A Família de Bom Coração

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Manual de como cuidar do coração da família A Família de Bom Coração Amor… a força por trás da família Solidariedade… a fonte de afeto Felicidade… envolverá a família o tempo todo Este livro apresenta histórias maravilhosas que talvez você nunca tenha ouvido antes. Conversa de Dhamma por Phrabhavanaviriyakhun (Phra Phadet Dattajeevo) Escrito por S. Phongsawasdi e The Exemplary Youth Development Foundation

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Manual de como cuidar do coração da família

A Família de Bom Coração

Amor… a força por trás da família Solidariedade… a fonte de afeto

Felicidade… envolverá a família o tempo todo

Este livro apresenta histórias maravilhosas que talvez você nunca tenha ouvido antes.

Conversa de Dhamma por Phrabhavanaviriyakhun

(Phra Phadet Dattajeevo)

Escrito por S. Phongsawasdi

e The Exemplary Youth Development Foundation

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Prefácio

O Mestre Buda mostrou que todos os problemas neste mundo se originam das impurezas (kilesa) em nós. Do mesmo modo, os problemas familiares surgem das impurezas do casal. Tudo começa quando essas duas pessoas, que se amam, decidem viver juntas como marido e mulher e concordam em iniciar uma família. Quando duas pessoas, que ainda possuem impurezas, decidem morar juntas, elas devem fazer ajustes visto que ambas estão compartilhando suas características positivas e negativas nessa família. A união do casal será tranqüila se as duas pessoas combinarem suas características positivas Entretanto, se combinarem as características negativas, o relacionamento pode ser bem volúvel. Por isso, quando tiverem filhos, não importa quantos, as obrigações aumentam. Além da responsabilidade de serem marido e mulher, eles têm uma responsabilidade a mais como pais. A presença do recém-nascido forçará os pais a trabalharem mais arduamente, fazendo com que tenham cuidado suficiente com a criança. Quanto mais filhos decidirem ter, maior será a responsabilidade dos pais. A impureza é como uma doença destrutiva que habita a mente de cada ser humano na hora do nascimento. Até um bebê de um dia terá impurezas dentro de si. Ninguém sabe como as impurezas entraram em nós, mas elas estão

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entranhadas em cada ser humano, até em nossos próprios filhos. Se os filhos serão boas pessoas ou más depende das ações demonstradas pelos pais na criação deles; por meio de cada mordida de alimento, cada gota d'água e pingo de leite. Esses são os métodos dos pais de demonstrarem a maneira correta de criar os filhos. Se os criarmos de forma adequada, suas impurezas diminuirão e as virtudes amadurecerão neles. Conseqüentemente, o mundo se beneficiará da existência deles. Todavia, se os criarmos de maneira errada, suas impurezas aumentarão e como resultado criarão maus comportamentos. O mundo sofrerá as consequências da existência deles. Os problemas familiares atuais não desaparecerão facilmente ou logo que você quiser. Eles são causados pela incapacidade dos pais de controlar os filhos e as próprias impurezas. Para criar uma família amorosa, dever-se-à ter um sistema para aprender a controlar e eliminar as impurezas. Estas três maneiras são:

1) Controlar suas impurezas para que o seu mau comportamento não influencie outras pessoas.

2) . 3) Absorver as virtudes dos outros, fortificar e

incorporar essas qualidades positivas dentro de si. Este livro apresenta um conjunto de conhecimentos, experiências e recomendações, que podem ser encontrados

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nos ensinamentos do budismo e naqueles transmitidos a nós por nossos antepassados, como métodos que podemos incorporar para criar uma família cordial e amorosa. A equipe por trás deste livro espera que este sirva como um companheiro para ajudar o leitor a construir uma família cordial e feliz, onde todos se apóiem com amor e compreensão. Que todos possam ter uma base familiar sólida, cheia de sabedoria, dons e virtudes que contribuirão somente para que as próximas gerações tenham mais indivíduos extraordinários e virtuosos. Eles serão representantes do conhecimento, dons e virtudes dos pais que acabarão sendo úteis para eles mesmos e ao mundo.

S. Phongsawasdi

e

The Exemplary Youth

Development Foundation

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Dedicatória

Que todas as família ao lerem este livro tenham felicidade, sucesso e a determinação de sempre realizar boas ações.

Dedicamos os méritos acumulados através de cada palavra escrita neste livro aos nossos avós (Soon e Hoye Pongsawat), e a todos os membros da nossa família que já morreram. As experiências reais de suas vidas, conforme mostrado neste livro, foram nossa inspiração.

Que os nossos bisavós, todos os membros da família

que já morreram, e várias pessoas que apoiaram este livro, recebam felicidade e sucesso nesta e em futuras vidas. Enquanto renasceremos no ciclo da existência, que possamos nascer com todos os requisitos necessários para a Busca das Perfeições em cada período da vida, para derrotar Mara (a personificação do mal e tentação), erradicar definitivamente todas as impurezas e entrar em Nibbāna (Nirvana).

Os filhos da família Phongsawasdi

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Índice Introdução Dedicatória Parte Um ~ Construindo o alicerce da família Capítulo 1 O coração da família Capítulo 2 Como administrar a vida familiar Capítulo 3 Mantendo o amor vivo (cuidando do amor) Capítulo 4 A mãe da bondade suprema dentro de casa Capítulo 5 O nascimento de uma pessoa meritória Capítulo 6 Ensinando o filho que ainda não nasceu Parte Dois ~ Educando os filhos Capítulo 7 Educando os filhos para serem inteligentes e virtuosos Capítulo 8 Destruir pela bondade: Pais defendendo os

filhos quando eles se comportam mal Capítulo 9 Os quatro importantes papéis que os pais devem desempenhar para criar bons filhos Capítulo 10 Criando nossos filhos para serem pessoas boas Capítulo 11 Ensinando aos filhos a parcimônia para

assegurar o futuro da família Capítulo 12 Querido pai, por favor, não permita que eu

me torne viciado em televisão Capítulo 13 Crianças que são viciadas em Internet

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Capítulo 14 Uma filha que se veste de modo provocante Parte Três ~ Harmonia na Família Capítulo 15 Criando a harmonia na família Capítulo 16 O que os pais devem fazer quando seus filhos

não têm um bom relacionamento? Capítulo 17 Remediando a situação quando os vizinhos brigam Capítulo 18 Ensine as crianças a cuidar dos parentes muito doentes Capítulo 19 O Amor incondicional dos pais Parte Quatro ~ As estradas que Levam à Ruína Capítulo 20 Crianças adictas a Apāyamukha (as Estradas

para a Ruína) Capítulo 21 O marido infiel e alcoólico Capítulo 22 As Estradas que levam à Ruína Capítulo 23 Por que buscar prostitutas é um pecado Capítulo 24 O jogo nunca deixou ninguém rico Capítulo 25 Filhos que querem que seu pai pare de beber Capítulo 26 Pais que os filhos detestam Parte Cinco ~ A Verdade da Vida Capítulo 27 Papai, por que nós nascemos? Capítulo 28 Os jovens e o Senhor Buda Capítulo 29 As boas ações sempre trazem resultados

favoráveis?

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Capítulo 30 Como as boas ações podem trazer bons resultados Capítulo 31 Critérios completos para doação Capítulo 32 Ensinando as crianças a viverem conforme os

Cinco Preceitos Capítulo 33 Explicando os Cinco Preceitos para que as

crianças entendam facilmente Capítulo 34 Infundindo o amor pela meditação em nossos filhos Capítulo 35 Ordenar-se em benefício dos pais gera mérito Parte Seis ~ O Fim da Vida de Alguém Capítulo 36 O valor da vida Capítulo 37 O último momento da vida de um pai Capítulo 38 Pais, dignos de nossa reverência Capítulo 39 Abençoando nossos descendentes Capítulo 40 Exercitando a prudência pela prática da

austeridade Parte Sete ~ Um Verdadeiro Budista Capítulo 41 Um verdade budista Capítulo 42 Templos abandonados e templos prósperos Capítulo 43 Solucionando a crise do budismo Capítulo 44 O Senhor Buda – O exemplo de sabedoria Capítulo 45 Dedicando uma imagem de Buda – O corpo

da iluminação Bibliografia

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Parte Um

Construindo o alicerce da família

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Capítulo 1

O coração da família

Quando nossos corações param de funcionar, significa

que nós deixamos este mundo. O mesmo acontece com a

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família. Se o coração da família parar de funcionar, ela praticamente morrerá, mesmo com todos morando na mesma casa. A maior realização de um casamento é uma família forte, afetuosa e saudável. Mas o que é mais importante na formação de uma família? É fundamental para duas pessoas apaixonadas entender isso antes de iniciarem uma família. O assunto a seguir é muito importante para todas as famílias; quem desejar se casar, ter filhos, ter um marido ou uma esposa, deve estudar estas páginas para obter uma compreensão mais profunda. É muito importante porque todos os problemas que ocorrem na família giram em torno desses assuntos. Se eles estudarem este texto com atenção, os benefícios serão enormes. Mas se não o compreenderem muito bem, enfrentarão muitos problemas. Este conhecimento é chamado de, “Dhamma para leigos (Gharāvās-dhamma) : O coração vital de uma família estável.’ Os problemas típicos de uma família Antes de uma pessoa casar, ela já possui uma série de imperfeições. Mas quando duas pessoas formam uma família, elas são incapazes de evitar conflitos oriundos dessas imperfeições. Deste modo, uma família que não tenha pelo menos um elemento do Dhamma para leigos - os quatro elementos sendo honestidade (Sacca), auto-controle

(Dama), tolerância (Khanti) e sacrifício (Cāga) – certamente experimentarão um ou mais dos seguintes problemas:

1) O problema da desconfiança

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2) O problema da insensatez, de não ajustar-se ao mundo, às pessoas, ou resignar-se aos desejos impuros e corruptos.

3) O problema de estar cansado um do outro. 4) O problema do egoísmo.

O melhor é não deixar que esses quatro problemas apareçam na família. Se começarem a se materializar, encontre rapidamente um solução de modo que eles não aumentem de importância. Esses mesmos problemas podem se agravar ao ponto de se tornarem freqüentes e infindáveis. Problema 1: A desconfiança. No mundo atual, até entre os membros de uma mesma família, um mal comum é a desconfiança.

Não é somente entre o marido e a mulher ou entre irmãos que nasce a desconfiança; existe também a desconfiança entre pais e filhos. Não é preciso nem mencionar os outros que não fazem parte da mesma linha de descendência ou pessoas que não estão na mesma família. Eles não têm essa mal.

A verdade é que a desconfiança possui muitas faces.

Algumas desconfianças são causadas por ciúme, algumas por diferenças, algumas são devido à falsidade, e a desconfiança mais perigosa resulta da falta de responsabilidade.

Não importa qual a origem da desconfiança, quanto

mais tempo os membros da família conviverem, mais a desconfiança irá aumentar entre eles.

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Problema 2: A insensatez, de não ajustar-se ao mundo, às pessoas, e de resignar-se aos desejos impuros e corruptos. Esse problema ocorre quando a inteligência, o conhecimento e as aptidões das pessoas não estão no mesmo nível. É chamado de Insensatez. Algumas atitudes e pensamentos das pessoas não correspondem às atitudes e pensamentos de outros membros da família. Isso as impede de acompanharem o mundo em constante transformação. O principal motivo desse atraso não se deve à insensatez em si, mas porque os outros membros da família estão sempre se adaptando à novas situações e aqueles que estão mais atrasados se recusam a aderir às mudanças ou melhorar a situação deles. Como conseqüência, ficam estagnados e permanecem com o que já estão acostumados. Além disso, eles passam por momentos difíceis para se endireitarem. Pessoas desse tipo justificam a situação em que se encontram pela falta de sorte, sentimentos de inferioridade na família, ou ressentimento por seus pais, cônjuge ou filhos não os amarem. Isso certamente trará desavenças e criará problemas familiares. Problema 3: Estar cansado um do outro. O problema de estar cansado um do outro também pode ser chamado de Estar Cansado das Pessoas. Um juiz em Chiang Mai, Tailândia, uma vez falou sobre um caso que ocorreu algum tempo atrás com um jovem que tinha menos de 18 anos de idade. Esse jovem infringiu a lei e,

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como punição, o tribunal o sentenciou à detenção num centro de infratores juvenis. Assim que o tribunal proferiu a sentença, os pais começaram a chorar e pediram para levar o filho para casa para que eles mesmos pudessem educá-lo. Não importa o quanto os filhos sejam delinqüentes, os pais sempre os amarão e se preocuparão com eles. Eles querem cuidar e corrigir sozinhos o comportamento dos filhos. Eles não confiam em mais ninguém para cuidar de seus filhos porque têm medo de que ninguém mais possa cuidar dos seus filhos tão bem quanto eles. Todavia, hoje, quando os jovens infringem uma lei e são julgados perante um tribunal, é perguntado aos pais, "O seu filho violou a lei. O que vocês desejam fazer?” Os pais logo respondem, "O tribunal é quem decide. Deixe-o fazer o que quiser. Estamos tão aborrecidos e cansados dele. Não sabemos mais o que fazer com ele.” Como se pode ver, essa situação mudou. Na sociedade moderna atual, há pessoas que estão cansadas dos filhos. Até membros da mesma família devem tomar cuidado para não permitir que o cansaço cresça. Dentro da família, se um membro fizer algo errado e os outros membros da família estiverem cansados de avisar essa pessoa, cansados de ensiná-la, ou cansados de aconselhá-la, isso se manifestará na família em que cada membro dela viva isolado dentro da mesma casa. Não haverá colaboração ou troca de boas ações entre os membros da família. Nossas boas ações e as boas ações deles não aumentarão. O cansaço de um em relação ao outro é um sinal de destruição inevitável da família, porque isso logo evoluirá ao

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ponto em que viverão separados e ninguém será capaz de advertir um ao outro. Quando são incapazes de avisar um ao outro, não conseguem mais se tolerar, terminando em brigas e troca de negatividade. No final, acabarão maltratando um ao outro. Um modo de ficarem juntos como uma unidade familiar é tendo uma mente aberta e permitir um diálogo franco; os membros da família devem ser capazes de comunicar-se um com o outro desde o início se eles sentirem que as ações da pessoa são inadequadas. É melhor do que esperar até chegar ao ponto em que não seja possível suportar um ao outro e tentar falar sobre isso depois. Isso pode se tornar uma erupção vulcânica. Problema 4: O Egoísmo. O problema do egoísmo pode ser chamado de egocentrismo. A natureza humana é tal que sempre onde houver mais de três indivíduos vivendo juntos, formar-se-ão grupos isolados. Sempre que houver uma divisão no grupo, por exemplo, devido a uma pessoa no grupo receber algo especial, essa pessoa deve pensar antes de mais nada no grupo. Não importa se alguém no grupo está sofrendo, porque essa pessoa não se preocupará. No caso de uma situação mais grave, até irmãos podem se separar um do outro no grupo porque o egoísmo de uma pessoa já mergulhou a mente da mesma na escuridão. Quando chegar a hora em que um deles tiver uma sorte inesperada, essa pessoa não desejará compartilhar essa felicidade com ninguém da família. Além disso, essa pessoa

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tirará proveito de outros membros da família, que consequentemente acabará se desmoronando por causa do egoísmo dessa pessoa. Um dia, o problema causará a desintegração da família até o momento em que a unidade familiar não existirá mais. Dhamma para leigos: o coração de uma família estável Quando uma pessoa pensa em escolher um cônjuge, ou pensa em se casar e constituir uma família, deve se preparar porque ninguém pode evitar os quatros problemas mencionados anteriormente. Embora a solução não seja simples, isso não significa que não existe uma maneira de corrigir e prevenir que esses problemas ocorram. Se cada pessoa perceber o que é o coração da família, e todos cuidarem do coração da família da melhor forma possível, os problemas acabarão sendo resolvidos. O Senhor Buda deu um sermão Dhamma pertencente a um método que pode ser usado como base para a vida diária e um meio de estabelecer uma família estável. É conhecido como “Dhamma para Leigos.” Composto de quatro partes, considerado como o coração de uma família estável:

1} Honestidade ou sacca 2} Auto-controle ou dama 3} Tolerância ou khanti 4} Sacrifício ou cāga

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Em geral, se nossos corações ainda estiverem batendo, é porque ainda estamos vivos. Sempre que os membros da família possuírem Dhamma para Leigos, o coração da família continuará a bater também. Todos os problemas mencionados acima não acontecerão de forma algum. Será uma família estável com cordialidade e harmonia que amadurecerá a cada dia que passa. Composto de quatro partes, qual é a importância do Dhamma para Leigos? Como ele orienta a família para corrigir e prevenir os dilemas diários da família? O Senhor Buda ilustrou as respostas, que são as seguintes:

1) Honestidade ou sacca resolverá o problema da desconfiança.

Sacca significa honestidade, sinceridade e um

forte sentimento mútuo de confiança. Se essas palavras forem expressas dessa maneira, algumas pessoas podem não entender claramente o conceito. Todavia, se o conceito for explicado de uma maneira que as pessoas possam colocá-lo em prática, a honestidade significa responsabilidade ou o ato de ser responsável. Ao analisar como uma família funciona, a noção de responsabilidade de cada membro é o elementos mais importante. Se um membro da família faltar com a responsabilidade, a desconfiança entre os membros da família será o resultado imediato. Da mesma maneira, se uma pessoa quiser se casar, a primeira característica que deve ser avaliada é a noção de responsabilidade do cônjuge.

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Tanto o noivo com a noiva devem reconhecer se o outro é responsável o suficiente para experimentar a vida, morte, sucesso e fracassos da família. Uma pessoa honesta demonstra responsabilidade dessas quatro maneiras:

1.1) Responsabilidade em relação às obrigações e ao trabalho. Isso significa que não importa o trabalho, a quantidade de trabalho, se é fácil ou difícil, se a situação é favorável ou não, se o orçamento é limitado ou não, se o auxílio é limitado ou não, o tempo limitado, ou o conhecimento limitado, mesmo com todos esses fatores, uma pessoa que é verdadeira e sincera sempre presta atenção à responsabilidade realizando a tarefa com êxito e fazendo isso o melhor possível.

1.2) Responsabilidade com as palavras. Isso significa que as palavras de uma pessoa devem ser condizentes com suas atitudes que, em contrapartida, devem ser condizentes com as suas palavras. É irresponsabilidade de uma pessoa dizer que fez um metro, quanto na verdade ela fez apenas um centímetro. É irresponsabilidade de uma pessoa dizer que fez mais de um metro, se essa pessoa fez menos do que isso. As atitudes de uma pessoa devem ser sempre descritas honestamente em palavras.

1.3) Responsabilidade em relação às amizades.

As amizades sempre devem ser feitas com sinceridade e sem intenções veladas. Qualquer coisa a ser dita ou qualquer aviso a ser dado a um amigo, seja direto. Seja sincero. E�o mais importante, não seja parcial ou preconceituoso em nenhuma destas quatro maneiras:�por amor, por ódio, por estupidez ou por medo.

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1.4) Responsabilidade em relação à bondade e aos padrões morais. Significa que uma pessoa deve ter o Dhamma como base. Do mesmo modo, essa pessoa não desejará fazer algo que é errado, que vá contra os Preceitos, contra Dhamma, contra a cultura ou contra as leis do país. Demonstrar essa responsabilidade impedirá uma pessoa de ir para a prisão e para o inferno e abrirá a porta da paraíso para essa pessoa. Portanto, quando essa informação é analisada dessa forma, a pessoa que tem honestidade é responsável pelo seu trabalho, palavras, escolha de amigos, e tem princípios morais. Por isso, ela pensa e age com sinceridade e boas intenções para que tudo seja feito da melhor maneira possível. Essa é uma maneira de elevar a sabedoria e o dom de uma pessoa, além de apresentar sua melhor imagem sempre. Conforme nossa sinceridade seja vista dessas quatro maneiras, quanto mais possuirmos, mais responsabilidade teremos. Esse tipo de pessoa pode manter esse alicerce simples sempre na mente. O que quer que façam, eles o farão o melhor que puderem; o que quer que digam, eles o dirão da forma mais clara possível; e suas mentes terão a base moral mais firme possível. Uma pessoa honesta não é somente uma pessoa digna de confiança na família, mas é digna de confiança dos amigos também. A desconfiança que os amigos tiverem dessa pessoa no passado, diminuirá. Mas se uma pessoa não é confiável, ela sempre suspeita e vista com desconfiança. As pessoas boas escaparão e evitarão se envolver com essa pessoa suspeita. As pessoas boas não desejarão ser amigos de pessoas desonestas porque não desejam ficar com uma má reputação através de uma associação.

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Portanto, se uma pessoa na família não for honesta ou não possuir uma noção de responsabilidade em relação ao trabalho, palavras, relações pessoais, bondade e moralidade, o problema da desconfiança se agravará. Então como podem viver juntos? Portanto, para a família ter um alicerce sólido, os membros devem ter honestidade ou sacca como o primeiro hábito.

2) Auto-controle ou dama resolve o problema da insensatez, de não ajustar-se às pessoas, ao mundo e entregar-se à corrupção. Dama significa ter auto-controle. A maneira de praticar o auto-controle é estar alerto e exercitar-se sem exceção, obtendo para si mesmo mais conhecimento, aptidões e bondade todos os dias. O auto-controle também pode ser chamado coloquialmente de, “adorando exercitar-se.” É comum os mais velhos se referirem a isso como , “Não permita que você se torne um tolo.” A maneira de aumentar o conhecimento, a habilidade e a bondade de alguém é seguir essas quatro recomendações: 2,1) Encontre um bom professor. Significa que não obstante o interesse de uma pessoa em um assunto ou o seu desejo de obter mais conhecimento, ela deve encontrar, antes de qualquer coisa, um professor que tenha sabedoria e habilidade na área. Caso contrário, há grande possibilidade

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de fracasso. Se uma pessoa não for mesmo capaz de encontrar o professor certo, no mínimo ela deve achar um professor que tenha mais conhecimento na área de interesse. 2.2) Ouça o seu professor. Significa que você deve prestar muita atenção ao que diz o professor. Escute-o muitas vezes e faça perguntas até que entenda de verdade. É importante entender claramente o que o professor está ensinando, na teoria, método, prática e etc.., não importa a profundidade do assunto.

2.3) Analise as palavras do professor. Examine cada ponto que o professor explicou e analise até entender de verdade o raciocínio de seu significado, o uso prático, as precauções, benefícios e desvantagens.

2.4) Siga as instruções do professor. Significa que

após analisar o material e entender o que é correto e adequado, comece a seguir e praticar os ensinamentos com atenção e cuidado. Não seja negligente porque isso pode trazer resultados prejudiciais mais tarde.

Aqueles que possuem conhecimento, aptidão e bondade

total devem seguir apenas esse caminho para aprenderem a acompanhar o mundo e as pessoas e não se entregarem à corrupção.

Certamente, ao seguir essa estrada, você terá que ir

contra a sua vontade, precisará controlar a sua mente e, não raro, ferirá a sua mente, assim como se estivesse sofrendo de uma hemorragia no coração.

Você deve controlar a sua mente e ir contra os seus

desejos porque se um tipo de ensinamento não puder mudar

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os hábitos de alguém, não pode ser considerado como auto aprendizagem.

Por exemplo, se você for incapaz de mudar um hábito

como comer rápido, o que não é fácil fazer, ou incapaz de mudar um hábito como dormir tarde, usar palavras desagradáveis quando falar, ou responder os seus pais, você tem que escolher o método certo para se auto corrigir, incluindo treinar-se para não ser descuidado. Isso não é fácil de fazer. Para alguns de nós, pode levar a vida toda para corrigir esses maus hábitos, e nem estamos levando em consideração hábitos mais sérios, como os de bebida, ciúme e jogos de azar.

Por esse motivo, para uma família ter uma base sólida,

os membros devem ter auto-controle ou dama como o segundo hábito.

3) Tolerância ou khanti corrige os

problemas das pessoas estarem cansadas uma das outras.

Khanti significa tolerância. Por que devemos ter tolerância? Devemos ter tolerância

porque se alguém quiser aumentar a bondade dentro de si, essa pessoa deve ter tolerância para obter a bondade.

Ao nascermos como seres humanos, o que temos que

suportar? A resposta é que existem 4 áreas de tolerância que fazem parte da condição humana:

3.1) Devemos suportar um ambiente natural

que não é favorável a nós, como os raios fortes do sol, chuva e vento fortes, etc.

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3.2) Devemos suportar o sofrimento, isto é,

devemos suportar as condições desfavoráveis que nossos corpos físicos experimentam, como as doenças, sem criar um alvoroço ou reclamar demais.

3.3) Devemos suportar os conflitos, isto é,

devemos ter paciência com as outras pessoas. A verdade é que nós devemos aceitar que temos

fraquezas, sentimentos que vão contra nosso desejo, e situações que não saem conforme planejamos. Especialmente, quando trabalhamos muito rápido ou quando somos meticulosos, há algo que ainda nos desagrada.

Quando estamos descontentes conosco, elas são

consideradas fraquezas que se transformaram em maus hábitos. E nos daremos conta de que negligenciamos muitos outros pontos.

Há fraquezas entre maridos, esposas e filhos, além da

fraqueza presente em nós mesmos. Não há como evitar o conflito.

Por isso, mesmo quando o marido e a esposa que vivem

na mesma casa são bons um com o outro, ainda assim terão fraquezas. Se acharmos que somos incapazes de suportar isso, não tenha um coração fraco e se case.

Mas hoje em dia, apesar de algumas pessoas já terem se

casado, elas gostam de citar os direitos individuais. Depois de se casarem, continuam juntando documentos, se preparando para o divórcio. Isso levanta uma questão, “Se acharam que não seriam capazes de tolerar um ao outro, por que se casaram?”

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Os mais velhos têm um ditado em relação ao marido e a

esposa, “É como a língua e o dente, eles sempre irão bater um com o outro.”

Portanto, não importa o quanto o casal está bem junto

porque, inevitavelmente, sempre haverá conflitos. Se eles acreditam que quando brigam, não conseguem ter paciência um com o outro, não deviam ter se incomodado em se casar. Mas se a decisão do casal já está feita, eles podem suportar o que o cônjuge e a família deste oferece a ele/ela, eles devem conversar sobre isso e pensar numa maneira de tolerar uns aos outros. Isso é melhor do que falar sobre qualquer outra coisa.

A pergunta que eles têm que perguntar um ao outro é ,

“Você tem certeza que pode me tolerar?” Se não tivermos certeza que podemos ou não tolerar um ao outro, então não devemos nos casar. Se mesmo assim casarmos, vamos provocar ou criar um mau Kamma (Karma). Deste modo, duas pessoas que se amam se tornarão inimigas no futuro. Então devemos nos separar agora? Essa é a pergunta que o casal deve se perguntar antes de casar.

Assim, em vez de perguntar quantos quilates há no anel

de noivado, quanto dinheiro você ganhará, quando milhões serão gastos na compra de uma casa, todas essas coisas são instáveis, a pergunta mais importante a ser feita é “Você tem certeza que pode me tolerar?”

Se realmente pensar a respeito disso, há muito mais

pessoas, além do seu cônjuge, que você deve tolerar, como os pais, irmãos e parentes de cada lado. Essas são pessoas que não se pode ignorar, e você deve tolerar qualquer provável conflito durante toda a sua vida.

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3.4) Suportar as impurezas ou kilesa, isto é,

devemos tolerar os nossos próprios comportamentos negativos.

As impurezas são uma doença perigosa que já nasce

conosco. À medida que a doença avança, ela nos comprime, nos controla e nos esgota para realizar todos os tipos de más ações despudoradamente. Assim, quando realizamos más ações, as impurezas nos fazem sofrer, receber punições, passar por todo tipo de tormento, que nos causa arrependimento e, mais tarde, criticar nossas ações .

Algumas pessoas que são incapazes de resistir ao

controle que as impurezas exercem sobre elas se tornam pessoas que têm o hábito de fazer más ações. No final, essas pessoas não terão mais qualquer bondade dentro de si e podem desenvolver vícios ao longo dos Caminhos para a Ruína, que são difíceis de corrigir.

Os Caminhos para a Ruína ou Apāyamukha são

estímulos externos que sempre incitam as impurezas a entrarem em nossas mentes até que se transformem em maus hábitos arraigados que são muito difíceis de tirar.

O caminho mais perigoso para a corrupção está

associado aos tolos, porque estes espalham as infecções de "maldade", sem exceção, àqueles ao redor deles. As impurezas da mente tomarão conta deles até se tornarem escravos em realizar más ações sem pensar no sofrimento dos outros. A associação com os tolos é como adicionar infecções perigosas da mente a nós mesmos. Os bons hábitos do passado são repetidamente destruídos pelas impurezas, que por sua vez irão se transformar em maus hábitos.

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Visto que as impurezas afetam os bons hábitos, a estabilidade e a segurança da família dependem de nossa capacidade de tolerar as impurezas nos auto exercitando em duas áreas:

3.4. 1. A paciência no controle de maus hábitos dentro

de nós para evitar que eles influenciam os outros. Se eles foram incapazes de tolerar isso, o homem e a mulher que decidirem ficar juntos irão gerar mais Kamma ruim para ambos. Isso pode levá-los a cometer atos agressivos um contra o outro, separar o casal, tomarem partido e explorar um ao outro.

3.4. 2. Paciência para resistir as tentações dos seis

Caminhos para a Ruína, que são: bebidas alcoólicas, gostar de vida noturna, sair para lugares de diversão, apostas em jogos de azar, associação com tolos e preguiça em relação ao trabalho. Se alguém não conseguir ter tolerância para resistir aos seis Caminhos para Ruína, a situação financeira da família se deteriorará, por causa da incapacidade de manter um alicerce sólido.

Se todos os membros da família puderem aprender a ter

tolerância nessas duas áreas, nossos hábitos individuais serão aperfeiçoados. A situação financeira da família se estabilizará. Só as pessoas boas estarão em nossa companhia e os tolos ficarão longe. Os Caminhos para a Ruína estarão longe da família.

Portanto, para a família ter uma base sólida, seus

membros devem ter tolerância ou khanti como o seu terceiro hábito.

4) Sacrifício ou cāga é o meio de corrigir o

problema do egoísmo.

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Caridade significa sacrifício. São de três tipos: 1) Sacrifício de bens materiais 2) Sacrifício de conforto 3) Sacrifício de emoções negativas, não os

mantendo em sua mente. Esta é a base para preparar a mente para a meditação.

Sacrifício significa a generosidade de viver junto como

uma família, colocando o bem-estar da família à frente de nós mesmos.

Um casamento depende do sacrifício de duas pessoas.

Se não houver sacrifício, não haverá uma base sólida para a família. Se os membros de uma determinada família não praticarem o sacrifício em benefício de outros na família, e ainda tirarem vantagem um dos outros, é provável que estejam vivendo em um lar desestruturado.

O sacrifício básico se concentra na subsistência, que é

de grande importância. Em particular, o marido e a mulher devem pensar sobre a felicidade geral da família mais do que a própria felicidade.

Os fundamentos da subsistência são os Quatro

Requisitos. Todavia, os aspectos mais importantes que devemos saber antes de alocar fundos para os quatro requisitos são: ser capaz de distinguir entre o que você quer e o que a sua família precisa.

Se não souber como distinguir entre o que você quer e o

que você precisa, a sua família se deteriorará mais e mais a cada dia. No final, haverá um sentimento de que um lado

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levou vantagem e o outro lado foi egoísta. Os membros da família acabarão vivendo separados e não se importarão um com os outros.

Por exemplo, suponha que exista uma família composta

de um marido e uma mulher, e que não tenham filhos. A renda combinada dos dois é limitada. Apenas um frasco do perfume da esposa e o álcool e vinho do marido reduzem o orçamento deles para a alimentação todo mês. A sensação de que cada pessoa está sendo explorada ocorre porque eles não conseguem diferenciar entre os desejos individuais e as necessidades da família.

Perfume caro é um luxo desnecessário. Álcool e vinho

são um dos caminhos para a ruína; são substâncias que fazem mal à saúde e são nocivas à sociedade. Portanto, se tanto o marido como a esposa são incapazes de considerar esses gastos como desnecessários, significa que o egoísmo trará prejuízos à família.

Um casamento é uma vida de orçamentos para o

indivíduo. Deve haver uma base de sacrifício. Mas se gastarem com os próprios desejos pessoais, e o marido e a esposa não combinarem suas rendas desde o começo, significa que estão se preparando para tomarem caminhos diferentes desde o início porque nenhum deles está pensando nos gastos compartilhados da família. Então por que casar?

Sempre que você ver produtos luxuosos como

necessários, o orçamento da casa sofrerá imediatamente. Isso se chama egoísmo, o que também cria muitos outros problemas dentro da família.

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O casamento não é um jogo que meninos e meninas brincam, porque assim que você se casa, a responsabilidade, a mudança, a paciência e o sacrifício virão logo em seguida.

Deste modo, a pessoa que está pensando em casamento

deve pensar sobre o quanto o futuro cônjuge está preparado de duas maneiras:

1) Você pode contar com o seu companheiro

quando estiver doente ou a sua vida estiver em risco?

2) O seu cônjuge tem o conhecimento, a

capacidade e um bom caráter para dar apoio à família para fazê-la feliz e para que os filhos dessa união cresçam como pessoas boas?

Esses dois fatores são os sacrifícios básicos em uma

família. Hoje em dia, as pessoas tendem a se casar mais por

necessidades pessoais do que devido a esses dois fatores. Isso causa muitos problemas no casamento. Alguns casais chegam até a se tornar violentos e acabam se matando.

Aqueles que ainda não se casaram ou estão em via de se

casar devem considerar que quando um casal está casado, deve existir um apoio mútuo na doença e na velhice. Eles devem ser capazes de cuidar um do outro. O�casamento, portanto, deve depender em grande parte do sacrifício individual.

Além do mais, quando o casal tem um filho, ambos

devem se sacrificar ainda mais, porque precisam reservar um

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tempo para os filhos. Isso é o que cada pessoa deve fazer até mesmo antes do casamento.

As pessoas que estão preparadas para a paternidade

analisarão a si mesmos das seguintes maneiras: Nós temos conhecimento, capacidade e bondade que desenvolvemos do auto aprendizado durante toda a nossa vida. Visto que vamos morrer, quando nos tornarmos velhos, haverá alguém para cuidar de nós. Se quisermos casar e constituir uma família, devemos usar nosso conhecimento, capacidade e bondade para criar bons filhos para o mundo. Podemos transmitir nosso conhecimento e bondade aos filhos para que eles possam continuar a viver com força neste mundo.

O casamento não é apenas prazer sexual. Isso não dura.

Porém, devido à procura pela satisfação sexual, a taxa de divórcio é alta. A satisfação sexual só existe nos primeiros anos do casamento.

Depois do casamento, o alicerce da vida reside no

sacrifício de um para com o outro. Se alguma vez nos tornarmos egoístas um com o outro, virá acompanhando de divórcio ou homicídio.

O sacrifício no casamento é o sacrifício para cuidar do corpo e da mente. É sustento para o corpo e a mente. Como resultado, o casamento será uma união de felicidade.

Cuidar um do outro fisicamente significa usar a

renda familiar com sabedoria, gastando com as necessidades da casa, compartilhando e sacrificando a felicidade individual.

Cuidar um do outro mentalmente significa saber

como ser ponderado a cada dia, ser capaz de apoiar os outros

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nos momentos de crise, ser capaz de alertar os outros quando eles se tornam descuidados, e ser capaz de ser honesto o tempo todo.

O casal que toma conta um do outro fisicamente e

mentalmente, dessa forma, irá sempre se sacrificar para o bem da família, como em relação a objetos materiais, conforto e humores ruins. Como resultado, a família viverá em um ambiente harmonioso.

Desse modo, para uma família ter uma base estável,

seus membros devem ter o sacrifício como o quarto hábito.

Com esses quatro fatores de Dhamma para Leigos

(Gharāvās-dhamma), qualquer pessoas que deseje encontrar um companheiro, casar-se, constituir uma família, ou que atualmente tenha problemas familiares, deve ter o Dhamma para Leigos como base. Honestidade, auto-controle, paciência e sacrifício são o coração da família. É o coração vivo que os membros da família devem ter consigo em todas as horas para que a base da família seja estável desde o início. Assim, todos os problemas da família, como desconfiança, desajuste com o mundo e as pessoas, rendição à corrupção, cansaço um do outro e egoísmo, não ocorrerão de forma nenhuma. O coração da família, portanto, sempre baterá intensamente.

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Capítulo 2

Como administrar a vida familiar

A prática de controlar as emoções antes de se casar é um fundamento importante para a manutenção do casamento. Porém, se no passado ambas as partes nunca aprenderam a controlar as emoções, não será possível elevar as virtudes após o casamento. Ao contrário, irá para uma direção negativa onde ambos irão se magoar de maneiras devastadoras, e acabarão por não se tolerarem mais, e o divórcio parecerá a única solução. Deste modo, aprender a controlar as emoções antes do casamento é a melhor maneira de evitar o divórcio.

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Pensamentos básicos antes do casamento A crença que permanece verdadeira, não obstante quantos milhões de anos se passaram, é que uma vez que o marido e a esposa começam a viver juntos, é impossível não brigarem, ou não brigarem com os seus parentes. Não importa o que, há sempre uma possibilidade que isso possa acontecer. A principal preocupação é que, se o casal não aprendeu a como controlar as emoções antes do casamento, eles não serão capazes de resolver os seus desentendimentos de forma positiva, causando muita dor a todos na família, em todo o sentido da palavra, além de aborrecimentos frequentes. Eles não viverão em paz. Entretanto, se ambos tiverem se exercitado antes do casamento, não importa o grau de desentendimento, eles deverão saberão conter as emoções negativas e impedí-las de continuar no dia seguinte. O ambiente familiar começará com um sentimento de tranqüilidade e felicidade. O casal tentará descartar os comportamentos ruins e revelar o melhor de si. Isso resultará numa atitude positiva e de aceitação em relação um ao outro, criando assim laços fortes dentro da família e aumentando o prestígio na sociedade. Aqueles que forem capazes de controlar as emoções, com certeza receberam treinamento antes de se casar. Nossos avós se depararam com esses problemas durante toda a vida. Eles estabeleceram os seguintes princípios com relação ao casamento. Qualquer pessoa que não puder mais esperar para se casar deve, antes de mais nada, alcançar os quatro fatores a seguir para obter êxito no casamento.

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Os 4 fatores são:

1) Ser auto-confiante. 2) Saber como escolher o cônjuge certo. 3) Ter um conselheiro matrimonial. 4) Saber como purificar a mente.

Nossos avós insistem que qualquer pessoa que esteja se preparando para se casar deve, em primeiro lugar, alcançar esses quatro fatores, de modo que possa lidar com todas as responsabilidades que surgem com o casamento. Elas saberão o que as aguarda mais à frente e quais os conhecimentos, habilidades e virtudes serão necessários para se tornaram o melhor casal, a melhor nora, o melhor genro e os melhores pais para os filhos. Transmitir esse conhecimento irá aprimorar os conhecimentos, a capacidade e as virtudes de modo que o casamento se desenrole conforme o esperado. O resto desse capítulo explicará o raciocínio que sustenta cada fator e porque esses quatro fatores são necessários para um bom casamento. Expectativas no casamento Nossos avós nos contaram a verdade evidente sobre o motivo das pessoas se casarem, que é a falta de auto-confiança; eles não têm certeza se conseguem se sustentar sozinhos. Quando há falta de confiança, você deve ter a esperança de que encontrará alguém para ajudá-lo com muitas coisas na vida.

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Algumas pessoas se casam porque acham que o cônjuge as beneficiará de alguma maneira e, em contrapartida, elas beneficiarão o cônjuge. Mas o que realmente acontece é que os cônjuges não as tratam da maneira que esperavam ou pelo menos não são capazes de fazê-lo todo o tempo. A maneira com que os cônjuges são tratados não correspondem às expectativas destes também. Alguns homens se casam porque desejam uma linda mulher. Mas as mulheres não ficam lindas 24 horas por dia. A beleza física não dura para sempre. Se apenas a atração física importa, quando a beleza externa acabar, as chances do companheiro ser infiel serão altas. Algumas pessoas se casam porque se apaixonam pelo comportamento bom de outras pessoas. Elas se enganaram quando pensaram que o cônjuge seria sempre educado, mas a verdade é que as pessoas não são educadas 24 horas por dia. Se a busca por um companheiro for baseada na "dependência", sempre que eles não se sentirem mais seguros um com o outro, começarão a brigar, até na justiça, como frequentemente se vê. Esses problemas levaram a um provérbio, “Expectativas frustradas trazem desilusão.” O estado de espírito apropriado antes do casamento é, “Eu tenho que depender de mim mesmo.” Em um casamento, existem muitos aspectos que farão a outra pessoa depende de você. Em outras palavras, há mais problemas que exigem paciência do que os que não exigem paciência, o que exigirá conhecimento, aptidões e virtudes que você adquiriu antes do casamento.

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Além disso, existirão muito mais obrigações que você nunca teve antes, assim como você nunca saberá se os resultados serão bons ou maus. Isso é verdade quando se é pai de um recém-nascido que não depende de si mesmo e deve confiar nos pais para várias necessidades. Para que a criança cresça aprendendo a ser uma pessoa independente, os pais precisam dedicar grande parte de seu conhecimento, aptidões e virtudes. Portanto, é errado pensar que você poderá depender de uma outra pessoa antes de se casar. A verdade é que a probabilidade dos outros confiarem em você é maior do que a probabilidade de você confiar nos outros. Auto-dependência Uma pessoa independente é aquele com conhecimento, aptidão e virtude. Em suma, essa pessoa deve ter Dhamma para Leigos. Alguém que tenha Dhamma para Leigos (Gharāvās-dhamma) deve demonstrar quatro hábitos regulares: 1. Hábito de responsabilidade – Qualquer que seja a tarefa à mão, ela deve fazê-la da melhor forma possível, em termos de qualidade, tempo, orçamento e cuidado com a qualidade da mente. 2. Hábito de auto-aprendizagem e auto-aperfeiçoamento – O estudo e pesquisa em várias áreas para aperfeiçoar o conhecimento, a aptidão e a virtude visando o progresso contínuo.

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3. Hábito de paciência – Qualquer que seja a tarefa, ele é capaz de superar todos os obstáculos até concluir a tarefa, apesar do tempo, das doenças ou conflitos, assim como resistindo às tentações ou paixões da mente. 4. Hábito de sacrifício e generosidade – Qualquer que seja a tarefa, o grupo tem prioridade sobre o indivíduo. Isso inclui sacrificar os próprios pertences a favor de outros que necessitam mais, sacrificar a conveniência e o conforto para assumir responsabilidades que ninguém mais quer assumir e eliminar as emoções negativas para cultivar um bom ambiente familiar. Deve sacrificar a individualidade, deste modo para a melhoria do grupo e ter adquirido esses hábitos ainda quando jovem. Caso contrário, os outros não poderão depender dele. Somente a pessoa que tem Dhamma para Leigos ou esses quatro hábitos bons pode se tornar auto-confiante, um bom abrigo para os outros e um bom líder familiar. Os quatro níveis de beleza Nossos avós não só nos ensinaram a como ser independentes, como também ensinaram àqueles que planejam se casar escolher a pessoa certa para ser a mãe ou pai de nossos filhos. Geralmente, só podemos enxergar a beleza física, não a beleza interior profunda da mente. Mas nossos avós também nos ensinaram a procurar a beleza interior profunda da mente. Eles colocaram a beleza nestas quatro características:

1o nível: Beleza da aparência - Essa é a beleza de

nosso vestuário, maquilagem, estilo de corte de cabelo de

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acordo com as épocas e a moda. É a beleza externa que logo sairá de estação ou não será mais preferida. Essa beleza pode ser adquirida ou emprestada dos outros.

2o nível: beleza do corpo - Essa é a beleza do corpo em termos de nossa aparência, pele, rosto, estilo de cabelo, dedos, etc. É a beleza individual que não pode ser adquirida ou emprestada de outros. Ela não dura para sempre e irá se deteriorar com o tempo, assim como não garante que uma pessoa é má ou boa.

3o nível: beleza do bom comportamento - Essa é a beleza das palavras e da atitude certas com relação aos outros. inclui ser cortês, modesto, respeitoso, educado, alegre e amigável com os outros. Todavia, se essas maneiras não são verdadeiramente do coração, são consideradas falsas. Há provérbios que advertem, “Palavras doces são as mais devastadoras” ou “Início doce, fim amargo” ou “lobo em pele de cordeiro.”

4o nível: beleza da mente - Essa é a beleza da virtude de uma pessoa, que pode ser expressa através de muitos aspectos de todas as responsabilidades que essa pessoa tem. Podemos medir o quanto a pessoa é responsável através destes três aspectos fundamentais: 1) Uso dos quatro requisitos, que são vestuário, alimentação, moradia e medicamento. 2) Atividades diárias. 3) Responsabilidades do trabalho Ao observar os hábitos de uma pessoa através desses três aspectos, podemos avaliar se uma pessoa é responsável

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ou negligente. Somente uma pessoa responsável pode ter decência e uma mente bela. isso se aplica especialmente para as pessoas que possuem Dhamma para Leigos, que é composto de honestidade, auto-disciplina, tolerância e sacrifício. A importância de um conselheiro matrimonial A beleza de uma pessoa tem quatro níveis, mas o nível mais difícil de observar é a beleza da mente, porque se trata dos princípios morais de uma pessoa. Para descobrir isso, precisamos confiar nas pessoas que já experimentaram a vida de um casamento. Em outras palavras, constituir uma família também requer um professor ou instrutor que possa dar conselho sobre vários problemas familiares. No passado, quem quisesse se casar teria um ancião para ajudar no casamento proposto. Embora ainda se use os seus serviços, poucas pessoas sabem o verdadeiro sentido e o papel de um ancião. “Um ancião” se refere a uma pessoa que tem um alto nível de virtude e é bem respeitada pela comunidade. O ancião deve ser uma pessoa muito virtuosa e ser respeitada pela maioria das pessoas. Elas têm muitas virtudes porque os seus próprios casamentos apresentavam os quatro fatores importantes de um casamento: 1) Elas devem verdadeiramente adotar o Dhamma para Leigos, caso contrário, não serão uma fonte confiável para si mesmos e suas famílias.

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2) Elas devem ser capazes de identificar um outro comportamento da pessoa, observando-a através do consumo dos quatro requisitos, suas atividades diárias e responsabilidade no trabalho. Caso contrário, elas não conseguirão encontrar um cônjuge adequado com grande virtude, e que os membros da família aceitarão e respeitarão totalmente. 3) Elas devem ter um professor ou um bom conselheiro que as aconselhem sobre casamento e relacionamentos. Do contrário, é provável que não sejam capazes de manter um relacionamento por muito tempo. 4) Elas devem ser capazes de se exercitarem até elevaram sua moral a um nível mais superior. Do contrário, eles precisarão de conhecimento, aptidão e virtude para lidar com todas as obrigações que surgem com o casamento. Elas devem ser capazes de cuidar de si mesmos e dos outros, ao mesmo tempo. Se as suas virtudes não forem elevadas o suficiente, especialmente em termos de generosidade e sacrifício a favor do bem supremo, elas não serão capazes de continuar e sustentar as famílias e as futuras gerações, além de não serem aceitas pela sociedade nesse nível. Os mais velhos têm grande virtude e podem ser conselheiros confiáveis para os filhos e futuras gerações porque eles se exercitaram e criaram um alicerce para as suas famílias com base nos quatro fatores mencionados anteriormente. Portanto, uma família ou um relacionamento precisam de um conselheiro para a escolha do cônjuge, para indicar os deveres de um bom cônjuge, pais e parentes, as obrigações associadas à carreira de sucesso, para as várias obrigações que surgem em uma comunidade. Em todas essas categorias,

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é preciso ter um ancião para aconselhá-lo e apontar a melhor direção, para que a família sempre fique junta em paz. Por isso, um casamento não pode acontecer sem a ajuda de um ancião, ou um adulto muito virtuoso que possa aconselhar e disciplinar o comportamento do marido e da mulher. Sem “um ancião,” a família irá para a direção errada. O Dhamma que cria uma mente bonita Com uma compreensão perfeita dos primeiros três fatores, é hora do casamento continuar em um nível superior de moralidade, com mais força e estabilidade. Se o homem e a mulher não tiverem moral quando estiverem juntos, não serão capazes de sustentar o amor que sentem um pelo outro por muito tempo, visto que o coração da família é baseado no alicerce moral adotado pelo homem e pela mulher. Devemos aprender a nos tornarmos independentes antes de nos casarmos. Nossos avós apresentaram o Dhamma para leigos como uma recomendação para o auto-aprendizado. Mesmo depois do casamento e de constituir uma família, nós ainda temos que praticar o Dhamma para leigos em um nível superior. Uma das quatro virtudes que a família mais exercitará e que terá o maior impacto sobre a mesma é a tolerância (Khanti) e o sacrifício (Cāga). Depois do casamento, é necessário um nível superior de tolerância para resistir a prováveis conflitos. Em outras palavras, é a capacidade de ter tolerância com a fraqueza dos outros. Quando um homem e uma mulher se casam e começam a viver juntos, existirão muitas responsabilidades que devem assumidas pelo cônjuge e seus

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parentes. Será necessário um grau maior de tolerância nessa fase para que toda a família a supere. O sacrifício é necessário em um nível maior também, principalmente para eliminar as emoções negativas. Em outras palavras, é a necessidade de manter uma mente calma através da prática regular de meditação para que não haja sofrimento causado por conflitos familiares. Mesmo se não gostarmos de um membro da família de nosso cônjuge, temos que aprender a viver com essa pessoa para que o problema não se transforme numa hostilidade permanente na família. Temos que descartar nossos temperamentos, de modo que não haja mais espaço para brigas e vinganças. O nível de sacrifício quando todas as emoções negativas são eliminadas da mente é chamado no budismo como, docilidade ou soracca, isto é a mente refinada em estado pacífico. Por isso, visando o refinamento da mente, nossos avós se referiam apenas como tolerância e docilidade a partir dos ensinamentos budistas, como as principais virtudes que ajudam a refinar a mente. É também uma maneira de condensar o Dhamma para leigos a somente aspectos de controle da mente. Quando aparecer uma situação que exigir tolerância, devemos tentar acalmar a mente como se tivéssemos um vulcão interno pronto para entrar em erupção, cuja força somos quase incapazes de deter, mas devemos ser capazes de tolerar. A docilidade por ser explicada como a tentativa de reduzir o calor no vulcão que pode causar uma erupção a qualquer momento, usando muitas estratégias para acalmar

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a mente. Mas não existe melhor maneira de prevenir a mente do caos do que simplesmente fechar os olhos e meditar, deixando todas as preocupações de lado, tranqüilizando a mente e ignorando os conflitos passados. Quando a mente está quieta, não sentiremos a necessidade de tolerar tudo. Nossas atitudes e expressões serão tão calmas quanto a mente, como se nada tivesse acontecido. Sucessivamente, quem quer que encontremos também ficará calmo, porque eles sentirão a paz e a beleza que cultivamos em nossas mentes. O estado quieto e pacífico da mente que compartilharmos com os outros conquistará a todos. Deste modo, para elevar a nossa moral a um nível superior, devemos confiar nessas duas maiores virtudes que são a tolerância e a docilidade. Elas são o Dhamma que cria uma mente bonita. Encantos mágicos para evitar o divórcio Nós aprendemos até agora que nossos avós continuaram a descobrir como desenvolver a tolerância e a docilidade em nossas mentes. Eles converteram essas virtudes em metáforas com finalidades práticas, que incluíam estas quatro formas mágicas de conduta:

1ª forma mágica de conduta: Olhos parecidos com os nós de bambu.

