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A África é uma grande selva? Entre o selvagem/exótico e a civilização: representações
do continente africano na filmografia do personagem Tarzan.
Maria Edneusa Pereira Silva. 1
Resumo
Ao longo do século XIX, especialmente entre os anos 1830-1890, o continente africano foi objeto
de diferentes representações feitas por viajantes, comerciantes, militares e missionários. Aos
primeiros em especial, existiu o ávido desejo das “descobertas” e “novidades” para um mundo (o
ocidente) ávido por apreender este “exótico” e “estranho” continente repleto de diferenças para
com “a civilização”. E assim se construiu, sob a forma de representações e discursos, uma África
marcada pela selvageria e primitivismo, contrastando com outras imagens que definiam o
continente. Tarzan personagem criado pelo norte americano Edgar Rice Burroughs (1875-1950),
pode ser definido como a maior expressão deste contexto e ao mesmo tempo, o mais significativo
veículo produtor e retroalimentador de imagens e estereotipias sobre o continente africano
enquanto “grande selva”, destituída de valores civilizacionais e condenada à vida natural e a
selvageria. Tarzan demarcou esses itinerários, articulando representações da África,
movimentando imagens visuais e sonoras que orbitam e habitam o nome de 'África', e delimitando
seu campo de referencialidade afetiva e ideológica, alimentando fantasias ocidentalistas que
pertencem ao entre-lugar da diferença colonial. O colonialismo propicia este processo, e como
pano de fundo, reforça sentidos e constructos da hierarquia e da diferença, consubstanciados na
ideia de raça. Tarzan, em sua filmografia, apresenta objetos, cenas e cenários, como um
fonógrafo, o zoológico humano, a relação hierárquica entre “negros” e “brancos” e o protagonista
representando a figura do primitivo como desajustado à civilização urbano-industrial. Outras
centenas de objetos, cenas e cenários, exibem o “arsenal” de representações deste continente,
consolidando sua imagem adstrita à homogeneidade e selvageria. Este trabalho, nesse sentido,
objetiva discutir estas representações em confronto com as imagens postas nos filmes deste ilustre
personagem, e de como estas contribuíram e retroalimentaram a ideia da África selvagem, imersa
nas florestas como monumento da natureza.
Palavras chave: Representações; Tarzan; África; Estudos Africanos; Cinema.
A representação do continente africano, enquanto uma grande selva, é das mais
instigantes para a pesquisa, porque vem se construindo ao longo dos séculos, iniciada pelos
gregos, ampliando-se a partir do tráfico, colonização europeia e alcançando seu auge com o
colonialismo, que reverberou com todo o potencial do cinema. Dessa imagem denotam e
derivam muitas outras, pois a “destituição de civilização” leva ao vazio de tudo o que nesta
contém.
1Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, Povos
Indígenas e Culturas Negras _ PPGEAFIN, da Universidade do Estado da Bahia - UNEB EMAI-L [email protected]
As representações estereotipadas, representam uma lacuna que afeta toda a história
universal. Conforme Lima 2014, é preciso estudar o continente africano, com o intuito de
conhecer melhor a história da humanidade, visto que, para Ki-Zerbo 2010, não haverá
conhecimento histórico universal enquanto persistirem lacunas sobre sociedades africanas,
principalmente, aquelas que participaram diretamente de eventos que influenciaram e
desdobram-se em resultados perceptíveis para a humanidade. É ainda necessário, para
“traduzir” uma história que respeite as singularidade, prime pela restauração ecológica, e nos
permita reconhecer na narrativa.
Neste artigo, faço uma abordagem sobre as imagens recorrentes da África, enquanto
grande selva, observando os espaços temporais e processos históricos em que estas
representações foram construídas e a contribuição do cinema e da filmografia de Tarzan,
como veículos de fomentação destas imagens e como subterfúgio para o colonialismo de
África.
Imagens da África
As representações geradas sobre o continente africano tem extensa carga
contemporânea de ideias com um extenso recorte temporal e contextos espaço-temporais
diversos entre si, heterogêneos em suas próprias trajetórias e que guardam claras distinções
interpretativas, reservadas ao exercício de olhar e representar os africanos.
