A Hermeneutica Simbolica e o Fernomeno Religioso

11
21/03/2015 Humanos http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 1/11 A HERMENÊUTICA SIMBÓLICA E O FENÔMENO RELIGIOSO Egivanildo Tavares da Silva [1] Eunice Simões Lins Gomes [2] RESUMO: Este artigo tem por objetivo desenvolver uma análise sobre o contributo da hermenêutica simbólica proveniente do Círculo de Eranos para a análise compreensiva do fenômeno religioso. O Círculo de Eranos atingiu três fases significativas: a mitologia comparada, a antropologia cultural e a hermenêutica simbólica. O Círculo de Eranos surgiu num momento em que as ciências naturais (explicativas) davam lugar para as ciências do espírito (compreensiva). Adotamos como instrumento metodológico a pesquisa descritiva e a abordagem qualitativa, por priorizar uma realidade que não pode ser quantificada. Como resultado parcial de nossa análise foi selecionado a hermenêutica simbólica de Eranos e suas duas classes, a redutora e a instauradora com fins de validar sua eficácia na análise compreensiva do imaginário religioso. Palavraschave: círculo de eranos, hermenêutica, imaginação simbólica, fenômeno religioso. SYMBOLIC HERMENEUTICS AND THE RELIGIOUS PHENOMENON ABSTRACT: This article aims to develop an analysis about the contribution of symbolic hermeneutics from the Eranos Circle to the comprehensive analysis of religious phenomenon. The Eranos Circle reached three significant phases: the comparative mythology, the cultural anthropology and the symbolic hermeneutic. The Eranos Circle came at a moment when the natural sciences (explanatory) gave place to the science of the spirit (comprehensive). We adopted as a methodological instrument the descriptive search and the qualitative approach, by prioritizing a reality which cannot be quantified. As a partial result of our analysis were selected Eranos symbolic hermeneutics and its two classes, the reducer and the initiator with the purpose of validating its efficacy in the comprehensive analysis of the religious imaginary. Keywords: eranos circle, hermeneutics, symbolic imagination, religious phenomenon. 1 PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES Aproximamonos do nosso objeto de pesquisa a partir de um enfoque histórico e etimológico, sobre o que venha ser de fato hermenêutica nas plataformas das ciências e a hermenêutica simbólica de Eranos. Após a definição históricoclássica de hermenêutica, partiremos ao método da fenomenologia como uma das formas do pensamento que se instituiu em Eranos; para enfim chegar à hermenêutica simbólica de Durand e a sua definição de hermenêuticas instauradoras e redutoras e seu contributo na compreensão do fenômeno do imaginário religioso. Dizia Voltair: “Se quiser conversar comigo, defina seus termos” (apud DURANT, 1996, p. 77). Seguir o sábio apelo do filósofo é um bom motivo para iniciarmos pela origem etimológica da palavra hermenêutica. Segundo Champlin (2001, p. 95), “[...] hermenêutica derivase do nome de Hermes, que era tido como o mensageiro divino e intérprete dos deuses, e que também era o deus da eloquência, que os romanos chamavam Mercúrio”. É possível identificarmos na Bíblia Sagrada um registro sobre um momento em que clarifica perfeitamente esta definição da origem mítica da palavra hermenêutica. Na primeira viagem missionária do apóstolo Paulo à Ásia menor, na cidade de Listra, após uma exposição do evangelho e a realização de um prodígio numinoso, ele é confundido com Hermes (Mercúrio) e seu companheiro Barnabé com Zeus (Júpiter): Em Listra havia um homem paralítico dos pés, aleijado desde o nascimento, que vivia ali sentado e nunca tinha andado. Ele ouvira Paulo falar. Quando Paulo olhou diretamente para ele e viu que o homem tinha fé para ser curado, disse em alta voz: "Levantese! Fique de pé! " Com isso, o homem deu um salto e começou a andar. Ao ver o que Paulo fizera, a multidão começou a gritar em língua licaônica: "Os deuses desceram até nós em forma humana! "A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque era ele quem trazia a palavra. (ATOS 14:812, NVI, grifo nosso). Principiamos com o sentido etimológico do termo, exemplificado na literatura bíblica do reconhecimento do mito de Hermes, mas para uma compreensão mais extensa, se faz jus uma abordagem do termo em sentido lato. Hermenêutica nas palavras de Gadamer (1999, p. 273) é “A doutrina da arte da compreensão e da interpretação”. Amplificando o termo dentro da sua origem, hermenêutica é uma palavra que tem sua origem, segundo Redyson (2011, p. 67),

description

Este artigo tem por objetivo desenvolver uma análise sobre o contributo da hermenêutica simbólicaproveniente do Círculo de Eranos para a análise compreensiva do fenômeno religioso. O Círculo de Eranos atingiutrês fases significativas: a mitologia comparada, a antropologia cultural e a hermenêutica simbólica. O Círculo deEranos surgiu num momento em que as ciências naturais (explicativas) davam lugar para as ciências do espírito(compreensiva). Adotamos como instrumento metodológico a pesquisa descritiva e a abordagem qualitativa, porpriorizar uma realidade que não pode ser quantificada. Como resultado parcial de nossa análise foi selecionado ahermenêutica simbólica de Eranos e suas duas

Transcript of A Hermeneutica Simbolica e o Fernomeno Religioso

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 1/11

    AHERMENUTICASIMBLICAEOFENMENORELIGIOSO

    EgivanildoTavaresdaSilva[1]

    EuniceSimesLinsGomes[2]

    RESUMO:Este artigo tem por objetivo desenvolver uma anlise sobre o contributo da hermenutica simblicaprovenientedoCrculodeEranosparaaanlisecompreensivadofenmenoreligioso.OCrculodeEranosatingiutrs fases significativas:amitologiacomparada,aantropologiaculturaleahermenutica simblica.OCrculodeEranos surgiu nummomento em que as cincias naturais (explicativas) davam lugar para as cincias do esprito(compreensiva). Adotamos como instrumentometodolgico a pesquisa descritiva e a abordagem qualitativa, porpriorizaruma realidadequenopode serquantificada.Como resultadoparcialdenossaanlise foi selecionadoahermenuticasimblicadeEranosesuasduasclasses,aredutoraeainstauradoracomfinsdevalidarsuaeficcianaanlisecompreensivadoimaginrioreligioso.

    Palavraschave:crculodeeranos,hermenutica,imaginaosimblica,fenmenoreligioso.

    SYMBOLICHERMENEUTICSANDTHERELIGIOUSPHENOMENON

    ABSTRACT:This article aims to develop an analysis about the contributionof symbolic hermeneutics from theEranosCircletothecomprehensiveanalysisofreligiousphenomenon.TheEranosCirclereachedthreesignificantphases: the comparativemythology, the cultural anthropology and the symbolic hermeneutic. The Eranos Circlecameatamomentwhenthenaturalsciences(explanatory)gaveplacetothescienceofthespirit(comprehensive).We adopted as amethodological instrument the descriptive search and the qualitative approach, by prioritizing arealitywhichcannotbequantified.AsapartialresultofouranalysiswereselectedEranossymbolichermeneuticsand its two classes, the reducer and the initiatorwith the purpose of validating its efficacy in the comprehensiveanalysisofthereligiousimaginary.

    Keywords:eranoscircle,hermeneutics,symbolicimagination,religiousphenomenon.

    1PRIMEIRASCONSIDERAES

    Aproximamonosdonossoobjetodepesquisaapartirdeumenfoquehistricoeetimolgico, sobreoquevenhaserdefatohermenuticanasplataformasdascinciaseahermenuticasimblicadeEranos.Apsadefiniohistricoclssicadehermenutica,partiremosaomtododafenomenologiacomoumadasformasdopensamentoque se instituiu em Eranos para enfim chegar hermenutica simblica de Durand e a sua definio dehermenuticasinstauradoraseredutoraseseucontributonacompreensodofenmenodoimaginrioreligioso.

