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Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2014 ISSN: 2446-7014 • Número 5 Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil. Regiões América do Sul América do Norte e Central África Subsaariana Oriente Médio e Norte da África Europa Rússia e ex-URSS Sul da Ásia Leste Asiático Sudeste Asiático e Oceania Ártico e Antártica O GRUPO GEOCORRENTE O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino. CONTATO Comentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected]. CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos (Coordenador-geral do Grupo Geocorrente) Jéssica Germano de Lima (Coordenadora do Grupo Geocorrente) Noele de Freitas Peigo (Editora responsável) André Figueiredo Nunes Brenda Cardoso Severino Leão Caio Ferreira Almeida Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior Diane de Almeida Cruz Gustavo Felipe Augusto Rodolfo Medeiros Igor Lourenço Oliveira Lais de Mello Rüdiger Luciane Noronha Moreira de Oliveira Matheus Souza Galves Mendes Pedro Allemand Mancebo Silva Thayná Fernandes Alves Ribeiro Vinicius Guimarães Reis Gonçalves Vivian de Mattos Marciano (Pesquisadores do Grupo Geocorrente) A EQUIPE

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Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2014 ISSN: 2446-7014 • Número 5

Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.

Regiões

América do Sul

América do Norte e Central

África Subsaariana

Oriente Médio e Norte da África

Europa

Rússia e ex-URSS

Sul da Ásia

Leste Asiático

Sudeste Asiático e Oceania

Ártico e Antártica

▪ O GRUPO GEOCORRENTEO grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais.

▪ O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOSO LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino.

▪ CONTATOComentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected].

CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos(Coordenador-geral do Grupo Geocorrente)

Jéssica Germano de Lima(Coordenadora do Grupo Geocorrente)

Noele de Freitas Peigo(Editora responsável)

André Figueiredo NunesBrenda Cardoso Severino Leão

Caio Ferreira AlmeidaCarlos Henrique Ferreira da Silva Júnior

Diane de Almeida Cruz GustavoFelipe Augusto Rodolfo Medeiros

Igor Lourenço OliveiraLais de Mello Rüdiger

Luciane Noronha Moreira de OliveiraMatheus Souza Galves MendesPedro Allemand Mancebo Silva

Thayná Fernandes Alves RibeiroVinicius Guimarães Reis Gonçalves

Vivian de Mattos Marciano(Pesquisadores do Grupo Geocorrente)

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América do Norte e CentralA presença da ONU no Haiti

Os chamados “capacetes azuis” estão no Haiti desde o começo dos anos 1990, quando a ajuda da ONU foi solicitada pelo governo provisório do país para que as eleições ocorressem sem problemas. Os anos seguintes às eleições foram de muita instabilidade política: em fevereiro de 2004, conflitos armados se espalharam por todo o país, de modo que os insurgentes assumiram o controle da porção norte do Haiti. Em fevereiro deste ano, o Conselho de Segurança da ONU autorizou a intervenção da Força Interina Multinacional, com o objetivo de promover estabilidade no país, uma vez que a situação foi considerada uma ameaça para a paz e a segurança internacionais. Com a situação em vias de melhora, ocorreu um grande revés: o terremoto de 12 de janeiro de 2010. Uma tragédia que matou mais de 220 mil pessoas e abalou ainda mais a frágil economia e infraestrutura haitiana, levando assim a um clima de incerteza política no país.

América do SulGás natural: a força motriz da Bolívia

No último mês, o presidente boliviano Evo Morales foi reeleito pela segunda vez, para seu terceiro mandato seguido no país sul-americano. Morales está à frente do país desde 2006, ano em que anunciou a nacionalização das reservas de petróleo e gás natural, por meio da modificação das regras regentes do setor, o qual estava sob o comando de empresas estrangeiras, a exemplo da Petrobras, presente na Bolívia desde os anos 1990. Esta década também ficou marcada pela inauguração do gasoduto Brasil-Bolívia (GASBOL), o maior da América do Sul, que liga a cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra a Porto Alegre no Brasil, passando por Corumbá (MS) e Campinas (SP). O duto possui pouco mais de 3.000 quilômetros, praticamente a mesma extensão da maior fronteira terrestre brasileira, compartilhada justamente com a Bolívia.

