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Ano 07, n. 24, Julho/2013
ISSN: 2237-6372
pet.ufma.br/biologia
A importância da água para a vida
Uma análise do papel da água desde a origem dos
seres vivos até a atualidade
A biologia da ansiedade
Cultivo de olhos
Uma visão computacional
sobre a vida
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 2
pet.ufma.br/biologia
CORPO EDITORIAL
Supervisão Geral: Profa. Dra. Gisele
Garcia Azevedo
Revisores: André Alvares Marques Vale,
Brenda Hellen Izídio de Paiva, Leonardo
Manir Feitosa e Lucas Pereira Martins.
Revisor do Artigo: Profa. Dra. Gisele
Garcia Azevedo (DEBIO/UFMA)
Diagramação: Elias da Costa Araujo
Junior, José Uilian da Silva, Marta
Regina de Castro Belfort e Osmann Cid
Conde Oliveira.
Realização: Grupo PET-Biologia/UFMA
Ano 07, n. 24, Julho/2013
ISSN: 2237-6372
www.petufma.br/biologia
EDITORIAL
É com satisfação de apresentamos o segundo Boletim
Informativo do PET Biologia do ano de 2013. Dando
continuidade com a nossa temática sobre o Ano
Internacional sobre a Cooperação pela Água, nosso
artigo aborda a importância da água para origem da
vida. Além disso, traz interessantes resenhas, pontos
de vista, carta ao leitor e entrevistas.
Desejamos a todos um excelente início de semestre e
boas vindas aos nossos alunos que regressaram do
CsF e PLI.
Boa Leitura!!
Profa. Dra. Gisele Garcia Azevedo
Tutora do PETBIOLOGIA/UFMA
NESTA EDIÇÃO, CONFIRA!
- Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p .02
- Artigo: A importância da água para a vida: uma análise do papel da água desde a origem dos seres vivos até a
atualidade............................................................................................................................... . . . . . . . . . . . . . . . .p.03 - Resenhas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.0 5
- Ponto de Vista Biológico.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p. 09
- Notícia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.09
- Carta ao Leitor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.1 0
- Entrevista Internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.12
- Entrevista Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.13
- Eventos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.14
- Linha de Pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.15
- Frase.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.15
- Charge.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p .16
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A importância da água para a vida: uma análise do
papel da água desde a origem dos seres vivos até a
atualidade Por: Lucas Pereira Martins
Introdução
Em 1929, Haldane publicou um artigo altamente importante
e renovador sobre a origem da vida, modificando e abalando
toda a comunidade científica da época. Neste artigo, ele
apresentou o conceito de “caldo prebiótico” ou “sopa
primordial”. Haldane propôs que a radiação UV proveu a
energia suficiente para a conversão do metano, amônia e
água – presente no oceano da Terra primitiva- em moléculas
orgânicas mais complexas. Na ausência de formas de vida
para consumí-las ou, utilizá-las de outros modos, estas
moléculas se acumularam em grandes concentrações,
formando a “sopa primordial”, na qual estes compostos
reagiram e produziram macromoléculas; em seguida,
partículas do tamanho de vírus e, posteriormente, as
primeiras células propriamente ditas (Lane et al., 2010).
Estas células, segundo Haldane, eram fermentadoras
heterotróficas que consumiam a “sopa primordial” até o
posterior surgimento do processo fotossintético (Haldane,
1929). Cinco anos antes da publicação do artigo de Haldane,
um pesquisador russo chamado Aleksandr Oparin já havia
apresentado uma hipótese sobre como se deu o surgimento
da vida (Oparin, 1938). A partir dos postulados de Oparin e
Haldane, a ideia de um primeiro ancestral comum universal,
LUCA ou, “Last Universal Common Ancestral”, foi criada e
mais bem fundamentada com o passar dos anos. LUCA seria
o organismo na base da árvore da vida, sendo, portanto o
ancestral de todos os organismos que vivem hoje (Lane et al.,
2010). Mas qual seria a relação disto com a água e com os
nossos problemas atuais relacionadas a ela? Primeiramente,
tanto Oparin quanto Haldane citaram com grande ênfase a
importância da água no processo de geração da vida,
variando na composição dos demais elementos (Miller,
1996). Mais do que isso, a água foi crucial não somente para
que a vida surgisse, mas também para que a vida fosse
mantida, já que ela é essencial para diversos processos
metabólicos dos seres vivos. Assim, é notável o papel da
água para a origem da vida e, consequentemente, de toda a
diversidade de organismos que existe atualmente e que já
existiram no passado. No entanto, a escassez de água doce
em nosso planeta e a poluição de mares, rios e oceanos têm
causado um grande problema para todos nós, que somos
formas de vida altamente dependentes desta substância.
Por que na água?
É amplamente aceito que a vida na Terra emergiu na água.
Por isso, a água é considerada um dos pré-requisitos para o
surgimento e evolução da vida. Como um solvente, a água
permite a organização de biopolímeros em estruturas
tridimensionais e é fundamental na maioria dos processos
químicos. A grande força entre as ligações de hidrogênio na
água faz com que muitas moléculas orgânicas sejam solúveis
neste elemento. Moléculas orgânicas abióticas produzidas na
atmosfera primitiva ou no espaço podem ser divididas em
dois tipos: os hidrocarbonetos e os CHONs (Carbono,
Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio). Na presença de água
líquida, os hidrocarbonetos tentam “escapar” das moléculas
de água, enquanto que os CHONS possuem afinidade com
esta, o que pode trazer interessantes conformações a estes
compostos. Além disso, a água possui um grande momento
dipolo. Este alto momento dipolo favorece a dissociação de
grupos ionizáveis como NH2 e COOH, levando a grupos
iônicos que podem formar novas ligações de hidrogênio com
as moléculas de água, aumentando a solubilidade. Isto é
especialmente importante, pois a dissociação de compostos
em água líquida foi o que deu início ao processo que depois
geraria a vida (Brack, 1993). Logo, a alta solubilidade, a
formação de ligações de hidrogênio e outros fatores como
sua temperatura de ebulição, a sua regularidade térmica,
dentre outros, são essenciais para a associação íntima da água
com a vida.
LUCA e seus descentes
O ancestral comum de todos nós – LUCA- é baseado na
troca de material genético (RNA)dentro de uma população
ancestral de organismos replicadores de design
extremamente simples, possuindo estruturas e funções basais
e que mutualmente trocavam genes entre si. O ancestral
universal era, deste modo, não uma única célula, mas toda
uma comunidade que trocava informações (Lane et al.,
2010).A importância da água para LUCA é indiscutível.
Além de ser o seu principal constituinte, a água permitia a
transição de informações entre os coacervados, ou
posteriormente, entre as células primitivas. Assim, esta
comunidade era, na verdade, um único ser, possuindo seu
próprio pool gênico (Lane et al., 2010).
Nós, como descendentes de LUCA, mantivemos uma alta
relação com a água. Estima-se que o corpo humano possua
cerca de 60% de água, ou seja, para todos os fins, você e eu
somos mais água do que qualquer outra coisa. Outros
organismos, como águas-vivas, podem possuir até 95% de
água no corpo. Estes dados demonstram que desde LUCA, a
água é essencial para a vida, sendo desconhecida no planeta
Terra qualquer forma de vida que não esteja relacionada
direta ou indiretamente com a água.
A poça morna de Darwin
Frequentemente é dito que as condições para a formação de
um organismo vivo a partir de matéria inorgânica é algo fora
da realidade. Charles Darwin, em 1871, foi um dos
precursores da ideia de que diferentes elementos, quando
unidos em um ambiente aquático propício, poderiam dar
origem à vida. Em seu famoso livro “A origem das espécies”
de 1859, Darwin não escreve sobre a origem da vida
detalhadamente, mas em uma carta de 1881 ao botânico
Nathaniel Wallich, ele escreveu “Você entendeu
corretamente... que eu tinha deixado a questão da origem da
vida intencionalmente sem opinião, sendo esta ultra vires
(além do alcance) no presente estado de nosso
conhecimento”. Deste modo, apesar de saber a importância
de alguns compostos para a vida e, em especial, da água,
Darwin revelava que muito ainda tinha que ser discutido
sobre como a vida teria se originado. Darwin demonstrou
também um enorme conhecimento químico e a adequação
A r t i g o
Fonte: http://www.menteagucada.com.br/2012/11/a-historia-do-mundo-em-2-
horas.html.
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 4
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deste à sua teoria da seleção natural, que perpassa por
questões fundamentais como esta, afinal, a origem da vida
seria, a priori, a origem da evolução biológica
(Follmann&Brownson, 2009). A evolução química, por sua
vez, descreve os processos químicos que ocorreram na Terra
pré-biótica, e precederam a evolução biológica, uma fase que
levou ao surgimento dos primeiros seres capazes de
reprodução (Kustchera, 2009). A evolução biológica é a
teoria mais aceita no que tange ao mundo vivo que
conhecemos hoje, explicando o por quê dos processos
biológicos e como os seres vivos se diversificaram. No livro
“A grande história da evolução- na trilha
dos nossos ancestrais” (Dawkins, 2009),
o autor faz um exercício interessante,
traçando quais seriam os nossos
ancestrais comuns com outros grupos de
seres vivos e quando estes “pontos de
encontro” teriam ocorrido. Continuando
este exercício até o ancestral universal,
chegaríamos à poça morna de Darwin,
com seus compostos orgânicos recém-
criados pela evolução química. São estes compostos que
formariam os coacervados e, posteriormente, toda a
diversidade de nosso planeta. Tudo, ao que sabemos, se
iniciou na poça morna.
Água na origem... e no fim?
A água esteve conosco na origem, está conosco no presente e
estará no futuro. Uma das certezas que temos é a de que no
momento em que a água acabar em nosso mundo, a vida
sucumbirá. A poluição e a perda de corpos d água têm
causado, juntamente com fatores como o desmatamento e o
aquecimento global, uma das maiores perdas de diversidade
de todos os tempos. A poluição da água é especialmente
preocupante, pois, devido às características físicas e químicas
desta substância, compostos poluentes podem se espalhar
facilmente por oceanos, lagos e rios. Uma extinção em massa
provocada por compostos tóxicos em corpos d água não seria
inédita. Isto já ocorreu uma vez na história da Terra, devido a
sublimação de uma grande quantidade de metano que se
encontrava congelado no fundo dos oceanos, causando a
extinção de cerca de 95% das espécies marinhas. Este
evento, a extinção do Permiano – Triássico, demonstra, mais
uma vez, a dependência que nós, seres vivos, temos em
relação à água. Nos dias de hoje, infelizmente, a liberação de
compostos tóxicos nos oceanos e rios têm sido provocados
pelos seres humanos. Apesar do diferente contexto, a
extinção do Permiano – Triássico nos revela como as
consequências de alterações em algo tão simples e tão
importante como a água podem ser trágicas para todos. Uma
prova disto foi o estudo realizado pelos pesquisadores Yong
Cao, Anthony Bark e Peter Williams, na qual foram
analisados os impactos da poluição da água sobre uma
comunidade de macroinvertebrados aquáticos no rio Trent,
no Reino Unido. Por meio de comparação entre áreas com
alto grau de poluição e áreas com baixo grau de poluição, foi
descoberto que os índices de diversidade são extremamente
diferentes entre as áreas. Ao contrário do que os
pesquisadores imaginavam, não somente as espécies menos
tolerantes à poluição eram eliminadas, mas sim quase toda a
fauna de macroinvertebrados sucumbia perante a poluição
contínua do corpo d água (Cao et al., 1996). Casos mais
conhecidos de derramamento de petróleo também
demonstram um padrão similar. Estima-se que um grande
número de espécies de invertebrados aquáticos, muitas delas
não conhecidas por nós, foram extintas em algumas
localidades devido à poluição
causada por derramamento de
petróleo. O efeito em vertebrados é,
por muitas vezes, mais visível e
estudada. Um grande número de
peixes, aves migratórias e outros
vertebrados são afetados diretamente
quando a água sofre algum grau de
desestabilidade. E, como sabemos,
os efeitos nocivos causados pela
poluição acabam por afetar toda a teia trófica local. Deste
modo, a extinção do Permiano – Triássico encontra similares
hoje em dia, embora em menor grau.
