A Linguagem dos Chats Desafia os Newbies

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A Linguagem dos Chats Desafia os NewbiesMestrado em Educação - UnisantosAno: 2000Artigo publicado no Caderno de Pesquisa em Pós Graduação - Série Educação e LinguagemMelissa Elias Viana

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Trabalho apresentado disciplina de Educao e Linguagem Mestrado em Filosofia da Educao Ano: 2000 Publicao: Cadernos de Pesquisa em Ps Graduao 2 -Srie Educao - Educao e Linguagem - Unisantos Contato: [email protected] A LINGUAGEM DOS CHATS DESAFIA OS NEWBIES Melissa Elias Viana Introduo Jovens embebidos em outras linguagens, saberes e escritas circulam pela sociedade atravs de canais de comunicao difusos e descentralizados. So eles os responsveis por acrescentarem, a uma lngua que demorou 500 anos para ficar pronta, um novo sabor. Deram a ela um ritmo, roubado por habilidosos hackers. Introduziram subverses temvel gramtica e a temperaram com um delicioso molho ingls. O resultado uma mistura de ingredientes ainda no provada (estatisticamente), mas que promete satisfaes ou indigestes. O fato que no h mais como evit-la. Este estudo um convite experimentao dessas novas linguagens. Lembramos que a receita pode parecer simples, mas com os mesmos ingredientes possvel fazer diferentes degustaes, o que depender do paladar apurado de cada um. A recomendao que se faa uma sesta logo em seguida, pois, aps digeridas as linguagens, preciso voltar ao trabalho e, quem sabe, com a sensao de ter acrescentado um pouco de sabor ao saber. Internet: amplas possibilidades Nunca uma revoluo foi to rpida. Em apenas trinta anos, a rede de computadores que os norte-americanos criaram para uso militar transformou-se numa gigantesca malha de mais de 3,6 milhes de sites e 196 milhes de usurios, sendo 7 milhes deles, brasileiros. Desses, 68% esto na faixa etria entre os 15 e 29 anos e, em sua maioria (75%), solteiros. Para eles, o mundo, depois da Internet, decididamente no mais o mesmo. A aldeia global de Marshall McLuhan tornou-se tecnicamente realizvel. A aldeia global est sendo desenhada, tecida, colorida, sonorizada e movimentada por todo um complexo de elementos dspares, convergentes e contraditrios, antigos e renovados, novos e desconhecidos. Formam-se redes de signos, smbolos e linguagens, envolvendo publicaes e emisses, ondas e telecomunicaes. Compreendem as relaes, os processos e as estruturas de dominao poltica e de apropriao econmica que se desenvolvem alm de toda e qualquer fronteira, desterritorializando coisas, gentes e idias, realidades e imaginrios.2 Os jovens usurios da Internet vem o computador como extenso natural de suas vidas. Querem respostas rpidas, so excepcionalmente curiosos e valorizam muito o direito individualidade, privacidade e, deste modo, acabam por formar uma espcie de tribo. Uma tribo que sociabiliza, de certa forma, a sua solido. Sem sair do quarto, os internautas viajam o mundo, visitam museus, fazem uma srie de coisas ao ganharem uma nova identidade. Escondem-se por pseudnimos e, sem terem o desafio de olhar nos olhos de seus interlocutores, os internautas podem se transformar. Podem passar a imagem de terem dez ou vinte quilos a menos, podem ser mais simpticos, engraados e at deixar a timidez de lado. Podem ser qualquer um que desejarem ser, pois tm a chance de virarem atores, atores comunicantes. A questo do isolamento social desenvolvido pelo indivduo, quando em contato com

