A Importancia Do Tropeiro Para a Sociedade Mineira

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E M I N A S G E R A I S M E S T R A D O E M H I S T Ó R I A O tropeiro e sua importância para a sociedade mineira durante o ciclo do ouro Valdemar S. dos Santos Disciplina: O trabalho banal Professor: José Newton

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A importância do tropeirismo na sociedade mineradora

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E M I N A S G E R A I S M E S T R A D O E M H I S T Ó R I A

O tropeiro e sua importância para a sociedade

mineira durante o ciclo do ouro

Valdemar S. dos Santos

Disciplina: O trabalho banal

Professor: José Newton

Belo Horizonte, julho de 2006

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Apresentação

Pensar a sociedade mineira é pensá-la a

partir da descoberta do ouro, visto que grande

parte da sua estruturação e composição se

inicia e se consolida justamente nesse período.

O sonho e a busca pelo ouro fez com

que grandes massas populacionais se

deslocassem em direção à região das minas. E

essa foi apenas uma das mudanças, pois houve

o surgimento de vilas e cidades, intensificou o mercado interno, uma nova concepção de

organização urbana e social surgiu com o ciclo do ouro, e o tropeiro é parte integrante dessa

sociedade, pois a sua contribuição e o seu serviço no transporte de mercadorias se tornaram

essenciais para a consolidação, sobrevivência e desenvolvimento dessa sociedade.

O transporte de mercadorias, principalmente as de necessidade e as alimentícias era algo

essencial para a permanência e sobrevivência da população na região das minas. Haja vista que a

falta de comida provocou mortes em grande número na região das minas.

Portanto, neste trabalho abordo a participação e a inserção do tropeiro dentro da sociedade

mineira, destacando a necessidade que se tem do seu serviço como a sua fundamental participação

na construção e formação dessa sociedade. Além de constatar que a atividade aurífera contribuiu

não só para o desenvolvimento das pessoas que vieram para cá como possibilitou o

desenvolvimento indireto de outras capitanias como a Bahia, o Rio Grande do Sul e São Paulo. E o

tropeiro foi um elemento ativo para esse desenvolvimento ao criar uma rede de comercialização e

comunicação entre as várias regiões da colônia, como da metrópole e porque não dizer do mundo

com o transporte de mercadorias durante o ciclo do ouro.

Valdemar S. dos Santos

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1- O tropeiro no início do ciclo do ouro

Os portugueses sonhavam em encontrar ouro no Brasil desde o séc. XVI, e essa expectativa

se dava devido ao fato dos espanhóis terem se apoderado de grandes quantidades de ouro da

civilização inca. E para aumentar ainda mais essa idéia encontrou-se um pouco de ouro na região

litorânea de São Paulo. Porém foi uma quantidade pequena, que ficou limitada aos moradores da

capitania.

No final do séc. XVII a metrópole portuguesa estava em situação financeira difícil. Pois a

União Ibérica tinha empobrecido Portugal e a lucrativa produção açucareira do Brasil entrou em

crise após a expulsão dos holandeses no Nordeste brasileiro em 1654.

O governo português com o objetivo de recuperar os prejuízos passou a estimular as

bandeiras à procura de ouro. Com isso alguns bandeirantes paulistas encontraram em 1696 pedaços

de ouro com uma casca preta, num riacho perto do pico do Itacolomi, e essa notícia se espalhou

trazendo cerca de 8 a 10 mil pessoas por ano para a colônia em busca do tão sonhado e cobiçado

ouro. Vieram pequenos proprietários, padres, comerciantes, aventureiros, prostitutas, etc.

Os povoados foram fundados por essas pessoas, e esses povoados deram origem a várias

cidades como Mariana, Sabará, Catas Altas, São João Del Rei, Congonhas do Campo e Ouro Preto.

Milhares e milhares de pessoas vieram para a região das Minas Gerais, atraídas pelo sonho

de enriquecimento no garimpo. E os comerciantes perceberam que poderiam ganhar um bom

dinheiro vendendo aos garimpeiros os artigos escassos na região, e o transporte dessas mercadorias

seria feito pelo tropeiro e sua tropa.

O ouro era encontrado no cascalho dos rios. Os garimpeiros pegavam a areia do leito do rio,

misturada com água e pedrinhas, e a colocavam num tipo de prato grande de madeira (bateia) que

era girado com a mão. O giro veloz separava as pepitas, as pedrinhas de ouro.