2ª forma mágica de conduta: Ouvidos parecidos com as alças de uma panela.

3ª forma mágica de conduta: Corpo parecido com um tapete.

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4ª forma mágica de conduta: Mente parecida com a terra. Nossos avós souberam usar o meio ambiente para ilustrar o Dhamma, servindo como lições para a purificação da mente. Isso mostra o alto nível de moralidade que eles têm. A explicação de cada metáfora é a seguinte: 1) Olhos parecidos com os nós de bambu, significa que devemos manter um olhar imutável. Isso inclui não prestar atenção a situações tensas e não interferir nos negócios alheios para encontrar defeitos ou causar devastação, resultando em fofoca mais tarde. Isso fará com que nossas mentes assimilem os problemas dos outros e nunca aprenderemos como procurar o bem na vida. Nossos avós criaram essa metáfora ao verem uma escada com degraus de bambu . Uma escada com degraus de bambu é construída a partir de um tipo de bambu florestal. As varas de bambu são cortadas em seções longas o bastante para o pé pisar em cima. Pode ser amarrada a uma árvore como uma escada para ajudar na escalada da árvore. Se os galhos forem muito altos, várias escadas podem ser amarradas em conjunto para atingir a parte superior. As pessoas que vivem nos campo de palmeiras sabem do benefício da escada com degraus de bambu, que pode ser usada como uma escada para subir palmeiras muito altas. Para fazer esse tipo de escada, os aldeões mantêm o longo tronco do bambu intacto, não dividindo-o no local do nó (a ligação do bambu). Ao invés disso, entre os nós, eles cortam entalhes com cerca de trinta centímetros para servir

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como degraus da escada Por esse motivo, o tronco do bambu deve ter nós muito fortes e grandes; caso contrário, não poderá suportar o peso do escalador. Quando um aldeão escalar a palmeira, ele inclinará a escada de quebra peito contra a árvore e subirá degrau por degrau até o topo da árvore. Se for uma árvore macho, ele cortará os caules e usará um cano de bambu para conter o líquido do qual se fará o açúcar. Mas se for uma árvore fêmea, ele colherá a fruta, espremerá o líquido dela e misturará o líquido com farinha para fazer biscoito e vender como sobremesa. Nossos avós, com as mentes centradas em Dhamma, observaram que a parte mais importante da escada com degraus de bambu era a qualidade dos nós (olhos) no tronco do bambu. Quanto mais forte forem os nós, mais seguro será subir para obter os benefícios das palmeiras. Os seres humanos também têm olhos. Devemos treinar nossos olhos a ser como os nós de bambus, porque o aspecto mais importante da visão é, “Não olhar as coisas que você não deve ver. Não procurar por problemas. Não olhar os problemas de outras pessoas. Não procurar os defeitos dos outros. Não agitar os olhos de modo que os outros possam acompanhar, porque o problema passará dos olhos para a mente e então para dentro de casa.” A pessoa que souber controlar o que os olhos vêem terá uma mente mais calma e alerta. Sempre que ela pensar, seus pensamentos serão bons. As palavras proferidas serão positivas, aprimorando a mente, o que se estenderá aos outros.

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Qualquer um que possa conter os olhos como os nossos avós aconselharam verá o mundo de forma otimista, não terá a maneira pessimista de achar defeitos nos outros e não será a causa de casos extraconjugais. Os conflitos que surgem dos olhos serão evitados e a mente poderá manter o estado tranqüilo e pacífico.

Dessa forma, controlar a mente através dos olhos treinando os olhos para serem como os nós de um bambu é a maneira de elevar a beleza da mente. Essa é a primeira forma mágica de conduta para evitar o divórcio. 2) Ouvidos como as alças de uma panela significa que nós só devemos ouvir o que é apropriado. Não tente ouvir os defeitos dos outros ou bisbilhotar, devido a sua paranóia de que alguém estaria fazendo fofocas a seu respeito. Não acredite na fofoca dos outros; seja cauteloso e escute sem muito entusiasmo Tente mudar de assunto sempre que o tópico da conversa não valer a pena. Você pode acabar sendo visto como tolo, e pode criar o hábito de achar defeitos e fazer fofoca dos outros, o que é muito prejudicial para o nosso acúmulo de virtudes.

Nossos avós não queriam que parecêssemos como tolos que fazem nada além de prestar atenção nos defeitos alheios, não havendo possibilidade de progresso. Nossos avós nos preveniram com uma metáfora,Ouvidos parecidos com as alças de uma panela, que significa ouvir mensagens valiosas que aumentam nossa sabedoria e nossas virtudes. Quando estamos na cozinha, podemos ver nitidamente que as alças de uma panela servem apenas para segurar a

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panela e pendurá-la quando terminar de usá-la. O mesmo acontece com os ouvidos das pessoas; eles não devem ser usados para ouvir fofocas, porque não temos nada a ver com os problemas dos outros. Nossos ouvidos só devem ser usados para escutar coisas que nos traga sabedoria, princípios morais e virtudes. Esse é a real finalidade dos ouvidos. Sempre que escutar alguma coisa, você deve decidir se irá prestar atenção ou não. Se não for útil, você deve aprender a fazer do seu ouvido como a alça da panela. Assim, os problemas dos outros não terão a chance de entrar na sua mente. Quando algumas pessoas descobrem que estão sendo vítimas de fofocas, elas ficam tão furiosas que poderiam matar a pessoa que começou o boato. Mas se soubermos como fazer com que nossos ouvidos sejam como as alças de uma panela, essas palavras não terão efeitos sobre nós. Logo a fofoca se dispersará com o vento. Não devemos levar a sério quando as pessoas falarem mal de nós. Deixe-os praguejaram. Se você não levar a sério, as obscenidades voltarão para a pessoa que começou a fofoca, porque elas são as primeiras pessoas a ouvir suas próprias palavras. Nossos avós também nos lembram que, mesmo se nós não ficarmos aborrecidos com essas palavras maldosas, não devemos pensar imediatamente que somos superiores. O melhor é quando uma pessoa nem mesmo sorri quando é elogiada. Ela permanece serena enquanto considera a razão do elogio e se é racional. Essa pessoa é alguém verdadeiramente especial.

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A maioria das pessoas tende a ficar contentes e orgulhosos quando recebem um elogio. Por exemplo, uma garota fica tão contente e orgulhosa quando recebe elogios do seu namorado. Ela decide se casar com ele só porque estava tão encantada por um elogio como, "Minha querida, você é tão linda", e acaba tendo muitos filhos. Se ela ficasse serena e não tão encantada com o elogio, ela poderia ter vivido muito bem sozinha, sem ter dores de cabeça se perguntando se o marido dela está tendo um caso. Uma pessoa verdadeiramente sábia é aquela que sabe o que merece ou não ser ouvido, para manter a mente serena. Por isso, a pessoa que sabe como controlar a mente, sabendo quando fazer de seus ouvidos alças de panelas, tende a ter uma mente pacífica. Essa é a forma de elevar a beleza da mente. Essa é a segunda forma mágica de conduta para evitar o divórcio

3) Corpo parecido com um tapete significa dedicar toda a sua energia e toda a sua vida para realizar boas ações com atitudes, palavras e pensamentos virtuosos sem posturas ou condições. Nossos avós usaram essa metáfora que compara o corpo a um tapete para nos ensinar; eles desejam nos lembrar qualquer que seja a tarefa que realizarmos, deverá ser uma tarefa honesta. Nós devemos realizá-la usando toda a nossa sabedoria, capacidade e virtude. Não devemos ter uma atitude ou ser arrogantes. Não devemos ter medo de trabalhar duro e devemos ser capazes de dedicar nossas vidas à tarefa de produzir bons resultados.

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Nossos avós também melhoraram suas vidas seguindo esse princípio. Sempre que conversarem sobre o sucesso que obtiveram, farão isso com orgulho. Por exemplo, sempre que eles ensinavam os filhos sobre as virtudes de ser honesto, e sabendo que eles sempre foram honestos em todos os trabalhos que fizeram durante toda a vida deles, eles podiam se orgulhar de suas histórias: “Desde quando éramos jovens, quando tínhamos que fazer um trabalho, mesmo se fosse para esvaziar ou limpar banheiros, nós o fazíamos porque era honesto. Fingíamos que nossos corpos eram como tapetes. Mas se o trabalho fosse roubar alguém, não aceitávamos fazê-lo de nenhuma maneira. Também rejeitávamos qualquer trabalho que envolvesse traição, trapaça ou fraude.” Trabalhar para sustentar a família é uma grande responsabilidade, porque cada refeição é trazida à mesa com o dinheiro conseguido com muito trabalho. Uma pessoa, que trabalha atentamente, nunca reclama ou tem uma atitude, e se concentra em trabalhar honestamente, terá orgulho de que terem ganho o dinheiro para sustentar a família com energia e virtudes de honestidade. Não terão nenhum arrependimento ou culpa mais tarde. Um mente tranqüila vem do fato de termos um trabalho honesto. Embora outras pessoas possam nos menosprezar por termos um trabalho de status inferior, não temos nada com que se envergonhar. Devemos ter orgulho de nossa maneira honesta de viver, como o tapete que só serve para tirar a sujeira do sapato, sem reclamar, desdenhar ou ser imparcial. A pessoa que mantém uma mente serena com base na vida honesta e sem posturas, mesmo com um

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trabalho de status inferior, terá netos que irão respeitá-los com orgulho. Uma pessoa que se concentra na realização de boas ações, trabalhando honestamente e fazendo do seu corpo um tapete, terá uma mente boa e tranqüila, e não terá ciúmes dos outros. Suas virtudes se elevarão e eles serão bons exemplos para os netos. Os membros da família ficarão satisfeitos e orgulhosos de ser parte de uma família que valoriza essa maneira honesta de viver. Aqueles que estão voltados para a realização de boas ações, trabalhando honestamente, sendo humildes e não impondo condições antes de realizar boas ações, assim como um tapete, terão uma mente mais refinada e pacífica, o que é considerado honesto em um casamento. E eles serão bons exemplos para a próxima geração. Essa é terceira forma mágica de conduta para evitar o divórcio. 4) Mente parecida com a terra significa manter uma forte determinação ao realizar boas ações, sem quaisquer condições e sendo inabalável em face dos obstáculos. Nossos avós se concentram nessa lição do Dhamma porque perceberam que, mesmo que dedicássemos toda a nossa energia e conhecimento para realizar boas ações, ainda encontraríamos obstáculos maiores do que podemos enfrentar. Apesar disso, devemos aprender a lidar com essas situações. Em outras palavras, mesmo se não soubermos como fazer, devemos aprender a tolerá-las. Baseado nessa verdade, se estamos contentes ou não, como seres humanos, devemos aprender a ter calma e

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mentes resolutas, não ter medo das incertezas da vida, e saber como ficar alerta, como a terra que não se esquiva com coisas cheirosas ou mal cheirosas que são jogadas sobre ela. O Senhor Buda uma vez contou ao venerável Rahula sobre a importância de manter a mente quieta como a terra: “Se uma pessoa derramar perfume na terra, ela ficará feliz? Não, ela será indiferente. Se alguém colocar um objeto mal cheiroso sobre a terra, ela não ficará triste. Ela permancerá indiferente.” “Rahula, você deve controlar a mente dessa maneira. Não importa o que as pessoa façam a você, não faça nada a elas. Concentre-se na prática de Dhamma e logo estará livre das impurezas.” Isso significa que quando mais sofremos, mais precisamos aquietar a mente. Quando a mente está calma, mais nenhum sofrimento corromperá a sabedoria e a paz de espírito. Da mesma forma, quanto mais somos felizes, mais precisamos acalmar nossas mentes. Estar cheios de felicidade nos fará negligentes e acreditar erroneamente que somos mais privilegiados do que os outros. Assim, sempre que sofrermos ou estivermos felizes, devemos manter a mente calma e estável, de modo a nos preparar para os acontecimentos que virão.

Todavia, nossas mentes tendem a ser diferentes da terra; a mente é mais parecida com a cera que se acha muito leve, fraca e pressionada quando perto do fogo. Ao se deparar com um sofrimento inesperado, achamos que não

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conseguiremos nos recuperar, e muitas vezes ficamos sem esperança, consequentemente aumentando o nosso nível de sofrimento. Ás vezes, nos tornamos cínicos com a vida, trazendo mais sofrimento para as nossas vidas.

As pessoas nessa situação podem se sentir realmente

sem esperança. A dor, o sofrimento e pressão de todos os lados se acumulam na mente, fazendo parecer que sofrimento é infinito. Algumas pessoas caem doentes. Algumas pessoas não conseguem achar uma solução e acabam cometendo suicídio.

Nossos avós querem que sejamos capazes de lidar com

as incertezas da vida que nunca poderíamos esperar. Eles usam todas as possibilidades como uma lição para treinar as nossas mentes a aceitar a verdade de qualquer situação que encontrarmos, porque a certeza da vida é a incerteza.

Aqueles que nunca aprenderam a aceitar as incertezas

da vida, não serão capazes de aceitar uma perda inesperada. Por isso, devemos ensinar nossas mentes a ser tão estáveis quanto a terra, percebendo que a verdade da vida é a incerteza.

Quando experimentamos uma decepção, medo e

tormento inesperados, devemos perceber a verdade da vida de que nada dura para sempre. Tudo nasce, existe e se deteriora. Ninguém pode escapar dessa verdade da vida.

Nossos avós aconselharam que, para a mente ser tão

estável e sólida como a terra, devemos primeiro perceber que, neste mundo, estamos sujeitos tanto a satisfação como a desilusão; é uma questão de qual vier primeiro.

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O Senhor Buda ensinou os oito fatores que causam uma satisfação ou desilusão humana. Eles são chamados de as Oito Condições Mundanas (Loka Dhamma), que podem ser divididas em duas categorias: Causas de uma mente apaixonada e causas de uma mente amedrontada. A mente apaixonada deseja receber o que nós adoramos e o que nós gostamos, o que inclui: 1) Fortuna é a recompensa material, como casa, carro, marido/esposa, propriedade e pedras preciosas. 2) Prestígio é a classe social, status, autoridade e poder. 3) Reconhecimento é um elogio, louvor ou admiração dos outros. 4) Felicidade é o conforto da vida, tanto físico como mental, alegria, regozijo e prazer . Esses são o que as pessoas mais gostam. Se as pessoas não possuem essas coisas, irão atrás delas. Elas se agarrarão a essas coisas assim que as conquistarem. Quanto mais se agarrarem a elas, mais ansiosas essas pessoas ficarão. Quanto mais ansiosas ficarem, mais ciumentas ficarão. A mente que possui esses sentimentos é considerada uma mente apaixonada.

A mente amedrontada é o medo e a ansiedade da perda ou descontentamento, que são: 1) Perda da fortuna é perder o que já possui, como a perda de dinheiro, de uma casa, de um filho ou cônjuge.

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2) Perda de prestígio é a perda de autoridade, classe social ou o poder de controle. 3) Fofoca é a crítica direta ou indireta. 4) Sofrimento é tanto o sofrimento físico como mental. Nós não buscamos po essas coisas e nem desejamos encontrá-las. Mesmo quando elas ainda não chegaram, temos medo de que elas cheguem logo. Quando chegam, rezamos para irem embora. Depois de nos deixar, ainda ficamos com medo de que possam voltar. Quando encontramos as causas da paixão ou do medo, nossos avós tentaram nos ensinar a estar cientes das verdades desta vida através da prática de meditação para aquietar a mente e impedí-la de ficar vulnerável às Oito Condições Mundanas. A finalidade da prática de meditação é familiarizar-se com a experiência de um estado de espírito tranqüilo e pacífico. Quando perdemos dinheiro, prestígio, recebemos críticas ou passamos por dificuldades, nossas mentes permanecerão tranqüilas, alertas e fortes. Quando nós recebermos riqueza, prestígio, reconhecimento ou felicidade, nossas mentes permanecerão tranqüilas, não impressionadas ou presas. A pessoa que está consciente do sofrimento e da felicidade exercitou a mente para ser tão estável e sólida como a terra através da prática de meditação. Quando a

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mente está calada, nos conscientizamos que as Oito Condições Mundanas são impermanentes. A fortuna aumenta e nunca se acaba. O prestígio pode oscilar. Todos devemos nos deparar com louvor, fofoca ou felicidade, que um dia desaparecerá, de acordo com as Três Características (tilakkhaņa) : As Três Características são as verdadeiras características de tudo neste mundo. Tudo neste mundo tem um valor. O ouro é valorizado por sua cor viva e brilhante. O diamante é forte. O vidro é transparente e refletivo. Os seres humanos têm pensamento e vontades próprias. Seja vivo ou não vivo, todos compartilham essas mesmas três características: 1. Impermanência (aniccatā): significa que a vida é impermanente. Nós não permanecemos no mesmo estágio da vida. As pessoas mudam ao longo do tempo. O que éramos ontem não é o mesmo o que somos hoje. 2. Sofrimento (dukkhatā) : significa o estado de sofrimento. Nesse exemplo, não se refere apenas a tristeza e lágrimas, mas também a incapacidade de permanecer na mesma situação, porque isso logo mudará. Devido às incertezas, sempre ocorrerão mudanças, e o fim da mudança significa que algo mudou. Até o mundo em que vivemos continua a mudar, e um dia chegará a um fim e desaparecerá. . 3. Ausência do eu (anattatā): significa a não substância de tudo. Está além do nosso controle e não podemos contê-la ou possuí-la. Por exemplo, não podemos impedir o envelhecimento, a doença e a morte. Se nós examinarmos minuciosamente o corpo que acreditamos

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pertencer a nós, encontraremos somente sangue, tecido, osso, nervos, pele e outros órgãos que agem em conjunto. Não é real para nós; é apenas um eu temporário que se deteriorará ao longo do tempo e não durará para sempre.

As pessoas que desconhecem essas Três Características ficarão fascinadas ou assustadas com as Oito Condições Mundanas e desejarão, dessa forma, ficar em um estado de sofrimento o tempo todo. O Senhor Buda compreendeu a verdade de tudo neste mundo. Ele ensinou a meditação para que as pessoas pudessem aprender a acalmar a mente como a terra que é influenciada pelas Oito Condições Mundanas. Nossos avós sempre nos lembram para acalmar a mente como a terra porque eles foram capazes de ver o mundo através dos princípios das Três Características. Encontrando ou não as Oito Condições Mundanas, estamos todos sujeitos a esses princípios. A coisa mais importante na vida é que devemos exercitar a mente para ser calma e estar sempre pronta para as incertezas da vida. Se estamos bem preparados para o inesperado, seremos capazes de controlar a mente para permanecer alerta e viver com as realidades da vida. Todo mundo está sujeito às Três Características, que descrevem a certeza da incerteza. As pessoas que vêem a verdade da vida, que tentam manter a mente estável e que são influenciadas pelas Oito Condições Mundanas – como a terra que não é influenciada pelos objetos cheirosos ou mal cheirosos – serão capazes de elevar suas virtudes para um nível maior. Essa é a quarta forma mágica de conduta para evitar o divórcio.

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Conclusão - A essência de manter um casamento é a elevação das virtudes de uma pessoa, incluindo todos os membros da família, confiando nos quatro fatores seguintes:

1) Ser auto-confiante. 2) Saber como escolher o cônjuge certo. 3) Ter um conselheiro matrimonial. 4) Saber como purificar a mente. Todos os quatro fatores são recomendações que os

nossos avós nos deram para elevar nossas virtudes. Depois do casamento, muitas responsabilidades e obrigações o aguardam. Devemos aprender a suportá-las, mesmo se pensarmos que não daremos conta delas. A menos que uma pessoa eleve suas virtudes a ao ponto em que possa lidar com todas as obrigações do casamento, ela não será capaz de manter o casamento.

Quando o casal se sente completamente satisfeito com o

casamento, restam somente dois problemas que devem receber merecida atenção. Primeiro, eles devem continuar a tolerar tudo que aparecer pela frente. Segundo, eles devem permanecer calmos diante circunstâncias inesperadas.

Se todos os membros de uma família seguir essas

recomendações como dadas pelos nossos avós, os conflitos familiares nunca ocorrerão. Todas as pessoas elevarão o espírito a um nível maior. O divórcio nunca irá se abater sobre o casamento. Os filhos terão alguém de quem depender e um bom exemplo de consciência tranqüila. A qualidade de vida melhorará socialmente e economicamente junto com a qualidade do espírito. Se todas as famílias em todos os países puderem alcançar isso, a qualidade das pessoas do mundo melhorará muito.

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Capítulo 3

Mantendo o amor vivo

(Cuidando do amor)

No livro Thirty-eight Universal Steps to Eternal Happiness (trinta e oito passos universais para a felicidade eterna) , compilado do programa de versão dos monges ordenados venerável monge professor Somchai Tanavuddho, o assunto sobre cultivar o amor foi discutido. Visto que maridos e esposas deveriam considerar com atenção esse assunto, nós queremos apresentar um

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discussão sobre a importância de cultivar o amor do ponto de vista budista.

Como cultivar o amor

Viver juntos como marido e mulher pode ser difícil ou fácil. Se alguém fizer uma pergunta sobre como o marido e esposa podem viver juntos felizes, não haverão duas respostas iguais. Alguns dirão que depende da astrologia ou do destino. Os cínicos dirão que depende do tamanho do dote. Buda respondeu a essa pergunta em uma palavra: benevolência. Isto é benevolência mútua, a prática das formas universais de benevolência (Sańgahavatthu), promete felicidade numa vida juntos.

1. Entrega (Dāna) O amor e a vida de casado exigem compartilhar. Todos

devem colocar os rendimentos num cofre em comum e compartilhar. Caso contrário, haverá espaço para a desconfiança. Onde não houver entrega, a atmosfera se torna muito desagradável. Além disso, compartilhar também inclui o compartilhamento dos problemas. Quando alguém tem um problema, a outra parte deve estar propensa a estender a mão amiga.

2. Palavras gentis (Piyavācā) Tenha cuidado ao dar conselhos, ser muito franco pode

ferir o ego dos outros e dar vazão ao ressentimento. A regra prática é que as palavras gentis usadas antes do casamento devem continuar a ser usadas durante o casamento.

3. Benefício mútuo (Atthacariyā) O marido e a mulher podem se ajudar conversando

sobre o que é certo e o que é errado com base no Dhamma

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que estudaram. Eles devem sempre continuar a obter sabedoria do Dhamma e colocá-lo em prática. Geralmente, quando o marido e a mulher brigam, eles tentam colocar a culpar no outro, quando na verdade ambos são culpados de não encontrar o caminho certo para evitar os conflitos.

4. Exemplos certos (Samānattatā) O homem deve ser um bom pai e a mulher deve ser

uma boa mãe. Cada um deve assumir responsabilidades tanto dentro como fora de casa. Somente a meditação os permitirá atingir totalmente esse objetivo. Aqueles que praticam meditação até o pensamento ficar claro saberão como se comportar. Eles não permitirão que influências externas afetem seu comportamento.

Em resumo, praticar as quatro formas universais de benevolência é o mesmo que praticar as três ações meritórias básicas, que são: Entrega, compartilhamento das coisas

Seguir os Preceitos – para aperfeiçoar os princípios morais, tanto em palavras como em atitudes.

Meditação – a meditação limpa a nossa mente, e uma mente limpa abre a porta para a sabedoria, e a sabedoria mostra o caminho para as atitudes apropriadas.

Responsabilidades do marido e da mulher

Para manter o amor do casal vivo, o marido e a esposa deverão saber todas as responsabilidades que possuem um com o outro; essas responsabilidades são baseadas nas quatro formas universais de benevolência.

1. Cinco responsabilidades do marido em relação à esposa

1.1 Respeito. O�homem deve respeitar sua mulher como legítima esposa, e não mantê-la secretamente

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como uma amante. Se a sua esposa fizer algo de bom, elogie. E se fizer algo de ruim, chame a atenção dela, mas não em público ou em frente de outros membros da família porque isso poderá diminuir o prestígio dela perante os outros. Ele deve dar à esposa um pouco de privacidade e independência, como a vida social ou passar um tempo com os parentes dela. 1.2 Depreciação O marido não deve considerar a esposa inferior a ele, em termos de prestígio familiar, riqueza ou inteligência. Ele não deve resolver qualquer assunto familiar sem consultá-la. Ele não deve usar de violência física ou abuso emocional. 1.3 Lealdade. Ele não deve ter mulheres como amantes porque isso é o pior insulto para a esposa. O orgulho de toda mulher é ter um marido que seja fiel a ela. 1.4 Autoridade. O marido deve dar à esposa autoridade para decidir sobre assuntos da família, como aqueles relacionados à cozinha.. Se houver algo que a sua esposa não puder resolver sozinha, então ajude-a. 1.5 Acessórios É natural da mulher prestar atenção à aparência, e adorná-las sempre as fazem felizes. Isso até elimina o mau humor em algumas delas. Por isso, todos os maridos devem permitir essa tendência.

2. Cinco responsabilidades de uma esposa em relação ao marido

2.1 Cuidado de arranjos domésticos Uma mulher deve ser uma boa governanta, preparar deliciosas refeições e manter a casa limpa. 2.2 Consideração. Ela deve ser prestativa aos parentes do marido e ser gentil com eles verbalmente. 2,3 Lealdade. Ser sempre fiel a seu esposo. 2,4 Parcimônia. Não deve ser esbanjadora ou sovina.

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2,5 Diligência. Ela trabalhará arduamente para tomar conta da casa e não se entregará aos vícios.

Em um casamento tailandês tradicional, a família e os

amigos derramam água sagrada nas mãos dos noivos, que estão usando uma coroa de flores na cabeça, o que significa que eles serão unidos por um longo tempo. Infelizmente, esse símbolo não é garantia de um casamento harmonioso. Buda nos ensinou o caminho para a unidade, não com coroa de flores, mas com Dhamma, que é a benevolência. A presença de Dhamma será como dois laços que mantêm o casal junto até a morte.

Apesar do comportamento do cônjuge, nunca se deve duvidar do Dhamma. Ocasionalmente, o marido pode se desviar ou a esposa recorrer a comportamento frívolo, perdendo tempo e dinheiro, deixando a casa em desordem. A maneira certa de resolver esse conflito é continuar fazendo o bem, tomar conta do outro e mantendo a própria bondade. Fazendo isso, a situação melhorará.

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Capítulo 4

A mãe da bondade suprema dentro de casa

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O�budismo contém ensinamentos, que foram usados como referência por pessoas durante milhares de anos, sobre as maneiras de cultivar uma família cordial e gentil . Também é certo que muitas teorias modernas sobre a dinâmica familiar podem ser encontradas na doutrina budista. Além do mais, os textos budistas contém uma compreensão ainda mais completa da dinâmica familiar do que as teorias atuais. Os pontos contidos em Ten Suggestions from a Father to His Daughter on Her Wedding Day (Dez sugestões de um pai para a filha no dia do seu casamento) acabaram por tornar uma filha em uma figura importante na família do marido. Seu esposo, pais e parentes lhe deram amor, respeito e ternura. Ela então se tornou conhecida e glorificada como A Mãe da Bondade Suprema Dentro da Casa. Quem era Visakha? Visakha, uma Upasika suprema [uma discípula leiga de Buda], era uma pessoa muito importante no budismo. Ela foi responsável pela construção de Wat Buppharam, um dos muitos ashrams (santuários), um centro que ajudava a difundir o budismo por toda a Índia na época de Buda . O templo foi construído na cidade de Savatthi, no distrito de Kosala. Uma grande fortuna foi gasta para construir uma residência de dois andares, com mil quartos para os Bhikkhus. Além disto, ela também foi a primeira pessoa que pediu permissão do Senhor Buda para oferecer túnicas para os Bhikkhus usarem durante a retiro da estação chuvosa. Essa oferenda se tornou uma tradição que os discípulos de Buda mantém até hoje.

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Visakha nasceu em uma família rica no distrito de Magadha, o maior do país. O nome do seu pai era Dhananjaya.

Certa vez, quando seu distrito passava por uma crise econômica, o rei Pasenadi de Kosala fez um pedido especial para o rei Bimbisara de Magadha que fizesse Dhananjaya o ministro de finanças de Kosala. O rei Bimbisara consentiu que Dhananjaya se mudasse de Magadha para Kosala, junto com sua filha. Quando eles chegaram em Magadha, que ficava a cento e doze quilômetros da capital Kosala, Dhananjaya pediu ao rei Pasenadi, “A cidade é pequena e há várias pessoas comigo. Seria inconveniente morar na cidade. Peço permissão para construir uma nova cidade nesta parte tranqüila do distrito.” O rei anuiu ao seu pedido e Dhananjaya fundou uma nova cidade chamada Saketa. O nome dessa cidade pode ser encontrada na história da índia e existe até hoje. Visakha também tinha um avô cujo nome era Mendaka que era um dos homens mais ricos de Magadha. Sua família exercia uma função muito importante na economia de ambos os distritos no tempo de Buda. Dez sugestões de um pai para a filha no dia do seu casamento Quando atingiu a idade adulta, Visakha teria que casar com o filho de uma outra família em Kosala. O pai dei o seguinte conselho a ela:.

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1} Não deixe o fogo interno tornar-se externo. Não revele nenhum problema familiar para as pessoas que não sejam da família. 2} Não deixe o fogo externo entrar Significa não trazer problemas externos para dentro da casa. 3} Ofereça ajuda àqueles que nos ajudam Se pudermos ajudar aqueles que necessitam, ajudemos. Por isso, se eles puderam nos ajudar, podemos confiar neles quando estivermos precisando. 4} Não ofereça ajuda àqueles que não ajudam nada Se estiver sendo explorado pelas pessoas a quem você ofereceu ajuda, ou se eles se recusarem a ajudá-lo quando você precisar, não os ajude novamente e não confiem na ajuda deles no futuro. 5} Se oferecerem ajuda ou não, seja generoso com os parentes Se os parentes passarem por tempos difíceis e procurarem a sua ajuda, você deve ajudá-los mesmo sabendo que eles nunca devolverão as coisas que emprestamos a eles. Eles ainda são nossos parentes. 6} Certifique-se de que ao alimento seja afável . Certifique-se de que a refeição servida para a família é saudável e que os parentes sejam bem tratados quando se tratar de alimentação. 7} Encontre um lugar apropriado para sentar. Isso significa que é preciso saber e mostrar o nível apropriado de respeito. Por exemplo, seria desrespeitoso sentar num lugar mais alto do que a sogra. Demonstrar respeito apropriado na mesa de jantar permitirá uma refeição pacífica. 8} Encontre um lugar apropriado para dormir Certifique-se de que o lugar de dormir de cada pessoa na família é adequado. Prepare-se para ser o primeiro a levantar e o último a ir deitar na casa. Certifique-se tomar conta de todos os negócios antes de ir para a cama, desse modo você descansará em paz.

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9} Respeite o fogo interior. A fúria dos seus parentes ou do seu marido pode ser comparada ao fogo. Quando estiverem gritando ou nos repreendendo, fique calma e não discuta com eles. Nessa situação, palavras exasperadas só fazem piorar a situação. É melhor esperar até que não estejam mais com raiva antes de explicar-lhes gentilmente a situação. 10} Homenageie os anjos. Sempre que os parentes do seu marido ou o próprio realizar uma boa ação, tente elogiá-los e encorajá-los para que continuem com o bom comportamento deles. Visakha empregou essas dez sugestões do seu pai para ganhar o coração e afeto do marido, parentes e criados. Tornou-se uma tradição para as mulheres que estavam prestes a se casar estudá-las, até hoje. Dizem que toda família que tem uma esposa ou nora que pratica essas dez sugestões tem “A Mãe da Bondade Suprema Dentro de Casa.” Por favor, ajude a diminuir o seu fardo e a cuidar muito bem dela para a paz e felicidade dos filhos e da família do futuro .

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Capítulo 5

O nascimento de uma pessoa meritória

Todos ficam alegres quando há uma novo membro na família. Algumas dessas famílias ficam tão exultantes a ponto de convidar monges para receber as oferendas em casa durante sete dias. Algumas famílias celebram sete dias e sete noites. A alegria é uma reação natural a um nascimento iminente, e também uma oportunidade para refletir uma importante questão: apesar de nascermos como seres humanos e nos relacionarmos uns com os outros, o que nos torna diferentes? O que determina nossas diferenças?

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Nascemos no mesmo mundo, mas não sabemos como viemos a existir? Não sabemos onde nosso planeta está situado no universo. Nós nem sabemos para onde vamos depois de morrer. Para todos os lados que virarmos há várias perguntas cujas respostas ainda estamos procurando. Por que algumas pessoas morrem no ventre da mãe enquanto outras sobrevivem para ver o mundo? Por que alguns nascem fortes e outros nascem surdos ou cegos? Por que algumas pessoas nascem em uma família rica e outros nascem tão pobres que não conseguem nem sugar uma gota do leite da mãe? Por que alguns nascem na alta sociedade e outros não? Como é possível duas pessoas crescerem na mesma família, trabalharem no mesmo emprego e pensarem da mesma maneira, e uma se tornar pobre a outra rica? Fora isso, a pergunta mais intrigante de todas: por que nascemos como seres humanos e outros seres vivos nascem como animais?

Todas essas diferenças sociais e físicas são vistas como normais para nós, até o ponto onde raramente admitimos a existência delas. Todavia, se nós refletirmos sobre elas profundamente, veremos que elas devem ter uma razão para existirem. Nós só não sabemos onde encontrar essas razões.

Se não conhecêssemos o budismo, nunca saberíamos responder a essas perguntas. Os ensinamentos do budismo nos permitem ver a origem dessas diferenças e nos fazem compreender a lei que rege o mundo: a Lei do Kamma

As diferenças encontradas na vida dependem do kamma de cada indivíduo.

O fato é que todas as pessoas nascem como seres humanos, mas variam na porção de felicidade ou Dukkha (sofrimento) é uma indicação de que os frutos do kamma

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e sua retribuição se originam de existências anteriores. Um monge superior também discutiu o Kamma:

“A palavra kamma é uma palavra neutra que não implica bem ou mal visto que kamma significaação. Uma ação sempre requer uma conseqüência. Por que nos sentimos cheio? Porque acabamos de comer. Do contrário, estaríamos com fome.

Na física, existe uma lei que declara que a energia de uma ação é igual à energia da reação oposta. Isaac Newton descobriu isso e chamou de terceira lei de movimento. Em termos de Dhamma nós podemos dizer que qualquer que seja sua ação, sempre haverá uma reação ao contrário.

Os cientistas descobriram esta lei do mundo da física e o mundo a aceitou só há pouco mais de 300 anos. Mas o Senhor Buda descobriu a lei da kamma e ensinou-a ao mundo mais de 2.500 anos atrás, e o que ele descobriu foi muito mais profundo e compreensível.

Vamos admitir, como exemplo, o aborto. Se analisarmos essa situação superficialmente, pensaríamos que o filho em gestação não teve escolha. Foi culpa dos pais por não desejarem ter a criança, assim eles escolheram o aborto. O Senhor Buda nos ensinou a não ver qualquer situação superficialmente. Ele nos ensinou a analisar a situação profundamente e fazer perguntas Se havia vários possíveis pais neste mundo, por que o bebê não nasceu em outra família, mas entrou no ventre da mulher que o abortaria?

Isso acontece porque a criança que ainda não nasceu têm o kamma de matar animais numa vida anterior. Quando

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chegou a hora dela nascer, devido a punição pelo assassinato, ela foi concebida no ventre de uma pessoa que também gostava de matar animais. A mãe e o bebê devem ter uma kamma equivalente para que a criança entre no útero da mãe. Do contrário, a concepção não aconteceria. Uma vez dentro do útero, a mãe sofreria um enjôo matinal e teria desejado matar animais. Ou ela desejaria consumir sangue fresco para reduzir o enjôo, acreditando que se ela não o tomar , o enjôo não passará.

Para outros, as circunstâncias podem ser ainda piores. Quando a mãe sente enjôo pela manhã, ela pode querer se livrar do feto imediatamente através de um aborto. Este é o resultado de uma kamma mais grave. A conseqüência de uma ação é muito mais complexa do que realmente pensamos. Por exemplo, quando há um aumento nos nascimentos de pessoas com kamma anterior de assassinato, o acúmulo resultante de kammas se torna coletivo e o governo dessas pessoas aprovam leis que permitem o aborto.

Quando uma pessoa com virtudes entra no útero, como isso afeta a mulher?

O Senhor Buda explicou que quando uma pessoa com grande virtude entra no útero, o fruto da virtude trará mais prosperidade para a família. A mãe aguardará a vinda do seu filho com entusiasmo. Ela fará oferendas e pedido para uma criança abençoada nascer dela. Quando alguém de um reino afortunado está pronto para renascer, ele escolherá a melhor e mais generosa mãe. Uma vez dentro do útero, trará boa sorte para a mãe e ele mesmo.

A força da virtude dessa pessoa é uma coisa interessante. Se a mãe sofre de enjôos matinais, ela não terá nenhum alívio, não importa o quê ela faça, até oferecer esmolas. Isso aliviará os sintomas da mãe imediatamente.

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Isso implica que a criança em gestação, na sua existência prévia, sempre fez Dana (doação, no idioma Pali). A presença do bebê a influencia a dar esmolas. Para um pessoa que adorava cantar em uma existência anterior, quando a sua mãe sente enjôos, o bebê no útero fará com que ela cante para que obtenha alívio. Quando a mãe canta e medita, a criança se sente feliz junto com ela.

As diferenças físicas e sociais entre as pessoas neste mundo resultam do kamma anterior e do kamma atual. Uma parte dessa equação não pode ser alterada porque ela é a conseqüência de uma ação que nós já realizamos. Entretanto, sempre temos uma nova oportunidade de criar um futuro melhor para nós mesmos. O Senhor Buda nos ensinou a parar de acumular mais kammas ruins. O kamma ruim que acumulamos hoje nos acompanharão e suas consequências aumentarão no futuro. Por isso, evite juntar kamma ruim, mesmo os menores. Isso só lhe beneficiará.

O cerne do budismo é evitar fazer más ações, realizar apenas boas ações, e purificar a mente até que esteja limpa e lúcida. Essas três ações são boas ações, algumas das boas consequências resultam em kamma bom, que nos fará mais felizes. Quando realizamos boas ações, algumas das consequências boas são imediatamente expressas nesta vida enquanto o restante construirá o alicerce da felicidade eterna nas vidas futuras.

Para nós, que já nascemos neste mundo, devemos suportar as situações nas quais nos encontramos. Concentre-se em realizar mais boas ações e não se influencie por pensamentos ruins. A�técnica para manter nossas mentes fortes é nada mais do que meditação. Quanto mais você meditar, mais forte ficará para realizar mais boas ações.

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Quando nós observamos o mundo e entendemos os efeitos do kamma, ficaremos determinados a ter uma vida honesta e direita. As consequências do kamma são reais e darão frutos. Se realizarmos boas ações, receberemos consequências boas. Se realizarmos más ações, as consequências serão ruins. Os ensinamentos de Buda são verdadeiros e foram analisados em muitos milhares de anos. Tenha consciência das diferenças que existem entre as pessoas do mundo. Essas são as condições em que nascemos e elas provam que as consequências do kamma são reais. Por isso devemos nos concentrar na realização de boas ações.”

O Senhor Buda nos ensinou que:

1] A morte não é o fim de tudo. 2] Você irá para o paraíso se realizar boas ações. 3] Você irá para o inferno se realizar más ações. 4] Quando você extinguir toda a sua kilesa (impurezas

da mente) você entrará em Nibbāna (Nirvana).

À medida que continuarmos no ciclo do nascimento e renascimento, devemos nos concentrar em eliminar as más ações e somente em acumular boas ações. Purificar a mente sempre que possível nesta vida. Os méritos que acumularmos de nossas boas ações nos farão renascer com uma forma física saudável, riqueza e sabedoria. Além disso, nasceremos em uma família que valoriza as virtudes. Isso nos dará a oportunidade de sermos bem sucedidos na vida presente e futura, até exaurirmos todas as impurezas.

Ao mesmo tempo, se os pais quiserem conceber uma criança virtuosa, eles, também, devem se concentrar em realizar boas ações, cantar e meditar até a mente ficar limpa e lúcida. Se eles desenvolverem suas próprias virtudes, eles

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podem receber uma criança virtuosa em suas vidas que trará felicidade a essa família.

Capítulo 6

Ensinando o filho

que está por nascer

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Todo pai deseja que seu filho seja saudável e bom. Entretanto, há muitos pais que não entendem que para ter um bom filho eles têm que ter bom comportamento e estar preparados para se tornarem pais, mesmo antes de se casarem. Eles não devem esperar para começar depois que o bebê chegar. Desse modo, eles não serão bons exemplos para suas crianças. É improvável que os filhos cresçam para ser o bom filho que os pais desejam. Por isso, é bom apresentar o assunto da Transferência de Bom Comportamento Para o Bebê no Útero. A transferência de bom comportamento para o bebê, de acordo com os ensinamentos budistas, devem ser realizados antes do bebê nascer.

Nascer como ser humano não requer apenas a combinação do esperma do pai e o óvulo da mãe, mas também a concepção espiritual da criança no útero. O minúsculo ser só começa a viver no útero da mãe sob a condição de possuir kamma, seja de mérito ou demérito, em um nível semelhante a de seus pais, na época da concepção. Assim, se os pais são saudáveis, bondosos e de bom coração, há uma boa chance de que a concepção da criança ocorra no útero da mãe. Os ensinamentos ao bebê devem ocorrer antes da gravidez, para isso os pais precisam se manter saudáveis de corpo, espírito e palavras. Elimine todos os maus comportamentos e siga à risca os Cinco Preceitos na preparação da concepção da criança. Já muito antes, os novos pais devem iniciar o seu treinamento antes de se casarem. Tão logo percebam que a esposa está grávida devem se esforçar ainda mais no cuidado

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com o feto. Eles devem tomar ainda mais cuidado com suas atitudes, seja ao caminhar, ao se movimentar, ao consumir alimentos (especialmente comidas condimentadas), ao consumir toda espécie de bebida alcoólica, ao ingerir remédios ou mesmo ao demonstrar mau-humor. Os pais devem se certificar de que essas coisas não os afetem porque elas tendem a influenciar o comportamento do bebê. A população da China entendeu isso muito bem. Há uma fábula chinesa chamada de “ensinando o filho que está por nascer” que tem sido recontada sucessivamente desde tempos antigos. Durante o período de Cheng Meng (uma tradição chinesa de devoção ancestral), quando duas irmãs estavam indo prestar respeito no santuário da família, elas encontraram um saco de dinheiro que tinha caído na margem da estrada. Contente, a irmã mais jovem disse para a sua irmã mais velha:

“Querida irmã, temos tanto sorte. Com certeza, é a nossa boa fortuna.” A irmã mais velha respondeu, “Minha amável irmã, não podemos ficar com esse dinheiro.”

“Por que não?” a irmã mais jovem respondeu, perplexa.

A irmã mais velha respondeu, “Durante os três meses em que estou grávida, ensinei ao meu bebê sobre as boas virtudes. Eu o ensinei a ser uma pessoa que não cobiça as coisas alheias. Devemos aguardar aqui um pouco até que o dono legítimo apareça.”

No mesmo momento, uma mulher ia passando e viu as duas irmãs pegando o dinheiro. Ela esperou na margem

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antes de vir e perguntar a elas, "vocês viram um saco com dinheiro?

A irmã mais jovem respondeu, “Está aqui.”

A mulher falou com os olhos bem abertos, "É o meu dinheiro que eu larguei. Por favor, devolva-o para mim; minha mãe está esperando para ir comprar álcool com esse dinheiro."

A irmã mais velha perguntou então ,“Quando você o largou?”

A mulher desviou da pergunta e disse, “Não me pergunte demais.”

Ao mesmo tempo, uma outra mulher se aproximou com lágrimas nos olhos. Ela perguntou tremendo,

“Gostaria de saber se vocês viram um saco de dinheiro neste lugar. Há pouco, eu o estava carregando quando passava por este caminho para ir comprar ouro e papel prateado para enterrar com o corpo da minha mãe, mas eu o deixei cair sem saber .” Quando a primeira mulher ouviu o relato da história real, ela fugiu. As duas irmãs deram o saco de dinheiro para a segunda mulher. Ela era a verdadeira proprietária. Ela ficou muito impressionada e agradeceu as duas. Depois, as irmãs continuaram a caminhar. A irmã mais jovem disse, “Querida irmã, você resolveu o problema muito bem. Eu pensei que se alguém dissesse que era o dono do dinheiro, você o daria a essa pessoa imediatamente.”

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A irmã mais velha respondeu, “Para ajudar as pessoas, você deve ajudá-las até o final. Não importa o trabalho que você faça, nunca abandone alguém. Quando começar a ajudar, continue ajudando até que tenha terminado. Não seria mais fácil ficar com o dinheiro do que entregá-lo facilmente à mulher gananciosa que fingiu ser a dona? Uma vez que o pegamos, temos que localizar o dono verdadeiro. Se eu quiser que o meu filho seja bom, então eu tenho que ensiná-lo enquanto ele ainda estiver no ventre." A irmã mais jovem acenou admiravelmente. Essa fábula está incluída aqui para mostrar que ensinar uma criança para ser boa deve começar enquanto ela ainda estiver no ventre. Se a mãe sentir que está grávida, mas continuar a ingerir bebidas alcoólicas e fumar, e o seu marido continuar a persuadi-la a pensar, falar e fazer más ações, o feto se tornará acostumado a essas coisas ruins enquanto ainda estiver no útero. Esses comportamentos criam a possibilidade de gerar uma criança deficiente. Todavia, se os pais tentarem familiarizar o bebê com boas virtudes ainda no útero, eles conseguirão sem dúvida o nascimento de uma boa pessoa. Por isso, para ensinar o bebê a ser uma pessoa boa, os pais devem ter boas lições para ensinar a seus filhos mesmo antes da concepção. Isso garante que os pais irão gerar um bom filho e criá-lo para ser uma boa pessoa até o fim.

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Parte Dois

Educando os filhos

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Capítulo 7

Criando os filhos para serem

inteligentes e virtuosos

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Nosso mundo parece ficar menor em relação à sua interligação. As mudanças que ocorrem ao redor do mundo nos afetam diretamente no âmbito social e econômico. A força da família, a sociedade e o país dependem de quanto conhecimento, capacidade e virtudes os pais têm para criar os filhos inteligentes e virtuosos. Aprender maneiras de criar filhos inteligentes e virtuosos é uma tarefa importante que os pais não devem menosprezar. Uma criança inteligente, mas não saudável, não sobreviverá; uma criança saudável, mas não inteligente, também não durará. Uma criança deve ser inteligente e saudável para obter sucesso neste mundo. Em algumas famílias, observamos que pais virtuosos têm filhos inteligentes, mas os pais não sabem como criá-los. Como resultado, os filhos se tornam problemáticos e os pais se perguntam o que deu errado na criação deles. Quatro tipos de famílias Para criar os filhos a serem inteligentes e virtuosos, os pais devem sempre seguir estas duas recomendações. 1. Os pais devem ter a sabedoria necessária para educar os filhos para serem inteligentes e virtuosos. 2. Os pais devem investir tempo para ensinar os filhos a serem inteligentes e virtuosos. Diferentes famílias interpretam e aplicam essas duas recomendações de várias formas, por isso, hoje existem quatro tipos de família.

