A Hipótese Dos Usos e Gratificações Aplicada à Internet- Deslocamentos Conceituais
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7/24/2019 A Hiptese Dos Usos e Gratificaes Aplicada Internet- Deslocamentos Conceituais
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A hiptese dos usos e gratificaes
aplicada internet:
deslocamentos conceituais
Edson Fernando Dalmonte*
Resumo: com base nos pressupostos tericos da comunicao, questiona o atualestgio da comunicao mediada por computador. Ao situar o campo dacomunicao, tendo-se por parmetro o Webjornalismo, busca-se localizar asmarcas dessa inovao que possibilitem uma organizao conceitual no escopodas teorias da comunicao que permitam compreender esta realidade para almde um determinismo tecnolgico. Ao optar pela hiptese dos usos e gratificaes,
busca-se focar num dilogo necessrio entre produtores e receptores, sendo que osltimos passam a ser vistos com base nas suas motivaes para aderir ao processocomunicacional.
Palavras-chave: Webjornalismo; Teorias da comunicao; Hiptese dos usos egratificaes.
Abstract: starting from the point of view of communications researchers, wediscuss the contemporary situation of computers mediated communication. Inlocalizing the communicational area from the perspective of Webjournalism, wesearch the trends of this inovation in a way to open a conceptual organization
inside the tradition of communication theories wich allow to comprehend this realitybeyond a technological determinism. Following the hypothesis of the uses andgratifications, we try to focus on a necessary dialogue between producers andaudience, these ones understood in the perspective of its motivations to adhere tothe communicational process.
Keywords: Webjounalism; Comunnication Theories; Hipothesis of Uses andGratifications.
* Doutor em comunicao e cultura Facom/UFBA; Mestre em Comunicao UMESP;
Bacharel em Jornalismo UFES; Coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Social daBahia, professor de Teorias da Comunicao e editor da revista Dilogos [email protected]
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Edson Fernando Dalmonte
O campo terico da comunicao, ao longo do tempo, vem se desenvolvendo,
impulsionado pelas inovaes implementadas na esfera social. Pode-se falar, dessa
forma, com base no que ponto pacfico no que toca s cincias, no
desenvolvimento de questes que impulsionam transformaes num campo como
resposta a uma demanda social.
Ao se falar da comunicao social, percebe-se que cada concepo acerca da
comunicao resulta na elaborao de um modo de conceber a relao da
mensagem com o receptor, ora centrando a ateno no emissor, ora nos
estratagemas do receptor. Dessa viso, quase sempre compartimentada, surgem
os distintos paradigmas, cada qual enfatizando parte do processo comunicacional,
que em ltima instncia deixa de ser processo, uma vez que valorizada a parte, e
no o todo. A comunicao perde o princpio de dinmica/ao.
Logo, falar de cincia conscientizar-se da possibilidade de transformao
existente no modo de compreender e analisar uma realidade. Uma realidade
especfica requer um modo de anlise a ela adequado. Se o objeto em questo de
ordem social, como o caso da comunicao, o paradigma dever ser modificado
cada vez que se observar uma mudana profunda/estrutural nessa sociedade. Essa
a justificativa das Revolues Cientficas (Kuhn, 1998).
Com isso, pode-se dizer que a mudana de um quadro cientfico decorrente de
duas variveis: 1) a concepo da realidade foi alterada (por exemplo, a transio
do geocentrismo para o heliocentrismo); 2) percebe-se que o fato observado no
estava sendo plenamente considerado. o caso do processo da comunicao, que
de acordo com o enfoque, historicamente marcado, define como elemento mais
importante ora o emissor, ora o receptor.
Segundo Kuhn (p.39), quando, [...], um indivduo ou grupo produz uma sntese
capaz de atrair a maioria dos praticantes de cincia da gerao seguinte, as escolas
mais antigas comeam a desaparecer gradualmente. Mas, o que dizer se tal
evoluo no implica no definitivo abandono de antigos paradigmas bem como em
sua total substituio?
