A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento,...

13
A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: ESTRATÉGIAS PARA EVITAR O CAOS Leonardo Varella Mirian Buss Gonçalves Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas RESUMO A Gestão de Doações é um aspecto importante e relevante nas operações de ajuda e resgate humanitários. Os necessitados precisam de provisões rapidamente e, para eventos aos quais a demanda é grande e incerta, as doações são usualmente o meio mais conveniente de atendimento à necessidades. Entretanto, pouco se trata academicamente sobre o assunto, ainda mais no Brasil. Este artigo busca apresentar os fatores críticos que contribuem para uma melhor gestão das doações dentro do contexto da logística humanitária, apresentando as principais forças motrizes para esta adoção, o contexto brasileiro de doações, as dificuldades e obstáculos nos processos logísticos e no planejamento estratégico, propondo ao final estratégias ligadas aos três principais fatores críticos pertinentes à Gestão de Doações identificados. Por fim, tecemos as conclusões e sugestões de pesquisas futuras que circundam este tema. ABSTRACT Donation Management is an important and relevant aspect in humanitarian aid and rescue operations. The need for quick provisions in events with large and uncertain demands make donations usually the most convenient patch for supporting and meeting such demands. However, little has been discussed on the subject, especially in Brazil. This paper presents some critical factors which contribute to a better efficient donations management within the humanitarian logistics, presenting some highlights around donations in Brazil - difficulties and obstacles in logistics processes and strategic planning - and further proposing strategies in the operational, tactical and strategic levels for organizational control of the Donations Management. Finally, we present the conclusions and suggestions for future researches surrounding this topic. 1. INTRODUÇÃO A Logística Humanitária é um processo de caráter complexo e altamente instável, pois envolve sérios desafios operacionais como: as incógnitas, tempo, treinamento logístico, meios de comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet et al. 2011). Situações adversas onde podem ser aplicados os conceitos logísticos para alívio e recuperação do estado inicial variam, como guerras, atentados terroristas, incêndios florestais, deslizamentos de terra, inundações, estiagem, secas, fome, refúgio, entre muitas outras. Para situações assim onde os conceitos logísticos tenham relevância no processo de preparação, resposta e na reconstrução e reestabelecimento das infraestruturas necessárias para a condição da vida, dá-se o nome de logística humanitária Nos lugares e nos tempos que são necessários, a tarefa básica da logística humanitária é a aquisição e a entrega de suprimentos (alimento, água, abrigo provisório, serviços médicos entre outros) sendo que durante a emergência é primordial a necessidade de responder prontamente a ocorrência (Loureiro, 2010). Os ambientes de ajuda humanitária possuem uma grande variedade de atores, cada um com diferentes conhecimentos, objetivos, interesses, capacidades e logística. Nestes ambientes comumente são necessários suprimentos, peças de vestuário e alimentos em quantidades e tempos que desafiam as demais operações logísticas. Tais processos logísticos humanitários se dão através das Cadeias de Suprimento Humanitárias (ou, abreviadamente, Cadeias Humanitárias). Um dos fatores críticos para o fluxo das operações logísticas humanitárias e para o gerenciamento das cadeias pertinentes é o a gestão de doações, um fluxo logístico com características únicas.

Transcript of A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento,...

Page 1: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: ESTRATÉGIAS PARA EVITAR O CAOS

Leonardo Varella Mirian Buss Gonçalves

Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas

RESUMO A Gestão de Doações é um aspecto importante e relevante nas operações de ajuda e resgate humanitários. Os necessitados precisam de provisões rapidamente e, para eventos aos quais a demanda é grande e incerta, as doações são usualmente o meio mais conveniente de atendimento à necessidades. Entretanto, pouco se trata academicamente sobre o assunto, ainda mais no Brasil. Este artigo busca apresentar os fatores críticos que contribuem para uma melhor gestão das doações dentro do contexto da logística humanitária, apresentando as principais forças motrizes para esta adoção, o contexto brasileiro de doações, as dificuldades e obstáculos nos processos logísticos e no planejamento estratégico, propondo ao final estratégias ligadas aos três principais fatores críticos pertinentes à Gestão de Doações identificados. Por fim, tecemos as conclusões e sugestões de pesquisas futuras que circundam este tema.

ABSTRACT Donation Management is an important and relevant aspect in humanitarian aid and rescue operations. The need for quick provisions in events with large and uncertain demands make donations usually the most convenient patch for supporting and meeting such demands. However, little has been discussed on the subject, especially in Brazil. This paper presents some critical factors which contribute to a better efficient donations management within the humanitarian logistics, presenting some highlights around donations in Brazil - difficulties and obstacles in logistics processes and strategic planning - and further proposing strategies in the operational, tactical and strategic levels for organizational control of the Donations Management. Finally, we present the conclusions and suggestions for future researches surrounding this topic.

1. INTRODUÇÃOA Logística Humanitária é um processo de caráter complexo e altamente instável, pois envolve sérios desafios operacionais como: as incógnitas, tempo, treinamento logístico, meios de comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet et al. 2011). Situações adversas onde podem ser aplicados os conceitos logísticos para alívio e recuperação do estado inicial variam, como guerras, atentados terroristas, incêndios florestais, deslizamentos de terra, inundações, estiagem, secas, fome, refúgio, entre muitas outras. Para situações assim onde os conceitos logísticos tenham relevância no processo de preparação, resposta e na reconstrução e reestabelecimento das infraestruturas necessárias para a condição da vida, dá-se o nome de logística humanitária Nos lugares e nos tempos que são necessários, a tarefa básica da logística humanitária é a aquisição e a entrega de suprimentos (alimento, água, abrigo provisório, serviços médicos entre outros) sendo que durante a emergência é primordial a necessidade de responder prontamente a ocorrência (Loureiro, 2010).

