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A EVOLUÇÃO DA ORIENTAÇÃO URBANA: DOS GUIAS DE RUAS À GEOWEB L. V. Barbalho 1 , A. J. Salomão Graça 1,2 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Comissão III - Cartografia RESUMO Desde que as grandes cidades tomaram forma, se faz necessária a localização dentro do espaço geográfico. E a cartografia sempre esteve presente para auxiliar nesse processo. Em meados do século XX, surgiram os tradicionais guias de ruas impressos, que proporcionaram uma facilidade na orientação dentro do ambiente urbano. Com a evolução da tecnologia, a orientação urbana se tornou mais trivial, aderindo aos meios digitais. Esse trabalho mostra a evolução da cartografia temática aplicada á orientação no espaço urbano. Palavras chave: GeoWEB, Localização Baseada em Serviços, Cartografia Temática, Guias de Ruas. ABSTRACT Since the great cities have taken form, it is necessary the location within the geographic space. And cartography has always been present to assist in this process. In the mid-twentieth century, traditional printed street guides emerged, which provided a facility for orientation within the urban environment. With the evolution of technology, urban orientation has become more trivial, adhering to digital media. This work shows the evolution of the thematic cartography applied to the orientation in the urban space. Keywords: GeoWEB, Service Based Location, Thematic Mapping, Street Guides. 1- INTRODUÇÃO Os desenvolvimentos recentes nas tecnologias de computação e telecomunicações móveis aumentaram muito a popularidade dos sistemas de navegação pessoal baseados em mapas-web interativos. No entanto, no curso da transição do mapeamento analógico para o digital, mudanças importantes também ocorreram como, por exemplo, a forma como as informações mapeadas são simbolizadas, generalizadas e apresentadas ao usuário. Nos dias em que os mapas de orientação em papel eram extremamente difundidos em meios impressos acessíveis (listas telefônicas, por exemplo), a escala espacial das informações era única e fixa, metricamente expressa pela escala gráfica, e a extensão geográfica das feições mapeadas é determinada antecipadamente pelo tamanho da folha do mapa ou da página do livro, atuando como um elemento de controle (no que se refere a limitação técnica) para os mapas analógicos na época. Em mapas analógicos, a produção dos mapas seguia a concepção dos modelos estáticos de comunicação cartográfica, e o que se entende por interação com o usuário limita-se a destacar feições, dobrar o mapa ou girar uma página guia em direção à direção de movimento, uma vez que o usuário é apenas um leitor do mapa (Salomão Graça & Fiori, 2015). As plataformas de computação e telefonia móveis, aliadas a computação gráfica e programação para web (html e os Hypermapas), adicionaram aos mapas a capacidade de variar continuamente tanto a escala quanto a extensão, através de panning e zoom, e possibilitando muito mais interação do que os mapas de papel (Peterson, 2008). Isto porque estas plataformas não apresentam apenas um mapa, e sim um conjunto de mapas em múltiplas escalas contidos em um geoportal na web, permitindo que o usuário acesse mapas em escalas mais ou menos detalhadas (Kraak, 2001). Além disso, essas plataformas são pensadas em uma lógica de comunicação cartográfica dinâmica, redefinindo o papel dos usuários, que deixam de ser apenas espectadores, sendo capazes de inserir informações, produzir novos mapas, definir rotas, entre outras funções que lhe conferem maior interatividade (Peterson, 1995; Salomão Graça & Fiori, 2015). Com o advento das tecnologias de cartografia para internet, cartografia multimídia, SIG via WEB, da 397 Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017 Anais do XXVII Congresso Brasileiro de Cartografia e XXVI Exposicarta 6 a 9 de novembro de 2017, SBC, Rio de Janeiro - RJ, p. 397-403 S B C

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A EVOLUÇÃO DA ORIENTAÇÃO URBANA: DOS GUIAS DE RUAS À

GEOWEB

L. V. Barbalho1, A. J. Salomão Graça1,2

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil

Comissão III - Cartografia

RESUMO

Desde que as grandes cidades tomaram forma, se faz necessária a localização dentro do espaço geográfico. E

a cartografia sempre esteve presente para auxiliar nesse processo. Em meados do século XX, surgiram os tradicionais

guias de ruas impressos, que proporcionaram uma facilidade na orientação dentro do ambiente urbano. Com a evolução

da tecnologia, a orientação urbana se tornou mais trivial, aderindo aos meios digitais. Esse trabalho mostra a evolução

da cartografia temática aplicada á orientação no espaço urbano.