Dentro da tradio dos estudos em comunicao, como ressaltam Barros Filho e
Martino (2003, p.35), o sujeito se incorporou tardiamente ao estudo da
comunicao de massa. Ao se estudar o processo comunicacional, eram excludos
o sujeito emissor e o sujeito receptor. Dessa forma, para os autores, a reflexo
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acadmica sobre a informao limitou-se durante as seis primeiras dcadas do
sculo XX aos objetos de sua produo, veiculao e efeitos sociais.
Pode-se dizer que a no superao total de um paradigma em comunicao vai ao
encontro daquilo que Kuhn define como revoluo parcial, na qual um paradigma apenas modificado e no totalmente superado. Com os estudos sobre a
comunicao, a relao a mesma. Ora fala-se de efeitos fortes sobre o receptor,
ora de efeitos fracos ou nulos (Dalmonte, 2005). A questo basilar passa a ser a
relao do indivduo com a comunicao, podendo ele estar na emisso ou na
recepo. Seja como emissor, seja como receptor, o indivduo um ser de ao,
dotado de capacidades criativas tanto para elaborar a mensagem e suas estratgias
de circulao, bem como para a escolha do contedo e interpretao.
A questo dos meios, ou mais especificamente da tecnologia, ressaltada, por
exemplo, por McLuhan, em Os meios de comunicao como extenses do homem
(1996), obra que trata da ampliao das capacidades humanas por intermdio dos
meios de comunicao de massa. Atualmente, em decorrncia de a tecnologia da
comunicao e informao estar na ordem do dia, observa-se a proliferao de
literatura sobre o impacto tecnolgico na vida das pessoas, em especial a partir da
comunicao.
Nos ltimos anos, vrios pesquisadores tm discutido um processo de simetria
entre as novas possibilidades tecnolgicas e a segmentao da mdia, que se
remodela para atender a nichos especficos. Para alguns autores, as novas
tecnologias propiciam, alm de uma maior interatividade, uma valorizao do
indivduo e de suas necessidades, o que ilustrado pela segmentao da mdia
(Dizard, 2000). Alm disso, como sugere Dertouzos (1997, p. 172) nota-se uma
tendncia para a potencializao industrial para o atendimento das necessidades de
maneira individualizada.
Pensar a organizao das novas mdias pode resultar num exerccio de constante
adequao conceitual, para tentar abarcar uma situao que no estanque, e que
ao movimentar-se, requer ajustes para abarc-la. Na tentativa de definir o que
uma nova mdia, pode-se optar pelo entendimento de uma mdia como artefato
cultural, surgindo como possibilidade imaginativa e de operacionalidade
tecnolgica. Como sugere Manovich, (2005, p.36),
As novas mdias podem ser compreendidas como o mix de antigasconvenes culturais de representao, acesso e manipulao de dados e
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convenes mais recentes de representao, acesso e manipulao de dados.Os velhos dados so representaes da realidade visual e da experinciahumana, isto , imagens, narrativas baseadas em textos e audiovisuais oque normalmente compreendemos como cultura. Os novos dados sodados digitais.
Essa nova realidade faz emergir uma postura diferenciada quanto possibilidade deinterao do indivduo com a mdia, que pelas novas possibilidades tecnolgicas
habilita-se a atender seu consumidor de forma distinta, o que refora ainda mais o
entendimento do indivduo como sujeito co-participante do processo da
comunicao. A base da revoluo que se tem vivenciado est no processo de
digitalizao, conferindo importante status aos bancos de dados1.
Com a valorizao do sujeito receptor, acontece tambm a valorizao do processo
engendrado por este usurio na aquisio da mensagem. Com isso, lanadaespecial ateno ao local onde a recepo se realiza. A valorizao do local se
processa em funo do conhecimento das tramas a partir das quais o indivduo se
habilita para o consumo, na maioria das vezes, de produtos cheios de significaes.
O entendimento da recepo a partir do local onde ocorre possibilitado a partir de
exploraes etnogrficas (Ang, 1997, p.88).
Ao se tratar do jornalismo no corpo da teoria da comunicao, hoje,
necessariamente h que se considerar o Webjornalismo, seja pela importnciaassumida ao longo da ltima dcada, seja pelas inmeras transformaes que vm
sendo adicionadas por esse novo fazer jornalstico.
