pensamento sustentável, através de uma

redefinição das relações estabelecidas entre o homem e a natureza, e da

preocupação com a responsabilidade social que envolve o meio ambiente;

Marcos Reigota, em seus esclarecimentos a respeito das questões ambientais,

nos conceitos pertinentes ao estudo do meio ambiente e à sua aplicabilidade

no contexto escolar; Carlos Frederico B. Loureiro, em seu olhar sobre a relação

entre a educação e o meio ambiente, através de uma metodologia dialética de

transformação social, onde o aprendizado ocorre na prática cotidiana dos

alunos, enquanto ação política na esfera local e global; e Jose Eduardo dos

Santos, favorecendo a esperança de uma nova prática ambiental, através de

diversos ângulos de exemplos reais sobre a intervenção pedagógica no

processo de conscientização do papel social da educação, junto às questões

ambientais.

O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capitulo,

cujo título é Observando Teoricamente a Educação Ambiental, foram

abordados os conceitos relacionados ao assunto, bem como a trajetória

histórica do tema. O segundo capítulo, intitulado, O Olhar Pedagógico na

Educação Ambiental, traduz a significação do tema para a Pedagogia. No

terceiro e último capítulo – Uma leitura Holística da Educação Ambiental –

foram expostas as contribuições teóricas de alguns temas transversais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO CAPÍTULO I CAPÍTULO II CAPÍTULO III CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ÍNDICE

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INTRODUÇÃO

O tema escolhido como objeto de estudo nesta pesquisa é a Educação

Ambiental que tem sido muito discutida entre os educadores, como meio de

mudança de atitudes e diminuição do impacto negativo que o homem tem

causado na natureza.

A escolha do tema ocorreu devido à observação sobre as

questões ambientais que têm se destacado na educação, através das

preocupações causadas pelos fenômenos naturais da atualidade, como os

furacões, o derretimento das calotas polares, a desertificação dos corpos

hídricos, bem como as diversas conseqüências do aquecimento global. A

atenção ao tema é representada em âmbito mundial, vez que envolve a esfera

política, social, econômica e cultural.

É importante salientar que a causa destes fenômenos é,

principalmente, o mau uso dos recursos naturais destinados às necessidades

básicas do individuo, à sua moradia, suas instalações e equipamentos, que

contribuem para o desperdício e grande produção de materiais descartados,

prejudiciais ao meio ambiente e à qualidade de vida, consoante o

funcionamento do sistema capitalista e as relações de consumo.

Neste sentido, se observam grandes responsabilidades nas

relações sócio-culturais dos homens. A Educação Ambiental torna-se elemento

de fundamental importância no processo de reflexão para o desenvolvimento

da ação e de um comportamento consciente da sociedade.

Esta pesquisa se direciona a aplicabilidade da educação ambiental no contexto

escolar, que se faz necessária, pois a sociedade vive um momento de extrema

carência de um conhecimento crítico, direcionado à preservação ambiental, à

sustentabilidade e à responsabilidade social.

A Educação Ambiental implica em certa complexidade essencial

para a prática pedagógica, por se tratar da formação do ser humano, onde a

reflexão construtiva é um caminho na intervenção do comportamento do sujeito

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(investigador de sua realidade ambiental), não cabendo a neutralidade, na

medida que este tema exige um posicionamento efetivo de seus propósitos.

Tamanha a relevância do assunto, o presente estudo tenta proporcionar uma

grande contribuição para a Educação Ambiental, pois oferece um

conhecimento fundamentado nas leituras teóricas e em observações de

exemplos práticos.

As atuais discussões no campo da Educação Ambiental trazem a

necessidade de ações emergenciais e de mudanças de hábitos incompatíveis

com o equilíbrio do meio ambiente. Este momento de investigação se baseia

num esquema sistêmico envolvendo a situação ambiental, a saúde e qualidade

de vida.

Segundo o cenário atual de degradação do meio ambiente, se a

Educação Ambiental não for considerada, há uma tendência, em um futuro

próximo, em se pensar sobre meios alternativos – caso existam – de

sobrevivência do homem no planeta Terra, devido à falta de recursos naturais e

aos fenômenos provenientes que inviabilizarão as condições da vida humana.

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CAPÍTULO I. OBESRVANDO TEORICAMENTE A

EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

Para melhor compreensão deste capítulo, se faz necessário considerar

que educação e meio ambiente estão profundamente atrelados e envolvidos

em seu “foco conscientizador”, uma vez que a educação é um processo sócio-

histórico e cultural que deve promover uma mudança de comportamento

favorável à preservação ambiental, pois a educação possibilita um novo olhar,

nova visão de mundo mais ampla e diversificada em possibilidades de

compreensão da realidade.

Sendo o ambiente tudo aquilo que está ao nosso redor inclusive nós,

este não se limita apenas ao âmbito natural, mas também a questões como:

sociedade, biologia, violência, antropologia, saúde, cultura e educação. A partir

de uma visão ampla, o ambiente compreende tanto os seres vivos

microscópicos, quanto, casas, ruas, cidades, planetas... O homem é parte

integrante do meio ambiente.

1.1 Do histórico da Educação Ambiental:

Os primeiros registros de uso do termo Educação Ambiental datam de

1948, em Paris, a partir de idéias discutidas em um encontro da União

Internacional para a conservação da natureza.

Em 1968 (Roma) foi realizada uma reunião de cientistas, dos chamados

paises desenvolvidos, que conclui ser de extrema necessidade a busca por

meios de conservação dos recursos naturais. Os participantes do “Clube de

Roma” (cientistas, empresários e políticos de diversos países) observaram que

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o homem devia examinar a si próprio, seus objetivos e valores, para reflexão,

debate e formulação de propostas sobre as questões ambientais.

Como conseqüência do Clube de Roma, a Organização das Nações

Unidas realizou em 1972 na Suécia, a primeira Conferência Mundial de Meio

Ambiente Humano, o foco desta discussão, era a poluição ocasionada,

principalmente pelas industrias. A importante resolução da Conferência foi a de

que deve se educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais.

Outro grande encontro para o estudo da Educação Ambiental foi a

reunião realizada em Belgrado (1975), onde surge o Programa Internacional de

Educação Ambiental, que define os princípios e orientações para o futuro,

neste momento foi elaborada por representantes de 65 países, a “Carta de

Belgrado”.

Em 1977, acontece em Tbilisi (Geórgia) a Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que origina um movimento

global em favor de uma produção de conhecimento a respeito do valor da

natureza, através de métodos interdisciplinares. Todos os estudos realizados

em favor da causa ambiental, garantiam a noção de educação para a

cidadania.

Um grande passo foi dado na Constituição de 1988, quando a Educação

Ambiental tornou-se exigência Constitucional a ser garantida pelos governos

federal, estaduais e municipais (artigo 225, parágrafo 1, VI), até então, não

havia participação popular efetiva quanto à definição de diretrizes e estratégias

neste campo.

Até a década de 1990 não havia uma definição completa sobre uma

política de educação Ambiental em termos nacionais. As responsabilidades e

características dos cidadãos e do poder público fixaram-se por lei no

Congresso Nacional. Os objetivos, as estratégias e os meios para a efetivação

de uma política de Educação Ambiental no Brasil, são definidos pelo Conselho

Nacional de Meio Ambiente (Conama).

