Editorial

A importância da comunicação social local

O mundo globalizado em que hoje vivemos e que nos inunda com informação de todos os quadrantes, faz com que a nossa escala de pequeno concelho do interior do Alentejo pareça demasiado reduzida para poder ser notícia. A não ser que aqui exista uma morte violenta ou algo que traga algum tipo de tragédia, com muita dificuldade poderíamos ser notícia em qualquer órgão de comunicação social de relevo. Existem algumas exceções, ainda numa das últimas edições do jornal Expresso, Montemor-o-Novo foi notícia e pela positiva, mas, como se disse, essas são as exceções. É por isso que a imprensa regional pode e deve fazer a diferença e estabelecer esta ponte entre o local e o nacional de modo a relatar o que se passa nos concelhos que estão fora do âmbito dos grandes órgãos de comunicação social. A imprensa regional pode fazer um jornalismo de proximidade que mais ninguém pode colocar no terreno. E isso é algo importante para a vida em sociedade nas comunidades pequenas, porque é através deste veículo que se pode debater o que aqui se passa. Esta imprensa regional tanto se pode assumir através do papel impresso, como da voz que circula nas ondas rádio. Para além do debate sobre as questões que interessam a uma determinada comunidade, a imprensa regional no interior do país é vista muitas vezes como um exercício de cidadania, onde os munícipes podem dar a conhecer as suas ideias para a resolução dos problemas do dia a dia. Mesmo o debate político assume na imprensa regional uma característica mais relevante e de uma maior proximidade com os eleitores, ao ser debatido nas rádios e nos jornais locais. A utilização da imprensa local independente, como um exercício de cidadania onde se pode criticar o poder instalado, ganha força através dos órgãos de comunicação social, mas para que isso aconteça é necessário que exista vontade da população em fazer ouvir a sua voz, em querer

dizer de sua justiça, em querer participar no desenvolvimento da sua sociedade, em querer fazer parte das soluções para resolver os problema existentes. O concelho de Montemor-o-Novo teve uma rádio a emitir durante quase três décadas, com maior ou menor audiência, que permitiu uma proximidade entres as pessoas e uma relação entre quem ouve e quem faz a rádio, situação que a partir de agora se pode vir a alterar, com a passagem do controlo da emissão para Elvas. Se, por um lado, a RNA necessitava de uma mudança, a chegada de uma nova gerência pode ser vista como uma oportunidade, caso seja possível manter essa caraterística de proximidade de que vive a imprensa local. Por outro lado, essa não vai ser uma tarefa fácil devido à inexistência de contactos fortes entre a nova gerência e a comunidade local. É certo que os contactos fazem-se contactando, estabelecendo ligações, dando e recebendo, por isso, pode ser apenas uma questão de tempo até que as coisas voltem a um estado de normalidade. “O que estamos aqui a defender é a necessidade de existir nestas comunidades regionais e locais que centram a sua acção conjunta no desenvolvimento, uma opinião pública crítica, uma massa crítica participativa; ora tal discussão racional colectiva só é possível pela intermediação dos meios de comunicação social se estes forem cúmplices desse pacto de proximidade”1. Mas no fundo, e apesar da incerteza quando ao futuro, a RNA poderá voltar a ser uma rádio de proximidade que serve o concelho de Montemor, com trabalho e com vontade de participar no desenvolvimento deste concelho.

A.M. Santos Nabo Junho 2012

1 COELHO, Pedro ‘A TV de Proximidade’, Lisboa, Livros Horizonte, 2005