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Tipo I: Uma família que tem tempo mas não tem sabedoria Tipo II: Uma família que tem sabedoria mas não tem tempo. Tipo III: Uma família que não tem sabedoria nem tempo. Tipo IV: Uma família que tem sabedoria e tempo. Nos primeiros três tipos de família, os filhos recebem muito pouco ensinamento moral. Algumas crianças vêm de família rica, têm tudo o que desejam, mas recebem pouca atenção dos pais. Essas crianças têm grande probabilidade de se tornarem doentias. As crianças das famílias do Tipo IV�recebem conhecimento contínuo e ensinamentos morais dos pais. Os pais nunca deixam os filhos à mercê da natureza. Mesmo se os pais não foram ricos, seus filhos têm a capacidade de construírem um futuro sólido. Sabedoria na educação dos filhos Existe um conjunto básico de princípios budistas de como educar os filhos para serem inteligentes e bem comportados. Esses princípios podem ser encontrados em um livro entitulado, "How to Raise the Children to Be Good People for the Nation (Como educar os filhos para serem boas pessoas para a nação)", escrito por The Moral Development através da Education Foundation (fundação educacional). Pedimos a permissão deles para compartilhar

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os ensinamentos desse livro. O leitor pode consultar esse livro se forem necessários mais detalhes. Os pais podem pensar em ter um bebê se puderem claramente resolver estes 4 pontos: 1. Que qualidades devem ter os filhos? 2. Como os filhos formam bons ou maus hábitos? 3. Como os pais podem cultivar bons hábitos nos filhos? 4. Como um corpo são e mente sã promovem a inteligência nos filhos? Os pais devem ter consciência e serem capazes de responder a essas quatro perguntas antes de ter um bebê. As respostas vêm dos ensinamentos do Senhor Buda: Que qualidades devem ter os filhos? Os bons filhos devem ter três características, que são tiradas a partir de três características supremas do Senhor Buda: 1} Corpo são e mente sã ou não ser problemático (A pureza absoluta do Senhor Buda) 2} Inteligência ou não ser ignorante (A sabedoria suprema do Senhor Buda) 3} Demonstrar preocupação com as pessoas (A compaixão suprema do Senhor Buda) Toda criança que possuir essas três características é considerada um bom filho. Essa criança é portanto um bom receptáculo para receber conhecimento dos professores

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e parentes. Essas características formam uma plataforma da qual podem se desenvolver mais virtudes, como o solo rico e fértil que permite a uma planta se desenvolver bem. De onde vêm os hábitos dos filhos? Depois que os pais aprendem que bons filhos não devem ser problemáticos, ignorantes ou negligente com os outros, a pergunta agora é, como os pais cultivam esses qualidades nos filhos? Boas qualidades são implementadas nos filhos através do cultivo de bons hábitos. Os hábitos são familiaridade ou o comportamento individual de cada pessoa. Eles são desenvolvidos com pensamentos repetitivos, palavras e atitudes. Essas atividades repetitivas, por sua vez, influenciam o quão bons ou maus nós somos. Se os pais permitirem que seus filhos pensem, falem e ajam prejudicialmente, não obstante a escala, seus filhos se tornarão acostumados à transgressão, que cultiva maus hábitos. Os filhos provavelmente serão pessoas más. Mas se os pais ensinarem os filhos a sempre se ocuparem com ações benéficas, não obstante a escala, eles irão de acostumar a fazer a coisa certa até se tornar um hábito. Dessa forma, serão bons indivíduos no futuro.

As pessoas sempre pensam, falam e agem de acordo

com três coisas diferentes:

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1) Uso dos quatro requisitos, que são vestuário, alimentação, moradia, remédio. 2) Nossas atribuições 3) Nossa rotina diária. Os hábitos se desenvolvem a partir do modo que nós utilizamos os quatro requisitos. Por exemplo, três filhos que são alimentados usando rotinas diferentes desenvolverão hábitos diferentes. O primeiro filho: A mãe o alimenta de forma irregular . O filho chora sempre que está com fome e não é alimentado na hora certa. Ele se irrita facilmente e chora quando precisa de atenção. Ele desenvolve um hábito de violência e agressão para obter o que deseja. É como os pais que têm um bebê tigre para criar. O segundo filho: A mãe o alimenta todo o tempo. Mesmo quando a criança não está com fome, ele é alimentado com leite. Ele se torna obeso, mas feliz. Entretanto, ele desenvolverá um hábito de preguiça e indolência. Nessa caso, os pais têm um bebê porco para criar. O terceiro filho: a mãe o alimenta de acordo com um horário. O filho desenvolve um hábito de pontualidade e crescerá uma pessoa saudável, razoável, feliz e um bom tomador de decisões, sendo alguém fácil de lidar. Nesse caso, os pais têm um sábio para criar. Hábitos bons ou maus vêm da repetição de pensar, falar e agir da criança. Em particular, é como eles utilizam os quatro requisitos, como eles trabalham e como eles executam atividades rotineiras.

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Os pais podem incutir saúde, inteligência e compaixão em relação aos outros ensinando aos filhos respeito, disciplina e tolerância, em relação ao uso que fizerem dos quatro requisitos, atribuições e atividades diárias. A criança, em contrapartida, criarão bons hábitos (as três características). Educar o filho para ser inteligente Os pais que desejam ter filhos inteligentes podem cultivar a sabedoria ensinando-os respeito. Respeito é um sinal de apreço em relação à verdadeira virtude ou benefício de uma pessoa ou objeto. A sabedoria pode ser dividida em sabedoria terrena e sabedoria de Dhamma. Sabedoria terrena é a sabedoria ou conhecimento adquirido através da educação. Ela é necessária para nos sustentarmos. Todavia, sem princípios morais para controlar o conhecimento, os filhos podem fazer mal uso dela. Por exemplo, um farmacêutico que produz e trafica heroína, ao invés de realizar a pesquisa de um novo medicamento. A sabedoria terrena deve funcionar junto com a sabedoria de Dhamma. A sabedoria de Dhamma é a sabedoria de decidir o que é certo ou errado, bom ou mal, adequado ou inadequado. Os filhos obtêm esse conhecimento a partir dos ensinamentos de Buda. Na prática, os pais devem ensiná-los a respeitar e ouvir as palavras de sabedoria e as experiências de vida dos mais velhos, bem como aprender sobre as pessoas e o mundo sempre em transformação.

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A sabedoria de Dhamma se origina de sete fontes. Ao respeitar essas fontes, obter-se-à sabedoria: 1] Respeito pelo Senhor Buda. 2] Respeito pelo Dhamma. 3] Respeito pelo Sangha (comunidade monástica). 4] Respeito pela educação. 5] Respeito pela meditação. 6] Respeito pela prudência. 7] Respeito pelos votos. Quanto mais os pais ensinam os filhos a ver as virtudes dessas sete fontes, mais os filhos obtêm sabedoria de Dhamma. Os filhos são muito afortunados se eles nascem de pais que estudaram Dhamma a partir das sete fontes de sabedoria e estão preparados para transmitir essa sabedoria aos filhos antes de se casarem. Os pais terão um sábio como filho. Os filhos terão pais que são capazes de ensinar a sabedoria de Dhamma para eles. As futuras gerações serão saudáveis e trarão prosperidade para a família. Educar o filho para ser saudável Filhos sãos têm pais que os ensinaram a ter disciplina tanto na vida terrena como na vida de Dhamma A disciplina é ensinada junto com o uso dos quatro requisitos, suas atribuições e nas suas vida diária. Os pais devem dar um exemplo através do seu próprio comportamento. As quatro disciplinas mundanas são:

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1} Disciplina ao usar as palavras. Para ensinar um filho a ter disciplina ao falar, os pais devem falar adequadamente (com educação, honestidade e boas intenções). Os pais devem apontar as consequências negativas da mentira, isto é, ela solapa a qualidade da mente e provoca a negligência. 2} Disciplina com o tempo. Ensinar um filho a ter disciplina com o tempo é ensiná-lo a acordar, comer e dormir na hora certa. Acordar na hora certa significa levantar-se cedo pela manhã para evitar que o filho durma todo o tempo. Em particular, se uma garota acorda tarde, isso pode acabar com o casamento dela no futuro. Comer na hora certa significa que um filho deve comer nos horários certos das refeições. Se os filhos adquirem gastrite, existe a probabilidade de terem esse sintoma o resto da vida, isto é, eles sentirão dor na barriga sempre que estiverem sob pressão. Dormir na hora certa significa ir dormir nas primeiras horas da noite. Se os filhos dormirem tarde, não desejarão acordar cedo. Quando seus pais os acordam, eles pedem para dormir mais, iniciando o dia com uma discussão. Eles se tornarão pessoas enganadoras. 3} Disciplina com limpeza. Filhos sujos não são bem recebidos na sociedade. Os pais têm que ensiná-los a como se manter limpos, por exemplo, como tomar banho em menos tempo usando menos água e sabão, mas ainda ficando limpo. 4} Disciplina com organização.

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Os filhos que não têm organização tendem a ter conflitos quando trabalharem com outras pessoas. Eles não conseguem cumprir procedimentos esquematizados ou preparar e concluir seu trabalho, resultando em dificuldade em atingir o sucesso. As disciplinas de Dhamma estão arraigadas nos Cinco Preceitos: Os filhos que não mantêm os Cinco Preceitos terão problemas na vida adulta, assim como em seus casamentos. Além do mais, se a vida for desfavorável, poderão cometer um crime no futuro:

1) Se eles não seguirem o primeiro preceito (não matar) então: Eles podem cometer homicídio.

2) Se eles não seguirem o segundo preceito (não roubar)

então: Eles podem se envolver em corrupção 3) Se eles não seguirem o terceiro preceito (Não ter

conduta sexual inadequada) então: Eles podem se envolver com prostituição.

4) Se eles não seguirem o quarto preceito (Não mentir)

então: Eles podem cometer fraude. 5) Se eles não seguirem o quinto preceito (Não

consumir substâncias intoxicantes, como álcool ou drogas) então: Eles exacerbarão a distância dos caminhos para a ruína, (Apāyamukha), isto é, apostas em jogos de azar, consumo de álcool, vida noturna, etc.

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Educando um filho para mostrar preocupação com os outros Para que os filhos demonstrem preocupação com os outros, eles devem saber tomar conta de si mesmos. Desse modo, eles serão capazes de ajudar os outros. Para conseguir isso, os pais devem ensinar os filhos a terem tolerância. À primeira vista, parece suficiente para uma criança ser saudável e inteligente, mas a verdade é que isso não é o bastante. Ao nascer como seres humanos, devemos trazer benefícios aos outros também. Vamos supor que temos uma árvore frutífera. Nós cuidamos dela regando-a com água, arando e fertilizando o solo Dez anos se passam e ela ainda não deu frutos, então decidimos cortá-la. Em comparação, se os filhos não ajudarem os outros, ninguém desejará ajudá-los quando eles forem adultos. O vida será difícil para eles, e serão pobres durante toda a vida. Quando eles precisarem de ajuda ninguém vai querer ajudá-los, porque eles não se importam com os outros. Os pais podem ensinar os filhos a se importarem com os outros ensinando-os a ajudar a si mesmos, tendo tolerância em quatro níveis: 1) Tolerância com provações físicas Os filhos aprenderão a trabalhar duro e a não ter medo de trabalho pesado e provações físicas. 2) Tolerância à dor e ao sofrimento Os filhos estarão cientes da necessidade de cuidado com a própria

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saúde. Eles não serão enganadores e nunca fingirão estar doentes para sair da escola. 3) Tolerância a conflitos Os filhos aprenderão a trabalhar em equipe. Eles não terão complexo de inferioridade ou superioridade. Eles não se considerarão iguais aos adultos. Eles saberão quando interagir com os outros. 4) Tolerância aos estimulantes de impurezas (kilesa). Os filhos não se tornarão escravos do álcool e das drogas, atração sexual, dinheiro, elogio e outros problemas. Esses estimulantes provocam grandes problemas sociais. Por exemplo, a origem da corrupção está nos pais que não ensinaram os filhos a resistir aos estimulantes das impurezas . Eles não incutirão provérbios verdadeiros como, a honestidade sempre preencherá, a desonestidade apenas preencherá por pouco tempo. Além disso, eles encorajaram os filhos a adorar o dinheiro embora o dinheiro não possa comprar tudo, isto é, a pureza da mente. Quando os filhos são ensinados a escolher o dinheiro em detrimento da virtude, eles crescem para se importarem com nada a não ser o dinheiro. Não importa se eles o obtiveram por meios corruptos ou fraudulentos. Esse obstáculo impediu uma nação como a Tailândia de progredir, mesmo tendo mais recursos naturais do que muitos outros países. Como as virtudes podem se converter em inteligência para os filhos

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Depois de ler o livro, “How to Raise the Children to Be Good People for the Nation,”entendemos como as virtudes podem resultar em inteligência nos filhos Todos os filhos querem ser bons. Os filhos podem ser comparados a folhas brancas e os pais são os responsáveis por colorir as folhas. Se eles escolheram a cor certa e aplicar as técnicas certas, as folhas serão bonitas. Mas se as folhas não forem coloridas corretamente, eles serão consideradas danificadas, inúteis e desperdiçadas. Educar os filhos para serem inteligentes é muito mais complicado do que colorir folhas. Os erros são muito difíceis de corrigir. As pessoas em volta dos filhos devem ser o melhor exemplo para eles: 1] Os pais devem ser um bom exemplo para os filhos. 2] Os pais devem achar amigos bons para eles. 3] Os pais devem encontrar bons livros para eles lerem. 4] Os pais devem procurar bons professores para eles. Essas pessoas devem ser o maior exemplo para os filhos nestas áreas: 1} Abordagem adequada ao trabalho. 2} Abordagem adequada à administração do tempo. 3} Abordagem adequada ao usar os quatro requisitos. Eles podem ser um exemplo nessas áreas porque têm estas características especiais: 1) Habilidade de manter a qualidade. Uma pessoa que mantém a qualidade tenta o seu melhor para apresentar os melhores resultados

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em tudo que ela fizer. Ela tem uma compreensão do que constitui a alta qualidade e como ela pode ser atingida. Trabalha em sua capacidade máxima. Tem consciência dos obstáculos e problemas, e sabe como evitá-los. Uma pessoa que não tem respeito pela educação ou por outras pessoas, ou procura defeitos nos outros, não será capaz de alcançar esse nível de sabedoria. Ninguém irá compartilhar nada com ela.. Entretanto, se os filhos aprenderem sobre respeito em casa, e verem bons exemplos daqueles em volta deles, eles aprenderão a valorizar o respeito. Eles aprenderão o que é alta qualidade, uma abordagem adequada ao trabalho, e serão capazes de enxergar possíveis problemas. Eles serão muito capazes e eficientes no trabalho, do mesmo modo que os exemplos deles são. 2) Habilidade para administrar o tempo. Uma pessoa que administra seu tempo pode traçar um plano para o trabalho Não obstante o trabalho, ela pode ver todas as etapas dele, o que deverá ser feito antes, o que virá depois, quanto tempo levará cada etapa e quanto tempo durará todo o projeto. Se uma pessoa nunca aprendeu a administrar o tempo, ele não será capaz de concluir as tarefas. Aqueles que conseguem administrar o tempo, sabe valorizá-lo. Quando o tempo passa, nunca mais volta. Além disso, boas oportunidades passam, deixando o passado para trás. Quem não sabe administrar o tempo, terá o hábito de fazer as coisas à sua maneira. Eles não se sentirão confortáveis com prazos determinados. Sem disciplina para

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administrar o tempo, será difícil terminar o que foi planejado. As pessoas que conseguem gerenciar seu tempo, se exercitaram e se disciplinaram de antemão. Eles aprenderam quanto tempo é necessário em uma rotina básica ou para um projeto. Eles podem implementar um plano de acordo com um processo passo-a-passo, calculando o tempo necessário para conclusão exata, estando raramente errados. Por isso, quando os filhos recebem disciplina em casa e vêem exemplos de pessoas que são capazes de administrar o tempo, elas se tornam pessoas que apreciam o valor da disciplina e da administração do tempo. Essa é uma maneira de incutir o hábito da abnegação. Assim, eles serão capazes de seguir os passos dos seus exemplos. 3) Habilidade para administrar um orçamento. Uma pessoa que consegue administrar um orçamento é capaz de planejar melhor os gastos para obter o máximo de retorno com o mínimo de recursos. A pessoa que administra um orçamento deve saber o que é necessário e o que não é. Não deve ser esbanjadora com relação a isso. Essa pessoa deve, em primeiro lugar, avaliar se uma despesa beneficiará o grupo. Ela sabe que um orçamento apertado levará à qualidade inferior e um orçamento exagerado levará ao desperdício. Ela deve ser honesta; não deve ocorrer corrupção para benefício próprio ou em favor de amigos. As organizações que não possuem pessoas que saibam administrar um orçamento terão problemas financeiros por

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causa planos financeiros complicados e confusos. Isso causará atrasos nos projetos, perde de confiança entre os funcionários e até uma má reputação. Uma pessoa que é capaz de administrar um orçamento aprendeu a tolerar provações físicas, dor e sofrimento, conflito e estimulantes de impurezas. Com essa tolerância, ela sabe ser econômica no uso dos quatro requisitos. Tendo tolerância e exemplos apropriados, os filhos serão inteligentes com relação aos orçamentos e seguirão os passos dos seus exemplos da melhor maneira possível. Os filhos podem absorver essas três características das pessoas ao redor deles. Eles aprenderão aptidões em administração de qualidade, tempo e orçamento. Eles conseguirão terminar qualquer projeto atribuído a eles, usando o mínimo de tempo e recursos, o que é um grande vantagem em qualquer ambiente. É assim que a virtude se converte em inteligência; é através dos exemplos dados pelas pessoas ao redor deles. Conclusão Os pais devem transmitir conhecimento, habilidade e virtudes aos filhos até que desenvolvam inteligência e virtude que os guiarão a levarem a vida com beleza e orgulho. Para que os pais consigam transmitir essas qualidades para os filhos, eles devem: 1) Ficar a par de novas informações que os ajudem na educação dos filhos. Eles entenderão como os filhos se desenvolvem na sociedade moderna e os desafios que eles enfrentam.

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2) Afastar os filhos da imoralidade. Os pais devem se apressar para ensinar os filhos, ensiná-los a como usar os quatro requisitos, concluir seus afazeres e cuidar de suas rotinas diárias. Os pais devem pedir aos professores, parentes mais velhos e amigos para cuidarem dos filhos, bem como permitir que os filhos sejam advertidos quando fizerem algo de errado. Se os pais puderem fazer essas duas coisas, os filhos ficarão acostumados à decência mais do que a imoralidade. Os filhos sempre estão rodeados por aqueles que podem mostrá-los o pensamento, as palavras e atitudes corretas. Eles crescerão inteligentes e virtuosos. Essas duas qualidades os permitirão confiar em si mesmos e a viver suas vidas com beleza.

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Capítulo 8

Destruir pela bondade: Pais defendendo os filhos

quando eles se comportam mal

“O amor dos pais pode fazer mal às crianças” Esta frase pode ir de encontro aos sentimentos dos pais, mas na realidade existem muitas crianças que se tornam más porque seus pais as defendem quando fazem algo errado. Por isso, os pais ou aqueles que desejam formar uma família no futuro têm pontos muito importantes a considerar: Como podemos criar bem os filhos e como podemos evitar cometer o erro de amar nossos filhos da maneira errada, fazendo mal às crianças quando as defendemos ao fazerem algo errado?

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Não Fique Do Lado Das Crianças Quando Elas Fizerem Algo Errado É um erro muito grave quando os pais se colocam do lado de seus filhos quando estes se comportam mal ou fazem algo errado. As crianças acreditarão que "quando se faz algo bom se recebe algo bom em retribuição" é falso e "quando se comportam mal recebem algo bom em retribuição" é verdadeiro. Quando essas crianças crescerem elas tenderão a fazer coisas erradas constantemente. Seu comportamento irá causar um sofrimento eterno à sociedade. Os pais devem estar cientes das conseqüências de oferecer um apoio equivocado a seus filhos. Não demonstre amor à criança através de indulgência. Se eles cometerem um erro, os pais devem impor sua disciplina. É melhor para a criança sofrer um pouco agora do que permitir que sofra pelo resto de sua vida. Portanto, se os pais não se colocarem do lado das crianças quando elas fizerem algo errado, a criança irá aprender que praticar boas ações terá definitivamente boas conseqüências. Se elas praticarem más ações terão de sofrer as inevitáveis conseqüências desagradáveis. Entender os Parâmetros no Desenvolvimento de Hábitos Corretos A fim de incutir virtudes em seus filhos, os pais devem compreender que existem dois métodos para o desenvolvimento dos hábitos nas crianças.

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O primeiro método é desenvolver traços da personalidade baseados na hereditariedade. A transferência de traços da personalidade deve ocorrer bem no início, antes da chegada do bebê. Para que a concepção possa ocorrer a criança deverá ter uma combinação de bons e maus kammas, semelhante às pessoas que se tornarão seus pais. Assim, se os pais são saudáveis, bondosos e de bom coração há uma boa chance de que a concepção da criança ocorra no útero da mãe. Os ensinamentos ao bebê devem ocorrer antes da gravidez e isso exige que os pais se mantenham saudáveis de corpo, mente e palavras. Elimine todos os maus comportamentos e observe os Cinco Preceitos atentamente na preparação da concepção da criança. Já muito antes, os novos pais devem iniciar o seu treinamento antes de se casarem. Tão logo percebam que a esposa está grávida devem se esforçar ainda mais no cuidado com o feto. Eles devem tomar ainda mais cuidado com suas ações, seja ao caminhar, se movimentar, consumir alimentos (especialmente comidas condimentadas), ao consumir toda espécie de bebida alcoólica, ao ingerir remédios ou mesmo ao demonstrar mau-humor. Os pais devem certificar-se de que essas coisas não os afetem porque elas tendem a influenciar o comportamento do bebê. O segundo método é desenvolver os traços da personalidade influenciados pelo meio ambiente ou pela disciplina. Você deve começar a ensinar o seu bebê no dia em que ele abrir os olhos para o mundo. Não pense que o bebê é muito novo para aprender. A amamentação no peito na hora

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certa é outra maneira de ensinar a pontualidade ao bebê. Trocar a fralda imediatamente após ficar molhada pode construir o hábito da higiene. Finalmente, falar utilizando palavras doces e gentis irá estimular o bebê a ser bem-educado. Não Permita que as Crianças Continuem a Cometer Erros até que se Convertam em Maus Hábitos Uma criança recém-nascida é pura como um pano branco e limpo. Desse modo, o bebê precisa de um modelo para seus pensamentos, para sua forma de falar e suas ações. O que primeiro chegar ao bebê ele usará como seu modelo. Desse modo, se o bebê recebe influências boas ele terá mais oportunidades de praticar boas ações. Esse fundamento sólido do que é bom pode resistir a qualquer má conduta que possa vir a ocorrer no futuro, permitindo assim que seja capaz de cuidar de si mesmo. Os primeiros pequenos erros do bebê, que naturalmente são óbvios, são facilmente detectados pelos pais, motivando-os a encontrar um caminho para corrigir imediatamente esse comportamento. No entanto, a ignorância ou negligência dos pais pode fazer com que a criança se acostume com esse comportamento que poderá se transformar em um mau hábito, mais tarde. Este hábito é repetido por que suas ações não foram detectadas por um adulto. No final, seus momentos de bom comportamento serão menores. Ame seu Filho da Maneira Correta

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A maneira pela qual oferecemos nosso amor às crianças nada mais é do que incutir virtudes dentro deles para que cresçam com orgulho neste mundo. Os elementos de conduta moral que merecem ênfase constante são os seguintes: 1. Sabedoria - Ensine às crianças a relação causa e efeito de suas ações, para que sejam capazes de analisar as coisas e para manter o seu caráter. Se os pais forem bem-sucedidos, as crianças terão sabedoria e consciência. Elas não terão dúvida entre o certo e o errado. 2. Disciplina - As crianças devem ser ensinadas a serem sempre pontuais, asseadas, honestas e ter sempre pureza no corpo, na mente e nas palavras. 3. Bondade – Isso pode ser conseguido ensinando às crianças o amor aos animais e às árvores, a serem educadas, gentis e a saber perdoar. Quando essas virtudes são incutidas nas crianças ainda bem novas, elas serão capazes de absorver outras boas virtudes que seus pais e professores têm a oferecer. Depois que os pais entenderem isso, se desejarem ter crianças maravilhosas, devem primeiro se educar antes de terem filhos. Eles devem seguir estritamente as três seguintes virtudes: sabedoria, disciplina e bondade. Desse modo, os pais terão a chance de conceber uma criança maravilhosa. Eles serão bons exemplos para a criança e, através do amor, evitarão magoar seus filhos.

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Capítulo 9

Os quatro importantes papéis que os pais devem desempenhar para criar bons

filhos

Todos os pais desejam um futuro brilhante para seus filhos. Eles desejam criar filhos bem-educados, respeitosos e com princípios morais, para que esse comportamento possa ajudá-los a progredir na sociedade. Mas, para construir os fundamentos básicos de seu sucesso, os pais devem entender o seu papel nesse desenvolvimento. Ao se tornarem bons exemplos para seus filhos os pais devem entender a personalidade de seus filhos e saber como as atitudes e as

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perspectivas deles se alteram de acordo com a idade e o ambiente. Quando as crianças são pequenas, os pais são tudo para elas. À medida que crescem, os amigos irão influenciar seus pensamentos e atitudes. Durante a adolescência, os pais se tornam menos importantes para eles. Quando se tornam adultos são independentes e devem confiar apenas em sua inteligência e bom-senso. Ao longo da vida dos filhos é necessário que os pais se ajustem conforme a perspectiva de seus filhos. Além de serem bons pais e cumprirem os deveres paternos, eles devem também assumir os seguintes papéis:

1. O papel de um professor.

Os pais devem ensinar os filhos a discernir o certo do errado e o que devem ou não fazer. Se o seu filho é muito novo para aprender as relações de causa e efeito, os pais devem desempenhar o papel de bons exemplos para eles. Esse trabalho deve ser feito de modo gentil, em um tom de voz carinhoso. Não os ensine com mau humor. O castigo só deve ser utilizado quando necessário. A higiene deve ser estimulada quando as crianças ainda são bem pequenas, os envolvendo em tarefas de lavagem de roupas e limpeza. Tomar banho regularmente e hábitos de higiene ao comer devem ser ensinados desde cedo. Não despreze esses ensinamentos ou suponha que são insignificantes.

Já que os pais são os primeiros professores de seus filhos, eles devem incutir o que é certo, de modo que isto se torne um fundamento no desenvolvimento do caráter da criança. À medida que os filhos crescem, esses fundamentos irão ajudá-los a integrar um comportamento saudável em seus hábitos naturais. Isso os manterá automaticamente afastados de comportamentos nocivos.

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2. O papel de um ser angelical.

Os pais devem ter sólidos fundamentos de Dhamma para assumir esse papel. Eles devem educar seus filhos com a virtude do amor e devem temer o pecado. Isso pode ser conseguido lendo para eles o Jataka (histórias de vidas passadas do Senhor Buda), certificando-se de que farão seus cânticos antes de ir para a cama e os ensinando como oferecer Dana (generosidade) através de métodos como a oferta de caridade aos monges todas as manhãs. O mais importante, eles devem abster-se de más ações com receio das conseqüências que poderão advir. As crianças aprenderão a abster-se de más ações com base no bom exemplo dos pais.

3. O papel de um Brahma.

Os pais devem dar carinho a seus filhos, oferecendo amor e ternura. Se a criança comete um erro, os pais devem ensinar o que é certo e errado e também o perdão. Quando praticam uma boa ação os pais devem expressar contentamento e aplaudí-los. Os pais devem oferecer ensinamentos e cuidar deles quando ficam doentes. Quando crescerem e estiverem prontos para deixar a família e começar suas próprias vidas, os pais devem aceitar sua independência. Devemos ainda lhes dar orientação, ser seus conselheiros e lhes dar estímulo.

O mais importante, os pais devem ser neutros e não se colocar do lado deles caso tenham feito algo errado. Se as crianças se tornarem infratoras da lei deverão se punidas, mesmo que isso represente um período de prisão. Os pais devem aceitar a punição. Não demonstre seu amor para o seu filho de modo incorreto cometendo perjúrio. Os pais

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podem fazer todo o possível para ajudar, desde que não violem as leis do país.

4. O papel de um Arahant.

Os pais devem demonstrar o mais alto nível moral possível, de forma que sejam respeitados na sociedade, como se fossem Arahants de sua unidade familiar. Devem ser sábios conselheiros dentro da família, respeitados por seus filhos e netos. Eles devem apoiar a criação de virtudes e a busca pela Perfeição, manter a dignidade e preservar o nome da família. Todas as crianças da família irão respeitá-los e ouvi-los. As crianças terão receio de fazer coisas erradas tanto na frente dos pais quanto escondido dos pais.

Depois que os pais forem capazes de representar

perfeitamente esses quatro papéis a vida familiar será muito mais feliz. Haverá paz de corpo e espírito, que poderá se estender de uma família bem equilibrada à sociedade e ao país como um todo.

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Capítulo 10

Criando nossos filhos para serem pessoas boas

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Em uma sociedade saturada pela mídia, muitos pais têm a preocupação de que seus filhos irão sucumbir às más influências. Como proteger nossos filhos dessas influências e incutir neles consciência e valores morais?

Na verdade, a resposta a esta pergunta pode ser discutida a partir de muitos aspectos, mas nossos ancestrais acreditavam em quatro fatores simples para criar bons filhos. 1. Seja um bom exemplo para seus filhos observarem. 2. Consiga bons livros para seus filhos lerem. 3. Encontre um bom professor para ensinar seus filhos. 4. Encontre bons amigos para conviver com seus filhos.

Seja um bom exemplo para seus filhos observarem.

O primeiro fator é o mais difícil porque muitos pais não percebem o quanto influenciam seus filhos. Antes que possamos ser bons modelos, precisamos reunir nossas boas qualidades. O Senhor Buda nos deu os Cinco Preceitos como um instrumento para medir o valor de um ser humano. Na sociedade de hoje muitas pessoas não conseguem manter os Cinco Preceitos. Então como podemos ser bons exemplos para nossos filhos?

Se os pais chegarem à conclusão de que seus filhos não são tão bons quanto poderiam ser, os pais devem refletir sobre a origem desse mau comportamento. As crianças não têm registros do passado, a maioria delas não sabe o que é correto. Quando uma criança fala de modo grosseiro, faz isso por que se lembra de ter ouvido de seus pais. Se quisermos educar nossos filhos para que se tornem boas pessoas devemos criar uma boa base moral, ensinando a eles os

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Cinco Preceitos e seguindo esses preceitos para sermos bons exemplos.

Consiga bons livros para seus filhos lerem.

Nossos antepassados costumavam dizer: “Se você ama suas vacas, você deve amarrá-las. Se você ama seus filhos, você deve bater neles”. Mas no presente nós dizemos: se você ama suas vacas, amarre-as. Se você ama seus filhos, passe um tempo com eles”.

Já que crianças lêem livros, devemos tomar muito cuidado em sua seleção. Se eles quiserem ler gibis ou biologia, devemos ler com eles. Um problema que vemos hoje é a violência dos filmes e dos jogos em computador. Devemos estar atentos e passar mais tempo com nossos filhos. Devemos dar a eles amor e afeição.

Se dissermos que não temos tempo, então nossas vidas são vividas apenas pela metade. Nossa vida não é feita apenas para o trabalho; devemos ter tempo para nós mesmos e para nossa família. Devemos separar um tempo para irmos a livraria com nossos filhos, deixar que escolham seus próprios livros e observar seu comportamento à distância. Algumas vezes precisamos lhes fornecer informações que os ajudarão no processo de decisão. À medida que se tornam mais velhos seus ensinamentos irão ajudá-los a escolher somente bons livros.

Encontre um bom professor para ensinar seus filhos.

A questão dos professores é extremamente importante já que eles são a mais forte influência externa que estimula virtudes nas crianças. Pelo fato de não estarmos o dia todo

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com os professores na escola precisamos estar preparados para avaliá-los. Não precisamos necessariamente de uma escola de renome mundial para nossos filhos freqüentarem; precisamos apenas que tenham um ambiente saudável e positivo. Ser o aluno número um da sala não significa que este aluno se tornará a pessoa mais rica do mundo. Os conhecimentos dos livros escolares precisam ser ensinados.

Encontre bons amigos para conviver com seus filhos.

Alguns pais enviam seus filhos, mesmo ainda muito jovens, para o exterior a fim de se tornarem bacharéis, mestres ou doutores. Quando retornam à Tailândia não têm mais fé no Budismo. Em vez disso, adquirem falsos pontos de vista de amigos com quem conviveram na escola. E quando trabalham em um ambiente tailandês falam de modo pouco respeitoso com as pessoas no trabalho, o que causa ressentimentos. Eles não compreendem que apenas os conhecimentos dos livros escolares não são suficientes para garantir o sucesso. Deve-se aprender a respeitar e ser educado com os outros. O Mangala Sutta (as Trinta e Oito Bênçãos da Vida que nos ensina o caminho da felicidade na vida) expressa claramente que não devemos nos cercar de tolos. Devemos apenas estar com pessoas de bom senso. É óbvio que se nossos filhos se juntam às más companhias eles também poderão ser influenciados a fazerem coisas ruins. Este comportamento equivocado se tornará mais aparente quando os filhos não mais morarem conosco. Devemos ser capazes de reconhecer esses sinais e oferecer uma orientação segura. Repreensão não deve ser a primeira e única reação. Educar filhos exige táticas e estratégias similares àquelas presentes nas empresas. Estamos tentando construir a

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capacidade deles de escolherem e se cercarem de pessoas boas.

Para evitar que os filhos adotem um mau comportamento devemos estabelecer um ambiente baseado nesses quatro fatores. Fazendo isso, eles crescerão e se tornarão adultos que pensam, falam e agem com integridade, conduzindo suas vidas com uma forte noção de certo e errado.

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Capítulo 11

Ensinando aos filhos a parcimônia para assegurar o futuro da família

A segurança financeira futura das crianças pode ser

medida através de sua parcimônia e os pais podem cultivar um bom sentido de economia em seus filhos sendo eles mesmos moderados em seus gastos.

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Para que as crianças adquiram hábitos de economia, os pais devem ensinar aos filhos ainda bem pequenos através de: 1. Ensinando às crianças o valor do dinheiro Quando as crianças pedirem dinheiro os pais devem perguntar primeiro o que elas farão com ele e qual a real necessidade dele. Se as crianças não derem uma boa razão, os pais devem negar o dinheiro e explicar a elas as razões da negativa. Mesmo que as crianças fiquem tristes os pais não devem ceder. Não dê dinheiro apenas para não se aborrecer ou evitar uma explosão de raiva das crianças. Não deixe que as crianças pensem que dinheiro é fácil de se ganhar. Eles precisam aprender que dinheiro não nasce em árvores e cada pequeno valor é ganho com dificuldade por seus pais. As crianças aprenderão então o valor do dinheiro e como usá-lo sabiamente. 2. Ensine às crianças a não gastar de modo extravagante. Por favor, não compre nada excessivamente caro ou desnecessário para seus filhos. Caso precise comprar um objeto em particular para eles, por favor, adquira a alternativa menos dispendiosa em relação às outras. Encontre um modo de explicar aos seus filhos que as boas coisas não são necessariamente as mais caras. Ensine às crianças a conhecer o valor das coisas e usá-las de modo apropriado na medida do possível. Você pode ainda ensinar a eles como consertar sozinhos os objetos danificados de forma a serem reutilizados. 3. Ensine as crianças como usar o tempo livre. Ensine as crianças a fazer coisas sozinhas, isso irá desenvolver seu bom senso. Especialmente brinquedos, se você permitir que seus filhos criem seus próprios brinquedos para brincar ou montem as peças de um brinquedo para brincar, as crianças aprenderão a fazer as coisas sozinhas e

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sentirão orgulho do seu sucesso e desenvolverão uma maior perspicácia mental. Além do mais, os pais devem educar seus filhos para que reduzam sua faixa de gastos, para que as crianças possam aprender a economizar seu próprio dinheiro e a ganhar dinheiro sozinhas. 4. Ensine às crianças como economizar dinheiro. Os pais devem dar a seus filhos um pequeno cofre para que possam economizar o dinheiro que sobrar. Leve às crianças ao banco para depositar o dinheiro reunido em uma conta delas. Estimulem as crianças a fazer depósitos em suas contas em ocasiões especiais como aniversário, ano-novo, etc. Os pais devem ensinar aos filhos a economizar esse dinheiro como parte de um fundo para sua educação. Não deixe que as crianças pensem que podem ganhar dinheiro facilmente ou eles não aprenderão a valorizar o dinheiro. 5. Escolha amigos para seus filhos que tenham hábitos simples. Os pais devem encontrar um meio de evitar que seus filhos se reúnam a amigos que gastem dinheiro de forma extravagante em objetos de luxo e que não conheçam o valor do dinheiro. Em relação aos amigos que sabem economizar dinheiro e ajudam os pais nas tarefas domésticas você deve apresentar seus filhos a eles. Eles serão uma boa influência uns para os outros em vários aspectos. O mais importante para os pais é manter seus filhos afastados da más companhias e de Apāyamukha (Caminhos para a Ruína), que são os inimigos mais sérios da poupança. 6. Ensine às crianças a observar os 8 Preceitos nos Dias Sagrados Budistas ou em seus dias de folga. Quando as crianças já forem maduras o bastante, os pais devem levá-las ao templo. Ensine seu filho a observar os 8 Preceitos. O estilo de vida simples quando se segue os

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preceitos os ensinará que muito do que parece ser necessário não realidade não é, i.e. ir ao cinema ou a um show, usar batom e maquiagem, se vestir com roupas da moda, etc. Depois de observar os 8 Preceitos por um momento, eles próprios irão entender que todas essas coisas são desnecessárias. Para levar os preceitos até a realidade da criança os pais devem dar o exemplo praticando os 8 Preceitos juntamente com os filhos. Praticar os 8 Preceitos irá ajudar as crianças a desenvolver a moderação nos gastos e as orientará a usar com sabedoria os 4 requisitos do modo mais econômico. Se todas as famílias forem capazes de seguir essas diretrizes sua estabilidade financeira no futuro estará assegurada. As crianças dessas famílias estarão aptas a administrar com sabedoria suas heranças, caso existam. Mesmo que não exista qualquer herança, as crianças dessas famílias serão capazes de assegurar sua estabilidade financeira por si mesmas. O motivo é que lacraram a abertura em seus bolsos não se envolvendo com quaisquer dos Caminhos para a Ruína (Apāyamukha).

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Capítulo 12

Querido pai, por favor, não permita que eu me torne viciado

em televisão

Uma das preocupações enfrentadas pelos pais hoje em dia é não dispor de tempo bastante para ficar com seus filhos, pois quase todo o tempo disponível é usado para ganhar a vida e sustentar a família. A solução, algumas vezes, é permitir que seus filhos fiquem mais tempo assistindo a televisão. Em outras palavras, eles acham que

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“não há nada de errado em deixar a televisão tomar conta das crianças”. Essa solução imperfeita para uma preocupação traz más conseqüências, já que deixará os pais aflitos com as mudanças observadas no comportamento dos filhos. As crianças se tornam mais agressivas, desagradáveis e imorais, passando a usar mais linguagem profana. Essas mudanças negativas no comportamento dos filhos deixam os pais sem saber realmente a causa do problema. Geralmente é tarde demais quando os pais finalmente compreendem que o comportamento tem origem no fato de deixar os filhos assistirem a programas de televisão não apropriados, quando ainda não são maduros o bastante para discernir o certo do errado, o bom do mau e o apropriado do não apropriado. Essas crianças absorvem o mau comportamento que assistem e passam a adotá-lo. Muitos pais se sentem deprimidos quando compreendem que todo o seu árduo trabalho para dar tudo o que fosse possível ao seu filho foi neutralizado, fazendo com que as crianças perdessem todo o sentimento de bondade. Portanto, para enfrentar esse tipo de situação e evitar que aconteça em sua própria família, os pais devem considerar os seguintes aspectos: 1] Os pais devem ter sempre em mente que, caso não passem tempo suficiente com seus filhos, as crianças poderão desenvolver um julgamento medíocre, já que a maioria dos programas que assistem giram em torno do tema sexo. As crianças expostas a esses programas ficam mais voltadas para o sexo, já que acreditam que o que vêem na televisão é a realidade dos fatos.

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2] Os pais devem procurar programas de televisão educativos e atribuir um período de tempo apropriado para assistir a esses programas. Seria ainda melhor se os pais ditassem as regras. Existem três princípios que podem minimizar a possibilidade das crianças absorverem influências prejudiciais da televisão.

Princípio 1: O tempo de assistir televisão não deve interferir com as tarefas escolares e domésticas. Os pais não devem deixar seus filhos assistirem a televisão sempre que quiserem. Eles devem ter um tempo definido para os deveres de casa, revisão das lições, leitura e ajuda com as tarefas domésticas. Os pais devem definir esquemas de horários apropriados e nunca permitir que seus filhos assistam televisão até tarde da noite, o que faria com que não descansassem o bastante. A ausência de um repouso adequado pode resultar no desenvolvimento de maus hábitos, como acordar tarde, portar-se com falsidade e mentir. Crianças que não dormem o bastante ou não terminam seus deveres de casa, não vão desejar ir à escola. Elas mentirão para os pais dizendo que não estão se sentindo bem, que têm dor de cabeça ou dor de estômago. Os pais podem acreditar nessas mentiras. Essas crianças apresentarão mais e mais desculpas para evitar ir à escola.

Princípio 2: Não podem faltar princípios morais nos programas de televisão. Os programas que você permite que seus filhos assistam devem conter assuntos relacionados a práticas e idéias éticas. Programas que causam medo, terror ou abordem sexo, ou aqueles que tratam de vingança e assassinato, não devem ser permitidos.

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Princípio 3: Os programas de televisão devem promover a moralidade. Os pais devem determinar que programas de televisão seus filhos irão assistir. Esses programas devem promover as virtudes e o desenvolvimento intelectual, i.e., programas sobre ajuda ao próximo, bondade e devoção. Eles podem assistir programas sobre ciência e tecnologia ou arte e cultura, o que permitirá que conheçam melhor a cultura e a história de seu país. Este conhecimento servirá como base para uma melhor visão e conhecimento em seu futuro. Para que os filhos ouçam seus pais é importante que os pais dêem bons exemplos. Então a criança obedecerá. Se os pais forem dependentes de televisão será um grande desafio evitar que seus filhos sejam também. Desse modo, entre a opção de promover bons hábitos nas crianças e assistir seu programa de televisão favorito, os pais devem ter como prioridade o melhor interesse dos filhos.

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Capítulo 13

Crianças que são viciadas em Internet

Vivemos na era das grandes redes de informação. As crianças são viciadas não apenas em televisão, vídeos e telefones celulares, mas também em Internet. Devemos aceitar o fato de que esses tipos de mídia têm prós e contras, dependendo de como são usadas. Se não aprendermos a controlá-las, nós, as crianças e todos os adultos poderemos nos tornar escravos dessas coisas.

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Quando chega a adolescência, a maioria dos pais as proíbem, o que desperta maior interesse. Os pais devem permitir que os filhos usem essas mídias, mas devem também indicar a hora certa e o tempo de utilização. Por exemplo, devem definir um esquema com a hora para usar a Internet, para os estudos e para louvar o Senhor Buda. Os Pais devem ensinar aos filhos quando usar a internet e quando assistir televisão. O principal é não deixá-los dormir tarde. Se as crianças dormirem tarde não conseguirão acordar cedo, fazendo com que os pais as repreendam. Isso pode resultar na troca de palavras ásperas ainda pela manhã, podendo dar a entender aos filhos que é aceitável brigar com os pais. Isso pode fazer também com que os filhos comecem a enganar e mentir. Ensinar a seus filhos a administrar o tempo irá encorajá-los a terem um bom desempenho na escola. Quando as crianças crescerem serão capazes de administrar melhor o seu tempo, serem mais racionais e não se comportarem de modo negativo, baseadas em seu estado de espírito. Ensinar as crianças a administrar o seu tempo tem ajudado várias famílias a corrigir problemas com crianças viciadas em televisão e Internet.

Há o caso envolvendo a família de uma amada e respeitada professora de inglês cujo marido teve de continuar seus estudos fora do país. Pelo fato de apenas ela e os filhos morarem na casa ela pediu ao seu irmão que viesse

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morar com eles e ajudasse a cuidar dos três filhos. Os filhos pareciam crianças inteligentes, mas não iam bem na escola. Seu irmão não entendia a razão e começou a procurar as causas. Ele descobriu que o motivo era as crianças assistirem televisão até tarde. Ele relatou sua descoberta à irmã. Depois que a causa foi determinada o professor estabeleceu uma regra pela qual todas as televisões deveriam ser desligadas às 21:00, quando começasse o noticiário. Quando a regra foi implantada todas as crianças estavam na cama às 21:00. A saúde das crianças melhorou. Eles passaram a acordar cedo de manhã, entre 4:30 e 05:00. Eles acordavam e estudavam até a hora de ir tomar banho e se preparar para a escola. No semestre seguinte todos os filhos do professor conseguiram melhores notas na escola. O filho mais velho, anteriormente classificado em 14° lugar na turma, passou para o 4° lugar. O segundo filho que estava no 7° lugar pulou para o 2° lugar. O filho mais novo, muito jovem ainda, manteve o 1° lugar. No semestre seguinte, o filho do meio e o filho mais velho alcançaram o 1° lugar em suas turmas. Quando se formaram, todos os três estavam em 1° lugar em suas respectivas turmas. A definição de um horário para o estudo, para a hora de dormir e de acordar, irá levar a melhores notas na escola e a melhores decisões na vida. Muitas crianças podem saber o que é certo e errado, mas nem sempre são capazes de evitar cometerem ações prejudiciais. Quando essas crianças

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crescem, podem causar muitos dos problemas que vemos na sociedade. Quando eles eram jovens nunca foram ensinados a renunciar a algo que gostassem para fazer coisas mais apropriadas, como parar de assistir televisão quando estava na hora de ir para a cama. As famílias que têm regras domésticas, horários para os filhos realizarem suas tarefas, serão capazes de ensinar a essas crianças ainda pequenas a tomar decisões acertadas e não sucumbir a um desejo. Esta providência pode servir de apoio para que tomem decisões baseadas no bom senso, princípios sólidos, informações precisas e análises metódicas. Eles serão inteligentes e honestos em qualquer ramo de trabalho a que se dediquem no futuro.

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Capítulo 14

Uma filha que se veste de modo provocante

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Um funcionário do governo certa vez foi até um venerável monge em seu templo para pedir conselho sobre o modo como as jovens se vestem nos dias de hoje.

O funcionário achava que as meninas adolescentes se vestiam de uma maneira que revelava muito do seu corpo. Esta tendência coincide com um aumento nos crimes relacionados a sexo e a polícia atualmente não sabe o que fazer para enfrentar a situação. O venerável monge deu sua resposta e aqueles que a ouviram concordaram que a sua solução era prática e podia ser aplicada a qualquer família com uma filha adolescente. Estas foram suas palavras:

“Eu não concordo que o modo de vestir excessivamente provocante dessas meninas seja culpa apenas da indústria da moda. Em vez disso, eu coloco a culpa nos pais que negligenciaram seus filhos e nos professores que não educaram adequadamente seus alunos.”

“Se olharmos o problema mais claramente, descobriremos que sua origem é bem anterior ao momento em que essas crianças se tornaram adolescentes e começaram a se vestir de modo provocante. Podemos retroceder ao tempo em que essas crianças eram ainda muito pequenas, quando ainda estavam no jardim de infância ou na escola primária.”

“Pais e professores não compreenderam que estimular a criatividade e infundir confiança exigia que as crianças dançassem e representassem em um palco. Praticar a coreografia da dança incutiu nelas a sensualidade ainda muito jovens. Além da dança, os professores colocavam maquiagem e as vestiam com saias ou vestidos curtos muito reveladores para que fossem para o palco. Pais e professores comentavam como essas crianças eram adoráveis quando as viam representar. Para eles parecia uma produção muita bem sucedida. Infelizmente a situação que criaram não

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terminou com o fim da apresentação. Após estimularem as crianças a vestir roupas reveladoras e executar danças sensuais e admirar sua aparência, não é de se espantar que as crianças não ouvissem quando alguém dizia que deveriam se vestir mais recatadamente. Elas ficaram tão acostumadas a se vestir com roupas provocantes que não mais se sentiam constrangidas.”

“Quando as crianças são expostas a atividades que promovem a sensualidade em tão tenra idade, em quem colocamos a culpa? Temos de culpar os pais e professores que encorajaram esse comportamento. Em conseqüência, se quisermos corrigir esse problema, devemos ensinar as crianças a comportarem-se bem e a vestirem-se de modo apropriado enquanto ainda são bem pequenas.”

“O Senhor Buda disse: ‘Não se vista inapropriadamente.’

“Vestir-se inapropriadamente significa vestir uma

roupa que mostre parte da perna e exponha os ombros.”

“No passado os pais vestiam suas filhas com um sarongue que ia até o fim da perna, quando as meninas ainda eram bem pequenas. Isso se tornaria natural e em adultas essas mulheres se vestiriam com descrição. Entretanto, se as meninas são estimuladas a usar saias curtas ainda bem pequenas, não é provável que queiram se cobrir com saias longas quando forem mais velhas.”

“Permitir que meninas pequenas se vistam inapropriadamente é a causa da sexualização das crianças, tendo como conseqüências a prostituição infantil, o que leva aos Caminhos da Ruína Apāyamukha).

“Se desejarmos reparar essa situação precisamos primeiro entender as finalidades do uso das roupas.

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1) Para se proteger do calor e do frio.

2) Para se proteger dos elementos como luz do sol, ventos e chuva e também contra insetos e pequenos animais.

3) Para cobrir as partes do corpo que não devem ser expostas.

