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XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.xxx. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN: A ESTATÍSTICA À SERVIÇO DA SAÚDE DO ADOLESCENTE: O CARTÃO DE VACINAÇÃO 1 Wériton de Souza Lôbo Universidade Estadual de Santa Cruz UESC [email protected] Irene Maurício Cazorla Universidade Estadual de Santa Cruz UESC [email protected] Resumo Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma sequência de ensino pautada no ciclo investigativo PPDAC (Problema, Planejamento, Dados, Análise, Conclusão) visando o desenvolvimento do letramento estatístico, com o tema imunização humana, via vacinação. Participaram da pesquisa a professora e estudantes de uma turma do 9º ano de uma escola pública do Sul da Bahia. A professora e os estudantes elaboraram duas questões de investigação: como está a cobertura vacinal e qual é a situação de vacinação dos estudantes. Para a problematização foi realizada uma palestra com um profissional da área de saúde e foram trabalhadas seis vacinas; o planejamento da atividade foi discutido com os estudantes; que coletaram os dados de seus cartões de vacinação. Na fase de análise, os estudantes construíram tabelas de distribuição de frequência simples e de dupla entrada, gráfico de barras simples e empilhadas e calcularam a média simples, a média a partir da tabela de distribuição de frequência e a média geral a partir de médias parciais; por fim, responderam as questões de investigação. As atividades foram desenvolvidas em sete encontros, totalizando nove horas/aula. Os estudantes ficaram motivados, se envolveram em todo o processo e despertaram a consciência da importância da vacinação para sua saúde, fazendo com que se apropriassem dos significados e propriedades dos conceitos estatísticos, dentre eles a média aritmética, sinalizando rudimentos do letramento estatístico. Além disso, os estudantes participaram da II Feira de Matemática da Universidade Estadual de Santa Cruz onde apresentaram a atividade e realizaram a pesquisa com os visitantes. Palavras-chave: Média aritmética. Sequência de ensino. Ciclo Investigativo. Letramento estatístico. INTRODUÇÃO Ensinar Estatística, na Educação Básica, envolvendo os estudantes, de forma que eles tomem consciência de sua utilidade na tomada de decisões em suas vidas, é bastante desafiador. Cazorla e Santana (2010) apresentam sequências de ensino trabalhadas com estudantes em 1 Agradecimento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior CAPES, Brasil, pela concessão da bolsa de estudo

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XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática

A sala de aula de Matemática e suas vertentes

UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019

2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.xxx. Ilhéus, Bahia. XVIII

EBEM. ISBN:

A ESTATÍSTICA À SERVIÇO DA SAÚDE DO ADOLESCENTE: O CARTÃO DE

VACINAÇÃO1

Wériton de Souza Lôbo

Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

[email protected]

Irene Maurício Cazorla

Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

[email protected]

Resumo

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma sequência de ensino pautada no ciclo

investigativo PPDAC (Problema, Planejamento, Dados, Análise, Conclusão) visando o

desenvolvimento do letramento estatístico, com o tema imunização humana, via vacinação.

Participaram da pesquisa a professora e estudantes de uma turma do 9º ano de uma escola

pública do Sul da Bahia. A professora e os estudantes elaboraram duas questões de

investigação: como está a cobertura vacinal e qual é a situação de vacinação dos estudantes.

Para a problematização foi realizada uma palestra com um profissional da área de saúde e foram

trabalhadas seis vacinas; o planejamento da atividade foi discutido com os estudantes; que

coletaram os dados de seus cartões de vacinação. Na fase de análise, os estudantes construíram

tabelas de distribuição de frequência simples e de dupla entrada, gráfico de barras simples e

empilhadas e calcularam a média simples, a média a partir da tabela de distribuição de

frequência e a média geral a partir de médias parciais; por fim, responderam as questões de

investigação. As atividades foram desenvolvidas em sete encontros, totalizando nove

horas/aula. Os estudantes ficaram motivados, se envolveram em todo o processo e despertaram

a consciência da importância da vacinação para sua saúde, fazendo com que se apropriassem

dos significados e propriedades dos conceitos estatísticos, dentre eles a média aritmética,

sinalizando rudimentos do letramento estatístico. Além disso, os estudantes participaram da II

Feira de Matemática da Universidade Estadual de Santa Cruz onde apresentaram a atividade e

realizaram a pesquisa com os visitantes.

