A INTERIORIZAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SC: ESTUDO DE...

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A INTERIORIZAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SC: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE SÃO BENTO DO SUL (SC) Autor: Andréa Maristela Bauer Tamanine 1 Co-autores: Rosa Rodrigues Del Olmo 2 Osvalmir Tschoeke 3 Adelino Denk 4 São Bento do Sul (SC) é pólo econômico da Micro Região do Alto Vale do Rio Negro, a terceira cidade mais populosa da região norte-nordeste catarinense para a qual se prevê crescimento acima da média nacional nos próximos 15 anos. De acordo com Kroehn (2011, p. 69) “São Bento do Sul é a 3ª. cidade brasileira com o maior índice de responsabilidade fiscal, social e de gestão dos últimos sete anos". 5 Os objetivos deste estudo de caso são: 1) registrar e discutir a experiência relativa à interiorização da inovação no estado de SC com base nos trabalhos realizados para a criação de parque tecnológico e instalação de pólo de inovação na cidade de São Bento do Sul; 2) discutir os potenciais efeitos da convergência de estruturas e objetivos em prol de um ambiente estimulante para o empreendedorismo inovador para criação um novo perfil para o município. Os dados da experiência relatada foram coletados entre 2011 e 2013, por meio de pesquisa de campo baseada na observação não estruturada e participante, com foco descritivo e produção de reflexões analíticas e metodológicas, de eventos relacionados ao tecnoparque e ao pólo de inovação na cidade. Os eventos de interesse constituíram-se de diferentes fóruns de trabalho relacionados ao habitat complexo de inovação, cujo sentido aqui proposto é um sistema articulado, composto por espaços de inovação e seus promotores, identificável geograficamente. A observação envolveu atores da Tríplice Hélice da Inovação: economista do governo municipal de São Bento do Sul; gerente da Incubadora tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP; coordenador do Núcleo de Inovação da Universidade da Região de Joinville - Univille. Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente. Podem ser citados como resultados da pesquisa: 1) identificação de necessidades e fragilidades dos elementos da Tríplice Hélice e suas potenciais convergências para o ambiente de inovação; 2) definição de linhas mestras para planejamento integrado entre habitats pré-existentes; 3) descrição dos desafios da sustentabilidade do habitat complexo de inovação, 4) descrição dos desafios da inter-relação entre atores locais para desenvolver a cultura empreendedora no município/micro região; 5) descrição dos gargalos de formação de recursos humanos e 6) discussão sobre a elaboração de políticas municipais para incentivo ao empreendedorismo e à inovação. As limitações do trabalho se configuram pelo estágio inicial das atividades e pelo processo ainda não estar na fase de discussão pública. Apesar das limitações, a criação de uma cidade com ecossistema propício à inovação é o maior impacto previsto pelas ações em andamento e pelo projeto de implantação do tecnoparque e do pólo de inovação, implicando em efeitos positivos de cunho social e econômico no ambiente urbano, impacto científico- tecnológico e mudança cultural. A originalidade do estudo se caracteriza pela ótica da Tríplice Hélice sobre os desafios e impactos da criação de um habitat complexo de inovação na região. Palavras-chave: Interiorização da inovação; Tríplice Hélice; Empreendedorismo; Pólo de Inovação; Tecnoparque. 1 Doutora, gestora de inovação. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3461-9156/9947-7717. Email: [email protected]. 2 Especialista, economista. Prefeitura Municipal de São Bento do Sul. Rua Jorge Lacerda, 75. Centro - 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3631- 6000. E-mail: [email protected]. gov.br. 3 Especialista, administrador. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Rua Luiz Fernando Hastreiter, 320. 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. E-mail: [email protected] 4 Mestre, economista. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 3631-9132. E-mail: [email protected]. 5 KROEHN, Márcio. A força das cidades médias. Revista Exame. Out. 2011. p. 68-70.

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A INTERIORIZAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SC: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE SÃO BENTO

DO SUL (SC)

Autor: Andréa Maristela Bauer Tamanine1

Co-autores: Rosa Rodrigues Del Olmo2

Osvalmir Tschoeke3

Adelino Denk4

São Bento do Sul (SC) é pólo econômico da Micro Região do Alto Vale do Rio Negro, a terceira cidade mais

populosa da região norte-nordeste catarinense para a qual se prevê crescimento acima da média nacional nos

próximos 15 anos. De acordo com Kroehn (2011, p. 69) “São Bento do Sul é a 3ª. cidade brasileira com o maior

índice de responsabilidade fiscal, social e de gestão dos últimos sete anos".5 Os objetivos deste estudo de caso

são: 1) registrar e discutir a experiência relativa à interiorização da inovação no estado de SC com base nos

trabalhos realizados para a criação de parque tecnológico e instalação de pólo de inovação na cidade de São

Bento do Sul; 2) discutir os potenciais efeitos da convergência de estruturas e objetivos em prol de um ambiente

estimulante para o empreendedorismo inovador para criação um novo perfil para o município.

Os dados da experiência relatada foram coletados entre 2011 e 2013, por meio de pesquisa de campo baseada na

observação não estruturada e participante, com foco descritivo e produção de reflexões analíticas e

metodológicas, de eventos relacionados ao tecnoparque e ao pólo de inovação na cidade. Os eventos de interesse

constituíram-se de diferentes fóruns de trabalho relacionados ao habitat complexo de inovação, cujo sentido aqui

proposto é um sistema articulado, composto por espaços de inovação e seus promotores, identificável

geograficamente. A observação envolveu atores da Tríplice Hélice da Inovação: economista do governo

municipal de São Bento do Sul; gerente da Incubadora tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP;

coordenador do Núcleo de Inovação da Universidade da Região de Joinville - Univille. Os dados foram

analisados quantitativa e qualitativamente.

