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1 Graduado em Engenharia Mecânica (UFRN); Mestrado em Engenharia Civil (UPE); Doutorando em Engenharia Mecânica (Área de Concentração Energia/UFPE); Professor da Faculdade Nova Roma dos cursos de Engenharia de Produção e Civil; Engenheiro Mecânico da Eletrobrás/Chesf. Email: [email protected] A INFLUÊNCIA DAS PRÁTICAS DE GESTÃO NAS ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO: A PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR. Rogério Adriano da Fonseca Santiago 1 RESUMO As atividades de manutenção são muitas vezes desgastantes e impõem, para aqueles que a executam, a exposição a riscos que podem afetar a sua saúde física e mental. Nos últimos anos, as organizações, através de meios corporativos, tentaram melhorar as condições de serviços desses trabalhadores. Os Sistemas de Gestão, ligados à área de segurança e saúde no trabalho, surgiram como uma ferramenta gerencial que oferecia, em princípio, o suporte técnico necessário para que o trabalhador pudesse desenvolver suas atividades em um ambiente laboral saudável. Inicialmente, vinculada ao modismo empresarial, muitas vezes para obter retorno financeiro do que, necessariamente, preocupada com ações sociais e benefícios trabalhistas, estes sistemas se apresentaram, posteriormente, como uma plataforma para que os trabalhadores passassem a ser agentes ativos da organização, como um elemento a ser ouvido e, principalmente, que pudesse contribuir, de forma mais ampla, com os objetivos e metas da empresa. Neste sentido, este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa que teve como objetivo analisar a satisfação dos trabalhadores que executam serviços de manutenção em uma usina hidrelétrica, que possui o SGSST associado a seus processos produtivos. Palavras-chaves: Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho. Qualidade de vida no trabalho. Segurança do Trabalho. ABSTRACT Maintenance activities are often stressful and impose, for those who carry it out, exposure to risks that can affect their physical and mental health. In recent years, organizations, through corporate media, have tried to improve the service conditions of these workers. Management Systems, related to occupational safety and health, emerged as a managerial tool that offered, in principle, the necessary technical support so that the worker could develop his activities in a healthy work environment. Initially, linked to business fad, often to obtain financial return than necessarily concerned with social actions and labor benefits, these systems later presented themselves as a platform for workers to become active agents of the organization, such as element to be heard and, above all, that it could contribute more broadly to the objectives and goals of the company. In this sense, this article presents the result of a research that had as objective to analyze the satisfaction of the workers that perform maintenance services in a hydroelectric plant, that has the OHSMS associated to its productive processes. Keywords: Occupational Health and Safety Management Systems. Quality of life at work. Workplace safety. 1. INTRODUÇÃO Cada vez mais as empresas têm buscado desenvolver suas atividades coorporativas tentando se adaptar as mudanças impostas por um novo contexto social e econômico. Estas adaptações buscam, na verdade, vencer alguns desafios diários e se tornar cada vez mais competitiva perante as concorrências, que se apresentam também com a mesma mentalidade. Nos últimos anos, o crescimento dessa concorrência, aliado a um fator de exigência maior do produto ou processo pelos clientes, fez com que muitas organizações partissem para a implementação dos Sistemas de Gestão da Qualidade - SGQ, baseados nas normas ISO 9000, bem como os de Segurança e Saúde no Trabalho, identificadas pela norma OHSAS 18.001.

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1 Graduado em Engenharia Mecânica (UFRN); Mestrado em Engenharia Civil (UPE); Doutorando em Engenharia Mecânica (Área de Concentração Energia/UFPE); Professor da Faculdade Nova Roma dos cursos de Engenharia de Produção e Civil; Engenheiro Mecânico da Eletrobrás/Chesf. Email: [email protected]

A INFLUÊNCIA DAS PRÁTICAS DE GESTÃO NAS ATIVIDADES DE

MANUTENÇÃO: A PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR.

Rogério Adriano da Fonseca Santiago 1

RESUMO

As atividades de manutenção são muitas vezes desgastantes e impõem, para aqueles que a executam, a exposição

a riscos que podem afetar a sua saúde física e mental. Nos últimos anos, as organizações, através de meios

corporativos, tentaram melhorar as condições de serviços desses trabalhadores. Os Sistemas de Gestão, ligados à

área de segurança e saúde no trabalho, surgiram como uma ferramenta gerencial que oferecia, em princípio, o

suporte técnico necessário para que o trabalhador pudesse desenvolver suas atividades em um ambiente laboral

saudável. Inicialmente, vinculada ao modismo empresarial, muitas vezes para obter retorno financeiro do que,

necessariamente, preocupada com ações sociais e benefícios trabalhistas, estes sistemas se apresentaram,

posteriormente, como uma plataforma para que os trabalhadores passassem a ser agentes ativos da organização,

como um elemento a ser ouvido e, principalmente, que pudesse contribuir, de forma mais ampla, com os objetivos

e metas da empresa. Neste sentido, este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa que teve como objetivo

analisar a satisfação dos trabalhadores que executam serviços de manutenção em uma usina hidrelétrica, que possui

o SGSST associado a seus processos produtivos.

Palavras-chaves: Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho. Qualidade de vida no trabalho.

Segurança do Trabalho.