Palavras chave: GeoWEB, Localização Baseada em Serviços, Cartografia Temática, Guias de Ruas.

ABSTRACT

Since the great cities have taken form, it is necessary the location within the geographic space. And

cartography has always been present to assist in this process. In the mid-twentieth century, traditional printed street

guides emerged, which provided a facility for orientation within the urban environment. With the evolution of

technology, urban orientation has become more trivial, adhering to digital media. This work shows the evolution of the

thematic cartography applied to the orientation in the urban space.

Keywords: GeoWEB, Service Based Location, Thematic Mapping, Street Guides.

1- INTRODUÇÃO

Os desenvolvimentos recentes nas tecnologias

de computação e telecomunicações móveis

aumentaram muito a popularidade dos sistemas de

navegação pessoal baseados em mapas-web interativos.

No entanto, no curso da transição do mapeamento

analógico para o digital, mudanças importantes

também ocorreram como, por exemplo, a forma como

as informações mapeadas são simbolizadas,

generalizadas e apresentadas ao usuário.

Nos dias em que os mapas de orientação em

papel eram extremamente difundidos em meios

impressos acessíveis (listas telefônicas, por exemplo), a

escala espacial das informações era única e fixa,

metricamente expressa pela escala gráfica, e a extensão

geográfica das feições mapeadas é determinada

antecipadamente pelo tamanho da folha do mapa ou da

página do livro, atuando como um elemento de

controle (no que se refere a limitação técnica) para os

mapas analógicos na época. Em mapas analógicos, a

produção dos mapas seguia a concepção dos modelos

estáticos de comunicação cartográfica, e o que se

entende por interação com o usuário limita-se a

destacar feições, dobrar o mapa ou girar uma página

guia em direção à direção de movimento, uma vez que

o usuário é apenas um leitor do mapa (Salomão Graça

& Fiori, 2015). As plataformas de computação e

telefonia móveis, aliadas a computação gráfica e

programação para web (html e os Hypermapas),

adicionaram aos mapas a capacidade de variar

continuamente tanto a escala quanto a extensão, através

de panning e zoom, e possibilitando muito mais

interação do que os mapas de papel (Peterson, 2008).

Isto porque estas plataformas não apresentam apenas

um mapa, e sim um conjunto de mapas em múltiplas

escalas contidos em um geoportal na web, permitindo

que o usuário acesse mapas em escalas mais ou menos

detalhadas (Kraak, 2001). Além disso, essas

plataformas são pensadas em uma lógica de

comunicação cartográfica dinâmica, redefinindo o

papel dos usuários, que deixam de ser apenas

espectadores, sendo capazes de inserir informações,

produzir novos mapas, definir rotas, entre outras

funções que lhe conferem maior interatividade

(Peterson, 1995; Salomão Graça & Fiori, 2015). Com o

advento das tecnologias de cartografia para internet,

cartografia multimídia, SIG via WEB, da

397Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017

Anais do XXVII Congresso Brasileiro de Cartografia e XXVI Exposicarta 6 a 9 de novembro de 2017, SBC, Rio de Janeiro - RJ, p. 397-403S B

C

geolocalização e do posicionamento em tempo real

(seja por GNSS ou via Wireless), a orientação urbana

se tornou instantânea, bastando apenas alguns

segundos para o usuário encontrar um endereço, uma

referência ou sua própria localização, com uma boa

precisão, utilizando dispositivos móveis dotados de

mapas temáticos eletrônicos integrados com

ferramentas eficientes de busca a localidades e

mashups (Peterson, 2008; Longley et al., 2013).

Porém, há cerca de uma década, ainda era

comum que a orientação no espaço urbano fosse feita

de forma analógica, através de mapas impressos, não-

georreferenciados, colocados em guias de ruas

especializados, guias de turismo e até em listas

telefônicas. Diante dessa rápida transição algumas

questões sobre mudanças no uso e perfil dos usuários

desses mapas tendem a ser pertinentes.