“Se os pais ensinarem aos filhos a real finalidade do uso das roupas quando ainda bem pequenos, suas mentes não ficarão fixadas no aspecto sensual. Além disso, devemos protegê-los ainda mais ensinando aos nossos filhos a recitar cânticos e praticar a meditação antes de ir para a cama. Ensine-os a se curvarem aos pés de seus pais antes de dormir. Se praticarmos isso regularmente seremos capazes de corrigir o problema e criar filhos maravilhosos e saudáveis.”

Os ensinamentos desse venerável monge nos fazem entender que o problema das crianças vestindo-se de modo que desperte a atração sexual irá desaparecer quando os pais lhes ensinarem a serem recatadas desde cedo. E ainda mais, isso pode reduzir e eventualmente eliminar os crimes sexuais contra crianças.

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Parte Três

Harmonia na família

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Capítulo 15

Criando a harmonia na família

Filhos de pais separados geralmente apresentam certas características como desobediência e atitudes negativas. Obviamente, isso não é algo desejável. Por que as famílias dessas crianças se desfizeram e seus membros seguiram por caminhos diferentes? Se não tomarmos conhecimento das verdadeiras causas isso pode acontecer também a nossas famílias. Crianças se portam dessa maneira quando não são educadas adequadamente. Alguns vêm de boas famílias, mas se descontrolam devido a conflitos com seus irmãos e irmãs.

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Alguns tentam até roubar objetos dos irmãos com apenas 12 ou 13 anos de idade. A falta da unidade familiar é realmente a essência desses problemas. Tudo começa quando cada membro tem um horário diferente, o que resulta na ausência de interação entre eles. À medida que se tornam mais distantes, a família eventualmente pode desintegrar-se. No entanto, a causa primária da rápida deterioração da família é a incapacidade de conseguirem jantar juntos. Em uma família grande, os membros que não jantam com os outros têm ainda mais desavenças. Por exemplo, se um dia a mãe prepara uma refeição deliciosa da qual todos gostam, todos comerão mais do que sua quantidade normal. Se eles se sentam e jantam juntos o único problema que poderão encontrar é uma certa escassez de comida, algumas garfadas a menos. Entretanto, se todos se sentarem em momentos diferentes, provavelmente irá ocorrer um problema. Os que comerem por último talvez não encontrem comida suficiente. A criança sente-se magoada e negligenciada. Se essa criança ajudou nas tarefas domésticas, se sentirá enciumada também. Crianças preguiçosas podem geralmente ser encontradas próximo à cozinha perto da hora do jantar, elogiando a mãe por cozinhar uma refeição tão maravilhosa. Mesmo antes de sentarem-se à mesa eles provam os melhores pedaços. Eles também tendem a ser aqueles que comem mais. Essas crianças rechonchudas são adoradas pela mãe por saberem dizer palavras doces.

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Aquelas crianças aplicadas cujas tarefas fazem com que se atrasem para o jantar acabam sendo as últimas a comer. Elas são as mais cansadas, ainda assim ficam apenas com as sobras. Algumas vezes, acabam lavando a louça, também. Tudo isso fere seus sentimentos. Quanto mais essas situações ocorrerem, mais magoados eles se sentirão. Pequenas disputas com os irmãos são seguidas por argumentos importantes. Se um irmão quebra uma xícara favorita a raiva aparece, resultando possivelmente em altercação física. Os pais que não compreendem as verdadeiras causas tentarão apenas apaziguar a situação, mas isso não resolve o problema real. A raiva irá permanecer. Se acidentes parecidos ocorrem regularmente, os pais podem interpretar errado essas situações e colocar a culpa no filho incompreendido. A criança pode ficar com ciúme dos seus irmãos e sair de casa quando tiver uma oportunidade. Pequenas coisas como a família não compartilhar uma refeição podem ser o suficiente para separar uma família. Os pais podem não ter percepção do início dos ressentimentos e conflitos. Esse problema normalmente ocorre em uma família recém formada em que todos estão ocupados com suas tarefas e não têm tempo para os demais. Ninguém sabe o que pode estar incomodando a outra pessoa. Desse modo, o fato da família não se reunir para as refeições é um alerta de que esta família está prestes a desmoronar.

As refeições compartilhadas permitem que os membros da família expressem suas preocupações e dêem conselhos uns aos outros, já que as pessoas estão de melhor humor quando estão satisfeitas. Os pais podem usar esse tempo para demonstrar bons hábitos e normas de comportamento para seus filhos.

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Nossos antepassados expressavam a importância de se fazer pelo menos uma refeição diária com toda a família reunida. O café da manhã é mais difícil já que todos têm pressa de ir para o trabalho ou para a escola. O almoço é impraticável, pois todos estão longe de casa. O jantar é uma refeição importante que deve ser reservada para a família. Perder essa ocasião seria lastimável, já que após o jantar todos se voltam para seus próprios afazeres. Alguns irão fazer o dever de casa enquanto outros irão assistir televisão. Se não for reservado um tempo para o jantar para que se possa conversar ou esclarecer algum assunto, questões não resolvidas permanecerão pendentes podendo gerar desavenças. Algumas famílias resolvem esse problema dando a cada um seu próprio aparelho de televisão. À noite todos comem separados e assistem a sua própria televisão. Ninguém precisa conversar já que todos estão ocupados, mas não há calor humano na família. Uma outra situação que leva à desunião da família é a preparação das refeições. Os casais de hoje em dia discutem em relação a isso. Se tudo que fizerem for apenas pedir comida, enquanto comem com os olhos grudados no televisor, pensando em como os personagens da televisão são muito mais atraentes do que a pessoa com que estão casados, seu casamento certamente irá desmoronar. Casais casados devem considerar também visitas aos parentes do cônjuge. Devemos acompanhar nossas esposas ou maridos ou permitir que saiam sozinhos? Se saírem sozinhos, esteja preparado para problemas no casamento.

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As atividades realizadas em família podem construir um forte laço. Não encare isso levianamente já que muitas famílias que se separaram encaravam tudo dessa maneira. Concluindo, é fácil a criação de harmonia na família. Tudo começa com uma atividade em que todos os membros podem se envolver. O jantar é a atividade melhor e mais fácil. Ou, pelo menos, os membros da família devem se reunir para falar sobre vários assuntos, usando o Dhamma como seu guia. Conversem de forma ponderada, mesmo que não compartilhem os mesmos pontos de vista. Atividades conjuntas trazem benefícios que levarão calor humano e unidade para toda a família.

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Capítulo 16

O que os pais devem fazer quando

seus filhos não têm um bom relacionamento?

Eis aqui uma história verdadeira para os pais que ainda

não conseguiram criar harmonia em suas famílias. Havia uma família com três filhas. A mais velha estava muito deprimida por que suas duas irmãs não falavam uma

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com a outra há mais de dois anos. Elas brigaram e chegaram a um ponto em que não queriam mais ser irmãs. A filha mais velha sofria muito, tendo de assistir a esses atritos na família diariamente. Algumas vezes, as duas irmãs se ignoravam mutuamente, como se a outra não existisse. Outras vezes parecia que seriam inimigas pelo resto da vida. A irmã mais velha se perguntava repetidamente: "Será tarde demais para se reconciliarem?” Seus pais já haviam desistido. No final, ela tomou a decisão de ir ao templo e perguntar a um respeitado monge superior. Ela contou que suas duas irmãs ainda estavam na escola. Quando elas se formarem e buscarem-se a si mesmas poderá haver uma pequena chance de reconciliação. Ela estava muito nervosa e se sentia muito mal testemunhando aqueles conflitos todos os dias.

O respeitado monge superior ouviu seu problema com compaixão e respondeu: “seus pais nunca deveriam ter permitido que o conflito chegasse a esse nível. Se isso não for resolvido agora, depois que se formarem, conseguirem empregos e começarem a ganhar a vida, certamente não ouvirão mais ninguém”. “Eu tenho um exemplo pessoal que gostaria de dividir com você. Tenho duas irmãs mais velhas. Quando eu era jovem, às vezes discutia com minhas irmãs. Mas meu pai imediatamente controlava a situação. E nós parávamos de brigar no mesmo instante. Meu pai evitava conflitos entre os filhos do seguinte modo: Técnica Nº 1: Demonstrando quem era o mais velho.

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Assim que meu pai sabia que havíamos discutido ou brigado, ele não falava muita coisa. Dizia para irmos juntos falar com ele. Ele apontava para mim, o mais jovem, e dizia para cortar um galho grande para que eu fosse castigado. Quando eu dei o galho para o meu pai e ele fez apenas uma única pergunta: “Você brigou com sua irmã?” “Sim, papai,” eu respondia. “Então fique de pé com os braços cruzados” Primeiro, ele dava o galho para minha irmã e deixava que ela me batesse uma vez por não respeitar os mais velhos, independentemente de quem estava certo ou errado. Em segundo lugar, ele perguntava o que havia acontecido. Se eu estivesse errado, meu pai me dava outra chibatada com o galho. Dessa vez, ele me batia por ter feito alo errado. Se minha irmã estivesse errada (eu sonhava com o dia em que bateria nela), meu pai apontava para ela para receber uma nova chibatada. Ele mesmo batia nela, por intimidar o irmão mais novo. Sem considerar quem estava errado eu recebia a primeira chibatada, por desrespeitar os mais velhos. Então, para que discutir com minhas irmãs. Essa lição prática nos ensina que devemos amar uns aos outros. Técnica Nº 2: Responsabilidade com os Trabalhos de Casa

Pelo fato de minha família possuir uma fazenda, nos finais de semana meu pai nos fazia trabalhar. Ele nos

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mandava arrancar as ervas daninhas, limpar o terreno, enterrar a sujeira ou preparar o terreno para o plantio. Tinha de ser feito antes do jantar, do contrário não poderíamos comer. Então, cooperávamos e trabalhávamos duro para completar a tarefa juntos.

Sendo imaturo e o mais jovem algumas vezes eu saía e não ajudava minhas irmãs. Por que não? Pela manhã, eu caçava pássaros e ia pescar com meus amigos. À tarde, ficava em pânico quando compreendia que a tarefa não seria completada a tempo. Ah não! Se minhas irmãs não conseguissem terminar todos ficaríamos sem jantar! Então, eu corria para ajudá-las. Nessa hora eu agradava minhas irmãs de todos os modos, para ter certeza de que não contariam a meu pai minha travessura. Eu aprendia a ser gentil, educado e a dizer coisas amáveis enquanto trabalhava. Se eu não aprendesse rapidamente, nós todos enfrentaríamos as conseqüências. 1) O jantar não nos seria servido àquela noite. Além disso, teríamos de terminar nossas tarefas à noite usando lanternas. 2) Se minhas irmãs contassem ao meu pai minha travessura eu seria o único a ser punido e apanhar. Assim, procurei ser gentil e educado com minhas irmãs para que ficassem felizes. Bem simples, tínhamos de aceitar as responsabilidades juntos. Se nós brigássemos, não terminaríamos e todos teríamos problemas. Então, aprendemos a negociar e automaticamente nos tornamos amigos.

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O problema com suas irmãs é que não existe nenhuma tarefa doméstica a ser feita, suas vidas são confortáveis demais. Para aprender uma lição elas têm de sentir fome de vez em quando; elas têm de lutar por algo e, então, se ajudarem e passarem a confiar uma na outra. Muito conforto em sua família acarretou problemas para as crianças. Nessa situação, o mal já está feito. Eu recomendo deixar essa atribuição para os seus pais. Como filha mais velha, você deve aconselhá-las e ajudá-las quando for preciso: 1. Aperte o orçamento doméstico. Não permita que circule muito dinheiro no orçamento doméstico. Não ofereça muitas coisas a essas irmãs que não se falam. Isso as forçará a ajudarem-se mutuamente. 2. Determine algumas tarefas domésticas para fazerem juntas. Embora elas estejam aborrecidas e preocupadas precisarão se comunicar para completar a tarefa. A comunicação irá aliviar a tensão e os sentimentos ruins entre elas. Esse método dá bons resultados. 3. A disciplina é necessária para crianças pequenas. Se você tiver um bom motivo, não tenha medo de que seus filhos fujam de casa. Crianças pequenas não são ousadas o bastante. Um galho para bater ainda hoje é necessário para manter a disciplina. MAS, os pais precisam saber como e quando usá-lo. Os pais devem mostrar aos

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filhos por que estão sendo castigados. O galho não é para bater em seu filho até a morte! Entretanto, eu recomendo observar primeiro os dois conselhos a seguir: seus pais devem diminuir suas concessões e fazer com que colaborem uma com a outra nas tarefas. Crianças não permitem que outras crianças se aproveitem delas. Normalmente, não ficarão zangadas uma com a outra por muito tempo. Quando seus bolsos ficarem vazios, terão de se ajudar mutuamente com o trabalho. Se tiver contratado uma empregada, ela poderá realizar as tarefas domésticas mais importantes. Entretanto, as crianças deverão realizar suas próprias tarefas pessoais. Elas devem ser responsáveis pelas mesmas tarefas que forem atribuídas. Isso dará às irmãs uma chance de discutir abertamente a maneira de completar a tarefa. Essa técnica deve ser usada quando as crianças ainda são pequenas. Se os pais continuarem a mimar seus filhos eles crescerão e se tornarão pessoas horríveis”. Após ouvir os conselhos do respeitado e monge superior, a face da irmã mais velha se iluminou com um sorriso de esperança. Ela levou o conselho para casa, disposta a reunir novamente toda sua família. Os pais que lêem essa história devem incutir um sentimento de unidade em seus filhos, os ensinando a serem mais maduros. Quando crescerem, eles se amarão e cuidarão uns dos outros. Quando se sentirem deprimidos ou em tempos difíceis seus irmãos não deixarão que sofram. Com essas boas intenções de um para o outro, os pais estarão livres de preocupações.

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Capítulo 17

Remediando a situação

quando os vizinhos brigam

Um bom ambiente promove bons hábitos nas crianças. Mas se nossos vizinhos brigam ruidosamente todos os dias usando palavras grosseiras, como os pais podem remediar essa situação? Se nossos filhos continuarem a ouvir essas discussões, eles poderão ser afetados negativamente. Isso

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pode fazer com que nossos filhos se portem grosseiramente, de modo ofensivo e sejam rejeitados pela sociedade. Existem duas maneiras de enfrentar essa situação. 1. Mude de casa. Se os pais tiverem condições, devem mudar de casa, mas se não puderem precisarão tentar suportar essa situação. Os pais podem dar um bom exemplo aos filhos, falando de modo educado com os vizinhos. Se os pais tomarem medidas drásticas isso pode levar a uma briga ou a troca de ofensas. Esse tipo de comportamento iria apenas criar mais problemas. 2. Brigar com Ternura. Se os pais forem mais jovens que os vizinhos, eles devem se mostrar mais amistosos. Os vizinhos podem tomar consciência e passarem a discutir de modo mais discreto.

Entretanto, se os pais forem mais velhos, tiverem profissões estáveis e forem respeitados na comunidade eles precisam iniciar um diálogo com os vizinhos. Antes de iniciar uma conversação os pais devem se mostrar amáveis e serem bem considerados pelos seus vizinhos. O que você precisa fazer para ser amável e respeitado? 1. Uma pessoa agradável é alguém que é prestativo e generoso. Quando uma pessoa divide o seu dinheiro ou seus bens com outros, ele é amado e admirado. Mesmo nós, quando recebemos algo, nos sentimos apreciados.

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Se pudermos ajudar devemos oferecer nossa assistência. Mesmo que não saibamos o que oferecer, podemos oferecer nosso apoio e estímulo com palavras gentis. Mesmo que não tenhamos nada a dizer, podemos, pelo menos, dar um sorriso.

Se os pais se comportarem adequadamente em relação aos seus vizinhos, eles serão amados e respeitados. Então, poderá ser apropriado que os pais falem com seus vizinhos acerca do seu comportamento. O Senhor Buda ensinou as Quatro Bases da Solidariedade Social (sangahavatthu). Isso se refere ao princípio de ajuda às pessoas ou ao desenvolvimento de uma sociedade unificada. Este princípio do Dhamma consiste em: 1) Generosidade (Dāna) - Significa a oferta de bens materiais. 2) Palavras gentis (Piyavācā) - Significa falar de modo gentil e verdadeiro. 3) Postura Útil (Atthacariyā) - Significa auxiliar os outros, auxiliar no trabalho, sempre que puder. 4) Tratamento justo e imparcial (Samānattatā) - Significa ser, em todos os momentos, amigo de todos. Se os pais puderem praticar as Quatro Bases da Solidariedade Social, eles se tornarão pessoas altamente respeitadas. Quando houver conflitos, esses pais podem fornecer orientação. Como eles irão enfrentar esses conflitos

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depende do problema que têm em suas mãos. Eles podem encontrar soluções em conjunto. 2. Pessoas que podem chamar a atenção de outras sobre seu comportamento devem observar os Preceitos. Somente as pessoas que observam os Cinco Preceitos podem se aproximar de outras para falar sobre seu comportamento. Quando observamos verdadeiramente os Preceitos, temos boas maneiras e compreendemos a ética, somos capazes de nos aproximar e enfrentar a situação. Se faltam virtudes aos pais, eles não devem se aproximar de outros para falar sobre comportamento. As pessoas devem ser atenciosas com sua comunidade.

Uma pessoa pode manter o afeto e o respeito de outros de várias maneiras. O modo mais eficiente é sendo generoso. Quando você se entrega com pureza no coração as pessoas o amarão e olharão para você com dignidade.

O método a seguir foi usado no passado com excelentes resultados. É muito fácil. Pela manhã, pegue uma vassoura e varra a rua que passa pela sua casa, do início ao fim. Sempre que estiver em casa, você deverá varrer a rua. Se não estiver em casa, então a história é diferente. Mas tente varrer pelo menos uma vez por semana. Se continuar a fazer isso, seus vizinhos virão conhecê-lo. Talvez não venham a amá-lo, mas também não o odiarão. Esse tipo de generosidade é conhecido como generosidade com atividade. Antigamente, havia muitas maneiras de sermos generosos. Havia um método que todos praticavam, mas que

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não vemos muito hoje em dia. Tradicionalmente, na frente de cada casa havia uma grande bacia com água e uma concha ou xícara perto. Se um passante estivesse com sede, ele saciava sua sede. Uma simples bacia com água, convertendo a água em um gesto de bondade. Dessa forma, se os pais praticarem a generosidade e observarem eles mesmos os Preceitos, juntamente com boas maneiras e virtudes, seus filhos viverão em um ambiente maravilhoso. Assim a família não precisará mais se mudar.

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Capítulo 18

Ensine as crianças a cuidar dos parentes muito doentes

Todos aqueles que estão vivos um dia partirão deste mundo, mas antes de partir eles geralmente ficam doentes, deitados em uma cama de hospital. Seu corpo e seus órgãos irão se deteriorar lentamente enquanto são consumidos por diferentes doenças. Isso causa muita dor e sofrimento. Ao mesmo tempo, as células morrem lentamente em seu corpo, perdendo sua capacidade de funcionar. Desse modo, é

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essencial que aprendamos a cuidar daqueles a quem amamos quando estiverem doentes.

Assistir essas pessoas irá nos ensinar a cuidar de suas mentes, também, enquanto eles lutam contra a dor. Ao mostrar aos nossos filhos como cuidar de pessoas enfermas, quando morrermos, teremos a certeza de que eles serão capazes de tomar conta dessas pessoas para nós. Como devemos cuidar daqueles a quem amamos quando eles estiverem muito doentes? Existem dois componentes para nos preocuparmos em relação às doenças: 1. Cuidar delas fisicamente

Devemos buscar os melhores médicos para fornecer tratamento, dependendo da nossa situação e das despesas que possamos arcar.

2. Cuidar delas emocionalmente Se alguém está prestes a morrer é muito importante

manter sua consciência. O que a mente dessa pessoa estiver focalizando irá determinar sua vida após a morte, se serão destinados ao paraíso ou ao mundo dos desventurados.

O Senhor Buda disse: “Uma mente nebulosa antes da morte levará

esse alguém para o reino dos desventurados (Duggati). Uma mente clara antes da morte levará esse alguém para o reino dos aventurados (Sugati)”.

O que é Sugati? Sugati se refere a um reino feliz ou aventurado. Depois

de partir desse mundo a pessoa retornará como um humano

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(Manussaloka: Terra), como um anjo (Devaloka: Paraíso) ou um Brahma (Brahmaloka : Reino Celestial). O que é Duggati?

Dukkhati se refere a um mundo triste ou desventurado. Depois de partir desse mundo a pessoa retornará como um animal (Derajchanpome: Terra), um fantasma faminto, um demônio, ou uma criatura do inferno (Pretapume, Asurakayapome, ou Narokkapume: Inferno).

Sugati e Duggati são os destinos daqueles que

morrem, onde deverão enfrentar as conseqüências de suas ações na Terra. O destino final depende do estado mental no último momento, que poderá ser nebuloso ou claro. Os monges se referem a isso como “a Guerra da Existência,” a instável batalha de viagem para o sugati ou duggati.

Independentemente dos resultados do tratamento, “O

profissional de saúde deverá cuidar da mente do paciente de forma que sua mente esteja clara todo o tempo. Isso dará ao paciente a esperança e a coragem para lutar contra a doença”.

Há várias maneiras pelas quais um profissional de

saúde pode dar coragem a um paciente. 1) Mantenha-o afastado de todas as

preocupações. Não deixe que ele tome conhecimento de danos à sua propriedade, problemas com os filhos, ou qualquer coisa que possa perturbá-lo.

2) Leve sua mente para um estado de alegria

recordando-lhes dos méritos realizados. Fale a respeito das ações meritórias que o paciente realizou, como ter sido ordenado monge, a oferta dos paramentos de

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Kathina ou outros, o apoio a instituições sociais ou a ajuda oferecida a outras pessoas.

3) Encoraje-o a realizar novos méritos,

conforme suas possibilidades. Convide-o a ser generoso, oferecendo dádivas aos monges todos os dias. Se ele não puder se levantar, convide os monges a receber as dádivas no interior da casa. Se isso não for conveniente, permita ao paciente tomar uma decisão a respeito das dádivas e ofereça as dádivas no local indicado pelo paciente. Depois que as dádivas forem ofertadas, converse com o paciente sobre isso, ele ficará encantado.

4) Convença-o a observar estritamente os 5

Preceitos. Ele não deve matar nem mesmo uma formiga ou um mosquito.

5) Convide-os a meditar. Isso é muito importante.

Você pode fazer com que o paciente ouça uma fita com cânticos ou uma fita do Dhamma gravada por um monge que o paciente respeite. Você pode ler livros do Dhamma para o paciente. Se você fizer isso todos os dias, o paciente terá méritos bastantes para ser curado, porque o poder de antigos méritos aumenta os novos méritos que realizar. Se o paciente não tiver mais méritos e for chegada a hora da partida, o paciente irá para o reino dos aventurados porque ele manteve a consciência límpida antes da sua morte.

Levar um paciente a este estado requer que o

profissional de saúde esteja envolvido por muitos méritos e que tome decisões (com o poder dos méritos passados que o paciente tenha realizado) para a proteção do paciente contra sua doença. Isso irá melhorar os resultados do tratamento do paciente.

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Concluindo, o segundo final na vida do paciente é muito importante porque é quando podemos ajudá-lo a vencer a Guerra da Existência”. A vitória é conseguida mantendo-se a mente límpida antes da partida. Isso é absolutamente necessário.

Portanto, quando nossos parentes estiverem doentes,

independentemente da intimidade existente ou da gravidade da sua doença, devemos ser capazes de lhes dar uma boa assistência, tanto física quanto psicológica. Quando nossos filhos forem maduros o bastante, devemos ensinar-lhes a buscar sua própria saúde e ter consideração com seus parentes. Ensiná-los a cuidar dos outros lhes mostrará claramente a verdade sobre a vida, que um dia todos morreremos. Além disso, quando chegar a hora de partir, eles poderão nos ajudar a vencer a “Guerra da Existência”.

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Capítulo 19

O amor incondicional dos pais

No mundo voltado para os valores econômicos em que vivemos torna-se difícil para a maioria dos pais encontrar tempo suficiente para ficar com seus filhos. Algumas vezes os filhos são "educados" pelo aparelho de televisão ou console de vídeo enquanto seus pais trabalham. Eles crescem praticamente sem a orientação ou educação dos pais, sem conhecer as causas e conseqüências, a diferença entre comportamento moral e imoral, ou como controlar suas emoções. Sem saber o valor de ter pais eles passam a

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menosprezá-los. Eles não podem valorizar todas as dificuldades e sacrifícios pelos quais seus pais passaram para criá-los. Acreditam que seja dever dos pais, já que os trouxeram ao mundo, criá-los e dar-lhes tudo que desejarem. No final, são os pais que sentem a dor no coração e o desapontamento.

Se os pais não são ricos o bastante para satisfazer seus caprichos, eles os depreciam e os chamam de preguiçosos. Eles reclamam que se sentem envergonhados com a parcimônia dos pais. Algumas vezes, eles ameaçam os pais ou têm explosões de raiva para conseguir o que querem. Essas crianças estão acumulando um kamma ruim sem que compreendam isso. Esses problemas não ocorrem apenas na classe média ou em famílias pobres, mas também em famílias ricas.

Luang Phaw certa vez mencionou um milionário do sul que chegou até ele uma vez com o rosto triste, dizendo: "Por favor, me ajude. Meu filho é terrível. Ele nos força a comprar coisas para ele e depois que o fazemos ele nem se interessa mais por elas. Se dissermos não, ele nos amaldiçoa. Não sei mais o que fazer com ele”.

Luang Phaw aconselhou: “Já que seu filho nunca freqüentou o templo, não me sinto em condições de dizer muita coisa. Se eu disser a ele para vir ouvir um sermão ou para meditar e purificar sua mente, para que possa ver por ele mesmo o valor de seus pais, ele se recusará, ainda que lhe paguemos. Se ele é capaz de amaldiçoar os próprios pais, por que ele ouviria mais alguém?”

“Vamos tratar a situação desse modo. Antes de retornar para o sul, leve seu filho até o orfanato em Pakret City, na província de Nonthabur. Dê as razões que forem necessárias para convencê-lo a ir. Certifique-se de que ele dará o dana

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oferecendo almoço para os órfãos. Talvez esse mérito permita a ele entender a fortuna que possui. Talvez isso possa fazer com que ele caia em si”.

Luang Phaw queria que o filho testemunhasse as dificuldades que uma criança enfrenta por não ter pais. Com os olhos abertos talvez agora ele possa mudar e passe a amar e valorizar seus pais depois de observar essas crianças desventuradas.

Eu me lembro quando já era um veterano no colégio e meus amigos me convidaram para ajudar a levar comida para o orfanato em Pakret. Havia cerca de 200 ou 300 crianças e somente 20 atendentes no lugar. Quando chegamos ao orfanato todas as crianças correram até nós brigando para serem escolhidas. Elas chamavam os visitantes homens de "papai" e as visitantes mulheres de "mamãe", o que deixava os visitantes envergonhados. As crianças foram ensinadas a chamar desse modo, já que não sabiam quem eram seus pais verdadeiros.

Três ou quatro crianças se aproximaram e nos abraçaram, como se fossem macaquinhos, nos dizendo que nunca tinham encontrado e amor e carinho em suas vidas. Elas correram para pegar todos os brinquedos e comida que pudessem. Quando lhes demos as sobremesas, elas brigaram por elas. Quando entregamos as bonecas, elas caíram sobre elas.

Pelo fato de não sabermos quantas crianças havia no orfanato, trouxemos apenas 40 ou 50 bonecas. Quando entregamos as bonecas, elas brigaram entre si. Uma segurou o pescoço, uma outra segurou o braço e uma terceira segurou a perna. Em alguns segundos a boneca estava em pedaços, cada uma das crianças segurando uma parte. Depois disso, elas continuaram a brigar.

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Quando lhes demos roupas, os atendentes entregavam as roupas novas para as crianças que usavam aquelas mais velhas e mais gastas. As crianças cujas roupas não estavam muito gastas não receberam roupas novas. Eles ficaram com inveja e começaram a puxar a roupa nova das outras crianças que tinham acabado de vesti-las. No final de tudo, as roupas novas ficaram rasgadas em pedaços e ninguém mais pôde usá-las.

O que assistimos nos deixou tristes e com o coração partido. Essas crianças tinham uma perspectiva diferente da vida diferente da nossa. Quando éramos pequenos queríamos ter muitos amigos da nossa idade para brincar. Nunca pensamos em nossos amigos brigando ou roubando nossa comida e nossos brinquedos, já que estávamos sempre bem alimentados e não nos faltava nada. O mais importante é recebíamos calor e carinho de nossos pais e parentes. Nós víamos o mundo sob uma ótica positiva.

Mas esses órfãos não podem ver as coisas como nós víamos. Eles não viam as centenas de outras crianças ao seu redor como amigos, mas como rivais esperando para lutar pelas coisas que queriam ou pelo amor que precisavam. A solidão vista em seus olhos partia o coração de qualquer pessoa.

Vamos pensar no modo como as crianças exigem que seus pais satisfaçam todas as suas necessidades enquanto ainda têm a coragem de ferir o sentimento dos pais com palavras cruéis. Lembre-se que isso equivale a matá-los com palavras hostis. Muito embora essas crianças firam os sentimentos de seus pais com palavras cruéis, seus pais continuam a protegê-las. Alguns poucos conseguem admitir que seus filhos são menos do que anjos.

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Desse modo, quero deixar esse pensamento para as crianças que constantemente exigem que seus pais façam coisas para elas. Há órfãos que nem ao menos têm uma mãe ou um pai para amá-los ou cuidar deles. Por que pedir coisas supérfluas a seus pais que os têm amado todo esse tempo?

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Parte Quatro

As estradas que levam à ruína

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Capítulo 20 Crianças adictas a Apāyamukha (as

Estradas para a Ruína)

O amor pelos filhos faz com que os pais trabalhem arduamente para ganhar dinheiro, para poder fornecer aos filhos confortos como uma boa instrução, brinquedos e roupas, e também para que seus filhos não precisem se envergonhar por apresentar sinais de pobreza. Eles amam os filhos cegamente, e essa cegueira faz com que não percebam que estão dedicando todos seus esforços para o crescimento e o conforto físico dos filhos, enquanto negligenciam seu

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crescimento emocional e espiritual, igualmente importantes. Então, os pais se surpreendem e se entristecem quando descobrem os filhos usando drogas, bebendo e tendo outros comportamentos vergonhosos.

O comportamento autodestrutivo é tão prejudicial para o futuro de uma criança quanto a falta de instrução ou a falta de alimentos. Caso se permita que essas crianças continuem trilhando as Estradas para a Ruína, ou Apāyamukha, elas destruirão seu próprio futuro. 1) Ensine seus filhos. Em uma família em que as crianças não desenvolveram mau comportamento, deve-se ensinar a elas o que é certo ou errado e como demonstrar autodisciplina. 2) Aborde o problema imediatamente. Se as crianças já iniciaram um comportamento autodestrutivo, ele deve ser tratado de forma imediata e decisiva.

Há ensinamentos budistas que abordam os papéis e as responsabilidades dos pais. Se os pais esperam que os filhos tenham um futuro brilhante e alcancem o sucesso tanto no âmbito profissional quanto pessoal, cinco critérios devem ser alcançados:

1) Ensinar os filhos a se absterem de más ações. 2) Ensinar os filhos a fazerem boas ações. 3) Propiciar instrução aos filhos para que eles tenham conhecimento, trilhem uma carreira e aprendam a ter responsabilidade. 4) Quando chegar o momento de os filhos escolherem um(a) parceiro(a) para a vida, os pais devem ajudar no processo. Explique a eles o que precisam fazer para se preparar para a vida em família e as responsabilidades envolvidas. 5) Quando chegar o momento, passe os bens e propriedades aos filhos. Dê a eles sua herança, para que

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iniciem o próprio legado. Muitas vezes, os filhos têm problemas mais tarde na vida porque os pais não cumpriram com essas responsabilidades. Por que algumas crianças se comportam muito mal? Nossos ancestrais nos deram uma resposta muito interessante. "As capacidades que encontramos hoje em dia relativas à paternidade são motivo de inquietação. Nem sequer nos preocupemos com a incapacidade de ensinar os filhos a evitar más ações e fazer apenas boas ações, porque alguns pais sequer conseguem discernir entre certo e errado, bem e mal, mérito e pecado. Alguns inclusive se envolvem em mau comportamento na frente dos filhos e eles acabam testemunhando essa atitude. Essa é a parte mais assustadora.” Não deixe o ensino apenas aos professores Nossos ancestrais declaravam: "Alguns pais são capazes de discernir entre o bem e o mal, mas não ensinam esse conhecimento aos filhos. Como seu amor e preocupação com relação aos filhos são tão grandes, eles podem se tornar superprotetores. Proíbem os filhos de ir a qualquer parte sem explicar os motivos pelos quais não podem. Os pais devem perceber que não podem estar com os filhos o tempo todo. De uma forma ou de outra, as crianças encontrarão uma forma de ser independentes. Em vez de lhes proibir fazer algo sem motivos, seria mais benéfico dedicar algum tempo para lhes ensinar sobre o bem e o mal, o certo e o errado, e as razões pelas quais devemos ou não devemos fazer algo. Ensine-os e incentive-os regularmente a fazer boas ações. Quando se trata da educação dos filhos, a maioria dos pais dá todo o apoio necessário, mas alguns têm uma expectativa demasiadamente elevada. Nossos ancestrais nos deixaram o seguinte pensamento a considerar. “Alguns pais empurram os filhos para escolas famosas e reputadas na Tailândia, sem

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se preocupar com os elevados custos das mensalidades. A única preocupação deles é que as crianças, uma vez matriculadas, se tornem inteligentes por causa do elevado nível dos professores da escola. “Gostaria de lembrar a vocês que essa forma de pensar tem falhas, porque ensinar as crianças a diferenciar o bem do mal e o mérito do pecado são tarefas difíceis. Esse tópico requer extensas explicações e se ajusta melhor para uma instrução em nível individual, ou com apenas duas ou três crianças por vez. Os pais devem explicar de tal forma que a criança possa absorver a informação. É uma expectativa demasiado grande pensar que os professores da escola poderão lhes ensinar essas coisas, pois os professores já têm alunos demais pelos quais se responsabilizar." Quando os filhos estão em casa, os pais devem primeiro se focar nos ensinamentos do Senhor Buda sobre comportamento moral, antes de proceder para outros tópicos, como escolher uma esposa e herança familiar. Ao final, quando confrontados com tentações como andar de clube em clube, beber e se drogar, os filhos serão capazes de fazer julgamentos sólidos sobre se devem ou não fazer algo. 2. Mantendo os filhos longe de Apāyamukha. Quando as crianças já têm o hábito da Apāyamukha, a única forma de trazê-las de volta é conversando com elas, sem nunca recorrer à raiva. Permita que as crianças cheguem às suas próprias conclusões, uma vez que compreenderem que a preocupação dos pais se baseia em seu amor por elas. Muitas vezes, elas tomam decisões sem compreender por que essas decisões estão equivocadas. Algumas vezes, elas nem mesmo percebem que estavam preocupando ou magoando os pais.

Há três temas importantes que os pais precisam explicar aos filhos.

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1) Ensine a eles que o dinheiro vem do trabalho árduo Um pai pode explicar que sair à noite e beber muito com os amigos é um desperdício de dinheiro, que foi ganho com muito esforço. As pessoas devem trabalhar muito para comprar itens necessários como comida, abrigo e roupas, e os pais batalham para construir um legado para os filhos. Desperdiçar esse dinheiro em poucas horas de diversão é como deixar o futuro de alguém se evaporar no ar. Explique que nem todos saem para dançar ou consumir álcool. Na verdade, há muitas pessoas que se envolvem em atividades mais dignas, como ser voluntários na ajuda aos sem-teto ou ler para pessoas cegas. É certamente muito mais recompensador do que sair todas as noites. 2) A pressão dos pares pode influenciar o comportamento

Os pais também podem explicar que os jovens tendem a fazer coisas tolas. Eles não têm experiência de vida, e muitas vezes têm uma compreensão imperfeita do certo e do errado. Querem experimentar coisas ruins, como drogas e álcool, apesar de conhecer as conseqüências legais e muitas vezes sem saber das conseqüências morais. Explique que sair todas as noites com amigos desse tipo pode levar uma pessoa boa a cair em tentações a que ela não consegue resistir. 3) Viver de forma perigosa traz conseqüências reais Os pais também podem explicar as ciladas de um estilo de vida perigoso. Estar próximo a pessoas alcoolizadas ou embriagar-se são atitudes que potencialmente apresentam inúmeros resultados terríveis: envolver-se em brigas, ser preso, contrair HIV ou outra doença, ou até mesmo ferir-se ou ser morto. Explique que os filhos são o tesouro mais precioso que você tem, e a idéia de perdê-los é o pior pesadelo de um pai ou de uma mãe. Todos os pais desejam

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que os filhos sejam os melhores, alcancem totalmente seu potencial e sejam pessoas admiradas pelos outros. Querem vê-los na companhia de boas pessoas, cujo exemplo os inspirará e os melhorará. Mesmo antes de os problemas surgirem, se os pais discutirem esses tópicos com os filhos, de forma amorosa e racional, estes entenderão o imenso amor que os pais têm por eles. Esse pode ser o ponto de partida para que pensem e ajam de forma mais responsável, e que consigam discernir entre os bons amigos e as más companhias. É possível encontrar atividades mais construtivas para ocupá-los.

As famílias que já se encontram em crise ainda podem encontrar soluções eficazes se lembrarem do seguinte: o amor dos pais pelos filhos não é suficiente; deve vir acompanhado pela razão e pelo entendimento. Com um trabalho constante, os pais podem reconquistar os filhos desobedientes, e os filhos podem reconquistar pais honrados.

Capítulo 21

O marido infiel e alcoólico

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Um marido que é infiel e que bebe demais pode destruir uma família. Como é possível salvar um casamento de um indivíduo assim? Luang Phaw deu uma resposta muito interessante para esse enigma. Escolhendo o parceiro de vida

Luang Phaw explicou que, ao escolher um parceiro para a vida, devemos observar os casais e analisar sua experiência. Descobriremos que, antes de eles se casarem, ambos confiavam em que tinham escolhido o parceiro de vida que mais se adequava a cada um. Imaginavam que, uma vez casados, sua vida seria abençoada. Imaginavam que qualquer conflito seria mínimo e se resolveria amigavelmente, e que nunca abandonariam um ao outro.

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Entretanto, uma vez que viveram juntos por algum tempo, o encantamento inicial se dissipou e eles viram seus maridos ou mulheres exibindo algumas vezes seus piores comportamentos. Independente de esse outro lado do cônjuge levar a conflitos maiores ou menores, sempre haverá problemas a enfrentar. Ao final, a felicidade mágica que eles previram um dia na sua vida de casados é apagada pela realidade. O Senhor Buda nos deu critérios para escolher a pessoa certa como parceiro de vida. Ele ou ela devem ter as seguintes quatro qualidades: 1) Compreender e confiar na Lei do Kamma 2) Observar os Preceitos 3) Estar disposto a ajudar os outros 4) Ter sabedo Essas quatro qualidades são essenciais para desenvolver uma sólida base para a vida. Portanto, devemos buscá-las também em nosso parceiro de vida. Confrontando um marido adúltero

No livro Good Question Good Answer (Boa Pregunta, Boa Resposta), Luang Phaw oferece respostas com relação a problemas na família, e ele disse o seguinte sobre como lidar com um marido adúltero: Há dois fatores principais que podem levar um homem a se tornar adúltero. 1) Um marido se desvia porque sente falta de algo em sua esposa. Embora esta seja uma tarefa muito difícil, uma esposa precisa compreender as falhas que ela pode ter que influenciaram a traição de seu marido. Buscar nossas próprias falhas requer que primeiramente acalmemos nossa mente. Não há melhor forma de alcançar clareza do que praticar a meditação diariamente. As menores falhas dos outros são percebidas como enormes, ao passo que não conseguimos reconhecer nossas próprias falhas, gigantescas e espantosas. Quando

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fechamos os olhos para meditar, podemos apenas ver a nós mesmos. Nossas falhas lentamente surgirão diante de nós. Quanto mais calma estiver a mente, mais poderemos ver. Se pudermos começar a ver nossas próprias falhas, também surgirá uma forma de remediá-las. Há uma coisa sobre a qual gostaria de advertir a esposa que tem um marido adúltero: não recorra a magia negra ou a comportamento vingativo apenas para mortificá-lo. Essa não é a solução, e apenas inflamará a hostilidade. 2) Um marido infiel pode ser adúltero por hábito

Esse tipo é muito difícil de remediar, portanto uma esposa só pode suportar e considerar esse fato a triste conseqüência de não avaliar bem as pessoas e escolher alguém assim como marido. Você pode controlar apenas seu próprio comportamento, e é melhor manter sua dignidade não fazendo retaliações com a mesma atitude.

Mudar um marido adúltero requer tempo. Continue a realizar boas ações para que ele sinta apreciação. Talvez ele pare com seus hábitos de ser infiel. Embora isso possa demandar muitos anos, é de fato tudo que podemos fazer. Confrontando um marido alcoólico Luang Phaw também tinha recomendações para essa situação: Se uma esposa se vê casada com um marido alcoólico, ela precisa analisar e aceitar o fato de que isso talvez se deva a suas escolhas erradas. A primeira escolha que ela fez foi se casar em vez de permanecer solteira.

A segunda escolha que fez foi se casar com um homem que bebia demais.

Ter um esposo e pai alcoólico em casa é prejudicial para as crianças. Estas, vendo sua conduta bêbada e desordeira, tornam-se também agressivas. Elas aprendem de seu

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exemplo e podem acabar sendo alcoólicos. Uma esposa deve corrigir essa tendência nos filhos da forma mais diligente possível. A vida de casado não é fácil. Se você fizer as escolhas erradas desde o princípio, você terá de lidar com as conseqüências pelo resto de sua vida. Mulheres solteiras, lembrem-se de que é difícil encontrar homens que sejam fiéis e que se abstenham de beber. Portanto, vocês estão muito melhor solteiras. É uma escolha mais sábia. De acordo com a Lei do Kamma, ter um cônjuge alcoólico indica que, em uma vida passada, você aprovava o fato de beber e não desencorajava as pessoas a fazê-lo. Em vez disso, você lhes servia deliciosos lanches para acompanhar a bebida, incentivando-os a beber ainda mais. Esse Kamma levou a que você tivesse um marido alcoólico. Se você se encontra nessa desafortunada situação, é importante manter o bom ânimo. Continue indo ao templo e praticando dana e acumulando mais méritos. Se você tiver filhos, traga-os ao templo e faça desse hábito uma parte de suas vidas desde a mais tenra infância. Entoem cânticos e meditem juntos. Mantenha sua disciplina e a deles também. Desculpamo-nos se algum leitor sentir que Luang Phaw está abordando de forma muito direta algo que pode estar ocorrendo em sua vida. O ensinamento é incluído aqui por um desejo de ilustrar àqueles que ainda estão solteiros uma situação que pode ocorrer na vida de um casal. Dessa forma, eles podem abordar o casamento com os olhos bem abertos e escolher seus parceiros de forma cuidadosa e prudente.

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Capítulo 22 As estradas que levam à ruína

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Muitos jovens recém-formados costumam ser diligentes e focados quando iniciam seu primeiro emprego. Alguns dias eles até trabalham horas adicionais com a esperança de conseguir um bom salário ao final do mês. Entretanto, depois de trabalhar muitos anos, em vez de uma situação financeira melhor, o que eles juntaram foram dívidas. Eles acabam vivendo de contracheque em contracheque, embora tenham trabalhado tanto. Como algumas pessoas conseguem dilapidar sua própria riqueza? Muitas pessoas que vêem seus amigos lutando financeiramente não sabem o que dizer, já que o dinheiro é um tema delicado para se

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conversar com alguém. Embora preocupadas, elas não sabem como ajudar. Eu mesmo me deparei com esse problema e senti o desespero. Essa experiência me levou a repassar minhas anotações sobre os ensinamentos de Luang Phaw. Luang Phaw disse que, quando tinha cerca de 30 anos, e ainda não tinha sido ordenado, ele próprio estava em apuros financeiros. Embora estivesse ganhando um bom salário, ele ainda gastava mais do que ganhava. Incapaz de corrigir a situação, ele procurou a ajuda de sua mãe. Ela pôde ajudá-lo financeiramente. Ela lhe disse: “Filho, não é importante quanto dinheiro você ganha, a questão é quanto você economiza. Neste mundo, muitas pessoas ganham muito, mas sobra pouco ou nada. Ao mesmo tempo, há muitos que ganham menos, mas que economizaram mais.” Ela continuou: “Ganhar muito mas ter pouco sobrando é como usar uma cesta de bambu para coletar água. Quando a cesta é submersa, fica cheia de água, mas quando levantamos a cesta, você terá uma cesta molhada e nenhuma água. “Entretanto, ganhar um pouco mas economizar muito é como usar uma casca de coco ou uma bacia para coletar a água. Embora seja uma vasilha pequena, ela carregará a água com segurança.”

Se uma pessoa ganhar muito, mas se dedicar a beber, é como ter um vazamento na vasilha. Se você joga, mesmo quando sabe que não deve, é outro tipo de vazamento. Sair para socializar em um bar, clube ou em locais que você não deveria ir, também forma um vazamento. Todos esses "vazamentos" podem ser chamados de Apāyamukha, ou Estradas que levam à Ruína. Nós aprendemos sobre as estradas que levam à ruína muitas vezes, mas nunca implementamos os princípios para

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evitá-las em nossas vidas diárias. Quando sofremos, culpamos a sociedade ou outra pessoa. Luang Phaw recebeu muitos bons conselhos de sua mãe naquele dia, e conseguiu mudar seu comportamento. Ele se tornou mais prudente com seu dinheiro e se manteve longe de dívidas. ************************************** Luang Phaw entrou pela primeira vez ao templo quando um amigo o convidou para ir meditar. Naquela época, ele havia se envolvido em um conflito com seu chefe. Na noite antes de ir ao templo, ele havia bebido muito, e na manhã seguinte estava de ressaca. Quando chegou ao templo, seus amigos o convidaram para se unir a eles para a cerimônia de oferenda da túnica, cujo mérito o ajudaria no trabalho. O conflito com seu chefe ainda estava fresco em sua mente, e sentindo um pouco a ressaca, ele retorquiu: “Mérito! Não posso ver como isso possa ajudar alguém. Faço méritos regularmente, mas ainda tenho problemas com meu chefe.” Khun Yay (Khun Yay Ajahn Ubasika Chand Khonnokyoong) ouviu essa conversa e pediu a Luang Phaw que se encontrasse com ela. Ela disse: “Filho, você mencionou que os méritos não podem ajudar em nada? Em um ano, quanto mérito você realizou?”

Luang Phaw replicou, “Eu dôo 100 ou 200 bahts por mês, portanto em um ano isso totaliza 2.000 ou 2.500 bahts.” Khun Yay uniu as mãos e disse: “Muito bom, continue fazendo isso.” Ele pensou que a conversa tinha acabado, mas Khun Yay continuou fazendo perguntas. “Filho, você fuma?” “Sim, eu fumo.” “Quanto você gasta em cigarros por ano?” Naquela época, Luang Phaw fumava cigarros que custavam seis bahts por maço, e fumava cerca de 1 ½ a 2 maços por dia. Ele respondeu: "Cerca de 3.000 ou 4.000 bahts por ano.” Khun Yay continuou perguntando: “Você bebe?” “Sim, eu bebo.” “Quanto você gasta por

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ano bebendo com seus amigos?” “Khun Yay, se você multiplicar a quantidade de dinheiro gasto em cigarros duas ou três vezes, seria cerca de 12.000 bahts em bebidas.” “Você vai a clubes com os seus amigos?” “Sim, vou.” “Quanto você gasta em um ano indo a clubes?” “Acredito que cerca de duas ou três vezes a quantia gasta em bebidas.” “Filho, você contribui com cerca de 2.000 a 2.500 bahts todos os anos para fazer méritos, mas ao mesmo tempo você gasta 100.000 bahts em cigarros, bebidas e clubes. Entretanto, você reclama que os méritos não estão ajudando você. Se você morresse agora mesmo e não fosse para o inferno, poderia se considerar um homem de muita sorte. Você tem diplomas de uma universidade tailandesa e de outros países, ainda assim não consegue analisar sua própria situação logicamente?” Quando recebeu a rigorosa reprimenda de Khun Yay, ele se recuperou da ressaca e sentou-se quieto por uns instantes. Luang Phaw disse: “Esse momento foi o empurrão que me ajudou a parar de beber. Embora Khun Yay apenas tenha pronunciado umas poucas palavras, ela me fez querer voltar para casa e esmagar todas as garrafas de bebida que eu tinha. A partir daquele momento, nunca mais toquei uma gota de álcool.” Uma vez que ele parou de beber, instou seus amigos a pararem também. Ele lhes disse: “Quando os aniversários vêm, normalmente pensamos em bebida, em vez de pensar em nossas mães. Desta vez, quando for nosso aniversário, devemos ir e agradecer nossas mães e mostrar-lhes nossa gratidão por nos ter permitido nascer, em vez de desperdiçar nosso dinheiro bebendo com os amigos.” Luang Phaw continua: “Se não nos apressarmos a sair das estradas que nos levam à ruína, seremos como espinhos para a sociedade. Cairemos mais fundo na dívida e

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atrairemos apenas más companhias. “Se pararmos de beber, fumar e jogar, nossos amigos imorais desaparecerão. Boas pessoas vão desejar nossa amizade. A deterioração social diminuirá. E nossas próprias finanças estarão mais seguras. “Decidi não beber nem fumar, e sim ir ao templo e estudar seriamente o Dhamma. Não perdi tempo tentando reduzir meus vícios um pouquinho por vez. Cortei-os imediatamente e por completo naquele dia. “Se eu não tivesse as pessoas que mais respeitava, minha mãe e Khun Yay, para me indicarem minhas próprias falhas, eu não estaria aqui compartilhando essas inquietações com todos vocês hoje. Vão e perguntem a seus amigos se eles têm dívidas cada vez maiores porque dilapidam seu dinheiro tão duramente ganho?” Usar seu dinheiro em Apāyamukha é como comprar problemas para sua vida. Isso arruinará não somente suas finanças, mas acabará arruinando sua carreira e toda sua vida. Se você perceber a estupidez de seu comportamento, você deve buscar solução para ele. Resolva-se a abandonar Apāyamukha completamente hoje, pois se você não escolher se ajudar, ninguém mais poderá ajudá-lo.

