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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO JORNALISMO A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO RIO GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO ESPORTIVO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Laura Gheller Santa Maria, RS, Brasil 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO JORNALISMO

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE

JORNALISMO DO RIO GRANDE DO SUL: O CASO

DO JORNALISMO ESPORTIVO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Laura Gheller

Santa Maria, RS, Brasil

2010

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A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO

RIO GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO

ESPORTIVO

por

Laura Gheller

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade

Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Comunicação Social

Orientadora: Prof. Dra. Marli Hatje Hammes

Santa Maria, RS, Brasil

2010

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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Departamento de Ciências da Comunicação

Curso de Comunicação Social

Habilitação Jornalismo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Graduação

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO RIO

GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO ESPORTIVO

elaborada por

Laura Gheller

como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Comunicação Social

COMISSÃO EXAMINADORA

Marli Hatje Hammes

(Presidente/Orientadora – UFSM)

Gilson Luiz Piber da Silva (UNIFRA)

Paula Bianchi (UNIPAMPA)

Santa Maria, 09 de dezembro de 2010.

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Agradeço aos amigos e colegas do Radar Esportivo e da Rádio Universidade, que estiveram

presentes nos momentos de maior aprendizado desses quatro anos.

Agradeço à minha família. O apoio de meu pai, o incentivo de minha mãe, o companheirismo

de minha irmã, a parceria de meus primos e a sabedoria de minha avó foram fundamentais

nessa conquista.

Agradeço à Lari, pelos almoços, pelas jantas, pelas conversas, pela amizade e pela revisão.

Agradeço às pessoas que colaboraram com esse trabalho, seja com entrevistas, com dados ou

com materiais. Obrigada pela confiança, disponibilidade e atenção.

E agradeço à minha querida orientadora que acreditou e aceitou o desafio de me guiar nessa

tarefa. Obrigada por esse ano de intenso aprendizado e de amizade verdadeira.

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“Quando o Mundial começou, pendurei na porta da minha casa um cartaz que dizia: Fechado

devido ao futebol.

Quando o retirei, um mês depois, eu já havia jogado sessenta e quatro jogos, de cerveja na

mão, sem me mover da minha poltrona preferida.

Essa proeza me deixou moído, com os músculos doloridos e a garganta arrebentada; mas já

estou sentindo saudades. Já começo a sentir falta da insuportável ladainha das vuvuzelas, da

emoção dos gols não recomendados para cardíacos, da beleza das melhores jogadas repetidas

em câmera lenta. E também da festa e do luto, porque às vezes o futebol é uma alegria que

dói, e a música que comemora alguma vitória dessas que fazem os mortos dançar soa muito

parecida ao clamoroso silêncio do estádio vazio, onde algum vencido, sozinho, incapaz de se

mover, espera sentado em meio às imensas arquibancadas sem ninguém.”

(Eduardo Galeano)

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RESUMO

Monografia

Departamento de Ciências da Comunicação

Universidade Federal de Santa Maria

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO RIO

GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO ESPORTIVO Autora: Laura Gheller

Orientadora: Marli Hatje Hammes

Data e local da defesa: Santa Maria, 09 de dezembro de 2010.

Neste trabalho apresenta-se uma investigação acerca da presença do Jornalismo

Esportivo nos currículos dos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. A pesquisa tem

como objetivo analisar se a formação em Jornalismo prepara o profissional para atuar em

editorias esportivas. Além disso, visa ressaltar a importância do ensino do jornalismo

segmentado nas escolas de comunicação gaúchas. A abordagem começa na revisão da

literatura e passa pela análise da matriz curricular de sete cursos de Jornalismo do Estado.

Entrevistas com professores e coordenadores também foram utilizadas, para destacar os

motivos da presença ou não das disciplinas especializadas na grade curricular dos respectivos

cursos. Com a análise do currículo e das entrevistas, em conjunto com o embasamento

teórico, espera-se compreender se as Universidades formam jornalistas para atuar na área do

esporte.

Palavras-chave: Jornalismo Especializado; Jornalismo Esportivo; Currículo; Formação

Profissional

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ABSTRACT

Monografia

Departamento de Ciências da Comunicação

Universidade Federal de Santa Maria

THE SPECIALIZATION IN RIO GRANDE DO SUL`S JOURNALISM

COURSES: THE CASE OF SPORTS JOURNALISM Author: Laura Gheller

Advisor: Marli Hatje Hammes

Santa Maria, december 9 2010.

This paper presents an investigation about the presence of the Sports Journalism in the

curriculum of Rio Grande do Sul`s Journalism Schools. The research aims to examine if

training in Journalism prepares professionals to work in editorial sports. Moreover, it aims to

highlight the importance of segmented journalism education in Rio Grande do Sul`s schools

of communication. The approach begins by reviewing the work involves analyzing and

curriculum of seven courses in Journalism from the State. Interviews with teachers and

coordinators were also used to highlight the reasons for the presence or absence of specialized

disciplines in the curriculum of these courses. With the analysis of curriculum and interviews,

together with the theoretical background, waiting to understand if universities make

journalists to work in the sport area.

Keywords: Specialized Journalism, Sports Journalism, Curriculum, Training

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO A – Ementa da Disciplina de Jornalismo Esportivo do Curso de Jornalismo da

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS)...........................................................................................................85

ANEXO B – Ementa da Disciplina de Jornalismo Especializado do Curso de Jornalismo do

Centro de Educação e Comunicação (CEC) da Universidade Católica de Pelotas

(UCPel).....................................................................................................................................88

ANEXO C - Ementa da Disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo do Curso de Jornalismo

do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)......................................................................90

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10

1 CURRÍCULO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL ......................................................... 14

1.1 Currículo no ensino superior .......................................................................................... 14

1.2 Universidade e Formação profissional .......................................................................... 15

2 JORNALISMO ESPECIALIZADO ................................................................................ 17

2.1 Origem .............................................................................................................................. 17

2.2 Definições de Jornalismo Especializado e Información Periodística Especializada . 19

2.3 Jornalista Especialista x Jornalista Generalista ........................................................... 21

2.4 Funções do Jornalista Especializado ............................................................................. 23

2.4.1 Recolhimento de informações:................................................................................. 23

2.4.2 Elaboração da mensagem ......................................................................................... 25

2.4.3 Transmissão e recepção ........................................................................................... 25

2.5 Necessidade de formação especializada ......................................................................... 26

2.6 Conteúdos, seções ou gêneros ......................................................................................... 28

3 O ESPORTE E A MÍDIA ................................................................................................. 30

3.1 Esporte: origem e conceitos ............................................................................................ 30

3.2 Jornalismo Esportivo: origem ........................................................................................ 32

3.3 O jornalismo esportivo contemporâneo ........................................................................ 35

3.3.1 Ênfase na “falação esportiva” .................................................................................. 35

3.3.2 Monocultura esportiva ............................................................................................. 37

3.3.3 Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo ................................................ 39

3.3.4 Superficialidade ....................................................................................................... 40

3.3.5 Prevalência dos interesses econômicos .................................................................... 43

3.4 Formação do Jornalista Esportivo ................................................................................. 46

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4 O ENSINO DO JORNALISMO ESPORTIVO .............................................................. 50

4.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre ...................... 52

4.3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto Alegre ... 54

4.4 Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul ................................................ 57

4.5 Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – Pelotas .................................................... 58

4.6 Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas ................................................. 60

4.7 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria .................................. 63

4.8 Centro Universitário Franciscano (Unifra) – Santa Maria ......................................... 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................81

ANEXOS..................................................................................................................................84

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INTRODUÇÃO

As novas necessidades do público consumidor das mídias impõem às empresas

jornalísticas a criação de uma nova figura no meio: a do jornalista especializado. O

profissional do mundo da informação precisa ter, além de sua formação como jornalista - que

o fará conhecer as regras próprias da área para uma boa comunicação -, uma formação

específica - que o levará a conhecer um universo particular sobre o qual irá comunicar.

Um jornalista especializado deve ser alguém que se especialize em determinadas

questões para poder tratá-las em profundidade. Dessa forma, poderá combater a

superficialidade da informação, a influência interessada de fontes, a fragmentação dos fatos e

a distância entre setores sociais especializados e a sociedade no conjunto. O jornalismo

especializado é tratado pelos autores que o estudam como o jornalismo do futuro.

Nesse contexto, surgem algumas dúvidas. Se em sua formação tradicional, na

graduação, o jornalista aprende as regras próprias da profissão como um todo, em sua

formação específica, o jornalista é um autodidata? Ou necessita de um nível formativo

adequado? Um jornalista recém-formado sai da Academia com a bagagem necessária para

atuar como jornalista especializado? E dentro do Jornalismo Esportivo, que é a maior

expressão da informação especializada na era moderna, como se configura o perfil do

profissional? Existe uma formação específica que contemple os aspectos que o jornalista

abordará dentro dessa área? Mais: os Cursos de Jornalismo preparam o profissional da área

esportiva para fazer a cobertura, por exemplo, de uma edição dos Jogos Olímpicos?

Já há algum tempo o tema “Jornalismo Especializado” vem sendo amplamente

discutido entre estudiosos da área da Comunicação como uma das saídas para a falta de

credibilidade e para o desgaste das empresas midiáticas. Ao mesmo tempo, decaem as idéias

generalistas e crescem as áreas específicas na prática do jornalismo - representadas

geralmente pelas “seções” e editorias dentro dos jornais - tanto no meio impresso como no

eletrônico.

Paralelo a isso, em um ritmo bem mais lento, quase estacionado, poucas alternativas

são criadas para o ensino do Jornalismo Especializado ainda dentro das Faculdades de

Ciências da Informação. É, no mínimo, questionador o fato de um novo segmento, que pode

alterar significativamente os rumos do jornalismo moderno, não ser discutido e aplicado

dentro do lugar de formação dos profissionais que lidarão com ele no futuro.

Como entusiasta do Jornalismo Esportivo, com o qual pude manter contato desde

cedo dentro da graduação, percebo o quanto é irrisória a abordagem da formação específica

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dentro da Universidade. É difícil encontrar disciplinas dentro do currículo obrigatório que

segmentem o conteúdo (jornalismo esportivo, econômico, ambiental, cultural); apenas as

segmentações de meios (rádio, impresso, televisivo) são contempladas na maioria das

faculdades de comunicação brasileiras.

Dessa forma, considerei de suma relevância pesquisar sobre o porquê desses estudos

não serem aplicados da maneira como deveriam dentro das instituições de ensino superior, e

de que jeito a ausência do contato com o Jornalismo Especializado influencia na formação do

profissional, que enfrentará essa realidade fora da graduação. O próprio jornalismo esportivo,

hoje o mais popular dos segmentos jornalísticos, pode ter a sua tão criticada superficialidade

relacionada com a falta de experimentação e estudo do profissional ainda dentro da

Academia.

Por isso, neste trabalho, nos propomos a pesquisar como o jornalismo esportivo é

contemplado e tratado em 7 (sete) Cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. Procurou-se

saber qual era a atenção dada a essa área específica nos currículos.

A metodologia compreendeu as seguintes etapas:

a) Na primeira etapa, foi realizada a pesquisa da bibliografia para a construção do

marco teórico, buscando literatura sobre jornalismo especializado, jornalismo esportivo,

currículo e formação profissional.

b) Ainda durante a pesquisa bibliográfica, iniciou-se a segunda etapa: a coleta de

dados, utilizando os currículos dos sete cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. O critério

de escolha das Universidades seria estarem localizadas nas 5 (cinco) cidades com maior

estimativa populacional do Estado, segundo o IBGE1. Em cada uma dessas cidades, duas

instituições que contemplassem o curso de Jornalismo (como Comunicação Social –

Habilitação Jornalismo ou como Bacharelado em Jornalismo) deveriam ser selecionadas: uma

pública e uma privada2. Em cidades onde esse cenário não se configurava, escolhemos apenas

uma universidade privada. Em cidades onde havia mais de uma instituição privada com curso

de Jornalismo – caso de Porto Alegre -, optamos por analisar apenas uma delas – a maior, a

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Assim sendo, os Cursos de

Jornalismo selecionados para essa pesquisa foram os das seguintes Universidades, localizadas

nas seguintes cidades:

1 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lista completa disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acesso em 12 de novembro de 2010. 2 A cidade de Gravataí (que está no quinto lugar da lista do IBGE) não possui nenhuma universidade com curso

de Jornalismo, de acordo com o Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_rs.htm). Acesso em 12

de novembro de 2010. Em função disso, a cidade imediatamente abaixo – Santa Maria – foi selecionada.

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Porto Alegre – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Caxias do Sul – Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Pelotas – Universidade Católica de Pelotas (UCPel)

Canoas – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Santa Maria – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Centro Universitário

Franciscano (UNIFRA)

c) Após, a análise dos currículos foi realizada atentando para os seguintes itens:

- Grade curricular (programas e ementas das disciplinas)

- Objetivos do Curso (objetivo geral e objetivos específicos)

- Perfil do Profissional (definição da profissão, descrição dos requisitos psicofísicos e

atribuições pessoais)

d) Complementando a análise curricular, foram realizadas entrevistas com professores

e coordenadores dos cursos de Jornalismo, como forma de individualizar os fatores

determinantes para a adoção ou não do Jornalismo Especializado nos currículos. De acordo

com Robert Farr (1982, apud GASKELL, 2002, p.65), essas entrevistas podem ser

caracterizadas como entrevistas qualitativas e são “essencialmente uma técnica, ou método,

para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos,

além daqueles da pessoa que inicia a entrevista”. Em uma entrevista qualitativa, Gaskel

(2002) destaca que deve haver preparação e planejamento, atenção para a seleção dos

entrevistados e o uso de um tópico guia. “O tópico guia é parte vital do processo de pesquisa e

necessita atenção detalhada” (GASKELL, 2002, p.66). Entretanto, o pesquisador não pode se

tornar escravo desses tópicos e atribuir somente a ele o sucesso da investigação, pois como o

próprio nome já diz, serve como um guia. “O entrevistador deve usar sua imaginação social

cientifica para perceber quando temas considerados importantes e que não poderiam estar

presentes em um planejamento ou expectativa anterior, aparecerem na discussão”

(GASKELL, 2002, p.67). Neste trabalho, as entrevistas foram realizadas com o uso de

perguntas-base, mas que não consistiam em um questionário fechado. Nos sete cursos

analisados, conversamos com, pelo menos, um professor ou coordenador sobre as questões

currículo, formação e jornalismo esportivo. Apenas duas entrevistas foram realizadas por e-

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mail – as com os coordenadores dos cursos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e da

Universidade de Caxias do Sul (UCS) –, sendo as demais todas cumpridas presencialmente.

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1 CURRÍCULO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1.1 Currículo no ensino superior

Na chamada Sociedade da Informação ou do Conhecimento, a forma como os

conhecimentos são adquiridos assumem um papel de destaque e passam a exigir um

profissional crítico, criativo, com capacidades de aprender, de trabalhar em grupo e de se

conhecer como indivíduo. Ao estar inserido nessa sociedade em que o fluxo de informação é

constante e crescente, esse profissional tem uma visão geral sobre as diversas áreas do

conhecimento humano. Ao buscar o ensino dentro de uma Universidade, o indivíduo procura

o aprofundamento de seus conhecimentos em uma determinada ciência; dessa forma, o papel

dessa Universidade é de preparar o profissional.

O mercado de trabalho exige das universidades, como resultado do tempo

gasto nela, um conhecimento que conduza à competência no exercício profissional,

com um efetivo preparado para enfrentar situações inesperadas, imprevisíveis, tendo

condições de responder aos novos desafios profissionais propostos diariamente, de

modo original, criativo, sendo eficiente no processo e eficaz no produto ou serviço

oferecido, imaginativo, inovador, empreendedor e seguro em suas ações. (CUNHA,

2000, p.4).

Nesse contexto, visualizamos o currículo, que há muito tempo deixou de ser apenas

uma área apenas técnica. Pesquisas, estudos e trabalhos acerca desse conceito já consolidaram

uma tradição crítica do currículo, guiada por questões sociológicas, políticas e

epistemológicas.

O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão

desinteressada do conhecimento social. O currículo transmite visões sociais

particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais

particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem

uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da

sociedade e da educação. (MOREIRA e SILVA, 2006, p.8).

As constantes reformulações de currículos de diversos graus de ensino comprovam a

importância que ele adquiriu ao longo dos anos. Hoje, o currículo constitui-se como um alvo

privilegiado das atenções de políticos, autoridades, professores. Seu papel como agente

incentivador de uma educação que postule a transformação da ordem social vigente justifica

sua importância, seu estudo e suas reformulações.

O currículo da Academia, no Brasil, é estabelecido geralmente por conteúdos que

desenvolvem e preparam o aluno para a descoberta de conhecimentos e disciplinas que

valorizam a especificidade de cada área da ciência estudada.

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Neste trabalho, utilizou-se a concepção de currículo de Goodson (1995, p.31), como

referência:

o currículo formal, na sua expressão oficial ou o currículo escrito constitui-se em um

testemunho, uma fonte documental, um mapa variável do terreno [...], um dos

melhores guias oficiais sobre a estrutura institucionalizada da escolarização, mas

quando restrita ao rol de matérias e aos programas com análise isolada, torna-se

insuficiente e passível de distorções.

Dentro do nível de ensino acadêmico, a concepção positivista do conhecimento ainda

é muito presente e incide na prática pedagógica, incluindo o currículo (CUNHA, 2000). Isso

fica claro se analisarmos como é organizado o conhecimento dentro da universidade: “quase

sempre do geral para o particular, do teórico para o prático, do ciclo básico para o ciclo

profissionalizante” (CUNHA, 2000, p.40). Ou seja, primeiro o aluno precisa aprender a teoria,

dominá-la e depois colocá-la em prática. Como bem explica Cunha (2000, p.40):

ela tem definido a prática como comprovação da teoria e não como sua fonte

desafiadora, localizando-se, quase sempre, no final dos cursos, em forma de estágio.

Além disso, trabalha-se com o conhecimento do passado, com a informação que a

ciência já legitimou, nunca com os desafios do presente ou com o conhecimento

empírico que pode nos levar ao futuro.

Entretanto, as discussões sobre o papel do currículo e sua organização tradicional vêm

sendo debatidas constantemente no ensino superior.

1.2 Universidade e Formação profissional

A Universidade tem funções específicas no que tange a sua influência na formação

profissional do corpo discente. Contudo, há um descompasso entre o que a academia está

formando e a sociedade está exigindo, já que a realidade profissional dinâmica “limita a

compatibilização da oferta do mercado de trabalho e a formação do profissional” (CUNHA,

2000, p.64).

O ensino superior brasileiro vem sofrendo diversas alterações nos últimos anos,

principalmente com relação a sua infraestrutura. A expansão das universidades brasileiras,

impulsionada através do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais – REUNI, lançado pelo Governo Federal, deu um salto considerável

nos últimos tempos. O REUNI tem o objetivo de expandir, de forma significativa, as vagas

para estudantes de graduação no sistema federal de ensino superior. O problema é que essa

expansão parece estar se configurando mais como quantitativa do que como qualitativa. E isso

altera significativamente a formação profissional dos acadêmicos envolvidos neste processo.

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O que se desenvolve como essencial é que o cuidado na decisão sobre o que é

relevante ensinar nos cursos de nível superior seja trabalhando minuciosamente, pois disso

depende o futuro desempenho dos egressos da academia. Para fazer esse planejamento de

forma eficaz, os responsáveis pela estruturação curricular devem ter clareza das habilidades e

competências necessárias à capacitação profissional. Cunha (2000, p.68) acredita que essa

constatação deve ser feita por meio da atuação dos profissionais formados. “Sem essa clareza,

o processo de formação tende a ser apenas transmissão de informações pelo professor e

acumulação de conhecimentos pelo aluno”.

A formação profissional universitária implica no desenvolvimento da habilidade de

utilizar a relação entre o conhecimento existente e a realidade, ou seja, um indivíduo precisa

ser capacitado a transformar informações em comportamentos concretos em sua realidade de

vida e trabalho.

Cunha (2002, p.74) completa:

Uma formação profissional eficaz precisa tornar o indivíduo capaz de integrar

conhecimentos de diferentes áreas no seu modo de agir a fim de que, desse modo,

ele contribua para a superação dos problemas relacionados aos modelos usuais de

interpretação da realidade, de ensino e de aprendizagem.

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2 JORNALISMO ESPECIALIZADO

2.1 Origem

La premera conclusión a la que debemos llegar es que los especialistas no son

producto de esta época. Los especialistas nacieron com la humanidad. (ALCOBA,

1988, p. 53)

A citação acima, de Antonio Alcoba, um dos maiores estudiosos do Jornalismo

Especializado, resume bem a importância que a especialização nas áreas do conhecimento

humano tem desde o aparecimento do homem na Terra.

O ser humano não conseguiu contemplar toda a gama de necessidades aparecidas com

o passar dos anos e precisou recorrer à especialização. Alcoba (1988) cita a Bíblia como um

dos exemplos da primitiva segmentação do saber humano. Segundo ele, David apenas venceu

Golias graças a sua destreza no manejo da funda (espécie de estilingue). Assim, desde aquele

tempo a humanidade pode ver como o avanço e o progresso da sociedade podem ser

atribuídos, em grande parte, aos especialistas.

Da mesma forma, a comunicação se apropriou desse fenômeno ao longo do tempo e

permitiu uma mudança no processo informativo: os jornalistas especialistas surgiram para

facilitar a transmissão dos fatos e notícias.

Traçar um resgate histórico do início do Jornalismo Especializado não é tarefa fácil.

Entre os estudiosos, não há consenso sobre quais foram o primeiro jornal e o primeiro

jornalista a investir, de fato, no segmento da especialização. A origem do novo ramo, segundo

Alcoba (1988), acontece quando o produto informativo passa a interessar ao leitor e, a partir

daí, os “empresários jornalísticos” promovem um desapego do jornalismo literário-político

vigente até então, para investir em outros temas.

Antes da consolidação do fenômeno da especialização, a única temática que exigia um

pouco mais de segmentação nos diários da Europa era a Economia. Martínez Albertos

acredita, ainda em 1972, que

en los años finales de ese siglo [XIX] y en los primeros del XX hasta la I Guerra

mundial, se fue ampliando esta información especializada, extendiéndose a aspectos

menos financieros, comerciales o económicos, al mismo tiempo que surgían las

primeras revistas especializadas en economía. Pero el fenómeno del periodismo

especializado [...], pertenece a los últimos 25 años. (ALBERTOS, 1972 apud

MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 31)

Muñoz-Torres (1997) defende que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um

crescimento da produção do conhecimento técnico e científico. Aliado a isso, o pós-guerra

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gerou uma das maiores prosperidades econômicas da história. Esses dois fatos criaram uma

“sociedade do bem-estar”, também chamada de “sociedade do conhecimento”.

Próprias dos países pós-industriais, essas sociedades produziam, a todo momento,

grandes e heterogêneas trocas sociais, o que passou a abalar os meios de informação: novas

formas de fazer informação, novas profissões surgindo, maior segmentação das audiências,

elevação do nível cultural da demanda informativa e a crescente diversificação dos conteúdos

são fatores que contribuíram para a especialização da informação. (MUÑOZ-TORRES,

1997). Em resumo, “el progresso de la ciencia y de la técnica ha supuesto inexorablemente

una „profundización ramificada‟ del saber; es decir, una focalización creciente sobre objetos

de estudio cada vez más particulares” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 26).

