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OBRA ANALISADA A Hora e a Vez de Augusto Matraga GÊNERO Prosa de ficção: conto da obra Sagarana AUTOR Guimarães Rosa Na noite de 16 de novembro de 1967, toma posse na Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira n.º 2, que tem como patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura. DADOS BIOGRÁFICOS Nome completo: João Guimarães Rosa Nascimento: 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais Morte: 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro . BIBLIOGRAFIA - Magma (1936), poemas. Não publicados - Sagarana (1946), contos e novelas regionalistas. Livro de estréia. - Com o vaqueiro Mariano (1947) - Corpo de Baile (1956), novelas. Atualmente publicado em três partes: - Manuelzão e Miguilim, - No Urubuquaquá, no Pinhém e - Noites do sertão. - Grande Sertão: Veredas (1956), romance. - Primeiras estórias (1962), contos. - Tutaméia: Terceiras estórias (1967), contos. - Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma. - Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma. EM JORNAIS E REVISTAS - Colaborou no suplemento "Letras e Artes" de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66), divulgando contos e poemas. RESENHA Os contos de Sagarana apresentam a paisagem mineira em toda a sua beleza selvagem, a vida das fazendas, dos vaqueiros e criadores de gado. As estórias desembocam sempre numa alegoria e o desenrolar dos fatos prende-se a um sentido ou "moral", à maneira das fábulas. As epígrafes que encabeçam cada conto condensam sugestivamente a

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OBRA ANALISADA A Hora e a Vez de Augusto Matraga

GÊNERO Prosa de ficção: conto da obra Sagarana

AUTOR Guimarães Rosa

Na noite de 16 de novembro de 1967, toma posse na Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira n.º 2, que tem como patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura.

DADOS BIOGRÁFICOS

Nome completo: João Guimarães Rosa Nascimento: 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais Morte: 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro .

BIBLIOGRAFIA - Magma (1936), poemas. Não publicados

- Sagarana (1946), contos e novelas regionalistas. Livro de estréia.

- Com o vaqueiro Mariano (1947)

- Corpo de Baile (1956), novelas. Atualmente publicado em três partes: - Manuelzão e Miguilim, - No Urubuquaquá, no Pinhém e - Noites do sertão.

- Grande Sertão: Veredas (1956), romance.

- Primeiras estórias (1962), contos.

- Tutaméia: Terceiras estórias (1967), contos.

- Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma.

- Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma.

EM JORNAIS E REVISTAS - Colaborou no suplemento "Letras e Artes" de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66), divulgando contos e poemas.

RESENHA

Os contos de Sagarana apresentam a paisagem mineira em toda a sua beleza selvagem, a vida das fazendas, dos vaqueiros e criadores de gado. As estórias desembocam sempre numa alegoria e o desenrolar dos fatos prende-se a um sentido ou "moral", à maneira das fábulas. As epígrafes que encabeçam cada conto condensam sugestivamente a

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narrativa e são tomadas da tradição mineira, dos provérbios e cantigas do sertão. Este conto (um dos 9 da obra) é uma boa porta de entrada no universo encantado da ficção roseana. Augusto Esteves (filho do coronel Afonsão Esteves, da Pindaíbas e do Saco-da-Embira, Nhô Augusto, Augusto Matraga (os três nomes se referem a um só personagem) são os passos da travessia de um homem ao encontro de seu destino - buscado e construído na dor, mas também na alegria, no encontro com o sagrado e no desfrute do mundano - sua hora e sua vez. Noite de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem nossa Senhora das Dores do Córrego do Murici... Augusto - homem desregrado - fazia questão de mostrar-se valentão, não se importando com a família – a mulher Dionora e a filha. Gostava de tirar mulher dos outros, de brigar de debochar. Percebemos a luta entre o bem e o mal e as angústias, que essa luta provoca em cada homem durante toda a vida.

ESTILO DE ÉPOCA Modernismo – 3ª fase ou Pós-modernismo

Cenário: o sertão brasileiro. Prosa de tendência regionalista. Regionalismo universalizante: a problemática atinge o homem em qualquer lugar. Visão profunda do ser humano e suas experiências. Personagens: ligados à paisagem mineira, à vida das fazendas, à saga dos vaqueiros e dos criadores de gado - mundo da infância e mocidade do autor. Guimarães Rosa converteu o sertão em linguagem, transferindo-o para o oco do coração do homem. Nas palavras, musicalidade, que dão um caráter nitidamente poético à sua prosa. É o que o escritor chama de “plumagem e canto das palavras”. Aproveitamento da fala regionalista com seus arcaísmos.

INTERTEXTUALIDADE

Filme “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” Gênero: drama, 1965 Adaptação de uma das “estórias” (como o próprio Guimarães as denominou) – casos que sustentam o enredo com roteiro e direção de Roberto Santos e Produção de Luiz Carlos Barreto, Roberto Santos e Nelson Pereira dos Santos

Narra a história do personagem Augusto Matraga, um fazendeiro violento, que traído pela esposa, emboscado por seus inimigos, acaba massacrado e é dado como morto. É salvo por um casal de negros e, desde então, volta-se para a religiosidade. Mas quando conhece Joãozinho Bem Bem, um jagunço famoso, este percebe nele o homem violento. Daí em diante, Matraga vive o conflito entre o desejo e a vingança e sua penitência pelos erros cometidos.

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VISÃO CRÍTICA Já no título, um hibridismo:

SAGARANA = “destino rude, tosco” “Saga” (origem germânica) é também compreendido como sinônimo de “canto heróico", "lenda" + “rana”, adjetivo tupi, que significa "à maneira de " ou "espécie de " Sagarana é uma coletânea de contos estruturados a partir de uma visão moderna: embora apresentem os seus elementos tradicionais, os contos de Guimarães Rosa são portadores de “um sopro renovador”. Sua obra ficou marcada pela linguagem inovadora, utilizando elementos de linguagem popular e regional, com fortes traços de narrativa falada. Tudo isso, unindo à sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções semânticas e sintáticas. ”Somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo.” ”A língua e eu somos um casal de amantes que juntos procriam apaixonadamente, mas a quem até hoje foi negada a benção eclesiástica e científica. Entretanto, como sou sertanejo, a falta de tais formalidades não me preocupa. Minha amante é mais importante para mim. “ Criador de uma língua inédita e surpreendente, Rosa considera a sua como a “língua da metafísica”.

“Numa linguagem mesclada de tipismos mineiros, eruditismos e arcaísmos, traz para a literatura regionalista um sopro renovador, um sentido de epicidade e profundo conhecimento da alma humana, que fazem dele, desde logo, um escritor de lugar definitivamente marcado” (Massaud Moisés).