    DiziaVoltair: Sequiser conversar comigo,defina seus termos (apudDURANT,1996,p. 77). Seguir osbioapelodofilsofoumbommotivoparainiciarmospelaorigemetimolgicadapalavrahermenutica.SegundoChamplin(2001,p.95),[...]hermenuticaderivasedonomedeHermes,queeratidocomoomensageirodivinoeintrpretedosdeuses,equetambmeraodeusdaeloquncia,queosromanoschamavamMercrio.

    possvel identificarmosnaBbliaSagradaumregistrosobreummomentoemqueclarificaperfeitamenteestadefiniodaorigemmticadapalavrahermenutica.NaprimeiraviagemmissionriadoapstoloPaulosiamenor, na cidade de Listra, aps uma exposio do evangelho e a realizao de um prodgio numinoso, ele confundidocomHermes(Mercrio)eseucompanheiroBarnabcomZeus(Jpiter):

    EmListrahaviaumhomemparalticodosps,aleijadodesdeonascimento,queviviaalisentadoenunca tinhaandado.EleouviraPaulo falar.QuandoPaulo olhou diretamente para ele e viu que ohomemtinhafparasercurado,disseemaltavoz:"Levantese!Fiquedep!"Comisso,ohomemdeuumsaltoecomeouaandar.AoveroquePaulofizera,amultidocomeouagritaremlngualicanica:"Osdeusesdesceramatnsemformahumana!"ABarnabchamavamZeuseaPauloHermes,porqueeraelequemtraziaapalavra.(ATOS14:812,NVI,grifonosso).

    Principiamoscomosentidoetimolgicodotermo,exemplificadonaliteraturabblicadoreconhecimentodomito deHermes,mas para uma compreensomais extensa, se faz jus uma abordagemdo termo em sentido lato.HermenuticanaspalavrasdeGadamer (1999,p.273)Adoutrinadaartedacompreensoeda interpretao.Amplificandoo termodentroda suaorigem,hermenutica umapalavraque tem suaorigem, segundoRedyson(2011,p.67),

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 2/11

    [...] doverbogregohermeneuein( que tem a significao de interpretar, esclarecer,anunciareatmesmotraduzir.[...]umaarteoucinciaquepodeserumainterpretaoliteralouinvestigao dos sentidos e expresses empregadas por meio de uma anlise das significaeslingusticasepodeserainterpretaodoutrinal,naqualoimportantenoaexpressoverbal,masopensamento.

    Paraumacompreensomais relevantedahermenuticapartimosdassuas razeshistricas, suaevoluoevertentes das mais distintas cincias. Nos anais da histria se arquivam as probabilidades de condiesdeterminantes, que favorecem a compreensibilidade do fenmeno que se evidencia no presente.Contudo para sechegaraumahermenuticasimblicaserprecisoacompanharotrajetohistricoqueestacinciatempercorrido.De

    acordocomBraida(REIS&ROCHA,2000,p.25),

    [...]ahistriadaformaoHermenutica,enquantoarteetcnicadeinterpretaocorretadetextoscomea com o esforo dos gregos para preservar e compreender seus poetas e desenvolvese natradiojudaicocristdeexegesedasSagradasEscrituras.ApartirdoRenascimento,fixamsetrstipos bsicos de tcnica de interpretao: Hermenutica teolgica (sacra), Filosficofilolgica(profana)ejurdica(jris).

    Ahistria,eos trs tiposbsicosdahermenutica,emcertamedidaalargamoshorizontesdouniversodainterpretao. Como tambm proporciona uma condio melhor para contemplar a hermenutica do Crculo deEranos,queemergecomoelementofundantedeumahermenuticasignificativamentesimblica.Estaqueemcertamedidamuitocontribuiparaleituradosagrado.ComointerpretaEliade(1992,p.10,11),

    Por meio de uma hermenutica competente, a histria das religies deixa de ser um museu defsseis, runas emirabiliaobsoletos e tornase aquilo que deveria ter sido desde o princpio paraqualquerinvestigador:umasriedemensagensesperadeserdecifradasecompreendidas.

    Na busca pela compreenso do fenmeno religioso,muitas propostas hermenuticas tm sido tecidas para

    tentarclarificaraimannciadotranscendente.Eliade(1992,p.79)entendeque[...]Paraahistriadasreligies,talcomoparatodaequalqueroutradisciplina,aestradaqueconduzsntesepassapelahermenutica.

    Ahermenuticacomocinciaouartedainterpretaoseconstituinoinstrumentoessencialqueabreasportas

    do universo do incompreensvel, e proporciona as condies de leitura e dissecao dos fenmenos manifestos.Logo, ela capaz de conduzir o hermeneuta a uma compreenso de si (ipseidade), atravs do outro (alteridade),comopropeRicoeur:

    Aquilo que de que finalmente me aproprio uma proposio de mundo. Esta proposio no seencontraatrsdo texto,comoumaespciede intenooculta,masdiantedele,comoaquiloqueaobradesvenda,descobre, revela.Porconseguinte,compreendersediantedo texto.Nose tratadeimporaotextosuaprpriacapacidadefinitadecompreender,masexporseaotextoereceberdeleum simais amplo, que seria a proposio de existncia respondendo, demaneiramais apropriadapossvel,proposiodemundo(apudALMEIDA,2011,p.25).

    AhermenuticareconhecidamentecomoinstrumentodacinciafilosficatemseuimpulsoemFriedrichD.E. Schleiermacher (17681834), filsofo, telogo e historiador das religies. Lembramos que Schleiermacher foiprofessordauniversidadedeHalle,traduziuPlatoparaoalemo,e[...]defendeuareligiocontraoracionalismodoiluminismo,afirmandoqueaessnciadareligioresidenosentimentodeabsolutadependnciaequeoconceitode Deus se infere desse sentimento (HINNELS, 1995, p. 244). Foi Schleiermacher que fundou o Crculo dosRomnticos juntamente com Friedrich Schlegel em 1797, com a finalidade de uma interpretao religiosa maisassdua (REDYSON, 2011). O crculo dos romnticos [...] rebelavase contra os conceitos racionalistas doiluminismoeressaltavaopapeldomistrio,daimaginaoedosentimento(BROWN,1989,p.78).

    Entretanto a odissia da hermenutica tem sua origem embrionria em um mito que deu origem ainterpretaoecompreensoentrepoetasefilsofosgregoscirculouentreostelogosnaItliaeAlemanha,sendoreconhecida como cincia na Alemanha, no entanto, foi em Ascona, na Sua, que ela obteve sua definiosimblica.

    2OCRCULODEERANOSEASBASESDAHERMENUTICASIMBLICA

    Para adentramos no Crculo de Eranos e entendermos onde se fundamentam as bases da hermenuticasimblica,eseucontributoparaanlisedofenmenoreligioso,procuramosdescrever,mesmoquedeformasucintasobreoespritodasuapocanopanoramamundial.ApesardeEranossurgiremummomentocontroverso,poisomundo ainda estava se reabilitandodas crises daprimeira guerra, e nomuito tempo entraria na segundaguerramundial,mesmoassim,oCrculodeEranosconseguiusesustereuniroorienteeoocidente.Noobstanteascrises,Eranosprosseguiuininterruptamentecomosseusencontrosepublicaessobreastemticasdofenmenoreligioso.

    AbordaremostambmsobreocontributodomtodofenomenolgicoquefertilizouopensamentodeEranos,no arquitetar da hermenutica simblica, como a incluso e relevncia deGilbertDurand ao prprioCrculo deEranos.

    Lembramosque,noanode1933,omundofoimarcadoporgrandesacontecimentosemdiversasreas.NocasodoBrasil,seconstituiudeumanodetransiopoltica.Anovarevoluode1932conseguiuestabelecerem1933 as bases da nova constituinte, que se consolidou no ano seguinte. Esta nova constituio deu incio a eragetulista. Na Amrica do Norte, em 1933 aconteceu o surgimento do New Deal (Nova Distribuio), polticaaplicada pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Rosevelt, que tinha como objetivo minimizar osefeitosdaGrandeDepresso.NoJapo,oanode1933foimarcadopelaalegrianafamliaimperial,pelonascimento

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 3/11

    efeitosdaGrandeDepresso.NoJapo,oanode1933foimarcadopelaalegrianafamliaimperial,pelonascimentodofuturoimperadorAkihitoenaAlemanha,oanode1933sedestacoupelosurgimentodaGestapoeaascensodeHitlerquemarcariaahistriaparasemprecomumestigmainimaginvelaraahumana(ENCARTA,2001).