Conclusão
A água têm sido fundamental para a vida desde os seus
primórdios. Na verdade, a água é, em última instância, a
própria vida. A evolução, tanto química quanto biológica,
representa também a associação de compostos com a água.
Desde LUCA até os seres vivos que habitaram e ainda o
planeta Terra, a água se mostrou primordial. Os grandes
oceanos que vemos atualmente são um recado contínuo para
todos nós de como a vida se iniciou e do quê ela é formada.
Preservar a água é, acima de tudo, preservar a si próprio e a
toda diversidade do mundo.
Referências
Brack, A. Liquid water and the origin of life.Origins of life and
evolution of the Biosphere 23: 3-10, 1993.
Cao, Young; Bark, Anthony; Williams, Peter. Measuring the
responses of macroinvertebrate communities to water pollution: a
comparison of multivariate approaches, biotic and diversity
indices. Hydrobiologia 341: 1-19, 1996.
Dawkins, R. A grande história da evolução: na trilha dos nossos
ancestrais. Ed. Companhia das Letras, PrimeiraEdição, 2009.
Follmann, H. &Brownson, C. Darwin´s warm little pond
revisited: from molecules to the origin of life. Springer Verlag,
2009.
Haldane, J. B. S. The origin of life. Rationalist annual 3: 3-10,
1929.
Kustchera, U. Charles Darwin´s origin of species, directional
selection, and the evolutionary sciences
today.Naturwissenschaften. Disponível em:
<http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00114-009-0603-
0>. Acesso em 11/06/2013.
Lane, N.; Allen, J. F.; Martin, W. How did LUCA make a living?
Chemiosmosis in the origin of life.BioEssays 32: 271-180, 2010.
Miller, S. L. A production of amino acids under possible primitive
earth conditions.Science 117: 528-529, 1953.
Miller, S. L.; Schopf, J. W.; Lazcano, A. Oparin´s “origin of life”:
Sixty years later. Journal of Molecular Evolution 44: 351-353,
1996.
Oparin, A. I.The origin of life.MacMillan New York, 1938.
Fonte: http://www.ecologiablog.com/tag/sopa+primordial+de+la+vida.
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pet.ufma.br/biologia
Frio na barriga, sudorese, coração acelerado, medo de que tudo dê
errado. Não existe quem nunca tenha sofrido com a ansiedade. O
ansioso está em constante estado de alerta devido às possibilidades
existentes nos eventos futuros. Tais acontecimentos não afetam somente
o corpo, mas também o cérebro. Quem nunca perdeu noites de sono
devido à existência de uma tarefa iminente? A ansiedade pode chegar a
prejudicar a vida do indivíduo, alcançando proporções patológicas. Em
último caso, ela se caracteriza por sensações muito
intensas ao ponto de serem perigosas e gerar medo
sem que haja uma ameaça real, já que na ansiedade
o perigo não é imediato, mas sim uma projeção
criada pela mente. Por outro lado, a ansiedade faz
parte do nosso sistema de defesa, fixada em nossa
espécie devido a processos evolutivos. A seleção
natural beneficiou aqueles indivíduos que eram
mais preocupados com eventos futuros, já que estes
eram mais precavidos e tinham maior possibilidade
de se defender de seus predadores, eliminando
assim os menos ansiosos da população. Dessa
forma, não há hoje indivíduos que não apresentem
ansiedade em algum grau.
Hoje em dia, com os veículos de comunicação
cada vez mais rápidos, ficamos cientes de todos os desastres que
acontecem ao redor do mundo e nos observamos vulneráveis. Com isso
tentamos nos defender e acabamos por pensar de forma catastrófica.
Esse modo de pensar influencia na ansiedade. “Se a pessoa é muito
catastrófica e imagina o tempo inteiro que as coisas vão dar errado, ela
sofre mais com a ansiedade”, diz Thiago Sampaio, psicólogo membro
da Associação dos Portadores de Transtornos de Ansiedade.
Mas, se a grande maioria da população divide os mesmos riscos de
desastre, e muitas vezes compartilham dos mesmos transtornos, por que
o grau de preocupação é diferente entre estes indivíduos? Além de
experiências traumáticas que cada um possui, a genética também pode
ser uma das respostas para as pessoas mais preocupadas.
Um dos genes relacionados com esse comportamento foi o gene
COMT que, quando mutado, determina a predisposição ao pensamento
catastrófico. Já foi comprovado que um quarto da população mundial
apresenta mutação neste gene.
Os sintomas da ansiedade são conhecidos, mas como o nosso
organismo trabalha para ocasionar todas essas reações físicas e
modificações comportamentais? Todos estes mecanismos são
desencadeados pelo lobo límbico – sistema que exerce importante papel
no mecanismo de defesa responsável por proteger
o organismo do ambiente de forma a alertar um
perigo e armazenar memória de perigo futuro – as
regiões deste sistema responsável pela sensação de
ansiedade são a amígdala, hipotálamo e matéria
cinzenta periaquedutal dorsal, que decodificam os
perigos que ameaçam o corpo. Estimulações
elétricas e químicas dessas regiões podem induzir
padrões de comportamento defensivo específicos,
no caso da ansiedade em humanos. Essas áreas
liberam hormônios, principalmente a adrenalina e
os glicocorticoides – aumentam os batimentos
cardíacos e a respiração, inibem o sistema
digestivo (boca seca) e trabalham para evitar o
aquecimento excessivo do corpo (suor). Em suma,
preparam o corpo para lutar ou fugir.
A verdade é que mesmo com alguns progressos significativos acerca
dos estudos da ansiedade, pouco se sabe sobre como se comportar diante
dela quando esta foge do controle e começa a adquirir características
patogênicas. Mesmo com os pontos negativos que vimos em relação à
ansiedade, não se trata de um traço que deva ser simplesmente
suprimido, pois são notáveis os seus benefícios ao longo da história
evolutiva dos seres humanos como um mecanismo de defesa e preparo
para acidentes eventuais e futuros, configurando-se, assim, uma
importante ferramenta de sobrevivência.
Resenhas
Por: Daniella de Jesus Castro Brito Revelações psicológicas e biológicas sobre o mal da ansiedade
Fonte: Hueck, Karin.Sobre ansiedade. Super interessante, SUPER
258, novembro de 2008.
A posição das Conferências Ambientais no (des)envolvimento sustentável Por: Brenda Hellen Izídio de Paiva
O mundo está em crise ambiental e econômica, gerada pelo atual modelo de desenvolvimento – sistema que transforma recursos naturais em
mercadoria de todos os tipos. Há alguns anos, os impactos causados ao ambiente por nossas ações eram vistos como fatores irrelevantes, mas o rápido
crescimento industrial iniciado pelo desestruturado processo de urbanização levou a perceptíveis mudanças nas paisagens e climas do planeta. Ainda
assim, a preocupação com a preservação ambiental por parte dos chefes políticos dos países foi revelada somente a partir do final dos anos sessenta.
Isso foi visível quando a ONU, em 1972, convocou a Conferência de Estocolmo, para tratar essencialmente dessa temática. Os países em
desenvolvimento justificaram que o encontro desviava o foco das habituais discussões sobre seus interesses prioritários socioeconômicos e a postura
do Brasil foi interpretada como anti-ambiental.
No fim dos anos 80, as lideranças políticas iniciaram os debates sobre as mudanças climáticas, reconhecendo-se o prejuízo à camada de ozônio,
pelas emissões de gases danosos, além do aumento no número de desmatamentos registrados naquele período. Para compensar as críticas ambientais,
o Brasil se ofereceu para sediar a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento – a RIO 92 – que teve importância
peculiar por introduzir a ideia de que a problemática ambiental não deveria ser debatida de forma separada das questões socioeconômicas, mas
incorporando o social ao ambiental e, assim, fixou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, hoje mundialmente aceito. O resultado foi a
assinatura de uma série de documentos negociados em anos anteriores, visando ações cujo objetivo era diminuir os impactos ambientais ao decorrer
das próximas gerações. Dez anos mais tarde, na Conferência de Johannesburgo, a principal questão estava relacionada às Mudanças Climáticas, pois
a aplicação do protocolo que determinava a diminuição das emissões de gases significava um desafio econômico e tecnológico gigantesco. Além do
mais, observou-se que todas as atividades humanas colaboravam para os efeitos no clima e que os esforços dos países desenvolvidos nas suas
economias não eram compatíveis com o que precisa ser feito.
Em 2012, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável – RIO + 20 – teve o intuito de discutir as atividades não realizadas nos
vinte anos anteriores e propor planos de metas para os próximos vinte. Contudo, ela não surtiu o efeito esperado, visto que seu contexto de
convocação foi de uma crise econômica, desviando a atenção para outras pautas, sem foco ambiental. Ocorrida em um cenário de muitos protestos e
paralelamente à Cúpula dos Povos, como já era de se esperar, a RIO +20 se posicionou como uma Conferência onde somente os países desenvolvidos
tinham poder de decisão.
A questão é que as Conferências têm recebido muitas críticas porque visivelmente priorizam o desenvolvimento econômico dos países e o
massivo acúmulo de capital, em vez de realmente mostrarem posição quanto às urgências climáticas. É por conta dessa inversão de prioridades que a
ONU não conseguiu até hoje estabelecer soluções práticas e realizáveis para essa problemática. Enquanto isso, utiliza-se de um discurso falho de
sustentabilidade, incapaz de propor alternativas efetivas porque se situa em meio ao capitalismo, funcionando nos limites impostos pela economia de
mercado, ou seja, pelos critérios de feroz competição, expansão de negócios e acumulação de lucros, inerentes ao sistema capitalista.
