A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon...

100
0 A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945)

Transcript of A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon...

Page 1: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

0

A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de

Agamenon Magalhães (1937-1945)

Page 2: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

1

MARIA AMÉLIA DE MORAES E SILVA

A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon Magalhães

(1937-1945)

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

graduação em Educação como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Edílson Fernandes de Souza

Recife

2006

Page 3: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

2

Silva, Maria Amélia de Moraes e

A educação judaica em Pernambuco na interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945) / Maria Amélia de Moraes e Silva .– Recife : O Autor, 2006.

99 f. : il. ; quad.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CE. Educação, 2006.

Inclui bibliografia e anexos.

1. Educação – História. 2. Educação Judaica. 2. Magalhães, Agamenon. I. Título.

37 CDU (2.ed.) UFPE 370.981 CDD (20.ed.) CE2008-0052

Page 4: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

3

Page 5: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

4

DEDICATÓRIA

A papai com tantas lembranças da sua paciência, tolerância e brincadeiras

singulares, porém tão ricas, que fez de você um homem especial.

A minha mãe Jeanet (querida), que com tanta responsabilidade, dignidade e

amor, que compartilhou a luta pela vida com seus filhos, orientando caminhos seguros

para serem seguidos.

Aos meus filhos, Rodrigo Cambará e Ana Terra, cúmplices na minha vida, que

com suas participações e compreensões, levam-nos a acreditar nas mudanças da

sociedade. Filhos carinhosos, belíssimos.

Page 6: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus familiares:

A meu irmão Zinho, que com sua bondade, solidariedade, vem cruzando meus

caminhos com toda responsabilidade.

Ao irmão Paulo, que no silêncio torce para que tudo dê certo.

À minha irmã Zita, que durante toda minha vida se responsabilizou pela minha

formação não só escolar, mas também de caráter, personalidade, solidariedade. É

inestimável tudo que fez por mim. Difícil escrever tantos momentos de felicidades

proporcionados por você. Agradeço, somente.

Ao Miguel, irmão que vivemos juntos infância e adolescência. Tendo como um

irmão muito próximo, por ter vivido tantos momentos juntos.

Ao Felipe, irmão que chegou depois de tanto tempo, mas que faz parte da

nossa família, completamente cheio de amor e carinho. Agradeço por muitas coisas

proporcionadas para conclusão deste mestrado.

Ao Humberto, por ter apresentado a Filosofia, a História, a Literatura,

transformando a minha vida intelectual, chegando até aqui. Obrigada.

A todos os meus sobrinhos queridos que torceram por mim.

Ao Prof. Dr. Sérgio Abranches que sempre motivou mudanças na minha vida

profissional, escutando com paciência as dificuldades da vida, e mostrando caminhos

pelos quais tenho possibilidades de mudanças.

Aos colegas de trabalho da Prefeitura do Recife, que com paciência ajudaram a

manusear, dando orientações sobre o computador, imprimindo textos e tantos outros

trabalhos que foram de grande valia para realização desta dissertação.

Page 7: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

6

À amiga Ranusa, que com sua solidariedade, bondade, compreendeu os

momentos de estudo, dando possibilidades à realização deste mestrado.

Agradecimentos a todas as pessoas que possibilitaram a realização das

entrevistas para que esta dissertação se tornar fundante.

Ao Prof. Dr. Edílson, orientador com virtudes superiores, conduzindo os

trabalhos de forma singular para chegarmos à conclusão dessa dissertação. Obrigado.

E a tantas pessoas que incentivam este momento, como as amigas

inestimáveis: Magali, Mônica, Lúcia, Alda, Joana D’Arc, Silvinha, Marines, Meri,

Wilsinho e Priscila amiga de fé.

Page 8: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

7

Os profetas são aqueles ou aquela que se

molham de tal forma nas águas da cultura e da

sua história, da cultura e da história do seu

povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora

e, por isso, podem prever o amanhã que eles

mais do que adivinham, realizam.

Paulo Freire

Page 9: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

8

SUMÁRIO

Dedicatória

Agradecimentos

Resumo

Abstract

INTRODUÇÃO............................................................................................................11

CAPÍTULO 1 NOVAS PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA, DA HISTORIOGRAFIA E DA EDUCAÇÃO................................................................................................ 16

CAPÍTULO 2 ESTADO NOVO - DITADURA DE GETÚLIO VARGAS (1937-1945) ...............................................................................................................23

2.1 A CONSTITUIÇÃO DA NACIONALIDADE ....................................................244

2.2 A NACIONALIZAÇÃO E A IGREJA .................................................................26

2.3 RENOVAÇÃO CATÓLICA ...............................................................................28

2.4 O DISCURSO EUGÊNICO BRASILEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX .........34

CAPÍTULO 3 INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES PERNAMBUCO...38

CAPÍTULO 4 IDENTIDADE E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE JUDAICA EM PERNAMBUCO.......................................................................................... 60

CONCLUSÃO........................................................................................................ 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 93

Page 10: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

9

RESUMO

Este trabalho destina oferecer elementos para a compreensão do estudo da Educação Judaica na Interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945), com a influência da formação da identidade ao chegar a Recife-Pernambuco-Brasil.

Enfocaremos as teorias que possibilitaram um diálogo entre História e História

da Educação, analisando o estudo sob a visão da Escola dos Annales – Nova História Cultural.

Para tanto, apresentamos algumas informações sobre o resultado desse

período de estudo, de pesquisa e reflexões. Nele tentamos descrever, no Recife- Pernambuco, dentro de vários contextos: o nacional, o local e um pouco do internacional.

Nele, procuramos demonstrar como se formou a Escola Judaica norteada

pela formação da identidade étnica-religiosa-cultural: a razão de ser, os aspectos que caracterizam e nortearam sua posição no país, principalmente em Recife, que é nosso foco de estudo, diante do processo que estava acontecendo, de anti- semitismo no país, e em Recife, o interventor Agamenon Magalhães, utilizando-se do seu Jornal Fôlha da Manhã para enfocar características, elementos fundantes, que espelhassem para a sociedade Pernambucana o perigo que representava o povo judaico.

Além do texto escrito, apresentamos ilustrações do período estudado que se

integram na proposta de análise teórica-metodológica da Escola dos Annales para o conhecimento da construção da Educação Judaica , oferecendo elementos para a compreensão do estudo na Interventoria de Agamenon Magalhães ( 1937-1945) com a influência da formação da identidade ao chegar a Recife-Pernambuco-Brasil.

Palavras Chave: Educação, Identidade, Judeus

Page 11: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

10

ABSTRACT

The objective of our dissertation is to present elements to comprehension of the Jewish Education is the intervention of Agamenon Magalhães (1937-1945), with influence of identity formation when in Recife-Pernambuco-Brazil. Were showed theories that possibilited a dialogue between History and History of Educacion, analyzing the study under the view of Annales – New Cultural History therefone, we introduced some information abaut the result of the research, study and reflection of this period. We described, in Recife – Pernambuco, in several contexts: the national, the local an a bit of the international. We tried to demonstrate how was formed the Jewish School by etnchal- religious-cultural identity formation: the reason of being, the aspects, that characterized and gave a parth to is positioning the country , especially in Recife, wich is our study focus, among, the process that was happening, anti-semitism in the country and Recife, the interventor Agamenon Magalhães, using his journal – Fôlha da Manhã – to show characteristics, major elements, that spread to Pernambuco society the dangeours that Jewish people represented. Apart from the written, we showed photografie that are part of knowledge construction of Jewish Education. Key Words: Education, Identity, Juwish

Page 12: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

11

INTRODUÇÃO

Page 13: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

12

A composição étnica e cultural do Brasil, atinente aos elementos afro-brasileiro

e índio, está bem deferida na historiografia brasileira.

Por isso ative-me à leitura em relação aos judeus devido à carência de estudos

e pesquisa em Pernambuco.

Percebemos que no eixo sul-sudeste há produção do conhecimento histórico

referente à presença do grupo etno-religioso judaico, de como se deu à integração na

sociedade, principalmente partindo da construção da educação congregacional e de

como esta se adaptou à ação do Estado, de suas leis e principalmente do Projeto

Político Pedagógico, na Interventoria de Agamenon Magalhães.

A concretização desse trabalho ganhou firmeza na medida em que foi possível

relacionar os estudos de como A Educação Judaica em Pernambuco, a frente de um

momento de um Estado totalitário, na busca da universalização nacional,

principalmente no aspecto educacional, tratando da imposição e utilizando vários

instrumentos de controle social, principalmente para com os imigrantes, no nosso caso

os judeus que se instalaram em Recife.

No decorrer do nosso trabalho discutiremos o papel da educação na instituição

do Estado Novo no governo de Vargas e em Pernambuco com o interventor

Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário

estadonovista com a ótica da unificação nacional.

Mostrando o contraste entre a universalidade e a identidade na História. A

universalidade necessariamente não prevalece sobre a identidade

Page 14: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

13

Interessa para esse trabalho a compreensão histórica dos papéis sociais dos

grupos étnicos, no nosso caso representado pelo judeu.

Em síntese, nosso tema está centrado na proposta de analisar o processo de

escolarização como elemento de constituição da identidade judaica em

Pernambuco.

No Capítulo 1, analisaremos as novas perspectivas da História, Historiografia e

da Educação; discutiremos o movimento dos Annales (1929), com a falência da teoria

positivista, que no século IX estava envolvida pela percepção cientificista.

O século XX traz novos debates acerca da educação, auxiliada por ciências

novas como a Psicologia e a Sociologia, trazendo novas ferramentas conceituais que

possibilitem tratar a análise dos objetos de uma forma mais ampla, envolvendo a

integralidade das disciplinas.

Com os temas levantados e abordados pela História da Educação, o uso das

fontes foi ampliando e pondo as fontes oficiais frente à problematização.

No segundo momento do mesmo capítulo, trataremos da Educação, com

pesquisa fundamentada na Nova Escola Cultural, que nos dá a possibilidade da

compreensão de que a escola não é a única via de inserção no mundo, pois também a

família contribui com uma dimensão imensurável na vida do povo judeu mediada pela

escrita, imagens e oralidade.

No segundo capítulo, a questão da constituição da nacionalidade, os

pressupostos históricos, através do pensamento totalitário de Jackson Figueiredo junto

com a Igreja Católica, abordavam a análise de como via o mundo neste período

histórico. Seguindo o projeto fascista de Francisco de Campos junto com a Igreja,

escreve um livro, detalhando os fundamentos que justificariam a criação de um estado

totalitário.

Page 15: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

14

Neste mesmo capítulo, trataremos de Renovação Católica, os seus princípios

fundamentais, que buscava nos anos 30 encontrar sua representatividade no novo

regime e como articular Francisco de Campos.

Finalmente abordaremos, para concluir esse capítulo, o Discurso Eugênico

Brasileiro no início do Século XX, que pensava na contribuição da imigração para a

formação racial e cultural da sociedade, principalmente o ideal do branco europeu. E o

judeu estava incluído nesta possibilidade de limpeza da raça brasileira.

No terceiro capítulo, a indicação será o Governo de Agamenon Magalhães,

diante da construção do Projeto de Nacionalização e Projeto Político Pedagógico e a

aplicação no estado de Pernambuco, principalmente no que refere o direcionamento

da educação, tanto da escola brasileira como as congregacionais, principalmente a

que estamos estudando – a judaica.

Enfocaremos o tratamento dado pelo Jornal A Fôlha da Manhã ao anti-

semitismo que permeava a nação devido ao surgimento do nazi-facismo com suas

preleções em relação ao judeu. E como Agamenon Magalhães se serviu da máquina

do Estado para instrumentalizar ações diante do controle dessa minoria étnica

instalada no Recife.

Utilizando meios de comunicação como o Jornal e afirmando que a propaganda

faz parte do governo, esta foi sua arma para catequizar os cidadãos contra os judeus e

de elaborar artigos denunciando atos da vida dos judeus.

Tendo ao seu lado intelectuais pernambucanos, que faziam parte da

Congregação Mariana e junto com a Igreja Católica, prestou um bom serviço ao

estado, decorrente dos cargos públicos ocupados , como ponto chave para a

execução do Projeto Político tanto local como nacional.

Page 16: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

15

A Igreja reclamou e retomou seu lugar no Estado, formando uma aliada,

principalmente nas questões educativas e cobrando o direito de participar da

educação escolar, como religião confirmada oficial.

Abordaremos a aplicação do Rato Studiorum, trazido pela Igreja Católica, e Os

Protocolos do Sábio de Sião, tido como racismo moderno, escrito na Rússia e

traduzido na Alemanha por Adolf Hitler como justificativa para perseguição e

atrocidades os judeus.

O quarto capítulo ponto fundamental da dissertação onde discutiremos a

Identidade e Educação na Comunidade Judaica, no período definido de 1937-1945.

Abordaremos como a educação congregacional se portou diante do sistema

ditatorial, principalmente na Interventoria de Agamenon Magalhães, que foi o fiel

escudeiro de Getúlio Vargas.

Adotou instrumentos de manipulação ao assumir o poder estadual, como a

publicação de jornais, programa de rádio, cinema, que servia para vincular suas idéias

e catequizações da massa.

Foi um momento complexo para os imigrantes e sua família oriundos de várias

regiões da Europa, quando foi exercida uma vigilância nas instituições as quais

pertenciam, isto quer dizer, controle das ações dos judeus.

Enfocaremos também as entrevistas feitas por pessoas pertencentes à

comunidade judaica em Recife sobre a formação da identidade e o processo de

vivência escolar neste período de estudo.

Espero que a dissertação sirva para compreender melhor esse povo e localizá-

lo no espaço geo-histórico brasileiro.

Page 17: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

16

CAPÍTULO 1 NOVAS PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA, DA HISTORIOGRAFIA E DA

EDUCAÇÃO

Page 18: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

17

Incursionar pela História da Educação exige estabelecer um referencial que

deverá nortear a possibilidade de interagir a História na História da Educação.

A História de Educação deve partir de um eixo exclusivo, dando possibilidades

de autonomia, em percorrer a História, procurando caminhos para atuar e discorrer em

História da Educação, incorporando categorias em outras áreas das ciências

humanas, para se compreender o passado dos fenômenos educativos, como a de

etnia, que é nosso caso.

Dessa forma, Galvão (2001, p. 25) nos demonstra caminhos de conhecimento

produzido pela História da Educação:

(...) a história da educação não se desenvolveu, em sua trajetória, como uma área de História, embora seu objeto fosse (seja) extremamente importante para se compreender o passado das sociedades. No campo da História, a educação tem sido, tradicionalmente, um objeto ignorado ou considerado pouco nobre, embora, com a progressiva influência da nova História Cultural, isso venha, aos poucos, mudando.

Não podemos, no entanto, conflituar a História da Educação, campo de

pesquisa, com a disciplina. Diante disso, a autora acima citada (2001, p. 16) afirma

que

A disciplina História da Educação, nascida no final do século XIX, desenvolveu-se, sobretudo nas Escolas Normais e nos cursos de formação de professores e não, como poderia supor, nos institutos de pesquisa de ensino da História propriamente dita. Sua história está, portanto, intrinsecamente relacionada ao campo da pedagogia que,

Page 19: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

18

desde o século XVIII começa a desenvolver em alguns países da Europa e nos Estados Unidos.

