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A LEITURA COMO FUNÇÃO LIBERTADORA DA ESTAGNAÇÃO CULTURAL E
POLÍTICA A PARTIR DO GÊNERO PERFIL
Autora: Lucimara Guizellini 1
Orientadora: Marinês Lonardoni 2
RESUMO A sociedade contemporânea passa por uma fase de transição, principalmente após o advento da Internet e dos inúmeros aplicativos com as utilidades oferecidas pelas redes. Isso requer mudanças, tanto no sistema educacional como em todos os setores da atividade humana. Como o acesso ao aprendizado da leitura tem sido um dos múltiplos desafios da escola, este artigo apresenta resultados de atividades em que a leitura foi utilizada como ferramenta de aprendizagem, diversão, trabalho e desenvolvimento pessoal a partir dos estudos dos gêneros textuais, especificamente o gênero perfil. Nesse sentido, o trabalho teve como principal objetivo propiciar aos educandos o acesso a uma gama de textos, a fim de conscientizá-los sobre a importância de se perceber a intencionalidade e os recursos linguísticos presentes em cada um deles. Tal atividade desenvolveu-se sob um processo de leitura que propiciou aos alunos subsídios para a descoberta do que estava implícito nas entrelinhas dos textos através das várias possibilidades de leitura que um mesmo texto traz. Para tanto, foram realizadas leituras do perfil de pessoas famosas da atualidade e do interesse da clientela; leitura e análise de um filme; construção coletiva do perfil da turma e, para finalizar, produção individual dos alunos, criando seus próprios perfis. Como resultado, esse material procurou contribuir para que a escola se tornasse um espaço diferente para o educando, onde as práticas de linguagem incentivassem a formação de jovens leitores, rumo a uma conquista de autonomia, cientes de que toda palavra está carregada de conteúdo ideológico. Pode-se dizer, portanto, que os alunos que antes não se sentiam motivados a ler, após o trabalho com o gênero perfil, demonstraram interesse e prontidão para realizar leituras que os ajudem a tomar consciência de sua realidade, no sentido de inteirar-se do mundo em que vivem e dar sentido a ele. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; leitor; gêneros textuais; perfil; autonomia.
1 Professora de Língua Portuguesa com Pós- graduação em Linguística (Universidades TUIUTI –
Curitiba/PR) e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2011 2 Professora de Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Maringá (UEM) com Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP- Campus de Araraquara – SP
READING AS A LIBERATOR OF CULTURAL AND POLITICAL STAGNATION FROM GENDER PROFILE
Author: Lucimara Guizellini
Advisor: Marinês Lonardoni ABSTRACT The contemporary society is going through a transition phase, especially after the advent of the Internet and the many applications offered by the utilities networks. This requires changes both in education and in all sectors of human activity. As the access to learning to read has been one of the many challenges of school, this article presents the results of activities in which reading was used as a tool for learning, entertainment, business and personal development from studies of textual genre, specifically the genus profile. In this sense, the work aimed to provide the student access to a range of texts in order to make them aware of the importance to realize the intent and language resources are present in each. This activity was developed under a process of reading that students provided subsidies for the discovery of what was implied between the lines of text through the various possibilities of reading the same text that brings. For this purpose, readings were taken from the profile of famous people of today and in the interest of customers, reading and analysis of a film, a collective profile of the class and, finally, production of individual students, create their own profiles. As a result, the material sought to help the school became a different space for the learner, where the language practices that would encourage the training of young readers toward an achievement of autonomy, believing that every word is loaded with ideological content. One can therefore say that students who previously did not feel motivated to read after work with the gender profile, expressed interest and readiness to perform readings that help them become aware of their reality, to learn about the world they live in and make sense of it. KEYWORDS: Reading; reader; text genres; profile; autonomy.
INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta a pesquisa realizada no Projeto de Intervenção
Pedagógica, bem como relata o desenvolvimento das Ações de Implementação
propostas na Produção Didático-Pedagógica do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional). A implementação foi elaborada com a intenção de
trabalhar o ensino-aprendizagem da leitura com os alunos da 8ª série (9º Ano) do
Ensino Fundamental da Escola Estadual “São Vicente Pallotti” – Ensino
Fundamental, da cidade de Mandaguari.
Um trabalho com o ensino-aprendizagem da leitura ainda se faz necessário
porque, por mais que a escola brasileira tenha seus problemas, ela representa um
enorme diferencial para quem consegue permanecer nela por mais tempo, tanto na
capacidade de produzir variados gêneros textuais quanto na prática da leitura.
Segundo Solé (2008, p.32), a aquisição da leitura é imprescindível para agir com
autonomia nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas
pessoas que não conseguiram realizar essa aprendizagem. Nesse sentido, verifica-
se que os educadores exercem uma influência decisiva no que se refere às práticas
leitoras de seus educandos: podem ouvir o que eles pensam, conhecer suas
histórias de vida e juízos de valores e procurar garantir que todos eles,
independentemente da classe social a que pertençam, conheçam e experimentem
as diferentes manifestações culturais (sites, revistas, jornais, livros, entre
outras). A esse respeito, Silva (1996 p. 42-45) recomenda: para que haja mudanças
significativas no ensino, é fundamental que a escola constitua-se ‘no lugar
estratégico e mudança o sistema escolar’, na medida em que este é o local onde se
concretiza o que é planejado globalmente para o ensino-aprendizagem.
Para tanto, o Projeto de Intervenção Pedagógica foi elaborado para
contribuir com a escola no sentido de oportunizar, para o educando, a aquisição um
conjunto de informações, a fim de que o conhecimento seja construído por esse
aluno numa perspectiva transformadora e inovadora. Ou seja, onde os fazeres e
práticas pedagógicas não estejam centradas nas questões individuais, mas sim, nas
questões coletivas, envolvendo todos os profissionais da escola, pois saber
interpretar o que lê, é necessário em todas as disciplinas. Nesse contexto, Kleiman
(2004) declara que o papel do professor é criar oportunidades para o
desenvolvimento e controle dos processos cognitivos dos alunos como passos
certos no caminho que leva à formação de um leitor que percebe relações, e que
forma relações com um contexto maior, que descobre e infere informações e
significados mediante estratégias cada vez mais flexíveis e originais (p.10). Por isso,
embora na escola o jovem precisa fazer certas leituras obrigatórias, deve também
ser incentivado a fazer suas próprias escolhas, identificar seu gosto, suas
preferências, com base em sua vivência dentro e fora do ambiente escolar.
Mediante aos aspectos arrolados e frente a uma realidade de alunos de 8ª
série composta por uma clientela difícil, que não queria ler e, quando lia, eram textos
curtos, de fácil entendimento, optou-se por escolher o gênero perfil como tentativa
de resgatar nos alunos o gosto pela leitura. Esse gênero foi ao encontro das
limitações linguísticas dos educandos, além de despertar neles o prazer por leituras
a respeito de informações sobre celebridades da atualidade. Assim, o objetivo do
trabalho foi o de realizar diferentes atividades leitoras como ferramenta de
aprendizagem a partir do estudo de gêneros textuais, especificamente o gênero
perfil.
Para a realização das Ações de Implementação planejadas na Produção
Didático-Pedagógica, tomou-se como suporte teórico, no que se refere à leitura, os
postulados da Psicolinguística, como Solé (2008) e Kleiman (2004) e Bakhtin (1992)
e Marcuschi (2005), como apoio no que se refere à teoria de gêneros textuais. A
aplicação das atividades envolveu: respostas a questionários com a finalidade de
levantar dados estatísticos para averiguar o nível de leitura dos alunos e seus
hábitos de leitura, com o intuito de desenvolver o hábito da leitura nesses alunos;
leituras diversificadas a respeito do perfil de famosos da atualidade, descoberta e
levantamento das características comuns entre os perfis lidos, leitura e análise do
filme “Homens de Honra”; construção coletiva do perfil da turma e, por último, a
produção pessoal de seus perfis. Tratou-se, portanto, de desenvolver nos alunos
uma atitude responsiva diante dos textos lidos.
