A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da...

25
Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 1 Revista de Teologia e Ciências da Religião A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à desmitologização Prof. Dr. Carlos André Macêdo Cavalcanti 1 Resumo O artigo nasce da convicção de que, para a compreensão profunda de um determinado fato histórico, o estudioso precisa, antes, enxergar, da forma mais cristalina possível, o próprio tema de estudo, que, no caso deste texto, versa sobre o Tribunal do Santo Ofício. A Inquisição não foi uma “vontade do clero” contra a tendência geral da História, mas enra- íza-se na demonologia, na desmitologização, no desencantamento e até no absolutismo. A perseguição às práticas mágicas é uma forma muito eficiente de impor a nova ordem centralizada sobre os mais diversos grupos sociais. O Absolutismo necessita introduzir sua autoridade sobre o cotidiano das pessoas. Portanto, não se trata apenas de “intolerância misericordiosa”. Desse modo, este artigo sobre a Inquisição é um exer- cício que permite separar as concepções vulgarizadas do estudo aprofundado, segundo critérios científicos. Palavras-chave: fato histórico, Tribunal do Santo Ofício, História da intolerância, concepções vulgarizadas. Abstract This Article arises form one’s inner conviction that in order to understand deeply a determined, peculiar historical fact, the studious researcher needs, first of all, beholding, in an utmost possible crystalline way, this Work’s proper theme which, in this Text matter treats of “Tribunal (Court) of Holly office. Inquisition did not show up “clergy’s will” against History general tendency, but takes its roots from demonology, in demythologization, in disenchantment and, even, in Absolutism. Persecution against magical practices is a very efficient way of imposing, settling a new order centralyzed upon the most different social groups. Absolutism needed introducing, imposing its auctority upon people’s quotidian life. Therefore, it is not only a “merciful tolerance” question. In this sense, this Article about Inquisition is a practice, exercise that allows taking apart “vulgarizing” conceptions from deep study, according to scientifical criteria. Key-words: Historical Fact. Tribunal (Court) of Holy Office. History merciful tolerance. Vulgarized conceptions.

Transcript of A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da...

Page 1: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 1

Revista de Teologia e Ciências da Religião

A Inquisição na nostalgia do mito:da herança tomista à desmitologização

Prof. Dr. Carlos André Macêdo Cavalcanti1

ResumoO artigo nasce da convicção de que, para a compreensão profunda deum determinado fato histórico, o estudioso precisa, antes, enxergar, daforma mais cristalina possível, o próprio tema de estudo, que, no casodeste texto, versa sobre o Tribunal do Santo Ofício. A Inquisição não foiuma “vontade do clero” contra a tendência geral da História, mas enra-íza-se na demonologia, na desmitologização, no desencantamento e aténo absolutismo. A perseguição às práticas mágicas é uma forma muitoeficiente de impor a nova ordem centralizada sobre os mais diversosgrupos sociais. O Absolutismo necessita introduzir sua autoridade sobreo cotidiano das pessoas. Portanto, não se trata apenas de “intolerânciamisericordiosa”. Desse modo, este artigo sobre a Inquisição é um exer-cício que permite separar as concepções vulgarizadas do estudoaprofundado, segundo critérios científicos.Palavras-chave: fato histórico, Tribunal do Santo Ofício, História daintolerância, concepções vulgarizadas.

AbstractThis Article arises form one’s inner conviction that in order to understanddeeply a determined, peculiar historical fact, the studious researcher needs,first of all, beholding, in an utmost possible crystalline way, this Work’sproper theme which, in this Text matter treats of “Tribunal (Court) ofHolly office. Inquisition did not show up “clergy’s will” against Historygeneral tendency, but takes its roots from demonology, indemythologization, in disenchantment and, even, in Absolutism.Persecution against magical practices is a very efficient way of imposing,settling a new order centralyzed upon the most different social groups.Absolutism needed introducing, imposing its auctority upon people’squotidian life. Therefore, it is not only a “merciful tolerance” question. Inthis sense, this Article about Inquisition is a practice, exercise that allowstaking apart “vulgarizing” conceptions from deep study, according toscientifical criteria.Key-words: Historical Fact. Tribunal (Court) of Holy Office. Historymerciful tolerance. Vulgarized conceptions.

Page 2: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

2 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

Há alguma “inquisição” quando se estuda a Inquisição. Mesmoque o cientista das religiões, o historiador ou o estudioso façam

todo o esforço para abdicar do ato de “inquisitoriar a Inquisição”, oleitor, o ouvinte ou mesmo o aluno estarão sempre predispostos aojulgamento. Essa atitude, enraizada entre pessoas das mais diversasorigens e interesses, é o principal obstáculo para a compreensão histó-rica do Tribunal do Santo Ofício e da sua “intolerância misericordio-sa”. Em palestras, cursos, aulas e conferências que pronunciamos so-bre este tema nos últimos dezenove anos, vimos sempre aflorar, namaioria dos que estiveram conosco, a luta irreal entre se dizer a favorou contra o Tribunal. Daí, termos a convicção de que, para a compre-ensão de um imaginário inquisitorial, precisamos, antes, enxergar, daforma mais cristalina possível, o próprio tema de estudo. Isso permiteseparar, até na mente do próprio leitor, as concepções vulgarizadasdo Santo Ofício do estudo que desenvolvemos aqui.

O Santo Ofício passou por uma racionalização típica de umainstituição moderna ocidental. Houve uma mudança do seu paradigmafundante para um conjunto de valores novo sustentado noaprofundamento da melhor expectativa de uma razão de justiça.

A perda do paradigma fundante pode estar ligada à ascensão deuma corrente teológica dentro da Igreja. Nesse longo percurso de de-sencantamento e desmitologização, a Inquisição bebeu da poderosafonte tomista. Para se ter uma idéia da influência do pensamento deTomás de Aquino para a racionalização da fé, buscamos o trecho deuma palestra de um seu seguidor brasileiro, o jesuíta Francisco Fraga,proferida em 1747, no Colégio do Rio de Janeiro. Entre suas conclu-sões metafísicas, há uma que ilustra bem a luta entre o místico e oimanente – ou natural, no dizer da época – e que se intitula O SerDivino enquanto considerado pela razão natural, na qual o religio-so afirma:

Estabelecemos: 1. Que a existência de Deusé demonstrável pela razão natural, a posteriori,como atesta qualquer criatura, contra a insâniados ateus. Estabelecemos: 2. Que tal existên-cia pode ser demonstrada, não apenas aposteriori, mas ainda quase a priori pela Idéia

Page 3: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 3

Revista de Teologia e Ciências da Religião

do Ser Ótimo ou sumamente Perfeito (In:CAMPOS, 1998, p. 42).

