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Apostilas do Seminário de Filosofia - 15
Inteligência e verdadeDuas aulas do Seminário de Filosofia, Curitiba, agosto de 1994
Transcrição de Luciane Amato, não revista pelo autor
1 De!inição
"ntelig#ncia, no sentido em $ue a$ui emprego a palavra, no
sentido $ue tem etimologicamente e no sentido em $ue seusava no tempo em $ue as palavras tin%am sentido, não $uer
di&er a %abilidade de resolver problemas, a %abilidade
matem'tica, a imaginação visual, a aptidão musical ou
$ual$uer outro tipo de %abilidade em especial (uer di&er, da
maneira mais geral e abrangente, a capacidade de apreender a
verdade A intelig#ncia não consiste nem mesmo em pensar
(uando pensamos, mas o nosso pensamento não capta
propriamente o $ue ) verdade na$uilo $ue pensa, então o $ue
est' em ação nesse pensar não ) propriamente a intelig#ncia,
no rigor do termo, mas apenas o dese*o !rustrado de inteligir ou
mesmo o puro automatismo de um pensar ininteligente +
pensar e o inteligir são atividades completamente distintas A
prova disto ) $ue muitas ve&es voc# pensa, pensa, e não intelige
nada, e outras ve&es intelige sem ter pensado, numa sbita
!ulguração intuitiva
A intelig#ncia ) um rgão . digamos assim/ um rgão . $ue sserve para isto/ captar a verdade 0s ve&es ela entra em
operação atrav)s do pensamento, s ve&es atrav)s da
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imaginação ou do sentimento, e s ve&es entra diretamente,
num ato intelectivo . ou intuitivo . instant2neo, no $ual voc#
capta alguma coisa sem uma preparação e sem uma !orma
representativa em especial $ue sirva de canal intelecção
+utras ve&es %' uma longa preparação atrav)s do pensamento,
da imaginação e da memria, e no !im voc# não captacois3ssima nen%uma/ cumpridos os atos representativos, a
intelecção a $ue se dirigiam !al%a por completo dados os
meios, a !inalidade não se reali&a A intelig#ncia est' na
reali&ação da !inalidade, e não na nature&a dos meios
empregados se a !inalidade dos meios de con%ecimento )
con%ecer, e se o con%ecimento s ) con%ecimento em sentido
pleno se con%ece a verdade, então a de!inição de intelig#ncia )/
a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja
+ conceito da verdade, e as discuss6es todas $ue suscita,
podem !icar para outra ocasião 7or en$uanto, e tomando
provisoriamente a palavra 8verdade8 em seu sentido vulgar de
coincid#ncia entre !ato e id)ia, bastam estas distinç6es
elementares para nos levarem a perceber o $uanto ) errnea a
direção tomada pela atual teoria das 8intelig#ncias mltiplas8,
$ue dissolve a noção mesma de intelig#ncia numa coleção de
%abilidades . $ue vão desde o racioc3nio matem'tico at) a
destre&a !3sica e o tra$ue*o social ., sem notar $ue todas estas
capacidades e outras $uantas similares são meios e $ue a
intelig#ncia não ) um meio, mas o ato mesmo, o resultado a $ue
tendem esses meios e para o $ual nen%um deles ) por si . nem
a soma deles todos ) por si . condição su!iciente A teoria das
intelig#ncias mltiplas surgiu como uma reação contra a teoria
do (", $ue por sua ve& identi!icava a intelig#ncia,
e:clusivamente, com a %abilidade verbal, matem'tica eimaginativo-espacial ;as ) um caso t3pico de substituição de
uma !alsidade por outra <e*am poucas ou muitas as
%abilidades com $ue se identi!ica a intelig#ncia, o erro ) o
mesmo/ con!undir a intelig#ncia com os instrumentos de $ue se
serve
ssa con!usão acontece por$ue a maior parte das pessoas se
con%ece muito mal, mesmo nas coisas pr'ticas e nos aspectos
mais bvios da vida (uanto maior não seria sua di!iculdade de
captar a di!erença sutil entre os atos representativos e a
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intelig#ncia= >endo sempre a intelig#ncia atuar atrav)s do
pensamento, da memria, da imaginação, do sentimento,
con!undem portanto o canal com a$uilo $ue por ele passa, o
ve3culo com o passageiro, e tomam por 8intelig#ncia8 os meros
atos mentais
sse e$u3voco acabou por ser o!iciali&ado e legitimado pela
educação De modo geral, todas as !ormas de ensino visam a
incrementar as %abilidades em $ue a intelig#ncia se apia,
como a memria, a imaginação, o racioc3nio etc, e não dão a
menor import2ncia a intelig#ncia en$uanto tal + !ato ) $ue a
entrada em cena dessas outras !aculdades não acarreta
necessariamente a da intelig#ncia 7odemos desenvolver
bastante o racioc3nio verbal, ou a imaginação visual, ou amemria, ou a aptidão art3stica, sem $ue %a*a e!etivamente
uma intelig#ncia dirigindo os seus passos . a prova ) $ue
v'rias dessas aptid6es são mais desenvolvidas em certos
retardados mentais do $ue no comum das pessoas Ali's, se )
atrav)s do racioc3nio $ue s ve&es inteligimos, tamb)m )
atrav)s dele $ue nos enganamos Do mesmo modo, s ve&es a
imaginação nos leva compreensão real de alguma coisa, mas
s ve&es nos leva para longe da verdade + desenvolvimento
destas !aculdades, imaginação, memria, racioc3nio etc, não
implica portanto necessariamente o da intelig#ncia tamb)m )
verdade o vice-versa/ $ue a intelig#ncia ) independente desses
outros processos, $ue l%e servem de canais, instrumentos e
ocasi6es e nada mais ;as o vice-versa não deve ser tomado em
sentido rigoroso, pois uma intelig#ncia resolutamente decidida
a descobrir a verdade sobre alguma coisa acaba em geral
encontrando os canais mentais pelos $uais c%egar ao seu
ob*etivo, ou se*a, ela desenvolve as 8!aculdades8 de $uenecessita <em e:cluir portanto $ue %a*a casos de intelig#ncias
mesmo superiores mas carentes de meios ou canais espec3!icos
de atuação, digo $ue são e:ceç6es e raridades $ue antes
con!irmam a regra/ o desenvolvimento dos meios não implica o
da intelig#ncia, o da intelig#ncia leva $uase $ue
necessariamente con$uista dos meios
<e de!inimos a intelig#ncia como a capacidade %umana de
captar o $ue ) verdade, tamb)m entendemos $ue o essencial do
ser %umano, a$uilo $ue o di!erencia dos animais, não ) o
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pensamento, não ) a ra&ão, nem uma imaginação ou memria
e:cepcionalmente desenvolvidas, embora tudo isto %a*a
e!etivamente no ser %umano 7ois pensar, um macaco tamb)m
pensa/ ele completa um silogismo e at) encadeia silogismos
num racioc3nio relativamente per!eito "maginação, at) um gato
possui/ os gatos son%am 7or este camin%o não encontraremosa di!erença espec3!ica %umana, a$uilo $ue nos torna %omens
em ve& de bic%os , se ) importante arraigar o %omem no reino
animal, para não !a&er dele um ser ang)lico sem p)s no solo,
tamb)m ) importante saber distingui-lo de uma tartaruga ou de
um molusco por alguma di!erença $ue não se*a meramente
$uantitativa e acidental
+ $ue nos torna %umanos ) o !ato de $ue tudo a$uilo $ueimaginamos, raciocinamos, recordamos, somos capa&es de v#-
lo como um con*unto e, com relação a este con*unto, podemos
di&er um sim ou um não, podemos di&er/ 8? verdadeiro8, ou/ 8?
