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1 A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO NA QUALIDADE DO SONO EM ESTUDANTES NO PERÍODO DE PRÉ- VESTIBULAR Paula Daniela da Silva Lopes Acadêmica do curso CEDF/UEPA Email: [email protected] Gláucia Kaneko Lobato Orientadora do CEDF/UEPA Email: [email protected] Resumo A sociedade moderna está cercada de males presentes no dia-a-dia da população, dentre eles está o distúrbio do sono, que prejudica a saúde e seus sistemas vitais. O objetivo principal deste estudo consiste em analisar a influência do exercício físico na qualidade do sono em estudantes no período de pré-vestibular e verificar se existe uma relação entre ambos. Esta pesquisa tem caráter descritivo a partir de um estudo fenomenológico, em busca de compreender e interpretar a realidade destes alunos em uma análise quantitativa e qualitativa. Para tal, utilizou-se o questionário do índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI) para investigar cerca de 120 estudantes de cursinho pré-vestibular de Belém e Ananindeua. Os resultados evidenciaram a existência de grandes prejuízos na saúde do sono dos mesmos, sugerindo uma conscientização dos cuidados para com este fator restaurador de saúde global e que a prática de exercícios físicos é um elemento coadjuvante de extrema importância e relevância na melhoria da qualidade do sono destes indivíduos. Palavras-chave: Exercício físico. Qualidade de sono. Estudantes de pré-vestibular. Estresse. INTRODUÇÃO A nossa sociedade está cercada de fatores prejudiciais na manutenção de uma vida saudável, tais como: estresse, ansiedade, depressão, entre outros que cada vez mais se encontram presente no dia-a-dia da população. O sono, com qualidade, sobretudo, é indispensável à manutenção da nossa saúde. Porém, quebras de hábitos como a dos estudantes em período de pré-vestibular com rotina intensa de estudos podem afetar esta qualidade.

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A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO NA QUALIDADE DO

SONO EM ESTUDANTES NO PERÍODO DE PRÉ- VESTIBULAR

Paula Daniela da Silva Lopes Acadêmica do curso CEDF/UEPA

Email: [email protected]

Gláucia Kaneko Lobato Orientadora do CEDF/UEPA

Email: [email protected]

Resumo

A sociedade moderna está cercada de males presentes no dia-a-dia da população, dentre eles está o distúrbio do sono, que prejudica a saúde e seus sistemas vitais. O objetivo principal deste estudo consiste em analisar a influência do exercício físico na qualidade do sono em estudantes no período de pré-vestibular e verificar se existe uma relação entre ambos. Esta pesquisa tem caráter descritivo a partir de um estudo fenomenológico, em busca de compreender e interpretar a realidade destes alunos em uma análise quantitativa e qualitativa. Para tal, utilizou-se o questionário do índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI) para investigar cerca de 120 estudantes de cursinho pré-vestibular de Belém e Ananindeua. Os resultados evidenciaram a existência de grandes prejuízos na saúde do sono dos mesmos, sugerindo uma conscientização dos cuidados para com este fator restaurador de saúde global e que a prática de exercícios físicos é um elemento coadjuvante de extrema importância e relevância na melhoria da qualidade do sono destes indivíduos. Palavras-chave: Exercício físico. Qualidade de sono. Estudantes de pré-vestibular.

Estresse.

INTRODUÇÃO

A nossa sociedade está cercada de fatores prejudiciais na manutenção de

uma vida saudável, tais como: estresse, ansiedade, depressão, entre outros que

cada vez mais se encontram presente no dia-a-dia da população. O sono, com

qualidade, sobretudo, é indispensável à manutenção da nossa saúde. Porém,

quebras de hábitos como a dos estudantes em período de pré-vestibular com rotina

intensa de estudos podem afetar esta qualidade.

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Sabe-se que o período de pré-vestibular, segundo Teixeira (1981), tem início

cerca de um ano antes dos exames, marcado pela intensificação dos estudos. É

uma maratona diária extenuante. Em consequência desse processo podem surgir

sérios problemas de estresse, má qualidade de sono, alimentação inadequada, entre

outros fatores prejudiciais à saúde.