    O filsofoGadamer, lembra comoeste ano interferiudesastrosamenteno rumodaspesquisasdas cinciashumanas,emespecialnaAlemanha.

    Quando o ano de 1933, com suas consequncias devastadoras, alcanou a situao estado dapesquisanascinciashumanas,o seuefeitoatingiuumadimensomuitomaisprofundadoquenocaso das cincias naturais. Em verdade, mesmo nas cincias naturais, pesquisadores judeusextremamente qualificados precisaram abandonar a Alemanha. [...] Assim como a gerao maisjovem que veio logo em seguida, quem permaneceu na Alemanha precisou se haver de maneiracuidadosacomseuspropsitosdetrabalho,sequequeriaevitarumajustetotalaosistemae,comisso,umcomprometimentocientfico(GADAMER,2009,p.197,198).

    Foijustamentenestecenriodecontrassensosuniversaisde1933,queemAscona,cidadedaSua,naterradosAlpesmaiselevadosdaEuropaondenasceuoCrculodeEranos.Neste tempo,afenomenologiaqueganhousuamaiorexpressocomEdmundHusserl(18591938)jsefundamentavacomomtodo,eseafirmavacomobasemetodolgicadepesquisaeconstruodosaberdemuitospesquisadoresdoCrculodeEranos.Foientoatravsdomtodofenomenolgicoquemuitosderamsuacontribuioparaformaodahermenuticasimblica.

    Contudo o mtodo fenomenolgico de Husserl se expandiu com tamanha fora, que o movimentofenomenolgico seguia com uma nova palavra que lhe ordenava regressar as coisas mesmas, como afirmaFiloramo&Prandi(2010,p.29,30):

    [...] A nova palavra de ordem do movimento fenomenolgico (voltemos s coisas) com seuesforoantimetafsicoerealistadeinvestigarasrealidadesquenoscircundam,captando,graassuspensodojuzo(epoch)ecapacidadeintuitivadopesquisador,asuaessncia(visoeidtica) dava substncia e coerncia filosfica s difusas exigncias de voltar a estudar a riqueza e avariedadedaexperinciahumanasegundomtodosnoredutivos,maisaptosarestabeleceremasuavivacomplexidadeevariedade.

    Foinestemesmoano(1933),queopensadorholandsGerardusvanderLeeuw,influenciadopelofilsofoalemo W. Dilthey (18331911) escreveu sua Phnomenologie der Religion que passou a ser considerada omanifesto da Fenomenologia da Religio compreensiva, segundo Filoramo & Prandi (2010). Nesse sentido,compreendemosqueoCrculodeEranossurgiuemummomentodegranderevoluonouniversodeestudosdofenmeno religioso, onde van der Leeuw se torna uma figura no pouco significante entre os pesquisadores deEranos.

    Eliade(1990),consideradoumdosgrandesexpoentesdeEranos,noobstantepercebeualgumaslacunasnaabordagemfenomenolgicadevanderLeeuw,masnopdenegarlheocontributoprecursorparaahermenutica,estamolapropulsoraqueimpulsionaparaumacompreensosignificativadofenmenoreligioso,

    Com efeito, van der Leeuw nunca se lanou numa morfologia religiosa ou numa fenomenologiagentica da religio. Mas, repetimolo, estas lacunas no diminuem a importncia da sua obra.Ainda que o seu gnio verstil no lhe tenha permitido completar e sistematizar uma novahermenuticareligiosa,foiumpioneiroentusistico(ELIADE,1990,p.52).

    Neste nterimdoanode1933, sobaorientaodo telogoRudolfOtto,paidoSagrado (DasHeilig), queOlgaFrbeKapteyn(18811962)criouoCrculodeEranosemAscona,Suia.OnomeeranosqueforapropostopeloprprioOtto, tem suaorigemnapalavragregaeranoskreis que significa banquete espiritual, comida emcomum,oupiquenique.Olgahaviainiciadoalgunsencontrosdeestudoemsuaprpriacasa,masqueterminoutomando propores gigantescas e originou o Crculo de Eranos, uma instituio cientfica que moldou opensamentodossculosXXeXXI.EsteCrculosurgiucomoobjetivodecriarumespaolivreparaoesprito,umlugardeencontroentreolesteeooeste(TEIXEIRA&ARAJO,2011,p.37).

    Redyson(2011,p.29),noslembradolemaadotadopeloCrculo:oEademMutataResurgo,

    [...]EranoseraumgrandeencontrodeintelectuaisepesquisadoresquesereuniamnacasadavivaOlga em Ascona, Sua, prximo ao lago Maggiore, adotaram o lema Eadem Mutata Resurgo(Emboramudado,ressurgireiomesmo).

    No entanto, podemos afirmar que o principal expoente da psicanlise analtica, o suoCarlGustav Jung(18751961),eraomentordoCrculodeEranos.Noperodode1933a1988osencontrosdeEranosaconteceramanualmente, noms de agosto, cada um versando sobre uma temtica escolhida previamente. Era um ambientetotalmentepludisciplinar,ondeadiversidadecientficabuscavaumacompreensounitriadofenmenoreligioso.AsproduescientficasapresentadasemEranoserampublicadasemanaistrilingues:alemo,francseingls.Aspublicaes ao todo so57volumes, e atualmente tem sido traduzidapara italiano, japons e espanhol (ORTIZOSS,2004,p.9).

    ForamvriosparticipantesdoCirculo,destacamosentreseusilustresparticipantesopensadorfrancsGilbertDurand,queafirmatersidointroduzidoporseumestreeamigo,oislamlogoHenryCorbinnoanode1964.Comonos faz saber quemmais lhe influenciou doCrculo deEranos:O prprioHenryCorbim (19031978), de quemherdou a hermenutica comparadaMircea Eliade (19071986) e a sua histria das religies e deHenriCharlesPuech (19021986) a zoologia deAdolf Portmann (18971982), eKarlyKernyi (18971973), com a filologia(TEIXEIRA&ARAJO,2011).

    Durandsegueosestudossobreoimaginriosobainflunciadealgunspensadoresquederamsuporteasua

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 4/11

    Durandsegueosestudossobreoimaginriosobainflunciadealgunspensadoresquederamsuporteasuateoria taiscomoC.G. Jungeapsicanliseprofunda,G.Bachelardeapoesia,W.Betcherevea relexologia,M.Eliade e a histria das religies, H. Corbim e seu orientalismo, R. Bastide e sua sociologia do imaginrio, S.Lupasco e a antropologia (TEIXEIRA&ARAJO, 2011, p. 2632), entremuitos outros. So dasmais variadascincias queGilbertDurand, aps ter desenvolvido sua teoria das EstruturasAntropolgicas do Imaginrio vempropor,apartirde,eemEranos,umahermenuticasimblicainstauradora.

    Entretanto,ocrculodeEranosficoudesconhecidoparaDurand,duranteumperododeumadcadaemeia,atqueseugrandemestre,oepistemlogo,poetaefilsofofrancsGastonBachelard,lhefaloudotalcrculo.

    QuandoeuouvipelaprimeiravezdeEranos,foiem1947,pelomeubommestreGastonBachelard.Eu imaginava,naaltura,quese tratavadeumcrculomuito fechadodeeruditos, germanistasdepreferncia!colocadosobaevocaodeumdeuspoucoconhecido, simultaneamentehelnicoevagamenteprsico(apudTEIXEIRA&ARAJO,2011).

    DepoisdeparticipardoCirculodeEranos,econstatarqueaminanaqualforaintroduzidonoanode1964nosetratavadeumsimplesburacoescuroeinspitoaspepitaspreciosas,masumambientetotalmentepromissorpara o enriquecimento intelectual, lugar onde garimpou e colheumuitas pedras valiosssimas para arquitetar suahermenuticasimblica,DurandpassouaconsideraroCrculodeEranoscomoasuauniversidadedevero.

