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Ano 07, n. 24, Julho/2013 ISSN: 2237-6372 pet.ufma.br/biologia A importância da água para a vida Uma análise do papel da água desde a origem dos seres vivos até a atualidade A biologia da ansiedade Cultivo de olhos Uma visão computacional sobre a vida

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Ano 07, n. 24, Julho/2013

ISSN: 2237-6372

pet.ufma.br/biologia

A importância da água para a vida

Uma análise do papel da água desde a origem dos

seres vivos até a atualidade

A biologia da ansiedade

Cultivo de olhos

Uma visão computacional

sobre a vida

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 2

pet.ufma.br/biologia

CORPO EDITORIAL

Supervisão Geral: Profa. Dra. Gisele

Garcia Azevedo

Revisores: André Alvares Marques Vale,

Brenda Hellen Izídio de Paiva, Leonardo

Manir Feitosa e Lucas Pereira Martins.

Revisor do Artigo: Profa. Dra. Gisele

Garcia Azevedo (DEBIO/UFMA)

Diagramação: Elias da Costa Araujo

Junior, José Uilian da Silva, Marta

Regina de Castro Belfort e Osmann Cid

Conde Oliveira.

Realização: Grupo PET-Biologia/UFMA

Ano 07, n. 24, Julho/2013

ISSN: 2237-6372

www.petufma.br/biologia

EDITORIAL

É com satisfação de apresentamos o segundo Boletim

Informativo do PET Biologia do ano de 2013. Dando

continuidade com a nossa temática sobre o Ano

Internacional sobre a Cooperação pela Água, nosso

artigo aborda a importância da água para origem da

vida. Além disso, traz interessantes resenhas, pontos

de vista, carta ao leitor e entrevistas.

Desejamos a todos um excelente início de semestre e

boas vindas aos nossos alunos que regressaram do

CsF e PLI.

Boa Leitura!!

Profa. Dra. Gisele Garcia Azevedo

Tutora do PETBIOLOGIA/UFMA

NESTA EDIÇÃO, CONFIRA!

- Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p .02

- Artigo: A importância da água para a vida: uma análise do papel da água desde a origem dos seres vivos até a

atualidade............................................................................................................................... . . . . . . . . . . . . . . . .p.03 - Resenhas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.0 5

- Ponto de Vista Biológico.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p. 09

- Notícia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.09

- Carta ao Leitor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.1 0

- Entrevista Internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.12

- Entrevista Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.13

- Eventos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.14

- Linha de Pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.15

- Frase.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.15

- Charge.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p .16

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 3

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A importância da água para a vida: uma análise do

papel da água desde a origem dos seres vivos até a

atualidade Por: Lucas Pereira Martins

Introdução

Em 1929, Haldane publicou um artigo altamente importante

e renovador sobre a origem da vida, modificando e abalando

toda a comunidade científica da época. Neste artigo, ele

apresentou o conceito de “caldo prebiótico” ou “sopa

primordial”. Haldane propôs que a radiação UV proveu a

energia suficiente para a conversão do metano, amônia e

água – presente no oceano da Terra primitiva- em moléculas

orgânicas mais complexas. Na ausência de formas de vida

para consumí-las ou, utilizá-las de outros modos, estas

moléculas se acumularam em grandes concentrações,

formando a “sopa primordial”, na qual estes compostos

reagiram e produziram macromoléculas; em seguida,

partículas do tamanho de vírus e, posteriormente, as

primeiras células propriamente ditas (Lane et al., 2010).

Estas células, segundo Haldane, eram fermentadoras

heterotróficas que consumiam a “sopa primordial” até o

posterior surgimento do processo fotossintético (Haldane,

1929). Cinco anos antes da publicação do artigo de Haldane,

um pesquisador russo chamado Aleksandr Oparin já havia

apresentado uma hipótese sobre como se deu o surgimento

da vida (Oparin, 1938). A partir dos postulados de Oparin e

Haldane, a ideia de um primeiro ancestral comum universal,

LUCA ou, “Last Universal Common Ancestral”, foi criada e

mais bem fundamentada com o passar dos anos. LUCA seria

o organismo na base da árvore da vida, sendo, portanto o

ancestral de todos os organismos que vivem hoje (Lane et al.,

2010). Mas qual seria a relação disto com a água e com os

nossos problemas atuais relacionadas a ela? Primeiramente,

tanto Oparin quanto Haldane citaram com grande ênfase a

importância da água no processo de geração da vida,

variando na composição dos demais elementos (Miller,

1996). Mais do que isso, a água foi crucial não somente para

que a vida surgisse, mas também para que a vida fosse

mantida, já que ela é essencial para diversos processos

metabólicos dos seres vivos. Assim, é notável o papel da

água para a origem da vida e, consequentemente, de toda a

diversidade de organismos que existe atualmente e que já

existiram no passado. No entanto, a escassez de água doce

em nosso planeta e a poluição de mares, rios e oceanos têm

causado um grande problema para todos nós, que somos

formas de vida altamente dependentes desta substância.

Por que na água?

É amplamente aceito que a vida na Terra emergiu na água.

Por isso, a água é considerada um dos pré-requisitos para o

surgimento e evolução da vida. Como um solvente, a água

permite a organização de biopolímeros em estruturas

tridimensionais e é fundamental na maioria dos processos

químicos. A grande força entre as ligações de hidrogênio na

água faz com que muitas moléculas orgânicas sejam solúveis

neste elemento. Moléculas orgânicas abióticas produzidas na

atmosfera primitiva ou no espaço podem ser divididas em

dois tipos: os hidrocarbonetos e os CHONs (Carbono,

Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio). Na presença de água

líquida, os hidrocarbonetos tentam “escapar” das moléculas

de água, enquanto que os CHONS possuem afinidade com

esta, o que pode trazer interessantes conformações a estes

compostos. Além disso, a água possui um grande momento

dipolo. Este alto momento dipolo favorece a dissociação de

grupos ionizáveis como NH2 e COOH, levando a grupos

iônicos que podem formar novas ligações de hidrogênio com

as moléculas de água, aumentando a solubilidade. Isto é

especialmente importante, pois a dissociação de compostos

em água líquida foi o que deu início ao processo que depois

geraria a vida (Brack, 1993). Logo, a alta solubilidade, a

formação de ligações de hidrogênio e outros fatores como

sua temperatura de ebulição, a sua regularidade térmica,

dentre outros, são essenciais para a associação íntima da água

com a vida.

LUCA e seus descentes

O ancestral comum de todos nós – LUCA- é baseado na

troca de material genético (RNA)dentro de uma população

ancestral de organismos replicadores de design

extremamente simples, possuindo estruturas e funções basais

e que mutualmente trocavam genes entre si. O ancestral

universal era, deste modo, não uma única célula, mas toda

uma comunidade que trocava informações (Lane et al.,

2010).A importância da água para LUCA é indiscutível.

Além de ser o seu principal constituinte, a água permitia a

transição de informações entre os coacervados, ou

posteriormente, entre as células primitivas. Assim, esta

comunidade era, na verdade, um único ser, possuindo seu

próprio pool gênico (Lane et al., 2010).

Nós, como descendentes de LUCA, mantivemos uma alta

relação com a água. Estima-se que o corpo humano possua

cerca de 60% de água, ou seja, para todos os fins, você e eu

somos mais água do que qualquer outra coisa. Outros

organismos, como águas-vivas, podem possuir até 95% de

água no corpo. Estes dados demonstram que desde LUCA, a

água é essencial para a vida, sendo desconhecida no planeta

Terra qualquer forma de vida que não esteja relacionada

direta ou indiretamente com a água.

A poça morna de Darwin

Frequentemente é dito que as condições para a formação de

um organismo vivo a partir de matéria inorgânica é algo fora

da realidade. Charles Darwin, em 1871, foi um dos

precursores da ideia de que diferentes elementos, quando

unidos em um ambiente aquático propício, poderiam dar

origem à vida. Em seu famoso livro “A origem das espécies”

de 1859, Darwin não escreve sobre a origem da vida

detalhadamente, mas em uma carta de 1881 ao botânico

Nathaniel Wallich, ele escreveu “Você entendeu

corretamente... que eu tinha deixado a questão da origem da

vida intencionalmente sem opinião, sendo esta ultra vires

(além do alcance) no presente estado de nosso

conhecimento”. Deste modo, apesar de saber a importância

de alguns compostos para a vida e, em especial, da água,

Darwin revelava que muito ainda tinha que ser discutido

sobre como a vida teria se originado. Darwin demonstrou

também um enorme conhecimento químico e a adequação

A r t i g o

Fonte: http://www.menteagucada.com.br/2012/11/a-historia-do-mundo-em-2-

horas.html.

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 4

pet.ufma.br/biologia

deste à sua teoria da seleção natural, que perpassa por

questões fundamentais como esta, afinal, a origem da vida

seria, a priori, a origem da evolução biológica

(Follmann&Brownson, 2009). A evolução química, por sua

vez, descreve os processos químicos que ocorreram na Terra

pré-biótica, e precederam a evolução biológica, uma fase que

levou ao surgimento dos primeiros seres capazes de

reprodução (Kustchera, 2009). A evolução biológica é a

teoria mais aceita no que tange ao mundo vivo que

conhecemos hoje, explicando o por quê dos processos

biológicos e como os seres vivos se diversificaram. No livro

“A grande história da evolução- na trilha

dos nossos ancestrais” (Dawkins, 2009),

o autor faz um exercício interessante,

traçando quais seriam os nossos

ancestrais comuns com outros grupos de

seres vivos e quando estes “pontos de

encontro” teriam ocorrido. Continuando

este exercício até o ancestral universal,

chegaríamos à poça morna de Darwin,

com seus compostos orgânicos recém-

criados pela evolução química. São estes compostos que

formariam os coacervados e, posteriormente, toda a

diversidade de nosso planeta. Tudo, ao que sabemos, se

iniciou na poça morna.

Água na origem... e no fim?