Fonte: Entenda a RIO+20, disponível em http://www.onu.org.br/; Lowy, Michael, A alternativa ecossocialista, Democracia viva,
disponível em <http://www.ibase.com.br>
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pet.ufma.br/biologia
Por: Rafael Rodrigues de Lima
O clássico germânico “O Flautista de Hamelin” é um conto que traz em suas entrelinhas uma verdade histórica:
os efeitos diretos da música sobre a mente humana. No conto, somos apresentados a um flautista singular que com
sua música mágica seria capaz de hipnotizar ratos e crianças. Hoje, sabe-se que a música não induz qualquer
“magia” em nossos cérebros, mas que gera interações complexas de características físicas, emocionais, cognitivas e
psicossociais. Compreendemos que somos dotados da capacidade de discernir altura, duração, intensidade, timbre e
que tais fenômenos são percebidos em várias regiões do cérebro, ao invés de em apenas um único “centro musical”.
Contudo, apesar do tema já ser consideravelmente estudado e representado cientificamente, duas perguntas ainda
permanecem sem resposta: “como” e “por que” a música evoluiu ao longo da história humana?
Suposições não faltam para responder tais questões. Existe um argumento de que a música seria apenas um resultado acidental durante o
processo evolutivo de traços com outras funções, como, por exemplo, a identificação e reprodução de diferentes entonações linguísticas ou de
vocalizações animais. Outras possiblidades citadas são: de que a música teria promovido coesão social; que seria um antecedente evolutivo da
linguagem; que fora impulsionada pela sua capacidade de acalmar os bebês; ou ainda (agora incluindo Charles Darwin como defensor) que a música
seria produto da seleção sexual. Possivelmente, um dos motivos para a falta de consenso nesse campo se deve ao fato de existirem poucos estudos acerca
da “Genética da Música” – possível termo para as questões relacionadas aos genes responsáveis pelos processos bioquímicos de percepção,
entendimento e desenvolvimento musical dentro da mente humana, além dos processos psicomotores envolvidos.
Partindo da noção de que a música é um artifício social presente em todas as culturas conhecidas, não seria estranho pensar que ela possui
bases genéticas no homem moderno. Porém, as composições musicais podem variar drasticamente de um povo para outro em estrutura e função. Haveria
então algum padrão? Certos comportamentos podem prover pistas sobre o assunto. Em primeiro lugar, observações em bebês humanos demonstram que
eles são mais cativados pela música em relação a muitos outros estímulos, sendo, inclusive, capazes de reagir a mudanças de ritmo e de notas. Isso
parece ser claro quando se tem a informação de que as famosas “cantigas-de-ninar” – ou “lullabys”, estilo musical voltado para indivíduos juvenis –
apresentam-se em todas as culturas humanas. Outro comportamento notável é o impulso para dançar ao som de melodias, praticamente universal nas
sociedades.
Pensando nesse relacionamento íntimo entre dança e música, pesquisas encontraram evidências do
envolvimento improvável do gene AVPR1a – responsável pelo hormônio vasopressina, secretado nos casos de
desidratação e queda de pressão arterial, para que os rins conservem água no corpo – com comportamentos
sociais, de aprendizagem, memória, escuta e estruturação mental do áudio. Para estudos futuros, os cientistas
buscarão indícios de associação entre os genes AVPR1a e SLC6A4 – responsável por codificar uma proteína
integral que transporta a serotonina no sistema nervoso - e a memória musical, entre outros genes.
A percepção musical em animais também pode ajudar a obter algumas respostas. Estudos têm testado o efeito
de músicas clássicas em roedores da espécie Mus muculus presos em cativeiro. Eles querem descobrir qual a interferência da música nesses animais, ou
seja, se elas são percebidas como um ruído, um estresse ou um benefício a esses seres. Nesse tipo de estudo, animais em geral apresentam melhoras
significativas em seu comportamento, diminuindo excitabilidade, sustos causados por ruídos repentinos e estresse. Porém, devido aos comportamentos
característicos entre os animais – como as vocalizações –, a preferência por certos sons a outros pode indicar que a evolução do traço não estava
necessariamente ligada à música.
Até o momento, ainda permanece improvável que os cientistas cheguem a um consenso sobre a evolução da música. Porém, devido a
predisposições inatas e aspectos que estão presentes em diversas culturas, o mais provável parece ser que os aspectos da musicalidade sejam
parcialmente hereditários, além de fortemente influenciados pelo social. Referências: J. MCDERMOTT (2008). The evolution of Music. Nature. Volume 453. Páginas 287 – 288. 15 de Maio.
D. J. LEVITIN (2012). What Does It Mean to Be Musical? Neuron. Volume 73. Páginas 633 – 637. 23 de Fevereiro.
J. G. P. CRUZ, D. D. D. MAGRO & J. N. CRUZ (2010). Efeitos da música clássica como elemento de enriquecimento ambiental em Mus musculus em
cativeiro (Rodentia: Muridae). Biotemas. 23 (2): 191-197. Junho.
Yasuní: Uma Luta pela Conservação
No visionário filme “Avatar”, de James Cameron, somos apresentados a um mundo de belezas naturais intocadas, habitado por incríveis criaturas. Em um
determinado momento da narrativa os habitantes nativos veem seu lar ameaçado por conta da ganância exploratória do ser humano, já que o
governo precisa extrair um importante mineral existente ali, restando a eles apenas a luta armada para defender o local onde vivem.
A defesa da terra por partes dos nativos contra os “brancos” exploradores é algo muito conhecido ao longo de nossa história; todo o território
americano já foi marcado por tais disputas. Mas não pense que esse tipo de assédio exploratório não existe mais. Um reduto ambiental que se
encontra na mira de companhias petrolíferas é o Parque Nacional Yasuní, no Equador. O parque se estende por aproximadamente 9.820 Km2
de floresta amazônica preservada, abriga comunidades indígenas e até o momento já foram identificadas 600 espécies de aves, 150 espécies
de anfíbios, 121 espécies de répteis, 170 espécies de mamíferos e uma estimativa de 3000 espécies de plantas.
Infelizmente, os grandes empresários não se importam com toda essa riqueza natural, pois o tesouro que realmente os interessa se
encontra sob a superfície do parque: aproximadamente 850 milhões de barris de petróleo não prospectado. Sendo o Equador um país pobre que depende da exploração
do petróleo, resistir às investidas das empresas petrolíferas se torna um pouco difícil, tanto que várias concessões à extração já foram feitas.
Uma proposta apresentada pelo governo equatoriano desde o ano de 2007 busca resolver essa questão para preservar o Bloco ITT (região do parque onde estão as
maiores reservas de petróleo). Em troca de não permitirem a exploração daquela área pelas empresas, as lideranças mundiais teriam que pagar uma quantia de 3,6
bilhões de dólares ao Equador como forma de compensação. O valor é menos da metade do que o país ganharia se efetivamente prospectasse o petróleo, o que torna a
Iniciativa Yasuní ITT (nome dado à proposta), a alternativa ideal para o impasse. Entretanto, as lideranças mundiais não se movimentaram em relação à questão e
ainda não arrecadaram nem 40% desse dinheiro.
As empresas petrolíferas já se encontram nos arredores do parque, se assentando aos poucos, ocupando blocos adjacentes ao bloco ITT, mas ainda não possuem
acesso à Zona Intocável. As comunidades indígenas ali presentes, os Quíchua e Waorani, também veem seu estilo de vida ameaçado. A região já foi marcada por
conflitos entre os indígenas e os “homens de macacão”, inclusive resultando em baixas. Os grupos ainda têm de conviver com a insegurança de acabar perdendo o seu
lar.
Tal como na história do mundo utópico criado por Cameron, as autoridades garantem que a prospecção pode ser feita sem prejuízos ambientais. Contudo, apenas para
chegar ao local, grandes faixas de floresta teriam de ser destruídas, mostrando que essa afirmação não é verdadeira. O ideal seria continuar a deixar intocável a área do
parque. O “progresso” avança de modo inexorável naquela região, levando a crer que a natureza sairá perdendo nessa disputa. O desfecho só será diferente caso as
organizações competentes realmente se empenhem em salvar uma área tão rica em biodiversidade. Fonte: Floresta tropical à venda, Scott Wallace - Edição Especial Por que
explorar National Geografic Brasil, Ano 13 nº 154, 2013, pg: 82-107.
“Como” e “Por que” a Música Evoluiu?
Por: Rodrigo Pimenta Silva
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 7
pet.ufma.br/biologia
O que a membrana nuclear de uma célula tem em comum com a
atmosfera de Júpiter? Segundo Stephen
Wolfram, um renomado cientista
britânico, tudo!. Em seu livro chamado
“A New Kind of Science” (Um Novo
Tipo de Ciência), Wolfram expõe
ideias que confrontam os cientistas
mais conservadores, mostrando uma
nova forma de interpretar sistemas
complexos como o Universo e a vida.
Wolfram, desde jovem, foi um dos prodígios da
física e da computação, conseguindo o PhD em Física Teórica aos 20
anos e criando a sua própria linguagem de programação chamada de
“Mathematica”. Com algumas linhas de códigos em Mathematica,
Wolfram criou um simples programa que chamou de “Game of Life”
(Jogo da vida). O programa consiste em um tabuleiro com vários
quadrados, os quais ele chamou de células, distribuídos lado a lado em
uma página como os pixels em um monitor. As células podem ser
brancas (desativadas) ou pretas (ativadas), dependendo de um conjunto
de regras simples que se baseia no estado de ativação das células
vizinhas. Ativando manualmente e ao acaso algumas células e depois
rodando o programa, Wolfram percebeu que as células tendiam a formar
padrões que iam se alternando e se tornando cada vez mais complexos,
sugerindo formas e comportamentos elaborados. Por dez anos, Wolfram
estudou os padrões que surgiam e por muitas vezes viu formas
inusitadas como agrupamento de células que formavam sistemas
similares aos modelos astronômicos, padrões que sugeriam de forma
bem simples uma divisão mitótica ou até mesmo padrões que
apresentavam movimentos complexos.
A análise dos dados levou a uma conclusão inevitável: “É possível
gerar uma complexidade extraordinária com um conjunto muito simples
de poucas regras”. Wolfram afirma que as leis que regem o nosso
universo não são muito mais complexas que as do Jogo da Vida. As
partículas subatômicas se organizam em átomos que formam
agrupamentos que podem dar origem a todas as coisas que existem.
Tudo isso baseado em um conjunto simples de leis de afinidade química
e eletrônica com as partículas vizinhas. Para ele, o universo nada mais é
que uma versão melhorada do jogo da vida que está rodando há 13,5
bilhões de anos e cujas células, representadas pelos átomos, tiveram
tempo suficiente para se organizar em padrões extremamente
complexos.
