A Infância e a Adolescência nos Meios de Comunicação Ibero ... Infancia e a Adolescencia...

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Análise da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação pelos Direitos da Infância e da Adolescência A Infância e a Adolescência nos Meios de Comunicação Ibero-americanos

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Análise da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos

de Comunicação pelos Direitos da Infância e da Adolescência

A Infância e aAdolescência nos Meios de ComunicaçãoIbero-americanos

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

1ª parte OS PRÊMIOS IBERO-AMERICANOS DE COMUNICAÇÃO PELOS DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

� Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 5� Legislação e Infância na Região . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 6� Jornalismo e Mobilização Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 10� Uma ONG de Jornalistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 12� Os Prêmios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 14� A Premiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 18� O Júri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 20� Os Vencedores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 22� A Escultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 23� Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 24

2ª parteANALÍSE DAS INSCRIÇÕES DA II CONVOCATÓRIA

� A Mídia Está Alerta . . . . . . . . . . .pág. 26� Imprensa . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 31� Televisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 40� Rádio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 51� Conselhos Tutelares . . . . . . . . . . .pág. 56� Trabalho Gráfico . . . . . . . . . . . . .pág. 57� Público Infantil . . . . . . . . . . . . . . .pág. 61� Público Adolescente . . . . . . . . . . .pág. 64

3ª parteAPÊNDICE

� Manifesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 69� Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 71� Organizadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 72� Ficha Técnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pág. 74

ÍNDICE

William Fernando Martinez/El Tiempo/Colômbia

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Angeles Torrejón Becerril/Diario Milenio/México

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

UMA ESTRATÉGIA PARA PROMOVER OS

DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

Na última década testemunhamos a efetiva incorporação dosdireitos da infância e da adolescência nas agendas políticase no debate público da região ibero-americana.

O papel da mídia e o compromisso dos comunicadores foi cru-cial no processo de aprovação e ratificação da Convenção sobre osDireitos da Criança em todos os países, elaborando informação emensagens de qualidade sobre a situação da infância, cobrindo osforos internacionais e nacionais para a elaboração de políticas deinfância, desenvolvendo importantes pesquisas e trabalhos decampo e, em resumo, impulsionando uma cultura de respeito pelosdireitos humanos na região.

Os desafios que se colocam para ibero-américa, onde mais dametade da população infantil e adolescente é pobre, exigem umesforço sustentado dos profissionais da comunicação na sua funçãode educadores da sociedade. Acompanhar a alocação orçamen-tária para a implementação de planos de ação pela infância, pro-mover uma co-responsabilidade de outros setores da sociedade einformar a população sobre os mecanismos de garantia dos dire-itos reconhecidos nas leis e nas declarações são tarefas que a mídiaestá começando a assumir.

Com o propósito de reconhecer e promover o trabalho dejornalistas e comunicadores sociais da região a favor do respeitopelos direitos de meninas, meninos e adolescentes, bem como deestimular uma investigação jornalística de qualidade em favor dainfância, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e aAgência Internacional de Notícias EFE, com o apoio do ComitêEspanhol do UNICEF e da Fundação Santillana para a Ibero-améri-ca, criaram em 1998 os Prêmios Ibero-americanos deComunicação pelos Direitos da Infância e da Adolescência.

O impacto desses prêmios na América Latina foi significativo.Nas duas convocatórias celebradas até o momento se registrarammais de 1.500 inscrições de centenas de meios de comunicação.

Esta publicação é produto destes anos de compromissocompartilhado entre as organizações promotoras desta iniciativa,às quais somam-se agora as Fundações Telefônica da Espanha,Argentina, Brasil, Chile, Marrocos e Peru.

MÍDIA E DIREITOSA Infância e a Adolescência nos Meios de Comunicação Ibero-

americanos é a memória e o justo reconhecimento aos comuni-

cadores e meios que participaram da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação.

É também a primeira análise de caráter regional que se rea-liza sobre o esforço jornalístico focalizado na realidade das crian-ças e adolescentes da região. Este trabalho foi desenvolvido poruma equipe de especialistas da Agência de Notícias dos Direitos daInfância (ANDI), do Brasil, com a assessoria do UNICEF e daAgência EFE, o patrocínio e colaboração das Fundações Telefônicae o apoio da Fundação Santillana para a Ibero-américa. A amostrado estudo tem como base os 931 trabalhos de imprensa, rádio,televisão, fotografia e publicações dirigidas ao público infantil eadolescente inscritas na última edição dos prêmios.

Desta maneira, e em função de uma metodologia construídaao longo de mais de 10 anos de experiência da ANDI na promoçãode uma cultura de direitos nos meios de comunicação do Brasil,foram revisados os temas mais abordados pelos meios e comuni-cadores ibero-americanos, os tipos de denúncias que se realizam,qual é o tratamento das causas que provocam a violação dos dire-itos da infância ou do contexto social em que estas se produzem.O estudo focaliza também as propostas de solução para os proble-mas abordados, a referência a experiências bem sucedidas parauma promoção adequada dos direitos da infância e o manejo defontes especializadas.

O resultado busca construir um instrumento de trabalho aserviço de profissionais dos meios de comunicação na região ibero-americana e membros de instituições, universidades e organiza-ções não-governamentais especializadas; um referencial de quali-dade para ajudar a empreender os compromissos pendentes coma infância e a adolescência ibero-americanas.

Nils KastbergEscritório Regional UNICEF para América Latina e o Caribe

Miguel A. GozaloAgência Internacional de Notícias EFE

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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AConvenção sobre os Direitos da Criança (CDC),aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidasem 20 de novembro de 1989, é o tratado interna-

cional de Direitos Humanos mais ratificado na História, con-tando atualmente com uma aceitação quase universal.

A Convenção reconhece os direitos humanos de todas ascrianças e adolescentes e estabelece um marco jurídico deproteção integral em virtude do qual os Estados que a rati-ficaram assumem a obrigação de garantir, sem nenhum tipode discriminação, a sobrevivência, o crescimento e o desen-volvimento das pessoas menores de 18 anos e sua formaçãopara uma vida independente em sociedade, atendendo sem-pre a seu melhor interesse.

Todos os países ibero-americanos ratificaram aConvenção no início da década de 1990, o que significou oreconhecimento dos direitos da criança como parte essencialdo sistema democrático desses países. A adoção da novafilosofia desencadeou um processo de adaptação das legis-lações internas aos princípios da Convenção, tendo comoponto de partida o Estatuto da Criança e do Adolescenteaprovado pelo Brasil em 13 de julho de 1990.

Em 10 anos, as leis dos países da América Latina, comexceção da Argentina, Colômbia, México, Chile e Uruguai,que estão em processo de mudança, abandonaram, commaior ou menor sucesso, os modelos assistencialistas – típi-cos das legislações anteriores à CDC – e desenharam novossistemas dirigidos a atender as necessidades da infância deforma integral com base nos direitos humanos.

O modelo anterior à Convenção tinha como fundamentoa chamada doutrina da situação irregular e se caracterizavapela implementação de políticas assistenciais e de proteção

especial, estruturadas para atender às crianças em risco e emsituação irregular – abuso sexual, maus-tratos, exploração,conflitos armados, abandono, infrações penais, etc. Um mo-delo que sugeria soluções de controle e internação das crian-ças em grandes instituições de caridade, como substitutivasda família e da comunidade, negando a elas, desta forma, apossibilidade de acesso a serviços sociais compensatórios e àreinserção social, no caso dos adolescentes em conflito com alei. Estas políticas estavam orientadas para atender aos maisnecessitados em função de uma visão assistencialista e ter-minavam punindo e excluindo os mais pobres.

As reformas legislativas aprovadas após a Convençãonão foram idênticas em todos os países da América Latina.Em função das conjunturas sociais e políticas, foram promul-gados, em alguns casos, códigos integrais – que pretendemregular todos os direitos contemplados na CDC – e , em ou-tros, leis reguladoras de alguns âmbitos específicos de pro-teção. Este é o caso das leis sobre responsabilidade penal dosadolescentes, sobre proteção jurídica das crianças, sobre re-gulamentação das adoções, sobre paternidade responsávelou contra a exploração sexual. Em uns e outros, os novosmarcos legais partem da convicção de que a criança temdireito a desenvolver plenamente seu potencial e de que afamília, a sociedade e o Estado têm a obrigação de criar ascondições para que esse desenvolvimento ocorra. Não é umaquestão de caridade, é uma questão de direito.

Desta maneira, o sistema de proteção integral propostopela CDC e as leis inspiradas nela implicam a articulação, pormeio de planos nacionais de ação, de fatores-chave para opleno desenvolvimento da criança, tais como a educação deensino médio obrigatória, a universalização do sistema

AS LEIS E AS CRIANÇAS

NOS PAÍSES IBERO-AMERICANOS

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nacional de saúde, a renovação e ampliação do sis-tema público de serviços sociais, a prevenção eproteção da infância em situação de vulnerabili-dade, a promoção da participação, o lazer, a cul-tura e a informação.

As crises econômicas que nos últimos anosestão afetando a região, o peso dos juros da dívi-da externa e o aumento do déficit público estãoproduzindo, porém, uma desaceleração preocu-pante nos processos de implementação dos novoscódigos e leis da infância e adolescência, o que dealguma maneira reflete a falta de prioridade queos direitos das crianças têm ainda nas agendasnacionais. O desenvolvimento de planos nacionaisde ação em cada país, que orientam o cumpri-mento das metas sobre desenvolvimento infantilacordadas globalmente para os próximos dezanos na Sessão Especial das Nações Unidas emfavor da Infância e da Adolescência, realizada em2002, tampouco alcançou até o momento osníveis desejados para a região.

Nesse sentido é urgente aumentar o investi-mento para assegurar a aplicação efetiva dasleis. É imprescindível iniciar a plena capacitaçãodos funcionários encarregados da execução daspolíticas de infância e adolescência nos princípiosdo novo marco legislativo. Do mesmo modo, énecessário virar a página das reminiscências doantigo modelo em alguns países – internaçãoinfantil, por exemplo – para avançar na arran-cada e no desenvolvimento dos mecanismos de

garantia dos direitos da infância previstos naletra da lei e aprofundar o processo de descen-tralização administrativa dos sistemas de pro-teção para o âmbito local, imprescindível paraque a comunidade cumpra com o papel que asleis lhe atribuem, como centro de atenção e pro-teção da infância.

A América Latina experimentou um processomodelar de reforma legislativa para adaptar aConvenção sobre os Direitos da Criança, sem para-lelo em outras regiões do planeta, e graças a issohoje em dia menos crianças morrem prematura-mente e mais delas têm a chance de viver emlares com acesso a serviços básicos, receber umaalimentação adequada ou ter acesso à educaçãobásica. Esta vontade política não deve esmorecer,o esforço realizado deve adquirir sustentabilidadepara atingir os índices de desenvolvimentohumano que os nossos países merecem.

Ainda nos países que possuem Códigos Inte-grais de Proteção e naqueles com legislaçõesespecializadas persistem as violações aosdireitos da infância. Essa reali-dade é agravadaem grande medidapor atitudes, condu-tas e práticas de base cul-tural que comprometem em algu-mas ocasiões o pleno desenvolvi-mento ou até a sobrevivência dainfância e a adolescência.

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DATA DE RATIFICAÇÃO DA CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS

DA CRIANÇA (CDC), LEIS DA INFÂNCIA E INSTITUTOS NACIONAIS

DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NA AMÉRICA LATINA

PAÍSES DATA DE RATIFICAÇÃO LEIS DA INFÂNCIA INSTITUTOS NACIONAIS DE PROTEÇÃO DA CDC DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Argentina 05 Dezembro 90 – Conselho Nacional da Infância,

Adolescência e Família

Bolívia 26 Junho 90 Código da Criança Vice-ministério de Assuntos da Criança e Adolescente

e Adolescente (1999) (dependente do Ministério de Assuntos

Camponeses e Indígenas, Gênero e Gerações)

Brasil 25 Setembro 90 Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) Conselho Nacional dos Direitos

da Criança e do Adolescente

Chile 13 Agosto 90 Projeto de Lei de Responsabilização dos Serviço Nacional de Menores (SENAME)

Adolescentes por Infrações à Lei Penal

Colômbia 28 Janeiro 91 – Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF)

Costa Rica 21 Agosto 90 Código da Infância e Adolescência (1997) Patronato Nacional da Infância (PANI)

Lei de Justiça Penal Juvenil (1999)

Lei Contra a Exploração Sexual

das Pessoas Menores de Idade (1999)

Lei de Paternidade Responsável (2001)

Cuba 21 Agosto 91 – –

Equador 23 Março 90 Código da Infância e Adolescência (2002) Conselho Nacional da Infância e Adolescência

El Salvador 10 Julho 90 Lei do Menor Infrator (1994) Instituto Salvadorenho de Proteção

Código da Infância e Adolescência (em tramitação) Integral de Crianças e Adolescentes (ISNA)

Em alguns países e culturas da América Latina, práti-cas como o trabalho infantil ou o casamento precoce nãosão considerados como violações dos direitos da infância.Em outros, a educação não é valorizada como uma priori-dade. Mais recentemente, surgiu uma tendência em algu-mas sociedades de estigmatizar os adolescentes como res-ponsáveis por muitos problemas que os afetam.

Cabe às autoridades governamentais cumprir os compro-missos assumidos com a infância e adolescência nos diferentesforos nacionais e internacionais e à sociedade civil participarativamente no processo de mudanças já iniciado. Diante destepanorama, o papel dos meios de comunicação, exercendo tra-balhos de informação, monitoramento ou de conscientizaçãosocial, é determinante.

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PAÍSES DATA DE RATIFICAÇÃO LEIS DA INFÂNCIA INSTITUTOS NACIONAIS DE PROTEÇÃO DA CDC DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Guatemala 06 Junho 90 Lei de Proteção Integral da Infância Secretaria de Bem-estar Social

e Adolescência (2003)

Honduras 10 Agosto 90 Código da Infância e Adolescência (1996) Instituto Hondurenho da Criança

e da Família (IHNFA)

México 21 Setembro 90 Lei para a Proteção dos Direitos de Meninas, Conselho Nacional da Infância e Adolescência (COIA)

Meninos e Adolescentes (nível federal) (2000) Sistema Nacional de Desenvolvimento

Integral e Família (DIF)

Nicarágua 05 Outubro 90 Código da Infância e Adolescência (1998) Conselho Nacional de Atenção Integral

à Infância e Adolescência (CONAPINA)

Panamá 12 Dezembro 90 Lei de Responsabilidade de Adolescentes (1999) Ministério da Juventude,

Código da Infância e Adolescência (em tramitação) da Mulher, Infância e Família

Paraguai 25 Setembro 90 Código da Infância e Adolescência (2001) Secretaria Nacional da Infância

e Adolescência (SNIA)

Peru 05 Setembro 90 Código das Crianças e Adolescentes Ministério da Mulher e

(1993), modificado em 2000 Desenvolvimento Social (MIMDES),

Instituto Nacional de Bem-estar Familiar (INABIF)

República Dominicana 11 Junho 91 Código para a Proteção de Meninos, Conselho Nacional para a Infância (CONANI)

Meninas e Adolescentes (2003)

Uruguai 20 Novembro 90 – Instituto Nacional do Menor (INAME)

Venezuela 14 Setembro 90 Lei Orgânica para a Proteção Conselho Nacional de Direitos

da Criança e do Adolescente (1998) da Criança e do Adolescente (CNDA)

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Acomunicação é um direito. A cidadania pres-

supõe o direito à informação como pressu-

põe o direito à saúde, à educação, à segu-

rança. Essa perspectiva da comunicação como

peça-chave do exercício democrático redefine o

papel dos diversos atores sociais envolvidos no

debate público. No caso do comunicador, o dia-a-dia de

sua profissão passa a incluir a responsabilidade social de fazer

sua parte para garantir o acesso a esse direito básico.

O jornalismo afeta a vida pública e pode ser decisivo na

mobilização social necessária para promover as mudanças

inadiáveis e urgentes na situação da infância e adolescência

de países ibero-americanos. A maneira como a informação é

tratada pelos profissionais que atuam em meios de comunica-

ção pode ajudar a fortalecer uma comunidade, a enrique-

cer o debate público em torno das questões determinan-

tes para garantir as chances de desenvolvimento a cada

cidadão. Esse tratamento da notícia, no entanto,

quando incompleto ou mesmo incorreto, deixa lacu-

nas informativas graves, que prejudicam o direito de

cada criança, adolescente, homem e mulher de par-

ticipar das decisões que afetam suas vidas.

Os Prêmios Ibero-americanos de Comunica-

ção pelos Direitos da Infância e Adolescência

foram criados a partir do reconhecimento do

papel decisivo desempenhado pelos comunicado-

res no jogo democrático. A memória dos prêmios e o estudo

do conteúdo das peças inscritas em sua segunda edição, con-

tidos nesta publicação, têm o objetivo de oferecer um instru-

mento inédito de auto-reflexão e análise para os comunica-

dores da região.

Este livro reúne diversos exemplos promissores do quan-

to a atuação social da mídia deverá continuar crescendo,

embora tenha que enfrentar grandes obstáculos. Em muitos

sentidos, os desafios do exercício de jornalismo público

remetem apenas aos preceitos básicos do jornalismo de qua-

lidade. A diversidade de fontes é um exemplo crítico.

Inserida na experiência democrática, a comunicação em

torno da infância e adolescência deve ouvir todas as instân-

cias envolvidas no sistema de garantia de direitos. Começan-

do pela criança e o adolescente, legitimamente reconhecidos

como protagonistas de sua própria história, a família e a

comunidade. A partir desse contato, investigar as condições

de vida oferecidas por toda a sociedade a suas meninas e

meninos significa investigar todas as instituições responsá-

veis pela esfera pública. Embora nada disso seja novo aos

códigos de conduta profissional de jornalistas da região, a

análise das matérias inscritas na II edição dos prêmios mos-

tra, por exemplo, que a família ainda é muito pouco ouvida

e que o papel do Poder Executivo é hiperdimensionado,

enquanto o Legislativo e o Judiciário respondem pouco, na

mídia, por sua atuação diante dos desafios nacionais.

JORNALISMO E

MOBILIZAÇÃO SOCIAL

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

Assim como o jornalista é responsável por disseminar

informações às quais todos têm direito ao acesso, as fontes

dessas informações também têm a obrigação institucional de

fazê-lo. O juiz, o legislador e o gerenciador lidam com um

bem público que não é de sua propriedade: a informação.

Sob essa ótica, nem o jornalista nem a fonte são protagonis-

tas da história. A sociedade protagoniza cada um dos temas

abordados em matérias de jornais, revistas, tevês e rádios e

sites diariamente.

Assim, cada cidadão escreve sua parte e o acesso à

informação é fundamental para que o direito de escrever

seu próprio caminho se realize.

O jornalismo social depende da interatividade com os

leitores. Depende da disposição do jornalista para transfor-

mar sua comunidade, sua cidade, seu país, num campo de

investigação. Vai frontalmente contra o exercício jornalísti-

co que não sai das redações ou que se restringe a gabine-

tes e discursos oficiais. Também vai contra a descontextua-

lização dos fatos, que os isola e retrata como acontecimen-

tos sem relação com a realidade na qual se inserem. E pres-

supõe que a notícia será utilizada pelo público, que poderá

se apropriar da informação para decidir e agir. Ou seja,

busca apresentar os fatos contextualizando sua repercussão

na vida de cada cidadão.

Esse tratamento responsável e ético da informação

resulta em credibilidade junto a leitores, ouvintes e teles-

pectadores, fortalecendo as empresas de comunicação. A

responsabilidade social das empresas, em todos os ramos

de atuação, se expressa aqui como papel decisivo sobre o

tratamento da notícia. O tempo que um jornalista poderá

dedicar a determinado assunto é uma definição gerencial

do meio de comunicação para o qual trabalha. Priorizar

temas relacionados a políticas públicas e à infância e ado-

lescência passa, também, por uma decisão empresarial.

Nesse sentido, os Prêmios Ibero-americanos de Comunica-

ção pela Infância e Adolescência são um reconhecimento às

empresas que apostam no papel social da informação.

Faltam, no entanto, instrumentos para auxiliar comu-

nicadores na busca de novos caminhos para exercer sua

função pública. O presente livro é uma iniciativa do Fun-

do das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Agên-

cia EFE, da Fundação Telefônica e da Fundação Santillana,

para fortalecer a abrangência dos prêmios, oferecendo

aos profissionais da comunicação um retrato analítico dos

trabalhos apresentados. O conjunto de inscrições da

segunda convocatória aponta ricos caminhos que já estão

sendo explorados com grande qualidade técnica e ética na

região. Sua análise também revela importantes desafios,

que precisam ser superados por jornalistas e fontes para

diminuir mais rapidamente as lacunas informativas que

prejudicam a vivência da cidadania em nossos países.

Para realizar essa análise, foi empregada a metodo-

logia desenvolvida por uma organização não-governa-

mental criada por jornalistas brasileiros para atuar junto

aos profissionais de comunicação. A Agência de Notícias

dos Direitos da Infância (ANDI) realiza há onze anos aná-

lises qualitativas e quantitativas sobre o tratamento edi-

torial que a imprensa brasileira dá a temas envolvendo

crianças e adolescentes. Seu modelo de pesquisa e análi-

se foi adaptado pelos profissionais da ONG e especialistas

na área de defesa de direitos para ser aplicado ao uni-

verso de reportagens inscritas na II Edição dos Prêmios

Ibero-americanos de Comunicação pelos Direitos da

Infância e Adolescência.