No início da década de 1990 surgiram os primeiros apontamentos sobre

a Educação Ambiental no sistema formal de ensino, principalmente nas escolas

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particulares. Discutia-se no Brasil a possibilidade de transformar a Educação

Ambiental numa nova disciplina no currículo escolar.

Em consenso das iniciativas formais de educação Ambiental, observou-

se a necessidade de incluí-la em todas as disciplinas (História, Geografia,

Ciências...). Nesse momento as escolas criaram o cargo de “coordenador

ambiental”, que se responsabilizava por inserir a Educação Ambiental no

currículo, este coordenador era incentivado a promover programas ambientais

através de uma abordagem interdisciplinar.

O interesse pela educação ambiental aumentou a partir da Conferência

das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de

Janeiro em 1992 - que contou com a representação de 172 governos, incluindo

108 chefes de Estado e 2400 representantes de organizações não -

governamentais – nesta, foram estabelecidos inúmeros documentos e

declarações, entre eles: a Agenda 21, a Declaração do Rio de Janeiro sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção das Nações Unidas sobre

Mudança e Clima e a Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade

Biológica. Após esta grande reunião, a educação ambiental passou a ter maior

reconhecimento no Brasil, se associando às tendências mundiais sobre o meio

ambiente.

A cúpula do Rio de 1992, também chamada Eco - 92 direcionou a

educação ambiental para uma perspectiva holística e sistêmica (compreensão

de que o universo é um todo indivisível, dinâmico, vivo e interconectado) .

Nesta conferência foi estabelecido ainda, o Tratado de Educação Ambiental

para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, do qual o Brasil faz

parte, este tratado reconhece o papel da educação na formação de valores, em

favor de uma transformação social e do desenvolvimento de comunidades

sustentáveis, estabelecidas na justiça social e no equilíbrio ecológico,

chamando a atenção para a articulação de ações de educação ambiental

fundadas nos conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e

diversidade, mobilização e participação. Esta reflexão contribuiu para que a

Educação Ambiental no Brasil estivesse relacionada à justiça social.

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Os temas apresentados na Eco – 92 são reforçados na Conferência

Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência

Pública para a Sustentabilidade, que destaca a relevância dos conceitos de

ética, sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, como articulações de

práticas da Educação Ambiental.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, lançados oficialmente em 15 de

outubro de 1997, reforçaram e validaram a educação ambiental como tema

transversal, ou seja, um tema que deve ser apresentado em todas as

disciplinas – desafiando a abordagem educacional fragmentária.

Outra contribuição deste entendimento, foi a Lei № 9795, de 27 de abril

de 1999, onde o governo federal reconheceu a Educação Ambiental com um

“componente urgente e essencial” do processo educacional, sendo

regulamentada apenas em 25 de junho de 2002, como o exposto no “Art. 10 –

A Educação Ambiental será desenvolvida como uma prática educativa

integrada, continua e permanente em todos os níveis e modalidades de ensino

formal” . Esta Lei institui uma Política Nacional de Educação Ambiental. Além

disso, a legislação abrange tanto uma abordagem holística da Educação

Ambiental nas iniciativas educacionais formais, quanto uma oportunidade de

validar as iniciativas não formais deste campo. Loureiro (2006, p. 85) faz a

seguinte observação da Lei:

Observamos na Lei uma preocupação com a construção de condutas

compatíveis com a ‘questão ambiental’ e a vinculação de processos formais de

transmissão e criação de conhecimentos a práticas sociais, numa defesa das

abordagens que procuram realizar a práxis educativa por meio de um conjunto

integrado de atividades curriculares e extra- curriculares, permitindo ao

educando aplicar em seu cotidiano o que é aprendido no ensino formal.

Neste processo em que a Educação Ambiental foi colocada no centro

das iniciativas sociais, as organizações não – governamentais tiveram grande

participação. Entretanto, cabe ressaltar que a Lei ainda não é cumprida na

sociedade brasileira, pois a Educação Ambiental, de modo geral, ainda está se

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consolidando como política pública, devido à orientação econômica dominante

– empresas responsáveis por grande parte da degradação ambiental no país.

Muitos estudiosos deste tema observam a educação ambiental

diretamente relacionada à cidadania, como propõe a concepção freireana de

acordo com uma pedagogia participativa. Santos (2006, p. 114), grande

investigadora da educação ambiental, no Brasil e em paises como: Israel,

Inglaterra, Itália, Suécia, Estados Unidos e Canadá, coloca que: “a educação

ambiental é entendida como construção do exercício da cidadania

relacionando-se a uma nova forma de ver as interações entre seres humanos e

natureza, e baseada numa nova ética que propunha novos valores morais.”

Esta relação entre a educação ambiental e a cidadania se constitui a

partir da compreensão de que há neste campo, o desenvolvimento da

construção de uma nova consciência global das questões relativas ao meio

ambiente, conforme sua posição em que valores éticos colaborem com a sua

proteção e melhoria.

O propósito de exercício da cidadania, que a dimensão ambiental da

educação coloca a respeito de novos valores morais em prol de uma

coletividade, estrapola os paradigmas atuais em torno do individualismo e da

tecnocracia, pois, favorece uma análise da relação - estabelecida

principalmente nestes últimos anos de industrialização - entre a sociedade e a

natureza.

Conforme o exposto, considera-se que, a hermenêutica fragmentária do

homem, da vida social e do meio ambiente, questionada pelo pensamento

contemporâneo, necessita de uma concepção mais integradora e

interdisciplinar dos conhecimentos da educação. Neste sentido, a Educação

Ambiental se alicerça sob uma visão holística, uma vez que sua prática e sua

conceitualização consideram os problemas ambientais em uma esfera

inclusiva, enquanto ação política, em favor de uma prática educativa

colaboradora na construção de um pensamento sustentável.

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1.2 Construindo o conceito de Educação Ambiental

A questão ambiental vem com o passar do tempo, ganhando um caráter

cada vez mais urgente, devido a exploração predatória que o homem promove

na natureza. O futuro da humanidade depende de recursos naturais, que

atualmente apenas se perdem com o consumismo irresponsável, produzido

principalmente por interesses econômicos e pela alienação.

A consciência ambiental futuramente pode ser determinante à

sobrevivência humana, devido aos esgotamentos dos recursos naturais. Por

este motivo, a Educação Ambiental como perspectiva educativa, é um

instrumento de reflexão sobre as questões ambientais, que parte de uma visão

crítica da realidade ambiental do sujeito, em direção a um comportamento

ecologicamente consciente.

Na busca de uma conceitualização da Educação Ambiental, se faz

necessário inicialmente, um entendimento do conceito de meio ambiente, que é

apresentado de diversas formas pelos teóricos deste assunto. Reigota (1996,

p. 21) afirma que:

“Defino meio ambiente como: um lugar determinado e/ ou percebido

onde estão as relações dinâmicas e em constante interação os aspectos

naturais e sociais. Estas relações acarretam processos históricos e políticos de

transformações da sociedade”.

