A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO NA … · 1 CONCEITUANDO EXERCÍCIO FÍSICO E...
Transcript of A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO NA … · 1 CONCEITUANDO EXERCÍCIO FÍSICO E...
1
A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO NA QUALIDADE DO
SONO EM ESTUDANTES NO PERÍODO DE PRÉ- VESTIBULAR
Paula Daniela da Silva Lopes Acadêmica do curso CEDF/UEPA
Email: [email protected]
Gláucia Kaneko Lobato Orientadora do CEDF/UEPA
Email: [email protected]
Resumo
A sociedade moderna está cercada de males presentes no dia-a-dia da população, dentre eles está o distúrbio do sono, que prejudica a saúde e seus sistemas vitais. O objetivo principal deste estudo consiste em analisar a influência do exercício físico na qualidade do sono em estudantes no período de pré-vestibular e verificar se existe uma relação entre ambos. Esta pesquisa tem caráter descritivo a partir de um estudo fenomenológico, em busca de compreender e interpretar a realidade destes alunos em uma análise quantitativa e qualitativa. Para tal, utilizou-se o questionário do índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI) para investigar cerca de 120 estudantes de cursinho pré-vestibular de Belém e Ananindeua. Os resultados evidenciaram a existência de grandes prejuízos na saúde do sono dos mesmos, sugerindo uma conscientização dos cuidados para com este fator restaurador de saúde global e que a prática de exercícios físicos é um elemento coadjuvante de extrema importância e relevância na melhoria da qualidade do sono destes indivíduos. Palavras-chave: Exercício físico. Qualidade de sono. Estudantes de pré-vestibular.
Estresse.
INTRODUÇÃO
A nossa sociedade está cercada de fatores prejudiciais na manutenção de
uma vida saudável, tais como: estresse, ansiedade, depressão, entre outros que
cada vez mais se encontram presente no dia-a-dia da população. O sono, com
qualidade, sobretudo, é indispensável à manutenção da nossa saúde. Porém,
quebras de hábitos como a dos estudantes em período de pré-vestibular com rotina
intensa de estudos podem afetar esta qualidade.
2
Sabe-se que o período de pré-vestibular, segundo Teixeira (1981), tem início
cerca de um ano antes dos exames, marcado pela intensificação dos estudos. É
uma maratona diária extenuante. Em consequência desse processo podem surgir
sérios problemas de estresse, má qualidade de sono, alimentação inadequada, entre
outros fatores prejudiciais à saúde.
Segundo Soares (2002 apud Paggiaro; Calais, 2009, p.98), “estudar para o
vestibular pode se tornar uma neurose, pois muitos jovens deixam de se divertir,
passear e praticar coisas que gostam para, exclusivamente, estudar”, sendo uma
delas a prática de exercícios, pois, segundo Mello et al. (2005), o sono de pessoas
ativas é melhor que o de pessoas inativas, com a hipótese de que um sono
melhorado proporciona menos cansaço durante o dia seguinte e mais disposição
para a prática de atividade física.
Sabe-se que o sono é o momento em que o organismo direciona-se para
recuperar os processos bioquímicos e fisiológicos utilizados durante o período de
vigília (ROCHA, 2010). Para Bear, Connors e Paradiso (2008), o sono nos deixa
preparados, renovados para o outro dia, assim como comer e beber o faz, pela
substituição de substâncias essenciais para a manutenção do nosso corpo.
Portanto, o objetivo principal deste estudo consiste em analisar a influência do
exercício físico na qualidade do sono em estudantes no período de pré-vestibular.
Diante disso, surgiu o insistente questionamento sobre a qualidade de um
importante fator de saúde em um período de abdicação de boas noites de sono e
valorosos estímulos de adaptação aos exercícios físicos.
1 CONCEITUANDO EXERCÍCIO FÍSICO E ATIVIDADE FÍSICA
O movimento é uma ação natural que o ser humano desempenha diariamente
para realizar suas tarefas, mas estas ações precisam ser sistematizadas,
controladas e monitoradas. Primeiramente, é necessário saber diferenciar e
conceituar atividade física e exercício físico.
