A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O...
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ÂNGELO TADEU VIEIRA
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE
APRENDIZADO A PARTIR DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID
SÃO PAULO
2011
ÂNGELO TADEU VIEIRA
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZADO A PARTIR DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação, na Universidade Cidade de São Paulo, sob a orientação da professora Dra. Ecleide Cunico Furlanetto
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2011
_____________________________________Profa. Dra. Ecleide C. Furnaletto - UNICID
____________________________________ Prof. Dr. Jair Militão da Silva - UNICID
_____________________________________Prof. Dr. Fábio Cascino - SENAC
COMISSÃO JULGADORA
Dedicatória Dedico esta dissertação a minha esposa Maria Assunção Gonçalves Reis pela
dedicação, firmeza, admirável competência e discernimento que me deram
confiança para continuar. A minha filha Fernanda Gonçalves Vieira pela ternura
que trouxe conforto nos momentos difíceis e aos meus pais Angelo Vicente
Vieira e Geraldina Soares da Silva Vieira, por alimentarem meus sonhos
mostrado o caminho da honestidade.
Agradecimentos
Agradeço a Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto pela orientação, dedicação e
paciência durante a pesquisa, ao Prof. Dr. Jair Militão da Silva por inicializar-me
na prática da pesquisa em educação, valorizando o meu trabalho e ao Prof.
Dr.Fabio Cascino por acreditar no meu trabalho e, com seu notável
conhecimento, dar a ele a credibilidade de pesquisa acadêmica, ao corpo
diretor do Colégio Passionista São Paulo da Cruz por proporcionar a
experiência de um projeto inovador na educação e em minha carreira.
Epígrafe
Toda prática
educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende,
outro que, aprendendo ensina.
(Paulo Freire)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 05 1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................ 12 1.1 Perspectiva Histórica .............................................................................. 12 1.1.1 Década de 60............................................................................................. 15 1.1.2 Década de 70............................................................................................. 18 1.1.3 Década de 80............................................................................................. 23 1.1.4 Década de 90............................................................................................. 25 1.1.4.1 Agenda 21 .............................................................................................. 25 1.1.5 Século XXI ................................................................................................. 27 1.1.6 A Educação Ambiental na atualidade ........................................................ 28 1.2 Fundamentos da Educação Ambiental .................................................. 30 1.3 Educação Ambiental no Brasil ............................................................... 31 1.4-Tratado de educação ambiental................................................................ 32 1.4.1-A importância do Tratado de Educação Ambiental para o projeto da ONG Educológico............................................................................................. 33 1.5 Perspectiva para a Educação Ambiental.................................................. 34 2 MINHA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL ................................................... 37 2.1 Entre a memória e a História .................................................................. 37 3 A FORMAÇÃO DA ONG E A MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO... 53 3.1 Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental. Espaço para a prática da Educação Ambiental ................................................................... 69 3.2 O Sistema Organizacional do EDUCOLÓGICO........................................ 78 3.2.1 O terceiro setor .......................................................................................... 81 3.2.2 O movimento ambientalista ....................................................................... 82 3.2.3 Educação Ambiental .................................................................................. 82 3.2.3.1 Construção de projetos .......................................................................... 82 4 A RELAÇÃO DO TRABALHO DA ONG EDUCOLÓGICO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................ 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 94
RESUMO A presente dissertação tem como objetivo principal investigar novas
possibilidades de promover a Educação Ambiental em escolas de Educação
Básica através de projetos. Para isso, investigou-se o trabalho realizado em
uma ONG, denominada “Educológico”, idealizada por professores e alunos do
Colégio Passionista São Paulo da Cruz em São Paulo. Essa ONG realiza um
duplo trabalho: a Educação Ambiental no âmbito da instituição e a iniciação dos
integrantes em atividades relacionadas a movimentos sociais. A pesquisa
pauta-se no Estudo de Caso, o qual não se considera aqui um método, mas a
escolha de um fenômeno a ser estudado com vistas a produzir conhecimentos
com base em experiências realizadas. Os instrumentos de coleta de dados
foram a análise de documentos e observação. O produto da pesquisa consiste
em uma descrição densa e análise do fenômeno estudado com vistas a
contribuir com novos elementos para o desenvolvimento de projetos de
Educação Ambiental. Os achados da pesquisa consideram que o desafio de
ensinar outros jovens criou motivação para aprender, recebendo a
responsabilidade de ser protagonista de projetos ambientais.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Ambientalismo, Projeto Escolar.
ABSTRACT
The present dissertation aims to investigate new possibilities to provide
Environmental Education in schools for Basic Education through projects. For
so, it investigated the work done by the NGO named Educológico which was
idealized by teachers and students from Passionista São Paulo da Cruz School
in São Paulo. This NGO makes a double job: The Environmental Education,
regarding to the institution itself, as well as the introducing of its members in
activities related to social movements. The research regards to a Case Study
which is not being considered as a method in this instance, but the choice of
something to be studied, aiming to produce knowledge based on previous
experiences. The tools for data collecting were the documents analysis and
observation. The final production of the research consists in a detailed
description and the analysis of the case studied, aiming to contribute with new
elements for the development of Environmental Education projects. The
findings of the research consider that the challenge of teaching other young
people has created motivation to learn, getting the responsibility of being
protagonist in Environmental Projects.
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INTRODUÇÃO
Essa dissertação é fruto do desassossego de um professor de Biologia
do Ensino Médio, preocupado com as questões ambientais e que se questiona
a respeito do papel do professor. Será que o professor assume o Magistério
sabendo qual é o seu papel?
O início da carreira de muitos professores é motivado pela confiança que
dominar o conteúdo de sua disciplina ter vontade de transmiti-lo é suficiente
para o exercício da docência. Nesse momento ainda está distante das
necessidades dos alunos que nem mesmo conhece. Nessa perspectiva
acredita que ser professor é ser um especialista competente.
Um dos primeiros desafios que enfrenta diz respeito ao desinteresse do
aluno. Neste instante, é plantada a primeira semente de desilusão: “como os
alunos podem ficar indiferentes diante de um assunto tão relevante?”. Diante
dessa constatação, o que fazer?
A primeira lição que o jovem professor especialista aprende é que nem
todos se encantam com os conteúdos ensinados, com a escola ou mesmo com
o professor. Descobre que alguns até são esforçados, mas não entendem o
conteúdo ensinado. Neste momento descobre que necessita prestar atenção
aos alunos se quiser que eles aprendam. É hora de mudar de estratégia e para
isso é preciso pensar sobre suas experiências e uni-las aos conhecimentos
pedagógicos que já possui.
A primeira função do jovem professor especialista é encontrar significado
para certo vazio profissional, resultante de experiências nem sempre bem
sucedidas. A vivenciar esse processo constrói sua identidade de professo que
não se constrói de uma hora para outra.
Olhando a sua volta, depara-se com colegas que também estão
vivenciando processos de construção identitária profissional. Ouvem-se
afirmações semelhantes a essa: eu não estudei tanto para aguentar isso!!
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Muitos são os significados que essa frase pode conter: se alguém,
apesar de ter estudado tanto, não é capaz de situar na escola é porque sua
formação ainda não foi suficiente.
O professor iniciante, após um curso superior de quatro anos em média,
volta para a escola e não a encontra da mesma forma que a deixou. A
“estrutura da escola” preserva-se, assim como parte da organização do
trabalho docente. No entanto, a atitude dos alunos não é mais a mesma.
O aluno “experiente” observa o professor “inexperiente”, estudando
seu comportamento e testando seu conhecimento e seus limites como docente,
ou seja, verificando situações nas quais ainda não tem uma estratégia de
conduta pronta, apresentando “insegurança no agir”.
A insegurança sobre aquilo que se pode fazer dentro de uma sala de
aula em situações de conflito desequilibra o professor experiente, quanto mais
um professor iniciante. Ele pode se remeter aos modelos de seus próprios
professores, mas descobre que eles não são suficientes. O professor e os
alunos já não são os mesmos.
Então, na ausência de referenciais, recorre-se ao improviso, à tentativa,
à criatividade, provocando erros e expondo o trabalho e, até mesmo a
instituição. O que fazer? Recorrer aos mais experientes e expor a situação?
Observar o comportamento e a conversa deles para buscar subsídios
metodológicos? Ambos os recursos são úteis, mas também não são
suficientes. Para FERRY (2006), o sujeito se forma sozinho e por seus próprios
meios, porém, questiono se é o meio adequado, pois estamos aprendendo
enquanto trabalhamos com pessoas. Nesse momento o professor se encontra
só e cabe a ele assumir sua formação.
O toque final à sensação de solidão pedagógica se dá pela rotina
estressante de trabalho, dividida em várias salas de aula e muitas vezes
distribuídas em escolas com administrações e componentes curriculares
diferentes.
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No dia a dia aprendemos a construir nossa prática docente e assim
abrimos um caminho próprio no processo de formação, descobrindo junto com
os alunos aquilo que podemos e o que não podemos fazer.
Não se tem apenas um referencial para orientar todo um processo de
formação profissional, mas sim, uma coleção deles que julgamos eficiente para
um desempenho bem sucedido das tarefas.
Aos poucos nossa experiência vai tornando o trabalho mais tranquilo, a
tensão dá lugar ao conforto à medida que nossas próprias habilidades são
desenvolvidas.
Muitas vezes não temos clareza de nossos procedimentos, tamanha a
força que eles exercem em nossa rotina. Muitos de nós ficam aprisionados a
elas e desistem de inovar e criar. Repetem seus modelos e criticam seus
alunos por não se comportarem como os de “antigamente”. Meu objetivo não é
investigar a situação do aluno, mas o amadurecimento do professor diante de
uma situação inédita de trabalho onde é necessário tomar decisões.
É importante ressaltar que, nos primeiros momentos do trabalho
docente, o professor se dá conta de sua autonomia, da complexidade de sua
função e de certa liberdade na tomada de decisões. Liberdade, por assim dizer,
acompanhada de incertezas pela falta de respaldo da instituição ou de
satisfações pela presença de apoio da mesma. Todo o acompanhamento que
possa ser feito, porém, tem um limite: a porta da sala de aula. Aprendemos que
muitos confrontos e dificuldades devem ser resolvidos entre “quatro paredes”,
sem a intervenção de agentes escolares, coordenadores, diretores, pois podem
causar prejuízos à imagem do professor.
O jovem aprendiz, nômade ou andarilho (não importa a maneira
direcionada a este profissional), perambulando de escola em escola possui em
sua concepção a melhor maneira de trabalhar aliada às próprias experiências.
Abandona “a crença do saber” da maneira científica como suficiente para ser
um bom professor e agrega “outros saberes” essenciais no percurso de sua
formação (atuação),
A segurança do “ser” profissional competente se dá do “ter”
reconhecimento dos alunos, dos superiores e dos colegas de categoria à
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medida que os “saberes” que nos trouxeram para a escola foram
enriquecidos pelos “saberes” adquiridos pela prática. Saber transformar o
conhecimento em ação motivadora do aprendizado equivale saber utilizar as
estratégias na contribuição de um aprendizado interessante e dinâmico.
Mesmo sem ter a oportunidade de compartilhar experiências com os
colegas, o professor aprende a ensinar ensinando.
Como professor de Ensino Fundamental e Médio, percorri caminho
semelhante Durante o processo de reflexão, deparei-me com situações que
desafiaram e me fizeram pensar em outras possibilidades de organizar a
prática pedagógica.
Nesse contexto surgiu um projeto de trabalho que envolvia a formação de
crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, realizada por alunos do
Ensino Fundamental II e Ensino Médio que por sua vez também se formavam
ao formar. A necessidade de registrar e analisar esse projeto de Educação
Ambiental estimulou-me a realizar a presente dissertação.
Objetivo de pesquisa Nessa perspectiva, a pesquisa assume como objetivo principal: analisar o
Projeto Educacional da ONG Educológico, realizado no Colégio Passionista
São Paulo da Cruz, com vistas a contribuir para o desenvolvimento da
Educação Ambiental.
Traçado metodológico A pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa O caminho metodológico
percorrido aproxima-se do Estudo de Caso, considerando que se trata de uma
pesquisa de mestrado com um tempo determinado, nem todas as etapas dessa
modalidade de pesquisa puderam ser percorridas. Segundo André (2005) o
estudo de caso não pode ser considerado um método, mas a escolha de um
fenômeno a ser estudado com vistas a produzir conhecimentos com base em
experiências realizadas. Os instrumentos de coleta de dados utilizados na
pesquisa foram a análise de documentos e observação. O produto da pesquisa
consistirá em uma descrição densa e analítica do fenômeno estudado com
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vistas a contribuir com novos elementos para o desenvolvimento de projetos de
Educação Ambiental.
A escolha metodológica levou em conta o estudo de uma situação ou grupo
em ação onde o conhecimento gerado tem valor dentro da prática de Educação
Ambiental
Minha proposta é a exploração dos dados e o estabelecimento de suas
relações com o contexto dos movimentos que culminaram no que hoje
conhecemos como Educação Ambiental. Segundo Merrian (1988), o
conhecimento gerado por um estudo de caso difere do conhecimento gerado
por outras pesquisas e, no caso da ONG Educológico, configura-se como um
conhecimento que encontra resposta em nossa experiência.
O estudo de caso permite a interpretação do leitor de acordo com suas
experiências e compreensões, permitindo a inclusão de novos dados e a
generalização para outros grupos de alunos, dando à pesquisa a aplicabilidade
fora do ambiente que ela descreve.
Outra característica que a pesquisa traz, através da descrição em forma de
palavras e imagens é a descoberta de novos significados e a confirmação das
relações que ainda estão imersas.
No caso dessa dissertação, por se tratar do trabalho de um grupo de alunos
por mim coordenado, em um colégio em que também leciono, aproxima-se
muito do que, Stake (1995) diz tratar-se de um estudo de caso intrínseco. A
partir desse foco, busco trazer o entendimento dos modos de apropriação da
Educação Ambiental para outros atores escolares, ou seja, a preocupação com
a prática educativa.
Para tornar claros os motivos que me iniciaram na pesquisa e ao mesmo
tempo torná-la fiel aos acontecimentos que eu mesmo presenciei, recorri à
narrativa, onde a minha trajetória profissional e minha concepção sobre a
formação de um educador estão presentes.
O contexto da pesquisa O Colégio Passionista São Paulo da Cruz fica no bairro do Tucuruvi, desde
dois de fevereiro de 1934, então com 64 alunos. Naquela época a instituição
era Educandário São Paulo da Cruz e passou por um rápido crescimento
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como, por exemplo, entre os anos de 1964 e 1969, época em que sofreu
muitas modificações.
Em 1972, começou a funcionar a 5ª série do 1º Grau, hoje Ensino
Fundamental, com 32 alunos matriculados. No dia 24 de junho é realizada a
cerimônia de lançamento da pedra fundamental do novo prédio escolar,
efetuada pelo Pe. João Batista.
Em 1996 a compra de uma propriedade, localizada no município de
Mairiporã, o Recanto Paulo da Cruz. Um espaço natural para auxiliar no
processo formativo dos educandos e para servir também a toda comunidade
educativa.
Em 1999, por uma iniciativa dos próprios educandos, o Educológico, um
grupo que luta em defesa do meio ambiente e pelo exercício da cidadania em
busca de uma melhor qualidade de vida, torna-se uma ONG - Organização
Não-Governamental.
Em 2000 o Recanto Paulo da Cruz, agora com instalações ampliadas -
alojamento e vestiários - tornou-se também um Centro de Educação Ambiental,
onde serão desenvolvidos variados projetos e pesquisas relacionados à
melhoria da qualidade de vida e obtenção de recursos naturais que não
agridam o meio ambiente.
O objeto da pesquisa é a ONG Educológico – Grupo Estudantil Passionista
em Defesa da Vida e sua atividade a partir da época em que iniciei o trabalho
de coordenação do grupo.
O capítulo 1 é teórico e nele faço um histórico da Educação Ambiental de
forma a refletir sobre os fatos políticos e sociais envolvidos em cada
movimento, tomando-se como referência, os movimentos da década de
sessenta, principalmente a partir da publicação do livro “Primavera
silenciosa”,ou "Silent Spring”, da bióloga norte-americana Rachel Carson, que
provocou uma revolução mundial contra a produção de DDT e de forma
crescente, trouxe à luz o problema da poluição química e acirrou a rejeição de
cidadãos e governos contra o uso indiscriminado de defensivos agrícolas,
dando origem ao movimento ambientalista.
O capítulo de Educação Ambiental também relata os principais eventos e
documentos oficiais com suas recomendações.
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O segundo capítulo relata a minha trajetória profissional, onde, através de
um exercício de narrativa, descrevo fatos que considero relevantes em minha
escolha profissional. Ao fazer tal imersão em minha memória, resgatei fatos
que se revelaram de grande valor pra o entendimento de minhas atitudes no
projeto que se tornou o objeto da pesquisa.
Ao remontar a minha vida através do exercício do relato de minha história,
tomei consciência da importância dos fatos descritos na minha postura
profissional, motivando-me a escrever uma reflexão sobre o trabalho docente,
onde procurei expor a minha condição de docente frente às dificuldades do
cotidiano na dinâmica da escola, o que considero pertinente diante da minha
formação profissional e da estrutura do projeto que passei a coordenar e as
dificuldades que encontrei pelo fato de o mesmo oferecer uma proposta
diferente da rotina escolar.
No capítulo três descrevo a formação da ONG e minha participação casual
no projeto, justificando a decisão de trabalhar com a proposta de Educação
Ambiental que ocorre atualmente. Trata também do trabalho da ONG, que se
propõe a ser o principal descritivo da dissertação, uma vez que se revela a
dinâmica das atividades dos alunos envolvidos no projeto, para depois, a partir
da descrição, analiso os fatos à luz das recomendações da Educação
Ambiental. No mesmo capitulo descrevi o Recanto Paulo da Cruz, um Centro
de Educação Ambiental que faz parte do projeto de educação do Colégio
Passionista São Paulo da Cruz e que se integra com as atividades da ONG
Educológico.
No capitulo quatro, organizei as recomendações dos documentos oficiais
em cinco eixos e a partir deles analisei o trabalho da ONG Educológico,
buscando revelar verdadeiros elementos de Educação Ambiental na rotina da
ONG.
Por se tratar de um projeto de Educação Ambiental, o capítulo teórico, com
a sequência histórica desta modalidade de ação, até finalmente ser
regulamentada e implementada no universo da Educação formal, deu suporte
para a análise do trabalho da ONG. A partir daí descrevo os dois projetos
permanentes criados pelo Colégio Passionista e minha relação com os
mesmos, para que, por fim, analisá-los perfazendo uma triangulação entre
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Educação Ambiental, o trabalho da ONG Educológico e as reflexões dos
teóricos citados ao longo do texto.
E à guisa das reflexões propostas, apresento em minhas considerações
finais, algumas características do projeto que limitaram a conquista dos
objetivos idealizados e pontos positivos que vão de encontro com os
referenciais de Educação Ambiental construídos ao longo da História.
1 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1.1 – Perspectiva Histórica
Poderia tomar como marco inicial dos problemas ambientais a
necessidade do ser humano em viver agrupado em famílias e aldeias,
originando as primeiras cidades, como afirmou o biólogo Samuel Murgel
Branco, ou mesmo com o domínio do fogo. Porém, a característica dessa
pesquisa não é o aprofundamento nas origens da Educação Ambiental, mas a
justificativa de sua existência como tema transversal nas escolas.