Palavras-chave: Média aritmética. Sequência de ensino. Ciclo Investigativo. Letramento

estatístico.

INTRODUÇÃO

Ensinar Estatística, na Educação Básica, envolvendo os estudantes, de forma que eles

tomem consciência de sua utilidade na tomada de decisões em suas vidas, é bastante desafiador.

Cazorla e Santana (2010) apresentam sequências de ensino trabalhadas com estudantes em

1 Agradecimento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior – CAPES, Brasil, pela concessão da bolsa

de estudo

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escolas públicas, com resultados bastante promissores. Inspirados nessas autoras, decidimos

para a nossa dissertação de mestrado construir e analisar a viabilidade de uma sequência de

ensino (SE), envolvendo o tema da imunização humana. Neste artigo, apresentamos um recorte

focando o desenvolvimento das atividades relativas à média aritmética2 em sala de aula.

Escolhemos o tema imunização, via vacinação, por ser um tema global, uma vez que a

humanidade já sofreu grandes epidemias como, por exemplo, a gripe espanhola, suína, aviária

e o Ebola. No Brasil o retorno de doenças como a Pólio, o Sarampo, a Febre Amarela, têm

alertado as autoridades sanitárias, realizando uma grande mobilização para aumentar a

cobertura vacinal3, tanto em nível nacional, quanto local.

A escolha do tema foi bastante oportuna, pois além dos noticiários internacionais e

nacionais sobre surtos de doenças preveníveis com a vacinação, na cidade onde a escola está

inserida, as manchetes dos jornais locais noticiavam: “Bahia confirma primeiro caso de

Sarampo na cidade de Ilhéus: há outros dois casos suspeitos em investigação na cidade”4. De

acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) um homem, de 38 anos, que

trabalhava na construção civil na cidade de Ilhéus, foi diagnosticado com a doença. Com o

avanço da doença, o Ministério Público Federal fez um apelo: “MPF pede que escolas cobrem

carteira de vacinação de alunos: Bahia tem 349 casos suspeitos de Sarampo. A Sesab considera

que o risco de reintrodução da doença é “iminente”5.

Além disso, um tema como este nos permite discutir a multiplicidade de fatores

envolvidos no fenômeno, ajudando o estudante a perceber que o fenômeno é complexo e

interdisciplinar, permeando diversos conteúdos disciplinares, por exemplo, Ciências ou

Biologia (diversas formas de vida microscópica, ciclo de vida das bactérias ou vírus, as

mutações genéticas que fazem com que esses se tornem, cada vez mais, resistentes às vacinas

e medicamentos, propagação e contaminação, os problemas de saúde que podem causar etc.),

Geografia (regiões com alto índice de epidemias), Sociologia (compreensão dos costumes da

população, nova corrente de pais que se recusam a vacinar seus filhos), Matemática em especial,

a Estatística (com levantamento e tratamento de dados).

Nesse sentido, trabalhar com temas transversais e interdisciplinares ajuda o estudante a

compreender o fenômeno e a tomar consciência do seu papel em prol da melhoria de seu bem-

2 Neste trabalho nos referiremos à média aritmética como média. 3 Cobertura vacinal é a porcentagem de pessoas que tomaram a vacina em uma população determinada. 4 Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/bahia-confirma-primeiro-caso-de-sarampo-na-

cidade-de-ilheus/. Acesso em 01 de abril de 2019. 5 Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/mpf-pede-que-escolas-cobrem-carteira-de-

vacinacao-de-alunos/. Acesso em 01 de abril de 2019.

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estar, da comunidade escolar e de fora da escola, em que está inserida, utilizando para isso os

conhecimentos escolares. Além disso, o estudante pode observar que a Estatística está presente

em quase todas as abordagens antes mencionadas, seja na experimentação, na observação ou

na pesquisa de opinião. Conceitos como amostragem, variáveis, instrumentos, coleta de dados

etc. serão necessários para instrumentalização da coleta, tratamento de dados e comunicação de

resultados, propiciando uma participação ativa do estudante, durante todo o processo.

A MÉDIA ARITMÉTICA, O LETRAMENTO ESTATÍSTICO E O CICLO

INVESTIGATIVO PPDAC

Um dos conceitos estatísticos que trabalhamos na sequência de ensino foi a média

aritmética, que doravante denominamos de média, definido como um valor que resume e

representa um conjunto de dados. A média, junto com a mediana e a moda, são conhecidas

como as medidas de tendência central e é a medida mais poderosa dentre essas, pelas suas

propriedades e por ser a base de cálculo para outras medidas estatísticas tais como o desvio

padrão, o coeficiente de variação, de correlação dentre outras.