Podem ser citados como resultados da pesquisa: 1) identificação de necessidades e fragilidades dos elementos da

Tríplice Hélice e suas potenciais convergências para o ambiente de inovação; 2) definição de linhas mestras para

planejamento integrado entre habitats pré-existentes; 3) descrição dos desafios da sustentabilidade do habitat

complexo de inovação, 4) descrição dos desafios da inter-relação entre atores locais para desenvolver a cultura

empreendedora no município/micro região; 5) descrição dos gargalos de formação de recursos humanos e 6)

discussão sobre a elaboração de políticas municipais para incentivo ao empreendedorismo e à inovação.

As limitações do trabalho se configuram pelo estágio inicial das atividades e pelo processo ainda não estar na

fase de discussão pública. Apesar das limitações, a criação de uma cidade com ecossistema propício à inovação é

o maior impacto previsto pelas ações em andamento e pelo projeto de implantação do tecnoparque e do pólo de

inovação, implicando em efeitos positivos de cunho social e econômico no ambiente urbano, impacto científico-

tecnológico e mudança cultural. A originalidade do estudo se caracteriza pela ótica da Tríplice Hélice sobre os

desafios e impactos da criação de um habitat complexo de inovação na região.

Palavras-chave: Interiorização da inovação; Tríplice Hélice; Empreendedorismo; Pólo de Inovação;

Tecnoparque.

1 Doutora, gestora de inovação. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230.

Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3461-9156/9947-7717. Email: [email protected]. 2 Especialista, economista. Prefeitura Municipal de São Bento do Sul. Rua Jorge Lacerda, 75.

Centro - 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3631- 6000. E-mail: [email protected].

gov.br. 3 Especialista, administrador. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Fundação de Ensino Tecnologia e

Pesquisa - FETEP. Rua Luiz Fernando Hastreiter, 320. 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. E-mail: [email protected]

4 Mestre, economista. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro

Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 3631-9132. E-mail: [email protected]. 5 KROEHN, Márcio. A força das cidades médias. Revista Exame. Out. 2011. p. 68-70.

THE INTERIORIZATION OF INNOVATION IN SC: A CASE STUDY IN THE CITY OF SÃO BENTO

DO SUL (SC)

Author: Andréa Maristela Bauer Tamanine6

Co-authors: Rosa Rodrigues Del Olmo7

Osvalmir Tschoeke8

Adelino Denk9

São Bento do Sul is the economic hub of the micro region from Alto Vale do Rio Negro, the third most populous

city in the north-northeast of Santa Catarina for which expected growth above the national average over the next

15 years. According to Kroehn (2011, p. 69) "São Bento do Sul is the 3rd. Brazilian city with the highest level of

fiscal, social and management responsability of the last seven year".

The objectives of this case study are: 1) register and discuss the experience relating to the innovation

interiorization in the state of SC based on work was done by the technology park creation and installation of the

innovation cluster in São Bento do Sul; 2) discuss the potential effects of the convergence of structures and

objectives towards a stimulating environment for innovative entrepreneurship to create a new profile for the

municipality.

Experiment data reported were collected between 2011 and 2013, through field research based on observation

and unstructured participant, focusing descriptive and production of analytical and methodological reflections of

events related to tecnopark and innovation cluster in town. The events of interest consisted of different forums

related to work to innovation complex habitat, whose sense proposed here is an articulated system, composed of

spaces for innovation and its promoters, geographically identifiable. The observation involved actors of the

Triple Helix of Innovation: an economist of the municipal government of São Bento do Sul, the manager of the

Technology Incubator of Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP, the coordinator of the Center for Innovation at the

University of Joinville Region - Univille. Data were analyzed quantitatively and qualitatively.

These items can be cited as the research results: 1) identification of needs and weaknesses of the triple elements

and their potential convergences; 2) the definition of guidelines for integrated planning between pre-existing

habitats; 3) description of the challenges of sustainability of innovation complex habitat, 4) description of the

challenges of the interrelationship between local stakeholders to develop the entrepreneurial culture in the

municipality/micro region; 5) description of the bottlenecks of human resources training and 6) discussion about

the development of municipal policies to encourage entrepreneurship and innovation.

Limitations of this study are configured at the initial stage of the activities and the process isn't at the stage of

public discussion yet. Despite the limitations, the creation of a city with ecosystem propitious to the innovation is

the largest expected impact by the underway actions and by the implantation project of the tecnopark and

innovation cluster implying positive effects of social and economic development in the urban environment,

impact scientific-technological and cultural change. The originality of the study is characterized by the Triple Helix perspective about the challenges and impacts of creating a complex habitat for innovation in the region.

Key-words: Triple Helix; Innovation cluster; Tecnopark.

6 Ph.D., Managing Innovation. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230.

Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3461-9156/9947-7717. Email: [email protected]. 7 Specialist, Economist. Prefeitura Municipal de São Bento do Sul. Rua Jorge Lacerda, 75.

Centro - 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3631- 6000. E-mail: [email protected].

gov.br. 8 Specialist, Administrator. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Rua Luiz Fernando Hastreiter, 320. 89.283-

081 - São Bento do Sul - SC. E-mail: [email protected]

9 Master, Economist. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro

Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 3631-9132. E-mail: [email protected].

1. Introdução

Ao tratar como objeto de estudo a interiorização da inovação em Santa Catarina, entendeu-se

poder contribuir de maneira especial com o tema proposto pelo XXIII Seminário Nacional de

Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, haja vista a possibilidade de ser prevista,

pelos muitos casos de sucesso conhecidos, a proporção das transformações em uma cidade a

partir da implantação do seu Parque Científico e Tecnológico. Apesar das limitações da

experiência ora descrita diante de sua fase nascente, da extensa literatura sobre o tema ainda a

explorar e das muitas possibilidades futuras de benchmarking e interação com tecnoparques

consolidados no Brasil pelo mundo, o registro e divulgação dos fatos que hoje ocorrem na

cidade interiorana de São Bento do Sul serão fatores importantes na caminhada para sua

caracterização como polo de inovação da região norte-nordeste catarinense.