Segundo Soares (2002 apud Paggiaro; Calais, 2009, p.98), “estudar para o

vestibular pode se tornar uma neurose, pois muitos jovens deixam de se divertir,

passear e praticar coisas que gostam para, exclusivamente, estudar”, sendo uma

delas a prática de exercícios, pois, segundo Mello et al. (2005), o sono de pessoas

ativas é melhor que o de pessoas inativas, com a hipótese de que um sono

melhorado proporciona menos cansaço durante o dia seguinte e mais disposição

para a prática de atividade física.

Sabe-se que o sono é o momento em que o organismo direciona-se para

recuperar os processos bioquímicos e fisiológicos utilizados durante o período de

vigília (ROCHA, 2010). Para Bear, Connors e Paradiso (2008), o sono nos deixa

preparados, renovados para o outro dia, assim como comer e beber o faz, pela

substituição de substâncias essenciais para a manutenção do nosso corpo.

Portanto, o objetivo principal deste estudo consiste em analisar a influência do

exercício físico na qualidade do sono em estudantes no período de pré-vestibular.

Diante disso, surgiu o insistente questionamento sobre a qualidade de um

importante fator de saúde em um período de abdicação de boas noites de sono e

valorosos estímulos de adaptação aos exercícios físicos.

1 CONCEITUANDO EXERCÍCIO FÍSICO E ATIVIDADE FÍSICA

O movimento é uma ação natural que o ser humano desempenha diariamente

para realizar suas tarefas, mas estas ações precisam ser sistematizadas,

controladas e monitoradas. Primeiramente, é necessário saber diferenciar e

conceituar atividade física e exercício físico.

Segundo Nahas (2003), atividade física é tudo o que realizamos no dia-dia

conhecida como atividade não estruturada e exercício físico é uma atividade

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estruturada que objetiva o desenvolvimento da aptidão física, das habilidades

motoras ou a reabilitação orgânica funcional.

Caspersen, Powell e Christenson (1985, apud Silva, 2011) conceituam que

atividade física consiste ser qualquer movimento corporal produzido pelos músculos

obtendo gastos energéticos quando comparado à taxa metabólica de repouso, já o

exercício físico é uma subcategoria da atividade física, planejado, estruturado,

repetitivo e intencional.

Apesar de sabermos que nosso corpo precisa estar ativo (não somente

movimentar-se), precisamos entender as diferenças entre exercício e atividade

física, mesmo que ambas sejam benéficas. Considera-se o exercício físico um dos

grandes promotores da manutenção e desenvolvimento de uma boa saúde. Para

isso, Silva (2011) explica que é indispensável mudar o estilo de vida. O mesmo

ressalta que assim como respirar e se alimentar, o ser humano precisa dormir. Desta

forma, para melhor compreensão entre a relação sono/exercício, precisamos

entender o funcionamento do sono em nosso complexo sistema orgânico.

2 SONO

Estudos sobre o sono só tiveram maior objetividade quando a ciência se

organizou com métodos e instrumentos adequados a partir da invenção do

eletroencefalograma (EEG), nos anos 1920 e 1930 (TUFIK, 2008).

Em 1929, Berger estudou a atividade elétrica do córtex exposto de pacientes

com tumor cerebral. Daí esse registro ter sido denominado eletroencefalograma ou

EEG (BAKER, 1985 apud MARTINS; MELLO; TUFIK, 2001).

Em 1937, Harvey e Hobart realizaram a primeira pesquisa sistemática dos

estudos EEG durante o sono humano. Eles descreveram o sono em fases

chamadas de sono não-REM (NREM ou Non Rapid Eye Movement – sem

movimentos oculares rápidos). Entretanto, Aserinsky e Kleitman observaram um

novo padrão de sono chamado de sono REM (Rapid Eye Movement - com

movimentos oculares rápidos), além do EEG temos o eletro-oculograma (EOG) e o

eletromiograma (EMG) usados para também definir os estágios do sono (TUFIK,

2008)

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2.1 CLASSIFICAÇÕES DOS ESTAGIOS DO SONO

Vigília

A vigília se caracteriza por apresentar ondas rápidas, de baixa amplitude com

movimentos oculares aleatórios e um acentuado tônus muscular (SOARES, 2011).