Nesse sentido, as atividades aqui relatadas visaram a propiciar ao aluno o
acesso a textos em diferentes esferas sociais, com o intuito de oferecer momentos
de leituras significativas que desenvolvessem o senso crítico desses alunos, a fim de
que fossem capazes de perceber as várias possibilidades de leitura que um mesmo
texto traz. Isso, tendo em vista o que propõem as Diretrizes Curriculares da
Educação Básica (2008), ao afirmarem: sabemos que é importante ter claro que
quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais
possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de
mundo. E acrescentam: sabemos ainda, que a prática de leitura em diferentes
contextos, requer compreensão das esferas discursivas em que os textos são
produzidos e circulam (p.53). Desse modo, a leitura como prática cultural poderá
estar mais diretamente ligada à escolaridade, embora ela também ocorra fora dela.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA :
A ESCOLA COMO FORMADORA DE OPINIÃO
A sociedade passa por uma fase de transição, e isso requer mudanças, tanto
no sistema educacional como em todos os setores da atividade humana. Faz-se
necessário, portanto, frente a esse novo conjunto de desafios postos pela sociedade
contemporânea, conhecer o mundo do aluno, a sua forma original de ser e de agir, a
linguagem por ele utilizada, os valores de seu grupo social, as expectativas que ele
tem em relação à escola, o seu universo cultural para que, de fato, a intervenção
pedagógica seja resposta ao aluno concreto, e não parta de uma abstração, de uma
fantasia.
Desse modo, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(2008), a escola tem um papel muito importante no desenvolvimento dessas ações.
É sua função, como instituição social, possibilitar aos educandos o acesso aos bens
culturais, científicos e tecnológicos da sociedade, pois é na escola que o aluno
deveria encontrar o espaço para as práticas de linguagem(s) que lhe possibilitem
interagir nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instâncias públicas
e privadas. Mediante a isso, o documento acrescenta:
É nessa dimensão dialógica, discursiva que a leitura deve ser
experienciada, desde a alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais
e das ideologias presentes no discurso, ajudam na construção de sentido de
um texto e na compreensão das relações de poder a ele inerentes (p. 57).
Ou seja, a escola é uma organização dotada de responsabilidades e
particularidades que dizem respeito à formação humana por meio de práticas
pedagógicas, sociais e políticas. E, nesse contexto escolar, o estudante aprende a
ter voz e fazer uso da palavra em uma sociedade que se diz “democrática”.
É também nesse contexto que, segundo o Ministério da Educação e Cultura -
MEC (2008), se define o papel da escola:
A instituição escola pública, criada para ser espaço de formação dos
dirigentes da sociedade, tornou-se hoje o local universal de formação de
homens e de mulheres, abrigando no mesmo espaço seres humanos em
processo de vir a ser. Estamos no mundo e por isso nossas ações o
atingem e, a partir disso, construímos nossa educação. [....] as práticas e
ações que organizam a escola, devem ser eminentemente educativas, de
forma a atingir os objetivos da instituição: formar sujeitos participativos,
críticos e criativos (p.23).
Foi pensando em formar esses “sujeitos” participativos, críticos, criativos e,
entendendo a educação como processo de criação, inovação e apropriação da
cultura, historicamente produzida e acumulada pela humanidade, que o Projeto de
Intervenção Pedagógica foi elaborado, a fim de que a escola seja, de fato, para os
estudantes, um espaço privilegiado de produção e de transformação do saber
sistematizado. Ao ler, o indivíduo reelabora suas experiências, ativa seus
conhecimentos prévios a partir de sua formação familiar, religiosa, cultural, mas
também abre seu leque de informações e tem acesso aos “bens” historicamente
construídos, enfim, abre-se às várias vozes que o constituem. A esse respeito, Silva
(2005) assevera que:
[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão,
pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas
obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto
às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa,
democrática e feliz (p. 24).
Nesse sentido, para que houvesse a efetivação desse projeto, com eficiência
e eficácia, foi fundamental considerar, na escola, os espaços de formação de todos
que trabalham, criam, brincam, sonham e estudam, de todos aqueles que dela
fazem parte.
A LEITURA E SEU PROCESSO
A leitura, segundo Menegassi (1995), é um processo que envolve algumas
habilidades, entre as quais estão a compreensão e a interpretação do texto.
Segundo o autor, o processo inicia-se pelo reconhecimento das palavras impressas,
o que pode ocorrer sílaba por sílaba, palavra por palavra, conjuntos de palavras ou
captação de frases inteiras. Esse processo recebe o nome de decodificação. Após a
esse reconhecimento, passa-se à etapa da compreensão, momento em que o leitor
apreende as ideias propostas pelo autor, ou seja, o leitor busca o significado do que
lê nas informações contidas no texto. A terceira etapa, é a interpretação nela, o
leitor incorpora às informações do texto o seu conhecimento prévio e faz inferências,
juízo de valor. Nessa etapa, ocorre, pois, uma junção do que é explícito no texto com
o que está implícito, mas que o leito é capaz de reconhecer porque possui
conhecimentos exteriores e anteriores que possibilitam tal ação. Um leitor sem
conhecimentos prévios e/ou com baixo índice deles, terá dificuldades em interpretar
os textos que circulam socialmente. O último passo no processo de leitura será o da
retenção das ideias e informações mais relevantes do texto e, quando necessário, a
reprodução das ideias de modo pessoal, o que confirma a compreensão e a
interpretação. Menegassi (1995), deixa isso claro no seguinte trecho quando
escreve que:
O simples reconhecimento de letras e sua ligação com significados não
implica em leitura. Muitas vezes a decodificação não ultrapassa um nível
primário de simples identificação visual. [...] A decodificação para ser
considerada como uma etapa no processo de leitura, deve ser aliada à
compreensão, iniciando o processo de apreensão de significados.
Decodificação mal feita implica compreensão mal sucedida (p.87).
Mas, como declara Martins (2003),
Com frequência nos contentamos, por economia ou por preguiça, em ler
superficialmente... Não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além
do gesto mecânico de decifrar os sinais. Sobretudo se esses sinais não se
ligam de imediato a uma experiência, uma fantasia, uma necessidade nossa
(p. 9).
Nesse sentido, é interessante observar como se dá o mecanismo do processo
do ato de ler, uma vez que a leitura não é simplesmente um deslizar dos olhos pelas
letras impressas. À semelhança de um atleta em movimento, que busca apoio no
chão para impulsionar-se para a frente, da mesma forma os olhos só conseguem
captar com clareza algo quando se fixam em algum ponto. Em outros termos,
existem movimentos de saltos e fixações. Quando o olho salta, ele permanece
cego, nada vê. Quando se fixa, consegue ver. O leitor reage assim ao ler algo que
não lhe interessa no momento. E, conforme declara a autora, quando não há nada
além do gesto mecânico de decifrar os sinais, fica quase impossível dar sentido ao
que se lê.
No entanto, do ponto de vista de Solé (2008), uma atividade de leitura será
motivadora para alguém se o conteúdo estiver ligado aos interesses da pessoa que
vai ler para que, então, consiga retirar as ideias principais do texto lido, a sua
temática, as informações contidas nele. A esse respeito, a autora assevera que:
Compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes
intenções e objetivos contribui de forma decisiva para a autonomia das
pessoas, na medida em que a leitura é um instrumento necessário para que
nos manejemos com certas garantias em uma sociedade letrada (p.18).
Para que a compreensão e a interpretação não sejam limitadas, o leitor deve
estar atento às várias possibilidades de leitura que um mesmo texto traz, expandir
seus conceitos, começar a deixar o texto e, assim, buscar novas informações a partir
do que não está explícito nele. Vale ressaltar que, para alguém se envolver em uma
atividade de leitura, é necessário que sinta que é capaz de ler, de entender o texto
que tem em mãos, ainda que para isso precise da ajuda de outras pessoas mais
experientes.
LEITURA E GÊNEROS TEXTUAIS
No processo de ensino-aprendizagem, é importante o professor ter claro que
quanto maior for o contato do aluno com a linguagem, nas diferentes esferas sociais,
mais possibilidades ele terá de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e as
ideologias nele presentes. Nesse sentido, a língua constitui um processo de
evolução ininterrupto, que se realiza através da interação verbal social dos locutores
(BAKHTIN, 1999, p.127). Isso quer dizer que a língua não vem pronta para ser
usada. Ela se faz a partir da comunicação verbal e do contexto de produção do
enunciado, uma vez que os seus significados são sociais e historicamente
construídos. Segundo o raciocínio do autor, é a palavra que constitui o produto de
interação entre locutor e interlocutor, pois as palavras estão carregadas de conteúdo
ideológico, elas são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de
trama a todas as relações sociais em todos os domínios (Idem, p.41).
Desse modo, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação (2008), é
preciso propiciar ao educando a prática, a discussão, a leitura de diferentes textos
(jornalísticos, literários, publicitários, digitais, midiáticos etc.). Sob essa perspectiva,
o ensino visa aprimorar conhecimentos linguísticos e discursivos, a fim de que os
alunos possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de
interagir com esses discursos. Além disso, declaram que [...] as práticas discursivas
abrangem, além dos textos escritos e falados, a integração da linguagem verbal
com outras linguagens (multiletramentos) (p.50). Dessa forma, o sujeito vai se
constituindo discursivamente por enunciados heterogêneos, que emergem da
multidão das vozes sociais. Por isso, as manifestações comunicativas não
acontecem com elementos linguísticos isolados, mas como discurso.