Ao criar e estimular um ambiente propício à inovação nas pequenas e médias cidades,

acredita-se que se oportunizará a formação de cidadãos globais oferecendo oportunidades

superiores de emprego e renda, criando assim atratividade para o capital humano e gerando

desenvolvimento. Portanto, defende-se aqui que os processos de interiorização da inovação

são de suma importância para que o Sistema Nacional de Inovação funcione. Assim, ao se

pensar em cidades inteligentes e com economia criativa, também se deve pensar no potencial

de cidades menores e compactas. Segundo a Lei de Inovação brasileira no 10.973, de 2 de

dezembro de 2004, define-se como “Inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento

no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”,

reafirmando-lhe os requisitos de novidade, aplicabilidade e efetiva introdução no mercado,

além de abranger as tecnologias sociais.Em sentido amplo, pode-se dizer que inovar é colocar

algo conceitualmente novo no mercado. Esse "algo novo" precisa modificar o comportamento

da sociedade em relação ao produto ou processo antes utilizado, ou seja, mesmo que em graus

variados, deve haver uma forma de vantagem relativa no processo de adoção de uma

inovação. Essa vantagem relativa seria “o grau com que uma inovação é percebida como

melhor que o produto que substitui” (TIDD, BESSANT, PAVITT, 2008, p. 291).

Rodriguez, Dahlman e Salmi (2008, p. 92), no relatório Knowledge and innovation for

competitiveness in Brazil, conceituam inovação de maneira abrangente, englobando

“produtos, processos e novas atividades empresariais ou modelos organizacionais”, assim

como "também como a primeira vez em que se usa ou se adapta a tecnologia a novos

contextos”. Nesse sentido, as características do inovar se tornam mais próximas da maioria

dos empreendedores, que precisam aprender a ser mais criativos e a gerir as ideias para que

se revertam em conhecimento e em inovação, especialmente nas micro, pequenas e médias

empresas, importantes para o desenvolvimento econômico como citam Longnecker et al “Os

empreendedores fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento

econômico [...] eles são vistos como energizadores que assumem riscos necessários em uma

economia em crescimento” - fatores fundamentais na interiorização da inovação aqui tratada.

De acordo com Duarte (2012, web), dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) "apontam que a riqueza de SC depende cada vez menos de Florianópolis.

Segundo o instituto, os estados das regiões Norte e Nordeste são os que mostram maior

dependência de suas capitais, enquanto SC é o ente da federação mais autônomo em relação à

Florianópolis". Complementa o autor que esta característica da capital catarinense é exceção

no Brasil, sendo o único estado brasileiro em que a capital não é o município de maior

destaque em geração de riqueza, já que "O crescimento no PIB de Florianópolis, que chegou a

R$ 9,8 bilhões em 2010, foi de 18,3% em um ano (sem descontar a variação dos preços),

pouco acima da média estadual, mas muito distante das líderes em crescimento das principais

regiões do Estado". (DUARTE, 2012, web).

Duarte (2012, web) ainda informa, sob leitura do economista e professor Robson Gonçalves,

da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que há tendência de que as cidades do interior do estado

expandam cada vez mais suas economias enquanto Florianópolis se firma como capital

administrativa. Segundo ele, "Os polos econômicos mais dinâmicos de SC estão no interior,

o que é incomum no Brasil" (GONÇALVES apud DUARTE, 2012, web, grifo nosso). Nessa

esteira se pauta o trabalho ora apresentado, ou seja, ao se pensar em inovação e na sua relação

intrínseca e necessariamente sistêmica com o desenvolvimento econômico, tem-se no estado

de Santa Catarina um contexto sui generis no que se refere às condições de interiorização da

inovação.

Dessa forma, ao se pensar em uma capital econômica do estado catarinense, esta seria

Joinville, situada no norte do estado, o maior destaque em 2010 quanto ao crescimento do

Produto Interno Bruto (PIB), com R$ 18,4 bilhões, o que representa um crescimento nominal

de 38,4% se comparado ao ano de 2009, alcançando a 25ª posição entre as cidades que mais

geram riquezas no país (IBGE, 2010) e considerada uma das cidades brasileiras mais

inovadoras (PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS ESPECIAL, 2010).

São Bento do Sul localiza-se a apenas 88 quilômetros de Joinville, portanto certamente esta

cidade é a referência mais significativa para as mudanças a serem conduzidas na região norte-

nordeste no que tange à inovação, porém se quer criar uma identidade própria como cidade

inovadora. Isto posto, São Bento do Sul desponta como interessante objeto de estudo diante

do acompanhamento de seu processo de implantação de um Parque científico e tecnológico e

do planejamento de estratégias de disseminação da cultura do empreendedorismo inovador.

Para traçar os caminhos deste estudo de caso, estabeleceram-se os seguintes objetivos: 1)

registrar e discutir a experiência relativa à interiorização da inovação no estado de SC com

base nos trabalhos realizados para a formalização do Parque científico e tecnológico e

instalação do Centro de Inovação na cidade de São Bento do Sul; 2) discutir os potenciais

efeitos da convergência de estruturas e objetivos em prol de um ambiente estimulante para o

empreendedorismo inovador, visando a criação um novo perfil para o município.

