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A LEITURA NA ERA DIGITAL: UMA PROPOSTA DE TRABALHO

PEDAGÓGICO COM O GÊNERO DISCURSIVO HQ

Autora: Seila Maria de Oliveira Dariva

Orientadora: Prof.ª Drª Sonia Merith Claras

RESUMO: A era digital apresenta um novo perfil de leitor, com pouca paciência, como é típico dos jovens, mais ágil e que gosta da leitura cheia de idas e vindas, dinâmica e mais lúdica. Dentro desse contexto, o projeto, desenvolvido na da área de Ensino e Aprendizagem de Leitura e aplicado na 1ª série do Ensino Médio do Col. Est. Castelo Branco, no turno diurno, na cidade de Itapejara D’Oeste, tinha como propósito desenvolver atividades de leitura digital com as HQs (Histórias em Quadrinhos), principalmente as da Turma da Mônica Jovem, do Maurício de Sousa. As HQs trabalhadas são o que temos de mais parecido, impresso em papel, como o dinamismo virtual e que aborda temas adequados a essa idade. Histórias que apresentam quadro a quadro imagens, balões, letreiros e muitas onomatopeias. Tudo se aproxima muito da linguagem rápida, cifrada, cheia de abreviações do mundo virtual. O trabalho em pauta traça um perfil do aluno adolescente que frequenta a escola pública, discute possibilidades de trabalho e reflete, ainda, um pouco sobre os problemas estruturais enfrentados dentro do sistema educacional. Palavras-chave: Leitura; HQs; ambiente virtual.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado do estudo realizado durante os anos de 2010 e

2011 dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, uma

proposta de estudos proporcionada pela Secretaria de Estado da Educação –

SEED, através do governo do Estado do Paraná. Nosso objetivo é sugerir uma

metodologia de leitura na disciplina de Língua Portuguesa a partir da utilização

de histórias em quadrinhos no universo digital. Nos últimos anos, esse recurso

vem sendo utilizado como material didático por professores de diversas áreas

do conhecimento, pois as histórias em quadrinhos oferecem diversas

possibilidades de uso. O desafio, no trabalho realizado, foi apresentar

alternativas de leitura dentro do universo digital que envolvesse os estudantes

e reforçassem o processo de ensino aprendizagem.

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O professor precisa ter em mente que deve estabelecer, sempre que

possível, uma relação das leituras propostas e o conhecimento sociocultural

dos alunos, implementando uma metodologia significativa que permita acesso

aos mais diferentes gêneros.

As novas tecnologias, principalmente o computador e a internet, vieram

para ficar e causar uma transformação na maneira de se comunicar e buscar

informação do ser humano. Esse é um fenômeno do mundo, em poucos

segundos, com um clique pode-se acessar dados, notícias de qualquer lugar

do planeta. Com essa máquina fantástica, chamada computador as pessoas

podem praticar a leitura e a escrita, comunicam-se e interagem, até

semianalfabetos tornam-se sujeitos do processo de comunicação.

Esse trabalho teve como principal objetivo instigar o potencial criativo

dos alunos e formar leitores competentes, os quais possam ser capazes de

usar as tecnologias, e suas mais variadas ferramentas, de forma crítica e

adequada ao contexto no qual estão inseridos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. LEITURA NA ERA DIGITAL

A leitura é uma prática que faz parte das nossas vidas desde o momento

em que começamos a entender o mundo que nos cerca. Ler não significa

apenas decodificar símbolos ou sinais e sim, compreender, interpretar o que se

lê, requer uma participação ativa do sujeito leitor que deve dar sentido ao texto.

Através da leitura o indivíduo constrói seu conhecimento e exerce sua

cidadania, amplia seus horizontes, exercita sua imaginação, melhora sua

reflexão crítica e alimenta a troca de ideias.

Segundo as DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação Básica):

Refletir sobre o ensino da Língua e da Literatura implica pensar também as contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro complexo da contemporaneidade. Mesmo vivendo em época denominada “era da informação”, a qual possibilita acesso rápido à leitura de uma gama imensurável de informações, convivemos com o índice crescente de analfabetismo funcional, e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que lê. (2008, p. 48)

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A leitura das múltiplas linguagens ainda não é realizada com

propriedade, estamos distantes de um sujeito envolvido e consciente das

práticas discursivas que podem transformar sua condição social, seus aspectos

psíquicos, culturais, políticos, linguísticos e até econômicos.

[...] com a expansão quantitativa da rede escolar, passaram a frequentar a escola em número significativo falantes de variedades do português muito distantes do modelo tradicionalmente cultivado pela escola. Passou a haver um profundo choque entre modelos e valores escolares e a realidade dos falantes: choque entre a língua da maioria das crianças (e jovens) e o modelo artificial de língua cultuado pela educação da linguística tradicional; choque entre a fala do professor e a norma escolar; entre a norma escolar e a norma real; entre a fala do professor e a fala dos alunos (FARACO, 1997, p. 57, apud, PARANÁ, 2008, p.43).