Segundo Nahas (2003), atividade física é tudo o que realizamos no dia-dia
conhecida como atividade não estruturada e exercício físico é uma atividade
3
estruturada que objetiva o desenvolvimento da aptidão física, das habilidades
motoras ou a reabilitação orgânica funcional.
Caspersen, Powell e Christenson (1985, apud Silva, 2011) conceituam que
atividade física consiste ser qualquer movimento corporal produzido pelos músculos
obtendo gastos energéticos quando comparado à taxa metabólica de repouso, já o
exercício físico é uma subcategoria da atividade física, planejado, estruturado,
repetitivo e intencional.
Apesar de sabermos que nosso corpo precisa estar ativo (não somente
movimentar-se), precisamos entender as diferenças entre exercício e atividade
física, mesmo que ambas sejam benéficas. Considera-se o exercício físico um dos
grandes promotores da manutenção e desenvolvimento de uma boa saúde. Para
isso, Silva (2011) explica que é indispensável mudar o estilo de vida. O mesmo
ressalta que assim como respirar e se alimentar, o ser humano precisa dormir. Desta
forma, para melhor compreensão entre a relação sono/exercício, precisamos
entender o funcionamento do sono em nosso complexo sistema orgânico.
2 SONO
Estudos sobre o sono só tiveram maior objetividade quando a ciência se
organizou com métodos e instrumentos adequados a partir da invenção do
eletroencefalograma (EEG), nos anos 1920 e 1930 (TUFIK, 2008).
Em 1929, Berger estudou a atividade elétrica do córtex exposto de pacientes
com tumor cerebral. Daí esse registro ter sido denominado eletroencefalograma ou
EEG (BAKER, 1985 apud MARTINS; MELLO; TUFIK, 2001).
Em 1937, Harvey e Hobart realizaram a primeira pesquisa sistemática dos
estudos EEG durante o sono humano. Eles descreveram o sono em fases
chamadas de sono não-REM (NREM ou Non Rapid Eye Movement – sem
movimentos oculares rápidos). Entretanto, Aserinsky e Kleitman observaram um
novo padrão de sono chamado de sono REM (Rapid Eye Movement - com
movimentos oculares rápidos), além do EEG temos o eletro-oculograma (EOG) e o
eletromiograma (EMG) usados para também definir os estágios do sono (TUFIK,
2008)
4
2.1 CLASSIFICAÇÕES DOS ESTAGIOS DO SONO
Vigília
A vigília se caracteriza por apresentar ondas rápidas, de baixa amplitude com
movimentos oculares aleatórios e um acentuado tônus muscular (SOARES, 2011).
O indivíduo alcança o primeiro estágio do sono a partir do momento que a pessoa
torna-se sonolenta e começa a dormir (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
Sono NREM
Estágio 1: Também conhecido como estágio de transição entre a vigília e o sono,
com liberação de melatonina, no qual os olhos fazem lentos movimentos com
duração de apenas alguns minutos e registros do EEG revelam redução do tônus
muscular (SOARES, 2011).
Estágio 2: É responsável por 45-55% do nosso sono total, os ritmos cardíacos e
respiratórios diminuem em decorrência da redução da atividade elétrica cerebral e
da temperatura corporal (SOARES, 2011; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
Estágio 3: Apresentam ondas lentas de grande amplitude com ausência de
movimentos oculares, embora existam exceções, representando um sono moderado
a profundo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008; PURVES et al.; 2010).
Estágio 4: É o estágio de sono mais profundo correspondente a 15% do sono total,
mais é nesta fase que também ocorrem liberação do hormônio do crescimento (GH)
e da leptina (SOARES, 2011).
Sono REM
Também conhecido como estágio dos sonhos. O sono REM possui alta
atividade cerebral e quase nada de atividade muscular paralisada, sendo o
delimitador dos ciclos, com curta duração, de 2-10 minutos no primeiro ciclo.