Nesse sentido, o aprimoramento dessa competência linguística do educando
será mais eficaz se lhe for dado conhecer o caráter dinâmico dos gêneros
discursivos. Ainda segundo as Diretrizes, o trabalho com os gêneros, portanto,
deverá levar em conta que a língua é um instrumento de poder e que o acesso ao
poder, ou sua crítica, é legítimo e é direito para todos os cidadãos (p. 53).
Para Bakhtin (1992), os tipos relativamente estáveis de enunciados são
denominados gêneros discursivos. E, por estarem inseridos em diversas esferas
sociais, os gêneros não são conservadores, mas estão em contínua transformação.
Variam como a língua. Ou seja, o gênero sempre é e não é o mesmo, sempre é novo
e velho ao mesmo tempo – O gênero renasce e se renova em cada nova etapa do
desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de um dado gênero. Nisto
consiste a vida (p.91).
A visão bakhtiniana de gêneros discursivos é a de que tudo o que o falante
comunica só se torna possível através de gêneros textuais específicos. Para o autor,
o gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada
linguagem, um certo modo de organizar ideias, meios e recursos expressivos,
contribuindo para a comunicação. Os gêneros são produtos da cultura de
determinada sociedade, constituídos por certos conteúdos e, além de forma e estilo
próprios, apresentam funções sociais específicas. Tornam-se, desse modo, modelos
comunicativos que permitem a interação social.
Há uma heterogeneidade de gêneros do discurso (orais e escritos) e, visando
minimizar essa heterogeneidade, Bakhtin estabelece uma organização dos gêneros
em primários (simples – ideologia do cotidiano) e secundários (complexos – esferas
ideológicas constituídas). São exemplos de gêneros primários: diálogos cotidianos,
listas de compras, cartas, bilhetes, entre outros, que circulam na esfera privada,
próprios de comunicações espontâneas do dia-a-dia. Já os gêneros secundários
têm como exemplos o romance, a peça teatral, artigos e pesquisas científicas de
toda espécie, ensaios filosóficos, os grandes gêneros publicitários, dentre outros.
São elaborações da comunicação cultural organizada em sistemas específicos como
a ciência, a arte, a política. Eles são caracterizados como aqueles que surgem de
um convívio social mais complexo e relativamente muito desenvolvido, organizado e
elaborado.
Durante a sua formação, os gêneros secundários, conforme assevera Bakhtin
(1992), eles incorporam, reelaboram e alteram os gêneros primários (característica
da hibridização). Os gêneros primários, por sua vez, transformam-se dentro dos
gêneros secundários, adquirindo características particulares e perdendo a relação
direta com a realidade. Dessa forma, uma carta pessoal inserida em um romance
não é mais uma carta pessoal, mas parte do romance. Da mesma forma, um diálogo
familiar incluído em uma propaganda, não é mais um diálogo, mas parte de uma
propaganda.
Portanto, há uma interdependência dos gêneros. Os gêneros discursivos
secundários absorvem e digerem os primários, transformando-os. Mas existem
casos em que os primários são influenciados pelos secundários. Então, um texto
pode passar de um gênero para outro quando for colocado em outro contexto, ou
seja, em outra esfera de atividade.
Seguindo a teoria de Bakhtin, pode-se dizer que a língua está associada à
sua utilização e acontece em forma de enunciados, sejam eles orais e/ou escritos.
Ao considerar o enunciado como um produto da interação verbal, as palavras são
definidas a partir das trocas sociais dos membros de cada grupo ou esfera social.
Como os gêneros são determinados a partir das atividades da comunidade, a
variedade dos gêneros do discurso é infindável, já que as atividades humanas são
inesgotáveis. Assim, a diversidade de atividades sociais leva a uma diversidade de
produções da linguagem.
O GÊNERO PERFIL E SUAS CARACTERÍSTICAS
Há mais de um século, perfis têm aparecido, ocasionalmente, em periódicos.
Porém, foi a partir da década de 1930 que jornais e revistas começaram a publicá-
los. No início, os personagens mais retratados eram os olimpianos do mundo das
artes, da política, dos esportes e dos negócios. De acordo com a Revista “Especial
Biblioteca EntreLivros” (2009), retirava-se da matéria alguns “episódios” da vida da
pessoa para que sua personalidade, comportamento e valores pudessem ser
compreendidos em um contexto maior.
Para essa revista, o time de bons autores de perfis é enorme. É o caso de
Lincoln Barnett, Joseph Mitchell, Janet Flanner, Lilian Ross, Calvin Trillin, Susan
Orlean, David Remnick, John McPhee e muitos outros. Na década de 1960, período
áureo do Jornalismo Literário, vários praticantes do New Journalism, como o versátil
Gay Talese, honraram esse gênero.
Os perfis se tornaram marca registrada de revistas norte-americanas, como
The New Yorker, Esquire, Vanity Fair, Harper’s e Atlantic, entre outras. No Brasil, O
Cruzeiro e Realismo também valorizaram esse brilhante período do gênero perfil.
Mas foi a New Yorker (fundada em 1925) que ficou com o crédito de “principal
difusora”, talvez pelo espaço que até hoje tem reservado aos perfis.
Sodré (1986), ao comentar sobre o gênero perfil, declara:
Há muitas maneiras de escrever uma história, mas nenhuma pode prescindir de personagens. Também são inúmeras as formas de apresentá-los, caracterizá-los ou fazer com que atuem. De qualquer modo, existe sempre um momento na narrativa em que a ação se interrompe para dar lugar à descrição (interior ou exterior) de um personagem. É quando o narrador faz o que, em jornalismo, convencionou-se chamar de perfil (p. 125).
Como é possível observar, o gênero perfil surgiu do jornalismo e hoje está
presente em outras áreas, principalmente na internet, na ferramenta Orkut. Embora
muitos o utilizem, necessita de caracterização específica. Nesse sentido, Bronckart
(2007) vem contribuir, declarando que
Na medida em que as características linguísticas do perfil são idênticas e observáveis nas descrições incluídas nos relatos ou nas narrações, consideramos simplesmente que esse gênero é inteiramente constituído de uma sequência descritiva desligada (mais ou menos artificial) de seu quadro narrativo natural (p. 245).
Além disso, o perfil é um gênero textual biográfico sobre uma pessoa, uma
única pessoa, famosa ou não, mas viva, de preferência. Segundo a Revista
“Especial Biblioteca EntreLivros” (2009, p.1), texto biográfico não significa
exatamente biografia, que é outro gênero. A biografia é uma composição super
detalhada de vários textos biográficos. [...] O autor de um perfil se concentra em
apenas alguns aspectos da personagem central. Caracterizado, então, como uma
“sequência descritiva”, o perfil aponta para traços, características e aspectos
predominantes da personalidade da pessoa em foco.
Mediante o exposto, ao invés de formular hipóteses, o texto-perfil implica em
entrar no mundo da pessoa, sem preconceitos, frequentar os lugares que ela
frequenta, e não ficar preso a abstrações (dados curriculares, números,
performances). Ou seja, o escritor deve acompanhar a rotina diária de quem fará o
perfil para conhecer não apenas suas fraquezas, mas também suas grandezas.
Por isso, Sodré (1986), assevera que
[...] perfil significa enfoque na pessoa – seja uma celebridade, seja um tipo popular, mas sempre o focalizado é o protagonista de uma história: sua própria vida. Diante desse herói (ou anti-herói), o repórter tem, via de regra, dois tipos de comportamento: ou mantém-se distante, deixando que o
focalizado se pronuncie, ou compartilha com ele um determinado momento e passa ao leitor essa experiência (p. 126).
Esse personagem – a pessoa a receber tal enfoque – a ser retratado,
normalmente é uma figura eminente, de alguma relevância social. Mas, mesmo
quando isso ocorre, é importantíssimo não idealizar ninguém, até porque, depois da
publicação do texto, o perfilado pode alterar seus conceitos, opiniões, atitudes e
estilos, dependendo das mudanças ocorridas em sua vida.
Considerando esses aspectos, o Jornal “Observatório da Imprensa” (2011),
apresenta três características que solidificam o gênero perfil: a pauta/entrevista, a
construção da personagem e a elaboração do perfil. E declara que, apesar de ainda
ser conceituada por muitos estudiosos como técnica jornalística, a entrevista
constitui uma etapa fundamental na elaboração de um perfil (p.1).