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Capítulo 23

Por que buscar prostitutas é um pecado

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Nestes tempos, o número de pessoas com AIDS está aumentando. Um dos motivos para esse aumento é que a maioria dos homens jovens acredita que buscar uma prostituta não é moralmente errado porque acreditam que não é uma conduta sexual errada se houver consenso. Um dos pensamentos equivocados mais comuns dos homens é: “O que está errado em buscar uma prostituta?”

Os ensinamentos do budismo claramente indicam que o problema de ser ou não errado procurar uma prostituta não é determinado com base nos Preceitos (sila), mas recai no conceito das estradas que levam à ruína (Apāyamukha).

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“Apayā” significa uma forma de deterioração, desastre ou algo que não leva à prosperidade. “Mukha” significa face, forma ou portão. Assim, Apāyamukha significa uma porta para a deterioração, o desastre e o prejuízo. Qualquer homem, solteiro ou casado, que procura uma prostituta, sem importar as circunstâncias, tem uma aparência maculada pela deterioração, o desastre e o prejuízo. A partir deste momento, sem importar o que ele faça, as pessoas ao seu redor o verão com desconfiança. 1) Ele tem AIDS? A maioria das pessoas sabe que quando alguém se envolve com prostitutas, inevitavelmente é seguido por doenças sexualmente transmissíveis e a AIDS. Além disso, ele mesmo se perguntará repetidamente se não contraiu AIDS. 2) Uma boa pessoa verá esse homem como alguém que deshonra as mulheres. 3) O homem está cultivando um mau hábito, uma atitude de tratar as mulheres com condescendência. Uma vez casado, ele usará esse mau hábito com sua esposa. 4) Desperdício desnecessário de dinheiro. Podemos dizer que um homem está gastando dinheiro para comprar deterioração, desastre e prejuízo para ele mesmo. Seria mais benéfico dar o dinheiro a sua mãe para que ela pudesse fazer mais méritos.

Portanto, os monges nos recordam:

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“Se você estiver prestes a gastar dinheiro com uma prostituta, pense em sua mãe e quanto ela padeceu para criar você até o dia atual. Agora que seus filhos podem se sustentar sozinhos, eles devem dar dinheiro a ela para fazer mais méritos que a seguirão em vidas futuras. Há mães que criam os filhos até o ponto em que eles usam todas as suas economias e não têm mais tempo para acumular mais méritos”.

Luang Phaw nos recorda que se continuarmos ensinando e educando os outros, há esperança de que estupros, maus comportamentos sexuais e mortes causadas por desejo sexual e luxúria diminuam substancialmente. Além disso, os problemas crescentes com prostitutas e AIDS desaparecerão da Tailândia e do mundo. O povo da Tailândia ganhará grandes méritos.

Capítulo 24

O jogo nunca deixou ninguém rico

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Mesmo antes de tocar o primeiro apito de um jogo de

futebol, dinheiro emprestado, salários, mensalidades escolares e as pensões de muitas pessoas já foram colocados em apostas na mesa de jogo. Isso é um panorama típico que ocorre fora do campo de futebol, e tem efeitos impressionantes em toda a família.

Estima-se que, em um dia típico, o dinheiro que circula para apostas em um jogo de futebol supere vários milhões. Isso é um número extremamente elevado para um país em desenvolvimento como a Tailândia.

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Os corretores de apostas transbordam de contentamento quando vêem os números e quanto dinheiro irão coletar. Entretanto, para aqueles que trabalham em empregos honestos, essa forma de vida é considerada cruel, porque os corretores estão ganhando dinheiro de pessoas que não sabem como usar seu dinheiro.

Essas pessoas sem um centavo, que perderam todo seu dinheiro no jogo, voltam-se então para os corretores em busca de empréstimos. Se eles não puderem conseguir o dinheiro para saldar sua dívida, recorrerão a atividades criminosas, corrupção e prostituição para poder pagá-la.

A idéia de trabalhar em uma profissão honrada desaparece de suas mentes à medida que se enterram cada vez mais fundo no vício do jogo. O vício é difícil de romper porque o único tópico é recuperar o dinheiro perdido.

Como todos nós somos tailandeses, temos que considerar as melhores intervenções para ajudar aqueles que sofrem com este vício para obter os melhores resultados. Há quatro coisas que devemos analisar:

1) Não devemos nos envolver em apostas de jogo.

2) Precisamos evitar que nossos filhos se tornem apostadores, explicando-lhes os danos e o perigo do jogo.

3) Não devemos promover ou incentivar um ambiente

de apostas em casa, no trabalho ou na escola.

4) Devemos explicar a nossos entes queridos a destruição provocada pelas apostas, e como estas nunca tornaram ninguém rico.

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Por que os apostadores não ficam ricos? Porque eles já destruíram seu valor interno verdadeiro.

1) O jogo de apostas destrói nossa qualidade humana.

A qualidade de ser humano depende de nosso nível de

honestidade. No instante em que nos envolvemos com apostas, surge automaticamente a falsidade, e a honestidade se perde. Sempre que a aposta se instala, a falsidade aparecerá. Se não ocorrer fraude durante o jogo, compreenda que isso é porque a oportunidade ainda não apareceu.

2) O jogo de apostas destrói nossa sabedoria. Os apostadores que perderam seu dinheiro perceberão

o dinheiro como uma deidade que pode lhes proporcionar tudo. Eles esquecem que há muitas coisas que o dinheiro não pode comprar. Quando eles têm dinheiro, o gastam em coisas inúteis, já que não sabem com que rapidez este passará para outras mãos, ou quando poderão perdê-lo no jogo. Eles se tornam desperdiçadores e não sabem o verdadeiro valor do dinheiro. Eles só vêem o dinheiro como um pedaço de papel. Uma vez que o gastam, anseiam por mais dinheiro uma e outra vez, pelo resto de suas vidas. Em vez de usar a sabedoria que possuem de forma benéfica, eles a usam para maquinar formas de enganar os outros.

3) O jogo de apostas desperdiça nosso tempo. Quando as pessoas apostam, esquecem de tudo.

Mesmo quando vencerem, esquecerão de tudo. Quando perderem, tentarão com ainda mais afinco encontrar formas de recuperar seu dinheiro. Não pararão de jogar até

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que o façam, a menos que sejam forçados a parar porque todo seu dinheiro foi perdido. Quando vencem, nunca é suficiente. Com cada dia que passa, eles podem perder seu emprego e outras coisas importantes sem nem sequer se dar conta. 4) O jogo de apostas destrói nossa saúde.

Quando as pessoas apostam, elas negligenciam e sacrificam seu descanso e seu sono, adiam ir ao banheiro e comem em horas irregulares do dia e da noite. Como resultado, sua saúde fica comprometida e podem sobrevir doenças.

Como você pode ver, o jogo de apostas destrói tudo, mesmo nossa qualidade de ser humano. Mesmo quando vencem, não podem gastar em nada que seja benéfico por muito tempo. Assim, nunca ficam ricas e não podem encontrar segurança na vida.

O jogo, não importa sob que forma, é uma fonte de destruição e descuido. É melhor nunca se envolver.

Portanto, durante a estação frenética do futebol, devemos proteger uns aos outros e aos seres queridos para não se envolverem em apostas. Isso requer um esforço grupal para explicar os efeitos prejudiciais do jogo de apostas. Vamos espalhar isso um por um, passar adiante. Com cada som do apito, podemos evitar que nossos filhos se escravizem do jogo.

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Capítulo 25

Filhos que querem que seu pai pare de beber

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Muitas famílias podem ter enfrentado o problema

diário de ver seu pai bêbado e brigando. Uma vez bêbado, o pai grita com os vizinhos, instiga brigas com sua esposa e bate nas crianças. Isso exaspera a todos no lar. Entretanto, por causa do amor e gratidão que eles têm por seu pai, os filhos desejam encontrar uma forma de ajudá-lo a parar de beber. Infelizmente, os filhos muitas vezes não sabem o que fazer. Portanto, eu gostaria de recomendar um método que usei uma vez e que funcionou para mim, e que talvez possa ser uma orientação prática para indicar a esses pais a direção certa.

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Havia um estudante que se aproximou de Luang Phaw procurando aconselhamento para ajudar a seu pai a parar de beber, porque toda vez que seu pai bebia, tornava-se violento e gritava com os vizinhos. Isso fazia com que este estudante e sua mãe tivessem vergonha e medo de sair. Também fazia com que os vizinhos os olhassem com desprezo e que fossem hostis.

Essas preocupações o levaram a procurar conselho com Luang Phaw, que ele respeitava como seu próprio pai. Para aliviar o desassossego do estudante, o seguinte conselho foi dado:

É uma desventura que seu pai seja tão dependente da bebida. Seria mais fácil falar sobre isto se fosse outra pessoa, e não seu próprio pai. Mesmo antes de você terminar de explicar sobre sua preocupação, ele provavelmente responderá dizendo que não deveria estar lhe dizendo isso, e que ele criou você desde que era bebê, quando seus pés eram tão pequenos quanto conchas do mar.

Luang Phaw também passou por isso. Embora eu seja

um Bhikkhu e tenha ensinado inúmeras pessoas a parar de beber e fumar, ainda assim foi difícil quando precisei fazê-lo com minha própria família. Eu voltava para casa e dizia: “Pai, por favor, pare de beber para que sua saúde possa melhorar. Você pode usar seu tempo para ouvir ao Dhamma, e para meditar.” Toda vez que eu mencionava este assunto, sempre tinha uma resposta negativa, mas nunca desisti.

Naquela época, meu pai tinha setenta anos. Eu queria que ele entoasse cânticos, meditasse e purificasse sua mente, e esperava que ele acumulasse o máximo de méritos possível durante a última parte de sua vida, para poder carregar esses méritos consigo em suas vidas futuras.

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Quando tentei persuadi-lo a deixar a bebida e vir ao templo para fazer méritos, ele retorquiu: “É uma excelente idéia. Se eu começar a meditar hoje e beber enquanto estiver fazendo isso, pode ser que minha meditação fique ainda mais clara.”

Como deveria reagir, se ele respondia dessa forma? Se eu falasse de forma muito dura com ele, geraria um mau kamma, pois ele era meu pai. Se não o advertisse, não estaria recompensando-o por me dar a vida. Lutei por anos e anos antes de encontrar uma solução.

Finalmente, eu tive que usar a engenhosidade para resolver esse problema. Comecei dizendo a minha mãe que não comprasse bebidas para ele. Como ele não podia intimidar minha mãe para que o fizesse, ele se voltou para minha irmã. Então, pedi a minha irmã que não comprasse bebidas alcoólicas para ele. Quando ele não pôde pedir aos filhos, voltou-se para seus netos. Então, eu disse aos netos que não comprassem bebida alguma para o avô. Quando os netos se recusaram a fazer o que o avô tinha pedido, ele reclamou e os xingou. Pedi aos netos que apoiassem o avô por amor.

Como último recurso, meu pai então coagiu seus bisnetos, que tinham sete e oito anos, a comprar bebidas para ele. Eu tive que guiar e instruir os bisnetos, usando vários métodos.

O processo foi como derrubar uma árvore. Não podemos cortar a raiz principal, devemos primeiro cortar as raízes secundárias. A raiz principal mais cedo ou mais tarde morrerá, já que suas fontes de nutrientes foram cortadas e eliminadas.

Finalmente, meu pai conseguiu largar a bebida porque ninguém comprava para ele, e a loja de bebidas ficava muito

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longe de casa para que fosse por conta própria. Fomos muito afortunados. Meu pai faleceu com 86 anos. Ele parou de beber completamente com 80 anos, portanto esteve sem ingerir bebidas alcoólicas por apenas seis anos antes de falecer. Se você deseja ajudar seu pai a parar de beber, deve pacientemente buscar um método que seja adequado para ele. Não desista, nem por um dia, e você encontrará um meio.

Prezados e respeitáveis leitores, agora que vocês leram até esta parte, vocês devem perceber que é uma tarefa difícil para os filhos que querem ajudar seu pai a parar de beber. Ao ensinar adultos, precisamos fazê-los pensar. Para evitar embaraços, precisamos usar a sabedoria e descobrir uma forma que seja adequada à personalidade deles. Devemos perseverar para poder conduzi-los para longe dos reinos desafortunados (Apayabhumi).

Da mesma forma, o Senhor Buda, depois de alcançar a iluminação, não retornou imediatamente para a cidade de Kapilavatthu, para falar do Dhamma a seu pai. Ele percebeu que, se tivesse feito isso, seu pai não teria ouvido. Em vez disso, depois da iluminação, o Senhor Buda primeiro foi ensinar as pessoas na cidade de Magadha. Ele desejava que sua reputação crescesse e chegasse até seu pai, e que os outros falassem de sua bondade. Uma vez que sua reputação cresceu, ele teve certeza de que seu pai tinha completa confiança nele.

Mesmo então, o Senhor Buda teve de realizar um milagre caminhando em círculos, caminhando no ar e desencadeando uma poderosa chuva Bokarapotta. Aquelas

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pessoas que queriam se molhar, se molharam, e aquelas que não queriam, não se molharam. Foi um forte temporal.

Depois que seu pai e a família real testemunharam o milagre, deixaram que sua teimosia se fosse e demonstraram seus respeitos prestando homenagens ao Senhor Buda. Eles ouviram e acreditaram em seu Dhamma, e alguns acabaram alcançando a iluminação.

A moral da história do Senhor Buda é que, para que os filhos tenham sucesso ao ajudar seus pais a deixar de beber, eles próprios precisam ser íntegros, e devem ser modelos que as pessoas possam respeitar. Deixe seu pai reconhecer que você é inteligente e capaz, para que não possa olhá-lo com desprezo. Então, encontre uma abordagem adequada que seja respeitosa e apropriada para ele. Se você tiver êxito, também ganhará imenso mérito por ajudá-lo.

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Capítulo 26

Pais que os filhos detestam

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Algumas vezes, quando o pai está habituado a tomar as estradas para a ruína [Apāyamukha] e não é capaz de ser o líder da casa, as responsabilidades recaem sobre a mãe. Se essa situação ocorre regularmente na família, os filhos muitas vezes sentem que seu pai está se aproveitando da mãe. Algumas vezes, esse sentimento é tão forte que começam a detestar o pai. Se alguma família estiver enfrentando esse problema, qual seria a forma correta de que os filhos possam corrigir a situação?

Uma vez, havia um menino que veio ver Luang Phaw para consultá-lo a respeito de seu pai.

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“Luang Phaw, sinto que meu pai se aproveita injustamente de minha mãe. Ele não se importa com os filhos e só pensa em si mesmo. Só está preocupado com seu próprio bem-estar. Durante os tempos difíceis, ele deixa que nossa mãe ganhe o dinheiro para cuidar de nós. Ele fica em casa e a trai com a empregada. Eu recebo retribuição kammica se eu detestar meu pai?”

Luang Phaw deu o seguinte conselho ao menino: Já é errado que seu pai não esteja sendo responsável

por seus deveres. Além disso, procurar confortos na vida somente para ele, e trair sua mãe com a empregada, rompe o preceito do adultério. Ele está acumulando um imenso kamma negativo por conta própria.

Os problemas que ele tem com sua mãe são

estritamente entre eles dois. Luang Phaw quer lembrá-lo de que, quando você olhar

para seu pai e sua mãe, considere o seguinte: antes de que qualquer ser vivente nasça, é necessário que tenha um protótipo.

Por exemplo, se tivermos um pedaço de argila e a

modelarmos para fazer um copo, quando colocarmos a argila no molde teremos um copo. Se tivermos um molde de uma vasilha, teremos uma vasilha. Se tivermos um molde com a imagem de Buda e colocarmos argila no molde, teremos uma imagem de Buda à qual prestar homenagens. Essa mesma argila, se usada com diferentes moldes, terá diferentes valores. Se não tivermos molde nenhum, a argila será apenas um pedaço de argila, sem valor adicional.

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Para que as pessoas possam nascer, elas precisam de um protótipo. Se o protótipo dos pais for uma vaca ou um búfalo, então o filho terá de nascer como uma vaca ou búfalo. Se o protótipo for de um macaco, o filho será um macaco. Se o protótipo dos pais for de um ser humano, então o filho terá de ser humano também.

Pergunte a si mesmo: se alguém, inteligente graças aos

méritos de uma vida passada, tivesse de nascer do ventre de um macaco, e chorasse como um macaco ao nascer, quanto seria capaz de fazer?

Ou pergunte-se em que situação você preferiria estar:

nascer como humano, com pais que não cuidam de você, resultando em crescer em um orfanato, ou nascer como um macaco, embora bem cuidado até crescer; que situação é preferível?

Você gostaria de ter nascido como macaco? Não iríamos

querer isso porque os atributos de um ser humano são os mais adequados para acumular todo tipo de méritos. Podemos oferecer doações [Dana], observar os Preceitos [Sila] e praticar meditação [Bhavana]. Podemos realizar todas essas coisas. Quando temos os atributos de um animal, não podemos realizar ações meritórias, e ter o pensamento superior de um ser humano.

Se você tivesse os atributos de um macaco, fizesse sons

de macaco e vivesse na floresta, você não seria capaz de realizar qualquer boa ação. Apenas seria tão inteligente quanto um macaco, e seria um líder macaco liderando seu grupo enquanto todos saltavam de árvore em árvore. Você realmente não poderia fazer muito.

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Se você fosse inteligente, mas tivesse os atributos de uma tartaruga que se arrasta lentamente, o que você poderia fazer? Se fosse esperto, no máximo seria a tartaruga mais esperta do mundo. Entretanto, você ainda seria apenas uma tartaruga.

Como você nasceu humano, independente do fato de

seus pais cuidarem de você ou não, deve agradecer a eles por proporcionarem a você o protótipo de um ser humano. Criá-lo é uma gentileza adicional que você recebeu como bônus. Além disso, se eles lhe deixarem uma herança no valor de 10, 20 ou 100 milhões de bahts, isso é um mérito extra. O fato de que seus pais proporcionaram a você o protótipo para ser humano é muito mais que qualquer coisa que você possa fazer para retribuir inteiramente. Portanto, não odeie nem magoe seus pais, porque isso é kamma negativo.

Depois de ouvir Luang Phaw discutindo esse assunto,

questionamo-nos o que teria acontecido com esse menino e sua família se ele não tivesse consultado Luang Phaw.

Pare de beber para que possa ser um bom

modelo para os filhos. Deixá-los orgulhosos é algo que um pai deve se esforçar em fazer, pois toda criança espera ter um pai que seja uma boa pessoa, e não um alcoólico.

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Parte Cinco

A verdade da vida

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Capítulo 27

Papai, por que nós nascemos?

Um dia, uma família convidou algumas pessoas à sua casa para participar de um ritual religioso junto com o bisavô. Depois da cerimônia, quando todos os convidados tinham ido embora, o filho perguntou ao pai:

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“Papai, já que todos têm que morrer, como nosso bisavô, então qual é o propósito da vida?” O pai, que tinha adquirido conhecimentos sobre o budismo, respondeu ao filho amado: “Meu filho, bem no fundo, todos, ricos ou pobres, plebeus ou reis, já se perguntaram o que estamos fazendo aqui, qual é o verdadeiro propósito da vida. Eu mesmo costumava me perguntar isso. Essa pergunta me levou a estudar o budismo seriamente, o que me deu uma compreensão da vida: 1. A morte não é o fim. Nós ainda teremos de renascer indefinidamente, enquanto não nos livrarmos de nossas impurezas. 2. Todas as boas ações e as más ações têm conseqüências. Elas podem trazer frutos nesta vida ou na próxima. Podemos ver que algumas pessoas nascem espertas, outras não. Algumas têm boa aparência, outras não. Todos esses fatores são os produtos de seu kamma.

3. O céu e o inferno existem. O inferno é a punição para aqueles que cometeram ações pecaminosas, e o céu é o lar daqueles que realizaram ações virtuosas. “E, se observarmos atentamente o nascimento de todas as criaturas vivas, veremos que elas são diferentes. Algumas nascem do útero, outras espécies nascem do ovo, e outras ainda de águas imundas. Mas há espécies que nossos olhos não viram, mas sobre as quais já ouvimos falar: seres celestiais e depravados infernais. Eles nascem já crescidos e sem pais, um nascimento autônomo e espontâneo.

“O conhecimento desses três tópicos eu obtive do budismo. Eles me influenciaram de forma a melhorar a mim mesmo, elevar meus princípios morais e acumular méritos. Estou esperando que, em minha vida futura, quando meus méritos forem aperfeiçoados, com todas as minhas imperfeições eliminadas (exauridas), eu siga o Senhor Buda para o Nibbana.

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“Depois de meus estudos, a primeira coisa que veio à minha mente foi como levar a mim mesmo, meus pais, sua mãe e todos os meus filhos para longe das más ações. Além disso, queria assegurar que todos os nossos avós fossem para o céu. Uma vez que estabeleci essa meta, dei uma boa olhada em mim mesmo. Embora ainda tivesse que ganhar meu sustento, manter sua mãe e todos vocês, assim como seus avós, procurei uma maneira de minha família ganhar méritos ao mesmo tempo. Assim, aprendi mais sobre o budismo e aprendi que havia um conjunto de Dhamma especificamente para leigos. Há quatro virtudes, e elas são chamadas de Dhamma para Leigos (Gharāvās-dhamma). 1. Verdade (Sacca) “Essa primeira virtude me ensinou a ser sincero, direto e honesto. Lembre-se, meu filho, a maioria das pessoas recorreria a mentiras para escapar da forca. Você não deve fazer isso. Você deve responder por suas responsabilidades, por sua profissão, ser pontual com seus compromissos e honesto com todos. E, acima de tudo, você deve se guiar pela ética, como os Cinco Preceitos. Então você não estará sujeito a desconfiança. Você caminhará com orgulho e respeito toda sua vida, e é isso que eu obtive.

2. Auto-superação (Dama) “A segunda virtude é sempre melhorar a si mesmo. Eu continuo me aprimorando profissionalmente. De uma pessoa ignorante, continuei avançando até que consegui me tornar um bom provedor, ter meu próprio negócio, tornar-me proficiente em minha carreira e me manter atualizado com as pessoas à minha volta e com os eventos mundiais. Consegui me controlar para não sucumbir aos vícios, abster-me da bebida, do cigarro, das mentiras e de enganar sua

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mãe. Esses são os valores que obtive que levam à sabedoria.

3. Resistência física e mental (Khanti) “Resistir às dificuldades físicas e mentais: esta é a terceira virtude. Sem importar quais fossem as causas principais, consegui suportar dificuldades físicas, esgotamento, dor e maus tratos. Além de tudo isso, fui capaz de resistir a tentações. Uma vez um monge disse que qualquer pessoa que conseguisse suportar essas dificuldades seria forte, carismático e bem-sucedido. E foi assim que eu obtive minha riqueza.

4. Eliminação das emoções negativas e da avareza (Cāga) “A quarta virtude nos ensina a nos livrarmos da irritabilidade e avareza. Sempre mantenho meu bom humor e tento ajudar os outros. Essas qualidades conquistaram o apreço de meus parentes, vizinhos, chefes e subordinados. E, quando abri meu próprio negócio, eles estavam prontos para devolver o favor e me avisaram das armadilhas. Foi assim que obtive meus bons amigos.

“Adotar essas quatro virtudes me permitiu avançar na carreira, elevar meu status, garantir o sustento da minha família e cuidar de seus avós. E, enquanto seus bisavós ainda estavam vivos, garanti que eles pudessem oferecer alimentos aos monges todos os dias, para assegurar que fossem para o céu. Agora que eles se foram, continuarei enviando méritos a eles até que não consiga mais fazer isso.

“E, se você pretende se melhorar moralmente, assim como melhorar suas aptidões, da forma que eu tenho feito toda minha vida, então você vai parar de se perguntar qual é o propósito da vida. Estamos aqui para fechar a porta do

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inferno, para continuar nos aprimorando e para realizar apenas boas ações, até que estejamos livres de todas as imperfeições e finalmente cheguemos ao Nibbana.” Depois de terminar este capítulo, o que você vai dizer a seus filhos?

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Capítulo 28

Os jovens e o Senhor Buda

Em anos recentes, uma nova geração de jovens começou a se perguntar por que os budistas têm o Senhor Buda como o maior santuário, embora ele tenha sido apenas um ser humano. Para responder a essa dúvida, houve uma análise dessa questão, e um monge superior encontrou uma explicação simples para os jovens.

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Um verdadeiro budista precisa ser uma pessoa lógica. Ele não é ingênuo nem facilmente enganado. Portanto, quando uma pessoa está escolhendo quem será seu respeitado mentor, deve procurar conhecer a história dessa pessoa das seguintes formas:

1. O mentor deve ter uma história de vida sem ambigüidades. Deve haver provas de sua história de vida; não pode ser vaga nem indigna de confiança. 2. Ele deve ser extremamente inteligente, excepcionalmente virtuoso, grande conhecedor das verdades da vida, o que é conhecido como iluminação; e todo seu conhecimento deve ser adquirido através de seus próprios esforços. Ele não plagiará esses insights de outra pessoa. 3. Todos seus ensinamentos, quando aplicados, serão benéficos e produzirão felicidade. Caso contrário, essas instruções serão inúteis, pois ninguém poderá aproveitá-las. Com base nesses critérios, podemos ver por que os budistas têm em alta estima o Senhor Buda como o maior refúgio da humanidade. 1. A vida do Senhor Buda está documentada. A história claramente registrou Sua história de vida, incluindo a vida de Seus pais. Ele foi um príncipe em uma cidade que ainda aparecia no mapa nos tempos modernos.

2. O Senhor Buda lutou para encontrar as verdades da vida por Si mesmo, até que alcançou a iluminação. Todos os Seus ensinamentos surgiram de Sua iluminação. Ele não reivindicou os ensinamentos de outros como Seus, nem afirmou que os tivesse recebido de outro ser celestial. O Senhor Buda deixou muito claro que Ele tinha alcançado a iluminação por conta própria. Acima de tudo, Ele nunca forçou ninguém a acreditar em Seus ensinamentos.

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3. Todo o Dhamma do Senhor Buda consiste em verdades universais e são, portanto, atemporais. Se uma pessoa pratica o Dhamma prescrito pelo Senhor Buda, essa pessoa certamente se beneficiará dele. E, da mesma forma, se essa pessoa realizar ações proscritas por Ele, certamente receberá terríveis conseqüências. Seu Dhamma é atemporal. Consistia na verdade quando Ele primeiro as pronunciou; continuam sendo verdade atualmente. Não estão sujeitas a mudanças ao longo do tempo.

Na tentativa de permitir que a humanidade se beneficiasse de Seu Dhamma, o Senhor Buda suportou diversas dificuldades, como exaustão física extrema e atentados contra Sua vida. Entretanto, elas não tinham efeito nenhum sobre Sua determinação. Além disso, o Senhor Buda não estava interessado em obter ganhos pessoais; quando lhe ofereciam riquezas, Ele enfatizava que os méritos resultantes da oferenda das riquezas eram menores do que colocar Seu Dhamma em prática. Isso apenas mostra Sua ilimitada compaixão.

E aqueles que praticam Seu Dhamma seguindo a consciência, sejam monges ou pessoas leigas, podem também se livrar das impurezas e alcançar o Nibbana, a felicidade imortal, como o próprio Senhor Buda. Este é um testemunho da pureza e da qualidade imaculada do Senhor Buda. Seus ensinamentos são corretos, exatos e benéficos, e acessíveis aos seguidores de todas as religiões. Aqueles que os seguem obterão exatamente os mesmos benefícios que Ele obteve, e tem havido milhões de seguidores que experimentaram esses benefícios.

Temos em altíssima estima o Senhor Buda como nosso refúgio final sem reservas – com o conhecimento de que Ele era apenas humano – por causa de Sua extrema sabedoria, Sua compreensão de como eliminar as impurezas, Sua magnífica pureza em ser capaz de alcançar o Nibbana e Sua compaixão em dedicar Sua vida, de forma inegoísta, para

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mostrar aos seres humanos como alcançar o que Ele alcançou. Seguimos Seus ensinamentos sem hesitação, para que um dia possamos nos livrar de todas as imperfeições e segui-Lo para o Nibbana.

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Capítulo 29

As boas ações sempre trazem resultados favoráveis?

Sempre que alguém enfrenta uma situação que

considera injusta, começará a pensar: “Não existe isso de que as boas ações sempre trazem resultados favoráveis; más ações também podem trazer resultados favoráveis." A falácia dessa noção provém da expectativa de que as boas ações produzam resultados

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imediatos, e a visão estreita de que alguém está sendo recompensado por sua má conduta. Na superfície, essa pessoa pode estar aproveitando os frutos de suas más ações. Mas observe de perto, ele está muito preocupado de que possa ser atacado ou preso pela polícia. Sua gratificação é temporária, mas o medo permanece com ele.

É importante ensinar nossos filhos quando eles são pequenos a acreditar que boas ações sempre trazem resultados favoráveis, e vice-versa. Caso contrário, eles duvidarão desse princípio e podem pensar que fazer o bem é apenas para os tolos, uma crença de que alguns adultos compartilham. Entretanto, o primeiro passo para alcançar essa meta é convencer os pais de que as boas ações sempre trazem bons resultados, e vice-versa. O episódio a seguir deve ajudar a esclarecer esse princípio. Uma pessoa perguntou a um monge superior: “Venerável Senhor, as boas ações sempre trazem bons resultados? Tenho visto muitos amigos fazendo o bem, mas sem receber nada bom em troca.” O monge superior respondeu: “Não desperdice seu tempo duvidando desta Lei do Kamma. O Iluminado tinha provas disso, milhares de anos atrás. Mas ainda há tantas pessoas, incluindo você, que ainda duvidam, porque são apressadas, esperam ver os resultados imediatamente e se esquecem do bom senso.

“Vou dar um exemplo. Se plantarmos uma semente de bananeira hoje, podemos comer as bananas da semente hoje? Não, temos de esperar durante quase um ano, e, enquanto esperamos, temos que regá-la, virar o solo e cuidar bem dela. Caso contrário, depois de um ano, talvez acabemos comendo bananas esquálidas.

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“E, se você me perguntar se tiramos alguma coisa dela enquanto esperamos, a resposta é sim. Uma vez que plantamos a muda, podemos ficar satisfeitos em saber que o fizemos no momento certo. Podemos ter folhas de bananeira para enrolar sobremesas e brotos de banana para comer com temperos. E, ainda assim, precisamos esperar o ano inteiro pela fruta.

“A primeira etapa das boas ações: uma vez que tivermos feito algo bom, não importa se alguém vir ou não, a primeira coisa que obtemos é a auto-satisfação. “A segunda etapa das boas ações: quando continuamos fazendo boas ações, a segunda coisa que obtemos é o desenvolvimento de uma personalidade honesta, comparável às folhas de bananeira para enrolar sobremesas. “A terceira etapa das boas ações: e, quando continuarmos fazendo as boas ações por meses ou por anos a fio, os frutos das boas ações começarão a aparecer como fortuna e sucesso. Vamos começar a ver que nossa vida se torna agradável, nossos esforços frutificam. Sentimo-nos bem com nós mesmos; isso é o mesmo que desfrutar dos brotos da banana.

“A quarta etapa das boas ações: e, se continuarmos repetindo nossas boas ações, em breve a sociedade nos terá em alta estima. “Quando plantamos a muda de bananeira, leva pelo menos um ano para aproveitarmos os frutos. Da mesma forma, leva tempo para que nossas boas ações sejam reconhecidas, portanto não seja apressado. “A maioria das pessoas espera que as boas ações praticadas dêem frutos logo, mas enquanto isso tentarão fazer oferendas aos espíritos para fazer com que os resultados de suas más ações vão embora. E, quando outra pessoa fizer algo errado, e isso os afetar negativamente, vão esperar que os culpados sejam punidos imediatamente.

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“Na verdade, essas pessoas impacientes esperam que somente suas boas ações dêem frutos imediatamente, isto é, se elas fazem uma doação, esperam ser recompensadas instantaneamente, e isso as deixará feliz. Por outro lado, quando mentem, e ocorre que seus dentes caem instantaneamente, elas sentem que isso é injusto. Isso é algo bem humano, esperar apenas resultados favoráveis. Mas, quando não é instantâneo, elas começam a duvidar da Lei do Kamma.

“Assim, de agora em diante, você não deve se apressar e esperar apenas resultados favoráveis. Você deve ser imparcial. Mas, para alcançar isso, você precisará meditar muito.”

A partir do que o monge explicou, vemos que temos que prosseguir até o fim quando fazemos boas ações, isto é, precisam ser as ações corretas, realizadas com a máxima extensão da nossa capacidade e feitas na medida certa, para que sejam eficazes. É assim que podemos ser um exemplo para nossos filhos, para fazê-los acreditar firmemente que boas ações sempre trazem resultados favoráveis, e vice-versa.

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Capítulo 30

Como as boas ações podem trazer

bons resultados

Sempre foi um desafio desenvolver seres humanos para que resistam às tentações de fazer más ações e que realizem boas ações de todo coração, sem nenhuma expectativa de recompensa ou reconhecimento. Se os pais puderem ensinar os filhos a ser boas pessoas até o fim, então eles não terão

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preocupações, porque os filhos sempre andarão no caminho correto e não causarão problemas para eles nem para os outros.

Entretanto, é bastante difícil treinar as crianças para que adorem realizar boas ações e detestem realizar más ações, porque é difícil resistir às tentações. Além disso, é impossível para os pais cuidar e observar os filhos o tempo todo. Em algum momento, as crianças devem ser capazes de cuidar de si mesmas.

Mas, para controlar seu próprio comportamento, elas devem compreender completamente a Lei do Kamma. Então, quando houver a oportunidade de realizar más ações, e ninguém estiver observando, elas poderão controlar os impulsos. E, quando surgir ocasião para realizar boas ações, elas o farão rapidamente, sem se importar se há alguém ali para oferecer elogios.

Como ensinar às crianças a Lei do Kamma Como o conhecimento do escritor sobre este tema é limitado, pesquisei em um livro de um respeitado monge superior, e a explicação é a seguinte: “Se vocês me perguntarem se é difícil fazer alguém gostar da Lei do Kamma, terei de dizer que não, não é, desde que apreendam a essência dessa lei. Em primeiro lugar, se perguntarem a qualquer pessoa se ela tem certeza de que as boas ações sempre trazem bons resultados, a maioria dirá que não. Comecei a estudar o budismo quatro ou cinco anos antes de ser ordenado. Mas, antes disso, também não tinha certeza de que as boas ações sempre trazem bons resultados. Portanto, eu não conseguia me controlar. A maioria das pessoas que tem dúvidas sobre essa lei não percebe que há dois conjuntos de condições, a saber:

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1. As condições dentro de nós 2. As condições fora de nós As condições internas

As condições dentro de nós têm três partes: 1. Conhecer o objetivo.

Seu esforço deve ser pelo objetivo correto. Em termos simples, antes de mergulhar em qualquer trabalho, precisamos saber qual é o objetivo desse esforço.

E, enquanto o realizamos, devemos nos esforçar inteiramente para alcançá-lo. Essa teoria é análoga a lavar roupas. Geralmente, as roupas ficam mais manchadas ao redor da gola e das mangas. Então, se esfregarmos toda a camisa, mas não essas duas regiões, podemos dizer que a camisa está limpa? A resposta é não. Como o esforço não foi dirigido para as áreas corretas, o objetivo não foi alcançado, e a camisa continuou suja.

A não-realização desse objetivo é como uma pessoa que é diligente, mas ignorante. Ela pode trabalhar arduamente, mas seus esforços terão poucos resultados, se houver algum, e às vezes seus esforços podem até mesmo provocar mais problemas. Para alcançar a meta, devemos estar totalmente conscientes e compreender o objetivo desse empreendimento antes de começar.

2. Fazer um esforço total para alcançar o

objetivo.

Precisamos colocar todo nosso esforço em qualquer projeto para obter um resultado com a melhor qualidade.

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Conhecer o objetivo de um empreendimento não é suficiente para garantir a qualidade desse esforço. Se uma pessoa interrompe antes do fim uma tentativa feita de coração, o objetivo pode ser realizado, mas a qualidade é ruim.

Voltemos ao exemplo de lavar roupas. Sabemos que precisamos prestar atenção à gola e às mangas, e também sabemos que serão necessárias umas 30 esfregadas para tirar as manchas. Infelizmente, se pararmos na esfregada número 10, a mancha diminuirá, mas a camisa ainda não estará limpa. Essa regra se aplica a qualquer tarefa. Agir com o objetivo certo, mas não até o final, apenas trará um resultado inferior.

A não-aplicação de uma tarefa até o limite pode ser comparada com uma pessoa inteligente mas preguiçosa. Ela sabe o objetivo, e sabe o que é necessário para alcançá-lo com excelência. Mas, no meio do caminho, ela perderá a motivação e recorrerá a atalhos. Portanto, conhecer o objetivo e segui-lo inteiramente são as únicas maneiras de alcançar o melhor resultado possível. Não devemos ser preguiçosos, adiar nem nos deixar desencorajar pelos obstáculos.

3. A terceira condição é lembrar de não se

esgotar excessivamente.

Agir com o objetivo correto e com o máximo esforço não garante o sucesso. Uma pessoa também deve aplicar o grau adequado de esforço, que significa não demais e não de menos, para que o esforço não provoque nenhum dano.

Voltando ao exemplo de lavar roupas, se esfregarmos nas áreas certas, mas em vez de 30 esfregadas nos excedermos e fizermos 100, podemos acabar abrindo buracos na camisa.

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Outro exemplo de como algumas pessoas podem exagerar e ir longe demais: trabalham muito sem descansar o suficiente, acabando com a saúde. Além disso, trabalham com recursos emprestados. Seu trabalho duro as fere física e financeiramente.

Portanto, para alcançar o resultado correto, devemos atender aos três critérios: conhecer o objetivo, colocar o esforço correto e perceber as limitações naturais. As condições externas Mesmo quando tivermos conseguido nos focar no objetivo, colocar nele nossos melhores esforços e permanecer dentro de nossas limitações, há ainda duas condições externas que podem influenciar o resultado. São elas: 1. O momento certo Se plantarmos uma semente de bananeira hoje, podemos comer a banana amanhã? Naturalmente que não. Mas, se a tivermos plantado ontem, e não houver bananas para comer hoje, significa que nossos esforços foram em vão? Não exatamente. Apenas significa que pode dar frutos algum dia. Depois de três ou quatro meses, embora ainda não haja bananas para consumir, haverá folhas de bananeira que podemos usar como embalagem. Depois de oito ou nove meses, ainda não haverá bananas para comer, mas haverá brotos de banana para comer com temperos. Depois de regar e virar o solo por um ano, chegaremos a desfrutar das bananas.

Uma bananeira é uma das plantas mais fáceis de cultivar, e ainda assim leva 12 meses para aproveitarmos o resultado. Da mesma forma, também leva tempo para que os resultados favoráveis das boas ações apareçam. Assim, quando alguém reclama que buscou o objetivo correto, se

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esforçou ao máximo, dentro de seus limites, e ainda assim não viu o fruto de suas boas ações, então é preciso dizer-lhe que seja paciente.

2. Local Tome como exemplo a bananeira que cresce próximo a uma grande jarra de água, em contrapartida a uma que cresce em uma região seca. Aquela próxima da jarra receberá água todas as manhãs, quando o dono das terras acordar e lavar o rosto. Depois de cada refeição, quando a louça for lavada, a bananeira receberá água. Sempre que alguém tomar banho, ou que a empregada lavar as roupas, sempre que cair água no solo próximo à jarra, a árvore vai aproveitar. Crescerá mais rapidamente do que as outras, porque acabou estando próxima da fonte de água.

Ocorre o mesmo quando realizamos boas ações. Se o local contribuir, o resultado se materializará mais cedo que em um local menos favorável. Uma palavra de advertência: devemos conhecer a mentalidade das pessoas ao nosso redor. Inicialmente, elas podem nos dar apoio moral. Mas, uma vez que avançamos muito longe e muito rápido, elas podem se tornar antagonistas, e tentar nos derrubar.

Assim, quando estivermos fazendo algo que vale a pena, temos que prestar atenção ao momento certo e ao local, e ajustar nossas ações de acordo com isso. Se acreditarmos firmemente na Lei do Kamma, vamos nos abster de realizar más ações mesmo quando ninguém estiver olhando, e acolheremos as boas ações de todo coração a qualquer oportunidade. Por que algumas pessoas duvidam que as boas ações trazem bons resultados? Sabemos que, quando alguém realiza uma boa ação enquanto atende aos critérios, haverá bons resultados. Isso o

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incentivará a fazer mais bem. Por outro lado, se fizer algo ruim mesmo enquanto atende aos três critérios, é certo que receberá maus resultados. Se olharmos atentamente, perceberemos que, com freqüência, não mantivemos um controle total das más ações que realizamos no passado. Portanto, quando realizamos boas ações, algumas vezes somos atingidos repentinamente com o mau resultado. Da mesma forma, às vezes vemos alguém que faz algo errado, mas recebe uma sorte inesperada. Parece que a má ação está sendo recompensada. Como os resultados não são instantâneos, algumas pessoas começam a duvidar da eficácia da Lei do Kamma. Isso realmente pode levar qualquer um a pensar equivocadamente que as boas ações não trazem bons resultados. Podem até chegar a pensar em abandonar qualquer bom comportamento.

Mas, mais cedo ou mais tarde, as ações imorais sairão à tona e serão punidas, seja nesta vida ou na próxima. A Lei do Kamma é universal. Critérios para promoção O conceito de ter o objetivo correto e realizar um esforço total enquanto se mantém dentro dos limites pode ser empregado quando se considera uma promoção. Por exemplo, um banqueiro começou a receber bilhetes hostis e anônimos de seus subordinados. O motivo por trás desse ataque era que os subordinados tinham recebido diferentes níveis de promoção: alguns subiram um nível, outros dois, e outros três. Essa é uma reação muito humana. Se nenhum deles tivesse recebido nenhuma promoção, não haveria problema algum. O antagonismo e os ciúmes só surgem quando as recompensas são diferentes. Portanto, deve haver orientações muito claras para este tipo de situação.

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O banqueiro pediu o conselho do monge superior quando foi questionado pelos diretores. O monge sugeriu que ele se explicasse da seguinte forma: Uma pessoa em particular não recebeu uma promoção porque não havia cumprido com o objetivo. Ele pode ter trabalhado duramente, mas não conseguiu nada. O sucesso de uma empresa não vem apenas do trabalho árduo. Além disso, perder o objetivo de qualquer empreendimento pode gerar perdas financeiras à empresa.

Outro funcionário pode ter acertado na mosca, mas não foi até o fim. Esse tipo de pessoa não fez nada errado, mas não tem nada a mostrar quanto a seu desempenho. Ele pode ter se movido alguns centímetros para frente, mas se vangloria de ter avançado um metro. Portanto, se temos este tipo de pessoa como subordinado, devemos estar prontos para comprovar suas verdadeiras realizações. Isso, inclusive, ocorreu comigo uma vez.

Se uma pessoa tiver completado os três requisitos, merece uma promoção de dois níveis. Aquele que apenas se manteve fiel ao objetivo, mas não conseguiu levá-lo até o fim, merece apenas uma promoção de um nível. E a pessoa que deixou o objetivo inteiramente de lado não merece nada. E informe a ela que tem sorte de continuar no emprego. E os que trabalharam muito, mas provocaram mais danos do que benefícios, devem receber a instrução de trabalhar menos e pensar mais. A partir do que eu lhe disse, talvez você tenha que mudar seus esforços para se adequar às diferentes circunstâncias. E logo você descobrirá que a Lei do Kamma é absoluta, e que a ação correta, completa e sem exagero, trará resultados favoráveis no momento certo e no local certo.” Conclusão

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Este ensinamento do monge deve esclarecer a essência da Lei do Kamma para os pais, permitindo-lhes transmitir esse conhecimento aos filhos para que as crianças sejam corretas em qualquer lugar que possam estar.

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Capítulo 31

Critérios completos para poder dar

Atualmente, a maioria das pessoas se inclina a colocar sua fé na ciência acima de qualquer outra coisa. Entretanto, a ciência só pode provar o que os olhos podem ver. Há muitas coisas que os olhos não podem ver e cuja existência fica sem verificação da ciência.

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Por exemplo, nossa mente e o coração físico são duas entidades separadas. Quando nos sentimos felizes ou tristes, esses sentimentos não vêm do coração físico, mas de nosso coração etéreo. Mas a ciência não pode descrever como é o coração etéreo ou onde se encontra. Não sabemos de onde vêm os sentimentos; apenas sabemos que estão ali.

O coração físico é um órgão. Hoje em dia, os médicos podem parar os batimentos do coração de um paciente com problemas cardíacos e reiniciá-los depois que a operação é concluída. Se o coração físico e o etéreo fossem o mesmo, o paciente morreria. Isso deveria provar que o coração físico e o coração etéreo são duas coisas diferentes.

No Tipitaka, o Senhor Buda falou de uma série de temas que eram desconhecidos da ciência naquela época. Ele disse milhares de anos atrás que havia mais de um universo; na verdade, há um número infinito de universos. Os cientistas apenas conseguiram descobrir esse fato algumas centenas de anos atrás.

O Senhor Buda também explorou o conceito de mérito. E seria deplorável se rejeitássemos categoricamente essa idéia. Devemos conhecê-la com a mente aberta, já que afeta diretamente nossa vida. Não podemos vê-la, mas podemos senti-la dentro de nós. Devemos apoiar o budismo e estudar o Tipitaka para aumentar nosso conhecimento, e então não seremos budistas somente de nome.

Com base nessa crença, o escritor tem fé no mérito e no demérito. Resultados desfavoráveis são a conseqüência de más ações. Essa é a Lei do Kamma. E, em tempos de dificuldades, podemos buscar ajuda, não na ciência, não na economia, nem na política, mas no bom kamma para nos ajudar.

No capítulo “A forma correta de ganhar méritos” do livro Good Question, Good Answer, do Venerável Phrabhavanaviriyakhun, a questão do mérito foi discutida em detalhes, como apresentado a seguir:

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“O Senhor Buda declarou que havia três métodos para alcançar méritos, a saber, através de atos de generosidade, seguindo os preceitos e a meditação. 1. Generosidade. Significa compartilhar as coisas úteis com aqueles que são merecedores. Entretanto, não deve ser feito para detrimento próprio. Geralmente, os budistas gostam de doar com regularidade a monges e pessoas virtuosas.

2. Seguir os preceitos. Significa manter sob controle nossas ações e palavras para que não firam os outros nem nós mesmos. Devemos observar ao menos os Cinco Preceitos. E, quando surgir a oportunidade, como no dia antes de um Dia Santo budista, durante um Dia Santo budista e durante os retiros de fim de semana, os budistas podem preferir observar os Oito Preceitos para ganhar méritos adicionais. Algumas pessoas, inclusive, preferem observar os Oito Preceitos um dia por semana, regularmente.

3. Meditação. Essa é a forma de purificar a mente. Estude o Dhamma e cante para acalmar e purificar a mente todas as noites, antes de ir dormir, por pelo menos vinte minutos, até uma hora.

Algumas pessoas estabelecem rotinas para garantir que acumulam esses três méritos: - Pela manhã, não comerei até ter realizado o mérito de dar. - Hoje, não sairei de casa antes de ter resolvido observar os preceitos. - Esta noite, não vou dormir antes de ter recitado os mantras e meditado. Se uma pessoa conseguir seguir essa rotina consistentemente, pode estar certa de que sua vida nunca o levará ao desespero. O futuro será brilhante. Todos os três gradualmente elevam a purificação da mente para um nível acima. Se nossa mente for clara e

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brilhante, vamos nos sentir felizes. Com uma atitude feliz, pensaremos o bem, falaremos o bem e faremos o que é correto.

Como primeiro passo para ganhar méritos, sugiro primeiro praticar a generosidade. O Senhor Buda declarou que, para obter o máximo mérito, o ato de dar deve atender a estes quatro critérios: 1. Integridade do objeto. O objeto a ser dado deve ter sido obtido de forma legítima e moral, não por meios fraudulentos. 2. Intenção correta. O objetivo de dar é livrar-se da avareza, do egoísmo e da ganância. Não é feito para obter riquezas, renome ou reconhecimento. A verdadeira intenção é compartilhar e ganhar mérito. Ganhar méritos não é ganância; é, na verdade, substituir a ganância por generosidade.

3. Doador consciente. O doador deve pelo menos acatar os Cinco Preceitos. E é importante que ele esteja feliz antes, durante e depois da oferta, e não se arrependa dela.

4. Recebedor virtuoso. Se o recebedor for um monge iluminado, o mérito será enorme e instantâneo; os efeitos desse mérito serão realizados nesta vida presente. Mas, se o monge recebedor ainda não tiver se iluminado, ele deve ao menos estar se esforçando para atingir essa meta. Se for um leigo, deve acatar os preceitos.

