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ADRIANA LEANDRO DA SILVA DE SOUZA A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE ADOLESCENTES Rio de Janeiro 2004

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ADRIANA LEANDRO DA SILVA DE SOUZA

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE

ADOLESCENTES

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE

ADOLESCENTES

Monografia apresentada à banca examinadora da

Universidade Candido Mendes, como condição prévia

para a conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato

Sensu” em Psicomotricidade.

Profa. Orientadora: Mary Sue

Rio de Janeiro

2004

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AGRADECIMENTOS

A Deus,

O verdadeiro caminho ...

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DEDICATÓRIA

Aos meus familiares, que a todo momento se mostraram incentivadores, torcedores, presentes, prestativos e compreensivos.

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Não se concebe um psicopedagogo que trabalhe com o corpo estático e que desconheça os movimentos desse no aprender. Não se concebe um psicomotricista que trabalhe com o corpo em movimento e não conheça o corpo discursivo do sujeito que aprende. É preciso que haja uma interdisciplinaridade na ação ensinar-aprender para que o sujeito que aprende seja compreendido em sua totalidade, mesmo dentro de uma abordagem específica.

Auredite Cardoso

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RESUMO

Este estudo expõe como primeiro tópico a conceituação e objetivos da

Psicomotricidade, como ciência que estuda o controle mental da expressão

motora, mostrando que o homem é o seu corpo. Em seguida, enfoca

historicamente o aparecimento desta ciência e as pesquisas a ela

relacionadas, desde a época dos grandes filósofos até autores mais

recentes. Logo após, tratamos da noção de esquema corporal, como

representação que cada pessoa tem de seu próprio corpo, através das

apreciações de alguns autores. Mostramos o desenvolvimento deste

esquema durante a infância, mas, no entanto procuramos nos deter no tema

que aborda este estudo, o período da adolescência. Como tópico final,

abordamos a influência da psicomotricidade à luz da psicanálise na

conscientização corporal do adolescente.

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METODOLOGIA

Foi utilizada para a execução deste trabalho, uma pesquisa de fundo

bibliográfico, de onde foram coletados e filtrados dados relevantes do tema

tratado. Os fins da pesquisa foram investigativos e descritivos, com o

propósito de demonstrar a relação da psicomotricidade com a consciência

do adolescente sobre seu corpo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I A PSICOMOTRICIDADE 10 CAPÍTULO II O ESQUEMA CORPORAL 14 CAPÍTULO III A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DO ADOLESCENTE 24 CONCLUSÃO 33BIBLIOGRAFIA 36ÍNDICE 39

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INTRODUÇÃO

O presente estudo trata de um tema atualíssimo nos círculos

educacionais de diferentes áreas de atuação – a Psicomotricidade, seu

desenvolvimento e sua importância.

De fato, na atualidade, em setores do campo médico, psicológico,

pedagógico e também nas famílias, vem se dando singular destaque a

pequenas disfunções cerebrais, que em si não constituem um quadro

patológico, mas que repercutem de várias formas na vida da criança, no seu

processo de aprendizagem, ocasionando distúrbios de linguagem, de

percepção, de coordenação, do movimento, de estruturação espaço-

temporal, de equilíbrio e postura, que determinam diversas dificuldades,

inclusive de fala, leitura e escrita e a falta de compreensão sobre o seu

corpo.

É por isso que, após um estudo inicial dos principais conceitos

relacionados ao tema proposto, vamos nos deter na análise do

desenvolvimento psicomotor da criança em diferentes níveis e áreas, a fim

de que nos seja possível uma melhor compreensão das dificuldades acima

relacionadas.

Por outro lado, tal análise nos permite, em etapa posterior, traçar um

paralelo entre as características normais e seus desvios, voltando nossa

atenção à área do conhecimento da criança e do adolescente sobre o seu

próprio corpo e a relação eu mantêm com este. Tentando, com isso,

compreender como uma adolescente percebe e recebe uma gravidez nesse

momento de sua vida, e compreender como a relação corpo e mente

trabalha nesse sentido. E procurando demonstrar que as ações, os

movimentos do corpo humano podem representar o verdadeiro

entendimento do ser sobre ele mesmo.

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CAPÍTULO 1

A PSICOMOTRICIDADE

A psicomotricidade é uma ciência que estuda o controle mental de

expressão motora. Consiste na unidade mecânica das atividades, dos

gestos, das atitudes e das posturas, enquanto sistema expressivo, realizador

e representativo do “ser-em-situação” e da coexistência com outrem.

Em razão de seu próprio objeto de estudo, isto é, o indivíduo humano

e suas relações com o corpo, a psicomotricidade é também uma técnica em

que se cruzam numerosas ciências, entre as quais a psicologia, a biologia, a

psicanálise, a sociologia e a lingüística.

Mas, além disso, pode ser considerada como uma terapia, a “terapia

psicomotriz”, que se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do

indivíduo. Tal abordagem implica numa concepção radicalmente nova no

corpo, que obriga pensar as estruturas psicossomática em novos termos – o

lugar no imaginário, no conjunto de símbolos corporais (linguagem do

corpo). Não se trata de justapor a alma e o corpo, mas de deslocar a

conhecida problemática cartesiana, reformulando esta relação entre alma e

corpo, que toda filosofia clássica coloca em mútua oposição, mesmo quando

afirma sua unidade.

Em sua prática, a psicomotricidade visa desenvolver uma nova

abordagem do corpo humano, empenhando-se em superar essa oposição

clássica – o homem e seu corpo – e mostrando que o homem é o seu corpo.

O homem é, antes de tudo, um ser falante e, ao denominar-se, ele fala de

seu corpo e ao mesmo tempo, seu corpo fala por ele, e, às vezes, até à sua

revelia.

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A psicomotricidade, como uma forma de reeducação psicomotora,

tem por objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que

equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de domínio sobre seu corpo, de

economizar sua energia, de pensar gestos e de completar e aperfeiçoar seu

equilíbrio.

1.1 Enfoque Histórico

O termo psicomotricidade apareceu no discurso médico no princípio

do século XX, com os trabalhos de Dupré. A história da psicomotricidade

nasceu com a própria história do corpo, seguindo um longo percurso

marcado por períodos de transição, sofrendo reformulações decisivas que

culminaram em nossas concepções atuais.