Ainda segundo o Observatório, dependendo da sua realização e
circunstância, a entrevista pode ser classificada por variados critérios e tipos:
ocasional (o entrevistado é questionado inesperadamente); confronto (é o tipo de
entrevista mais comum, em que as perguntas são “delicadas” (embaraçosas),
gerando constrangimento aos métodos de apuração da mídia); coletiva (quando uma
personalidade informa um fato singular a repórteres de diversos veículos de
comunicação); dialogal (é a entrevista no sentido mais conhecido da palavra, sem
script, as perguntas são marcadas pelo diálogo - é a entrevista esperada no caso
dos perfis).
No que se refere à construção da personagem, de acordo com o jornal acima
citado, ela pode ser plana - quando é construída em torno de uma ideia ou fato,
seguindo quase sempre uma trajetória linear - ou redonda -quando permite a
construção de um indivíduo bem marcado, complexo, considerando seus medos,
traumas e dificuldades. Desse modo, elaborar um perfil é algo muito delicado; há de
se observar que o homem vive rodeado por pessoas e acontecimentos recebendo
deles inúmeras influências e agindo de forma diferente segundo as situações
(OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, 2011, p.2).
O fato é que, segundo a Revista “Especial Biblioteca EntreLivros” ( 2009,
p.3), não existe perfil de cidade, perfil de bairro, perfil de um edifício, perfil de época.
Perfil só pode ser de um ser humano, alguém com um potencial singular. Por isso,
quando prima pela humanização, com tudo o que isso implica, o texto-perfil é
irresistível. E mais: se a individualidade fosse banida do mundo e os humanos não
passassem de robôs programáveis, sem estilo nem identidade, o gênero perfil
simplesmente não existiria (p.1).
Segundo a revista, é possível verificar que os perfis são mais atraentes
quando geram reflexões sobre aspectos universais da existência, como amizade,
frustração, perda, coragem, solidariedade, separação, derrota, expectativa, vitória.
Eles só podem elucidar, indagar, apreciar a vida num dado instante, de um ser vivo;
pois sobre um morto, tudo é possível. Já morreu mesmo. Sobre um vivo, não. E é
exatamente aí (na vida presente) que reside a arte do perfil – arte no sentido de um
fazer tal que quando faz, altera o fazer, pois não é uma fórmula (p. 2). Assim, os
perfis cumprem o papel importante de observar as linguagens verbais e não-
verbais da pessoa, a fim de examinar atentamente as experiências que ela lhe
oferece sobre o passado, mas também, e principalmente, sobre a fase atual.
Também de acordo com a Revista “Especial Biblioteca EntreLivros” (2009),
outro aspecto a ser considerado é o modo de construção do texto. Ou seja, o
profissional que vai escrever o gênero perfil deve ser conciso, evitando sempre a
prolixidade; porque o homem moderno é apressado, preocupado, não dispõe de
muito tempo para se dedicar à leitura de jornais e revistas. E, como há um público
variado de leitores, a redação deve ser simples e clara na construção das frases,
com um vocabulário em que as palavras sejam as mais usuais possíveis.
O TRABALHO COM OS GÊNEROS EM SALA DE AULA
Após a reflexão sobre os gêneros, pode-se afirmar que cada gênero
discursivo tem suas peculiaridades: a composição, a estrutura e o estilo, que variam
mediante seu conceito e definição.
Assim, ao se pensar um trabalho com gêneros textuais em sala de aula, o
professor deverá ter em mente que esses aspectos deverão ficar bem claros na
mente do educando para que possa, efetivamente, lê-los, compreendê-los e produzir
seus próprios textos a partir do reconhecimento de cada um dos gêneros (e suas
respectivas estruturas) em circulação na sociedade. Além disso, as marcas
linguísticas também deverão ser trabalhadas, para que o aluno compreenda os usos
da língua e os sentidos estabelecidos pela escolha de um ou de outro elemento
linguístico. Dessa maneira, Marcuschi (2005), declara que quando dominamos um
gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar
linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares (p.29).
Do ponto de vista do autor, não basta uma produção adequada do gênero,
mas também um uso adequado. Para tanto, ele aponta os seguintes aspectos:
natureza de informação ou do conteúdo veiculado;
nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc);
tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira,
solene etc);
relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação etc);
natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas (p. 34).
Marcuschi (2005) ainda enfatiza que os gêneros não são entidades naturais
como as borboletas, as pedras, os rios e as estrelas, mas são artefatos culturais
construídos historicamente pelo ser humano (p.30).
DESENVOLVIMENTO
O Projeto de Implementação Pedagógica foi realizado em uma turma do
período noturno, 8ª série, em um total de 32 horas, distribuídas em 8 semanas. A
turma em questão é proveniente de um nível sócio-econômico-cultural baixo e quase
todos moram nos arredores da cidade, em bairros onde não há esgoto nem asfalto,
com ruas mal iluminadas, o que favorece a criminalidade, como tráfico e uso de
drogas, roubos, assaltos, brigas de rua e até homicídios. Alguns desses crimes
fazem parte do currículo de muitos dos alunos em questão. Poucos vivem em um lar
estruturado, com pai, mãe e irmãos morando na mesma casa, com a figura paterna
“forte” como chefe e provedor da família - aquele pai que ama, educa, coloca limites,
dá uma religião e oferece uma moradia adequada. Ou seja, que esteja de acordo
com os padrões mínimos de exigência estabelecidos. A grande maioria desses
alunos não tinha acesso nem interesse em desenvolver o hábito da leitura.
Foi, por levar em conta esses aspectos, que o título do projeto foi “A leitura
como libertadora da estagnação cultural e política a partir do gênero perfil”, pois
sabe-se que não é possível a escrita de qualquer gênero textual sem, antes, o
escritor/leitor saber ler, isto é, só é possível pensar em um futuro escritor, se este for
um leitor e, de preferência, competente.
Do mesmo modo, não se aprende a ler do nada, sem disciplina e certa
orientação. Por isso, de acordo com SOLÉ (2008), aprender a ler significa aprender
a encontrar sentido e interesse na leitura. Significa aprender a se considerar
competente para a realização de tarefas de leitura e a sentir a experiência emocional
gratificante da aprendizagem. E a autora acrescenta: aprender a ler também
significa aprender a ser ativo ante a leitura, ter objetivos para ela, se auto interrogar
sobre a própria compreensão (p.172).
Foi com esse objetivo que se colocou em prática os procedimentos para
trabalhar as propostas das Ações de Implementação desenvolvidas na Produção
Didático-Pedagógica.
Nesse sentido, a primeira atividade realizada foi averiguar o nível de leitura da
turma, isto é, os hábitos de leitura e algumas das situações que envolvem o ato de
ler. Para tanto, realizou-se o seguinte questionamento oral:
O que vocês costumam ler;
Com que frequência realizam suas leituras;
Vocês gostam de ler;
Seus pais/irmãos leem;
Em que lugar realizam suas leituras;
Vocês conseguem se concentrar e compreender o que leem?
Na primeira questão, os alunos responderam que leem mensagens no celular,
textos na web, recados no e-mail, orkut e face-book, revista de fofocas, horóscopo,
livros da escola, bíblia, livros de romance, revistas em quadrinhos e jornais. Com
relação à frequência com que leem, uns poucos disseram que leem diariamente e o
restante, que lê duas ou três vezes por semana.
Ao serem questionados se gostam de ler, alguns afirmaram que sim, contudo,
outros responderam que não muito. Já no que se refere ao item se pais/irmãos
utilizam a leitura como fonte de informação e instrução, responderam que
geralmente leem receitas, placas, guias rodoviários, panfletos, bulas de remédio;
apenas alguns têm acesso a jornais, revistas e textos na internet. Referente ao lugar
que costumam ler, vários foram os locais mencionados, como na “lanhouse”, no
quarto, na empresa, no carro e na escola. E, com relação à última pergunta, eles
falaram que na maioria das vezes conseguem se concentrar e compreender o que
leem, mas isso só acontece em relação àquelas leituras que fazem por escolha
própria.
Verificados os hábitos de leitura da turma, partiu-se para um segundo passo,
que foi o de criar, nos alunos, alguns hábitos de leitura. Para que esses hábitos
fossem incorporados nos alunos da 8ª série, ao ponto que cada um deles pudesse
se tornar um sujeito-leitor. Primeiramente, foi dito a eles que toda formação de
hábitos requer disposição, determinação e disciplina pessoais. Assim como andar de
bicicleta ou nadar não se aprende teoricamente, mas andando ou nadando. Da
mesma forma, ler se aprende lendo. Para que isso aconteça, alguns fatores são
necessários. Um dos elementos a ser considerado na formação desse hábito é o
tempo. Para quem julga não ter tempo para ler, “tempo é questão de preferência”.