Ainda hoje é comum a comparação entre Educação Ambiental e o

ensino da ecologia. Conforme o conceito de meio ambiente apresentado por

Reigota, observa-se que a questão ambiental é mais ampla que o universo

ecológico, pois também tem como objeto de estudo as relações sociais,

culturais e tecnológicas.

O que deve ser observado como elemento chave, neste sentido é a

hermenêutica política da Educação Ambiental, em favor de uma

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conscientização a respeito do poder que se estabelece na relação homem –

meio ambiente.

O filósofo da complexidade, Morin (2005, p. 76) propõe a seguinte

definição de consciência ecológica:

A consciência ecológica, isto é, a consciência de habitar, com todos os

seres mortais, a mesma esfera viva (biosfera): reconhecer a nossa união

consubstancial com a biosfera conduz ao abandono do sonho prometéico do

domínio do universo para nutrir a aspiração de convivibilidade sobre a Terra.

Morin sugere uma percepção holística, ou seja, uma visão ampla, total,

sobre a questão, sendo essencial o comprometimento coletivo, pois desde os

anos 70, observamos que: dejetos, emanações e exalações provenientes do

desenvolvimento técnico - industrial urbano degradam a biosfera e ameaçam

de maneira irreversível o meio ambiente, explicitando a dominação

desenfreada do homem sobre a natureza e estabelecendo uma relação de

convivência desarmônica.

Desta forma, a Educação Ambiental deve ser entendida, antes de tudo,

como uma ação política, pois reivindica uma conscientização ambiental, sobre

a leitura ética das relações sociais, e, prepara a sociedade para uma cidadania

pautada na responsabilidade social da sustentabilidade, através se um

processo de participação coletiva, no qual o sujeito percebe o meio ambiente, a

partir de uma reflexão direcionada à uma ação emancipatória.

O atual momento histórico de muitas mudanças, globalização e

questionamentos sobre as relações de poder, exige como princípio da

educação ambiental: criatividade, comprometimento com a causa e um

posicionamento consciente.

Outra noção central pertinente é a sustentabilidade relacionada ao

desenvolvimento. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento definiu desenvolvimento sustentável como: “desenvolvimento

que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

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O Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) conceitua a

Educação Ambiental, de modo a orientar as ações dos seus órgãos, da

seguinte forma:

Um processo contínuo, no qual os indivíduos e a comunidade tomam

consciência de seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as

habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir –

individual e coletivamente – e resolver os problemas ambientais presentes e

futuros.

Esse conceito de Educação Ambiental incentiva o exercício consciente

da cidadania, favorecendo o resgate e o surgimento de novos valores em

direção ao pensamento sustentável. Desta maneira, considera o meio ambiente

em sua totalidade, dirigindo-se aos cidadãos de todas as idades, estudante ou

não de modo contínuo, e, engajado com as realidades sociais, econômicas,

culturais, políticas e ideológicas, uma vez que em relação ao meio ambiente

todos os seres humanos são aprendizes e educadores.

Devido à determinação da Lei 9795 de 27/04/1999, os órgãos

integrantes do SISNAMA são incumbidos de promover ações de Educação

Ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria

do meio ambiente; para tanto foi elaborado o Programa Nacional de educação

Ambiental (PRONEA), este, objetiva estimular uma integração dinâmica dos

processos nacionais de Educação Ambiental, envolvendo as ações dos

governos e as organizações da sociedade.

Guimarães Filho (2004, p. 144) advogado e professor universitário

coloca a Educação Ambiental como:

“Os processos por meios dos quais o individuo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso

comum do povo, essencial, à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

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Na Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tibilisi

(Geórgia, ex- URSS, 1977) definiu-se a Educação Ambiental como: “uma

dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação orientada para a

resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques

interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada individuo e

da coletividade”.

Portanto, a partir desses conceitos, pode-se inferir que a Educação

Ambiental é um processo de ensino aprendizagem, onde são desenvolvidas

ressignificações qualitativas aos educandos, enquanto atores sociais, através

de uma análise e compreensão do meio ambiente e das relações sociais,

políticas, econômicas e culturais estabelecidas entre o sujeito e a natureza,

como meio de ação política do conhecimento ambiental, com a finalidade da

construção de um pensar crítico, instruído por princípios como: ética

cooperação, participação ativa, responsabilidade social e pensamento

sustentável.

Cabe neste sentido, o questionamento de qual seria então, o foco do

olhar pedagógico, que direção teria a Educação Ambiental no contexto escolar,

para que todas as dimensões da questão ambiental sejam contempladas?

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CAPÍTULO 2: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO

CONTEXTO ESCOLAR

Neste capítulo, será apresentada a dimensão pedagógica da Educação

Ambiental, com o propósito de esclarecer o sentido amplo do pensamento

ambiental, como tentativa de colaboração à prática educativa, uma vez que se

direciona a formação de sujeitos conscientes de seu papel político, enquanto

parte do meio ambiente em âmbito local e global. Além disso, este capítulo

apresenta uma abordagem ampla do sentido da escola para a sociedade, em

seu caráter formador, e, como veículo para uma educação emancipatória.

2.1 Visão holística:

O ser humano dotado da capacidade de raciocínio, estabelece a sua

relação com o meio ambiente, a partir do desenvolvimento da cultura, ou seja,

a mediação homem-natureza se institui conforme a organização sócio-cultural

de seu contexto. Deste modo, se estabelece um grande dilema, pois a cultura

pode observar esta relação como uma continuidade, ou como uma ruptura.

A sociedade atual observa as relações humanas a partir de interesses

políticos e econômicos particulares, que originam conflitos, pois, as

necessidades de um todo coletivo, não são atendidas. Assim, a ruptura

homem-natureza é evidenciada.

Este entendimento sugere que a Educação Ambiental surge com uma

função social, na qual a escola tem um papel determinante, pois a escola é um

local de relações sociais, onde são estabelecidas ações coletivas. Pode-se

inferir que caráter democrático desta instituição tem duas faces diferentes

neste campo, a da reprodução e a da participação social.

Neste sentido, a Educação Ambiental em sua esfera democrática e

participativa, objetiva o desenvolvimento do pensamento sustentável, como

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meio de conscientização ambiental, na qual o conhecimento é produto de uma

construção participativa. Assim, a escola é um local de ensino e aprendizagem

do propósito da cidadania, o exercício da vivência dos direitos e deveres do

cidadão.

A Educação Ambiental se institui desta forma, como um processo

educativo, que tem sua prática norteada pelos seguintes princípios, segundo

(Loureiro, p. 2006):

“A Educação Ambiental atua como instrumento mediador entre os atores

sociais que agem no ambiente; A proposta educativa da Educação Ambiental

se estabelece no questionamento legítimo de idéias e conhecimentos do

ambiente em sua complexidade; Aprendizagem permanente; Articulação entre

teoria e prática; Favorecimento da emancipação a partir de uma

instrumentalização e preparação do indivíduo”.

Os princípios expostos estabelecem na prática educativa, um

compromisso com o conhecimento que o aluno tem de sua realidade, através

de uma organização coletiva, na busca por soluções de problemas, e,

compreensão do ambiente e suas relações.