Somente no transcorrer do sono seus estágios tendem a aumentar (SOARES,
2011). Quanto às respostas fisiológicas, Martins, Mello e Tufik (2001, p. 30) afirmam
que neste estágio do sono são observados por um “alto grau de ativação
autonômica, incluindo frequências cardíaca e respiratória elevada e irregulares e
elevações da pressão arterial”.
5
Soares (2011) explica que em média ocorrem de 4 a 6 ciclos ou estágios com
duração no máximo de 100 minutos. Para melhor compreensão dos estágios do
sono, podemos observar a ilustração do gráfico abaixo que exemplifica muito bem o
funcionamento destes ciclos.
Figura 1: Esquema de funcionamento dos estágios do sono
Purves et al. (2010, p.719) dizem que os quatro estágios são tidos como a
fase do sono mais profundo de ondas lentas, na qual se considera ser mais difícil
acordar uma pessoa, em resumo:
As oito horas normais de sono que experimentamos todas as noites, na verdade compreendem diversos ciclos que se alteram entre sono não-REM e sono REM, estando o encéfalo bem ativo durante a maior parte desse período em que supostamente está adormecido e em repouso. Por razões pouco claras, a quantidade diária de sono REM diminui gradativamente de oito horas quando recém-nascido, até duas horas aos vinte anos,
diminuindo para cerca de 45 minutos aos 70 anos de idade.
Sendo assim, acredita-se que de boas horas de sono são obtidas com oito
horas diárias por noite. Bear, Connors e Paradiso (2010, p.597) ressaltam que
“pesquisas realizadas sugerem que a necessidade normal de sono pode variar
amplamente entre adultos de aproximadamente 5 a 10 horas por noite [...] adultos
jovens está entre 6,5 e 8,5 horas”.
De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2010, p.598), pesquisa realizada
em adolescentes por Mary Carskadon sugere que a qualidade de sono “diminui em
decorrência das mudanças ocorridas nos ritmos circadianos”.
Os ritmos circadianos e o controle homeostático são os maiores determinantes do ciclo sono-vigília. Embora o mais evidente ritmo circadiano em humanos seja o ciclo sono-vigília, outros parâmetros
6
comportamentais e fisiológicos, como temperatura corporal, secreção de hormônios, função cardiopulmonar, desempenho cognitivo e humor, também exibem ritmicidade circadiana (BERTOLAZI, 2008, p.16).
Nessa perspectiva, se entende que o sono é restaurador das nossas
estruturas orgânicas e que se esses parâmetros fisiológicos virem a sofrer qualquer
tipo de distúrbio ou alterações, o sono ficará comprometido. Como no caso dos
vestibulandos, que privam seu sono para se dedicarem aos estudos. Por isso, a
duração do sono deve ser maior para que se estabeleçam com eficiência suas
funções e como fator coadjuvante “uma das formas para estudar a função do sono é
através da relação sono com o exercício físico” (SOARES, 2011, p. 3).
3 EFEITOS DO EXERCÍCIO NO SONO
Alguns estudos relacionam na literatura os efeitos do exercício sobre o sono,
mas estudos como o de Soares (2011, p. 6) afirmam ser “difícil chegar a uma
conclusão definitiva sobre as alterações no sono depois do exercício ou na
performance física após uma noite ‘mal dormida’ ”.
Segundo Tufik (2008), explicações sobre os efeitos do exercício físico no
sono podem estar associada a três hipóteses: a termorregulatória, a conservação de
energia e a restauração corporal ou compensatória. A hipótese termorregulatória
como descrevem Martins, Mello e Tufik (2001, p.32), se explica através do aumento
da temperatura corporal em consequência do exercício físico, onde o corpo é capaz
de facilitar ‘o disparo’ do início do sono, por ativar os processos de dissipação de
calor controlados pelo hipotálamo“. Para Mello et al. (2005, p.204) a segunda e a
terceira hipótese são influenciadas pelo exercício físico, onde o corpo gasta suas
energias, acionando assim o sono para alcançar um “balanço energético positivo”.