Esse artigo visa estabelecer um paralelo entre

essas duas formas de orientação urbana, em relação à

praticidade e ao impacto causado na comunidade de

geotecnologias. Trata-se de uma investigação da

recente história da cartografia web no Brasil,

direcionada a evolução dos mapas assim chamados

“guias de ruas”. O objetivo é estabelecer uma

discussão teórica baseada em estudos de casos e

popularização das plataformas e serviços de

geolocalização móvel no Brasil. Nesta pesquisa,

investigamos quais os projetos adequados para mapas

em sistemas de computação móvel na perspectiva da

escala do mapa, tal como aparece na tela móvel (escala

de exibição) e a zona geográfica a ser mostrada ao

usuário (extensão) enquanto navega ao ar livre. Dado

que existe um novo conjunto de recursos interativos, o

que um designer de mapas móveis deve fazer para

melhorar a experiência de usar mapas para navegação

pessoal? Esse questionamento será analisado com base

em uma pesquisa amostral direcionada a grupos de

usuários que manuseiam os aplicativos e plataformas

de mapas web destinados a geolocalização.

2- OS GUIAS DE RUAS

Tradicionalmente, os guias de rua são

publicações impressas destinadas à orientação dentro

de um determinado espaço urbano, podendo ser ele um

município ou toda uma região metropolitana. Os

conteúdos principais destes guias consistem em plantas

temáticas com os arruamentos e logradouros da região

e também pontos de referência notáveis, como praças,

parques, igrejas, escolas, etc. Além das plantas, os

guias contém um índice de logradouros, para que um

determinado endereço possa ser localizado em planta.

Guias de itinerários de ônibus e seções de serviços

também são comuns neste tipo de publicação.

Nas décadas de 1970 a 2000 também era

comum se encontrar estes tipos de plantas temáticas e

índices de ruas em listas telefônicas comerciais que

eram distribuídas gratuitamente nas residências de uma

determinada área de influência. Geralmente os mapas

destas publicações eram menos abrangentes, cobrindo

apenas um município ou parte dele.

2.1 – Os guias de ruas mais comuns no Rio de Janeiro

Os guias utilizados como referência para este

trabalho são edições dos guias mais comuns utilizados

na cidade e/ou região metropolitana do Rio de Janeiro.

São eles os guias Revista Direção (1987), Guia Rex

(1992), Guia Quatro Rodas (2008) e Guia Cartoplam

(2009).

2.2 – Listas telefônicas comerciais

Há alguns anos atrás era comum a distribuição

de listas telefônicas comerciais, de forma gratuita, com

o endereço e o telefone de diversos estabelecimentos

comerciais que anunciavam neste tipo de publicação.

Algumas dessas listas publicavam mapas e guias de

logradouros em seu início. No Rio de Janeiro podemos

citar as famosas Páginas Amarelas

(http://www.brasilpaginasamarelas.com.br), as

TeleListas.net (https://www.telelistas.net/) e as listas

OESP Rio (extintas). Hoje algumas dessas plataformas

estão disponíveis on-line para acesso web.

2.3 – Plantas temáticas

As plantas dos guias de rua são

confeccionadas em uma única escala, com folhas

articulas, que muitas vezes fogem ao padrão do

mapeamento sistemático. De forma geral, as escalas

são maiores que 1:25000, permitindo um grande

detalhamento das feições de interesse. Isso não

necessariamente, significa que esses produtos

cartográficos apresentam uma riqueza de detalhes.

Cada planta possui um único número, disposto em

algum canto da página e nos seus limites possuem os

números das plantas vizinhas as quais ela se articula

(Figura 1).

Fig. 1 – Extrato de planta da lista Telelistas.net

Os mapas dos guias não são

georreferenciados, sendo confeccionados em um plano

topográfico local arbitrário. As coordenadas de cada

planta são dispostas como um grid de referência, que

dividem os mapas para indexação, utilizando um

sistema alfanumérico para a localização dos

398Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017

logradouros (semelhante a uma grade de linhas e

colunas de uma matriz). Sendo assim, para localizar

um endereço, se faz necessária uma conexão com um

índice de logradouros, que os terá em ordem alfabética

com sua devida localização, como o número da planta

e suas coordenadas alfanuméricas.

A seção de plantas do guia possui um mapa-

índice, onde (em alguns casos) está disposta a

articulação entre as plantas e suas posições relativas ao

munícipio ou região metropolitana mapeados. Também

estão contidas no índice as convenções cartográficas

utilizadas, as abreviações que podem ter nos tipos e nos

nomes dos logradouros, a indicação do Norte

Geográfico e a escala das plantas. Há guias onde os

principais elementos de orientação são os topônimos,

uma vez que os mesmos quase não apresentam

símbolos pontuais e poligonais atribuídos a

localidades. Em alguns guias, o mapa-índice aparece

como um documento a parte, sem fazer parte da

publicação encadernada. A Figura 2 ilustra a parte de

um mapa-índice do guia Cartoplam (Rio de Janeiro,

2008).