A construção da ideia de África pode ser dividida em três momentos, sendo estes de
acordo com Oliva 2007, compreendendo o extenso diálogo cultural estabelecido com os
europeus, americanos e árabes, mantidos desde a Antiguidade, até o século VII; potências
europeias no continente e a existência do racismo científico; a redefinição dos lugares e dos
valores ocupados pelas sociedades negro-africanas, na trajetória histórica da humanidade e o
despertar lúcido das especificidades e singularidades das realidades africanas, o que permitiu
uma releitura do entendimento sobre a África.
As impressões e expressões, às quais nomeamos de representações, através dos meios
de comunicação e no senso comum, “materializadas” nas “imagens” da filmografia de Tarzan
sobre o continente africano, são incontáveis, no entanto as mais recorrentes são, segundo
Oliva 2007, que o continente é um “país” ,com muita miséria, primitivismo, AIDS, vírus
ebola, epidemias, corrupção e ditadores, das savanas e dos animais selvagens, destituídos de
cultura e de civilização, que existe uma solidariedade racial incomum, aonde as pessoas são
extremamente passivas que aceitaram o tráfico de escravos a colonização e exploração,
tranquilamente, dentre muitas outras representações que se desdobram e afunilam.
Esse afunilamento e sutileza, são perceptíveis na filmografia de Tarzan, pois apresenta
objetos, cenas e cenários, como um fonógrafo, o zoológico humano, a relação hierárquica
entre “negros” e “brancos” e o protagonista representando a figura do primitivo como
desajustado à civilização urbano-industrial.
É comum em filmes protagonizados por Tarzan e outros, seriados diversos, livros,
inclusive científicos, falas e citações como “ vou para a África” quando deveríamos nos
referir à um país ou mesmo cidade deste continente, e como é usual quando a referência são
outros lugares do planeta. Este “país”, mencionado é homogêneo – todos os povos, das
regiões e países, não são povos, mas “povo africano”, “ mundo africano”, conforme citações
do livro de Serrano e Waldman 2008, apud Lima 2014, Observando por esta perspectiva,
todos os povos e países são vistos como se falassem a mesma língua, tivessem a mesma
religião, cultura, fenótipo, etc. Essa homogeneidade é notada na filmografia de Tarzan,
quando apresenta o continente africano como se fosse, uma contínua e enorme selva.
Consegue-se homogeneizar o continente que considero ser o mais heterogêneo do planeta, nos
seus mais diversos aspectos: cultural, religioso, linguístico, fenotípico. Esse conjunto
homogêneo, cristalizado e atemporal de imagens que circulam sobre o continente africano,
impede a quem o recebeu e assimilou, o entendimento de discernir “de que África se fala”
suas complexidades e diversificadas cosmovisões.
Outras imagens na filmografia de Tarzan, sobre o continente africano no continente
africano são todos muito unidos e vivem uma certa solidariedade racial, quando sabemos que
o etnocentrismo é inerente a qualquer grupo humano, independente do tempo ou do espaço
históricos, como também a ideia de que os povos africanos eram passivos, incapazes, e
aceitaram, inocentemente o tráfico de escravos e a colonização, quando a captura de escravos
jamais se daria sem a colaboração de povos africanos. Essa visão inocente é contestada por
ACOSTA- LEYVA 2013, quando explica o “mito da captura.”
