A HISTORIA DA ENFERMAGEM EM PERNAMBUCO: UM OLHAR DA ABEn (1968-1972)

T H E H I STORY OF N U RS I N G I N TH E F E D E RAL STATE OF PERNAM BUCO TH ROUGH TH E B RAZI L IAN ASSOCIAT ION O F N U RS I NG'S PERSPECTIVE-

1 968- 1 972 H I STORIA DE LA EN FERM E RiA EN P E RNAMBUCO: U NA M I RADA DE LA

ABEn ( 1 968 - 1 972)

FatIma Maria da Silva A brao , Rute Ivete Andrade Chagas2

Gustavo Acioli LopeSJ

RESUMO: Este artigo e uma tentativa de contri bu i r com a h ist6ria da enfermagem ao levantar quest6es re levantes , marcos e i n fl uenc ias q u e atraves da Associayao B ras i l e i ra de E nfermagem fo ra m v is lumbrados na epoca . Atraves de depoimento oral e ana l ise de docu mentos pudemos destacar amp la atuayao da associayao re lac ionadas a q uest6es tra b a l h istas , normatizayao do exerc ic io profiss io n a l , formayao profiss io n a l , at iv idades s6c io-cu l tu ra i s e edu cat ivas da enfermagem em Pern a m buco .

PALAVRAS-CHAVE : h ist6ria da enfermage m , A B E n , enferme i ras de Pernambuco

CONSIDERACCES INICIAIS

A Associayao Bra s i l e i ra de E nfer m a g e m - A B E n , em s e u s 75 a nos e atraves de s u a S eC;;ao e m Pern a m b u co , ao l o n g o d e s e u s 52 a n os d e existenci a , t e m contr i b u fdo c o m a socied ade pernambuca n a atu a l iza ndo profissiona is , l utando pela mel horia dos servic;;os de saude e d e enfermagem prestados a popu l ayao e mel hor ia das con d ic;;6es d e en s i n o e tra b a l h o . Cad a gestao ca racteriza-se por rea l izac;;6es q u e m e recem ser a p rofu n d a d a s por pesq u i s a s q u e contri b u a m para a reconstruc;;ao d a h istor ia d a e nferm a g e m .

A A B E n Seyao Pern a m b uco fo i cr i a d a e m 08 d e agosto d e 1 949 e cha m ava-s e , n a e poca , Associayao Bras i l e i ra d e E nferme i ra s D i p lo m a d a s - A B E D , pass a n d o a d e n o m i n a r-se AssociaC;;ao B ras i l e i ra d e E nfermagem e m 1 954 . Apos l e ituras d e docu mentos , opta mos , n este a rt igo , por rever 0 perfodo de 1 96 8 a 1 972 , n a o so pe lo fator te m p o , como por ser 0 q u adr ien io e m q u e se a m p l i o u a d i scussao sobre a n eces s i d a d e d e cr iayao d o Conse lho d e E nfermagem e criou a associaC;;ao pre-s ind ica l , ou seja per fodo q u e a ntecedeu a criaC;;ao d o orgao fisca l izador e s i n d ica l no estad o .

Para 0 estudo fo i ut i l izado l e i turas de atas do perfodo e depoimento oral d a ex-pres identa da gestao do q u a d ri e n i o ( 1 968 - 1 969)4 . Desco n h ecemos a existenc ia em nosso esta d o d e reg istro d e tra b a l hos rea l izados n a a rea , s e n d o este estudo parte i ntrodutoria de u m traba lho d e

1 Enfermeira, Docente da FENSG-UPE; Pres/dente da ABEn-PE 2Enfermeira, Docente da FUNESO; Secretaria Geral da ABEn-PE 3 Historiador; Mestrando do Programa de Pas-Gradua9ao em Histaria da UFPE 4 Agradecemos a enfermeira Ivanete Alves do Nascimento a depoimento oral sabre a sua

gestao.

R. Bras. Enferm. , Bras i l ia , v. 53 , n A , p . 328-327 , abr. /j u n . 200 1 325

A h ist6ria da enfermagem . . .

reconstru<;:ao d a h ist6ria d e e nfermagem e m Pern a m buco . Atraves d e d e po i mento oral e a n a l ise de docume ntos foi poss ive l d estacarmos aspectos relac ionados a: q u estoes tra ba l h istas norm atizac;:ao do exercic io da profissa o , formac;:ao p rofiss i o n a l , at iv id ades s6cio-cu ltu ra i s � ed ucativas .

OLHANDO A HISTORIA EM PERNAMBUCO

N esta epoca Perna m b uco estava , como os d e m a i s esta d o s , sob a v igenc ia d a reforma constituc ional d e 1 967. U ma das mais s ign ificativas era a que os governadores nao mais seriam e le itos pelo povo , mas, s i m , esco l h idos pelas assemble ias leg is lativa s , d a mesma m a n e i ra que . o pres ide nte do B ras i l seria esco l h i d o pe lo Congresso Nac io na l . Ass i m as l i berd a d es q u e ora era m exerc idas na esco l h a d e l i dera nc;:as estava m exti nta s .