Mas de que forma isso relaciona a membrana nuclear de uma
célula com a atmosfera de Júpiter? Para responder isso, Wolfram
recorre a algo que ele chama de “Princípio da Equivalência
Computacional”. Segundo esse princípio, tudo o que é gerado no mesmo
nível de complexidade computacional é equivalente. Então, se o mesmo
conjunto de regras somado ao acaso foi responsável pela formação da
atmosfera de Júpiter e gerou a membrana nuclear de uma célula, essas
estruturas têm o mesmo nível de complexidade e, logo, são equivalentes.
O princípio da Equivalência Computacional nos leva à conclusão
que somos muito mais relacionados com todas as outras coisas do que
imaginamos. Para Wolfram, seria correto afirmar que uma nuvem de
hidrogênio, uma supernova em outra galáxia, uma molécula de água e a
própria Terra estão tão vivas quanto peixes, pássaros e humanos. Uma
visão tão radical quanto essa põe em xeque vários anos de discussão
sobre “O que é a Vida afinal?”. Segundo a lógica de Wolfram a resposta
é simples: A vida é a mera existência.
.
Uma das discussões mais calorosas e controversas no meio das ciências da vida é se os vírus – entidades parasitas intracelulares
obrigatórias – são realmente seres vivos ou não. Eles são compostos de uma estrutura chamada vírion - material genético (podendo
ser DNA ou RNA) e de uma cápsula proteica e não possuem organelas como os demais seres vivos, sendo incapazes de ter
metabolismo próprio. Resumindo a discussão e parafraseando Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão”. Como é de conhecimento
de muitos, a evolução da vida na Terra é um dos maiores mistérios da ciência e a imagem mais ilustrativa desse mistério é a “árvore
da vida”. Não sei se vocês, leitores, já perceberam que na árvore da vida que é divulgada, os vírus não estão presentes?. Só encontramos bactérias,
arqueobactérias e eucariotos (fungos, plantas e animais). Esse certo “menosprezo” pelos vírus pode decorrer da crença comum de que eles são
maléficos para os organismos vivos.
Entretanto, esses corpos (no sentido físico da palavra) podem ter tido uma função primordial desde o começo do que se entende por vida
atualmente. Sabe-se que as interações parasita-hospedeiro são muito importantes do ponto de vista evolutivo, estando em constante mudança – a
famosa “corrida armamentista”, tão difundida no pensamento evolutivo. Sendo assim, os vírus podem ter tido participação na construção da vida
como conhecemos hoje?
A resposta, segundo os pesquisadores Gustavo Acrani, José Luiz Módena e Eurico Arruda da USP de Ribeirão Preto (SP), é... Sim! Os vírus
atuam de uma forma muito interessante: quando injetam seu material genético na célula hospedeira, este vai para o núcleo celular e começa a se
replicar utilizando-se da maquinaria celular. Vírus com RNA como o HIV, chamados de retrovírus, têm a capacidade de converter seu RNA em
DNA através da enzima transcriptase reversa. Quando fazem isso, podem incorporar seu material genético ao DNA do indivíduo, podendo
influenciar sua variabilidade genética. Alguns vírus podem infectar organismos permanentemente e, se conseguirem inserir seu material genético
em células germinativas e esse se incorporar ao DNA da célula, pode perpetuar essas informações genéticas para as próximas gerações. Com o
passar do tempo podem conferir características positivas ou negativas aos indivíduos portadores deste fragmento de material genético,
modificando sua resposta à seleção natural e alterando, assim, a frequência gênica daquela população.
Surpreendentemente, esse processo descrito acima teve um papel de suma importância para estarmos aqui hoje, por exemplo, lendo esse
Boletim. Por incrível que pareça, os embriões são, no fundo, corpos estranhos à mãe e, seguindo a premissa básica do sistema imunológico, eles
deveriam ser rejeitados e destruídos. O que proporciona que isso não ocorra é a placenta que está presente somente nos mamíferos eutérios. Esta,
por sua vez, entra em contato com a parede do útero através de uma camada de células chamada de sinciciotrofoblasto, ocasionando a fusão dos
dois tecidos. Estudos da década de 1970 descobriram que essa camada de células é quando formada sintetiza uma proteína chamada sincicina, cuja
informação está contida em um gene viral intacto chamado env. Outros casos de genes virais presentes no genoma de outros organismos ocorrem
em várias espécies. Vespas das famílias Braconidae e Ichneumonidae colocam seus ovos em lagartas. Foi descoberto que genes de Polydnavírus,
presentes no genoma das vespas, inibem o sistema imunológico da lagarta, permitindo o desenvolvimento das larvas.
Por conta dessas descobertas, o diretor do Centro de Pesquisa de Vírus da Universidade da Califórnia, Luiz Villareal, diz: “os vírus são os
artesãos da vida na Terra”. Claro, sofremos com muitas doenças causadas por essas cápsulas de material genético, mas não podemos
negar que, se estamos onde estamos hoje e se a vida é o que é, os vírus tiveram e têm grande participação nisso. A estimativa de que
8,3% do nosso genoma são compostos por genoma viral corrobora ainda mais com essa crença. Se deixarmos a nossa imaginação
fluir, podemos considerar que os vírus sejam a água que mantém a árvore da vida grande, frondosa e magnífica como é e sempre há
de ser.
Por: Cid Conde
Fonte: WOLFRAM, S. 2002. A New Kind of Science. Wolfram Media
CHOWN M. 2007. The Never Endings Days of Being Dead. Faber and Faber
Limited The Game of Life <http://mathworld.wolfram.com/GameofLife.html> Acesso
em 07/06/13
Um ponto de vista computacional sobre a vida
Vírus: um dos agentes evolutivos? Por: Leonardo Manir Feitosa
Referências: Acrani, G. O.;Módena, J. L. P., Arruda, E. O Papel dos Vírus na Árvore da Vida. Ciência Hoje. Número 292. Volume 49. Maio
2012.
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 8
pet.ufma.br/biologia
Em 18 de Dezembro de 1912 foi revelado à comunidade cientifica um achado que revolucionaria a história da evolução humana: O homem de
Piltdown. O naturalista Charles Dawson havia encontrado um fóssil de hominídeo com características transitórias entre o Homo sapiens e os
demais primatas. Com essa descoberta, Dawson se tornou famoso no meio científico e teve seu nome exposto em vários museus pelo mundo
afora. Porém, em 1953 veio à tona a desoladora verdade: o fóssil não passava de uma fraude. Dawson havia feito uma montagem utilizando um
crânio de homem, um pedaço de mandíbula de orangotango e dentes de chimpanzé.
O homem de Piltdown é considerado por muitos cientistas como uma das maiores fraudes da história da ciência moderna. Todavia, este não é
um caso isolado. As fraudes têm se tornado, cada vez mais, um assunto que preocupa os editores de revistas científicas ao redor do globo. Porém,
existe uma corrente que afirma que as fraudes são eliminadas rapidamente pela qualidade autocorretora do método indutivo utilizado pela ciência
moderna, afinal, para que algo seja aceito como um resultado satisfatório, ele deve ser testado várias vezes por diferentes cientistas.
Mas, então, o que seria um ato fraudulento na ciência? É considerada fraude tudo aquilo que é feito para
benefício próprio através da montagem, distorção ou omissão de informações. Dentre as formas mais
comuns de fraude estão: a falsificação de dados (onde os resultados obtidos são simplesmente alterados); o
plágio (cópias exatas de trechos de trabalhos pré-existentes) e a montagem de dados (quando se constrói um
resultado do zero, utilizando dados totalmente falsos). Logicamente, existem outras formas de se ferir a ética
científica, como é o caso da omissão de algumas informações - quando estas deveriam estar claras e
evidentes - da pesquisa para o Comitê de Ética ou para o sujeito com o qual está sendo realizado o estudo
(no caso das pesquisas na área da saúde).
Dentre os casos famosos de manipulação e criação de resultados está a pesquisa com células-tronco de
embriões humanos que foi publicada pelo sul-coreano Woo Suk Hwang na revista Science em 2004. Foi
descoberto que Hwang havia simplesmente forjado todos os dados da pesquisa, o que o levou à perda de seu
cargo na Universidade de Seul e a ser julgado e condenado por fraude científica. Após o julgamento, o sul-
coreano foi preso e permaneceu na cadeia por dois anos.
Hoje em dia só são considerados pesquisadores de ponta aqueles que publicam artigos científicos frequentemente. Esse tipo de pensamento,
impulsionado pelas empresas de fomento, acaba por levar o pesquisador a pensar mais na quantidade do que na qualidade dos seus estudos. Essa
pressão desenfreada pela produção acaba distorcendo a real importância da ciência, que seria buscar explicações reais e precisas para os
fenômenos naturais.
O temor pela perda do status, somado à pressão sofrida pela necessidade forçada de publicar artigos pode ser apontada como um dos principais
fatores para tentar explicar os motivos pelos quais cientistas renomados se atrevem a cruzar a linha do bom senso. Entretanto, alguns cientistas
acabam caindo no erro da chamada “hipótese de estimação”. Nesses casos, os pesquisadores, insistem em ideias que já se provaram total ou
parcialmente falhas. Tal apego pode levar a manipulações de resultados com o intuito de corroborar esse “bichinho de estimação”. Porém, esses
fatores supracitados não justificam metade dos casos de fraudes que se tem conhecimento. Muitos dos problemas são causados pelo simples fato
de os pesquisadores buscarem a fama e o sucesso no meio científico acima da verdade.
Como foi dito no início do texto, alguns estudiosos acreditam que fraudes como as cometidas por Dawson e Hwang são exceções e, que
mesmo causando um grande impacto inicial, não perdurarão por longos períodos. Porém, isso não deve servir de alento, levando à redução ou
alívio no controle em relação às fraudes. Afinal, as mentiras muitas vezes atrapalham o andamento da ciência, por menores que sejam. Então,
antes de começar a copiar ideias dos outros, pense em como você quer ser lembrado em um futuro próximo.
Cultivo de olhos em laboratório: será possível?
Já pensaram como seria
se pudéssemos cultivar
órgãos em laboratório?
Quantas vidas seriam salvas,
filas de espera para
transplante de órgãos
poderiam acabar e doenças
poderiam ser curadas.
Estudos poderiam ser feitos
para a melhor compreensão do desenvolvimento de algumas
doenças.
Parece que a ciência está um passo mais perto disso.
Pesquisadores de Kobe, no Japão, desenvolvem pesquisas de
cultivo de olhos em laboratório há pelo menos dez anos e
recentemente obtiveram bons resultados. Eles cultivaram células-
tronco embrionárias de ratos induzidas a diferenciação através de
agentes químicos. As células-tronco embrionárias são células que
possuem um alto potencial de diferenciação transformando-se em
tecidos que irão constituir um ser e estão presentes nas fases
iniciais do desenvolvimento embrionário, sendo encontradas em
algumas partes do corpo na vida adulta.Porém as células-tronco da
fase embrionária possuem um maior poder de diferenciação.