    Durante25anos,oCrculoTicianofoicontinuamenteaminhaUniversidadedeVero.Eudesejoaosmeusadversriosumatal reciclagem!Almdaconfirmaoqueprovinhadosestudosclnicosde Jung e dos prticos junguianos, como o meu amigo James Hilman, eram tambm biologistasetologista e fsicosqueainda iamdaros fundamentos empricos,massobretudomais tericos, minha opo filosfica primeira.[...] O Crculo de Eranos e era uma vez mais, dizia eu! colocoumeemcontatodiretocomumatradiodafsica(apudTEIXEIRA&ARAJO,2011,p.38).

    Foi na universidade de vero que a hermenutica simblica se desenvolveu e se afirmou comoinstauradora.AhermenuticadeEranoscomoumtodotemsuasbasesmetodolgicasemvriospensadores,comoJung,Bachelard,Eliade,Cassirer,Corbim,Campbellentreoutros.

    3CONSIDERAESSOBREAHERMENUTICASIMBLICA

    ApartirdacompreensodeGilbertDurandestaremosconstruindooconceitodesignoesmbolo,significanteesignificado,ouseja,ovocabulriodosmbolocomoobjetivodeesclarecersobrea imaginaosimblicaeemseguidacompreenderarelevnciadahermenuticasimblica.Entretanto,paradefinirahermenuticasimblicadecunhoinstauradora,tornasenecessrioprimeirotraarumadefiniosobreahermenuticaredutora.Estepercursometodolgico foi construdo por Durand quando precisou diferenciar o signo e o smbolo, o significante e osignificado.

    Aps a defesa de sua tese Les Strutures Anthropologiques de L'imaginaire (As estruturas antropolgicas doimaginrio) em Sorbonne, Paris no ano de 1960, que se constitui na Teoria Geral do Imaginrio. Durand foiintroduzidoemEranosnoanode1964,porseumestreCorbim.OquejustificamuitobemosurgimentodesuaobraLimaginationSymbolique(Aimaginaosimblica),naqualdefendeumahermenuticasimblicainstauradora,tendoemvistaaleituradasimagensesmbolosdosfenmenosdoimaginrio.

    O filsofo romeno Mircea Eliade nos informa que a hermenutica simblica de Durand, como viametodolgica, foi desenvolvida e apresentada emEranos, durante um grande nmero de conferncias (ELIADE,1991,p.7):

    [...]oFilsofoGilbertDurand,discpulodeGastonBachelard,depoisdeterpublicadoasuatesededoutoramento LES STRUTURES ANTHROPOLOGIQUES DE L'IMAGINAIRE (1960),desenvolveueafinoua suaviametodolgicaemL'IMAGINATIONSYMBOLIQUE (1964),(numgrande) nmero de conferncias lidas no ERANOS de Ascona (desde 1964) e em FIGURESMYTHIQUESETVISAGESDEL'OEUVRE(1978).

    Na introduo de A imaginao Simblica, Durand procura definir o vocabulrio do simbolismo.Entendemos que ao principiar pela definio e conceituao tornase perspicazmente necessrio quando se querapresentar algode cunho instaurativo.Principalmentequando se tratade termosque circulamcomsignificados econceitos autnomos dentro das cincias. Em primeira instncia o conceito de signo, significante e significadoprecisaseresclarecidoparaseentendercomoseiniciaaimaginaosimblica.Elepartedoprincpioque,

    [...]aconscinciadispededuasmaneiraspararepresentaromundo.Umadireta,naqualaprpriacoisapareceestarpresentenoesprito,comonapercepoounasimplessensao.Aoutraindiretaquando, por esta ou por aquela razo, a coisa no pode apresentarse em carne e osso sensibilidade[...](DURAND,1993,p.7).

    Durandchegaconclusodaimperfeiodesteconceitobilateralderepresentabilidadedocosmoatravsdaconscincia, eprocura esclarecer commaispreciso,parapoderdefinir a relaodo signocomo smboloe suasdistines.

    Naverdade, a diferena entre pensamento direto e pensamento indireto no to definitiva comoacabamos de expor, [...] Seria melhor escrever que a conscincia dispe de diferentes graus deimagensconsoanteestaltimaumacpia fieldasensaoouapenasassinalaacoisacujosdoisextremosseriamconstitudospelaadequaototal,apresenaperceptiva,oupelainadequaomais extrema, isto , um signo eternamente vivo de significado, e veramos que este signolongnquonomaisdoqueosmbolo(DURAND,1993,p.8).

    Nointuitodedefinirossignos,Durandpropeque,pelomenosemteoria,sedistinguedoistiposdesignos:

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 5/11

    Ossignosarbitrrioseossignosalegricos.Osarbitrriossedefinemcomopuramenteindicativos,remetemparaumarealidadesignificada,senopresentepelomenossempreapresentvel.Osalegricosporsuavezremetemaumarealidadesignificadadificilmenteapresentvel(DURAND,1993,p.9).

    ApartirdestesconceitosdesignosqueDurandacreditaquesepodechegardefatoimaginaosimblica.Comoassegura: [...] quandoo significadono demodoalgumapresentvel e o signo s pode referirse a umsentidoenoaumacoisasensvel(DURAND,1993,p.10).OsignoparaDurandlimitasearepresentaodealgoconcreto, conhecvel e palpvel, nunca ao desconhecido ou misterioso, e sempre de sentido unvoco. Ahermenuticasimblicasurgecomoumaquestosinequanonparacompreenderumaimaginaosimblica,nada,masimpositivoqueumahermenuticasimblica.

    EntretantoapropostaDurandianaquepriorizaaimaginaosimblicaparaconstruodeumahermenuticasimblicasignificativatemcomoimperativooreconhecimentodaimagem,eafunodaimaginao.E,comonopoderia serdiferente,eleacusaagrande falhanaconstruodopensamentoocidental tantona filosofiacomonapsicologiaquereduziuoimaginrio,aimaginaoeaimagemaonada.Opensamentoocidentaleespecialmenteafilosofiafrancesatemporconstantetradiodesvalorizarontologicamenteaimagemepsicologicamenteafunodaimaginao[...](DURAND,2002,p.21).

    Durandnoseesquivadecriticara formaodopensamentoocidental,apartirdeScrates,AristtelesnaGrciaatDescartes,ComteeSartrenaFrana,queinfluenciaramoocidentecomseusracionalismos,positivismos,comooempirismodoescocsDavidHume.PoisparaDurand,osconceitosdesmbolo, imaginaoe imaginrioforamreduzidosaonada,nestaplataformadesaberamplamentereducionista(DURAND,1998,p.913).

    CitandoaafirmaoirnicadePierreEmmanuel,queanalisarintelectualmenteumsmbolo,descascarumacebolaparaencontraracebola(apudDURAND,1993,p.37),AssimDurandprocuranodeixardvidassobreasfunesfilosficasdosmboloeporfimdeterminarafunodaimaginaosimblica.

    Contudo definir o que smbolo algo prioritrio para compreenso de uma hermenutica simblicasubstancial.Osmbolo,pois,umarepresentaoquefazaparecerumsentidosecreto,aepifaniadeummistrionos afirma (DURAND, 1993). A prpria etimologia da palavra smbolo remete a este aspecto transcendido emisteriosodomesmo:Smbolodeorigemgrega(sumbolon)comoemhebraico(mashal)ouemalemo(Sinnbild),umtermoqueimplicasempreauniodeduasmetades:signoesignificado(R.ALLEAU,apudDURAND,1993).

    Portantoosmbolocomoumaespciedemscaraquefazaparecerumrostomisterioso,quenarealidadenoorostomisterioso,masamanifestaodele,doqueestportrsdamscara,ouseja,aepifaniadesterosto.Orostomisteriososignificadopelosmbolo,quenadamaisqueosignificantedeumsignosimblico.

