A GUILDA DE FORMICIDAE QUE NIDIFICAM EM CONCHAS DE ... · a guilda de formicidae que nidificam em...

4
A GUILDA DE FORMICIDAE QUE NIDIFICAM EM CONCHAS DE GASTROPODES TERRE STRE S NOS AGROSSISTEMAS CACAUEIROS DO SUDESTE DA BAHIA. BENOIT JAHYNy,,2, LUCIMEIRE DE S. RAMOSl, SEBASTIEN LACAU1,3, DOMINIQUE FRESNEAU 2, JACQUES H.C. DELABIE 1 lU.P.A..Laboratorio de Mirmecologia, Convenio CEPLAC / UESC, Centro de Pesquisa do Cacau, CEPLAC, C.P. 7, 45600-000 Itabuna, BA, Brasil. 2Laboratoire d'Ethologie Experimentale et Comparee (CNRS FRE 2413), Universite Paris-Nord, 99, avenue J.-B. Clement, 93430 Villetaneuse, Franya. [email protected] 3Laboratoire d'Entomologie, AMNH, 45 rue Buffon, 75005 Paris, Franya Introdu~ao As formigas vivem na maioria dos nichos ecologicos terrestres, corn a exceyao das regi5es mais frias do planeta. Elas podem nidificar desde a parte mais alta da copa das arvores ate varios metros debaixo do chao (ver Holldobler & Wilson, 1990). Algumas constroem seu proprio ninho enquanto outras utilizam cavidades naturais preexistentes tais coma as Ecitoninae, muitas Ponerinae e Myrmicinae, assim coma especies de outros grupos. E tambem 0 caso das conchas de gastropodes terrestres (Gastropoda Pulmonata), ocupadas por uma serie de especies de formigas e que sao objetos do presente estudo. Material e Metodo Foi realizada uma serie de coletas exaustivas das conchas abandonadas de gastropodes pulmonados no chao (serapilheira) em dois cacauais de tipo "cabruca" na Fazenda Recreio em IlMus, Estado da Bahia, distantes de 500 metros urn do outro, e numa terceira area situada na Fazenda Engenho Novo, Itororo, Bahia, a 170 km das duas precedentes. Para cada concha, no campo, foram anotadas a orientayao da sua abertura (em direyao ao solo, ao ceu ou deitada) e a espessura da serapilheira. No laboratorio, foi identificado 0 tipo de concha, seu comprimento, seu estado de decomposiyao/conservayao, e seu conteudo, em particular presenya/ausencia de colonias de formigas corn sua identificayao especifica. Especimens (vouchers) do material coletado estao depositados na coleyao do Laboratorio de Mirmecologia. 426

Transcript of A GUILDA DE FORMICIDAE QUE NIDIFICAM EM CONCHAS DE ... · a guilda de formicidae que nidificam em...

A GUILDA DE FORMICIDAE QUE NIDIFICAM EM CONCHAS DEGASTROPODES TERRE STRE S NOS AGROSSISTEMASCACAUEIROS DO SUDESTE DA BAHIA.

BENOIT JAHYNy,,2, LUCIMEIRE DE S. RAMOSl, SEBASTIEN LACAU1,3,

DOMINIQUE FRESNEAU 2, JACQUES H.C. DELABIE 1

lU.P.A..Laboratorio de Mirmecologia, Convenio CEPLAC / UESC, Centro dePesquisa do Cacau, CEPLAC, C.P. 7, 45600-000 Itabuna, BA, Brasil.2Laboratoire d'Ethologie Experimentale et Comparee (CNRS FRE 2413),Universite Paris-Nord, 99, avenue J.-B. Clement, 93430 Villetaneuse, [email protected] 3Laboratoire d'Entomologie, AMNH, 45rue Buffon, 75005 Paris, Franya

Introdu~aoAs formigas vivem na maioria dos nichos ecologicos terrestres, corn a exceyaodas regi5es mais frias do planeta. Elas podem nidificar desde a parte mais altada copa das arvores ate varios metros debaixo do chao (ver Holldobler &Wilson, 1990). Algumas constroem seu proprio ninho enquanto outras utilizamcavidades naturais preexistentes tais coma as Ecitoninae, muitas Ponerinae eMyrmicinae, assim coma especies de outros grupos. E tambem 0 caso das

conchas de gastropodes terrestres (Gastropoda Pulmonata), ocupadas por umaserie de especies de formigas e que sao objetos do presente estudo.

Material e MetodoFoi realizada uma serie de coletas exaustivas das conchas abandonadas de

gastropodes pulmonados no chao (serapilheira) em dois cacauais de tipo"cabruca" na Fazenda Recreio em IlMus, Estado da Bahia, distantes de 500metros urn do outro, e numa terceira area situada na Fazenda Engenho Novo,Itororo, Bahia, a 170 km das duas precedentes. Para cada concha, no campo,foram anotadas a orientayao da sua abertura (em direyao ao solo, ao ceu oudeitada) e a espessura da serapilheira. No laboratorio, foi identificado 0 tipo deconcha, seu comprimento, seu estado de decomposiyao/conservayao, e seuconteudo, em particular presenya/ausencia de colonias de formigas corn suaidentificayao especifica. Especimens (vouchers) do material coletado estaodepositados na coleyao do Laboratorio de Mirmecologia.

