A Importância Da Visualização No Ensino Da Geometria Plana e Espacial

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 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA CRISTIANE DE OLIVEIRA SANTOS A IMPORTÂNCIA DA VISUALIZAÇÃO NO ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL JUSSARA-GO 2009

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A importância da visualização no ensino da geometria plana e espacial

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE JUSSARA

    LICENCIATURA EM MATEMTICA

    CRISTIANE DE OLIVEIRA SANTOS

    A IMPORTNCIA DA VISUALIZAO NO ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E

    ESPACIAL

    JUSSARA-GO

    2009

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    Cristiane de Oliveira Santos

    A IMPORTNCIA DA VISUALIZAO NO ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E

    ESPACIAL

    Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em

    Matemtica, da Universidade Estadual de Gois,

    Unidade Universitria de Jussara, como requisito parcial

    para a obteno do ttulo de Licenciado em Matemtica,

    sob orientao da professora Ms. Stela Mares Corra.

    JUSSARA-GO

    2009

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, por ter dado fora e coragem para superar as

    dificuldades encontradas no caminho.

    A minha famlia, pelo apoio incondicional em todos os momentos de realizao deste

    trabalho.

    A todos que me acolheram em suas casas e se esforaram comigo para conquistar mais

    uma vitria.

  • 5

    A Geometria faz com que possamos adquirir o hbito de raciocinar, e

    esse hbito pode ser empregado, ento, na pesquisa da verdade e

    ajudar-nos na vida.

    Jacques Bernoulli

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    RESUMO

    O referido trabalho constitui uma breve investigao destinada a mostrar a importncia da

    visualizao no processo de ensino-aprendizagem da Geometria Plana e Espacial,

    compreendendo sua importncia como contedos essenciais da Matemtica por suas inmeras

    possibilidades de aplicao nas diversas reas do conhecimento e no cotidiano. Busca-se por

    meio deste refletir o papel da visualizao no desenvolvimento do pensamento geomtrico.

    Embasado nas pesquisas, prope-se demonstrar que a visualizao torna-se uma ferramenta

    importantssima para ampliar as capacidades intuitivas de percepo e representao, e

    contribui para a soluo de problemas matemticos e de outras naturezas. Relata-se no

    presente trabalho como se d o desenvolvimento da geometria como cincia do espao e

    estrutura lgica. Para discutir seu ensino, necessita-se conhecer como se estrutura no currculo

    escolar e quais seus objetivos quanto formao dos alunos. Enfatiza-se as etapas de

    construo do conhecimento matemtico e os processos de formao das capacidades

    espaciais com enfoques tericos de Gardner e Piaget, alm de retratar a visualizao como

    habilidade a ser desenvolvida e como recurso a ser utilizado. Finalmente, a pesquisa permite

    conceber a Geometria Plana e Espacial como instrumento de leitura do mundo e a

    visualizao como meio fundamental para a construo do saber geomtrico, visando produzir

    conhecimento real e significativo que colabore para o avano cientfico, tecnolgico e social

    da Matemtica.

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    SUMRIO

    INTRODUO 8

    CAPTULO 1 A GEOMETRIA COMO CINCIA DAS FORMAS E DO ESPAO E

    COMO ESTRUTURA LGICA 10

    1.1 Um pouco de Histria 10

    1.2 Consideraes sobre o ensino da Geometria Plana e Espacial 13

    1.3 A construo do espao e das relaes espaciais segundo Piaget 15

    1.4 Do concreto ao abstrato 16

    CAPTULO 2 A VISUALIZAO COMO FERRAMENTA PARA O

    DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMTRICO 19

    2.1 A construo do pensamento geomtrico 19

    2.2 Da visualizao representao 21

    2.3 O desenvolvimento da inteligncia espacial 27

    2.4 Educao visual 31

    CAPTULO 3 O ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL PELA

    VISUALIZAO, ATRAVS DA EXPLORAO DO ESPAO FSICO E

    RESOLUO DE PROBLEMAS 33

    3.1 Visualizando a Geometria Plana e Espacial nas Criaes Humanas e da Natureza 33

    3.2 Os recursos visuais no ensino da Geometria Plana e Espacial 35

    3.3 A importncia da visualizao na resoluo de problemas 39

    CONSIDERAES FINAIS 42

    BIBLIOGRAFIAS 43

    ANEXO 45

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    INTRODUO

    O presente trabalho se origina da preocupao com o ensino da Geometria Plana e

    Espacial. Experincias pessoais e vivncias escolares revelam uma desmotivao na

    aprendizagem da Geometria associada s dificuldades na compreenso de conceitos,

    demonstraes e aplicaes do referido contedo. Analisando opinies de alunos, demonstram

    que o ensino da Geometria tem se apresentado rigorosamente abstrato, com transmisso de

    regras e memorizao de frmulas atravs de intensivos exerccios tcnicos.

    Diante desse cenrio, o objetivo deste trabalho proporcionar uma reflexo sobre a

    importncia de se promover um ensino dinmico que leve em considerao as necessidades

    de aprendizagem dos alunos, ajudando-os a compreender o espao que os cercam e utilizar o

    conhecimento geomtrico e matemtico em benefcio das demandas cotidianas.

    Tem-se como propsito e diretriz bsica deste, compreender a importncia exercida

    pela visualizao na construo do pensamento geomtrico e refletir seu papel na formao de

    sujeitos ativos e crticos, capazes de atuar de forma participativa no processo de ensino-

    aprendizagem.

    H muito tempo se reconhece que a matemtica de imensa importncia na vida,

    porm, pouco se explica sobre quando us-la e como, em quais situaes sero teis e de que

    forma essa tem contribudo para o desenvolvimento da humanidade. Por isso faz-se

    importante conhecer sua histria e evoluo, os caminhos tomados por ela ao longo dos

    tempos, de quais necessidades emergiu e quais seus objetivos de ensino.

    O desenvolvimento do tema A importncia da visualizao no ensino da Geometria

    Plana e Espacial apresentado em trs captulos. Utilizamos a pesquisa bibliogrfica tendo

    como referenciais maiores, Fainguelernt (1999), Gardner (1994), PCNs (1997) e Polya

    (1995).

    O primeiro captulo, recorre a histria da Geometria para verificar que todo

    conhecimento parte de uma necessidade e vai se transformando de acordo com as exigncias

    da mesma. Relata-se neste, como a Geometria se organizou com o sistema lgico, partindo da

    explorao de formas no espao e direcionando para o domnio de operaes mentais,

    formalizao de ideias, fase de rigor matemtico na validao de proposies, conhecido

    como processo de abstrao. O referido captulo aborda questes relacionadas s propostas

  • 9

    curriculares do ensino da Geometria Plana e Espacial para os dias atuais. Trata-se ainda de

    analisar de que maneira a visualizao auxilia no desenvolvimento mental dos indivduos.

    No captulo dois, lanamos o olhar para as relaes entre visualizao e

    desenvolvimento do pensamento geomtrico. Comenta-se sobre o processo em que o aluno,

    pelo domnio de imagens visuais, torna-se capaz de representar mental e materialmente o

    espao que o cerca. Ainda no mesmo, discute-se como se desenvolve a inteligncia espacial e

    reflete-se sobre as informaes visuais, acreditando ser necessrio educar nossos sentidos

    perceptivos para se construir as capacidades espaciais.

    Reconhecendo que uma das grandes dificuldades dos alunos em relao Geometria

    est na falta de conexo do seu ensino com a realidade, o terceiro captulo aborda meios de

    visualizar a presena da Geometria Plana e espacial no cotidiano. Tem-se como proposta

    deste, compreender a importncia dos recursos visuais no processo de ensino-aprendizagem e

    nas aplicaes geomtricas, bem como entender a visualizao como instrumento valioso para

    resolver problemas.

    Este trabalho permite um mergulho no mundo geomtrico e nos processos de

    visualizao que levam o aluno ao conhecimento e representao do espao. A importncia de

    se discutir a visualizao est no fato do grande nmero de habilidades que esta desenvolve

    nos indivduos e os processos cognitivos que ela envolve. Compreender sua utilizao na

    Geometria Plana e Espacial e sua relevncia para a aprendizagem e construo de

    competncias espaciais individuais o que fomenta nossa pesquisa.

  • 10

    CAPTULO 1 A GEOMETRIA COMO CINCIA DAS FORMAS E DO ESPAO E

    COMO ESTRUTURA LGICA

    Na maior parte das cincias, uma gerao pe abaixo o que a outra

    construiu, e o que a outra estabeleceu a outra desfaz. Somente na

    Matemtica que cada gerao constri um novo andar sobre a

    antiga estrutura.

    Hermann Hankel

    Ao longo deste trabalho estaremos analisando as questes matemticas que envolvem

    a Geometria, que no incio de sua histria revelava-se como uma cincia puramente

    experimental, e que a partir da utilizao do mtodo dedutivo comea a ser considerada um

    sistema lgico. Buscaremos perceber como o seu ensino est estruturado em nossos dias

    atuais e como se constri as relaes espaciais nos alunos. Alm disso, retrataremos como

    acontece a passagem do espao concreto para o abstrato. So em torno de problemticas como

    estas que desenvolveremos nossa discusso em cima do assunto proposto que o da

    Geometria em duas temticas, a Plana e a Espacial.

    1.1 Um pouco de Histria

    H dvidas quanto a origem da geometria, mas sabe-se que esta tem razes muito

    antigas. Indcios histricos apontam para o nascimento da Geometria como forma de

    satisfazer as necessidades humanas e solucionar problemas prticos. De acordo com o

    Dicionrio Enciclopdico (2008), desde 2000 anos a. C os babilnios j utilizavam a

    Geometria como forma de demarcar territrios. Aproximadamente 1300 anos a. C os egpcios

    tambm empregavam a Geometria para medir terrenos e em suas edificaes. Na Grcia

    estava ligada a medir terra, o que explica a origem da palavra criada pelos gregos; Geo

    significa terra e metria significa medida.

    Com base no Dicionrio Enciclopdico (do site somatematica), observamos que a

    Geometria utilizada era rudimentar e prtica. Ela consistia em utilizar-se de conhecimentos

    sobre o espao para solucionar problemas prticos, tais como construir moradias, tecer,

    confeccionar vasos e potes, alm de tecidos e cestas. Segundo Boyer (1996), estas formas de

    construir objetos demonstrava que j se utilizava a congruncia e a simetria.