A internet entendida como um novo ambiente de conjugao miditica, por um
nico canal oferece a possibilidade de encontro entre o receptor e as diversas faces
da comunicao, dispersas por vrios suportes especficos. Contrria lgica de
uma dispora comunicacional, promovida por realidades estanques, que podem
ser apropriadas a partir do impresso, do udio e do vdeo, a internet possibilita a
coabitao de todas as modalidades de comunicao num mesmo espao.
A Internet, no contexto do Ciberespao, melhor caracterizada no como umnovo medium, mas sim como um sistema que funciona como ambiente deinformao, comunicao e ao mltiplo e heterogneo para outrossistemas. Sua especificidade sistmica seria a de constituir-se, para alm desua existncia enquanto artefacto tcnico ou suporte, pela juno e/oujustaposio de diversos (sub)sistemas, no conjunto do Ciberespaoenquanto rede hbrida (Palacios, 2003, p.7) [grifos do autor].
Com a juno das vrias modalidades comunicacionais num mesmo ambiente, tem-
se a possibilidade da interao entre essas frentes, no como uma mera
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cooperao entre realidades discursivas distintas, mas como uma complementao,
o que necessariamente faz pensar sobre as especificidades dessa outra organizao
discursiva, que pe em contato discursos que seguem lgicas prprias de
organizao.
O Webjornalismo caracterizado no como um novo jornalismo, marcado por
ruptura e negao de uma tradio, e sim como a renovao de uma tradio. As
caractersticas do Jornalismo na Web aparecem, majoritariamente, como
continuidades e potencializaes e no, necessariamente, como rupturas com
relao ao jornalismo praticado em suportes anteriores (Palacios, 2002, p.3).
A breve histria do Webjornalismo tem sua origem numa fase anterior, que prepara
as bases para a passagem do impresso para a Web, tendo no processo deinformatizao das redaes, o primeiro passo2. Desde esse momento, de forma
sucessiva, o jornalismo vem passando por transformaes que, na fase atual, do
indicativos quanto consolidao de caractersticas prprias.
Salaverra (2005, p.161-163), ao situar a reportagem no mbito da Web, trata do
que chama gnero emblemtico para a interpretao, visto que pode ser de cunho
mais informativo, ou estar mais prximo da narrativa literria, com o objetivo de
analisar os acontecimentos de atualidade, indo das causas s conseqncias. Aotratar da Web, o autor situa uma discursividade, no caso da reportagem,
compatvel com este novo ambiente, a reportagem multimdia, que es un gnero
ms propriamente ciberperiodstico. Se caracteriza por aprovechar a fondo las
posibilidades audiovisuales de la Web, mediante el uso de galerias fotogrficas,
infografas interactivas, sonidos y vdeos.
No tocante ao Webjornalismo, pesquisadores tm apontado trs fases distintas em
sua trajetria recente: Webjornalismo de primeira, segunda e terceira gerao.John Pavlik (2001, p.43) prope essa distino tendo por parmetro a produo e
disponibilizao de contedos, tendo por base o uso dos recursos multimdia da
Web.
O Webjornalismo de primeira gerao (Mielniczuck, 2003, p.32-33), no
estabelece uma narrativa jornalstica especfica, no obstante as possibilidades
tecnolgicas. Esse modelo tambm definido como transpositivo (Silva Jr., 2000,
p.63), o que ilustrado pela proposta dos pioneiros jornais online, cuja fomatao
e organizao seguia o modelo do homnimo impresso. O material que ia para a
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rede era apenas transportado e disponibilizado, o que marca um aproveitamento do
produto jornalstico, que j era ento totalmente elaborado segundo critrios de
digitalizao, resultado da informatizao das redaes.
A fase posterior, definida como Webjornalismo de segunda gerao, deixa-seperceber em finais dos anos 90. Nessse perodo comeam a surgir modalidades de
um produto jornalstico elaborado com base nas possibilidades oferecidas pela rede.
No entanto, importante ressaltar que essa segunda modalidade ainda est
aparelhada ao modelo do jornal impresso, que lhe serve de referncia, fazendo com
que seja conhecida como fase da metfora (Mielniczuck, 2003, p.34).