Será de fundamental importância analisar os pressupostos teóricos que dão

condições não só à integração, mas, também, um diálogo entre História e a História da

Educação.

Cambi (1999) afirmou entender a História da educação na sua justificativa com

a História. Após essa problematização é preciso fazer uma análise a partir das novas

abordagens provenientes da Nova História, para que possamos compreender esse

maior diálogo entre essas duas áreas do saber.

É a partir do século XIX que o fazer História encontra caminhos num mundo

completamente envolvido pela concepção cientificista. Período que representou o

domínio da Escola Positivista, e que nas pesquisas da historiografia foi o referencial.

O pesquisador era entendido só com o tratar dos documentos, sem nenhuma

relação pessoal com a pesquisa. Mostrando uma neutralidade que era o ponto

fundamental do pesquisador, buscando esse distanciamento com o objeto, o

pesquisador daria um grau de cientificidade ao estudo.

Muitos dos pressupostos da História Positivista, nas pesquisas realizadas pelos

historiadores passaram a ser criticadas e a História, não mais restrita à documentos

oficiais de cunho política.

Vislumbrando outros aspectos para pesquisas como o econômico, social e o

cultural da sociedade , aproximando a História de outras disciplinas.

A falência dessas teorias, no século XX, no campo da historiografia sofreu

profundas modificações com uma nova ótica de ver a História. Essas modificações

eram apresentadas com a fundação da Escola dos Annales, trazendo em seu bojo

novas possibilidades de compreensão em relação ao pesquisar, como admitir novas

fontes nos estudos da historiografia como: imagens, cotidiano, vestuários,

Page 20: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

19

alimentação, etc. tendo colocado um modelo diferente do estabelecido, tanto nas

academias quanto nas escolas.

Novas propostas surgiram como forma de compreender os objetos e os

métodos de se fazer história, dando possibilidades e gerando perspectiva teórica que

procurou estabelecer um diálogo com a História da Educação.

Os estudos concebidos pela Nova História Cultural, que é uma corrente

derivada do Movimento da Escola dos Annales Francesa, surgida na Europa desde os

anos 20, começam a influenciar os pensadores brasileiros durante os anos 30,

forçando uma renovação do pensamento histórico e social da realidade nacional.

Essa tendência na historiografia francesa exprimiu-se discretamente na Revista

Síntese e, durante os anos 20, mais francamente na revista dos Annales, durante os

anos de 1930 (MARTIN, 2000, p. 119).

A Revista dos Annales, fundada por Lucien Febvre e Marc Bloc, tinha como

projeto renovar a história, favorecendo a união das Ciências Humanas, dando

possibilidade de diálogos com as outras áreas de conhecimento, perpassando pela

possibilidade de uma prática interdisciplinar, e poder olhar sobre o homem em sua

pluralidade, não reduzindo ao que podemos dizer Positivista, baseada na narrativa, e a

serviço do Estado na construção de mitos e heróis. Sob a perspectiva da História

Cultural, sofreu mudanças tanto no campo das fontes e das técnicas de pesquisa

como das estruturas, fazendo uma revolução historiográfica.

A Historiografia estava vinculada neste período do século XX ao poder do

Estado e às relações de poder, assim, não tendo oportunidade para a realização de

novas pesquisas, como no campo das mentalidades, das estruturas e da cultura.

Page 21: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

20

Segundo Reis (1994, p. 19), os documentos se referem à vida cotidiana das

massas anônimas, à sua produtividade, à sua vida comercial, ao seu consumo, às

suas crenças, às suas formas de vida social.

Peter Burke, se referindo aos estudos de Lucien Febvre e Bloch, aponta as

necessidades impostas pelo mundo contemporâneo ocidental, ampliando o campo da

pesquisa historiográfica, assim escrito por Burke:

A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia do fato de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em sua maneira de sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido reflexo de jogos de poder, ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos poderosos. Fazer uma outra história na expressão usada por Febvre era, portanto, menos redescobrir o homem do que, enfim, descobri-lo na plenitude de suas virtualidades, que se inscreviam concretamente em suas realizações históricas.

Vamos nos deter em algumas especificidades da Escola, ou seja, A História

Nova (1929-1989), para obtermos a mudança de paradigma positivista para um

paradigma que, podemos afirmar, nos seus antagonismos a pluralidade.

A Nova História Cultural recusa a hipótese de um tempo linear, cumulativo e

irreversível defendido pelos pensadores tradicionais, forma esta de análise que ignora

um dos aspectos mais essenciais para interpretar a realidade: a contradição.

A realização desta pesquisa será desenvolvida teórica e metodologicamente em

estudos concebidos pela Nova História Cultural, que é uma corrente derivada do

Movimento da Escola dos Annales Francesa, surgida na Europa desde os anos 20,

forma de pensar que começa a influenciar os pensadores brasileiros durante os anos

30, forçando uma renovação do pensamento histórico e social da realidade nacional.

Erguendo-se contra a dominação da Escola Positivista, essa tendência na

historiografia francesa exprimiu-se discretamente na Revista de Síntese e, durante os

Page 22: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

21

anos 20, mais francamente na Revista dos Annales, durante os anos de 1930

(MARTIN, 2000, p. 119).

A Revista dos Annales fundada por Lucien Febvre e Marc Bloc, tinha como

projeto renovar a história, ou seja, eliminar a tendência à especificidade e promover a

pluridisciplinaridade, favorecendo a união das Ciências Humanas. Sob essa

perspectiva a História sofreu mudanças tanto no campo das fontes e das técnicas de

pesquisa como das estruturas.

A nova Historiografia propõe um caminho que privilegia as particularidades

nacionais e os recortes específicos, no nosso caso Agamenon Magalhães, com

contribuições para a compreensão do período principalmente no aspecto político e

cultural.

Os historiadores brasileiros motivados pela discussão que atribui enorme

importância ao conhecimento histórico do tempo presente, passaram a encarar com

maior segurança a possibilidade de contribuir, partindo de novas abordagens, para

melhor compreensão dos períodos mais recentes.

Segundo Reis (1994, p. 119), os documentos se referem à vida cotidiana das

massas anônimas, a sua produtividade, à sua vida comercial, ao seu consumo, às

suas crenças, as suas formas de vida social.

Diante desta pluralidade oferecida dos Annales, e confirmando como uma

revolução, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado aos documentos e

novas fontes que nunca foram utilizados, passaram a ser mais admitindo que toda

atividade humana tem história.

Todas essas modificações realizadas pelos Annales têm um ponto importante

para transitar nesta Teoria, tem uma forte ligação com a visão de mundo dos

indivíduos, como serão organizadas, compreendidas, para pontuar sua importância.

Page 23: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

22

Utilizamos fontes como: legislação, revista e jornais da época, entrevista

através da metodologia da História Oral, buscando apreender a subjetividade e o

comportamento acerca da temática judaica.

A entrevista realizada como um instrumento flexível que permitiu

esclarecimentos outros, com depoimentos de indivíduos que viveram ou não o período

indicado para o desenvolvimento da dissertação, porque necessitamos de informações

da continuidade da comunidade judaica, no caso, estabelecida em Pernambuco, para

observar a questão da identidade, que sempre se reportaram aos avós, pais, e

parentes.

Buscando a análise dos discursos proferidos pelos entrevistados e

considerando suas falas como fonte de conhecimentos de interação social, cumprimos

as exigências e os cuidados requeridos nas entrevistas, segundo Gomes (2004, p. 56):

� Respeito ao local e hora marcada,

� Garantia de sigilo e anonimato

� Respeito à cultura e valores dos entrevistados,

� Ouvir o entrevistado atentamente e estar aberto ao roteiro,

porém respeitar o desenvolvimento da mesma

Utilizamos à metodologia interativa, que em pesquisa, a abordagem não

necessita da utilização de um dado quantitativo quando este fizer necessário, para

uma maior e melhor observação do fenômeno, possibilitando a expressão e

compreensão do cotidiano dos sujeitos pesquisados (OLIVEIRA, 2005).

Page 24: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

23

CAPÍTULO 2 ESTADO NOVO - DITADURA DE GETÚLIO VARGAS (1937-1945)

Page 25: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

24

2.1 A CONSTITUIÇÃO DA NACIONALIDADE Pressupostos Históricos – Pensamento totalitário de Jackson Figueiredo

A instalação do Estado Novo – golpe de Estado em 1937, à frente Getúlio

Vargas, apoiado por grupos, com argumentação teórica e retórica da direita

conservadora, representada pela Igreja Católica, reassumindo seu papel doutrinário e

catequético e, de outro pelo Movimento Integralista Brasileiro liderado por Plínio

Salgado, inspirado nas idéias do fascismo italiano. Enfatizando um ideal brasileiro

tendo como pano de fundo o nacionalismo.

Em 1932, foi organizado um órgão que assumisse a divulgação e doutrina

tendo como suporte a ação prática, criou-se AIB – Ação Integralista Brasileira – como

lema principal “DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA”.

O Estado Novo sob os auspícios dos ideais nascido no bojo da Revolução de

30, tendo como princípio o desenvolvimento urbano, focando a industrialização em

detrimento a situação agrária em que vivia o país.

Servindo como bandeira para erguer a Nação, que vivia em diferentes

condições de desenvolvimento regionais e, com o pretexto decorrente de ameaças do

comunismo e do semitismo.

Vinculando idéias autoritárias e nacionalistas para a construção de um país

com um futuro promissor.

A semente de culminância de fatos que começaram ocorrer a partir dos anos

30, com os movimentos nacionalistas cruzavam mutuamente desde 1922, com a

semana de arte Moderna, da fundação do Partido Comunista - PCB , a sublevação do

Forte de Copacabana e a criação do centro Dom Vital, com a revista A ORDEM (RJ) ,

Page 26: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

25

nos anos de 1921 e 1922 respectivamente, junto com a Igreja Católica combatendo o

pensamento inimigo como o positivismo e o Evolucionismo.

A semente para culminância de fatos que começaram ocorrer a partir dos anos

30, ou seja, os movimentos nacionalistas se cruzavam mutuamente desde 1922.

Como a Semana de Arte Moderna, fundação do Partido Comunista Brasileiro

(PCB), a sublevação do Forte de Copacabana e a criação do Centro Dom Vital, a

revista A Ordem (RJ), nos anos de 1921 e 1922 respectivamente, junto a Igreja

Católica combatendo o pensamento inimigo como o Positivismo e o Evolucionismo.

Com pensamento nacional autônomo, despontando movimentos chauvinistas,

como principal elemento para erguer a nação.

Francisco Iglésias (1981) na análise do pensamento reacionário de Jackson

Figueiredo ao lado de Dom Sebastião Leme, observou que o lema predominante nas

suas obras: A ORDEM, subordinado aos princípios traçado pela Igreja Católica, fala-

se na recristianização do país, na contra - revolução, ou seja, no revigoramento da fé

e do trabalho da Igreja atingirá áreas cada vez mais extensas. Fundamentou a criação

do centro Dom Vital e a revista A Ordem, atuando de modo aberto e intenso na política

do país, de modo a marcar posições, transforma o Catolicismo em força viva, pela

convocação dos correligionários e pelo proselitismo, procurando estabelecer em nível

nacional um pacto dos correligionários e pelo proselitismo, procurando estabelecer em

nível nacional um pacto entre a Igreja e Getúlio Vargas

A ideologia da ordem e da tradição, negava a mudança, valores absolutos,

conservadores com visão estática, legando a Igreja o suporte da ordem, para

fortalecer a sociedade, diante da sua concepção hierárquica, derivada do conjunto de

elementos que constituíram a Igreja Católica.

Page 27: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

26

Francisco Iglésias (1981) nos estudos feitos sobre História e Ideologia, neste

período que antecede o estadonovista, afirma que Jackson Figueiredo afirmava que a

Reforma Protestante e a Revolução Francesa, para referir dois limites, teriam

quebrado a harmonia e a identidade do mundo (no mundo entende-se apenas o

ocidente).

Essas idéias promulgadas pelo intelectual Jackson Figueiredo ao lado da

Igreja, tiveram continuidade no pensamento de Alceu Amoroso Lima, dando

fundamentação na formação do Estado Novo, que o substituiu no Centro Dom Vital e

a frente da revista A Ordem.

Todo esse acontecimento entre 1931 e 1937 preparou o país para instalação do

novo regime sob a égide do gaúcho Getúlio Vargas, como ditador.

Enfocaremos nesse trabalho a construção da Nacionalidade Brasileira a partir

da análise de como a educação serviu de instrumento ideológico para elaboração do

Projeto Cívico-pedagógico que compunha um dos pilares do Estado Novo.

2.2 A NACIONALIZAÇÃO E A IGREJA

Projeto fascista de Francisco Campos

O projeto fascista de Francisco de Campos, que escreve um livro O ESTADO

NACIONAL, elabora com pormenor, detalhes dos fundamentos que justificariam a

criação de um estado totalitário, devendo substituir o estado liberal-democrático

justificando sua decadência.

Com o decreto de abril de 1931 que permitiu o ensino religioso nas escolas

públicas, ficou comprovado a fidelidade tanto do governo provisório e particularmente

de Francisco de Campos.

Page 28: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

27

Porém a Igreja questiona o ensino leigo e neutro, preconizado pelo Estado indo

de encontro a este tipo de ensino e propiciando a doutrina Católica nas escolas

públicas.

O primeiro Ministro de Educação e Saúde de Vargas, anterior a ditadura do

Estado Novo, Francisco de Campos, responsável pelas reformas educacionais na

década de 20, exercendo o Ministério da Justiça no período estadonovista, foi o

mentor intelectual do golpe de estado de 1937. Seu assessor Gustavo Capanema, o

substituiu e deu continuidade e consagração das reformas, estando à frente do

Ministério.

A questão educacional nesse período creditava instrumentos que possuía e

seria capaz de resolver os problemas de atraso, pobreza e da ignorância que assolava

o país.

O conjunto de noções e pressupostos que passaram a ser aceitos desde então

como consensuais na política educacional brasileira, os quais incluíam a idéia de que

o sistema educacional tinha de ser unificado em todo território nacional. Cabia ao

governo regular e fiscalizar a educação em todos os níveis.

Neste momento é dado essencial relevo ao problema de Educação Moral e

Cívica, isto é, da formação do caráter e do patriotismo.

Helena Bousquet (1984) descreve que em 1932,a revogação do decreto de

ensino religioso, favorecendo a introdução de disciplina de caráter técnico-científico,

denuncia como um dos fatores de laicização do ensino, principalmente com supressão

da cadeira de Educação Moral e Cívica seria criticado como um excesso de

racionalismo.

Simon Schwartzman (1984) ressalta a fundação em 1924 por Heitor Lira da

Associação Brasileira de Educação, tinha como principal função trazer à baila a

Page 29: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

28

questão educacional, pelas conferências nacionais, publicações de revistas e cursos

de diversos tipos. Cedo, porém as diferenças chegando até a polarização que se

estabelece entre os representantes do chamado Movimento da Escola Nova e da

Igreja Católica.

O Movimento da Escola Nova, estruturado em vários temas e de alguns nomes

de destaques na área educacional, como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo,

Manuel Lourenço Filho.

Simon Schwartzman (1984) destaca que a Escola Nova com um projeto

totalmente definido, defendia uma escola pública universal e gratuita e que deveria ser

proporcionada para todos, e todos deveriam receber o mesmo tipo de educação.

