A Eterna Busca Da Cura - Cleide Martins Canhadas

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A ETERNA BUSCA DA CURACleide Martins CanhadasAo meu filho, Alexandre, que retornou bem cedo casa do Pai, aps ensinar-me que a verdadeira cura a do esprito...

AgradecimentosAos amigos do Cercom - Centro Esprita Reencontro com o Mestre; ao Grupo Noel, mdicos do corpo e da alma que sabem cuidar do ser, como os antigos terapeutas de Alexandria. toda equipe da Boa Nova editora e distribuidora, funcionrios, revisores e dirigentes, especialmente ao Quico pelo carinho e dedicao na arte de editar e transformar nosso trabalho, no princpio spero, em algo mais suave, "palatvel". Aos mestres e colegas do Programa de Cincias da Religio da PUC/SP, por comprovarem a possibilidade do dilogo inter-religioso, especialmente aos Professores J. J. Queiroz e nio da Costa Brito pelo carinho com que me acolheram.

Aos meus amigos e colegas do Expediente Comunitrio da PUC/SP, com quem compartilho as buscas do esprito, especialmente Clia Cintro Forghieri que de fato possibilitou a realizao de minha tese e deste livro. Deus que me brindou nesta vida com meus filhos, com Enas, meus companheiros dejomada, com meus pais e irmos, sem os quais, a histria seria outra.

Antes, uma palavra sobre os micos e a cura...Diz a Mitologia que h muitos e muitos anos, cerca de 500 antes de Cristo, viveu na Grcia, na cidade de Epidauro, um dos Jilhos de Apolo (deus da Luz, protetor dos mdicos e da sade), chamado pelos gregos de Asclpio e de Esculpio pelos romanos. Apolo passou a Asclpio (ou Esculpio), a atribuio de protetor da medicina. Ns o chamaremos de Esculpio, por nossa origem latina. Esculpio tornou-se to famoso que teve centenas de templos construdos em seu louvor. Um deles resistiu ao tempo e existe at hoje, em Epidauro [foto da capa). H tambm um museu dedicado ao deus, onde esto conservados antigos instrumentos cirrgicos e tbuas com receitas e frmulas gravadas. Na foto do templo pode-se observar que h peas do corpo humano penduradas nas paredes. Isto porque, as pessoas curadas mandavam esculpir, em pedra ou

terracota, imagens das partes do corpo que estavam doentes. Dizem que Esculpio curava os doentes enquanto dormiam no templo, receitando-lhes medicamentos ou indicando-lhes os mtodos de cura. Exigia-se, porm, que os doentes estivessem limpos e que conservassem os pensamentos puros... Corpo limpo, mente sadia... Pelas narrativas registradas, pode-se concluir que o mtodo de tratamento utilizado era o que conhecemos hoje como magnetismo, mesmerismo ou energizao. Esculpio chegou a restituir a vida a uma pessoa morta, e por isso provocou a ira e a inveja de outros deuses, como Pluto e Jpiter, que o mataram, fulminando-o com um raio. Entretanto, depois de morto, Esculpio foi recebido e consagrado entre os deuses do Olimpo. Quando houve uma grande epidemia que matou milhares de romanos1, o imperador de Roma mandou uma comitiva ao templo de Esculpio, em Epidauro (Grcia), para lhe pedir ajuda. Esculpio, atendendo ao pedido, teria embarcado junto com a comitiva no navio, disfarado na figura de uma serpente. Quando chegaram em Roma, no rio Tibre, a serpente teria descido do navio e instalado-se ali, em uma ilha. Foi l que os romanos construram um templo dedicado a Esculpio, para onde eram levados os doentes acometidos pela peste. Aps l passarem1 BULFINCH, THOMAS. O Livro de Ouro da Mitologia - Histria de Deuses e Heris. 6a

ed., Rio de Janeiro, Ediouro, 1999, p. 350.

algumas noites, saam curados. Nesse mesmo lugar, hoje, existe um hospital. Recordamos essa histria para iniciarmos nosso dilogo sobre cura e milagres, entendendo que no falamos de mitos como frutos da fantasia e expresses irreais, mas sim como smbolos de antigos conhecimentos, adotados pelos homens, ainda no totalmente compreendidos, embora estejam vivos em nosso inconsciente.

Esttua de Esculpio, em Roma

ndiceE o milagre no aconteceu. A cura sim... 1a Parte: A TEORIA I - Por que resolvi estudar a cura espiritual II - A cura espiritual tem bases cientificas III - Somos sujeitos do novo paradigma holstico IV - Energia, matria e esprito V - Como curar? VI - A doutrina kardecista e a cura espiritual 2 Parte: A PRTICA

- A cura nos centros espritas VIII - Quem est em busca da cura espiritual? IX - Os problemas do ser, do destino e da dor XUma proposta pedaggico/ecumnica incluso social ConclusoVII

de

E o milagre no aconteceu. A sim...

CURA,

Quem nunca esperou por um milagre? Eu esperei Esta histria comeou no decorrer do ano de 1997, quando estava concluindo minha tese de Mestrado na PUC /SP - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, versando sobre o tema Cura Espiritual. Para a elaborao dessa tese, realizei uma pesquisa de campo sobre a procura pela cura, principalmente nos centros espritas. Estudei o assunto desde 1995, quando iniciei o Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio, tendo lido tudo o que pude encontrar sobre o assunto, especialmente matrias acadmicas, com o rigor cientfico que exigido numa tese. No momento em que estava finalizando meu trabalho, j para imprimi-lo e entreg-lo banca examinadora, passei por uma grande provao, que quase determinou a desistncia de tudo: soube que meu filho mais velho, Alexandre, com 23 anos, estava com cncer abdominal em estado avanado. Os prognsticos mdicos, tanto

dos encarnados como do Plano Espiritual, davamlhe, no mximo, a perspectiva de mais dois anos de vida. Viveu apenas mais nove meses. Durante aqueles nove meses - de 30 de dezembro de 1997 a 30 de setembro de 1998, esperei por um milagre. Achei que tudo o que havia estudado seria coroado de um grande xito: a cura do meujilho; e, naquele momento, Isso significava a sobrevivncia do seu corpo fsico. Na verdade, foram nove meses de uma gestao intensa, nos quais tentava passar para meu filho a minha f de que ele poderia reverter todo o quadro, contrariando todos os prognsticos mdicos da terra e do cu. Mas seu corpo no resistiu. O milagre no aconteceu. Entretanto, entendi depois, ele se curou. Como? De que forma entendi isso? E mais, como eu poderia retomar a vida, a minha tese de cura, e contar a todos sobre a lio recebida? Estas so algumas das perguntas as quais gostaria de tentar responder, ou ao menos convid-los a pensar comigo, baseando-nos na f raciocinada, nas informaes de nossos amigos espirituais e com a ajuda da cincia.

A TeoriaDemonstrando a existncia e a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a f no futuro,

reergue os nimos abatidos, faz suportar com resignao as vicissitudes da vida. (Allan Kardec)

1 Parte I Por que resolvi estudar a cura espiritual(...) as dores brotam da alma... Perguntei-me muitas vezes, por que ser que, desde o incio, coloquei como tema de minha pesquisa a expresso "cura espiritual", e no simplesmente "cura", ou "cura fsica", ou ento "cura material". Eu no sabia, mas estudando encontrei a definio. Aprendi que uma cura de verdade no a simples eliminao de sintomas de uma doena, no algo pronto, esttico, mas ocorre de um modo dinmico e dialtico. Por isso, decidi usar o termo falado em ingls, healing. Essa expresso nos d a dimenso de algo em movimento, em transformao. No ingls existe tambm o termo

cure, usado para se referir s curas comuns, diferente de healing, associado "cura espiritual". Neste entendimento, no existe uma cura porque a dor cessou, pois a dor poder voltar por meio de outras doenas. Por exemplo, a pessoa que tem uma gastrite de fundo emocional, segundo diagnstico mdico. Ora, ela toma remdios adequados, melhora, fica livre da gastrite, mas se no tratar tambm da questo emocional, isto , se no souber qual este fundo e no cuidar das suas razes, no poder considerar-se curada, pois os tais problemas de fundo continuaro a lhe perseguir, e voltaro em forma de lcera ou mesmo de um cncer. Agora, essa cura ser espiritual e no material, ou fsica? Afinal, vivemos no mundo da matria e justo querermos um bem-estar fsico. Entretanto, no decorrer de meu estudo, percebi como as questes do esprito esto intrincadas com a experincia religiosa, e o quanto essas se relacionam s doenas que, na sua origem, tm a carncia do encontro do sentido. Carecemos de um sentido para a vida, para a dor e para a morte. Todos ns buscamos esse sentido, como dizem os filsofos e telogos de todos os tempos. Alis, esta questo est muito bem colocada na definio do filsofo Henrique Cludio de Lima Vaz, quando ele afirma que a experincia religiosa "igualmente a experincia de um Sentido e mesmo de um dos sentidos fundamentais da vida humana". Esta afirmao nos faz lembrar de Jung, quando este associa a experincia do sofrimento da alma

com a experincia espiritual. Segundo Jung3, "do sofrimento da alma que brota toda criao espiritual e nasce todo homem enquanto esprito". Isto , o motivo do sofrimento "a estagnao espiritual e a esterilidade da alma", ou seja, a imobilidade, a ausncia de realizaes... Jung est sugerindo que precisamos compreender os precursores emocionais das doenas - ou seja, conhecer o tal fundo emocional de que todos falamos. Se entendermos que a razo da dor vem dessa estagnao ou esterilidade de nossa alma, deveremos identificar, primeiramente, se nossa alma est estancada, se estamos parados diante de algum fato, coisa ou pessoa; se no conseguimos ir adiante, produzir, realizar nossos sonhos, com certeza estaremos produzindo doenas. Ns todos sabemos disso, s no sabamos explicar. Pois quando dizemos que estamos desanimados, sem nimo, queremos dizer: sem alma - sem vida. Onde h estagnao, como na gua parada: no h proliferao de vida, os peixes morrem, as plantas morrem, ns morremos. Jung diz-nos tambm, em outro momento, que quando nosso sofrimento fsico aparece por carncia de amor, falta de f, desesperana pela decepo com a vida e com o mundo, ou ainda porque ignoramos nossa prpria significncia, o tratamento somente ser completo se houver um mdico espiritual trabalhando junto com o

mdico convencional. Quando nosso mdico no enxerga que as causas do nosso mal fsico esto na alma, no poder nos ajudar e, ainda mais, ele, o prprio mdico, sofrer um grande conflito. Jung refletia, j h muito tempo, sobre a necessidade de aproximao do que chamava mdico da alma com o diretor espiritual. Essa uma questo que nossos centros espritas, preparados para cuidar da alma, enfrentam cotidiana- mente: no momento em que recebem algum em busca de ajuda, h sempre a pergunta: o dirigente esprita estar diante de um problema de ordem fsica, emocional, ou ser simplesmente uma obsesso espiritual? O tratamento correto depender da viso abrangente do dirigente e do doente. Da mesma forma, muito confortador saber que hoje j encontramos mdicos capazes de nos perguntar: ser que voc no sofre por dores da alma? E aps uma investigao clnica criteriosa, poder convencer seu cliente de que seu mal tem origem na alma e, portanto, precisa ser tratado a partir da origem, para eliminar de vez suas dores fsicas. Estamos falando que essa viso abrangente, que busca romper com a dicotomia corpo/esprito, e que est se propondo a entender melhor a origem de nossas dores, desenvolve-se, hoje, principalmente entre psiclogos e mdicos dentro de uma viso holstica do ser. E o que uma viso holstica? Roberto Crema, professor da Universidade Holstica de Braslia, diz-nos que o holismo vem dar uma resposta

crise que vivemos por termos nos afastado de nossa prpria natureza e do universo ao qual pertencemos. O holismo representa, "em ltima instncia, o surpreendente encontro entre cincia e conscincia". Assim, para compreender o termo: sabendo-se que holos significa inteiro, completo, totalidade; holismo , por definio (Novo Dicionrio Aurlio), "a tendncia que o universo tem para sintetizar unidades em totalidades". Portanto, faz parte da natureza, do universo, a no-segmentao, a no-diviso de um problema em partes isoladas. Dizemos, portanto, que o mdico tem uma viso holstica quando capaz de enxergar o paciente como um ser integral, e isto muda o jeito de encarar a doena. Na forma tradicional, as doenas nascem no corpo fsico, causadas por distrbios fisiolgicos, e isso no tem relao com o conjunto de caractersticas que fazem parte da pessoa: sua personalidade, seu carter, suas emoes, suas crenas, suas expectativas.... A desesperana. Nesta viso, o organismo no seu funcionamento biolgico no determinado pelas funes fsico-qumicas, mas estas ltimas que dependem da prpria organizao biolgica. Julika Czisms Kiskos5, que me ensinou o significado de cura, apresenta um quadro terico pelo qual faz uma comparao entre o sistema clssico e o holstico, demonstrando que temos duas formas de enxergar as doenas e a sade. Ela esclarece que:

"o sistema clssico reducionista, pois os fenmenos so tratados em termos de ou/ou". Assim, por exemplo, as causas dos sintomas esto situadas no corpo ou na mente. Em geral, os mdicos tradicionais nem consideram que haja problemas advindos da mente. Os pacientes so apresentados como quadros clnicos e no como pessoas. Isso podemos verificar num boletim mdico, num relatrio, no qual o mdico faz a descrio da doena, ou melhor, de um rgo doente, onde no h referncia ao doente, pois no se enxerga o doente, esse mdico trata do rgo doente e no da pessoa. Os problemas, as dificuldades, so considerados como algo a resolver e o conceito de cura no o de healing. Isto , no existe uma viso do conjunto nem do processo. No se acompanha o desenvolvimento da pessoa a partir daquela experincia de dor. Uma vez combatidos os sintomas da doena, o mdico especialista dispensa o doente. Os sintomas das doenas so classificados e recebem um rtulo. O tratamento escolhido representa o resultado de um mtodo massificado. Quer dizer, o remdio que serve para um servir para todos, independentemente das diferentes personalidades.

O paciente, enfim, visto como vtima de um ataque de vrus, de agresses exteriores, como se no participasse do processo. As ocorrncias interiores, sua alma que diferencia todo o quadro clnico, no so visualizadas, pois se considera que no tm participao na doena. Pelo contrrio, nos sistemas holsticos: O mdico tem sempre presente a viso do continuum, do processo. Os sintomas no so causados por isto ou aquilo, no representam o resultado de problemas do corpo ou da mente, mas corpo/mente/esprito so intercambiveis. Os desequilbrios so complexos, mas h desafios a resolver e no problemas. Esses desafios so para o paciente e no para um remdio, um comprimido com frmula mgica para fazer desaparecer todos os problemas da alma. Neste sentido, cura um processo, o healing. preciso existir uma parceria entre mdico e paciente, pois ambos so responsveis pelos resultados do tratamento. Desta maneira, Julika Kiskos considera o holismo uma abordagem adequada por lidar com "constelaes de sintomas", entrelaados, integrantes da histria de uma pessoa. No sistema reducionista, tradicional, abordam-se os sintomas e transformam-se as doenas em "entidades", esquecendo-se da pessoa.

Com este pano de fundo, pretendemos trazer um enfoque para nossa questo central - como o fenmeno da cura espiritual no e no pode ser tratado de modo isolado, reducionista, sem relacion-lo com a experincia, de vida das pessoas. Essa experincia implica a dimenso religiosa, pois os que a vivem reformulam sua ligao com um ser transcendente. Pretendemos falar, nos prximos captulos, de como so as pessoas que buscam esse tratamento, seus principais valores e crenas, e das mudanas de comportamento envolvidas num processo de cura. Buscar ajuda espiritual para problemas de sade, todos percebemos, um fato comum atualmente e acontece em todos os templos religiosos, das mais diferentes denominaes, sejam eles centros espritas, igrejas catlicas carismticas, evanglicas, ou mesmo nas prticas de origem oriental, como messinicas, seicho-no-ie, ou nas tradies afro-brasileiras: umbandistas e candombls. Entretanto, o inverso no verdadeiro, isto , no se ouve falar que as pessoas procurem os consultrios mdicos ou psiquitricos para aprender a rezar, ou falar de seus conflitos espirituais. Da ser esta uma questo intrigante. Quando fizemos o levantamento inicial de estudos anteriores sobre este assunto, descobrimos que existe uma intensa literatura no mbito das curas alternativas, na linha de autoajuda, ou ainda fundamentada nas pesquisas

sobre cirurgias medinicas. Entretanto, nosso estudo prope-se a demonstrar como se d o fenmeno da cura, por meio de um tratamento espiritual, que alm da imposio das mos e de uso das oraes, incentiva as leituras e o processo de autoconhecimento, que facilitam as mudanas de atitudes consideradas indispensveis para a obteno da verdadeira cura. Essa cura, segundo j antecipamos acima, e queremos demonstrar, implica uma transformao no modo de ver e tratar a doena, no modo de se ver e de se compreender como sujeito religioso e, conseqentemente, reintegrado ao ambiente social. Nesse entendimento, a simples extirpao de um tumor, repetimos, no significa, necessariamente, a obteno da cura. Vamos constatar que a prtica da cura ocorre, no Brasil, especialmente nos ambientes religiosos, o que dificulta uma investigao mais ampla, pois as instituies religiosas no tm o objetivo de registrar, quantificar e analisar o fenmeno, bastando que as pessoas manifestem a satisfao pelos resultados. H uma preocupao legtima nos centros espritas em cuidar para que o sucesso de uma sesso de cura no atue sobre a vaidade humana, sendo percebida, portanto, uma obedincia constante ao Evangelho, quanto ao "que vossa mo esquerda no saiba o que faz vossa mo direita" (Mateus, 6:1 a 4). A prtica da cura, nos centros espritas, essencialmente a prtica da caridade, como Kardec

explicita em O Evangelho Segundo o Espiritismo, captulo 13. Lembramos que nossa histria nasceu da realizao de uma reflexo terica, elaborao de uma dissertao de Tese de Mestrado, em que foi necessrio levantar dados empricos - dados coletados em pesquisa, para fundamentar e aprofundar um tema pouco pesquisado no Brasil, embora seja to freqentemente praticado e conhecido do povo brasileiro. Achamos interessante contar aqui, alm de nossa prpria vivncia, as concluses dos estudos bibliogrficos realizados, como desenvolvemos a hiptese inicial de que o sofrimento que brota da alma e causa danos fsicos no encontra alvio na medicina convencional. Como partimos da convico de que o mdico tradicional, especialista, que s enxerga rgos desvinculados e desconectados entre si, pouco ajuda o doente, procuramos conversar com as pessoas perdidas entre exames de laboratrios, diagnsticos e remdios que no resolvem, e, desiludidas, buscam alvio nas oraes. Vamos verificar que, quando encontram esse alvio, passam a perceber-se como algo mais do que um rgo doente, como algum. Um ser. Nosso estudo demonstrou tambm que a dimenso do espiritual est presente nos diferentes setores, mesmo dos no-religiosos, sendo um fenmeno que transcende as religies institucionalizadas. Ns somos seres integrados, mas tratados, em geral, de modo segmentado pelas diferentes especialidades mdicas,

educacionais e religiosas. Assim, quando h um tratamento integrado, onde os aspectos psicolgicos, espirituais e fsicos so considerados, existe a possibilidade de ocorrer a verdadeira cura. Partindo dessas idias, investigamos ainda se as pessoas procuram o tratamento espiritual apenas para doenas mais comumente dadas como incurveis, perturbaes de origem emocional ou psquica, ou ainda problemas no diagnosticados pela medicina ortodoxa. No caso de obteno da cura, a quem elas atribuem o poder de interveno: s entidades espirituais, s energias espirituais ou simplesmente a Deus? Em qualquer hiptese, acreditamos que a cura espiritual uma possibilidade que no deve ser desprezada e, se for uma prtica associada medicina convencional, pode tornar-se um tratamento coadjuvante poderoso e propiciador da integrao do ser. Essa prtica conjunta tornase vivel na medida em que a viso integrada do ser passa a ser constante, graas ao avano da fsica quntica e seu dilogo com a Religio e a Psicologia. Para entendimento do fenmeno da cura espiritual, necessitaremos agradecer aos modernos conhecimentos da Fsica Quntica, porque somente a partir dessa evoluo, os cientistas permitiram tratar os conceitos de energia e matria numa compreenso mais ampla do que etreo, tirando-lhe o carter milagroso ou misterioso. Veremos que isto no to complicado como o nome sugere: quntica vem

do latim quantum, relativo a menor quantidade de energia eletromagntica associada a um campo. Esses estudos da Fsica Quntica representam as mais recentes descobertas at o momento, depois da diviso do tomo, sinalizando para uma constante evoluo no conhecimento da prpria matria e energia. Dr. Hernni Guimares Andrade, em seu livro Psi Quntico, esclarece como essas descobertas vm ao encontro das noes de energia, esprito e matria contidas na codificao de Kardec e suplementadas por Emmanuel e Andr Luiz, por meio de Chico Xavier. A base da teoria quntica do fsico Max Planck anuncia que no s a matria constituda de corpsculos, mas a energia tambm. Emmanuel, em Pensamento e Vida, diz-nos que os pensamentos so fora eletromagntica, compostos portanto de energia dinmica (eltrica) e energia esttica (magntica). A fora dinmica movimenta e expande; a magntica atrai. Por isso nossos pensamentos tm, ao mesmo tempo, movimento e fora de atrao. Recentemente, o Dr. Srgio Felipe de Oliveira8, mdico, membro da Associao Mdico-Esprita do Estado de So Paulo e diretor do Pineal Mind, Instituto de Sade, tem realizado interessantes pesquisas e, em entrevista imprensa, referiu-se a essa fora do pensamento, esclarecendo inclusive que, exatamente por ser alguma coisa, e no uma abstrao, o pensamento consome nitrognio e glicose, fato que pode ser verificado em laboratrio.