O processo para desenvolvimento desses olhos ocorre da
seguinte forma: células-tronco são removidas do doador e
colocadas em um meio de cultura chamado de “cultura flutuante
de agregado”. Ela permite que as células se agreguem e tomem
formas tridimensionais através de agentes químicos e proteínas
conhecidamente envolvidas na formação do órgão em questão que
são colocados dentro desta cultura flutuante. Após alguns dias as
células começaram a formar esferas ocas. Os pesquisadores então
adicionaram um coquetel de proteínas contendo compostos
químicos para induzi-las a uma maior diferenciação através da
simulação dos estímulos que estas estruturas sofreriam caso
estivessem sofrendo o processo de histogênese e organogênese
normal. Entretanto, nem o cristalino nem a córnea se formaram
por conta de seu formato diferenciado e complexidade. Ainda
assim, esses experimentos elucidaram muitas dúvidas em relação
ao desenvolvimento dos olhos.
As pesquisas com células-tronco embrionárias de
camundongos, feitas em 2010, podem ajudar futuramente pessoas
que sofrem de doenças oculares, pois, a partir desses
experimentos, pesquisadores do Japão conseguiram produzir,
recentemente, através de células embrionárias humanas, os
primeiros estágios de formação do olho, o cálice óptico e o tecido
neural de múltiplas camadas.
Esperamos que brevemente com o avanço da ciência e dos
métodos seja possível criar olhos humanos perfeitos e funcionais
em laboratório e posteriormente para o desenvolvimento de outros
órgãos.
Fonte: Cultivando seu próprio olho” “Scientific American
Brasil”Ano 11, nº127, dezembro de 2012, pg. 36-41
Fraude: até onde a ciência é Ciência?
Por: Rafael Antônio Brandão
Referências: HOSSNE, W. S. & VIEIRA, S. 2007. Fraude em ciência: onde estamos? Revista Bioética . 15 (1): 39-47.
WEISSMAN, G. 2008. Science fraud: from patchwork mouse to patchwork data. The FASEB Journal. 20: 587 – 590.
Por: Fernanda Pinheiro Monteiro
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 9
pet.ufma.br/biologia
Imagine que você, caro leitor, seja um professor de história romana e de latim e, para tanto, está ávido para transmitir seu
conhecimento sobre história para seus alunos. Porém, você se vê surpreendido por entidades, organizações, como preferir, que
impedem que você cumpra seu dever de lecionar, por afirmarem que nunca houve uma civilização latina, que o Império Romano
nunca existiu na história humana, considerando que são falsas as alegações e provas de que ele tenha algum dia existido. Por tais
inconvenientes, você, como professor, se vê usando boa parte do seu tempo, não para ensinar seus alunos, como assim desejava no
começo, mas para explicar a existência da civilização latina aos “negadores da história”. É dessa forma que o famoso biólogo
evolucionista, Richard Dawkins, começa seu livro “O Maior Espetáculo da Terra”, justificando que a publicação do seu livro tem
como objetivo a exposição das evidências da evolução àqueles que ele denomina de “negadores da história”, por não aceitarem a
teoria da evolução.
Richard Dawkins, eis um nome que causa muita polêmica em várias mesas de discussão acerca de um debate antigo que
transcorre desde os tempos de Darwin: a briga entre as explicações para o surgimento e a diversidade de vida na Terra. Dawkins é
popularmente conhecido por participar ativamente dessa discussão, seja comparecendo em grandes debates públicos ou em outros
meios, apoiando o lado evolucionista. No livro, para explicar as evidências da evolução, ele faz usos recorrentes da metáfora do
detetive que chega a uma cena do crime e deve descobrir quem é o culpado e, para isso, deve analisar a maior quantidade de pistas
possíveis deixadas pelo criminoso; no caso, os biólogos são os detetives que devem analisar os vários vestígios que a seleção
natural deixa pelo planeta para confirmar a veracidade da teoria evolucionista, a qual, muitas vezes, ele diz já ter deixado de ser
uma teoria há muito tempo, tornando-se um fato que deve ser aceito.
É buscando explicar a teoria da evolução que Dawkins nos apresenta esse incrível espetáculo em todas
as suas nuances, abordando as mais diversas áreas da biologia e, chegando a buscar conhecimento de outras
ciências relacionadas, tais como a física. Podemos contemplar os mais diversos “atos” em sua obra, podendo
nos encantar com as incríveis semelhanças entre organismos de diferentes ramos da árvore da vida em seus
estágios embrionários, observar que a evolução nem sempre requer milhões de anos, ocorrendo em escala
geológica, para que seja perceptível, pois podemos presenciá-la e percebê-la no tempo de vida humano,
entender que nós mesmos somos agentes de algo extremamente semelhante à seleção natural, a seleção
artificial, que se caracteriza quando modificamos grupos de organismos, selecionando os indivíduos mais
proveitosos às nossas necessidades e, assim, causando alterações ao longo de gerações. Enfim, se eu, aqui,
explorasse cada uma das evidências citadas, sinto que estaria sendo injusto com o amigo leitor ao tirar boa
parte do estímulo à leitura do livro ao relatá-las em detalhes na minha análise, por isso, deixo o conselho que
você mesmo leia e fascine-se com o “Maior Espetáculo da Terra”.
Este é um livro que não foi feito exclusivamente para estudantes da área de biologia (embora altamente recomendado) ou
outras áreas diretamente relacionadas, pois seu autor foi muito cauteloso nas explicações no transcorrer da leitura, com o objetivo
de atingir todos os tipos de pessoas com os mais diversos tipos de conhecimento. Afinal, não é necessário ser especificamente um
biólogo para compreender e se maravilhar com essa fantástica obra.
Ambientalismo, também chamado de “movimento ecológico” ou “movimento verde”, é uma corrente de pensamentos e
movimentos sociais que defende a preservação ambiental, a mudança de hábitos e valores para um estilo de vida sustentável e a
sensibilização da sociedade por essas questões. Tal vertente não é dos dias de hoje, pelo contrário, possui registros em várias
culturas da antiguidade, mas foi somente a partir do grande desenvolvimento científico e industrial que o “pensamento verde” em si
surgiu (ou “necessitou” surgir).
Em dezembro de 2012, um pequeno grupo de ambientalistas na Turquia se uniu para mobilizar a
população e o governo, devido a grande dificuldade que o país tem de aprovar leis de proteção
ambiental. O país sustenta falta de diretrizes para a proteção da qualidade da água, leis a favor da
mineração e de incentivo ao turismo, além de 22 represas, 19 usinas hidrelétricas nos rios Tigre e
Eufrates, e uma proposta de construir uma usina nuclear em área de risco de abalos sísmicos, ao sul do
país...todos esses fatos passíveis de gerar grandes prejuízos ao ambiente. Segundo dados locais, secas
em várias regiões do país surgiram após o represamento de água para geração de energia e áreas
pantanosas foram devastadas. Nessa situação, organizações ambientalistas ainda têm dificuldade em
negociar com o governo, além de não haver controle e fiscalização das leis já existentes.
Tais fatos culminaram, mais recentemente, na manifestação contra a construção de um
shopping no lugar do Parque Gezi, um dos poucos espaços verdes restantes em Istambul, a maior cidade da Turquia e a quinta
maior do mundo. Além disso, protestos contra o governo considerado como autoritário, e exigência do fim da venda de espaços
públicos (como praias, rios e parques) a empresas privadas, tem também marcado a nação. Essa fase de manifestações se iniciou em
28 de maio deste ano e vem pendurando até a data de publicação deste boletim. O protesto se alterna entre momentos pacíficos e
momentos violentos pelo uso de gás lacrimogênio, spray de pimenta, jatos d’água e barricadas por parte da polícia. Para mais informações, consulte os links:
http://www.dw.de/preserva%C3%A7%C3%A3o-ambiental-na-turquia-esbarra-no-desenvolvimento/a-16336466
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/policia-enfrenta-grevistas-em-protesto-contra-violencia-policial-na-turquia.html.
Por: Patrício Getúlio Garcia Neto
Fonte: RICHARD DAWKINS. 2009. O Maior Espetáculo da Terra.
Ponto de Vista Biológico
Notícia Por: Rafael Rodrigues de Lima
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 10
pet.ufma.br/biologia
Introdução
O termo “má taxonomia” é uma expressão que em Biologia
siginifica a identificação, classificação e nomenclatura de
organismos sem o respeito às normas e processos apropriados
(Bortolus, 2008). Estas regras são especificadas nos diferentes
códigos internacionais de nomenclatura e possuem a função de
unificar o modo como os nomes são dados aos organismos no
mundo todo (Feldman & Manning, 1992). No entanto, muitos
trabalhos científicos têm feito uso da “má taxonomia”,
comprometendo, em totalidade, os resultados e efeitos que estes
trabalhos trazem para o mundo científico. Desde o início dos anos 1900, ecólogos e conservacionistas
passaram a se afastar progressivamente da taxonomia e a focar
quase que exclusivamente em trabalhos experimentais. Este tipo
de trabalho ganhou grande sucesso e popularidade, a tal ponto que
outras áreas, como a taxonomia, passaram a ser
deixadas de lado. Este “fenômeno” de
distanciamento entre a taxonomia e trabalhos
experimentais chegou a tal ponto que a citação
“descritivo” vinculado a trabalhos científicos
era, em geral, resultado de implicações
pejorativas (Bortolus, 2008). Por sua vez, esta
ruptura afetou a comunidade científica
internacional, fazendo com que, no passar
dos anos, menos trabalhos taxonômicos
tenham sido publicados em revistas de grande
impacto e menos citações destes trabalhos
tenham sido feitas em estudos de ecologia e
conservação (Godfray, 2002).
Perante esta situação, uma grande questão é colocada:
como os ecólogos e conservacionistas sabem os nomes científicos
dos taxa com que trabalham? Mais ainda, como eles sabem sequer
se o que estão estudando, é, de fato, uma espécie? A falta de uma
visão mais taxonômica, neste caso, pode “matar”, ao interferir nas
medidas de conservação aplicadas baseadas em estudos ecológicos
errôneos. Afinal de contas, para se preservar, é necessário saber o
quê está se preservando.
O conceito de espécie: categorias e importância
O conceito de espécie é, juntamente com o conceito de
homologia, um dos assuntos mais discutidos na história da
Biologia (de Pinna, 1999). As raízes dos conceitos de espécie que
conhecemos hoje são do século XVII e XVIII e estes têm passado
por diversas críticas e modificações desde o período neo-
Darwinista, e, mais ainda, após o advento do paradigma
filogenético. O surgimento da cladística resultou em várias
propostas para o conceito de espécie. Em verdade, discussões
acerca do conceito de espécie passam por conceitos fundamentais
na Biologia Comparativa, Sistemática e Evolução, fazendo com
que modificações nas noções dentro destes campos alterem e
reformulem as idéias acerca das espécies (de Pinna, 1999).
Luckow (1995) dividiu os conceitos de espécie em duas
categorias: aqueles baseados em mecanismos (conceitos
mecanicistas ou não históricos) e aqueles baseados na história
(conceitos históricos). A primeira vê as
espécies como unidades que se submetem à
evolução; a segunda vê a espécie como
produto final da evolução. Os conceitos
não históricos giram em torno de
fenômenos baseados em populações e são
enraizados em tradições da
microevolução, focando no processo de especiação.