Em outro documento histórico, a Ratio Studiorum, a proximi-dade entre a lógica cerceadora da Inquisição e a prática tomista pro-posta para disciplinar os estudos teológicos em conventos católicos,fica patente em algumas regras didáticas para o dia-a-dia escolar(CAMPOS, 1998, p. 34 e 35): a primeira era de que os livros queestariam ao alcance dos estudantes seriam apenas a Suma Teológica,de Santo Tomás, e a obra de Aristóteles, proibindo-se os demais; umasegunda regra determinava que os autores que interpretassemAristóteles, utilizando fórmulas desaprovadas pela Igreja, “não sejamlidos nem mencionados na escola” e, enfim, mesmo que o profes-sor discordasse em alguma questão do pensamento tomista, “antesdefenda o professor a opinião de Santo Tomás ou omita a própriaquestão.”

Outra repercussão importantíssima do pensamento de Tomásde Aquino para a Inquisição é status de autoridade que suas idéiaspermitiram ao vínculo entre a misoginia e a demonologia, base para alonga era de caça às bruxas que varreu a Europa Moderna:

As mulheres têm menos vigor físico e intelec-tual do que os homens. Os homens têm ‘umarazão mais perfeita’ e uma ‘virtude mais for-te’ do que as mulheres (Summa ContraGentiles III, 123). Em decorrência da ‘defici-ência em sua capacidade de raciocínio’, quetambém é ‘evidente em crianças e em doen-tes mentais’, não é permitido às mulheres ser-virem de testemunhas em assuntos testamen-tários (Summa Theologica, II/II q. 70 a. 3).(...) ‘O pai deve ser mais amado do que a mãe,por ser ele o princípio ativo da geração, en-quanto ela é o passivo’ (ibid., II/II q. 26 a. 10).Tais diferenças podem ser encontradas mes-mo no ato conjugal: ‘Ao marido cabe a partemais nobre do ato conjugal, e é natural queprecise corar menos ao exigir o débito conju-

Page 4: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

4 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

gal do que quando a mulher o exige’ (SummaTheologica Suppl. Q. 64 a. 5 ad 2). Pois ocoito ‘sempre tem algo de vergonhoso em si efaz a pessoa enrubescer’ (ibid., q. 49 a. 4 ad4). As mulheres são mais inclinadas à inconti-nência do que os homens, diz Tomás, invocan-do Aristóteles (Summa Theologica II/II q.56 a. 1). O martelo das feiticeiras afirma-va que essa era a razão por que havia maiornúmero de feiticeiras do que de feiticeiros(Iq. 6) (RANKE-HEINEMANN, 1999, p.202-203)

Mas é na racionalização pretendida da própria essência da féque se dá a mais profunda influência tomista. Tentando conciliar a mís-tica católica com uma visão “natural” e racional do mundo, o tomismo,da mesma forma que a Inquisição Moderna, favoreceu a consolidaçãodas “hierarquias terrenas” – o clero – em detrimento das “hierarquiascelestes”. O afastamento do místico levou a um atribulado sentimentode nostalgia. A influência tomista auxilia-nos a visualizar adesmitologização em uma das suas facetas intolerantes. Como estamosanalisando um tema da Idade Moderna, todo um pejo de preconceitosevolucionistas aflora para sustentar a idéia mecanicista de que o mo-derno e, depois, a própria modernidade teriam sido uma “oposição”às trevas da fé. Vemos, entretanto, que a desmitologizaçãomodernizadora foi, ela mesma, associada a diversas formas de intole-rância, inclusive a Inquisição. Moderno e intolerante são adjetivosmuitas vezes confluentes.

Tratamos aqui de uma disputa pela prevalência simbólica. Ahegemonia de “racionalistas mundanos”, como Tomás, Alberto Mag-no e Francisco Sales não impediu a existência de místicos como SãoJoão da Cruz e Santa Tereza d’Ávila. Magno foi o mentor intelectualde Tomás, tendo admitido a separação entre a esfera teológica e aesfera racional. Já Tomás foi educado por beneditinos, mas tornou-sedominicano. Sua influência tornou-se maior após a sua morte (1274).Em 1567 foi declarado doutor da Igreja pelo papa Pio V, em plenaContra-reforma. Em 1879, Leão XIII deu início a um forte movimento

Page 5: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 5

Revista de Teologia e Ciências da Religião

racionalizador ao determinar em Encíclica o fortalecimento dos estu-dos e princípios tomistas.

Por outro lado, neste mesmo longo período, a Igreja conviveucom a manutenção de uma tradição mística que se expressou na vidaexemplar dos amigos João da Cruz e Tereza, do século XVI. Joãoparticipou da fundação da ordem dos carmelitas descalços e escreveufamosos poemas místicos. Tereza, que foi carmelita, teve uma vidaatribulada, mas fundou dezenas de conventos, onde a vida pobre de-via prolongar-se com uma atividade de preces mentais diárias. As frei-ras e os frades descalços tiveram forte resistência dos “calçados” an-tes de se firmar a divisão em dois ramos da mesma ordem. A própriadivisão, aliás, é significativa do papel secundário a que ficaram relega-dos os místicos católicos. Curioso notar que a vida dos católicos mís-ticos costuma acompanhar-se de uma opção pela pobreza, recusan-do-se, assim, indiretamente, a aproximação da Igreja com o podermundano.

Contudo, a hegemonia desmitologizadora permaneceu. Toda umatradição epifânica foi sendo deixada de lado em troca de um hábitoracionalista da fé. O maior interesse nesse processo nasce da própriahierarquia clerical, que mantém forte controle da ortodoxia no ambien-te intelectualizado do tomismo ou de formas outras de desmitologização.Foi nesse contexto que a Inquisição floresceu.

Se a curva do tempo nos levasse a alguma berlinda setecentistapara escutar, à sorrelfa, a conversa dos inquisidores ou o grito de suasvítimas diante dos azorragues do Tribunal do Santo Ofício, certamentereafirmaríamos o percurso analítico que estamos apresentando nestaspáginas. O novo olhar que estamos propondo para a análise históricada Inquisição parte da constatação de que se tratou de um Tribunal deorigens medievais, com estruturação definitiva nos tempos modernose que vivenciou, como agente histórico privilegiado, todo o movimentode desmitologização da Cristandade. Temos como pressuposto as raízeshistóricas da intolerância cristã para podermos propor uma nova con-cepção – ou uma nova noção – de Inquisição. Para isto, é precisorevisitar, mesmo que muito resumidamente, o percurso historiográficodeste tema polêmico.