Segundo as DCEs, o estudo dos conhecimentos linguísticos deve

propiciar ao aluno a reflexão sobre as normas de uso das unidades da língua,

de como elas são combinadas para produzirem determinados efeitos de

sentido, profundamente vinculados a contextos e adequados às finalidades

pretendidas no ato da linguagem.

Dessa forma a concepção de linguagem como discurso que se efetiva

nas diferentes práticas sociais, o processo de ensino-aprendizagem na

disciplina de língua, busca:

• empregar a língua oral em diferentes situações de uso, saber adequá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles;

• desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que considerem os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, além do contexto de produção; • analisar os textos produzidos, lidos e/ou ouvidos, possibilitando que o aluno amplie seus conhecimentos linguísticos – discursivos; • aprofundar, por meio da leitura de textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, permitindo a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; • aprimorar os conhecimentos linguísticos, de maneira a propiciar acesso às ferramentas de expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais, apropriando-se, também, da norma padrão. (2008, p.54)

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É importante ressaltar que tais objetivos e as práticas supõem um

processo longitudinal de ensino e aprendizagem que se inicia na alfabetização,

consolida-se no decurso da vida acadêmica e não se esgota no período

escolar, mas se estende por toda a vida.

Sobre as práticas de leitura, as concepções propostas pelas Diretrizes

defendem que o leitor deve ter um papel ativo no processo da leitura

efetivando-se como coprodutor, além de procurar pistas formais, formular e

reformular hipóteses, aceitar ou rejeitar conclusões na sua vivência

sociocultural.

O professor deve funcionar como mediador e encaminhar seu aluno para

uma leitura crítica e reflexiva, para que este possa visualizar as intenções

implícitas no texto. É importante ainda ressaltar a pluralidade das leituras, o

que é diferente de afirmar que é possível fazer qualquer tipo de leitura

aleatória, fazer a analise o objetivo de cada texto, quais são os seus

horizontes, sua finalidade, a que interlocutor se destina e qual é o seu gênero.

Do ponto de vista pedagógico, não se trata de ter no horizonte a leitura do professor ou a leitura historicamente privilegiada como parâmetro de ação; importa, diante de uma leitura do aluno, recuperar sua caminhada interpretativa, ou seja, que pistas do texto o fizeram acionar outros conhecimentos para que ele produzisse o sentido que produziu; é na recuperação desta caminhada que cabe ao professor mostrar que alguns dos mecanismos acionados pelo aluno podem ser irrelevantes para o texto que se lê, e, portanto, sua “inadequada leitura” é consequência deste processo e não porque se coaduna com a leitura desejada pelo professor (GERALDI, 1997, p.188, apud, PARANÁ, 2008, p.72).

2.2 O TEXTO VERBAL E O TEXTO NÃO VERBAL

Para as Diretrizes o educador deve atentar-se, também, aos textos não

verbais, ou ainda, aqueles em que predomina o não verbal, como: a charge, a

caricatura, as imagens, as telas de pintura, os símbolos, como possibilidades

de leitura em sala de aula; Textos que exigirão de seu aluno-leitor colaborações

diferentes daquelas necessárias aos textos verbais. Nesses, o leitor deverá

estar atento aos detalhes oferecidos nos traços, cores, formas e desenhos. No

caso de infográficos, tabelas, esquemas, a preocupação estará em

associar/corresponder o verbal ao não verbal, uma vez que este está posto

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para corroborar com a leitura daquele.

As DCEs pontuam, ainda, que não se pode excluir a leitura da esfera

digital, que difere de outros gêneros e suportes. Os processos cognitivos e o

modo de ler nessa esfera também mudam. O hipertexto - texto no suporte

digital/computador - representa uma oportunidade para ampliar a prática de

leitura. Através do hipertexto inaugura-se uma nova maneira de ler. No

ambiente digital, o tempo, o ritmo e a velocidade de leitura mudam. Além dos

hiperlinks, no hipertexto há movimento, som, diálogo com outras linguagens.

O hipertexto concretiza a possibilidade de tornar seu usuário um leitor inserido nas principais discussões em curso no mundo ou, se preferir, fazê – lo adquirir apenas uma visão geral das grandes questões do ser humano na atualidade. Certamente, o hipertexto exige do seu usuário muito mais que a mera decodificação das palavras que flutuam sobre a realidade imediata. (XAVIER, 2004, p. 172)

Na sala de aula, é necessário analisar, nas atividades de interpretação e

compreensão de um texto: os conhecimentos de mundo do aluno, os

conhecimentos linguísticos, o conhecimento da situação comunicativa, dos

interlocutores envolvidos, dos gêneros e suas esferas, do suporte em que o

gênero está publicado, de outros textos (intertextualidade). Para KOCH (2003,

p. 24), o trabalho com esses conhecimentos realiza-se por meio das

estratégias:

• cognitivas: como as inferências, a focalização, a busca da relevância;

• sociointeracionais: como preservação das faces, polidez, atenuação,

atribuição de causas a (possíveis) mal-entendidos, etc.;

• textuais: conjunto e decisões concernentes à textualização, feitas pelo

produtor do texto, tendo em vista seu “projeto de dizer” (pistas, marcas,

sinalizações).