A captura por parte das instituições africanas se constitui como
realidade incontestável desde os primórdios da chegada dos europeus. Um
exemplo nesse sentido pode ser enxergado na incursão do rio Geba. Segundo
Cammilleri( 2010), quando os portugueses chegaram ao que seria hoje
Guiné-Bissau, pensava do mesmo modo que os “pesquisadores” que repetem
o “mito da captura” mas a resposta dos africanos aponta para algo diferente
desta perspectiva. Por volta de 1446, Nuno Tristão e seus soldados foram
recebidos a flechas envenenadas e somente saíram com vida dois para
contar a história. (ACOSTA-LEYVA 2013, P 18)
Sobre a colonização que aconteceu tardiamente e durou,de 1884 a 1975, tendo,
portanto, grande parte desse processo histórico paralelo à literatura e produção fílmica do
personagem em estudo, verifica-se, a representação de que os africanos são incapazes de se
autogovernar, necessitando sempre de brancos para esse empreendimento. Tarzan, herói e
mito do cinema “criado desde criança por macacos na floresta que é a África”, aparece em
toda a sua filmografia, como líder, um “ talento nato”. Surge então uma questão – Por que a
colonização foi tardia e pouco durou se os europeus colonizaram outros continentes alguns
séculos antes da colonização do continente africano? Segundo Acosta-Leyva2013, os
europeus não conseguiram colonizar este continente no mesmo período da colonização do
continente americano, porque este era dividido em reinos, alguns muito bem organizados,
inclusive militarmente, com exércitos e estratégias de guerra, suficientes para resistir por
séculos as colonizações dos europeus. Somente a tecnologia, em contexto, a invenção da
metralhadora, foi capaz de vencer os reinos africanos como explica RODNEY 2013.
A superioridade técnica europeia não se aplicava a todos os ramos da
produção, mas as vantagens que possuíam eram decisivas. [...] A África
Ocidental desenvolvera o trabalho sobre os metais, até atingir uma perfeição
artística, mas quando se tratou de opor resistência à Europa, lindos bronzes
nada podiam fazer contra rudes canhões. (RODNEY, 1975, p 113)
As representações são incontáveis, tendo a barbárie e selvageria, entendidas em uma
dimensão antagônica à ideia de civilização caracterizando o continente africano enquanto
grande selva”, destituída de valores civilizacionais e condenada e à vida natural, são os signos
recorrentes na filmografia de Tarzan. Essas imagens são construídas desde a antiguidade pelos
gregos que tinham muito respeito por outros povos e “ a superioridade branca não
apresentava, necessariamente, no mundo antigo a questão da cor da pele como fundador’,
mas que,
No pensamento grego, a noção de selvagem denotava tanto aqueles
que não falavam grego, o que chegava a ser equivalente a não possuir
linguagem, quanto significava crueldade. Podia significar também
desconhecimento da agricultura ( ou da noção grega de agricultura,
relacionada ao oikos) (APPIAH 2000, P 18)
Nesse jogo de alteridades com esse Outro visto como exótico, leva à constatação de
que a lente para ver o diferente, pelos gregos, foi construída por pedaços do próprio espelho
em que o eu se admirava e se identificava, numa relação identitária que confundiria a noção
de civilização, que pode ser traduzida pela ideia da organização da vida em cidades
governadas pelas leis justas e pela ordem, à sua própria identidade de acordo com Klaas
Woortmann 2000, p 19 in Oliva 2007 e Mudimbe 1994, p14, acrescenta que , o lado de fora
da fronteira da civilização, ou seja a barbárie ou a selvageria, entendidas em uma dimensão
antagônica à ideia de civilização seriam vistas como opostas ao entendimento da própria
identidade grega.
Essas representações ganham forças, com as descobertas das Américas e da África
Subsaariana, quando era preciso encontrar significado e sentidos para esses espaços e para
suas populações, então o exotismo se tornaria a regra para o exercício de definir e observar
pois,
na leitura explicativa acerca das “fronteiras desbravadas” ocorreria
uma sobreposição da ideia de que estes seriam universos identitários por
simbolizarem o oposto da norma, com os postulados que justificavam as
ações europeias nesses territórios. ( OLIVA 2007, p 22)
O tráfico Atlântico, a colonização do continente, que se inicia com a Conferência de
Berlin em 1884, a expansão da imprensa e da literatura e a invenção do cinema, possibilitam
que essas representações, se propaguem com muita força e atinjam espaços impossíveis entes
desse eventos, porque são retroalimentadas. A filmografia de Tarzan veiculada pelo cinema,
as HQs e todas as produções envolvendo este personagem, podem ser definidas como a maior
expressão deste contexto e ao mesmo tempo, o mais significativo veículo produtor e
retroalimentador de imagens e estereotipias sobre o continente africano enquanto “grande
selva”, destituída de valores civilizacionais e condenada à vida natural e a selvageria.
