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1 A FUNDAÇÃO DA LOJA MAÇÔNICA OBREIROS DA PAZ DO ORIENTE DE FRAIBURGO Por João Marques Vieira Filho M:.I:. e Gr. 33 REAA. Já haviam passado dois anos da transferência de meu domicílio de Videira para Fraiburgo e continuava freqüentando a Loja União Mística, que havia ajudado a fundar naquela cidade. Não havia loja maçônica em Fraiburgo. Foi então que, em meados do ano de 1991, em data que não posso precisar, fui apresentado a Edson Nelson Ubaldo, renomado advogado da região e maçom emérito. Logo nos identificamos como maçons e a conversa centrou-se em nossa sublime ordem. Perguntou-me ele porque não havia loja maçônica em Fraiburgo, cidade próspera e com expressiva população. Respondi-lhe que pouco poderia dizer a respeito, já que residia fazia pouco tempo em Fraiburgo mas imaginava que fosse pelo fato de existirem apenas dois ou três maçons na cidade, todos vinculados a lojas da próxima cidade de Videira. Ubaldo corrigiu-me dizendo que havia pelo menos um maçom para adicionar aos meus cálculos, referindo-se a Airton José Jacomel, gerente do BESC em Fraiburgo, recém transferido de Campos Novos, onde havia sido iniciado na Loja Silêncio e Fraternidade. No dia seguinte fui até o BESC para conhece-lo, identificando-me como maçom. Comentamos a inexistência de loja maçônica em Fraiburgo e fizemos um rápido levantamento dos maçons que conhecíamos na cidade. Lembrei de Flávio José Martins, então recém iniciado na Loja Acácia do Sul em Videira, e de Antônio Rocha da Silva, que conheci como obreiro daquela mesma loja. Airton adicionou o nome de José Nilton Nolla, então gerente da agência local do Bradesco, também recém chegado em nossa cidade. Éramos cinco. Olhamo-nos satisfeitos com aquele número. A idéia de uma loja maçônica em Fraiburgo surgiu naquele momento, mesmo que sem referência direta. Airton tomou do telefone e ligou para o Nolla. Este, em questão de minutos, apareceu na agência e fomos apresentados. Ficamos ali mais de uma hora conversando a três, naquela alegria própria do encontro de maçons que não se conhecem e que os profanos acham tão estranho. Naquela mesma noite reunimo-nos em minha casa, para conversar sobre maçonaria.

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A FUNDAÇÃO DA LOJA MAÇÔNICA OBREIROS DA PAZ DO ORIENTE DE FRAIBURGO

Por João Marques Vieira Filho M:.I:. e Gr. 33 REAA.

Já haviam passado dois anos da transferência de meu domicílio de Videira para Fraiburgo e continuava freqüentando a Loja União Mística, que havia ajudado a fundar naquela cidade. Não havia loja maçônica em Fraiburgo. Foi então que, em meados do ano de 1991, em data que não posso precisar, fui apresentado a Edson Nelson Ubaldo, renomado advogado da região e maçom emérito. Logo nos identificamos como maçons e a conversa centrou-se em nossa sublime ordem. Perguntou-me ele porque não havia loja maçônica em Fraiburgo, cidade próspera e com expressiva população. Respondi-lhe que pouco poderia dizer a respeito, já que residia fazia pouco tempo em Fraiburgo mas imaginava que fosse pelo fato de existirem apenas dois ou três maçons na cidade, todos vinculados a lojas da próxima cidade de Videira. Ubaldo corrigiu-me dizendo que havia pelo menos um maçom para adicionar aos meus cálculos, referindo-se a Airton José Jacomel, gerente do BESC em Fraiburgo, recém transferido de Campos Novos, onde havia sido iniciado na Loja Silêncio e Fraternidade. No dia seguinte fui até o BESC para conhece-lo, identificando-me como maçom. Comentamos a inexistência de loja maçônica em Fraiburgo e fizemos um rápido levantamento dos maçons que conhecíamos na cidade. Lembrei de Flávio José Martins, então recém iniciado na Loja Acácia do Sul em Videira, e de Antônio Rocha da Silva, que conheci como obreiro daquela mesma loja. Airton adicionou o nome de José Nilton Nolla, então gerente da agência local do Bradesco, também recém chegado em nossa cidade. Éramos cinco. Olhamo-nos satisfeitos com aquele número. A idéia de uma loja maçônica em Fraiburgo surgiu naquele momento, mesmo que sem referência direta. Airton tomou do telefone e ligou para o Nolla. Este, em questão de minutos, apareceu na agência e fomos apresentados. Ficamos ali mais de uma hora conversando a três, naquela alegria própria do encontro de maçons que não se conhecem e que os profanos acham tão estranho. Naquela mesma noite reunimo-nos em minha casa, para conversar sobre maçonaria.