Caberia ao setor público, e não a grupos particulares, realizar esta tarefa; pela

complexidade e tamanho, por isto não seria o caso de entregá-la ao faccionismo de

setores privados.

Esta escola pública defendida pelo Movimento teria como princípios

pedagógicos o afastamento da transmissão autoritária e repetitiva nos ensinamentos,

prevalecendo um processo de ensino mais criativo e com menos rigor de

aprendizagem.

2.3 RENOVAÇÃO CATÓLICA

Os princípios fundamentais

A Igreja nos anos 30 já buscava encontrar seu espaço no novo regime, tendo

como articulador Francisco de Campos.

Neste momento da Revolução de 30 à Igreja se faz presente nos discursos

vigorantes e utiliza-se da revista A Ordem que, aclama os católicos para inferir uma

posição da Igreja na sociedade, afeito a sua hegemonia.

Page 30: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

29

O governo estabelecido promulga o decreto que permitiu o ensino religioso nas

escolas públicas, abolido desde a Constituição de 1891, porém a Igreja reclama para

si, autoridade do ensino religioso. O Estado contrapõem-se ao ensino neutro sendo

propício ao ensino religioso católico.

A Igreja participa nesse novo projeto de governabilidade reconstruindo seu

discurso, pois a educação, vista como uma área estratégica, no espaço institucional.

A Reforma na educação ocorria simultaneamente, a formulação e as ações

preparadas gradualmente às normas, regulamentos e projetos que atendessem a

totalidade do sistema educacional no país.

Mudanças marcaram neste período a Escola, devido a crescente

industrialização, revisando o currículo e introduzindo disciplinas técnico-científicas, é

denunciada pela Igreja com um dos fatores da laicização do ensino.

A Igreja faz denúncias sistemáticas utilizando, de publicações da revista A

Ordem, como um mostrador para análise do seu papel na educação, relatando

historicamente a sua condução da educação.

Aponta para um Estado secularizado após a revogação de decreto que permitia

o ensino religioso católico nas instituições públicas, ou seja, à descristianização do

ensino.

À frente do Centro Dom Vital, Alceu Amoroso Lima subleva-se contra o

Manifesto dos Pioneiros da Educação, que defende o monopólio estatal da educação,

a laicização e gratuidade do ensino, denunciando a falência da escola liberal,

implantado no país.

O Centro Dom Vital baseada na Ação Social Católica e definido com a mesma

idade da Igreja, professa “O trabalho de re-encarnação do Verbo na vida social”.

Page 31: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

30

Alceu Amoroso lima na revista A ORDEM, escreveu uma lista de medidas que

deveriam ser adotadas pela área de educação, mas em outras áreas do governo.

As partes referentes à educação são muito extensas, por isso a sua transcrição

será o necessário que nos interessa para o trabalho, no setor de educação:

� A seleção dos professores e das administrações em todo o país;

� Eleição de um conjunto de princípios fundamentais da educação no

Brasil;

� Publicação de uma grande revista nacional de educação na base de

princípios, com boa elaboração etc., e rigorosa exclusão do

ecletismo religioso;

� Defesa das humanidades clássicas nacionais e educação; latim e

grego, e sua incorporação no plano

� Ideologia de uma filosofia sã;

� Entendimento com os estados para uma uniformidade na orientação

educativa;

� Elaboração de um plano de educação nessas bases;

� Facilidades do ensino religioso em todo o país.

Com todas as medidas tomadas, poderemos realmente afirmar que o Ratio

Studiorium foi retomado e trazido para o período estudo e as ações aplicadas nos

departamentos de educação e escolas.

Explicitado desta forma a simbiose com a ideologia, perpassando pela

pedagogia e educação.

Schwartzman (2000), no artigo Tempos de Capanema, aponta que a Igreja não

era o único setor organizado da sociedade pretendendo se utilizar da educação como

Page 32: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

31

meio mais amplo, ligado a um projeto mais ou menos explícito de construção de um

estado nacional forte.

Também as Forças Armadas viam na educação um caminho indispensável para

um projeto nacional do qual se sentia responsável.

Cambi (1999, p. 382) ...o que caracteriza esta época, manifestou-se antes de

tudo como uma “estreita dependência da ideologia”, dos projetos de domínio,

organização e transformação do mundo social expressos pelas diversas classes

sociais, pelos grupos culturais etc.

Foi um período histórico em que o Estado firmou-se como Estado de Direito,

revestiu-se de ideologias estatais , principalmente para orientar e controlar todos os

níveis a sociedade brasileira, deixando claro que o governo tinha obrigação com os

seus cidadãos, protegendo-os de qualquer suspeita e ou agressão nacional.

O Governo Federal, Igreja Católica e Forças Armadas, havia um projeto

inspirado essencialmente na ascensão de suas doutrinas, que tinha como principal

meta à unificação da força moral da Igreja com a força física dos militares,com

mobilização nacional e que a educação jogava um papel central.

Todos os projetos governamentais mutuamente implantados com seus

parceiros neste período serviram de amálgama para realizar as suas propostas.

O embasamento da constituição da nacionalidade culminava com toda a ação

pedagógica do Ministério da Educação e Saúde, num esforço de concretização da

nacionalidade, elaborando um conteúdo nacional a educação, transmitida nas escolas,

por órgãos que teriam sua funcionalidade formativa.

Esse conteúdo nacional, não materializaria na busca das raízes mais profundas

da cultura brasileira, derivado do modernismo Andradina. Absorveu aspectos do

modernismo, regozijado da história mitificada dos heróis e das instituições nacionais e

Page 33: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

32

o culto à autoridade, ênfase no catolicismo brasileiro em detrimento de outras formas

religiosas. A uniformidade e estabilidade do uso adequado da língua portuguesa em

todo território nacional.

Vanda Costa (2000) destaca o aspecto da padronização. A existência de uma

“universidade-padrão”, de escolas-modelos secundárias e técnicas, de currículos

mínimos obrigatórios para todos os cursos, de livros didáticos padronizados, de

sistemas federais e controle de fiscalização, tudo isto correspondia a um ideal de

homogeneidade e centralização do “modelo napoleônico” instituído na França, após a

Revolução de 1789, que permitiria ao Ministério, de seu escritório no Rio de Janeiro,

saber o que cada aluno estava estudando, em que cada escola do país em um dado

momento.

Uma das grandes preocupações dessa nacionalização estava focada na

erradicação das minorias étnicas, lingüísticas e culturais que imigraram para o Brasil

nas últimas décadas do século IX e as primeiras décadas do século XX.

Este último aspecto da política de nacionalização xenófoba vai nortear a

composição literária deste trabalho.

Como descreve Vanda Costa (2000) durante o desfile do Dia do Trabalho no

Grêmio Esportivo Renner, Porto Alegre, 1937, o Ministério da Educação deveria criar e

executar um programa de desapropriação progressiva das escolas estrangeiras,

nomeando diretores brasileiros até a substituição completa dos professores

estrangeiros por nacionais.

O nacionalismo excludente da política autoritária do Estado Novo sentia-se

ameaçado de ser destruída pela ação de grupos estrangeiros, procurando desagregá-

los para garantir a unidade nacional, combatendo as influências nazistas e semitas.

Page 34: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

33

Diante da construção governamental da nacionalização, preconceitos e

estereotipo constituíam-se presentes, requeria um Estado Nacional, um ator coletivo,

tendo presentes formas “étnicas”, parecia impossível uma nacionalidade com

simultânea convivência de diferenças culturais.

Pela primeira vez, na história do país, o poder público, enfrenta o problema de

nacionalização dos imigrantes e seus descendentes considerado um “problema

nacional”, com a intenção de destruir as diferenças e proceder a uma seleção na

formação da cidadania brasileira.

Schwartzman (1984) nos estudos feitos neste período, à campanha de

nacionalização do ensino chegou ao seu clímax em 1938, com a formulação e

promulgação de um número substancial de decretos-leis destinados essencialmente a

deter a experiência educacional dos núcleos estrangeiros nas zonas de colonização.

Este aspecto teria um tratamento unilateral da Igreja Católica e do Ministério da

Educação, em relação a grupos estrangeiros, como auxiliar na reorganização com

cunho de um espírito de brasilidade as sociedades recreativas e culturais.

Bomeny (2000) trata das questões dos núcleos estrangeiros que emergia como

problema e obstáculo para aqueles que se atribulam a responsabilidade de pensar o

nacionalismo brasileiro desde o início do século, será redimensionada de forma radical

no contexto do Estado Novo. Parecia impossível construir uma nacionalidade com a

simultânea convivência de diferenças culturais. Construir o nacionalismo era ao

mesmo tempo, destruir as diferenças e proceder a uma seleção na formação da

cidadania brasileira.

Várias questões são levantadas com a conjuntura internacional como o nazi-

facismo e o anti-semitismo se confrontavam com as pressões homogeneizadas do

governo central, com autopreservação da identidade de grupos étnicos emigrados.

Page 35: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

34

O governo brasileiro durante um longo período não deu a atenção devida e

preocupação referente aos núcleos de colonização estrangeiros concedendo total

liberdade, para a criação de uma vida coletiva, formando sociedades recreativas,

hospitais, comunidades religiosas e as escolas.

No que diz respeito à escola, a Igreja não reconhecia o ensino religioso

ministrado em escolas não católicas, pois os núcleos estrangeiros tinham suas

escolas confessionais.

A nacionalização do ensino após 1937, ou seja, a formação política educacional

do Estado Novo, foi padrão o caráter excludente, repressor, contrário à convivência

pluralista e diversificada dos grupos étnicos estabelecidos no país, passando a refletir

como estranhos ao projeto de nacionalização.

2.4 O DISCURSO EUGÊNICO BRASILEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Os judeus provenientes do Leste Europeu se instalaram em algumas cidades

do país, Rio de Janeiro, São Paulo, e também Recife. Eram denominados de grandes

centros urbanos do país. Estas cidades baseavam-se na economia – indústria e

comércio – não trazendo nenhuma dificuldade para os judeus, pois possuíam

experiência no ramo por viverem em cidades e praticavam atividades comerciais.

Helena Ragusa (2001) aborda que até a década de 1930, o que se pensava no

Brasil a respeito da imigração era que fosse um favor de contribuição para a formação

racial e cultural da sociedade, especialmente se essa estivesse influenciada pelo ideal

do branco europeu. Após esse período o migrante, transformou-se num discurso

nacionalista e nativista, o que levou a criação de uma lei que restringia a entrada de

estrangeiros no país, destacando-se o judeu. O intuito desse discurso estava em

“preservar a raça brasileira”, sendo assim, no ano de 1934, foi elaborada uma lei que

Page 36: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

35

definia a estratégia de controle de imigração. A partir de então, o governo brasileiro

passou a ter autoridade total sobre a entrada de imigrantes, principalmente a dos

judeus.

No Brasil, a corrente Positivista se destacou, principalmente, nas duas

primeiras décadas do século XX, especialmente nas obras de Euclides da Cunha,

Oliveira Viana e Silvio Romero, retratam alguns dos postulados positivistas, como

determinantes da evolução histórica nacional.

Sílvio Romero um dos intelectuais, simpatizantes das idéias nacionalistas que

queriam encontrar uma identidade autóctone para a população brasileira.

Tais intelectuais, acima citados, foram influenciados pelas concepções

evolucionistas e teorias sociais européias, em meados do século XX, com a idéia de

branqueamento racial, na mentalidade brasileira.

Podemos perceber que estão presentes em suas obras as diferenciações

raciais como medida para evolução de um povo e também as condições climática e

geográfica, como fatores de desenvolvimento.

Para Cambi (1999, p. 381), a contemporaneidade é também a época da

educação social que dá substância ao político (enquanto a política é governo dos e

sobre os cidadãos).

Diante da citação do autor acima podemos compreender o regime instalado

desde os anos 30, sob a égide de Getúlio Vargas que imbuíu-se da educação social

para sustentabilidade do sistema governamental implantado no Brasil.

A questão judaica – um problema racial, devido ao racismo messiânico judaico

– que passa além da problemática imigratória dos judeus no país, buscando analisar

os discursos raciais e políticos proferidos no final do século IX, às primeiras décadas

do século XX, tendo o judeu como representação do fazer discurso.

Page 37: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

36

Dikoter (1988) explana que o discurso ao qual se refere, é o discurso da

eugenia considerado como um aspecto fundamental de alguns dos mais importantes

movimentos sociais e culturais do século XX, especialmente porque para alguns

países o ideal eugênico seria a solução para as políticas públicas que entre outras

coisas, almejavam uma limpeza étnica.

Os cientistas brasileiros, nas primeiras décadas do século XX, passaram a se

dedicar no uso que se faria das premissas eugênicas. O conceito principal era criar um

mestiço forte e saudável, tornando o tipo ideal, sem que sofresse interferência étnica.

A partir dessas premissas foram dificultadas entradas de alguns estrangeiros,

que pressionara os poderes públicos, através das elites de alguns países ocidentais,

de imigrantes de origens africanas, asiáticas e judia no país.

Na Europa se propagavam idéias a respeito do judeu, influenciando certa

camada de intelectuais, funcionários do governo brasileiro, assimilando, os quais

possuíam tendências nacionalistas, xenófobos a respeito da formação étnica do país.

Essa forte influência eugênica referente ao povo judeu, conduzia por manterem

suas tradições religiosas e culturais, e acusados de filo-semitismo, como sua imagem

associada ao comunismo.

As teses anti-semitas proliferaram em setores do governo durante a ascensão

do nazismo.

Os teóricos nacionais postulavam-se a formação de uma nação que tivesse um

padrão sociocultural mais elevado, porém no Estado Novo, alertaram-se pela

qualidade da formação educacional dos judeus que se transferiam para o país fugindo

do nazismo, e trazendo uma forte identificação com o ideário comunista e anarquista.

Essa vinculação com o comunismo poderia ser decorrente da vivência dos

judeus do Leste Europeu, que eram operários de fábricas e com isso imbuído dos

Page 38: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

37

conhecimentos intelectuais referentes à revolução industrial e proletários, muitos

deles faziam parte dessa intelectualidade européia.

Neste momento, a concepção dos teóricos prosélitos das idéias deterministas e

Darwinianas vigentes na Europa nazista, acreditava na existência de raças e culturas

mais avançadas no processo evolutivo.

Portanto, os fatos conjunturais e a ideologia reinante na época seriam

necessários alguns requisitos básicos, desde 1934, para entrada no Brasil, dos judeus

, como dispunham a trabalhar no campo e ter de comprovar capacidade de adaptação

à cultura brasileira.

Esses pontos dificultavam aos judeus sua entrada no país, porque

culturalmente eram vistos como inaptáveis por manterem inalteradas suas tradições e

costumes mesmo quando vivendo em outros países, e por formação, a maioria era

composta de trabalhadores urbanos.

Os judeus apontados como avesso a atividades produtivas, conseqüentemente

existiu empecilhos para sua entrada no país.

Page 39: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

38

CAPÍTULO 3 INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES PERNAMBUCO

Page 40: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

39

“Vim para realizar a emoção do Estado Novo”

Agamenon Magalhães

Em 3 de dezembro de 1937 assumi o governo estadual o Interventor Agamenon

Magalhães, afirmando que o golpe para Pernambuco foi uma renovação.