Diante desta limitação de contexto, quero delimitar o presente histórico
em algumas etapas como, por exemplo, para o professor doutor em serviço
social, Loreiro (2003), a partir do período de 1501 a 1760, quando se deu a
grande expansão das colônias européias, incluindo o Brasil, com a exploração
desenfreada da madeira e o início do capitalismo agrário.
No início deste período, Américo Vespúcio constata que o Brasil não era
uma ilha, e sim, parte de um continente. Constata também a abundância de
pau-brasil, madeira de grande utilidade na Europa. Tem-se ai o “desembarque”
do capitalismo.
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A educação implantada no Brasil foi a jesuítica, da Companhia de Jesus,
chefiada pelo padre Manoel da Nóbrega e com a missão de catequizar índios e
educar colonos.
No ano de 1759 o ministro do rei Dom José I, marquês de Pombal
decretou a expulsão dos jesuítas, fechou instituições e mudou os estatutos dos
colégios e das missões, impondo direções leigas e professores mal
preparados, nomeados em cargos vitalícios para trabalhar pelo interesse do
Estado. Cito este fato para situar o desenvolvimento da educação no Brasil e
sua relação com as necessidades da sociedade.
No período de 1760 a 1945 houve o crescimento desorganizado da
indústria, urbanização na Europa e as evidências de extinção das espécies
causadas pelo homem. Trata-se de um período onde os problemas ambientais
se desenvolvem sem gerar preocupações visíveis ao senso crítico, mas
demonstram uma tendência de se transformar a fauna, flora e os seres
humanos em mercadorias, com geração de lucro e concentração de poder.
Tudo isto aconteceu em pleno período pombalino, em que a educação
estava a mercê de professores despreparados, que regiam aulas
desarticuladas e eram mal pagos, demonstrando uma profunda desconexão
entre educação e progresso.
O Século XVIII foi marcado pela liberdade de pensamento típico do
iluminismo, uma filosofia que se libertou das escrituras sagradas e ofereceu às
pessoas o conhecimento espalhado pelo mundo, condensado nas
enciclopédias de forma relativamente democrática a todos que podiam ter
acesso a elas e podiam discernir suas linguagens.
Nesse período ocorreu a revolução industrial, trazendo uma capacidade
de transformação de matéria prima tão acelerada que marcou definitivamente o
mundo a partir da Inglaterra. A primeira fase da Revolução Industrial trouxe a
marca das emissões de gases poluentes e a referência de “Inglaterra verde” e
“Inglaterra cinza” (antes e depois da revolução).
Na ciência, o nascimento da Química moderna se dá com o trabalho de
Antonie Laurent de Lavoisier (1743 – 1794) em seu livro Traité élémentaire de
chimie. Enquanto enriquecia com suas atividades de locador de terras e
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arrecadador de impostos para o estado, Lavoisier tinha tempo de sobra para
dedicar-se ao laboratório.
O pensamento livre da época do iluminismo trouxe uma intensa
movimentação em torno do conhecimento e um retorno à natureza motivado
pela percepção das belezas naturais.
O crescimento das cidades e a conseqüente aglomeração humana
tornaram cada vez mais importante o contato com a natureza, como forma de
fuga das situações estressantes, passando a ser um lugar de relações
humanas, e descanso.
Mudanças nos meios de transporte náutico trazidos pelo
desenvolvimento tecnológico possibilitaram o acesso às áreas naturais antes
desconhecidas, fato que, segundo o Pedagogo Fabio Cascino, constituiu o
esboço da mentalidade ambientalista.
Na literatura, o Arcadismo inspirou as pessoas para a volta a uma vida
equilibrada, como bem exemplifica a composição a seguir:
Quero Quero ver o sol atrás do muro
Quero um refúgio que seja seguro
Uma nuvem branca sem pó nem fumaça
Quero um mundo feito sem porta ou vidraça
Quero uma estrada que leve à verdade
Quero a floresta em lugar da cidade
Uma estrela pura de ar respirável
Quero um lago limpo de água potável
Quero voar de mãos dadas com você
Ganhar o espaço em bolhas de sabão
Escorregar pelas cachoeiras
Pintar o mundo de arco-íris
Quero rodar nas asas do girassol
Fazer cristais com gotas de orvalho
Cobrir de flores os campos de aço
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Beijar de leve a face da lua (Thomas Roth)
A segunda onda da Revolução Industrial veio no final do século XIX com
a utilização dos derivados do petróleo e veículos com motores de combustão.
No final do período, em 1945 ocorreu o fim da Segunda Guerra Mundial
e a conseqüente formação dos dois blocos dominantes no mundo, o
capitalismo liderado pelos Estados Unidos da América e o socialismo liderado
pela extinta União Soviética delimitaram um período de intensificação de
mudanças tecnológicas que trouxeram evoluções nas áreas de serviço,
comunicações e informações, foi o período pós-industrial. Cascino (cit.) assim
se refere ao período: Os anos que separam o final da Primeira Guerra (1918) do final da Segunda (1945) são amos de profunda transformação para a humanidade. Hobsbawm chega a afirmar que esse período não foi de duas guerras; foi de um único período, que o autor chama de “guerra mundial de 31 anos” (CASCINO, 2000, p.26).
O ritmo das descobertas científicas foi incrivelmente acelerado,
chegando a somar cerca de oitenta por cento (mais de dois terços) de toda a
produção ocorreram após a segunda guerra, dentre os produtos desta
revolução de produção científica, uma enorme variedade de produtos químicos
sintéticos revolucionou a produção agrícola, lançando uma geração de
produtos com cerca de 100 mil substâncias de uso agrícola (adubos e
pesticidas) que potencializavam o solo acelerando a produção e, no caso dos
pesticidas, a capacidade de interagir com o mais variado número de estruturas
biológicas, espalhando-se por grandes extensões por meio de águas
superficiais, subterrâneas e pelo ar.
Particularmente sobre a natureza, o desenvolvimento industrial do pós-
guerra trouxe ao mercado uma nova geração de produtos químicos capazes de
alterar os ecossistemas de forma radical. Ainda hoje há diversos desses
produtos em utilização no mundo todo, com poucos estudos de impactos
negativos e muitos benefícios a produção de alimentos para atender ao
crescimento populacional.
1.1.1 Década de 60
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Uma onda muito fecunda de movimentos ambientais marcou esta que é
considerada a década do nascimento do movimento ambientalista, iniciado
sem a participação das instituições educacionais, mas com caráter de
movimento social.
Nos países desenvolvidos como os Estados Unidos são aspergidos
vários tipos de pesticidas que podem ser levados pelo vento, água e animais e
se espalhar por diversas regiões indiretamente ligadas aquela onde o produto
está sendo usado. Um dos mais conhecidos pesticidas do mundo é o DDT
(Dicloro-Difenil-Tricloroetano), largamente usado após a segunda guerra para
combater mosquitos causadores de doenças tropicais e demais insetos,
principalmente os que atacavam lavouras. Seus efeitos sobre os demais seres
vivos já foi estudado e atualmente é um pesticida controlado em alguns países
e proibido em outros, mas para que isto ocorresse foi necessário uma luta
solitária de uma mulher que iniciou o movimento de Educação Ambiental, trata-
se da bióloga norte americasa Rachel Carson e a publicação do livro “Silent
Spring” (Primavera Silenciosa) escrito por ela em 1962. Em seu capítulo mais
provocador, “uma fábula para o amanhã” descreve uma cidade americana onde
uma grande quantidade de seres vivos e até crianças tinham sido silenciadas
pelos efeitos do DDT, o mais poderoso pesticida que o mundo já conheceu. Então uma estranha praga se infiltrou naquela região e tudo começou a mudar. Algum tipo de feitiço maléfico se instalou na comunidade: misteriosas doenças atacaram as galinhas, o gado e os carneiros adoeceram e morreram. Por toda parte pairava a sombra da morte. Os fazendeiros falavam de muitas doenças em suas famílias. Na cidade, os médicos ficavam cada vez mais intrigados com os novos tipos de doenças que apareciam em seus pacientes. Houve muitas mortes súbitas e não explicadas, não apenas entre adultos, mas também entre crianças, subitamente acometidas pela doença enquanto brincavam e morriam em poucas horas (CARSON 2010, p. 20).
Apesar da resistência da indústria de pesticidas, cientistas eminentes
apoiaram o conteúdo da obra e o presidente dos Estados Unidos John
Kennedy ordenou uma investigação e constatou a veracidade das informações,
levando a proibição do DDT e trazendo ao debate público a importância da
influência humana na natureza.
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O movimento ambientalista não se concentrou apenas nos Estados
Unidos e uma grande discussão internacional iniciou-se a partir da obra de
Rachel Carson; em março de 1965 aconteceu a Conferência de Keele na Grã-
Bretanha onde educadores concordaram que a Educação Ambiental deveria
ser abordada imediatamente na escola, fazendo parte da educação de todos os
cidadãos, sugerindo desta forma a expressão Educação Ambiental (EA).
Na Europa, em maio de 1968 os estudantes de Paris manifestaram-se
por “um planeta mais azul”. A importância do movimento conhecido como “maio
de 68” foi despertar o ser humano para a necessidade de não se sentir parte de
uma totalidade, representada pelo Estado ou por um partido.
Este fato me remete a década de 40 e as imagens do Partido Nazista,
com suas manifestações monumentais que inspiravam organização mostrada
ao mundo por suas fileiras humanas absolutamente simétricas, onde cada
indivíduo só tinha valor para ele mesmo e para o Estado enquanto fizesse parte
do grupo, pois fora dele, poderia sentir-se insignificante.
Voltando ao ano de 1968 vemos que houve um movimento de libertação
do indivíduo, como menciona o pedagogo e professor de pós-graduação em
Educação Ambiental do SENAC, Fábio Cascino: “... é preciso resgatar o
indivíduo e tirar o indivíduo da massa, da totalidade, do conjunto
descaracterizado” (CASCINO, 2000, p. 31).
No mundo todo, uma série de movimentos sociais colocou a prova os
modelos políticos e econômicos e começaram a revelar uma nova ética, onde
as manifestações individuais pela liberdade firmaram uma cultura de
questionamentos.
No Brasil, vivia-se um clima político de regime militar em pleno AI-5 (Ato
Institucional de número 5), com guerrilhas, greves e um forte movimento
acadêmico e de contra cultura oficial.
Foi nesse ambiente dinâmico que surgiu o ambientalismo, que segundo
o autor americano Jonh Mc Corminck é resultado da convergência de outros
movimentos, sendo a Ecologia, enquanto ciência, absorvida pelos adversários
e, fornecendo, atualmente, elementos para defesa do ambientalismo.
Alguns dos fatores que motivaram de forma direta ou indireta o
movimento ambiental estão representados no esquema a seguir:
Nasce o Conselho para Educação Ambiental no Reino Unido e o Clube
de Roma, fundado em abril de 1968 por Aurelio Paccei, um empresário italiano
e composto por cientistas, economistas, empresários, líderes de estados da
ativa e ex-líderes que pautam suas atividades nos problemas que põem em
risco o futuro da humanidade.
1.1.2 Década de 70
Em 1970 a Sociedade Audubon publicou “Um lugar para viver”, manual
para professores que incorporou a Educação Ambiental em atividades
curriculares. Em 1972 o Clube de Roma publicou o relatório: “Os limites do
crescimento econômico”, concluindo que o colapso da humanidade será
causado pelo crescimento do consumo levando-se em conta o crescimento
populacional, examinando o contexto que envolve os povos de todas as
nações: pobreza em meio à abundância, deterioração do meio ambiente, perda
de confiança nas instituições, expansão urbana descontrolada, segurança e
desemprego, alienação da juventude, rejeição dos valores tradicionais, inflação
e outros problemas monetários.
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19
O sociólogo Franz Josef Brüseke destaca em sua participação na obra
Desenvolvimento e Natureza, as teses e conclusões do grupo de estudo
coordenado por Dennis Meadows (1972, p. 20):
1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial- industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia durante os próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial.
2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade econômica que se possa manter até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.
3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão as possibilidades de êxito (BRÜSEKE, 1998, p. 30).
O relatório Limites do Crescimento vendeu mais de 30 milhões de cópias
com cerca de 30 traduções, conferindo-o o status de obra mais vendida do
mundo sobre o tema ambiental.
Outro relatório oficial do Clube de Roma foi “Humanidade no ponto de
giro”, caracterizada por usar ferramentas técnicas para análise mais refinada
dos dados coletados em diversas regiões do mundo. Na verdade, o segundo
relatório ofereceu uma visão mais otimista do primeiro, colocando nas mãos da
humanidade a opção de interferir positivamente no que parecia inevitável.
A ONU (Organização das Nações Unidas) promoveu a Conferência da
ONU sobre Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972
onde ficou recomendada a criação de um Programa Internacional de Educação
Ambiental (PIEA).
20
Surge na conferência da ONU, conhecida como PIEA a incorporação do
tema ambiental com a necessidade de compatibilização da economia com o
manejo sustentável.
A Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano é o
documento oficial do encontro, nele está proclamado que o homem é ao
mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, revelando um
vínculo harmônico entre o campo humano e natural, desta forma, a proteção e
o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental.
Não há uma restrição as características humanas de progresso,
desenvolvimento tecnológico e científico, mas desde que haja constante
avaliação.
Há uma orientação aos países desenvolvidos para que dirijam esforços
na colaboração que os emergentes superem seus problemas ambientais.
Em 1974, uma reunião entre a UNCTAD (Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio-Desenvolvimento) e a UNEP (Programa de Meio
Ambiente das Nações Unidas) discutiu desenvolvimento e meio ambiente e
destacou, na Declaração de Cocoyok:
a) O crescimento populacional descontrolado tem como uma
de suas causas a falta de recursos de qualquer tipo; pobreza e
desequilíbrio populacional estão diretamente relacionados;
b) A destruição ambiental na América Latina, África e Ásia é
resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do
solo e dos recursos vegetais;
c) O nível exagerado de consumo dos países industrializados
contribui para os problemas do subdesenvolvimento.
A Declaração de Cocoyok indica que existe um máximo de recursos
naturais que o indivíduo deve usufruir para o seu bem estar, regulando o
processo de industrialização das nações mais consumidoras.
A Educação Ambiental nasceu na Conferência de Estocolmo através do
PIEA, mas os princípios norteadores deste plano foram elaborados em 1975,
em Belgrado, Iugoslávia onde os países se reuniram e formularam os princípios
21
e orientações para o PIEA, fazendo acontecer em 1977 a Primeira Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi), realizada pela
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura) e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Foi através da Tbilisi que a Educação Ambiental ganhou a identidade de
ação capaz de envolver a sociedade dentro e fora da escola, considerando o
ambiente em sua totalidade e, de forma contínua, examinar questões
ambientais das mais diversas, sejam locai ou globais.
Recomendações de Tbilisi:
1- Finalidade da Educação Ambiental
a) promover a interdependência econômica, social, política e
ecológica entre as zonas urbanas e rurais;
b) possibilitar o conhecimento, valores e atitudes necessárias
a proteção e melhoria ambiental;
c) induzir novas condutas sociais a respeito do meio
ambiente.
2- Categorias de objetivos da Educação Ambiental
a) Conhecimento
Diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio
ambiente e seus problemas.
b) Conscientização
Sensibilização pelas questões ambientais através da conscientização.
c) Comportamento
Buscar o comprometimento social com a causa ambiental.
d) Habilidades
É fundamental ao indivíduo e a sociedade as habilidades para resolver
problemas ambientais.
e) Participação
Os grupos sociais e o indivíduo devem ter a possibilidade de
participarem das ações ligadas ao meio ambiente.
3- Princípios básicos da Educação Ambiental
22
a) Considerar o meio ambiente em sua totalidade.
b) Ser contínua e permanente.
c) Aplicar um enfoque interdisciplinar.
d) Examinar as principais questões ambientais.
e) Ajudar a diagnosticar problemas ambientais.
f) Revelar a amplitude dos problemas ambientais.
g) Diversificar ambientes educativos e métodos.
Devo abrir um parêntese para justificar pela natureza das resoluções da
Tbilisi a necessidade de se diferenciar Educação Ambiental de Ecologia, pois
esta última tem sido, desde o início, vinculada de forma equivocada no Brasil
como se fosse uma das recomendações da conferência.
Foi um caminho longo até que a Educação Ambiental estivesse presente
no cotidiano das comunidades e escolas por se tratar de uma abordagem nova
e interdisciplinar que, apesar de não se enquadrar como disciplina escolar foi
frequentemente considerada como tal; disfarçada de Educação Ambiental o
ensino de Ecologia deu a muitos professores a falsa idéia de “missão
cumprida”, mas na realidade não estavam conscientizando os estudantes, pois
a Ecologia é uma ciência, com seu pensamento rigoroso e seus métodos.
Reconhecê-la como Educação Ambiental que é uma prática só leva ao
sentimento de culpa e impotência.
As conferências de Estocolmo e Belgrado nasceram de uma urgência
social e lançaram a Educação Ambiental como ação, consolidada através de
políticas governamentais.
Foi nessa conferência que a Educação Ambiental teve sua amplitude
definida, ou seja, que deveria considerar o meio ambiente em sua totalidade,
ser contínua, ocorrer dentro e fora do espaço escolar e abranger todas as
idades.
Aqui no Brasil, alguns órgãos estaduais ligados ao meio ambiente já
incluíram o tema Educação Ambiental em suas agendas após o Encontro de
Belgrado, já nos setores educacionais houve uma movimentação em prol da
23
Ecologia, o que constitui um equivoco, já que a Educação Ambiental é mais
abrangente, envolvendo não apenas o estudo das relações estabelecidas entre
os seres vivos e destes com o ambiente, mas também as dimensões
socioeconômicas, política, cultural e histórica.
1.1.3 Década de 80
Em 1987, 300 especialistas de 100 países reuniram-se em Moscou para
o Congresso Internacional de Formação e Educação Ambiental onde foram
discutidas as dificuldades e os progressos das nações na área de Educação
Ambiental.
Deste encontro foram estabelecidas prioridades e estratégias para o
desenvolvimento da Educação e Formação Ambientais, aumentando os
esforços para o treinamento de profissionais.
Recomendações do Congresso Internacional de Educação e Formação
Ambientais:
a) O reconhecimento das recomendações da Tbilisi como
bases da Educação Ambiental.
b) Os indivíduos e a comunidade devem tomar consciência do
seu meio ambiente, através de um processo permanente de Educação
Ambiental e viabilizando o conhecimento, a aquisição de valores,
habilidades, experiências e a capacidade de decisão que os tornem
aptos a agir de forma individual ou coletiva para resolver problemas
ambientais atuais e futuros.
c) As realidades sociais e econômicas de uma sociedade
devem ser consideradas para se definir os objetivos da Educação
Ambiental, bem como as metas de desenvolvimento planejadas.
d) A Educação Ambiental deve dar ênfase à abordagem de
resolução de problemas ambientais da comunidade.
e) A abordagem da Educação Ambiental deve ser
interdisciplinar.
24
f) A Educação Ambiental é uma prática educacional em plena
sintonia com a sociedade.
Até o Congresso Internacional de Educação e Formação Ambientais, em
Moscou, Rússia, as publicações de Ecologia rotuladas de Educação Ambiental
eram o único tipo de material teórico para se trabalhar nas escolas. Os
professores também sofriam pela falta de referenciais em formação apropriada.