Os ambientes de ajuda humanitária possuem uma grande variedade de atores, cada um com diferentes conhecimentos, objetivos, interesses, capacidades e logística. Nestes ambientes comumente são necessários suprimentos, peças de vestuário e alimentos em quantidades e tempos que desafiam as demais operações logísticas. Tais processos logísticos humanitários se dão através das Cadeias de Suprimento Humanitárias (ou, abreviadamente, Cadeias Humanitárias). Um dos fatores críticos para o fluxo das operações logísticas humanitárias e para o gerenciamento das cadeias pertinentes é o a gestão de doações, um fluxo logístico com características únicas.

Page 2: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

Este artigo busca apresentar três propostas para uma gestão das doações em cadeias humanitárias mais eficiente e responsável, inserindo-as nos níveis estratégico, tático e operacional, levando em consideração o contexto brasileiro de desastres e de comportamento das doações, as dificuldades de implementação e os obstáculos e gargalos nos processos logísticos que estes podem ocasionar, ao mesmo passo que identifica os fatores críticos mais importantes neste processo. Por fim, sugere-se algumas linhas de pesquisa futuras que circundam este tema. 2. A LOGÍSTICA E O GERENCIAMENTO DE CADEIAS HUMANITÁRIAS A utilização do conceito logístico pode contribuir imensamente para o sucesso da operação de ajuda e socorro, humanitárias ou civis. O enfoque da Logística Humanitária é o uso de conceitos logísticos que venham a contribuir para as operações pertinentes a resgate, salvamento e recuperação da situação de normalidade. O Gerenciamento de Cadeia de Suprimentos Humanitárias é uma das atividades mais complexas no atendimento emergencial em situações de desastre. Não obstante a natural dificuldade que a situação de desastre gera, existem preocupações que envolvem pessoas e afetam diretamente o atendimento às questões necessárias para o alívio e suporte à região afetada. É um processo envolve os diversos estágios de uma tragédia, contemplando desde o início (atividades de identificação de problemas, reconhecimento da região, atendimento inicial às vítimas) até a conclusão de todas as tarefas de alívio necessárias, marcado por quatro estágios distintos: Mitigação; Preparação; Resposta; e Reconstrução (Cozzolino, 2012). Tomasini e Wassenhove (2009) ressalvam: “otimizar o desempenho logístico requer que as relações entre os atores envolvidos sejam administradas de maneira integrada, buscando eficientemente e efetivamente coordenar o desempenho Inter organizacional, eliminar redundâncias e maximizar a eficiência ao longo de toda a cadeia de suprimentos humanitária. A Logística em questão está mais focada na movimentação de algo ou alguém de um ponto de origem ao outro, enquanto a gestão da cadeia de suprimentos foca nas relações entre os atores envolvidos para que a movimentação em questão aconteça, e ambos estão crucialmente ligados as respostas aos desastres.” (Tomasini e Wassenhove, 2009). Os ambientes de ajuda humanitária ainda possuem uma grande variedade de atores, cada um com diferentes conhecimentos, objetivos, interesses, capacidades e logística. Para Balcik et al. (2010), na coordenação existem diversas interpretações dentro do ambiente de alívio, como recursos e informações (para realizar tarefas em setores diferentes, alimentos, água e saneamento e tecnologia de informação). De acordo com Simatupang e Snidharan, (2002) a ausência da coordenação entre os grupos (atores) da cadeia aumenta os prazos de entrega, custos de estoque e arrisca o serviço ao cliente. Kovács e Spens (2007) definem como principais atores que compõem a rede de abastecimento de ajuda humanitária: Os Prestadores de Serviço Logístico; Doadores; as Agências de Ajuda; os Militares; e os Governos; e Outras ONGS (Figura 1), onde estes se distinguem dentro dos processos logísticos envolvidos na Cadeia Humanitária.

Page 3: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

Figura 1: Atores da rede de abastecimento de ajuda humanitária Fonte: Kovács e Spens, 2007.

2.1. Fatores críticos de sucesso no Gerenciamento de Cadeias de Suprimento Humanitárias Gerenciar uma cadeia de suprimentos humanitária é uma tarefa árdua, dado seu alto nível de incerteza (quando tratamos de desastres) e pela dificuldade de estabelecer papéis de coordenação e atribuições para cada um dos diferentes atores envolvidos. Yadav e Barve (2015) procuraram elucidar os fatores críticos de sucesso na operação e gestão destas cadeias, que resultou em uma Modelagem Estrutural Interpretativa (Interpretive Structural Modeling – ISM) e, posteriori, uma análise MICMAC (Matrice d'Impacts Croisés Multiplication Appliquée á un Classement (Multiplicação de Matrizes de Cruzamento de Impactos Aplicada para a Classificação)) é feita para demonstrar as forças de dependência e as relações de poder envolvidas entre os fatores analisados. São eles: (1) Avaliação de riscos e necessidades; (2) Gestão de compras e doações; (3) Coordenação e colaboração entre os atores envolvidos; Desenvolvimento de competências em instituições e nas pessoas; Robustez na Tecnologia da Informação e Comunicação; Instalações e infraestrutura de transportes resilientes; Planejamento estratégico para sistemas de auxílio e alívio em situações de emergência; Agilidade nas cadeias de suprimento humanitárias; Políticas de governo, governança e infraestrutura organizacional; Sistemas de alerta e previsão de desastres; Gerenciamento de Estoques; Melhoria contínua nas práticas de preparação e resposta. A forma matricial hierárquica é apresentada na Figura 2:

Page 4: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

Figura 2: Fatores críticos de sucesso na Gestão de Cadeias Humanitárias Fonte: adaptado de Yadav e Barve, 2015.

3. A LOGÍSTICA DAS DOAÇÕES NAS CADEIAS HUMANITÁRIAS

3.1 Considerações Importantes na Gestão de Doações em Ambientes de Ajuda Humanitária O gerenciamento das doações em ambientes de ajuda humanitária é uma tarefa complexa e que deve ser planejada com antecedência sempre que possível. Para tanto, alguns dos principais problemas que ocorrem com as doações nestes ambientes (Holguín-Veras et. al, 2012):

• As doações para pessoas físicas (roupas, suprimentos e eletrodomésticos) aumenta deacordo com a poder de compra dos doadores (quão mais afortunados, melhor) e diminuiquando a distância entre os doadores e o desastre aumenta;

• A mídia possui um papel de grande influência na geração e controle da demanda;• O fluxo de doações é composto por um mix altamente heterogêneo de suprimentos de

alta prioridade (AP), baixa prioridade (BP) e não-prioritários (NP) – os impactosnegativos de suprimentos do tipo BP e NP são maiores nos pontos finais de distribuiçãodo que nos iniciais (ou seja, é melhor removê-los no início do que ao final dosprocessos). Para tanto, campanhas de conscientização são de grande ajuda;

• Cerca de 50% das doações transportadas para o ambiente do desastre podem ser deprodutos não-prioritários (NP), atrapalhando o fluxo de suprimentos AP e BP;

• Sistemas de informação que permitam a identificação e atendimento das reaisnecessidades – a natureza dinâmica e de diferentes atores torna esta tarefa em um fatorextremamente complexo. E essa complexidade – além de raramente estes sistemasinformarem que tipos de doações estão em curso e para onde – podem gerar distúrbios

Page 5: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

e acúmulo de suprimentos nas pontas da cadeia, principalmente de itens AP e BP, cuja necessidade existe e precisa ser atendida.

3.2 Os Problemas da Gestão de Doações no Brasil Destaca-se no Brasil o alto número de ocorrências de situações de desalojamento de pessoas, principalmente por fenômenos como enchentes e tornados (na Região Sul), inundações (Regiões Norte e Centro-Oeste) e deslizamentos de terra (Região Sudeste). Nos últimos anos, casos como as enchentes de 2008 e 2011 em Santa Catarina; a inundação na Amazônia em 2009 e 2012; e as enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro em 2011 todos necessitaram de doações de suprimentos e dinheiro para os afetados – mas não sem seus problemas.

Existem diversos relatos de furtos e desvios de donativos e de dinheiro para atender os necessitados, entre eles: durante a campanha para distribuição de donativos nas enchentes de 2008 no Vale do Rio Itajaí (Santa Catarina), Sylos (2008) relatou furtos e desvio de donativos - cerca de 300 mil peças de roupas doadas destinadas a cidade de Ilhota eram vendidas por R$ 1,00 em um brechó improvisado; um casal de voluntários foi flagrado desviando produtos em um galpão em Blumenau; e Soldados do Exército também foram flagrados com mochilas cheias de donativos. Não obstante, temos o problema de desperdício também, como relatado por Sylos (2008): Seis meses após o desastre ainda haviam pilhas de roupas e sapatos. Cerca de 9 contêineres cheios de donativos, volume aproximado de 125 toneladas – 70 delas consideradas lixo pela prefeitura e descartadas; Sobraram cerca de 28 toneladas de sapatos após os desastres: o galpão ficou aberto com donativos para toda a população, permitindo inclusive frete paraoutras cidades até o dia 30 do mês de maio de 2009 – quase 9 meses após o desastre. A justificativa do prefeito: “Se nós pecamos foi pelo excesso e não pela omissão. Não podíamos jogar as peças fora ou deixá-las apodrecer. A única opção era enviar para outras cidades”;

Turollo Jr (2014) informa de investigações na Cruz Vermelha Brasileira, com suspeitas de desvios na ordem de R$15,8 milhões de dinheiro que seria destinado a causas como a Seca na Somália, os fortes terremotos que abalaram o Japão e as chuvas da região serrana no Rio de Janeiro, todos eventos ocorridos em 2011. Balza (2011) reporta a suspeita de um vereador de São Paulo em um suposto esquema de desvio de donativos recolhidos pela Defesa Civil paulistana para as vítimas das chuvas da região serrana do Rio; o flagrante de dois homens presos tentando desviar um caminhão emprestado carregado de doações para os desabrigados das chuvas no Rio, em Janeiro de 2011; e até mesmo prefeitos e bombeiros envolvidos em desvios em Alagoas em 2011 – desvios ocorridos em meio a um novo episódio de enchentes, onde novamente donativos eram necessários.