Pernambuco , em func;:ao d a s pol fticas do reg ime mi l itar, cont in uava crescendo, constru indo rodovias, escolas e hospita is . AAssoci ac;:ao face as i mposic;:oes do mercado de trabalho ampl iava a s u a atuac;:ao e, ass i m , s6cios e d i retor ia estava m m a i s exige ntes e atentos a atu ac;:ao dos profissionais no mercado, mesmo com a situac;:ao conturbada no contexto nacion a l , nao de ixava m tra nsparecer em seus d iscursos 0 q u e ocorria no estado na e poca . A d i retor ia d a ABEn buscava j u nto as a u to ri d a d e s , como govern a d o r e secreta r ios , s o l u c;:oes p a ra os pro b l e m a s d a e nfermagem. Tra ba lhavam e m consonanc ia c o m o utras associac;:oes , como as d o s servidores do Estado e de n utr ic;:a o .

F ato q u e d estacamos fo i a moc;:ao entreg ue a o govern ador N i l o Coelh05 a s s i n a d a s por e nfermeiras e n utric ion istas sobre 0 n ivel d esses gru pos profiss iona is no estado , sendo 0 caso enca m i nhado ate a Assembleia Leg is lativa . " E ra um tra ba l h o ard uo" , referia I va n ete Nascimento em seu depoi mento , sempre "tra ba lha ndo em prol de uma classe" . Ainda com relac;:ao as q uest6es trabalh istas , houve uma ampla d iscussao sobre a ta bela de assistencia de enfermagem particu lar e aud iencias com autoridades estadua is para tratar de cargos e sa larios d a categoria , ressa lta ndo a pro posta de piso sa lar ia l d e ci nco s a l a rios m i n i mos .

OLHANDO FATOS IMPORTANTES

Dentre os fatos re lac ionados aos p l e itos tra b a l h ista s , a AB E n encarrego u -se da criac;:ao e e le ic;:ao d a pri meira d i retoria da Associac;:ao Pre-Si n d ica l . Ta l in ic iativa gerou polemica e confl ito com 0 S ind icato que representava os profiss ionais de saude, inc l u i ndo a enfermagem, no estado, mas fo i 0 embr iao d o atu a l S i n d icato dos E nferm e i ros d o Estado d e Pern a m b uco. I va nete Nascimento em seu depoimento d i z q u e a re lac;:ao da ABEn com 0 s i n d i cato na epoca era mu ito d iffc i l pois os d i r igentes era m de n ivel medio e os enfermeiros se l i m itava m apenas a pagar uma taxa ( a n u i d a d e ) e nao havia oportu n id a d e p a ra 0 e nfermeiro atu a r sendo s u a part ic i pac;:ao a m i n i ma poss ivel no " S i nd icatao" . 6

Percebemos , i g u a l mente , que d entre a s preocu pac;:oes d a ABEn estava a s at iv idades que eram exerc idas nos servic;:os por profiss i o n a i s n a o q u a l ificados ou lega l mente h a b i l itados , co nforme ressa ltava em s u a fa l a Joana Ara ujo Barro s , adverti ndo as colegas so bre a admissao de pagens7 co mo atendentes e aux i l ia res d e enfermagem e Lu iza M edeiros informando que no Hospita l Pronto-Socorro havia enfermei ras a merica nas traba lhando como volu ntar ias. E m outra ocas i a o , D . Cec i l i a S a n iotto , d i retora d a F a c u l d a d e de E nferma g e m da U F P, so l ic i tava d a Associac;:ao e ntra r em contato c o m 0 C a n a l 2 para m u d a r 0 fi l m e "As e nferm e i ras" , q u e era

5 0 primeiro governador de Pernambuco a ser e/eito via indireta (1967 - 1971) 6 Termo utllizado na epoca pe/os enfermeiros ao referir-se ao sindicato de nlve/ medio do

Estado. 7 Curso oferecido atraves do P/PMO e assessor ado pe/a Facu/dade de Enfermagem da UFP

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ABRAo , F. M . da S . et a l .

apresentado as 2 3 h , nas seg u n das-fe i ras , 0 q u e i m p u l s ionava a Associagao a d iscut ir q uestoes re l at ivas a normatizagao d o exercic io da profi ssao e q u estoes et ica s .