Além dos critérios para dar, o Senhor Buda também apresentou muitos exemplos. Alguns exemplos que Ele transmitiu aos monges confirmaram que o resultado do ato de dar depende dos quatro critérios, e que sua eficácia está relacionada com o nível de excelência de cada um nos critérios em cada caso. Quanto mais virtuoso for o recebedor, mais méritos haverá como resultado. E, se o recebedor estiver se esforçando de forma focada para alcançar a iluminação, o benefício para a pessoa generosa será imenso e imediato. Quero que vocês

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leiam o Tipitaka, o Suttantapitaka, como o Kuttakanikaya Vimaanvattu, para ver se minha observação é correta.” A seção do livro Good Question, Good Answer, do Venerável Phrabhavanaviriyakhun, conforme citado neste capítulo, fornece insight e incentivo aos leitores para que façam méritos e cultivem este hábito em seus próprios filhos enquanto são pequenos. E, na hora final de nossas vidas, sem importar quão instruídos sejamos ou quanto dinheiro tenhamos, apenas nossos méritos espirituais poderão nos ajudar. Os méritos não estão à venda. Se você os quiser, terá de adquiri-los por conta própria através de suas próprias ações.

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Capítulo 32

Ensinando as crianças a viverem conforme os Cinco Preceitos

Não é um exagero dizer que ensinar os filhos a seguir os

Cinco Preceitos é a responsabilidade mais importante dos pais; os pais devem isso aos filhos e à sociedade. Nesse sentido, eles são realmente quem determina o futuro dos filhos e do país. Por que essa questão é tão importante?

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Memorizando os Cinco Preceitos, mas sem segui-los Os budistas podem recitar os Cinco Preceitos, mas,

quando lhes perguntam o significado da palavra “preceito”, a maioria não sabe. Se os adultos não conseguem sequer responder a essa pergunta, como podemos esperar que as gerações mais jovens percebam a importância de observar os preceitos? Essa infeliz situação levou mais pessoas a se descuidar dos preceitos, até que a ignorância se tornou a norma. E, quando alguém realmente vive pelos preceitos, é visto como estranho ou pitoresco. Isso reduziu ainda mais o número de pessoas que observa os Cinco Preceitos, o legado moral deixado por nossos ancestrais.

Como não receberam nenhuma orientação em casa sobre os Cinco Preceitos, os jovens são incapazes de resistir às tentações lançadas a eles pela sociedade. Isso levou a problemas comportamentais como brigas, prostituição, fraude, uso de drogas ilegais, e assim por diante. A ignorância sobre os preceitos tornou-se a causa dos males sociais. Os pais estão prontos para recriminar, punir as crianças e culpar a sociedade ou a televisão, e concluir que a cura deve vir de outra pessoa.

Quando esses jovens são reabilitados e enviados para casa depois de detenção juvenil, continuam sem ser instruídos sobre os Cinco Preceitos. Conseqüentemente, recaem no mesmo ciclo de mau comportamento e até atividade criminal. Eles crescem para ser agitadores e uma ameaça para a sociedade.

Se não conseguirmos chegar à raiz do problema, isto é, não cultivar os Cinco Preceitos nas crianças, como podemos romper o ciclo de angústia social? Os Cinco Preceitos que os pais devem conhecer Ensinar os filhos a acatar os Cinco Preceitos é a responsabilidade de maior importância dos pais para ajudar

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a neutralizar a deterioração social. Entretanto, para que sejam capazes de fazer isso, precisam saber: 1. O que é um preceito? 2. O que os Cinco Preceitos têm a ver com a natureza humana? 3. Por que não seguir os Cinco Preceitos afasta uma pessoa da natureza humana? A compreensão dessas três questões permitirá aos pais instilar os Cinco Preceitos nos filhos. O que é um preceito? A palavra preceito significa natureza. Tudo tem sua própria natureza. A chuva cai durante a estação das chuvas. Se não o fizer, então não é natural. O cavalo se mantém sempre em pé, mesmo enquanto dorme. Se ele se deitar, então está doente, e não em seu estado natural. Portanto, o verdadeiro sentido da palavra preceito é preservar a natureza do ser humano em nós mesmos e nos abstermos de trazer problemas a nós e aos outros.

Qual é a natureza dos seres humanos? A natureza dos seres humanos consiste em cinco características. 1. Por natureza, os seres humanos não matam. Um ser humano que tira a vida desviou-se da natureza da humanidade. Tornou-se animal, como os tigres, ursos ou crocodilos que precisam matar para sobreviver. Portanto, o primeiro Preceito lembra os seres humanos que não devemos matar para preservar nossa natureza.

2. Por natureza, os seres humanos não roubam. É da natureza dos animais lutar pelo alimento e roubá-lo. Mas as pessoas não precisam fazer isso. Somos capazes de produzir nosso próprio alimento e comercializá-lo para nosso sustento. Portanto, o segundo Preceito nos

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lembra de que não devemos roubar, agir de forma corrupta ou usurpar para preservar nossa natureza.

3. Por natureza, os seres humanos não cometem adultério. Os animais, que por natureza não podem se controlar para se satisfazer com um par, lutarão para acasalar todos os anos com o parceiro de outro. Alguns, inclusive, lutam até a morte para satisfazer esse instinto durante a época de acasalamento. Mas não é da natureza humana fazer isso; por não ser governada somente pelos instintos, uma pessoa pode se contentar com um cônjuge. Portanto, o terceiro Preceito nos lembra de que não devemos cometer adultério para preservar nossa natureza.

4. Por natureza, os seres humanos não mentem. As pessoas sempre devem falar a verdade; devem ser sempre honestas e sinceras umas com as outras. Portanto, o quarto Preceito nos lembra de que não devemos mentir.

5. Por natureza, os seres humanos não consomem substâncias entorpecentes. Muitos animais são fisicamente mais fortes que as pessoas, mas eles não têm a capacidade de dedicar suas forças a propósitos significativos. Eles não têm consciência e, portanto, agem conforme os instintos. Por exemplo, não vemos os animais cuidando dos pais. Mas os seres humanos possuem uma consciência, como revelado por seus sentimentos de gratidão e amor por seus pais.

A consciência é duradoura. Pode suportar inanição, exaustão e doenças. Mas os entorpecentes, como o álcool e as drogas, podem destruir todas essas qualidades. Uma pessoa embriagada ou drogada é capaz de ações espantosas, inclusive atacar, ferir ou matar os pais. É um desvio, e essa pessoa está mais próxima de ser um animal do que um ser humano. O Quinto Preceito nos lembra de que não devemos consumir substâncias entorpecentes.

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Os Cinco Preceitos são: 1. Não matar. 2. Não roubar. 3. Não cometer adultério. Ser fiel ao cônjuge. 4. Não mentir, pronunciar blasfêmias, falar insensatezes nem usar palavras desagregadoras. 5. Não consumir entorpecentes como drogas e álcool. Esses Preceitos são necessários para manter a paz na Terra. Quando os Cinco Preceitos não são observados Os Cinco Preceitos estiveram aqui até mesmo antes do nascimento do Senhor Buda. Através do incomparável poder de Sua iluminação, ele soube da existência dos Cinco Preceitos e nos transmitiu esse conhecimento. Eles também podem ser empregados para quantificar o comportamento humano, quer dizer:

Se conseguirmos praticar os Cinco Preceitos, então somos 100% humanos. Se conseguirmos praticar apenas quatro, então somos apenas 80% humanos, 20% animais. Se conseguirmos praticar apenas três, então somos apenas 60% humanos, 40% animais. Se conseguirmos praticar apenas dois, então somos apenas 40% humanos, 60% animais. Se conseguirmos praticar apenas um, então somos apenas 20% humanos, 80% animais. Se nenhum dos preceitos for observado, essa pessoa não é mais um ser humano. Apenas existe em forma humana. Ela não terá paz nem felicidade. Apenas existe para causar problemas para ela mesma e para a sociedade. Infelizmente, hoje em dia, como cada vez mais pessoas se desviam dos Cinco Preceitos, não seguir os Cinco Preceitos se tornou algo aceitável. Essa falta de código moral

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transformou um país pacífico em um país de assassinatos, fraudes e adultérios. Seus cidadãos estão insatisfeitos e com medo, mas ninguém consegue fazer nada a respeito.

Se os pais não se importarem em ensinar os filhos a seguir os Cinco Preceitos, não há esperanças de que a sociedade melhore. A esperança de que os filhos cresçam para ser adultos responsáveis será em vão. Ensinar os filhos a viver suas vidas todos os dias conforme os Cinco Preceitos é a responsabilidade mais importante que os pais têm para com os filhos para abrilhantar o futuro deles, e é fundamental para a saúde, a paz e a felicidade da sociedade como um todo.

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Capítulo 33

Explicando os Cinco Preceitos para que as crianças entendam

facilmente

Uma vez, tive a oportunidade de observar um monge superior simplificando os Cinco Preceitos para as crianças. O escritor ficou impressionado com o método, e gostaria de

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transmitir essas informações aos pais como orientação. Os Cinco Preceitos foram ensinados na forma de diálogo entre o professor e as crianças:

A origem dos Cinco Preceitos Hoje eu, como monge superior, vou ensinar a vocês um aspecto fundamental e muito importante de nossas vidas: os Cinco Preceitos. Ninguém sabe da origem dos Cinco Preceitos. Eles existiam inclusive antes do nascimento do Senhor Buda, e Ele aconselhou que todos os seguissem. Vocês sabem quais são os Cinco Preceitos? 1. Não devemos matar. 2. Não devemos roubar. 3. Não devemos cometer adultério. 4. Não devemos mentir. 5. Não devemos consumir entorpecentes. Vou explicar a vocês como os Cinco Preceitos vieram a existir. Espero que, quando vocês crescerem e começarem a ficar bravos com problemas pequenos ou grandes, esse conhecimento possa ajudá-los a controlar seu temperamento. Como o Primeiro Preceito, não devemos matar, veio a existir? O monge superior: Quem você mais ama?

As crianças: Minha mãe e meu pai, senhor.

O monge: Há alguém que você ame mais que seus pais?

As crianças: Sim, eu mesma, senhor.

O monge: Sim, correto, todos amam mais a si próprio. E as aves? Elas amam a si mesmas?

As crianças: Sim, senhor.

O monge: Vocês têm certeza?

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As crianças: Sim, senhor.

O monge: Como podem ter certeza? Elas disseram isso a vocês?

As crianças: Não, não disseram.

O monge: Então como vocês sabem que elas amam suas vidas?

As crianças: Quando alguém tenta caçá-las, elas correm para proteger suas vidas.

O monge: Sim, os animais são como nós. Quando alguém as ameaça, elas correm para proteger suas amadas vidas. Embora não possam dizer isso, nós podemos ver. Mas e os outros animais, como porcos e gatos, eles amam sua vida?

As crianças: Sim, senhor.

O monge: Nós amamos nossas vidas, assim como os animais, sejam pássaros, porcos ou gatos. Não há ninguém e nenhum animal que não ame sua vida. O reconhecimento desse fato é como o Primeiro Preceito se originou, de que ninguém deveria tirar a vida de outra criatura, nem mesmo a vida de animais.

Como o Segundo Preceito, não devemos roubar, veio a existir? O monge: Agora eu quero que vocês pensem no que

precisamos para viver. As crianças: Ar, comida e água, senhor, e também remédios,

roupas e uma casa. Também precisamos de dinheiro para viver.

O monge: Vocês estão certos. Embora todos vocês estejam na escola, seus pais precisam proporcionar a vocês

1. Roupas. 2. Comida. 3. Abrigo. 4. Remédios.

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Na terminologia budista, são chamados de Quatro Necessidades Básicas, de que todo ser humano precisa.

Além desses itens, temos móveis, sapatos e assim por diante, que precisamos para tornar nossa vida confortável. Se alguém nos tira essas coisas, podemos sobreviver?

As crianças: Não, não podemos.

O monge: Correto. Eles não precisam nos matar, mas, se roubarem ou levarem essas coisas de nós, então também não poderemos sobreviver. Foi assim que passou a existir o Segundo Preceito; porque precisamos dessas posses para sobreviver.

Como o Terceiro Preceito, não devemos cometer adultério, veio a existir? Se outras pessoas não tirarem nossas vidas ou nossas posses, devemos levar uma vida feliz. Entretanto, se eles levarem o que mais amamos, que são nossos esposos, nossas esposas, e nossos filhos e filhas, sofreremos uma grande tristeza. Essa é a idéia por trás do Terceiro Preceito, de que ninguém deveria levar embora um ser amado de outra pessoa, e portanto não devemos cometer adultério.

Como o Quarto Preceito, não devemos mentir, veio a existir? Pensem em todas as pessoas que vocês amam, seus pais, seus amigos, seus irmãos e irmãs, e seu professor, e imaginem o que aconteceria se vocês descobrissem que eles não são honestos com vocês. A reação seria que vocês não os amariam mais. O monge: Vocês têm irmão?

As crianças: Sim.

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O monge: Se vocês descobrissem que ele mentiu para vocês, ficariam bravos com ele?

As crianças: Sim, ficaríamos.

O monge: E se mentirem para ele, acreditam que ele ficará bravo?

As crianças: Sim, ficará.

O monge: E alguma vez vocês mentiram para ele?

As crianças: Sim, já mentimos.

O monge: Lembrem-se disso, se mentirem para alguém, essa pessoa sentirá menos amor por vocês a cada vez, e vice-versa. Ninguém gosta de desonestidade, portanto não devem mentir a ninguém. Foi assim que o Quarto Princípio veio a existir. Como o Quinto Preceito, não devemos consumir entorpecentes, veio a existir? O Senhor Buda nos deu essas linhas de raciocínio para contemplar. 1. Aqueles que não matam criaturas vivas, sejam animais grandes ou pequenos, sejam outros seres humanos, já ganharam o notável mérito de dar segurança a todas as vidas. 2. Aqueles que não roubam já ganharam o notável mérito de dar segurança à propriedade. 3. Aqueles que não cometem adultério já ganharam o notável mérito de proporcionar segurança aos cônjuges. 4. E aqueles que não mentem já ganharam o notável mérito de dar sinceridade. Portanto, quando conseguirmos seguir os primeiros Quatro Preceitos, estamos ganhando mérito significativo de

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quatro tipos diferentes. Mas, quando chegamos ao Quinto Preceito, todos vocês terão de prestar mais atenção para compreender a lógica que está por trás dele. Quando uma pessoa não tira a vida, nem rouba, nem comete adultério nem mente, deve ter consciência de não realizar esse comportamento. Sem seu caráter, essa pessoa não poderá evitar cometer esses pecados.

Nossa consciência pode ser muito forte, mas infelizmente também pode ser enfraquecida. Por exemplo, um aluno terá um exame no dia seguinte; de repente, ele fica com febre. Toma alguns remédios e se sente um pouco melhor, e pode se esforçar para terminar todas as lições necessárias para o exame. Sua consciência é forte.

Entretanto, na mesma pessoa, a consciência inquebrantável pode sucumbir no pó assim que ele consumir entorpecentes como bebidas, anfetaminas e outros. Como os entorpecentes podem arruinar nossa consciência e nos levar a cometer pecados, precisamos do Quinto Preceito para manter intacta nossa consciência e nossa dedicação aos outros Quatro Preceitos. Vou dar para vocês um exemplo: há um menino mais ou menos da idade de vocês, cujo pai, quando está bêbado, consegue matar os frangos ou patos da fazenda em que vivem. Algumas vezes, ele espanca os filhos e fala obscenidades. Mas, quando está sóbrio, é um pai muito bom. Portanto, quero que vocês lembrem disso: quando crescerem, não bebam nem usem drogas.

Como você mantém os Cinco Preceitos intactos? Quando eu era um estudante, comecei a me treinar para observar os Cinco Preceitos. Foi assim que fiz. Antes de ser ordenado, costumava usar uma imagem de Buda ao redor do pescoço. Todas as manhãs, antes de ir

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para a escola, segurava a imagem de Buda nas mãos e oferecia minha homenagem, cantando: “Namo tassa bhakavato arahato samma sambuddhassa” três vezes. E então eu fazia minha resolução com a imagem de Buda: 1. Hoje não vou matar. 2. Hoje não vou roubar. 3. Hoje não cometerei adultério. 4. Hoje não vou mentir. 5. Hoje não beberei álcool nem usarei drogas. Depois de fazer isso, saía para a escola. Quando comecei, às vezes conseguia manter os Cinco Preceitos durante o dia, mas às vezes não conseguia. Entretanto, depois de meio ano, consegui manter todos os Cinco Preceitos todos os dias. Mais tarde, consegui seguir os Cinco Preceitos durante seis anos sem interrupção, e fui ordenado. Vocês acreditam que podem fazer isso também? Acho que vocês conseguem.

Conclusão Vou repassar os Cinco Preceitos uma vez mais com vocês. Por que não devemos matar? Porque todos amam a vida.

Por que não devemos roubar? Porque todos precisam de posses para estar confortáveis. Se nos fossem tiradas certas coisas, não seríamos capazes de sobreviver. Mesmo que sobrevivêssemos, nossa vida seria cheia de penúrias.

Por que não devemos cometer adultério? Porque todos amam a família e os amigos.

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Por que não devemos mentir? Porque todos amam a honestidade e a verdade.

Por que não devemos consumir entorpecentes? Porque destrói nossa consciência. Sem nossa consciência, seríamos capazes de infringir todos os outros Quatro Preceitos. Portanto, se vocês quiserem crescer para ser boas pessoas, devem seguir os Cinco Preceitos.

O escritor espera que este relato ajude os pais a ensinar os filhos a observar os Cinco Preceitos, para que cresçam e sejam boas pessoas. A realização da qual podemos nos sentir mais orgulhosos é criar nossos filhos para ser adultos éticos.

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Capítulo 34

Infundindo o amor pela meditação em nossos filhos

Meditação é a forma mais eficaz de exercitar a mente a concentrar-se. A prática ajuda a fortalecer a mente para que ela não se distraia facilmente. Crianças que receberam um bom ensino de ética, mas que não exercitam a meditação continuam suscetíveis às tentações, pois falta a elas aquele reforço complementar.

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Os pais devem começar a incentivar seus filhos a amar a meditação desde bem pequenos. Quando suas mentes estiverem concentradas, eles terão capacidade de absorver prontamente as orientações. A ética incutida neles pelos pais florescerá e eles terão capacidade de lidar claramente com as incertezas. Todavia, há vários pais que acreditam que os filhos devem ficar à vontade para pensar e que exercitá-los a meditar quando eles tiverem dois ou três anos de idade é excessivamente restritivo. A esse respeito, há uma explicação fornecida por um monge superior sobre o efeito da meditação sobre crianças pequenas: “Antes de tudo, deixe-me perguntar-lhes o seguinte: existe alguém neste mundo que não deseje ser uma boa pessoa? Não, não há nenhuma. Mesmo um ladrão deseja ser bom, mas, infelizmente, ele pensa que roubar é uma boa coisa. Uma pessoa deve compreender a diferença entre o que é bom e o que é mau. Sem essa noção, a sociedade permanecerá no caos.” “Todos os pais desejam que seus filhos cresçam e se tornem boas pessoas, mas deixá-los fazer tudo o que querem esperando que crescerão naturalmente para se tornarem bons não é a forma correta. Os pais devem apresentar bons exemplos enquanto os ensinam, por exemplo, usando uma linguagem educada, mostrando humildade e ensinando-os a se inclinar aos pés de seus pais e avós.” “Inicialmente, os filhos podem não compreender as razões pelas quais devem ser respeitosos, mas pelo menos eles estão observando as boas maneiras. E quando eles tiverem idade suficiente para entender, devemos explicar-lhes por que eles devem ser respeitosos com os pais, avós e professores. Se não os ensinarmos a se inclinar aos pés de seus pais quando forem jovens, é muito provável que não o façam quando forem mais velhos. Eles podem saber que esta é uma boa atitude, mas ficarão muito envergonhados em

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adotá-la. Alguns adultos que nunca foram ensinados a se inclinar aos pés de seus pais se sentirão muito constrangidos ao fazê-lo e mesmo os pais ficarão embaraçados demais em receber a reverência, simplesmente porque não estão habituados a isso.” “Inclinar-se é um sinal de respeito que significa que estamos cientes da benevolência das pessoas frente às quais nos inclinamos. E esse deve ser um respeito profundo, a ponto de não podermos nos manter inertes sem demonstrar nosso respeito por aquelas pessoas. Tendo reconhecido a benevolência daquelas pessoas, o próximo passo é observá-las e imitá-las.” “Se nunca tivermos sido treinados a prestar reverência desde jovens, cresceremos com grandes egos. Algumas pessoas esnobes não conseguem nem mesmo reconhecer virtudes em outras.” “Hoje em dia podemos observar que muitas pessoas possuem essa atitude negativa, sempre procurando defeitos nos outros, os alunos nos professores e vice-versa, os supervisores nos subordinados e os colegas entre si. O senso de comunhão e harmonia se deteriora. A única forma de reverter esta tendência é ensinar respeito e enxergar virtudes nos outros.” “Portanto, se quisermos que nossos filhos cresçam para se tornarem bons cidadãos, o processo deve começar bem cedo. Logo que eles aprenderem a falar devem ser ensinados a dizer somente palavras agradáveis. Tragam-nos ao templo e deixem que aprendam a meditar visualizando a imagem de Buda. Quando eles crescerem podemos ter certeza de que nossos filhos, ao se depararem com problemas, permanecerão calmos, tranqüilos e controlados.” “A meditação pode realmente mudar um ser humano? Quando abrimos nossos olhos, vemos outras pessoas, mas não a nós mesmos. Se quisermos enxergar a nós mesmos, teremos que fechar nossos olhos.”

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“Se soubermos como meditar e formos capazes de apaziguar nossas mentes, saberemos o que é certo ou errado. Em vez de desperdiçar o tempo criticando os outros, devemos nos analisar atentamente e procurar sanar nossos próprios defeitos e, dessa forma, aprimorar nossa vida em geral.” Os ensinamentos do monge superior reforçam a noção de que ensinar crianças a meditar desde jovens permitirá que elas se concentrem e exercitem suas mentes. Elas não vacilarão frente às tentações, mas permanecerão firmes sobre o sólido alicerce moral resultante da orientação que receberam de seus pais. Durante as próximas férias de verão, introduza seus filhos na meditação unindo-se aos acampamentos de verão do Dhamma oferecidos por diversos templos. Uma sólida moral que tenha início na infância beneficiará as crianças por toda sua vida.

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Capítulo 35

Ordenar-se em benefício dos pais

gera mérito

Nessa era de tentações constantes e de eterna pressão para se obter o sustento, é muito raro encontrar qualquer família com um filho que se ordene como monge budista no mínimo pelo período da quaresma budista. Os pais devem ter acumulado uma imensa soma de retidão. Isso não ocorre com freqüência, uma vez que o primeiro requisito é a disposição do filho. A ordenação não é realizada em troca de um novo carro ou de um ganho monetário.

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O anseio de ver seu filho em mantos açafrão O escritor está observando um cartaz exibido pela Sociedade Budista que convida alunos a se ordenar durante suas férias de verão. O cartaz exibe uma mãe com cerca de sessenta anos de idade. Ela segura uma pequena coroa de flores em suas mãos; seu rosto está cheio de alegria. Seu filho, trajado em mantos brancos de noviço, está totalmente curvado aos seus pés mostrando amor e respeito profundos por ela e simbolicamente pedindo-lhe permissão para se ordenar. O cabeçalho diz, “Ordene-se enquanto sua mãe ainda estiver viva para demonstrar-lhe sua gratidão”. Qualquer mãe que olhar este cartaz desejará que seu filho se ordene pelo menos uma vez. E qualquer filho ao vê-lo ficará muito motivado a se ordenar. O escritor ordenou-se em diversas quaresmas budistas e pode asseverar que a alegria da ordenação é ilimitada. Aprendi que podemos ser felizes sem posses mundanas, com um espaço de um metro quadrado para sentar e levantar e dois metros quadrados para dormir. Isso pode gerar mais felicidade do que milhões de Bahts. Este tipo de felicidade não pode ser comprada. Além disso, este foi um benefício duplo. Inicialmente, minha ordenação teve o intuito de demonstrar gratidão aos meus pais. Por felicidade, descobri a finalidade da vida. Obstáculos à ordenação Ordenar-se e proporcionar aos pais a oportunidade de se regozijarem nos méritos não ocorre com facilidade. A ordenação não é algo que possa ser feito sempre que se desejar. A ordenação exige méritos acumulados da vida

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passada de uma pessoa, bem como a satisfação de todas as qualificações estipuladas na seção de disciplina da Tipitaka. Infelizmente, meu pai faleceu quando eu era pequeno, portanto, ele não chegou a ver seu filho em mantos açafrão. E eu passei por duas situações de risco que quase me tiraram a vida antes que meu pai falecesse. A primeira vez ocorreu quando eu tinha um pouco mais de dez anos. Estava sonhando acordado e fingindo ser um lutador de espada em um filme chinês de artes marciais e não percebi uma motocicleta se aproximando, pois o chapéu que estava usando encobria minha visão. Felizmente, a motocicleta aproximava-se em baixa velocidade. Fui atropelado, mas consegui levantar-me e me afastei com ferimentos leves. Este foi meu primeiro contato com a morte. A segunda vez ocorreu quando meu apêndice se rompeu durante a madrugada. Fui levado ao hospital por minha mãe e minha avó. Todavia, o médico não me diagnosticou corretamente. Se tivesse havido uma infecção interna, minha família estaria tomando as providências para meu funeral. Sofri por 15 horas, enquanto o médico me tratava para uma dor de estômago normal. Assim que ele constatou que meu apêndice havia se rompido, fui imediatamente operado. Quando voltei da anestesia na manhã seguinte, ainda zonzo, vi o companheiro na cama ao lado que havia sofrido o mesmo problema. Mas ele deve ter passado por uma situação muito pior do que a minha, pois vi tubos ainda drenando toxinas de seu corpo. Senti-me um felizardo. Quando me virei, vi as faces de duas senhoras mais velhas com expressões de enorme alívio. Pensei, “Minha mãe e minha avó devem ter passado a noite inteira aqui me observando”. Naquele instante, senti que essas duas senhoras deviam me amar muito. Elas eram as pessoas que me amavam

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com todo seu coração; era um amor altruísta que não esperava nada em troca. Perguntei a mim mesmo se havia feito qualquer coisa para retribuir seu amor. E a resposta é… muito pouco. Percebi naquele instante que não deveria fazer nada para magoá-las se pudesse. Esses dois eventos de risco exerceram uma parte essencial no incentivo à minha ordenação. Queria que minha mãe e minha avó me vissem nos mantos açafrão. Queria dar a elas a oportunidade de acumularem méritos e desejei que não se preocupassem mais comigo, uma vez que eu seria instruído no Dhamma. Estamos caminhando rumo aos nossos túmulos Decidir ordenar-me após concluir a faculdade. Quando observava a vida, tudo parecia tão imprevisível. Poderíamos ver alguém pela manhã, mas à noite essa pessoa poderia estar morta. Vi pais tomando providências para o funeral de seus filhos, avós para seus netos. Não devia ser assim e eu certamente não desejava que isso me acontecesse. Mas uma vez que a vida é tão imprevisível, a ordenação era prioritária. Além disso, a saúde de minha mãe se deteriorava; minha avó estava ficando muito senil e, se postergasse por muito tempo a ordenação, elas poderiam ficar fracas demais para saber. Eu deveria fazê-lo assim que possível. Foi quando minha decisão sofreu um abalo. Ao me formar, recebi uma ótima oferta emprego. A carga de trabalho me consumia e os pensamentos sobre a ordenação foram deixados de lado. Deve ter sido meu mérito passado vindo ajudar-me, pois um dia o monge superior que sabia de minha antiga intenção veio para guiar-me. Suas primeiras palavras foram “Que tal ordenar-se no próximo retiro das chuvas?”

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Hesitei por um momento, mas finalmente disse, “Ainda estou encarregado de várias tarefas, acho que não devo sair agora”. Como se esperasse minha resposta, ele retrucou, “Se você morrer hoje, seus patrões não vão se incomodar em lhe adiantar qualquer mérito”. Esta resposta foi como um clarão no escuro. Fiquei abalado em pensar que se morresse hoje, minha mãe e minha avó seriam as únicas pessoas que se importariam o bastante para compartilhar seus méritos comigo. Assim que esse pensamento lampejou em minha cabeça, resolvi imediatamente ordenar-me durante o retiro das chuvas. Méritos provenientes da ordenação Após minha ordenação, aprendi que os tailandeses acreditavam que a ordenação significa uma pessoa restituir sua dívida de gratidão para com seus pais. Todavia, ainda havia alguns tailandeses que não apoiavam essa convicção. Como poderia um filho compensar seus pais quando ele mesmo estava aceitando ofertas e realizando diversas tarefas virtuosas enquanto seus pais estavam em casa? Parecia mais que ele os havia deserdado. Alguém havia feito a mesma pergunta ao monge superior, e ele forneceu a seguinte explicação: “Todo mundo tem suas próprias crenças, mas antes de acreditar em qualquer coisa, você deve observar a lógica por trás disso. No budismo, acreditamos que ‘cada pessoa que realizar boas ações receberá bons resultados e vice-versa. Nós colhemos o que plantamos’. “Quando um filho é ordenado, ele certamente receberá o mérito por tentar purificar-se de acordo com os ensinamentos do Senhor Buda. Os pais recebem um tipo de mérito diferente: em primeiro lugar, eles obterão mérito por

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apoiarem sua ordenação. Em segundo, quando seu filho for um monge, devido à preocupação por ele, os pais visitarão o templo para oferecer alimentos, não somente para seu filho, mas também para outros monges. Em conseqüência, eles obterão mérito por generosidade. Em terceiro, alguns pais, devido à imensa preocupação, passarão cada vez mais tempo no templo. Enquanto estiverem ali, eles ouvirão os ensinamentos do Senhor Buda, ficando mais informados sobre o certo e o errado. Ao elevar seus padrões morais, eles obterão mais méritos. E, finalmente, enquanto estiverem no templo, eles verão que outras pessoas estão observando os preceitos e praticando meditação. Se eles seguirem este exemplo, eles igualmente obterão mérito.” “Não há nenhuma dúvida de que os pais irão auferir méritos de uma natureza diversa daquela de seu filho. Todavia, o mérito não chega a eles automaticamente se eles ficarem aguardando inutilmente. Há alguns monges que têm que visitar seus pais em casa para convencê-los a observar os preceitos. Se eles seguirem seu conselho, somente então eles obterão méritos.” Fiquei muito impressionado com esta explicação. Ela demonstra que a ordenação do filho levará os pais a visitar o templo e a praticar virtudes. Ela também incentiva os monges a procurar convencer seus pais a acumular mérito. Ordenação em benefício dos entes queridos Hoje em dia, ao buscar suas metas na vida, a maioria dos homens tende a distanciar-se ainda mais de seus pais. Quando este distanciamento prossegue, as possibilidades de alguém se ordenar em benefício da mãe ou do pai serão remotas. Para evitar este conflito, devemos nos ordenar por nossos pais incondicionalmente, de modo a retribuir seu amor absoluto por nós.

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Se observarmos atentamente as vidas das pessoas, veremos que elas se esforçaram por outras pessoas, algumas até mais do que jamais nos esforçamos pelos nossos próprios pais. Se pudemos dar tanto aos outros, por que somos incapazes de dar mais aos nossos próprios pais? Este verão será o momento ideal de fazê-lo. Como um budista erudito sabiamente colocou, “Cada homem deve ser um intelectual em assuntos seculares e um sábio no budismo, assim sua vida não será desperdiçada”.

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Parte Seis

O fim da vida de alguém

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Capítulo 36

O valor da vida

Embora saibamos que nossas vidas não durarão mil anos, algumas vezes ainda nos deixamos levar pela torrente de prazeres mundanos que nos causam sofrimento. Algumas vezes fazemos coisas que mais tarde trazem remorso. Um vez que cada um está contando os dias de sua

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vida, algumas pessoas podem ter se perguntado, “Como viver nossas vidas da forma mais plena e como viver cada minuto de nossas vidas com consciência total?” Um monge altamente respeitado tinha uma resposta clara para isto. Ele sempre relembra aos leigos que chegam para gerar mérito em seu templo que lidar com situações cotidianas é algo para o qual precisamos nos preparar. “Ainda que possamos desgostar das dificuldades e apreciar a felicidade, não há nenhuma forma de evitar o sofrimento em nossas vidas, porque a vida é uma mistura de sofrimento e felicidade. Em vez disso, devemos nos preparar para o sofrimento inevitável com uma mente firme.” “Seres humanos nasceram com formas inerentes de sofrimento que incluem envelhecimento, doença e morte. A cada dia essas formas de sofrimento exercem efeitos adversos em nossas vidas em diversos graus.” “Em vez de perceber e ficar ciente deste sofrimento, os humanos se cegam ainda mais com outras trivialidades. Uma pessoa se preocupará mais em satisfazer seus desejos, por exemplo, ter um cônjuge e filhos, esperando que isso lhe traga felicidade.” “Outros indivíduos associados à pessoa que tenha esses desejos estão sobrecarregados com os mesmos sofrimentos inerentes (envelhecimento, doença e morte). Assim, ao se casar, em vez de ser feliz, a pessoa está se sobrecarregando com os sofrimentos naturais de seus entes queridos, inclusive o sofrimento que poderá ser causado por ter que se separar deles no final.”

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“Se você é casado ou tem seus próprios filhos, não há necessidade de explicar as dificuldades que advirão com suas responsabilidades. Mesmo permanecendo solteira, tendo que prover seu sustento, cuidar dos pais, uma pessoa mal tem tempo suficiente para si própria. Depois de casada, a pessoa deverá exercer a função de cônjuge e genitor dos filhos. Cada função envolve certamente uma enorme quantidade de trabalho. Assim, a cada dia, a vida familiar é preenchida com preocupação e dedicação.” “Se você for cauteloso e articulado, talvez consiga encontrar alguma felicidade em um casamento. Ainda assim, uma pessoa não pode escapar do sofrimento quando a morte chega. Ficar separado dos entes queridos é inevitável e causa grande pesar. Se alguém deseja viver uma vida feliz, deve aprender a ser tolerante e a não se sobrecarregar com sofrimento desnecessário.” “Algumas pessoas podem pensar que este ensinamento baseia-se em uma opinião pessimista. Mas, na verdade, trata-se de um ensinamento realista que lhe diz como lidar com situações cotidianas.” “O Senhor Buda foi capaz de vencer todos esses sofrimentos. Ele ensinou que uma pessoa pode lidar com sofrimento inesperado preparando-se cuidadosamente para confrontar o envelhecimento, a doença e a morte refletindo habitualmente nos aspectos a seguir: 1. Conhecer a finalidade da vida: Saber que não nascemos para viver somente em busca do prazer. De fato, nascemos para buscar perfeições, cultivar mérito para nos desvincular dos sofrimentos do samsara (ciclo de vida e morte) seguindo os passos do Senhor Buda para atingir o Nibbana.

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2. Auto-realização: Habitualmente reflita sobre o fato de que morrer é natural para nós. Ainda não superamos a morte. Não sabemos quando iremos morrer. Mais cedo ou mais tarde teremos que nos separar de todos os entes queridos e das coisas que amamos. Como as pessoas podem pensar sobre a morte?

1. Pensar sobre a morte com falsa visão: Pensar que a morte é inevitável ou somente esperar que a morte chegue, sem cultivar mérito ou qualquer coisa boa, é um desperdício de uma preciosa vida humana. 2. Pensar sobre a morte com visão correta: A morte é inevitável; assim, antes de morrer, deve-se extrair o máximo da existência física cultivando a quantidade máxima de boas ações para que o mérito acumulado resultante dessas ações seja transposto para a próxima existência. Toda a vida termina em morte. Ainda assim, a morte nunca pode ser a finalidade da vida. A finalidade da vida é cultivar mérito e purificar-se de contaminações para atingir o Nibbana. Uma vez que as impurezas ainda permanecem, nunca se deve parar de realizar boas ações até a chegada do dia final. Esta é a melhor recomendação que temos a oferecer. A reflexão diária sobre a morte e a separação de todos os entes queridos e dos objetos amados ajuda a desenvolver a consciência e a progredir na meditação. Uma pessoa que realiza esta reflexão viverá sua vida com cautela e preparação. Ela tende a não buscar nenhum vínculo adicional com seres animados ou inanimados, concentrando-se, em vez de isso, em realizar boas ações. Ela não teme

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nenhuma dificuldade. Ela percebe que a morte se aproxima cada vez mais, como uma sombra que a seguiu desde o nascimento e está pronta para atacá-la em momentos de fraqueza. 3. Cultivar o mérito máximo: O objetivo da vida é viver com propósito ou significado. Fazer algo que não possa ser transportado para a próxima vida não é considerado verdadeiramente benéfico.” O Senhor Buda percebeu que somente os resultados de nossas ações nos seguirão quando morrermos. Ele ensinou, “Somos proprietários de nossas ações, somos herdeiros de nosso carma, quaisquer que sejam as ações que pratiquemos, sejam elas boas ou más, receberemos suas conseqüências”. Ele ensinou três diretrizes principais sobre como viver nossas vidas e extrair o máximo delas: 1. Evitar más ações: Eliminar maus hábitos passados e evitar começar novos que possam aumentar as conseqüências adversas, a ponto de nos trazer estados de infelicidade ou fazer com que percamos o caminho rumo aos reinos celestiais e ao Nibbana. 2. Realizar boas ações ao máximo: Procurar realizar quaisquer boas ações que você nunca realizou e aumentar o empenho dedicado àquelas boas ações que já realizou para conquistar a passagem aos reinos celestiais e ao Nibbana, fechando ao mesmo tempo o portão do inferno. 3. Purificar a mente: Manter a mente clara e iluminada o tempo todo ao inspirar e expirar. Se uma pessoa inspirar e não expirar, a vida daquela pessoa chegará ao fim.

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A morte não traz nenhum sinal de advertência. Assim, cada um deve preparar-se para a morte mantendo sempre uma mente clara. A claridade ou turvação da mente nos abrirá a porta do céu ou do inferno, respectivamente. Uma mente clara e brilhante resultante da reminiscência de boas ações passadas os conduzirá à felicidade. A força de bons efeitos cármicos baseados nas boas ações que uma pessoa realizou em terra abrirá os portões de um reino celestial com tesouros celestiais. Uma mente turva resultante da reminiscência de más ações passadas conduzirá uma pessoa a reinos de infortúnio. A força de maus efeitos cármicos conduzirá a experiências dolorosas que corresponderão às ações daquela pessoa em sua existência atual. Essas diretrizes principais são categorizadas e elaboradas no ensinamento budista como as 10 Bases de Ações Meritórias (Puññakiriyā-vatthu) expostas abaixo:

1. Generosidade (Dānamaya) Mérito adquirido por dar ao receptor adequado 2. Disciplina Moral (Sīlamaya) Observar o comportamento moral restringindo o modo de falar e as ações, de forma a não causar transtorno a outros. 3. Prática da meditação (Bhāvanāmaya) Desenvolvimento mental por meio da meditação 4. Humildade (Apacāyanamaya) Reverência e humildade frente a outros com virtude

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5. Ajudar outros (Veyyāvaccamaya) Auxiliar outros sem violar a lei, a tradição ou a moral 6. Transferir méritos (Pattidānamaya) Compartilhar mérito com outros 7. Regozijar-se no mérito (Pattānumodanāmaya) Regozijar-se no mérito de outros 8. Ouvir os sermões de Dhamma

(Dhammassavanamaya) Ouvir as doutrinas ou ensinamentos corretos 9. Proferir os sermões de Dhamma

(Dhammadesanāmaya) Ensinar a doutrina ou mostrar a verdade 10. Formar a Visão Correta (Ditthujukamma) Fortalecer a visão ou formar as visões corretas.

“Em suma, essas dez ações meritórias podem ser categorizadas simplesmente em três grupos principais. Estes são generosidade (Dāna), disciplina moral (Sīla) e prática da meditação (Bhāvanā).” “Uma pessoa que entende a finalidade da vida, contempla habitualmente a realidade da morte e se empenha em cultivar boas ações terá a visão correta do mudo. Sua mente ficará imune aos sofrimentos mundanos. Ela também conseguirá encontrar felicidade tanto nesta vida quanto na próxima.” Todos esses ensinamentos proferidos por um respeitado monge superior nos lembra que não devemos

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conduzir nossas vidas descuidadamente; devemos almejar realizar boas ações e devemos evitar mau comportamento e purificar nossas mentes a cada dia, para que nossas vidas fiquem plenas de valor. Espero que esta mensagem de um respeitado monge superior, expressa por meio deste livro, ajude muitos em sua preparação para lidar cuidadosamente com quaisquer formas de sofrimento que a vida possa trazer. O valor da vida de uma pessoa depende da forma como ela a conduz neste mundo para conseguir a passagem ao Nibbana.

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Capítulo 37

O último momento da vida de um pai

Certo dia, uma senhora veio buscar orientação de um respeitado monge superior sobre como cuidar de seu pai agonizante; budistas consideram esta uma tarefa importante de qualquer filho agradecido. Assim, esses conhecimentos devem ser aprendidos por cada um que deva pagar uma dívida de gratidão para com seus pais.

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A senhora disse, “Quando eu tinha 10 anos de idade, meus pais se divorciaram. Minha mãe cuidou de mim”. Ela é uma budista fiel que acredita na lei da causa e efeito. Ela oferece alimento aos monges toda manhã. “Meu pai nunca me visitou. Ainda que eu saiba onde ele mora, nunca fui visitá-lo. Somente telefonei para ele algumas vezes”. “Recentemente, ele ficou seriamente doente e foi internado em um hospital. O médico diz que ele tem câncer e provavelmente não terá muito tempo de vida. Meu pai não tem fé no budismo. Como posso ajudá-lo a lidar com este sofrimento? Se eu gerar mérito em nome dele quando ele ainda estiver vivo, esse mérito poderia ajudá-lo a se recuperar?” O respeitado monge superior retrucou, “Antes de prestar cuidados a um paciente agonizante, não importa a enfermidade, a senhora deve entender algo que é de máxima importância. É o estado da mente que determinará o destino da vida após a morte dele. Assim, procure fazer com que ele não se preocupe com nada”. “O Senhor Buda certa vez disse, ‘Uma mente obscurecida conduz a um reino desfavorável’.” “Durante os dois últimos meses da vida de seu pai, faça o possível para que ele desenvolva uma mente clara. E gerar mérito é a melhor forma de tornar a mente clara e brilhante.” “Se meu pai não tem fé no budismo e eu gerar mérito por ele, ele receberá o mérito?” “A resposta é sim, ele receberá o fruto do mérito somente quando se alegrar em seu mérito e o valor do mérito

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que ele receber será inferior ao que ele receberá se gerá-lo por si próprio.” “Se uma pessoa não acredita na lei da causa e efeito, no momento da morte, quando apanhada pelos resultados de suas más ações, em seu último momento de vida ela experimentará grande sofrimento.” “Como filha, você deve permanecer próxima ao seu pai. Quando a oportunidade surgir, transmita ao seu pai um discurso sobre Dhamma; traga-lhe flores, velas e incenso para prestar homenagem ao Senhor Buda três vezes ao dia. No começo, ele pode recusar sua proposta. Seja paciente e mantenha-o falando; diga-lhe para rezar diariamente ou tanto quanto puder.” “Se sua condição não lhe permitir sentar-se, ele também poderá rezar enquanto estiver deitado. Quando ele tinha saúde talvez tenha duvidado do que a senhora disse. Mas no último instante quando a dor for insuportável para ele a senhora lhe disser para obter refúgio nas Três Jóias, ele poderá considerar aceitar seu conselho.” “Outra coisa que a senhora poderá fazer é preparar doação em alimentos (arroz, fruta ou flores) para que ele ofereça aos monges. Ou seria melhor ainda se a senhora pudesse convidar os monges a visitar seu leito para receber sua oferta de donativo. Se isso não for possível, a senhora também poderá oferecer doações de alimentos em outro lugar em nome dele e contar-lhe depois para que ele possa regozijar-se no mérito.” “Ao seguir este conselho, ele lutará menos, principalmente se ainda tiver algum mérito pessoal sobrando para acreditar na senhora. Ele ficará mais sereno enquanto

Page 259: A Família de Bom Coração

luta com sua dor. Mas se ele rejeitar tudo, então a senhora não poderá fazer nada senão esperar restituir a dívida de gratidão a ele na próxima vida.” “Há vários anos atrás, conheci alguém que era o guardião de um templo. Ele sofria de diabetes e por esse motivo teve que sofrer uma amputação. Após a cirurgia, todo os dias às duas horas ele sofria de uma dor tão aguda no local da ferida que nada fazia cessar a dor.” “E em virtude de ele ter fé no budismo e crença na Lei do Carma, eu o visitei e dei-lhe fitas cassete de cânticos e meditação. Após o café da manhã, nós pedíamos que descansasse. Enquanto ligávamos o cassete para que ele cantasse, ele cantava junto durante algum tempo após as duas horas e esquecia-se completamente da dor. Nós fizemos isso todo dia até que o ferimento cicatrizasse.” “Isso nos lembra que devemos aprender como cantar e cantar habitualmente. Assim, quando formos acometidos por uma enfermidade, poderemos utilizar o canto para lidar com qualquer desconforto. Quando a mente estiver concentrada no canto, ela esquecerá outras coisas. Ficou comprovado que este é um método bem-sucedido.” “Sua decisão de cuidar de seu pai durante sua doença é a decisão correta a adotar. Embora ele a tenha negligenciado bem como à sua mãe, a senhora deve saber que os pais são as pessoas para quem temos nossas dívidas de gratidão por diversas razões. 1. Os pais servem como molde físico. Eles nos dão a forma física como seres humanos, adequada para executar ações meritórias. Embora eles possam não ter nos educado, ainda assim temos uma dívida de gratidão para com eles. Se

Page 260: A Família de Bom Coração

eles também nos educarem como bons pais, temos uma dívida irrefutável para com eles. 2. Os pais sempre nos perdoam sem ressentimentos. As repreensões e punições que eles possam ter aplicado por praticarmos atos inaceitáveis são motivadas por seu profundo amor e preocupação conosco. Dói mais em seu coração do que no nosso quando eles têm que nos dar uma surra, como se tivessem seus corações atravessados por uma faca. Eles são os melhores amigos que poderemos encontrar neste mundo e podemos confiar neles integralmente. 3. Nossa dívida de gratidão para com nossos pais é muito maior do que podemos retribuir. Precisamos refletir habitualmente sobre a avaliação de nossa dívida de gratidão para com eles. Essas são as formas pelas quais os filhos podem retribuir a dívida de gratidão que têm para com seus pais:

1. Cuidando deles em sua velhice 2. Continuar a manter o bom nome da família 3. Usar a prosperidade da família de forma responsável 4. Prosseguir no bom trabalho pela sociedade que eles já

haviam iniciado 5. Inspirá-los a ter fé nas Três Jóias, continuando a

incentivá-los a ser generosos e a manter os padrões morais, persuadindo-os a ouvir os ensinamentos espirituais e ensinando-os como meditar. Tudo isso poderá ajudá-los a manter-se no caminho ao Nibbana.”

Page 261: A Família de Bom Coração

“Ainda que seus pais tenham falecido, sua obrigação como filho ou filha agradecida ainda não se encerrou. Além de assumir a responsabilidade por organizar um funeral adequado, um filho e filha agradecidos praticarão atos meritórios regularmente e transferirão o mérito de suas boas ações para seus falecidos pais.” Espero que tenha aprendido neste capítulo que, enquanto educa seu próprio filho para ser uma boa pessoa, você não deve esquecer de tratar carinhosamente seus pais e avós. Este é o caminho para dar aos seus filhos exemplos de como cuidar de você ao atingir a velhice, principalmente em seu último momento de vida. Eles saberão como tornar as mentes de seus pais claras e brilhantes para que tenham um destino favorável de acordo com o budismo. No final, tudo isso reverterá para você.

Page 262: A Família de Bom Coração

Capítulo 38

Pais, Dignos de nossa Reverência

Em 1999, as estatísticas na Tailândia mostraram que o

número de pessoas idosas que estão sendo negligenciadas

aumentou no mínimo em 300.000 ao ano, ao passo que os

asilos na Tailândia podem acomodar somente um aumento

de 200 pessoas por ano. Isso é ocasionado por filhos adultos

Page 263: A Família de Bom Coração

que se cansam de seus pais idosos e da responsabilidade de

cuidar deles. A tendência crescente de colocar pessoas idosas

em asilos é bastante desalentadora.

Nos ensinamentos budistas, os pais são reverenciados

como os Arahantas1 na família. Eles são os primeiros

professores de seus filhos. Há um ditado tailandês que diz

que os pés dos pais são as portas dos reinos celestiais.

Crianças tailandesas expressam seu respeito e demonstram

gratidão aos pais inclinando-se aos seus pés. Além disso, em

sua velhice os pais devem receber os cuidados dos filhos.

Atualmente, todavia, pais idosos que são negligenciados

tornaram-se um grande problema na sociedade tailandesa

em que o budismo é a religião mais comum.

Nossos ancestrais nos ensinaram que o sucesso de uma

pessoa depende da forma como ela trata seus pais a quem

lhes deve sua gratidão. Uma vez que a amabilidade deles é

incomparável, se uma pessoa não perceber e apreciar

este fato, ela também não será afável com outros. O

portão dos reinos celestiais e da prosperidade ficará fechado

a quem quer que negligencie seus pais.