ABSTRACT

Maintenance activities are often stressful and impose, for those who carry it out, exposure to risks that can affect

their physical and mental health. In recent years, organizations, through corporate media, have tried to improve

the service conditions of these workers. Management Systems, related to occupational safety and health, emerged

as a managerial tool that offered, in principle, the necessary technical support so that the worker could develop his

activities in a healthy work environment. Initially, linked to business fad, often to obtain financial return than

necessarily concerned with social actions and labor benefits, these systems later presented themselves as a platform

for workers to become active agents of the organization, such as element to be heard and, above all, that it could

contribute more broadly to the objectives and goals of the company. In this sense, this article presents the result of

a research that had as objective to analyze the satisfaction of the workers that perform maintenance services in a

hydroelectric plant, that has the OHSMS associated to its productive processes.

Keywords: Occupational Health and Safety Management Systems. Quality of life at work. Workplace safety.

1. INTRODUÇÃO

Cada vez mais as empresas têm buscado desenvolver suas atividades coorporativas tentando se

adaptar as mudanças impostas por um novo contexto social e econômico. Estas adaptações

buscam, na verdade, vencer alguns desafios diários e se tornar cada vez mais competitiva

perante as concorrências, que se apresentam também com a mesma mentalidade.

Nos últimos anos, o crescimento dessa concorrência, aliado a um fator de exigência maior do

produto ou processo pelos clientes, fez com que muitas organizações partissem para a

implementação dos Sistemas de Gestão da Qualidade - SGQ, baseados nas normas ISO 9000,

bem como os de Segurança e Saúde no Trabalho, identificadas pela norma OHSAS 18.001.

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A Organização Internacional do Trabalho - OIT (2001), define os Sistemas de Gestão de

Segurança e Saúde do Trabalho (SGSST), como sendo: “o conjunto de elementos inter-

relacionados ou interativos que tem por pressupostos o estabelecimento de uma política de

Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e que alcance os objetivos propostos”.

Berkenbrock e Bassani (2010), comenta que a implementação de um Sistema de Gestão de

Segurança e Saúde no Trabalho – SGSST nas organizações, pode evitar eventos negativos

ligados a prejuízos financeiros, como também, o aparecimento de acidentes do trabalho e

doenças ocupacionais nos seus empregados.

No entanto, quando a organização em questão, possui uma grande responsabilidade, perante a

sociedade, no que se refere ao serviço por ela prestado, o resultado não deve ser apenas a

sistematização da cadeia lucrativa. É o que acontece com empresas que são responsáveis pela

geração, transmissão e distribuição de energia, sendo esta, fonte indispensável à sobrevivência

do homem e um recurso estratégico para o desenvolvimento econômico e social das nações.

Mais importante do que cumprir a legislação existente, é questão de sustentabilidade para a

continuidade dos serviços de geração elétrica, o fato das Usinas Hidrelétricas proporcionarem

um ambiente de trabalho seguro e saudável aos seus empregados diretos e terceirizados,

aperfeiçoando-se através de modelos de gestão, incorporando conceitos das boas práticas de

relacionamento com empregados, sociedade, governo, acionistas, fornecedores e concorrente.

Este artigo tem por objetivo avaliar a satisfação dos trabalhadores que executam atividades de

manutenção em uma Usina Hidrelétrica. Como estudo de caso, foi analisada a UHE Xingó, que

possui certificação baseada na OHSAS 18.001/2007.

Esta avaliação foi realizada mediante aplicação de um questionário articulado em três

dimensões, contemplando de forma geral: a área de segurança do trabalho; relacionamento

normativo e executivo; e aptidão a novas práticas construtivas.

Este trabalho está estruturado em quatro partes, além da presente introdução, quais sejam: breve

referencial teórico; aspectos metodológicos; resultados e discussões; e conclusão.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A segurança do trabalho e as atividades de manutenção

A segurança do trabalho é a ciência que estuda as possíveis causas dos acidentes e incidentes

originados durante a atividade laboral do trabalhador. Tem como principal objetivo a prevenção

de acidentes, doenças ocupacionais e outras formas de agravos à saúde do profissional

(BARSANO e BARBOSA, 2012).

Segundo Zocchio (2008), do ponto de vista funcional, segurança do trabalho é um conjunto de

medidas e ações aplicadas para prevenir acidentes e doenças ocupacionais nas atividades das

empresas ou estabelecimentos. Tais medidas e ações são de caráter técnico, educacional,

médico, psicológico e motivacional, com o indispensável embasamento de medidas e decisões

administrativas favoráveis.

O papel da Segurança e Saúde do Trabalho nas organizações é essencial para a consolidação da

competitividade e da produtividade, pois isso pode significar uma diminuição dos custos

causados por acidentes, incidentes e doenças do trabalho (IRIMIE et al 2015).

O objetivo de toda organização é a preservação da integridade e da saúde dos seus empregados,

pois este passa a ser um diferencial que pode ser mensurado através de um indicador de

desempenho, competitividade e responsabilidade social, de forma a refletir na produção e nos

custos.

A saúde, a qualidade de vida e a segurança são fatores primordiais dentro de uma empresa e o

trabalhador é a máquina que faz tudo funcionar. Os acidentes e as doenças decorrentes do

trabalho apresentam fatores negativos para a empresa, para o trabalhador acidentado e para a

sociedade (VASCONCELOS, 2001).

