A Educação e a Distância

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A educação a distãncia e a sociedade.

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A Educação a Distância no Brasil A educação a distancia como modalidade de ensino: um reflexo da sociedade?

Historicamente a educação sempre foi uma atividade de transmissão de conhecimentos e valores que, em sua origem, ocorria informalmente tendo como professor um especialista em algum tema (que poderia ser como ascender fogueiras, como caçar, como produzir um remédio, etc) e um aprendiz que tinha a necessidade social daquele conteúdo. Neste processo de ensino-aprendizagem transmitia-se muito mais do que a mera informação técnica envolvida. O “professor” ensinava sua forma de fazer algo, seus gestos e atitudes, mas também seus valores, sua ética, sua visão de mundo. A educação era fruto de um grande contato pessoal. Nestas épocas o ato de “falar” bem era

mais importante do que escrever bem. A

escrita servia apenas para registrar os

acontecimentos históricos (1), Em muitos

momentos a escrita nem existia.

Com a era da industrialização em nossa

sociedade e a necessidade de “produzir

muitos trabalhadores” a educação passa

por uma sistematização, que visa a

produção em massa de pessoas “educadas”

para trabalho. Como o trabalho já não é

mais especializado, uma vez que na

indústria ninguém produzia um bem como

um todo, mas sim, fazia parte de uma eta-

pa de uma grande linha de produção, com funções fragmentadas (em oposição ao seu antecessor “trabalho artesanal”). Este educando voltado para o trabalho na indústria precisa ser uma pessoa esclarecida e ter boa base em matemática e linguagem, para que possa entender bem sua função e realizar com precisão sua etapa da produção de um bem. Ele precisa contar peças, classificar, registrar, fazer relatórios, ler manuais, operar máquinas... esta é a necessidade do momento em nossa sociedade. Nesta idade, com o surgimento da imprensa, que produz e divulga novas informações através de textos, surge uma grande valorização da escrita e da leitura. Neste momento histórico torna-se culto aquele que lê bem e bastante, que tem muita informação. Também aquele que escreve bem e será o agente da difusão de novas informações. A arte também se apoia na imprensa e muito do que anteriormente era transmitido oralmente passa para as páginas dos livros. A literatura desponta como a grande arte do momento. (a sexta arte, vindo após a musica, dança, desenho/pintura, escultura e o teatro). O texto escrito se mostrava como uma

excelente forma de registro das idéias e das

informações e invadiu o ambiente escolar.

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Alunos liam livros, liam apostilas, anotavam as informações em cadernos e realizavam provas escritas. Entretanto vale apontar que o desenvolvimento da escrita se mostrou como uma necessidade social devida a características específicas do modelo adotado pelo nosso e por alguns outros países, mas que não é fator “cinequanon” para o desenvolvimento social, uma vez que ainda hoje no mundo existem muitos países ágrafos, isto é, possuem línguas que não são representadas por nenhuma forma de escrita. São aproximadamente 3 mil línguas e apenas 110 possuem a escrita. (1) A nossa escola catalogou o texto escrito como lingua culta e o texto oral como lingua coloquial, erroneamente uma vez que temos no contexto social muitos exemplos de textos escritos em lingua coloquial, como cartas, bilhetes, recados, etc, assim como temos muitos exemplos de comunicações orais em lingua culta, como a fala de um professor universitário em uma palestra, a apresentação de um líder do governo em uma conferência da ONU, etc... Na cultura brasileira o texto escrito sempre

se mostrou uma excelente forma de regis-

tro de informações mas um meio fraco de comunicação. O brasileiro (que é nosso objeto de estudo, mas que não se diferencia muito de muitos outros povos) sempre se caracterizou por ser um povo muito comunicativo, criativo e afetuoso. A linguagem escrita formal se apresentou sempre como um elemento frio para a comunicação de ideias e emoções. A comunicação, exclusivamente por trocas textuais, é subtraída das possibilidades de uso de linguagens não verbais como gestos, expressões faciais, olhares, tons de voz etc.(2) Na educação, a necessidade de se “importar ou exportar” conhecimentos, muitas vezes não disponíveis no local ou no momento do indivíduo, fazem surgir as primeiras formas de educação formal a distância. Nesta modalidade de educação a distância, todo material informativo era enviado via correio para o aprendiz. Havia um “professor” que criava este conteúdo para impressão, mas aluno e professor nem se conheciam. Não havia vinculo direto, nem nas áreas cognitivas, físicas ou afetivas. O processo se baseava em auto estudo. Na sociedade a mídia escrita ganhava um “concorrente” baseado na mídia oral. É o crescimento do rádio como elemento de comunicação. Na fala, parte da interação não verbal é preservada, enriquecendo os elementos da comunicação. O rádio encanta os brasileiros e logo surgem noticiários, radionovelas e programas de entretenimento. Familias se uniam em torno do rádio para ouvirem e “interagirem” com aquela transmissão.