Na obra de 2001, Pavlik (p.43) diz que o terceiro estgio est apenas comeando a
emegir. Para o autor, esse estgio marcado por uma produo jornalsticaespecialmente desenvolvida para a Web, o que compreende a internet como um
novo ambiente, apontado pelo autor como um novo meio de comunicao. De fato,
passados alguns anos, possvel perceber que o Webjornalismo de terceira
geraoainda no se popularizou plenamente3.
A essa altura, vale retomar as questes principais presentes no escopo das teorias
da comunicao, que em sua origem, so marcadas pelas acepes decorrentes da
sociedade de massa, centradas num emissor todo-poderoso. Sobre as inovaesnesse terreno, Daz Noci (2005, p.60) ao tratar dos gneros digitais, enfatiza que
el emisor pierde ahora la importancia omnipresente de antes, y por tanto sus
funciones han de redefinirse.
O ESTUDO DOS EFEITOS FORTES, CENTRADOS NO EMISSOR
Os meios de comunicao de massa tornam-se amplamente difundidos j nas
primeiras dcadas do sculo XX. quela altura, falava-se dos meios eletrnicos,
como o rdio e o cinema que, desde a origem, so vistos por muitos como novos
agentes da manipulao ideolgica. A comunicao de massa , ao mesmo tempo,
um elemento fascinante, pela sua capacidade de falar indistintamente a uma
grande multido, como tambm, desde logo, objeto de crticas.
nesse cenrio que surgem os primeiros enfoques acerca da comunicao de
massa, como a teoria hipodrmica e a teoria crtica. Ambas as perspectivas surgem
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na Alemanha, no perodo das duas guerras mundiais, coincidindo com o incio da
difuso em larga escala dos elementos da comunicao de massa.
A teoria hipodrmica apontada como a primeira formulao terica acerca da
comunicao de massa e, enquanto tal, pode-se dizer, bastante rudimentarquanto a suas conceituaes. A crena principal dessa teoria baseia-se na idia de
que cada elemento do pblico pessoal e diretamente atingido pela mensagem
(Wright, 1975, p.79).
Como sugere Wolf (1995, p.20), esta teoria surge no mbito de um contexto
histrico, marcado por dois elementos novos. Em primeiro lugar, a novidade do
fenmeno da comunicao de massa; por outro lado, a possvel ligao desse
fenmeno s marcantes experincias totalitrias daquele perodo, como o nazismoe o fascismo. Diante daquele cenrio, a comunicao vista como o agente
facilitador da dominao.
Da a concepo dos efeitos fortes atribudos mdia. A interrogao que ir
nortear aquele quadro terico : que efeitos tm os mass media numa sociedade
de massa? Deve-se notar que no h um questionamento sobre a existncia de
efeitos, mas parte-se j da idia de que h efeitos, restando apenas saber quais
so eles, ou melhor, em que nvel eles atuam sobre o indivduo.
Essas idias so reforadas pelo conceito da sociedade de massa, como
conseqncia do processo de industrializao, o que propicia o afrouxamento dos
laos de famlia e conduz ao isolamento e alienao. Nesse conjunto, o indivduo
receptor visto como isolado, annimo e atomizado (Wolf, 1995, p.21-23).
sobre esse indivduo fragilizado que a mdia ir lanar suas mensagens, aqui
entendidas como estmulos, de acordo com a psicologia behaviorista. Segundo essavertente comportamental, com base na dualidade estmulo/resposta, possvel
condicionar o comportamento humano. A mdia esse agente capaz de estimular e
condicionar as respostas de seus receptores. Essa capacidade de manipulao
decorre do isolamento fsico, com base na concepo de massa, enquanto elemento
aparentemente homogneo, agregador de elementos heterogneos.
DOS EFEITOS LIMITADOS AOS USOS E GRATIFICAES
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Ao tratar dos limites dos efeitos da comunicao, a nfase j no est mais apenas
no emissor, mas fala-se tambm do papel do receptor, que por seu interesse na
informao, passa a selecionar o que de seu interesse, dentro daquilo que lhe
apresentado.