A veiculação dessas imagens, durante o século de existência de Tarzan, continua e
perpetua as representações estereotipadas do continente africano. As dimensões diaspóricas
saem, relativamente, do plano material de tráfico de pessoas, exploração e retirada de matéria-
prima, de séculos, e passa para uma difusão de ideias invertidas e anacrônicas, com um poder
de transformá-las numa rede complexa e muito abrangente, impossibilitando a visibilidade
com coerência e efetividade, do continente africano e tudo que a ele diz respeito. O
colonialismo muda de “roupagem”, se configurando num patamar virtual.
O nome de 'África': desde já deriva e disseminação diaspórica o
tornam irretornável a uma origem e multiplicam o jogo de suas apropriações
e expropriações. Não se trata de uma categoria social que se pode atribuir a
um universo cultural e simbólico particular ou à consciência humana em
geral: o nome de 'África' – 'Africa', 'Afrique', 'Afrik'... – atravessa universos
culturais e simbólicos diferentes e permanece uma matriz significante. É
necessário pensar a escritura da 'África' como um processo inconcluso e
aberto de produção de sentidos sobre o que é a identidade africana, a
africanidade e o elemento afro-, que abrange diferentes lugares históricos e
posições de sujeito, diversas práticas discursivas e imaginativas. (RIBEIRO
2008, P 19)
A multiplicação do jogo de apropriações, e expropriações do nome de ‘África’ que
significa ‘tomar’ para si, representando-a estereotipada, leva esta nomenclatura a
‘deslocamento’ de si mesma, significa a impossibilidade de África voltar a sua identidade
original, porque esses signos atravessam universos culturais e simbólicos diferentes
instalando-se uma matriz de significantes. Nesta perspectiva observo que a escritura de
‘África’ torna-se um processo inconcluso, aberto e descentrado. Entende-se por escritura,
neste contexto, a viabilidade das representações do continente africano serem mais efetivas.
Essa representações estereotipadas sobre o continente africano são muito bem
traduzidas num conto Iorubá, intitulado “ A Verdade e a Mentira”. Embora saibamos que os
conceitos de verdade e mentira precisam ser relativizados. Esse conto traduz de forma literária
e poética, esse sentimento, essa sensação.
2Diz assim: Olfi, o Senhor que tudo criou – o bem e o mal, o bonito
e o feio, o claro e o escuro, o grande e o pequeno, o cheio e o vazio, o alto e
o baixo – criou também a Verdade e a Mentira. Fez, no entanto a Verdade
forte, marcante, bela , luminosa, e fez a Mentira fraca, feia, opaca. Ao ver
assim a Mentira, deu a ela uma foice com a qual pudesse se defender. A
mentira sentiu inveja da Verdade e queria eliminá-la. Certa ocasião, a
Mentira se defrontou com a verdade e a desacatou. Brigaram . Empunhando
sua foice a Mentira , com um golpe, degolou a verdade. Esta, vendo-se sem
cabeça, começou a procurá-la tateando por volta. Apalpa um crânio que
supõe ser seu. Com esforço agarra-o e o arrancando de onde estava, coloca-o
2( cf. Dulce Mara Critelli, Ontologia do cotidiano ou resgate do ser: poética heideggeriana. São Paulo: PUC-SP,
Centro de Estudos Fenomenológicos de São Paulo, 1984)
sobre seu pescoço. Mas aquela era a cabeça da Mentira. Desde então, a
verdade anda por aí enganando toda a gente.( CRITELLI 1984, apud
SERRANO E WALDMAN 2008, p 34)
Neste contexto imagético, realizado por viajantes, comerciantes, missionários,
militares, escritores europeus que representavam o continente africano como primitivo,
selvagem, destituído de história, no auge do seu colonialismo, surge o personagem de Tarzan,
ampliando essas imagens que agora além de ser espaço- temporal, passa a ser impresso,
midiático-virtual, fazendo o papel de “pano de fundo” para o colonialismo, porque reforça
sentidos e constructos da hierarquia e da diferença, consubstanciados na ideia de raça.