Restabeleceu a autoridade do governo, fortalecendo o poder central, estando à frente

Getúlio Vargas e, colocando nos estados interventores que pudessem ser seus

seguidores das ações que seriam implantadas pelo novo sistema governamental.

Andrade Lima (1976) afirma que Agamenon Magalhães, teórico e executor em

Pernambuco, chegaria a refutar como nocivas, às próprias liberdades consagradas na

Declaração Universal dos Direitos do Homem – assegurar todas essas liberdades e

dizer – “morra de fome “ –a essa democracia não darei meu voto, minha colaboração,

porque contra ela clama a minha consciência de cristão, minha cultura, clama o mundo

atual.

Dessa forma foi o Interventor, teorizante e praticante do regime, foi o doutrinário

mais fiel e mais ortodoxo da nova ordem. Portanto a busca desenfreada do “Consenso

máximo” na sociedade pernambucana, é de grande relevância para o interventor do

estado, procurando cumprir com as exigências do Governo federal.

Apelidado por Getúlio de “meu carrasco político”. Realiza um governo

considerado como um modelo a ser seguido pelos demais estados da federação.

Page 41: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

40

. Decisões e estratégias na educação

Para compor a Interventoria em Pernambuco, Agamenon aliou-se a Igreja

Católica com enfoque voltada para a recristianização da sociedade. A coligação entre

o espiritual e o temporal, assegurou intelectuais que faziam parte da Congregação

Mariana da Mocidade Acadêmica e a Liga para restauração dos Ideais, na época

dirigida pelo jesuíta hindu Padre Antônio Fernandes.

Citaremos alguns desses nomes: Etelvino Lins, na segurança, Manoel Lubambo

na Fazenda, Apolônio Sales na pasta de Agricultura e numa das pastas mais

importante para a implementação da ideologia Varguista, no Departamento de

Educação, Prof° Nilo Pereira, também redator-chefe do Jornal Folha da Manhã e líder

da maioria no Governo de Agamenon Magalhães.

Com a constituição desse pacto Estado/Igreja, ambos tinham como proposta

monopolizar a educação, eleita como veículo de reprodução ideológica (Bourdieu,

Pierre. A economia das trocas simbólicas).

Para Cambi (1999, p. 381), a contemporaneidade é também a época da

educação e de uma educação social que dá substância ao político (enquanto a política

é governo dos e sobre os cidadãos).

Diante do colocado acima ao assumir o cargo Agamenon, inaugurou o Jornal

Folha da Manhã, de sua propriedade, tendo como finalidade ser o porta-voz do seu

pensamento e da sua ação, trazendo claramente nas colunas por ele escrita os

princípios que orientariam a ação renovadora do Estado. Cotidianamente redigia,

demonstrando que a Imprensa é uma grande força social que não poderia ficar ás

Page 42: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

41

margens desse momento histórico, de um regime que coordena todas as ações

nacionais.

Nilo Pereira (1985) escreve que Agamenon tinha um poder de síntese de sua

doutrinação diária pela imprensa.

Defendia publicamente que a propaganda deve ser função do estado porque,

sem ela não há visibilidade, nem orientação. (Folha da Manhã 25.02.38).

Declara publicamente, que a edição Vespertina da folha foi o Jornal que fez

desde o primeiro número. Um Jornal para o povo, informativo e que circulasse em

todos os recantos da cidade, a começar pelos subúrbios. Jornal só de fatos e coisas

brasileiras, jornal de propaganda do Estado Novo.

Depois o objetivo não é comercial, por isso seu preço é baixo. A “Folhinha”,

conquanto informativa, é, por excelência um pregão de doutrina. Doutrina do Estado

Novo, que é uma atitude diante do conflito das culturas. Por isso afirmava que o

jornalismo faz parte do meu governo. (Folha da Manhã 25.02.39).

Observamos que nos escritos do Jornal Folha da Manhã, neste período,

marcado por um profundo sentimento anti-semita decorrente principalmente de

manifestações ocorridas na Europa renascida no governo do Chanceler da Alemanha

Adolf Hitler, renasceu a obra intitulada Os Protocolos dos Sábios de Sião. Redigido no

final do século 19, publicado em 1905, considerado um best-seller do antijudaismo do

século 20.

De fato, ao inovar o anti-semitismo, passando da forma religiosa a velha

acusação dos israelitas ter matado Cristo, para as acusações mais “modernas” de

cunho político-social, os Protocolos mostram a expressiva participação judaica nos

movimentos a favor do desenvolvimento social e político do ser humano.

Page 43: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

42

Tal transformação do antijudaísmo foi muito bem apreendida por um dos

maiores escritores da língua portuguesa, Eça de Queiroz (1845-1900), no artigo

israelita, Carta de Inglaterra, dos fins do século 19. Ao tratar da onda do anti-

semitismo fomentada na Alemanha pelo príncipe Bismarck.

Os Protocolos refletem a mudança – também não incitam o ódio aos judeus por

serem “deicida”, mas por serem fomentadores dos subversivos ideais iluministas da

Revolução Francesa, da liberdade política, do Marxismo, liberdade de imprensa,

direito do povo, sufrágio universal, direitos republicanos, a formação de fileiras do

exército socialista, comunista, anarquistas, sendo também responsáveis pela

sociologia, democracia, parlamentarismo, mudanças políticas e sociais que fizeram o

mundo progredir a avançar na busca do desenvolvimento humano.

Segundo Golgher (2006) a obra é atribuída a um “Sábio de Sião”, quando salta

aos olhos de ser de autoria de um indivíduo bem enfronhado nos temores das

agitações sociais assaltavam as privilegiadas elites dos reinos autocráticos cristãos da

Europa dos séculos 17,18,19.

Trata-se de uma falsificação criada na Rússia pela Okhrana ( polícia secreta),

que culpava os judeus pelas mazelas do país. Foi imprensa pela primeira vez

privativamente em 1897, e tornada pública em 1905. Foi copiada de uma novela do

século 19 escrita por Hermann Goedsche (BARRITZ, 1868) e alega que uma

conspiração judaica planejava assumir o controle do mundo.

A História básica foi composta por Goedsche, novelista anti-semita alemão,

plagiou a história principal de outro escritor, Maurice Joly, cujos diálogos no Inferno

entre Maquiavel e Montesquieu (1864) tratavam de um complô no inferno com o

objetivo de se opor a Napoleão III. O que Goedsche contribuiu de original consiste

Page 44: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

43

primordialmente na introdução dos judeus como conspiradores para conquistar o

mundo.

Os russos usaram grandes trechos de uma tradução para o russo da novela,

publicaram-nos separadamente como os Protocolos e alegaram ser os textos

autênticos. Seu propósito era político, fortalecer a posição do czar Nicolau II expondo

seus opositores como aliados dos que faziam parte de uma conspiração para dominar

o mundo. Assim os Protocolos é uma falsificação de uma ficção plagiada.

“De fato, a influência dos “Protocolos” na furiosamente antijudaica da ideologia

nazista esta registrado na “ Mein Kampf” – Minha Luta – de Adolf Hitler, o livro sagrado

do II Reich. Reza tal ideologia que o desenvolvimento da humanidade e resultado de

uma “luta de raça”, ou seja do conflito de sangue, entre a raça superior germânica

ariana, contra as raças inferiores, entre as quais se destacaria a “raça judaica”, a pior

dela, seguidos pelos povos mestiços, como os habitantes do Brasil, os ciganos etc.

Todas elas fadadas ao extermínio, ou na melhor da hipótese serem transformados em

escravos.1

Aqui no Brasil, os judeus foram recebidos e localizados em algumas regiões:

São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco que é nosso foco de

pesquisa, referente à formação e construção da identidade e, de como ela serviu de

suporte para a Educação e a formação da Escola Congregacional Judaica.

O governo estadual junto com a imprensa religiosa, levantou questões

referentes à vida dessa comunidade no Estado, se mantendo em vigilância contra a

presença do judeu que neste momento passou a ser indesejável junto à sociedade

pernambucana cristã.

1 GOLGHER, Marx. Por que devemos ler “Os Protocolos do Sábio de Sião”. Notícias. Fale Conosco.

Acessado em 31.03.2006.

Page 45: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

44

A Folha da Manhã como instrumento formador de opinião pública, passou a

elaborar textos com conteúdos anti-semíticos, conduzindo a população a ter uma

imagem negativa desse povo.

Tendo como um dos seus objetivos o de alertar para o que consideravam uma

“invasão judaica” em Pernambuco, afirmando que:

“A colonização judaica no Recife deve ser actualmente na proporção de 1 por

50 habitantes.

A maioria desses judeus possuidores de fortuna quatro a cinco vezes

superiores aos seus competidores nativos, estão aos poucos invadindo as profissões

liberais.

Proprietários do comércio médio do recife: preços-únicos, movelarias,

joalherias, fornecedores de material para as Usinas, prestanistas, traficando em todos

os ramos de atividade comercial, vão aos poucos drenando toda a pequena economia

local. Proprietários de bom número de prédios no centro urbano do Recife, em breve

senhores absolutos do comércio recifense, nada impedirá a assenção de Israel ás

classes sociais e â magistratura. A juventude sionista aqui nascida

Freqüenta e vai se formando em nossas escolas superiores.

Não obstante a interdição de funcionar a “HITCHIA” organização da juventude

sionista, os Clubes Israelitas funcionam livremente no Brasil (...).

O judeu-polvo d comércio e dreno do capital já não quer emprestar o seu ouro

aos Bancos regionais: o banco israelita no Recife garante aos iniciados o segredo dos

bons negócios.

A invasão dos judeus no comércio do recife não é uma lenda para uso dos anti-

semitas, a invasão judaica em Pernambuco é uma realidade”2

2 “Invasão Judaica de Pernambuco” in Fronteiras. Recife, agosto de 1938, p.4.

Page 46: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

45

Eventos só eram permitidos com a autorização do delegados do DOPS:

Figura nº 01

Esta ilustração mostra o Centro Israelita de Pernambuco, localizada na

rua da Glória,- Boa Vista , n 687 que na parte superior funcionava , com

promoção de eventos como: festas, reuniões que tratava dos interesses da

comunidade em Pernambuco.

Page 47: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

46

No piso inferior funcionava a Escola Israelita, que neste período ensinava

o primário e, depois os alunos(as) judeus seguiam para outras escolas como a

Escola Normal.

Neste período quando de interventoria , se houvesse necessidade de

promover reuniões ou outros acontecimentos, seria necessário informar ao

DOPS, como abaixo está citado :

Ilmo. Sr. Delegado da Ordem Política e Social

M.C. presidente do Círculo Israelita de Pernambuco, para os devidos fins, leva

ao conhecimento de V. As. Que está marcada para hoje às 20.00 horas na sede deste

Círculo a Rua D. Bosco nº 687, uma conferência sobre os últimos acontecimentos na

Palestina.

Saudações

Recife, 22 de fevereiro de 1938.3

Para que a conferência seja realizada a condição imposta :”que seja proferida

em português e assistida pela polícia”

Outras conferências foram proferidas e todas tinham de fazer a solicitação ara

acontecer à reunião. Eventos deste tipo só eram permitidos com a autorização do

delegado do DOPS:

3 Fonte: correspondência do centro Israelita para o delegado do DOPS. Prontuário funcional nº 413 –

DOPS –APEJE.

Page 48: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

47

Figura nº 02 – Passeio a Dois Irmãos

Esta imagem representa um grupo de alunos(as) judeus e professores que foram fazer um

passeio no Horto de Dois Irmãos.

Percebemos que é um grupo pequeno, pois a comunidade estava se formando em recife.

Page 49: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

48

Figura nº 03 – Horto de Dois Irmãos

Esta imagem enfoca alunos (as) do Colégio Hebreu Idish Brasileiro , acompanhadas com

professores , em um passeio ao Horto de Dois Irmãos, mostrando uma placa identificando o

nome do Colégio.

Todos esses passeios ou outros eventos em que os judeus se propunham a realizar, não

deveriam deixar de solicita para o DOPS, e assim obter a liberação.

Este relato abaixo, descrito, demonstra de como a interventoria tratava a comunidade

judaica nas suas atividades, tanto referente aos passeios e ou atividades de reuniões que diziam

Page 50: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

49

respeito ao que estava acontecendo na Europa, pois estávamos vivendo um período de guerra, e

que as perseguições eram muito fortes em relação aos judeus.

Ilmº Sr. Dr. Delegado de Ordem Política e Social

Parte

Cumprindo as vossas recomendações, assisti, hontem as 20.00 horas, na sede

do Centro Israelita de Pernambuco, a Rua da Glória, nº 215, a conferência do Sr. L.

H., Delegado do “Comitê Central de Socorro as Vítimas da Guerra”. Apresentado o

conferencista, usaram da palavra, o Dr. S.J., representante, neste Estado da Cruz

Vermelha Brasileira e J. B. presidente do centro israelita, nesta capital.

A conferência foi realizada em idioma espanhol sob o tema: Auxílio as vítimas

da Guerra. O orador descreveu os horrores da guerra atual, da necessidade de

amparo as suas vítimas, sem distinção e da situação de desespero em que encontrava

os milhares de judeus, espalhados pelos países ocupados. Lembrou que osmos, em

grande parte, sofrem, na Polônia, atualmente atrozes perseguições, sendo preciso que

todos os judeus se congreguem, no momento, para auxiliá-los. Citou que esse

movimento de coordenação vem sendo feito em todos os paizes das Américas.

Referindo-se ao Brasil, disse que aqui encontrava hospitalidade e garantias,

graças a sã política do governo. Condenou a política nazista, dizendo que si, para a

infelicidade do mundo a Alemanha triunfasse, todas as nações sentiram o má reflexo

da sua política e os Judeus, em particular, desapareceriam da face da terra.

Sem qualquer anormalidade, o conferencista encerrou o seu trabalho às 22.50

horas.

Page 51: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

50

Recife, 17 de janeiro de 1941.4

Figura nº04 – Colégio Idish Brasileiro

Esta foto define bem de como os judeus gostavam de retratar a sua história ,

como apresenta , os alunos (as) e personalidades que faziam parte da comunidade e

desempenhando seu papel na escola.

Todos os acontecimentos teriam que ser informado ao governo, para que este

enviasse uma pessoa com responsabilidade para relatar todo ocorrido em forma de

relatório.

Mostrando como os judeus deveriam se portar na cidade.

4 Fonte: “Parte” do investigador do DOPS.Prontuário Funcional nº413 – DOPS –APEJE.

Page 52: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

51

Mesmo passeios da Escola Judaica para Dois Irmãos, Praias teriam que pedir licença

e ter um acompanhante do DOPS para realizar o relatório ocorrido.

Isto implica que existiu uma vigilância nas Associações, Escolas etc.

Perseguidos pelo Interventor Agamenon Magalhães.

Para compreender o papel da educação em Pernambuco, como veículo de

reprodução ideológica, neste período 1937-1945, a escola a partir de então teria como

pressuposto formar no educando uma concepção de vida patriótica e cristã, cujos

pilares, estavam calcados no amor à Pátria e à Igreja. Ao serviço público caberia

veicular um discurso educacional – réplica do discurso político do Estado - no qual a

relevância dada ao aparelho escolar, como instrumento na formação de hegemonia,

substituiria qualquer possibilidade do uso da força para a legitimação do novo regime.

