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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 1 - A leitura sócio-interativa no curso de Letras-Francês EAD da UFPE Joice Armani Galli 1 (UFPE) Resumo: Ao longo dos tempos, a sociedade contemporânea, tipicamente grafocêntrica, tem atribuído de forma progressiva maior importância à competência leitora. Assim, a leitura sócio-interativa tem se tornado um elemento decisivo para a constituição do sujeito enquanto ator social da linguagem. Nesse sentido, o presente trabalho discorrerá sobre a importância deste modelo de leitura em língua estrangeira (LE) proposto por Galli (2004), à luz de Cicurel (2001) no ensino a distância de Letras- Francês da UFPE. Perspectivado sob o caráter social do processo de letramento digital, o então nomeado curso de Francês Instrumental repercute na aprendizagem desta LE, incidindo na inovação da pesquisa e na aquisição da competência leitora em francês, foco do presente debate. Palavras-chave: leitura, letramento, sócio-interativa, FLE. Résumé: Tout au long de l’histoire, la société contemporaine, d’un profil tourné plutôt vers l’enregistrement de l’écrit, rend de plus en plus importance à la compétence lectorale. Ainsi, la lecture socio-interactive compte sur un élément déterminant pour la formation du sujet vis-à-vis de sa composition sociale, comme acteur du langage. Situé dans ce cadre, le travail propose l’étude de ce modèle de lecture en langue étrangère (LE) d’après Galli (2004), approche mise en lumière à partir de Cicurel (2001). Sous la perspective sociale du lettrisme numérique, l’enseignement à distance de Lettres-Français dans le cours appelé ‘Français Instrumental’ de l’UFPE présente des nouveautés soit au niveau de la recherche, soit au niveau d’acquisition de la compétence lectorale en langue française, le noyau dur de cette étude. Mots-clés: lecture, lettrisme, socio-interactive, FLE. Introdução Considerando o ambiente virtual, no caso específico da EAD para o ensino de línguas estrangeiras (LE), como um espaço privilegiado para a aprendizagem móvel e affordance social e educacional, propomos aqui a reflexão sobre a importância da 1 Joice ARMANI GALLI, Profa. Dra. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Centro de Artes e Comunicação/CAC/ Departamento de Letras/Curso Letras-Francês [email protected]

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A leitura sócio-interativa no curso de Letras-Francês EAD da UFPE

Joice Armani Galli1 (UFPE)

Resumo: Ao longo dos tempos, a sociedade contemporânea, tipicamente grafocêntrica, tem atribuído de forma progressiva maior importância à competência leitora. Assim, a leitura sócio-interativa tem se tornado um elemento decisivo para a constituição do sujeito enquanto ator social da linguagem. Nesse sentido, o presente trabalho discorrerá sobre a importância deste modelo de leitura em língua estrangeira (LE) proposto por Galli (2004), à luz de Cicurel (2001) no ensino a distância de Letras-Francês da UFPE. Perspectivado sob o caráter social do processo de letramento digital, o então nomeado curso de Francês Instrumental repercute na aprendizagem desta LE, incidindo na inovação da pesquisa e

na aquisição da competência leitora em francês, foco do presente debate. Palavras-chave: leitura, letramento, sócio-interativa, FLE. Résumé: Tout au long de l’histoire, la société contemporaine, d’un profil tourné plutôt vers l’enregistrement de l’écrit, rend de plus en plus importance à la compétence lectorale. Ainsi, la lecture socio-interactive compte sur un élément déterminant pour la formation du sujet vis-à-vis de sa composition sociale, comme acteur du langage. Situé dans ce cadre, le travail propose l’étude de ce modèle de lecture en langue étrangère (LE) d’après Galli (2004), approche mise en lumière à partir de Cicurel (2001). Sous la perspective sociale du lettrisme numérique, l’enseignement à distance de Lettres-Français dans le cours appelé ‘Français Instrumental’ de l’UFPE présente des nouveautés soit au niveau de la recherche, soit au niveau d’acquisition de la compétence lectorale en langue française, le noyau dur de cette étude.

Mots-clés: lecture, lettrisme, socio-interactive, FLE.

Introdução

Considerando o ambiente virtual, no caso específico da EAD para o ensino de

línguas estrangeiras (LE), como um espaço privilegiado para a aprendizagem móvel

e affordance social e educacional, propomos aqui a reflexão sobre a importância da

1 Joice ARMANI GALLI, Profa. Dra.

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Centro de Artes e Comunicação/CAC/ Departamento de Letras/Curso Letras-Francês [email protected]

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competência leitora no processo formador dos estudantes do curso designado pelo

nome de Francês Instrumental, do E-Letras, da UFPE.

Inserido, portanto, no contexto conceitual da qualidade de um objeto e/ou

ambiente que permite ao sujeito a realização de ações, acepção primeira do termo

affordance, o referido curso poderia representar uma simples função na carreira

universitária. Porém, o caráter social impingido à competência leitora desenvolvido

nesta aprendizagem móvel permite que se atribua outro sentido à aquisição do

Francês como Língua Estrangeira (FLE) que não seja o mero cumprimento de uma

disciplina eletiva. Este é o caso do trabalho desenvolvido junto aos grupos de

licenciatura em Letras Português, Espanhol ou Inglês, os quais optam pela

realização de cargas horárias facultativas, como o Francês Instrumental (doravante

FI).

Situados neste contexto, as acepções de ensino que envolvem a competência

leitora, particularmente em LE, merecem um olhar mais apurado. Dessa forma, o

presente artigo será apresentado sob três eixos: um primeiro sustentado na história

do Francês Instrumental e sua relação com o percurso leitoral, ou seja,

verificaremos a trajetória desta competência desde a Abordagem Comunicativa

(anos 70). Tal eixo está entrelaçado com o segundo de nossa exposição, o qual diz

respeito aos modelos de leitura em LE para que seja possível realizarmos o

desenvolvimento do terceiro eixo deste trabalho: a leitura sócio-interativa na

formação leitora do público universitário francês.

O Francês Instrumental e seu percurso leitoral

O conhecimento histórico a respeito de um fenômeno linguístico contribui

para realização consciente de ações no processo professoral. Nesse sentido,

consideramos pertinente discorrer brevemente sobre a história das metodologias e

das abordagens no ensino de LE, lançando um olhar específico sobre o papel da

competência leitora nessa trajetória. A partir da Metodologia Direta (MD), Puren

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(1988: 209) apresenta a inovação trazida para os estudos relativos à aquisição de

uma LE. Por seu caráter impositivo, foi conhecida como Coup d’État Pédagogique

e, apesar da brevidade de sua existência (1902 a 1910), confere-se a esta

metodologia o título matricial de grande parte dos conceitos aplicados ao processo

de aquisição das LE até a atualidade.

Ainda que a MD2 tenha sido intensa em sua caracterização epistemológica,

destacaremos, no presente estudo, somente o que consideramos pertinente para

entender a razão pela qual se atribui ainda o nome de Francês Instrumental na

América do Sul e particularmente no Brasil aos cursos de francês para leitura.

No caso da MD, pensamos que seja interessante salientar justamente o

modelo de leitura que se tinha em relação à compreensão escrita. Tal modelo

inaugurou a chamada ‘Leçon de Choses’, cuja imagem a seguir ilustra

oportunamente a ideia relativa a esta competência, sustentada então em um

modelo bi-dimensional.

2 Para um maior aprofundamento deste tema, sugerimos a leitura do texto Letramento Digital no Ensino à Distância de Língua

Francesa na UFPE: identidades (in)visíveis, cuja referência completa está disponível ao final deste trabalho.

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A correspondência imagem e palavra foi amplamente explorada e ainda

apresenta sua validade para o ensino de línguas, já que evita que se passe pelo

intermediário da Língua Materna (LM). Porém, não podemos em absoluto trabalhar

na perspectiva de apenas duas dimensões quando se trata de uma referência

multidimensional como é a educação móvel, particularmente no EAD de uma LE.

No percurso cronológico, seguinte à MD, temos a Metodologia Ativa, a

Metodologia Estrutural-Global ou simplesmente Metodologia Audiovisual, vindo a

culminar com o movimento que receberia o nome não mais de metodologia, mas de

abordagem, trata-se da Abordagem Comunicativa (AC), na década de 70. Por essa

época eclodiram na Europa as ciências da linguagem, eclosão desencadeada em

parte pelo movimento de ‘Mai 68’, representando um marco para a evolução de

teorias de referência como a Sociolinguística e a Análise do Discurso, apenas para

citar duas ciências em plena efervescência na atualidade.

Foi igualmente neste período que a ideia da representação ganhou espaço. A

interpretação a seguir do texto publicitário não deixa de estabelecer relação

subliminar com a imagem cristã para a qual remete, oportunizando uma leitura

crítica desta propaganda:

Essa ideia de representação também será impressa no ensino de LE, assim não

é sem razão que o FI, nascido nesse período, seja marcado por tais características.

Centrando-se essencialmente no conhecimento da leitura em textos da língua

francesa, ou seja, sem necessariamente escrever ou falar na língua alvo, o

estudante deveria ler textos em FLE para o desenvolvimento de sua formação

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universitária. Assim o FI ganhou uma repercussão significativa para o entendimento

de que não é preciso comunicar-se, uma vez que o objetivo principal é a leitura,

basta entender ou decodificar a língua do outro. A representação, portanto desta

LE, estava efetivamente calcada nesta modalidade de ensino que marcou, no

Brasil, os anos 70 e 80, mas que apresenta seu alcance até a contemporaneidade.

Nas correntes de ensino, os manuais como Reflets, Archipel e Sans Frontières

serão os grandes ícones da vanguarda anunciada pela AC, sobretudo devido a

descobertas tais como ‘les actes de parole’, ‘l’interlangue’ e uma série de

reflexões que o estudo da língua vivenciada em situações reais de comunicação

possibilitou desencadear.

A década seguinte se valerá destas descobertas, acrescentando especialmente

o valor da interação ou da ação social, já que entende o sujeito como ator social da

linguagem. É assim que nasce a Abordagem Acional (AA), voltada para um contexto

de diversidade linguística e cultural próprio da francofonia, juntamente com o

Cadre Européen Commun de Référence pour les Langues (2001). O CECRL

estabelece parâmetros de níveis linguísticos, comunicativos e culturais dentre

outros, a fim de trazer à baila a importância do plurilinguismo para a comunicação

humana, contemplando as cinco competências linguísticas: as compreensões oral e

escrita – CO/CE, as produções e/ou expressões oral e escrita EO/EE, além da

competência intercultural – CI, considerada basilar nos estudos contemporâneos da

linguagem.

Preconizando as considerações do contexto imediato de realização de quadros

de ensino ou de pesquisa, a primeira década do Século XXI inaugura a Abordagem

Sociodidática (AS), com vistas a contemplar diferentes espaços com noções

transversais de educação linguística.

Igualmente as TICE - Tecnologias da Informação e da Comunicação para o

Ensino adquiram nos últimos tempos um papel fundamental para a atualização dos

processos de aquisição das LE, particularmente por terem sido as precursoras no

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emprego destes recursos e daí atribuírem-se o nome de ‘novas tecnologias’ na área

das LE. Nesse sentido cabe mencionarmos mais uma vez Puren, já que

Le statut de la technologie n’est plus ici dépendant, mais central, parce qu’elle constitue ou du moins fait partie du ‘noyau dur’ autour duquel les méthodologues ont élaboré une nouvelle cohérence globale d’enseignement qu’ils ont demandé ensuite aux enseignants d’appliquer dans leurs pratiques

[...] (PUREN, 2001 : 205 grifo nosso) 3

Assim, as TICE apresentam por si mesmas algumas potencialidades que geram

efeitos didáticos tais como as possibilidades desenvolvidas pela aprendizagem

móvel. Portanto, toda esta trajetória histórica serve para mostrar o quão distante

está o FI das linhas teóricas de ensino atuais, mas paralelamente serve para

vislumbrar a importância desta modalidade quando devidamente balizada pela AS,

incluindo as TICE e o referencial linguístico-comunicativo do CECRL. Tal reflexão

convidando-nos a conhecer alguns modelos de leitura em LE para, enfim

comentarmos sobre este processo no referido curso.

Modelos de Leitura em LE

Partindo-se do pressuposto de que ler em uma LE é condição essencial para a

formação acadêmica, a tese de Galli (2004) buscou investigar o sistema de

avaliação em leitura do FLE nas universidades brasileiras, analisando a prova, os

candidatos e o produto de sua leitura na primeira década do século XXI. O objetivo

principal foi investigar os exames de proficiência em francês.

Solicitação formal do governo brasileiro desde 1969, a normativa oficial

Número 77 do Conselho Federal de Educação (CFE)4 exige o exame de proficiência

em leitura de LE para os candidatos aos cursos de pós-graduação, em uma LE para

3 O estatuto da tecnologia não é mais aqui dependente, mas central, porque constitui ou ao menos faz parte do ‘núcleo

duro’ ou ‘cerne’ em torno do qual os metodólogos elaboraram uma nova coerência global de ensino sobre a qual pediram, a seguir, que fosse aplicada pelos professores em suas práticas. (grifo nosso) 4 CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Parecer n77/69 de 11 de fev. 1969. Relator: Newton Sucupira. Normas para o

credenciamento dos cursos de pós-graduação. Documenta, Rio de Janeiro (98): 128-132. 14 p.

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o mestrado e em duas para o doutorado. Ao verificar os modelos de leitura e os

modelos de testagem que lhe eram subjacentes dentre outros, o levantamento

teórico desta pesquisa oportunizou seu aproveitamento para as aulas de FI do EAD,

uma vez que contempla o lugar da leitura nas abordagens de ensino.

É preciso considerar igualmente que, ao tratar da leitura para fins

acadêmicos, estamos lidando com um tipo de leitura especial, com características

próprias. A leitura para fins acadêmicos apresenta fatores distintos da leitura

privada14, particular ou pessoal. Atualmente, no contexto do FI no EAD deve-se

situar o leitor no âmbito da leitura coletiva e não no da leitura privada, pois ainda

que ela demande uma leitura particular, acaba por inserir-se, nas circunstâncias do

ensino a distância que conta com fóruns de bate-papo e videoconferências dentre

outros, ou seja, acaba por inserir-se no âmbito da coletividade.

A heterogeneidade dos leitores envolvidos nessa leitura determinada é

também fonte de reflexão para o processo de aquisição da leitura em FLE no EAD,

já que são trabalhados textos com múltiplas leituras, que partem de vários

leitores. Porém este assunto bem como as tipologias e os gêneros textuais

empregados para o desenvolvimento do curso de FI da UFPE implicariam a escrita

de outro artigo. Nos centraremos aqui no conceito pelo qual se orientou o ensino

do FLE neste contexto de estudo, discorrendo sobre os modelos de leitura em LE.

O que efetivamente distingue a leitura acadêmica, dita coletiva, da privada

ou literária é o objetivo. Nesta, segundo Cicurel (2001), a leitura é vista como um

jogo, naquela é preciso centrar-se mais nas orientações determinadas pelo

contexto e nas circunstâncias que circundam a competência leitora. Em outras

palavras, a leitura passa pelas perguntas que se seguem ao texto, sendo, portanto,

realizada também para encontrar respostas às questões de compreensão e

interpretação realizadas neste affordance social e educacional que representa o

curso de FI no EAD. É aqui que reside a defasagem entre a situação de leitura

14

Essas considerações foram feitas, bem como a denominação desse nome, segundo a conferência de Francine Cicurel, intitulada Pratiques lectorales et situations d’enseignement, realizada durante a XII SEDIFRALE e registrado nos Anais deste evento.

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individual e a profissional ou coletiva15, particularmente para a formação leitora do

estudante do E-Letras da UFPE.

Dessa forma, o levantamento teórico de Galli (2004) permitiu que se

fundamentasse o trabalho desenvolvido com o francês para além de um

instrumento, nome que lhe é atribuído por remontar à época em que esta era a

função social do FLE para o universo acadêmico por meio do ‘Francês

Instrumental’. Por isso, cabe recorrermos à referida pesquisa, já que esta situará o

conceito subjacente ao modelo leitor para as práticas de ensino. Tais modelos são

nomeados respectivamente como ‘ascendente’ ou do francês ‘de bas vers haut’,

em uma visão na qual o texto estando completo, pronto, caberia ao leitor apenas

extrair a informação solicitada. Data deste período a pergunta relativa à

interpretação de texto sobre ‘o que teria dito o autor com determinada frase’,

resposta minimamente difícil de ser elaborada uma vez que não se tem acesso

direto ao autor.

O modelo seguinte, ‘descendente’ ou ‘de haut vers bas’, inverte a relação

anterior, atribuindo ao leitor o foco da informação. Restando quase que

exclusivamente a ele a ativação de seus conhecimentos prévios e/ou

enciclopédicos para a tarefa de compreensão e interpretação do texto.

O modelo ‘interativo’ atenta para o fato de que menos que o produto, o

processo leitor, através da ‘gestão do sentido’, será o principal balizador da

interação durante a leitura em LE, sendo responsável por determinar efetivamente

seu sentido. Por fim, a abordagem sócio-interativa, por relativizar o texto com

todos os elementos e relações anteriores apresentadas, contextualizando-o

especialmente em seu espaço de leitura é o modelo priorizado pelo FI do

EAD/UFPE.

No modelo de leitura sócio-interativo, o qual não se caracteriza pelo simples

somatório de uma e de outra visão, concordamos com a autora quando afirma que

15

Em entrevista posterior, julho de 2002, com esta autora, tais discussões foram atualizadas, ratificando-se a importância que a leitura acadêmica tem na formação e no desenvolvimento da prática leitora.

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Seria mais apropriado defini-lo com características que se implicam mutuamente e não apenas que se conjugam. Se antes tínhamos uma orientação vertical fosse do texto para o leitor, fosse do leitor para o texto ou entre autor, texto e leitor, inaugura-se outra direção que parte de uma perspectiva horizontal, já que insere a leitura em um contexto de produção

e de recepção. (GALLI, 2004: 28)

Neste modelo considera-se, assim, igualmente um quarto aspecto: o que

acontece quando o leitor e o texto se encontram, envolvendo três instâncias: o

texto (autor), o leitor e o processo de interação entre o texto (autor) e o leitor.

Dessa forma, o ato de leitura é redimensionado, passando a considerar também o

contexto no qual se circunscreve essa competência da linguagem.

Da mesma forma como é concebido este aspecto na abordagem interativa,

no modelo sócio-interativo a leitura é um processo feito de múltiplos processos,

que ocorrem tanto simultânea quanto sequencialmente. Esses processos incluem

desde habilidades de baixo nível (como a associação de letras, por exemplo, que

formam uma palavra, ninguém lê letra por letra, mas seu conjunto é apreendido

como um todo) executadas de modo automático na leitura proficiente, até

estratégias de alto nível, executadas de modo consciente (a exemplo da

inferência). A essas habilidades são relacionados outros elementos contextuais, já

que, segundo esse modelo, ler pressupõe um interlocutor, um propósito para a

leitura e uma negociação de sentido que respondem a um ambiente sociocultural

determinado.

Assim, o saber-ler em FLE inserido na visão sócio-interativa de leitura é a

capacidade em utilizar o discurso escrito em diferentes ambientes, a fim de

alcançar objetivos diversos. Não é definida em si, mas em função de contextos

sociolinguísticos, históricos e culturais, dados que definem as necessidades dos

leitores de adaptarem-se e de situarem-se nesses contextos. Segundo a pesquisa de

doutorado,

Edifica-se, assim a abordagem sócio-interativa, sedimentada na construção social do ato de leitura, já que o papel interativo do leitor desdobrado em

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quatro níveis como planejar, compor, editorar e monitorar insere-se em um espaço determinado sócio-historicamente que repercute de maneira decisiva para a avaliação de leitura de uma LE. Ao reconhecer-se o contexto, põe-se à mostra a questão do gênero discursivo. (GALLI, 2004: 30)

Dentre as contribuições desta pesquisa, os principais resultados permitem

considerar uma estreita relação com o ensino de FLE no EAD da UFPE, uma vez que

tais avaliações em leitura de LE ratificam o anteriormente exposto. Isto é, tanto

nas provas de proficiência no Brasil quanto nos cursos ainda intitulados como

Francês Instrumental, e no nosso caso FI no EAD, o modelo de leitura pode servir

para legitimar a visão predominantemente sócio-interativa ou pode servir para

reproduzir, através desses modelos de leitura, um referencial epistemológico seja

de cunho extrator, seja de cunho informacional.

Destacam-se igualmente as considerações sobre o que se entende por um

leitor proficiente em FLE, além das respostas fornecidas ao questionário (um dos

instrumentos da pesquisa), a exemplo desta população pensar que a

obrigatoriedade da prova poderia ser substituída pelo cumprimento de créditos em

seus cursos. Tal mudança permitiria a realização de uma formação mais afinada às

exigências de pesquisadores leitores neste contexto, oportunizando a formação de

leitores mais autônomos e engajados, noções que são amplamente entendidas

como válidas no affordance do FI EAD e que se pretende discorrer na prática a

seguir.

A Leitura Sócio-Interativa no Francês Instrumental

Considerando a assimetria entre professor e aluno, já que a introdução de

temas ou conteúdos é escolhido previamente pelo professor, a dinâmica impressa a

realização das aulas deve partir de um conceito contextual. A fim de garantir a

plena participação de todos no processo que implica a leitura sócio-interativa, o

curso de FI no EAD da presente IES (Instituição de Ensino Superior) adota a

perspectiva sócio-interacionista nesta aprendizagem móvel.

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Os progressos tecnológicos trouxeram novas possibilidades para o ensino de

LE, mas o espaço da sala de aula sempre é construído e reconstruído pelos

participantes deste contexto. No caso do FI além de um professor, cerca de 50

alunos distribuídos nas diferentes cidades do estado de Pernambuco, nomeadas

polos, tais como Pesqueira e Limoeiro, conta-se também com o trabalho de um

monitor e dos técnicos do Centro de Ensino à Distância CEAD/UFPE.

Nesse sentido, a concepção sócio-interativa para o modelo de leitura em FLE

e a concepção interacionista para o modelo de ensino no FI traz uma atenção

particular para a relação que se estabelece entre os sujeitos sociais reunidos por

um projeto comum. Segundo Cicurel, La situation de classe doit être envisagée en

prennant en compte ce qui lui est caractéristique ; les échanges se font à propos

‘d’objets de savoir’ et parce qu’il y a une transmission du savoir à opérer.

(CICUREL, 2011 : 323)5

É assim que, frente ao programa estabelecido na plataforma Moodle,

procuramos adaptar o trabalho sugerido pela referida autora, seguindo as

orientações dos dez elementos a serem observados por uma abordagem etnográfica

em uma sequência de aula:

1. Estudar previamente o site da interação, considerando os momentos

públicos e privados, as características ligadas à instituição, às salas de

aula propriamente ditas, sua disposição e a dos participantes;

2. Atentar para o enquadramento temporal como início, fim do curso ou

da aula, ritmos dos encontros e sua duração;

3. Considerar o quadro participativo, número de participantes, estatuto,

papel interacional (dissimetria vs simetria);

4. Estabelecer objetivos da interação através dos textos propostos para

leitura;

5 A situação de sala de aula deve ser considerada levando-se em conta o que lhe é característico; as trocas acontecem em

relação aos ‘objetos de conhecimento’ e porque há uma transmissão do saber a ser realizada. (Tradução nossa)

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5. Regular as tarefas, identificando a estrutura canônica em três tempos:

solicitação/resposta/reação;

6. Elaborar a construção do tema, direcionado pelo professor, o tema

adquire diferentes formas no processo de construção do saber;

7. Reconhecer a importância da metalíngua, particularmente para o FI, a

terminologia gramatical e o seu papel na interação tem um aporte

necessariamente muito rico no plano metalinguístico dos comentários

sobre a língua;

8. Registrar a história conversacional nas trocas das aulas;

9. Identificar as práticas didáticas reconhecidas através das técnicas e

métodos empregados pelos alunos e

10. Identificar as práticas didáticas reconhecidas através do cenário

pedagógico empregado pelo professor.

Foi assim que o programa disponível no site do CEAD, cuja ementa contempla

noções tais como introdução básica à língua francesa, tendo como objetivo

conduzir de maneira progressiva os estudantes à compreensão de textos curtos na

produção escrita foi desenvolvido. Os conteúdos ou a estrutura do material

didático contava com reflexões sobra a leitura, os gêneros textuais e as abordagens

de um texto. O programa contempla igualmente uma sensibilização à fonética, aos

aspectos gramaticais considerados nível A1 e A2 pelo CECRL, como os artigos, os

números, os pronomes, os adjetivos, os verbos ‘Être et Avoir’, além dos regulares

do primeiro grupo no Presente do Indicativo, a distinção no emprego dos pronomes

pessoais ‘vous’ et ‘tu’, a frase negativa, os adjetivos e as preposições, conteúdos

perspectivados sob a ótica da gramática textual progressiva.

Certamente não será possível comentarmos sobre todas as atividades

desenvolvidas ao longo de um semestre com os referidos grupos (foram ao total 6

turmas durante o ano de 2012 a cada semestre). Entretanto, pensamos que seja

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oportuno discorrer acerca de uma destas tarefas de leitura sócio-interativa para

ilustrar a dinâmica multidimensional do FI no EAD.

Sob tal perspectiva, cabe mencionarmos que se ainda usa-se o termo FI para

designar esta modalidade de ensino, é preciso igualmente registrar que há muitos

outros projetos que atualizaram tal vertente. O conjunto de métodos e coleções de

francês com objetivos específicos endereçado a todos que desejam em um espaço

determinado de tempo comunicar-se em francês com francófonos em um contexto

profissional recebe o nome de FOS – Français sur Objectifs Spécifiques. Na

expectativa de contemplar o plano de mobilidade estudantil com o programa

Eramus na Europa e Ciências Sem Fronteiras no Brasil, criou-se há alguns anos o

FOU – Français sur Objectifs Universitaires. Ambas as modalidades acabam por

adaptarem-se às diferentes demandas econômicas e sociais do Século XXI,

respondendo ao que preconiza o Guide pour la recherche en didactiques de langues

et de cultures: abordagens contextualizadas (2011), obra organizada por Philippe

Blanchet e Patrick Chardenet.

Retomando os 10 balizadores apresentados por Cicurel (2011) relacionamos

aqui alguns com vistas a problematizar o ensino de FLE neste affordance

educacional. No item relativo ao quadro participativo, número de participantes,

estatuto e papel interacional (dissimetria vs simetria), procurou-se desenvolver

estratégias leitoras como a inferência, implementando procedimentos que já eram

utilizados na LM.

Paralelamente a este recurso didático, que contempla assim os dois últimos

aspectos do então quadro interacional sugerido por Cicurel, a escolha dos textos

respondia aos objetivos da interação através de textos que desmistificassem a

imagem estereotipada do francês europeu, sensibilizando-os aos preceitos da

francofonia.

No item relativo à construção do tema, direcionado pelo professor, este

adquire diferentes formas no processo de construção do saber e no caso particular

deste trabalho a arte francesa do Século XIX, com a escola dos impressionistas.

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Por fim, um terceiro elemento pertinente foi o aspecto que diz respeito à

metalíngua, pois para o FI foi possível desenvolver atividades para a ativação do

conhecimento através da exploração das palavras transparentes e consensos de

leitura da LM, como será possível observar no excerto a seguir.

Uma das atividades contava com o estabelecimento de relações entre as

videoconferências, os chats e as tarefas comunicativo-gramaticais desenvolvidas ao

longo de um tempo aproximado de um mês. Os estudantes tinham de relacionar as

imagens de um site com os textos disponíveis, justificando suas respostas

textualmente através do próprio material em FLE.

Assim dentre os vários endereços eletrônicos explorados pelos alunos,

destacamos a página a seguir por considerá-la expressiva do mergulho artístico que

esta tarefa de cunho explicitamente acional oportunizou.

Fonte: http://www.impressionniste.net/monet.htm

Neste endereço sobre a obra do pintor impressionista, além de ouvirem

produções musicais da época, já que trabalhamos sob a ótica das cinco

competências do CECRL efetuou-se uma pesquisa efetivamente contextualizada.

Fornecendo atenção especial para o fato de que o modelo sócio-interativo de

leitura deveria contemplar a distância que existe entre o registro escrito e o

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registro oral na língua francesa, foi solicitado que os alunos conhecessem La

Fondation Monet, em Giverny, na França.

Devidamente orientados pela perspectiva interacional, as turmas foram

convidadas a realizarem a compra do ingresso e a visita guiada a casa na qual

habitou o referido pintor com sua família durante 43 anos. A realização desta

tarefa, valendo-nos da AA (Abordagem Acional) foi balizada pela seguinte

proposição de leitura sócio-interativa:

1. Dans ‘Claude Monet a vécu de 1883 à 1926’,... et ‘Il a conçu son jardin de fleurs et son jardin d’eau comme de véritables oeuvres’, dites quel temps verbal est employé respectivement aux verbes ‘vivre’ et ‘concevoir’: présent, passé ou futur?;

2. Dans la réalisation de la deuxième activité, nous avons connu l’emploi de ‘promeneur’, ‘alguém que passeia’. De même, dans notre visioconférence on a parlé du ‘Gérondif’. Dans le texte du site, on a employé ce mode verbal, dites donc le sujet de la phrase En se promenant dans son jardin et sa maison. Ecrivez la réponse en français;

3. Selon le texte, quelles ont été les deux sources les plus fécondes d’inspiration pour le père de l’impressionnisme, dont la phrase suivante semble touchée par l’enthousiasme d’une vie vécue de façon profonde vers la nature : Je dois peut-être aux fleurs d’avoir été peintre, Claude Monet.

Evidentemente a escolha do tema e por consequência a dos materiais é

fundamental como indicou Cicurel (2011) no capítulo do Guide intitulado ‘Les

interactions en situation d’enseignement-apprentissage: observer, transcrire,

analyser’/As interações em situação de ensino-aprendizagem: observar,

transcrever, analisar. Nesse sentido o trabalho desenvolvido ao longo de um ano

com as turmas do CEAD/UFPE desencadearam uma série de reflexões no que

tange ao ensino e à pesquisa em LE e mais particularmente no FI neste

affordance social, proporcionando maior autonomia e motivação aos estudantes

leitores do FLE.

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Conclusão

Segundo autores como Izquierdo (1995), nosso país encontra-se ainda em fase

de desenvolvimento nas ciências, o que demanda constante atualização por meio

de materiais escritos em outras línguas que não o português. Dessa maneira, a

importância de conhecer e de saber empregar tal conhecimento linguístico é

fundamental para qualquer tipo de pesquisa. Quem não é capaz de ler em LE

carece de um instrumento importante para sua formação científica (GALLI, 2004:

10).

A proposta aqui apresentada busca trazer possibilidades de qualificação

acadêmica para o universo do ensino superior no Brasil, já que o implemento de

modelos de leitura tais como o sócio-interativo incidem sobre a renovação de

diferentes aspectos tanto para o ensino quanto para a pesquisa nas ciências da

linguagem e novas tecnologias.

A novidade nessa abordagem triplica-se em diferentes sentidos, conforme

apontado por Galli (2004 apud HUDSON, 1998): é inovadora na conceitualização em

pesquisa, situada em um contexto de história, de política e de poder, sugerindo

investigações de caráter mais qualitativo do que quantitativo; é inovadora na nova

dinâmica que propõe à pedagogia e às concepções curriculares, porque traz à tona

a importância em articularem-se pesquisa e ensino em leitura; e por fim, renova-se

em seu próprio termo, pois o saber-ler é uma prática que envolve a interação em

diferentes direções, mas nos limitamos aqui a apresentá-la no contexto da sala de

aula e no modelo de leitura adotado.

A guisa de conclusão, além de implicar o estudante/leitor em seu processo

de aquisição da LE, em um contexto digital de ensino a característica fundamental

da abordagem sócio-interativa é o questionamento da definição do texto em sua

relação com o leitor, a interação e a definição do que é pertinente como

conhecimento para a leitura.(GALLI, 2004: 52)

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Cabe por fim nos valermos mais uma vez de Puren em seu texto que reúne o

emprego desta abordagem leitora em sintonia com a perspectiva acional e o

emprego de TICE, ao afirmar que

Cette émergence du concept d’acteur social et sa prise en compte aussi bien en classe qu’en société est une conséquence directe de l’évolution des enjeux économiques, sociaux et politiques dans l’Europe au cours de son processus actuel d’intégration. Il ne s’agit plus, comme au début des années

70, de former des apprenants capables de prendre contact et de communiquer avec des étrangers de passage. Il s’agit désormais de former les citoyens de sociétés multilingues et multiculturelles capables de cohabiter harmonieusement (et les classes de FLE/S en France sont des mini-sociétés de ce type), ainsi que des étudiants et des professionnels capables de travailler avec d’autres dans la longue durée en langue-culture étrangère. (PUREN, 2009: 124 grifo nosso)6

Assim, o modelo de leitura sócio-interativo pode representar um acesso ao

nomeado FI através de uma dinâmica mais contemporânea, atualizando o status

desta modalidade do FLE no desenvolvimento de políticas linguísticas para

formação de cidadãos leitores, autônomos, críticos e engajados.

Referências Bibliográficas

Livros com 1 autor

BÉRARD, Evelyne. L’approche communicative : théorie et pratiques. Paris: CLE International, 1991. 126 p.

CICUREL, Francine. Les interactions dans l’enseignement des langues. Paris : Didier, 2011. 287 p.

IZQUIERDO, I.A. O compromisso do cientista com a sociedade. Palestra proferida na Federasul. Porto Alegre, 1995.

6 Essa emergência do conceito de ator social e sua consideração tanto em aula quanto na sociedade é uma consequência

direta da evolução das tratativas econômicas, sociais e políticas na Europa ao longo de seu processo atual de integração. Não se trata mais como no início dos anos 70 (AC) de formar aprendizes capazes de fazer contato e comunicar-se com estrangeiros de passagem. Trata-se a partir de então de formar os cidadãos de sociedades multilíngues e multiculturais capazes de coabitar harmoniosamente (e as aulas de Francês Língua Estrangeira – FLE/ ou de Francês Língua Segunda são mini-sociedades deste tipo), bem como formar estudantes e profissionais capazes de trabalhar com outros na longa jornada em língua-cultura estrangeira. (Tradução e grifo nossos).

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PUREN, Christian. Histoires des Méthodologies de l’Enseignement des Langues. Paris: Nathan, 1988. 430 p.

______ . La formation en questions. Paris: Nathan, 1999. 127 p.

ROY, Jean-Louis. Qual o futuro da língua francesa? Francofonia e concorrência cultural no século XXI. Tradução de Patricia Galindo da Fonseca. Porto Alegre: Sulina, 2010. 223 p.

TAGLIANTE Christine. La classe de langue. Paris: CLE International, 1994.192 p.

Livros com organizadores, coordenadores

BLANCHET, Philippe ; CHARDENET, Patrick (Org.). Guide pour la recherche en didactique des langues et des cultures: Approches contextualisées. Editora : Editions des Archives contemporaines, Université de Rennes et Agence Universitaire de la Francophonie (AUF), 2011. 509 p.

PUREN, Christian. La nouvelle perspective actionnelle et ses implications sur la conception des manuels de langue. In : LIONS-OLIVIERI, Marie Laure et LIRIA, Philippe. L’approche actionnelle dans l’enseignement des langues. Paris: Maison de Langues, 2009. 218 p.

Partes de livros com autoria própria

GALLI, Joice Armani. As Línguas Estrangeiras como Política de Educação Pública Plurilingue. In: GALLI, J. A. (Org). Línguas que botam a boca no mundo: reflexões sobre teorias e práticas de línguas. Recife: EDUFPE, 2011. 208 p. p. 15-36.

CICUREL, Francine. Les interactions en situation d’enseignement-apprentissage: observer, transcrire, analyser. In : BLANCHET et CHARDENET, (Orgs.) Guide pour la recherche en didactique des langues et des cultures: Approches contextualisées. Editora : Editions des Archives contemporaines, Université de Rennes et Agence Universitaire de la Francophonie (AUF), 2011. 509 p. p. 323-335.

Dissertações, teses, trabalhos de conclusão de curso

GALLI, Joice Armani. O sistema de avaliação de proficiência em leitura em francês como língua estrangeira, em três universidades do Rio Grande do Sul: a

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prova, os candidatos e o produto de leitura. Porto Alegre, 2004. 240 f. Tese (Doutorado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

Trabalhos de eventos

CICUREL, Francine. Pratiques lectorales et situation d’enseignement. Palestra proferida na XII SEDIFRALE – Congresso latino-americano de professores de francês – Mondialisation et humanisme: les enjeux du français. Anais do XII SEDIFRALE. Rio de Janeiro, 03 a 07 de junho de 2001.

GALLI, J. A., AUBIN, Simone Pires Barbosa. O uso do livro digital didático na UFPE. Anais Eletrônicos do V Simpósio Hipertexto Tecnologias na Educação. ISSN 1984-1175. Recife, 11 a 15 de novembro de 2012.

PUREN, Christian. La didactique des langues face à l’innovation technologique. Actes des Colloques Usages des Nouvelles Technologies et Enseignement des Langues Étrangères – UNTELE. Compiègne: Université de Technologie Compiègne/UTC, 2001.

Artigos de revistas/periódicos

CICUREL, Francine. Compréhension des textes: une démarche interactive. Le français dans le monde. Paris, n. 243, p. 40-46, août/sept. 1991.

_____. Dispositifs textuels et persuasion clandestine. Etudes en Linguistique Appliquée/ELA. Paris, n. 119, p. 291-304, juil./sept. 2000.

HUDSON, Thom. Theoretical perspectives on reading. Annual review of applied linguistics, Cambridge, n. 18, p. 43-60, 1998.

Documentos eletrônicos online

GALLI, Armani Joice. Letramento digital no ensino à distância de língua francesa na UFPE: Identidades (in) visíveis. Disponível em http://issuu.com/neplev/docs/identidade_e_espaco_virtual. Recife, 2013. Acesso em 15 de novembro de 2013.

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PUREN, Christian. L’évolution historique des approches en didactique des langues-cultures, ou comment faire l’unité des «unités didactiques».Disponível em: http://www.tesolfrance.org/articles/Colloque05/Puren05.pdf. Acesso em 5 de junho de 2011.

______ . Explication de textes et perspective actionnelle : la littérature entre le dire scolaire et le faire social. Disponível em: http://www.aplv-languesmodernes.org/spip.php?article389. Acesso em 4 de junho 2011.

Sitografia

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http://www.christianpuren.com

http://www.nehte.com.br/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2012/JoiceGalli&SimoneAubin-Ousodolivro.pdf