Toda a nossa cultura tem sua origem nas grandes cidades gregas, e o

homem grego sabia conferir ao corpo um lugar de destaque. Contudo, sua

ideologia reserva o corpo para o mundo real, o da corrupção, do transitório.

Platão considerava o corpo como lugar de transição da existência no

mundo de uma alma imortal, que, sendo puramente imaterial, pertencia a

uma totalidade metafísica e nela se reintegraria, no momento da morte do

corpo.

Aristóteles entendia o homem como uma certa quantidade de matéria

(o corpo) moldada numa forma (a alma). Sua concepção nos parece mais

moderna, pelo menos em relação às ciências psicológicas, permitindo

ampliar o campo de discussões de psicólogos como William James e Janet.

Lançando as bases de toda ciência moderna, Descartes afirmava ser

a totalidade do real organizada segundo duas substâncias diferentes: a da

esfera intelectual e espiritual, a “substância pensamento’ e a da esfera da

natureza e das coisas materiais, a “substância extensão”. Desta forma, seria

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o homem capaz de articular essas duas substâncias, reunindo-as em si

mesmo sob a forma de alma e de corpo, respectivamente.

Descartes, desta forma, concebeu o movimento humano como sujeito

à consciência voluntária. No entanto, foi preciso esperar por Maine de Biran

para que se concebessem noções próximas das que utilizamos. Foi ele o

primeiro a fazer do movimento um componente essencial da estrutura

psicológica do Eu.

Segundo Biran, o eu constituiria uma realidade atuante que não se

pode definir, mas tão somente apreender. Logo, o Eu seria vivido em sua

própria apreensão, afirmando-se pelo Eu no esforço. O esforço muscular

seria então o fundamento da vida psíquica: seria na ação que o eu tomaria

consciência de si mesmo e do mundo, sendo a vontade a determinante da

vida psicológica, mas de forma ativa, e sujeita a variáveis da vida emotiva e

somática do sujeito.

Bergson, segundo caminho aberto por Biran, impôs a necessidade de

considerar o corpo como um aspecto fundamental da constituição do

indivíduo. Desta forma, surgiu o interesse dispensado ao comportamento

sensório-motor, que veio a ser objeto essencial de estudos na área da

psicomotricidade por pedagogos (Claparede, Montessori) e psicólogos

(Janet, Piaget) posteriormente.

Já no final do século XIX, Charcot viria a se interessar pela função

motora, fazendo dela a base da patologia psiquiátrica, baseando-se em seus

estudos clínicos do fenômeno a que denominou de “membro fantasma” (um

indivíduo amputado conserva a impressão da existência do membro que

perdeu). No entanto, Charcot não conseguiu dominar os aspectos

inconscientes do fenômeno que envolvia a questão da imagem do corpo,

porque lhe faltavam os conceitos necessários.

Foi Freud quem primeiro definiu de maneira rigorosa o conceito de

inconsciente, apercebendo-se que todo ser humano era constituído pelo

conjunto de elementos de sua “pré-história”, e sobretudo, de incidentes que

pontuaram as suas relações com o meio, durante os primeiros anos da

infância.

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Sendo assim, para Freud, o corpo desempenharia papel importante

nas formações inconscientes, porquanto o corpo seria justamente a fonte

biológica de todas as pulsões.

Em última análise, foi a partir da teoria freudiana do inconsciente que

o indivíduo deixou de estar sujeito aos ditames da vontade, sendo seus

gestos, suas atitudes, seus comportamentos e suas reações corporais

decorrentes freqüentemente de motivações inconscientes.

O ato do nascimento da psicomotricidade é, sem dúvida, mais ou

menos arbitrário, pois toda inovação é fruto de um longo processo. No

entanto, foi em 1905 que, a partir de trabalhos de Dupré, estabeleceu-se a

diferença radical entre a motricidade e seu aspecto negativo, a relaxação.

Foi de fato a partir desta época que apareceram os primeiros

trabalhos, que vieram a constituir o ponto de partida de uma elaborada

reflexão sobre o movimento corporal. Foi Dupré quem definiu, de forma

rigorosa, baseado em estudos clínicos, a debilidade motora, a instabilidade e

isolou perturbações tais como os tiques, as sincinesias e as paratonias.

Essas pesquisas situavam-se num eixo essencialmente neurológico,

em contrapartida à abordagem mais especificamente psicológica, que

enfocava um aspecto da personalidade psicomotora até então inexplorado –

a imagem do corpo.

Quer seja a abordagem fisiológica como as de Dupré e Head, quanto

ao esquema postural, quer seja ela psicanalítica como a de Schilder, quanto

à imagem do corpo, os investigadores contemporâneos tentam definir a

realidade do Eu ativo que falava Maine de Biran. O propósito deles é definir

a realidade do fenômeno da “consciência de si”, que se manifesta sobretudo

como consciência de seu corpo e que permite a auto-apreensão em face dos

outros.

Esses rumos de pesquisa foram paulatinamente se desenvolvendo,

criando condições propícias a uma compreensão.

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CAPÍTULO 2

O ESQUEMA CORPORAL

A noção de esquema corporal é fruto de uma longa jornada que levou

neurologistas, psiquiatras e psicólogos a se interrogarem sobre as

percepções do corpo, a integração do corpo como modelo e a forma da

personalidade.

Teoricamente, a expressão esquema corporal significa a

representação que cada pessoa tem do seu próprio corpo, e que lhe permite

se situar no espaço. Esta representação se forma a partir de dados

sensoriais múltiplos, proprioceptivos e exteroceptivos.

O sentido de esquema corporal irá diferenciar-se a partir da noção de

coenesteisa (do grupo Koiné, igual a comum, e Aithésis, igual a sensação), a

qual define a sensibilidade difusa que permite a integração das sensações

oriundas de diferentes regiões corporais, e que corresponderá finalmente à

“auto-consciência” ou “consciência de si mesmo”.

Foi através dos trabalhos de Head, que introduziu-se a noção de

esquema postural na origem do conceito de esquema corporal, desenvolvido

por Schilder. Head considerava o esquema postural não como uma

realidade estática, mas, pelo contrário, essencialmente plástica, em perpétua

construção, que tem relação com as aferências sensoriais interoceptivas

(proveniente das vísceras) e proprioceptivas (dos músculos e das

articulações). Assim, à noção de imagem espacial somou-se toda uma

dimensão temporal.

