A expressão das formas indirectas de racismo na infância

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A EXPRESSÃO DAS FORMAS INDIRECTAS DERACISMO NA INFÂNCIA

Vários estudos realizados com adultos têmdemonstrado que as formas de expressão do ra-cismo na sociedade contemporânea estão se tor-nando progressivamente mais subtis, mais indi-rectas e menos abertamente negativas do queeram até a primeira metade do século XX (Gaer-

tner & Dovidio, 1986; Katz & Hass, 1988; Kin-der & Sears, 1981; McConahay & Hough, 1976;Pettigrew & Meertens, 1995). A análise das for-mas mais subtis e indirectas de expressão do ra-cismo e do preconceito nos adultos tem geradoum amplo corpo teórico e metodológico na psi-cologia social. Contudo, há uma carência de es-tudos que analisem as formas mais subtis e in-directas de racismo na infância. Os estudos queanalisam o preconceito na infância afirmam queapós os sete anos de idade as crianças tornam-semenos preconceituosas (e.g., Aboud, 1988; Big-ler & Liben, 1993; Brown, 1995; Doyle & Aboud,1995; Doyle, Beaudet, & Aboud, 1988; Katz &Zalk, 1978; Williams, Best, Boswell, Mattson, &Graves, 1975; Yee & Brown, 1992). Esta diminui-ção no preconceito é explicada através da aqui-sição de novas estruturas cognitivas por parte dacriança e pelo amadurecimento das já existentes(Aboud, 1988; Doyle & Aboud, 1995). Mas se istoé verdade (se o preconceito na infância é o resul-tado do insuficiente amadurecimento de estrutu-ras afectivo-cognitivas), como então explicar apresença de atitudes preconceituosas, mais tarde,nos adultos? A presente pesquisa visa demons-trar que, a partir de certa idade, as crianças, dife-rentemente do que afirma a abordagem cognitivado desenvolvimento do preconceito na infância,não reduzem a expressão do preconceito, masapenas mudam, em determinadas circunstâncias,

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Análise Psicológica (2004), 4 (XXII): 705-720

A expressão das formas indirectas deracismo na infância (*)

DALILA XAVIER DE FRANÇA (**)MARIA BENEDITA MONTEIRO (***)

(*) Este artigo decorre de investigações parcialmen-te financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecno-logia (FCT) do Ministério da Ciência, no quadro doProjecto “Social and cognitive factors of social iden-tity construction and management in inter-ethnic rela-tions: a developmental approach”, ref. POCTI/PSI/41970/2001, em curso no Centro de Investigação e de In-tervenção Social (CIS/ISCTE).

Qualquer contacto deve ser dirigido à primeira au-tora, para o seguinte endereço: Dalila Xavier de Fran-ça, Departamento de Psicologia da Universidade Fe-deral de Sergipe, Estado de Sergipe, Brasil. E-mail:[email protected]

(**) Instituto Superior de Ciências do Trabalho e daEmpresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter-venção Social (CIS/ISCTE), Coordenação para o Aper-feiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES),Universidade Federal de Sergipe (Brasil).

(***) Instituto Superior de Ciências do Trabalho eda Empresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter-venção Social (CIS/ISCTE).

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o modo de expressão desse preconceito, tornan-do-se mais indirectas.

As novas formas de preconceito e racismo nosadultos

A teorização acerca das formas contemporâ-neas de expressão do preconceito e do racismoassume a natureza complexa e conflituosa destesfenómenos, bem como das suas consequênciasna vida social. Recordamos aqui algumas das maissalientes, de modo a virmos a levantar hipótesessobre a natureza destes mesmos fenómenos nainfância.

A teoria do racismo ambivalente foi criada edesenvolvida por Katz, Wackenhut e Hass (1986),que entendem o racismo como o resultado do con-flito de atitudes e de sentimentos dos americanosbrancos em relação aos americanos negros, con-flito este motivado pela coexistência de senti-mentos de simpatia e de rejeição em relação aosnegros. Os negros seriam simultaneamente per-cebidos pelos brancos como desviantes e em des-vantagem social, o que geraria sentimentos con-flitantes de aversão e de simpatia.

A teoria do racismo simbólico (Kinder & Sears,1981; McConahay & Hough, 1976), por seu tur-no, afirma que as atitudes contra os negros de-correm da percepção deste grupo como uma amea-ça aos valores do individualismo, sendo por issouma ameaça simbólica. Segundo Kinder e Sears(1981, p. 416) «symbolic racism represents a formof resistance to change in the racial status quobased on moral feelings that blacks violate suchtraditional American values as individualismand self-reliance, the work ethic, obedience anddiscipline».

Já a teoria do preconceito subtil (Pettigrew &Meertens, 1995) distingue duas formas de pre-conceito: o preconceito subtil e o preconceito fla-grante. O preconceito flagrante é directo e explí-cito. O preconceito subtil, por seu lado, tem co-mo fundamento a defesa dos valores do indivi-dualismo da civilização ocidental, associada a cren-ças de que os membros dos grupos minoritáriosrecebem benefícios imerecidos. As pessoas sub-tis caracterizam-se por exagerarem as diferençasculturais entre os membros do endogrupo e osmembros do exogrupo, e pela recusa na expres-são de reacções emocionais positivas em relaçãoàqueles.

As teorias referidas anteriormente analisam osaspectos mais velados do racismo e os efeitos danorma social anti-racista na expressão do racis-mo, mas enfatizam pouco a importância da sali-ência contextual de resposta no racismo (à exce-pção da teoria de Katz e Hass, 1988). Assim, deentre as novas teorias sobre o racismo, uma nosinteressa analisar em particular é a teoria do ra-cismo aversivo. Esta teoria afirma que são os con-textos de resposta que determinam as expressõesmais abertas ou mais veladas de racismo (Gaert-ner & Dovidio, 1986). De modo que, em contex-to nos quais a resposta socialmente desejável nãoestá definida claramente, ou ainda em contextosnos quais é possível encontrar uma justificaçãonão relacionada com a etnia ou a raça para ex-plicar uma resposta negativa em relação aos ne-gros, o comportamento discriminatório pode ocor-rer (Dovidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Do-vidio, 1986, 2000).

Gaertner e Dovidio (1986) designaram comoracismo aversivo a forma de expressão de racis-mo apresentada pelos indivíduos que possuemfortes valores igualitários. Segundo estes auto-res, em situações ou em face de acontecimentosque tornam salientes atitudes negativas em rela-ção aos Negros, as pessoas que se julgam iguali-tárias tendem a repudiar ou a dissociar estes sen-timentos de sua auto-imagem de igualitárias, etentam agir evitando estes sentimentos.

Dovidio e Gaertner (1998) conduziram algunsestudos experimentais com o propósito de mos-trar que em situações nas quais a norma anti-ra-cista é clara, os Negros são tratados tão favora-velmente quanto os Brancos, pois discriminá-losferiria a auto-imagem igualitária da pessoa.