A leitura é um vício para algumas pessoas e o computador também, a combinação da leitura com os computadores pode tornar-se irresistível. Nos livros é possível uma identificação com um personagem ou com vários personagens reais e imaginários. Na Internet, o leitor pode interagir com eles. É verdade que existe uma grande quantidade de sites sem qualidade, mas isso é apenas um detalhe perto das mudanças e novidades que os hipertextos trazem. (NOVAES, 2005, Revista Letra Magna – nº 3).

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Como suporte de textos, os computadores estão apenas começando a

ser explorados, investigados. Os recursos da tecnologia nos oferecem certa

“liberdade” no manuscrito: possibilidade de escrever e reescrever um texto na

tela do computador, alterar o tamanho e o estilo das letras, sublinhar, colorir

trechos, podendo ter uma qualidade de layout quase perfeita dependendo da

habilidade de cada um.

Também é cada vez mais frequente o uso de símbolos, como na escrita

hieroglífica ou pictórica: botões, setas, ícones indicando a existência de sons

ou imagens, sinais gráficos representando emoções ou estados de espírito (as

chamadas “emoticons”, usadas pelos internautas).

A estrutura do texto em modelos de extensão da memória é não linear, pois a sequência dos conteúdos é decidida pelo usuário e não mais pela arbitrariedade do autor de um livro, registrado no suporte impresso e obrigatoriamente linear. O usuário entra em um sistema de coautoria do material que lhe é exposto. Ainda que não tenha o controle do conteúdo interno, a maneira com que se define a sequência dos tópicos, interligando um conteúdo a outro em diferentes ordens, define e por vezes, altera o próprio contexto. (BRAGA, no prelo, 2004, apud, SIGNORINI, 2008, p.53).

Os hipertextos proporcionam experiências de um tipo de leitura que não

é possível no suporte de papel, é dado ao leitor o poder de pular de um trecho

para outro de uma obra, sem seguir a ordem determinada pelo autor.

O uso das tecnologias como suporte didático obriga o professor a sair de

sua área de conforto, enquanto nos métodos tradicionais de ensino o

profissional da educação detém o controle do que ensina, quando se utiliza de

meios como as hipermídias, o professor passa a ser o mediador do

conhecimento, orientando os caminhos que se deve seguir na busca do

conhecimento, ou seja, não controla o processo todo.

Explorar o hipertexto significa se render ao fascínio do percurso,

tentando esgotar toda extensão de seus locais, retornarem os pontos

percorridos para ter alguma segurança.

O ciberespaço é muito rico, entretanto não pode ser visto apenas como

um depósito de informação é um lugar que proporciona mudanças constantes e

que permite uma nova forma de apropriação de conhecimentos. Como

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tecnologia social permite que pessoas com interesses afins possam se

encontrar, falar e trocar impressões.

Considerando que a leitura é um vício para alguns e o computador

também, porque não pensar em aliar esses dois hábitos e extrair o que de

melhor as duas atividades têm para oferecer na formação do indivíduo.

Para as DCEs, o educador precisa oportunizar ao educando práticas de

leitura e discussão de textos das mais diferentes esferas sociais (jornalísticas,

publicitárias, digitais e outras), pois para as diretrizes, a língua é um

instrumento de poder que o aluno, tendo acesso e conhecendo, pode fazer

uso, e para que este se aproprie desse conhecimento, o ensino deveria partir

de situação real de uso, no enunciado concreto, no gênero discursivo, no texto.

Tendo como base teórica e reflexões filosóficas baktinianas sobre a

linguagem, defende-se, nas Diretrizes, que:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 123, apud PARANÁ. DCE, 2008, p. 49).

Em suma, deve-se considerar o processo dinâmico e histórico dos

agentes na interação verbal, tanto na constituição social da linguagem, que

ocorre nas relações sociais, políticas, econômicas, culturais, etc., quanto dos

sujeitos envolvidos nesse processo.

Nesse sentido, é preciso que a escola seja um espaço que promova, por

meio de uma gama de textos com diferentes funções sociais, o letramento dos

alunos, para que se envolvam nas práticas do uso da língua, sejam de leitura,

oralidade e escrita.

Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos - conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos estáveis

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de enunciados, os quais denomina gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 261).

Conforme as Diretrizes, o aprimoramento da competência linguística do

aluno acontecerá com maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas

práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros

discursivos. O trânsito pelas diferentes esferas de comunicação possibilitará ao

educando uma inserção social mais produtiva no sentido de poder formular seu

próprio discurso e interferir na sociedade em que está inserido.

Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p.285)

A linguagem não é um fenômeno estático, está em constante movimento

e evolução e quanto mais próxima do real, da usada entre os indivíduos

quando estão face a face, mais interessante se torna.