A especialização dentro do jornalismo teve como um de seus primeiros interessados o

empresário e jornalista norteamericano Willian Randolph Hearst, dono do New York Journal.

Em 1895, com o objetivo de aumentar as vendas do seu diário, Willian convidou um grupo de

campeões esportivos - que atuariam como colaboradores - para tratar sobre o ambiente das

competições e apresentar seus pontos de vista de forma técnica, utilizando-se de suas opiniões

especializadas sobre tema.

Obviamente, nenhum dos esportistas era jornalista, e isso

demuestra que en el momento de producirse el auge de la venta del medio, éste no

tiene otra opción para ganar la batalla de la competencia y atraerse al cliente, que

acudir a los especialistas, aunque éstos no sean periodistas. (ALCOBA, 1988, p. 55)

A afirmação de Alcoba vai ao encontro do estudo de outro teórico, Pedro Ortiz

Simarro, que também acredita que o Jornalismo Especializado, “más que surgir de forma

espontánea, es impuesto a las empresas periodísticas por las nuevas necesidades de las

audiencias” (SIMARRO, 1997, p. 65).

Essas necessidades fazem surgir os chamados “colaboradores”. Esses profissionais

são, portanto, os precursores da especialização dentro do jornalismo, apesar de não

conhecerem a rotina da redação. Nas palavras de Simarro, “este especialista era tan experto en

su materia como ajeno a las técnicas periodísticas” (SIMARRO, 1997, p.65).

Ainda segundo Simarro (1997), a figura do colaborador começou a evoluir dentro das

redações. Surgiu o “experto” ou “perito”. Esse profissional era especialista, mas não

jornalista, e servia como uma espécie de fonte ao profissional da informação quando este

tinha dúvidas a respeito de uma determinada matéria. “La simbiosis entre el experto y el

redactor fue un avance respecto al colaborador: el primero pone su conocimiento al servicio

del segundo y éste lo interpreta para una audiencia masiva” (SIMARRO, 1997, p. 66). Essa

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relação, porém, não correspondia aos interesses das empresas jornalísticas, pois se necessitava

de dois profissionais para executar o trabalho que um, só, poderia realizar.

Com o tempo, o jornalista foi adquirindo conhecimentos em determinados campos,

tanto pela sua experiência quanto pela convivência com os “expertos”. E começou a redigir

matérias com conteúdo específico por conta própria. Porém, o desafio maior dos profissionais

da informação era fazer com que a utilização dessa linguagem fosse compreensível para a

maioria dos receptores e, ao mesmo tempo, direcionada para um público cada vez mais

personalizado e interessado pelo tema. Para suprir essa demanda, ganhou espaço a figura do

jornalista especializado. Esse profissional, conforme Alcoba (1988), seria responsável por

traduzir, em uma linguagem inteligível, os tecnicismos, as regras, os estrangeirismos, etc, para

que as massas pudessem ter acesso a temáticas antes não compreendidas por elas.

Dessa forma, o Jornalismo Especializado passou a ser visto como uma atividade

profissional. Contribuíram para isso, além dos fatores exógenos – a especialização do

conhecimento como um todo -, fatores endógenos à profissão (MUÑOZ-TORRES, 1997).

Esteve Ramírez e Fernández del Moral classificam como os dois mais importantes a

segmentação das audiências e a “necesidad de los propios medios por alcanzar una mayor

calidad informativa y una mayor profundización en los contenidos” (ESTEVE RAMÍREZ e

FÉRNADEZ DEL MORAL apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 27).

Muñoz-Torres (1997) ainda crê que a especialização acentuou-se radicalmente muito

em função da revolução tecnológica. Através da segmentação de audiências e de conteúdos,

graças à possibilidade dos meios interativos, os conteúdos já são selecionados a la carte pelos

consumidores.

O que precisa ficar claro, é que a especialização sempre existiu, “mejor o peor

plasmada en la prensa, con manipulación o sin ella, por periodistas o colaboradores”

(ALCOBA, 1988, p. 62). A diferença é que, atualmente, é preciso desenvolvê-la por

verdadeiros jornalistas - profissionais capacitados que possam transmitir uma autêntica

credibilidade.

2.2 Definições de Jornalismo Especializado e Información Periodística Especializada

Há falta de bibliografia e de conceitos sobre a Informação Jornalística Especializada,

pois o estudo acerca do assunto ainda está na fase embrionária. Há também uma falta de

acordo no modo de denominação: Informação Especializada, Jornalismo Especializado ou

Page 21: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

20

Imprensa Especializada. Muñoz-Torrez (1997) propõe a adoção do seguinte critério

terminológico:

usar la expresión Periodismo Especializado para referirse al ejercicio profesional del

periodista que informa sobre una determinada área del conocimiento humano; en

cambio, el descriptor Información Periodística Especializada podría quedar

reservado para denominar la disciplina académica que versa acerca de las cuestiones

implicadas en tal ejercicio, relativas a la divulgación del conocimiento especializado

a través de los medios, y sus implicaciones sociológicas (MUÑOZ-TORREZ, 1997,

p. 28).

Neste trabalho, também adotaremos a expressão IPE (Información Periodística

Especializada, de origem espanhola) para mencionar as reflexões teóricas desenvolvidas

acerca do Jornalismo Especializado, e Jornalismo Especializado para nos referirmos à

atuação profissional dentro de áreas específicas. Por vezes, os dois conceitos conversam entre

si e se sobrepõem.

A maioria dos autores que versam sobre a especialização no Jornalismo –

especialmente os de língua espanhola - prefere usar a expressão IPE para se referir aos

estudos na área. Logo, os conceitos por eles aqui propostos giram em torno das definições

para tal termo.

Em função do exposto, Muñoz-Torres considera válido o conceito de IPE sugerido por

Fernández del Moral:

aquella estructura informativa que penetra y analiza la realidad a través de las

distintas especialidades del saber, la coloca en un contexto amplio que ofrezca una

visión global al destinatario y elabora un mensaje periodístico que acomode el

código al nivel propio de cada audiencia atendiendo a sus intereses y necesidades.

(FÉRNADEZ DEL MORAL apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 40).

A IPE, portanto, analisa o contexto da notícia e não apenas o simples fato relatado,

utilizando-se das especializações do saber humano para alcançar os interesses de diversos

públicos e audiências, que são cada vez mais segmentados. Faz isso empregando os códigos

próprios do jornalismo - códigos que são aprendidos dentro de sala de aula e “traduzem” para

o receptor a notícia de um modo compreensível – para facilitar a inteligibilidade da

mensagem. Dessa forma, atende aos interesses de diversos públicos e audiências, que são

cada vez mais segmentados.

Quando nos referimos a uma área de Información Periodística Especializada, não

podemos aceitar qualquer denominação. Isso porque, inúmeras vezes, são atribuídos à IPE

textos que não são especializados, isto é, não reúnem os requisitos necessários para se

enquadrarem como tal. Para amenizar essa situação, Mar de Fontcuberta (1997), desenvolve

a respeito dos elementos que são necessários para uma IPE acontecer. Primeiramente, o autor

Page 22: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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trata de uma coerência temática. Conforme Fontcuberta, se uma área de conteúdo jornalístico

especializado aborda parcelas da realidade, constrói, em conseqüência, uma temática

coerente. Em segundo lugar, um tratamento específico da informação implica em: a) textos

coerentes; b) fontes de informação específicas; c) coerência com o segmento de audiência ao

qual o texto se dirige e d) jornalistas especialistas no campo específico do qual a área trata,

capazes de “sistematizar la información y contextualizarla en un determinado ámbito del

discurso periodístico” (FONTCUBERTA, 1997, p.22).

O Jornalismo Especializado, por conseguinte, encontra seu aporte teórico dentro da

Universidade e das Faculdades através de uma disciplina específica, chamada de Información

Periodística Especializada (IPE). Muñoz-Torres, após investigar e absorver os conceitos de

diversos estudiosos, cunhou como ideal a sua própria definição de IPE:

disciplina que estudia la producción de mensajes informativos que divulgan las

distintas especialidades del saber humano, de manera compresible e interesante, al

mayor número posible de personas, con el fin de dotar de sentido a la realidad, a

través de los medios de comunicación. (MUÑOZ-TORRES, 1997, p.40-41)

A IPE é apontada pela maioria dos estudiosos da especialização do Jornalismo como

primordial para a formação de profissionais aptos a atenderam às demandas que a sociedade

inflige. Neste caso, demandas que remetem a informações jornalísticas segmentadas, com

conteúdos requeridos conforme os interesses dos receptores.

2.3 Jornalista Especialista x Jornalista Generalista

Em meio aos estudos sobre a origem e a necessidade de formação de jornalistas

especializados, uma questão parece ainda fazer parte das discussões: o “embate” entre

jornalistas que tratam de temas especializados e jornalistas que tratam de temas gerais.

A principal crítica ao chamado jornalismo generalista, mais antigo e mais tradicional,

reside no fato de as características dos profissionais resultarem ultrapassadas e insuficientes

para a realidade de hoje. Antigamente, os jornalistas que desejavam trabalhar na área

deveriam ser dotados de rapidez para guardar dados e transmiti-los com eficiência,

precisavam ter o chamado “faro jornalístico” e algumas qualidades físicas e psíquicas, como

habilidade e ousadia. Além disso, o profissional baseava-se muito em sua experiência própria

e na experiência advinda de seu antecessor, do qual herdava fontes e estilo (SIMARRO,

1997).

“La competencia de un periodista se medía […] por el número de páginas de su

agenda de teléfonos” (SIMARRO, 1997, p.62). Hoje, apenas uma agenda telefônica não é

Page 23: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

22

suficiente para localizar a infinidade de fontes que necessita cada área do conhecimento. Isso

implica em um problema considerado grave dentro do exercício do jornalismo: a influência

das fontes, intencional ou não. O profissional que apenas conhece o básico, o superficial do

assunto o qual está tratando com seu entrevistado, não terá capacidade suficiente para detectar

se sua fonte está tentando indicar ou até mesmo implantar o que é e o que não é notícia.

Muitas vezes, o entrevistado repassa alguma informação incorreta apenas por

desconhecimento, não agindo com má-fé. Cabe ao jornalista investigar se os dados estão

precisos antes de plantar a notícia como verdadeira, e ele só poderá assim fazê-lo se estiver a

par de todas as questões que envolvem a temática da área. A crítica aos jornalistas

generalistas, portanto, gira em torno do conhecimento superficial da maioria dos conteúdos

que esses profissionais possuem. Conforme Simarro (1998) seriam jornalistas incapazes de

refletir a complexidade social e incompetentes para servir de instrumento de mediação. Em

outras palavras, uma condenação à famosa frase que sugere que “jornalista é um especialista

em generalidades”.

Por isso, frente à lacuna na formação dos chamados generalistas, estudiosos apontam

os especialistas como os jornalistas do nosso tempo “que cuenta com mayores conocimientos

de la temática a tratar y puede discernir mejor lo bueno, lo positivo, de lo malo, lo negativo”

(ALCOBA, 1988, p.74). Orive y Fagoaga (apud SIMARRO, 1997) condenam o que eles

denominam de “falhas” de um jornalista generalista: superficialidade, dispersão, rendimento

baixo pela falta de conhecimento e grau de desconfiança pequeno. Por outro lado, relacionam

as características consideradas ideais para o profissional de hoje:

concentración, serenidad, rigor científico, concreción, aprovechamiento óptimo de la

actividad, un grado de fiabilidad absoluto, mayor productividad, aguda capacidad

selectiva de los contenidos y una relación más personalizada con las fuentes en su

trabajo. (ORIVE y FAGOAGA apud SIMARRO, 1997, p.68)

O jornalista ideal para corresponder às demandas das diversas áreas, temas e

conteúdos solicitados por audiências segmentadas é, portanto, o jornalista especializado, “el

que se preocupe de conocer a fondo el tema, y sea capaz de emitir sus juicios, los juicios de

un periodista especializado” (FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1997, p.15).

O enfrentamento entre as duas categorias, na verdade, não pode ser levado dessa

forma: como bem diz Simarro (1997), a especialização não deve ser encarada como um

parcelamento nem como um recorte no saber do profissional, mas sim como um valor a mais

no seu domínio da profissão jornalística. Até porque, um jornalista especializado “es tan buen

periodista generalista como el mejor de los periodistas generalistas” (SIMARRO, 1997, p.68).

Page 24: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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Por fim, precisamos levar em conta que jornalistas especializados são resultado da

própria especialização dos conhecimentos, dos saberes humanos. Logo,

se trata (…) de hacer posible al periodismo su penetración en el mundo de la

especialización, no para formar parte de ese mundo, no para convertir a nuestros

profesionales en falsos especialistas, no para obligar al periodismo a parcelarse, a

subdividirse, a compartimentarse, sino al contrario: para hacer de cada especialidad

algo comunicable, objeto de información periodística, susceptible de codificación

para mensajes universales (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMÍREZ

apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38).

Dessa forma, “resuelve así el falso enfrentamiento entre periodista generalista y

periodista especializado, porque este último jamás ha dejado de ser un profesional todoterreno

3” (SIMARRO, 1997, p.68).

As características inerentes ao jornalista especializado – anteriormente citadas por si

só já são importantes para combater a superficialidade da informação, a influência interessada

de fontes, a fragmentação dos fatos e a distância entre setores sociais especializados e a

sociedade no conjunto. Fundamentais para contribuir com essa conjuntura, ainda se destacam

outras atividades desenvolvidas por esse profissional.

2.4 Funções do Jornalista Especializado

Entre as funções exercidas pelo jornalista do século XXI, que aqui se caracteriza como

jornalista especializado, Simarro (1997) realça as seguintes:

2.4.1 Recolhimento de informações:

Nas redações dos principais veículos jornalísticos chegam todos os dias, quantidades

abundantes de informações vindas dos mais diversos remetentes. São notícias de agências

internacionais, informações de leitores, releases produzidos por assessorias de imprensa e,

mais recentemente, a produção de conteúdos por redes sociais. Enfim, uma infinidade de

materiais que, obviamente, não podem ser publicados/exibidos na totalidade em função do

espaço limitado que o veículo dispõe. Conforme Alcoba,

se trata de información difícilmente almacenable para poder ser publicada en fechas

posteriores a la de su llegada al medio, lo cual obliga a despreciar unas veces por su

escasa originalidad y otras por su falta de espacio, a un considerable número de

información que ya nunca será utilizada. (ALCOBA, 1988, p.115)

3 todoterreno, em uma tradução livre para o português, significa o mesmo que 4x4, uma classificação que

trazem determinados carros, aptos a rodarem por todos os tipos de terrenos.

Page 25: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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É neste momento que o jornalista especializado ocupa um de seus mais importantes

papéis dentro da redação. A superabundância informativa aliada à falta de espaço e tempo

exige que o jornalista seja um autêntico especialista em uma área informativa, capaz de

selecionar e valorar convenientemente as informações que devem ser publicadas.

Tuñón (apud MUÑOZ-TORRES, 1997) vai mais longe. Segundo ele

es el trabajo de selección el más importante en la profesión periodística hoy,

teniendo en cuenta la cantidad ingente de hechos actuales que se producen en un

universo progresivamente abundante y cambiante en informaciones. (TUÑÓN apud

MUÑOZ-TORRES, 1997, p.63)

Alcoba (1988) também acredita nisso ao citar Wilbur Schramm:

“El acto de selección es, con probabilidad, la parte más importante de

funcionamiento. […] Los medios de comunicación de masas están clasificados entre

los reguladores principales del flujo de la información a través de la sociedad.”

(SCHRAMM apud ALCOBA, 1988, p.116)

O trabalho de selecionador, dentro do Jornalismo, é chamado de gatekeeper4. Essa

função, quando realizada por um jornalista especializado em uma determinada área do

conhecimento, garante a imagem de independência e de credibilidade a um meio de

informação. Ao exercer o papel de filtro, esse profissional não precisará lidar com as

limitações clássicas da função que, segundo Simarro são: “la limitación de su

desconocimiento de los temas y la limitación de su incapacidad de valoración periodística de

la información” (SIMARRO, 1997, p.63).

Em suma, os especialistas reduzem as montanhas de informações vazias e sem

importância social com muito mais facilidade. E o melhor: fazendo isso, ainda economizam

espaço e dinheiro.

No caso da internet, os jornalistas especializados em determinadas áreas têm muito

mais habilidade para selecionar rapidamente o que deve ou não ir ao ar – correspondendo a

instantaneidade do meio. Além disso, em meio a tantas informações produzidas por pessoas

não formadas em Faculdades de Comunicação, que em grande parte o fazem sem investigação

4 “Esa función de gatekeepers fue tradicionalmente ejercida por la persona o las personas que tenían mayor

poder en los medios. Pero aquí se ha ido produciendo un cambio paulatino y constante. Del dueño o el grupo

de mayor poder en periódico, se pasó a la responsabilidad de los directores y más tarde de los redactores-jefe,

en los que aquellos delegaban. De esta manera se fue profesionalizando el criterio de selección. La

responsabilidad pasó por fin, recientemente, al periodista especializado, auténtico gatekeeper de su área, en el

que no interfiere ya ni su propio director, a no ser que se plantee un problema de interferencia grave con la

línea a los intereses del medio, aspecto éste que se produce más difícilmente ahora. De esa manera, la garantía

de independencia y veracidad se acrescienta” (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMIREZ,

Fundamentos de la Información Periodística Especializada, Madrid: Síntesis, 1993, p.173).

Page 26: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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e com conteúdo duvidoso, os usuários terão muito mais confiança no material produzido pelo

profissional especializado, que ainda desfruta de credibilidade perante aos receptores.

2.4.2 Elaboração da mensagem

Quando redige uma notícia, o jornalista não deve apenas se ater a “contar os fatos”. É

necessário interrelacionar, contextualizar e aprofundar as informações. Dessa forma, dá um

sentido ao que está sendo transmitido e, consequentemente, consegue explicar ao leitor o

significado da mensagem de forma eficaz (SIMARRO, 1997).

O modelo comunicacional de Berlo5, formado por seis linhas de condução de uma

mensagem, a saber: fonte – codificador – mensagem – canal – decodificador – receptor –

resume bem o papel fundamental que um jornalista especializado tem dentro do processo

comunicacional. Em determinadas áreas do conhecimento, o profissional deve usar códigos

diferenciados: “el que le ponga en comunicación con sus fuentes y el que le ponga en

comunicación con su audiencia. Si alguno de estos códigos falla, el proceso de comunicación

queda interrumpido” (SIMARRO, 1997, p.64).

Férnandez del Moral (apud MUÑOZ-TORRES, 1997) vai mais longe: ele acredita

que, ao conhecer os dois códigos, o jornalista consegue, por um lado, aumentar o grau de

credibilidade e influência do meio e, por outro – considerado o mais importante do ponto de

vista social – elevar o reconhecimento e a utilidade da ciência perante a sociedade.

2.4.3 Transmissão e recepção

O modelo antigo de jornalista ideal – e que ainda pode ser visto hoje em dia,

principalmente em cidades menores – vislumbra o profissional como contratado de um

determinado canal informativo (rádio, impresso, televisão) que informa sobre quase todos os

tipos de tema. Ou seja, o jornalista era especialista em um meio e generalista em conteúdos.

O panorama que se configura hoje desenvolve justamente o contrário: o profissional se

converte em um jornalista generalista em meios e especialista em conteúdos. Nesse sentido, é

capaz de transmitir sua mensagem com eficácia em qualquer meio de comunicação

(SIMARRO, 1997). Quem ganha com isso é o receptor, que recebe a informação através de

seu meio preferido, mas sem perdas na qualidade no conteúdo.

5 PERUZZOLO, Adair C. Elementos de Semiótica da Comunicação. Bauru, SP: EDUSC - Editora da

Universidade do Sagrado Coração, 2004. v. 1.

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Como se vê, as funções do profissional do jornalismo vêm evoluindo com o passar

do tempo dentro das redações. Alguns jornalistas, é verdade, parecem não se conectar com as

necessidades do público. Alcoba (1988) aponta esse descaso como incapacidade profissional

e/ou imposição dos próprios meios em relação aos critérios que o jornalista deve seguir.

São duas situações que podem ser, pelo menos, amenizadas, com a presença do

jornalista especializado. Por um lado, são profissionais capacitados para “discernir sobre

cuales contenidos son los más apropiados para su público” (ALCOBA, 1988, p.73). Por outro,

conseguem efetuar melhor seu trabalho à margem das prescrições impostas por ideologias ou

posições que suas empresas seguem.

O jornalista especializado, assim sendo, somente acrescenta aos clientes dos

meios,

porque en él se ve al observador eficiente que no pasará por alto ningún aspecto

perjudicial para la sociedad; se convierte, para el receptor, en su máximo defensor, y

según sea su categoría expuesta públicamente en su trabajo, mayor o menor será la

credibilidad del cliente y, por tanto, del medio en el cual presta sus servicios.

(ALCOBA, 1998, p.118).

2.5 Necessidade de formação especializada

Após discutirmos como se dá a inserção e o constante crescimento do profissional

especializado no mercado, percebe-se que essa é uma configuração irreversível no jornalismo,

ou seja, cada vez mais será adotada como a configuração ideal. E cada vez vai exigir mais dos

estudantes recém-formados e até mesmo dos profissionais que se aventuram por áreas

especializadas. O processo de especialização dentro do jornalismo exige, por isso, uma

formação específica para cada temática do saber humano.

Somente com uma formação adequada ainda dentro das Faculdades e Universidades,

será possível forjar jornalistas capacitados e profundos conhecedores das diversas áreas nas

quais o jornalismo atua.

Obviamente que o conhecimento do jornalista especializado não precisa ser o mesmo

que possui um especialista na área. Mas deve ajudá-lo a perceber que tal saber pode ser objeto

de informação, de relevância social. Para isso (filtrar a informação e transmiti-la com eficácia)

é preciso que o jornalista conheça, ao menos, o mínimo da área que vai informar. E não existe

outra forma de concretizar isso que não se formando no campo no qual pretende atuar. É

importante ressaltar que essa formação deve ser feita de uma forma diferente da recebida pela

Page 28: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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fonte especializada, já que “aunque ambos comparten el mismo objeto de interés, el punto de

vista desde el que lo contemplan es radicalmente diferente” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38)

Ainda é importante considerar que uma grande parte dos estudantes de jornalismo que

passa pelas universidades deseja finalizar seus estudos com capacidade suficiente para

trabalhar o mais rápido possível em uma redação. E como vimos, os meios cada vez mais

primam por profissionais com certo grau de especialização. Como diz Alcoba (1988, p. 60)

“no se estudia simplemente para obtener unos conocimientos teóricos sobre la comunicación,

sino para poner en práctica esos conocimientos”.

Nesse sentido, há estudiosos que vão mais longe: propõem uma formação dupla para

os futuros jornalistas. Neste tipo de formação, o estudante passa por duas áreas de saberes: a

primeira, a própria formação em Jornalismo, e a segunda, uma formação específica dentro da

temática com a qual ele trabalhará. Simarro (1997, p. 61) defende e explica essa proposta:

una formación especializada en un campo científico, que le llevará a conocer el

universo específico que ha de comunicar, y una formación como periodista, que le

hará conocer las reglas propias del periodismo para lograr una buena comunicación.

