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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
DANIELA SCHRAMM SZENSZI
A HIPNOSE EM TRIATLETAS:
PERCEPO DAS CARACTERSTICAS DA VISUALIZAO DA
PROVA DE IRONMAN E SEUS COMPONENTES
PSICOFISIOLGICOS
FLORIANPOLIS2005
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DANIELA SCHRAMM SZENSZI
A HIPNOSE EM TRIATLETAS:
PERCEPO DAS CARACTERSTICAS DA VISUALIZAO DA
PROVA DE IRONMAN E SEUS COMPONENTES
PSICOFISIOLGICOS.
Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre emPsicologia, Programa de Ps-Graduao emPsicologia, Mestrado, Centro de Filosofia eCincias Humanas da Universidade Federalde Santa Catarina.
Orientador: Prof. Emlio Takase, Dr.
FLORIANPOLIS2005
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DANIELA SCHRAMM SZENSZI
A HIPNOSE EM TRIATLETAS: PERCEPO DAS
CARACTERSTICAS DA VISUALIZAO DA PROVA DE IRONMAN
E SEUS COMPONENTES PSICOFISIOLGICOS.
Dissertao aprovada como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Psicologiano curso de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
___________________________________________________________________________Dra. Andra ZanellaCoordenadora do programa
Banca Examinadora:
Orientador:___________________________________________________Prof. Dr. Emlio TakaseUniversidade Federal de Santa Catarina
Co-orientador:____________________________________________Prof. Dr. Alexandro AndradeUniversidade do Estado de Santa Catarina
Membro:___________________________________________________Prof. Dr. Roberto CruzUniversidade Federal de Santa Catarina
Suplente:___________________________________________________Prof. Dr. Jos Carlos Zanelli
Universidade Federal de Santa CatarinaFlorianpolis, Julho de 2005.
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Ao meu pai,George Vittorio Szenszi, que comsua sabedoria me deu conhecimento, einspirao...
minha me, Elisabete Schramm, que me deufora, amor e compreenso.Amo vocs.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Prof. Dr. Emlio Takase, por acreditar no projeto e me fazer pensar.
Suas idias inovadoras so inspiradoras!
Ao meu co-orientador e amigo Prof. Dr. Alexandro Andrade por adotar a idia e me
fazer crescer. Obrigada por estar sempre disposto e bem humorado. Descobri uma grande
pessoa!
Ao Prof. Dr. Roberto Cruz, pela participao e colaborao.
Ao Sr. Jos Seixas, diretor da Polar no Brasil, quem forneceu os monitores cardacos
para a realizao da coleta.
Aos meus pais, George Vittorio Szenszi e Elisabete Schramm, pela compreenso,
fora apoio e incentivo. Vocs me deram a melhor educao que se pode dar a um filho:
acreditaram em mim sempre...o que seria de mim sem vocs!
minha V rika amada, fonte de pura inspirao. Vzinha te amo muito!
Ao meu V Chico, sempre presente em meus pensamentos (In memoriam).
Ao meu irmo Gabriel por ceder seu espao.
minha irm Juliana que mesmo de longe me ajuda sem nem saber.
Ao meu amor Andr, meu equilbrio nas horas difceis. Obrigada por estar sempre
aqui, me respeitando, cuidando e incentivando!
s amigas Caroline, Martina e Sabrina, por toda a ajuda nesse processo. Obrigada
mesmo meninas!
minha amiga Karin, que me surpreendeu no final. No tenho palavras...
minha amiga Giseli por estar sempre ali pronta a ouvir.
s minhas amigas Grasi, Mrcia e Ana pela fora sempre presente.
Cac que mesmo de longe est sempre aqui.
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equipe FloripaIron em especial todos os atletas envolvidos na pesquisa, sem vocs
nada disso seria possvel.
Agradeo a todos aqueles que de forma direta ou indireta fizeram parte desse processo.
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RESUMO
A hipnose vem sendo estudada em diversas reas da sade, como a medicina, odontologia etambm a rea esportiva. Esta pesquisa objetivou investigar em atletas de triatlon a percepodas caractersticas da visualizao da prova de Ironman e os seus componentespsicofisiolgicos durante o transe hipntico. Foram estudados 7 atletas do sexo masculino em6 sesses de hipnose. Aps cada sesso foi feita uma entrevista semi-estruturada e aplicadoum questionrio. A freqncia cardaca (FC) foi monitorada durante o transe em todas assesses. Os resultados apontam o relaxamento e a concentrao como caractersticasprincipais do transe hipntico com triatletas. Os atletas sentiram relaxamento corporal durantetodo o transe, e aps este, o que foi confirmado pelo comportamento da freqncia cardaca.
A FC diminuiu significativamente no incio do transe (p = 0,000) mantendo-se baixa at otrmino do transe, quando aumentou significativamente (p = 0,000), sendo que a mdia dogrupo foi de 60 bpm. Os atletas relataram estar concentrados durante todo o transeespecialmente na voz da terapeuta. A ateno focal foi mais intensa durante a visualizao. Osparticipantes tiveram uma tendncia a sentir o corpo de normal a aquecido e mais leve. Osparticipantes perceberam a entrada e sada do transe de forma natural e gradativa. Osfenmenos hipnticos de hipermnsia, catalepsia e anestesia, estiveram presentes menosfreqentemente. Durante a visualizao da prova de Ironman, os atletas responderam nosquestionrios estar em perspectiva interna (dentro da imagem) ou intercalando entre interna eexterna. Nas entrevistas esta percepo apareceu bem distribuda entre estar dentro, fora ouintercalando. Os atletas perceberam imagens em geral com boa qualidade (foco mdio, luzmdia, tamanho mdio, coloridas e com movimentao normal) apontando uma proximidadecom as imagens vistas no estado acordado. Os participantes perceberam estar respirandolentamente e profundamente, o que est de acordo com o comportamento da FC e com asensao de relaxamento. Conclui-se que a hipnose aplicada em atletas de triatlon durante avisualizao da prova de Ironman, produz comportamentos tpicos da hipnose, sendo que ascaractersticas concentrao, relaxamento, anestesia e hipermnsia, podem ser ainda melhoraproveitadas no meio esportivo. A hipnose uma ferramenta til no treinamento de atletas detriatlon e com potencial a ser explorada em outros esportes.
PALAVRAS-CHAVE: Hipnose. Triatlon. Visualizao
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ABSTRACT
Hypnosis has been studied in different health related areas such as medicine, dentistry andalso the sports field. This research aimed to investigate triathlon athletes perceptions ofvisualization characteristics of the Iroman race, as well as its psycho physiologicalcomponents during trance state. 7 male athletes have been studied within 6 hypnosis sessionseach. After each session, a semi-structured interview has been done and a questionnaire hasbeen applied. The heart rate (HR) was monitored during trance in every session. Results pointto relaxation and concentration as the main characteristics of the hypnotic trance in triathletes.The athletes felt body relaxation which was confirmed by cardio frequency. The HR sloweddown significantly in the beginning of the trance (p = 0,000) remaining low until the end of
the trance, when increased significantly (p = 0,000). The HR mean was 60 bpm correspondingto what was reported during the research. The athletes reported to be concentrated during theentire trance, especially on the therapists voice. The focus attention was more intense duringthe visualization. The participants tended to fell their bodies from normal to warmer andlighter. The subjects noticed the entrance and exit from the trance happening gradually andnaturally. The hypnotic phenomena hipermnesia, catalepsy and anesthesia were present lessfrequently. During the visualization of the race, the athletes answered on the questionnaires,to be in an internal perspective (inside the image) or to vary between internal and externalperspective. On the interviews this perception appeared well distributed between being inside,outside or between. The athletes reported to see mental images in good quality (mediumfocus, medium light, medium size, colorful and with regular movement) pointing a proximityto real life images. The participants noticed to be breathing slowly and deeply, which alsocorresponded to the cardio frequency behavior. It has been concluded that hypnosis applied totriathlon athletes during the visualization of the Ironman Race produces typical hypnosisbehaviors, and the characteristics concentration, relaxation, anesthesia and hipermnesia can beeven better used on the sports field. Hypnosis is a useful tool on triathlon practice and it has apotential to be explored in others sports.