Cabia ao serviço público transformar em senso comum a nova política, assegurando o

consentimento, via persuasão.5

Porém muitas crônicas cotidianas da Folha da Manhã, propositadamente

argumentavam à acusação católica de que os judeus era um povo deicida: os

matadores de Cristo. Como tais, deveriam sofrer a expiação pelo terrível pecado, isto

por José campelo, contribuindo para alimentar a idéia de perigo “inerente”, a

comunidade judaica (ATAÍDE, 2001).

5 Pereira, Nilo. Seminário Pedagógico in Revista A Ordem, junho 1038, p. 15.

Page 53: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

52

Figura nº 05

Imagem mostrando os poucos alunos que deveriam estudar no Colégio,

mostrando uma disciplina, onde estão sentados para marcar este momento.

Observa-se a placa escrita em Idish na frente dos alunos, que está

demonstrando importância da sua cultura lingüística.

Page 54: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

53

O Colégio Hebreu , neste período histórico em Recife, teve que adaptar-se a

alguns exigências, pois estava existindo um Projeto de Nacionalidade referente a

Educação, que todos deveriam participar e cumprir algumas regras.

Para compreender o papel da educação em Pernambuco, iremos analisar o

Projeto Político Pedagógico como veículo de reprodução ideológica, neste período de

1937-1945, sendo colocada como foco de resistência à ideologia autoritária,

representada em Pernambuco por Agamenon Magalhães. Como interferiu na Escola

Congregacional Judaica e de como passou a funcionar num espaço, onde os

princípios norteadores deste projeto educacional seriam tradicionais, permeados com

os princípios integralistas: Deus, Pátria e Família.

Figura nº 06 Centro Israelita de Pernambuco

Page 55: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

54

Esta imagem fotografada de um ângulo transversal , dando possibilidade

de uma visão excelente da rua da Glória, e o prédio onde abrigava o Colégio Idish

Brasileiro.

CAMBI ( 1999, p. 382) ...esta época manifestou-se antes de tudo com uma”

estreita dependencia da ideologia” , dos projetos de domínio, organização e

transformação do mundo social, expressos pelas diversas classes sociais, pelos

grupos sociais, etc. Constituíram um pacto que estava explícito a colaboração com o

novo regime e com o Projeto político nacional, quanto à importância dos valores

religiosos como fundamental para consolidação moral da nação.

Toda a formulação desse Projeto Educacional, elaborado através do

Departamento de Educação do Estado, tinha em seu bojo um órgão controlador, que

deveria estar claro à diretriz nacionalista e católica, através de um novo modelo de

currículos, de programas de ensino, com o qual todo o país deveria estar em sintonia,

ou seja, num único projeto.

Se a sociedade moderna tem necessidades de ideologia e do jogo complexo

das ideologias para garantir no seu pluralismo dinâmico seu poder em coesão e em

organicidade, para garantir ao mesmo tempo liberdade de sujeitos, grupos, castas,

classes, povos, etc. e domínio orgânico sobre eles, então a dimensão pedagógica se

torna não só central, mas também carregada desta vontade de coesão, de unificação

social, mediante o papel mediante o papel de socialização que ela vem concretamente

exercer e assumir como sua própria tarefa (CAMBI, 1999, p. 382).

Na ótica do novo paradigma pedagógico a educação em Pernambuco sofreu

profundas mudanças, estando à frente Nilo Pereira, então diretor do Departamento de

educação. Organizou a “Cruzada de Renovação Pedagógica”, resultando num

Seminário que culminou com o Projeto Político Pedagógico.

Page 56: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

55

Em 1937, o Projeto Educacional revitalizou o Seminário Pedagógico. O

Seminário Pedagógico nesta conjuntura, transformou-se em instrumental formador de

um novo saber – por meio da manipulação dos programas e currículos educacionais -

junto ao professorado. Ao Seminário Pedagógico foi reservado o papel principal

(ALMEIDA, 1998, p. 17).

Assegurará a uniformidade de orientação do Corpo Docente, orientado para

utilização de textos em sala de aula, com encontros semanais. O Prof° Nilo Pereira,

que passou a exerceu fiscalização e controle do ensino no Estado e que a escola

situada como reprodutora.Suas funções foram de exercer controle e fiscalização do

Estado.

Toda essa nova situação ideológica, onde formulou as estratégias política,

educacional, social e cultural do Brasil, imposta pela Interventoria de Agamenon

Magalhães, investiu sobre a imagem social do imigrante judeu sendo apoiado pela

imprensa católica e oficial como doutrinamento.

Partindo desse quadro ideológico nacional, o Projeto Cívico-Pedagógico do

Ministro de Educação e Saúde, Gustavo Capanema sendo um dos mentores do

Estado Novo, como conseqüência da unilateralidade educacional. Pernambuco foi um

dos estados mais fieis à ordem vigente.

O Estado se sentia na necessidade de fixar, em leis, todos os detalhes da

atividade educacional, dos conteúdos dos currículos aos horários de aula. O ideal

seria, saber a cada momento o que estava ensinando cada professor em qualquer

parte do território nacional (SCHWARTZMAN, 1984).

Cambi (1999, p. 382) ...se a sociedade moderna tem necessidades de ideologia

e do jogo complexo das ideologias para garantir no seu pluralismo dinâmico, para

garantir ao mesmo tempo liberdade de sujeitos, grupos, castas, povos,etc. e domínio

Page 57: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

56

orgânico sobre eles, então a dimensão pedagógica se torna não só central, mas

também carregada desta vontade de coesão, de unificação social, mediante o papel

de socialização que ela vem concretamente exercer e assumir como sua própria

tarefa.

As instituições de ensino não poderiam crescer aos poucos e ir definindo seus

objetivos ao longo do tempo. Mais inaceitável ainda seria a idéia de que elas

pudessem evoluir formatos, modelos e conteúdos distintos. Não havia lugar para

incrementalismo e muito menos para pluralismo (BOMENY, 2000).

Com essa nova visão da escola instrumentalizada, deveriam ocorrer, no

universo escolar diretrizes para algumas disciplinas, os programas e currículos, os

livros didáticos, emergiam como instrumento de poder e veículo doutrinário escolares.

Na verdade como mostra a pesquisa de a (1994, p. 104 e ss) a motivação da

igreja para agradecer, naquele momento, a regulamentação do ensino religioso era

mais política do que educacional, fazendo parte da construção da aliança entre Getúlio

Vargas e a Igreja. A Igreja coloca o ensino da Língua Nacional em primeiro plano, uma

das regras do “Ratio Studiorum”.

Como apresenta Bortoloti (2004) o método de ensino intitulado Ratio

Studiorium, elaborado pelos jesuítas no final do século XVI expandiu-se rapidamente

por toda a Europa e regiões do Novo Mundo em fase de ocupação. Tendo como

principal objetivo levar a fé católica aos povos que habitavam estes territórios, os

jesuítas utilizaram-se deste método para catequizar, servindo duplamente aos

interesses do colonizador e da Igreja contra-reformista. O Brasil enquadrava-se neste

contexto, sendo terreno fértil para a implantação deste “PROJETO”.

O Ratio Studiorium fora pensado para ordenar as instituições de ensino de uma

única maneira, com vistas a permitir uma formação uniforme a todos que

Page 58: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

57

freqüentassem colégios, isso serviu perfeitamente para a comunhão Estado/Igreja de

ter uma base comum que serviria de suporte, em todos os lugares essas normas

deveriam ser seguidas a maneira como estavam prescritas no documento, em

coerência com os preceitos dos lados interessados.

Compõem-se de trinta conjuntos de regras, de um detalhado manual com a

indicação da responsabilidade, no desempenho, da subordinação e do relacionamento

dos membros da hierarquia, dos professores e dos alunos. Além de ser também um

manual de organização e administração escolar. A metodologia é bastante

pormenorizada, com a sugestão de processos didáticos para a aquisição de

conhecimento e incentivo pedagógico para assegurar e consolidar a formação do

aluno.

Neste período abordado de 1937-1945, onde vivíamos uma ditadura, esse

Projeto se inseri com um grau de fundamentação na busca destes princípios

elaborados pelos jesuítas desde o século XVI, retomando ao currículo que os mestres

deveriam ensinar e o modo como os assuntos predeterminados deveriam ser

abordados.

O uso deste Projeto neste período em que estamos estudando, o Estado foi

muito bem assessorado pela Igreja e intelectuais que faziam parte da Igreja, nas

Congregações e Ligas.

Portanto podemos perceber que o Ratio não era só um Projeto, mas um

rigoroso método de ensino, devendo ser seguido por todas as unidades de ensino,

para garantir a universalidade do trabalho dos mestres espalhado pelo Brasil.

A avaliação deveria ser feita diariamente pelo mestre, onde este deveria

observar o interesse do aluno, o engajamento e o desenvolvimento durante o

andamento das aulas. Os exames eram escritos, com possibilidades da realização de

Page 59: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

58

mais dois exames. A prescrição como deveria ser feita a correção dos exames

também estava no plano

No Brasil com o nacionalismo aberto e declarado, justificado na argumentação

do anti-semitismo moderno, ou seja, do complô político de dominação dos judeus no

mundo, desenvolveu linhas de interpretações para justificar os procedimentos que

achavam necessários para a negação de entrada de judeus no país.

Em Pernambuco, o Interventor fazendo do seu jornal mensageiro das idéias

anti-semitas, difundidas na Europa e trazidas para o país, levando a população a

apropriações de conceitos em relação ao povo judaico, tendo comportamentos

violentos, como apedrejamentos nos seus estabelecimentos de trabalhos, como: lojas,

livrarias, cafés e outros.

Seguindo a linha de Barroso, a Folha da Manhã trabalhava a idéia de que os

judeus se achavam infiltrado em todas as nações do mundo, sendo responsáveis pela

Revolução Francesa, Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, enfim, por todas

as comoções sociais, políticas e econômicas que haviam vitimado as nações

(ALMEIDA, 2001, p. 191).

Reproduzindo a infâmia nazista, a Fôlha da Manhã criticava qualquer

intervenção a favor da entrada de imigrantes judeus no Brasil, As reportagens sempre

terminavam com a advertência: “o que não serve para os outros [...]” (Fôlha da Manhã,

Recife, matutino, 27.11.1937).

O trabalho de construção da imagem do judeu pela Fôlha da Manhã fez emergir

mitos anti-semitas da Idade Média à Alemanha Nazista. Neste trabalho o jornal

codificou padrões de alteridade, em que estereotipo anti-semitas, reativados e

“identificados” como inerentes ao povo judeu, apontavam para a imagem do “outro”,

que deveria ser escorraçado do Brasil (ALMEIDA, 2001, p. 234).

Page 60: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

59

Foi momentos de grandes dificuldades que os judeus passaram principalmente

até a definição do Ditador Getúlio Vargas em apoiar os Aliados – Inglaterra, França e

Estados Unidos na II Grande Guerra Mundial, contra o Eixo – Japão, Itália e

Alemanha.

A partir desse momento a comunidade judaica tranqüilizou-se diante de atitudes

que poderiam ter acontecidos, no Brasil em relação às atrocidades difundidas pelo

mundo sobre o que estava acontecendo com essa comunidade na Europa.

Page 61: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

60

CAPÍTULO 4 IDENTIDADE E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE JUDAICA EM

PERNAMBUCO

Page 62: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

61

. Cultura, identidade e vínculo social

Os movimentos migratórios judaicos aconteceram no Brasil durante o período

colonial (século XVI-XVII), ulterior no período contemporâneo (século XX).

No período colonial das migrações judaicas, denominados de cristão-novos6,

foram perseguidos com a implantação do Tribunal do Santo Ofícios da Inquisição em

Portugal, tentavam estabelecer-se no Brasil (Pernambuco), como mercadores,

senhores de engenho, faziam empréstimos (agiotas) e se transformaram em rendeiros

na cobrança dos dízimos.

Com a vinda do Conde João Maurício de Nassau à Capitania de Pernambuco,

os judeus de origem portuguesa – sefaradim ou sefaraditas7 e holandesa foram

seduzidos por vantagens econômicas nos negócios de açúcar, estabeleceram como

comunidade8 e mantiveram sua identidade (liberdade religiosa). Muitos vieram a

declararem-se publicamente judeus, fazendo-se circuncidar e usufruindo privilégios

econômicos e sociais da época, pois se integraram à Companhia das Índias

Ocidentais, ou seja, ao comércio do além-mar.

Nesse período de domínio flamengo, supõe-se que as congregações que se

estabeleceram na Capitania de Pernambuco (Recife e Maurícea), construíram sua

6 SILVA, Leonardo Dantas. Uma Comunidade Judaica na América Portuguesa. Texto apresentado no

seminário O mundo que o Português criou Judeu convertido ao cristianismo. 7 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos - História Recuperada: a presença judaica em

Pernambuco. 2.ed. Recife: Edição do Autor, 2001. Judeus provenientes da Espanha, que após decreto de expulsão firmada pelos reis católicos em 1942, emigraram para Portugal e, em seguida, para os Países Baixos, Inglaterra, ou para o Norte da África, o Império Otomano, Itália e sul da França. Falam o ladino ou judeu-espanhol.

8 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História Recuperada: a presença judaica em Pernambuco. 2.ed. Recife: Edição do Autor, 2001.Grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa.

Page 63: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

62

Sinagoga ZUR ISRAEL – a primeira das Américas - provavelmente iniciada a

construção em 1638 e concluída em 1641, tendo como modelo à de Amsterdã

(Holanda). Localizada na antiga Rua dos Judeus, atualmente Rua do Bom Jesus, tinha

em anexo as escolas religiosas TALMUD TORAH – Escola para aprendizado

Talmúdico e estudos de Torá avançados - e ETZ HAYIN9 (KAUFMAN, 2001).

Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, aproximadamente em 1650,

os judeus dispersaram-se pela América. Muitos foram para a América central e do

norte, onde seria depois Nova York. No Recife, no entanto, foi onde existiu a primeira

comunidade no novo mundo.10

No período contemporâneo das migrações judaicas para o Brasil, ocorreu nos

períodos de 1910/1920 e 1930/1940. Formando gerações intermediárias, judeus

nascidos no Brasil. Essas migrações eram egressas da Europa Oriental,

principalmente do leste Europeu, constituída por judeus ashkenazistas11 para as

Américas. Registraram-se judeus de outras regiões da Europa Ocidental – Alemanha,

Áustria e Hungria (KAUFMAN, 2001).

9 http://www.ensinandodesiao.org.br/Abradjin/museu.htm ABRADJIN – Associação Brasileira dos

descendentes de Judeus da Inquisição TORÁ – literalmente, “guia”, orientação manual de vida outorgado por Deus com suas instruções. Intelecto e vontade Divina transmitida a Moisés e entregue ao longo das gerações; inclui a Lei Escrita e Oral (interpretação). Também conhecido como Pentateuco (os Cinco Livros, chamados a Lei de Moisés). TALMUD – uma das maiores obras judaicas, quase toda escrita em aramaico. Contém explicações da Lei Oral, baseando no Mishná - Foi compilado na Babilônia e em Jerusalém.