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A conversa entrou pela madrugada. Descobrimos que estávamos vinculados a potências maçônicas diversas: Airton ao GOSC, Nolla às Grandes Lojas e eu ao GOB. Resolvemos criar uma célula maçônica em Fraiburgo, a partir de nós três e de quem mais aderisse dentre os maçons da cidade. A escolha da potência maçônica a nos vincular ficou para mais tarde, definindo-se apenas que escolheríamos aquela que, no conjunto de fatores envolvidos, se revelasse a mais adequada. Dias depois viajei a trabalho para Florianópolis e, por sugestão do Ubaldo, resolvi conhecer a sede do Grande Oriente de Santa Catarina. Fui muito bem recebido pelos irmãos daquela obediência, em especial pelo então grão-mestre José Carlos Pacheco, que falou-me das boas relações entre os grão-mestres das três potências maçônicas catarinenses e do propósito conjunto de expandir a maçonaria em nosso Estado, com responsabilidade e sem rivalidades. Em relação ao nosso propósito disse que o via com muito bons olhos e nos apoiaria de forma incondicional, independentemente da potência maçônica que escolhêssemos.

De volta a Fraiburgo, recebemos a adesão do Flávio e do Rocha. Amadurecia a idéia da fundação de um triângulo maçônico. Numa noite, entretanto, na sala de estar da casa do Ubaldo, em Campos Novos, ouvi dele: - Por que não fundar logo uma Loja ? Respondi-lhe que não tínhamos o número de mestres suficiente. Éramos apenas cinco, sendo quatro mestres e um aprendiz, enquanto são necessários sete mestres para constituir uma Loja. Ubaldo, então, assegurou-me que, se escolhêssemos o GOSC como obediência, as Lojas de Campos Novos, Curitibanos e Caçador garantiriam o funcionamento da Loja de Fraiburgo, cedendo os mestres necessários até que formássemos os nossos. Confesso que não me senti seguro com aquele oferecimento. A proposta implicaria no deslocamento pelo menos quinzenal de irmãos daquelas cidades até Fraiburgo, em noites da semana, o que me pareceu um sacrifício que poucos estariam dispostos a assumir. Busquei então a opinião de Ary Luiz Dalazen, querido irmão que havia assistido ser iniciado na Acácia do Sul de Videira e que, naquela época, residia em Curitibanos, vinculado a Loja Estrela do Planalto. A conversa pessoal que pretendia manter com Ary em Curitibanos, converteu-se num saboroso churrasco na casa de David Melo. Presentes vários irmãos da Loja Estrela do Planalto, inclusive o então venerável mestre Rui Stimamiglio, recebi a garantia da presença de pelo menos três mestres daquela oficina em todas as sessões ritualísticas da futura Loja de Fraiburgo. Efetivamente, até que exaltássemos os nossos próprios mestres em número suficiente, por cerca

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de um ano, três irmãos de Curitibanos, infalivelmente, compareceram a todas as sessões ritualísticas da Loja de Fraiburgo. Foram eles: Ary Luiz Dalazen, David Melo e França Felipe Abrahão Filho.

O passo seguinte foi contatar com os irmãos da Loja Luiz Balster de Caçador, de quem já conhecíamos o esplêndido valor, sendo que o então venerável mestre Cezar Pedrassani oferece-me igual apoio. Mais tarde pudemos verificar, com satisfação que aquela oficina realmente cumpriu o compromisso assumido, enviando regularmente seus obreiros as nossas sessões ritualísticas, destacando-se, pela assiduidade, o irmão Luiz Antonio Paladini.

Promovi, então, uma reunião em Fraiburgo de representantes de todas as quatro Lojas madrinhas. Na falta de outro lugar, minha sala de estar ficou repleta de irmãos que, sem cadeiras suficientes, foram sentando-se em almofadas semeadas pelo chão. Embora constrangido pela acanhada recepção que lhes pude dar, fiquei exultante de alegria com a presença, entre outros, dos quatro veneráveis mestres: Luiz Carlos Capelari, pela Acácia dos Campos; João Carlos Di Domenico, pela Silêncio e Fraternidade; Rui Stimamiglio, pela Estrela do Planalto; e Cezar Pedrassani, pela Luiz Balster.