Ou seja, sua preparação como especialista em uma determinada área vai permitir que o

jornalista possa compreender, aprofundar e valorar fatos que passariam despercebidos por

jornalistas que tratam de temas gerais. Essa formação ainda ajuda o profissional a

contextualizar os fatos e a relacioná-los com outros acontecimentos, já que nenhum episódio

acontece isolado da realidade social. Rabanillo (1997) ainda acrescenta que esse tipo de

preparação permite ao jornalista o controle dos códigos técnicos relacionados com uma

parcela do conhecimento especializado. Dessa forma, é muito mais fácil compreender o que

dizem as fontes e evitar que seja publicado apenas o que lhes apraz.

Por outro lado, sua formação como jornalista será necessária para dominar as técnicas

de divulgação da informação. O profissional estará cumprindo sua função de mediador entre

as fontes e os receptores, usando um código de entendimento comum entre ambos. Em outras

palavras, “traduziria” para o público as mensagens vindas das fontes em um produto

jornalístico, com todas as características próprias do jornalismo, desde a difusão até a

atualidade. Ou como bem explica Rabanillo (1997, p.51): “se trata de adecuar los mensajes

técnicos al grado de cualificación y comprensión propio de cada audiencia diferenciada”.

Como se vê, são muitos os autores que aderem a seus estudos à chamada dupla

formação. Alcoba (1988) é mais um deles. O espanhol acredita que é necessário que os

futuros jornalistas se preocupem em obter uma formação jornalística primeiro globalizada,

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priorizando as teorias da informação e, mais tarde, “recibir la preparación específica del tema

o temas que más afines les sean, o que por vocación les atraen más” (ALCOBA, 1988, p.81).

Essa formação articulada entre duas áreas do conhecimento não é exclusiva ao

jornalismo especializado. Outros ramos da ciência também têm se unido em estudos

interdisciplinares, o que os ajuda a colocar em contato realidades sociais que pareciam

distantes até então. Alcoba completa: “actualmente las investigaciones interdisciplinarias son

más la regla que la excepción” (ALCOBA, 1988, p.66).

A preparação do jornalista especializado dentro da universidade, portanto, é

indubitável.

La duda existente es si las Facultades de Ciencias de la Información están

preparadas para ofrecer esa práctica necesaria destinada a ejercer la profesión y

ponerse en contacto con las funciones de los medios […]. Si […] carecen [as

faculdades] de los medios y profesores necesarios para llevar a efecto el cometido

para el cual fueran criadas. (ALCOBA, 1988, p.102)

2.6 Conteúdos, seções ou gêneros

Como vimos, desde os primórdios da humanidade o homem convive com a segmentação

dos saberes. A especialização de temas só fez crescer com o passar do tempo e o jornalismo

esteve presente acompanhando cada passo desse processo. Os gêneros específicos, então, são

resultado dos nichos que vão se criando na sociedade, da necessidade do homem em

acompanhar uma área particular do saber que lhe desperte interesse. “Los géneros específicos

aumentan cada día porque los temas a los que debe enfrentarse el hombre de hoy son multi-

disciplinarios” (ALCOBA, 1988, p.87).

Muitos são os termos adotados para distinguir os diferentes conteúdos reproduzidos

pelos meios e, até mesmo, a forma como são transmitidos. Alguns autores optam por chamar

as partes das publicações de seções ou blocos. Outros as denominam como gêneros

específicos. E há aqueles que ainda diferem as formas de expressão dos conteúdos (notícia,

reportagem, entrevista, crônica, artigo, coluna) e os chamam de gêneros linguísticos.

Neste estudo, usaremos a expressão gêneros jornalísticos específicos para denominar

os diferentes tipos de conteúdos reproduzidos pela mídia, que são seccionados em blocos

temáticos.

Há também divergências entre os autores sobre quais são as áreas de especialização

mais tratadas pelos meios de comunicação. Para Alcoba (1988), os gêneros específicos que

mais possuem espaço nos jornais de todo o mundo são os seguintes: Nacional, Internacional,

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Esportes, Espetáculos, Economia, Sociedade, Cultura, Política e Fotografia. Para o mesmo

autor, configuram-se entre os mais importantes, Internacional, Nacional, Esportes e Eventos.

Já para Muñoz-Torres (1997), os gêneros específicos se dividem em seis grandes

blocos ou áreas de especialização:

1. Política: internacional, nacional e local (incluindo os assuntos relativos à segurança e

defesa do Estado).

2. Economia: macroeconomia, microeconomia, informação para consumo, finanças pessoais,

informações trabalhistas e sindicais.

3. Ciência e tecnologia: assuntos científico-técnicos, com inclusão de temas sanitários e

ambientais.

4. Cultural: assuntos relativos às artes plásticas, às letras e aos espetáculos.

5. Esportes: esportes praticados individualmente e em equipes.

6. “Sociedade”: à falta de melhor denominação, este bloco concentra informações sobre

assuntos relativos à situação social da mulher, à educação, à religião, aos eventos, à vida

privada de pessoas públicas, etc.

De fato, não há assentimento entre os dois autores quanto aos gêneros específicos.

Entretanto, ambos apostam na flexibilidade e nos desdobramentos dessas temáticas em outras,

os chamados subgêneros. Alcoba e Muñoz-Torres concordam que em muitas situações tais

temáticas podem se interrelacionar, devido aos desdobramentos de alguns fatos e às pessoas e

entidades envolvidos em seu contexto. Um exemplo disso é o esporte que, não raro, tem suas

competições influenciadas pelas relações políticas dos Estados.

O esporte, aliás, é uma das únicas seções ou um dos únicos gêneros jornalísticos que,

de forma consensual entre os autores, aparece nas páginas de jornais e nos noticiários

televisivos e jornalísticos de todo o mundo.

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3 O ESPORTE E A MÍDIA

3.1 Esporte: origem e conceitos

O esporte, desde os primeiros tempos, fez parte da vida do ser humano. Ao

longo da história, seu conceito foi mudando e inúmeros estudiosos foram descobrindo

diferentes maneiras de apresentá-lo como um fenômeno social e econômico.

Nas primeiras eras como pensador consciente, ao mesmo tempo em que tentava

compreender os mistérios da vida e da morte, o homem também necessitava alimentar

seu espírito com outros tipos de atividades, que o fizessem ficar alheio, ao menos

momentaneamente, às suas preocupações. “En principio, tales manifestaciones eran de

carácter privado y personal como expresión de culto a los dioses o de desarrollo de un

ejercicio físico” (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 275).

Com o passar do tempo, no desenvolvimento dessas atividades, nasceu o jogo.

Primeiramente, o jogo foi considerado como uma atividade física individual e,

“después, a través de la competición, convertirse en actividad colectiva” (ALCOBA,

2001, p. 25).

O fato é que desde o início o jogo existiu com o objetivo de promover distração

ao ser humano. Quando essa atividade começou a romper a linha divisória entre

diversão e dedicação, passou a ser conceituada como esporte.

El deporte puede ser considerado como la magnificación del juego,

expresada por la constante repetición de los ejercicios, a fin de conseguir la

perfección física, técnica y táctica del jugador (ALCOBA, 2001, p. 20).

Uma vez que o jogador buscava atingir a perfeição de seu desempenho através

de exercícios e treinamentos, passou a querer colocar à prova seu melhor

condicionamento. Nesse momento, surgiu a competição dentro do esporte.

Essa competição, entretanto, não pode ser classificada somente como o embate

homem x homem. Ela está presente também quando o esportista luta contra o

cronômetro, contra a distância e, até mesmo, contra sua própria resistência. Por isso,

hoje, a definição mais simples e eficaz para esse fenômeno, segundo Alcoba (2001, p.

22), é: “deporte es la actividad física, individual o colectiva, practicada en forma

competitiva”.

Hébert pensa parecido com Alcoba:

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deporte es todo género de ejercicio o actividad física que tenga como meta la

realización de una marca, y cuya ejecución se base esencialmente sobre la

idea de lucha contra un elemento definido: una distancia, un animal, un

adversario y por extensión uno mismo (HÉBERT, 1946 apud ESTEVE

RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 280).

Esteve Ramírez e Fernández del Moral também apresentam a versão do Barão

de Coubertín, o impulsor dos Jogos Olímpicos da era moderna. Para Coubertín, esporte

é “el cultivo voluntario y habitual del ejercicio muscular, fundamentado en el deseo de

progreso y susceptible de llegar hasta el riesgo” (COUBERTÍN, 1973 apud ESTEVE

RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 280).

Apesar dos diferentes contornos que o conceito de esporte toma ao longo do

tempo – e de suas diversas configurações nos dias de hoje -, é possível afirmar que o

esporte de competição desenhou-se a partir de uma nova era regida pela sociedade

industrial.

Educação, ócio e espetáculo são os três aspectos que, segundo Alcoba, foram

determinantes para transformar o jogo de simples distração à prática física com

componentes competitivos. Na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, dos

enfrentamentos físicos entre os indivíduos, que prendiam a atenção das massas – por

motivos de diversão e por gosto às apostas –, evolui-se para uma atividade que interessa

ao lucro de algumas pessoas, aqueles que podem ser chamados de “os primeiros

promotores esportivos”. Nessa época, eles eram representados pelos amos ou senhores

dos habilidosos competidores (ALCOBA, 2001).

Pode-se dizer, dessa maneira, que a competição, muito mais do que a atividade

física educativa, “fue el motor para seducir a las multitudes necesitadas de un

espectáculo que ofreciese emoción, y eso fue lo que ofrecieron los enfrentamientos

entre personas” (ALCOBA, 2001, p.69). Um exemplo clássico dessa transformação é o

boxe que, inicialmente, era praticado entre amigos e aficionados, de forma amistosa, e

converteu-se em um espetáculo que premia seus vencedores.

Esse panorama espalhou-se por praticamente toda a Europa, chegando à

América do Norte em seguida, seguindo os rumos da Revolução Industrial pelo mundo.

Inglaterra, França, Itália, Estados Unidos: países adotando a competição em esportes

com os quais a população de cada local identificava-se. “El juego y el deporte con

mayor o menor rapidez, penetra en el tejido de la sociedad de cada país, en relación con

sus costumbres e idiosincrasia. En cualquier caso esa penetración fue imparable”

(ALCOBA, 2001, p.71).

Page 33: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

32

Configurado esse cenário, nasce entre os praticantes do jogo-esporte a

necessidade de organizar enfrentamentos. Para isso, foi preciso criar equipes que

defendessem o orgulho de cada agrupamento. A partir desse momento, brotaram

competições entre povoados, vilas, cidades, instituições acadêmicas, que se estendiam

nacional e internacionalmente.

O problema era que, muitas vezes, as regras de um grupo colidiam com as do

outro, ou seja, todos tentavam impor suas próprias normas. Esse choque de interesses

desenvolve nos praticantes a tentativa de unificar as regras. Quando isso se concretiza, o

esporte é definitivamente globalizado e transforma-se neste fenômeno de massas que

visualizamos atualmente.

La reglamentación de los juego-deporte supone un avance […]

creándose un lenguaje unificador que es comprendido por personas de

diferentes idiomas y creencias, al traspasar el deporte las fronteras y

afianzarse como la mayor actividad humana del siglo XX (ALCOBA, 2001,

p.72).

3.2 Jornalismo Esportivo: origem

Por sua abrangência global, o esporte é um fenômeno das massas. Como bem

coloca Sergio Vilas Boas na apresentação do livro Formação e Informação Esportiva

(do qual é organizador):

O esporte é talvez o mais democrático dos temas. Atrai pessoas de todas as

idades, de todas as camadas sociais, de todos os cantos. Tornou-se um

fenômeno lucrativo considerável, negócio de proporções mundiais, motivo

para tendências e modismos (VILAS BOAS, 2005, p.9).

Alcoba faz coro às palavras do autor brasileiro: “el deporte ya tiene de por sí

suficiente „garra‟ para atraer a los más diversos sectores de la sociedad; desde las clases

más altas a las más humildes” (ALCOBA, 1980, p.43).

Dos estudos dos dois escritores é possível afirmar que, quando milhares de seres

se ocupam do esporte, incluem-no em sua vida de alguma forma, é incontestável que

essa atividade adquiriu tal importância ao longo do tempo que, hoje, se integra a todas

as facetas da sociedade moderna. Alcoba (1980, p.18) completa: “El fenómeno

deportivo, el cual sirve y del cuál se sirven todas las fuerzas que conforman la sociedad

en que vivimos, ha sido calificado como „el hecho social más determinante de nuestro

tiempo‟”.

Page 34: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

33

Dentro desse contexto, também é impossível imaginar que, atualmente, alguma

competição esportiva de certa relevância não conte com a cobertura dos meios de

comunicação, seja esse evento local, regional, nacional ou internacional. É fato que o

esporte é uma das atividades que mais ocupa espaço dentro dos veículos e uma das que

mais desperta atenção dos receptores.

Os estudiosos do Jornalismo Esportivo, em sua grande maioria, concordam que

quem deu início à informação esportiva foi o grego Homero, com relatos nas obras

Ilíada e Odisséia. Seus textos sobre os jogos funerários foram o embrião da crônica

esportiva que se desenvolveria no futuro. As referências esportivas, entretanto, são

muito mais remotas:

Píndaro, nos dejó referencias de los grandes atletas griegos que competían en

los Juegos Olímpicos. Incluso San Pablo saca a relucir, en sus cartas a los

primeros cristianos, referencias deportivas para indicar que si triunfar en una

carrera es importante, más lo será triunfar en la carrera de la santidad.

También en los libros de caballerías nos encontramos con narraciones que

son crónicas deportivas. Con ello queremos dejar aclarado que el periodismo

deportivo no es un género periodístico actual, sino antiguo, muy antiguo

(ALCOBA, 2001, p. 143).

A retomada dos Jogos Olímpicos da era moderna, no final do século XIX,

marcou uma nova etapa no desenvolvimento do esporte como atividade de massas e foi,

por conseqüência, determinante para o surgimento de um novo modelo de tratamento da

informação esportiva. Os Jogos, “celebrados en 1896, fueron cubiertos

informativamente por redactores especializados enviados por los diarios Le Figaro y

Time” (ESTEVE RAMIREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, 276).

As primeiras publicações especializadas em esporte aparecem na Europa. Na

metade do século XIX, em Londres, é fundado o primeiro diário especializado na

temática de que se tem notícia. Chamando-se inicialmente Sportman, mudou o nome em

seguida para Sporting Life.

Mais tarde comprovou-se que “la información deportiva tiene igualmente una

fuerte presencia en el campo audiovisual” (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL

MORAL, 199, p.279). No dia 2 de julho de 1921, a KDKA, uma das primeiras

empresas de rádio norteamericanas, conseguiu retransmitir, de forma direta - ainda que

clandestina – o último assalto da luta de boxe entre Dempsey e Carpentier. Foram

poucos minutos de transmissão, o suficiente para atingir mais de 200 mil pessoas ao

mesmo tempo.

O verdadeiro boom do jornalismo esportivo, entretanto, em matéria de

informação e transmissão, veio com o advento da televisão (ALCOBA, 1993). A

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34

primeira experiência de transmissão ao vivo de uma competição aconteceu em 1936, na

cobertura dos Jogos Olímpicos de Berlim. Ainda que fosse em caráter experimental e,

por isso, em circuito fechado em salas especiais, a iniciativa fez 150 mil berlinenses

assistirem às Olimpíadas daquele ano pela televisão.

O jornalismo esportivo nasceu da demanda provocada por parcelas da sociedade,

que buscavam mais informações acerca do tema, combinado com a iniciativa de

algumas pessoas que perceberam a lucratividade que tais informações poderiam gerar.

“En sus comienzos la prensa deportiva era patrimonio de unos pocos entendidos y éstos

eran los encargados de proporcionar una visión particular del fenómeno que adquiría

cada vez más audiencia […]” (ALCOBA, 1980, p.135).

Os primeiros jornalistas esportivos foram pessoas aficionadas e apaixonadas

pelo tema. Alguns esportistas e ex-esportistas também passaram a produzir informações

específicas da área. Porém, conforme o número de esportes crescia e chegava aos mais

amplos setores da população, o interesse por esse tipo de informação também

aumentava. Inicialmente qualificado como uma categoria inferior, o esporte passou a ser

considerado um gênero específico do jornalismo em pouco tempo, quando os donos das

empresas jornalísticas perceberam o retorno financeiro provocado por essas

informações. Entretanto, as mesmas empresas sentiram a necessidade de obter pessoas

formadas para informar, com conhecimento de causa, a atividade esportiva.

“La buena acogida de la información deportiva por los lectores, no pasó

desapercibida para los empresarios periodísticos y comenzaron a dedicar al

tratamiento de los deportes un personal especializado” (ALCOBA, 2001,

p.143).

No início da atividade jornalística esportiva, as informações eram transmitidas

geralmente em forma de opinião. A maioria dos artigos, produzidos de forma literária

por intelectuais aficionados, entretanto, já não satisfazia mais o público, por tratarem o

esporte como reflexo de uma condição social. Os receptores exigiam uma informação

que estivesse mais de acordo com o contexto cultural vigente. Essa fase de comentários

deu lugar a um tratamento mais informativo dos esportes, inserindo, também, um novo

tipo de jornalista esportivo no mercado.

Em pouco tempo, esse gênero do jornalismo se converteu numa das estrelas dos

meios de comunicação (ALCOBA, 2001). O esporte-espetáculo ocupa, a cada dia, uma

parcela maior dos veículos de todo o mundo.

Las Empresas Periodísticas, al darse cuenta de los beneficios que les

reporta el deporte, realizan un impresionante despliegue para cubrir todos los

acontecimientos deportivos. Miles de periodistas de todo el mundo, a cuyo

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35

servicio se han puesto los más modernos y sofisticados métodos de

comunicación, son los encargados de difundir este tipo de información en

forma muy superior a cualquier otro acontecimiento de interés mundial

(ALCOBA, 1980, p.42).

3.3 O jornalismo esportivo contemporâneo

A editoria de Esportes, hoje, ocupa o maior espaço dentre as seções de um jornal

se comparada a outras editorias como Política, Economia ou Polícia. Para Bourdieu

(1997, p.73), nos últimos anos, tanto a televisão quanto os jornais têm dado “o primeiro

lugar, quando não é todo o lugar, às variedades e às notícias esportivas”.

Por sua vez, o esporte-espetáculo tornou-se o carro chefe do jornalismo

esportivo contemporâneo. Entretanto, cabe destacar que o conceito de esporte é muito

mais amplo do que o destacado pela mídia e envolve inúmeros elementos que são

preteridos pelos meios de comunicação. Mauro Betti (2001) classifica esse fenômeno

como o esporte da mídia x esporte na mídia.

A rigor, não existe esporte na mídia, apenas esporte da mídia. Se a

mídia enfocasse o esporte como cooperação, auto-conhecimento,

sociabilização, etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota,

recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e

descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa

agressividade são a ele inerente. (BETTI, 2001, p.108)

O esporte enfocado pela mídia, ao qual Betti se refere, é aquele esporte dito

“formal”, que tem o aval e a instituição em federações e que, invariavelmente, torna-se

produto explorado pela televisão como espetáculo. Nas palavras do autor, o “esporte

telespetáculo” (BETTI, 2001, p.108).

Neste capítulo, destacaremos as principais características do tratamento dado ao

esporte da mídia. Adotaremos como base as classificações de Betti (2001),

corroborando suas ideias com pensamentos de autores que, ao longo de seus estudos,

também mapearem o jornalismo esportivo contemporâneo de forma semelhante.

Quais são, então, as características do jornalismo esportivo atualmente?

Segundo Betti (2001), são as seguintes:

3.3.1 Ênfase na “falação esportiva”

Autor fundamental para quem quiser compreender as definições do tratamento

do esporte na mídia contemporânea, Umberto Eco (1984) e sua “falação esportiva” são

citados por inúmeros estudiosos do assunto. Partindo-se do pressuposto que o esporte da

Page 37: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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mídia não se limita à transmissão ao vivo do evento em si, BORELLI (2002), à luz do

pensamento de Eco (1984), interpreta que é a mídia quem reinventa, recria, recicla

discursos sobre o esporte, construindo, dessa forma, a falação. Para Eco, esporte é um

discurso sobre a mídia esportiva, ao passo que a imprensa “orquestra estas inúmeras

falas e, a partir delas, outras tantas são produzidas pelos sujeitos (o ciclo continua já que

socialmente circulam novos discursos a partir daqueles ofertados pelas mídias)”

(BORELLI, 2002, p.16).

Dessa forma, continua Borelli,

o esporte é deslocado de seu campo primordial (da prática do jogo) para o

campo da “falação”, onde a mídia é a principal mediadora entre estes

discursos sobre o esporte praticado e moldado para ser assistido. Para ECO

(1984, p.224), existe, assim, “a falação sobre a falação do esporte”, isto é, a

“falação sobre a falação da imprensa esportiva”. (BORELLI, 2002, p.16).

Betti (2001), acredita que a falação esportiva informa e atualiza, conta a história

das partidas (ou lutas, corridas), cria expectativas e faz previsões – e depois se explica e

justifica. Para o autor, a falação ainda promete, cria polêmicas e constrói rivalidades,

critica, elege ídolos e, por fim, dramatiza. Ou seja, os discursos presentes em

reportagens e comentários sobre quem ganhou o jogo, quem foi contratado e vendido,

quem se lesionou, qual jogador saiu na noite anterior, quem será convocado para a

Seleção, qual a culpa do árbitro, foi impedimento ou não, qual será o placar, qual é o

novo craque do esporte brasileiro, etc, passam todos pela análise da falação esportiva

defendida por Eco (1984).

O autor acredita que essa realidade se constrói em cima da própria imprensa

esportiva e suas ditas “regras”. Dentro desse campo, há um ritual pré-estabelecido, que

perpetua a falação verbal acima de tudo, utilizando-se de argumentos, avaliações,

ponderações, críticas, polêmicas, ou seja: falar o esporte. A prática da atividade em si

fica em segundo plano, dando lugar a esta “falação”. Como bem coloca Betting (2005,

p.24),

O debate tem que bater. Não interessa o que se fala, mas o que se grita e o

que não se deixa falar. A polêmica pela polêmica. Uma opinião abalizada,

equilibrada, que tenta entender o outro lado, que dá margem ao pensamento

contrário, que coloca fatos e deixa espaço para a opinião alheia, essa dever

combatida. Não agrada. Não dá Ibope.

Marli Hatje (2003) complementa:

A Falação geralmente é parcial, porque é fruto de opiniões pessoais, de

comentaristas ligados à modalidade esportiva em evidência e veiculada,

muitas vezes, sem o conteúdo necessário para que as informações sejam

Page 38: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

37

absorvidas pela sociedade como algo que possa contribuir à formação social

e cultural. (HATJE, 2003, p.6)

Nesse sentido, a colocação de Betting (2005) sobre a imprensa esportiva parece

encontrar aporte teórico:

O jornalismo futebolístico a-do-ra discorrer sobre os placares consumados e

sobre as teses voláteis como um treinador de futebol em clube grande. Já

disse Daniel Passarella, zagueiro campeão do mundo pela Argentina, em

1978, e técnico da seleção. “Vocês, jornalistas, são „invictos‟”. Não

perdemos uma. Nunca erramos. (BETTING, 2005, p.14)

3.3.2 Monocultura esportiva

É de praxe que jornalistas que cobrem futebol no Brasil autodenominem-se

jornalistas “esportivos”, quando deveriam ser chamados, apenas, de jornalistas

“futebolísticos”. A maioria dos jornalistas que trabalham na cobertura desse esporte na

mídia brasileira dedica-se, somente, ao acompanhamento efetivo do futebol – e quando

necessitam transmitir, noticiar ou cobrir outro esporte, o fazem com um estudo

superficial sobre seus regramentos e especificidades. Essa falsa denominação de

jornalista “esportivo” acontece porque, no Brasil – e em muitos outros países - criou-se

uma situação onde o esporte, quando veiculado na mídia, é imediatamente relacionado

com o futebol.