O esquema postural de Head designa, portanto, a imagem

tridimensional do nosso corpo. Foi desse esquema postural que decorreu a

noção mais clássica e mais admitida de esquema corporal.

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Foi Schilder que descreveu e desenvolveu a noção de imagem do

corpo. Aos dados de ordem neurológica e fisiológica, a contribuição de

Schilder acrescenta os dados da psicologia e suas experiências de ordem

psicanalítica, numa abordagem global do corpo concebido como uma

“entidade psicológica e fisiológica indissociável”.

A imagem do corpo humano é a imagem do nosso próprio corpo que formamos em nosso espírito; por outras palavras, o modo com o nosso corpo se apresenta a nós mesmos. (GORODICHT, 2001)

Gorodicht (2001) sublinha o caráter dinâmico do esquema corporal, o

qual se adquire progressivamente num processo ativo da evolução,

vinculado à libido, fruto das duplas tendências, conservadoras (Eros) e

destruidoras (Thanatos), do indivíduo, continuamente submetido aos

imperativos da ação no mundo. Segundo ele, a imagem do corpo

corresponderia a uma inscrição progressiva à qual se associa uma

estruturação libidinal, que é elaborada a partir de uma gestalt. Todos os

processos do ato, em seu todo, são conduzidos pelo confronto da gestalt

corporal com a realidade, confronto esse que constrói o esquema corporal

pela integração de elementos da realidade, incessantemente renovada, ao

nível da atividade psíquica. Portanto, nossa imagem do corpo seria o

resultado, em grande parte, da experiência de vida através da comunicação

com o meio circundante.

Também na concepção freudiana, o corpo ocupa um lugar

fundamental, está na origem de todas as pulsões que constituem a

expressão de necessidades vitais e orgânicas. Além disso, ele é o lugar

onde se inscrevem as experiências do prazer, ligadas às experiências da

satisfação de uma necessidade. Essa inscrição determina as zonas do

corpo que são fontes de estimulações deflagradoras de tensões sexuais.

Tais regiões são consideradas, segundo Freud, zonas erógenas, e

correspondem a tema do “corpo retalhado” – característico do narcisismo

primário – que, com a descoberta do mundo e dos outros, se constituirá

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progressivamente em corpo próprio, graças, justamente, a esses sucessivos

investimentos localizados da libido (pulsão sexual).

Já de acordo com Vayer (1998), o corpo não seria um “corpo

retalhado”, ou seja, aquele que fragmentado, na relação com o mundo e com

os outros se reuniria; ao contrário, ele se construiria progressivamente,

significando, por assim dizer, a gênese do corpo próprio.

Diante de toda essa relação do homem com o corpo e do

entendimento sobre ele chegou-se à conclusão que a criança não nasce

completamente madura, ela passa por um estado de dependência em face

das pessoas que a cercam, portanto, seus primeiros comportamentos

inscrevem-se num contexto relacional.

A partir dos dezoito meses, quando acende ao ”estágio do espelho”, a

criança atinge o período das “identificações sucessivas”, em que ela é,

simultaneamente, sujeito e objeto da ação: assim, é que o sujeito, pouco a

pouco, constitui-se, distigüindo-se, então, das coisas e do resto do mundo.

Depois dos três anos, as relações com o meio define-se com maior precisão;

o meio diferencia e a criança constitui a sua personalidade, o seu Eu. Toda

essa evolução é marcada por uma conscientização progressiva do corpo

próprio, como uma realidade distinta do meio circundante.

No conjunto de processos que participam na elaboração do corpo

próprio, o “estágio do espelho” ocupa, como vimos, um lugar importante: o

conhecimento que toma de sua imagem no espelho não passa, sem dúvida,

para a criança, de um procedimento mais ou menos episódico entre aqueles

que lhe servem para ingressar gradualmente, no número das coisas e das

pessoas, cujos traços e identidade precisa fixar, progressivamente, de modo

a se aprender, por fim, como um corpo entre corpos.

Mas esse reconhecimento do seu próprio corpo no espelho, depois na

imagem do corpo do outro (imitação) continua sendo, para Wallon, um

processo essencialmente tônico-postural. Em primeiro lugar, porque como

dissemos, ele não aceita a idéia do “corpo retalhado”, depois porque o

essencial da evolução reside para ele, no amadurecimento do equipamento

neuro-fisiológico da criança, e não na presença dos outros.

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Para Jacques Lacan, por outro lado, o “estágio do espelho” é uma

etapa fundamental não apenas no que se refere à constituição do corpo

próprio, mas também para o acesso da criança ao mundo da linguagem,

porquanto ela permite que se realize a função do “Eu”.

A imagem da criança no espelho, que é uma gestalt, constitui para ela

um objeto de sedução, no qual se reconhece e ao qual se identifica. É por

isso, que essa identificação constitui, ao mesmo tempo, uma alienação, pois

não é realmente consigo, mas com uma imagem que a criança se identifica;

a criança só se torna um ser humano às custas dessa alienação que a

constitui “como um outro’.

É ainda o acesso da criança ao simbolismo, porque essa “forma” que

reúne as partes até então dispersas do seu corpo vai fazer dela um “Eu”,

que é também sujeito do discurso; um “Eu” que é tido como representação

do seu corpo. Assim, a imagem do corpo no espelho não será somente o

que o sujeito integra progressivamente, no decorrer de suas relações com o

mundo e no transcurso de sua maturação, mas também, e sobretudo, o que

o universo da linguagem que ela vive modelará e lhe permitirá denominar. A

imagem que a criança vê não pode ser reunida numa só palavra: “eu”. É

preciso que o corpo se submeta aos incidentes da passagem da criança do

“tu” (a imagem) ao seu “eu”, para que lhe seja permitido, desta forma, fazer-

se ouvir e reconhecer pelo outro.

É por esses caminhos que o trabalho da psicomotricidade engendra,

tentando entender todo esse processo de construção do “Eu” pelo

reconhecimento e identificação com o corpo.

2.1 Desenvolvimento do Esquema Corporal

Todas as vias nervosas de localização parietal têm importância na

formação do esquema corporal. Isto porque, a representação que a pessoa

tem de seu próprio corpo se forma a partir de dados sensoriais múltiplos.

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Teríamos, assim, vias de tato, calor, frio, capacidade de reconhecer dois

pontos no espaço (estereognosia) e segmentos do corpo (topognosia).

