A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf ·...

161
CRISTIANO TOLFO A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Florianópolis/SC 2005

Transcript of A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf ·...

Page 1: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

CRISTIANO TOLFO

A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA

ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME

PROGRAMMING

Florianópolis/SC

2005

Page 2: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA

COMPUTAÇÃO

CRISTIANO TOLFO

A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA

ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME

PROGRAMMING

Dissertação submetida à Universidade Federal de

Santa Catarina como parte dos requisitos para a

obtenção do grau de Mestre em Ciência da

Computação

Orientador: Raul Sidnei Wazlawick, Dr.

Page 4: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA

ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME

PROGRAMMING

CRISTIANO TOLFO

Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em

Ciência da Computação e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-

Graduação em Ciência da Computação.

________________________________

Raul Sidnei Wazlawick, Dr. (Coordenador do Curso)

Banca Examinadora

________________________________

Raul Sidnei Wazlawick, Dr. (Orientador)

________________________________

Ricardo Pereira e Silva, Dr.

________________________________

Vitório Bruno Mazzola, Dr.

________________________________

Alfredo Goldman vel Lejbman, Dr.

Page 5: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

“Uma dificuldade final, e que pode facilmente afundar

um projeto XP, é que redirecionar é simplesmente

inaceitável em muitas culturas de empresas.”

Kent Beck

Page 6: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

DEDICATÓRIA

À minha esposa Andréia, pelo seu amor,

carinho, compreensão e constante ajuda nesta

caminhada.

Page 7: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Raul Sidnei Wazlawick, por ter acreditado no sucesso deste

trabalho desde o seu início, oferecendo dedicada orientação, a qual possibilitou a

conclusão dessa dissertação.

A todos os Professores do Mestrado, pelos conhecimentos a mim transmitidos ao

longo do curso, bem como aos colegas do curso, pelas contribuições, apoio e incentivo

recebidos ao longo da jornada.

Page 8: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Sumário

Lista de Figuras ............................................................................................................ 10

Lista de Tabelas ............................................................................................................ 11

Resumo .......................................................................................................................... 12

Abstract ......................................................................................................................... 13

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14

1.1 Tema e Problema de Pesquisa ............................................................................... 14

1.2 Trabalhos Relacionados......................................................................................... 16

1.3 Objetivos.................................................................................................................. 18

1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 18

1.3.2 Objetivos Específicos........................................................................................... 18

1.4 Justificativa ............................................................................................................. 19

1.5 Metodologia............................................................................................................. 20

1.6 Estrutura do Trabalho ........................................................................................... 21

2. EXTREME PROGRAMMING – XP ..................................................................... 22

2.1 Os Métodos Ágeis e a XP ....................................................................................... 22

2.2 Papéis da Equipe XP .............................................................................................. 25

2.3 Valores do Método XP ........................................................................................... 27

2.4 Práticas do Método XP........................................................................................... 29

2.4.1 Jogo de Planejamento.......................................................................................... 29

2.4.2 Reuniões em Pé .................................................................................................... 30

2.4.3 Releases................................................................................................................. 30

2.4.4 Metáforas.............................................................................................................. 31

2.4.5 Projeto Simples .................................................................................................... 31

2.4.6 Testes .................................................................................................................... 31

2.4.7 Refatoração .......................................................................................................... 32

2.4.8 Programação pareada ......................................................................................... 33

2.4.9 Integração Contínua............................................................................................ 34

2.4.10 Propriedade Coletiva......................................................................................... 34

2.4.11 Ritmo Sustentável .............................................................................................. 35

Page 9: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

2.4.12 Cliente Presente ................................................................................................. 35

2.4.13 Padrões de Programação .................................................................................. 36

2.5 Ciclo de Vida do Método XP ................................................................................. 37

2.6 A Sinergia das Práticas XP.................................................................................... 40

2.7 XP e os Métodos Tradicionais de Desenvolvimento de Software....................... 43

2.8 Adoção do Método XP............................................................................................ 44

3. CULTURA E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ............................................ 52

3.1 Cultura Organizacional ......................................................................................... 52

3.1.1 Definição............................................................................................................... 52

3.1.2 Elementos da Cultura Organizacional .............................................................. 58

3.1.2.1 Valores ............................................................................................................... 59

3.1.2.2 Ritos, Rituais e Cerimônias.............................................................................. 59

3.1.2.3 Mitos e Estórias................................................................................................. 60

3.1.2.4 Tabus ................................................................................................................. 60

3.1.2.5 Heróis................................................................................................................. 60

3.1.2.6 Crenças e Pressupostos .................................................................................... 61

3.1.2.7 Normas da Empresa ......................................................................................... 61

3.1.2.8 Processos de Comunicação .............................................................................. 62

3.1.3 Análise da Cultura Organizacional ................................................................... 63

3.1.4 Dimensões da Cultura Organizacional .............................................................. 67

3.1.5 Mudança da Cultura Organizacional ................................................................ 69

3.2 Estrutura Organizacional ...................................................................................... 74

3.2.1 Definição............................................................................................................... 74

3.2.2 Dimensões da Estrutura Organizacional........................................................... 75

4. A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING .................................................. 81

4.1 Cultura Organizacional e a Extreme Programming ........................................... 82

4.1.1 Dimensão: Inovação e Risco ............................................................................... 82

4.1.2 Dimensão: Orientação para Detalhes ................................................................ 87

4.1.3 Dimensão: Orientação para Resultados ............................................................ 89

4.1.4 Dimensão: Orientação para Pessoas .................................................................. 92

4.1.5 Dimensão: Orientação para Equipe................................................................... 94

Page 10: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

4.1.6 Dimensão: Agressividade.................................................................................. 100

4.1.7 Dimensão: Estabilidade..................................................................................... 104

4.2 Estrutura Organizacional e a Extreme Programming...................................... 106

4.2.1 - Dimensão: Especialização do Trabalho ........................................................ 106

4.2.2 - Dimensão: Departamentalização ................................................................... 108

4.2.3 Dimensão: Cadeia de Comando ....................................................................... 111

4.2.4 Dimensão: Margem de Controle ...................................................................... 114

4.2.5 Dimensão: Centralização e Descentralização.................................................. 116

4.2.6 Dimensão: Formalização................................................................................... 119

4.3 Aspectos Culturais e Estruturais Favoráveis ou Desfavoráveis à Adoção da XP

...................................................................................................................................... 121

5. APLICAÇÃO DA LISTA DE VERIFICAÇÃO.................................................. 124

5.1 Apresentação dos Dados Coletados .................................................................... 125

5.2 Aspectos Culturais e Estruturais da “Empresa X” Favoráveis à Adoção da XP

...................................................................................................................................... 131

5.3 Aspectos Culturais e Estruturais da “Empresa X” Desfavoráveis à Adoção da

XP................................................................................................................................. 132

5.4 Considerações Finais ............................................................................................ 134

6. CONCLUSÃO......................................................................................................... 136

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 139

ANEXOS ..................................................................................................................... 148

Page 11: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Lista de Figuras

Figura 1: Ciclo de vida XP. Adaptado de Abrahamsson (2002). ................................... 40

Figura 2: A interligação das práticas XP. Adaptado de Beck (2004)............................. 41

Figura 3: Dificuldades na aplicação de práticas e valores XP. Adaptado de Rumpe

(2002). ............................................................................................................................ 45

Figura 4: Fatores de sucesso identificados em projetos XP. Adaptado de Rumpe (2002).

........................................................................................................................................ 46

Figura 5: Fatores de riscos em projetos XP. Adaptado de Rumpe (2002). .................... 49

Figura 6: Iceberg da cultura organizacional. Adaptado de Chiavenato (1999). ............. 64

Figura 7: Itens de verificação - dimensão Inovação e Risco .......................................... 86

Figura 8: Itens de verificação - dimensão Orientação para Detalhes ............................. 89

Figura 9: Itens de verificação - dimensão Orientação para Resultados.......................... 92

Figura 10: Itens de verificação - dimensão Orientação para Pessoas............................. 94

Figura 11: Itens de verificação - dimensão Orientação para Equipes ............................ 99

Figura 12: Itens de verificação - dimensão Agressividade........................................... 104

Figura 13: Itens de verificação - dimensão Estabilidade.............................................. 105

Figura 14: Itens de verificação - dimensão Especialização do Trabalho ..................... 108

Figura 15: Itens de verificação - dimensão Departamentalização................................ 110

Figura 16: Itens de verificação - dimensão Cadeia de Comando ................................. 114

Figura 17: Itens de verificação - dimensão Margem de Controle ................................ 115

Figura 18: Itens de verificação - dimensão Centralização e Descentralização............. 119

Figura 19: Itens de verificação - dimensão Formalização............................................ 121

Page 12: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Lista de Tabelas

Tabela 1: Método Tradicional versus XP. Adaptado de Wege (2001)........................... 43

Tabela 2: Valores organizacionais.................................................................................. 68

Tabela 3: Elementos fundamentais da estrutura organizacional. Adaptado de Robbins

(1999). ............................................................................................................................ 75

Tabela 4: Cultura Organizacional: aspectos favoráveis e desfavoráveis à XP............. 122

Tabela 5: Estrutura Organizacional: aspectos favoráveis e desfavoráveis à XP .......... 123

Page 13: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Resumo

Os métodos ágeis de desenvolvimento de software prometem alto desempenho

para equipes pequenas, porém implantar um método ágil como a Extreme Programming

em uma empresa de software pode requerer mudanças consideráveis, as quais afetam as

relações de trabalho, aumentam as responsabilidades na condução do projeto e refletem

no sistema de poder da organização. Para que as práticas e valores do método XP

realmente se efetivem não basta satisfazer aspectos técnicos, mas é imprescindível que

no ambiente de trabalho estejam presentes determinados aspectos culturais e estruturais

que são decisivos para a adoção satisfatória da XP, como políticas da empresa

relacionadas à motivação dos desenvolvedores, coesão da equipe de desenvolvimento,

descentralização de poder e liderança democrática. Neste contexto, surge a preocupação

referente ao desgaste gerado pela implantação da Extreme Programming em empresas

cuja cultura e estrutura organizacional se revelem altamente incompatíveis com as

práticas e valores do método. Neste sentido, o presente trabalho procura fazer uma

contribuição identificando aspectos culturais e estruturais favoráveis ou desfavoráveis à

adoção da Extreme Programming, de forma a elaborar uma lista de verificação da

adequação dos fatores organizacionais.

Palavras chaves: Extreme Programming, Empresas de Software, Cultura

Organizacional, Estrutura Organizacional.

Page 14: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Abstract

The agile methods for the development of software promised a higher

performance to smaller teams. However, to implement an agile method such as the

Extreme Programming within a software company may require considerable changes,

which affect work relationships, increase responsibility on the project execution and

reflects on the balance of power in the organization. For the practices and values of the

XP method to become really effective it is not enough to satisfy technical aspects, but it

is fundamental that in the work environment certain cultural and structural aspects are

present which are decisive for a satisfactory adoption of XP, as company policies

related to the motivation of developers, connectivity of the team, non-centralized power

and democratic leadership. In this context, there are concerns about the effects that

come with the implementation of the Extreme Programming into companies where

culture and organizational structure turn out to be highly incompatible with the

method’s practice and values. In this sense, the present work identifies the cultural and

structural aspects that are either favorable or unfavorable to the adoption of Extreme

Programming and elaborates a list for the identification on how appropriate the

organizational factors are.

Keywords: Extreme Programming, Company of Software, Organizational

Culture, Organizational Structure.

Page 15: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

14

1. INTRODUÇÃO

1.1 Tema e Problema de Pesquisa

Métodos ágeis de desenvolvimento de software como Scrum (SCHWABER,

1995), Dynamic Systems Development Method – DSDM (STAPLETON, 1997), Feature

Driven Development - FDD (PALMER, 2002) e Extreme Programming - XP (BECK,

2004) apresentam-se como alternativas à complexidade e formalidade das metodologias

tradicionais.

Dentre os métodos ágeis destaca-se a Extreme Programming – XP, que foi

criada em 1996 por Kent Beck no departamento de computação da multinacional

Daimler Chrysler. O método XP visa garantir desenvolvimento de software com sucesso

na presença de requisitos vagos que se modificam rapidamente (BECK, 2004).

Esta dissertação dedica-se ao estudo da adoção da XP pelas empresas de

desenvolvimento de software procurando investigar suas implicações organizacionais.

Quanto à adoção de um novo método de desenvolvimento de software, Cockburn

(2001) alerta que o fato de um método ter sido usado com sucesso por muitas equipes

não significa que todas as equipes estejam aptas à sua adoção de forma satisfatória.

As dificuldades de mudar para um método diferente nunca devem ser

subestimadas, pois levará um tempo considerável para ajustar a organização ao mesmo

e provavelmente este processo será acompanhado por uma queda inicial na

produtividade (COCKBURN, 2001).

A adoção satisfatória da XP depende de vários aspectos da empresa de

desenvolvimento de software, como seu mercado alvo, tipo de software desenvolvido,

perfil do cliente, tamanho e grau de criticidade dos projetos e eventual terceirização dos

mesmos. Entretanto, esta dissertação privilegia aspectos importantes para o uso da XP

que têm sido pouco abordados na literatura: cultura e estrutura organizacional.

Page 16: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

15

Os paradigmas da XP diferem dos encontrados nos métodos tradicionais de

desenvolvimento de software porque estão profundamente focados em relações

humanas. Ou seja, diferentemente dos métodos prescritivos, sua concepção e evolução

dependem da interação entre as pessoas, neste caso, desenvolvedores de software,

gerência e cliente.

Uma das maiores dificuldades de se adotar o método XP é justamente fazer com

que suas práticas, fundamentalmente dependentes de aspectos humanos, sejam

realmente implementadas. Para realizá-las é preciso dispor de um ambiente em que

dirigentes da empresa e desenvolvedores possuam valores culturais compatíveis com as

exigências da XP.

Para verificar a adequação dos valores culturais da empresa de software à XP

torna-se inicialmente necessária a compreensão do conceito de cultura organizacional,

bem como de estrutura organizacional - na qual, segundo Tamoyo (1997) estão

presentes certos valores culturais de forma subjacente.

A cultura organizacional refere-se ao sistema de significados compartilhados por

todos os membros da organização. Ou seja, constitui o modo institucionalizado de

pensar e agir, sendo que sua essência é expressa pela maneira como a empresa faz seus

negócios, a forma como trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia dado aos

seus membros (CHIAVENATO, 1999).

Já a estrutura organizacional é definida por Stoner (1999) como sendo “a forma

pela qual as atividades de uma organização são divididas, organizadas e coordenadas.”

Assim, devem ser considerados aspectos como a hierarquia de poder, a organização dos

departamentos, a forma como são delegadas tarefas, como é disseminada a

comunicação, como é organizado o ambiente de trabalho.

Muitas vezes, para se adequar a uma nova metodologia de desenvolvimento de

software os membros da organização precisam mudar sua forma de agir e seus valores,

o que não se pode esperar que aconteça facilmente. Mudança de cultura organizacional

é um assunto intrigante, mas raramente é algo que se está disposto a considerar, portanto

Page 17: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

16

é preciso escolher um método de desenvolvimento de software que se ajuste à cultura da

organização (McBREEN, 2002).

McBreen (2002) afirma que provavelmente o que pode acontecer com uma

organização que acha que é fácil mudar para uma metodologia cujos pressupostos são

diferentes da sua cultura organizacional é ter um desastre completo e absoluto de um

projeto.

Tendo em vista estes pressupostos, a presente dissertação propõe uma reflexão

sobre as influências dos fatores organizacionais na adoção do método XP,

considerando-se todas as suas práticas e valores, ou seja, sua adoção na íntegra.

Analisando-se as dimensões da cultura e da estrutura organizacional sob a perspectiva

das práticas e valores XP, pretende-se identificar aspectos favoráveis ou desfavoráveis à

adoção do método, a fim de se elaborar uma lista de verificação da adequação dos

fatores organizacionais das empresas de software.

Neste sentido, o problema investigado na pesquisa é: Quais os aspectos culturais

e estruturais das empresas de software que influenciam na implantação do método

Extreme Programming?

1.2 Trabalhos Relacionados

Levando em conta vários fatores, dentre eles a cultura organizacional, Jim

Highsmith (2002) - um dos especialistas em métodos ágeis que participou do Manifesto

Ágil (AGILLE, 2001) - preocupa-se em determinar a metodologia de desenvolvimento

de software mais adequada à realidade de cada empresa.

O título de sua obra “Ecossistemas de Desenvolvimento de Software Ágeis” está

associado à oposição de Jim Highsmith à adoção do termo “metodologia” para se referir

aos métodos ágeis. Segundo o referido autor, a palavra metodologia não se ajusta ao

foco do desenvolvimento ágil, que envolve pessoas, relações e incertezas, além disso,

usando-se a palavra “metodologia” as práticas ágeis são erroneamente comparadas a

metodologias de desenvolvimento de software tradicionais.

Page 18: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

17

Assim, o autor prefere o termo ecossistemas de desenvolvimento de software

ágeis – ASDE. Porém, apesar da opinião de Highsmith, nesta dissertação se utiliza a

expressão “metodologia”, mesmo em se tratando de XP.

Em sua pesquisa Highsmith recomenda que para adotar uma metodologia de

desenvolvimento de software - seja ágil ou tradicional - a empresa deve considerar

fatores como o seu mercado alvo, as suas oportunidades e estratégias e a sua cultura

organizacional.

Em relação as oportunidade e estratégias Highsmith elegeu o modelo de

Geoffrey Moore que classifica as empresas de acordo o seu estágio de mercado.

Quanto à cultura organizacional, Highsmith considera 5 tipos de cultura -

também determinadas por Geoffrey Moore (MOORE, 1995) - a saber:

a) Cultura de colaboração: em que predominam ajuda mútua e decisões em

equipes. A liderança é participava e não apenas um cargo controlador.

b) Cultura de cultivo: prioriza a ajuda entre as pessoas, mas com ênfase em

indivíduos ao invés da ênfase na equipe.

c) Cultura de competência: enfatiza responsabilidade e comprometimento

individual.

d) Cultura de controle: baseado em hierarquia de poder e orientado à segurança.

e) Cultura de relativismo: influenciada pelos meios culturais.

Highsmith acredita que as características culturais e o foco de mercado definem

e condicionam o método de desenvolvimento de software mais apropriado para a

empresa. Desta forma, as organizações devem adotar estratégias para evitar a adoção de

um método incompatível com seu mercado ou inviável para sua cultura organizacional.

A pesquisa realizada nesta dissertação está relacionada com o estudo de Jim

Highsmith, já que ambos possuem o propósito de identificar a compatibilidade do

método de desenvolvimento de software com a realidade da empresa. Porém, as

Page 19: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

18

propostas diferem, já que na parte do seu trabalho que envolve a cultura organizacional,

Highsmith apenas relaciona cada tipo de cultura com o método mais adequado, mas não

realizou um estudo específico de todos os aspectos culturais que possuem implicação na

adequação.

Já a presente dissertação, utiliza-se de um conjunto de dimensões recomendadas

para avaliação de aspectos da cultura e também da estrutura organizacional, as quais são

analisadas sob a perspectiva dos pressupostos de um método de desenvolvimento de

software em especial: Extreme Programming. Assim, a preocupação está em identificar

os aspectos favoráveis e desfavoráveis à adoção do método XP, de forma a elaborar-se

uma lista de verificação da adequação dos fatores organizacionais.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Verificar a influência da cultura e da estrutura organizacional das empresas de

software na adoção da Extreme Programming, a fim de estabelecer uma lista de

verificação da adequação dos fatores organizacionais.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Analisar as dimensões da cultura e da estrutura organizacional sob a

perspectiva das práticas e valores XP;

b) Identificar aspectos culturais e estruturais favoráveis ou desfavoráveis à

adoção do método XP;

Page 20: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

19

c) Elaborar uma lista de verificação que permita uma reflexão prévia a respeito

da adequação dos fatores organizacionais das empresas de software que pretendam

adotar o método XP;

d) Aplicar a lista de verificação em uma empresa de desenvolvimento de

software a fim de verificar a existência dos aspectos organizacionais identificados na

dissertação.

1.4 Justificativa

De acordo com Moore (1995), os fracassos na implantação de metodologias

ocorrem porque muitas vezes as mesmas são adotadas para solucionar problemas de

desenvolvimento de software, porém há pouca análise da compatibilidade entre as

implicações da solução encontrada (nova metodologia) e a cultura organizacional.

Neste sentido torna-se pertinente o entendimento de Larsen e Kerievsky (2003)

segundo o qual a XP é viável em muitos projetos se forem considerados apenas seus

aspectos técnicos. Sendo que os riscos maiores na sua utilização estão nos aspectos

culturais das organizações.

A XP não é apenas um processo, mas ela contém princípios e práticas que

orientam o projeto e a equipe de desenvolvimento. Estes princípios e práticas devem

estar arraigados na cultura dos membros da equipe (ASTELS, 2002).

Salienta-se que o método XP está fundamentado em premissas que exigem

equipes comunicativas e com alto desempenho, envolvidas em um ambiente

colaborativo, com autonomia para tomada de decisões e para correr riscos,

desenvolvendo software de forma iterativa e incremental. Desta forma, vários valores

culturais são solicitados.

Cunningham (2003) chama atenção para o fato de que em algumas empresas de

software determinados valores organizacionais podem ser totalmente contrários aos

valores XP, caso em que a adoção do método pode ser inviável.

Page 21: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

20

Ao se decidir implantar o método XP integralmente deve-se estar ciente dos

desafios impostos. Assim, este estudo justifica-se pela importância de se verificar

previamente a adequação dos fatores organizacionais da empresa de software e o

método XP a fim de se evitar que as empresas fiquem sujeitas aos desgastes

provenientes da implantação irrefletida do método.

A escassez de estudos específicos sobre o tema proposto torna esta pesquisa uma

contribuição para a área. Também se salienta que a lista de verificação da adequação

dos fatores organizacionais elaborada nesta dissertação pretende ser um modelo

genérico, ou seja, seus aspectos podem ser considerados independentemente das

especificidades das empresas de software.

1.5 Metodologia

Conforme Gil (1996) é usual a classificação das pesquisas com base em seus

objetivos gerais, sendo possível identificar três grupos: estudos exploratórios,

descritivos e explicativos.

Em relação aos objetivos, a presente dissertação situa-se na categoria de

pesquisa exploratória, devido ao assunto ser pouco explorado na literatura. Quanto à

forma de abordagem, a pesquisa tem caráter qualitativo, que se justifica por ser a forma

adequada para entender a natureza de um fenômeno social, sobretudo em relação ao

entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. As informações

são obtidas por meio de revisão bibliográfica e experimentadas através de entrevistas e

questionários aplicados na empresa de software selecionada para este estudo.

Page 22: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

21

1.6 Estrutura do Trabalho

O trabalho está dividido em 6 partes.

No primeiro capítulo é apresentado o tema da pesquisa, a sua limitação, a

caracterização do problema, os objetivos gerais e específicos, a justificativa e a estrutura

do trabalho.

O segundo capítulo é dedicado ao método de desenvolvimento de software XP,

abordando suas características e princípios, sobretudo no que diz respeito a suas práticas

e valores.

No terceiro capítulo aborda-se a cultura e a estrutura organizacional, sendo

apresentada a definição, a caracterização e as diversas dimensões de cada um destes

fatores organizacionais.

No quarto capítulo são analisadas as dimensões da cultura e da estrutura

organizacional sob a perspectiva das práticas e valores XP, a fim de se identificar

aspectos culturais e estruturais favoráveis ou desfavoráveis à adoção do método. Essa

análise possibilita a elaboração da lista de verificação da adequação dos fatores

organizacionais.

No quinto capítulo é apresentada uma aplicação da lista de verificação em uma

empresa de desenvolvimento de software da grande Florianópolis, identificada como

“Empresa X”.

O estudo finaliza com o sexto capítulo, em que se apresenta a conclusão da

pesquisa.

Page 23: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

22

2. EXTREME PROGRAMMING – XP

2.1 Os Métodos Ágeis e a XP

Introduzindo uma abordagem diferenciada das técnicas tradicionais de

desenvolvimento de software, os métodos ágeis procuram superar problemas verificados

em projetos de desenvolvimento como código de baixa qualidade, necessidade de

entregas freqüentes de software funcional e a saída de membros da equipe que possuem

conhecimento exclusivo sobre os processos elaborados.

Fowler (2000) destaca que os métodos ágeis também representam uma reação a

modelos extremamente conceituais e a metodologias “monumentais”, as quais são

consideradas burocráticas devido à quantidade de material a ser produzido, o que causa

diminuição na velocidade do desenvolvimento. Os métodos ágeis tentam estabelecer um

compromisso útil entre não ter um processo e ter um processo complexo demais.

Os valores adotados pelos métodos ágeis são os determinados pela Agile

Alliance (2001), sendo: indivíduos e interações valem mais que processos e ferramentas;

software funcionando vale mais que documentação extensa; colaboração do cliente vale

mais que negociação de contrato; responder a mudanças vale mais que seguir um plano.

Os membros da Agile Alliance, no seu manifesto ágil, também definiram um

conjunto de 12 princípios considerados diretrizes gerais para o sucesso de um projeto de

desenvolvimento ágil de software. Esses princípios são (ALVIM, 2002):

1) A prioridade é a satisfação do cliente através da liberação mais rápida e

contínua de software de valor;

2) Receber bem mudanças de requisitos, mesmo em estágios avançados de

desenvolvimento. Os processos ágeis devem admitir mudanças que trazem vantagens

competitivas para o cliente;

Page 24: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

23

3) Entregar software com freqüência de duas semanas até dois meses, de

preferência na menor escala de tempo;

4) Manter as pessoas de negócio e os desenvolvedores trabalhando juntos a

maior parte do tempo;

5) Construir projetos com indivíduos motivados, dando-lhes um ambiente de

suporte que necessitam e confiar neles para realizar o trabalho;

6) O método mais eficiente de repassar as informações para a equipe de

desenvolvimento é a conversa face a face;

7) Software funcionando é a principal medida de progresso;

8) Processos ágeis promovem desenvolvimento sustentável. Os patrocinadores,

desenvolvedores e usuários devem ser capazes de manter conversação pacífica

indefinidamente;

9) Atenção contínua para a excelência técnica e um bom projeto aprimora a

agilidade;

10) É essencial adotar sempre a solução mais simples possível;

11) As melhores arquiteturas, requisitos e projetos emergem de equipes auto-

organizadas;

12) Em intervalos regulares, as equipes devem refletir sobre como se tornarem

mais efetivas, e então refinarem e ajustarem seu comportamento.

Um dos métodos ágeis que vêm despertando interesse e conquistando vários

adeptos é a denominada Extreme Programming, ou simplesmente XP, a qual teve início

em 1996, por meio de seu mentor Kent Beck, que buscava melhores formas para

desenvolver software.

Em meados da década de 90 Kent Beck foi contratado pela Multinacional

Chrysler para trabalhar no projeto de um sistema para a folha de pagamento da empresa,

denominado C3. O desenvolvimento do sistema também deveria servir como forma de

Page 25: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

24

capacitação dos desenvolvedores de software em tecnologias orientadas a objetos.

Nesse projeto Beck teve a oportunidade de realizar quase todas as práticas que mais

tarde formaram o método de desenvolvimento de software XP (LARMAN, 2003).

O termo “extreme” (extremo) enfatiza o uso extremo de práticas que se mostram

funcionais, como revisão de código, testes, simplicidade e ciclos curtos e iterativos

(BECK, 2004).

Segundo Beck (2004), a XP é um método leve e flexível para ser utilizado por

equipes de tamanho pequeno a médio que desenvolvem software com requisitos vagos.

Esse método enfatiza o rápido desenvolvimento do projeto e visa a satisfação do cliente,

estando fundamentado em valores e práticas que são complementares umas as outras.

Beck (2004) distingue a XP de outras metodologias por:

a) apresentar feedback contínuo e concreto em ciclos curtos de

desenvolvimento de software;

b) abordar planejamento incremental, apresentando rapidamente um plano

global que evolui durante o ciclo de vida do projeto;

c) possuir habilidade flexível de programar implementação de funcionalidades,

respondendo às mudanças de regras do negócio;

d) confiar nos testes automatizados escritos pelos programadores e clientes para

monitorar o progresso do desenvolvimento, permitindo a evolução do sistema e

detectando antecipadamente os problemas;

e) acreditar na comunicação oral, na colaboração íntima dos programadores,

nos testes e no código fonte, definindo uma estrutura do sistema e os objetivos;

f) confiar no processo de evolução do projeto, que subsiste tanto quanto o

sistema.

Apesar de a XP ser um dos métodos ágeis bastante difundidos, a mesma também

é um dos métodos mais polêmicos, por possuir propostas consideradas radicais frente às

Page 26: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

25

premissas dos métodos tradicionais de desenvolvimento de software. A seguir são

apresentados os princípios e regras que caracterizam o método XP.

2.2 Papéis da Equipe XP

Beck (2004) define alguns papéis que precisam ser preenchidos para que uma

equipe funcione de acordo com a filosofia XP, são eles:

a) Programador:

O programador é a pessoa que analisa, projeta, codifica e testa o sistema, pois

durante a execução do método XP não existem divisões claras para as atividades de

analista, projetista e programador.

Nesta dissertação dá-se preferência ao termo “desenvolvedor” para se referir às

pessoas diretamente envolvidas com atividades do desenvolvimento de software, como

análise, design, programação e testes (com exceção do cliente).

O desenvolvedor do método XP possui diferentes responsabilidades, entre elas

estão tarefas como: estimar prazos das histórias dos clientes; definir e estimar cartões de

tarefas a partir das histórias; implementar testes unitários (deve ser feito antes do

código); implementar o código de produção; desenvolver software em par; efetuar

refatoração sempre que necessário; solicitar ao cliente que esclareça ou divida histórias

quando necessário.

b) Cliente:

No método XP é fundamental a participação do cliente no projeto, para Beck

(2004) o programador sabe programar e o cliente sabe o que deve ser programado.

O cliente ideal para a XP participa como um membro da equipe, e, se possível,

com disponibilidade integral para realizar tarefas como: definir o que o sistema deve

fazer (requisitos do sistema que são repassados para os cartões de histórias); escrever

Page 27: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

26

testes de aceitação; definir o que deve ser implementado primeiro (prioridades para os

cartões de história); validar e definir os testes de aceitação sempre que solicitado;

esclarecer dúvidas.