as possibilidades que a rede oferece, um dos aspectos que est mobilizando muitos dos debates em torno dessa nova mdia em constante evoluo. H, de fato, certa alienao e uma desumanizao pela ausncia de contatos reais entre as pessoas. Entretanto, os defensores da Internet afirmam que ela no pode ser considerada a grande vil, culpada por preencher um vazio j anteriormente existente nos indivduos, em virtude da complexidade da vida urbana. O professor, filsofo e engenheiro, Pierre Lvy, pensador da tecnodemocracia, apresenta a rede como um pharmakon nem remdio nem veneno, ou os dois ao mesmo tempo, dependendo do uso correto ou incorreto que se desenvolve. A virtualizao do cotidiano e, especialmente, a Internet esto nos obrigando a conceber uma nova arquitetura, uma arquitetura dos espaos de comunicao e do conhecimento, que tem por desafio poltico conciliar a cidade "real" e o "cyberspace". Estamos vivendo um momento em que descobrimos novas formas de organizao e transmisso das tradies. H hoje uma inteligncia coletiva, que a comunidade dos usurios, que pode reorganizar, a todo o momento, as massas de informao disponveis on-line, por meio de conexes transversais e simultneas. essa inteligncia coletiva que est se contrapondo cultura verticalizada na qual vivemos at agora. A verdade que no existe um meio de retroceder, a Internet j foi incorporada rotina da classe mdia brasileira, proporcionando uma grande comodidade nunca antes estabelecida, ao disponibilizar servios (bancos, livrarias, bibliotecas e at mesmo psicoterapias virtuais, tudo ao alcance do consumidor atravs de uma tecla) e tambm uma fuga das presses cotidianas, como o trnsito e a violncia das grandes cidades, com muita informao e entretenimento. Essa mdia digital est promovendo mudanas radicais no comportamento do homem moderno. J existem, verdade, muitos relatos onde a Internet levou pessoas a extremos patolgicos mas, para uma grande maioria, ela parece ter melhorado e ampliado o universo de relaes. Seu sucesso resultado de um jogo entre estmulo e resposta. a interatividade e a compulsividade de estar on-line e de obter respostas imediatas que levam as pessoas a ficar conectadas a um mundo virtual, sem fronteiras, onde, como diria Marx, tudo o que slido e estvel se esfumaa. Meios & Linguagens Talvez um dos recursos mais populares utilizados na Internet sejam as salas de bate-papo (chats), os canais do IRC (Internet Relay Chat, criado em 1988, na Finlndia) e programas como ICQ (acrnimo de I seek you eu busco por voc). A possibilidade de conversar com pessoas do outro lado do mundo, em tempo real, por intermdio de canais dedicados a assuntos especficos, associada ao confortvel anonimato dos nicknames (apelidos), torna os chats atrativos para muitas pessoas, inclusive quando no se tem nada para fazer, ou sobre o que conversar. Recursos como o IRC conquistaram seu espao tambm por permitirem comunicaes instantneas durante a Copa do Mundo, em desastres naturais, guerras e outras crises. Em 1993, por exemplo, em meio tentativa de golpe comunista na Rssia, a nica fonte que transmitiu os acontecimentos para o mundo foi um canal especfico do IRC. Nos terremotos de Los Angeles (EUA) em 1994 e o de Kobe (Japo) em 1995, esse meio tambm foi fundamental para a comunicao e localizao de sobreviventes. Os jovens experimentam uma empatia feita no s de facilidade para relacionar-se com as tecnologias audiovisuais e informticas, mas tambm de cumplicidade expressiva: em seus relatos e imagens, em suas sonoridades, fragmentaes e velocidades que eles encontram seu idioma e seu ritmo. Pois, frente s culturas letradas, ligadas lngua e ao territrio, as eletrnicas, audiovisuais, musicais ultrapassam essa limitao, produzindo comunidades hermenuticas que respondem a novos modos de perceber e narrar a identidade. Identidades de temporalidades menos extensas, mais precrias, mas tambm mais flexveis, capazes de amalgamar e fazer