Paulo Vinícius Coelho (2004) mostra como o futebol é a “menina dos olhos” das

editorias esportivas do Brasil:

Nas editorias de esporte, geralmente fica bem separada a equipe que se

dedica a futebol da que faz outras modalidades. Não quer dizer que quem se

dedica ao futebol não precise cobrir outro esporte. Cobre, sempre que a

ocasião exigir. Mas é mais clara a divisão nas outras modalidades. Quem faz

basquete também faz vôlei, atletismo, boxe, etc. Mesmo que se dedique com

mais afinco a um só esporte. (COELHO, 2004, p.36)

Já o jornalista, biógrafo e professor Elias Awad descreve a seguinte situação no

livro “Formação e Informação Esportiva”:

Muitos alunos me perguntam: “Por que o futebol tem muito mais espaço do

que os outros esportes na mídia?”. Acham até injusto e uma falta de respeito

dos meios de comunicação com os outros esportes. Concordo em parte.

Duvido que se o badminton, o golfe ou mesmo o hipismo – apenas como

exemplos hipotéticos – dessem mais ibope do que o futebol eles não teriam

seus torneios transmitidos pela TV Globo três vezes por semana em horários

nobres. (AWAD, 2005, p.48)

A culpa desse cenário, segundo Awad, não pode ser atribuída apenas ao

jornalista que cobre uma única modalidade. O profissional acompanha somente o

futebol porque o futebol é, de fato, o esporte que mais gera audiência, venda de

Page 39: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

38

publicidade, repercussão, etc, e, portanto, tem o maior espaço na mídia especializada.

Essa é uma imposição histórica, principalmente quando o assunto é televisão.

Awad faz a defesa dos meios de comunicação quando acusa o receptor de

também ter parte da responsabilidade quando o assunto é o desprezo por outros esportes

na mídia.

O leitor-ouvinte-telespectador-internauta também deve ser incluído no

processo e responsabilizado. Será que a audiência de uma transmissão de

futebol ao vivo, pelo rádio ou TV, seria a mesma que entre duas equipes de

handebol, vôlei ou basquete? (AWAD, 2005, p.49)

O fato é que o futebol virou, sim, o carro-chefe da mídia esportiva. E isso é uma

“tendência que se acentuou nos últimos anos, provavelmente porque as empresas

descobriram naquela modalidade esportiva uma melhor relação custo-benefício para a

publicidade” (BETTI, 2001, p.109).

Alcoba (1980, p.191), concorda e acrescenta: “el deporte tratado con más

profusión es el fútbol, pero debe aclararse que este deporte no se trata por su exclusivo

sentido deportivo, sino por su aspecto de espectáculo”. Patrícia Rangel analisa essa

situação da mesma forma:

[o futebol] parece ser o parceiro preferencial da espetacularização na mídia

televisiva, porque oferece, em contrapartida, o show já pronto; possui

elementos fortes para esta parceria, porque ganha características de um show

de entretenimento. (RANGEL, 2008, p.64)

Pode-se inferir, então, que o futebol é o esporte eleito pela mídia porque, em sua

essência, corresponde perfeitamente à espetacularização. Mobiliza milhões de pessoas

todas as semanas, em todo o mundo, o que significa um expressivo público

acompanhando o esporte. A audiência em potencial, por sua vez, incita empresas a

investirem em publicidade. O fator comercial – ou seja, lucro –, por fim, incentiva os

meios de comunicação a transmitirem, falarem, enfim, priorizarem o esporte em suas

programações. Essa trama torna-se cíclica e só se reforça ao longo do tempo.

O futebol gera notícias extraordinárias, informações de vendas milionárias de

jogadores, a vida cada vez mais glamourosa destes, pautas sobre

superfaturamento de eventos esportivos, CPIs do futebol, e muito mais. Ou

seja, futebol dá visibilidade. E as tecnologias aliadas na constituição do

futebol espetáculo da atualidade como: transmissões via satélite, câmeras

cada vez mais potentes e detalhistas, computação gráfica, etc, nos colocam

numa condição de contempladores deste espetáculo. É como se não

tivéssemos mais contato com o verdadeiro esporte, fôssemos apenas

espectadores e não mais atores destes. (RANGEL, 2008, p.65).

Esse cenário, embora predominante, é alvo de inúmeras críticas por parte dos

estudiosos. Wilson da Costa Bueno (2005, p.20), analisa-o da seguinte forma:

Page 40: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

39

Um olhar atento sobre a cobertura esportiva revela equívocos formidáveis.

Em primeiro lugar, há uma preocupação exclusiva com o futebol, como se

não existissem interessados e praticantes de outros esportes, ou ainda como

se o Brasil não tivesse competência explícita e reconhecida em muitas outras

áreas.

Bueno refere-se aos esportes praticados no Brasil que também são sinônimos de

títulos para o país. Um exemplo clássico é o voleibol. As seleções brasileiras –

masculina e feminina – representam, atualmente, as melhores esquadras do esporte no

mundo. Entretanto, o esporte, mesmo que passível da espetacularização (ainda que

menos do que o futebol), pré-requisito para o esporte da mídia, não tem o devido

reconhecimento em comparação ao esporte que mais mobiliza o público no país.

3.3.3 Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo

Essa é a característica mais marcante do esporte veiculado na televisão.

Aproveitando-se das inúmeras possibilidades que o meio audiovisual dispõe para o

discurso, o esporte da mídia valoriza, invariavelmente, a forma em relação ao conteúdo.

Betti (2001) destaca que a televisão tem a possibilidade de combinar imagem, som e

palavra, mas sempre vai dar mais ênfase na primeira.

As possibilidades do audiovisual são levadas cada vez mais adiante, em

decorrência dos avanços tecnológicos [...]. [...] mas também nas mídias

impressas (jornal, revista), as imagens vêm ganhando espaço em relação à

palavra – são fotos, gráficos e outros recursos produzidos com sofisticação e

qualidade cada vez maiores por conta dos avanços da

informática/computação. (BETTI, 2001, p.109)

Ou seja, dá-se mais importância à forma e às especificidades dos meios do que

ao conteúdo que é veiculado. Esse cenário pode ser tomado como exemplo de uma

situação que citamos no capítulo sobre Jornalismo Especializado, analisada por Simarro

(1997), de que os jornalistas configuram-se como especialistas em meios e generalistas

em conteúdos. No caso do esporte, o profissional pode até ter o conhecimento sobre o

que está veiculando, mas, na maioria das vezes, pretere esse conteúdo em nome da

forma que o meio lhe proporciona.

O resultado, somado à falação esportiva cunhada por Eco (1984) e à

espetacularização em torno do esporte é a fragmentação e descontextualização do

fenômeno esportivo (Betti, 2001). A divulgação dos fatos não é acompanhada por seus

contextos histórico, antropológico e sociológico. O evento só tem importância pela sua

factualidade e somente assim é desenhado pela mídia. “A experiência global do ser-

atleta é fragmentada” (BETTI, 2001, p.109).

Page 41: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

40

3.3.4 Superficialidade

Aí está uma das características do jornalismo esportivo mais criticadas por

estudiosos, especialistas, atletas, técnicos, dirigentes e, até mesmo, pelo público. A

superficialidade com que os assuntos são tratados na imprensa esportiva, principalmente

a diária. Betti (2001) e Awad (2005) responsabilizam a própria cultura da mídia, que é

efêmera, por esse fator, que parece acentuar-se ainda mais quando os meios falam de

esporte. Betti (2001) lembra Santaella6 (1996), que diz que a cultura das mídias

caracteriza-se pelo breve, pelo descontínuo; é a cultura “dos eventos em oposição aos

processos”.

Awad culpa igualmente essa especificidade do trato informativo, a chamada

factualidade.

Acredito ser ele [o factual] o grande culpado ou vilão da mesmice do

jornalismo esportivo atual e das coberturas de futebol. A preocupação com o

passo-a-passo dos acontecimentos é tão grande que nos esquecemos de

empregar a qualidade na informação. Esquecemo-nos de dar subsídios aos

receptores para que participem do processo (AWAD, 2005, p.56).

O “maldito factual” a que se refere Awad não permite que a informação seja

tratada com plenitude, ou seja, com início, meio e fim. O autor destaca que é muito

comum que no jornalismo esportivo uma informação seja dada apenas no seu início,

esquecendo-se do meio e do fim. Em outras oportunidades, apenas o fim é noticiado.

Em outras, início e meio têm o seu espaço e o fim é descartado. O que acontece é que

“entre uma etapa e outra, o factual acaba por criar uma nova informação que se mostra

mais relevante naquele momento” (AWAD, 2005, p.56).

Bueno (2005, p.21) também acredita que “não há tempo nem espaço para

matérias de fôlego, porque o jornalismo esportivo vive em função apenas dos torneios e

das partidas”. E, num país em que o calendário é alucinante, com jogo dia sim, outro

também, o resto não interessa.

Além disso,

é cada dia mais comum ver técnicos, jogadores, preparadores físicos e

fisiologistas reclamando do desconhecimento de profissionais que atuam em

jornais em busca apenas da notícia. Que não buscam saber o que se passa

dentro de um centro de treinamento e das coisas que explicam esse ou aquele

procedimento (COELHO, 2004, p.42)

6 SANTAELLA, L. A cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996, pg. 36.

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A pouca profundidade no tratamento da informação esportiva é também da

responsabilidade do jornalista. É dele o papel de incentivar o leitor-ouvinte-

telespectador-internauta a refletir sobre o assunto e de enriquecer-se culturalmente. A

famosa pergunta “qual é sua expectativa para o jogo de hoje?”, tão criticada por quem

acompanha o esporte, é comumente realizada antes das competições em função da

característica factual que esse evento possui e, em parte considerável, por causa da

incapacidade do jornalista de aprofundar o sentido do discurso esportivo.

Esporte é muito mais do que apenas disputa. Inclusive, a importância que o tema

adquiriu ao longo dos séculos não pode ser creditada apenas à competição. Seria muita

ingenuidade (e ignorância) acreditar que esporte não é influenciado pela política, pela

tecnologia, pela economia – e vice-versa também. Vilas Boas (2005) confirma:

[esporte] envolve ciência, tecnologia, saúde, política, história,

comportamento, economia. Há inúmeras interfaces possíveis, polêmicas e

necessárias que o jornalista poderia costurar para não se ater somente à

questão da disputa. [...] não reduzir o entendimento do esporte apenas a

regras, vencedores e vencidos (VILAS BOAS, 2005, p.8).

É preciso muito mais do que apenas relatar os detalhes de uma negociação com

um atleta, o acompanhamento das lesões dos jogadores que estão no departamento

médico, o dia-a-dia da equipe que vai disputar o mundial de pádel. “Fazer retrospectos,

históricos, comparações, projeções, prospecções, falar de economia, geografia...

Informar e ensinar, para que as pessoas possam formar opinião própria” (AWAD, 2005,

p.56). Ou seja, dar subsídios para que o público tire suas conclusões e aproveite a mídia

e as informações que são veiculadas da melhor forma possível. O jornalista que lida

com esportes deve “ir além da simples descrição do esporte como espetáculo e

proporcionar informações técnicas sobre sua prática, estimulando a prática e o

conhecimento intelectual de seus leitores/aficionados” (HATJE, 1996, p.88).

O esporte não pode, sob nenhuma hipótese, ser visto como uma atividade imune

à ação de outros interesses ou aspectos (econômicos, sociais, culturais, políticos)

porque, com isso, ele se descontextualiza e, certamente, fica difícil entender por que

algumas coisas nele ocorrem. Denise Mirás (2005) ainda cita a influência da medicina,

da psicologia e da globalização no fenômeno esportivo:

Cada atleta está cercado por médicos, por notícias de doping, tratamentos

alternativos, preparação psicológica. E a globalização do esporte? Chineses

defendendo a Suíça, africanos competindo pela Dinamarca com a tal língua

franca entre todos, comunicando-se com palavras de seis idiomas ao mesmo

tempo. (MIRÁS, 2005, p.93)

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42

Podemos citar ainda a Geografia, a História, a Matemática, a Filosofia, a

Psicologia, etc. como exemplo de áreas que, de alguma forma, interligam-se com a

cobertura esportiva – deveria, ao menos. Apenas o conhecimento técnico e tático dos

esportes que o profissional cobre, hoje, não satisfaz o interesse de um público que, cada

vez mais passa a procurar informações complementares às ditas “banais”. Muitos

jornalistas esportivos, porém, ainda não se deram conta dessa mudança. Outros

perceberam que essas alterações exigem novas mentalidades para acompanhar a

evolução do noticiário esportivo.

Há exemplos dos dois tipos de cobertura. Bueno (2005), por exemplo, cita os

trabalhos de Luciano Maluly e Vicente Higino de Moura7 para demonstrar como os

profissionais responsáveis por veicular o esporte na mídia não têm conhecimento em

assuntos inerentes às modalidades, como doping e lesões esportivas.

Por outro lado, é necessário reconhecer que há jornalistas e veículos que

procuram aproximar-se desse ideal tentando visualizar o esporte além das quatro linhas.

Algumas publicações especializadas podem aprofundar-se nos temas e investigá-los

com tempo hábil para cumprir seu papel. Principalmente nos anos 80, a revista Placar

denunciou a Máfia da Loteria Esportiva (em 1982), o caso Ivens Mendes (em 1983)8 e

contribuiu para os debates da CPI do futebol no país.

Outro exemplo de cobertura que consolidou alguns jornalistas esportivos foi o

das Olimpíadas de Munique, em 19729. No “Massacre de Munique”, como ficou

conhecido o episódio, o fator político foi determinante e interferiu diretamente na morte

de onze atletas israelenses. Logo após o ataque, quando os meios iniciaram a cobertura,

eram os jornalistas esportivos os responsáveis por transmitirem as primeiras

informações. E a maioria deles saiu-se muito bem. Por compreenderem a ligação que

esporte e política tinham naquele momento, buscaram o conhecimento sobre essas áreas

7 MALULY, Luciano Victor Barros. Doping: a notícia incompleta no jornalismo esportivo brasileiro. São

Paulo, ECA/USP, 2002 (tese de doutorado). MOURA, Vicente Higino de. Muito além das quatro

linhas: um estudo das ciências do futebol. São Bernardo do Campo, UMESP, 2000 (dissertação de

mestrado).

8 Escândalo de corrupção envolvendo o presidente da CONAF (Comissão Nacional de Arbitragem de

Futebol, Ivens Mendes).

9 O Massacre de Munique também conhecido como Tragédia de Munique teve lugar durante os Jogos

Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, quando, a 5 de Setembro, 11 membros da equipe olímpica

de Israel foram tomados de reféns pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro. O

governo da República Federal da Alemanha (RFA), então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt,

recusou-se a permitir a intervenção de uma equipe de operações especiais do Tzahal (as Forças de

Defesa de Israel), conforme proposta da premiê de Israel, Golda Meir. Os onze desportistas israelitas

acabaram sendo assassinados em vários momentos do seqüestro.

Page 44: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

43

antecipadamente, proporcionando ao público explicações imediatas sobre as causas do

ocorrido (ALCOBA, 1980).

Na mesma situação encontramos o depoimento do jornalista Cláudio

Dienstmann concedido à Marli Hatje na ocasião de sua dissertação, em 1994:

“A Iugoslávia perdeu seu formato antigo, mas ela não desapareceu. Quando

se fala em ex-Iugoslávia se fala na antiga, da qual saíram a Bósnia-

Herzegovina, a Macedônia, por exemplo. Esse tipo de conhecimento é

indispensável ao jornalista para poder situar o leitor corretamente e contribuir

para sua formação”. (DIENSTMANN, 1994 apud HATJE, 1996, p.108)

Fica claro, então, que o profissional que atua na mídia esportiva e que se dedica

ao entendimento de outras áreas “passa a ser uma pessoa com ampla visão e longe de

ser um profissional encaixotado e envolto por uma embalagem de conhecimento

superficial” (HATJE, 1996, p.108).

Como bem descreve Betting (2005, p.41):

Um jornalista precisa saber se vai chover. Se o dólar vai baixar. Quem matou

quem na novela das oito. Se o Corinthians vai vencer. Se Guam é um país. Se

o presidente não vai exagerar na dose e expulsar um colega de ofício se ele

escrever umas bobagens. Não é fácil ser jornalista.

3.3.5 Prevalência dos interesses econômicos

Invariavelmente, a lógica das mídias, em última instância, atende a interesses

econômicos (BETTI, 2001). O esporte, por sua vez, impulsionado pela

espetacularização, tem essa situação potencializada.

Han favorecido esta política las campañas publicitarias de las principales

industrias multinacionales que han “sponsorizado”10

los deportes-espectáculo

como medio de difusión de sus productos. La conversión de los clubs

deportivos en sociedades anónimas viene a potenciar este concepto

mercantilista del deporte-espectáculo (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ

DEL MORAL, 1999, p.34)

Com o mercado e os interesses econômicos agindo diretamente sobre as mídias,

cria-se um círculo vicioso:

Os produtores pressupõem o que o público (que é visto como homogêneo)

quer, e só lhe oferecem isso, portanto, não podem saber se o público deseja

outra coisa. Novidades aparecem, mas sempre sobre os mesmos temas e sob

as mesmas formas. Como não há opções, o público reafirma a audiência das

“fórmulas” tradicionais. Daí a mesmice da cobertura futebolística, por

exemplo (BETTI, 2001, p.110).

10

Do verbo inglês “to sponsor” – patrocinar, do substantivo inglês “sponsor” – patrocinador; do

substantivo inglês “sponsorship – patrocínio.

Page 45: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

44

Essa lógica da indústria cultural, que sobressalta o mercado como definidor do

que é veiculado pela mídia, faz imperar um panorama perverso, que privilegia o

investimento em novidades que, dada sua facilidade e seu baixo custo, leva à crescente

degradação do gosto dos cidadãos.

Além dessas cinco características apontadas por Betti (2001) como formadores

do esporte da mídia, ressaltamos mais um item que deveria ser determinante na

cobertura esportiva midiática: a superespecialização.

É visível que, muitas vezes, o profissional que lida com o esporte na mídia não

possui formação adequada para fazer esse tipo de cobertura. O esporte que gera

interesse da mídia – o de competição – possui inúmeras nuances, inúmeras modalidades

e, por sua vez, inúmeros regramentos.

Como citamos anteriormente, o jornalista esportivo brasileiro, na verdade, é um

jornalista futebolístico, aquele que dedica-se a conhecer apenas a modalidade futebol e

que cobre, eventualmente outros esportes. Diante dessa situação, fica previsível que as

coberturas das outras modalidades, quando ocorrem, servem para demonstrar o

despreparo do profissional.

No entanto, para ficar somente a título de exemplo, a lista seguinte mostra os

desportos que serão executados nos Jogos Olímpicos de 2012, que serão realizados em

Londres, e o seu local de execução. O programa para os Jogos Olímpicos de 2012 é

composto por 39 modalidades de 26 esportes: Atletismo, Badminton, Basquetebol,

Boxe, Canoagem (Slalom e Velocidade), Ciclismo (Estrada, Pista, BMX e Mountain

Bike), Esgrima, Ginástica (Artística, Rítmica e Trampolim), Halterofilismo, Handebol,

Hipismo, Hóquei sobre a grama, Judô, Lutas, Nado sincronizado, Natação, Pentatlo

moderno, Pólo aquático, Remo, Saltos ornamentais, Taekwondo, Tênis, Tênis de mesa,

Tiro, Tiro com arco, Triatlo, Vela, Voleibol.

São 26 esportes somente nas Olimpíadas11

. Se considerarmos os demais que não

fazem parte da lista do Comitê Olímpico Internacional (COI), como o futsal, teremos

mais de uma centena de esportes que são praticados mundo afora por milhares de

pessoas. Contudo, os profissionais que, em tese, precisariam trabalhar com apenas esses

26, nem isso o fazem. Claudia Coutinho (2005) resume em um exemplo essa situação

11 Fonte: http://premierbrasileventos.com.br/blog/modalidades-de-esportes-da-

olimp%C3%83%C2%ADada-2012-de-londres. Acesso em 9 de novembro de 2010.

Page 46: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

45

que beira o comum. Aconteceu na cobertura esportiva dos Jogos de Atenas, realizados

de 13 a 29 de agosto de 2004, e mostrou a falta de preparo dos jornalistas escolhidos

para informar e comentar as competições:

Chegou a soar estranho a pergunta “o que é uma quilha?” feita ao especialista

em iatismo convidado de um canal fechado de televisão, que naquele instante

explicava as razões do bicampeonato olímpico de Torben Grael e de Marcelo

Ferreira, na classe Star. A vela se consolidou em Atenas como o esporte que

mais medalhas olímpicas deu ao Brasil – total de catorze, sendo seis de ouro,

duas de prata e seis de bronze – e o pessoal ainda faz perguntas básicas.

(COUTINHO, 2005, p.103)

Em algumas modalidades, todavia, a falta de preparo dos profissionais causou

mal-estar e alavancou uma especialização que mudou a cobertura do esporte. É o caso

da Fórmula 1.

Quem faz automobilismo tem bom nível de especialização. As corridas foram

ótimo aprendizado para jornalistas, especialmente depois dos títulos mundiais

de Émerson, Piquet e Senna. O fato de obrigar quem trabalha com o esporte a

conhecer coisas específicas – o motor, por exemplo – obriga maior nível de

dedicação. (COELHO, 2004, p.36)

Essa dedicação dos jornalistas esportivos que cobrem a Fórmula 1 deve-se muito

aos questionamentos do piloto brasileiro Nelson Piquet. Nos anos 80, ele ganhou

seguidas vezes o prêmio Limão, outorgado por jornalistas e oferecido ao esportista mais

antipático do circo da Fórmula 1. Isso porque Piquet seguidamente resmungava: “O que

eu não suporto é jornalista que não sabe do que está falando. Quem acompanha a

temporada inteira, entende o que acontece nos boxes, sabe o que se passa quando um

piloto está no cock-pit. A esses dedico total atenção. Não agüento é desembarcar num

Grande Prêmio Brasil e ouvir alguém me perguntando se faz diferença usar um tipo de

pneu ou outro ou qualquer outro tipo de pergunta imbecil”.

As especificidades da Fórmula 1 obrigaram os veículos de comunicação a

investirem na preparação dos profissionais que cobriam o esporte. Além disso, com a

participação e com os títulos de pilotos brasileiros, cresceram a audiência e o interesse

pelas corridas por parte do público, que queria saber como funcionava cada detalhe.

Tudo isso somado, incentivou a formação de jornalistas mais capacitados.

