Relação família e escola: uma parceria que dá certo · 5. da escola podem ... tutela do Estado...

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RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA QUE DÁ CERTO

Silvana Cristina de Lima Hala 1

Orientador: Carlos Willians J. Morais 2

RESUMO: A escola nunca educará sozinha, é necessário que a família participe e, esta tem sofrido várias mudanças, transformações que abalam preceitos éticos e morais. É necessário que uma cooperação escola/família se estabeleça. O conceito de Piaget, expresso pelas palavras de Menin (1996) diz: cooperar é “estabelecer trocas equilibradas com os outros, sejam estas trocas referentes a favores, informações materiais, influências, etc.”. Os valores para a convivência humana são imprescindíveis nas organizações, principalmente na família. Com uma proposta de um trabalho voltado para os pais, propôs-se uma discussão sobre ética e valores morais, para que possam fortalecer seus laços familiares e participem ativamente de uma melhoria na qualidade de ensino, já que a participação da família é fator importante no sucesso ou fracasso do aluno na escola.

Palavras-chave: Ética. Família. Educação. Valores Morais.

INTRODUÇÃO

A família na vida de um indivíduo é o inicio e o fim em sua formação.

É a instituição que constrói sua identidade e a formação de valores morais

presentes por toda a sua vida.

[...] a família é o lugar de nossas brigas, de nossos gritos e de nosso amor. Uma família sadia sempre tem momentos de grata e prazerosas emoções alternados com momentos de tristeza, discussões e desentendimentos. Mas é na própria família que essas reparações podem ser feitas, através do entendimento, do perdão tão necessário e da aprendizagem de como devemos nos preparar adequadamente para sermos suficiente para cuidar de nossos próprios filhos, que serão os frutos de nossa família. (CAPELATTO, 1999, P.7)

1 Professora do Educação Básica. Núcleo Regional de Educação de Telêmaco Borba. [email protected] .2 Professor do Departamento de Educação. Universidade Estadual de Ponta Grossa. [email protected] .

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Atualmente as famílias têm muitas dificuldades no tocante ao ensino

de valores há muitas dificuldades e raramente buscam ajuda para poder

ofertar o que acreditam ser uma boa educação para seus filhos.

Entre a família e a escola está a criança, maior beneficiada com o

sucesso desta parceria.

Para GOKHALE (1980, p.12)

A família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas também o centro da vida social... A educação bem sucedida da criança na família é que vai servir de apoio á sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto... A família tem sido, é e será a influencia mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.

Observamos que:

Quanto à falta de um necessário conhecimento e habilidade dos pais para incentivarem e influenciarem positivamente os filhos a respeito de bons hábitos de estudo e valorização do saber, o que se constata é que os professores, por si, não têm a iniciativa de um trabalho a esse respeito junto aos pais e mães. Mesmo aqueles que mais enfaticamente afirmam constatar um maior preparo dos pais para ajudarem seus filhos em casa se mostram omissos no tocante à orientação que eles poderiam oferecer, especialmente nas reuniões de pais, que é quando há um encontro que se poderia considerar propício para isso. (Paro, 2000. p65)

Como as demais instituições, família e escola passam por mudanças

que redefinem sua estrutura, significado e papel na sociedade. A escola de

hoje não é apenas um espaço onde são desenvolvidos conteúdos e

habilidades, é, também, o cenário responsável pela formação política e ética de

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quem utiliza seus serviços. É o ambiente que recebe todos os tipos de

problemas sociais, que são reflexos de nossa condição humana.

Jerusa V. Gomes (1993, p.87) afirma que:

Trabalhamos em Educação como se a criança nascesse ao se principiar sua vida escolar. Evidentemente, todos repetimos o contrário disso. Até o homem comum, o leigo, sabe: a Escola continua a tarefa familiar de educar a criança para a vida e, especialmente, para o trabalho. O que não fazemos é levar em conta este dado, até as últimas consequências.

E, confirmando o texto acima, PARO, diz:

Assim, a escola que toma como objetivo de preocupação levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para a sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas educadoras com relação ao aprender e ao estudar... (PARO, 2007, p.16)

A família, a célula da sociedade, vem sofrendo ataques por estar

expostos a ambientes, nem sempre propícios, a sua humanização. O

compromisso com um mundo melhor, que passaria pela família, como

honestidade, solidariedade, tolerância, capacidade de convivência,

compromisso com ações humanizadoras da sociedade, resistência às

pressões, capacidade de indignação frente às injustiças sociais, coragem e,

vários valores que tem sido negligenciado em virtude da corrida atrás da

subsistência, em detrimento o abandono da tarefa maior dos pais que é educar,

direcionar e inculcar valores que tornariam o indivíduo e consequentemente o

mundo, muito melhor.

