A Galinha Reivindicativa Ou the Hen

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A galinha reivindicativa ou The hen´s liberation

Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova encontraram-se no fundo de um quintal e entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de frisar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim de seus dias. _ Ainda bem que você está satisfeito – disse a galinha. _ E tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, fêmea de espécie, posso estar satisfeita? Não posso. Todo dia pôr ovos, todo semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Mas agora a coisa vai mudar. Pode estar certo de que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho ovo. A patroa se quiser que arranje outra para esses ofícios. Comigo, não, violão!O velho galo ia ponderar filosoficamente que o galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem sua função específica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, passou a mão no pescoço da doidivanas e saiu com ela esperneando, dizendo bem alto: “A patroa tem razão: galinha que não choca nem põe oco só serve mesmo é pra panela”.

Moral: UM TRAVALHO POR JORNADA MANTÉM A FACA AFASTADA.

(FERNANDES, 1975, P.23)

Na fábula, o sujeito galinha é manipulado pela patroa e por sua condição de fêmea para pôr ovos e chocá-los: ela deve botar (intimidação pressuposta no texto) A manipulação, porém, não é bem sucedida, pois a galinha crê que a obrigação e a punição, caso não bote, parecem, mas não são verdadeiras, ou seja, ela interpreta como mentiroso o estado apresentado pela patroa e pelo galo e crê na sua interpretação. A patroa, além do fazer persuasivo, realiza também, por sua vez, um fazer interpretativo. Ela julga o estado resultante da ação ou da falta da ação da galinha: “galinha que não choca nem põe ovos serve mesmo é pra panela” Comparando a atitude da galinha com aquilo que já conhece, a patroa interpreta a galinha como verdadeiramente improdutiva (parece é) e nisso passa a acreditar. Como decorrência, o sujeito não cumpridor do contrato de “domesticidade da galinha” é sancionado negativamente: reconhecido como “má galinha” e punido com a panela.

O julgamento ou ato epistêmico é uma transformação de um estado de crença em outro. Para haver transformação, o sujeito que interpreta e julga realiza uma operação de reconhecimento de verdade, que consiste em comparar e identificar o que lhe é apresentado pelo sujeito do fazer persuasivo com o que ele já sabe ou com aquilo que ele crê.

Tendo sido a adequação reconhecida ou rejeitada, o sujeito aceita ou recusa o que lhe é proposto. A verdade ou falsidade constituem efeitos de sentido do julgamento epistêmico: o crer precede o saber e pertencem, ambos, a “um único e mesmo universo cognitivo” (GREIMAS, 1983, P.133).

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Diana Luz Pessoa. Teoria do discurso: fundamentos seminóticos. 3ed. São Paulo: Humanitas/FFLCH/ USP, 2001.