KEY WORDS: Hypnosis. Triathlon. Imagery.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Percepes de Atletas de Triatlon durante o Processo Inicial do Transe 63
Tabela 2. Percepes de Atletas de Triatlon durante a Visualizao da Prova deIronman 67
Tabela 3. Percepo de Atletas de Triatlon durante o Retorno do Transe Hipntico 70
Tabela 4. Percepo Sensorial de Triatletas com relao Temperatura Corporaldurante o transe Hipntico* 71
Tabela 5. Percepo Sensorial de Triatletas com relao ao Peso Corporal durante otranse Hipntico* 71
Tabela 6. Percepo Sensorial de Triatletas com relao ao Formigamento, Dormncia,Imobilidade e Sensibilidade Corporal durante o Transe Hipntico* 72
Tabela 7. Percepo Sensorial de Triatletas com relao ao Relaxamento e Tensodurante o Transe Hipntico* 72
Tabela 8. Percepo Sensorial da Respirao de Triatletas durante o TranseHipntico.* 73
Tabela 9. Percepo da Intensidade da Visualizao da Prova de Ironman de Triatletasdurante o transe Hipntico* 73
Tabela 10. Percepo de Triatletas da durao do Transe Hipntico* 74
Tabela 11. Percepo Psicofsica de Triatletas em relao aos Sons Externos durante oTranse Hipntico* 74
Tabela 12. Percepo Psicofsica de Triatletas em relao Voz do Terapeuta durante oTranse Hipntico.* 74
Tabela 13. Percepo Psicofsica de Triatletas do Som da Msica durante o TranseHipntico* 75
Tabela 14. Percepo de Triatletas dos Sons da Visualizao da Prova de Ironman* 76
Tabela 15. Percepo de Triatletas sobre aspectos relacionados s Imagens daVisualizao da Prova* 76
Tabela 16. Freqncia Cardaca Mnima, Mxima e Mdia de Triatletas durante oTranse Hipntico 77
Tabela 17. Valores Mximos, Mdios e Mnimos das Freqncias Cardacas de Triatletasdurante o Transe Hipntico 78
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SUMRIO
1 INTRODUO 13
1.1 PROBLEMA ...........................................................................................................13
1.2 OBJETIVO GERAL ................................................................................................16
1.3 OBJETIVOS ESPECFICOS ..................................................................................16
1.4 JUSTIFICATIVA.....................................................................................................16
1.5 DELIMITAO DE ESTUDO ...............................................................................17
1.6 DEFINIO DE TERMOS ....................................................................................18
1.7 LIMITAES DE ESTUDO...................................................................................20
2 REVISO DA LITERATURA 21
2.1 DEFINIES SOBRE A HIPNOSE.......................................................................21
2.2 A HISTRIA DA HIPNOSE ...................................................................................22
2.3 OS MITOS SOBRE A HIPNOSE ............................................................................25
2.4 AS TEORIAS SOBRE A HIPNOSE.........................................................................27
2.5 ABORDAGEM TRADICIONAL VERSUS ABORDAGEM NATURALISTA OU
ERICKSONIANA .............................................................................................................29
2.6 CARACTERSTICAS FENOMENOLGICAS DO TRANSE .................................33
2.7 A ORGANIZAO DOS EVENTOS DE TRANSE.................................................36
2.7.1 Acompanhando a Experincia Corrente e Aprofundando O Transe
Hipntico ..............................................................................................................37
2.8 ESTUDOS SOBRE A HIPNOSE.............................................................................38
2.9 FREQNCIA CARDACA E SISTEMA CIRCULATRIO .................................39
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2.10 VISUALIZAO.....................................................................................................40
2.11A HIPNOSE NOS ESPORTES................................................................................42
3 MTODO 45
3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA.....................................................................45
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA .........................................................................46
3.3 CARACTERIZAO DO TRIATLON E DA PROVA DE IRONMAN....................47
3.4 CARACTERIZAO DO LOCAL ..........................................................................47
3.5 CARACTERSTICAS E VARIVEIS PESQUISADAS............................................47
3.6 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ........................................................52
3.7 ESTUDO PILOTO..................................................................................................53
3.8 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.....................................................54
3.9 ANLISE DOS DADOS..........................................................................................56
3.9.1 Anlise das Informaes das Entrevistas .................................................56
3.9.2 Tratamento dos dados do questionrio .....................................................58
3.9.3 Tratamento dos dados da freqncia cardaca..........................................58
3.10ASPECTOS TICOS ..............................................................................................59
4 RESULTADOS 60
4.1 DESCRIO DO CONTEDO DAS ENTREVISTAS ...........................................60
4.1.1 Processo Inicial do Transe........................................................................60
4.1.2 Visualizao..............................................................................................63
4.1.3 Retorno do transe......................................................................................68
4.2 DADOS DO QUESTIONRIO...............................................................................70
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4.3 COMPORTAMENTO DA FREQNCIA CARDACA.........................................77
5 DISCUSSO DOS RESULTADOS, CONCLUSES E SUGESTES 79
5.1 DISCUSSO DOS RESULTADOS.........................................................................79
5.1.1 O relaxamento e outras alteraes sensoriais ...........................................79
5.1.2 Caractersticas da visualizao.................................................................85
5.1.3 Fenmenos hipnticos ..............................................................................89
5.1.4 Retorno do Transe ....................................................................................91
5.1.5 O comportamento da respirao e freqncia cardaca durante o transe .92
5.2 CONCLUSES E SUGESTES.............................................................................94
6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 98
APNDICES 106
ANEXO 1. 140
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1 INTRODUO
1.1 PROBLEMA
A hipnose foi associada durante sculos perda da conscincia e o controle voluntrio
das aes, um estado onde o hipnotizador poderia manipular o hipnotizado a fazer o que ele
quisesse, inclusive revelar os mais profundos segredos. Cercada de misticismo, durante muito
tempo foi alvo de crticas e admirao. Apresentaes em pblico, colaboraram para a
disseminao desta tcnica como algo mgico e misterioso. A hipnose, no entanto, existe sim
h muitos sculos, e acredita-se que a antiga cura por imposio das mos ou a atuao doscurandeiros pela f j eram de natureza hipntica.
Sculos se passaram e a hipnose evoluiu. O termo inicialmente vindo da raiz grega
hipnos, que significa sono, j no tem mais este sentido. A hipnose se tornou uma tcnica
estudada e respeitada em diferentes reas, possibilitando que seja usada de forma mais ampla
e proveitosa. Autores como Caballo, Elman, Rossi e Erickson trazem uma nova roupagem
para esta tcnica antiga, e neste mesmo sentido, pesquisadores ao redor do mundo procuram
desvendar os mecanismos funcionais da hipnose e seus efeitos nas diversas reas da sade.
A hipnose ganhou respeito na medicina, principalmente pelos efeitos na analgesia
(DIETRICH, 2003). Esta abordagem tem sido usada por milnios para tratar problemas
mdicos e dermatolgicos. Desordens dermatolgicas podem ser melhoradas ou curadas com
o uso da hipnose como uma terapia complementar ou alternativa (SHENEFELT, 2003).
Os resultados positivos trazidos pela hipnose para o alvio da dor tm sido estudados
tambm em pesquisas clnicas. Muitos experimentos clnicos controlados tm sido conduzidos
usando a hipnose para controlar a dor (GAY; PHILIPPOT; LUMINET, 2002). Estudos
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clnicos em Odontologia (STAM; MCGRATH; BROOKE, 1984; ENQVIST; FISHER, 1997),
tratamentos de queimaduras (PATTERRSON; PTACEK, 1997; OHRBACH et al., 1998),
cirurgias (LAMBERT, 1996; MAUER et al., 1999) e radiologia (LANG; ROSEN, 2002) tm
indicado que esta tcnica traz resultados no tratamento tanto de dores agudas quanto crnicas
mostrando diminuir em 50% as dores provocadas pela osteoartrite aps quatro semanas de
treinamento(GAY; PHILIPPOT; LUMINET, 2002).
Observando o nmero de pesquisas realizadas na rea da sade, pode-se indagar as
colaboraes deste tipo de tcnica teraputica em outras reas como a dos esportes. A
utilizao da hipnose no contexto esportivo vem sendo estudada em pases como Estados
Unidos, Itlia e Alemanha. As pesquisas englobam aspectos como o estado de fluncia
(MASTERS, 1992; PATES; MAYNARD, 2000), visualizao (LIGGETT; HAMADA,
1993), a utilizao da hipnose para o aprimoramento do desempenho de arqueiros
(ROBAZZA; BORTOLI, 1995),no tratamento da ansiedade (MORGAN, 1995), entre outros.
Devido demanda fsica e mental que os esportes exigem de atletas, em especial os de
alto rendimento, procuram-se novas alternativas de melhora da performance e de melhora do
bem estar destes indivduos. Terapias alternativas como acupuntura, massagem, yoga,
meditao, entre outros, so algumas destas alternativas buscadas pelos atletas na promoo
do bem estar.A hipnose, tanto voltada para a performance, quanto para a sade, pode ser uma
alternativa nos trabalho com atletas.No contexto esportivo de alto rendimento, o triatlon considerado uma atividade de
enduro, composta por trs modalidades praticadas consecutivamente: natao, ciclismo e
corrida (OTOOLE; DOUGLAS; HILLER, 1998). Existem diversas competies de triatlon,
com distncias bastante distintas. Dentre estas, a prova de Ironman a mais longa. Triatletas
se preparam aproximadamente durante cinco meses especificamente para esta prova, sendo
que seguem uma planilha de treinamento diria com uma mdia de 20 horas de treinamento
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semanal. Alm de ser um teste de resistncia fsica, este evento exige fora mental
simplesmente para completar a prova (OTOOLE, 1999 apud SCHOFIELD et al., 2002). O
treinamento intensivo antecedente a prova pode provocar estados emocionais como ansiedade,
estresse, irritabilidade e baixa auto-estima. Durante a prova importante que o atleta consiga
controlar a ansiedade, manter a concentrao, e ir ajustando seu equilbrio emocional
medida que surgem sintomas fsicos como a cibra, dores estomacais e o prprio cansao
(SZENSZI, 2002).
Considerando a literatura revisada, as possibilidades de atuao junto aos atletas com a
hipnose, e a pretenso de entender mais profundamente como o atleta vivencia a hipnose,
chega-se a seguinte pergunta de pesquisa norteadora deste estudo:
Quais so as caractersticas da visualizao da prova de Ironman e seus componentes
psicofisiolgicos na percepo de atletas de triatlon, durante o transe hipntico?
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1.2 OBJETIVO GERAL
Investigar as caractersticas da visualizao da prova de Ironman e seus componentes
psicofisiolgicos durante o transe hipntico, na percepo de atletas de triatlon.
1.3 OBJETIVOS ESPECFICOS
a) Identificar as percepes sensoriais do atleta de triatlon durante o transe hipntico;b) Identificar quais so as caractersticas da visualizao da prova de Ironman durante
o transe hipntico, na percepo de atletas de triatlon;
c) Analisar o comportamento da freqncia cardaca de atletas de triatlon durante otranse hipntico.
1.4 JUSTIFICATIVA
Sob a tica da demanda fsica e psicofsica (aspectos cognitivos e emocionais) que
esportes como o triatlon exigem, existe a necessidade de novas alternativas de trabalho para
promover o bem estar dos atletas. Para que isto seja possvel, h a necessidade de estud-las e
compreende-las para serem melhor direcionadas no contexto esportivo.
Em publicaes nacionais, existe uma carncia expressiva em relao ao tema, tanto
na rea da sade quanto na rea esportiva. O Brasil, sendo um pas em crescente
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desenvolvimento esportivo, necessita de que pesquisas sejam feitas para aprimorar a
performance e promover o bem estar destes atletas.
Neste sentido, os mais conhecidos fenmenos hipnticos tais como anestesia e
relaxamento, poderiam por exemplo, auxiliar no tratamento de leses em atletas e na
diminuio da ansiedade pr-competitiva. Outros fenmenos como a hipermnsia ajudariam a
aperfeioar jogadas erradas durante as partidas, e at repetir com exatido jogadas bem feitas.
A hipnose pode assim, ser uma alternativa de trabalho e de promoo do desenvolvimento
esportivo no pas.