Assim, a Educação Ambiental atua a partir de uma consideração

dialógica e dialética da prática educativa, estabelecendo relações de

aprendizagem, conforme a apreensão da realidade do educando, construindo

associações entre a esfera local e a esfera global.

Faz-se necessário esclarecer que o propósito ambiental da educação se

contrapõe ao momento histórico da sociedade atual, onde as relações de

consumo, o processo de acumulação de capital, e a alienação, ditam normas e

“valores” culturais.

A perspectiva ambiental da educação assume assim, uma postura de

ação transformadora, onde o caráter reflexivo em favor de uma superação das

relações de dominação entre os homens e a natureza garante novos olhares

culturais e novos entendimentos a respeito das questões ambientais.

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Para tanto, atualmente, muitos estudos da dimensão ambiental da

educação, se direcionam a uma possível incorporação da Educação Ambiental

no currículo escolar, mas essencialmente se observa este aspecto educacional

como uma necessidade de articulação interdisciplinar.

2.2. Interdisciplinaridade e Educação Ambiental:

A posição reflexiva da Educação Ambiental contribui com a prática

educativa, na medida em que confere ao contexto escolar, a possibilidade de

fundamentação de uma consciência ambiental, de docentes e discentes, em

sua investigação e debate ecológico.

Entretanto, se faz necessário um esclarecimento a respeito do caráter

interdisciplinar da Educação Ambiental, que se estabelece a partir de uma

articulação sistêmica de diversos saberes e necessidades do meio ambiente.

Desta maneira, a dimensão ambiental da educação se constrói não apenas nas

áreas escolares das ciências naturais, mas, em todas as disciplinas

(humanísticas ou exatas), pois o meio ambiente é produto das relações sociais,

nas quais estão presentes, a linguagem, a história e a ciência.

Segundo a consideração de Noal (2006, p. 376):

“As questões socioambientais são, na sua essência, multi, inter e

transdisciplinares, pois perpassam e interligam além das questões sociais e

ambientais, questões econômicas, políticas, estéticas e culturais. Mesmo que

na maioria das vezes não sejam tratadas desta forma, elas abrigam uma

diversidade de componentes e variáveis multidimensionais que exigem

abordagens e interpretações sistêmicas e não deterministas”.

Assim, a condição integradora da Educação Ambiental, se origina na

necessidade de componentes dialógicos no processo de ensino e

aprendizagem, uma vez que as articulações de saberes de natureza diversa

são exigências da sociedade.

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Esta característica interdisciplinar da Educação Ambiental proporciona

uma abordagem ampla dos olhares em direção ao meio ambiente, pois

considera as colaborações das diferentes esferas de conhecimento, garantindo

uma compreensão favorável e maior integração entre alunos, professores e a

toda a comunidade escolar.

A articulação interdisciplinar presente no contexto educativo como um

todo, assegura: uma ligação entre o trabalho realizado em sala de aula, e o

cotidiano do aluno, de modo a dinamizar o processo de ensino-aprendizagem,

através de vivências; análise de problemas ambientais, pertinentes ao contexto

escolar do aluno, bem como a proposição de possíveis soluções; o

favorecimento da construção coletiva de saberes; a percepção de que o aluno

é sujeito participante deste processo; a dinamização do processo de reflexão –

ação entre os educandos, através de atitudes sociais individuais e coletivas; o

destaque do papel do professor, como coordenador deste processo coletivo.

(Penteado, 2003).

2.3. Uma ação política participativa:

Conforme o exposto, observou-se que o caráter interdisciplinar da

Educação Ambiental é responsável pela articulação entre as disciplinas

escolares, e entre os sujeitos do contexto escolar, favorecendo desta forma,

uma dinamização da escola, enquanto local de ação coletiva.

Neste sentido, a escola assume seu papel na formação sociocultural dos

educandos, que vivenciam as experiências de conscientização e de ação

política.

O desenvolvimento deste processo de articulação entre teoria e prática

se estabelece nos questionamentos apresentados pelos alunos acerca de seus

saberes imediatos, produtos de sua realidade.

De acordo com Loureiro (2006, p. 133):

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24

“A internalização de uma visão ambiental de mundo passa, sem dúvida,

pela vinculação, feita por múltiplas mediações, entre o imediato vivido e as

grandes questões globais. Não existe cidadania planetária sem que o indivíduo

crie o senso de pertencimento e seja cidadão de algum lugar e de um Estado-

nação, exercitando e redefinindo o próprio sentido de cidadania”.

Deste modo, a dimensão ambiental da prática educativa se direciona a

uma reflexão global e a uma ação política local a respeito das questões

ambientais, a fim de que se construa uma relação participativa, onde o aluno

possa entender a importância do seu conhecimento para o exercício da

cidadania (saber empírico).

Assim, a Educação Ambiental é antes de tudo um ato político, em favor

de uma transformação social, que se situa no contexto da educação para a

cidadania, sendo elemento determinante no desenvolvimento de sujeitos

cidadãos, conscientes de seu papel sócio-ambiental, como multiplicadores de

novos olhares, comportamentos e atitudes.

2.4. Uma práxis em Gestão Escolar:

A Educação Ambiental se insere como uma prática educativo-

pedagógica de Gestão escolar, buscando uma estrutura de referência à

conscientização ambiental, em seu propósito político, para uma transformação

social. A Gestão escolar se responsabiliza por transformar metas e objetivos

educacionais em ações, através de um processo político administrativo

contextualizado, onde o sentido social da educação é orientado, organizado e

colocado em prática.

A sociedade hodierna1 revela a necessidade e a emergência de um

pensar coletivo, em direção à conservação ambiental e à qualidade de vida,

1 Sociedade atual.

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25

através de uma prática participativa, ou seja, de uma intervenção de ação e

reflexão dialógica.

Um indicativo desta necessidade de um pensar coletivo na sociedade

atual, é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394 de 1996

artigo 3º, inciso VIII, que demonstra a gestão democrática como um dos

princípios da gestão educacional, garantindo a participação dos profissionais

de educação e da comunidade escolar, na construção do Projeto Político

Pedagógico da escola, onde será estabelecida, qual a cidadania que se deseja

para determinado contexto.

Essa práxis, em seu caráter criador, ousado, crítico e reflexivo,

descortina o poder da escola de repensar a sociedade. Para tanto, esta

educação transformadora se coloca como educação para a cidadania, a fim de

desenvolver a capacidade de pensar crítica e autonomamente, propondo

questionamentos, fazendo novas leituras de sua realidade ambiental, e

estabelecendo possíveis soluções aos embates encontrados.

Deste modo, a Educação Ambiental se coloca como colaboradora neste

processo de gestão democrática, que objetiva a autonomia, a participação e a

emancipação, conforme as mudanças paradigmáticas necessárias, pois, se

apresenta como uma nova hermenêutica das questões ambientais na escola –

conforme seu papel socializador.

A escola, neste sentido, é responsável pela elaboração, construção e

ressignificação qualitativa do saber ambiental, a partir do diálogo, da pesquisa

e das diferentes fontes de informação, considerando, fundamentalmente, a

ética como princípio norteador.

Como explica Pedro Jacobi (2006, p. 255):

“O principal eixo de atuação da Educação Ambiental deve buscar acima

de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas

democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas”.