Page 6: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

6 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

Na segunda metade do século XX, o estudo da Inquisição re-cebeu enorme incremento com análises específicas em termos temáticose geográficos (António Saraiva, 1985; Graça e José Sebastião da Sil-va Dias, 1980; I. S. Révah, 1975 e Sonia Siqueira, 1978; por exem-plo). Período de idêntica efervescência havia ocorrido na fase que vaido final do século XIX ao início do século seguinte (João Lúcio deAzevedo, 1975; e António Baião, 1972) . Desde a década de cin-qüenta do século XX, quando os trabalhos de Antônio Saraiva inicia-ram debate proveitoso em Portugal, o estudo sobre o Tribunal do SantoOfício tem avançado em termos quantitativos e qualitativos. Tais aná-lises sistemáticas só se iniciaram após a extinção do Tribunal, pois, até1821, quase ninguém arriscou publicar estudos sobre os homens dafé. O grande pioneiro foi Alexandre Herculano (1852) com o clássico“História da origem e estabelecimento da Inquisição em Portu-gal”. Hoje, mais de século e meio após a dedicada pesquisa de Her-culano, a produção historiográfica continua atrelada a uma velhasegmentação analítica, que foi muito bem enfocada por FranciscoBethencourt (1987 e 1994), ao apresentar a classificação dahistoriografia em dois grupos: os que defendem a “lenda branca” daInquisição e os que acreditam numa “lenda negra”. As duas mitificaçõesdo Tribunal sobreavaliam seu papel na História. Pode haver objetivoideológico por trás desse processo de ataque/defesa do Tribunal, queseria o de influir nos debates políticos contemporâneos a cada um dosmuitos autores que estudaram a Inquisição.

Numa aproximação inicial, dizemos que a “lenda branca” supõeum Tribunal justificável pela sua historicidade. Em outras palavras: naconjuntura histórica em que surgiu e se desenvolveu, tratou-se de “algonatural”. É visão um tanto fatalista e, às vezes, determinista. Citamosduas passagens que ilustram o posicionamento dos defensores da “lendabranca”, que, por estarem “em baixa” nos dias de hoje, tornaram-sede pouco conhecimento, quase uma peculiaridade de quem se dedicaespecificamente ao tema. Vamos a Herculano e a Tuberville, o primei-ro sobre a Inquisição portuguesa e o segundo sobre a espanhola:

Seria absurdo exigir do catolicismo que tole-rasse o erro; que admitisse a possibilidade te-

Page 7: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 7

Revista de Teologia e Ciências da Religião

órica de qualquer ponto de doutrina contráriaà sua; porque isso equivaleria a fazer descer acrença católica das alturas do dogma ao níveldas opiniões humanas; mas estas leis ferozestornavam necessariamente odiosa aos olhosdas suas vítimas a causa remota e inocente demales que só, na realidade, eram filhos de bru-to fanatismo e, às vezes, de conveniênciaspolíticas (HERCULANO, 1852, p. 27 - vol.I).

Não é só à Igreja que compete apreciar a per-versidade da heresia. Desde o código Teodósioque o poder temporal tem o direito de susten-tar que o indivíduo não deve ser livre de discu-tir questões teológicas nem manter qualqueropinião que lhe ocorra, pois as questões teoló-gicas não são meramente académicas, antesrespeitam vitalmente ao organismo político,quanto mais não seja senão para ordenar a vidada família, a qual é essencial ao bem-estar doEstado e dependente dos bons princípios reli-giosos (TUBERVILLE, 1932, p. 123).

Não se pode dizer que esses autores tenham sido determinadosem seus posicionamentos apenas por sua época ou lugar: Herculanofoi um intelectual português do século XIX, tendo vivido num país di-ferente daquele dos tempos inquisitoriais. Tuberville, que estudou emOxford em 1909, foi professor da Universidade de Leeds até 1945,quando faleceu. Os posicionamentos de ambos, ao que parece, pren-dem-se a convicções religiosas ou a posicionamentos políticos, semdeixar de lado uma evidente busca por encarar a História sempre comoalgo natural.

Posicionamento aproximado aos de Tuberville e Herculano é odo brasileiro João Bernardino Gonzaga, que realizou importante tra-balho sobre a relação entre Inquisição e Direito. Em livro recente, comapresentação de um beneditino, Estêvão Tavares Bettencourt, que éestudioso do tema – tendo, por sinal, comparecido ao I Congresso

Page 8: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

8 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

Internacional sobre Inquisição com a palestra Inquisição: Origem eMentalidade (Lisboa e São Paulo, 1987) – Gonzaga chega a afirma-ções justificadoras da perseguição aos judeus:

Um grupo, entretanto, permanecendo fecha-do em si, repelia a Cristo, precisamente o“povo eleito”. Os cristãos lhe tinham apego,sabiam que sua crença vinha de Israel. As Igre-jas ostentavam sempre, pintadas nas paredes,cenas do Antigo Testamento. Para o cristão, ojudeu se apresentava como um irmão mais ve-lho, a quem se ama e de quem se espera apoio,mas a resposta era desconcertante, com cruelruptura. O pior ódio é aquele que provém doamor.A separação e o rancor foram inevitáveis. Osjudeus permaneciam tenazmente apartados,formando um grupo fechado. Conservavam es-tranho idioma, se escondiam em ritos misteri-osos, a que se acrescentou, por volta do sécu-lo XII, a “cabala”, com estranha doutrina mís-tico-teológica. Tudo isso produzia espanto,medo e desconfiança. Em 1199, foi preciso queo papa Inocêncio III proibisse os cristãos nãosó de matar os judeus, mas também demolestá-los em suas festas religiosas, comofensas e pedradas. Nos mercados, encena-vam-se peças teatrais de escárnio aos judeus(GONZAGA, 1993, p. 73).

Encontramos as componentes centrais da “lenda branca”: ainevitabilidade e a naturalidade da Inquisição. Já a lenda “negra”,supõe a necessidade de julgar e condenar o Tribunal, buscando incul-car “cientificamente” discurso anticlerical típico do Iluminismo no sé-culo XVIII. Vejamos exemplo no texto de Juan Blazquez Miguel:

La ferocidad de los inquisidores se puso demanifiesto desde el primer momento. En 1486

Page 9: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 9

Revista de Teologia e Ciências da Religião

se celebraron seis autos de fe; el primero, el12 de febrero, y en él salieron 750penitenciados (...). Hasta 1501 fueronprocesadas 2.792 personas más, de las que serelajaron 196 en persona y 500 en estatua.De estas cifras tan terribles hay que hacer unligero comentario relativo a los conversos quefueron absueltos, tras haber sido examinadossus casos. Sabemos que desde 1485 hasta 1500lo fueron 43 y otros 112 vieron suspendidossus procesos. (...)Inmediatamente los tentáculos inquisitorialesse extendieron a las demás localidades de suámbito jurisdicional (...) (MIGUEL, s/d, p. 106).

Ferocidade, terror e tentáculos: palavras que não deixam dú-vida sobre a forma como se vai encarar o tema. Entre os autores quese portam assim, há um consenso em torno de que o Tribunal já não éum problema científico – talvez até isso não importe muito para eles –e a sua explicação definitiva já é conhecida: tratar-se-ia de um crimeperpetrado pela Igreja Católica contra, principalmente, o povo hebreu.Restaria, então, alimentar libelos acusatórios com mais e mais estudosde casos e estatísticas. Esse modelo proliferou no século XX e vivehoje processo de esgotamento.