Tendo em vista os resultados recentes da utilizao da hipnose ericksoniana, e a
carncia de estudos descrevendo a experincia dos indivduos em relao esta abordagem
(STAM; MCGRATH; BROOKE, 1984; ENQVIST; FISHER, 1997; PATTERRSON;
PTACEK, 1997; OHRBACH et al., 1998; LAMBERT, 1996; MAUER et al., 1999; GAY;
PHILIPPOT; LUMINET, 2002; SHENEFELT, 2003; DIETRICH, 2003), pretende-se neste
estudo conhecer melhor as caractersticas da vivncia de atletas com a hipnose. Esta pesquisa
pode colaborar para o melhor entendimento da hipnose, e abrir novas possibilidades para a
sua utilizao com atletas.
1.5 DELIMITAO DE ESTUDO
Este estudo delimitado a um estudo de campo exploratrio realizado com uma
equipe de triatlon participante da prova de Ironman. A pesquisa de carter qualitativo e
quantitativo-descritivo, sendo que a etapa referente freqncia cardaca caracterizada
como um estudo quase-experimental. O estudo investiga as percepes de triatletas acerca das
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caractersticas da visualizao da prova e do transe hipntico, assim como o comportamento
da freqncia cardaca durante a hipnose.
1.6 DEFINIO DE TERMOS
Hipnose: estado de relaxamento em que o indivduo aumenta a sua ateno e sua
receptividade a idias tendo como efeito uma alterao das capacidades sensoriais e motoras
para iniciar um comportamento adequado (ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 1994).
Transe Hipntico: perodo durante o qual o participante encontra-se sob estado de
hipnose.
Fenmenos hipnticos: sintomas ou funes da percepo que so afetadas por um
processo de diferenciao da figura do fundo inserido no campo fenomenolgico ocorrido
dentro da experincia hipntica, seja por sugesto ou espontaneamente (WOODARD, 1996).
Caractersticas Psicofsicas: caractersticas que atendem correlao entre aspectos
de estmulo fsico e as sensaes que eles provocam (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL,
1991).
Sensao: resultado imediato da atividade de receptores sensoriais (BRANDO,
2001). Os sistemas sensoriais recebem informaes do ambiente e transmitem ao sistema
nervoso central, onde sero usadas em trs principais focos: sensao, controle de movimento
e manuteno da estimulao. Alm da informao recebida do ambiente, recebemos
informao do prprio corpo, tais como aes da musculatura, por exemplo (KANDEL;
SCHWARTZ; JESSEL, 1991).
Percepo: etapa final do processo de ativao dos receptores sensoriais, onde h o
reconhecimento e identificao (BRANDO, 2001). Percepes no so registros diretos do
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mundo externos, mas so parcialmente construdas internamente, de acordo com as nossas
regras inatas ou nosso pr-conhecimento (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 1991).
Percepo Sensorial: percepo dos estmulos internos ou externos ao corpo, iniciada
pela recepo de informaes por meio de receptores sensoriais e interpretadas pela pessoa
posteriormente.
Imagens Mentais: imagens surgidas na mente de maneira espontnea e voluntria na
ausncia fsica do objeto. As imagens mentais esto associadas aos significados e conceitos, e
recrutam mecanismos de memria, no necessitando da presena fsica do objeto
(BRANDO, 2001).
Conscincia: auto conhecimento instantneo da atividade psquica (BAUER, 1998).
Consciente ou Mente Consciente: conjunto de processos e fatos psquicos durante os
quais temos conscincia (BAUER, 1998).
Inconsciente ou Mente Inconsciente: atividades e procedimentos psquicos do
indivduo, dos quais este no tem conscincia (BAUER, 1998).
Visualizao: ver imagens mentais (OCONNOR, 2001).
Mentalizao: uma forma de simulao, sendo semelhante experincia real de ver,
ouvir e sentir, porm ocorrendo apenas na mente (WEINBERG; GOULD, 2001). Exerccio de
ver apenas mentalmente imagens criadas ou memrias de situaes vividas, utilizando o
mximo de estmulos sensoriais possveis: auditivo, olfativo, gustativo, ttil e visual.Mente: uma gama de funes carregadas pelo crebro (KANDEL; SCHWARTZ;
JESSEL, 1991). Funes que permitem ao indivduo pensar, imaginar, mentalizar e visualizar
qualquer coisa a qualquer momento.
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1.7 LIMITAES DE ESTUDO
A amostra inicial de 10 atletas foi reduzida a 7 de acordo com a disponibilidade dos
participantes. Todos os participantes possuam atividades paralelas aos treinos (trabalho e/ou
estudo) o que impossibilitou a padronizao de horrios para a realizao da pesquisa. Alm
disso, a pesquisadora por fazer parte da equipe de profissionais que atuavam junto equipe,
teve contato prvio com alguns dos participantes da pesquisa, o que pode ter influncia na
vivncia dos atletas. Vale ressaltar que este contato no envolveu induo hipntica.
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2 REVISO DA LITERATURA
2.1 DEFINIES SOBRE A HIPNOSE
Krasner (1990/1991) destaca a definio de hipnose de Hilgard e Weitzenholffer como
sendo a vontade de ser receptivo a idias, permitindo a estas idias agirem sem interferncias.
Estas idias podem ser chamadas de sugestes. Ansari (1991) complementa a definio
dizendo que hipnose um estado alterado em que o indivduo pode ser sugestionvel. Este
estado ocorre por meio do uso combinado de relaxamento, fixao da ateno e sugesto.
Milton Erickson aponta definies ao longo de sua literatura sobre o que hipnose.
Krasner (1990/1991) descreve uma das definies de Erickson como hipnose sendo um estado
em que o indivduo tem a sua ateno e a sua receptividade a idias aumentadas, podendo ser
vista como uma susceptibilidade ampliada para a sugesto. Neste estado, o indivduo tem
como efeito uma alterao das capacidades sensoriais e motoras para iniciar um
comportamento adequado (ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 1994).
A American Psychological Association define a hipnose da seguinte maneira: A
hipnose tipicamente envolve uma introduo ao procedimento durante o qual dito aoparticipante que sugestes para experincias imaginativas sero apresentadas. A induo
hipntica uma sugesto inicial estendida para usar a imaginao da pessoa, e pode conter
outras elaboraes da introduo. O procedimento hipntico usado para encorajar e avaliar
respostas s sugestes. Quando usando a hipnose, a pessoa (o participante) guiada por outra
(o hipnotista) a responder sugestes de mudanas nas experincias subjetivas, alteraes nas
sensaes, percepes, pensamentos ou comportamentos... Procedimentos tradicionalmente
envolvem sugestes de relaxamento, apesar do relaxamento no ser necessrio para a hipnose
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e uma grande variedade de sugestes podem ser usadas incluindo aquelas para se tornar mais
alerta.1 (APA, traduo nossa, 2005)
2.2 A HISTRIA DA HIPNOSE
Erickson, Hershman e Secter (1994) fazem um breve histrico da hipnose. Segundo os
autores, a hipnose moderna inicia com Franz Mesmer em 1773. Mesmer usava ms no
tratamento de casos de histeria. O sacerdote jesuta e astrnomo Maximilian Hell, para quem
Mesmer trabalhava, acreditava que a cura se dava pelas propriedades fsicas do m. Mesmer
atribua a cura redistribuio de algum tipo de fluido que ele chamou de magnetismo
animal.
Erickson, Hershman e Secter (1994) afirmam que mais tarde, em 1975, um padre
chamado Grasner curava as pessoas pela imposio das mos. Mesmer acreditou que Grasner
usava o magnetismo animal sem ter conhecimento. O mesmerismo evoluiu at que uma
comisso formada por Benjamin Franklin, o qumico Lavosier, Dr. Guillotin e outros,
descobriram que os efeitos do trabalho de Mesmer provinha da imaginao dos pacientes e
no de fluidos magnticos.
Segundo os autores, em 1841, um mdico ingls chamado James Braid interessou-sepelo assunto declarando que o magnetismo animal no estava envolvido nas curas, mas sim a
sugesto. Criou uma tcnica de fixao-visual para a induo de relaxamento. Inicialmente
por achar que era um estado semelhante ao sono, chamou-a de hipnose vinda da palavra grega
1Hypnosis typically involves an introduction to the procedure during which the subject is told that suggestions for imaginativeexperiences will be presented. The hypnotic induction is an extended initial suggestion for using one's imagination, and may contain furtherelaborations of the introduction. A hypnotic procedure is used to encourage and evaluate responses to suggestions. When using hypnosis, oneperson (the subject) is guided by another (the hypnotist) to respond to suggestions for changes in subjective experience, alterations inperception, sensation, emotion, thought or behavior Procedures traditionally involve suggestions to relax, though relaxation is notnecessary for hypnosis and a wide variety of suggestions can be used including those to become more alert.
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hypnos = sono. Mais tarde tentou mudar para monodesmo, que significa concentrao sobre
uma idia, mas foi em vo. Hipnose persistiu, apesar de no corresponder diretamente ao
fenmeno, mantendo a idia de que um estado relacionado ao sono.
Erickson, Hershman e Secter (1994) descrevem os fatos ocorridos de 1845 a 1956. Em
1845, James Esdaile, um cirurgio que trabalhava nas florestas da ndia, fez centenas de
pequenas cirurgias em nativos utilizando a anestesia mesmrica, registrando 250 destas
operaes no livro: Mesmerismo na ndia publicado em 1950. Neste livro, Esdaile descreve
com detalhes as cirurgias e muitos fenmenos hipnticos da mesma forma como conhecemos
atualmente.
No mesmo perodo, na Frana, o mdico Ambroise-Auguste Libaut e o neurologista
Huppolyte Bernheim trabalharam juntos tratando cerca de 10 mil pacientes com o uso da
hipnose. O primeiro tratado cientfico sobre hipnose foi ento escrito por Bernheim em 1886,
chamado Suggestive Therapeutics (ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 1994).
Mais tarde, em 1890, Freud se aproximou da hipnose juntamente com Breuer, com o
interesse de ajudar pessoas com distrbios emocionais. Porm, para seus objetivos, Freud
achava que a hipnose curava muito superficialmente o que o fez abandonar o mtodo. Freud
no entanto, acreditava que a hipnose era uma poderosa ferramenta para a recuperao de
memrias submersas. Foi tambm no incio de seu contato com a hipnose que Freud teve seus
mais profundos insights sobre o comportamento e a mente humana (ERICKSON;HERSHMAN; SECTER, 1994).