A idia de dominao ou persuaso exercida pela mdia continua presente nos
estudos, mas agora, ao invs de uma especulao sobre as capacidades
dominadoras, fala-se de um modelo emprico-experimental (Wolf, 1995, p.30). O
receptor j no mais visto como um ser atomizado e sem expresso, porm como
indivduo marcado por diferenas individuais.
So as diferenas individuais que iro caracterizar a relao do indivduo com a
mdia. Para entender o tipo de relao que o receptor estabelece com a mdia, Wolfapresenta a credibilidade como varivel de verificao. O fator credibilidade, que o
emissor tem em relao a uma fonte, pode atuar como determinante no processo
de aceitao da mensagem em questo. O contrrio tambm vlido, visto que
uma mensagem bem estruturada atribuda a uma fonte de confiabilidade duvidosa
pode implicar na sua rejeio.
Outros fatores tambm entram em cena para caracterizar o tipo de relao entre
indivduo e mdia. O indivduo pode ou no se expor mensagem miditica, deacordo com tendncias pessoais, tais como: interesse em obter a informao,
exposio seletiva, percepo seletiva e memorizao seletiva.
Com isso, h uma valorizao das motivaes presentes no indivduo e o efeito no
mais algo externo ao universo do receptor, como na teoria hipodrmica, por meio
das alegorias da agulha ou bala mgicas. Mas sem dvida, a mudana de
perspectiva toma forma de fato a partir daquilo que Wolf (1995) define como
abordagem emprica de campo ou dos efeitos limitados.
Esse o incio da pesquisa emprica sociolgica e o objetivo continua a ser a
compreenso dos efeitos da mdia, mas num outro nvel. Essa teoria aborda a
influncia num outro nvel, estabelecendo uma associao entre os processos da
comunicao de massa s caractersticas do contexto social onde eles acontecem
(Wolf, 1995, p.42).
Lazarsfeld que nos anos de 1940 estabelece uma ponte entre a pesquisa emprica
e a terica acerca do consumo da mdia. O autor toma o rdio como objeto e
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investigao, tentando definir como se d o consumo dos elementos da
comunicao massiva. Esse um estudo que vai alm de um mero levantamento
quantitativo, ou seja, o objetivo tirar concluses acerca daquilo que os receptores
extraem do contedo (Wolf, 1995, p.44).
Mas a obra que vai de fato ressaltar a importncia das relaes sociais para se
entender o efeito da mdia a publicao de Lazarsfel, Berelson e Gaudet, The
peoples choice. How the voter makes up his mind in a presidential campaign
(1944)4. A pesquisa foi conduzida durante a campanha de 1940, em Erie, uma
comunidade do Estado de Ohio. O objetivo principal da obra estudar a formao,
as mudanas e a evoluo da opinio pblica (Lazarsfeld, 1962, p.2).
Esta pesquisa torna-se um marco em especial por definir alguns conceitos, como older de opinio e comunicao em dois fluxos.
Em todo grupo social existem indivduos particularmente ativos, beminformados, e eloqentes. So mais sensveis que os outros aos interesses deseu grupo e tm mais desejos de manifestar sua opinio acerca dos assuntosde importncia [...] um dos fatos descobertos atravs de nosso estudo doslderes de opinio o de que eles cumprem a funo de intermedirios entreos meios de comunicao de massa e os outros integrantes do grupo (p.10).
Diante disso, no processo de formao de opinies, a comunicao de massa
apenas um elemento, visto que fator decisivo o tipo de contato que o indivduo
estabelece com os outros integrantes de seu grupo. O lder de opinio
exatamente aquela pessoa com a qual o eleitor pode dialogar, ou seja, o lder
algum do convvio, acessvel. essa possibilidade de aquisio de informao na
prpria comunidade que ser a base da definio da comunicao em dois nveis,
ou dois fluxos. O fluxo da comunicao a dois nveis (two-step flow of
communication) determinado precisamente pela mediao que os lderes exercem
entre os meios de comunicao e os outros indivduos do grupo (Wolf, 1995,
p.47).