As tecnologias e a evolução digital conseguem fazer essa ponte com

certa facilidade, pois a informalidade que impera nas redes sociais e as

possibilidades de comunicação à distância, sejam individuais ou de grupo

fazem surgir um gênero escrito muito parecido ao usado nas comunicações

orais, isso aproxima pessoas e propicia melhor interpretação, dando acesso às

pessoas letradas ou não.

2.3 GÊNERO DISCURSIVO HQ

Histórias em Quadrinhos, ou HQs, são narrativas feitas com desenhos

sequenciais, em geral no sentido horizontal, e normalmente acompanhados de

textos curtos de diálogo e algumas descrições da situação, convencionalmente

apresentados no interior de figuras chamadas "balões".

René Gomes Rodrigues Jarcem em seu texto História das Histórias em

Quadrinhos, disponibilizado na internet em 2007 diz “As primeiras

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manifestações das Histórias em Quadrinhos são no começo do século XX, na

busca de novos meios de comunicação e expressão gráfica e visual.”.

Muito difícil precisar quando e onde as Histórias em Quadrinhos

começaram, pois homens pré-históricos já riscavam quadrinhos nas paredes

de suas cavernas: desenhos que mostram aventuras são encontrados nas

grutas de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha. Depois vieram as

escritas dos assírios e dos babilônios, até que nas pirâmides do Egito foram

reproduzidas imagens das batalhas, de cerimônias religiosas e da vida dos

faraós. Também os gregos, em seus palácios e casas, gostavam de fazer

desenhos em alto relevo em vasos e painéis.

Alguns estudos mostram que somente no século XX é que surgiram as

primeiras manifestações das Histórias em Quadrinhos como são vistas hoje, na

busca de novos meios de comunicação e expressão gráfica e visual. Com o

avanço da imprensa, da tecnologia e dos novos meios de impressão

possibilitaram o desenvolvimento desse meio de comunicação de massa.

Entre os precursores estão o suíço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm

Bush, o francês Georges ("Christophe") Colomb, e o brasileiro Angelo Agostini.

Alguns consideram como a primeira história em quadrinhos a criação de

Richard Fenton Outcalt, The Yellow Kid em 1896.

No Brasil, alguns estudiosos querem dar o crédito pela invenção do

gênero ao cartunista italiano Angelo Agostini, que, radicado no Brasil,

escreveu, em 1869 (muito antes de Yellow Kid), “As Aventuras de Nhô Quim”,

uma autêntica história em quadrinhos, sobre as impressões de uma viagem à

corte. Quinze anos depois ele seria responsável pela criação dos primeiros

quadrinhos brasileiros de longa duração, as Aventuras do Zé Caipora.

Em 1905 começaram a surgir outras histórias em quadrinhos nacionais

com o lançamento da revista O Tico-Tico. Surgiu o personagem Chiquinho, de

Loureiro. Também graças à revista, surgiram Lamparina, de J. Carlos, Zé

Macaco e Faustina, de Alfredo Storni, Para-choque e Vira-Lata, de Max Yantok

e Reco-Reco, Bolão e Azeitona, de Luis Sá.

Depois disso muitos artistas brasileiros investiram na criação de

personagens infantis. Os mais famosos são os da Turma da Mônica, de

Maurício de Sousa, a Turma do Pererê e o Menino Maluquinho, de Ziraldo.

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2.4 HQ DO TIPO MANGÁ NA SALA DE AULA

Em algum ponto da história da educação, um aluno com revista em

quadrinhos na sala de aula era punido com a retenção da revistinha e uma

advertência severa por causa da distração. Atitudes como esta contribuíram

para a marginalização das HQs em sala de aula, porém uma mudança

significativa ocorreu em meados da década de 80, período de grande

movimento intelectual, nessa época também os textos de Vygotsky e Bakhtin

começaram a ser lidos e discutidos nas academias, vertentes como da Análise

do Discurso, da Sociolinguística, da Semântica e da Pragmática apareceram.

Ainda que esta atividade tenha sido inicialmente vista com estranheza pela sociedade – a começar por aqueles professores que haviam crescido na época em que os malefícios da leitura de quadrinhos faziam parte do senso comum -, a evolução dos tempos funcionou favoravelmente à linguagem das HQ`s, evidenciando seus benefícios para o ensino e garantindo sua presença no ambiente escolar formal. Mais recentemente, em muitos países, os próprios órgãos oficiais de educação passaram a reconhecer a importância de se inserir as histórias em quadrinhos no currículo escolar, desenvolvendo orientações específicas para isso. É o que aconteceu no Brasil, por exemplo, onde o emprego das histórias em quadrinhos já é reconhecido pela LBD (Lei de Diretrizes e Bases) e pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). (VERGUEIRO et all, 2007, p. 21).

Nos últimos anos, as HQs têm ganhado espaço na mídia e respeito dos

formadores de opinião. Agora elas estão entrando nas salas de aula.

(...) para o educador, as HQ`s podem vir a ser uma poderosa ferramenta pedagógica, capaz de explicar e mostrar aos alunos, de forma divertida e prazerosa, a aplicação prática de recursos artísticos sofisticados, tais como perspectiva, anatomia, luz e sombra, geometria, cores e composição. (VEGUEIRO, et all, 2007, p.13).