Nosso objetivo principal, portanto, estudar o fenmeno da cura espiritual, colocando-o dentro dessa concepo dinmica, com novo olhar para o homem, como um ser essencialmente energtico, no materialmente determinado e esttico. Esse estudo tem acontecido, como colocamos acima, em larga escala nos meios cientficos internacionais, apesar de ser ainda muito incipiente no Brasil. Registramos aqui algo paradoxal: enquanto os pesquisadores pioneiros e bem conceituados no mundo da cincia e da academia, em relao aos fenmenos psquicos, medinicos ou paranormais, so russos, franceses, ingleses, alemes e norte-americanos, os sujeitos pesquisados, sejam eles chamados de curadores, benzedores, mdiuns ou paranormais, esto em grande nmero no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo criou um Departamento de Medicina Alternativa, que permite a atuao de grupos de pesquisa dentro das instituies oficiais, escolas e hospitais, acompanhando e regulamentando as prticas de curadores. Na Inglaterra existe a Associao dos Curadores, que atua em hospitais e tem, da mesma forma, a regulamentao da prtica. No Brasil, porm, os grupos organizam-se ainda em larga escala nas instituies religiosas e esto sujeitos fragmentao das crenas. Com a inteno de provocar o debate em nosso meio, consideramos ser de grande importncia reconhecer o fenmeno como digno de observao, revelador de uma nova viso de mundo que , no mnimo, fascinante. Para tanto,

faz-se necessrio retomar o dilogo entre Cincia e Religio, o que no inteno apenas nossa; significa hoje uma tentativa mais vivel, em pleno ano 2001, aurora do to esperado e bemvindo 3 milnio. Um milnio que, quem sabe, ser capaz de responder mais e melhor aos anseios humanos. Convm esclarecer que os dados de nossa pesquisa foram levantados com pessoas que freqentam um centro esprita, em So Paulo, localizado na Vila Mariana, a quem somos eternamente gratos pela oportunidade de estudo. Os dados relativos a esse grupo, sua histria e funcionamento, esto descritos em nossa tese de Mestrado, disposio na Biblioteca da PUC/SP . Nossa fundamentao terica aquela fornecida pela doutrina esprita, estruturada por Allan Kardec. No Brasil, como sabemos, os centros espritas orientam-se por suas obras, comentadas e suplementadas pelos livros psicografados por Francisco Cndido Xavier. Nos livros bsicos de Allan Kardec: O Livro dos Espritos, O Livro dos Mdiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gnese, O Cu e o Inferno, encontramos as principais definies para entendimento do que espiritismo, mediunidade, esprito, alma, corpo fsico, corpo etreo, comunicao entre os dois planos - espiritual e fsico, transmisso de energia, conceito de energia e matria. Exploraremos esses conceitos na medida em que interpretaremos os dados da pesquisa, colhidos entre as pessoas do grupo esprita pesquisado.

A viso esprita, em geral, revela o fenmeno da cura espiritual, como fato natural e no como algo extraordinrio, tendo em vista a potencialidade do esprito, ainda no totalmente explorada pelos seres humanos. Por ser natural, um fenmeno explicvel e compreensvel, que pode e deve ser estudado pela cincia, pela filosofia e pela religio. Esta viso, no milagrosa, fundada no conceito kardecista, explicitado em O Livro dos Espritos e O Livro dos Mdiuns, de que "chamamos por milagre aquilo que no podemos entender"; contudo, com o decorrer da evoluo da prpria cincia e de nossa capacidade de assimilao, os fenmenos deixam de ser milagrosos, sobrenaturais, para serem fenmenos naturais, compreensveis. Em O Livro dos Espritos, Captulo I, Dos Espritos - Origem e Natureza, somos informados de que a dificuldade para entender nossa prpria natureza decorre da limitao de nossa inteligncia. Por isso, uma postura mais prudente de no julgarmos impossvel acontecer algo que hoje no compreendemos, pois um dia nossa inteligncia evoluir, entender, e a ficaremos envergonhados de termos feito mau juzo sobre algum ou sobre determinados fatos. Assim, procuramos encontrar uma definio para milagre, entre autores que admitem essa possibilidade, e verificarmos como o explicam. Encontramos, como um fenmeno bem diferenciado e bem colocado por Irm Briege Mckenna:

"Eis como explico isto: acho que h dois tipos de curas. Para mim, um milagre algo que acontece instantaneamente, e uma cura algo progressivo, que pode acontecer atravs do uso de medicamentos, por meio de uma operao, ou pela perseverana na orao". Quando falamos em possibilidade de cura, no tratamos das manifestaes vistas como milagrosas, mas sim da cura progressiva, acompanhada da perseverana da orao, tentando esboar uma linha de entendimento e explicaes da forma definida acima. Por isso, parece ser mais fcil e comum alcanar a cura, mas no o milagre. No momento em que comeamos a estudar a cura espiritual no sabamos disso, mas pudemos sentir coerncia nessa forma de encarar a doena, a cura e o ser. Consideramos que, como seres humanos, somos um composto de alma, mente e corpo, integrado, no segmentado, embora muitos insistam em nos dividir em partes isoladas e desconexas.

II A cura espiritual tem bases cientficas

(...) conhecereis a verdade e a verdade vos libertar. Jesus Mas onde est a verdade? Com quem? Como atingir essa libertao se nos encontramos perdidos num mundo repleto de verdades que

invadem nosso cotidiano, pela televiso, pelo rdio, pelos jornais e pela Internet? Estar ainda nas mos dos cientistas, intelectuais ps-modernos? Como discernir o joio do trigo? Para falar do tema da cura espiritual, tentando realizar um estudo com carter cientfico, elaborando uma dissertao de mestrado, percebemos que vivemos atualmente algo que se chama mudana de paradigmas. Por isso achamos importante fazer uma breve sntese desse panorama cientfico, refletir sobre tais mudanas, e conscientizarmo-nos de qual momento este que vivemos. Qual esse novo jeito de pensar e fazer cincia? O fenmeno da cura, apesar de ainda parecer para alguns um fenmeno extraordinrio, milagroso, e, para outros, simples efeito do charlatanismo, explorao da ignorncia e da crendice de nosso povo, hoje est presente nos experimentos cientficos de conceituados estudiosos internacionais. O que isso: um novo paradigma? Em bom portugus, usual e cotidiano: o que significa paradigma? Qual a sua importncia nesta histria de cura? Ora, se queremos defender uma idia, manda o manual da cincia moderna que ela no seja apenas fruto de nossa prdiga imaginao. Um dos mandamentos que nossas concluses tenham fundamentos em observaes, que possam ser repetidas e testadas. Portanto, nossa experincia pessoal, nossas descobertas no

podem ser fruto do "achismo"; elas tero validade apenas se puderem aplicar-se a casos semelhantes. Bem, essas exigncias experimentos, testes, comprovaes e fundamentaes - compem um paradigma cientfico. Para afirmar que algo funciona assim, ou para se dizer que isto acontece por causa daquilo, preciso estar de acordo com os parmetros cientficos. Esse comportamento predominou nas cincias que iniciaram seu desenvolvimento com muito rigor na chamada idade moderna, com incio no final do sculo passado, e vlido at o momento. Porm, ao olharmos para nossa histria, histria da civilizao humana, verificamos que as coisas mudam, no so estticas. Atribui-se de tempos em tempos o domnio da verdade - ou seja, o direito de dizer se isto assim, ou no - algumas entidades, autoridades, instituies, dependendo de quem est com o poder nas mos. Assim, perdurou por certo tempo a crena nos deuses da Mitologia, no Deus de Moiss, na supremacia da Igreja Catlica Romana. Houve tambm o tempo ureo dos magos, dos bruxos, dos orixs, dos pajs e, desde o incio do sculo XX at agora, o imprio da Cincia, da tecnologia. Percebemos, assim, que ora a bola estava com um, ora com outro. difcil fazer, aqui, um trabalho de sntese dessa histria e um balano atual para dizermos quem domina o conhecimento nos nossos dias. Alis, no aconselhvel estudar um fenmeno no momento

em que est acontecendo, porque, dizem os entendidos, "apenas a distncia histrica" ajuda a revelar a verdade. Entretanto, de modo um tanto atrevido, arriscamos um palpite: apesar de tanto vaivm, o homem essencialmente no mudou. A alma humana a mesma, traz dentro de si lembranas de todas as pocas j vividas: sabe que fez oferendas a Zeus, obedeceu a Moiss, ouviu Maom, conviveu com Jesus, foi mago, condenado por afirmar algo contrrio ao que a Igreja pregava, negou a tudo e tornou-se um cientista-modelo do sculo XX: um racionalista, um ser previsvel, controlador das variveis. Apesar das diferentes fases dessa histria, a procura da cura do corpo em templo religioso continua da mesma forma, como antes de Cristo, no Templo de Esculpio - o deus da Cura, como relatamos na introduo. Era nele que os antigos gregos e romanos acreditavam e era a ele que atribuam o poder sobre os males da alma e do corpo. Era para ele que continuaram dirigindo suas preces, aqueles que no acreditavam nas palavras de Cristo, nem em suas curas, ou ainda no O conheciam. Apenas para ilustrar, sugerimos ao leitor que leia Ave, Cristo!, de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, sobre histria iniciada no ano 217 da era crist, narrando os conflitos travados na poca entre cristos e pagos que permaneciam na adorao aos antigos deuses, inclusive a Esculpio.

Nossos antepassados indgenas tambm acreditavam no poder de cura do paj e das ervas. Apelavam para o poder de intermediao com os espritos. Entretanto, aps o perodo da colonizao, fomos convencidos pelos jesutas de que os espritos eram maus, manifestaes demonacas, e acreditamos que essa era uma prtica pecaminosa. Infelizmente, a converso ao cristianismo distanciou-nos de Cristo. Criamos diversas religies, seitas e nos valemos da violncia da guerra para imposio de outras verdades. Esse distanciamento do verdadeiro Cristo, paradoxalmente em Seu nome, levou a um nmero cada vez maior de seitas. Sobre os malefcios causados em nossa cultura pela colonizao, Alfredo Bosi relata que houve uma "demonizao das prticas indgenas", em seu livro Dialtica da Colonizao. Em resumo, Bosi relata que os missionrios quando aqui chegaram, no incio dos anos 500, consideravam que os ndios tupis no apresentavam sinais de cultos ou crenas em suas prticas. Os missionrios registraram apenas que os ndios reverenciavam Tup, quando ouviam o trovo, reconhecido como manifestao da divindade. Alm disso, nada mais parecia indicar religiosidade. Como no reconhecer, porm, na ao dos feiticeiros - dos pajs - daqueles que diziam ter "parte com o demnio", um sinal de religiosidade? O paj presidia as cerimnias do culto aos mortos: agradecendo aos bons espritos por sua manifestao e esconjurando os maus

para que se afastassem da aldeia. Essa cerimnia era rica de danas e cantos, beberagens e fumos que culminavam com transes: "A estava, portanto, o alvo real a ser destrudo pela pregao jesutica. O mtodo mais eficaz no tardou a ser descoberto: generalizar o medo, o horror, j to vivo no ndio, aos espritos malignos, e estend-los a todas as entidades que se manifestassem nos transes. Enfim, diabolizar toda cerimnia que abrisse caminho para a volta dos mortos". Naquela poca, acontecia no mundo civilizado verdadeira caa s bruxas e aos feiticeiros, no s na Espanha e em Portugal, como em toda a Europa. Convinha, ento, destruir qualquer "vestgio animista ou medinico do comportamento religioso". No mesmo momento em que Calvino, com a Reforma, destrua os dolos e smbolos, perseguindo o imaginrio, intelectualizando a leitura dos textos sacros, ressurgiam os negros com seus cuitos na frica e os indgenas das Amricas, com sua barbrie. Nesse confronto, apareceu vencedor o que tinha uma tecnologia de ponta: soldados, armas de fogo e canhes. No Brasil, segundo os historiadores, os jesutas, notadamente Anchieta, aproveitando-se dos rituais espontneos que encontraram, comeam por reforar o dualismo entre o bem e o mal, nas representaes teatrais, onde Anhanga assume a figura do demnio que exalta os maus hbitos - a antropofagia, a poligamia, a embriaguez -

contracenando com Tup - Deus, os anjos e santos. Acreditamos que a citao acima seja importante para resgatar tambm a origem de tantos preconceitos e idias tortuosas sobre as prticas espritas, principalmente a prtica da cura, natural e espontnea entre nossos antepassados, que chega parcialmente desconhecida para ns, at o incio do sculo XXI. Entretanto, parcialmente, pois em nossas lembranas inconscientes esto o que Jung chama de arqutipos. Sabemos agora que no por acaso que os espritos so confundidos com demnios pela populao, pois essa deturpao foi incutida em nossas mentes, pelos colonizadores. Para Jung, analisar sonhos e desvendar arqutipos um mtodo de conhecimento importante para compreendermos muitos de nossos problemas e anseios. Ele considera que a mente um arquivo de nossa histria. Esse mtodo um exemplo da viso holstica, pois os problemas so vistos de modo integrado histria do ser. Para os espritas, o arquivo de conhecimentos de todas as pocas existe, e encontra-se registrado no perisprito que acompanha o esprito em todas as encarnaes. Por isso as lembranas ficam, realmente, em estado inconsciente, ou semiconsciente. E agora? No que acreditamos? Em quem? H uma diversidade de verdades. Porm, algo ainda comum: a busca pela cura de males fsicos continua acontecendo nos templos religiosos.