Os dados da experiência relatada foram coletados entre 2011 e 2013 por meio de pesquisa de

campo baseada na observação não estruturada e participante, com foco descritivo e produção

de reflexões analíticas e metodológicas de eventos relacionados à criação do tecnoparque e da

caracterização da cidade como pólo regional de inovação. Os eventos de interesse

constituíram-se de diferentes fóruns de trabalho relacionados ao habitat complexo de

inovação, cujo sentido aqui adotado é de um sistema articulado, composto por espaços de

inovação e seus promotores, identificável geograficamente em uma cidade, sendo esta

determinante dos limites físicos de sua identidade, mas não de sua atuação. (TAMANINE,

2013, p. 19). A coleta envolveu atores da Tríplice Hélice da Inovação: economista do governo

municipal de São Bento do Sul; gerente da Incubadora tecnológica do Alto Vale do Rio

Negro - ITFETEP e coordenadora do Núcleo de Inovação (NIT) da Universidade da Região

de Joinville - Univille. Ressalta-se aqui o fundamental papel dos NIT no processo de

interiorização da inovação em Santa Catarina, haja vista agirem além do seu papel traduzido

pela Lei de Inovação e apresentarem duas características especiais de atuação: 1) serem

articuladores; 2) constituírem-se em espaço singular da utilização de uma linguagem

renovada, fruto da soma da linguagem do empresário, do poder público e do acadêmico,

produzindo discurso comum aos três universos sobre o valor de sua integração.

Para tratar do tema proposto, primeiramente se apresenta a cidade-alvo, depois se relatam as

principais experiências já vividas na localidade com relação a criação de habitats de inovação.

Em seguida, focaliza-se a discussão sobre o processo e as diretrizes até então identificadas

para a implantação do Parque científico e tecnológico e para o desenvolvimento da cidade de

São Bento do Sul como um polo de inovação regional. Conclui-se a apresentação tecendo as

considerações finais e propondo a continuidade dos estudos.

2. O município de São Bento do Sul

São Bento do Sul foi fundada no ano de 1873 por imigrantes alemães, oriundos

principalmente da região da Baviera. O município possui cerca de 75.000 habitantes (IBGE,

2010), e está localizado no planalto norte-nordeste catarinense. É o principal município da

Micro Região do Alto Vale do Rio Negro, formada também por Campo Alegre e Rio

Negrinho. A economia da região tem como base principal o setor industrial, seguido do setor

comercial e apresenta pequenas iniciativas no setor agrícola e de turismo.

A cidade se desenvolveu com um parque industrial concentrado no setor madeira-móveis,

sendo que as atividades voltadas à exportação chegaram a lhe creditar, por muito tempo, o

título de maior pólo exportador de móveis do país. No entanto, na última década, a oscilação

cambial e a competição com os países asiáticos ocasionaram uma grande instabilidade

econômica na região e muitas empresas moveleiras foram fechadas. Tal ambiente apontou as

fraquezas do setor, em especial a concentração de mão-de-obra na manufatura, a baixa

qualificação dos trabalhadores e o pouco investimento em tecnologia, principalmente em

desenvolvimento tecnológico próprio (PEIEX/UNIVILLE, 201110

). Assim, o problema

econômico refletiu-se em todos os setores da comunidade e suas causas se tornaram desafios

para que a cidade mantivesse seu rumo de crescimento.

Mais recentemente, em dados de 2010 divulgados pelo Perfil Socioconômico11

, o setor

industrial correspondeu a 70,9% do contexto econômico do município. Nesse segmento,

cresceram o setor têxtil (21,1%) e o setor cerâmico (12,5%). Atualmente, o setor moveleiro

corresponde a 86% das exportações de São Bento do Sul e se mantém estável, apoiado por

parcerias e atuação do APL moveleiro local. Por outro lado, na representação econômica do

município, o setor moveleiro passou para a terceira posição, representando 15,9% e o setor

metal-mecânico passou à frente, com 16,7%; seguido pelo comércio, com 16,5%.

Pôde-se verificar que realmente São Bento do Sul seguiu um bom rumo, apresentando

crescimento de 8,6% em 2010. Isso permitiu projetar um PIB de R$ 1,85 bilhão e PIB per

capita de R$ 24.833,00 – valor acima da mesma média nacional, calculada em R$ 19.016,00.

Também cresceu - em 25% - o número de estudantes no ensino superior (PERFIL

SOCIOECONÔMICO, 2011), o que aponta para a ação local na oferta de qualificação,

esforço fundamental para que o projeto de cidade inovadora seja realidade.

A diversificação promoveu solidez ao crescimento econômico da cidade e, em 2011, os

números continuaram indicando fortalecimento desta economia de forma contínua e

promissora, segundo mostram resultados do PIB, de emprego e de renda. Com base em dados

do Perfil Socioeconômico (PERFIL SOCIOECONÔMICO, 2012, p. 71) “São Bento do Sul

10

O Projeto PEIEX foi realizado pela Univille São Bento do Sul em parceria com o MDIC com apoio do

empresariado local, oferecendo dados importantes sobre a necessidade de formação e capacitação para P&D e

inovação. 11

O Perfil Socioeconômico é uma publicação produzida pela Univille em parceria com a Associação Comercial

e Industrial de São Bento do Sul e disponibilizada gratuitamente.

cresceu, expressivamente, 12,37% em 2011, o que projeta um PIB de R$ 1,832 bilhão e PIB

per capita de R$ 24.265,00, acima da renda per capita nacional que, em 2011, fechou em R$

21.252,00". A mesma pesquisa registrou aumento de abertura de empresas e serviços: de

5,6% (2010) para 8,9% (2011) na indústria; nos serviços de 34,8% (2010) para 40,7% (2011)

(PERFIL SOCIOECONÔMICO, 2012, p.123-124). De acordo com Kroehn (2011, p. 69)

“São Bento do Sul é a 3ª. cidade brasileira com o maior índice de responsabilidade fiscal,

social e de gestão dos últimos sete anos”. Para a cidade, se prevê crescimento acima da média

nacional nos próximos 15 anos.

Na seção seguinte, será apresentada a concretização das primeiras ações direcionadas ao

empreendedorismo inovador no município e região até os eventos dos dias atuais.