Segundo Barbosa (2006), as histórias em quadrinhos devem ser

instrumentos de Educação, formação moral, propagadora de bons sentimentos

e exaltação das virtudes sociais e individuais. As possibilidades de

comunicação são enriquecidas pela familiaridade com as histórias em

quadrinhos.

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De acordo com a autora, a inclusão das HQs na sala de aula possibilita

ao estudante ampliar seu leque de meios de comunicação, incorporando a

linguagem gráfica à linguagem oral e escrita, que normalmente utiliza.

As HQs sempre foram leituras de interesse garantido entre os jovens e a

preferência por esse tipo de texto só cresce, principalmente o mangá, pois o

gênero quadrinizado é cheio de imagens, quadros e escritas recheadas de

onomatopeias, que apresentam situações reais de uso e narram fatos fictícios

ou não, que têm finalidade de entreter, criticar e ensinar.

Por que não usar o gibi da Turma da Mônica Jovem como ferramenta

pedagógica? Pois é um material já familiar a muitos estudantes, de escrita e

leitura fácil, dinâmica e acessível, o que o torna agradável, pois usa padrões

linguísticos que não causam nenhum estresse no leitor.

Sabe-se que, principalmente no Ensino Médio, há uma dificuldade muito

grande em motivar ou mobilizar os jovens para a leitura, principalmente a

leitura das obras ditas clássicas. Podemos perceber que até determinada idade

a família, a escola ou o professor não precisa fazer muito esforço para

convencer que a leitura é fundamental na formação intelectual do indivíduo,

parece ser um ato natural e causa prazer. Essa passagem de criança para a

pré - adolescência e depois já no período adolescente, a leitura é vista como

um trabalho de cunho obrigatório e uma forma de castigo. O que acontece? E a

atividade prazerosa que era voluntária, por que passa a ser forçada? Muito se

tem dito, feito e estudado, mas é essa realidade que se apresenta na grande

maioria de nossas escolas. A utilização das HQs em sala de aula, por ser mais

informal, pode incentivar os jovens à leitura, despertar o gosto e a vontade de

conhecer novas histórias.

Uma tentativa de mudar esse panorama é partir de leituras, que muitas

vezes marginalizadas pela escola, podem ser o ponto de partida, uma espécie

de preparação de terreno para futuras leituras. A leitura, como quase tudo em

nossa vida, pode e deve virar um hábito.

Por ser de leitura fácil, dinâmica, recheada de imagens e sons que

saltam das páginas, as HQS são a leitura preferencial entre os jovens de forma

geral.

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Nesses moldes, a construção do conhecimento deixa de ser centrada no

professor, que passa a ser orientador no ato da leitura, e o aluno constrói o seu

saber a partir de estímulos externos e de suas próprias vivências.

Partindo do ponto que alguns alunos já têm incorporado o hábito de

leitura, antes da chegada ao Ensino Médio, e que nessa fase os adolescentes

ficam horas na frente do computador quando é dado oportunidade, a

combinação entre leitura e máquinas se torna bem atraente. Nos livros é

possível uma identificação com um personagem ou com vários personagens

reais e imaginários. Na Internet, o leitor pode interagir com eles. É verdade que

existe uma grande quantidade de sites sem qualidade, mas isso é apenas um

detalhe perto das mudanças e novidades que os hipertextos trazem e que o

professor em seu papel de mediador da leitura pode muito bem sanar. Na

leitura do texto eletrônico, o interesse do aluno ainda é um ponto fundamental.

As TICs unem as pessoas, a leitura on line, a conexão na rede, o uso da

internet, torna a leitura e seus leitores mais próximos, pois autores, escritores,

professores podem estar literalmente ao alcance das mãos, a um clic de

distância, para discutir obras, esclarecer dúvidas e instigar a pesquisa.

Na década de 80, experiências aliando HQs e computadores se

iniciaram. No começo esse recurso era usado para melhorar a parte gráfica,

imagens, cores e letras, mas o objetivo continuava sendo a publicação

impressa.

Com a popularização dos computadores, principalmente os domésticos,

e a Internet, as HQs começaram a mudar de suporte, a ser lidas diretamente

na tela , pois os recursos oferecidos por esse tipo de mídia são infinitamente

mais interessantes, somando ao uso dos balões e das onomatopeias, tão

tradicionais nos quadrinhos, cores e efeitos sonoros ou não muito mais

interativos e a partir disso uma nova linguagem começa a engatinhar e se

apresentar ao público jovem ou não.

Com o avanço da internet a cada dia, a leitura virtual é uma

possibilidade viável tanto em termos econômicos como de rápido e fácil

acesso. Cresce a cada momento os “navegadores”, o universo on – line é uma

realidade em nossas escolas, casas ou mesmo em estabelecimentos

especializados em oferecer jogos, pesquisas na rede.

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A gama de informação, de conteúdos na Internet parece quase que um

universo inesgotável, o número de sites de quadrinhos, por exemplo, é grande

e com tendências a se desenvolver.