A água esteve conosco na origem, está conosco no presente e

estará no futuro. Uma das certezas que temos é a de que no

momento em que a água acabar em nosso mundo, a vida

sucumbirá. A poluição e a perda de corpos d água têm

causado, juntamente com fatores como o desmatamento e o

aquecimento global, uma das maiores perdas de diversidade

de todos os tempos. A poluição da água é especialmente

preocupante, pois, devido às características físicas e químicas

desta substância, compostos poluentes podem se espalhar

facilmente por oceanos, lagos e rios. Uma extinção em massa

provocada por compostos tóxicos em corpos d água não seria

inédita. Isto já ocorreu uma vez na história da Terra, devido a

sublimação de uma grande quantidade de metano que se

encontrava congelado no fundo dos oceanos, causando a

extinção de cerca de 95% das espécies marinhas. Este

evento, a extinção do Permiano – Triássico, demonstra, mais

uma vez, a dependência que nós, seres vivos, temos em

relação à água. Nos dias de hoje, infelizmente, a liberação de

compostos tóxicos nos oceanos e rios têm sido provocados

pelos seres humanos. Apesar do diferente contexto, a

extinção do Permiano – Triássico nos revela como as

consequências de alterações em algo tão simples e tão

importante como a água podem ser trágicas para todos. Uma

prova disto foi o estudo realizado pelos pesquisadores Yong

Cao, Anthony Bark e Peter Williams, na qual foram

analisados os impactos da poluição da água sobre uma

comunidade de macroinvertebrados aquáticos no rio Trent,

no Reino Unido. Por meio de comparação entre áreas com

alto grau de poluição e áreas com baixo grau de poluição, foi

descoberto que os índices de diversidade são extremamente

diferentes entre as áreas. Ao contrário do que os

pesquisadores imaginavam, não somente as espécies menos

tolerantes à poluição eram eliminadas, mas sim quase toda a

fauna de macroinvertebrados sucumbia perante a poluição

contínua do corpo d água (Cao et al., 1996). Casos mais

conhecidos de derramamento de petróleo também

demonstram um padrão similar. Estima-se que um grande

número de espécies de invertebrados aquáticos, muitas delas

não conhecidas por nós, foram extintas em algumas

localidades devido à poluição

causada por derramamento de

petróleo. O efeito em vertebrados é,

por muitas vezes, mais visível e

estudada. Um grande número de

peixes, aves migratórias e outros

vertebrados são afetados diretamente

quando a água sofre algum grau de

desestabilidade. E, como sabemos,

os efeitos nocivos causados pela

poluição acabam por afetar toda a teia trófica local. Deste

modo, a extinção do Permiano – Triássico encontra similares

hoje em dia, embora em menor grau.

Conclusão

A água têm sido fundamental para a vida desde os seus

primórdios. Na verdade, a água é, em última instância, a

própria vida. A evolução, tanto química quanto biológica,

representa também a associação de compostos com a água.

Desde LUCA até os seres vivos que habitaram e ainda o

planeta Terra, a água se mostrou primordial. Os grandes

oceanos que vemos atualmente são um recado contínuo para

todos nós de como a vida se iniciou e do quê ela é formada.

Preservar a água é, acima de tudo, preservar a si próprio e a

toda diversidade do mundo.

Referências

Brack, A. Liquid water and the origin of life.Origins of life and

evolution of the Biosphere 23: 3-10, 1993.

Cao, Young; Bark, Anthony; Williams, Peter. Measuring the

responses of macroinvertebrate communities to water pollution: a

comparison of multivariate approaches, biotic and diversity

indices. Hydrobiologia 341: 1-19, 1996.

Dawkins, R. A grande história da evolução: na trilha dos nossos

ancestrais. Ed. Companhia das Letras, PrimeiraEdição, 2009.

Follmann, H. &Brownson, C. Darwin´s warm little pond

revisited: from molecules to the origin of life. Springer Verlag,

2009.

Haldane, J. B. S. The origin of life. Rationalist annual 3: 3-10,

1929.

Kustchera, U. Charles Darwin´s origin of species, directional

selection, and the evolutionary sciences

today.Naturwissenschaften. Disponível em:

<http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00114-009-0603-

0>. Acesso em 11/06/2013.

Lane, N.; Allen, J. F.; Martin, W. How did LUCA make a living?

Chemiosmosis in the origin of life.BioEssays 32: 271-180, 2010.

Miller, S. L. A production of amino acids under possible primitive

earth conditions.Science 117: 528-529, 1953.

Miller, S. L.; Schopf, J. W.; Lazcano, A. Oparin´s “origin of life”:

Sixty years later. Journal of Molecular Evolution 44: 351-353,

1996.

Oparin, A. I.The origin of life.MacMillan New York, 1938.

Fonte: http://www.ecologiablog.com/tag/sopa+primordial+de+la+vida.

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 5

pet.ufma.br/biologia

Frio na barriga, sudorese, coração acelerado, medo de que tudo dê

errado. Não existe quem nunca tenha sofrido com a ansiedade. O

ansioso está em constante estado de alerta devido às possibilidades

existentes nos eventos futuros. Tais acontecimentos não afetam somente

o corpo, mas também o cérebro. Quem nunca perdeu noites de sono

devido à existência de uma tarefa iminente? A ansiedade pode chegar a

prejudicar a vida do indivíduo, alcançando proporções patológicas. Em

último caso, ela se caracteriza por sensações muito

intensas ao ponto de serem perigosas e gerar medo

sem que haja uma ameaça real, já que na ansiedade

o perigo não é imediato, mas sim uma projeção

criada pela mente. Por outro lado, a ansiedade faz

parte do nosso sistema de defesa, fixada em nossa

espécie devido a processos evolutivos. A seleção

natural beneficiou aqueles indivíduos que eram

mais preocupados com eventos futuros, já que estes

eram mais precavidos e tinham maior possibilidade

de se defender de seus predadores, eliminando

assim os menos ansiosos da população. Dessa

forma, não há hoje indivíduos que não apresentem

ansiedade em algum grau.

Hoje em dia, com os veículos de comunicação

cada vez mais rápidos, ficamos cientes de todos os desastres que

acontecem ao redor do mundo e nos observamos vulneráveis. Com isso

tentamos nos defender e acabamos por pensar de forma catastrófica.

Esse modo de pensar influencia na ansiedade. “Se a pessoa é muito

catastrófica e imagina o tempo inteiro que as coisas vão dar errado, ela

sofre mais com a ansiedade”, diz Thiago Sampaio, psicólogo membro

da Associação dos Portadores de Transtornos de Ansiedade.

Mas, se a grande maioria da população divide os mesmos riscos de

desastre, e muitas vezes compartilham dos mesmos transtornos, por que

o grau de preocupação é diferente entre estes indivíduos? Além de

experiências traumáticas que cada um possui, a genética também pode

ser uma das respostas para as pessoas mais preocupadas.

Um dos genes relacionados com esse comportamento foi o gene

COMT que, quando mutado, determina a predisposição ao pensamento

catastrófico. Já foi comprovado que um quarto da população mundial

apresenta mutação neste gene.

Os sintomas da ansiedade são conhecidos, mas como o nosso

organismo trabalha para ocasionar todas essas reações físicas e

modificações comportamentais? Todos estes mecanismos são

desencadeados pelo lobo límbico – sistema que exerce importante papel

no mecanismo de defesa responsável por proteger

o organismo do ambiente de forma a alertar um

perigo e armazenar memória de perigo futuro – as

regiões deste sistema responsável pela sensação de

ansiedade são a amígdala, hipotálamo e matéria

cinzenta periaquedutal dorsal, que decodificam os

perigos que ameaçam o corpo. Estimulações

elétricas e químicas dessas regiões podem induzir

padrões de comportamento defensivo específicos,

no caso da ansiedade em humanos. Essas áreas

liberam hormônios, principalmente a adrenalina e

os glicocorticoides – aumentam os batimentos

cardíacos e a respiração, inibem o sistema

digestivo (boca seca) e trabalham para evitar o

aquecimento excessivo do corpo (suor). Em suma,

preparam o corpo para lutar ou fugir.

A verdade é que mesmo com alguns progressos significativos acerca

dos estudos da ansiedade, pouco se sabe sobre como se comportar diante

dela quando esta foge do controle e começa a adquirir características

patogênicas. Mesmo com os pontos negativos que vimos em relação à

ansiedade, não se trata de um traço que deva ser simplesmente

suprimido, pois são notáveis os seus benefícios ao longo da história

evolutiva dos seres humanos como um mecanismo de defesa e preparo

para acidentes eventuais e futuros, configurando-se, assim, uma

importante ferramenta de sobrevivência.

Resenhas

Por: Daniella de Jesus Castro Brito Revelações psicológicas e biológicas sobre o mal da ansiedade

Fonte: Hueck, Karin.Sobre ansiedade. Super interessante, SUPER

258, novembro de 2008.

A posição das Conferências Ambientais no (des)envolvimento sustentável Por: Brenda Hellen Izídio de Paiva

O mundo está em crise ambiental e econômica, gerada pelo atual modelo de desenvolvimento – sistema que transforma recursos naturais em

mercadoria de todos os tipos. Há alguns anos, os impactos causados ao ambiente por nossas ações eram vistos como fatores irrelevantes, mas o rápido

crescimento industrial iniciado pelo desestruturado processo de urbanização levou a perceptíveis mudanças nas paisagens e climas do planeta. Ainda

assim, a preocupação com a preservação ambiental por parte dos chefes políticos dos países foi revelada somente a partir do final dos anos sessenta.

Isso foi visível quando a ONU, em 1972, convocou a Conferência de Estocolmo, para tratar essencialmente dessa temática. Os países em

desenvolvimento justificaram que o encontro desviava o foco das habituais discussões sobre seus interesses prioritários socioeconômicos e a postura

do Brasil foi interpretada como anti-ambiental.

No fim dos anos 80, as lideranças políticas iniciaram os debates sobre as mudanças climáticas, reconhecendo-se o prejuízo à camada de ozônio,

pelas emissões de gases danosos, além do aumento no número de desmatamentos registrados naquele período. Para compensar as críticas ambientais,

o Brasil se ofereceu para sediar a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento – a RIO 92 – que teve importância

peculiar por introduzir a ideia de que a problemática ambiental não deveria ser debatida de forma separada das questões socioeconômicas, mas

incorporando o social ao ambiental e, assim, fixou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, hoje mundialmente aceito. O resultado foi a

assinatura de uma série de documentos negociados em anos anteriores, visando ações cujo objetivo era diminuir os impactos ambientais ao decorrer

das próximas gerações. Dez anos mais tarde, na Conferência de Johannesburgo, a principal questão estava relacionada às Mudanças Climáticas, pois

a aplicação do protocolo que determinava a diminuição das emissões de gases significava um desafio econômico e tecnológico gigantesco. Além do

mais, observou-se que todas as atividades humanas colaboravam para os efeitos no clima e que os esforços dos países desenvolvidos nas suas

economias não eram compatíveis com o que precisa ser feito.

Em 2012, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável – RIO + 20 – teve o intuito de discutir as atividades não realizadas nos

vinte anos anteriores e propor planos de metas para os próximos vinte. Contudo, ela não surtiu o efeito esperado, visto que seu contexto de

convocação foi de uma crise econômica, desviando a atenção para outras pautas, sem foco ambiental. Ocorrida em um cenário de muitos protestos e

paralelamente à Cúpula dos Povos, como já era de se esperar, a RIO +20 se posicionou como uma Conferência onde somente os países desenvolvidos

tinham poder de decisão.

A questão é que as Conferências têm recebido muitas críticas porque visivelmente priorizam o desenvolvimento econômico dos países e o

massivo acúmulo de capital, em vez de realmente mostrarem posição quanto às urgências climáticas. É por conta dessa inversão de prioridades que a

ONU não conseguiu até hoje estabelecer soluções práticas e realizáveis para essa problemática. Enquanto isso, utiliza-se de um discurso falho de

sustentabilidade, incapaz de propor alternativas efetivas porque se situa em meio ao capitalismo, funcionando nos limites impostos pela economia de

mercado, ou seja, pelos critérios de feroz competição, expansão de negócios e acumulação de lucros, inerentes ao sistema capitalista.