Neste trabalho apresentamos a média simples calculada a partir dos dados brutos, a

média calculada a partir das médias de grupos e a média calculada a partir da tabela de

distribuição de frequência (TDF).

Segundo Bussab e Morettin (2010, p. 35), a média é o “resultado da adição dos valores

da variável (dados) dividido pelo número de dados”. Neste caso estamos nos referindo à média

calculada a partir dos dados brutos.

�̅� = ∑ 𝑥𝑖

𝑛𝑖=1

𝑛=

𝑥1 + 𝑥2 + 𝑥3 + ⋯ + 𝑥𝑛

𝑛

Onde X representa a variável em estudo, x1, x2, ..., xn, os valores que a variável toma

naquela observação e n o número de dados ou tamanho da amostra. A notação utilizada no

Ensino Superior é �̅� (lê-se “X barra”). Na Educação Básica, os livros didáticos têm evitado a

utilização desta fórmula substituindo pela palavra “Média” ou simplesmente “M”.

A média (média geral) calculada a partir da média de grupos (médias parciais) utiliza a

propriedade da média, recompondo, no numerador, a soma dos valores a partir do produto da

média parcial pelo tamanho do grupo:

�̅�𝑔𝑒𝑟𝑎𝑙 =∑ 𝑛𝑖 ∗ �̅�𝑖

𝑘𝑖=1

∑ 𝑛𝑖𝑘𝑖=1

=𝑛1 ∗ �̅�1 + 𝑛2 ∗ �̅�2 … + 𝑛𝑘 ∗ �̅�𝑘

𝑛1 + 𝑛2 … + 𝑛𝑘=

𝑛1 ∗ �̅�1 + 𝑛2 ∗ �̅�2 … + 𝑛𝑘 ∗ �̅�𝑘

𝑛

Onde k é o número de grupos, �̅�𝑖 é a média do grupo i; ni é o tamanho do grupo i e n é

o tamanho da amostra, que é a soma do tamanho de todos os grupos:

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𝑛 = 𝑛1 + 𝑛2 + ⋯ + 𝑛𝑘 = ∑ 𝑛𝑖

𝑘

𝑖=1

A média calculada a partir dos dados em uma TDF para valores pontuais (variável

discreta que toma poucos valores) utiliza o artifício da abreviação de somas, pois ao invés de

somar cada valor (xi) o número de vezes que se repete (frequência, fi), multiplicamos o valor

pela sua frequência (xi*fi), recompondo o todo e depois dividimos por n, isto é;

�̅� =∑ 𝑓𝑖 ∗ 𝑥𝑖

𝑘𝑖=1

∑ 𝑓𝑖𝑘𝑖=1

=𝑓1 ∗ 𝑥1 + 𝑓2 ∗ 𝑥2 … + 𝑓𝑘 ∗ 𝑥𝑘

𝑓1 + 𝑓2 … + 𝑓𝑘=

𝑓1 ∗ 𝑥1 + 𝑓2 ∗ 𝑥2 … + 𝑓𝑘 ∗ 𝑥𝑘

𝑛

Onde k é o número de valores pontuais, xi é o i-ésimo valor pontual, fi é a frequência do

valor xi e n é o tamanho da amostra geral, que é a soma da frequência dos valores pontuais.

Além disso, esperávamos que os estudantes compreendessem o conceito de média e que

a partir dos resultados, tomassem consciência sobre sua situação relativamente às vacinas

tomadas e com isso revissem suas crenças e atitudes, propiciando o letramento estatístico, que

segundo Gal (2002), é a capacidade das pessoas de interpretar e avaliar criticamente as

informações estatísticas, argumentos relacionados a dados ou fenômenos estocásticos, que

podem encontrar em diversos contextos; bem como a capacidade de discutir ou comunicar essas

informações estatísticas, opinando sobre as implicações dessas informações.

De acordo com Silva Junior (2018), as escolas podem contribuir para o desenvolvimento

do letramento estatístico, se os professores em suas práticas pedagógicas apresentarem os

conteúdos articulados com o contexto social dos estudantes, por meio de investigações, em que

os estudantes apliquem os conhecimentos, além de poder contribuir para a interpretação,

comunicação e discussão desses dados.