A Constituição da República Federativa do Brasil garantiu no artigo 225,
item VI que o Poder Público tem o dever de promover a Educação Ambiental
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para um
desenvolvimento sustentável.
Em 1988, na cidade de Buenos Aires, Argentina, realizou-se o Seminário
Latino-Americano de Educação Ambiental, promovido pela UNESCO-PNUMA.
Neste encontro foram formuladas as recomendações específicas para os
países latino-americanos, respeitando suas necessidades e avaliando as
políticas de desenvolvimentos locais que nada mais são do que modelos
adotados de países desenvolvidos e, portanto, geradores de desigualdade
social à custa de degradação ambiental.
Recomendações do Seminário Latino-Americano de Educação
Ambiental
a) Os países Latino-Americanos devem adotar a Educação
Ambiental como parte da política ambiental.
b) A Educação Ambiental deve se basear nas características
culturais próprias das populações envolvidas no processo educativo.
c) Deve-se levar em conta o contexto local de
subdesenvolvimento nos países da América do Sul e contribuir para a
integração entre estas nações.
d) O papel que a mulher desempenha na família, na
sociedade e no desenvolvimento deve estar presente na Educação
Ambiental.
25
e) A Educação Ambiental deve promover a reformulação da
educação formal e não-formal para uma concepção ambientalista.
f) A Educação Ambiental deve favorecer um novo estilo de
relações entre o homem e o ambiente, de forma mais fraterna e justa,
com respeito ao patrimônio natural e a conservação.
2.1.4 Década de 90
A Assessoria de Educação Ambiental criada pelo MEC iniciou a Política
Nacional de Educação Ambiental em 1990.
Em 1992, realizou-se a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio 92), tendo como foco o Desenvolvimento Sustentável
(uso planejado dos recursos naturais para garanti-los as gerações futuras).
Pode-se considerar que a Política Nacional de Educação Ambiental está
ancorada nas recomendações da Tbilisi, que define a Educação Ambiental
como uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada
para a resolução de problemas concretos do meio ambiente através de
enfoques interdisciplinares e de participação ativa e responsável de cada
indivíduo e da coletividade.
Como se vê, trata-se de uma ação e não de uma ciência, ultrapassando
os muros da escola e envolvendo toda a sociedade. Temos aí um ponto
fundamental de apoio a esta pesquisa, baseando-se na convicção de que a
Educação Ambiental não é um componente curricular
De fato, se a Educação Ambiental tem que garantir a união dos seres
humanos com o ambiente local e global, deve-se fazer com que ocorra essa
integração.
O tema Meio Ambiente é debatido por 170 países, agora com o
componente Desenvolvimento Sustentável sob a bandeira questionável de
Eco-92, um equívoco na concepção do nome ao lembrar Ecologia, limitando a
visão da sociedade ao considerar a ciência como o único norte de reflexão
sobre os problemas ambientais.
Recomendações da Rio-92:
a) O desenvolvimento sustentável deve orientar a educação.
b) A busca de maior conscientização popular.
c) Treinamento de profissionais.
d) Reconhecimento do analfabetismo ambiental.
1.1.4.1 Agenda 21
Trata-se de documento que estabelece um compromisso para a
preservação e melhoria da qualidade ambiental na Terra firmada durante a Rio-
92. Esse programa de ação estabelece um padrão de desenvolvimento aliando
métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica
preparando uma nova sociedade para o século 21.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: de acordo com a
declaração, os Estados devem colaborar para a conservação, proteção e
restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre e da
erradicação da pobreza.
26
27
Convenção Sobre Mudanças Climáticas: um documento que estabeleceu
metas internacionais para a redução de gases causadores do aquecimento
global a fim de permitir aos ecossistemas condições de regulação natural.
Protocolo de Kyoto – 1977: o Protocolo de Kyoto deu continuidade a
Convenção sobre Mudanças Climáticas realizadas na Rio-92, firmado por 157
países é um acordo internacional independente, mas ligado à Convenção sobre
Mudanças Climáticas.
A meta do protocolo é reduzir em 5,2% a emissão de gases causadores
do efeito estufa até o ano de 2012, tendo como referência os índices de 1990.
Os dez maiores emitentes de CO2 são:
1º EUA; 2º China; 3º Rússia; 4º Japão; 5º Alemanha; 6º Índia; 7º Grã-Bretanha;
8º Canadá; 9º Itália; 10º Coréia.
Os países mais emissores de CO2 do ranking não se comprometeram
com o protocolo de Kyoto.
1.1.5 Século XXI
Rio+10 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável –
Johanesburgo 2002: A conferência Rio + 10 foi realizada de 26 de agosto a 4
de setembro de 2002 com o intuito de buscar um consenso entre os
participantes na avaliação geral das condições atuais e nas ações futuras
prioritárias, principalmente no setor ambiental e nas áreas de economia, novas
tecnologias e globalização a fim de reforçar os compromissos de todas as
partes para que os objetivos da Agenda 21 e do Plano de Ação Global adotado
por cerca de 170 países durante a Rio-92 sejam alcançados.
Desde a década de 60 até os dias de hoje a Educação Ambiental tem
evoluído em sua abrangência conceitual, inclusive associando-se ao conceito
de Desenvolvimento Sustentável, principalmente a partir da Rio-92, onde
podemos identificar, até pela própria proposta da conferência (meio ambiente e
desenvolvimento), uma associação entre os dois campos. Nota-se, entretanto
que a essência da Educação Ambiental está um tanto desprestigiada em
detrimento do Desenvolvimento Sustentável, este último com sua abrangência
política e econômica.
28
Os últimos encontros internacionais que trataram da questão ambiental
se consolidaram como reuniões de política econômica dos países mais ricos,
como o G8 ou dos países emergentes, como o G20, onde temos a falsa noção
de que a sustentabilidade é um objetivo a ser perseguido apenas pelos países
pobres, enquanto os países ricos não cumprem os compromissos assumidos
na Rio-92 de redução do consumo e impacto sobre os recursos naturais e o
meio ambiente. Mesmo a disponibilização de recursos financeiros para a
Agenda 21 está sendo negligenciada.
1.1.6 A Educação Ambiental na atualidade
Alguns pesquisadores (autores) analisam a Educação Ambiental
segundo suas variáveis históricas, desenvolvimento e possibilidades. A
socióloga Maria Lúcia A. Leonardi, pesquisadora do NEPAM (Núcleo de
Estudos e Pesquisas Ambientais) da UNICAMP faz uma interessante
classificação da Educação Ambiental em modalidades que considero oportuna
para iniciar esta fase do trabalho:
Modalidade
Ambiente
Organização
Exemplo
Formal Escolar
Conteúdos
Métodos
Avaliações
Planejamento
Dia do
Meio Ambiente
Estudo do
Meio
Dia da
árvore
Não-formal ONG´s
Sindicatos
Empresas
Poucos
registros
Métodos e
objetivos pouco
definidos
Atividades
desenvolvidas em
parques
Cursos
livres
29
Igrejas Menos
estruturada
Pesquisas
Atividades
financeiras
Informal Outros
espaços da vida
social
Não possui
compromisso
com continuidade
Programas
de televisão
Tal organização não é totalmente rigorosa, porém importante para
entender como alguns setores da sociedade tem desenvolvido atividades em
Educação Ambiental.
Nas escolas, o reconhecimento das fragilidades dos ambientes naturais
tem regido o discurso nas salas de aula, observando nos movimentos
ambientais razões para o desenvolvimento de currículos próprios ao ambiente
escolar (eco pedagogia ou educação para o meio ambiente).
O fato que dificulta a prática de uma Educação Ambiental modificadora
do comportamento humano é a sua natureza conservacionista, ou seja, os
aspectos naturais estudados em sala de aula em divergência com o meio
humano criando um obstáculo difícil de transpor uma vez que não se considera
o ambiente onde vivemos como um lugar que merece ser conservado, mas sim
os ambientes naturais que estão cada vez mais distantes. O conceito de Meio
Ambiente limitado aos aspectos naturais impossibilitou a percepção social do
problema.
Para aproximar o ser humano do ambiente há uma orientação
pedagógica para que a educação conservacionista traga ensinamentos para o
uso racional de recursos, ou seja, mudança de hábitos. Uma forma de se
preservar os recursos que estão distantes mesmo sem sair da região em que
se vive.
Em 1997, por ocasião da I Conferência Nacional de Educação
Ambiental, realizada em Brasília, os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e
Educação (MEC) divulgaram um levantamento de projetos escolares em
Educação Ambiental onde o lixo e reciclagem aparecem com freqüência,
revelando uma preocupação com problemas urbanos.
30
Outro fato importante revelado pelo estudo vem por parte dos
questionamentos feitos aos educadores que revelam uma necessidade urgente
de uma prática que dê respostas rápidas, porém, com poucas referências a
metodologia, avaliação de projetos, interdisciplinaridade, políticas
governamentais de desenvolvimento sustentável e divulgação da Agenda 21.
Parece que a Educação Ambiental está nas escolas como uma atividade tão
diferente que se quer passa pelos métodos habituais de orientação
pedagógica.
Quanto aos alunos do Ensino Fundamental e Médio as questões
ambientais são apresentadas de maneira confusa, tornando apenas efetivo o
entendimento de que se deve preservar o ambiente.
1.2 – Fundamentos da Educação Ambiental
A trajetória da Educação Ambiental nos ajuda a compreender seus
fundamentos sociais, políticos e, portanto, voltados aos valores éticos e
atitudinais que vão além do valoroso conhecimento científico da Ecologia.
A obra da psicóloga e doutora em educação da UFRGS, Isabel Cristina
de Moura Carvalho me traz a reflexão os valores da Ecologia em comparação
com a Educação Ambiental ao classificar a última como ação educativa
mediadora entre a esfera educacional e o campo educacional.
Da escola como base de sustentação dos movimentos sociais ou
ecologismo, a autora faz uma interessante transição do mundo do
conhecimento para o mundo das lutas sociais que, ao meu entendimento,
podem ser representadas da seguinte forma:
Ecologia Ecologismo Educação
Ambiental
Ciência Movimento
social
Ação
educativa
De acordo com Leila da Costa Ferreira, professora Livre-Docente de
Sociologia na Universidade Estadual de Campinas, a preocupação pública pela
deterioração ambiental que avançou da década de 60 até a década de 80 pela
31
Europa e Ásia fez surgir organizações governamentais e grupos comunitários
dedicados a luta pela proteção ambiental.
Eficiência e uso racional eram objetivos de uma grande quantidade de
pessoas, de diversas áreas da atividade humana, compondo um movimento
ambientalista global multissetorial.
A autora distingue três abordagens teóricas que analisam o
ambientalismo: o grupo de interesse, o novo movimento social e o movimento
histórico.
Grupo de
interesse
Novo
ambientalismo
Ambientalismo
histórico
Mecanismos
reguladores do sistema
político, motivados pelo
problema da produção
industrial – é
considerada elitista.
Setores radicais
(ecologismo)
formadores de partidos,
contraposto ao grupo
de interesse.
Consistia em
considerar que a
civilização contemporânea
é insustentável no médio e
longo prazo.
Hector Ricardo Leis, Cientista político e professor da UFSC e o
psicólogo e escritor ambientalista José Luis D’Amato concordam também
quanto à existência de um ambientalismo interno ao sistema político e,
portanto, normativo. Um ambientalismo crítico identificado como uma forma
alternativa e um terceiro que considera o modelo de desenvolvimento
insustentável, sendo este último o mais adequado para a leitura do
ambientalismo mundial.
1.3 – Educação Ambiental no Brasil
Assim, como pude perceber, chega-se ao amadurecimento do tema.
Tenho agora um objetivo de analisar a Educação Ambiental no Brasil,
considerando que o debate ambiental a antecedeu e em 1973, um decreto
criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), voltada para a educação
do povo através do esclarecimento para o uso adequado dos recursos naturais.
32
De acordo com Carvalho (2006), as principais políticas públicas para a
Educação Ambiental desde os anos 80 foram:
1984 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea)
1988 – Inclusão da Educação Ambiental como direito de todos e dever
do Estado no capítulo de meio ambiente da Constituição.
1992 – Criação dos Núcleos de Educação Ambiental pelo Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e
dos Centros de Educação Ambiental pelo Ministério da Educação (MEC).
1994 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea)
pelo MEC e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
1997 – Elaboração dos Parâmetros Curriculares definidos pela
Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, em que “meio ambiente” é incluído
como um dos temas transversais.
1999 – Aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental pela Lei
9.795.
2001 – Inplementação do Programa Parâmetros em Ação: meio
ambiente na escola, pelo MEC.
2002- Regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei
9.795) pelo decreto 4.281.
2003- Criação do Órgão Gestor de Política Nacional de Educação
Ambiental reunindo MEC e MMA.
Um evento não governamental importante foi o Fórum Global, realizado
durante a Conferência Rio 92 que produziu o Tratado de Educação Ambiental
para sociedades sustentáveis, referência política para o projeto pedagógico da
Educação Ambiental.
1.4-Tratado de educação ambiental O Tratado é, sem dúvida, um documento que favoreceu a reflexão a as
modificações necessárias a partir de então, reconhecendo a Educação
Ambiental como “vetor” das ações sociais onde o envolvimento pessoal e dos
grupos sociais criam ações sustentáveis.
33
Aqui se inicia um diálogo entre o desenvolvimento e a natureza, transpondo o
patamar do reconhecimento do patrimônio natural a título de preservação e
reconhecendo a importância de tais recursos para o bem estar humano, sem
criar dicotomia entre homem e natureza, mas admitindo que o modelo de
desenvolvimento humano não é justo por não ser equitativo.
Sociedades justas e equilibradas são frutos de uma transformação humana e
social que respeite as interações ecológicas, pois o conhecimento da natureza
como sistema é fundamental para a preparação às mudanças necessárias.
O desprestigio de valores básicos e a alienação prejudica a construção de um
futuro, dificultando a aceitação de políticas vigentes.
A Educação Ambiental deve gerar mudanças na qualidade de vida, na
consciência, conduta pessoal, harmonia entre os seres humanos e destes com
as demais formas de vida.
Os princípios fundamentais do documento incluem o seguinte: em qualquer que
seja a dimensão da Educação Ambiental (formal, informal e não-formal) ela
deve ser crítica e inovadora, individual e coletiva, pois é local e planetária com
caráter ideológico.
Em outro aspecto, a Educação faz parte do plano de ação do documento como
forma de transformação social através de ações educativas e suas
metodologias, assim tornar a ação, o que se faz, a partir do que se pensa tendo
como panorama uma sociedade que trabalha para erradicar as diferenças
sociais como racismo, sexismo e outros preconceitos até mesmo culturais.
1.4.1-A importância do Tratado de Educação Ambiental para o projeto da ONG
Educológico.
A modalidade de trabalho da ONG Educológico foi relacionada, juntamente
com as campanhas realizadas por outros movimentos sociais, como formas de
difundir e promover o Tratado de Educação Ambiental que sugere inclusive a
criação de ONGs com esta finalidade.
O incentivo a criação de ONGs como forma de sistema de coordenação,
monitoramento e avaliação do cumprimento das diretrizes do documento tem
um fator diferencial em relação à ONG Educológico; o fato de ser formada por
34
estudantes de uma única instituição e em ambiente escolar, o que facilita a
ação educativa do grupo que se confunde com a escola.
1.5-Perspectivas para a Educação Ambiental
Toda a reflexão em relação à história da Educação Ambiental, seus fundamentos e orientações mostram o caminho de equilíbrio e bem estar humano em relação ao ambiente a partir do equivalente entre as partes, pressupondo uma justiça social que só é alcançada com o enfrentamento dos problemas que afetam as sociedades considerando-os como ambientais. Uma Educação Ambiental com compromisso social que vai alem da clássica função moral de socialização entre homem e natureza e parte para uma função ideológica de reprodução das condições sociais para assumir o papel de mudança social.
Uma nova leitura para o fazer educativo talvez atenda as necessidades sociais que se manifestaram desde a década de 60 e a tentativa de dissociar o indivíduo do coletivo, mas sem torná-lo um individualista, e sim, capaz de tomar decisões próprias com responsabilidade coletiva.
A Educação Ambiental pode agir pedagogicamente neste sentido usando de uma intencionalidade que vai desde a mera retratação da sociedade até mesmo sua transformação.
No entanto, para que se tenha a real noção de que problema se está enfrentando e suas reais proporções, uma interessante observação pode ser feita: os problemas ambientais são mais severos na população mais pobre, pois a elas restam as áreas mais desvalorizadas, gerando o risco ambiental que se tornou um fator de conflito nas cidades, portanto a simples observação desse fato corriqueiro nas cidades brasileiras nos faz refletir sobre uma nova perspectiva alem do embate entre os moradores das áreas de risco e as autoridades administrativas, confronto este que parece um ciclo inconclusivo que se repete há décadas e não se vê solução.
Qualquer análise mais demorada revela a essência das grandes tragédias: a invasão do homem ao ambiente natural sem respeitar seus limites pelo simples fato de não entendê-los. Uma questão econômica e política, sendo a primeira responsável pela produção e a segunda, pela distribuição e nem sempre se vê uma identidade coesa entre ambas.
Quando se coloca os desafios da Educação Ambiental no âmbito social há de se enfrentar as desigualdades em sua dimensão ambiental e não apenas econômica. Parece ser esse o caminho para uma verdadeira justiça social.
35
Então, podemos entender a complexidade da Educação Ambiental que dialoga com as questões ambientais.
“Fazer educação ambiental com compromisso social significa reestruturar a compreensão de educação ambiental, para estabelecer a conexão entre a justiça ambiental, desigualdade e transformação social. Justiça e desigualdade ambiental despontam como conceitos centrais para a educação ambiental com compromisso social, são elementos que permitem ver com clareza a conexão entre as questões sociais e ambientais”. (Layrargues, 2009. Pg.27).
O mundo contemporâneo e o desenvolvimento sustentável se encontram no reconhecimento do desafio de desenvolver potencialidades humanas em um caminho que não é exatamente aquele que nos faz reconhecer nesse momento nossas fragilidades e ter que decidir entre continuar pelo mesmo caminho ou escolher outro; ter que aceitar algo diferente, talvez mais ameno, no qual possamos realizar o nosso desejo de ter, agora o verbo no sentido material, (possuir, consumir).
“O desenvolvimento do ambientalismo supõe, estritamente, a continuidade do processo de mudança de mentalidade e comportamento ético num sentido mais qualitativo e complexo; supõe a necessidade imediata de uma presença mais significativa dentro do ambientalismo de valores e práticas espirituais interagindo fortemente com os elementos restantes do universo ambientalista descrito”. (Cavalcanti,1995; pg81)
Humanizar a sociedade é uma tarefa que a Educação Ambiental vai enfrentar para quebrar a visão de cidadãos-consumidores ideologizados pelo consumo que fazem da aquisição de bens um pulso vital para o seu bem estar, ultrapassando o próprio valor da existência do bem em questão, que vem assumindo um status de símbolo de qualidade de vida que contribui para as desigualdades sociais, pois, como afirma Zacarias (2009) “uma parcela muito pequena da humanidade tem acesso à chamada sociedade do consumo”.
Em síntese, a mercadoria ou bem de consumo é um objeto que vale mais do que a sua utilidade, pois alem de atender às necessidades humanas sustentando a economia e o meio de produção, revelando um valor de uso e de troca, porém, sem fazer a ligação com a sua origem e ignorando a finitude dos recursos naturais.