    Retomandoaprpriapalavrasmbolonasuaorigemgregasumballo,oprefixosun(unir)eoverboballo(jogar,lanar),ouseja,jogarparaperto,lanarparajunto,enfimunir,tornarum,umapalavracompostaquetempordefinioconceitualaunidadededoiselementos,logoosmboloamscaravisveldorostoinvisvel.O transcendente se une ao imanente e se faz visvel simbolicamente. O invisvel se torna visvel por meio dosmbolo,emboraosmbolonosejaoinvisvel,nemoinvisvelosmbolo.

    NodizerdeWittgenstein [...]o smboloprocura tornaracessvelo inacessvel,darpalavrasaosilnciodoinefvel, dar hospedagem transcendncia (apud MARDONES, 2006, p. 15). A distncia entre o mistrio e oconhecido encurtada por meio do smbolo. EMardones define que o smbolo um tipo de conhecimento eaproximaodarealidadeinvisvel,darealidadenodisponvelnemmo(2006,p.15).

    Logo,paraDurandosmbolo[...]nopodendofigurarainfigurveltranscendncia,aimagemsimblicatransfiguraodeumarepresentaoconcretaatravsdeumsentidoparasempreabstrato(1993,p.11,12).

    Segundoofilsoforomeno[...]comefeito,asimagenseossmbolosconstituem,paraohomemmoderno,outras tantas aberturas sobre um mundo de significaes infinitamente mais vasto do que aquele onde vive(ELIADE, 1991, p. 9). Assim foram razes como estas que impeliram Durand a construir uma hermenuticainstauradora.

    Portanto, para esclarecer a ontologia do smbolo, Durand busca em Paul Ricouer uma definio clara desmboloautntico:

    Qualquersmboloautnticopossui trsdimensesconcretas:simultaneamentecsmico(isto,recolhe smos cheias a sua figurao nomundo bem visvel que nos rodeia), onrica (isto ,enrazase nas recordaes, nos gestos que emergem de nossos sonhos e constituem, como bemdemonstrouFreud,amassamuitoconcretadanossabiografiamaisntima)e,finalmente,potica,isto,o smboloapela igualmente linguagem,e linguagemquemaisbrota, logomaisconcreta(apud,1993,p.12).

    Durandpassaadistinguirasdiferenas,entreosigno,significanteesignificado.Paraele[...]numsimplessignoosignificadolimitadoeosignificante,aindaquearbitrrio,infinito:enquantoasimplesalegoriatraduzumsignificado finito por um significante e no menos delimitado, os dois termos do Sumbolon so, por sua vez,infinitamenteabertos(1993).

    AaberturadossmbolosdistanciaDuranddosconceitosdalingustica,eeleinsiste:podesedizerqueosmbolonododomniodasemiologia,masdaqueledeumasemnticaespecial,oquequerdizerquepossuialgomais que um sentido artificialmente dado e detmum essencial e espontneo poder de repercusso (DURAND,

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 6/11

    mais que um sentido artificialmente dado e detmum essencial e espontneo poder de repercusso (DURAND,2002,p.31).

    Na realidade o smbolo definese como pertencente categoria do signo [...] sendo os signos deste tipo,apenasemteoria,ummeiodeeconomizaroperaesmentais,nadaimpedepelomenosemteoriaqueelessejamescolhidosarbitrariamente(1993,p.8).

    NaproporoqueDurandvaiaprofundandooseupensamentosobreosignoeosmbolovaiconstruindoasbasesparaaleituradofenmenoreligiosonoimaginriocomotambmvaiesclarecendoque:

    [...]otermosignificante,onicoconcretamenteconhecidoequeremeteemextenso[...]paratodas as espcies de qualidades no figurveis, e isto at antinomia. por isso que o signosimblico,ofogo,aglutinaossentidosdivergenteseantinmicosdofogopurificador,dofogosexual, do fogo demonaco e infernal.Mas paralelamente,o termo significado, concebvel nomelhordoscasos,masnorepresentvel,estendeseportodoouniversoconcreto:mineral,vegetal,animal, astral, humano, csmico, onrico ou potico. por isso que o sagrado, ou adivindade,podesersignificadopornoimportaoqu[...](1993,p.12,13,grifonosso).

    Durand esclarece que o duplo imperialismo simultaneamente do significante e do significado naimaginaosimblica,marcaespecificamenteosignosimblicoeconstituiaflexibilidadedosimbolismo(1993).Interessante perceber como esta flexibilidade conduz para a redundncia das imagens.O significante semostraimperialista ao repetirse e simultaneamente integraliza numa nica imagem as qualidades mais antitticas(antinomias).Osignificadonoficapormenosaotransbordarportodoouniversosensvelparaserevelar,repetindoincansavelmenteoatoepifnico.Comestaconcluso,eleconstriomtododeconvergnciadesuahermenuticasimblica,logo.Aconvergnciaumahomologiamaisdoqueumaanalogia(DURAND,2002,p.43).Opoderdasrepetiesdosmboloserveparapreencher infinitamenteasuainadequaofundamental.ApartirdaDurandesboaumatrpliceclassificaosumriadouniversosimblico:

    Umaredundnciasignificantedosgestosconstituiaclassedossmbolosrituais:omuulmanoquenahoradaoraoseinclinaparaOriente,opadrecristoquebenzeopoeovinho,osoldadoquefazjuramentodebandeira[...]doatravsdosseusgestosumaatitudesignificativaaocorpoouaosobjetosquemanipulam.[...]Aredundnciadasrelaeslingusticassignificativadomitoedosseusderivados.[...]aimagempintada,esculpida,etc.,tudooquesepoderiachamarsmboloiconogrfico,constituimltiplasredundncias(DURAND,1993,p.13,14).

    O mtodo das convergncias que para Durand o mtodo por excelncia da hermenutica (1993). A

    excelnciadomtodopairajustamentenacapacidadedecorrigirecompletarasinadequaesatravsdasrepetiesdosritos,mitoseimagens.

    Nesta sumria classificao do smbolo como signo que remete para um indizvel e invisvelsignificadoe,destemodo,sendoobrigadoaencarnarconcretamenteestaadequaoquelheescapa,e istoatravsdo jogodas redundnciasmticas, rituais, inconogrficas,quecorrigemecompletaminesgotavelmenteainadequao(DURAND,1993,p.16).

    Nesse sentidoPittaesclareceque (2005,p.20), As imagensvmseorganizarem tornodeumncleoeformamconstelaes,ordenandoseaumstempoemtornodeimagensegestos,deschmes,eemtornodeobjetosprivilegiadospelasensibilidade.

    Assim,quandonosvoltamosparaossmbolosreligiosos,mitoseritoseassuasconvergncias,organizaes,ouconstelaes,nosvoltamosaofocodainiciaoimaginaosimblica.Portanto,compreendemosqueopontofocaldaleituradofenmenoreligiosonahermenuticasimblicaseentendeapartirdoimaginrio,ondeaimagemtransitasimbolicamente,entreuminconscienteeaconscincia.

    Qualquermanifestaoda imagemrepresentaumaespciede intermedirioentreum inconscienteno manifesto e uma tomada de conscincia ativa. Da ela possuir o status de um smbolo econstituiromodelodeumpensamentoindiretonoqualumsignificanteativoremeteaumsignificadoobscuro(DURAND,1998,p.36).

    Atomadadeconscinciaqueaimaginaosimblicaeondeoimaginrionoageindependentedarazo,queossmbolosconseguemepifanizaroinexplicvel,sendoosmbolodanaturezadosignoqueentendemosorealvalor da hermenutica que o Crculo de Eranos conseguiu produzir. Somente uma hermenutica simblica paracompreender(verstehen)umfenmenoqueserevelasimbolicamente.

    4CONSIDERAESSOBREAHERMENUTICAREDUTORA

    Partiremos dos pressupostos de hermenuticas redutoras para a proposta de instauradoras na busca dafundamentaodovaloranalticodahermenuticasimblicasobreofenmenoreligioso.AhermenuticasimblicadeDurand,decunhoinstaurador,queforadesenvolvidanoCrculodeEranos,seconsolidou,apartir,domomentoemqueeledescreveotrajetodashermenuticasredutorasesuasbasesmetodolgicas.Paraumacompreensodoquevenhamserashermenuticasdecunhoredutoras,Durandtraaumpanoramahistricodaquiloquedenominadeinconoclasmoendmico,tantonareligiocomonacincia.AmbosinfluenciaramoOcidente.