Fonte: Entenda a RIO+20, disponível em http://www.onu.org.br/; Lowy, Michael, A alternativa ecossocialista, Democracia viva,

disponível em <http://www.ibase.com.br>

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 6

pet.ufma.br/biologia

Por: Rafael Rodrigues de Lima

O clássico germânico “O Flautista de Hamelin” é um conto que traz em suas entrelinhas uma verdade histórica:

os efeitos diretos da música sobre a mente humana. No conto, somos apresentados a um flautista singular que com

sua música mágica seria capaz de hipnotizar ratos e crianças. Hoje, sabe-se que a música não induz qualquer

“magia” em nossos cérebros, mas que gera interações complexas de características físicas, emocionais, cognitivas e

psicossociais. Compreendemos que somos dotados da capacidade de discernir altura, duração, intensidade, timbre e

que tais fenômenos são percebidos em várias regiões do cérebro, ao invés de em apenas um único “centro musical”.

Contudo, apesar do tema já ser consideravelmente estudado e representado cientificamente, duas perguntas ainda

permanecem sem resposta: “como” e “por que” a música evoluiu ao longo da história humana?

Suposições não faltam para responder tais questões. Existe um argumento de que a música seria apenas um resultado acidental durante o

processo evolutivo de traços com outras funções, como, por exemplo, a identificação e reprodução de diferentes entonações linguísticas ou de

vocalizações animais. Outras possiblidades citadas são: de que a música teria promovido coesão social; que seria um antecedente evolutivo da

linguagem; que fora impulsionada pela sua capacidade de acalmar os bebês; ou ainda (agora incluindo Charles Darwin como defensor) que a música

seria produto da seleção sexual. Possivelmente, um dos motivos para a falta de consenso nesse campo se deve ao fato de existirem poucos estudos acerca

da “Genética da Música” – possível termo para as questões relacionadas aos genes responsáveis pelos processos bioquímicos de percepção,

entendimento e desenvolvimento musical dentro da mente humana, além dos processos psicomotores envolvidos.

Partindo da noção de que a música é um artifício social presente em todas as culturas conhecidas, não seria estranho pensar que ela possui

bases genéticas no homem moderno. Porém, as composições musicais podem variar drasticamente de um povo para outro em estrutura e função. Haveria

então algum padrão? Certos comportamentos podem prover pistas sobre o assunto. Em primeiro lugar, observações em bebês humanos demonstram que

eles são mais cativados pela música em relação a muitos outros estímulos, sendo, inclusive, capazes de reagir a mudanças de ritmo e de notas. Isso

parece ser claro quando se tem a informação de que as famosas “cantigas-de-ninar” – ou “lullabys”, estilo musical voltado para indivíduos juvenis –

apresentam-se em todas as culturas humanas. Outro comportamento notável é o impulso para dançar ao som de melodias, praticamente universal nas

sociedades.

Pensando nesse relacionamento íntimo entre dança e música, pesquisas encontraram evidências do

envolvimento improvável do gene AVPR1a – responsável pelo hormônio vasopressina, secretado nos casos de

desidratação e queda de pressão arterial, para que os rins conservem água no corpo – com comportamentos

sociais, de aprendizagem, memória, escuta e estruturação mental do áudio. Para estudos futuros, os cientistas

buscarão indícios de associação entre os genes AVPR1a e SLC6A4 – responsável por codificar uma proteína

integral que transporta a serotonina no sistema nervoso - e a memória musical, entre outros genes.

A percepção musical em animais também pode ajudar a obter algumas respostas. Estudos têm testado o efeito

de músicas clássicas em roedores da espécie Mus muculus presos em cativeiro. Eles querem descobrir qual a interferência da música nesses animais, ou

seja, se elas são percebidas como um ruído, um estresse ou um benefício a esses seres. Nesse tipo de estudo, animais em geral apresentam melhoras

significativas em seu comportamento, diminuindo excitabilidade, sustos causados por ruídos repentinos e estresse. Porém, devido aos comportamentos

característicos entre os animais – como as vocalizações –, a preferência por certos sons a outros pode indicar que a evolução do traço não estava

necessariamente ligada à música.

Até o momento, ainda permanece improvável que os cientistas cheguem a um consenso sobre a evolução da música. Porém, devido a

predisposições inatas e aspectos que estão presentes em diversas culturas, o mais provável parece ser que os aspectos da musicalidade sejam

parcialmente hereditários, além de fortemente influenciados pelo social. Referências: J. MCDERMOTT (2008). The evolution of Music. Nature. Volume 453. Páginas 287 – 288. 15 de Maio.

D. J. LEVITIN (2012). What Does It Mean to Be Musical? Neuron. Volume 73. Páginas 633 – 637. 23 de Fevereiro.

J. G. P. CRUZ, D. D. D. MAGRO & J. N. CRUZ (2010). Efeitos da música clássica como elemento de enriquecimento ambiental em Mus musculus em

cativeiro (Rodentia: Muridae). Biotemas. 23 (2): 191-197. Junho.

Yasuní: Uma Luta pela Conservação

No visionário filme “Avatar”, de James Cameron, somos apresentados a um mundo de belezas naturais intocadas, habitado por incríveis criaturas. Em um

determinado momento da narrativa os habitantes nativos veem seu lar ameaçado por conta da ganância exploratória do ser humano, já que o

governo precisa extrair um importante mineral existente ali, restando a eles apenas a luta armada para defender o local onde vivem.

A defesa da terra por partes dos nativos contra os “brancos” exploradores é algo muito conhecido ao longo de nossa história; todo o território

americano já foi marcado por tais disputas. Mas não pense que esse tipo de assédio exploratório não existe mais. Um reduto ambiental que se

encontra na mira de companhias petrolíferas é o Parque Nacional Yasuní, no Equador. O parque se estende por aproximadamente 9.820 Km2

de floresta amazônica preservada, abriga comunidades indígenas e até o momento já foram identificadas 600 espécies de aves, 150 espécies

de anfíbios, 121 espécies de répteis, 170 espécies de mamíferos e uma estimativa de 3000 espécies de plantas.

Infelizmente, os grandes empresários não se importam com toda essa riqueza natural, pois o tesouro que realmente os interessa se

encontra sob a superfície do parque: aproximadamente 850 milhões de barris de petróleo não prospectado. Sendo o Equador um país pobre que depende da exploração

do petróleo, resistir às investidas das empresas petrolíferas se torna um pouco difícil, tanto que várias concessões à extração já foram feitas.

Uma proposta apresentada pelo governo equatoriano desde o ano de 2007 busca resolver essa questão para preservar o Bloco ITT (região do parque onde estão as

maiores reservas de petróleo). Em troca de não permitirem a exploração daquela área pelas empresas, as lideranças mundiais teriam que pagar uma quantia de 3,6

bilhões de dólares ao Equador como forma de compensação. O valor é menos da metade do que o país ganharia se efetivamente prospectasse o petróleo, o que torna a

Iniciativa Yasuní ITT (nome dado à proposta), a alternativa ideal para o impasse. Entretanto, as lideranças mundiais não se movimentaram em relação à questão e

ainda não arrecadaram nem 40% desse dinheiro.

As empresas petrolíferas já se encontram nos arredores do parque, se assentando aos poucos, ocupando blocos adjacentes ao bloco ITT, mas ainda não possuem

acesso à Zona Intocável. As comunidades indígenas ali presentes, os Quíchua e Waorani, também veem seu estilo de vida ameaçado. A região já foi marcada por

conflitos entre os indígenas e os “homens de macacão”, inclusive resultando em baixas. Os grupos ainda têm de conviver com a insegurança de acabar perdendo o seu

lar.

Tal como na história do mundo utópico criado por Cameron, as autoridades garantem que a prospecção pode ser feita sem prejuízos ambientais. Contudo, apenas para

chegar ao local, grandes faixas de floresta teriam de ser destruídas, mostrando que essa afirmação não é verdadeira. O ideal seria continuar a deixar intocável a área do

parque. O “progresso” avança de modo inexorável naquela região, levando a crer que a natureza sairá perdendo nessa disputa. O desfecho só será diferente caso as

organizações competentes realmente se empenhem em salvar uma área tão rica em biodiversidade. Fonte: Floresta tropical à venda, Scott Wallace - Edição Especial Por que

explorar National Geografic Brasil, Ano 13 nº 154, 2013, pg: 82-107.

“Como” e “Por que” a Música Evoluiu?

Por: Rodrigo Pimenta Silva

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 7

pet.ufma.br/biologia

O que a membrana nuclear de uma célula tem em comum com a

atmosfera de Júpiter? Segundo Stephen

Wolfram, um renomado cientista

britânico, tudo!. Em seu livro chamado

“A New Kind of Science” (Um Novo

Tipo de Ciência), Wolfram expõe

ideias que confrontam os cientistas

mais conservadores, mostrando uma

nova forma de interpretar sistemas

complexos como o Universo e a vida.

Wolfram, desde jovem, foi um dos prodígios da

física e da computação, conseguindo o PhD em Física Teórica aos 20

anos e criando a sua própria linguagem de programação chamada de

“Mathematica”. Com algumas linhas de códigos em Mathematica,

Wolfram criou um simples programa que chamou de “Game of Life”

(Jogo da vida). O programa consiste em um tabuleiro com vários

quadrados, os quais ele chamou de células, distribuídos lado a lado em

uma página como os pixels em um monitor. As células podem ser

brancas (desativadas) ou pretas (ativadas), dependendo de um conjunto

de regras simples que se baseia no estado de ativação das células

vizinhas. Ativando manualmente e ao acaso algumas células e depois

rodando o programa, Wolfram percebeu que as células tendiam a formar

padrões que iam se alternando e se tornando cada vez mais complexos,

sugerindo formas e comportamentos elaborados. Por dez anos, Wolfram

estudou os padrões que surgiam e por muitas vezes viu formas

inusitadas como agrupamento de células que formavam sistemas

similares aos modelos astronômicos, padrões que sugeriam de forma

bem simples uma divisão mitótica ou até mesmo padrões que

apresentavam movimentos complexos.

A análise dos dados levou a uma conclusão inevitável: “É possível

gerar uma complexidade extraordinária com um conjunto muito simples

de poucas regras”. Wolfram afirma que as leis que regem o nosso

universo não são muito mais complexas que as do Jogo da Vida. As

partículas subatômicas se organizam em átomos que formam

agrupamentos que podem dar origem a todas as coisas que existem.

Tudo isso baseado em um conjunto simples de leis de afinidade química

e eletrônica com as partículas vizinhas. Para ele, o universo nada mais é

que uma versão melhorada do jogo da vida que está rodando há 13,5

bilhões de anos e cujas células, representadas pelos átomos, tiveram

tempo suficiente para se organizar em padrões extremamente

complexos.

Mas de que forma isso relaciona a membrana nuclear de uma

célula com a atmosfera de Júpiter? Para responder isso, Wolfram

recorre a algo que ele chama de “Princípio da Equivalência

Computacional”. Segundo esse princípio, tudo o que é gerado no mesmo

nível de complexidade computacional é equivalente. Então, se o mesmo

conjunto de regras somado ao acaso foi responsável pela formação da

atmosfera de Júpiter e gerou a membrana nuclear de uma célula, essas

estruturas têm o mesmo nível de complexidade e, logo, são equivalentes.