O setor energético é um dos mais importantes para o país, porém os maiores campos de gás boliviano, o de San Alberto e de San Antonio, equivalem a 0,7% do total mundial, o que não é muito se comparado aos 27% da Rússia. A Petrobras possui um contrato com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) em vigência desde 1999, de modo que, atualmente, a importação aproxima-se dos 30 MMm³/dia, que representam cerca de 50% do consumo brasileiro de gás. Em agosto deste ano, ambas as empresas firmaram um acordo corroborando a venda preferencial ao mercado brasileiro, caso a Petrobras venha a descobrir gás natural em solo boliviano. O Brasil possui o quarto maior potencial hidráulico mundial, de modo que a energia de fonte hidrelétrica sempre foi priorizada como matriz energética, porém, com a intensificação da busca brasileira por fontes alternativas de energia, tem aumentado a demanda pelo gás boliviano.

Durante a II Reunião das Nações Unidas para Países em Desenvolvimento sem Acesso ao Mar, ocorrida no último dia 3 em Viena, Morales afirmou a intenção de estender a sociedade com a Petrobras até 2018 para administração de uma das refinarias construídas pela empresa e estatizada pelo governo boliviano em 2006. Mesmo com todo esse interesse em torno do gás boliviano, o Brasil permanece sem um embaixador em La Paz há mais de um ano, após o desconforto diplomático ocorrido em agosto de 2013, com a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil, auxiliada pelo diplomata Eduardo Saboia.

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Fonte: Info Escola

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América do Norte e Central

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A MINUSTAH, com um efetivo autorizado de até 5.021 militares e 2.370 policiais, teve seu mandato renovado por mais um ano, no último dia 14 de outubro. A novidade é que pela primeira vez serão mais policiais (2.601) do que militares (2.370). Tal prorrogação do mandato gerou alguns protestos de organizações sociais, sobretudo as latino-americanas, as quais pedem o fim da intervenção militar no país, alegando que alguns métodos utilizados por elementos da missão de paz não são adequados e violam os direitos humanos dos haitianos.

Apesar da presença das forças da ONU, o país segue com certa instabilidade, tendo ocorrido, no último dia 18, manifestações anti-governo na capital Porto Príncipe que criticaram a atuação do presidente Michel Martelly e o atraso das eleições. Os protestos, que até então eram pacíficos, estão mais violentos, tendo o último deixado diversos feridos. Mesmo com essa instabilidade, a economia haitiana teve um crescimento considerável desde o início da missão. Em 2003, o PIB do Haiti era de US$ 2,8 bilhões e, em 2013, de US$ 8,5 bilhões. A missão é comandada por um general brasileiro desde seu início e conta, atualmente, com aproximadamente 1.200 militares do Brasil.

África SubsaarianaPrimavera Negra: Burkina Faso e a instabilidade da

África OcidentalNos últimos meses a África Ocidental tem sofrido com

várias instabilidades de natureza política, sanitária, social e econômica, das quais se destaca o caso mais recente de Burkina Faso. Ocorreram diversas manifestações populares no país após a tentativa do então presidente Blaise Compaoré de impor uma Emenda Constitucional visando permanecer no poder por mais tempo, embora já estivesse à frente do país por 27 anos. A revolta popular fez com que Compaoré renunciasse ao poder, fugindo para o país vizinho, a Costa do Marfim. Logo após a renúncia, o tenente coronel Isaac Zida assumiu interinamente a presidência do país. Após diversos protestos por parte da população civil e pelos membros do Parlamento, não satisfeitos com essa situação, os militares concordaram em formar uma comissão de 23 notáveis, que escolheram, nesse último dia 17, o ex-chanceler Michel Kafando para exercer interinamente a presidência até novembro de 2015, quando ocorrerão novas eleições.

