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“a linguagem é multiforme e heteróclita” Saussure, Curso de Linguística Geral, p. 34
“não é classificável em nenhuma categoria de factos humanos, pois não sabemos onde está a sua unidade”
Idem, ibidem, p. 35
A língua, conforme a observamos, é um elemento de formação e manutenção das sociedades. É o seu elemento identificativo, factor de coesão social. Não se confunde com a linguagem: é uma parte determinada e essencial desta.Produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções.
“uma actividade simultaneamente cognoscitiva e manifestativa, realizada pela utilização de um sistema de duplos sinais, que se apresentam fisicamente como objectos sonoros produzidos pelo aparelho fonador do Homem”.
José Herculano de Carvalho
1.
capacidade e necessidade inatas do Homem, para comunicar com o seu semelhante. É um instinto, que já nasce com o Homem, no sentido de comunicar.
2.
forma efectiva de comunicar: - linguagem verbal: vocal, discurso humano
vocalizado; - as outras linguagens compostas por sinais:
gesto, música, pintura, cinema, teatro, etc.
3.
fenómeno cultural (2 dimensões):
a) sentido antropológico: a cultura é o conjunto de actividades realizadas pelo Homem como membro de uma comunidade. A língua é produto de uma convenção (acordo entre partes interessadas), logo pertence a uma comunidade – é um fenómeno cultural.
b) cultura erudita: é, através do exercício da língua,
que esta se enriquece. Quanto mais se usa a língua, mais ela enriquece.
4. Pensamento, potenciadora de
conhecimento. É, através da capacidade de linguagem, que
o Homem ordena e disciplina a amálgama de sensações.
A linguagem serve o pensamento e, só por ele, existe.
1. Função interna: - pensamento/conhecimento;
2. Funções externas: - exteriorização para si próprio/auto-
exteriorização: monólogo; - exteriorização para outrem: diálogo,
COMUNICAÇÃO.
1. Informação: veiculação de juízos de facto, incidência sobre a essência do objecto;
2. Emoção: recurso a juízos de valor, primado do valor do objecto;
3. Apelo: recurso a conteúdos volitivos, intentando despertar a acção do sujeito.
Presentes, quer no monólogo, quer no diálogo.
Língua Parte essencial e social da linguagem; Linguagem menos a fala; Instituição social; Sistema de valores; O indivíduo, por si só, não consegue criá-la nem
modificá-la; Contrato colectivo; Produto social; Manejável mediante aprendizagem.
Língua “entidade puramente abstracta, uma
norma superior aos indivíduos, um conjunto de tipos essenciais, que realiza a fala de um modo infinitamente variável”
V. Brondal
Fala Parte acessória e individual da linguagem; Essencialmente um acto individual de selecção e
actualização; Constituída, em primeiro lugar, pelas “combinações
graças às quais o sujeito falante pode utilizar o código da língua para exprimir o seu pensamento pessoal e os mecanismos psicofísicos que lhe permitem exteriorizar essas combinações”;
Combinatória.
A língua só existe perfeitamente na massa falante; não se pode manejar uma fala sem partir de uma língua, mas, por outro lado, a língua só é inteligível na fala – é a dialéctica língua-fala.
Historicamente, os factos da fala precedem sempre os da língua.
A língua é produto e instrumento da fala.
(1) Noam Chomsky: Competência-performance: A competência é o conjunto de
virtualidades de um sujeito, em qualquer momento, para compreender, captar ou emitir um número infinito de frases que, na sua maioria, nunca ouviu ou emitiu.
A Performance é o modo como a competência se concretiza em cada indivíduo, em actos específicos.
Noam Chomsky, contrariamente a Saussure que configura a sua dicotomia numa perspectiva social, atribui-lhe uma configuração individual.
(2) Eugenio Coseriu: Sistema, norma e fala: O sistema é o conjunto de
potencialidades próprias de falantes integrados na mesma comunidade linguística. É mais amplo que a língua e conhece apenas como freio a compreensão.
“É sistema de possibilidades de coordenadas que indicam caminhos abertos e caminhos fechados: pode ser considerado como conjunto de imposições, mas também, e talvez melhor, como conjunto de liberdades, pois admite infinitas realizações e só exige que não se afectem as condições funcionais do instrumento linguístico: mais que imperativa, a sua índole é consultiva.”
Eugenio Coseriu, Teoria da Linguagem e Linguística Geral
A norma é um sistema de realizações obrigatórias, formas de restrição à liberdade implementada pelo sistema.
3 tipos de norma: (1) norma-padrão: a norma modelo, a norma das
elites, do bem dizer ou fazer compreender; (2) norma regional: própria dos habitantes de uma
região, com hábitos linguísticos próprios – os dialectos;
(3) norma individual – a forma como cada indivíduo concretiza o sistema, manifestável e materializável na fala.
Desvios à norma: (1) voluntários: o seu infractor está
consciente do desvio, não o pratica por ignorância, mas intencionalmente; fazem evoluir a língua;
(2) involuntários: o seu infractor fá-lo por ignorância, degenerando o uso correcto da língua.
(3) Louis Hjelmslev: Esquema, norma, uso: O esquema é a língua considerada na
sua forma totalmente pura, quase platónica, por fazer parte do mundo das ideias, tem existência impalpável e virtual; é o tesouro a que se refere Saussure.
A norma refere-se às estruturas correspondentes às ideias, que podem ser empregues aquando das falas, para significar e comunicar.
O uso corresponde à fala saussuriana; é a socialização da fala.
Forma pura: esquema; Forma material: norma; Forma social: uso.
“linguagem enquanto falada por um só indivíduo”
Martinet
Mas a linguagem é sempre socializada, pois, quando nos dirigimos a alguém, queremos fazer-nos entender e, para tal, utilizamos o seu vocabulário.
Concepção ilusória; útil em alguns casos (Jakobson):
(1) a linguagem do afásico; (2) o estilo de um escritor; (3) linguagem de uma comunidade
linguística.