O princípio da Equivalência Computacional nos leva à conclusão

que somos muito mais relacionados com todas as outras coisas do que

imaginamos. Para Wolfram, seria correto afirmar que uma nuvem de

hidrogênio, uma supernova em outra galáxia, uma molécula de água e a

própria Terra estão tão vivas quanto peixes, pássaros e humanos. Uma

visão tão radical quanto essa põe em xeque vários anos de discussão

sobre “O que é a Vida afinal?”. Segundo a lógica de Wolfram a resposta

é simples: A vida é a mera existência.

.

Uma das discussões mais calorosas e controversas no meio das ciências da vida é se os vírus – entidades parasitas intracelulares

obrigatórias – são realmente seres vivos ou não. Eles são compostos de uma estrutura chamada vírion - material genético (podendo

ser DNA ou RNA) e de uma cápsula proteica e não possuem organelas como os demais seres vivos, sendo incapazes de ter

metabolismo próprio. Resumindo a discussão e parafraseando Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão”. Como é de conhecimento

de muitos, a evolução da vida na Terra é um dos maiores mistérios da ciência e a imagem mais ilustrativa desse mistério é a “árvore

da vida”. Não sei se vocês, leitores, já perceberam que na árvore da vida que é divulgada, os vírus não estão presentes?. Só encontramos bactérias,

arqueobactérias e eucariotos (fungos, plantas e animais). Esse certo “menosprezo” pelos vírus pode decorrer da crença comum de que eles são

maléficos para os organismos vivos.

Entretanto, esses corpos (no sentido físico da palavra) podem ter tido uma função primordial desde o começo do que se entende por vida

atualmente. Sabe-se que as interações parasita-hospedeiro são muito importantes do ponto de vista evolutivo, estando em constante mudança – a

famosa “corrida armamentista”, tão difundida no pensamento evolutivo. Sendo assim, os vírus podem ter tido participação na construção da vida

como conhecemos hoje?

A resposta, segundo os pesquisadores Gustavo Acrani, José Luiz Módena e Eurico Arruda da USP de Ribeirão Preto (SP), é... Sim! Os vírus

atuam de uma forma muito interessante: quando injetam seu material genético na célula hospedeira, este vai para o núcleo celular e começa a se

replicar utilizando-se da maquinaria celular. Vírus com RNA como o HIV, chamados de retrovírus, têm a capacidade de converter seu RNA em

DNA através da enzima transcriptase reversa. Quando fazem isso, podem incorporar seu material genético ao DNA do indivíduo, podendo

influenciar sua variabilidade genética. Alguns vírus podem infectar organismos permanentemente e, se conseguirem inserir seu material genético

em células germinativas e esse se incorporar ao DNA da célula, pode perpetuar essas informações genéticas para as próximas gerações. Com o

passar do tempo podem conferir características positivas ou negativas aos indivíduos portadores deste fragmento de material genético,

modificando sua resposta à seleção natural e alterando, assim, a frequência gênica daquela população.

Surpreendentemente, esse processo descrito acima teve um papel de suma importância para estarmos aqui hoje, por exemplo, lendo esse

Boletim. Por incrível que pareça, os embriões são, no fundo, corpos estranhos à mãe e, seguindo a premissa básica do sistema imunológico, eles

deveriam ser rejeitados e destruídos. O que proporciona que isso não ocorra é a placenta que está presente somente nos mamíferos eutérios. Esta,

por sua vez, entra em contato com a parede do útero através de uma camada de células chamada de sinciciotrofoblasto, ocasionando a fusão dos

dois tecidos. Estudos da década de 1970 descobriram que essa camada de células é quando formada sintetiza uma proteína chamada sincicina, cuja

informação está contida em um gene viral intacto chamado env. Outros casos de genes virais presentes no genoma de outros organismos ocorrem

em várias espécies. Vespas das famílias Braconidae e Ichneumonidae colocam seus ovos em lagartas. Foi descoberto que genes de Polydnavírus,

presentes no genoma das vespas, inibem o sistema imunológico da lagarta, permitindo o desenvolvimento das larvas.

Por conta dessas descobertas, o diretor do Centro de Pesquisa de Vírus da Universidade da Califórnia, Luiz Villareal, diz: “os vírus são os

artesãos da vida na Terra”. Claro, sofremos com muitas doenças causadas por essas cápsulas de material genético, mas não podemos

negar que, se estamos onde estamos hoje e se a vida é o que é, os vírus tiveram e têm grande participação nisso. A estimativa de que

8,3% do nosso genoma são compostos por genoma viral corrobora ainda mais com essa crença. Se deixarmos a nossa imaginação

fluir, podemos considerar que os vírus sejam a água que mantém a árvore da vida grande, frondosa e magnífica como é e sempre há

de ser.

Por: Cid Conde

Fonte: WOLFRAM, S. 2002. A New Kind of Science. Wolfram Media

CHOWN M. 2007. The Never Endings Days of Being Dead. Faber and Faber

Limited The Game of Life <http://mathworld.wolfram.com/GameofLife.html> Acesso

em 07/06/13

Um ponto de vista computacional sobre a vida

Vírus: um dos agentes evolutivos? Por: Leonardo Manir Feitosa

Referências: Acrani, G. O.;Módena, J. L. P., Arruda, E. O Papel dos Vírus na Árvore da Vida. Ciência Hoje. Número 292. Volume 49. Maio

2012.

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 8

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Em 18 de Dezembro de 1912 foi revelado à comunidade cientifica um achado que revolucionaria a história da evolução humana: O homem de

Piltdown. O naturalista Charles Dawson havia encontrado um fóssil de hominídeo com características transitórias entre o Homo sapiens e os

demais primatas. Com essa descoberta, Dawson se tornou famoso no meio científico e teve seu nome exposto em vários museus pelo mundo

afora. Porém, em 1953 veio à tona a desoladora verdade: o fóssil não passava de uma fraude. Dawson havia feito uma montagem utilizando um

crânio de homem, um pedaço de mandíbula de orangotango e dentes de chimpanzé.

O homem de Piltdown é considerado por muitos cientistas como uma das maiores fraudes da história da ciência moderna. Todavia, este não é

um caso isolado. As fraudes têm se tornado, cada vez mais, um assunto que preocupa os editores de revistas científicas ao redor do globo. Porém,

existe uma corrente que afirma que as fraudes são eliminadas rapidamente pela qualidade autocorretora do método indutivo utilizado pela ciência

moderna, afinal, para que algo seja aceito como um resultado satisfatório, ele deve ser testado várias vezes por diferentes cientistas.

Mas, então, o que seria um ato fraudulento na ciência? É considerada fraude tudo aquilo que é feito para

benefício próprio através da montagem, distorção ou omissão de informações. Dentre as formas mais

comuns de fraude estão: a falsificação de dados (onde os resultados obtidos são simplesmente alterados); o

plágio (cópias exatas de trechos de trabalhos pré-existentes) e a montagem de dados (quando se constrói um

resultado do zero, utilizando dados totalmente falsos). Logicamente, existem outras formas de se ferir a ética

científica, como é o caso da omissão de algumas informações - quando estas deveriam estar claras e

evidentes - da pesquisa para o Comitê de Ética ou para o sujeito com o qual está sendo realizado o estudo

(no caso das pesquisas na área da saúde).

Dentre os casos famosos de manipulação e criação de resultados está a pesquisa com células-tronco de

embriões humanos que foi publicada pelo sul-coreano Woo Suk Hwang na revista Science em 2004. Foi

descoberto que Hwang havia simplesmente forjado todos os dados da pesquisa, o que o levou à perda de seu

cargo na Universidade de Seul e a ser julgado e condenado por fraude científica. Após o julgamento, o sul-

coreano foi preso e permaneceu na cadeia por dois anos.

Hoje em dia só são considerados pesquisadores de ponta aqueles que publicam artigos científicos frequentemente. Esse tipo de pensamento,

impulsionado pelas empresas de fomento, acaba por levar o pesquisador a pensar mais na quantidade do que na qualidade dos seus estudos. Essa

pressão desenfreada pela produção acaba distorcendo a real importância da ciência, que seria buscar explicações reais e precisas para os

fenômenos naturais.

O temor pela perda do status, somado à pressão sofrida pela necessidade forçada de publicar artigos pode ser apontada como um dos principais

fatores para tentar explicar os motivos pelos quais cientistas renomados se atrevem a cruzar a linha do bom senso. Entretanto, alguns cientistas

acabam caindo no erro da chamada “hipótese de estimação”. Nesses casos, os pesquisadores, insistem em ideias que já se provaram total ou

parcialmente falhas. Tal apego pode levar a manipulações de resultados com o intuito de corroborar esse “bichinho de estimação”. Porém, esses

fatores supracitados não justificam metade dos casos de fraudes que se tem conhecimento. Muitos dos problemas são causados pelo simples fato

de os pesquisadores buscarem a fama e o sucesso no meio científico acima da verdade.

Como foi dito no início do texto, alguns estudiosos acreditam que fraudes como as cometidas por Dawson e Hwang são exceções e, que

mesmo causando um grande impacto inicial, não perdurarão por longos períodos. Porém, isso não deve servir de alento, levando à redução ou

alívio no controle em relação às fraudes. Afinal, as mentiras muitas vezes atrapalham o andamento da ciência, por menores que sejam. Então,

antes de começar a copiar ideias dos outros, pense em como você quer ser lembrado em um futuro próximo.

Cultivo de olhos em laboratório: será possível?

Já pensaram como seria

se pudéssemos cultivar

órgãos em laboratório?

Quantas vidas seriam salvas,

filas de espera para

transplante de órgãos

poderiam acabar e doenças

poderiam ser curadas.

Estudos poderiam ser feitos

para a melhor compreensão do desenvolvimento de algumas

doenças.

Parece que a ciência está um passo mais perto disso.

Pesquisadores de Kobe, no Japão, desenvolvem pesquisas de

cultivo de olhos em laboratório há pelo menos dez anos e

recentemente obtiveram bons resultados. Eles cultivaram células-

tronco embrionárias de ratos induzidas a diferenciação através de

agentes químicos. As células-tronco embrionárias são células que

possuem um alto potencial de diferenciação transformando-se em

tecidos que irão constituir um ser e estão presentes nas fases

iniciais do desenvolvimento embrionário, sendo encontradas em

algumas partes do corpo na vida adulta.Porém as células-tronco da

fase embrionária possuem um maior poder de diferenciação.

O processo para desenvolvimento desses olhos ocorre da

seguinte forma: células-tronco são removidas do doador e

colocadas em um meio de cultura chamado de “cultura flutuante

de agregado”. Ela permite que as células se agreguem e tomem

formas tridimensionais através de agentes químicos e proteínas

conhecidamente envolvidas na formação do órgão em questão que

são colocados dentro desta cultura flutuante. Após alguns dias as

células começaram a formar esferas ocas. Os pesquisadores então

adicionaram um coquetel de proteínas contendo compostos

químicos para induzi-las a uma maior diferenciação através da

simulação dos estímulos que estas estruturas sofreriam caso

estivessem sofrendo o processo de histogênese e organogênese

normal. Entretanto, nem o cristalino nem a córnea se formaram

por conta de seu formato diferenciado e complexidade. Ainda

assim, esses experimentos elucidaram muitas dúvidas em relação

ao desenvolvimento dos olhos.