3. Empreendedores inovadores: dos pioneiros aos atuais agentes pró-inovação

em São Bento do Sul

O pensamento voltado a tornar São Bento do Sul uma cidade focada em pesquisa e tecnologia

não é recente. Em 1975, o então prefeito Osvaldo Zipperer criou uma comissão para estudar a

viabilidade da criação de uma fundação municipal que se dedicasse à pesquisa e à formação

de mão de obra técnica especializada para o setor moveleiro. Participaram desta comissão

expoentes do setor industrial, cultural, político e educacional do município. Como os

trabalhos da comissão culminaram em um parecer favorável, em 18 de dezembro de 1975 o

prefeito sancionou a Lei Municipal 149, que instituía a FETEP – Fundação de Ensino

Tecnologia e Pesquisa. O ocorrido revela que, desde a época, havia a percepção da

importância de que atores do governo, das empresas e da educação trabalhassem juntos,

relação disseminada nos anos 60 com o "Triângulo de Sábato".

Ainda no governo de Osvaldo Zipperer, o município doou para a FETEP uma área de 300 mil

metros quadrados no bairro Centenário, na periferia da cidade. Após, submeteu-se projeto à

Finep - Agência Brasileira da Inovação, via Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo

Sul - BRDE, com aval do Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A - Badesc,

para a construção das unidades físicas e aquisição de mobiliário. O recurso permitiu a compra

de equipamentos do laboratório de ensaios físicos e químicos, bem como todas as máquinas e

ferramentas necessárias para uma fábrica modelo, tudo com o objetivo principal da realização

de aulas práticas, testes e o desenvolvimento de protótipos para as empresas de móveis.

No entanto, com o passar do tempo, a fundação municipal encontrou dificuldade para

continuar os projetos de pesquisa em função da escassez de recursos. Assim, para possibilitar

o uso das instalações para o fim planejado, a FETEP permutou parte de sua propriedade com

o Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional - SENAI e transferiu sua sede para o Bairro

Colonial. Com o objetivo de retomar as condições administrativas e financeiras da Fetep, esta

acolheu em seu novo prédio as associações empresariais e entidades patronais de São Bento

do Sul, mas permaneceu secundária ao trabalho dessas instituições por longo período.

Em 2005, durante a gestão da Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul -

ACISBS presidida pelo empresário Osmar Mühlbauer, iniciou-se por parte da Univille

discussões para implantação de uma incubadora de empresas na universidade visando

oportunizar novos negócios e investimentos em inovação tecnológica de maneira mais intensa

e direcionada no município. O projeto foi apresentado ao presidente da ACISBS e ao

Secretário de Desenvolvimento Econômico do governo municipal da época e teve grande

aceitação. Nessas reuniões iniciais para tratar da incubadora também participaram

representantes de outras instituições, como Sindicato da Indústria do Mobiliário -

Sindusmobil, Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas - Sebrae, Universidade do

Estado de Santa Catarina - Udesc; Escola Técnica Tupy, Universidade do Contestado e

Senai.

Ao serem levadas as solicitações ao então prefeito para poder viabilizar recursos para prover a

infraestrutura inicial e efetivar a contratação de um gerente para a incubadora, acabou por se

decidir que esta deveria ficar vinculada à FETEP por motivos como neutralidade política e

aproximação - tanto institucional quanto física - com a comunidade empresarial. Dessa

forma, o empreendimento foi oficializado em 05 de novembro de 2005 e denominado de

Incubadora Tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP. A ITFETEP entrou em

operação em julho 2006, com o intuito de proporcionar o desenvolvimento de empresas

empreendedoras que pudessem agregar valor aos seus negócios, gerando emprego e renda

através da inovação tecnológica.

Em 2007, a ITFETEP planejou a FASE 1 de implementação. Para efetivar o projeto,

submeteu proposta ao Edital de Incubadoras FAPESC-SEBRAE 01/2007 e teve aprovado o

recebimento de R$ 80.000,00. Desse aporte, oportunizou-se infra-estrutura para atendimento a

06 incubados, o que propiciou a geração de 24 empregos diretos, pagando salários que, na

média, equivaliam a quase 03 vezes a média paga pela indústria tradicional na região. Novos

empreendimentos surgiram e mais 12 incubados foram recebidos nas instalações.

Em razão da demanda por espaço, em 2010 buscou-se a captação de recursos para ampliação

da Incubadora. O recurso mais contundente veio por meio da aprovação do projeto

Implantação da Incubadora Tecnológica do Alto Vale do Rio Negro – ITFETEP, FASE II,

submissão conjunta entre Fetep, Univille e Udesc, na monta de R$225.000,00. O recurso

serviu para construção da nova sede da incubadora no bairro Centenário, antiga localização da

FETEP. Neste prédio, inaugurado em 2012, a Prefeitura Municipal investiu, via Conselho de

Desenvolvimento - CODESBS, mais R$ 200.000,00. Portanto, retomou-se a caminhada e

deu-se um dos mais importantes passos para que São Bento do Sul pudesse acelerar seu

desenvolvimento tecnológico. A Incubadora possibilitou o desenvolvimento de novas

empresas de tecnologia e criou "efeito demonstrativo" da importância da inovação para o

município. Atualmente, a ITFETEP se destaca dentre as 5 melhores incubadoras tecnológicas

de SC.

Ressalta-se, portanto, que governo, empresas e universidades, juntos, ofereceram novas

oportunidades para o trabalho em prol do empreendedorismo inovador na região ao criarem a

incubadora, pois esta também permitiu que ações pró-empreendedorismo se estendessem para

as cidades de Rio Negrinho e Campo Alegre. Portanto, em consonância com a política

nacional envolvendo a inovação, em São Bento do Sul a política municipal também tem

orbitado no esforço conjunto entre Academia, Governo e Empresas. A teoria que defende

fortemente esta relação e sua dimensão em espiral é da Tríplice Hélice, proposta por Henry

Etzkowitz e Loet Leydesdorff (2000) na década de 90 e hoje adotada largamente, inclusive no

planejamento do tecnoparque são-bentense.