O homem quando guiado pela ética, é o melhor de todos os animais, quando sem ela, é o pior de todos. (Aristóteles 384-322 a.C)

A Ética deve orientar a conduta humana, através da liberdade, da

autonomia e da convicção pessoal. Sua tarefa é pensar a aplicação e

fundamentação da moral e sua aplicabilidade na vida social. Sempre busca a

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excelência, trabalha com princípios genuinamente humanos. Ética é modo de

vida, reflexão, análise as regras, coerência entre fins e meios.

Um estudo sobre Ética e Educação, pode proporcionar aos pais, uma

forma de pensar essa relação. O professor como agente da aprendizagem

pode viabilizar este espaço, reforçando seu valor como provedores do sustento

material e emocional, para que haja desenvolvimento, superação de

preconceitos, preparação para enfrentarem uma sociedade que não valoriza a

ética e valores morais.

Cada vez é mais frequente a deterioração dos relacionamentos

familiares, tornando a tarefa educativa muito mais complexa, já que os pais

devem ser participantes ativos do processo ensino aprendizagem.

A ressignificação de valores pode contribuir para que escola seja mais

significativa, produtiva e prazerosa através de um trabalho com os familiares

responsáveis.

A família vem ganhando novas configurações, os valores vêm ganhando

outros significados, famílias cada vez menores, menor presença dos pais

(ocupados com a vida profissional – subsistência material), separações,

mudanças que compõem um cenário diferente de família e papéis confusos,

dificultando os relacionamentos.

Padrões de comportamento, valores morais e princípios éticos que eram

tarefa de casa dos pais, são hoje delegados a escola.

Cada vez mais a indiferença pelas necessidades do outro e a

banalização da vida humana são considerados princípios de autopreservação e

sobrevivência, idéia reforçada pela mídia.

Os dilemas morais precisam ser pensados, pois as nossas decisões

refletem o resultado de valores morais aprendidos ao longo de nossa existência

e seus resultados repercutem diretamente na vida e no sentimento dos outros.

Paulo Freire escreve: “Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos

tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir,

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de romper, por tudo isso nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos

sendo. Estar sendo é condição entre nós, para ser.”

Pensar Ética permite vivenciar as possibilidades humanas e seu agir,

como busca incessante do sentido da vida, como reflexão crítica sobre a rotina

do ser humano, busca de forma virtuosa, através de princípios um

encaminhamento para a humanização do ser humano, procurando disciplinar o

comportamento humano exterior (social) e interior (pessoal), impõe diretrizes

para formação do indivíduo. Estuda e investiga os princípios que motivam,

disciplinam e orientam o comportamento humano, refletindo especialmente

sobre os valores, que são construídos ao longo da vida.

Ética é a disciplina que procura responder sobre ações. Se moralmente

corretas ou erradas. Como as ações devem ser julgadas? Quais os critérios

podem e devem ser considerados para julgamento?

Immanuel Kant cita as formações de que o homem precisa:

- formação escolástica: lhe dá um valor como indivíduo;

- formação da prudência: lhe confere um valor público, usar bem e com

proveito a habilidade própria;

- formação moral: lhe dá um valor que diz respeito à inteira espécie humana,

princípios que devem ser reconhecidos.

A ética deve ser resgatada, como afirma Boff (1999):

O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade,

da liberdade e da inteligência. No cuidado se encontra o

ethos (ética) fundamental do humano. Quer dizer, no

cuidado, identificamos os princípios, os valores e as

atitudes que fazem da vida um bem-viver e das ações um

reto-agir.

DESENVOLVIMENTO

Trabalhar o tema Ética exige uma unidade em tudo que acontece na

escola, todas as ações que envolvem o direcionamento de todas as atividades

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da escola podem facilitar ou não o envolvimento dos pais com o projeto,

portanto num primeiro momento, procurei conhecer os pais de alunos de forma

informal, pois há uma resistência muito grande deles com relação a reuniões

escolares. Propus-se então, abrir espaço para formação de pais com atividades

diferentes, assuntos referentes a ética, educação, valores morais e papéis

desempenhados na família, previamente encaminhados aos pais através de

uma pauta com os temas a serem tratados.

O início do trabalho contou com a participação de professores

interessados no tema que contribuíram muito para a implementação do projeto

com os pais. Compartilham também dessa mesma angústia em relação a

parceria escola/família. Apresentaram sugestões e temas a serem

trabalhados, já que a dificuldade no trabalho com valores morais e ética para

os pais é uma preocupação geral de nossos educadores.

Numa primeira reunião, apresentei o projeto e propus uma parceria

escola e família, um resgate de valores éticos e morais, culminando numa

melhor aprendizagem.

Discutimos alguns temas:

- O que é Ética?

- O que são valores morais?

Com o texto “As três peneiras” pudemos analisar algumas posturas em

relação ao outro que temos e reproduzimos durante nossa convivência,

formando conceitos e inculcando valores no seio familiar.

Analisamos também o histórico da família: evolução, diferentes

configurações, pesquisas e gráficos indicando as diferenças e mudanças da

família nas últimas décadas.