Durante o processo de descolonização, várias guerras civis acometeram o continente, sucedidas por uma série de governos duradouros, dos quais podemos destacar o de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, no poder há 35 anos, e de Paul Biya, presidente de Camarões há 32 anos. A possibilidade de uma “Primavera Negra” trazendo uma onda revolucionária na região fez com que as Nações Unidas e a União Africana se posicionassem a respeito. A ONU fez um pronunciamento expressando a necessidade dos militares de Burkina Faso entregarem o governo aos civis, caso contrário, poderiam ser impostas sanções. Já a União Africana alegou que não admite qualquer tipo de intervenção estrangeira no continente, também exigindo a saída dos militares do poder.

Atualmente, Burkina Faso, um dos mais pobres países do mundo, tem passado por diversos problemas graves como o de desertificação de parte de seu território, sendo que a maioria dos habitantes sobrevive da agricultura de subsistência. Vale enfatizar que, como o país encontra-se situado no oeste africano, torna-se geograficamente mais vulnerável ao vírus Ebola, além de também possuir contenciosos territoriais com seus vizinhos Mali, Níger e Benin. A conjugação desses problemas pode agravar a instabilidade não apenas em Burkina Faso, como na África Ocidental como um todo. Nesse sentido, a posse de Kafando, prevista para hoje (dia 21), tende a reduzir as tensões na região.

Fonte: Folha de S. Paulo

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Oriente Médio e Norte da ÁfricaO desdobramento de um novo combate árabe-israelense?

O Hezbollah é um grupo muçulmano xiita que surgiu durante a Primeira Guerra do Líbano, em 1982, tendo como objetivo resistir à ocupação de Israel, França e EUA e estabelecer um regime islâmico no país. É conhecido como um movimento de resistência à interferência externa e possui uma forte atuação política, com assentos no Parlamento libanês e acesso à disponibilização de serviços sociais para a população. O mapa ao lado apresenta suas zonas de atuação, que se concentram principalmente nas fronteiras com a Síria e Israel.

As guerras libanesas de 1982 e de 2006 se desenvolveram, sobretudo, em torno do conflito entre Israel e Líbano, apresentando o Hezbollah um papel central nos eventos. Recentemente, a situação entre os dois países vem se agravando, o que causa uma preocupação generalizada na região.

Oriente Médio e Norte da ÁfricaSeria a pirataria uma nova opção de recursos para o

Estado Islâmico?Desde 2011 tem sido organizada anualmente na cidade

de Dubai nos Emirados Árabes Unidos (EAU) a Conferência Antipirataria dos EAU, cujo foco principal tem recaído sobre as ameaças provenientes das atividades dos piratas do chifre da África, em especial os somalis. No entanto, na quarta edição do evento, ocorrida nos dias 29 e 30 de outubro e que contou com lideranças regionais e africanas, foi levantada a possibilidade de incursão de grupos terroristas como o Estado Islâmico (EI) nesse tipo de atividade.

No discurso de abertura do evento, o ministro das Relações Exteriores do país anfitrião, o xeque Abdullah bin Zayed al-Nahyan, fez um alerta para que os Estados e as empresas privadas da região permanecessem atentos para coibir novas ameaças referentes à pirataria, dentre as quais o ingresso do EI na atividade com o interesse de garantir outra fonte de financiamento. Ainda segundo o ministro emiradense, é de extrema importância que isso seja prevenido para evitar que a ameaça do EI se estenda às principais rotas comerciais marítimas da região, como o Estreito de Ormuz, o Golfo de Áden e o Mar Vermelho. Embora não exista comprovação da existência de aliança entre o grupo fundamentalista e organizações piratas, um dos principais meios de combate a essa questão seria criar mecanismos que a impedissem de acontecer. Para alguns especialistas, como Todd Chapman do Departamento de Assuntos Políticos e Militares do Departamento de Estado dos Estados Unidos, um possível elo entre o EI e os piratas somalis seria algo incompatível, já que as atividades do grupo fundamentalista islâmico partiriam de um pressuposto ideológico enquanto a dos piratas seriam estritamente criminosas.