A mudança dessa cultura de sociedade do consumo para uma sociedade sustentável leva em conta, segundo Krause, ex-ministro do Meio Ambiente: elementos como uma sólida consciência social em relação ao direito a um
36
ambiente saudável e produtivo e elevação da qualidade de vida e a inclusão social.
37
2-MINHA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL 2.1 – Entre a memória e a História
A reflexão sobre a minha trajetória profissional fez emergir um mosaico
de experiências vividas que têm direta ou indiretamente participação na gênese
de minha pesquisa.
Todos os relatos têm significado na formação de minha identidade
profissional e, portanto, na revelação do sujeito que há por traz da pesquisa.
A minha carreira, como professor, e a minha aptidão pelas Ciências
Biológicas (entendo que seja convenientemente privilegiar o meu
encantamento pela investigação científica) nasceu de uma maneira informal,
quando ainda era criança.
Minha curiosidade pelos seres vivos manifestou-se como brincadeira; a
mesma que se observa em desmontar brinquedos ou aparelhos velhos sem
mais nenhuma serventia, para satisfazer a um único questionamento: “O que
será que há por dentro?” No meu caso, é claro, parecia ainda mais esquisito,
porque para entender como tais “mecanismos” funcionavam por dentro,
precisavam estar mortos. Como eu não os matava, vivia procurando algum
animal sem vida para analisá-lo.
Essa mania tornou-se mais evidente, quando comecei a colecionar
borboletas. Na época, a novela “O Bem Amado” fazia um grande sucesso e o
personagem Dirceu, colecionador de borboletas, instigou-me o interesse por
tais insetos. Reparei, então, que a casa vizinha, abandonada, possuía, em seu
grande quintal de terra, um jardim de diversas espécies de flores naturais,
criadouro de vários tipos de borboletas. Minhas aventuras de meninice, nesse
período, consistiam em expedições à procura de recolher aqueles bichinhos
mortos de cores e desenhos diferentes, para observá-los, não tão distantes dos
olhos de minha mãe.
Esta é a lembrança mais remota do nascimento de minha paixão pela
Biologia, mesmo sem saber da existência de uma ciência com esse nome.
Certa vez brincava na rua ainda não asfaltada, quando um amigo me
chamou para ver algo, prontamente dizendo que ia gostar. Segui-o algumas
38
casas abaixo de onde morava e deparei com um rato morto. Sim, um rato
morto! Não era como outros tantos ratos mortos que gostava de ver. Estava
cheio de vermes, consumindo o seu corpo de forma intensa, deixando-me
intrigado com a origem de tantas espécies. De onde surgiram? O que fariam,
quando a carne terminasse?
Depois de algum tempo, um novo interesse científico surgiu em minha
vida. Como gostava demais de seres vivos, sempre convivi com animais, sendo
um deles um peixinho.
Cuidava do “danadinho” com tanto carinho que, certa feita, ao vê-lo boiar
em suas águas, sem vida, fiquei profundamente triste. Apesar do desânimo,
comecei a observá-lo em cada detalhe.
No lugar do luto, veio à mente uma ideia “deslumbrante”, pelo menos
para mim. Procurei uma lâmina de barbear e (sem conter em minhas entranhas
o maquiavelismo – isso nunca!) retirei o pequenino nadador para abri-lo.
Consistia ali a vontade de verificar o seu ventre. Alguém, não sei
exatamente quem, comentou sobre a existência de um balão de ar dentro
daqueles seres de água, fazendo-os nadar. Aqui, também sem ter
conhecimento da ciência, fiz pela primeira vez uma dissecação e constatei a tal
“bexiga natatória”, o real nome do órgão. Entretanto os falatórios de minha mãe
ressaltaram o acontecido, pois por dias insisti em guardar o “bichano” no
refrigerador de casa.
Minhas brincadeiras eram iguais aos dos outros garotos, mas minhas
esquisitices eram únicas. Minhas experiências davam sempre erradas, com
exceção a do peixe, completamente distantes dos filmes de ficção, exibidos na
televisão, em que equipamentos sofisticados e cientistas dotados de
extraordinária inteligência uniam com muito sucesso ciência e magia.
A minha intensa vontade de ser pesquisador cobria minha mente com
incessantes indagações, quase sem respostas: “Como conseguem e eu não
consigo?”
Creio que, muitos jovens na fase do Ensino Fundamental, o Ginásio da
época, pensavam em descobrir o mundo por conta própria. Eu,
particularmente, provocava uma distância incômoda, principalmente para os
meus pais, entre o mundo da imaginação e o mundo real.
39
Por que os meus pensamentos “lunáticos” ao invés de me ajudar em
meus estudos surtiam efeito contrário?
Após um curso Primário, bastante sofrido e frequentador de todas as
recuperações possíveis e imagináveis, iniciei em 1980, na Escola Municipal de
Primeiro Grau Professora Joaninha Grassi Fagundes, a quinta série ginasial.
Vivi, neste ano, situações muito significativas e determinantes, talvez, para a
minha transformação de estudante “reles” para “exemplar”.
Num determinado dia, minha mãe chegou a casa com o material escolar,
mas dois componentes me chamaram a atenção e não se desligaram da minha
memória até hoje: um compasso e uma caixa de doze lápis de cor. O
compasso representou para mim um instrumento de “alta tecnologia”, daquela
somente vista na TV, já que até a quarta série nem se quer manuseava caneta
esferográfica. Quanto aos lápis coloridos, todos sextavados, perfeitamente
enfileirados, compunham harmoniosamente a caixa de acrílico azul com tampa
transparente. Um “luxo” para quem até então recebia material da APM
(Associação de Pais e Mestres) – entidade que doava material aos alunos sem
possibilidades de comprá-lo.
Todo esse investimento veio acompanhado de um discurso da minha
mãe: “Nós estamos fazendo um sacrifício, mas confiamos que você vai fazer
valer à pena esse gasto”.
Assim comecei o Curso Ginasial com uma motivação familiar da maior
importância, aliada ao fato de uma organização curricular mais interessante.
Cada matéria passava a ter um professor especialista. Isso foi fantástico! Um
curso que me fez sentir mais adulto, além do meu próprio compasso e da
minha “super” caixa de lápis de cor.
Particularmente, gostava de receber o conhecimento na forma de
disciplina escolar, mas algo ainda não me completava plenamente e gerava
ansiedade: a vontade de participar de processos de descobertas.
A partir daí, passei a construir uma nova identidade de estudante. Era
um aluno admirado por meus professores e colegas de sala. Os meus pais
trabalhavam fora e minha prima ia às reuniões de Pais e Mestres ouvir elogios.
Foram tempos incríveis!
40
Quando passei para a sexta série, a minha classe era a mais adiantada.
Naquela época a escola formava turmas por classificação de rendimento
escolar. Fui um aluno de destaque.
Certa vez fiz uma redação na aula de Português e o meu tema foi
Medicina Ortopédica, baseado nos avanços da construção de próteses
metálicas. A liberdade no desenvolvimento temático permitiu que cada aluno
escrevesse o que era de seu maior interesse. No meu caso, sofri influências
das leituras que já realizava na época. Minha produção de texto foi admirada
pela professora e pelos colegas, superada apenas por uma ficção.
A escola passou a ter um significado bem diferente do que havia sido
antes. Dedicava-me intensamente a todas as atividades relacionadas a ela,
mesmo quando estava em casa. Era o meu trabalho. De certa forma encontrei
uma maneira de me sentir útil, uma referência de inclusão na sociedade,
exatamente quando vivia um processo de auto-afirmação, característicos do
início da adolescência.
Desenvolvi uma boa capacidade de abstratamente aprender, através da
atenção auditiva, e continuei com dificuldades nas atividades práticas que, por
sinal, foram poucas, mas me fizeram falta mais tarde, quando já lecionava,
transformando-se num desafio a ser superado, principalmente nos dez
primeiros anos de minha carreira docente. Dos dez anos posteriores até os
dias atuais, o meu pensamento mudou. Já não luto tanto para superar as
limitações das aulas práticas, pois percebi que, as mesmas, dependem de uma
estrutura física e material, não disponíveis nas escolas, ao menos nas que
trabalhei.
Acho essencial relatar esses fatos de forma antecipada, pois sinto que
têm importância em algumas decisões tomadas no transcorrer de minha
carreira e passo a relatar, a partir deste momento, o seu início.
Um dia, em uma reunião de Pais e Mestres, Dona Celina, uma vizinha,
ouviu da professora que o filho, matriculado na quarta série do primeiro grau na
mesma escola em que eu estudava, precisava de um acompanhamento
particular em Matemática, já que os pais não tinham muito jeito “com a tal
Matemática Moderna”.
41
Como já era conhecido pela vizinhança, como um aluno aplicado e com
boas notas, fui procurado por ela para dar aulas particulares ao seu filho.
Concordei em ajudá-lo nas tarefas e assim, pela primeira vez, sem saber,
exerci o ofício de professor.
Durante a minha convivência com ele, entendi que não havia a
necessidade de ser conhecedor profundo da disciplina, pois cursava a sexta
série na época e já tinha maturidade para identificar as propriedades básicas
envolvidas nas operações ao ver os exemplos dados em sala.
Aos poucos percebi que bastava criar uma estratégia para ajudar o
menino a superar as dificuldades e assim o fiz, foi então que aprendi a
importância do ensinar.
O bom desempenho do meu aluno me encheu de orgulho e, num dia em
que estava no portão de minha casa, esperando minha prima para ajudar a
carregar as compras, vi a vizinha, mãe do meu aluno, chegando da feira. Ela
me viu e me chamou. Agradeceu-me, contando da melhora que havia
percebido no filho e do recado positivo da professora.
A mãe do garoto deu-me como pagamento o troco da feira e, neste
exato instante, senti-me um profissional.
Outras famílias me procuraram para administrar aulas particulares e isso
aconteceu até completar quatorze anos, até o dia em que meus pais me
disseram: “Não dá mais pra segurar, o jeito é você ir trabalhar!”
Terminando a oitava série, consegui um emprego de contínuo no centro
de São Paulo, numa construtora e transferi-me para o período noturno. Foi um
choque de realidades. Deixei de dar aulas particulares para enfrentar um
mundo absolutamente diferente, desinteressante e cruel. Fechou-se um ciclo
para iniciar outro.
Minhas notas na escola tornaram-se muito baixas e fiquei na
recuperação pela primeira vez, desde que começara o Ensino Fundamental II.
Assim era o mundo real, distante de todo sonho de menino e próximo de
uma realidade incerta e, ao mesmo tempo, comum de pessoas que de tão
envolvidas com a sua rotina, deixam de enfrentar desafios.
O impacto negativo, causado pelo trabalho nos meus estudos já estava
superado, quando iniciei o e Ensino Médio, na Escola Estadual Zuleica de
42
Barros Martins Ferreira, situada na zona Oeste de São Paulo. A expectativa de
uma nova fase reacendeu as possibilidades de uma profissão relacionada à
pesquisa, principalmente pelas relações entre conhecimento (teoria) e
realidade (prática), estabelecida pelos professores das disciplinas. Não tão
erudito e intocável, mas uma alternativa de caminho a ser percorrido conforme
a aptidão do aluno, uma vez que o curso era noturno e todos trabalhavam.
Alguns de meus colegas estavam entusiasmados e totalmente
comprometidos com o trabalho desempenhado durante o dia. Para eles a
escola representava apenas uma obrigação, a ser cobrada pelo patrão mais
cedo ou mais tarde.
Eu me encontrava num grupo menor de estudantes que via na escola
uma chance profissional diretamente relacionada com os conteúdos ensinados,
ou seja, a aprendizagem era significativa para a construção de uma carreira.
Estava decepcionado com o meu serviço e o meu patrão não apostava muito
em mim, pois havia percebido o meu interesse pelas Ciências Naturais.
Certo dia a contadora da firma falou a ele de investir em um curso
técnico para me capacitar na área de Contabilidade. Sua negação foi enfática,
justificando que este não era o meu objetivo na vida e, na primeira
oportunidade, deixaria a empresa para ser feliz. Como deduziu isso?
No primeiro dia de serviço, questionei-o da permissão de estudar um
pouco durante o expediente. Sua afirmativa acompanhou o seguinte conselho:
“... desde que nada houvesse para fazer.”
Pelas horas de estudo dedicadas durante o trabalho, mereceu a minha
gratidão aquele homem, mas não sei se me prejudicou durante os sete anos
que ali estive ou se me ajudou a definir a minha vocação.
Ir à escola possuía um significado muito especial, ou seja, apagava
todas as tristezas acumuladas durante o dia e voltava, para casa, aliviado e
envolvido com as questões escolares.
Sempre tive bem definido, através das minhas experiências, o ofício de
professor, como uma razão própria de existência, esteve em minha vida, como
uma definição de profissão. Hoje eu sei, não obstante a minha formação, seria
professor com as mesmas características. O papel de educador desenvolveu-
43
se em minha vida antes mesmo de minha condição acadêmica. Tive o privilégio
de sê-lo antes mesmo de ter a formação para isso.
É claro que dentro do contexto escolar surgiram os meus referenciais de
profissão e de profissional, isto é, aqueles que demonstravam, em suas
atitudes e em seus conhecimentos, o modelo de ética, compatíveis a um
educador por excelência.
Três professores foram personalidades determinantes na minha opção
de carreira. Duas passaram tão rapidamente pela minha vida que nem se quer
lembro os seus nomes.
A primeira, ainda estudante, com uma forma descontraída de ensinar,
trazia impregnado em si o conhecimento acadêmico. Esse “tempero” mostrava
o brilho de seu entusiasmo pelas matérias científicas.
A outra professora, já formada e experiente, lecionou apenas por duas
semanas e afastou-se para fazer Doutorado. Sua decisão marcou-me pelo
comprometimento com a aquisição de conhecimento. Deu-me a transmissão de
um tom de status com a pesquisa.
O terceiro profissional foi o Professor Miguel, de saber enciclopédico e
muito preparado para as atividades práticas. A sua segurança e a sua
competência foram relevantes para a descoberta da minha futura formação
universitária. Abandonou o Magistério para se dedicar à pesquisa e isso me fez
pensar sobre a sua essência na formação profissional e pessoal de um
professor.
Os exemplos inspiravam-me e vislumbravam-me uma atividade decente
e valorosa, legalizando feitos passados e desabrochando o desejo existente
em meu ser. Traziam à tona o retorno da minha origem, quando lecionava
aulas particulares antes de trabalhar para ajudar a família. Naquela época, eu
não enxergava uma profissão naquilo que desenvolvi ainda criança e deixada
por dificuldades financeiras.
Um longo período passou-se até que voltasse a ser professor
novamente, porém, desta vez, de direito e de fato.
O novo na verdade era um retorno. Fazer faculdade simbolizava a
realização incontida de criança. O trabalho no escritório de Construção Civil
44
representava para mim o que a Idade Média representou para a Humanidade –
as trevas.
Quando estava no terceiro ano do Ensino Médio, sabia exatamente o
que fazer: Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas. Com isso, seria
um especialista e teria uma profissão “estável”. Significava a perfeita união
entre uma paixão pelo estudo dos seres vivos e uma experiência gratificante da
infância.
Enfim, veio a alegria de passar no Vestibular e, com tal conquista, uma
nova perspectiva de vida: o desconhecido.
Era o sonho de muitos jovens, na década de oitenta, mas alcançados
por poucos. Lá estava na Universidade São Judas Tadeu, Faculdade de
Ciências Biológicas, em meio a um sonho e a uma realidade cruel – trabalhava
ainda no mesmo lugar e freqüentava o curso noturno. O abismo crescia entre
as realizações dos professores no campo da pesquisa e as constantes
interrogações do meu patrão sobre o meu curso, logo esquecidas. Se fosse
Economia ou Contabilidade o seu procedimento seria mais eficaz.
A incrível distância entre a realidade da minha vida e a expectativa de
meus sonhos proporcionava um labirinto entre o mercado de trabalho e o curso
acadêmico.
Da oitava série do Ginásio até o segundo ano do Curso de Ciências
Biológicas, trabalhei como contínuo, cobrador de agiota e motorista particular.
Um dia, durante uma aula de Química, o Professor Moacyr comentou sobre a
escassez de mão-de-obra nas escolas estaduais. Apesar da necessidade de
preencher o quadro docente, as Delegacias de Ensino não conseguiam
profissionais para completá-lo.
Já estava acostumado com a perda de status de professor que havia
conquistado na juventude quando vi uma possibilidade de voltar a exercer o
ofício, porém, desta vez, motivado pela formação universitária. Tive a
consciência de que não foi uma forma muito honrosa de ingresso, pois as
escolas públicas, em meados da década de oitenta, clamavam por professores
estudantes, uma modalidade extinta. Entretanto, devo a este difícil momento, o
meu ingresso no Magistério.
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Fiz a minha inscrição na 12ª Delegacia de Ensino, como “professor
aluno”, termo usado para identificar aqueles que ainda não haviam concluído o
curso superior.
No dia da atribuição, diante de tanta indiferença, uma professora
aposentada tranqüilizou-me e orientou-me no processo de escolha de escolas
e aulas, fato que incomodou as supervisoras. Numa determinada hora, esta
professora aproximou-se da bancada e uma das organizadoras do evento
interpelou-a com o dizer: “Quando eu me aposentar, não vou querer saber mais
de escola!” A veterana prontamente lhe respondeu: “Você é que pensa!”
Palavras de quem entendia muito bem do que significava viver do Magistério.
Iniciei meu trabalho em três escolas estaduais: Canuto do Val (Barra
Funda, Zona Oeste), Osmar Bastos (Vila Brasilândia, Zona Norte) e Romeu de
Moraes (Vila Ipojuca, Zona Oeste), lecionando Matemática e Ciências Físicas e
Biológicas. Nesse período, questionei muito o meu Curso de Licenciatura e a
falta de objetividade de seu programa. Sofri de solidão pedagógica, estudando
e descobrindo por meu próprio esforço como realizar meu trabalho de maneira
satisfatória para mim e para a sociedade.
Participei de movimentos em prol de melhores condições de trabalho e
salário. Fiquei seis meses sem receber os meus proventos. Vivi, portanto, a
insegurança de não saber ao certo todos os meus direitos e deveres. Foi um
momento muito preocupante.
Abandonei um trabalho de sete anos para entrar na carreira do
Magistério, justamente durante uma das maiores greves do professorado.
Apesar da desconfortável situação, valeu a convivência com outros professores
nas manifestações públicas, acontecidas muitas vezes na Praça da República,
em frente da Secretaria de Educação.
Durante a paralisação, como não havia previsão para a regularização
dos meus vencimentos, recebi ajuda de custo da APM (Associação de Pais e
Mestres) da Escola Estadual Romeu de Moraes.
Deu para entender claramente, através do meu desdobramento para
exercer minha atividade nas diferentes instituições escolares localizadas em
cada região paulistana e do não recebimento salarial, a dura realidade do
Magistério que me aguardava.
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Como não me sentia plenamente satisfeito com as minhas atribuições de
professor, procurei algum estágio ou mesmo trabalho fora do Magistério. Diante
de tal impasse, meu primo Gerson indicou-me ao Dr. Maspes, responsável pelo
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Nove de Julho.