As imagens de África, em espaço-tempo e diferentes veículos, correspondem ao
encontro entre significados e significantes, porque constitui-se como espaço intersticial,
produzindo novos sentidos,se opõe à vontade, ao tempo em que esta é percussora daquela,
que pertence ao “mundo” racional e necessita de conhecimento para se “materializar”.
Expressa, excepcionalmente pela linguagem, plausível de contradições, apropriadas pelo
interesses e ideologias para manipulação, ocupa o entre-lugar, das representações porque,
partindo da vontade, é o local da cultura, é seu lócus de enunciação, é o terceiro espaço. É,
portanto, neste entre-lugar dos signos que busco compreender as relações entre a filmografia
do personagem Tarzan e as representações desta e implicações na inscrição do nome de
África.
Tarzan e as representações de África
Criado pelo norte americano Edgar Rice Burroughs (1875- 1950) Tarzan, ao longo do
século XX e agora no século XXI foi e é um veículo extremamente poderoso, no que diz
respeito à produção de representações do continente africano, em suas narrativas. Sua
abrangência é muito ampla, podendo ser compreendida nos âmbitos material e simbólico.
Tangível, porque é, excepcionalmente veiculado pelo cinema, e este representa o fazer
humano, mais “real” que qualquer outra forma de comunicação e invenção; e emblemático,
visto que, uma vez próximo da realidade, é plausível de alcançar uma “cognição” que faça a
ficção ser apreendida pela realidade e portanto, transformada em algo mais efetivo. De forma
concreta pela cronologia, o personagem intitulado Tarzan, existe desde o ano de 1912, se
perpetuando com a mesma notoriedade desde sua criação até os dias atuais; de público,
abrange pessoas de todas as idades e classes sociais, de praticamente todas as partes do
planeta, com acesso à comunicação televisiva, escrita e mesmo cinematográfica. Desde sua
criação protagonizou 18 livros, escritos entre os anos de 1912 e 1965; 50 filmes, a partir do
ano de 1918 até 2016; histórias em quadrinhos, programas de rádio, séries para a televisão e
artigos diversos em revistas e jornais.
O escritor estadunidense Burroughs, publicou Tarzan of the Apes em outubro de
1912, numa revista pulp chamada The All-Story. Inaugurando a série de produtos hoje
reunidos sob a marca registrada de Tarzan pela corporação Edgar Rice Burroughs Inc.,
sediada em Tarzana, Califórnia, nos Estados Unidos da América. Tarzan of the Apes foi
republicado em formato de brochura em 1914 e adaptado pela primeira vez para o cinema em
1918, quando a corporação ainda não havia sido fundada. Burroughs, que registrara o nome
de 'Tarzan' em 1913, fundaria a Edgar Rice Burroughs Inc. em 1923. Edgar Rice Burroughs,
tornou-se muito conhecido mundialmente pelas suas obras.
3Segundo Burroughs 2014, O Rei das Selvas, personagem com um século de história,
é filho de aristocratas ingleses que desembarcam em uma selva africana após um motim. Com
a morte de seus pais, Tarzan, ainda criança, é criado por macacos. Seu verdadeiro nome é
John Clayton III, Lorde Greystoke. Tarzan é o nome dado a ele pelos macacos e significa
"Pele Branca". Por ter sobrevivido na selva desde sua infância, Tarzan mostra habilidades
físicas superiores às de atletas do "mundo civilizado", ou seja, tem poderes de super-heróis,
uma força descomunal com capacidade de se mover por cipós que praticamente equivale a
voar, além de poder se comunicar com os animais. O escritor faz questão de destacar sua
aparência de cabelos longos e olhos cinzentos, com corpo atlético e alto. Já adulto, o
personagem acaba encontrando Jane, "o amor de sua vida". Ela teria sido abandonada com
seu pai e outros, na mesma região em que Tarzan foi abandonado.