O indivíduo alcança o primeiro estágio do sono a partir do momento que a pessoa

torna-se sonolenta e começa a dormir (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).

Sono NREM

Estágio 1: Também conhecido como estágio de transição entre a vigília e o sono,

com liberação de melatonina, no qual os olhos fazem lentos movimentos com

duração de apenas alguns minutos e registros do EEG revelam redução do tônus

muscular (SOARES, 2011).

Estágio 2: É responsável por 45-55% do nosso sono total, os ritmos cardíacos e

respiratórios diminuem em decorrência da redução da atividade elétrica cerebral e

da temperatura corporal (SOARES, 2011; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).

Estágio 3: Apresentam ondas lentas de grande amplitude com ausência de

movimentos oculares, embora existam exceções, representando um sono moderado

a profundo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008; PURVES et al.; 2010).

Estágio 4: É o estágio de sono mais profundo correspondente a 15% do sono total,

mais é nesta fase que também ocorrem liberação do hormônio do crescimento (GH)

e da leptina (SOARES, 2011).

Sono REM

Também conhecido como estágio dos sonhos. O sono REM possui alta

atividade cerebral e quase nada de atividade muscular paralisada, sendo o

delimitador dos ciclos, com curta duração, de 2-10 minutos no primeiro ciclo.

Somente no transcorrer do sono seus estágios tendem a aumentar (SOARES,

2011). Quanto às respostas fisiológicas, Martins, Mello e Tufik (2001, p. 30) afirmam

que neste estágio do sono são observados por um “alto grau de ativação

autonômica, incluindo frequências cardíaca e respiratória elevada e irregulares e

elevações da pressão arterial”.

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Soares (2011) explica que em média ocorrem de 4 a 6 ciclos ou estágios com

duração no máximo de 100 minutos. Para melhor compreensão dos estágios do

sono, podemos observar a ilustração do gráfico abaixo que exemplifica muito bem o

funcionamento destes ciclos.

Figura 1: Esquema de funcionamento dos estágios do sono

Purves et al. (2010, p.719) dizem que os quatro estágios são tidos como a

fase do sono mais profundo de ondas lentas, na qual se considera ser mais difícil

acordar uma pessoa, em resumo:

As oito horas normais de sono que experimentamos todas as noites, na verdade compreendem diversos ciclos que se alteram entre sono não-REM e sono REM, estando o encéfalo bem ativo durante a maior parte desse período em que supostamente está adormecido e em repouso. Por razões pouco claras, a quantidade diária de sono REM diminui gradativamente de oito horas quando recém-nascido, até duas horas aos vinte anos,

diminuindo para cerca de 45 minutos aos 70 anos de idade.

Sendo assim, acredita-se que de boas horas de sono são obtidas com oito

horas diárias por noite. Bear, Connors e Paradiso (2010, p.597) ressaltam que

“pesquisas realizadas sugerem que a necessidade normal de sono pode variar

amplamente entre adultos de aproximadamente 5 a 10 horas por noite [...] adultos

jovens está entre 6,5 e 8,5 horas”.

De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2010, p.598), pesquisa realizada

em adolescentes por Mary Carskadon sugere que a qualidade de sono “diminui em

decorrência das mudanças ocorridas nos ritmos circadianos”.

Os ritmos circadianos e o controle homeostático são os maiores determinantes do ciclo sono-vigília. Embora o mais evidente ritmo circadiano em humanos seja o ciclo sono-vigília, outros parâmetros

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comportamentais e fisiológicos, como temperatura corporal, secreção de hormônios, função cardiopulmonar, desempenho cognitivo e humor, também exibem ritmicidade circadiana (BERTOLAZI, 2008, p.16).

Nessa perspectiva, se entende que o sono é restaurador das nossas

estruturas orgânicas e que se esses parâmetros fisiológicos virem a sofrer qualquer

tipo de distúrbio ou alterações, o sono ficará comprometido. Como no caso dos

vestibulandos, que privam seu sono para se dedicarem aos estudos. Por isso, a

duração do sono deve ser maior para que se estabeleçam com eficiência suas

funções e como fator coadjuvante “uma das formas para estudar a função do sono é

através da relação sono com o exercício físico” (SOARES, 2011, p. 3).