Gaertner (1973) testou estes pressupostos emdois experimentos utilizando o paradigma doHelping Behaviour. No experimento 1, membrosdo partido Liberal e do partido Conservador re-ceberam chamadas telefónicas aparentemente erra-das que rapidamente se tornaram num pedido deajuda. Estas chamadas eram feitas por dois com-parsas do experimentador, que podiam ser clara-mente identificados por seu sotaque como sendoBranco ou Negro. Assim, o comparsa explicavaque o seu carro estava avariado e que ele estavaa tentar chamar o serviço de desempanagem deum telefone público. Acrescentava ainda que jánão tinha maneira de fazer outra chamada e pe-dia ao participante para o ajudar, telefonando ele

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para o serviço de desempanagem. A variável ana-lisada era o comportamento de ajuda, expressopelo facto do indivíduo telefonar ou não para umsuposto número de uma garagem, onde outrocomparsa do experimentador atendia a chamada.Os resultados indicaram que os Conservadoresprestaram menos ajuda aos Negros do que aosBrancos e que, embora os Liberais ajudassem oNegro e o Branco igualmente, desligavam a cha-mada mais frequentemente ao Negro do que aoBranco.

No experimento 2, Gaertner (1973) entrevis-tou outros membros dos partidos Liberal e Con-servador sobre o que eles achavam que fariam serecebessem chamadas telefónicas erradas de ummotorista Negro ou de um motorista Branco pe-dindo ajuda. Os resultados indicaram que a dis-posição expressa para ajudar a ‘vítima’ Negraera igual à disposição expressa para ajudar a ‘ví-tima’ Branca, e que não existia qualquer diferen-ça entre Liberais e Conservadores nesse compor-tamento. Gaertner (1973) concluiu que, quando anorma anti-racista está saliente, a discriminaçãono comportamento de ajuda não se manifesta.

Num estudo mais recente, Dovidio e Gaertner(2000) afirmam que, mesmo quando as directri-zes normativas estão claras, os racistas aversivospodem lançar mão de factores não raciais parajustificar uma resposta negativa em relação aosNegros. Para demonstrar este pressuposto, Dovi-dio e Gaertner (2000) utilizaram uma situação deselecção de candidatos para um emprego, na qualos participantes avaliavam os supostos candida-tos com base em extractos de entrevistas. Os ex-tractos de entrevistas apresentavam três condi-ções: altas qualificações (um pré-teste indicou queo candidato seria aceite em 85% dos casos); fra-cas qualificações (o candidato seria aceite em 15%dos casos) e qualificações moderadas (o candida-to seria aceite em 50% dos casos). Os participan-tes avaliavam um candidato Branco ou um can-didato Negro. Segundo os autores, a discrimina-ção contra os Negros só aconteceria num con-texto em que houvesse uma justificação não ra-cial, ou seja, no contexto de qualificação mode-rada. Os resultados confirmaram esta hipótese.

Uma outra teoria que analisa os efeitos dasnormas sociais nas expressões do racismo é ateoria do Racismo Moderno (McConahay, 1986).Esta teoria baseia-se no pressuposto de que exis-te a crença de que os Negros violam os valores

mais caros ao Norte-Americanos brancos, de querecebem mais do que merecem e de que fazemexigências ilegítimas a fim de mudarem seu es-tatuto racial. Nesta teoria, McConahay, Hardee eBatts (1981) manipulam o efeito das normas so-ciais no racismo, através da presença da etnia daentrevistadora na discriminação contra os Ne-gros, e sugerem que a presença da entrevistadoranegra induz a diminuição de respostas discrimi-natórias contra pessoas Negras ou seja, torna sa-liente a norma anti-racista. Segundo McConahayet al. (1981), a expressão do racismo depende dequem pergunta e também do que é perguntado.

McConahay et al. (1981) realizaram estudos afim de verificar em que medida as respostas dosentrevistados são alteradas a fim de pareceremmenos racistas perante si mesmos e perante osoutros.

No primeiro estudo, estudantes universitáriosBrancos respondiam a um questionário de opi-nião. Os participantes foram distribuídos por duascondições que pretendiam maximizar ou minimi-zar respostas preconceituosas para as escalas deracismo moderno e tradicional. Na primeira con-dição, os questionários eram distribuídos e reco-lhidos por uma experimentadora Branca. Na ou-tra condição, era uma experimentadora Negra quemdistribuía e recebia os questionários. A hipótesesubjacente à manipulação experimental era a deque, diante da experimentadora Negra, os parti-cipantes tenderiam a mostrar-se menos racistas,pois estariam mais motivados pela norma anti-ra-cista, do que perante a experimentadora Branca.Os resultados encontrados apoiaram estas hipó-teses. Estes resultados foram replicados num se-gundo estudo. McConahay et al. (1981) concluemque a presença de uma entrevistadora Negra po-de tornar saliente a norma-antiracista.

Como salientam Vala, Brito e Lopes (1999),todas estas novas formas de expressão do racis-mo têm em comum o facto de sustentarem que oracismo se manifesta hoje de uma forma indire-cta ou encoberta, e que este carácter encobertoreflecte as pressões da norma social anti-racistasobre as atitudes raciais dos indivíduos.

Estudos feitos em Portugal também têm mos-trado que as normas sociais actuam como variá-vel moderadora nas expressões de racismo (verGonçalves & Garcia-Marques, 2002; Lima & Va-la, 2002; Vala, Brito, & Lopes, 1999; Vala, Lima,& Lopes, 2002). Os estudos feitos nos EUA por

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Crandall, Eshleman e O’Brien (2002) acrescen-tam a este conjunto de pressupostos sobre osefeitos das normas sociais no racismo, o facto deque não importa analisar apenas as formas de pre-conceito que são anti-normativas ou condenadas(p.e.: o preconceito contra os Negros), mas tam-bém os tipos de expressões preconceituosas quesão aceites e patrocinadas pela sociedade (p.e.:preconceito contra neonazis).

Racismo na infância

Os estudos acima citados mostram que as ex-pressões do racismo se têm tornado mais indi-rectas, e que esta mudança tem relação com apresença da norma anti-racista que impede a ex-pressão do racismo mais flagrante, somada à pre-sença de valores que enaltecem a igualdade dedireitos entre as pessoas (Pettigrew & Meertens,1995; Gaertner & Dovidio, 1986; Dovidio & Ga-ertner, 1998, 2001). Entretanto, estes estudos fo-ram feitos com adultos, poucos estudos tendo si-do feitos nesta perspectiva com crianças.

Mas esta limitação pode dever-se à ideia lar-gamente difundida na literatura sobre o precon-ceito na infância, de que o preconceito apresen-tado pelas crianças está mais associado a limita-ções de suas capacidades cognitivas, tal como éproposto pela abordagem cognitiva do desenvol-vimento (Aboud, 1988), do que pela aprendiza-gem e interiorização de normas sociais num con-texto intergrupal. A abordagem cognitiva do de-senvolvimento (Bigler & Liben, 1993; Brown,1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, &Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Yee & Brown,1992) afirma que, por volta dos 6 anos de idade,a criança apresenta índices elevados de favoritis-mo endogrupal, que aumentam até por volta dosoito anos. A partir dessa idade assistir-se-ia a umaredução do favoritismo endogrupal. Este fenó-meno, ou seja, este aumento do etnocentrismoaté cerca dos 8 anos de idade, é designado pormuitos estudiosos como o “período crítico” do pre-conceito (ver Aboud, 1988; Bigler & Liben, 1993;Brown, 1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Be-audet, & Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Wil-liams, Best, Boswell, Mattson, & Graves, 1975;Yee & Brown, 1992).