426

Benoa
Note
Jahyny B., Ramos L.S., Lacau S., Fresneau D., Delabie J.H.C. (2003). “A guilda de Formicidae que nidifica em conchas de gastropodes terrestres nos agrossistemas cacaueiros do sudeste da Bahia.” XVI Simpósio de Mirmecologia, 14 a 19 de setembro de 2003 -Florianópolis, SC, Brasil : p. 426-428

ResuItados

Foram coletadas 557 conchas pertencentes a sete especies de gastr6podes.Vinte e seis porcento dessas conchas abrigavam pelo menos uma especie deformiga. Os generos altamente cripticos Octastruma (principalmente 0.petia/ata e 0. rugifera) e Thaumatamyrmex (Thaumatamyrmex. spI. etThaumatamyrmex sp.2) (ver Oelabie et aI., 1995, 2000a e b) saG os maisfreqtientes neste tipo de cavidades naturais. Ambos generos representam 65,4%das ocorrencias de formigas. Eles ocupam as conchas de mesmo padrao ecomprimento, sendo que 0 primeiro nidifica exclusivamente em conchas cheiasde terra, enquanto 0 segundo ocupam conchas limpas (ou quase) de qua1quertipo de substrato. Uma provavel associayao entre as Myrmicinae AttiniApterastigma madidiense Weber e Cyphamyrmex transversus Emery foitambem observada.

DiscussaoAo inves do que se esperava, 0 volume interior disponivel nas conchas naoaparenta ser uma barreira para as especies cujo 0 tamanho dos individuos e daspopulayoes e reduzido. As limitayoes parecem mais ligadas a existencia de uma(mica entrada e, consequentemente, a ausencia de uma opyao de saidapermitindo a fuga em caso do surgimento de algum predador perto da entrada.No entanto, os primeiros resultados evidenciam que algumas especiesdesenvolveram estrategias de defesa especialmente adaptadas a este tipo decavidade natural. Lembra-se que urn dos mais importantes perigos para asespecies que nidificam ao nivel do chao em areas de florestas da RegiaoNeotropical e a predayao pe1as formigas de correiyao Ecitoninae (Sudd &Franks, 1987) e estas formigas tern certamente muita influencia sobre a seleyaode estrategias de defesa pe1asespecies que nidificam na serapilheira em geral.Outros fatores podem limitar a instalayao de colonias de formigas nas conchas,que, apesar de impermeaveis e resistentes, nao escapam as variayoes dascondiyoes climaticas. Elas podem assim ser deslocadas vertica1mente (seincrustando no chao) ou horizontalmente (rolar num solo em declivo), quando,por exemplo, ocorrem as violentas chuvas comuns na regiao. Nesse caso, aentrada pode se encontrar de repente orientada em direyao ao ceu, passando areceber diretamente a agua de chuva, corn 0 risco de afogar os habitantes daconcha.

AIgumas especies parecem realizar a totalidade de seu ciclo biol6gico nasconchas enquanto que, para outras, a instalayao numa concha representasomente a fase inicial da fundayao de uma nova colonia ou 0 lugar de

427

matura<;ao de determinada categoria de cria. As conchas abandonadas degastr6podes pulmonados constituem urn campo facil de estudo ate 0 momentoinexplorado, e motivam a realiza<;ao de mais pesquisas sobre as especiescrfpticas. Tomando por base nossas observa<;oesainda preliminares, numerosasdescobertas saG para serem esperadas tanto no campo das estrategias denidifica<;ao,quanto de novas associa<;oesinterespecificas na familia Formicidaeou de formigas corn outros organismos.

Referencias bibliograficasDELABIE, J.H.C.; AGOSTI, D & NASCIMENTO, I.C. do. 2000a. Litter

ant communities of the Brazilian Atlantic rain forest region. SamplingGround-dwelling Ants: Case Studies from the World's Rain Forests. DAgosti, JD Majer, L. T. Alonso & T. Schultz (eds), Curtin University,School of Environmental Biology Bulletin nQ18, Perth, Australia, I- I7.

DELABIE, J.H.C.; FOWLER, H.G. 1995. Soil and litter cryptic antassemblages of Bahian cocoa plantations, Pedobiologia, 39: 423-433.

DELABIE, J.H.C.; FRESNEAU, D. & PEZON, A. 2000b. Notes on theecology of Thaumatomyrmex spp. (Hymenoptera: Formicidae: Ponerinae)in southeast Bahia, Brazil. Sociobiology 36: 571-584.

HOLLDOBLER, B. & WILSON, E.O. 1990. The ants. Springer Verlag,Berlin, 732 p.

SUDD, J.H & FRANKS, N.R. 1987. The behavioural ecology of ants. Blackie,Glasgow, 206 p.

428

, T' -1::",

I:;jI"i]

,~

Ill'

t:NI[lm[2IJ[~

11'

,~a

III

1...~mmiTllIi~1III

~ . III-~~ ... - ",-~