    Segundo Boyer (1996), os documentos histricos revelam que os egpcios antigos j

    calculavam reas geomtricas. Para a comprovao disso ele afirma que h exemplos de

    tringulos, trapzios retngulos e quadrilteros gerais. De acordo com o mesmo autor, as

  • 11

    pessoas calculavam a rea de quadrilteros fazendo o produto das medidas aritmticas de seus

    lados opostos. Baseando em situaes geomtricas particulares, os indivduos buscavam

    solues gerais que pudessem resolver todos os problemas de origens semelhantes. O

    procedimento utilizado era o que hoje chamamos de mtodo indutivo.

    Para alguns historiadores, essa Geometria era considerada um reflexo das observaes

    e experincias feitas pelo homem, consistindo na observao do espao e de formas e

    realizao de medidas. Embora de grande importncia e valor, os conhecimentos geomtricos

    no apresentavam consistncia cientfica. Os fundamentos eram de natureza experimental,

    sem base em princpios matemticos. Dessa forma a Geometria se apresentava com noes

    geomtricas construdas intuitivamente e desconexas, sem organizao lgica.

    Pela necessidade de calcular reas, havia uma busca por uma construo de modelos

    que expressem a necessidade de validar determinadas propriedades. As propriedades

    geomtricas aceitas com base na experincia, de maneira intuitiva, j no eram suficientes

    para solucionar seus problemas, o que levou o homem a buscar um mtodo que provasse e

    demonstrasse as propriedades por meio de raciocnios matemticos lgicos e coerentes.

    Para Boyer (1996), os primeiros a utilizarem o mtodo dedutivo, foram os gregos

    Tales de Mileto e Pitgoras de Samos que deram uma nova forma ou maneira de interpretar a

    Geometria. De acordo com o mesmo autor, se atribui a Tales os teoremas de que, o dimetro

    a bissetriz de um crculo, em um tringulo issceles os ngulos da base so iguais, na

    interceptao de duas retas os ngulos opostos formados so iguais e por fim, dois tringulos

    so congruentes se dois ngulos e o lado comum aos ngulos de ambos so iguais.

    Pitgoras atribudo o teorema do tringulo retngulo, hoje enunciado, no tringulo

    retngulo o quadrado da hipotenusa igual soma dos quadrados dos catetos. De acordo com

    escrituras antigas, os pitagricos (discpulos de Pitgoras) conheciam alguns dos poliedros

    regulares; o tetraedro, o cubo e o dodecaedro.

    Como smbolo da escola pitagrica, o pentagrama ou pentgono estrelado

    considerado de grande especialidade. Partindo de um polgono retangular de cinco lados e

    traando as cinco diagonais, a interceptao das diagonais formam um outro pentgono

    proporcional ao primeiro (ver anexo 1).

    Outro personagem importante na Geometria Plato. Atribui-se a ele a descoberta dos

    poliedros regulares, que por tal motivo, tambm so conhecidos como poliedros de Plato.

    Embora Tales e Pitgoras sejam considerados os pioneiros do raciocnio dedutivo, a maioria

    dos historiadores afirmam que foi com o matemtico grego Euclides, por volta de 300 anos a.

    C que se deu a sistematizao e ordenao lgica dos conhecimentos geomtricos da poca,

  • 12

    contribuindo para o desenvolvimento da Geometria. Por meio de sua obra Os elementos que

    reunia treze livros dos quais nove so tratados da Geometria Plana e Espacial, conhecemos os

    postulados e axiomas de Euclides, que faz parte do ensino at os dias atuais.

    A seguir, apontaremos os cinco postulados e os cinco axiomas de Euclides segundo

    Boyer (1996). Mas antes, vale lembrar que postulados e axiomas so afirmaes aceitas como

    verdade que no necessitam de prova ou demonstrao.

    Postulados so:

    1. Traar uma reta de qualquer ponto a qualquer ponto;

    1. Prolongar uma reta finita continuamente em uma linha reta;

    2. Descrever um crculo com qualquer centro e qualquer raio;

    3. Que todos os ngulos retos so iguais;

    4. Que se uma reta cortando duas retas faz os ngulos interiores de um

    mesmo lado menores que dois ngulos retos, as retas, se prolongadas

    indefinidamente, se encontram desse lado em que os ngulos so menores

    que dois ngulos retos.

    Axiomas so:

    1. Coisas que so iguais a uma mesma coisa, tambm so iguais entre si;

    2. Se iguais so somados a iguais, os totais so iguais;

    3. Se iguais so subtrados de iguais, os restos so iguais;

    4. Coisas que coincidem uma com a outra so iguais uma a outra;

    5. O todo maior que a parte (Boyer, 1996, p. 73).

    De acordo com os matemticos se atribui a Euclides os teoremas de congruncia de

    retngulos, construes simples com rgua e compasso, desigualdades relativas a ngulos e

    lados de tringulos, propriedades das retas paralelas e teoremas sobre paralelogramos.

    Segundo Boyer (1996), Os elementos de Euclides apresentam proposies da Geometria

    Espacial. H definies de slidos regulares, medidas de figuras, provas do volume de

    pirmides, cones, cilindros e esferas. Euclides prova que no pode haver outros poliedros

    regulares alm do tetraedro, octaedro, hexaedro, icosaedro e dodecaedro.

    A obra referida considerada como o livro da organizao lgica geomtrica e seu

    autor um dos grandes precursores da sistematizao dos conhecimentos geomtricos e

    matemticos tornando seus teoremas vlidos at hoje. Portanto, a Geometria parte de estudos

    da observao de formas e do espao e se completa como estrutura lgica, com princpios

    matemticos norteadores.

  • 13

    1.2 Consideraes sobre o ensino da Geometria Plana e Espacial

    A Geometria conceituada como Cincia que investiga o espao, as formas que pode

    conter e as propriedades dessas formas. Como parte da matemtica, estuda as propriedades,

    medidas e relaes de pontos, linhas, ngulos, superfcies e slidos. A Geometria Plana a

    rea que estuda as representaes em superfcies planas, sem espessuras, geralmente formas

    em duas dimenses, enquanto a Geometria Espacial se encarrega dos slidos e formas

    tridimensionais.

    Caracterizando-se como alguns dos contedos essenciais da Matemtica, a Geometria

    Plana e Espacial vista como naturalmente interessante para os alunos, por ser de fcil

    visualizao sua aplicabilidade nas diversas reas do conhecimento e no cotidiano.

    Compreendendo sua importncia, faz-se necessrio refletir como se estrutura seu ensino e

    quais os objetivos da matemtica nesta rea. Sintetizaremos alguns dos contedos que so

    trabalhados pela Geometria Plana e Espacial e em seguida seus respectivos objetivos, segundo

    os Parmetros Curriculares Nacionais.

    1. Geometria Plana:

    Semelhanas e diferenas em Polgonos;

    Representaes no Plano;

    Congruncia e representaes de figuras;

    Simetria;

    ngulos;

    reas de polgonos.

    2. Geometria Espacial:

    Poliedros;

    Slidos redondos;

    Interseo, paralelismo e perpendicularismo;

    Inscrio e circunscrio de slidos.

    Espera-se que o ensino destes contedos leve o aluno a dimensionar espaos,

    percebendo relaes de tamanho e forma; observar e reconhecer formas geomtricas em

    elementos naturais e criaes humanas; identificar formas bi e tridimensionais em situaes

    descritivas orais, construes e representaes; identificar, representar e utilizar o

    conhecimento geomtrico para leitura, compreenso e ao sobre a realidade.

  • 14

    Os objetivos descritos revelam que o ensino da Geometria Plana e Espacial tem como

    um de seus focos auxiliar o aluno a reconhecer, compreender e representar o espao que o

    cerca e suas formas. Assim, parte do conhecimento se d pela percepo do espao que para

    Fainguelernt (1999) est na capacidade de reconhecimento, discriminao e interpretao de

    estmulos no espao partindo do mesmo.

    De acordo com os PCNs (1997), o ensino da geometria pode levar o aluno a

    estabelecer relaes entre a Matemtica e outras reas, se partir da explorao de objetos do

    mundo fsico, como obras de artes, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato. Desse modo

    sugere dinamizar e utilizar a criatividade no seu processo de ensino, propondo atividades com

    dobraduras, modelagem de formas em argila ou massa, construo de maquetes entre outras.

    Os PCNs ainda destacam a importncia de atividades de visualizao de formas geomtricas

    na natureza e nas criaes humanas.

    Uma das possibilidades mais fascinantes do ensino da Geometria consiste

    em levar o aluno a perceber e valorizar sua presena em elementos da

    natureza e em criaes do homem. Isso pode ocorrer por meio de atividades

    em que ele possa explorar formas como as de flores, elementos marinhos,

    casa de abelha, teias de aranha, ou formas em obras de arte, esculturas,

    pinturas, arquitetura, ou ainda em desenhos feitos em tecidos, vasos, papeis

    decorativos, mosaicos, pisos, etc. (PCNs, 1997, p. 128).

    O desenvolvimento de tais atividades possibilita ao aluno compreender o significado e

    a utilidade da Geometria Plana e Espacial, assim como estimula a curiosidade, o domnio da

    imaginao e favorece a potencializao da criatividade. Para Luckesi (1994), o conhecimento

    adquirido na escola, s significativo e real para os alunos, se for assimilado pela

    compreenso, exercitao e utilizao criativa. provvel, que parte das frustraes no

    aprendizado da Geometria, esteja no fato de que muitas vezes o ensino desta se reduz a meros

    formalismos com excessivas regras e frmulas, sem compreenso de conceitos e

    demonstraes e s vezes sem sintonia com a realidade.

    Sabendo que um dos objetivos do ensino da Geometria oferecer condies para que

    o aluno leia e interprete o mundo, faz-se til refletir se o ensino da Geometria Plana e

    Espacial tem possibilitado concretizar tal objetivo. Que condies de leitura e interpretao

    esto sendo propiciadas e que tipo de leitura tem sido feita? Que tipo de leitores esto sendo

    formados?

    Vale ressaltar que uma das metas maiores da educao formar cidados conscientes,

    crticos e ativos que sejam capazes de atuar sobre a realidade e se preciso, modific-la. Sendo

    assim, o que se espera do ensino da Geometria Plana e Espacial que contribua para essa

  • 15

    meta, de modo que, no processo de ensino aprendizagem, o aluno se sinta responsvel pelo

    seu conhecimento, participando ativamente do saber matemtico.

    Cabe ao professor, buscar metodologias que colabore para a potencializao das

    capacidades criativas de seus alunos, explorando conceitos e propriedades da Geometria Plana

    e Espacial, bem como exerccios de visualizao e percepo do espao, visando dar

    significncia ao estudo da mesma, promovendo-lhes a oportunidade de compreender sua

    utilidade no cotidiano, na matemtica e em outras cincias.