Um dos problemas freqüentes em projetos XP é a não disponibilidade do cliente

para estar presente durante o desenvolvimento do software. Nesta situação, alguém com

conhecimento do domínio deve realizar o papel do cliente e gerar as histórias, podendo

ser, inclusive, um dos membros da equipe de desenvolvimento.

c) Analista de testes:

Na XP o papel de analista de teste é geralmente desempenhado pelo próprio

programador. O analista de testes é responsável por ajudar o cliente a definir os testes

do projeto, escrever e executar os testes de aceitação e também executar os testes de

unidades.

d) Treinador:

O treinador é representado por uma pessoa com conhecimentos sólidos no

método XP. Um dos programadores da equipe também pode desempenhar o papel de

treinador. As principais tarefas do treinador são manter a equipe focada nas práticas XP,

buscar formas de melhorar o processo e re-encaminhar a equipe quando a mesma estiver

se desviando das práticas e valores XP.

e) Gerente de projeto:

Na literatura o gerente de projeto é também identificado pelo termo Big Boss

(grande chefe). É responsável pelos assuntos administrativos do projeto como gerenciar

a equipe, agendar e coordenar reuniões de planejamento e angariar recursos com os

responsáveis pelas finanças. Além disso, administra o relacionamento com o cliente,

assegurando que o mesmo participe ativamente do desenvolvimento e forneça

informações essenciais para que a equipe possa implementar o sistema desejado.

Page 28: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

27

f) Diretoria da empresa:

Identificado na literatura pelo termo Gold Owner (proprietário do ouro), este

papel pode ser identificado na figura dos dirigentes da empresa e/ou investidores de um

determinado projeto.

Os proprietários do ouro são os provedores de recursos para o projeto. Os

recursos podem configurar-se na remuneração das pessoas envolvidas, nas instalações,

nos equipamentos e nas demais necessidades para o andamento do projeto (JEFFRIES,

2001).

2.3 Valores do Método XP

A filosofia de trabalho da XP está fundamentada em 4 valores que viabilizam

um conjunto de práticas do referido método. Esses valores são:

a) Comunicação:

A XP pressupõe que a maioria dos problemas em projetos de software ocorre por

dificuldades na comunicação (LARMAN, 2003). A comunicação intensa e facilitada

necessária na XP pretende evitar problemas comuns em projetos de software - como

compreensão errada ou incompleta dos requisitos do cliente - e fornecer segurança e

coragem para a tomada de decisões sobre alterações no rumo do projeto.

A proximidade entre as pessoas é fundamental para que o valor XP comunicação

se configure e para que o método possa ser executado de forma satisfatória. Wuestefeld

(2001) sintetiza a importância que deve ser dada à comunicação na XP por meio da

seguinte consideração: deve-se preferir sala de discussão (chat) a correio (e-mail),

telefonemas a chat, conversar pessoalmente a telefonemas, trabalhar na mesma sala a ter

salas isoladas, trabalhar em conjunto a revisar o resultado final.

Page 29: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

28

b) Simplicidade:

Em um processo ágil como a XP onde a comunicação e o feedback são intensos,

torna-se fundamental que as ações de cada membro sejam suficientemente simples,

facilitando assim, ajustes e adaptações. Deve-se projetar e codificar o que realmente é

necessário para o momento, a fim de se evitar que uma codificação seja feita e depois se

descubra que não há mais motivo para realizá-la.

É possível classificar um projeto como sendo simples se o mesmo contiver as

seguintes características: executar todos os testes, revelar todas as intenções, não

envolver duplicação e contiver o menor número de classes ou métodos (BECK, 2004).

Segundo Beck (2004), a simplicidade em projetos XP sugere que sejam

implementados apenas os requisitos fornecidos pelo cliente, isto implica em codificar

uma funcionalidade que trate apenas do determinado requisito, sem a preocupação com

uma estrutura genérica para futuras modificações. É preciso que a equipe esteja

consciente que deverá modificar o código, se necessário no futuro.

c) Feedback:

Para Teles (2004) a XP procura romper com o modelo mental tradicional de

desenvolvimento de software que apresenta uma forte divisão entre produção e

consumo. Na XP o cliente e a equipe atuam como produtor e consumidor

permanentemente, isto ocorre por meio de constante feedback .

No método XP, o feedback do cliente ocorre quando ele fornece novas

informações e requisitos do software para a equipe – desempenhando o papel de

produtor. Também ocorre o feedback quando ele desempenha o papel de consumidor,

utilizando o modulo funcional do sistema que lhe foi entregue pela equipe e retornando

seu parecer. A equipe fornece feedback ao cliente, retornando estimativas, apontando

riscos técnicos, sugerindo alternativas de design, entre outras (TELES, 2004).

Em relação à importância de manter o feedback em projetos de software,

Wuestefeld (2001) afirma que todo problema deve ser evidenciado o mais cedo possível

Page 30: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

29

para que possa ser corrigido o mais cedo possível. Isto significa coletar a opinião do

cliente sobre o que foi feito o mais cedo possível.

d) Coragem:

A XP é um processo fundamentado em diversas premissas que contrariam os

processos tradicionais de desenvolvimento, portanto é preciso coragem para mudar

conceitos e valores dos membros do projeto.

Conforme Teles (2004), a adoção da XP exige que a equipe de desenvolvimento

tenha coragem para: desenvolver software de forma incremental; manter o sistema

simples; permitir ao cliente priorizar funcionalidades; incentivar os desenvolvedores a

trabalhar em par; investir tempo em refatoração; investir tempo em testes

automatizados; estimar as histórias na presença do cliente; expor código a todos os

membros da equipe; integrar o sistema diversas vezes ao dia; adotar um ritmo

sustentável; abrir mão de documentação; propor contratos de escopo variável; propor a

adoção de um processo novo.

2.4 Práticas do Método XP

Conforme Beck (2004), as práticas que compõem o método XP são:

2.4.1 Jogo de Planejamento

Certo grau de planejamento é requerido pela XP, mas o diferencial deste método

encontra-se em quanto tempo a equipe deve dedicar-se a esta tarefa, neste caso o

planejamento deve ser mínimo e a curto prazo. Segundo Jeffries (2001), a ênfase está

em guiar o projeto, ao invés de determinar exatamente o que será necessário e o tempo

que levará.

Um projeto XP é dividido em períodos de tempos denominados releases, por

exemplo, um projeto de oito meses pode ser dividido em 4 entregas de 2 meses,

Page 31: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

30

seguindo um processo de desenvolvimento iterativo e incremental. Cada release

representa um determinado período de tempo estimado para entregar uma parte do

software para o cliente.

Dentro de cada release são estipuladas algumas iterações, que são espaços de

tempo menores que servem para definir quais histórias do usuário serão codificadas e,

então, executar o trabalho que foi definido.

No início de cada release e de cada iteração ocorre o jogo de planejamento, que

se trata de uma reunião em que o cliente e os desenvolvedores avaliam o que será

codificado naquele determinado período de tempo (release ou iteração) e priorizam as

funcionalidades que deverão compor o próximo release ou iteração. As funcionalidades

são escritas em pequenos cartões, sendo chamadas de histórias.

Assim, o jogo de planejamento pode ocorrer em uma reunião, cujo tempo varia

conforme o tamanho e a complexidade do release ou iteração.

2.4.2 Reuniões em Pé

Devem ser realizadas reuniões no início de cada manhã, ocasião em que os

desenvolvedores descrevem o que fizeram no dia anterior e o que pretendem fazer

durante o dia que está iniciando. Mas essas reuniões não servem para discussões

detalhadas, as quais devem ser realizadas em particular, somente com as partes

envolvidas.

2.4.3 Releases

Conforme mencionado ao descrever-se o jogo de planejamento, os projetos XP

são caracterizados por releases e iterações. Os releases constituem entregas de software

funcional ao cliente no decorrer do projeto. Assim, há mais probabilidade de que os

requisitos do cliente sejam todos satisfeitos e ele não precisa esperar o final do projeto

para receber o software de uma única vez. Durante os releases os clientes podem sugerir

alterações nas funcionalidades requeridas e realizar feedback.

Já as iterações são curtos períodos de tempo em que a equipe implementa um

conjunto de funcionalidades acordado com o cliente objetivando um release. O

Page 32: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

31

intervalo entre a distribuição dos releases deve ser o menor possível, geralmente entre

um a três meses.

2.4.4 Metáforas

A metáfora constitui uma forma de representação das informações para que o

cliente possa entender os requisitos mais facilmente. Geralmente se utiliza de um

exemplo ou uma comparação com algo que esteja presente na realidade do cliente para

descrever uma determinada situação do sistema. As metáforas podem ser utilizadas

tanto com o cliente como entre a equipe de desenvolvimento (FOWLER, 1999).

2.4.5 Projeto Simples

O sistema deve ser projetado o mais simples possível, satisfazendo apenas os

requisitos atuais. Esta prática vai contra o modelo tradicional de um projeto

generalizado, em que se projeta todo o sistema para só então iniciar a codificação. Beck

(2004) sugere que um projeto XP seja simples o suficiente para implementar apenas as

tarefas das histórias em que se está trabalhando, sem se preocupar com implementações

futuras.

Na XP é muito importante um projeto apropriado. Para Wells (2002), um projeto

simples requer menos tempo para terminar que um projeto complexo. Assim, deve-se

fazer um projeto simples e suficiente para se trabalhar.

2.4.6 Testes

Todo o processo do método XP é orientado a testes, já que a equipe se concentra

na validação do software durante todo o processo. A proposta de Beck (2004) é

desenvolver software com contínuos testes e feedback, permitindo aos programadores

identificar erros em curtos períodos de tempo e evitar que os mesmos problemas se

repitam.

A XP utiliza dois tipos de testes que devem ser escritos antes do código ser

construído: testes de unidades e testes de aceitação. Antes de implementar as classes do

sistema o programador primeiramente escreve testes de unidade, que são realizados em

cada classe do sistema, para verificar se os resultados gerados estão corretos.

Page 33: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

32

As histórias e funcionalidades devem ser implementadas depois de passarem

pelos testes de aceitação escritos pelo cliente (geralmente os testes de aceitação são

escritos por meio dos cartões de histórias). Os testes deverão ser automatizados, de

modo que possam ser executados uma infinidade de vezes ao longo do

desenvolvimento. Assim, é possível verificar não apenas uma classe em particular, mas

a iteração entre um conjunto de classes que implementam uma dada funcionalidade.

Wells (2002), destacando a importância dos testes na XP, afirma que os testes de

unidade proporcionam a economia de custo ao identificar os erros. Desta forma, um

conjunto de testes de unidade deve estar disponível no início do projeto e não no final.

Os testes de aceitação, por sua vez, constituem a primeira indicação de que as histórias

dos clientes são válidas (ASTELS, 2002).

Os testes garantem que o código desenvolvido não apresenta falhas. Quando os

testes são realizados tem-se a certeza de que o código produzido está atendendo os

requisitos e pode-se iniciar o desenvolvimento de outro código, integrando o código já

testado e aprovado ao release.

2.4.7 Refatoração

Conforme Fowler (1999), “refatoração é o processo de alterar o sistema de

software de tal forma que ele não altere o comportamento externo do código e melhore

sua estrutura interna. Essa é uma forma disciplinada de limpar o código que minimiza as

chances de erros”. A refatoração também permite evitar o remover duplicação de

código, por exemplo, a verificação uma consulta em sistema que deva ser implementada

de forma centralizada em um único lugar em todo o código. Eliminando a duplicação de

código, o design torna-se limpo e reutilizável.

Na XP procura-se aperfeiçoar o projeto do sistema por meio de transformações

no código, o qual é constantemente testado e revisado. Wuestefeld (2001) afirma que se

deve realizar refatoração onde for possível e sempre que possível.

Para Astels (2002), a refatoração deve ser feito em pequenas etapas. Após cada

uma delas, deve-se verificar se o comportamento continua inalterado, caso tenha sido

Page 34: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

33

introduzido algum erro será fácil de identificá-lo, pois foram feitas pequenas alterações

desde a última versão funcional.

2.4.8 Programação pareada

A programação pareada constitui uma técnica em que dois desenvolvedores

compartilham o mesmo computador, desenvolvendo software de forma colaborativa. Os

desenvolvedores trocam informações, sugerindo o interesse em fazer algum código

específico de forma que os colegas que tenham interesse em comum formam um par.

Mas os pares não devem ser sempre os mesmos, devendo ocorrer revezamento para

aproximar todo o grupo e disseminar as informações sobre o processo (BECK, 2004).

É necessário também que haja um revezamento do controle do mouse e do

teclado, e que o programador que não está digitando faça sugestões de alterações

quando achar necessário, assim todo o código produzido é revisado pelo outro

programador (JEFFRIES, 2001). É importante que ambos os programadores evitem que

as sugestões se tornem discussões.

A prática de programação pareada é bastante discutida, com argumentações

contra e a favor, porém para efetivar esta prática dois requisitos básicos são necessários:

um ambiente físico apropriado para dois desenvolvedores se colocarem em frente à

estação de trabalho e um bom relacionamento entre os membros da equipe.

Para Williams (2000) o código produzido por dois programadores

desenvolvendo em par é mais revisado e de melhor qualidade, a velocidade de

programação é semelhante a de um programador isolado. Williams ainda faz outras

considerações referentes à programação pareada:

a) Revisões contínuas: a técnica de programação pareada consiste em estar

sempre projetando e revisando código, conduzindo a taxas de remoção de defeito mais

eficientes. Conforme Williams, os programadores admitem trabalhar de forma mais

intensa e inteligente porque eles não querem decepcionar seus colegas;

b) Resolução de problemas: constantemente os participantes recorrem à

habilidade da equipe para resolver problemas mais rapidamente;

Page 35: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

34

c) Aprendizado: os pares de programadores afirmam que aprendem um com o

outro;

d) Equipe construindo e se comunicando: as pessoas aprendem a discutir e a

trabalhar juntas, melhorando a comunicação e a efetividade da equipe;

e) Gerência da equipe e do projeto: Considerando que múltiplas pessoas estão

familiarizadas com cada parte do código, a programação pareada reduz os riscos na

perda de pessoal.

2.4.9 Integração Contínua

Diversas vezes ao dia são atualizadas e integradas novas versões ao sistema.

Assim, sempre que um código é gerado e testado o máximo possível ele é adicionado ao

projeto, de forma que a todo o momento uma nova tarefa é completada. Após a

integração do código ao projeto maior, ocorrem novos testes para verificar se a

integração alterou algo que já estava funcionado.

Astels (2002) caracteriza a integração contínua no método XP como um

processo de tomar as alterações dos membros da equipe, juntá-las e em seguida corrigir

todos os erros que ocorrem quando o trabalho de um membro entra em conflito com o

trabalho de outro. O resultado esperado é uma construção funcional.

A integração deve ser realizada ao menos uma vez ao dia, mas o ideal é que a

cada tarefa concluída seja realizada integração (BECK, 2004).

2.4.10 Propriedade Coletiva

Em projetos de software é comum dividir as tarefas em partes diferentes para

cada desenvolvedor, ou seja, cada desenvolvedor é responsável por uma determinada

quantidade de código. Segundo Teles (2004), neste caso podem ocorrer problemas

quando apenas um membro da equipe detém o conhecimento sobre determinada parte

do sistema, pois a equipe fica atrelada a sua presença para alterar seu código e a

documentação gerada por ele muitas vezes pode não ser atualizada.

Page 36: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

35

Para que o método XP possa impor seu ritmo todos os membros da equipe

devem fazer alterações em qualquer parte do código quando necessário. A equipe XP

como um todo é responsável por cada arquivo de código (WUESTEFELD, 2001).

Ou seja, o código pertence a toda a equipe, sendo que qualquer um pode alterá-

lo, a qualquer momento, independentemente de quem o tenha escrito. Contudo, para que

todos possam alterar o código, os testes de unidade devem ser bem elaborados,

permitindo segurança aos desenvolvedores.

Além disso, com a prática Código Coletivo todos os membros da equipe devem

conhecer todas as partes do sistema, mesmo que com diferentes níveis de conhecimento,

assim qualquer um está habilitado a modificar e melhorar o código, desde que este seja

mantido funcional.

2.4.11 Ritmo Sustentável

Trabalhadores exaustos e/ou estressados podem cometer mais erros e não

alcançar o máximo de seu desempenho. O método XP recomenda trabalhar

intensamente apenas no horário estipulado, de preferência 40 horas semanais, e

descansar no tempo restante. Neste caso, é fundamental um bom planejamento a fim de

se evitar a necessidade de trabalhar além das horas normais e ficar sob pressão.

2.4.12 Cliente Presente

O cliente ou um representante do mesmo deve se tornar um membro efetivo da

equipe XP, determinando requisitos, realizando testes de aceitação e respondendo as

dúvidas. Na XP os clientes não devem ser vistos como simples usuários do sistema, mas

devem interagir durante o processo de desenvolvimento.

Para Wuestefeld (2001) a principal vantagem em se ter o cliente sempre presente

é que ele poderá fornecer detalhes do sistema quando surgirem dúvidas. Deve-se

considerar que quando os programadores estão implementando uma funcionalidade

realmente surgem muitas dúvidas e, se o cliente estiver presente, as mesmas podem ser

prontamente esclarecidas.

Page 37: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

36

O cliente deve conduzir o desenvolvimento a partir do feedback que recebe do

sistema e para que a troca de feedback possa ocorrer e o cliente possa obter o máximo

de valor do projeto é essencial que o mesmo participe ativamente do processo de

desenvolvimento de software (TELES, 2004).

Caso não seja possível obter a presença do cliente, deve existir alguém que tenha

conhecimento do domínio para realizar o papel de cliente e gerar as histórias, podendo

ser alguém da própria equipe de desenvolvimento.

McBreen (2002) sublinha os benefícios de ter o cliente sempre presente,

afirmando que desta forma é possível reduzir o risco de os desenvolvedores entenderem

mal o negócio, além disso, estes podem receber rapidamente feedback do cliente sobre

possíveis mudanças.

Entretanto, McBreen (2002) comenta que mesmo com o acompanhamento de

um analista de sistemas, a pessoa que representa o cliente deve possuir sólidos

conhecimentos sobre o domínio da aplicação e autoridade suficiente para tomar

decisões rápidas sobre a direção global do projeto.

2.4.13 Padrões de Programação

Os desenvolvedores devem escrever o código da mesma forma, respeitando as

regras que enfatizam comunicação através de código. Conforme Astels (2002) salienta,

é possível programar em par porque os parceiros trabalham no mesmo formato; todos

podem ter a propriedade do código porque todos escrevem o código no mesmo estilo; o

refactoring é possível porque todos entendem o formato do código; pode-se trabalhar de

forma ágil porque não precisa reformatar o código durante o trabalho.

Jeffries (2001) afirma que as particularidades do código não são importantes, o

que é importante é que todo o código deve parecer familiar.

Page 38: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

37

2.5 Ciclo de Vida do Método XP

O ciclo de vida do método XP consiste em seis fases: Exploração, Planejamento,

Iteração, Produção, Manutenção e Fase Final. Cada uma destas fases possui práticas

distintas que devem ser executadas de forma a validar a passagem para a próxima fase.

Os tópicos a seguir detalham estas fases.

a) Exploração:

De acordo com Wake (2002) a fase de exploração é o momento em que se

obtém a visão geral do sistema a ser desenvolvido e se começa a estimar a partir deste

conhecimento. Esta fase inicia com a participação do cliente criando histórias em

pequenos cartões (suficientes para a primeira iteração), que são utilizados para definir

um escopo inicial do sistema e devem compor o primeiro release (ABRAHAMSSON,

2002).

O programador estima o tempo e as dificuldades para implementar as histórias.

Isso ocorre consecutivamente até que todas as histórias requeridas para a fase do

planejamento estejam estimadas (WAKE, 2002).

Uma atividade inicial da fase de exploração consiste na equipe de

desenvolvimento eleger, configurar e testar as ferramentas que serão usadas no projeto.

Enquanto a equipe estiver treinando com a tecnologia, o cliente está praticando a escrita

de histórias (BECK, 2004).

b) Planejamento:

Após a fase de exploração inicia-se a fase de planejamento, nela ocorre o jogo de

planejamento, cujo propósito é que a equipe e o cliente definam uma data de entrega de

um conjunto de histórias a ser implementado, ou seja, o final do release. Segundo Beck

(2004), esse planejamento gera um cronograma de comprometimento definido de

acordo com estimativas entre cliente e desenvolvedores.

Page 39: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

38

O jogo de planejamento é um exercício cooperativo de determinação de

prioridades (ASTELS, 2002). Nessa fase, o jogo de planejamento permite ao cliente

definir quais são as histórias vitais que devem fazer parte da primeira versão. Os

desenvolvedores devem utilizar sua experiência para estimar o tempo necessário para

implementar as histórias.

Os desenvolvedores escolhem as histórias que irão implementar a cada dia de

trabalho. Porém, existem casos em que o cliente formula histórias maiores que o

tamanho usual e os cartões acabam representando histórias que consomem mais tempo

para a implementação. Nestes casos, é comum dividir-se o conteúdo do cartão em

tarefas menores, assim, cada desenvolvedor escolhe a tarefa que irá implementar

(WAKE, 2002).

c) Iteração:

Conforme já mencionado, no método XP mesmo que as entregas sejam

realizadas em freqüentes períodos de tempo elas são divididas por um determinado

número de iterações. Uma iteração é basicamente um espaço de tempo dedicado ao

desenvolvimento do software, incluindo modelagem, programação, teste e integração.

A primeira iteração é especial no método XP porque define a arquitetura do

sistema a partir do qual todas as outras serão criadas. A entrega de uma primeira versão

central do sistema é um marco importante, pois ela pode provar para o cliente que a XP

funciona e ao mesmo tempo isto aumenta a motivação da equipe, que passa a acreditar

mais no trabalho (ASTELS, 2002).

Beck (2004) lembra que para cada história executada em uma iteração é

produzido um conjunto de testes funcionais, assim do final de cada iteração o cliente

terá completado a execução de todos os testes funcionais e no final da última iteração o

sistema estará pronto para entrar em produção.

Page 40: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

39

d) Produção:

A fase de produção do sistema pode iniciar quando o ciclo de feedback é

encerrado, ou seja, no final de uma versão.

Ambler (2004) afirma que a fase de produção deve representar a garantia de que

o software esteja pronto para entrar em produção. Nesta fase intensificam-se os testes de

sistema, de carga e de instalação a fim de se avaliar se o software realmente está pronto

para ser e entregue ao cliente (BECK, 2004).

e) Manutenção:

A fase de manutenção é o estado normal de um projeto XP. Nesta fase deve-se

produzir novas funcionalidades, manter o sistema existente funcional, e fazer ajustes na

equipe de desenvolvimento, caso seja necessário, como substituir e incorporar novos

membros no projeto (BECK, 2004).

Desta forma, na fase de manutenção pode-se tentar fazer refactoring maiores,

testar novas tecnologias que podem ser incorporadas nas próximas versões e até mudar

a tecnologia que se está usando, além disso, o cliente pode escrever novas histórias.

Depois que o primeiro release é produzido para o uso do cliente, o projeto XP

deve manter o sistema de produção executando enquanto produz novas iterações. Para

fazer isto, a fase de manutenção requer o esforço do cliente para ajudar nas tarefas.

f) Fim do Projeto:

A XP recomenda que quando o cliente e a equipe perceberem a inexistência de

novas histórias para produzir presume-se que as funcionalidades requeridas foram todas

implementadas e é chegada a hora de finalizar o projeto (BECK, 2004).

Durante essa fase é importante documentar, de forma não muito intensa, a

funcionalidade do sistema, como uma garantia de que existirá uma referência para

futuras alterações no sistema (BECK, 2004).

Page 41: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

40

Beck (2004) recomenda que no final do projeto é interessante que a equipe se

reúna para reavaliação do projeto. Nesta reunião se faz o levantamento de que aspectos

positivos e negativos servirão como experiência para projetos futuros.

A figura 1 demonstra um exemplo das fases do ciclo de vida de um projeto XP.

Exploração Atualizações freqüentes

Histórias

Planejamento

Histórias para o

próximo release

Propriedades

Estimativas de esforço

Iteração

Programação pareada

Análise Planejamento

para testes Design Testes

Produção

Release

Manutenção

Atualização do

release

Final

Release

final

Figura 1: Ciclo de vida XP. Adaptado de Abrahamsson (2002).

2.6 A Sinergia das Práticas XP

Para Abrahamsson (2003) grande parte da XP é formada por práticas já

conhecidas da engenharia de software, mas no método XP as práticas são alinhadas e

agrupadas de forma a se interligarem umas as outras, conforme demonstra a figura 2.

Testes

Feedback

Código coletivo

Integração contínua

Aprovação do cliente

Revisão continua

Page 42: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

41

Figura 2: A interligação das práticas XP. Adaptado de Beck (2004).

Beck (2004) ressalta que as práticas apóiam-se umas nas outras. A seguir são

relatadas algumas das interligações possíveis entre as práticas XP que permitem que os

pontos fracos de algumas práticas sejam compensados pelos pontos fortes de outras

(BECK, 2004):

a) Jogo do Planejamento: Além de definir as histórias da primeira iteração a

equipe XP deve usar o jogo de planejamento para definir uma estrutura básica do

sistema, mesmo sabendo que esta será incrementalmente modificada. Durante o jogo de

planejamento o cliente, reunido com a equipe, avalia as funcionalidades que devem ser

implementadas e prioriza aquelas que farão parte do próximo release e da próxima

iteração.

b) Releases: Esta prática relaciona-se com a prática Jogo de Planejamento, que

define as prioridades das histórias que deverão ser implementadas; com a prática

Integração Contínua, que minimiza o custo de empacotar uma versão, e com os testes,

que reduzem a taxa de erros.

Metáfora

Código coletivo

Cliente sempre presente

Jogo de planejamento

Integração continua

Ritmo sustentável

Design simples

Refactoring

Programação em par

Código padronizado

Desenvolvimento guiado por testes

Entregas

Page 43: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

42

c) Metáfora: As metáforas representam uma linguagem mais simples e

acessível ao cliente, sendo que o grau de sucesso ao serem transformadas em código

funcional dependerá de práticas como feedback do código e testes para verificar se a

metáfora funciona na prática.

d) Design Simples: Na Programação pareada, a comunicação entre os

desenvolvedores deve gerar confiança para que se tome a decisão mais simples, porém

coerente. A prática refactoring, com o tempo, também deve gerar maior confiança para

a simplificação do projeto.

e) Integração Contínua: A viabilidade da integração contínua está associada a

práticas como a programação pareada (reduzindo o número de modificações que devem

ser integradas); à prática de testes (valida a metáfora); e à prática de refactoring (divide

o código em partes menores e mais fáceis de identificar possíveis erros).

f) Propriedade Coletiva: A prática da propriedade coletiva do código também

necessita de outras práticas XP para viabilizá-la, como: integração contínua (integrando

a mudanças em um período de tempo relativamente curto, os conflitos deverão ser de

menor impacto); testes (diminui as chances de prejudicar a funcionalidade do código

acidentalmente); programação pareada (diálogo e revisão entre a dupla podem diminuir

a probabilidade de ocorrer alterações que prejudiquem a funcionalidade do código);

padrões de programação (facilita a compreensão do código por toda a equipe).

g) Padrão de Programação: É imprescindível que a equipe esteja disposta a

seguir um padrão de programação, sendo que diversas práticas XP dependem

diretamente dela para terem sucesso, como a programação pareada, propriedade coletiva

e refactoring.

Beck (2004) ressalta que com exceção da prática de testes, as demais práticas

XP podem não fazer muito sentido ou não funcionarem bem sozinhas, requerendo

outras práticas para manterem-se equilibradas.

Page 44: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

43

2.7 XP e os Métodos Tradicionais de Desenvolvimento de Software

Para se ter noção das inovações propostas pelo método XP, Wege (2001) realiza

uma comparação entre aspectos presentes nos métodos tradicionais de desenvolvimento

de software e os aspectos do método XP, conforme a tabela 1.

Métodos Tradicionais Método XP

Contatos limitados com o cliente Cliente dedicado à equipe

Design amplo e centralizado Design aberto e evolutivo

Projetar para funcionalidades futuras Projetar apenas os requisitos atuais

Implementação complexa Simplicidade radical

Desenvolvedores programando de forma isolada

Programação pareada

Tarefas determinadas Tarefas a serem determinadas

Poucas e grandes integrações de código Pequenas e contínuas integrações de código

Receio Agressividade

Ambiente de testes ad hoc Testes de unidade e testes de aceitação

Comunicação limitada e de cima para baixo Intensa comunicação

Tabela 1: Método Tradicional versus XP. Adaptado de Wege (2001).

Conforme se infere da tabela acima, a XP consiste numa série de práticas e

regras que se opõem às premissas adotadas pelos métodos tradicionais de engenharia de

software, baseando-se na integração permanente entre a equipe de desenvolvimento e o

cliente.

O método XP pressupõe a presença do cliente como um membro efetivo do

processo de desenvolvimento ao invés de manter apenas contatos esporádicos. A

presença do cliente no ambiente de desenvolvimento viabiliza o feedback constante com

Page 45: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

44

a equipe e permite a especificação dos requisitos do software, os quais são projetados

apenas para determinadas funcionalidades. Estas funcionalidades serão implementadas

em um período de tempo e modificadas conforme a necessidade, ao contrário do

habitual planejamento inicial e completo de todo o sistema.

O método XP exige desenvolvedores de software programando em par, sendo

que estes também devem possuir autonomia para escolher junto com o cliente quais as

prioridades a serem codificadas e para adotar a solução mais simples para suas tarefas.

A evolução do projeto é garantida por um rigoroso sistema de testes (inclusive

com a participação do cliente) e várias integrações de código durante o dia de trabalho.

Os desenvolvedores devem desenvolver o software com simplicidade e manter

comunicação intensa, a fim de que todos estejam informados sobre o trabalho dos

colegas.

2.8 Adoção do Método XP

Rumpe (2002), ao realizar pesquisas em empresas produtoras de software que

utilizaram o método XP em seus projetos, constatou diferentes aspectos relacionados à

adaptação ao método. Entre os aspectos averiguados encontra-se o grau de dificuldade

sentido pelas equipes em relação à realização das práticas XP, bem como seu índice de

adoção - conforme pode ser visto na figura 3.

Page 46: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

45

Figura 3: Dificuldades na aplicação de práticas e valores XP. Adaptado de Rumpe (2002).

As pesquisas de Rumpe (2002) demonstram que o uso de metáforas para

expressar as funcionalidades do projeto é a prática XP que as equipes mais encontraram

dificuldade de realizar. Quanto à participação permanente do cliente como um membro

efetivo da equipe, as respostas dos entrevistados dividiram-se entre as seguintes

afirmações (RUMPE, 2002):

a) É difícil convencer o cliente a participar efetivamente do projeto;

b) O cliente geralmente está muito ocupado com preocupações do próprio

negócio;

c) Alguns acreditam que não é necessária a participação do cliente o tempo

todo no projeto;

d) O cliente não está capacitado para escrever histórias.

2,2%

27,4%

4,4%

6,7%

15,6%

15,6%

20,0%

20,0%

31,1%

66,7%

68,9%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Integração Continua

Código Compartilhado

Releases Curtos

40 horas semanais

Programação em par

Projeto Simples

Código Padronizado

Refactory

Jogo de Planejamento

Cliente Local

Metáfora

Page 47: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

46

Em relação aos fatores que contribuem para o sucesso dos projetos XP, os

entrevistados atribuíram a efetividade do projeto principalmente aos testes e à

programação pareada (conforme a figura 4).