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26

Este novo paradigma de gestão escolar apresenta as relações de poder

horizontais, estruturas integradas, espaços coletivos, formas de ação

democráticas e autônomas. Tais aspectos incorporam as necessidades

educacionais da atualidade, que estão de acordo com o sentido da Educação

Ambiental, uma vez que o meio ambiente envolve a fauna, a flora e as relações

sociais.

A Educação Ambiental se insere como instrumento dessa práxis,

observando no contexto escolar, as relações sócio-educacionais, a partir da

realidade do educando, e promovendo uma mudança de comportamento para

a sua efetivação.

Um aspecto de extrema relevância para este entendimento pedagógico

é a organização do currículo escolar, que deve contemplar a questão

ambiental, como princípio educativo; e a metodologia, que deve valorizar o

conhecimento que o aluno tem a priori em seu contexto ambiental, a partir de

discussões em classe, ou em grupo, debates, questionários, reflexões e

projetos elaborados pelos próprios alunos. É importante salientar que o

currículo vivido, ou seja, o currículo que surge na prática educativa cotidiana

(como as questões ambientais locais), e o currículo oculto (real questionamento

coletivo), são elementos de grande significado para a elaboração de núcleos

conceituais no processo de ensino e aprendizagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998 fazem referência à

Educação Ambiental como tema transversal, que tem conteúdos relativos a

valores e atitudes, como: desenvolver um espírito de crítica às relações de

consumo e o senso de responsabilidade e solidariedade, e, conteúdos relativos

a procedimentos, como: formas de manutenção e limpeza do ambiente escolar,

formas de evitar o desperdício e saber utilizar os serviços existentes

relacionados com as questões ambientais. Além das questões básicas do meio

ambiente (proteção, preservação, conservação, recuperação, degradação e

sustentabilidade).

Os assuntos de investigação escolar predominantes são: o lixo; a

poluição do ar, de rios e mares, enchentes; investigação sobre a realidade

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ambiental do local da escola; a proteção e a conservação das áreas verdes; a

degradação de mananciais e bacias hidrográficas; problemas da saúde

coletiva; bem como a causa de fenômenos ambientais (aquecimento global, El

Nino, La Nina etc).

A atuação da Educação Ambiental está diretamente relacionada com a

cidadania, como formação e exercício desta, proporcionando ao aluno, um

novo modo de pensar a relação do homem com o meio ambiente. Esta

proposta educativa para a cidadania é um processo de aprendizagem

permanente, que valoriza o conhecimento prévio do educando, em suas

diferentes formas, e, favorece o desenvolvimento do cidadão com consciência

local e global. Pois, a cidadania é construída na relação com o outro, havendo

igualdade, quanto aos direitos e deveres, e, diferença, quanto ao contexto

sociocultural e ambiental – particular do aluno. Este propósito cidadão da

questão ambiental, como dimensão escolar, ainda descortina o sentido

democrático da cidadania, na medida em que oferece estruturas referenciais de

conhecimento para o pensamento crítico do discente, frente às suas escolhas

sócio-ambientais.

Assim, a Educação Ambiental constitui um novo modo de olhar as

relações sócio-ambientais, necessário à sociedade atual como meio de

conscientização e mudança comportamental dos educandos, através de uma

práxis participativa de gestão escolar, norteada pela reflexão e ação de um

pensamento sustentável, em favor do meio ambiente.

2.5 Aprendizagem e Avaliação na Educação Ambiental

A Educação Ambiental constitui atualmente uma das dimensões mais

importantes nas discussões do processo educacional, pois, evidencia o poder

da escola, em repensar a sociedade. Para tanto a denominação Educação

Ambiental, tem instrumentos básicos de uma proposta pedagógica: a

conscientização, a capacidade de avaliação e a participação dos educandos.

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28

Entre as atribuições da Educação Ambiental, destacam-se: o sentido da

cidadania; a transformação social a partir de novos valores; e, uma nova

relação homem – meio ambiente pautada na preservação e no pensamento

sustentável. Enquanto tema de conteúdo transversal (segundo os Parâmetros

Curriculares Nacionais), e por tratar-se de uma área de amplo significado

educativo, a Educação Ambiental não pode ser avaliada apenas sobre um

ponto de vista, se faz necessário considerar, os aspectos sócio-históricos,

econômicos, políticos e culturais, conforme as relações humanas, nos diversos

modos de olhar a questão ambiental.

A avaliação na Educação Ambiental, não deve objetivar apenas a

verificação de conteúdos, tais como o lixo, os materiais recicláveis, os

fenômenos naturais ou a diversidade da fauna e da flora, mas, a avaliação de

um processo contínuo de aprendizagem na integração dos conhecimentos na

prática cotidiana, uma vez que o seu alvo é a conscientização e a mudança de

comportamento do educando.

Assim, a utilização prática dos saberes discutidos sobre o meio ambiente

é mais relevante, como apropriação de conhecimento, do que as informações

presentes nos conteúdos. Segundo Depresbiteris (2006, p. 534):

“A avaliação em educação ambiental, como a avaliação em todo o

processo de ensino e aprendizagem, deve se distanciar dos paradigmas

clássicos que sempre a nortearam, buscando cumprir um novo papel: o de

auxiliar o aluno a identificar o significado do seu aprendizado”.

Deste modo, a Educação Ambiental se apresenta como um desafio, na

medida que se responsabiliza por uma conscientização de que as ações

praticadas pelo homem influenciam o meio ambiente e a qualidade de vida em

esfera global. É pertinente neste sentido, esclarecer que a escola deve

incentivar o aluno a investigar as questões ambientais de seu contexto, com a

finalidade de estabelecer uma aprendizagem de ressignificações qualitativas,

na construção de propostas e soluções para os problemas ambientais

observados.

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29

Outro aspecto fundamental no processo avaliativo da Educação

Ambiental é o comportamento ético na ação desenvolvida pelo educando, pois

o sentido de seu aprendizado tem a ética como princípio essencial. Propõe-se

desta forma, um entendimento novo, a respeito do papel da escola, que passa

a ter toda a comunidade escolar (direção, coordenadores, professores, alunos,

pais e funcionários) envolvida, na condição de aprendizes das questões

ambientais.

Os conteúdos básicos que teriam a função de ligar a ciência aos

problemas apresentados no cotidiano são: o ecossistema, o conceito de

habitat, nicho ecológico, cadeia alimentar, relações de consumo,

desenvolvimento sustentável, degradação e preservação ambiental.

A escola, assim, tem a sua preocupação voltada para a iniciativa, à

independência, a responsabilidade, a cooperação e a comunicação dos

educandos. E para tanto, deve utilizar como estratégia de ensino os debates

dos problemas ambientais, o estímulo ao envolvimento dos alunos na

resolução destes problemas, a pesquisa de campo e a utilização de diversas

linguagens como meio de investigação (documentários, filmes, acesso a

Internet, jornais e revistas).

O papel da avaliação na Educação Ambiental deve assumir a dimensão

qualitativa, observando a organização do currículo escolar, de modo a propiciar

um envolvimento dos educandos nas questões ambientais de seu contexto,

para uma reflexão sobre seu papel na situação ambiental global.