Essa noo de grupo, onde as opinies so formadas com base nos diferentes tipos
de relacionamentos, atua como um novo tipo de metfora, em detrimento da teoria
hipodrmica. Naquela concepo, os efeitos transitavam diretamente do emissor
para o receptor, que era visto como estando atomizado, isolado. Agora a
perspectiva outra; entre a mdia e o receptor passa a ser considerada a existncia
de entrepostos, que estabelecem outro fluxo de informao entre eles e odestinatrio, de acordo com o posicionamento desse lder de opinio. A partir da,
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pode-se dizer que a comunicao de massa no atua isoladamente nos processos
decisrios, mas h que se considerar tambm a comunicao interpessoal.
Na envergadura da teoria funcionalista5 est a hiptese dos usos e gratificaes.
Essa hiptese baseia-se na capacidade, embora limitada, de ao do indivduosobre a comunicao, uma vez que ele capaz de selecionar o que vai ver, de
acordo com seus interesses e motivaes. O esquema bastante simples: antes de
assistir a um programa, ele seleciona. O ponto central a motivao para tal
escolha. Segundo McQuail (1994, p.318) o postulado bsico de que os membros
da audincia fazem uma escolha consciente e motivada entre canais e contedos
oferecidos.
H, com isso, uma mudana radical de ponto de vista, transitando de uma visodominadora dos meios de comunicao para outra mais branda, que acredita na
escolha individual. Os estudos sobre os efeitos passam da pergunta o que que
os mass mediafazem s pessoas? para a pergunta o que que as pessoas fazem
com os mass media? (Wolf, 1995, p.63).
Essa mudana de perspectiva baseia-se na premissa que de nada adianta uma
mensagem impactante se ela no for vista como necessria ao indivduo. Logo, o
possvel efeito da mdia est associado ao contexto de satisfaes de quemconsome esse produto. A repercusso da mensagem encontra-se emoldurada pelas
motivaes individuais, que iro determinar tanto a seleo da mensagem e
suporte, quanto o tipo de leitura que se far de tal mensagem.
Ao que tudo indica, a origem da hiptese dos usos e gratificaes encontra-se nos
anos quarenta, perodo em que Herzog fez um estudo sobre as motivaes que
levavam donas de casa a escutar radionovelas. Segundo Lozano Rendn (1995,
p.184), as gratificaes que obtinham ao se exporem a elas [radionovelas],
concluiu a investigadora Herzog, eram trs: escape emocional, obteno de
indicaes de como enfrentar certos problemas, e desejos de experimentar o
mesmo que os protagonistas.
Certamente, nessa pesquisa pioneira encontra-se o germe para uma produo
posterior no tocante ao envolvimento do indivduo com a comunicao de massa,
considerando-se questes de ordem subjetiva. Nesta linha, conforme Wolf (1995,
p.64-65), esto Berelson (1940, 1949), Wright (1960), Katz, Gurevitch e Haas
(1973).
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A necessidade de evaso, que Herzog indica como escape emocional, seguramente
marca a urgncia para o indivduo de afastar-se de sua realidade e experienciar
uma outra, ainda que vicariamente. Portanto, o que para a teoria funcionalista seria
a ao do indivduo, que usa a comunicao para obter prazer, seria apontado,numa viso mais crtica, como alienao ou exerccio de controle sobre o receptor.
McQuail (1994, p.320) elenca uma srie de motivaes que orientam o indivduo na
busca de satisfaes para algumas necessidades na mdia.
Aquisio de informao e dicas;Reduo de insegurana pessoal;Aprendizado sobre a sociedade e o mundo;
Suporte para valores pessoais e discernimento;Criar empatia com problemas alheios;Criar base para o contato social;Sentir-se conectado com os outros;Escapar [evaso] de problemas e preocupaes;Atingir um mundo imaginrio;Ocupar o tempo;Experimentar liberao emocional;Aquisio de estrutura para o cotidiano.
Seguindo a lgica de um uso instrumentalizado dos produtos miditicos, atendendo
a uma demanda do receptor, surge a possibilidade de reposicionar a teoria dacomunicao na atualidade, com base nas inovaes propostas pelo Webjornalismo.