Para o segundo encontro, os pais participaram da projeção do filme “Um

sonho possível”

Sinopse: O filme é um drama que conta a história de Michael Oher, um

jovem negro de 17 anos de infância sofrida que não tem onde morar, e vive sob

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tutela do Estado e favor de seus amigos. Tem um coração bom, mesmo com

sua história de vida. Por ser grande e forte, é aceito em um colégio de

qualidade , porém não tem bom desempenho nos estudos. Fica amigo do

pequeno SJ, filho de Ligh Anne (Sandra Bullock). Percebendo numa noite

gelada que Michael não tem onde dormir, a mãe de seu novo amigo o convida

para dormir em sua casa. Ela acaba tendo grande empatia com o garoto, e

decide mantê-lo em casa, com o apoio dos filhos e do marido Sean Tuony, um

ex-jogador de basquete. Sofre pressão, porém, de suas amigas e seus

familiares.

Michael, com o apoio de sua nova família, se esforça nos estudos e

consegue uma vaga no time de futebol e passa a ser a grande promessa do

time. Porém, Michael passa a ter dúvida sobre os reais motivos do

acolhimento. “Um sonho possível” é baseado em fatos reais.

Discutimos situações observadas no filme. Prevalecendo o foco nos

valores morais e éticos como forma de mudança no comportamento e

desempenho do indivíduo.

O terceiro encontro teve como tema a música “Família” do grupo Titãs.

Discutimos a s novas configurações que a família tem assumido,

composições diferentes, o porque de tantas “novidades” em relação a esta tão

antiga instituição. Valores sociais, culturais, religiosos, morais e até financeiros

envolvidos neste processo de mudança.

Uma dramatização sobre família ilustrou o quarto encontro, onde os

atores apresentaram situações do cotidiano das famílias, brigas, dificuldades,

ausências, carências. Em seguida analisamos o comportamento dos

personagens apresentados, nos identificamos também em algumas situações

dramatizadas.

No quinto encontro, os pais realizaram uma dinâmica, onde, através de

um desenho fizeram representações sobre família, filhos.

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No último encontro, falamos sobre o tema Ética e Valores Morais como

forma de resgate e melhor entendimento entre os membros de uma família e

consequentemente uma vida com mais qualidade no meio social.

Em todos os encontros houve espaço para discussões, dúvidas e

participação dos pais.

Tiveram também como uma outra atividade, a seguinte dinâmica: em

grupos e, com recortes de revistas, montar o ser humano ideal (um boneco

com partes do corpo de fotos escolhidas da revista). Depois conversar sobre

estas escolhas e seu significado. Relacionando ao tema da Ética, como e onde

aprendemos a nos orientar em nossa convivência em sociedade? Quem são os

nossos modelos de ética? E como a busca do ser humano ideal nos orienta no

que ainda não somos?

CONCLUSÃO

Uma inquietação antiga era proporcionar aos pais um espaço onde

pudessem participar ativamente da vida escolar de seus filhos, com abertura

para discutirem sobre suas angústias e encontrarem aliados na busca de

caminhos para a difícil tarefa de educar.

Dois dos principais pilares da construção da humanidade – família e

escola – precisam estar próximos, com seus distintos papéis, objetivando o

sucesso da formação integral, através de uma sólida parceria e da soma de

esforços, visando à superação de grandes desafios apresentados por este

mundo contemporâneo.

Com este trabalho, objetivei consolidar uma parceria efetiva com os pais,

tornando o diálogo mais frequente e possível, estabelecendo laços e buscando

estar sempre aberta as dificuldades encontradas pela família.

Segundo ARANHA e MARTINS, na obra “Temas de Filosofia”:

Dito de outra forma, não basta reformar o indivíduo para

reformar a sociedade. Um projeto moral desligado de um

projeto político está destinado ao fracasso. Os dois

processos devem caminhar juntos, pois formar o ser

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humano plenamente moral só é possível na sociedade

que também se esforça para ser justa.

Considerações finais

O projeto não atingiu como pretendia a totalidade dos pais envolvidos.

Houve participação em média de 60% nos encontros promovidos, mas acredito

que foi uma semente lançada, pois repercutiu de forma positiva na escola e

entre os pais de alunos de outras séries. Abriu-se um espaço para que as

reuniões não fossem apenas uma cobrança e apresentação de notas e

rendimentos sobre os seus filhos, mas discussões acerca de conflitos e

dúvidas tão presentes no nosso cotidiano. Os pais puderam manifestar-se

sobre seus medos e dúvidas, ainda que timidamente, mas observaram a

diferença na proposta das novas reuniões. Acredito que é possível uma

“Escola de Pais” devidamente estruturada, se pensarmos o projeto com

seriedade, compromisso e persistência de todos os envolvidos na educação.

Não é algo fácil, mas perfeitamente possível se pensarmos que a educação

não é um ato isolado e ética, como trata Aristóteles está vinculada ao bem e a

felicidade e entre a família e a escola está a criança, maior beneficiada com o

sucesso desta parceria.

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