4. OS FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NA GESTÃO DE DOAÇÕES:OPERACIONAL, TÁTICO E ESTRATÉGICO

4.1. Fatores críticos para o sucesso na Gestão de Doações Os fatores críticos para o sucesso nas operações de Gestão de Doações no contexto humanitário podem ser identificados através do isolamento e análise da interdependência e relevância das operações envolvidas, resultante da análise MICMAC da modelo interpretativo estrutural do trabalho de Yadav e Barve (2015): Gerenciamento de Estoques; Avaliação de Riscos e Necessidades; Coordenação e colaboração entre os atores envolvidos; Instalações e infraestrutura de transportes resilientes; Sistemas de alerta e previsão de desastres;

Page 6: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

Planejamento estratégico para sistemas de auxílio e alívio em situações de emergência; Robustez na Tecnologia da Informação e Comunicação; e Políticas de Governo, Governança e Estrutura Organizacional. A Figura 3 apresenta-os na sua forma matricial hierárquica.

Figura 3: Fatores críticos de sucesso na Gestão de Doações Fonte: os autores (adaptado de Yadav e Barve, 2015).

Os processos que estão englobados pela linha tracejada possuem relação com a Gestão de Doações dentro do contexto humanitário (Figura 3): Gerenciamento de Estoques e Avaliação de riscos e necessidades (nível IV); Instalações e infraestrutura de transporte resilientes; Coordenação e colaboração entre os atores envolvidos; Sistemas de alerta e previsão de desastres (nível III); Planejamento estratégico para sistemas de auxílio e alívio em situações de emergência; Robustez na Tecnologia da Informação e Comunicação (nível II) e Políticas de Governo, Governança e Estrutura Organizacional (nível I).

4.1.1. Colaboração em Cadeias de Suprimento Humanitárias Astley e Fombrun (1983, apud Chandes e Paché, 2010) apresentaram um conjunto de estratégias de voluntariado coletivas, buscando provar que até as mais dinâmicas organizações são capazes de controlar seu destino em conjunto. Foram identificados quatro tipos de estratégias coletivas, de grau maior para menor em nível de colaboração entre os envolvidos:

1. Comensalista: entre organizações que fazem uso de um mesmo escopo (relaçõeshorizontais)

2. Simbiótica: entre organizações que se complementam entre si (relações verticais)3. Direta: onde as empresas se agrupam e definem as benesses previamente por contrato;

Page 7: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

4. Indireta: ligações formais ou informais.

A identificação de diferentes tipos de parceria é importante para a formulação de estratégias com os principais atores em eventos de desastre e ajuda humanitária. Estratégias coletivas, baseadas no compartilhamento de informações, recursos e competências, ajudam a limitar o impacto de turbulências ambientais geradas por ações independentes de cada um dos atores em cena, que muitas vezes tomam decisões contraditórias na análise das organizações envolvidas. A falta de coordenação entre os atores envolvidos pode paralisar a operação das cadeias de suprimento (Astley e Fombrun, 1983 apud Chandes e Paché, 2010). Varella et al. (2014) afirmam que, para que haja colaboração nas operações e atividades envolvidas com a Logística Humanitária, é preciso haver:

• Integração: Alto envolvimento de questões de TIC e entre os atores envolvidos –compartilhamento de sistemas de transporte e armazenagem

• Confiança: Questões de governança e atribuições para cada órgão / unidade• Treinamento: Para tanto, o treinamento contínuo e o estímulo a sinergia são

fundamentais para sustento destas premissas.

4.1.2. A Importância do Planejamento Estratégico O objetivo do planejamento estratégico em cadeias de suprimento é “estruturar cadeias de suprimentos e fornecedores mais eficientes e eficazes, que possibilitem o menor custo à melhor possibilidade de mercado, onde decisões em antecedência são carregadas de incerteza e alto grau de expectativa (...) o planejamento estratégico está alicerçado no nas estruturas de comunicação e logísticas: planejamento colaborativo, compartilhamento de informações e a busca pela sincronia entre fornecedores e a necessidade dos consumidores” (Hicks, 1999)

Oloruntoba (2015) apresenta um modelo conceitual de planejamento estratégico para cadeias de suprimentos humanitárias que se baseia em quarto fatores principais: (a) reestruturação do meio-ambiente e da economia das comunidades afetadas; (b) a definição, sequenciamento e priorização das fases logísticas de assistência e atendimento humanitário; (c) inclusão social, participação da comunidade e construção em consenso com as vontades e necessidades locais (BBB – Build Back Better); e (d) manter uma visão integrada de todas as atividades de logística humanitária e todos os processos envolvidos/apoiados.