3 EFEITOS DO EXERCÍCIO NO SONO

Alguns estudos relacionam na literatura os efeitos do exercício sobre o sono,

mas estudos como o de Soares (2011, p. 6) afirmam ser “difícil chegar a uma

conclusão definitiva sobre as alterações no sono depois do exercício ou na

performance física após uma noite ‘mal dormida’ ”.

Segundo Tufik (2008), explicações sobre os efeitos do exercício físico no

sono podem estar associada a três hipóteses: a termorregulatória, a conservação de

energia e a restauração corporal ou compensatória. A hipótese termorregulatória

como descrevem Martins, Mello e Tufik (2001, p.32), se explica através do aumento

da temperatura corporal em consequência do exercício físico, onde o corpo é capaz

de facilitar ‘o disparo’ do início do sono, por ativar os processos de dissipação de

calor controlados pelo hipotálamo“. Para Mello et al. (2005, p.204) a segunda e a

terceira hipótese são influenciadas pelo exercício físico, onde o corpo gasta suas

energias, acionando assim o sono para alcançar um “balanço energético positivo”.

Martins, Mello e Tufik (2001) descreve ser importante obter um sono

adequado na recuperação corporal, entre as sessões de treinamento devido a

associação do hormônio do crescimento (GH) e o sono NREM. Durante este estágio,

segundo Soares (2011), a temperatura se autorregula, enquanto no estágio REM é

baixa.

Quanto à prática de exercícios físicos e o funcionamento hormonal, Soares

(2011) indica ser um estimulador do GH, caso esteja em déficit no estágio 4.

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Bertolazi (2008) ressalta que além do GH, a prolactina também é produzida durante

o sono, enquanto o cortisol e a tireotropina (TSH) estão inibidas, mas quando ocorre

interrupção do sono, o mesmo inibe a produção do GH e da prolactina e

automaticamente os níveis de cortisol e TSH aumentam. Dessa forma, é claro

entender porque a privação do sono aumenta o estresse, pois o cortisol é

antagônico aos hormônios do sono.

Outra resposta hormonal seria o estimulo da glândula pineal na conversão da

serotonina em melatonina, hormônio este responsável pelo estímulo do sono

(TUFIK, 2008). E outras respostas fisiológicas podem ser aprimoradas após

exercitarmo-nos, pois quando praticado regularmente, promovem benefícios como

melhora do “aparelho cardiovascular, respiratório, endócrino, muscular e humoral”

(SOARES, 2011, p. 1).

Embora estudos evidenciem e comprovem respostas orgânicas e fisiológicas

satisfatórias sobre o nosso corpo, ainda existem parcelas significativas da população

que não fazem uso desta prática. Um levantamento epidemiológico, realizado na

cidade de São Paulo, apontou que 27,1% de pessoas fisicamente ativas e 72,9% de

pessoas sedentárias se queixavam de insônia. Em relação à sonolência excessiva,

28,9% de pessoas fisicamente ativas e 71,1% de pessoas sedentárias se queixavam

desses distúrbios (MELLO et al., 2000 apud SILVA, 2011).

Bertolazi (2008) ressalta que além da insônia como distúrbio do sono, temos o

distúrbio de humor, apneia-hipopneia obstrutiva do sono, ronco e sonolência diurna

excessiva entre outros. Tais disfunções podem ser sintomas de muitos estudantes.

Para Silva (2011), esses transtornos podem ser amenizados com programas

de promoção à saúde incluindo propostas de exercícios físicos para reduzir o

sedentarismo.

A adoção do comportamento sedentário dos estudantes por realizarem

“pouco ou nenhum esforço físico atrelado com o consumo contínuo de alimentos

hipercalóricos levam a sérios problemas de saúde” (ALVES, 2007, p.19). Silva

(2011) salienta que estas doenças podem ser coronariana ou até mesmo decorrente

de outras alterações cardiovasculares e metabólicas.

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Rocha (2010) complementa dizendo que a partir do momento em que os

jovens vão adquirindo responsabilidades, os níveis de exigência interna e externa

aumentam, deixando-os mais propensos a problemas ou riscos de saúde.