    Durand inicia sua base sob o pressuposto do Ocidente iconoclasta, que a primeira vista parece umparadoxo.Acivilizaoquetransbordadeimagens,quegerouocinema,afotografiaevriosmeiosdecomunicaoiconogrficasofreraacusaodeiconoclasmo?(DURAND,1993). Paracomprovaro iconoclasmonoocidente,Durandpartedaideiaqueexistemdostiposdeiconoclasmo:Umrigorista,queatuaemnomedaortodoxiareligiosaeoutroinsidiosoqueoperaemnomedarazocientfica.

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 7/11

    Existem,decerto,formasdeiconoclasmo.Um,pordefeito,rigorista,odeBizncioque,apartirdosc.V. semanifesta comSantoEpifnio e ir reforarse sob a influncia do legalismo judeu oumuulmano e ser mais uma exigncia reformadora de pureza do smbolo contra o realismodemasiado antropomorfo do humanismo cristolgico de So Germano de Constantinopla e, emseguida, de Todoro Studita. O outro, mais insidioso aos dos pios conclios bizantinos (1993, p.19).

    O iconoclasmo se fundamenta em trs estados de extino simblica: dogmatismo teolgico,conceptualismometafsico[...]e,finalmente,semiologiapositivista(DURAND,1993,p.35).

    No dogmatismoDurand acusa as religiesmonotestas pelo iconoclasmo da imagem, no conceptualismo,acusaalgicabinriasocrticacomapenasdoisvalores:umfalsoeumverdadeiro,ondenoespaoparaoterceiro(tertium non datur), e vai at o racionalismo cartesiano. Na semiologia analisa o iconoclasmo do positivismocomteano. Durand batiza os iconoclasmos que reduzem a imagem ao nada e o imaginrio ao irreal, falso, deiconoclasmoendmico(DURAND,1999).

    Estestrsestadosdeiconoclasmosoapenasumaextinoprogressivadopoderhumanoderelaocomatranscendncia,dopoderdemediaonaturaldosmbolo(1993).Ashermenuticasquesurgiramsobainflunciadoiconoclasmoreligiosocientficodevemserclassificadascomoredutorase,portantoincapazesdecompreenderofenmenoreligiosoquesemanifestasimbolicamente.

    A partir da anlise da psicanlise freudiana Durand, descreve sobre a concepo redutora do mtodopsicanalticoetraamesmoquedeformaresumidaaestruturadadoutrinafreudiana.Aoanalisarosprincpiosdateoria:causalidadeespecificamentepsquica,inconscientepsquico,censuraouinterditosocial,tendnciasexualoulibido.Durand(1993,p.38,39)concluique,

    A pulso recalcada no inconsciente por um interdito mais ou menos brutal e atravs deacontecimentosmais oumenos traumatizantes vai satisfazerse por vias tortuosas. ento que asatisfao direta da pulso se aliena, travestindose em imagem, e em imagens que guardam amarcadosestdiosdaevoluolibidinosadainfncia.[...]Assimaimagemsempresignificativadeumbloqueiodalibido,istodeumaregressoafetiva.

    Areduofreudianadaimagemareflexosdalibidonosofereceanoodesmboloparaopaidapsicanlise.Partindo desta axiomtica, a noo de smbolo sofre em Freud uma dupla reduo a que corresponde o duplomtodo:[...]oassociativoeosimblico(1993).

    No entanto, Durand ressalta sobre a contribuio de Freud para o desenvolvimento da hermenuticasimblica,poisfoicomadescobertadoinconscientequesechegouaumahermenuticainstauradora,depoisdestadescobertaquedefatoseconsegueapreenderopapeldaimagem.

    [...] esta descoberta fundamental est ligada ao nome de Sigmund Freud (18561939).Os estudosclnicos de Freud e a repetio das experincias teraputicas o famoso div comprovaram opapeldecisivodas imagens que afloram do fundo do inconsciente do psiquismo recalcado para oconsciente(DURAND,1995,p.36).

    PoremnoobstanteocontributodeFreudcomaresignificaodaimagem,nopossvelclassificlonaordem instauradora, pois a sua hermenutica do smbolo ainda redutora por limitar a imagem a um merorecalcamentolibidinal:

    [...] o erro de Freud foi ter confundido causalidade e associao com semelhana oucontinuidade,foi terconstitudocomocausanecessriaesuficientedofantasmaoqueeramaisdoqueumacessrio associadonopolimorfismodo smbolo [...]Freud reduz a imagemaum simplesespelhovergonhosodorgosexual,comotambmreduzaindamaisprofundamenteaimagemaummero espelho de uma sexualidade mutilada semelhante aos modelos fornecidos pelas etapas deimaturaosexualdainfncia(1995,p.40).

    Compreendemos que a psicanlise uma das cincias que fornece os elementos fundamentais aoreconhecimentodaimagematravsdopsiquismo.Noentanto,apesardaobradeDurandsefundamentaremC.G.Jung, discpulo de Freud, no h como ocultar o contributo de Freud como inaugurador da descoberta doinconsciente,eofatodedeterminarorealismopsicolgico.

    [...] o imenso mrito de Freud e da psicanlise, apesar desta linearidade causalista e daescamoteaodosmboloafavordosistema,foiterdesenvolvidoodireitodecidadaniaaosvalorespsquicos,simagens,expulsospeloracionalismoaplicadodascinciasdanatureza.certoqueoefeitosignosimblicosereduz,emltimaanlise,aumacausasecundrianocampodaatividadepsquica. E neste realismo psicolgico que reside, acima de tudo, a revoluo freudiana(DURAND,1993,p.42).

    Emseguidaaps,aanlisedapsicanlisefreudiana,ereconheceroseurealvalor,comotambmdeentenderque, apesar de tudo ainda trilhou nas vias da cincia positivista. Durand parte para lingustica j que a lnguarepresentaummodelodeumpensamentosociolgico.

    Durand introduzsua falaapontandoedenominandoomtodode reduosociolgica funcionalista. [...]oprimeiro mtodo de reduo simblica relacionamse os trabalhos de Georges Dumzil, antecedidos pelos deAndrPignaiol,quepodemosdenominarreduosociolgicafuncionalista(1993,p.45).

    Entendemosqueestemtododereduosociolgicafuncionalistareduzosimbolismoaumdepartamentodasemntica lingustica.DeacordocomDurand (1993),Parao funcionalismodeDumzilummito,um ritual, umsmbolo,diretamenteinteligvelapartirdomomentoemqueseconhecebemasuaetimologia.Osimbolismoumdepartamentodosemantismolingustico.

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 8/11

    departamentodosemantismolingustico.

    DurandbuscaemLviStraussumsignificadotranslingusticoparaomito.Omitonovai,comoapalavraque se arruma no lxico, reduzirse diretamente atravs da contingncia de uma lngua, a um sentido funcional(1993,p. 47).ComodizLviStrauss (apudDURAND), acercadomito emque seuvalorpermanece inamovvelnumatraduo.

    Poderamosdefiniromitocomoomodododiscursoemqueovalordafrmulatraduttore,traditoretende praticamente para o zero [...] O valor do mito persiste como nico atravs das piorestradues,enquantoovalorfilosficodapalavraflmineourexporexemploseevaporanumatraduo.

    No entanto, Durand denuncia sobre o aspecto redutor da hermenutica de LviStrauss: isto que faz adiferenafundamentalentreareduosemnticadireta,dofuncionalismodeDumzil,eareduotranslingusticado estruturalismo de LviStrauss (1993). Ou seja, Durand observa que LviStrauss no fundamenta suaantropologiaesuahermenuticanalingusticapositivista,masnafonologiaestrutural.LviStraussbuscafazercomquesuahermenuticasociolgicarealizeumprocessoanlogoquantoforma(1993,p.47).