Figura 4: Fatores de sucesso identificados em projetos XP. Adaptado de Rumpe (2002).

Apesar de se reconhecer que a efetividade dos projetos XP depende da

programação pareada, é comum surgirem nas empresas de software mitos em relação a

esta prática. Williams e Kessler (2002) enumeram os mitos mais comuns:

a) “Dobrará a carga de trabalho, pois dois desenvolvedores fazem o trabalho

que um poderia fazer”: Gerentes podem entender que o custo de desenvolvimento de

software irá aumentar com a prática de programação pareada. Cockburn (2003)

investigou os custos e os benefícios da programação do par e concluiu que há um

aumento no custo de aproximadamente 15% no tempo de desenvolvimento de software,

2,2%

8,9%

11,1%

11,1%

13,3%

17,8%

17,8%

17,8%

0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20%

Integração Continua

Equipe Motivada

Desenvolvedores bem treinados

Priorização de tarefas e planejamento de cartões de

histórias

Comunicação com o cliente

Objetivos XP: qualidade, reuniões frequentes com o cliente

Programação em Par

Testes

Page 48: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

47

porém foram registradas melhoras na qualidade do projeto, redução de defeitos,

melhoras na qualidade técnica e na comunicação entre os membros da equipe.

b) “Ao adotar a programação pareada se estará eliminando a programação

individual”: Este mito definitivamente não condiz com a realidade, pois não há nenhum

mecanismo que obrigue os desenvolvedores a programar em par em tempo integral. A

técnica pode ser usada apenas durante uma parte do dia ou durante a realização de

tarefas mais complexas, sendo que no restante do tempo pode prevalecer a programação

individual.

c) “Programação pareada funciona apenas com o par ideal”: Para Williams e

Kessler (2002) a programação pareada funciona com a maioria das pessoas, porém

certamente há circunstâncias em que ela não se ajusta, como por exemplo, em caso de

pessoas que possuam personalidade difícil e imponham seu modo de pensar e

desenvolver software.

Sobre a possibilidade de formar um par de programadores contendo um

programador experiente e um programador novato - o que geralmente gera

questionamentos – é aconselhável que o experiente assuma o papel de mentor da dupla,

enquanto o novato procura aprender com seu colega. Williams e Kessler (2002)

afirmam que neste caso, o conhecimento absorvido gradativamente pelo programador

novato deverá contribuir para o desempenho da equipe.

d) “Programação de Par é boa para treinar, porém, quando certo nível de

conhecimento for obtido passa a ser desperdício de tempo”: Certamente são gerados

benefícios no caso da prática ser realizada entre um programador novato e um

programador experiente. Porém a programação pareada pode ser também benéfica para

uma dupla de programadores experientes, a qual pode ser alocada para resolver tarefas

com complexidade maiores.

e) “É dispendioso manter um dos desenvolvedores concentrado apenas em

erros de sintaxe na programação pareada”: Um dos principais benefícios da

programação pareada é a revisão de código ininterrupta. É válido considerar que quando

um desenvolvedor explica seu trabalho para o outro já está difundindo o conhecimento

Page 49: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

48

sobre suas tarefas, e na XP todos devem estar informados sobre o andamento geral do

processo de desenvolvimento. Além da revisão de erros de sintaxe, o programador pode

questionar e guiar o parceiro para o caminho desejado.

f) “Os desenvolvedores só conseguem concentração e rendimento

programando de forma isolada”: Segundo Williams e Kessler (2002), muitos dos que

acreditavam que não conseguiriam o fluxo mental necessário programando em par

verificaram que as duas mentes juntas são melhores que uma sozinha. Os dois

programadores operam como um organismo inteligente e compartilham um aumento de

fluxo em comum, explorando mais possibilidades.

As pesquisas de Rumpe (2002) também abordam os fatores de riscos que podem

impedir o sucesso de projetos XP. Os entrevistados responderam que os aspectos mais

críticos são: a ausência ou pouca disposição do cliente local, a oposição à XP por parte

dos envolvidos no projeto e os problemas técnicos (conforme figura 5).

Alguns dos entrevistados consideram que a ausência do cliente local pode ser

suprida com objetivos claros e reuniões freqüentes, para outros a ausência do cliente

local poderia gerar falta de foco no projeto. Alguns entrevistados acham extremamente

difícil trabalhar com o cliente devido a sua falta de conhecimentos técnicos e por uma

suposta relação de adversidade entre o cliente e os desenvolvedores.

Em relação à oposição à XP, Rumpe (2002) afirma que esta pode ocorrer tanto

na equipe quanto por parte da gerência ou até mesmo por parte do cliente.

Page 50: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

49

Figura 5: Fatores de riscos em projetos XP. Adaptado de Rumpe (2002).

Conforme demonstrado anteriormente, Rumpe (2002) disponibiliza uma série de

evidências empíricas sobre o uso da XP em projetos de software, porém pode-se notar

que suas pesquisas possuem um escopo limitado. Para McBreen (2002), os aspectos que

refletem na aceitação da XP e que devem ser considerados pelas empresas de software

são:

a) A possibilidade de ter o cliente sempre presente: É necessário poder contar

com o cliente ou um representante do mesmo que esteja capacitado para tomar as

decisões que lhe cabe. Se isto não for possível, um dos desenvolvedores pode fazer o

papel do cliente, mas isto não é recomendado no primeiro projeto XP.

b) Requisitos flexíveis: O real benefício dos métodos ágeis é que estes

possibilitam que a equipe desenvolva software apesar das alterações dos requisitos que

foram originalmente definidos. Assim, torna-se necessário que os requisitos sejam

flexíveis para que se utilize a XP de forma satisfatória.

c) A possibilidade de se adquirir um bom treinador para a equipe: É preciso

contar com um treinador que realmente conheça a XP, que já tenha presenciado sua

utilização em outra equipe e observado como o método desenvolve-se.

8,9%

11,1%

15,6%

15,6%

28,9%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Desenvolvedores pouco

capacitados

Treinamento XP insuficiente

Problemas tecnológicos -

ferramentas insuficientes

Oposição ao XP por alguns

participantes

Ausência do cliente

Page 51: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

50

d) O tamanho e a complexidade do projeto: O projeto deve possibilitar à equipe

entregar a funcionalidade desejada em aproximadamente 6 a 18 meses. Os melhores

projetos são os aqueles em que o cliente pode presenciar os reais benefícios da entrega

rápida e parcial, de forma que a equipe possa fazer uma produção e entregar dentro de

dois ou três meses. Se não for possível realizar entregas parciais dentro de três meses, o

projeto provavelmente é muito complexo para a primeira experiência com a XP.

e) A possibilidade de alocar a equipe em um mesmo ambiente: Segundo

McBreen, depois de se ter experiência com a XP é possível realizá-la com equipes

maiores e/ou distribuídas, mas inicialmente é necessário que os desenvolvedores

trabalhem em um ambiente único.

f) O comprometimento da equipe: Se a equipe toda não estiver comprometida

com a XP, a tentativa de adotá-la acabará fracassando. Se os desenvolvedores se

recusarem a programar em par, realizar testes continuamente e utilizar código coletivo o

projeto torna-se inviável.

g) A flexibilidade no tempo de entrega: Se houver uma data fixa (de forma

rígida) na qual uma certa quantia de funcionalidade deve ser entregue é arriscado adotar

qualquer processo de desenvolvimento de software novo. Com o tempo a equipe XP

alcança uma maior previsibilidade das entregas, mas inicialmente pode ser difícil.

Além dos aspectos destacados pelos autores anteriormente citados, ainda

existem outros que exercem influência na adoção da XP, como por exemplo, mercado

alvo da empresa, tipo de software desenvolvido, perfil do cliente, eventual terceirização

de projetos, bem como a cultura e a estrutura organizacional da empresa de software.

Esta dissertação privilegia o estudo da influência dos aspectos culturais e

estruturais da empresa na adoção da XP, tendo em vista que esse método não deve ser

concebido apenas como um processo, pois os princípios que o orientam devem estar

consolidados na cultura das pessoas que formam a empresa de software (ASTELS,

2002).

Torna-se necessário considerar que a XP baseia-se na criação de software de alta

qualidade sendo fortemente orientada para pessoas, indo contra o senso comum de

Page 52: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

51

gerenciamento de que os desenvolvedores são peças intercambiáveis dentro de suas

máquinas de processar software (ASTELS, 2002).

Pelo que se pode inferir na verificação das práticas e valores XP, para realizá-las

é preciso dispor de equipes de desenvolvimento de software altamente capacitadas,

motivadas e comunicativas, formadas por desenvolvedores que codificam intensamente

e sejam capazes de programar em par. Por outro lado, também é necessário que a

estrutura administrativa lhes proporcione as condições ideais para a forma de trabalho

requerida pela XP.

Para ter realizado todas as práticas que deram origem ao método XP certamente

Kent Beck encontrou na empresa em que trabalhava fatores organizacionais favoráveis

que lhe permitiram desenvolver software de tal modo.

No entanto, as organizações diferem em aspectos culturais e estruturais, de

forma que se torna importante que as empresas de software que pretendam adotar a XP

verifiquem se existe adequação dos seus fatores organizacionais ao método. Neste

exercício, há possibilidade de se constatar até mesmo a incompatibilidade dos fatores

organizacionais, o que pode inviabilizar a adoção da XP.

Beck (2004) afirma que a maior barreira para o sucesso de um projeto XP é a

cultura organizacional. Qualquer negócio que gerencie projetos tentando mudar

aspectos culturais se deparará com conflitos na equipe de desenvolvimento. Conforme

McBreen (2002), quando se resolve adotar um método de desenvolvimento de software

é preciso ter certeza que o mesmo se ajusta à organização e às pessoas que trabalham

nos projetos. Ou seja, o novo método tem que ser compatível com o perfil dos membros

da organização.

Desta maneira, torna-se necessário inicialmente entender o que significam

cultura e estrutura organizacional (capítulo 3) e, posteriormente, verificar como estes

fatores influenciam na adoção da XP (capítulo 4).

Page 53: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

52

3. CULTURA E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

3.1 Cultura Organizacional

3.1.1 Definição

Cultura é definida pelo antropólogo inglês Tylor (apud LARAIA, 1996) como

sendo "todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e

quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da

sociedade". Laraia (1996) salienta que o conceito de cultura que é apresentado por Tylor

tem a vantagem de abranger todas as possibilidades de realização humana, além de

marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à idéia de aquisição

inata.

De acordo com o dicionário de sociologia (JOHNSON, 1997), “cultura é o

conjunto acumulado de símbolos, idéias e produtos materiais associados a um sistema

social, seja ele uma sociedade inteira ou uma família”.

Das áreas da sociologia e da antropologia os estudos a respeito da cultura foram

levados ao âmbito das organizações, já que estas representam, em menores proporções,

as características e valores da sociedade em que estão inseridas e, além disso, são de

fato organismos sociais de menor porte que criam, desenvolvem ou manifestam uma

cultura própria (COSTA, 1999).

Relacionando esses significados do termo “cultura” - antropológico e

sociológico – com as organizações, verifica-se que cultura se refere a um conjunto de

conhecimentos que foram criados e são desenvolvidos pelos integrantes de uma

empresa. Da mesma forma que em um país, em uma região ou em uma família se

desenvolve uma cultura, em uma organização também ocorre a criação e o

Page 54: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

53

desenvolvimento de uma cultura própria, a qual encerra aspectos antropológicos,

sociológicos e históricos da empresa.

A cultura de uma empresa reflete suposições a respeito de seus objetivos, as

quais se convertem em atividades que são consideradas por todos como adequadas para

a organização, sendo continuamente repetidas até se transformarem em normas de

conduta que se espera que os membros respeitem.

A organização é então entendida como estrutura social, ou seja, como um

sistema em que coexistem grupos de pessoas interagindo segundo padrões de

comportamento aceitáveis mutuamente, cada uma com plena ciência do que dela espera

o grupo e do que ela pode esperar do grupo (COSTA, 1999).

A idéia de encarar as organizações como culturas - onde há concepções

compartilhadas entre os membros - é um fenômeno relativamente recente. Há vinte anos

as organizações eram vistas como instrumentos racionais - numa visão tipicamente

mecanicista - para coordenar e controlar um grupo de pessoas (ROBBINS, 1999).

Assim, departamentos, linhas de autoridade e hierarquias constituíam a visão

que as pessoas possuíam das organizações, mas estas tendem a ser muito mais do que

isso, já que, de maneira similar aos indivíduos, elas possuem sua própria personalidade,

podendo ser rígidas ou flexíveis, inovadoras ou conservadoras, etc. (ROBBINS, 1999).

Embora alguns estudos sobre cultura organizacional já tivessem sido realizados

antes da década de 80, o tema consolidou-se e passou a ser mais abordado na literatura a

partir do surgimento das obras dos seguintes autores (BAKER, 2000): William Ouchi

(1981); Pascale e Athos (1982); Deal e Kennedy (1982); Peters e Waterman (1982).

O interesse pela cultura organizacional decorreu principalmente da necessidade

de reverter o declínio da produtividade das empresas norte-americanas em contraponto

ao aumento da competitividade das empresas japonesas. Os estudos na área têm por

base a premissa de que por meio da análise de cultura organizacional é possível

encontrar respostas para problemas como a perda de coesão e de uniformidade dos

padrões culturais, os quais geram heterogeneidade e fragmentação nas interações sociais

e provocam a baixa da produtividade (FREITAS, 1990).

Page 55: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

54

As obras dos autores acima citados sugerem que a cultura organizacional pode

ser a chave para melhorar o desempenho da organização, podendo ser gerenciada para

aperfeiçoar a competitividade. Essas obras fornecem prescrições práticas para os líderes

dos negócios americanos, que necessitavam de ajuda para obter sucesso em face da

crescente competição japonesa (BAKER, 2000).

Conceituar o termo “cultura organizacional” não é uma tarefa fácil. Nos últimos

anos, um grande número de pesquisadores tem tentado definir, entender e

operacionalizar o conceito de cultura organizacional, mas, como salienta Ott. J. Steven

(1989), não há nenhuma definição estabelecida na literatura.

Para Dennison (1990), a cultura de uma organização inclui seus costumes, suas

tradições e a maneira de trabalhar, estando largamente ligada à história da empresa, isto

é, como a empresa tradicionalmente trabalha e como alcança seus objetivos. Uma

definição mais simples de cultura organizacional é dada por Johnson (1999): “o modo

como se faz as coisas por aqui”.

Edgar H. Schein (1985), um pioneiro no estudo de cultura organizacional e um

dos autores mais citados na literatura especializada, define-a como sendo “um conjunto

padrão de suposições básicas que o grupo inventou, descobriu, ou desenvolveu ao

aprender a enfrentar problemas de adaptação externa e integração interna e que

funcionou bem o suficiente para ser considerado válido e, então, ser ensinado aos novos

membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir em relação a esses

problemas”.

Para Chiavenato (1999) a cultura organizacional refere-se ao sistema de

significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma organização das

demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir em uma organização,

sendo que sua essência é expressa pela maneira como ela faz seus negócios, pela forma

como trata seus clientes e funcionários, e pelo grau de autonomia dado aos seus

membros.

Além do mais, a cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e

funcionários da organização, refletindo a mentalidade que predomina na empresa,

Page 56: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

55

condicionando, por esta razão, a administração das pessoas. A cultura da organização

proporciona um referencial de padrões de desempenho entre os funcionários,

influenciando sua produtividade e a preocupação com a qualidade e o serviço ao cliente

(CHIAVENATO, 1999).

Os diversos conceitos e definições dados pelos estudiosos da área têm causado

muitas discussões a respeito de cultura organizacional, sendo que Schein (1985) alerta

para o fato de que a ausência de uma definição clara leva a confundir as manifestações

culturais e o próprio conceito de cultura.

De qualquer forma, tem-se por indiscutível a importância da cultura nas

organizações, uma vez que as empresas são influenciadas pelo ambiente no qual estão

situadas e também pela visão e decisões de seus membros. Robbins (1999) entende que

a cultura organizacional desempenha função de:

a) definir os limites, ou seja, cria distinções entre uma organização e outra;

b) transmitir um sentido de identidade aos membros da organização;

c) facilitar a criação de um compromisso pessoal com algo mais amplo que os

interesses individuais;

d) intensificar a estabilidade do sistema social. A cultura é o vínculo social que

ajuda a manter unida a organização (é a “cola social”);

e) servir como mecanismo de controle que guia o comportamento dos membros

da organização.

Nesse sentido, Martin e Siehl, (1983) sublinham que a cultura organizacional é

uma poderosa alavanca para orientar o comportamento organizacional, aprovando ou

restringindo informalmente alguns padrões de comportamento. Desta forma, a cultura

organizacional representa padrões culturais que regem os comportamentos individuais

na organização, estabelecendo um senso comum e uma integração interna. Além disso,

a cultura ajuda a organização a se adaptar ao ambiente externo.

Page 57: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

56

As pessoas que transformam a organização (fundadores e dirigentes) ao

transacionar com o meio ambiente e ao criar as estruturas internas para responder a essa

interação externa, estabelecem uma maneira própria de agir e interagir. Com isso criam

a identidade da empresa. Uma cultura estabelece uma marca reconhecível, pelos de

dentro e pelos de fora, através da exteriorização em formas variadas, de uma visão de

mundo, de um modo próprio de fazer as coisas e de interagir, que emerge - pela

estrutura interna do poder - da configuração especial criada internamente para responder

às peculiaridades no meio externo (TAVARES, 2002).

A cultura de uma organização é ensinada para os novos membros através do

processo de socialização, sendo que os verdadeiros aspectos da cultura somente são

repassados quando o novo membro é efetivamente aceito socialmente na empresa

(SCHEIN, 1985).

A princípio, os novos membros só aprendem os aspectos superficiais da cultura,

visto que a sua essência só é revelada aos membros que passam a entrar nos círculos dos

grupos onde estão os valores partilhados. Desta forma, a cultura é entendida e

compartilhada, sendo que os novos membros são expostos aos valores e crenças que já,

inicialmente, desenvolveram-se na empresa, passando a assimilá-las.

Mesmo admitindo-se que dentro de uma organização possam surgir subculturas,

isto é, culturas próprias em cada grupo ou departamento da organização, Schein (1985)

afirma que se for possível observar certos pressupostos compartilhados entre diversas

unidades, pode-se falar de uma única cultura organizacional (cultura dominante) mesmo

que as subunidades tenham peculiaridades próprias.

A cultura dominante expressa os valores centrais que são partilhados pela

maioria dos membros da organização, e quando se fala em cultura de uma organização,

trata-se da sua cultura dominante. Embora se reconheça que muitas empresas tenham

subculturas que possam orientar o comportamento dos membros, é o aspecto

compartilhado que está presente na cultura dominante que a torna capaz de orientar e

moldar o comportamento dos membros (ROBBINS, 1999).

Page 58: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

57

Nesse panorama, distingue-se cultura forte de cultura fraca. A cultura é forte se

os valores centrais da organização são intensamente mantidos e amplamente

partilhados, sendo que a cultura tem um impacto maior sobre o comportamento dos

membros. Neste caso verificam-se baixos níveis de rotatividade dos membros - há

menor probabilidade dos membros deixarem a empresa – e de formalização – face à

coesão do grupo há menor necessidade de documentação escrita (ROBBINS, 1999).

Muitos autores têm ressaltado que a cultura organizacional reflete na

produtividade, no desempenho, no comprometimento, no comportamento ético e na

autoconfiança dos membros de uma empresa. Chiavenato (1999) salienta que certas

culturas podem ser mais propensas a adaptação a mudanças e a melhorias do

desempenho da organização, enquanto outras não. Para Deal e Kennedy (1982), a

cultura é o fator mais importante no sucesso ou no fracasso da organização.

É importante ressaltar que quando se conhece a cultura de uma organização

entende-se um pouco melhor fatores como processos internos de tomada de decisão, a

comunicação entre os membros, a evolução do desempenho e do controle, além disso,

também se pode compreender o produto ou serviços que a empresa presta ao

consumidor, já que os mesmos são condicionados pela cultura organizacional.

Page 59: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

58

3.1.2 Elementos da Cultura Organizacional

Além da variedade de conceitos a respeito da cultura organizacional, existe

ainda uma variedade de elementos da mesma que são identificados pelos autores da

área. Ott. J. Steven (1989), realiza um extenso estudo a respeito do conceito de cultura

organizacional e, ao tratar dos elementos, apresenta uma lista compostas por setenta e

três palavras ou frases usadas pelos autores para defini-los. Dentre as quais se destacam:

• Visão compartilhada

• Atitudes

• Crenças

• Celebrações

• Padrões de comunicação

• Costumes

• Modo de fazer as coisas

• Ética organizacional

• Sentimentos

• Hábitos

• Heróis

• Ideologia

• Padrões de interação

• Justificativa para o padrão

comportamental

• Práticas de gerenciamento

• Normas

• Organização física do local

• Ritos

• Sistemas de regras informais

• Estórias

• Símbolos

• Tradições

• Valores

• Reflexo dos mitos na forma de

agir e de se relacionar

Page 60: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

59

Os elementos da cultura organizacional mais freqüentemente mencionados pela

literatura são:

3.1.2.1 Valores

Para Alves (1997) valores são noções compartilhadas que as pessoas têm do que

é importante e acessível para o grupo ao qual pertencem. Deal e Kennedy (1982)

conceituam valores como sendo as crenças e conceitos básicos de uma organização. Os

valores definem o sucesso em termos concretos para os membros da organização e

estabelecem os padrões que devem ser atingidos, representando um senso de direção

comum para todos, sendo, desta forma, compartilhados pelo grupo.

Em outras palavras, os valores são as definições do que é importante para que a

empresa atinja as suas metas. Os valores tendem a ser personalizados pelas

organizações conforme sua realidade, porém é possível identificar características

comuns em todas as organizações, como: importância do cliente, padrão de desempenho

excelente, qualidade e inovação, importância da motivação dos membros da

organização (FREITAS, 1991).

3.1.2.2 Ritos, Rituais e Cerimônias

Constituem um conjunto relativamente elaborado, dramático e planejado de

atividades, que consolidam várias formas de expressão cultural de um evento, o qual é

realizado por meio de interações sociais, geralmente para o beneficio da audiência e

com múltiplas conseqüências sociais (TRICE; BEYER, 1984).

Bass (1990) define rito como um conjunto de atividades que consolida formas de

expressão cultural, sendo transmitido através de interações sociais, usualmente em

beneficio do grupo.

Trice e Beyer (1984) identificaram seis tipos de ritos: 1- Ritos de passagem: o

processo de introdução e treinamento básico; 2- Ritos de degradação: o processo de

despedir e substituir alguém; 3- Ritos de confirmação: seminários para reforçar a

identidade social e seu poder de coesão; 4- Ritos de reprodução: atividades de

desenvolvimento organizacional; 5-Ritos para redução de conflito: processos de

Page 61: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

60

negociação coletiva; 6- Ritos de integração: por exemplo, festa de natal nas

organizações.

Os ritos são atividades planejadas e têm conseqüências práticas e expressivas

que determinam o comportamento dos membros na organização e tornam a cultura

organizacional mais coesa (FREITAS, 1991).

3.1.2.3 Mitos e Estórias

Trata-se de uma crença inquestionável sobre os benefícios práticos de certas

técnicas e comportamentos que não estão baseados em fatos reais. Por sua vez, estórias

são uma narrativa baseada em eventos reais – freqüentemente uma combinação de

realidade e ficção (BASS, 1990).

Ambos relacionam-se a eventos. As estórias referem-se a eventos ocorridos

(fatos) que estão ligados à organização, reforçando o comportamento existente. Esses

fatos informam aos integrantes da organização como os grupos fazem determinadas

coisas e desta forma, estabelecem regras.

3.1.2.4 Tabus

Tabus são demarcações criadas informalmente nas empresas a respeito de

“áreas” proibidas, com o propósito de indicar um comportamento aceitável e proteger a

empresa de contestações e questionamentos. Os tabus enfatizam o “não-permitido” (por

exemplo, impõe a não discussão sobre as decisões da gerência) e evidenciam o aspecto

disciplinar. Quanto menos tabus existirem, mais íntegra e democrática poderá ser a

empresa (ALVES, 1997).

3.1.2.5 Heróis

Possuem a função de personificar os valores e condensar a força da empresa. Os

heróis tendem a apresentar características como: ser experimentado, apreciar

cerimônias, ter visão, ser intuitivo. O exemplo do herói pode estimular os membros a

estabelecer determinados padrões de desempenho (FREITAS, 1991). Os gerentes não

são necessariamente a personificação do herói, este pode ser um membro da equipe que

represente os principais valores compartilhados.

Page 62: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

61

Freitas (1991) relaciona algumas funções dos heróis: tornam o sucesso atingível

e humano, assim os membros podem seguir seu exemplo; fornecem modelos a serem

seguidos pelos membros da empresa que almejam alcançar as qualidades do herói;

simbolizam a empresa para o mundo exterior; estabelecem padrões de desempenho;

motivam os empregados, fornecendo influência duradoura.

3.1.2.6 Crenças e Pressupostos

Crença é a compreensão que as pessoas têm como certa e que serve de base para

o entendimento das coisas. É a concordância com um juízo produzido sob a influência

de alguém ou de algo em que se confia (ALVES, 1997).

Já os pressupostos são conjunturas antecipadas ou respostas prévias sobre um

determinado assunto. Um problema resolvido satisfatoriamente em uma empresa

desaparece da consciência e pode se tornar um pressuposto, ou seja, passa a ser uma

solução pronta, disponível e, até certo ponto, inquestionável para o grupo (ALVES,

1997).

As crenças e os pressupostos representam o que há de consolidado na empresa,

são geralmente conceitos tidos por inquestionáveis. Exemplos de conteúdo das crenças

são fornecidos por Peters e Waterman apud Freitas (1991): assistência e qualidade

superiores, membros inovadores, informalidade e estimulo à comunicação, lucros e

crescimento econômico.

Em relação aos pressupostos, Schein (1985) assevera que a resolução de

problemas em uma empresa depende de fatores como o seu grau de experiência em

determinado assunto e suas hipóteses sobre a realidade. Se o sucesso na resolução do

problema ocorre, então aqueles fatores podem passar a ser considerados válidos e

corretos, transformando-se em pressupostos.

3.1.2.7 Normas da Empresa

As normas da organização podem ser entendidas como a maneira de se realizar

as tarefas, a qual influencia seus membros, ou seja, “a norma é o comportamento

Page 63: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

62

sancionado através do qual as pessoas são recompensadas ou punidas, confrontadas ou

encorajadas, ou postas em ostracismo quando violam as normas (FREITAS, 1991)”.

Freitas (1991) afirma que as normas são definidas e repassadas através de outros

elementos culturais, como uma espécie de síntese. Por exemplo: a escolha de normas é

precedida pelas crenças e pressupostos, pela avaliação de valores mais compatíveis com

a empresa e pela definição do que é tabu, assim as normas são vinculadas através dos

sistemas formais de comunicação, bem como através dos heróis, ritos, rituais, estórias e

mitos.

Da mesma forma, Fleury (1996) salienta que para criar e manter a cultura, a rede

de concepções, normas e valores devem ser afirmados e comunicados aos membros da

organização de uma forma tangível que são as formas culturais - os ritos, rituais, mitos,

estórias, gestos e artefatos.

O convívio entre os membros de uma empresa gera certas expectativas a respeito

de seus comportamentos. As normas referem-se ao comportamento que é esperado e

prescrito aos membros de uma empresa, tendo por base definições do que é certo e do

que é errado.

3.1.2.8 Processos de Comunicação

Trata-se de um modo de interação entre os indivíduos, no qual ocorre troca de

mensagens a partir da verbalização e também de comportamentos não-verbais A

comunicação pressupõe o desenvolvimento de uma linguagem na organização, isto é, de

um conjunto de signos com a capacidade de comunicar significados (SCHALL apud

Freitas, 1991).

Page 64: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

63

3.1.3 Análise da Cultura Organizacional

Schein (1999) - que faz uma abordagem mais propriamente psicológica da

cultura organizacional - ensina que a cultura existe em três níveis diferentes: artefatos,

valores, e suposições subjacentes básicas.

1º nível: Artefatos Visíveis - incluem os fenômenos que podem ser vistos,

ouvidos e sentidos na cultura. Neste nível, embora sejam de fácil obtenção, os dados são

difíceis de decifrar, dificultando a compreensão lógica subjacente ao comportamento

dos grupos. Desta forma, no primeiro nível estão aspectos como o ambiente de

trabalho, tecnologia, rotinas de trabalho, padrões de comportamento dos membros da

organização, linguagem, modo de se vestir, mitos e estórias.

2º nível: Valores Compartilhados - trata-se dos valores conscientes comuns aos

membros do grupo e que justificam a razão do seu comportamento, ou melhor, “o que é

certo e o que é errado”. São valores que se manifestam em aspectos como crenças,

estratégias, regras, metas e filosofias da empresa. Neste nível há maior possibilidade de

apreender a cultura do que no primeiro nível, mas como esses valores são apenas

expressões das razões do comportamento do grupo, as razões mesmas, permanecem

subjacentes ou inconscientes.

3º nível: Pressupostos Básicos – são valores que foram internalizados como

sendo o modo certo de os membros de um grupo sentir, perceber e pensar as coisas.

Estes pressupostos são oriundos de valores conscientes que são compartilhados pelo

grupo e que conduzem a certos comportamentos. Estes, tendo se mostrado adequados

para resolver problemas, vão gradualmente sendo admitidos como certos até assumirem

o caráter de pressupostos inconscientes, tornando-se inquestionáveis e naturais. O 3º

nível de análise permite uma compreensão mais profunda da cultura organizacional do

que nos dois níveis anteriores.

De acordo com a abordagem de Schein, entender a cultura de uma organização

significa penetrar em seu íntimo onde se encontram seus valores e padrões de

Page 65: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

64

comportamentos, os quais foram forjados por pressupostos que se estabeleceram

gradativamente. Trata-se de compreender a subjetividade da organização.

Chiavenato (1999) traz uma analogia entre o estudo da cultura organizacional e a

observação de um iceberg. Na comparação, o autor afirma que assim como um iceberg

possui uma parte superior visível - por se encontrar na superfície das águas - e uma

parte inferior que está fora da visão das pessoas - por estar submersa - a cultura

organizacional também possui uma parte visível e outra oculta.

A cultura organizacional revela aspectos formais facilmente perceptíveis, tratam-

se dos artefatos - políticas e diretrizes, métodos e procedimentos, objetivos, estrutura

organizacional e a tecnologia adotada -, os quais formam o primeiro nível da cultura

organizacional e representam a ponta do iceberg.

Contudo, alguns aspectos informais estão ocultos na cultura organizacional,

como as percepções, sentimentos, atitudes, valores, normas grupais, os quais formam o

segundo e o terceiro nível da cultura organizacional e constituem a parte submersa do

iceberg.