Apropriando-se dos fundamentos da teoria dodesenvolvimento cognitivo de Piaget e aplican-do-os às relações inter-étnicas e raciais, Aboud

(1988) afirma que a criança evolui de uma fasede egocentrismo, donde decorre a impossibilida-de de apreciar as diferenças quer individuais quergrupais, para uma fase de sociocentrismo, em queos julgamentos sociais são baseados nas opera-ções de categorização e na percepção das seme-lhanças e dessemelhanças entre grupos sociais, efinalmente para uma fase de descentração, quan-do então podem atender simultaneamente a dife-rentes perspectivas, tornando-se mais conscien-tes das qualidades internas dos indivíduos e nãosendo mais propensas aos enviezamentos cogni-tivos dos estereótipos (ver Piaget & Weil, 1951).O preconceito e o favoritismo endogrupal presen-tes até aos 7-8 anos, bem como a redução do pre-conceito que então ocorreria, seriam, assim, ex-plicados com base nas capacidades cognitivas dacriança em cada fase do desenvolvimento. Comefeito, para Berk (1994), por volta dos 7 ou 8 anosde idade, as crianças podem começar a racioci-nar em termos de tolerância, e reconhecem queaqueles que estão em situação de desvantagemdevem ser tratados de maneira especial.

Convém salientar que, nos estudos que susten-tam esta perspectiva, utilizam-se medidas de ati-tudes e não de comportamento (e.g., Doyle & Aboud,1995; Aboud, 1980; Doyle, Beaudet, & Aboud,1988). De modo que estes estudos, analisam maiso preconceito do que a discriminação e o racis-mo. Para além disso, essas medidas de atitudessão sempre explícitas, o que determina respostasconformes com a norma social anti-racista. Estefacto pode constituir uma explicação alternativapara a suposta redução do preconceito nas crian-ças mais velhas: essas crianças não deixariam deexprimir preconceito mas, graças à interiorizaçãodas normas sociais dos adultos em relação à nãodiscriminação aberta dos Negros ou de outras mi-norias estigmatizadas, tornar-se-iam subtis ou ve-ladas na expressão de seu racismo.

A presente investigação consiste em três estu-dos que têm o objectivo de verificar o efeito dasaliência das normas na expressão do racismo nainfância e o processo de socialização da normaanti-racista em dois grupos de idade. Esperamosque, após os oito anos de idade, as crianças apre-sentem discriminação apenas nas condições debaixa saliência da norma anti-racista, e que a partirdesta idade tenham interiorizado a norma socialdominante referente à discriminação racial. Es-pera-se, assim, que a partir dessa idade haja uma

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correspondência entre o comportamento adulto eo comportamento infantil, e que as crianças ape-nas exibam atitudes públicas de discriminaçãoem relação a grupos para os quais a discrimina-ção social é aceitável.

Overview of the studies

No primeiro estudo procurámos criar um con-texto normativo que justificasse a discriminação,através de situações de desempenhos diferentesou aparentemente diferentes entre alvos brancose negros. No segundo estudo, utilizámos um pa-radigma semelhante a McConahay et al. (1981),ou seja, utilizámos uma entrevistadora Negra, afim de manipularmos um contexto no qual a nor-ma anti-racista estivesse muito ou pouco salien-te. No terceiro estudo investigámos a interiori-zação da norma anti-racista pelas crianças, a par-tir da correspondência entre as suas atitudes e asdo seu grupo de referência.

ESTUDO 1

Este estudo teve o objectivo de verificar o efei-to da saliência de um contexto igualitário (emque a discriminação não é justificável), ou de umcontexto de diferenciação (em que a discrimina-ção é justificável), na expressão de formas in-directas de racismo na infância, em dois gruposde idade. Foram testadas as seguintes hipótese:1) O alvo Negro será mais discriminado do que oalvo Branco; 2) As crianças com menos de 8anos de idade discriminarão o alvo Negro, inde-pendentemente dos contextos normativos e 3) Apartir dos 8 anos de idade as crianças discrimina-rão o alvo Negro apenas de modo indirecto ousubtil, ou seja, apenas na condição em que a di-ferenciação é justificável (desempenhos diferen-tes das duas crianças-alvo.

Método

Participantes

Participaram na pesquisa 86 crianças brasilei-ras Brancas, sendo 44 meninas (51,2%) e 42 me-ninos (48,8%). As crianças foram distribuídas em

dois grupos etários: de 5 a 7 anos (46,5%) e de 8a 10 anos (53,5%).

Desenho

Utilizou-se um desenho factorial completode 2 (idade: 5 a 7 anos vs. 8 a 10 anos) X2 (alvo:Branco vs. Negro) X2 (contexto: que não justifi-cava a discriminação vs. que justificava). As duasúltimas variáveis foram intra-sujeitos. A variáveldependente foi o número de doces distribuídos acada um dos alvos como recompensa pela ajudaà criança-sujeito.

Procedimentos

As crianças foram entrevistadas individualmen-te em escolas da rede pública e privada do Bra-sil. Utilizaram-se fotografias de crianças brancase negras como material de estímulo, e ainda 4pequenos tijolos e 6 doces de brinquedo.

A entrevistadora dava a seguinte instrução acada criança:

«Imagine que você está querendo cons-truir uma casa (para meninas) ou uma ga-ragem de brinquedo (para meninos), e pre-cisa de algumas crianças para o ajudarna tarefa de levar tijolos para a constru-ção. Você chama duas crianças para o aju-dar, e diz-lhes que lhes dará em troca al-guns doces.»

Assim, a entrevistadora colocava as fotogra-fias de cada criança-alvo (uma Negra e uma Bran-ca, do mesmo sexo que a criança entrevistada)sobre a mesa, e por baixo de cada fotografia, onúmero de tijolos (miniaturas de verdadeiros ti-jolos) que cada criança carregou. Pedia então àcriança entrevistada que, em recompensa da suaajuda, distribuísse os 6 doces de brinquedo pelosdois alvos.

A discriminação racial foi medida através damédia do número de doces dado a cada criança-alvo em dois contextos de resposta: um contextoque não justificava a discriminação e um outroque poderia justificar a discriminação. No con-texto que não justificava a discriminação, pedia-se às crianças que distribuíssem os nove doces aalvos que tinham tido um desempenho igual natarefa de construção (cada criança carregou doistijolos). No contexto que justificava a discrimi-

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nação, as crianças entrevistadas deveriam recom-pensar os alvos em duas situações de desempe-nho aparentemente diferentes. Numa situação odesempenho do alvo Branco era melhor do que odo alvo Negro (i.e., o alvo Branco carregava maistijolos do que o alvo Negro) e numa segunda si-tuação o desempenho do alvo Negro era melhordo que o do alvo Branco (i.e., o alvo Negro car-regava mais tijolos do que o alvo Branco). Po-rém, o somatório dos desempenhos dos alvos Bran-co e Negro nas quatro situações que eram apre-sentadas aos participantes era igual (i.e., as cri-anças brancas, no total, carregavam tantos tijoloscomo as crianças negras).