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AAgência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI)recebeu um reconhecimento especial do júri interna-cional na II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de

Comunicação pelos Direitos da Infância e Adolescência. Aorganização não-governamental brasileira foi criada por jor-nalistas em 1992 para fortalecer junto à mídia o tratamen-to oferecido aos direitos da criança, que haviam passado poruma verdadeira revolução legal com a entrada em vigor noPaís, em 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A ANDI vê os meios de comunicação como ponto funda-mental para promover o conhecimento e a informação sobreos direitos da criança e do adolescente e para tornar públicaa demanda pelo cumprimento desses direitos. Alta priorida-de é dada ao papel dos jornalistas, que têm a capacidade dedisseminar a informação e influenciar a opinião pública esão vistos como cidadãos que necessitam de qualificação

especial na área dos direitos da infância e adolescência.Quando iniciou-se o trabalho da organização,

raramente pessoas com menos de 18 anos apare-ciam como protagonistas de matérias nos jornais

e revistas. Além disso, pouco espaço eradestinado às necessidades de políticas

de atenção especial a essa faixaetária. O foco principal dos

textos se concentrava nasinfrações cometidas por

meninos e meninas, uma vez

que os jornalistas que costumavam cobrir questões infanto-juvenis eram das seções de polícia e de colunas do crime.

As iniciativas da ANDI destinaram-se, desde então, aalterar esta realidade precedente. A missão era, por umlado, a de aumentar a o espaço editorial dedicado às temá-ticas prioritárias para o desenvolvimento das novas gera-ções. Por outro lado, buscava-se qualificar essa cobertura,de modo que os jornalistas e os meios pudessem percebercrianças e adolescentes de um ponto de vista dos direitoshumanos, ao invés de utilizarem uma abordagem baseadaem vulnerabilidades e em necessidades de tutela.

A partir de 1996, a Agência desenvolve uma meto-dologia específica para acompanhar, classificar e analisara cobertura de questões relacionadas à infância e adoles-cência na mídia impressa. Naquele ano, foram avaliados10.700 artigos, reportagens e editorais publicados emcerca de 50 grandes jornais. A pauta Educação ocupava o8ºlugar no ranking de temas mais abordados. Em 2002,das mais de 92 mil matérias analisadas pela ANDI em 50jornais brasileiros e 10 revistas de circulação nacional,cerca de 23 mil são sobre Educação, o tema mais focali-zado pela mídia impressa em matérias sobre crianças eadolescentes.

Além do crescimento de 800% no número de matériassobre crianças e adolescentes em sete anos, o impacto dessetrabalho pode ser avaliado pelo fato de que temas como Edu-cação, Saúde da Criança, Direitos e Justiça e Abuso Sexual, os

MONITORAR E QUALIFICAR A MÍDIA PARA

FORTALECER O SISTEMA DE PROTEÇÃO À

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA:UMA ONG DE JORNALISTAS NO BRASIL

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mais tratados pelos veículos, passaram a ser apre-sentados com maior qualidade de informação, maiordiversidade de fontes e mais riqueza de detalhes.

Tal monitoramento continua sendo combinadoe complementado com papel de assessoramento ecapacitação dos profissionais dos veículos de comu-nicação exercido pela ANDI. A atenção contínuapara a quantidade e a qualidade da notícia publica-da conduziu ao desenvolvimento de grupos de estu-do, de seminários e de publicações de análises demídia, visando mobilizar e qualificar não só jorna-listas, mas também fontes de informação em direi-tos humanos e na área da infância e adolescência.

MUITO ALÉM DO JORNALISMO A promoção de uma abordagem jornalística

baseada em direitos humanos tendo em vista avalorização do papel central da mídia demonstraresultados que vão além dos limites dos meios decomunicação e do jornalismo: o controle social dosdireitos da criança. As iniciativas empreendidaspela ANDI fornecem componentes essenciais a ummecanismo eficaz desse monitoramento.

Ao adquirir a informação sobre direitos dacriança e do adolescente, sobre as obrigações doEstado e ao ter acesso ao sistema de comunicaçãoem geral, indivíduos e organizações reconhecemseus deveres para a efetiva implementação des-ses direitos e se sentem com autoridade e capaci-dade para agir em nome deles. A difusão dainformação qualificada é extremamente relevan-te para que o cidadão pressione o governo amelhorar ou implementar políticas de enfrenta-mento das violações de direitos.

Todo esse processo resulta em fortalecimento

do acompanhamento de políticas públicas e levamuitos setores da sociedade a tomarem partedele de maneira mais ativa e consciente. Além docomunicador, principal sujeito de monitoramentoe acompanhamento do trabalho jornalístico reali-zado pela ANDI, outros atores sociais tambémforam analisados.

Os Conselhos Tutelares e de Direitos da Criançae do Adolescente e outras instâncias de monitora-mento social viram suas ações fortalecidas. Nãosomente compreenderam melhor a importância dainformação publicada e se aproximaram dos jorna-listas e dos meios, mas também a população tor-nou-se mais ciente das ações executadas por estesconselhos, se tornando mais disposta a contribuircom seu papel fundamental. ONGs e movimentossociais relacionados à área também beneficiaram-se com as ações da ANDI: suas iniciativas e campa-nhas são cobertas de maneira mais eficaz pelosmeios e claramente entendidas por jornalistas. AANDI estimulou a imprensa a incluir também osetor privado ao debate, já que lhe cabe participa-ção efetiva em projetar, financiar, executar e moni-torar ações em benefício de crianças e adolescentes.

Por último, as ações da ANDI também ajudama realçar a eficiência e a eficácia de iniciativas pri-vadas e públicas para a promoção e defesa dosdireitos de crianças e adolescentes. Fornecer a in-formação oportuna e qualificada sobre projetossociais é uma tarefa difícil em um país tão grandee desigual como o Brasil. E algumas iniciativas espe-cíficas da Agência, como o extenso banco de dadossobre projetos sociais e a edição de guias de fontesde informação, por exemplo, ajudam a impulsionarainda mais o controle social em todo o País.

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MÍDIA E AGENDA SOCIAL: PREMIANDO A DEFESA

DOS DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO IBERO-AMERICANOS

Os Prêmios Ibero-americanos reconhecem a importância da mídia para mudar a realidade de 114 milhões de crianças e adolescentes em situação de pobreza

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Aproteção dos direitos de crianças e adolescentes é umapauta jornalística de urgência inquestionável nos paísesibero-americanos. A metade das crianças latino-ameri-

canas é pobre. São cerca de 114 milhões de meninos e meni-nas vivendo em condições de risco e pobreza, dos quais maisde 500 mil morrem todos os anos em função de enfermida-des que poderiam ser evitadas com medidas simples.

Esse quadro só pode ser mudado com o engajamento detoda a sociedade. Para que as diversas instâncias sociais pos-sam atuar nessa mudança é fundamental dispor do maiornúmero possível de informações qualificadas sobre a situa-ção da infância e da adolescência na região. O papel dosmeios de comunicação é central nesse processo, tanto nadenúncia e contextualização dos problemas, quanto nainvestigação de suas soluções. Isso porque, em meio à situa-ção dramática enfrentada por tantas crianças e adolescen-tes, a região coleciona iniciativas de sucesso na criação eimplementação de estratégias para mudar essa realidade,

por meio de ações que permanecem, muitas vezes, desco-nhecidas pelo grande público.

A mobilização social em torno da questão da infância eseus direitos é a única garantia de que essa realidade possamudar. E as agendas política, social e econômica das naçõessão influenciadas diretamente pelo espaço e tratamento quea mídia dá a determinados temas. Os Prêmios Ibero-ameri-canos de Comunicação pelos Direitos da Infância e da Ado-lescência foram criados a partir da certeza de que os meiosde comunicação têm um papel central na definição, junto àopinião pública, das prioridades nacionais e regionais.

O objetivo é estimular a investigação da realidade que seimpõe sobre crianças e adolescentes, reconhecendo o traba-lho dos jornalistas, comunicadores sociais e meios de comuni-cação que dedicam atenção ao tema. Um estímulo à denún-cia, à contextualização dos problemas regionais e suas varia-das implicações e ao olhar atento às mudanças e conquistasque contribuem para reduzir as desigualdades sociais.

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

A primeira convocatória dos prêmios, em 1999, mobili-zou a inscrição de 600 trabalhos de jornalistas da região,publicados entre 1º de janeiro de 1998 e 30 de junho de1999. Dois anos mais tarde, 931 trabalhos, publicados entre30 de junho de 1999 e 23 de setembro de 2001, foram ins-critos na II edição (veja o quadro na página 17). Mas é norelato dos próprios jornalistas e no posicionamento dos veícu-los que se pode verificar com mais clareza o impacto dessainiciativa, organizada pelo Escritório Regional do UNICEFpara América Latina e o Caribe e pela Agência Internacionalde Notícias EFE, com o apoio do Comitê Espanhol do UNICEF,da Fundação Santillana para a Ibero-América e com a cola-boração da Fundação Telefônica.

A criação de um prêmio específico para o jornalismo queinvestiga o cumprimento dos direitos de crianças e adoles-centes em países ibero-americanos motiva a reflexão daprópria mídia sobre seu papel na evolução social, política eeconômica necessária para a garantia de uma vida digna atodas as crianças e adolescentes da região.

MÍDIA EM DEBATENo dia 21 de novembro de 2001, horas antes da festa

de entrega dos Prêmios Ibero-americanos de Comunicaçãopelos Direitos da Infância e da Adolescência, em Quito, noEquador, o jornal Hoy levou às bancas daquele país refle-xões sobre como qualificar o tratamento da questão dainfância e aumentar seu espaço nos meios de comunicação.No artigo La Niñez no es Parte de la Agenda de los Medios(A infância não é parte da agenda dos meios), entraves aodesempenho da mídia são apontados a partir da entrevistade vários membros do júri técnico da pre-miação. Entre os problemas apresen-tados estão: a debilidade da forma-ção oferecida pelos cursos de comu-nicação, o descuido das organiza-ções não-governamentais com seudiscurso e a falta de uma política decomunicação para incluir o debatesocial dentro dos meios.

Reportagens de qualidade dependem da dedicação dosprofissionais que as produzem e da decisão dos meios depriorizar recursos e tempo de seus jornalistas para a investi-gação de determinados temas. Os prêmios sensibilizam asempresas para a importância da investigação jornalísticasobre a situação da infância e da adolescência. Em 12 denovembro de 2001, o Canal 3 publicou anúncio no jornalPrensa Libre, da Guatemala, sobre sua premiação na cate-goria Televisão com a reportagem Un Sucio Negocio: Adop-ciones Ilegales (Adoções ilegais, um negócio sujo). Naquelapeça publicitária, um compromisso empresarial é tornadopúblico: “Radio Television Guatemala S.A. (Canal 3) e Tele-diario seguirão apoiando qualquer atividade informativa emprol da infância e da sociedade guatemalteca”.

No dia 23 de novembro, a Telepacífico anunciou no jor-nal El País, da Colômbia, que o programa Pantalla Chica(Telinha) era uma das principais opções do canal regionalem sua programação infantil e que havia sido um dos fina-listas dos prêmios.

São exemplos do orgulho de empresas diante do reco-nhecimento de que cumpriram – enquanto meios de comu-nicação – uma função social determinante para o presentee o futuro de seus países.

Vencedor do Grande Prêmio com a reportagem Hambru-na en Jocotán (Fome em Jocotán), o jornal Siglo Ventiuno,da Guatemala, publicou o editorial Al Mejor Periodismo (Aomelhor jornalismo). O veículo dividiu com os leitores o desa-fio que surge a partir desse reconhecimento: “O troféu tempara nós um duplo significado: prêmio e compromisso com omelhor jornalismo”.

Mais clara é a repercussão dos prê-mios junto aos profissionais da comu-nicação. Julio Paz, finalista com oprograma de rádio Verás que todo esmentira (Verás que tudo é mentira),destacou em entrevista ao jornal LosAndes, da Argentina, que esse reco-

nhecimento foi a coisa mais impor-tante que aconteceu em sua vida profissional.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

Depois de divulgados os nomes dos 51 finalistas, apublicação Rumbo, de Santo Domingo, homenageou a jorna-lista Tânia Polanco, que concorria aos prêmios com a repor-tagem Condenados al Desamparo (Condenados ao Desam-paro). “O anúncio final terá lugar em 5 de novembro próxi-mo. Até esse dia, permaneceremos com os dedos cruzados.Por Tânia, por seu esforço cotidiano e fundamentalmentepela infância e adolescência na República Dominicana”.

O reconhecimento da importância de estar entre os fina-listas dos mais de 900 inscritos foi orgulhosamente grafadopelo jornal. Tânia não foi a vencedora na categoria Impren-sa, mas, certamente, experimentou o estímulo e a mobiliza-ção pelo reconhecimento de seu trabalho.

HONRAS E VERGONHAEm 6 de novembro de 2001 Eliane Catanhêde, diretora

da sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, um dos maisimportantes jornais brasileiros, publicou o artigo Honras eVergonha, sobre sua experiência como membro do júri inter-nacional que escolheu os vencedores da II edição dos prê-mios. “Morri, ora de orgulho ora de vergonha, discutindodurante dois dias com quatro outros jurados da fase final doPrêmio Ibero-Americano de Comunicação pelos Direitos daInfância e da Adolescência, aqui na Cidade do Panamá”,escreveu Catanhêde na página de opinião do jornal. “Deorgulho, porque foi fantástico confirmar, ou descobrir, o níveltécnico e jornalístico da imprensa, do rádio e da televisão nospaíses da América Latina, particularmente no Brasil. De ver-gonha, porque é chocante como ainda há miséria, violência,falta de respeito e de decisão política infernizando o presen-te e inviabilizando o futuro de nossas infelizes crianças”.

Foram vários os veículos de comunicação que abriramespaços para homenagear alguns de seus profissionais, reco-nhecidos na II edição dos prêmios. Em um dos depoimentosmais marcantes, a vencedora do Grande Prêmio, Julia Cora-do, lembrou que a denúncia nos meios de comunicação nãoé suficiente. Segundo Corado, é preciso uma campanha per-manente desses meios para despertar a ação dos governos.Isso porque, caso a mídia não esteja constantemente atenta

às necessidades sociais de seu país, medidas emergenciaistomadas diante de uma denúncia podem perder força rapi-damente. No caso específico da reportagem vencedora, anecessidade social é não permitir que parte de sua popula-ção morra de fome.

A ESTRUTURA DOS

PRÊMIOS IBERO-AMERICANOS

� COMITÊ EXECUTIVO – formado pelos organi-zadores, aprova o regulamento e a composição do júritécnico e do júri internacional e planeja as atividades decada convocatória dos prêmios. Os membros do Comitêrepresentam a diretoria do Escritório Regional do UNICEFpara América Latina e Caribe, a presidência da AgênciaInternacional de Notícias EFE e o Comitê Espanhol doUNICEF, com o apoio da Fundação Santillana.

� COMITÊ TÉCNICO – responsável pela pré-seleçãodos participantes e escolha dos finalistas de cada ediçãodos prêmios. Reúne representantes do Comitê Executivo,dos oficiais de comunicação do UNICEF, da Agência EFEnos países ibero-americanos, da Fundação Santillana eda Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI).

� JÚRI INTERNACIONAL – composto por seis mem-bros, escolhe os vencedores em cada categoria e o ga-nhador do Grande Prêmio Ibero-Americano deComunicação pelos Direitos da Infância e Adolescência. Ojúri é presidido pelo presidente da Agência EFE deNotícias. O diretor regional do UNICEF para AméricaLatina e Caribe é o secretário do júri, cuja composiçãoconta com pelo menos mais três membros, escolhidos porseu prestígio profissional. As sessões deliberativas dessesjurados têm o apoio de dois membros do Comitê Técnico.

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

As 931 matérias inscritas na segunda edição dosprêmios foram analisadas por um pré-júri, que elegeu51 finalistas como merecedores de reconhecimentopúblico. Os jurados avaliaram:� Nível ético e atenção à defesa dos direitos e

interesses da infância em toda a região ibero-ameri-cana, ou em uma das sub-regiões ou países que aintegram;� Contextualização da informação, incluindo

causas, antecedentes, estado atual da situação descritae possíveis conseqüências, com prioridade aos traba-lhos que oferecem uma visão integral da infânciaibero-americana;� Cuidado ao usar imagens, vozes e outros conteú-

dos que, utilizados incorretamente, podem afetar a inte-gridades de meninos e meninas;

� Uso exaustivo das normas legais existentes paraproteção à infância;� Utilização de diferentes tipos de fontes para a ela-

boração da informação, contrastando distintas versões deum mesmo acontecimento. Foi valorizado o esforço paradar voz à comunidade em geral, ao âmbito acadêmico, aosetor econômico privado ou público, às diversas tendên-cias políticas e, certamente, às meninas e meninos;� Convocação da sociedade a empreender ações

concretas, fortalecer sua responsabilidade e capacidadecomo protagonista da solução dos problemas que atin-gem todos os cidadãos e afetam a infância;� Reforço de valores positivos, como solidariedade,

respeito, paz, tolerância, mesmo quando se refira a umaação negativa;� Originalidade no estilo ou enfoque pessoal.

CRITÉRIOS OBSERVADOS PELO CORPO TÉCNICO

PARA A ESCOLHA DOS FINALISTAS EM TODAS AS CATEGORIAS

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

A vencedora do Grande Prêmio Ibero-america-no de Comunicação pelos Direitos da Infância e daAdolescência foi Julia Corado (foto), da Guatemala. Em

uma série de reportagens publicadas no Diario Siglo Ventiuno,a repórter expôs o problema da seca e da fome em algumasáreas do país. Segundo o jurado Miguel Gozalo, presidente daAgência EFE, Hambrura em Jocotán (Fome em Jocotán), alémde descrever de forma emocionante o drama da fomeextrema, investiga diferentes aspectos da situação, consultan-do várias fontes. O material fotográfico e o levantamento pre-ciso de dados somam-se ao drama relatado in loco. A série,publicada entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro de2001, teve o grande mérito de precipitar o reconhecimento,por parte do governo da Guatemala, do problema da fome,mobilizando, inclusive, a comunidade internacional.

A tragédia de uma das personagens misturou-se à tra-jetória dessa investigação jornalística. Quando soube que aequipe de reportagem havia chegado ao hospital emJocotán, a pequena Juanita Garcia, de doze anos, esforçou-se para levantar da cama e, carregando o soro que a nutriapelas veias do braço, foi ao encontro dos jornalistas contar oque estava lhe acontecendo. Depois do relato, no caminhode volta à cama, caiu no chão, fraca pela fome contínua. Nodia seguinte, enquanto sua foto ficava conhecida em todo opaís na reportagem publicada pelo Diario Siglo Ventiuno,Juanita morreu.

“Julia Corado insistiu na denúncia doscasos mais brutais até conseguir que ogoverno decretasse o estado de aler-ta e, logo, o de calamidade em todoo país, quando já havia várias víti-mas da falta de planejamento eda indiferença”, disse o poetaequatoriano Jorge Enrique Adoum(foto), durante a entrega do Prêmio.

A entrega dos prêmios foi feitano centro histórico de Quito, noEquador, na noite da quarta-feira de 22 de novembro de2001. O evento comemorou também o aniversário daConvenção sobre os Direitos da Criança.

A noite teve a participação de artistas conceituados naregião, como o ator argentino Julián Weich, premiado porprogramas destinados ao público adolescente e à família eque colabora com iniciativas do UNICEF desde 1993. O even-to também contou com a presença das sopranos Beatriz Parrae Beatriz Gil, do compositor Francisco (Pancho) Prado, do Corodel Liceo Internacional, da Orquestra de Instrumentos Andinose da apresentadora equatoriana Milagros León.

Julia Corado recebeu U$ 3 mil e a cópia da estátua Cabezade Niña en la Ternura (Cabeça de Menina na Ternura), domestre das artes plásticas equatorianas Oswaldo Guayasamín,que antes de sua morte doou a peça, uma de suas últimas

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“ “A PREMIAÇÃOAo ler este trabalho se tem a impressão de assistir a uma obra de imaginação atroz: quisera esquecer, por exemplo,

a imagem de Valentina, esqueleto envolto em pergaminho, que deixava cair a comida ao solo, sem força para sustentar o prato. Quisera não pensar, por exemplo, em Juanita, a menina de doze anos que perdeu

o cabelo e não tinha lágrimas por causa da desidratação. Penso que, talvez, haveria que incluir entre os direitos elementares da criança, o direito de ter lágrimas. Mesmo que fossem apenas para chorar de fome.

Jorge Enrique Adoum, poeta equatoriano, sobre a reportagem vencedora do Grande Prêmio Ibero-americano de Comunicação pelos Direitos da Infância e da Adolescência: Hambrura en Jocotán (Fome em Jocotan)

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

obras, aos Prêmios Ibero-americanos. Os vencedores nasdemais categorias receberam a cópia da estatueta e U$ 2 mil.

Na categoria Trabalho Gráfico venceu o colombianoWilliam Fernando Martínez, com a fotografia Trinchera Escolar(Trincheira Escolar), publicada pelo jornal El Tiempo em 16 deagosto de 2001. A imagem retrata uma sala de aula abando-nada, na qual figuram um homem armado e uma criança.