Acreditamos que as duas “visões” passam ao largo da proble-mática central, que é a de buscar compreender o papel das inquisiçõesna História da civilização cristã ocidental. Essa mudança da expectati-va que tem o pesquisador em relação à análise do tema leva a umamodificação profunda na postura do cientista. As visões “lendárias”garantem público, alimentam a polêmica e fortalecem opiniões, egos epublicações. A nova visão sobre o tema (revisionismo?) como todosos enfoques críticos que foram para livrarias e auditórios nos anosrecentes, irá encontrar a curiosidade e a expectativa do público emtorno do debate sobre o Tribunal.

As correntes historiográficas pretensamente separadas pelas di-ferentes origens lendárias da sua postura analítica levam a um tipo nulode atuação intelectual circular: rodeia-se o tema sem percebê-lo es-

Page 10: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

10 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

sencialmente. O resultado destas voltas que a maior parte dahistoriografia sobre o tema tem dado em torno de si mesmo, é queficamos restritos à soma de informações, pouco acrescentando aoconhecimento do Tribunal enquanto agente histórico. Buscamos deli-mitar o nosso enfoque de maneira a tentar desfazer o nó reducionistaque leva os historiadores sempre de volta a uma das duas lendas: ou oSanto Ofício fica caracterizado como obra do clero retrógrado ou comoinstituição “natural” em sua conjuntura histórica. Sugerimos ao leitorrefazer conosco o caminho que escolhemos trilhar.

Façamos um paralelo entre uma visão “iluminista/materialista” eesta em que trabalhamos com a noção de desmitologização de valo-res. Uma certa vulgarização da concepção de História, vinda doIluminismo, que não corresponde à atual visão de muitos historiado-res, está presente no ensino de História e nos eventos da área, ondevimos aflorar tal concepção repetitivamente. Nela, por exemplo, resis-te uma idéia ainda muito forte, mesmo no meio acadêmico: a de que aIgreja Católica teria sido apenas uma barreira ao progresso da Histó-ria e à ascensão dos valores renascentistas modernos. Vemos o mes-mo momento histórico com outro olhar. Realmente, havia muito dearcaico nos valores da Igreja, porém sua vitalidade esteve em ade-quar-se ao mundo moderno e influenciá-lo. Nesse sentido, ao histori-ador cabe ressaltar essas influências, que se traduziram em duradouraspermanências mentais. A mentalidade inquisitorial teve, em relação aomundo moderno, uma proximidade que pode passar insuspeitada pe-los menos avisados. Um exemplo, para muitos, desconcertante vemquebrar o mito da inacessibilidade dos “livros proibidos”. Paradoxal-mente, segundo Heráclito Bonilla, houve inquisidor que possuía e davaacesso às obras da Ilustração Francesa e, até mesmo, que as possuía:

No caso do Peru, sabe-se que o vice-reiLascal, um dos que mais combateu todos osesforços pela independência do Peru e Bolíviafrente à Espanha, não somente era um leitorentusiasta destas obras supostamente proibi-das, senão que, de sua biblioteca, muitos doslíderes da independência peruana mais tarde,emprestaram estes livros. Um caso extremo

Page 11: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 11

Revista de Teologia e Ciências da Religião

é o do Conselheiro da Inquisição, em cujabiblioteca os livros da Ilustração francesase encontravam e que eram igualmente dis-poníveis para todo aquele que quisesse teracesso a essas leituras (COGGIOLA, 1990,p. 152. Grifo nosso).

A racionalização do mundo, tão cara à modernidade, contou,isto sim, com forte influência da Igreja, inicialmente também com opensamento tomista. A Reforma Protestante foi influenciada por estaanterior “racionalização católica”, igualmente inspiradora dos valoresda Contra-Reforma ou Reforma Católica. Esta, por sua vez, buscouaprofundar a desmitologização de valores, adequando-se aos precei-tos burgueses. Da mesma forma, a Inquisição não foi uma “imposição doclero regressista”, mas um instrumento racionalizador por excelência.

Portanto, Reforma, Contra-Reforma ou Reforma Católica,Renascimento, Inquisição e Absolutismo apontam para a mesma dire-ção histórica, mesmo divergindo pontualmente entre si. Os conflitosdo período moderno tiveram como moto primeiro – essencial – o pro-cesso de afastamento da cultura ocidental de seus mitos fundadores,no sentido durandiano. Essa desconexão gerou o imenso esforçosecularizador que pode chegar ao fim neste século XXI, talvez comum “renascimento” espiritual ou Renascimento Cristão! As raízes maisdistantes deste processo devem ser buscadas com Gilbert Durand(1995), que será nosso guia nesta breve incursão ao passado daCristandadade. Do pensamento dele, captamos a composição do TipoIdeal de Inquisidor Moderno, que criamos em trabalho anterior. Paraele, que é mestre de grande parte dos Centros de Estudo do Imaginá-rio espalhados pelo mundo, a relação do cristianismo com a História éo centro de um processo de afastamento da fé de sua mística original.Em A Fé do Sapateiro, Durand afirma que a aproximação do clerocatólico com a História é um contra-senso:

A liturgia cristã tem por missão fundamentalcontestar com o símbolo o tempo e a história,em nome da Ressureição. Neste sentido, suaação com o aparelho simbólico de que se cer-

Page 12: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

12 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

ca não difere do ato constitutivo do ’Eu’, nocurso da individualização. A individualização étambém uma vitória contra as disjunções, asdistrações, as dispersões temporais, inclusiveos egoísmos e narcisismos. O mesmo arsenalsimbólico atua plenamente não só na liturgiacristã, contestando a morte, como nas cerimô-nias iniciáticas de muitas outras religiões (...)(DURAND, 1995, p. 47).

Nesse contexto, repetido ainda muito mais nos dias de hoje, emtodos os templos católicos, acredita-se num Deus que só tem sentidoao “agir na história, ao revelar-se nela”. Há um “fastidioso processodo aggiornamento historicista, positivista e socializante que (...) reduzo divino a uma epistemologia, para não dizer uma superstição,inteiramente humanista, a da história” (DURAND, 1995, p. 58).Cristo e sua religião – ou qualquer outra – só possuem sentido própriofora da História.

O gênio de uma religião, e nomeadamente o‘gênio do cristianismo’, não pode residir na ali-ança oportunista com as ideologias da moda,que são efêmeras. O próprio da história é adialética: o amanhã queima o que ontem foiadorado. Infeliz a religião, a ética que aceitatal oportunismo! O gênio de uma religião está,ao contrário, no aprofundamento hermenêuticodas recorrências que, ultrapassando o efêmero,marcam a eternidade e a universalidade dohomem: Semper et ubique. A esse gênio per-tence a chave das estações e dos dias, a pos-se de um tempo que desafia para sempre adestruição entrópica e a morte (DURAND,1995, p. 77).