Ao chegar ao laboratório, com os meus diários de classe em mãos, os
funcionários observaram-me com ar de desconfiança. Como suspeitavam ser
uma ameaça ao emprego de alguns, um deles me questionou se era técnico de
laboratório ou se era formado em alguma especialidade. Respondi-lhe que era
professor e estudante universitário. Recordo que o deixei confuso.
Ao mesmo tempo em que conhecia as dependências e os equipamentos
do laboratório, o Dr. Maspes conversava comigo sobre o trabalho, fazendo
perguntas e comentando da confiabilidade que depositava em mim e da minha
capacidade de aprendizagem. Tudo na presença de seu sócio, alheio aos
acontecimentos.
Mencionou que o trabalho no laboratório seria o meu principal emprego,
sendo assim as escolas seriam um complemento que, curiosamente, me
renderiam mais.
No dia seguinte, mediante tal situação, recebi, felizmente ou
infelizmente, o resultado como insatisfatório, perdendo a minha primeira
oportunidade efetiva de ingressar numa área de pesquisa biológica.
Enfrentei, com dedicação, o ofício de professor e me vi cada vez mais
distante da pesquisa à medida que o tempo passava. Fiquei envolvido com a
rotina e tornei-me um funcionário competente e responsável.
Foram muitas escolas, muitas participações em greves, muitas
manifestações por melhores salários e condições de trabalho, muitas
frustrações e o distanciamento do meio acadêmico.
Procurei emprego em escolas particulares. A primeira foi o Colégio de
Primeiro Grau Olga Ferraz, também conhecido como Associação Cívica
Feminina, antiga escola para filhas de militares da Revolução
Constitucionalista. Encontrei um modelo diferente de escola, com um perfil
autoritário de direção e uma organização que permitia mais tranquilidade para
trabalhar. Realizei muitos projetos e evolui como educador.
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Naquela época esforçava-me para executar o método prático das aulas
de Ciências, trabalhando muitas horas em casa na elaboração de atividades
experimentais que relacionassem as aulas teóricas com as demonstrações,
talvez numa busca incessante de compensar a dificuldade de realizar
experimentos, conforme relatei anteriormente. Também porque em minhas
aulas de Química Laboratorial na Universidade, o Professor Moacyr fez
questão de ensinar a fazer pequenos instrumentos alternativos de laboratório,
para que, segundo ele, enfrentássemos os obstáculos das escolas públicas.
Eu me sentia um monge saindo de um mosteiro para pregar meus
ensinamentos pelo mundo e convencer as pessoas sobre uma nova
perspectiva de vida. O problema foi a falta de estrutura das escolas, por
exemplo, na Associação Cívica Feminina havia uma sala de laboratório
abandonada no andar térreo do prédio. Esta usada por um Laboratório de
Análises Clínicas anos antes do meu ingresso na instituição e preparado com
bancadas, mas sem nenhum material para trabalho. Insisti em aulas práticas
naquele espaço e mesmo em sala de aula, assim chamei a atenção de todos,
principalmente da diretora, Sra. Neuza, que me deu muito apoio. Não
conseguimos progredir muito, pois o colégio era mantido por pessoas que não
tinham motivos para investir, naquele momento, diante de uma situação
financeira nada otimista.
O meu trabalho na Associação Cívica Feminina despertou o
reconhecimento da diretora que me convidou a trabalhar no extinto Colégio
Piratininga onde desempenhava a função de coordenadora pedagógica.
O Colégio Piratininga proporcionou-me experiências boas e ruins.
Trabalhei inicialmente no curso de Ensino Médio, vivenciando uma das piores
experiências que um professor possa ter, dada a indisciplina dos alunos,
gerada pela falta de organização e de projeto pedagógico da instituição,
deixando claro o seu objetivo meramente financeiro.
Entretanto, recebi o convite para lecionar no curso de Auxiliar de
Farmácia e, assim, agradavelmente, conheci outra estrutura dentro do mesmo
ambiente educacional, esta, porém, mais estruturada e com um alunado adulto
e determinado.
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Lecionei Noções Básicas de Saúde e Parasitologia Humana. Fiquei tão
motivado que ingressei num programa de especialização em Análises Clínicas
da Universidade São Judas Tadeu, com o objetivo de melhorar minhas aulas
após a obtenção de mais conhecimento. Trabalhava, nessa época, em três
escolas, sendo uma estadual: Escola Estadual de Primeiro Grau Canuto do Val
e duas particulares: Associação Cívica Feminina e o Colégio Piratininga.
Logo surgiu a quarta escola, indicada pela Professora Marilda Aparecida
Fonseca, do Canuto do Val, que precisava de um substituto em sua licença
maternidade, no Colégio Comercial Álvares Penteado. A mesma professora já
havia me ajudado no estágio.
O contato que tive com professores mais experientes me fez
amadurecer muito em minha postura diante da sala de aula e das instituições
educacionais. Essa convivência com profissionais mais experientes me fez
definir ou delinear a profissão de professor com mais precisão, dando sentido e
personalidade ao meu trabalho. O Colégio Álvares Penteado também me
proporcionou a oportunidade de trabalhar pela primeira vez com um
Coordenador de Área: o Professor Walter Eduardo Sardinha.
Trabalhar sob a orientação de um profissional de área foi muito bom,
principalmente por ser uma escola grande e de ensino técnico. A disciplina de
Ciências Físicas e Biológicas, fazendo parte de um Núcleo Comum, não tinha o
mesmo atrativo de um Componente Específico, como: Contabilidade, Desenho
Publicitário, Processamento de Dados etc.
Apesar de meu trabalho ser considerado pelos alunos como um “mal
necessário”, eles me fizeram perceber uma boa dimensão de meu perfil
profissional. Pareceu-me que certos professores do Ensino Técnico não se
comportavam como “Profissionais de Educação”, geralmente se apresentavam
como “Profissionais de Empresas”, com a intenção de ensinar como se
trabalha e como se mantém no emprego. Isso era o que os jovens de 15 ou 16
anos buscavam naquela renomada instituição tradicional, porém faltava um
“clima” escolar, que, segundo eles, eu era um professor que agia como tal e os
fazia sentir alunos.
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É curioso saber que muitos educandos procuram a escola técnica para
fugir dos desafios que enfrentam na regular e, quando estão onde querem,
sentem falta do modelo tradicional.
O fato de ser considerado um bom professor por meus alunos dos
cursos de: Contabilidade, Administração, Publicidade, Processamento de
Dados e Secretariado fez-me acreditar que foi referencial para eles a minha
conduta de professor e não aquilo que ensinei.
Até 1998 trabalhei no Colégio Álvares Penteado, antes já havia
abandonado a rede pública por incompatibilidade de horário.
Em virtude de atrasos salariais constantes, no mesmo ano, deixei de
lecionar no “Colégio Piratininga”.
Apesar de alguns percalços no cotidiano de um professor, como a
instabilidade financeira, certamente estava encantado, com as possibilidades
oferecidas pelas escolas particulares, ou seja, o comportamento dos alunos e
os diversos interesses desses estabelecimentos educacionais.
No mesmo ano fui trabalhar no Colégio Stella Rodrigues, com proposta
pedagógica do Sistema Anglo de Ensino, portanto, “conteúdista”. Na época
trabalhei com a primeira turma do Ensino Médio, mas permaneci por apenas
um ano.
O Colégio Stella Rodrigues, segundo colégio particular, em que exerci
minha profissão sem ser apresentado por alguém, adquiri experiência de como
trabalhar com uma diretora autoritária de visão empresarial. Conduzia a escola
com olhar atento às expectativas dos alunos e das famílias que depositavam
na instituição a confiança de uma educação conservadora e eficiente para a
classe média. Um sistema de ensino terceirizado que neutralizava qualquer
projeto pedagógico, qualquer tentativa de demonstração de pensamento
próprio por parte dos professores, deles apenas se esperava a competência de
cumprir rigorosamente o cronograma, elaborado pelo sistema educacional
contratado.
Com relação ao Colégio Piratininga, os alunos pagavam para obter a
aprovação, enquanto que os alunos do Colégio Stella Rodrigues pagavam para
receber o conteúdo.
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Na mesma ocasião (1998), fui trabalhar no Educandário São Paulo da
Cruz, instituição católica confessional, comandada por Irmãs Passionistas, hoje
Colégio São Paulo da Cruz, convidado por meu ex-coordenador Professor
Walter Eduardo Sardinha. Iniciei minhas atividades em agosto, mas devido ao
pouco tempo disponível de transitar até o Colégio Stella Rodriguez, no final do
ano letivo, tive que deixar este último.
Optei pelo Colégio São Paulo da Cruz pela sua proposta pedagógica
humanista, ou seja, o sujeito, privilegiado em suas possibilidades de
aprendizado, se convence de que este é o meio de se preparar para a vida.
Mais um convite interessante surgiu em 1998, o de trabalhar numa
empresa que desenvolvia projetos para cursos de extensão, denominada NPG
(Núcleo de Pós Graduação). Durante dois anos, exerci prazerosamente uma
atividade ligada a pesquisas educacionais, voltadas ao desenvolvimento
técnico de profissionais da Área de Nutrição e de Controle de Qualidade nas
Indústrias de Análises de Alimentos.
Paralelamente aos projetos previstos pelo Núcleo de Pós Graduação,
coordenado pelo Professor José Camargo, despertei minha atenção para uma
área de propriedade do Colégio Passionista São Paulo da Cruz pelas possíveis
atividades que poderiam ser realizadas na Área de Ciências da Natureza.
Pensei em conversar com a direção sobre a perspectiva de desenvolver
projetos ambientais naquele lugar. Elaborei algumas propostas, mas antes de
apresentá-las, fui surpreendido pela iniciativa da própria entidade escolar, que
decidiu transformar o sítio num Centro de Educação Ambiental e Reserva
Particular de Proteção Natural (RPPN). Para viabilizar o projeto, a escola
contratou a empresa CPTI (Cooperativa de Serviços e Pesquisas Tecnológicas
e Industriais) que realizou, de dezembro de 1999 a janeiro de 2000, um estudo
sobre o local e o seu potencial para desenvolver a Educação Ambiental.
Logo após o término do trabalho dos profissionais da CPTI, o Colégio
Passionista determinou que, os professores do Ensino Médio não deveriam
trabalhar no Ensino Fundamental, para que os mesmos pudessem se dedicar
com mais intensidade aos seus projetos. Foi quando deixei as aulas na então
sétima série do Ensino Fundamental, para me dedicar ao Ensino Médio,
ficando sem três aulas após essa mudança. Estava aguardando o momento de
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assinar a minha redução de aulas, ao ser surpreendido, durante uma reunião
pedagógica, pela notícia de que as três aulas de Ciências seriam compensadas
com um trabalho de pesquisa e implantação do Centro de Educação Ambiental,
denominado Recanto Paulo da Cruz, iniciando assim o meu trabalho em
projetos no Colégio Passionista São Paulo da Cruz.
No ano de 2002, participei do primeiro concurso público e ingressei no
cargo de Professor de Ciências Físicas e Biológica na Prefeitura Municipal de
São Paulo, para maior estabilidade financeira.
Nessa época, trabalhava na EMEF Plínio Ayrosa, durante quatro dias da
semana no período da tarde e um dia dedicado ao projeto de Educação
Ambiental.
Minha tarefa, no Centro de Educação Ambiental, consistia em pôr em
prática o Plano Diretor, homologado para o local, analisando os documentos,
realizando pesquisas de equipamentos científicos relacionados à medição
ambiental (pluviômetros, termômetros, barômetros etc.), elaborando
subprojetos de implantação de atividades de manejo orgânico e de otimização
de energia entre outros. Bem, todas estas tarefas tornaram as tardes de
quartas-feiras, as mais esperadas da semana, seja pela convivência com
técnicos e pesquisadores como pelo conhecimento de tecnologias e
equipamentos.
Com o passar do tempo o grau de maturidade das atividades de
pesquisa e da implantação dos projetos ambientais chegaram a um problema:
Como atender a demanda de serviços e responder às expectativas da escola,
trabalhando apenas uma tarde por semana?
O Centro de Educação Ambiental incentivou-me a fazer leituras de obras
especializadas para entender o potencial daquela área de reserva natural.
Resolvi investir num programa universitário da USP, para suprir a minha falta
de referenciais na área de pesquisa educacional, deixada pela rotina exaustiva
de sala de aula.
Com mais embasamento teórico e com certa estagnação de projetos,
devido ao meu pouco tempo de dedicação, justificável pela dupla jornada de
trabalho, surge uma nova proposta: a ONG Educológico.
52
No final de 2008, a direção do Colégio Passionista São Paulo da Cruz
ofereceu-me a oportunidade de ampliar o meu período dentro do projeto de
Educação Ambiental. Com isso, ao mesmo tempo, deixei o cargo de Professor
de Ciências, na Rede Municipal de São Paulo, para empreender com mais
determinação à pesquisa ambiental, e ingressei no Programa de Mestrado da
UNICID (Universidade Cidade de São Paulo).
3 - A FORMAÇÃO DA ONG E MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO
Em dezembro de 1999, a ONG EDUCOLÓGICO- grupo estudantil em
defesa da vida- foi inaugurada pela então, diretora do Colégio Passionista São
Paulo da Cruz, Irmã Mirtes. Eram apenas três alunas que desejavam formar
um grupo para conscientizar outros estudantes da escola sobre o cuidado com
o meio ambiente. A aluna Nádia Oliver Doro, 16 anos, presidente da entidade
na época, coordenou o primeiro trabalho do grupo: o combate à sujeira,
deixada pelos alunos, no pátio durante os intervalos. ”Filmamos o lugar antes,
durante e depois do recreio. O pessoal ficou um pouco assustado e hoje a
limpeza melhorou bastante”
De blusa amarela a aluna Nádia Oliver Doro.
Na mesma época, iniciou-se, como já mencionado na minha trajetória
profissional, o processo de formação de uma RPPA (Reserva Particular de
Proteção Ambiental), ou seja, um conjunto de ações voltadas à tendência de
conservação e preservação do planeta, praticadas pelo colégio, que já se
preparava para a formação dos alunos nos conceitos e práticas sustentáveis,
na propriedade denominada Recanto Paulo da Cruz, situado em Mairiporã.
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54
Com o intuito de envolver os alunos em atividades educativas
ambientais, a ONG Educológico atua no terceiro setor e viabiliza o
funcionamento do Centro de Educação Ambiental.
Durante o surgimento de tantas novidades pedagógicas, a diretora Irmã
Mirtes ofertou-me, além da função de professor de Biologia, a de pesquisador,
dedicando-me ao projeto de implantação do Plano Diretor na área de
preservação dentro de um universo administrativo e distante de uma ação
educativa direta, durante o meu tempo extra.
A ONG ficou a cargo do professor de Geografia, Silvio Tamoyo que
participou dos procedimentos de sua formação e a coordenou juntamente com
o Professor Jaime Antônio, também geógrafo. Sendo assim, a escola tinha dois
projetos ambientais: o Centro de Educação Ambiental, coordenado por mim, e
a ONG Educológico, coordenada pelos colegas de profissão Silvio e Jaime.
Algum tempo depois, o Professor Jaime saiu da instituição e permaneceu na
ONG apenas como colaborador.
De 1999 até 2005, não tive nenhuma participação na ONG e os dois
projetos da escola caminhavam paralelamente. Somente em 2006 iniciei meus
trabalhos de participação como colaborador, uma vez que o Professor Silvio
estava doente e não tinha condições de cumprir alguns compromissos. Iniciei
uma espécie de estágio, conhecendo a rotina e o tipo de trabalho desenvolvido
pelos alunos integrantes da ONG.
Naquela ocasião, a ONG Educológico não trabalhava com o princípio de
formação escolar, apenas visava a vivência dos alunos numa ONG, onde os
mesmos assumiam as tarefas de Presidente, Vice-Presidente, Secretário,
Tesoureiro e todas as demais funções pertinentes a uma organização desse
nível. Havia, entretanto, um impedimento legal de exercer tais atividades frente
à sociedade civil, porque todos eram menores de 18 anos. Para responder,
portanto, legalmente pela ONG Educológico existia outro corpo diretor, formado
pelos professores responsáveis e pela diretora do colégio.
Alunos do primeiro grupo do Educológico trabalhando em campanha de limpeza na Avenida Tucuruvi
Participei de algumas atividades extraescolares, realizadas pelo
Educológico, notando que eram de cunho ambientalista, mesmo sob a
coordenação do educador Silvio, durante todo o tempo os alunos permaneciam
envolvidos num ambiente atípico ao escolar, mas não menos importante. O
trabalho baseava-se na fomentação de ações sociais, colocando os alunos
frente a interessantes problemáticas vindouras da falta de planejamento e da
consequência da prática humana no ambiente, no entanto distantes de
referenciais pedagógicos.
Foi este contato com o universo de ambientalistas, ativistas, empresários
e representantes do Estado que me fizeram entender a função social da ONG
Educológico, como espaço de vivência muito rico para a inclusão dos jovens na
sociedade.
Por duas ou três vezes o Professor Silvio disse-me que seria bom se eu
participasse da ONG Educológico, porém sempre recusei, em virtude das
atribuições do trabalho docente e do Centro de Educação Ambiental ocupar
todo o tempo, além do trabalho na escola municipal.
Durante esse período, poucas vezes me envolvi nas atividades da ONG
Educológico, uma das razões, na verdade, repercutia em não entender o
porquê do Professor Silvio não assumir certas responsabilidades e deixar a
cargo do alunado o desenvolvimento das tarefas. Então, o mesmo me fez
entender que o objetivo consistia em deixar os alunos tomarem atitudes e
aprenderem, através da prática e da avaliação dos resultados.
55
56
Assim antes de compreender que o grupo Educológico era uma
organização estudantil, estranhei, por muitas vezes, dos professores Silvio e
Jaime não assumirem a coordenação das ações do grupo, mas entendi, após
as devidas explicações, que exerciam talvez uma função mais difícil, a
coordenação de ações, como mediadores. Cabia a eles orientar, opinar e
responder frente à sociedade pelas obrigações sociais, em virtude da ONG
Educológico não ser um apêndice do Colégio São Paulo da Cruz.
Aos poucos, os dois projetos do Colégio Passionista foram se
aproximando. Ambos tinham, em comum, a intenção da instituição em atuar de
forma significativa no campo da sustentabilidade. A aproximação, porém, não
foi muito fácil. A ONG Educológico estava cada vez mais centralizada no
Professor Silvio de forma que, qualquer participação externa nos assuntos da
organização, passava pelo crivo do coordenador. Essa situação evoluiu até o
ponto em que o grupo estudantil ser confundido com “o grupo do Silvio”.
Nesse período, no Colégio, trabalhávamos trimestralmente, com temas
geradores e, um deles, foi Meio Ambiente e Sustentabilidade, com proposta de
estudo do meio, em Cananéia, Ilha do Cardoso e Mairiporã. Este último local
de trabalho foi dividido em dois sub-grupos: um deles trabalharia no Recanto
Paulo da Cruz e o outro na cidade de Mairiporã. Não tínhamos, porém, um
roteiro de atividades para desenvolver naquela cidade. Foi, então, que a
coordenadora, Dona Ivone, pediu-me para desenvolvê-lo. Resolvi ir até a
prefeitura e pedir informações na Secretaria de Meio Ambiente e Turismo que,
na época, formavam uma única pasta.
Atendido pela secretária de gabinete, Senhora Sueli, demonstrou
interesse pelo projeto e escreveu uma proposta de roteiro para a cidade que,
entre outros, incluía a visita à Pedreira Holcim, uma mineradora suíça,
exploradora de granito naquele lugar. Ao conhecê-la, aproveitei a oportunidade
para questionar, se existia algum esforço no sentido de estabelecer parcerias.