Martins, Mello e Tufik (2001) descreve ser importante obter um sono
adequado na recuperação corporal, entre as sessões de treinamento devido a
associação do hormônio do crescimento (GH) e o sono NREM. Durante este estágio,
segundo Soares (2011), a temperatura se autorregula, enquanto no estágio REM é
baixa.
Quanto à prática de exercícios físicos e o funcionamento hormonal, Soares
(2011) indica ser um estimulador do GH, caso esteja em déficit no estágio 4.
7
Bertolazi (2008) ressalta que além do GH, a prolactina também é produzida durante
o sono, enquanto o cortisol e a tireotropina (TSH) estão inibidas, mas quando ocorre
interrupção do sono, o mesmo inibe a produção do GH e da prolactina e
automaticamente os níveis de cortisol e TSH aumentam. Dessa forma, é claro
entender porque a privação do sono aumenta o estresse, pois o cortisol é
antagônico aos hormônios do sono.
Outra resposta hormonal seria o estimulo da glândula pineal na conversão da
serotonina em melatonina, hormônio este responsável pelo estímulo do sono
(TUFIK, 2008). E outras respostas fisiológicas podem ser aprimoradas após
exercitarmo-nos, pois quando praticado regularmente, promovem benefícios como
melhora do “aparelho cardiovascular, respiratório, endócrino, muscular e humoral”
(SOARES, 2011, p. 1).
Embora estudos evidenciem e comprovem respostas orgânicas e fisiológicas
satisfatórias sobre o nosso corpo, ainda existem parcelas significativas da população
que não fazem uso desta prática. Um levantamento epidemiológico, realizado na
cidade de São Paulo, apontou que 27,1% de pessoas fisicamente ativas e 72,9% de
pessoas sedentárias se queixavam de insônia. Em relação à sonolência excessiva,
28,9% de pessoas fisicamente ativas e 71,1% de pessoas sedentárias se queixavam
desses distúrbios (MELLO et al., 2000 apud SILVA, 2011).
Bertolazi (2008) ressalta que além da insônia como distúrbio do sono, temos o
distúrbio de humor, apneia-hipopneia obstrutiva do sono, ronco e sonolência diurna
excessiva entre outros. Tais disfunções podem ser sintomas de muitos estudantes.
Para Silva (2011), esses transtornos podem ser amenizados com programas
de promoção à saúde incluindo propostas de exercícios físicos para reduzir o
sedentarismo.
A adoção do comportamento sedentário dos estudantes por realizarem
“pouco ou nenhum esforço físico atrelado com o consumo contínuo de alimentos
hipercalóricos levam a sérios problemas de saúde” (ALVES, 2007, p.19). Silva
(2011) salienta que estas doenças podem ser coronariana ou até mesmo decorrente
de outras alterações cardiovasculares e metabólicas.
8
Rocha (2010) complementa dizendo que a partir do momento em que os
jovens vão adquirindo responsabilidades, os níveis de exigência interna e externa
aumentam, deixando-os mais propensos a problemas ou riscos de saúde.
Segundo Paggiaro e Calais (2009), a preparação ao vestibular pode causar
desconfortos antes da realização do vestibular, como, por exemplo, pressão para o
sucesso no exame, a interferência de familiares e a concorrência. E em decorrência
disso, os mesmos ficam mais propensos ao estresse, pois se privam das suas boas
horas de sono para se dedicarem quase integralmente aos estudos.
Os sinais de estresse também são fatores que se relacionam e influenciam na
qualidade do sono, sendo este um estado emocional também comprometedor da
saúde e da qualidade de vida das pessoas. Meyer et al. (2012, p. 490) em dados
estatísticos dizem que “entre 70% e 80% de todas as doenças, tais como cardíacas,
alguns tipos de câncer, infertilidade feminina, úlceras, insônia e hipertensão, estão
relacionadas ao desenvolvimento do estresse”.
