A Lenda da Imortalidade da Alma

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A Lenda da Imortalidade da Alma Página 1

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SUMRIO

PREFCIO4I-Um testemunho pessoal4CAPTULO 1 INTRODUO AO TEMA13I Introduo13IIA Primeira Mentira13IIIPor que a mentira?21IVComo o conceito de alma imortal entrou no Judasmo29CAPTULO 2 OS PAIS DA IGREJA E A IMORTALIDADE DA ALMA37IOs Pais da Igreja criam na imortalidade da alma?37IIA Dormio de Maria e a Imortalidade da Alma48CAPTULO 3 CONCEITOS BBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPRITO51IConceitos com relao alma51IIQual o conceito correto?51IIIO que o esprito [ruach] e o que a alma [nephesh]?53IVA morte da alma75VConcluso94VISobre os significados secundrios para a alma95CAPTULO 4 A CRENA DA IMORTALIDADE DA ALMA NO ANTIGO TESTAMENTO103I Introduo ao Captulo103IIMoiss, J e a Imortalidade da Alma104IIIOs Livros Poticos109IVA posio dos Livros Profticos120VSaul conversou com Samuel depois de morto?123VIA alma no lugar de silncio129VIIConcluso132VIIIEstavam enganados os escritores do Antigo Testamento?136CAPTULO 5 A CRENA NA IMORTALIDADE DA ALMA NO NOVO TESTAMENTO146IIntroduo ao Captulo146CAPTULO 5.1 JESUS PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?147IIA Parbola do rico e do Lzaro147IIIA Origem pag do Hades154IVO que o Sheol?156VO Significado da Parbola160VIDeus de vivos, no de mortos Argumento contra ou a favor da imortalidade da alma?174VIIMateus 10:28 e a destruio da alma177VIIIHoje mesmo estars comigo no Paraso?182IXUm esprito no tem carne e ossos196CAPTULO 5.2 O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU?199XSobre a entrada no Reino ou na condenao199XISobre Imortalidade e Vida Eterna208XIISobre o Estado Final dos mpios210XIIIA Ressurreio de Lzaro211CAPTULO 5.3 OS APSTOLOS PREGAVAM A IMORTALIDADE DA ALMA?216XIVAtos dos Apstolos216CAPTULO 5.4 PAULO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?225XVAusente do corpo e presente com Cristo225XVIA realidade da ressurreio em contraste com a alma imortal237XVIIA consolao do apstolo Paulo aos Tessalonicenses245XVIIIBuscando aquilo que ns j temos?250XIXDeus, o nico que possui a imortalidade253XXLevou cativo o cativeiro256XXIA Bblia e as Experincias Fora do Corpo260XXIIA Entrada no Reino somente na Ressurreio262XXIIIltimas consideraes dos ensinos de Paulo contra a imortalidade da alma271CAPTULO 5.5 AFINAL, ALGUM APSTOLO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?277XXIVO autor desconhecido de Hebreus tambm desconhecia a Imortalidade da Alma277XXVPedro pregou a Imortalidade da Alma?289XXVIJoo pregou a Imortalidade da Alma?300XXVIIMais pilares do imortalismo sendo derrubados304CAPTULO 6 O SONO DA MORTE319IA Metfora do Sono319IIO dormir referncia somente para o corpo?323CAPTULO 7 A RESSURREIO DOS MORTOS329I-A Ressurreio Fsica?329IIO que a Ressurreio?341IIIA recompensa no momento da morte ou somente na ressurreio?343IVMorte o maior inimigo345VO que acontece na Ressurreio?346CAPTULO 8 A DOUTRINA DO INFERNO E DOS ACONTECIMENTOS FINAIS358I-Introduo ao Captulo358CAPTULO 8.1 INFERNO: TORMENTO ETERNO OU ANIQUILACIONISMO?361IIConceitos errneos sobre o Inferno361IIIO Repertrio Bblico de Aniquilamento363IVAnalisando as passagens utilizadas pelos imortalistas373VO Aniquilamento dos mpios395VIA Lei da Proporcionalidade410VII-A Lei Moral419VIIIConcluso422CAPTULO 8.2 OS ACONTECIMENTOS FINAIS425IOnde passaremos a eternidade?425II-Novos Cus e Nova Terra428CONSIDERAES FINAIS433

A Lenda da Imortalidade da AlmaPgina 1

PREFCIO

I-Um testemunho pessoal

Se as pessoas que morreram em Cristo j esto no Cu, ento qual a necessidade da ressurreio? Por que elas precisariam deixar o Cu, voltar para o corpo sepultado, ressuscitar novamente e retornar para o Cu? Ser que por causa deste dilema doutrinrio, impossvel de ser resolvido, que no se v muita pregao sobre a ressurreio nas igrejas crists que creem no estado consciente dos mortos?[footnoteRef:1] [1: MEDEIROS, Gilson. Jesus falou mais sobre o inferno do que sobre o Cu. Ser? Disponvel em: . Acesso em: 22/08/2013.]

Quem estiver lendo este livro pela primeira vez pode se surpreender em saber que seu autor no adventista ou testemunha de Jeov, mas um evanglico comum que cria na imortalidade da alma, a exemplo do que a grande maioria dos evanglicos ainda creem. A noo de que Deus tenha implantando um elemento imortal no homem, que sobrevive parte do corpo na morte e volta para Deus em estado incorpreo esperando a ressurreio em um estado intermedirio ponto de f em muitas religies, inclusive crists.

Nasci e cresci aprendendo a doutrina da imortalidade da alma. Talvez a primeira coisa que eu tenha ouvido sobre a morte que a alma imortal. Sobre ressurreio? No, isso no era muito importante. Um mero detalhe desnecessrio e de menor importncia, que no era muito ressaltado nas igrejas. Tinha apenas um leve conhecimento sobre ressurreio, mas sobre imortalidade da alma estava na ponta da lngua. Fui doutrinado, tanto pelas igrejas que eu frequentava quanto pelos sites apologticos evanglicos na internet, que a alma era imortal.

Quando comecei a construo de meu primeiro site[footnoteRef:2], em 2009, eu dediquei uma pgina para provar a imortalidade da alma, baseando-me naquelas mesmas meia dzia de passagens bblicas isoladas que todo bom imortalista sabe de cor: partir e estar com Cristo, as almas debaixo do altar clamando vingana, o ladro da cruz, a parbola do Lzaro, os espritos em priso, etc. Passava essas passagens no site achando que era tudo aquilo que a Bblia tinha a dizer sobre o tema. E, nos debates, sustentava essa mesma posio. [2: apologiacrista.com]

Antes de contar como que eu deixei de crer na imortalidade da alma, ser necessrio comear contando como que tudo comeou. Uma daquelas perguntas que todo cristo tem em mente mas que apenas alguns poucos tm coragem de assumi-la sobre como que um Deus cheio de amor, graa, justia e misericrdia poderia deixar queimando literalmente entre as chamas de um lago de fogo e enxofre por toda a eternidade os pecadores que durante alguns anos no serviram a Cristo em suas vidas terrenas.

No preciso ser um filsofo para entender que tal punio seria injusta. Um tormento infinito por pecados finitos no entrava na minha cabea, pelo menos no com o Deus que nos revelado nas Escrituras, que tanto amou o mundo ao ponto de dar o Seu nico Filho por todos ns. Se nem eu ou voc seramos to cruis e implacveis ao ponto de mandar o nosso maior inimigo para literalmente as chamas de um fogo eterno, para sofrer terrivelmente para sempre e sem volta, quanto menos Deus, que ama muito mais essa pessoa do que eu ou voc!

As explicaes que ouvia sobre isso no me eram satisfatrias. Uns diziam que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos, e que por acidente os no-cristos vo acabar partilhando do destino do diabo e seus anjos. Mas como Deus onisciente e sabia muito bem de todo o desenrolar da histria humana antes mesmo de criar o homem, fica ainda mais incoerente crer que ele no tenha previsto esse inferno de tormento eterno para os homens pecadores. Na verdade, essa explicao no ajudava nada.

Por esta poca, eu comecei a me aventurar a ler vrios daqueles relatos de vida aps a morte. Li desde pessoas que supostamente foram ao Cu, at pessoas que passaram pelo inferno e voltaram (h tambm pessoas que dizem ter visitado o purgatrio e o limbo). Claro que a maior nfase e quantidade de relatos era deste ltimo, o inferno. Li desde as vises de Santa Faustina do inferno, at a divina revelao do inferno de Mary Baxter, os 23 minutos no inferno de Bill Wiese, dentre muitas outras revelaes, as quais eu me amarrava, e tinha toda a credulidade do mundo de que tais vises eram reais.

Na poca, eu no tinha qualquer conhecimento bblico srio sobre o que era realmente o inferno bblico, apenas tinha aquela viso tradicional de inferno, herdada a ns pela Igreja Catlica na Idade Mdia, ao maior estilo Comdia de Dante. Para mim, o inferno era um local subterrneo, onde as almas ou espritos imortais dos pecadores desciam, e l eram atormentados por demnios, por fogo, por torturas colossais de todos os tipos. O inferno era praticamente uma Disneylndia do demnio, que se divertia bea torturando os pecadores.

Em outras palavras, ao invs de o inferno ser uma punio para o demnio (pois foipreparado para o diabo e seus anjos cf. Mt.25:41), era uma total curtio para ele. Mas no era somente isso que me estranhava nestes relatos infernais. No era preciso ter nenhum conhecimento teolgico para perceber que os relatos eram sempre contraditrios entre si (portanto, mutuamente excludentes), e em quase todos os casos as pessoas encontravam por l personagens famosos, como Michael Jackson, John Lennon, o papa Joo Paulo II, dentre outros. E os espritos? Estes sangravam, vestiam roupas humanas, tinham at pele e ossos.

Tudo isso me parecia muito estranho, para dizer pouco. Mas o ponto em comum em todas as vises do inferno que a pessoa que foi supostamente levada at l estava ao lado de Jesus, que se mostrava profundamente triste com o sofrimento daquelas pessoas, quase que arrependido, como se no tivesse sido ele prprio que tivesse preparado aquele lugar e soubesse de antemo o destino que os no-salvos teriam ali. Mas dizia que naquele momento j no restava mais nada a ser feito, pois aquelas pessoas j estariam condenadas para passarem toda a eternidade naquele lugar. Apenas mais tarde fui entender que os mortos s sero julgados e condenados na segunda vinda de Cristo (cf. 2Tm.4:1; Jo.5:28,29; At.17:31).

Contudo, ao invs de me conformar com essa explicao, isso piorava ainda mais as coisas, pois passava a ideia de um Deus que incapaz de solucionar os problemas ou resgatar as pessoas daquele lugar terrvel, que sabia premeditadamente que aquelas pessoas iriam para aquele lugar, e, ao invs de decretar um juzo justo e correspondente aos pecados de cada um, decide por um tormento eterno para todos, indiscriminadamente. Um rapaz de doze anos que no conheceu Jesus teria a mesma pena de Adolf Hitler, que exterminou os judeus.

O diabo, autor do pecado e que peca desde o princpio (cf. 1Jo.3:8), ficaria se divertindo torturando aqueles que pecaram somente durante algum tempo. Todas as respostas que lia e ouvia no serviam para melhorar a situao, mas apenas serviam para acentuar o problema. A base filosfica podia s vezes parecer racional, mas nunca atingia o cerne da questo. E, com medo de questionar se isso justo ou no e ir parar neste local infernal, tinha receio de questionar o prprio Deus sobre isso, ou de perguntar a outras pessoas.

Afinal, o motor que rege muitos crentes para viverem certinho no Deus ou a vida eterna, o fogo do inferno. Muitos crentes querem ser santos marra, por fora de obrigao e no por livre e espontnea vontade de amar a Deus, porque tem medo de morrer no pecado e irem parar neste local infernal. Sendo assim, a real motivao para servir a Cristo acaba sendo escapar do inferno, e no encontrar seu Salvador. Para elas, se um tormento eterno no existisse, valeria mais a pena viver no pecado!

E cristos firmados sobre o medo do inferno no so cristos verdadeiros. O cristo tem que estar firmado em Cristo, e somente nEle. Mas isso muito difcil para algum que tem em mente a ideia de que, se cometer algum deslize, tem um local embaixo da terra com vrios seres passando por tormentos colossais nas mos de criaturas demonacas com um garfo na mo, junto a um fogo que queima espritos incorpreos para sempre.

Seria mais justo que Deus punisse cada pecador com o tanto correspondente aos seus pecados do que enviar todos juntos para uma mesma condenao de um tormento infinito por pecados finitos. Da mesma forma que eu considerava injusto que no houvesse castigo nem punio pelos pecados, igualmente achava injusto que essa punio fosse eterna para todos, indistintamente. A soluo para isso seria um castigo proporcional aos pecados de cada um, e no uma extino de vida antes de pagar pelos pecados, e muito menos um tormento eterno, que s serviria para perpetuar o pecado, os pecadores, o mal, as blasfmias e o tormento no Universo para sempre, ao invs de elimin-lo de uma vez por todas.

Foi ento que, lendo um artigo do doutor Samuele Bacchiocchi (o qual eu fao questo de citar neste livro em vrias ocasies), eu descobri a verdade sobre o inferno, que consiste em um castigo proporcional s obras e em aniquilacionismo, e no em um tormento eterno. claro que isso no era tudo. Comecei a estudar o assunto e perceber a falcia dos argumentos imortalistas para um tormento eterno, os quais sero examinados ao longo deste livro. Descobri, ento, que Deus no castiga da mesma forma todos os pecadores com um tormento eterno para todos indistintamente, mas pune a cada um com o tanto correspondente pelos seus pecados.

Descobri que Deus no d infinitos aoites em ningum, mas que uns receberomuitos aoites(cf. Lc.12:47), enquanto outros, por sua vez, receberopoucos aoites(cf. Lc.12:48). Descobri, finalmente, a linguagem bblica que expressa de maneira grandiosa a justia de Deus: que os mpios sero castigados pelo tanto correspondente aos seus pecados e, em seguida, eliminados, e no atormentados para sempre.

Essa descoberta foi duplamente libertadora: primeiro, me libertou de um engano bblico tremendo que a crena em um inferno de tormento eterno e consciente, baseando-me em uma ou outra passagem isolada, quando a Bblia por completo rejeita tal doutrina. Segundo, ela me libertou de outro tormento, o psicolgico, pois pude ver novamente como que o amor e a justia de Deus andam de mos dadas, e que Ele no incoerente com relao ao destino eterno dos perdidos. Como o prprio Bacchiocchi disse,arecuperao do ponto de vista bblico do juzo final pode soltar a lngua dos pregadores, porque podem pregar esta doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro[footnoteRef:3]. [3: BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreio: Uma abordagem bblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1 edio, 2007.]

Mesmo aps crer na crena bblica da destruio eterna dos mpios e rejeitar a tese do tormento eterno, o fato que eu continuei crendo no estado intermedirio, onde as almas dos justos j estariam com Deus e as dos mpios j estariam no inferno (ainda que no seja eternamente). Sim, incoerente crer nisso, pois se a alma sobrevive morte do corpo porque ela no morre; ou seja, que ela imortal. Mas se ela morre na segunda morte, ento ela no imortal! Em outras palavras, crer que a alma sobrevive aps a morte e ao mesmo tempo crer que ela perecer no dia do juzo ser incoerente: seria o mesmo que dizer que a alma morre e no morre, que ela e no imortal.

Portanto, de duas, uma: ou a crena no tormento eterno do inferno verdadeira, ou ento, se no , a prpria imortalidade da alma em um estado intermedirio falsa. Demorou mais algum tempo para descobrir isso, e dessa vez a bomba veio com um nome:ressurreio dos mortos!Sim, essa crena to esquecida e praticamente abandonada pelos pastores e igrejas em nossos dias foi exatamente aquilo que me levou rejeitar a imortalidade da alma.

certo que as igrejas que pregam a imortalidade da alma, em sua maioria, no rejeitam a ressurreio dos mortos. Porm, isso no muda o fato de que ambas as doutrinas so mutuamente excludentes. Os gregos da poca de Cristo, que difundiram enormemente a tese da alma imortal para o mundo, no criam na ressurreio dos mortos, e por isso zombaram de Paulo no Arepago (cf. At.17:32). O telogo luterano Oscar Cullmann logo percebeu esse contraste e escreveu o livro: Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos?, onde ele aborda tal contraste abismal entre ambas as doutrinas.

O fato que a imortalidade da alma anula completamente o valor e a importncia (e principalmente anecessidade) da ressurreio. Prova disso que raramente se v pregaes colocando o foco na esperana da ressurreio nos dias de hoje. Desde quando a doutrina pag na imortalidade da alma entrou no Cristianismo, o foco passou a ser a esperana da imortalidade da alma, e no mais a esperana de ressurgir dentre os mortos na manh da ressurreio do ltimo dia. O foco mudou completamente.

Da Igreja Primitiva, onde nunca se ouviu falar de alma imortal [psiqu athanatos], e que pregava que a nica esperana dos cristos era na ressurreio, para a igreja atual, onde no se ouve mais pregaes sobre a ressurreio, onde ningum fala que a sua maior esperana em ressuscitar dos mortos, onde a crena na alma imortal suprimiu a crena fundamental na ressurreio. Rejeitar a imortalidade da alma no apenas repudiar uma doutrina falsa oriunda do paganismo grego, mas engrandecer e enaltecer novamente a ressurreio dos mortos, assim como era crida na Igreja primitiva.

Diante disso, chegou o dia em que eu parei para ler 1 Corntios, captulo 15. Nunca vou me esquecer daquele dia. Nunca algum captulo mexeu tanto comigo. A cada verso que lia, a cada compreenso do ensino de Paulo sobre a ressurreio, eu ficava admirado, e ao mesmo tempo espantado como nunca havia percebido aquilo antes? Era difcil acreditar que a Igreja se distanciou tanto daquele ensino. Era difcil acreditar que a cada versculo eu me convencia cada vez mais que imortalidade da alma no condiz com ressurreio dos mortos.

Confesso que fiquei plido quando li no verso 18 Paulo dizendo que, se no fosse pela ressurreio, os que dormiram em Cristo j pereceram. Confesso que fiquei mais plido ainda quando li no verso seguinte que a nossa esperana em Cristo se limitaria somente a esta presente vida, se no existisse a ressurreio. Quanto mais eu lia, mais me convencia que, se no fosse pela ressurreio do ltimo dia, no existiria nada depois da morte. Tanto que Paulo diz que, sem ressurreio, seria melhor comer, beber e depois morrer (v.32), e estaramos correndo perigos toa (v.30).

Nunca havia visto um imortalista pregar essas passagens. E at hoje nunca vi algum as explicar satisfatoriamente, luz de sua crena na imortalidade da alma. Afinal, Paulo poderia ter dito que viveramos no Cu do mesmo jeito sem a ressurreio, estando com nossas almas no Paraso sem um corpo. Para os imortalistas, a ressurreio isso: um detalhe desnecessrio. Para que ressuscitar um corpo morto, se j estaramos no Cu? De qualquer forma, na teologia imortalista, a ressurreio desnecessria e intil, pois estaramos com Deus no Cu com ou sem um corpo fsico glorioso.

Estaramos desfrutando das delcias do Paraso para sempre, do mesmo jeito. Estaramos com Deus eternamente, independentemente de um corpo se levantar dos mortos ou no. Mas, se a alma no imortal, ento a ressurreio totalmente necessria. Sem ela, os mortos j teriam perecido para sempre (v.18). Sem ela, no haveria outra vida aps a morte, e a nossa esperana seria somente esta vida presente (v.19). Sem ela, intil sofrer perseguies por amor a Cristo (v.30). Sem ela, a prpria vida intil (v.32). Quanta diferena entre imortalidade da alma e ressurreio dos mortos!

Depois, li os versos 51-54, onde vejo Paulo dizendo que seremos dotados de imortalidade somenteaps a ressurreio, pois ela no algo que j trazemos conosco em nossa natureza no presente momento. E vejo tambm que a morte no a libertadora da alma imortal, mas o maior inimigo a ser vencido (vs. 54-55), e que s tragada na ressurreio (v.54). Quo importante, gloriosa e fundamental a ressurreio!

Quando descobri o valor da ressurreio no Cristianismo, o tanto que ela importante e como ela foi sendo to sistematicamente abandonada at chegar aos nossos dias (a tal ponto que raramente se v pregaes sobre a ressurreio hoje em dia), tentei entender o porqu que ela foi to esquecida. Afinal, isso tudo no poderia ter acontecido do nada, sem uma razo de ser. Ao lermos o livro de Atos vemos que em 2/3 das ocasies em que a palavra esperana entra em cena ela est relacionada esperana da ressurreio dos mortos, no ltimo dia.

O prprio Paulo disse que nessa esperana, isto , na esperana da redeno do nosso corpo, que fomos salvos (cf. Rm.8:24), que tinha a mesma esperana desses homens, de que haver ressurreio tanto de justos como de injustos (cf. At.24:15), e de que estava sendo julgado por causa da minha esperana na ressurreio dos mortos (cf. At.23:6). Se a esperana da ressurreio era o foco da Igreja primitiva e foi perdendo espao at os dias atuais, porque algo aconteceu, porque alguma outra coisa foi ganhando este espao.

E, ao estudarmos a histria da Igreja, vemos que no final do sculo II os filsofos cristos, admiradores da filosofia de Plato, decidiram criar um meio de tentar conciliar o ensino da ressurreio com a imortalidade da alma, inventando um estado intermedirio, onde as almas esperariam em forma incorprea a ressurreio dos seus corpos. A partir de ento, a imortalidade da alma foi ganhando cada vez mais espao, e a ressurreio perdendo cada vez mais. Pois, se a alma j vai para o Cu sem a necessidade da ressurreio, para que existe ressurreio? A ressurreio seria desnecessria, pois j estaramos na glria ou pelo menos assegurados entre os salvos.

E tudo aquilo que Paulo disse aos corntios em 1 Corntios 15 perderia completamente o sentido e a razo de existir. Ao invs de Paulo estar pregando a necessidade da ressurreio, ele estaria simplesmente pregando a existncia dela. A ressurreio que a Bblia ensina uma ressurreio no apenas fsica e real, mas necessria e fundamental. A ressurreio crida pelos imortalistas, no entanto, intil e desnecessria (pois j estaramos no Cu antes dela e continuaramos l sem ela, mesmo se ela nunca existisse).

Esse evidente contraste entre os pontos de vista mortalista e imortalista em relao vida aps a morte fica ainda mais acentuado quando vemos que, se de fato apenas na ressurreio que ganhamos vida, ento essa deve ser a nossa maior esperana, mas se a nossa alma j est no Cu antes dela e sem a necessidade dela, ento a nossa esperana no a ressurreio dos mortos, como to insistentemente pregavam os apstolos, mas a imortalidade da alma.

E neste espantalho criado pelos imortalistas e apelidado de ressurreio que eles acreditam: uma ressurreio desnecessria, sem razo lgica de existir, em que viveramos muito bem sem ela e onde absurdo colocar esperana numa to simples religao de corpo com alma por ocasio da segunda vinda de Cristo. A maior razo deste livro existir no dizer que a alma morre, mas anunciar a verdadeira ressurreio, retornando s razes da esperana crist primitiva, voltando aos primrdios de quando a imortalidade da alma estava das portas para fora da Igreja, e por essa mesma razo a ressurreio era o foco de todo o pensamento apostlico e neotestamentrio.

Para o inimigo, bastou inventar a mentira de quecertamente no morrers(cf. Gn.3:4), que o homem rapidamente deixou de lado, arquivado em algum lugar, a sua crena numa ressurreio vindoura. Bastou ensinar que a alma no morre para trazer junto consigo todas as outras heresias que vemos hoje: orao pelos mortos, culto aos mortos, intercesso dos santos falecidos, reencarnao, consulta aos espritos, purgatrio, limbo, dentre outras inmeras heresias perpetuadas at os dias de hoje, tendo todas elas essa mesma base inventada pelo maligno, de que existe vida consciente entre a morte e a ressurreio.

O que vemos, na verdade, que todas as heresias tm como fundamento a crena de que a alma sobrevive aps a morte. Sem ela, nenhuma das maiores heresias citadas acima existiria. Sem ela, Satans no teria um pretexto para fazer com que o povo ascenda velas aos mortos, beije imagens deles, se prostre diante delas, reze a algum que j faleceu, ore por eles ou os consulte. A imortalidade da alma foi a primeira mentira inventada por Satans na histria da humanidade (cf. Gn.3:4), porque ela a base e o fundamento de todas as demais mentiras.

Na verdade, a maioria dos evanglicos perde tempo enquanto refuta a crena no purgatrio, intercesso dos santos, imagens, idolatria, culto aos mortos, dentre tantas outras heresias, pois elas so apenas aconsequncia de uma heresia maior. Todas elas soconsequnciasda crena na imortalidade da alma. Destruindo essa maior mentira, todas as outras mentiras secundrias caem por terra, sem fazer qualquer esforo, como em um efeito domin. Enquanto os evanglicos apenas atacarem essas doutrinas em si mesmas, no estaro fazendo qualquer progresso. S conseguiro quando perceberem que o mal s cortado se for pela raiz: quando destruirmos a base e o fundamento de todas essas heresias, que precisamente a imortalidade da alma.

Em resumo, aqui escreve algum que sempre foi doutrinado com os ensinos de imortalidade da alma e tormento eterno, que sempre frequentou igrejas que criam e creem nisso, que sempre ouviu isso a vida inteira, a veio a Bblia e mudou tudo. Como que isso ocorre? Somente quando estamos com a mente aberta para a verdade. O curioso que eu j havia lido 1 Corntios 15 diversas vezes antes daquele dia. Por que nunca havia notado nada diferente? Porque estava com a mentefechadapara a verdade.

Enquanto eu estava apenas seguindo uma orientao religiosa proveniente de tradies humanas denominacionais de uma igreja X ou Y, eu podia ler mil vezes aquele captulo, que iria estar como que com um vu espiritual me cobrindo. Mas, uma vez que dispus em meu corao o interesse de descobrir a verdade, e nada alm da verdade bblica, eu conheci a verdade, e a verdade me libertou. Todos se deparam com a verdade, mas apenas alguns poucos esto realmente abertos a aceit-la. Da mesma forma que Cristo bate na porta do corao de cada um de ns, mas s o aceitamos se estivermos dispostos a isso (cf. Ap.3:20), o mesmo acontece com as verdades bblicas. Certa vez um amigo meu comentou o seguinte:

Sabe o que acontece, Lucas? O problema que a gente pode at ampliar alguma coisa sobre isso, mas no vai pegar. Voc, e nem eu, ou quem quer que seja, consegue falar to alto. A coisa talvez at mude, talvez, se quem padronizou o mandamento, no caso a Igreja Catlica, reverter o quadro, dizendo que houve um erro. Muitos recebem as mudanas com alegria, satisfao, concordando com tudo, mas em apenas alguns dias elas voltam crena comum. Pode-se encher isso aqui de textos e mais textos que convenam as pessoas que nada vai resolver. Que se encha isso aqui de argumentos que nos deixem com olhos lacrimejantes de satisfao, com apenas dez dias sem tocar no assunto, as pessoas so novamente empurradas para a crena tradicional ensinada h milnios, no que se refere a esses assuntos

Essa a mais pura verdade, e o que eu mais constato nestes tempos em que eu debato sobre isso. A maioria das pessoas no segue a Bblia, segue uma religio. No segue Cristo, segue o ensino denominacional mais tradicional. No falo mal e nem quero desmerecer nenhuma denominao, mas a verdade est somente na Bblia. Isso vale tanto para catlicos, como principalmente para os evanglicos, que dizem seguir a Sola Scriptura.

O que vemos que muitas pessoas no esto com a mente aberta para decidir pela verdade bblica. Elas j tm uma verdade pr-estabelecida na mente delas, oriunda da tradio da igreja X, e defendem essa tradio com unhas e dentes, usando a Bblia no para descobrir a verdade que est nela, mas somente para encontrar pretextos e passagens que possam corroborar com a crena da tradio. Ao invs de fazerem um estudo srio e honesto, com a mente totalmente aberta para a verdade, elas j esto com uma verdade pr-concebida na mente delas, e buscamapoiopara essa verdade na Bblia.

Em outras palavras, a Bblia no a fonte da verdade para essas pessoas. A fonte da verdade a tradio denominacional, e a Bblia apenas um meio para dar pretextos para essa crena. Sendo assim, no me assusta que tantas pessoas leiam 1 Corntios 15 a exemplo de como fazem com inmeras outras passagens das Escrituras que desmentem claramente a imortalidade da alma, mas elas continuam batendo nessa mesma tecla.

Enquanto eu estive com a mente fechada, ainda que lesse 1 Corntios 15 ou ouvisse falar sobre ressurreio, no a compreendia. Era como os discpulos, que ouviam Jesus falando explicitamente a eles que iria morrer e ressuscitar ao terceiro dia, mas mesmo sendo assim to claro, eles mesmo assim no entendiam, pois o seu entendimento estava encoberto (cf. Lc.9:45). Porm, quando estive com a mente aberta para a verdade, a quantidade insupervel de evidncias bblicas era to grande que precisei fazer um livro sobre isso.

Com a mente aberta para a verdade bblica, no foi difcil achar uma riqueza bblica que eu jamais teria descoberto se no me lanasse nas Escrituras e mergulhasse nelas. Jamais teria descoberto tudo isso se no fosse por estar com a mente aberta para a verdade bblica. claro que a ajuda de apologistas experientes me ajudaram bastante neste processo. Tenho que ser grato a Azenilto Brito (que gentilmente me apresentou o livro de Bacchiocchi e que me ajudou muito com os seus brilhantes artigos sobre o tema), a Samuele Bacchiocchi, a Leandro Quadros, a Oscar Cullmann e a tantos outros, em suas maravilhosas defesas deste ponto sobre a vida aps a morte.

Porm, acima de tudo, tenho que ser agradecido a Deus, por ter nos dado a Sua Santa Palavra. Eu no tive nenhum sonho, nenhuma revelao, no vi Deus, no tive contato com um anjo poderoso com uma espada na mo, no fui alvo de uma profecia e nem fui arrebatado ao terceiro cu. Tudo isso que eu descobri no foi de alguma forma extraordinria: foi somente lendo a Bblia. Algo to simples, mas to pouco praticado por muitos.

Fico imensamente agradecido ao Senhor por ter me dado a honra de militar por essa doutrina to abandonada de nossas igrejas nos dias de hoje, chamada ressurreio dos mortos, e de poder combater a raiz de todas as heresias e a primeira de todas as mentiras, chamada imortalidade da alma. claro que isso me custou caro. Muito caro. J fui chamado de herege por causa disso no poucas vezes. Muitos outros evanglicos perdem o prestgio e considerao que tem por mim por verem que eu prego uma coisa que vai contra a tradio da igreja deles. J sabia desse risco desde o incio.

Se eu quisesse agradar a homens, estaria pregando aquilo que todo mundo gostaria de ouvir. Se eu quisesse agradar a homens, estaria ensinando que certamente no morrers. Se a minha inteno em Cristo fosse de fazer amigos que dessem um tapinha nas costas e me apoiassem em tudo o que eu dissesse, certamente estaria pregando que possumos uma alma, e no que somos uma (cf. Gn.2:7). Esse o preo pago por pregar a verdade, e sei que pagarei esse preo at o fim da minha vida.

Todavia, no me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se to somente puder terminar a corrida e completar o ministrio que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graa de Deus. E, por essa mesma graa, hoje eu fico muito feliz em ver que tantas pessoas j se libertaram dessa doutrina pag, e hoje esto livres para pregar a ressurreio e a vida em Jesus Cristo.

E eu no sou o nico. Poderia passar todo o dia mostrando inmeros telogos de diferentes segmentos religiosos evanglicos imortalistas, mas que, atravs de uma leitura sincera e honesta das Escrituras, adotaram a postura bblica da mortalidade natural da alma humana. Poderamos referir aqui os nomes de Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, Basil Atkinson, Greg Boyd, William Branham, Harold Camping, Charles Fitch, Roger Foster, Fudge Edward, Charles Gore, Henry Grew, Homer Hailey, Emmanuel Ptavel-Olliff, Oliver Chase Quick, Ulrich Ernst Simon, George Storrs, William Temple, dentre tantos outros eruditos e telogos de renome, que no eram adventistas nem testemunhas de Jeov, e que, mesmo fazendo parte de denominaes que pregavam a imortalidade da alma, adotaram a postura de mortalidade da alma aps um exame bblico srio e honesto consigo mesmos.

Todos eles poderiam ter mantido a sua crena na imortalidade da alma, o que seria muito mais fcil e confortvel para eles. Mas, mesmo sofrendo no poucas vezes a oposio e perseguio de ataques contrrios, eles no puderam fechar os olhos para as to grandes e notveis evidncias bblicas que combatem to fortemente a crena na imortalidade da alma, que pode at enganar a muitos com uma dzia de versos isolados sem exegese, mas que dificilmente resiste a um exame bblico criterioso respeitando as normas da hermenutica bblica.

claro que ainda existem aqueles que hesitam, que perseguem, que chamam os outros de hereges sem examinar a si mesmos, que olham torto, que so fechados para a verdade ou que lero este livro meramente na inteno de refut-lo. Isso sempre existiu, e sempre existir. Paulo foi debochado pelos gregos, porque pregava a ressurreio dos mortos, e eles a imortalidade da alma (cf. At.17:32). Por isso, no de se surpreender que a mesma coisa acontea nos dias de hoje.

Mas a minha alegria ver que no estou sozinho nesta batalha estou cercado de to grande nuvem de testemunhas, entre leigos e eruditos, das mais diferentes denominaes religiosas, que cada vez mais esto abrindo os olhos para a verdade e se libertando do engano. Destes, sou apenas mais um militante. Apenas mais um que, ao invs de iludir voc dizendo que certamente no morrers, digo que Deus o nico que possui a imortalidade, mas que Cristo a ressurreio e a vida.

CAPTULO 1 INTRODUO AO TEMA

I Introduo

Nenhuma das minhas publicaes provocou tal entusiasmo ou to violenta hostilidade[footnoteRef:4]. [4: CULLMANN, Oscar. Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos? Disponvel em: . Acesso em: 13/08/2013.]

assim que Oscar Cullmann, renomado telogo suo, definiu o seu livro ferrenhamente atacado: Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos mortos?, aps uma mudana de posio e conscincia sobre a vida ps-morte. A ideia de imortalidade inerente est enraizada nas principais religies do mundo, mas atualmente cresce o nmero de eruditos que, lendo a Bblia, abandonam tal crena. O que leva tantos telogos na atualidade, como Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, entre muitos outros, a abandonarem a viso de estado intermedirio e de eternidade no lago de fogo, se nasceram aprendendo que tais crenas eram verdadeiras e apenas as seitas herticas pregavam o contrrio? Simplesmente, continue lendo. Voc vai entender!

IIA Primeira Mentira

Certamente no morrers (cf. Gnesis 3:4)

No a toa que a crena na imortalidade da alma est presente em praticamente todas as religies pags. Todos sabem que existem principados (demnios) atuando por trs dos grandes sistemas religiosos, que monitoram, regem, comandam e perpetuam esses enganos. Muitas mentiras foram implantadas nas razes da Igreja ao longo dos sculos, e como a tradio foi tendo um valor doutrinrio cada vez mais acentuado e muito maior do que a prpria Escritura Sagrada, estes enganos passaram a atuar nos cristos como verdades independentes da Bblia.

A justificao ficou por obras, o evangelho deixou de ser Cristocntrico, os que morreram passaram a ser intercessores, a ressurreio dos mortos comeou a perder a sua importncia, a salvao da alma poderia perfeitamente achar-se por meio da venda de indulgncias, a Santa Inquisio tratou de dar um fim em quem fosse contra os dogmas sagrados da tradio e o evangelho puro, simples, sincero e verdadeiro, que no estava sujeito a acrscimos (cf. Gl.1:8), comeou a se desviar do Caminho, do foco, daquilo que lhes foi originalmente pregado por Cristo e pelos apstolos.

Ao longo dos sculos, muitos enganos e mentiras foram perspicazmente sendo infiltrados na Igreja, e o evangelho estava gritantemente angustiado por uma Reforma. Como os dogmas no podiam ser contestados (eram infalveis por meio do Magistrio), ningum ousava contrariar aquilo que lhes era dito. E, se algum ousasse tanto, poderia ser queimado ou torturado, intitulado como herege e inimigo pblico da Santa S. claro que existia um livro, que foi praticamente reprimido das mos do povo, livro este que continha aquilo que foi originalmente anunciado, que continha o evangelho puro, sincero, da maneira como era no incio.

Essas Sagradas Letras tinham que ser reprimidas, ou, doutra forma, as prprias pessoas acabariam por descobrir dezenas de mentiras que foram invadindo o Cristianismo com o tempo. O mundo, enquanto sob o jugo da Igreja Romana, vivia em trevas. O povo, sem as divinas Escrituras traduzidas em sua lngua. E o clero, cada vez mais explorando a ignorncia deste povo. Isso levou a Igreja Catlica a proibir a leitura da Bblia e a lutar ao mximo contra a divulgao dela. O Conclio de Tolosa (1229) categoricamente declarou:

Proibimos os leigos de possurem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possudos no vernculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrneos de homens condenados por possurem as Escrituras devem ser inteiramente destrudos. Tais homens devem ser perseguidos e caados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar ser severamente punido[footnoteRef:5] [5: Concil. Tolosanum, Papa Gregrio IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2.]

Os leigos eram proibidos de lerem as Escrituras Sagradas em sua prpria lngua e at mesmo de possurem a Bblia. Tais homens que tivessem uma Bblia em casa deveriam ser condenados, caados, inteiramente destrudos, perseguidos e caados nas florestas e cavernas. Nesta poca de trevas, a Igreja Catlica, a servio de Satans, lanava dura perseguio contra o povo de Deus que se apegava s Escrituras, que tinha que buscar locais de esconderijo em retiros subterrneos para poderem ler a Bblia, mas a Igreja Catlica ordenava caar e perseguir tais homens at nas cavernas ou em qualquer outro lugar, at serem destrudos por completo.

Nenhuma perseguio Bblia feita por um no-cristo em toda a histria da humanidade se comparou a perseguio elaborada pela Igreja Romana, nem mesmo a de Diocleciano ou a de Nero. O Papa Pio IX defendia que as sociedades bblicas eram pestes que deveriam ser destrudas por todos os meios possveis:

Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bblicas... pestes estas devem ser destrudas atravs de todos os meios possveis[footnoteRef:6] [6: Papa Pio IX, em sua Encclica Quanta Cura, Ttulo IV, 8 de Dezembro de 1866.]

A leitura da Bblia era absolutamente proibida aos leigos e considerada como sendo uma peste:

Essa peste (a Bblia) assumiu tal extenso, que algumas pessoas indicaram sacerdotes por si prprias, e mesmo alguns evanglicos que distorcem e destruram a verdade do evangelho e fizeram um evangelho para seus prprios propsitos... elas sabem que a pregao e explanao da Bblia so absolutamente proibidas aos membros leigos[footnoteRef:7] [7: Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 8.]

John Wycliffe (1328 1384 d.C), que lutou fortemente pela restaurao do evangelho bblico e chegou at a elaborar uma traduo das Escrituras para tirar o povo das trevas, foi chamado de pestilento canalha de abominvel heresia, por ter lutado em prol da divulgao da leitura bblica pelos leigos:

O pestilento canalha de abominvel heresia, que inventou uma nova traduo das Escrituras em sua lngua materna[footnoteRef:8] [8: Condenao de Wycliffe pelo Conclio de Constana, em 1415.]

As decises dos conclios eram claras: a leitura da Bblia era proibida aos leigos, mas, enquanto a Bblia era um livro proibido, as Horas da Bem-aventurada Virgem era permitido:

Proibimos ainda que seja permitido aos leigos possuir os livros do Velho e Novo Testamento, xito o Saltrio, ou o Brevirio para dizer o Ofcio divino, ou as Horas da Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoo; porm proibimos estritamente que esses livros sejam em lngua vulgar[footnoteRef:9] [9: Conclio de Tolosa, 1229, cap. 14.]

Em outra encclica do papa Pio IX, ele reitera a proibio da leitura da Bblia em lngua vulgar, por sano geral de toda a Igreja:

"Nas regras que foram aprovadas pelos Padres designados pelo Conclio Tridentino, aprovadas por Pio IV e antepostas ao ndice dos livros proibidos, l-se por sano geral que no se deve permitir a leitura da Bblia publicada em lngua vulgar[footnoteRef:10] [10: Pio IX, Encclica Inter praecipuas, 16 de Maio de 1844.]

O papa Leo XII tambm se revoltou contra aqueles que tentavam trazer ao povo a to sonhada leitura da Bblia em sua prpria lngua:

No se vos oculta, Venerveis Irmos, que certa Sociedade vulgarmente chamada bblica percorre audazmente todo o orbe e, desprezadas as tradies dos santos Padres, contra o conhecidssimo decreto do Conclio Tridentino [v. 786], juntando para isso as suas foras e todos os meios, tenta que os Sagrados Livros se vertam, ou melhor, se pervertam nas lnguas vulgares de todas as naes[footnoteRef:11] [11: Leo XII, Encclica Ubi primum de 5 de Maio de 1824.]

O papa Pio VII refora que no somente ele, mas tambm os seus predecessores avisavam constantemente que a leitura da Bblia ao povo mais um dano do que algo til, e a nica verso permitida era a Vulgata Latina:

"Porque deverias ter tido diante dos olhos o que constantemente avisaram tambm os nossos predecessores, a saber: que se os sagrados Livros se permitem correntemente e em lngua vulgar e sem discernimento, disso h de resultar mais dano que utilidade. Ora, a Igreja Romana que somente admite a edio Vulgata, por prescrio bem notria do Conclio Tridentino (ver 785 s), rejeita as verses das outras lnguas[footnoteRef:12] [12: Pio VII, carta Magno et acerbo, 3 de Setembro de 1816; Denzinger # 1603.]

Como a Vulgata estava escrita em latim e praticamente a totalidade do povo da poca no entendia nada deste idioma (alguns mal sabiam a sua prpria lngua, quanto menos o latim!), ento eles astutamente permitiam somente esta verso da Bblia, para que o povo no entendesse nada do que estava escrito.

Tambm o papa Clemente XI, em sua Constituio Dogmtica Unigenitus, condenou vigorosamente como erradas uma srie de reivindicaes feitas por Pascsio Quesnel. Entre elas, inclui-se a necessidade de estudar as Escrituras, que a leitura da Bblia para todos, que danoso querer retrair os cristos da leitura bblica, que as mulheres poderiam ler a Bblia, que os cristos poderiam ler o Novo Testamento, que o povo simples teria o direito de ler as Escrituras, entre outros:

70. til e necessrio em todo tempo, em todo lugar e para todo gnero de pessoas estudar e conhecer o esprito, a piedade e os mistrios da Sagrada Escritura.

71. A leitura da Sagrada Escritura para todos.

81. A obscuridade santa da Palavra de Deus no para os leigos razo de dispensar-se da sua leitura.

82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristos com piedosas leituras e, sobretudo, das Sagradas Escrituras. coisa danosa querer retrair os cristos desta leitura.

83. iluso querer convencer-se de que o conhecimento dos mistrios da religio no devem comunicar-se s mulheres pela leitura dos Livros Sagrados.

84. Arrebatar das mos dos cristos o Novo Testamento ou mant-lo fechado, tirando-lhes o modo de entend-lo, fechar-lhes a boca de Cristo.

86. Arrebatar ao povo simples este consolo de unir a sua voz voz de toda a Igreja, uso contrrio prtica apostlica e inteno de Deus.

(Denzinger #1429-1434, 1436, 8 de Setembro de 1713)

Por que estamos dizendo tudo isso? Simplesmente porque a prpria Igreja Catlica sabia que tinha algo a esconder. Sabia que, se as Sagradas Letras fossem reveladas ao povo, muitas lendas que foram surgindo atravs dos sculos pela tradio iriam ruir sistematicamente. O prprio Magistrio catlico reconhecia que, de fato, muitas doutrinas mentirosas que vo contra o evangelho verdadeiro foram, ao passar dos sculos, encontrando lugar na Igreja. Uma dessas principais mentiras era que, como o catecismo catlico expe: A Igreja ensina que toda alma espiritual criada imediatamente por Deus--no produzida pelos pais e tambm imortal: no perece quando se separa do corpo por ocasio da morte[footnoteRef:13] [13: Catechism of the Catholic Church, pg.93.]

Apesar de boa parte dos rebeldes serem facilmente silenciados de um ou de outro jeito (na maioria das vezes, do outro), comearam a surgir homens levantados por Deus a fim de fazer com que, ao passar dos sculos, a doutrina fosse aos poucos voltando ao foco inicial. Muitas doutrinas claramente contraditrias Palavra de Deus foram aos poucos sendo repensadas. O prprio Martinho Lutero chegou a expressar-se de maneira contraria s teses de imortalidade da alma, colocando-a no grupo das monstruosidades sem fim no monte de estrume dos decretos romanos:

Contudo, eu permito ao Papa estabelecer artigos de f para si mesmo e para seus prprios fiis tais como: que o po e o vinho so transubstanciados no sacramento; que a essncia de Deus no gera nem gerada; que a alma a forma substancial do corpo humano; que ele [o papa] o imperador do mundo e rei dos cus, e deus terreno; que a alma imortal; e todas estas monstruosidades sem fim no monte de estrume dos decretos romanos para que tal qual sua f , tal seja seu evangelho, e tal a sua igreja, e que os lbios tenham alface apropriada e a tampa possa ser digna da panela"[footnoteRef:14] [14: Martinho Lutero, Assertio Omnium Articulorum M. Lutheri per Bullam Leonis X. Novissimam Damnatorum.]

Em outra ocasio, Lutero chamou a imortalidade da alma de "sonho humano" e de "doutrina de demnios":

"Da os especialistas em Roma recentemente pronunciaram um decreto sagrado [no Quinto Conclio Laterano, 1512-1517] que estabelece que a alma do homem imortal, agindo como se ns no dissssemos todos em nosso comum Credo, eu acredito na vida eterna. E, com a assistncia do gnio Aristteles, eles decretam alm disto que a alma essencialmente a forma do corpo humano, e muitos outros esplndidos artigos de natureza parecida. Estes decretos so, de fato, mais apropriados para a igreja papal, pois eles possibilitam a eles manter sonhos humanos e as doutrinas de demnios enquanto eles pisam e destroem a f e ensino de Cristo"[footnoteRef:15] [15: Lutero, LW 32:77.]

A viso de Lutero era de uma natureza humana holista, de uma alma mortal e de os mortos dormindo at a manh da ressurreio do ltimo dia, quando Ele nos chamar e nos acordar juntamente com todos os Seus queridos filhos para a Sua eterna glria e juzo. Enquanto isso, eles nada sentem absolutamente:

No h ali deveres, cincia, conhecimento, sabedoria. Salomo opinou que os mortos esto a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, no levando em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes- haver dormido apenas um minuto[footnoteRef:16] [16: Exposio do Livro de Salomo, Chamado Eclesiastes, de Lutero.]

Assim como algum que dorme e chega a manh inesperadamente, quando acorda, sem saber o que aconteceu: assim ns nos ergueremos no ltimo dia sem saber como chegamos a morte e como passamos por ela. Ns dormiremos at que Ele venha e bata na pequena sepultura e diga: Dr. Martinho, levanta-te! Ento eu me erguerei num momento e serei feliz com Ele para sempre[footnoteRef:17] [17: The Chrislian Hope-pg.37.]

Ns devemos aprender a ver nossa morte com a luz correta, de forma que no fiquemos alarmados por causa dela, como o descrente faz; porque em Cristo ela no de fato morte, mas um fino, doce e breve sono, que nos traz libertao deste vale de lgrimas, do pecado e do temor e extremidade da verdadeira morte e de todos os desfortnios desta vida, e ns devemos estar seguros e sem cuidado, descansando docemente e gentilmente por um breve momento, como em um sof, at o tempo quando ele nos chamar e nos acordar juntamente com todos seus queridos filhos para sua eterna glria e gozo. Pois j que ns o chamamos de sono, ns sabemos que no ficaremos nele, mas seremos novamente acordados e vivificados, e que o tempo durante o qual dormimos, no parecer mais longo do que se ns tivssemos apenas cado no sono. Da ns devemos nos censurar por estarmos surpresos ou alarmados com tal sono na hora da morte, e de repente formos revividos da cova e da decomposio, e inteiramente bem, novo, com uma pura, clara e glorificada vida, encontrarmos nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nas nuvens[footnoteRef:18] [18: Compend of Luthers Theology, editado por Hugh Thomson Kerr, Jr., p. 242.]

Infelizmente, a noo de Calvino de que a alma era imortal acabou falando mais alto e a maioria das igrejas reformadas acabaram adotando a tese da imortalidade da alma. Para no causar diviso e nem atrito com os demais reformadores, Lutero acabou no dogmatizando a questo e deixou-a em aberto para quem quisesse crer que a alma era imortal (como Calvino cria) ou para quem se unisse sua crena particular na mortalidade natural da alma.

Isso no impediu que, com o tempo, um nmero impressionante de mestres e telogos respeitados e reconhecidos comeassem a repensar as suas doutrinas de imortalidade da alma luz das Sagradas Escrituras, e passaram a ver que, de fato, a doutrina da imortalidade da alma no bate com a doutrina da ressurreio e muito menos com o que as Sagradas Letras tem a nos dizer. O nmero de pessoas que deixam a viso dualista da natureza humana impressiona no apenas pela quantidade, mas tambm por estar em franco crescimento. De fato, a imortalidade da alma pode ser classificada como sendo a primeira mentira que entrou no mundo e provavelmente a ltima a sair dele.

Muitas pessoas de bem tm sido enganadas atualmente sobre o estado dos mortos. Mas no de hoje que isso acontece. Deus disse para o homem, como consequncia do pecado: Certamente morrers (cf. Gn.2:17). Mas Satans, a serpente, retrucou: Certamente que no morrers (cf. Gn.3:4). Quem estava com a razo? Deus ou Satans? Certamente que Deus.

A prpria presena da rvore da vida no jardim do den indica claramente que a imortalidade era condicional participao do fruto de tal rvore. Ns no tnhamos uma alma imortal! Com a Queda da humanidade, quando o pecado entrou no mundo, a morte (que no estava prevista no plano inicial de Deus para com a Sua Criao) passou a tornar-se uma realidade. O estado do homem alterou-se, e este passou a ser um ser mortal.

A segurana de imortalidade baseava-se em partilharem da rvore da vida no Jardim, que lhes garantia exatamente a imortalidade (cf. Gn.3:22). evidente que Deus no iria colocar tal rvore a disposio caso j tivesse implantado uma alma eterna que lhes garantisse tal imortalidade. Visto que a condio para viver para sempre constitua-se na participao do fruto da rvore da vida, fica muito claro que eles no detinham em si mesmos a imortalidade, supostamente na forma de um elemento eterno implantado em seu ser. Se Deus colocou no ser humano uma alma imortal, ento por que razo existiria a rvore da vida no Jardim do den?

Ora, se j fssemos imortais isso seria totalmente desnecessrio! Se o homem comesse da rvore da vida, se tornaria imortal (cf. Gn.3:22). Contudo, foram expulsos do Jardim do den, sem terem comido da rvore da vida, e dois querubins ficaram na guarda do Jardim, exatamente a fim de que no comessem da rvore da vida e vivessem eternamente (cf. Gn.3:24). Tudo isso seria totalmente desnecessrio se j possussemos uma alma imortal. Para que guardar o homem de comer do fruto da rvore da vida e viver para sempre se ele j era imortal por meio de uma alma eterna que j lhes teria sido implantada?

O homem seria imortal caso comesse do fruto da rvore da vida, mas no comeu. Deus no fez o homem com o conhecimento do bem e do mal, mas ele comeu do fruto da rvore do conhecimento do bem e do mal e teve tal conhecimento. Da mesma maneira, Deus no fez o homem com uma alma imortal. A imortalidade era condicional a participao do fruto da rvore da vida, assim como o conhecimento do bem e do mal era condicional a participao daquela rvore. Mas, ao contrrio do fruto da rvore do conhecimento do bem e do mal na qual eles comeram, eles no comeram do fruto da rvore da vida!

O resultado disso que o homem no tornou-se um ser imortal. Ele, morrendo, morreria (cf. Gn.2:7). O homem era mortal pela sua natureza original, sem uma alma imortal, mas com a possibilidade de receber a imortalidade por meio da participao da rvore da vida. Isso, contudo, ele perdeu ao ser expulso do Jardim, e, portanto, perderam a possibilidade de participao na rvore da vida que lhes poderia nutrir de imortalidade. O homem perdeu a imortalidade quando foi expulso do den, e assim a morte veio a partir do pecado, sendo revertida na ressurreio (cf. 1Co.15:22,23).

A Bblia, contudo, nos apresenta que a rvore da vida (imortalidade) estar novamente presente no Paraso, somente aos salvos, aps a ressurreio dos mortos (cf. Ap.22:2). E acontecer que quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graa a gua da vida (cf. Ap.22:17). O homem, agora sim, se tornaria imortal. A rvore da vida representava a imortalidade na comunho com Deus, mas com o pecado fomos privados do acesso desta fonte de eternidade, que agora continua na presena dEle, onde iremos desfrut-la depois que formos ressuscitados (cf. Ap.22:2). A eternidade no homem era condicional, no a uma alma que lhes teria implantada, mas sim a obedincia ao Ser Criador do Universo, como um dom de Deus.

O homem foi privado da rvore da vida para que no se tornasse imortal como Deus, e, de fato, no comemos da rvore da vida (cf. Gn.3:22-23). Com a desobedincia a Deus, a participao na rvore da vida foi cortada (cf. Gn.3:22,23), o que demonstra claramente que a imortalidade no residia numa alma imortal recm-implantada, mas sim na obedincia a Deus. A desobedincia foi o que ocasionaria a morte, em um contraste direto com a vida eterna residente na forma da rvore da vida. Quando entrou o pecado do mundo, juntamente com ele entrou a morte: O processo da morte teria incio.

O texto original hebraico simplesmente reza que: Morrendo, morrereis. A Bblia no diz que no dia em que comerdes, certamente morrers no mesmo dia. Diz somente que ele morreria, mas no diz quando. A morte no estava no plano inicial de Deus para com a Sua Criao. Contudo, com o pecado reinou a morte (cf. Rm.5:21; Rm.5:12), que s ser revertida na ressurreio do ltimo dia (cf. 1Co.15:51-55; 1Co.15:22,23; Jo.6:39,40).

No dia em que Ado comesse daquela rvore proibida ele ia morrer, ou seja, tornar-se-ia um ser mortal, o que ele realmente se tornou. O processo de morte como consequncia do pecado alcanaria a todos os seres humanos a partir do momento em que este pecasse contra Deus, tornando-se receptvel ao processo de morte que lhes sucederia. Analisando o texto original hebraico, vemos que, realmente, a morte seria a cessao total de vida.

O que foi dito a eles: um`tshadda`ath thobh vr` lo' tho'khal mimmennu kiy beyom 'akhlkhamimmennu moth tmuth (cf. Gn.2:17). Analisando as duas ltimas palavras, vemos claramente quando que o homem morreria: moth tmuth traduzindo: morrendo morrereis. Isso omitido pela maioria das verses vernculas porque contraria diretamente a posio imortalista de que ocorreu apenas uma morte espiritual e que esta morte teria acontecido logo naquele mesmo dia, ignorando o fato de que o hebraico diz taxativamente que tal morte seria quando o homem morresse morrendo, morrereis.

Passando para o bom linguajar portugus dos dias de hoje, o que Deus estava dizendo era que quando vocs morressem iriam morrer mesmo! A morte seria o fim total de qualquer existncia humana, corpo e alma, pois, como consequncia do pecado, o processo de morte teria incio a partir do primeiro falecimento. A verdade incontestvel que no existiria nenhum estado de vida entre a morte e a ressurreio.

Ora, se o homem continuasse vivo em um estado intermedirio aps a morte corporal que todos ns passamos, ento o homem no morreria completamente ele estaria vivo em um estado desencarnado. Essa exatamente a mentira que a serpente pregou Eva (cf. Gn.3:4), e que engana milhes de pessoas at hoje, invalidando toda uma consequncia de morte fsica e espiritual que o homem encontraria como consequncia do pecado.

Ademais, a mentira de Satans seria classificada como uma verdade, uma vez que o homem no morreria mesmo viveria eternamente por meio de uma alma imortal que teria sido supostamente implantada no ser humano. Fica muito claro que o homem no seria inerentemente imortal, mas passaria por um estado de morte morrendo, morrereis por causa do pecado, uma lacuna, um perodo sem vida entre a morte e a ressurreio, fato esse que Satans queria desmentir, dizendo que certamente no morrers (cf. Gn.3:4).

O processo de morte alcanaria todos os seres humanos, pois o salrio do pecado a morte (cf. Rm.6:23) e todos pecaram e destitudos esto da glria de Deus (cf. Rm.3:23), por isso, a alma que pecar, essa morrer (cf. Ez.18:4). Isso tudo nos deixa claro que a morte como consequncia do pecado no alcanaria to somente o corpo, mas o ser integral do ser humano, corpo e alma (cf. Ez.18:4,20; Gn.2:7). Como bem disse o pastor luterano Martin Volkmann: Como vemos, h duas concepes de vida aps a morte. A diferena, segundo certo modo de pensar, que a parte supostamente imortal no foi afetada pelo pecado em ns, enquanto na outra forma de pensar reconhece-se a natureza radical do pecado e proclama uma nova vida atravs da obra salvadora de Deus.

A morte seria a cessao total de vida. Corpo e alma foram afetados pelo pecado. A imortalidade no era uma possesso natural atravs de uma alma recm-implantada, mas condicionada obedincia a Deus na participao da rvore da vida. Mas o homem pecou. Transgrediu a ordenana divina. Trouxe a morte para si mesmo. Perdeu a participao na rvore da vida. Tornou-se naturalmente mortal. E, a partir deste dia, ele morreria na morte no teria uma existncia contnua em forma incorprea aps a morte.

Felizmente, a Palavra de Deus nos apresenta uma reviravolta neste quadro, apresentando que o processo de morte iniciado em Ado e a cessao de vida como consequncia do pecado no seria um quadro perptuo, mas seria revertido em Cristo, na Sua Vinda: Pois da mesma forma como em Ado todos morrem, em Cristo todos sero vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, as primcias; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem (cf. 1Co.15:22,23).

O processo de cessao de vida na morte, ocorrido com todos os seres humanos e iniciado em Ado em Ado todos morrem seria revertido no ltimo dia (cf. Jo.6:39,40), quando Cristo h de vivificar os que lhe pertencem por ocasio de sua segunda vinda, porque Ele venceu a morte (cf. Hb.2:14), dando-nos tambm vitria sobre a morte na ressurreio (cf. 1Co.15:54). Neste momento, ento, Cristo nos resgatar da morte, nos vivificar e nos levar para as nossas moradas celestiais onde Ele est (cf. Jo.14:2,3).

Em Ado todos morrem porque ele certamente no viveria eternamente (cf. Gn.2:17; Gn.3:4), mas como consequncia do pecado ele passaria por um estado sem vida que teria incio no momento da morte fsica. Mas a esperana crist a de que este estado no perptuo, mas revertido pelo milagre da ressurreio, que nos traz vida e nos resgata da morte a fim de possuirmos a nossa herana celestial em Cristo.

Por isso os cristos tem na ressurreio a sua maior esperana (cf. At.26:7), pois ela que nos diz que nem tudo est perdido, que o trabalho dos cristos no em vo (cf. 1Co.15:32), que haver o momento em que a morte ser tragada pela vitria (cf. 1Co.15:54), que aqueles que fizeram o bem sairo para a ressurreio da vida (cf. Jo.5:29), quando tero a recompensa pelo o que fizeram em vida e tomaro posse de suas moradas eternas. A ressurreio o antdoto para a morte, o milagre que Deus providenciou a fim de que no ficssemos para sempre sem vida, mas que por meio de Cristo pudssemos herdar a vida eterna.

Claro, no demorou muito para Satans entrar em cena e deturpar essa verdade, propagando o que hoje a base e fundamento da doutrina imortalista, retirada diretamente da boca da serpente: Certamente no morrers (cf. Gn.3:4) o homem seria inerentemente imortal! A ressurreio j no era mais o antdoto para a morte, mas sim a libertao da alma se desprendendo da priso do corpo, como pregava Plato. Este foi, com toda a certeza, o primeiro sermo imortalista na histria, a primeira das mentiras que Satans implantou no mundo: a lenda da imortalidade da alma.

IIIPor que a mentira?

Por que a mentira? O motivo desta pergunta : Qual o objetivo de Satans em pregar tal mentira?. Certamente que ele teria uma boa razo para isso, alm de contradizer o ensino claro de Deus (cf. Gn.2:17). Para respondermos a esta pergunta, temos primeiramente que ter em mente que o principal objetivo de Satans desviar o cristo da verdade. Passar a ideia de um Deus mal.

Eis a a principal das armas de engano de Satans: Desviar o carter imutvel do amor de Deus. Satans a serpente, aquele que engana. Quanto mais pessoas ele conseguir desviar de Deus, de preferncia passando a ideia de um deus sanguinrio, que tem uma ira pelos mpios que no cessa nunca, melhor. Infelizmente, essa ttica tem causado muito sucesso nas nossas igrejas.

Muitos milhes de indivduos no mundo todo abandonam a crena em Deus por causa desta ideia, por no conseguirem admitir que Deus possa ser ao mesmo tempo bom e mal e com duas faces, ou que para demonstrar Sua justia tenha que atormentar eternamente no fogo a alma de bilhes de pessoas, e acabam por pensar: Ele no existe. Muitos tm sado das fileiras do Cristianismo por causa deste assunto. Isto poderia ser evitado, caso fosse feito um estudo sincero, honesto e fiel exegese e ao contexto das Escrituras, que o que faremos ao longo de todo este estudo.

O Dr. Samuelle Bacchiocchi elucida a questo nas seguintes palavras: Um Deus que inflige torturas infindveis a Suas criaturas assemelha-se muito mais a Satans do que a um Pai amoroso a ns revelado por Jesus Cristo (...) A justia divina nunca poderia requerer para pecadores finitos a infinita penalidade da eterna dor, porque o tormento infindvel no serve a qualquer propsito reformatrio, precisamente porque no tem fim[footnoteRef:19] [19: BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreio: Uma abordagem bblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1 edio, 2007.]

John Stott manifesta a mesma opinio, ao dizer:

Eu no minimizo a gravidade do pecado como rebelio contra Deus, nosso Criador, mas questiono se o tormento eterno consciente compatvel com a revelao bblica da divina justia[footnoteRef:20] [20: STOTT, John. Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue. Londres: Hodder and Stoughton, 1988, p. 316.]

A verdade que muitas pessoas tm deixado as fileiras do Cristianismo por no poderem acreditar que Deus, em Sua Oniscincia, poderia criar seres sabendo que os puniria com um tormento eterno e infindvel de maneira premeditada. Seria muito mais lgico e racional (pela justia e pelo amor de Deus) crermos que Ele puniria a cada um de acordo com aquilo que cada ser merece, e no uma pena infindvel para cada ser que comete pecados finitos, tendo como consequncia a queima eterna de sua alma em um verdadeiro lago de fogo.

Se tal fato sucedesse, poderamos tambm dar margens a movimentos como a Santa Inquisio, por exemplo, que matou e torturou milhes na Idade Mdia, mas, como apontou Azenilto Brito, se Deus impiedoso ao punir pecadores com tormentos infindveis no mundo por vir, porque no devia a Igreja agir de modo semelhante neste presente mundo, torturando e queimando os herticos?[footnoteRef:21] [21: BRITO, Azenilto Guimares. Implicaes Morais e Cosmolgicas do Tormento Eterno. Disponvel em: . Acesso em: 15/08/2013.]

O assunto motivo de entusiasmo para os ateus, e a grande maioria dos cristos defensores da imortalidade da alma no conseguem conciliar o amor divino com a crueldade eterna que seria tal destino aos impenitentes. Ademais, muitos cristos que j esto dentro da Igreja no saem, no por buscarem um comprometimento sincero e verdadeiro com Deus, mas para escaparem de um tormento eterno no inferno. O Cristianismo no somente muda de sentido como tambm perde o foco, o amor, a justia e a misericrdia nos revelada mediante o evangelho. Na verdade, todos estes atributos e muitos outros fazem parte da natureza divina e nenhum deles daria margem a um tormento eterno por pecados finitos.

Como a Igreja pode coerentemente apresentar Deus como sendo algum que amou o mundo de tal maneira que enviou o Seu nico Filho para que todo aquele que nele cr no perea, mas tenha a vida eterna (cf. Jo.3:16), se, por outro lado, odeia os pecadores de tal maneira que os envia para um lago de fogo e enxofre onde passaro tormentos infinitos perpetuados por toda a eternidade sob choro e ranger de dentes e sofrendo torturas colossais? Se Deus ama os pecadores (como a teologia moderna ensina), como conciliar isso com permitir tamanhos horrores aos pecadores impenitentes?

Ora, se nem mesmo uma pessoa humana, falvel e que nem ama tanto assim o prximo (ou at mesmo odeia o prximo) no chegaria ao ponto de envi-lo para o quinto dos infernos, sob as chamas de um fogo eterno para sofrer tormentos horrveis por toda a eternidade, quanto menos Deus, que em teoria aquele que mais ama, que mais perdoa e que a fonte de toda a misericrdia! Enquanto a Igreja tiver a noo deste deus mutvel, que ama os pecadores nesta vida mas j preparou um inferno eterno onde eles devero sofrer horrivelmente aps a morte e para sempre, dificilmente um descrente poder compreender perfeitamente o amor de Deus que excede todo o entendimento. Sempre ter em mente este contraste que vai claramente contra a moral humana, quanto mais a divina.

Apenas um regresso s Escrituras nos faria ter em mente um Deus justo e verdadeiro, que recompensa os justos com a vida eterna e que pude os mpios de acordo com aquilo que cada um merece, e no com um tormento eterno para todos indistintamente. Isso sim unir a justia e o amor de Deus como descrito no evangelho bblico. A justia e o amor de Deus andam juntos, e o que Satans mais quer desqualific-los ao perpetuar a primeira e provavelmente a maior de todas as mentiras a da imortalidade da alma.

Um exame fiel e honesto das Escrituras no apenas mostra o quanto no-bblica essa doutrina, mas tambm nos faz voltar ao Cristianismo puro e verdadeiro focado em um Deus de amor e justia e na ressurreio para a vida eterna que Ele nos concede pela Sua Graa. A imortalidade condicional e a vida somente em Cristo afirmam a realidade do inferno sem impugnar o carter de Deus, e d honra completa para Cristo como "a ressurreio e a vida.

A crena na imortalidade inerente como base de f Satans continua usando dos mais variados meios a fim de perpetuar a primeira mentira, pois isso um forte meio de desviar as pessoas da sinceridade e pureza devidas a Cristo. Por meio da crena da sobrevivncia da alma na morte, inmeras religies do mundo terminam cursando os mais variados meios de consulta aos mortos em desobedincia Palavra de Deus.

Existem religies que tem como base a doutrina da sobrevivncia da alma em um estado intermedirio. Caso essa doutrina esteja errada, a religio termina. O culto aos mortos no catolicismo um bom exemplo disso, uma vez que Cristo deixou claro que s ao Senhor teu Deus dars culto (cf. Mt.4:10) e que h um s Deus e um s mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus (cf. 1Tm.2:5).

Satans usa das mais variadas maneiras para deturpar a Palavra de Deus e perpetuar a primeira mentira, da imortalidade da alma, a fim de que o que Paulo mais temia acontecesse: Pois, assim como Eva foi enganada pelas mentiras da cobra, eu tenho medo de que a mente de vocs seja corrompida e vocs abandonem a devoo pura e sincera a Cristo (cf. 2Co.11:3). A imortalidade da alma foi a doutrina que Satans encontrou uma brecha a fim de que o evangelho fosse sutilmente modificado por meio de homens que introduziram secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruio (cf. 2Pe.2:1).

O culto aos mortos um bom exemplo de um meio que a Serpente continua utilizando a fim de desviar o cristo do evangelho puro e genuno somente a Cristo. Quando o evangelho deixa de ser Cristocntrico, a misso de Satans est completa. E qual o meio que ele usa para perpetuar tais enganos? Claro, a mesma mentira pregada Eva no Jardim: ...certamente no morrereis (cf. Gn.3:4).

O que Satans ensina, na verdade, bem simples. Ele diz que o nosso verdadeiro eu, a nossa alma eterna, no morre. De modo que, se no formos to bons, a reza resolve tudo! Tal viso de imortalidade inerente que Satans ensina bem mais simples do que o que Deus quer que creiamos: que a alma que pecar, essa morrer (cf. Ez.18:4), porque a consequncia do pecado seria moth tmuth morrendo, morrereis (cf. Gn.2:17). Todas as prticas de culto aos mortos, de intercesso de santos j falecidos, de invocao ou comunicao com os mortos ou de qualquer coisa do gnero, que quase sempre geram idolatria e apego no corao dos homens quilo que j morreu ao invs de se focar Naquele que est vivo (Jesus), tem como base e fundamento a crena na imortalidade da alma.

No espiritismo, ento, a coisa complica ainda mais. A consulta aos mortos, que existe de maneira mascarada no catolicismo mediante a orao que um claro meio de comunicao, desmascarada no espiritismo que abertamente declara isso convictamente. A prpria crena na reencarnao, que crida no somente por espritas mas tambm por muitos outros grupos pantestas (como o budismo e o hindusmo) tambm tem por base a crena que a alma sobrevive consciente aps a morte. Afinal, se a alma no sobrevive, no h como reencarnar.

A Bblia afirma categoricamente que entre ti no se achar quem faa passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um esprito adivinhador, nem mgico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa abominao ao Senhor; e por estas abominaes o Senhor teu Deus os lana fora de diante de ti" (cf. Dt.18:9-12). Afinal, a favor dos vivos consultar-se-o os mortos? (cf. Is.8:19). No!

Deus sabe muito bem dessa impossibilidade de comunicao dos mortos com os vivos, e foi por isso o Senhor proibiu o seu povo israelita de tentar tal comunicao, a fim de que no fossem enganados por espritos demonacos (cf. Lv.19:31; 20:6; 1Sm.28:7-25; Is.8:19; 1Tm.4:1; Ap.16:14), dada a devida impossibilidade de comunicao com os que j morreram (cf. Gn.2:7; Sl.13:3; Ec.9:5,6; Ec.9:10; Sl.146:4; Sl.6:5; Sl.115:17; Sl. 13:3; J 14:11,12; Sl.30:9; Is.38:18; Is.28:19; Sl.94:17). Dada tal impossibilidade, quem se apresenta no alm" para se comunicar com os vivos so os espritos dos demnios, e se aproveitando, claro, da mentira da imortalidade da alma.

Tudo isso poderia ser perfeitamente removido e o evangelho restaurado caso fosse realizado um exame apurado das Escrituras, analisando a um contedo total e no se apegando cegamente a um texto ou outro descontextualizado tomando tais textos isolados como regra de doutrina. Mas, como Jesus disse em Mateus 28:20 para ensinarmos tudo, tambm precisamos revelar s pessoas o que realmente acontece depois da morte, pois isso nos faria voltar ao evangelho Cristocntrico to abandonado por consequncia da primeira mentira.

Imagine um mundo onde todos creem conforme a Bblia diz: que a alma que pecar, essa morrer (cf. Ez.18:4). Imagine um mundo onde a mentira de que certamente no morrers no engana mais ningum. Imagine um mundo onde todos creem que a ressurreio o caminho para uma nova vida no retorno existncia. Ou seja: imagine o mundo todo seguindo os padres bblicos. No que isso implicaria? Isso implicaria na completa inexistncia da idolatria no mundo, visto que grande parte dela subsiste com base na crena que espritos ou almas subsistem aps a morte e so dignos de serem consultados, venerados, cultuados ou adorados.

Isso implicaria na completa inexistncia de todos os falsos sistemas religiosos que tem por base a crena que a alma imortal, o que inclui espiritismo, catolicismo, budismo, hindusmo, religies pantestas, politestas e pags, que tem como fundamento a crena da transmigrao das almas, da reencarnao, da evocao dos mortos, da intercesso dos falecidos, da venerao e culto aos defuntos. Isso implicaria tambm em um mundo mais Cristocntrico, isto , um mundo onde Aquele que vive o nico digno de toda a glria, toda a honra, toda a majestade e todo o louvor, pois aquele que venceu a morte e ressuscitou, Cristo Jesus.

Todas as oraes e todo o culto em todo o mundo seriam voltados e dirigidos unicamente quele que era, que e que h de vir. Todas as naes seriam felizes e haveria paz no mundo, pois feliz a nao cujo Deus o Senhor (cf. Sl.33:12). Todos os nossos atos de adorao seriam sempre voltados por Ele e para Ele. Voc poderia pensar: Este um mundo utpico, imaginrio, impossvel de ser verdade um dia. Mas seria isso to somente o reflexo de um mundo onde a primeira mentira implantada pela serpente j no teria mais lugar, e as suas consequncias tambm no. O nico que fica feliz da vida em ver o povo continuar crendo e propagando a heresia de que a alma imortal o diabo que inventou essa mentira, pois por meio dela que ele sempre enganou e continua cegando bilhes de pessoas em todo o planeta.

A imortalidade da alma a carta coringa de Satans. por meio dela que tantas pessoas desviam o foco e a ateno que deveriam ser direcionadas a Deus. Sem essa carta na manga, dificilmente o Inimigo conseguiria desenvolver outros mtodos para desviar a devoo pura e sincera somente a Cristo. Por outro lado, o exame sincero e honesto das Escrituras nos faria desmantelar sistemas religiosos totalmente baseados na crena em uma alma imortal. Isso faria voltar ao evangelho puro e sincero de devoo somente a um homem, aquele que mesmo tendo morrido ainda vive, e por isso pode interceder por ns Cristo: Portanto, ele capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles (cf. Hebreus 7:25).

Resumindo este ponto, o que devemos ter em mente que toda falsa doutrina criada por Satans tem algum objetivo por detrs dela, e este objetivo nunca levar o cristo mais perto de Cristo e da devoo nica a Ele, mas sempre reside em desviar as pessoas da devoo nica ao Senhor (cf. 2Co.11:3). Seria muito estranho que o diabo quisesse inventar a mentira da mortalidade da alma, uma vez sendo que isso apenas serviria para destruir por completo com todos os enganos existentes nos mais diversos sistemas religiosos falsos que existem no mundo, e que se baseiam na crena em uma alma imortal.

Em outras palavras, o diabo no ganharia nada pregando a mortalidade da alma; ao contrrio, apenas perderia o seu imprio de engano e o veria caindo s runas. Teria que inventar outras mentiras que substitussem a crena em uma alma imortal para conseguir conduzir novamente o povo perdio. No faz qualquer sentido a mortalidade da alma ser uma heresia, pois heresia algo criado por Satans com uma finalidade que de alguma forma consiste em poder desviar o cristo de Cristo. Quem que vai se desviar de Cristo por crer que a vida termina na morte e recomea na ressurreio? Ningum. Ao contrrio, iria apenas reforar a importncia do papel da ressurreio dentro da comunidade crist. Iria fazer-nos retornar aos primrdios da f, aos tempos em que a ressurreio era a maior esperana dos cristos (cf. At.24:15; 26:6; 28:20; 23:6; 26:7).

Mas seria totalmente lgico que ele implantasse a mentira da imortalidade da alma e assim conseguisse enganar cada vez mais pessoas atravs dela, como de fato engana, pois a imortalidade da alma sim tem o poder de desviar o cristo de Cristo, de criar falsos sistemas religiosos em torno dela, de servir como base para a perda de um evangelho Cristocntrico para colocar o foco nos mortos, para dar plausibilidade s crenas na transmigrao e reencarnao das almas, evocao e consulta aos espritos, orao e intercesso dos mortos e pelos mortos, culto e venerao queles que j morreram, e por a vai.

Por isso que foi a primeira mentira implantada pela serpente no Jardim (cf. Gn.3:4). Note que Satans no perdeu tempo em implantar essa mentira no mundo. Ela no foi a terceira, nem a quarta mentira inventada. No foi inventada depois de muitos sculos, foi a primeira, foi a que serviu como ponto de partida para todas as demais mentiras que vimos acima.

Por tudo isso, eu concordo plenamente com a colocao verdadeira feita pelo professor Sikberto sobre isso: A imortalidade da alma a base doutrinria da rebelio de Lcifer, e o fundamento das demais mentiras. Sempre que ele entra em ao em uma situao nova, a primeira coisa que tenta fazer crer que a alma no morre. E sabe por qu? Pelo fato de que assim mais fcil crer nas demais mentiras dele[footnoteRef:22] [22: MARKS, Sikberto. Histria da Adorao. Disponvel em: . Acesso em: 15/08/2013.]

Desvantagens bvias em crer que os mortos j esto no Cu Embora para algumas pessoas o simples fato de pensar que os seus entes queridos no estejam neste exato momento no Paraso possa ser uma dura realidade, tambm devemos ressaltar o fato de que, em primeiro lugar, em absolutamente nunca algum na Bblia consolado com a notcia de que alguma pessoa j tenha subido aos Cus.

Pelo contrrio, dito de maneira clara h uma multido de mais de trs mil pessoas no Pentecoste que Davi no subiu aos Cus (cf. At.2:34), algo que os apstolos evitariam ao mximo de pronunciar diante de to grande multido no caso de Davi, ao contrrio, j tivesse subido aos Cus. Em segundo lugar, quando o apstolo Paulo envia consolaes aos tessalonicenses sobre os seus parentes falecidos ele foca-se inteiramente na esperana da ressurreio, e no no fato de que eles supostamente j estivessem no Cu ou em algum lugar de bem-aventurana (cf. 1Ts.4:13-18).

Tal consolao focada completamente na esperana da ressurreio do ltimo dia no seria logicamente cabvel caso a ressurreio fosse somente um mero detalhe e as suas almas j estivessem no Paraso. At porque, se tal se sucedesse, bastaria que Paulo relatasse isso e pronto j estariam consolados. O prprio fato de ele omitir completamente tal meno nos faz pensarmos que ou (1) Paulo no os consolou direto da maneira que qualquer imortalista faria; ou (2) eles realmente no esto no Cu, mas iro ressuscitar no ltimo dia, o que explicaria devidamente o porqu de Paulo t-los consolado somente com a esperana de alcanar superior ressurreio.

Em terceiro lugar, ao enviar consolaes famlia de Onesforo (j morto), ele novamente em nada fala que este j estivesse desfrutando das bnos paradisacas; pelo contrrio, de novo foca-se inteiramente na esperana de alcanar a misericrdia de Deus naquele dia: Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericrdia da parte do Senhor! (cf. 2Tm.1:17).

Ademais, tal consolao no faria sentido em caso que Onesforo j estivesse no Cu porque se assim fosse ele j teria alcanado a misericrdia de Deus j adentrando no Paraso junto com os demais santos. Isso somente lgica. At mesmo quando Jesus Cristo foi consolar as irms de Lzaro, j falecido, ele em nada indica que j este estivesse na glria, mas insiste em apontar a ressurreio no ltimo dia como nica fonte de consolao (cf. Jo.11:17-27).

Alm disso, ressalta o aspecto inconsciente e no-consciente do ser racional na morte ao fazer a devida analogia de Lzaro com um estado de sono, uma indicao de inatividade, e no de atividade: Assim falou; e depois disse-lhes: Lzaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despert-lo do seu sono (cf. Jo.11:11). Se Lzaro estivesse consciente na glria desfrutando das maravilhas do estado intermedirio ento a analogia correta seria com o acordado e no com o dormindo, tendo que ser despertado de seu sono. A caracterizao de inconscincia na morte e de um despertar na ressurreio.

Vemos, portanto, que se ningum em parte alguma da Bblia enviou consolaes baseando-se no suposto fato de que algum j estivesse no Cu, ento no seria absurdo demais acreditar que, de fato, eles no esto l. Difcil mesmo seria acreditar que os apstolos criam na imortalidade da alma e mesmo assim insistiam em nunca se basear nela para consolar algum, como todo e qualquer bom imortalista faz nos dias de hoje, focando-se na crena de que o falecido j est no Cu e no que ele ir ressuscitar um dia.

O que realmente vemos o apstolo Paulo focando-se no momento em que realmente atingiremos a imortalidade, que quando todos os que esto dormindo, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a ltima trombeta, a trombeta soar, e os mortos ressuscitaro incorruptveis, e ns seremos transformados. Porque convm que isto que corruptvel se revista da incorruptibilidade, e que isto que mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que corruptvel se revestir da incorruptibilidade, e isto que mortal se revestir da imortalidade, ento cumprir-se- a palavra que est escrita: Tragada foi a morte na vitria. Onde est, morte, o teu aguilho? Onde est, inferno, a tua vitria? (cf. 1Co.15:51-54).

Tal imortalidade no obtida no momento do nascimento mediante a posse de uma alma imortal, mas sim no momento da ressurreio dos mortos. Por fim, seria imensamente mais desfavorvel imaginarmos, por exemplo, que alguma pessoa justa morra e a sua alma imortal parta de imediato ao Paraso, aguardando a entrada celestial dos seus entes queridos, mas passa-se o tempo e... nada. Passa-se mais tempo e eles continuam sem aparecer por l.

Mais algumas geraes vo passando e, vendo que ningum ali se achega, tem que chegar triste concluso de que os seus parentes morreram sem alcanar a salvao e, pior, esto sofrendo em torturas colossais em um inferno de fogo e enxofre, assim condenados por toda a eternidade. Como pode ter paz e alegria celestiais um homem sob tais condies? Felizmente, o que a Bblia nos mostra que ns, os vivos, de modo nenhum precederemos os que dormem entraremos nas nossas moradas no mesmo instante deles (cf. 1Ts.4:15), quando Cristo voltar para nos levar onde ele est (cf. Jo.14:2,3).

A motivao errada Se para manter algum na linha for preciso a ameaa de um inferno e demnios torturadores terrveis, ento nesse contexto Jesus se torna apenas um meio utilizvel para se escapar do mal. O objetivo e finalidade dessa "converso" fugir do inferno e no Jesus. Para aqueles que tem a f edificada sobre a rocha que Cristo, a bem-aventurana de obter superior ressurreio e uma vida eterna somente em Cristo motivao mais do que suficiente que o mundo jamais poderia imaginar, ainda assim continuarei cristo, pois eu no fui convertido pelo medo de um tormento eterno.

Certa vez, enquanto eu debatia com um catlico romano, ele me veio com a seguinte indagao: Que vantagem teriam os justos diante dos maus, se ambos morrem, acabam-se e simplesmente a nica vantagem os justos gozarem a vida eterna? Infelizmente, esse um pensamento bastante comum entre os defensores do tormento eterno.

Lamentavelmente, acham ser pouco e insuficiente gozar de uma vida eterna em um Paraso junto a Deus. S teria validade caso vssemos os hereges queimando eternamente, incluindo muitos parentes e at mesmo irmos! Adoraramos a Deus por medo e no por amor! Infelizmente, para muitos o Paraso s seria uma recompensa mesmo caso houvesse pessoas queimando para todo o sempre. Se no houvessem seres queimando miseravelmente por toda a eternidade vivendo terrores colossais, ento nem vale a pena ser justo!

A vida eterna suficiente para mim. Adoro a Deus no com medo de um inferno eterno, mas pelo dom da vida eterna que ele concede gratuitamente a todos aqueles que creem. Infelizmente, a doutrina da imortalidade da alma cria cristos edificados sobre o medo do inferno e no sobre a graa de Deus. Disso resulta toda uma desvalorizao do que o dom da vida eterna e da imortalidade que Deus concede aos justos pela Sua Graa. Os livros de Mary Baxter, por exemplo, produzem "converses" motivadas pelo medo do inferno. Nos seus livros, os espritos ali mencionados detm inclusive ossos e sangue! Pasme! Isso sem mencionar o fato de que os espritos da Divina Revelao do Inferno descem a este lugar ainda vestidos com as suas roupas usuais! As outras revelaes infernais vo da para pior!

Isso nos mostra claramente que tais revelaes realmente no passam de mais investidas do maligno a fim de perpetuar, de todas as maneiras possveis, a primeira mentira. O que o diabo mais quer revelar para o povo aquilo que Deus no revelou na Bblia, ainda mais quando tal revelao claramente a contraria. Pessoas assim vivem debaixo de um legalismo terrvel e suas vidas se tornam um verdadeiro inferno. Elas so atormentadas pela insegurana da prpria salvao e enxergam Deus de forma volvel, mutvel e leviano. E a f dessas pessoas depende desse tormento pra continuarem "firmes na f", pois se o inferno no existir mais para elas, ento elas pensam que j no vale a pena viver em santidade.

Elas vivem em santidade para que o diabo no tenha brechas e no serem lanadas no inferno. A santidade torna-se apenas um mecanismo contra o mal e no o propsito da vida crist. Definitivamente, so inmeras as razes pelas quais Satans prega a doutrina da imortalidade da alma nos grandes sistemas religiosos, e perpetua estes enganos, com uma nica finalidade, que alis prprio de sua prpria natureza: desviar o carter de Deus. Propague a mentira que afaste as pessoas deste Deus, e esvazie as fileiras da Igreja.

IVComo o conceito de alma imortal entrou no Judasmo

Como j vimos, a primeira vez em que a doutrina da imortalidade da alma entrou no mundo foi atravs da serpente, no Jardim do den, proferindo o que seria hoje a base da doutrina imortalista: ...certamente no morrers (cf. Gn.3:4). Essa mentira foi a primeira que Satans implantou no mundo, por inmeros motivos, como vimos:

(1) Impugnar o carter imutvel do amor [e justia] de Deus;

(2) Ser a base das demais mentiras que resultam em adorao e culto s criaturas mortas, espiritismo, paganismo, consulta aos mortos, intercesso dos santos, purgatrio, reencarnao, etc;

(3) Tirar do evangelho o Cristocentrismo primitivo;

(4) Se a pessoa no morre, ela no tem a necessidade de um arrependimento sincero e genuno (atravs de um processo de santificao), para ser separada do mundo e tornar-se propriedade exclusiva do Senhor, pois bastaria apenas ser mais ou menos boa e depois da morte as rezas resolvem tudo;

(5) Faz com que o foco das pessoas seja de escapar de um inferno horrivelmente atormentador ao invs do foco ser em Cristo Jesus e na graa divina;

(6) Desvaloriza o conceito de vida eterna, uma vez que todas as pessoas teriam uma vida eterna de qualquer jeito (no Cu ou no inferno), e a vida eterna no seria um dom e no seria somente em Cristo, mas existiria tambm uma vida eterna com o diabo;

(7) Despreza o verdadeiro valor da ressurreio dos mortos para a vida ou para a condenao, uma vez que os mortos j estariam no Cu ou no inferno, sendo, portanto, totalmente desnecessrio e intil tal ressurreio dos mortos;

(8) O objetivo e finalidade da converso de um cristo seria de escapar de um inferno eterno e no Jesus;

(9) Cria cristos edificados sobre o medo e sobre uma conscincia errada com relao a Deus, ao invs de estarem edificados sobre o amor e sobre a graa do Pai; e, finalmente:

(10) Tira a honra completa para Cristo como "a ressurreio e a vida, com o objetivo de esvaziar as fileiras da Igreja a fim de traz-las para religies falsas edificadas sobre a crena na alma imortal para continuarem subsistindo.

Satans considerado pela Bblia o pai da mentira (cf. Jo.8:44), que, ao ser expulso do Cu, procurou de todas as maneiras atacar a criao do Deus, o homem, uma vez que ele no tinha fora suficiente para confrontar diretamente a Deus. O resultado disso foi a implantao de diversas mentiras, quase todas elas construdas sobre a crena de que certamente no morrers, e a partir da o ensino em um estado intermedirio consciente dos mortos e em um tormento eterno se tornaram realidade para boa parte dos antediluvianos e foi retomado pelas pessoas no tempo de Ninrod.

O criador da imortalidade natural da alma Satans (cf. Gn.3:4), mas, depois, ele se utilizou de recursos humanos para difundir tal doutrina pelo mundo afora, na confuso das lnguas na Torre de Babel, se disseminando pelo mundo, sendo maior o nmero de pessoas a crer na alma imortal do que as que criam na mortalidade natural da alma.

Uma vez que tal ideia foi criada pelo diabo, ficou muito fcil torn-la plenamente difundida entre as religies pags que no tinham comprometimento com o Deus de Israel. Afinal, so os prprios espritos malignos que regem e perpetuam estes enganos, e com facilidade vemos que a grande maioria das religies pags da antiguidade passaram a seguir tambm a mentira propagada pela boca da serpente no den.

Os hebreus, contudo, tinham o Deus vivo, e por isso acreditavam em uma natureza humana holista, e no dualista do ser humano. Eles estavam protegidos pelo Deus de Israel de doutrinas falsas que pudessem enganar at os homens justos. Os povos pagos, contudo, no tinham o Deus de Israel, estando completamente expostos s doutrinas dos demnios, os verdadeiros agentes por detrs dos dolos (cf. 1Co.10:20). O resultado disso foi que sem a menor dificuldade praticamente todas elas adotaram a mesma mentira proferida Eva no Jardim e passaram a crer na doutrina da imortalidade da alma, em suas mais diferentes formas.

Com o passar do tempo, a crena na sobrevivncia da alma passou a se tornar realidade at mesmo entre os judeus, o povo do Deus vivo, mas somente depois que o Antigo Testamento foi concludo. Segundo a prpria Enciclopdia Judaica, a imortalidade da alma no ensinada nas Escrituras e os judeus s passaram a crer nela atravs de Plato, seu principal expoente, em um verdadeiro sincretismo religioso com o helenismo predominante naquela poca e naquela regio, por ocasio da dispo