A resposta foi positiva e combinamos um encontro para apresentação do
projeto. Ao chegar a São Paulo, organizei-o, mas não o encaminhei.
Na data da visitação dos alunos, o Professor Silvio nos acompanhou e
eu comentei sobre o patrocínio, oferecido pelos representantes da empresa.
Este, muito entusiasmado, assumiu pessoalmente as negociações em nome da
ONG Educológico.
Passei a participar das reuniões, com o Silvio e a Sueli, representante da
prefeitura, para elaborar o projeto de parceria, mas não houve muito progresso.
De um lado, estava ansioso para captar recursos para o Recanto Paulo da
Cruz; por outro lado, os projetos necessitavam de investimento em
equipamentos e mão de obra. A empresa, naturalmente, necessitava de um
resultado imediato sem o envolvimento de investimentos permanentes. Então,
decepcionado, abandonei o processo e os outros participantes desenvolveram
um projeto adequado às necessidades da empresa, denominado “Teatro na
Trilha”, com o intuito de levar aos estudantes o contato com a Mata Atlântica,
de uma forma lúdica. Os alunos da ONG Educológico ensaiaram uma peça
teatral ao ar livre. Os personagens ATAM (senhor da mata), Líquen vermelho e
Samambaiaçú, elementos da trilha, existentes no Recanto Paulo da Cruz, eram
por eles representados e ganhavam vida para conversar com os visitantes.
Apresentavam a Natureza, aliada à importância e à conservação de cada
elemento naquele ecossistema, tornando a caminhada pela trilha uma
experiência interativa.
O personagem ATAM durante o projeto Teatro na Trilha
Após a aprovação do projeto pela empresa, os alunos da ONG
Educológico passaram a executá-lo para as crianças de Educação Infantil e
Fundamental I das escolas públicas de Mairiporã. De todas as atividades,
57
desenvolvidas pela ONG Educológico, sob a coordenação do Professor Silvio,
esta é a mais próxima na Área de Educação, no meu ponto de vista.
O objetivo era participar da ONG, como movimento social organizado,
inserindo os alunos na prática do ambientalismo, no entanto, os participantes
do Educológico estavam assumindo a função de educadores.
Em 2007, com o falecimento do Professor Silvio Tamoyo, passei a
coordenar a ONG Educológico e o Centro de Educação Ambiental, num
momento em que a principal atividade desenvolvida da ONG Educológico era
no Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental: o Teatro na Trilha.
Minha participação no projeto Teatro na Trilha.
Um ano mais tarde, o projeto acabou. Decidi mudar a forma de atuação
da ONG Educológico. Contemplava, até então, apenas os alunos integrantes
da ONG, oferecendo a eles oportunidades de participar de eventos, idealizados
por outras ONG´s, num trabalho de parceria. Oferecia um intercâmbio de
experiências muito interessantes, porém os alunos não tinham poder de
decisão, seguindo as regras estabelecidas por outros. Conduzi a ONG
Educológico, com base na produção de seus próprios projetos, tornando os
alunos pesquisadores, produtores de estratégias, comunicadores e
administradores das ações, no próprio colégio, como alternativa de viabilização
da Educação Ambiental. Esta iniciativa trouxe à tona o trabalho da Educação
Ambiental, democratizando a produção dos alunos da ONG Educológico a
todos os educandos e educadores do colégio, numa verdadeira teia de 58
informações para a construção do aprendizado, trazendo para o cotidiano
escolar as questões emergentes da sociedade e, não apenas, exportando tais
projetos a outros grupos sociais.
Com minha experiência no Magistério, direcionei os projetos para o
campo educacional e ambientalista, envolvendo a escola, nas atividades da
ONG Educológico, e, não apenas, envolvendo os alunos da ONG, nos
movimentos socioambientais.
A minha vivência no projeto Teatro na Trilha foi fundamental para decidir
por este caminho, pois, nele, os integrantes da ONG estudavam um conteúdo
disciplinar tradicional, estratégias de ensino e abordagem para crianças. Um
percurso muito envolvente para tornar alunos protagonistas de uma ação
educativa, ou seja, de uma ação que envolve o mecanismo de
retroalimentação. Concluí, portanto, que quanto mais se constatava o
comprometimento das crianças para as quais o projeto era elaborado, mais se
constatava o resultado satisfatório.
Não assumi a responsabilidade da ONG Educológico sozinho,
compartilhando a coordenação da mesma, estava também a Professora
Roseclair de Cássia Monteiro, geógrafa, que já participava da organização,
quando a mesma era representada pelo Professor Silvio.
Grupo Educológico com os professores Angelo e Roseclair.
Enquanto trabalhava apenas em prol do Recanto Paulo da Cruz,
elaborei o projeto “Nossa Nave”, que se refere, por analogia, ao Planeta Terra
59
(condutor da humanidade – eleito com status de além “casa”) e a sua viagem
pelo espaço.
“Nossa Nave” é, portanto, o primeiro projeto, realizado até hoje pela
ONG Educológico, sob a minha coordenação e da Professora Roseclair. Está
organizado em etapas, com várias atividades humanas, como: consumo de
água, utilização do solo e produção de alimentos. Cada assunto foi distribuído
em fases diferentes e, até o ano de 2009, realizamos a primeira, com a minha
participação juntamente com a dos alunos do Ensino Fundamental e Ensino
Médio, tendo como tema o uso racional de água.
Sala de aula preparada para apresentação
A partir de reflexões sobre a importância da água em situações
cotidianas, publicada na edição número 17, em junho de 2004, na revista “Guia
Prático para Professoras de Educação Infantil”, organizei a proposta inicial da
primeira fase do Projeto “Nossa Nave” e, posteriormente, feitas transformações
necessárias pelos alunos da ONG Educológico.
A abordagem da temática sugeriu diversas questões, como: O que
precisamos para escovar os dentes? Onde vivem os peixes? O que é preciso
para lavar as roupas? Você gosta de nadar? De que precisamos ao tomar
banho? O que a mamãe utiliza para lavar louça? Qual o líquido indispensável à
vida? Que ambiente, além da terra, alguns animais vivem?
Logicamente a resposta deve ser água, mas a criança poderá emitir
outros dizeres inerentes aos desejados. Considerando tal premissa, o efeito
provocará novas indagações em busca do real intento. Por exemplo, na
primeira interrogação, se a devolutiva for creme ou escova dental, segue-se 60
adiante. Na próxima, também o resultado girará sobre rio, mar, lagos etc.,
obviamente o jeito será prosseguir até que os alunos cheguem à conclusão da
água, como núcleo comum de todo o questionário.
Apresentação do projeto Nossa Nave
Com a descoberta do enigma, o discurso centralizará sobre os
conhecimentos e as relações, com os seres humanos, os animais e o planeta,
do assunto, sob a ótica da criançada. Aproveita-se a ocasião para tecer os
comentários sobre as diferentes maneiras de obtenção da água dentro do
contexto natural (mar, rios, lagos, chuvas...) e artificial (torneira, descarga,
chuveiro, filtro...). Dentro de um clima efusivo, devido à interatividade, interpela-
se sobre se sabem de onde as águas vêm e para onde vão.
As explicações sobre os tipos de água, neste momento, se fazem ideais
para o aprendizado. Quanto às chuvas, a retórica consiste que, as águas dos
rios, mares e lagos se evaporam e sobem para o céu em forma de minúsculas
gotas. Estas se unem e formam uma nuvem que, carregada de água, chove.
Consequentemente, as crianças, em instantes, vislumbrarão outras questões,
como: O que é vapor?
Com a aquisição do novo conteúdo, a prática experimental tornar-se-á
mais eficiente e interessante.
Para o momento, algumas atividades delinear-se-ão. Como primeira
etapa, o aluno construirá seu próprio pluviômetro para medição da quantidade
de chuva. O material consistirá numa garrafa de plástico vazia e cortada na
parte de cima, uma tesoura, um recipiente (balde) cheio de terra e uma régua
61
de 30 centímetros. Depois da reunião dos utensílios, a criança fará um encaixe
da parte de cima, virada de cabeça para baixo, na de baixo da garrafa. Em
seguida, a garrafa ficará ereta no recipiente com terra. A execução do
instrumento despertará o interesse de medir os milímetros de chuva. Com o
pluviômetro montado, deverá ser acomodado do lado de fora de casa, o mais
longe possível das árvores e das construções.
Na sequência, a segunda atividade, por estimular a produção de vapor,
deve ser realizada pelo(s) organizador (es) da oficina para não provocar
queimaduras nas crianças. O experimento refere-se à fervura de água numa
leiteira ou panela com tampa. Ao levá-la para a sala e retirar a tampa, a
criançada perceberá as gotículas formadas nela, provenientes do vapor.
Pluviômetro e panela para produção de vapor
Em seguida, como terceira atividade, cada aluno produzirá o seu próprio
vapor, ao soltá-lo pela boca na superfície de um espelho, para embaçá-lo.
Antes de o vidro ficar limpo, um desenho ou letra bem rápido deve ser
elaborado pelos pequenos estudantes. É evidente que o “encantamento” da
tarefa reproduzirá a dúvida de como tal fato ocorreu e, portanto, há a
62
necessidade de mostrar as diferentes temperaturas (quente – ar expirado/frio –
espelho). Exatamente, está aqui uma boa oportunidade, para expor a
evaporação e a condensação, por intermédio também do embaçar dos vidros
de veículos e de copos e garrafas geladas.
Far-se-á, neste instante neste instante as explicitações de mais dois
estados da água: sólido e líquido, já que o gasoso veio antes. Para demonstrar
os outros, apresentar-se-ão cubos de gelo sobre uma bandeja, para depois de
algum tempo as crianças observarem o seu derretimento em água.
A partir do estado líquido, provocar-se-ão as reflexões: Por que a água
doce tem esse nome? Será que contém açúcar?
Aproveitar as dúvidas e esclarecer que a água recebe o nome de doce
para ser diferenciada da salgada e está presente nos rios, lagos, além das
torneiras de nossas casas. Expandindo o conhecimento, expor que tanto a
água da chuva como a água presente no centro da Terra (lugar formador de
pequenas nascentes possíveis de se tornarem grandes rios) também são
doces. Salienta-se que, nos rios e lagos, vários tipos de seres vivos (peixes,
por exemplo) não sobrevivem sem água doce, ou seja, a mesma utilizada em
nossa higiene pessoal/ambiental e no saciar de nossa sede.
Demonstração de água salgada
63
Dedica-se agora um tempo para o entendimento da passagem da água
retirada da Natureza, percorrida por estações de tratamento, até chegar às
torneiras de nossas casas para o consumo. Através de ilustrações, os alunos
atentos caminham com olhar a trajetória da água das estações até a
distribuição à população através de tubulações. Ainda com os olhos fixos no
painel, observam um grande reservatório (caixa d’água) existente não só em
residências, mas em escolas, hospitais, escritórios e demais lugares, em que
as águas se armazenam, provindas do encanamento.
A dinâmica completa-se com a informação de que, em locais sem
saneamento básico, as pessoas perfuram poços com grandes máquinas para
tirar água do subsolo. Por não ser uma água tratada, deve ser fervida ou
filtrada, antes de usá-la para beber ou fazer comida.
No encerramento desta fase do Projeto “Nossa Nave” exibe-se dois
tipos de máscaras, como elementos compostos de grande quantidade de água,
o tomate (fruto) e a melancia (fruta). Após rápidas intervenções explicativas
para se diferenciar o fruto da fruta, a criançada escolhe a sua máscara (modelo
vienense) para pintá-la e brincar ao estilo de um elegante baile carnavalesco, à
moda antiga.
Alunos do Ensino Fundamental I usando as máscaras de melancia e tomate
A finalidade da construção do Projeto Nossa Nave foi de promover a
conscientização dos alunos dos anos iniciais do Colégio Passionista São Paulo
da Cruz quanto à importância da água para a humanidade e da informação e
da ação individual para obtenção de um resultado global. A partir dos
64
65
estudantes, queríamos atingir as famílias e provocar uma ação social
transcendente aos limites físicos da escola, através do conhecimento científico.
Escolhemos como metodologia de trabalho, encaminhar o Educológico
para projetos participativos, ou seja, construídos com base no empenho e na
participação ativa dos alunos, a partir de um tema gerador. De fato, a primeira
etapa da “Nossa Nave” foi aos poucos desenvolvida pelos alunos, sem a
interferência direta da coordenação, tanto no momento da preparação da
equipe quanto da comunicação com o infantil público estudantil.
Os alunos veteranos assumiram a coautoria do projeto, uma vez que,
através das experiências obtidas nas apresentações, puderam observar o
comportamento das crianças e avaliá-lo, propondo alterações criadas por eles
mesmos e registrando-as no projeto original.
A partir deste projeto, dois procedimentos impulsionaram esta etapa: o
envolvimento das crianças, que a partir das apresentações feitas, inicialmente,
por mim e depois pelos alunos, reagiram de maneira entusiástica, na
identificação de fatores relacionados aos problemas de consumo inadequado
de água em suas casas e à interação com os familiares, passando-lhes
informações e demonstrando-lhes atitudes de reflexão e ação, articuladas com
o conhecimento adquirido.
Interagir nos anos iniciais do Colégio Passionista e fazer um trabalho
capaz de ensinar aos educandos de forma que se sentissem aptos a
compartilhar do processo de ensino-aprendizagem, apresentou-se, a princípio,
insuperável, devido ao fato da necessidade dos alunos do Educológico se
incorporarem como educadores, prontos a motivar os estudantes mirins a
integrar conhecimento à atitude.
Para alcançar este status, os alunos da ONG Educológico necessitaram
cumprir um ritual de amadurecimento. O desafio começou com o de conhecer o
projeto, através da leitura, para depois de estudado e entendido como um todo,
organizar a teoria em dinâmica para a apresentação, preparar os materiais
(músicas, vídeos, imagens, experimentos), distribuir as falas entre os
integrantes do grupo e determinar o que cada um iria fazer.
66
Após todo o preparo, veio uma demonstração para os professores-
coordenadores do grupo, em que foram feitas as orientações para o ajuste e
depois ocorreu a apresentação propriamente dita.
No caso do Projeto “Nossa Nave”, a primeira etapa foi o sub-tema água.
A primeira aula inaugural foi tensa, pode-se assim dizer, como a estréia de uma
peça teatral. Posteriormente o grupo tornou-se mais seguro e passou até
mesmo a improvisar. Nesta fase passaram a se preocupar menos com o
desempenho pessoal e mais com o comportamento das crianças em relação
ao aprendizado, ou seja, se a fala estava adequada, se o material usado foi
suficiente para que compreendessem etc. O grupo já estava se autoavaliando,
ao perceber que, apesar de todo o cuidado, existiam falhas, necessitando ser
corrigidas, como, por exemplo, trocar uma história em quadrinhos por uma foto,
quando as crianças eram maiores; usar um discurso mais “adulto” no quarto
ano, pois se interessavam mais por fatos científicos do que por contos de fada.
As novas experiências eram registradas no projeto original, tornando-os
coautores do mesmo.
Ao assumir responsabilidades no aprendizado das crianças, os jovens
educadores enfrentaram dificuldades de serem agentes sociais, levando-os a
refletir sobre o que e como ensinavam, deparando-se com as dificuldades de
quem quer uma mudança de atitude, através do ensino aprendizagem.
Segundo alguns relatos das professoras do Ensino Infantil e Ensino
Fundamental I do Colégio Passionista São Paulo da Cruz, as crianças
revelaram encantamento ao saber do que os alunos da ONG Educológico são
capazes de fazer. Tal posicionamento deve-se ao fato de existir toda uma
produção feita exclusivamente por pessoas não participantes do cotidiano de
sala de aula dessa criançada (a minha presença, num primeiro momento, e
depois dos alunos da mesma escola) para a transmissão das informações do
projeto.
Obviamente uma apresentação, com dinâmicas variadas, realizada por
pessoas que não são do nosso convívio, num determinado espaço fora do
ambiente, acostumadas a frequentar diariamente, causa um envolvimento
maior de integração entre estudantes infanto-aprendizes/conteúdo do estudo/
estudantes jovens orientadores. Realmente esta estrutura operacional
67
explorada por nós, direcionada a um público especial, provoca uma reação
interessante comparada a um discurso, por mais excepcional que seja de um
renomado palestrante.
Todos estes fatores trouxeram um bom resultado em relação às atitudes
das crianças aprendizes e nos chamaram a atenção sobre uma nova
perspectiva de aprendizado, que se baseava, inicialmente, apenas no
encantamento daquelas pequenas criaturas. Depois de algumas exibições,
percebemos a preocupação dos integrantes da ONG Educológico em relação
ao aprimoramento das aulas expostas por eles, seja na estética como na
linguagem e na validade das informações. Tais atitudes deram aos
participantes da nossa ONG uma sensação de domínio do projeto, uma forma
de coautoria que, apesar de não ser plenamente reconhecida pelos mesmos, é
uma forma de aprendizado. Uma conquista de aprendizagem adquirida, através
da resolução de problemas detectados durante a prática do projeto, na
tentativa de fazê-lo alcançar seus objetivos.
Nesta perspectiva de espaço alternativo do conhecimento, percebemos
uma interessante possibilidade da evolução do projeto, porém não
conseguíamos deixar de pensar na sua eficácia para a instituição, como um
resultado mensurável, justificador de toda a ação. Estivemos atentos, para que
a ONG Educológico não fosse considerada pela escola um problema a mais na
gestão, ao invés de um procedimento educacional inédito e digno de
aperfeiçoamentos e não de críticas.
Ao assumir a coordenação da ONG Educológico, eu juntamente com a
minha colega de profissão, Professora Roseclair, ficamos muito preocupados
com o futuro da organização. Não tínhamos a real noção do que ela
representava para o colégio. De certa forma percebíamos, em alguns
momentos, certo desânimo por parte da diretora Irmã Mercedes Scortegagna,
em relação a sua sustentabilidade, mas por jamais cogitar a possibilidade de
encerrá-la, deixou-nos claro a grande expectativa nutrida em relação ao nosso
trabalho.
Fato relevante que contribuiu para a escolha da ação a ser colocada em
prática, a partir do instante em que assumimos o projeto. Decidimos explorar as
nossas aptidões, ao invés de continuar uma linha de trabalho, iniciada por outro
68
profissional em gestão anterior. Então, resolvemos trabalhar com educação
formal, abrindo caminhos para a Educação Ambiental.
Atualmente estamos seguros de que a atitude tomada tornou-se marco
importante tanto para o Colégio Passionista São Paulo da Cruz como para a
ONG Educológico. A primeira instituição conta com projeto de Educação
Ambiental permanente e não seriado, priorizando a participação de diversos
alunos de estágios diferenciados de formação numa mesma atividade. A
segunda atua como movimento ambientalista, a partir da Educação Ambiental,
sendo então única e não correndo o risco de se dissolver dentre as tantas
ONG´s existentes.
Percebe-se que, independente do objetivo, há uma tendência de
incorporar o ambientalismo na ação educativa das escolas católicas, ou seja, o
princípio de uma educação formal alicerçada na compreensão de que fazemos
parte da Natureza. Enfrentamos, porém, o problema de tratar a Educação
Ambiental como sendo a análise dos problemas ambientais e a relação dos
fenômenos naturais, enfrentados pelos humanos, submetidos ao campo óptico
exclusivo da ciência.