Figura 6: Iceberg da cultura organizacional. Adaptado de Chiavenato (1999).

ASPECTOS INFORMAIS E OCULTOS • Padrões de influência e de poder • Percepção e atitudes das empresas • Sentimentos e normas de grupo • Valores e expectativas • Padrões de interações informais • Normas Grupais • Relações afetivas

ASPECTOS FORMAIS E ABERTOS • Estrutura organizacional • Títulos e descrição de cargos • Objetivos e estratégias • Tecnologia e práticas operacionais • Políticas e diretrizes de pessoal • Métodos e procedimentos • Medidas de produtividade física e financeira

Page 66: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

65

A compreensão dos níveis da cultura, além de facilitar o gerenciamento da

empresa, torna possível a avaliação das conseqüências de mudanças que se pretende

implementar na organização.

Portanto, a identificação de uma cultura está diretamente relacionada com o que

o pesquisador considera como cultura e o que ele pretende avaliar na determinada

cultura organizacional, daí a existência de uma variedade de métodos, recomendações e

passos, que abordam aspectos diferentes (FREITAS, 1991).

Fleury (1996) observa que há vários caminhos para se desvendar a cultura de

uma organização. Dentre eles se destacam:

a) O Histórico das organizações: recuperar e analisar o momento de criação de

uma organização e sua inserção no contexto político e econômico da época propicia o

pano de fundo necessário para compreensão da natureza da organização, suas metas,

seus objetivos. O fundador tem um papel fundamental, pois detém a concepção global

sobre o projeto da organização e tem o poder para estruturá-la, desenvolvê-la e tecer

elementos simbólicos consistentes com esta visão.

b) O Processo de socialização de novos membros: o momento de socialização é

crucial para a reprodução do universo simbólico. É através de estratégias de integração

do indivíduo à organização que os valores e os comportamentos vão sendo transmitidos

e incorporados pelos novos membros.

c) As Políticas de Recursos Humanos: ao mediar a relação entre capital e

trabalho em uma organização, as políticas de recursos humanos têm papel relevante no

processo de construção de identidade da organização. Analisando as políticas explícitas

e principalmente as políticas implícitas de recursos humanos de uma organização, é

possível decifrar e interpretar os padrões culturais desta organização;

d) O Processo de comunicação: a comunicação constitui um dos elementos

essenciais no processo de criação, transmissão e cristalização do universo simbólico de

uma organização. É preciso identificar os meios formais orais (contactos diretos,

Page 67: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

66

reuniões, telefonemas) e escritos (jornais, circulares) e os meios informais, como por

exemplo, a "rádio-peão". O mapeamento dos meios permite o desvendar das relações

entre categorias, grupos e áreas da organização;

e) A Organização do processo de trabalho: a análise da organização do

processo de trabalho em sua componente tecnológica e em sua componente social,

como forma de gestão da força de trabalho, possibilita a identificação das categorias

presentes na relação de trabalho. Esse estudo subsidia também o mapeamento das

relações de poder entre as categorias de empregado e entre áreas da organização.

Além disso, há diferentes técnicas de investigação da cultura. Na ênfase

quantitativa, utiliza-se levantamento de opinião, através de questionários e entrevistas.

Na ênfase qualitativa são utilizados dados secundários da organização, como

documentos, relatórios manuais de pessoal, organogramas, jornais, etc. As técnicas mais

utilizadas para coleta de dados primários são entrevistas, observação participante e não

participante e dinâmicas de grupo (FLEURY, 1996).

Page 68: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

67

3.1.4 Dimensões da Cultura Organizacional

O'Reilly, Chatman e Caldwell apud Robbins (1999) identificaram sete

características, que, quando vistas como um todo, definem a essência da cultura

organizacional. São elas:

1. Inovação e tomada de risco: o grau em que os funcionários são motivados a

usar a criatividade, inovar e assumir riscos na tomada de decisões.

2. Atenção para detalhes: o grau que se espera que os funcionários demonstrem

precisão, análise e atenção aos detalhes.

3. Orientação para resultados: o grau em que a administração se concentra em

resultados mais que nas técnicas e processos usados para alcançá-los.

4. Orientação para pessoas: o grau em que as decisões da administração

consideram seus efeitos em relação às pessoas da empresa.

5. Orientação para equipe: o grau em que as atividades de trabalho são feitas,

tendo por base a equipe mais do que cada membro da equipe individualmente.

6. Agressividade: o grau em que as pessoas da empresa são agressivas e

competitivas mais do que cooperativas.

7. Estabilidade: o grau em que as atividades da empresa se concentram em

manter os status quo.

De acordo com Robbins (1999), essas sete dimensões estão presentes em todas

as organizações em algum grau, e ao se avaliá-las em uma empresa, a cultura da

organização pode ser entendida. Isto ocorre porque estas características fornecem a

imagem de como as coisas são feitas na organização e a maneira que se espera que os

membros se comportem.

Nesta dissertação, são adotadas as sete dimensões da cultura organizacional

acima descritas, as quais estão relacionadas seguintes valores organizacionais:

Page 69: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

68

Inovação e Risco Criatividade

Conhecimento

Confiança

Autonomia

Atenção para detalhes: Precisão

Análise

Percepção

Atenção para pessoas: Motivação

Satisfação

Comprometimento

Atenção para resultados: Satisfação do cliente

Satisfação dos funcionários

Lucratividade

Orientação para equipes Individualismo

Cooperação

Espírito de equipe

Comunicação

Coesão

Agressividade: Colaboração

Competição

Conflito

Respeito

Formalidade/Informalidade

Estabilidade: Adaptação

Segurança

Previsibilidade

Tabela 2: Valores organizacionais.

Ao comentar as sete dimensões da cultura que O’Reilly, Chatman e Caldwell

estabeleceram, Noorderhaven (2002) ressalta que uma organização que apresenta alto

nível de inovação é vista como sendo rápida para tirar proveito de oportunidades,

assume risco e exibe iniciativa para experimentação.

Por outro lado, organizações que apresentam alto nível de atenção para detalhes

são precisas, detalhistas e analíticas. A dimensão de orientação para resultado refere-se

à atenção para a realização, orientação para a ação e altas expectativas para desempenho

(NOORDERHAVEN, 2002).

Page 70: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

69

Orientação para pessoas refere-se ao respeito pelo direito do indivíduo, justiça e

tolerância. A organização que é orientada para equipe caracteriza-se pelo trabalho em

colaboração com outros. A dimensão agressividade diz respeito a características de

organizações que apresentam alto nível de competitividade, em detrimento da

sociabilidade (NOORDERHAVEN, 2002).

Quanto à estabilidade, a organização que apresenta um alto nível desta dimensão

enfatiza a previsibilidade e a segurança em detrimento à adaptabilidade a novas formas

de trabalhos e tecnologias (NOORDERHAVEN, 2002).

Os aspectos da cultura organizacional podem ser identificados de acordo com o

foco determinado pelo avaliador. Na mesma medida, o diagnóstico também é

influenciado pelos conhecimentos que o avaliador detém a respeito do foco escolhido.

Além disso, o resultado obtido nesta pesquisa dependerá dos artefatos utilizados no

processo de diagnóstico.

3.1.5 Mudança da Cultura Organizacional

Existe muita polêmica em torno da possibilidade de se mudar a cultura de uma

organização de forma planejada, o que implica na mudança da maneira dos membros da

organização pensar, comunicar-se, relacionar-se, bem como a sua forma de fazer as

tarefas.

Os pressupostos básicos, principalmente, funcionam como um fator de

estabilidade da cultura, e a tentativa de modificá-los tende a desestabilizar o mundo

cognitivo do grupo, desencadeando grande quantidade de ansiedade. As pessoas tendem

a evitar altos níveis de ansiedade e criar mecanismos de defesa contra ela.

Assim, é preciso considerar que uma vez estabelecida a cultura de uma

organização, ela poderá atuar como uma barreira em relação a mudanças na empresa

(SCHOLL, 2003). Em algumas situações a mudança é imposta à organização que não a

Page 71: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

70

deseja; ao passo que em outras, a mudança é abertamente adotada e procurada, contudo

é sabido que as organizações resistem fortemente à mudança (HALL, 1998).

Schein (1999) nota que a cultura é:

a) Profunda - não pode ser manipulada e mudada conforme a vontade. Ela

fornece significado e previsibilidade.

b) Total - as convicções e suposições penetram todas as partes da organização e

todas as relações internas e externas.

c) Estável – as pessoas não gostam de situações caóticas, imprevisíveis e então

tentam estabilizar e normalizar a cultura. Uma tentativa para mudar a cultura produz

grande ansiedade e resistência.

Segundo Motta (1999) a "mudança é um ônus, pois requer que a pessoa reveja

sua maneira de pensar, agir, comunicar, relacionar-se e criar significados para a sua

própria vida". Katz e Kahn (1978) enumeram seis fatores que contribuem para a

resistência das organizações à mudança:

a) a estabilidade existente nas organizações, as quais são asseguradas por

mecanismos como a seleção de pessoal, treinamento e sistema de recompensa;

b) as organizações tendem a assumir um determinismo local; na qual as

condições ambientais são os fatores determinantes das variações nas formas de

organização social e nas configurações culturais

c) a existência de inércia individual ou de grupo, sendo que a força do hábito é

muito difícil de superar;

d) a mudança pode representar ameaça para grupos ocupacionais, pois algumas

pessoas com tarefas especializadas podem perceber que não serão mais necessárias se

mudanças forem implementadas;

e) mudanças podem ameaçar o sistema de poder estabelecido na organização –

o poder pode ser redistribuído.

Page 72: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

71

f) mudanças podem ameaçar membros que se beneficiam da alocação atual de

recompensa e recursos.

Não se pode tratar a resistência à mudança como uma questão trivial, um

empecilho a mais nos projetos de desenvolvimento da empresa, pois se as premissas

básicas da cultura organizacional permanecem válidas, mesmo as propostas de

indiscutível qualidade técnica ou e de prioridade estratégica não se viabilizam (FISHER,

1996).

Os agentes organizacionais reagirão para evitar as mudanças, que se lhes

apresentam como uma ruptura da identidade e uma negação dos valores estabelecidos

que lhes transmitiam um sentimento de segurança. Apenas estes atributos já são

suficientes para se perceber que esta especificidade precisa ser percebida, prevista e

tratada enquanto tal, porque omiti-la sob o rótulo das resistências significa minimizar,

perigosamente, o poder que detêm os aspectos culturais de impedirem a implantação de

mudanças organizacionais (FISHER, 1996).

O aspecto básico é que as organizações são conservadoras por sua própria

natureza, sendo que até mesmo as organizações que tentam causar um impacto radical

na sociedade demonstram esse conservadorismo (HALL, 1998).

Ressalta-se que essa constatação não deve conduzir à conclusão de que não é

possível gerenciar uma cultura organizacional, pois conforme afirma Pettigrew (1996),

há possibilidade de gerenciamento, porém com grandes dificuldades.

Ainda que o planejamento da mudança seja assumido como possível, existe o

consenso entre os autores que o processo não é simples nem barato, e não se faz sem

provocar alguns traumas (FREITAS, 1991).

Então, para ocorrer a mudança cultural é necessário que as justificativas do

comportamento dos membros da organização sejam mudadas. Caso se imponha a

mudança de comportamento dos membros com justificativa baseada em motivos

externos, as pessoas continuarão apegadas a valores e crenças antigos. Assim sendo, a

mudança cultural deve se basear em causas intrínsecas (SATHE, apud Freitas, 1991).

Page 73: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

72

A mudança efetiva verifica-se somente quando as pessoas percebem que seus

pressupostos não são mais validados pela realidade, ou seja, estão sendo negados por ela

(SATHE, apud Freitas, 1991). Isso ocorre quando as pessoas constatam que os velhos

modos de fazer as coisas já não mais funcionam, comprometendo a sobrevivência ou o

desenvolvimento empresarial (ALVES, 1997).

Por conseguinte, a mudança requer a aquisição de um novo sistema de valores e

crenças pelos membros da organização, o que não é tarefa fácil de se realizar, já que

nem sempre as justificativas para a mudança estão baseadas em causas intrínsecas, que

ocorre, por exemplo, quando há adaptação da organização à evolução natural do

ambiente.

Pettigrew (1996) entende que a cultura é pensada como um conjunto complexo

de valores, crenças e pressupostos que definem os modos pelos quais a empresa conduz

seus negócios. Esse núcleo de crenças e pressupostos manifesta-se nas estruturas, nos

sistemas, nos símbolos, nos mitos e nos padrões dentro da organização.

Seria muito mais fácil ajustar as manifestações de cultura do que modificar o

núcleo de crenças e pressupostos básicos de uma organização. No entanto, qualquer

estratégia para modificar a cultura organizacional terá de envolver pensamentos e ação

tanto no nível das crenças básicas como no de suas manifestações.

Segundo Pettigrew (1996), as dificuldades de se gerenciar e modificar a cultura

de uma organização decorrem dos seguintes problemas:

a) Problema dos níveis: a cultura existe em uma variedade de níveis diferentes

na empresa. O nível mais profundo refere-se às crenças e pressupostos dos membros, ao

funcionamento interno da organização e ao seu posicionamento quanto ao ambiente

externo. Crenças e pressupostos são muito difíceis de mudar.

b) Problema da infiltração: a cultura refere-se também aos produtos da

empresa, às estruturas, aos sistemas, à missão da empresa, às recompensas, à

socialização;

Page 74: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

73

c) Problema do implícito: é difícil modificar valores que são implícitos no

pensamento e no comportamento das pessoas, e que raramente emergem explicitamente

para discussão;

d) Problema do impresso: a história da cultura organizacional tem grande peso

na administração presente e futura na maioria das organizações;

e) Problema do político: refere-se às conexões entre a cultura organizacional e

à distribuição do poder na empresa. Certos grupos de poder têm interesses associados a

crenças e pressupostos, e não estão dispostos a abandonar tais crenças sem que se

apresente um desafio consistente;

f) Problema da pluralidade: a maioria das empresas não possui uma única

cultura organizacional, podendo apresentar uma série de subculturas;

g) Problema da interdependência: a cultura está interconectada não apenas com

a política da empresa, mas com a estrutura, com os sistemas, com as pessoas e com as

prioridades da empresa.

Para Chiavenato (1999) a cultura de uma organização pode ser mudada, mas é

preciso estar ciente de que mudança cultural é um processo lento, medido em anos não

em meses. Pettigrew (1987) afirma que os fatores capazes de precipitar mudanças

organizacionais são basicamente extra-organizacionais, isto é, mudanças no ambiente de

negócios e recessão econômica.

Conforme a circunstância, a tentativa de mudança na organização pode ser

benéfica ou prejudicial, podendo trazer o crescimento ou o declínio da empresa (HALL,

1998). Sendo necessário, antes de concretizar-se uma mudança, realizar-se uma reflexão

a respeito das suas implicações a fim de não pôr em risco o desempenho e até a

sobrevivência da organização-.

Dessa forma, para se implementar mudanças na organização de forma bem

sucedida, devem ser consideradas as múltiplas dimensões da cultura organizacional, eis

que esta ao mesmo tempo em que necessariamente será afetada pela mudança,

configura-se uma condicionante para o sucesso das inovações pretendidas.

Page 75: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

74

3.2 Estrutura Organizacional

3.2.1 Definição

Segundo Vasconcellos e Hemsley (1997), estrutura organizacional é o resultado

de um processo através do qual a autoridade é distribuída, as atividades desde os níveis

mais baixos até a alta administração são especificadas e um sistema de comunicação é

delineado, permitindo que as pessoas realizem atividades e exerçam autoridade que lhes

compete para o alcance dos objetivos organizacionais.

Blau apud Hall (1998) oferece uma conceituação mais simples para estrutura.

Para o autor, a mesma refere-se às “distribuições, em diversos sentidos, das pessoas

entre posições sociais que influenciam as relações de papel entre as pessoas”.

Assim, estrutura organizacional é a forma como o ambiente de trabalho é

estruturado na organização, o que traz reflexos consideráveis, uma vez que influencia o

comportamento de cada membro da equipe de trabalho, e, por conseguinte, afeta o

funcionamento global da empresa.

Chiavenato (2002) identifica uma série de aspectos que fazem parte da estrutura

organizacional, como: a forma como está estabelecida a autoridade, a forma dos cargos,

competência para as tarefas, processo decisório, formalização, mutabilidade do

ambiente, etc.

Vários autores ressaltam a importância da estrutura organizacional de uma

empresa não apenas como um organograma em que são definidos os cargos e funções,

mas como uma forma de planejamento estratégico da empresa.

Conforme destacam Huber e Glick (1995), o estudo da estrutura organizacional

é muito importante, pois determina a distribuição de autoridade, de recursos e de

Page 76: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

75

informações, impactando a habilidade individual de gerenciamento. Além disso, a

estrutura organizacional afeta a habilidade de coordenar e controlar as atividades dos

subordinados.

3.2.2 Dimensões da Estrutura Organizacional

Para Robbins (2002) a estrutura organizacional define como as tarefas de

trabalho são divididas, agrupadas e coordenadas. Segundo o autor, existem seis

elementos fundamentais que precisam ser considerados quando se projeta a estrutura

organizacional de uma empresa.

A tabela abaixo apresenta a forma como Robbins estabelece esses elementos por

meio de perguntas e respostas:

Perguntas: As Respostas são Fornecidas Por:

1- Em que grau as tarefas são subdivididas em cargos diferentes?

Especialização do trabalho

2- Em que base os trabalhos serão agrupados? Departamentalização

3- A quem os indivíduos e os grupos se reportam?

Cadeia de comando

4- Quantos indivíduos um gerente pode comandar com eficiência e eficácia?

Margem de controle

5- Em que reside a autoridade para a tomada de decisão?

Centralização e descentralização

6- Em que grau há regras e regulamentos para dirigir empregados e gerentes?

Formalização

Tabela 3: Elementos fundamentais da estrutura organizacional. Adaptado de Robbins (1999).

Para o autor, esses são elementos que os gerentes precisam considerar para

esquematizar a estrutura organizacional. Robbins (1999) estabelece a definição de cada

uma das dimensões da estrutura organizacional, conforme segue abaixo:

Page 77: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

76

1) Especialização do trabalho:

A especialização, ou divisão de trabalho, refere-se ao grau em que as tarefas na

organização são subdivididas em cargos separados. Com o Fordismo surge a divisão do

trabalho total em inúmeras tarefas distintas, baseada na concepção de que a repetição da

operação aumenta o nível de qualificação do empregado na realização da tarefa

específica, reduz as margens de falhas e aumenta a eficiência do sistema.

A essência da especialização do trabalho está na idéia de que o trabalho

completo não é executado por apenas um indivíduo, mas ele é dividido em etapas e cada

uma é realizada por uma pessoa diferente. Os indivíduos especializam-se para realizar

parte de uma atividade, em lugar de se especializarem na atividade inteira.

As administrações das empresas viam a alta especialização do trabalho como um

meio para utilização mais eficiente das qualificações dos funcionários: enquanto

algumas tarefas requerem habilidades altamente desenvolvidas, outras podem ser

realizadas por pessoas com menos experiência. Se todos os funcionários estivessem

envolvidos em cada etapa do processo de produção, todos teriam que possuir as

habilidades necessárias para executar tanto o trabalho menos exigente quanto o mais

exigente.

Os gerentes também perceberam que é mais fácil e menos dispendioso encontrar

e treinar trabalhadores para realizarem tarefas específicas que encontrar e treinar

trabalhadores para realizarem todas as tarefas. Entretanto, os efeitos colaterais da

especialização sobre os indivíduos não tardaram em aparecer manifestadas em

monotonia, fadiga, estresse e desinteresse, baixa qualidade e produtividade. Percebeu-

se, então, que se fosse permitido aos funcionários realizar o trabalho completo e se

fossem distribuídos em equipes geralmente alcançavam maior produtividade e ficavam

mais satisfeitos com o trabalho que os funcionários especializados.

Hoje a especialização não é encarada nem como obsoleta, nem como fonte

inesgotável de aumento de produtividade, mas reconhece-se que ela se adequa melhor

em certos tipos de trabalho; ou seja, ela pode ser adequada para certos tipos de atividade

ou estratégias e inadequada para outros.

Page 78: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

77

2) Departamentalização:

É a forma de agrupar as tarefas de trabalho. Existem várias formas de agrupar as

atividades, sendo que a departamentalização pode ser dar por funções, por produtos,

com base geográfica, por processo e por clientes.

Na departamentalização funcional, dá-se a colocação de especialistas de mesma

espécie juntos, ocorrendo agrupamento por habilidades e orientações similares em

unidades comuns. Na departamentalização por produto, coloca-se cada produto da

empresa sob a responsabilidade de um grupo de funcionários, desta forma todas as

atividades relacionadas a um produto ficam sob cuidados do grupo.

Outra forma de departamentalizar é com base geográfica, a qual se refere ao

ambiente físico em que a empresa se organiza, pois é possível que os departamentos ou

grupos de trabalho se situem em locais diferentes (salas, prédios, cidades, regiões). É

possível ainda que a empresa esteja organizada de tal forma que cada departamento

especialize-se em uma fase específica da produção, neste caso a departamentalização

será por processo. Também é possível agrupar as tarefas de trabalho tendo em vista o

tipo de cliente que a empresa busca alcançar, pois estabelecer departamentos diferentes

para cada tipo de cliente pode garantir um melhor atendimento dado por especialistas.

Chiavenato (2002) salienta que boa parte das empresas está deixando a

tradicional departamentalização para se organizar em torno de equipes, as quais

apresentam a vantagem de serem mais ágeis e apresentarem maior adaptabilidade.

3) Cadeia de Comando:

A cadeia de comando é a linha de autoridade que se estabelece desde o comando

de alto nível até o escalão mais abaixo na hierarquia da organização. A Cadeia de

comando possui dois conceitos complementares: a Autoridade, que se refere aos direitos

atribuídos a uma posição de comando de forma a controlar os cargos situados dentro da

esfera de comando; e o Princípio de Unidade-de-Comando, que estabelece a ausência de

quebras na linha de autoridade, de forma que cada comandado tenha um superior a

quem se reporta.

Page 79: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

78

O importante na Cadeia de Comando é que esta hierarquia de autoridade

estabelece o canal de comunicação, direção e interação entre comandantes e

comandados (HAMPTON, 1990). A comunicação é um instrumento importante para a

assimilação da cultura. Por outro lado é a cultura quem determina o tipo de

comunicação da empresa, bem como sua forma e veículos e, também, seu conteúdo e

fluxos (BARICHELLO, 2005).

A comunicação é o processo através do qual uma mensagem é transmitida de um

ponto a outro. MEGGINSON (1998) classifica estes fluxos de informações através da

organização da seguinte forma:

a) Descendente: vem de cima para baixo na estrutura organizacional, ou seja,

dos níveis mais altos para os níveis mais baixos da organização;

b) Ascendente: são informações ou retroinformação de dados dos níveis mais

baixos para os níveis mais altos da organização;

c) Lateral ou Horizontal: acontece entre unidades organizacionais e entre

pessoas de mesma função dentro da organização;

d) Diagonal: cruza diagonalmente a cadeia de comando de uma organização, ou

seja, entre unidades organizacionais e níveis diferentes ao mesmo tempo.

4) Margem de Controle:

A margem de controle define o número de subordinados que pode ser controlado

de forma eficaz por uma gerência. Uma esfera de controle pequena – em que poucos

funcionários estão sob o controle de um gerente - pode implicar num melhor grau de

gerenciamento, mas aumenta os custos envolvidos com níveis gerenciais. Esferas

maiores de controle – em que muitos funcionários estão sob o controle de um gerente -

requerem um esforço maior para aumentar a maturidade profissional dos indivíduos e

dos grupos da organização, para aumentar o grau de delegação, para melhorar a clareza

da comunicação e dos objetivos comuns da organização.

Page 80: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

79

5) Centralização e Descentralização:

Em algumas organizações os gerentes de topo tomam todas as decisões e os

gerentes de níveis mais baixo apenas as levam adiante. Por outro lado, existem

organizações onde a decisão é tomada pelos funcionários que estão mais perto da

“ação”, ou seja, do ambiente em que a decisão é demandada.

A centralização refere-se ao nível em que a tomada de decisão está

concentrada, neste caso as pessoas do nível mais alto tomam decisões sem nenhuma

participação das pessoas dos níveis mais baixos.

Já a descentralização refere-se ao grau em que são delegados poderes, de forma

que as pessoas dos níveis mais baixos detenham autonomia para tomar decisões. Em

uma organização descentralizada a decisão pode ser tomada mais rapidamente, já que

quem vai tomá-la estará mais perto do problema a ser resolvido, tendo inclusive mais

conhecimento sobre a questão.

Em organizações altamente centralizadas, não há confiança suficiente nas

pessoas para que estas tomem decisões; já em organizações com menor grau de

centralização existe confiança para permitir que as atividades sejam desempenhadas

com maior autonomia (HALL, 1998). Assim, conforme a atribuição do poder de uma

organização estabelece-se o nível de centralização ou descentralização do processo de

tomada de decisão.

6) Formalização:

A formalização refere-se ao nível em que as atividades estão padronizadas na

organização. A formalização das funções afeta o nível de autonomia atribuído ao

ocupante do cargo no processo de tomada de decisão.

Organizações com alto grau de formalidade fornecem um grau mínimo de

autonomia ao ocupante do cargo para decidir o que deve ser feito, quando deve ser feito

e como deve ser feito. Neste caso, existem descrições explícitas das tarefas, muitas

regras organizacionais e procedimento claramente definidos a respeito dos processos de

Page 81: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

80

trabalho. Vasconcellos e Hemsley (1997) observam que neste caso as decisões são

tomadas de acordo com as normas e sempre que possível são colocadas em escrito.

Em contrapartida, em organizações com baixo grau de formalização, os

comportamentos de trabalho são relativamente não-programados e os empregados têm

uma grande liberdade para exercitar autonomia em seu trabalho. Assim, quanto maior a

formalização, menor será possibilidade dos funcionários adotarem comportamentos

alternativos. Na verdade, se o trabalho for padronizado se estará eliminando a

possibilidade e a necessidade dos empregados considerarem alternativas.

O grau de formalização pode variar entre as organizações e dentro das

organizações, já que certos cargos podem ter alta formalização e outros podem possuir

baixa formalização.

Tamayo (1997) observa que a estrutura organizacional define o sistema social da

organização, as funções que devem ser executadas e as relações entre as diversas

unidades e entre os membros da organização. Neste contexto, podem estar presentes

certos valores culturais que expressam preferência nítida pela hierarquia (autoridade,

poder social, influência, supervisão) e também podem estar presentes valores culturais

que expressam igualitarismo, valorização das pessoas, equidade, responsabilidade.

Dessa forma, promover a mudança da estrutura organizacional pode ser uma

tarefa árdua e sujeita à resistência, pois implica em modificar valores culturais

subjacentes à estrutura. Neste caso, tratando-se de mudança na estrutura organizacional

é preciso considerar as dificuldades apontadas anteriormente em relação à mudança da

cultura organizacional.

Page 82: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

81

4. A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING

Conforme Freitas (1991) salienta, um dos fatores que torna as empresas bem

sucedidas é a compatibilidade cultural. Neste sentido, a harmonia dos pressupostos do

método de desenvolvimento de software com os fatores organizacionais da empresa de

software é crucial para sua implantação de forma satisfatória.

Assim sendo, torna-se importante a prévia verificação da adequação dos fatores

organizacionais ao método XP a fim de evitar-se experiências malfadadas e desgastes na

empresa ou, se for o caso, gerenciar melhor a implantação do método.

Trata-se de uma reflexão muito pertinente tendo em vista a grande dificuldade

de se mudar a cultura organizacional, e conseqüentemente a estrutura - que está baseada

em valores culturais - conforme salientado no capítulo 3.

Tendo por base essas premissas, neste capítulo busca-se demonstrar a influência

dos fatores organizacionais na adoção da XP identificando-se os aspectos culturais e

estruturais das empresas de software que sejam favoráveis ou desfavoráveis ao método.

Para alcançar tal objetivo, são analisadas as 7 dimensões da cultura e as 6

dimensões da estrutura organizacional, identificadas anteriormente, sob a perspectiva

das práticas e valores XP. Essa análise - baseada na bibliografia sobre o tema e

observações e relatos empíricos - possibilita a formulação de uma lista de verificação

da adequação dos fatores organizacionais das empresas de software que pretendam

adotar o método XP.

Page 83: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

82

4.1 Cultura Organizacional e a Extreme Programming

4.1.1 Dimensão: Inovação e Risco

Conforme já mencionado, o método XP é um conjunto de práticas já conhecidas

pela engenharia de software, porém a sua inovação configura-se na forma como estas

práticas estão organizadas e como elas são executadas, modificando bastante as relações

de trabalho e a forma de desenvolver software.

Ao se desenvolver software com a XP não se segue um processo prescritivo,

mas há um planejamento mínimo e curto, com constante possibilidade de mudança.

Beck (2004) afirma que os integrantes de uma equipe XP tornam-se nômades

intelectuais, sempre preparados para levantar acampamento e seguir o bando. Neste

caso, o bando pode ser um projetista que quer seguir uma direção diferente da

antecipada, ou um cliente que quer modificar algo, ou uma tecnologia nova.

O simples fato de ter o cliente dentro da empresa diariamente tendo contato

direto com os desenvolvedores representa uma mudança considerável e implica

alterações no status quo. O cliente pode mudar os requisitos durante a implementação,

introduzir novas histórias e até mudar a direção do projeto, sendo que os

desenvolvedores devem estar aptos para lidar com estas mudanças.

Como na XP se trabalha com requisitos vagos, os desenvolvedores deverão ser

criativos, inovadores, capacitados e estar sempre preparados para o inesperado, pois não

contam com um plano dirigido a longo prazo.

Além disso, o processo iterativo e incremental utilizado na XP enfatiza

características humanas de aprendizagem e suposição, assim os desenvolvedores estão

sujeitos a erros quando estão estimando, analisando requisitos, projetando e testando,

sendo que não há como evitar riscos de erro. O problema é que muitos gerentes de

software têm resistências ao processo iterativo e incremental justamente por causa do

Page 84: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

83

risco, preferindo falhar do modo conservador ao invés de correr risco de modo diferente

(COCKBURN, 2001).

Para que os desenvolvedores possam agir de forma criativa e correr riscos o

valor XP Coragem deve estar presente. Por isso é preciso verificar quais os aspectos

organizacionais que influenciam na disposição dos desenvolvedores para inovar e correr

riscos.

Ao se perguntar aos membros de uma empresa de software se a mesma está

aberta a inovações a resposta provavelmente será positiva, porém algumas vezes a

inovação pode ser apenas um valor desejado pelo gerente ou pela própria equipe. É

possível verificar a efetivação destes valores, observando os mecanismos criados para

gerar inovação e também se os integrantes da empresa são propensos a inovar.