A ilusão reside em crer num Cristo que “precisou” da História,fez-se homem para ser compreendido. Sem a Providência Divina, omundo cristão perde sentido: “a história não passa de um fantasma

Page 13: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 13

Revista de Teologia e Ciências da Religião

dos impulsos que movem o homem”(DURAND, 1995, p. 18). Hoje,quando a desmitologização parece chegar ao seu ápice, pode ser mui-to surpreendente, à primeira vista, o posicionamento científicodurandiano. Talvez Max Weber o definisse como uma tentativa dereencantamento do mundo, contra o medo que tem a cultura cristã demorrer de desencantamento. A difícil compreensão poderia recobrir-se de certa estranheza, se o próprio Durand não a tivesse respondidocom uma fórmula pragmática ao apontar como se ter uma experiên-cia simbólica, nos dias de hoje, marcados por uma inflação diária deimagens sem controle ou significado claro. Num texto publicado em1967, numa revista cristã (Lumière et Vie), ele responde à questão daexperiência simbólica hoje, propondo que aquele que a desejar teráque fazer três recusas. A terceira delas, segundo ele, é “a mais impor-tante, a mais essencial para uma experiência simbólica autênti-ca” (DURAND, 1995, p.41).

Consiste na denúncia clara do evolucionismohistórico, relegado ao papel de simples ’mito’da nossa civilização. Ora, a reduçãoevolucionista da história dos homens é possi-velmente o mito positivista mais incidioso, por-que ele se defende, justamente, de toda mito-logia e capta a atribuição de sentido em bene-fício de uma pretendida objetividade histórica,um factum que mais cedo ou mais tarde esca-pa à decisão individualizante (DURAND, 1995,p. 41).

A idolatria da História levaria, afirma-se aqui, ao que HerbertMarcuse (1978) chamou de unidimensionalização do homem. Contraesse homem unidimensional, opõe-se o politeísmo de valores e cami-nhos de que falam Weber e Durand. É, na verdade, questão de cora-gem e honestidade científicas, pois o aprofundamento científico desfaza unidimensionalização acadêmica. Mas é também uma ilusão antiga:segundo Henry Corbin, esta ilusão de tantas faces foi iniciada em Cór-doba no século XII, quando Averroes direcionou o caminho aristotélicodo que é hoje a ciência profana ocidental.

Page 14: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

14 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

(...) essa bifurcação catastrófica teria ocor-rido desde a opção de Averroes pelaescolástica ocidental, contra Avicena. Valea pena precisar: foi o magistério da Igrejaque impôs a recusa de um intermediário ‘psí-quico’ – ou melhor, ‘psicóide’, como diriaJung – entre o mundo acima da natureza,das idéias, e a natureza humana. Para reto-mar uma linguagem dionisíaca, diríamos queforam as hierarquias eclesiásticas que apa-garam as hierarquias celestes. Estas últimas,conforme Henry Corbin, formam um mun-do ‘à parte’, que não é nem o da fisis nem odas puras intelectividades; um mundo pre-cisamente ‘visionário’, onde os inteligíveisadquirem um corpo e os corpos seespiritualizam (GILBERT DURAND, 1995,p. 84).

Por outro lado, entendemos que a Desmitologização de Valoresé uma das faces do percurso histórico que transformou a cultura oci-dental num ente secularizador e, como diria Weber (1992, p. 439),desencantado. Criamos esse conceito como nossa contribuição paradesvendar o processo geral de intelectualização da cultura em suaespecificidade dentro dos cárceres inquisitoriais. Trata-se de conceitosingular para o estudo da Inquisição Moderna, posto que, nela, portoda parte, houve um progressivo exílio ou afastamento do imaginário,que veio a ser considerado fantasioso e ilusório. Também a nossa pró-pria disciplina foi criada no mesmo ambiente intelectualizante que per-mitiu a sistematização de todas as ciências. Admitimos a validade his-tórica da concepção que vincula o próprio processo que engendrou osaber científico ao período que marca o advento da intolerânciainquisitorial.

O progresso científico é um fragmento, o maisimportante indubitavelmente, do processo deintelectualização a que estamos submetidosdesde milênios e relativamente ao qual algu-

Page 15: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 15

Revista de Teologia e Ciências da Religião

mas pessoas adotam, em nossos dias, posiçãoestranhamente negativa (WEBER, 1992, p.439).

Em segundo lugar, para que pudéssemos chegar ao conceito deDesmitologização de Valores, rompemos com uma certa “desordemexplicativa” que tem marcado o tema. A permanente análise de casosespecíficos pode encobrir uma armadilha: em plano inferior, deixa-se oentendimento do movimento histórico que gerou a Inquisição, abrindoespaço para explicações gerais de cunho emocional. Sobrepor-se ao“uso dramático” deve permitir uma “nova” História Moderna. Os ca-sos encontrados em processos inquisitoriais são como narrativas que,somadas às narrativas regimentais, representam o imaginário daInquisição em suas faces diversas, inclusive a do medo de bruxa.

A Desmitologização de Valores de que tratamos aqui foi um mo-vimento de mentalidade que ocorreu dentro do Tribunal do Santo Ofí-cio e compõe-se das seguintes características: desmitificação das cul-pas de feitiço; secularização da processualística inquisitorial; esvazia-mento do mito formador da própria Inquisição. A verificação dessestrês componentes da desmitologização no Santo Ofício permite per-ceber que os objetivos e ações investigativas inquisitoriais foram capa-zes de promover a desvalorização mítica dos princípios “teológicos”heréticos e das próprias noções teológicas católicas. Dialeticamente, oTribunal promoveu, ao final de três séculos de desmitologização, a suaprópria superação. Os próprios inquisidores deixaram de ensinar omedo para ensinar o desprezo.

Historicamente, a desmitologização foi aprofundada com aoficialização do catolicismo como religião de Estado, ligada ao podertemporal. Ainda no século IV, operou-se “a passagem do cristianismode religião ilícita para religião lícita”(Frangiotti, 1995, p. 161). Háum cenário de lutas internas que define este processo. Santos maisespiritualizados, por exemplo, surgem ou recebem a veneração dosfiéis, como Bento, Antão e São João da Cruz, mas a hegemonia dossetores hierárquicos próximos às autoridades seculares tornou-se amarca da Igreja medieval mesmo em instituições inspiradas por taisepisódios de santidade. Bento, aliás, é tido por Daniélou e Marrou

Page 16: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

16 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

como “santo de tipo bem oriental: também ele é taumaturgo pneu-mático, carismático, segundo a tradição inaugurada por SantoAntão”(DANIÉLOU, 1984, p. 434).