Segundo Howell et al. (2002), tantos fatores comportamentais quanto organizacionais levam as

pessoas a trabalhar em circunstâncias de perigo que podem ocasionar acidentes do trabalho.

Este mesmo autor considera que o ambiente de trabalho pode ser definido em três zonas, a

saber:

a. Zona de segurança: amplia este espaço por intermédio, por exemplo, do planejamento

dos processos;

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b. Zona de perigo (trabalho no limite): dar visibilidade ao limite além do qual o trabalho

não mais será considerado seguro e capacitar as pessoas quanto ao reconhecimento deste

limite. Por esta razão, os trabalhadores deverão ser capacitados para detecção e

reconhecimento de eventuais erros;

c. Zona de perda de controle (além do limite): projetar maneiras de limitar as

consequências do perigo quando o controle for perdido.

As manutenções realizadas nas usinas hidrelétricas obedecem a uma padronização técnica bem

específica e condicionada a perigos e riscos inerentes a cada área, quais sejam: mecânica,

elétrica e civil.

Atividade de manutenção pode ser definida como sendo todas as ações técnicas e

administrativas que tem por objetivo a preservação do estado de um equipamento ou sistema

ou para recolocar o equipamento ou sistema de acordo a um estado no qual possa cumprir sua

função (BRANCO FILHO, 2008).

Os empregados realizam estas atividades e devem ser apoiados pela área da segurança do

trabalho. Este entendimento de que as organizações têm que prover meios para que seus

empregados possam executar seus trabalhos num ambiente laboral seguro, é compartilhado por

Kardec e Nascif (2012), quando comentam que, para se alcançar as metas de um planejamento,

ou seja, para sair de ponto atual para a visão futura, é necessário implementar, em toda

organização, um plano de ação que possa suportar as melhores prática de manutenção, inserindo

os processos de sensibilização, treinamento, implantação e prática de saúde, meio ambiente, e

segurança.

2.2 O SGSST e a cultura da segurança

Sistema de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho pode ser definido como uma ferramenta

gerencial que auxilia a empresa na reavaliação dos seus modelos ligados à área de SST, trazendo

a melhoria contínua do nível de desempenho por meio de redução dos impactos negativos do

trabalho sobre os funcionários. (BENITE, 2004).

Algumas empresas ainda insistem em utilizar modelos tradicionais do sistema de gestão.

Barreiros (2002) analisa que estes modelos são baseados em:

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Iniciativas centradas no esforço para o cumprimento de requisitos legais mínimos;

Abordagens essencialmente concebidas a partir do paradigma reducionista-mecanicista;

Adoção de princípios tayloristas de gestão organizacional;

Fundamentação das atividades na necessidade de mudança comportamental do

trabalhador em decorrência da culpabilidade que lhe é atribuída pela causalidade dos

acidentes;

Atribuição de um caráter marginal a SST;

Participação dos trabalhadores fragilizada e intimidada pela presença de um estilo

gerencial autocrático.

Atualmente, não há mais espaço para esse tipo de administração, uma vez que o elemento

fundamental da cadeia de gestão produtiva (trabalhadores) não se sente devidamente protegido

quando da execução de suas atividades laborais.

Esses trabalhadores, em sua maioria, sofrem influência dos valores e da cultura das

organizações que trabalham (GANDRA et al., 2005). Ficam muitas vezes limitados a pensarem

dentro de um escopo padronizado onde não se “enxerga” mais do que o necessário para a

execução do seu serviço.

A responsabilidade social corporativa e a cultura da segurança, contribuem para a

fundamentação da gestão da segurança e saúde no trabalho como estratégia de negócio de uma

organização (VASCONCELOS et al, 2005).

Para Ferreira e Cabanas (2010), o SGSST permite uma maior integração entre empregador e

empregado que, juntos, estabeleçam estratégias que possam garantir a segurança no ambiente

laboral.

Observa-se que, em algumas empresas, pequenas ações configuram estrategicamente

movimentos contrários ao que é sugerido por um sistema de gestão. As crenças predominantes

na cultura organizacional configuram cenários que, determinam em grande parte, a qualidade

de vida. A formalidade ou a informalidade no tratamento, a altura das divisórias, os bloqueios

no acesso à diretoria, a diferença na decoração constitui os primeiros sinais do que é valorizado

na empresa (RODRIGUES, 2013).

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Procurando fazer um estreitamento na questão da qualidade de vida com a satisfação dos

trabalhadores em um ambiente laboral, Viana (2005), entende que a qualidade de vida no

trabalho está ligada ao bem-estar das pessoas em situação de trabalho, visando elevar o nível

de satisfação e também o de produtividade, o que significa maior eficácia e, ao mesmo tempo,

atender às necessidades básicas dos trabalhadores.

É possível ainda associar a satisfação dos trabalhadores ao quesito motivacional, segundo

entendimento de Priori Junior (2004). Este por sua vez analisa, através de experiências em

empresas de construção civil, que a motivação dos funcionários, é proporcionada por melhores

condições de trabalho, que se consegue implementando ações de melhoria na qualidade de vida

dentro da própria empresa.

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada neste artigo é caracterizada como um estudo de caso de natureza

descritiva e analítica. Como objeto de estudo, encontram-se centralizados os trabalhadores que

realizam manutenções no segmento laboral Usina Hidrelétrica.