Desta forma, Cazorla e Santana (2010), afirmam que na Educação Básica o letramento

estatístico, não pode ser limitado apenas ao contexto de leitura,

[...] ao ensinar os conceitos e os procedimentos estatísticos, devemos, também,

promover o desenvolvimento do pensamento estatístico, que está fortemente atrelado

à compreensão da tomada de decisão, em condições de incerteza, nas diversas fases

do ciclo investigativo (CAZORLA; SANTANA, 2010, p. 13).

Para envolver os estudantes de forma ativa recorremos ao ciclo investigativo (PPDAC),

proposto por Wild e Pfannkuch (1999), que podemos considerar como uma técnica de resolução

de problemas estatísticos, que “tem como objetivo resolver problemas ou compreender

fenômenos por meio da Estatística, desde a formulação de questão de investigação (relacionado

à situação real) e sua conclusão” (SILVA JUNIOR, p. 68, 2018).

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A primeira fase do ciclo é o Problema (P), refere-se ao conhecimento do contexto dos

dados, a definição do problema a ser investigado; a segunda fase é o Planejamento (P), que

abrange a definição das ações para realizar a investigação, definição população, amostra,

variáveis e instrumento de coleta de dados; terceira fase, refere-se a coleta e tratamento dos

dados (D); a quarta fase, está relacionada à análise dos dados (A), isto é construção de tabelas

e gráficos e cálculo das medidas estatísticas; e última fase, a Conclusão (C), encerra o ciclo

respondendo o problema de investigação com posicionamento crítico, podendo gerar novos

problemas de investigação.

PERCURSO METODOLÓGICO

Neste trabalho definimos uma SE como “um conjunto de situações elaboradas e

dispostas de maneira que sejam abordados conceitos previamente selecionados para serem

trabalhados”; já uma “intervenção de ensino como sendo a aplicação da sequência de ensino”

(SANTANA, 2010, p. 113).

A construção da SE foi realizada em parceria com os pesquisadores do D-Estat6.

Participaram da pesquisa uma das três turmas do 9° ano, de uma escola pública da cidade de

Ilhéus. A escolha foi realizada pela professora, por ser estudantes que estavam com a idade/série

regular para o ano escolar. Nessa turma, estavam matriculados 33 estudantes, porém, no período

da pesquisa, tinham apenas 27 estudantes, sendo 10 meninos e 17 meninas, cujas idades

variavam de 15 e 16 anos, sendo que apenas dois possuíam 18 anos, a média da idade foi de

15,5 anos.

A intervenção de ensino foi realizada em sete encontros, nas aulas de Matemática, pela

professora da turma e nosso papel foi de contribuir no planejamento colaborativo das atividades

e na sala de aula, apenas acompanhamos, filmando e realizando anotações sobre o

desenvolvimento, para depois refletir sobre esse desenvolvimento.

O primeiro encontro, ocorreu em duas horas/aula, onde foi esclarecido aos estudantes

sobre a investigação e entregue o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE), o Termo

de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e a autorização para o uso de imagem, para que

os pais ou responsáveis e estudantes assinassem. Posteriormente, a professora iniciou o ciclo

investigativo com a fase da Problematização (P), com a realização de uma palestra com o tema

“Vacinação”, ministrado por um profissional de Enfermagem. O palestrante abordou a

6 D-Estat é projeto de Pesquisa liderado pela UESC, desenvolvido em parceria com pesquisadores do Ceará,

Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, que investiga o desenvolvimento profissional de professores que

ensinam Matemática, tendo como objeto de investigação os conteúdos de Estatística no Ensino Fundamental.

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importância da vacinação para saúde humana, os mitos, a diferença entre vacina e soro e, ao

final, abordou os perigos que essas doenças, podem causar. Foram trabalhadas seis vacinas,

adequadas para a faixa etária dos estudantes, recomendadas pelos profissionais da área de saúde

escolar. No final do encontro, a professora elaborou, juntamente com os estudantes, duas

questões de investigação: como está a cobertura vacinal e qual é a situação de vacinação dos

estudantes; e entregou algumas reportagens para que os estudantes lessem. As reportagens

abordavam temas do tipo: pais que se recusam a vacinar seus filhos; queda na cobertura vacinal;

alerta para volta de doenças do passado, entre outras.