Nossos ancestrais nos lembram da importante questão

a seguir. Quando relembramos nossa infância, observamos

1

O Sagrado; o perfeito

Page 264: A Família de Bom Coração

que não conseguíamos ajudar a nós mesmos. Mas se nossos

pais tivessem se cansado de nós e nos deixado em latas de

lixo ou à beira da estrada, jamais teríamos sobrevivido por

nossa própria conta. Ainda que sobrevivêssemos, talvez

tivéssemos nos tornado crianças sem lar morrendo de fome e

sem nenhum futuro. Assim, em virtude de nos ajudarem e

nos aceitarem em sua família, nossa dívida de gratidão para

com eles é incomparável. Sua amabilidade está além do que

podemos retribuir. Pense por um momento: algumas vezes

eles passaram fome e se sacrificaram por nós para que

pudéssemos ser alimentados. Eles lutaram de todas as

formas para nos criar como pessoas adultas. Por esta razão,

devemos retribuir nossa dívida de gratidão a eles da melhor

forma que pudermos.

A partir do retrato acima, se pensarmos sobre ficar

velhos ou nos tornar futuros avós, está claro que ficaremos

senis e frágeis. Talvez venhamos a depender de nossos filhos

para cada movimento, até mesmo para nossas idas ao toalete.

Nossos corpos físicos ficarão debilitados e isso fará com que

nós e nossos filhos nos sintamos constrangidos. Sem a

gratidão e o verdadeiro amor que nossos filhos nutrem por

nós, poderemos ser negligenciados. Todavia, algumas

pessoas estão cuidando pacientemente de seus pais ou avós

somente na expectativa de uma herança. Como podemos

Page 265: A Família de Bom Coração

impedir esse problema de desafabilidade àqueles

dignos de nossa reverência?

Com grande visão e sabedoria, nossos ancestrais

possuíam critérios claros para solucionar este problema.

Principalmente, os pais devem determinar que seus filhos

ajudem nos cuidados com seus avós desde pequenos. Assim,

eles automaticamente testemunharão as ações de seus pais.

Mais tarde, eles cuidarão de seus próprios pais da mesma

forma que estes fizeram com seus avós.

É importante também, para infundir eficientemente a

gratidão nos filhos, que os pais os façam participar dos

cuidados de seus avós. Além disso, eles devem exaltar as

virtudes de seus avós para seus filhos, tanto na presença

quanto na ausência dos avós. Ao estabelecer um bom

exemplo, os filhos verão claramente e aprenderão a partir

dos atos de seus pais. Dessa forma eles saberão que uma

pessoa agradecida deve tratar seus pais dessa forma.

Ao contrário, aqueles que cuidam de seus pais e se

queixam ou os insultam ao mesmo tempo – ou pior, abusam

direta ou indiretamente de seus pais – terão filhos que

mentalmente relembrarão esses atos e os copiarão de acordo.

A verdade é: aqui se faz, aqui se paga. Quando eles chegarem

à velhice, seu filho irá tratá-los da mesma forma como

fizeram com seus próprios pais. Eles terão os mesmos

Page 266: A Família de Bom Coração

sentimentos que seus pais idosos tiveram, que são

sentimentos de mágoa por não serem amados, de serem um

fardo para a família, de não pertencerem ao lugar e mesmo

de se sentirem inferiores a uma empregada. Essas sensações

negativas magoarão seus corações em retorno ao mau

exemplo que deram aos seus próprios filhos.

Assim, na condição de pai ou mãe, se desejar ser bem

tratado por seus filhos em seus anos tardios, você deverá

primeiro cuidar bem de seus próprios pais. Ao mesmo

tempo, você deve exercitar seus filhos a serem bons

auxiliares. Um dia, quando se tornarem adultos, eles

também cuidarão bem de você. Você não será afetado ou

magoado por nada nem ninguém, pois seus filhos possuem a

compreensão correta de serem agradecidos a você.

De alguma forma, você deverá preparar-se para a

velhice. Não fazê-lo lhe trará problemas mais tarde, pois

talvez você não consiga adaptar-se quando seu corpo físico se

tornar debilitado. Além disso, pode haver pressões em

decorrência de sua falta de preparo em lidar com esses

problemas.

Chegamos agora ao tópico de como nos preparar para

sermos pais dignos da reverência de nossos filhos. Em

primeiro lugar, devemos saber que há dois tipos de idosos.

Page 267: A Família de Bom Coração

O primeiro tipo de idoso é denominado “Uma

Pessoa Improdutiva”, uma pessoa sem valia.

Esses tipos de idosos nunca obtiveram êxito em realizar

boas ações durante toda sua vida. Por exemplo, eles quase

nunca ofereceram donativos aos monges, observaram os

preceitos, meditaram, estudaram o Dhamma ou entoaram

cânticos. É como se tivessem levado vidas infrutífera dia a

dia. Esses idosos podem ser irritantes pois não possuem uma

compreensão de causa e efeito ou princípios de

discernimento. Seus filhos não gostam de passar o tempo

com eles porque eles criam problemas para a família, como

por exemplo, provocando a ruptura entre a mãe de um

marido e sua nora. Seus filhos raramente recebem deles

quaisquer conhecimentos virtuosos. Em conseqüência, eles

se tornarão negligenciados porque nunca ensinaram aos seus

filhos como se tornarem pessoas agradecidas.

O segundo tipo de idoso é denominado “Uma

Pessoa Produtiva”, um filantropo ou altruísta.

Durante todas suas vidas, esses idosos proveram

diligentemente seu sustento e estão bem preparados para

seus anos de velhice, para que possam depender de si

próprios sem a ajuda de outros. Seu comportamento e seus

modos são bem ajustados; eles sabem que não se

Page 268: A Família de Bom Coração

constituirão em um fardo para seus filhos. Em termos de

religião, eles estudaram diligentemente os princípios

budistas sendo generosos, observando os preceitos e

praticando a meditação. Mais ainda, eles sempre ensinaram

e incutiram em seus filhos a compreensão correta da vida.

O Senhor Buda designava essas pessoas idosas

“aqueles dignos da reverência de seus filhos”. Uma

família com um membro assim terá felicidade já que possui

um “integrante digno na família”.

Esses idosos sempre seguiram os princípios de levar

uma vida simples que incluem:

1) Fazer o possível para oferecer donativos. Isso

significa que eles sempre acumulam mérito por

oferecer donativos aos monges a cada manhã para

reunir provisões para a próxima vida.

2) Fazer o melhor de si para aderir estritamente

aos Cinco Preceitos a cada dia. Isso é verdadeiro

principalmente em relação ao quarto preceito (não

mentir), do qual se deve tomar ciência máxima. Na

véspera dos dias budistas sagrados e durante os dias

budistas sagrados, eles manterão os Oito Preceitos.2

2

Abster-se do suicídio, tomar o que não é dado, ser incasto, proferir falso discurso, ingerir substâncias inebriantes que causem descuido, alimentação imprópria, entretenimento e cosméticos, e camas ou colchões amplos e luxuosos.

Page 269: A Família de Bom Coração

Fazer isso poderá incentivá-los a conduzir suas vidas

de um modo simples.

3) Fazer o melhor de si para meditar

freqüentemente. Eles meditam pela manhã, após

o almoço e antes de dormir para manterem sua

mente purificada e radiante.

Esses idosos comportaram-se bem e deram bons

exemplos para seus filhos. Durante o lazer, eles incutiram

nos filhos uma formação moral, contaram histórias,

contaram histórias do Dhamma, bem como suas próprias

experiências de vida, tudo isso sendo valioso e útil para os

pequenos seguirem. Esses bons exemplos lembraram e

tiveram um impacto sobre seus filhos, possibilitando a eles

conduzirem suas vidas de forma virtuosa e honrada.

Além disso, esses idosos nunca interferirão nas vidas de

seus parentes por afinidade. Eles presumem que esses

adultos sabem como lidar com a responsabilidade de uma

família e como solucionar problemas por si próprios. Eles

não precisam que seus sogros ajudem em reconciliações. No

final, esses adultos assumirão seu lugar e se tornarão o

próximo pilar de apoio da família.

Mais tarde, quando a vida desses idosos chegar ao fim,

suas posses serão dadas aos seus filhos. Assim, eles

Page 270: A Família de Bom Coração

permitirão que seus filhos adultos sejam os guardiões de

suas fortunas. Eles estão bem preparados pra seus próprios

funerais com economias acumuladas e promoverão a geração

final de mérito antes de seu sono eterno. Depois que os bens

forem divididos, uma quantia será dada aos seus filhos para

que cuidem de sua própria família. Esses idosos estão

conduzindo suas vidas de forma consciente a cada dia.

Quando seu último dia chegar, eles olharão o passado e se

orgulharão do que realizaram, uma vez que seus deveres são

“dignos da reverência de seus filhos.”

Assim, pode-se deduzir que os idosos do segundo tipo

não ficarão solitários durante seus últimos dias pois são

afetuosos, reverenciados por seus filhos e dignos do tempo

dos outros. Podemos observar claramente seus

conhecimentos, virtude, sabedoria e capacidade de ajustar-se

à vida. Podemos organizar nosso futuro seguindo o segundo

tipo de idosos, “A Pessoa Produtiva”. Isso significa que

devemos estar bem preparados antes de atingir a velhice.

Assim, a partir deste ponto, devemos nos preparar

para nos tornarmos as pessoas dignas da reverência

de nossos filhos.

Page 271: A Família de Bom Coração

Capítulo 39

Abençoando nossos descendentes

Ao atingirmos a velhice, abençoar nossos descendentes

passa a ser um dever importante entre as nossas diversas

obrigações. Todavia, nossas bênçãos serão reverenciadas

somente se o fizermos moderada e adequadamente,

dependendo de nossa antigüidade e qualificações. Estudar os

Page 272: A Família de Bom Coração

critérios de como nossos ancestrais abençoavam seus

descendentes e lhes infundiam a obediência, criando-os para

se tornarem bons cidadãos é de grande benefício para nós.

Seus princípios nos proporcionam uma orientação clara que

poderá se adaptada à nossa própria situação ao atingirmos a

velhice.

O que é uma bênção?

Abençoar é denominado vara no idioma Pali.

O significado de vara é progresso e felicidade.

Uma bênção significa o ato de dar o melhor de

si.

Assim, quando um idoso dá a bênção aos seus

descendentes, isso equivale a desejar-lhes o melhor.

O significado da bênção

Muitos podem não saber que abençoar

descendentes tem sido uma tradição da vida tailandesa

desde tempos antigos. Trata-se de uma rotina que a família

praticava antes de deitar-se. Os pais traziam seus filhos para

prestarem respeito aos avós toda noite. Em seguida os avós

resumiriam todas as boas ações que haviam praticado

naquele dia em uma bênção para seus netos. Procedendo

dessa forma, incutia-se nos filhos a conduta moral e eles

Page 273: A Família de Bom Coração

aprendiam a partir das virtudes de seus avós. Esses atos

transferiam boas ações e virtudes e os filhos aprendiam a

acreditar na Lei de Kamma.

No passado, as pessoas na sociedade tailandesa viviam

mais pacificamente. Elas tinham menos problemas do que na

sociedade atual, pois a maioria das famílias participava dessa

rotina familiar noturna, criando um ambiente harmonioso.

Os idosos representavam o coração da família

inteira. Se suas vozes que falam do Dhamma,

incentivo ou cautela estão ausentes, é como se o

coração de uma família parasse de funcionar. Ao

mesmo tempo, a família não ficaria unida. Mais tarde,

conflito, solidão, depressão e desânimo surgiriam na família.

O calor familiar enfraqueceria gradualmente e depois

chegaria ao fim. No final, os únicos sons que se ouviria na

família seriam obscenidades, discussões e o ruído produzido

pelos jogos e a ingestão de álcool.

Uma família que entende a importância de uma bênção

diária pelos mais velhos ensinará seus filhos a ficar bem

familiarizados em prestar homenagem e pedir a bênção de

seus pais e avós toda noite antes de deitar. Nos casos em que

os avós haviam falecido, os pais ensinavam seus filhos a

prestar respeito em frente aos retratos dos avós. E eles

assumiam o papel dos avós em incutir suas próprias virtudes

Page 274: A Família de Bom Coração

e boas ações para que pudessem se tornar bons exemplos

para seus próprios filhos.

Atualmente, essa rotina desapareceu das famílias

tailandesas; tornou-se a causa de problemas familiares,

como o crescente índice de divórcios, o descuido aos pais

idosos, etc. Além disso, alguns problemas são ocasionados

por casais que se separaram de suas próprias famílias

estendidas para se tornar uma família nuclear. Os únicos

membros da unidade familiar são os pais e filhos. Em

conseqüência, os filhos raramente recebem bênçãos de seus

avós. Quando os pais deixam de fazê-lo e não assumem o

papel dos avós em benefício de seus próprios filhos, os

conflitos passam a surgir em conseqüência disso. Alguns

casos são até piores porque membros individuais da família

vivem por conta própria na mesma família. Isso destrói o

vínculo entre pais e filhos, enquanto eles continuam

desconhecendo a raiz do problema.

Se vocês são integrantes de uma família nuclear que não

praticou essa tradição, na condição de pais vocês devem

discutir esse tópico. Devem fazer-se perguntas do tipo, “Você

deseja que seus familiares vivam por sua própria conta ou

deseja criar sua família na honrosa tradição tailandesa que

poderá trazer a unidade familiar?”

Page 275: A Família de Bom Coração

Quando seus pais vivem longe de sua família, você

deverá assumir seu lugar. A sugestão é que a mãe deve trazer

os filhos para que prestem homenagem e peçam primeiro a

bênção do pai, o chefe da família; depois deve-se prestar

homenagem à mãe. Praticar isso antes de deitar-se cria uma

família de bom coração. É uma garantia de que sua unidade

familiar será estável. Ao atingir a velhice, você não será

negligenciado porque ensinou seus filhos adultos a ser

agradecidos desde a infância. Eles ficarão bem familiarizados

com o ato de prestar homenagem e de pedir a bênção de seus

pais. E embora eles estejam crescidos, eles ainda prestarão

respeito a você e aos avós da mesma forma. Eles acreditam

que vocês foram bons provedores porque sempre obtiveram

ensinamentos valiosos de vocês.

Como alguém cria o melhor em si mesmo?

O leitor poderá apreciar agora o sentido e o significado

de uma “bênção”. Agora chegamos à interessante

pergunta de como uma pessoa pode desenvolver

suas melhores qualidades.

De acordo com os princípios budistas, a “mente”

humana possui características que diferem de outros seres

humanos neste mundo. Estas são:

Page 276: A Família de Bom Coração

1) A mente pode ser exercitada para ter uma qualidade

superior.

2) A mente pode livrar-se do mal.

3) A mente pode acumular pureza.

De acordo com essas características, se a mente

humana acumular somente boas ações, ela se tornará feliz e

poderosa. Ao contrário, se acumular somente más ações, ela

se tornará tenebrosa e má. Uma vez que cada indivíduo está

constantemente acumulando boas e más ações, sua mente não

pode ser completamente pura ou tenebrosa. Se for totalmente

pura, a pessoa terá uma vida após a morte em um reino

celestial ou atingirá a iluminação e entrará em Nibbāna

(Nirvana). Se a mente estiver totalmente obscurecida, a

pessoa irá para um reino do inferno após a morte.

Uma vez que cometemos tanto boas como más ações

em nossas vidas, devemos nos corrigir eliminando as más

ações e esforçar-nos ao máximo para realizar mais boas ações

nesta vida.

A incapacidade de desenvolver o melhor de si tem

causas primordiais que podem ser divididas em três grupos

principais que, como um todo são denominados impurezas

(Kilesa). Estes são:

1) Ganância (ou desejo) – egoísmo, ganância

interminável e mesquinhez.

Page 277: A Família de Bom Coração

Isso inclui um adulto ganancioso que cobiça as posses

de outras pessoas ou uma criança que é egoísta e furta os

pertences de outros.

2) Raiva (ou ódio) – desprazer ou, levado ao

extremo, alguém que se ofende facilmente e provoca

destruição.

Isso inclui adultos que se irritam e enraivecem

facilmente e crianças mal-humoradas.

3) Ignorância (ou desilusão) – confundir o

certo com o errado e vice-versa; confundir o bom

com o mau e vice-versa. Essa ignorância faz com que

uma pessoa tenha pensamentos, linguajar e conduta

negativos.

Isso inclui um adulto que seja tendencioso, invejoso

e goste de fazer intrigas sobre os outros ou uma criança que

consuma drogas, substâncias inebriantes e fique viciada em

produtos químicos de tintas.

Estes três tipos de impurezas fazem com que uma

pessoa seja incapaz de desenvolver o melhor de si. Quanto

mais impurezas alguém abrigar, menos qualidades nobres

poderá conquistar. Em conseqüência, ninguém deseja

associar-se a esse tipo de pessoa e mesmo cuidar dela na

doença.

Page 278: A Família de Bom Coração

Ao contrário, aqueles que já foram egoístas, coléricos ou

invejosos e depois reverteram sua conduta e se aprimoraram,

terão pensamentos, linguajar e ações positivas. Quando boas

ações se acumulam, os maus hábitos se transformarão em

positivos e eles criarão mais do melhor que há em si

próprios. Tanto adultos como crianças podem fazer isso;

depende apenas de determinação e prática conscienciosa.

A forma de criar o melhor em si mesmo

O Senhor Buda ensinou o caminho para criar o melhor

que há em si mesmo eliminando a ganância, cólera e

ignorância pela acumulação de mérito. Os elementos desse

caminho eram:

1) Eliminar a ganância por atos regulares de

generosidade. Pode-se observar um bom exemplo em

nossos ancestrais. Naqueles dias, nossos ancestrais

levantavam-se ao alvorecer e depois acordavam seus

familiares para prepararem os alimentos a serem doados aos

monges. A família inteira tinha que levantar-se e participar.

Quando os monges vinham para receber as ofertas de

donativos, os avós levariam as crianças para colocar a oferta

de alimento nas tigelas de doações dos monges.

Após esta oferta, os avós mostrariam às crianças como

transferir o mérito aos parentes falecidos despejando a água

Page 279: A Família de Bom Coração

da dedicação. Ao fazê-lo, incutia-se nas crianças gratidão e

compaixão.

Nas famílias que viviam distantes do templo e não

faziam parte do percurso da rota dos donativos dos monges,

os avós pediam aos seus descendentes que preparassem

alimentos para oferecer aos monges e eles viajariam até o

templo para oferecê-lo lá. Se ele não pudessem viajar devido

a doença, seus filhos iriam em seu lugar. Antes de deixar a

casa, os avós reuniriam seus descendentes para tomar uma

resolução (desejo).

Nossos ancestrais desejavam que seus filhos se

familiarizassem com a generosidade, em vez de ter suas

mentes turvadas ou repletas de ganância. Acordar cedo pela

manhã para realizar uma boa ação refresca a mente com este

ato positivo. A vida é curta e cheia de incertezas. Assim, cada

um na família deve começar seu dia com uma mente radiante

que pense somente em apoiar os outros para realizar mais

boas ações, como oferecer donativos aos monges pela

manhã.

Podemos ver que hoje em dia é diferente. A maioria das

pessoas acorda pensando sobre progredir em suas carreiras,

como podem triunfar sobre outros. Algumas têm

pensamentos ardilosos durante o dia todo. Algumas sempre

acordam tarde, incapazes de manter o ritmo com os outros.

Page 280: A Família de Bom Coração

Essas pessoas não realizam uma única boa ação durante seu

dia todo, além de terem acordado tarde.

Quando essas situações ocorrem, a família inteira é

afetada. Quando um membro tira vantagem de outros no

trabalho, ele pode fazer a mesma coisa para sua própria

família. Essa situação pode piorar quando os familiares

brigam por bens ou dinheiro. Isso ocasiona o declínio do

melhor que há na família e os problemas só podem

aumentar.

Uma vez que nossos ancestrais entendiam plenamente

este fato, eles faziam com que seus descendentes

oferecessem donativos aos monges toda manhã. Esta boa

ação inicia o dia. Crianças que são ensinadas a dar e a apoiar

os outros não exibem ganância, nem demonstram inveja ou

exploram os outros; suas mentes se tornam positivas e

radiantes desde o nascer do sol. Por este meio, a avareza será

totalmente eliminada. Por meio da generosidade, pode-se

criar o melhor em si mesmo.

2) Eliminar a cólera observando os preceitos

regularmente.

Quando os avós acordavam ao alvorecer, antes de

preparar as refeições a serem doadas, sua rotina matinal

incluía reunir familiares e empregadas para entoar os

Page 281: A Família de Bom Coração

cânticos matinais. Após os cânticos, eles prosseguiam

recitando os cinco preceitos3 em frente à imagem de Buda

(como Seu representante).

Para familiares que acordassem 10 minutos atrasados,

perdendo assim os cânticos matinais, os avós não deixavam

isso passar; em vez disso, cada pessoa recitava os cinco

preceitos enquanto esperavam que os monges chegassem

para a oferta de donativos. Após a oferta de donativos, todos

eles dedicariam imediatamente os méritos que tinham

acabado de gerar (oferta de donativos e a intenção de manter

os preceitos) aos seus ancestrais. Em seguida, todos eles

entoariam juntos os cânticos matinais. Neste ponto,

podemos ver que os avós procuravam incutir a bondade na

família, não permitindo que as impurezas vingassem.

Os familiares passavam a conhecer o propósito de se

manter os cinco preceitos diariamente como forma de

desenvolver a moralidade. Eles fariam promessas a si

próprios de não romper os cinco preceitos durante o dia

todo. Além disso, eles não seriam ignorantes, cortejadores

nem causariam problemas a outros. Embora alguns

desentendimentos possam ter sido inevitáveis, não importa

quão séria a situação se tornasse, eles se controlariam da

3

Não matar seres vivos, não roubar, não cometer adultério, não contar mentiras, não consumir álcool ou substâncias inebriantes intencionalmente.

Page 282: A Família de Bom Coração

melhor forma que pudessem e solucionariam a discussão de

forma razoável. Descendentes que são bem ensinados na

infância não cederão de forma alguma às tentações (Estradas

para a Ruína). Ao observar os cinco preceitos eles viverão

uma vida tranqüila.

Ao contrário, a sociedade de hoje está repleta de

violência. Quando pessoas são ofendidas por outras, elas

rapidamente revidam com hostilidade. Seus temperamentos

coléricos estão prontos para emergir e buscar vingança

contra outros a qualquer momento, conduzindo a um ódio

interminável.

Com sua sabedoria e visão, nossos ancestrais

compreendiam profundamente esta verdade e sua causa e

efeito. Ao ensinar suas famílias a terem controle sobre si

próprias em tenra idade, os avós lhes incutiam generosidade

por meio de ofertas de donativos aos monges e observância

diária dos cinco preceitos. Essas ações benéficas

transformam-se em um alicerce e disciplina moral das

crianças. Quando elas forem capazes de se abster de explorar

a si e aos outros, por meio da observância dos preceitos, o

melhor poderá ser criado dentro nelas.

3) Eliminar a ignorância pela prática regular da

meditação.

Page 283: A Família de Bom Coração

À medida que nossos ancestrais estudavam e

praticavam o Dhamma, eles sabiam que a mente de uma

pessoa poderia ser presa fácil das cinco formas de desejo

sensual: imagens visuais, alimentos saborosos, aromas

perfumados, sons melodiosos e objetos suaves ao toque. Por

exemplo, quando alguém vê uma pessoa de boa aparência ou

uma imagem atraente, experimenta alimentos deliciosos,

sente um aroma perfumado, escuta sons melodiosos e toca

em objetos suaves, ele terá o desejo de possuí-los.

Ao ficar preso pelos canais dos olhos, nariz, língua,

corpo e mente, uma pessoa pode facilmente confundir o certo

com o errado e ser convencida a praticar más ações. Mais

tarde, a pessoa ficará infeliz quando as conseqüências

produzirem frutos.

Exercitar-nos a ficar atentos salvará nossa mente de

ficar presa na armadilha desses canais.

Cautela é estar ciente do que se está fazendo no

momento atual e ser capaz de diferenciar e discernir

o que é certo ou errado, bom ou mau, benéfico ou

maléfico, apropriado ou inapropriado. A cautela

protege a pessoa da negligência.

Nossos ancestrais estavam bem cientes dessas

verdades, razão pela qual eles ensinavam a si próprios a ser

cautelosos quando eram jovens. Eles acreditavam e

Page 284: A Família de Bom Coração

seguiam o ensinamento do Senhor Buda de que o

templo é a fonte de conhecimentos morais para as

pessoas.

O Senhor Buda ensinava o caminho da cautela por meio de

uma prática denominada meditação.

Meditação é o método de se eliminar uma visão

errônea exercitando a mente para que esta fique em

repouso até que se torne clara, pura e radiante,

permitindo a uma pessoa ser firme na retidão.

Nossos ancestrais se exercitavam para serem

cuidadosos antes de se casar; eles continuavam a praticar

isso como parte de sua rotina em sua velhice. Essas três

práticas são:

1) Estudar o Dhamma todo dia.

2) Ensinar o Dhamma para sua família todo

dia.

3) Praticar meditação toda noite.

Ao estudar o Dhamma todo dia, nossos ancestrais

eram sempre lembrados do ensinamento do Senhor Buda de

nunca deixar de gerar mérito. Uma vez que todo mundo irá

morrer um dia, as únicas coisas que podemos levar conosco

para nossa próxima existência são o mérito (benéfico) e o

Page 285: A Família de Bom Coração

pecado (maléfico). Na sua vida, se uma pessoa puder

acumular mais boas ações, os problemas poderão ser

reduzidos, o que resultará na felicidade. Inversamente, se

uma pessoa acumular mais más ações, ela não somente terá

muito mais problemas na vida, como também infelicidade.

Ao ensinar o Dhamma para suas famílias todo

dia, nossos ancestrais foram capazes de revisar os princípios

morais. Quando ensinavam moralidade aos seus filhos, eles

ficavam vinculados ao Dhamma. Eles também apreciavam

passar tempo com seus avós devido aos lembretes de praticar

boas ações. Em troca, os avós se tornavam respeitados pelos

filhos como as “pessoas perfeitas” na família.

Praticar meditação toda noite era equivalente a

exercitar a cautela. Quando eles praticavam a meditação

diariamente, suas mentes se familiarizavam com a

tranqüilidade e a clareza e raramente se tornavam sombrias.

Quando suas mentes se mantinham tranqüilas, eles não

eram presas fáceis dos canais dos cinco desejos sensuais.

Eles podiam resistir a todos os tipos de tentação ou ações

maléficas.

Por esta razão, eles ficavam constantemente atentos e

não cediam. Eles eram espertos e entendiam as outras

pessoas e suas impurezas, sabendo como livrar-se delas. Eles

eram uma fonte de sabedoria para sua família. Qualquer um

Page 286: A Família de Bom Coração

que desejasse obter os mesmos conhecimentos nunca se

desapontava; bastava se aproximar de seus avós para

conversar com eles.

Em conclusão, nossos ancestrais foram capazes de criar

o melhor para si mesmos pela eliminação da ganância, cólera

e ignorância e pela prática da generosidade, observando os

preceitos e praticando a meditação. Uma vez que seguiam os

ensinamentos do Senhor Buda, eles se tornavam respeitosos,

afáveis e bons exemplos para suas famílias.

Tendo aprendido como nossos ancestrais se

exercitavam para desenvolverem o melhor para si

mesmos, podemos ter certeza de que eles nunca

foram negligenciados, mas foram dignos de respeito

em sua família, como as “pessoas perfeitas”.

Como o melhor de si em alguém torna a bênção

sagrada?

Quando nos aproximamos de idosos honrados e eles

nos abençoam, podemos nos perguntar por que sentimos um

senso de sua natureza sagrada. Nós nos perguntamos, “O

que a natureza sagrada de uma bênção tem a ver

com as melhores qualidades da pessoa que dá a

bênção?”

Page 287: A Família de Bom Coração

Um respeitado monge superior forneceu uma

explicação referente a essa questão. Ele disse, “A natureza

sagrada de uma bênção” depende de “quão honesta é

a pessoa que abençoa em relação às suas virtudes”.

Se a pessoa que abençoa for honesta em relação

às suas virtudes, suas bênçãos serão muito

poderosas. Todavia, se a pessoa que abençoa não for

honesta em relação às suas virtudes, suas bênçãos

serão menos poderosas.

Ele destacou exemplos registrados durante a época do

Senhor Buda, principalmente a história do Venerável

Angulimala (Ahimsaka) descrito vividamente no Cânone

budista. O respeitado monge superior ilustrou:

“Antes que o Venerável Angulimala fosse ordenado, ele

havia sido um assassino em série. Ele havia assassinado

cerca de mil pessoas. A última ou a 1.000a pessoa que ele ia

matar era sua mãe. Todavia, o Senhor Buda previu este

evento; assim, Ele o impediu de cometer a má ação. Quando

o Venerável Angulimala O viu, ele pensou em matá-Lo

igualmente. Então o Senhor Buda tentou despertar seu bom

senso lembrando-o da má ação em sua mente. Ele proferiu-

lhe um sermão especial sobre beira da estrada. No final, o

Venerável Angulimala havia se arrependido e solicitado do

Senhor Buda a ordenação como um monge. Quando ele se

Page 288: A Família de Bom Coração

tornou um monge, ele praticou o Dhamma em Seu templo de

forma conscienciosa.

“Em decorrência de ser um famoso assassino em série

no passado, no início de seu monacato, quando fazia suas

rondas matinais em busca de donativos, ele freqüentemente

retornava sem nada porque os aldeões o reconheciam como o

assassino. Alguns fugiam dele. Alguns lhe atiravam pedras

até que ele ficasse coberto de sangue.”

“Um dia, enquanto estava em sua ronda buscando

donativos, ele encontrou uma mulher grávida que estava

prestes a dar à luz. Assim que o reconheceu, ela foi tomada

de pânico e tentou fugir até que caiu e lutou para erguer-se

repetidamente. Finalmente, ela ficou exausta e olhou para

ele pasma de temor, como se estivesse morrendo na frente

dele.”

“Venerável Angulimala realmente queria ajudá-la, mas

o que ele poderia fazer a respeito? No final, ele deu-lhe uma

bênção baseada em sua honestidade em relação às suas

virtudes:”

“A partir do momento do nobre nascimento

após ser ordenado no templo do Senhor Buda,

nunca pensei em explorar ou prejudicar nenhum

ser humano. Com essa verdade, que você possa dar

à luz seu filho com segurança.”

Page 289: A Família de Bom Coração

“Após essa bênção poderosa, a mulher gerou seu filho

de forma fácil e segura. Uma vez que o evento ocorreu antes

que o Venerável Angulimala alcançasse o estado de

Arahanta (o purificado), pode-se deduzir que o poder da

honestidade em relação às suas virtudes criou uma bênção

sagrada.”

“Assim, o método correto de proferir uma

bênção é que ela deve depender da honestidade em

relação às virtudes da pessoa que abençoa.”

“Por exemplo, se tivermos certeza de nossa integridade

referente à nossa generosidade, podemos abençoar uma

pessoa da seguinte forma”:

“Com a verdade dos donativos que ofereci aos

monges durante o ano todo, que você possa ter

provisões abundantes. Ou, baseado na verdade da

oferta de minhas posses para ajudar os monges, que

você também possa ter prosperidade.”

A opinião do respeitado monge superior

Após a explicação clara, o respeitado monge superior

compartilhou sua crença de que:

“Aqueles que se tornam avós ou são pessoas respeitadas

devem agora preparar-se para uma forma de proferir

bênçãos poderosas, caso a ocasião venha a surgir. Não os

Page 290: A Família de Bom Coração

desaponte com uma bênção que soe como se estivessem

ouvindo um papagaio.”

“Se ainda não tivermos oferecido donativos aos monges,

deveríamos começar agora, pois esta ação benéfica poderá

eliminar nossa mesquinhez. Se nos irritamos facilmente, a

observação rigorosa dos preceitos poderá eliminar o mau

humor e a teimosia. Aqueles que ainda são teimosos devem

estudar o Dhamma e praticar a meditação regularmente para

desenvolver o melhor em si mesmos.”

“Todavia, se tivermos praticado a generosidade,

observado os preceitos e praticado a meditação regulamente,

podemos depender daquelas ações benéficas para criar nossa

bênção sagrada. Por exemplo, você poderá dizer: ‘Possa você

receber os méritos que gerei e alcançar a prosperidade, boa

saúde e sabedoria’.”

“Não é tarde demais para pessoas idosas que não

possuem boas ações desenvolverem a virtude cantando o

“Itipiso” 108 vezes ou meditando a noite toda. Quando

crianças pedirem nossas bênçãos na manhã seguinte,

teremos no mínimo algumas boas ações; fazê-lo em uma só

noite é melhor do que não ter nada com o que abençoá-los.

Mas depois, devemos fazê-lo regularmente todo dia. No final,

suas vidas serão cercadas pelo que há de melhor.”

Page 291: A Família de Bom Coração

Após estudar este assunto, os leitores devem entender

como se preparar para o último capítulo da vida. É como se

tivermos que fingir que somos velhos agora para nos

desenvolvermos. Pois quando envelhecermos, será difícil

mudar nossos maus hábitos; assim, devemos nos aperfeiçoar

livrando nossas mentes da ganância, cólera e ignorância.

Quando o último capítulo da vida chegar, estaremos

preparados para nos tornar pessoas dignas do respeito dos

nossos próprios descendentes. Seremos uma fonte de

sabedoria para eles estudarem e seguirem.

Page 292: A Família de Bom Coração

Capítulo 40

Exercitando a prudência pela

prática da austeridade

(Dhūtanga)4

4

A prática de remover impurezas

Page 293: A Família de Bom Coração

A vida é cheia de incertezas e o perigo espreita aqueles

que são descuidados em suas vidas. O Senhor Buda certa vez

afirmou, “Uma pessoa incauta é como uma pessoa

morta”. Praticar austeridade é uma das formas de exercitar-

se para tornar-se mais prudente.

Muitos podem não estar cientes de que durante os 45

anos da propagação do Dhamma pelo Senhor Buda, ele

proferiu um total de 84.000 ensinamentos. Todos eles

podem ser concluídos em uma só palavra, prudência. Esta

palavra constava de Seu sermão final aos Seus discípulos

antes de entrar em Nibbana:

“Bhikkhus,5 minhas obrigações que são de beneficio e

amparo a você estão agora concluídas. Desejo agora lembrar

a vocês que a natureza de todas as criaturas vivas é a

impermanência e degeneração. Assim, vocês devem

continuar a exercer suas obrigações com prudência.”

Quando possuímos cautela, podemos nos exercitar

facilmente para sermos corretos e virtuosos. Quando somos

imprudentes, as oportunidades de má-conduta por meios

físicos, verbais e mentais serão elevadas. Em conseqüência,

nossas próprias virtudes automaticamente se deteriorarão.

5

Monges budistas

Page 294: A Família de Bom Coração

Uma pessoa cautelosa precisa exercitar a prudência o

tempo todo. Como seres humanos, temos um intervalo de

vida limitado. Devemos extrair o máximo disso acumulando

diligentemente ações benéficas. Exercitar-nos para ser

prudentes significa exercitar-nos para ficar constantemente

imersos em mérito. Os leitores podem perguntar, por quê?

No budismo, cada indivíduo realiza tanto boas quanto

más ações durante sua vida. Todavia, a manifestação deste

fruto cármico será uma função de seu estado de espírito. Por

exemplo, se o seu estado de espírito estiver repleto de

maldade (ele pensa e age de forma maliciosa), suas más

ações atuais lhe abrirão o caminho do mau fruto cármico do

passado, como, por exemplo, matar animais, aumentar suas

más ações atuais e percorrer juntamente o seu curso. Em

conseqüência, ele terá um curto tempo de vida devido ao seu

mau fruto cármico passado e presente. Além disso, ele

encontrará miséria inesperada e talvez perca as chances de

acumular mérito pela realização de boas ações.

Ao contrário, se o seu estado de espírito estiver imerso

no mérito (ele é gentil com os outros ou pensa em sua

generosidade, observância de preceitos e meditação), suas

boas ações atuais lhe abrirão a porta de seu bom fruto

cármico do passado, como, por exemplo, a generosidade,

trabalhar ordenadamente com o fruto cármico de suas ações

Page 295: A Família de Bom Coração

presentes. Dessa forma, ele será mais próspero em seu

tempo de vida.

O Senhor Buda compreendeu a verdade sobre o

surgimento do mérito, que pode ser adicionalmente

desdobrado em três períodos, de acordo com o estado de

espírito: antes, durante e após o ato generoso. Antes de o

ato generoso, uma pessoa pode acumular mérito

possuindo um estado de espírito alegre; durante o

ato generoso, ela deve ser clara e contente; após o

ato generoso, deve relembrar freqüentemente o ato

generoso. Pode-se acumular mérito por meio da

generosidade, observância de preceitos e a prática da

meditação.

Como a mente pode ficar imersa em mérito?

De acordo com nossos ancestrais, uma das formas de

alcançar um estado de espírito pleno de mérito é praticar

austeridade por três a sete dias, o que inclui praticar a

generosidade, observar os oito preceitos e meditar. Aqueles

que desejam praticar devem permanecer em um templo. As

acomodações podem depender das condições geográficas em

que os templos estiverem situados e de sua capacidade de

abrigar seus alunos. As habitações podem ser em ambiente

interno ou externo, como um pequeno cômodo, uma casa, ou

Page 296: A Família de Bom Coração

mesmo um guarda chuva amplo como um abrigo ao ar livre

colocado em um campo para cada pessoa.

Alguns podem ter dúvidas de que as práticas austeras

podem ajudar a modelar suas mentes para que fiquem

imersas em mérito ou para possuir a prudência como hábito.

A resposta é explicada pelo mesmo respeitado monge

superior dos capítulos anteriores.

Ele disse aos seus alunos que vieram praticar a

austeridade em seu templo:

“Praticar a austeridade morando em um amplo guarda-

chuva no campo é seguir um exemplo da disciplina do

monge. O Senhor Buda proferiu as regras para praticar a

austeridade devido aos dois importantes pontos a seguir:

1) As pessoas neste mundo têm os mesmos

sentimentos. Por exemplo, embora algumas estejam

muito felizes agora, elas ainda sentem que outras

pessoas possuem muito mais felicidade do que elas.

Ao contrário, quando são infelizes, ainda que só

um pouco, elas sentem como se sua

infelicidade fosse muito maior do que a de

qualquer outra pessoa no mundo.

2) As pessoas não conseguem diferenciar entre

necessitar e querer.

Page 297: A Família de Bom Coração

“Se observarmos, os problemas, quer sérios ou não,

que ocorrem em nossa vida cotidiana, exercem um

enorme impacto na comunidade mundial porque as

pessoas não diferenciam entre necessitar e querer.”

“Literalmente, necessitar significa a falta de algo

indispensável ou necessário; por exemplo, as quatro

necessidades humanas básicas: alimento, abrigo, vestuário

e medicamentos. Essas necessidades são indispensáveis

em nossas vidas diárias.”

“Querer significa o desejo de ter, a vontade de

ter. Além da necessidade humana básica, trata-se dos

confortos na vida que as pessoas almejam. Comumente,

quando uma pessoa deseja algo, ela pensa que deve tê-lo

pois é essencial para ela.”

“Um exemplo mais claro é quando uma pessoa já tem

muitas roupas empilhadas em seu armário; de alguma

forma, ela pensa que deseja comprar mais roupas que

estão na moda. Isso indica que ela só deseja em vez de

precisar disso.”

“Outro exemplo marcante é que muitos compradores

são incentivados a adquirir mercadorias por causa de

brindes. Alguns compram esses produtos por causa do

brinde. No final, eles colecionaram todo o tipo de artigos

desnecessários deixados espalhados pela casa. Devido ao

Page 298: A Família de Bom Coração

gasto excessivo, o resultado final é que eles não têm

dinheiro suficiente para sustentar sua família e se queixam

de que seus ganhos e despesas estão desequilibrados.”

“Para diferenciar entre necessitar e querer, nossos

ancestrais se exercitaram na prática da austeridade em

cada Feriado Budista. Muitos monges pregadores afirmam

que se uma pessoa desejar experimentar essa prática, ela

deve ir a um templo e habitar sob um amplo guarda chuva

por algumas noites. Aí você compreenderá claramente o

que realmente necessita ou o que deseja em sua vida. Com

pouco espaço sob o amplo guarda-chuva (com a rede de

pano), você trará somente o que realmente precisa e não o

que deseja. Além disso, se você colocar mais coisas nele, o

espaço reduzido ficará superlotado e você não conseguirá

dormir bem sob o guarda chuva.”

“Em seguida, a exigência de vestir somente roupas

brancas enquanto pratica a austeridade é estimular a

consciência e cautela. Usando branco, você terá que ser

cuidadoso ao andar, alimentar-se ou até dormir, pois ele

mancha facilmente; e, neste ínterim, sua consciência se

desenvolve. Finalmente, você conseguirá abster-se do

hábito de querer.”

“Para suscitar a prudência na vida, deve-se começar

com os três princípios básicos do budismo: evitar más

Page 299: A Família de Bom Coração

ações, realizar boas ações e purificar a mente. Se uma

pessoa puder buscá-los totalmente, a passagem ao

Nibbana estará aberta a ela.”

“Ainda que ela tenha praticado plenamente esses

princípios nesta vida, mas ainda seja incapaz de alcançar o

Nibbana, ela deve prosseguir. Finalmente, haverá um dia,

um ano, ou alguma vida futura quando ela incorporará

todas as Dez Perfeições e atingirá o estado de Arahanta (o

purificado), seguindo o Senhor Buda ao Nirvana.”

Com base nos ensinamentos do respeitado monge

superior, pode-se concluir que ao praticar a austeridade

no mínimo por três a sete dias, uma pessoa pode se

exercitar para ser cuidadosa e imergir o espírito em

mérito. Além de uma fuga do caos, essa prática poderá

propiciar um ambiente tranqüilo tanto física quanto

mentalmente. Ao fazê-lo, uma pessoa poderá acumular

méritos no mundo religioso. Mesmo quando retornar ao

mundo secular, a pessoa trabalhará com um espírito

revigorado, alegre e virtuoso. Uma pessoa executará seu

trabalho com consciência e cuidado. Os problemas que

surgirem poderão ser tratados cuidadosamente. Ela

observará a diferença e o benefício a cada vez que praticar

a austeridade. Finalmente, os problemas que tinha na vida

Page 300: A Família de Bom Coração

terminarão e serão substituídos por mais prosperidade

porque sua mente clara e poderosa está imersa em mérito.

Vamos imaginar que se as 60 milhões de pessoas da

população budista na Tailândia se exercitassem para

serem cuidadosas praticando austeridade ao mesmo

tempo, os problemas em nosso país diminuiriam em

somente uma noite. Dessa forma, o estado de espírito de

cada uma se tornaria mais claro. Se cada templo do país

oferecesse regularmente programas para a prática da

austeridade para as pessoas, os problemas da Tailândia

chegariam ao fim. Quando as pessoas praticam

austeridade no templo, podemos ter certeza que elas

também adotarão esta prática no lar. Aí passará a ser um

hábito meditar em casa todo dia. No final, não haverá

mais problemas em suas vidas.

Esta é a forma de vida que nossos ancestrais tailandeses

herdaram há longo tempo atrás. Todavia, a forma como

suas heranças serão revividas e apoiadas depende de uma

grande verdade: devemos ser os primeiros (modelos) a

praticá-las. Mais tarde, podemos convidar outros a se

unirem a nós.

Considerando esta questão de valor, gostaria de

convidá-los e a seus familiares para praticarem a

austeridade em quaisquer centros ou templos budistas

Page 301: A Família de Bom Coração

localizados em sua comunidade. Que eu possa me

regozijar em seu mérito antecipadamente.

Page 302: A Família de Bom Coração

Parte Sete

Um verdadeiro budista

Page 303: A Família de Bom Coração

Capítulo 41

Um verdadeiro budista

Ao revisar minhas notas de um sermão proferido por

um respeitado monge superior durante minha pesquisa para

Page 304: A Família de Bom Coração

este livro, incidentalmente deparei-me com uma mensagem

valiosa. Esta é: “Qual é a causa mais significativa do

declínio do budismo?”

O respeitado monge superior afirmou, “O budismo

nunca declina por si só; é a fé das pessoas no

budismo que enfraquece”.

“A causa expressiva deste declínio é o “tolo”.6 Tolos

podem ser categorizados em Tolo Externo e Tolo Interno.

1) Tolos Externos incluem não budistas. Eles estão

determinados a aniquilar o budismo, quer pertençam a

outras associações religiosas ou não. Eles habitualmente

procuram difamar os monges budistas. Quando têm

oportunidade, distorcem os ensinamentos budistas,

ocasionando equívocos e confusão. Há uma multiplicidade

deste tipo de tolos que tentam demolir o budismo em suas

vidas diárias.

2) Tolos Internos incluem budistas que não

respeitam o Senhor Buda. Eles duvidam de Sua iluminação,

desrespeitam Seus ensinamentos e negligenciam a prática de

Seus ensinamentos. Eles também desrespeitam os Sangha

(monges) que praticam a retidão e possuem discernimento.

O mais importante, eles desrespeitam a prática da meditação

6

Pessoa espiritualmente defeituosa

Page 305: A Família de Bom Coração

para uma mente serena. Mesmo quando não reverenciam

somente uma parte das Três Jóias,7 eles se tornam os Tolos

Internos no Budismo. Nenhum deles jamais colherá

qualquer benefício de ser budista.”

“Quando esses Tolos Internos foram desrespeitosos

com as Três Jóias, é por não apreciarem o valor do budismo.

Dessa forma, eles não serão capazes de se resguardar-se

contra os Tolos Externos que desenvolvem estratégias para

atacar o budismo. Em virtude de sua irreverência frente às

Três Jóias, eles não se preocupam em estudar o budismo.

Infelizmente, eles podem se tornar tolos para os Tolos

Externos. Por esta razão, devemos nos examinar com

atenção para observar se somos parecidos a qualquer um

deles e se já realizamos nossos deveres como verdadeiros

budistas ou não.

Um verdadeiro budista deve exibir as

características a seguir:

1) Crença na iluminação do Senhor Buda. Trata-

se da crença de que Ele realmente existiu e possuía

discernimento total, conhecimentos fenomenais e os mais

7

O Senhor Buda, o Dhamma e o Sangha

Page 306: A Família de Bom Coração

elevados princípios morais. Assim, não devemos ter

nenhuma dúvida de Sua sabedoria pura e suprema.

2) Observação dos 5 preceitos com pureza. No

final de tudo, devemos procurar observar os 5 preceitos para

nos resguardarmos de realizar más ações.

3) Crença na Lei do Kamma, não em

superstições. Devemos ter uma compreensão verdadeira

das realidades da vida. Devemos ficar conscientes dos efeitos

do Kamma: Quem quer que pratique boas ações receberá

efeitos cármicos positivos, e quem quer que pratique más

ações receberá efeitos cármicos negativos. Sem dúvida,

devemos praticar somente boas ações com toda nossa força.

4) Não buscar mérito fora do budismo. Não

devemos procurar nos unir a outras cerimônias religiosas na

esperança de obter mérito em retribuição. Não veneramos

imagens de outras religiões; porém, tampouco devemos

demonstrar irreverência a elas. Também não devemos tecer

comentários sobre quaisquer dos objetos que elas cultuam.

Durante todas nossas vidas, devemos empenhar-nos para

amparar e manter o budismo.

5) Purificação intencional da mente. Isso pode ser

realizado pela prática da generosidade, observância de

preceitos e prática da meditação, seguindo o método correto

no budismo.”

Page 307: A Família de Bom Coração

“Por que não nos perguntamos se já exibimos as

características de um verdadeiro budista? Se não o fizemos,

devemos nos apressar em nos aprimorar para atingir essas

metas. Na verdade, devemos abraçar o valor do nascimento

budista. Se nos tornarmos verdadeiros budistas, poderemos

prolongar o budismo por muitos anos futuros.”

À medida que acabava de ler os ensinamentos do

respeitado monge superior, decidi compartilhá-los com meus

leitores. Mais importante, eles me relembram do que

significa ser um verdadeiro budista e que devo retribuir

minha dívida de gratidão ao Senhor Buda.

Page 308: A Família de Bom Coração

Capítulo 42

Templos abandonados

e templos prósperos

Em outubro de 1998, ocorreu um importante evento

budista na Tailândia. Notícias haviam sido publicadas sobre

Page 309: A Família de Bom Coração

o Templo Dhammakaya. Lembro-me de que quando a

economia tailandesa sofria grave recessão, o Templo

Dhammakaya estava sendo simultaneamente atacado por

todas as frentes da mídia. Muitos críticos previram que este

grande Templo, com uma área superior a 3.200.000 metros

quadrados8 ou cerca de 400 hectares, se esvaziaria muito em

breve. Eles tinham certeza de que seria o maior entre os

vários templos abandonados na Tailândia.

Naturalmente, as pessoas acompanhavam atentamente

as notícias sobre o Templo. Após dois anos, o desfecho foi o

oposto. Inacreditavelmente, o Templo sobreviveu até os dias

de hoje. Muitos afirmaram que no mesmo intervalo, se a

situação do governo tailandês se equiparasse à do

Dhammakaya, ele teria entrado em colapso em poucos

meses. O parlamento teria certamente sido dissolvido e uma

nova eleição teria sido organizada.

Todavia, em meio ao ataque perverso da mídia, as

pessoas ainda recebiam os folhetos (convites) do Templo

Dhammakaya para se unirem às cerimônias budistas nos

feriados budistas. Após os acontecimentos, o Templo

comunicou que um grande número de pessoas, quase

100.000, compareceu a cada uma das cerimônias. Embora a

8

Na Tailândia, uma medida de terra igual a 1.600 rai.