10 www.eifo.com.br/judbra3.html - O Portal da Comunidade Judaica Brasileira. Judeus no Brasil. 11 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História recuperada: a presença judaica em

Pernambuco. 2. ed. Recife: edição do Autor, 2001. Habitantes de Ashkenaz (Alemanha). Radicaram-se no noroeste e centro da Europa, como descendentes dos judeus RHENISCH (alemães) e falavam a língua ÍDICHE (judeu-alemã). A partir do século XV foram obrigados a fugir para o Leste europeu (Polônia, Lituânia e Rússia) e, após as perseguições czaristas, para a Europa ocidental, América e Israel.

Page 64: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

63

Figura nº 07

Mapa referente ao deslocamento dos judeus que vieram aportar no

Recife.

A linha que demonstra o caminha e a azul listrada , com uma zeta

apontada para o Brasil – Recife - Pernambuco

Page 65: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

64

Os do leste Europeu que migraram para as Américas, e em particular para o Recife,

trouxeram idéias radicalmente contestatórias, produzidas por intelectuais judeus, onde

encorajaram a procura de raízes judaicas nas utopias revolucionárias modernas (as

libertárias).12

Segundo KAUFMAN (2001) com o judaísmo libertário na Europa, proliferaram-

se dois movimentos de emancipação judaica, fundamentando-se: O primeiro

movimento na Sacralização do Judaísmo Cultura que propuseram formas de servir a

Deus, através de danças e canções e assim realizando uma intensa devoção em

detrimento do segundo movimento denominado se Secularização do Judaísmo

Religião, pois entre esses dois grupos os conflitos estavam em debates sobre a forma

de preservação e manutenção do patrimônio religioso e cultural.

Segundo o sociólogo, Michel Lowy cita:

Tanto na Sacralização do profano quanto da Secularização do religioso no pensamento judaico alemão, a relação entre utopia que atravessa, não é, como a secularização, um movimento único, uma absorção do sagrado pelo profano, mas uma relação recíproca que articula as duas esferas sem as abolir (1989, p. 26).

Em entrevista a Revista Francesa ELLE, a filósofa e escritora Elizabeth

Badinter, diante dos embates ocasionados pelo governo da França, em relação à

proibição da entrada de alunos nas escolas públicas francesas, de símbolos que

representem suas religiões, afirma que os membros de cada religião poderiam ser

12 LOWY, Michael. Redenção e utopia: o judaísmo libertário na Europa central: um estudo de afinidade

seletiva; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Companhia das Letras, 1989. Não apenas as doutrinas anarquistas (ou anarco-sindicalistas) mas também as tendência revolucionárias do pensamento socialista incluindo as que recorrem ao marxismo.

Page 66: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

65

leigos. O que quer dizer isso. Que fazemos passar a laicidade, o que é secular,

como superior. Nossas convicções são mantidas como algo da vida privada e

obedecemos à lei republicana. Não queremos substituir a lei neutra e secular por uma

lei religiosa. A religião é uma coisa privada, pessoal. Não pondo a religião como centro

de suas vidas, fazendo festas. É assim que os judeus leigos concebem suas relações

com a religião e com o Estado não impondo a lei religiosa sobre a lei secular.

Os judeus da Europa oriental, na sua vida secular, ou seja, fora do SHETEL13,

se ligavam ao movimento operário, mesmo que não desfrutassem dos mesmos

direitos dos operários franceses e ingleses, devido aos preconceitos mantidos naquela

sociedade em relação aos mesmos.

Essas comunidades, no final do século XIX, levavam uma vida que pouco

diferenciava dos modelos existentes nos séculos XVI e XVII, vivendo um judaísmo

duro como se vivessem no medievo.

O grande fluxo de emigrantes judeus da Europa Oriental para outros países

durante as últimas décadas do século XIX suscitou um caloroso debate entre

organizações e lideranças judaicas sobre a atitude adotada frente à emigração como

forma de resolver o problema judaico e aqueles que julgavam mais correto envidar

esforços para melhorar a situação dos judeus nos países em que estavam

domiciliados.

Todos concordavam, entretanto, que os judeus estavam forçados a emigrar não

somente por razões econômicas mas também devido às perseguições religiosas e

políticas a que estava submetidos e que freqüentemente afetavam suas condições de

sobrevivência (SORJ, 1997, p. 92).

13 Kaufman, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História Recuperada: a presença judaica em

Pernambuco – 2. ed. – Recife: Edição do Autor, 2001.Eram pequenas cidades espalhadas por toda Europa oriental, que abrigavam comunidades judaicas antes das migrações, espalhados pela Polônia, Ucrânia, Galícia e Bessarábia.

Page 67: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

66

A memória é a sobrevivência de um povo, sendo um dos traços do

relacionamento dos judeus com o mundo. A consciência histórica tem unido as

gerações que vão transmitindo a tradição como herança pessoal e coletiva.

A identidade de ser judeu, contudo é sempre uma definição complexa que

perpassa por filiação; como também o pacto com valores, crenças e uma história

milenar Os judaísmo é uma religião de continuidade – o ponto focal da vida judaica é a

transmissão de um legado através das gerações. Ser judeu é um elo na cadeia de

gerações.

Já os judeus da Europa Ocidental faziam parte da burguesia, se relacionavam

com vários governos e banqueiros do ocidente. Com o advento da Revolução

Francesa, com a nova Constituição, sentiam-se iguais aos demais elementos da

sociedade, confirmando sua condição, assumindo cargos importantes no novo

sistema. É interessante observar que desde o início o judaísmo baseou sua

sobrevivência na educação.

Paralelo a esse acontecimento, no Brasil, no final do século XIX e início do

século XX, as questões políticas e econômicas estavam num processo de

efervescência, ou seja, apontando para mudanças estruturais, que iriam conduzir o

país para nova fase na história, com o advento da Proclamação da República,

facilitando migrações de pessoas originárias do continente europeu, como os italianos

que se instalaram em São Paulo, devido à necessidade de mão-de-obra nesta região.

. Educação escolar judaica: vivendo e convivendo na cidade do Recife

A chegada em Pernambuco, com a organização e adaptação da comunidade

judaica se confronta com o governo do Interventor Agamenon Magalhães, no período

Page 68: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

67

de 1937 a 1945, com um Projeto de Nacionalização, onde o secretário de Educação e

Cultura do Distrito Federal, Francisco Campos, proclamava “A política de hoje é a

política de educação”, nela também compartilhava a crença na educação como

instrumento de transmissão de valores que permitiam a homogeneização e

disciplinamento dos homens e das sociedades.

Na escola pública, o ensino religioso era assegurado, de acordo com as

religiões de cada aluno, ainda que facultativa.

Diante destes acontecimentos, como foi definida uma “identidade” conhecida

como “judeu-brasileiro” e, de como interferiu na formação da educação

congregacional, que foram percebidas mudanças no patrimônio histórico e cultural

desse grupo e como se adaptaram as restrições legais impostas pelo Estado-Novo.

Na medida em que a formação da identidade judaica ao longo do tempo foi-se

diferenciando em grupos étnicos distintos, como os Asquenazi (da Europa de Leste e

da Rússia) que fincaram em Pernambuco, possuem mais de uma dimensão e que a

divisão cultural não se baseia em qualquer disputa doutrinária.

É importante compreender como ela se estrutura a partir de elementos que

definem o que é ser judeu e quem é judeu: é considerado judeu aquele que está ligado

a um povo, ou a uma religião, cuja identidade só se define a partir da relação com o

mundo. Ou sejam em cada tipo de sociedade o judeu tem posições, atitudes, papeis e

funções diferentes, condicionado que são as várias circunstâncias histórias

(DEUTCHER, 1975, p. 45 apud KAUFMAN, 2001).

No Brasil, paralelo a chegada dos imigrantes judeus, ocorria a Proclamação da

República, num quadro político-social e econômico, representado com o rompimento

Estado/Igreja, refletindo o jogo antagônico de forças conservadoras e modernizadoras

Page 69: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

68

e, provavelmente, facilitando abordagens constitucionais que o país passava a contar

com uma nova ordem jurídica (FAVERO, 2000).

Esse movimento migratório ocorreu principalmente no período do Estado Novo,

entre 1937 e 1945, tendo como acontecimento mundial a II Segunda Guerra Mundial.

Tem sido abordado por interpretações que dão ênfase ao anti-semitismo, preconceitos

e perseguições, adotados pela Interventoria do Governo de Pernambuco, nas análises

dos editais e reportagens da Folha da Manhã, que os elementos característicos do

anti-semitismo tradicional surgiram sobrepondo-se a outros tipos de anti-semitismo

moderno.

Page 70: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

69

Figura nº08

Imagem dos alunos (as) judeus no pátio do Colégio Israelita, com a participação dos

professores e outras personalidades que formavam a comunidade judaica em recife.

A Escola Judaica em Pernambuco começa sua atividade em torno de 1918,

denominada Ídiche Schul e que provavelmente aconteceram mudanças nominais das

entidades, talvez decorrente da instalação da Interventoria em Pernambuco, que trazia

em seu bojo o nacionalismo. Dando continuidade aos nomes das escolas judaicas, a

próxima denominou-se Colégio Hebreu Idish Brasileiro, Colégio Hebreu Brasileiro,

Page 71: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

70

Ginásio Israelita de Pernambuco, Colégio Israelita de Pernambuco, atualmente

Colégio israelita Moysés Chvarts.

É interessante perceber a nacionalidade dos nomes da entidade escolar neste

período, em virtude das novas leis federais, aos postulados estrangeiros. A lei dava

uma direção ideológica xenófoba, para um embasamento de um ideário nacional

desembocando na autenticidade brasileira.

Apesar das restrições legais impostas pelo Estado Novo, em Pernambuco

representado por Agamenon Magalhães, de falar em público, de ensinar, havia a

exigência de que os diretores de escolas particulares fossem sempre brasileiros,

assim como pelo menos a metade dos professores, e a mudança de nome de várias

entidades que judaica trabalharam e procuraram adequar-se às restrições e

funcionaram normalmente durante o período., ou seja, a escola “nacionalizou-se”.

Como mostra Lesser (1995) em seu estudo sobre migração judaica, e depois

sírio-libanesa e japonesa, é possível reconhecer padrões de estratégias para lidar com

o discurso da maioria e estas estratégias podem ser ativas e etnicamente afirmativas.

Seu estudo permite uma nova forma de entender a identidade e sua negociação entre

os grupos, a sociedade e o Estado, cujo discurso e ações nem sempre são os únicos

fatores determinantes. Nesse sentido, o conceito de identidade não é considerado

uma essência imutável que apenas responde a partir de um núcleo invariante, mas

como um processo de permanente negociação (sempre em diálogo com uma tradição

ou com um ponto de referência fixo) entre o grupo e o entorno, ou como permanente

reelaboração e diálogo em torno de um núcleo que se pode chamar de tradição.

Samuel Campelo (1939) discursava que o “universo escolar, os programas e

currículos e os livros didáticos, emergia como instrumento de poder e artículo

doutrinário”.

Page 72: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

71

O Livro didático no período do Estado Novo elegia-se a construção do saber

que não tivesse sua base, na transmissão e armazenamento do conhecimento e que

tivesse como diretriz a trilogia: Pátria, Catolicismo e Família.

Embora o discurso oficial entre 1937 e 1945 fosse próximo ao fascismo, a

sociedade não acompanhou esta direção, a cultura oficial não suplantou a cultura

popular e a mobilização patriótica não arregimentou a população, nem mesmo durante

a guerra (CYTRYNOWICZ, 2002).

As leis de restrição à imigração foram criadas visando somente segregar os

refugiados judeus. Pois, os que assustavam os teóricos do Estado Novo, afora a

presença cada vez maior na sociedade, era a visível qualidade de formação

educacional dos judeus que se transferiam para o país fugindo do nazismo. Além do

fato de que muitos intelectuais de origem judaica traziam da Europa forte identificação

com as idéias esquerdistas, que causavam urticária em quase todos os expoentes do

estado Novo (Jornal Historiando, 01.08.2003).

Os judeus chegados do Leste Europeu oriundos principalmente da Ucrânia,

Bessarábia, estabelecidos em Pernambuco formaram uma comunidade com Escola, -

(instituição de grande importância para os judeus) Cemitério e a princípio as orações

eram realizadas na própria residência.

Conheciam suas tradições. Sabiam de onde vieram e onde tinham deixado o

coração. Tinham um senso de identidade e orgulho.

A comunidade judaica, quanto à formação da identidade em novas terras, no

nosso caso em Recife, mostravam apego a uma tradição, que os ensina a praticar

cada ato de sua vida cotidiana de acordo com uma determinada maneira de ver que

os distingue do mundo que os cerca.

Abaixo explica esse apego a tradição judaica:

Page 73: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

72

A TORÁ foi o lar portátil do judeu, e ele conhecia sua paisagem, suas

montanhas e vales, até melhor que a paisagem do lado de fora de suas janelas.

TALMUD (Jerusalém em ruínas) os judeus estavam familiarizados com suas

ruas e pelos Profetas, e caminhavam na cidade dourada da mente.

É interessante observar que desde o início o judaísmo baseou sua

sobrevivência na educação.

O Rabino Chefe da Inglaterra, Prof° Jonathan Sacks, no texto “O Segredo da

Comunidade Judaica”, declara que não é a educação no sentido estrito e formal de

aquisição de conhecimento, porém algo mais vasto. Na verdade, a palavra “educação”

é inadequada para descrever a cultura de estudo e debate do Judaísmo, sua absorção

em textos, comentários e contra comentários sua devoção à instrução e ao

aprendizado a longo prazo. Se há um motivo condutor, um tema dominante

conectando as várias eras do povo de Israel, e a exaltação do estudo como valor

judaico soberano.

Isto significa que a paixão principal dos judeus foi o estudo. Afirmam os judeus

daqui de Pernambuco que nas Aldeias da Europa Oriental, o estudo conferia prestígio,

status, autoridade e respeito. Nestas aldeias não era importante só manter a lei mais

estudá-la.

Afirmam que a TORÁ que quer dizer, ciência, doutrina, religião, lei. Nome dado

à lei mosaica e ao Pentateuco, não era um código externo, mas uma disciplina

interiorizada, parte da identidade em si. Aceitam que o Núcleo da Tora Oral e Escrita

pode provir de Moisés, mas afirmam que a TORÁ escrita que existe hoje amalgamada

a partir de vários documentos

A TORÁ conhecida também como os cinco primeiros livros do Antigo

testamento Bíblico (os outros dois são Salmos e Profecias), foi transmitida por Moisés,

Page 74: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

73

diretamente de Deus e ensinada ao povo. Seu conteúdo foi compilado na íntegra, para

que assim ele jamais fosse esquecido e permanecesse imutável, mesmo com o

pensamento dos sábios que a transmitiram de geração a geração.14

A formação da identidade é uma coisa delicada. É a realidade interiorizada,

como nos vemos em relação ao mundo que nos cerca. Para a maioria das pessoas na

maior parte do tempo, a identidade não é um problema. É fornecida pela cultura

circundante e suas instituições. Para os judeus, no entanto, ela tem sido um problema

na maior parte dos tempos e dos lugares no decorrer de nossa história. O motivo é

simples. A identidade judaica não era fornecida pela cultura circundante, pois os

judeus era uma minorias num ambiente não-judeu.