    1.3 A construo do espao e das relaes espaciais segundo Piaget

    Para compreender como se d a percepo do espao e como organizada as relaes

    espaciais na mente do indivduo, partimos da teoria de Piaget, visando entender de que forma

    construdo o conhecimento geomtrico. De acordo com sua teoria, a criana descobre e

    compreende o mundo por meio do contato visual e fsico com os objetos. A priori, sua

    orientao espacial tem apenas seu prprio corpo como referencial. Mais tarde, adquire

    conscincia do espao e dos movimentos de seu corpo e desenvolve a capacidade de deslocar-

    se mentalmente, tendo as primeiras noes de coordenao espacial.

    Durante algum tempo, os objetos so percebidos pela criana apenas pelo contato

    direto com estes, isto significa que, ao serem retirados do campo visual e real da criana,

    como se os objetos deixassem de existir. Assim, a percepo do espao est estritamente

    ligado ao que a criana pode ver e tocar. Gardner (1994) considera crucial para o

    desenvolvimento mental, a fase em que, segundo Piaget a criana capaz de reconhecer a

    permanncia da existncia dos objetos, mesmo quando fora do alcance de suas vistas.

    Uma vez que a criana reconhea a permanncia dos objetos ela pode pensar

    neles e referir-se a eles mesmo em sua ausncia. Ela tambm torna-se capaz

    de reconhecer as similaridades entre determinados objetos por exemplo o fato de que todas as xcaras (apesar de diferenas em tamanho e cor)

    pertencem a mesma classe (GARDNER, 1994, p.101).

    Partindo da manipulao de objetos do espao fsico, a criana atribui-lhes

    caractersticas que posteriormente lhe possibilitar visualiz-los mentalmente. Aps construir

    imagens mentais, a criana, atravs de um processo de interiorizao de suas aes, pode

    representar seu espao, dando significado aos objetos por meio de palavras, gestos e

  • 16

    desenhos.

    Fainguelernt (1999) constata que na teoria de Piaget sobre a concepo do espao e da

    Geometria, o desenvolvimento da representao descrito como a imagem mental do espao

    real em que a criana atua. E de acordo com Gardner (1994), Piaget considera como estgio

    final do desenvolvimento, a fase em que a criana, agora adolescente, consegue raciocinar

    logicamente sobre suas aes e representaes e realizar operaes formais, como calcular a

    veracidade de proposies e resolver problemas, considerando assim que o pensamento

    lgico-racional produz o conhecimento cientfico. Nesta fase, possvel substituir os objetos

    concretos por smbolos e operar atravs destes.

    Afirma-se, assim, que a construo do espao e das relaes espaciais ocorre de modo

    gradual. Num primeiro instante, por meio dos sentidos e movimentos, seguidos da explorao

    e manipulao de objetos, a descoberta de conceitos e propriedades que permitem classificar

    as imagens reais e, em sequncia, visualizar estas mentalmente, oferecendo condies de

    representar o espao e, por fim, pelo raciocnio lgico formal e reflexo das imagens visuais e

    representaes mentais. H assim, a passagem de um espao para outro, do espao perceptivo

    para o de representao.

    1.4 Do concreto ao abstrato

    J possvel perceber at aqui, que a Geometria se constitui a partir do mundo fsico,

    de aes sobre objetos e caminha para o domnio de operaes mentais. Fora admitida a

    existncia de dois espaos, concreto e abstrato. Por convenincia do estudo usar-se- as

    seguintes definies; o concreto refere-se ao que existe materialmente, algo palpvel,

    claramente definido, perceptvel pelos sentidos. E o abstrato designa o que se baseia em ideias

    ou princpios gerais, e no em exemplos ou fatos reais, que existe como uma ideia ou difcil

    de entender.

    No ensino da Matemtica h uma estreita relao em observar o mundo real e sua

    representao e fazer ligao destas com os princpios e conceitos matemticos. Segundo os

    PCNs (1997), os conceitos e resultados da matemtica tem origem no mundo real e permitem

    aplicaes em diversas situaes prticas do cotidiano. A abstrao aparece ao tratar relaes

    quantitativas e de formas espaciais, e o matemtico utiliza apenas raciocnios e clculos para

  • 17

    demonstrar suas afirmaes.

    Pode-se ento perguntar, se o ensino da Geometria Plana e Espacial deve iniciar com a

    explorao de formas e materiais concretos, como aprender a raciocinar abstratamente?

    Ressaltamos que pensar de forma abstrata faz parte de um processo.

    Inicialmente, o ambiente geomtrico possibilita ao aprendiz desenvolver

    suas impresses sobre a estrutura matemtica, necessitando basear-se em um

    ambiente real para interagir. J em um estgio mais avanado, esse ambiente

    geomtrico adquire um significado mais amplo, no precisando de um

    ambiente real (concreto) que o fundamente. O aprendiz j compreendeu e

    produziu um significado que, partindo de um nmero reduzido de axiomas,

    postulados e definies, pode constituir, por via dedutiva, um conjunto de

    apropriaes geomtricas (Fainguelernt, 1999, p. 51).

    Embora parea uma capacidade inata do ser humano o desenvolvimento do raciocnio

    lgico e a passagem de um espao ao outro, tais competncias devem ser potencializadas,

    permitindo melhor aprendizagem. De acordo com Teixeira (2009), h um abismo entre a

    matemtica intuitiva e a simblica, resultado do carter abstrato do ensino. Segundo a mesma,

    na maioria das vezes a matemtica parte do abstrato, e no de situaes concretas, o que causa

    um descompasso, pois esta habilidade (abstrao) no ser de fcil visualizao para aplic-la

    na vida diria, que normalmente exigem solues prticas e imediatas para problemas.

    comum, encontrar alunos que no gostem da matemtica, porque no entendem suas

    frmulas, no sabem quando us-las e o porqu de seu uso. A abstrao utilizada

    precocemente pode, de certa forma, assustar os alunos, dificultando o processo de

    aprendizagem e interferindo no crescimento intelectual dos mesmos. Polya (1995) sugere que

    o professor, para o desenvolvimento do pensamento abstrato, faa seus alunos aprenderem a

    demonstrar, testando, provando, formulando e interpretando. Torna-se necessrio incentivar os

    alunos a fazer suposies e, posteriormente, construir a prova. Na resoluo de problemas,

    aconselha-se a dar nfase nos aspectos instrutivos da soluo, levando o aprendiz a encontrar

    solues gerais, a elaborar regras, o que de algum modo requer o domnio de conceitos

    bsicos da Geometria.

    De acordo com Mori e Onaga (2002) a resoluo de problemas auxilia as construes

    geomtricas e exigem no ensino da Geometria o uso de instrumentos como rgua, esquadro e

    compasso, alm da habilidade de lidar com operaes. Para estas o ensino da Geometria deve

    se iniciar empiricamente por medidas, experimentos e anlises intuitivas at chegar ao

    trabalho de abstrao, fase que pede um maior rigor na formalizao de conceitos e o uso do

    raciocnio lgico dedutivo.

  • 18

    Considerando a abstrao como a parte da matemtica que soluciona problemas

    baseando-se em princpios gerais e operaes mentais sem o auxlio de meios concretos,

    pode-se dizer que a mesma torna-se um dos mais altos nveis do saber matemtico a ser

    alcanado. Gradativamente, o saber geomtrico vai sendo construdo. O raciocnio lgico a

    principal ferramenta para que o aluno realize a passagem do concreto para o abstrato.

    Apossemo-nos ento das palavras de Kant: Todo conhecimento humano comea com

    intuies, passa a conceitos e termina com ideias (apud. Boyer, 1996, p.).

    Ressalta-se assim, em concorde com Fainguelernt (1999), que o ensino da Geometria

    deve partir da percepo e intuio de dados concretos e experimentais, explorando os

    conceitos, representaes e aplicaes, desenvolvendo o raciocnio lgico, para chegar ao

    processo de abstrao.

  • 19

    CAPTULO 2 A VISUALIZAO COMO FERRAMENTA PARA O

    DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMTRICO

    No a ramo da Matemtica por mais abstrato que seja, que no possa

    um dia vir a ser aplicada aos fenmenos do mundo real.

    (Lobachevsky)

    Buscamos neste captulo compreender como acontece o desenvolvimento do pensar e

    raciocinar geometricamente, tendo por objetivo demonstrar a importncia da visualizao

    nesse processo percebendo seu papel na construo da inteligncia espacial. Alm de analisar

    de que forma as atividades de percepo e representao do espao auxiliam a aprendizagem

    em Geometria, e a importncia de ter a visualizao como um escudo para o ensino da

    mesma. Seria a imagem visual um auxlio ou um empecilho para a construo da geometria

    no meio educacional?

    2.1 A construo do pensamento geomtrico

    Capacidades de pensar e raciocinar geometricamente refere-se a habilidades como

    orientao espacial, coordenao de diferentes ngulos de observao, comunicao,

    descrio e representao do espao e a habilidade de reconhecer a utilizao da Geometria na

    soluo de problemas matemticos e da vida diria. Pode-se compreend-la como sendo a

    competncia de elaborar ideias e raciocnios ligados relaes espaciais. O desenvolvimento

    do pensamento geomtrico est diretamente relacionado ao modo pelo qual se percebe e se

    interpreta o mundo, a priori pelo seu aspecto fsico e no pelos seus atributos.

    O pensamento geomtrico desenvolve-se inicialmente pela visualizao: as

    crianas conhecem o espao como algo que existe ao redor delas. As figuras

    geomtricas so reconhecidas por suas formas, por sua aparncia fsica, em

    sua totalidade, e no por suas partes ou propriedades (PCN: Matemtica,

    1997, p. 127).

    A base da construo do pensamento geomtrico a visualizao do espao e de suas

    formas. Aps visualizar o espao possvel atribuir-lhe caractersticas que permitam a criao

  • 20

    da imagem mental do mesmo. Por meio dos conceitos, propriedades, intuio, deduo e

    soluo de problemas, faz-se uma reflexo sobre as imagens visuais e mentais que do

    condies de analisar, compreender, aceitar ou negar as proposies veiculadas. O

    pensamento geomtrico, segundo os PCNs (1997) vai do pensar no que pode ser percebido

    para o que se pode ser concebido.

    O pensamento geomtrico tem ligao com o domnio do pensamento lgico

    matemtico e este segundo Gardner (1994) trao de um confronto com o mundo dos objetos.

    Considera-se que um dos principais meios para se construir o pensamento geomtrico so as

    atividades geomtricas, pois estas estimulam o raciocnio lgico, o desenvolvimento de

    estratgias para solucionar problemas e proporcionam contextos que desenvolvem as

    habilidades citadas inicialmente.