Page 310: A Família de Bom Coração

mídia espalhasse o boato de que o Templo havia subornado

pessoas a se unir aos eventos, eu discordo. Com a devida

consideração, não consigo enxergar nenhuma forma possível

pela qual o Templo pudesse dispor dessa quantia para os

quase 100.000 participantes de cada cerimônia budista.

Tivessem os subornos sido pagos, isso teria levado o Templo

à falência imediata. E, significativamente, alguns membros

do Templo situam-se na camada superior dos homens e

mulheres bem-sucedidos da Tailândia. Seria impossível

contratar essas pessoas para virem ao templo. Portanto,

podemos concluir que a mídia criou sua própria versão da

verdade.

Enquanto acompanhava as notícias sobre o Templo

Dhammakaya, também localizei notícias referentes ao

número crescente de templos abandonados na Tailândia.

Durante aqueles anos, um levantamento descobriu cerca de

8.000 templos abandonados, quase um terço do número

total de templos (estimado em 30.000) em todo o país. Se

todos os terrenos desses templos fossem reunidos, eles

cobririam aproximadamente 20.230 hectares. Isso suscita

uma pergunta óbvia: “O que provocou seu abandono?”

Os templos podem ser agrupados em templos antigos

e novos. Os aproximadamente 30.000 templos antigos

foram fundados por ancestrais de nosso país em uma era em

Page 311: A Família de Bom Coração

que a população tailandesa somava cerca de dez milhões de

pessoas. Logicamente, quantos novos templos foram

fundados nos últimos 30 anos? O fato é que os antigos

templos estão sendo abandonados enquanto novos

templos não tiveram nenhum aumento.

Na realidade, a situação de templos abandonados não

chegou ao seu final. Há relatórios crescentes de terrenos de

templos sendo convertidos em empreendimentos com fins

lucrativos. Essas transgressões constituem uma grave

violação dos princípios e práticas budistas.

Em vez de manter os antigos templos dos ancestrais de

nosso país, algumas pessoas extraem vantagem da situação

aumentando o número de templos abandonados. Mais

importante, nossos ancestrais ergueram-nos com fé e

esperavam que as futuras gerações estudassem o budismo

para obter uma compreensão correta das realidades da vida.

Assim, se nossos ancestrais ainda estivessem vivos, podemos

imaginar como se sentiriam sobre nosso descuido negligente

dos antigos templos que ergueram.

O grande número de antigos templos sendo

abandonados me leva a questionar: Por quanto

tempo ainda o budismo sobreviverá na Tailândia? A

situação dos templos abandonados e a tentativa corrupta de

grupos poderosos de usar os terrenos dos templos com fins

Page 312: A Família de Bom Coração

lucrativos provocou meu interesse na sobrevivência do

Templo Dhammakaya. Estou profundamente preocupado

com este Templo. É um milagre que tenha escapado de uma

crise dessa natureza e dos ataques intermináveis que

enfrentou por mais de dois anos . Inacreditavelmente, o

Templo manteve-se erguido em meio às pressões sociais e

um ambiente desfavorável, ambos instigados pela mídia. A

maioria das pessoas somente conhecia ou acreditava em um

lado das notícias negativas e ignorava a verdade completa.

Como o Templo Dhammakaya evitou tornar-se

o maior templo abandonado na Tailândia?

Os seguidores do templo praticam a essência dos

princípios budistas para proteger-se de danos. Dessa forma,

o Templo escapou da tragédia do abandono. Esses princípios

budistas são a chave da explicação do abandono dos templos

na Tailândia. O Templo Dhammakaya foi fundado por

discípulos do Grande Abade, Luang Phaw Wat Paknam,

Venerável Phramongkolthepmuni.9 Finalmente compreendo

e concluo que a resposta é preservar um grande

respeito por seus ensinamentos.

9

O fundador da Meditação Dhammakaya, ele redescobriu a técnica da meditação que foi a principal corrente original da Prática budista, conhecimentos estes que desapareceram quinhentos anos após o Senhor Buda ter passado ao Nirvana.

Page 313: A Família de Bom Coração

Houve um monge, discípulo de Luang Phaw Wat

Paknam, que contou-me que quando o Grande Abade ainda

era vivo, ele orientou seus seguidores a erguerem um templo

usando as “Três Fórmulas Sagradas”. Mais tarde, o

Venerável Luang Phaw Dhammajayo, o atual Abade do

Templo Dhammakaya, seguiu a sabedoria de seu grande

mestre e logrou êxito em construir o Templo. Enquanto

ensinava as mesmas fórmulas sagradas aos seus monges, era

igualmente necessário que ele demonstrasse e trabalhasse

junto aos seus monges para constituir um bom exemplo.

1) A primeira fórmula sagrada é a limpeza. Luang

Phaw Wat Paknam explicou: “Quando o templo está limpo,

as pessoas que intencionalmente comparecem para gerar

mérito terão a certeza de que cada centavo de suas doações

será gasto da forma correta”.

“Inicialmente, os doadores podem ter planejado doar 10

bahts (menos de um dólar norte-americano) antes de virem

ao templo. Todavia, ao chegar, cada canto parecia limpo e

confortável para meditação, para passear ou para relaxar a

ponto de cair no sono no saguão do templo. Essa exibição de

limpeza e conforto teria impacto sobre o valor de suas

doações, que aumentaria de 10 a 100 bahts. Se eles haviam

planejado doar 100 bahts, eles aumentariam

Page 314: A Família de Bom Coração

exponencialmente o valor. Assim, limpeza é o atributo

mais atraente de um templo.”

“Quando visitantes chegam a um templo pela primeira

vez, qual é sua primeira parada? É o toalete, naturalmente!

Muitos freqüentemente perguntam ao entrar no templo,

“Onde fica o toalete?” Eles não perguntam, “Onde posso

encontrar o abade?” ou “Onde posso encontrar o monge

especialista no idioma pali?” Por esta razão, é importante

manter os toaletes e outras instalações do templo

imaculadas. Na verdade, cada um que vem ao templo deve

ser também responsável por sua limpeza.”

“Não despreze os materiais de limpeza, como uma

vassoura, um pano, uma lata de lixo, etc., como se fossem

objetos desprezíveis. Se refletirmos cuidadosamente sobre

eles, eles são os “anjos da limpeza”. Por exemplo, quando

a vassoura estiver sendo usada para limpar o chão, ela é

poderosa, como se estivesse coletando tesouros (doações)

para o templo. Conforme mencionado antes, limpeza é o

atributo mais atraente de um templo; assim, esses poderosos

materiais de limpeza, ou “anjos da limpeza”, poderão

aumentar as contribuições para amparar o budismo.”

“Luang Phaw Wat Paknam prosseguiu dizendo que os

templos que não exibem limpeza, com um santuário ou

residências monásticas em desordem, afugentarão doadores

Page 315: A Família de Bom Coração

que sustentam essas estruturas a cada dia que vêm para

gerar mérito. Eles pensarão que o templo não se incomoda

em manter suas estruturas existentes. No futuro, quando o

templo solicitar contribuições para outra construção e assim

por diante, eles poderão suscitar a pergunta, “Se vocês não

conseguem manter aqueles antigos prédios limpos, como

poderão manter limpos os novos?” Logicamente, o templo

arderá de vergonha.”

“Se o templo mantiver suas áreas permanentemente

limpas (cada canto parece limpo e confortável para

meditação, para passeios e mesmo para cochilos), há uma

grande chance de que isso influencie as pessoas a fazer uma

oferta ao abade, “Luang Phaw, você gostaria de erguer uma

nova construção? Ainda que eu não tenha dinheiro

suficiente, posso persuadir meus amigos a fazê-lo para você.”

A limpeza pode convencer leigos a se tornarem bons

mantenedores do templo e a conduzirem suas vidas em

virtude perpétua. Os monges e monges noviços não mais

terão que fazer suas rondas em busca de donativos. Dessa

forma, eles poderão passar a maior parte de seu tempo

estudando a teoria budista e a prática da meditação. E eles

conseguirão difundir esses conhecimentos aos leigos em

benefício destes.

Page 316: A Família de Bom Coração

Quando leigos fazem contribuições, o templo não deve

conservar o dinheiro por muito tempo. Ele deve rapidamente

iniciar o projeto para o qual os patrocinadores doaram. O

templo tem que fazer o melhor uso das contribuições das

pessoas tão rapidamente quanto possível. É imperioso que o

templo mantenha seus compromissos. Por exemplo, se

houve declarações sobre construir um Saguão do Dhamma

ou um abrigo para monges em breve, então isso deve

acontecer. Em suma, o templo deve produzir resultados tão

logo possa.

Assim, a primeira fórmula sagrada é limpeza; em

outras palavras, “A Fórmula Sagrada dos Tesouros” de

Luang Phaw Wat Paknam.

2) A Segunda fórmula sagrada é diligência ao

ensinar. Luang Phaw Wat Paknam explicou que aqueles

que têm fé no budismo e determinação de estabelecer e

auxiliar o templo devem ser diligentes ao estudar e ensinar o

Dhamma. Leigos oferecem refeições aos monges no templo

diariamente; se os monges não lhes ensinarem o Dhamma

em retribuição, eles sentirão que não ganharam nada ao

visitar o templo. Isso é ainda pior se os monges

considerarem as ofertas como certas e não responderem.

Page 317: A Família de Bom Coração

Isso suscitaria na mente das pessoas a pergunta do motivo

delas estarem ali (no templo).

É fácil encontrar um tópico adequado para ensinar. As

pistas podem ser encontradas nas faces das pessoas.

Habitualmente as pessoas experimentam uma variedade de

problemas em suas vidas e, freqüentemente, seu sofrimento

se estampa em suas faces. Assim, os monges devem

selecionar o tópico correto no Dhamma para lhes ensinar até

que elas entendam e sejam capazes de solucionar seus

próprios problemas. O monge deve infundir este tópico

correto do Dhamma nas mentes do ouvinte para dar um fim

à sua aflição, como curar uma infecção com a medicação

certa.

Quando inspiradas pelos ensinamentos do Senhor

Buda, as pessoas desenvolverão fé e ficarão dispostas a

ajudar os monges e noviços no templo. Eles conseguirão

então pensar em suas contribuições ao templo como ‘riqueza

mundana’, ao passo que o que recebem em retribuição é

muito mais que isso. Eles recebem ‘riqueza nobre”

(ensinamentos do Dhamma) que poderá sanar seu

sofrimento durante toda sua vida. Essa ‘riqueza nobre’ dos

ensinamentos do Dhamma é incomparável.

Page 318: A Família de Bom Coração

Assim, a segunda fórmula sagrada da diligência no

ensinar é denominada “A Fórmula Sagrada da

Mobilização” de Luang Phaw Wat Paknam.

3) A terceira fórmula sagrada é a freqüência da

prática da meditação.

Luang Phaw Wat Paknam explicou que a finalidade da

ordenação é um esforço de alcançar o Nibbana.10 Alcançar o

Nibbana é conseguido por meio da prática freqüente da

meditação.

Ele expôs ainda que a essência de todos os

ensinamentos do Senhor Buda enfatizam a meditação. Dessa

forma, os monges devem praticá-la regular e

freqüentemente, para colocar um fim em suas impurezas.

Isso só pode acontecer quando eles puderem ver suas

impurezas. Eles só podem ver suas impurezas quando são

capazes de enxergar suas próprias mentes. E eles só

conseguem enxergar suas mentes quando praticam

meditação até que suas mentes atinjam um nível profundo

de serenidade e se torne tão iluminada que eles são capazes

de visualizar suas mentes através do brilho.

10

A extinção de todas as impurezas e sofrimento. Alegria suprema.

Page 319: A Família de Bom Coração

A maioria das pessoas deste mundo não visualiza suas

próprias mentes porque não pratica a meditação. Dessa

forma, elas se tornam presas fáceis das impurezas que

podem ocasionar caos interminável ao mundo. Quando as

pessoas virem os esforços dos monges em praticar a

meditação, elas ficarão inspiradas a fazer o mesmo.

Sempre que as pessoas vierem para gerar mérito, os

monges devem ensinar-lhes o Dhamma, bem como a prática

da meditação. Quando suas mentes estiverem puras e

tranqüilas, a luminosidade surgirá naturalmente. A clareza

da mente aumentará e trará pensamentos benéficos. Elas

verão claramente os meios benéficos de realizar mais mérito.

Assim, a terceira fórmula sagrada é a freqüência da

prática da meditação ou “A Fórmula Sagrada do

Sucesso” de Luang Phaw Wat Paknam.

Após conversar com o monge, ficou claro como o

Templo Dhammakaya escapou de uma crise dessa natureza.

Qualquer templo que aplicar essas Três Fórmulas Sagradas

de Luang Phaw Wat Paknam nunca será abandonado. Dessa

forma, muito mais pessoas irão para gerar mérito e estudar o

Dhamma nesses templos.

O que extraí de minha pesquisa do Templo

Dhammakaya é que os budistas do sexo masculino em idade

Page 320: A Família de Bom Coração

de aposentadoria devem pensar em ordenar-se monges para

poderem ajudar a reabilitar aqueles templos abandonados.

Eles poderão aplicar suas experiências de vida e rede de

trabalho para beneficiar o budismo restaurando os templos

abandonados ou proporcionando o sustento de novos.

Depois eles devem administrar os templos com as Três

Fórmulas Sagradas de Luang Phaw Wat Paknam. No final, os

templos voltarão a prosperar novamente. Os templos na

Tailândia não ficarão em declínio, prolongando assim a

religião budista.

Page 321: A Família de Bom Coração

Capítulo 43

Solucionando a crise

do Budismo

Page 322: A Família de Bom Coração

Nos últimos vinte anos, quando a estação importante da

tradição budista intitulada Cerimônia Kathina11 se

aproximava, destacavam-se na mídia notícias sobre monges

que haviam infringido a disciplina monástica. Essas notícias

determinaram que muitas pessoas perdessem sua fé no

budismo e generalizassem excessivamente que os monges

não eram merecedores de sua reverência. Adicionalmente,

isso causou um grande impacto sobre os mais de 300.000

monges e noviços em todo o país.

Quando as pessoas perdem sua fé no budismo, elas não

podem ensinar seus filhos a prestar respeito aos monges.

Elas não demonstram nenhum interesse em estudar os

ensinamentos budistas e deixam de gerar mérito. Todas as

atividades, eventos e cerimônias do templo ficam

paralisadas. O número de budistas sofre declínio. Todavia,

por trás dos bastidores, toda essa situação é incentivada por

uns poucos escritores ansiosos em promover o declínio do

budismo. Quando ouvimos notícias negativas sobre

monges, na condição de budistas, como pensamos

sobre isso da forma correta e o que devemos fazer

para manter o budismo?

11

A cerimônia anual de apresentação do manto no mês após o final do Retiro das Chuvas.

Page 323: A Família de Bom Coração

Quando há publicações sobre monges que romperam a

disciplina monástica (e, assim, não merecem o respeito das

pessoas), os adultos devem ensinar seus filhos a pensar sobre

essas questões da forma correta:

1) Quando a imprensa publica artigos sobre monges

que romperam sua disciplina monástica, não

devemos nos apressar em acreditar nisso. Devemos

usar nossa sabedoria baseada na razão. De fato,

esses monges devem ser submetidos a um processo

judicial conduzido pelo Conselho de Sangha. Não

devemos nos envolver. O Conselho de Sangha

punirá os monges de acordo com a disciplina

monástica.

Um monge superior certa vez afirmou que “O budismo

pode ser comparado a um grande lago; quem quer que o

alcance e nele se banhe ficará limpo. Todavia, quem quer que

o atinja e não se banhe permanecerá impuro. Assim como

tornar-se um monge no budismo, qualquer monge que

praticar intencionalmente a meditação terá meios físicos,

verbais e mentais limpos e puros. Qualquer monge que não

praticar a meditação permanecerá impuro”.

O Senhor Buda estabeleceu a disciplina monástica e os

leigos devem confiar no Conselho de Sangha para tratar

Page 324: A Família de Bom Coração

desses casos (habitualmente, um monge observa 227

preceitos, ao passo que um leigo mantém somente cinco

preceitos). Embora o monge tenha infringido a disciplina

monástica (estando ou não consciente), o monge superior

que administra seu templo é responsável por analisá-lo. Ele

ponderará todas as provas e questionará todas as

testemunhas. É incorreto leigos julgarem

independentemente um monge de acordo com seus próprios

sentimentos.

Se um monge realmente violar a disciplina monástica e

suas ações forem tão graves que garantam seu despojamento

do manto, então ele deverá fazê-lo e deixar o templo.

Todavia, se suas ações não forem tão graves e resultarem de

seu descuido, então ele receberá uma oportunidade de

redimir-se. Se um monge não só infringir a disciplina

monástica mas também a lei, tanto o Conselho de Sangha

como o Poder Judiciário serão responsáveis por encaminhá-

lo à justiça.

Em suma, se um monge violar a disciplina monástica, é

errado que os leigos o julguem por si só. Também é errado

que a imprensa publique notícias baseadas em suas próprias

inclinações; ela deve ter em mente que o Conselho de Sangha

tem jurisdição sobre o caso de um monge. Quando a

sentença final é proferida, as pessoas não devem criticar ou

Page 325: A Família de Bom Coração

tecer comentários a respeito. Se pessoas o fazem, no

budismo considera-se ser este um ato maléfico, quer elas

saibam disso ou não.

2) Quando se publicam notícias negativas sobre

monges, não generalize que todos os monges na

Tailândia são desordeiros.

Ninguém pode impedir a imprensa de publicar notícias

negativas sobre monges que contrariam a disciplina

monástica. Sua profissão é relatar notícias à sociedade.

Todavia, se um jornal publica somente notícias negativas

sobre monges e não notícias sobre outros monges que

dedicaram suas vidas a realizar boas ações, isso é

considerado tendencioso de sua parte.

Um fato sobre o qual as pessoas tendem a não pensar é

como o budismo sobreviveu até os dias de hoje. Sem os

diversos monges virtuosos que prolongaram o budismo, hoje

em dia ele já teria desaparecido da Tailândia. Embora os

monges exerçam diligentemente uma função adequada na

sociedade de hoje, a mídia continua a ignorar este fato,

raramente relatando seus bons feitos. Os atos negativos dos

monges parecem receber mais destaque em seus artigos.

A publicação freqüente de notícias negativas referentes

a monges supera as poucas notícias positivas que são

Page 326: A Família de Bom Coração

publicadas. Essas notícias fazem com que muitas pessoas se

equivoquem e concluam que a maioria dos monges participa

de conduta imprópria. Especialmente, sempre que a

imprensa ataca seriamente os monges, sendo algumas das

notícias que publicam simplesmente falsas, a sociedade

assimila esta imagem negativa dos monges veiculada ao

público. Além disso, os monges são desdenhados como

sendo um fardo para a sociedade, com as pessoas prontas

para encontrar quaisquer erros ou deficiências. Publicações

que não trazem artigos sobre as várias centenas de milhares

de monges que realizam boas ações têm um impacto sobre a

reduzida fé das pessoas no budismo.

Certos monges superiores que conduziram suas vidas

em benefício do budismo e da sociedade têm sido afetados

pelas notícias. Eis o que eles dizem:

“Atualmente, é muito difícil para os monges ensinarem

a sociedade. Nossos esforços em ensinar moralidade e

decência humana parecem errados para a mídia. Por que

ensinar é errado? É porque nossa abordagem não é boa o

suficiente sob a perspectiva da mídia. Quando monges

procuram aconselhar a sociedade, criticam-nos de que esta

não é nossa obrigação e que não deveríamos nos envolver.

Todavia, quando permanecemos silenciosos dentro de

nossos templos enquanto um problema social ocorre, eles

Page 327: A Família de Bom Coração

novamente nos censuram afirmando que somos indignos da

sociedade. Dessa forma, os monges são condenados pela

mídia não importa o que façam.”

Após ouvir esses monges superiores, devemos analisar

cuidadosamente as notícias que ouvimos. É muito

importante diferenciar entre as ações de uma pessoa versus

as ações de nossa comunidade monástica inteira. Esta

situação pode ser resumida no provérbio a seguir: uma maçã

podre estraga o barril inteiro. Se as pessoas pensarem desta

forma, elas podem prejudicar o budismo inconscientemente.

Esta certamente não é a natureza de um budista. Budistas

devem considerar todos os aspectos, conforme o

Senhor Buda certa vez disse: “Não acredite em algo

sem primeiro analisar todos seus aspectos”.

3) Uma pessoa que tenha êxito no Dhamma não

deve encontrar defeito nos monges, mas deve ajudar

a amparar a difusão do Dhamma no limite mais

amplo.

Neste ponto, gostaria de compartilhar um exemplo

fornecido por um respeitado monge superior durante uma

palestra que proferiu para um grupo de estudantes

universitários.

Page 328: A Família de Bom Coração

Havia um leigo que lia uma grande quantidade de

notícias negativas sobre monges, generalizando

excessivamente que todos eram desordeiros. Dessa forma,

ele suscitou esta preocupação ao encontrar o respeitado

monge superior:

Ele disse, “Hoje em dia, os monges não se

comportam bem e não merecem minha reverência.

Assim, desejo prestar respeito somente ao Senhor

Buda e ao Dhamma. Minha pergunta é, ‘Posso não

prestar respeito ao Sangha?’” Sua pergunta era

delicada, difícil de responder e tinha um impacto

potencialmente amplo sobre a comunidade Sangha. Se o

respeitado monge superior não pudesse dar-lhe a resposta

certa, era possível que a classe inteira que ele estava

ensinando perdesse a fé em toda a comunidade Sangha.

Todavia, o respeitado monge superior simplesmente

sorriu e respondeu calmamente, “Quem quer que

respeite o Dhamma deve ser uma pessoa que

desgosta de encontrar defeitos nos outros e gosta de

descobrir as virtudes e bondade de outros”.

“Você pergunta se pode parar de prestar homenagem

aos monges, mas continuar a respeitar o Senhor Buda e o

Dhamma. A resposta é “Não”. Quando você se queixa de que

os monges não são bons, isso mostra que você tem o hábito

Page 329: A Família de Bom Coração

de criticar os outros. Isso indica sua atitude de encontrar

defeitos, incapacidade de observar e facilidade de extrair

conclusões.”

“Há, de fato, quase 300.000 monges neste país.

Quantos deles você encontrou ou conheceu? Eu diria, 1.000

no máximo. Se for assim, e você achar que todos eles

participaram de condutas inadequadas, e quanto aos outros

quase 300.000? Qual sua opinião sobre eles?”

“Você tem o hábito de encontrar defeitos nos outros;

você nunca encontrará bons monges nesta existência. Você

fechou sua mente a ponto de não conseguir ver nada de bom.

Acho que você deveria aprender a observar a partir de uma

perspectiva diferente.”

“Por que não olha dentro de um templo como se

estivesse considerando uma escola ou instituto secular?

Você verificará que as pessoas na escola podem ser divididas

em dois grupos:

1) Um aluno que busca conhecimentos.

2) Um professor que administra seus

conhecimentos.”

“Alunos buscam conhecimentos de escolas, faculdades

ou institutos. Você acha que alguma vez eles fizeram

Page 330: A Família de Bom Coração

qualquer coisa errada enquanto eram estudantes?

Logicamente que sim. Nós, como adultos, consideramos

seriamente esses percalços? Não, acreditamos que eles

vieram para a escola para aprender; assim, devemos perdoar

sua imprudência e má conduta. Todavia, se um professor

conduzir-se inadequadamente, os alunos acreditam que ele

deva ser condenado. Todavia, da mesma forma, há também

dois tipos de monges em um templo”:

1) Um monge estudante.

“Monges estudantes vêm ao templo para aprender.

Alguns se ordenaram há somente dois dias atrás; alguns se

ordenaram há dois meses, ao passo que outros são monges

há dois anos. Inquestionavelmente, eles ainda estão

aprendendo e são novos na disciplina monástica. Portanto,

algumas vezes eles agem inadequadamente, mas não

intencionalmente. Isso é comum e tem probabilidade de

ocorrer com qualquer monge estudante. Pense por um

momento. Devemos usar seus defeitos contra eles?”

2) Um monge professor.

“Há mais de 100.000 monges professores residindo em

templos ao redor do país. É óbvio que sem monges

professores para repassar seus conhecimentos a outros e

Page 331: A Família de Bom Coração

manter o budismo durante a era dos ancestrais de nosso

país, o budismo poderia ter desaparecido antes de os dias

atuais.”

“Pode-se observar que todos os monges professores

com bons conhecimentos e boa conduta são

extraordinariamente ocupados com seus compromissos. Não

está em sua natureza promover publicamente suas virtudes.

Alguns desses monges professores praticam o Dhamma

devotamente. Alguns deles habitam nas florestas e aparecem

nas aldeias de tempos em tempos. Alguns residem nas

cidades para se exercitar, assim como seus alunos. Eles

nunca promovem suas virtudes para a mídia pois são puros e

morais. Isto pode ser ilustrado em um provérbio tailandês:

Nenhum som surge ao se agitar uma garrafa cheia de água.

Isso significa que uma pessoa que está repleta de virtude e

bondade nunca se exibe.”

“Em escolas seculares, podemos distinguir professores

de alunos pela sua idade e vestuário. Todavia, nos templos,

com o mesmo uniforme de mantos açafrão, fica muito difícil

distinguir monges professores de monges alunos. Portanto,

quando você viu alguns monges ou, no máximo, 1.000 deles

comportar-se mal, você precipitadamente tomou a decisão

de não prestar respeito ao restante deles. Você deve repensar

Page 332: A Família de Bom Coração

isso cuidadosamente e perguntar-se: “Estou fazendo a coisa

certa?””

“Da próxima vez, ao fazer uma doação ao Sangha,

quando você não souber quem é um monge professor ou um

monge aluno e quando você não conhecer os níveis de

virtude dos monges, você deve pensar desta forma. Desde

que os monges não violem gravemente a disciplina

monástica, você deve pensar que está oferecendo donativos a

eles de modo que restabeleçam sua energia para o estudo do

Dhamma e a prática da meditação. No futuro, ao encontrar

um monge que você sabe ser um professor, você deve

intencionalmente fazer doações da melhor forma que puder.

Tanto o doador como o receptor receberão os frutos plenos

do mérito.”

“Ao ouvir falar de monges que possuem moralidade e

boa conduta, embora eles possam viver afastados, você deve

se empenhar em visitá-los. Seu desejo será atendido porque

eles são seu melhor campo de mérito. Se este não for o caso,

você deve ser paciente e prosseguir diligentemente em seu

estudo do Dhamma e na prática da meditação.”

“Você deve abrir sua mente ilimitadamente e algum dia

encontrará um monge que o entenda ou que você desejou ser

seu campo de mérito. Não se apresse em prestar homenagem

somente ao Senhor Buda e ao Dhamma. Você deve completar

Page 333: A Família de Bom Coração

o triângulo e prestar homenagem à todas as Três Jóias. Se o

fizer, você será capaz de atingir os reinos celestiais em vez

dos reinos do infortúnio, nesta vida e posteriormente, até

que atinja o Nibbana.”

Este exemplo conforme fornecido pelo respeitado

monge superior fala sobre a terceira questão. Respeito

muitíssimo este monge superior por seu intelecto e

capacidade e, principalmente, sua capacidade de reverter a

crise na fé budista.

Circunstâncias negativas advindas de ler notícias

negativas descuidadamente.

Se os pais não ensinarem seus filhos a analisar

cuidadosamente a verdade nos artigos sobre monges, as

crianças poderão acreditar irrefletidamente nesses artigos.

Isso poderia causar-lhes (e a nós) a perda da oportunidades

de mérito. Quando eles generalizam excessivamente que

todos os monges desviaram-se da rota da moralidade, farão

julgamentos sem análise criteriosa; tudo que estão vendo é a

notícia parcial. Eles poderão então perder o interesse no

estudo do Dhamma, o que acarretará uma falta de

compreensão sobre a vida. Eles não saberão que devemos

obedecer determinadas leis que regem o mundo assim como

Page 334: A Família de Bom Coração

nossas vidas. Esses conhecimentos são ensinados no

budismo e permitem ao aluno seguir o rumo correto na vida.

A norma que rege este mundo é a Lei do Kamma.

Isso significa que ‘uma boa ação gera um bom resultado e

uma má ação gera um mau resultado’. As conseqüências de

uma boa ação são denominadas ‘frutos do mérito’ e as

conseqüências de uma má ação são denominadas

‘retribuição cármica’. Basicamente, uma pessoa é

exclusivamente responsável por suas próprias ações. Frutos

do mérito e retribuição cármica não respondem à crença de

qualquer pessoa, mas eles respondem às normas que regem

este mundo.

A norma que rege a vida é a Lei das Três

Características (tilakkhana), que consiste de

impermanência (aniccata), sofrimento (dukkhata), e

ausência do eu (anattata). Esta verdade reside por trás de

todos os seres vivos deste mundo.

As verdades da Lei do Kamma e as Três Características

foram descobertas pelo Senhor Buda. Além disso, Ele

descobriu como a compreensão dessas Leis mostra o

caminho para alcançar o alívio do sofrimento.

Quando crianças consomem notícias descuidadamente,

elas não somente desconhecerão os ensinamentos do Senhor

Page 335: A Família de Bom Coração

Buda mas também terão conceitos equivocados sobre

monges. Além disso, elas poderão negligenciar a verdade da

Lei do Kamma. Quando seus equívocos atingem este nível,

ainda que seus pais ou avós desejem sinceramente gerar

mérito, podemos ter certeza que seus filhos não terão

disposição para ampará-los. O pior quadro é quando as

crianças obstruem o desejo de outros de realizarem boas

ações. Elas acreditam que gerar mérito é um desperdício e

oferecer donativos aos monges incentiva a indolência. Este

mesmo raciocínio é usado por aqueles que não acreditam na

Lei do Kamma.

É muito difícil persuadir a mídia a aumentar a

cobertura noticiosa sobre monges que devotaram suas vidas

à melhoria da sociedade. Na condição de pais, devemos

ensinar e incentivar nossos filhos a avaliar e diferenciar

cuidadosamente entre o que é certo e errado antes de chegar

a conclusões sobre monges. Não tome uma decisão

precipitada. Se nossos filhos seguirem esses critérios, como

pais teremos a garantia de seu amparo para nos permitir

gerar mérito durante nossos dias derradeiros. Ao mesmo

tempo, monges e noviços serão amparados e terão

possibilidade de passar seu tempo desenvolvendo suas

virtudes, gerando benefício para a sociedade. Podemos ter

Page 336: A Família de Bom Coração

certeza de que o budismo permanecerá sólido e estável na

Tailândia por muitos anos futuros.

Page 337: A Família de Bom Coração

Capítulo 44

O Senhor Buda – O exemplo de

sabedoria

Tendo experimentado muito na vida, entendemos

claramente o significado de vicissitudes. Ninguém

conquista somente ventura e desventura durante a vida; a

Page 338: A Família de Bom Coração

vida consiste tanto de felicidade quanto de tristeza. Devemos

ter em mente o seguinte: Quando alguém é feliz, não deve

exceder-se em felicidade que possa causar problemas a

outras pessoas. Quando alguém é infeliz não deve mergulhar

na tristeza, mas ter a coragem de enfrentar os problemas e

levá-los a um fim.

Uma vez que precisamos buscar refúgio em nossa

própria sabedoria em momentos de mágoa e felicidade,

podemos apreciar o fato de que a sabedoria suprema do

Senhor Buda (sobre como conduzir a vida) é realmente

comparável a nenhuma outra. Sua sabedoria pura nos ensina

como conduzir a vida no caminho certo. É a melhor prática

quando nos deparamos com vicissitudes em nossas vidas.

Sua sabedoria pode ser verdadeiramente um modelo nobre

para outros ensinamentos neste mundo, tanto para budistas

como não budistas.

A causa das vicissitudes da vida

Muitas pessoas não sabem a causa das vicissitudes da

vida. Alguns acreditam que são determinadas pela astrologia.

Alguns acreditam que são causadas por um deus. E outros

acreditam que ocorrem devido ao seu próprio intelecto e

competência. Todavia, o Senhor Buda descobriu a verdade

sobre a inevitável Lei da Causa e Efeito, que no budismo é a

Page 339: A Família de Bom Coração

Lei do Kamma. Ele ensinou que quem quer que realize

boas ou más ações receberá as conseqüências de

suas ações.

Assim, o Senhor Buda ensinou que quando nos

deparamos com dificuldades, devemos analisá-las

cuidadosamente de três formas:

1) Como causadas por nossa violação dos

preceitos na vida atual.

2) Como causadas por nossa violação dos

preceitos em nossas existências passadas.

3) Como causadas por nossa negligência.

Essas três razões são as principais origens dos

problemas de nossas vidas, quer nos lembremos delas ou

não.

Por essas razões, quando algum problema grave ocorre,

o Senhor Buda ensinou-nos a não criar mais problemas para

nós mesmos. Devemos somente observar os preceitos da

forma mais clara possível.

Se conduzirmos nossas vidas no mundo secular,

devemos observar os cinco preceitos. Os monges devem

manter os 227 preceitos rigorosamente. As freiras, bem

como aqueles que residem em templos para auxiliar nas

obras budistas devem seguir os oito preceitos rigorosamente.

Page 340: A Família de Bom Coração

A observância desses preceitos nos impedirá de criarmos

novos problemas.

O Senhor Buda ensinou esses preceitos para que

possamos atender aos padrões de moralidade. Se não

seguirmos Seus ensinamentos, é possível que nos deparemos

com problemas infindáveis. Talvez consigamos solucionar

um problema, mas não poderemos impedir que o próximo

aconteça. Eles são intermináveis. Assim que percebemos que

um problema ocorreu, devemos fazer rapidamente as

correções observando rigorosamente os cinco preceitos e

assim ficará mais fácil solucioná-los.

Em seguida, podemos sanar problemas que surjam de

acordo com as diversas circunstâncias, observando os

princípios budistas para obter a solução. Por exemplo, se o

problema girar ao redor de prosperidade ou ganho

monetário, pode ser solucionado com generosidade.

Divergências podem ser solucionadas pelo nosso

aprimoramento, ensinando a nós mesmos a humildade e

modéstia. Pode haver momentos em que pedir desculpas é

necessário. Algumas dificuldades são ocasionadas por nossa

própria negligência, talvez por prejudicar as posses de

outros, o que pode ser solucionado pela reparação adequada

ao proprietário.

Page 341: A Família de Bom Coração

Todavia, quando cada problema ocorrer, devemos

colocar um término nele. O primeiro passo é acalmar

nossa mente praticando a meditação até que a mente

esteja tranqüila. A meditação pode nos ajudar a visualizar

claramente o problema. Se não tivermos certeza da forma

como o problema ocorreu, não devemos tirar conclusões

precipitadas sobre sua solução. Devemos permanecer calmos

enquanto divisamos a solução. Alguns problemas não podem

ser solucionados imediatamente e exigem nossa paciência.

A Solução do Senhor Buda

Há um cântico que tenho ouvido os monges entoar a

cada domingo que vou ao templo. Quando os visitantes do

templo fazem suas ofertas aos monges, eles recebem uma

bênção em retribuição. Os monges abençoam com dois ou

três cânticos. Há um cântico que começa com o termo pali

“Bahuń,” que é simplesmente denominado o “Cântico

Bahuń”. O “Cântico Bahuń” recita as formas certas de

solucionar problemas conforme ensinadas pelo Senhor Buda.

Os cânticos consistem de oito partes, embora haja sete

formas. Quando o Senhor Buda se deparava com graves

problemas, Ele conseguia solucionar cada um deles com

êxito.

Page 342: A Família de Bom Coração

1) Quando Buda foi confrontado pelo “Māra Chief” (o

Diabo) e suas tropas, que pretendiam impedi-Lo de tornar-

se iluminado, Ele solucionou este problema relembrando a

força de Suas 30 Perfeições, que em Pali significa, “As 30

Pāramī”.12 Neste caso, Ele especificamente mencionou o

‘Pāramī da Generosidade’ que havia se acumulado durante

Seus infinitos ciclos de renascimento e disseminou Sua

bondade a todos os seres. No final, Ele derrotou o “Māra

Chief”. Da mesma forma, se encontrarmos imensas

dificuldades, podemos abordá-las igualmente com

generosidade.

2) Quando o Senhor Buda foi confrontado pelo Gigante

Alavakā , um demônio que se encolerizava facilmente, Ele

conquistou sua raiva com Khanti (tolerância). Por exemplo,

Ele tolerou tudo que o Gigante demandava ou propunha. No

final, o Gigante sucumbiu à paciência do Senhor Buda,

moderando enormemente sua teimosia e rudeza com Ele. O

Gigante pensou que, embora O tivesse aborrecido tanto, Ele

ainda fora tão paciente com ele. O Gigante desenvolveu

simpatia, percebeu o que havia feito ao Senhor Buda e no

final iniciou uma conversa com Ele. 12

As perfeições espirituais do Senhor Buda buscadas por 20 Asańkheyya (tempo infinito) mais 100.000 kappas (os grandes ciclos do mundo).

Page 343: A Família de Bom Coração

Assim, quando enfrentamos uma pessoa

enraivecida, a melhor solução que temos é a

paciência.

3) Quando o Senhor Buda foi confrontado por um elefante

furioso (semelhante a uma pessoa frenética), Sua solução foi

disseminar bondade. Em suma, quando as pessoas

recebem e são movidas por bondade, seus corações se

expandirão e elas conseguirão perdoar e entender-se

mutuamente.

4) Quando o Senhor Buda se deparou com Angulimāla,

um assassino que pretendia destruí-Lo, Sua solução foi fazê-

lo render-se combinando Seus poderes sobrenaturais

com um sermão educado adequado à situação, para fazer

Angulimāla acreditar verdadeiramente em Seus

ensinamentos.

Em nosso caso, não temos o poder do Senhor Buda;

todavia, se nos depararmos com um assassino, devemos

depender da polícia e da lei.

5) Em um caso, Buda foi acusado em público. Naquele dia,

enquanto Ele ensinava o Dhamma aos seus seguidores, uma

bela mulher chamada Savatthi subitamente levantou-se em

Page 344: A Família de Bom Coração

meio a uma multidão de pessoas no Saguão do Dhamma e

anunciou ao Senhor Buda que estava grávida de seu filho.

Ela disse, “Senhor Buda, você continua ministrando seus

ensinamentos aos outros, mas não ao seu descendente em

meu ventre. O que devo fazer? Estou prestes a dar à luz!” A

solução do Senhor Buda frente a esta situação foi

permanecer calmo e silencioso.

Um caso desses é um bom exemplo para outros

veneráveis monges e respeitados adultos que se deparam

com a mesma situação. Em algumas situações, o silêncio é a

melhor solução, e o tempo dirá. Na realidade, há dois

assuntos com os quais devemos nos acautelar: conduta

sexual e dinheiro.

No tocante à conduta sexual, quando veneráveis

monges ou adultos se deparam com acusações de

envolvimento impróprio com outra pessoa, 90% das pessoas

acreditará irrefletidamente nessas acusações. Portanto, o

silêncio é a melhor solução, e o tempo dirá. A verdade se

revelará em breve ao público.

Com referência a dinheiro, quando monges são

falsamente acusados em questões financeiras, é

freqüentemente difícil saber como refutar essas alegações. Se

um adulto respeitado for erroneamente acusado de

corrupção, também é difícil discutir essa questão. De acordo

Page 345: A Família de Bom Coração

com os princípios budistas, não deve haver contendas, nem

fuga do inimigo; permanecer calado é mais seguro. O

silêncio, nesses casos, não significa culpa ou

capitulação. Significa que você está aguardando o

momento adequado de declarar sua inocência. Para elaborar:

‘Não lutar’ significa não se acusar mutuamente.

‘Não fugir do inimigo’ significa não capitular e não

confirmar a acusação.

O acusado deve continuar a realizar boas ações da

melhor forma que puder. Disciplina rigorosa irá ajudar a

protegê-lo e, no final, ele vencerá a situação.

6) Quando o Senhor Buda se deparou com um especialista

em um debate, Ele usou Sua sabedoria para solucionar

este problema. Cada uma de Suas palavras possuía verdade,

perfeição e razão.

7) Em um caso, o Ven. Moggallana,13 na condição de

representante do Senhor Buda, eliminou a grande serpente

denominada Nandopānanda. Nandopānanda possuía a

Visão Errônea e era violentamente venenosa. Assim, o Ven.

13 Um dos dois discípulos principais do Senhor Buda que se sobressaiu a todos os demais em poderes psíquicos.

Page 346: A Família de Bom Coração

Moggallana utilizou poderes sobrenaturais para derrotar

a teimosa serpente.

8) Quando o Senhor Buda encontrava um ser que possuía

a Visão Errônea, como, por exemplo, um Brama, Ele usava

um alto nível de sabedoria no Budismo para alcançar o

nível do Brama e conseguia persuadir este último a aceitar a

Visão Correta.

“Nós nos deparamos com obstáculos menos difíceis do

que o Senhor Buda encontrou em Sua existência final.

Todavia, ao enfrentar nossos obstáculos, devemos seguir os

passos do Senhor Buda. Precisamos primeiro analisar

cuidadosamente nossa capacidade de observar os preceitos e

realizar aprimoramentos. Ao nos conduzirmos bem, tudo o

mais que é bom se seguirá.”

Lembre-se, não importa quão sérios sejam nossos

problemas, precisamos ser pacientes e solucioná-los. A

maioria de nossos encontros com problemas foi causado por

nossas ações imperfeitas do passado. Devemos lembrar que

quanto mais escuro o céu se torna, mais cedo a alvorada

chegará. Devemos visualizar o Senhor Buda como um

exemplo a cada vez que ficarmos desencorajados.

Seremos incentivados a obter força, paciência, consciência e

sabedoria necessárias para solucionar problemas da maneira

Page 347: A Família de Bom Coração

correta. No final, ficaremos livres da retribuição cármica que

enfrentamos agora.

Page 348: A Família de Bom Coração

Capítulo 45

Dedicando uma imagem de Buda –

O corpo da iluminação

Doar uma imagem de Buda para si ou sua família era a

tradição favorita de nossos ancestrais. Pessoas mais

prósperas viajavam ao redor do mundo com a finalidade de

Page 349: A Família de Bom Coração

doar imagens de Buda a diversos templos. Elas entendiam os

frutos que obteriam deste mérito.

Atualmente, a maioria das pessoas não entende a

verdadeira razão por trás desta tradição. Dessa forma, elas

não apóiam as práticas de seus próprios avós. Por esta razão,

os mais velhos infelizmente perdem uma grande

oportunidade de gerar mérito significativo durante os dias

derradeiros de suas vidas. Na condição de budistas, devemos

examinar isso para não perdermos a oportunidade de fazê-lo.

Devemos entender claramente a importância de doar uma

imagem de Buda, de forma que não venhamos a obstruir

nossos avós quando desejarem realizar este grande mérito.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para compartilhar

com vocês os benefícios que resultam desse ato de mérito.

Os ancestrais de nosso país costumavam doar imagens

de Buda pois veneravam a grande compaixão do Senhor

Buda por todos os seres. Esta seria uma forma de

demonstrar sua gratidão a Ele.

Na história budista, é raro existir neste mundo uma

pessoa que esteja determinada a se tornar um Buda (um ser

Page 350: A Família de Bom Coração

Iluminado) no futuro, para livrar pessoas do sofrimento.

Este tipo de pessoa é denominada Bodhisatta.14

Bodhisattas que devotavam suas vidas às perfeições

espirituais e conseguiam erradicar suas impurezas eram uma

ocorrência extremamente rara. Alguns atingiam suas metas,

e algumas desistiam ao longo do caminho.

Para atingir o Estado Búdico, um Bodhisatta deve

devotar sua vida à virtude. Em uma de suas existências, ele

deve encontrar um Buda que lhe assegure seu futuro Estado

Búdico e lhe informe o tempo total necessário para que atinja

a iluminação como um Buda.

O Bodhisatta que recebe a confirmação de seu futuro

Estado Búdico por um Buda, é denominado Niyata-

Bodhisatta, o que significa uma pessoa que atingirá

definitivamente a iluminação e se tornará um Buda no

futuro. Após ser informado por um Buda, um Niyata-

Bodhisatta deverá prosseguir na busca de perfeições no

mínimo por outros quatro Asańkheyya (tempo infinito) e

100.000 kappas (o ciclo de nascimento e morte do mundo).

14

Candidato ao Estado Búdico.

Page 351: A Família de Bom Coração

Isso significa que ele deverá prosseguir no ciclo da existência

por uma quantidade de tempo imensurável para atingir o

Estado Búdico. À medida que ele se aproxima de seu feito, os

obstáculos passam a ser mais difíceis, exigindo a devoção de

todo seu ser para erradicar suas impurezas e aumentar sua

divindade. Uma vez que isso é extremamente difícil, o

Senhor Buda certa vez forneceu a analogia a seguir: O

número de vezes que Ele doou Seus olhos para ajudar

outros para que se tornassem iluminados é maior do que

todas as estrelas no céu.

Devotar todo seu ser para atingir a iluminação é raro

devido a esse processo demorado. Após tornar-se iluminado,

Ele passará o resto de seus dias difundindo Seus

conhecimentos da verdade (Dhamma) a cada pessoa.

Aqueles que seguem Seus ensinamentos e praticam o

Dhamma diligentemente poderão obter a iluminação e

atingir o Nibbana. Assim, pessoas que nascem durante a vida

de Buda e conseguem atingir a iluminação são extremamente

afortunadas.

Aqueles que não nascem durante a vida de um Buda

devem buscar refúgio nos ensinamentos do Senhor Buda,

inconscientes de Sua aparência.

Page 352: A Família de Bom Coração

Os ancestrais de nosso país que experimentaram e

atingiram elevados níveis de meditação eram dotados tanto

de visão quanto de sabedoria. Eles decidiram recriar a

imagem do Senhor Buda partindo do interior (o Corpo da

Iluminação) na forma de uma estátua de Buda. A herança

que eles nos repassaram enriquecem nossos conhecimentos

sobre a excelente aparência do Senhor Buda, aumentando

nossa fé Nele. Este ato de contribuir para moldar uma

estátua de Buda é favorável a diversos budistas ao redor do

mundo.

Uma vez que nossos ancestrais eram capazes de ver o

Dhamma destemido no interior, sua capacidade de

reproduzir a imagem perfeita de Buda fez com que aqueles

que viam a imagem se tornassem alegres e tivessem fé Nele.

Ela os inspirou a realizar ações virtuosas e a praticar

meditação para alcançar o Nibbana como Ele o fez.

Assim, a imagem de Buda doada por uma pessoa ajuda

a livrar as pessoas de suas impurezas, luxúria e desejo,

motivando-as também a aprimorar-se no mundo em que

vivemos.

Um doador de uma imagem de Buda aufere os tipos de

mérito a seguir:

Page 353: A Família de Bom Coração

1) O doador desenvolve o aumento da moralidade e virtude.

2) Uma vez que a contribuição confere a outras pessoas o

poder de realizar boas ações, o doador será reverenciado

tanto por humanos como por seres celestiais em cada

área que visitar.

3) Ainda que o doador não esteja mais vivo e as pessoas

ainda busquem refúgio na imagem doada de Buda, o

mérito continuará a fluir, fazendo com que outros o

reverenciem em suas existências futuras.

4) Não importa o número de renascimentos, se o doador

involuntariamente tiver pensamentos, linguajar ou ações

prejudiciais, ou experimentar problemas na vida, com a

simples lembrança da imagem de Buda que doou, todas

as não virtudes serão evitadas.

5) Não importa o número de renascimentos, ele sempre

nascerá em uma terra em que o Budismo floresce e

atingirá facilmente o Dhammakaya – o Corpo da

Iluminação.

6) Enquanto ainda estiver em samsāra (o ciclo de morte e

de nascimento), ele facilmente obterá prosperidade.

Qualquer que seja sua forma de sustento, como

mercador ou funcionário do governo, o mérito de doar

uma imagem de Buda o apoiará e abençoará para ser

Page 354: A Família de Bom Coração

próspero. Em sua vida final em samsāra, ele atingirá

facilmente a iluminação.

Este é apenas um resumo de todos os benefícios que o

doador obterá. Esses são apenas os frutos dos méritos que

são facilmente entendidos. Se o leitor praticar a meditação e

estudar a biografia do Senhor Buda, ele observará os

inumeráveis benefícios de doar uma imagem de Buda. Agora

entendemos porque nossos ancestrais se concentraram nesta

contribuição moral.

Minha própria avó compreendia os benefícios de se

doar uma imagem de Buda, já que doou mais de vinte dessas

imagens e dedicou-as a cada pessoa em sua família e aos

entes falecidos, convidando seus parentes a fazer o mesmo.

Eu sei que este grande mérito que ela alcançou em sua

velhice assegurará que ela tenha um futuro digno. Quando

ela falecer, ela poderá depender do mérito que auferiu, sem

esperar que outros lhe dediquem mérito depois que ela

falecer.

Gostaria de convidar cada um que ainda não doou uma

imagem de Buda a fazê-lo para seu próprio bem. Será

melhor se você puder doar uma para si mesmo hoje do que

Page 355: A Família de Bom Coração

mais tarde. Na sociedade atual, diversas pessoas desviaram-

se da realização de ações virtuosas. Em conseqüência, seus

filhos também não perceberão o principal propósito de se

realizar boas ações. Doar uma imagem de Buda é uma das

ações mais nobres, a qual beneficia doadores assim com a

sociedade. Se eles perderem essa grande oportunidade,

poderão perder os benefícios dos quais dependem na vida

após a morte. Devemos doar uma imagem de Buda para

nosso próprio bem. Quando nos aproximarmos do fim de

nossas vidas, partiremos de forma serena porque teremos a

certeza de que este grande mérito nos cingirá no próximo

mundo.