Uma equipe da Telediario, da Guatemala, levou o prêmiona categoria Televisão, com a reportagem Un Sucio Negocio:Adopciones Ilegales (Um negócio sujo: adoções ilegais). O júri,representado pela jornalista brasileira Eliane Catanhêde,chamou a atenção para o fato de que a realidade denunciadapela matéria jornalística poderia ter sido registrada em qual-quer país da região, destacando a importância de legislaçõesmais fortes contra o problema.

Dar voz à comunidade foi o ponto forte do trabalhoParticipação da Sociedade na Construção dos Direitos daInfância e da Adolescência, da categoria Rádio, conduzido porPaula Coutinho da Silva na Rádio FM Cultura, de Porto Alegre,Brasil. O júri internacional destacou que a peça deu realmenteo espaço para a manifestação dos integrantes da comunidade,

ao invés de utilizar slogans ideológicos para ressaltar aimportância de seu papel, contribuindo assim para uma pro-funda reflexão sobre as eleições dos membros dos ConselhosTutelares na cidade de Porto Alegre.

A relação entre meio ambiente e saúde ficou bem caracte-rizada no material vencedor da categoria Imprensa, conquista-da por duas reportagens especiais – Niñez Invisible (InfânciaInvisível) e Medio Ambiente y Salud (Meio Ambiente e Saúde)– publicadas por Mirella Cáceres na Revista Hablemos, do jor-nal Diario de Hoy, na República de El Salvador.

Na categoria Público Infantil e Adolescente, o prêmio foipara o Canal Futura, da Globosat, no Brasil, pelo trabalhoLivros Animados, de Cristina Carvalho de Mendonça, sobreobras infantis de autores brasileiros.

Além dos ganhadores, o alto nível de todos os 51 finalis-tas reforça a noção crescente entre as sociedades ibero-ame-ricanas da importância do trabalho pela infância, expressanas palavras do ex-presidente da Colômbia, BelisarioBetancur, que integrou o júri internacional dos prêmios: “Umpovo que não se preocupa com a sorte das crianças é um povoque não se preocupa com seu próprio destino”.

Quatro horas de festa tomaram conta do centro histórico de Quito, no Equador, na premiação dos vencedores da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

MIGUEL ÁNGEL GOZALODiretor da Agência EFE, presidente e

membro permanente do júri internacionaldos prêmios

Nomeado presidente e diretor-geral daAgência EFE em maio de 1996, foi colunista do

jornal Diário 16, colaborador da cadeia de rádioOnda Cero e membro do Conselho Administrativo da RádioTelevisão Espanhola (RTVE). Preside a sessão espanhola doInstituto Internacional de Imprensa. Natural de Madri,Espanha, iniciou-se no jornalismo na revista SP, onde foiredator-chefe e diretor da edição ibero-americana da publi-cação (México, 1960-1965). Foi redator-chefe da agênciade notícias Europa Express (1966); diretor do jornalInformaciones de Madrid (1976); subdiretor do jornalMadrid desde sua criação (1968) até o fechamento peloregime franquista; correspondente do jornal ABC em Bonn(1972) e Paris (1973); diretor dos serviços informativos daCadena SER e do programa Hora 25 (1975); diretor de noti-ciários, programas culturais e debates na RTVE (1976); dire-tor da Television Española (1982).

PER ENGEBACKEx-Diretor regional do UNICEF

para América Latina e Caribe,secretário e membro permanente dojúri internacional dos prêmios

Assumiu a direção regional doUNICEF em março de 1999, no escritório doFundo em Bogotá, Colômbia. Natural da Noruega, começou acarreira no UNICEF em 1975, como coordenador de serviçosbásicos para o Sudão. Em 1979 foi designado oficial de pro-jeto em Jacarta, na Indonésia. Já ocupou o cargo de repre-

sentante do Fundo na Etiópia, na Organização da UnidadeAfricana e na Comissão Econômica para África. Sua biografiainclui, ainda, a coordenação do Projeto para Emergência,Fornecimento de Água e Saneamento na Somália (1981). Foioficial superior de programa na sede do UNICEF em NovaYork (1983); coordenador-chefe de programa na oficina paraCentro-América, na Guatemala (1987-1991); representantedo UNICEF na Guatemala (1991-1994), cobrindo Belize,Costa Rica, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Guatemala ePanamá; e chefe da seção das Américas na sede do UNICEFem Nova York (1994-1997).

BELISARIO BETANCUR CUARTASPresidente da Fundação Santillana

e coordenador do júri internacionaldos prêmios

Foi presidente da Colômbia entre1982 e 1986, quando elaborou e imple-mentou o Plano Nacional para a Sobrevivênciae Desenvolvimento Infantil, dando grande impulso ao pro-grama de vacinação do país. Em 1984, negociou a tréguatemporária com as FARC, o Exército Popular de Libertação

(ELP) e o Movimento de Autodefesa Operário (ADO). Comopresidente da Fundação Santillana, celebrou em 1997um convênio com o UNICEF para a publicação de obrasinéditas sobre política social na América Latina. Apóiavárias atividades culturais realizadas pela Fundação,

pelo Museu da Criança, pela Casa de Poesia Silva e peloMuseu de Arte Moderna de Bogotá. É membro do Comitê deChefes de Estado Livremente Eleitos da Fundação Carter,grupo informal de 26 mandatários e ex-chefes de governo doHemisfério Ocidental, para promover a democracia e a re-solução pacífica dos conflitos existentes na região.

O JÚRI DA II CONVOCATÓRIA DOS PRÊMIOS EM 2001

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

ELIANE CATANHÊDEEscritora e jornalista brasileira, dire-

tora da Sucursal de Brasília da Folha deS. Paulo e membro do júri internacional

da II convocatória dos prêmiosDesde 1997 é colunista do jornal Folha

de S.Paulo e dirige a sucursal do jornal, um dosmais influentes do Brasil, na capital do país, Brasília.Começou a carreira como repórter do Jornal do Brasil(1972), trabalhando depois na revista semanal Veja. Devolta ao Jornal do Brasil, foi redatora-chefe da sucursal deBrasília. Trabalhou como colunista de política do jornal OEstado de S. Paulo e dirigiu as redações das sucursais de OGlobo e Gazeta Mercantil de Brasília. Em 1997 ganhou daANDI o título de “Jornalista Amiga da Criança” e integrouo corpo de jurados do Prêmio Esso de Jornalismo. Fez re-portagens em Cuba, Estados Unidos, Portugal, França,Bélgica, Holanda, Paraguai e Venezuela. Autora do livro“O PFL” (Publifolha, 2001), colaborou com as seguintespublicações: “Jornalismo em Brasília” (Editora UnB);“Quem está escrevendo o Futuro” (Letraviva, 2000) e“Cristovam Buarque” (Renavan, 1996).

JORGE SALVADOR DE SANDE ECASTRO WEMANS

Diretor da Agência LUSA, mem-bro do júri internacional da II con-vocatória dos prêmios

Dirige a Agência Lusa de Notíciasdesde o ano de 1998. Especialista principal-mente em jornalismo econômico, construiu sua carreiraescrevendo, ao longo dos anos, para diversos meios decomunicação portugueses. Foi o ombudsman (ou, odefensor dos leitores) do jornal lusitano Público entre1997 e 1998, tendo ocupado, anteriormente, o cargo de

diretor-adjunto na mesma publicação. Leciona no cursode Comunicação Social e Cultura da Faculdade deCiências Humanas da Universidade Católica Portuguesadesde 1996. Também preside a Associação Nacional deDireito ao Crédito daquele país. É co-autor do livro“Igreja e Democracia”. Entre suas publicações, cabe citaro livro “O público em Público”. É dele também a coorde-nação de toda a edição do livro de estilo de redação dojornal Público.

JORGE ENRIQUE ADOUMPoeta equatoriano, membro da

Comissão de Notáveis pela Infância e dojúri internacional da II convocatória dosprêmios

Um dos mais prestigiados escritoresequatorianos, é conhecido tanto por sua obraliterária quanto por seu compromisso político em defe-sa das liberdades democráticas. É autor de mais de trin-ta livros de poesia, crítica, narrativa e teatro, além decentenas de artigos e ensaios. Ao longo da carreirarecebeu o Prêmio Nacional de Poesia (Equador, 1952),o Prêmio de Poesia da Casa das Américas (Cuba, 1960),

o Prêmio Xavier Villaurrutia (México, 1976) e oPrêmio Nacional de Cultura Eugenio Espejo(Equador, 1989).

Estudou no Chile, onde foi secretário pessoalde Pablo Neruda. No Equador, foi professor de lite-

ratura e diretor de edições da Casa da CulturaEquatoriana e diretor nacional de cultura do Ministérioda Educação. Entre 1969 e 1986, foi funcionário dasNações Unidas em Genebra e da UNESCO em Paris.Integra a Comissão de Notáveis pela Infância eAdolescência do UNICEF, composta por 23 escritores epersonalidades ibero-americanas.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

VENCEDORES DA II EDIÇÃO DOS PRÊMIOS IBERO-AMERICANOS

DE COMUNICAÇÃO PELOS DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

Cada um dos vencedores dos prêmios levou para casa uma cópia da estátua doada pelo mestre das artes plásticas equatorianas Oswaldo Guayasamín

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VENCEDOR DO GRANDE PRÊMIO

HAMBRUNA EN JOCOTÁN(FOME EM JOCOTÁN)País: GuatemalaGênero: ReportagemAutora: Julia CoradoMeio: jornal Siglo VentiunoData: agosto a setembro/2001

� Série de reportagens publicadas nojornal Siglo Veintiuno. Destacou os gravesefeitos da fome e da seca que assolaramalgumas regiões do país. O trabalho estáilustrado com fotografias de impacto e temcomo foco de atenção à situação da infância.Além de traçar um perfil da fome, pesquisadiversos ângulos da situação, consulta váriasfontes, fornece informação sobre as mortesaté definir a magnitude do drama. Após suapublicação, o governo da Guatemala reco-nheceu que havia fome no país e a comuni-dade internacional reagiu.

VENCEDOR DA CATEGORIA IMPRENSA

NIÑEZ INVISIBLE(INFÂNCIA INVISÍVEL)

MEDIO AMBIENTE Y SALUD(MEIO AMBIENTE E SAÚDE)País: El SalvadorGênero: ReportagensAutor: Mirella CáceresMeio: jornal El Diario de Hoy, Revista HablemosData: agosto/2001

MEIO AMBIENTE E SAÚDE� Trata do impacto da poluição em

meninos e meninas, principalmente emzonas rurais, e o custo econômico que elasupõe. São fornecidos dados sobre mortali-dade infantil causada por poluição do meioambiente. Investiga também a intoxicaçãocausada por fumaça poluente na cidade ecomo ela afeta a vida das crianças.

INFÂNCIA INVISÍVEL� Reportagem bastante completa e

bem organizada, com um esforço de trabalhode campo em lugares distantes. Realizadopela mesma equipe anterior aborda umassunto pouco comum nos meios de comuni-cação: o da infância indígena em um país emque as autoridades e a opinião pública não aconsideram.

VENCEDOR DA CATEGORIA GRÁFICOS

TRINCHERA ESCOLAR(TRINCHEIRA ESCOLAR)País: ColômbiaGênero: FotografiaAutor: William Fernando MartínezMeio: jornal El TiempoData: 16/agosto/2001

� Fotografia de extraordinário valorvisual e composição que desenha com pre-cisão os efeitos da violência na zona decombate sobre a educação das crianças.

VENCEDOR DA CATEGORIA TELEVISÃO

UN SUCIO NEGOCIO: ADOPCIONES ILEGALES(UM NEGÓCIO SUJO: ADOÇÕES ILEGAIS)País: GuatemalaGênero: ReportagemAutor: Equipe do noticiário “Telediario”Meio: TelediarioData: 5-7/dezembro/2000

� Trata do tema das adoções ilegais edo roubo de crianças, com um amplo traba-lho de campo. Expõe casos muito duros,

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

CABEÇA DE MENINA NA TERNURA

Oequatoriano Osvaldo Guayasa-min faz parte de um conjunto deartistas comprometidos com a

causa da justiça social, como os mexi-canos Manuel Orozco e Diego Rivera eo brasileiro Cândido Portinari. O poetachileno Pablo Neruda dizia que “poucospintores da nossa América são tãopoderosos como esse equatorianointransferível: tem o toque da força; éum anfitrião de raízes; conclama àtempestade, à violência e à inexatidão.E tudo isso, à vista e paciência dos nos-sos olhos, transforma-se em luz.”

O artista equatoriano é o autor da estátua Cabeça de Menina naTernura, doada aos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação pelosDireitos da Infância e da Adolescência, cuja réplica é entregue a cada umdos vencedores dos prêmios.

Guayasamin, em seus quase 80 anos de vida, produziu mais de seismil obras, entre pinturas, aquarelas, gravuras, esculturas, litografias,desenhos, murais e retratos de personalidades que admirava. Trabalhavaouvindo a música de Bach e Schumann. Ali demorava apenas 30 minutospara pintar um retrato. Em apenas dois dias terminava um quadro.

Amigo de políticos e escritores do mundo, desde Fidel Castro,Salvador Allende e o Rei Juan Carlos da Espanha, até Pablo Neruda eGabriel Garcia Marquez, Guayasamin se tornou conhecido em 1956quando obteve o grande prêmio da III Bienal Hispano-americana deBarcelona e, no ano seguinte, uma distinção da Bienal de São Paulo. Masfoi a origem de Guayasamin (cujo sobrenome significa “ave branca voan-do”) o que motivou a sua adesão aos movimentos indígenas que surgi-ram nos anos 30 na América Latina e marcou sua obra com denúnciassociais e políticas.

Apesar desse compromisso social, Os-valdo Guayasamin nunca se filiou a partidosou grupos políticos, mas pouco antes da suamorte, em 1999, apoiou a causa da infân-cia do UNICEF e virou embaixador, cargo dehonra que o levou a vários países.

focalizando principalmente as ocorrências emcomunidades indígenas.

VENCEDOR DA CATEGORIAPÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

LIVROS ANIMADOSPaís: BrasilGênero: Programa de TelevisãoAutor: Cristina Carvalho de MendozaMeio: Canal Futura, GlobosatData: abril/2001

� Três programas para meninos emeninas sobre livros infantis de autores bra-sileiros. Os programas estão divididos em trêspartes: dramatização, animação e entrevistasaos autores dos livros por parte das crianças.O Canal Futura é privado, transmitido a cabo,e se dedica 24 horas por dia à educação.

VENCEDORA DA CATEGORIA RÁDIO

A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NA CONS-TRUÇÃO DOS DIREITOS DACRIANÇA E DO ADOLESCENTEPaís: BrasilGênero: ReportagemAutor: Paula Coutinho da SilvaMeio: Rádio FM Cultura 107,7 de Porto Ale-gre, Programa Cultura na MesaData: 27-28/agosto/2001

� Pela primeira vez se aborda o proble-ma das crianças e a eleição dos ConselhosTutelares a partir da perspectiva dos poderespúblicos e do compromisso do município. Par-ticipam ativamente representantes sociais damunicipalidade de Porto Alegre.

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI

� A organizaçãonão-governamentalbrasileira Agência deNotícias dos Direitosda Infânciaganhou oprêmio especialdo júri. Nafoto, seu dire-tor na época, ojornalistaGeraldinho Vieira.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

Apercepção crescente entre comunicadores sobre aimportância das questões relacionadas à defesa dosdireitos de crianças e adolescentes pode ser observada

no aumento, entre 1999 e 2001, do número de inscrições nosPrêmios Ibero-americanos de Comunicação pelos Direitos daInfância e da Adolescência. Na I edição dos prêmios foramapresentados 657 trabalhos nas diversas categorias. Na IIedição, realizada dois anos mais tarde, o número de inscriçõessubiu para 931. Um aumento de mais de 40%.

O país que mais se destacou foi o Brasil, que respondepor 36% das inscrições em 1999 e 34% em 2001. A pro-porção de finalistas desse país em relação aos demais ésemelhante nas duas edições do prêmio – 32% e 33%,respectivamente. A única categoria na qual os brasileirosnão são maioria é a de Rádio, com destaque para a partici-pação do Uruguai, país com o maior número de inscrições.

Representados em trabalhos inscritos em 1999, Cuba ePorto Rico não participaram da II edição dos prêmios. Masnela estrearam três países – Espanha, Estados Unidos e

Portugal – que não concorreram na I edição. Meios de comunicação, jornalistas e comunicadores soci-

ais do Chile merecem uma menção especial, por haveremquadruplicado sua participação entre uma convocatória eoutra. Na II edição, se observa uma forte concentração dostrabalhos em cinco países: Brasil, Chile, Uruguai, Argentinae Colômbia representam 65% do conjunto de inscrições.

Mais da metade das inscrições foram trabalhos publica-dos em jornais e revistas. As publicações e programas parao Público Infantil e Adolescente respondem por 15,8% dototal, comparadas a 13,5% de Trabalho Gráfico, a 11,2% deTelevisão e a 8,6% de Rádio.

Quase todos os países tiveram uma participação propor-cional nas diferentes categorias. A exceção foi o grupo depublicações e programas dirigidos ao público infanto-juvenil,que só recebeu trabalhos de 11 dos 22 países participantes,sendo 80% deles provenientes do Brasil e do Chile. Na cate-goria Trabalho Gráfico, 34% das inscrições foram do Brasil,16% de El Salvador e 9,7% da Colômbia.

ESTATÍSTICAS DA II EDIÇÃO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

INSCRIÇÕES E FINALISTAS, SEGUNDO PAÍSES E CATEGORIAS

I.F. I.T. G.F. G.T. P.I.F. P.I.T. TV F. TV T. R.F. R.T. T.F. T.I.Argentina 1 36 1 1 2 1 9 2 49Bolívia 4 0 1 1 1 1 1 2 3 8Brasil 3 155 4 41 3 75 4 33 3 16 17 320Chile 111 2 2 3 2 3 1 4 120Colômbia 1 11 3 12 2 4 1 18 1 4 8 49Costa Rica 1 8 0 0 3 0 1 11R. Dominicana 1 29 9 0 2 1 1 41Equador 12 0 4 1 3 10 1 29El Salvador 1 13 2 19 2 2 0 3 5 37Espanha 1 10 1 0 4 1 1 16Estados Unidos 5 7 0 0 0 12Guatemala 1 13 10 0 1 1 0 2 24Honduras 21 1 1 2 2 27México 10 1 7 5 1 8 1 6 3 36Nicarágua 4 1 0 1 2 1 1 8Panamá 16 3 0 1 7 1 1 27Paraguai 8 1 3 0 1 0 1 12Peru 39 2 0 0 0 41Portugal 0 0 0 1 0 1Uruguai 12 4 0 14 20 50Venezuela 6 0 2 3 2 13

TOTAL 10 523 11 123 10 98 13 108 7 79 51 931

� I.F. – Imprensa Finalistas � I.T. – Imprensa Total� P.I.F. – Público Infantil e Adolescente Finalistas � P.I.T. – Público Infantil e Adolescente Total� R.F. – Rádio Finalistas � R.T. – Rádio Total

� G.F. – Trabalho Gráfico Finalistas � G.T. – Trabalho Gráfico Total� TV F. – TV Finalistas � TV T. – TV Total� T.F. – Total de Finalistas � T.I. – Total de Inscrições

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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A MÍDIA ESTÁ ALERTA

As próximas páginas apresentam uma radiografia dacobertura que a mídia ibero-americana tem oferecidoàs principais questões relativas a meninas, meninos e

adolescentes da região. As conclusões desta análise não dei-xam dúvidas sobre o quanto é promissora a participação doscomunicadores e dos meios de comunicação na construçãode uma cultura de direitos que ajude a transformar a reali-dade de nossos países em direção a um presente e um futu-ro mais repletos de possibilidades para as novas gerações.

A notícia deve ser comemorada. Afinal, parece evidenteque sem essa contribuição efetiva dos meios de comunicaçãode massa, mobilizando amplamente a sociedade e qualifi-cando o debate público, será impossível implementarmudanças tão urgentes quanto as apontadas pelas NaçõesUnidas em maio de 2002, no relatório Nós, as Crianças:Cumprindo as Promessas da Cúpula Mundial da Infância,

que compilou dados sócio-econômicos de150 países. Após constatar que a per-

petuação do ciclo da pobreza estádiretamente relacionada ao subin-vestimento nas camadas mais

jovens da população, outrodocumento das Nações

Unidas, Um Mundopara as Crianças,recomenda aos

governos que priori-zem a educação, a saúde e

a proteção das criançascomo forma mais eficaz deromper este ciclo, reduzin-do desigualdades e promo-

vendo justiça social.

O presente estudo sobre a mídia na região tem caráterinédito. Trata-se de um olhar aplicado, na verdade, apenasa uma parte do que há de melhor nos meios de comunica-ção desses países, considerando-se que foram matérias esco-lhidas por comunicadores para concorrer ao título de traba-lho mais relevante sobre essas faixas etárias produzidoentre 1999 e 2000. De qualquer forma, seus resultados –que diagnosticam as principais qualidades jornalísticas e aslacunas informativas e conceituais mais comuns na aborda-gem – são extremamente significativos.

Acreditamos que possam servir de importante subsídiopara as reflexões de todos aqueles – comunicadores ou ato-res sociais – comprometidos com a construção de uma mídiasocialmente responsável.