A preocupação demonstrada na IV Conferência Antipirataria em Dubai poderia ser minimizada pela presença da Quinta Esquadra americana na região, sediada em Manama no Bahrain, no entanto, conforme o discurso do xeque emiradense, seria mais importante evitar que a ameaça se concretizasse do que combatê-la depois de cristalizada.

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Fonte: World Defense Review

Fonte: Eagle Speak

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Há pouco mais de um mês, o grupo Hezbollah assumiu a autoria pela explosão de um dispositivo que feriu soldados israelenses na fronteira entre Líbano e Israel, colocando um fim à relativa paz que havia sido construída desde 2006. Apesar de Israel já haver responsabilizado o Hezbollah por alguns foguetes que atingiram seu território nesse meio tempo, tal participação foi negada pelo grupo. O Hezbollah não citou razão para o último ataque, mas o nomeou como o “Martírio de Hassan Ali Haidar”, um membro da organização morto em setembro pelos israelenses.

Israel respondeu ao ataque com fogo de artilharia em duas posições no sul do Líbano. Porém, apesar do alarme, muitos analistas enxergam a ofensiva libanesa mais como forma de intimidar do que abrir uma nova frente de conflito, já que o Hezbollah encontra-se lutando em duas frentes: combatendo insurgentes ao lado das forças de defesa sírias e lutando contra o grupo afiliado da Al-Qaeda “Nusra Front” na fronteira entre Síria e Líbano. Desde que o grupo assumiu seu apoio ao presidente sírio Bashar al-Assad contra uma insurgência sunita, sua popularidade vem decaindo muito. Com isso, acredita-se que a mudança de atitude serviria para relembrar que Israel é seu principal inimigo e reviver sua imagem de resistência, retomando a estima de muitos.

EuropaDesafios energéticos e geopolíticos da Turquia

A Turquia está em um ponto estratégico que une os continentes europeu e asiático, tendo sempre sido considerada uma região importante por sua localização. Atualmente, este fator tem representado uma questão de oportunidade e ameaça, perante as tentativas turcas de participar da União Europeia (UE) e da proximidade ao Estado Islâmico (nos territórios do Iraque e Síria), respectivamente. Somado a isso, o país enfrenta um desafio interno de extrema relevância: a questão energética.

Dentro desse panorama, o atual presidente turco, Tayyip Erdogan, nomeou Ahmet Davutoglu como primeiro-ministro, que sempre foi seu aliado pela entrada turca na UE quando o chefe de Estado ocupava aquele cargo. Quanto ao Estado Islâmico (EI), a Turquia está pressionada pela OTAN, que demanda uma ação mais efetiva do país, e pelo PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que reivindica até hoje a criação do Estado Curdo em território turco e luta ao lado das nações ocidentais contra o EI.

Sobre a questão energética, a Turquia é dependente do gás vindo da Rússia. Embora possua usinas hidrelétricas e termelétricas, o país só é capaz de produzir 10% do que consome. Somado a isso, o inverno do hemisfério norte causa problemas na distribuição do gás devido às baixas temperaturas, e a falta de chuvas tem preocupado especialistas. Tais problemas seriam minimizados com a produção de gás proveniente do campo de Shah Deniz 2 (Azerbaijão), cuja previsão de conclusão é em 2019, e com a possível descoberta de uma reserva na região sudeste de Anatolia, o que tornaria a Turquia autossuficiente em gás por 40 anos, no melhor dos cenários.

O presidente Erdogan já enfrenta críticas à sua eleição, cujo caráter democrático é colocado em questão, uma vez que o mesmo ocupava anteriormente o cargo de primeiro-ministro. O Brasil apoia Erdogan, reiterando a proximidade diplomática, o que ficou claro nas discussões de questões comerciais com a Turquia no encontro do G-20 na Austrália. Vale lembrar que a presidência do encontro que reúne as 20 maiores economias do mundo será exercida pela Turquia em dezembro desse ano, a qual também sediará, em 2015, a próxima cúpula de rodadas.