Enfim, a proposta inovadora que criou a FETEP em 1975 teve a oportunidade de ser

revigorada, ação que permitiu a oportunidade de reorganizar os rumos da cidade e da região

para o desenvolvimento de uma economia mais criativa e inteligente. A história da FETEP e

da ITFETEP, juntamente com seus parceiros, em especial a Univille, atingiu, em 2012, um

momento crucial de sua trajetória: enfrentar o desafio de implantar um parque tecnológico -

desafio este ainda em andamento, conforme será tratado na seção a seguir.

4. O Parque Científico e Tecnológico de São Bento do Sul e Região

Em 2011, ao ser construída a incubadora tecnológica ITFETEP no terreno doado à FETEP

nos anos setenta, ainda se identificava um entorno com sérias necessidades de revitalização

econômica e social, assim como de industrialização. As instituições de ensino e pesquisa

instaladas na área, nesse ano, eram, além do Senai, a Udesc e a Escola Técnica Tupy

(Sociesbs). Mais recentemente, em 2012, iniciaram-se os efetivos trabalhos para

funcionamento do IFC – Instituto Federal Catarinense e avançaram as tratativas para

viabilizar a presença de unidade da Univille. Essa concentração especial de instituições de

ensino e pesquisa possibilitou que a proposição do Parque científico e tecnológico tomasse

vulto, culminando com a ação do projeto governamental Inova@SC, que identificou a cidade

de São Bento do Sul como o polo de inovação da região norte-nordeste de SC e indicou a

cidade para receber subsídios para construção de um Centro de Inovação.

Na Figura 1 é possível visualizar a área física atual ocupada pelo parque e sua localização

mediante pontos de referência das cidades vizinhas de Campo Alegre e Rio Negrinho, assim

como Joinville (SC) e Curitiba (PR).

Figura 1- Planta superior - Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul (SC)

Fonte: Google Earth - FETEP, 2012.

A presença das instituições no espaço físico do Parque científico e tecnológico de São Bento

do Sul, assim como a localização daquelas com instalações em projeto, pode ser vista na

Figura 2.

Figura 2 - Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul (SC) - Fase 3

Fonte: FETEP/UNC, 2013.

Os prédios identificados são: 1) Incubadora Tecnológica ITFETEP; 2) Centro de Inovação; 3)

UDESC; 4) Senai; 5) Sociesbs/Tupy; 6) IFSC e 7) Univille.

Somando-se as duas perspectivas acima descritas, o cenário para um novo patamar do

estímulo à inovação estava definido e exigiu nova mobilização dos atores da Tríplice Hélice

na região.

5. Os estudos preliminares realizados

Com a identificação de São Bento do Sul como cidade polo para impulsionar a inovação na

região norte-nordeste de SC, a percepção e o planejamento dos efeitos da atuação do parque

científico e tecnológico precisaram ser rapidamente amplificados entre os parceiros. Desta

sorte, criaram-se fóruns de discussão e alinhou-se que os municípios da micro-região

representarão, com suas instituições de ensino e pesquisa, incubadoras, núcleos de inovação,

centros de pesquisa e desenvolvimento das empresas, entre outros espaços promotores de

empreendedorismo e inovação, um único habitat de inovação complexo, devendo, portanto,

integrar seus diferentes stakeholders e traçar políticas públicas específicas "influenciando as

políticas industrial, científica, tecnológica e de inovação vocacionadas ao desenvolvimento

local, regional e nacional" (GIUGLIANI, SELIG e SANTOS, 2012, p.57).

Assim, decorrente de trabalho interativo para diagnóstico inicial, identificaram-se fraquezas

no habitat complexo já existente e que deverão ser trabalhadas diante da complexificação dos

processos e dos indicadores de um Parque de Inovação. Entre essas fraquezas, destacaram-se

a falta de cultura para a inovação e a falta de capital humano especializado na área; a falta de

recursos financeiros adequados à sustentabilidade desejada para o novo empreendimento;

processos de gestão ainda ineficientes diante da dinâmica da inovação e, especialmente, a

"fuga de cérebros".

Neste aspecto, vale ressaltar que para ser inovadora uma cidade precisa ser criativa. Para

estimular a criatividade em pequenos municípios, acredita-se ser necessário reter talentos ao

criar estratégias de resistência ao apelo profissional e cultural dos grandes centros, assim

1

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6

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7

como atrair talentos oferecendo as vantagens e oportunidades que só as pequenas cidades

podem oferecer. Dessa forma, a presença do parque científico e tecnológico no município

certamente promoverá espaços para a manifestação da criatividade e sua materialização em

benefícios à comunidade, trazendo o melhor dos dois mundos e contribuindo para fixar os

talentos na região.

Como forças do habitat complexo, puderam ser identificados aspectos como o contexto

político atual favorável ao empreendedorismo e à inovação; pré-disposição e conhecimento

técnico dos parceiros iniciais para o empreendimento; localização geográfica da cidade;

parcerias já consolidadas e sinergia entre atores da Tríplice Hélice; mercado consumidor

aquecido; pré-existência de entidades de ensino e pesquisa e incubadora tecnológica

geograficamente agrupadas; grande disponibilização de área a ser ocupada por empresas e

laboratórios e infraestrutura inicial disponível. Estes dados foram importantes para os estudos

preliminares necessários ao planejamento do Parque, pois entendeu-se que, para que se possa

definir uma estratégia, é fundamental que se tenha o diagnóstico da situação presente, ou seja,

deve-se ter o pleno conhecimento do negócio. (SIQUEIRA e TELLES, 2008).

Para abordar os temas discutidos a partir do cenário acima descrito, convém definir o que se

compreende por Parque Tecnológico. Segundo a International Association of Science Parks –

IASP (2013, web):

Um Parque Tecnológico é uma organização gerida por profissionais especializados,

que tem como objetivo fundamental incrementar a riqueza da comunidade local,

promovendo a cultura da inovação e a competitividade das empresas associadas e

instituições baseadas em conhecimento. Para atingir tal fim, um Parque

Tecnológico estimula e administra o fluxo de conhecimento e de tecnologia entre as

universidades, instituições de pesquisa e desenvolvimento, empresas e o mercado;

facilita a criação e o desenvolvimento de empresas baseadas na inovação através da

incubação e processos de spin-off; e fornece outros serviços de valor agregado junto

com espaço físico e estrutura de alta qualidade.

Diante dessa definição, destacaram-se as primeiras questões a serem trabalhadas pelo grupo

de estudo: a identificação e preparação de profissionais e a identificação dos ativos de

conhecimento.

O Programa Inova@SC oportunizou capacitação de profissionais no Curso de Formação de

Gestores de Polos de Inovação e Clusters - GEPIC. Entre os estudos realizados, teve-se

experiência de benchmarking internacional pelo módulo de atividades realizado no Parque

Tecnológico de Barcelona, na Espanha, uma referência mundial em parque científico

tecnológico localizado em uma cidade inteligente.

A inserção de São Bento do Sul nessa formação levou em conta, novamente, os três atores

fundamentais aos processos inovativos e a equipe participante teve um representante das

empresas, um da prefeitura municipal e um das universidades. Dessa forma, foi oportunizada

a integração dos fluxos de conhecimento de cada eixo da Tríplice Hélice aos estudos iniciais

feitos sobre o modelo de parque a ser instalado na cidade.

De acordo com o Estudo sobre Parques Tecnológicos no Brasil, realizado pela Associação

Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), os parques tecnológicos são considerados

"alavancas para o desenvolvimento" e são definidos como "um modelo de concentração,

conexão, organização, articulação, implantação e promoção de empreendimentos inovadores

visando fortalecer este segmento dentro de uma perspectiva de globalização e

desenvolvimento sustentável" (ABDI-ANPROTEC, 2007, p.7). Assim, no que se refere ao

desafio assumido para o planejamento do Parque científico e tecnológico de São Bento do

Sul, levou-se em conta, essencialmente, a importância da definição de estratégias para que o

agrupamento inicial passasse a integrar ações direcionadas à região cujo efeito seja a

competitividade com sustentabilidade, alinhando-se ao desenvolvimento do Sistema Regional

de Inovação.

Nesse sentido, será necessário identificar e mapear os ativos de conhecimento presentes no

Sistema Regional de Inovação:

a) Universidades: conhecimentos na área das engenharias, sociais aplicadas, saúde;

construção de projetos; formação de “mentes de obra”, sistematização do

conhecimento, conhecimento novo, laboratórios de pesquisa e testes, especialistas e

pesquisadores, parcerias nacionais e internacionais.

b) Governo: políticas públicas, políticas de regulamentação e de incentivo; controles

fiscal e tributário, aporte de capital, gestão da educação básica e da saúde; gestão do

plano diretor do município.

c) Empresas: aparato tecnológico, capital, conhecimento tácito, conhecimento de

mercado, mão de obra e mentes de obra, laboratórios, agilidade, capacidade de

difusão da inovação (GEPIC, 2012).

Esse mapeamento permitirá que se saiba como o processo de criação de conhecimento poderá

ser sustentado, permitindo que o processo de interiorização da inovação seja efetivado de

forma eficiente e identificando como este conhecimento poderá gerar valor para o habitat de

inovação complexo (NONAKA E TAKEUCHI, 1997).

Por outro lado, para a implantação de um parque científico e tecnológico e manutenção de

uma lógica de concentração e expansão espacial, sabe-se ser preciso ir além da mera

observação e buscar conhecimento sistemático e aprofundado das redes de relações que

compõem o agrupamento e seu estágio de maturidade. Dessa forma, permite-se priorizar

ações a serem realizadas em conjunto com a comunidade a ser envolvida. Para isso, a

necessidade de sensibilização e ganho de confiança da comunidade da região instituiu-se

como outra etapa complexa a ser planejada para execução de forma contínua.

Nos estudos realizados no GEPIC, a equipe de São Bento do Sul identificou como pontos

fundamentais a comporem os planos de ação para estruturação da relação de confiança: a)

criação e manutenção de canais de comunicação abertos e integrados; b) instrumentos formais

adequados (contratos, termos de confidencialidade); c) estratégias de quebra-gelo (visitas,

cafés da manhã, viagens/trabalhos conjuntos); d) formação e capacitação; e) estímulo ao

relacionamento interpessoal; e f) estímulo ao comprometimento (valorização do capital

humano e intelectual, reconhecimento).

Já na perspectiva da gestão da inovação desejada, definiu-se um modelo geral de aplicação

dos processos de gestão para que o parque se configure como mediador da inovação junto aos

stakeholders. Entendeu-se que o modelo de Inovação Aberta (Open Innovation), proposto por

Chesbrough (2003), seria mais adequado do que outros modelos tradicionais.

Figura 3- Modelo da Inovação Aberta

Fonte: Chesbrough, 2003.

O conceito criado por Chesbrough (2003) se baseia especialmente no fato de que fontes

externas de conhecimentos e informações são fatores relevantes em atividades de inovação e

desenvolvimento de novos produtos, ou seja, se podem aplicar tecnologias de fora da empresa

para reduzir o custo e o risco e compartilhar os benefícios com outros. Os atores internos à

organização também são fonte importante de idéias. Enfim, a palavra-chave da Inovação

Aberta é colaboração, contrapondo-se ao modelo de Inovação Fechada, em que o controle é o

cerne.

Entre as vantagens percebidas no modelo de Inovação Aberta, destaca-se a redução de custos

para inovar. O modelo aberto permite que os usuários/clientes sejam envolvidos e contribuam

na geração de idéias para novos produtos, em testes finais de produtos e com suporte de

produtos aos usuários finais - tudo isso com um baixo custo para as empresas.