No Brasil, foram publicados dezoito livros, pela Companhia Editora Nacional a partir
de 1933, na coleção Terramarear. As traduções foram feitas por importantes escritores,
3O escritor estadunidense Burroughs publicou Tarzan oftheApesem outubro de 1912, numa revista
pulpchamadaThe All-Story. Inaugurando a série de produtos hoje reunidos sob a marca registrada de Tarzan pela
corporação Edgar Rice Burroughs Inc., sediada em Tarzana, Califórnia, nos Estados Unidos da América. Tarzan
ofthe Apes foi republicado em formato de brochura em 1914 e adaptado pela primeira vez para o cinema em
1918, quando a corporação ainda não havia sido fundada. Burroughs, que registrara o nome de 'Tarzan' em 1913,
fundaria a Edgar Rice Burroughs Inc. em 1923
como Monteiro Lobato, Godofredo Rangel, e Manuel Bandeira. Tarzan inspirou uma série de
personagens selvagens nos pulps, filmes e quadrinhos chamados de tarzanides.
Tarzan marca a história das representações de África, porque transcende do
colonialismo efetivamente territorial para o colonialismo como processo histórico
transcultural. Legitima os interesses imperialistas de dominação econômica e ideológica sobre
os povos africanos, sobrepujando uma exploração real para um patamar virtual através das
imagens disseminadas. A África se transforma num “lugar para todo o mundo porque não é
lugar de ninguém.” Portanto, a lenda de Tarzan se diferencia das lendas da antiguidade pelo
fato de está relacionada ao imperialismo inglês na África.
A genealogia e a história de Tarzan remetem à configuração da
modernidade urbana industrial (centrada nos Estados Unidos da América e
na Europa Ocidental) e do colonialismo como processo histórico
transcultural. Tarzan, suas aventuras e os signos e imagens movimentados
em suas narrativas advêm como textos em que se torna legível o processo de
conformação do Ocidente como fórum cultural mundialmente hegemônico,
nos três sentidos da palavra 'fórum' assinalados por HomiBhabha (1998, p.
45): “como lugar de exibição e discussão pública, como lugar de julgamento
e como lugar de mercado”. A escritura da 'África' passa pelo fórum do
Ocidente, embora não esteja restrita a seus regimes simbólicos e envolva
outros lugares culturais. Tarzan habita o limiar entre uma genealogia
ocidental e uma história transcultural, possibilitando pensar a escritura da
'África' como um processo glocal de produção de sentidos – o
entrelaçamento de múltiplos lugares culturais e históricos em redes globais
amplas, embora irregulares, de fluxos de comunicação, delimitando o que
chamo de economia política do nome de 'África'.(RIBEIRO 2008, P 11)
E, o cinema, instrumento por excelência, potencializador e retroalimentador das
representações ocupou, segundo Ferro 1996, “o lugar do romance e dos jornalistas no
enraizamento de atitudes colonialistas” e desconsiderou a potencialidade subjetiva desse
“Outro”, não europeu, quando reverbera o discurso da ideologia colonialista e das teorias
raciais do século XIX, que rebaixavam os africanos na cadeia evolutiva da humanidade.
Nascimento 2017 explica como o cinema serviu para este propósito:
A forma de ver o mundo não ocidental impregnou todos os âmbitos
sociais, e, entre eles, a arte, a publicidade, a literatura e o cinema serviriam
como veículos de divulgação desses “mitos” ocidentais. O processo de
constituição de uma imagem desumanizada do não europeu, e de uma
subjetividade africana, esteve condicionada, portanto, às representações do
imaginário colonial e seus dispositivos de propaganda, uma vez que eles
reforçavam um regime de poder e autoridade do ocidente sobre os africanos,
roubando-lhes os seus legítimos direitos como seres humanos e
desqualificando seus saberes e costumes.( NASCIMENTO 2017, p 16)
De uma forma paradoxal, marcada por uma verdadeira fascinação pelo “Outro”, com
algumas de suas artes, especialmente o cinema com os filmes ditos colonialistas se
configuram como propaganda do regime colonial, quer seja na publicidade, nos jornais, nos
cartões postais ou nos filmes, “tratava-se sempre de uma encenação, tendo como único
objetivo veicular uma imagem simplificada e mítica das colônias”(MEYER, 2004, p. 16).