Fonte: BP

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Rússia e ex-URSSUm panorama do Mar Cáspio

Localizado na Ásia Central, o Mar Cáspio pode ser considerado o maior mar inland do mundo, em cujo entorno cinco Estados possuem mar territorial, quatro deles ex-membros da União Soviética: Turcomenistão, Cazaquistão, Azerbaijão, Rússia e Irã.

Em setembro de 2014, os cinco países mencionados reuniram-se na IV Conferência do Mar Cáspio em Astrakhan, a maior cidade russa da região. As partes acordaram em manter soberania de 15 milhas náuticas e direito exclusivo de pesca até 10 milhas náuticas da costa de cada Estado. No plano da segurança estratégica, os países colocaram-se contra a presença de forças militares ou empresas de nações “não-caspianas” na região e concordaram em cooperar entre si para um equilíbrio de forças armadas atendendo aos interesses de cada Estado.

Apesar do discurso de cooperação, algumas questões indicam um conflito de interesses entre os países. Para Rússia e Irã, que enfrentam atualmente sanções do Ocidente, o maior interesse é manter a região livre de influências estrangeiras; no entanto, o Azerbaijão emergiu como parceiro estratégico dos EUA e da OTAN desde sua independência em 1991 devido à importância geoestratégica de suas reservas de gás natural. Por meio do oleoduto e gasoduto de Baku-Tbilisi-Ceyhan e Baku-Tbilisi-Erzurum, respectivamente, o Azerbaijão consegue exportar petróleo e gás natural para a Europa sem intermédio do território russo.

Vale ressaltar que a Rússia coloca-se contra a construção de um duto transcaspiano que escoaria gás natural do Turcomenistão para o Azerbaijão, financiado pelo governo deste país junto a aliados ocidentais, por ver essa obra como uma ameaça ao monopólio russo de principal fornecedor de gás para Europa.

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Fonte: EIA

Sul da ÁsiaA ameaça do EI no Paquistão

No último dia 02 deste mês, durante um evento importante na fronteira entre Índia e Paquistão, ocorreu um ataque por homem-bomba que matou cerca de 60 pessoas e deixou 130 feridas. Alguns dias depois, o Tehrik-i-Taliban (TTP), principal organização terrorista paquistanesa, assumiu a responsabilidade pelo ocorrido, junto com dois outros filiados. A justificativa seria retaliação a uma operação do exército contra milícias radicais islâmicas.

O atentado em Wagah aumentou também a preocupação quanto ao alcance do Estado Islâmico (EI) no sul da Ásia. Em setembro deste ano, foi criada uma “sede” da Al-Qaeda no Paquistão e, no mês seguinte, o TTP jurou fidelidade ao EI. Em vídeo divulgado pela imprensa internacional, o líder da organização alegou que “a única forma de garantir os direitos dos muçulmanos é através da criação de um califado”. Diferente do que ocorre no caso do Oriente Médio, o que financia estes grupos da região em questão é o tráfico de ópio. Entretanto, considerando que o Oceano Índico é rota importante de petróleo e a força crescente que as milícias estão ganhando, já existe receio de que passem a

Fonte: The Long War Journal

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Rússia e ex-URSS

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praticar roubo armado a navios petroleiros.Outro problema foi o anúncio de que os radicais terão, em breve, ramificações na Índia, Bangladesh, Nepal

e Myanmar. Os Estados Unidos já se pronunciaram sobre o assunto, alegando que agirão com a força necessária para deter os talibãs paquistaneses e afegãos – que são intrinsecamente ligados desde a sua criação. Uma das principais dificuldades é que as milícias estão localizadas em lugares remotos e a fronteira entre ambos os países é porosa. Somam-se a isso as acusações do Pentágono de que há radicais islâmicos infiltrados na Inteligência paquistanesa e em outros setores importantes do governo. A Índia, maior preocupada com a situação, endossou o discurso norte-americano de uso da força. O Exército paquistanês tenta conter a situação dos radicais há décadas, mas a influência destes é crescente, o que gera uma sensação de insegurança intensificada pela gradual retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão – fator que gera incerteza quanto ao futuro do conflito.