As pesquisas com células-tronco embrionárias de

camundongos, feitas em 2010, podem ajudar futuramente pessoas

que sofrem de doenças oculares, pois, a partir desses

experimentos, pesquisadores do Japão conseguiram produzir,

recentemente, através de células embrionárias humanas, os

primeiros estágios de formação do olho, o cálice óptico e o tecido

neural de múltiplas camadas.

Esperamos que brevemente com o avanço da ciência e dos

métodos seja possível criar olhos humanos perfeitos e funcionais

em laboratório e posteriormente para o desenvolvimento de outros

órgãos.

Fonte: Cultivando seu próprio olho” “Scientific American

Brasil”Ano 11, nº127, dezembro de 2012, pg. 36-41

Fraude: até onde a ciência é Ciência?

Por: Rafael Antônio Brandão

Referências: HOSSNE, W. S. & VIEIRA, S. 2007. Fraude em ciência: onde estamos? Revista Bioética . 15 (1): 39-47.

WEISSMAN, G. 2008. Science fraud: from patchwork mouse to patchwork data. The FASEB Journal. 20: 587 – 590.

Por: Fernanda Pinheiro Monteiro

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 9

pet.ufma.br/biologia

Imagine que você, caro leitor, seja um professor de história romana e de latim e, para tanto, está ávido para transmitir seu

conhecimento sobre história para seus alunos. Porém, você se vê surpreendido por entidades, organizações, como preferir, que

impedem que você cumpra seu dever de lecionar, por afirmarem que nunca houve uma civilização latina, que o Império Romano

nunca existiu na história humana, considerando que são falsas as alegações e provas de que ele tenha algum dia existido. Por tais

inconvenientes, você, como professor, se vê usando boa parte do seu tempo, não para ensinar seus alunos, como assim desejava no

começo, mas para explicar a existência da civilização latina aos “negadores da história”. É dessa forma que o famoso biólogo

evolucionista, Richard Dawkins, começa seu livro “O Maior Espetáculo da Terra”, justificando que a publicação do seu livro tem

como objetivo a exposição das evidências da evolução àqueles que ele denomina de “negadores da história”, por não aceitarem a

teoria da evolução.

Richard Dawkins, eis um nome que causa muita polêmica em várias mesas de discussão acerca de um debate antigo que

transcorre desde os tempos de Darwin: a briga entre as explicações para o surgimento e a diversidade de vida na Terra. Dawkins é

popularmente conhecido por participar ativamente dessa discussão, seja comparecendo em grandes debates públicos ou em outros

meios, apoiando o lado evolucionista. No livro, para explicar as evidências da evolução, ele faz usos recorrentes da metáfora do

detetive que chega a uma cena do crime e deve descobrir quem é o culpado e, para isso, deve analisar a maior quantidade de pistas

possíveis deixadas pelo criminoso; no caso, os biólogos são os detetives que devem analisar os vários vestígios que a seleção

natural deixa pelo planeta para confirmar a veracidade da teoria evolucionista, a qual, muitas vezes, ele diz já ter deixado de ser

uma teoria há muito tempo, tornando-se um fato que deve ser aceito.

É buscando explicar a teoria da evolução que Dawkins nos apresenta esse incrível espetáculo em todas

as suas nuances, abordando as mais diversas áreas da biologia e, chegando a buscar conhecimento de outras

ciências relacionadas, tais como a física. Podemos contemplar os mais diversos “atos” em sua obra, podendo

nos encantar com as incríveis semelhanças entre organismos de diferentes ramos da árvore da vida em seus

estágios embrionários, observar que a evolução nem sempre requer milhões de anos, ocorrendo em escala

geológica, para que seja perceptível, pois podemos presenciá-la e percebê-la no tempo de vida humano,

entender que nós mesmos somos agentes de algo extremamente semelhante à seleção natural, a seleção

artificial, que se caracteriza quando modificamos grupos de organismos, selecionando os indivíduos mais

proveitosos às nossas necessidades e, assim, causando alterações ao longo de gerações. Enfim, se eu, aqui,

explorasse cada uma das evidências citadas, sinto que estaria sendo injusto com o amigo leitor ao tirar boa

parte do estímulo à leitura do livro ao relatá-las em detalhes na minha análise, por isso, deixo o conselho que

você mesmo leia e fascine-se com o “Maior Espetáculo da Terra”.

Este é um livro que não foi feito exclusivamente para estudantes da área de biologia (embora altamente recomendado) ou

outras áreas diretamente relacionadas, pois seu autor foi muito cauteloso nas explicações no transcorrer da leitura, com o objetivo

de atingir todos os tipos de pessoas com os mais diversos tipos de conhecimento. Afinal, não é necessário ser especificamente um

biólogo para compreender e se maravilhar com essa fantástica obra.

Ambientalismo, também chamado de “movimento ecológico” ou “movimento verde”, é uma corrente de pensamentos e

movimentos sociais que defende a preservação ambiental, a mudança de hábitos e valores para um estilo de vida sustentável e a

sensibilização da sociedade por essas questões. Tal vertente não é dos dias de hoje, pelo contrário, possui registros em várias

culturas da antiguidade, mas foi somente a partir do grande desenvolvimento científico e industrial que o “pensamento verde” em si

surgiu (ou “necessitou” surgir).

Em dezembro de 2012, um pequeno grupo de ambientalistas na Turquia se uniu para mobilizar a

população e o governo, devido a grande dificuldade que o país tem de aprovar leis de proteção

ambiental. O país sustenta falta de diretrizes para a proteção da qualidade da água, leis a favor da

mineração e de incentivo ao turismo, além de 22 represas, 19 usinas hidrelétricas nos rios Tigre e

Eufrates, e uma proposta de construir uma usina nuclear em área de risco de abalos sísmicos, ao sul do

país...todos esses fatos passíveis de gerar grandes prejuízos ao ambiente. Segundo dados locais, secas

em várias regiões do país surgiram após o represamento de água para geração de energia e áreas

pantanosas foram devastadas. Nessa situação, organizações ambientalistas ainda têm dificuldade em

negociar com o governo, além de não haver controle e fiscalização das leis já existentes.

Tais fatos culminaram, mais recentemente, na manifestação contra a construção de um

shopping no lugar do Parque Gezi, um dos poucos espaços verdes restantes em Istambul, a maior cidade da Turquia e a quinta

maior do mundo. Além disso, protestos contra o governo considerado como autoritário, e exigência do fim da venda de espaços

públicos (como praias, rios e parques) a empresas privadas, tem também marcado a nação. Essa fase de manifestações se iniciou em

28 de maio deste ano e vem pendurando até a data de publicação deste boletim. O protesto se alterna entre momentos pacíficos e

momentos violentos pelo uso de gás lacrimogênio, spray de pimenta, jatos d’água e barricadas por parte da polícia. Para mais informações, consulte os links:

http://www.dw.de/preserva%C3%A7%C3%A3o-ambiental-na-turquia-esbarra-no-desenvolvimento/a-16336466

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/policia-enfrenta-grevistas-em-protesto-contra-violencia-policial-na-turquia.html.

Por: Patrício Getúlio Garcia Neto

Fonte: RICHARD DAWKINS. 2009. O Maior Espetáculo da Terra.

Ponto de Vista Biológico

Notícia Por: Rafael Rodrigues de Lima

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 10

pet.ufma.br/biologia

Introdução

O termo “má taxonomia” é uma expressão que em Biologia

siginifica a identificação, classificação e nomenclatura de

organismos sem o respeito às normas e processos apropriados

(Bortolus, 2008). Estas regras são especificadas nos diferentes

códigos internacionais de nomenclatura e possuem a função de

unificar o modo como os nomes são dados aos organismos no

mundo todo (Feldman & Manning, 1992). No entanto, muitos

trabalhos científicos têm feito uso da “má taxonomia”,

comprometendo, em totalidade, os resultados e efeitos que estes

trabalhos trazem para o mundo científico. Desde o início dos anos 1900, ecólogos e conservacionistas

passaram a se afastar progressivamente da taxonomia e a focar

quase que exclusivamente em trabalhos experimentais. Este tipo

de trabalho ganhou grande sucesso e popularidade, a tal ponto que

outras áreas, como a taxonomia, passaram a ser

deixadas de lado. Este “fenômeno” de

distanciamento entre a taxonomia e trabalhos

experimentais chegou a tal ponto que a citação

“descritivo” vinculado a trabalhos científicos

era, em geral, resultado de implicações

pejorativas (Bortolus, 2008). Por sua vez, esta

ruptura afetou a comunidade científica

internacional, fazendo com que, no passar

dos anos, menos trabalhos taxonômicos

tenham sido publicados em revistas de grande

impacto e menos citações destes trabalhos

tenham sido feitas em estudos de ecologia e

conservação (Godfray, 2002).

Perante esta situação, uma grande questão é colocada:

como os ecólogos e conservacionistas sabem os nomes científicos

dos taxa com que trabalham? Mais ainda, como eles sabem sequer

se o que estão estudando, é, de fato, uma espécie? A falta de uma

visão mais taxonômica, neste caso, pode “matar”, ao interferir nas

medidas de conservação aplicadas baseadas em estudos ecológicos

errôneos. Afinal de contas, para se preservar, é necessário saber o

quê está se preservando.

O conceito de espécie: categorias e importância

O conceito de espécie é, juntamente com o conceito de

homologia, um dos assuntos mais discutidos na história da

Biologia (de Pinna, 1999). As raízes dos conceitos de espécie que

conhecemos hoje são do século XVII e XVIII e estes têm passado

por diversas críticas e modificações desde o período neo-

Darwinista, e, mais ainda, após o advento do paradigma

filogenético. O surgimento da cladística resultou em várias

propostas para o conceito de espécie. Em verdade, discussões

acerca do conceito de espécie passam por conceitos fundamentais

na Biologia Comparativa, Sistemática e Evolução, fazendo com

que modificações nas noções dentro destes campos alterem e

reformulem as idéias acerca das espécies (de Pinna, 1999).

Luckow (1995) dividiu os conceitos de espécie em duas

categorias: aqueles baseados em mecanismos (conceitos

mecanicistas ou não históricos) e aqueles baseados na história

(conceitos históricos). A primeira vê as

espécies como unidades que se submetem à

evolução; a segunda vê a espécie como

produto final da evolução. Os conceitos

não históricos giram em torno de

fenômenos baseados em populações e são

enraizados em tradições da

microevolução, focando no processo de especiação.

Ela inclui, por exemplo, o conceito biológico de espécie de

Mayr (1942, 1963), que define uma espécie como agrupamentos

de populações naturais intercruzantes, reprodutivamente isolados

de outros grupos com as mesmas características. Aqui também

entram o conceito ecológico de espécie (Van Valen, 1976) e o

conceito de coesão (Templeton, 1989). Segundo alguns autores,

uma falha dos conceitos não históricos é que o processo que deu

origem a uma entidade não pode ser entendido antes que a própria

entidade seja definida (Rieppel, 1986).