conviver ingredientes de universos culturais muito diversos. Um dos aspectos mais interessantes destes novos ambientes virtuais justamente a sua linguagem caracterstica, marcada principalmente pela iconizao da mensagem, mais conhecida como emoticons ou smileys (marcadores conversacionais). Nessa nova linguagem, tambm podemos notar a disseminao de termos da informtica, uma economia de caracteres digitados e um grande descaso com as regras gramaticais da nossa Lngua Portuguesa. A expanso da Internet trouxe tambm, sem dvida, uma certa soberania da lngua inglesa no mundo. Com a Internet, vieram novas palavras e expresses, em forma de comandos ou aplicaes, muitas sem correspondentes em nossa lngua. E o que agrava mais ainda a situao, que a grande maioria dos softwares disponveis no pas justamente em ingls. A tendncia natural o abrasileiramento desses termos, medida em que o meio vai se popularizando: alguns at j escrevem, por exemplo, linque, ao invs de link. A mdia impressa, eletrnica e informtica(...) desempenham um papel fundamental na difuso do ingls. Representam de longe o principal meio de pr-se em contato com esta lngua, que alcana o maior nmero de pessoas, que as toca mais freqentemente e de maneira variada. (...) Esta presena do ingls manifesta-se como a prpria lngua das mdias. Alm disso, as mdias propagam em ingls a reproduo da realidade do mundo contemporneo.(...) A rapidez da comunicao via chat ou e-mail permite uma fluncia maior da linguagem, quase com a mesma rapidez da fala. Uma brincadeira pode, facilmente, ser mal interpretada. Numa analogia, quando escrevemos uma carta a algum, entre o tempo em que ela escrita e o envelope fechado, ainda existe um perodo para repensar seu contedo. Na rede, escreve-se o que se pensa e a mensagem publicada imediatamente. Qualquer pessoa que tenha passado alguns minutos de conversa on-line, ou simplesmente visitado esses mundos virtuais, deve ter percebido como as palavras foram abreviadas at o ponto de se converterem em uma, duas ou no mximo trs letras (no=n, sim=s, de=d, que=q, tambm=tb, cad=kd, tc=teclar, porque=pq, aqui=aki, acho=axo, qualquer=qq, mais ou mas=+). Alm dessa economia, houve tambm um extermnio da pontuao e da acentuao (=eh, no=naum), remetendo-nos fontica das palavras e no mais etimologia. No parece que os internautas vIRCiados (aficionados pelo IRC) esto simplesmente "escrevendo errado", mas sim, estabelecendo um processo onde as mensagens so refinadas, de tal forma que possam ser expressas com o menor nmero de caracteres possvel. Por que utilizar o ponto final, por exemplo, quando certo que se chegou ao fim de uma frase? (S se houver mais de uma frase ainda se costuma usar o ponto final). Da mesma forma, as letras maisculas tambm se mostraram desnecessrias. E nessa onda de cortes, at as reticncias perderam um de seus trs pontos. As palavras so tecidas a partir de uma multido de fios ideolgicos e servem de trama a todas as relaes sociais em todos os domnios(...) A palavra constitui o meio no qual se produzem lentas acumulaes quantitativas de mudanas que ainda no tiveram tempo de adquirir uma nova qualidade ideolgica, que ainda no tiveram tempo de engendrar uma forma ideolgica nova e acabada. A palavra capaz de registrar fases transitrias mais ntimas, mais efmeras das mudanas sociais. (...) Cada poca e cada grupo social tm seu repertrio de formas de discurso na comunicao scio-ideolgica.(...) A lngua vive e evolui historicamente na comunicao verbal concreta, no no sistema lingstico abstrato das formas da lngua nem no psiquismo individual dos falantes. Essa verdadeira mistura de diversos elementos que o dialeto dos chats, o uso de