Havia ouro também no interior da terra e para retirá-lo era preciso escavar a terra e fazer

túneis nas pedras. A maioria dos trabalhadores nas minas e garimpos era composta de escravos.

1.1- O trabalho na mineração

Na mineração havia trabalhadores livres, como os garimpeiros e os pequenos comerciantes,

mas a maior parte do trabalho era realizado por escravos.

Com a mineração um pobre tinha chances de melhorar de vida, ou seja, com a mineração

passa a existir a possibilidade de mobilidade social (pobre ascendendo socialmente).

Para os escravos a vida na mineração era mais dura do que nas plantações, pois ele vivia em

média três anos a menos do que na lavoura. Isso devido ao fato de ter que ficar durante a madrugada

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com os pés dentro da água, enfrentando o frio, depois o calor, mosquito, ouvindo berros e

apanhando, com as costas ardendo e os músculos fragilizados de tanto se abaixar, pegar cascalho,

revirar a bateia e catar.

A mineração do ouro foi a principal atividade econômica do Brasil no séc. XVIII

provocando várias mudanças na colônia, principalmente no que diz respeito às atividades ligadas ao

mercado interno, ou seja, na produção de coisas e no transporte delas para serem vendidas na

própria colônia, transporte esse feito sempre pelo tropeiro. Foi tanta gente que veio morar na região

das minas que houve crises de fome por falta de comida. Essa situação permitiu que alguns

fazendeiros começassem a produzir alimentos para vender na região das minas. Esses fazendeiros

plantavam feijão, milho, legumes, frutas, vendiam para comerciantes que tratavam de revender às

populações das cidades mineiras.

A sociedade mineradora se tornou um grande impulsionador do desenvolvimento urbano,

pois as vilas se tornaram cidades que passaram a funcionar como importantes centros econômicos.

Pois nessas cidades trabalhavam os açougueiros, os padeiros, os sapateiros, os alfaiates. Era onde se

compravam os móveis, a cachaça, a ferradura, a carne, o queijo, o açúcar, como também as últimas

novidades da Europa (perfume, leque, relógio. Espada, vinho) trazidas do porto do Rio de Janeiro

no lombo de mulas pelos tropeiros. E com isso alguns tropeiros enriqueceram-se transportando e

comerciando produtos pelo interior do Brasil, sendo beneficiados pelo crescimento do mercado

interno causado pela explosão populacional na região das minas.

2- A importância do tropeiro no desenvolvimento da Sociedade Mineradora

A confirmação da existência de metais preciosos nas regiões planálticas de Minas Gerais,

Mato Grosso e Goiás provocou um acúmulo populacional enorme nessas regiões, alargando

substancialmente a faixa de ocupação do território luso-brasileiro.

Na extração de metais e pedras preciosas se concentraram todos os esforços produtivos,

novos caminhos foram abertos para a exportação desses produtos e também para o abastecimento

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das Minas Gerais, proporcionando uma grande transformação geográfica no centro-sul colonial, e o

tropeiro teve uma participação fundamental nesse processo.

Várias tropas de mercadores ganharam se embrenharam pelos caminhos dos bandeirantes no

início do séc. XVIII levando gêneros alimentares produzidos nos arredores das vilas paulistas.

A mineração foi importante para o crescimento da região das Minas Gerais, como também

do Rio de Janeiro, São Paulo, do Sul do Brasil e do Nordeste. E o fator fundamental foi a

exploração do ouro e do diamante aliado ao grande desenvolvimento do mercado interno, ao

trânsito de metais preciosos como produtos alimentícios, construindo uma ampla rede de

comercialização interna percorrida e abastecida pelos tropeiros.

A atividade mineradora alargou consideravelmente a faixa de ocupação do território

brasileiro, atraiu para si a pecuária sulina, demandou um crescente número de escravos e relançou, a

partir do Rio de Janeiro, o tráfico negreiro, como uma fonte inesgotável de lucros. Consolidou uma

grande massa populacional e o desenvolvimento urbano com uma população livre e escrava,

alimentada por uma rede de comercialização e distribuição de produtos enorme e muito lucrativa

feita pelos tropeiros, que souberam aproveitar a possibilidade do crescimento interno de produtos

alimentícios no séc. XVIII.