Desta forma, temos clareza de que os riscos de saúde destes estudantes de
pré-vestibular não se restringem apenas ao sono. Outros fatores também podem
comprometer tanto o resultado do vestibular como a saúde e a qualidade de vida
dos mesmos.
Portanto, além do sono ser restaurador das nossas funções vitais, o exercício
físico pode beneficiar nosso corpo prevenindo-o de doenças, regulando e otimizando
o funcionamento dos nossos sistemas orgânicos. E evitando assim o sedentarismo.
4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DA PESQUISA
Esta pesquisa tem caráter descritivo, que de acordo com Gil (2002) tem como
principal objetivo descrever as características de determinada população ou
fenômeno. Num enfoque fenomenológico a investigação busca compreender e
interpretar a realidade dos sujeitos por meio da análise qualitativa e quantitativa que,
segundo Siena (2007), são características imanentes e estão interrelacionadas. A
realização da coleta de dados procedeu por meio de questionários, dos quais se
obteve a descrição dos dados através de análises estatísticas.
9
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Participaram desse estudo 120 estudantes de cursos de preparação ao pré-
vestibular de Ananindeua e Belém em uma única visita no dia 16 de janeiro de 2013.
Os estudantes foram constatados em sala de aula e convidados a participar do
estudo. Ouve a explicação e descrição dos objetivos e procedimentos da pesquisa e
todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
segundo a Lei Nº 196/96 do Conselho Nacional da Saúde, concordando em
participar da pesquisa.
4.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Para fazer a avaliação dos estudantes, utilizou-se o questionário de Índice
da Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI), elaborado em 1989 por Buissy, que
avalia a qualidade de sono referente ao ultimo mês e, além disso, suas
informações sobre o sono são qualitativas e quantitativas (BERTOLAZI, 2008). O
questionário PSQI possui 20 questões autoadministradas, sendo que a última
questão foi adaptada ao questionário somente para obter informação referente à
prática de exercício físico. As 19 questões estão organizadas em sete
componentes, cada qual pontuado em uma escala de 0 a 3, na seguinte ordem:
qualidade subjetiva do sono; latência do sono; duração do sono; eficiência habitual
do sono; alterações do sono; o uso de medicações para o sono e a disfunção
diurna, em uma pontuação global de 0 a 21 do PSQI. As pontuações de 0-4
indicam boa qualidade do sono, de 5-10 indicam qualidade ruim e acima de 10
indicam distúrbio do sono.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos pelos 120 questionários respondidos pelos estudantes,
sem descriminação de sexo, de acordo com a última pergunta do questionário,
quanto à prática de exercícios físicos, nos revelou (Gráfico 1) que a maioria dos
estudantes (85%) é sedentária e apenas a minoria (15%) possui um estilo de vida
ativo.
O comportamento sedentário da população, para Alves (2007), passa a ser
10
uma preocupação real de quase todas as grandes nações do mundo. Dando
importância a esta afirmação, Palma e Vilaça (2010) reportam em seus estudos que
uma pessoa é considerada sedentária quando não é capaz de realizar no mínimo 30
minutos de uma atividade física moderada ou vigorosa.
Reforçando a importância da adoção de um estilo de vida mais ativo, estudo
realizado por Dominguez (2008) conclui que, uma pessoa sedentária precisa mudar
seu estilo de vida quanto à prática de esforços físicos, pois essa modificação oferece
ao organismo benefícios metabólicos importantes excluindo e/ou minimizando os
riscos de contrair patologias associadas à inatividade.
Hallal et al. (2007) em seu estudo levantaram dados de um inquérito do
Instituto Nacional do Câncer ao realizar monitoramento dos níveis de atividade física
da população brasileira, encontrando prevalência de sedentarismo que variou de
28% (Fortaleza e Belém) a 55% (João Pessoa). Tal investigação apenas considerou
os níveis de atividade física que já resultaram em percentuais significativos, posto
que se fosse considerada a prática de exercício físico, como no caso deste estudo,
provavelmente a estatística de sedentarismo seria maior, uma vez que poucos são
praticantes de atividades físicas e o que dirá de exercícios físicos.