A Primeira Guerra Mundial trouxe uma incidncia de choques traumticos, o que fez
com que o psicanalista alemo Ernst Simel usasse a hipnose para tratar pacientes. Durante a
Segunda Guerra Mundial, a hipnose tambm foi usada no tratamento do cansao e outras
neuroses (ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 1994).
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Como decorrncia da I e da II Guerra, ouve uma fuso significativa da hipnose com a
psicanlise. Em Yale, nos Estados Unidos, um professor de Psicologia chamado Hull
interessou-se pelos aspectos experimentais da hipnose, publicando o livro Hypnosis and
Suggestionability. Outros livros foram publicados desde ento e a hipnose tem sido tambm
ensinada em universidades como a da Califrnia, Universidade de Long Island, a
Universidade de Roosevelt, a Universidade de Tufts, entre outras(ERICKSON; HERSHMAN;
SECTER, 1994).
Um comit da Associao Mdica Americana reuniu-se em 1956 para discutir como a
hipnose poderia ser integrada ao ensino mdico, relatando seus resultados no jornal de 13 de
setembro de 1958 no artigo Medical use of Hypnosis. Neste, enfatizou-se o uso da hipnose
como coadjuvante em tratamentos e severamente condenada ao uso por mera
diverso(ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 1994).
Erickson, Hershman e Secter (1994) citam a existncia de diversos jornais dedicados
ao estudo cientfico da hipnose e suas aplicaes como por exemplo, o American Journal of
Clinical Hypnosis, British Journal of Medical Hypnosis e The Journal of Clinical and
Experimental Hypnosis.
No Brasil, em 2000, o Conselho Federal de Psicologia atravs da Resoluo 013/2000,
aprova e regulamenta o uso da hipnose como recurso auxiliar no trabalho do psiclogo
(ANEXO 1).
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2.3 OS MITOS SOBRE A HIPNOSE
Krasner (1990/1991) e Ansari (1991) apontam alguns dos mitos mais comuns sobre a
hipnose. Segundo os autores, importante desmistificar a hipnose antes de iniciar o processo
indutivo.
O primeiro mito apontado por Ansari (1991), de que hipnose sono. Apesar de
aparentemente o estado hipntico ser semelhante ao sono, o indivduo fecha os olhos, respira
tranqilamente e tem algumas alteraes em sua conscincia, os dois estados so diferentes
tanto nos aspectos fisiolgicos quanto psicolgicos. Durante o sono, apenas a mente
inconsciente est ativada, enquanto que na hipnose tanto a mente consciente quanto a mente
inconsciente esto funcionando e trabalham juntas. Assim, diferentemente do sono, no estado
hipntico o indivduo ouve sons e responde a instrues vocais. Durante o sono, o reflexo
patelar diminudo significativamente, o que no ocorre na hipnose. No estado de sono, os
membros esto flcidos pela falta de atividade. No estado hipntico eles podem se tornar
rgidos e firmes. Os batimentos cardacos e ritmo respiratrio durante o transe hipntico esto
mais prximos do estado alerta do que o sono.
O fato de apenas pessoas com a mente fraca so hipnotizveis, outro mito
apontado por Ansari (1991). A capacidade de concentrar-se necessria, mas no uma
condio suficiente por si. Bernhardt e Martin (1977 apud ANSARI, 1991) afirmam que os
melhores participantes tendem a ser aqueles com inteligncia mdia ou um pouco acima da
mdia, com forte motivao e habilidade de concentrar-se. Krasner (1990/1991) acrescenta
destacando que tambm aqueles com imaginao ativa e vvida so os melhores participantes
para hipnose.
O fato de o hipnotizador ter uma personalidade dominante, tambm um mito. A
motivao e a receptividade do paciente so mais importantes do que as caractersticas de
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personalidade do terapeuta. O rapport tambm exerce um papel fundamental processo de
transe (ANSARI, 1991).
Um mito comum o de que existe perigo do participante no ser tirado do transe
hipntico. Ansari (1991) esclarece que raramente terapeutas encontram dificuldades em
acordar participantes do transe hipntico. Bauer (1998) complementa que a hipnose um
estado entre estar acordado e dormindo. Se o participante continua no transe por muito tempo,
acaba dormindo. E se dorme, em algum momento acorda.
A perda do controle, revelao de segredos, e agir de forma anti-social, so outros
mitos existentes. Ansari (1991) esclarece que, durante o transe hipntico, o participante no
est sobre o domnio da vontade do terapeuta, mas em total controle dele mesmo,
completamente ciente do ambiente e totalmente capaz de tomar decises por conta dele
mesmo durante todo o tempo. Desta forma, o participante no ter nenhum comportamento
que possa ir contra seus valores. Krasner (1990/1991) acrescenta ao apontar que o participante
hipnotizado no ir aceitar qualquer sugesto. O participante est sob controle da situao,
pois capaz de sair do transe se assim desejar, ou no aceitar sugestes dadas pelo terapeuta.
Ansari (1991) clarifica o mito de que hipnose prejudicial. A hipnose, segundo ele,
um fenmeno cientfico vlido, que pode ajudar pessoas a vencer problemas. A hipnose tem
sido usada com milhares de pessoas, sem o menor sinal de prejuzo integridade fsica ou
psicolgica dessas pessoas. Elman (1970) refora a questo de a hipnose no ser de formaalguma prejudicial. O autor afirma no haver nenhum caso registrado sobre algum indivduo
ter sido induzido a cometer um crime, a se machucar ou machucar outros. Segundo ele, nos
momentos em que um indivduo hipnotizado recebe uma sugesto imprpria, uma de duas
coisas acontece: ou o indivduo no responde sugesto, ou o estado transe acaba
imediatamente.
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Elman (1970) destaca trs requisitos bsicos para hipnose: 1) o consentimento do
participante; 2) a comunicao entre o operador e o participante, e 3) estar livre do medo ou
de existir relutncia da parte do participante em confiar no operador (p. XII).
2.4 AS TEORIAS SOBRE A HIPNOSE
Erickson, Hershman e Secter (1994) descrevem algumas teorias sobre a hipnose. Entre
elas a do filsofo russo Ivan Pavlov, a do psicanalista Sandor Ferenczi, e a de Robert White.
Pavlov, em seus trabalhos sobre reflexos condicionados, afirma que as palavras e idias
adquirem um significado condicionado para o participante. Porm o condicionamento
apenas uma parte de hipnose. O psicanalista Ferenczi props uma teoria de que a hipnose
seria uma espcie de regresso infncia, em um tipo de relao de dependncia entre a
criana e os pais. Esta teoria caiu por terra.
Robert White, em 1941 (GILLIGAN, 1987), achava que o participante em estado
hipntico age como este acredita que uma pessoa hipnotizada deve agir. Para a induo do
transe, isto pode ser sustentado, mas no caso de uma criana que no possui conhecimento
algum sobre a hipnose, e apresenta sinais de transe, esta teoria falha.
Gilligan (1987) esclarece mais algumas teorias sobre a hipnose. No final do sculo
XIX (ANSARI, 1991), o neurologista Jean Martin Charcott, concluiu em seus estudos sobre a
hipnose, que o estado de transe era um estado patolgico, muito semelhante ao da histeria,
teorizando sobre trs nveis de transe: a catalepsia, a letargia e o sonambulismo. O mdico
francs Auguste Lbeault, fundador da escola de Nancy, por volta de 1864 assemelhava o
transe ao sono, porm feito por meio de sugestes. Ele ainda tentava explicar por que o
paciente no estado de transe permanecia em rapportcom o terapeuta. A teoria de Pierre Janet,
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que era aluno de Charcot e assistente de Freud, afirma no incio do sculo XX (ANSARI,
1991), por volta de 1910 (GILLIGAN, 1987), que o transe hipntico era um estado no qual a
mente inconsciente do paciente executa funes cognitivas, fora da percepo consciente.
Sobre as teorias mais recentes, Gilligan (1987) aponta o conceito de regresso parcial
a servio do ego, desenvolvida por Kris em 1952. Semelhantemente, Gill e Brenman (1959
apud GILLIGAN, 1987) apresentavam o transe hipntico como uma regresso a um estado
primitivo. Nesta regresso o paciente cede aos impulsos e desenvolve uma relao de
transferncia com o terapeuta. Ambos partiram de teorias Freudianas ou neo-Freudianas.
Gilligan (1987) apresenta tambm outras teorias como a de Hull, Hilgard, Barber,
Sarbin e Erickson. Por volta de 1933, Clark Hull apresenta a teoria do transe como
aprendizagem adquirida. Nela, Hull props que os fenmenos hipnticos eram respostas
adquiridas, iguais a outros hbitos, e enfatizava a experincia de transe como natural e que
poderia se tornar mais fcil com a prtica.
Ernest Hilgard, aproximadamente em 1976, aprimorou a teoria de dissociao de
Janet, criando a teoria de neodissociao. Hilgard utilizou conceitos da psicologia cognitiva
contempornea, descrevendo a experincia hipntica como um desligamento momentneo das
funes de planejar e monitorar, reduzindo a crtica e possibilitando o desenvolvimento de
experincias dissociativas como a amnsia, a surdez hipntica, o controle da dor e a escrita
automtica (GILLIGAN, 1987).Barber, em 1969, desenvolveu uma idia cognitivo-comportamental. Nela ele afirma
que as experincias de transe so o resultado de atitudes positivas, motivaes e expectativa
em relao situao de teste, o que leva a uma disposio de pensar e criar imagens de
acordo com os temas sugeridos. Como sucessor de White, Sarbin, por volta de 1956, afirmou
que uma pessoa habilidosa e motivada poderia ficar fortemente imersa no papel hipntico, at
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tendo experincias de mudanas qualitativas dramticas na realidade subjetiva(GILLIGAN,
1987).
Milton Erickson na dcada de 50 desenvolveu uma teoria naturalstica sobre a hipnose.
Para ele os processos de transe so naturalmente empregados, sem haver a necessidade do
ritual especfico de transe. Para Erickson, a experincia de transe permite ao paciente
funcionar de modo adequado e direto em um nvel inconsciente de percepo, sem a
interferncia da mente consciente. As limitaes do participante ficam temporariamente
alteradas fazendo com que o indivduo se torne receptivo aos padres, associaes e aos
moldes do funcionamento da mente que levam soluo de problemas (GILLIGAN, 1987).