Os católicos vivenciaram intensamente a aproximação com opoder constituído. O caminho de estruturação de um imaginário que seproporia libertar espiritualmente o homem de todas as formas de opres-são, terrenas e celestes, foi abandonado solenemente em nome de umesforço hercúleo para oficializar toda e qualquer expressão de fé, con-temporizando-a com a oficialização do credo. Talvez o cristianismo sótenha sobrevivido com a força atual graças a essa potencialização ini-ciada junto ao poder romano oriental e continuada em relação a váriosoutros poderes posteriormente. É possível que esse caminho tenhalevado, séculos depois, à Reforma Protestante, época em que, o exer-cício do poder temporal passou a ser visto com ainda maior “naturali-dade”, levando Max Weber em A Ética Protestante e o Espírito doCapitalismo a dedicar nota específica a esta tendência, onde escre-veu que há “uma comum boa vontade” do “clero luterano, em ofe-recer-se como colaboradores (sic) da política por simpatia geral à au-toridade, quando queriam condenar a greve como pecado e os sindi-catos como promotores de cupidez (...)” (WEBER, 1983, p. 145).

O esforço desmitologizador tentou engessar os mitos e seu sig-nificado transcendente. A História da desmitologização nos leva devolta ao período em que a Igreja aliou-se a Constantino e Teodósio.As conseqüências políticas e teológicas levaram a uma inclinação dacristandade para formas “distanciadas” dos seus próprios mitos fun-dadores. Tentativas de (re)mitologização resultaram em movimentosinternos que buscavam compensar a influência de uma divindade “se-cularizada”, cujo aspecto místico transcendente aparece escamoteadopelos símbolos imanentes do exercício do poder temporal.

A Igreja – que foi assumindo e pondo a seuserviço a filosofia grega, a ascese e a mo-ral estóicas, alguns ritos e festas pagãs –agarrou-se depois ao braço secular, à força daespada e dos decretos imperiais (Grifo nos-so).

Page 17: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 17

Revista de Teologia e Ciências da Religião

Teologicamente, a conseqüência mais sentidaé que, a partir do dogma de Nicéia, declaran-do a igualdade substancial de Cristo com Deus,colocando-o no mundo divino-celeste, ele sedistanciou dos fiéis. Passou a ser tratado sem-pre como Deus, como segunda pessoa da Trin-dade. Logo após o Concílio de Nicéia, apare-ceram as primeiras imagens de Jesus Cristovencedor, revestido da púrpura imperial. Maistarde, as figuras de Pantocrator, o Cristo todo-poderoso, dominador dos reinos, nos traços efeições do imperador bizantino. Um clima deterror se espalhou entre as massas, especial-mente, no Oriente. O sacrifício da missa, abasílica, a mesa do altar e outros objetos ’sa-cros’ receberam os adjetivos fríktos (temíveis)e féberos (terríveis). A missa bizantina pas-sou a ter uma entrada solene em que o corosaudava o Cristo glorioso, triunfante, na pes-soa do sacerdote, como rei da criação. Os fi-éis se prostravam à passagem do celebrante euma nuvem imensa de insenso invadia a naveda basílica. Por outro lado, o vazio deixado pelahumanidade de Jesus, pela afirmação exclusi-va de sua divindade, começou a ser preenchi-do pelo florescimento do santoral, damariologia e das relíquias. Surgiram os novosmediadores, entre o povo e Cristo-Deus(FRANGIOTTI, 1995, p. 162-163).

A Inquisição impulsionou essa desmitologização ao tentar baniros hereges, que floresceram com vigor também após a aproximaçãoentre a Igreja e o Estado. De certa forma, a imperiosa necessidade deuma Inquisição pode ter sido resultado do cansaço da própria fórmulaque uniu os reis e os sacerdotes cristãos, não só por necessitar com-bater as heresias que se fortaleciam em virtude da oficialização docristianismo como religião de Estado, mas também para impor aosfiéis novos motivos de estímulo na vivência da fé.

Page 18: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

18 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

O conceito de desmitologização de valores poderá ter aplica-ções múltiplas. Há possíveis usos futuros para um nível histórico maisgeral de análise da História Moderna como um todo. Há a possibilida-de de utilizá-lo como foi indicado anteriormente, ou seja, para o estu-do de outros procedimentos inquisitoriais, mesmo ocorridos em outrasnações européias. Até nas nações onde não existiu o Tribunal, masonde o Estado tomou para si a ação inquisitorial, como na França,talvez seja possível obter bons resultados científicos com base no con-ceito exposto.

A análise histórica situa os valores em “seu mundo”, em seu con-texto. Justificativas históricas sempre existirão para tudo; para ogenocídio indígena americano; para o massacre do Contestado; parao Golpe Militar de 1964. Nós não entraremos nesta discussão emrelação ao Tribunal, pois estamos convictos de que o falseamento ana-lítico aí implicado, que dramatiza e multiplica o caráter desumano dossistemas intolerantes, faz a propaganda dos algozes, presta desserviçoàs vítimas e embota um projeto civilizador que pretende vir a ser ahumanidade livre dos autoritarismos. Não sendo um “xerife”, comoadvertiu Marc Bloch (1983), o historiador deve apontar a interaçãoentre os agentes históricos e os interesses envolvidos, além de suasconseqüências, como a exclusão de grupos sociais e a dominação,resultantes desses movimentos no processo histórico.

Um estudo de História pode ter muitos significados. A própriapalavra carrega em si dois sentidos: História é o passado humano comseus “fatos”, que são o objeto de estudo de que trata a ciência chama-da História. Muito se tem debatido sobre isso. Esperamos estar traba-lhando coerentemente dentro do parâmetro que aceitamos como váli-do. É mister, porém, expor um tal paradigma de forma clara e objetiva,pois se trata de um caminho próprio, que lança um olhar específicosobre a Santa Inquisição.

O trabalho com a História está delimitado pela hermenêuticacientífica, que se vincula a um paradigma. No estudo da InquisiçãoModerna, é fundamental entender o paradigma formador do mundomoderno, pois o mesmo modelo que inspirou a ciência influenciou aInquisição. Talvez até se possa propor um plural: paradigmas científi-cos. Hoje, aquele paradigma que se erguia com o advento da Idade

Page 19: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 19

Revista de Teologia e Ciências da Religião

Moderna – e que influenciou tanto a Inquisição quanto o pensamentocientífico – vive o seu lento declínio. Numa era como a nossa, de rup-tura dos valores tradicionais no saber, na ética e na moral, torna-seimportante abordar o tema paradigmas com precisão, pois não setrata aqui apenas do nosso marco teórico, mas, em parte, do contextode mentalidade que circundava o próprio Santo Ofício. Evitamos estadifusa “História sem teoria”, que consideramos ser quase um gêneroliterário baseado em fontes históricas, capaz, porém, de produzir tex-tos importantes para serem resgatados para o trabalho científico. AHistória ateórica (?) é incongruente com o trabalho acadêmico. Pro-curamos, então, conceituar e até reconceituar a Inquisição do modoque nos pareceu mais acertado.