Para complementar este estudo, Ceschini e Figueira Jr. (2006) buscaram
dados dos níveis de prática de atividades físicas de acadêmicos do curso de
educação física do período noturno do Instituto Mairiporã de Ensino Superior
(IMENSU) e obtiveram que 29,3% dos foram classificados como sedentários, sendo
mais significativa entre as mulheres (45,1%) e em alunos do 3º (67,8%) e 4º ano
acadêmicos (60,0%).
Conclui-se que, com o avançar dos anos acadêmicos, há maior tendência ao
estilo de vida sedentário, sendo esses valores mais evidentes no gênero feminino.
11
Quanto à qualidade do sono, os dados levantados pelo questionário indicaram
que 12% da amostra, na soma dos 7 componentes do PSQI, foram classificados
com sono bom, 78% com sono ruim e 11% indicaram que os estudantes possuem
disfunção de sono.
Outro dado interessante quanto à qualidade de sono dos estudantes de pré-
vestibular foi a pesquisa de Pereira et al. (2011), que mostra o resultado sobre o
sono de estudantes trabalhadores e não trabalhadores, na qual o percentual de
adolescentes trabalhadores foi de 18,4%, e 52% dos jovens que trabalhavam
apresentaram oito ou menos horas de sono.
A relação feita por estes autores sobre a tríade sono-trabalho-estudo também
corrobora a ideia da presente pesquisa quanto à má qualidade de sono de
estudantes. Apenas acrescentando rotina extra de estresse, muito comum nos dias
contemporâneos, que é o trabalho.
Quanto à relação atividades físicas em populações sob estresse, Meyer
(2012) sugere que a prática de atividade física regular, mais tempo para descanso e
lazer são fatores que se mostram associados positivamente a baixos níveis de
estresse e contribuem para minimizá-los nestes indivíduos.
12
Quanto à qualidade subjetiva do sono, referente ao primeiro componente do
PSQI: (53%) dos estudantes avaliaram seu sono como bom, (8%) classificaram-no
como muito bom, contra (29%) avaliando seu sono como ruim e (10%) como muito
ruim.
A classificação da qualidade de sono ruim traz sérios problemas, muito bem
descritos por Verri (2008), que responsabiliza a perda do sono como fator a
perturbar o desempenho das habilidades cognitivas que envolvam memória,
aprendizado, raciocínio lógicos, cálculos matemáticos, padrões de reconhecimento,
processamento verbal complexo e tomadas de decisões.
Desta forma, Marcon (2002) salienta que a vida dos alunos modifica-se em
um curto intervalo de tempo, em que os momentos de lazer/divertimento da grande
maioria são deixados de lado para o tão esperado ingresso a universidade.
13
De acordo com a Figura 4, que demonstra a relação da subjetividade da
qualidade de sono entre ativos e sedentários, observou-se que 44% dos ativos e
53% dos sedentários classificaram seu sono como bom; na classificação muito boa
de sono, os percentuais foram 33% para ativos e 8% para sedentários; na qualidade
ruim, 22% eram ativos e 29% eram sedentários e, por fim, na última classificação de
sono muito ruim, considerou-se que 0% foi ativo e 10% dos sedentários.
A resposta obtida pela leitura do questionário referente à qualidade subjetiva
de sono dos alunos nos revela que os alunos sedentários estão em maior percentual
39% na soma das classificações ruim e muito ruim, enquanto na soma dos ativos as
classificações ruim e muito ruim foram de 22%.
Alves (2007) reporta que o sedentarismo passou a ser considerando um fator
preocupante de praticamente todas as grandes nações do mundo. As exigências do
mercado de trabalho têm impulsionado os jovens cada vez mais cedo a ele. As
obrigações que antes eram executadas por adultos, hoje já se encontram sendo
exercidas por jovens com menos de vinte e cinco anos de idade, formados e
gerenciando cargos importantes na sociedade e, por conta destas
responsabilidades, muitos jovens deixam de inserir na rotina diária os exercícios
físicos.