Esta a constatao, ponto de partida para investigarmos o fenmeno, cientificamente. A conseqncia natural desse estado de coisas, como constatam os pensadores modernos, a de que estamos vivendo uma crise de paradigmas. Assistimos crise das instituies. isso que ouvimos, a todo momento. No sabemos mais dizer quem detm a verdade. No se trata mais de escolher entre duas opes: Esculpio ou Cristo? Psicologia ou psiquiatria? Medicina tradicional ou alternativa? Cincia ou religio? Entre essas possibilidades, existem uma centena de alternativas e milhares de razes para desconfiarmos de muitas delas. E isso, graas ao fato de que nossa razo deixou de ser excludente, no mais a frmula ou/ou que nos agrada. Agora, convivemos com o mas, tambm, contudo... Por outro lado, isso significa que estamos sem um modelo nico. No sabemos no que, nem em quem acreditar. Ser que na Internet? Ser a deusa do sculo XXI? Isto significa que no temos um paradigma no qual nos apoiarmos, com tranqilidade, que sirva de base, parmetro. Ou seja, a cincia perdeu seu "status" de infalibilidade. Luiz Bernardo Leite Arajo, telogo catlico, em "Consideraes sobre o termo 'paradigma'", aps fazer uma sntese objetiva e analisar algumas implicaes dessa mudana na histria da cincia, conta como foi que Einstein realizou verdadeira "subverso na fase ps-empirista da cincia", e com isso provocou "um retumbante

sucesso". O novo paradigma implicaria, a partir de Einstein, uma "absoluta relatividade dos modelos" e o desembocar de um "beco sem sada aberto pelo ceticismo". A figura popular de Einstein, parecendo um cientista maluco, mostrando a lngua, demonstra bem essa imagem subversiva colocada na citao acima. A questo central, que eclodiu no vigor dessa chamada revoluo cientfica, : se tudo relativo, se no h verdade absoluta, estamos perdidos? Nada mais nos serve como modelo, como exemplo? Se todas as verdades so meiasverdades e se a diviso tecnolgica de nosso sculo levou uma total fragmentao do saber, ento, de fato, como se diz popularmente: "sabemos cada vez mais sobre menos". At mesmo para a teologia, essas mudanas e a crise de referenciais decorrentes dos novos paradigmas implicam tambm reconhecer que ela (a teologia) precisa tornar-se interdisciplinar, isto , precisa conviver com as outras cincias para dar conta da demanda atual. Mrcio Fabri dos Anjos, na introduo de Teologia e Novos Paradigmas, enfatizando essa necessidade interdisciplinar, acrescenta que no se pode mais evitar o enfrentamento da relao entre f e razo. Esse enfrentamento foi defendido por Kardec quando afirmou que a nica f verdadeira, "inabalvel, aquela capaz de encarara razo face a face, em todas as pocas da humanidade" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX, 7).

Mas isso no uma tarefa fcil, pois parece que, na sua origem, a f e a razo no se encontravam. Pelo contrrio, a f sempre foi justificativa para explicar coisas impossveis cincia. Por isso, a teologia e as religies se distanciaram da cincia tradicional, chamada positivista, por considerar apenas as coisas visveis, palpveis, dimensionveis e controlveis. Os fenmenos do esprito, relativos a nossa essncia, portanto, ficaram fora do contexto cientfico, formaram outro departamento. J a psicologia, com Pierre Weill6, fundador da Universidade Holstica Brasileira, em seu livro Rumo Nova Transdisciplinaridade, prope um avano dessa discusso, apresentando a tese da interdependncia de todos os aspectos da realidade. Essa proposta representa um estgio superior no modelo existente chamado de interdisciplinaridade; trata-se do entendimento de que no basta apenas haver uma sntese de duas ou mais disciplinas para a ampliao do conhecimento. Alm da "interao ou reciprocidade entre pesquisas especializadas, situaria essas ligaes no interior de um sistema total sem fronteiras estveis entre as disciplinas". Essa interdependncia das partes com o todo parece nortear as falas dos tericos do novo paradigma, como verificamos abaixo, mais detalhadamente, na reflexo dos telogos David Steindl-Rast e Thomas Matus, em dilogo com F. Capra em Pertencendo ao Universo7. Em sntese, eles apontam para essa mesma direo com estabelecimento de cinco critrios no "pen-

samento do novo paradigma", na cincia e paralelamente na teologia. Esse dilogo entre o telogo e o fsico resultou nas seguintes propostas de ao tanto para a teologia como para a fsica, em resumo: Mudana das partes para o todo: "as propriedades das partes s podem ser entendidas a partir da dinmica do todo"; na teologia, o "significado de cada dogma s pode ser entendido a partir da dinmica das revelaes como um todo". b) Mudana de estrutura para processo: "cada estrutura vista como a manifestao de um processo subjacente", h uma teia de relaes; na teologia: "o processo dinmico da histria da salvao , ele prprio, a grande verdade da auto-manifestao de Deus". c) Mudana de cincia objetiva para "cincia epistmica": "acredita-se que a epistemologia - a compreenso do processo de conhecimento - deve ser includa explicitamente na descrio dos fenmenos naturais", sendo que "no h consenso a respeito do que seria uma epistemologia adequada, mas h um consenso emergente de que a epistemologia ter de ser parte integrante de cada teoria cientfica"; na teologia: "sustenta-se que a reflexo sobre modos no-conceituais de conhecimento intuitivos, afetivos, msticos - deve ser includa explicitamente no discurso teolgico", e o consenso emergente de que "modos dea)

conhecimento no-conceituais constituem parte integrante essencial da teologia". d) Mudana de construo para rede como metfora do conhecimento: "na medida em que percebemos a realidade como uma rede de relaes, nossas descries formam, igualmente, uma rede interconexa representando os fenmenos observados"; na teologia: "na medida em que percebemos a realidade como uma rede de relaes, nossos enunciados teolgicos formam, igualmente, uma rede interconexa de diferentes perspectivas sobre a realidade transcendente". e) Mudana de descries verdadeiras para descries aproximadas: "a cincia nunca poder fornecer uma compreenso completa e definitiva da realidade", pois os cientistas "lidam com descries limitadas e aproximadas da realidade"; na teologia: "nunca poder fornecer uma compreenso completa e definitiva dos mistrios divinos", o telogo "no encontra a verdade suprema no enunciado teolgico, mas na realidade qual esse enunciado d uma certa expresso verdadeira, mas limitada". A noo de rede est mais explorada em outro livro de Capra: A Teia da Vida. Para entendermos essa proposio, pensemos numa rede: para que seja tecida ela tem um fio condutor que se liga de ponta a ponta com todas as partes, internas e perifricas. Se houver um rombo na parte interna, toda a rede estar prejudicada.

Caminhando um pouco mais na reflexo com esses pensadores, o que queremos dizer : h mudanas no mundo da cincia, pois um fsico, considerado no antigo paradigma como representante mximo das verdades cientficas, tem suas limitaes, de homem e de cientista, reconhecidas pela prpria fsica, da qual todos os demais conhecimentos so derivados. Um telogo, o representante da sabedoria das coisas divinas, tambm se apresenta, agora, com um poder relativo, sabedor de parte da verdade. Essas so as caractersticas com as quais podemos compor nossa compreenso do novo paradigma: a verdade compe-se da unio das diversas verdades; ela tem, porm, umjio condutor que lhe d a unidade. A discusso sobre o novo ou o velho paradigma suscitou mais debates. Um deles reuniu vrios telogos no Congresso sobre Teologia e Novos Paradigmas, ocorrido em julho de 1996, em Belo Horizonte. No livro organizado por Mrcio Fabri dos Anjos intitulado Teologia Aberta ao Futuro, h um denso aprofundamento dessa temtica, fruto dessas conferncias. Nelas, o telogo Alfonso Garcia Rubio, analisando a relao entre teologia e cura, coerente com o paradigma holstico, afirma a necessidade de rever-se "teolgica e pastoralmente a relao entre a salvao e a sade, sade do corpo, da mente e do esprito, inter-relacionados, formando uma unidade ntima". Reforamos essa idia, pois tem a ver com o nosso estudo: o fenmeno da cura espiritual

poder ser compreendido, contando com uma atitude transdisciplinar que revoluciona o pensamento cientfico clssico. Revoluo que se concretizar na medida em que pensarem juntos, dialogando, tecendo a teia ou a rede: o telogo, o fsico, o psiclogo, o mdico, o professor... Para alm de interdisciplinar, onde se somam saberes, transdisciplinar, pois se rompe com a diviso. A construo holstica do saber no pode ser segmentada, pois a diviso diablica, como afirma Hlio Pellegrino, famoso psicanalista. Diz ele: "Ao demnio impossvel unir o que quer que seja, pois lhe falta bondade". Somente o amor tem a fora de unio, capaz de mover o sol e as estrelas. "Se a unio faz a fora, Eros forte - e o demnio, fraco. A inteligncia verdadeira ertica, fundamenta-se no amor. A bondade, fora de qualquer dvida, a forma superior de inteligncia". Somente com uma atitude de abertura, inteligncia, no-demonaca, continua Pellegrino, na busca da verda- de que " relao, enredamento, tecido de pertinncias que se entretecem", ganharemos a luta, porque, teimosamente, na natureza tudo se religa, constri-se, reconstri-se, articula-se. A atitude transdisciplinar, recomendada pelo novo paradigma, implica, portanto, em amor verdade. Isso comea de modo humilde, ao nos reconhecermos portadores de parte do conhecimento, em busca da verdade.