cdigos importados da informtica e erros ortogrficos freqentemente propositais (que, no entanto, podem deixar de ser) seria, a princpio, um espelho da proposta da prpria Internet: uma rede democrtica que se governa por si mesma. A alterao da grafia seria, ento, apenas uma transgresso de regras que no so nenhuma novidade, basta lembrar da linguagem dos telgrafos ou dos radioamadores, dificilmente compreendidas. As origens :-) O curioso que muitas das expresses utilizadas nos chats surgiram antes mesmo da Internet. Se nos remetermos s salas de aula de alguns anos, provvel que j tenhamos visto alunos escrevendo bilhetes para outros colegas com a mensagem: voc d+!, acompanhada de um sorriso carismtico , j prenunciando o sucesso dos emoticons. Os emoticons foram desenvolvidos pelo servio secreto de um pas do sudoeste europeu, em 1979, para que apenas pessoas altamente treinadas na arte da decifragem pudessem compreend-los. A tcnica bsica desse sistema criptogrfico baseava-se na rotao a 270 graus dos caracteres digitados, tornando-os praticamente impossveis de serem lidos por aqueles que no conheciam essa arte. Com o fim da Guerra Fria, o uso militar dos emoticons tornou-se obsoleto e hoje, s preciso muita criatividade e um pouco de pacincia para entend-los. Os usurios da rede se utilizam desses cdigos, elaborados a partir de smbolos de pontuao, para expressarem sentimentos, emoes. Tambm so utilizadas abreviaes que encurtam a tarefa de digitar (H/M Voc homem ou mulher?). Quando preciso dizer algo, porm sem dar o nome, apenas a idia contextual (< > sem comentrios, [ ] abrao forte), utiliza-se a palavra foobar. Por outro lado, no raro nos deparamos com emoticons desafiadores: :-) mergulhador, [:-) de walkman, 8(:-) Mickey, C=:-) cozinheiro, @@@ :-) cabeludo, :-) filsofo, :%% com acne, :* ) resfriado, cI:- = Carlitos, 5:-) Elvis Presley, :3-< co, ^..^ gato, :8) porco, ~~~~~~8) cobra, ( -- ) coruja. E ainda desenhos criados a partir de traos simples que identificam as afinidades ou hobbies (avies, animais, computadores) dos internautas (geralmente so colocados como assinaturas): (...) Uma hiptese de nova escrita, proposta por Pierre Lvy, seria a criao de uma ideografia dinmica, misturando o princpio de escritas que utilizam conceitos ou idias ao invs de smbolos fonticos como o caso dos ideogramas chineses ou representaes pictricas com o carter dinmico dos novos suportes multimdia. Um comeo do que se tornaria essa nova escrita, a ttulo de exemplificao, seriam os jogos de vdeo, potenciais embries dessa linguagem animada de que fala o professor Lvy. No que essa nova escrita linguagem talvez fosse o termo mais adequado est relacionada aos preceitos e caractersticas da comunicao virtual? A exemplo das representaes pictricas (como a do boneco jogando o papel na lixeira), essa seria uma forma de comunicao universal, passvel de compreenso por virtualmente todas as pessoas uma verdadeira revoluo nas relaes humanas. Os recursos multimdia ampliariam as possibilidades naturalmente limitadas da ideografia, podendo incluir at a adaptao dessa nova linguagem a contextos locais. (...) Uma outra explicao considervel para a economia de caracteres deve-se, em grande parte, a um hbito antigo da informtica. A maioria dos servidores, tempos atrs, no reconhecia os sinais grficos dos acentos e uma mensagem, com uma grande quantidade destes, corria o risco de ser destruda ou convertida em uma srie de smbolos ininteligveis. Para ilustrar esses conceitos, tomemos a ilustrao da tabela ASCII (American