O mesmo autor cita dados levantados na cidade de Pelotas, Rio Grande do
Sul, onde observou prevalência de inatividade física entre 38% a 41% de indivíduos
para a faixa etária dos 20 aos 65 anos de idade.
14
Esses resultados juntamente com a análise do gráfico 4 reafirmam com
clareza o padrão de sono desses estudantes, embora alunos ativos tenham se
classificado como dormidores ruins, todavia nenhum se avaliou com sono muito
ruim, resposta essa significativa não só para termos quantitativos da pesquisa, mas
também como resposta positiva ao sono.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo proposto pela pesquisa foi alcançado, concluindo que a prática do
exercício físico é exercida por uma minoria estudantil e que pode influenciar na
qualidade do sono dos estudantes em período pré-vestibular.
Quanto aos resultados estatísticos, foi quantificado que a maioria dos
estudantes mostrou-se sedentária, classificada com sono ruim e portadora de
alguma disfunção de sono.
Sobretudo, a amostra não apresentou entendimento conceitual correto,
quanto à diferença entre exercício físico e atividade física, mesmo diante da
descrição antecipatória desta dicotomia presente no questionário. Provavelmente,
este déficit pode ter sido um reflexo da má edificação das aulas de educação física,
15
que com a ajuda e incentivo do professor, deveriam conter informações sobre a
importância e benefícios da prática do exercício físico para a saúde.
Um fator positivo dos alunos ativos foi que os dados estatísticos nos
revelaram que estes não classificaram seu sono em muito ruim, uma vez que este
critério foi relevante para o escore global menor que cinco, os classificando em
qualidade de sono bom, em comparação à maioria dos alunos sedentários que
classificaram seu sono em muito ruim, resultando em escore maior que cinco, que
os qualificaram em sono ruim e disfunção de sono.
Logo, os resultados evidenciam que há a existência de grandes prejuízos na
saúde do sono desses estudantes no período de pré-vestibular, sugerindo a
importância da conscientização e cuidados para com este fator restaurador da saúde
global, pois a prática de exercícios físicos é um elemento de extrema relevância na
melhoria e na qualidade do sono destes indivíduos.
Desta forma, o exercício físico apresenta-se como uma estratégia
coadjuvante para o controle e/ou melhoramento da qualidade do sono como
mostram os resultados dessa pesquisa. Evidenciando também que seus benefícios
estão além da melhora dos condicionamentos físico e estético. Provando, portanto,
que pessoas ativas podem melhorar seu sono. Sugere-se assim para futuras
investigações fidedignas desta temática considerar a faixa etária e o sexo da
população.
16
THE INFLUENCE OF PHYSICAL EXERCISE PRACTICE ON SLEEP QUALITY OF
STUDENTS IN PRE-UNIVERSITY ENTRANCE EXAMINATION PERIOD.
ABSTRACT The modern society is surrounded by problems present in the day by day, among them there is the sleep disturbance that damages health and the vital systems. The main objective of this study is to analyze the influence of physical exercise in the sleep quality of student inf pre-university entrance examination period and check if there is a relation between both. This describing character research from a phenomenology study that searches the comprehension and interpretation of this students reality in a quantitative and qualitative analysis, for this was used the questionnaire of Pittsburgh Sleep Quality index (PSQI) to investigate around 120 students from preparation course in Belém and Ananindeua. The results showed that there are serious damages into these students sleep health suggesting an awareness of the necessary cares for this global health restoring factor and that the physical exercises practice is a co-star factor but extremely important relevant when improving the sleeping quality of these individuals. Keywords: Physical Exercises. Sleep Quality. Pre-university entrance examination. Stress.
REFERÊNCIAS
ALVES, V. B. S. A Educação Física escolar e o esporte contra o sedentarismo. São Paulo, 2007. (Coleção pesquisa em Educação Física, v. 5, n. 1).