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Para Marcuschi (2003, p.17) “sob o ponto de vista mais central da realidade humana, seria possível definir o homem como um ser que fala e não como um ser que escreve”. … a escrita é derivada e a fala é primária... Não se trata com isto de colocar a oralidade como mais importante, mas perceber que a oralidade tem uma “primazia cronológica” indiscutível [Stubbs. 1980 (in 1)]. A educação a distância vê nessa mídia uma grande possibilidade de incrementar a comunicação. A educação via rádio ganharia em contato humano, sendo que o professor estava lá, falando, o que se aproximava muito mais do processo ensino aprendizagem original. A comunicação verbal e não verbal se complementavam e garantiam mais o envolvimento do aprendiz, que também contava com os materiais impressos para registro e acompanhamento,

para consulta e avaliação do aprendizado.

A tecnologia produz então um dos mais

revolucionários equipamentos de mídia e

comunicação, a televisão. A possibilidade

de transmissão de áudio, vídeo e texto

simultaneamente cativou a todos. A TV se

tornou objeto de desejo e em 2005 já estava

dentro de 90% dos lares brasileiros, segundo

o IBGE. Deste lançamento até hoje cresce

anualmente no Brasil o número de horas em

frente a TV, que neste ano de 2012 está em

torno de 5 horas diárias de audiência (média

nacional).

É claro que a educação notou o potencial

desta ferramenta multimídia para os

projetos de educação a distância e assim

surge um dos maiores cursos de educação a

distância do Brasil em relação ao número de

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de alunos atendidos, o telecurso, telecurso segundo grau e posteriormente telecurso tech, oferecendo cursos profissionalizantes. Assim como nos cursos via rádio, estes cursos via TV também possuíam material impresso de apoio, registro e avaliação. Com os recursos da TV, surgem várias iniciativas de vídeo cursos, não obrigatoriamente vinculados via emissoras de TV, mas sim gravados em vídeo tape, em CDROM e DVDs. A característica de autoestudo ainda se

apresentava em todas estas iniciativas e

restringia o sucesso nestes cursos para os

alunos com características autodidatas.

A internet entra no cenário social

brasileiro, em especial nos meios

acadêmicos e se torna um excelente modo

de troca de informações, mas não

acrescenta grandes novidades para o

mundo educacional, uma vez que apenas

permite a substituição de recursos. A

internet consegue em especial diminuir os

custos da comunicação!

Com o surgimento da WEB e em especial

da WEB 2.0 a sociedade entra em uma

nova experiência de interatividade

multimídia. Telespectadores se tornam

produtores, atores, editores de seus

próprios vídeos, que podem ser

compartilhados e vistos pelo mundo!

Textos podem ser lidos “em tempo real”,

onde o leitor pode acompanhar o processo

de criação do autor, podendo comentar e

dar palpite! Muitos fotógrafos e repórteres passam a contribuir com grandes portais de informação, construindo uma rede de informações maior do que das grandes emissoras. A rede de computadores que comentava ocorridos na TV, passa a ditar as manchetes dos telenoticiários. A educação consegue, através dos

recursos que surgem com o incremento da

WEB 2.0, encontrar sua identidade

dialógica multi nível, permitindo a

construção simultânea do conhecimento

com a colaboração de muitas mãos, nas

várias instâncias, passando pelos alunos,

tutores, professores de disciplina,

professores conteudistas, coordenadores

de curso, etc. As novas ferramentas

conseguem desverticalizar as relações da

sala de aula, tirando o corpo docente da

posição transmissiva de conteúdo e o

corpo discente da postura passiva de

receptores de informação.

A educação a distância consegue assumir o

conceito de educação em qualquer lugar,

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a qualquer hora (any place - any time), permitindo que alunos de localidades isoladas possam ter acesso aos melhores professores do país, ou mesmo de outros países, assim como que alunos que possuem uma dura rotina de trabalho e deslocamento casa-trabalho-casa, possam estudar em horários alternativos, permitindo uma democratização do acesso ao conhecimento e à educação de qualidade. No entanto, a nova tecnologia nos trouxe de certa forma ao inicio... Os cursos de educação a distância via web se apresentam essencialmente através de texto escrito, seja na leitura de material de estudo, seja na interação através de fóruns e chats.

A presença quase que exclusiva de texto trás a tona o afastamento linguístico professor aluno, uma vez que retornamos ao contato desumanizado. “O homem que fala...” passa novamente a escrever e ler. Não há comunicação gestual, não há entonação, ênfase vocal, expressões faciais. O aluno se sente estudando com um livro! Isto pode representar um dos motivos que causem a tão citada desmotivação e solidão sentida pelos alunos desta modalidade. Ao mesmo tempo, a geração WEB 2.0 permite múltiplos meios de atividades síncronas (any place, same time!), além de recursos de transmissão e diálogo com som e imagem. E você o que pensa disto?