O segundo encontro de uma hora/aula foi dedicado a segunda fase do PPDAC, o

Planejamento (P). A professora iniciou a aula conversando com os estudantes sobre as

reportagens e esses externaram sua compreensão dos textos lidos. A seguir, os estudantes foram

questionados sobre como poderiam saber se haviam tomado as vacinas. A maioria afirmou que

estavam vacinados e que bastava conferir o cartão de vacinação. Para recolher os dados foi

entregue um modelo de cartão de vacinação (Figura 1) e foi pedido que preenchessem com os

dados de seus cartões. Foi solicitado que transcrevessem apenas as datas de quando tomaram

as doses das vacinas.

Figura 1 – Modelo do cartão de vacinação7

Fonte: D-Estat (2018-2019).

O terceiro encontro foi realizado em uma hora/aula e foi dedicado a terceira fase do

ciclo investigativo, os Dados (D). Nesse encontro, os estudantes preencheram o banco de dados,

feito no papel metro, transcrevendo seus dados (Figura 2). No local das vacinas os estudantes

preencheram com o número um se tomaram todas as doses da vacina, caso contrário

preencheram com o número zero. Por exemplo, no caso da vacina Antitetânica são exigidas três

doses; neste caso, se o estudante tomou todas as três doses, deveria preencher o banco de dados

7 Construímos este modelo no intuito dos estudantes não precisarem levar o original para sala de aula, tendo em

vista que o cartão de vacinação é um documento oficial para a matrícula na Educação Básica.

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com o número um, caso o estudante não tenha tomado todas as doses (dosagem incompleta) ou

não tenha tomado nenhuma dose, deveria colocar o número zero. A partir desses dados foi

construída a variável “Número de vacinas”, que é resultado da contagem de vacinas tomadas

pelos estudantes, que varia de zero a seis. Observamos que apenas 23 estudantes trouxeram as

fichas preenchidas.

Figura 2 – Banco de dados

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

O quarto, quinto e sexto encontros foram realizados em quatro horas/aula e foram

dedicados à quarta fase do PPDAC, a Análise (A). Para isso, a professora entregou o banco de

dados em papel A4 e a sequência de ensino envolvendo a construção de tabelas de distribuição

de frequência (TDF) simples e de dupla entrada, gráfico de barras simples e empilhadas e à

média. A professora foi explicitando a natureza da variável e como os dados deveriam ser

tratados, a fim de fornecer informações estatísticas relevantes. Os estudantes trabalharam em

duplas.

O sétimo e último encontro, foi realizado em uma hora/aula de 50 minutos, encerrando

com à quinta e última fase do Ciclo Investigativo PPDAC, a Conclusão (C). Neste encontro a

professora retomou as duas questões de investigação que formulou junto com os estudantes e

concluiu o Ciclo Investigativo PPDAC.

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Ao final da aplicação da sequência de ensino estava acontecendo a II Feira de

Matemática na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), convidamos os estudantes e a

professora para participarem desta Feira e eles apresentaram a SE “Cartão de Vacinação”,

realizando a pesquisa com os visitantes da feira.

ANÁLISE DOS DADOS

Para responder à questão de investigação referente à cobertura vacinal, os estudantes

realizaram a contagem a partir do banco de dados e preencheram os dados na Tabela 1 e

construíram um gráfico de barras empilhadas (Figura 3). Os estudantes tiveram um panorama

de sua imunização em cada vacina e verificaram que vacina contra a Meningite era a mais

preocupante, pois apenas um (4,34%) dos 23 estudantes havia tomado; seguido da vacina

Antitetânica, pois oito (34,8%) estudantes se vacinaram. A maior cobertura vacinal foi na Febre

Amarela. Na Figura 4 apresentamos a resposta da Dupla 6 para esta questão de investigação.

Figura 3 – Tabela e gráfico de barras para Cobertura Vacinal dos estudantes do 9° ano A

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

Figura 4 – Resposta da Dupla 6 referente à cobertura vacinal

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

Para responder a segunda questão de investigação, “Como está a vacinação dos

estudantes?”, a professora trabalhou com a variável “número de vacinas tomadas” por cada

estudante e para isso utilizou a média. A primeira tarefa relativa ao cálculo da média foi calcular

o número médio de vacinas tomadas pelas meninas, depois pelos meninos e posteriormente dos

estudantes (meninas e meninos), a partir dos dados brutos. Esta tarefa tinha como intuito

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explicitar o procedimento do cálculo da média a partir de dados brutos, dos dois grupos

(meninas e meninos) e depois do todo, para verificar se algum estudante percebia que, se

existem as somas parciais dos grupos, não é necessário recalcular a soma do todo.