4.1.3. Políticas de Governo, Governança e Estrutura Organizacional As questões de Governança permeiam o ambiente humanitário pois muito dos atores envolvidos, conforme visto anteriormente, são representações de Governos, Órgãos Internacionais e Organizações Não-Governamentais, instituições que lidam com dinheiro público ou provindo de outros fundos aos quais aspectos de transparência e contabilidade financeira dão credibilidade e imagem para sua permanência e existência. Oliveira (2015) desenvolveu um Modelo de Governança Humanitária chamado o Triplo P – alicerçado em três pilares:

1. Promover a excelência no atendimento às necessidades: Buscar identificar e atenderno menor prazo o Sinal de Demanda (SD), que se dá no exato momento que o desastreocorre e cujo valor varia de acordo com o tempo. Perceber e responder rapidamenteao SD é crucial para um melhor atendimento aos necessitados – deixa-lo fluir com amenor interrupção possível em toda a cadeia;

Page 8: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

2. Preparar e Prever para Governar: é a aplicação do Business Inteligence (BI) – éresponsável pela estratégia e pelos dinamismos envolvidos. Dimensionar impactos,área de atuação, formas de comunicação, procedimentos de alerta e sinais para moveros fluxos nas cadeias, entre outras; e

3. Prover uma estratégia de financiamento adequada: Para atender as necessidades, sãonecessários suprimentos e também apoio financeiro para todas as operações einterações entre os envolvidos. O financiamento adequado existe quando: o dinheiroestá presente no momento certo; ele é aplicado diretamente as necessidades dasvítimas; e possui mecanismos de transparência nas contas para prestação ecredibilidade no trabalho desenvolvido.

O Modelo de Governança Humanitária dos Três Ps é baseado em cinco mecanismos de estratégia que requerem coordenação de conhecimento funcional cruzado entre os envolvidos: (1) Capturar o Sinal de Demanda (DS); (2) Definir a estratégia de atendimento das necessidades; (3) Gestão de compras, doações e voluntariado; (4) Estratégias de Financiamento; e (5) Planejamento e Previsão de Necessidades. (Oliveira, 2015)

No Brasil, questões de Gestão de Doações deveriam ser cobertas na elaboração de Planos de Contingência Municipais – PCMs. De acordo com a Lei 12.608/2012, há a inclusão do Art. 3º - II: “elaborar Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil e instituir órgãos municipais de defesa civil, de acordo com os procedimentos estabelecidos pelo órgão central do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC” (Brasil, Lei 12.608/2012, 2012). No Manual de Manual de Orientações para a Produção do Plano Municipal de Contingencia – PLAMCON a única menção de esforços em direção a questão da Gestão de Doações está presente no item “4.3.3.2 Assistência às Vítimas – Recebimento, organização e distribuição de doações: O que é, quem executa? Quando e como ele é realizado? Quais são os recursos humanos e materiais disponíveis?” (Defesa Civil, 2012).

Destaca-se no trabalho de Yadav e Barve (2015) a relação direta de hierarquia entre a Gestão de Doações e a Colaboração e Coordenação. É possível afirmar, portanto, que a relação direta explicita a importância maior da colaboração e da coordenação dos processos como fator crítico de maior relevância para a Gestão de Doações nas cadeias de suprimentos humanitárias; não só, é possível também identificar em ordem hierárquica e de importância – do estratégico até o operacional – os fatores críticos mais relevantes para a Gestão de Doações no contexto humanitário: Coordenação e colaboração entre os atores envolvidos ([1] - nível III); Planejamento Estratégico para Sistemas de Auxílio e Alívio em Situações de Emergência ([2] – nível II); e Políticas de Governo, Governança e Estrutura Organizacional ([3] – nível I).Dentro destes fatores críticos, que ações podem ser tomadas para a melhoria do processo de Gestão de Doações em situações de desastre no Brasil? Através da literatura e do entendimento da diversidade de situações e localidades onde tais ações possam ser aplicadas, chegou-se a três propostas com enfoque para a melhoria dos processos logísticos envolvidos nos três níveis abaixo da Gestão de Doações:

• Uso das Forças Armadas, LSP na Gestão de Doações (Coordenação e colaboração entreos atores envolvidos);

• Envolvimento da Mídia e Identificação do Sinal de Demanda – como identificar, o quefazer (ferramenta para o provisionamento durante o Planejamento estratégico parasistemas de auxílio e alívio em situações de emergência);

Page 9: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

• Políticas de Gestão de Doações nos PCM (Políticas de Governo, Governança e EstruturaOrganizacional).

4.2. Propostas para melhoria na Gestão de Doações em Cadeias Humanitárias nos níveis operacional, tático e estratégico Compreendida e analisada o contexto de realidade ao qual a Gestão de Doações está inserida no Brasil, e tendo em vista a falta de referências que guiem algumas das operações logísticas envolvidas nesta cadeia, propuseram-se três frentes para melhorar a eficiência deste processos nos níveis operacional, tático e estratégico da cadeia de Doações.

4.2.1 O Papel das Forças Armadas e de PSLs nas Doações No Brasil há uma considerável presença das Forças Armadas nas atividades de ajuda e alívio humanitário, visto que sua incumbência, de acordo com Varella et al. (2013) “Proteger os interesses nacionais, cooperar com o desenvolvimento nacional e bem estar-social, em permanente estado de prontidão para garantir a soberania nacional são as incumbências do Exército Brasileiro.”. Salienta-se atividades onde há correlação entre as executadas por militares e por organizações de ajuda humanitária e que podem ser objeto de colaboração em nível operacional, entre elas o transporte e armazenamento de suprimentos e doações, podendo esta acontecer em nível simbiótico. Entretanto, no Brasil a sinergia entre os militares brasileiros e as entidades civis de assistência humanitária se dá em especial na fase de preparação: treinamento, planejamento de cenários e discussão dos papéis de atuação de cada ator envolvido – estas em nível simbiótico (1) – porém atividades operacionais e de resposta, como triagem,transporte, armazenagem e distribuição de última milha, quando acontecem de forma colaborativa com outras agências, se dão principalmente de forma indireta (4), forma mais fraca e relativamente informal de colaboração – estas poderiam ser feitas por militares com atribuições específicas e relativas as competências mais necessárias dos militares – presença ostensiva em território nacional e contingente treinado.