Para namorar, ver um filme, passear, assistir a televisão sempre se acha tempo. Do
mesmo modo, quem quer ler encontrará tempo. De que maneira? Uma alternativa é
cronometrar o tempo gasto nas diversas ocupações da rotina diária. Para testar
como esses alunos estavam utilizando o seu tempo, foi aplicado o seguinte
questionário:
Distribuição de tempo e relações sociais durante a leitura:
1) As horas parecem curtas para concentrar-me ou sentir-me com vontade de
ler?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
2) Meu tempo não está bem distribuído ? Dedico muito tempo para algumas
coisas e pouco para outras ?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
3) Minhas horas de leitura são interrompidas por telefonemas, visitas e barulhos
que me distraem ?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
4) Tenho dificuldades em concluir a leitura de um livro no prazo certo, por isso
fica por terminar ou mal feito ou em atraso ?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
5) Não consigo compreender sozinha, preciso da ajuda de alguém?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
6) ) Antes de perguntar aos outros, procuro entender o que li?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
7 ) Gosto muito de “ficar sem fazer nada”?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
8) Ocupo muito do meu tempo vendo TV , no computador, ou dormindo ?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
9) Minha vida social é muito intensa : festas, passeios e encontros ?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
Respondida estas questões, individualmente, chegou-se ao seguinte resultado:
DISTRIBUIÇÃO DE TEMPO E RELAÇÕES SOCIAIS DURANTE A LEITURA
Perguntas Sim Não
Às
vezes
1 12% 29% 59%
2 41% 18% 41%
3 42% 29% 29%
4 29% 18% 53%
5 47% 24% 29%
6 64% 18% 18%
7 64% 29% 7%
8 64% 18% 18%
9 35% 47% 18%
Após análise do gráfico, os alunos perceberam facilmente quanto tempo era
desperdiçado com atividades desnecessárias e que era preciso aproveitá-lo com o
máximo de concentração e atenção. Recomendou-se, então, que eles
estabelecessem uma regularidade nas suas atividades, em que seus horários
fossem, de preferência, sempre os mesmos. Para tanto, foi realizado um trabalho
coletivo com a turma para que cada aluno pudesse refletir sobre seus hábitos e
procurasse mudá-los. Outro fator abordado foi o ambiente de leitura. O local deve
satisfazer a algumas condições: ser arejado, amplo, ter iluminação adequada,
silêncio e ordem. Foi transmitido aos alunos o quão importante é que eles tenham
ou procurem estabelecer esse local específico e apropriado para a leitura, pois
ambientes mal iluminados, além de danificar a visão, tornam a leitura mais
cansativa.
Mesmo organizando bem o tempo e encontrando um lugar ideal para ler, há
outros fatores que facilitam a apreensão da leitura. O sono, por exemplo, é um
deles. Dormir o suficiente é necessário para não ser prejudicado no rendimento
individual de toda e qualquer atividade que for desempenhada. No que se refere a
esse assunto, Miranda-Neto (2001) declara: uma pessoa privada de sono tende a se
tornar irritável, tensa, ansiosa ou apática. Pode também ter dificuldades relacionadas
a memória e muitas vezes não responder adequadamente aos estímulos (p. 7).
Ainda a esse respeito, o autor afirma que se estamos cansados e privados de sono,
nosso pensamento se torna lento e confuso. [...] Temos a impressão de que o
mundo ao nosso redor está solicitando mais do que podemos oferecer (p. 8). Nesse
sentido, pequenas dificuldades podem se tornar grandes problemas, uma vez que a
privação de sono pode alterar os processos de pensamento, além de gerar falta de
vontade e alterações da afetividade.
Ainda como material de apoio à formação do aluno-leitor e dando sequência
às atividades realizadas, foi trabalhado com a turma o perfil do bom e do mau leitor a
partir do postulado de Martins (2003), em que a autora declara haver duas sínteses
literárias do processo de aprendizagem da leitura; uma altamente ficcional, outra
autobiográfica. Mas, ambas estão relacionadas e evidenciam a curiosidade se
transformando em necessidade e esforço para alimentar o imaginário, desvendar os
segredos do mundo e dar a conhecer o leitor a si mesmo através do que lê e como
lê (p.17).
Diante do imenso leque de perspectivas que se abrem ao leitor no momento
da descoberta do mundo por meio das leituras que faz, Martins (2003) declara: dá-
nos a impressão de o mundo estar ao nosso alcance; não só podemos compreendê-
lo, conviver com ele, mas até modificá-lo à medida que incorporamos experiências
de leitura (p.17).
Depois da exposição e discussão dos aspectos inerentes ao processo de
leitura, bem como o que caracteriza um leitor competente, os alunos foram
orientados a realizar uma pesquisa na sala de informática a respeito desse assunto.
Descobriram que o bom leitor lê atentamente e entende bem o que lê e tem
habilidades e hábitos como: lê com objetivos determinados; lê unidades de
pensamento; avalia o que lê; possui bom vocabulário; adquire livros com frequência
e cuida de ter sua biblioteca particular; tem habilidade para conhecer o valor do livro
(sabe quando deve lê-lo até o final, quando interromper a leitura definitivamente ou
periodicamente); lê vários assuntos e discute frequentemente com colegas. Enfim, o
bom leitor é aquele que consegue fazer relações do que lê com outras leituras e/ou
com fatos da vida; compreende e interpreta o que lê.
Também chegaram à conclusão que o mau leitor lê vagarosamente e entende
mal o que leu. Lê palavra por palavra; lê sem finalidade; possui vocabulário limitado;
acredita em tudo que lê; não sabe decidir se é conveniente ou não interromper uma
leitura; não possui nenhum critério técnico para conhecer o valor de um livro;
raramente discute com os colegas o que lê; está condicionado a ler sempre a
mesma espécie de assunto e não possui biblioteca particular.
De posse desses pressupostos, explicou-se para os alunos que ler com
regularidade e fazer uma boa leitura significa uma conquista de autonomia, bem
como permite a ampliação dos horizontes, não nos deixando iludir pela aparente
gratuidade das pequenas coisas da vida, porque elas, em última instância, fazem a
nossa história e fazem nossa a História (MARTINS, 2003, p.20). Desse modo, o ato
de ler incentiva tanto a fantasia como a consciência da realidade do leitor;
proporciona uma postura crítica para inteirar-se do e no mundo e dar sentido a ele.
Após os alunos serem informados da importância da leitura, seja na vida
escolar ou cotidiana, de verificarem como desperdiçam tempo em atividades que
não levam ao crescimento nem à busca do conhecimento pessoal e, de descobrirem
os aspectos relacionados ao bom e mau leitor, partiu-se para a segunda parte da
Proposta da Implementação Pedagógica: o trabalho com o gênero perfil.
Essa atividade envolveu a leitura do gênero perfil de diversas pessoas
famosas do interesse da clientela. A “Revista Atrevida” foi uma das fontes utilizadas
para trabalhar “perfis de celebridades”, relacionados à faixa etária dos alunos em
questão. Apresentou-se, inicialmente, o perfil de Luan Santana, como exemplifica o
fragmento (1), abaixo:
(1) Sem saber o que fazer, Luan Santana (19 anos,1,75 metros de altura), levou uma
namorada para passar o dia 12 de junho em uma padaria. Ele revelou que paquera
durante os shows, de cima do palco, e que já ficou com fã e não foi só uma vez
(Disponível no site <revistaatrevida.blog.uol.com.br>).
Após os alunos lerem o perfil inteiro do cantor, foi trabalhada a letra da música
“Conquistando o Impossível”, com o objetivo de elevar a auto-estima dos alunos,
mostrando-lhes o “valor” que, de fato, cada um deles(as) tem. O fragmento (2)
retrata uma parte da letra da música.
(2) Conquistando o Impossível
Luan Santana Composição : Beno César e Solange de César Acredite é hora de vencer [...] Você pode Até tocar o céu se crer... [...] Nossos sonhos A gente é quem constrói... É vencendo os limites [...] Campeão, vencedor Deus dá asas, faz teu voo Campeão, vencedor Essa fé que te torna imbatível Mostra o seu valor... [...] Conquistando o impossível Pela fé... [...]
Tantos recordes Você pode quebrar As barreiras Você pode ultrapassar E vencer... [...] Mostra o seu valor...(2x)
Depois de realizar a leitura da letra da música e de ser apresentada a
melodia, houve uma discussão acerca dos aspectos que cada um julgou mais
importante e porquê, já que a letra fala “cada um tem seu valor”, que é preciso ir
em busca dos sonhos, as barreiras existem para serem quebradas, entre outros.
O objetivo da discussão foi o de levar os alunos a se conscientizarem que,
apesar da realidade deles ser difícil, é possível mudá-la a partir de objetivos
claros e força de vontade.
Na aula seguinte, retomou-se o estudo dos perfis de famosos. Foram
apresentados a eles vários perfis, como demonstram os fragmentos (3), (4), (5),
(5), (7), e (8).
(3) Ronaldo Luís Nazário de Lima, o fenômeno,jogador centroavante, 34 anos, com
1.83m, foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do
ano de 2009. O Twitterda Claro - @ClaroBrasil muda de nome para @ClaroRonaldo e
passa a ser o Twitter oficial de Ronaldo até o mês de julho. O perfil @claronaldo já
está no ar e conta com mais de 40.000 seguidores – é preciso esclarecer que os tuites
desse perfil já existiam há meses. Cerca de mil seguidores por hora o adicionaram
desde o primeiro recado (Wikipédia, a enciclopédia livre – em 13/06/2011).
(4) Depois de atingir 100 milhões de acessos, Justin Bieber (16 anos), conseguiu
atingir a marca histórica de ter quatro singles de um álbum de estreia posicionados
no top 40 da Hot 100 da Billboard. Uma curiosidade: ele não gosta que as
meninas usem maquiagem.
(5) Dono de um visual extravagante, com calças coloridas, um tênis de cada cor,
relógios amarelos ou vermelhos e camisetas com decote em V, Fiuk (19 anos), tem
um estilo próprio. [...]Ele namora há dois anos a produtora de moda Natália Frascino
e disse que amor é sua religião.
(6) Robert Pattinson (24 anos), nunca faz pedidos exagerados e a única coisa que
não abre mão é de ter um motorista particular. Disse: “Nada de pesadelo ao sonhar
com o vampiro romântico do Crepúsculo, ninguém corre, muito pelo contrário,
quem corre sou eu de tanto assédio.”
(7) Simpático e com um sorriso de tirar o fôlego, Taylor Lautner (18 anos, 1,79 m de
altura), já foi campeão mundial de caratê várias vezes. É fã de carne e, quando
esteve no Brasil para divulgar Lua Nova,em outubro de 2009, não perdeu a
oportunidade de comer em uma churrascaria.
(8) Cantora e compositora, Paula Fernandes começou a cantar ainda criança, aos
nove anos e, aos 10, lançou o primeiro disco independente. Conquistou seu espaço
não apenas pela voz e talento incontestáveis. Aos 25 anos, a cantora encanta o
público com seus cabelos cacheados, sorriso perfeito e 50 Kg. bem distribuídos em
1,65m – uma beleza, simplesmente impecável. Atributos que mexem com o
imaginário masculino e causam inveja em parte das mulheres (faspaulafernandes-
em 29/04/2011.)
Feita a leitura e a discussão desses perfis, a professora apresentou o perfil de
uma pessoa de conhecimento pessoal e de interesse coletivo da turma: o atual
prefeito da cidade de Mandaguari, Cyllênio Pessoa Pereira Júnior. A foto do prefeito
foi publicada na capa da Revista “Conexão Paraná”, de 2006, ao ser premiado como
“O Político do Ano”, como exemplifica o fragmento (9):
(9) Foram vários os motivos que levaram a Editoria política da revista a escolher,
entre os primeiros 100 nomes catalogados na coleta inicial de informações entre os
políticos de todo o Estado, o prefeito de Mandaguari, na região noroeste do Paraná,
Cyllênio Pessoa Pereira Júnior, como “Político do Ano”, para estrear a série que irá
valorizar a atuação de pessoas que ocupam cargos eletivos no Paraná. [...]Ele
admite que sempre sonhou com esse cargo. “Quando tinha 10 anos de idade – me
lembro como se fosse hoje – minha professora fez uma enquete entre os alunos e se
surpreendeu quando respondi qual era o meu sonho, dito em tom alto e claro: Quero
ser prefeito de Mandaguari”. Radialista por tradição familiar, 40 anos, a política entrou
naturalmente em sua vida em razão da forte influência de seu pai, Cillênio Pessoa
Pereira, conceituado advogado da região, que foi vereador por duas gestões na
cidade. Jovem e com um promissor futuro político pela frente, o atual prefeito não
descarta outras incursões na política paranaense, inclusive o próprio governo do
Paraná, (p.07).
A apresentação desse perfil, em especial, foi de alta relevância, pois além de
tratar-se de alguém “mais próximo” dos alunos, por isso, alguém mais palpável em
termos de proximidade, trouxe informações dos sonhos e desejos da vida infantil e
escolar a respeito do prefeito da cidade que eles desconheciam. Esses aspectos
motivaram os alunos e serviu como mola propulsora para levantar o moral da turma,
já que foi possível verificar que não são apenas os famosos/celebridades que
“aparecem” em revistas e jornais.
Feitas essas leituras, o passo seguinte foi levar a turma a descobrir as
características comuns presentes nos perfis lidos, com o intuito de propor uma
estrutura para elaborar o perfil de uma pessoa. Os alunos levantaram as seguintes
características: nome completo, idade, aniversário, signo, local de nascimento, sexo,
estado civil, escolaridade, profissão, hobby, descrição física, estilo, paixão, humor,
etnia, religião, preferências (música, esportes, livros, viagens, programa de TV,
política), animal de estimação e curiosidades. Tais características são semelhantes
às propostas por Sodré (1986) e o Observatório de Imprensa (2011), como apontado
no referencial teórico.
Na aula seguinte, após a professora retomar com os alunos o conjunto de
características propostas acerca do gênero perfil, foi realizada uma dinâmica oral,
em grupo. Nessa dinâmica, cada aluno teve a oportunidade de contar um segredo
seu. Depois disso, solicitou-se que os alunos sentassem em círculo, a fim de que
todos pudessem, não apenas ver o colega, mas também analisar os gestos de cada
um enquanto falava. Em seguida, a professora, com a ajuda dos alunos, fez uma
relação, no quadro, escrevendo 10 qualidades e 10 defeitos comuns a todos da
turma, com a finalidade de mostrar o “perfil” da 8ª série (9º ano) do período noturno,
do Pallotti. Entre os itens relacionados, serão apresentados apenas alguns como
amostra do perfil da turma. No que se refere às qualidades, de uma forma geral,
disseram que, se quiserem, aprendem de maneira fácil os conteúdos; gostam de ler
e até leem àquilo que os interessa; são abertos ao diálogo; acreditam haver um bom
relacionamento entre eles na sala de aula, pois partilham dos mesmos ideais; são
unidos em suas atitudes, há coleguismo e cumplicidade; dão conselhos “bons” uns
para os outros, falam das coisas erradas que já fizeram, mas que os colegas não
ouvem e cometem erros iguais; têm capacidade para realizar sozinhos as atividades;
sabem que são inteligentes e podem fazer bom uso disso; gostam de aprender
coisas novas e, embora uma minoria, há alunos que são atenciosos, prestativos,
educados, são independentes, participam das aulas, prestam atenção nas
explicações, copiam as matérias e tentam, pelo menos, responder, são obedientes,
atendem aos pedidos de leitura silenciosa e oral, não atrapalham a classe e tratam
os professores bem e que são capazes e “maduros” o suficiente para assumir por
eles mesmos (sem precisar ficar chamando pai, mãe, avós) um comprometimento
maior com o ensino-aprendizagem. Quanto aos pontos negativos, a grande maioria
dos alunos disse que não gosta de estudar e um ponto comum a todos foi o
reconhecimento de que as frequentes conversas paralelas interferem no
desempenho escolar; admitem que precisam melhorar o comportamento em sala,
entre outros.
De forma resumida, a turma apresenta um perfil de alunos que,
definitivamente, não gostam nem têm vontade de estudar, além dos problemas de
aceitar, respeitar e cumprir as regras intra-escolares estabelecidas no regimento da
escola.
Durante a atividade, notou-se, como é característica geral dos adolescentes,
que a turma encontrou muita dificuldade em apontar aspectos e qualidades que
envolviam o coletivo. Eles até citavam alguns aspectos positivos da personalidade
da classe, mas a maioria se referia ao comportamento individual de cada um em
seus relacionamentos pessoais e que não serviam como critério para aplicar ao “ser
estudante”. Entretanto, assim que as características pertinentes à turma foram
listradas no quadro e os próprios alunos reconheceram que, apesar do
comportamento inadequado, detestam estudar na bagunça, que queriam silêncio e
colaboração dos colegas na hora da explicação da matéria pelos professores.
Ao obter esse quadro representativo da turma, a professora deixou a seguinte
pergunta para eles refletirem: “Que perfil poderá ser escrito a respeito de cada um
de vocês daqui há 15 ou 20 anos?”
Na aula seguinte à elaboração do perfil da turma, os alunos foram convidados
a assistir ao filme “Homens de Honra” e analisar o perfil do personagem
protagonista. Antes de exibir o filme, os alunos foram questionados a respeito do
título do filme: o que significava para eles, primeiramente, a palavra “honra”.
Segundo os alunos, honra significa honestidade, virtude, caráter, verdade, “nome
limpo”, talento, dignidade e consideração. A partir dessas informações, perguntou-se
o que poderia significar um título como “Homens de honra”? A maioria deles disse
que se referia a homens corajosos, vencedores, exemplos para os outros,
trabalhadores honestos, talentosos, bons pais de família, que não traem, não
roubam nem tem o “nome sujo”, fazem o que é certo, não se prostituem, não se
deixam corromper, não são corruptos, cumprem as promessas que fazem, tratam as
pessoas com respeito, enfim, honram seus compromissos e são homens de uma só
palavra.
Em seguida, realizou-se a leitura do filme e foi solicitado aos alunos que
atentassem para alguns aspectos, como: vocabulário utilizado pelo antagonista, o
tom de voz, o preconceito racial e o cenário de cada cena (porque era aquele e não
outro cenário?), os tons/cores mais frequentes; se as imagens eram nítidas, se havia
cenas com a técnica de “zoom” (a focalização da expressão do rosto das pessoas),
bem como a percepção no movimento das câmeras, porque se movimentavam em
direção a um ou outro objeto (qual a intenção? Queria chamar a atenção por qual
motivo? O que será que iria acontecer na sequência/próxima cena?...), entre outros.
Depois da leitura, realizou-se uma discussão sobre o filme e os aspectos
acima elencados. Para tanto, fez-se uma releitura de partes do filme para que os
aspectos solicitados fossem explicitados e/ou comentados, já que em uma primeira
leitura, não é possível a verificação de todos os detalhes. A história do filme foi ao
encontro da realidade dos alunos, que é bem parecida com a do personagem
principal e, também, porque praticamente todos eles vieram de uma infância difícil,
trabalhando desde pequenos. Além disso, muitos são de cor negra e ao verem o
preconceito racial, juntamente com a pobreza, preconceito social estampados no
filme, levou-os a ficar indignados com as injustiças sofridas pelo protagonista em
virtude do poder que o personagem antagonista exercia sobre ele. Disseram: “Se a
gente tivesse lá, nóis pegava aquele branquelo e ia nadar todo dia, igual aos outro
branco. Eles compraram o mar, por acaso?” Essa foi uma das falas mais marcantes
deles, dita mesmo em um tom de revolta. Identificaram naquele momento quão
grande é o tamanho da discriminação racial e o rumo que a história iria tomar nas
próximas cenas.
Depois da releitura do filme, houve um trabalho com a turma a fim de que
percebesse que, independente do passado que se tem e do quanto triste e sem
perspectiva seja a sua realidade, vale a pena lutar pelos ideais. Eles viram que no
filme, o personagem protagonista, quando criança, morava em um lugar distante e
ajudava seu pai, carregando um animal para arar a terra para o plantio. Porém, ele
tinha o sonho de ser marinheiro. Talvez por isso, em suas horas vagas, nadava
bastante tempo em um grande rio perto de sua casa e, “muito bem por sinal”. .
Então, quando adulto, alistou-se e foi para a Marinha. No entanto, como era negro,
foi colocado na cozinha e chamado pelo Comandante-chefe (um alemão de olhos
azuis – tipo Hitler) de “cozinheiro” (termo usado durante todo o filme e até na última
cena). Em vista desses aspectos explicitados pelo filme, chamou-se a atenção dos
alunos para a importância das decisões de cada um no momento presente, pois elas
determinam as ações do futuro. Como viram ao ler os perfis de alguns jogadores e
cantores, muitos vieram de baixo, começaram do nada e chegaram lá e, hoje, são
bem sucedidos financeiramente.
Um dos objetivos da apresentação do filme foi o de que os alunos se
conscientizassem que, de fato, é possível mudar a história de vida. Basta, em
primeiro lugar, saber o que quer, depois, acreditar no potencial que tem e batalhar
para conseguir romper as barreiras e vencer os próprios limites. Agindo dessa
forma, eles poderão ser vencedores, embora o cumprimento de todos esses fatores
não seja garantia de sucesso absoluto. .
A última atividade realizada foi uma produção textual em que os alunos
criaram seus perfis. Para ajudá-los no desenvolvimento de tal atividade, apresentou-
se a eles, além das características já levantadas anteriormente sobre o gênero,
outras informações teóricas a esse respeito.
Desse modo, informou-se a eles que o perfil é um texto biográfico sobre uma
pessoa, uma única pessoa, famosa ou não, mas viva, de preferência. De acordo
coma Revista “Especial Biblioteca EntreLivros” (2009, p.1), texto biográfico não
significa exatamente biografia, que é outro gênero. A biografia é uma composição
super detalhada de vários textos biográficos. Isso porque, o autor de um perfil se
concentra em apenas alguns aspectos da personagem central. Caracterizado, então,
como uma sequência descritiva, como afirma Bronckart (2007). Nesse sentido, o
perfil aponta para traços, características e aspectos predominantes da personalidade
da pessoa em foco.
De posse das características do gênero a ser produzido e das informações a
respeito de sua constituição, os alunos, então, produziram seus perfis. A seguir, a
título de exemplificação, serão apresentados fragmentos dos perfis produzidos pelos
alunos, mantendo-se a escrita original:
(10) Tenho 18 anos, só namoro, Programa de TV Legendario. Livros Nem
um, pratotipico Macarronada com carne moida. Eu sou Esqueititas, soltero
vó pra escola de Bord sou animado xato algumas vezes” (C. H. A. S.).
(11) “Não suporto homosequisalismo. religião Evangelica, Tenho 16 anosdo
signo de gemius, estanpador de roupas. Esportes futebol e voleibool estilo
alternativo. A minha visão politica é que vai piorar, muitas trajedias. Paixão:
namorada, familia e Deus. Livros que leio biblia Sagrada. Sou um cara legal
para si dar curtos todos os pipos de musicas tanbém minha melhor e mulher
gosto tanbém namorar” (T.S.).
(12) “Eu sou uma aluna que depende o que fala magoa e é magoada, se
saber lhe dar comigo poderá ter minha amizade pro resto da vida, sou uma
pessoa verdadeira, si n~ saber lhe dar comigo pode te minha raiva também.
Tenho 15 anos, etnia parda, gosto de musicas e filme de comedias” (B.F.).
(13) “Naci na cidade de Mandaguari no Pais no Brasil moro na Fila nova
tenho 16 anos meu sigino Aquario Etnia branco faço aniversario em
feverero estou cursando Insino fundamental Inconpleto não trabalho so
estudo Visão politica Equetico leio livros de Informatica oque mais chama a
atenção nos outro é a altorura não vivo sem meu Pai minha mãe Dinhero e
mulher espero que vocês goste um Pouco De mim” (W. B. H.).
(14) “Eu tenho quinze anos, trabalho durante o dia e a noite sou aluno do
Ensino Medio. gosto muinto de brincar e converssar, não gosto de
brincadera sem graça. Saio nos tenpo vago, se dou muinto bem com minha
familia. Gosto muinto de estudar e ficar na Internet” (L. T. P. M.).
(15) “Sou sonteiro 15 anos estou no Ensino Medio, pratico natasaô, minha
profissão é montador, tenho medo de morer. Sou um rapaz timido, com
pouca palavras, gosto por musicas nervosas (Rock), gosto de desenhar,
jogar jogos de RPG tipo MÚ, tenissckista, bone, causa jean e sorts. Gosto
de filme de teror” (W. B.S).