    Pensar geometricamente exige saber fazer. Isto significa que o aluno deve colocar

    em prtica os seus conhecimentos geomtricos para enfrentar diversas situaes. Para tanto,

    este precisa exercitar a ateno, a visualizao, a memria e o pensamento. Faz-se necessrio

    propor atividades que valorizem o raciocnio lgico, a interpretao, a criatividade e a

    imaginao.

    Para os PCNs (1997) os conceitos geomtricos favorecem o pensamento geomtrico

    pois exigem dos alunos que estabeleam relaes entre definies, caractersticas e

    proposies matemticas. A respeito dos conceitos, h uma ressalva:

    Em Matemtica, os diferentes tipos de definio que se utilizam descrevem

    com preciso as caractersticas dos objetos aos quais esto referidas; um

    conceito matemtico caracterizado por seus atributos relevantes e pelas

    relaes existentes entre eles. Porm, se estamos preocupados com a

    construo dos conceitos pelos aprendizes, a psicologia e a didtica

    garantem que no processo ensino-aprendizagem um conceito ano pode

    simplesmente ser reduzido sua definio, e atravs da contextualizao

    por meio de diferentes atividades e situaes-problemas que ele adquire um

    significado para o aprendiz (FAINGUELERNT, 1999, p.75).

    Desse modo, julga-se que preciso ligar conceitos geomtricos a definies

    matemticas, partindo de exemplos e contra-exemplos, levando em considerao o contexto

    nos quais os conceitos esto inseridos. Fainguelernt (1999) cita como exemplo o conceito de

    tringulo. Sua definio que um tringulo uma figura de trs lados. Porm, dependendo do

    contexto, o conceito seria equivocadamente construdo, pois trs segmentos quaisquer nem

    sempre constroem um tringulo. Necessita-se assim de dados contextuais que proporcionem a

    real construo do conceito. Um conceito de tringulo com melhor contextualizao poderia

    partir da definio de que o tringulo uma figura composta por trs lados, trs vrtices e trs

  • 21

    ngulos.

    A inteno aqui, no aprofundar no estudo de conceitos, mas demonstrar que a

    formao e compreenso destes contribuem para a construo do pensamento geomtrico.

    Logo, percebe-se que a construo do pensamento geomtrico tem suas razes na

    visualizao, e se desenvolve pela apreenso de conceitos e atividades de explorao do

    espao e resolues de problemas que envolvem neste caso o uso da Geometria Plana e

    Espacial. A utilizao do pensamento geomtrico implica na utilizao dos conhecimentos

    matemticos que por sua vez visam encontrar solues para problemas de todas as reas do

    conhecimento, bem como cooperar para o avano cientfico, tecnolgico e social da

    humanidade.

    2.2 Da visualizao representao

    Como considerado anteriormente, a visualizao a base para a construo do

    pensamento geomtrico. Fainguelernt (1999) define visualizao como sendo a habilidade de

    perceber, representar, transformar, descobrir, gerar, comunicar, documentar e refletir sobre as

    informaes visuais. Partindo dessa definio, visualizao no apenas o ato de ver, no

    sentido de utilizar um rgo sensorial. Est relacionada capacidade de analisar o que se

    percebe como parte do mundo real e memorizar aspectos que caracterizem os objetos vistos.

    Refere-se ento a contato visual fsico, mas tambm a contato mental (imaginrio) com o

    espao.

    comum encontrar professores que ao ensinar Geometria, utilizem a expresso

    popular comer com os olhos, designando aes como, observar atentamente, no desviar o

    olhar, perceber detalhes, investigar, descobrir algo. Considerando tal expresso, de fato, o que

    se pretende com a visualizao levar o aluno a comer o mundo com os olhos.

    Atentemo-nos para o fato de que, pessoas com deficincia visual percebem o mundo

    por outros meios, utilizando outros sentidos como o tato e a audio. Assim, referimos aos

    olhos como sendo o meio de explorao do espao, considerando tanto o sistema visual

    como o ttil.

    O indivduo cego tende a converter as experincias espaciais no nmero de

    etapas (ou movimentos de dedos) dados numa determinada direo e no tipo

    de movimento necessrio. O tamanho descoberto atravs de mtodos

    indiretos, tais com passar a mo ao longo de um objeto: quanto mais

  • 22

    movimento no tempo, maior o objeto parece ser. O indivduo cego pode

    explorar indcios como retido, curvatura e salincia de feies para

    reconhecer figuras mais complexas (sombras de medidas de imagens visuais)

    (GARDNER, 1994, p. 144).

    Contudo, esse trabalho limita-se ao estudo da visualizao pelo meio visual comum,

    ficando os outros meios como sugesto para pesquisas posteriores. A visualizao torna-se

    uma atividade indispensvel na matemtica, especialmente na Geometria, rea que envolve

    criatividade e dinamismo no ensino.

    Fainguelernt (1999) argumenta que a visualizao ativa o pensamento espacial e o

    raciocnio e que o estudo da Geometria necessita recorrer a intuio, a percepo e a

    representao para interpretar o mundo e compreender a matemtica. Segundo a mesma, a

    visualizao importante porque envolve processos mentais e cognitivos essenciais para a

    construo do conhecimento matemtico.

    Nas concluses antecedentes, os objetos so primeiramente percebidos no espao,

    observados e analisados, identificadas e descritas suas propriedades, classificados e

    conceituados e por fim representados visualmente e mentalmente. Em uma anlise da teoria

    de Fischbein (1994), Fainguelernt (1999) constata que o espao percebido e construdo por

    meio de elementos visuais.

    A experincia visual permite construir imagens mentais do espao percebido e faz-se

    possvel recriar aspectos dessa experincia. Assim, por exemplo, observando uma casa por

    diversas vezes, possvel mentaliz-la ou memoriz-la tendo em seguida a capacidade de

    desenh-la no papel, mantendo suas caractersticas essenciais e originais. Gardner (1994) diz

    que a visualizao contribui para o pensamento cientfico e artstico. Para este, o

    conhecimento geomtrico est no domnio das relaes espaciais, das imagens visuais e

    mentais.

    Para Fainguelernt (1999) a aprendizagem resulta da interpretao que dada as

    sensaes dos estmulos do meio ambiente, de experincias passadas, ideias, imagens,

    expectativas e atitudes. Afirma-se que as imagens visuais claramente definidas, organizam os

    dados disponveis em estruturas significativas, estabelecendo possibilidades para solucionar

    problemas intuitivamente.

    A visualizao contida numa atividade cognitiva adequada um fator

    essencial para a compreenso intuitiva. As representaes visuais, por um

    lado contribuem para a organizao das informaes em representaes

    sinpticas, constituindo um fator importante de globalizao. Por outro lado,

    o aspecto concreto das imagens visuais um fator essencial para a criao de

    um sentimento de auto evidncia e imediao (FAINGUELERNT, 1999,

  • 23

    p.42).

    Nesse sentido, pode-se dizer que a resoluo de problemas com o auxilio de imagens

    visuais, facilita a compreenso do problema e seduzido pela visualizao o aluno se sentir

    motivado a resolv-lo. Vejamos um exemplo de problema proposto por Polya (1995) e sua

    proposta de soluo:

    Deseja-se calcular a diagonal de um paraleleppedo retngulo do qual so conhecidos

    o comprimento, a largura e a altura. Para solucion-lo sugerido ao professor que concretize

    o problema para torn-lo interessante. Considerando que a sala de aula seja um paraleleppedo

    retngulo, podendo medir suas dimenses, prope-se ao aluno que calcule a diagonal da sala

    medindo-a. O professor indicar o comprimento, a largura e a altura da sala e com um gesto,

    mostrar a diagonal da sala. Transpe-se a figura da sala para o quadro e os alunos realizam

    dilogos de interpretao do problema.

    Os alunos compreendero que, dos dados do problema, tendo o comprimento, a

    largura e a altura, tem-se o paraleleppedo e determinando-o, encontrar-se- sua diagonal. Tal

    exemplo nos permite analisar a importncia de visualizar o problema, transform-lo em uma

    situao real, concreta, que faa o aluno considerar relevante solucion-lo.

    No ensino da Geometria, nota-se maior dificuldade quando se fala de trs dimenses.

    O aluno est acostumado a trabalhar figuras planas, estticas e sem dinamismo. Assim,

    quando o professor se refere ao cubo, ao paraleleppedo, o aprendiz s visualiza uma de suas

    faces, o que significa dizer que este v uma figura plana e no uma figura tridimensional. A

    ocorrncia desse equvoco pode estar no fato de o professor, ao exemplificar figuras espaciais,

    por exemplo, comparar o paraleleppedo com o quadro negro. Com esta comparao o aluno

    criar a imagem mental do paraleleppedo como sendo um retngulo, ou seja, uma figura

    bidimensional.

    Desse modo, torna-se essencial trabalhar com as representaes de figuras no espao,

    para que o aluno perceba que as figuras espaciais podem ser formadas por figuras planas, mas

    possuem trs dimenses: comprimento, largura, profundidade ou volume, o que as diferem

    das planas, constitudas de comprimento e largura. Visualizar o espao, portanto, no to

    fcil quanto parece, afinal estamos definindo esse ato no como um simples olhar para o

    mundo, mas numa dinmica e sentido maior.

    Cabe esclarecer que a visualizao e os processos visuais devem se interagir com o

    mundo da Geometria, dos conceitos, propriedades, definies matemticas, pois Fainguelernt

    (1999) explica que impossvel formar a imagem de conceito ou identificar suas

  • 24

    caractersticas sem a visualizao dos elementos que o compe.

    Constata-se que a visualizao amplia a viso intuitiva e global e facilita a

    compreenso em outras reas da Matemtica. As pesquisas feitas relacionando visualizao e

    Geometria apontam para a visualizao como um nvel da construo do pensamento

    geomtrico e alegam estar interligadas visualizao e habilidades espaciais.

    Admitindo uma hierarquia na aprendizagem da Geometria, ou seja, seu ensino se

    inicia pela visualizao passa a percepo e caminha para a representao, torna-se

    conveniente refletir a etapa de representao, sendo esta uma importante habilidade

    matemtica. A representao consiste em formar modelos simblicos do espao ou ilustrar as

    imagens mentais.

    Segundo Pallascio (1992), o papel principal da representao a conceituao do real a fim de agir eficientemente. Para ele , a representao visual, por um lado, tem o significado da organizao material de natureza

    simblica (por exemplo, desenhos, diagramas, etc.), que se refere a certas

    realidades ou modela etapas do processo e, por outro lado, se refere

    imagem mental (FAINGUELERNT, 1999, p. 57).

    As imagens visuais se armazenam mentalmente, gerando a imaginao interna do

    espao. A representao permite imitar essa imaginao, de forma externa. Tal afirmao nos

    leva de volta a teoria de Piaget. Na teoria Piagetiana, a Geometria est relacionada com a

    tomada de conscincia do espao, sua representao e construo de idias matemticas. A

    representao revela-se de certa forma, com a reconstruo das imagens visuais e mentais.

    Para se chegar a este estgio, as capacidades visuais devero estar desenvolvidas.

    Como exemplos de capacidades visuais aguadas e habilidades em representao,

    podemos citar os pintores, escultores, artesos, engenheiros e pedreiros.

    Conta-se que Leonardo da Vinci ao ver uma cabea ou uma barba estranhos ou um

    cabelo de aparncia incomum, seguia a pessoa o dia inteiro e assim o decorava, de modo que

    ao chegar em casa, desenhava-a como se esta estivesse presente. Algumas de suas obras

    retratam fielmente cenas e objetos, vistos apenas uma vez. Os trabalhos nas reas de Artes

    plsticas tm incio na observao do mundo cotidiano. Alguns artistas costumam utilizar a

    expresso de que a ideia tem que surgir de uma imagem. Ainda na rea das Artes,

    considerando alta capacidade de visualizar e representar formas e o espao, destaca-se Pablo

    Picasso, especialmente seus trabalhos com a Geometria.

    Picasso foi um dos principais representantes do Cubismo, movimento artstico surgido

    no incio do sculo XX, cuja pintura submete objetos superfcie bidimensional da tela,

    simplificando as formas at reduzi-las ao cone, ao cilindro e a esfera, girando-as no plano,

  • 25

    provocando a iluso tridimensional. Seus quadros apresentam figuras, cuja composio d a

    impresso de serem pequenos cubos.

    A habilidade de Picasso, com a visualizao e representao se faz notvel. Este

    retratava formas geomtricas presentes nos objetos cotidianos, construes e at em seres

    humanos. Suas figuras (anexo 2, 3 e 4) falam por si e revelam todo seu talento visual e

    espacial.

    Outro artista de notveis habilidades foi o holands Maurits Corneles Escher,

    considerando como o gnio criador de gravuras. Suas obras so marcadas pelos efeitos visuais

    que levam o observador a olhar diversas vezes para perceber suas composies. Escher

    utilizava a isometria no plano, figuras de poliedros, linhas, crculos. Suas representaes do a

    imagem de movimento s figuras. Suas composies revelam sua preocupao em criar

    padres geomtricos e o preenchimento de superfcies.

    As figuras (anexo 5, 6 e 7) mostram um pouco do trabalho de Escher.

    Na figura 5 por exemplo, as linhas circulares brancas se interceptam dividindo-se em

    fragmentos, que por sua vez tem sempre o comprimento de um peixe e as linhas indicam os

    trajetos em que se movem fileiras de peixes. A figura 6 retrata pssaros que se deslocam de

    forma simtrica. Na construo da figura 7, o crculo se divide em seis setores que apresentam

    anjos sobre um fundo preto e demnios sobre um fundo branco.

    Segundo Fainguelernt (1999), Escher utilizava-se da Matemtica para ampliar sua

    percepo e explorao, isto enriquecia seu trabalho grfico, que se baseava em visualizaes

    e representaes.

    Nesta forma de trabalho, ou melhor, verdadeiras obras artsticas no poderamos

    deixar de mencionar o trabalho dos pedreiros e engenheiros ou arquitetos. Isso porque eles

    possuem a habilidade de projetar construes, mesmo sem t-las visto. Forma-se uma imagem

    mental, ou seja, idealiza-se a construo, de maneiras que podem ser materializadas. A

    importncia de reconhecer a presena da visualizao e representao nas diversas reas,

    algumas profissionais, mostram que o conhecimento geomtrico e matemtico tem

    aplicabilidade na vida e em diversas cincias.

    O que se deseja e se prope que a escola e o professor de Matemtica desenvolvam

    atividades que permitam os alunos explorarem o espao fsico, visualizando-o e o

    representando. A proposta no um curso intensivo em visualizao e representao e no

    se espera formar necessariamente um Picasso ou um Escher. O objetivo aqui, que o aluno

    seja capaz de construir conhecimento significativo para que possa satisfazer suas necessidades

    e solucionar problemas, alm de compreender a Geometria Plana e Espacial como parte da

  • 26

    realidade.

    Assim, sugere-se que sejam realizadas sempre que possvel, atividades de visualizao

    e representao em trabalhos com construes de figuras geomtricas bi e tridimensionais,

    com a utilizao de mosaicos e Tangram, quadros artsticos, criaes de escultura com argila e

    o uso do computador e softwares matemticas com foco em Geometria.

    Porm, a utilizao dos recursos visuais, bem como as atividades de visualizao e

    representao com seus respectivos objetivos, sero abordados com mais esclarecimentos e

    detalhes no decorrer do trabalho.

    Ressalta-se por fim, que a visualizao e representao, favorece o desenvolvimento

    das capacidades espaciais e contribuem para a construo do pensamento geomtrico,

    conferindo a Geometria Plana e Espacial dinamismo, criatividade e significado real

    permitindo uma melhoria na aprendizagem dos referidos contedos.

    2.3 O desenvolvimento da inteligncia espacial

    Em virtude da reflexo proposta sobre a visualizao e a representao, nota-se que o

    pensamento geomtrico tem estrita relao com habilidades espaciais, envolvendo o domnio

    de uma inteligncia particular que desperta novos questionamentos, tais como, o que se

    entende por inteligncia espacial? Como a inteligncia espacial se desenvolve? Todos ns

    somos capazes de possu-la ou esta uma inteligncia somente para pessoas super dotadas?

    Em busca de respostas para estas indagaes, torna-se indispensvel discutir a teoria

    de Howard Gardner (1994), um dos principais estudiosos dos potenciais humanos. Ele

    pressupe a existncia de sete tipos de inteligncias, entre elas a inteligncia espacial, parte do

    nosso objeto de estudo. De acordo com Gardner (1994, p. 135), centrais inteligncia

    espacial esto as capacidades de perceber precisamente o mundo visual, transformar e

    modificar sua percepo inicial e ser capaz de reproduzir aspectos da experincia visual,

    mesmo sem a presena de estmulos fsicos significativos. Trata-se portanto, da habilidade de

    perceber o espao e represent-lo ainda que em situaes no concretas, ou seja, inicia-se

    manipulando formas em vrias dimenses e termina-se representando imagens mentais.

    Considera-se a inteligncia espacial relacionada capacidades como a de identificar

    exemplos de um elemento e reconhecer sua transformao em outro elemento, a evocao de

    formas mentais e a produo de representaes grficas do espao. De acordo com Gardner

  • 27

    (1994), as capacidades espaciais tm diversas importncias e aplicaes.

    Elas so importantes para a nossa orientao em vrias localidades, desde

    aposentos at oceanos. Elas so invocadas para o reconhecimento de objetos

    e cenas, tanto quanto estes so encontrados em seus ambientes originais

    como quando algumas circunstncias da apresentao original foram

    alteradas. E eles tambm so utilizados quando trabalhamos com

    representaes grficas utilizados quando trabalhamos com representaes

    grficas verses bidimensionais ou tridimensionais de cenas do mundo real bem como outros smbolos como mapas, diagramas ou formas geomtricas (GARDNER, 1994, p.137).

    A teoria da inteligncia espacial admite sua origem na ao sobre os objetos. O

    domnio de operaes concretas possibilita a manipulao ativa das imagens e dos objetos no

    conhecimento do espao. Atravs de operaes mentais, possvel reconhecer como seria um

    objeto girado no espao ou como se apresentaria visto por outro ngulo, como as pessoas em

    espaos diferentes analisam uma mesma cena. Assim como um filme assistido por diversas

    pessoas provocam sensaes e interpretaes distintas do mesmo, uma cena ou um objeto do

    espao, observados em vrios ngulos despertam vises e percepes diferentes em cada

    indivduo, no observador.

    Pelas diversas interpretaes que os objetos e cenas no espao real e mental

    proporcionam, sugere-se que o desenvolvimento espacial tenha ligao com o domnio da

    imaginao, que nessa abordagem no est relacionada fantasia ou iluso, mas capacidade

    de criar imagens e memrias visuais. No consiste necessariamente em decorar objetos e

    imagens, mas em estabelecer vnculos entre relaes espaciais e proposies.

    A inteligncia espacial para Gardner (1994) o entendimento do meio espacial. De

    acordo com ele, os primeiros indcios de inteligncia espacial se encontram na infncia.

    Crianas, por volta de trs anos so capazes de refazer rotas, mas no ainda de descrev-la.

    Aos poucos ela desenvolve sua capacidade de orientao e estabelece relaes de vizinhana.

    Considera-se fase importante para o desenvolvimento da inteligncia espacial, quando

    a criana capaz de determinar mentalmente marcos de um trajeto que o permita reconhece-

    lo. Essa capacidade permite a formao da imagem mental do trajeto, o que leva a criana a

    visualiz-lo mesmo sem t-lo percorrido.

    Um exemplo da capacidade descrita acima a habilidade de chegar a um determinado

    local sem a utilizao de um mapa ou desenho do trajeto. Apenas com informaes a respeito

    do caminho possvel visualizar este e encontrar o lugar que se procura. De certa forma, se

    conhece o caminho pela sua descrio. Em contrapartida, no conhecer o espao e no ter sua

    descrio torna-se um problema. Se algum entra em uma floresta desconhecida por um

  • 28

    determinado local, suas chances de retornar ao ponto de origem so poucas, a menos que

    marque de alguma forma o percurso feito.

    Vale esclarecer que a inteligncia espacial envolve a abstrao, pois requer operaes

    mentais para visualizar o espao fsico, no envolvendo meios concretos. Dessa forma,

    utilizar mapas ou marcas para encontrar o caminho de volta da floresta no caracteriza uma

    capacidade de inteligncia espacial, mas apenas astcia. Caso de inteligncia espacial seria

    entrar em uma floresta desconhecida tendo o mapa desta na cabea e no nas mos e

    encontrar o caminho de volta.

    Fundamental para o desenvolvimento da inteligncia espacial o conhecimento do

    espao, primeiro materializado e depois idealizado. Gardner sugere algumas atividades para

    testar se o indivduo possui inteligncia espacial desenvolvida (ver anexo 8) e alguns

    problemas que exigem a necessidade da criao de imagens mentais.