Estas funções associadas às vias dos órgãos dos sentidos e do

aparelho vestibular seriam as vias que formam a representação do esquema

corporal. Vemos que, dada a complexidade do processo de formação

corporal, não há necessidade de grandes lesões para provocar distúrbios

neste esquema.

O estudo do desenvolvimento do esquema deve encarar duas séries

de fatores bem diferentes:a integração sensório-motora e as interralações da

criança com o meio ambiente.

A integração sensório-motora é feita progressivamente. Sabemos

que, ao nascer, a criança não tem consciência do mundo que a rodeia, nem

do próprio corpo. São os reflexos arcaicos que iniciam as relações da

criança com o ambiente e permitem uma orientação no espaço.

A integração das sensações visuais-táteis e cinestésicas se faz por

volta do sexto mês de vida. Os objetos percebidos pela visão são levados à

boca, e isto vai permitir diferenciar, pouco a pouco, o que pertence a seu

corpo e o que pertence ao mundo exterior, e depende de seu próprio

movimento. A partir de um ano é que tem lugar a motilidade voluntária, no

sentido de um objeto. O espaço objetivo se elabora. A motricidade começa

a se transformar numa atividade dirigida para um fim e dotada de

significação. Pela marcha, a criança conquista o espaço ao seu redor.

Desenvolve-se a percepção visual cada vez mais e integram-se

progressivamente as impressões que a criança recebe dos órgãos do

sentido com as respostas motoras, que por sua vez, vão facilitar uma maior

amplitude de estímulos sensoriais novos.

Por intermédio de uma imagem cada vez mais precisa do mundo e

das pessoas que a rodeiam, aperfeiçoa-se a imagem do próprio esquema

corporal. Inseparável do próprio esquema corporal, desenvolve-se a

imagem do “Eu”. O fato principal para a consciência do Eu é efetivamente a

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aquisição da representação ou de uma imagem visual do seu próprio corpo,

em particular graças ao uso do espelho (apreensão da imagem do corpo no

espelho), como já mencionado. O esquema corporal e a imagem do Eu, no

entanto, não podem se precisar, senão através do mundo dos símbolos, da

linguagem e das primeiras atividades operatórias, que formam a principal

contribuição do ambiente nesta fase.

2.2 Desenvolvimento durante a infância

Estágios evolutivos segundo Piaget (do período sensório-motor à

aquisição das atividades operatórias concretas).

Piaget descreve em três livros o desenvolvimento durante a infância.

No primeiro deles, “As Origens da Inteligência em Crianças”, descreve o

desenvolvimento do comportamento adaptativo e indica o desenvolvimento

gradual de esquema senso-motores durante a infância. No segundo, “A

Construção da Realidade da Criança”, Piaget volta-se para a análise da

epistemologia da criança: como seu comportamento reflete várias

suposições a respeito da natureza dos objetos, tempo e espaço. No

terceiro, “Brinquedos, Sonhos e Imitação”, apenas parcialmente dedicado

ao período da infância, Piaget descreve o desenvolvimento do brinquedo e

da imitação, durante o período senso-motor.

Tais livros apresentam descrições minuciosas dos diferentes estágios

do pensamento, mas também, descrevem de modo mais geral os tipos de

mudanças psicológicas que são necessárias, antes que a criança possa

atingir o nível de funcionamento adaptativo, no final desses períodos.

Piaget divide o desenvolvimento da criança em quatro períodos

principais: o período senso-motor (do nascimento aos dois anos); o período

pré-operacional (dos dois aos sete anos); o período das operações

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concretas (dos sete aos doze anos) e o período das operações formais

(aparecem no início da adolescência).

2.3 Estrutura do esquema corporal e função de interiorização

Head e Schiller fazem do esquema corporal um referencial cinestésico

que responde, a cada instante, à situação presente do corpo e que varia a

cada mudança de atitude. É, pois, uma estrutura que permite a globalização

e a unificação incessante das informações provenientes do “corpo próprio”.

O esquema corporal é, portanto, a base fundamental da função de

ajustamento e o ponto de partida necessário de qualquer movimento.

Entretanto, o ingresso das aferentes periféricas de origem

proprioceptiva às zonas de análises corticais é facultativa. O desempenho

da função de interiorização, isto é, de uma forma atenção perceptiva

centrada no corpo é que vai permitir aquilo que as diretrizes oficiais chamam

de “conscientização do esquema corporal”.

Durante a fase da inteligência pré-operatória, isto é, até os 7 anos, a

imagem do corpo essencialmente visual. Em conseqüência, ela reveste um

caráter essencialmente figurativo. A emergência das informações

proprioceptivas na consciência vai permitir, segundo a expressão de Wallon,

que a “imagem visual do corpo e a imagem cinestésica se ocultem”. Nesse

momento, o aspecto operatório da imagem do corpo passa a prevalecer,

tornando-a uma estrutura cognitiva que permite, de um lado, a passagem do

ajustamento global ao ajustamento com representação mental, e, de outro

lado, servir como referencial à criação do espaço orientado.

Percebemos, por meio doe exposto até o momento, que a

psicomotricidade funde, de fato, as suas investigações com as da

psicanálise. É sobre isso que falaremos agora.

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2.4 A psicomotricidade sobre o olhar da psicanálise

À luz dos pressupostos da psicanálise a psicomotricidade

redimensiona suas práticas. Perceberam o homem como um ser

interdisciplinar, sujeito “psicomotor cognoscente”, marcado por uma falta,

representada pela linguagem simbólica.

Virá um dia em que a Psicologia das funções cognitivas e a Psicanálise serão obrigadas a se fundir numa teoria geral que melhorará as duas, corrigindo-as uma e outra. (PIAGET, 1973, p. 33)

Uma das contribuições da psicanálise à psicomotricidade foi a

compreensão dos processos transferenciais. Esses processos se

estabelecem nas relações de qualquer natureza, enquanto os distúrbios

psicomotores e os problemas de aprendizagem se estabelecem como

sintoma. Na concepção de Andrade (1994), sintoma é representação

inconsciente, que remete à história do sujeito e que, para intervir

terapeuticamente, torna-se necessário perceber esse sujeito nas dimensões

real, imaginária e simbólica.