Há de se desenvolver, portanto, uma Educação Ambiental preventiva e
não curativa, sem pressa de mostrar resultados; só assim, poderemos revelar a
multidisciplinaridade, associada a este processo educativo.
Segundo Figueiredo em um ensaio publicado na Revista Diálogo: É essencial formular escolhas apropriadas para inserir a essencialidade dos processos de ambientalização. Nessa imprescindível “nova tradição”, educar implica em “desafiar” o outro a se superar diante dos obstáculos. Potencializar atos-limite, ampliar a abrangência, problematizar, possibilitar a sistematização é parcela dessa jornada Ítaca – numa referência à viagem de Homero-, na busca de sonhos e desejos (FIGUEIREDO, 2010, página 32).
O aprendizado conquistado, nos trabalhos da ONG Educológico, só é
realmente reconhecido, quando os alunos são questionados sobre o que
aprenderam. Esta é uma característica intrigante.
Aprender em um espaço de formação, como a ONG Educológico, é um
processo que necessita do reconhecimento dos próprios alunos. Fato só
ocorrido ao serem orientados pelos professores coordenadores à reflexão,
69
caso contrário, acreditam só obter o conhecimento em ambientes formais da
escola, principalmente na sala de aula.
Eis aqui um paradigma que precisamos ajudar a romper. Sendo a ONG
Educológico um projeto, idealizado pelo colégio e funcionando dentro de suas
dependências, o desenvolvimento de suas atividades nem sempre são
consideradas, como dirigidas ao aprendizado, mas, como atividades
recreativas ou socializantes, sem levar-se em conta de que, em situações
diferentes daquelas que a organização escolar tradicional proporciona, há
manifestações do conhecimento.
Fazer o aluno participante reconhecer que está aprendendo, durante as
atividades, é uma das etapas essenciais para a consolidação da ONG
Educológico, como espaço formativo.
Convencer os alunos de que a ONG Educológico proporciona condições
para a capacitação de uma formação educacional, não constituiu numa tarefa
fácil, principalmente por se desenvolver dentro de uma instituição de ensino
oficial, o Colégio Passionista São Paulo da Cruz, em que a prática diária das
aulas reforça aos estudantes o ensino-aprendizagem dentro de uma sala.
Não estamos culpando o colégio, visto que, a maioria dos
estabelecimentos de ensino ainda proporciona tal espaço de aprendizagem.
Não objetivamos, de maneira nenhuma, criticar ou analisar a eficácia da
herança tradicional e ainda disposta nos dias de hoje, mas sim verificar a
validade de um espaço alternativo.
A constante atitude avaliativa conduziu os alunos a uma reflexão sobre a
essência de cada um dentro de uma ação social e de um contexto escolar,
levando-os, portanto, a compreender a ONG Educológico, como uma
alternativa de aprendizagem em Educação Ambiental, dentro da própria escola
em que estão inseridos.
3.1- Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental - Espaço para
a prática da Educação Ambiental
O Recanto São Paulo da Cruz – Centro de Educação Ambiental faz
parte do projeto pedagógico do Colégio Passionista São Paulo da Cruz. A
70
mesma instituição de ensino criou, em 1999, o Grupo Estudantil Educológico,
uma ONG, formada por estudantes e professores, atuantes em defesa da vida
e da conservação ambiental. O projeto de Educação Ambiental abrange
inúmeros fatores modificadores do Meio Ambiente e, consequentemente, da
vida saudável das gerações futuras.
A partir de janeiro de 2000, iniciaram-se os estudos para a formação do
Centro de Educação Ambiental, mo sítio, denominado Recanto Paulo da Cruz
que, a partir de então, passou a receber o adjetivo Centro de Educação
Ambiental, com a finalidade de propagar informações sobre Ecologia à
população local e aos visitantes de outras regiões.
O Educológico, por sua vez, além de trabalhar em projetos
desenvolvidos no Colégio Passionista São Paulo da Cruz, também atua na
criação e monitoria de atividades no Recanto Paulo da Cruz-Centro de
Educação Ambiental. A visita ao Centro de Educação Ambiental proporcionará
uma visão geral da Natureza, com suas características ecológicas e com seu
ambiente transformado pela Humanidade, a partir de suas tecnologias e sua
diversidade cultural, à medida que se percorre os espaços, como se estivesse
visitando uma exposição.
Em outras palavras, o Centro de Educação Ambiental pretende implantar
uma estrutura de integração entre um espaço natural de floresta tropical (trilha
da natureza) e um espaço de estudos ambientais equipado com tecnologias de
meteorologia, energias alternativas, reciclagem orgânica / inorgânica e viveiros
de mudas (trilha do homem). A área prevista para o desenvolvimento do projeto
poderá ser usada em atividades relacionadas à formação em Meio Ambiente
de qualquer natureza e grau (educadores, técnicos, ambientalistas,
administradores públicos e privados,...) e contribuirá diretamente na construção
de uma educação direcionada à preservação e valorização dos recursos
naturais.
(Foto 1: Visão aérea do Recanto São Paulo da Cruz – Centro de Educação Ambiental)
O Centro de Educação Ambiental do Recanto São Paulo da Cruz,
localiza-se na Estrada Municipal - Bairro da Capoavinha, município de
Mairiporã, Estado de São Paulo. Abrange uma área de aproximadamente 200
000 metros quadrados.
O acesso é feito pela Rodovia Fernão Dias. Tomando-se a estrada no
sentido São Paulo - Mairiporã, após passar o Túnel da Mata Fria, percorre-se
4,7 Km e, então, entra-se à direita na Estrada Municipal (asfaltada). Após 2 km,
entra-se na Estrada do Capoavinha (de terra) e 200 metros adiante se chega
ao primeiro portão do Centro de Educação Ambiental .
A área, localizada na Serra da Cantareira, dispõe de uma formação
natural de Mata Atlântica e de mais uma área útil, com as construções das
estações de observação e estudos científicos nas áreas de reciclagem
orgânica, inorgânica, meteorologia e energia. Mapa do Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental
71
72
De acordo com o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera Atlântica e
a UNESCO, todo o Município está dentro do perímetro da reserva da Biosfera
do Cinturão Verde da cidade de São Paulo. A área específica de localização
do Centro encontra-se no limite de duas zonas deste perímetro: Zona Núcleo-
conservação da biodiversidade e Zona de Amortecimento ou Tampão -
desenvolvimento sustentável.
Atualmente restam somente 8% da sua área original, em sua maior parte
localizada no Sudeste, na Serra do Mar, na porção oriental da Serra da
Mantiqueira e em pequenos fragmentos, como este em Mairiporã, onde está
situado o Centro.
Uma das principais características deste tipo de floresta é a grande
diversidade de flora e fauna. Apesar da devastação, a mata continua
extremamente rica: só em espécies vegetais são 20 000, ou seja, 7% de tudo
que existe no mundo.
Diante dos dados acima apresentados tornam-se necessárias ações de
revigoramento da região e conscientização da população local frente aos
desafios do Desenvolvimento Sustentável.
Entende-se que a área verde “pertencente” ao Recanto, assim como
toda a região de Mairiporã, deve ser conservada, segundo os princípios do
Desenvolvimento Sustentável, com um Plano Diretor, para organizar a
ocupação que vem sendo desordenada desde a formação da Represa Paiva
Castro, administrada pela SABESP.
A formação do lago submergiu antigas propriedades destinadas à olaria
às margens do Rio Juqueri, forçando o município a uma mudança de atividade
econômica, ou seja, passando de produção de tijolos para especulação
imobiliária. Desde então o crescimento urbano tem sido orgânico e danoso
para a floresta e para a manutenção da qualidade da água do Rio Juqueri.
É importante reconhecer que ali está a maior floresta urbana do mundo e
a população, que lá vive, dedica-se basicamente a prestação de serviços.
O objetivo fundamental do Centro é o de despertar o conhecimento do
Meio Ambiente e a necessidade de sua preservação de forma sustentável, de
modo a viabilizar a vida atual e futura da Terra.
73
A principal função do trabalho como tema Meio Ambiente é contribuir
para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na
realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem
estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que,
mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com
atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de
habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação.
Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do
dia-a-dia na escola.
Para desenvolver a atividade educacional, o Centro de Educação
Ambiental receberá alunos de outras instituições educacionais e demais
interessados que serão monitorados por educadores e alunos do Colégio
Passionista São Paulo da Cruz, contribuindo com a Educação Ambiental de
forma efetiva, através de estratégias de utilização de recursos naturais de
forma sustentável. Também entre a orientação à população encontra-se a
importância da água e a preservação das fontes, uma vez que o Recanto situa-
se numa microbacia, com cinco fontes de água em seu perímetro.
Para atingir os objetivos educacionais, o Recanto Paulo da Cruz - Centro
de Educação Ambiental, de acordo com o Plano Diretor para a implantação,
executará três ações:
1.ª ação - Utilizar todos os recursos disponíveis na área do Centro e da
região para criar situações práticas de ensino e consequentemente de
aprendizado. Para alcançar nossos objetivos, o espaço foi dividido em duas
trilhas: a Trilha da Natureza (percurso na mata) e a Trilha do Homem (ao
redor da casa sede com alojamentos, sala de treinamento e palestras, estação
meteorológica, sala para exposições e laboratório).
2.ª ação - Criação de Cenários Evolutivos do Meio Ambiente e do Homem. Os cenários, preparados pelos alunos do Colégio Passionista São
Paulo da Cruz, transformados em quadros ou painéis, dispostos em sequência
temporal que permitirão a criação de um espaço, com a função de um
Corredor do tempo. 3.ª ação – Criar no Centro, uma infra-estrutura de apoio às atividades de
Educação Ambiental desenvolvidas nas trilhas, isto é, Neste sentido, um
Galpão de Recepção aos visitantes que também servirá para outras
atividades, tanto ambientais como de lazer. Próximo ao galpão construir-se-á uma Oficina de Trabalho, composta
de três laboratórios, para o desenvolvimento de trabalhos práticos
complementares às trilhas:
Trilha da Natureza
74
• Visita ao interior da mata existente nas encostas.
• Observação dos fenômenos da natureza
• Coleta de materiais em pontos ambientalmente significativos
A Trilha da Natureza, composta por um percurso já aberto pela mata,
podendo ser realizado em até uma hora e vinte minutos, está organizada de
modo a não oferecer dificuldades aos visitantes, para que os mesmos possam
observar tranquilamente, durante a caminhada ou nas dez paradas, os
componentes da floresta.
Trilha do Homem
A Trilha do Homem compor-se-á de um laboratório multidisciplinar na
antiga casa sede do sítio. Em torno, em fase de montagem, três estações:
Energia, Ambiente e Meteorológica.
75
Estação Energia
A Estação Energia é parte da Trilha do Homem. O aluno/visitante, que
fizer esta trilha, deverá ter a oportunidade, ao passar pela estação, de
conhecer e testar alguns artefatos utilizados pelo homem para gerar energia,
como estufa solar, aquecedor solar e moinho de vento, a partir de fontes
renováveis. Como não é possível instalar nesta estação, um exemplo de cada
fonte de energia utilizada pelo homem, serão priorizadas as formas mais
viáveis para o aproveitamento de energia diante da situação energética atual e
perspectivas futuras: solar e eólica.
Entende-se que o homem, ao longo de sua trajetória histórica no
planeta, dentre tantos desafios enfrentados, sempre procurou fontes de energia
para suprir as suas necessidades. Descobrir, dominar e utilizar as fontes
energéticas não foi tarefa fácil.
Atualmente, vivenciando uma crise energética, leva-nos ao esforço
comum de preservar as reservas hídricas e racionalizar o uso de energia,
retomando alternativas energéticas pouco incentivadas até então.
Tudo isso nos leva o esforço de proporcionar aos estudantes de
Educação Infantil ao Ensino Médio e demais interessados uma “Estação
Energia”, experiências relacionadas às diversas formas de obtenção de
energia, das quais obviamente, a energia solar estará presente, a fim de
promover a economia de eletricidade.
Estação Ambiente
Entender a importância da recuperação das matérias orgânica e
inorgânica e as possibilidades de recuperação do ambiente natural, através de
técnicas, imitando a Natureza na produção de substâncias orgânicas, com
tecnologias de pouco impacto ambiental.
As estratégias utilizadas serão: reciclagem inorgânica, com separação
de resíduos resultantes da atividade do próprio Centro de Educação Ambiental;
produção de húmus, através de vermicomposto produzido no minhocário e
76
manutenção de um viveiro/berçário de mudas para o repovoamento das áreas
desmatadas do próprio Centro de Educação Ambiental.
A Estação Ambiente realizará um ciclo de matéria, a fim de manter o
controle ambiental, considerando o Centro de educação ambiental, como um
ecossistema equilibrado.
Estação meteorológica
A visita ao posto meteorológico permitirá o conhecimento do
funcionamento de uma estação, através dos parâmetros de direção do vento,
temperatura e umidade do ar e demais recursos; importantes para o
desenvolvimento das atividades humanas.
Atividades extras O objetivo da Trilha do Homem é realizar, através de um passeio pelas
instalações do Centro, uma visualização de como o Meio Ambiente sofreu
modificações pelo homem para sua sobrevivência, subsistência, trabalho e
lazer.
Além das estações implantadas já descritas anteriormente, esta trilha
apresenta:
- Plantio de mudas na horta e pomar que se originarão de experimentos
de germinação, previamente realizados
- Coleta e entendimento da nascente, captação e caixa d’água com
distribuição. O percurso do aluno permitirá acompanhar o trajeto da água para
o uso do homem e desenvolver atividades relacionadas à sua importância e
preservação.
- Cenários evolutivos – O objetivo é despertar uma visão global ao
longo do tempo e do espaço, direcionando a ação pedagógica para os
assuntos de preservação ambiental. Para tanto os cenários evolutivos estarão
distribuídos na forma de painéis, que dispostos em um espaço físico do Centro,
numa seqüência temporal, comporão um Corredor do tempo da seguinte
forma:
a) Evolução do planeta, através da história evolutiva do Meio Físico
(Geologia) e do Meio Biótico (Flora e Fauna).
77
b) Evolução histórica do Brasil e da região de Mairiporã, principais
marcos da humanidade.
c) Problemas Ambientais da atualidade.
Os problemas ambientais da atualidade deverão ser apresentados em
três níveis:
GLOBAL- abordagem de problemas prejudiciais ao mundo como um
todo: efeito estufa, camada de ozônio, poluição dos mares, rejeito nuclear, etc.;
REGIONAL – foco de problemas de poluição dos rios, poluição do ar,
lixo em São Paulo, etc.;
LOCAL - destaque para os problemas ambientais do Município de
Mairiporã.
A partir de uma “viagem”, através dos cenários, o visitante entenderá o
que é e como evoluiu o meio ambiente.
Os projetos pedagógicos proporcionarão a expansão para a formação de
professores multiplicadores por abranger o conteúdo de Ensino Fundamental I
e II, além do Ensino Médio. Assim sendo, o conjunto de atividades
desenvolvidas no Recanto pode ser explorado em todas as disciplinas.
Alguns projetos compõem as ações de curto prazo que podem ser
aplicadas à população, como:
1- Terra Viva – Proporciona uma vivência e uma valorização
dos componentes de um meio físico e vivo do ecossistema, atendendo
às necessidades do programa curricular do 6º ano do Ensino
Fundamental II.
Relaciona as características geológicas, atmosféricas
ambientais, a fim de conhecer a ação de preservação, reconhecendo o ciclo de
vida e a interferência do Homem, como agente mantenedor de sua saúde
social e ambiental, como bens individuais e da coletividade que devem ser
conservados para as gerações futuras.
2- Investigando a Natureza – Proporciona uma vivência dos
métodos científicos de investigação dos elementos que integram um
ecossistema. Está de acordo com os conteúdos do 7º ano do Ensino
78
Fundamental II, a fim de manter presente, para o educando, a noção de
uma natureza única, indissociável e interativa.
Incentivar o educando a olhar ao seu redor, observando e investigando
os seres vivos que ocorrem no ambiente da região de Mairiporã.
Favorecer a construção coletiva de idéias, incentivando o trabalho em
grupo.
3- Nossa Nave – Proporciona uma análise real do processo de
desenvolvimento das cidades e tem como objetivo desenvolver uma
análise crítica à luz do conceito de desenvolvimento sustentável.
4- História do Homem através da Arte – Conduz o estudante ao
passado Pré- Histórico e permite que o mesmo faça uma imersão na História
da Humanidade e sua relação com algumas formas de manifestação artística.
5- Herbário Fotográfico – Desenvolve os conceitos de Botânica,
Química, Literatura e Educação Física para estudantes do Ensino Médio.
6- Reciclagem Orgânica por Compostagem – Apresenta a técnica de
produção de fertilizante através da atividade das minhocas a fim de
conscientizar as pessoas sobre a importância das minhocas para o meio
ambiente e como o homem pode explorar a criação de minhocas para
beneficiar o solo e obter benefícios econômicos através de uma Biotecnologia.
Sendo a área de localização do Recanto Paulo da Cruz contemplada por
uma fatia de floresta tropical remanescente da Mata Atlântica e de acordo com
sua importância em relação à fauna brasileira e mundial, pretende-se, com
todas as atividades desenvolvidas nessa área, mudar a relação da população
com o ambiente natural disponível, fazendo com que a vida seja melhorada de
forma significativa e o ambiente siga por uma trajetória de recuperação de
áreas degradadas até chegar a mudanças administrativas no Plano de Ação do
Poder Legislativo e Executivo local.
3.2 O Sistema Organizacional do EDUCOLÓGICO
A Organização Não-Governamental EDUCOLÓGICO, sendo uma
entidade civil de caráter ambientalista, busca desenvolver uma aprendizagem
79
dentro de um ambiente diferenciado, numa perspectiva pedagógico-
democrática.
Não podemos nos esquecer de que, segundo a ONU, ONGs, por serem
entidades civis sem fins lucrativos, de direito privado, realizam trabalhos em
prol de uma coletividade.
Em seu estatuto social, o EDUCOLÓGICO apresenta-se como ONG
sócio-ambientalista e educacional e seus objetivos principais são:
• Estimular e desenvolver o pleno exercício da cidadania, através
da educação ambiental, para melhorar a qualidade de vida da população, a
partir de sua realidade estudantil.
• Defender e proteger o meio ambiente e os recursos, através da
conscientização estudantil e de ações ecológicas que atinjam a comunidade
ao seu redor.
• Estimular a transformação do Recanto Paulo da Cruz numa
RESERVA PARTICULAR DO PATRIMONIO NATURAL; conseguido este
objetivo, promover projetos que visem a sua preservação, uma vez que se
situa numa micro bacia.
• Atuar na implantação, desenvolvimento e atualização do
CENTRO DE EDUCAÇAO AMBIENTAL PAULO DA CRUZ, em Mairiporã,
atuando como agentes de seus objetivos educativos e ambientais.
• Pesquisar, estudar e divulgar as causas dos problemas
ambientais e as possíveis soluções, visando o desenvolvimento
ecologicamente sustentável, a partir de sua realidade.
• Promover assistência social beneficente nas áreas de meio
ambiente em que estiverem atuando.