Fig. 2 – Parte do mapa-índice do guia Cartoplam.

A Figura 3 mostra as convenções cartográficas

utilizadas no guia Quatro Rodas (Rio de Janeiro, 2009),

com a indicação da escala das plantas contidas na

publicação. Nota-se que a simbologia exibida na

legenda é composta por uma combinação de símbolos

associativos com ícones pictóricos remetendo a

empresas concessionárias (Salomão Graça & Fiori,

2015).

Fig. 3 – Convenções Cartográficas do guia Quatro

Rodas.

Na Figura 4 estão contidas as abreviações

utilizadas no guia da Revista Direção (1987) atribuídas

aos topônimos dos logradouros.

Fig. 4 – Lista de abreviaturas do guia Revista Direção.

As informações contidas nas plantas são as

mais variadas. Alguns guias mais antigos e mais

simples exibem apenas os arruamentos e algumas

edificações notáveis, além da toponímia local, em

plantas monocromáticas, como as duas plantas

mostradas na Figura 5, do Guia Rex (Rio de Janeiro,

1992) e do guia da Revista Direção (Rio de Janeiro,

1987), respectivamente. Nos mapas contidos em

algumas listas telefônicas, geralmente encontrava-se os

arruamentos em escala de importância, com os

principais sendo representados com uma espessura

mais grossa do que os secundários, ou então em uma

cor diferente. A Figura 1 retrata uma planta retirada da

lista Telelistas.net (2006). Nos guias mais modernos é

comum se encontrar alguns acidentes geográficos, ruas

com indicação de tráfego de ônibus (utilizando-se uma

cor específica que as represente) e com a numeração

das linhas que trafegam por ela, divisas municipais,

399Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017

divisas de bairros, divisas de regiões administrativas,

dentre outras informações que venham a ser relevantes.

A Figura 6 mostra dois tipos de planta com essa

característica. A primeira foi extraída do Guia 4 Rodas

(2009), enquanto a segunda foi extraída do Guia

Cartoplam (2008).

Fig. 5 – Extrato de plantas do guia Rex (A) e do guia

Revista Direção (B).

Fig. 6 – Extrato de plantas do guia Quatro Rodas (A) e

do guia Cartoplam (B).

2.4 – Índice de logradouros

O índice de logradouros dos guias de ruas

trata-se de um sumário contendo o nome dos

arruamentos contidos nas plantas da publicação, em

ordem alfabética. Ao lado do nome da rua, está a sua

localização, com o número da planta e as coordenadas

alfanuméricas. Algumas outras informações também

são encontradas junto ao nome, porém essas

informações variam de acordo com cada guia. Algumas

delas que se pode destacar são o nome do bairro (e do

município, no caso de mais de um estar mapeado), o

CEP, as ruas onde inicia e termina e as linhas de ônibus

que passam por ela. Figura 7 ilustra diferentes tipos de

índices de logradouros, extraídos do Guia da Revista

Direção (1987), Guia Rex (1992), Guia Quatro Rodas

(2009) e Guia Cartoplam (2008), respectivamente.

Fig. 7 – Indices de logradouros dos guias Revista

Direção (A), Rex (B), Quatro Rodas (C) e Cartoplam

(D).

2.5– Guia de itinerários

Os guias de ruas também apresentam uma

seção destinada à apresentação dos itinerários de

ônibus da região de interesse. Os itinerários são

descritos de forma simplificada, com as ruas pelas

quais uma determinada linha trafega, na sua devida

ordem. Nos guias mais antigos, esta seção não possui

uma ligação direta com as plantas cartográficas do

guia. Sendo assim, faz-se necessário a consulta da rua

por onde passa uma determinada linha de ônibus no

índice de logradouros, para posteriormente localiza-la

na planta. Os guias mais modernos já possuem a

indicação em planta das linhas de ônibus que trafegam

em um determinado logradouro. A Figura 8 ilustra o

guia de itinerários do Guia Quatro Rodas (2009).