O olhar psicanalítico sobre a prática da psicomotricidade traz, especialmente na perspectiva lacaniana, uma transformação dos conceitos de corpo e espaço. O corpo é o traço imaginário para o significante que o outro introduz com seu olhar, olhar que, nesta acepção, não é mera percepção, se não elo de capturação e inovação do sujeito (BERGÈS, 1986, p. 9.)

Segundo Lapierre (1984), a criança ao nascer tem um corpo biológico,

que é diferente do corpo real, imaginário e simbólico. O corpo simbólico vai-

se constituindo por efeito do olhar e da linguagem de um outro, que marca,

com seu desejo, um corpo desejante. Essas marcas são registros do outro,

de forma a constituir um corpo real e imaginário, um corpo simbólico. No

seu processo de constituição, o corpo experimenta fases que lhe marcam

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com prazeres e plenitude. Este é o espaço fusional que abriga o ”corpo da

necessidade”.

O corpo da pulsão é subsidiário do corpo fusional, marcado pela frustração, na separação dos corpos mãe-filho. A criança, para construir seu espaço e o seu corpo, não só deverá identificar-se com imagem especular, mas também deverá separar-se dela. Para isso terá que gerar um espaço e um corpo diferentes do corpo materno. (LEVIN, 1995, p. 63)

E para Lapierre

É neste espaço relacional que o gesto, a palavra, o objeto vão tomar um significado: eles se tornam ao mesmo tempo ‘significantes’para si e para o outro. Nascimento de uma linguagem simbólica comum, princípio infraverbal, em seguida recoberta pela linguagem verbal. Logo, é a perda da fusão corporal e da perda do corpo como complementaridade da falta, que permitirá o acesso ao simbólico e em particular o acesso à linguagem. (LAPIERRE, 1984, p. 18).

Assim, à luz da Psicanálise, a Psicomotricidade passa a tratar o corpo

não mais como um instrumento reabilitável pela ação reeducativa (corpo

real), delimitada a tratar particularmente o distúrbio instrumental, mas um

corpo uno, numa relação corpo real-corpo imaginário-corpo simbólico.

Nesse corpo, os distúrbios fazem parte dos processos inconscientes,

evidenciados pela linguagem. Para Costa (2002)

Há consenso entre aqueles que trabalham na área, que os distúrbios psicomotores se assentam em uma base comum, a dificuldade em relação à imagem do corpo e à estrutura do tempo e do espaço. (COSTA, 2002, p. 38)

Diante dessa concepção, a autora conceitua distúrbio psicomotor,

como uma situação particular de escolha de sintoma onde o indivíduo

oferece seu corpo (seus movimentos, seu saber) a ser desejo de outro, sem

poder fruir da sublimação.

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Portanto, o tratamento psicomotor passa a ter uma abordagem

psicanalítica, incluindo a questão do sujeito e da linguagem. Sami-Ali (1993)

diz que “a conjugação, transferência e imagem do corpo, através do qual o

passado se atualiza no presente, é suficiente para apreender a dinâmica da

ação psicomotora”. (p. 76).

Ainda para o autor: “invariavelmente, essa dinâmica se desenvolve

em torno da problemática edipiana, que, gradativamente, determina as

coordenadas inconscientes da situação terapêutica”. (p. 76)

A problemática edipiana que surge na relação com o outro é marcada

pelo desejo desse outro, conjuga-se à transferência, à repetição e à fantasia

de plenitude e ao investimento libidinal.

A identificação constante na relação terapêutica determina mudanças

simbólicas de lugar: vê-se no lugar do outro, e o outro no lugar dele. Essa

mudança simbólica de lugar é promovida por força do inconsciente e é,

nesse momento simbólico, que se instaura a transferência incluindo-a na

ordem do simbólico.

O psicomotricista em sua relação com a criança constitui-se como parte integrante da sua imagem corporal, podendo ser um objeto e ocupar posição simbólica diferente, já que intervém como um significante, uma representação, atribuições essas que são inconscientes. Seu corpo é utilizado e oferecido como um instrumento significativo para metaforizar o desejo da criança (LEVIN, 1995, p. 139)

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CAPÍTULO 3

A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO

CORPORAL DO ADOLESCENTE

A sexualidade tem um caráter dinâmico, caracterizado por mudanças

de fases que, de certa forma, determinam e modificam o comportamento.

Os impulsos dessa dinâmica são de natureza parcial e fragmentada.

O adolescente bem libidinizado tem desejo de busca do conhecimento

e, volta-se para as questões da sistematização desse conhecimento. Sua

libido fica direcionada, o que favorece o controle de suas ansiedades e

atenua o sentimento culposo oriundo das fantasias sexuais, de desejo do

corpo materno. Há uma satisfação oral quando se mantém um nível de

sublimação de prazeres sádicos e visuais, na capacidade de realizar

pesquisas.

O desejo de penetração é sublimado pela curiosidade de

funcionamento dos objetos e do corpo. Desmontar, encaixar, rasgar, cortar,

colar e manipular massas de consistências diferentes são atividades que

contribuem para a sublimação, desculpabilização e realização de suas

fantasias, dentro do processo normal de sua evolução.

O processo de desenvolvimento não é linear. O adolescente passa

por momentos de regressão, deslocamento ou fixação da libido. Essa

energia psíquica pode ser decorrente de estímulos do meio, ou própria da

evolução, e acarreta conflitos intrapsíquicos. As frustrações decorrentes

desse percurso devem causar ansiedades na criança, mas devem ser

suportadas pelo ego.

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A frustração é uma castração necessária ao surgimento do

pensamento, contudo não deve elevar o nível de ansiedade além do

suportável pelo aparelho psíquico, evitando causar danos e desequilíbrio

psicomotor, afetivo e cognitivo. A baixa tolerância à frustração está ligada à

fragilidade do ego, auto-imagem, auto-estima e nível de expectativa, que a

criança, familiares e outros desenvolvem em função do esperado.

O desequilíbrio das funções psicomotoras, cognitivas e afetivas

podem causar na criança dificuldades de manejo do simbólico. Isso

instalará uma dificuldade no processo de aprendizagem sobre seu próprio

corpo.

A aprendizagem da leitura e da escrita requer um certo erotismo

motor e sua dificuldade mexe com a questão de ordem narcísica, pela baixa

gratificação afetiva que o aprendizado está lhe proporcionando. Nessa

situação, os mecanismos de defesa do ego tendem a proteger o aparelho

psíquico do alto nível de frustração e ansiedade, deslocando parte da libido

para outras situações, ou melhor, libidinizando suas fantasias, bloqueando o

processo da aprendizagem.