Algumas atitudes que ajudam a revelar se o funcionário possui perfil inovador

podem ser identificadas no hábito de se questionar e de questionar os outros para ver se

existe uma forma melhor para fazer as atividades, adaptar idéias colocando-as em seu

contexto de trabalho, aceitar com facilidade as mudanças na rotina, expressar desejo de

aprender e experimentar novas tecnologias (MAYO, 2001).

Por outro lado, para impulsionar a inovação e a criatividade é fundamental que a

empresa se mantenha aberta às idéias e sugestões dos desenvolvedores, escutando-as e

implementando-as. Os desenvolvedores precisam sentir que suas opiniões são

valorizadas no trabalho para terem motivação para desenvolver software de forma

criativa.

A forma como são tratados os erros dos desenvolvedores também possui forte

influência sobre o quanto os mesmos estão propícios a inovar. A empresa que possui o

hábito de “apontar o culpado”, repreender abertamente ou até punir os desenvolvedores

que cometem falhas acaba inibindo a inovação e a pré-disposição dos mesmos para

correr riscos.

No ambiente de trabalho favorável à XP, os desenvolvedores precisam poder dar

más notícias aos clientes e à gerência - o quanto antes – e fazê-lo sem ter medo de ser

punidos (BECK, 2004). Existindo um sistema de punição de erros, os desenvolvedores

Page 85: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

84

procurarão apenas seguir o plano do projeto e serão relutantes a se reportar à gerência

em caso de dúvidas ou identificação de falhas.

Além disso, a punição dos erros reflete diretamente no desempenho dos

desenvolvedores. As pessoas agem com cautela quando lhes é negada a permissão para

errar, nunca ultrapassam seus limites e costumam estabelecer metas mais baixas das que

podem realizar (TRACY, 1994). Em conseqüência, a empresa perde a oportunidade de

obter a programação intensa e produtiva que a XP requer.

Claro que não se está sugerindo que se permita que as pessoas errem a qualquer

tempo e em qualquer lugar, mas é preciso estabelecer diretrizes para o erro, deixando

claras as situações em que falhas não são toleradas - como em caso de omissão e

desleixo (TRACY, 1994).

O sistema de punição pode funcionar como um tabu, servindo para orientar

comportamentos e enfocar atitudes não bem-vistas ou não permitidas, desestimulando a

inovação. A forma de tratar os erros acaba atuando como fator de sustentação da cultura

existente na empresa. Se a cultura é no sentido de apenas se cumprir normas e não

correr riscos, o sistema de identificar, criticar publicamente e até punir os “culpados”

garante a permanência da referida cultura.

Assim, mesmo que cometer erros faça parte do processo de desenvolvimento de

software, em algumas empresas a forma como eles são tratados pode caracterizar um

inibidor para os desenvolvedores. É possível identificar o tratamento dado aos erros

através das estórias existentes na empresa, nas quais são relatadas as falhas cometidas e

como elas foram tratadas pelos superiores.

Na XP, o gerente deve ser um motivador que estimula a tensão criativa dos

desenvolvedores, assim sendo, os erros devem ser encarados como parte do processo de

aprendizagem, até porque a XP requer um desenvolvedor que esteja em aprendizado

contínuo.

O sistema de recompensa (pecuniário ou não) também pode influenciar na

disposição dos membros da empresa para trabalhar de forma criativa e correr riscos. A

recompensa funciona como reforço positivo e como sinalizador do comportamento que

Page 86: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

85

a organização espera dos funcionários (CHIAVENATO, 2002). Desta forma, se o

sistema for direcionado para valores como criatividade e desempenho dos

desenvolvedores se estará diante de um ambiente favorável à XP.

O reconhecimento do comportamento exemplar costuma forjar heróis na

organização, o qual passa a servir de modelo para os outros funcionários. Assim o perfil

do funcionário padrão vai sendo moldado na empresa (inovador ou conservador). Além

disso, através das estórias e dos mitos as experiências anteriores relacionadas ao sistema

de punição e recompensa vão sendo repassadas aos novos funcionários, de forma a

orientar seu comportamento.

Também é fundamental que os desenvolvedores tenham autonomia para fazer

alterações sem necessidade de autorização prévia. Chiavenato (2002) observa que

quando a empresa determina tarefas altamente padronizadas para os funcionários está

eliminando totalmente sua capacidade de criar, mudar e inovar. Quando a empresa

encoraja a expressão individual acaba por se renovar e se revitalizar.

Os aspectos organizacionais apontados como favoráveis à adoção da XP devem

ser interpretados à luz das exigências do método, assim, não se deve confundir, por

exemplo, gerência facilitadora - que trata os erros como processo de aprendizagem -

com ausência de controle ou omissão em relação às suas responsabilidades.

Da mesma forma, assumir riscos e ter coragem não deve significar imprudência,

assim como inovação e simplicidade não deve corresponder à falta de planejamento.

Neste sentido, Bossavit (2002) comenta sobre um projeto XP que participou que é

bastante esclarecedor.

Bossavit (2002) identificou três aspectos organizacionais existentes na empresa

que determinam seu modo de agir e sua visão de mundo. O autor chamou estes

aspectos de “cultura”. Para Bossavit (2002), estes aspectos são os que contribuíram para

o fracasso do projeto XP, mas apesar disso, o autor nomeou-os de Paixão, Ousadia e

Fascínio - utilizou expressões positivas para denominá-los.

As culturas “Paixão” e “Ousadia” representam os valores que levaram a empresa

- que era formada por uma equipe jovem e sem sólidas experiências – a cometer a

Page 87: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

86

imprudência de firmar um contrato para desenvolver um sistema de software complexo

em um período de tempo extremamente curto (BOSSAVIT, 2002).

Estas culturas “Paixão” e “Ousadia” também influenciaram na decisão de adotar

um novo método de desenvolvimento de software neste projeto (método XP). Além

disso, as culturas permitiram que a empresa cometesse deslizes, como não procurar

manter o cliente presente e não mantê-lo informado sobre as dúvidas e problemas que a

equipe vinha enfrentando durante o processo de desenvolvimento (BOSSAVIT, 2002).

Assim, é incorreto acreditar que um projeto XP será bem sucedido apenas pelo

fato dos desenvolvedores se mostrarem motivados e dispostos a inovar e assumir riscos.

Embora esses valores sejam fundamentais, eles são apenas alguns, de uma gama de

valores que são necessários, como conhecimento, responsabilidade e coerência. É

preciso haver um equilíbrio entre estes valores.

Bossavit (2002) identificou a cultura “Fascínio” ao perceber que a equipe

direcionava sua atenção apenas para a elegância do código, descuidando de importantes

medidas internas de qualidade, como o nível de abstração, modularidade e redundância.

Desta forma, verifica-se que a preocupação superficial e visual com a qualidade

de software, não garante que os desenvolvedores realmente sejam cuidadosos e

orientados para detalhes – aspectos organizacionais importantes para a próxima

dimensão a ser abordada (Orientação para Detalhes).

Itens de verificação relacionados à dimensão Inovação e Risco

1. Os desenvolvedores procuram fazer sugestões para melhorias no processo de

desenvolvimento de software?

2. As sugestões dos desenvolvedores costumam ser consideradas e implementadas?

3. Como são tratados os erros na empresa?

4. O sistema de recompensa encoraja a inovação?

Figura 7: Itens de verificação - dimensão Inovação e Risco

Page 88: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

87

4.1.2 Dimensão: Orientação para Detalhes

A orientação para detalhes é uma premissa básica para a viabilidade da XP. Uma

das concepções mais equivocadas sobre a XP é que a mesma se refere a uma

metodologia caótica de desenvolvimento de software que satisfaz os hackers. Na

verdade, a XP requer programadores cuidadosos e orientados para detalhes que se

orgulham do seu trabalho (BURKE, 2003).

Asproni (2004) lembra que a XP, assim como todos os métodos ágeis, requer um

alto padrão de excelência, o qual se manifesta na contínua satisfação do cliente com o

prazo de entrega e com o software, que deve ser funcional, totalmente testado, simples,

fácil de ser modificado e com pouco ou nenhum erro.

O programador deve ser cuidadoso por hábito (BECK, 2004). É preciso existir

uma filosofia de melhoria constante, de forma a compreender o todo sem perder de vista

suas partes. A XP requer que os programadores sejam analíticos e detalhistas, já que o

código deve ser exaustivamente testado e revisado.

O desenvolvedor deve ter orientação para detalhes, sobretudo, para:

a) manter o código o mais simples e compreensível possível a fim de se realizar

refactoring e alterações na versão coletiva com segurança;

b) realizar testes intensivamente;

c) compreender o cliente e ajudá-lo a criar os cartões de histórias e de tarefas,

bem como a realizar testes de aceitação;

d) identificar erros do colega quando estiver programando em par;

e) realizar integração contínua.

Uma forma de identificar a afinidade da empresa de software com o método XP

no que diz respeito a esta dimensão é descobrir a importância dada à qualidade do

Page 89: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

88

software, mais precisamente a importância que os desenvolvedores e a gerência dão aos

testes.

A adoção da XP requer uma mudança radical de comportamento de gerentes e

desenvolvedores que não possuem um alto grau de orientação para detalhes. Várias

barreiras culturais podem surgir, como por exemplo, a mentalidade de que testar ou

realizar revisões no código é perda de tempo.

Além disso, as resistências podem ter origens de aspectos como a falta de

qualificação dos desenvolvedores ou planejamento deficiente, os quais acarretam

atrasos na entrega de software e acabam limitando o percentual de testes.

A adoção da XP pode ser difícil se esses valores decorrentes das barreiras

culturais estiverem arraigados, pois conforme surjam dificuldades é possível que se

volte a forma de agir que se estava habituado.

Diante desta situação, percebe-se a preocupação de Kent Beck em definir o

papel do treinador XP, o qual deve conduzir os desenvolvedores conforme as premissas

do método e redirecioná-los quando tenderem a trabalhar de acordo com seus valores e

pressupostos já consolidados.

O papel do treinador pode ser visto como o de um disseminador da cultura

adequada ao método XP, porém estudos sobre cultura organizacional revelam que

mudanças culturais são lentas e, em alguns casos, até inviáveis. Desta forma, destaca-se

a importância de não haver uma discrepância acentuada entre os valores culturais da

empresa e os pressupostos pela XP.

Outra implicação identificada nesta dimensão relaciona-se ao processo de

desenvolvimento de software iterativo e incremental com pequenos releases, o qual é

realizado na XP. Isto torna evidente a constante preocupação com a qualidade do

software que será entregue para o cliente e, consequentemente, exige mais orientação

para detalhes se comparado com o processo tradicional.

Page 90: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

89

Itens de verificação relacionados à dimensão Orientação para Detalhes:

1. Qual a porcentagem de tempo que os desenvolvedores costumam dedicar aos testes em

um ciclo de vida do sistema?

2. Qual a opinião dos desenvolvedores sobre intensificação de testes?

3. Os desenvolvedores costumam ser cuidadosos e detalhistas em relação a cada módulo do

software?

Figura 8: Itens de verificação - dimensão Orientação para Detalhes

4.1.3 Dimensão: Orientação para Resultados

Bossavit (2002) realizou um estudo de caso que pode auxiliar na compreensão

desta dimensão. O referido autor relata seu trabalho como treinador para um projeto de

software de caráter experimental da XP em uma empresa de desenvolvimento de

software fortemente orientada para resultados, pois a mesma possui uma cultura

organizacional fortemente direcionada para a minimização de custos.

Segundo Bossavit (2002), ao se implementar o projeto XP a empresa não

disponibilizou as condições necessárias para atender as exigências que este método de

desenvolvimento de software requer. Por exemplo, não foi providenciado hardware

apropriado, nem um ambiente adequado para se realizar programação pareada. Além

disso, a maioria dos desenvolvedores mais experientes foram designados para trabalhar

em outros projetos que a empresa considerava mais importantes e rentáveis, restando ao

projeto XP apenas os desenvolvedores novatos.

Tendo o treinador sugerido um treinamento prévio dos programadores que iriam

trabalhar no projeto XP, a empresa relutou em realizá-lo, considerando que tal atividade

seria um custo que poderia ser evitado. Estes foram alguns dos aspectos que Bossavit

vivenciou e que lhe possibilitaram observar que a cultura dessa empresa está baseada na

filosofia de “fazer mais com menos despesa”, de forma a comprometer a adoção da XP

(BOSSAVIT, 2002).

Page 91: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

90

Muitas vezes a cultura de minimizar custos pode ser oriunda de fatores externos

como a competitividade do mercado e a escassez de recursos financeiros, de forma que

o equilíbrio entre a busca pela lucratividade e a valorização dos funcionários e a

qualidade do software pode ser uma preocupação importante, porém difícil de realizar.

A orientação para resultados apropriada na XP está na satisfação e motivação

dos desenvolvedores e na entrega de produto de qualidade para o cliente dentro do prazo

estipulado, desta forma a lucratividade da empresa torna-se uma conseqüência destas

práticas.

Empresas de software com cultura fortemente orientada para minimização de

custos ou maximização do lucro podem apresentar maiores resistências ao método XP,

havendo inclusive chances de se estabelecer mitos da prática XP Programação pareada

(identificados no capítulo 2), como “programar em par é colocar duas pessoas fazendo o

trabalho de uma”.

Também é comum que empresas com esse aspecto cultural exijam desempenho

dos desenvolvedores em forma de horas extras, de maneira a obter o máximo de

rendimento no dia de trabalho. A XP tem uma abordagem muito clara em relação a isto,

recomendando que o trabalho além da jornada normal não seja utilizado, pois segundo

Teles (2004) tal prática não é compatível com a criatividade intensiva que é exigida de

um desenvolvedor de software XP.

Nos projetos XP, a prática Ritmo Sustentável requer que os desenvolvedores

trabalhem basicamente 8 horas por dia (40 horas por semana), desta forma se demonstra

respeito à integridade de cada membro da equipe e a agilidade do projeto aumenta

(TELES, 2004).

Assim, é necessário verificar se a empresa de software que deseja adotar a XP

equilibra a busca da lucratividade (e/ou minimização de custos) com a atenção aos

funcionários e ao cliente. Isso pode ser observado através de políticas e atitudes como: o

tratamento dispensado aos empregados, exigência de desempenho em forma de horas

extras, promoção de incentivos para o crescimento profissional do desenvolvedor, forma

de relacionamento com o cliente, a satisfação dos requisitos do cliente.

Page 92: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

91

Outro exemplo de como a forte orientação para a maximização do lucro pode

prejudicar a adoção da XP é fornecido por uma empresa que teve seus aspectos culturais

alterados. A empresa de pequeno porte, que já adotava XP, se lançou na produção de

um novo game idealizado pelos sócios, em um projeto considerado audacioso e

inovador para suas proporções. Para viabilizar o negócio foi preciso angariar capital

junto a investidores do mercado de desenvolvimento de software.

Os recursos da empresa passaram a depender dos investidores deste projeto, já

que a mesma se dedicou exclusivamente a ele. Todos na equipe de desenvolvimento

estavam conscientes de que o projeto era vital para sobrevivência da empresa e

manutenção de seus empregos, criando-se apreensão sobre o lançamento do produto no

mercado.

Contudo, como os investidores criaram grandes expectativas - encarando o

projeto como um negócio que deve rapidamente render altos índices de lucratividade

para compensar seus investimentos –, passaram a fazer cobranças a respeito do

resultado do projeto. A exigência de entrega de software em curtos períodos de tempo

acabou reduzindo o uso das práticas XP que a equipe já estava acostumada.

As práticas testes e refatoração foram as mais prejudicadas, pois para cumprir os

prazos estipulados os testes passaram a ser vistos como algo que poderia ser

minimizado ou até excluído do processo de desenvolvimento. Em função dos erros que

começaram a se tornar cada vez mais freqüentes (pela falta de testes e revisões), a

integração contínua também ficou prejudicada.

Instalou-se um ambiente de insegurança e apreensão na equipe, que acabou

perturbado o desempenho dos desenvolvedores. Além disso, as horas extras passaram a

ser rotina. Desta forma, a forte orientação para a lucratividade que se estabeleceu na

empresa reduziu a utilização da maioria das práticas XP e inviabilizou outras.

Page 93: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

92

Itens de verificação relacionados à dimensão Orientação para Resultados:

1. A empresa viabiliza o crescimento intelectual dos desenvolvedores?

2. Os programadores costumam fazer horas extras?

3. Os softwares costumam satisfazer todos os requisitos dos clientes?

4. Como são resolvidas as reclamações do cliente?

Figura 9: Itens de verificação - dimensão Orientação para Resultados

4.1.4 Dimensão: Orientação para Pessoas

De acordo com o Manifesto Ágil (Agile Alliance, 2001), é melhor ter pessoas

capacitadas e motivadas do que ferramentas e tecnologias caras. Highsmith (2002)

observa que os métodos ágeis são voltados para os desenvolvedores porque a forma

como o software é produzido depende essencialmente das pessoas.

Uma das coisas que é fundamental na XP, e a torna tão difícil, é que os

programadores precisam aceitar suas tarefas como uma responsabilidade e não como

uma ordem de trabalho. O programador precisa estar motivado para tentar primar o

máximo pela qualidade e simplicidades e testar continuamente as funcionalidades e

códigos (BECK, 2004).

Na XP o trabalho dos programadores não deve ser imposto de cima para baixo,

como por exemplo, o gerente simplesmente determinar as atividades e o tempo para

fazê-las, mas é necessário que a equipe assuma a responsabilidade de fazer o trabalho.

Ou seja, a equipe deve encarar o trabalho como algo que está disposta a realizar e não

simplesmente como uma ordem a cumprir.

Para que os desenvolvedores estejam dispostos a encarar as atividades de

trabalho como uma responsabilidade, eles precisam estar motivados. Segundo Mayo

(2001), o ambiente de trabalho afeta o nível de motivação dos funcionários,

comprometendo a lealdade e podendo encorajar ou inibir o uso total de suas habilidades.

Page 94: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

93

Existem muitas teorias que tentam caracterizar a motivação, cada uma delas têm

pontos fortes e fracos, não sendo genéricas o suficiente. Mas, segundo Asproni (2004),

pode-se considerar que existem dois fatores que influenciam a motivação dos

desenvolvedores de software: fatores intrínsecos e fatores extrínsecos.

Os primeiros referem-se a metas e a aspirações individuais: realização,

reconhecimento, expectativa de crescimento e relações sociais; enquanto que os

segundos dependem do ambiente que cerca as pessoas e de suas necessidades básicas:

salário, ambiente de trabalho e responsabilidade (ASPRONI, 2004).

A empresa que pretende utilizar a XP deve estar preocupada em promover

políticas de valorização do capital humano e demonstrar zelo pelos seus funcionários, a

fim de que estes se encontrem suficientemente motivados para que possam atingir o

desempenho desejado no referido método. Assim, benefícios e participação nos lucros

podem concorrer para a satisfação da equipe de desenvolvimento de software.

Também é importante que o salário dos desenvolvedores atenda suas

necessidades e expectativas, pois se os mesmos estiverem insatisfeitos com sua

condição na empresa dificilmente encontrarão motivação para se adequar às práticas e

valores XP. O plano de carreira também é um importante motivador para os

desenvolvedores, que tendo em vista oportunidades de crescimento profissional estarão

mais dispostos a se empenhar no trabalho.

Quanto ao reconhecimento, Asproni (2004) destaca que o simples fato de

mostrar apreciação ao trabalho bem feito pelo desenvolvedor de software é um poderoso

motivador. Isto ajuda na auto-estima do desenvolvedor e estabelece um crescente nível

de confiança entre gerência, desenvolvedores e clientes, o que conduz para melhor

comunicação e melhor software.

A atenção que a empresa dedica aos desenvolvedores de software também pode

promover a fidelidade dos mesmos, o que pode refletir na aceitação de mudanças

realizadas no ambiente de trabalho. No caso da adoção da XP, é interessante atentar

para as considerações de Fowler (2003) de que os processos ágeis, por serem totalmente

Page 95: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

94

dependentes das pessoas, não podem ser impostos na empresa, mas deve haver sua

ampla aceitação tanto pela gerência quanto pelos desenvolvedores.

Desta forma, primeiramente as pessoas devem estar dispostas a adotar a XP,

porém se houver uma relação de lealdade entre a equipe de desenvolvimento de

software e a empresa - de forma que ocorra o engajamento com os ideais e valores da

organização - poderá haver menos resistência para a adoção do método.

Itens de verificação relacionados à dimensão Orientação para Pessoas:

1. Quais os benefícios que a empresa concede aos funcionários?

2. Os desenvolvedores estão satisfeitos com o salário?

3. Existe um plano de carreira na empresa?

4. Os desenvolvedores estão comprometidos com o trabalho?

Figura 10: Itens de verificação - dimensão Orientação para Pessoas

4.1.5 Dimensão: Orientação para Equipe

Esta dimensão está relacionada com a forma como a gerência da empresa

costuma orientar as tarefas de trabalho: para indivíduos ou para a equipe. Isto é, se os

trabalhos são dirigidos para cada desenvolvedor ou são direcionados para a equipe como

um todo.

Atividades de trabalho mais direcionadas para equipe configuram um aspecto

favorável para a adoção da XP, pois suas práticas e valores necessitam de trabalho

integrado. Neste método o trabalho em equipe é supervalorizado, sendo viabilizado

através da comunicação, feedback, vocabulário comum e preferência por formas mais

diretas de comunicação.

Page 96: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

95

Empresas que costumam direcionar as atividades mais para indivíduos podem

encontrar dificuldades na adoção do método XP, pois assim agindo a empresa está -

indiretamente - desestimulando o “espírito de equipe” e a visão compartilhada dos

objetivos do trabalho, criando espaços para o individualismo.

É possível que uma empresa de software acredite que esteja orientando o

trabalho para equipe, quando na verdade isto não está ocorrendo. Uma empresa que

possui como valor desejado o trabalho em equipe muitas vezes pode estar apenas

dividindo as tarefas entre os indivíduos do grupo. Esta situação pode ser identificada

quando se verifica a intensidade da cooperação entre os desenvolvedores e o quanto eles

conhecem as funcionalidades que os colegas estão codificando.

Kirby (2003) diferencia desenvolvimento de software em equipe de

desenvolvimento de software em grupo. O autor considera um cenário em que um grupo

de desenvolvedores recebe o documento do projeto sem ter maiores contatos com a

pessoa que especificou os requisitos. Posteriormente, o líder da equipe ou gerente do

projeto divide o documento em módulos que são entregues para cada desenvolvedor, os

quais tratam de implementar a sua parte e quando todas estiverem prontas são

integradas e testadas.

Segundo Kirby (2003), este cenário mostra que houve apenas uma divisão de

trabalho para o grupo, mas não houve o trabalho em equipe. Em uma verdadeira equipe

seus integrantes compartilham um conjunto de metas, possuem uma visão direcionada e

colaboram continuamente. Então, para que um grupo de desenvolvedores seja realmente

uma equipe de desenvolvimento de software é necessário compartilhar mais do que o

ambiente físico, ou seja, devem existir objetivos compartilhados e ajuda mútua.

Asproni (2004), ao tratar de equipes de desenvolvimento de software, afirma que

o espírito de equipe existe quando os indivíduos estão envolvidos em um forte

sentimento de identificação e comprometimento com a equipe - o que não é fácil de

acontecer. Ele ocorre quando todos os membros desejam se dedicar à equipe e as

energias para a realização das metas em comum orientam as pessoas na mesma direção.

Desta forma haverá um motivador para se estabelecer metas claras e envolver a equipe

em todas as fases do projeto.

Page 97: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

96

Segundo Sharifabdi (2002), criar uma equipe de desenvolvimento é um processo

de transformar um grupo de desenvolvedores com interesses diferentes e com

experiências anteriores em uma equipe integrada e efetiva em uma única tarefa.

Sommerville (2003) enumera uma série de fatores que influenciam no trabalho

em equipe: composição (se existe equilíbrio de habilidades, experiência e

personalidade); coesão (se o grupo pensa em si como equipe); comunicação (se os

membros da equipe se comunicam eficazmente); e organização (se a equipe está

organizada de forma que todos se sintam valorizados e satisfeitos com seu papel).

Para Somerville (2003), os gerentes podem encorajar a coesão da equipe de

desenvolvimento de software de diversas maneiras, por exemplo, através da realização

de eventos de confraternização e de esportes coletivos que reforcem a socialização entre

os membros. Estas práticas, conhecidas como Ritos de Integração, podem contribuir

para que o trabalho em equipe realmente aconteça.

Por outro lado, Bossavit (2002), relatando suas experiências pessoais como

treinador de XP, identificou a diferença entre a cultura de comunicação e a cultura de

convivência em uma equipe de desenvolvimento de software. O referido autor notou

que fora do ambiente de trabalho os desenvolvedores possuíam uma convivência aberta

e descontraída, o que não condizia com o ambiente de trabalho, onde a comunicação

parecida ofuscada pelo controle rígido da gerência e pela pressão do tempo para entrega

de software.

Na equipe XP não deve haver formalidade e burocracia entre os

desenvolvedores, de forma a comunicarem-se sem barreiras, sendo que as decisões

devem ser buscadas por meio de discussão e consenso entre os membros. É preciso uma

equipe coesa em que os desenvolvedores podem contar uns com os outros, pois

confiança é essencial para a performance e a interação da equipe.

Para usar a XP os desenvolvedores precisam estar comprometidos com uma

visão compartilhada, já que as suas atividades estão interligadas, complementando-se

mutuamente. A visão dos desenvolvedores deverá ser também sistêmica, ou seja,

Page 98: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

97

abrangente de tal forma que se consiga interligar todas as implicações da tarefa que se

está realizando.

Algumas políticas da empresa também podem ter repercussões no trabalho em

equipe. Se o sistema de recompensa da empresa estiver voltado para o indivíduo, pode

gerar concorrência entre os desenvolvedores e dificultar ou até impedir o “espírito de

equipe”. Por outro lado, se o referido sistema estiver voltado para a equipe, pode

estimular a coesão entre os desenvolvedores, bem como a motivação.

Outra política que pode ter reflexos importantes no trabalho em equipe é o

sistema de avaliação de desempenho utilizado na empresa. A avaliação de forma

individual acaba fomentando a busca de desempenho individual e pode gerar

competição. Já a avaliação por equipe desencadeia sentimento de união e esforço

conjunto para alcançar um bom desempenho, podendo surgir inclusive preocupação

com as dificuldades dos colegas.

Além do trabalho em equipe dos desenvolvedores de software, o método XP

contempla um princípio bem particular, trata-se da prática Cliente sempre presente. De

acordo com esta prática, o cliente deverá trabalhar diretamente no projeto, como um

membro efetivo da equipe de desenvolvimento de software, projetando, priorizando

funcionalidades e realizando testes de aceitação.

Para implementar software junto com o cliente a equipe precisa ser atenta,

prestativa e disposta a escutar. Os desenvolvedores devem ter paciência para usar

metáfora, dialogar com alguém que provavelmente não tem seu nível técnico, tentar

entender as prioridades do cliente e ser flexíveis e tolerantes para as possíveis mudanças

que ele possa pretender fazer no software.

Desta forma, é preciso investigar a predisposição da equipe de desenvolvimento

de software para manter contatos constantes com o cliente, bem como se os

desenvolvedores possuem as habilidades necessárias.

Em um estudo de caso, Rising (2002) demonstra a importância do trabalho em

equipe, bem como da prática de reuniões freqüentes para a resolução de problemas e o

progresso de um projeto de software.

Page 99: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

98

A experiência vivida por Rising (2002) está relacionada a uma equipe de

software que enfrentava problemas de comunicação e coordenação. Esta equipe era

composta por pessoas de vários projetos e tinha a tarefa de criar um conjunto integrado

de ferramentas. Como os integrantes da equipe pertenciam a diferentes departamentos, a

mesma não possuía um local de trabalho fixo.

Em cada departamento que a equipe se reunia, um novo líder de equipe era

nomeado. A equipe era composta por desenvolvedores experientes - acostumados a

pensar e resolver problemas por conta própria – mas, neste caso, o grupo não vinha

obtendo bons resultados.

A mudança começou a ocorrer quando foi nomeado um líder de equipe com

estilo gerencial, isto é, diferente do sistema hierárquico de gerência adotado até aquele

momento. Ao identificar o problema de comunicação que estava ocorrendo, o novo líder

propôs a adoção de um método de desenvolvimento ágil - Scrum - e a realização de

pequenas reuniões, de 2 a 3 vezes por semana.

No início a idéia de fazer reuniões enfrentou resistência por parte dos

desenvolvedores, que afirmavam estar muito ocupados com o seu trabalho. Porém, com

a persistência do líder, as reuniões começaram a ocorrer e ao invés de um controle

severo do mesmo sobre a pauta da reunião, a tática adotada foi proporcionar um

ambiente onde as pessoas pudessem falar sobre o que estavam desenvolvendo e sobre as

dificuldades que estavam enfrentando.

As reuniões eram de curta duração e não possuíam o intuito de resolver

problemas no momento, mas serviam para exposição dos problemas, oferta de ajuda e

acordo sobre troca de experiências que deveriam ocorrer depois da reunião.

Rising observou que conforme as reuniões foram ocorrendo, a equipe começou a

se unir. Ao invés das pessoas participarem das reuniões apenas para procurar ajuda, elas

demonstraram interesse espontâneo em tentar ajudar os colegas. Assim, quando um

membro da equipe encontrava um obstáculo todo o conhecimento da equipe era

mobilizado para tratar do problema.

Page 100: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

99

Rising (2002) concluiu que se não tivessem ocorrido reuniões com discussões

sobre os problemas os desenvolvedores continuariam perdendo muito tempo tentando

resolvê-los antes de pedir ajuda aos colegas. Após esta experiência os desenvolvedores

conseguiram entregar mais facilmente o produto com qualidade dentro do prazo

estabelecido. A autora salienta também, que a partir deste projeto o grupo passou a ser

entusiasta da prática de reuniões freqüentes e do trabalho em equipe.

No estudo de caso de Rising (2002), as reuniões demonstraram a importância

da comunicação em um projeto de software. Esta experiência está relacionada com a

orientação para equipe, que por sua vez, depende de outros aspectos como o estilo de

liderança da gerência ( relacionado com a dimensão Centralização e Descentralização) e

o relacionamento satisfatório entre as pessoas envolvidas no projeto (relacionado com a

dimensão Agressividade).

Itens de verificação relacionados à dimensão Orientação para Equipes:

1. As atividades relacionadas ao desenvolvimento de software são mais orientadas para

tarefas individuais ou para tarefas em equipe?

2. São realizados Ritos de Integração na empresa?

3. Existe “espírito de equipe” entre os desenvolvedores?

4. O sistema de recompensa está direcionado para o indivíduo ou para a equipe?

5. A avaliação do desempenho é feita de forma individual ou por equipe?

6. Os desenvolvedores já tiveram alguma experiência de contato direto com o cliente?

Como ocorreu?