Geralmente as minorias desistem de sua luta desigual para manter sua

identidade. Embora estejam baseadas em tradição, memória e hábito, gradualmente

se assimilam à medida que a tradição se enfraquece, e a memória se embota e os

hábitos são eclipsados por um ajustamento aos modos da maioria. Os judeus eram

diferentes, pois vivia sua identidade não como um acidente da história (que eles

aconteceram de ser) mas como uma vocação religiosa (que eles foram chamados a

ser). Eles recriaram o passado em cada geração sucessiva. Transmitem aos seus

filhos seu estilo de vida (SACKS, 2004). Os judeus compreenderam que era

fundamental a continuidade do judaísmo baseada sempre no educacional.

14 Definição de Tora. http://www.ipv.pe/millenium/sonial11.htm/2005.acessa em 21.03.2006.

Page 75: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

74

Figura nº 08

Imagem fotografada no Colégio Hebreu , com crianças judaicas e professoras,

demonstra mesmo com poucos alunos , preservando sua história para a prosperidade , pois faz

parte dese povo.

Ao chegarem à América, no Brasil e com destinos e portos incertos, alguns

resolveram abrigarem-se em Pernambuco, pois já habitavam alguns judeus em Recife.

Page 76: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

75

Com os estudos e pesquisa observei, que a identidade do ser judeu, é sempre

uma definição complexa, que perpassa por filiação; como também o pacto com

valores, crenças, uma história milenar.., e que o judaísmo laico não é propriamente um

movimento, mas uma visão de uma parte do povo judeu de que é possível viver o

judaísmo desvinculado da religião.

Há uma contradição que vários estudiosos e pessoas comuns, que fazem parte

da comunidade judaica, consideram que não há possibilidade de uma separa

ção dos movimentos aqui descritos.

A vida judaica está refletida de tradição religiosa, e é celebrada um Ciclo Anual,

a vida judaica está repleta de tradição religiosa, e é celebrada de feriados judaicos. E

os acontecimentos do Ciclo da Vida de um judeu que unem toda a comunidade:

� Berit milá – as boas vindas dos bebes masculinos à aliança através

do ritual da circuncisão.

� Zebed habbat – as boas vindas aos bebes do sexo feminino em a

tradição sefaradi.15

� Bar misvá e Bat misvá – a celebração da chegada de uma criança à

maioridade, e por se tornar responsável, dão em diante, por seguir

uma vida judaica e por seguir a halakhá.

� Casamento

� Shib’a/Luto – o judaísmo tem práticas de luto em várias etapas

(observada durante uma semana) chama-se Shib’a, a segunda

(observada durante um mês) chama-se Sheloshim e, para aqueles

15 Judaísmo. Wikipédia, a enciclopédia livre. 2005.

Page 77: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

76

que perderam um dos progenitores, existe uma terceira etapa, a

avelut yod bet chódesh, que é observada durante um ano.

Existem acontecimentos do Ciclo da Vida de um judeu que os unem toda a

comunidade.16

Freud declarou que as fontes insubstituíveis sejam características judaicas de

superar os obstáculos, a busca pela perfeição e a capacidade de ver o mundo como

este pode ser, não apenas como o é. Ser judeu é ser eterno caçador das infinitas

maneiras pelas quais podemos realizar D’us em nossas vidas.

Desta maneira, em Pernambuco, a comunidade judaica na formação de sua

identidade, trazida da Europa Oriental, em detrimento ao “movimento de secularização

do judaísmo religião“ deu ênfase ao movimento da “sacralização do judaísmo cultura”,

promovendo eventos em torno das datas religiosas e históricas, sem que ativessem

especificamente ao seu aspecto religioso (KAUFMAN, 2001, p. 191).

Dando continuidade ao parágrafo acima, referende ao movimento do judaísmo

cultura, resulta do desenvolvimento da cultura de um povo que podia assimilar as

influências de outras civilizações, sem, no entanto, perder suas características

próprias. Assim não admite modificações profundas na essência de suas liturgias e

crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos, conforme a necessidade do fiel.

Ver citação.

Interessante observar que Gilberto Freyre (1938) nas suas análises sobre o

judeu, afirma que é um ser móvel e, ao mesmo tempo, estável dependendo do vínculo

que viesse a estabelecer com o meio.

Corroborando as análises de Freyre (1938) as formas não-ortodoxas de

judaísmo geralmente defendem que os princípios foram evoluindo com o tempo e

16 Wikipédia, a enciclopédia livre, 2005.

Page 78: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

77

adaptado o judaísmo aos costumes locais, porém não admite modificações profundas

na essência de suas liturgias e crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos,

conforme necessidade do fiel.

Page 79: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

78

Figura nº 09

Esta foto representa várias gerações da Escola Judaica em Pernambuco desde

os anos 20, até os nossos dias.

Page 80: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

79

As entrevistas que foram analisadas e tiveram informações referentes de

como a interventoria de Pernambuco cumpriu suas determinações Políticas

Pedagógicas na Escola Congregacional Judaica, relação ao currículo, ao programa de

ensino, quanto à direção da escola que deveria ficar a cargo de um brasileiro, e a

composição de uns números de docentes brasileiros de deveriam fazer parte do corpo

da escola. Contribuindo principalmente para a compreensão do processo de

construção da identidade fora da região de origem e de como e de processe foi sendo

construído.

Foram sujeitos da nossa pesquisa 05 (cinco) judeus, que aderiram

voluntariamente o convite para a participação do estudo. Esses sujeitos cada um

contribuiu de uma forma para a realização desta pesquisa. O recorte que fizemos

entre os entrevistados foi de que cada uma nas suas especificidades históricas da sua

colaboração pudesse dar continuidade dar continuidade às respostas das

problematizações levantadas pelo projeto de dissertação.

Começaremos o processo de entrevista com perguntas previamente

elaboradas, porém dando flexibilidade a temas que os entrevistados achassem

importantes para o trabalho.

Denominei os entrevistados com nomes fictícios Bíblicos: Rute, Jacó, Raquel,

Rebeca e Ester.

Page 81: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

80

. Entrevistada - RUTE

Quanto à condição de ser judeu, respondeu que é um leque muito. O judaísmo

abarca várias formas de ser judeu, de se identificar com o judaísmo.O judaísmo não

se restringe à cultura, o judaísmo não se restringe ao Estado de Israel, acho que há

muitas representações.

Afirmou principalmente que o movimento juvenil, foi muito forte e a família foram

formadoras da identidade judaica. Também foi colocada além do aspecto cultural, a

identificação com o estado de Israel, ou seja, o Sionismo, como um elemento de

identidade, definindo o judaísmo, declarando que os pais são Sionistas.

Informou ainda que a comunidade de um modo geral nem sabe da contribuição

para o povo brasileiro, tendo o judeu como um estrangeiro. Porém, coloca que nos

dias de hoje já existem muitos trabalhos publicados, exemplificando: Anita Novinsky,

Leonardo Dantas, José Antônio Gonsalves de Melo, Tânia Kaufman, pelo menos

divulgados nos meios acadêmicos.

Acredita que existem idéias preconcebidas que não justifica, mais é mais forte

que a pessoa. Afirma a brasilidade e a pernambucanidade até quando interessar.

Quando não interessar é judia. Deixo de ser uma pessoa que trabalho e cumpro com

as minhas obrigações, pago meus impostos, então sou uma estrangeira.

. Entrevistado - JACÓ

Colocou que esteve em Israel, numa Universidade, que não era religiosa e que

mostrou a importância de coisas da religião que fossem transmitidas. Não de forma

Page 82: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

81

religiosa, mas entender aquilo que tinha na religião. Então foi introduzida na escola

uma disciplina denominada Cultura Judaica.

Ensina a simbologia judaica, ensina o ciclo da vida, ensina um pouco mais de

ética – todas as coisas que fazem parte da religião, a gente pode chamar de tradição.

Declarando que não fica voltado só para o Estado de Israel, com o Sionismo, não é

suficiente para a formação da identidade, principalmente de uma criança.

Ao ser perguntado, o que é ser judeu? Responde da forma tradicional, ou seja,

filho de mãe judia.

Informando que na sua família enquanto os seus avós eram vivos, viviam

realmente as tradições da forma trazida das suas origens. Depois questionou, dos

objetos que são pesados para utilização nas festas. E que atualmente, é feito de forma

diferente, dos tempos de outrora.

. Entrevistado - RAQUEL

Informou que no período estudado, existia um clima de perseguição, de

propaganda anti-semita, causando uma instabilidade na comunidade, pois o Brasil não

se definia, ou seja, entre os aliados e o eixo, ficava em cima do muro.

Lembra-se que foram momentos de muita intranqüilidade, e os judeus

preocupados com o que poderia acontecer, pois sabiam de fatos sucedidos na

Europa, muitos chegaram ao Brasil fugindo das perseguições nazistas, e que já havia

perdidos quase toda a família ou toda ela

Muitos seguiram para outros países que se diziam neutros, ou seja, fora da

guerra, perante a guerra imposta pelo nazi-facista.

Page 83: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

82

Disse que os pais sempre aconselhavam em não agrupar-se na rua, por que

poderia chamar atenção da polícia. Pois sempre havia alguém procurando fatos para

comprovar toda história que se envolveram os judeus. Levantando fatos desde o

Semitismo Medieval até ao argumento Moderno.

. Entrevistado - REBECA

Informou que foi criada nas crenças do judaísmo. Praticando os rituais com sua

família, todas as etapas do Ciclo da Vida.Interessante que no dia da entrevista

coincidiu com uma comemoração sobre o Dia Internacional da Mulher, que um grupo

de mulheres judia se reuniu para esse evento. Teve palestras sobre a condição da

mulher desde a antiguidade e o processo de evolução feminina.

Antes de a palestra começar, iniciou-se um ritual com o acender de um

cadelabro de (09) nove velas, e uma judia colocou na cabeça um véu fazendo a

oração em Idish. Percebi que quando deu a hora, quase todas que haviam esquecido

de pedir para acender o candelaro, ficaram ligando para as suas casas solicitando o

acender o candelabro.

Não estudou no colégio de Pernambuco, foi criada em São Paulo, porém não

estudou na escola judia, neste estado. Os seus filhos todos estudaram no Colégio

Israelita, participando de todos os eventos vivenciados na escola. Portanto afirmou,

que contribui para a construção da identidade judaica,mas principalmente a família, e

a freqüência na Sinagoga.

Ao ser indagado sobre algumas lembranças desse período do Estado Novo,

respondeu que era pequena, porém lembrava que o pai, comprou um revólver com

três balas: um para ele, outra para a mãe e outra para ela. Conversando em casa,

Page 84: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

83

falou que não permitiria acontecer algo semelhante do que estava ocorrendo na

Europa.

.Entrevistado - ESTER

Esta entrevistada viveu realmente o período de estudo. Com toda

disponibilidade respondeu, levantou questionamento sobre a ação do governo

totalitário de Agamenon Magalhães.

Foi uma das entrevistas mais flexível, por ser uma pessoa com uma grande

eloqüência e de um conhecimento sobre seu povo, impressionante!

Começou falando do hebraico utilizado pelos judeus na diáspora (saída dos

judeus do Egito como escravo). Por que o hebreu depois da diáspora ficou uma língua

morta. Sendo a língua das escrituras sagradas em hebraico, portando voltou-se o

hebraico, porém tinha o Idis como dialeto.

A definição de Idiche _ Língua falada pela maioria dos ashkenazitas originário

da

Europa Oriental. Escrevem-se caracteres hebraicos. Componentes

Principais: alemão medieval da região do Médio Reno, aramaico e hebraico,

além de elementos eslavos, franceses e italianos. O Ídiche moderno desenvolveu-se

durante o século XVIII. Sua forma literária sofreu alterações na primeira metade do

século XIX nas cidades da Diáspora da Europa Oriental, à medida que proliferavam

jornais e revistas, estimulando ainda o comércio secular de livros em Ídiche.

Em fins da década de 1930, era o idioma principal de cerca de 11 milhões de

pessoas.17

17 KAUFMAN, Tânia, Passos Perdidos - História recuperada: a presença judaica em Pernambuco. 2.ed.

Recife: Edição do autor, 2001.

Page 85: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

84

Explicou que existem regiões na Alemanha, que os judeus falam o Idis, o

dialeto, como na região do Reno.

Informou que na Escola em Pernambuco estudou Idis, e muito pouco hebraico,

por que não tinha o Estado de Israel. Portanto só existia nos livros sagrados e não na

comunicação do cotidiano, que era o Idis.

Lembrou que na Escola tinha prof. de Idis e tinha livros, todos em Idis. Vindo da

Argentina que tinha várias editoras, pois existia uma comunidade por lá.

Os estudos na escola, era a História Judaica, Eram capítulos de história judaica,

feitos para o nosso alcance por que éramos crianças. Eram textos didáticos, como

você aprende na cartilha...importante, todos em Idis, sem tradução.

Explicou que a metodologia era até avançada para a época. Você via em Idis a

figura, como um gato, depois você juntava as frases...e depois estudava a História

Judaica já no texto...até por que se falava o Idis muito em casa.

Quanto às questões culturais relatou que vinham grandes artistas da Polônia,

renomados nos seus lugares de origem.

Lembrou-se que tiveram um ator turco, que dirigiu o teatro local, e todos os

membros da comunidade faziam parte. Algumas peças eram necessárias serem em

Idis, e fazíamos em português.

Fazíamos balé clássico com música erudita com fundo musical... afirmou que

tem música em Idis até hoje.

O currículo escolar exigia o dialeto Idis, e não havia nada oficial de restrições...a

escola era oficializada...era uma escola de comunidade judaica, onde se ensinava Idis,

Português, Matemática, Geografia, História...preparávamos-nos para fazer o exame de

admissão, pois a escola judaica chegava até a 4ª série, tendo que migrar para a

Escola Normal, Era acrescido ao currículo o Idis, e algumas coisas em hebraico.

Page 86: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

85

Perguntei se a História dos judeus poderia ser chamada História de Israel?

Responde que não. Israel é um Estado...se formou depois...os judeus têm história

antes de Moisés... Israel é a institucionalização do Estado.

Quanto a Bíblia na escola, colocou as datas, tudo do judeu é em função da

escravidão do Egito, é uma História de libertação. Todas as nossas rezas são em

torno de libertação, em relação ao nosso Deus, que é um Deus de liberdade, não um

Deus bravo ... oferecemo-nos a ele, não pede...eu lhe oferto meu Deus...

A religião é vinculada há acontecimentos históricos, da natureza, de plantações,

de colheitas e agradecer a Deus...tem todo um ritual, oferecimento a Deus e não de

pedi...

A Bíblia...o Antigo Testamento, é para nos... consideramos que o mundo é

conturbado...O Novo Testamento... Cristo na época, dada à história, os romanos

vieram, fizeram a negociação com os macabeus18 e traíram e ocuparam e jogaram

todos para fora do templo...então...isto é histórico e a grande dor que você perdeu o

Templo e foi para a diáspora...então a Bíblia conta isto historicamente... e gente reza

no muro pela volta...e as nossas celebrações são de liberdades... é como o

catolicismo, tem hoje a teologia da Libertação...

A se reportar para a escola coloca que não havia punição...e não tinha

necessidades...a própria família, tinha seus valores, era aquilo que você queria, era o

que podia aspirar....a escola mudou muito...casamentos mistos...mudanças de valores.