Explicar o resultado de uma corrida era tarefa mais difícil do que dizer que o

Flamengo ganhou do Vasco porque jogou melhor. Era preciso entender de

motores, pneus, estratégias, câmbios, conhecer o bastidores, os negócios, o

dinheiro envolvido, detectar tendências, imergir num mundo muito particular

em suas relações e interesses. (GOMES, 2005, p.146)

A Fórmula 1, então, foi um exemplo de especialização bem-sucedido, porém,

outros esportes ainda carecem de profissionais que saibam levar ao público as

características de cada um. Que não são poucas. O atletismo, por exemplo, possui tantas

Page 47: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

46

ramificações que exige um nível de compreensão alto por parte do jornalista.. Alcoba

(2001, p. 144) mostra como esse esporte precisa de um estudo aprofundado por parte da

mídia:

Deporte: género específico del periodismo

Atletismo: subgénero específico del deporte

Pruebas atléticas: subgéneros específicos del atletismo

Carreras de velocidad: subgéneros específicos de la pruebas atléticas.

Denise Mirás (2005), complementa:

É imensa a quantidade de assuntos/pautas jornalísticas no atletismo. E, óbvio,

não estão restritas ao campo de visão de um jornalista dentro de um estádio

ou nas ruas. Estão em laboratórios, mesas de edição de imagens, nos arquivos

das casas dos técnicos, no contato direto com o público, os organizadores,

etc. (MIRÁS, 2005, p.84).

3.4 Formação do Jornalista Esportivo

As cinco características do esporte da mídia definidas por Betti (2001) mais a

superespecialização mostram como essa área é repleta de especificidades que vão muito

além do simples fazer jornalístico. A maioria das questões apontadas pelo autor

induzem reflexões de que o esporte pode ser muito mais do que o que apenas é

mostrado pela mídia. São características que expõem como o jornalismo esportivo está

preso a amarras que fazem com que essa área seja considerada por muitos como a

menos nobre dentre as editorias de um jornal.

Entretanto, apesar de algumas dessas amarras serem menos passíveis de um

bloqueio – como a prevalência do interesse econômico – estudiosos apontam a

formação do jornalista esportivo como uma das soluções para o melhoramento das

características do esporte da mídia.

Como diminuir a “falação esportiva” na cobertura dos esportes? Como procurar

ressaltar outras modalidades, atenuando a predileção pelo futebol como monocultura

esportiva? Como aumentar as pautas que tratem primeiro do conteúdo e depois da

forma? Como combater a superficialidade com que o esporte é veiculado, diminuindo o

enfoque apenas da disputa? Como minimizar os efeitos da prevalência dos interesses

econômicos na escolha das pautas?

Page 48: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

47

A resposta para todas essas questões estaria na formação dos profissionais

responsáveis pela cobertura dos esportes nos veículos de comunicação. “La

transcendencia de la información deportiva se produce por la exigencia a los periodistas

dedicados a este género periodístico, de una preparación acorde con los contenidos a

difundir” (ALCOBA, 2001, p.142).

Hatje (1996, p.115) concorda e destaca a formação ligada à responsabilidade do

jornalista esportivo:

Somente com uma adequada capacitação o jornalista esportivo conseguirá

oferecer, em um curto espaço de tempo, juízos críticos sobre algo que acaba

de acontecer, sem disponibilidade de tempo para analisar detidamente os

acontecimentos presenciados.

Alguns estudiosos do Jornalismo Esportivo constroem análises sobre como

deveria ser o papel ideal de um jornalista esportivo. Para Esteve Ramírez e Fernández

del Moral (1999), as funções do jornalismo esportivo são: potencializar a prática do

esporte, fomentar o espírito desportivo (de participação, de exercício corporal), desterrar

as práticas violentas no esporte (com campanhas de conscientização e denúncias) e

possibilitar o diálogo e a comunicação entre povos, nações e raças.

Ainda segundo os mesmos autores, várias são as características necessárias a um

profissional do jornalismo esportivo. Dentre elas, destaca-se:

Conocimientos suficientes sobre legislación deportiva, dominio de los

reglamentos correspondientes al deporte sobre el que informa, historia del

deporte, etc. En definitiva, se requiere que el periodista deportivo sea un

verdadero profesional especializado evitando así la superficialidad […].

(ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 45).

Ou seja, é possível compreender que o melhoramento no tratamento informativo

do esporte passa invariavelmente pelas mãos do jornalista esportivo. A formação desse

profissional, por conseguinte, passa a ser de suma importância para consolidar esse

contexto. Denise Mirás (2005) ainda acredita que há várias formas de mostrar o esporte

através dos meios de comunicação, não somente da maneira habitual: espetacularizado e

com ênfase na disputa. “O papel do jornalista esportivo também é dar essa possibilidade

de descobrimento, de cultura esportiva, de despertar no espectador no mínimo a

curiosidade pelo esporte, que pode ser um excelente meio de cuidar da própria saúde”

(MIRÁS, 2005, p.82).

Betti (2001), entretanto, alerta que o esporte-competição enfocado pela mídia

não deve ser barrado totalmente, pois esse tipo de abordagem também faz parte do

fenômeno esportivo:

Page 49: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

48

Se a mídia enfocasse o esporte como cooperação, auto-conhecimento,

sociabilização, etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota,

recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e

descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa

agressividade são a ele inerente. (BETTI, 2001, p.108)

O mesmo autor ainda faz um compilado sobre como deveria ser a cobertura ideal

da esporte por parte da mídia. O cenário almejado seria o seguinte: além do futebol,

outros esportes e modalidades, inclusive as que ainda são predominantemente

amadores, teriam espaço nas programações de rádio e TV e nas páginas de jornais;

conteúdos científicos sobre a cultura esportiva (como os socioculturais, biológicos,

históricos, etc) teriam mais presença, assim como análises aprofundadas e críticas a

respeito dos fatos nas várias dimensões que envolvem o esporte atualmente (econômica,

administrativa, política, treinamento, tática); os atletas profissionais e amadores teriam

suas vozes colocadas enquanto seres humanos integrais, não apenas como máquinas de

rendimento; e os receptores seriam considerados indivíduos singulares, não apenas uma

massa homogênea, promovendo assim uma interação necessária para se chegar a um

ideal de comunicação (BETTI, 2001).

Todas essas situações expostas por diferentes autores podem ser mais bem

executadas se forem absorvidas por profissionais capacitados e com preparação para

atuarem na área do jornalismo esportivo. “Se os times passam a semana treinando,

aprimorando fundamentos, ensaiando lances, executando estratégias, estudando os

adversários, por que a imprensa não pode e não deve fazer o mesmo?” (BETTING,

2005, p.16).

Hatje (1996, p.110) lembra que jornalistas e espectadores são ambos

observadores do fenômeno esportivo,

a diferença deve estar na forma de julgar o acontecimento, pois o jornalista

tem a obrigação de estar preparado e capacitado para oferecer um ponto de

vista mais realista do que o do simples espectador, cujos interesses na

competição estão condicionados ao desejo de vitória de sua equipe.

Ou seja: não há dúvidas de que o jornalista esportivo deve ser preparado para

exercer sua função. Entretanto, os autores concordam que essa preparação vem

acontecendo por meio do autodidatismo dos profissionais, já que “muitas faculdades

não têm (ainda) um curso de jornalismo esportivo para adequar os princípios gerais do

jornalismo com o esporte. Uma falta grave.” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p.105).

Bueno (2005, p.18), também destaca a falta de oportunidades para a formação do

profissional.

Page 50: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

49

Outra questão relevante é a capacitação do jornalista esportivo brasileiro,

quase sempre um autodidata, seja pela falta de investimento dos veículos,

seja pela omissão dos cursos de jornalismo e de entidades vinculadas ao

esporte (federações, clubes, patrocinadores, etc).

O autor madrileno Antonio Alcoba expõe que essa situação configura-se

praticamente da mesma forma em seu país. Sua crítica dá conta de que, na Espanha, as

Faculdades de Comunicação negam-se a determinar o Jornalismo Esportivo como uma

disciplina obrigatória, instaurando-a apenas como uma disciplina eletiva:

Desgraciadamente, las Facultades de Ciencias de la Información,

Comunicación o Periodismo, continúan siendo reacias a instaurar la

asignatura de Periodismo Deportivo, como materia troncal, y sólo lo hacen

por medio de una asignatura optativa de escasa duración, con seminarios o

cursos en los que se tratan aspectos concretos de la actividad periodística del

deporte y de la actividad deportiva, pero sin la estructura propia de una

materia tan importante. (ALCOBA, 2001, p.142)

Entretanto, o cenário que se desenha na Espanha ainda parece ser um pouco

mais desenvolvido que o brasileiro. Bueno (2005, p.19) acredita que “em geral, não há,

nas faculdades de Jornalismo, disciplinas ou mesmo cursos de extensão que prestigiem

o Jornalismo Esportivo, despertando os futuros profissionais de imprensa para a

realidade, o compromisso e os desafios desta área”.

A importância do fenômeno esportivo, contudo, cresce a olhos vistos. “Por el

beneficio o daño que sus opiniones y expresiones pueden causar, sorprende que el

estudio del periodismo deportivo sea tratado con indiferencia por las autoridades

académicas y los Gobiernos” (ALCOBA, 2001, p.142).

E no Rio Grande do Sul? Como é tratado o Jornalismo Esportivo dentro da

Academia? É o que veremos no capítulo seguinte.

Page 51: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

50

4 O ENSINO DO JORNALISMO ESPORTIVO

Para analisarmos a presença do Jornalismo Esportivo nos Cursos de

Comunicação do Rio Grande do Sul, procedemos da seguinte forma:

Definimos como sendo 7 (sete) as instituições de ensino a terem seus currículos

analisados. O critério de escolha das Universidades seria estarem localizadas nas 5

(cinco) cidades com maior estimativa populacional do Estado (em 2009), segundo o

IBGE12

:

1. Porto Alegre: 1.436.123

2. Caxias do Sul: 410.166

3. Pelotas: 345.181

4. Canoas: 332.056

5. Gravataí: 269.446

6. Santa Maria: 268.969

7. Viamão: 260.740

8. Novo Hamburgo: 257.746

9. Alvorada: 213.894

10. São Leopoldo: 211.663

11. Rio Grande: 196.337

12. Passo Fundo: 187.507

Em cada uma dessas cidades, duas instituições que contemplassem o curso de

Jornalismo (como Comunicação Social – Habilitação Jornalismo ou como Bacharelado

em Jornalismo) deveriam ser selecionadas: uma pública e uma privada13

. Em cidades

onde esse cenário não se configurava, escolhemos apenas uma universidade privada.

Em cidades onde havia mais de uma instituição privada com curso de Jornalismo – caso

12 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lista completa disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acesso em 12 de novembro de 2010.

13 A cidade de Gravataí não possui nenhuma universidade com curso de Jornalismo, de acordo com o

Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_rs.htm). Acesso em 12 de novembro de 2010.

Em função disso, a cidade imediatamente abaixo – Santa Maria – foi selecionada.

Page 52: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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de Porto Alegre -, optamos por analisarmos apenas uma delas – a maior, a Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)14

.

Assim sendo, os Cursos de Jornalismo selecionados para essa pesquisa foram os

das seguintes Universidades, localizadas nas seguintes cidades:

Porto Alegre – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Caxias do Sul – Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Pelotas – Universidade Católica de Pelotas (UCPel)

Canoas – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Santa Maria – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Centro

Universitário Franciscano (UNIFRA)

Todas as Universidades foram contatadas inicialmente para a consulta da matriz

curricular e do perfil dos egressos ser feita através do Projeto Político-Pedagógico, que

contém todas as disciplinas disponíveis à graduação, bem como suas ementas. Após a

análise inicial dos PPPs, procurou-se conversar com os coordenadores (e professores)

de cada curso para saber, entre outros tópicos, se o Jornalismo Esportivo é abordado de

outras formas dentro de suas universidades e como se dá a criação das disciplinas

optativas em cada instituição.

Na análise dos currículos, constatou-se que apenas duas instituições

disponibilizavam a disciplina de Jornalismo Esportivo como uma disciplina eletiva do

currículo de Jornalismo: a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da

UFRGS, e o Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (Unifra). A

UCPel também abordava o esporte e a mídia, porém de maneira menos aprofundada: o

jornalismo esportivo estava presente dentro da disciplina de Jornalismo Especializado,

que também contemplava os jornalismos econômico, científico, cultural, entre outros.

14

A PUCRS possui cerca de 25 mil alunos, segundo dados atualizados em 2010, disponíveis em

http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/pucrs/Capa/AdministracaoSuperior/ascom/SalaImprensa/siDad

os. Acesso em 22 de novembro de 2010.

Page 53: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

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Nas demais universidades pesquisadas, o Jornalismo Esportivo somente era abordado

em oficinas, cursos de extensão e seminários, não estando necessariamente ligado ao

currículo do curso de Jornalismo.

É importante salientar que todos os cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul

pesquisados desenvolvem seus currículos baseados na Lei de Diretrizes Curriculares

para a área de Comunicação Social e suas Habilitações (Parecer CNE/CES 492/2001).

Vejamos agora a análise individual de cada universidade, seguindo a ordem das

cidades mais populosas, apontadas pelo IBGE.

4.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre

O Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo da Faculdade de

Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da UFRGS, é o único dentre as instituições

públicas do Rio Grande do Sul a oferecer a disciplina de Jornalismo Esportivo em sua

matriz curricular. O caráter da disciplina é optativo. Ela foi incorporada ao currículo

com a reforma curricular ocorrida em 2009. É ministrada pela professora Sandra de

Deus desde o primeiro semestre letivo de 2010. Entretanto, a proposta de inserir uma

disciplina denominada Jornalismo Esportivo no currículo do curso data de 1999. A

coordenadora do curso de Jornalismo da Fabico, professora Ana Taís Portanova Barros

(2010)15

explica que os docentes da Fabico têm liberdade para sugerir disciplinas que

contemplem suas áreas de atuação. Todos os professores do departamento, mesmo

aqueles que não estão envolvidos com a pós-graduação, realizam pesquisas. Nesse

sentido, a criação de disciplinas eletivas aparece como uma forma de interligar a

graduação com a pesquisa em áreas específicas:

a gente sempre quer arranjar uma maneira de integrar a graduação com a

pesquisa, e as disciplinas eletivas são como um canal pra gente poder fazer

isso, então nós podemos criar, a gente possui autonomia para apresentar uma

proposta de disciplinas eletivas. Claro que é avaliado, mas qualquer professor

pode apresentar uma sugestão de uma disciplina eletiva (BARROS, 2010).

No caso da disciplina de Jornalismo Esportivo, Barros (2010) explica que foi

criada principalmente pelo interesse da professora responsável, Sandra de Deus. “É uma

professora muito dedicada. Na verdade eu diria que essa oferta constante se deve à

15

Entrevista concedida à autora no dia 9 de novembro de 2010.

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professora, é da personalidade dela”. O histórico da professora, com pesquisas na área

do jornalismo esportivo, contribuiu, então, para a criação da disciplina. “A professora

que ministra tem muito engajamento com essa disciplina” (BARROS, 2010).

Além disso, a professora Ana Taís destaca que a procura dos alunos por áreas

específicas também ajuda na criação de determinadas disciplinas. “[...] Quando a gente

percebe uma demanda dos alunos por uma especialização em certas áreas, também há

um movimento nesse sentido” (BARROS, 2010). Pode-se dizer que o interesse discente

pelo Jornalismo Esportivo na Fabico também contribuiu para a criação da disciplina. A

professora responsável pela matéria, Sandra de Deus, oferece 20 vagas por semestre aos

alunos. No entanto, o número de acadêmicos que tentam a inscrição varia entre 40 e 50

a cada semestre.

Os assuntos abordados nas aulas dizem respeito às várias especificidades que o

jornalismo esportivo possui. São feitas leituras das principais obras que tratam do tema

e análises de reportagens esportivas. A disciplina também promove o encontro dos

alunos com profissionais que trabalham na mídia esportiva ou que estejam envolvidos

em algum nível com ela. Entre os convidados para palestrarem nas aulas no segundo

semestre letivo de 2010, estavam o repórter esportivo da Rádio Gaúcha, Luciano Périco,

que falou sobre coberturas radiofônicas, o jornalista da Secretaria Extraordinária para a

Copa do Mundo 2014, Douglas Ceconello, falando sobre os preparativos de Porto

Alegre para receber o evento, o advogado do Grêmio Náutico União (GNU), Bruno

Scheidemandel Neto, que esteve presente duas vezes para falar sobre o direito esportivo

e sobre o direito de imagem no esporte, o professor Alexandre Nunes, da Escola

Superior de Educação Física da UFRGS (ESEF), para tratar sobre doping e recursos

ergogênicos no esporte, o jornalista do Globoesporte.com, Eduardo Cecconi, para falar

do jornalismo esportivo na internet, o professor Alberto Reppold, vice-diretor da ESEF,

para discorrer sobre as Modalidades Olímpicas e o impacto econômico e social dos

Jogos, além da presença do ex-técnico da Seleção Brasileira, Dunga, que comandou o

Brasil na Copa do Mundo da África do Sul em 201016

. A disciplina ainda mantém um

blog na internet, onde os alunos divulgam as resenhas dos livros e artigos que leem

sobre o tema, e também postam reportagens esportivas17

.

16

Ver Ementa e Cronograma completos da disciplina de Jornalismo Esportivo da Fabico nos Anexos 17

Disponível em: http://esportefabico.wordpress.com/. Acesso em 8 de novembro de 2010.

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Os alunos que cursam Jornalismo na UFRGS ainda podem optar por

acompanhar disciplinas em outros cursos da Universidade.

Existem várias possibilidades para o aluno buscar especializações

nos campos de interesse que não estão contemplados no Jornalismo. Existe a

oferta de várias disciplinas eletivas que são ministradas por outros

departamentos (BARROS, 2010).

Dessa forma, o aluno que tiver maior interesse em trabalhar com o jornalismo

esportivo depois de formado, pode acompanhar matérias na Educação Física, por

exemplo, e aprender mais sobre o conteúdo que ele possivelmente estará veiculando

após deixar os bancos universitários.

A idéia desse novo currículo foi, justamente, tentar fazer com que o

aluno expanda o seu horizonte além do nosso currículo. Hoje em dia, cada

vez mais o profissional é chamado pra atender várias áreas, tem que ser

múltiplo. Então a alternativa foi de dar bastante liberdade para o aluno

construir o seu curso (BARROS, 2010).

A coordenadora do Curso de Jornalismo da Fabico ainda acredita que o

profissional que trabalhe com a área do esporte deve ter uma formação diferenciada. “A

relação, por exemplo, entre as fontes e o jornalista esportivo é totalmente diferente da

relação entre as fontes do jornalista econômico” (BARROS, 2010).

E complementa:

No jornalismo esportivo existe uma peculiaridade muito forte, bem

diferenciada, que está principalmente no futebol, que tem um circuito próprio

de geração de notícia, de como os seus jogadores vão dar entrevista. Então

você tem que ser um iniciado, tem muita coisa pra aprender [...]. (BARROS,

2010).

4.3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto

Alegre

O curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da

PUCRS, não possui em seu currículo uma disciplina que aborde o Jornalismo Esportivo.

Entretanto, algumas especializações são contempladas nas disciplinas eletivas do

próprio curso, quais sejam: Jornalismo Internacional, Jornalismo de Opinião, e

Jornalismo e Literatura. O coordenador do Curso de Jornalismo, professor Vitor

Necchi18

, explica que a criação de novas disciplinas não é recorrente:

essas disciplinas [Jornalismo Internacional, Jornalismo de Opinião, e

Jornalismo e Literatura] foram criadas na última reforma curricular e desde

então são mantidas. Até poderíamos criar novas disciplinas, mas como essas

18

Entrevista concedida à autora em 12 de novembro de 2010.

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acabaram dando certo, há uma boa procura dos alunos, há professores,

digamos, específicos, então nós acabamos ficando com essas disciplinas.

(NECCHI, 2010).

Além das eletivas, há a cadeira de Jornalismo Especializado, obrigatória para o

Nível V, que possui a seguinte ementa, retirada do site da Famecos19

:

“Textos interpretativos nas várias especializações do jornalismo. Jornalismo

opinativo: coluna, artigo, editorial, crônica, artigo e crítica. Jornalismo de

entretenimento. A aproximação possível entre jornalismo e literatura”. (site

da Famecos, 2010).

Para os acadêmicos que sentirem necessidade de aprofundar-se em outros

conteúdos, existe a possibilidade de cursar disciplinas em qualquer departamento da

Universidade.

Em tese ele pode fazer qualquer disciplina da PUC, desde que não

haja um pré-requisito específico, como em Cirurgia III, por exemplo. Mas a

ideia é justamente de que o aluno transite por outros cursos, outras áreas, para

que tenha uma formação complementar. (NECCHI, 2010).

Essa busca pela formação complementar em outros cursos deverá ficar mais

acentuada após a próxima reforma curricular prevista para o curso. O professor Necchi

(2010) explica que o currículo será alterado de forma que todas as disciplinas oferecidas

pelo próprio curso de Jornalismo sejam obrigatórias, e que as optativas sejam feitas

somente em outros departamentos da PUCRS: “Tudo que for disciplina do Jornalismo

terá que compor o currículo obrigatório. Haverá, digamos assim, espaços para

disciplinas eletivas, mas que seriam de outros cursos necessariamente”.

Apesar da não-existência de uma disciplina que contemple, especificamente, o

Jornalismo Esportivo, a área desperta bastante interesse entre os acadêmicos da

Famecos. A solução encontrada pela coordenação do curso, então, foi a criação de

cursos de extensão que abordem um recorte mais específico de determinados temas.

Ao longo do ano são oferecidos vários, e nessa programação, aí sim,

nós procuramos contemplar interesses e manifestações de alunos, desde o

manuseio de algum software e até mesmo o curso de jornalismo esportivo,

por exemplo. Ou de cobertura de futebol. Ou de crítica musical. Ou de

jornalismo político. (NECCHI, 2010).

A grande procura dos acadêmicos de jornalismo pela área esportiva pode ser

constatada na 23ª edição do SET Universitário20

, realizado de 21 a 23 de setembro de

2010, na Famecos. Em uma das palestras da segunda noite o tema abordado seria

19

http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/famecosuni/famecosuniCapa. Acesso em 29 de outubro de

2010. 20

Realizado desde 1988 pela Famecos, o SET Universitário é um evento que promove palestras e oficinas

na área da Comunicação e que conta com a presença de acadêmicos da maior parte dos Cursos de

Comunicação do Rio Grande do Sul.

Page 57: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

56

“Coberturas de Grandes Eventos Esportivos”, sendo os palestrantes os jornalistas

Marcelo Barreto (apresentador da SporTV) e José Alberto Andrade (repórter esportivo

da Rádio Gaúcha). A organização do evento, prevendo que o público da palestra seria

considerável, providenciou a maior sala disponível naquela noite para sediá-la.

Outro exemplo do interesse discente pelo jornalismo esportivo é o jornal Contra

Ataque, idealizado e produzido pelos acadêmicos de Jornalismo da Famecos. O

periódico é mensal e possui uma versão impressa e outra virtual21

. A equipe conta com

14 estudantes da Famecos, que produzem o jornal paralelamente às atividades do curso

de Jornalismo.

Tem a ver com a Universidade porque surgiu no âmbito da

Universidade, mas ele [o projeto] é dissociado de alguma disciplina. É de

iniciativa particular deles [dos alunos]. Tiveram nosso apoio, circulam

livremente; nós demos todo o estímulo para divulgar, a assessoria que

necessitassem na elaboração do projeto. Mas não é um projeto da Faculdade;

é feito por alunos da Faculdade, mas numa perspectiva independente.