A literatura definitivamente foi incluída na revolução digital e oferece uma

gama muito grande de assuntos e novos escritores que tem bom domínio da

escrita e que por razões diversas preferem mostrar seus trabalhos no ambiente

virtual e não na mídia impressa. Muitos sites oferecem gratuitamente muitos

exemplares para serem lidos.

3. METODOLOGIA

Esse projeto foi pensado para ser desenvolvido na da área de Ensino e

Aprendizagem de Leitura, com o título de: A leitura na era digital: uma proposta

de trabalho pedagógico com o gênero discursivo HQ. O Seu desenvolvimento

ocorreu em uma turma de 1ª série do Ensino Médio, no período diurno, do

Colégio Estadual Castelo Branco na cidade de Itapejara D’Oeste.

Atendendo às exigências do programa de formação continuada

elaboramos um projeto e material didático para serem usados em sala de aula

durante a implementação exigida pelo programa. O trabalho foi dividido em três

módulos com quatro aulas cada um com as seguintes ações, perfazendo um

total de 12 horas/aula.

1. Apresentação do projeto aos alunos, professores e equipe pedagógica;

2. Aplicação de questionário de sondagem;

3. Análise dos resultados do questionário;

4. Visita ao laboratório com as primeiras aulas sobre navegação e pesquisa

em vários sites;

5. Leitura e discussão de textos sobre as vantagens e desvantagens das

tecnologias e sobre a origem das HQs;

6. Apresentação das revistas da Turma da Mônica Jovem e discussão dos

temas abordados;

7. A leitura on line da revista Nº 05 da Turma da Mônica Jovem;

8. Levantamento de temas e dos recursos estilísticos que são usados

comumente em HQs;

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9. Debate em sala de aula sobre as questões levantadas;

10. Palestra sobre redes sociais, sites e recursos que podem ser utilizados

tanto na criação, como na leitura de HQs e, ou na criação de blogs e

outras páginas;

11. Colocação do Blog na rede.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Quando o projeto foi apresentado aos professores e Equipe Pedagógica,

causou grande curiosidade e gerou questionamentos sobre o assunto, pois a

maioria dos professores, das disciplinas de Línguas ou não, tem interesse em

leitura. A leitura de HQs no universo digital fez com que muitos que tinham

curiosidade e simpatia pelo assunto se aproximassem para acompanhar a

implementação e tiveram particular interesse pelos temas abordados na HQs

da Turma da Mônica Jovem, pois a revista traz situações e discussões bem

pertinentes à idade de nossa clientela.

Os alunos também reagiram com entusiasmo e grande curiosidade, pois a

maior parte da turma conhecia as revistas de ouvir falar ou ver, à distância na

banca. Alguns alunos escreveram nas anotações de suas expectativas:

“Será algo diferente e nos dará mais motivação, que possamos nos divertir aprendendo. Bom, para mim vai ser algo novo, porque eu amo leitura no papel em si, mas com certeza a leitura digital irá melhorar minha educação, será muito bom” (N. A. O. – 14 anos). “Espero que esse trabalho seja divertido, que nos faça gostar, nos interessar pela leitura, tomar gosto por ler, principalmente com essa proposta mais jovem que me foi proposto e eu não conhecia” (R. F. dos S. – 14 anos). “Um trabalho que a princípio parece ser muito bom, legal e descontraído, é um bom incentivo para que nos tenhamos e aprendamos melhor e mais sobre a leitura digital” (M. A. B. – 15 anos).

Quanto à aplicação de questionário de sondagem, alguns dados

importantes aparecem aqui e foram significativos para o trabalho. A turma

escolhida para a implementação tinha um total de 28 alunos, sendo 14 meninas

e 14 meninos com idade entre 14 e 17 anos.

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As respostas dadas no questionário de sondagem revelaram que nossos

alunos passam grande parte do tempo em frente à tela do computador e que

utilizam esse recurso tecnológico de maneira pouco produtiva.

1. Quando perguntados sobre o que fazem em suas horas de folga a respostas

foram:

2. Quais as atividades que realizam no computador;

Tempo que dedicam à leitura na tela do computador:

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3. Costumam ler HQs no computador;

Todos têm acesso à internet em casa, na escola ou em lan houses.

O primeiro contato dos alunos com o trabalho foi muito promissor, pois

todos sem exceção receberam a ideia com boa vontade e, principalmente,

curiosidade.

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No primeiro dia de aplicação do material didático, como técnica “quebra

– gelo”, os alunos se apresentaram e foi pedido a eles que escolhessem um

personagem de HQ que eles se identificassem, como não foi especificado de

que história em quadrinhos deveria ser, deram as mais variadas respostas, de

Super-Homem ao personagem de Walt Disney, Pateta. Os alunos

questionaram os objetivos e estavam ansiosos para saber quando o trabalho

do laboratório começaria. Depois, responderam aos questionários, com

concentração.

Durante a explicação dos termos usados mais comumente na internet,

alguns questionaram o porquê de não haver, em certos casos, termos em

Língua Portuguesa para nomear aplicativos ou comandos usados na rede.