2.1- Os transportes e o abastecimento das Minas Gerais

Durante todo o séc. XVIII, o ciclo do ouro, relacionou-se com três tipos principais de

transportes: o transporte à vela, o transporte fluvial e o transporte pelo muar (mula)

Todos os três tipos de transporte foram importantes para o ciclo do ouro, mas o transporte

pelo muar foi o mais importante. Possibilitou o abastecimento das Gerais, onde a única atividade

era a mineração. Esse fator proporcionou a outras regiões da colônia (Rio de Janeiro, a capitania de

São Paulo, a capitania da Bahia, a capitania do Rio Grande do Sul) auferirem indiretamente dos

lucros provenientes das descobertas auríferas, pois essas regiões tornaram-se fornecedoras de

produtos alimentícios e outros para a região das minas.

O muar (mula) provinha da capitania do Rio Grande do

Sul e imediações, onde as planícies revestidas de vegetações

herbáceas possibilitavam a sua criação.

A capitania do Rio Grande do Sul iniciou seu progresso

econômico contribuindo com o transporte de alimentos e outros

produtos no lombo de mulas para a zona de produção aurífera,

na região das minas.

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O comércio entre as diversas regiões brasileiras com a região das Minas Gerais exigiu uma

intensidade no transporte de cargas e de passageiros. E o único e possível meio de transporte

empregado em regiões de péssimos caminhos e de relevo acidentado foi o muar. Eis aí a uma

grande importância do tropeiro no ciclo do ouro, pois quando as comunicações para a região das

minas se tornavam difíceis pelos maus caminhos existentes e pelas chuvas, a fome assolava a

população. Tem-se como fato comprovado a fome de 1700-701, em que a carestia de alimentos

provocou a morte de dezenas de pessoas, por inanição.

2.2- A alta dos preços na região mineradora

O grande deslocamento da população humana para a região das minas se deu em

conseqüência da descoberta do ouro em fins do séc. XVII e início do XVIII, pois da colônia vieram

levas em direção às terras mineiras, despovoando o sertão, litoral e as capitais.

Como disse o governador do Rio de Janeiro D. Álvaro da Silveira Albuquerque em carta

datada do dia 05 de maio de 1704 ao governador da Bahia “... Em cada dia me acho mais só, assim

de soldados como de moradores, porque o excesso com que fogem para as minas nos dá a entender

que brevemente ficaremos sem ninguém. Também suponho que V. S.a

assim o experimenta porque

das minas me escreve o Cônego Gaspar Ribeiro que é tanto o excesso de gente que entra pelo

sertão da Bahia que brevemente entende se despovoará essa terra...”1

O território das minas foi repentinamente ocupado, submetido a um povoamento escasso

com núcleos densos, porém separados por imensas áreas desertas entre uns e outros.

Muitos períodos de fome foram vividos nas áreas mineradoras devido à falta de um

transporte regular e caminhos mais curtos. Em uma carta ao soberano português, datada de 20 de

maio de 1698m Artur de Sá e Menezes relata “... o que lhe não foi possível pela grande fome que

experimentarão que chegou a necessidade a tal extremo que aproveitarão dos mais imundos

animais, e faltando lhes estes para poderem alimentar a vida, largarão as minas e fugiram para os

matos com seus escravos a sustentarence com as frutas que neles acharão.”2

Com isso o transporte de mercadorias para a região das minas se tornou fundamental, e a

contribuição do tropeiro para o desenvolvimento desse comércio se torna essencial. E isso fez com

que os preços dos produtos fossem altos, tantos os pagos pelos gêneros de necessidade como os

pagos pelos artigos de luxo, nos campos auríferos e nas vilas, contribuiu para a concentração desses

produtos na região das minas sem se levar em conta o lugar para onde tinham sido originalmente

1 Museu do Arquivo Nacional, Coleção governadores do Rio de Janeiro, Livro XIII A, f. 273 v.

2 Documentos Históricos, volume I, página 157.

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consignados. Isso causou a escassez dessas mercadorias em seus mercados normais, com a

conseqüente elevação de preços, que todos os esforços da legislação não conseguiam controlar.

Artesãos e técnicos iam aos bandos para as minas, procurando empregos melhores remunerados, e

isso, por sua vez, aumentava o custo dos serviços essenciais no resto do Brasil.

3- Origem dos muares e do serviço do tropeiro no Brasil-colonial

O muar veio substituir os braços nas asperezas dos caminhos da sociedade constituída na

região das minas e criar uma condição mais humana para o desenvolvimento econômico e social da

época.