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o
sistema nervoso. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
BERTOLAZI, A. N. Tradução, adaptação cultural e validação de dois instrumentos de avaliação do sono: Escala de sonolência de Epworth e Índice de qualidade de sono de Pittsburgh, 2008, p. 1-93. Dissertação (Mestrado em Medicina) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Abril, 2008.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Projeto de pesquisa: Entenda e faça.
Petrópolis: Vozes, 2011.
DOMINGUEZ, A. G. D. Sedentarismo: a inatividade que pode comprometer a sua
vida. Disponível em: >http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732008000100005&lng=pt&nrm=iso<. Acessado em: 12 mar. 2013
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
HALLAL, C. P. et al. Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física no Brasil: revisão sistemática. Revista Saúde Pública, Pelotas, 2007; 41(3): 453-60,
17
MARCON, A. M. Estilo de vida de pré-vestibulandos da cidade de Lages/SC:
nível de atividade física habitual, vulnerabildade ao estresse e hábitos alimentares, ANO, 78 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Agosto, 2002.
MARTINS, P. J. F.; MELLO, M. T.; TUFIK, S. Exercício e Sono. Revista Brasileira Medicina Esporte, 2001, vol. 7, n. 1, p. 28-36.
MELLO, M. T. et. al. O exercício físico e os aspectos psicobiológico. Revista Brasileira Medicina Esporte, 2005, vol. 11, n. 3, p. 203-207.
MEYER, C. et. al. Qualidade de Vida e Estresse Ocupacional em Estudantes de Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, 2012; 36 (4): 489-498.
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões
para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003.
PAGGIARO, P. B. S.; CALAIS, S. L. Estresse e escolha profissional: um difícil problema para alunos de curso pré-vestibular. Contextos Clínicos, 2009; 2(2): 97-105, jul-dez.
PALMA, A.; VILAÇA, M. M. O sedentarismo da epidemiologia. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis, SC, v. 31, n. 2, mar. 2010. ISSN 2179-3255.
Disponível em: <http://www.rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/ 506/415>. Acesso em: 26 Mai. 2013.
PEREIRA, E. F. et. al. Sono, Trabalho e Estudos: duração do sono em estudantes trabalhadores e não trabalhadores. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro; 27(5): 975-984, mai., 2011.
PURVES, D. et. al. Neurociencias. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
ROCHA, C. R. S. Adolescência: vulnerabilidade em estudantes do terceiro ano do ensino médio e cursos pré-vestibulares. In: Congresso Brasileiro de Psicologia e Adolescência, 2010, São Paulo. Anais Congresso Brasileiro de Psicologia e Adolescência. São Paulo: EPPA, 2010. v. 1.
SIENA, O. Metodologia da pesquisa científica: Elementos para Elaboração e Apresentação de Trabalhos Acadêmicos. Disponível em: >http://www.mestradoadm. unir.br/site_antigo/doc/manualdetrabalhoacademicoatual.pdf<. Acessado em: 10 fev. 2013.
SILVA, C. V. P., COSTA JR., L. A. Efeitos da atividade física para a saúde de crianças e adolescentes. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 29, n. 64, p. 41-50 jan./mar. 2011
SOARES, M. J. R. C. Influência da qualidade do sono na performance dos atletas de alta competição. 2011, 20f. Dissertação (Mestrado Integrado em
Medicina) - Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Porto (PRT), 2011.
18
TEIXEIRA, S. Vestibular: ritual de passagem ou barreira ritualizada. Ciência e Cultura, Brasília, v.33, n.12, p.1574-1580, dez. 1981.
TUFIK, Sergio. Medicina e biologia do sono. Barueri (SP): Manole, 2008.
VERRI, R. F. et al. Avaliação da Qualidade do Sono em Grupos com Diferentes Níveis de Desordem Temporomandibular. Pesquisa Brasileira Odontopediatria Clínica Integrada, João Pessoa, 2008; 8(2):165-169, mai./ago.