Na terceira aula, os alunos foram levados ao laboratório para navegar e

pesquisar alguns assuntos previamente estabelecidos, infelizmente a aula foi

frustrante, pois o sistema caía a todo o instante e a discussão acabou girando

em torna das deficiências da escola pública, que ainda não possui estrutura

suficiente para algumas atividades.

Na aula seguinte foi retomada a discussão e feito um painel com as

primeiras impressões do trabalho, alguns gostaram e outros disseram estar

decepcionados pelo laboratório não ter funcionado como devia.

Na segunda etapa das aulas o texto usado como suporte para discussão

gerou um debate sério e importante, com vários relatos de como são diferentes

as opiniões dos nossos alunos e seus pais sobre o uso das ferramentas

tecnológicas modernas e da importância de se escrever bem para não perder a

noção de que a Língua Portuguesa ainda é o oficial e não o “internetês”.

Também se falou da necessidade de informações rápidas no mundo moderno

e de como a internet auxilia nessa tarefa. Os discentes citaram que com a

rapidez de notícias é possível salvar vidas e prevenir grandes catástrofes, por

exemplo.

O vídeo com o histórico das HQs também foi uma parte divertida e bem

interativa, alguns já conheciam os personagens da Turma da Mônica Jovem,

mas a grande maioria não havia tido contato com as revistinhas e sabia pouca

coisa sobre o criador da Turma da Mônica, o Maurício de Sousa.

Os questionamentos e as colaborações foram bem importantes para a

continuação do trabalho. A leitura das revistas impressas e análise também

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surtiram efeitos, todos participaram e deram contribuições pertinentes, pois

concluíram que o Maurício de Sousa foi muito feliz na ideia de fazer a turma

crescer e adaptar as HQs ao universo adolescente e mais moderno.

Mais uma vez a ida ao laboratório só não foi um desastre completo

porque a história da Turma da Mônica nº 05 estava salva e não foi preciso

conectar a internet, pois esta não funcionou, não existia nenhum sinal.

Os alunos listaram em seus cadernos os tipos existentes nas histórias,

as formas de balões usadas, os marcadores mais comuns da fala que

apareciam nos textos, as metáforas encontradas e principalmente as

onomatopeias. Fizeram observações do grande número de palavras, gírias

usadas no linguajar adolescente.

Esse último módulo do trabalho começou com a palestra do profissional

da área de informática, os alunos prestaram muita atenção e quando tiveram

oportunidade de perguntar, fizeram questionamentos interessantes, desde

como um profissional pode entrar no ramo da computação gráfica para

trabalhar com texto e imagem até as leis que protegem o usuário da internet.

A cartilha sobre a criação de Blogs foi distribuída e lida, alguns tinham

algumas dúvidas e outros até já tinham conhecimento de como criar um Blog,

tanto a dúvidas como os conhecimentos foram partilhados no grupo.

A produção da página do Blog não foi possível fazer no laboratório do

colégio, pois este deu pane geral e definitivamente não funcionou mais, a

solução foi conectar alguns computadores na sala de aula em redes

particulares e trabalhar em grupo, não era o ideal, mas foi a saída para sanar o

problema.

O nome do Blog gerou muita discussão e decidiu-se que a melhor forma

de resolver o impasse seria fazer uma votação, o nome que venceu foi “Sem

teia na cachola”, http://semteianacachola.blogspot.com.br/.

A parte impressa e as discussões foram de grande valia, porém o uso do

laboratório de informática que era de suma importância para o trabalho deixou

a desejar, acabou sendo um entrave na conclusão do trabalho que poderia ter

rendido frutos muito melhores.

5. GTR – GRUPO DE TRABALHO EM REDE

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Um momento importante do trabalho e que traz reflexões e boas

contribuições é o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), pois a interação com

outros profissionais da educação é de extrema importância para validar e testar

a eficácia do trabalho.

Em determinado momento da interação em rede foi colocado aos

professores o seguinte questionamento: As HQs são o que temos de mais

parecido, impresso em papel, como o dinamismo virtual. Histórias que se

apresentam quadro a quadro, imagens, balões, letreiros e muitas

onomatopeias, tudo se aproxima muito da linguagem rápida, cifrada, cheia de

abreviações do mundo virtual. Assim a proposta de trabalho é abordar o gênero

discursivo HQ dentro do universo virtual, para depois despertar os alunos para

leituras mais clássicas, seja em mídia impressa, ou não. Com base nessas

colocações e questionamentos, quais são as maiores dificuldades que nós

professores temos de atrair nossos estudantes, principalmente do Ensino

Médio, para a leitura e como usar as TICs a nosso favor em nossa prática

diária?

As respostas obtidas servem de comprovação dos problemas que todas

as escolas enfrentam com seus alunos, sejam eles adolescentes ou não, e das

possibilidades de uso das tecnologias a nosso favor.