Sobre essa relao, December (1996) questiona o papel da rede na vida das
pessoas, levando-se em considerao o fato de que ela prov uma gama de
instrumentos ao indivduo, num mbito individual, grupal e massivo. Mas, para o
autor, a partir dessas premissas, surge uma importante questo: as atuais noes
de mdia podem ser usadas para definir a comunicao na internet?.
Na lgica da comunicao de massa, se um contedo era pensado e produzido paraum veculo especfico, o que obrigava pensar num pblico, esse material nico,
seria veiculado no esquema um-todos. Como lembra December, na internet a
mensagem pode ser distribuda de vrias maneiras 6.
Um bom exemplo dessa capacidade a customizao do contedo, respeitando-se
as motivaes e escolhas do leitor. A questo vista apenas por esse prisma, pode
levar a uma anlise da mdia apenas baseada nos usos que os indivduos fazem do
contedo bem como de sua estrutura. H que se ressaltar, ainda, que se acredita
existir uma atividade volitiva que motiva o receptor a selecionar e modelar o que
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lhe interessa, no possvel que se negligencie a ao de uma esfera emissora,
que agora pode se especializar em atender a uma demanda que se d a conhecer.
Sobre a realidade apontada por December, Daz Noci (2005, p.17) afirma que
Un espacio meditico consiste en el conjunto de los servidores de undeterminado tipo que pueden proveer informacin, y el contenido asociado aesa arquitectura cliente-servidor. La idea principal de este concepto deespacio meditico es la idea de que existen mltiples esferas de actividad eninternet.
Ao abordar a internet sob o ngulo da multiplicidade, tanto de contedo como de
forma de disponibilizar esse material, December parte do princpio de que o uso da
comunicao a partir da internet motivado por vrios propsitos, que so
elencados entre as seguintes categorias: comunicao, interao e informao. Oque para o autor surge como fator relevante o fato de que as categorias no so
exclusivas, tampouco excludentes, algum pode participar da comunicao na
internet motivado pela combinao de comunicao, informao e interao ao
mesmo tempo.
Os usos, dessa forma, esto mais livres, visto que ao leitor-internauta possvel
uma variao de atividades em concomitncia com o ato de leitura de um
Webjornal. Estando online, o leitor pode, durante um bate papo, enviar e receberinformaes de um outro leitor. H, dessa forma, uma interconexo entre
elementos distintos, como informao e diverso.
Ao abordar a comunicao na internet sob a tica dos usos e gratificaes,
December (p.18), baseado em Wiener (1986), distingue as seguintes categorias:
busca de informao, entretenimento/ diverso, utilidades interpessoais e
interao. Nota-se, dessa forma, que o receptor pode ser compreendido como um
ser de ao, agindo movido por seus interesses.
A lgica dos usos e gratificaes pode ser desdobrada para a gratificao obtida,
vista como resultado da adeso a um comportamento que assegura a satisfao de
uma demanda, e gratificao pretendida, marcada pela expectativa de um
resultado (Palmgreen, Wenner, & Rayburn, 1981, Apud December, 1996). O que
importa, nessa perspectiva, que a Internet representa um espao para onde
convergem as expectativas dos receptores, o que marca uma adeso quele
ambiente informacional7.
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Pensar a comunicao, na atualidade, configura-se numa atividade ainda mais
complexa, visto que distintas lgicas podem se fazer presentes num espao que
outrora se imaginava delimitado relao emissor-receptor. O princpio da
comunicao de massa, dessa forma, modificado, visto que um emissor no fala
mais para todos os receptores, indistintamente, mas estabelece uma relaodialgica com grupos de interesse.
Sendo assim, percebe-se uma movimentao quanto ao olhar que se lana sobre o
processo comunicacional. Se no incio da comunicao de massa, todo um
instrumental foi concebido para abarcar aquela realidade, fica evidente que hoje
preciso que se busque uma nova forma de olhar para o processo comunicacional a
partir da internet. H duas lgicas que precisam ser consideradas: num primeiro
momento, a do produtor, que passa a produzir com base nas potencialidades darede; por outro lado, o universo do consumo/recepo mostra-se mais complexo,
visto que o indivduo pode se movimentar de acordo com seu interesse, buscando a
gratificao/satisfao para suas demandas.