Não existe pureza da identidade, da escola hoje...têm as mudanças, os

diretores que são comprometidos com os valores e têm as pessoas que transgridem...

A 1º geração dos pais, a 2ª a minha...existia uma pureza dessa identidade,

dessa cultura.

18 Macabeus – relativo aos indivíduos dessa família sacerdotal judia, originária do Sumo Sacerdote

Matataias Macabeu que se rebelou contra o helenismo e o domínio Sírio em 168 a.C. e reinou a palestina de 142 a.C. e 63 a.C.

Page 87: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

86

Afirmou que estudava a Bíblia, o Antigo testamento...mas para as crianças, a

coisa era lúdica...Era no sentido de aproveitar o bom, não de sacrifício. Foi uma

geração que teve muita criatividade, temos sociólogos bons...temos várias escolas...

Tem uma coisa que valorizamos...colocamos na cabeça que judeu não pode ter

propriedade...por que põe na cabeça tudo, que ele pode sofrer mudanças sociais e ter

que mudar de país...que migrar como sempre aconteceu... o judeu tem que ter na

cabeça coisas que você leve em todo lugar, para poder usar...

Levamos nossa cultura...nossa identidade...nossa história, coisa que pode

produzir os seus conhecimentos....

Perguntei sobre o período estudado, respondendo que não se percebia nada,

porém eles tinham Plínio Salgado, que era integralista e anti-judeu, então nos

reservamos aos nossos ambientes. Não podia ficar conversando na rua, porque

podiam pensar alguma coisa.

Nossa coletividade tinha uma norma, nós não tínhamos ninguém interessado

em política na época, por que não tínhamos representatividade, não tínhamos

liderança, não adianta judeu com dinheiro sem poder... É melhor não ter dinheiro e ter

poder, pois maneja mais, é como funciona.

Acredito que por falta dessa representatividade, Agamenon Magalhães não

considerava a gente, nem um perigo nem um risco para a vida dele...não consta, que

meu pessoal não era naturalizado, nunca sofremos..

A diferença entre brasileiro judeu e um judeu-brasileiro, é uma questão de

nascimento? Ele nunca deixa de ser judeu por que por esses valores...a identidade

judaica...é uma coisa difícil de ser entendida. É judeu mesmo. Ele nunca vai deixar

seus valores, sua identidade, por que nasceu aqui, nos Estados Unidos, na França ou

em outros lugares.

Page 88: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

87

Quando o camarada não tem esses valores a própria comunidade o descrimina,

você morre lutando por esses valores...você foi discriminado toda vida...sobreviveu por

esses valores.

Page 89: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

88

CONCLUSÃO

Page 90: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

89

O povo judaico, no período contemporâneo, ou seja, no segundo movimento

migratório de 1910/1029 e 1930/1940 contracenou com a Ditadura de Getúlio Vargas

(1937-1945), imprimiu normas e leis para a vivência e convivência deste povo no

país.

Chegaram do leste Europeu imbuído de um judaísmo libertário da Europa,

proliferaram-se movimentos de emancipações.

Neste período foi elaborada a constituição da nacionalidade e a Igreja,

vinculados ao projeto fascista de Francisco de Campos, a Renovação Católica que

vinha com toda força em busca de seu espaço no novo regime, tendo como articulador

o próprio Campos.

A Igreja fez presente nos discursos através da revista A ORDEM, aclamandos

os católicos para essa nova visão de mundo.

No projeto de nacionalidade como pensava Silvio Romero, queria encontrar

uma identidade autóctone, para a população brasileira. Influenciados os pensadores

brasileiros pelas concepções evolucionistas e as teorias sociais européias.

Assim, a questão judaica, tornou-se um problema racial, decorrente do racismo

messiânico-judaico, que nas primeiras décadas do século XX, tem o judeu como

representação do discurso nacional.

Em prol deste discurso, o ideal eugênico servia de solução para as políticas públicas,

que almejava uma limpeza étnica.

Page 91: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

90

Desta maneira foram dificultadas entradas de estrangeiros no país,

principalmente os judeus. Influenciados pela idéias, vindo da Europa, o governo

brasileiro, adotou tendências nacionalistas, xenófobas a respeito da formação étnica

do país.

Os judeus acusados de manterem suas tradições religiosas e culturais e de

filo-semitismo.

Uma das grandes preocupações do governo é que os teóricos alertaram-se

pela qualidade educacional dos judeus, trazendo em seu bojo um ideário comunista.

Afirmavam que os judeus não teriam condições de adaptação à cultura

brasileira, e o desinteresse pelo trabalho no campo.

Era voz única no governo, que o povo judeu era averso a esse tipo de trabalho,

preferindo a região urbana, pelo seu passado histórico que definia um povo só com

condições de serem comerciantes.

Quanto ao período de Agamenon Magalhães, teórico e executor em

Pernambuco. Doutrinário fiel da nova ordem, buscando um consenso máximo na

sociedade pernambucana.

Fundou um Jornal denominado Fôlha da Manhã, no mesmo dia em que

assumiu a interventoria, sendo porta-voz, do seu pensamento e das suas ações,

trazendo os princípios que orientariam a ação renovadora da instauração do estado.

Jornal subjugado a propaganda, afirmava que deve ser função do Estado, a

utilização desse meio de comunicação.

Este período da Folha inferindo, marcado nos escritos um sentimento anti-

semita decorrente de manifestações oriundas do continente europeu.

Quanto à educação judaica, tendo como representatividade, grêmio,

associações, escola, banco, etc. viveram momentos de intensa preocupação,

Page 92: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

91

decorrente da posição tanto do governo federal com estadual, principalmente em

Recife, com o DOPS, deveria sempre fazer comunicações sobres suas atividades

realizadas pela comunidade.

Bem, com pesquisas de prontuários referentes a solicitação de realizações de

reuniões no Círculo Judaico, ou em passeios realizados pela Escola Judaica,

constatamos que existia um cuidado do governo estadual de vigilância da

comunidade judaica em suas ações, deixando claramente que só poderia acontecer

com a presença de alguém para o escrito do relatório dos fatos ocorridos nas

reuniões ou em outras situações.

Quanto aos movimentos ocorridos, oriundos do leste europeu com o de

Sacralização da Cultura e Secularização da religião, podemos concluir diante das

entrevistas dadas, que não pode existir uma separação ortodoxa entre a cultura e a

religião.

Assim, um depende do outro para sobreviver, e sozinhos seriam impossível

existirem.

Percebemos que a Secularização da Religião, diante das entrevistas que

pareceu que se restringiu ao espaço familiar, da casa. Enquanto a Sacralização da

Cultura foi levada com toda vontade para o interior da Escola Judaica, formando

Movimentos Juvenis de danças, teatros etc.

A comunidade judaica sofreu grandes pressões, tanto decorrente do Jornal

Folha da Manhã, pelo Interventor Agamenon Magalhães, ou do chefe-editorial Nilo

Pereira ou de Samuel Campelo que trabalhavam no jornal elaborando artigos, e

muitos referentes à condição judaica que estava sendo conduzido no mundo,

principalmente pelo nazi-fascismo.

Page 93: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

92

A Escola foi uma das instituições que teve que obedecer a regras instituídas

pelo governo, ditado pelo Federal e o estadual na sua maior cumplicidade cumpria

com todos os rigores da lei.

A comunidade instalada em Recife, com o Colégio Judaico, sofreu mudanças

nominais, neste período de estudo, que prevalecia a nacionalidade.

Os nomes da escola carregada de adoção de brasilidade e

pernambucanidade, como sinalização de aceitação das normas e leis prescritas neste

momento.

As fundamentações da identidade judaica têm a família como um eco de

grande importância, principalmente, os que chegaram do leste europeu, que estava

em discussão sobre os movimentos de direcionamento da vida judaica.

Porém o mais importante é o contraste entre a universalidade e a identidade

na história, que a universalidade necessariamente não prevalece sobre a identidade.

Page 94: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

93

BIBLIOGRAFIAS

Page 95: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

94

ALMEIDA, Maria das Graças Andrade Ataíde de. A construção da verdade autoritária. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.

______. Estado Novo: Projeto Político Pedagógico e a construção do saber. Revista Brasileira de história. Acessado em 27.06.03.

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do estado. Rio de Janeiro: Graal, 1987.

ANDRADE LIMA FILHO, Antonio de. China o Gordo (Agamenon Magalhães e sua época). Prefácio Barbosa Lima Sobrinho. Recife: Ed. Universitária, 1976.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.

BORTOLOTI, Karen Fernanda da Silva. O Ratio Studiorium e a missão no Brasil. Mestranda UNESP/França Agência financiadora:FAPESP

BURKE, Peter. A Escola dos annales (1929 – 1989): a revolução francesa da historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1977.

______. Variedades de história cultural. Tradução de Alda Porto. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999 – (Encyclopaidéia).

CARVALHO, Edgard de Assis. Identidade ético cultural e questão nacional. In: Anais do Encontro Interdisciplinar sobre identidade, 1. São Paulo: PUC/SP, l983.

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CYTRYNOWICZ, Roney. Além do estado e da ideologia: imigração judaica, Estado Novo e Segunda Guerra Mundial. Revista Brasileira de História. 2002, vol. 22, no. 44, p. 393 – 423. Acessado em 04.07.03.

FÁVERO, Osmar (org.). A Educação nas constituintes brasileiras: 1823 – 1988. Campinas, São Paulo: Editores Associados, 1996 (Coleção memória da educação).

Page 96: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

95

GARCIA, Nélson Jahr. Estado novo, ideologia e propaganda política – A legitimação do estado autoritário perante as classes subalternas. Disponível em http:/www.ebooksbrasil.com/eLibris/estadonovo.html.1999. acessado em 15.04.2005.

GARCIA, Rodrigo. No recife holandês, a primeira sinagoga das Américas. Disponível em: http:/www.jt.estadao.com.br/notícias/98/09/do10,htm. Acessado em 06.06.03.

GHELMAN, Marcelo. Período precursor da imigração moderna (1855 – 1900). Disponível em: http://www.geocities.com/Athens/Forum/4720/livro10/110cap.htm. Acessado http:/www.eifo.com.br/judbras3.html – Portal da comunidade judaica Brasileira. Judeus no Brasil. Acessado em 06.06.03.

GOLGHER, Marx. Por que devemos ler “Os protocolos do sábio de sião”. Israel Judaica Disponível em http:/www.pletz.com/novo.artigo/mg11,html.Acessado em 31.03.2006.

GOMES, Alciane A. de O. Formação continuada dos professores do ensino de ciências naturais do centro de jovens e adultos (CEJA). Recife, 2004.128f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências), Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2004.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.

HORTA, José Silveira Baía. O Hino, o Sermão e a Ordem do Dia: a educação no Brasil (1930-1945). Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994.

JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: editora Imago.

JUDAÍSMO. Wikipédia, a enciclipédia livre. 2005. acessado em 22.07.05

KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos perdidos – História recuperada: a presença judaica em Pernambuco. 2.ed. Recife: edição do autor, 2001.

KREUTZ, Lúcio. Identidade étnica e processo escolar. Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS. XXII Encontro Anual, Caxambu – MG. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo –RS. 1998. acessado em 17.08.2004.

LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

LESSER, Jeffey. O Brasil e a questão judaica: imigração, diplomacia e preconceitos. Rio de Janeiro: Imago, 1985.

LÉVY-STRAUSS, Claude. Raça e História. 5.ed. Lisboa: editorial presença, 1996.

Page 97: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

96

LEWIS, Susan. O anti-semitismo em Pernambuco no estado Novo: 1937-1945. Recife, 1977. Dissertação (Mestrado em Ciências Políticas), Universidade Federal de Pernambuco, 1977.

LOPES, Eliane Marta Teixeira. Origens da educação pública. São Paulo: Loyola,

______. Perspectivas históricas da educação da educação. São Paulo: Ática, 1986.

LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da educação. São Paulo: DP&A, 2001.

LOWY, Michael. Redenção e utopia: o judaísmo libertário na Europa central: um estudo de afinidade eletiva. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias, tradução de Gaetano Lo Mônaco; revisão da tradução Rosa dos Anjos Oliveira e Paolo Nosella – 12.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

MELLO, José Antonio Gonsalves de. Gente de nação. Recife: Massangana, 1989.

MINDLIN, José. Uma síntese da identidade judaica e brasileira. Disponível em: http://WWW.estado.estadao.com.br/ediçao/especial/israel 111.html. Acessado em 28.05.03.

NOVINSKY, Anita. Cristãos novos na Bahia. São Paulo: Perspectiva, 1972.

______. O olhar judaico em Machado de Assis. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1991.

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. O Brasil dos Imigrantes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

OLIVEIRA, M. Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Recife: Ed. bagaço, 2005.

PANDOLFI, Dulce. Pernambuco de Agamenon Magalhães. Recife: Massangana, 1984.

PEREIRA, Nilo. Agamenon Magalhães: Idéias e Lutas. Fundarpe, Editora Raiz; Recife, 1985. Coleção Pensamento Político Pernambucano.

______. Agamenon Magalhães: uma evocação pessoal. Recife: Taperoã, 1974.

______. Conflito entre a Igreja e o estado no Brasil. 2.ed. Pref. de Gilberto Freyre. Recife: Massangana, 1982.

Page 98: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

97

PIERRE, Bourdieu. O poder simbólico. São Paulo: Bertrand Brasil, 1989.

PINSKY, Jaime. Origens do nacionalismo judaico. São Paulo: Editora Hucitec, 1978.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil: 1930-1973. Petrópolis: Vozes, 1978.

SCHARTZMAN, Simon. Estado Novo, um auto-retrato (Arquivo Gustavo Capanema. Brasília: Editora Universidade de Brasília), 1982.

SCHARTZMAN, Simon; BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro, São Paulo: Paz e Terra; Editora da Universidade de São Paulo, 1984.

SCHWARCZ, Lilia Moritiz. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SILVA, Leonardo Dantas. Uma comunidade judaica na América Portuguesa. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/indoc/cehib/dantas.html, acessado em 06/06/03.

SKIDMORE, Thomas E. Preto no Branco e nacionalidade no pensamento Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

SORJ, Bila (org.). Identidades judaicas no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1997.

TUCCI, Maria Luiza. O anti-semitismo na era Vargas (1930 – 1945). São Paulo: Brasiliense, 1988.

Page 99: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

98

FONTES

. JORNAL

. REVISTAS

. ENTREVISTAS

INSTITUIÇÕES DE PESQUISA

A. ARQUIVO PÚBLICO

B. CÚRIA METROPOLITANA – ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE

C. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO

D. ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO DE PERNAMBUCO

E. ARQUIVO PÚBLICO JORDÃO EMERENCIANO

Page 100: A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon … · 2019. 10. 25. · Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário estadonovista

99

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS JUDEUS

(tanto os que deram informações sobre a formação da identidade, como os que

viveram a época estudada, ou seja, na escola judaica).

1. O que é ser judeu?

2. O ensinou-se na Escola Judaica?

3. Como vê a sociedade Pernambucana com olhar para os judeus?

4. O que se ensina na escola? (atualmente)

5. Definição de dois movimentos em Pernambuco:

a. da Secularização da Religião b. da Sacralização da Cultura

6. E na família como foi a contribuição da identidade judaica?

7. E na família como é a contribuição da identidade judaica?