    Primeiramente, imagine um cavalo. Que ponto mais elevado, o znite da

    cauda do cavalo ou a parte mais inferior da cabea do cavalo? Imagine um

    elefante e um rato. Agora imagine os clios de cada criatura. Qual leva mais

    tempo para focalizar com maior nitidez? Imagine a pia e a sua cozinha. Que

    torneira controla a gua quente? Ou, para concluir esta srie, imagine um

    campus ou uma praa com a qual voc esteja familiarizado. Marque seu

    tempo enquanto voc examina cuidadosamente, em srie, cada edifcio e

    agora compare o tempo que passou quando voc examinou de um lado do

    campus (ou praa) at o outro (GARDNER, 1994, p.134).

    As propostas de exerccios citadas permitem que o aluno possa evocar figuras em sua

    ausncia e ter noes do espao tridimensional, desenvolvendo seu raciocnio mental e

    abstrato. Exemplos da inteligncia espacial aguada se encontram na pintura e escultura, artes

    que exigem a sensibilidade para o mundo visual e espacial.

    Os artistas demonstram preocupaes com suas percepes espaciais e em como

    reproduzi-las em suas obras. Gardner (1994) expe algumas dessas preocupaes, como as de

    Van Gogh em conhecer leis de proporo, de luz, sombra e perspectivas para desenhar bem,

    sem as quais ele nada podia produzir. O trabalho com escultura revela a capacidade do

    homem de recriar o mundo visual e espacial atravs da modelagem.

    Nas mais diferentes culturas possvel perceber a utilizao da inteligncia espacial,

    seja em jogos ou atividades cotidianas.

    O povo do Shongo no Congo possui um jogo no qual alinhamentos

    complexos so desenhados na areia e o jogador deve copiar um alinhamento

    num caminho nico sem levantar um dedo da terra ou retraar qualquer

    segmento de linha. (), os esquims desenvolveram um elevado grau de

  • 29

    capacidade espacial, possivelmente devido dificuldade de orientar-se em

    seu meio. Eles devem ser capazes de detectar pequenas rachaduras no gelo

    (). tambm para encontrar o caminho de volta a algumas poucas casas na Tundra, o caador deve prestar ateno no ngulo e forma de pequenos

    montculos de neve (Gardner, 1994, p. 156).

    Outros povos utilizam-se as estrelas como pontos referenciais para navegar.

    Memorizam-se os pontos ou direes onde nascem e se pem determinadas estrelas, dessa

    forma, o caminho visualizado e assim conhece-se o seu destino.

    Com base na teoria de Gardner, pode-se afirmar que a inteligncia espacial tem quase

    o mesmo significado que a inteligncia visual, pois tem como exigncia o domnio da

    visualizao e percepo do espao fsico e sua idealizao.

    Considera-se que todos os indivduos podem desenvolver inteligncia espacial,

    embora haver sempre aqueles que se sobressaiam em determinadas habilidades, pois

    quaisquer que seja as inteligncias, estas se desenvolvem de modos diferentes em cada

    indivduo. O que no se deve acontecer a escola garantir oportunidades de desenvolvimento

    dessa inteligncia somente para alguns, os quais consideram aptos ou bem dotados para

    possu-la.

    preciso ento, reconhecer a importncia da democratizao do ensino, oferecendo

    condies iguais de aprendizagem para todos, visando a formao plena dos aprendizes

    permitindo seu crescimento pessoal e intelectual.

    O ensino da Matemtica, especialmente da Geometria Plana e Espacial, assume-se

    como um dos principais responsveis pelo desenvolvimento da inteligncia espacial nos

    alunos, cabendo a ele a tarefa de ensino eficaz, criativo e prazeroso. Admitindo que o

    desenvolvimento da inteligncia espacial depende da visualizao e representao, torna-se de

    suma importncia, ensinar a Geometria Plana e Espacial partindo de atividades que explorem

    tais habilidades.

    Propem-se atividades que estimulem o aluno a pensar em termos de relaes

    espaciais, perceber espaos, movimentos, transformaes e representaes do espao. Como

    exemplos, esto os trabalhos que envolvem rotao e translao de figuras no plano. Tais

    como, os mosaicos que de acordo com Madsen Barbosa (apud Fainguelernt, 1999, p. 76), a

    construo de mosaicos ainda que no seja difcil do ponto de vista artesanal, em certos casos

    reflete em seus padres uma interseo curiosa e atraente com a imaginao geomtrica.

    Outro exemplo de trabalho ou para o trabalho a utilizao do computador que

    permite realizar simulaes e construir procedimentos, dando dinamismo ao ensino da

    Geometria. Entre os recursos computacionais, encontra-se o LOGO que oferece condies de

  • 30

    visualizao e representao do espao.

    Os PCNs (1997), sugerem atividades de construo de itinerrios, relatos orais do

    trajeto de casa at a escola, desenhos do trajeto, alm de trabalhos com malhas, diagramas,

    tabelas e mapas. Uma outra atividade proposta a construo de plantas e maquetes e a

    descrio de suas representaes. Os PCNs afirmam que esta pode dar ao professor uma

    viso do domnio geomtrico de seus alunos (1997, p. 128).

    Assim sendo, o espao e sua explorao o principal meio para o desenvolvimento da

    inteligncia espacial.

    O aluno deve ser incentivado, por exemplo, a identificar posies relativas

    dos objetos, a reconhecer no seu entorno e nos objetos que nele se encontram

    formas distintas, tridimensionais e bidimensionais, planas e no planas, a

    fazer construes, modelos ou desenhos do espao de diferentes pontos de

    vista) e descrev-los (PCNs: matemtica, 1997, p.128).

    Ainda como exemplo de exerccios que desenvolvem as capacidades espaciais, tem-se

    o jogo de xadrez. Segundo Gardner (1994, p.149), a capacidade de antecipar jogadas e suas

    consequncias parece intimamente ligada forte imaginao. Cabe aqui explicitar a

    importncia dos jogos no ensino para o desenvolvimento do aluno e da aprendizagem. De

    acordo com os PCN's, os jogos desenvolvem o raciocnio, estimula o pensamento, leva o

    aluno a criar estratgias, alm de proporcionar o prazer em aprender.

    No jogo do xadrez, so exigidas do aluno capacidades como concentrao,

    criatividade e imaginao. preciso visualizar antecipadamente as jogadas e imaginar as

    jogadas do adversrio. Para Gardner (1994), o jogo do xadrez desenvolve as capacidades

    espaciais porque no se trata de memorizar peas nem o tabuleiro, mas consiste na

    codificao de planos e ideias. A habilidade espacial est no fato de relacionar padres,

    codific-lo e reconstru-lo. A inteligncia espacial pode dessa forma estar ligada aos planos

    mentalmente traados para a vitria no jogo.

    O jogo do xadrez pode assim, favorecer o domnio da imaginao e estimular a

    criatividade, competncias importantssimas para a aprendizagem na rea da Geometria.

    No desenvolvimento das capacidades espaciais que para Tartre (apud Fainguelernt,

    1999, p.55), so as capacidades mentais relacionadas com a compreenso, manipulao,

    reconhecimento ou interpretao de relaes visualmente, compreende-se a realizao de

    atividades que explorem o espao geomtrico, por meio de imagens visuais. Dentre essas

    capacidades espaciais, consider-se a competncia de visualizar formas geomtricas no dia-a-

    dia, nas construes, na natureza nos objetos, nas embalagens, etc.

  • 31

    Os PCN's (1997), sugerem atividades de composio e decomposio de figuras

    geomtricas. Este trabalho segundo Ribeiro e Soares (2006), desenvolve no aluno a

    capacidade de identificar e representar as figuras e objetos por todos os seus lados sejam elas

    bidimensionais ou tridimensionais. Temos como uma habilidade espacial, o fato de o aluno,

    por exemplo, conseguir planificar cubos, paraleleppedos, pirmides, cones e cilindros. Para

    efeito de visualizao, ver as planificaes de algumas figuras (anexo 9).

    Atividades do tipo, a realizada com os olhos vendados podem desenvolver no aluno

    suas noes de espao e orientao, que de acordo com Gardner (1994), so fundamentais

    para a inteligncia espacial. Entretanto, existe inmeras outras atividades que podem auxiliar

    no desenvolvimento de tal inteligncia. Assim, fica a critrio do professor, de e se utilizar de

    tais didticas ou metodologias para levar o aluno a desenvolver sua inteligncia espacial. Vale

    lembrar que a criatividade por parte do professor o principal tempero que do s aulas de

    matemtica um sabor especial, chamado e visto como a aprendizagem e satisfao dos

    discentes.

    2.4 Educao visual

    O centro do raciocnio geomtrico, at o presente momento a visualizao.

    Compreende-se que a imaginao o processo de construo de imagens mentais a partir de

    imagens visuais. Como as imagens visuais representam, ou melhor, refletem nossas

    observaes feitas do mundo, surge dvida de que se a imagem visual estiver distorcida, as

    imagens mentais tambm estaro? A percepo e representao do espao estaro

    comprometidas?

    Da mesma forma que em nossa sociedade atual se aconselha refletir sobre as imagens

    que a televiso transmite, o mesmo acontece com as imagens as quais esto sendo referidas

    neste estudo. Ocorre que, s vezes, os olhos podem se enganar. De acordo com Kaufman

    (1999), a visualizao pode ser afetada pela percepo. Esta ltima sofre influncias dos

    diversos pensamentos, atitudes e desejos pessoais em um determinado momento. Desse modo,

    pode haver a distoro da imagem visual, pois o que se v nem sempre a imagem real,

    podendo se tratar de uma iluso de tica, ou at fantasia.

    Por vias bvias, faz-se necessrio uma educao visual para que as sensaes

    provenientes do estmulo do meio ambiente no prejudiquem a formao de imagens visuais

  • 32

    reais e no comprometa todo um processo. A imagem est presente nos mais variados

    ambientes do mundo visual e encontra grande espao e aceitao pelo forte poder de seduo

    que exerce. Por esse motivo, torna-se relevante discutir de que maneira as imagens visuais

    tem influenciado as mentais e como educar-se visualmente.

    As imagens mentais segundo Garcez (2005) so resultantes do repertrio de

    experincias visuais que por sua vez apresenta-se diferenciadamente em cada indivduo. Cada

    um pode recriar no imaginrio aquilo que observado. Para a mesma, essencial fazer leitura

    das imagens, desenvolvendo habilidades quanto observao, ateno, memria,

    associao, anlise, orientao espacial, ao sentido de dimenso, ao pensamento lgico e

    ao pensamento criativo. de suma importncia fazer uma anlise crtica das informaes

    visuais, considerando seus conceitos e definies.