Estes conceitos não históricos contrastam marcadamente com

os fortes fundamentos históricos da Sistemática moderna. Os

conceitos históricos vêem as espécies como produtos da evolução,

e são baseadas diretamente em evidências de caracteres, em

hipóteses sobre a ancestralidade ou em uma combinação de

ambos. Dentre os diversos conceitos de espécie dentro desta

categoria, está o conceito evolutivo de espécie, que a

define como “uma única linhagem de populações

ancestrais-descendentes que é distinta de outras

linhagens e que tem sua própria tendência

evolutiva e contingência histórica” (Simpson,

1961), sendo este um dos conceitos mais bem

aceitos dentro da categoria histórica. Outro

conceito importante dentro desta categoria é

oconceito filogenético de espécie, proposto por

Cracaft (1983), que a define como “o menor

agrupamento diagnostificável de um conjunto de

organismos dentro do qual há um padrão parental

de ancestrais e descentes”.

Dentre os diversos conceitos de espécies criados, o

mais utilizado pelos biólogos evolucionistas é, ainda, o

conceito biológico de espécie. Logo, quando trabalhos de ecologia

e conservação são analisados, a maioria destes está se referindo às

suas espécies de estudo de acordo com o conceito proposto por

Mayr. Isto é essencial para o conhecimento das implicações que a

má taxonomia pode causar, visto que é necessário que haja o

conhecimento da base teórica utilizada pelos autores para a

classificação dos seus objetos de estudo.

O uso da taxonomia para a conservação

Taxonomia e conservação andam lado a lado. É muito difícil

conservar organismos que não podemos identificar, assim como é

virtualmente impossível entender as consequências que estes

organismos provocam em seus ambientes naturais. Vários estudos

demonstram a importância da taxonomia para a conservação de

espécies, assim como enfatizam o nosso ainda desconhecimento de

grande parte das espécies existentes no mundo (Bortolus, 2008).

No entanto, é importante ressaltar que taxonomia e conservação

não são conceitos sinônimos. Descrever as espécies do mundo e

suas relações não é equivalente a salvá-las. Guias de campo, listas

de espécies completas e catálogos não necessariamente ajudam na

conservação das espécies. Tampouco é possível desenvolver os

planos e mecanismos de conservação necessários sem o

conhecimento prévio adequado fornecido pela taxonomia. São

inúmeros os exemplos em que a utilização da taxonomia

contribuiu para a modificação de planos de conservação. Em um

estudo brasileiro, o plano de conservação dos golfinhos do gênero

Sotalia foi revisto a partir do uso de técnicas de biologia molecular

para a elucidação das espécies existentes. Neste trabalho foram

confirmadas duas espécies de golfinhos, Sotalia guianensis e

Sotalia fluviatilis, sendo que esta última é exclusivamente fluvial

(Cunha et al, 2005). As descrições destas espécies, associadas ao

Carta ao leitor

A má taxonomia pode matar: a importância da taxonomia para a conservação e trabalhos ecológicos

Fig: Ernst. Mayr

Por: Lucas Pereira Martins

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 11

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ambiente em que vivem ,é essencial para que

um plano de conservação correto seja aplicado.

Casos em que o número de espécies

ameaçadas é superestimado ou subestimado são

relativamente comuns. Este é um fato grave e de

grande interesse, pois possivelmente espécies já

foram extintas sem que sequer soubéssemos,

pois foram “enterradas” com o nome

inadequado. Um exemplo é o leão-marinho

japonês (Zalophus janopicus), espécie

extinta e que anteriormente era considerada, por alguns autores,

pertencente à mesma espécie do leão-marinho californiano

(Zalophus californianus), que ainda possui um bom número de

indivíduos vivos. Esta incerteza taxonômica gerou planos de

conservação inadequadas, possivelmente contribuindo para a

extinção do leão-marinho japonês, assim como para a extinção de

milhares de outras espécies (Wolf et al, 2007).

As consequências indesejadas da má taxonomia em estudos de

ecologia

A importância da taxonomia para a ecologia é indiscutível. Em

qualquer nível, todos os dados ecológicos de um trabalho

dependem da taxonomia. No entanto, devido à ruptura que têm

ocorrido entre a taxonomia e trabalhos experimentais desde os

anos 1900, muitos trabalhos ecológicos falham no caráter básico

da taxonomia. Em estudo efetuado entre 2005 e 2007, na qual 80

trabalhos de ecologia pertencentes às principais revistas da área

foram analisados, foi constatado que 62,5% dos artigos não

apresentavam qualquer informação que justificasse ou garantisse a

correta identificação dos organismos estudados ou manipulados.

Em outras palavras, 62,5% dos trabalhos não mencionavam a

participação de um taxonomista, uso de literatura especializada ou

qualquer outra fonte que explicitasse como o autor pode ter obtido

os nomes científicos vinculados ao estudo. Ademais, apenas 2,5%

dos trabalhos analisados reportavam a existência de vouchers em

alguma instituição científica, deixando 97,5% dos trabalhos sem

confirmação alguma se as espécies identificadas no trabalho estão

corretamente identificadas (Bortolus, 2008). Assim, o estudo de

diversos taxa em trabalhos de ecologia indicam que experimentos

têm sido realizados indepentemente da qualidade das

identificações taxonômicas. Mais do que isso, este fato sugere que

nomes científicos e dados relevantes são transferidos de um

trabalho para o outro, com pouca ou nenhuma visão crítica por

parte dos autores.

A hierarquia de erros e seus efeitos na natureza

As Ciências Biológicas compreendem a identificação de

padrões e processos na natureza em uma variedade de escalas

temporais e espaciais, analisando ao máximo os recursos e

informações naturais. As diferentes disciplinas biológicas

compartilham e assimilam seus resultados de modo único e

complementar, estabelecendo uma estrutura vertical entre elas. Em

essência, a ecologia e a conservação não seriam possíveis sem a

taxonomia. No entanto, esta estrutura entre as disciplinas

biológicas também acaba por facilitar a difusão do erro (Bortolus,

2008).

Um único erro de identificação taxonômica tem o potencial de

ser assimilado por diferentes estudos biológicos, e, em seguida,

por programas de manejo, multiplicando o impacto deste erro. Esta

cascata de erros gera então uma variedade de consequências

negativas para as Ciências Biológicas.

Erros em taxonomia geralmente são revistos antes de serem

amplamente difundidos para outras disciplinas, sendo inúmeros os

exemplos em que casos deste tipo ocorreram (Bortolus, 2008).

Muitas vezes, no entanto, erros taxonômicos são identificados

posteriormente, sem contudo causar grandes danos à credibilidade

do trabalho. Muitos trabalhos em ecologia possuem revisões

taxonômicas posteriores, sem haver mudança no resultado dos

padrões descobertos (Disney, 2000). Uma outra situação ocorre se

o efeito cascata, ou seja, o erro vindo da taxonomia permanece por

um tempo considerável e modifica siginificativamente toda a

estrutura dos trabalhos realizados. As consequências deste tipo de

erro são variadas. Áreas podem ter suas riquezas superestimadas

ou subestimadas, a estrutura de uma assembléia pode ser

modificada e as relações entre espécies devem ser revistas

(Bortolus, 2008).

Conclusão

A taxonomia é fundamental para todo tipo de trabalho

biológico. Erros e rupturas do passado são responsáveis por uma

cascata de novos erros, em geral, provocados pelo desinteresse e

falta de aproximação entre a taxonomia e outras áreas de estudo.

Há a necessidade imediata que haja uma reaproximação maior

entre trabalhos experimentais e taxonomia, para que possa haver

real validade destes trabalhos. Uma visão mais atenta deve ser

dada aos nomes científicos vinculadas a artigos e planos de

conservação, dando um enfoque ainda maior a dados de ecologia

que não trazem nomes científicos, e sim somente índices de

riqueza, diversidade, dentre outros, visto que estes índices podem

estar errados devido a erros anteriores nas identificações. É

necessário que haja um esforço de todas as partes, ressaltando-se a

importância crucial da taxonomia. A taxonomia, quando deixada

para segundo plano, pode converte-se na má taxonomia, e esta

sim, pode matar.

Referências bibliográficas

BORTOLUS, A. Error cascades in the Biological Sciences: The

unwanted consequences of Using Bad Taxonomy in Ecology. Ambio

37, 114-118, 2008.

CRACRAFT, J. Species concepts and speciation analysis. Current

Ornithology 1, 159–187, 1983.

CUNHA, H. A.; DA SILVA, V. M. F.; LAILSON-BRITO JR, L.;

SANTOS, M. C. O.; FLORES, P. A. C.; MARTIN, A. R.; AZEVEDO,

A. F.; FRAGOSO, A. B. L.; ZANELATTO, R. C.; SOLÉ-CAVA, A.

M. Riverine and marine ecotypes of Sotalia dolphins are different

species. Marine Biology 148: 449-457, 2005.

DE PINNA, M. C. C. Species concepts and phylogenetics. Reviews in

Fish Biology and Fisheries 9: 353-373, 1999.

Disney, H. Hands-on taxonomy. Nature 405: 619, 2000.

FELDMAN, R.M. AND MANNING, R.B. Crisis in systematic biology

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GODFRAY, H.C.J. Challenges for taxonomy. Nature 417, 17–19,

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Luckow, M. Species concepts: Assumptions, methods, and applications.

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MAYR, E. Systematics and the Origin of Species. Columbia Univ.

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MAYR, E. Animal Species and Evolution. Belknap Press, Cambridge,

MA, 1963.

RIEPPEL, O. Species are individuals: A review and critique of the

argument. Evol. Biol. 20, 283–317, 1986.

SIMPSON, G.G. Principles of Animal Taxonomy. Columbia Univ.

Press, New York, 1961.

TEMPLETON, A.R. The meaning of species and speciation: a genetic

perspective. In: Otte, D. and Endler, J. eds. Speciation and its

Consequences. Sinauer Associates, 3–27, 1989.

VAN VALEN, L. Ecological species, multispecies and oaks. Taxon 25,

233–239, 1976.

WOLF, J. B. W.; TAUTZ, D.; TRILLMICH, F. Galápagos and

Californian sea lions are separate species: Genetic analysis of the genus

Zalophus and its implications for conservation management. Frontiers

in Zoology 4: 20, 2007.

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 12

pet.ufma.br/biologia

Esse mês recebemos da nossa querida Andréia Figueiredo, um relato do seu encontro nos EUA com o ex-petiano, Cássio Faria, doutorando

em Engenharia Mecânica pela Universidade de Michigan. Esse encontro resultou em uma entrevista especial para o Boletim

PETBIO/UFMA. Ele falou um pouco sobre a sua experiência no PET e como esta influenciou na sua história acadêmica e mudou a sua visão

sobre a educação brasileira. Segue abaixo a entrevista:

Andréia: Você poderia falar um pouco sobre você e sobre a sua história acadêmica?

Cássio: Sou natural de Campo Grande - Mato Grosso do Sul. Ingressei na Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de

Ilha Solteira em Agosto de 2004 para cursar Engenharia Mecânica. Em Março de 2005 ingressei no PET. Formei-me em

Dezembro de 2008, dando inicio ao Mestrado em Engenharia Mecânica na mesma instituição em que me graduei. De Fevereiro a

Julho de 2009 realizei um estágio de pesquisa na Virginia Tech (Virginia Polytechnic Institute and State University -

Blacksburg/VA - EUA). Retornei ao Brasil e conclui meu mestrado em Julho de 2010, iniciando o meu doutorado em engenharia

mecânica em Agosto de 2010 pela Virginia Tech e trabalhando como assistente de pesquisa no CIMSS (Center for Intelligent

Material Systems and Structures). Em agosto de 2011, fui convidado para ser pesquisador visitante no departamento de

engenharia aeroespacial da University of Michigan, posição a qual ocupo atualmente.