Dessa maneira, a metodologia de avaliação deve contemplar a

pesquisa, enquanto ação investigativa, através de exploração teórica e prática

(pesquisa de campo, aula - passeio) sobre os problemas e as possíveis

soluções das questões ambientais estudadas, a partir dos valores

apresentados na Educação Ambiental.

Cabe ressaltar que a Educação Ambiental não é uma disciplina escolar,

mas um tema que deve ser observado por todas as disciplinas, assim sua

avaliação não se destinará a verificações ou medições do conteúdo

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transmitido, e sim a uma avaliação do processo de aprendizado –

ressignificação qualitativa da dimensão ambiental – como um todo.

A avaliação auxilia o aprendizado, na medida em que é parte integrante

do processo educativo; não como cobrança, mas como mais um momento de

aprendizagem; buscando a compreensão da dificuldade do educando, numa

perspectiva emancipatória, que se direciona a transformação do seu contexto,

pois, tem seu objetivo para o favorecimento da autonomia do aluno, sobre suas

observações, suas possíveis alternativas ou soluções aos problemas

observados e suas conclusões, sendo um sujeito crítico e um cidadão

consciente de seu papel sócio – ambiental

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CAPÍTULO 3. CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL.

Sendo a Educação Ambiental, um veículo de pensamentos e ações

favoráveis ao meio ambiente, esta se destina à valorização das potencialidades

sócio-ambientais, no contexto educacional do aluno, e, à reflexão construtiva a

respeito das relações estabelecidas entre escola, alunos, comunidade e o

ambiente em que estão inseridos. A partir da escola, expandindo-se pela

comunidade, cidade, região, país, planeta, a aprendizagem será mais efetiva,

pois promove, de maneira articulada, o desenvolvimento de conhecimento, de

atitudes e habilidades necessárias à melhoria da qualidade ambiental.

3.1 Crise Ambiental e Crise Civilizatória.

O comportamento do homem, conforme sua história, vêm sendo

aprisionado à valores superficiais, pois o universo contemporâneo mostra uma

preocupação com o consumismo e o avanço das tecnologias. Guattari (1990, p.

8) inicia sua obra “As três ecologias”, dissertando sobre as transformações

intensas que o mundo vivencia, que colaboram com os desequilíbrios

ecológicos. “É a relação da subjetividade com a sua exterioridade – seja ela

social, animal, vegetal, cósmica – que se encontra assim comprometida numa

espécie de movimento geral de implosão e infantilização regressiva”.

Este posicionamento contemporâneo – originado nos princípios

capitalistas – gera uma crise civilizatória, onde estão distorcidas as concepções

de mundo, de natureza, de coletividade, e, de poder. A partir de então, o

homem não se percebe parte integrante do meio ambiente, pois a sociedade

fragmenta e classifica seus elementos, banalizando sua relevância. Segundo

Loureiro (2004, p. 71)

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“A conscientização acerca da interdisciplinaridade e complexidade que

envolve o meio ambiente, observa um novo olhar da natureza. Sendo

primordial a educação ambiental como meio educativo pelo qual se podem

compreender de modo articulado as dimensões ambiental e social,

problematizar a realidade e buscar raízes da crise civilizatória”.

Assim, esta crise ambiental e civilizatória, se estabelece conforme a

dicotomia entre valores políticos, econômicos, sociais e éticos, produto de uma

relação predatória constituída ao longo do tempo. Neste sentido, a educação é

um elemento de resistência ao silenciamento da sociedade sobre seus conflitos

socioambientais, uma vez que objetiva a unidade de pensamento favorável a

uma conscientização ambiental.

3.2 A contribuição da Ecopedagogia.

Esta pesquisa não poderia se desenvolver sem a significativa

apresentação da ecopedagogia, que não esclarece apenas uma pedagogia

ecológica, mas, um novo olhar sobre a educação. Este novo paradigma

fundamenta-se na contribuição freireana de pensar conforme a esfera da

subjetividade e da cotidianidade, buscando sentido nas pequenas ações,

resgatando uma unidade planetária de ser e saber. A ecopedagogia investiga a

vida e a relação dos homens, sendo um movimento sócio – político, que surgiu

no final dos anos 90 e atualmente é coordenado pelo Instituto Paulo Freire em

São Paulo.

A ecopedagogia implica uma reorganização do currículo, a partir de seus

princípios, essencialmente a promoção da vida. Desta forma, valoriza os

conteúdos relacionais, as vivências, atitudes e valores, bem como a

diversidade cultural, garantindo manifestações das minorias étnicas, religiosas

e sexuais, trata-se ainda de uma educação multicultural.

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São princípios da ecopedagogia: o planeta é uma comunidade única; a

Terra é um organismo vivo, em evolução; a consciência sustentável faz sentido

para a nossa existência; a Terra é nosso endereço, com o qual temos que ter

ternura; uma pedagogia que promove a vida (envolvimento, comunicação,

compartilhamento, problematização, relação entusiasmo); caminhar com

sentido na vida cotidiana; racionalidade intuitiva e comunicativa; novas atitudes,

reeducação sentimental do olhar; cultura e sustentabilidade.

Segundo Gadotti, (2000, p. 183)

“O movimento pela ecopedagogia encontra nessas praticas alimento

para a sua trajetória de consolidação de um novo paradigma educacional. Ao

mesmo tempo, essas práticas ganham uma dimensão maior, ultrapassando a

visão ambientalista e local, compreendidas dentro de uma visão mais

totalizadora do mundo”.

A ecopedagogia se estrutura numa abordagem filosófica, que se

preocupa com o sentido mais profundo da existência humana, direcionada a

uma educação sustentável, mais ampla que a educação ambiental. Entretanto,

a ecopedagogia e a educação ambiental não são opostas, mas

complementares, a ecopedagogia não se opões a educação ambiental. Para a

ecopedagogia, a educação ambiental é um pressuposto. A ecopedagogia

incorpora-a e fornecendo estratégias, propostas e meios para a sua realização.

Marli Alves Santos (2006, p. 115) afirma que:

“A ecopedagogia parece ser uma evolução da pedagogia freireana,

incorporando o princípio da sustentabilidade à educação para a cidadania.

Caracteriza-se por uma abordagem ecológica, propondo não só a reforma do

currículo, mas também a comunidade escolar como um todo”.

Assim, a ecopedagogia, enquanto hermenêutica educacional surge

como elemento de resistência à hegemonia capitalista do mundo

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contemporâneo, através de uma pedagogia participativa em todos os sentidos

sócio – culturais, sendo traduzida a partir de uma sensibilização, promovendo

uma reflexão histórica que favorece um pensamento ético e sustentável sob

uma política da condição humana.

3.3 A contribuição do Pensamento Sustentável.

Segundo Kranz (1995 apud GADOTTI, 2000, p. 62) “desenvolvimento

sustentável significa usarmos nossa ilimitada capacidade de pensar em vez de

nossos limitados recursos naturais.”

Conforme o conteúdo apresentado no capitulo I, a educação ambiental

justifica-se na busca e construção de alternativas sociais fundadas em

princípios éticos, pois o meio ambiente necessita de preservação para garantia

da sobrevivência humana.