Foi realizada uma pesquisa de campo com o propósito de aplicar um questionário baseado na

técnica da utilização da Escala de Satisfação no Trabalho (EST), utilizado por Siqueira (2008),

com adaptações em função do tipo de atividade laboral.

A pesquisa de campo foi realizada inicialmente na UHE Xingó, pertencente a Companhia

Hidrelétrica do São Francisco – Chesf, e em seguida, houve a necessidade de expandir esse

questionário para outras usinas pertencentes a mesma empresa, até como forma de realizar

comparações com serviços de manutenção que ainda não utilizam o SGSST em seus processos

produtivos.

O roteiro da pesquisa semiestruturada foi dividido em dimensões, identificadas pelas:

Dimensão I – Condições de higiene, segurança e saúde no trabalho;

Dimensão II – Gerenciamento, comunicação e apoio;

Dimensão III – Promoção do aprendizado e práticas construtivas nas atividades de

manutenção.

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A comunicação pode ser considerada uma grande barreira quando se desenvolvem atividades

de manutenção, podendo ser bem mais explorada e validada através de questionários enviados

aos trabalhadores (GANAH, 2015).

O questionário (ver quadro 1) foi aplicado de forma presencial, no período de 04 meses, nas

usinas, resguardando o devido anonimato, como forma de dar liberdade de expressão e uma

maior tranquilidade para quem está respondendo.

Na usina de Xingó, houve a participação de gerentes, supervisores, técnicos e dos auxiliares das

equipes de manutenção civil, mecânica e elétrica, resultando num quantitativo de 43 pessoas.

Para as demais usinas, houve uma participação de 170 pessoas que responderam ao

questionário.

Quadro 1 – Questionário da pesquisa de satisfação baseada em três pilares dimensionais.

PESQUISA DE SATISFAÇÃO MU

ITO

INS

AT

ISF

EIT

O

INS

AT

ISF

EIT

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PO

UC

O

SA

TIS

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ITO

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1 2 3 4 5

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o I

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ond

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e h

igie

ne,

seg

ura

nça

e s

aúd

e n

o

trab

alh

o.

Equipamentos de proteção individual

e coletivos (EPI/EPC) fornecidos.

Controle dos Exames Médicos

Periódicos.

Equipamentos de comunicação

disponíveis nas atividades de

manutenção.

Ferramentas de Gestão de Segurança

e Saúde no Trabalho da empresa.

Condições de Segurança nos

ambientes onde são realizadas as

manutenções.

Treinamentos operacionais sobre

segurança e saúde no Trabalho (NR-

35, NR-10, NR-33).

Apoio do SESMT e da CIPA nas

grandes intervenções (Manutenção de

50.000 H).

Campanhas organizacionais sobre

Segurança e Saúde no Trabalho

(Fique Alerta e Segurança 10).

Pausas no trabalho para atividades de

alongamento (ginástica laboral)

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10ª

Planejamento Executivo da

Manutenção (PEX/APP)

Dim

ensã

o I

I –

Ger

enci

amen

to,

com

un

icaç

ão e

ap

oio

.

11ª

Envolvimento dos colaboradores nos

processos de tomada de decisão

12ª

Envolvimento dos colaboradores em

atividades de melhoria

13ª

Mecanismos de consulta e diálogo

entre colaboradores e gestores

14ª

Forma como a organização gera os

conflitos de interesses

15ª

Nível de envolvimento dos

colaboradores na organização e na

respectiva missão.

Dim

ensã

o I

II –

Pro

mo

ção

do

apre

nd

izad

o e

prá

tica

s

con

stru

tiv

as n

as a

tiv

idad

es

de

man

ute

nçã

o

16ª

Aprendizado de novos métodos de

trabalho

17ª

Desenvolvimento de trabalhos em

equipes

18ª

Participação em projetos de mudança

na empresa

19ª

Reconhecimento dos esforços

individuais e coletivos

20ª

Críticas construtivas e atividades de

melhoria executiva

Observações / Sugestões:

Fonte: Siqueira, 2008 com adaptações do autor.

3.1 Conteúdo do questionário

Conforme foi explicado, pelo atendimento da metodologia explicitada, o questionário foi

dividido em dimensões buscando analisar os níveis de satisfação, segundo pontuação descrita

abaixo:

A pontuação “1”, corresponde a “muito satisfeito”;

A pontuação”2” a insatisfeito;

A pontuação “3” a pouco satisfeito;

A pontuação “4” a satisfeito;

A pontuação “5” a muito satisfeito.

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3.2 Cálculos das pontuações

É realizado através do escore médio de cada dimensão (soma dos valores correspondentes em

cada item dividido pelo número de itens, em cada uma das três dimensões).

3.3 Médias das pontuações atribuídas

Média aritmética do item: corresponde à média das pontuações atribuídas pelos trabalhadores

a cada item;

Média aritmética do grupo: corresponde à média das pontuações atribuídas pelos trabalhadores

aos diversos itens de cada grupo.