Figura 11: Itens de verificação - dimensão Orientação para Equipes

Page 101: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

100

4.1.6 Dimensão: Agressividade

Referindo-se aos métodos ágeis, Miller (2003) afirma que mesmo que a

orientação para pessoas seja uma questão cultural, os métodos ágeis podem

proporcionar mecanismos para os desenvolvedores colaborarem entre si. Porém o autor

ressalta que é necessária uma equipe formada por profissionais qualificados para obter

esta evolução.

A partir das considerações de Miller é possível sugerir que uma empresa que

pretenda adotar um método ágil como a XP precisa ter um percentual considerável de

desenvolvedores bons e motivados em sua equipe, de forma que por meio de

colaboração se encarreguem de capacitar e conduzir os colegas menos experientes. No

entanto, a questão cultural parece não ser tão simples, pois está baseada em convicções

e valores dos membros da empresa.

A colaboração deve estar envolvida nas práticas, nos valores e em todo o

ambiente de trabalho de um projeto XP. A ênfase na comunicação face a face, ambiente

de trabalho compartilhado, interação com o cliente e desenvolvimento de software

iterativo e incremental são alguns dos fatores que comprovam essa premissa.

Na prática Programação pareada, por exemplo, se duas pessoas formam um par

de manhã, à tarde elas podem facilmente fazer duplas com outros colegas, assim, se o

desenvolvedor ficar responsável por uma área que não lhe é familiar, terá que pedir para

alguém com experiência recente para fazer uma dupla (BECK, 2004). Neste caso, um

desenvolvedor deve estar disposto a ensinar o outro, transmitindo-lhe seu conhecimento.

Alguns indícios podem ajudar a detectar se existe colaboração entre os

desenvolvedores. É preciso verificar se costumam recorrer aos colegas quando surgem

dúvidas, se resolvem problemas de forma colaborativa, se compartilham conhecimentos

e informações sobre suas tarefas, se a comunicação entre eles ocorre de forma informal

e franca. Estes aspectos culturais também podem revelar se há honestidade e confiança

para se expor diante dos colegas - aspectos essenciais para adoção da XP.

Page 102: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

101

Cockburn (2001) ressalta que é preciso ser cauteloso em ambiente que haja

excessivo zelo e respeito pelos colegas a ponto dos desenvolvedores não discordarem

sobre decisões técnicas por medo de ofenderem-se. Torna-se necessário não confundir

discussão técnica com discussão pessoal.

A discussão técnica é benéfica para o projeto e pode ocorrer, por exemplo, na

escolha da linguagem de programação. Já a discussão pessoal pode ser originada de

diferenças pessoais que geram competição e conflitos internos no projeto.

A necessidade de contar-se com um ambiente colaborativo, em que as pessoas

possam confiar umas na outras, torna-se bem clara na prática Código Coletivo, em que

qualquer desenvolvedor pode modificar qualquer parte do código, em qualquer lugar do

sistema e a qualquer momento.

A ruptura com os métodos tradicionais de software é grande, considerando-se

que na propriedade individual somente o proprietário do trecho do código pode alterá-

lo, e se alguém perceber que o código precisa de alteração vai precisar da autorização do

proprietário para fazer a modificação. Na XP, usando-se a propriedade coletiva do

código todos são responsáveis pelo sistema inteiro.

Para apontar erros e alterar o código dos outros programadores é preciso haver

honestidade e respeito na equipe e também coragem para corrigir o que está errado,

mesmo que o erro seja do colega. Os desenvolvedores precisam ter liberdade para

expressar seus receios e precisam receber e dar apoio.

A colaboração pode ser estimulada através de Ritos de Integração, como

confraternizações e esportes praticados em grupo. Por mais que existam divergências e

conflito entre os funcionários, estas práticas forçam o convívio e podem amenizar a falta

de colaboração que possa existir.

Por outro lado, a gerência pode também promover a competição entre os

desenvolvedores acenando a possibilidade de recompensa e reconhecimento individuais.

Entretanto, uma atmosfera de competição pode ser criada pelos próprios membros da

equipe, se este for o perfil dos desenvolvedores. Neste caso a competição pode surgir

Page 103: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

102

como uma disputa de egos. De qualquer forma, a competição entre os membros da

equipe configura-se em um aspecto desfavorável à adoção da XP.

Conflitos pessoais existentes na equipe de desenvolvimento também são

desfavoráveis à XP, já que dificilmente se conseguirá realizar práticas como

Programação pareada e Código Coletivo com desenvolvedores que possuem barreiras

emocionais entre si.

Em relação ao cliente, Highsmith (2002) diz que sempre há conflito nas relações

cliente-desenvolvedor, pois “os clientes sempre querem mais, mais rápido, custo mais

baixo e alta qualidade, já os programadores querem mais tempo, exigências estáveis e

pagamentos adicionais”.

Conforme Kent Beck (apud HIGHSMITH, 2002) afirma, quando os clientes não

adquirem tudo o que querem e os programadores não são pressionados demais é

possível alcançar um equilíbrio razoável. Os conflitos podem ser inevitáveis, mas o que

faz a diferença é como se lida com eles. Conflitos poucos controlados reduzem a

confiança, enquanto conflitos bem controlados melhoram a confiança, assim se pode ter

um ambiente virtuoso ou destrutivo (HIGHSMITH, 2002).

Também é muito importante para a XP a existência de um bom relacionamento

entre a gerência e os desenvolvedores de forma que estes possam obter rapidamente as

informações que precisam sem empecilhos resultantes de formalidade e subordinação.

A equipe XP precisa ter confiança e proximidade com a gerência, pois os contatos

exigidos aumentam bastante neste método, sendo que o gerente deve estar disposto a dar

atenção à equipe.

A observação do departamento de informática de uma instituição de ensino que

estava tentando adotar XP permitiu identificar alguns aspectos da cultura e estrutura

organizacional relacionados com a dimensão Agressividade.

Em conversa com um desenvolvedor do departamento de informática, foram

obtidas informações sobre a forte disputa pelo poder dentro da organização, a qual

pressupõe o insucesso na tentativa da adoção da XP. Segundo o desenvolvedor, o

Page 104: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

103

gerente do departamento possui um forte anseio de ascensão profissional, visando

assumir cargos mais importantes dentro da organização.

Conforme o relato, estes valores do gerente do departamento conduzem a

comportamentos que revoltam os colegas. Por exemplo, ao apresentar os resultados do

trabalho da equipe de desenvolvimento aos seus superiores, o gerente do departamento

costumava atribuir a si os méritos e conquistas - quando na maioria das vezes são do

grupo.

Com esta atitude o gerente acredita estar se fortalecendo na hierarquia de poder

da organização. Suas crenças e valores geram um clima de desconfiança no

departamento, de forma que os colegas são vistos como rivais que podem ameaçar sua

posição.

Porém, observando o local de trabalho e conversando com outros membros da

equipe de desenvolvimento de software, percebeu-se que esta disputa pelo poder acabou

contaminando toda a equipe. A competição faz parte da cultura organizacional e não se

limita ao gerente do departamento, pois existe um sentimento de desconfiança e forte

disputa de poder na instituição.

Embora os desenvolvedores estivessem programando em um ambiente único e já

tenham adotados algumas práticas XP, como integração de código, refatoração e

padrões de programação, pelo que se verificou a programação em par praticamente não

é utilizada porque os desenvolvedores achavam que o trabalho “rende mais se for

individual”.

Na verdade, a equipe não conseguiu adotar a XP, limitando-se a utilizar algumas

práticas isoladas que demandam trabalho individual, o que certamente decorre da falta

de confiança e colaboração entre os desenvolvedores.

Page 105: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

104

Itens de verificação relacionados à dimensão Agressividade:

1. Os desenvolvedores costumam recorrer aos colegas quando surgem dúvidas ou

dificuldades? Há ajuda mútua?

2. Os desenvolvedores compartilham conhecimentos e informações?

3. Há um bom entrosamento na equipe de desenvolvimento?

4. Há competição entre os desenvolvedores?

5. Há conflitos entre os desenvolvedores? Como são resolvidos?

6. Como é o relacionamento entre a equipe e a gerência?

Figura 12: Itens de verificação - dimensão Agressividade

4.1.7 Dimensão: Estabilidade

A cultura de uma empresa pode ser não-adaptativa e voltada para o status quo,

de forma que apresente baixa capacidade de mudança e conservadorismo. Estas

organizações mantêm idéias, valores, costumes e tradições que permanecem arraigados

e que não mudam ao longo do tempo, ou seja, permanecem como se nada tivesse

ocorrido ao seu redor (CHIAVENATO, 1999).

A adoção do método XP sempre requer mudanças em qualquer empresa de

software. Porém, alguns elementos organizacionais relativos à dimensão Estabilidade

podem representar uma barreira para a adoção do referido método. A mudança sempre

cria problemas, independentemente do grau de planejamento, mas o número e os tipos

de problemas dependem da organização e da sua capacidade de mudar (ASTELS,

2002).

Algumas empresas são pouco dedicadas a sua adaptação ao mercado e às novas

tecnologias, valorizando mais a previsibilidade e a segurança já alcançada através das

técnicas que tiveram sucesso confirmado na empresa com o passar do tempo. Já outras

Page 106: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

105

empresas estão preocupadas em incorporar novas tecnologias e compreender as

tendências do mercado.

Geralmente as empresas de software admitem a necessidade de adaptabilidade,

mas nem sempre se empenham para torná-la realidade. Neste sentido, é preciso verificar

se a empresa costuma adotar novas tecnologias, se tem lançado software novo no

mercado, se costuma adotar novas formas de trabalho.

A adoção da XP pode ser aceita com mais facilidade em empresas que possuem

valores culturais relacionados à inovação, pois empresas que possuem dificuldades de

mudar o status quo, priorizando segurança e previsibilidade, podem preferir continuar

apegadas a sua forma habitual de desenvolver software.

O perfil dos desenvolvedores também influencia na aceitação do método XP.

Dois extremos podem ser citados como exemplo: programadores novatos que acreditam

que ao adotar a XP terão menos formalidade e mais produção de código; e

programadores mais experientes que já possuem pressupostos formados sobre como

devem desenvolver software - eventuais experiências frustrantes com outras mudanças

podem estar presentes - preferindo, assim, continuar usando o método que já estão

acostumados.

Itens de verificação relacionados à dimensão Estabilidade:

1. A empresa é aberta a novas tecnologias?

2. A empresa tem lançado novos softwares no mercado?

Figura 13: Itens de verificação - dimensão Estabilidade

Page 107: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

106

4.2 Estrutura Organizacional e a Extreme Programming

4.2.1 - Dimensão: Especialização do Trabalho

Mesmo em ambientes dinâmicos como os verificados em empresas de

desenvolvimento de software, o trabalho tende a gerar uma certa rotina em relação a

determinadas responsabilidades assumidas e problemas a serem resolvidos. Contudo, a

adoção do método XP requer que os desenvolvedores assumam mais responsabilidades

ao invés de desempenharem apenas os papéis que estão habituados.

Conforme Teles (2004), no método XP os desenvolvedores deverão analisar,

projetar e codificar o sistema, pois neste método não existem divisões claras para

analista, projetista e programador, mas cada desenvolvedor exerce estes diferentes

papéis em diversos momentos do projeto. Anderson (2003) afirma que o método XP

necessita de desenvolvedores generalistas e experientes.

Mesmo que o desenvolvedor seja especialista em alguma função, no método XP

o mesmo deverá conhecer e atuar em um número maior de tarefas, pois a tarefa

individual muda constantemente como resultado da interação com os demais

desenvolvedores da equipe.

Na programação pareada, por exemplo, todos formam pares com todos, sendo

que os pares mudam tanto que qualquer um pode assumir qualquer tarefa, desta forma,

há poucas chances de apenas uma ou duas pessoas compreenderem o sistema (BECK,

2004).

Vários fatores culturais poderão ter implicações ao se pretender que

desenvolvedores que não costumam assumir outras funções além da sua passem a

desempenhar atividades como realizar testes, realizar código coletivo e manter contatos

constantes com o cliente. Os desenvolvedores podem não estar dispostos a assumir

Page 108: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

107

mais responsabilidades, podem não deter conhecimento para realizar outras funções ou

até mesmo não ter aptidões para determinadas tarefas.

Empresas que possuem flexibilidade funcional de forma que os desenvolvedores

costumam assumir tarefas diferentes - mesmo que eventualmente - podem encontrar

mais facilidade de se adaptar ao método XP. Já empresas que possuem desenvolvedores

de software com papéis rigidamente definidos - que sejam especialistas em apenas uma

determinada função nos projetos de software, como banco de dados, qualidade do

software, análise de sistemas - estão mais sujeitas à resistência para se ajustar à XP.

Porém, para a XP não basta ter desenvolvedores generalistas se predomina entre

eles a baixa qualificação técnica, pois a sinergia das práticas XP pressupõe uma equipe

disposta, flexível e experiente. Caso haja um desnível de conhecimento técnico na

equipe é necessário que os desenvolvedores mais experientes transfiram conhecimento

para os menos experientes. Entretanto uma equipe formada somente por novatos pode

enfrentar grandes dificuldades nas práticas XP.

Quanto a um grande desnível de experiência entre os desenvolvedores, McBreen

(2002) afirma que após se adquirir experiência no uso da XP até se pode ter uma equipe

formada de desenvolvedores experientes, intermediários, e novatos, mas isto não deve

ocorrer no primeiro projeto XP, o qual requer desenvolvedores com bastante

experiência.

Além de possuir habilidades técnicas, os desenvolvedores XP devem possuir

também habilidades pessoais, que nem sempre se verificam nos programadores, por

exemplo: desenvoltura para tratar com o cliente, equilíbrio para se impor ou aceitar

quando necessário, coordenar-se e comunicar-se intensamente com outros

programadores.

Asproni (2004) entende que as habilidades pessoais fazem a diferença no método

XP. O autor diz que em sua experiência percebeu que é mais importante para um

desenvolvedor ágil ter habilidade para aprender novas técnicas e adaptar-se às

mudanças da situação. Desta forma, ao considerar os aspectos culturais e estruturais da

empresa para a adoção do método XP é fundamental avaliar o potencial de

Page 109: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

108

conhecimento, habilidades pessoais e flexibilidade funcional dos membros da equipe de

desenvolvimento de software.

Itens de verificação relacionados à dimensão Especialização do Trabalho:

1. Os desenvolvedores de software costumam assumir mais de uma função, por

exemplo, acumular papéis como programador, projetista, testador?

2. Considerando o conhecimento e as habilidades dos desenvolvedores, os mesmos

teriam condições de assumir mais de uma função num projeto?

3. Os programadores são relutantes para assumir mais responsabilidades pessoais?

4. Qual o nível de experiência dos membros da equipe de desenvolvimento de

software?

Figura 14: Itens de verificação - dimensão Especialização do Trabalho

4.2.2 - Dimensão: Departamentalização

Segundo o MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia (2004), a maioria das

empresas de software brasileiras é micro ou pequena, por isso as empresas deste porte

podem não possuir departamentos para cada atividade do processo de desenvolvimento

de software (departamento de design, departamento de programação, departamento de

qualidade, etc.). Por outro lado, é comum os desenvolvedores estarem separados por

baias ou salas.

A departamentalização pode gerar concorrência, fragmentação do trabalho e

dificultar a comunicação entre os desenvolvedores de software. As práticas XP

implicam em trabalho conjunto e integrado, de forma que se os desenvolvedores que

estejam trabalhando num mesmo projeto de software estiverem separados por baias, por

salas, ou estiverem em andares ou até em cidades diferentes haverá dificuldade para a

Page 110: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

109

adoção da XP. A dificuldade aumenta proporcionalmente à distância física verificada

entre os desenvolvedores.

A organização física do espaço de trabalho exerce grande influência na adoção

do método XP, pois suas práticas dependem de um espaço físico apropriado. Da mesma

forma, a eficácia dos valores XP como comunicação e feedback dependem da

proximidade das pessoas.

Segundo Williams (2000-a), para a realização da prática Programação pareada

um ambiente físico adequado é fundamental. O ambiente deve disponibilizar um certo

conforto, os desenvolvedores devem ficar sentados lado a lado, ambos tendo acesso ao

teclado e ao mouse, com boa visualização do monitor. A sala deve ser ampla para conter

todos os desenvolvedores e não devem existir divisórias ou cubículos que isolem as

duplas, já que a conversa com as outras duplas pode contribuir para determinadas

tarefas.

O ambiente único propicia a baixa documentação, pois a informação circula com

mais facilidade sendo mais informal.. Também proporciona a possibilidade dos

desenvolvedores acompanharem e estarem bem informados a respeito do trabalho dos

colegas, o que é necessário para alterar o código coletivo, realizar refactoring, definir os

cartões de tarefas a partir dos cartões de histórias e outras atividades que são realizadas

por praticamente todos os desenvolvedores.

Deve-se verificar se a empresa que pretende adotar o método XP possui o

ambiente físico adequado para sua implementação, de forma a viabilizar a efetivação de

suas práticas e valores. Caso o ambiente físico da empresa não esteja adequado, é

preciso investigar se é possível alterá-lo e, principalmente, se as pessoas estão dispostas

a se ajustar ao novo meio.

Criar um ambiente único para os desenvolvedores que estão acostumados a

trabalhar em baias ou em salas diferentes pode ser uma tarefa sujeita à resistência. Em

alguns casos remover baias ou divisórias pode gerar sensação de perda da

individualidade, ou de um espaço que o programador possua sentimento de posse, de

Page 111: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

110

forma que este possa entender que está sendo desrespeitado em relação a seus domínios

e privacidade.

É importante que os desenvolvedores estejam pré-dispostos a trabalhar em um

sistema de colaboração. Para tanto, deve-se procurar identificar se há incidência de

conflitos pessoais ou graus elevados de concorrência entre os desenvolvedores, caso em

que estes aspectos culturais podem barrar a efetivação da Programação pareada, a

utilização de Código Coletivo, a flexibilidade funcional e a comunicação informal e

franca.

A postura da empresa em relação aos funcionários também pode ser um fator

importante na viabilidade da criação de um espaço único de trabalho para os

desenvolvedores de software. É preciso identificar políticas da empresa que possam

incentivar ou desestimular o trabalho em equipe, pois estes aspectos podem influenciar

na disposição dos desenvolvedores de trabalharem em um ambiente único.

Tais fatores podem ser encontrados ao se verificar aspectos como: se a empresa

costuma direcionar o trabalho mais para a equipe que para o indivíduo, se os sistemas de

recompensa e de avaliação são individuais ou por equipe e se estimula a competição

como forma de alcançar o poder (Itens de verificação relacionados à dimensão

Orientação para Equipe).

Itens de verificação relacionados à dimensão Departamentalização:

1. Como está organizado o ambiente de trabalho dos desenvolvedores de software que

estejam envolvidos em um mesmo projeto?

2. Considerando aspectos culturais como colaboração, comunicação, espírito de equipe e o

entrosamento entre os desenvolvedores, é possível criar um ambiente de trabalho único?

Figura 15: Itens de verificação - dimensão Departamentalização

Page 112: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

111

4.2.3 Dimensão: Cadeia de Comando

As empresas de software podem possuir vários níveis hierárquicos ou

apresentarem níveis mínimos de hierarquia. Na hierarquia da empresa podem estar

presentes proprietários, gerentes administrativos, gerente de software, gerente de

qualidade de produto, etc.

A empresa que pretende adotar a XP precisa ter agilidade para atender demandas

como, manter contatos constantes com o cliente, estabelecer relacionamento e

comunicação aberta com a equipe de desenvolvimento de software e tomar decisões

rápidas sobre o projeto. Desta maneira, o número de níveis hierárquicos pode exercer

influência na adaptação ao referido método.

Além disso, caso a decisão de adotar a XP depender de várias pessoas, como

proprietários da empresa, gerentes e de subgerentes, é possível que sejam impostas

barreiras culturais que decorrem da necessidade de aceitação de valores que podem ser

considerados contrários ao mercado ou contrários a procedimentos e normas comum das

empresas como:

a) fazer contrato de escopo aberto - por causa do risco de desistência do

cliente, o que causa insegurança na negociação;

b) trabalhar com pouca documentação - pode parecer que se terá menos

segurança;

c) programação pareada – pode estar presente o mito de que haverá custo de

manter dois funcionários desenvolvendo o trabalho que apenas um poderia fazer;

d) disponibilizar mais tempo para testes – pode ser encarado como desperdício

de tempo.

Ou seja, a presença de crenças e alguns mitos a respeito da XP - os quais são

muito comuns - podem impedir a aceitação do método, e quanto mais pessoas tiverem

que dar seu parecer a respeito mais aumentam as chances de rejeição. Cabe considerar

Page 113: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

112

que mesmo que a escolha da uma nova tecnologia pareça uma decisão técnica, ela é na

verdade uma decisão de negócios, que pode depender inclusive do cliente da empresa.

Nos cargos hierárquicos pode estar presente o responsável por aprovar e destinar

recursos para os projetos de software, o qual é identificado como “Proprietário do ouro”

na XP. Na literatura que trata da XP, o papel do “Proprietário do ouro” normalmente é

negligenciado por se pressupor que a empresa já obteve o seu consentimento e o apoio

financeiro para o projeto de software.

Entretanto, um fator fundamental para a implantação da XP é a aceitação dos

responsáveis pela destinação de recursos para o projeto. Salvo os casos em que o

gerente do projeto possua a autonomia para decidir sobre o método, o “Proprietário do

ouro” deverá estar de acordo em investir recursos em projetos XP.

Níveis hierárquicos também podem se estabelecer dentro de equipes de

desenvolvimento de software por meio de cargos - mesmo que informalmente. Os níveis

hierárquicos podem estar configurados em cargos como líder de equipe, programador

sênior, programador júnior.

Tomayko (2004) diferencia 2 tipos de estruturas de equipes de desenvolvimento

de software, identificando equipes com estrutura hierárquica e equipes com estrutura

democrática.

a) Na estrutura da equipe democrática os membros são encarados como colegas,

e as opiniões dos programadores são consideradas como tendo o mesmo peso. As

equipes democráticas tendem a nivelar as pessoas e mesmo que seja necessário

estabelecer níveis hierárquicos isso ocorre mais informalmente, de forma que os

desenvolvedores menos experientes reconheçam os que detêm maior conhecimento na

área e a quem se reportar quando necessário (TOMAYKO, 2004).

b) Em equipes com estrutura hierárquica existem diferentes níveis de hierarquia.

Neste caso pode haver um bom grau de delegação de poder ou uma concentração de

poder nos níveis mais altos. Se o poder fica mais concentrado o programador de nível

mais baixo deve transpor os níveis superiores para atingir a pessoa que detém poder de

decisão (TOMAYKO, 2004).

Page 114: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

113

Mesmo que a equipe de desenvolvimento de software não possua muitos níveis

hierárquicos, é importante identificar como os papéis estão definidos dentro da mesma e

qual a sua implicação no relacionamento entre as pessoas, ou seja, qual a importância

que as pessoas dão ao status dos papéis. Para a XP o ideal é que os cargos e níveis sejam

quase despercebidos dentro da equipe.

Para Sommerville (2003) pessoas em grupos informalmente estruturados se

comunicam mais efetivamente do que em grupos com uma estrutura formal. Em grupos

hierárquicos, a comunicação tende a fluir de cima para baixo e as pessoas do mesmo

nível podem não conversar entre si.

A diferença de status entre os membros da equipe pode significar que a

comunicação é feita geralmente em uma única direção, pois os membros com status

superior tendem a dominar a comunicação e os membros de status inferior muitas vezes

relutam em dar início a uma conversa ou fazer observações críticas.

Segundo Robbins (1999), a Cadeia de Comando está diretamente relacionada ao

grau de autoridade. Quanto mais forte for a cadeia de comando, os membros terão

menos informação e poder de tomada de decisões. Quanto mais fraca for a cadeia de

comando os membros terão mais informações e maior possibilidade de se auto-

gerenciar.

Além disso, quanto mais forte for a cadeia de comando maior será o número de

níveis através dos quais a comunicação passará, aumentando a possibilidade de

distorção e o tempo gasto para que a comunicação seja completada (VASCONSELLOS;

HEMSLEY, 1997).

Asproni (2004) lembra que “um estilo de gerência comando de controle não é

adequado para um ambiente em que os indivíduos e a comunicação são mais valiosos

que processos e ferramentas”. O achatamento do sistema hierárquico permite a difusão

da informação de maneira mais fácil e rápida, permitindo que os contatos pessoais

substituam as comunicações escritas. Assim, a comunicação passa a se basear mais na

confiança entre as pessoas do que nos papéis e regras que as norteiam.

Page 115: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

114

A XP não prescreve que sejam destituídos cargos, mas requer que os

desenvolvedores tenham autonomia para tomar decisões sobre o processo de

desenvolvimento de software e interagir com o cliente. Porém este requisito da XP pode

gerar resistência quando o gerente não confia no potencial de sua equipe, ou quando

simplesmente a cultura da empresa é hierárquica.

Itens de verificação relacionados à dimensão Cadeia de Comando:

1. Quantos níveis hierárquicos (relacionados ao desenvolvimento de software) existem na

empresa?

2. Existem níveis hierárquicos (formais ou informais) na equipe de desenvolvimento de

software?

3. Como é a comunicação entre os membros da equipe de desenvolvimento?

4. Como é a comunicação entre a equipe de desenvolvimento e a gerência?

Figura 16: Itens de verificação - dimensão Cadeia de Comando

4.2.4 Dimensão: Margem de Controle

Leblanc (2004) relata alguns fatores da XP que devem ser observados, entre eles

o autor chama a atenção para o tamanho da equipe de desenvolvimento de software.

Segundo Leblanc, a XP foi idealizada para pequenas equipes que contenham de 2 a 12

desenvolvedores, pois está baseada na premissa de que equipes pequenas são mais

flexíveis e se adaptam melhor a mudanças no projeto.

Outra consideração de Leblanc (2004) é que as equipes devem partir de dois

integrantes para que ocorra a prática Programação pareada. Estas duas pessoas se

revezam conforme necessário e trocam idéias para encontrar a melhor solução para um

problema específico.

Page 116: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

115

Além disso, processos ágeis como a XP necessitam de equipes pequenas porque

nestas condições se promove melhor o espírito de equipe e a sensação de que cada

pessoa é importante e não apenas um funcionário a mais da empresa. Isso ajuda a dar

motivação aos desenvolvedores para que eles façam parte da evolução do processo e

melhorem sua produtividade, qualidade e desempenho (ASTELS, 2002).

Á medida que o grupo aumenta em tamanho, torna-se mais difícil garantir que

todos os membros se comuniquem eficazmente uns com os outros (SOMMERVILLE,

2003). No método XP a comunicação é supervalorizada, pois os desenvolvedores têm

que ter conhecimento das atividades dos colegas para trabalhar num ambiente de intensa

interação.

De acordo com Hampton (1990), o tamanho e a estrutura do grupo podem

influenciar na sua capacidade de operar de forma satisfatória e eficaz, sendo que

diversas pesquisas confirmam os efeitos do tamanho sobre a capacidade do grupo de

resolver problemas.

A partir destas pesquisas Hampton (1990) faz algumas generalizações: grupos de

aproximadamente 5 a 11 membros tendem a tomar decisões mais precisas que grupos

que estão fora desta faixa; grupos menores são mais capazes de obter consenso que

grupos maiores; em grupos grandes pode ocorrer a formação de subgrupos com metas

próprias que são incompatíveis com as do grupo maior.

Itens de verificação relacionados à dimensão Margem de Controle:

1. Qual é o número de desenvolvedores que costumam trabalhar num mesmo projeto

de software?

Figura 17: Itens de verificação - dimensão Margem de Controle

Page 117: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

116

4.2.5 Dimensão: Centralização e Descentralização

Fowler (2003) ressalta que para um processo orientado para pessoas como a XP,

é fundamental a delegação de poderes para que os desenvolvedores possam tomar

decisões técnicas e realizarem estimativas. O autor também afirma que esta mudança

deve influenciar diretamente no nivelamento de autonomia e autoridade entre gerentes e

desenvolvedores.

Práticas XP como Cliente sempre presente, Jogo de Planejamento e entregas

freqüentes requerem poder de ação e de reação por parte dos desenvolvedores. Para

deter estes poderes é preciso que a empresa conceda mais autoridade e informação a

quem está mais perto da “ação” – isto é, para quem está mais próximo do produto

(software) ou do cliente.

Na XP, a velocidade e a eficiência estabelecem a necessidade de que muitos

problemas precisam ser resolvidos pelos desenvolvedores sem ter que recorrer a

superiores. Se isto não ocorrer a equipe de desenvolvimento pode ficar presa a uma

burocracia que inviabiliza a utilização do método.

Além do mais, Práticas XP como Jogo de Planejamento e Reuniões em Pé

apenas farão sentido em um ambiente em que os desenvolvedores se sintam ouvidos e

respeitados pela gerência.

Se os investidores, os proprietários ou os gerentes forem muito exigentes e

controladores podem encarar a delegação de poder como aumento de risco para a

empresa. Ao não delegar poder e, por conseguinte, restringir o arbítrio dos

desenvolvedores, podem tornar a empresa propensa a um processo de desenvolvimento

de software mais prescritivo.

Para que os superiores hierárquicos estejam dispostos a delegar poderes é

preciso haver confiança nos desenvolvedores de software, sobretudo no que diz respeito

a seus conhecimentos, isto é, a gerência deverá sentir que os desenvolvedores são

capazes de tomar decisões. Por outro lado, os desenvolvedores deverão estar dispostos a

Page 118: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

117

assumir mais responsabilidade e riscos, já que na medida em que se recebe delegação, o

trabalho e a margem de risco aumentam.

Na XP as decisões sobre os negócios devem ser tomadas pelo cliente e pela

gerência e as decisões técnicas devem ficar sob responsabilidade da equipe de

desenvolvimento. Beck (2004) enumera os seguintes assuntos que devem ser decididos

pela equipe:

a) estimativas - tempo que levará para implementar uma funcionalidade;

b) conseqüências das alternativas técnicas – ao estimar as conseqüências

técnicas a equipe fornece dados para a gerência tomar decisões estratégicas do negócio;

c) processo - de que forma o trabalho e a equipe serão organizados, o conjunto

de práticas que serão usadas, o processo para revisar as práticas;

d) cronograma - dentro do ciclo de entrega, decidir quais histórias serão feitas

primeiro.

Assim, para utilizar o método XP, o ambiente de trabalho deve ser colaborativo

e não pode se prender tanto a regras predeterminadas por superiores, mas precisa existir

uma boa margem de escolha à disposição dos desenvolvedores. Além disso, a gerência

deve assumir o papel de motivadora e facilitadora no processo de desenvolvimento de

software.

A gerência deverá estabelecer uma liderança que viabilize a disseminação dos

valores organizacionais requeridos pelo método XP. Chiavenato (2002), baseando-se

nos estudos de White e Lipitt, descreve três tipos de liderança:

a) Liderança Autocrática: apenas o líder decide e fixa as diretrizes sem

qualquer participação do grupo, determinando qual tarefa que cada um deverá executar.

b) Liderança Liberal: há total liberdade para tomada de decisões grupais ou

individuais, sendo que a participação do líder é limitada a apresentar alternativas ao

grupo e fornecer informações. As tarefas ficam à escolha do grupo.