A Loja Maçônica de Fraiburgo foi ali informalmente fundada. A escolha da obediência maçônica, obviamente, recaiu no Grande Oriente de Santa Catarina. O rito escolhido, por sugestão do Airton Jacomel e em homenagem a inestimável contribuição do Edson Ubaldo, foi o Adonhiramita. O nome que sugeri, Obreiros da Paz, inspirado na oração do ritual de aprendiz, foi aprovado por unanimidade. A data oficial para fundação, ajustada com o grão mestre José Carlos Pacheco, ficou para 18 de dezembro de 1991, a realizar-se no salão de convenções do Hotel Renar. Não tínhamos, então, nem sequer um local para promovermos nossas reuniões.

A fundação oficial da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Obreiro da Paz, portanto, deu-se em assembléia não ritualística, já que não tínhamos templo maçônico. Foram fundadores de nossa Loja os então cinco maçons de Fraiburgo: Antônio Rocha da Silva, Airton José Jacomel, Flávio José Martins, João Marques Vieira Filho e José Nilton Nolla. Além desses, ainda os irmãos José Carlos Pacheco, então grão-mestre do GOSC, Lúcio Nelson Martins, patriarca do rito adonhiramita, Edson Nelson Ubaldo, delegado do grão mestre, Luiz Carlos Capelari, venerável mestre da Loja Acácia dos Campos, João Carlos Di Domenico, venerável mestre da Loja Silêncio e Fraternidade, Rui Stimamiglio, venerável mestre da Loja Estrela do Planalto, Cezar Pedrassani, venerável mestre da Loja Luiz Balster, Luiz Antonio Paladini, David Melo, Ary Luiz Dalazen, França Felipe Abrahão Filho, Ediberto Rossarolla Schükste, Egon Heinz Reichert, Alceu Ayrton

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Barros, Valmir Scapini, Alceu Zardo, Mariano Fagundes, Mauro Pozzogon, Sebastião Dias de Deus, Adilson Gaboardi, Leomir Jacomel, Emir Eloy Fauth, Henrique Baggio, Roberto Isao Kato, Mauri Chiodi, Romeu Flâmia e Cláudio Schutz.

Na manhã seguinte a fundação da Loja levei os irmãos Pacheco e Lúcio para conhecer a sala comercial que nos serviria de templo maçônico. Apesar de não apresentar as condições ideais, o local foi aprovado, com muita condescendência, por aquelas duas autoridades maçônicas.

Passamos, então, a tarefa de transformar aquela sala comercial num templo maçônico. O Flávio providenciou os serviços de carpintaria, mandando construir uma parede divisória e um tablado para servir de oriente. O Airton trouxe de Campos Novos os altares de madeira compensada, que serviram à Loja Silêncio e Fraternidade quando de sua fundação. As colunas de entrada, compostas de dois canos de chaminés de fogão a lenha, foram cedidas pelo irmão camponovense João Carlos Becker. As cadeiras foram trazidas pelo Rocha, então diretor da Renar Móveis. O Flávio mandou fazer espadas a partir de molas de suspensão de veículos que, depois de cromadas, ficaram lindas aos nossos olhos.

As duas janelas de frente para a rua foram cobertas por dois grossos black-out. O dossel do venerável foi confeccionado pela minha esposa Tânia. Fixei-o no teto com trilhos de cortina. A abóboda celeste foi construída pela esposa do Airton, com estrelas de isopor fixadas no teto com fita adesiva. A coluna da harmonia vinha de um velho aparelho de som, de há muito aposentado na casa do Nolla.

O nosso templo ficou uma beleza, pequeno e aconchegante, apesar do calor quase insuportável nas noites de verão. Não podíamos sequer abrir as janelas, pois seríamos vistos pelos transeuntes. Tudo era extremamente simples. Hoje, lembrando daqueles momentos mágicos, sinto muita saudade. Em meio a todas aquelas dificuldades éramos felizes e nos chamávamos, com muita sinceridade, de amados irmãos. O tempo passou, a Loja cresceu, o destino fez com que irmãos deixassem a Loja e outros fossem admitidos. A essência, entretanto, apesar de todos os percalços, permaneceu a mesma. Por isso, certo de que nossa maior obra foi saber escolher os novos iniciados, testemunhando a pujante Obreiros da Paz de nossos dias, posso satisfeito dizer: - Valeu a pena.

Fraiburgo(SC), 11 de dezembro de 2001.

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