Ressaltamos a polemica gerada em torno d a d iscussao do enquadramento d a s obstetrizes em n ivel fed era l , pe lo I N P S , no q u a d ro de enfermeiras , em re l agao ao q u a l a AB E n pos ic ionou­se d esfavorave l m e nte . I va n ete N a sc i mento , e m seu d e p o i m en to i nforma que houve u m a p a rt i c i pagao efetiva d e D . C ecf i i a , n a e l a boragao d e docu m e ntos e e n ca m i n h a m e ntos a a u tor id ades co m p etentes , e para a A B E n N acion a l , cu l m i n a nd o co m a v i n d a d a pres i d e nta d a A B E n a Pern a m buco. Posteriorme nte , tomou con h ec imento q u e 0 pro b l e m a n a o era s6 e m Pern a m b u co m a s e r a d e o u tros esta d o s , ta m b e m .

Todas estas q uestoes foram ampla mente d i scutidas na pri meira Jornada de E nfermage m , cuj a cr iagao e p ro mogao fo i u m m a rco d esta gesta o , t e n d o repercussao reg i o n a l e n a c io n a l , s u scita n d o estu dos p a ra a cr iagao do Conse lho (6rgao de f isca l i zac;;a o ) no esta d o .

N este contexto , cabe a i n d a ressa ltar a l g u n s aspectos d a atuagao d a A B E n e m fu ngao d a formac;;ao profi s s i o n a l e pro mogao d e c u n h o c ientiffco-cu ltu ra l , a s a ber :

- Criagao e i nsta lagao de jornadas de E nfermagem com abrangencia reg ional dos Estados: Para i b a , R io G ra n d e do N o rte e Ceara em comemoragao a semana d e e nferm a g e m ;

- Os cu rsos oferecidos n este periodo fora m : aperfeigoame nto p a r a profiss io n a i s por especi a l id a d es e cursos d e pri meiros socorros e enfermagem do l a r para a soci eda d e ; profi lax ia a n e u ro s e ; pr i n c i p ios fi los6ficos e ped agogia e d i d atica ; metodos d e esteri l izaga o ; i n ic iaga o a pesq u i s a e enfermagem ps iq u iatrica ;

- Ainda n esta gestao , foi criado 0 departamento de relac;;oes pub l icas com vistas a melhorar o re lac ioname nto e ntre as a u tori d a d es e associ ados ;

- Real izagao d e c a m p a n has a fi m de a ngar iar fu ndos em prol da construgao d a sede d a AB E n N aciona l ;

AAssociagao Brasi le i ra d e E nfermagem participou ativa mente das l utas d e ciasse, atraves dos membros de s u a d i retoria , exerceu e recebeu i nfl uencias da sociedade, enfrenta ndo desafios e co n q u i sta n d o os es pagos i m po rtantes p a ra a categor ia fre nte as secreta r ias de s a u d e , ed ucagao, admin istragao, escolas e servigos em prol d e uma melhoria d a q ual idade da assistencia presta d a a p o p u l agao . Forta l eceu a categor ia a o cri a r a Associ ac;;ao P re-S i n d ica l . Alem do trabalho efetivo que desempenhava m , percebe-se que os membros os rea l izavam com dedicagao e e m p e n h o , fato este observado n o d i sc u rso de Zel i a Pedrosa n o fi n a l de s u a gesta o , ao esti m u l a r os n ovos m e m bros da d i retor ia para q u e "ten h a m a mor pe la associagao" . I va n ete ta mbem em seu d epoi mento refere que as conq u i stas se deram e m fu ngao da u n iao d o grupo e q u e estes res u l tados forta lecera m a Associa c;;a o .

ABSTRACT: Th is art ic le contri butes to t he h istory of nu rs ing , as it pOints ou t t he d iscussion o f issues, landmarks and i nfl uences promoted by the B razi l i an Associat ion of N u rs ing (AB E n ) i n the federa l state of Pernambuco , i n the period of 1 968 u nt i l 1 972 . Through d i rect in te rv iews and the ana lysis of secondary data it was poss ib le to perceive the importance of th is associat ion i n matters such as r ights , reg u lat ion and deve lopment of the n u rs i ng profess ion , as we l l as the promotion of socio­cu ltura l and educationa l act iv i t ies for these profess iona ls i n Pernambuco .

KEYWORDS : h istory of nu rs ing , ABEn , association of nurses

RESU M E N : En este art icu lo ha sido pos ib le contri bu i r con la h istoria de la enfermeria a l p lantear temas re levantes , marcos e i nfluencias que a traves de la Asociaci6n Bras i lena de Enfermeria se v is l u mbraron en la epoca .A traves del testimon io ora l y un ana l is is de l a documentac i6n , hemos pod ido destacar l a amp l ia actuaci6n de la asociaci6n respecto a temas labora les , reg lamentaci6n del eje rc i c io p rofes i o n a l , fo rmac i6n p rofes i o n a l , act i v idades soc io-cu l tu ra les y e d u cat ivas de enfermeria en Pernambuco .

PALABRAS C LAVE : h istor ia de la enfermeria , ABEn , asociaci6n de enfermeria

R. Bras. Enferm. , Bras i l i a , v . 53, n A , p . 328-327 , abr. /j un . 2001 327