Foi no extremo-sul que os paulistas encontraram, nas planícies platinas, milhares de

manadas de gado diverso - bovinos, cavalares, caprinos e muares (mula)- vivendo à solta naquela

região desde o tempo das minerações andinas.

E em 1730, ou antes, disso, teve início a exportação de animais dessa região para as regiões

centrais, o que deu início a um novo capítulo na vida das populações oprimidas na acidentada

região mineira. Esse comércio se tornou muito lucrativo e cresceu rapidamente, pois “... à medida

que se difundia o movimento minerador e os núcleos auríferos se multiplicavam pelo interior

sertanejo, tornavam-se cada vez mais exigentes no tocante ao problema da circulação; e as

demandas de muares e cavalos, que ali chegavam, eram rápidas e inteiramente sorvidas”.3

Após a regularização do tráfego de muares e apesar de sua abundância, o seu preço nos

mercados de venda era muito elevado. Segundo Eschwege nas terras do criador, uma besta custava

de quatro a seis mil réis, mas era vendida em Minas e no Rio de Janeiro por quatorze a vinte mil

réis.

Pode-se concluir com certeza que os primeiros muares que vieram para Minas Gerais eram

de origem espanhola, possivelmente catalã, uma vez que de lá saíram para as minerações platinas.

E é a descoberta das manadas livres pelos paulistas e o intenso comércio de animais que se

seguiu que vai fazer surgir no Brasil um sistema de transporte muito importante para o ciclo do

ouro, a tropa de burros que tinha como dono o tropeiro.

O tropeiro era um empresário de transporte, o patrão e o dono da tropa. Foi um elemento

muito importante e requisitado durante todo o ciclo do ouro, chegando inclusive a caracterizar um

tipo humano nos meios onde atuava. Pois o “...tropeiro, que era o agente por excelência do

comércio com as Gerais, era uma figura móvel que aos poucos foi adquirindo traços nítidos e

3 Oliveira Viana, Populações Meridionais do Brasil, volume 2, pág. 51, Rio de Janeiro, 1952.

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característicos. Transformou-se em personalidade típica de nossa sociedade colonial, figurando em

contos regionais, em nosso anedotário, em peças teatrais, etc. ...”4

As missões dadas a um tropeiro eram escrupulosamente cumpridas, suas cargas eram bem

cuidadas, faziam tudo com uma confiança ilimitada deposita em si pela população. As mulheres,

confinadas nos casarões coloniais, tinham por eles um apreço especial, pois eram eles que traziam

as suas encomendas, seus tecidos, suas rendas estrangeiras e algum bilhete de amor distante.

A formação da tropa de muares era constituía pelo grupo de animais (burros e bestas), pelo

tropeiro, camaradas, cozinheiro e pelo arrieiro, quando era muito grande o número de animais, e

não se pode esquecer do cão, que tinha uma importante tarefa na fuga de animais e na vigilância

noturna.

O tropeiro e sua tropa se distinguiam de outros tipos de cargueiros, pois seu objetivo

consistia em fazer o comércio de transporte. Ela não pertencia a nenhum produtor, industrial ou

comerciante como outros cargueiros, era de propriedade do tropeiro, que ia pelo interior alugando

serviços, vendendo a capacidade de carga de seus animais, ou então fazendo ele próprio a aquisição

de cargas para vendê-las. Ele as vendia nas mais diversas regiões do Brasil, principalmente no

período das secas que ficava de um lado para outro, suprindo pequenos agrupamentos e vilas. Já nas

chuvas, ficava em casa cuidando de seu plantio, venda e outros negócios.

As viagens dos tropeiros era um importante intercâmbio econômico e social, pois eram

portadoras de vida e civilização, além de mercadorias. Suas viagens traçavam uma rede de

comunicação entre as várias cidades e suas populações, e estabelecia ao mesmo tempo o contato

dessas comunidades com os portos marítimos, com a metrópole e, por conseguinte, com o “mundo’.

Os tropeiros e suas tropas foram o fator mais preponderante de permanência e fixação dos

grupos populacionais no interior do Brasil, pois a sobrevivência dessas populações, dependeu em

grande parte do serviço prestado por estes homens. Pois eles além de transportarem mercadorias,

traçarem uma rede de comunicação ainda criavam caminhos novos aproveitando os períodos

climáticos e a situação geográfica de cada região.

4 Mafalda P. Zemella, o Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no séc. XVIII, Boletim nº 118 da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras, USP – 1951.