III Somos sujeitos do novo paradigma holsticoO pai espiritual da medicina no foi Hipcrates, da Ilha de Cos, porm, Jesus, da cidade de Nazar. W. Boggs Conversamos, at aqui, sobre as mudanas que esto ocorrendo na viso da cincia e como elas refletem as diferentes disciplinas que cuidam do homem. Tendo em vista nosso interesse em estudar a cura, importante reforar que, para a medicina clssica, o homem um ser composto apenas de seus rgos materiais, onde todo funcionamento biolgico determinado pelas funes qumicas. A relao entre os rgos e a conexo dos mesmos, entre si e com o ser espiritual, pouco considerada. Com as mudanas de paradigmas veremos que h tambm uma importante tarefa para a medicina atual. Alguns cientistas contemporneos, como Dora Fried Schnitman, liga Prigogine, Edgard Morin e Flix Guattari, sintetizam a nova situao para ns, sujeitos, explicitando a diferena de postura na forma de fazer cincia atualmente. Eles nos esclarecem que na forma clssica de fazer cincia o "sujeito perturba o conhecimento. Assim, para ter uma viso objetiva, foi necessrio

excluir - apagar - o sujeito". Ficou para a filosofia a tarefa de refletir, como algo essencialmente subjetivo, isto , sem objetividade. Sem tratamento cientfico. Dora conclui afirmando que, entretanto, nossa cultura contempornea permite falar do "trmino de uma viso da histria determinista, linear, homognea, e do surgimento de uma conscincia crescente da descontinuidade, da no linearidade, da diferena e a necessidade do dilogo como dimenses operativas da construo das realidades em que vivemos". importante reforar nosso objetivo, trazendo estas observaes: a necessidade de considerar que a histria no linear, isto , no tem um fio que vai numa nica direo. A histria tem, sim, um mesmo fio que se entrelaa para formar a rede - lembrem-se do ato de tecer uma rede, de quantos vaivns formam um conjunto, uma unidade. Por isso, os cientistas, hoje, reconhecem que aquela atitude que Dora chama de cartesiana, dividindo os fatos entre objetivos e subjetivos, observveis e no-observveis, no serve mais. No podemos excluir o sujeito com a sua espiritualidade na prtica do estudo cientfico. Somos, portanto, condutores do processo e ao mesmo tempo sujeitos dele, como colocado pelo paradigma holstico. Mas, afinal, o que um paradigma holstico? Alm de "novo" este paradigma tambm recebe o adjetivo holstico.

Procuremos compreender o conceito de holismo, verificando como Pierre Weill e Ken Wilber nos trazem informaes histricas importantes. Segundo Weill, a reviso do livro editado pelo filsofo Ian Christian Smuts, Holism and Evolution, traz as idias mais essenciais e atuais para a compreenso da continuidade entre matria, vida e mente, demonstrando que a evoluo se d pela transformao da energia. Nesse estudo, h uma reconciliao entre matria e esprito: duas foras propulsoras atuam para uma ascenso psquica da humanidade: a melhora das estruturas cerebrais individuais e uma atrao espiritual que incita "a humanidade a se superar". Pierre Weill completa essa descrio considerando que contamos, agora, com a contribuio das tradies hindusta, budista e da fsica quntica, concluindo que a definio do novo paradigma holistico deve ser a mesma adotada pela Universidade Holstica Internacional: "Este paradigma considera cada elemento de um campo como um evento refletindo e contendo todas as dimenses do campo". Portanto, a partir desta viso, na qual "o todo e cada uma de suas sinergias esto estreitamente ligados em interaes constantes e paradoxais", "proibido" segmentar o homem em rgos isolados e desconexos. A dimenso hologrfica o ponto de partida para uma nova descrio da realidade, no mais esttica, e traz implicaes importantes para os fsicos, como coloca Ken Wilber, reforando que a

cincia no progredir em seus conhecimentos, se continuar quebrando o mundo em partes, pois h uma interconexidade inseparvel. Gostaramos de reforar que consideramos essas afirmaes coerentes com conceitos colocados em O Livro dos Espritos, sobre a nossa natureza espiritual e material. Como est dito nesse livro, esprito e matria so dois elementos gerais do universo e com Deus, o Criador, formam a trindade universal, o princpio de tudo o que existe. Embora sejam independentes e distintos, a matria necessita da unio com o esprito para manifestao inteligente em nosso mundo. Acreditamos que a esto o segredo e o fundamento da interconexidade inseparvel to falada pelos holistas. Essa conexo inalienvel entre esprito e matria no permite entender o mundo, o ser, suas preferncias, tendncias, possibilidades, sem levar em conta essa unio. A viso segmentria, isolando o mundo objetivo matria - do subjetivo - esprito - insatisfatria, incompleta, vazia de contedo. importante verificar, ainda, que o paradigma holistico nos remete tambm a concepes pluralistas, ecolgicas e a uma perspectiva feminista. Vejamos por qu. O que ser Pluralista e Ecofeminista? Com a perda da verdade total, e conformandonos com a relatividade nos tempos atuais, conhecida tambm como era "ps-moderna", h uma tendncia para que o homem deixe de ser o centro do universo, perceba que nada sabe e

conceba realidades maiores sua volta. Pode permitir, sem ser considerado alienado, que est ligado a um Ser maior, um Ser espiritual, a Divindade, que lhe d uma responsabilidade maior no meio onde atua. Assim, parece-nos ser plausvel a busca por outras relaes com o universo. A pluralidade o caminho, no apenas nas cincias, mas nas religies que buscam tambm uma nova compreenso, como est colocado por nio Britto, ao elaborar um comentrio-sntese do livro de Leonardo Boff, Nova Era: a Civilizao Planetria: "O paradigma moderno de poder como dominao do mundo e dos povos provocou trs desvios na nossa cultura modernizada. O primeiro, reduo na concepo do ser humano, visto como ser de necessidades e no de relaes, de solidariedade e de comunho. O segundo, a cultura moderna se assentando no poder, recalcou o feminino. (...) O terceiro desvio est no desrespeito alteridade (destruio das culturas) e natureza (objeto especulativo). A superao da crise pede um novo sonho, um novo sentido da vida, uma nova espiritualidade". Em resumo: a nova espiritualidade dever contemplar um homem solidrio que respeite a natureza e recupere o sentimento feminino na sua dimenso de "cuidado, de respeito vida e ao mistrio do mundo, que todos devemos desenvolver". Essas dimenses de desrespeito s culturas e o recalque do feminino, colocadas por Leonardo Boff, tm tambm especial destaque nos

elementos do novo paradigma social e cultural, colocados por F. Capra quando adverte sobre o "perigo da destruio e a perspectiva feminista": "H uma possibilidade real de nos aniquilarmos, se no mudarmos para o novo paradigma. A mudana de paradigma , agora, realmente uma questo de sobrevivncia para a raa humana. O outro novo aspecto um aspecto positivo. a perspectiva feminista. Dessa perspectiva, simplesmente, nunca se cogitou antes". Ivone Gebara, teloga feminista, coloca de um jeito muito prprio: "A ecologia vem revalorizando em diferentes partes do mundo o resgate das "culturas originrias" que no se limitam ao mundo indgena latinoamericano, mas abrem-se s tradies africanas vigentes em nosso continente. Um mundo em que os ancestrais e as foras da natureza tm lugar privilegiado resgatado como valor cultural e no como "coisa do demnio" como diziam antigos missionrios". O resgate do feminino vem, em tempo, demonstrar que o imprio das foras essencialmente masculinas, como poder, domnio, possesso, agresso e violncia, est em decadncia. chegado o tempo de deixar de brigar, tempo de abraar, tempo de paz, tempo de curar... Como dizia Salomo no livro de Eclesiastes: "... h tempo para todo o propsito debaixo do cu". o tempo das foras femininas, que esto presentes na criao, na maternidade, na alimentao, no cuidado, na afetividade, na

emoo e no carinho, que j deixaram de ser exclusivamente das mulheres para se manifestarem com maior clareza tambm no homem. Nem por isso esse novo homem ser menos homem, como diziam os velhos preconceitos, mas ser, com menos conflitos, mais humano, mais completo, mais forte. Tanto mais completo quanto mais experiente e conhecedor de suas potencialidades: vivendo integralmente sua animas (energia feminina presente no homem) e seu animus (energia masculina presente na mulher. Sabemos que todo homem, como toda mulher, para cumprir as etapas da evoluo espiritual, tem que viver nos corpos de homem e de mulher. Por isso, de fato plausvel entender que as foras femininas e masculinas esto presentes em nossa natureza. A chance de manifestao no mundo fsico depende da necessidade de viver essa ou aquela experincia, circunstancialmente. Muitos conflitos humanos nascem da falta de entendimento dessa origem complexa e simples ao mesmo tempo. Simples, se tivermos uma viso holstica. Com essa viso, no haver mais lugar para imprio machista ou feminista. A evoluo caminha junto com a atitude saudvel do ser humano ntegro e integrado em suas energias femininas e masculinas. Por que inserimos o estudo da cura espiritual na viso holstica? Consideramos interessante verificar como essa relao est presente e analisar o que se sabe a

esse respeito: Karl Pribram, neurocirurgio, pesquisador do crebro humano, depois de dcadas de estudo, concluiu que a estrutura do crebro essencialmente hologrfica, "anloga ao processo de fotografia sem lente" como descreve Dennis Gabor: "Um impressionante corpo de pesquisas em muitos laboratrios demonstrou que as estruturas cerebrais vem, ouvem, sentem o gosto, cheiram e tateiam por meio de sofisticadas anlises matemticas de freqncias temporais e/ou espaciais. Uma misteriosa propriedade, tanto do holograma como do crebro, consiste na distribuio das informaes por todo o sistema, com cada fragmento codificado para produzir as informaes do todo". Assim, se em cada fragmento de nosso crebro esto presentes as capacidades de ver, ouvir, sentir gosto, cheirar, tatear, isto , as representaes dos nossos cinco sentidos, ento no h como isolarmos nossa experincia, nossas aprendizagens, pois as nossas clulas, o organismo celular, encarregam-se de uni-las. Somente um organismo ligado a uma inteligncia maior poderia ter essa unidade e complexidade, uma fonte espiritual como a revelada por Jesus. Nessa viso, compreende-se a atitude de Jesus de Nazar como o iniciador da cura total, tema abordado por George W. Meek. O autor enfatiza que Jesus no separava o homem material do espiritual, cuidando das dores fsicas, por meio da imposio de mos:

"Jesus de Nazar encarregou-se de sanar esta dicotomia e de acrescentar novas dimenses cura. Sua preocupao pela sade fsica total, mental e espiritual das pessoas representou um ponto de partida revolucionrio. Embora tenha sido chamado de 'xam' devido sua funo como mediador entre Deus e o homem, isso no foi para abrandar uma divindade vingativa e arbitrria, mas antes para canalizar o amor, como uma energia curativa que emana da Fonte de todos os seres, descrita por Ele como Pai Amoroso. Jesus ensinou a importncia de realizar a harmonia do indivduo com essa Fonte de Amor, mas tambm demonstrou que a energia para curar podia ser ministrada atravs dele mesmo e de outros. Os Evangelhos registram 26 curas individuais e 27 curas em grupos, por Jesus, e nove curas mltiplas por seus Apstolos. Os mtodos empregados eram o toque, palavras, preces, exorcismo, a f da pessoa, da famlia ou de amigos, o emprego da saliva e a compaixo natural". Wade Boggs, num artigo dentro do mesmo livro de Meek, comenta que a dvida da medicina para com Jesus foi negligenciada: "Sem o Seu esprito, a medicina degenera numa metodologia despersonalizada, e o seu cdigo tico num simples sistema legal. Jesus induz a correo do amor, sem a qual a verdadeira cura raramente possvel na realidade. O pai espiritual da medicina no foi Hipcrates, da Ilha de Cos, porm, Jesus, da cidade de Nazar.