Fig. 8 – Guia de itinerários do guia Quatro Rodas

2.6 – Seção de serviços

Além das principais seções, alguns guias

possuem seções com o endereço e, em alguns casos,

até a localização em planta de pontos turísticos,

parques, estabelecimentos comerciais de interesse,

delegacias, hospitais, dentre muitos outros serviços. A

Figura 9 mostra uma seção de serviços extraída do

Guia Quatro Rodas (2009) que contém a localização

dos estabelecimentos em planta, contendo o número do

mapa e sua coordenada alfanumérica.

Fig. 9 – Seção de serviços do guia Quatro Rodas.

400Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017

3- A GEOWEB NA ORIENTAÇÃO URBANA

Com o desenvolvimento da tecnologia

computacional, a forma como os dados são produzidos

e divulgados mudou bastante. Esse fator também

refletiu na geoinformação com a concepção dos

Sistemas de Informação Geográfica. A produção de

mapas convencional foi sendo substituída por métodos

digitais e automatizados, porém o produto final muitas

vezes continuou sendo disponibilizado de forma

impressa. Na última década este panorama começou a

se modificar, graças ao desenvolvimento e

democratização da internet. Sendo assim, diversos sites

começaram a apostar na disponibilização de mapas via

WEB e o conceito de GeoWEB começou a ganhar

força, utilizando-se de tecnologias para a criação de

conteúdo mais dinâmico, e não somente apenas aqueles

mapas estáticos em formato JPG ou TIFF. Essa vem a

ser a nova era da WEB 2.0 (Gartner, 2009). Tais

aplicações cartográficas via WEB são baseadas em um

banco de dados geográficos, o que permite a busca não

só endereços, mas de qualquer coisa georreferenciada,

com base na utilização de uma palavra-chave ou de

mashups amplamente difundidos na web (Longley et

al., 2013).

A popularização da utilização da

geoinformação por meio da internet começou com o

lançamento do Google Earth, em 2001. A partir do uso

desse globo virtual (Longley et al., 2013; Meneguette,

2014), é possível a localização em imagem de satélites

georreferenciadas. Posteriormente foram surgindo os

sites baseados em aplicativos de mapas WEB. Dentre

os mais famosos sites, podemos destacar o Google

Maps, o Yahoo Maps, o Bing, o OpenStreetMaps,

dentre outros. No Brasil, os sites que foram os

pioneiros no fornecimento deste serviço foram o

Apontador e o MapLink (http://maplink.global/pt/),

que acabaram por se fundir no ano de 2008. Esses

mapas WEB também são munidos de convenções

cartográficas para a representação de feições, que

embora não sejam descritas em nenhum lugar dos sites,

são de fácil compreensão pelo usuário. A Figura 10

ilustra o trecho um mapa do Google Maps.

Fig. 10 – Mapa do site Google Maps

A utilização de navegadores GNSS para

automóveis também ajudou a disseminar a utilização

de mapas digitais dinâmicos. Tais navegadores

consistem em um dispositivo com receptor GNSS de

navegação e mapas embutidos, fornecendo a

localização do usuário e as rotas que ele deseja

percorrer (Fontana, 2002). A Figura 11 mostra um

exemplo de navegador GNSS, da marca TomTom.

Fig. 11 – Navegador GNSS.

Outra ideia que a GeoWEB ajudou a difundir

foi a cartografia colaborativa. Sites como Wikimapia e

o OpenStreetMaps permitem a inserção de diversos

dados geográficos, como topônimos, ruas não

mapeadas e pontos de referência (Bravo, 2014). Mais

recentemente, com a ascensão da tecnologia móvel,

aplicativos com o conceito da GeoWEB e do

mapeamento colaborativo foram se tornando populares

(Peterson, 2008). O Waze é um bom exemplo, já que

fornece informações sobre o trânsito em tempo real,

baseando-se na velocidade média dos veículos que se

encontram com o aplicativo em funcionamento, ou

seja, uma forma indireta de mapeamento colaborativo.

A Figura 12 exibe o trecho de um mapa do aplicativo.

Fig. 12 – Mapa do aplicativo Waze.

Por fim, um outro recurso presente em alguns

sites e aplicativos GeoWEB, que auxiliam e muito na

orientação urbana é a disponibilidade de imagens

panorâmicas em 360º. Essa fermenta permite que o

usuário visualize algumas localidades ao nível do solo,

dando a impressão de estar no local. Isso facilita a

busca de referências para um determinado endereço

procurado, por exemplo. O Google Street View é um

recurso de geovisualização baseado em imagens

panorâmicas disponíveis a vários pontos de

visualização (Meneguette, 2014) e o exemplo mais

popular e uma de suas telas está exibida na Figura 13.

401Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto, Rio de Janeiro, Nov/2017

Fig. 13 – Interface do Google Street View.

Sendo assim, a orientação urbana se tornou

algo muito mais dinâmico depois que o conceito da

GeoWEB se popularizou, tornando os tradicionais

guias de ruas analógicos itens obsoletos.

4 - COMPARATIVO ENTRE A ORIENTAÇÃO

URBANA ANALÓGICA E A DIGITAL

Traçando um paralelo entre os tradicionais

guias de ruas e os mapas WEB pode-se começar pela

simples consulta a plantas temáticas. Enquanto as

plantas impressas são estáticas e limitadas, restringindo

as informações a cada página consultada e a uma escala

fixa, os mapas WEB possuem um formato mais

dinâmico, permitindo que se navegue pelo mapa com

mais liberdade, e escolhendo o grau de detalhamento

que se deseja, podendo-se aumentar ou diminuir a

escala de visualização.

No que tange à orientação urbana, os mapas

WEB não possuem a necessidade de estarem

vinculados a um guia de logradouros. O endereço pode

ser buscado facilmente na barra de pesquisa do site ou

aplicativo, inclusive com a numeração de porta, e o

retorno com a localização é quase instantânea,

enquanto nos guias perde-se tempo em achar a

coordenada alfanumérica do logradouro no índice para

depois encontra-lo em planta. Como os mapas WEB

são georreferenciados, também há a possibilidade de

busca de uma localidade por suas coordenadas

geodésicas ou da projeção Universal Transversa de

Mercator (UTM).

A consulta a itinerários de ônibus também

ficou mais facilitada com o advento da GeoWEB. Os

principais sites e aplicativos possuem os itinerários

embutidos em seus bancos de dados, bastando informar

onde se está (ou, no caso de se estar usando

equipamento móvel, deixar o dispositivo localizar) e

onde se pretende ir, para que se retorne as linhas ou

modais disponíveis para se chegar ao destino. Existem

até sites e aplicativos especializados no fornecimento

dessas rotas de transporte público, como é o caso do

site Vá de Ônibus, no Rio de Janeiro. Nos antigos guias

de ruas, se fazia necessário a consulta dos itinerários

em uma seção especializada ou, no caso dos guias mais

modernos, a localização da rua em planta para se

verificar qual forma de transporte era a mais adequada

para atingir o destino.

Os guias de serviços também acompanharam a

dinâmica dos mapas WEB, já que basta se efetuar uma

busca pelo serviço desejado e o site ou aplicativo

retorna com a localização dos estabelecimentos em

todo o raio de visualização do mapa. Nos guias de ruas

necessita-se consultar um determinado serviço em uma

seção, para depois encontra-lo em planta. Muitas vezes

o serviço pode não estar listado na seção, dificultando a

busca pelo que se deseja.

O mapeamento colaborativo também otimizou

a orientação no espaço urbano. Uma feição faltante em

um mapa pode ser adquirida facilmente, melhorando a

representação do ambiente. Nos guias impressos isso

não é possível, embora seja feito de forma indireta, já

que o usuário pode se comunicar com a editora

responsável pela confecção dos mapas sugerindo

edições e apontando possíveis erros que estejam

contidos nas plantas.

5 - CONCLUSÃO

Embora os guias de ruas por muito tempo

tenham sido a solução mais comum para se orientar no

espaço urbano, é notável como a tecnologia auxiliou no

processo de evolução deste tipo de serviço. A

integração entre a informação geográfica e os serviços,

por meio computacional, tornou a orientação algo

trivial, onde todos podem ter um fácil acesso à mapas e

dados georreferenciados em meio digital. Isso acabou

por deixar os tradicionais guias de ruas obsoletos,

embora ainda tenham alguns exemplares em circulação

no mercado. A facilidade dessa integração entre a

informação geográfica e o usuário só tende a aumentar

com o decorrer dos anos, já que cada vez mais serviços

estão fazendo uso de dados geográficos e das

geotecnologias. Dentro de pouco tempo, tudo o que

conhecemos estará ligado a uma coordenada em um

mapa digital dinâmico. Ainda assim, os guias de ruas

servem como um bom instrumento para o estudo da

cartografia temática e da cartografia histórica,

inserindo o usuário mais leigo no mundo da

geoinformação.

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