!also8 <omos capa&es de julgar a veracidade ou !alsidade de
tudo a$uilo $ue a nossa prpria mente vai con%ecendo ou
produ&indo, e isto não %' animal $ue possa !a&er
;as, dir' o vel%o 7ilatos em ns, quid est Veritas@ Cada um de
ns ) um *ui& romano, corrompido at) a medula, a !a&er deconta $ue não sabe a$uilo $ue sabe per!eitamente bem A
verdade da $ual alegas nada saber, in!austo 7ncio, a verdade )
o quid . esse mesmo quid $ue, se descon%ecesses, não
poderias usar como medida de a!erição para o termo 8verdade8
<e pergunto quê ) alguma coisa, se ignoro mesmo o $ue )
alguma coisa, ) por$ue a coisa $ue se me o!erece nesse instante
não cumpre, não atende per!eitamente a condição e:igida na
palavra quê . a$uela consist#ncia, a$uela coesão do estar, doagir e do padecer, a$uela pat#ncia e sobretudo a$uela
!atalidade, a$uele não-ser-de-outro-modo, a$uela impositiva
aus#ncia de perguntas . e da capacidade de !a&er perguntas .
$ue me sobrev)m $uando sei o quê Ecce veritas ? o $ue basta
por en$uanto, sem pre*u3&o de posteriores discuss6es e
apro!undamentos
Bão e:iste intelig#ncia arti!icial
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o*e em dia, $uando se !ala de 8intelig#ncia arti!icial8, mais
certo seria di&er pensamento arti!icial, ou talve& imaginação
arti!icial, por$ue uma determinada se$u#ncia de pensamentos,
um con*unto de operaç6es da mente, pode ser imitado de v'riasmaneiras m con*unto ) imitado, por e:emplo, na escrita A
escrita ) uma imitação gr'!ica de sons, $ue por sua ve& imitam
id)ias, $ue por sua ve& imitam !ormas, !unç6es e relaç6es de
coisas A escrita !oi a primeira !orma de pensamento arti!icial
Toda e $ual$uer !orma de registro $ue o %omem use *' ) um
tipo de pensamento arti!icial, uma ve& $ue implica um cdigo
de convers6es e permutaç6es, e neste sentido um programa de
computador não ) muito di!erente, por e:emplo, de uma regrade *ogo/ como no *ogo de :adre&, onde se concebe uma
se$u#ncia de operaç6es com muitas alternativas, cristali&adas
num determinado es$uema $ue pode ser imitado, repetido ou
variado segundo um algoritmo b'sico :istem muitas !ormas
de pensamento arti!icial, ou de imaginação arti!icial 7or)m a
intelig#ncia, propriamente dita, não tem como ser arti!icial +
pensamento arti!icial ) essencialmente uma imitação de atos de
pensamento segundo a !rmula das suas se$u#ncias e
combinaç6es Do mesmo modo podemos imitar a imaginação e
a memria, se em ve& de utili&ar uma correspond#ncia
biun3voca entre signo e signi!icado recorrermos a uma rede de
correspond#ncias analgicas D' na mesma/ em ambos os
casos, trata-se de imitar um algoritmo, a !rmula de uma
se$u#ncia ou rede de combinaç6es, $ue por sua ve& imitam as
operaç6es reais da mente Acontece $ue a intelig#ncia não )
uma 8operação da mente8 ela ) o nome $ue damos a uma
determinada qualidade do resultado dessas operaç6es, poucoimportando $ual a !aculdade $ue as reali&ou ou $ual o cdigo
empregado ? leg3timo di&er $ue um indiv3duo inteligiu alguma
coisa somente $uando ele captou a verdade dessa coisa, se*a
pelo racioc3nio, se*a pela imaginação ou se*a l' pelo camin%o
$ue !or At) mesmo o sentimento intelige, $uando ama o $ue )
verdadeiramente am'vel e odeia o $ue ) verdadeiramente
odioso/ %' uma intelig#ncia do sentimento, como %' uma
burrice do sentimento A intelig#ncia não reside na mente, masnum certo tipo de relação entre o ato mental e o seu ob*eto,
relação $ue denominamos 8veracidade8 do contedo desse ato
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mental E notem bem/ veracidade do contedo, e não do ato
mesmo F
A$ui algu)m poderia ob*etar $ue, $uando um ato de
pensamento arti!icial c%ega a um resultado verdadeiro, por
e:emplo $uando um computador nos assegura $ue G H 4,este ) um ato de intelig#ncia, uma ve& $ue nos d' uma verdade
A di!erença, a$ui, ) a seguinte/ o computador não intelige $ue
G H 4, mas apenas reali&a as operaç6es $ue dão por resultado
4, segundo um programa ou algoritmo pr)-estabelecido <e ele
!or programado segundo a regra de $ue G H 5, ele não
somente dar' sempre este resultado, mas ainda o generali&ar'
para todos os casos similares, segundo a regra a G a H 5a A
intelig#ncia não consiste somente em atinar com um resultado verdadeiro, mas em admitir esse resultado como verdadeiro
(ue signi!ica 8admitir8@ <igni!ica, primeiro, estar livre para
pre!erir um resultado !also E um computador pode ser
programado para pre!erir os resultados !alsos num certo
nmero de ocasi6es, mas sempre segundo um padrão pr)-
estabelecido F <igni!ica, em segundo lugar, crer nesse
resultado, isto ), assumir uma responsabilidade pessoal pela
a!irmação dele e pelas conse$u#ncias $ue dele derivem A
intelig#ncia, neste sentido, s ) admiss3vel em seres livres e
respons'veis, e o primeiro ser livre e respons'vel $ue
con%ecemos na escala dos viventes ) o %omem/ nen%um ser
abai:o dele possui intelig#ncia, e se %' seres superiores ao
%omem ) um problema $ue não nos interessa no momento e
cu*a solução não inter!eriria no $ue estamos e:aminando a$ui
A inteligência a relação que se estabelece entre o homem e a
verdade! uma relação que s" o homem tem com a verdade! e
que s" tem no momento em que intelige e admite a verdade! já
que ele pode tornar#se ininteligente no instante seguinte!
quando a esquece ou renega$
Beste sentido, o resultado da conta de G $ue aparece na tela
do computador ) uma verdade, mas uma verdade $ue est' no
objeto e não ainda na intelig#ncia essa verdade est' na tela
como a verdadeira estrutura mineralgica de uma pedra est' na
pedra ou como a verdadeira !isiologia do animal est' no
animal/ são verdades latentes, $ue *a&em na obscuridade do
mundo ob*etivo aguardando o instante em $ue se atuali&arão
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na intelig#ncia %umana Do mesmo modo, podemos pensar
uma id)ia verdadeira sem nos darmos conta de $ue )
verdadeira neste caso, a verdade est' no pensamento como a
verdade da pedra est' na pedra/ o ato de intelig#ncia s se
cumpre no instante em $ue percebemos e admitimos essa
verdade como verdade A intelig#ncia ), neste sentido, mais8interior8 a ns do $ue o pensamento + pensamento, para ns,
pode ser ob*eto A intelig#ncia, não + ato de re!le:ão pelo $ual
retornamos a um pensamento para e:amin'-lo ou *ulg'-lo ) um
outro pensamento, de contedo di!erente do primeiro ;as a
recordação de um ato de intelig#ncia ) o mesm3ssimo ato de
intelig#ncia, re!orçado e revivi!icado, numa nova a!irmação de
si mesmo Bão posso recordar o contedo de um ato de
intelecção sem inteligir novamente os mesmos contedos,$uase sempre com redobrada !orça de evid#ncia
<e de!inirmos o pensamento arti!icial como a imitação, por
sinais eletrnicos, de certos atos de pensamento, entenderemos
$ue o pensamento arti!icial ) pensamento, $ue a imitação de
pensamento ) pensamento, pois pensar, a!inal, ) apenas usar
sinais ou signos para representar certos dados internos ou
e:ternos ;as a imitação de intelig#ncia não ) intelig#ncia, de
ve& $ue s %' intelig#ncia no ato real pelo $ual um ente
%umano real apreende realmente uma verdade no instante em
$ue a apreende na imitação ter3amos somente um su*eito
%ipot)tico apreendendo %ipoteticamente uma %ipot)tica
verdade, cu*a veracidade ele não pode a!irmar senão
%ipoteticamente Tudo isto seria apenas pensamento, não
intelig#ncia
A intelig#ncia somente se e:erce perante uma situação real,concreta/ o inteligir ) concentrar o !oco da atenção numa
evid#ncia presente Bão se con!unde com o meramente pensar
uma verdade, pois consiste em captar a verdade desse
pensamento nem se con!unde com o perceber uma cor, uma
!orma, pois consiste em apreender a veracidade dessa cor ou
dessa !orma nem com o recordar ou imaginar uma !igura, pois
consiste em assumir a veracidade dessa recordação ou
imaginação 7or isto não ) poss3vel imitar um ato de
intelig#ncia, pois sua imitação não poderia ser outra coisa
senão a cpia do pensamento, ou da recordação, ou da imagem
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$ue l%e serviu de canal mas, se esta cpia !osse acompan%ada
da captação de sua veracidade, não seria uma cpia, e sim o ato
mesmo, revivido em modo pleno e, se desacompan%ado dessa
captação, seria cpia do pensamento ou da imaginação apenas,
e não do ato de intelig#ncia esse pensamento ou essa
imaginação, se verdadeiros em seu contedo, teriam apenas a verdade de um ob*eto, a verdade latente de uma pedra ou de
um c'lculo e:ibido na tela do computador, aguardando ser
iluminada pelo ato de intelig#ncia $ue a trans!ormaria em
verdade atual, e!etiva, con%ecida
m computador s pode *ulgar veracidade ou !alsidade dentro
de certos par2metros $ue *' este*am no programa dele, ou se*a,
!alsidade ou veracidade relativas a um cdigo dado deantemão, cdigo esse $ue pode ser inteiramente convencional
"sto ), ele não *ulga a veracidade, mas apenas a logicidade das
conclus6es, sem poder por si mesmo estabelecer premissas ou
princ3pios +ra, a logicidade, a rigor, nada tem a ver com a
veracidade, pois ) apenas uma relação entre proposiç6es, e não
a relação entre uma proposição e a e:peri#ncia real (uando
digo e:peri#ncia real, não me re!iro apenas e:peri#ncia
cotidiana dos cinco sentidos, mas ao campo total da e:peri#ncia
%umana, onde a e:peri#ncia cient3!ica !eita atrav)s de
aparel%os e submetida a mediç6es rigorosas se encai:a apenas
como uma modalidade entre uma in!inidade de outras A
intelig#ncia, $uando *ulga veracidade ou !alsidade, pode !a&#-lo
em termos absolutos e incondicionais, independentemente dos
par2metros usados e da re!er#ncia a um ou outro campo
determinado da e:peri#ncia e ) *ustamente este con%ecimento
incondicional da verdade incondicional $ue pode !undar em
seguida os par2metros da condicionalidade ou relatividade,assim como legitimar !iloso!icamente as divis6es de campos de
e:peri#ncia, como por e:emplo na delimitação das es!eras das
v'rias ci#ncias
I vid#ncia e certe&a
+ termo 8intuição8 designa em !iloso!ia um con%ecimentodireto, uma intelecção ma:imamente evidente E o $ue não
signi!ica $ue deva ser con!undida com o sentimento sub*etivo
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de certe&a F :emplo de um ato de intelig#ncia intuitiva/ o !ato
de voc# estar a$ui neste momento ) uma certe&a absoluta e
incondicional, o $ue não $uer di&er $ue voc# não possa duvidar
dela, $ue voc# não possa at) mesmo, por um *ogo engen%oso de
imaginação, ter o sentimento da certe&a de estar em outro
lugar signi!ica apenas $ue voc# s duvidar' dela e s acreditar'estar em outro lugar se voc# sentir o seu campo de e:peri#ncia
como dividido em blocos estan$ues, se voc# perder o senso da
unidade do campo da e:peri#ncia, o $ue s acontece na
!antasia, no estado %ipntico ou na es$ui&o!renia (uando sua
intelig#ncia admite $ue voc# est' a$ui, voc# est' admitindo
como verdadeira uma determinada interpretação $ue voc# !a&
do con*unto das in!ormaç6es $ue voc# tem neste momento,
mas não s a respeito deste momento e sim a respeito doencai:e entre ele e os momentos $ue o antecederam e os $ue se
seguirão >oc# sabe $ue est' a$ui não s por causa das
in!ormaç6es sens3veis $ue recebe a respeito do ambiente,
in!ormaç6es auditivas, t'cteis, etc, mas tamb)m por$ue voc#
sabe $ue estas in!ormaç6es são coerentes com um passado
E voc# se lembra de ter vindo at) a$ui F, são coerentes com um
pro*eto de !uturo, ou se*a, com uma id)ia $ue voc# tem a
respeito do propsito com $ue veio a$ui e tudo isto !orma umsistema tão coeso, tão insepar'vel, $ue a respeito deste
con*unto voc# pronuncia o *ulgamento de $ue isto verdade/
Você sabe que você está aqui Bo entanto, não seria impens'vel
$ue, estando a$ui, voc# imaginasse estar em outro lugar, e $ue
at) mesmo se persuadisse e, um tanto auto-%ipnoticamente,
8sentisse8 $ue est' num outro lugar Tudo isto pode ser
produ%ido por)m, se o senso da unidade do campo da sua
e:peri#ncia ainda !unciona, algo l%e dir'/ isto falso 7or $ue@
7or$ue as in!ormaç6es $ue di&em $ue voc# est' a$ui vêm todas
juntas ao passo $ue as $ue voc# est' produ&indo para di&er $ue
est' em outro lugar v#m por partes :amine + $u# imaginou
voc# a respeito do outro lugar onde sup6e estar@ o som@ o
visual@ m ou outro@ Certamente não !oram os dois
e:atamente no mesmo tempo e em proporção coerente +
motivo, o antecedente temporal da sua presença ali, eram-l%e
tão claros $uanto as sensaç6es visuais ou auditivas@ Bão/ mas
as in!ormaç6es $ue voc# recebe a$ui sobre sua presença v#mtodas coladas umas s outras >oc# não pega primeiro o visual,
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depois o auditivo, depois o t'ctil, ou se*a, voc# não comp&e este
ambiente, ele l%e vem todo *unto e, embora voc#, por
abstração, possa momentaneamente prestar atenção mais a um
aspecto $ue a outro, voc# sabe e se recorda de $ue os aspectos
preteridos estão a3 presentes e podem ser atuali&ados na
percepção a $ual$uer momento, sem um trabal%o interior deconstrução volunt'ria E $ue voc# l%e seria obrigatrio de modo
a completar a imagem do outro lugar suposto, onde
supostamente estaria ou se sentisse estar en$uanto est' de !ato
a$ui F
sta certe&a $ue voc# tem de estar a$ui ) o $ue se c%ama
evidência ma evid#ncia ) um con%ecimento ineg'vel, e at) de
certo modo indestrut3vel, por$ue, se voc# dissesse $ue não est'a$ui, a quem voc# o diria@ A $uem est' l', ou a $uem est' a$ui@
+ ato mesmo de voc# di&er $ue não est' a$ui subentende $ue
est'
:iste, em certos pensamentos $ue temos, esse car'ter de
veracidade, mas não sabemos de!inir bem em $u# ele consiste
sabemos apenas $ue con!erimos esta veracidade a alguns
pensamentos e $ue a negamos a outros 7or e:emplo, a$ui
negamos veracidade ao pensamento de $ue não estamos a$ui? a esta !aculdade . a $ue di& 8sim8 ou 8não8 aos pensamentos,
imaginaç6es e sentimentos, $ue os *ulga como totalidade e di&
8) verdadeiro8 ou ) 8) !also8 . $ue c%amamos de inteligência$
4 "ntelig#ncia e vontade
A intelig#ncia, em suma, ) o senso da verdade, e umaintelig#ncia apta, %'bil ou !orte ) uma intelig#ncia $ue est'
acostumada a discernir a verdade e a !alsidade em todas as
circunst2ncias da vida, a aceitar a verdade e permanecer nela
Com isto $uero di&er $ue a intelig#ncia não se esgota no mero
aspecto cognitivo/ se a pot#ncia de con%ecer a verdade constitui
a semente da intelig#ncia, esta semente s !loresce por
iniciativa da vontade, e tamb)m pela vontade ela en!ra$uece e
morre >ontade signi!ica o e:erc3cio da liberdade (uando voc#capta $ue algo ) verdadeiro, signi!ica $ue voc# aceitou $ue
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a$uilo ) verdadeiro, e $uando voc# capta $ue ) !also, signi!ica
$ue voc# o rejeitou +ra, $uem aceita ou re*eita não ) uma
!aculdade em particular, mas ) voc# inteiro, num ato de
vontade livre "sto signi!ica $ue a inteligência
indissoluvelmente a s'ntese de uma aptidão cognitiva e de
uma vontade de conhecer <e %ouvesse um ensinamento voltado ao desenvolvimento da intelig#ncia, ele teria de, antes
de mais nada, acostumar o aluno a dese*ar a verdade em todas
as circunst2ncias e não !ugir dela 7ortanto o e:erc3cio da
intelig#ncia possui necessariamente um lado )tico, moral
7latão di&ia/ 8>erdade con%ecida ) verdade obedecida8
<e a intelig#ncia !osse uma !aculdade puramente cognitiva,
nada impediria $ue ela !osse e:ercida igualmente bem pelos bons e pelos maus, pelos sinceros e pelos !ingidos, pelos
%onestos e pelos sa!ados Ba realidade as coisas não se passam
assim, e a desonestidade interior produ& necessariamente o
en!ra$uecimento da intelig#ncia, $ue acaba sendo substitu3da
por uma esp)cie de astcia, de maldade engen%osa A astcia
não consiste em captar a verdade, mas em captar . sem dvida
com veracidade . $ual a mentira mais e!iciente em cada
ocasião + astucioso ) e!ica&, mas est' condenado a !al%ar ante
situaç6es das $uais não possa se sa!ar mediante algum
subter!gio, $ue e:i*am um con!ronto com a verdade A
cone:ão entre a intelig#ncia e a bondade ) recon%ecida por
todos os grandes !ilso!os do passado, do mesmo modo $ue a
correspondente ligação, do lado do ob*eto, entre a verdade e o
bem m mundo $ue nega essa cone:ão, $ue !a& da intelig#ncia
uma !aculdade 8neutra8, capa& de !uncionar tão bem nos bons
$uanto nos maus como a respiração ou a digestão, ) um mundo
!rancamente mau, $ue se orgul%a da sua maldade como de umacon$uista da ci#ncia, pela $ual ele se eleva acima das
civili&aç6es do passado ;auriac notava, 8nos seres deca3dos,
essa destre&a para embele&ar sua decad#ncia ? a derradeira
en!ermidade a $ue o %omem pode c%egar/ $uando sua su*eira o
deslumbra como um diamante8
A cone:ão a $ue me re!iro surge com peculiar clare&a $uando
e:aminamos os seguintes !atos Com !re$u#ncia nossas aç6es
não são acompan%adas de palavras $ue as e:pli$uem, nem
mesmo interiormente ou se*a, somos capa&es de agir de
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determinadas maneiras, e:plicando esses atos de maneiras
e:atamente inversas, precisamente por$ue as motivaç6es
verdadeiras, permanecendo ine:pressas e mudas, se !urtam ao
*ulgamento consciente "sso !a& com $ue, pelo menos
subconscientemente, alimentemos um discurso duplo A partir
do momento em $ue voc# admite $ue uma coisa ) verdadeira,mas procede, mesmo em segredo, mesmo interiormente, como
se ela não o !osse, est' mantendo um discurso duplo/ num
plano a!irma uma coisa, e noutro a!irma outra coisa A verdade
tem poucas oportunidades de surgir para ns com toda a
clare&a, e a mente %umana !unciona de uma !orma $ue, $uando
voc# nega uma determinada in!ormação, o subconsciente
suprime todas as in!ormaç6es an'logas, de modo $ue, $uando
voc# di& para si mesmo uma determinada mentira $ue l%e )conveniente, por motivos pr'ticos ou psicolgicos, ou para se
preservar de sentimentos desagrad'veis, no mesmo instante em
$ue voc# suprime esta in!ormação voc# suprime uma s)rie de
outras $ue l%e seriam teis e $ue voc# não tencionava suprimir
7or isto a mentira interior ) sempre danosa intelig#ncia/ ) um
escotoma $ue se alastra at) escurecer todo o campo da visão e
substitu3-lo por um sistema completo de erros e
mentiras(uando nos %abituamos a suprimir a verdade comrelação s nossas memrias, nossa imaginação, aos nossos
sentimentos e atos, esta supressão nunca !ica s na$uele setor
onde me:emos, mas se alastra para outros territrios em volta
e, tornando-nos incapa&es de inteligir uma determinada coisa,
nos tornamos incapa&es para inteligir muitas outras tamb)m A
de!esa contra verdades incmodas se trans!orma tamb)m
numa de!esa contra a verdade em geral, contra todas as
verdades ;ais tarde, $uando dese*armos estudar um
determinado assunto $ue nos interessa, ou entender o $ue est'
se passando na nossa vida, e não conseguirmos, di!icilmente
perceberemos $ue !omos ns mesmos $ue causamos esta lesão
da intelig#ncia Boto em muitos intelectuais de %o*e uma
repugn2ncia, uma de!esa instintiva contra a verdade, a tal
ponto $ue, mesmo $uando dese*am aceit'-la, tem de met#-la
num invlucro de mentiras + pior, nisso, ) $ue com !re$u#ncia
essa lesão ) compensada por um desenvolvimento %ipertr!ico
das !aculdades au:iliares, numa intil e:cresc#ncia ornamental,tal como os seios $ue crescem em algumas mul%eres aps a
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menopausa ;uitas dessas intelig#ncias lesadas alcançam
sucesso nas pro!iss6es intelectuais
5 7e$uenas e grandes verdades
(uando se !ala em pblico a palavra 8verdade8, no ambiente
c3nico de %o*e em dia, logo aparece algum espertin%o repetindo
a pergunta de 7ncio 7ilatos e des!iando ante ns, como se
!ossem a maior novidade, os vel%os argumentos c)ticos, cu*a
re!utação ) classicamente o primeiro grau do aprendi&ado
!ilos!ico ;uitas dessas pessoas t#m da palavra 8verdade8 uma
noção um tanto posada, teatral, empostada e romanti&ada <
estão dispostas a admitir $ue o %omem pode con%ecer a verdade caso algu)m l%es mostre a verdade total, universal e
completa a respeito das $uest6es mais di!3ceis, e, como
ningu)m satis!a& a esta e:ig#ncia, elas concluem, com o
ceticismo cl'ssico, $ue toda verdade ) incognosc3vel ;as esse
tipo de e:ig#ncia não e:pressa uma busca sincera da verdade A
busca sincera vai das verdades %umildes e corri$ueiras s
verdades supremas, aceitando a$uelas como camin%o para
estas, sem e:igir desde logo, despoticamente, as respostas!inais a todas as perguntas
m e:emplo de verdade %umilde, por)m segura, !irme, da $ual
voc# pode partir como um modelo para avaliar outras poss3veis
verdades, ) dado por a$uilo $ue voc# sabe . e $ue somente
voc# sabe . a respeito da sua prpria %istria, sobretudo da
%istria interior de seus sentimentos, motivaç6es, dese*os, etc
<e %ouvesse um ensinamento voltado ao desenvolvimento daintelig#ncia, ele teria de começar por propor ao aluno, ao
estudante, principiante ou postulante, uma esp)cie de revisão
das suas memrias, ou se*a, contar sua %istria direito
Eanalogamente ao $ue se !a& em psican'liseF Tudo o $ue )
verdadeiro tem um car'ter de coesão, pois uma in!ormação
verdadeira não pode ser arti!icialmente isolada de uma outra
in!ormação $ue tamb)m se*a verdadeira e $ue ten%a com ela
uma relação de causa e e!eito, de contiguidade, de semel%ança e
di!erença, de complementaridade, etc então isto $uer di&er
$ue se voc# admite um A e um J, voc# vai ter de admitir um C,
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D, , K, etc A verdade tem sempre um car'ter sist#mico,
org2nico, ra&ão pela $ual sua captação pela intelig#ncia pessoal
re$uer uma abertura da personalidade, uma predisposição a
aceitar todas as verdades $ue como tal se revelem, sem
nen%uma seleção pr)via de verdades convenientes
Demissão dos intelectuais
+ $ue aconteceria se, numa determinada sociedade, e:istisse
um grande nmero de pessoas capa&es de *ulgar por si mesmas
e de perceber a verdade, não sobre todos os pontos, mas sobre
os pontos de maior interesse para a sociedade, ou sobre os $ue
são mais urgentes@ averia mais sensate&, os debates levariam
a conclus6es mais *ustas, as decis6es teriam um sentido mais
realista Agora, numa sociedade onde todos estão se
persuadindo uns aos outros de coisas de $ue eles mesmos não
estão persuadidos, onde todos estão procurando se enganar, ou
onde todos estão procurando a*uda dos outros para se enganar
mais !acilmente a si mesmos, todas as discuss6es versam sobre
!antasmas, as decis6es se esvanecem em meros son%os, as
!rustraç6es levam o povo a um estado de e:asperação do $ual
ele procura !ugir mediante novas !antasias, e assim por diante
"sto acontece no campo religioso, pol3tico, moral, econmico eat) no campo cient3!ico 7odemos partir para uma outra
de!inicão, e di&er $ue um pa3s tem uma cultura prpria $uando
ele tem um nmero su!iciente de pessoas capa&es de perceber a
verdade por si mesmas, e $ue não precisam ser persuadidas por
ningu)m stas pessoas !uncionam como uma esp)cie de !iscais
da intelig#ncia coletiva m nosso pa3s o nmero de pessoas
assim ) escandalosamente redu&ido As pessoas encarregadas
de perceber a verdade por si mesmas devem ter umaintelig#ncia treinada para isto, devem ter uma intelig#ncia dcil
verdade e ser as primeiras a perceber e compreender o $ue se
passa "sto ) $ue constitui uma intelig#ncia nacional, uma
intelectualidade nacional A intelectualidade aut#ntica não )
constitu3da necessariamente pelas pessoas $ue e:ercem
pro!iss6es ligadas cultura ou intelig#ncia, mas sim pelas
pessoas $ue, e:ercendo ou não essas pro!iss6es, reali&am as
aç6es correspondentes a elas Bão ) preciso ir muito longe para
di&er $ue a sorte global de um pa3s depende de $ue %a*a uma
camada de pessoas assim, para poder, nos momentos de
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di!iculdade, dar esta contribuição modesta $ue ) simplesmente
di&er a verdade Bo Jrasil temos um nmero assombroso de
pessoas $ue trabal%am em atividades culturais, escritores,
pro!essores, artistas, em geral subvencionados pelo governo,
mas $ue nem de longe pensam em cumprir as obrigaç6es
elementares da vida intelectual tudo o $ue !a&em ) apoiar-seuns aos outros num discurso coletivo, rea!irmar as mesmas
crenças de origem puramente egoista e sub*etivista, e:pressar
dese*os e preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda
ssas pessoas vivem reclamando de $ue neste pa3s %' poucas
verbas para a cultura ;as, para !a&er isso $ue elas c%amam de
cultura, *' recebem muito mais din%eiro do $ue merecem +s
cineastas, diretores de teatro, etc, constituem uma casta
privilegiada, $ue ) estipendiada pelo governo para e:ibir empblico emoç6es baratas, a!etar indignação e posar como
8pessoas maravil%osas8 em apartamentos da av >ieira <outo
? claro $ue os povos sempre t#m a liberdade de escol%er entre a
verdade e a mentira, e mesmo sabendo da verdade eles podem
novamente se enganar a si mesmos por)m a possibilidade de
$ue se enganem ) muito maior $uando ningu)m l%es di& a
verdade *amais + $ue acontece $uando pessoas $ue e:ercem
pro!iss6es intelectuais ou culturais somente as e:ercem no
sentido de !a&er delas um instrumento de apoio para sua
prpria mentira interior, ou se*a, e:ercem esses trabal%os no
sentido puramente oratrio ou retrico de indu&ir o povo a
erros e ilus6es@ A!irmo, peremptoriamente, $ue este ) o caso da
intelectualidade brasileira, $ue na sua $uase totalidade se
utili&a de pro!iss6es culturais para !a&er com $ue povo e a
opinião brasileira a sirvam, con!irmando suas crenças, das
$uais ela não tem certe&a pessoal alguma, e para as $uais *ustamente por isso procura angariar um apoio coletivo
:istem setores onde ) poss3vel uma insegurança muito vasta e
a livre troca de opini6es de valor simliar, mas em outros setores
não 7or)m o !ato ) $ue $uando a intelectualidade como um
todo se coloca perante o pblico numa atitude de persuasão
lison*eira, então a vida intelectual est' sendo prostitu3da, e
$uando ela ) prostitu3da, pergunto/ como podemos dese*ar
mais )tica, mais %onestidade, na pol3tica ou nos negcios, seamplas !ai:as de população atuante não t#m a menor noção do
$ue ) verdadeiro ou !also@ Como ) $ue a intelectualidade pode
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ao mesmo tempo pregar um relativismo dissolvente, onde os
crit)rios do verdadeiro e do !also se diluem a ponto de se
tornarem indistingu3veis, e ao mesmo tempo e:igir $ue os
pol3ticos se*am %onestos e digam a verdade ao povo@ As
pessoas, nessa situação, não poderiam ser %onestas nem
mesmo $ue $uisessem, por$ue não sabem o $ue ) certo, nãot#m consci#ncia moral, são grosseiras e insens3veis do ponto de
vista moral ntão não resta dvida de $ue a corrupção da
sociedade começa com a corrupção da camada intelectual, não
com a corrupção dos negcios ou da pol3tica/ ao contr'rio,
e:istem pa3ses onde os %omens ricos e poderosos são muito
corruptos e ainda assim o pa3s !unciona direito e:istem pa3ses
onde os pol3ticos são corruptos e no entanto o pa3s não se
engana grosseiramente na solução de seus prprios problemas;as num pa3s onde a camada intelectual, $ue ) a camada
encarregada pro!issionalmente de e:aminar a verdade e de
di&#-la, começa a se enganar a si mesma, então não vai adiantar
absolutamente nada $ue todos os pol3ticos se*am %onestos
<e do ponto de vista de utilidade para o indiv3duo o ob*etivo
deste curso ) o desenvolvimento da sua intelig#ncia, do ponto
de vista social, cultural, o ob*etivo do curso ) !ornecer gente
para uma !utura elite intelectual verdadeira+ $ue ) uma elite
intelectual@ ? gente tão treinada para perceber a verdade
$uanto um bo:eador est' treinado para lutar e um soldado para
!a&er a guerra Beste sentido, todas as naç6es $ue obtiveram
um lugar de grande&a na %istria tiveram uma elite assim,
!ormada muito antes de $ue o pa3s alcançasse $ual$uer
pro*eção econmica, pol3tica, militar, etc 7ois não ) poss3vel
resolver os problemas primeiro e se tornar inteligente
depoism todo debate sobre problemas nacionais $ueatualmente est' em curso s %' uma coisa $ue todos estão
es$uecendo/ (uem vai resolver estes problemas@ (uem vai
e:amin'-los@ (uem tem a capacidade de e:amin'-los com
e!etiva intelig#ncia@<e estas pessoas não e:istem, então o
problema inicial ) !orm'-las + ob*etivo priorit'rio deste curso
) e:atamente isto, se não !ormar, pelo menos contribuir para
!ormar, aman%ã ou depois, ao longo de talve& vinte ou trinta
anos, uma verdadeira elite intelectual
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M 8+pinião prpria8 e 8*ulgamento autnomo8
>istos os ob*etivos do curso, ) preciso, com relação ao
indiv3duo, não somente desenvolver a intelig#ncia, mas !a&er
com $ue ela se torne a espin%a dorsal do comportamento desse
indiv3duo, ou se*a, $ue ele leve uma vida dirigida pelaintelig#ncia Com isto ele se tornar' !inalmente autnomo e
con!i'vel em seus *ulgamentos, dentro da medida poss3vel ao
ser %umanoma distinção importante ) a $ue e:iste entre
*ulgamento prprio, ou se*a, voc# ser capa& de pensar por si
mesmo, e o $ue ) apenas uma opinião prpria o*e em dia
todo mundo !a& $uestão de ter uma opinião prpria, mas isso
não ) o mesmo $ue pensar por si mesmo 7ensar por si mesmo
não ) apenas voc# ter uma e:pressão, uma opinião $ue e:pressea sua pre!er#ncia, o seu gosto E ali's geralmente muito menos
pessoal do $ue se proclama F ou a sua individualidade, mas )
voc# ser capa& de, so&in%o e sem a*uda, e:aminar uma $uestão
e c%egar a uma conclusão verdadeira ou su!iciente sobre ela, e
$ue, longe de buscar ser di!erente da opinião al%eia, coincida
mais ou menos com as opini6es de outras pessoas $ue por si
mesmas e:aminaram o assunto, de modo $ue cada um,
e:aminando por si e sem nen%uma coerção e:terna, c%egue
mais ou menos s mesmas conclus6es 7ensar por si mesmo )
ser capa& de alcançar a verdade so&in%o, e não de inventar
apenas uma mentira personali&ada Ali's uma das condiç6es
para o desenvolvimento da intelig#ncia ) voc# não fa%er
questão de ter uma opinião prpria, ou se*a, voc# não !a&er
$uestão de $ue sua opinião se*a di!erente da das outras pessoas,
ao contr'rio, apenas !a&er $uestão de e:aminar as coisas por si
mesmo, sem precisar de muletas, sem precisar da aprovação da
maioria ou de $uem $uer $ue se*a, para no !inal c%egar a umaconclusão, de maneira $ue voc# e:presse menos uma
concord2ncia ou discord2ncia natural, mas $ue a concord2ncia
ou discord2ncia se*a produ&ida por um e:ame re!letido do
assunto <er capa& de e:aminar por si prprio ) mais
importante do $ue ter uma opinião di!erente da dos outros
N + estado de dvida
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+ desenvolvimento da intelig#ncia e:ige ainda uma outra coisa,
$ue ) a toler2ncia para com o estado de dvida, $ue ) um
estado psicolgico $ue se de!ine por duas a!irmaç6es
contraditrias e simult2neas de credibilidade aparentemente
igual +u se*a, ao e:aminar uma $uestão, di&er um sim e um
não com igual convicção, isto ), acreditar tanto numa %iptesecomo na %iptese contr'ria, ter iguais ra&6es a !avor e contra
Ba $uase totalidade dos assuntos com os $uais lidamos, não %'
tempo e não %' condição pr'tica de sair do estado de dvida +
indiv3duo $ue ou não tem vocação para a vida da intelig#ncia
ou se desviou dela por um motivo $ual$uer, sente como muito
urgente sair do estado de dvida ele precisa ter uma opinião
de $ual$uer *eito, precisa se pronunciar, precisa c%egar a um
sim ou um não, e esta necessidade ) vivida como mais urgentedo $ue a de con%ecer a verdade Beste caso a intelig#ncia não se
desenvolve, pois ela ) substitu3da pela simples busca de
segurança, *' $ue a dvida ) um estado de insegurança <e
$ueremos desenvolver a intelig#ncia, temos de !a&er uma
escol%a/ a de pre!erir antes permanecer em dvida do $ue ter
uma pseudocerte&a ? bvio $ue a certe&a ) pre!er3vel dvida,
mas ela s ) pre!er3vel realmente $uando ) uma certe&a
aut#ntica, e não uma simples pre!er#ncia individual ntão umaoutra e:ig#ncia para o desenvolvimento da vida intelectual )
uma esp)cie de voto de pobre&a em mat)ria de opini6es, um
voto de ter opinião sobre muito pouca coisa e se reservar para
opinar sobre coisas em $ue voc# teve e!etivamente tempo de
pensar, e no resto voc# consentir em permanecer em dvida,
at) mesmo, se !or preciso pelo resto de sua vida ma certe&a
!irme ) pre!er3vel a um mil%ão de dvidas mas,
lamentavelmente, se $uisermos desenvolver a intelig#ncia
teremos de tolerar o estado de dvida, o estado de incerte&a,
por mais tempo do $ue as pessoas geralmente toleram Al)m de
!a&er este voto de pobre&a em mat)ria de opinião, ) necess'rio
ainda um outro tipo de voto de pobre&a $ue ) a renncia
busca de apoio, ou se*a, voc# não acreditar $ue o nmero das
pessoas $ue o apoiam representa um argumento e!etivo em
!avor da veracidade do $ue voc# est' di&endo m todas as
$uest6es mais di!3ceis a maioria geralmente est' errada, ou
se*a, em geral o consenso mais imediato ) !eito em torno dealgum erro 7or $ue@ O' di&ia <to Tom's de A$uino/ A verdade
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) !il%a do tempo A verdade geralmente demora para aparecer
<e !or preciso, se !or absolutamente preciso buscar apoio numa
opinião ma*orit'ria, então ) pre!er3vel escorar-se nas opini6es
$ue a %umanidade conservou intactas ao longo dos tempos, $ue
resistiram inclumes s mudanças e aos desgastes do tempo, do
$ue na$uelas $ue simplesmente !ormam a vo& ma*orit'ria donosso tempo, e $ue correm o grave risco de tornar-se
minorit'rias aman%ã ou depois Dito de outro modo/ se algum
valor tem a opinião da maioria, não ) a da maioria
moment2nea, da maioria mercadolgica, !uga& e inconstante,
mas sim a da maioria humana, da maioria da esp)cie %umana
em todas as )pocas e lugares/ quod semper! quod ubique! quod
ab omnibus credita est , 8a$uilo em $ue todos, em toda parte,
sempre acreditaram8
Ainda com relação !ormação de uma elite intelectual, não )
preciso di&er $ue não ) absolutamente necess'rio $ue os
membros de uma elite deste tipo ten%am opin6es concordantes,
ali's se tiverem opini6es discordantes talve& at) se*a mel%or em
determinadas circunst2ncias ;as e:istem alguns pontos com
os $uais ) preciso estar de acordo, no $ue se re!ere, em
primeiro lugar, ao valor da intelig#ncia, ao valor da verdade, e
possibilidade do ser %umano descobrir a verdade A !) no poder
de alcançar a verdade ) a condição inicial de $ual$uer
investigação !ilos!ica, di&ia egel <e não acreditarmos na
possibilidade de alcançar a verdade não !aremos es!orços para
busc'-la ? preciso se persuadir de $ue ) poss3vel descobrir a
verdade, mas nem sempre a verdade !inal, nem sempre a
verdade absoluta, e sobretudo nem sempre a verdade sobre
todas as coisas m muitas coisas ) poss3vel alcançar uma
verdade !inal absoluta, em muito mais coisas do $ue se costumaimaginar, por)m em muito menos do $ue ns dese*ar3amos Ba
maior parte dos casos teremos de nos contentar com uma
certe&a probabil3stica, e s ve&es apenas com uma
verossimil%ança, e s ve&es com muito menos do $ue isto, e
talve& nos contentarmos com uma dvida $ue nos
acompan%ar' ao tmulo7or)m, na mesma medida em $ue o
indiv3duo con!ia na intelig#ncia %umana em geral, ele deve
descon!iar da sua prpria opinião, o $ue ) um pouco ocontr'rio da atitude $ue se dissemina %o*e em dia, onde as
pessoas di&em não acreditar em verdades absolutas mas
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acreditam com !) absoluta na$uelas verdades relativas $ue l%es
agradam/ %' a3 uma mistura repugnante de relativismo
intelectual com um dogmatismo emocional !an'tico Ainda $ue
recon%eçamos a di!iculdade de alcançar a verdade com relação
$uase totalidade dos assuntos, temos de admitir $ue, pelo
menos com relação a algumas coisas modestas, podemos veri!icar a possibilidade %umana de alcançar a verdade, desde o
momento em $ue cultivamos a noção da evidência e,
sobretudo, cultivamos a norma de *amais negar $ue sabemos
a$uilo $ue e!etivamente sabemos
9 A autoconsci#ncia, terra natal da verdade
? importante aprender a admitir a$uilo $ue voc# sabe $ue )
verdadeiro Ainda $ue se*am verdades insigni!icantes, voc#
meditar sobre o bvio ) talve& a mel%or maneira de se %abituar
verdade e perder o medo dela e a descon!iança in*usta $uanto
ao poder da intelig#ncia 7or e:emplo, ainda $ue $uase todos os
con%ecimentos $ue e:istam se*am relativos ou duvidosos, voc#
sabe $ue não pode duvidar seriamente de $ue est' a$ui neste
momento voc# pode !a&er de conta $ue não est', mas não podeduvidar e!etivamente <e e:istem tantos con%ecimentos bvios
sobre coisas insigni!icantes, imaginem aonde poder3amos
c%egar se alcanç'ssemos evid#ncias deste tipo com relação a
coisas verdadeiramente importantes= + senso da verdade se
desenvolve a partir do prprio senso da evid#ncia, e o senso da
evid#ncia tem a sua rai& na$uilo $ue voc# já sabe e sabe que
sabe (uando voc# sabe realmente uma coisa, automaticamente
sabe $ue sabe, e se voc# sabe $ue sabe, voc# sabe $ue sabe $ue
sabe "sto $uer di&er $ue $ual$uer con%ecimento e!etivo
implica tamb)m a consciência deste con%ecimento e a plena
admissão da sua veracidadeA intelig#ncia tem, portanto,
tamb)m um aspecto volitivo, inseparavemente ligado ao
aspecto cognitivo
7or onde começa o treinamento da consci#ncia para admitir a
verdade@ + primeiro grau no aprendi&ado da verdade consiste
em voc# aprender a recon%ecer a$uelas verdades $ue s voc#sabe e $ue ningu)m, !ora voc#, pode con!irmar ou negar 7or
e:emplo, s voc# con%ece suas intenç6es, s voc# con%ece os
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atos $ue praticou em segredo, s voc# con%ece os sentimentos
$ue não con!essou >oc#, nesses casos, ) a nica testemun%a, e
) a3 $ue voc# vai con%ecer a di!erença radical e intranspon3vel
entre verdade e !alsidade As pessoas $ue vivem negando a
e:ist#ncia de verdades não con%ecem essa e:peri#ncia, nunca
deram senão !also testemun%o de si mesmas ante o tribunal daconsci#ncia, mentem para si mesmas e por isto sentem $ue
tudo no mundo ) mentira egel di&ia/ a autoconsci#ncia ) a
terra natal da verdade Piambattista >ico observava $ue s
con%ecemos per!eitamente bem a$uilo $ue ns mesmos
!i&emos/ con%ecer per!eitamente bem a nature&a s Deus
con%ece, pois le a !e& 7or)m nossos prprios atos somente
ns mesmos podemos con%ecer, assim como nossos
pensamentos e nossos estados interiores Bão %' ali ningu)m$ue possa nos !iscali&ar, não %' ningu)m $ue possa nos
de!ender de ns mesmos
1Q +s graus de certe&a
<e $uisermos desenvolver o senso da certe&a temos portanto de
nos perguntar e:atamente sobre a$uelas coisas $ue s nssabemos e $ue ningu)m pode saber mel%or do $ue ns
mesmos stas vão dar o modelo para todas as outras certe&as
+ aprendi&ado de $ual$uer saber ) per!eitamente intil se não
%ouver a consci#ncia re!le:iva, $ue consiste na !rase/ Eu sei que
sei , ou então na sua oposta complementar, $ue ) Eu sei que não
sei$
;esmo em assuntos duvidosos, com um pou$uin%o de re!le:ão
voc# pode demarcar o limite entre o con%ecimento poss3vel e oimposs3vel Jastaria $ue consegu3ssemos captar o grau de
certe&a ou de dvida $ue e:iste em cada con%ecimento *'
possu3do:istem $uatro graus de certe&a poss3veis/
1 certe&a
probabilidade
I verossimil%ança
4 con*eturação do poss3vel
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Certe&a ) por e:emplo esta $ue di& 8u estou a$ui agora8 ou
8u sou eu mesmo e não outro8
(ue ) uma opinião prov'vel@ ? uma opinião onde voc# pode s
ter uma certe&a evidente E apod3tica F com relação a um grau de
probabilidade determinado ou determin'vel
m outros casos voc# não pode nem ter isso, voc# s pode ter
uma probabilidade indeterminada, isto ), veross'mil , não uma
probabilidade rigorosa
, !inalmente, em alguns casos s podemos ter con*eturas,
como por e:emplo perguntar se %' vida inteligente em outros
planetas Alguns dirão $ue sim, outros $ue não, e a$ueles $ue
di&em sim t#m tanta ra&ão $uanto a$ueles $ue di&em não A3con%ecemos somente uma possibilidade gen)rica, imposs3vel
de graduar probabilisticamente
is a$ui uma boa maneira de voc# !a&er uma !a:ina no seu
universo intelectual, para recomeçar em boa ordem Trata-se de
!a&er a si mesmo as seguintes perguntas/ Do con*unto de coisas
$ue voc# *' estudou, $uais são a$uelas $ue voc# con%ece com
certe%a absoluta@ (uais as $ue con%ece como probabilidade
ra%oável @ (uais as $ue con%ece como conjetura veross'mil @
(uais as $ue con%ece como mera possibilidade@ m suma/
$uanto vale cada um dos con%ecimentos $ue voc# tem@
is uma verdade amarga/ se! a respeito de um assunto! você crê
possuir certo conhecimento mas não sabe se esse
conhecimento certo! veross'mil! provável ou conjectural!
você não sabe absolutamente nada sobre o assunto A
avaliação dos con%ecimentos !a& parte do prpriocon%ecimento <e não e:iste uma avaliação clara dos
con%ecimentos *' ad$uiridos, voc# não sabe a distinção entre o
$ue sabe e o $ue não sabe, e isto ) o mesmo $ue não saber
nada <eria o caso de perguntar/ + $ue adianta uma educação
$ue l%e ensina um monte de coisas, mas $ue não o ensina a
avaliar e *ulgar o $ue aprende@ Bão e:iste nen%uma di!erença
entre voc# saber alguma coisa e voc# conseguir separar nela o
verdadeiro do !also, pois saber ) saber distinguir o verdadeiro
do !also, ) isto e nada mais al)m disto <e voc# aplicasse esta
grade de distinç6es a tudo o $ue *' leu ou estudou, se
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classi!icasse por ela todas as suas opini6es, imagine a
montan%a de con%ecimentos ver3dicos $ue voc# teria no !im
Kormar convicção ) !ormar graus de convicção :emplo/ >oc#
sabe $ue Deus e:iste com a mesma certe&a com $ue voc# sabe
$ue voc# e:iste@ Se Deus e:iste, le ) bom/ isto ) bvio Seriabom $ue Deus e:istisse/ isto tamb)m ) bvio Agora, entre
pensar seria bom $ue Deus e:istisse e pensar $ue Deus e:iste
e!etivamente %' uma dist2ncia muito grande ntão, por
e:emplo, se ten%o uma discussão com uma pessoa e penso $ue
eu estou certo e ela errada, o $ue estou $uerendo di&er@ stou
$uerendo di&er/ Seria bom que eu estivesse certo e ela estivesse
errada! ou melhor! seria bom para mim Agora, entre pensar
$ue seria bom $ue eu estivesse certo e estar absolutamentecerto de !ato, a dist2ncia tamb)m ) enorme ntão,
lamentavelmente, não podemos estar tão certos em tantas
coisas como geralmente !ingimos $ue estamos S" que se você
e)tirpar de seu universo de crenças um monte de falsas
certe%as! vai ver que no fim sobram algumas certe%as
inabaláveis! e estas valem muito$ *as se você desejar
preservar todas as suas convicç&es igualmente! no mesmo
plano! sem escalaridade cr'tica! no fim vão estar todas
misturadas! você não vai ter certe%a leg'tima de nenhuma! e
vai acabar duvidando at de que dois mais dois são quatro! de
que você está aqui neste momento e at de que você e)iste$ A
falsa certe%a a mãe da d+vida patol"gica$
;uitas ve&es o $ue acontece ) $ue o indiv3duo acaba tendo
certe&a absoluta de coisas inteiramente con*eturais, e tendo
dvidas sobre coisa bvias e ineg'veis, por$ue não sabe
e$uacionar as suas certe&as e suas dvidas con!orme asegurança maior ou menor do con%ecimento em si ? claro $ue
e:istem coisas sobre as $uais gostar3amos de ter certe&a >oc#
não gostaria de ter certe&a, por e:emplo, da imortalidade da
alma@ ;uitas ve&es precisamos de um con%ecimento, e este
con%ecimento se !urta, se nega ;as outras ve&es %'
con%ecimentos de $ue voc# cr# não precisar e eles v#m
acompan%ados de certe&a absoluta/ então por $ue voc# não os
aceita@ m con%ecimento aparentemente intil, mas certo, )
menos pre*udicial do $ue um con%ecimento aparentemente
til, mas !also <e aprendermos a avaliar os graus de certe&a
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não con!orme simplesmente o nosso dese*o, mas con!orme
coisa mesma, con!orme o assunto mesmo admita maior ou
menor certe&a, teremos !eito da nossa mente um instrumento
dcil aos graus de certe&a o!erecidos pela prpria realidade
"sso inclusive pouparia um trabal%o enorme 7ouparia o
trabal%o de voc# ter de argumentar em !avor de coisas $ue sãobvias e $ue não precisam de argumento nen%um para
sustent'-las, bem como pouparia o trabal%o de argumentar em
!avor do inde!ens'vel, do arbitr'rio, do nonsense
ste senso de docilidade verdade apreendida pela prpria
consci#ncia ) transmitido aos alunos deste curso como uma
pr'tica, não apenas como uma lição de casa para se !a&er de
%o*e para aman%ã, mas como uma pr'tica para o resto da vidaDado $ual$uer con%ecimento, o aluno ) convidado
incessantemente a !a&er as $uatro perguntas decisivas/ "sto )
ver'dico@ ? provável @ ? veross'mil @ ? poss'vel @+ crit)rio dos
graus de certe&a ) usado o tempo todo neste curso ) a primeira
lição e tamb)m a ltima a primeira coisa $ue deve ser revista
com este crit)rio ) $ual$uer assunto $ue voc# *' ten%a estudado
!ormalmente <omente com esta revisão voc# *' vai ver $ue a
massa de con%ecimentos, de in!ormaç6es ad$uiridas, começa a
ad$uirir !orma org2nica, intelig3vel, e voc# pela primeira ve&
tem uma id)ia clara da cultura $ue possui e da $ue l%e !alta/
$uando o universo dos seus con%ecimentos ad$uire uma !orma,
voc# ad$uire consci#ncia re!le:iva do $ue sabe e do $ue não
sabe
11 A topogra!ia da ignor2ncia
+ desenvolvimento da consci#ncia re!le:iva pode ser
e:empli!icado na seguinte pr'tica $ue dou aos alunos deste
curso/
+ tempo todo estamos ad$uirindo in!ormaç6es $ue nos v#matrav)s dos cinco sentidos, da leitura, do ouvir-di&er, etc,
por)m a algumas delas prestamos atenção e damos um valor, e
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a outras não ntão pergunto eu/ para onde voc# olha sempre,
para onde olha com frequência, para onde olha de ve% em
quando e para onde não olha jamais@ ? *ustamente a
consci#ncia desta seleção $ue l%e dar' a topogra!ia do mundo,
do seu mundo Ben%um mundo pessoal coincide
e:tensivamente, $uantitativamente, com o mundo ob*etivo;as um mundo pessoal 3ntegro, dotado de unidade como um
organismo vivente, já se parece com o mundo objetivo
precisamente por essa unidade org,nica e! essencialmente ao
menos! um adequado mapa do mundo! ao passo que o
mundo interior quebradiço! fragmentário e mec,nico não se
parece com nada senão com ele mesmo! com as fantasias de
criação humana$ A di!erença não est' na $uantidade de
in!ormaç6es, mas *ustamente em sua topografia
A topogra!ia autoconsciente produ& um sentido de per!il, de
clare&a das coisas ? e:atamente isto $ue a consci#ncia re!le:iva
!ar' com seus con%ecimentos A partir da %ora em $ue voc#
sabe $ue sabe, voc# e!etivamente sabe saber $ue sabe )
tamb)m saber $uando não sabeA proclamação gen)rica e vaga
de ignor2ncia ) apenas uma vaidade intertida, mas o repertrio
organi%ado e cr'tico da nossa ignor2ncia um con%ecimento,
um con%ecimento e!etivo e important3ssimo - desenho da
ignor,ncia! o perfil da ignor,ncia! um primeiro saber este
per!il da ignor2ncia se !a& e:atamente aplicando a grade dos
graus de certe&a <e voc# consegue mapear, de um lado, a sua
ignor2ncia, e de outro, o valor poss3vel de seus con%ecimentos
ad$uiridos, voc# ter' inaugurado as bases de uma vida
intelectual bril%ante 7ercebe agora $ual a di!erença entre um
ensino voltado s !aculdades cognitivas E memria, imaginação,
racioc3nio etc F e um ensino voltado intelig#ncia@ + $ueinteressa a$ui não ) tanto o con%ecimento, mas a consci#ncia
do con%ecimento Consci#ncia, cum . scientia, ) isto/ saber $ue
sabe o $ue sabe
ma consci#ncia desperta não torna somente mais claros os
con%ecimentos $ue voc# *' tem, mas o dei:a preparado e como
$ue potenciali&ado para a a$uisição de novos con%ecimentos
com muito mais aproveitamento do $ue antes e então, para
voc# poder dominar todo um novo setor da ci#ncia, da %istria,
da arte, s ve&es não precisar' nada mais do $ue ter a*uda para
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c%egar aos primeiros princ3pios da$uela 'rea, o resto voc#
descobrir' so&in%o, por$ue ter' con$uistado o senso, o 8!aro8
da unidade do con%ecimento, e aprender' muitas coisas de
uma maneira mais ou menos sint)tica e simult2nea, onde antes
precisava de e:plicaç6es detal%adas, repetiç6es, e:erc3cios, etc
? claro $ue essa maior integração da consci#ncia, com oconse$uente aumento da capacidade de aprendi&ado, não se d'
s na 'rea dos estudos !ormais, mas em todas as 'reas da vida,
$ue aos poucos irão revelando suas intercone:6es + bene!3cio
$ue isto tra& não ) s de ordem intelectual, mas se estende a
toda a psi$ue, a toda a personalidade
7artindo do princ3pio de $ue todo mundo *' sabe alguma coisa
. sabe por viver, sabe por$ue tem memria, por$ue assistiu aacontecimentos, por$ue leu algum livro, por$ue ouviu !alar,
por$ue viu televisão, por$ue leu *ornal, e en!im alguma coisa
sempre se sabe ., então resta trans!ormar esse saber em
autoconsci#ncia <e o saber e!etivo, se a intelig#ncia se
identi!ica !undamentalmente com a autoconsci#ncia, o saber
$ue voc# possui s se tornar' um saber inteligente se !or um
saber autoconsciente, ou se*a, se voc# passar todo este saber na
peneira das seguintes perguntas/
/$ At que ponto sei isto realmente0
1$ (uanto vale este conhecimento0
2$ - que faltaria para que ele fosse completo0
+u se*a, começar !a&endo uma revisão das coisas $ue voc#
acredita $ue sabe >ale ressaltar $ue estes con%ecimentos não
se re!erem apenas s coisas estudadas !ormalmente atrav)s decanais o!iciais de educação, mas sobretudo $ueles estudos,
e:peri#ncias e pensamentos $ue sedimentaram em voc#
determinadas convicç6es+utro ponto importante a ressaltar )
o !ato de $ue $uando voc# dedica, por obrigação pro!issional ou
escolar não assumida interiormente mas somente imposta de
!ora, uma atenção maior a tpicos $ue não l%e interessam
pro!undamente, e não c%ega a desenvolver um interesse
aut#ntico, mas trata do assunto com uma atenção peri!)rica e
como $ue ligada no piloto autom'tico, voc# pre*udica sua
intelig#ncia e se a!asta $uase $ue necessariamente da verdade
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7or$ue, se a intelig#ncia ) capacidade de captar a verdade e de
capt'-la numa situação verdadeira, o simples !ato de voc#
dedicar ao assunto uma atenção !alsa *' ) um impedimento ao
con%ecimento da verdade, ) um v3cio $ue não o a*uda em nada
a desenvolver a intelig#ncia< podemos usar a intelig#ncia
com cem por cento da sua !orça onde %ouver cem por cento deinteresse, e in!eli&mente o interesse não depende inteiramente
de ns, por$ue o interesse $ue temos por este ou a$uele
problema pode provir de uma situação e:terna, de uma
casualidade, de uma conting#ncia, de um temor, de um dese*o
!ortuito, e assim por diante 3sto quer di%er tambm que o
processo do desenvolvimento da inteligência não pode seguir
um programa predeterminado como no estudo de uma
disciplina em particular le tem de ir e vir, mais ou menos aosabor do !lu:o dos interesses reais do momento e da
possibilidade de desenvolver novos interesses
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