3.4 Frequências de atribuição de nível de pontuação

Frequência de atribuição da pontuação “1” – indica a percentagem de trabalhadores

muito insatisfeitos, os que atribuíram ao item a pontuação 1 (muito insatisfeito);

Frequência de atribuição da pontuação “<3” – indica a percentagem de trabalhadores

insatisfeitos, os que atribuíram ao item as pontuações “1” (muito insatisfeito) ou “2”

(insatisfeito);

Frequência de atribuição da pontuação “≥ 3” – indica a percentagem de trabalhadores

satisfeitos, que atribuíram ao item as pontuações “3” (pouco satisfeito) ou “4”

(satisfeito) ou “5” (muito satisfeito);

Frequência de atribuição da pontuação “5” – indica a percentagem de trabalhadores

muito satisfeitos, os que atribuíram ao item a pontuação de “5” (muito satisfeito)

Os questionamentos que estão inseridos na componente DIMENSÃO I, têm por objetivo

analisar em que condições estão sendo realizadas as atividades de manutenção e se existem

meios disponíveis adequados a sua execução. (Ver quadro 2).

Quadro 2 – Modelo para análise dos valores obtidos na pesquisa de campo relacionados com a

DIMENSÃO I.

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da

pontuação (%)

DIMENSÃO I

Média

do

item

Média

dos itens

do grupo

Pontuação atribuída /

Grau de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

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Condições de higiene, segurança e saúde no

trabalho

Equipamentos de proteção individual e

coletivos (EPI/EPC) fornecidos.

2ª Controle dos Exames Médicos Periódicos.

Equipamentos de comunicação disponíveis

nas atividades de manutenção.

Ferramentas de Gestão de Segurança e Saúde

no Trabalho da empresa.

Condições de Segurança nos ambientes onde

são realizadas as manutenções.

Treinamentos operacionais sobre segurança e

saúde no Trabalho (NR-35, NR-10, NR-33).

Apoio do SESMT e da CIPA nas grandes

intervenções (Manutenção de 50.000 H).

Campanhas organizacionais sobre Segurança e

Saúde no Trabalho (Fique Alerta e Segurança

10).

Pausas no trabalho para atividades de

alongamento (ginástica laboral)

10ª

Planejamento Executivo da Manutenção

(PEX/APP)

Fonte: SIQUEIRA, 2008 com adaptações do autor.

Na análise da DIMENSÃO II, procurou-se identificar quais os questionamentos que poderiam

ser feitos que refletissem uma integração com os agentes executivos e os normativos, ou seja,

que atendessem ao SGSST no quesito “Gerenciamento, comunicação e apoio”. (Ver quadro 3).

Quadro 3 – Modelo para análise dos valores obtidos na pesquisa de campo relacionado com a

DIMENSÃO II.

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da pontuação

(%)

DIMENSÃO II

Gerenciamento, comunicação e apoio

Média

do

item

Média

dos itens

do

grupo

Pontuação atribuída / Grau

de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

11ª

Envolvimento dos colaboradores nos

processos de tomada de decisão

12ª

Envolvimento dos colaboradores em

atividades de melhoria

13ª

Mecanismos de consulta e diálogo entre

colaboradores e gestores

14ª

Forma como a organização gerencia os

conflitos de interesses

15ª

Nível de envolvimento dos colaboradores

na organização e na respectiva missão.

Fonte: SIQUEIRA, 2008 com adaptações do autor.

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Na elaboração dos questionamentos que compõem a DIMENSÃO III, o objetivo foi identificar

a participação efetiva dos trabalhadores no desenvolvimento de novas técnicas e meios de

realização das atividades de manutenção. (Ver quadro 4)

Quadro 4 – Modelo para análise dos valores obtidos na pesquisa de campo da DIMENSÃO III

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da pontuação

(%)

DIMENSÃO III

Promoção do Aprendizado e Práticas

Construtivas nas atividades de manutenção

Média

do

item

Média

dos itens

do

grupo

Pontuação atribuída / Grau

de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

16ª

Aprendizado de novos métodos de

trabalho

17ª Desenvolvimento de trabalhos em equipes

18ª

Participação em projetos de mudança na

empresa

19ª

Reconhecimento dos esforços individuais

e coletivos

20ª

Críticas construtivas e atividades de

melhoria executiva

Fonte: SIQUEIRA, 2008 com adaptações do autor.

A satisfação no desenvolvimento de atividades laborais está relacionada a fatores

organizacionais como absenteísmo, rotatividade, índice de acidentes e o desempenho no

trabalho (SUEHIRO et al., 2008). Alguns desses fatores estão identificados nos itens das

dimensões dessa pesquisa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como parte da metodologia utilizada neste trabalho, foram realizadas pesquisas de campo na

Usina de Xingó que possui SGSST e nas demais usinas que não possuem certificação na área

de segurança do trabalho. Em seguida, foram coletadas e mapeadas as informações oriundas

dos questionários.

Na análise da tabela que relaciona os dados da DIMENSÃO I (ver tabela 1), a leitura dos valores

apresentados permite realçar o seguinte:

O valor de 3,90 como sendo a média dos itens do grupo, pode indicar que a equipe de

manutenção se encontra satisfeita com a forma com que os trabalhos estão sendo

realizados na usina;

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O valor de 3,65, como média do item relacionado ao fornecimento de EPI, pode ser

também analisado segundo o critério de que estes equipamentos apresentam

desconfortos em alguns trabalhadores e isto pode ser identificado pela quantidade de

sugestões de melhoria para este item, resultando num total de 7 (sete).