Uma colaboração de extrema relevância neste sentido é a do

pensamento sustentável, onde a ação humana sobre o meio ambiente não

ocorre como forma de destruição, mas, como meio de renovação dos recursos

naturais. Para tanto, a educação tem o poder de intervir junto à formação de

sujeitos conscientes. Segundo Guattari, (1990, p. 52) “o princípio particular à

ecologia ambiental é o de que tudo é possível tanto as piores catástrofes

quanto as evoluções flexíveis. Cada vez mais, os equilíbrios naturais

dependerão das intervenções humanas”.

Assim, o desenvolvimento sustentável – que tem o seu conceito

discutido por diversos autores: Edgar Morin, Marcos Reigota, Marli Alves

Santos e Pedro Jacobi entre outros – diz respeito a um comportamento

consciente diante dos recursos naturais limitados e finitos.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável das Nações Unidas elaborou em 1988 o Relatório de Brundtland,

no qual definiu-se desenvolvimento sustentável como: aquele que satisfaz as

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necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras

de suprir suas próprias necessidades”.

Contudo, a abordagem da sustentabilidade não existe sem uma

sociedade econômica e politicamente sustentável, uma vez que a participação

deste entendimento permeia o caráter comportamental do sujeito, que

atualmente encontra-se atrelado às questões de consumo e tecnologia.

Deste modo, o conceito de sustentabilidade remete à necessidade de

uma definição mais concreta de sociedade e natureza, portanto uma mudança

na civilização, que discute estas significações a partir de olhares particulares e

abstratos, tornando impossível uma conceitualização concreta, operacional e

precisa de sustentabilidade. Neste sentido, as pesquisas sobre este tema, em

meio a conferências e reuniões, apontam para uma orientação, enfoque, ou

ainda, perspectiva sobre o desenvolvimento sustentável.

A construção de uma leitura sustentável de mundo depende de uma

postura consciente, em que o contexto escolar tem primordial participação.

Moacir Gadotti (2000, p. 87) observa o desenvolvimento sustentável como uma

“idéia – força” ou “idéia – mobilizadora”:

A educação, concebida como escolarização, pode e deve ser um peso

na luta pela sustentabilidade econômica, política e social. Processos não

formais, informais e formais já estão conscientizando muitas pessoas e

intervindo positivamente, se não solucionando, despertando para o problema

da degradação crescente no meio ambiente.

O urgente pensamento sustentável tem como principais argumentos: a

solidariedade e a ética do cuidado. Cabe ressaltar que os avanços ocorridos no

entendimento de sustentabilidade são ainda, entraves para o crescimento

econômico, o que resulta na perda da biodiversidade, diminuição dos recursos

naturais não renováveis e degradação do meio ambiente.

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36

3.4 A dimensão ambiental da Educação para a Cidadania

O presente estudo esclarece que o conceito de meio ambiente não está

relacionado apenas à ecologia, mas – sob um olhar mais amplo – a dimensão

ambiental traduz diversas facetas da sociedade, como: cultura, história e

comportamento.

A questão ambiental está relacionada à educação, com a finalidade de

garantir o desenvolvimento de um olhar sustentável da sociedade, assim o

indivíduo se insere em seu papel de cidadão consciente. “Promover a

consciência política e o pensamento crítico entre os estudantes, a fim de torná-

los aptos a serem cidadãos responsáveis, é considerado um aspecto

importante da educação para a cidadania” Santos, (2006, p. 105).

Neste sentido, a educação ambiental favorece a construção do

pensamento do aluno em direção à cidadania, pois, de acordo com os ideais

propostos estão valores como ética, respeito e responsabilidade.

Este direcionamento auxilia o educando em seu posicionamento crítico,

de forma a estabelecer uma visão holística da sociedade, pois este se observa

ator deste contexto de direitos e deveres, no qual o meio ambiente é parte

integrante, pois é produto das relações sociais.

Segundo Jacobi (2005, p. 244):

“Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação para a cidadania

ambiental convergente e multi – referencial se coloca como prioridade para

viabilizar uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de

se enfrentar concomitantemente a crise ambiental e os problemas sociais”.

O processo de aprendizagem do sujeito sobre as questões

socioambientais inicia-se por meio de uma observação (e conseqüentemente

intervenção) em sua realidade local, de cultura e ideologias singulares, bem

como as relações de interesses, favorecendo ainda, a construção de saberes

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políticos. Assim, a educação ambiental propõe o esclarecimento do papel dos

educandos, enquanto atores políticos.

Portanto, a educação ambiental se estabelece como educação para a

cidadania, na medida que confere um aprendizado social ao aluno, fundado no

diálogo, na recriação e reinterpretação do conhecimento (informações,

conceitos e significados) que se originam no sistema formal ou informal de

ensino – contexto ambiental do aluno.

3.5. Refletindo sobre a ação... conceitos pertinentes à

Educação Ambiental.

Após as considerações teóricas feitas nos capítulos anteriores, se faz

necessário um esclarecimento a cerca da práxis na Educação Ambiental. Para

tanto, serão apresentados a seguir, alguns conceitos pertinentes a um

entendimento das questões ambientais.

O homem convive com a natureza a mais de 1 milhão de anos, assim,

esta interação muitas vezes descaracteriza alguns elementos naturais. O

elemento natural é aquele que não sofreu qualquer alteração do homem, para

existir, como exemplo, podem ser mencionados: rios, nascentes, lagos e

animais silvestres. Entretanto, devido à relação antiga entre a ação humana e a

natureza, grande parte dos recursos naturais, resultam de uma intervenção da

cultura humana, ou são produto de uma ação conservativa, podendo ainda,

tratar-se de um sistema ecológico que já foi regenerado, após qualquer

intervenção. Deve se considerar também os elementos produzidos ou

transformados pela ação humana, como bosques plantados, jardins, praças,

plantações e pastos.

Esta diferenciação é relevante, na medida que delimita a ação do

homem na natureza, tanto nos aspectos físicos, quanto nos aspectos sociais,

lembrando a definição de meio ambiente que não restringe este conceito,

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apenas a ecologia material ou física, mas se amplia nas relações sociais

participantes deste sistema.

Os parâmetros Curriculares Nacionais (1998) apresentam alguns

conceitos básicos referentes ao meio ambiente: proteção, preservação,

conservação, recuperação e degradação; observado como tema transversal.

A proteção ambiental é a defesa daquilo que é ameaçado, no Brasil, a

Constituição Federal apresenta várias leis, estabelecendo as Áreas de

Proteção Ambiental (APAs), ou seja, espaços do território brasileiro definidos e

delimitados pelo poder público. Nestas áreas, a proteção é uma necessidade

para garantir o bem estar das populações da atualidade e do futuro, e o

equilíbrio do meio ambiente. Neste sentido, poderão ser constituídos critérios e

normas complementares, que restrinjam o uso de recursos naturais nestas

áreas (como exemplo: a proibição das queimaduras e do desmatamento),

considerando a realidade local. A Constituição Federal afirma a seguinte

condição para ao uso de recursos naturais nas APAs: “não comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”. (Constituição Federal,

artigo 225, parágrafo 1º, III).