Ela inclui, por exemplo, o conceito biológico de espécie de
Mayr (1942, 1963), que define uma espécie como agrupamentos
de populações naturais intercruzantes, reprodutivamente isolados
de outros grupos com as mesmas características. Aqui também
entram o conceito ecológico de espécie (Van Valen, 1976) e o
conceito de coesão (Templeton, 1989). Segundo alguns autores,
uma falha dos conceitos não históricos é que o processo que deu
origem a uma entidade não pode ser entendido antes que a própria
entidade seja definida (Rieppel, 1986).
Estes conceitos não históricos contrastam marcadamente com
os fortes fundamentos históricos da Sistemática moderna. Os
conceitos históricos vêem as espécies como produtos da evolução,
e são baseadas diretamente em evidências de caracteres, em
hipóteses sobre a ancestralidade ou em uma combinação de
ambos. Dentre os diversos conceitos de espécie dentro desta
categoria, está o conceito evolutivo de espécie, que a
define como “uma única linhagem de populações
ancestrais-descendentes que é distinta de outras
linhagens e que tem sua própria tendência
evolutiva e contingência histórica” (Simpson,
1961), sendo este um dos conceitos mais bem
aceitos dentro da categoria histórica. Outro
conceito importante dentro desta categoria é
oconceito filogenético de espécie, proposto por
Cracaft (1983), que a define como “o menor
agrupamento diagnostificável de um conjunto de
organismos dentro do qual há um padrão parental
de ancestrais e descentes”.
Dentre os diversos conceitos de espécies criados, o
mais utilizado pelos biólogos evolucionistas é, ainda, o
conceito biológico de espécie. Logo, quando trabalhos de ecologia
e conservação são analisados, a maioria destes está se referindo às
suas espécies de estudo de acordo com o conceito proposto por
Mayr. Isto é essencial para o conhecimento das implicações que a
má taxonomia pode causar, visto que é necessário que haja o
conhecimento da base teórica utilizada pelos autores para a
classificação dos seus objetos de estudo.
O uso da taxonomia para a conservação
Taxonomia e conservação andam lado a lado. É muito difícil
conservar organismos que não podemos identificar, assim como é
virtualmente impossível entender as consequências que estes
organismos provocam em seus ambientes naturais. Vários estudos
demonstram a importância da taxonomia para a conservação de
espécies, assim como enfatizam o nosso ainda desconhecimento de
grande parte das espécies existentes no mundo (Bortolus, 2008).
No entanto, é importante ressaltar que taxonomia e conservação
não são conceitos sinônimos. Descrever as espécies do mundo e
suas relações não é equivalente a salvá-las. Guias de campo, listas
de espécies completas e catálogos não necessariamente ajudam na
conservação das espécies. Tampouco é possível desenvolver os
planos e mecanismos de conservação necessários sem o
conhecimento prévio adequado fornecido pela taxonomia. São
inúmeros os exemplos em que a utilização da taxonomia
contribuiu para a modificação de planos de conservação. Em um
estudo brasileiro, o plano de conservação dos golfinhos do gênero
Sotalia foi revisto a partir do uso de técnicas de biologia molecular
para a elucidação das espécies existentes. Neste trabalho foram
confirmadas duas espécies de golfinhos, Sotalia guianensis e
Sotalia fluviatilis, sendo que esta última é exclusivamente fluvial
(Cunha et al, 2005). As descrições destas espécies, associadas ao
Carta ao leitor
A má taxonomia pode matar: a importância da taxonomia para a conservação e trabalhos ecológicos
Fig: Ernst. Mayr
Por: Lucas Pereira Martins
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 11
pet.ufma.br/biologia
ambiente em que vivem ,é essencial para que
um plano de conservação correto seja aplicado.
Casos em que o número de espécies
ameaçadas é superestimado ou subestimado são
relativamente comuns. Este é um fato grave e de
grande interesse, pois possivelmente espécies já
foram extintas sem que sequer soubéssemos,
pois foram “enterradas” com o nome
inadequado. Um exemplo é o leão-marinho
japonês (Zalophus janopicus), espécie
extinta e que anteriormente era considerada, por alguns autores,
pertencente à mesma espécie do leão-marinho californiano
(Zalophus californianus), que ainda possui um bom número de
indivíduos vivos. Esta incerteza taxonômica gerou planos de
conservação inadequadas, possivelmente contribuindo para a
extinção do leão-marinho japonês, assim como para a extinção de
milhares de outras espécies (Wolf et al, 2007).
As consequências indesejadas da má taxonomia em estudos de
ecologia
A importância da taxonomia para a ecologia é indiscutível. Em
qualquer nível, todos os dados ecológicos de um trabalho
dependem da taxonomia. No entanto, devido à ruptura que têm
ocorrido entre a taxonomia e trabalhos experimentais desde os
anos 1900, muitos trabalhos ecológicos falham no caráter básico
da taxonomia. Em estudo efetuado entre 2005 e 2007, na qual 80
trabalhos de ecologia pertencentes às principais revistas da área
foram analisados, foi constatado que 62,5% dos artigos não
apresentavam qualquer informação que justificasse ou garantisse a
correta identificação dos organismos estudados ou manipulados.
Em outras palavras, 62,5% dos trabalhos não mencionavam a
participação de um taxonomista, uso de literatura especializada ou
qualquer outra fonte que explicitasse como o autor pode ter obtido
os nomes científicos vinculados ao estudo. Ademais, apenas 2,5%
dos trabalhos analisados reportavam a existência de vouchers em
alguma instituição científica, deixando 97,5% dos trabalhos sem
confirmação alguma se as espécies identificadas no trabalho estão
corretamente identificadas (Bortolus, 2008). Assim, o estudo de
diversos taxa em trabalhos de ecologia indicam que experimentos
têm sido realizados indepentemente da qualidade das
identificações taxonômicas. Mais do que isso, este fato sugere que
nomes científicos e dados relevantes são transferidos de um
trabalho para o outro, com pouca ou nenhuma visão crítica por
parte dos autores.
A hierarquia de erros e seus efeitos na natureza
As Ciências Biológicas compreendem a identificação de
padrões e processos na natureza em uma variedade de escalas
temporais e espaciais, analisando ao máximo os recursos e
informações naturais. As diferentes disciplinas biológicas
compartilham e assimilam seus resultados de modo único e
complementar, estabelecendo uma estrutura vertical entre elas. Em
essência, a ecologia e a conservação não seriam possíveis sem a
taxonomia. No entanto, esta estrutura entre as disciplinas
biológicas também acaba por facilitar a difusão do erro (Bortolus,
2008).
Um único erro de identificação taxonômica tem o potencial de
ser assimilado por diferentes estudos biológicos, e, em seguida,
por programas de manejo, multiplicando o impacto deste erro. Esta
cascata de erros gera então uma variedade de consequências
negativas para as Ciências Biológicas.
Erros em taxonomia geralmente são revistos antes de serem
amplamente difundidos para outras disciplinas, sendo inúmeros os
exemplos em que casos deste tipo ocorreram (Bortolus, 2008).
Muitas vezes, no entanto, erros taxonômicos são identificados
posteriormente, sem contudo causar grandes danos à credibilidade
do trabalho. Muitos trabalhos em ecologia possuem revisões
taxonômicas posteriores, sem haver mudança no resultado dos
padrões descobertos (Disney, 2000). Uma outra situação ocorre se
o efeito cascata, ou seja, o erro vindo da taxonomia permanece por
um tempo considerável e modifica siginificativamente toda a
estrutura dos trabalhos realizados. As consequências deste tipo de
erro são variadas. Áreas podem ter suas riquezas superestimadas
ou subestimadas, a estrutura de uma assembléia pode ser
modificada e as relações entre espécies devem ser revistas
(Bortolus, 2008).
Conclusão
A taxonomia é fundamental para todo tipo de trabalho
biológico. Erros e rupturas do passado são responsáveis por uma
cascata de novos erros, em geral, provocados pelo desinteresse e
falta de aproximação entre a taxonomia e outras áreas de estudo.
Há a necessidade imediata que haja uma reaproximação maior
entre trabalhos experimentais e taxonomia, para que possa haver
real validade destes trabalhos. Uma visão mais atenta deve ser
dada aos nomes científicos vinculadas a artigos e planos de
conservação, dando um enfoque ainda maior a dados de ecologia
que não trazem nomes científicos, e sim somente índices de
riqueza, diversidade, dentre outros, visto que estes índices podem
estar errados devido a erros anteriores nas identificações. É
necessário que haja um esforço de todas as partes, ressaltando-se a
importância crucial da taxonomia. A taxonomia, quando deixada
para segundo plano, pode converte-se na má taxonomia, e esta
sim, pode matar.
Referências bibliográficas
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unwanted consequences of Using Bad Taxonomy in Ecology. Ambio
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WOLF, J. B. W.; TAUTZ, D.; TRILLMICH, F. Galápagos and
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Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 12
pet.ufma.br/biologia
Esse mês recebemos da nossa querida Andréia Figueiredo, um relato do seu encontro nos EUA com o ex-petiano, Cássio Faria, doutorando
em Engenharia Mecânica pela Universidade de Michigan. Esse encontro resultou em uma entrevista especial para o Boletim
PETBIO/UFMA. Ele falou um pouco sobre a sua experiência no PET e como esta influenciou na sua história acadêmica e mudou a sua visão
sobre a educação brasileira. Segue abaixo a entrevista:
Andréia: Você poderia falar um pouco sobre você e sobre a sua história acadêmica?
Cássio: Sou natural de Campo Grande - Mato Grosso do Sul. Ingressei na Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de
Ilha Solteira em Agosto de 2004 para cursar Engenharia Mecânica. Em Março de 2005 ingressei no PET. Formei-me em
Dezembro de 2008, dando inicio ao Mestrado em Engenharia Mecânica na mesma instituição em que me graduei. De Fevereiro a
Julho de 2009 realizei um estágio de pesquisa na Virginia Tech (Virginia Polytechnic Institute and State University -
Blacksburg/VA - EUA). Retornei ao Brasil e conclui meu mestrado em Julho de 2010, iniciando o meu doutorado em engenharia
mecânica em Agosto de 2010 pela Virginia Tech e trabalhando como assistente de pesquisa no CIMSS (Center for Intelligent
Material Systems and Structures). Em agosto de 2011, fui convidado para ser pesquisador visitante no departamento de
engenharia aeroespacial da University of Michigan, posição a qual ocupo atualmente.
Andréia: O que motivou você a entrar para o PET?