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Conclusão

Milhares e milhares de pessoas vieram para a região das Minas Gerais, atraídas pelo sonho

de enriquecimento no garimpo, constituindo os primeiros povoados no interior da colônia, que

depois se tornaram as primeiras cidades da região das minas.

O processo de formação dessa população foi tão diverso e interessante que chegou a criar

uma possibilidade praticamente impossível na estrutura colonial, a ascensão social na vertical, pois

com a mineração um pobre tinha chances de melhorar de vida, e um negro se encontrasse ouro

poderia ser visto como um “branco” pela sociedade colonial.

A mineração do ouro foi uma atividade econômica que provocou várias mudanças na

colônia, ampliou e regularizou o mercado interno, modificou a produção de alimentos e implantou

um importante meio de transporte, o transporte no lombo de mulas como elemento fundamental

para a sobrevivência e permanência da população na região das minas. Pois foi tanta gente que veio

morar nessa região que houve crises de fome por falta de comida.

No decorrer do ciclo do ouro a sociedade mineradora se tornou um grande impulsionador do

desenvolvimento urbano, pois as vilas se tornaram cidades que passaram a funcionar como

importantes centros econômicos. E o tropeiro se tornou uma peça fundamental nesse processo

comercial, pois era ele que fazia todo o transporte das cargas para as regiões das minas. E isso

possibilitou que alguns tropeiros enriquecessem-se transportando e comerciando produtos pelo

interior do Brasil.

Várias tropas de mercadores se embrenharam pelos caminhos dos bandeirantes no início do

séc. XVIII levando gêneros alimentares produzidos nos arredores das vilas paulistas.

A mineração foi importante para o crescimento da região das Minas Gerais, como também

do Rio de Janeiro, São Paulo, do Sul do Brasil e do Nordeste. E o fator fundamental foi a

exploração do ouro e do diamante aliado ao grande desenvolvimento do mercado interno, ao

trânsito de metais preciosos como produtos alimentícios, construindo uma ampla rede de

comercialização interna percorrida e abastecida pelos tropeiros.

Durante o ciclo do ouro utilizou-se três tipos de transporte, o transporte a vela, o transporte

fluvial, mas o transporte pelo muar foi o mais importante., pois possibilitou o abastecimento das

Gerais, onde a única atividade era a mineração. E o comércio entre as diversas regiões brasileiras

com a região das Minas Gerais exigia uma intensidade no transporte de cargas e de passageiros. E o

único e possível meio de transporte empregado em regiões de péssimos caminhos e de relevo

acidentado era o muar.

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Dessa forma fica claro que o tropeiro e sua tropa se tornaram um elemento muito

importante e requisitado durante todo o ciclo do ouro, chegando inclusive a caracterizar um tipo

humano nos meios onde atuava. E as missões confiadas a eles eram escrupulosamente cumpridas,

suas cargas eram bem cuidadas e faziam tudo com uma confiança ilimitada depositada neles pela

população.

Diante dos fatos mencionados, fica comprovado que as viagens dos tropeiros foi um

importante intercâmbio econômico e social, pois além de mercadorias eram portadoras de vida e

civilização, uma vez que suas viagens traçaram uma rede de comunicação entre as várias cidades e

suas populações, estabelecendo ao mesmo tempo o contato dessas comunidades com os portos

marítimos, com a metrópole e, por conseguinte com o “mundo’.

Portanto vale ressaltar que o tropeirismo possibilitou o enriquecimento de vários homens

como também de várias regiões através do transporte de mercadorias e da rede de comunicação

criada pelos tropeiros durante o ciclo do ouro.

Valdemar S. dos Santos

Bibliografia

1- COTRIM, Gilberto. História do Brasil. Ed. Saraiva

2- SHIMIDT, Mário. História Crítica. Ed. Nova Geração

3- MAGNOLI, Demétrio e ARAÚJO, Regina. A nova geografia do Brasil. Ed. Moderna

4- GIOVANNI, Cristina Visconti e JUNQUEIRA, Zilda. História: compreender para

aprender. Ed. FTD

5- VVAA. Cadernos Tropeiros, nº 01- 2003

6- MAFALDA P. Zemella, o Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no séc. XVIII,

USP – 1951.

7- VIANA, Oliveira. Populações Meridionais do Brasil, volume 2, Rio de Janeiro, 1952.

8- Documentos Históricos, volume I, página 157.