Enfocamos o antigo paradigma para demonstrar sua confluênciacom a Inquisição Moderna e para superá-lo no uso teórico-metodológico. Metaforicamente, como se fora um relógio ou umamáquina que realiza tarefas em conseqüência de ações coordenadas, aHistória seria compreensível através de modelos. Um tempo mecâni-co, com ritmo perfeito, seria o pulso do processo. Esse modeloevolucionista da ciência histórica tem a pretensão de tocar num pontocrucial da concepção de vida do homem contemporâneo: a dissimula-ção da morte. Daí vem a força que ainda tem tido a ilusão evolucionista.É noção que vem do Iluminismo, mas que está magistralmente elucidadapor Max Weber. O mestre alemão a vinculou à idéia de desencanta-mento do mundo, segundo a qual há um processo de crescenteintelectualização da vida. Após conjecturar sobre a imponderabilidadeda vida financeira de um cidadão ocidental, Weber, em um dos seusescritos mais importantes, esclareceu:

A crescente intelectualização e racionalizaçãonão indicam, portanto, um conhecimento mai-or e mais geral das condições sob as quais vi-vemos. Significa antes, que sabemos ou acre-ditamos que, a qualquer instante, poderíamos,bastando que o quiséssemos, provar que nãoexiste, em princípio, nenhum poder misteriosoe imprevisível no decurso de nossa vida, ou,em outras palavras, que podemos dominar tudo

Page 20: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

20 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

por meio de cálculo. Isto significa que o mun-do foi desencantado. Já não precisamos re-correr aos meios mágicos para dominar osespíritos ou exorcizá-los, como fazia o selva-gem que acreditava na existência de poderesmisteriosos. Podemos recorrer à técnica e aocálculo. Isto, acima de tudo, é o que significa aintelectualização (WEBER, 1992, p. 439).

A conseqüência desse desencantamento intelectualizador, Webervai buscar em León Tolstói: para o homem civilizado, após esse longoprocesso cultural, a morte perdeu o sentido: “(...) a vida individual docivilizado está ‘imersa’ no ‘progresso’ e no infinito e, segundo seu sen-tido imanente, esta vida não deveria ter fim. Com efeito, há sempreuma possibilidade de um novo progresso para aquele que vive noprogresso. Nenhum dos que morrem chega jamais a atingir o pico,pois que o pico se põe no infinito” (WEBER, 1992, p. 440).

Segundo Durand, “nossos séculos orgulhosos da modernidadeexigem justificação do devenir, do envelhecimento, da morte, do malque atinge sua soberba humanista” (DURAND, 1995, p. 82). Para aHistória, a conseqüência é a adoção, nas entrelinhas, desta sensaçãocotidiana de que as sociedades humanas estariam evoluindoinexoravelmente para um destino que já é conhecido, pelo menos, emsuas linhas gerais e que será melhor que o presente. Essa noção é anegação aparentemente absoluta do nosso terror diante do tempo. Ohorror do tempo força o homem a criar interpretações do mundo. Dohorror do tempo chegamos rapidamente ao horror da morte. A culturado Ocidente levou uma de suas mais importantes expressões – a ciên-cia – a “resolver” esse dilema com a “mecânica do mundo”. Desseparadigma clássico, que já dá sinais de cansaço há tempos, beberammuitos pensadores.

Com Michel Maffesoli (1988), vemos o esgotamento do queele chamou de saber paranóico. Maffesoli define a paranóia comouma busca obsessiva da grandeza desmedida, do domínio do mundo eda explicação do todo. É uma metáfora com o próprio cientificismo,que reivindica para si uma situação de superioridade. A este saberparanóico opor-se-á um outro igualmente científico: a postura

Page 21: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 21

Revista de Teologia e Ciências da Religião

metanóica, que insiste “na natureza, no sentimento, no orgânico e naimaginação” (MAFFESOLI, 1988, p. 22). Max Weber já admitiraque o desafio é romper com o mecanicismo sem sair da seara científi-ca, ou seja, continuando a buscar um saber universalmente aceito. Paraisso, é também preciso evitar “uma idéia muito difundida de que aciência se tornou um problema de aritmética, que se realiza em labora-tórios ou em gabinetes de estatística, não pela ‘pessoa total’, mas poruma razão fria e calculista, como algo produzido numa fábrica” (WEBER,1992, p. 436).

Imaginamos até as possíveis relações que localizaríamos se in-vertêssemos todo este raciocínio e dele tirássemos uma hipótese: atradição unitarista e ortodoxa do cristianismo – sempre às voltas coma repressão ou cooptação de hereges – levou à cultura ocidental osvalores da impessoalidade e a busca da homogeneização, que desa-guaram em “movimentos” modernos, tais como: o Renascimento e aReforma. Essa hipótese não será desenvolvida neste trabalho, postoque dele não faz parte. Porém, sabemos que o futuro da própria con-cepção da História Moderna prender-se-á a uma inconteste reposi-ção de sua visão geral, quebrando, definitivamente, a mistificaçãorenascentista do dualismo “razão/luz X fé/trevas”.

A Inquisição não foi uma “vontade do clero” contra a tendênciageral da História, mas enraiza-se na demonologia, na desmitologização,no desencantamento e até no absolutismo. A perseguição às práticasmágicas é uma forma muito eficiente de impor a nova ordem centrali-zada sobre os mais diversos grupos sociais. O absolutismo necessitaintroduzir sua autoridade sobre o cotidiano das pessoas. Esta relaçãoentre a Inquisição e o Direito Divino precisa ser melhor explorada emanálise histórica futura.

A nostalgia do mito caracteriza os inquisidores que estiveramimersos no processo de desmitologização de valores na Idade Mo-derna. A estes, homens dos tribunais ibéricos ou da justiça estatal fran-cesa, por exemplo, deve ter sido – tudo indica – cada vez mais difícilsustentar, para eles próprios, a crença nos dois componentes funda-dores do mito inquisitorial. A propalada Nova Processualística foi sen-do ultrapassada pelos avanços do direito, até ser tida como retrógradae antagônica à própria justiça pelos mais diversos críticos do século

Page 22: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

22 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

XVIII. E, principalmente, os inquisidores foram lentamente desacredi-tando em bruxas, realizando uma desmitologização das culpas, quepassaram de algo que inspira medo (século XVI) para algo que inspiraum profundo desprezo (século XVIII).

Das raízes ao esgotamento, a ação inquisitorial viveu a lenta su-pressão de uma mística original até a ascensão sobre ela do podersecular, traduzido em Portugal pela transformação do Tribunal daInquisição em mais um tribunal régio, durante o período pombalino.Em boa parte da Europa, de “rupturas” míticas semelhantes, surgiu abruxomania, pois o enfraquecimento mítico leva grupos humanos auma ansiosa – às vezes desordenada – “vivência do mito” que está“enfraquecendo”. Essa vivência intensifica os valores míticos, mas,dialeticamente, antecede sua derrocada. A milenar crença em bruxasfoi seriamente abalada quando passou a “onda” da bruxomania.