Determinados comportamentos evidenciados na criança não passam

de meras projeções ou transferências dos seus desejos inconscientes,

medos, frustrações e inveja, que em suas fantasias dificultam a busca do

conhecer.

Para entender essas e outras questões é preciso entender não só as

questões cognitivas, mas também as de ordem emocional, que andam par-

a-par nos problemas e dificuldades de aprendizagem. O objeto do

conhecimento tem que ser libidinizado. Pensa-se que não há aprendizagem

sem afeto e afeto sem aprendizagem.

A prática psicopedagógica e psicomotora vem denunciando a

necessidade de melhor conhecer as questões emocionais e, na busca desse

conhecimento, suscita a introdução do conhecimento da teoria psicanalítica

à sua prática, numa tentativa de redimensionar essa práxis.

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Há uma força, um desejo, uma energia sexual, denominada libido, que se encontra em diferentes partes do corpo da criança. Seu ponto inicial centra-se na boca. É a primeira zona erógena. Freud afirma que o prazer de sugar é um ato sexual. O mesmo prazer de absorção de alimentos será sentido nos atos de eliminação dos resíduos metabólicos: a micção e a defecção. Temos assim a concentração da libido na zona anal e depois na genital. (FREUD, apud DORIN, s/d/, 213).

As etapas do desenvolvimento sexual não se dão de forma clara nem

obedecem uma cronologia etária definida. Existe uma interpretação das

fases oral, anal e genital. A interpretação aumenta à medida que se

aproxima mais o período da fase genital. A primeira fase do

desenvolvimento psicossexual é a zona bucal, a fonte corporal de todas as

excitações pulsionais. Essas fases estão presentes tanto na criança quanto

no adulto e são representadas pelos comportamentos, facilmente

identificados pelas características próprias de cada fase.

A fase oral caracteriza-se por queixas constantes, espera-se tudo do

outro. Há um predomínio da ansiedade persecutória, não se tolera a

ambivalência, não se tem medo da perda. O narcisismo impera e há uma

necessidade de que o outro satisfaça toda as suas necessidades, embora

elas nunca estejam satisfeitas.

Kusnetzoff (1982) define como fonte corporal das excitações pulsinais

a zona bucal. O autor aponta como objeto dessa fase o seio e todo o seu

substrato.

O conceito de objeto não sendo redutível só aos seios anatomicamente falando. “Seios” também são os braços da mãe, os músculos que seguram o neném, a voz que fala contemporariamente à incorporação do leite etc. (1982, p. 31)

O autor ainda considera de muita importância o vínculo que se

estabelece na relação da amamentação, “o vínculo seio-boca, pois esse é o

herdeiro do vínculo estabelecido entre o feto e a mãe, isto é, o seio será o

substituto do cordão umbilical”. (idem, p. 32)

As substituições vão efetivamente da sua identidade e emancipação.

O seio é o substituto do cordão umbilical e o bolo fecal, sua primeira

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produção, é substituto do seio por um lado e por outro antecessor do pênis,

objeto da fase subsequente. O bolo fecal é expulso do corpo, desprende-se

em definitivo através de um movimento centrífugo em que há uma

exteriorização dos conteúdos internos. Ele é um representante de um valor

de troca entre a criança e o meio externo.

Kusnetzoff (1982) compreende o estágio anal

Como o ato da defecação que ocupa um lugar importantíssimo no desenvolvimento piscossexual da criança; porém não se remete apenas ao controle esfincteriano. Este serve de modelo para o controle motor em geral, sensação de domínio, prazer na expulsão ou na retenção. (1982, p. 39)

A fonte pulsional nesse período é a mucosa ano-retal. Essa mucosa

produz sensações conscientes de um processo muito importante para a

autoconservação: a eliminação dos resíduos alimentares indigeríveis.

Abranham (1961) subdivide o estágio anal em duas fases: a primeira,

fase anal ou fase expulsória e a segunda, fase anal ou retentiva. Na fase

expulsória o prazer é fornecido por três vias: a via fisiológica, a via social e a

via contingente. Na fase retentiva, o prazer da criança é a retenção das

fezes, pois ela percebe que a mucosa anal é estimulada tanto na expulsão

como na retenção. Como os adultos atribuem uma importância excessiva à

retenção, o prazer da criança é dirigido a esse ato. Tudo isso explica a

grande relação psíquica entre como à criança percebe seu corpo e a sua

sexualidade.

3.1 Gravidez na adolescência

O mundo vem assistindo a crescente onda de mães muito jovens, que

dão luz numa época em que poderiam estar desenvolvendo algumas

capacidades emocionais e cognitivas, além de acumular experiência, dentro

da liberdade que existe neste período, próprio para viver diversas

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circunstâncias e posteriormente adentrar no universo adulto, portando

bagagem, mínima que seja, mas que possibilita então, a constituição de uma

família com um filho ou mais. Contudo, um número alarmante, mostra muitas

adolescentes que acabam tomando outro rumo e engravidam, iniciando ai

um cerceamento de suas atividades no campo do desenvolvimento

profissional e escolar, sem generalizar, porém, grande parcela delas, acaba

restrita ao contato com o lar onde reside.

Tem sido tarefa difícil explicar a causa de existir tantas adolescentes

grávidas, e seu crescente número a cada ano. De um lado, alguns

profissionais apontam para a falta de informação, de outro, a questão centra-

se numa busca pela identidade por parte dos adolescentes. A aquela

identidade que a criança e o adolescente encontra no descobrir e entender o

seu corpo.

Kalina (1999) define que na adolescência, ocorre uma profunda

desestruturação da personalidade e que com o passar dos anos vai

acontecendo um processo de reestruturação. Baseado nos antecedentes

histórico-genéticos e do convívio familiar e social, e também pela

progressiva aquisição da personalidade do adolescente, pelo

reconhecimento de seu corpo é possível entender que esta reestruturação

tem em seu eixo o processo de elaboração das perdas, a cada etapa

deixada sucessivamente. A questão familiar e social funciona como co-

determinante no que resulta enquanto crise, especialmente, à conquista de

uma nova identidade.