Os treinamentos operacionais sobre SST atingiram uma pontuação média do item de

4,09, reflexo da participação ativa dos trabalhadores nestes processos construtivos

focados na qualificação profissional e pessoal.

Tabela 1 – Dados da pesquisa relacionados com a DIMENSÃO I.

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da pontuação

(%)

DIMENSÃO I

Condições de higiene, segurança e saúde no

trabalho

Média

do

item

Média

dos itens

do

grupo

Pontuação atribuída /

Grau de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

Equipamentos de proteção individual e

coletivos (EPI/EPC) fornecidos.

3,65

3,90

6,98

18,60

81,40

30,23

2ª Controle dos Exames Médicos Periódicos.

3,98

6,98 13,95 86,05 39,53

Equipamentos de comunicação disponíveis

nas atividades de manutenção.

3,93

4,65 6,97 93,03 27,91

Ferramentas de Gestão de Segurança e

Saúde no Trabalho da empresa.

4,02

4,65 13,95 86,05 41,86

Condições de segurança nos ambientes onde

são realizadas as manutenções.

4,02

2,33 11,63 88,37 37,21

Treinamentos operacionais sobre segurança

e saúde no Trabalho (NR-35, NR-10, NR-

33).

4,09

6,98 13,95 86,05 41,86

Apoio do SESMT e da CIPA nas grandes

intervenções (Manutenção de 50.000 H).

3,77

4,65 13,95 86,05 27,91

Campanhas organizacionais sobre

Segurança e Saúde no Trabalho (Fique

Alerta e Segurança 10).

3,93

4,65 20,93 79,07 44,19

Pausas no trabalho para atividades de

alongamento (ginástica laboral)

3,77

4,65 11,63 88,37 30,23

10ª

Planejamento Executivo da Manutenção

(PEX/APP)

3,88

6,98 16,28 83,72 39,53

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em relação à frequência da pontuação, 44,19% dos trabalhadores que responderam o

questionário, indicaram o valor máximo de 5 pontos no item “Campanhas organizacionais sobre

Segurança e Saúde no Trabalho”, dentre elas merecendo destaque a do “Fique Alerta e

Segurança 10”. Estas campanhas tem uma periodicidade anual e atinge a todos os segmentos

da empresa. Marcada fortemente por incentivos promocionais, estas campanhas, cada ano que

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13

passa, busca novos desafios coorporativos. A equipe de manutenção de Xingó, pelo que pode

ser identificado, tende a fortalecer esse desafio.

Apenas 2,33% dos trabalhadores deram a menor pontuação (1 ponto) para o item referente às

“condições de segurança nos ambientes onde são realizadas as manutenções”, o que pode

significar, também, uma satisfação na realização das atividades.

Os resultados da tabela que relacionam a DIMENSÃO II (ver tabela 2) apresentam como

destaques:

Com o valor de 3,63 como média do item, os trabalhadores da manutenção de Xingó

entendem que conseguem se envolver nas ações de atividades de melhorias. Esta

participação direta compreende, desde ações simples, como ajustes nos planejamentos

executivos, em se tratando de realização de determinadas atividades, como também no

envolvimento nos processos aquisitivos, na compra de determinados equipamentos ou

maquinário específico.

O valor de 3,51 como média dos itens do grupo, pode ser considerado satisfatório,

mesmo porque, em se tratando de qualidade nos serviços de manutenção, a integração

entre as partes que realizam as atividades, é fundamental e, para se conseguir isso, a

comunicação e o apoio são determinantes.

Tabela 2– Dados da pesquisa relacionados com a DIMENSÃO II

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da pontuação

(%)

DIMENSÃO II

Gerenciamento, comunicação e apoio

Média

do

item

Média

dos itens

do

grupo

Pontuação atribuída / Grau

de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

11ª

Envolvimento dos colaboradores nos

processos de tomada de decisão

3,49

3,51

6,98

23,26

76,74

25,60

12ª

Envolvimento dos colaboradores em

atividades de melhoria

3,63 6,98 13,95 86,05 23,26

13ª

Mecanismos de consulta e diálogo entre

colaboradores e gestores

3,44 9,30 20,93 79,07 20,90

14ª

Forma como a organização gerencia os

conflitos de interesses

3,56 6,98 11,63 88,37 23,26

15ª

Nível de envolvimento dos colaboradores

na organização e na respectiva missão.

3,44 6,98 23,26 76,74 23,26

Fonte: Elaborado pelo autor.

Outro ponto que merece destaque nesta análise, é a pontuação da sua frequência, referente à

forma de como a empresa gerencia os conflitos de interesses. O valor percentual de 88,37%,

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indica a quantidade de trabalhadores que informaram valores de 3, 4 ou 5 a este item da

pesquisa.

Na análise da tabela que relaciona a DIMENSÃO III, destacam-se os seguintes pontos (ver

tabela 3):

O valor de 3,16 como média do item relacionado a “críticas construtivas e atividades de

melhoria executiva”. Este valor, um pouco mais baixo, pode ser creditado à dificuldade

que alguns trabalhadores possuem em entender que críticas construtivas servem para

mudanças de processos e para os ajustes de melhorias.

O valor de 3,74 como média do item relacionado a “Desenvolvimento de trabalhos em

equipes” indica a importância que os trabalhadores estão dando para a realização das

atividades em grupo e, principalmente, nos processos de gestão de segurança e saúde

no trabalho, que tem como um dos pilares construtivos, a capacidade dos agentes se

integrarem nas atividades executivas.