Ao considerar tais questes, numa poca em que se experimentam tantas
inovaes tecnolgicas, fica evidente que para se pensar a comunicao preciso
avanar para alm de um mero determinismo tecnolgico. No possvel que a
comunicao mediada por computadores seja reduzida a um processo mecnicoque pretensamente liga o indivduo a uma mquina. Esse parece ser o grande
desafio da atualidade: conceber a comunicao, que cada vez mais marcada pelos
avanos, que fazem convergir distintas tecnologias, e localizar a o indivduo, com
suas motivaes e interesses. Indivduo este que capaz de dialogar com o
produtor e com outros receptores; indivduo no mais concebido de forma nica
pblico alvo imaginado, mas entendido a partir de motivaes especficas. O mundo
da WWW trouxe muitos avanos, mas tambm tantos outros dilemas.
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1 As possibilidades de uso de bancos de dados para a composio de distintas narrativasdigitais foram apontadas por Manovich (2001; 2005). Como lembra o autor (2005, p.231),uma narrativa pode ser auxiliada pelo banco de dados e a construo dessa narrativa assegurada pela ligao/ordenamento desses dados numa determinada ordem. Segundo oautor, a narrativa virtual, ao passo que o banco de dados existe materialmente.
2Segundo Silva Jr. (2000, p.210-211), os primeiros passos encaminhados nesse sentidoremetem aos anos 60. A iniciativa inaugural coube ao The New York Times, quando passa aadotar um tratamento computacional para a formatao da composio do jornal em doislugares distintos: Nova Iorque e Paris. Pela primeira vez, a transmisso da informao ainda por via de ondas de rdio no foi realizada por operadores de telgrafo, e simautomatizada pelo computador [...] Os jornais mundialmente pioneiros na utilizao determinais de vdeo foram o Today da cadeia americana Gannet Co. e o Detroit News, em
1973. No Brasil, a primeira redao informatizada surgiu dez anos aps, com a introduoem 1983 de terminais pela Folha de So Paulo. O processo no resto dos jornais brasileiros foilento, a ponto de no incio de 1987 apenas quatro veculos jornalsticos estavam totalmenteinformatizados internamente. O processo de informatizao dos demais jornais brasileiros,consolidou-se apenas de meados para o fim dos anos 90.
3Na linha evolutiva do Webjornalismo, j se fala de uma quarta gerao, referindo-se aouso do banco de dados na narrativa Webjornalstica. Para Machado (2004, p.3),diferentemente dos bancos de dados simples, que organizam as informaes de uma pessoafsica, os bancos de dados complexos, como aqueles empregados no jornalismo e quepermitem a recuperao rpida de informaes, os dados armazenados em Bancos deDados complexos so tudo menos uma simples coleo de itens. Sobre essa questo, verainda Machado (2006) e Barbosa (2007).
4 Embora no exista edio em portugus, essa obra conhecida como A opo daspessoas. Como o eleitor elabora as suas prprias decises numa campanha presidencial. Emlngua espanhola, em edio de 1962, o ttulo ficou El pueblo elige. Estudio del proceso deformacin del voto durante una campaa presidencial.
5 A teoria Funcionalista uma corrente que apresenta uma viso mais branda quanto aoprocesso da comunicao. A teoria funcionalista dosmass mediaconstitui essencialmenteuma abordagem global aos meios de comunicao de massa no seu conjunto [...] acentua-se, significativamente, a explicitao das funes exercidas pelo sistema das comunicaesde massa (Wolf, 1995, p.55).
6
Point to point; point to multipoint; point to server broadcast; point to server narrowcast;server broadcast; server narrowcast.
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A hiptese dos usos e gratificaes aplicada internet:deslocamentos conceituais
7 Toda inovao tecnolgica traz consigo um conjunto de expectativas, como utopias,oscilando entre o realizvel e o irrealizvel num determinado momento, mas que podeapontar para possveis caminhos futuros (Dalmonte, 2007).