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O amadurecimento sexual do adolescente, de acordo com Tiba

(1996), acontece de forma rápida, simultaneamente ao amadurecimento

emocional e intelectivo, iniciando então, o processar na formação dos

valores de independência, que acaba por gerar pensamentos e atitudes

contraditórios, especialmente quanto a parceiros e profissões.

Aberastury (1983) diz se tratar de uma luta difícil para o adolescente

encontrar uma identidade, que ocorre num processo de longa duração, além

de lento, neste período, em que os jovens vão construindo a base final da

personalidade, de seu perfil adulto. Este processo acontece por meio de

tentativa e erro, em sua maior parte, buscando o verdadeiro Eu, ou seja,

buscando reconhecer-se enquanto outro corpo e acaba por sofrer agonias e

dúvidas, querendo ser diferente do que fora em sua infância, num buscar

uma identificação própria e diferente.

Podemos encontrar em Osborne (1975) aspectos importantes sobre

pais que valorizam a autonomia e a disciplina no comportamento, estimulam

mais o desenvolvimento da confiança, da responsabilidade e da

independência. Pais que são autoritários, os quais tendem à repressão dos

desacordos, porém não podem exterminá-los, e os filhos adolescentes

provavelmente acabam sendo menos seguros, pensando e agindo pouco

por si próprios. Pais negligentes ou permissivos que não oferecem o tipo de

ajuda que o adolescente precisa; permitem que seus filhos percam o rumo,

não oferecendo a eles condições de perceberem-se como o outro e, ao

mesmo tempo, diferente dele.

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Vemos então, a enorme responsabilidade educacional durante o

processo de adolescência, e Sayão (1995) confirma tal postura com relação

aos filhos, que crescem e aos pais cabe a preparação sobre as mudanças

no corpo e o aprendizado de como lidar com a questão sexual, usando de

honestidade e se preocupando em transmitir valores, além das regras.

Em outra esfera, ao tratarmos sobre prevenção da gravidez, podemos

encontrar pesquisas realizadas através de universidades ou do ministério da

saúde brasileiro, que revelam constantemente que grande parte da

população tem tido a informação básica necessária sobre o uso de

anticoncepcionais, e que apesar dos adolescentes possuírem este

conhecimento, acabam mantendo um relacionamento sexual sem tomar os

cuidados necessários e assim, como que numa “loteria”, engravidam

inesperadamente.

Se por um lado encontramos uma boa dose de informações que

chega até os jovens, por outro, percebemos a constante falta de diálogo

entre pais e filhos, não bastando apenas dizer ao adolescente para que use

preservativo, mas também esclarecendo sobre as decorrências possíveis.

Os pais precisam se preparar com conhecimento a respeito, trabalhar

melhor sua participação em assuntos “delicados” e, acompanhar

equilibradamente a vida de seus filhos, mostrando-lhes como se dá o

processo de maturação e desenvolvimento do corpo e como lidar com isso.

Outro ponto reforça a estatística sobre gravidez na adolescência, que

conforme Varella (2000) nos aponta que, os dados da Pesquisa Nacional em

Demografia e Saúde do Brasil, feita em mil novecentos e noventa e seis,

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indicaram que quatorze por cento das meninas nesta faixa etária já tinham

um filho, no mínimo. Entre as parturientes que foram atendidas pelo Sistema

Único de Saúde, entre os anos de mil novecentos e noventa e três e mil

novecentos e noventa e oito, teve um aumento de trinta e um por cento dos

casos de meninas entre dez e quatorze anos.

Conforme Duarte (1997), podemos compreender que a gravidez na

adolescência não é um episódio, mas um processo de busca, onde a

adolescente pode encontrar dificuldade e acaba por assumir atitudes de

rebeldia, como a própria gravidez. Isso por falta de uma melhor identificação

de si mesma. As pesquisas realizadas pela Secretaria de Saúde de São

Paulo, mostram que o aumento do número de gravidez na adolescência não

é a desinformação.

Parece que já nos habituamos a este fato, jovens com tão pouca

idade se tornando “mãe”, no sentido biológico, mas existindo pouco preparo

ou estrutura, evidentemente. Como é possível, jovens nesta faixa etária

estarem preparadas para cuidar de outro ser que requer tantos cuidados?

Se o adolescente ainda se encontra em reestruturação da personalidade,

levando-se em conta o aspecto emocional e financeiro, além da experiência

de vida necessária, como poderá atuar como alguém que necessita oferecer

apoio e estruturação a outro?

Sabe-se o quanto é importante passar por todas as fases naturais que

a vida oferece, como a infância, a adolescência, a fase jovem, adulta e a

velhice, períodos onde desenvolvemos estruturas que se auxiliam uma após

a outra. Todas elas sendo auxiliadas pela relação do indivíduo com o corpo.

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Costa (1997) faz um relato sobre a criança de hoje, que é

bastante precoce nas questões da sexualidade, por meio de sua curiosidade

em querer conhecer como se formam os bebês e como ocorre a intimidade

sexual. Há muitos casos onde as crianças com idade a partir de seis anos,

que já desejam olhar revistas de mulheres nuas. Nesta esfera encontra-se a

liberação sexual vivida atualmente e que faz a criança ingressar em uma

fase de conhecimento do seu corpo, com uma certa antecedência.

Aumentar a freqüência de informações dentro das escolas, através

das aulas é uma boa forma colaboradora, até que este assunto se incorpore

definitivamente em nossa cultura, que apesar de “moderna”, ainda é cheia

de tabus e preconceitos, trabalhar com projetos de teorias da

psicomotricidade também é uma questão a se pensar, já esta tem a

capacidade de auxiliar o adolescente no reconhecimento de si mesmo.

Por outro lado, se a televisão em seus diversos horários, inclusive os

de grande audiência, transmite cenas de erotismo e sensualidade, pode

também apresentar cenas de prevenção e cuidados a este respeito, em boa

dose e intensidade, não apenas em alguns momentos especiais,

aumentando conseqüentemente, o estímulo a esta prática fundamental de

prevenção, que se dá muito por meio da vontade.

Quando do ato sexual, uma sensação maior parece tomar conta e

assim não se pensa em mais nada; apenas acontece a relação. Isto se dá

pela falta de maior consciência a respeito. Neste período de adolescência,

no qual o jovem acredita estar pronto para o mundo, e é nesta “coragem”

que segue avante, mas ainda lhe falta conhecimento e experiência,

inevitáveis para lidar melhor com seu corpo.