Cássio: Para ser honesto, quando eu escutei falar do PET, eu não fazia a mínima ideia do que se tratava. Porém, ao anunciarem as vagas
disponíveis, mencionaram a existência de bolsas (se não estou enganado era algo em torno de R$160 - R$180 por mês). Apesar (de em termos
atuais) não ser muito dinheiro, a ideia de que eu poderia me tornar menos dependente dos recursos do meu pai foi muito atrativa e convincente
para que eu participasse do processo seletivo. Lembro-me até hoje do processo seletivo, em especial da dinâmica de grupo, foi o primeiro
momento em que realmente eu comecei a entender a essência do programa.
Andréia: Para você, o que é educação tutorial e qual a importância dela no contexto da universidade brasileira atual?
Cássio: Para compreender a minha visão sobre educação tutorial vou contar uma breve narrativa histórica. Desde as primeiras civilizações
politizadas (mais especificamente na Grécia antiga), o modelo educacional era o tutorial, ou seja, um indivíduo com grande experiência
acumulava, ao seu redor, um conjunto de discípulos para os quais ele tentava transmitir toda a sua sabedoria. Não havia aulas, horários, tarefas e
conteúdos. Enfim, tratava-se de transmitir uma experiência de vida, uma visão de mundo. Esta visão de educação destaca a ideia de que o
conhecimento só é alcançado pelo aluno em si, e que o mestre/tutor é um facilitador deste processo.
Com o advento do capital e o crescimento populacional notou-se rapidamente que este modelo não era adequado para a aplicação em larga escala,
ficando, assim, limitado às poucas figuras no mundo que detinham as condições sócio-financeiras (nobres, clérigo, etc). Com o advento da
revolução industrial, passou a ser necessário um maior nível educacional entre a massa populacional. Desta forma, tomando por inspiração
modelos de disciplina militar, surgiu o modelo de educação vigente atual: com um comandante (professor) e os demais soldados (alunos) -
observaram a hierarquia? Por mais que a comparação com um modelo militar possa parecer ruim, esta estrutura tem suas vantagens, pois além de
ser um sistema mais objetivo e direto, permitiu a aplicação da educação a baixo custo e em larga escala.
Agora, por que eu contei esta narrativa? Pois bem, tendo em vista que hoje as universidades brasileiras baseiam, em grande parte, o seu modelo de
ensino neste método hierárquico, a oportunidade de se vivenciar um modelo de ensino diferente transforma o aluno. Transforma no sentido de
instigá-lo para buscar o conhecimento por si próprio, dá uma nova visão de mundo e expande a fronteira intelectual do indivíduo. E, ao meu ver,
isso é o PET. Esta combinação de dois modelos de ensino que é o PET dentro da universidade pública é uma oportunidade única. Porém, é uma
oportunidade cara! Este elevado custo, delimita a ampla implementação desta ideia e, consequentemente, o tamanho do programa. Para afastar do
PET a abominável ideia de elite dentro da IES passou-se a exigir dos grupos uma maior integração "social", expandindo a abrangência e o impacto
das ações do programa. Em suma, além de proporcionar uma experiência educacional diferenciada aos seus integrantes, o PET também passou a
ter um papel "social" dentro da universidade, preenchendo as lacunas da IES no que se diz respeito à indissociabilidade, multidisciplinaridade,
representação estudantil, extensão, entre outros.
Andréia: Em que aspectos o PET influenciou a sua experiência na graduação no Brasil?
Cássio: Pessoalmente, o PET alterou a minha experiência como aluno de graduação. Ele me permitiu não só ter a experiência de um aluno (aulas,
provas, festas, etc), mas me fez conhecer a fundo os caminhos burocráticos da IES e criar laços políticos/pessoais com professores, técnicos e
administradores da instituição. Estas novas atribuições durante a graduação me ajudaram muito a desenvolver características pessoais, como:
liderança, comunicação, trabalho em grupo, planejamento, entre outros. Ao longo dos meus 4 anos dentro do programa conheci pessoas de todo o
país nos eventos (INTERPET, SPPET, SUDESTPET, ENAPET), fiz grandes amigos, conheci pessoas muito interessantes e com diferentes
histórias de vida. Me diverti muito neste período.
Andréia: O que motivou você a fazer pós-graduação fora do Brasil e como foi essa decisão?
Cássio: O processo de cursar pós-graduação no exterior foi uma decisão um pouco complicada. Ao final da minha graduação, eu tive que escolher
entre um emprego de concurso na Petrobras ou a oportunidade de viajar pelo mundo (e de vez em quando se dedicar a pós-graduação nas horas
vagas). Não foi uma decisão fácil. Ao final de alguns meses, decidi por manter a minha vida como um livro aberto, arrisquei e parti para o estágio
no EUA. Após 4 anos eu posso afirmar que tomei a decisão correta, a pós-graduação me manteve na vida universitária por mais alguns anos, sem
as responsabilidades da vida adulta, e me permitiu amadurecer.
Andréia: Existe algum tipo de programa que trabalhe com algo similar à Educação Tutorial nos Estados Unidos?
Cássio: Uma coisa que gostei muito no modelo de universidade americana foi a atividade dos grupos estudantis. Eles lembraram-me muito da
energia do grupo PET. Visto isso, eu decidi aproximar os dois mundos, trazer o trabalho do PET para junto dos grupos estudantis americanos.
Demos início, no primeiro semestre de 2013, a uma parceria entre o grupo PET-EM de Ilha Solteira e o Pantanal Partnership (um grupo de
estudantes da Universidade de Michigan que realiza um trabalho fantástico no pantanal mato-grossense). A ideia deste projeto é que alunos de
ambos os países interajam tecnicamente (e remotamente) para o desenvolvimento de tecnologias sociais para a realidade pantaneira. Como
subproduto há a integração cultural, também. O projeto não prevê o intercâmbio de alunos (devido a dificuldades burocrático-financeiras), porém
como os alunos americanos já estão indo ao Brasil, a ideia é fazer um encontro entre ambos os grupos no local de implementação do projeto.
O PET-Bio agradece ao Msc. Cássio Faria pela disponibilidade e pela incentivadora entrevista, e também a Andréia
Figueiredo, petiana do PET-Bio, que atualmente é bolsista CAPES, fazendo graduação na Universidade de Michigan,
EUA.
Entrevista Internacional
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 13
pet.ufma.br/biologia
No boletim desse trimestre, a entrevistada foi a Bióloga Laís de Morais Rêgo Silva, Mestre em Biodiversidade e
Conservação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Superintendente de Recursos Hídricos /
Analista Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais – SEMA.
PETBIO: O que é o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH) e quais avanços podem ser obtidos com a sua
implantação?
Laís: O Plano Estadual de Recursos Hídricos é um dos instrumentos de gestão da Política Estadual de Recursos
Hídricos (Lei n° 8.149/04). É um documento norteador para a gestão de recursos hídricos, o qual traz um diagnóstico
de demanda e disponibilidade hídrica do estado, diagnóstico socioeconômico e ambiental, prognósticos de
variabilidade hídrica e cenários para usos futuros da água. Além dos diagnósticos, o Plano contempla diretrizes e
metas para serem implementadas pelo Estado no sentido de garantir água em qualidade e quantidade para a
população. A SEMA (Secretária Estadual do Meio Ambiente) celebrou convênio com o (FNMA) Fundo Nacional de
Meio Ambiente/Ministério do Meio Ambiente (MMA) em janeiro de 2013 para elaboração do Plano Estadual de
Recursos Hídricos do Maranhão. Estamos na fase de licitação da empresa que será responsável pela elaboração do
referido Plano. A perspectiva é de finalizar a elaboração do Plano até dezembro de 2014.
PETBIO: Nesses últimos anos quais foram os outros marcos e avanços da política de gestão de recursos hídricos no estado?
Laís: Desde 2011 houve uma prioridade na gestão de recursos hídricos por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Naturais. Regulamentamos a Lei Estadual com dois decretos, um voltado para a gestão de águas superficiais (n°
27.845/11) e outro para a gestão de águas subterrâneas (n° 28.008/12). Oficializamos a divisão hidrográfica do estado, com um
estudo elaborado pela Universidade Estadual do Maranhão, dividindo o Maranhão em 7 bacias hidrográficas estaduais, 3 bacias
federais e 2 sistemas hidrográficos. Coordenamos o XIII Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, o maior evento de
gestão participativa na área de recursos hídricos. Regulamentamos os critérios para análise e emissão da outorga de direito de uso
da água, tornando esse procedimento mais consistente e ordenado no Estado. Adotamos dois sistemas de informação na área de
recursos hídricos: o Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos, da Agência Nacional de Águas (ANA) e o Sistema de
Informação de Águas Subterrâneas, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Apoiamos a mobilização para a criação dos comitês
das bacias hidrográficas dos rios Munim e Mearim. Articulamos com a Agência Nacional de Águas a elaboração do estudo
hidrogeológico da região metropolitana de São Luís, o qual está sendo construído o termo de referência. Fomos aprovados pelo
MMA para elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos, dentre outras ações como publicação de artigos nos eventos
nacionais e regionais de recursos hídricos. Estamos ainda no começo do processo de gestão das águas, mas sem dúvida, estamos
conseguindo avançar aos poucos dentro das possibilidades do nosso estado.
PETBIO: O que são os Comitês das Bacias Hidrográficas, como funcionam e quais são seus objetivos?
Laís: Os comitês de bacia hidrográfica são entes do Sistema Estadual de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos,
juntamente com a SEMA, o Conselho Estadual (CONERH) e as agências de bacia. São colegiados formados por representantes da
sociedade civil, dos usuários de água e do setor público que tenham ação em uma determinada bacia hidrográfica. Possuem
competência no âmbito de arbitrar por conflito pelo uso da água, aprovar o plano de bacia, propor planos, programas e projetos
visando conservação de recursos hídricos, estabelecer critérios de cobrança pelo uso da água, propor critérios de uso insignificante
da água, dentre outras ações. Pode-se dizer que um dos principais objetivos da criação dos comitês é a descentralização da gestão de
recursos hídricos, tendo o olhar e a participação da comunidade no processo de gestão. O Maranhão está em processo de criação
dos Comitês das Bacias dos rios Munim e Mearim.
PETBIO: Tendo em vista a importância das áreas úmidas para a sociedade e para o meio ambiente, como por exemplo, a
estocagem e limpeza da água, recarga do lençol freático, regulagem do clima local, manutenção da biodiversidade e
regulação dos ciclos biogeoquímicos, quais são as estratégias para conservação e uso racional que estão sendo empregadas
nos três Sítios Ramsar, Zonas Úmidas de importância internacional, aqui no estado do Maranhão?
Laís: Os três Sítios Ramsar localizados no Maranhão são as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) das Reentrâncias e da Baixada
Maranhense e o Parque Estadual Marinho do Parcel de Manoel Luís, três unidades de conservação de gestão estadual. A SEMA tem
fomentado ações para implementar os instrumentos de gestão da política estadual de unidades de conservação, como fiscalização,
conselhos e planos de manejo. Operações de fiscalização têm sido intensificadas nessas áreas, além da mobilização para criar os
conselhos gestores das APAs da Baixada e das Reentrâncias Maranhenses e apresentação de projetos para a Câmara Estadual de
Compensação Ambiental para elaboração dos planos de manejo das duas APAs também.