Note-se que a percepção desse movimento de mentalidaderecoloca o próprio “status” científico dos documentos processuaisinquisitoriais, que passam, então, a ser fonte para o estudo – possivel-mente exclusivo – da própria mentalidade inquisitorial e não apenas daHistória social. A própria Inquisição imputou aos mágicos e feiticeirosos princípios maniqueístas que ela criou. A intolerância, tida comocivilizadora – no sentido de associada à busca de predomínio da civi-lização cristã diante da heresia – na Idade Média, tornou-se infamantena segunda metade da Idade Moderna. No ambiente de medoobsidional de que nos fala Delumeau (1989), perseguir a bruxa é umato de defesa e de resguardo civilizatório, mas, com a mentalidade dedesprezo que ascendeu no século XVII, a perseguição tornou-se infâ-mia consciente ou, pelo menos, sabida.

Naquele momento – em plena Idade Moderna –, a SantaInquisição já vinha perdendo toda a sua original conexão com a funçãosocial da sua alegada misericórdia na fé, típica de sua origem medieval.Ao opor-se aos hereges, a instituição realizava um preceito essencialque é “(...) a transmutação simbólica do ser em dever-ser que areligião cristã opera, segundo Nietzsche, ao propor a esperançade um mundo subvertido onde os últimos serão os primeiros, e aotransformar ao mesmo tempo os estigmas visíveis (...) em sinaisanunciadores da eleição religiosa” (BOURDIEU, 1992, p. 86). No

Page 23: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 23

Revista de Teologia e Ciências da Religião

final do século XVII e ao longo do século XVIII, o Tribunal português– possivelmente também o espanhol – já não vivenciava qualquer ex-periência simbólica qualitativa. É possível que tenha chegado a abster-se totalmente dos seus símbolos e imagens inspiradoras, como pode-mos deduzir de processo de um prisioneiro oitocentista. No episódiodo terremoto de Lisboa, os inquisidores lusitanos podem ter vivido aúltima tentativa de recriação simbólica invertida, prendendo e quei-mando Gabriel Malagrida e o Cavaleiro de Oliveira (este último emefígie) numa inversão curiosa: os réus eram acusados de terem atribu-ído o fenômeno do terremoto à fúria divina, quando – para o Tribunal– tratara-se de um fenômeno natural!! A inversão desta culpa em acu-sação seria plausível duzentos anos antes. A desmitologização se esta-belecera plenamente, com suas virtudes e seus defeitos se a encara-mos com um olhar humanista.

Nota

1 Professor de História das Religiões e Vice-Coordenador do Progra-ma de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB. Doutorem História pela UFPE. carlosandre@intg,org.br

Referências

AZEVEDO, Lúcio d’. História dos cristãos-novos portugueses.Lisboa: Livraria Clássica, 1975.

BAIÃO, Antônio. Episódios dramáticos da inquisição portugue-sa. Lisboa: Seara Nova, 1972. Vol.1.

BETHENCOURT, Francisco. História das inquisições – Portugal,Espanha e Itália. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994.

BLOCH, Marc. Introdução à história. Lisboa: Publicações Euro-pa-América, 1983.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. SãoPaulo: Editora Perspectiva, 1992.

Page 24: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

24 • Universidade Católica de Pernambuco

Mestrado em Ciências da Religião – Unicap

BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo:Companhia das Letras, 1989.

CAMPOS, Fernando Arruda. Tomismo no Brasil. São Paulo:Editora Paulus, 1998.

CENTENO, Yvette Kace (coordenação). Portugal: mitosrevisitados. Lisboa: Edições Salamandra, 1993.

COGGIOLA, Osvaldo - organizador. A Revolução Francesa eseu impacto na América Latina. São Paulo: Ed. Nova Stella/CNPq/Edusp, 1990.

COSTA, Hipólito José da. Narrativa da perseguição. PortoAlegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul/AssociaçãoRio-grandense de Imprensa, 1974 (Primeira Edição: 1811).

DANIELOU; MARROU. Nova história da Igreja. Petrópolis:Vozes, 1984. Vol. I.

DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente – 1300-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

DIAS, Graça; José Sebastião da Silva. Os primórdios da maçona-ria em Portugal. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científi-ca – INIC, 1980. 4 tomos.

DURAND, Gilbert A fé do sapateiro. Brasília: Editora da Universi-dade de Brasília-UNB, 1995.

FRANGIOTTI, Roque. História das heresias (séculos I-VIII) -conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo: Paulus,1995.

FREIRE, Pedro Lupina. Notícias recônditas do modo de procederda inquisição com os seus presos. In: VIEIRA, Antônio (Pe.).Obras escolhidas. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1951. Vol. IV.

GONZAGA, João Bernardino. A inquisição em seu mundo. SãoPaulo: Saraiva, 1993.

HERCULANO, Alexandre. História da origem e estabelecimen-to da inquisição em Portugal. Lisboa: Europa/América, s/d.

Page 25: A Inquisição na nostalgia do mito: da herança tomista à ... 6.pdf · Resumo O artigo nasce da convicção de que, ... a Ratio Studiorum, a proximi- ... Contra-reforma. Em 1879,

Ano VI • n. 6 • dezembro/2007 - 25

Revista de Teologia e Ciências da Religião

(Primeira Edição: 1852). 3 volumes.

MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum. São Paulo:Brasiliense, 1988.

MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. Rio deJaneiro: Zahar, 1978.

MIGUEL, Juan Blazquez. Inquisição e criptojudaismo. Madrid:Kaydeda, s/d.

RANKE-HEINEMANN, Uta. Eunucos pelo reino de Deus –mulheres, sexualidade e a Igreja Católica. Rio de Janeiro: EditoraRosa dos Tempos, 1999.

RÉVAH, I. S. Études portugaises. Paris: Fundação CalousteGulbenkian, 1975.

SARAIVA, Antônio José. Inquisição e cristãos-novos. Lisboa:Estampa, 1985.

SIQUEIRA, Sônia. A inquisição portuguesa na sociedade colo-nial. São Paulo: Ática, 1978.

TUBERVILLE, A. S. A inquisição espanhola. Lisboa: Vega, 1932.

VAINFAS, Ronaldo; FEITLER, Bruno; LAGE, Lana. A inquisiçãoem xeque. Rio de Janeiro: Eduerj, 2006.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.São Paulo: Pioneira, 1983.

WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo:Cortez Editora/Editora da Universidade de Campinas-Unicamp,1992. Partes 1 e 2.

Endereço para contato:Prof. Dr. Carlos André Macêdo CavalcantiE-mail: [email protected]