Foi analisada também a importância da utilização de Prestadores de Serviços Logísticos (PSLs) dentro do contexto humanitário, em especial na gestão das doações – estes são principalmente coordenados pelas prefeituras municipais ou pela secretaria de Defesa Civil do Estado. A importância da utilização de PSLs no contexto humanitário é evidenciada nos estudos de Vega e Roussat, 2015; Agrawal et al., 2015; Abidi et al., 2015; Heaslip, G, 2014; e Audy et al., 2012. Dentre estes, destaca-se as proposições de Vega e Roussat (2015):

1. PSLs são componentes das cadeias de suprimentos humanitárias capazes de promovero estado-da-arte no desempenho logístico de operações envolvidas nas cadeiashumanitárias

2. PSLs podem desempenhar diversos papéis nas cadeias humanitárias, participando desdequestões estratégicas até operacionais em diferentes campos sem overlapping defunções;

Os PSLs que atuam como (1) atores envolvidos na causa humanitária podem sustentar uma relação de ganha-ganha em duas grandes frentes: Responsabilidade Social Organizacional; e Operações de Gestão de Doações (Vega e Roussat, 2015). Isso se dá pois a organização que se apoiar em auxiliar na logística das doações pode beneficiar-se da boa visibilidade pública que se dá a este tipo de cooperação. Contribuições assim garantem a ambas as partes “benefícios mútuos na forma de transferência de conhecimento, utilização compartilhada de recursos e na aproximação do poder público com o privado nas redes” (Maether, 2010 apud Vega e Roussat,

Page 10: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

2015). Quando utilizados como ferramentas (2), Vega e Roussat (2015) podem ser úteis fornecendo abrigos e armazéns para estocagem e triagem de material, transporte de última milha e apoio a demais operações logísticas (localização de facilidades para distribuição das doações, empacotamento de kits e cestas básicas, descarregamento de suprimentos e equipamentos), e podem contribuir para o design estratégico e coordenar a gestão de outras operações também nas fases de preparação e recuperação. Observa-se que para a atuação nestas duas frentes, as competências essenciais para a colaboração em cadeias de suprimentos humanitárias preconizadas por Varella et al. (2014) estão presentes: (1) Integração: Alto envolvimento de questões de TIC e entre os envolvidos – compartilhamento de sistemas de transporte e armazenagem; (2) Confiança: Questões de governança e atribuições para cada ator; e (3) Treinamento: Para tanto, o treinamento contínuo e o estímulo a sinergia são fundamentais para sustento destas premissas.

4.2.2 O Envolvimento da Mídia e a Importância do Sinal de Demanda A importância do envolvimento da mídia na Gestão das Doações é de suma relevância para o sucesso das operações logísticas envolvidas. Os principais atores envolvidos na resposta a desastres devem estar cientes de educar, indicar a maneira mais adequada de se retratar as questões do desastre, fazendo todos entenderem as circunstâncias enfrentadas e a necessidade de ponderação neste momento, visto que suas reportagens podem impactar a resposta em si (Holguín-Veras et. al, 2012). No quesito doações voluntárias para eventos com repercussão na mídia, estudos atestam o impacto da publicidade no número total de doações (Morgan, S. E. et al., 2005; Reis e Carraro, 2012).

O Sinal de Demanda (DS) é outro aspecto importante a ser observado em um desastre. O Sinal de Demanda é o indicativo de acionamento das cadeias logísticas envolvidas nas operações de alívio e suporte humanitário. Oliveira (2015) destaca sua importância: “O sinal de demanda (as necessidades atuais das vítimas) precisa fluir rapidamente e livre de distorções do campo através dos Executores até os Conectores. Estes Conectores traduzem as necessidades das vítimas em demandas de aquisição de recursos e compartilham esta informação tanto com Coletores quanto com Compradores – os Coletores ativam o ciclo de doações (estabelecem a Rede de Doações e as atribuições para sua gestão) com os Voluntários e Doadores, enquanto os Compradores ativam a rede de Fornecedores” (Oliveira, 2015). Tão importante quanto o Sinal de Demanda é capturar o Ponto de Inflexão dentro de um Regime de Doações, a fim de identificar o momento em que a cadeia de suprimentos para produtos e os serviços necessários (itens AP e BP) deixam o regime de Demanda Puxada (quando as necessidades é gerada pelos clientes, no momento inicial da fase de resposta) para o regime de Demanda Empurrada (quando os itens necessários são buscados através de ordens, e o fluxo livre de doações já não é mais necessário). A identificação deste ponto de inflexão pode servir de sinal para a contenção de esforços midiáticos em torno das doações e pode ajudar a coordenar os esforços para outras tarefas.