Pré-teste das fotografias

As fotografias utilizadas como estímulo forampré-testadas em relação à cor da pele, idade, apa-rência física e qualidade gráfica. Para isto foramapresentadas a 18 juizes (média de idade de 21,98anos e desvio padrão de 5,55), tendo cada foto-grafia sido avaliada por nove juizes. As fotogra-fias foram avaliadas como idênticas nos requisi-tos analisados, excepto quanto à cor da pele. Comrelação à cor da pele, a criança Negra foi consi-derada Negra por 89% dos juizes, e 11% disse-ram que era Mulata (1 pessoa). Todos os juizes(100%) que avaliaram a criança Branca, a consi-deraram Branca. À criança Branca foi atribuídauma idade média de 8.44 anos, enquanto à crian-

ça Negra foi atribuída uma idade média de 8.33anos F(1,17)=0.05, n.s. A aparência física e aqualidade gráfica foram avaliadas numa escalade sete pontos, na qual sete correspondia ao graumais positivo do atributo. Quanto à aparência fí-sica, a criança Branca obteve média de 6.06, en-quanto a criança Negra obteve média de 6.22,F(1,17)=0.07, n.s. Com relação à qualidade grá-fica, a fotografia da criança Branca obteve médiade 4.5, enquanto a fotografia da criança Negraobteve média de 3,9 F(1,17)=0.34, n.s.

Verificação da compreensão das crianças acer-ca da tarefa

Para verificar a compreensão das crianças acer-ca da tarefa de distribuição de recompensas, fize-mos um teste t para amostras emparelhadas comas recompensas distribuídas aos alvos quando eleslevavam um, dois ou três blocos. Como podemosver na Tabela 1, as crianças não realizaram a ta-refa aleatoriamente; seguiram o critério do desem-penho dos alvos. Assim, em todas as idades, dis-tribuíram mais recompensas aos alvos que tive-ram desempenhos melhores e menos recompen-sas aos alvos que tiveram desempenhos piores.

Resultados

Primeiramente realizámos uma ANOVA a fimde verificarmos se havia efeito significativo do

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TABELA 1Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas em diferentes contextos

de desempenho em função da idade Teste t para amostras emparelhadas p<.001

Desempenho dos alvos

Idade Alvos carregam um bloco Alvos carregam dois blocos Alvos carregam três blocos

5 a 7 anos 2.43 2.94 3.61(0.60) (0.44) (0.73)

8 a 10 anos 2.31 2.99 3.64(0.57) (0.40) (0.67)

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género dos participantes na distribuição de re-compensa aos alvos. Os resultados indicam quenão existe efeito do género sobre a discrimina-ção, F(1, 80)<1, n.s. Em seguida, a fim de testar-mos as hipóteses, realizámos uma ANOVA commedidas repetidas em que a variável independen-te entre-participantes foi a idade das crianças, eas variáveis independentes intra-participantesforam o alvo e o contexto de avaliação. Os resul-tados indicam um efeito principal do alvo, F(1,80)=9.30, p<.01. Este efeito indica que o alvo Negrofoi discriminado (M=2.92, DP=0.28) em relaçãoao alvo Branco (M=3.13, DP=0.37). Este resul-tado, que confirma a primeira hipótese, foi no en-tanto qualificado por uma interacção tripla entreidade, alvo e contexto, F(1,80)=4.52, p<.05.

Para testarmos as nossas hipóteses realizámoscomparações planeadas. Primeiramente testámosse as recompensas distribuídas aos alvos Brancoe Negro pelas crianças mais novas (5 a 7 anos)se diferenciavam das recompensas distribuídaspelas crianças mais velhas (8 a 10 anos) no con-texto que não justifica a discriminação (i.e., con-texto de desempenho igual, com saliência, por-tanto, da norma igualitária). Os resultados indi-cam, de acordo com a hipótese, que a diferençaentre as crianças mais novas e mais velhas é signi-ficativa, F(1,80)=5.74, p=.01. Enquanto que ascrianças mais novas discriminam o alvo Negro(M=2.84) em relação ao Branco (M=3.24); asmais velhas são igualitárias (M=2.98 para o alvoNegro e M=3.02 para o alvo Branco). Entretanto,no contexto que justifica a discriminação, as

diferenças entre as crianças mais novas e maisvelhas não foram significativas, F(1,80)<1, n.s.Tanto as crianças mais novas (M=3.12 vs.M=2.98) como as crianças mais velhas (M=3.16vs. M=2.90) recompensam mais o Branco do queo Negro nesta condição1 (ver Tabela 2).

Discussão

Este estudo teve o objectivo de investigar oefeito do contexto de igualdade ou de diferencia-ção sobre a expressão das formas indirectas deracismo nas crianças, em função da idade. A dis-criminação racial foi avaliada através da distri-buição de recompensas a alvos Branco e Negroem dois contextos: um contexto que justificava adiscriminação (diferenciação de desempenhos) eoutro que não justificava (igualdade de desempe-nhos). Verificámos, como previsto na primeira hi-pótese, que as crianças discriminaram o alvo Ne-gro em relação ao alvo Branco. Contudo, verifi-cámos também que este resultado depende daidade das crianças e do tipo de contexto norma-tivo de resposta. Enquanto as crianças entre os 5e 7 anos não são sensíveis ao contexto normativopresente nas situações e discriminam sempre acriança-alvo Negra em relação à Branca, a partir

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1 t(45)=2.02, p<.05.

TABELA 2Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas aos alvos Negro e

Branco em função da idade e do contexto de resposta

Contexto que não justifica a discriminação Contexto que justifica a discriminação

Alvo 5 a 7 anos 8 a 10 anos 5 a 7 anos 8 a 10 anos Total

Branco 3.24 3.02 3.12 3.16 3.13 (0.55) (0.15) (0.51) (0.58) (0.37)

Negro 2.84 2.98 2.98 2.90 2.92 (0.44) (0.15) (0.39) (0.37) (0.28)

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dos oito anos de idade as crianças deixaram de dis-criminar o Negro no contexto que não justifica adiscriminação, mas continuam a discriminá-lo numcontexto em que a discriminação pode ser justi-ficada por uma aparente diferenciação no desem-penho dos alvos. Em outras palavras, as criançasmais velhas não reduzem incondicionalmente adiscriminação, como pretendem as teorias de ba-se desenvolvimentista cognitiva, apoiando-se nassuas novas competências afectivo-cognitivas; masapenas se mostram racistas em contextos nos quaiselas acreditam que o seu comportamento discri-minatório pode ser justificado por algum modoque não o da pertença racial dos alvos. Assim,enquanto as crianças mais novas expressam ra-cismo quer de forma directa, quer de forma indi-recta, as crianças mais velhas apenas expressamracismo de forma indirecta.