Page 119: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

118

c) Liderança Democrática: as diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo

que é estimulado e assistido pelo líder. O próprio grupo define as providências e

técnicas para atingir os objetivos com aconselhamento técnico do líder, quando

necessário, desta forma, as tarefas ganham novas perspectivas e debates. A divisão das

tarefas fica a critério do grupo.

Mesmo contando-se com desenvolvedores ideais para a XP, a adoção da mesma

pode tornar-se inviável se a gerência da empresa tiver uma liderança autocrática com

uma visão mecanicista, em que as decisões sejam de cima para baixo.

No método XP os desenvolvedores devem descobrir por si mesmos como

melhorar e agilizar seu trabalho. Se a organização é fundamentalmente hierárquica e

top-down um processo de software mais passível de controle torna-se mais adequado –

método tradicional. Já os métodos ágeis como a XP são mais adequados e se ajustam

com mais facilidade em uma cultura colaborativa (HIGHSMITH, 2002).

Provavelmente será difícil migrar de um modo de trabalho em que são

fornecidas orientações detalhadas das tarefas e partir para uma forma de trabalho na

qual as decisões devem ser tomadas pelos desenvolvedores juntamente com o cliente, de

forma a ser necessário assumir mais riscos e delegar poderes.

A distribuição do poder também pode ter implicações na própria equipe de

desenvolvimento de software. A prática XP Código Coletivo fornece um exemplo claro

desta situação: um programador menos experiente precisa estar à vontade dentro da

equipe e ter coragem para alterar o código de um programador mais experiente ou

questionar alguma decisão no desenvolvimento de software. Equipes hierárquicas, com

desnível de poder fornecem um ambiente desfavorável à adoção da XP.

Ademais, no método XP a autoridade pode mudar dependendo de quem estiver

mais capacitado para realizar determinada tarefa, e o conteúdo das comunicações tende

a ter mais informações e conselhos do que ordens ou instruções.

Page 120: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

119

Itens de verificação relacionados à dimensão Centralização e Descentralização:

1. A equipe possui participação ativa na resolução de problemas relacionados ao

projeto?

2. Qual o estilo de liderança na empresa?

Figura 18: Itens de verificação - dimensão Centralização e Descentralização

4.2.6 Dimensão: Formalização

A formalização dos cargos afeta o nível de autonomia do ocupante do cargo no

processo de tomada de decisão. Empresas altamente formais fornecem um grau mínimo

de autonomia ao ocupante do cargo sobre o que deve ser feito (ROBBINS, 1999).

A alta formalização garante que os membros ajam de maneira uniforme e

previsível e está relacionada ao grau em que o gerente acredita que seus subordinados

possuem capacidade de autonomia. Assim, quanto maior o nível de formalização

(documentos e normas) menor o nível de confiança do gerente nos membros da equipe

(TRACY, 1994).

Se a formalização está presente em níveis altos na empresa haverá mais

necessidade de documentação. Ou seja, a comunicação entre os programadores,

gerência e clientes se dá em grande parte através de documentação em detrimento da

comunicação direta, de maneira que as informações são transmitidas de forma mais

lenta, podendo ser inclusive mal interpretadas.

De acordo com Ambler (2004), muitas organizações acabam supervalorizando a

documentação em seus projetos de software principalmente por medo de perder

membros da equipe de desenvolvimento que possuam informações e conhecimentos não

documentados.

O autor considera esta atitude uma crença que se mostra impotente na prática,

pois segundo ele os desenvolvedores dificilmente seguem a documentação deixada por

Page 121: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

120

outra pessoa e tendem a investigar o código deixado ou partir para uma nova

implementação. Ambler (2004) sugere que a atenção excessiva com documentação deve

ceder lugar para a preocupação em desenvolver código de qualidade.

A XP representa uma alternativa ao excesso de documentação visando garantir o

conhecimento de todos sobre o projeto, o que pode ser observado em práticas como

Código Coletivo, Refactoring, Padrão de Programação e Programação pareada. Estas

práticas procuram permitir que todos possuam conhecimento sobre o que os colegas

estão desenvolvendo e que o sistema seja simples e revisado o suficiente para sua fácil

compreensão, de forma que a ausência de um membro da equipe não gere uma lacuna

no conhecimento sobre o projeto.

Assim, empresas de software que exigem altos níveis de documentação podem

encontrar dificuldades na migração para o método XP, o qual requer que a

documentação deva ser apenas a essencial para o entendimento do sistema, sendo que

grande parte da mesma é convertida em comunicação oral. Nesse caso, os aspectos

culturais desfavoráveis à adoção da XP são oriundos principalmente da dificuldade de

se abrir mão da segurança que os membros da empresa encontram na documentação.

Para Ambler (2004) um dos fatores que dificultam a adoção de uma abordagem

ágil em empresas de desenvolvimento de software é a cultura organizacional voltada

para processos de software muito prescritivos. Segundo Ambler, este aspecto cultural é

mais comum em grandes empresas que possuem seu processo de desenvolvimento de

software bem-definido. É possível presumir que tais empresas – devido à sua história e

porte - possuam um nível considerável de departamentos, regras e formalismo, porém

esta característica também pode estar presente em algumas empresas de software de

menor porte.

Ambler (2004) chama a atenção para os possíveis desafios estruturais e culturais

de adotar uma metodologia ágil em empresas que buscam certificação ou seguem algum

programa de qualidade, como a linha ISO ou CMM, pois nestas empresas muitas vezes

seguem processos mais prescritivos e bem documentados. Apesar de algumas pesquisas

buscarem demonstrar que é possível compatibilizar estas tecnologias (PAULK, 2001;

Page 122: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

121

JEFFRIES, 2000), certamente as barreiras culturais ao método XP devem se acentuar

em empresas com este perfil.

Segundo dados do MCT (2004), no cenário nacional apenas 7% das empresas de

software estavam certificadas com ISO ou CMM até o ano de 1999. Este número pode

estar relacionado ao fato desses programas serem projetados para empresas de grande

porte, sendo difícil de ajustá-los à realidade das pequenas empresas.

Empresas de pequeno porte costumam possuir uma esfera de controle reduzida,

poucos níveis hierárquicos e geralmente não apresentam muita formalidade. A princípio

estas características representam um ambiente apropriado para a XP. Porém a baixa

formalização, muitas vezes também pode caracterizar deficiências organizacionais

como a informalidade do processo de software e um sistema de gerenciamento ineficaz.

Itens de verificação relacionados à dimensão Formalização:

1. As orientações da gerência são repassadas aos desenvolvedores de forma precisa e

detalhada ou de forma ampla, deixando margem para escolha?

2. Qual o nível de documentação de software exigido na empresa?

3. A Empresa possui algum programa de qualidade ou obteve algum tipo de

certificação?

Figura 19: Itens de verificação - dimensão Formalização

4.3 Aspectos Culturais e Estruturais Favoráveis ou Desfavoráveis à Adoção da XP

Ao analisar as dimensões dos fatores organizacionais sob a perspectiva das

práticas e valores XP tornou-se possível a identificação de aspectos culturais e

estruturais favoráveis ou desfavoráveis à adoção da XP. Estes aspectos estão expostos

na tabela abaixo:

Page 123: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

122

CULTURA ORGANI-ZACIONAL

ASPECTOS

FAVORÁVEIS À XP

ASPECTOS DESFAVORÁVEIS À XP

Inovação e Risco

- Desenvolvedores criativos e inovadores

- Receptividade das sugestões por parte da gerência

- Sistema de Recompensa que incentiva criatividade e desempenho

- Erros tratados como parte do processo de aprendizagem

- Desenvolveres com perfil conservador

- Gerência não receptível às sugestões

- Sistema de Punição de erros

Orientação para Detalhes

- Desenvolvedores analíticos

- Filosofia de melhoria constante

- Intensificação de testes

- Atenção voltada para o todo

- Resistência à intensificação de testes

Orientação para Resultados

- Valorização dos funcionários

- Preocupação com a satisfação do cliente

- Forte orientação para lucratividade e redução de custos em detrimento da valorização dos funcionários e do cliente

- Exigência de desempenho dos desenvolvedores em forma de horas extras

Orientação para Pessoas

- Motivação

- Benefícios

- Salário satisfatório

- Plano de carreira

- Reconhecimento

- Desenvolvedores desmotivados

- Inexistência de políticas de valorização do capital humano da empresa

Orientação para Equipes

- Tarefas direcionadas para a equipe

- Sistema de recompensa por equipe

- Sistema de avaliação por equipe

- Ritos de Integração

- Espírito de equipe e coesão

- Tarefas direcionadas para o indivíduo

- Sistema de recompensa por indivíduo

- Sistema de avaliação individual

- Falta de coesão na equipe de desenvolvimento

Agressividade

- Colaboração

- Compartilhamento de conhecimentos e informações

- Confiança e informalidade

- Solução de conflito democrática

- Competição

- Formalidade

- Conflitos pessoais

- Solução de conflitos por meio de imposição

Estabilidade

- Novas tecnologias

- Novos produtos

- Segurança (técnicas consagradas)

- Previsibilidade

Tabela 4: Cultura Organizacional: aspectos favoráveis e desfavoráveis à XP

Page 124: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

123

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Dimensões

ASPECTOS

FAVORÁVEIS À XP

ASPECTOS DESFAVORÁVEIS À XP

Especialização do Trabalho

- Generalistas

- Experiência

- Responsabilidade

- Habilidades pessoais

- Especialistas

- Novatos

- Baixa qualificação

- Falta de habilidades pessoais

Departamentalização - Ambiente único - Departamentos/salas/baias

Cadeia de Comando

- Poucos níveis hierárquicos

- Relações informais

- Equipe com estrutura democrática

- Comunicação rápida e aberta

- Vários níveis hierárquicos

- Relações formais

- Equipe com estrutura hierárquica

- Comunicação lenta e reservada

Margem de Controle - Equipes pequenas - Equipes grandes

Centralização e Descentralização

- Delegação

- Liderança democrática

- Concentração de poder

- Liderança autocrática

Formalização

- Menor ênfase em regras e normas

- Baixo nível de documentação

- Alto nível de comunicação oral

- Forte ênfase em regras e normas

- Alto nível de documentação

- Alto nível de comunicação escrita em detrimento da comunicação oral

Tabela 5: Estrutura Organizacional: aspectos favoráveis e desfavoráveis à XP

Page 125: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

124

5. APLICAÇÃO DA LISTA DE VERIFICAÇÃO

Este capítulo apresenta uma aplicação da lista de verificação elaborada no

decorrer do capítulo 4 a fim de confirmar a sua capacidade de captar as informações

necessárias ao seu propósito. Desta forma, a partir da lista de verificação, formulou-se

um questionário que foi aplicado em uma empresa de desenvolvimento de software da

grande Florianópolis identificada nesta dissertação como “Empresa X”.

O questionário foi submetido aos 10 desenvolvedores da “Empresa X”, bem

como ao gerente de software, sendo que as respostas obtidas - que são comentadas

durante este capítulo - encontram-se no anexo da presente dissertação.

Além do questionário, utilizou-se entrevistas - cujo roteiro também se baseou na

lista de verificação -, o que possibilitou a complementação da verificação dos aspectos

culturais e estruturais da empresa. Neste caso, a amostragem desenvolveu-se a partir do

conceito de saturação das respostas que são conhecidas pelos entrevistados. Assim, a

partir do momento que as respostas dos participantes demonstraram haver repetição ou

semelhanças mais constantes em seu sentido, concluiu-se o processo de coleta de dados

em relação a cada questão.

Em sua totalidade foram entrevistados 7 membros na “Empresa X”: 1 gerente de

software e 6 desenvolvedores. As entrevistas seguiram um roteiro de perguntas semi-

abertas realizadas individualmente com os membros da empresa, de forma que as

questões básicas forneceram um amplo campo de questionamentos (TRIVINÕS, 1994).

A investigação foi desenvolvida sob um enfoque qualitativo, utilizando-se de pesquisa

de campo, em face da coleta dos dados primários executada na organização selecionada

neste estudo.

A observação direta do espaço organizacional também fez parte da coleta de

dados, tendo por finalidade constatar alguns aspectos culturais e estruturais, bem como

confirmar os dados obtidos através do questionário e das entrevistas.

Page 126: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

125

Quanto à confiabilidade das respostas, os entrevistados não precisaram se

identificar, garantindo-se o anonimato, bem como foi dada garantia de que o nome da

empresa não seria divulgado neste trabalho.

5.1 Apresentação dos Dados Coletados

A “Empresa X” atua no mercado há aproximadamente 3 anos, dedicando-se ao

desenvolvimento de software para web. Em sua composição incluem-se um

proprietário, um gerente de projeto de software e 10 desenvolvedores. Entre os

desenvolvedores, os dois programadores mais experientes são os líderes da equipe, os

quais prestam suporte ao restante do grupo.

Pelo fato de existirem apenas dois níveis hierárquicos na estrutura

organizacional da empresa ficam evidenciados aspectos como comunicação direta e

informal. Na equipe de desenvolvimento, mesmo havendo dois líderes, a relação entre

os desenvolvedores não parece envolver subordinação ou formalidade, estabelecendo-se

uma estrutura democrática.

O gerente considera que dos 10 desenvolvedores da empresa 8 são “juniores”, já

que ainda não possuem conhecimentos sólidos na área. Cada projeto da “Empresa X”

costuma envolver em média 3 a 4 desenvolvedores.

As políticas da empresa em relação aos funcionários envolvem flexibilização do

horário de trabalho para possibilitar-lhes a participação em cursos de aperfeiçoamento,

bonificação por tempo de serviço (a cada ano de trabalho), assistência médica e

participação nos lucros. Ressalta-se que durante as entrevistas, vários desenvolvedores

destacaram a participação nos lucros da empresa, assim pode-se perceber que este é um

aspecto bastante valorizado pelos mesmos.

Quanto ao salário, a maioria dos desenvolvedores entrevistados considera-se

satisfeita, neste sentido, o índice de satisfação verificado no questionário variou de

médio a alto. A empresa possui um sistema de avaliação de desempenho em forma

Page 127: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

126

individual, sendo que em reuniões de trabalho faz-se a análise do desempenho semanal

de cada desenvolvedor.

No caso de erros cometidos nas atividades, tanto os desenvolvedores quanto a

gerência afirmaram que se costuma identificar o culpado e criticá-lo abertamente. Este

aspecto foi inclusive ressaltado por vários desenvolvedores durante as entrevistas, os

quais consideram que a empresa é bastante rígida em relação aos erros. Pelo que se

investigou, já ocorreram vários casos de críticas aos desenvolvedores na presença de

toda a equipe, mas não houve punição com dispensa do trabalho.

O horário de trabalho na empresa é bastante flexível, pois os desenvolvedores

não precisam seguir rigidamente os horários de entrada e de saída. Conforme se

observou, a jornada de trabalho é condicionada a metas a serem cumpridas, sendo que

pelas informações coletadas nas entrevistas, os desenvolvedores costumam trabalhar em

torno de 7 e meia a 8 horas por dia. Porém, freqüentemente se trabalha além desta

jornada por causa dos atrasos nos projetos, de forma que se ultrapassa o horário normal

de trabalho aproximadamente 3 vezes por semana.

Quanto ao comprometimento dos desenvolvedores com o trabalho, o gerente de

software considera que o nível é baixo, pois acha que os mesmos preferem apenas

realizar suas atividades sem levantar questionamento sobre formas mais eficientes de

desempenhá-las. Em entrevista o gerente afirmou que os desenvolvedores poderiam se

empenhar mais para conseguir cumprir os prazos dos projetos e suas metas semanais.

Não se verificou a existência de departamentos ou formas de divisão física no

local de trabalho da empresa, sendo que o proprietário, o gerente e os desenvolvedores

trabalham em um ambiente único, em que se percebe constante comunicação e

movimentação dos mesmos entre as estações de trabalho.

No entanto, permanecendo mais tempo na empresa foi possível perceber que o

fato do gerente e o proprietário estarem situados no mesmo ambiente de trabalho dos

desenvolvedores acaba gerando uma certa formalidade. Mesmo havendo trânsito pela

sala e bastante comunicação, há impressão de que os desenvolvedores estão sendo

Page 128: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

127

observados o tempo todo, o que parece causar até mesmo uma espécie de regulação no

seu comportamento.

Considerando a adoção da XP neste ambiente de trabalho, os desenvolvedores

poderiam se sentir constrangidos para discutir abertamente sobre aspectos do projeto ou

funcionalidade do software, pois terão que enfrentar a sensação de estarem sendo

monitorados.

Existem poucos clientes locais da empresa, os quais são atendidos diretamente

pelo gerente de software e pelo analista de sistemas. Este desenvolvedor é o único

membro da equipe que possui contato direto com o cliente, o que ele considera muito

importante porque acha que o cliente pode prestar informações claras sobre os requisitos

do software e esclarecer dúvidas.

Como a maioria dos clientes da empresa é de outras cidades (principalmente de

outros estados) e o gerente não possui disponibilidade para viajar tão freqüentemente,

optou-se por terceirizar o serviço de especificação de requisitos de software para

profissionais que estejam localizados na mesma cidade do cliente.

Estes profissionais terceirizados mantêm contato com o cliente e definem os

requisitos, os quais posteriormente são repassados para o gerente da “Empresa X”.

Assim que o gerente de software recebe o modelo de requisitos, divide-o em partes

diferentes, as quais são destinadas para cada um dos desenvolvedores. Desta forma, os

desenvolvedores apenas recebem suas tarefas sem discutir o esboço geral do projeto

com o gerente ou com os colegas.

Segundo os entrevistados, as tarefas são designadas de acordo com o grau de

complexidade das mesmas e a capacidade técnica de cada um. Desta forma, cada

desenvolvedor possui sua tarefa individual definida pela gerência, sendo que esta

constatação confirmou as respostas do questionário aplicado, pois 9 entre 10

desenvolvedores, assim como a gerência, responderam que as tarefas são mais

orientadas para indivíduos do que para equipe.

Neste sentido, percebe-se que os desenvolvedores não possuem um objetivo

comum em suas tarefas, não tendo muito conhecimento do trabalho dos outros, mas

Page 129: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

128

ficam restritos às suas tarefas designadas pela gerência. Mesmo estando num ambiente

único, tendo um relacionamento informal e havendo ajuda em caso de dificuldades com

as tarefas, não se pode identificar “espírito de equipe” entre os desenvolvedores.

Mediante as informações a respeito da forma de trabalho praticada na empresa

também se confirmou as respostas dadas no questionário referentes à forma como a

gerência repassa as orientações. No caso, as orientações são feitas de maneira ampla

deixando margem de escolha da maneira como executar as tarefas.

Alguns desenvolvedores relataram problemas ocorridos pelo fato do cliente estar

distante e a definição dos requisitos ser terceirizada, pois acham que estão mais

suscetíveis à distorções entre as reais necessidades do cliente e o que é repassado à

empresa. Segundos os mesmos, tais distorções acarretam reclamações do cliente, que se

convertem em críticas da gerência sobre a qualidade do trabalho da equipe.

Embora admitam que nem sempre os softwares desenvolvidos atendem todos os

requisitos do cliente – o que pode ser resultado da má qualidade da comunicação com o

mesmo – os desenvolvedores se dizem preocupados em satisfazê-lo, sendo que em caso

de reclamação procura-se imediatamente resolver o problema.

No decorrer dos projetos de software da empresa é bastante comum a

modificação dos requisitos, o que ocorre basicamente por dois motivos. O primeiro é

que a distorção das informações repassadas pelos profissionais terceirizados causa

necessidade de esclarecimentos e correções freqüentes. O segundo motivo deriva de

pedidos de alterações feitos pelos clientes.

Perguntados a respeito da variação dos requisitos decorrente de pedidos do

cliente – o que acaba modificando o modelo conceitual e as tarefas já realizadas – os

entrevistados consideraram que esta variação é inevitável “porque geralmente o cliente

não sabe exatamente o quer” e fica difícil captar todas as suas necessidades.

Considera-se favorável este pressuposto manifestado pelos desenvolvedores,

pois funciona como um indicativo de que possuem potencial para a inovação e

flexibilidade em relação a mudanças na rotina de trabalho.

Page 130: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

129

No que diz respeito à documentação utilizada na empresa, verificou-se que são

produzidos modelos de especificação funcional (use cases, diagramas de classe,

diagramas de seqüência) e outros que eventualmente sejam exigidos pelo cliente.

Porém, tanto os desenvolvedores quanto a gerência consideram que o nível de

documentação exigido na empresa é baixo, pois geralmente a mesma é gerada a pedido

do cliente. Com exceção destes casos, a documentação é realizada no próprio código.

No questionário, tanto os desenvolvedores como a gerência declararam que a

empresa está orientada para a satisfação do cliente. Em entrevista alguns

desenvolvedores afirmaram que preferem e utilizam sempre que possível um processo

de desenvolvimento de software iterativo e incremental, pois acham que entregando

módulos funcionais de aplicação para o cliente é possível que este forneça retorno

rápido sobre possíveis alterações.

A relação entre os desenvolvedores é considerada amigável e colaborativa,

sendo que em caso de dificuldade nas tarefas uns ajudam os outros - o que foi possível

observar durante as várias visitas feitas à empresa - não se verificando competição entre

os colegas. Porém, na entrevista alguns afirmaram que às vezes ocorrem conflitos

pessoais na equipe, que se salientam principalmente quando estão sob forte pressão por

causa de prazo de entrega do software.

No caso de conflitos relacionados a assuntos técnicos, alguns membros da

equipe acham que a solução geralmente é democrática, já outros acham que a tendência

é prevalecer a opinião dos líderes da equipe. Quanto aos conflitos pessoais mencionados

pelos desenvolvedores, seria necessário um convívio maior com a equipe para

identificar a sua intensidade.

A empresa promove poucos encontros para confraternização, sendo citado que

acontecem alguns jantares entre os membros da empresa, porém estes eventos não são

realizados com muita freqüência, não havendo, por exemplo, comemorações de

aniversário.

Observou-se que na empresa, toda semana é feita uma reunião de trabalho para

tratar de assuntos relacionados aos projetos de software em andamento. Em entrevista,

Page 131: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

130

um desenvolvedor destacou os benefícios destas reuniões para o desempenho da equipe,

afirmando que depois que as reuniões semanais passaram a acontecer houve redução

nos atrasos de entrega de software. O entrevistado considerou que quando as reuniões

eram menos freqüentes acumulavam-se mais problemas.

Questionados sobre sua participação na resolução de problemas relacionados aos

projetos de software da empresa, a maioria dos desenvolvedores respondeu que as

decisões do projeto são tomadas em nível gerencial.

Embora sejam realizadas reuniões semanais nas quais é discutido o andamento

do trabalho, em entrevista os desenvolvedores afirmaram que até procuram fazer

sugestões e participar das decisões, mas a opinião do gerente acaba sempre

prevalecendo. Já a gerência, em sua resposta no questionário, afirmou que as sugestões

dos desenvolvedores são consideradas e implementadas.

Em relação à flexibilidade funcional, no questionário alguns desenvolvedores

responderam que às vezes desempenham atividades diferentes das suas, mas pelo que se

apurou nas visitas à empresa estas tarefas são basicamente aprimorar o layout do site em

construção, fazer cadastro de conteúdo e, às vezes, realizar teste de unidade.

Ao se perguntar aos membros da equipe de desenvolvimento se estariam aptos a

desempenhar diferentes papéis num projeto – como programador, projetista e testador -

5 consideraram ser difícil, 2 afirmaram que já assumem diferentes papéis e 3 acham que

é impossível.

Já o gerente considera que poucos desenvolvedores da empresa têm

possibilidade de assumir diferentes papéis por causa da pouca experiência da equipe.

Além disso, o mesmo respondeu no questionário que os desenvolvedores são relutantes

em assumir mais responsabilidades.

Um dos integrantes da equipe de desenvolvimento que afirmou desempenhar

apenas sua função específica foi o analista de testes de software. As atividades do

mesmo se alternam entre simular operações de usuário por meio de testes de interface e

monitorar os erros no portal já em execução no servidor do cliente. Além disso, também

realiza testes de carga para verificar a capacidade do sistema.

Page 132: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

131

Sobre a possibilidade de intensificação dos testes, a resposta unânime dos

desenvolvedores foi no sentido de que não seria possível por causa das dificuldades em

cumprir os prazos de entrega de software.

Na “Empresa X” não se verificou a implantação de nenhum programa de

qualidade. Por outro lado, a empresa é considerada aberta a novas tecnologias, tendo

sido relatado pelos desenvolvedores que freqüentemente se busca adotar novas

ferramentas.

Neste sentido, foi lembrado por alguns entrevistados que atualmente se está

migrando da linguagem de programação coldfusion para uma linguagem mais conhecida

(Java). Durante as entrevistas também foi constatado que os desenvolvedores definiram

um padrão de programação para facilitar a compreensão e as integrações de código.

5.2 Aspectos Culturais e Estruturais da “Empresa X” Favoráveis à Adoção da XP

a) A empresa mostra-se orientada para o cliente, pois se percebe tanto no gerente

como nos desenvolvedores uma preocupação constante com a satisfação do mesmo.

b) Os desenvolvedores consideram importante o contato direto com o cliente.

c) A preocupação com a orientação para detalhes na “Empresa X” pode ser

identificada na disponibilidade de um desenvolvedor exclusivamente para realizar

testes, bem como na importância dada a tarefas como testes de unidade, testes de carga

e a criação de um estilo padrão de programação.

d) A equipe de desenvolvimento é relativamente pequena e todos os

desenvolvedores trabalham em um mesmo ambiente físico.

e) A empresa mostra-se preocupada com a satisfação dos funcionários, o que

pode ser presumido dos benefícios fornecidos aos mesmos e da satisfação com o salário

manifestada pelos desenvolvedores.

Page 133: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

132

f) Poucos níveis hierárquicos e comunicação de forma rápida e informal.

g) Estrutura da equipe democrática (embora alguns desenvolvedores considerem

que em caso de conflito técnico prevalece a opinião dos líderes – o que pode ser

justificável tendo em vista sua maior experiência).

h) Relacionamento entre os desenvolvedores marcado por colaboração e

informalidade.

i) Ritos de Integração - embora sejam poucos, são importantes para o

entrosamento da equipe.

j) Baixo nível de documentação.

l) Empresa aberta a novas tecnologias.

m) Desenvolvedores com potencial para inovação.

n) Baixa formalização (orientações da gerência repassadas de forma ampla).

5.3 Aspectos Culturais e Estruturais da “Empresa X” Desfavoráveis à Adoção da

XP

a) O sistema de recompensa é individual, mas neste caso não gera competição

porque está baseado em tempo de serviço. Por outro lado, o sistema não estimula a

inovação ou desempenho do desenvolvedor.

b) Não se verificou “espírito de equipe” – os desenvolvedores não têm muito

conhecimento do trabalho dos colegas. A colaboração verificada entre os

desenvolvedores se estabelece mais no sentido de resolver dúvidas das suas tarefas.

c) Distribuição das tarefas de forma individual.

Page 134: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

133

d) Embora tenha se percebido que tanto os membros da equipe quanto o gerente

consideram que seja importante a realização de testes, acreditam que não se poderia

intensificá-los por causa da dificuldade em cumprir os prazos do projeto.

e) Tratamento dos erros na empresa (identificar e criticar abertamente o

culpado).

f) Baixa receptividade das sugestões dos desenvolvedores.

g) As decisões sobre problemas no projeto são tomadas em nível gerencial, com

baixos níveis de participação dos desenvolvedores.

h) Horas extras de trabalho freqüentes.

i) Sistema de avaliação individual.

j) A comunicação com o cliente é deficiente.

l) Desenvolvedores com pouca experiência e qualificação.

m) A maioria dos desenvolvedores desempenha somente um papel. Além disso,

considerando sua capacidade, os mesmos acham difícil assumir outros papéis.

n) Liderança autocrática.

o) Baixo nível de delegação (é o gerente de software quem determina as tarefas

de cada desenvolvedor).

p) Existência de conflitos pessoais entre os desenvolvedores.

q) Baixo nível de comprometimento com o trabalho.

r) Desenvolvedores relutantes em assumir mais responsabilidades.

Page 135: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

134

5.4 Considerações Finais

É interessante atentar para uma questão que foi respondida de maneira

totalmente conflitante no questionário aplicado, a qual diz respeito ao seguinte

questionamento: “Os desenvolvedores preferem cumprir ordens ou assumir

responsabilidades e correr riscos?” Todos os desenvolvedores responderam que

preferem assumir responsabilidades, enquanto a gerência respondeu que os

desenvolvedores preferem seguir ordens ao invés de assumir responsabilidades e correr

riscos.

Neste caso identificou-se que o perfil “assumir responsabilidades e correr riscos”

pode se tratar de um valor desejado pelos desenvolvedores, o qual pode estar sendo

inibido ou mesmo barrado pela forma como a gerência trata os erros cometidos pelos

membros da equipe. Ressalta-se que vários entrevistados manifestaram desconforto em

ser criticados de forma dura e aberta durante as reuniões realizadas entre a equipe e a

gerência.

Isto é, o fato de haver severidade na forma de tratar os erros pode estar inibindo

as iniciativas dos desenvolvedores, a sua disposição para assumir mais

responsabilidades, bem com a possibilidade de exercitarem suas habilidades e

capacidades mais intensamente. Por isso os mesmos podem estar se limitando a cumprir

as ordens dos superiores.

Outro aspecto que pode estar influenciando nesta situação é o fato da gerência

ser bastante controladora e haver pouca delegação, não oferecendo oportunidade para os

desenvolvedores exercer autonomia na determinação das tarefas. Por outro lado,

também há que se considerar que estes aspectos culturais detectados na gerência podem

estar relacionados com a falta de conhecimentos técnicos dos desenvolvedores, já que se

trata de uma equipe com baixo nível de experiência.

Também se pode perceber que alguns aspectos desfavoráveis identificados na

“Empresa X” podem estar relacionados com a dificuldade em cumprir os prazos de

entrega de software. Nesta situação os desenvolvedores trabalham sob pressão e

Page 136: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

135

extrapolam a jornada de trabalho normal, assim sendo, é comum surgirem fatores como

cansaço e frustração, os quais podem abalar as relações entre os envolvidos no projeto,

inclusive, originando conflitos pessoais.

Ainda sobre a dificuldade em cumprir os prazos de entrega do software, nota-se

que esta situação repercute também no nível de testes realizados. A empresa procura

encontrar formas de aumentar o rendimento no trabalho para amenizar ou evitar os

atrasos, e, às vezes, a alternativa adotada é diminuir a atenção à qualidade do software

em termos de revisões e testes.

Na “Empresa X” também chamam atenção os aspectos decorrentes da

dificuldade de contato direto com o cliente, como comunicação deficiente, distorções

das informações, não atendimento de todos os requisitos do cliente e conseqüente

necessidade de retrabalho.

