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A LEITURA LITERÁRIA E A FORMAÇÃO DO LEITOR

Todas as comunidades apresentam diferentes formas de expressão artística, como a

música, o canto, a dança e a literatura, dentre outros. Literatura origina-se da palavra

latina littera, que "letra". Mas, o homem sempre se manifestou artisticamente a partir da

palavra, mesmo nas comunidades primitivas, em que não havia a escrita, nesse caso, por

meio da poesia oral.

Para Cereja (1995, p.10): "Literatura é a arte da palavra". Assim, se a literatura é a arte

da palavra e esta é a unidade básica da língua, podemos dizer que a literatura, assim

como a língua que utiliza, é um instrumento de comunicação, e por isso, cumpre

também o papel social de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma comunidade.

Apesar de estar ligada a uma língua, que lhe serve de suporte, a literatura não está presa

a ela, pelo contrário, a literatura faz um uso livre da língua, chegando até a revolucionar

suas regras e o sentido das suas palavras utilizadas no texto literário.

A leitura de textos literários procura-se ler e compreender o significado dos textos,

levando em conta as relações daquele texto com outros do mesmo ou de outros autores,

com a época em que foi escrito, com a atualidade, propiciando a capacidade de ler,

refletir, pensar; mas é também sentir, emocionar-se apurar a sensibilidade, sonhar. O

texto literário deve ser o ponto de partida a compreensão, a formação para o estudo de

um leitor crítico, e este, deverá sempre relacionar tudo o que lê com o mundo que o

cerca e compreender a diversidade de significados.

Dessa forma, podemos dizer que a linguagem literária amplia a capacidade de

compreender o mundo, uma vez que estamos rodeados de linguagem. Em qualquer

lugar, a qualquer momento estamos recebendo mensagens e informações que são

transmitidas por meio de diferentes tipos de linguagem verbal e não verbal. Cabe ao

leitor crítico da Eja saber interpretar cada texto e lidar com os níveis de significação das

suas palavras, nos diferentes contextos. Assim, a partir das leituras que faz, a linguagem

do aluno leitor desenvolve e suas relações com o contexto histórico cultural servirão de

suporte para o processo ensino-aprendizagem.

A leitura representa uma atividade de grande importância para a vida das pessoas e em

especial na do leitor. É através dela que podemos interagir e compreender o mundo a

nossa volta e sua própria formação, realizar atividades que contribuem para o nosso

crescimento e para agir ativa e criticamente na sociedade.

No que se refere ao ensino da leitura no âmbito escolar, podemos verificar que há

muitas discussões a respeito, principalmente nas aulas de língua portuguesa. Dentre as

discussões, a principal preocupação está em se dar à importância e o devido espaço para

o ensino da leitura nas atividades de sala de aula. No entanto, outras atividades têm sido

priorizadas, ou seja, a leitura fica para segundo plano, tornando o ensino da língua

portuguesa, cada vez mais, mecânico e desinteressante. Acredita-se que essa prática de

ensino é ocasionada por concepções que não conduzem o aluno a nada, ou seja, são

práticas que não fazem parte da realidade dos alunos, que não os consideram como

ponto de partida para a realização de um ensino produtivo.

Para Freire (1989, p.20) "a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do

mundo, mas por uma certa forma de escrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através de

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nossa prática consciente". Percebemos nessa afirmativa que o ato de ler não pode ficar

limitado ao processo da leitura, mas é preciso expandi-la em todas as direções, sem, é

claro, perder de vista a perspectiva do texto lido.

Neste sentido, a leitura assume uma outra modalidade e se transforma em uma prática

de formação do indivíduo. Porém, a escola de uma maneira geral, não oferece condições

para que o professor desenvolva um trabalho desta natureza. É importante ainda, chamar

a atenção para o fato de que a leitura e a releitura do mundo devem ter um caráter de

uma leitura crítica, aquela que de tudo duvida e a tudo questiona. Assim, a importante

função da leitura é promover a comunicação entre o indivíduo e sua comunidade, por

possibilitar a construção do seu conhecimento sobre a cultura e sociedade em que vive.

Ler é uma atividade muito comum em várias culturas, no entanto, há uma diferença

acentuada entre uma história contada e uma historia lida. Ao ouvir uma história, o

ouvinte faz a sua imaginação, cria o seu próprio cenário, com o seu mundo ilusório,

principalmente quando ele tem acesso a gravuras da história enquanto que ao ler a

história, ele já se apega mais a realidade da própria história, fazendo assim o cenário

parecer real da leitura.

Como afirma Vargas (1955, p.5) "ler significa sempre um ato de compreender,

estabelecer relações inicialmente individuais com cada objeto ou ser que nomeia,

ampliando-as mais tarde". Ler significa, portanto, colher conhecimentos. Assim, ao

longo da história e cada vez mais no mundo atual, temos reconhecido a presente

necessidade de aprimorar nossos conhecimentos, buscando soluções para os possíveis

problemas relacionados ao estudo da leitura, tendo em vista as demandas atuais que

valorizam essa habilidade. A leitura se faz presente em todos os momentos de nossas

vidas, nos proporciona um mundo de informações e conhecimentos que nos favorece

constantemente, através dela conseguimos compreender o mundo e a forma como

atuamos sobre ele.

Contemplando esse pensamento, Vargas (1955, p.6) "ler para mim, sempre foi um ato

de conhecimento e, consequentemente, de prazer". Daí a importância da leitura literária

na vida das pessoas, do aluno da Eja, do professor e outros leitores por uma sociedade

que apresenta inúmeras formas de linguagem e informações, exigindo cada vez mais

autonomia e criticidade. E para isso, o professor precisa estar consciente do seu papel na

formação do aluno leitor. Entretanto, não basta simplesmente essa consciência, e sim,

fazer com que o aluno possa despertar o senso crítico, a partir do incentivo. Outro

aspecto fundamental que diz respeito à motivação, é que o professor não pode nem deve

somente agregar conteúdos selecionados pelos livros didáticos. Cabe ao professor

trabalhar variedades de textos, e ou gêneros, inclusive, os conteúdos curriculares de

forma que seus alunos possam acompanhar, interagir e situar-se dentro do contexto

almejado.

Ler é um processo complexo. Não se adquire o hábito de ler, se conquista dia a dia.

Sendo assim, é tarefa do professor, promover e incentiva r a leitura no cotidiano da sala

de aula. Primeiramente, cabe ao professor ser leitor e passar isso para os alunos,

demonstrar o seu contato com os textos e a forma como a leitura atua e modifica a

vivência dos indivíduos.

Nesse sentido, Lajolo (1993, p.15) enfatiza que "ou o texto dá um sentido ao mundo, ou

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ele não tem sentido nenhum". Assim, é importante que o professor esteja atento, sempre

que possível, tanto para estabelecer relações entre os conteúdos estudados e sua

ocorrência nos textos, quanto para propor e possibilitar o investimento dos estudos nas

produções literárias e leituras realizadas. Ao longo do tempo, a educação vem cada vez

mais, se apresentando como um passo necessário a uma condição mais digna de

sobrevivência e participação social. Como reitera Freire (1989, p.28) do ponto de vista

de uma tal visão da educação, é da intimidade das consciências, movidas pela bondade

dos corações, que o mundo se refaz. E já que a educação modela as almas e recria os

corações, ela é a alavanca das mudanças sociais.

No entanto, o processo ensino aprendizagem tem deixado muito a desejar,

especialmente quando nos referimos à leitura e a produção textual. Como temos

constatado nossas escolas tem deixado uma grande lacuna na formação de leitores

críticos e conscientes, pois numa sociedade altamente globalizada como a nossa, faz-se

necessário ler e escrever corretamente, porque como sabemos estes são passos

essenciais para que o aluno exerça seu papel na sociedade de forma mais participativa.

A leitura não deve ser tratada pela escola, e principalmente na Eja, como algo morto

sem nenhuma conexão com o dia a dia dos alunos, pelo contrário, estes devem

apresentar-se como meio de ascensão pessoal e social. A leitura permanece no centro

das preocupações tanto da escola regular e dos pais quanto da formação de jovens e

adultos.

A escola depara-se com um problema de leitura que não conseguiu superar e agravou-se

ao longo dos anos. O saber ler era e, ainda é, confundido com a possibilidade de se

decifrar o escrito. Por isso, procura o aperfeiçoamento dos métodos existentes, não

percebendo que a leitura possui outra natureza. Freire havia alertado para esta outra

concepção de leitura ao definir o alfabetizar como "a criação ou a montagem da

expressão escrita da expressão oral" (FREIRE, 1989, p.19).

Dessa forma, podemos considerar o ato de ler como um modo de interrogar a escrita,

por questionamentos, pela exploração dos textos, obtendo, como resultado, a formação

do indivíduo, ao trazer para seu universo possibilidades de sentidos que desafiam suas

verdades, desestabilizando-o e o levando a se reestruturar. Assim, o ato de ler, ação de

dar sentidos, incita o leitor a adentrar pela a trama do texto, descobrir-lhe as estratégias,

as relações internas e externas voltadas à construção de sua própria estrutura. E o

professor como motivador e mediador, indispensável no processo ensino-aprendizagem

precisa estar consciente de seu papel na formação do aluno. Para Luft (2005, p.529)

"motivar é despertar o interesse por algo ou alguém, e ou dar motivo a; incentivar,

estimular".

Entretanto, não basta simplesmente essa consciência, e sim, fazer com que o aluno da

Eja possa despertar o senso crítico, a partir do incentivo. Outro aspecto fundamental que

diz respeito à motivação, é que o professor não pode nem deve somente agregar

conteúdos do livro didático, deverá então ser versátil, fazer uso de suas habilidades

como profissional que o é, pois, só assim, saberá conviver com as indiferenças do saber

ser e as capacidades do saber fazer em sala de aula, interagindo com a diversidade de

saberes heterogêneos e peculiar a cada realidade. O aluno da Eja apesar de ser na sua

maioria oriundos das camadas mais carentes da sociedade traz consigo um

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conhecimento empírico muito pertinente, valendo ressaltar suas peculiaridades. Para

Japiassú (2006, p.83):

Empírico: Que confia apenas na experiência, qualitativo daquele que procede da

experiência imediata ou passada, sem estar preocupado com uma doutrina lógica e ou

ainda, designa tudo aquilo que constitui o campo do conhecimento antes de toda

intervenção racional e de toda sistematização lógica".

Pensando então na leitura como uma atividade também de criação, e no prazer que

produzir textos dá ao leitor, uma oportunidade de compreender melhor o universo

viabiliza melhores possibilidades de atuação, pois, a promoção da leitura é

responsabilidade de ambas as partes, ou seja, professor e leitor, que críticos no processo

almejam realidades futuras melhores, até porque, tudo recai sobre o professor e sobre o

sistema escolar de ensino as maiores cobranças seja por os velhos problemas

persistirem, de que resultam performances negativas em avaliações contínuas, seja por

não saberem se posicionar perante os novos desafios.

Segundo Zilberman & Rosing (2009, p.13) "tudo que mudou parece ter mudado para

melhor, menos a escola com suas conseqüências". Na verdade, apesar dos avanços

tecnológicos e científicos, os quais enriquecem o processo de modernização das

instituições de ensino e seguidamente monopolizam as preferências dos jovens, mesmo

assim, persistem em nosso meio a violência urbana agredindo cada vez mais o cenário

brasileiro e a falta de respeito a situações vividas e presenciadas pelos alunos. Desse

modo, entendemos o conhecimento como uma especificidade humana construído

gradualmente a partir das interações realizadas em diferentes espaços, podendo dizer

que tal conhecimento ultrapasse os muros da escola. Como nos revela Magnani (1989,

p.103):

O gosto por ler se forma e a aprendizagem escolar da leitura desempenha importante

função no desenvolvimento, na medida em que propicia condições para que o aluno,

agindo entre outros sujeitos sobre a natureza (física, psicológica e social) construa

conhecimentos de conceitos específicos de cada disciplina.

Sabendo-se que é pela leitura que se aprende os conteúdos, a escola não pode funcionar

como um portão estreito, que exclui os alunos não dando-lhes oportunidade de aprender

a ler e desenvolver o gosto pela leitura. E para que a escola desempenhe seu verdadeiro

papel, é necessário que seus professores tenham consciência da sua função de orientador

da aprendizagem. Ele deve desempenhar suas funções de modo que articule princípios e

práticas, ou seja, para que ele consiga trabalhar corretamente a leitura é necessário que a

mesma faça parte da vida do professor.

Assim, o professor precisa planejar suas aulas reservando sempre tempo para a leitura,

pois como relata Martins (2006, p.25) "no contexto brasileiro a escola é o lugar onde a

maioria aprende a ler e escrever e muitos têm sua talvez única oportunidade de contato

com os livros". Sendo assim, cabe ao professor buscar meios para que as atividades de

leitura em sala de aula não se tornem monótonas e cansativas, cabe a ele propor

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atividades variadas com diferentes gêneros textuais, e estes suportes devem ser

trabalhados fazendo sempre uma correlação com o dia a dia dos alunos, ou seja, é

necessário planejar aulas que dêem sentido ao ler e escrever.

Como indaga Magnani (1989, p.105):

A leitura não acontece isolada na sala de aula, e deve estar articulada às práticas de

produção e análise de textos, para que se caracterize como conhecimento de opções, que

à medida que se tornam conscientes, podem ir sendo utilizadas pelos alunos para seus

propósitos de leitores e autores.

O educador indiscutivelmente exerce um papel muito importante como orientador na

formação de alunos leitores críticos. Sendo assim, não podemos aceitar a leitura que

apenas decodifica as letras, pois existem pessoas que lêem bastante, mas não conseguem

estabelecer uma relação entre o que está lendo e o que vive. Esse tipo de leitor Freire

caracteriza como intelectual memorizador.

Para Freire (1989, p. 29-30):

O intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando ? se ao texto, temeroso de

arriscar ? se, fala de sua leitura como se estivesse recitando ? as da memória, não

percebe, quando realmente existe nenhuma relação entre o que leu e o que vem

ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro.

É preciso extrapolar a mera decodificação. Para isso é fundamental a introdução de

leitura de gêneros, textos que possam estar relacionados ao cotidiano dos alunos. O

trabalho com a leitura de diferentes gêneros textuais favorece a relação da leitura com a

vida. Caso isso não aconteça, teremos um leitor que apenas memoriza as letras, as

palavras não percebendo seu sentido. Precisamos estar atentos a esse tipo de leitor e

contribuir para mudar essas práticas, ajudando a formar leitores críticos. Sugerimos que

o professor traga para a sala de aula leituras prazerosas que sejam capazes de acordar no

aluno o gosto de ler e para que isso aconteça o professor deve propiciar condições para

que os alunos leiam com satisfação, até por que a leitura deve ser uma referência na

consolidação da aprendizagem do aluno, seja este, uma criança, um jovem ou adulto.

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