Para além do contexto justificativo de com-portamentos discriminatórios, como revelaramos estudos clássicos de Gaertner e Dovidio (Ga-ertner, 1973; Dovidio & Gaertner, 2000) as for-mas indirectas de racismo também podem ser ex-pressas em contextos nos quais a norma anti-ra-cista não está claramente definida ou saliente (Do-vidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Dovidio, 1986,2000). A fim de verificar a expressão das formasindirectas de racismo em contextos nos quais anorma social anti-racista não está saliente reali-zámos um segundo estudo.

ESTUDO 2

Este estudo teve o objectivo de verificar a in-fluência da saliência de uma norma anti-racistasobre a expressão de racismo em crianças de doisgrupos de idade. Na sequência dos objectivosatrás delineados e do quadro teórico previamentedesenvolvido, as seguintes hipóteses foram for-muladas: a) As crianças de 5 a 7 anos de idadediscriminarão o alvo Negro em relação ao alvoBranco, independentemente do grau de saliênciada norma anti-racista; b) Após os sete anos, ascrianças vão expressar racismo de modo indire-cto, ou seja, as crianças vão discriminar o alvoNegro apenas quando a norma anti-racista nãoestiver saliente.

Método

Participantes

Participaram na pesquisa 71 crianças brancasdo sexo masculino, com idades compreendidasentre os cinco e os dez anos, sendo 42% de 5 a 7anos e 57% de 8 a 10 anos. A amostra foi reti-rada de escolas privadas e públicas do Estado deSergipe (Brasil).

Procedimentos

As crianças foram abordadas em sua sala deaula e convidadas a participar numa entrevista,tendo sido entrevistadas individualmente por umaentrevistadora Negra. A entrevistadora começavapor se apresentar à criança e em seguida explica-va a instrução de pesquisa.

A instrução tinha o seguinte conteúdo:

«Vou falar sobre dois meninos que queremcomprar bicicletas. Cada um deles quer suaprópria bicicleta. Eu resolvi ajudá-los pe-dindo contribuição para eles às crianças dasescolas. Para contribuir você tem só quecolocar esse dinheiro (13 notas de brinque-do de 1 Real = 0,35 Cêntimos cada) nessesmealheiros. Veja! Outras crianças já con-tribuíram.» Então a entrevistadora balançaos dois mealheiros, produzindo ruído, paratornar credível a informação que acaba dedar. «Você dá quanto quiser e do jeito quequiser. O dinheiro que você der, vai ser trans-formado em dinheiro de verdade e depoisdado a eles.»

À frente da criança, sobre uma mesa, ficavamos dois mealheiros com cadeados e as treze cé-dulas de brinquedo de um real. Em um mealhei-ro estava anexada a fotografia de uma criança bran-ca e no outro a de uma criança negra. Os cadea-dos tinham o propósito de dar a impressão deque a tarefa já havia sido feita por outras crian-ças, e de dar à criança a impressão de confiden-cialidade na distribuição do dinheiro. A instru-ção de que poderia distribuir o dinheiro da ma-neira que quisesse incluía a informação de que,se não quisesse distribuir todo o dinheiro, tam-bém poderia ficar com algum para si.

712

Page 9: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

Desenho

Utilizou-se um desenho factorial 2 (idade: 5 a7 e 8 a 10 anos) X2 (saliência da norma anti-ra-cista: entrevistadora negra presente/ausente) X2(alvos: branco/negro). As duas primeiras variá-veis eram inter-participantes e a última era intra--participantes.

A variável “saliência da norma anti-racista” foioperacionalizada, através da presença versus au-sência da entrevistadora: a norma anti-racista es-tava saliente quando a entrevistadora negra per-manecia o tempo todo junto da criança, acompa-nhando-a enquanto esta realizava a tarefa, e nãoestava saliente quando a entrevistadora se ausen-tava da sala após ter dado as instruções, deixan-do a criança realizar a tarefa em sigilo.

Na condição em que a entrevistadora negra seausentava, era dada a seguinte instrução adicio-nal: «Eu queria que você ficasse aqui fazendo essaactividade enquanto eu vou lá fora tomar umpouco de água. Você faz a actividade e fica meesperando, que eu volto já. Está bem?»

A variável dependente foi o comportamentode ajuda medido através da distribuição de re-cursos (que eram as 13 cédulas referidas no Pro-cedimento) para as duas crianças-alvo (Branco eNegro), de modo que a variável dependente va-riou entre +13 (todos os recursos para o alvo Bran-co) e -13 (todos os recursos para o alvo Negro).Para a manipulação do alvo foram utilizadas asfotografias de uma criança Negra e de uma crian-ça Branca do sexo masculino, de cerca de 8 anos.

Verificação da Compreensão Aritmética dasCrianças

A fim de verificar a capacidade matemática dedivisão das crianças, foi criada uma tarefa queconsistia em dividir igualmente dez cédulas deum real (de brinquedo) entre duas crianças, re-presentadas por desenhos de duas crianças, emum cartão de aproximadamente 12X15cm (nãose fazia menção a características tais como corda pele ou género das crianças desenhadas). Osparticipantes em ambas as condições de idadedistribuíram exactamente a mesma quantidade derecursos para cada alvo (5 para uma criança e 5para a outra). Este resultado indica que, indepen-dentemente da idade, os participantes são capa-

zes de lidar com os conceitos matemáticos bási-cos para este tipo de tarefa.

Resultados

Manifestação do Racismo nas Crianças

Antes de começarmos as análises dos dados,procedemos à substituição dos valores extremosda distribuição (superiores a três desvios-padrãoem relação à média) pela média.

A hipótese principal do estudo era a de que,após os sete anos, as crianças iriam manifestarracismo de modo indirecto, ou seja, iriam discri-minar o alvo Negro apenas quando a norma anti--racista não estivesse saliente. Assim, procede-mos a uma ANOVA com medidas repetidas, con-siderando a idade e a saliência da norma anti-ra-cista como variáveis independentes inter-partici-pantes e a recompensa dada ao alvo (Branco eNegro) como variável independente intra-par-ticipantes: A variável dependente foi a média dasrecompensas atribuídas a cada um dos alvos.

Os resultados indicam, que ocorre um efeitoprincipal do alvo, F(1,67)=3.19, p=.078. A crian-ça Negra foi discriminada (M=5.81) em relação àcriança Branca (M=5.98). Observamos ainda, deacordo com as hipóteses, que ocorre um efeitode interacção tripla do alvo, da saliência da nor-ma anti-racista e da idade F(1,67)=8.35, p=.005,que qualifica o efeito principal do alvo (ver Ta-bela 1). Para testar as hipóteses sobre os efeitosda idade e da saliência da norma anti-racista nadiscriminação realizamos comparações planea-das. A primeira hipótese previa que as criançasde 5 a 7 anos discriminariam o alvo Negro inde-pendente da saliência da norma anti-racista. Estahipótese é confirmada uma vez que, as diferen-ças na distribuição de recompensas para o alvoBranco e para o alvo Negro não são influencia-das pela saliência da norma anti-racista, F(1,67)=2.14, p=.15. A segunda hipótese previa que adiscriminação dos Negros, por parte das criançasmais velhas, seria mais baixa quando a normaanti-racista estivesse saliente do que quando anorma anti-racista não estivesse saliente. A aná-lise dos contrastes também confirma esta hipó-tese, F(1,67)=7.66, p=.007. Como podemos verna Tabela 3, as crianças mais velhas discriminamo alvo negro quando a entrevistadora Negra está

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Page 10: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

ausente, mas quando a entrevistadora Negra estápresente fazem favoritismo exogrupal.