(NECCHI, 2010).

Segundo Necchi (2010), isso só “reflete o quanto há uma primazia dos esportes

no interesse dos alunos”. O coordenador do curso de Jornalismo da Famecos acredita

que a grande atração dos alunos pelo tema é resultado do destaque que o esporte possui

atualmente. Necchi (2010) lembra que na época em que cursou a faculdade, as áreas que

mais interessavam aos acadêmicos eram “jornalismo cultural ou jornalismo político,

porque [o país] vinha de uma fase de redemocratização”. E completa: “hoje, realmente,

me chama atenção o número expressivo de alunos que gostaria de trabalhar com o

jornalismo esportivo”.

Sobre a formação ideal do jornalista esportivo, Necchi (2010) acredita não haver

um modelo único. Mas ressalta:

É claro que um jornalista que faz curso de Letras com ênfase na Literatura

talvez tenha mais propriedade para escrever, discutir, analisar, noticiar temas

ligados a Literatura, assim como Economia, Política e assim por diante.

(NECCHI, 2010).

No entanto, o professor considera como fundamental que a graduação garanta a

qualidade de uma formação estrutural e básica.

As técnicas, as angulações, as questões éticas que permeiam o

trabalho jornalístico, eu acho que havendo uma garantia dessa questão

estrutural, [...] se houver uma formação específica, ótimo, mas eu ainda

acredito na busca por caminhos próprios, na formação de um repertório, no

desenvolvimento de um pensamento crítico. (NECCHI, 2010)

21

http://jornalcontraataque.com.br/

Page 58: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

57

O professor ainda acrescenta que ficaria inviável contemplar todas as áreas

específicas do conteúdo jornalístico em um curso de graduação: “nós teríamos que

aprofundar política, economia, cultura, esporte, agora segurança, meteorologia,

planejamento urbano [...]. É realmente uma equação montar um currículo” (NECCHI,

2010).

Especificamente a respeito da área do jornalismo esportivo, o professor crê que,

principalmente no futebol, a cobertura tornou-se superficial e hoje transforma o esporte

apenas em entretenimento. “Acho que se perde a dimensão do futebol como notícia,

como fato noticiável” (NECCHI, 2010). O coordenador do Curso de Jornalismo da

PUCRS recorda de um fato que ocorreu quando trabalhava como repórter do jornal Zero

Hora, da capital:

lembro que quando eu estava no jornal e houve uma série de denúncias

contra a CBF, houve uma CPI da CBF, muitos repórteres do esporte não

tinham a menor idéia de como fazer essa cobertura, tanto que vieram

repórteres da política e da geral ajudá-los a fazer a cobertura. Então era o

reconhecimento de que não eram repórteres versáteis, preparados para uma

cobertura mais elaborada, mas adensada, afinal tinha-se que ir para os

meandros do Congresso e não ficar simplesmente fazendo a cobertura de um

jogo que está se desenvolvendo. (NECCHI, 2010).

A saída para situações como essa, segundo o professor Necchi (2010),

é garantir ao aluno a capacidade dele de identificar uma notícia, um

fenômeno, fazer uma apuração e depois transformar isso numa narrativa

jornalística. Agora, a questão específica do assunto, do conteúdo, o aluno que

desenvolver senso crítico, bom senso, faro, percepção dos acontecimentos e

aí depois a questão da especialização aí eu acredito muito que é um caminho

individual, de investimento individual. (NECCHI, 2010).

4.4 Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul

O Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UCS também não contempla

em seu currículo uma disciplina que aborde o Jornalismo Esportivo de forma particular.

Segundo o coordenador do curso de Jornalismo, professor Álvaro Benevenuto Junior22

,

“não há direcionamento específico para o Jornalismo Esportivo nas disciplinas

curriculares. Tratamos o tema dentro dos estilos de jornalismo” (BENEVENUTO

JUNIOR, 2010).

A estrutura curricular do curso de Jornalismo da UCS é composta por um tronco

comum (com disciplinas de conteúdo integrado às demais habilitações do Curso de

Comunicação Social) e por conteúdos específicos do jornalismo. Entre as disciplinas

22

Entrevista concedida por e-mail à autora em 20 de novembro de 2010.

Page 59: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

58

comuns é possível destacar: Filosofia, Realidade Brasileira, Psicologia, Política e

Comunicação e Fundamentos da Economia. Já na abordagem específica, as disciplinas

de Fotojornalismo, Jornalismo Impresso, Jornalismo On line, Telejornalismo,

Radiojornalismo e suas respectivas sequências estão presentes. E é dentro delas que o

jornalismo especializado é trabalhado – sendo o jornalismo esportivo também tratado.

Com relação às disciplinas optativas, o aluno de Jornalismo tem total liberdade

para construir sua formação complementar de acordo com a carreira que desejar seguir.

O estudante escolhe as disciplinas que quer cursar, respeitando as

obrigações fundamentais de cada carreira. Digo, com isso, que o profissional

se forma com o compromisso acadêmico fundamental e obrigatório da

carreira e escolhe o que fazer com as opções complementares ao currículo.

(BENEVENUTO JUNIOR, 2010).

O currículo do Jornalismo da UCS, no que se refere a disciplinas optativas,

compreende tanto cadeiras próprias da habilitação - ou nas demais do Curso de

Comunicação Social - como cadeiras em outros cursos da Universidade.

Quanto à criação de novas disciplinas próprias do curso de Jornalismo, de

acordo com o coordenador do curso, há vários fatores que interferem nesse processo.

“Há um conjunto de elementos que incluem interesse dos estudantes e disponibilidade

do professor em trabalhar com conteúdos específicos” (BENEVENUTO JUNIOR,

2010). No caso do interesse discente, o Diretório Acadêmico tem grande atuação, no

sentido de que concentra a demanda dos alunos por determinadas áreas, propõe e

realiza atividades sobre tais conteúdos específicos, como palestras, oficinas e cursos.

Em se tratando da formação ideal para o jornalista esportivo, o professor

Benevenuto Junior defende que apenas a graduação não seria suficiente para atender

todas as especificidades da área:

acredito que este é um tema a ser tratado numa atividade de pós-graduação,

pela especificidade e pela integração com outras carreiras. Não tem como

formar jornalistas esportivos sem a integração com disciplinas específicas da

Educação Física e do Direito (legislação desportiva). A exemplo do próprio

Direito, que criou um setor específico para decidir coisas dos esportes

(tribunais especiais para tal). (BENEVENUTO JUNIOR, 2010).

4.5 Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – Pelotas

O curso de Jornalismo do Centro de Educação e Comunicação (CEC) da UCPel

também contempla o jornalismo esportivo, mas de uma forma mais geral e junto com

outras especializações jornalísticas, dentro da disciplina de Jornalismo Especializado. A

Page 60: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

59

cadeira faz parte da carga horária obrigatória do currículo e existe desde 2006, com

34h/aula. Até 2008 era oferecida no quinto semestre da graduação; com a reforma

curricular, passou a ser ofertada no último semestre, o oitavo, permanecendo em caráter

obrigatório.

O professor responsável pela disciplina é Fábio Souza da Cruz. No conteúdo

programático da cadeira os acadêmicos conhecem os conceitos gerais sobre o

Jornalismo Especializado e as diferenças de apuração e produção de reportagens nos

gêneros específicos. Também discutem as inúmeras áreas de especialização em

seminários em sala de aula e analisam e produzem reportagens especializadas. A

bibliografia básica abrange livros da coleção da Editora Contexto de Jornalismo, como

“Jornalismo Esportivo”, “Jornalismo Econômico”, “Jornalismo Científico” e

“Jornalismo Cultural”23

.

O diretor do Centro de Educação e Comunicação (CEC), professor Jairo

Sanguiné Jr24

, constata que o jornalismo esportivo interessa a um grande número de

acadêmicos do Jornalismo. Além disso, Sanguiné Jr (2010) lembra que o tema ainda é

trabalhado de forma extracurricular, em projetos da TV UCPel:

[o jornalismo esportivo] atrai muitos alunos. Vejo isso nas minhas disciplinas

de redação e, também, porque a nossa TV UCPel tem um núcleo de esportes

que envolve cerca de 12 alunos. Eles fazem a cobertura de eventos esportivos

na cidade e apresentam um programa ao vivo, aos domingos à noite, com

debates e entrevistas. (SANGUINÉ JR, 2010).

O programa a que se refere Sanguiné Jr é o Toque Esportivo, que vai ao ar das

21h às 23h de domingo e aborda o esporte amador e profissional da região sul do

estado. Além de entrevistas e debates, o Toque Esportivo também veicula reportagens

sobre projetos ou instituições que promovam o esporte e a cidadania.

Apesar de a UCPel não ter o Curso de Educação Física entre seus cursos de

graduação, os acadêmicos do curso de Jornalismo têm a possibilidade de acompanhar

disciplinas de outros departamentos para complementarem sua formação: “todos os

cursos disponibilizam disciplinas que podem ser cursadas por alunos de qualquer curso.

Um exemplo são as disciplinas de fotografia, muito procuradas por estudantes de vários

cursos” (SANGUINÉ JR, 2010).

23

Ver ementa completa da disciplina em Anexos. 24

Entrevista concedida por e-mail, em 22 de novembro de 2010.

Page 61: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

60

O diretor do CEC/UCPel acredita que a formação ideal do jornalista esportivo

passaria pela procura e interesse pessoal do próprio acadêmico, aliado ao suporte

oferecido pela instituição.

Acho que em qualquer área do jornalismo a que o estudante se

interessa, ele deve buscar por si o aprofundamento, evidentemente com o

apoio da universidade ao oferecer oportunidades para isso. Mas é importante

buscar também o conhecimento e a prática por si, na sua vida cotidiana.

(SANGUINÉ JR, 2010).

As especializações e os cursos técnicos, segundo Sanguiné Jr (2010), viriam

depois, como uma forma de aperfeiçoar e aprofundar o conhecimento do profissional

em sua área de atuação. O professor completa:

Mas acho que principalmente durante a graduação é que acontece a formação

básica para o desempenho profissional e, sobretudo, uma vivência com a área

de atuação escolhida, seja através de estágios, contatos com profissionais e

muita leitura especializada. (SANGUINÉ JR, 2010).

4.6 Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas

O Curso de Comunicação Social – Jornalismo da ULBRA não possui uma

disciplina que absorve o Jornalismo Esportivo em seu currículo. O coordenador do

curso de Jornalismo, professor Deivison Campos25

, acredita que isso se deva ao fato de

a habilitação fazer parte do Curso de Comunicação Social, que contempla ainda os

cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda.

[No atual currículo] a exemplo de outras universidades, por estar

muito ligado a questão da Comunicação, ainda existe um compartilhamento

maior, o que impossibilita de alguma maneira que se trabalhe com as

especializações, com as editorias. Se trabalha mais a questão do jornalístico,

da construção daquela idéia do valor-notícia, de noticiabilidade, para pode

depois ser aplicada em diferentes editorias. Então é uma formação mais

generalista. (CAMPOS, 2010).

Apesar de não estar presente na matriz curricular do curso, o esporte é abordado

de outras formas dentro do Jornalismo da ULBRA. Há professores do curso que já

atuaram na área do jornalismo esportivo e que levam suas experiências para a sala de

aula. Até pouco tempo, a Agência Experimental de Comunicação promovia oficinas

periodicamente, contemplando o assunto. “Acho que dessa maneira, um pouco

transversal, de contrabando, o tema do jornalismo esportivo acabou entrando no curso,

mas não se tem uma disciplina dentro do currículo de formação” (CAMPOS, 2010).

25

Entrevista concedida à autora em 8 de novembro de 2010.

Page 62: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

61

Quanto às disciplinas optativas, o curso de Jornalismo da ULBRA oferece tanto

as de outros cursos da universidade como as das outras duas habilitações da

Comunicação Social (Relações Públicas e Publicidade e Propaganda), já que a

habilitação de Jornalismo não possui disciplinas eletivas próprias. A coordenação oferta

certas disciplinas, seguindo alguns critérios, mas o acadêmico pode optar por outras não

disponibilizadas em um primeiro momento, desde que o coordenador seja comunicado

em seguida para que possa, assim, validá-la.

[...] Têm alunos que vão buscar em outras áreas. Na Educação

Física, por exemplo. Tenho vários alunos que fizeram futebol de campo,

algumas disciplinas - não práticas, mas teóricas - que, de alguma maneira, já

indica um interesse mais aprofundando sobre a questão do esportivo

(CAMPOS, 2010)

A ULBRA ainda possui um diferencial dentro de seu campus: uma vasta

estrutura física que permite o desenvolvimento de várias modalidades de esportes. É o

Complexo Esportivo da Ulbra. Até o dia 23 de outubro de 2009, o antigo Sport Club

Ulbra (ex-Universidade Sport Club, agora Canoas Sport Club) era ligado à

universidade, e utilizava o Complexo Esportivo para fazer os treinos e sediar os jogos

das competições as quais o clube disputava (em diversas modalidades, desde o futebol e

o vôlei até o atletismo e o basquete)26

. O curso de Jornalismo beneficiava-se disso na

medida em que acadêmicos da habilitação estavam presentes no Departamento de

Comunicação, junto com outros alunos da Educação Física. Lá desenvolviam atividades

de assessoria e mantinham contato com o esporte e sua relação com a mídia. A partir do

momento em que a parceria com a Ulbra findou (o clube agora precisa alugar o

Complexo Esportivo para sediar competições), as relações entre os cursos de

Comunicação Social – Jornalismo e Educação Física ficaram mais distantes, sendo

retomadas somente agora, quando o curso de Jornalismo estará criando uma

especialização em Jornalismo Esportivo e contará com a parceria do curso de Educação

Física para as aulas de tática, técnica, regramentos e conceitos.

26

O Canoas Sport Club, com seus doze anos de fundação, é um dos clubes brasileiros que mais ganhou

títulos em diversas modalidades diferentes em pouco tempo de fundação. O clube é bicampeão mundial

de futsal (além do terceiro título em parceria com o Internacional), tricampeão da Liga Nacional de

Futsal (além do quarto título em parceria com o Internacional), Campeão da Superliga Nacional de

Futsal de 2008 (Copa do Brasil), tricampeão da Superliga Nacional de Vôlei, hendecacampeão (11

vezes) gaúcho de Vôlei, tricampeão paulista de vôlei, bicampeão dos Jogos Abertos-SP de vôlei, quatro

vezes consecutiva terceira melhor equipe de atletismo do Brasil, campeã brasileira de handebol

feminino, campeã sulamericana de voleibol feminino, campeão da Copa do Brasil NLB de basquete,

hexacampeã gaúcha de basquete, vice-campeã paulista de basquete, vice campeã gaúcha da primeira

divisão de futebol, campeã gaúcha da primeira e segunda divisão de futebol, além de outros diversos

títulos.

Page 63: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

62

A especialização, inclusive, foi reflexo de uma demanda percebida nos alunos da

própria graduação em Jornalismo da Ulbra.

Nós já vínhamos discutindo há algum tempo novos cursos de

especialização, mas esse acabou ganhando prioridade porque, logo depois da

Copa do Mundo, o curso promoveu um evento chamado Papo de Redação, no

qual pessoas que estão atuando em redações vão até a Universidade para

fazer mais relato de experiências do que qualquer outra coisa. Logo depois da

Copa, então, nós fizemos um com os repórteres que estiveram na África do

Sul. Só que essa atividade nós já vínhamos promovendo há um ano e meio. E

esse Papo de Redação foi o que, tranquilamente, teve o maior número de

pessoas. Por outro lado, tem uma série de pessoas realizando seus trabalhos

de conclusão sobre a questão do jornalismo esportivo. Então isso demonstra

um interesse e, ao mesmo tempo, uma demanda para esse tipo de informação.

(CAMPOS, 2010).

O professor Deivison Campos acredita que a formação ideal do jornalista

esportivo passaria por uma graduação em jornalismo e, logo em seguida, uma formação

complementar. “Na graduação a gente fortalece o caule da árvore, digamos, para depois

pensar nos galhos” (CAMPOS, 2010). E completa:

não só no jornalismo esportivo, mas num sentido mais amplo, eu acredito que

uma formação complementar, no sentido de uma especialização ou curso de

aperfeiçoamento mesmo, seriam suficientes para formar alguém em um

determinado campo de conhecimento. Aliado, claro, a uma formação pessoal.

O Zé Alberto Andrade [José Alberto Andrade, repórter esportivo da Rádio

Gaúcha], por exemplo, é um cara que tem não só um conhecimento, mas

também uma memória esportiva que é processo de autoformação, do

interesse dele. Então, eu não acredito em receitas, na verdade. Vai depender

das necessidades de cada pessoa para buscar a sua melhor forma de conhecer

o tema. Para uns vai servir essa dupla formação. Outras pessoas vão se

satisfazer com a autoformação mesmo - não no sentido jornalístico, claro.

(CAMPOS, 2010)

Quanto ao contato com o Jornalismo Esportivo ainda no currículo da graduação,

o coordenador do curso de Jornalismo da ULBRA acredita ser inviável pelo fato de

existirem inúmeras editorias que também mereceriam atenção. Ele considera a

graduação como um curso mais formativo, sendo a especialização o caminho para o

aprofundamento em determinado tema. Campos (2010) ainda completa que o que faz

um bom jornalista “independente se ele é de redação, de assessoria, ou atuando em

qualquer outra área, é a solidez de identificar o que é uma notícia, os fatores de

noticiabilidade, de identificar o sujeito da notícia”.

O professor, entretanto, defende que uma formação mais sólida em jornalismo

esportivo serviria para combater a espetacularização em que foi transformado o esporte

midiático.

Eu tenho observado bastante as chamadas dos canais HD, que fazem

uma vinheta dizendo “o que antes era um detalhe, agora é um espetáculo”.

Isso leva a uma ideia das pessoas que vão para o jornalismo esportivo da

espetacularização da transmissão e, de alguma maneira, também leva a essa

Page 64: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

63

superficialização, porque [o jornalista] fica mais preocupado com o que é

bonito e menos com o que está acontecendo. Então se a pessoa tem uma

formação mais consistente ela vai conseguir separar o momento em que o

“que bonito” é necessário e o momento em que uma análise mais consistente

é necessária. (CAMPOS, 2010).

4.7 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria

O currículo do curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo da

Faculdade de Comunicação (Facos) da UFSM não possui nenhuma disciplina que

contemple o Jornalismo Esportivo. O atual currículo está em vigor desde o ano de 2009,

e de acordo com a professora Márcia Franz Amaral27

, integrante da Comissão de

Reforma Curricular dos Cursos de Comunicação Social da UFSM e vice-coordenadora

do Curso de Jornalismo,

o currículo busca dar uma base teórico-prática ao aluno, de forma que ele se

sinta em condições de trabalhar em qualquer tipo de jornalismo. Inicia com

disciplinas como Apuração e Redação Jornalística (1º semestre), Entrevista

Jornalística (2º semestre). Posteriormente, propõe-se a formar o aluno para

as diferentes mídias (impresso, rádio, online e TV). Por outro lado, opta por

preparar este aluno para diversos níveis de complexidade, por isso cada

disciplina específica de uma mídia é oferecida em três semestres

subsequentes. (AMARAL, 2010).

A exemplo da matriz curricular da maioria das universidades, a do curso de

Jornalismo da UFSM também delineia a formação do aluno buscando a especificidade

dos meios (impressa, TV, rádio, online). De acordo com Amaral (2010), da mesma

forma que o jornalismo esportivo não é abrangido, outras especializações do jornalismo,

como o econômico, político, cultural também não são abordados de forma destacada em

disciplinas específicas.

Na UFSM, as disciplinas optativas são chamadas de Disciplinas

Complementares de Graduação (DCGs). No Curso de Comunicação Social, elas são

ofertadas de duas formas: DCGs do próprio Departamento de Comunicação e DCGs

que podem ser cursadas em outros departamentos. As optativas próprias do

Departamento são geralmente disciplinas das outras três habilitações – Produção

Editorial, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Em algumas oportunidades, os

professores do Jornalismo criam disciplinas que contemplem sua área de atuação (ou

interesse). Entretanto, essas situações são menos comuns em função das atividades

27

Entrevista concedida à autora em 18 de novembro de 2010.

Page 65: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

64

acumuladas pelos professores, que “normalmente tem muitos encargos de ensino,

pesquisa, extensão e pós-graduação” (AMARAL, 2010). Mesmo assim, há casos como

o da disciplina de Jornalismo Literário – de caráter eletivo – ministrada pelo professor

Paulo Roberto Araújo. A DCG foi proposta pelo discente, que possui interesse por essa

área do jornalismo. O mesmo professor também ministrava até pouco tempo a disciplina

de Jornalismo Ambiental, por também demonstrar interesse por esse campo do

conhecimento.

Com relação às disciplinas de outros cursos, há uma listagem - determinada pelo

colegiado – de cadeiras que podem ser cursadas em outros departamentos e aproveitadas

como DCGs pelos alunos do Jornalismo. Entre elas estão disciplinas do curso de

História como “História Econômica, Política e Social Geral” e do curso de Ciências

Econômicas, como “Fundamentos Econômicos para Comunicadores Sociais”. Nessa

lista, não há indicação para nenhuma DCG no curso de Educação Física, por exemplo –

que poderia ser aproveitada para complementar a formação de algum acadêmico

interessado na área esportiva. Todavia, se o aluno cursar alguma disciplina do currículo

da Educação Física (tanto Licenciatura quanto Bacharelado), poderá validá-la, desde

que corresponda aos requisitos solicitados pelo colegiado.

A despeito de o jornalismo esportivo não ser abordado diretamente no currículo

do Curso de Jornalismo da UFSM, o tema gera interesse de um número expressivo de

acadêmicos, como destaca a professora Márcia: “em cada turma há de 3 a 5 alunos

muito interessados no jornalismo esportivo” (AMARAL, 2010). Para poderem

desenvolver trabalhos relacionados a esse campo, muitos acadêmicos procuram

atividades extra-curriculares, como o programa da Rádio Universidade Radar Esportivo,

produzido e apresentado por acadêmicos da Comunicação Social28

.

Paralelo ao curso de Jornalismo há estudos sobre a relação mídia-esporte,

principalmente no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade. No

CEFD, além de linhas de pesquisa que enfocam no jornalismo esportivo, também há

disciplinas que abordam a questão e que são ofertadas aos alunos do curso de Educação

28

O Radar Esportivo é um dos programas mais antigos da Rádio Universidade e, desde que começou a

contar com a participação de acadêmicos do Jornalismo da UFSM, teve a coordenação e orientação do

jornalista da Coordenadoria de Comunicação Social e professor do Centro Universitário Franciscano

(Unifra) Gilson Piber. A partir do segundo semestre de 2010, o programa passou a integrar um projeto

maior, que foca na parceria entre a Coordenadoria de Comunicação Social, representada por Gilson

Piber, o Curso de Jornalismo da UFSM, representado pela professora Viviane Borelli e o Laboratório de

Análise de Cenários Esportivos na Mídia (Lacem), do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD),

representado por seu coordenador, professor Antônio Guilherme Schmitz Filho.