“Sim, é possível atrair e manter o aluno motivado à leitura. Ao observarmos a procura dos educandos por histórias em quadrinhos e os sites educativos que nos oferece a possibilidade de se fazer as próprias histórias, nos dá ideias mil de aulas interessantes e atraentes. O potencial visual das escritas combinadas ao tempo original e imagens estáticas nas revistas em quadrinhos , só tem a acrescentar na vida social e cultural dos alunos. É indiscutível que o uso da Internet para leituras apropriadas às idades é muito interessante. É necessário a conscientização dos professores desses meios de trabalho para que os mesmos se sintam estimulados à realização de cursos específicos .” (S. DA CUNHA)

“Vivemos atualmente um momento de grandes desafios e o maior deles é a motivação para que nossos alunos realizem leituras. Eles estão muito mais acostumados a realizarem leituras online do que as impressas, principalmente devido às novas tecnologias. Portanto acredito que nós professores é que precisamos nos modernizar e buscar fazer das novas tecnologias nossas aliadas em salas de aula. As TICs devem ser utilizadas como ferramentas de

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incentivo e auxílio visando despertar nos alunos motivação para aprender de forma prazerosa, já que "navegar" pelo universo da informática faz parte do cotidiano de nossos alunos e é muito mais atrativo do que os livros tradicionais.” (M. L. DOS SANTOS )

O GTR resultou em muitas palavras de incentivo, sugestões para

melhorar ainda mais o trabalho e reflexões sobre o ensino aprendizagem de

leitura, tão discutido na teoria e tão difícil na prática diária. Essa forma de

interação em rede reforça a ideia de que as TICs podem e devem ser usadas

na melhoria de nossas atividades educacionais.

6. CONCLUSÃO

Entendemos por Letramento Digital a capacidade que uma pessoa tem

de interagir e dar respostas às demandas da sociedade que englobam a

utilização dos recursos tecnológicos e da escrita no meio digital.

Nossos jovens fazem uso das ferramentas tecnológicas de forma

natural, por isso precisamos mais do que nunca aproveitar esse nicho dentro

do processo de ensino e aprendizagem da leitura em nossas práticas de sala

de aula.

As ações pensadas e desenvolvidas durante a implementação tinham

como principal objetivo propiciar novas práticas de leitura de textos verbais e

não verbais, instigando o potencial criativo dos alunos, buscando a formação

de leitores competentes, além de estimular o uso das tecnologias de

informação de uma maneira mais crítica, entretanto a realidade demonstrou

duas coisas: uma que é perfeitamente possível, a partir de uma reflexão

sistemática e aplicação planejada, usar as histórias em quadrinhos no

ambiente escolar e potencializar a aprendizagem; e outra, que nem tudo o que

planejamos como atividade para nossos alunos é viável dentro da estrutura de

nossas escolas públicas.

As visitas ao laboratório se mostraram frustrantes, pois o sinal de

internet em nossas escolas, infelizmente, ainda é muito deficiente, precisamos

improvisar trazendo gravados alguns arquivos para serem usados. Ou seja, a

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navegação em sites específicos ficou prejudicada. Esse problema gerado pela

falta de estrutura mais uma vez mostra que nós professores precisamos

sempre estar preparados para as eventuais falhas da tecnologia.

Os debates em sala de aula e as leituras foram extremamente

proveitosos, rendendo bons frutos, pois todos se interessaram pelos assuntos

abordados. Principalmente pelos recursos que são utilizados nas HQs, que

tornam o texto bem mais interessante e dinâmico para os jovens.

Atualmente, não é mais suficiente para o nosso jovem a mídia impressa,

o quadro de giz e o professor, o mundo oferece muitos outros recursos, que

não desvalorizam esses citados anteriormente, mas agregam valores e

possibilidades de ver o mundo de outra forma, mais lúdica, mais animada e

muito mais interativa.

Usar todas as potencialidades das máquinas que a idade moderna nos

oferece, nem sempre é tarefa fácil. Esbarramos em dificuldades que não são

previstas em nossos planejamentos, como por exemplo, o mau funcionamento

de algumas mídias em nossas escolas e a falta de manutenção.

Mesmo assim, o que permanece é a vontade de aprender de nossos

educandos, como bons brasileiros aceitam e ajudam nos improvisos diários

para aproveitar o máximo das atividades propostas, então o saldo é positivo,

com discussões e conclusões geradas a partir dos estudos feitos que levam a

crer que o trabalho não foi em vão.

7. REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. M. A estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BARBOSA, Alexandre (org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

NOVAES, Tatiani Daiana de, //. Uma proposta pedagógica de

ciberleitura/ Revista Letra Magna, Local, Ano 02- n.03 - 2º Semestre de

2005.

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PARANÁ. DCE – Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para

a Educação Básica do Estado Paraná, Curitiba: SEED, 2008.

SIGNORINI, Inês. (org). Et all. [Re] discutir texto, gênero e discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

VERGUEIRO, Waldomiro. Et all. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2007.

XAVIER, A. (org.) Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

WEBGRAFIA

René Gomes Rodrigues Jarcem - História, imagem e narrativas. Nº 5, ano 3, setembro/2007 – ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimagem.com.br