Como é possível observar, os textos produzidos pelos alunos demonstram
inúmeras dificuldades na escrita, a começar pela inexistência de pontuação ou
pontuação inadequada, envolvendo o uso (ausência) da vírgula e ponto final. Tal
fato, dificultou, inclusive, a compreensão de alguns trechos dos textos. Além disso,
esses textos apresentaram frases sintaticamente mal elaboradas, problemas de
concordância nominal e verbal, erros de ortografia, palavras não acentuadas ou com
acentuação inadequada, construções sem objetividade e inacabadas, emprego da
letra “n” antes das consoantes “p” e “b”, o não emprego dos pronomes pessoais
retos e oblíquos, repetição de palavras, ausência de parágrafos, bem como
problemas de coerência e coesão textual. Verificou-se, ainda, que uma grande parte
dos alunos não conhecia o significado de palavras, como: estado civil, grau de
escolaridade, etnia, extrovertido, introvertido, rude, sarcástico, convicção, prato
típico, hobby, idioma, estilo, visão política e a diferença entre naturalidade e
nacionalidade, embora todos esses termos tenham sido esclarecidos quando da
leitura dos perfis dos famosos e retomados antes da produção de seus perfis.
No entanto, o objetivo da atividade foi alcançado, uma vez que 100% dos
alunos demonstraram estar motivados e atenderam a solicitação de elaborar o seu
perfil. Atitude inédita por parte deles porque, anteriormente, quando se pedia
qualquer produção escrita, ouvia-se muita reclamação. Alguns não escreviam e,
outros, escreviam, mas não queriam mostrá-las. Dessa vez, porém, todos, sem
exceção, entregaram o seu perfil e, mesmo não demonstrando um necessário
domínio da língua padrão, apresentaram textos compreensíveis, concisos e com
originalidade, sem “clichês” e/ou “frases feitas”. É possível observar neles uma
linguagem própria, comum a todos da turma, embora falha, mas que até pode ser
“permitida” ou “aceita” para a produção específica do gênero perfil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar as atividades da Implementação Pedagógica, é possível apontar
como resultado alguns aspectos importantes, mas o que mais chamou a atenção foi
que os alunos descobriram a importância da leitura, seja na vida escolar ou
cotidiana. Além do trabalho com o ensino-aprendizagem da leitura, os alunos
receberam informação sobre os aspectos relacionados ao bom e ao mau leitor e
reconheceram que ainda são “maus leitores”; verificaram como desperdiçam tempo
em atividades que não levam ao conhecimento nem contribuem para o crescimento
pessoal. Também se conscientizaram de que é preciso estabelecer uma
regularidade em seus horários e escolher um ambiente apropriado para realizar suas
leituras. Muitos alunos não tinham (e alguns provavelmente ainda não tenham) ideia
de como dividir adequadamente o tempo de que dispõem. Aprenderam que a
formação de hábitos exige disciplina; mas que nunca é tarde demais para
aperfeiçoar os hábitos de leitura nem cedo demais para começar a fazê-lo.
No que se refere às leituras dos perfis de pessoas famosas, a análise do
filme e as dinâmicas desenvolvidas em sala de aula, os alunos foram alertados da
necessidade de se reconhecer os posicionamentos ideológicos presentes em cada
texto e/ou contexto. Em toda atividade de leitura, foi realizado um trabalho coletivo
com a turma rumo à construção de sentido para cada texto, levantando as relações
de causa e consequência e as relações dialógicas com os demais textos lidos. Os
alunos começaram a identificar, primeiramente, as informações explícitas, para,
depois, tentarem localizar as implícitas. De um modo geral, todos participaram das
leituras, interpretações, diálogos, relatos e discussões. Apresentaram clareza ao
expor suas ideias, fluência e objetividade na fala, bem como o uso de argumentação
ao defender seus pontos de vista.
Já as produções escritas com seus perfis evidenciaram a existência de uma
“crise” da linguagem na escola. Além dos frequentes problemas de acentuação,
ortografia e pontuação, a grande maioria dos textos apresentou erros de
concordância nominal e verbal, necessidade de cortes de palavras devido às
repetições, construção de sentenças longas em um único parágrafo, bem como
ausência de conectivos para fazer as relações entre as partes do texto. Apesar das
dificuldades apresentadas no processo de escrita, houve adequação à proposta e ao
gênero solicitado, uma vez que todos conseguiram apontar seu perfil dentro da
estrutura trabalhada, utilizando uma linguagem informal, sim, mas que está de
acordo com o contexto exigido para esse gênero.
Ao longo das aulas, a proposta possibilitou, entre outras coisas, que os
alunos entrassem em contato com vocábulos desconhecidos e, a partir daí, puderam
ampliar seu repertório. Os próprios alunos reconheceram que quando dominam um
grande número de palavras, são capazes de ler com maior rapidez e compreensão.
Eles verificaram, através das leituras, que quando se conhece bem uma palavra, a
falta de letras ou erros de impressão não é impedimento para compreender o
significado da frase. Então, os alunos perceberam que o rendimento e apreensão
da leitura é proporcional ao vocabulário e à cultura geral.
Constatou-se, após a realização das atividades, que a compreensão
pretendida da realidade do aluno, por certo, hoje, envolverá a linguagem como
centro das questões humanas, pois é preciso lembrar que o aluno está sendo
formado para um novo tempo. Um tempo em que a ciência e a tecnologia, apesar
dos avanços, trazem para esse aluno, para o homem, as novas necessidades e
também os novos “desconfortos” do progresso. Essas novas conquistas trazem
outros valores, com novas leituras dessa realidade. Por isso, vale ressaltar que o
melhor recurso para o aluno desenvolver a linguagem é, sem dúvida, a leitura,
porque além de facilitar a comunicação, ela amplia a visão de mundo e integra os
conhecimentos, abrindo cada vez mais os horizontes do saber.
Nesse sentido, saber ler, é saber o que o texto diz e o que ele não diz, mas
o constitui significativamente e, como é de conhecimento geral, quem lê constrói sua
própria ciência, é liberto da estagnação cultural e política.
Além das atividades inerentes ao processo do PDE, solicitou-se que a
professora comandasse um grupo do GTR como professora-tutora de um curso em
ambiente virtual de aprendizagem através do sistema on-line em REDE pelo e-
escola. E, em uma das temáticas do curso, foi solicitada aos participantes uma
reflexão sobre a importância do tema do projeto aqui relatado para a Escola Pública,
com o intuito de se analisar criticamente se as atividades e ações propostas na
Produção Didático-Pedagógica eram relevantes para a sua realidade escolar. Em
resposta a tal questionamento, todas as cursistas comentaram que as Ações de
Implementação eram objetivas, claras e motivadoras, podendo ser aplicadas em
qualquer modalidade de ensino, devendo, apenas, adequar-se à realidade
específica de cada escola por envolverem atividades e variados gêneros textuais,
como: filme, músicas e reportagens com perfis pertinentes à idade dos alunos.
Disseram, ainda, que desenvolveram essas propostas nas escolas em que
trabalham e que o resultado foi muito bom, já que seus alunos participaram com
muito empenho. Esse resultado, segundo as cursistas, se deu porque trabalhar com
perfis atuais de famosos faz parte das leituras da faixa etária dos alunos e, como se
sabe, a aprendizagem acontece quando o interesse é despertado e o leitor se sente
parte da realidade
De forma geral, pode-se dizer que as Ações de Implementação realizadas
com a 8ª série do Pallotti seguiram o programa idealizado inicialmente no Projeto.
Houve participação efetiva dos alunos e os resultados obtidos foram satisfatórios,
principalmente nas etapas em que eles tiveram acesso aos perfis de personalidades
famosas por meio de revistas ou através de busca na internet, no Laboratório de
Informática. Levando-se em consideração as peculiaridades da turma, certamente,
algumas adaptações foram necessárias, mas, mesmo assim, os objetivos propostos
foram atingidos, uma vez que os alunos tomaram contato com um gênero textual
pouco, ou dificilmente trabalhado em sala, como é o caso do gênero perfil. Na
avalição final, verificou-se que as dinâmicas, os testes, as músicas, o filme, as
leituras sugeridas, bem como a construção do perfil individual estavam mesmo de
acordo com a idade dos alunos. Eles descobriram “segredos” de seus ídolos e,
também, conheceram mais a fundo seus próprios pensamentos e sua forma de
encarar o mundo.
Após analisar o envolvimento da turma com a proposta apresentada e o
relato dos resultados informados no GTR, é possível afirmar-se que este Projeto de
Intervenção Pedagógica pode ser aplicado em qualquer série ou nível de ensino,
visto que, a partir do momento em que é realizada a avaliação do grau de dificuldade
de leitura da turma, é possível ao educador adequar as atividades às dificuldades
e/ou habilidades dos alunos, já que, quando há interesse, acontece a aprendizagem.
A pesquisa, porém, não se esgota nesse ponto, pois a partir dos resultados
obtidos, uma série de reflexões, indagações e de dúvidas surgiram. E, como não há
respostas para todas elas, o trabalho fica em aberto àqueles que se sintam
motivados a aperfeiçoá-lo.
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