TEMÁTICAS DE DESTAQUEUma visão geral deste estudo permite constatar que a

mídia ibero-americana está alerta aos desafios que a regiãoenfrenta hoje para garantir a crianças e adolescentes aschances de atingir seu pleno desenvolvimento humano.Embora as matérias inscritas na II edição dos prêmios nãoconsigam cobrir de forma detalhada e homogênea esse com-plexo conjunto de problemas, por certo avançam firmemen-te na discussão de algumas das prioridades.

Nas categorias Rádio, Televisão e Trabalho Gráfico, otema mais freqüentemente abordado é Promoção e/ouDescumprimento dos Direitos de Crianças e Adoles-centes (veja Metodologia na página 71), recorte que incluio material voltado para a investigação jornalística sobre agarantia dos direitos básicos da infância e adolescência,como determinado em convenções internacionais e leisnacionais. Esse tema responde por 29% das inserções nacategoria Trabalho Gráfico, 21% na categoria Rádio e maisde 18% na categoria Televisão.

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Como segundo tema mais focalizado nessas três catego-rias surge Exploração do Trabalho Infantil, correspon-dendo a 12,1%, 14,6% e 9,8% do material analisado nascategorias Trabalho Gráfico, Rádio e Televisão, respectiva-mente. Na categoria Imprensa, são Violência (28%) e Edu-cação (20,6%) que garantem maior espaço editorial.

Comportamento (área que envolve a discussão de ten-dências e atitudes típicas dessa faixa etária, incluindo questõescomo arte, moda, relações familiares, amizades e namoros)responde por 22% dos temas abordados nas peças dirigidasao Público Adolescente. Esse tema é seguido por Promoçãoe/ou Descumprimento de Direitos da Infância e Ado-

lescência e Terceiro Setor, ambos com índices de 16%.Nas peças dirigidas ao Público Infantil inscritas na II edi-

ção dos prêmios, a questão dos Direitos é o tema mais abor-dado, aparecendo como foco central de 21% das reportagens.Em seguida aparecem Educação (17%) e Cultura (11%).

MÉRITOS DA COBERTURA Além da correta atenção oferecida a esses importantes

temas, demandam destaque outros avanços explicitadospela análise dos 931 trabalhos. Um deles é que ao mereci-do peso dado às denúncias devastadoras sobre condiçõesinaceitáveis a que são submetidas crianças e adolescentes

Angeles Torrejón Becerril/Diario Milenio/México

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contrapõe-se parte significativa da cobertura, que insistente-mente centra foco na avaliação das possíveis soluções paraas questões discutidas. Nesse contexto, impõem-se tambémótimos exemplos de investigação sobre a implementação depolíticas públicas, em que não apenas se comparam as açõesde execução com o que prevêem as legislações nacionais,mas também se cobram das autoridades responsáveis even-tuais omissões diante das situações descritas.

Um outro ponto positivo é o evidente talento dos comu-nicadores no tratamento da informação especializada, diri-gida às populações mais jovens. Temas complexos, como aPromoção e/ou Descumprimento de Direitos e aInclusão das Pessoas com Deficiência, são abordadosde forma lúdica e consistente em programas para crianças.

Uma linguagem clara e atraente é empregada para dis-cutir Sexualidade e Saúde Reprodutiva, disseminandoinformações cruciais sobre o tema, em produtos voltadospara adolescentes. Finalmente, é importante realçar a sensi-bilidade dos profissionais que lidam com a imagem: os regis-tros fotográficos inscritos sintetizam, de forma por vezeschocante – embora procurando respeitar os direitos dos per-

sonagens retratados – as grandes questões relacionadas àinfância e à adolescência da região.

LACUNAS INFORMATIVAS Entre as limitações detectadaspela análise do material inscrito

na II Edição dos PrêmiosIbero-americanos de

Comunicação pelosDireitos da Infânciae da Adolescência,

destaca-se inicialmenteuma questão bastante in-quietadora: falta auto-refle-xão. A metodologia de pes-quisa diagnosticou que amídia da região dedica pou-

co espaço para discutir seu próprio papel tanto no processode formação de crianças e adolescentes quanto nos rumos dodebate público sobre os direitos dessas populações.

Há também equívocos quanto à pauta: algumas questõescruciais para as políticas de proteção à infância merecemmuito mais atenção do que vêm recebendo dos comunicado-res da região. Entre elas está o Desenvolvimento Infan-til, que trata das condições e oportunidades oferecidas àscrianças durante os seis primeiros anos de vida. Uma falhacomum às políticas públicas é considerar a criança apenas apartir dos sete anos de idade, quando normalmente elaingressa no sistema educacional formal. Essa falha parece sereproduzir nos meios de comunicação. A faixa etária de zeroa seis é a menos abordada, por exemplo, nas inscrições deRádio, Televisão e Imprensa. Ela responde por 18% do mate-rial pesquisado, comparados com 37% de citações a criançasdos sete aos 11 anos e com 38% de citações a adolescentes.

É importante saber que os primeiros anos de vida sãodecisivos para que o indivíduo desenvolva habilidades lógi-cas, comunicativas e motoras, além de terem um forteimpacto sobre a vivência emocional e os padrões de convíviosocial. O investimento no desenvolvimento infantil garante,inclusive, retornos econômicos. Um estudo do Banco Mun-dial, divulgado em 1998, demonstra que para cada US$1,00 investido no desenvolvimento de crianças de zero a seisanos são economizados US$ 7,00 em gastos com saúde, dis-torção idade-série, desemprego e ações de inclusão social.

ETNIA OU ORIGEM ÉTNICAEntre os aspectos que poderiam ser observados na

cobertura de diversos temas relacionados à infância e ado-lescência, mas que terminaram quase ignorados pela maiorparte das peças inscritas, destacam-se as questões de Etniaou Origem Étnica. Entre os trabalhos das categorias deRádio, Televisão e Imprensa, 84% não mencionam a etnia dapopulação retratada. Pior: apenas 4% dessas inscrições ana-lisam o tema que está sendo apresentado diretamente sob aótica da questão étnica.

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Esses dados contrastam radicalmente com uma breveleitura das estatísticas sobre etnia nos países da AméricaLatina e Caribe.

Estima-se que a população indígena dessa região seja deaproximadamente 10% do total de habitantes, espalhada deforma muito diferenciada entre os diversos países. Os afro-descendentes também se distribuem de maneira poucohomogênea.

Representam mais de 80% da população da RepúblicaDominicana, mais de 60% dos cubanos e mais de 45% dosbrasileiros. Outros países com forte composição de descen-dentes de africanos são a Colômbia, o Panamá, a Venezue-la e a Nicarágua.

Além disso, os números da região são conclusivos: indí-genas, negros e seus descendentes têm menos acesso a direi-tos básicos, como condições adequadas de saúde, educaçãoe lazer, necessários para garantir suas chances de desenvol-vimento. Colecionam estatísticas piores que as de populaçõesbrancas e mestiças quando se avaliam índices como o demortalidade infantil, abandono escolar e remuneração.

Em diversos países começam a ser aplicadas políticas com-pensatórias, como forma de garantir o acesso cada vez maiordessa população ao ensino universitário, a créditos, bolsas efinanciamentos, por exemplo. Essas políticas, bem como asdiferentes condições experimentadas por crianças e adoles-centes negras, indígenas, pardas, mestiças e brancas, devemser amplamente debatidas e conhecidas pela opinião pública.

UMA QUESTÃO DE GÊNERO Outro ponto crítico do universo jornalístico analisado se

refere ao fato de somente 7% das peças incluírem de formanítida uma perspectiva de Gênero. As distorções de Gêneropresentes na questão da infância e da adolescência devemser abordadas pela mídia, pela sociedade e pelos governospara que se criem e executem políticas realmente eficientes.

Nessa perspectiva, focalizar as condições oferecidas àinfância e à adolescência significa investigar os papéis que asociedade determina a mulheres e homens. O contexto degênero envolve necessariamente temas universais, comoEducação, Saúde, Trabalho e Violência.

Um bom exemplo são as questões trabalhistas, como adupla jornada feminina, com a mulher desempenhandomúltiplas tarefas em casa e no mercado de trabalho, quasesempre com remuneração inferior a dos homens.

Outros aspectos relevantes são a Violência Domésti-ca contra as mulheres e as crianças, e o Trabalho InfantilDoméstico. Um terceiro assunto de grande gravidade é aMortalidade Materna: segundo o UNICEF, em todo omundo, 1.400 adolescentes e mulheres morrem todos osdias de causas relacionadas ao parto. E 99% dessas mortesocorrem em países em desenvolvimento.

Além das diversas problemáticas de Gênero, o conjun-to de matérias analisadas de Rádio, Televisão e Imprensamostra que a mídia dedica espaço diferente aos dois sexos.Em 55% do material em que aparecem explicitamente meni-nos ou meninas ambos os sexos são abordados. Mas 26%dessas matérias retratam apenas garotos, comparados com19% que retratam apenas garotas. O dado é uma rica fontede reflexão para comunicadores. A diferença dessas cifraspode indicar que os profissionais dão menos atenção àsmeninas durante a investigação jornalística – o que, nessecaso, seria um grave viés a ser corrigido.

Uma outra possibilidade é que os meninos estejam maisexpostos aos problemas da infância e adolescência aborda-dos pela mídia, por isso aparecem mais nas matérias sobreesses desafios. Nesse sentido, é fundamental que os jornalis-tas evitem o risco de construir uma cobertura que reforce osestereótipos e preconceitos que hoje cercam, com inquietan-te freqüência, os adolescentes e jovens em situação de exclu-são social. Um bom exemplo se refere à Violência, umtema de grande presença nos meios de comunicação daregião: apesar das estatísticas apontarem que esses adoles-centes são principalmente as vítimas dos atos violentos, par-te da imprensa insiste em retratá-los como os maiores res-ponsáveis por esta realidade que, sabe-se, resulta de histó-ricas e profundas distorções de ordem estrutural.

ASSUNTOS ESQUECIDOS Uma outra pauta extremamente relevante obteve índi-

ces muito baixos de cobertura em todas as categorias anali-

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sadas. Trata-se das questões relacionadas ao Meio-Ambiente. Essa dificuldade de leitura é tão grave que seestende inclusive às matérias voltadas aos aspectos de Saú-de. O profissional de comunicação deve estar atento para arelação entre a garantia desse direito básico da infância – oacesso a serviços de saúde – e os investimentos no trata-mento da água e no saneamento básico, por exemplo. Umestudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgadoem abril de 2003, estimou que por ano 5 milhões de crian-ças morrem em todo o mundo de doenças causadas pelapoluição do ar, pelo consumo de água contaminada ou pelafalta de higiene nas escolas, casas ou locais de recreação.

Algumas temáticas especialmente importantes quando sediscutem políticas para a juventude também encontram espa-ço pouco significativo no universo de matérias inscritas na IIEdição dos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação pelosDireitos da Infância e da Adolescência. É o caso de Consumode Drogas, Gravidez na Adolescência, HIV/Aids eoutras Doenças Sexualmente Transmissíveis. Agrupan-do-se os dados das inscrições nas categorias Imprensa, Rádioe Televisão, que foram submetidos a análises muito similares

neste estudo, as matérias que têm como tema principalo Consumo de Drogas ou a Gravidezna Adolescência representam menosde 2% das inserções cada uma. No caso

de HIV/Aids e outras DoençasSexualmente Transmissí-

veis, esses índices são infe-riores a 1%. Os dados

sobre este últimoproblema não dei-xam dúvidas sobre

a relevância da pau-ta jornalística: estima-se

mundialmente que 11,8milhões de jovens entre 15e 24 anos estejam infecta-dos pelo vírus HIV, sendo amaioria garotas.

OS ATORES MAIS OUVIDOS A análise das fontes ouvidas pelos repórteres aponta um

dado importante: nos veículos impressos, que atingem espe-cialmente os formadores de opinião, os Governos e outrasFontes de Informação Oficial aparecem muito mais doque nos demais meios. O Poder Executivo, por exemplo,responde por mais de 14% das fontes ouvidas em matériasde jornais e revistas analisadas neste estudo. No material deRádio, o Executivo responde por 2% das fontes ouvidas,enquanto esse índice é de 4,3% nas reportagens de Televi-são inscritas na II edição dos prêmios.

Mesmo levando-se em consideração os limites de tempoque costumam cercar o jornalismo de Rádio e Televisão,esses dados indicam a necessidade de maior contextualiza-ção no material apresentado por esses veículos, uma vezque esses atores respondem diretamente pelas políticas deatendimento à infância e adolescência (leia mais sobre arelevância de uma cobertura plural dos poderes públicos notexto sobre a categoria Televisão, na página 48).

Por outro lado, a avaliação das fontes utilizadas nostrabalhos escritos na II Edição dos Prêmios Ibero-ameri-canos permite afirmar que em termos gerais a voz demeninos, meninas e adolescentes são ouvidas nos dife-rentes meios de comunicação, mas ainda existe um grandecaminho a ser percorrido rumo a uma informação maisqualificada. Naturalmente, este dado aparece com maisfreqüência nos materiais integrantes da categoria PúblicoInfantil e Adolescente.

Quando se mensuram os atores mais entrevistados emprogramas e publicações dirigidos à adolescência, os Ado-lescentes aparecem com nada menos de 22% das citações.

Na mídia voltada para a infância, as Crianças contamcom 15% das participações. O ponto frágil, na categoriaPúblico Infantil e Adolescente, fica por conta do reduzidoespaço dedicado à opinião da Família, que é ouvida em3,1% das peças dirigidas a crianças e em 2,1% do materialpara adolescentes.

Outro dado relevante é que, em média, 1,7 fontes sãoconsultadas a cada reportagem inscrita nos prêmios.

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FINALISTA/IMPRENSA

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A leitura atenta dos aspectos quanti-qualitativos domaterial inscrito na categoria Imprensa da II Edição dosPrêmios Ibero-americanos de Comunicação pelos Direitosda Infância e da Adolescência revela que os profissionaisdesses meios escolhem focalizar seus esforços prioritaria-mente em três temáticas de grande impacto: Violência(com nada menos de 28% dos textos analisados), Educa-ção (20%) e a Promoção e/ou Descumprimento dosDireitos de Crianças e Adolescentes (13,5%). Soacoerente, ainda, que os mesmos veículos que voltam suaatenção para o problema da Violência – uma das maisimpactantes conseqüências das condições de desigualdade eexclusão que imperam na região – também apontem seufoco investigativo para questões sociais fundamentais nocombate a esse fenômeno. Nem sempre, no entanto, essastemáticas aparecem nas mesmas reportagens. Chama aatenção também que a desestruturação familiar, o planeja-mento urbano e o tráfico de armas sejam formas de violên-cia que a imprensa, muitas vezes, não vê (leia análise espe-cífica sobre a cobertura de Violência na página 34).

Educação é um dos temas mais abordados nas maté-rias de jornais e revistas. O interesse desses jornalistas noassunto supera em muito o registrado nos demais meiosde comunicação avaliados nos prêmios e revela uma lou-

vável maturidade diante das questões mais cruciais para ainfância e a adolescência da região. Quanto à Promoçãoe/ou Descumprimento dos Direitos, alcança 13,5%das inscrições de Imprensa. Um dado também significati-vo diante da necessidade de viabilizar-se meios efetivosde impulsionar o desenvolvimento das potencialidadesdessas crianças e adolescentes.

AS OMISSÕES Alguns pontos muito importantes, no entanto, ficaram

de fora dos textos analisados. A dificuldade geral apontadaem relação às questões Étnicas marca forte presença nosmeios impressos, assim como as de Gênero. Além disso,chama a atenção que assuntos como Sexualidade eSaúde Reprodutiva, Gravidez na Adolescência,HIV/Aids e outras Doenças Sexualmente Transmis-síveis somem apenas 1,8% das inserções computadas napresente análise. As questões relacionadas ao Meio Am-biente também são pouco abordadas e, ao contrário doque foi verificado no material de Rádio e Televisão, o temaExploração & Abuso Sexual foi objeto de poucas inscri-ções – uma das mais graves lacunas observadas na cober-tura da categoria Imprensa (leia mais sobre essa questãono texto referente às inscrições de Televisão, na página 40).

VIOLÊNCIA, EDUCAÇÃO E DIREITOS SÃO PRIORIDADE

ANÁLISE/IMPRENSA

� Quando a violência é cometida por crianças e adolescentes,a imprensa se ocupa do tema. A revista dominical do jornalClarín dedica-se a olhar a história ao contrário, isto é, como aescola pode ser violenta com as crianças, reforçando osestereótipos, taxando meninos e meninas, criandoconstrangimentos e preconceitos. A reportagem é abordadacom um olhar educativo e analisa o tema com umaperspectiva de gênero. Pretende ajudar pais e mestresa tratar desses temas.

PA Í S : Argent inaGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R A : Fabiana Laura

Fondev i laME I O : Revis ta V iva – Jorna l C lar ínDATA : 4/março/2001

EDUCACIÓN SIN BARRERAS

(EDUCAÇÃO SEM BARREIRAS)

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

FINALISTA/IMPRENSA

De todos os diferentes meios que participaram da II Ediçãodos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação, os da categoriaImprensa são os que mais dedicam espaço às vozes do Gover-no e da Sociedade Civil Organizada, qualificando assim odebate sobre políticas públicas. Verifica-se, no entanto, a ten-dência a concentrar a discussão em apenas um dos poderes.Enquanto o Executivo representa quase 15% das fontes con-sultadas, o Judiciário e o Ministério Público somam apenas

5,2% das menções. Os Conselhos de Direitos e Tutelares,identificados aqui como as instâncias que reúnem diversos ato-res da sociedade e dos governos para avaliar e propor caminhospara políticas governamentais, somam 2,4% das citações. E oLegislativo, não mais que 1,4%.

Excelente é a intervenção tanto de Especialistas, osegundo grupo mais presente entre as fontes consultadasnas matérias de Imprensa, quanto de representantes das

AVANÇA DEBATE SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS

CANDELÁRIA: O MASSACRE

DE UMA GERAÇÃO � Descreve a situação dos sobreviventes do massacre demeninos e meninas na igreja da Candelária, no Rio de Janeiro,a partir do violento seqüestro de um ônibus por parte de umdeles. Sete anos depois do massacre, a repórter e um fotógraforetratam a situação de alguns dos meninos e meninas queestavam em frente à igreja na noite do crime. Alguns morreram, outros são portadores do vírus HIV, estão fora daescola, ameaçados de morte, desaparecidos. Uma importantedenúncia de como o Estado deixou absolutamente desprotegidas as vítimas do massacre que mobilizou o país em torno do tema dos meninos em situação de rua.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R A : Ana Beatr iz

Magno da S i lva ME I O : Jorna l Corre io Braz i l ienseDATA : 3/dezembro/200032

ANÁLISE/IMPRENSA

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

Organizações da Sociedade Civil e de Fundações,que ocupam o terceiro lugar. Isso demonstra que, mesmodando muito espaço aos governos, os profissionais estãoprocurando diversificar a cobertura e evitar a armadilhado “jornalismo oficial”.

A participação de Adolescentes e da Família tambémé alta no conjunto total de matérias da categoria: 9,6% e8,6% das entrevistas, respectivamente, dados extremamen-

te positivos. As Crianças, por sua vez, aparecem bemmenos que nos meios Rádio e Televisão, representandosomente 4% das intervenções. Contribuem para isso o des-preparo dos profissionais para extrair informações das pró-prias crianças e o fato de que em nossas sociedades não háuma cultura de respeito pela opinião de meninos, meninas eadolescentes, direito reconhecido expressamente no artigo12 da Convenção sobre os Direitos da Criança.

� Série de seis fotografias dos repórteres Juan Antonio Sánchez Ocampo, HenryAgudelo, Donaldo Zuluaga e ManuelSaldarriaga, sobre os efeitos do conflito armado na Colômbia na vida das crianças.

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Juan Anton io

Sánchez OcampoME I O : Jorna l E l Co lombianoDATA : 5/novembro/2000

LAS OTRAS HUELLAS DE LA GUERRA

(AS OUTRAS MARCAS DA GUERRA)

Juan Anton io Sánchez Ocampo/El Colombiano/Colômbia

ANÁL

ISE/I

MPRE

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FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

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FINALISTA/IMPRENSA

A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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A construção de uma abordagem qualificada dasquestões associadas à Violência pelos meios de comuni-cação não é um desafio de fácil solução. Antes de mais nada,a extrema complexidade do fenômeno impõe ao jornalistaum cotidiano de grandes pressões – tanto do ponto de vistahumano quanto em termos de conhecimento específico. Aessas condições costumam ainda se sobrepor, com muita fre-qüência, as linhas editoriais de cunho sensacionalista, queservem aos interesses comerciais dos próprios veículos.

Dependendo do enfoque dado à notícia sobre um fatoviolento, serão determinados rumos muito diferentes para oenfrentamento da questão. Por exemplo: a imprensa podeabordar a Violência como uma sucessão de casos policiais,contribuindo assim para alimentar o sentimento de pânicojunto à população, ou então contextualizá-la como aexpressão de um fenômeno social para o qual colaboramdiversos fatores, muito deles de cunho estrutural (desigual-dade, pobreza, falta de acesso a direitos básicos etc).