    Entretanto,DurandesclarecequeLviStrausssconservadalingusticaomtodoestruturaldafonologia.Estemtodo[...]temadmiravelmenteemcontaentreoutrasasprpriascaractersticasdomito,emparticular,edosmboloemgeral.RazesestasquelevaramDurandacomparareclassificar.

    Emprimeiro lugar, ahermenutica sociolgica, emperfeita concordncia comapsicanlise comocom a fonologia passa do estudo dos fenmenos... conscientes ao estudo da sua infraestruturainconsciente[...]emsegundolugar,ahermenuticaestrutural,comoafonologiarecusaseatrataros termos como entidades independentes, tomando, pelo contrrio, como base da sua anlise asrelaesentreostermos(DURAND,1993,p.48).

    Porem, ao analisar o aspecto redutor da hermenutica de LviStrauss, Durand no lhe nega oreconhecimento,comooseucontributoparacompreensodomito,mesmoassimnodeixadeverseuatrelamentolgicabinria,quereconheceapenasduasvertentesdaverdadeequeexcluiumaterceirapossibilidade.

    [...]napessoadeLviStrauss,devemosrestituiraoestruturalismooquehdemaisfecundonasuaexploraodomito.Defato,serelequemapontaraqualidadeessencialdosermomythicus, isto, da redundncia. [...] aprisionado lgica binria,LviStrauss recusouse a perceber que estasligaes transversais narrativa diacrnica criavam pelo menos uma terceira dimenso, umterceirodado(DURAND,1999,p.5960).

    Entretanto,depoisdeprofundasanlisesecomparaes,aconclusodofilsofofrancsmuitoobjetiva,noque diz respeito s hermenuticas redutoras. O fenmeno religioso precisa ser compreendido no seu aspectosimblico,porisso,quenecessitadeumahermenuticainstauradora.Durandconcluiseupensamentodizendo:

    Finalmente, psicanlise ou estruturalismo reduzemo smbolo ao signo ou, nomelhor dos casos, alegoria.Oefeitodetranscendnciadeverseiaapenas,numadoutrinaounoutra,opacidadedoinconsciente.UmesforodeelucidaointelectualistaanimatantoLviStrausscomoFreud.Todooseumtodoseesforaporreduzirosmboloaosigno(1993,p.52).

    5CONSIDERAESSOBREAHERMENUTICAINSTAURADORA

    Durand conseguiu fundamentar sua hermenutica simblica, assim que comprovou que existemhermenuticasredutoras,comoasdapsicanlise,sociologiaelingustica.Noentanto,ashermenuticasqueseguemsob a influncia do iconoclasmo endmico, e as diretrizes das cincias racionalistas e positivistas no podemcontribuir significativamente para uma compreenso fidedigna do fenmeno religioso. Portanto, o contributo dahermenutica simblica proveniente de Eranos tem seu referencial metodolgico para leitura e compreenso doimaginrioreligiosonashermenuticasnecessariamenteinstauradoras.

    Considerando as palavras do prprioDurand que aponta E.Cassirer (18741945), o filsofo neokantiano,ltimorepresentantedoidealismoalemo,queemsuaobrafilosofiadasformassimblicasconseguiureorientarascincias,ecriaraspossibilidadesdeseinstituirumahermenuticasimblica:

    Ernst Cassirer, que abrange a primeira metade do sculo XX e que teve o mrito de orientar afilosofia e no s o inqurito sociolgico e psicolgico para o interesse simblico. Esta obra(PhilosophiesiymbolischemFormen)constituiumadmirvelcontrapontoouumprefciodoutrinado sobreconsciente simblico de Jung, fenomenologia da linguagem potica deBachelard comoaos nossos prprios trabalhos de antropologia arquetipolgica ou ao humanismo deMarleauPonty(1993,p.53).

    ConformeDurandCassirerconsagratambmumapartedosseustrabalhosaomitoemagia,religioelinguagem.Cassirerconsegueconcluiroinventriodaconscinciaconstitutivadeuniversodeconhecimentoeao,quando rejeita a concepo positivista que considerava somente a primeira Crtica da razo pura deKant. Eleconsideraqueoutrascrticasdevemserconsideradas,emespecialaCrticadoJuzo(1993,p.53).

    Cassirerconseguedemonstrarde forma inversamentedasperspectivas substancialistasdocientificismo,dasociologia e da psicanlise, que a problemtica do smbolo no paira em seu fundamento, [...] antes, numaperspectivafuncionalqueocriticismoesboa,oproblemadaexpressoimanenteaoprpriosimbolizante(1993,p.54).

    Nesse sentido, Durand esclarece o pensamento de Cassirer a respeito da soluo que props comohermenuticaaproblemticadosmbolo,quandoafirma,queoobjetodasimblicanodemaneiranenhumaumacoisaanalisvel,masdeacordocomumaexpressodeCassirer,umafisionomia,isto,umaespciedemodelagem

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 9/11

    coisaanalisvel,masdeacordocomumaexpressodeCassirer,umafisionomia,isto,umaespciedemodelagemglobal,expressivaevivadascoisasmortaseinertes(1993).

    No entanto, Cassirer com sua proposta hermenutica do animal symbolicun conseguiu instaurar umametodologiacompreensivaquetrazgrandecontribuioaohermeneutadofenmenoreligioso.

    Valeressaltarqueoutropersonagemdegrandesignificnciaahermenuticasimblicainstauradora,segundoDurand,CarlGustavJung.OpsiquiatrasuoquementoriouoCrculodeEranos,ofereceuaomundodascinciasumadasmaisprofundasteoriassobreopapeldaimagem.ParaJung,aimagem,porsuaprpriaconstruo,ummodelo da autoconstruo (ou individuao) da psique (DURAND, 1999, p. 37). De acordo com Champlin(2001,p.306)

    Carl G. Jung supunha que todos os membros da humanidade compartilham de uma espcie dedepsito psicolgico, que contm os arqutipos. Esses arqutipos so eptomes simblicos dasprincipais facetasdaexperinciaedacompreensohumanas.Encontramosessesarqutipos sobaformadaGrandeMe(anima),oaspectofemininodanaturezadoGrandePai(animus),queoseuaspectomasculinodoProfeta,queohomeminteriorinspiradoaconheceraverdadeeatransmitila.

    Durand reconheceopapel instaurador da hermenutica do smbolo de Jung que entendia que o [...]simbolismo constitutivo do processo de individuao atravs do qual o eu se conquista por equilbrio, porcolocaoemsntesedosdoistermosdoSinnBild(Sentidoeimagem).(1993,p.58).OaspectoinstauradordahermenuticadeJungsefundamentanarupturadoconceitodeimagemesmboloemFreud.[...]vemosesboarseemJung,contrariamenteassociaoredutivadeFreud,umsobreconscientepessoaleecumnicoqueodomnioespecficodosmbolo(1993,p.59).

    Durand buscou no mestre Gaston Bachelard (18841962) o mtodo de leitura da linguagem potica.EntendendoqueBachelardorientaasua investigaosimultaneamenteparaosobreconscientepotico (1993, p.62). Filsofo, epistemlogo, crtico literrio,GastonBachelard, de acordo comDurand, tem um universo que sedivideemtrssetores:

    [...] o setor que presta cincia objetiva e donde qualquer smbolo deve ser proscritoimpiedosamentesobpenadeeclipsedoobjeto,o setordosonho,daneurose,noqualosmbolosedesfaz, se reduz [...] terceiro setor, este plenrio porque especfico da humanidade que existe emns: o setor da palavra humana, isto , da linguagem que nasce, que brota do gnio da espcie,simultaneamentelnguaepensamento(DURAND,1993,p.61).

    Contudo,BachelardinstaurasuahermenuticasobreomtodofenomenolgicodeHusserl,comoafirmaDurandparaexplorarouniversodoimaginrio,dareconduosimblica,afenomenologiaqueseimpeeselapermite reexaminar com um olhar novo as imagens fielmente amadas (1993, p. 6364). A fenomenologia doimaginrio,emBachelard,umaescoladeingenuidadequenospermitecolher,paraldetodososobstculosdocompromissobiogrficodopoetaoudoleitor,osmboloemcarneeosso.