Andréia: O que motivou você a entrar para o PET?

Cássio: Para ser honesto, quando eu escutei falar do PET, eu não fazia a mínima ideia do que se tratava. Porém, ao anunciarem as vagas

disponíveis, mencionaram a existência de bolsas (se não estou enganado era algo em torno de R$160 - R$180 por mês). Apesar (de em termos

atuais) não ser muito dinheiro, a ideia de que eu poderia me tornar menos dependente dos recursos do meu pai foi muito atrativa e convincente

para que eu participasse do processo seletivo. Lembro-me até hoje do processo seletivo, em especial da dinâmica de grupo, foi o primeiro

momento em que realmente eu comecei a entender a essência do programa.

Andréia: Para você, o que é educação tutorial e qual a importância dela no contexto da universidade brasileira atual?

Cássio: Para compreender a minha visão sobre educação tutorial vou contar uma breve narrativa histórica. Desde as primeiras civilizações

politizadas (mais especificamente na Grécia antiga), o modelo educacional era o tutorial, ou seja, um indivíduo com grande experiência

acumulava, ao seu redor, um conjunto de discípulos para os quais ele tentava transmitir toda a sua sabedoria. Não havia aulas, horários, tarefas e

conteúdos. Enfim, tratava-se de transmitir uma experiência de vida, uma visão de mundo. Esta visão de educação destaca a ideia de que o

conhecimento só é alcançado pelo aluno em si, e que o mestre/tutor é um facilitador deste processo.

Com o advento do capital e o crescimento populacional notou-se rapidamente que este modelo não era adequado para a aplicação em larga escala,

ficando, assim, limitado às poucas figuras no mundo que detinham as condições sócio-financeiras (nobres, clérigo, etc). Com o advento da

revolução industrial, passou a ser necessário um maior nível educacional entre a massa populacional. Desta forma, tomando por inspiração

modelos de disciplina militar, surgiu o modelo de educação vigente atual: com um comandante (professor) e os demais soldados (alunos) -

observaram a hierarquia? Por mais que a comparação com um modelo militar possa parecer ruim, esta estrutura tem suas vantagens, pois além de

ser um sistema mais objetivo e direto, permitiu a aplicação da educação a baixo custo e em larga escala.

Agora, por que eu contei esta narrativa? Pois bem, tendo em vista que hoje as universidades brasileiras baseiam, em grande parte, o seu modelo de

ensino neste método hierárquico, a oportunidade de se vivenciar um modelo de ensino diferente transforma o aluno. Transforma no sentido de

instigá-lo para buscar o conhecimento por si próprio, dá uma nova visão de mundo e expande a fronteira intelectual do indivíduo. E, ao meu ver,

isso é o PET. Esta combinação de dois modelos de ensino que é o PET dentro da universidade pública é uma oportunidade única. Porém, é uma

oportunidade cara! Este elevado custo, delimita a ampla implementação desta ideia e, consequentemente, o tamanho do programa. Para afastar do

PET a abominável ideia de elite dentro da IES passou-se a exigir dos grupos uma maior integração "social", expandindo a abrangência e o impacto

das ações do programa. Em suma, além de proporcionar uma experiência educacional diferenciada aos seus integrantes, o PET também passou a

ter um papel "social" dentro da universidade, preenchendo as lacunas da IES no que se diz respeito à indissociabilidade, multidisciplinaridade,

representação estudantil, extensão, entre outros.

Andréia: Em que aspectos o PET influenciou a sua experiência na graduação no Brasil?

Cássio: Pessoalmente, o PET alterou a minha experiência como aluno de graduação. Ele me permitiu não só ter a experiência de um aluno (aulas,

provas, festas, etc), mas me fez conhecer a fundo os caminhos burocráticos da IES e criar laços políticos/pessoais com professores, técnicos e

administradores da instituição. Estas novas atribuições durante a graduação me ajudaram muito a desenvolver características pessoais, como:

liderança, comunicação, trabalho em grupo, planejamento, entre outros. Ao longo dos meus 4 anos dentro do programa conheci pessoas de todo o

país nos eventos (INTERPET, SPPET, SUDESTPET, ENAPET), fiz grandes amigos, conheci pessoas muito interessantes e com diferentes

histórias de vida. Me diverti muito neste período.

Andréia: O que motivou você a fazer pós-graduação fora do Brasil e como foi essa decisão?

Cássio: O processo de cursar pós-graduação no exterior foi uma decisão um pouco complicada. Ao final da minha graduação, eu tive que escolher

entre um emprego de concurso na Petrobras ou a oportunidade de viajar pelo mundo (e de vez em quando se dedicar a pós-graduação nas horas

vagas). Não foi uma decisão fácil. Ao final de alguns meses, decidi por manter a minha vida como um livro aberto, arrisquei e parti para o estágio

no EUA. Após 4 anos eu posso afirmar que tomei a decisão correta, a pós-graduação me manteve na vida universitária por mais alguns anos, sem

as responsabilidades da vida adulta, e me permitiu amadurecer.

Andréia: Existe algum tipo de programa que trabalhe com algo similar à Educação Tutorial nos Estados Unidos?

Cássio: Uma coisa que gostei muito no modelo de universidade americana foi a atividade dos grupos estudantis. Eles lembraram-me muito da

energia do grupo PET. Visto isso, eu decidi aproximar os dois mundos, trazer o trabalho do PET para junto dos grupos estudantis americanos.

Demos início, no primeiro semestre de 2013, a uma parceria entre o grupo PET-EM de Ilha Solteira e o Pantanal Partnership (um grupo de

estudantes da Universidade de Michigan que realiza um trabalho fantástico no pantanal mato-grossense). A ideia deste projeto é que alunos de

ambos os países interajam tecnicamente (e remotamente) para o desenvolvimento de tecnologias sociais para a realidade pantaneira. Como

subproduto há a integração cultural, também. O projeto não prevê o intercâmbio de alunos (devido a dificuldades burocrático-financeiras), porém

como os alunos americanos já estão indo ao Brasil, a ideia é fazer um encontro entre ambos os grupos no local de implementação do projeto.

O PET-Bio agradece ao Msc. Cássio Faria pela disponibilidade e pela incentivadora entrevista, e também a Andréia

Figueiredo, petiana do PET-Bio, que atualmente é bolsista CAPES, fazendo graduação na Universidade de Michigan,

EUA.

Entrevista Internacional

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 13

pet.ufma.br/biologia

No boletim desse trimestre, a entrevistada foi a Bióloga Laís de Morais Rêgo Silva, Mestre em Biodiversidade e

Conservação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Superintendente de Recursos Hídricos /

Analista Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais – SEMA.

PETBIO: O que é o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH) e quais avanços podem ser obtidos com a sua

implantação?

Laís: O Plano Estadual de Recursos Hídricos é um dos instrumentos de gestão da Política Estadual de Recursos

Hídricos (Lei n° 8.149/04). É um documento norteador para a gestão de recursos hídricos, o qual traz um diagnóstico

de demanda e disponibilidade hídrica do estado, diagnóstico socioeconômico e ambiental, prognósticos de

variabilidade hídrica e cenários para usos futuros da água. Além dos diagnósticos, o Plano contempla diretrizes e

metas para serem implementadas pelo Estado no sentido de garantir água em qualidade e quantidade para a

população. A SEMA (Secretária Estadual do Meio Ambiente) celebrou convênio com o (FNMA) Fundo Nacional de

Meio Ambiente/Ministério do Meio Ambiente (MMA) em janeiro de 2013 para elaboração do Plano Estadual de

Recursos Hídricos do Maranhão. Estamos na fase de licitação da empresa que será responsável pela elaboração do

referido Plano. A perspectiva é de finalizar a elaboração do Plano até dezembro de 2014.

PETBIO: Nesses últimos anos quais foram os outros marcos e avanços da política de gestão de recursos hídricos no estado?

Laís: Desde 2011 houve uma prioridade na gestão de recursos hídricos por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e

Recursos Naturais. Regulamentamos a Lei Estadual com dois decretos, um voltado para a gestão de águas superficiais (n°

27.845/11) e outro para a gestão de águas subterrâneas (n° 28.008/12). Oficializamos a divisão hidrográfica do estado, com um

estudo elaborado pela Universidade Estadual do Maranhão, dividindo o Maranhão em 7 bacias hidrográficas estaduais, 3 bacias

federais e 2 sistemas hidrográficos. Coordenamos o XIII Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, o maior evento de

gestão participativa na área de recursos hídricos. Regulamentamos os critérios para análise e emissão da outorga de direito de uso

da água, tornando esse procedimento mais consistente e ordenado no Estado. Adotamos dois sistemas de informação na área de

recursos hídricos: o Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos, da Agência Nacional de Águas (ANA) e o Sistema de

Informação de Águas Subterrâneas, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Apoiamos a mobilização para a criação dos comitês

das bacias hidrográficas dos rios Munim e Mearim. Articulamos com a Agência Nacional de Águas a elaboração do estudo

hidrogeológico da região metropolitana de São Luís, o qual está sendo construído o termo de referência. Fomos aprovados pelo

MMA para elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos, dentre outras ações como publicação de artigos nos eventos

nacionais e regionais de recursos hídricos. Estamos ainda no começo do processo de gestão das águas, mas sem dúvida, estamos

conseguindo avançar aos poucos dentro das possibilidades do nosso estado.

PETBIO: O que são os Comitês das Bacias Hidrográficas, como funcionam e quais são seus objetivos?

Laís: Os comitês de bacia hidrográfica são entes do Sistema Estadual de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos,

juntamente com a SEMA, o Conselho Estadual (CONERH) e as agências de bacia. São colegiados formados por representantes da

sociedade civil, dos usuários de água e do setor público que tenham ação em uma determinada bacia hidrográfica. Possuem

competência no âmbito de arbitrar por conflito pelo uso da água, aprovar o plano de bacia, propor planos, programas e projetos

visando conservação de recursos hídricos, estabelecer critérios de cobrança pelo uso da água, propor critérios de uso insignificante

da água, dentre outras ações. Pode-se dizer que um dos principais objetivos da criação dos comitês é a descentralização da gestão de

recursos hídricos, tendo o olhar e a participação da comunidade no processo de gestão. O Maranhão está em processo de criação

dos Comitês das Bacias dos rios Munim e Mearim.

PETBIO: Tendo em vista a importância das áreas úmidas para a sociedade e para o meio ambiente, como por exemplo, a

estocagem e limpeza da água, recarga do lençol freático, regulagem do clima local, manutenção da biodiversidade e

regulação dos ciclos biogeoquímicos, quais são as estratégias para conservação e uso racional que estão sendo empregadas

nos três Sítios Ramsar, Zonas Úmidas de importância internacional, aqui no estado do Maranhão?