PETBIO: A ONU definiu 2013 como o ano internacional de cooperação pela água. A SEMA tem algum projeto que visa a
cooperação pela água no Estado do Maranhão?
Laís: Podemos dizer que a elaboração do estudo hidrogeológico da região metropolitana de São Luís e do Plano Estadual de
Recursos Hídricos são projetos que tem como um dos objetivos a cooperação pela água. Sendo o primeiro a ser coordenado pela
Agência Nacional de Águas e o segundo pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA).
Entrevista Nacional
Por: Aline Duarte Nascimento, Gustavo Pereira Lima e José Uilian da Silva
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 14
pet.ufma.br/biologia
PETBIO: Como se encontra a Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru em termos de conservação, uma vez que é deste rio que
provém grande parte do abastecimento da capital do Maranhão?
Laís: A Bacia do Rio Itapecuru corresponde a 16,3% da área do Estado, abrangendo 57 municípios. As nascentes estão localizadas
no interior do arque Estadual do Mirador, em uma área bastante conservada. No entanto, ao longo do percurso dos trechos médio e
baixo do Itapecuru, o rio passa por graus de impactos variados como questões relacionadas a saneamento e urbanização. No
processo de gestão de recursos hídricos, a SEMA priorizou a bacia do Itapecuru para ser contemplada com o Sistema de Apoio a
Decisão a Outorga desenvolvido pela Agência Nacional de Águas. O Sistema auxilia na análise dos processos de outorga, dando
mais consistência na análise técnica.
PETBIO: A Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos é um dos instrumentos de gestão da Política Estadual de
Recursos Hídricos, que oferece aos outorgados direitos e deveres em relação ao uso da água e a SEMA é o órgão público
responsável por liberar e fiscalizar esses pedidos. Sabendo desse pressuposto, quais são os principais pedidos de outorga
para o uso das águas na Ilha de São Luís e em todo Estado?
Laís: As outorgas de direito de uso da água só podem ser concedidas pela Agência Nacional de Águas (rios interestaduais) e pelos
órgãos gestores estaduais de recursos hídricos, no caso do Maranhão, a SEMA. Dentre os anos de 2008 a 2012, fizemos o
levantamento das outorgas emitidas, onde aproximadamente 30% foi concedido para uso de água superficial e 70% para água
subterrânea. Quando aproximamos para a realidade de São Luís, o número de outorgas emitidas para água subterrânea é
aproximadamente 90%. Essa foi uma das grandes justificativas da SEMA junto à Agência Nacional de Águas para a elaboração do
estudo hidrogeológico da região metropolitana de São Luís e também da elaboração de um decreto específico para a gestão de
águas subterrâneas no nosso estado.
PETBIO: A situação das praias da região metropolitana de São Luís e dos cursos
d’água doce que abastecem a cidade estão sendo vistas como um problema de saúde
pública, social e econômica, por conta da contaminação via efluentes, principalmente
esgotos domésticos. Relacionando-se a microrganismos patogênicos, a Escherichia coli é
considerada um indicador de qualidade de água e alimentos. O que a SEMA tem
realizado para fiscalizar os despejos de esgoto diretamente nas praias e rios que
abastecem a região metropolitana de São Luís?
Laís: A SEMA realiza semanalmente o monitoramento da balneabilidade, com coleta feita
pela Vigilância Sanitária Estadual, análise pelo Laboratório Central de Saúde Pública do
Estado (LACEN) e com a SEMA recebendo os dados e emitindo os relatórios de qualidade.
Existem ainda atividades de levantamentos de pontos de poluição e fiscalização, esta última
sendo competência também municipal, tendo em vista o licenciamento de atividades pelo
município de São Luís.
O PET-Bio agradece a Bióloga Laís de Morais Rêgo Silva, Mestre em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e Superintendente de Recursos Hídricos / Analista Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e Recursos Naturais – SEMA, pela disponibilidade e pela entrevista.
II Simpósio Brasileiro de Biologia da
Conservação
Sorocaba- São Paulo
10/07/13 - Quarta-feira
21º Congresso de Biólogos do CRBio-01
Santo- São Paulo
14/07/13 – Domingo
VI Congresso Brasileiro de Herpetologia
Salvador- Bahia
22/07/13 - Segunda-feira
XI Congresso Aberto aos Estudantes de
Biologia (CAEB)
Campinas- São Paulo
22/07/13 - Segunda-feira
Curso de Ecologia e Ecoturismo
Bonito- Mato Grosso do SUL
01/08/13 - Quinta-feira
7º CONGRESSO BRASILEIRO DE
MELHORAMENTO DE PLANTAS
Uberlândia- Minas Gerais
05/08/13 - Segunda-feira
II REFOREST - Simpósio de
Restauração
Viçosa - Minas Gerais
07/08/13 - Quarta-feira
XXVIII Reunião Anual da FeSBE
(Federação de Sociedade de Biologia
Experimental)
Caxambu - Minas Gerais
21/08/13 - Quarta-feira
X Semana da Biologia Marinha e do
Gerenciamento Costeiro
São Vicente - São Paulo
26/08/13 - Segunda-feira
1º Simpósio Brasileiro da Fauna Sobre-
explotada e Ameaçada de Extinção
Porto de Galinhas - Ipojuca –
Pernambuco
28/08/13 - Quarta-feira
Curso Cavalos-Marinhos e seus
Ecossistemas
Ipojuca - Pernambuco
30/08/13 - Sexta-feira
Eventos
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 15
pet.ufma.br/biologia
Nesta edição conversamos com o Professor Doutor Luis Fernando Carvalho Costa, para apresentarmos a
linha de pesquisa desenvolvida por ele: genética da conservação de recursos pesqueiros.
Luis Fernando graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA, onde realizou estudos
relacionados à morfometria de peixes sob a orientação do Prof.Dr. Nivaldo Piorski. Durante o mestrado em Ecologia e Recursos
Naturais na Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR, Luis Fernando teve contato com a utilização de técnicas moleculares
aplicadas à avaliação da variabilidade genética de estoques pesqueiros, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Galetti Jr., que há mais
de 30 anos desenvolve pesquisas na área de Citogenética e Genética Molecular, focando na conservação de populações naturais. Em
2008, Luis Fernando tornou-se professor do campus de Chapadinha da UFMA, onde trabalhou até o ano de 2013, quando foi
aprovado em concurso para a área de Ecologia, no departamento de Biologia (campus Bacanga/ São Luís). Atualmente ministra a
disciplina de Biologia da Conservação para os alunos do curso de Ciências Biológicas do campus sede. Também compõe a equipe
de pesquisadores do laboratório de Genética e Biologia Molecular (LabGeM) da UFMA, coordenado pela Profa. Dr
a. Silma Regina
Pereira.
A Linha de pesquisa voltada para a genética da conservação surgiu a partir da problemática da diminuição de estoques
pesqueiros no mundo. Segundo o professor, técnicas moleculares podem ser usadas para avaliar os níveis de diversidade genética de
populações e, posteriormente, essas informações podem subsidiar medidas de manejo e conservação desses recursos. Atualmente, o
Prof. Luis Fernando desenvolve pesquisas com peixes de ambientes dulcícolas, tendo como foco a conservação, mas também tem
interesse em estudos de relações evolutivas e sistemática molecular nesse grupo de organismos aquáticos. O professor explica que
seu trabalho ajuda a revelar grupos populacionais geneticamente diferenciados dentro e entre bacias hidrográficas, que podem
merecer medidas de conservação mais específicas. Essas divergências genéticas podem estar associadas a adaptações locais que
devem ser alvo de projetos de conservação dessas espécies. Para identificar esses grupos geneticamente diferentes são usados
marcadores moleculares, a fim de amostrar regiões do genoma nuclear e/ou mitocondrial que irão ajudar a ter uma perspectiva do
comportamento do resto do genoma quanto aos níveis de variação genética presentes. A variação genética é a matéria prima da
evolução, sendo, por isso, importante para a manutenção das espécies, e também para o melhoramento genético de espécies
domesticadas.
Por intermédio do Prof. Dr. Luis Fernando, diversos trabalhos com ênfase na análise genética de peixes foram realizados no
Maranhão. Entre as localidades amostradas, destacam-se os rios: Munim, Pindaré, Parnaíba, Itapecuru, Mearim, Gurupi e
Tocantins. Vale ressaltar que tais estudos não evidenciam apenas a diversidade genética, mas também podem elucidar problemas
taxonômicos e ajudar a criar estratégias de manejo. Os marcadores moleculares mais usados em suas pesquisas são os
microssatélites – quando o alvo do estudo são populações espacialmente desconectadas – e regiões do DNA mitocondrial – quando
o interesse evolve o estudo de filogenias. As amostras, de onde o DNA é isolado, podem ser de origem tanto invasiva, como
fragmentos de tecidos ou sangue; quanto não invasiva, como fezes, escamas, etc.
Em relação às parcerias nos projetos de pesquisa, o Prof. Dr. Luis Fernando destaca a Universidade Estadual do Maranhão -
Campus Caxias, onde possui estreita colaboração com os professores Elmari Fraga e Claudene Barros, que possuem em seu
laboratório o sequenciador de DNA mais moderno do Maranhão. Além disso, o professor conta com a colaboração do professor
Pedro Galetti da UFSCAR, com quem desenvolve um grande projeto de Ecologia e Genética de peixes predadores de rios do
Maranhão, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Rede Sisbiota). Neste
projeto, são realizados estudos genéticos, morfológicos e ecológicos – por meio da dieta – com quatro espécies de peixes (traíra,
piranha vermelha, peixe cachorro e sardinha-gata) nos rios Tocantins, Pindaré e Gurupi, de modo a demonstrar a singularidade
evolutiva dessas populações e seu status taxonômico e de conservação.
Atualmente, treze alunos desenvolvem pesquisas na área de genética da conservação de peixes com o professor, entre eles dois
alunos de iniciação científica e um mestrando em Ciência Animal da UFMA, campus Chapadinha. Os demais alunos realizam
trabalhos de conclusão de curso ou estágio de bacharelado. Quanto às perspectivas futuras, o professor Luis Fernando espera um
aumento no número de alunos interessados em atuar na área de Genética da Conservação, não só com pesquisas relacionadas a
peixes, mas também envolvendo outros grupos de organismos. Projetos de extensão relacionados ao tema estão ainda em
preparação pelo professor.
Os interessados em conhecer mais sobre esses trabalhos podem entrar em contato com o Professor Luis Fernando Carvalho
Costa, no laboratório de Genética do departamento de Biologia/UFMA.
Linha de Pesquisa
“A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca penetrar completamente
com o nosso saber e a nossa ciência” Autor: Goethe
Frase
Por: Elias da Costa Araujo Jr & Luciana Soares Lima
Boletim do PET nº 24 Julho/2013 p. 16
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Ano 07, n. 24, Julho/2013
ISSN: 2237-6372
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