Quanto à constatação de que não há “espírito de equipe” entre os

desenvolvedores, várias políticas da empresa podem ter relação direta com este fato,

como a orientação das tarefas de forma individual, sistema de avaliação por indivíduo e

sistema de recompensa de forma individual (tempo de serviço). Nesta situação, a

própria empresa está desestimulando o trabalho em equipe.

Page 137: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

136

6. CONCLUSÃO

Neste trabalho foram apresentadas algumas reflexões a respeito de como a

cultura e a estrutura organizacional podem influenciar na adoção do método Extreme

Programming pelas empresas de desenvolvimento de software.

A lista de verificação da adequação dos fatores organizacionais elaborada nesta

dissertação, bem como a aplicação do questionário e das entrevistas na empresa de

software selecionada, configuram-se em alguns dos mecanismos que compõem o estudo

realizado. Entretanto, considera-se que a maior contribuição desta dissertação é a

identificação dos aspectos organizacionais favoráveis ou desfavoráveis à adoção da XP,

o que se alcançou mediante a análise das dimensões da cultura e da estrutura

organizacional sob a perspectiva das práticas e valores XP.

A XP tem sido apresentada por muitos autores como sendo uma alternativa

viável e vantajosa para empresas de software que possuem equipes pequenas e

trabalham com requisitos vagos, pois se aplicado em sua íntegra o referido método pode

proporcionar bons resultados como agilidade nos projetos e qualidade do código.

Porém, a literatura que trata da XP geralmente parece presumir a existência de

um ambiente em que desenvolvedores motivados e colaborativos trabalhem em equipe,

desenvolvendo código de qualidade, o qual é amplamente testado e revisado. Também

se pressupõe que os desenvolvedores tenham autonomia para decidir junto com o cliente

o que deve ser implementado e seus respectivos prazos de entrega.

Neste sentido, esta dissertação procurou destacar que existem vários aspectos

organizacionais necessários para praticar XP de forma satisfatória e que os mesmos nem

sempre estão presentes nas empresas de software e, além disso, há possibilidade de

constar-se a presença de aspectos que dificultam a implantação do referido método.

A cultura e a estrutura organizacional permitem a análise da realidade da empresa

e, conforme aqui proposto, a identificação das suas potencialidades e limitações em

relação à adoção da XP. A divisão dos fatores organizacionais em dimensões dá

Page 138: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

137

condições ao pesquisador de fazer uma análise ampla e, se necessário, aprofundá-la com

base nos aspectos específicos de cada dimensão.

Embora alguns autores afirmem que as práticas XP possam melhorar a

colaboração e a comunicação entre os envolvidos em um projeto de software, sua

efetivação depende de aspectos que configuram o perfil de cada empresa e que são

difíceis de gerenciar, como relacionamento entre as pessoas, sistema de poder,

concepções sobre como o trabalho deve ser realizado e sentimentos como motivação e

comprometimento.

Ao subestimar a influência do fator cultural as organizações cometem equívocos

estratégicos, ficando sujeitas ao fracasso decorrente da incompatibilidade cultural. Com

os resultados deste estudo, pode-se notar que para que a adoção do método XP tenha

sucesso é preciso considerar não só aspectos técnicos, mas também a adequação dos

aspectos culturais e estruturais da organização, os quais fornecem o suporte necessário

para a realização das práticas e valores XP.

Torna-se importante a ponderação a respeito da possibilidade de adoção da XP

sem causar grandes turbulências na empresa de software, já que mudar valores culturais

que norteiam a organização pode provocar profundas transformações na sua identidade,

colocando em risco seu desempenho.

Referindo-se à mudança na cultura da organização, Luppi (1995) afirma que é

preciso considerar que as pessoas só mudam se a mudança for realmente desejada, pois

querer mudar o outro é uma posição muito autoritária. A pessoa precisa estar

convencida de que a mudança traz benefícios para ela própria.

Ainda segundo Luppi (1995), em casos em que se verifique incompatibilidade

cultural poderá ser necessário até mesmo substituir os dirigentes ou funcionários por

outros que tenham valores pessoais mais alinhados com o que se quer disseminar, pois

transformar os valores de um indivíduo pode requerer um trabalho de reeducação que

pode levar anos.

De qualquer forma, identificar os aspectos organizacionais favoráveis e

desfavoráveis à XP é o primeiro passo para se refletir sobre a viabilidade da

Page 139: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

138

implantação do referido método. A partir desta reflexão, torna-se possível avaliar a

profundidade das transformações que serão necessárias para adotar a XP, bem como a

possibilidade de remoção das barreiras culturais eventualmente verificadas.

Desta forma, a pesquisa realizada procura demonstrar que embora a XP tenha

sido idealizada para equipes pequenas trabalhando em projetos com requisitos vagos

nem sempre a empresa que adotá-la terá sucesso, pois fatores organizacionais podem até

mesmo inviabilizar sua utilização.

Os resultados deste trabalho também podem explicar um dos motivos pelos

quais várias empresas de desenvolvimento de software não conseguem adotar a XP na

íntegra, utilizando apenas algumas de suas práticas. Isto ocorre porque algumas práticas

encontram um ambiente favorável na empresa – decorrente dos aspectos culturais e

estruturais necessários para sua efetivação – enquanto outras se deparam com aspectos

hostis à sua implementação.

Page 140: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

139

REFERÊNCIAS

ABRAHAMSSON, Pekka; SALO, Outi; RONKAINEN, Jussi; WARSTA, Juhani.

Agile software development methods: review and analysis. Espoo, Finland: Technical

Research Centre of Finland, VTT Publications, 2002. Disponível em: < www.inf.vtt.fi/

pdf/publication/2002/p478.Pdf>. Acesso em: 04 jan. 2005.

ABRAHAMSSON, Pekka; SALO, Outi; RONKAINEN, Jussi; WARSTA, Juhani. New

directions on agile methods: A comparative analisys. IEEE Proceedings of the 25th

International Conference on Software Engineering, 2003. p.114-120.

Agile Alliance. 2001. Disponível em: <www.agilealliance.org> Acesso em: 22 fev.

2005.

ASPRONI, Giovanni. Motivation, Teamwork, and Agile Development. The Agile

Times. Fev. 2004, vol.4, n 1. Disponível em: <www.agilealliance.org/membership/vol

4.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2004.

ALVES, Sérgio. Revigorando a Cultura da Empresa: uma abordagem cultural da

mudança nas organizações na era da globalização. São Paulo: Makron Books, 1997.

ALVIM, Paulo. Gestão Ágil de Projetos: Scrum na Prática. Extreme Programming

Brasil. Primeiro Congresso Brasileiro de Metodologias Ágeis de Software. São Paulo:

04-06, Dezembro, 2002.

AMBLER, Scott W. Modelagem Ágil: Práticas Eficazes para a Programação

eXtrema e o Processo Unificado. Trad. Acauan Fernandes. Bookman: Porto Alegre,

2004.

ANDERSON, David J.; SCHRAGENHEIM, Eli. Agile Management for Software

Engineering: Applying the Theory of Constraints for Business Results. Prentice

Hall PTR, 2003.

ASTELS, David; MILLER, Granville; NOVAK, Miroslav. Extreme Programming:

Guia Prático. Trad. Kátia Roque. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

Page 141: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

140

BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha; POZZOBON, Camille de Medeiros;

RIBEIRO, Michelle Braga. Comunicação Informal e Cultura Organizacional. 2005. In:

Revista Comunicação Organizacional. Disponível em: < http://www.pucrs.br/

famecos/ eacor/texto4-03.html>. Acesso em: 23 abr. 2005.

BASS, Bernard M. Bass & Stogdill´s handbook of leadership: theory, research &

management applications. New York: Free Press, 1990.

BAKER, Kathryn A. Organizational Culture. 2000. Disponível em:

<www.science.doe.gov/sc5/benchmark/Ch%2011%20Organizational%20Culture%2006

.08. 02.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2005.

BECK, Kent. Programação Extrema - XP Explicada: acolha as mudanças. Trad.

Adriana Machado e Natália Lopes. Porto Alegre: Bookman, 2004.

BOSSAVIT, Laurent. The Unbearable Lightness of Programming: A Tale of Two

Cultures. In: Cutter IT Journal, vol. 15, n. 12, December 2002. Disponível em:

<http://www.cutter.com/itjournal/2002toc.html>. Acesso em: 16 abril 2005.

BURKE, Eric M.; COYNER, Brian M. Java Extreme Programming Cookbook.

O'Reilly, 2003.

CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos: os novos horizontes da

administração. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando Pessoas. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

COCKBURN, Alistair. Agile Software Development. Boston: Addison-Wesley, 2001.

COCKBURN, Alistair. People and Methodologies in Software Development. PhD

thesis, University of Oslo, 2003. Disponível em: <alistair.cockburn.us/crystal/books/

pamisd/peopleandmethodologiesinsoftwareDevelopMent.pdf >. Acesso em: 12 dez.

2004.

COSTA, Geraldo Vieira da. Cultura e Valores Organizacionais. Florianópolis:

Insular, 1999.

Page 142: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

141

CUNNINGHAM, Ward. General Chair Address. 2003. Disponível em:

<http://www.agileuniverse.com/schedule/GeneralChairAddress>. Acesso em: 05 nov.

2004.

DEAL, Terrence; KENNEDY, Alan. Corporate culture: the rites and rituals of

corporate life. Masschusets: Addison Wasley, 1982.

DENNISON, D.R. Corporate culture and organizational effectiveness. New York:

Wiley, 1990.

FISHER, Rosa Maria. O círculo do Poder: As práticas invisíveis de sujeição nas

Organizações Complexas. In: FLEURY, Leme Tereza Maria (org). Cultura e Poder

nas Organizações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

FLEURY, Leme Tereza Maria. Desvendar a Cultura de uma Organização: Uma

discussão metodológica. In: FLEURY, Tereza Maria Leme (org). Cultura e Poder nas

Organizações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

FOWLER, Martin. New Methodology. 2003. Disponível em: < http://www.Martin

fowler.com/articles/newMethodology.html>. Acesso em: 22 jun. 2005

FOWLER, Martin. Refactoring: Improving the Desing of Existing Code. Addison-

Wesley Longman, 1999.

FOWLER, Martin; SCOTT, Kendall. UML Essencial: Um breve guia para a

linguagem-padrão de modelagem de objetos. Porto Alegre: Bookman, 2000.

FREITAS, Maria E. de. Cultura Organizacional: formação, tipologias e impacto.

São Paulo: MacGraw-Hill, 1991.

FREITAS, Maria E. de. Cultura Organizacional: Grandes Temas em Debate. In:

Revista Administração de Empresas. São Paulo, vol. 31, n. 3, p.73-82 , jul-set, 1991.

GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996.

HALL, Richard H. Structure and Process. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1998.

Page 143: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

142

HAMPTON, David R. Administração: Comportamento Organizacional. Trad.

André Olympio Castro. São Paulo: McGraw-Hill, 1990.

HIGHSMITH, Jim. Agile Software Development Ecosystems. Publisher: Addison

Wesley, 2002.

HUBER, G.P.; GLICK, W.H. Organizational Change and redesing. New York:

Oxford University Press, 1995.

JEFFRIES, Ron. Extreme Programming and the Capability Maturity Model. 2000.

Disponível em: <http://www.xprogramming.com/xpmag/xp_and_cmm.htm>. Acesso

em: 23 jun. 2005.

JEFFRIES, Ron. What is Extreme Programming? In: XP magazine. 2001. Disponível

em: <www.xprogramming.com/xpmag/index.htm>. Acesso em 03 jan. 2005.

JOHNSON, Allan G.. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem

sociológica. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

JOHNSON, K.W. The role of culture in achieving organizational integrity and

managing conflicts between cultures. 1999. Disponível em:

<www.ethicaledge.com/quest_5.html.> Acesso em: 25 mar. 2005.

KATZ, D.; KAHN, R. The social psychology of organizations. New York: John

Wiley, 1978.

KIRBY, Dave. Multiple Choices. 2003. Disponível em: < http://www.thedevelopers

coach.com /TAL01.htm> Acesso em: 12 fev. 2005.

LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. 11. ed. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1996.

LARMAN, Craig. Agile and Iterative Development: A Manager's Guide. Addison

Wesley, 2003.

Page 144: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

143

LARSEN, Diana; KERIEVSKY, Joshua. XP/Agile Organizational Change - Tools

for Successful Adoption. 2003. Disponível em: <http://www.agileuniverse.com/

schedule /T13>. Acesso em: 12 dez. 2004.

LEBLANC, Dee-Ann. When eXtreme Programming Makes Sense. 2004. Disponível

em:<http://www.devsource.ziffdavis.com/article2/0,1759,1609523,00.asp>. Acesso em:

05 jan. 2005.

LUPPI, Galvani. Cultura Organizacional: Passos para a mudança. Belo Horizonte:

Luzazul Editorial, 1995.

MARTIN, Joanne; SIEHL, Caren. Organizational culture and counterculture: an uneasy

symbiosis. In: Organizational dynamics. vol. 12, n. 2, 1983.

MAYO, Andrew. The Human Value of the Enterprise. Nicholas Brealey Publishing:

London, 2001.

MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http:\\www.mct.gov.br>.

Acesso em: 10 dez. 2004.

MCBREEN, Pete. Questioning Extreme Programming. Indianapolis: Addison

Wesley, 2002.

MEGGINSON, Leon C; MOSLEY, Donald C.; PIETRI JR, Paul H. Administração:

conceitos e aplicações. Trad. Aria Isabel Hopp. 4. ed. São Paulo: Harbra, 1998.

MILLER, Randy. The Dynamics of Agile Software Processes. 2003. Disponível em:

<http://thecoadletter.com/article/0,1410,29726,00.html>. Acesso em: 15 jan. 2005.

MOTTA, P. R. Transformação Organizacional: a teoria e a prática de inovar. Rio

de Janeiro: Qualitymark, 1999.

MOORE, Geoffrey A. Inside the Tornado: Marketing Strategies from Silicon

Valley's Cutting Edge. New York: HarperBusiness, 1995.

Page 145: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

144

NOORDERHAVEN Niels G.; KOEN Carla; BEUGELSDIJK, Sjoerd. Organizational

Culture and Networkembeddedness. 2002. Disponível em: < http://greywww.uvt.nl:

2080/greyfiles/center/2002/doc/91.pdf.>. Acesso em: 17 abril 2005.

PALMER, S. R.; FELSING, J. M. A Pratical Guide to Feature-Driven Development.

Upper Saddle River. NJ: Prentice-Hall, 2002.

PAULK, Mark. Extreme Programming from a CMM Perspective. 2001. Disponível

em: <hristov.com/andrey/fht-stuttgart/xp-cmm-paper.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2005.

PETTIGREW, Andrew. Theoretical, methodological, and empirical issues in studying

change: a response to Starkey. In: Journal of Management Studies, v. 24, n. 4, 1987.

PETTIGREW, Andrew. A cultura das organizações é administrável? In: Cultura e

Poder nas organizações. FLEURY, Maria Tereza Leme (org). São Paulo: Atlas, 1996.

RISING, Linda. The benefits of frequent, small meetings, STQE, May/June 2002, 42-

46. disponível em: http://members.cox.net/risingl1/articles/STQE.pdf, acesso em 10

set. 2005.

ROBBINS, Stephen P. Administração: Mudanças e Perspectivas. Trad. Cid Knipel

Moreira. São Paulo: Saraiva, 2002.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 8. ed. Trad. Cristina Ávila de

Menezes. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

RUMPE, Bernhard; SCHRÖDER, Astrid. Quantitative Survey on Extreme

Programming Projects. In Third International Conference on Extreme Program-

ming and Flexible Processes in Software Engineering, XP2002, May 26-30 pages

95–100, Alghero, Italy, 2002. Disponível em: < http://www4.in.tum.de/~rumpe/ps/

XP02.RumpeSchroeder.Study.pdf >. Acesso em: 12 dez. 2004.

SCHWABER, K. Scrum Development Process. OOPSLA’95 workshop on Bussiness

Object Planejament and Implementation. Springer-Verlag. 1995.

Page 146: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

145

SCHEIN, Edgar H. Organizational culture and leadership. San Francisco: Jossey-

Bass, 1985.

SCHEIN, Edgar H. The Corporate Culture Survival Guide. San Francisco: Jossey-

Bass, 1999.

SCHOLL, Richard W. Organizational Culture- The Social Inducement System.

2003. Disponível em: < http://www.cba.uri.edu/Scholl/Notes/Culture.html>. Acesso

em: 24 fev. 2005.

SHARIFABDI, Kamran. Team Development and Pair Programming - tasks and

challenges of the XP coach. In: Proceedings of 3rd International Conferenceon

Extreme Programming and Flexible Processes in Software Engineering (XP2002),

Sardinia, Italy, May 26-30, 2002, 166-169. Disponível em:

<http://www.agilealliance.org/articles/articles/Sharifabdi-Grot--TeamDevelopmentand

PairProgramming.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2005.

SOMMERVILLE, Ian. Engenharia de Software. 6. ed. Trad. André Maurício de

Andrade Ribeiro. São Paulo: Addison Wesley, 2003.

STAPLETON, J. Dynamic Systems Development Method – The Method in Practice.

Addison Wesley, 1997.

STEVEN, Ott, J. The Organizational Culture Perspective. Califórnia: Pacific Grove,

1989.

STONER, James A. F.; FREEMAN, R. Edward. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro:

LTC, 1999.

TAMAYO, Álvaro. Valores Organizacionais. In: TAMAYO, Álvaro; ANDRADE, Jairo

Eduardo Borges; CODO, Wanderley. (Org.). Trabalho, Organizações e Cultura. São

Paulo: Cooperativa de Autores Associados, 1997.

TAVARES, Maria das Graças de Pinho. Cultura Organizacional: Uma abordagem

Antropológica da Mudança. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

Page 147: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

146

TELES, Vinícius Manhães. Extreme Programming: Aprenda como encantar seus

usuários desenvolvendo software com agilidade e alta qualidade. São Paulo:

Novatec, 2004.

TOMAYKO, James E.; HAZZAN, Orit. Human Aspects of Software Development.

Charles River Media, 2004.

TRACY, Diane. 10 passos para o empowerment: um guia sensato para gestão de

pessoas. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1994.

TRICE, H.; BEYER, J. Studying technical, political and ceremonials. In: Academy of

Management Review. vol. 9, n. 4, 1984, pp. 653-669.

TRIVINÕS, A. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1994.

VASCONCELLOS, Eduardo; HEMSLEY, James. Estrutura das Organizações:

estruturas tradicionais, estrutura para inovação, estrutura matricial. São Paulo:

Pioneira, 1997.

WAKE, C. William. Extreme Programming Explored. Massachusetts: Addison

Wesley, 2002.

WEGE, Chris. Extreme Programming Introduction and Experiences. 2001.

Disponível em: <http://www-ti.informatik.uni-tuebingen.de/~wege/presentations/

XpIntro.pdf>. Acesso em: 22 abril 2005.

WELLS, Don. Extreme Programming: A gentle introduction. 2002. Disponível em:

<www.extremeprogramming.org>. Acesso em: 17 mar. 2005.

WILLIAMS, Laurie. The Collaborate Software Process. PhD Dissertation –

University of Utah, 2000-a.

WILLIAMS, Laurie; KESSLER, Robert. Pair Programming Illuminated. Addison

Wesley, 2002.

Page 148: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

147

WILLIAMS, Laurie; KESSLER, Robert R.; CUNNINGHAM, Ward; JEFFRIES, Ron.

Strengthening the Case for Pair-Programming. IEEE Software, vol. 17, p. 19-25

2000. Disponível em: <http://collaboration.csc.ncsu.edu/laurie/Papers/ieeeSoftware.PD

F>. Acesso em: 21 fev. 2005.

WUESTEFELD, Klaus. Xispê – Extreme Programming. 2001. Disponível em:

<www.xispe.com.br/index.html>. Acesso em: 15 fev. 2005.

Page 149: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

148

ANEXOS

Page 150: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

149

Questionário utilizado no trabalho de dissertação no curso de Pós Graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Mestrando: Cristiano Tolfo Orientador: Prof. Raul S. Wazlawick E-mail: [email protected] QUESTIONÁRIO PARA OS DESENVOLVEDORE DE SOFTWARE Q-1. Os desenvolvedores procuram fazer sugestões para melhorias no processo de desenvolvimento de software?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-2. As opiniões e sugestões dos desenvolvedores têm sido consideradas e implementadas?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-3. Os desenvolvedores preferem:

a) ( ) Cumprir ordens ao invés de assumir responsabilidades e correr riscos b) ( ) Assumir responsabilidades e correr riscos

Q-4. Como são tratados os erros cometidos pelos desenvolvedores que possam atrasar ou comprometer os projetos de software?

a) ( ) São tratados como parte do processo de aprendizagem b) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado abertamente c) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado de forma reservada d) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado e punido e) ( ) Não se prioriza a identificação do culpado, mas se critica abertamente o erro

Q-5 Qual a porcentagem de tempo, em média, que os desenvolvedores costumam dedicar ao testes em um ciclo de vida do sistema?

a) ( ) até 10% do tempo total b) ( ) até 30% do tempo total c) ( ) mais que 30% do tempo total

Q-6. Quais as dificuldades encontradas para se intensificar os testes?

a) ( ) Não existem dificuldades b) ( ) Falta de tempo c) ( ) Disponibilizar uma pessoa exclusiva para realizar testes d) ( ) Resistência por parte dos desenvolvedores e) ( ) Outras_________________________________

Page 151: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

150

Q-7. A empresa está mais orientada à:

a) ( ) Satisfação do cliente b) ( ) Satisfação dos funcionários c) ( ) Redução de custos

Q-8. Qual o nível de satisfação dos desenvolvedores com o salário?

a) ( ) Alto b) ( ) Médio c) ( ) Baixo

Q-9. As atividades relacionadas ao desenvolvimento de software são mais orientadas:

a) ( ) Para tarefas individuais b) ( ) Para tarefas em equipe

Q-10. Durante o processo de desenvolvimento do software predominam:

a) ( ) Objetivos individuais dos desenvolvedores b) ( ) Objetivos comuns da equipe

Q-11. Os desenvolvedores acreditam que: a) ( ) O cliente geralmente não compreende a complexidade do desenvolvimento de software, é intolerante quanto aos prazos e a qualidade do produto, portanto é melhor minimizar o contato entre o mesmo e os desenvolvedores b) ( ) O cliente pode fornecer informações e sugestões importantes para o desenvolvimento do produto, portanto contatos constantes entre o mesmo e os desenvolvedores são positivos

Q-12. No relacionamento entre os desenvolvedores verifica-se:

a) ( ) Subordinação e formalidade b) ( ) Informalidade

Q-13. No relacionamento entre os desenvolvedores e a gerência verifica-se:

a) ( ) Subordinação e formalidade b) ( ) Informalidade

Q-14. Os desenvolvedores costumam recorrer aos colegas quando surgem dúvidas ou dificuldades?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Page 152: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

151

Q-15. Os desenvolvedores costumam compartilhar conhecimentos e informações? a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-16. Qual o grau competição entre os desenvolvedores? a) ( ) Alto b) ( ) Médio c) ( ) Baixo d) ( ) Não há competição entre os desenvolvedores

Q-17. Como são resolvidos os conflitos que ocorrem entre os desenvolvedores?

a) ( ) Prevalece a opinião do líder da equipe b) ( ) Ocorre medição de forças c) ( ) Encontra-se uma solução de forma democrática

Q-18. A empresa costuma experimentar novos modos de trabalho e novas tecnologias?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-19. Os desenvolvedores de software costumam assumir mais de uma função, por exemplo, acumular papéis como programador, projetista, testador?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-20. Considerando o conhecimento e as habilidades dos desenvolvedores, os mesmos teriam condições de acumular mais de uma função num projeto?

a) ( ) Já assumem mais de uma função b) ( ) É possível c) ( ) É difícil d) ( ) É impossível

Page 153: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

152

Q-21. A equipe possui participação ativa na resolução de problemas relacionados ao projeto?

a) ( ) Sempre, deste o início do projeto são realizadas reuniões de trabalho com sugestões de melhorias e tomada de decisões relativas ao processo. b) ( ) Quase sempre, grande parte das resoluções de problemas de projeto é resolvida por meio de reuniões com a equipe. c) ( ) Quase nunca, a maioria das resoluções de problemas de projeto é tratada em nível gerencial. d) ( ) Nunca, todas as resoluções de problemas de projeto são tratadas em nível gerencial.

Q-22. As orientações da gerência são repassadas de forma:

a) ( ) Precisa e detalhada, determinando passo a passo como as tarefas devem ser executadas b) ( ) Ampla, deixando margem para escolha da forma de executar as tarefas

Q-23. Qual o nível de documentação de software exigido na empresa?

a) ( ) Alto b) ( ) Médio c) ( ) Baixo

Page 154: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

153

Questionário utilizado no trabalho de dissertação no curso de Pós Graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Mestrando: Cristiano Tolfo Orientador: Prof. Raul S. Wazlawick E-mail: [email protected]

QUESTIONÁRIO PARA O GERENTE DA EMPRESA Q-1. Os desenvolvedores de software envolvidos em um mesmo projeto trabalham:

a) ( ) No mesmo ambiente b) ( ) No mesmo ambiente, mas divididos por baias c) ( ) Em salas diferentes d) ( ) Em locais diferentes da mesma cidade e) ( ) Em cidades diferentes

Q-2. Considerando aspectos culturais como colaboração, comunicação, espírito de equipe e o relacionamento entre os desenvolvedores, é possível criar um ambiente de trabalho único?

a) ( ) Já existe um ambiente único b) ( ) É possível c) ( ) É difícil d) ( ) É impossível

Q-3. Quantos níveis hierárquicos (relacionados ao desenvolvimento de software) existem na empresa?

a) ( ) 1 nível hierárquico b) ( ) 2 níveis hierárquicos c) ( ) 3 níveis hierárquicos d) ( ) mais que 3 níveis hierárquicos

Q-4. Existem níveis hierárquicos (formais ou informais) na equipe de desenvolvimento de software?

a) ( ) 1 nível hierárquico b) ( ) 2 níveis hierárquicos c) ( ) 3 níveis hierárquicos d) ( ) mais que 3 níveis hierárquicos

Q-5. Qual é o número médio de desenvolvedores que costumam trabalhar num mesmo projeto de software?

a) ( ) Até 5 b) ( ) De 5 a 12 c) ( ) Mais que 12

Page 155: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

154

Q-6. Quais dos eventos abaixo são realizados na empresa? a) ( ) Práticas esportivas b) ( ) Comemorações de aniversários c) ( ) Confraternizações d) ( ) Comemorações por resultados positivos obtidos pela empresa (como aumento do faturamento da empresa, sucesso de algum produto desenvolvido) e) ( ) Outros: ____________________________________________________ f) ( ) Nenhum evento é realizado

Q-7. Como são tratados os erros cometidos pelos desenvolvedores que possam atrasar ou comprometer os projetos de software?

a) ( ) São tratados como parte do processo de aprendizagem b) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado abertamente c) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado de forma reservada d) ( ) Busca-se identificar o culpado, o qual é criticado e punido e) ( ) Não se prioriza a identificação do culpado, mas se critica abertamente o erro

Q-8. O sistema de recompensa está baseado em:

a) ( ) Tempo de serviço b) ( ) Inovação e Criatividade c) ( ) Disciplina (cumprimento das normas e ordens) d) ( ) Outro:_______________________________ e) ( ) Não existe sistema de recompensa

Q-9. O sistema de recompensa está direcionado para:

a) ( ) Recompensa individual b) ( ) Recompensa por equipe c) ( ) Não há sistema de recompensa

Q-10. O sistema de avaliação está baseado em:

a) ( ) Avaliação individual b) ( ) Avaliação por equipe c) ( ) Não há sistema de avaliação

Q-11. A empresa costuma tomar providências como flexibilizar o horário ou custear despesas dos desenvolvedores que pretendem participar de eventos como congressos, cursos de graduação e pós-graduação?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-12. Quanto à jornada de trabalho da equipe de desenvolvimento:

a) ( ) São respeitadas, com poucos momentos de horas extras b) ( ) Freqüentemente se trabalha além da jornada de trabalho proposta

Page 156: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

155

Q-13. Quais os benefícios que a empresa concede aos desenvolvedores? a) ( ) Vale transporte b) ( ) Vale refeição c) ( ) Participação nos lucros d) ( ) Plano de carreira e) ( ) Assistência médica f) ( ) Outros benefícios:_________________________________ g) ( ) Nenhum benefício

Q-14. Qual o nível de capacitação e de experiência dos membros da equipe de desenvolvimento de software?

a) ( ) Alto b) ( ) Médio c) ( ) Baixo

Q-15. Considerando o conhecimento e as habilidades dos desenvolvedores, os mesmos teriam condições de acumular mais de uma função num projeto?

a) ( ) Já assumem mais de uma função b) ( ) É possível c) ( ) É difícil d) ( ) É impossível

Q-16. As atividades relacionadas ao desenvolvimento de software são mais orientadas:

a) ( ) Para tarefas individuais b) ( ) Para tarefas em equipe

Q-17. Os programadores são relutantes para assumir mais responsabilidades pessoais?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-18. Os desenvolvedores preferem:

a) ( ) Cumprir ordens ao invés de assumir responsabilidades e correr riscos b) ( ) Assumir responsabilidades e correr riscos

Q-19. Os desenvolvedores procuram fazer sugestões para melhorias no processo de desenvolvimento de software?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Page 157: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

156

Q-20. As opiniões e sugestões dos desenvolvedores têm sido consideradas e implementadas?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-21. Os softwares costumam satisfazer todos os requisitos dos clientes?

a) ( ) Sempre b) ( ) Quase sempre c) ( ) Às vezes d) ( ) Raramente e) ( ) Nunca

Q-22. Qual o nível de comprometimento dos desenvolvedores com o trabalho?

a) ( ) Alto b) ( ) Médio c) ( ) Baixo

Page 158: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

157

Gráfico de respostas do questionário submetido aos desenvolvedores

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Q1

Q2

Q3

Q4

Q5

Q6

Q7

Q8

Q9

Q10

Q11

Q12

Q13

Q14

Q15

Q16

Q17

Q18

Q19

Q20

Q21

Q22

Q23

Qu

estõ

es

Número de respostas

e

d

c

b

a

Page 159: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

158

Respostas do questionário submetido ao gerente de software:

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11

a a b a a c b a a a b

Q12 Q13 Q14 Q15 Q16 Q17 Q18 Q19 Q20 Q21 Q22

b c/e b c a b a d a c c

Page 160: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 161: A INFLUÊNCIA DA CULTURA E DA ESTRUTURA …livros01.livrosgratis.com.br/cp049624.pdf · ORGANIZACIONAL NA ADOÇÃO DA EXTREME PROGRAMMING Dissertação submetida à Universidade Federal

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo