A INTERFERÊNCIA DO STRESS NA QUALIDADE DE VIDA NO...
Transcript of A INTERFERÊNCIA DO STRESS NA QUALIDADE DE VIDA NO...
1
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
A INTERFERÊNCIA DO STRESS NA QUALIDADE
DE VIDA NO TRABALHO
Adriana Moreira de Moraes (UNINOVE/FACEQ)1
Resumo
O presente estudo, realizado por meio de pesquisa bibliográfica, tem a finalidade de
demonstrar alguns aspectos relevantes da qualidade de vida no trabalho,
especificamente tratando das interferências causadas pelo stress na evolução
profissional dos indivíduos, em um enfoque das doenças psicossociais que, ao longo de
décadas, acarretam desequilíbrio emocional. Assim, abordam-se algumas enfermidades
diretamente relacionadas ao stress, suas motivações, como se configura o início da
percepção das doenças e as ações diversas que possam contribuir para evitar
afastamentos e demissões.
Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho. Stress. Patologias ocupacionais.
Patologias psicossomáticas.
Abstract
This study, by means of literature, is intended to demonstrate some relevant aspects of
quality of working life, specifically addressing the interference caused by stress in the
professional development of individuals in a focus of psychosocial diseases, which
along decades entail emotional imbalance. So, approach to some diseases directly
related to stress, their motivations, how to set up the beginning of the perception of the
disease and the various actions that can help prevent sick leave and layoffs.
Keywords: Quality of life at work. Stress. occupational diseases. Psychosomatic
disorders.
Introdução
A qualidade de vida no trabalho (QVT) é assunto contemporâneo e transcende
o nível de prazer na vida de um indivíduo, na expectativa do atendimento das
1 Pós-graduada (MBA) em Gestão de Pessoas pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Graduada
em Tecnologia em Recursos Humanos pela Faculdade Eça de Queirós (FACEQ) e em Tecnologia em
Comunicação Empresarial pela Universidade Bandeirante (UNIBAN). Responsável pelo setor de
Recursos Humanos da Faculdade Eça de Queirós (FACEQ) .
2
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
satisfações e necessidades básicas e, em contrapartida, a produtividade para a
organização. Satisfazendo essas necessidades, a personalidade do homem determina a
sua qualidade de vida, seus desejos e seu nível de realização pessoal e considera-se a
pessoa que possui uma elevada qualidade de vida, a que tende a sentir todos os seus
desejos e necessidades alcançados.
O stress organizacional tem sido indagado no tocante às suas interferências,
influências e eventos progressivos relacionados à saúde dos colaboradores de diversas
empresas, o que reflete diretamente no desempenho de suas funções. No ambiente de
trabalho, é um assunto recente e discutido, em consequência da evolução do
adoecimento mental de trabalhadores. Nesse contexto, a presente pesquisa propõe-se a
investigar o que é stress e como se desenvolvem as patologias psicossomáticas que
interferem na qualidade de vida, no trabalho.
O diagnóstico precoce de patologias ocupacionais torna-se imprescindível, pois
o sofrimento que não se vê (a dor invisível) pode incidir em afastamentos. O que torna
necessário retomar as discussões e diálogos com a finalidade de encontrar caminhos
estratégicos com função de promover a identificação de situações que contribuem para
o enfraquecimento da força de trabalho.
No transcorrer deste estudo o conceito de stress como tensão e desgaste será
explorado, de modo que seja possível distinguir como uma resposta do organismo causa
reações físicas, psicológicas, mentais e hormonais que influenciam diretamente no
comportamento dos indivíduos, em ambientes de trabalho que não disponibilizem
atividades específicas, desenvolvidas para qualidade de vida e que, assim, contribuem
para a evolução de patologias psicossomáticas.
Há de se considerar que em todos os segmentos de trabalho encontra-se a
insatisfação, a fadiga mental e a falta de motivação, decorrentes da sobrecarga de
trabalho, falta de planejamento, tipos de relacionamentos interpessoais, padrão de
gestão, discordância de colegas e gestores, comunicação e falta de diretrizes de
qualidade de vida, que somados a outros fatores, levam a um processo de desânimo e
tristeza intensa.
1 Stress – Doenças Psicossomáticas e Motivações
O trabalho é uma necessidade essencial e pode ser considerado um fator
relevante concernente à promoção de saúde; por meio de suas atividades, o trabalhador
3
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
desenvolve inúmeras dimensões: econômica, psicológica e social. Entretanto, quando o
trabalho perde o significado para o trabalhador, este deixa de ser saudável, excluindo o
desenvolvimento, diminui os vínculos coletivos e, dentro deste processo, são
estabelecidas uma série de reações físicas e psíquicas, que podem levar a doenças
psicossomáticas.
Tal análise tem relevância para a sociedade, para conscientização do tema e
demonstração, por intermédio dos índices do Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS) e acompanhamento mensal dos benefícios de auxílio-doença, relacionados ao
trabalho, configurando, assim, uma preocupação com o ambiente de trabalho nas
empresas. Em decorrência dos afastamentos, percebemos que muitos indivíduos se
tornam isolados da sociedade pela falta de compreensão do tema.
De acordo com Freudenberger e Richelson “uma pessoa com estafa,
aparentemente não é uma figura muito agradável de ver. Ele ou ela pode ser alguém
mal-humorado, implicante, rancoroso, austero, incapaz de aceitar sugestões e
comumente comportar-se de modo tal que afugenta as pessoas” (FREUDENBERGER;
RICHELSON, 1991, p. 32).
Qualidade de vida no trabalho refere-se à “satisfação no exercício da profissão,
reconhecimento pelos resultados, salários, benefícios, relacionamento interpessoal, o
clima organizacional, tomada de decisão, engajamento e participação”
(CHIAVENATO, 2010, p. 487). Considerando-se esses aspectos, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) defende que as empresas têm o papel de assegurar condições
de trabalho, por meio das quais fatores de riscos sejam eliminados, buscando implantar
ações de prevenção a doenças, proteção à saúde, melhoria na qualidade de vida,
conquistando a retenção de talentos, baixos índices de absenteísmo e aumento da
produtividade.
Por outro lado, as pessoas apresentam elevado índice de insatisfação, o que
compromete a saúde e qualidade de vida no ambiente de trabalho. Esse
descontentamento ocorre com o impacto da globalização, época em que as mudanças
organizacionais são acentuadas, em razão de melhores resultados e menor custo,
avanços tecnológicos, novas jornadas de trabalho e condições macroeconômicas globais
que ocasionam novas exigências físicas e psicomentais.
Conforme a Constituição da Organização Mundial de Saúde, o conceito de
saúde é um bem comum, ou seja, todos os indivíduos do mundo possuem o direito de
4
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
desfrutar de uma vida saudável:
A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Gozar
do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos
direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de
religião, de credo político, de condição econômica ou social. (OMS,
Artigo 1º, 1946)
Porém, a realidade social é diferente da apresentada pela Organização Mundial
de Saúde. Para Limongi-França, existe uma nova realidade social que impede o acesso
de todos à saúde, como, por exemplo, o maior tempo de vida trabalhando em atividades
produtivas. “O efeito sobre o bem-estar a médio e longo prazo são pouco conhecidos.
Em curto prazo, o alarme está disparado: o stress” (LIMONGI-FRANÇA, 2011, p. 22).
No ambiente de trabalho as relações interpessoais, características pessoais, o
clima e a cultura organizacional, falta de projeção profissional e salário insatisfatório
influenciam o comportamento dos indivíduos, o que pode produzir um ambiente hostil e
que desfavorece as tarefas em grupo e as metas individuais. A motivação fundamentada
em boa remuneração e benefícios não é suficiente para o colaborador permanecer
satisfeito e realizado.
Os temperamentos influenciam diretamente nos relacionamentos; saber
adaptar-se às situações do dia a dia pode ser crucial para evitar conflitos ou gerar stress,
o estilo do gestor e a sua percepção e sensibilidade para solucionar ou prevenir as
divergências no meio ambiente de trabalho são fatores substanciais na comunicação e
no convívio diário.
Conforme Limongi-França e Rodrigues, o ser humano possui três dimensões: a
biológica, a psicológica e a social, e todas são afetadas com o decorrer da vida e dos
sofrimentos relativos ao trabalho e ao cotidiano:
Em função da integração dessas dimensões, o organismo, diante de
cada reação desencadeada pelos diferentes estímulos a que está
submetido, tende a uma volta ao equilíbrio. Mas esses impactos e as
tensões que eles provocam deixam marcas e modificam as pessoas,
inclusive seus corpos. (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2005, p.
23)
O stress interfere e suscita manifestações simultâneas, em apenas uma das
dimensões ou em todas e consoante às doenças psicossomáticas a manifestação
mobiliza todas as dimensões do indivíduo. Essas manifestações podem ser geradas a
partir de tensões, pressões e conflitos externos resultante do ambiente de trabalho ou
5
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
acontecimentos mal resolvidos da vida pessoal do indivíduo; portanto, seja qual for a
causa é inevitável a reação.
O trabalho proporciona satisfação e realização, mas, infelizmente, após o
trabalhador ultrapassar seus limites, tornam-se evidentes os sinais externos, por meio da
manifestação de enfermidades como: vômitos, tontura, enxaqueca, hematomas, dores
nos joelhos, dermatites alérgicas, dores nas costas e, enfim, a depressão, entre outras
doenças, causadas por excesso de trabalho e falta de qualidade de vida.
2 Interferências do Stress na Evolução Profissional
Como um processo de aprendizado constante, a realização de um bom trabalho
tem a expectativa de reconhecimento e descoberta de talentos; entretanto, existem os
fatores que influenciam no desempenho das funções. O indivíduo necessita do emprego,
mas pode não se sentir realizado com a tarefa executada. Além disso, os péssimos
relacionamentos com os colegas de trabalho e a pressão dos superiores para alcançar
resultados levam rapidamente o indivíduo ao ápice de suas emoções.
Nestas condições, temos então o ambiente propício ao stress e o possível
desenvolvimento de doenças psicossomáticas que vão influenciar em todos os âmbitos
da vida do trabalhador. Conforme a medicina “stress é essencialmente o grau de
desgaste do corpo” (SELYE, 1965, p. 3). Assim, nota-se que, ao executar tarefas que
trazem fadiga, o corpo reage de forma peculiar; a essa modificação dá-se o nome de
Síndrome de Adaptação Geral (SAG), compondo-se de três fases distintas: reação de
alarme, fase da resistência e fase da exaustão.
Para Selye (1976), é possível identificar quando um trabalhador está
ultrapassando seus limites: constantes variações de humor, alterações de
comportamento, irritação, cansaço demasiado e facilidade de adoecer. Nossos
antepassados já experimentavam as influências do stress, e isso ocorreu até mesmo com
o homem pré-histórico, que percebia algo de errado na perda de vigor e de ânimo após o
trabalho, os efeitos do frio ou calor, perda de sangue ou doenças. Ele não teria a
consciência da resposta de seu organismo quanto ao esforço de suas tarefas, percebia
que havia ultrapassados os limites quando se sentia exausto.
Limongi-França e Rodrigues consideram que a exaustão emocional ocorre
diante da intensa carga emocional que o contato frequente e intenso com pessoas impõe,
6
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
principalmente com aquelas que vivem situações de sofrimento. Assim, o indivíduo
pode desenvolver uma exaustão emocional. “O profissional sente-se esgotado com
pouca energia para fazer frente ao dia seguinte de trabalho, e a impressão que ele tem é
de que não terá como recuperar essas energias” (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES,
2005, p. 53).
A Síndrome de Burnout (ou estafa profissional) atinge boa parte dos
colaboradores nas organizações, considerando que o desgaste suplanta a vontade
individual de ajudar, cuidar de pessoas e sua dedicação às suas tarefas, atividades e
funções. Conforme Freudenberger e Richelson “um indivíduo com estafa é uma pessoa
que está em estado de fadiga ou frustração causados pela devoção a determinada causa,
modo de vida ou um relacionamento que não correspondeu às expectativas”
(FREUDENBERGER; RICHELSON, 1991, p. 33).
O stress prejudica não somente a saúde do trabalhador, mas tem forte
influência no desenvolvimento e qualidade do trabalho, o que prejudica seu
desempenho. Quando a subjetividade não está inserida no ambiente de trabalho, os
colaboradores sentem-se bem e não existe espaço para manifestações de diferenças
individuais. Os fatores geradores de stress podem surgir de imprevistos com baixo nível
de relevância, uma tensão ou um conflito disfuncional; porém, envolvem as condições
de trabalho, a qualidade de vida do trabalhador, e as reações emocionais de cada
indivíduo que podem desencadear o desequilíbrio, desenvolver doenças e distúrbios
relativos aos stress.
Com o surgimento das doenças, o colaborador começa a se isolar, ficando
desmotivado e alienado, o que prejudica profundamente o seu crescimento profissional
e intelectual. O excesso de horas extras de trabalho, a falta de controle das tarefas, os
conflitos de papéis, as rivalidades e competições internas, a preocupação com a carreira
e os relacionamentos pessoais terão suas consequências de curto prazo, conforme
Morschbacher (2014, p. 17):
Fisiológicas: catecolaminas, cortisol e aumento de pressão arterial;
Psicológicas (cognitivas e afetivas): ansiedade, insatisfação, doença
psicogênica de massa;
Comportamentais: absenteísmo, baixa produtividade, redução nas
participações em eventos e redução de amizades.
7
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
Nesse estágio, caso o gestor tenha uma percepção acentuada, poderá fazer
intervenções na estrutura organizacional para trazer o equilíbrio para o ambiente de
trabalho, com a tomada de decisão para evitar a influência das tensões em alguns
indivíduos, com pré-disposição em absorver negativamente, o que pode melhorar os
resultados. É evidente que se o ambiente continuar com a mesma tensão e, caso o gestor
não intervenha, as consequências, ao longo prazo, poderão ocorrer, trazendo prejuízos
para o indivíduo e para a empresa, até porque as doenças psicossomáticas tendem a
progredir, trazendo consequências:
Fisiológicas: hipertensão, doenças cardíacas, úlceras, asma;
Psicológicas: depressão, Burnout, distúrbios mentais;
Comportamentais: falta de esperança.
Essas doenças são causas de afastamento do trabalho, conforme o Instituto
Nacional de Seguridade Social que, no início de cada ano, disponibiliza o
Acompanhamento Mensal dos Benefícios Auxílios-doença, concedidos pelo Código
Internacional de Doenças. Os gráficos, a seguir, são do ano referência 2014, e
demonstram as três doenças com maior índice de afastamento, a saber:
CID 10 - F32 – Episódios Depressivos – Depressão;
CID 10 - F41 – Outros Transtornos Ansiosos – Ansiedade;
CID 10 - F43 – Reações ao Stress Grave e Transtornos de Adaptação – SAD
(MTPS, 2014).
Gráfico 01 – Acompanhamento mensal dos benefícios auxílio-doença (ano 2014)
Fonte: Adaptado pela autora deste artigo de MTPS (2014)
8
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
Gráfico 02 – Acompanhamento dos benefícios auxílio-doença (ano 2014)
Fonte: Adaptado pela autora deste artigo de MTPS (2014)
Ao observar o índice de Benefícios Auxilio Doença é perceptível que as
doenças psicossomáticas possuem um alto nível de afastamento, o que pode levar a uma
discussão a respeito de melhorias no ambiente de trabalho, para evitar o desgaste
emocional causado pelas tensões, conflitos e pressão exacerbados. A rotatividade de
pessoas nas organizações faz com que os grupos se modifiquem constantemente, e
adaptar-se novamente é sempre uma tarefa árdua no ambiente de trabalho.
Para Maxwell (2004, p. 16), “a rigidez pessoal e no trabalho em equipe são
coisas que não combinam”, é preciso adaptar-se à equipe; o indivíduo adaptável pode
ser ensinado, tem segurança emocional, é criativo e concentra-se em servir. Os
indivíduos criam expectativas e motivações que podem ser frustradas, e não ser
condizentes com a cultura organizacional, o que gera desconforto, desmotivação e sua
colaboração diminui na apresentação de resultados. A presença das fontes de stress
surge da necessidade de adaptação ao padrão e rotina da empresa.
A repercussão negativa do stress no ambiente organizacional preocupa os
pesquisadores, o que leva a investigação das fontes com maior incidência e quais
profissionais sofrem mais com os fatores estressantes. Sadir e Lipp (2009, p. 116)
revelam que foi organizada uma pesquisa com 144 adultos entre 18 e 58 anos, em um
grupo com diversos participantes de diferentes profissões, entre eles: gerentes,
empresários, estagiários, assistentes administrativos, administradores, psicólogos,
engenheiros, autônomos, profissionais de recursos humanos, entre outros.
Nesta pesquisa foram considerados 12 fontes de stress no trabalho: excesso de
9
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
atividades, conflito de interesses e valores, dificuldades interpessoais, ruídos no
ambiente de trabalho, dificuldade em lidar com cobrança, pessoas desorganizadas ou
sem preparo, falta de planejamento, falta de cooperação, falta de reconhecimento do
funcionário, dificuldade de lidar com o chefe, problema com recurso para trabalho,
problemas administrativos. Sadir e Lipp (2009) concluíram que os participantes do
estudo tiveram um número alto de fontes de stress no trabalho. Muitas das fontes foram
citadas na sua intensidade máxima, ou seja, desgastam muito o funcionário.
Esses resultados podem ser importantes em nível de produtividade,
stress, cansaço e doenças dos funcionários, portanto são de extrema
relevância para que as empresas ajam na profilaxia destes problemas.
Sugerimos um maior aprofundamento deste estudo com um maior
número de sujeitos, assim como com a avaliação do nível de stress dos
participantes a fim de associar com a sua auto-percepção das fontes
estressoras. (SADIR; LIPP, 2009, p. 123)
Partindo da premissa de que “o stress é o desgaste do corpo”, Selye (1965, p.
3) afirma que cada indivíduo reage às tensões diárias de formas distintas uns dos outros,
alguns recebem como impulso e motivação para alavancar e ultrapassar limites, no
entanto, outros indivíduos não reagem da mesma forma, quando surge o adjetivo de
“indivíduos esponja”, sendo a principal característica destes sujeitos a capacidade de
absorver, através de suas emoções, todas as ocorrências dos ambientes onde estão
inseridos, seja externo ou de trabalho.
Há de se entender que existe a necessidade de desenvolver a habilidade de
absorver e expelir todos os sentimentos que podem gerar a silenciosa doença emocional.
Fica evidente que as emoções exercem um papel extremamente importante na vida das
pessoas, tornando-se necessário assimilar sentimentos como frustração, indignação,
tristeza, raiva, descontentamento, contrariedade, medo, ansiedade, ciúmes e inveja que
geram stress e, como consequência, doenças no organismo humano.
Essa vulnerabilidade humana, diante de sentimentos e emoções, deve ser
trabalhada de pessoa para pessoa, destacando a necessidade de saber lidar com o
envolvimento emocional e interpessoal com outros indivíduos. É extremamente
relevante compreender que as reações são defesas estabelecidas pelo organismo, que
têm a percepção de ataque, podendo aumentar a intensidade do stress, desenvolvendo
doenças psicossomáticas.
Neste âmbito, são avaliados a ansiedade, o excesso de responsabilidade e o
perfeccionismo, que são características intrínsecas, que levam o indivíduo a exigir mais
10
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
e mais de si, para alcançar níveis de satisfação profissional, o que reproduz
autocobrança, necessidade de realização e exagero no controle.
As constantes alterações de humor como melancolia, tristeza e euforia são
aspectos que, em ambiente de trabalho, desestabilizam outros indivíduos, pois as
reações são diversas e influenciam na comunicação interpessoal, gerando uma
instabilidade no ambiente. Nesta dimensão, o “indivíduo esponja” inserido no ambiente
de trabalho estressante, carregado de pressão interna e instável, apresenta fadiga,
desânimo, desinteresse e desmotivação.
Na continuidade deste perigoso ambiente é possível que desenvolva doenças
psicossomáticas ou síndromes, prejudicando a organização e a realização de suas
tarefas. É importante que o gestor de pessoas tenha a rápida percepção destas mazelas
corporativas, implantando, com criatividade, estratégias que melhorem o ambiente de
trabalho, incrementando e difundindo a qualidade de vida para a saúde de cada
trabalhador.
3 Ações Preventivas
Qualidade de vida possui várias definições, sendo associada às características
intrínsecas individuais, de tecnologias e seus impactos, ao aspecto econômico, salários,
incentivos, abonos, como também a fatores de saúde e segurança. A implementação de
programas de qualidade de vida é essencial para apresentar melhorias no ambiente de
trabalho, como o local de alimentação e descanso adequado, espaço onde possa
socializar-se com outros funcionários e ampliar o alcance da defesa da sanidade de
todos.
Para melhorar as condições de trabalho e saúde é fundamental detectar e
reconhecer os problemas, com a participação dos colaboradores, com o objetivo de
replanejar o trabalho.
A organização nos locais de trabalho deveria ser elemento norteador
das relações de trabalho, em vista da introdução de novas tecnologias
e da automação cada vez mais intensa que se observa nos setores
produtivos mais modernos. Assim, é inadmissível falar em qualidade
do produto sem tocar na qualidade dos ambientes e condições e
organização de trabalho, o que seria sobremaneira auxiliado pela
democratização das relações nos locais de trabalho. (LACAZ, 2003, p.
422)
11
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
Muitas organizações não consideram a prevenção de saúde no ambiente de
trabalho como investimento; contudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ressalta,
no prefácio do texto Comprender y Aplicar el Análisis Económico en la Empresa, a
dificuldade do empresariado em entender “que a melhoria da segurança e da saúde dos
trabalhadores pode trazer benefícios para as empresas e para a sociedade; é difícil
convencer os empresários e os responsáveis pela tomada de decisão que melhorar as
condições de trabalho é rentável” (MOSSINK, 2004, s/p).
É necessário que empregadores tenham compreensão de que a rentabilidade de
investir em seus colaboradores é maior do que deixá-los adoecer; em contrapartida, os
colaboradores devem desenvolver habilidades, principalmente a de adaptação a
mudanças. Para o indivíduo que está desenvolvendo doenças psicossomáticas devido ao
excesso de trabalho, suas expectativas profissionais, dentro da empresa, foram
frustradas; ao desenvolver o pensamento de ser descartável, necessita da atenção do
gestor que, de forma estratégica, poderá reverter a situação.
Neste cenário é perceptível que os investimentos em segurança e qualidade de
vida são imprescindíveis e que a empresa precisa investir em seus colaboradores;
existem atitudes gerencias simples que trazem benefício ao ambiente de trabalho, como
reuniões para discussão de melhorias, treinamentos, ações de valorização. O
colaborador espera da empresa o reconhecimento de exercer suas atividades com
qualidade e que seu trabalho seja significativo para a empresa, deseja projeção
profissional, melhores salários e outras atitudes. É necessário entender que o
posicionamento da empresa, na valorização de seus colaboradores, vai aumentar a
produtividade.
Se o ambiente de trabalho é bom e o indivíduo tem satisfação em trabalhar
nele, esse é o primeiro passo para diminuir as mazelas ocupacionais; se o plano de
carreira oferece projeção, o trabalhador será impulsionado a buscar mais conhecimento
para ascender dentro da empresa, para também receber financeiramente por seu esforço
e dedicação. Mas a atitude de prevenir as doenças psicossomáticas pode partir do
individuo, em fazer uma autoanálise, descobrir as habilidades necessárias e determinar-
se em adquiri-las (NELSON, 2008). Para isso, o autor sugere alguns passos ao
funcionário:
Identificar o problema;
Ajustar as habilidades e os problemas;
12
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
Oferecer-se para participar de projetos e equipes;
Procurar aconselhamento;
Entrar em contato com outros setores da empresa (NELSON, 2008, p. 167).
Nas palavras de Ieda Rhoden, é prioridade tratar de aspectos esquecidos ou
pouco valorizados “nos estudos de ócio e lazer, que são as experiências de ruptura,
descanso e estados introspectivos, como possibilidades saudáveis de contraposição aos
estilos de vida hipermodernos e resgate da qualidade de vida” (RHODEN, 2011, p.
155).
Essa ruptura resulta em deslocamento físico ou afastamento psíquico
passageiro da situação perturbadora de um ambiente estressante, tenso, de pressão,
preocupações e pensamentos de menos valia. Sair da rotina, mudar de ambiente,
assimilar novas coisas, distrair-se e descansar auxiliam na recuperação de forças para
dar continuidade às atividades.
No homem, o repouso de algo significa colocar em prática outra coisa:
ao repouso da atenção, a atividade da imaginação; ao repouso da
atividade exterior, a atividade interior etc.; ampliando essa
abordagem, podemos dizer que existem três formas adequadas de
descanso: a substituição de uma atividade por outra; o sono profundo
e o relaxamento consciente. (RHODEN, 2011, p. 155)
Inevitavelmente, nem todos os indivíduos conseguem desligar-se, ter um
momento apenas para si, mesmo que o descanso seja uma necessidade, consegue
entreter-se substituir estímulos por outros; no entanto, permanecem no ritmo mental
acelerado. O tripé do trabalho, ambiente propício à criatividade, tranquilo e agradável, a
motivação de projeção na carreira com um plano de carreira estruturado e salários
satisfatórios serão sempre a iniciativa de evitar que o adoecimento chegue ao
colaborador.
O gestor pode utilizar-se de motivação em sua equipe; porém, se essa estratégia
for momentânea, a motivação passará, e sua liderança autoritária voltará a predominar.
A maneira mais sensata de evitar que o indivíduo adoeça é a prevenção; se este não for
o foco da empresa, esperar pelo tratamento é permitir adoecer, ter um resultado negativo
de afastamento, pedido de demissão, conflitos disfuncionais e relacionamento
interpessoal rompido.
Considerações finais
A qualidade de vida dos indivíduos é uma questão importante dentro das
13
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
organizações; é por meio da prática de criar um ambiente saudável, agradável, de stress
reduzido, que se torna possível influenciar diretamente as pessoas a buscarem sucesso
em suas carreiras e obterem satisfação profissional. Essas são prerrogativas de cada
gestor.
Esta pesquisa revelou que o stress, para determinados colaboradores, intervém
profissionalmente e gera doenças psicossomáticas, por intermédio do ambiente de
trabalho, dos relacionamentos interpessoais e do estilo de liderança. Entretanto, o stress
também é motivação para superar obstáculos e vencer as dificuldades do dia a dia. Os
seres humanos não nascem com mazelas, traumas ou problemas pré-existentes, suas
experiências de vida e o modo que enfrentam essas questões é que vão definir e
distinguir os “indivíduos esponja” que apenas absorvem o stress, e as pessoas que
conseguem dominar seus sentimentos e emoções, utilizando-as como fonte de energia.
Foi comprovado que doenças psicossomáticas advindas de um clima
organizacional cheio de pressão, tensões, conflitos disfuncionais e frustrações de
expectativas profissionais adoecem os elementos do grupo, afastam e prejudicam suas
carreiras. Os gráficos gerados pelas informações do INSS confirmam que depressão,
ansiedade e transtornos relacionados ao stress possuem alto nível de afastamento,
produzindo resultados negativos para as empresas.
Este estudo mostra que, muitas vezes, é necessário que a empresa faça
adequações, valorizando o colaborador, propiciando um local de trabalho estimulante,
assumindo o compromisso de mudar, na expectativa de transformar os trabalhadores em
parceiros e, como efeito, alcançar seus objetivos. O gestor tem tarefa especial, nesse
compromisso, com a tarefa de inspirar e encorajar seus subordinados a oferecer o
melhor de si, a realizar um bom trabalho, usando a criatividade, seu know-how e
expertise.
Para conhecer as necessidades dos agora parceiros de trabalho, o gestor pode
utilizar ferramentas como pesquisa de clima, obter opiniões em reuniões informais,
onde todos tenham a oportunidade de expressar suas perspectivas de vida e ideias. É
neste momento que o trabalho promove um significado na vida do trabalhador,
motivando ao crescimento pessoal e profissional, tornando prazerosa a tarefa exercida,
melhorando o desempenho individual e, assim, alcançando a qualidade excelente no
trabalho executado.
Portanto, existe a possibilidade de transformar o ambiente de trabalho,
14
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
proporcionando qualidade de vida aos trabalhadores, suprindo suas necessidades,
tornando-os melhores, em um espaço que seja fonte de potencial humano, descartando o
adoecimento físico e mental dos integrantes da equipe.
Referências
BRUCE, Anne. Como motivar sua equipe. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
FREUDENBERGER, H.; J. RICHELSON, G. Estafa: o alto custo dos grandes
empreendimentos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.
LACAZ, Francisco A. de C. Qualidade de vida no trabalho e saúde do trabalhador:
uma visão crítica. Parte VIII, publicado em 2003. Disponível em:
<http://books.scielo.org/id/d5t55/pdf/goldenberg-9788575412510-26.pdf>. Acesso em:
26 mai. 2015.
LIMONGI-FRANÇA, A. C.; RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. São Paulo: Atlas, 2005.
LIMONGI-FRANÇA, Ana C. Qualidade de vida no trabalho – QVT: conceitos e
práticas nas empresas da sociedade pós-industrial. São Paulo: Atlas, 2011.
MAXWELL, John C. Competências pessoais que as empresas procuram. São Paulo:
Mundo Cristão, 2004.
MORSCHBACHER, Cristiane. Estresse ocupacional e o programa de metas em uma
rede de cooperativa de crédito de Santa Catarina. Monografia do Curso de Pós-
graduação em Gestão de Pessoas. Santa Catarina: Universidade Comunitária da Região
de Chapecó, 2014.
NELSON, Bob. 1001 maneiras de tomar a iniciativa no trabalho. Rio de Janeiro:
Sextante, 2008.
RHODEN, Ieda. “Possibilidades saudáveis de contraposição à vida hipermoderna:
faceta de um ócio construtivo”. In: ROSSI, A. M.; PERREWÉ, P. L.; SAUTER, M. A.
J. (Org.). Stress e qualidade de vida no trabalho: stress social – enfrentamento e
prevenção. São Paulo: Atlas, 2011.
SADIR, M. N.; LIPP, M. E. N. As Fontes de Stress no Trabalho. Revista de Psicologia
15
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 6, número
22, junho de 2016. www.faceq.edu.br/regs
da IMED: vol.1, nº 1, p. 114-126, 2009. Disponível em:
<https://seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/viewFile/16/16>. Acesso em:
17. Jul. 2015.
SELYE, Hans. Stress Tensão Da Vida. São Paulo: Ibrasa, 1965.
___________. Stress in Health and Disease. Virtual Book. USA: Butterworth
(Publishers), 1976. Disponível em: < https://books.google.com.br/>. Acesso em: 27.
Set. 2015.
MTPS Ministério do Trabalho e Previdência Social. Anuário Estatístico da
Previdência Social – AEPS, 2014. Disponível em < http://www.mtps.gov.br/dados-
abertos/dados-da-previdencia/previdencia-social-e-inss/anuario-estatistico-da-
previdencia-social-aeps>. Acesso em: 23. Ago. 2015.
MOSSINK, Jos C. M. Comprender y aplicar el análisis económico en la empresa.
Serie protección de la salud de los trabajadores, n° 2, Genebra: OMS, 2004.
Recebido em 22/03/2016
Aceito em 30/04/2016