Para Meyer, um grande exemplo, talvez o paroxismo desse empenho de mitificação dos povos
não europeus, foram as exposições coloniais, nas quais se levavam “amostras” de populações
indígenas das colônias, numa espécie de zoológico humano, à metrópole, como atração para
os cidadãos europeus apreciarem e examinarem o “Outro”.
A “linguagem zoológica” (FANON, 1968, p. 31) do colonizador servia claramente
como demarcadora do fosso entre a “civilização” e a “selvageria” e servia para enfatizar a
distância entre “Eles” (os “selvagens”) e “Nós” (os “civilizados”) e de mostrar que os
ocidentais já haviam superado o estado de primitivismo enquanto os indígenas permaneciam
“bestiais”, [...]o que significa dizer que as pessoas que são diferentes em sua cultura e em seus
aspectos físicos, são negadas e mensuradas por conceitos europeus,(NASCIMENTO 2017,
p18,19, 22)
Os objetos, cenas e cenários, na filmografia de Tarzan, como um fonógrafo, o zoológico
humano, relação hierárquica entre negros e brancos, o protagonista representando a figura do
primitivo como desajustado à civilização urbano-industrial, “ “linguagem zoológica” _ a
branquidade do personagem, um idioma inventado por Edgar Rice Burroughs, os sons e
outras centenas de objetos cenas e cenários, exibem o “arsenal” de representações que a
filmografia de Tarzan faz do continente africano. Um único filme da filmografia de Tarzan,
carrega o seu estigma de um século. Numa única cena, podem ser verificadas dezenas de
representações.
Assim, o fonógrafo, que aparece em vários filmes deste personagem tem várias
simbologias, como sonoras (músicas e vozes) da domesticidade imperial e simbolizando o
poder técnico de que se investe o Ocidente diante da alteridade colonial, o desenvolvimento
da técnica que marca a experiência ocidental da modernidade mundial, as formas
diferenciadas como os nativos e Tarzan se comportam diante do fonógrafo, e como são
tratados diante deste, demarcando discriminação, porque ninguém tenta afastar Tarzan do
fonógrafo, apenas os nativos, portanto, como um selvagem e um branco, Tarzan pode
representar uma primitividade cuja alteridade se encontra domesticada, a relação entre
brancos e negros nos filmes passa sempre por uma hierarquia e outras diversas representações
que podem ser observadas.
O Zoológico humano se configura com uma complexidade, pois as imagens de
animais se inserem, no quadro das memórias de gênero articuladas, então, este zoológico, se
configura enquanto uma forma cultural moderna de construção da relação entre humano e
animal. Neste contexto, as imagens de nativos inscritas sob o princípio da atração pertencem
ao que (Ribeiro 2008, p 114), chama de série do zoológico humano, que representa como
forma cultural moderna de construção da diferença colonial e opera como um tropo que
organiza um dos regimes transtextuais de inscrição do nome de 'África' na filmografia de
Tarzan. É um zoológico imagético de animais e também considerado pelo autor de zoológico
imagético humano, significando primitivismo ideológico e institucional. Nele, o racismo
colonial/moderno e seu esquema epidérmico fundamentam a série do zoológico humano,
delimitando o sujeito e o objeto do olhar fílmico em termos raciais.
Há ainda uma necessidade de se fazer uma distinção entre Tarzan e os macacos. De
acordo com Peter Coogan (2004), apud Ribeiro “tar” significa “branco” e “zan” significa
“pele”. Nomeado por referência à pele, que o distingue dos macacos pela ausência de pêlos e
pela cor branca, o personagem passa por momentos de estranhamento em que seu fenótipo
aparece como uma constelação de significações problemática. Há ainda cenas na filmografia
em que Tarzan chega a se comportar como a figura mítica de Narciso ( Ribeiro 2008, p 57)
Nestas circunstâncias, a pele branca de Tarzan aparece, por momentos, como um
signo ambivalente, cujo valor se mostra indeterminável. A finalidade da narrativa e o
vocabulário do texto procuram neutralizar a ambivalência e decidir o valor da pele branca
como signo dominante. Embora não exista qualquer menção explícita à atribuição do
significado de “Pele-Branca” ao nome de 'Tarzan' nos filmes, ela oferece uma chave de
leitura: uma teleologia racista procura comandar, em toda a filmografia de Tarzan, as
representações raciais, produzindo a branquidade como signo dominante numa hierarquia
epidérmica que foi analisada e interrogada, por exemplo (mas este não é um exemplo casual),
por Frantz Fanon em Pele Negra, Máscaras Brancas (1983). A filmografia de Tarzan
reproduz a estrutura teleológica de produção da cor da pele como signo dominante, tentando
neutralizar e conter as dimensões racial e animal da ambivalência de Tarzan, cuja articulação
é condensada pela expressão “macaco branco”.