Dois mil anos depois, a promessa de Jesus, 'Fao todas essas coisas, vs as fareis e ainda mais', ainda tem que ser acreditada ou realizada". A Igreja classificava de bruxaria, heresia ou de prtica demonaca, qualquer experincia que revelasse que um ser humano poderia, pelos prprios ensinamentos do Mestre, Jazer a mediao entre cus e terra, porm, como assinala George Meek: "Atravs dos sculos (ao contrrio das tendncias ortodoxas), surgiram relatrios consistentes de curas medicinalmente no ortodoxas, tanto dentro como fora das igrejas. Por toda a parte do mundo, no importa qual seja o ambiente religioso, verifica-se a indicao de que o dom espiritual elevado muitas vezes acompanhado pelo pretenso poder de cura. extensa a lista de cristos, sufistas, hassdicos e outros santos, lamas tibetanos e gurus hindus. H muito que os santurios e as relquias foram considerados agentes de cura. Dentre os milhares que viajam para Lourdes, o santurio mais famoso, somente uns poucos recebem atestados de comisses mdicas e eclesisticas comprovando a cura milagrosa". A busca pela cura espiritual persiste. Em seu livro, George Meek utiliza dados coletados por 14 estudiosos do fenmeno da cura espiritual em pases diferentes culturalmente, como Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, ex-Unio Sovitica e Filipinas. Uma de suas concluses a de que esses dados sugerem conseqncias importantes tanto para a cincia e a medicina, como para a

religio, recomendando a necessidade de uma ateno e de um aproveitamento melhor dos benefcios que essas curas representam para a populao do ponto de vista da sade fsica e mental, como seu redimensionamento da vida espiritual. Parece importante reforar que o conceito abrangente que poderamos adotar para cura espiritual talvez fosse o de que um processo de restabelecimento no de um rgo doente, porm da pessoa, por meio do equilbrio geral de seu organismo fsico, mental, emocional e espiritual. Por isso adotamos a expresso healing, como j afirmamos. Segundo o Boletim nmero 42, da Aita (1996), "o healing geralmente administrado atravs da imposio de mos do curador no corpo do paciente. Alguns curadores evitam o contato das mos com o corpo. Eles a mantm estendidas alguns centmetros acima do corpo. Outros alegam no necessitar da presena do paciente para conseguir o resultado esperado. difcil encontrar uma definio nica de healing que abranja todas estas possibilidades. Talvez a melhor tenha sido dada pelo Dr. Daniel Benor (membro do Conselho Deliberativo da Aita), que vem pesquisando mdicos e curadores no Reino Unido. Para Benor, healing um estado de ser no qual a mente est centrada no objetivo de auxiliar outra pessoa. Como esta noo de healing ainda vaga, o Dr. Clive Wood (em cujas observaes se baseia esta matria) resolveu conversar com curadores, a fim de avaliar qual

era a viso que eles prprios tinham do processo de cura. Basicamente, buscou verificar no que consistia o healing para os curadores e de onde proviria o "poder" de cura. Segundo ele, as respostas dadas por Jacquie Hope so representativas daquelas que obteve de outros curadores. (...) ' uma capacidade que sinto naturalmente em mim', ela explicou. ' uma coisa que descobri de uma forma espontnea e inesperada e que eu aplico de forma intuitiva. Parece beneficiar os clientes, tanto por afetar problemas fsicos especficos como por fornecerlhes suporte para seu bem- estar psicolgico e emocional. Geralmente eu descrevo o procedimento como sendo a canalizao da energia universal que auxilia o reequilbrio das prprias energias do cliente'". Em outro Boletim da Aita (no 10, julho-93), temos notcia de que vem aumentando a gerao de mdicos com postura mais receptiva aos tratamentos chamados "alternativos"; uma pesquisa realizada em Boston surpreendeu o mundo cientfico revelando que os americanos fazem mais consultas com terapeutas "noconvencionais " do que com mdicos alopatas. Uma explicao para esse fato que, em geral, os mdicos alopatas no tratam das doenas psicossomticas: doenas que se manifestam no corpo, mas possuem origem na alma - psico significa alma, soma corpo. A psicloga Denise Gimenez Ramos, fundamentada nas afirmaes de Jung, ao estudar as relaes entre mente e corpo, ensina-nos que as chamadas doenas

psicossomticas so entendidas a partir da noo de sincronicidade. Jung utiliza sincronicidade no sentido em que popularmente se diz "coincidncia", isto , como a "existncia de dois ou mais fenmenos ocorrendo ao mesmo tempo, sem relao de causa e efeito, mas com relao de significado". Um exemplo comum: pensamos em algum que no vemos h muito tempo e, nesse instante, a pessoa aparece, ou nos telefona. Para Jung, esse acontecimento no fruto do acaso, nem de magia, no foi causado pelo fato de pensarmos naquela pessoa, porm tem origem em razes mais profundas de nossa alma. A sincronicidade est presente tambm no aparecimento das doenas, pois toda emoo e todo fenmeno psquico apresentam correlao com os fenmenos fisiolgicos. A ocorrncia de uma doena orgnica tem origem nos complexos que provocam alteraes no nvel fisiolgico e psicolgico. A hiptese levantada por Denise Ramos de que "a doena orgnica pode ter uma finalidade e um significado. Esse significado em alguns casos, um smbolo. A compreenso e integrao do mesmo na conscincia leva a uma melhora no quadro de sade geral do paciente". Por isso, toda e qualquer doena tem uma expresso no corpo e na psique, simultaneamente. Denise afirma que "o que leva um paciente a procurar um mdico ou psiclogo nos nossos dias o grau de sofrimento em uma polaridade". O carter simblico das doenas tambm foi desenvolvido por Thorwald Dethlefsen e Rdiger

Dahlke em A Doena como Caminho, cuja principal tese a de que toda doena tem uma correlao direta com dificuldades da personalidade, ou seja, com a natureza espiritual da pessoa. Portanto, as doenas no so conseqncia apenas de um desequilbrio orgnico desvinculado do jeito de ser e da forma como enfrentamos a vida. Para maior compreenso das doenas, alm do conceito de sincronicidade, do carter simblico e psicossomtico, h tambm que se aprofundar a noo de matria como energia concentrada, tema do prximo captulo. Existem diversas pesquisas que demonstram a possibilidade de se provar, em laboratrio, a existncia de verdadeiras correntes eltricas nos organismos vivos. Hiroshi Motoyama desenvolveu equipamentos que medem essas correntes de energia e demonstram como elas esto associadas aos meridianos da acupuntura, sendo capazes de detectar distrbios orgnicos e registrar as mudanas energticas em reas do corpo que correspondem aos "chacras", ou centros de fora. Essas mudanas, em geral, esto associadas ao estado emocional das pessoas. A concluso dos pesquisadores como Motoyama e Shafica Karagulla (1991) que "sabemos hoje que nossos sentidos apenas nos enviam impresses que a mente e o crebro interpretam de acordo com sua viso interna". O desenvolvimento dos conceitos de energia, matria e esprito luz do espiritismo, demonstramos que o crebro no produz a

inteligncia, mas um instrumento da mente, um rgo como os demais, conduzido pela inteligncia, pelos pensamentos e pela vontade do esprito. Verificaremos esses conceitos mais detalhadamente, a seguir.

IV Energia, matria e esprito

A matria transformada em energia, e esta desaparece para dar lugar matria. Emmanuel Para entendimento do processo de cura espiritual, precisamos tambm rever os conceitos de matria, energia e esprito. Esses conhecimentos esto relacionados com uma viso de mundo na qual o ser humano interage com o Universo deforma intensa: fisicamente, emocionalmente, mentalmente e em nveis mais profundos. Como afirma Larrg Dossey, nossa ansiedade maior, capaz de provocar enfermidades, a que provm do medo da morte. E esse medo, podemos afirmar, sem medo, nasce do desconhecimento de nossa natureza espiritual. Essas idias so fundamentadas numa concepo holstica, e na fsica moderna, em que se considera a correlao existente entre matria e energia. Rene Weber, defensora de uma teoria natural da cura, afirma que:

"Matria e energia so equivalentes, duas facetas intercambiveis de uma mesma base, como Einstein, repetindo os antigos metafsicos (...). O Universo, longe de ser uma mquina ou um composto de partculas atmicas, separadas e aleatrias, segundo ofisicalismo, , na verdade, um todo integral, no qual todas as partes - profundamente interligadas nesse oceano de unidade - inter-relacionando-se diretamente, exercendo influncia e interdependncia mtuas em todas as direes e dimenses, como no caso de qualquer organismo vivo". Essa autora conclui seu pensamento, defendendo a possibilidade da cura espiritual, contrapondo-se aos defensores do materialismo cientificista, em coerncia com o paradigma holstico que temos explicitado neste estudo. O tema da cura espiritual foi bastante estudado por George W. Meek, organizador do livro As Curas Paranormais: como se processam, no qual relata o resultado de dez anos de pesquisas desenvolvidas por ele e outros pesquisadores, procurando dar upa denominador comum na tentativa de chegar a uma teoria da cura. Antes, porm, de detalharmos os estudos de Meek, procuramos a definio filosfica do termo, para entend-lo melhor. Na tentativa de compreendermos o conceito, poderamos, antes, dizer o que no cura espiritual. Seria conveniente utilizarmos o termo cura fisicalista. Chamaremos de fisicalistas aqueles que defendem uma total autonomia para as funes do corpo fsico, sem considerar possvel a

relao com a mente e com o esprito, dentro da viso pragmtica, mecanicista e positivista. Segundo esse entendimento, todas as doenas ou distrbios do corpo fsico seriam decorrentes unicamente do funcionamento material dos rgos, e somente com interveno, tambm material, qumica ou cirrgica, poder-se-ia auxiliar o rgo doente. Entretanto, com a fsica relativista de Einstein, comeou-se a substituir o conceito pelo qual s se considerava observvel o que era visvel aos olhos, pelo conceito de campo: "Era preciso uma corajosa imaginao cientfica, observam Einstein e Infeld, para reconhecer que o essencial para a ordenao e a compreenso dos acontecimentos pode ser no o comportamento dos corpos, mas o comportamento de alguma coisa que se interpe entre eles, isto , do campo". Heisenberg, outro fsico moderno, desenvolve a teoria da indeterminao, que considera outra varivel: a limitao de nossa capacidade de visualizao dos fenmenos. Assim, afirma: "Devemos nos lembrar de que aquilo que observamos no a natureza em si mesma, mas a natureza exposta ao nosso mtodo de exame". Esclarecendo as implicaes dessa teoria da indeterminao de Heisenberg, Fritjof Capra acrescenta que elas representam uma grande lio para os fsicos deste sculo. Em O Ponto de Mutao, Capra esclarece que a grande lio entender que "todos os conceitos e teorias que usamos para descrever a natureza

so limitados. Em virtude das limitaes essenciais da mente racional, temos de aceitar o fato de que, como disse Werner Heisenberg, 'toda palavra e todo conceito, por mais claros que possam parecer, tm apenas uma limitada gama de aplicabilidade'. As teorias cientficas no estaro nunca aptas a fornecer uma descrio completa e definitiva da realidade. Sero sempre aproximaes da verdadeira natureza das coisas. Em termos claros, os cientistas no lidam com a verdade, eles lidam com descries da realidade limitadas e aproximadas". Sabendo da relatividade de nossa capacidade de compreender os fenmenos, procuraremos definir conceitos que utilizaremos no decorrer deste trabalho, como energia, esprito, mente e corpo, dentro do paradigma holstico. Essa relatividade est colocada por Kardec, em O Livro dos Espritos, quando nos chama a ateno para o fato de que nossa linguagem ainda muito limitada para a compreenso de todos os conceitos. Mas, medida que evoluirmos, a verdade ir se clareando em nossas mentes. Energia - esprito, mente corpo - certo dizer que os Espritos so imateriais? - Como podemos definir uma coisa, quando no dispomos de termos de comparao e usamos uma linguagem insuficiente? Um cego de nascena pode definir a luz? (Questo 82 de O Livro dos Espritos).