• Difundir atividades educativas, culturais e científicas, realizando
pesquisas, treinamentos, editando publicações, vídeos, processando dados,
assessoria técnica nos campos ambiental, educacional e sócio-cultural, bem
como comercialização de publicações, vídeos, serviços e assessoria,
programas de informática, camisetas, adesivos, materiais destinados à
80
divulgação e informação sobre os objetivos do EDUCOLÓGICO, desde que o
produto desta comercialização reverta integralmente para a realização desses
objetivos.
Todas as atribuições acima mencionadas não representam a totalidade
daquilo que confere ao EDUCOLÓGICO, mas já são suficientes para justificar a
importância do projeto em minha pesquisa. De um lado, uma instituição educacional com toda a estrutura voltada à excelência no ensino e de
outro, uma ONG com missão sócio-ambiental educativa. Os objetivos do EDUCOLÓGICO, sendo uma Organização Não-
Governamental Ambientalista dentro de uma instituição de educação, são: 1º)
ensinar aos alunos participantes a Educação Ambiental de forma prática
(educar para a vida); 2º) ter atuação de fato e de direito nas questões
ambientais e 3º) ensinar a dinâmica do terceiro setor juntamente com todas as
atribuições que competem a uma ONG: “O bom clima pedagógico-democrático
é o em que o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma que sua
curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita a limites, mas em
permanente exercício (Ibid., p.85)
É necessário esclarecer que, a Educação Ambiental, como processo
social, não envolve apenas a divulgação científica em torno do meio ambiente,
seus componentes e problemas, mas também a relação existente com a
sociedade e seu comportamento, orientando quanto à necessidade de
conscientização da responsabilidade individual em relação aos problemas
ambientais.
O terceiro setor, organização civil em torno de um objetivo e com
personalidade jurídica própria, vem se tornando uma forma eficaz de
participação popular na tomada de decisões governamentais, fiscalizações e
realizações independentes. Por isso, considero extremamente funcional a
existência de uma ONG Ambiental numa instituição de ensino: Afinal, o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e “reescrito”. Nesse sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola (Ibid., 2009, p. 97).
Sendo assim, a ONG EDUCOLÓGICO pode desenvolver múltiplas
funções educativas, num ambiente escolar, e estas são as possibilidades:
Terceiro Setor (instituição)
Funcionamento da ONG
. Movimento Ambientalista
Entender Construção de Projetos
81
Educação Ambiental Integração de conteúdos
Funcionamento da ONG EDUCOLÓGICO
3.2.1 – Terceiro Setor
Para o entendimento da composição e do funcionamento do terceiro
setor é necessário ter uma visão da organização da sociedade em setores, ou
seja, o primeiro setor - público de interesse comum, o segundo setor- privado
de interesse particular e, finalmente, o terceiro setor- formado por organizações
privadas sem fins lucrativos (nem público, nem privado).
Apesar de não substituírem o primeiro setor, nos países em
desenvolvimento, como o Brasil, as ONGs desenvolvem trabalhos importantes,
em que o Estado mostra-se ausente.
O aprendizado sobre o terceiro setor proporciona uma experiência
relevante para a inclusão no mercado de trabalho, pois evoca valores de
cidadania, conhecimentos de organização institucional, noções de legislação e
responsabilidade civil.
82
3.2.2 Movimento ambientalista
Para a compreensão do movimento ambientalista, o estudante
necessariamente avança em direção ao estudo dos movimentos sociais e
sistemas políticos, avaliando a questão ecológica num contexto de prática. A
aplicação dos conhecimentos das ciências da natureza e ciências sociais nas
questões emergentes da atualidade. O ambientalismo entendido como movimento social significa que a questão ecológica é tratada de forma crítica e alternativa em relação à ordem existente, sendo contextualizada de um modo fortemente normativo (tal como acontece com as questões do pacifismo e do feminismo) (LEIS e D’AMATO, 1998, p.78).
O estudante avalia o atual modelo de desenvolvimento e verifica sua
insustentabilidade e a necessidade de reavaliação do comportamento da
sociedade.
3.2.3 – Educação Ambiental
3.2.3.1 Construção de projetos
É importante aqui tratar o projeto como exercício de pensar em ações
coordenadas, planejamentos e organizações, para o futuro, ou seja, nas
estratégias para alcançar os objetivos.
Uma das características agradáveis, na realização de projetos com os
alunos, é, a cada experiência, eles se mostram mais seguros e capazes de
interagir com o problema proposto, tendo plena liberdade de alterar o
esquematizado anteriormente e aos poucos, confiantes, para criar um projeto,
a partir de suas próprias observações. Podemos pensar que um caminho possível para se trabalhar os processos de ensino e de aprendizagem no âmbito das instituições escolares pode ser por meio de projetos, concebidos como estratégias para a construção dos conhecimentos (ARAÚJO, 2003, p.67).
A forma mais viável de realizar os projetos, envolvendo o convencimento
de outras pessoas em relação ao comportamento é o trabalho em equipe.
Cada aluno traz de seus “mundos” familiares e escolares uma importante
83
experiência específica dos problemas ambientais, mas que ao ser
compartilhado com outro, forma a base de conhecimento que sensibiliza e
integra uma pesquisa mais aprofundada.
As múltiplas tarefas possíveis de serem realizadas pelo grupo agilizam o
desenrolar da prática, diminuindo a ansiedade e mostrando resultados a tempo
de viabilizar correções ao longo do processo.
Outros fatores como, pontualidade, responsabilidade, comando e
tomada de decisões democráticas são aprendidas durante a pesquisa,
estruturação, execução e avaliação dos projetos.
4 - A RELAÇÃO DO TRABALHO DA ONG EDUCOLÓGICO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Este capítulo estabelece algumas relações entre as orientações oficiais dos
documentos de Educação Ambiental que norteiam as práticas no mundo com
as atividades da ONG Educológico à luz dos teóricos da educação já
mencionados nessa pesquisa. O objetivo é confrontar o conhecimento teórico
acumulado ao longo da história da Educação Ambiental com os aspectos da
realidade do trabalho realizado na ONG Educológico a fim de tornar evidente o
conhecimento que se pode obter a partir da análise.
A fim de tornar a análise mais objetiva, algumas das determinações e
orientações que serviram de base para a Educação Ambiental foram
organizadas em eixos de acordo com a pertinência em relação ao trabalho da
ONG.
Para proporcionar às pessoas a vivência dos cinco eixos, temos que
observar alguns princípios ou ações necessárias para se trilhar a Educação
Ambiental de forma segura, contribuindo para a sua consolidação e evolução.
84
O desenvolvimento do projeto Nossa Nave seguiu as seguintes etapas
A – Apresentação do conteúdo
B – Escolha das tarefas
C – Orientações para apresentação
D – Apresentação
E – Avaliação e adaptação
Analisando algumas situações ocorridas durante a realização do projeto
Nossa Nave é possível avaliar se a dinâmica atendeu, ao menos em alguns
aspectos, as orientações sobre Educação Ambiental.
Eixo I – proporcionar conhecimento sobre problemas ambientais
85
Este eixo pode ser analisado a partir da primeira etapa do projeto (A), pois a
leitura do roteiro e sua interpretação trazem ao aluno uma quantidade de
informações que foram organizadas de forma didática, para que eles
interpretem e avaliem o grau de dificuldade em usar tal informação na dinâmica
com as crianças.
Ao ler o roteiro e avaliar o conteúdo a partir de sua própria capacidade de
interpretação, estão vivendo uma situação que propicia conhecimento sobre
problemas ambientais, porém, motivados por uma situação diferente da
convencionalmente oferecida em sala de aula, agora, é preciso entender o que
está no roteiro para depois, ensinar. Tal situação atende ao princípio 6 da
Educação Ambiental: “utilizar diversos ambientes educativos e métodos sobre
a Educação Ambiental”.
O conhecimento não se restringe apenas a este momento, as etapas
seguintes são importantes para a consolidação desse processo. Após a leitura
do texto é feita a divisão das tarefas ou, a fase B, onde cada educando escolhe
a tarefa que quer fazer na dinâmica.
Reunião para leitura e avaliação do roteiro.
Eixo II – proporcionar conscientização do meio ambiente global
Este eixo, apesar de basicamente teórico, passa a ser enriquecido a partir
da fase C e principalmente na fase D, quando se cria condições para que os
alunos apresentem a dinâmica para os colegas e educadores e depois com as
86
crianças, revelando, principalmente na fase D, o conhecimento que as crianças
têm de sua vivência, revelados de forma inesperada durante as apresentações
criaram situações desafiadoras para os alunos da ONG Educológico,
desafiando a responsabilidade de dominar cada vez mais o conteúdo.
As diversas experiências relatadas pelas crianças revelaram um pouco dos
problemas ambientais vividos em famílias distintas e em comunidades de
diversas realidades sociais, como quando o grupo se apresentou para crianças
carentes na Escola Estadual “Oswaldo Catalano” e no CEU Jaçanã. Tais
experiências expandiram a noção de problemas ambientais, atendendo ao
princípio 3 da Educação Ambiental.
Apresentação do projeto Nossa Nave para crianças de creche durante um evento na E. E. ”Oswaldo Catalano”
Eixo III – Comportamento – comprometimento, participação
Ao tornar a ONG Educológico uma organização de voluntariado como, aliás,
reza seu documento de razão social, fez com que os alunos que lá
permanecessem mesmo sem ter atribuição de notas e outros novos membros
chegassem demonstra por si a presença de valores e atitudes pessoais que
viabilizaram a missão de promover a Educação Ambiental. Trata-se de uma
iniciativa que a meu ver tem o apoio em Freire (2009, p. 87): “Quanto mais a
curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobretudo, se ‘rigoriza’ tanto mais
epistemológica ela vai se tornando”.
87
88
Eixo IV – Habilidades – para resolver problemas
A Lei número 9.795/99 em seu Artigo 1º. Relaciona Educação Ambiental
com processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades. Quando verificamos que durante o
processo de organização das atividades os alunos resolviam problemas de
distribuição de responsabilidades e permitiam o afloramento de lideranças com
liberdade de escolher o que mais agradava fazer e, aos poucos, interagir com
outros setores. A não obrigatoriedade de agir de maneira uniforme vai de
encontro ao pensamento de Perrenoud, que vê a progressão para todos no
mesmo ritmo como um dos problemas dificultadores do ensino.
Isto se observa pela própria configuração do grupo, que tem alunos desde o
sexto ano no Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio, numa
colaboração mútua entre grupos, cada qual exercendo sua parcela de trabalho
de acordo com as habilidades pessoais e assumindo responsabilidades
espontaneamente em respeito à autoconfiança, conforme Zaballa (2005), a
aprendizagem é uma construção pessoal que depende de seu interesse e
disponibilidade. Aqui se verificam os princípios 4, 5 e 7: “desenvolver o senso
crítico”; “desenvolver habilidades para resolver problemas”; dar ênfase às
habilidades práticas e individuais”.
Eixo V – Participação – nas tarefas que objetivam resolver problemas
Se considerarmos a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente
Humano onde se proclama que o homem é ao mesmo tempo obra e construtor
do meio ambiente que o cerca e relacionarmos com a iniciativa da ONG
Educológico em proporcionar aos estudantes a conscientização e a prática
educativa como agentes transmissores e formadores, podemos entender este
como um instrumento viável de Educação Ambiental.
Neste ponto vale lembrar Freire (2009, p. 69), “... toda prática educativa
demanda a existência de sujeitos, um que ensinando, aprende, outro que,
aprendendo ensina.”
No mesmo documento internacional lemos que o homem deve fazer
constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo, inventando,
criando e progredindo. Aí podemos estabelecer a relação de transição do
Projeto Nossa Nave em que a equipe de 2008 herdou o “projeto água” e
89
realizou modificações em sua apresentação com livre arbítrio para decidir o
que ficaria melhor, de acordo com as expectativas pessoais a prática,
rompendo com a idéia de reprodução fiel do roteiro inicial, tal fato ocorreu na
etapa E do projeto. Assim como Freire (2009, p. 42): “A aprendizagem da
assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com um
elitismo autoritário...”
Relação do trabalho da ONG Educológico com a Educação Ambiental
Aqui se pode visualizar as relações entre os cinco eixos e as etapas do trabalho com os projetos.
Eixos
I – Proporcionar conhecimento sobre problemas ambientais.
II – Proporcionar conscientização do meio ambiente global.
III – Comportamento – comprometimento, participação.
IV – Habilidades para resolver problemas.
V - Participação nas tarefas que objetivam resolver problemas.
Etapas Eixo I Eixo II Eixo III Eixo IV Eixo V
A - Apresentação X
B - Escolha das etapas X X X
C- Orientações para apresentação X
D- Apresentação X X
E- Avaliação X X
90
Considerações finais
Uma das finalidades da Educação Ambiental que posso reconhecer no
Educológico é o que recomenda a Primeira Conferência Intergovernamental sobre
a Educação Ambiental (Tbilisi): possibilitar o conhecimento, valores e atitudes
necessárias a proteção e melhoria ambiental e induzir novas condutas sociais a
respeito do meio ambiente.
O congresso internacional de Educação e Formação Ambientais realizado em
Moscou (1987) teve como uma das recomendações que a Educação Ambiental é
considerada um processo permanente onde os indivíduos tomam consciência do
meio ambiente e adquirem conhecimento, valores... Aqui deparamos com a
dinâmica da ONG Educológico, onde sua própria existência já configura um
projeto permanente, com sua rotina de reuniões que tem o objetivo de refletir
sempre um problema e as possíveis soluções, envolvendo assim um aprendizado.
A possibilidade de participação na construção de novas estratégias nas dinâmicas
se dá a partir do momento que o aluno tem confiança sobre o aprendizado e,
assim, demonstra mais do que um saber conceitual, como cita Minc (2005, p.
26)... ”Não basta conhecer a fotossíntese para entender por que se usam milhões
de toneladas de agrotóxicos no Brasil, quais são as alternativas para eles e o que
se pode fazer para viabilizá-las”.
O desafio de ensinar criou uma motivação para aprender. Uma vez aprendido o
conteúdo, cria-se uma confiança suficiente para sugerir adaptações a fim de
melhorar o desempenho do projeto, tudo depende da experiência.
Quando pela primeira vez o grupo de 2008 revelou a vontade de sugerir
modificações no projeto Nossa Nave, eu me senti absolutamente incapaz de dizer
não, pois raramente tinha a oportunidade de acompanhá-las durante as
apresentações, apenas assistia a fragmentos dos mesmos, pois estava sempre
envolvido com outros afazeres juntamente com o restante da equipe. A confiança
que depositei naquele grupo veio da própria postura que tinham durante os
afazeres rotineiros, sempre organizadas e compenetradas nas atividades;
inclusive em sala de aula.
Esse marco referencial na dinâmica de construção, avaliação e ajuste das
atividades vai ao encontro de Freire (2009), a prática educativo-crítica propicia
91
condições para que o educando possa assumir-se como ser social, transformador
e criador. Contribuem para esse fato a boa relação dos educandos entre si e com
os educadores.
Já uma das recomendações do Seminário Latino-Americano de Educação
Ambiental realizado na Argentina em 1988 é que a Educação Ambietal deve
promover a reformulação da educação formal e não-formal para uma concepção
ambientalista, ou seja, considerando as dimensões sociais e ambientais. Tal
recomendação também remete ao modelo organizacional do Educológico quando
se presta a revelar aos alunos conhecimento sobre o movimento ambientalista.
Por ocasião da Rio-92, Organizações Não-Governamentais de todo o mundo
estiveram reunidas no Fórum Global, onde nasceu o Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis, conforme a tendência da Conferência
realizada no Rio de Janeiro, onde, entre outros princípios ficou registrado que:
somos todos aprendizes e educadores.
Outros princípios da Educação Ambiental para a Sustentabilidade e
Responsabilidade Global merecem observações ao menos em alguns de seus
fragmentos. Quando, por exemplo, se escreveu que a Educação Ambiental deve
basear-se em pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo e lugar.
Temos aí uma característica identificável no Educológico, pois, ao lançar as
responsabilidades das ações para os estudantes gera insegurança no início, mas
esta inquietação leva a reflexão e a tentativa de novas alternativas. Muitas vezes os
alunos não atingem o mesmo grau de conhecimento, mas acho improdutivo querer
que isto ocorra, pois mesmo em sala de aula é reconhecível a disparidade no
aprendizado individual.
Ao mesmo tempo, quando o mesmo documento indica que a Educação Ambiental
deve se desenrolar em qualquer tempo e lugar, em seus modos formal, não formal e
informal como já foi descrito antes, reconhece mais um ponto de convergência nas
ações do Educológico.
Quando se afirma que a Educação Ambiental é individual e coletiva se verifica que é
legítima a escolha de alguns alunos que não assumem certas responsabilidades
porque não se julgam preparados para tal. No entanto, a presença desse aluno
sempre é necessária, pois, qualquer que seja sua ajuda, dá segurança e alivia os
afazeres daqueles que assumem mais tarefas.
92
Evidentemente que em um ambiente de Educação Ambiental Não-formal que é a
ONG, existe uma tolerância para tais diferenças pessoais. No entanto, não se deve
deixar de considerar que tudo isso ocorre dentro de uma instituição Formal de
educação onde se trabalha sempre com grupos grandes de alunos, e as orientações
mencionadas pelo Fórum Global foram formuladas por representantes de ONG’s.
Durante o ano de 2011 a freqüência de alunos esteve em torno de 13, sendo a
maioria do Ensino Fundamental II até o oitavo ano.
A participação dos alunos de Ensino Médio, apesar de menor em quantidade tem
maior impacto nas ações. Naturalmente os alunos mais jovens não têm, na maioria
das vezes, a mesma fluência para estabelecer a comunicação com as crianças,
ficando mais tranqüilos quando a atividade é “braçal”, como preparação de materiais
para apresentação.
Obviamente como educador tal fato me leva a pensar sobre a validade deste
comportamento em termos de aprendizado, mas levando-se em conta o ponto de
unidade em torno do qual todos estão ligados, é de extrema importância o que cada
um pode fazer pelo sucesso do projeto, pois o fazer seja usando da capacidade de
comunicação ou de colaboração nos bastidores faz com que se aprenda algo em
torno do assunto sem que se exerça uma pressão. Talvez aí esteja ao menos um
dos fatores que leva o aluno a continuar no projeto, pois toda a pressão para que se
faça algo vem acompanhado de algum tipo de pagamento, ou seja, nota.
A ONG Educológico gira em torno dela mesma não em torno do colégio já que não
exerce nenhuma interferência direta nos conteúdos programáticos em termos de
nota. Já a influência do trabalho da ONG tem gerado, mesmo timidamente, algum
interesse por parte de alguns professores que desenvolvem conteúdos que se
relacionam com a questão ambiental, neste sentido, a ONG tem recebido doações
de trabalhos desenvolvidos na área de Geografia, por exemplo, como herbários e
coleções de rochas.
Por parte das educadoras do Maternal ao quinto ano do Ensino Fundamental I já
podemos perceber uma associação mais íntima entre a atividade em sala de aula e
as nossas dinâmicas.
Esperamos que mesmo os alunos mais tímidos venham a assumir funções de maior
dinamismo nos projetos, porém em nenhum momento passamos algum tipo de
ansiedade a eles.
93
O que nos anima bastante diante da nossa proposta de trabalho é saber que os
alunos que se envolvem de alguma forma com a dinâmica apresentada revelam
comportamentos de ponderação diante das questões ambientais envolvidas no dia a
dia. De tanto ensinar desenvolvem um controle interno sobre suas próprias
condutas.
94
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