4.2.3 Políticas de Gestão de Doações Integradas aos Planos de Contingência Municipais Políticas de Governança em Cadeias Humanitárias são falhas desde seus estágios iniciais quando as vítimas são consideradas como clientes da estratégia e não shareholders e também quando os atores envolvidos são categorizados de acordo com seus papéis funcionais ao invés de serem categorizados por sua bagagem de conhecimento e competências (Oliveira, 2015). Infelizmente, essa realidade está presente no Brasil, uma vez que a Gestão de Doações raramente é tratada nas já esparsas tentativas de implementação de políticas estratégicas de

Page 11: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

auxílio humanitário e em desastres. Uma abordagem estratégica em nível local das doações pode contribuir imensamente com o desempenho destas operações.

Baseado nas conjunturas sobre o assunto de Oloruntoba (2015), políticas que podem influenciar a Gestão de Doações na questão de Governança são:

• Identificação prévia de tipologias: demografia, população a ser atendida, característicasculturais, necessidades históricas, adiantar gargalos: O conhecimento prévio dá maiorconfiabilidade as necessidades e a informações realistas sobre o que deve ser requisitadopara doação e o que deve ser evitado. O mapeamento das necessidades com umapreparação prévia resulta na melhoria na qualidade dos serviços, na precisão (menoríndice de erros) e diminui o tempo de resposta das operações;

• Sequenciamento das tarefas e a atribuição de cada um dos atores aos processos logísticosde suas competências: O planejamento detalhado leva ao correto sequenciamento dasfases e operações e na priorização das reais necessidades e a definição correta dos papéisde cada um dos atores, sempre embasado nas suas competências e no conhecimento daspessoas envolvidas;

• Envolvimento social, participação da comunidade em ações de envolvimento direto comos afetados pelo desastre, contribuindo para a construção de laços de confiança entre osajudantes e os ajudados – requer treinamento e acompanhamento no local

• Levantamento prévio dos fornecedores regionais de materiais de Alta Prioridade (AP) eBaixa Prioridade (BP) e de estratégias de entrega (Nuss, 2014)

• Aporte Financeiro imediato para resposta rápida para o estabelecimento e design daRede Logística de Doações, mobilizando espaços, pessoas e mídia (Nuss, 2014)

Nenhuma das propostas levantadas são contempladas na Gestão de Doações dentro do Manual de Orientações para a Produção do Plano Municipal de Contingencia – PLAMCON. A falta de objetividade na asserção das atribuições, na falta de levantamento de tópicos importantes como a questão de atribuição de competências à órgãos específicos, responsabilidade, transparência, questões pós-desastre, entre outros tantos pontos importantes são negligenciados – o que se reflete a realidade brasileira conforme visto nos relatos de doações no alívio a desastres

5. CONCLUSÕESCompreendida a inerência da colaboração na logística humanitária, a importância na Gestão de Doações, os órgãos e atores envolvida, a necessidade do estabelecimento estratégias colaborativas para a gestão destas operações, foram propostas três frentes de atuação para a melhoria da situação no cenário brasileiro atual: Uso das Forças Armadas, LSP na Gestão de Doações (Coordenação e colaboração entre os atores envolvidos); Envolvimento da Mídia e Identificação do Sinal de Demanda – como identificar, o que fazer (ferramenta para o provisionamento durante o Planejamento estratégico para sistemas de auxílio e alívio em situações de emergência); e Políticas de Gestão de Doações nos PCM (Políticas de Governo, Governança e Estrutura Organizacional).

Visto os diversos relatos de problemas crônicos nas questões mais simples e impactantes nas ações de coleta e doação de suprimentos para desabrigados em situações de desastre no Brasil, era de se esperar um maior desenvolvimento acerca do tema pelos órgãos competentes e pelas ferramentas e pelo manual de elaboração de PCMs da Defesa Civil. Entretanto, o que se viu foram poucas – quando nenhuma – referências sobre este fluxo logístico pertinente a ocasião de eventos calamitosos. São necessários maiores estudos sobre o impacto da mídia nas doações,

Page 12: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

das questões de demanda (puxada/empurrada) e nas políticas de governança a serem estabelecidas nestas ocasiões. Dito, é necessário também avaliar as diretrizes que guiam o PLAMCON, pois o que foi observado foram vagas citações de tarefas e atribuições. Uma análise de PCMs prontos poderia indicar pontos fracos e elucidar quais competências precisam ser reforçadas nas edições posteriores destes manuais, sob pena da sociedade estar à mercê do despreparo e de serviços de alívio a desastres sub-otimizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abidi, H.; de Leeuw, S.; Klumpp, M. (2015). The value of fourth-party logistics services in the humanitarian supply chain. Journal of Humanitarian Logistics and Supply Chain Management, 5(1), 35-60.

Agrawal, S.; Singh, R. K.; Murtaza, Q. (2015). A literature review and perspectives in reverse logistics. Resources, Conservation and Recycling, 97, 76-92.

Audy, J.-F.; Lehoux, N.; D'Amours, S.; Rönnqvist, M. (2012), A framework for an efficient implementation of logistics collaborations. International Transactions in Operational Research, 19: 633–657. doi: 10.1111/j.1475-3995.2010.00799.x

Balcik, B.; Beamon, B. M.; Krejci, C. C.; Muramatsu, K. M.; Ramirez, M. (2010). Coordination in humanitarian relief chains: Practices, challenges and opportunities. International Journal of Production Economics, 126(1), 22-34.