    DuranddeclaracomoafenomenologiadeBachelarddinmicaeamplificadoraesedifereamplamentedafenomenologiaestticaeniilistadeSartre(1993,p.64).PoisahermenuticafenomenolgicadeBachelardanalisaasimagenspormeiodadialtica,[...]apoderasedestasimagensereconstriummundodeacolhimentoatodasasatitudesdohomem,ummundodefelicidadepelaconcordncia(1993,p.65).

    Duranteo trajetode felicidadesurgemmuitoscosmos intermedirios,queBachelarddenominadeespaopotico,quenarealidadeummicrocosmoprivilegiadoehumanizadopelasatividadesesonhos.Eleexemplificaqueacasacomohabitaohumanaqueserepetedoporoaostoossmbolosdomundonasuapedra,nassuastraves,comonasualareira.

    Estasimagensemetforassubstancialistasdospoetasremetem,[...]paraestahabitaodemundo,dequeaminhacasaoltimosmbolo.Portanto,osmbolorevelanosummundoeasimblicafenomenolgicaexplicitaestemundo(DURAND,1993,p.66).

    Enfim, Durand define o valor instaurativo da hermenutica de Bachelard, como o seu contributo para ahermenuticasimblica.

    OgniodeBachelardconsisteemtercompreendidoqueestasuperaodosiconoclasmosspodiaefetuarseatravsdameditaoedasuperaodacrticacientfica,comoatravsdasuperaodosimpleseconfusomergulhoonrico(1993,p.70).

    O imaginrio que Bachelard chegou, [...] sobre a totalidade do imaginrio e dar acesso naexperincia da conscincia, no s na poesia, mas tambm aos velhos mitos, aos ritos quedemarcamasreligies,smagiasesneuroses(DURAND,1993,p.71)

    EnquantoBachelardcomoseumtodofenomenolgicoinaugurouumanovacrticaeabriuosportaisdainvestigao do fenmeno do imaginrio. Nesse sentido, Durand conseguiu prolongar e expandir o gnio deBachelardeassiminaugurarsuateoria.

    ParaDurandfoiprecisorefutarosmtodosredutoresquesvisamaepidermesemiolgicadosmbolo,fazerocercodasreminiscnciasqueprivilegiamoracionalismo,seafastardetodososconceitosredutorese,apartirdosinstauradoresconstruirumaHermenuticaSimblica.AteoriageraldoimaginriodeDurandoresultadodeumavastaeminuciosacomparaoterica,aplicadaaobalanopsicossocialdopsiquismo.Duranddedicou15anosparainaugurar uma teoria que desse suporte a compreenso do imaginrio, como oferecesse suporte para ashermenuticasinstauradoras.Comonosexplica,assuasconclusesolevaramaordenarnumplanotrplice,

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 10/11

    hermenuticasinstauradoras.Comonosexplica,assuasconclusesolevaramaordenarnumplanotrplice,

    [...]Emprimeiro lugar,odeuma teoriageraldoimaginrio concebidocomouma funogeraldoequilbrioantropolgico,emseguidaodosnveisformadoresdas imagenssimblicas,estasltimastransformandose e informandose em todos os setores e em todos os ambientes da atividadehumana, finalmente a generalizao tanto esttica como dinmica da virtude de imaginao queconduz a uma metodologia que j uma tica e que desenha uma metafsica [...] pela prpriageneralizaodoseupontodeaplicao, implicaaconvergnciadosmtodos,aconvergnciadashermenuticas(DURAND,1993,p.74).

    Assimentendemosque a convergnciadashermenuticas sedpormeiodos smbolos subjacentesnalinguagem e inerentes ao imaginrio. Enquanto que a convergncia simblica se d pormeio dos dois regimes:DiurnoeNoturno.

    CONSIDERAOESFINAIS

    ApsterefetuadoumaleiturahistricocrticasobreoCrculodeEranos,umaanlisemaisaprofundadasobreaterceirafase(hermenuticasimblica),eidentificarmosoimpulsoqueoCrculodeEranosobteveatravsdomtodofenomenolgico,bemcomoaimportnciadofilsofoGilbertDurandesuahermenuticainstauradora emEranosconstrumosaconsideraofinaldenossoestudo.

    Assim,possvelconcluirqueahermenuticasimblica,decunho instauradora, fundamentadaemEranospor Durand, pode significativamente proporcionar uma compreenso do fenmeno religioso, entendendo que omesmoconsisteemumamanifestaosimblica,equeossmbolossodascategoriasdoimaginrio.

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, Rogerio.Mitocritica emitanlise no campo da hermenutica simblica. In: GOMES, Eunice S. L.(Org.).Embuscadomito:amitocrticacomomtododeinvestigaodoimaginrio.JooPessoa:Ed.UFPB,2011,p.1538.BBLIASAGRADA.Novaversointernacional:SociedadeBblicaInternacional:SoPaulo,2000.BRAIDA,CelsoR.Aspectos semnticosdahermenutica deSchleiermacher. In:FilosofiaHermenutica. (Org)REIS,RbsonRamosdosROCHA,RonaiPiresda.SantaMaria:EditoraUFSM,2000.BROWN,Colin.Filosofiaefcrist.Traduo:GordonChown.SoPaulo:VidaNova,1989.CHAMPLIN,RussellNorman.EnciclopdiadeBblia teologiae filosofia. v.3.Trad. JooMarquesBentes.SoPaulo:Hagnos,2001.DURAND,Gilbert.Oimaginrio:ensaioacercadascinciasedafilosofiadaimagem.TraduoRenEveLevi.3.ed.RiodeJaneiro:DIFEL,1999.DURAND,Gilbert.Asestruturasantropolgicasdoimaginrio:Introduoaarquetipologiageral.TraduodeHelderGodinho.SP:MartinsFontes,2002.DURAND,Gilbert.Aimaginaosimblica.SoPaulo:Cultrix,EditoradaUniversidadedeSoPaulo,1993.DURANT,Will.Ahistriadafilosofia.Traduo:LuizCarlosdoNascimentoSilva.RiodeJaneiro:NovaCultura,1996.ELIADE,Mircea. Imagens e smbolos:ensaio sobreo simbolismomgico religioso.SoPaulo:MartinsFontes,1991.ELIADE,Mircea.Origens:Histriaesentidonareligio:SoPaulo:Edies70,1992.ENCARTA.EnciclopdiaDigital.MicrosoftCorporation.2001.FILORAMO,GiovanniPRANDI,Carlo.Ascinciasdasreligies.TraduoJosMariadeAlmeida.SoPaulo:Paulus,2010.GADAMER,HansGeorg.Hermenuticaemretrospectiva.TraduoMarcoAntonioCasanova:Riode Janeiro:Vozes,2009.GADAMER, HansGeorg.Verdade eMtodo: Traos fundamentais de uma hermenutica filosfica. TraduoFlvioPauloMeurer:RiodeJaneiro:Vozes,1999.HINNELLS,JohnR(Org.).Dicionriodasreligies.TraduoOctavioMendesCajado:SoPaulo:Cultrix,1995.MARDONES, Jos Mara.A vida do smbolo: A dimenso simblica da religio. Traduo: Euclide MartinsBalancin.SoPaulo:Paulinas,2006.ORTIZOSS,Andrs.ElcrculodeEranos.In:K.Kernyi,E.Neumannetall.Arquetiposysmboloscolectivos:CrculoEranos.Barcelona:Ed.Anthropos,2004.PITTA,DaniellePerinRocha. Iniciao teoria do imaginrio deGilbertDurand. Rio de Janeiro:Atlntica,2005.REDYSON,Deyve.Fenomenologiaehermenuticadareligio.JooPessoa:EditorauniversitriaUFPB,2011.Voltar

    Realizao: Apoio:

  • 21/03/2015 Humanos

    http://m40s.com/humanizacao/IEventoEE/1/Autor.html 11/11