O trabalho sonoro da ideologia não se restringe, contudo, ao grito de Tarzan. Com o
advento do som no cinema, a alteridade africana passa a se inscrever também por meio de
signos sonoros que operam como sinais diacríticos da diferença cultural e racial, isto é, signos
do exófono, entre os quais ocupam um lugar crucial os signos da diferença linguística,
reduzidos de uma forma geral a sotaques carregados e expressões idiomáticas pitorescas, (
Ribeiro 2008,p 140) o som, e a fala, tem uma diferenciação, nos filmes de Tarzan. Foi criado
o dicionário da selva que "soa aos nossos ouvidos como rosnados, uivos e grunhidos,
pontuada às vezes por gritos agudos, e é, praticamente, intraduzível para qualquer língua
conhecida pelo Homem.
Considerações finais
As imagens sobre o continente africano não foram construídas num ‘passe de mágica’,
estas se deram ao longo do séculos e se intensificaram no século XIX, especialmente entre os
anos 1830-1890, quando a África foi objeto de diferentes representações feitas por viajantes,
comerciantes, militares e missionários.
As representações estereotipadas do continente africano, são tantas e em abrangência
tamanha, que sugerem uma impossibilidade da conquista da “dignidade originária” deste
continente.
Essas distorções, afetam a história universal, pois a torna incompleta e, como
consequência, atinge cada ser humano, de forma individual, pois cada indivíduo é construtor
dessa história.
A filmografia de Tarzan é, portanto um dos meios, senão o maior, com a capacidade
de “engrandecer” e veicular essas representações que o ser humano criou, sendo assim, deve
ser estudado, mesmo que este estudo já tenha sido realizado por muitas pessoas, pois é
inesgotável, pela sua quantidade, magnitude e “imortalidade”, proporcionadas pelo cinema.
Neste contexto, observo que as representações não são discursos neutros, mas
intencionais e dotados de ideologias, neste contexto, colonialistas e imperialistas, e o cinema é
o veículo mais potente, porque se constitui num objeto construtor de representações por
excelência, dada a sua capacidade de apreender a realidade, dentro da ficção.
É plausível, o estudo da filmografia de Tarzan, numa perspectiva de analisar as
representações da África enquanto floresta, selva, primitiva e destituída de civilização, pois
são as expressões em primeira instância desse empreendimento. Pode-se tomá-la também para
o estudo histórico, porque esta, acontece num determinado tempo e influencia os processo
históricos. Esse tempo coincide em parte com o colonialismo em África que afeta questões
muito concretas como o racismo colonial/moderno, fazendo circular o nome de 'África' dentro
de um regime ocidentalista.
O colonialismo participa das narrativas de Tarzan, de 1912, até hoje como um pano
de fundo, um campo de forças em movimento e uma herança histórica.
Um dos resultados de maior impacto de suas manipulações, foi o de lançar as
populações e características histórico-culturais africanas para uma condição de importância
secundária na trajetória histórica da humanidade.
Conforme a lógica do senso comum, uma ideia defendida por poucos, é apenas um
pensamento, uma ideia defendida por uma instituição, terá uma duração média, mas uma
ideia defendida por muitos e por um longo período, transforma-se numa teoria. Essa premissa
serve para fazer uma analogia com as representações estereotipadas de África que acontece
num longo espaço-temporal e são defendidas por muitos e de tantos modo que, torna-se
muito difícil suas “desconstruções”.
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