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CONCLUSÃO

Nos dias atuais, ouvimos falar muito em liberdade, sugerindo a

vivência desta em diversas áreas da vida. Fala-se em liberdade de

expressão, em liberdade de escolha, e, o que aqui nos interessa, liberdade

sexual.

A liberdade sexual associada a outros fatores, como a necessidade

dos jovens de quebra de tabus, afirmação, contraposição à família, e, muitas

vezes, a pressão do grupo de amigos e/ou do namorado, trouxe consigo

uma questão importante: a vivência da sexualidade adolescente.

Contudo, não podemos falar neste tema sem antes comentar alguns

pontos básicos. Em primeiro lugar, a adolescência é um processo que ocorre

durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma

revolução bio-psico-social, e marcando a transição do estado infantil para o

estado adulto. As características psicológicas deste movimento evolutivo,

sua expressividade e manifestações ao nível do comportamento e da

adaptação social, são dependentes da cultura e da sociedade onde o

processo se desenvolve. Além disso, este processo adolescente é

desencadeado, impelido e concomitante às alterações biológicas que

intervém na maturação das manifestações pulsionais e são inerentes a este

período. As velocidades de maturação de cada setor (biológico, psicológico

e social), e das partes que os compõem, são distintas e interatuantes, dando

o colorido típico que caracteriza o adolescente de nossa sociedade.

Com a chegada da puberdade, todo o organismo é invadido pela força

das transformações biológicas e tomado por impulsos sexuais e agressivos,

determinando o início da puberdade e do processo da adolescência.

De início, sem saber bem o significado de sua sexualidade e de como

dispor dela, o adolescente pouco a pouco vai descobrindo os mistérios e os

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devaneios que essa situação atraente e angustiante lhe desperta. As

modificações corporais bem como a masturbação são elementos que

exteriorizam as mudanças internas com seus reflexos sobre a vida afetiva e

emocional dos jovens.

Então, o adolescente entra nesta etapa da vida tomado por um estado

de certa confusão e incoerência, entre o que lhe era conhecido e familiar,

por ocasião da infância, e as transformações pelas quais está passando.

Apesar de desejar atingir a vida adulta, pois é impelido por seu crescimento

e maturação, teme o desconhecido que existe dentro de si.

Aos poucos, o adolescente sente o seu corpo amadurecer, e, com

isto, o peso da cultura e da sociedade exercerá sobre o ele a repressão da

livre expressão e experimento da genitalidade adulta. A princípio, não se

interessa pela sexualidade genital, até que descobre o outro sexo, e a

intensa excitação e prazer que ele lhe desperta.

E, é claro, a sexualidade vai assumir características de acordo com a

idade na qual é vivida, sendo influenciada, então, pelas características

adolescentes. Entretanto, é sabido que muitos jovens iniciam sua vida

sexual em idades precoces, e a manutenção de uma vida sexual sem

preparo e cuidado pode trazer conseqüências muito sérias para o

adolescente, como a gravidez indesejada, o aborto e as doenças

sexualmente transmissíveis.

Como que isso fica então? Deve-se orientar ou educar os

adolescentes?

Entende-se que, este período de transição, pelo qual passa o ser

humano, é carregado de transformações físicas e psíquicas, viabilizando

uma instabilidade na estrutura da personalidade. Outro fator relevante é a

informação que orienta quanto aos cuidados sexuais, a qual mantém o seu

grau de importância, e deve fazer parte do contexto educacional a fim de se

incorporar, cada vez mais, nos hábitos cotidianos da população.

Encontramos ainda, a enorme exposição a estímulos na área sexual, a que

as crianças se encontram constantemente e as respostas que emitem, além

de gerar uma precocidade em suas atitudes neste mesmo campo. Por outro

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lado, há uma batalha imediata, ligada à conscientização dos jovens quanto

às questões emocionais e sociais que podem levar a gravidez como forma

equivocada de gerar identidade nesta fase do desenvolvimento, tão repleta

de tribulações e conflitos mediante as sucessivas mudanças que ocorrem, e

ainda, ser um projeto de vida para substituir a falta de perspectiva

profissional, fazendo do futuro, uma visão de poucas possibilidades de

crescimento em várias esferas, a exemplo da educação e cultura. Este

exercício de estimular a reflexão e trazer maior consciência, pode ser feito

por profissionais que atuam na área social e da saúde; por uma parcela da

população que já se encontra com boa experiência de vida e abre espaço

para discuti-las; professores que desenvolvam dinâmicas de grupos, e

ofereçam canal aberto para uma conversa de linguagem fácil e objetiva,

sejam por meio de seus centros comunitários, nos bairros onde moram,

sejam pelas escolas. Nesse sentido, usar-se as bases propiciadas pela

psicomotricidade pode ser um fator determinante no auxílio à estruturação

do reconhecimento desses adolescentes sobre eles próprios.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A Influência da Psicomotricidade na Conscientização

Corporal de Adolescentes

Autor: Adriana Leandro da Silva de Souza

Data da entrega: Junho/2004

Avaliado por: ___________________________________ Conceito:

_______

Avaliado por: ___________________________________ Conceito:

_______

Avaliado por: ___________________________________ Conceito:

_______

Conceito Final: _______________

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ................................................................................ 2AGRADECIMENTOS ............................................................................. 3DEDICATÓRIA ....................................................................................... 4RESUMO 6METODOLOGIA ..................................................................................... 7SUMÁRIO ............................................................................................... 8INTRODUÇÃO ....................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 A PSICOMOTRICIDADE ....................................................................... 10 1.1 Enfoque Histórico ............................................................................ 11 CAPÍTULO 2 O ESQUEMA CORPORAL ..................................................................... 14 2.1 Desenvolvimento do Esquema Corporal .......................................... 172.2 Desenvolvimento durante a infância ................................................ 192.3 Estrutura do esquema corporal em função da interiorização ........... 202.4 A psicomotricidade sobre o olhar da psicanálise ............................. 21 CAPÍTULO 3 A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DO ADOLESCENTE ..................................................................................... 24 3.1 Gravidez na Adolescência ................................................................ 27 CONCLUSÃO ........................................................................................ 33

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 36

FOLHA DE AVALIAÇÃO ........................................................................ 38