Discussão

O presente estudo teve o objectivo de verificara influência da saliência de uma norma socialanti-racista na expressão de racismo em criançasBrancas, considerando dois grupos etários. Con-siderámos que a presença de uma entrevistadoraNegra tornaria saliente a norma anti-racista (McCo-nahay et al., 1981) e que sua ausência, traduzin-do-se num comportamento sigiloso das crianças,produziria um contexto propício à discriminaçãodo alvo Negro. Formulámos a hipótese de que ape-nas as crianças mais velhas (8 a 10 anos), por játerem internalizado a norma anti-racista, fossemcapazes de expressar racismo em função da va-riação do contexto normativo.

Os resultados indicaram que as crianças de 5 a7 anos discriminam o alvo Negro, tal como pre-visto nas hipóteses, independentemente do graude saliência da norma anti-racista. Já as criançasde 8 a 10 anos, apresentam discriminação do al-vo Negro apenas quando a entrevistadora está au-sente. Ou seja, na situação em que estas criançassão motivadas pela norma anti-racista, decorren-te da presença da entrevistadora Negra, elas res-pondem com um comportamento de orientaçãoigualitária, e não discriminatória. Contudo, a au-sência da entrevistadora Negra, desactivando osconteúdos da norma anti-racista, permite-lhes ex-

pressarem o preconceito que, de facto, continu-am a ter em relação às crianças Negras.

Uma das críticas relativas às teorias sobre asformas indirectas de racismo consiste no facto deos teóricos, apesar de afirmarem que o que geraa discriminação são as pressões da norma anti--racista sobre os indivíduos, não testarem estepressuposto (Biernar, Vescio, Theno, & Crandall,1996). A fim de analisar, precisamente, a relaçãoentre as normas racistas, implícitas e explícitas,nos adultos e nas crianças e verificar a partir deque idade as crianças interiorizam as normas ra-cistas implícitas, nas sociedades em que o grupoBranco é dominante, realizámos um terceiro es-tudo. Em outras palavras, queremos saber se nasidades em que as crianças exprimem o racismode forma indirecta elas estão sob o efeito da von-tade de se mostrarem igualitárias.

ESTUDO 3

A principal característica das novas formas deracismo por parte dos membros de grupos domi-nantes é a expressão subtil, indirecta ou veladada discriminação. Este carácter velado e disfar-çada comum às novas expressões do racismo re-flecte as pressões da norma anti-racista. Entre-tanto, poucos estudos têm analisado a partir deque momento as crianças interiorizam as normassociais que contrariam a expressão directa do ra-

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TABELA 3Médias e desvios padrão (entre parênteses) da distribuição de recompensas aos alvos Negro e

Branco em função da idade, da cor da pele e da saliência da norma anti-racista (n =71)

Saliência da norma anti-racista

Não saliência (entrevistadora ausente) Saliência (entrevistadora presente)

Alvo 5 a 7 anos 8 a 10 anos 5 a 7 anos 8 a 10 anos Total

Branco 5.68 6.47 6.64 5.50 5.98 (1.37) (0.84) (1.02) (1.06) (1.17)

Negro 5.49 5.88 5.91 5.90 5.81 (0.88) (1.10) (0.83) (1.34) (1.08)

Page 11: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

cismo. Esse estudo é importante, na medida emque permite verificar a hipótese de que a emer-gência de formas subtis de discriminação deveestar associada a uma interiorização, pelo menosparcial, da norma anti-racista. Com base nestepressuposto, e na sequência dos dois primeirosestudos, em que foi possível verificar que as cri-anças Brancas, por volta dos 8 anos, deixavamde discriminar as crianças Negras de forma dire-cta e flagrante, enquanto passavam a discriminá-las de uma forma indirecta e subtil (justificadapelo contexto ou face à ausência da norma e doseu controlo), este estudo teve o objectivo de ve-rificar se a norma anti-racista dos adultos estápresente nas crianças do grupo Branco, por voltados 8 anos, mas não anteriormente. Formulámos,assim, a seguinte hipótese de que, a partir dos 8anos, mas não entre os 5-7 anos, as crianças ten-derão a adoptar as normas do seu grupo de refe-rência, ou seja, vão discriminar os grupos que asmães acham aceitável discriminar e não discri-minarão os grupos que as mães não acham acei-tável discriminar.

Método

Participantes

Participaram na pesquisa 30 crianças Brancas,sendo 15 de 5 a 7 anos e 15 de 8 a 10 anos, 70%do sexo masculino e 30% do sexo feminino.

Participaram também 30 mães Brancas, pro-venientes do mesmo grupo socio-económico queas crianças, que tinham filhos com idades entreos 5 e os 10 anos (53,3% dos filhos tinham 5 a 7anos e 46,7% tinham 8 a 10 anos). A média deidade das mães foi de 31,06 anos e o desviopadrão de 6,28.

Procedimento

Seleccionámos da lista de grupos alvos de pre-conceito estudados por Crandall, Eshleman eO’Brien (2002), aqueles que considerámos que ascrianças poderiam conhecer. Compusemos então,uma lista com 11 grupos (doentes de SIDA, ho-mossexuais, índios, motoristas barbeiros (condu-tores de risco), negros, cegos, pessoas feias, gor-dos, racistas, pessoas sujas e políticos). No pro-cesso de entrevista havia uma pergunta filtro que

consistia em questionar as crianças acerca do co-nhecimento que tinham sobre o significado de ca-da um dos grupos. As crianças qualquer dos gru-pos eram eliminadas. Após a definição dos gru-pos pedia-se às crianças que dissessem, atravésde uma escala que variava de 1 (muito), 2 (tal-vez) a 3 (nada), o quanto gostavam das pessoasque pertenciam a cada um dos grupos.

As mães emitiram suas avaliações sobre os mes-mos 11 grupos utilizados com as crianças. As mãesrespondiam à questão «Eu acho que... “Estácerto” (“talvez esteja certo”/“não está certo”) tersentimentos negativos em relação a este grupo».A escala variava de 1 (não está certo ter sentimen-tos negativos em relação a este grupo) a 3 (estácerto ter sentimentos negativos em relação a estegrupo).

Resultados

Normatividade do preconceito na avaliaçãodas mães

Para sabermos quais os grupos que seriam nor-mativamente alvo de preconceito no contexto so-cial estudado, utilizámos a percepção das mãessobre a aceitabilidade do preconceito em relaçãoaos grupos investigados. As respostas das mãesforam comparadas com o valor 2 através de umteste t. Assim, os grupos-alvo cujas médias fo-ram iguais a 2 (“talvez esteja certo ter sentimen-tos negativos em relação a este grupo”), ou signi-ficativamente superiores a 2 (“está certo ter sen-timentos negativos em relação a este grupo”),foram considerados normativamente alvos de pre-conceito. Os grupos cujas médias foram signifi-cativamente inferiores a 2 (“não está certo ter sen-timentos negativos em relação a este grupo”), fo-ram aqueles em relação aos quais o preconceito éconsiderado anti-normativo. Podemos ver na Ta-bela 4 que, de acordo com as mães, os grupos nor-mativamente alvos de preconceito foram: políti-cos, pessoas racistas e homossexuais. Já os gru-pos em relação aos quais o preconceito é anti-nor-mativo foram: cegos, índios, negros, pessoas feias,pessoas gordas, doente de SIDA, condutores derisco e pessoas sujas.

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Page 12: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

Preconceito das crianças

A fim de verificar os grupos em relação aosquais as crianças mais expressam preconceito,realizámos, como para a amostra de adultos, umteste t contra 2 dos valores obtidos por cada umdos grupos-alvo, utilizando os mesmos critériosde agrupamento dos valores da escala que foramutilizados na análise dos dados das mães: assim,os grupos-alvo cujas médias foram iguais a 2 (“tal-vez”), ou significativamente superiores a 2 (“nãogosto nada das pessoas deste grupo”), foram con-siderados alvos de preconceito. Os grupos cujasmédias foram significativamente inferiores a 2(“gosto muito das pessoas deste grupo”), foramaqueles em relação aos quais as crianças não ex-primem preconceito. A Tabela 4 mostra que oshomossexuais, doentes de SIDA, pessoas racis-tas, condutores de risco, pessoas sujas e pessoasgordas são os grupos-alvo de preconceito das cri-anças, sendo o grupo dos políticos apenas ten-dencialmente alvo e os grupos de índios, negrose cegos não são alvo de preconceito pelas crian-ças.

A interiorização das normas relativas ao ra-cismo

Para verificarmos quando (idade) e em quecondições (normatividade ou anti-normatividadedo preconceito), as crianças reflectem abertamen-te as normas sociais de seu grupo de referênciaem relação ao racismo, compusemos os seguin-tes índices: um índice de ‘normatividade do pre-conceito’ (das mães) e um índice do ‘preconcei-to’ (da criança). O grupo dos negros foi utilizadocomo grupo de comparação, pois este é o grupode interesse específico para a nossa pesquisa.Para compor o índice de “normatividade do pre-conceito” das mães, seleccionámos os três gru-pos que as mães consideraram ser mais certo dis-criminar, ou seja, aqueles que poderiam ser alvonormativo de preconceito (políticos, homossexu-ais e pessoas racistas), e calculámos a sua médiasimples. Utilizando o mesmo procedimento, cons-truímos o índice de “preconceito” das criançaspara estes mesmos três grupos-alvo, de modo aproceder à comparação entre ambos os índices.Os testes t para amostras emparelhadas entre es-

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TABELA 4Valores médios de normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças para 11

grupos (N=30; teste t contra 2)

Normatividade do preconceito da mãe* Preconceito da criança**

GRUPOS M T p M T p

Cegos 1.07 -20.15 .00 1.63 -2.48 .02Índios 1.10 -12.25 .00 1.57 -4.29 .00 Negros 1.10 -16.16 .00 1.60 -2.85 .01 Pessoas feias 1.10 -16.16 .00 1.87 -.85 .40 Pessoas gordas 1.17 -12.04 .00 1.93 -.42 .68 Doente AIDS 1.43 -4.96 .00 2.60 5.84 .00 Motorista barbeiro 1.63 -3.00 .01 2.40 3.03 .01 Pessoas sujas 1.70 -2.52 .02 2.30 3.07 .01 Homossexuais 1.90 -.65 .52 2.83 12.04 .00 Pessoas racistas 2.57 5.46 .00 2.57 4.96 .00 Políticos 2.73 6.89 .00 1.72 -1.97 .06

* A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor, mais normativo é o preconceito contra o grupo.** A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor maior o preconceito contra o grupo.

Page 13: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

tes dois índices, por um lado, e entre as médiasde normatividade do preconceito das mães e dopreconceito das crianças relativas ao grupo “ne-gros”, por outro, foram calculados para os doisgrupos etários.

Os resultados (Gráfico 1) indicam que as cri-anças de 5 a 7 anos diferenciam-se de suas mãesquanto ao preconceito relativo ao grupo dos ne-gros (t(14)=4,52, p<.001): Enquanto as criançasexpressam preconceito contra este grupo (M=1,93,DP=0.79), suas mães acham que é anti-norma-tivo ter preconceito contra eles (M=1,06, DP=0.25).Isto significa que as crianças desta idade aindanão interiorizaram a norma expressa pelos adul-tos de referência, norma esta que impede a ex-pressão directa do preconceito contra este grupoe por isto expressam preconceito independente-mente da normatividade expressa pela mãe. Ascrianças de 5 a 7 anos, por outro lado, não se di-ferenciaram de suas mães quando comparámos o

índice de normatividade do preconceito das mães(M=2.55, DP=0.43) e o índice de preconceito dacriança (M=2.40, DP=.33; t(13)=-1.0, p=0.34), re-lativos aos grupos contra os quais as mães achamcerto ter preconceito.

No que diz respeito aos resultados relativos àscrianças de 8 a 10 anos, podemos verificar queestas crianças não se diferenciam de suas mãesquanto às suas atitudes em relação ao grupo dosnegros t(14)=.695, p=.49. As mães acham que éanti-normativo ter preconceito contra este grupo(M=1.13, DP=0.35) e as crianças de 8 a 10 anosnão exprimem atitudes negativas contra eles (M=1.27,DP=0.59). Isto mostra que as crianças desta idadeinteriorizaram o padrão normativo de seu grupode referência para emitir avaliações directas so-bre o grupo dos negros.

Quando, porém, estão em causa normas quefavorecem o preconceito contra alguns grupossociais, tal como acontece com os três grupos se-

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GRÁFICO 1Valores médios da normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças em

função da idade das crianças

Page 14: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

leccionados para a análise preconceito (políticos,homossexuais e pessoas racistas), ocorre um pa-drão de semelhança entre as normas maternas eas atitudes infantis que não se altera entre os 5 eos 10 anos. Assim, tanto as crianças com 5-7 anos,como as crianças de 8 a 10 anos reflectem a nor-ma de suas mães t(14)=1,03, p=.31. Isto é, os gru-pos relativamente aos quais as mães acham nor-mativo ter preconceito (M=2.27, DP=0.42) sãoalvo de preconceito dos filhos (M=2.42, DP=0.43).Assim, podemos dizer que estas crianças aceita-ram ou interiorizaram as normas sociais relacio-nadas ao racismo. Podemos dizer ainda que estanorma é aceita após os 7 anos de idade, períodoem que as crianças deixam de expressar precon-ceito contra os Negros de modo flagrante e pas-sam a expressá-lo de modo subtil, como temos de-monstrado nos estudos anteriores.

Discussão

Este estudo teve o objectivo de verificar a par-tir de que idade as crianças interiorizam a normaanti-racista dos adultos. Avaliámos a adopção danorma anti-racista através da percepção da nor-matividade do preconceito das mães relativa aogrupo dos negros e do preconceito das criançasem relação ao mesmo grupo.

Verificámos que na faixa etária de 5 a 7 anosas crianças ainda não adquiriram a norma anti-racista, uma vez que apresentam elevados índi-ces de preconceito relativamente a muitos dosgrupos investigados, incluindo o grupo dos Ne-gros, independentemente da orientação normati-va dos adultos de referência. Este resultado pa-rece confirmar o fenómeno do “pico etnocêntri-co”, encontrado em outros estudos sobre precon-ceito na infância (Aboud, 1988; Bigler & Liben,1993; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, &Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Williams, Best,Boswell, Mattson, & Graves, 1975; Yee & Brown,1992) sugerindo que as crianças desta idade dis-criminam os grupos de modo quase indiferencia-do, de modo que podemos concluir que elas ain-da não adquiriram ou interiorizaram a norma an-ti-racista.

Já as crianças que têm mais de 7 anos de ida-de, mostraram, como previsto na hipótese, ter in-teriorizado a norma anti-racista, adoptando asnormas de seu grupo de referência. Essas crian-ças apresentam o mesmo padrão de preconceito

apresentado pelas mães, não só em relação aostrês grupos estigmatizados pelos adultos comoem relação ao grupo dos negros. Podemos dizer,seguindo Crandall et al. (2002), que elas apre-sentam o padrão de preconceito dos adultos, ouseja, discriminam os grupos em relação aos quaisé permitido discriminar e não discriminam os gru-pos em relação aos quais não é permitido discri-minar.

DISCUSSÃO GERAL

Nos estudos das novas formas de racismo tem--se verificado que a expressão subtil e indirectacomum a estas formas de racismo é reflexo daspressões das normas sociais anti-racistas sobreos indivíduos. Estes estudos foram realizados comsujeitos adultos, mas não respondiam à questãodas possíveis etapas da interiorização, nas crian-ças, deste tipo de normas, bem como das suasconsequências na expressão do preconceito ra-cial por parte dos membros dos grupos maiori-tários e dominantes. O presente trabalho é com-posto de três estudos, com o objectivo de veri-ficar o efeito dos contextos normativos sobre aexpressão das novas formas de racismo nas cri-anças, considerando dois grupos de idade cru-ciais para esta averiguação. Considerámos que amanifestação das formas indirectas de racismo,sensivelmente a partir dos 8 anos, está relaciona-da com a interiorização da norma anti-racista porparte das crianças, precisamente por volta destaidade.

O primeiro estudo mostrou que as crianças ex-pressam racismo de forma velada, subtil ou indi-recta, em contextos que justificam a discrimina-ção. Este contexto foi criado com base na distri-buição de recursos a crianças-alvo que apresen-tavam desempenhos diferentes em uma tarefa. Nosegundo estudo verificámos a expressão das for-mas indirectas de racismo considerando um con-texto em que a norma social anti-racista estives-se saliente ou não saliente. Neste estudo verifi-cámos que as crianças do grupo dominante ape-nas discriminam contra um alvo Negro quando anorma social anti-racista não está saliente, ou se-ja, estas crianças expressam racismo de modo in-directo. Finalmente, no terceiro estudo, verificá-mos que, a partir dos 8 anos de idade, as criançasBrancas interiorizam a norma anti-racista e já

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Page 15: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

são pressionadas por esta norma para não apre-sentarem o comportamento discriminatório con-tra pessoas Negras, que estava presente entre os5 e os 7 anos.

Estes resultados põem em questão a interpre-tação meramente cognitivista proposta por Aboudpara explicar a redução do preconceito nas crian-ças mais velhas, que já teriam atingido a fase dadescentração, sendo por isso capazes de percebe-rem uma diferenciação no interior das catego-rias, o que lhes limitaria as atitudes estereotipa-das e preconceituosas. De facto, e contraria-mente ao que Aboud afirma, as crianças maisvelhas continuam a expressar comportamento dis-criminatório. Contudo, este comportamento ex-pressa-se de modo indirecto, de modo a ficar imu-ne à crítica ou punição social, podendo ser obser-vado, quer em contextos que justificam a discri-minação por outro motivo que não a categoriza-ção racial, quer quando a norma explícita anti-ra-cista reduz a sua saliência e deixa de exercer con-trolo sobre os comportamentos das crianças.

Com base nos resultados encontrados nos es-tudos aqui apresentados, o responsável directopela mudança no modo de expressão do racismo,e não pela sua eliminação, parece ser o processode interiorização deste tipo de normas sociais e acapacidade de as gerir em função dos contextos,processo e capacidade estes que, como foi de-monstrado no terceiro estudo, já está presente nascrianças mais velhas, sensivelmente a partir dos8 anos.

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RESUMO

Realizamos três estudos com o objetivo de verificaro efeito idade na expressão das formas indiretas de ra-cismo em crianças brancas. No primeiro estudo, a dis-criminação racial foi avaliada através da distribuiçãode recompensas para alvos branco e negro em doiscontextos, um que justificava e outro que não justifica-va a discriminação. Verificamos que a partir dos 7 anosas crianças discriminavam o alvo negro apenas no con-texto que justificava a discriminação. No segundo es-tudo, a discriminação foi medida através da distribui-ção de recursos em contextos de saliência e de não sa-liência norma anti-racista. Observamos que crianças de5-7 anos discriminam o alvo Negro mesmo no contex-to de saliência da norma anti-racista. Já crianças de 8-10 anos só discriminam o alvo negro no contexto emque a norma anti-racista não estava saliente. No ter-ceiro estudo, verificamos que a partir dos 7 anos de ida-de as crianças interiorizam as normas relativas ao ra-cismo do seu grupo de referência. Os resultados são dis-cutidos com base nas teorias das novas formas de ra-cismo e da socialização do preconceito.

Palavras-chave: Novos racismos, normas sociais, so-cialização do preconceito.

ABSTRACT

Three studies were conducted in order to test theeffect of age on White children’s indirect expressionsof racism. In the first study racial discrimination wasassessed through a task of reward distribution to aWhite and a Black target in two contexts in which dis-crimination was or was not justified. Results showedthat children older than seven only discriminatedagainst the Black target when this discrimination wasjustified. In the second study discrimination was asses-sed through a task of resource allocation in conditionsof high or low salience of the anti-racist norm. Chil-dren of 5 to 7 discriminated against the Black target inboth conditions while older children only discrimina-ted in the anti-racist norm low salience condition. Inthe third study norm socialisation was assessed by com-paring mothers’ and children’s patterns of racism. Re-sults of the three studies are discussed in terms of thetheories of new forms of racism and of the socialisa-tion of prejudice.

Key words: New racism, social norms, socializationof prejudice.

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