Page 66: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

65

Física – Licenciatura. Exemplo disso é o núcleo de Estudos e Pesquisas em

Comunicação e Mídia na Educação Física e no Esporte (NEP/COMEFE), que foi criado

em 2007 e está vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Ensino do Movimento Humano,

do CEFD/UFSM. O Núcleo surgiu a partir do grande interesse de alunos e profissionais

em estudar e pesquisar as temáticas que dão origem ao grupo e a partir dos novos

Projetos Pedagógicos dos cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) do

CEFD, que contemplam a área com a disciplina de Educação Física e as Novas

Tecnologias de Informação e Comunicação. O NEP/COMEFE atua em projetos de

ensino, pesquisa e extensão envolvendo os cenários esportivos na mídia eletrônica,

impressa e tecnológica. Também promove grupos de discussões e oferta disciplinas e

atividades complementares de graduação (DCG e ACG) para acadêmicos da Educação

Física e áreas afins. Além disso, elabora artigos para publicação em revistas cientificas e

jornais e atua na orientação de trabalhos de conclusão de curso na graduação e pós-

graduação.

Os resultados são positivos: o NEP/COMEFE tem contribuído na formação e

atuação profissional, tanto na área de Educação Física quanto na Comunicação Social.

Aliado ao NEP-COMEFE - que teve sua origem em iniciativa pioneira no Brasil, com o

laboratório de Comunicação, Movimento e Mídia na Educação Física, no inicio da

década de 9029

- cabe destacar outra iniciativa importante nesse contexto, surgida no

CEFD nos últimos anos: a constituição do Laboratório de Análise dos Cenários

Esportivos na Mídia (LACEM). Além disso, após a iniciativa do CEFD, em 1991,

muitas outra surgiram no país.

Dessa forma, os acadêmicos de Jornalismo da UFSM que desejarem manter um

contato mais intenso com a área esportiva, invariavelmente, recorrem aos professores,

projetos e disciplinas do CEFD. É o que ocorre quando os alunos dos Cursos de

Comunicação que se interessam pelo tema decidem fazer seus trabalhos de conclusão de

curso sobre Jornalismo Esportivo, como explica a professora Márcia:

29

Criada em 1991, na Universidade Federal de Santa Maria, através do Programa de Pós-Graduação em

Ciência do Movimento Humano do Centro de Educação Física e Desportos, que ganhou uma nova linha

de pesquisa, na época, vinculada à subárea Pedagogia do Movimento, mas esta em agosto de 1995,

tornou-se efetiva como Subárea do Programa. A proposta de criação da Subárea partiu do entendimento

que desportos e meios de comunicação podem vir a ser um novo pensar-agir na Educação Física, e foi

uma alternativa encontrada para estudar e interpretar os fenômenos sociais esportivos veiculados pelos

meios de comunicação, suas interações e conseqüências na sociedade desde a ótica do educador físico, e

não a do comunicador. Está claro que nesta proposta, a interdisciplinaridade é fundamental, até porque

desde o início do século o esporte brasileiro desenvolveu-se em grande parte alicerçado pela divulgação

de suas modalidades nos meios de comunicação.

Page 67: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

66

Quando o aluno está no final do curso e pretende estudar o Jornalismo

Esportivo, encaminhamos o aluno para professores do Centro de Educação

Física, alguns formados também em Jornalismo, que gentilmente abrigam

nossos alunos. (AMARAL, 2010).

A professora Márcia acredita que o currículo ideal para a graduação em

Jornalismo passa por “um núcleo básico e obrigatório em que, posteriormente, o aluno

tivesse a possibilidade de montar seu percurso, escolhendo a especificidade em que quer

atuar” (AMARAL, 2010). Nesse sentido, Amaral (2010) destaca que a possibilidade

que o acadêmico possui de cursar disciplinas em outros cursos e departamentos, serve

de complemento para sua formação em alguma área específica (Economia, Ciências

Sociais, Artes, etc). Por outro lado, quando se trata do acesso a essas cadeiras, o

caminho pode se tornar um pouco difícil, em função do escasso número de vagas

destinadas aos acadêmicos que procuram as disciplinas para cursá-las e validá-las como

DCGs.

O problema é que no esquema atual não há como assegurar ao aluno

todas as opções existentes hoje no mercado de trabalho. Até porque o aluno,

quando solicita a matrícula em disciplinas de outros cursos, depende da

existência de vaga. (AMARAL, 2010).

4.8 Centro Universitário Franciscano (Unifra) – Santa Maria

No Curso de Jornalismo da Unifra, a matriz curricular também contempla o

Jornalismo Esportivo. Há uma disciplina optativa, denominada Oficina de Jornalismo

Esportivo, ministrada pelo professor Gilson Luiz Piber da Silva. A cadeira existe desde

o segundo semestre de 2006. A coordenadora do curso de Jornalismo da Unifra,

professora Sione Gomes30

, explica que a disciplina tem “a preocupação de aprofundar

um pouco mais, tanto do ponto de vista teórico do foco nesse segmento quanto na

possibilidade de prática no jornalismo esportivo” (GOMES, 2010).

Entre as questões que a cadeira Oficina de Jornalismo Esportivo se ocupa em

abordar estão a história do jornalismo esportivo, as funções do jornalista esportivo, a

linguagem esportiva, a pauta e a confecção de matérias esportivas e as coberturas

esportivas31

. Para o professor responsável pela disciplina Oficina de Jornalismo

Esportivo, Gilson Luiz Piber da Silva32

, “o jornalismo esportivo é um segmento

30

Entrevista concedida à autora em 18 de novembro de 2010. 31

Ver Bibliografia e ementa da disciplina em Anexos. 32

Entrevista concedida por e-mail em 22 de novembro de 2010.

Page 68: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

67

importante do jornalismo e abra uma excelente possibilidade para ingresso no mercado

de trabalho e na pesquisa” (SILVA, 2010).

Embora esteja presente no Projeto Político-Pedagógico do curso desde 2006, a

disciplina não foi ofertada em todos os semestres letivos que se seguiram. Isso porque a

coordenação do curso da Unifra procura fazer uma alternância na oferta das disciplinas

optativas próprias da habilitação de Jornalismo. Os acadêmicos necessitam de 136h/aula

de cadeiras eletivas para concluírem a graduação; logo, a cada semestre são oferecidas

cerca de seis disciplinas com 34h/aula cada uma para que o estudante possa completar

sua grade complementar de horários. No segundo semestre de 2010 as cadeiras

disponíveis foram as seguintes: Jornalismo Cultural, Oficina de Produção Radiofônica,

Jornalismo Literário, Fotojornalismo II, Oficina de Multimídia e Produção Criativa de

Texto. A disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo foi ofertada no primeiro semestre

letivo de 2010.

Nós procuramos sempre observar a alternância na oferta de

disciplinas optativas, para possibilitar que os alunos que se interessem por

esse segmento também possam ter oportunidade de outras escolhas e os

alunos que não se interessem tenham outras escolhas a fazer. (GOMES,

2010).

O professor Gilson Luiz Piber da Silva destaca que “a Oficina de Jornalismo

Esportivo não é permanente, mas já conquistou o seu espaço e tem demanda” (SILVA,

2010). A cadeira, quando ofertada, possui, em média, 20 alunos inscritos. Já houve,

entretanto, uma turma com 28 acadêmicos. “A demanda é positiva” (SILVA, 2010). A

coordenadora do curso complementa:

a gente vê que tem sempre uma procura bem regular. É um numero

interessante de alunos que busca [...]. A gente percebe que existe, sim, um

grupo significativo que se interessa, tanto pelo jornalismo esportivo,

propriamente, quanto pelo rádio, que é um dos principais veículos do

jornalismo esportivo. (GOMES, 2010).

Além da abordagem focada na disciplina Oficina do Jornalismo Esportivo, o

tema também é discutido de outras formas dentro do curso de Jornalismo da Unifra. Na

área do Radiojornalismo, o assunto é colocado em pauta principalmente na Rádioweb

Unifra33

, um projeto dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Tendo o

professor Gilson Luiz Piber da Silva - que possui experiência nas áreas de Rádio e

Comunicação e Esportes -, como um dos professores responsáveis, a rádio leva ao ar,

33

http://www.radiounifra.org/

Page 69: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

68

desde o dia 10 de setembro de 2010, o programa Titular da Rede, produzido e

apresentado por uma equipe de acadêmicos do curso de Jornalismo.

Ainda dentro da matriz curricular, nas disciplinas de caráter obrigatório

Jornalismo Especializado I, II e III, o jornalismo esportivo também é contemplado,

ainda que de forma menos aprofundada.

Nós temos três disciplinas de Jornalismo Especializado, sendo que a

primeira delas, Jornalismo Especializado I, se propõe a abarcar uma

pincelada de várias possibilidades. Uma delas, claro, é o jornalismo

esportivo. Nesse primeiro momento não existe um aprofundamento maior

numa ou noutra, a idéia é a constituição de um panorama das diversas

possibilidades de especialização. (GOMES, 2010).

A disciplina de Jornalismo Especializado I é obrigatória para o 5º semestre do

Curso de Jornalismo. Sua ementa resumida, retirada do site da Unifra34

, possui a

seguinte descrição: “Segmentação no jornalismo especializado. Principais segmentos do

jornalismo especializado. Produção de jornal laboratório”. (Site da Unifra, 2010).

O Centro Universitário Franciscano não possui o Curso de Educação Física entre

suas graduações. Todavia, os acadêmicos que desejarem complementar sua formação

cursando disciplinas de outros departamentos, podem fazê-lo. A diferença para os

demais cursos analisados é que tais disciplinas serão validadas como Atividade

Complementar de Graduação (ACC), e não como disciplinas optativas.

[as ACCs] é onde podem se encaixar diversas atividades que o aluno

entenda como significativas para sua formação profissional. Nesse espaço ele

pode inserir qualquer disciplina de qualquer um dos cursos da instituição. Ele

tem essa possibilidade, de uma forma muito simples no seu processo de

matrícula, de buscar vaga em disciplinas de qualquer curso.

Automaticamente ela vai ser validada como ACC. (GOMES, 2010).

Entretanto, há a possibilidade de que as cadeiras cursadas em outros

departamentos possam ter a validade de uma disciplina optativa: “pode vir a ser

validada como disciplina optativa se ela for similar a uma das disciplinas já elencadas

como optativas do currículo do curso” (GOMES, 2010). A lista com as optativas possui

de 20 a 25 cadeiras pré-determinadas pela coordenação, entre disciplinas de Publicidade

e Propaganda e de outros cursos da instituição.

Com relação à formação ideal para o jornalista esportivo, a coordenadora do

curso de Jornalismo da Unifra acredita não haver uma “receita”. Para Gomes (2010), o

principal é que haja qualidade na formação do profissional.

Eu, como defensora da importância da formação do jornalista

enquanto essa especificidade da profissão jornalista, eu vejo que o primeiro

34

http://www.unifra.br/unifra.asp. Acesso em 22 de novembro de 2010.

Page 70: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

69

passo está a graduação como jornalista, por entender que esse é um processo

muito mais de maturação do indivíduo do que propriamente nessa forma de

assimilação de conteúdo. Então é necessária a busca de conteúdos, é

necessário o domínio de algumas práticas, mas fundamentalmente é

necessário esse período de maturação em que ele se enxergue como agente

desse novo processo que é a profissão de jornalista. (GOMES, 2010)

Contudo, a professora acredita que, ainda no percurso da graduação, o futuro

jornalista pode ir evoluindo e identificando quais as áreas são de seu interesse.

[...] já de imediato ir agregando informações, ir agregando práticas,

por isso eu entendo que o caminho das disciplinas complementares, o

caminho dessas estratégias de informações complementares é muito válido,

porque possibilita que, no término dos quatro anos, esse jornalista já tenha

adquirido uma qualificação adequada para se especializar num determinado

segmento, numa determinada área, pode ser o esportivo, o cultural, o

econômico, o político. Eu vejo que esse acréscimo de informações pode vir a

ser feito já no decorrer da formação. (GOMES, 2010).

Page 71: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

70

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise das matrizes curriculares, dos perfis e objetivos de cada curso e

da entrevista com os professores das sete instituições em questão, podemos inferir que o

Jornalismo Esportivo ainda é tratado com deficiência dentro dos Cursos de Jornalismo

do Rio Grande do Sul. O esporte, hoje, tem uma significativa importância para o campo

jornalístico, já que a cultura brasileira está permeada por ele. E a mídia tem uma

significativa importância para o esporte, já que é a responsável por veicular e divulgar

para o público esse fenômeno social de massas.

O esporte ocupa um tempo considerável da programação dos veículos,

principalmente em rádio e televisão. Da mesma forma, a influência da mídia no esporte

é tão forte que tem até mudado regras de algumas modalidades. Um dos grandes

exemplos é o voleibol, que para se tornar um esporte mais “atraente”, na verdade, mais

adequado para transmissões esportivas, teve suas regras bastante modificadas, com

vistas a diminuir o tempo das partidas, antes consideradas muito longas. No futebol, a

implantação da morte súbita é outro exemplo. No basquete, regras como o limite do

tempo de posse de bola (primeiro para 30 segundos e hoje em 24 segundos) e o

arremesso de três pontos, foram criadas para tornar o jogo mais excitante para o público,

especialmente as audiências televisivas. Datas e horários de jogos, em toda e qualquer

modalidade, são marcados de forma que favoreçam transmissões ao vivo e se encaixam

nas grades (programação) das televisões.

Todavia, a cobertura jornalístico-esportiva padece de defeitos que acabam por

conceituar o esporte apenas como um espetáculo de entretenimento para o público. “É

necessário que os profissionais do esporte compreendam estas situações e que atuem

interferindo no processo” (RANGEL, 2008, p.72). Como vimos no capítulo 2, a

“falação esportiva”, a ênfase no futebol, a falta de conteúdo, a superficialidade da

cobertura e a prevalência dos interesses econômicos são características que compõem o

cenário midiático-esportivo atual e contribuem para a aparição de apenas um conceito

de esporte: o esporte de rendimento.

Como sabemos (ou pelo menos deveriam saber os profissionais que veiculam

notícias esportivas), o esporte é muito mais abrangente e complexo para ser limitado

apenas a essa dimensão.

Page 72: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

71

De acordo com Tubino (1999), em 1978, com a publicação da Carta

Internacional de Educação Física e Esporte pela UNESCO, passou a existir uma nova

visão de esporte no mundo. Neste documento estabeleceu-se que a atividade física ou

prática esportiva é um direito de todos, assim como a educação e a saúde. Atualmente as

dimensões sociais do esporte como um direito de todos, abrange três formas de

manifestação: esporte-educação (ou educacional), esporte-participação (ou

participativo) e esporte-rendimento (em que está incluído o esporte de alto nível).

O esporte educacional tem um caráter formativo, fundamentado em princípios

educacionais como participação, cooperação, co-educação, totalidade, regionalização e

integração. O esporte participativo visa a promover o bem-estar dos praticantes,

apoiando-se no prazer lúdico, no lazer e na utilização construtiva do tempo livre; é a

forma de manifestação de esporte que propicia a integração social, assim como a

promoção de saúde. O esporte-rendimento ou de alto nível equivale à forma de

manifestação do esporte que norteou o conceito de esporte até alguns anos atrás; é

pautado pelas regras e códigos específicos de cada modalidade esportiva,

institucionalizado, com organizações internacionais que regulamentam a prática

competitiva desta forma de manifestação esportiva.

Poucos são os profissionais que trabalham com o Jornalismo Esportivo que têm

conhecimento dessa visão ou dos conceitos antropológicos e sociológicos do esporte.

Assim como muitos são os que dizem entender de futebol e poucos são os que

conhecem os regramentos de outras modalidades. Da mesma forma, são muitos os que

só possuem conhecimento para tratar o esporte dentro de campo e poucos os que o

contextualizam e percebem a influência de outros fatores.

Entretanto, um jornalista não pode ser cobrado de conhecimento, se não tiver

acesso a ele. Este trabalho, então, se propôs a pesquisar o quanto a formação do

profissional jornalista esportivo influencia na maneira com que ele aborda o esporte na

mídia e como esta área é contemplada nos currículos dos Cursos de Jornalismo do Rio

Grande do Sul.

Partiu-se do princípio de que grande parte dos profissionais que atuam na área

esportiva são autodidatas, ou seja, seus conhecimentos sobre o esporte provêm de sua

trajetória pessoal, de suas experiências profissionais acumuladas e de sua procura

particular por bibliografias ligadas ao tema. Procurou-se saber, então, porque essa

situação se configurava dessa forma, se a editoria esportiva é uma das mais lidas,

ouvidas e assistidas pelo público atualmente. Mereceria ter, em tese, jornalistas

Page 73: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

72

diferenciados e com conhecimento de causa suficiente para abordar um tema que possui

tanto impacto e influência na vida do brasileiro. “Percebe-se que o jornalista não tem a

dimensão, ou a preocupação com a repercussão e o impacto de sua matéria na

sociedade” (CAMARGO, 2005, p.9). Conforme Alcoba (2001, p.142) constata, “por el

beneficio o daño que sus opiniones y expresiones pueden causar, sorprende que el

estudio del periodismo deportivo sea tratado con indiferencia por las autoridades

académicas y los Gobiernos”.

O que se configura como ideal é que o profissional chegue às redações com, ao

menos, uma base científica, para poder tratar a notícia esportiva de uma forma

particular, afinal,

o jornalismo tem regras próprias para narrar, apresentar, expor, enfim,

tematizar o esporte. Neste sentido, LUSTOSA35

(1996, p. 113) confirma o

exposto ao estabelecer que cada editoria de jornal apresenta diferentes

codificações na formulação do texto da notícia. Isto é, cada seção tematiza,

cobre os assuntos de forma diversa. Para o autor, o jornalismo esportivo

“utiliza uma série de expressões próprias de cada modalidade esportiva”

(1996, p.137), por isso esta atividade exige conhecimentos específicos.

(BORELLI, 2002, p.4)

A autora vai mais longe e acredita que “a atividade de compreensão do esporte

só pode ser feita, primordialmente, pelos especialistas, na medida em que a tarefa de

construção é tão científica que só eles podem ter este entendimento” (BORELLI, 2002,

p.5). Ou seja, apenas especialistas teriam capacidade suficiente para “criar sentidos em

esporte”.

Seguindo essa linha de raciocínio de que o esporte é embasado cientificamente,

estudos de compreensão nessa área passam a ser fundamentais para o exercício da

atividade jornalístico-esportiva. E “a Academia tem um papel importante a

desempenhar neste sentido, já não seja pelo fato de o mercado, para o jornalista

esportivo, estar potencialmente em expansão.” (BUENO, 2005, p.19).

O ensino do Jornalismo Esportivo, portanto, configura-se como uma

necessidade. Contudo, a maioria dos autores que se dedica a analisar a forma como os

profissionais tomam conhecimento do esporte acredita que os cursos de Jornalismo

ainda deixam a desejar quando o assunto é a abordagem da temática em seus currículos.

El fomento de la actividad periodística deportiva, la popularidad de

sus figuras, la demanda de este tipo de información, aunque parezca extraño,

aún no ha conseguido en los centros académicos universitarios, ser

considerada y tratada como asignatura, cuando, curiosamente, los estudiantes

de periodismo la reclaman. (ALCOBA, 2001, p.142).

35

LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: UNB, 1996.

Page 74: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

73

Bueno (2005, p.19) também alerta para a necessidade do ensino do Jornalismo

Esportivo: “em geral, não há, nas faculdades de Jornalismo, disciplinas ou mesmo

cursos de extensão que prestigiem o Jornalismo Esportivo, despertando os futuros

profissionais de imprensa para a realidade, o compromisso e os desafios desta área”.

Na análise dos sete currículos que fizemos neste trabalho, constatou-se que

apenas um curso de Jornalismo ofertava, todos os semestres, a disciplina de Jornalismo

Esportivo, ainda que em caráter opcional: o curso da Fabico, da UFRGS. No Centro

Universitário Franciscano, a disciplina eletiva Oficina de Jornalismo Esportivo era

oferecida em semestres alternados. Essas foram as duas únicas universidades a

contemplarem o assunto de forma aprofundada em seus currículos, com cadeiras

específicas voltadas à área. Na UCPel, o jornalismo esportivo era tratado de maneira

mais geral na disciplina obrigatória de Jornalismo Especializado. Nas demais

universidades, não havia abordagem do assunto de forma científica nas matrizes

curriculares.

O objetivo deste trabalho não é concluir se essa é a única maneira (ou a mais

correta) de formar um jornalista qualificado para atuar na área esportiva, mas apresentar

como o tema é tratado e abordado nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul.

Procurou-se saber qual era a atenção dada a essa área específica nos currículos. Além

disso, tentou-se conhecer como se configurava a inserção de outras áreas, outros cursos

das universidades nos cursos de Jornalismo. Constatou-se que, geralmente, há a oferta

de disciplinas complementares para serem cursadas em outros departamentos. Em tese,

o acesso a elas não seria difícil, porém, em certos casos, o aluno fica impossibilitado de

cursar uma disciplina que consideraria importante pela falta de vagas para acadêmicos

que a cursam como optativa e pela incompatibilidade de horários (já que as cadeiras não

são pensadas para as necessidades dos estudantes de Jornalismo).

Em Universidades que possuem o curso de Educação Física, por exemplo, seria

essencial que o futuro jornalista esportivo acompanhasse disciplinas que abordassem

tanto as questões técnicas, táticas e regras dos esportes quanto disciplinas que

contemplassem a sociologia do esporte e sua importância antropológica. Aqui neste

ponto é necessário destacar que o interesse do próprio aluno pela sua formação também

é fundamental para melhorar a qualidade do jornalismo esportivo atual. A

responsabilidade não pode ser apenas atribuída aos cursos de Jornalismo e a sua

abordagem ou não à área esportiva. Há, dentro de algumas Universidades, diversas

Page 75: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

74

maneiras de se buscar uma formação complementar, e que devem ser aproveitadas pelos

futuros jornalistas esportivos. Um exemplo é o curso de Educação Física do

CEFD/UFSM, que possui projetos como o NEP/COMEFE, já citados anteriormente.

Entretanto, há profissionais, professores e acadêmicos que não consideram a

Educação Física como uma área afim ao Jornalismo, principalmente quando se trata de

buscar uma formação complementar e interdisciplinar no estudo da relação mídia-

esporte.

Eu vejo que é uma possibilidade [a especialização] de lapidar ainda

mais essa formação, de solidificar esse processo. E penso que poderia ser na

busca específica da área de Educação Física, mas me parece que o trabalho

da Educação Física já é focado para a formação de um profissional que não é

o do jornalista. E eu vejo que o papel do jornalista esportivo é saber relatar

bem acerca do esporte e não necessariamente praticar bem ou dominar

processos de quem vai treinar atletas. (GOMES, 2010)

De certa forma, algumas visões equivocadas de profissionais da área da

Comunicação em relação ao papel da Educação Física também dificultam a

compreensão da importância do estudo do Jornalismo Esportivo.

O foco deste trabalho, todavia, é a atenção que o próprio curso de Jornalismo

remete à relação mídia-esporte, até porque dentro de uma disciplina de Jornalismo

Esportivo são discutidos, primordialmente, as pautas, as reportagens, os vieses e as

produções jornalísticas da área. Como é uma disciplina voltada a estudantes do

Jornalismo, permite que o primeiro passo – de aprofundamento e conhecimento das

especificidades e exigências da área – seja dado, para que, ao menos, o jornalista que

precisar redigir reportagens esportivas possa fazer isso com o mínimo de cultura

midiática-esportiva possível. Usamos “primeiro passo”, pois o jornalismo esportivo é

uma área tão ramificada e complexa que não seria possível, em apenas um semestre, por

exemplo, tomar conhecimento de todas as centenas modalidades esportivas que são

praticadas hoje em dia.