Na compreenso holstica do ser, tanto quanto na codificao de Kardec, existe intrnseca relao entre o corpo fsico e a alma: o que aparece em um nitidamente visto no outro. As dimenses do mental e espiritual so consideradas de fundamental importncia para a sade, no ponto de vista holstico, considerando que quase todas as doenas tm um fundo emocional. Bendit nos diz que Jung foi o primeiro mdico da alma a esclarecer que "todos os nossos problemas todas as nossas doenas so o resultado de desajustes causados ao nosso ser espiritual". Assim, curar seria essencialmente "corrigir o que est errado em nossas relaes com nosso corpo, com outras pessoas e - no me estenderei muito com nossas prprias mentes complicadas, com suas emoes e instintos, em guerra uns com os outros e no devidamente compreendidos e aceitos por aquilo que chamamos 'eu' ou 'mim'. Podemos verificar que essa noo de Energia foi ampliada pela fsica quntica, a partir da teoria de Einstein, o primeiro fsico a desvendar essa "interconversibilidade de energia e matria", como esclarece Dennis K. Chernin: "(...) a teoria de Einstein pode ser aplicada medicina e cura. Sem dvida, a tecnologia baseada nesses conceitos j vem sendo aplicada nas reas de laser, raios-X, medicina nuclear, cintilografia pelo sistema CAT (Computer Aided Transcription) e ressonncia magntica. Por conseguinte, poder-se-ia concluir que, se possvel tratar a matria (corpo), ento tambm possvel tratar o aspecto referente energia (j

que ambos so interconversveis), desde que se possa diagnosticar e compreender a enfermidade neste nvel. Vrias tradies e teorias mdicas vm, na verdade, desenvolvendo-se em torno do conceito de energia, inclusive a homeopatia, a medicina chinesa e o sistema aiurvdico da ndia antiga." Para ns, leigos em fsica, resta ainda entender o que significa interconversibilidade. Como a prpria palavra diz, a possibilidade de converso recproca entre matria e energia e energia e matria. Isto , algo de origem material pode ser esmiuado e tornar-se pura energia. A energia pode ser condensada e tornar-se matria. Aqui, fazendo um parntese, lembramos o princpio dos medicamentos homeopticos, cujas essncias - materiais - so dinamizadas a ponto de termos a "alma" do medicamento, e por isso que atuam to bem nas doenas de fundo emocional. A esse respeito, na literatura esprita, encontramos tambm uma interessante 7 comunicao de Emmanuel , no prefcio psicografada por Francisco C. Xavier, no incio dos anos 50, afirmando que essa matria seria melhor entendida pelos cientistas do sculo XX, resumindo a evoluo histrica do conceito de energia: "Velhas afirmaes cientficas tremem nas bases. Ruhtheiford, frente de larga turma de pioneiros, inicia preciosos estudos, em torno na radioatividade. O tomo sofre irresistvel

perseguio na fortaleza a que se acolhe e confia ao homem a soluo de numerosos segredos. E, desde o ltimo quartel do sculo passado a Terra se converteu num reino de ondas e raios, correntes e vibraes. A eletricidade e o magnetismo, o movimento e a atrao palpitam em tudo. O estudo de raios csmicos evidencia as fantsticas energias espalhadas pelo Universo, provendo os fsicos de poderosssimo instrumento para a investigao dos fenmenos atmicos e subatmicos. Bohrs, Planck, Einstein erigem novas e grandiosas concepes. O veculo carnal agora no mais que um turbilho eletrnico, regido pela conscincia. Cada corpo tangvel um feixe de energia concentrada. A matria transformada em energia, e esta desaparece para dar lugar matria. Qumicos e fsicos, gemetras e matemticos, erguidos condio de investigadores da verdade, so hoje, sem o desejarem, sacerdotes do Esprito, porque, como conseqncia de seus porfiados estudos, o materialismo e o atesmo sero compelidos a desaparecer, por falta de matria, a base que lhes assegurava as especulaes negativistas. Os laboratrios so templos em que a inteligncia concitada ao servio de Deus, e, ainda mesmo quando a cerebrao se perverte, transitoriamente subornada pela hegemonia poltica, geradora de guerras, o progresso da

Cincia, como conquista divina, permanece na exaltao do bem, rumo a glorioso porvir. O futuro pertence ao Esprito. Podemos afirmar, outra vez, sem medo, que essa mensagem proftica de Emmanuel, e os esclarecimentos de Andr Luiz se confirmaram. Em coerncia com essa noo de que o corpo ou a matria - a manifestao da energia concentrada, os fsicos e estudiosos da fsica quntica, os defensores do holismo confirmam a mensagem de Andr Luiz. A cura espiritual possvel, segundo o espiritismo, exatamente pela intrnseca relao corpo-mente-esprito, enfatizando-se o Esprito como o elemento eterno, preexistente e sobrevivente ao corpo. Na ligao do esprito ao corpo, apresenta-se o perisprito - elemento semi-material que serve de envoltrio ao corpo como a casca envolve o fruto. O conceito de perisprito ser melhor desenvolvido no captulo seguinte; para introduzilo, entretanto, neste contexto holstico, achamos interessante apresent-lo como coloca Divaldo Pereira Franco, orientado pelo Esprito Joanna de ngelis, em seu livro O Homem Integral: "Multimilenarmente conhecido, atravessou a Histria sob denominaes variadas. Hipcrates, por exemplo, chamava-o Enormon, enquanto Plotino o identificava como Corpo Etreo ou gneo. Tertuliano o indicava como Corpo Vital da Alma, Orgenes como Aura, qui inspirados no apstolo Paulo que o referia como Corpo Espiritual e Corpo Incorruptvel. No Vedanta ele aparece como Mano-maya-Kosha e no Budismo Esotrico de-

signado por Kamarupa. Os Egpcios diziam-no K a e o Zend Avesta aponta-o por Baodhas, a Cabala hebraica por Rouach. o Eudlon do tradicionalismo grego, o Imago dos latinos, o Khi dos chineses, o Corpo sutil e etreo de Aristteles... Confcio igualmente o identificou, chamando-o Corpo Aeriforme, e Leibniz qualificou-o de Corpo fludico... As variadas pocas da Humanidade defrontaram-no e por outras denominaes ele passou a ser aceito." Para entendermos a amplitude dessa comunicao de Joanna de ngelis, gostaramos de enfatizar, da citao acima, as referncias feitas a pensadores e fatos relevantes da histria, das quais interessante recordarmos: Hipcrates: clebre mdico da Grcia antiga, 460- 377 a. C., considerado o pai da Medicina. Plotino: filsofo mais importante do movimento neoplatnico, viveu na era crist, 205-270; soube conciliar os ensinamentos de Plato e Aristteles e transmitia a filosofia livre de polmicas, com profunda espiritualidade, sendo considerado um dos pais do holismo. Tertuliano: escritor latino cristo, viveu no ano 200 d.C., na Tunsia, pertencente na poca ao Imprio Romano. Orgenes: telogo de Alexandria, viveu no sc. I I I . o responsvel pelo Origenismo, uma tendncia teolgica crist que mistura

elementos da gnose, do platonismo e do cristianismo, afirma a restaurao final de todos os seres, inclusive do demnio, e admite a preexistncia da alma. Vedanta: referncia filosofia da ndia, Upanixade que acredita na unidade essencial de todas as coisas. Confcio: filsofo chins, 551-479 a.C., criou uma doutrina tica e poltica dominante na China por mais de 2.000 anos. Aristteles: filsofo grego, viveu de 384 a 322 a.C.; exerce ainda enorme influncia no pensamento ocidental. Leibniz: filsofo moderno que escreveu sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. Em sntese, importa para ns percebermos que os conceitos espritas de energia, matria e esprito, assim como o de perisprito, so conhecimentos muito antigos, na atualidade desvendados para ns. E, dessa forma, acreditar que o corpo uma variao da energia espiritual e o perisprito um corpo energtico, sutil, que abriga a mente humana, de onde nascem muitos distrbios fsicos, no uma suposio inventada por uma tendncia adolescente em busca de novidades. Portanto, podemos concluir que as doenas que nascem da alma so conseqncias de desordens energticas, e podem ser tratadas com transmisso de energia. Essas desordens provocam conseqncias no corpo e pode-se

interferir nesse corpo, atuando na transmisso e na facilitao da circulao das correntes energticas. Essa ao, ou interferncia na manipulao da energia espiritual, pode ser obtida pela imposio de mos, mtodo conhecido como transmisso de passes espirituais. Dessa possibilidade de transfuso de energia nasce a possibilidade da cura espiritual. A partir deste pano de fundo geral, queremos apresentar agora um modelo explicativo para o fenmeno da cura. Acreditamos que essa teoria est coerente com o novo paradigma holstico, pois enxerga o ser humano como ser espiritual manifesto num corpo. Enxerga, sobretudo, a unidade do ser, e no permite anlise segmentada de corpo-mente-esprito.

COMO

V

CURAR?

perigoso possuir sem saber usar. O espelho sepultado na lama no reflete o esplendor do Sol. Andr Luiz Encontramos diversos profissionais da sade trabalhando dentro da nova viso teraputica da cura integral, em acordo com o paradigma holstico. Procuraremos relacionar alguns desses profissionais que tm demonstrado muita seriedade e desenvolvido pesquisas na

comunidade internacional, bem como verificaremos como se desenvolveu este tema no contexto social brasileiro. Nos captulos anteriores tivemos a oportunidade de conhecer o pensamento de alguns destes profissionais que relacionaremos a seguir: Na medicina, destacam-se: Larry Dossey, autor das obras j citadas neste trabalho, editor executivo do peridico Alternative Therapies e conferencista de renome internacional sobre os temas como espiritualidade e medicina. H. Tudor Edmunds, do Kings College Hospital, em Londres, foi presidente do Grupo de Cincia do Centro Teosfico de Pesquisa e publicou vrios artigos no The Science Group Journal. George Hogben, mdico holstico e psiquiatra, trabalha em Rye, Nova York. Estudioso da influncia da espiritualidade na cura, tem proferido palestras e organizado simpsios sobre o tema. Hiroshi Motoyama, pesquisador, desenvolveu, a partir de observaes feitas em laboratrio ou em campo, principalmente sobre a prtica de curandeiros das Filipinas - bem como de suas experincias com acupuntura, em Tquio -, um instrumento eletrnico capaz de comprovar a transferncia de energia entre curandeiro e paciente, verificando as transformaes fisiolgicas de cada um.