Tabela 3– Dados da pesquisa relacionados com a DIMENSÃO III.

Satisfação com ... Média das

pontuações

Frequência da pontuação

(%)

DIMENSÃO III

Promoção do Aprendizado e Práticas

Construtivas nas atividades de manutenção

Média

do

item

Média

dos itens

do

grupo

Pontuação atribuída / Grau

de satisfação

1 < 3 ≥ 3 5

16ª

Aprendizado de novos métodos de

trabalho

3,47

3,38

6,98

18,60

81,40

16,28

17ª Desenvolvimento de trabalhos em equipes 3,74 4,65 16,28 83,72 37,21

18ª

Participação em projetos de mudança na

empresa

3,19 9,30 30,23 69,77 16,28

19ª

Reconhecimento dos esforços individuais

e coletivos

3,33 6,98 32,56 67,44 25,58

20ª

Críticas construtivas e atividades de

melhoria executiva

3,16 9,30 32,56 67,44 20,30

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como verificação da análise percentual, o valor de 83,72% indica a quantidade de trabalhadores

que informaram 3, 4 ou 5 na pesquisa referente ao item “Desenvolvimento de trabalhos em

equipes”, corroborando com o que foi dito anteriormente.

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4.1 Análises comparativa da pesquisa de campo

A mesma pesquisa foi colocada à disposição dos trabalhadores das outras usinas hidrelétricas

da Chesf que não possuem o SGSST nos seus processos produtivos. Os resultados se mostram

presentes nos gráficos 1, 2 e 3.

No gráfico 1, verificam-se os resultados comparativos da DIMENSÃO I, destacando-se como

maior diferença modular o item referente a “treinamentos operacionais sobre segurança e saúde

no trabalho – NR-35, NR-10 e NR-33”. Isto pode ser explicado pela necessidade do SGSST

exigir o cumprimento da meta indicada no planejamento anual.

Gráfico 1. Resultados comparativos da DIMENSÃO I.

Fonte: Elaborado pelo autor.

No entanto, não somente pela exigência da diretiva do sistema de gestão, esse ponto é o que

apresenta maior diferença. A cultura disseminada nos processos produtivos, contribui de

maneira direta, para o entendimento da importância destes treinamentos nas atividades de

manutenção.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

3,65

3,98 3,93 4,02 4,02 4,09

3,774,02

3,773,88

2,892,99

2,772,91 2,96 2,90 2,89 2,99 3,03 3,01

dia

da

po

ntu

ação

DIMENSÃO I - Condições de higiene, segurança e saúde no trabalho

EQUIPE DE MANUTENÇÃO DA USINA DE XINGÓ/CHESF COM SGSST EQUIPES DE MANUTENÇÃO DAS USINAS DA CHESF SEM SGSST

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16

Em relação ao quesito que apresenta menor diferença, destaca-se o item “pausas no trabalho

para atividades de alongamento”, com um valor em módulo de 0,74.

Em relação à comparação dos itens pertencentes à DIMENSÃO II, predominam os maiores

valores para a equipe de manutenção de Xingó. Entretanto, esta diferença já não é tão

considerada, se comparada ao da DIMENSÃO I (Ver gráfico 2).

Gráfico 2. Resultados comparativos da DIMENSÃO II.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O item relativo ao “Envolvimento dos colaboradores em atividades de melhoria” apresentou o

valor em módulo de 0,92, como sendo o maior valor, enquanto que o item “Envolvimento dos

trabalhadores nos processos de tomadas de decisão”, obteve o menor valor de 0,58.

Na análise comparativa dos itens que compõem a DIMENSÃO III (ver gráfico 3), destacam-se

os seguintes pontos:

O item que apresentou maior diferença em módulo foi o que se refere ao

“Desenvolvimento de trabalhos em equipes”, com valor de 1,02;

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

Envolvimento dos colaboradores nos

processos de tomada de

decisão

Envolvimento dos colaboradores em

atividades de melhoria

Mecanismos de consulta e diálogo entre

colaboradores e gestores

Forma como a organização gerencia os conflitos de

interesses

Nível de envolvimento dos colaboradores na organização e na

respectiva missão.

3,49

3,63

3,44

3,56

3,44

2,91

2,712,82 2,83

2,68

dia

da

po

ntu

ação

DIMENSÃO II - Gerenciamento, comunicação e apoio.

EQUIPE DE MANUTENÇÃO DA USINA DE XINGÓ/CHESF COM SGSST EQUIPES DE MANUTENÇÃO DAS USINAS DA CHESF SEM SGSST

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17

O item “Críticas construtivas e atividades de melhoria executiva” apresentou, para as

equipes de manutenção, resultados considerados baixos se comparados com as outras

dimensões. O valor da diferença em módulo de 0,46, neste caso indica que as equipes

ainda não estão totalmente preparadas para críticas construtivas, que possam alterar

modos e formas de execução das atividades laborais.

Gráfico 3. Resultados comparativos da DIMENSÃO III.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ainda na análise do gráfico 3, percebe-se que a ordem de grandeza dos valores obtidos se

identifica com pontuações de “3” e “2”, respectivamente para as equipes de manutenção que

possuem o SGSST e para aquelas que não têm esse sistema em seus processos.