2.5 ABORDAGEM TRADICIONAL VERSUS ABORDAGEM NATURALISTA OUERICKSONIANA
Encontram-se na literatura relatos utilizando a hipnose para tratar casos clnicos, como
o caso de Jean-Martin Charcot, Josef Breuer, e Sigmund Freud. Aps os anos 70, houve um
ressurgimento da hipnose principalmente por meio de autores como Spiegel e Kroger, porm
sendo fundamentalmente influenciados pelo trabalho de Milton Erickson (CABALLO, 1996).
A chamada abordagem hipnose tradicional difere-se em alguns aspectos da
ericksoniana ou naturalista. Hipnose tradicional geralmente caracterizada pelo uso de
palavras previsveis ou que podem ser atribudas a algum. As atribuies podem ser sobre os
sentimentos, pensamentos ou comportamentos, prevendo o que a pessoa vai sentir, ver ou o
que vai acontecer (OHANLON; MARTIN, 1995).
Estas so as chamadas sugestes diretas onde o hipnotizador diz ao seu cliente o que
ele vai fazer ou sentir, e este aceita e age exatamente desta maneira. Essa abordagem funciona
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em aproximadamente 25% das pessoas, que so as consideradas sugestionveis. Mais ou
menos 50% das pessoas so mais ou menos sugestionveis, podendo responder ou no aos
estmulos tradicionais. Portanto, apenas os primeiros 25% das pessoas respondem bem a esse
tipo de abordagem (OHANLON; MARTIN, 1995). Esse tipo de hipnose aquela
tradicionalmente vista em apresentaes de palco, e envolvidas pelo misticismo. O
hipnotizador parece um mgico e o hipnotizado tem aparncia de zumbi.
Na abordagem ericksoniana, a relao terapeuta paciente ocorre de maneira
diferente. Enquanto na abordagem tradicional, as sugestes hipnticas so diretas e pouco
flexveis, na hipnose ericksoniana o hipnotista permite que o paciente tenha escolhas.
OHanlon e Martin (1995) afirmam que segundo Erickson, qualquer pessoa pode ser induzida
ao transe. necessrio apenas encontrar o caminho que faz com que a pessoa responda
induo e hipnotiz-la O uso de palavras de permissoajudam as pessoas a no se sentirem
obrigadas a agir de uma forma estabelecida pelo terapeuta. Ao invs de dizer o que a pessoa
vai fazer ou sentir, na abordagem ericksoniana o terapeuta utiliza tudo o que a pessoa j traz
com ela. Por este motivo ela tambm chamada de Abordagem da Utilizao. Assim, o
terapeuta utiliza caractersticas do prprio cliente para a induo do transe e d sugestes
permissivas, onde o cliente tem a escolha de fazer ou no, sentir ou no. Por utilizar-se de
elementos naturais do cliente, Erickson denominava suas tcnicas de hipnose de
naturalistas. Erickson acreditava que as pessoas tm dentro de si as aptides necessriaspara superar dificuldades, resolver problemas, entrar em transe e experienciar todos os
fenmenos do transe. Seu enfoque consistia em trazer essas capacidades superfcie
(OHANLON, 1994, p. 19).
Segundo Zeig (1985) j no incio da terapia, Erickson considerava os pacientes como
indivduos completos, que possuam todos os recursos necessrios para a terapia. A tarefa
ento passa a ser orientar o paciente a descobrir seus prprios potenciais para fazer as
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mudanas. Erickson percebeu que a comunicao se d em mltiplos nveis, o que inclui o
contedo verbal, os comportamentos no-verbais e as implicaes de cada indivduo. Ele
utilizava todos os nveis no processo teraputico, partindo dos recursos trazidos pelo prprio
paciente.
Segundo Zeig (1985), a chamada tcnica de utilizao, significa utilizar o que o
paciente traz com ele, e no o que o terapeuta acha que seria melhor dar ao paciente.
prefervel utilizar a prpria roupa do paciente, adequando a uma relao de ajuda, do que
tentar vesti-lo com roupas impostas e s vezes inadequadas. Isto significa adaptar a terapia a
cada paciente, criando tambm uma relao de empatia (rapport)mais consistente.
Gilligan (1987) afirma que no princpio da utilizao, os padres de auto-expresso do
paciente constituem a base do desenvolvimento do transe teraputico. Isto exige instrues
adaptveis ao invs de padronizadas.
Phillips (1993) utilizou os sintomas ps-traumticos de pessoas que sofreram abuso
sexual na infncia, transformando-os em recursos positivos para mudanas rpidas e de
sucesso. Ele concluiu que a abordagem de utilizao criada por Milton Erickson, de muita
eficcia no tratamento deste tipo de sintomatologia, conseguindo abordar um dos mais
persistentes padres sintomticos ps-traumticos relacionados ao abuso sexual infantil.
Na abordagem ericksoniana um outro ponto em destaque a postura de pensar no
futuro. O estabelecimento de objetivos estratgicos faz parte da terapia, respeitando ascondies de mudanas do cliente. Observa-se at onde a indivduo pode chegar, e medida
que ele vai fazendo as mudanas, novos objetivos so estabelecidos (ZEIG, 1985).
Segundo Zeig (1985), apesar de toda a flexibilidade da abordagem ericksoniana de
utilizao, alguns pontos so cruciais no processo teraputico:
1) Identificao dos recursos latentes do paciente;2) Diagnstico dos valores do paciente (o que ele gosta e o que ele no gosta);
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3) Desenvolvimento dos recursos utilizando os valores do prprio paciente;4) Vinculao do recurso ao problema de forma direta ou indireta;5) Estabelecimento de rapport, motivao e controle da receptividade ao longo do
processo;
6) Aceitao e utilizao de qualquer comportamento, manifestao ou resistnciaapresentada pelo paciente;
7) Utilizao do drama para melhoria da receptividade s diretivas;8) Semear idias previamente gera um comportamento receptivo;9) Atuar no momento certo fundamental. O processo teraputico envolve
acompanhamento, desorganizar o modelo mental e criao de novos padres de
reposta2;
10) O terapeuta deve ter uma atitude de expectativa;11) Acompanhamento dos resultados para verificar a eficcia da interveno. Pode-se
fazer com que o paciente pratique o novo comportamento junto com o terapeuta
durante a sesso, ou fazer consultas de reforo, ou ainda sugerir que o paciente
imagine-se praticando o novo comportamento (ZEIG, 1985, p. 84, 85 e 87).
Um aspecto considerado por Gilligan (1987) de extrema importncia na abordagem
ericksoniana a integridade. Segundo ele, a integridade diz respeito ao grau de
autoconscincia e o apoio interdependente das diversas partes de um sistema. Emhipnoterapia, integridade o grau em que as intenes e as expresses do terapeuta andam
paralelamente com as necessidades do paciente. Desta forma, o hipnoterapeuta deve apoiar a
todo momento o paciente em sua busca de transformao, deve deixar de lado seus
preconceitos e necessidades pessoais aceitando completamente a experincia do paciente, e
2 O cliente se sentir acompanhado, compreendido e aceito pelo terapeuta, para estar aberto a estmulosque possam desestruturar a forma com que ele percebe o mundo e a si mesmo, no contexto do problema, para emseguida ele desenvolver novos padres de resposta s situaes antes problemticas.
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deve tambm evitar dar solues ou aplicar crenas pessoais ao paciente. Para que o processo
tenha sucesso teraputico, fundamental um contexto de integridade, pois assim, o
hipnoterapeuta poder garantir o rapportcom o paciente.
A abordagem ericksoniana de utilizao vem sendo estudada por diversos autores em
diferentes reas do comportamento e sade humanas. Gilmore (1987), por exemplo, descreve
como os mtodos da abordagem ericksoniana podem aliviar problemas sexuais, trazendo
descrio de casos de tratamento efetivo de disfunes sexuais utilizando esta abordagem.
Gay, Philippot e Luminet (2002) investigaram a efetividade da hipnose ericksoniana no
tratamento da dor provocada pela osteoartrite comparada tcnica de Relaxamento
Progressivo de Jackobson.
2.6 CARACTERSTICAS FENOMENOLGICAS DO TRANSE
Autores como Elman (1970), Gilligan (1987) e Ansari (1991) mencionam algumas
caractersticas fenomenolgicas do transe hipntico. Destaca-se a seguir algumas delas:
Concentrao da ateno: o paciente pode desenvolver durante o transe uma
concentrao da ateno por um perodo extenso, podendo mergulhar completamente em um
estado experiencial especfico.
Expresses voluntrias: a experincia de transe parece acontecer sem que o paciente
tenha planos antecipados. Ela simplesmente acontece. Desta forma, os processos
inconscientes do paciente podem se expressar de forma autnoma no contexto
hipnoteraputico. Durante o transe o paciente pode expressar tais processos inconscientes
atravs de imagens, mudanas de caractersticas fsicas (ruborizao da face, aumento da
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temperatura corporal, padres respiratrios ou dilatao da pupila), relaxamento, lacrimejar,
tremer as plpebras ou levitao das mos.
Envolvimento na experinciasem conceituao: os pacientes que entram em transe se
concentram geralmente na experincia sem se preocupar com o entendimento lgico.
Vivenciam o transe como ele , sem procurar conceituar a experincia.
Flexibilidade na relao tempo e espao: durante o transe, que acontece dentro e um
tempo e um espao, o paciente pode ter como experincia uma relao diferente com estes
dois fatores. Pode haver uma dissociao do presente se transportando para o passado em uma
regresso de idade, ou para o futuro em uma progresso de idade. Distorcer a noo de tempo
expandindo (um minuto parece ter uma hora), ou condensando (uma hora parece durar um
minuto). Em relao ao espao, pode-se ter uma alucinao positiva (ver algo que no est l),
ou negativa (no ver algo que est l). Algumas destas caractersticas podem ser
propositalmente produzidas, como a regresso de idade, por exemplo, e ser usada como
ferramenta teraputica.
Alterao da experincia sensorial: comum que aconteam alteraes sensoriais tais
como distores perceptuais, aprofundamento, seletividade e alucinaes. O paciente pode se
sentir totalmente relaxado com a sensao de estar com o corpo pesado e quente, ou sentir-se
imobilizado (catalepsia) com uma sensao de leveza e desligamento. Outros fenmenos de
distoro sensorial podem acontecer como a sensao de que a cabea maior do que o corpo,a mo se movimenta independentemente do corpo, sentir que o corpo est girando ou
inchando. Alteraes visuais tambm so comuns como a viso em tnel, percepo de cor
alterada, imagens vvidas, alucinaes positivas ou negativas, padres geomtricos, entre
outros. Alteraes no sistema auditivo tambm podem ocorrer. O paciente pode selecionar
apenas a voz do terapeuta, sem ouvir outros estmulos externos, ouvir a voz se afastando ou se
aproximando.
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Inibio motora e verbal: durante o transe o paciente tende a no querer se
movimentar ou falar. Algumas vezes a manifestao pode vir atravs de movimentos
ritmados. Comportamentos agitados do paciente podem demonstrar que ele est atingindo um
nvel mais superficial de transe. Neste caso, a prpria agitao do paciente pode ser usada
para modificar a profundidade do transe.
A lgica do transe: a lgica utilizada pelo paciente durante o transe em relao s
experincias vividas diferente daquelas em estado de viglia. O pensamento inconsciente
mais associativo, metafrico e concreto, ou seja, mais orientado para a imagem, do que para a
lgica racional, seqencial ou causal.
O processo metafrico: existe uma forte tendncia do paciente hipnotizado de
compreender e representar de forma simblica. Assim, ao ouvir estrias ou experincias
indiretamente ligadas ao seu problema, o paciente tende a transferir para seu contexto
encontrando assim solues. O participante se identifica com a experincia alheia, ou com
uma estria, incorporando caractersticas daquele contexto, isto faz com que as metforas se
tornem ferramentas excelentes no processo teraputico.
Amnsia: em geral, ao sair do transe o paciente tende a lembrar de poucos eventos
(amnsia parcial), ou de nenhum evento (amnsia total) do prprio transe.
Erickson, Rossi e Rossi (1992) destacam alguns indicadores do desenvolvimento do
transe (p. 306):Pensamento autnomo, tonicidade balanceada (catalepsia), mudana na qualidade davoz, conforto, relaxamento, economia de movimentos, fechamento dos olhos,sentimento de distncia, pulsao mais lenta, respirao mais lenta, falta demovimentos corporais, falta de respostas de alarme, retardamento dos reflexos (deengolir e piscar), mudanas na pupila, fenmenos hipnticos espontneos (amnsia,regresso, anestesia, catalepsia, distoro de tempo, etc.), sentimentos agradveisdepois do transe, entre outros.
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2.7 A ORGANIZAO DOS EVENTOS DE TRANSE
Gilligan (1987) prope a diviso dos estados de transe em quatro fases: 1) preparao;
2) induo; 3) utilizao; 4) consolidao dos aprendizados.
Na fase da preparao, os objetivos principais so a reunio de informaes sobre o
paciente e o estabelecimento do rapport. Durante essa fase o terapeuta identifica as principais
crenas, ocupaes, grau de escolaridade, preferncias, habilidades etc., assim como as
mudanas desejadas pelo paciente.
Na fase da induo, o terapeuta induz o transe utilizando-se das informaes
adquiridas na fase anterior. As caractersticas do paciente tornam-se fundamentais na medida
que promovem uma induo mais natural ao paciente.
Na fase da utilizao, o terapeuta utiliza o transe para eliciar e organizar os recursos
latentes do paciente para a soluo de problemas. Ao invs de acrescentar ou tirar qualquer
coisa, o objetivo nesta fase o de levar o paciente a perceber e reorganizar recursos que ele j
possui.
Na ltima fase, a de consolidao de aprendizados, o terapeuta tira o paciente do
transe e generaliza os aprendizados. A retirada do paciente do transe feita suavemente, e
aps o terapeuta pode conversar com o paciente por alguns minutos a fim de aplicar os
aprendizados em outras reas da sua vida, ou ainda para eventos futuros. Isso pode ser feito
atravs da conversa ou com o paciente imaginando eventos futuros relacionados ao problema
anterior.
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2.7.1 Acompanhando a Experincia Corrente e Aprofundando O Transe Hipntico
Segundo Bandler e Grinder (1982), uma das formas modeladas de Milton Ericksonpara a induo do transe hipntico atravs do acompanhamento da experincia corrente.
Este acompanhamento se d deslocando o foco de ateno da experincia externa para a
experincia interna. O terapeuta comea descrevendo experincias sensoriais externas que
esto efetivamente presentes naquele momento, coisas que ele possa estar vendo, ouvindo e
sentindo, alternando-se com experincias internas descritas de forma ambgua, de maneira que
ele v criando um foco de ateno interno, buscando a comprovao da descrio que o
terapeuta faz.
Pode por exemplo dizer ao participante: enquanto voc est olhando nessa direo, e
est ouvindo a minha voz... e est ouvindo o som que vem do ar condicionado, voc pode
perceber seus pensamentos indo em uma certa direo e seu corpo ficando mais e mais
pronto para relaxar...
H uma diminuio gradativa da quantidade de descries de experincias externas,
medida que se aumenta o nmero de experincias internas induzidas. At ficar apenas com as
experincias internas.
O aprofundamento do transe hipntico uma continuao do processo de induo
(ANSARI, 1991). Ao aprofundar o transe, o participante tende a ficar mais relaxado e viver
mais intensamente a experincia. Algumas das tcnicas de aprofundamento do transe
hipntico so: subir ou descer lances de escada, contagem progressiva ou regressiva, a tcnica
da confuso, entre outras (ELMAN, 1970; ANSARI, 1991; ERICKSON; HERSHMAN;
SECTER, 1994).
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2.8 ESTUDOS SOBRE A HIPNOSE
As teorias e tcnicas da hipnose tm sido exploradas no meio cientfico. Autores como
Perry (1992) e Perry e McConkey (2002) fazem anlises das teorias sobre a hipnose. Otani
(1989) estudou a tcnica de confuso mental, enquanto que outros autores estudaram
diferentes formas de utilizao da hipnose (KAHN et al., 1989; VAN DER DOES et al., 1989;
PAGE; HANDLEY; RUDIN, 2001) ou a hipnose comparada a outras terapias (VICKERS,
1999; GAY; PHILIPPOT; LUMINET, 2002).
Gay, Philippot e Luminet (2002) relatam diferentes estudos cientficos envolvendo o
uso da hipnose para o controle da dor. Estes autores verificaram a eficcia da hipnose
ericksoniana comparada tcnica de relaxamento de Jacobson na reduo da dor provocada
pela osteoartrite. Estudos envolvendo o controle da dor e analgesia de dores crnicas
(CRAWFORD et al., 1998), dores de cabea tensionais (VAN DYCK et al., 1991) e dores
clnicas (KIERNAN et al., 1995; PATTERSON; JENSEN, 2003) foram encontrados. A
hipnose tem sido utilizada tambm no tratamento de dependncia qumica (MCGARTY,
1985), problemas e disfunes sexuais (GILMORE, 1987; PHILLIPS, 1993) e problemas
dermatolgicos (FRENAY et al., 2001; SHENEFELT, 2002, 2003).
Estudos sobre o funcionamento cerebral e respostas fisiolgicas, ao eliciar diferentes
estados emocionais durante o transe hipntico, foram feitos para verificar diferentes respostas
do organismo. Maquet et al. (1999) com o intuito de melhor entender o que acontece com
pacientes em estado hipntico durante cirurgias, decidiram estudar os mecanismos cerebrais
durante o estado hipntico de participantes saudveis usando PET (Tomografia por Emisso
de Positrons) e mapeamento paramtrico estatstico. Sebastiani et al. (2003) avaliaram a
freqncia cardaca, freqncia respiratria, tnus muscular e diferentes ritmos
eletroencfalograficos. O uso de EEG (Eletroencefalograma) tem sido bastante freqente nos
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estudos das respostas humanas aos estados hipnticos (ISOTANI et al., 2001; MUNTE et al.,
2003; RAY; DE PASCALIS, 2003).
2.9 FREQNCIA CARDACA E SISTEMA CIRCULATRIO
O sistema circulatrio dos seres humanos um circuito fechado, que leva sangue a
todos os tecidos do organismo. O sangue bombeado pelo corao, criando a presso
hidrosttica necessria para mover sangue atravs do sistema. O sangue sai do corao
atravs das artrias e volta a ele pelas veias. (POWERS; HOWLEY, 2000).
O ciclo cardaco referente a repetio padronizada entre a contrao (sstole) e o
relaxamento (distole). Em repouso a contrao dos ventrculos durante a sstole ejeta dois
teros do sangue contido neles, mantendo um tero nas cavidades ventriculares. Logo aps, os
ventrculos se enchem de sangue na distole seguinte. O aumento da freqncia cardaca (FC)
implica em uma maior reduo de tempo da distole, sendo que a sstole menos afetada
(POWERS; HOWLEY, 2000).
A regulao da freqncia cardaca influenciada mais acentuadamente pelo sistema
nervoso parassimptico e simptico. As fibras parassimpticas inervam o corao, liberando
acetilcolina, e diminuindo a freqncia cardaca. O centro de controle cardiovascular recebe
informaes de diversas partes do sistema circulatrio relativos parmetros importantes
como tenso de oxignio e presso arterial por exemplo, e envia impulsos motores ao corao
em resposta ao a uma alterao na necessidade cardiovascular (POWERS; HOWLEY, 2000).
A freqncia cardaca pode ser mensurada pela palpao da artria radial ou da
cartica, pela utilizao de um estetoscpio ou pela utilizao de eletrodos de superfcie que
transmitem o sinal a um osciloscpio, eletrocardigrafo ou um monitor que mostre
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diretamente a freqncia cardaca. A contagem da freqncia em dez segundos multiplicada
por seis para expressar a FC em batimentos por minuto (bpm) (POWERS; HOWLEY, 2000).
A literatura especfica relacionada com a freqncia cardaca e atividades em repouso
foi encontrada em geral em estados meditativos e hipnose. Peng et al. (1999) estudaram as
oscilaes da FC em duas tcnicas de meditao. Os autores verificaram oscilaes
extremamente acentuadas durante os dois tipos de meditao. De Pascalis (1998), estudando o
ritmo cardaco durante a lembrana de memrias emocionais em hipnose, descobriu que
houve um aumento da FC na lembrana de memrias negativas, quando comparada a
memrias positivas durante a hipnose. Estes resultados esto de acordo com os de Sebastiani
et al. (2003), que perceberam um aumento na FC e no ritmo respiratrio durante a
visualizao de estmulos negativos durante a hipnose, tpicos de estados de excitao. Estes
aumentos no correram em estmulos neutros visualizados pelos participantes.
2.10 VISUALIZAO
Weinberg e Gould (2001) conceituam a visualizao ou mentalizao como sendo a
criao ou recriao mental de uma experincia. Ele uma recriao da experincia sensorial
(ver, sentir e ouvir), porm ocorrida apenas na mente. A visualizao pode tambm criar
imagens de situaes que ainda no foram vividas, a pesar da imaginao basear-se
intensamente na memria, possvel construir imagens a partir de diversas partes da
memria. Os autores afirmam ainda, que a mentalizao, mesmo quando chamada de
visualizao, deve conter o mximo de sentidos possvel (cinestsico, ttil, auditivo, olfativos,
por exemplo).
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Murphy, em 1994 (apud WEINBERG; GOULD, 2001), apontou a boa capacidade de
mentalizao como fatores que diferenciam atletas de elite e no elite ou bem sucedidos e
menos bem sucedidos. Segundo os autores boa capacidade de mentalizao tem sido definida
pela nitidez e capacidade de controle das imagens.
Weinberg e Gould (2001) dividem a mentalizao em mentalizao interna (o
indivduo visualiza a execuo da ao sob o seu ponto de vista, ou seja vivenciando a
situao) e mentalizao externa (o indivduo se v do ponto de vista de u observador externo,
como se fosse um filme). Segundo os autores, o fato de um indivduo praticar a mentalizao
interna ou externa parece ser menos importante do que ter um estilo confortvel, que traga
imagens claras e controlveis.
O uso da hipnose associada visualizao relatado por alguns autores. Bryant e
Mallard (2003) pesquisaram o grau de realidade e vivacidade atribudas a imagens
visualizadas durante a hipnose. Segundo os autores, os resultados desta pesquisa apontam que
a capacidade dos participantes confundirem parcialmente a realidade e a sugesto, indica uma
evidncia contra a proposio de que relatos hipnticos so simples imagens como se o
evento sugerido estivesse ocorrendo. Alm disso, estes resultados apontam que os meios pelos
quais os indivduos hipnotizados avaliam a realidade so distintos de situaes sem a hipnose.
Participantes hipnotizados podem atribuir realidade a experincias mesmo quando a
experincia caracterizada por mecanismos que so incongruentes com as percepesnormais de realidade.
Liggett e Hamada (1993) fizeram um estudo com ginastas, onde a hipnose foi usada
para que eles conseguissem executar pela primeira vez alguns exerccios bastante complexos
que eles estavam treinando por mais de um ano. Os ginastas conseguiram eliminar erros de
tempo, aumentar a flexibilidade, e possivelmente concentrar a fora. O autor sugere que sejam
feitas novas pesquisas sobre o uso da hipnose em atletas.
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Liggett (2000) estudou 14 atletas fazendo visualizaes com e sem a hipnose. Os
participantes relataram que a visualizao sob hipnose foi mais intensa em diferentes
situaes (praticando sozinho, praticando na frente de outros, assistindo a um colega de
equipe e competindo) e diferentes dimenses (visual, auditiva, cinestsica e afetiva). Assim, o
autor conclui que a hipnose aumenta a intensidade das imagens assim como a eficcia da
visualizao.
2.11 A HIPNOSE NOS ESPORTES
Feij (1998) apresenta a hipnose ericksoniana como um instrumento simples e
eficiente. Segundo o autor, ela dinamiza a capacidade natural de relaxamento, potncia e
concentrao e rapidamente leva prontido psicomotora. O autor afirma, ainda, que a
hipnose pode ser aplicada individualmente ou em grupos trazendo sempre bons resultados no
aumento da produtividade e da performance do atleta.
Mendo (2001) faz um breve histrico sobre a hipnose e, citando algumas tcnicas,
apresentando a hipnose como uma estratgia cientfica de interveno em psicologia do
esporte.
Pates e Maynard (2000) estudaram os efeitos da hipnose sobre o estado de fluidez de
jogadores de golf. A interveno consistia em relaxamento, visualizao, induo hipntica,
regresso hipntica, procedimentos de controle do disparo feita durante 5 semanas e 7
sesses. Os participantes indicaram que a interveno parece ter sido til em mant-los
confiantes, relaxados e sob controle. Os autores concluram que a hipnose pode ter melhorado
a performance de golfistas, aumentando sensaes e cognies associadas fluidez. Um
estudo semelhante feito por Pates, Cummings e Maynard (2002) verificou os efeitos da
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hipnose em estados de fluidez na performance de jogadores de basquetebol em lances de trs
pontos. Os autores pesquisaram 5 atletas de uma equipe de basquete universitria na
Inglaterra, observando inicialmente a sua performance como linha de base, e uma fase de
tratamento para cada um dos participantes, com o tamanho da linha de base, aumentada por
cada jogador bem sucedido usado na anlise. A interveno foi introduzida quando a linha de
base estava estabilizada ou quando havia uma tendncia na direo oposta da mudana
antecipada. A interveno (hipnose) foi aplicada at que todos tivessem recebido a
interveno Os autores verificaram que a interveno da hipnose aumentou a preciso na
performance do lanamento de trs pontos. Eles tambm observaram um aumento nos escores
de estados de fluncia em cada um dos 5 participantes. Pates, Cummings e Maynard (2002)
concluem ento, que a hipnose aumenta tanto a preciso quanto fluncia da performance de
atletas de basquete no lance de trs pontos.
Masters (1992) descreve algumas caractersticas de maratonistas com relao
hipnose. Segundo o autor, maratonistas que utilizam a dissociao como uma estratgia de
corrida durante a maratona, demonstraram ter uma relao direta com a susceptibilidade ao
transe hipntico, ou seja, quanto mais dissociao, mais susceptibilidade ao transe. Aqueles
que utilizaram a dissociao como estratgia durante o treinamento, tiveram maior
susceptibilidade ao transe hipntico do que outros corredores.
Em uma comparao entre a hipnose ericksoniana e o estado psicolfisiologico da artemarcial japonesa Aikido, Windle e Samko (1992) encontram algumas semelhanas. Os
autores descrevem, por exemplo, o uso da resistncia do adversrio no Aikido, como
semelhante ao uso da resistncia para a induo do transe hipntico. O transe compartilhado
tambm comparvel ao estado psicolfisiolgico de centrar-se.
A aplicao da hipnose atravs de um modelo isomrfico sugerido pelos autores
Robazza e Bortoli (1994). Os autores sugerem que a hipnose alerta-ativa seja induzida antes e
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durante a prtica esportiva, enquanto que a hipnose tradicional seja induzida aps a prtica
esportiva, para estabelecer uma conexo entre as duas. O modelo baseado na idia de que
hipnose e performance motora compartilham de habilidades possveis de serem modificadas
atravs do treinamento. O modelo considera tambm a similaridades entre hipnose e o auge da
performance.
Robazza e Bartoli (1995) estudaram tambm o caso de melhora no desempenho
esportivo com o uso da hipnose. Segundo os autores, em um estudo de caso usando o modelo
isomrfico, houve melhora na performance de um atleta de arco e flecha aps 20 sesses de
treinamento mental.
Crews (1992) estudou a relao entre estados psicolgicos e economia na corrida. O
autor afirma que a simulao induzida pela hipnose e visualizao foi efetiva na mudana de
resposta ao exerccio, como por exemplo na performance e na freqncia cardaca. A
percepo alterada pelo uso da hipnose e caractersticas de personalidade no alteraram a
resposta fisiolgica ao exerccio, provavelmente por causa do papel passivo do praticante
nestas situaes. Estratgias cognitivas, tais como biofeedback, enfrentamento e estratgias
mentais eliciaram mudanas nas respostas fisiolgicas e comportamentais ao exerccio. O
autor conclui que o estado psicolgico pode influenciar a resposta fisiolgica e
comportamental ao exerccio, e sugere o uso do mtodo multidisciplinar para examinar os
efeitos interacionais da fisiologia, biomecnica, psicologia e neurologia para adequadamentedelinear os mecanismos de mudanas de economia na corrida.
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3 MTODO
3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA
A pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa, quantitativa-descritiva, quase-
experimental, pois pretende investigar a experincia subjetiva de atletas de triatlon em relao
ao transe hipntico atravs da anlise da entrevista semi-estruturada (APNDICE 1) e do
questionrio (APNDICE 2).
Segundo Biasoli-Alves (1998, p. 147), no Sistema Quantitativo Descritivo,
... o pesquisador explora as respostas ou os comportamentos tal como foramapresentados pelo participante. Este tipo de anlise cobre a funo de fornecerinformaes objetivas, e no caso de aplicao de provas estatsticas, se julgadasnecessrias descrever as aes, os padres caractersticos ou mesmo estabelecercorrelaes entre variveis.
A anlise quantitativa descritiva constitui-se na verificao de freqncia simples de
ocorrncia a cada alternativa nas questes fechadas, seguida de clculo de porcentagem. No
passo final vem a construo de tabelas, grficos e perfis para a posterior descrio e
discusso dos resultados (BIASOLI-ALVES, 1998).
O Sistema Qualitativo, de acordo com Biasoli-Alves (1998), tem por caracterstica a
busca pela apreenso de significados nas falas ou em outros comportamentos observados do
participante. Estes significados integrados ao contexto em que esto inseridos e delimitados
pela abordagem conceitual do pesquisador, constituem na escrita, uma sistematizao com
base na qualidade, sem ambio de atingir a fronteira da representatividade. Segundo Andrade
(2001),a pesquisa qualitativa pode ser considerada um mtodo que permite aprofundar aapreenso da realidade social e subjetiva, atravs de um olhar cuidadoso, paciente e
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exaustivo sobre as informaes obtidas, o contexto no qual est inserida e osaspectos histricos e mais sutis da realidade (ANDRADE, 2001, p. 109)
Considerando que a freqncia cardaca foi analisada no incio e no final de cadasesso, mesmo no havendo grupo controle, a classificao de estudo quase-experimental com
delineamento de um grupo pr e ps-teste adequada ao presente estudo (THOMAS;
NELSON, 1990).
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA
Fizeram parte da pesquisa 7 atletas de triatlon, do sexo masculino com mdia de idade
de 33,57 anos ( 5,653). Os atletas faziam parte de uma equipe esportiva e encontravam-se
em nvel semelhante de desempenho esportivo, com mdia de 7 anos ( 3,651) de prtica de
triatlon. O pr-requisito para a participao na pesquisa, alm de boas condies de sade, era
a experincia de ter completado pelo menos uma prova de Ironman. A experincia com a
prova mais importante do que o tempo de prtica do triatlon, pois a visualizao foi baseada
nesta prova. Todos os atletas cumpriram este requisito. Os atletas possuam condies
prximas de treinamento e acompanhamento mdico, nutricional, fisioterpico e psicolgico.
Foi feita uma entrevista inicial com cada atleta adquirindo informaes relacionadas s
suas condies de sade, medicamentos usados, suplementao utilizada, leses crnicas ou
temporrias, tempo de treinamento, tempo de prtica do triatlon, assim como motivos pelos
quais praticam o triatlon. Estes dados so importantes na medida em que o atleta deve estar
em boas condies de sade para participar do estudo, no estar tomando medicamentos que
interfiram na sua percepo cognitiva e tambm para uma melhor caracterizao da amostra.
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3.3 CARACTERIZAO DO TRIATLON E DA PROVA DE IRONMAN
O triatlon uma atividade de enduro composta por trs modalidades praticadas
consecutivamente: natao, ciclismo e corrida (OTOOLE; DOUGLAS; HILLER, 1998). A
prova de Ironman consiste em 3,8 km de natao, 180 km de ciclismo, e 42,2 km de corrida
(SCHOFIELD et al., 2002).
3.4 CARACTERIZAO DO LOCAL
O local para a realizao da pesquisa foi uma sala de atendimento psicolgico, de
aproximadamente 12 metros quadrados. A sala possua boa iluminao e ventilao. Os
participantes ficaram acomodados em uma poltrona reclinvel, tendo a possibilidade de
adequao da posio ao conforto de cada participante. O ambiente silencioso e confortvel
permitiu condies favorveis para a coleta dos dados.
3.5 CARACTERSTICAS E VARIVEIS PESQUISADAS
O roteiro da entrevista semi-estrututrada (APNDICE 1) foi composto por trs partes,
que no momento da anlise foram transformadas em temas. Desta forma, os temas centrais
so: Processo Inicial do Transe, Visualizao e Retorno do Transe.
Dentro de cada tema proposto, foram criadas categorias de acordo com a informao
apresentada pelos participantes aliada literatura estudada. Esta categorizao das
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informaes, baseada no modelo de Andrade (2201), permitiu reunir relatos coincidentes dos
participantes, sendo possvel ter uma viso geral da vivncia destes durante o transe. Algumas
categorias geraram respostas diversificadas, o que possibilitou a criao de subcategorias para
a maior especificao das informaes relatadas.
Assim, o tema Transe Inicial foi dividido nas seguintes categorias e subcategorias:
- Relaxamento- Percepo Sensorial
o Aumento da sensibilidadeo Percepo das batidas do coraoo Sensao de formigamento ou dormnciao Percepo de peso de membroso Percepo de temperatura de membros
- Incio do Transeo Sensao de iniciar gradativamenteo Sensao de iniciar rapidamente
- Concentraoo Concentradoo Sem concentrao
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Percepo Auditivao Ateno no som da voz e/ou msicao No ouvir a voz e/ou o som da msica
- Anestesia- Catalepsia- Sensao de sonolncia- Dissociao
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- ConscinciaO tema Visualizao foi dividido nas seguintes categorias e subcategorias:
- Concentraoo Concentradoo Sem concentrao
- Auto-percepo na Imagemo Dentro da imagemo Fora da Imagemo Intercalando
- Intensidade da Visualizaoo Forteo Moderadao Fraca
- Sensao de Relaxamento- Anestesia- Qualidade das Imagens
o Qualidade boao Qualidade ruimo
Sem imagens- Associao das Sensaes da Prova- Percepo auditiva
o Ouvindo sonso No ouvindo sonso s vezes ouvindo, s vezes noo Confuso em relao aos sons
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- Dissociao- Percepes Durante o Transe
o Sensoriais (temperatura, peso, contraes involuntrias)o Sensao de tranqilidade, pazo Sensao de ter um sonho ou dormiro Sensao de Agitao
- Amnsia- Hipermnsia- Conscincia
o Estar conscienteo No estar consciente
- Controle da Imagemo Com controleo Sem controle
- Catalepsia- Aumento da sensibilidade- Alucinao- Regresso
O temaRetorno do Transe foi dividido nas seguintes categorias e subcategorias:- Sensao de Sada do Transe
o Tranqila, natural, fcil ou normalo Sensao de querer ficar no transeo Volta gradativao Volta repentina
- Sensaes depois do Transe
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o Bem tranqilo, relaxado, preguioso ou descansadoo Como se tivesse acordado, com sonoo Apreensivo
- Velocidade de Retornoo Rpido ou automticoo Demorado, devagar ou com resistncia
- Sensaes de Prazer- Controle
o Com controleo Sem controle
- Percepo psicofsica- Percepo Externa- Conscincia- Amnsia- Catalepsia- ConcentraoO questionrio (APNDICE 2) respondido pelos participantes estava dividido em trs
partes: Percepo Cinestsica/Fsica, Percepo Auditiva e Percepo Visual.
Na primeira parte do questionrio, foram investigados aspectos sensitivos relacionadoss seguintes partes do corpo: mos, braos, ps, pernas, tronco, pescoo e cabea. Perguntas
relacionadas respirao, intensidade da visualizao e tempo percebido de transe, tambm
estavam inseridos nesta parte do questionrio.
A segunda parte do questionrio, continha perguntas relacionadas percepo auditiva
dos participantes nos seguintes aspectos: sons externos, voz do terapeuta, som da msica e
sons da visualizao da prova de Ironman.
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A terceira e ltima parte do questionrio, continha perguntas investigando os seguintes
aspectos visuais: cores, nitidez, luminosidade, tamanho, detalhes, movimentao e
perspectiva visualizada.
A freqncia cardaca foi a varivel fisiolgica direta pesquisada.
3.6 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Foram utilizados os seguintes instrumentos neste estudo: um roteiro de entrevista
semi-estruturada (APNDICE 1), um questionrio (APNDICE 2) e um frequencmetro,
descritos detalhadamente a seguir.
A entrevista utilizada no estudo foi uma entrevista semi-estruturada (APNDICE 1).
A entrevista semi-estruturada caracteriza-se por ter questes flexveis, tendo a seqncia e a
minuciosidade por conta do discurso dos participantes e da dinmica que ocorre naturalmente
(BIASOLI-ALVES, 1998).
As questes neste caso so abertas e devem evocar ou suscitar uma verbalizaoque expresse o modo de pensar ou de agir das pessoas face aos temas focalizados,freqentemente elas dizem respeito a uma avaliao de crenas, sentimentos,valores, atitudes, razes e motivos acompanhados de fatos e comportamentos.(BIASOLI-ALVES, 1998, p. 145).
A entrevista foi dividida em trs partes: questes sobre o Transe Inicial, perguntas
sobre a Visualizao e perguntas sobre a Sada do Transe. Esta diviso permitiu que
posteriormente houvesse uma organizao mais clara para a anlise do seu contedo.
O questionrio (APNDICE 2) elaborado especialmente para esta pesquisa, contm 16
perguntas fechadas e uma aberta (questo10). Segundo Cervo e Bervian (1983), o
questionrio possui um conjunto de questes, todas logicamente relacionadas com um
problema central (p. 159).
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A medio da FC foi feita por meio de um frequencmetro cardaco constitudo por um
sensor que registra os batimentos cardacos em intervalos de 5 segundos. Este sensor preso
no trax do participante por meio de uma fita elstica e transmite informaes a um aparelho
semelhante a um relgio de pulso. As informaes so armazenadas neste aparelho e
posteriormente transferidas para o computador atravs de uma interface direta apropriada para
esta funo. Aps este procedimento, os dados so processados atravs de um software
especfico. O frequencmetro cardaco da marca Polar modelo Vantage NV, e seus dados
processados pelo software Polar Precision Performance 2.1.
3.7 ESTUDO PILOTO
O estudo piloto foi feito com trs atletas de triatlon, que j participaram do Ironman
pelo menos uma vez. Estes participantes fizeram parte somente do estudo-piloto. Foram feitas
8 sesses com os atletas sendo a primeira constituda pela conversa inicial, onde foram
esclarecidos os procedimentos da pesquisa, tiradas as dvidas, assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e feita a primeira sesso de ambientao. Depois foram
feitas mais duas sesses de ambientao, 5 sesses de hipnose seguidas da entrevista
(APNDICE 1) e a aplicao do questionrio (APNDICE 2). Durante todas as sesses foi
pedido ao atleta que utilizasse o frequencmetro cardaco.
O estudo piloto teve como objetivo aprimorar o mtodo utilizado na pesquisa. Foi
verificada a adequao das perguntas norteadoras da entrevista, e esta foi adaptada para a
pesquisa principal. As questes do questionrio (anexo2), tambm foram verificadas, havendo
modificaes para facilitar a anlise do mesmo. O nmero apropriado de sesses de
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ambientao e de hipnose foi modificado aps o estudo piloto. O relatrio e anlise do estudo
piloto encontra-se no APNDICE 4
3.8 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi feita durante oito sesses com durao variada de acordo com a
durao da visualizao da prova. No foi possvel padronizar o tempo de cada sesso com
exatido, porm a mdia foi calculada e est descrita no Captulo 4. Tambm no foi possvel
padronizar o horrio da coleta em funo dos treinos e das atividades particulares de cada
atleta. O intervalo mnimo entre cada sesso foi de uma semana. Durante a primeira sesso foi
explicada a pesquisa e seus procedimentos. Todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APNDICE 3).
Aps a assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido, foi pedido ao
participante que colocasse o frequencmetro cardaco e se acomodasse confortavelmente na
poltrona,