Standard Code for Information Interchange) A tabela ponto de partida para a fundamentao da linguagem dos chats. O computador, como se sabe, funciona atravs de nmeros. Cada sinal grfico letras, nmeros, sinais de pontuao e linhas corresponde a um nmero. Os nmeros comeam em 33 (os 32 primeiros sinais so para controle interno do computador). Em seguida, esto os sinais de pontuao, os nmeros (sinais de 48 a 57), as letras (maisculas, de 65 a 90; minsculas, de 97 a 122), chaves, colchetes e outros recursos do teclado. As primeiras plataformas (bases) de computadores, chamadas UNIX, suportavam apenas os primeiros 127 caracteres (a cedilha e os acentos comeam no nmero 128). A rigor, apenas o conjunto dos 127 primeiros caracteres o cdigo ASCII original. Quando o conjunto vai at o 255, chamado de ASCII expandido. A est a origem imperialista do no uso de acentos em mensagens eletrnicas. At h pouco tempo, muitos dos computadores por onde as mensagens da Internet passavam podiam ser os UNIX antigos. A acentuao, neste caso, era interpretada erroneamente, e a mensagem chegava confusa ao receptor. Desde os tempos das BBS, as precursoras da WEB (World Wide Web - WWW), os jovens internautas aprenderam a substituir os acentos por outros recursos, usando o conjunto limitado de letras. Alm disso, antigamente, toda economia era preciosa: os computadores tinham o disco rgido muito menor e a transmisso era muito mais demorada. Com essas limitaes da poca, os internautas aprenderam a economizar cada sinal. Ento "que" se torna "q", "voc" transforma-se em "vc", no em n ou naum e da por diante. So nos chats que essas abreviaes e sinais grficos encontram o ambiente mais propcio para se proliferarem. Ali eles se adaptam melhor s vontades, e at mesmo s necessidades dos usurios, de uma forma mais natural. Segundo Pierre Lvy, o poder e a identidade de um grupo dependem mais da qualidade e da intensidade da sua conexo consigo mesmo do que da sua resistncia em comunicar-se com o seu meio9. Num ambiente em que possvel manter simultaneamente vrias conversas distintas com outros internautas, haver sempre a exigncia de escrever o mais rpido possvel, para no deixar ningum esperando, uma questo de netiqueta. tica no Cyberspace Netiqueta ou Ntica um conjunto de regras do comportamento social, que disciplinam os internautas na rede. Ensina, por exemplo, como agir em grupos de discusso, como escrever de forma a preservar a eficincia da rede e ampliar o potencial de comunicao. So regras baseadas no bom senso e na utilizao desse meio. Quem no conhec-las ser chamado de newbie, ficando fcil identificar os usurios recm-chegados. Portanto, preciso ser socivel, no usar palavras de baixo calo, no insultar, no escrever em letras maisculas (para no dar a impresso de estar gritando), no escrever mais do que duas ou trs linhas para no ocasionar um flood (repetio ou excesso de mensagens que possibilita a sada do internauta do chat) ou lags (buracos negros na comunicao podem significar ausncia de um dos comunicantes, falha, rudo ou ruptura na conexo). Quando se tenta transgredir a netiqueta, o internauta fica sujeito s regras de banimento. A primeira delas o kick (uma advertncia o internauta sai do chat mas pode voltar). Primeiro, ele receber uma notificao, mas se continuar insistindo na transgresso, acabar sendo banido daquele canal de bate-papo (o que pode ser temporrio ou no). Caso no seja temporrio, o internauta ter sofrido ento um kill, no podendo voltar mais para aquele canal de forma alguma (nem com outro name, nick ou username). Neste caso, a situao a seguinte: cada internauta tem um nmero prprio, o chamado IP (Internet Protocol), que funciona como um R.G. (a cada conexo, ele recebe um nmero). Portanto, mesmo aqueles que se fazem passar por lamers (uma espcie de treinee de hackers piratas especialistas em computadores) para enganar, clonar o IP de uma outra pessoa, ou seja, fazer-se passar por um outro usurio, no conseguiro ou, pelo menos, no

por muito tempo. Em cada canal existe um OP, um operador, e ele quem controla o contedo de uma sala, ele quem determina quais internautas sero banidos ou quais iro continuar pelas aes de cada um. Interessante ainda a subdiviso no significado de lamers. Podem ser newbies, meros novatos ou ainda crackers (hackers do mal). As alteraes grficas freqentemente encontradas nos chats - como a troca da letra o pelo O (zero) e da letra l pelo nmero 1 - so fruto de um cdigo de regras originais criadas pelos hackers, onde a grafia e a sinttica chegam a ser incompreensveis por leigos, mas j disseminada no mundo virtual. Outro fato a ser mencionado a diversidade temtica encontrada nas salas de batepapo. Para se ter uma noo, o Universo Online, o maior provedor de contedos em Lngua Portuguesa, oferece 130 grupos de discusso, divididos nas categorias: cultura, sade, hobbies, computao, poltica, economia, sociedade, comportamento, viagem, jogos, Internet, educao, esporte, negcios e outros (esoterismo, humor, jornalismo, religio, etiqueta). E cada categoria subdivide-se ainda em temas mais especficos.10 O crescimento espetacular dos chats na web deve-se liberdade para relacionamentos de qualquer espcie, sincronicidade nas conversaes, garantia do anonimato, ausncia de censura (apesar de existirem os OPs) e desobrigao de se submeter a regras (apesar das recomendaes da netiqueta). Na verdade, no importa o quanto se entenda do assunto ou o quanto experiente a pessoa seja. Sempre h muita coisa que no se compreende a respeito da Internet. quase impossvel manter-se atualizado diante de tantas novidades. Consideraes finais Fronteiras dissolvidas, modificadas pela tecnologia, pela comunicao, pelos novos conceitos de espao e tempo... Ainda estamos na fase embrionria da realidade virtual / factual. Quebram-se regras, discutem-se as mltiplas vises de mundo, aguam-se sensibilidades. O pensamento transformado, traduzido em palavras que refletem e refratam a realidade. Se entronizarmos palavras cifradas, teremos um mundo cifrado? Tudo ainda muito novo. H encanto e deslumbramento diante do interativo. Mas preciso pensar, abandonar a resistncia, ir alm das leituras crticas, desvendar as linguagens que emergem da nova esfera, conhecer as origens, participar dessas linguagens que permeiam a modernidade e que trazem consigo a possibilidade de circulao de mensagens, de idias universais. H uma interao mpar e j disseminada, tanto na oralidade quanto na escrita. No podemos fechar os olhos. Os cadernos j esto recheados de smileys, as produes de texto apontam erros que no constam na leitura digital onde a fontica impera. Cabe a ns, desarmarmos as metforas do clique, do rpido, do instantneo, do imediato - pois so lineares e descontnuas - e vermos de que forma so aplicveis ou no para cada realidade circundante. Por intermdio dos espaos virtuais que os exprimiriam, os coletivos humanos se jogariam a uma escritura abundante, a uma leitura inventiva deles mesmos e de seus mundos. Como certos manifestantes desse fim de sculo gritaram nas ruas Ns somos o povo, poderemos ento pronunciar uma frase um pouco bizarra, mas que ressoar de todo seu sentido quando nossos corpos de saber habitarem o cyberspace: Ns somos o texto. E ns seremos um povo tanto mais livre quanto mais ns formos um texto vivo. ANEXOS Para se ter uma idia mais precisa do que ocorre na linguagem do mundo virtual, aqui se encontra uma transcrio de um chat entre trs participantes (cores distintas) com algumas tradues, marcas de oralidade e comentrios gerais (ao lado de cada thread linha).

ICQ Chat Session ---------------------------Participants: MEL, LUFL, THARWN (nicknames de Melissa, Luiz Flvio e Guilherme) Description: Created On: Monday, May 29, 2000 --------------------------- Ta o Zifio. (Algo como: estou aqui, meu filho!) bomxibomxibombombom. O de cima sobe e o de baixo desce... (Msica do grupo As Meninas) E ?? Blz? Kd a Mel? Melando? Have time to tc? (E a? Beleza? Cad a Mel? Melando? Tem tempo para teclar?) blz! (Beleza!) O q 6 taum fzndo agora ? (O que vocs esto fazendo agora?)