Balza, G. (2011) Desvios de donativos tornam-se recorrentes no Brasil; doações minguam em Alagoas Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/05/13/desvios-de-donativos-tornam-se-recorrentes-no-brasil-doacoes-minguam-em-alagoas.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015

Brasil. (2012) Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Chandes, J.; Paché, G. (2010). Investigating humanitarian logistics issues: from operations management to

strategic action. Journal of Manufacturing Technology Management, 21(3), 320-340. Cozzolino, A. (2012) Humanitarian Logistics: Cross-Sector Cooperation in Disaster Relief Management. Springer.

ISBN 978-3-642-30186-5 doi 10.1007/978-3-642-30186-5 Defesa Civil de Alagoas. Manual de Orientações para a Produção do Plano Municipal de Contingencia -

PLAMCON, 2012. 33p Heaslip, G. (2014). The increasing importance of services in humanitarian logistics. Humanitarian Logistics:

Meeting the Challenge of Preparing for and Responding to Disasters, Kogan Page Publishers. Hicks, D.A. (1999), “The state of supply chain strategy”, IIE Solutions, Vol. 31 No. 8, pp. 24-9. Holguín-Veras, J.; Jaller, M.; Van Wassenhove, L. N.; Pérez, N.; Wachtendorf, T. (2012). Material convergence:

Important and understudied disaster phenomenon. Natural Hazards Review, 15(1), 1-12. Kovács G.; Spens, K. (2007) Humanitarian logistics in disaster relief operations. International Journal of Physical

Distribution & Logistics Management Vol. 37 No. 2, pp. 99-114. Loureiro, M. D. M. R. (2010) Optimização de Rotas de Transporte de Doentes Programados: O Caso da Cruz

Vermelha Portuguesa Amadora – Sintra. Dissertação em Engenharia e Gestão Industrial. IST - Universidade Técnica de Lisboa.

Morgan, S. E.; Harrison, T. R.; Long, S. D.; Afifi, W. A.; Stephenson, M. S.; Reichert, T. (2005) Family discussions about organ donation: how the media influences opinions about donation decisions. Clinical Transplantation, 19: 674–682. doi: 10.1111/j.1399-0012.2005.00407.x

Nogueira, C.W. (2010) O enfoque da logística humanitária na localização de uma central de inteligência e suporte para situações emergenciais e no desenvolvimento de uma rede dinâmica. Tese (Doutorado). Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, SC.

Nuss, C.; Sahamie, R.; Stindt, D. (2014), The Reverse Supply Chain Planning Matrix: A Classification Scheme for Planning Problems in Reverse Logistics. International Journal of Management Reviews. doi: 10.1111/ijmr.12046

Oliveira, A. (2015). "Triple P - Humanitarian Supply Network Governance Model Part 1 - Introduction." Oloruntoba, R. (2015). A Planning and Decision-Making Framework for Sustainable Humanitarian Logistics in

Disaster Response. In Humanitarian Logistics and Sustainability (pp. 31-48). Springer International Publishing.

Overstreet R. E.; Hall, D.; Hanna, J. B.; Rainer Jr, R. K. (2011) "Research in humanitarian logistics", Journal of Humanitarian Logistics and Supply Chain Management, Vol. 1 Iss: 2, pp.114 – 131

Reis, G. C., Carraro, A. M. (2012) “Uma Nova Dimensão do Trabalho do Assistente Social na Área da Saúde” Revista de Serviços Sociais – Universidade Estadual de Londrina UEL.

Page 13: A GESTÃO DAS DOAÇÕES NA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: … · comunicação e financiamento, equipamentos e tecnologia de informação e interferências (Overstreet . et al. 2011). Situações

Simatupang, T. M.; Sridharan, R. (2002). The collaborative supply chain. The International Journal of Logistics Management, 13(1), 15-30.

Sylos, Gabriela. (2009) Doações arrecadadas em Santa Catarina ainda são alvo de roubo e desperdício. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/especial/santa-catarina/ult7457u8.jhtm>. Acesso em: 20 jun. 2015

Tomassini, R.; Van Wassenhove, L. (2009) Humanitarian logistics. Macmillan Palgrave: London. ISBN 978-3-319-15455-8

Turollo Jr, Reinaldo. (2014) Cruz Vermelha desviou doação de campanhas humanitárias, diz auditoria. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/07/1490958-cruz-vermelha-desviou-doacao-de-campanhas-humanitarias-diz-auditoria.shtml>. Acesso em: 20 jun. 2015

Varella, L.; Maciel Neto, T.; Buss, M. B.; (2013) Logística Militar X Logística Humanitária: Conceitos, Relações e Operações das Forças Armadas Brasileiras. In: XXVII ANPET, 2013, Belém, PA. XXVII ANPET - Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes, 2014.

Varella, L.; Maciel Neto, T.; Buss, M. B.; (2014) Competências Que Impulsionam a Colaboração nas Cadeias de Suprimentos Humanitárias. In: XXVIII ANPET, Curitiba, PR. XXVII ANPET - Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes, 2014.

Vega, D.; C. Roussat (2015). "Humanitarian logistics: the role of logistics service providers." International Journal of Physical Distribution & Logistics Management 45(4): 352-375.

Yadav, D. K.; A. Barve (2015). "Analysis of critical success factors of humanitarian supply chain: An application of Interpretive Structural Modeling." International Journal of Disaster Risk Reduction 12: 213-225.