Laís: Os três Sítios Ramsar localizados no Maranhão são as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) das Reentrâncias e da Baixada

Maranhense e o Parque Estadual Marinho do Parcel de Manoel Luís, três unidades de conservação de gestão estadual. A SEMA tem

fomentado ações para implementar os instrumentos de gestão da política estadual de unidades de conservação, como fiscalização,

conselhos e planos de manejo. Operações de fiscalização têm sido intensificadas nessas áreas, além da mobilização para criar os

conselhos gestores das APAs da Baixada e das Reentrâncias Maranhenses e apresentação de projetos para a Câmara Estadual de

Compensação Ambiental para elaboração dos planos de manejo das duas APAs também.

PETBIO: A ONU definiu 2013 como o ano internacional de cooperação pela água. A SEMA tem algum projeto que visa a

cooperação pela água no Estado do Maranhão?

Laís: Podemos dizer que a elaboração do estudo hidrogeológico da região metropolitana de São Luís e do Plano Estadual de

Recursos Hídricos são projetos que tem como um dos objetivos a cooperação pela água. Sendo o primeiro a ser coordenado pela

Agência Nacional de Águas e o segundo pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA).

Entrevista Nacional

Por: Aline Duarte Nascimento, Gustavo Pereira Lima e José Uilian da Silva

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 14

pet.ufma.br/biologia

PETBIO: Como se encontra a Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru em termos de conservação, uma vez que é deste rio que

provém grande parte do abastecimento da capital do Maranhão?

Laís: A Bacia do Rio Itapecuru corresponde a 16,3% da área do Estado, abrangendo 57 municípios. As nascentes estão localizadas

no interior do arque Estadual do Mirador, em uma área bastante conservada. No entanto, ao longo do percurso dos trechos médio e

baixo do Itapecuru, o rio passa por graus de impactos variados como questões relacionadas a saneamento e urbanização. No

processo de gestão de recursos hídricos, a SEMA priorizou a bacia do Itapecuru para ser contemplada com o Sistema de Apoio a

Decisão a Outorga desenvolvido pela Agência Nacional de Águas. O Sistema auxilia na análise dos processos de outorga, dando

mais consistência na análise técnica.

PETBIO: A Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos é um dos instrumentos de gestão da Política Estadual de

Recursos Hídricos, que oferece aos outorgados direitos e deveres em relação ao uso da água e a SEMA é o órgão público

responsável por liberar e fiscalizar esses pedidos. Sabendo desse pressuposto, quais são os principais pedidos de outorga

para o uso das águas na Ilha de São Luís e em todo Estado?

Laís: As outorgas de direito de uso da água só podem ser concedidas pela Agência Nacional de Águas (rios interestaduais) e pelos

órgãos gestores estaduais de recursos hídricos, no caso do Maranhão, a SEMA. Dentre os anos de 2008 a 2012, fizemos o

levantamento das outorgas emitidas, onde aproximadamente 30% foi concedido para uso de água superficial e 70% para água

subterrânea. Quando aproximamos para a realidade de São Luís, o número de outorgas emitidas para água subterrânea é

aproximadamente 90%. Essa foi uma das grandes justificativas da SEMA junto à Agência Nacional de Águas para a elaboração do

estudo hidrogeológico da região metropolitana de São Luís e também da elaboração de um decreto específico para a gestão de

águas subterrâneas no nosso estado.

PETBIO: A situação das praias da região metropolitana de São Luís e dos cursos

d’água doce que abastecem a cidade estão sendo vistas como um problema de saúde

pública, social e econômica, por conta da contaminação via efluentes, principalmente

esgotos domésticos. Relacionando-se a microrganismos patogênicos, a Escherichia coli é

considerada um indicador de qualidade de água e alimentos. O que a SEMA tem

realizado para fiscalizar os despejos de esgoto diretamente nas praias e rios que

abastecem a região metropolitana de São Luís?

Laís: A SEMA realiza semanalmente o monitoramento da balneabilidade, com coleta feita

pela Vigilância Sanitária Estadual, análise pelo Laboratório Central de Saúde Pública do

Estado (LACEN) e com a SEMA recebendo os dados e emitindo os relatórios de qualidade.

Existem ainda atividades de levantamentos de pontos de poluição e fiscalização, esta última

sendo competência também municipal, tendo em vista o licenciamento de atividades pelo

município de São Luís.

O PET-Bio agradece a Bióloga Laís de Morais Rêgo Silva, Mestre em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Federal

do Maranhão (UFMA) e Superintendente de Recursos Hídricos / Analista Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente

e Recursos Naturais – SEMA, pela disponibilidade e pela entrevista.

II Simpósio Brasileiro de Biologia da

Conservação

Sorocaba- São Paulo

10/07/13 - Quarta-feira

21º Congresso de Biólogos do CRBio-01

Santo- São Paulo

14/07/13 – Domingo

VI Congresso Brasileiro de Herpetologia

Salvador- Bahia

22/07/13 - Segunda-feira

XI Congresso Aberto aos Estudantes de

Biologia (CAEB)

Campinas- São Paulo

22/07/13 - Segunda-feira

Curso de Ecologia e Ecoturismo

Bonito- Mato Grosso do SUL

01/08/13 - Quinta-feira

7º CONGRESSO BRASILEIRO DE

MELHORAMENTO DE PLANTAS

Uberlândia- Minas Gerais

05/08/13 - Segunda-feira

II REFOREST - Simpósio de

Restauração

Viçosa - Minas Gerais

07/08/13 - Quarta-feira

XXVIII Reunião Anual da FeSBE

(Federação de Sociedade de Biologia

Experimental)

Caxambu - Minas Gerais

21/08/13 - Quarta-feira

X Semana da Biologia Marinha e do

Gerenciamento Costeiro

São Vicente - São Paulo

26/08/13 - Segunda-feira

1º Simpósio Brasileiro da Fauna Sobre-

explotada e Ameaçada de Extinção

Porto de Galinhas - Ipojuca –

Pernambuco

28/08/13 - Quarta-feira

Curso Cavalos-Marinhos e seus

Ecossistemas

Ipojuca - Pernambuco

30/08/13 - Sexta-feira

Eventos

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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 15

pet.ufma.br/biologia

Nesta edição conversamos com o Professor Doutor Luis Fernando Carvalho Costa, para apresentarmos a

linha de pesquisa desenvolvida por ele: genética da conservação de recursos pesqueiros.

Luis Fernando graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA, onde realizou estudos

relacionados à morfometria de peixes sob a orientação do Prof.Dr. Nivaldo Piorski. Durante o mestrado em Ecologia e Recursos

Naturais na Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR, Luis Fernando teve contato com a utilização de técnicas moleculares

aplicadas à avaliação da variabilidade genética de estoques pesqueiros, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Galetti Jr., que há mais

de 30 anos desenvolve pesquisas na área de Citogenética e Genética Molecular, focando na conservação de populações naturais. Em

2008, Luis Fernando tornou-se professor do campus de Chapadinha da UFMA, onde trabalhou até o ano de 2013, quando foi

aprovado em concurso para a área de Ecologia, no departamento de Biologia (campus Bacanga/ São Luís). Atualmente ministra a

disciplina de Biologia da Conservação para os alunos do curso de Ciências Biológicas do campus sede. Também compõe a equipe

de pesquisadores do laboratório de Genética e Biologia Molecular (LabGeM) da UFMA, coordenado pela Profa. Dr

a. Silma Regina

Pereira.

A Linha de pesquisa voltada para a genética da conservação surgiu a partir da problemática da diminuição de estoques

pesqueiros no mundo. Segundo o professor, técnicas moleculares podem ser usadas para avaliar os níveis de diversidade genética de

populações e, posteriormente, essas informações podem subsidiar medidas de manejo e conservação desses recursos. Atualmente, o

Prof. Luis Fernando desenvolve pesquisas com peixes de ambientes dulcícolas, tendo como foco a conservação, mas também tem

interesse em estudos de relações evolutivas e sistemática molecular nesse grupo de organismos aquáticos. O professor explica que

seu trabalho ajuda a revelar grupos populacionais geneticamente diferenciados dentro e entre bacias hidrográficas, que podem

merecer medidas de conservação mais específicas. Essas divergências genéticas podem estar associadas a adaptações locais que

devem ser alvo de projetos de conservação dessas espécies. Para identificar esses grupos geneticamente diferentes são usados

marcadores moleculares, a fim de amostrar regiões do genoma nuclear e/ou mitocondrial que irão ajudar a ter uma perspectiva do

comportamento do resto do genoma quanto aos níveis de variação genética presentes. A variação genética é a matéria prima da

evolução, sendo, por isso, importante para a manutenção das espécies, e também para o melhoramento genético de espécies

domesticadas.

Por intermédio do Prof. Dr. Luis Fernando, diversos trabalhos com ênfase na análise genética de peixes foram realizados no

Maranhão. Entre as localidades amostradas, destacam-se os rios: Munim, Pindaré, Parnaíba, Itapecuru, Mearim, Gurupi e

Tocantins. Vale ressaltar que tais estudos não evidenciam apenas a diversidade genética, mas também podem elucidar problemas

taxonômicos e ajudar a criar estratégias de manejo. Os marcadores moleculares mais usados em suas pesquisas são os

microssatélites – quando o alvo do estudo são populações espacialmente desconectadas – e regiões do DNA mitocondrial – quando

o interesse evolve o estudo de filogenias. As amostras, de onde o DNA é isolado, podem ser de origem tanto invasiva, como

fragmentos de tecidos ou sangue; quanto não invasiva, como fezes, escamas, etc.

Em relação às parcerias nos projetos de pesquisa, o Prof. Dr. Luis Fernando destaca a Universidade Estadual do Maranhão -

Campus Caxias, onde possui estreita colaboração com os professores Elmari Fraga e Claudene Barros, que possuem em seu

laboratório o sequenciador de DNA mais moderno do Maranhão. Além disso, o professor conta com a colaboração do professor

Pedro Galetti da UFSCAR, com quem desenvolve um grande projeto de Ecologia e Genética de peixes predadores de rios do

Maranhão, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Rede Sisbiota). Neste

projeto, são realizados estudos genéticos, morfológicos e ecológicos – por meio da dieta – com quatro espécies de peixes (traíra,

piranha vermelha, peixe cachorro e sardinha-gata) nos rios Tocantins, Pindaré e Gurupi, de modo a demonstrar a singularidade

evolutiva dessas populações e seu status taxonômico e de conservação.

Atualmente, treze alunos desenvolvem pesquisas na área de genética da conservação de peixes com o professor, entre eles dois

alunos de iniciação científica e um mestrando em Ciência Animal da UFMA, campus Chapadinha. Os demais alunos realizam

trabalhos de conclusão de curso ou estágio de bacharelado. Quanto às perspectivas futuras, o professor Luis Fernando espera um

aumento no número de alunos interessados em atuar na área de Genética da Conservação, não só com pesquisas relacionadas a

peixes, mas também envolvendo outros grupos de organismos. Projetos de extensão relacionados ao tema estão ainda em

preparação pelo professor.

Os interessados em conhecer mais sobre esses trabalhos podem entrar em contato com o Professor Luis Fernando Carvalho

Costa, no laboratório de Genética do departamento de Biologia/UFMA.

Linha de Pesquisa

“A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca penetrar completamente

com o nosso saber e a nossa ciência” Autor: Goethe

Frase

Por: Elias da Costa Araujo Jr & Luciana Soares Lima

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Ano 07, n. 24, Julho/2013

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