Quando essas problemáticas de ordem social são alvode investigação na cobertura jornalística sobre a questãoda violência, torna-se possível fortalecer o debate sobre oefetivo enfrentamento do problema. Na construção dessaabordagem, as corriqueiras soluções reativas, imediatis-tas e meramente paliativas devem ser confrontadas comas propostas e ações de maior consistência.

UMA VISÃO FRAGMENTADA As políticas de enfrentamento da violência entre jovens,

no entanto, parecem não chamar muito a atenção da mídiaimpressa, segundo a análise das inscrições da II edição dosprêmios. Isso é evidenciado pelo fato de que alguns temasde grande relevância aparecem muito pouco ou simplesmen-te não foram focalizados pelas matérias inscritas: Cultura,Esporte, Lazer & Entretenimento e Mídia.

Para entender a importância dessas temáticas é preci-so ter em mente que regiões afetadas pela pobreza sãomuito vulneráveis à questão da violência. Locais ondejovens e crianças não contam com direitos básicos – comoeducação, saúde, opções de lazer, espaços organizadospara a expressão cultural e a prática de esportes. E, embo-ra sejam recorrentes os registros de crimes ocorridos nes-sas áreas, não é comum jornalistas explorarem e investi-garem as condições de vida nesses bolsões. A ligação entrecriminalidade, violência e a ausência do poder público eda ação social é ignorada na maior parte das matérias.

CAMINHOS PARA A QUALIFICAÇÃOA tendência de transformar a cobertura sobre violên-

cia em uma mera sucessão de casos foi apontada porespecialistas brasileiros reunidos pela Agência de Notíciasdos Direitos da Infância (ANDI), pelo Departamento da

VIOLÊNCIA: FENÔMENO SOCIAL OU SUCESSÃO DE CRIMES?

ENSINO REPROVADO� Reportagens que descrevem as falhas do programa educacional de aceleração de ensino no Brasil. Algumas crianças terminam sua educação básica sem saber ler, escrever ou sem condição de fazer operações aritméticas básicas. O material jornalístico denuncia que os governantesfingem investir em educação, a escola finge que ensina e o aluno finge que aprende. A questão causou grande controvérsia no Brasil.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Sér ie de repor tagensAU T O R : Gi lber to Nasc imentoME I O : Revis ta I s toÉDATA : 10/maio/2000 – 29/agosto/2001

ANÁLISE/IMPRENSA

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FINALISTA/IMPRENSA

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Criança e do Adolescente da Secretaria Especial de DireitosHumanos do Brasil e pela Associação de Apoio à Criança eao Adolescente (Amencar), com apoio do escritórioUNICEF no Brasil, para realizar uma análise especial sobreo trabalho jornalístico centrado na violência que atinge, emuitas vezes envolve, crianças e adolescentes. As con-clusões desse estudo foram apresentadas na publicação

Balas Perdidas, lançada em 2001, em português.Os especialistas apontam alguns caminhos para qua-

lificar a cobertura, caminhos esses que foram tambémobservados em diversas das matérias inscritas na IIedição dos prêmios. Um deles é incluir na investigaçãojornalística a biografia dos agentes e vítimas de violên-cia. Como foi destacado na publicação brasileira, suas

A FEBEM DANÇOU� Marie Claire é uma revista dedicada à mulher que realizaum esforço editorial importante para tratar assuntos sociaisrelacionados à infância e adolescência. Os jornalistas visitarama Febem, o centro de reabilitação para adolescentes emconflito com a lei mais importante do Brasil, conhecidonacionalmente por repetidos motins e distúrbios, reprimidosdiversas vezes com violência. A reportagem mostrou que ali,por meio da arte, teatro, dança, música e fotografia, algunsadolescentes internados também encontraram um meio deexpressão e uma nova oportunidade.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R A : Helo í sa He lvéc iaME I O : Revis ta Mar ie C la i reDATA : março/2000

ANÁL

ISE/I

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Evels

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Folha

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� Flagra o trabalho de meninas gêmeas de nove anosque descascam alho na cidade de Contagem, Minas Gerais. Chama atenção a posição na qual as meninas se vêm obrigadas a permanecer para trabalhar durante muitas horas.

NONADA

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Fotograf iaAUTOR: Evelson A. FreitasME I O : Jorna l Fo lha de S .PauloDATA : 9/março/2001

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ANÁLISE/IMPRENSA

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FINALISTA/IMPRENSA

trajetórias e histórias de vida revelam influências sociais,econômicas e culturais que determinam, em grandemedida, a situação de violência. E que levam, inevitavel-mente, a questionamentos sobre as políticas públicas quefalharam ao não atingir essa parte da população.

Nesse sentido, é promissor constatar o amplo espaçodado à Família em matérias de imprensa escrita sobreimportantes aspectos associados à Violência, comoAção do Tráfico e Adolescentes em Conflito com aLei. Os familiares e os próprios adolescentes respondempor boa parte das vozes ouvidas, ao lado do Poder

Executivo e das Forças de Segurança do Estado. Outro caminho importante para o aprimoramento da

investigação jornalística sobre Violência envolve o esforçopelo real dimensionamento do fenômeno. Buscar os númerosque radiografam o problema dentro do país ou região leva,inevitavelmente, o jornalista a procurar pelos poderes públi-cos. Nessa busca, não raramente o profissional constata queesses poderes não têm dados e estatísticas confiáveis, orga-nizados e abrangentes sobre a violência. Logo, carecem deinstrumentos básicos para orientarem a elaboração das políti-cas necessárias para prevenir esse fenômeno.

PAZ APORTE

(APORTE DE PAZ) � Reportagens que tratam da infância e da adolescência noconflito armado colombiano, expondo em depoimentos diretosde crianças e adolescentes o esforço para sobreviver nessas circunstâncias. A série não focaliza somente as histórias brutais dos meninos, mas também apresenta aspectos positivos de suas vidas e aspirações.

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Sér ie de repor tagens AU T O R A : Bib iana MercadoME I O : Jorna l E l T iempoDATA : 30/ju lho/2000 - 5/agos to/2001

ANÁL

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FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

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� Série de fotografias publicadas em três capítulos. Descreve como a instituição encarregada da reabilitação dos adolescentes em conflito com a lei vira uma escola do crime. Mostra a rotina diária dos adolescentes, respeitando sua identidade.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : José Vare l laME I O : Jorna l Corre io Braz i l ienseDATA : 18-22/março/2001

José Varella/Correio Braziliense/Brasil

ESCOLA DO CRIME

AJUSTES DE ENFOQUE Entre as matérias sobre Violência inscritas nos prê-

mios, predominam aquelas que vão além da denúncia. Nocaso de Conflitos Armados, 60% dos textos foram classi-ficados como informação que denuncia, qualificando o deba-te público. Nas matérias sobre Ações e Reflexões (quediscutem questões gerais sobre o fenômeno), 43% dasreportagens investigam soluções e 33% qualificam o debatesocial. Quando se cobre o problema de Adolescentes emConflito com a Lei, esses percentuais são de 49% e 24%.

Mas há dificuldades com a ótica apresentada no mate-rial quando se analisam em separado, por exemplo, maté-rias sobre a Ação do Tráfico. Mais de 43% somente regis-

tram uma denúncia. A tendência é ainda mais forte em tra-balhos sobre Crianças e Adolescentes Vítimas ou Pro-tagonistas de Determinado Fato Violento. Em média,45% das reportagens sobre esse tema apenas registram ofato violento, sem contextualizá-lo nem investigar as causase possíveis saídas para o fenômeno no qual ele se insere.Esse olhar restrito ao factual pode ser observado em umdado geral da cobertura dos temas de Violência: embora ofenômeno atinja com maior gravidade exatamente ossetores mais pobres da população – historicamente consti-tuídos, em vários países da região¸ por grande número deindígenas e afrodescendentes – questões de enfoque étnicoaparecem em apenas 0,5% dos textos inscritos.

ANÁLISE/IMPRENSA

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� Resultado da dedicação de um ano de trabalho da repórter a temas como crianças e adolescentes em conflito com a lei, tratamento recebido nasinstituições de reabilitação, adolescentes internadoscom adultos, abusos de policiais contra jovens,trabalho infantil e insensibilidade do Estado. O exaustivo conjunto de materiais foi consideradouma iniciativa ainda mais relevante no contexto de um país sem uma grande tradição no tratamentode questões relacionadas com a infância e adolescência na mídia.

PA Í S : Repúbl i ca Domin icanaGÊ N E R O: Série de ReportagensAU T O R A : Tania Po lanco Mor i l loME I O : Revis ta RumboDATA : novembro/1999 – se tembro/2001

CONDENADOS AL DESAMPARO Y OTROS

(CONDENADOS AO ABANDONO E OUTROS)

� Ampla reportagem sobre a situação das criançasaté os três anos de idade, filhos de mães que

cumprem pena de reclusão em prisões da Espanha.Um trabalho de excelente nível técnico.

PA Í S : EspanhaGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R : Ricardo de Quero lME I O : Jorna l D iar io 16DATA : 4/fevere i ro/2000

FINALISTA/IMPRENSA

�Mentes FérteisO suplemento transmite com eficiência informações sobre aimportância estratégica da primeira infância para garantir opleno desenvolvimento humano e o papel que desempenham ospais nessa fase. A informação é contextualizada de maneiraadequada, abrangendo as distintas etapas da primeira infânciaassim como as diferentes áreas do seu desenvolvimento emocional, físico e intelectual das crianças.

� Qual é a dos adolescentes?Suplemento sobre adolescentes pioneiro e inovador. Segundo aavaliação do UNICEF e da Agência EFE no país, pela primeira vez a imprensa na Costa Rica se preocupou em entender os adolescentes em suas múltiplas dimensões, sem estigmatizá-los.O suplemento consegue dar uma imagem positiva dos adolescentes e estimula uma maior compreensão do seu mundo e necessidades.

PA Í S : Cos ta R i caGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R A : Lar i s sa Minsky Acos taME I O : Revista Dominical Jornal La NaciónDATA : 2/ju lho/2000 e 15/ju lho/2001

MENTES FÉRTILES(MENTES FÉRTEIS)¿ EN QUE ANDAN LOS ADOLESCENTES?(QUAL É A DOS ADOLESCENTES?)

INFANCIA ENTRE REJAS

(INFÂNCIA ATRÁS DAS GRADES)

ANÁL

ISE/I

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APromoção e/ou o Descumprimento dos Direi-tos de Crianças e Adolescentes foi o tema maisabordado nas matérias de Televisão inscritas na II

Edição dos Prêmios Ibero-americanos, respondendo por20,9% de todo o material. Esse é um dado excelente, quedemonstra a incorporação, pelos comunicadores, da óticaque posiciona a criança como detentora de direitos – dosquais toda a sociedade é responsável por garantir o cum-primento. Em função disso, também são constantes nasreportagens as referências a alguns dos principais marcosjurídicos que delimitaram esses direitos, principalmente apartir do final do século XX.

Exatas 37,3% das peças televisivas inscritas nos prêmioscitam um ou vários desses marcos jurídicos. Em números abso-lutos, eles foram mencionados quase 60 vezes. As Legisla-ções Nacionais que se aplicam a todos os cidadãos, indepen-dente de sua faixa etária, respondem por 35% dessas citaçõesde leis. A Convenção sobre os Direitos da Criança, apro-vada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em novembrode 1989 e que passou a vigorar em setembro do ano seguinte,a Declaração Universal dos Direitos Humanos e outroscompromissos internacionais são citados em 37% das matérias.Os Códigos ou Estatutos Nacionais específicos para crian-

ças e adolescentes somam 28% das referências legais.A qualidade do material jornalístico produzido nas tele-

visões dos países ibero-americanos fica evidente segundooutro critério: apenas 5,9% das peças se restringem adenunciar um fato, sem investigar seu contexto nem saídaspara o problema. Em 25,5% das matérias a denúncia é con-textualizada com informações importantes para qualificar odebate público sobre o tema. E a maioria absoluta dasreportagens – 63,7% – vai além da exposição de umaquestão, investigando e apresentando soluções.

CONQUISTAS RELEVANTES Merece especial atenção o fato de se destacarem entre os

temas mais abordados pelas inscrições da categoria Televisãoquestões diretamente associadas ao contexto de desigualdadee exclusão social, como Exploração do Trabalho Infantil,Ação do Tráfico, Crianças em Situação de Rua, Explo-ração & Abuso Sexual e Pessoas com Deficiência.

Entre os fatores para os quais os profissionais de televi-são estão atentos, esta análise coloca em evidência tambéma consideração da importância de fatores étnicos e raci-ais nos temas abordados. Cerca de 45% das matérias tra-tam de alguma maneira a discriminação racial como parte

DERECHOS DE LA NIÑEZY LA ADOLESCENCIA(DIREITOS DA INFÂNCIAE ADOLESCÊNCIA)

� Série de vinhetas de uma campanha de promoção de direitos. Destacou-se especialmente porque dá espaço à voz das crianças, utilizando depoimentos nos quais elas opinam sobre seus direitos, sem intervenção de adultos.

PA Í S : Bol ív iaGÊ N E R O: Campanha, V inhetasAU T O R : Jose Lu i s Agui r re A lv i sME I O : TV Nac iona l , Canal 7 DATA : junho a dezembro/1999

FINALISTA/TELEVISÃO

ANÁLISE/TELEVISÃODIREITOS E EXCLUSÃO

SOCIAL NO CENTRO DA TELA

ANÁLISE/TELEVISÃO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

INFÂNCIA SECA� O documentário foi gravado durante 15 dias em uma dasregiões mais pobres do Brasil, o sertão nordestino. A primeiraparte retrata o drama de crianças e adolescentes na época daseca. A segunda parte mostra projetos sociais que transformama vida dos meninos e meninas da região.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Sér ie de duas

repor tagensAU T O R : Vico Ias iME I O : Rede GloboDATA : 14 e 22/novembro/1999

do problema apresentado. O componente Gênero, noentanto, é menos percebido pelos comunicadores dessemeio: ele está presente em apenas 12,8% das inscrições.

PAUTAS AUSENTES Alguns temas tiveram pequena ou nenhuma representa-

tividade no universo da categoria Televisão. Entre eles estãoAdoção, Doenças Sexualmente Transmissíveis eHIV/Aids, Sexualidade e Saúde Reprodutiva, Mídiae Gravidez na Adolescência. Em relação à Sexualida-de e Saúde Reprodutiva, deve-se levar em consideração

que o tema necessariamente exige a abordagem em progra-mas de conteúdo mais aprofundado, com enfoque informa-tivo. Ao ignorar essa demanda, a mídia perde a rica oportu-nidade de discutir e disseminar as informações essenciaispara capacitar melhor crianças, adolescentes e seus familia-res a lidarem com questões tão fundamentais para umdesenvolvimento pleno e saudável do ser humano e, aomesmo tempo, tão cercadas de tabus e repressões. Informa-ções sobre Sexualidade e Saúde Reprodutiva são umdireito que os meios de comunicação podem fortalecer comresponsabilidade.

FINALISTA/TELEVISÃO

ANÁL

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ELEV

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FINALISTA/TELEVISÃO

O fato de a Exploração Comercial e o AbusoSexual ocuparem o quarto lugar no ranking de temasabordados pela Televisão é digno de reflexão. Nessecampo, a atuação da mídia precisa ser extremamentecautelosa, para que não venha tornar-se mais um ato dedesrespeito contra as crianças vítimas desse tipo de vio-

lência, seja ao buscar depoimentos sensacionalistas, sejaao expor suas imagens.

Por se tratar de uma das formas de maus tratos maisrevoltantes aos olhos de toda a sociedade, os comunica-dores também correm o risco de centrar a investigação doproblema exclusivamente na punição momentânea dos

� A repórter visita uma comunidade pobre do Rio de Janeiroe descobre crianças sem registro civil cuja mãe também nãopossui documentos. A reportagem percorre com a mulher olongo caminho da burocracia para conseguir a cidadania.Reflete o processo de conquista da dignidade, auto-estima e reconhecimento da sociedade.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Sér ie de repor tagensAU T O R A : Ana Paula Araú joME I O : Rede GloboDATA : jane i ro/2000

CRIANÇAS QUE NÃO EXISTEM

VIOLÊNCIA SEXUAL: UM DESAFIO PARA A IMPRENSA

ANÁLISE/TELEVISÃO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� Fotografia escolhida da série titulada “As crianças da guerra”, que apresenta a vida de meninos e meninas em meio ao conflito armado na Colômbia.

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Sér ie de

Fotograf iasAU T O R : Mil ton Díaz Gui l lermoME I O : jornal E l T iempoDATA : 31/dezembro/2000 –

23/setembro/2001

LOS NIÑOS DE LA GUERRA

(AS CRIANÇAS DA GUERRA)

Milton Diaz Guillermo/El Tiempo/Colombia FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

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agressores, deixando o tom policial permear a reporta-gem. A isenção jornalística é uma meta aqui também – orisco de pré-condenar os suspeitos está sempre presente.O julgamento e a punição dos agressores é essencial paragarantir o fim dessas práticas, porém devem ocorrer nasinstâncias do Poder Judiciário. Nesse sentido, os profis-sionais de comunicação podem investigar o que as legis-lações nacionais prevêem e se há projetos de lei impor-tantes para melhorar o atendimento às vítimas e arepressão a esses delitos dependendo de aprovação doLegislativo. É preciso também averiguar como esses

casos são julgados e se efetivamente os agressores cum-prem as penas.

Há ainda um outro aspecto fundamental, que muitasvezes vem escapando ao foco da imprensa: a importân-cia de ações contra esse tipo de crime é inquestionável,mas não suficiente para pôr fim a essas práticas. E nemresponde ao maior desafio dos países da região no com-bate à exploração comercial e ao abuso sexual: ofereceruma rede de proteção social eficiente e abrangente paraamparar as meninas e meninos vitimizados. Sem esseamparo – hoje praticamente inexistente – o ciclo da

TRABALHO INFANTIL� Documentário sobre o trabalho infantil na região sisaleirada Bahia. A primeira parte apresenta a vida das crianças trabalhadoras nas colheitas do agave, as duras condições dotrabalho, que causam ferimentos nas mãos e nas pernas, e o afastamento das aulas. Na segunda parte, se apresenta o programa governamental “Bolsa Escola”, que já retirou do trabalho 30 mil crianças na região.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Documentár ioAU T O R A : Neide Duar teME I O : TV Cu l turaDATA : 12/dezembro/1999

FINALISTA/TELEVISÃO

ANÁLISE /TELEVISÃO

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� Fotografia, de uma série de nove, sobre meninas indígenas. Destaca de forma muito delicada distintas situações de sua vida e seu cotidiano.

NIÑAS DE LA REALIDAD

(MENINAS DA REALIDADE)

Angeles Torrejón Becerril/Diário Milenio/México

violência, mesmo depois que ela foi identificada edenunciada, tende a continuar.

Os comunicadores, portanto, podem ter um papel fun-damental para a sociedade se investigarem o atendimentoprestado a essas vítimas, que envolve tanto as várias ins-tâncias de governo quanto os diversos atores da sociedade

civil. Esse atendimento, é importante ressaltar, precisa serprestado também aos agressores. Estudos mostram que,principalmente nos casos de abuso sexual, os agressoresforam muitas vezes vítimas dessa prática na sua infância.Quando lhes é oferecido um tratamento adequado, é pos-sível romper o ciclo perverso desse tipo de violência.

PA Í S : MéxicoGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Angeles

Torre jón Becerr i lME I O : Jorna l Mi len io DATA : 22/setembro/2001

FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

ANÁL

ISE/T

ELEV

ISÃO

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Os dados sobre as fontes de informação consultadaspelos comunicadores responsáveis pelo material televisivoinscrito na II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de Co-municação pelos Direitos da Infância e da Adolescênciademonstram que os programas têm aberto espaço para apopulação discutir sua realidade.

As inscrições privilegiam as Vozes de Crianças, deAdolescentes, de Famílias e de Cidadãos Comunsem suas entrevistas. Eles representam 52% de todos os ato-res consultados nas diversas matérias, tendo mais espaçoque as autoridades de governo.

Especialistas nas mais diversas áreas também forammuito consultados pelos comunicadores, ficando com 12,8%das citações. Em proporção um pouco menor, surgem osProfissionais de Ensino. Isso demonstra a busca pelainformação mais qualificada possível diante dos variadostemas, hipótese reforçada pela boa presença das Organi-zações da Sociedade Civil, Fundações e Institutos,fontes em 11,4% das entrevistas.

DESEQUILÍBRIO ENTRE OS PODERES PÚBLICOS Ainda há avanços consideráveis a se obter na visão da

mídia televisiva sobre quem responde pelos direitos decrianças e adolescentes: entre os poderes públicos consul-

tados, acontece clara predominância do Executivo. Essedesequilíbrio, que indica desatenção à importância dopapel que cada um desses poderes desempenha, está pre-sente em todo o conteúdo analisado na presente pesquisa,apesar das matérias de veículos impressos dedicarem espa-ço consideravelmente maior do que as demais mídias àsvozes oficiais.

É importante destacar que em seu relatório do ano 2002,o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD) apresenta um estudo sobre o avanço das democra-cias, principalmente em países que abandonaram regimesautoritários nos anos 80. Entre as diversas conclusões, aexcessiva concentração de poder e recursos no Executivo éapontada como um entrave grave a uma realização demo-crática mais efetiva, fundamental para garantir as condiçõesnecessárias para o pleno desenvolvimento humano.

Enxergar a estrutura do poder público como exclusivado Executivo poderia ser um resquício de períodos ditato-riais, nos quais os demais poderes não têm autonomia. Amídia pode ter um papel crucial no fortalecimento dessasinstituições se conhecer melhor suas atribuições, fiscalizarsuas ações e avaliar se estão sendo garantidas as condiçõescorretas, inclusive orçamentárias, para que cumpram seuverdadeiro papel no jogo democrático.

� Programa de televisão para o público infantilcom uma proposta inovadora: apresenta criançascom incapacidade física ou mental, mostrando olado positivo de suas vidas e promovendo o direitoà igualdade e à integração na sociedade.

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Programa de TvAU T O R : Germán Octav io Pat iño OssaME I O : Soc iedad de Te lev i s ión

de l Pac í f i co – Te lepac í f i coDATA : 27/maio/2001

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA PROTAGONISTAS

AQUÍ VAMOS, MARCANDO EL PASO

(AQUI VAMOS, MARCANDO O PASSO)

ANÁLISE/TELEVISÃO

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47

A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� A fotografia investiga e registra o mundo dos meninos em situação de rua durante o período noturno. Tecnicamente destaca-se o bom uso da luz.

EL SUBMUNDO DE LOS NIÑOS

DE LA CALLE(O SUBMUNDO DOS MENINOS DE RUA)

Fernando Luis Romero/Diário de Notícias/Paraguai

PA Í S : ParaguaiGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Fernando

Lu i s RomeroME I O : Jornal D iar io

de Not i c iasDATA : 20/Fevere i ro/2000

FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

48

FINALISTA/TELEVISÃO

SUEÑOS DE NIÑO

(SONHOS DE CRIANÇA) � Reportagem sobre a pobreza infantil, construída apartir do olhar das próprias crianças chilenas, emboradirigida ao público adulto. Em entrevistas nas quais crianças falam de suas necessidades, direitos e visão de vida, o material contrapõe a opinião de estudantes de escola privada com a de crianças e adolescentes pobres.

PA Í S : Chi leGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R : Claudio Espe jo SuazoME I O : Red Te lev i s iva Megavis ión S .A .DATA : 12/ju lho/2001

TOLUENO

� Série de reportagens investigativas que mostram a problemática da inalação de solventes de baixo custo

pelos meninos de rua em Santiago do Chile. Analisa os devastadores efeitos do tolueno,

substância altamente tóxica e barata, cuja venda é proibida para crianças. O programa

demonstra como é fácil obter o produto.

PA Í S : Chi leGÊ N E R O: Sér ie de

quatro repor tagensAU T O R : Ja ime Moreno Lava lME I O : Te lev i s ión Nac iona l de Ch i leDATA : 16, 17, 18 e 19/março/2001

VIDA BANDIDA� O documentário se inicia com uma dramatizaçãoda história real do adolescente autor do roteiro. Nasegunda parte, há uma série de entrevistas com adolescentes em conflito com a lei. A terceira retrataprojetos que atendem esses meninos e meninas emdiferentes cidades brasileiras, segundo os parâmetrosdo Estatuto da Criança e do Adolescente. Ganhou o Prêmio EMMY 2000.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Documentár ioAU T O R A : Maria Inés LandgrafME I O : TV Cu l turaDATA : 12/dezembro/1999

� Duas reportagens que apresentam o caso de ummenino em situação de rua, em Bogotá, e sua reabili-

tação um ano depois. A difusão do caso mobilizou opaís. O acompanhamento da vida do garoto

é um dado positivo, já que entre a primeira e asegunda reportagens transcorre um ano.

PA Í S : ColômbiaGÊNERO: Programa de opiniãoAU T O R A : Claudia Gur i sa t t iME I O : Canal RCNDATA : 1999/2000

NOCHE – JAVIER PERTUZ I Y II (A NOITE – JAVIER PERTUZ I E II)

ANÁLISE/TELEVISÃO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

FINALISTA/TELEVISÃO

INDUSTRIA DE MENDIGOS

(INDÚSTRIA DE MENDIGOS)� Série de matérias sobre trabalho infantil noEquador, exibidas no noticiário central da emissora.As reportagens trataram o tema de imigração indígena nas cidades. Utiliza depoimentos de crianças, boas imagens e densidade informativa.

PA Í S : EquadorGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R : Freddy A lex i s

Barros CabreraME I O : Ecuav i saDATA : 6-8/agosto/2001

� Com grande capacidade de síntese, a reportagemmostra o longo e árduo percurso que fazem os livros

até as escolas de uma zona distante do México.A câmera acompanha o envio, são feitas

entrevistas com os pais que carregam o material.Encerra-se em um lugar distante,

com o encontro das crianças e seus livros.

PA Í S : MéxicoGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R : Ja ime Guerrero To ledanoME I O : TV AztecaDATA : 20/agosto/2001

ENTREGA DE LIBROS EM

CHIHUATITLA, HIDALGO

(ENTREGA DE LIVROS EM

CHIHUATITLA, HIDALGO)

INOCENCIA EN VENTA

(INOCÊNCIA À VENDA) � Reportagem sobre a exploração sexual de criançase adolescentes na cidade nicaragüense de Granada.Trata do comércio sexual nas zonas turísticas. É umtema novo no contexto do país e a reportagemaproxima-se da realidade das crianças com um tratamento adequado, boa contextualização e diversidade de fontes.

PA Í S : NicaráguaGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R A : Ximena Gut iérrezME I O : Canal 2DATA : 25/fevere i ro/2001

� Reportagem sobre a vida difícil das crianças indígenas empregadas como mão-de-obra para as

colheitas em fazendas de café de Terras Altas, província de Chiriquí, Panamá, onde se desenvolve

um modelo de saúde integral que pretende melhoraras condições de vida desses grupos. As crianças quetrabalham nas colheitas são entrevistadas na série.

PA Í S : PanamáGÊ N E R O: Sér ie de

t rês repor tagensAU T O R A : Maria E lena Barr iosME I O : Corporac ión Medcom

Panamá/Canal 4DATA : 16-17-18/ju lho/2001

NIÑOS RECOLECTORES

(MENINOS TRABALHADORES DE COLHEITAS)

49

ANÁL

ISE/T

ELEV

ISÃO

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FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

50

� Fotografia de uma criança de dois anos que brinca em balanço semidestruído em Inhoaíba, bairro do Rio de Janeirocom um índice de desenvolvimento humano menor que o de Botswana, África. Contrasta um momento feliz com uma situação de abandono.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Custod io Co imbraME I O : Jorna l O GloboDATA : 24/março/2001

Custódio Coimbra/O Globo/Brasil

MEDO DE ALTURA

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51

A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

Otema mais abordado entre as matérias de Rádio ins-critas na II Edição dos Prêmios Ibero-americanos deComunicação foi a Promoção e/ou Descumpri-

mento dos Direitos de Crianças e Adolescentes,resultado idêntico ao apontado pela análise das inscrições dematerial televisivo.

De todas as categorias analisadas, a de Rádio inclui omaior número de citações aos marcos jurídicos da garantiadesses direitos e da responsabilidade de toda sociedade pordefendê-los. É positivo que 74,2% das matérias inscritasfaçam referência às leis que garantem a proteção integral acrianças e adolescentes.

Essa boa notícia é fortalecida pelo fato de que as Legis-lações Nacionais específicas para a infância e adolescên-cia são as mais utilizadas por jornalistas, respondendo por43,6% das menções a leis nas matérias que utilizam esserecurso. A Legislação Internacional relativa a essas fai-xas etárias também é fonte freqüente de referência, alcan-çando índice superior a 35%.

Nesse universo, o marco mais citado é a Convençãosobre os Direitos da Criança, aplicável a pessoas de até18 anos. A Convenção tem 41 artigos nos quais os paísessignatários se comprometem a proporcionar a todas ascrianças e adolescentes medidas que garantem seus direitos

RADIALISTAS FORTALECEM

PARÂMETROS DE DIREITOS

ANÁLISE/RÁDIO

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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à vida, à saúde, à educação, à família e à proteção, além deinformações necessárias para que exerçam seus direitos.

O CICLO DA DESIGUALDADE A atenção que os radialistas dedicam a essas questões

é um fato extremamente significativo. Nesse contexto degarantia a condições de desenvolvimento pleno, a desi-gualdade social é certamente o maior entrave, como res-saltou a diretora executiva do UNICEF, Carol Bellamy, empalestra no Instituto de Políticas de Harvard, no dia 19 defevereiro de 2003. “Este é um mundo no qual a pobreza ea ignorância certamente ameaçam a segurança humanatanto quanto qualquer arma de destruição em massa – eno qual o HIV/Aids e conflitos armados já causaram maisdevastação e sofrimento do que qualquer terrorista pode-ria sonhar”, disse Bellamy. “É um mundo com uma econo-mia global de mais de US$ 30 trilhões no qual um quintoda humanidade – 1,3 bilhão de pessoas – está consigna-do a vidas de sofrimento e carência quase inimagináveis.Pelo menos a metade dessas pessoas são crianças”.

A redução da pobreza deve começar com a garantiados direitos da criança, quebrando o ciclo de transmissãodessa condição entre gerações. Para atingir essa meta,191 países já se comprometeram com o cumprimento daConvenção. Os países-membros das Nações Unidas tam-bém concordaram em atingir um conjunto de metas dedesenvolvimento para 2015. Relacionadas no documentoUm Mundo para as Crianças, essas metas são, em si, fon-

tes de pautas jornalísticas constantes para todos os meiosde comunicação. Elas reúnem objetivos concretos para aerradicação da pobreza extrema e da fome, universaliza-ção da educação primária, promoção da equidade degênero, redução da mortalidade infantil, melhora da saú-de materna, defesa do meio ambiente e combate aoHIV/Aids, malária e outras doenças.

DENUNCIANDO A EXPLORAÇÃO Um dos maiores entraves à garantia de saúde e edu-

cação a todas as crianças e adolescentes é, sem dúvida, aExploração do Trabalho Infantil. Esse foi o segundotema mais abordado pelos radialistas que participaram daII convocatória dos prêmios: cerca de 15% de todas aspeças inscritas na categoria Rádio tinham como foco prin-cipal esse que é hoje um desafio em escala mundial paraa agenda dos direitos das novas gerações.

Estima-se que o número de trabalhadores infantis/ado-lescentes envolva 246 milhões de pessoas em todo omundo. A maioria delas trabalha na agricultura. Entre asgarotas, a ocupação mais comum é o trabalho doméstico.Ou seja, essa mão-de-obra infantil está dentro das casas demuitos ouvintes, leitores, telespectadores. A atenção dadapelos profissionais de rádio ao problema da Exploraçãodo Trabalho Infantil – maior que nos demais meios – éum outro fator nitidamente positivo diagnosticado pelaanálise do material inscrito na II convocatória dos prêmios.

FINALISTA/RÁDIO

� Programa que funde reportagem e dramatização. Utiliza vozes de crianças e faz um roteiro sobre a história e as formas dos maus tratos. O programa se encerra denunciando provérbios que alimentam a cultura dos maus tratos.

PA Í S : Argent inaGÊ N E R O: Dramat ização

e informat ivoAU T O R : Ju l io A lber to PazME I O : FM UTN (Frecuenc ia Modulada

de la Univers idad Tecno lóg i ca)DATA : 8/setembro/2001

MULTIPLICAR ES LA TAREA

(MULTIPLICAR É A TAREFA)

ANÁLISE/RÁDIO

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Outros aspectos sobressaem nesta categoria. Em menosde 5% das matérias inscritas, por exemplo, os radialistasdenunciaram determinada situação sem contextualizá-lanem apontar saídas. Enquanto isso, cerca de 69% abordaramos problemas apresentando diversos aspectos de sua reali-dade, permitindo, assim, o acesso dos ouvintes a informaçõesimportantes para subsidiar um debate interno mais eficaz,em cada país, sobre as questões prioritárias para a infânciae adolescência. O melhor é que 22% de todo o materialforam ainda além desse patamar, com os comunicadoresinvestigando e apresentando possíveis soluções para a situa-ção apresentada.

Exige reflexão, contudo, o fato de que, como único veícu-lo a não utilizar qualquer tipo de imagem, o rádio torne-semais suscetível a ignorar um aspecto importante da realidadesocial dos países ibero-americanos: a existência de gruposÉtnicos e Raciais especialmente desfavorecidos. Apenas 3%de todo o material abordaram questões étnicas – sem dúvida,uma lacuna na cobertura de rádio sobre as questões da infân-cia e adolescência.

Um dado muito expressivo, no entanto, é que 18% domaterial incluem uma perspectiva de Gênero sobre aquestão que enfocam. Esse índice é o mais elevado entre ascinco categorias analisadas neste estudo.

FINALISTA/RÁDIO

POTENCIAIS E LIMITAÇÕES

� Série bem realizada para público adulto com depoimentosde crianças trabalhadoras, menores de 14 anos, que enfrentam essa difícil situação e ainda fazem o esforço para estudar e se superar.

PA Í S : Bol ív iaGÊ N E R O: Repor tagemAU T O R : Car los Mamani J iménezME I O : Radio Erbol FM 100,9,

Red Satel i ta l Informativo Radar Juveni lDATA : 15-16/setembro/2001

DESTINOS CLANDESTINOS,UNA REALIDAD Y MUCHOS SUEÑOS(DESTINOS CLANDESTINOS,UMA REALIDADE E MUITOS SONHOS)

ANÁL

ISE/R

ÁDIO

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

54

FINALISTA/RÁDIO

No material de Rádio inscrito nos prêmios, Crianças eAdolescentes são as vozes mais freqüentes. Juntos, somam25,5% do total de entrevistas. A Família e CidadãosComuns respondem por 13,5%. Uma primeira avaliaçãodesses dados leva a crer numa disposição dos radialistas emevitar que o tom da cobertura se restrinja ao discurso oficial– ou seja, às informações que dependem dos governos. Osinal de alerta se acende quando percebemos que outrossetores também aparecem muito mais que as diversas instân-cias de governo: Especialistas em diversas áreas,Profissionais de Ensino e Organizações da SociedadeCivil e Fundações.

Embora todos esses atores tenham muito a contribuirpara um debate amplo sobre os direitos das crianças e ado-lescentes, os números transparecem uma subutilização dasinformações que as fontes oficiais podem oferecer. O maisgrave é que esse direcionamento termina também levandomuitos profissionais de rádio a deixar de discutir efetiva-mente as políticas públicas e de cobrar do poder público umapostura claramente comprometida com a implementaçãodessas políticas. Os números não deixam margem a dúvidas:de todas as vozes ouvidas nos programas de Rádio, oExecutivo representa apenas 2%, enquanto o Judiciário eo Ministério Público somam 2,7%, e o Legislativo, 1,7%.

MICROFONE ABERTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

FALTA DIVERSIFICAÇÃO TEMÁTICA Também é nessa categoria que mais foram abordadas

duas questões fundamentais para a população adolescente.Matérias sobre Sexualidade e Saúde Reprodutiva e Gra-videz na Adolescência respondem juntas por 8% de todo omaterial, índice muito superior aos apresentados nas análisesde televisão e de veículos impressos. A atenção nos assuntosrelacionados à Cultura também foi mais freqüente do que emqualquer outro meio, e responde por 8% do material.

Esse cenário que acumula características tão consistentes,no entanto, fica vulnerabilizado pela reduzida diversificaçãoda pauta. Temas essenciais foram pouco abordados ou sim-

plesmente não apareceram nas peças de rádio inscritas na IIedição, como Adoção, Adolescentes em Conflito com aLei, HIV/Aids, Pessoas com Deficiências, Exploração& Abuso Sexual, Lazer, Meio Ambiente, Mídia ouViolência. Os profissionais de rádio necessitam avançar naconstrução de uma cobertura plural. Afinal, no momento emque priorizam as questões relativas à Promoção e/ouDescumprimento dos Direitos de Crianças e Adoles-centes, conforme registra a presente análise, automatica-mente estão tornando-se responsáveis por contribuir para quea população desenvolva uma percepção madura, compro-metida e mobilizadora diante desse leque de problemáticas.

� Programa diário na emissora de maior audiência nas áreas rurais do Brasil, que se dedicaprincipalmente a temas relacionados com a educaçãoe os direitos da criança. Com simplicidade e engenho, um locutor assume apersonalidade de um camponês e ajuda a explicardiferentes situações que afetam a infância.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Dramat ização

e informat ivoAU T O R : Fernando A lexandre Ferre i ra LopesME I O : Rádio Nac iona l de Bras í l ia (AM)

e Rádio Nac iona l da Amazônia (OC)DATA : 20/setembro/2001

HISTÓRIA REAL: EXPLORAÇÃODO TRABALHO INFANTIL

ANÁLISE/RÁDIO

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55

A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

FINALISTA/RÁDIO

VAMOS FALAR DE SEXO

� Os programas tratam de vários dos aspectosreferentes à sexualidade dos adolescentes,

como educação sexual nas escolas e políticas de atenção.

Utiliza a linguagem dos jovens, personagens principais das narrativas. Todo o material esteve

disponível na Internet, com dados de apoio para professores e os adolescentes.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Sér ieAU T O R A : Mônica Va lér ia V i l le laMEIO: BBC e Rádio Eldorado FM de São PauloDATA : 17/agosto/2000

� Série com periodicidade semanaldirigida a um público adulto. Mistura formatos diferentes, como reportagens, dramatizações e depoimentos. Utiliza as histórias infantis como recurso para incluir temas de debate.

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Sér ie de do i s programasAU T O R A : Diana Díaz SotoME I O : Radiod i fusora Nac iona l

de Co lombia – Magaz ín Zona ComúnDATA : 01/ju lho/2001 – 22/abr i l/2001

NIÑAS Y NIÑOS TRABAJADORES DOMÉSTICOS(MENINAS E MENINOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS)DE LA VIOLENCIA INTRAFAMILIAR A LA CONCILIACIÓN(DA VIOLÊNCIA NA FAMILIA À CONCILIAÇÃO)

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

PA Í S : Bol ív iaGÊNERO: Série de rádio para criançasAU T O R : José Lu i s Agui r re A lv i sME I O : Circuito de Emisoras Comunitárias de laAsociación Provincial de Radios ComunitariasDATA : se tembro/1999 – jane i ro/2001

POR LOS DERECHOS DE LA NIÑEZ

(PELOS DIREITOS DA INFÂNCIA)� Série de pequenas inserções de rádio com mensagens muito claras para as crianças. Inclui duascanções e duas inserções publicitárias curtas commensagens relacionadas aos direitos da infância.Entre as criações originais, uma entrevista com umabola e seis mini programas sobre educação infantil, dirigidos aos pais de família.

PA Í S : MéxicoGÊ N E R O: Sér ieAU T O R : José Gut iérrez V ivóMEIO: Infored – Noticiario MonitorDATA : 2/ju lho – 24/setembro/2001

LOS NIÑOS Y EL VIH-SIDA Y OTROS

(AS CRIANÇAS E O HIV-AIDS E OUTROS)� Programação da rede mexicana Infored, com 50 rádios no país, que inclui noticiário e miniprogramas sobre HIV/Aids, maus tratos e outrostemas. São reportagens informativas com diferentes fontes de informação consultadas e um tratamento completo.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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Em 1990, o Brasil foi o primeiro dos países ibero-americanos a aprovar uma lei nacional específica paraa promoção e defesa dos direitos de crianças e ado-lescentes inspirada na Convenção sobre os Direitos daCriança, de 1989. Uma das conquistas desse marcojurídico foi a introdução de novas instâncias, os con-selhos de direitos e os conselhos tutelares, que dividi-ram responsabilidades entre o Estado e a sociedadecivil organizada, nas questões relacionadas com cri-anças e adolescentes.

A redação e aprovação do Estatutoda Criança e do Adolescente (ECA)foram resultado de uma intensa mobi-lização popular. O Estatuto, além dosConselhos de Direitos da Criança e doAdolescente nos níveis federal, estadual emunicipal, estabelece a criação dos Conse-lhos Tutelares em cada um dos mais de5.500 municípios brasileiros como base do sistema degarantia de direitos. Em 12 anos, essa meta ainda nãofoi atingida, mas estão implantados hoje em cerca de55% dos municípios do país, enquanto os conselhos dedireitos existem em 72% deles.

Os Conselhos Tutelares são responsáveis noBrasil por atender e encaminhar crianças e adoles-centes para os diversos serviços da rede de proteçãosocial sempre que seus direitos estiverem ameaçadosou tenham sido desrespeitados por membros dasociedade ou pelo próprio Estado. As leis para cri-anças e adolescentes aprovadas em diversos paísesda região definem, por vezes, órgãos similares parao atendimento, encaminhamento e defesa dessessegmentos populacionais.

O PAPEL DA IMPRENSANas matérias analisadas em estudo quanti-qualita-

tivo realizado pela Agência de Notícias dos Direitos daInfância sobre o material inscrito na II Edição dos Prê-mios Ibero-americanos, esses órgãos pouco aparecem.No conjunto das fontes consultadas nas diferentesmatérias, os Conselhos de Direitos representam cercade 2,2% dos entrevistados. Os Conselhos Tutelares res-pondem por 1% dessas citações.

A baixa utilização dessas fontes mostra, porum lado, que a mídia não está atenta àimportância do papel que tais instânciasdesempenham. Por outro lado, o dadorevela também que esses atores não estãocientes da potencialidade da mídia para

pautar o debate público e fortalecer, assim, aprópria atuação de órgãos dessa natureza.Nesse desencontro, perdem todos. Como a

ponta do sistema de garantia de direitos, essas instân-cias lidam diretamente com a realidade local de ques-tões cruciais, como exploração e abuso sexual, educa-ção, saúde, exploração do trabalho infantil e adolescen-tes em conflito com a lei.

A mídia certamente precisa estar próxima dessesórgãos, contribuindo para garantir o cumprimento dosdireitos com os quais todos os países da região se com-prometeram na Convenção sobre os Direitos da Crian-ça. Os comunicadores poderiam ter nos Conselhos nãosó uma grande fonte de informação, como uma grandepauta jornalística, para investigar a destinação e aplica-ção de verbas públicas – em todos os níveis da admi-nistração – aos órgãos criados como parte do sistemade garantia de direitos de cada país.

OS CONSELHOS TUTELARES

A IMPORTÂNCIA DE UMA REDE DE PROTEÇÃO

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Imagens publicadas em jornais e revistas são instrumentosque facilitam o entendimento da informação muito maispela emoção do que pela razão e, por isso mesmo, são

mais lembradas do que as palavras. Entre as fotos e outraspeças gráficas que concorreram na categoria Trabalho Gráfi-

co da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de Comunica-ção pelos Direitos da Infância e da Adolescência, as Crian-ças, de zero a 11 anos, são o grupo mais retratado. Elasrepresentam 81% do total das imagens, enquanto Adoles-centes de 12 a 17 anos respondem por apenas 3,5%.

William Fernando Martinez/El Tiempo/Colômbia

A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

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� Fotografia de extraordinário valor visual e composição que desenha com precisão os efeitos da violência na zona de combate sobre a educação das crianças.

VENCEDOR DA CATEGORIA

TRABALHO GRÁFICO

“TRINCHERA ESCOLAR”(TRINCHEIRA ESCOLAR)

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Wil l iam

Fernando MartinezME I O : Jornal E l T iempoDATA : 16/agosto/2001

RETRATOS DA DENÚNCIA E DA ESPERANÇA

ANÁLISE/TRABALHO GRÁFICO

FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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Crianças e Adolescentes focalizados na mesma imagemrespondem por 12% do total. E 3,5% das peças inscritas nãoabordavam especificamente um grupo etário. São dadosque radiografam com nitidez a dificuldade dos repórteresvisuais em compreender a verdadeira dimensão dos proble-mas que afetam os adolescentes da região.

Quando se observa a temática mais comum nas peçasinscritas – a Promoção e/ou Descumprimento dosDireitos de Crianças e Adolescentes – torna-se ain-da mais importante ressaltar essa lacuna. Os adolescentessofrem com inúmeras condições que descumprem direitosbásicos com os quais seus países se comprometeram emdiversos acordos internacionais e em suas próprias legisla-ções. Esse desrespeito pode ser, e muitas vezes é, denun-ciado pelo poder de uma imagem captada ou criada porprofissionais atentos à realidade de suas sociedades. E oimpacto social da visualização desse descumprimento poderesultar ainda na mobilização para o enfrentamento dequestões sistematicamente ignoradas.

É importante lembrar que a categoria Trabalho Gráfi-co compreende não só fotografia mas também o desenhodas páginas, que inclui, além dos repórteres fotográficos,editores de arte e as equipes de diagramação de jornais erevistas. É necessário que todos esses profissionais seenvolvam no processo de garantir a presença da imagemdos adolescentes nos jornais e revistas da região.

A COMPOSIÇÃO TEMÁTICA A ampla cobertura de Exploração do Trabalho

Infantil é um destaque positivo entre os dados obtidos apartir da análise das imagens inscritas nos prêmios. Edu-cação, Comportamento e Crianças em Situação deRua ocupam a terceira posição entre os temas mais abor-dados. Mereceram também considerável atenção Confli-tos Armados, Saúde, Ação do Tráfico e Cultura.

Entre os temas que tiveram pouca representativida-de entre as inscrições estão Adoção e Pessoas comDeficiência, além de Esportes e Lazer & Entreteni-mento. É fundamental que o repórter fotográfico e asequipes de arte dos meios impressos estejam atentos àimportância desses dois últimos componentes na forma-ção de crianças e adolescentes.

O direito de praticar esportes e de freqüentar espa-ços de lazer, com atividades organizadas está, infeliz-mente, longe de ser uma garantia universal concedida acrianças e adolescentes. E são aspectos cruciais para asse-gurar suas chances de atingir o desenvolvimento pleno,além de servirem de base a algumas das mais bem-suce-didas estratégias de combate à violência e à exclusãosocial. Na cobertura jornalística é preciso ter sempre emmente que o esporte não se restringe aos resultados decampeonatos oficiais, nem as opções de lazer devemestar contidas apenas em guias com oportunidades de

ANÁLISE/TRABALHOGRÁFICO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� Fotografia de uma série de oito sobre os meninos no corte de cana-de-açúcar, que registra em distintos planos um dia de trabalho de uma criança trabalhadora.

PA Í S : E l Sa lvadorGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Alber to Mora lesME I O : Jorna l La Prensa Gráf i caDATA : 7/jane i ro/2001

EL PEQUEÑO ROZADOR

(O PEQUENO CORTADOR)

Alberto Morales/La Prensa Gráfica/El Salvador

diversão para a classe média. Ambos, além de um direito,são instrumentos estratégicos para uma política públicaverdadeiramente inclusiva.

AS QUESTÕES ÉTNICAS E DE GÊNERO Um dado muito positivo na categoria Trabalho Grá-

fico é a atenção à Questão Indígena. Esse grupo res-ponde por 12% das referências no material utilizado napresente análise. Mestiços são retratados em 48% dasimagens inscritas, comparados a 17,4% de brancos e14,6% de afro-descendentes. As cifras são coerentescom o perfil populacional da América Latina e o Caribe.

Por outro lado, a categoria Trabalho Gráfico é a úni-ca que apresenta diferenças significativas entre o núme-ro de meninos e meninas retratados. Mais de 39% das

imagens são de meninos, contra 19% de meninas. Pou-co mais de 28% das composições gráficas retratamambos os sexos. Aqui, novamente os dados apontampara uma possível distorção da cobertura jornalística.Essa variação pode significar que os meninos são maisatingidos pelos problemas retratados pelos comunicado-res visuais. Mas também pode ser um indicador de queesses comunicadores estão menos atentos aos desafiosque comprometem a garantia de chances de desenvolvi-mento humano pleno para as meninas da região.

Combater a ineqüidade de Gênero é uma das prio-ridades mundiais para romper o ciclo de perpetuação dapobreza. E as imagens podem ter um papel fundamen-tal ao expor o contexto discriminador a que estão sub-metidas crianças e adolescentes.

FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

ANÁL

ISE/T

RABA

LHO

GRÁF

ICO

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O papel das imagens ao reforçar denúncias sobre o des-cumprimento dos direitos de crianças e adolescentes é muitoclaro e se encontra explícito nas cifras da presente análise.Mais da metade das imagens são denúncias sobre algum fato.Já 24% são imagens que ilustram uma investigação sobre pos-síveis soluções para um problema exposto.

No que se refere à denúncia, é muito importante ressal-tar que crianças e adolescentes têm especial direito de prote-ção de suas imagens. Nesse delicado equilíbrio entre a utili-zação de uma determinada imagem para evidenciar um pro-blema e correr o risco de expor uma criança em situação de

vulnerabilidade, o direito da criança à proteção deve sempreser priorizado.

Nesse sentido, preocupa que em cerca de 7% de todo omaterial da categoria Trabalho Gráfico, as próprias imagensinscritas violem os direitos das crianças retratadas, como exibiro rosto de adolescentes em conflito com a lei. Aqui, a atençãodos comunicadores precisa ser redobrada, inclusive por meiode debates entre esses próprios profissionais e, sempre quepossível, recorrendo a especialistas em direitos. Comunicadoresvisuais e aqueles que atuam na área da infância precisam tra-balhar juntos para promover essa cultura de responsabilidade.

A PROTEÇÃO À IMAGEM DA CRIANÇA

SÉRIE REVISTA ZÁ� Revista para meninos e meninas de 7 a 12 anos com linha editorial que trata com muita propriedade temas atuaiscomo meio ambiente, educação, saúde e direitos das crianças.Muito bem elaborada graficamente. Desenvolve uma série de análises sobre os dez anos da aprovação do Estatuto daCriança e do Adolescente no Brasil.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Revis ta Infant i lAU T O R A : Mónica KrauszME I O : Revis ta ZÁDATA : vár ias

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

ANÁLISE/TRABALHOGRÁFICO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

O PAPEL ESTRATÉGICO

DA MÍDIA ESPECIALIZADA

ANÁLISE/PÚBLICO INFANTIL

� Série de programas de rádio para o público infantil com grande participação das crianças e com canções, contos infantis e temas relacionados com suas escolas e a situação nas comunidades. Proposta muito interessante para rádio infantil e adolescente.

PA Í S : Chi leGÊ N E R O: Sér ie de rád ioAU T O R A : Noemí Baeza Henr iquezME I O : Radio Nuevo Mundo 93.0 AMDATA : junho/1999 – ju lho/2001

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

PEQUEÑOS CREADORES EN VIAJE

(PEQUENOS CRIADORES EM VIAGEM)

A formatação adequada da informação para o PúblicoInfantil é uma das tarefas mais difíceis que podem ser exer-cidas por comunicadores. Não raro, as empresas de comuni-cação avaliam seus produtos infantis apenas sob a óticacomercial. Pouca atenção é dada ao potencial pedagógico elúdico e à carga conceitual necessária para exercer qualquerfunção que influencie a formação de uma criança.

A grande quantidade de dados positivos observados naanálise das peças de Rádio, Televisão e veículos impressosdestinadas ao Público Infantil inscritas na II Edição dos Prê-mios Ibero-americanos de Comunicação pode ser considera-da, assim, uma revelação estimulante da dedicação tantodos profissionais quanto dos meios para qualificar o materialdestinado a essa faixa etária.

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O maior destaque está, sem dúvida, na escolha dostemas. Considerando-se o corte específico das publicações eprogramas dirigidos à infância, extraído das inscrições nacategoria Público Infantil e Adolescente, mais de 93% dasquestões abordadas foram consideradas temáticas de rele-vância social, ou seja, temas importantes para a formação dacriança e para o estímulo a seu protagonismo na sociedade.

POR UMA FORMAÇÃO DIVERSIFICADA Entre os números que merecem ser comemorados está a

liderança do tema da Promoção e/ou Descumprimentodos Direitos de Crianças e Adolescentes no ranking dosassuntos mais abordados. No conjunto de matérias, entretan-to, faltaram menções aos marcos jurídicos da garantia dessesdireitos: 80% das peças inscritas não citam nenhuma lei. Umdeslize real, considerando-se que a leitura, na infância, aju-da a formar valores e a própria percepção de mundo.

Em segundo e terceiro lugares no ranking de temas aparecemEducação e Cultura. Novamente, um ponto a destacar. Compor-tamento, Pessoas com Deficiência e HIV/Aids também

MAGAZIN ALHARACA

PA Í S : ColômbiaGÊ N E R O: Sér ie de rád ioAU T O R A : Diana Díaz SotoME I O : Asoc iac ión de Emisoras Comuni tar ias

de l Magdalena Medio - Aredmag

� Série de rádio que aborda os direitos das crianças, difundida em emissoras comunitáriasde zonas pobres e localizadas em regiões de conflitoarmado. Mistura reportagens, música e espaçosdramatizados, destacando valores e costumes daszonas para as quais é difundida.

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

ANÁLISE/PÚBLICOINFANTIL

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FINALISTAS/TRABALHO GRÁFICO

estão entre os assuntos mais abordados, evidenciando a atençãodos meios a debates muito importantes para um processo diversifi-cado de formação das crianças. E a questão do Meio Ambiente,com 4,3% das inscrições, encontra nesta categoria uma representa-tividade muito maior do que em qualquer outra dos prêmios.

DESAFIOS DE UMA NOVA LINGUAGEM Os dados desta análise, porém, ainda revelam muitas

lacunas no conjunto dessas publicações e programas. Algu-mas delas exigem especial atenção, como o fato de mais de15% do material ter sido considerado como apresentando

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� Fotografia que integra uma série para ilustrar as reportagens “Filhos da Barbárie”, publicada no suplemento Vértices do Jornal Diario de Hoy.A série se caracteriza pelo tratamento respeitoso e digno das crianças.

PA Í S : E l Sa lvadorGÊ N E R O: Sér iede Fotograf iasAU T O R : Oscar Rober to

A lvarado Tenor ioME I O : El Diar io de Hoy, Revis ta Vért i ceDATA : 27/agosto/2000

HIJOS DE LA BARBARIE

(FILHOS DA BARBÁRIE)

Oscar Roberto Alvarado Tenorio/El Diario de Hoy. Revista Vértice/El Salvador

ANÁL

ISE/P

ÚBLIC

OINF

ANTIL

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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elementos que estimulam o consumo. A publicidadeestá presente, de forma implícita, em 12,5% das peçasinscritas. E só é colocada explicitamente em 2,5%delas. No caso da criança, é especialmente importantediscernir o que é publicidade do que é conteúdo edito-rial, porque o leitor, ouvinte ou espectador ainda estáem processo de formação, sendo muito mais suscetívelà propaganda implícita.

Outro aspecto específico do material dirigido aoPúblico Infantil é a difícil adaptação do vocabulário,resultado do fato de grande parte desses comunicadoresnão contarem com formação prévia na área pedagógica.Cerca de 20% das inscrições continham vocabulário ina-dequado para crianças, mas só 1,2% do material utilizourecursos explicativos como glossários.

As questões de Gênero, Etnia ou Origem Étnica nãoforam abordadas em mais que 5% do conjunto de inscrições.Esse dado repete, em grande parte, o observado na análisedo material inscrito nas demais categorias dos prêmios.

É positivo observar, porém, que a voz das Criançasé a mais presente nessas peças. Em seguida aparecemEspecialistas e Adolescentes, praticamente na mes-ma medida. A Família, no entanto, é menos ouvida nosegmento infantil do que em qualquer outra categoriaanalisada neste estudo. Essa é uma das lacunas mais gra-ves da cobertura. Afinal, entre as diversas potencialida-des das peças de comunicação voltadas para crianças estáa abertura de um espaço qualificado para trabalhar-se arelação entre pais e filhos.

� Suplemento dirigido ao público infantil que apresenta de maneira inovadora temas relacionados com os direitos das crianças. As matérias foram elaboradas levando em conta omundo das crianças e suas opiniões.PA Í S : Chi le

GÊ N E R O: Suplemento infant i lAU T O R A : Magal i ArenasME I O : Jornal E l Mercur ioDATA : 9/novembro/1999 – 29/março/2001

QUÉ TE MOLESTA DE LOSADULTOS Y OTROS(O QUE TE INCOMODADOS ADULTOS E OUTROS)

QUANDO OS JOVENS

ENCONTRAM SEUS MEIOS

ANÁLISE/PÚBLICO ADOLESCENTE

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

De todos os dados registrados a partir da análise depublicações e programas dirigidos à adolescênciaincluídos neste estudo, o mais positivo é a pre-

sença, em quase 80% do material, de questões conside-radas de Relevância Social, ou seja, de temáticas quecontribuem para a formação cidadã do adolescente. Esseíndice deixa claro que os comunicadores da região estãoatentos ao grande potencial desses programas de rádioe de televisão, dos suplementos de jornal e das revistasenquanto instrumentalizadores da efetiva participaçãodos adolescentes nos debates centrais para a melhoriade sua qualidade e perspectivas de vida.

É possível afirmar, portanto, que as principaistemáticas cobertas pelo material para adolescentesinscrito nos prêmios demonstram que boa parte dosprofissionais diretamente envolvidos com esse público játêm consciência de que seu trabalho vai além da trans-missão de informação jornalística, contendo sempre umviés educativo implícito em seu processo de elaboração.

NOVAS REALIDADESAs inscrições da II edição dos prêmios também mos-

tram que os comunicadores voltam-se para questõespróprias dos adolescentes quando trabalham a informa-

ANÁLISE/PÚBLICOADOLESCENTE

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

ção segmentada para esse público. Comportamento éo tema mais abordado, respondendo por mais de 20%do material. As publicações e programas dirigidos aadolescentes, selecionadas das inscrições da categoriaPúblico Infantil e Adolescente, são os únicos no qual alista de temas mais abordados é liderada por Compor-tamento – área que envolve a discussão de tendênciase atitudes típicas dessa faixa etária.

Duas outras temáticas tiveram bom destaque: aquestão da Promoção e/ou Descumprimento dosDireitos de Crianças e Adolescentes e o TerceiroSetor. A questão de direitos é comum a todas as cate-gorias analisadas neste estudo. Mas o destaque para oTerceiro Setor é, novamente, exclusivo do materialdirigido à adolescência. Trata-se da constatação de queo voluntariado e outras formas de organização da socie-dade civil têm um forte apelo e grande capacidade desensibilização e mobilização dos jovens. Isso não foiignorado pelos profissionais que inscreveram suas peçasnos prêmios, como se constata em outro dado extraídodo ranking de temas: 5% do material específico paraessa faixa etária tratam de Projetos Sociais.

SEXUALIDADE E SAÚDE REPRODUTIVA, HIV/AIDS E GRAVIDEZ

O recorte do Público Adolescente é o único no qual ograve problema de saúde pública representado pelaHIV/Aids e outras Doenças Sexualmente Transmis-síveis teve destaque na escolha da pauta jornalística. Aatenção dada a essa questão, que em todo o mundo avan-

ça entre populações mais jovens, é um ponto muito positi-vo para a cobertura da área. Outro avanço a ser comemo-rado é que os temas Sexualidade e Saúde Reprodutivae Gravidez na Adolescência respondem por 5% e3,8% do universo analisado. Vale lembrar que nenhumdesses temas conta, necessariamente, com novidades fac-tuais motivando a pauta jornalística – ou seja, a realiza-ção da matéria depende quase que exclusivamente deuma visão responsável do repórter e/ou do editor.

Mas há espaços nítidos para aprimorar a qualidade dacobertura nessas temáticas. Somadas as matérias sobreHIV/Aids & DST, Sexualidade e Saúde Reprodutivae Gravidez na Adolescência, observa-se que, no con-junto, 53,8% delas citam especificamente informaçõessobre a prevenção à gravidez, enquanto 69,2% citam aprevenção ao HIV/Aids e DST. Os índices podem crescer,considerando-se a transversalidade desses temas.

ONDE ESTÁ A FAMÍLIA?Educação também mereceu destaque, sendo o

tema principal de 6,3% do material inscrito. Crucial,considerando-se os problemas de oferta e qualidade deensino enfrentados pela maior parte dos países daregião. Por lei, todos os adolescentes têm o direito afreqüentar a escola. E uma escola que os respeite. Naconstrução da realidade escolar, um ator fundamentalparece estar sendo ignorado pela mídia – a Família.

Na verdade, o problema é mais amplo: quando éanalisado o conjunto de vozes ouvidas em todas as maté-rias dirigidas ao público adolescente, a Família só res-

CAMPANHAS DE UTILIDADE

PA Í S : Bras i lGÊNERO: Vinhetas de TelevisãoAU T O R : João Lu iz Barre to GoesME I O : MTV Bras i lDATA : 26/Novembro/1999

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

� Série de vinhetas sobre campanhas de utilidadepública em todos os âmbitos. Linguagem muitoaberta, para público adolescente e jovem, utilizadaem vinhetas de 40 segundos, que tratam de temascomo tolerância, álcool, HIV/Aids e meio ambiente.

ANÁL

ISE/P

ÚBLIC

OAD

OLES

CENT

E

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ponde por 2,1% das entrevistas. Um índice pouco rele-vante se comparado aos 13,5% de citações a Especia-listas, 12,8% de Organizações da Sociedade Civile Fundações e 7,1% de Profissionais de Ensino. Épositivo ressaltar que o Poder Executivo responde por8,5% das entrevistas, o que tende a comprovar umapreocupação dos comunicadores com as políticas públicaspara adolescentes nos mais diversos segmentos.

Além das publicações impressas, a maior parte dosprogramas para adolescentes inscritos nos prêmios vem

do rádio, havendo poucos de televisão. Nesses progra-mas e publicações, Participação de Adolescentes(ou seja envolvidos diretamente em projetos sociais oude voluntariado) são voz presente em 9,2% do material.Outros Adolescentes, vivendo as mais diversas situa-ções, representam 22,1% das vozes que tiveram espaçonessas matérias. Assim, Adolescentes em Geral eParticipação de Adolescentes somam, juntos, quaseum terço das vozes ouvidas pelos comunicadores. Umótimo sinal de respeito ao adolescente.

PALOMITAS DE PAPEL

(POMBINHAS DE PAPEL) � O suplemento dominical apresenta a seu público –crianças nos primeiros anos escolares – temas atuaisde saúde, ciência e outros. O jornal faz dessa maneiraum trabalho complementar à formação escolar. O mesmo veículo publica outros suplementos para crianças com o objetivo de ajudar os pais na educação de seus filhos.

PA Í S : E l Sa lvadorGÊ N E R O: Suplemento

para c r iançasAU T O R A : Tania A leyda Moreno SánchezME I O : : Jornal La Prensa Gráf i caDATA : dezembro/2000 – maio/2001

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

ANÁLISE/PÚBLICOADOLESCENTE

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

FORA DE SINTONIADuas temáticas muito importantes para a adolescência

dos países ibero-americanos aparecem pouco no materialinscrito nos prêmios. A primeira é Drogas, com o índice de1,2% entre os temas abordados. A questão é um problemasocial comum aos países da região, tanto quando se enfocaa utilização de drogas ilícitas quando se observam estatísti-cas de consumo de tabaco e álcool entre as camadas maisjovens da população. Informação qualificada sobre as conse-qüências desse consumo e também sobre as contradiçõesque dominam o discurso da sociedade perante o problema é

um direito dos adolescentes para o qual a mídia pode contri-buir de maneira efetiva.

Violência é outro tema de pouco destaque – menos de3% do total – nas publicações e programas para adolescen-tes que se inscreveram nos prêmios. Essa é uma grave omis-são – o fenômeno é reconhecidamente um dos que afeta deforma mais profunda os direitos do segmento adolescenteda população, conforme já discutido nesta publicação.

Finalmente, é importante realçar que apenas 5% dasinscrições abordam questões de Gênero e 3,6% de Discri-minação Racial.

� Material utilizado como complemento ao ensino escolar que respeita a inteligência das crianças quando trata temascomo meio ambiente, matemática, ciências sociais, nutrição,escola, família, saúde e outros. Impressiona pela sua diversidade e profundidade.

PA Í S : E l Sa lvadorGÊ N E R O: Suplemento

para c r iançasAU T O R A : Mari tza Yani ra Ze ladaME I O : E l D iar io de HoyDATA : Publ i cações semanais

LOS NIÑOS Y NOSOTROS

(NÓS E AS CRIANÇAS)

FINALISTA/PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE

ANÁL

ISE/P

ÚBLIC

OAD

OLES

CENT

E

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Alexandre Cassiano de Sousa/O Dia/BrasilFI

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LIST

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� Registro fotojornalístico que alcança o equilíbrio entre um braço rígido da mãe, que protesta diante de uma fileira de braços horizontais dos membros das forças de segurança, e um outro que segura maternalmente seu filho enquanto o amamenta.

PA Í S : Bras i lGÊ N E R O: Fotograf iaAU T O R : Alexandre

Cass iano de SousaME I O : Jornal O DiaDATA : 9/dezembro/2000

MÃE SEM TETO

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

MANIFESTO POR UMA ECONOMIA E DEMOCRACIA

PARA MENINAS, MENINOS E ADOLESCENTES

América Latina e Caribe chegam ao novo milênio aba-ladas por uma situação econômica e social de inquie-tude e angústia, na qual crianças e adolescentes são as

principais vítimas. As reformas econômicas empreendidas durante a última

década não alcançaram as expectativas. Nem sequer corri-giram as conseqüências da imensa dívida social de nossospaíses. Um dos resultados do descumprimento dos compro-missos assumidos por parte de governos e sociedade é asituação de pobreza extrema em que vivem mais da metadedas crianças e adolescentes.

Comprovamos, com dor e indignação, que as constantescausas de indigência da maioria das crianças e adolescentesda América Latina e Caribe se somam a outras, novas, maisfortes. Basta citar o baixo ou negativo crescimento econômicoque aumenta o número de homens e mulheres sem trabalho,a queda das exportações, o protecionismo e os subsídios nospaíses poderosos, o pagamento de juros da crescente dívidaexterna, os efeitos negativos da privatização de empresasestatais, a corrupção generalizada nas instituições, o aumen-to da crise fiscal e os ajustes econômicos que reduzem indis-criminadamente os gastos sociais. Cabe acrescentar um impor-tante fator que agrava a pobreza: os conflitos armados, quedeixam milhares de crianças e adolescentes órfãos e aban-donados, isto quando não são obrigados a participarem deles.

Estes novos fatores debilitam ainda mais nossa imper-feita democracia, pela qual tanto lutaram nossos povos. Acrise afeta os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e asdemais instituições da democracia representativa.

A democracia é a instância social na qual se pode gerara cidadania das crianças, isto é, o respeito por seus direitos.Por isso a democracia é a dimensão essencial do desenvolvi-

mento infantil na medida em que nela se aprendem os códi-gos da convivência, o respeito pelos demais e os procedi-mentos para resolver os conflitos em paz, em cooperação ecom solidariedade. Lamentavelmente, não existe um diálo-go intergeracional que possibilite a consulta sistemática efértil sobre os problemas e ideais de crianças e adolescentese abra caminhos institucionais de participação.

A responsabilidade pelo bem-estar da infância e ado-lescência é de todos e ninguém pode evadí-la. É fundamen-talmente uma responsabilidade pública dos que exercemfunções de governo e de gestão, em particular os que estãoencarregados de desenhar políticas e programas direcionadosà infância, e dos economistas profissionais, especialmente osresponsáveis dos ministérios da Fazenda, dos juízes e mem-bros do Poder Judiciário, da polícia e dos legisladores.

Em um tempo no qual os valores morais e éticos sedegradam, queremos exaltar a responsabilidade dos pais naformação de seus filhos, a dos professores pela educação dascrianças, e a dos médicos, particularmente os que atendemos serviços de saúde pública.

Existe, ademais, uma responsabilidade global frente àsgerações jovens, que recai sobre os organismos encarregadosdas finanças internacionais, as empresas multinacionais, o sis-tema de cooperação multilateral e os investidores privados.Com respeito a isso, fazemos um chamado responsável aospaíses doadores para que cumpram com os objetivos e metasfixados na Cúpula para o Desenvolvimento Social celebradaem Copenhague. E também para que atuem coerentementeao emitir seu voto no diretório das instituições finan-ceiras internacionais cuja ação freqüentementerepercute de modo negativo na população, emparticular nos mais jovens.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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A vida miserável de milhões de crianças fere a dignidadehumana e, diante da gravidade da situação, propomos:

1. A correção urgente em nível regional, nacional e localde um Pacto Social pela Infância entre todos os agentespolíticos, econômicos e sociais que estipule:� Que nenhuma menina, menino ou adolescente

passe fome;� Que todas as meninas, meninos e adolescentes fre-

qüentem a escola;� Que nenhuma menina, menino ou adolescente tenha

que trabalhar nem sofra algum tipo de exploração ou abuso.2. Prioridade no financiamento dos programas e proje-

tos que garantam os direitos sociais das crianças, asseguran-do que em tempos de recessão e de crise, tão freqüentes emnossa região, se respeite o Interesse Superior da Criança,fixado no artigo três da Convenção sobre os Direitos daCriança. Para isso, propomos as seguintes medidas práticas:� Programas nutricionais para estabelecer um sistema

de segurança alimentar para todas as crianças;� Salário de inclusão social (transferência básica de renda)

para as chefes e os chefes de família que vivem em indigência,condicionado à freqüência às aulas e ao adequado controle desaúde para meninos, meninas e adolescentes grávidas; � Expansão do orçamento educativo a fim de garan-

tir a todos a freqüência escolar, desde a educação infantilaté o ensino médio, para evitar a transmissão intergera-cional da pobreza; � Um sistema de vigilância cidadã para que os progra-

mas que asseguram os direitos das crianças sejam “progra-mas protegidos” de todo corte orçamentário ou ajuste fiscal.

3. Defendemos a necessidade de uma virada moral emvirtude da qual o principal valor do desenvolvimento e docrescimento não seja a acumulação de riqueza, senão o com-promisso pelo respeito aos direitos humanos em geral e, emparticular, a observação irrestrita do sistema de garantiasdefinido na Convenção sobre os Direitos da Criança.

Não precisamos justificar nossas propostas com umaanálise de sua viabilidade econômica. Sabemos que o quepedimos, no presente manifesto e nos anteriores, não éalgo excepcional, pois está claramente estabelecido naConstituição de cada um de nossos países. Pedimos orespeito à Constituição: uma democracia política eeconômica que valorize com dignidade e amor a vida denossas crianças.

América Latina e Caribe têm todas as potencialidadeseconômicas e sociais e todas as energias criativas intactaspara se propor a planejar seu futuro com dignidade paratodos seus habitantes. Negamos, assim, a idéia de que nossahistória nos condena à miséria e que segue sendo a con-cretização de uma tristeza atávica. Afirmamos nossa certezana possibilidade de realização de nossos sonhos e ideais,entre os quais figura, em primeiro lugar, a bela plenitudeque ainda resta a nossas meninas, meninos e adolescentesviverem, que são o mais poderoso fundamento de nossopróprio porvir.

Finalmente, solicitamos ao Fundo das Nações Unidaspara a Infância (UNICEF) que assuma a tarefa de impulsio-nar o diálogo entre sociedade e governo e com as crianças eadolescentes de cada um de nossos países, visando o cumpri-mento dos objetivos aqui apontados.

José Saramago, Belisario Betancur, Ernesto Sábato, Jorge Enrique Adoum, Arturo Corcuera, Thiago de Mello,Carmen Alborch, Mario Benedetti, Carlos Fuentes, Ángeles Mastretta, Álvaro Mutis, Héctor Aguilar Camín, Rosa

Montero, Rigoberta Menchú, Fernando Savater, Elena Poniatowska, Alfredo Bryce Echenique, Monseñor Gregorio RosaChávez, Antonio Skármeta, Cristovam Buarque, Eulalio Ferrer, Manuel Vicent e Gabriel García Márquez

Salamanca, 26 de Novembro de 2002

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METODOLOGIA

Opresente estudo sobre as matérias, publicações e pro-gramas inscritos na II Edição dos Prêmios Ibero-ame-ricanos de Comunicação pelos Direitos da Infância e

da Adolescência empregou um modelo metodológico basea-do nas técnicas de análise de mídia desenvolvidas pela orga-nização não-governamental brasileira Agência de Notíciasdos Direitos da Infância (ANDI).

Para extrair os dados apresentados e discutidos nestapublicação, as peças inscritas na segunda convocatóriaforam agrupadas de forma que permitisse a aprofundar suaanálise. Procederam-se, assim, estudos em separado das ins-crições nas categorias Rádio, Televisão, Imprensa e Gráficos.Na categoria Público Infantil e Adolescente, o material foiseparado para avaliar distintamente as peças dirigidas aadolescentes e a crianças. Um questionário, preparado espe-cialmente para os grupos acima mencionados, foi aplicado acada uma das inscrições.

O questionário teve como objetivo verificar, inicialmen-te, o principal tema abordado em cada peça inscrita. Arelação dos temas inclui: ação do tráfico; adoção; adolescen-tes em conflito com a lei; HIV/Aids e outras Doenças Sexual-mente Transmissíveis; ciência e tecnologia; comportamento;conflitos armados; consumo; cultura; deficiências; direitos;drogas; educação; situações de emergência; esporte; explo-ração do trabalho infantil; exploração e abuso sexual; gra-videz na adolescência; lazer & entretenimento; meioambiente; mídia; mortalidade infantil e mortalidade mater-na; pobreza; projetos sociais; saúde; sexualidade e saúdereprodutiva; situação de rua; terceiro setor; violência.

Além dos temas, verificaram-se a faixa etária abordadano material e questões de gênero e etnia. A utilização demarcos jurídicos nacionais e internacionais foi averiguada em

cada matéria inscrita. E a ótica utilizada nas reportagens –fosse ela focada em uma denúncia, em uma denúncia con-textualizada com elementos que qualificam o debate público,ou em busca de soluções para um problema apresentado.

Outro grande eixo da análise das peças inscritas foi olevantamento minucioso das fontes mais ouvidas. Desdecrianças, adolescentes, suas famílias até as diversas instân-cias dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

No caso específico das inscrições de material gráfico,observou-se, por exemplo, se alguma das imagens era, emsi, uma violação dos direitos de crianças e adolescentes. Epara as inserções de material dirigido ao público infantil eadolescente houve o monitoramento da utilização de men-sagens de estímulo ao consumo e a análise da linguagemempregada, específica para as faixas etárias às quais cadapeça era dirigida.

Para o material de Imprensa, ao invés de aplicar umúnico questionário para cada reportagem inscrita, a equipede classificadores considerou cada título que dividia matériasde uma mesma reportagem como uma inserção em separa-do, reproduzindo exatamente a metodologia aplicada pelaANDI na análise da cobertura da infância em jornais e revis-tas brasileiros.

Os questionários para cada inscrição foram preenchidospor estudantes universitários de Comunicação Social, inte-grados ao projeto de pesquisa. Os dados apontados nosquestionários foram, em seguida, inseridos em banco criadoespecialmente para permitir o cruzamento de informações.

Especialistas do Fundo das Nações Unidas para a Infância(UNICEF), da Fundação Telefônica e da ANDI reuniram-se paradefinir os critérios que seriam incluídos nos questionários e,posteriormente, para discutir os dados extraídos da análise.

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A I n f â n c i a e a A d o l e s c ê n c i a n o s M e i o s d e C o m u n i c a ç ã o I b e r o - a m e r i c a n o s

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�O Fundo das Nações Unidas para aInfância (UNICEF) forma parte integral dosistema de Nações Unidas. Conta com seupróprio corpo de governo e são 36 osmembros da Junta Executiva que ditampolíticas, revisam programas e aprovamorçamentos. Com o escritório principal emNova York, o UNICEF desenvolve seu tra-balho através de sete escritórios regionaise mais de 210 escritórios de campo emtodo o mundo.

Coopera com governos nacionais,organizações não governamentais e ou-tras agências do sistema das NaçõesUnidas em mais de 140 países.

O UNICEF trata de facilitar e apoiar asintervenções que têm como finalidade nãosó garantir a sobrevivência da criança,mas também uma série de resultados emmatéria de proteção e desenvolvimentointegral sustentável.

Através do Escritório Regional doUNICEF para América Latina e o Caribe,promovem-se em todos os níveis dasociedade os princípios dispostos naConvenção sobre os Direitos da Criança. OUNICEF se esforça para conseguir queesses direitos virem princípios éticos per-duráveis e normas internacionais de con-duta para com as crianças.

UNICEF - COMITÊ ESPANHOL

� O Comitê Espanhol do UNICEF éuma organização humanitária sem finslucrativos, criada exclusivamente para acooperação com todos os meninos emeninas do mundo, e reconhecida for-malmente pelo Estado espanhol, de acor-do com o mandato do “Fundo das NaçõesUnidas para a Infância” (UNICEF).

Criado em 1961, sua função é cen-trada fundamentalmente na promoçãoe cumprimento na Espanha daConvenção sobre os Direitos da Infânciade 1989 e a arrecadação de fundospara satisfazer as necessidades básicasdos mais jovens. Ademais, e na pro-moção deste objetivos, aspira – atravésda educação em todos os níveis – amobilizar as instituições públicas e asociedade civil para o exercício da soli-dariedade individual e coletiva e paraque contribuam para um mundo maisjusto para todos e todas.

O Comitê Espanhol tem sua sedecentral em Madri e está dirigido por umaJunta de Governo, formada por colabo-radores voluntários e presidida porFrancisco González-Bueno Lillo. Dispõetambém de comitês nas 17 ComunidadesAutônomas, que trabalham coordenada-mente com a sede central, além deDelegações Provinciais e Locais. Suamáxima autoridade é a AssembléiaGeral de sócios ativos com direito a voz evoto, que se reúne pelo menos uma vezpor ano para eleger os membros daJunta de Governo.

OS ORGANIZADORES DOS PRÊMIOS

� EFE, primeira agência denotícias em espanhol, é uma orga-nização multimídia internacional aserviço da informação.

Desde sua fundação, em1939, até nossos dias, EFE pas-sou de uma agência de âmbitonacional a uma empresa jor-nalística internacional comserviços informativos em línguaespanhola, inglesa, árabe eportuguesa, com presença noscinco continentes.

EFE tem uma rede deescritórios e correspondentes em170 cidades de mais de cem paí-ses, com uma vasta produção denotícias em texto, foto, áudio evídeo que chegam diariamente aseus clientes.

Desde 1965, EFE realiza umacobertura informativa exaustivade todo o continente americano,com serviços específicos paraAmérica Central, Cone Sul, PortoRico e serviço hispano paraEstados Unidos.

Outros dois objetivos essenci-ais de EFE são a defesa da línguaespanhola, assim como a estrutu-ração e promoção dos meios decomunicação ibero-americanos edos profissionais que os integram.

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A n á l i s e d a I I E d i ç ã o d o s P r ê m i o s I b e r o - a m e r i c a n o s

� A Agência de Notícias dosDireitos da Infância é uma organizaçãonão-governamental, fundada em 1992,em Brasília, capital do Brasil.

A missão da ANDI é contribuir parao aprimoramento da qualidade da infor-mação pública em torno de temas con-siderados decisivos para a promoção dosdireitos da infância e da adolescência.Para isto, busca estimular o diálogo pró-ativo, profissional e ético entre os atoresda sociedade civil organizada e a Mídia.

Ao longo destes 11 anos de ativi-dades, três eixos estratégicos – Mobili-zação, Análise e Qualificação – vêmorientando as diversas iniciativasdesenvolvidas pela ANDI. A Agência éreconhecida hoje no Brasil e na AméricaLatina como um centro de referênciaem comunicação para os direitos e odesenvolvimento humano e social.

Como princípios norteadores desuas ações, a ANDI acredita que ademocratização e a qualidade da infor-mação são elementos essenciais naconstrução de consciências e de um esta-do permanente de mobilização transfor-madora. A Agência embasa suas po-sições e práticas na Convenção sobre osDireitos da Infância e no Estatuto daCriança e do Adolescente (Brasil).

� As fundações do GrupoTelefônica S.A. têm o prazer deapoiar a III Edição dos PrêmiosIbero-americanos de Comunica-ção pelos Direitos da Criança edo Adolescente, iniciativa doUNICEF e da Agência EFE. Esti-mular o jornalismo conscienteexercido com cuidado e profis-sionalismo, debatendo proble-mas e soluções de questões rela-cionadas às crianças, é uma ini-ciativa que se enquadra em nos-sos objetivos de contribuir para amelhoria das condições de vidados setores menos favorecidosda sociedade, principalmente dopúblico infantil.

Atualmente, existem fun-dações do Grupo Telefônica naEspanha, Argentina, Brasil, Chi-le, Peru e Marrocos. Com investi-mentos feitos prioritariamentenas áreas de Educação, Saúde eDesenvolvimento Social, as fun-dações desenvolvem projetospróprios e também apoiam ini-ciativas de organizações dasociedade civil. Preferencial-mente, os projetos amparadoscaracterizam-se pelo uso dastecnologias de comunicação einformação rumo ao desen-volvimento social.

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� Desde o início das suas ativi-dades, em maio de 1989, aFundação Santillana para Ibero-américa, desenvolveu seu objetivoprincipal de apoiar projetos cultu-rais, científicos e acadêmicos, pormeio da organização de expo-sições, concertos, seminários, con-ferências e apresentação de publi-cações sobre diferentes áreas doconhecimento, com o respaldo deentidades acadêmicas de prestígiodentro e fora do país. Os usuáriosdos nossos serviços, não têm custospela utilização da nossa sede, nempela organização e realização dosdiferentes eventos. A Fundaçãocumpre, assim, um papel de mece-nas cultural, que a converteu emcentro focal de reflexão e análisedo mundo acadêmico.

A Fundação é dirigida e orien-tada por um Patronato integradopelos ex-presidentes da Colômbia:Carlos Lleras Restrepo (falecido em1994), Misael Pastrana Borrero(falecido em 1998), Alfonso LópezMichelsen e Belisario Betancur(quem o preside) e Dom Jesús dePolanco, presidente da FundaçãoSantillana da Espanha.

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Ficha TécnicaA Infância e a Adolescencia nos Meios de Comunicação Ibero-americanos

Redação dos TextosCynthia Garda

EdiçãoCynthia Garda e Walter Sotomayor

TraduçãoWalter Sotomayor

Supervisão EditorialVeet VivartaRachel MelloCesar VillarProdução

Ana Flávia FlôresProjeto Gráfico

ArteContextoEquipe de Triagem e Classificação

Renata Noiar - CoordenaçãoBeatriz EvaristoClaudia Alves

Deílson VogadoErika Nunes

Erika SantanaGabriel Queiroz

Márcia LimaMilena MarquesPatricia Osádon

Paulo Roberto Campos Rilton Pires

Thainara Castro

Finalistas e Vencedores

Os textos sobre o conteúdo dos trabalhosfinalistas e vencedores de cada categoria,presentes nas fichas técnicas publicadas entreas páginas 31 e 68, foram extraídos doscomentários elaborados pelos integrantes dojúri técnico da II Edição dos Prêmios Ibero-americanos de Comunicação pelosDireitos da Infância e Adolescência

UNICEF - BRASIL

SEPN 510, Bloco A Edificio INAN, 2° Andar 70.750-521 Brasília DF, Brasil Caixa Postal 08584 • 70.312-970 Brasília DF, Brasil Tel: (55.61) 3035.1947/1900Fax: (55.61) 3035.0606 E-mail: [email protected]

AGÊNCIA EFE

Sede CentralEspronceda, 32 28003, MadriTel: (34.91) 346.7100/7400E-mail: [email protected]

ISBN92-806-3793-3

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Análise da II Ediçãodos Prêmios Ibero-americanos deComunicação pelos Direitos daInfância e da Adolescência

A Infância e a Adolescência nos Meios de ComunicaçãoIbero-americanos