Leste AsiáticoO tabuleiro estratégico na Ásia Pacífico

Com o “boom” da economia chinesa a partir do final do século XX, houve um aumento expressivo da sua dependência em relação ao transporte marítimo, o que levou a uma reformulação estratégica importante, dando maior ênfase para o desenvolvimento de sua Marinha de Guerra. No outro extremo do espectro estão os Estados Unidos, que têm o objetivo de conter a expansão do poderio chinês, ao passo que partilha com Pequim o desejo de manter abertas e seguras as rotas comerciais marítimas na região. No

último dia 11, por ocasião da Reunião Anual da Cooperação Econômica Ásia Pacífico (APEC), os EUA e a China adotaram algumas medidas para evitar que eventuais incidentes entre suas Marinhas se tornem um confronto militar de maiores proporções. Nesse sentido, foi assinado um acordo entre os países da APEC - que podem ser observados no mapa acima - com o objetivo de definir regras mais claras para encontros de navios de guerra no mar, bem como a prévia notificação de exercícios militares na região.

Já na 25ª reunião da Associação dos Estados do Sudeste Asiático (ASEAN), ocorridas entre os dias 12 e 13 deste mês pela primeira vez em Myanmar, dois temas sensíveis prevaleceram em paralelo às questões econômicas: o potencial aumento do terrorismo na região (muito em razão do avanço do Estado Islâmico na Síria e no Iraque) e as disputas marítimas envolvendo a China, em especial com o Vietnã e com as Filipinas, dois temas que também interessam muito aos EUA.

No futuro próximo, particularmente as economias emergentes do Sudeste Asiático devem continuar oscilando entre esses dois polos de poder, devido à dependência de investimento e demanda por seus produtos, tanto por parte dos chineses como dos norte-americanos. Mas o potencial de conflitos armados envolvendo tais países não deve ser descartado, de modo que a decisão sobre em que lado da balança ficar acaba sendo o grande desafio regional do século XXI.

Fonte: New Zealand Ministry of Foreign Affairs and Trade

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Sudeste Asiático e Oceania

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Os interesses norte-americanos em MyanmarMyanmar, ex-Birmânia (cuja mudança de nome

se deu em 1989), é um país que possui uma história política bastante conturbada. De 1962 até 2011 foi governado por uma ditadura militar das mais violentas da Ásia. O atual presidente, eleito em novembro de 2010, é o general da reserva Thein Sein, que proporcionou maior apoio internacional ao país ao tomar diversas medidas democratizantes.

Aproveitando o encontro da ASEAN, o presidente norte-americano Barack Obama visitou Myanmar pela segunda vez durante seu mandato (vale ressaltar que sua outra visita, em 2012, foi a primeira de um presidente dos EUA ao país), com o objetivo oficial de incentivar a democracia, a justiça e a igualdade no país. Para isso, inicialmente é proposta uma reforma constitucional que verse, principalmente, sobre três aspectos: o primeiro trata de uma lei criada durante o antigo regime que garante 25% dos assentos do Parlamento aos militares. Em segundo lugar, sobre outra lei que dispõe sobre a proibição de pessoas com cargo no governo de serem casadas ou possuírem relacionamentos com estrangeiros – como é o caso da principal candidata da oposição nas eleições previstas para 2015, Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991 por se opor ao governo militar. Por fim, há ainda o desafio de lidar com os conflitos internos do país de 55 milhões de habitantes entre budistas (89%) e a minoria mulçumana (4%), que já mataram milhares de pessoas de ambos os lados. Por lei, desde 1982, os mulçumanos não são considerados cidadãos birmaneses.