    Alm disso, precisamos tambm associar tudo o que observamos com outras

    informaes e conceito provenientes dos conhecimentos acumulados por ns

    e pela cultura humana atravs dos tempos. um jogo em que, s vezes,

    mergulhamos na emoo e, as vezes, tentamos fazer uma anlise crtica por

    meio do raciocnio, da razo. Enfim, nunca nos podemos entregar

    passivamente sem uma participao ativa. Uma atitude de ateno e crtica

    essencial (S.E.D., 2005, p.107).

    A construo das imagens visuais e mentais, devem passar, portanto, por um processo

    de anlise e crtica, revendo conceitos, propriedades e raciocnio lgico. No dissociando a

    formao de imagens visuais dos conceitos e definies que a caracterizam. Assim, a

    educao visual tambm uma questo de aprendizagem de conceitos e principalmente o

    domnio das relaes espaciais.

  • 33

    CAPTULO 3 O ENSINO DA GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL PELA

    VISUALIZAO, ATRAVS DA EXPLORAO DO ESPAO FSICO E

    RESOLUO DE PROBLEMAS

    das hipteses mais simples que mais devemos desconfiar, porque so

    aquelas que tm mais possibilidade de passar despercebidas.

    Poincar

    Neste captulo, analisamos a presena da geometria nas construes do homem e da

    natureza e a importncia dos recursos visuais para a dinamizao do ensino da geometria

    Plana e espacial alm, de buscar compreender como a visualizao auxilia na resoluo de

    problemas matemticos.

    3.1 Visualizando a Geometria Plana e Espacial nas Criaes Humanas e da Natureza.

    No se pode discutir o fato de que vivemos num mundo cercado por formas. Elas esto

    presentes em toda parte, basta que se perceba. H formas para todos os gostos e raro quem

    no possa admir-las. Elas no existem somente para fins estticos, para dar beleza ao mundo,

    mas tambm para a utilizao em problemas do cotidiano e para satisfazer as necessidades

    humanas.

    A melhor maneira de compreender a Geometria Plana e Espacial como parte da vida,

    partindo da observao e explorao do espao em que vivemos. Assim, possvel associar

    elementos geomtricos a objetos e situaes concretas presentes no dia-a-dia. Comecemos por

    elementos bsicos que esto em nosso meio e acessvel para todos, para termos a ideia de um

    ponto s olharmos para uma estrela no cu. De uma reta, um raio de luz, e de um plano o

    espelho dgua de um lago. Se observarmos de forma atenta, a Geometria presente em nosso

    meio perceberemos que ela aborda os aspectos do tipo, formas na natureza, no cotidiano, na

    arquitetura, na arte e na decorao.

    Contudo, possvel admirar as formas das flores e das borboletas. As disposies da

    estrutura da flor e das asas da borboleta apresentam simetria. De acordo com Zampirollo

    (2004) o homem se aproveitou de formas da natureza para construir formas que lhe fossem

  • 34

    teis. Como exemplos podemos citar o coco, que atravs da observao o ser humano pode

    criar s vasilhas, pedaos retilneos de galhos de rvores inspiraram ferramentas e utenslios

    como cabos de vassoura ou panela, observando os pssaros e as formas o homem conseguiu

    voar, criaram-se o remo e os ps-de-pato pela analise da funcionalidade das patas de

    algumas aves, enfim, para ela o que a natureza inspira, o homem cria, combina, aperfeioa o

    que observa.

    Uma curiosa aplicao geomtrica est na colmeia das abelhas. Seus alvolos tm

    forma hexagonal para armazenar um maior volume de mel. Outro fascinante exemplo so as

    teias de aranha. Ambos os casos revelam a sabedoria da natureza ao lidar com formas.

    Observa-se a presena da Geometria nos objetos cotidianos, tais como caixas de

    sapatos ou fsforo representam paraleleppedos, latas so cilindros, casquinhas de sorvetes

    representam forma de cone. No relgio as horas exatas formam ngulos retos e barras de

    chocolate podem representar prismas. Os prismas ainda podem ajudar na publicidade.

    Segundo Imenes (1992) os outdoors que valem por trs, ou seja, veiculam trs

    propagandas no mesmo espao, em tempos diferentes, tem a forma geomtrica de um prisma

    triangular. Os prismas encontram-se enfileirados e a propaganda colada nas faces

    retangulares destes. Em intervalos de tempos adequados todos os prismas so girados ao

    mesmo tempo em torno de um eixo que passa pelo centro de suas bases, ou melhor, dos

    tringulos at a face seguinte ficar de frente para o pblico. Desse modo a publicidade

    economiza, afinal, coloca trs anncios em um nico espao.

    As formas na arquitetura, arte e decorao revelam a presena da Geometria nas belas

    construes humanas. Na arquitetura percebe-se facilmente a Geometria em construes

    como a Pirmide de Quops construda por volta de 2.500 anos a.C no Egito e considerada

    uma das grandes maravilhas do mundo. De simetria impressionante o palcio Taj-Mahal na

    ndia, smbolo do amor do prncipe persa Sha Jahan por Arjumand Begum.

    A forma dos Prdios que compem o congresso nacional lembra paraleleppedos e

    podem-se contemplar arcos em algumas construes. Um dos arcos mais famosos o Arco do

    Triunfo localizado em Paris. Entre um dos maiores arquitetos dos ltimos tempos, est Oscar

    Niemeyer. Seus projetos esto cheios de formas e o mesmo tem uma forte atrao pelas

    curvas. Um exemplo de seu trabalho com curvas a Igreja de So Francisco de Assis em Belo

    Horizonte.

    Podemos ainda observar a Geometria mais de perto. No formato de casa, paredes,

    telhados, prdios, ginsios esportivos e entre diversas outras construes, desse modo curvas,

    retas, ngulos e figuras geomtricas se unem para beneficiar o homem. Nas artes e

  • 35

    decoraes, a visualizao da Geometria Plana e Espacial de fcil percepo, os pisos e os

    trabalhos com mosaicos so bons exemplos de obras de artes que possuem um belo

    revestimento com figuras poligonais. Alm desses, a Geometria se encontra tambm na arte

    milenar de decorar vasos. Portanto, onde quer que se esteja a Geometria se faz presente. O

    ensino ento deve ir alm do espao escolar.

    Na natureza, nas diversas artes, das mais simples as mais luxuosas construes, dos

    tempos mais remotos at os dias de hoje, a Geometria, acompanha o homem e com suas

    formas bidimensionais ou tridimensionais conferem ao mundo beleza e grandiosidade.

    3.2 Os recursos visuais no ensino da Geometria Plana e Espacial.

    Neta parte de nosso trabalho citamos alguns recursos visuais que podem ser utilizados

    no ensino da Geometria Plana e Espacial, mas antes de discorrer sobre alguns deles, faz-se

    necessrio compreender o papel destes na educao. Considera-se que a utilizao de recursos

    visuais consista em tomar materiais com apelo visual para fins didticos.

    Acredita-se que possvel alcanar uma aprendizagem satisfatria, se o aluno

    estimulado sensorialmente, ou seja, por seus sentidos. Desse modo estudam-se os recursos

    visuais como ferramentas de auxilio aprendizagem. Portanto, faz-se preciso desenvolver nos

    alunos habilidades como visualizao, percepo e representao, consideradas essenciais

    para fazer leitura do mundo e solucionar problemas. Os recursos visuais se apresentam como

    candidatos a alcanar esses objetivos.

    Entre os materiais didticos visuais que servem de apoio para o ensino da Geometria

    Plana e Espacial destacam-se, o Tangram, o mosaico, as dobraduras e o computador. Vejamos

    ento, como os PCNs (1997) trata deste assunto em relao s possibilidades didticas e os

    objetivos de tais materiais didticos no ensino da Geometria. De acordo com os mesmos, o

    computador tem sido indispensvel como recurso didtico devido estar carregado de um

    conhecimento por simulao. O uso de tal recurso permite vrias possibilidades em sala de

    aula.

    O computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino (banco

    de dados, elementos visuais), mas tambm como fonte de aprendizagem e

    como ferramenta para o desenvolvimento de habilidades. O trabalho com o

    computador pode ensinar o aluno a aprender com seus erros e a aprender

  • 36

    junto com seus colegas, trocando suas produes e comparando-as (PCNs:

    Matemtica, 1997, p.48).

    Partimos da anlise feita pelos PCNs para argumentar que hoje, em nosso incio de

    sculo XXI, a incluso do computador em sala de aula uma forma de estarmos inserindo no

    meio escolar, os recursos do meio social. Isso trar para a escola mais fontes de aprendizagens

    que podem proporcionar uma melhor compreenso do aluno em relao ao contedo

    ensinado. Porm, para que ocorra essa aprendizagem (relacionado com o computador e suas

    fontes de ensino) preciso que os professores estejam aptos ao domnio do mesmo e

    reconheam sua proposta pedaggica, caso contrrio, este recurso acaba por atrapalhar no

    ensino.

    No que tange Geometria, o computador lhe atribui um ensino dinmico, o aluno

    pode com o auxlio do computador, visualizar os movimentos no plano com os softwares e

    com os programas, construir figuras que normalmente so difceis de construir manualmente

    s com instrumento simples como rgua e compasso, como so, por exemplo, as figuras

    tridimensionais.

    O computador um recurso visual importante porque permite ao aluno contato com

    imagens visuais. Por meio deste o aluno desenvolve atitudes como elaborar estratgias para

    construo de figuras planas e espaciais. Um programa bastante conhecido e pouco utilizado,

    mas que tem grande potencialidade o LOGO. Este uma linguagem de programao que

    permite desenhar figuras na tela do computador.

    No LOGO, uma tartaruga virtual executa ordens, comandos dados, fazendo os

    desenhos na tela. Os comandos exigem noes de orientao espacial e ngulos. Como

    exemplos de comando tm-se:

    PF A tartaruga anda para frente

    PD A tartaruga vira para a direita

    PT A tartaruga anda para trs

    PE A tartaruga vira para a esquerda

    Com a elaborao de comandos, o aluno pode construir diversas figuras como casas,

    automveis, objetos e figuras geomtricas convencionais. Cabe ressaltar que para o desenho

    de figuras, o aluno deve ensinar a tartaruga criando procedimentos, instruindo a mquina. O

    aluno sente-se ento capaz de comandar o computador, desenvolvendo suas capacidades

    intelectuais e assumindo-se como responsvel pela sua aprendizagem.

    O objetivo desse trabalho no aprofundar neste assunto, mas demonstrar que o

    computador pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem e como recurso visual

  • 37

    favorece o desenvolvimento de habilidades como visualizao, percepo, construo e

    representao do espao.