A preservação ambiental é a ação da proteção contra a destruição e/ou

qualquer forma de dano ou degradação do meio ambiente (área geográfica,

espécie de animais ou vegetais ameaçados de extinção), através de medidas

preventivas legalmente necessárias e medidas de fiscalização cabíveis. Por

exemplo, as áreas de preservação permanente, previstas pelo Código

Florestal, ao longo dos cursos das águas; estas áreas se destinam à vegetação

ou mata ciliar, ou seja, (como os cílios para os olhos) faixa de vegetação nativa

às margens dos rios, lagos, nascentes e mananciais, importantes para garantir

a quantidade e qualidade das águas.

A conservação é a utilização consciente de qualquer recurso natural,

garantindo a renovação ou a auto-sustentação (idéia de sustentabilidade).

A recuperação é o ato de recuperar o que foi perdido, adquiri-lo

novamente. Nem sempre a área destruída pode retornar ao seu estado

anterior, a lei prevê a responsabilidade da recuperação, pelo agente

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degradador, o agente responsável pelo dano, deve repará-lo. Além da

recuperação da área degradada, a lei assegura provável pagamento de multa

(Lei Federal nº 6938).

A degradação ambiental é a manifestação de alterações ou

desequilíbrios provocados no meio ambiente, que são prejudiciais aos seres

vivos, impedindo os processos vitais antes destas alterações. Algumas das

formas mais evidentes de degradação ambiental são a desestruturação física,

a poluição e a contaminação.

Estes conceitos evidenciam a responsabilidade da consciência e da

ação humana em sua relação em sua relação com o meio ambiente, assim a

educação tem um importante papel neste processo de conscientização a

respeito destes conceitos.

A degradação ambiental cresce em grande escala, tendo como principal

contribuinte a ação humana de exploração dos recursos naturais. Surgem com

isso, os fenômenos como o aquecimento global, as chuvas ácidas, os furacões

e os maremotos entre tantos outros. Provavelmente em 50 anos a educação

ambiental seja necessária como meio de sobrevivência em alguns pontos da

Terra.

Em todos os segmentos, a educação se efetiva na união entre os

pressupostos teóricos e práticos, buscando construir dialogicamente o

pensamento e a ação, a partir da capacidade humana de planejar e replanejar.

A questão ambiental por ser alicerçada na ação pela transformação do meio

ambiente, se traduz da mesma forma.

Segundo Loureiro (2006, p. 130):

“Não nos educamos abstratamente, mas na atividade humana coletiva,

mediada pela natureza, com sujeitos localizados temporal e espacialmente. Ter

clareza disso é o que nos leva a atuar em Educação Ambiental, mas não a

partir do discurso genérico de que todos nós somos igualmente responsáveis e

vítimas do processo de degradação ecossistêmica. Educar para transformar é

agir conscientemente em processos sociais que se constituem conflitivamente

por atores sociais que possuem projetos distintos de sociedade”...

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A discussão a respeito da Educação Ambiental, na atualidade, se

direciona a uma intervenção pedagógica em favor do desenvolvimento de uma

construção sistêmica do pensamento sustentável, buscando a transformação

do comportamento humano e de seu modo de olhar; da sociedade; da cultura,

sobre a concepção de meio ambiente.

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CONCLUSÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso disserta sobre a Educação

Ambiental no contexto escolar, que se apresenta como uma necessidade do

momento histórico atual, onde os problemas ambientais têm demonstrado a

degradação causada pela ação humana, através dos desastres e fenômenos

naturais. A pesquisa se direciona a conscientização política e ética das

questões ambientais no contexto escolar, a partir de uma abordagem

pedagógica sobre o assunto.

Inicialmente, se faz necessário um esclarecimento a respeito do

significado do meio ambiente, que não se traduz apenas na fauna e na flora,

mas, contempla as relações estabelecidas entre o homem e a natureza.

Estas relações entre o homem e a natureza que compõem o meio

ambiente, se manifestam nas esferas: política, social, cultural, econômica..., e,

assim, sugerem uma visão holística, ou seja, ampla - visão do todo - de

diversos olhares (da filosofia; da sociologia; da antropologia; comportamental,

da psicologia; biologia; política; economia, etc) para a construção do conceito

de educação Ambiental.

A Educação Ambiental é um processo de ensino – aprendizagem, onde

são desenvolvidas novas estruturas de referência sobre o meio ambiente aos

educandos, enquanto atores sociais, através de uma análise e compreensão

do meio ambiente. Configura-se ainda, como meio de ação política do

conhecimento ambiental, pois tem como finalidade, o favorecimento de um

pensar crítico; instruídos por princípios éticos, que abrangem o sentido de

cooperação, participação ativa, responsabilidade social e pensamento

sustentável.

Desta forma, a escola tem um papel fundamental neste processo, na

medida que se responsabiliza pela formação sócio – cultural de seus alunos, e

pela conscientização destes, enquanto cidadãos.

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O sentido amplo da Educação Ambiental deve ser assistido pela

interdisciplinaridade no contexto escolar, pois, a articulação sistêmica, ou seja,

interligada, dos diversos saberes e olhares atende às necessidades de

investigação das questões ambientais.

Deste modo, a Educação Ambiental deve ser abordada por todas as

disciplinas escolares (não somente as Ciências Naturais), com o propósito de

valorização da realidade local do aluno, para que este, possa não apenas

apontar os problemas ambientais do seu contexto, mas também, a partir de

reflexão (articulação entre teoria e prática), propor possíveis soluções a estas

questões.

Neste sentido, a educação Ambiental, tem em sua função social, o

caráter determinante de uma ação política, pois se responsabiliza por preparar

educandos para assumir seu papel, enquanto ator sócio - ambiental, e,

fundamentalmente, potencializar seus questionamentos e reflexões sobre a

realidade de maneira crítica, em favor do meio ambiente e de uma

conscientização coletiva.

Para tanto, a Educação Ambiental deve ser observada pela Gestão

Escolar, como instrumento de um educação política, que atribui o sentido de

formação para a cidadania do aluno.

A Gestão Escolar é um meio efetivo de promoção da Educação

Ambiental, porque tem como atribuição principal, a formação do cidadão no

sentido maior, bem como a organização das estruturas educacionais; como: a

construção do Projeto Político Pedagógico; das Propostas Pedagógicas; e pela

revisão do currículo escolar. Sendo, assim, responsável por um compromisso

político de mediação de interesses, a partir de uma participação coletiva.

Torna-se, portanto, um eixo de viabilização da dimensão ambiental da

educação no contexto escolar.

A proposta de Educação Ambiental na Gestão Escolar conta com a

contribuição do pensamento sustentável, que sugere novas atitudes aos

educandos, em favor da renovação dos recursos naturais, valorizando a

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reflexão do aluno, para que suas ações sejam norteadas pelo princípio da

sustentabilidade.

Outra grande colaboração para alicerce da Gestão escolar em

detrimento da Educação Ambiental é a ecopedagogia, que se traduz numa

concepção freireana de valorização da vida e da humanização, a partir de uma

abordagem filosófica de entendimento das pequenas ações cotidianas. A

ecopedagogia se fundamenta nos princípios da sustentabilidade e nas

questões propostas pela Carta da Terra, e estabelece uma relação

complementar com a Educação Ambiental.

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