Carl Simonton, pioneiro na aplicao da Terapia da Visualizao na cura do cncer, concluiu que os doentes se curam na medida em que voltam a ter vontade de viver. Simonton demonstra a influncia das crenas, atitudes e emoes na sade e na doena. autor, entre outras obras, de Cartas de um Sobrevivente, relato de um paciente que sobreviveu contra todas as previses mdicas. Deepak Chopra, nascido na ndia, exerce a medicina nos Estados Unidos da Amrica desde 1971 e tornou-se presidente-fundador da Associao Americana de Medicina Vdica. Suas obras Conexo Sade, O Retorno de Rishi, A Cura Quntica e Sade Perfeita tratam da relao corpo-menteesprito e o poder da cura quntica, j conhecida pela tradio Vdica, h cerca de 5.000 anos. Dennis K. Chernin, alm da psiquiatria, pratica a medicina holstica em Michigan EUA, sendo tambm docente do Instituto de Cincia do Yoga e filosofia do Himalaia. coautor de Tratamentos Homeopticos. Na psicologia: Lawrence LeShan, psicoterapeuta, trabalhou com pacientes de cncer por mais de 35 anos e publicou as principais concluses das pesquisas que realizou em O Cncer como Ponto de Mutao; Realidades Alternativas; O Mdium, o Fsico e o Mstico, publicados no Brasil pela Summus. O destaque de sua

obra para a importncia da mobilizao consciente do sistema imunolgico, pelo paciente. Essa mobilizao, como voltaremos a analisar nos captulos seguintes, decorre principalmente da possibilidade de o sujeito cantar sua prpria cano. Laurence J. Bendit, autor de Autoconhecimento; Um Yoga para o Ocidente, o Espelho da Vida e da Morte; O Senso Medinico, Este e Aquele Mundo; Mente Transformadora. Daniel J. Benor, psiclogo, conhecido pelos 131 experimentos realizados sobre cura, todos controlados em laboratrio. Benor concluiu que 56 deles mostram resultados estatisticamente significativos; seu estudo foi publicado pelo Complementary Medical Research 4, no 3, sob o ttulo "Survey of Spiritual Healin Research, setembro, 1990. No captulo seguinte voltaremos a mencionar esse estudo e detalhar suas principais descobertas. Na enfermagem: Dolores Krieger pioneira na prtica da enfermagem com o toque teraputico; tambm professora de enfermagem na Universidade de Nova York e coordena workshops sobre toque teraputico. Dentre seus livros, destacamos: Toque Teraputico: Como Usar as Mos para Auxiliar ou para Curar e Foundations for Holistic Health Nursing Practices: The Renaissance Nurse.

Na fsica: Patrick Drouot, pesquisador dos fenmenos da medicina energtica, escreveu: Cura Espiritual e Imortalidade; Ns Somos Todos Imortais e Reencarnao e Imortalidade, todos publicados no Brasil pela editora Nova Era. Entre outros, esses profissionais tm prestado relevantes servios no sentido de mudar a viso fragmentria e criar um novo paradigma na medicina e na psicologia, que ajude a enxergar o ser humano como um ser total e trazer luz compreenso da doena e da sade. Um dos temas mais pesquisados, por esses estudiosos tem sido o mtodo de cura utilizado pelos curadores e os efeitos obtidos. Mtodos empregados na cura espiritual Podemos classificar os curadores, de acordo com o mtodo de cura empregado, em: cirurgies espirituais; cirurgies medinicos; praticantes do toque teraputico; mdiuns passistas; e os xams.

Nas cirurgias espirituais faz-se uma interveno no corpo perispiritual e no h corte no corpo fsico; o curador atua apenas no perisprito. Os significados de perisprito e corpo perispiritual ser desenvolvido mais adiante, neste captulo. Nas cirurgias medinicas, o curador realiza inciso no corpo fsico, sem assepsia, sem

anestesia, para retirada de tumores, cistos, etc., atuando sempre com ajuda de uma entidade espiritual. O toque teraputico consiste na colocao das mos do curador nos pontos doloridos do paciente. Nos passes espirituais no h necessidade de tocar fisicamente o paciente. O passe espiritual diferencia-se do toque teraputico, pois se d por meio da imposio de mos, numa distncia de cerca de um palmo do corpo fsico do paciente. Os xams so os descendentes de pajs ou iniciados na prtica indgena de curas. Essa prtica, a paje-lana, consiste na ao de espritos humanos ou animais, poderes das foras da natureza, uso de ervas medicinais, cantos e rituais de magia. Agora, relacionaremos alguns curadores, estudados pelos pesquisadores citados, explicitando os mtodos de cura que utilizam.

Como representantes da cura xamnica, temos os xams: Rolling Thunder e Dom Jos Matswa. Thunder ndio americano, pertencente tribo dos cherokees, regio de Nevada, EUA. Sua maneira de cura, naturalmente herdada dos feiticeiros de sua tribo de origem consiste na invocao de espritos de animais e dos poderes do Sol, da Lua, da Me-Terra e no uso de ervas

medicinais, juntamente com o fogo, atabaques e os cnticos que fazem parte do ritual, no qual o poder da orao fator indispensvel. G. Meek, em seus estudos, relaciona esse curador, considerando-o um lder espiritual, um filsofo. Projetou-se como principal orador na Terceira Conferncia Anual da Fundao Menninger, em 15/10/71, nos Estados Unidos, classificado como "guardio de uma riqueza de conhecimento misterioso e secreto, transmitido atravs de inumerveis geraes de ndios. Esse conhecimento abrange o poder de curar a doena e cicatrizar os ferimentos". Dom Jos Matswa, ndio huichol, campons, respeitado pelos seus conhecimentos ritualsticos e religiosos, vive nas montanhas rochosas de Sierra Madre, Mxico, tendo j visitado os Estados Unidos e a Europa, onde exps suas tcnicas. Como Rolling Thunder, invoca as entidades do mundo animal e da natureza para ajud-lo e fala do poder da orao como um meio eficaz de curar. Na prtica da cura, por meio de passes espirituais, temos numerosos mdiuns, sendo que, no Brasil, a maioria desconhecida da mdia. Entre os mais estudados internacionalmente, destacam-se Harry Edwards, ingls, j falecido, e Dris Collins, ainda viva, que, tambm considerada mdium, cura pela imposio de mos. A prtica da mediunidade, na

Inglaterra, legalmente reconhecida, desde 1951, protegida pelas leis do pas, havendo o sindicato de classe e a Federao Nacional dos Curadores Espritas. Harry Edwards estudava as origens das doenas e afirmava que suas causas no estavam localizadas no corpo fsico, mas sim na mente, como o cncer, por exemplo, que, segundo ele, provm de frustraes, de no-realizao pessoal. Esse curador fazia uso de tcnicas para influenciar positivamente o paciente e tranqiliz-lo, aplicando passes para transfuso de energia no perisprito. Segundo Lawrence LeShan, esse curador, conhecido por sua integridade, foi digno de confiana. LeShan observou que Harry Edwards fazia suas curas com auxlio da interveno de espritos. A existncia da Federao de Curadores na Inglaterra destacada por Meek como sinal de respeito e cuidado com os pacientes, bem como um: "(...) tributo s muitas dcadas de trabalho pioneiro no campo da cura realizado por Harry Edwards. Seu comportamento sensvel e prprio de um estadista da Federao, por mais de um quarto de sculo, muito contribuiu para a entrada, nos hospitais, de curandeiros a fim de tratarem dos pacientes que desejassem seus servios. Com seus oitenta anos, o Sr. Edwards encontrava-se to ocupado como sempre em seu

santurio de curas, despachando mais de 10.000 pedidos anuais por escrito, ministrando o tratamento distncia. Faleceu na Inglaterra em dezembro de 1976, aps ter completado este manuscrito. (...) 'Deve existir um processo racional responsvel por todos os Jatos neste caso'". Olga Worrall, de Baltimore, Estados Unidos, uma curandeira das mais estudadas por mdicos e cientistas norte-americanos. Numa edio da revista Medicai Economics, junho de 1973, o redator John Carlova forneceu detalhes de parte do seu trabalho. Nessa poca, ela contava com 67 anos de idade e atendeu dez pacientes levados pelos mdicos, considerados com doenas incurveis pela medicina tradicional. Segundo declarao dos prprios mdicos, desses dez, sete ficaram curados pelo tratamento recebido mediante "toque das mos" da senhora Olga. A grande pergunta dos 1.400 mdicos, membros da Academia Americana de Parapsicologia e Medicina, foi: "Como atua esse trabalho de cura? Quais so os mecanismos?". Convidada para muitas conferncias, ela tenta responder baseando-se em Apstolo Paulo, Corntios 1,15: "Existe um corpo fsico e um corpo espiritual"; e prossegue: "O corpo fsico um espelho do corpo espiritual. O corpo espiritual uma matriz ao redor da qual formado o corpo fsico. A sade e a cura so os resultados capazes de originar, na manifestao fsica, a perfeio espiritual, a grandiosidade aprisionada, adormecida interiormente. Isto se

realiza concentrando interiormente a mente ou a conscincia na fora criativa ou poder de Deus, por meio de disciplinas regulares de orao e meditao. Finalmente, a cura nada mais seno o Jato de acelerar-se o Juncionamento da maravilhosa, porm perfeitamente normal, capacidade do corpo para automaticamente restaurar-se, reconstruir-se e manter-se na perfeio".

Em relao s cirurgias medinicas, o reconhecimento nacional e internacional dado para o brasileiro Arig (Jos Pedro de Freitas), pois, segundo George Meek, "nenhuma apresentao dos curandeiros seria representativa se no inclusse uma referncia ao trabalho de Arig, considerado "como o mais verstil e completo curandeiro encontrado at hoje, em nossas pesquisas". Arig praticava as cirurgias medinicas, entre os anos de 1950 a 1971, em Congonhas do Campo, cidade situada prxima a Belo Horizonte, Minas Gerais. Utilizava de canivetes velhos, sem anestesia ou hipnose, e sem qualquer mtodo antisptico. Quando esteve preso pela prtica ilegal da medicina, chegou a receber a visita de Chico Xavier que lhe deu algumas orientaes, segundo L. Palhano Jr. O Esprito incorporado por Arig se apresentava a ele, em sonhos, com o nome de Dr. Fritz, identificando-se como um mdico alemo que teria morrido na segunda guerra

mundial. Por tudo isso que Meek destinou um captulo especial sobre o mtodo de cura e resultados obtidos por Arig, ressaltando o desafio para a compreenso humana, do ponto de vista dos pesquisadores mdicos e cientistas, interessados numa investigao sria no campo da cura paranormal. Esse captulo foi escrito por Andrija Puharich9, o qual considera Arig o curandeiro mais completo por apresentar as seguintes caractersticas: 1) aptido para diagnosticar a doena, com 95% de acerto, de acordo com as verificaes posteriores feitas por mdicos em laboratrios dos Estados Unidos; 2) emprego da medicina molecular, "evidenciada por Arig de modo extraordinrio", na dcada de 1950; 3) fazer uso de anestesia por meios noqumicos; 4) realizar cirurgias de urgncia, sem quaisquer formas de preparativos; 5) realizar tratamento de "bacteriostase", sem qualquer anti-sepsia; 6) realizar curas pela imposio de mos; 7) trabalhar orientado por um "guia espiritual", no caso o Dr. Fritz. Segundo o relato de Meek, Arig no conseguiu realizar apenas trs quesitos: curar a si mesmo; realizar cura a distncia,