    A respeito do Tangram, relevante conhecer um pouco sobre histria para perceber

    qual o objetivo de seu ensino. Segundo uma lenda, um mensageiro devia levar uma pedra de

    jade de formato quadrado ao imperador. Distrado, o mensageiro deixou a pedra cair e esta

    partiu-se em sete pedaos. Com o objetivo de reconstruir o quadrado o homem reuniu suas

    sete peas e nas diversas tentativas de remontar o quadrado, acabou por formar centenas de

    formas at conseguir mont-lo.

    No se conhece muito bem sua origem. E h especulaes que tenha sido criado na

    china. Sabe-se que ele um jogo muito antigo formado por sete peas. uma espcie de

    quebra-cabea (ver anexo 10).

    Sendo recurso, apresenta inmeras possibilidades de trabalho em sala em diversas

    aplicaes da Geometria Plana, tais como reas, identificao e descrio de figuras,

    resolues de problemas. Manuseando suas peas, possvel formar e visualizar diversas

    figuras como animais, objetos e pessoas (ver anexo 11).

    Outros recursos visuais que podem contribuir no ensino da geometria Plana e Espacial,

    so os mosaicos e as dobraduras, suas construes exigem o domnio de conhecimentos

    geomtricos e habilidades como raciocnio, destreza, pacincia, criatividade e imaginao. O

    mosaico uma composio de figuras geomtricas que formam determinado desenho,

    obedecendo a um padro de harmonia.

    Na matemtica utiliza-se o mosaico para estudar preenchimentos de um plano com

    figuras geomtricas, trabalhando conceitos de ngulos, reas entre outros. Vejamos uma

    aplicao interessante adaptada de uma historinha sobre mosaicos de Lellis (1992), onde o

    professor, de uma menina chamada Mara, props um trabalho com composies geomtricas,

    sem inspirao, Mara desistiu do trabalho e foi com seus pais visitar alguns amigos. A

    menina se divertiu bastante, conversou muito e at brincou com o cachorro. O que ela no

    sabia era que desta brincadeira encontraria a soluo para seu problema de Matemtica.

    Quando brincava de cachorrinho, Mara observou o piso da casa, primeiro ela viu figuras

    que pareciam cubos e depois, viu estrelas. Ento, Mara teve a ideia para seu trabalho. De

    volta em casa, ela recortou seis losangos idnticos para encaix-los e formar uma estrela.

    Porm, algo de errado aconteceu, a estrela no se formava. Mara ento se ps a raciocinar: A

    formao da estrela de seis pontas deveria completar 360. Logo cada losango deveria possuir

    um ngulo de 60. Mara recortou novos losangos e dessa vez conseguiu realizar o encaixe.

    Seu trabalho foi concludo com sucesso.

  • 38

    Nota-se que para solucionar o problema Mara teve de usar seus conhecimentos sobre

    ngulos. Atividades de modelos semelhantes podem ser propostas aos alunos visando explorar

    conceitos como ngulos e reas de figuras geomtricas. Poderia ser proposto que os alunos

    por exemplo, calculassem quantos cubos caberia numa determinada rea retangular dada ou

    que os mesmos completassem mosaicos j iniciados.

    Quanto s dobraduras, estas oferecem atividades riqussimas, alm de construir figuras

    bidimensionais, como quadrados, tringulos, crculos, estas tambm podem construir figuras

    tridimensionais. Talvez esta ltima capacidade, seja o que causa mais admirao: A partir de

    um papel plano, obtm-se um objeto de trs dimenses.

    Partindo de um retngulo, ou seja, de um papel retangular, possvel obter um

    quadrado de forma que a linha de dobra seja a diagonal do quadrado e a bissetriz do ngulo

    reto. O trabalho com dobraduras permitem aos alunos construrem diversas figuras como

    avies, barcos, pequenas caixas, e outras figuras como poliedros e polgonos. Com o ensino

    da Geometria por meio de dobraduras o aluno aprende e se diverte ao mesmo tempo.

    Por fim, aprender geometria exige o domnio de tcnicas geomtricas como fazer

    desenhos, preencher espaos, mas mais do que isso, julga-se importante reconhecer a

    Geometria Plana e Espacial como ferramenta para atribuir significado ao mundo e aos

    problemas, compreendendo seu papel na construo do conhecimento matemtico e suas

    possibilidades para o desenvolvimento intelectual dos alunos.

    Pelas diversas importncias da visualizao no ensino da Geometria Plana e Espacial

    j citada, pode-se compreender o imenso valor dos recursos visuais no processo de ensino-

    aprendizagem bem como a necessidade de o professor saber explorar estes recursos,

    oferecendo dinamizao a um sistema que at ento parece esttico, onde no se ensina e nem

    se aprende. A transformao desse ensino responsabilidade de todos e todas que pensam na

    educao como meio de crescer como pessoa, cidado e profissional competente.

  • 39

    3.3 A importncia da visualizao na resoluo de problemas

    Se a matemtica no serve pra vida ento no serve pra nada, diz um apaixonado

    pela Matemtica cujo nome no se encontra nos livros nem em outras formas de registro.

    Provavelmente algum que v a Matemtica como uma fonte inesgotvel de aplicaes.

    No cabe a ns a tarefa de julgar tal afirmao. Deixemos essa responsabilidade a

    encargo dos especialistas na rea da Matemtica. O que se sabe, e os PCNs (1997)

    confirmam, que qualquer conhecimento adquirido deve levar o aluno a compreender o meio

    em que vive e a solucionar problemas que os diferentes contextos impem.

    certo que a Matemtica, especialmente a Geometria, tem inmeras aplicaes no

    dia-a-dia e garantem ao aluno a oportunidade de utilizar-se do conhecimento geomtrico em

    diversas situaes prticas. A pergunta se todos os contedos permitem essa aplicabilidade.

    Espera-se que o aluno desenvolva estratgias que o proporcione a capacidade de raciocinar

    matematicamente, analisando e interpretando situaes diversas, refletindo sobre o problema

    e buscando mtodo de soluo que garantam a eficincia das respostas.

    Muito se tem visto que resolver problemas seja uma atividade mecnica, que exige o

    domnio de tcnicas operatrias sem anlise das solues. Erros so atualmente prova de que

    o aluno no domina tais tcnicas e no est apto a aprender matemtica. Com base nesta

    situao, faz-se necessrio refletir qual a importncia da resoluo de problemas no ensino da

    Geometria Plana e Espacial, quais os tipos de problemas se propem solucionar e como a

    visualizao contribui para a soluo destes.

    De acordo com Polya (1995), quando o professor apresenta algum problema para os

    alunos, deve ter como objetivo auxili-los para que possam desenvolver a capacidade de

    sozinhos solucion-los no futuro. No caso da Geometria Plana e Espacial, estamos

    considerando os problemas prticos e os problemas matemticos.

    Polya (1995) difere esses dois tipos de problemas pela natureza do conhecimento que

    se exigido. Os problemas prticos requerem, segundo ele, mais experincia. Estes, para o

    mesmo, s vezes nos obriga a partir de ideias e suposies que nem sempre se caracterizam

    como verdade e as solues na maioria das vezes, so de forma imprecisa, por aproximaes.

    Os problemas prticos exigem simplicidade e no preciso, afinal constitui-se em dar

    respostas imediatas ao problema.

    J os problemas matemticos, para Polya (1995), partem de conceitos claros. Uma

    gama destes permitem, solucionar o problema com preciso. Verificam-se todos os passos

  • 40

    seguidos, analisam-se os resultados obtidos, para s assim, confirmar a soluo. Faz-se

    preciso reconhecer quando o problema prtico ou matemtico, para conhecer que mtodo

    melhor para solucion-lo.

    Um exemplo de problema prtico a construo de uma casa. O arquiteto ou pedreiro

    deve levar em considerao, s condies do terreno, suas dimenses, a forma da construo,

    os materiais necessrios, entre outros fatores. Pouco se utiliza os clculos, a matemtica

    aplicada intuitivamente e s vezes inconscientemente. A experincia profissional que

    garante a qualidade da obra.

    Se o mesmo problema fosse proposto em sala de aula, provavelmente se levaria em

    conta saber calcular rea de figuras geomtricas, aplicar o teorema de Pitgoras. Nos dois

    tipos de problemas, a visualizao de grande importncia para a soluo dos mesmos. Polya

    (1995), afirma que a visualizao do problema permite compreend-lo e um dos primeiros

    passos que instiga o aluno a resolv-lo. Um dos principais recursos de visualizao de

    problemas da Geometria Plana e Espacial consiste em recorrer a figuras que o representem.

    Polya (1995) define figuras como sendo objeto dos problemas geomtricos e como

    auxilio importante para problemas de todos os tipos. A utilizao desse recurso permite

    visualizar a proposta do problema e facilitar sua resoluo, necessitando reconhecer quando

    invocar uma figura mentalmente ou quando constru-la materialmente.

    Se o nosso for um problema geomtrico, teremos de considerar uma figura,

    que pode estar em nossa imaginao ou ser desenhado no papel. Em certas

    ocasies, ser melhor imaginar a figura sem desenh-la. Mas se tivermos de

    examinar vrios detalhes, um aps o outro, ser desejvel traar uma figura.

    Se os detalhes forem numerosos, no poderemos imagin-los todos

    simultaneamente, mas eles estaro todos juntos sobre o papel. Um detalhe

    visualizado em nossa imaginao pode ser esquecido, mas o mesmo detalhe

    desenhado no papel a permanece, de tal maneira que quando a ele voltamos,

    relembramos as observaes anteriores, com isto nos poupando tempo e

    trabalho (POLYA, 1995, p.82).

    Percebe-se assim, que dificilmente solucionaremos um problema da Geometria Plana e

    Espacial, sem que seja necessrio o esboo de uma figura no papel. Compreende-se desse

    modo a real importncia dos desenhos geomtricos, fazendo-se til destacar aspectos

    relevantes em suas construes.

    Embora Polya (1995) constate a importncia de se construir figuras com exatido a

    partir de instrumentos como rgua e compasso pela possibilidade destas de sugerirem

    teoremas geomtricos, deixa-se subtendido que para as situaes problemas em sala de aula a

    construo de figuras mo livre sejam mais apropriadas por pouparem tempo e raciocnio. O

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    fato de serem construdas mo livre no dispensam o cuidado e a relao lgica com o

    enunciado do problema.

    No trabalho com a Geometria Espacial, Polya (1995) retrata a dificuldade em construir

    figuras tridimensionais expressivas, mas no descarta sua possibilidade de elaborao. O

    trabalho com manipulao de figuras, segundo ele, exige pacincia e permite reduzir qualquer

    tipo de problem