Como o elemento cognitivo dos processos que compõem o SGSST é difícil de mensurar,

mesmo utilizando-se de pontos que indicam estados ou situações, esta pesquisa de campo

indicou quais os parâmetros, baseados nos próprios itens das DIMENSÕES, se encontraram

dentro de valores aceitáveis e quais aqueles, na visão dos próprios trabalhadores, necessitariam

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

Aprendizado de novos métodos de trabalho

Desenvolvimento de trabalhos em equipes

Participação em projetos de mudança na empresa

Reconhecimento dos esforços individuais e

coletivos

Críticas construtivas e atividades de melhoria

executiva

3,47

3,74

3,19

3,33

3,16

2,802,72

2,59

2,70 2,70

dia

da

po

ntu

ação

DIIMENSÃO III - Promoção do aprendizado e práticas construtivas nas atividades de manutenção.

EQUIPE DE MANUTENÇÃO DA USINA DE XINGÓ/CHESF COM SGSST EQUIPES DE MANUTENÇÃO DAS USINAS DA CHESF SEM SGSST

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de mudanças de processos ou até mesmo de atitudes individuais e/ou coletivas para atingirem

objetivos comuns.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste trabalho foi de descrever e analisar se o Sistema de Gestão em Segurança e

Saúde no trabalho influencia nas práticas de gestão, focadas na satisfação dos empregados que

realizam manutenções em Usinas Hidrelétricas. Com esse objetivo, recorreu-se a abordagem

de uma pesquisa de campo, baseada na técnica da Escala de Satisfação no Trabalho.

Procurando identificar a satisfação dos trabalhadores que executam as atividades de

manutenção, foram realizadas pesquisas de campo, tanto na Usina de Xingó, como nas demais

usinas do parque gerador da Chesf.

Analisando os dados da pesquisa, conclui-se que os resultados obtidos nas três dimensões

apresentam, de forma abrangente, que as equipes de manutenção da Usina de Xingó estão, em

princípio, identificadas com o SGSST da empresa e acreditam nos seus processos produtivos e

se sentem como elementos importantes na cadeia de gestão.

Isto pode ser creditado aos valores relacionados nos itens “condições de higiene, segurança e

saúde no trabalho, com uma pontuação de 3,90, como também no item “gerenciamento,

comunicação e apoio” com um valor de 3,51”, corroborando com o entendimento de Bergamini

(2005), em que comenta que os fatores motivacionais estão relacionados diretamente como o

trabalho, enquanto que os fatores de higiene referem-se ao ambiente do trabalho e sua atividade

na organização.

No item referente à “Promoção do aprendizado e práticas construtivas”, identificado na

DIMENSÃO III, os resultados obtidos mostram que alguns processos necessitam de melhorias.

O valor de 3,38 como sendo média de grupo, foi afetado pela baixa pontuação obtida no item

“Críticas construtivas e atividades de melhorias”, que obteve o valor de 3,16, bem como pelo

item “Participação em projetos de mudança na empresa”, que contribuiu com o valor de 3,19.

Conclui-se que, alguns trabalhadores ainda não estão acostumados a críticas construtivas,

mesmo que elas representem mudanças em processos e ajustes de melhorias.

Neste sentido, as organizações devem prover meios para realizar estes ajustes. Segundo

Hernandez (2005), desenvolver a autoestima no funcionário é fundamental para a qualidade de

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19

seu desempenho, fazendo com que o trabalhador sinta que é importante para a organização e

tendo consciência de que a empresa depende da sua atuação.

Com relação aos dados comparativos entre as usinas, os resultados demonstram que, para as

três dimensões da pesquisa, os valores, em módulos, da Usina de Xingó, são maiores que a

média das outras usinas. Destacando-se itens como “Treinamentos operacionais sobre

segurança e saúde no trabalho” que, apesar de serem extensivos para todas as usinas, a cultura,

oriunda da utilização de processos padronizados do SGSST, mostra o resultado do

entendimento, por parte dos trabalhadores, que estes treinamentos são relevantes, não só porque

permitem legalmente que eles tenham acesso a áreas periculosas, mas também porque são

importantes na execução das suas atividades de manutenção. Com relação à análise comparativa

das outras dimensões, destacam-se os itens “Envolvimento dos colaboradores em atividades de

melhorias”, que apresenta uma diferença de 0,92 e “Desenvolvimento de trabalhos em equipes”,

com uma diferença de 1,02, pertencentes ao quadro de DIMENSÕES II e III, respectivamente.

Alinhados com o entendimento de Priori Júnior (2007), que identifica como sendo a

organização a instituição responsável por desenvolver práticas simples que permitam melhorias

nas condições de trabalho, esta pesquisa refletiu que essas ações ocorrem visando a satisfação

dos trabalhadores, como requisitos mínimos normativos elencados no SGSST.

Diante deste entendimento, conclui-se que as organizações que possuem um SGSST, aliado a

sua cadeia produtiva, devem conseguir demonstrar, em todos seus aspectos, para seus

empregados, que atende aos requisitos com relação ao desenvolvimento de ações que

promovam um ambiente laboral seguro e saudável. E que estas ações não fiquem somente na

área de SST, que possam expandir suas concepções dentro da própria organização,

principalmente tornando o empregado como parte de um processo produtivo e importante para

a empresa.

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