Segundo Paggiaro e Calais (2009), a preparação ao vestibular pode causar

desconfortos antes da realização do vestibular, como, por exemplo, pressão para o

sucesso no exame, a interferência de familiares e a concorrência. E em decorrência

disso, os mesmos ficam mais propensos ao estresse, pois se privam das suas boas

horas de sono para se dedicarem quase integralmente aos estudos.

Os sinais de estresse também são fatores que se relacionam e influenciam na

qualidade do sono, sendo este um estado emocional também comprometedor da

saúde e da qualidade de vida das pessoas. Meyer et al. (2012, p. 490) em dados

estatísticos dizem que “entre 70% e 80% de todas as doenças, tais como cardíacas,

alguns tipos de câncer, infertilidade feminina, úlceras, insônia e hipertensão, estão

relacionadas ao desenvolvimento do estresse”.

Desta forma, temos clareza de que os riscos de saúde destes estudantes de

pré-vestibular não se restringem apenas ao sono. Outros fatores também podem

comprometer tanto o resultado do vestibular como a saúde e a qualidade de vida

dos mesmos.

Portanto, além do sono ser restaurador das nossas funções vitais, o exercício

físico pode beneficiar nosso corpo prevenindo-o de doenças, regulando e otimizando

o funcionamento dos nossos sistemas orgânicos. E evitando assim o sedentarismo.

4 METODOLOGIA

4.1 TIPO DA PESQUISA

Esta pesquisa tem caráter descritivo, que de acordo com Gil (2002) tem como

principal objetivo descrever as características de determinada população ou

fenômeno. Num enfoque fenomenológico a investigação busca compreender e

interpretar a realidade dos sujeitos por meio da análise qualitativa e quantitativa que,

segundo Siena (2007), são características imanentes e estão interrelacionadas. A

realização da coleta de dados procedeu por meio de questionários, dos quais se

obteve a descrição dos dados através de análises estatísticas.

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4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Participaram desse estudo 120 estudantes de cursos de preparação ao pré-

vestibular de Ananindeua e Belém em uma única visita no dia 16 de janeiro de 2013.

Os estudantes foram constatados em sala de aula e convidados a participar do

estudo. Ouve a explicação e descrição dos objetivos e procedimentos da pesquisa e

todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

segundo a Lei Nº 196/96 do Conselho Nacional da Saúde, concordando em

participar da pesquisa.

4.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Para fazer a avaliação dos estudantes, utilizou-se o questionário de Índice

da Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI), elaborado em 1989 por Buissy, que

avalia a qualidade de sono referente ao ultimo mês e, além disso, suas

informações sobre o sono são qualitativas e quantitativas (BERTOLAZI, 2008). O

questionário PSQI possui 20 questões autoadministradas, sendo que a última

questão foi adaptada ao questionário somente para obter informação referente à

prática de exercício físico. As 19 questões estão organizadas em sete

componentes, cada qual pontuado em uma escala de 0 a 3, na seguinte ordem:

qualidade subjetiva do sono; latência do sono; duração do sono; eficiência habitual

do sono; alterações do sono; o uso de medicações para o sono e a disfunção

diurna, em uma pontuação global de 0 a 21 do PSQI. As pontuações de 0-4

indicam boa qualidade do sono, de 5-10 indicam qualidade ruim e acima de 10

indicam distúrbio do sono.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos pelos 120 questionários respondidos pelos estudantes,

sem descriminação de sexo, de acordo com a última pergunta do questionário,

quanto à prática de exercícios físicos, nos revelou (Gráfico 1) que a maioria dos

estudantes (85%) é sedentária e apenas a minoria (15%) possui um estilo de vida

ativo.

O comportamento sedentário da população, para Alves (2007), passa a ser

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uma preocupação real de quase todas as grandes nações do mundo. Dando

importância a esta afirmação, Palma e Vilaça (2010) reportam em seus estudos que

uma pessoa é considerada sedentária quando não é capaz de realizar no mínimo 30

minutos de uma atividade física moderada ou vigorosa.

Reforçando a importância da adoção de um estilo de vida mais ativo, estudo

realizado por Dominguez (2008) conclui que, uma pessoa sedentária precisa mudar

seu estilo de vida quanto à prática de esforços físicos, pois essa modificação oferece

ao organismo benefícios metabólicos importantes excluindo e/ou minimizando os

riscos de contrair patologias associadas à inatividade.

Hallal et al. (2007) em seu estudo levantaram dados de um inquérito do

Instituto Nacional do Câncer ao realizar monitoramento dos níveis de atividade física

da população brasileira, encontrando prevalência de sedentarismo que variou de

28% (Fortaleza e Belém) a 55% (João Pessoa). Tal investigação apenas considerou

os níveis de atividade física que já resultaram em percentuais significativos, posto

que se fosse considerada a prática de exercício físico, como no caso deste estudo,

provavelmente a estatística de sedentarismo seria maior, uma vez que poucos são

praticantes de atividades físicas e o que dirá de exercícios físicos.

Para complementar este estudo, Ceschini e Figueira Jr. (2006) buscaram

dados dos níveis de prática de atividades físicas de acadêmicos do curso de

educação física do período noturno do Instituto Mairiporã de Ensino Superior

(IMENSU) e obtiveram que 29,3% dos foram classificados como sedentários, sendo

mais significativa entre as mulheres (45,1%) e em alunos do 3º (67,8%) e 4º ano

acadêmicos (60,0%).

Conclui-se que, com o avançar dos anos acadêmicos, há maior tendência ao

estilo de vida sedentário, sendo esses valores mais evidentes no gênero feminino.

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Quanto à qualidade do sono, os dados levantados pelo questionário indicaram

que 12% da amostra, na soma dos 7 componentes do PSQI, foram classificados

com sono bom, 78% com sono ruim e 11% indicaram que os estudantes possuem

disfunção de sono.

Outro dado interessante quanto à qualidade de sono dos estudantes de pré-

vestibular foi a pesquisa de Pereira et al. (2011), que mostra o resultado sobre o

sono de estudantes trabalhadores e não trabalhadores, na qual o percentual de

adolescentes trabalhadores foi de 18,4%, e 52% dos jovens que trabalhavam

apresentaram oito ou menos horas de sono.

A relação feita por estes autores sobre a tríade sono-trabalho-estudo também

corrobora a ideia da presente pesquisa quanto à má qualidade de sono de

estudantes. Apenas acrescentando rotina extra de estresse, muito comum nos dias

contemporâneos, que é o trabalho.

Quanto à relação atividades físicas em populações sob estresse, Meyer

(2012) sugere que a prática de atividade física regular, mais tempo para descanso e

lazer são fatores que se mostram associados positivamente a baixos níveis de

estresse e contribuem para minimizá-los nestes indivíduos.

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Quanto à qualidade subjetiva do sono, referente ao primeiro componente do

PSQI: (53%) dos estudantes avaliaram seu sono como bom, (8%) classificaram-no

como muito bom, contra (29%) avaliando seu sono como ruim e (10%) como muito

ruim.

A classificação da qualidade de sono ruim traz sérios problemas, muito bem

descritos por Verri (2008), que responsabiliza a perda do sono como fator a

perturbar o desempenho das habilidades cognitivas que envolvam memória,

aprendizado, raciocínio lógicos, cálculos matemáticos, padrões de reconhecimento,

processamento verbal complexo e tomadas de decisões.

Desta forma, Marcon (2002) salienta que a vida dos alunos modifica-se em

um curto intervalo de tempo, em que os momentos de lazer/divertimento da grande

maioria são deixados de lado para o tão esperado ingresso a universidade.

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De acordo com a Figura 4, que demonstra a relação da subjetividade da

qualidade de sono entre ativos e sedentários, observou-se que 44% dos ativos e

53% dos sedentários classificaram seu sono como bom; na classificação muito boa

de sono, os percentuais foram 33% para ativos e 8% para sedentários; na qualidade

ruim, 22% eram ativos e 29% eram sedentários e, por fim, na última classificação de

sono muito ruim, considerou-se que 0% foi ativo e 10% dos sedentários.

A resposta obtida pela leitura do questionário referente à qualidade subjetiva

de sono dos alunos nos revela que os alunos sedentários estão em maior percentual

39% na soma das classificações ruim e muito ruim, enquanto na soma dos ativos as

classificações ruim e muito ruim foram de 22%.

Alves (2007) reporta que o sedentarismo passou a ser considerando um fator

preocupante de praticamente todas as grandes nações do mundo. As exigências do

mercado de trabalho têm impulsionado os jovens cada vez mais cedo a ele. As

obrigações que antes eram executadas por adultos, hoje já se encontram sendo

exercidas por jovens com menos de vinte e cinco anos de idade, formados e

gerenciando cargos importantes na sociedade e, por conta destas

responsabilidades, muitos jovens deixam de inserir na rotina diária os exercícios

físicos.

O mesmo autor cita dados levantados na cidade de Pelotas, Rio Grande do

Sul, onde observou prevalência de inatividade física entre 38% a 41% de indivíduos

para a faixa etária dos 20 aos 65 anos de idade.

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Esses resultados juntamente com a análise do gráfico 4 reafirmam com

clareza o padrão de sono desses estudantes, embora alunos ativos tenham se

classificado como dormidores ruins, todavia nenhum se avaliou com sono muito

ruim, resposta essa significativa não só para termos quantitativos da pesquisa, mas

também como resposta positiva ao sono.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo proposto pela pesquisa foi alcançado, concluindo que a prática do

exercício físico é exercida por uma minoria estudantil e que pode influenciar na

qualidade do sono dos estudantes em período pré-vestibular.

Quanto aos resultados estatísticos, foi quantificado que a maioria dos

estudantes mostrou-se sedentária, classificada com sono ruim e portadora de

alguma disfunção de sono.

Sobretudo, a amostra não apresentou entendimento conceitual correto,

quanto à diferença entre exercício físico e atividade física, mesmo diante da

descrição antecipatória desta dicotomia presente no questionário. Provavelmente,

este déficit pode ter sido um reflexo da má edificação das aulas de educação física,

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que com a ajuda e incentivo do professor, deveriam conter informações sobre a

importância e benefícios da prática do exercício físico para a saúde.

Um fator positivo dos alunos ativos foi que os dados estatísticos nos

revelaram que estes não classificaram seu sono em muito ruim, uma vez que este

critério foi relevante para o escore global menor que cinco, os classificando em

qualidade de sono bom, em comparação à maioria dos alunos sedentários que

classificaram seu sono em muito ruim, resultando em escore maior que cinco, que

os qualificaram em sono ruim e disfunção de sono.

Logo, os resultados evidenciam que há a existência de grandes prejuízos na

saúde do sono desses estudantes no período de pré-vestibular, sugerindo a

importância da conscientização e cuidados para com este fator restaurador da saúde

global, pois a prática de exercícios físicos é um elemento de extrema relevância na

melhoria e na qualidade do sono destes indivíduos.

Desta forma, o exercício físico apresenta-se como uma estratégia

coadjuvante para o controle e/ou melhoramento da qualidade do sono como

mostram os resultados dessa pesquisa. Evidenciando também que seus benefícios

estão além da melhora dos condicionamentos físico e estético. Provando, portanto,

que pessoas ativas podem melhorar seu sono. Sugere-se assim para futuras

investigações fidedignas desta temática considerar a faixa etária e o sexo da

população.

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THE INFLUENCE OF PHYSICAL EXERCISE PRACTICE ON SLEEP QUALITY OF

STUDENTS IN PRE-UNIVERSITY ENTRANCE EXAMINATION PERIOD.

ABSTRACT The modern society is surrounded by problems present in the day by day, among them there is the sleep disturbance that damages health and the vital systems. The main objective of this study is to analyze the influence of physical exercise in the sleep quality of student inf pre-university entrance examination period and check if there is a relation between both. This describing character research from a phenomenology study that searches the comprehension and interpretation of this students reality in a quantitative and qualitative analysis, for this was used the questionnaire of Pittsburgh Sleep Quality index (PSQI) to investigate around 120 students from preparation course in Belém and Ananindeua. The results showed that there are serious damages into these students sleep health suggesting an awareness of the necessary cares for this global health restoring factor and that the physical exercises practice is a co-star factor but extremely important relevant when improving the sleeping quality of these individuals. Keywords: Physical Exercises. Sleep Quality. Pre-university entrance examination. Stress.

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