Por trás do ideal altruísta de democratizar o país, pode-se inferir que o objetivo maior dos Estados Unidos é fazer frente à grande influência que a China ainda tem em Myanmar, principalmente sobre os militares. A China é o maior parceiro comercial do país e financiou inteiramente (cerca de US$ 1 bilhão) o gasoduto/oleoduto que liga o porto de Kyaukphyu à cidade chinesa de Kunming, onde se encontram algumas refinarias chinesas. Contudo, em junho deste ano, após muitos protestos populares, o governo do presidente Sein decidiu cancelar o projeto, também com a China, de construção de uma estrada de ferro interligando as duas cidades. As próximas eleições presidenciais marcadas para o ano que vem podem mudar o mais importante parceiro de Myanmar, com o que os chineses devem estar bastante preocupados.

Fonte: BP Blogspot

Ártico e AntárticaO Dragão no Gelo

No dia 18 deste mês, o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro ministro australiano Tony Abbott se encontraram na cidade de Hobart, no estado da Tasmânia (AUS), onde assinaram um termo de cooperação entre os programas antárticos dos dois países. No porto de Hobart estava atracado o Xue Long (Dragão da Neve), como parte da recém-iniciada 31ª Expedição antártica chinesa. Nessa nova missão ao sexto continente, os chineses terminarão as obras de sua quarta estação antártica, a de Taishan, localizada a meio caminho entre a estação de Zhongshan e a mais alta estação científica do continente, Kunlun, inaugurada em 2009. Kunlun está a 4 mil metros de altitude, de modo que o acesso por terra é bastante complexo, o que justificou a construção de Taishan. Na presente expedição, além de diversas pesquisas científicas, também estão previstos o estudo de viabilidade técnica para a construção de uma pista de pouso em Kunlun, a instalação de uma estação do sistema chinês de posicionamento global por satélite “Beidou” na estação científica de Great Wall, além do início da

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construção da quinta estação chinesa, que deverá ficar localizada na Baía de Terra Nova.

O investimento chinês em seus programas polares tem crescido nos últimos anos e, tendo ingressado no chamado Clube Antártico mais de vinte e cinco anos depois de outros Estados (em 1985), já suplantou vários deles, que ainda hoje mantêm suas reivindicações territoriais naquele continente (Austrália, Argentina, Chile, França, Reino Unido, Noruega e Nova Zelândia). Em 2012, o orçamento do programa antártico chinês alcançou a cifra de US$ 55 milhões. Nada comparado aos US$ 300 milhões gastos anualmente pelos EUA, mas já sendo o segundo maior orçamento dispendido naquele continente.

A construção de novas estações e o esforço de articular logisticamente essa rede indica a intenção chinesa de aumentar ainda mais seu peso específico na balança de poder naquele continente. Até o momento, a exploração de recursos minerais

na Antártica está totalmente proibida pelo Protocolo de Madri de 1991, mas até quando os grandes países consumidores e importadores de energia, como é o caso da China, respeitarão esse acordo?

Até o momento, o Brasil, que de 2001 a 2011 dispendeu com seu programa antártico R$ 115 milhões, quase o mesmo gasto pelos chineses apenas em 2012, ainda não iniciou a reconstrução de sua única estação, a Comandante Ferraz, destruída por um grande incêndio em fevereiro de 2012, em função do insucesso nos dois processos licitatórios conduzidos este ano.

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Fonte: The Economist

Dicas de artigos selecionadosDEUTSCHE WELLE - 18/11/2014

Russian advances in the Balkans a cause for concern - by Verica, Spasovska

EL PAÍS - 17/11/2014La paz de las FARC - por M. Á. Bastenier

THE HINDU - 17/11/2014Continent of the Islamic State - by Vijay Prashad

THE NEW YORK TIMES - 16/11/2014The Nigerian Status Quo - by Adewale Maja-Pearce

THE NEW YORK TIMES - 18/11/2014Did Dubai Do It? - by Thomas L. Friedman

THE DIPLOMAT - 17/11/2014Abe’s Humiliation in Beijing - by Aurelia George Mulgan

[Ao clicar sobre os títulos das reportagens, abrem-se os respectivos links]