Na Figura 5, apresentamos a resolução, para o cálculo da média das meninas, da Dupla

12, que dividiu o número total de vacinas tomadas pelas meninas pelo número de meninas,

embora não explicitasse o algoritmo da média. Na Figura 6 apresentamos a resolução da Dupla

1 referente ao cálculo da média simples para todos os estudantes (meninas e meninos) e, da

mesma forma que a dupla anterior não explicitou o algoritmo, mas representou a fração.

Figura 5 – Cálculo da média para as meninas a partir dos dados brutos, realizado pela Dupla 12

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

Figura 6 – Cálculo da média para os estudantes, a partir dos dados brutos, realizado pela

Dupla 1

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

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Referência do trabalho

A segunda tarefa relativa à média era calcular a média geral (média de todos os

estudantes), a partir das médias parciais dos meninos e das meninas. A tarefa especificava o

passo a passo para recompor o número total de vacinas tomados pelas meninas e pelos meninos,

bem como o número de meninas e meninos, de tal forma que os estudantes percebessem a

recomposição do todo, a partir das médias parciais, conforme Figura 7.

Figura 7 - Cálculo da média a partir das somas parciais de grupos, realizada pela Dupla 28

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

A terceira tarefa relativa à média era calcular seu valor quando os dados estão agrupados

em uma TDF e, podemos verificar que os estudantes realizaram a tarefa com sucesso (Figura

8). Esta tarefa tinha como objetivo ajudar na compreensão do procedimento de cálculo da média

quando os dados estão agrupados em uma TDF, pois ao multiplicar obtemos as somas parciais,

abreviando e simplificando o cálculo da média.

Figura 8 – Cálculo da média a partir da TDF, realizada pela Dupla 5

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

8 A professora esclareceu no item g) que a divisão deveria ser realizada pelo valor encontrado na letra c).

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Referência do trabalho

A última questão da sequência de ensino, Figura 9, estava relacionada a percepção dos

estudantes com relação aos três procedimentos para calcular a média (dados brutos, somas

parciais e da TDF).

Figura 9 – Percepção da compreensão a partir do cálculo procedimental, da Dupla 13

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

Nesta questão tivemos outras duplas que responderam que a melhor maneira de

encontrar a média foi “a partir dos dados brutos” e outras “a partir das somas parciais”.

CONCLUSÃO

Quando analisamos as produções das duplas pudemos verificar que os estudantes

conseguiram realizar todas as tarefas solicitadas e se apropriar dos conceitos estatísticos

trabalhados, embora tutelados pelo professor da turma.

Porém, a maior contribuição foi o envolvimento dos estudantes no processo de forma

ativa, pois foram instigados a formular hipóteses que pudessem explicar a situação da vacinação

da turma. Alguns estudantes justificaram o porquê a vacina contra a Meningite tinha a menor

cobertura, pois, segundo eles, esta vacina não está disponível nos Postos de Saúde, mas apenas

em Laboratórios particulares e é muito caro, inacessível para eles. Com relação à vacina contra

HPV, os estudantes observaram que a campanha de vacinação foi restrita às meninas. Também

refletiram sobre a volta do Sarampo, devido as notícias que circularam na cidade com a morte

de um morador por causa dessa doença. Na Figura 10 ilustramos o envolvimento dos estudantes

nas atividades.

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Figura 10 – Estudante preenchendo o banco de dados e outros na Feira de Matemática da UESC

Fonte: material produzido na pesquisa (2018).

No momento da reflexão, os estudantes tomaram consciência da importância da

vacinação, em especial, quando verificaram que apenas um estudante tomou a vacina contra a

Meningite e somente as meninas tomaram a vacina do HPV, que previne o câncer do colo de

útero. Foi muito alentador quando uma estudante descobriu que não tinha tomado todas as

vacinas e manifestou que iria ao Posto de Saúde para colocar sua vacinação em dia. Nesse

sentido, esta atividade contribuiu para a ação no cuidado com a saúde dos adolescentes.

REFERÊNCIAS

BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

CAZORLA, I; SANTANA, E. Do Tratamento da Informação ao Letramento Estatístico.

1ª edição. Itabuna. Via Litterarum. 2010.

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