Nesse sentido, a disciplina pode incentivar a busca do discente pelo aprendizado

constante na área: com as orientações iniciais promovidas pela disciplina, o profissional

perceberá a importância do tema e terá uma espécie de “guia” para buscar mais livros,

bibliografias, especializações, cursos de aperfeiçoamento, enfim, evitará o

autodidatismo e o empirismo na cobertura esportiva, características que, como vimos no

decorrer de nosso estudo, contribuem para a falta de qualidade do noticiário de esportes.

Para realizar este trabalho, considerou-se como fundamental que uma aula da

disciplina de Jornalismo Esportivo da UFRGS (a única que é realizada em caráter

Page 76: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

75

constante) fosse acompanhada. Na tarde do dia 11 de novembro de 2010, uma quinta-

feira, a professora responsável pela cadeira, Sandra de Deus, e os discentes, receberam o

advogado do Grêmio Náutico União (GNU), Bruno Scheidemandel Neto, convidado

para falar sobre o Direito de Imagem no esporte. Bruno já havia estado presente em

outra aula para palestrar sobre o Direito Esportivo. Durante duas horas, o advogado

mostrou como o Direito de Imagem é tratado nos contratos esportivos. O Direito de

Imagem é aquele direito personalíssimo do atleta, que em face de sua fama e

popularidade, utiliza-o com o intuito de captar recursos financeiros junto a

patrocinadores, consumidores e demais interessados em explorar sua marca

comercialmente. Nos contratos feitos entre clubes e atletas, o direito de imagem

geralmente constitui-se como parte do salário. Por exemplo, se o atleta ganha 200 mil

reais, um terço desse montante é considerado salário efetivamente e o restante – dois

terços – é valor referente ao direito de imagem, ou seja, o direito que o clube tem de

explorar a imagem do atleta. Essa é uma alternativa de contrato que os clubes utilizam,

já que o valor pago a título de licença de uso de imagem não constitui salário, ficando,

portanto, excluído da base de cálculo para a incidência de INSS, FGTS, Férias e 13°

Salário. Dessa forma, justifica-se parte da remuneração como sendo relativa à licença de

uso de imagem. O problema é que a exploração da imagem dos atletas pelos clubes

dificilmente vale o que é pago (no caso do exemplo, dois terços). Quer dizer, o clube

não utiliza a imagem do atleta de forma que valha tudo que lhe é pago com direito de

imagem. E isso se constitui como uma fraude, já que milhões de reais deixam de ser

arrecadados.

Este caso do Direito Esportivo, explicado em apenas uma das aulas da disciplina

de Jornalismo Esportivo já seria o suficiente para dimensionar a complexidade da

cobertura esportiva e mostrar que o repórter da editoria deve ter conhecimento sobre

todas as áreas que interferem no esporte para atuar nela. Com a formação como

jornalista, o repórter já tem, por excelência, a capacidade de identificar quais são os

critérios de noticiabilidade em qualquer editoria. Mas cabe perguntar: os jornalistas que

estão trabalhando como repórteres esportivos conhecem a forma como são feitos os

contratos dos atletas e sabem que esse assunto, em alguns casos – e se devidamente

apurado – pode representar uma reportagem investigativa e de denúncia? Uma resposta,

pelo menos, podemos inferir: os profissionais formados no Curso de Jornalismo da

Fabico que atuarem no jornalismo esportivo saberão.

Page 77: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

76

Ainda dentro desse aspecto, partindo para a análise das entrevistas realizadas

com professores e coordenadores dos cursos de Jornalismo do RS, constatamos que a

maioria dos entrevistados acredita que a graduação é um período para o

amadurecimento do profissional. Por isso, para os professores, o basilar, antes de

conhecer de forma aprofundada o conteúdo que se vai veicular, é ter domínio das

técnicas de reportagem, dos critérios de noticiabilidade e de como trabalhar as questões

éticas do jornalismo. Conforme os entrevistados, absorvendo esses fundamentos do

jornalismo, o profissional poderá atuar em qualquer editoria.

De fato, jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social.

Sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público.

Porém, trabalhar com jornalismo esportivo tem suas especificidades. Por isso, é

importante considerar o exposto de Borelli (2002, p.10):

Assim como o trabalho jornalístico como um todo tem suas próprias regras,

com a cobertura esportiva não é diferente. Neste sentido, a cobertura

esportiva é realizada com ferramentas gerais, do próprio jornalismo, e com

ferramentas específicas do esporte. Isto é, as regras gerais (entrevistas com

fontes, formas de apreensão, construção do lead, apresentação do título, texto

claro e conciso, composição da página e outros valores exigidos pelos

manuais de redação) valem para todas as editorias. Porém, o jornalismo

acaba incorporando fatores característicos do esporte, como a descrição da

ficha técnica em jogos, o uso de expressões características do campo

competitivo (linguagem agonizante, de combate, mais despojada, em função

do campo ser, sobretudo, de entretenimento, etc).

O jornalismo esportivo, então, é um campo com ferramentas específicas que,

obviamente, precisam ser conhecidas pelos profissionais que nele atuarão. Quer-se dizer

que, além de aprender sobre o próprio jornalismo, o repórter da editoria esportiva ainda

precisa dominar os fatores que diferenciam essa cobertura das demais. O conhecimento

das especificidades esportivas revela-se tão importante quanto o domínio do fazer

jornalístico. Às vezes, as características próprias da abordagem esportiva até suplantam

alguns preceitos do Jornalismo, como bem explica Borelli:

As regras instituídas para a composição do lide, por exemplo, têm pouca

relevância na editoria de esportes porque nesta seção é permitida a criação, a

liberdade, a inovação, enfim, muitas estratégias são desenvolvidas para a

tematização do esporte. Pela própria pluralidade do campo esportivo, o

jornalista é levado a abandonar certas regras para incorporar novas formas

nas coberturas. Isto é, são desenvolvidas novas estratégias para aprimorar o

trabalho, se adequar a inovações e avanços tecnológicos e para aprender a

lidar com novos e diversos fatores que surgem a cada dia. (BORELLI, 2002,

p.10).

O campo esportivo afeta e é afetado por vários outros campos, como o das

ciências humanas, da saúde, da pedagogia, da comunicação, do movimento humano, do

Page 78: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

77

direito, etc. Por isso, não pode ser compreendido de forma superficial, ou mesmo não

ser estudado e assimilado pelo jornalista que vai trabalhar com essa área.

É preciso entender que conhecer só o que se faz não basta. Uma

informação de outra área poderá interferir diretamente em seu trabalho.

Novidades que envolvam política, economia, entre outros assuntos,

provocam reações, causas e efeitos no esporte. Saber enxergar e interligar

essas mutações é fundamental. (AWAD, 2005, p.58)

Claudia Coutinho (2005, p.110) completa:

O esporte, independentemente da modalidade escolhida (nem sempre por

livre e espontânea vontade do jornalista), requer o domínio das regras básicas

do jogo, o conhecimento das fórmulas das competições (que, no Brasil,

costumam ser bastante mutáveis e, por vezes, bem complicadas) e a

nomenclatura, que vai desde o vocabulário de golpes até os sinais utilizados

pela arbitragem. Uma dose de conhecimento sobre doping e medicina

esportiva também é importante.

A deficiência no ensino do Jornalismo Esportivo preocupa, no que se refere à

qualidade da informação que está sendo oferecida para o público. São raras as pautas

abordando apreciações estruturais sobre a situação do esporte no país, reportagens

investigativas, as relações entre esporte e saúde, a capacidade social do esporte, etc. O

esporte midiático foi institucionalizado como entretenimento e como um espetáculo,

sendo que, “experiências como a que o Instituto Ayrton Senna desenvolve - que é a

educação pelo esporte - de alguma maneira já provam que o esporte não é só

entretenimento” (CAMPOS, 2010).

Além disso, em 2014 e 2016 o Brasil vai ser sede dos dois maiores eventos

esportivos do mundo: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, respectivamente. É

pertinente nos questionarmos se os profissionais que estarão envolvidos na cobertura de

acontecimentos que serão acompanhados por grande parte da população mundial estão

preparados o suficiente para realizá-la.

No âmbito olímpico, inclusive, se torna ainda mais visível o despreparo dos

jornalistas. A maioria dos esportes só tem o acompanhamento dos profissionais da

imprensa esportiva justamente na Olimpíada, ou seja, de quatro em quatro anos. “Em

geral, a mídia só contempla determinados esportes no instante das grandes competições

internacionais (as Olimpiadas e os Jogos Pan-americanos) [...]” (BUENO, 2005, p.21).

A falta de conhecimento sobre as modalidades disputadas nos Jogos já protagonizou

diversas situações constrangedoras nas transmissões olímpicas. Capinussú (2005)

acredita que a necessidade de aprofundamento no conhecimento sobre o Movimento

Olímpico deve ser tratada a partir da superação de quatro aspectos básicos. Dentre eles,

está o seguinte:

Page 79: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

78

Os Cursos de Jornalismo existentes nas Escolas de Comunicação não

preparam o jovem para encarar um mercado de trabalho atraente, como o

esportivo. Muito menos, fornecem informações substanciais sobre o

Olimpismo, a ponto do repórter não saber quem é Ademar Ferreira da Silva,

um dos poucos integrantes do seleto elenco ganhador de duas medalhas de

ouro em duas Olimpíadas consecutivas, em uma prova bastante difícil como

o salto triplo. (CAPINUSSÚ, 2005, p.53).

Para neutralizar esse aspecto negativo da cobertura jornalístico-esportiva, o autor

apresenta cinco recomendações, as quais consideramos como fundamentais para a

compreensão deste trabalho e reproduzimos na íntegra (CAPINUSSÚ, 2005, p.55):

1 - Inclusão, por parte das escolas superiores de comunicação, da disciplina

jornalismo esportivo (ou comunicação esportiva) em seus currículos de graduação, com

cargas horárias de no mínimo 30 h/aula.

2 - Realização de cursos de pós-graduação, em nível de especialização, na área

de comunicação esportiva, com aulas ministradas por professores ligados à

Comunicação e à Educação Física, portadores de formação em nível de mestrado e

doutorado, ou com titulação de notório saber. Nesta proposta, o curso de especialização

se dividiria em três setores:

INFORMAÇÃO E ESPORTE - Futebol de campo, futsal, voleibol, basquetebol,

natação, pólo-aquático, atletismo, ginástica artística, ginástica rítmica, tênis, remo,

iatismo,artes marciais e informação esportiva.

FUNDAMENTOS DO ESPORTE - Epistemologia do esporte; organização e

assessoramento nos esportes; sociologia do esporte; medicina esportiva.

JORNALISMO ESPORTIVO – Noticiário esportivo; crônica esportiva;

transmissão esportiva; imagem do esporte.

3 - Cursos de curta duração com a participação de especialistas no assunto, para

repórteres esportivos, versando sobre informações básicas a respeito do Olimpismo, em

sua parte filosófica e operacional (abordagem sobre esportes e Jogos Olímpicos de

Verão e Inverno).

4 - Publicação de periódicos capazes de resgatar a memória olímpica em todos

os seus aspectos, deixando de lado o noticiário e dando prioridade às raízes do

Movimento Olímpico, aproveitando tudo aquilo de belo que esta manifestação propicia.

5- Convém preservar a influência dos meios de comunicação em seu aspecto

esportivo, utilizando-os em campanhas benéficas que divulguem políticas corretas de

nutrição e da prática esportiva.

Page 80: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

79

O jornalismo esportivo, como vemos, não pode e não deve ser ignorado pelas

escolas de Jornalismo. Para Alcoba (apud CAMARGO, 2005, p.4) a formação ideal do

jornalista deve compreender três anos de estudos referentes a sua atuação e dois anos de

especialização para atuar na área de sua preferência. “... A preparação de um jornalista

esportivo deveria estar diretamente ligado ao estudo. É essa a minha grande

preocupação com essa nova geração que esta querendo atuar nessa profissão e não quer

estudar...” (ALCOBA apud CAMARGO, 2005, p.4)

Há inúmeras razões para o jornalismo esportivo ser contemplado nas matrizes

curriculares dos cursos de Jornalismo. Além das que já citamos no decorrer do trabalho,

existe também o interesse do próprio aluno na temática. Nas entrevistas realizadas com

os professores e coordenadores para a realização desta pesquisa, constatamos que em

todas as instituições os entrevistados percebem que o assunto atrai um número

considerável de acadêmicos.

Em uma pesquisa realizada nas Universidades de Taubaté (UNITAU), de Mogi

das Cruzes (UMC) e na UniFIAM/FAAM, de São Paulo (SP), foram entrevistados 50

alunos de cada instituição sobre a inclusão da disciplina Jornalismo Esportivo na grade

curricular de suas Universidades36

. O resultado foi que 115 dos 150 estudantes

entrevistados - 76% do total - têm interesse na temática esportiva.

O que se conclui é que mídia e esporte são fenômenos que se desenvolvem na

teia cultural da sociedade, portanto, não estão isolados, suas relações não se dão

unicamente na esfera de um e ou de outro, interligam-se e influenciam outros aspectos

sociais. Estão também na esfera política, econômica e no espaço das artes. Enfim, são

fenômenos da dimensão cultural do homem.

Nesse sentido, um dos agentes responsáveis pela construção mídia-esporte – o

jornalista – precisa estar cientes de seu papel e, sobretudo, ter conhecimento de todas as

variáveis possíveis antes de exercê-lo.

Considerando a força do esporte como fenômeno social, econômico e político e

a responsabilidade dos jornalistas esportivos frente a essa situação, Academia, Governo

e empresas jornalísticas devem incentivar o ensino do Jornalismo Esportivo. Dessa

36

Pesquisa disponível no artigo “Jornalismo Esportivo: uma nova disciplina para o curso de graduação

em Jornalismo”, de Fernando Ivo Antunes, disponível no site da Universidade do Futebol:

http://universidadedofutebol.com.br/2009/12/1,4421,JORNALISMO+ESPORTIVO+UMA+NOVA+DIS

CIPLINA+PARA+O+CURSO+DE+GRADUACAO+EM+JORNALISMO.aspx?p=2. Acesso em 22 de

novembro de 2010.

Page 81: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

80

forma, a capacidade do profissional é maximizada, a qualidade da informação veiculada

aumenta, o público consome essa informação de forma ativa e benéfica e o Jornalismo

Esportivo pode cumprir, também, seu papel de ator na transformação social.

Page 82: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SIMARRO, Pedro Ortiz. La formación dual del periodista especializado. In: ESTEVE

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VILAS BOAS, Sérgio. Formação e Informação Esportiva, São Paulo: Summus

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Page 85: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

84

ANEXOS

Page 86: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

85

ANEXO A - Ementa da Disciplina de Jornalismo Esportivo do Curso de

Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação

Departamento de Comunicação

Dados de identificação

Período Letivo: 2010/2

Professor Responsável: SANDRA DE FATIMA BATISTA DE DEUS

Disciplina: JORNALISMO ESPORTIVO

Sigla: BIB02119 Créditos: 4 Carga Horária: 60

Súmula

A especificidade do jornalismo esportivo. Limites entre informação jornalística e

espetáculo. A linguagem dos diferentes esportes. A crônica esportiva. Montagem de

equipes e outros procedimentos relativos à produção jornalística.

Currículos Etapa

Aconselhada

Natureza

JORNALISMO Eletiva

Objetivos - Buscar um melhor preparo dos estudantes que desejam seguir a especialização no

jornalismo,

- Aprofundar os conhecimentos teóricos em jornalismo esportivo

- Conhecer os diferentes teóricos do jornalismo esportivo,

- Analisar as práticas de jornalismo esportivo

- buscar terminologias apropriadas para a especialização no jornalismo que trata de

esportes.

Conteúdo Programático

Semana Título Conteúdo

1 a 18 Jornalismo esportivo: teoria

e prática

- O jornalismo especializado e a complexidade do

jornalismo esportivo

- O estado da arte nos estudos específicos sobre

jornalismo esportivo

- O jornalismo esportivo nos diferentes meios

- Conceitos e práticas do jornalismo esportivo

- O uso de medicamentos no esporte

- Modalidades esportivas e os eventos esportivos

Page 87: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

86

-Respostas do corpo aos treinamentos

- A relação entre fontes e jornalistas.

Metodologia

- Aulas expositivas

-Seminários com convidados especialistas Carga Horária Teórica: 60 horas

Prática: 0 horas Experiências de Aprendizagem - Leituras especificas

- Preparação de seminários

- Realização de coberturas esportivas Critérios de Avaliação - Participação em aula

- Entrega de material analítico das coberturas Atividades de Recuperação Previstas -

Entrega de monografia sobre um tipo de cobertura esportiva.

Bibliografia

Básica Essencial

ALCOBA, Antonio - Deporte y comunicación - Editora Dirección de Deporte de la comunidad

Autónoma de Madrid

ALCOBA, Antonio - El periodismo deportivo em La sociedad moderna. - Editora Ed. Augusto

Pila Teleña

ALCOBA, Antonio - Periodismo Deportivo - Editora Sintesis (ISBN: 8497562739)

Básica

Andre Rezek e outros - 11 gols de placa - uma seleção de grandes reportagens sobre o nosso

futebol - Editora Record (ISBN: 9788501087621)

BARBEIRO, Heródoto e RANGEL, Patrícia - Manual de jornalismo Esportivo - Editora

Contexto (ISBN: xxxxx)

CLAUSO, Raúl - Cómo se construyen lãs noticias- los secretos de lãs técnicas periodísticas -

Editora La Crujía (ISBN: 9789876010337)

COELHO, Paulo Vinicius. - Jornalismo esportivo - Editora Contexto (ISBN: xxxxxxx)

Edileuza Soares - A bola no ar - Editora Summus (ISBN: 8532304613)

Complementar

CHARAUDEAU, Patrick - Discurso das mídias - Traduzido por Angela Correa - Editora

Contexto (ISBN: 8572443231)

LAGE, Nilson - A reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística - Editora

Record (ISBN: 9788501060907)

Outras Referências

Título Texto

A RELAÇÃO

ENTRE

JORNALISTAS E

FONTES NO

JORNALISMO

ESPORTIVO (estudo

Projeto de pesquisa: A pesquisa aborda a relação entre as fontes e os

jornalistas esportivos. A pesquisa bibliográfica permitirá tipificar e

classificar as fontes de acordo com sua natureza, origem, duração e

legitimidade. O corpus da pesquisa é formado pela programação

esportiva das emissoras que operam em Amplitude Modulada (AM), em

Porto Alegre. Esta delimitação será possível a partir de uma revisão nos

Page 88: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

87

sobre radiojornalismo

esportivo)

estudos sobre jornalismo esportivo e sobre emissoras de rádio no Rio

Grande do Sul, especificamente em Porto Alegre. Posteriormente será

realizado o acompanhamento da programação e a classificação dos

programas com observação das rotinas de produção. Realização de

entrevistas com os responsáveis pelas emissoras e com os jornalistas

esportivos. A etapa seguinte, com base nas referências bibliográficas,

constituí-se de uma análise da programação para definir os programas

jornalísticos e qual a relação jornalista x fonte.

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ANEXO B – Ementa da Disciplina de Jornalismo Especializado do Curso de

Jornalismo do Centro de Educação e Comunicação (CEC) da Universidade Católica de

Pelotas (UCPel)

Disciplina de Jornalismo Especializado (2006)

EMENTA

------

Conhecimento e compreensão dos diversos gêneros do jornalismo

especializado. Conceituação, segmentação, interfaces, estilos e possibilidades.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

---------------------

1. Conceitos de linguagem cotidiana e linguagem especializada

2. Produção no jornalismo especializado. Pauta e captação da informação. A

preparação do jornalista para reportagens especiais.

3. Áreas especializadas (economia, política, cultura, tecnologia, medicina,

esportes, etc.).

4. Seminários por área de especialização.

5. A especificidade da linguagem dirigida a públicos segmentados. Publicações

segmentadas.

6. Análise e produção de reportagens especializadas.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

-------------------

CALDAS, Suely. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003.

COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2004.

OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.

PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

-------------------------

ARISTÓTELES. Arte Retórica. Arte Poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d.

Page 90: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

89

BASILE, Sidnei. Elementos de Jornalismo Econômico. Rio de Janeiro:

Negócio/Campus, 2002.

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uma história social da linguagem. São Paulo: Ed. Unesp, 1998.

BURKET, Warren. Jornalismo Científico. São Paulo: Forense Universitária,

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CALDAS, Álvaro (Org.). Deu no Jornal - o jornalismo impresso na era da

Internet. Rio de Janeiro/ São Paulo: Ed. PUC-Rio/Loyola, 2002.

CAVALCANTI, Fabiane Gonçalves. Neologismos, empréstimos e erudição no

jornalismo científico. Portal do Jornalismo científico, acessado em 28 de março de

2002. (http://www.jornalismocientifico.com.br/artigofabianeneolo-gismos.htm).

COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.

ECO, Umberto. Lector in Fabula. São Paulo: Perspectiva, 1986.

ERBOLATO, M.. Jornalismo especializado: emissão de textos no jornalismo

impresso. São Paulo: Atlas, 1981.

FRIAS FILHO, Otávio. et alii. Seminário de Jornalismo. São Paulo, Folha de

São Paulo, 1986.

KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo Econômico. São Paulo: EDUSP, 1996.

LADEVÉZE, Luiz Nuñez; CASASUS, Josep Maria. Estilo y Géneros

Periodísticos. Barcelona: Ariel, 1991.

LAGE, Nilson. A Reportagem - teoria e técnica de entrevista e pesquisa

jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.

LOPES, Boanerges; NASCIMENTO, Josias. Saúde e Imprensa - o público que

se dane! Rio de Janeiro: Mauad, 1996.

OLIVEIRA, Fabíola de.. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.

PELTZER, Gonzalo. Jornalismo Iconográfico. Lisboa: Planeta, 1992.

REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Jornalismo Empresarial: teoria e

prática. São Paulo: Summus, 1984.

TRAVANCAS, Isabel. O Livro no Jornal - os suplementos literários dos jornais

franceses e brasileiros nos anos 90. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.

VILLAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo:

Summus, 1996.

Page 91: A especialização nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul: o caso do jornalismo esportivo - Laura Gheller

90

ANEXO C - Ementa da Disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo do Curso

de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)

Ementa da disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo:

A história do jornalismo esportivo. Funções do jornalista esportivo. A linguagem

esportiva. A pauta e a confecção de matérias esportivas. As coberturas esportivas.

Carga horária - 34 horas/aula

Bibliografia

Bibliografia básica

BARBEIRO, Heródoto e LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Radiojornalismo:

produção, ética e Internet. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.

FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre:

Sagra-Luzzatto, 2000.

JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. São Paulo: Contexto. 2004.

SCHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda,

2004.

Bibliografia complementar

MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo: Ática, 1988.

McLEISH, Robert. Produção de Rádio: um guia abrangente de produção radiofônica.

São Paulo: Summus, 1999

PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de jornalismo. São Paulo: Panda, 2000.

PORCHAT, Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan. São Paulo: Ática, 1993.

RÁDIO GUAÍBA. Manual de Redação. http//www.radioguaiba.com.br/manual.htm.

Jornais diários, artigos e sites esportivos na Internet