Outra vantagem do modelo é utilizar parcerias para a atividade de P&D a fim de empregá-la

em empresas ou atividades exteriores e levar à sociedade melhorias de forma mais rápida. A

mobilidade dos profissionais que integram as organizações é outra característica vantajosa

trazida pela Inovação Aberta. Seu caráter democrático e colaborativo no que se refere a

geração e implementação de ideias, tanto no sentido de dentro para fora quanto no de fora

para dentro da organização, amplia as formas de interação. No entanto, o caráter coletivo não

é suficiente para gerar melhores resultados, pois se a energia e a sabedoria de um grupo não

forem geridas da forma adequada, o seu potencial inovativo será perdido. Nesse aspecto, o

modelo de Inovação Aberta traz o desafio de transformação de ideias em produtos e serviços,

destacando-se aí a importância do gerenciamento de recursos, do controle de riscos e da

aprendizagem com as falhas. O papel das universidades fica evidenciado nesse modelo pela

oportunidade que sua parceria em projetos de inovação pode representar para as empresas e

outras instituições de pesquisa no sentido de "gastar menos e ganhar mais", um estímulo à

parceria universidade-empresa fundamental à configuração de parque e ao projeto de cidade

inteligente desejados.

Como já dito, o modelo do Parque Tecnológico de São Bento do Sul deve atender a uma

eficiência local e regional. Portanto, a aplicação de modelos abertos ao funcionamento do

parque traria ao habitat a flexibilidade necessária para lidar, de forma especial, com: 1) o

potencial colaborativo dos stakeholders; 2) o melhor aproveitamento de

recursos/competências externos internamente; e 3) a disseminação de recursos/competências

internos externamente. Assim, à medida que gera efeitos positivos na região de entorno,

apoiando a sustentação e a criação de atividades econômicas, o Parque científico e

tecnológico de São Bento do Sul deve gerar dinamismo entre agentes locais. O modelo

escolhido precisa ter potencial para gerar sociabilidade, enriquecer as relações humanas e

criar novas interações sociais, mas também precisa apoiar novas formas de ação para se

tornar, de fato, eficaz.

Ter uma governança instituída se torna primordial e especial desafio ao sucesso do Parque

Tecnológico de São Bento do Sul. A governança deve existir de forma bem instituída para

que a vantagem competitiva e a relação ganha-ganha sejam mantidas e para que haja "[...] 10.

formas e/ou condições estruturadas de absorção e de introdução de novas tecnologias; 11.

existência, passível de identificação e efetivamente praticada, de estratégia para competir

como cluster12

" (SIQUEIRA e TELLES, 2008, p. 182). A governança se torna fundamento

sine qua non do planejamento a ser construído Essa governança precisa estar baseada em

quatro linhas mestras:

A transparência, a prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa.

Para tanto, o conselho de administração deve exercer seu papel, estabelecendo

estratégias para a empresa, elegendo e destituindo o principal executivo, fiscalizando

e avaliando o desempenho da gestão e escolhendo a auditoria independente (IBGC,

2013, web).

Também torna-se essencial ao funcionamento do parque e ao projeto de cidade inteligente a

criação de políticas públicas consistentes para apoiar o trabalho dessa governança. A inovação

deve ser uma diretriz de Estado, suprapartidária, sistematizada e intermitente.

Diante das considerações realizadas nesta seção, os resultados iniciais dos trabalhos

realizados indicam nortes importantes ao processo de planejamento do Parque científico e

tecnológico: 1) definição de linhas mestras para planejamento integrado entre habitats pré-

existentes a partir da identificação dos ativos de conhecimento; 2) identificação de

necessidades e oportunidades para sinergia da Tríplice Hélice e destaque de suas potenciais

convergências para o ambiente de inovação; 3) identificação dos gargalos da sustentabilidade

do habitat complexo de inovação para busca de soluções; 4) identificação de estratégias para

desenvolver a cultura empreendedora na micro-região; 5) estudo dos gargalos de formação de

recursos humanos e 6) elaboração de políticas municipais integradas para incentivo ao

empreendedorismo e à inovação. Isto posto, parte-se para as considerações finais.

6. Considerações finais

Os estudos para o planejamento do Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul e as

ações para sua caracterização como cidade inovadora - e inteligente - estão longe de serem

concluídos, afinal a inovação é um processo dinâmico e assim se configura seu

desenvolvimento e sua gestão. No entanto, considera-se que os dados até então obtidos

oportunizarão base importante para efetiva aplicação do conhecimento ao modelo de gestão

do Parque, a ser estabelecido com os parceiros ainda em 2013. Sabe-se das limitações,

porém a criação de uma cidade com ecossistema propício à inovação teve seu início. Sabe-se

que o tempo urge e que os estudos e ações precisarão ser intensificados.

12

[...] neste caso como Parque científico e tecnológico, além de formar as necessárias Redes de

Inovação (observação nossa).

No Brasil, ao se tratar das barreiras para P&D&l, o Relatório da Unesco (2010) alerta para

três grandes problemas a serem superados: 1) intensificar a P&D empresarial por meio de

ambiente adequado e interação entre comunidades de pesquisa públicas e empresariais; 2)

internacionalizar as melhores universidades para que se tornem centros de excelência em

nível mundial; 3) ampliar as fronteiras da excelência científica para além da região sudeste e

grandes centros. Logo, acredita-se que o Parque Tecnológico de São Bento do Sul e os demais

habitats complexos de inovação disseminados pelo estado de Santa Catarina contribuirão na

busca da superação de todas estas barreiras, em especial à última, pois fortalece a importância

do processo de interiorização da inovação iniciado, principal motivo desta discussão. Os

frutos desse processo podem não ser colhidos plenamente na gestão pública ou privada da

próxima década, ou até mesmo não serão aproveitados em sua totalidade pelas próximas

gerações de empreendedores, no entanto, tem-se a certeza de que o já realizado implicará na

responsabilidade pela sua continuidade, tornando-se, portanto, relevante na conquista da

cidade inteligente almejada.

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